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OS DIREITOS

HUMANOS

MANUAL DOS DIREITOS HUMANOS


Ficha Técnica

Título: Os Direitos Humanos


Autoria: Diocese de Quelimane
Edição: 2ª Edição efectuada pela Comissão Episcopal
de Justiça e Paz – Moçambique com
autorização de Sua Excelência Reverendíssima
Dom Hilário Massinga, Bispo da Diocese de
Quelimane.
Editora: Editora Arquidiocesana
Tiragem: 800 exemplares
Data de Publicação: Abril de 2018

Esta versão do manual (Os Direitos Humanos) foi editado pela Comissão
Episcopal de Justiça e Paz – Moçambique com autorização da Diocese de
Quelimane e com o apoio financeiro da CAFOD através do projecto MOZ-358.

Responsável pela reimpressão Apoio


Índice
Apresentação ..................................................................................... 7
Introdução ................................................................................. 9
Conteúdos ............................................................................. 9
Metodologia............................................................................ 10
O que são os Direitos Humanos? ........................................... 12
Qual é o Significado dos Direitos Humanos? ........................ 12
Preâmbulo ............................................................................... 14
Direitos Pessoais..................................................................... 16
Direitos Judiciários ................................................................. 17
Direitos Civis e Político ......................................................... 18
Direitos Sociais....................................................................... 20
PRIMEIRA PARTE............................................................ 24
Direitos Pessoais..................................................................... 24
1. Liberdade, Igualdade e Fraternidade ............................... 25
2. Não à Discriminação ....................................................... 29
3. Vida, Liberdade e Segurança .......................................... 32
4. Não Ser Escravizado ....................................................... 36
5. Não à Tortura...................................................................... 38
SEGUNDA PARTE ............................................................... 40
Direitos Judiciários ................................................................. 40
6. Reconhecimento e Defesa da Pessoa na Lei ...................... 41
7. A Lei é Igual para Todos .................................................... 43
8. A Defesa nos Tribunais ...................................................... 46
9. Não ser Arbitrariamente Castigado .................................... 49
10. Ter Julgamento Justo no Tribunal .................................... 52
11. Respeito pelo Acusado ..................................................... 54
TERCEIRA PARTE ............................................................... 56
Direitos Civis e Políticos ........................................................ 56
12. Respeito pela Vida Privada .............................................. 57
13. Circular Livremente ......................................................... 60
14. Asilo Político .................................................................... 62
15. Nacionalidade ................................................................... 66
16. Casamento e Família ........................................................ 68
17. Propriedade ....................................................................... 71
18. Liberdade de Pensamento, Consciência e Religião .......... 74
19. Liberdade de Opinião e de Palavra................................... 78
20. Liberdade de Reunião ....................................................... 81
21. Liberdade de Reunião ....................................................... 83
QUARTA PARTE .................................................................. 87
Direitos Sociais....................................................................... 87
22. Desenvolvimento da Personalidade.................................. 88
23. O Trabalho ........................................................................ 91
24. Descanso e Tempo Livre .................................................. 94
25. Protecção Social ............................................................... 96
26. Educação .......................................................................... 99
27. Cultura e Progresso ........................................................ 102
28. Ordem Social .................................................................. 105
29. Deveres Comunitários .................................................... 107
ÚLTIMA PARTE ................................................................. 110
Conclusão ............................................................................. 110
30. Respeito pela Declaração ............................................... 111
Pequeno dicionário ............................................................... 114
Siglas

AA Apostolicam Actuositatem. Concílio Vaticano II, 1965


AG Ad Gentes. Concílio Vaticano II, 1965
Iª ANP 1ª Assembleia Nacional de Pastoral. Beira, 1977
IIª ANP 2ª Assembleia Nacional de Pastoral. Maputo, 1991
CA Centesimus Annus. João Paulo II, 1991
CD Christus Dominus. Concílio Vaticano II, 1965
CHL Christifideles Laici. João Paulo II, 1988
DH Dignitatis Humanae. ConcÍlio Vaticano II, 1965
DV Dei Verbum. Concílio Vaticano II, 1965
EN Evangelii Nuntiandi. Paulo VI, 1967
GS Gaudium et Spes. Concílio Vaticano II, 1965
IM Inter Mirifica. Concílio Vaticano II, 1963
IPH Igreja e Promoção Humana em África hoje.
SECAM, 1984
LG Lumen Gentium. Concílio Vaticano II, 1964
LE Laborem Exercens. João Paulo II, 1981
MM Mater et Magistra. João XXIII, 1961
MN Momento Novo. CEM, 1991
OA Octagesima Adveniens. Paulo VI, 1971
PP Populorum Progressio. Paulo VI, 1967
PT Pacem in Terris. João XXIII, 1963
RH Redemptor Hominis. João XXIII, 1963
SC Sacrosanctum Concilium. Concílio Vaticano II,
1964
SRS Sollicitudo Rei Socialis. João Paulo II, 1987
TFL Testemunhar a Fé em Liberdade. Quelimane, 1979
VC Viver em Comunidade. Quelimane, 1979
VFMH Viver a Fé no Moçambique hoje. CEM, 1976

6
Apresentação
O tema dos Direitos Humanos, tratado neste Manual, é muito
debatido nas últimas décadas e é sempre actual. Há sempre
novas maneiras de desrespeito a esses direitos. À medida que
crescemos no respeito a alguns deles, parece que regredimos
em outros.

Hoje em dia há algumas situações que parecem estar mais


evidentes na sociedade moçambicana e no mundo em geral.
Entre elas podemos destacar a intolerância, a violência social,
a “justiça pelas próprias mãos”, o fosso entre ricos e pobres, o
desinteresse por exercer o direito de voto, a falta de confiança
nos políticos... Essas situações escancaram o desrespeito pelos
direitos humanos e as consequências desse desrespeito.

A paz é fruto da justiça. A justiça funda-se na igualdade de


oportunidades, no respeito pelo bem comum, na
autodeterminação dos povos, na capacidade de gerir conflitos
que fazem parte da vida do ser humano. Qual é o fundamento
da paz? “A paz funda-se não só no respeito pelos direitos do
homem, mas também no respeito pelo direito dos povos.”
(Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, Compêndio da Doutrina
Social da Igreja, 157).

Este Manual quer ser, primeiramente, um material de pesquisa


para os agentes de pastoral, sobretudo para aqueles que
exercem o seu ministério nas Comissões Sociais e seu
testemunho e cidadania na sociedade em geral. Ele deve
ajudar-nos a perceber o quanto a nossa sociedade anda doente
e o quanto precisa de nossa intervenção, de nossa participação
cristã e cidadã para que alcancemos as transformações que
todos almejamos.
7
O Papa Francisco inclui a todos nessa tarefa quando diz que
“todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a
preocupar-se com a construção dum mundo melhor. É disto
mesmo que se trata, pois o pensamento social da Igreja é
primariamente positivo e construtivo, orienta uma acção
transformadora e, neste sentido, não deixa de ser um sinal de
esperança que brota do coração amoroso de Jesus Cristo.”
(Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho” 183).

Este Manual dos Direitos Humanos não deve ser apenas um


livro de leitura pessoal. Ele deve ser usado nos nossos grupos
comunitários e paroquiais, nos núcleos de evangelização, nas
nossas Escolas e Universidades, nas casas de formação e nos
seminários, em todas as pastorais como material de formação e
apoio para a leitura da realidade e a busca de transformação da
mesma.

Boa leitura pessoal e comunitária! Deus nos abençoe com dias


melhores e que nós colaboremos para que isto aconteça!

D. Luiz Fernando Lisboa, cp


Bispo de Pemba e Presidente da
Comissão Episcopal de Justiça e Paz

8
Introdução
Este texto apresenta a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, com explicações adequadas, tendo como finalidade
ser um instrumento ao serviço das pessoas, das comunidades e
da sociedade.

Conteúdos
A Declaração é formada por trinta artigos. Cada artigo está
numerado para facilitar o estudo e a reflexão.

Em cada artigo apresenta-se:

1. O texto, tal como foi aprovado pela ONU.


2. A Palavra de Deus: alguns passos ajudam para ler os
Direitos Humanos à luz do projecto de Deus sobre a
humanidade.
3. Uma explicação para a melhor compreensão do
significado do texto e da sua aplicação actual.
4. Os documentos de apoio, extraídos dos documentos
da Igreja (do concílio, das cartas dos Papas e dos Bispos…),
que expressam a preocupação da Igreja pelos Direitos
Humanos.
5. O trabalho em grupo: perguntas que servem para
reflectir e aprofundar juntos àquilo que cada artigo da
Declaração Universal dos Direitos Humanos nos diz para a
nossa situação.

No fim do livro encontra-se um pequeno Dicionário das


palavras consideradas mais difíceis e que ocorrem no texto.

9
Metodologia

Para que este texto seja valorizado e possa atingir a sua


finalidade (dar a conhecer os Direitos Humanos e aprender
uma linguagem própria para os defender), sugerimos
vivamente os seguintes critério metodológicos:

1. Utilizar o método da análise social, com os seus três


passos:
VER – JULGAR – AGIR
VER – observar com atenção a realidade em que
(análise): se vive: informar-se bem sem ir atrás dos
boatos. Descobrir também os pontos
positivos da vida dos homens. Deixar-se
sensibilizar pelo que acontece (não ficar
passivo) e ver se algum direito não é
respeitado. Procurar esse direito na
Declaração e estudar o seu significado e o
que defende.

JULGAR não é suficiente dizer: “aconteceu”. É


(reflexão): preciso ter “consciência crítica” e
procurar descobrir as verdadeiras causas
dos problemas e abusos que existem.
Não olhar para a realidade
superficialmente, mas analisar os factos
distinguindo o bem do mal.
Para fazer e aprofundar esta reflexão é
fundamental servir-se da palavra de Deus,
para descobrir que caminho evangelho
propõe diante dos problemas.

10
AGIR (acção): O método da análise social tem sempre
como finalidade chegar a uma acção,
diante dos problemas analisados.
É importante que cada um procure
assumir os seus compromissos, tanto
pessoalmente como em grupo. Para isso, é
necessária a participação activa de todos,
para serem sujeitos e não se deixarem
instrumentalizar pela situação.
2. Criar grupos de reflexão. Pode ser
toda a comunidade cristã ou outros grupos
diferentes. O importante é que cada um
não utilize o livro só por sua conta.
Trabalhar em conjunto ajuda a observar
com mais profundidade a nossa realidade.
Ajuda também a tomar compromissos com
mais coragem e espírito de iniciativa.
3. Suscitar a participação de todos.
Nos trabalhos de grupo podem ser
utilizados com muito proveito:
 desenhos
 foto-linguagem
 mini teatros
 literatura oral, local.
4. Utilizar documentos legislativos.
Não se deve esquecer a utilizar de
documentos legislativos do país,
especialmente a Constituição.

11
O que são os Direitos Humanos?
Qual é o Significado dos Direitos Humanos?

Direitos Humanos são garantias jurídicas universais que


protegem os indivíduos e grupos contra acções que interferem
com as suas liberdades fundamentais e dignidade humana. As
normas dos Direitos Humanos obrigam os Governos a fazer
determinadas coisas e proíbem-nos de fazer outras. Algumas
das mais importantes características dos direitos humanos são
as seguintes:

 São garantidos internacionalmente;


 São juridicamente protegidos;
 Centram-se na dignidade da pessoa humana;
 Protegem os indivíduos e grupos;
 Obrigam os Estados e os agentes estaduais;
 Não podem ser retirados nem negados;
 Todos e cada um dos artigos têm igual importância e
são interdependentes;
 São universais.

Os direitos humanos e liberdades fundamentais aparecem


enunciados na Declaração Universal dos Direitos do Homem
e em diversos tratados (também chamados “pactos” e/ou
“convenções”), declarações, directrizes e conjuntos de
princípios, elaborados pelas Nações Unidas e organizações
regionais. Incluem uma ampla variedade de garantias
abrangendo, praticamente, todos os aspectos da vida e
actividade humanas.

12
Entre os Direitos garantidos a todos os seres humanos,
contam-se os seguintes:

 O Direito à vida;
 A proibição da tortura e das penas ou tratamentos
cruéis, desumanos ou degradantes;
 A proibição da prisão ou detenção arbitrária;
 O direito a um julgamento justo;
 A proibição da discriminação;
 O direito a igual protecção da lei;
 A proibição de intromissões arbitrárias na vida privada,
famílias, domicílio ou correspondência;
 As liberdades de associação, expressão, reunião e
movimento;
 Os direitos de procurar beneficiar de asilo;
 O direito a uma nacionalidade;
 As liberdades de pensamento, de consciência e de
religião;
 O direito a condições de trabalho justas e favoráveis;
 Os direitos a condições adequadas de alimentação,
abrigo, vestuário e segurança social;
 O direito à saúde;
 O direito à educação;
 O direito à propriedade;
 O direito de participar na vida cultural; e
 O direito ao desenvolvimento.

13
Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a


todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais
e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e
da paz no mundo;

Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos


direitos do Homem conduziram a actos de barbárie que
revoltam a consciência da humanidade e que o advento de um
mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de
crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a
mais alta inspiração do Homem;

Considerando que é essencial a protecção dos direitos do


Homem através de um regime de direito, para que o Homem
não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a
tirania e a opressão;

Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de


relações amistosas entre as nações;

Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas


proclamam, de novo, a sua fé nos direitos fundamentais do
Homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na
igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declaram
resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar
melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais
ampla;

Considerando que os Estados membros se comprometeram a


promover, em cooperação com a Organização das Nações

14
Unidas, o respeito universal e efectivo dos direitos do Homem
e das liberdades fundamentais;

Considerando que uma concepção comum destes direitos e


liberdades é da mais alta importância para dar plena satisfação
a tal compromisso:

A Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal


dos Direitos Humanos como ideal comum a atingir por todos
os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e
todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no
espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por
desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por
promover, por medidas progressivas de ordem nacional e
internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação
universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios
Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a
sua jurisdição.

15
Direitos Pessoais
Artigo 1.°
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e
em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns
para com os outros em espírito de fraternidade.
Artigo 2.°
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as
liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção
alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de
religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou
social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra
situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção
fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país
ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou
território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a
alguma limitação de soberania.
Artigo 3.°
Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança
pessoal.
Artigo 4.°
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a
escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são
proibidos.
Artigo 5.°
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos
cruéis, desumanos ou degradantes.

16
Direitos Judiciários

Artigo 6.°
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos
os lugares, da sua personalidade jurídica.

Artigo 7.°
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a
igual protecção da lei. Todos têm direito à protecção igual
contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração
e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8.°
Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições
nacionais competentes contra os actos que violem os direitos
fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.

Artigo 9.°
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10.°
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua
causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal
independente e imparcial que decida dos seus direitos e
obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria
penal que contra ela seja deduzida.

Artigo 11.°
1.Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se
inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada
no decurso de um processo público em que todas as garantias
necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.

17
2.Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no
momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face
do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será
infligida pena mais grave do que a que era aplicável no
momento em que o acto delituoso foi cometido.

Direitos Civis e Político

Artigo 12.°
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada,
na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência,
nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões
ou ataques, toda a pessoa tem direito a protecção da lei.

Artigo 13.°
1.Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher
a sua residência no interior de um Estado.
2.Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se
encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 14.°
1.Toda a pessoa sujeita à perseguição tem o direito de procurar
e de beneficiar de asilo em outros países.
2.Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de
processo realmente existente por crime de direito comum ou
por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações
Unidas.

Artigo 15.°
1.Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
2.Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua
nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.
18
Artigo 16.°
1.A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de
casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça,
nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da
sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
2.O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno
consentimento dos futuros esposos.
3.A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e
tem direito à protecção desta e do Estado.

Artigo 17.°
1.Toda a pessoa, individual ou colectiva, tem direito à
propriedade.
2.Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua
propriedade.

Artigo 18.°
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de
consciência e de religião; este direito implica a liberdade de
mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de
manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum,
tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática,
pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19.°
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de
expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas
suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem
consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer
meio de expressão.

19
Artigo 20.°
1.Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de
associação pacíficas.
2.Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21.°
1.Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos
negócios públicos do seu país, quer directamente, quer por
intermédio de representantes livremente escolhidos.
2.Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de
igualdade, às funções públicas do seu país.

Direitos Sociais

3.A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos


poderes públicos e deve exprimir-se através de eleições
honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e
igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que
salvaguarde a liberdade de voto.

Artigo 22.°
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à
segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos
direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças
ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia
com a organização e os recursos de cada país.

Artigo 23.°
1.Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do
trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à
protecção contra o desemprego.
20
2.Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual
por trabalho igual.
3.Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e
satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência
conforme com a dignidade humana, e completada, se possível,
por todos os outros meios de protecção social.
4.Toda a pessoa tem direito de fundar, com outras pessoas,
sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus
interesses.

Artigo 24.°
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres,
especialmente, a uma limitação razoável da duração do
trabalho e as férias periódicas pagas.

Artigo 25.°
1.Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para
lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar,
principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao
alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços
sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego,
na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros
casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias
independentes da sua vontade.
2.A maternidade e a infância têm direito à ajuda e à
assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou
fora do matrimónio, gozam da mesma protecção social.

Artigo 26.°
1.Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser
gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar
fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino
21
técnico e profissional devem ser generalizados; o acesso aos
estudos superiores deve estar aberto a todos em plena
igualdade em função do seu mérito.

2.A educação deve visar à plena expansão da personalidade


humana e ao reforço dos direitos do Homem e das liberdades
fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e
a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou
religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das
Nações Unidas para a manutenção da paz.
3.Aos pais pertencem a prioridade do direito de escolher o
género de educação a dar aos filhos.

Artigo 27.°
1.Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na
vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar
no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.
2.Todos têm direito à protecção dos interesses morais e
materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou
artística da sua autoria.

Artigo 28.°
Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no
plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente
efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente
Declaração.

22
Artigo 29.°
1.O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da
qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua
personalidade.
2.No exercício deste direito e no gozo destas liberdades,
ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei
com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o
respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de
satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e
do bem-estar numa sociedade democrática.
3.Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser
exercidos contrariamente e aos fins e aos princípios das
Nações Unidas.

Conclusão

Artigo 30.°
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser
interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado,
agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma
actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os
direitos e liberdades aqui enunciados.

23
PRIMEIRA PARTE

Direitos Pessoais

Artigos 1-5

A Declaração Universal
dos Direitos Humanos
dedica os primeiros cinco artigos
à pessoa e aos seus direitos fundamentais.
Põe o homem no centro de tudo,
sujeito de direitos e deveres.
Quando se dá o devido lugar à pessoa humana,
é possível construir-se
uma sociedade justa.
24
1. Liberdade, Igualdade e Fraternidade

Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São


dotados de razão e consciência e devem agir para com os outros com
espíritos de fraternidade.

Palavra de Deus

“Cristo libertou-nos para sermos realmente livres. Portanto,


permaneçam firmes e não tornem mais a ser escravos” (Gal.
5,1).

Outros textos:
Mal. 2, 10; Rom. 12, 10; Gal. 5,13; Tg. 2.12

Explicação

A declaração dos Direitos do Homem indica-nos o caminho a


seguir na construção dum mundo novo. Todos os governos e
todas as forças organizadas devem pôr-se ao serviço do
Homem, quer como indivíduo, quer como ser comunitário.
Em primeiro lugar está a pessoa. A pessoa entendida com as
suas qualidades fundamentais: a liberdade, a igualdade e a
fraternidade.

Liberdade

Todo o homem nasce livre, isto é, capaz de fazer escolhas e


concretizá-las.

25
Por este facto:

 Não pode viver no constrangimento e no medo;


 Deve ter condições para desenvolver a sua capacidade
criadora, tomar iniciativas a viver com dignidade;
 Deve ter uma dignidade própria como sujeito; não pode
ser tratado como instrumento.

Igualdade
“O nascimento é igual para todos” (Provérbio africano). Por
isso, o homem é igualmente digno, quer trabalhe no escritório
ou no campo, quer seja chefe ou simples cidadão, jovem ou
adulto.
Fraternidade
Fraternidade é a vontade de viver como irmãos. Irmão é
aquele que:

 Ama o outro;
 Dialoga e tem confiança nos outros;
 Busca soluções em conjunto;
 Quer o desenvolvimento e o bem-estar de todos;
 Dá hospitalidade;
 Corrige sem condenar aquele que falha.

Este primeiro artigo põe as bases de todos os direitos do


homem. Todo aquele que entende edificar um mundo justo e
humano formará homens livres, iguais em dignidade e irmãos.
Pelo contrário, aquele que não considera todo o homem como
irmão, igual a si próprio em dignidade e liberdade, construirá
uma sociedade em que os homens se odeiam, se discriminam e
se escravizam.

26
Documentos de apoio
“Os direitos do homem são baseados na dignidade
reconhecida de todos os seres humanos, na sua igualdade e
fraternidade. O dever de respeitar estes direitos é um dever de
carácter universal. A promoção destes direitos é um factor de
paz: a sua violação é uma causa das tensões e perturbações,
mesmo a nível internacional”. (Paulo VI, Mensagem às
Nações Unidas, Outubro de 1965).
“A igualdade fundamental entre todos os homens deve ser
cada vez mais conhecida, uma vez que, dotados de alma
racional e criados à imagem de Deus, todos têm a mesma
natureza e origem; e, remidos por Cristo, todos têm a mesma
vocação e destinos divinos (…). Embora entre os homens haja
justas diferenças, a igual dignidade pessoal exige, no entanto,
que se chegue a condições de vida mais humanas e justas”
(GS 29, 1 e 31).
“O homem, por sua natureza, é pessoa dotada de inteligência
e vontade livre. Por esta razão, possui em si mesmo direitos e
deveres que emanam directamente da sua própria natureza.
Trata-se, por conseguinte, de direitos e deveres universais,
invioláveis e inalienáveis, que não são concessão dos poderes
públicos, nem dos órgãos legislativos” (CEM – Caminhos de
Paz- CNP pág. 68).

27
Trabalho de grupo
1. Todo o homem nasce livre.
1.1.Quando é que somos livres?
1.2.E quando é que não somos?
2. Por que os homens são iguais e têm a mesma dignidade?
3. Entre os homens há diferenças que enriquecem a nossa
sociedade. Quais são?
4. Há também diferenças que são injustas e oprimem os
homens. Fale de algumas delas.
5. Todos os homens são irmãos: por que, então, lutam entre
eles?

28
2. Não à Discriminação
Todo o homem pode apelar aos direitos e às liberdades proclamadas na
presente Declaração, sem distinção alguma que provenha da raça, da cor,
sexo, língua, religião, opinião política ou qualquer outra origem nacional
ou social, riqueza, nascimento ou outra condição.
Além disso, não se fará distinção alguma baseada em estatuto político,
jurídico ou internacional do país ou território a que a pessoa pertença,
quer esse país ou território seja independente, quer esteja sob tutela, quer
seja ou não autónomo ou submetido a qualquer limitação de soberania.

Palavra de Deus
“Não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há
homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo”
(Gal, 3, 28).
Outros textos:
Dt. 10,17; 27, 19; Col, 3,11; Tgo. 2,1-5

Explicação
Ser homem ou mulher, negro ou branco, crente ou não crente,
rico ou pobre, ser de uma tribo ou de outra… não são motivos
para “privilegiar ou discriminar as pessoas. Este artigo
pretende abolir toda e qualquer discriminação entre os homens.
No mundo, existem muitas discriminações:

 Há discriminação entre homem e mulher; as mulheres


ainda são excluídas de certos trabalhos e são-lhes
reservados outros; são impedidas de escolher a
profissão, o marido…
 Há discriminação entre as classes sociais: gerentes e
trabalhadores; professores e camponeses; ricos e
pobres; os ricos encontram facilidades e aos pobres
muitas portas ficam fechadas.
 Há discriminação com base na raça: em alguns países,
existem privilégios e separação entre grupos étnicos,
29
entre negros e brancos; há discriminação nas escolas,
nos transportes, nos lugares de trabalho, nas
residências…
 Há discriminação por motivo de religião em alguns
países: algumas pessoas perdem o lugar no trabalho;
outras são excluídas da vida política por praticarem
uma determinada religião.

Acabar com a discriminação é dever de todos. Mas isto só será


possível se as pessoas se unirem para criar o respeito
recíproco, tomando consciência de que a discriminação surge
do egoísmo e da vontade de domínio.

Documentos de apoio
“Sem dúvidas, os homens não são todos iguais quanto à
capacidade física e forças intelectuais e morais, variadas e
diferentes em cada um. Mas deve superar-se e eliminar-se,
como contrária à vontade de Deus, qualquer forma social ou
cultural de discriminação, quanto aos direitos fundamentais da
pessoa, por razão de sexo, raça, cor, condição social, língua ou
religião” (GS 29, 2).
“A ambição do poder e da dominação leva o homem a ignorar
os direitos dos seus semelhantes e desperta nele a inveja, o
ódio, a vingança as lutas fratricidas…
Quando o homem se sente lesado nos seus mais legítimos
direitos e profundas aspirações reais, tende a reivindica-los,
recorrendo, muitas vezes, à violência” (CEM – Caminhos de
Paz, pág. 68).

30
Trabalho de Grupo
1. Que tipos de discriminação conhecem no seu país? E
noutros países?
2. Quais são as causas da discriminação?
3. A solidariedade, a entreajuda familiar, tribal ou nacional
são um bem. Quando é que o exercício destes valores pode
torna-se injusto?
4. A igualdade do homem e da mulher é reconhecida no nosso
país pela lei. E na prática?

31
3. Vida, Liberdade e Segurança
Todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança
da sua pessoa.

Palavra de Deus

“Não matarás” (Ex. 20, 13).


“Ouviste o que foi dito aos antigos: não matarás; aquele que
matar está sujeito a ser condenado. Eu porém digo-vos: Quem
se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem
lhe disser imbecil, será réu diante do sinédrio” (Mt. 5,21-22).

Outros textos:
Gn. 9, 5-6; Dt. 30, 19; Ez. 18, 32; Jo. 10,10

Explicação

A vida, a liberdade e a segurança são direitos fundamentais da


pessoa.

Direito à vida

A vida é o maior bem que temos. Viver é nascer, crescer,


pensar, trabalhar, comer, ter conhecimentos, fazer festas,
danças, visitar os amigos…

Defende-se o direito à vida apoiando tudo aquilo que a


favorece como: boa alimentação, vestuário suficiente,
condições de saúde, promoção intelectual, protecção das mães
no tempo de gravidez, protecção das crianças…

32
Ninguém é dono da vida dos outros, por isso, nem os cidadãos,
nem o Estado pode tirá-la ou limitá-la. Há muitas situações em
que os homens e os estados se fazem donos da vida dos outros.

No mundo há ainda homicídios, condições desumanas de


trabalho, prisões arbitrárias, torturas, pena de morte. Todo o
esforço que as nações fazem para limitar o armamento, para
eliminar toda a guerra e a pena de morte é uma defesa deste
direito.

Direito à Liberdade

Somos livres quando podemos fazer sem medo as escolhas


fundamentais da vida: casar ou não casar, escolher o local de
residência, a profissão, praticar ou não uma religião…

Liberdade significa que todo o homem é responsável, capaz de


procurar o seu bem-estar e de colaborar na ordem e no bem
comum.

Liberdade não significa, porém, autorização de ser ladrão, de


explorar, de fazer sofrer os outros.

Aceita-se em toda a parte que a sociedade limite a liberdade


das pessoas irresponsáveis e dos que não respeitam os direitos
dos outros (os ladrões, os bandidos…).

Pelo contrário, a limitação total da liberdade dos cidadãos é


sinal de ditadura e de opressão.

33
Direito à Segurança

Cada sociedade deve garantir a vida e os bens de cada


cidadão, criando leis justas, conhecidas por todos e aplicando-
as correctamente. Os corpos de segurança (polícia e tropa),
exercendo as suas funções, não podem torna-se instrumentos
de terror e de violência. A sua actividade é regulada pela lei.
Uma vigilância sem lei e sem freios desencadeia a
arbitrariedade e a brutalidade.
O direito à segurança garante às pessoas um viver sossegado,
a possibilidade de construir um futuro tranquilo para si e para
a família.

Documentos de Apoio

“Trata-se de construir um mundo em que todos os homens,


sem excepção de raça, religião ou nacionalidade, possam viver
uma vida plenamente humana, livre de servidões que lhe vêm
dos homens e de uma natureza mal domada; um mundo em
que a liberdade não seja uma palavra vã” (PP 47).
“É realmente de lamentar que os direitos fundamentais da
pessoa ainda não sejam respeitados em toda a parte. Por
exemplo, quando se nega à mulher o poder de escolher
livremente o esposo ou o estado de vida ou de conseguir uma
educação ou cultura iguais à do homem” (GS 29,2).
“Queremos, mais uma vez, denunciar como crimes, venham
donde vierem, os assassinatos, as execuções sumárias, a
liquidação física de prisioneiros ou de suspeitos, as represálias
contra populações ou pessoas indefesas, os espancamentos
brutais, as mutilações, os ataques a pessoas inocentes, as
medidas punitivas, cruéis e degradantes” (CEM – A Urgência
da Paz, 4).
34
Trabalho de Grupo

1. O homem tem direito à vida, a uma vida plenamente


humana. Como deve ser essa vida?
2. No ambiente em que vivemos, há respeito pela vida? Em
que factos se baseia?
3. A nossa cultura tradicional procura respeitar o sentido
sagrado da vida. O que fazer para manter vivos os valores como
o respeito, a hospitalidade…?

35
4. Não Ser Escravizado

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão. A


escravidão e tráfico de escravos são proibidos em todas as
suas formas.

Palavra de Deus

“O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor


me ungiu. Enviou-me a levar a boa nova aos que sofrem, a
curar os de coração despedaçado, a anunciar a amnistia aos
cativos e a liberdade aos prisioneiros” (Is. 61, 1).

Outros textos:
Is. 58, 6; Lc. 4, 18; Flm 1, 15-16

Explicação

Escravo é aquele que depende totalmente duma outra pessoa,


como se fosse uma coisa dele, um instrumento.
O escravo é propriedade do seu patrão, para o qual trabalha
sem vencimento e sem direitos.
Na nossa terra havia pessoas que eram levadas para terras
estrangeiras e aí vendidas e obrigadas a trabalhar. Esta
escravatura quase desapareceu complementarmente.
Hoje, porém, permanecem outras formas de escravidão:

 Há povos escravos de outros povos mais fortes e mais


ricos que os submetem política e economicamente;
 Há pessoas que sãos escravas do medo e que não
conseguem defender os seus direitos;
 Há famílias escravas dos costumes e que obrigam as suas
filhas a casamentos prematuros ou de interesse…
36
Documentos de apoio

“É infame tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana,


como as condições de vida infra-humanas, as prisões
arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o
comércio de mulheres e jovens; e também as condições
degradantes de trabalho, em que os operários são tratados
como mero instrumentos de lucro e não como pessoas livres e
responsáveis.
Todas estas coisas e outras semelhantes são infamantes; ao
mesmo tempo que corrompem a civilização humana,
desonram mais aqueles que assim procedem, do que aos que
padecem injustamente; e ofendem gravemente a honra devida
ao Criador” (GS 27, 3).
“As nações economicamente desenvolvidas que, de qualquer
modo, auxiliam os mais pobres, devem, portanto, respeitar ao
máximo as características de cada povo e as antigas tradições
sociais, abstendo-se cuidadosamente de qualquer pretensão do
domínio” (PT 125).
“Se a luta pela libertação e contra situações de opressão é
justa, podem não ser justos os meios utilizados” (CEM –
Caminhos da Paz – pág. 73).

Trabalho de Grupo
1. O que sabe de escravatura no mundo e no nosso país,
no passado e actualmente?
2. Não há ainda hoje alguma forma de escravatura?

3. Quais são os nomes novos dessa escravatura? Em que


aspectos é que estas situações ferem a dignidade do homem?

37
5. Não à Tortura

Ninguém será submetido à tortura nem ao tratamento ou


castigo cruel, desumano ou degradante.

Palavra de Deus

“Não invejes o homem violento, nem adoptes o seu


procedimento, porque o Senhor abomina o homem perverso,
mas reserva a sua intimidade para com os justos”.
(Provérbios, 3.31-32).
“Os soldados perguntaram-lhe: e nós o que devemos fazer?
Respondeu-lhes: não exerçais violência sobre ninguém, não
denuncieis injustamente e contentai-vos com o vosso salário”
(Lc, 3, 14).

Outros textos Bíblicos:


Mt. 5, 38

Explicação
Chamamos tortura todos os castigos corporais ou maus tratos
aplicados às pessoas. Há muitos casos de tortura:

 Usar chicote ou palmatória;


 Espancar as pessoas;
 Amarrar alguém com cordas ou borrachas até inutilizar os
membros;
 Manter os presos na cadeia em condições desumanas e
anti-higiénicas ou intimidá-los, ameaçando os familiares;
 Interrogatórios prolongados; etc. …

38
As torturas e os castigos desumanos são crimes contra a
humanidade.

A tortura foi condenada pelas organizações mundiais, pela


maioria dos Estados e por todos os homens sábios. O Estado
pode aplicar um castigo justo aos que falham. Mas nunca a
tortura pode ser aceite como castigo ou como método de
reeducação.

Documentos de apoio

“Todo o que viola a integridade da pessoa humana, como as


mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas
para violentar as próprias consciências; tudo quanto ofende a
dignidade humana, como as condições de vida infra-humanas,
as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão…todas
estas práticas e outras semelhantes são, na verdade, infames”
(GS 27, 3).
“Os massacres, os bombardeamentos indiscriminados,
retaliações contra populações indefesas ou refugiadas,
sujeição de populações através do método do terror, as
torturas e sevícias, a violência psicológica criando situações
de pânico, são actos que põem a claro a desumanidade de
quem os prática” (CEM - Caminhos de Paz – pág. 71).

Trabalho em Grupo

1. Que tipo de torturas conhece no nosso ambiente?


2. O que leva algumas pessoas a torturar os seus
semelhantes?
3. Pode-se justificar o uso de tortura?
4. O que fazer, então, para punir os que praticam o mal?
39
SEGUNDA PARTE

Direitos Judiciários

Artigos 6-11

Na vida social,
os homens encontram dificuldades
e suscitam contendas.
Para resolver os conflitos
que surgem
nas relações humanas, criam-se leis
e instituem-se tribunais.
Nesta segunda parte,
a Declaração dos Direitos Humanos
fala da pessoa
perante a lei e os tribunais.
40
6. Reconhecimento e Defesa da Pessoa na Lei

Todo o homem tem direito a que seja reconhecido em todos os


lugares a sua personalidade jurídica.

Palavra de Deus

“Uma mesma lei e um mesmo direito existirão para vós e para


o estrangeiro residente no meio de vós” (Nm. 15.16).

Outros textos:
Lv. 19, 34; Miq, 6.8; Mt. 7,12

Explicação

Cada homem, desde o nascimento, é considerado e protegido


pela lei que o defende como pessoa: isto significa ter
personalidade jurídica.
A lei determina os direitos e deveres de cada um. Direito é
tudo quanto o homem pode exigir dos outros, conforme a
dignidade da pessoa humana. Dever é tudo o que uma pessoa
tem obrigação de fazer para com os outros e a sociedade.
Quando o Estado faz as leis, deve considerar o Homem como
centro delas: a lei deve servir o Homem e não escraviza-lo.
A lei deve ser aperfeiçoada e mudada cada vez que se tornar
insuficiente para promover os direitos do Homem.
Quando há leis injustas, podemos recorrer à objecção de
consciência que é o direito de desobedecer às leis e ordens
injustas. A plena responsabilidade de cada pessoa perante a
lei começa com a maioridade.
Com a maior idade uma pessoa goza de todos os seus direitos
de maneira autónoma e tem de responder pelos seus actos.

41
Também a criança tem direitos e deveres que vive e pratica
sob a orientação dos seus pais.

Documentos de apoio

“Ao mesmo tempo aumenta a consciência da eminente


dignidade da pessoa humana, por ser superior a todas as
coisas e os seus direitos e deveres serem universais e
invioláveis. É necessário, portanto, tornar acessíveis ao
homem todas as coisas de que necessita para levar uma vida
verdadeiramente humana” (GS, 26,2).
“O fundamento de toda a sociedade bem constituída e
eficiente é o princípio de que todo o ser humano é pessoa, isto
é, natureza dotada de inteligência e vontade livre. Por esta
razão, possui em si mesmo direitos e deveres que emanam
directa e simultaneamente de sua própria natureza.
Trata-se, por conseguinte, de direitos e deveres universais,
invioláveis e inalienáveis” (PT 9).

“Todo o homem deve ser guiado fundamentalmente pela


verdade e pela justiça, pelo respeito pelo outro, pela prática da
liberdade. Que ninguém se sinta dominado ou humilhado.
Todos devem convencer-se de que progredir é, sobretudo,
crescer como pessoa. Crescer em dignidade, orientar toda a
sua vida pela sinceridade, pelo amor e pela justiça” (CEM -
Caminhos de Paz- pág. 72-73).

Trabalho de grupo

1. O que quer dizer “personalidade jurídica”?


2. A que pessoa pode ser limitada nos seus direitos? Em que
circunstâncias?
42
7. A Lei é Igual para Todos

1. Todos são iguais perante a lei e tem direito a igual protecção


pela lei sem qualquer distinção.
2. Todos têm direito a igual protecção contra qualquer
discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer
incitamento a tal discriminação.

Palavra de Deus

“O Senhor vosso Deus, é o Deus dos deuses, o Deus supremo,


poderoso e temível que não faz distinção de pessoas nem cede
à corrupção.
Ele faz justiça ao órfão e à viúva, ama o estrangeiro e dá-lhe o
pão e o vestuário” (Dt. 10, 17-18).
“Não farás vergar a justiça, não farás distinção de pessoas e
não aceitarás presentes corruptores, pois a corrupção cega os
olhos dos sábios e perverte a casa do inocente” (Dt, 16, 19).

Outros textos:
(Provérbios. 21,3); (João. 7, 24); (Acto dos Apóstolos. 10, 34-35); (1
Timóteo 5, 21); (Deuteronómio 10, 17); (Tiago 2, 9); (Levítico
15,19);

Explicação

A lei existe para proteger a pessoa. Esta protecção é para


qualquer homem sem distinção, ou seja, a Lei têm medida
igual para todos. A Constituição da República de
Moçambique, num artigo que aborda a questão do princípio da
universalidade e igualdade, afirma que:

43
“Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos
mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres,
independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de
nascimento, religião, grau de instrução, estado civil dos pais,
profissão ou opção política” (CRM, art. 35).

Por sua vez, a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos


Povos afirma, no artigo 3, no número 1, que “Todas as pessoas
beneficiam de igualdade perante a Lei”. Continuando, o
número 2 do mesmo artigo diz o seguinte: “Todas as pessoas
têm o direito a uma igual protecção da Lei.”

Nem sempre é possível verificar o cumprimento do artigo 35


da Constituição da República, devido a vários factores, dos
quais podemos destacar alguns: o desconhecimento da Lei por
parte dos cidadãos, elevado nível de corrupção, o clientelismo
no aparelho da justiça… etc. Das formas mais comuns de
violação deste artigo destacam-se as seguintes:
 A aplicação de sanções de acordo com a categoria ou
posição social do culpado;
 O favorecimento do julgamento a amigos e/ou
familiares do juiz;
 O aproveitamento da posição social para conseguir
aceder a cargos, benefícios sociais ou políticos.

Documentos de apoio
“Compete também à pessoa humana a legítima defesa dos seus
direitos; defesa ética, imparcial, conforme as normas
objectivas da justiça” (PT 27).
“O conhecimento das liberdades e direitos fundamentais, com
os seus correspondentes deveres, constitui uma obrigação para

44
todos nós. Com efeito, sem este conhecimento, não é possível
ao moçambicano realizar-se como cidadão, nem tão pouco
reivindicar as liberdades e direitos ofendidos, nem colaborar
conscientemente na construção de uma sociedade justa e
livre”. (CEM- Testemunhar a fé em liberdade – pág. 52 e
53).

Trabalho de Grupo

1.Todos os países têm leis (constituições, decretos…): qual é


o fim destas leis?

2. O que significa ser igual perante a Lei?

3. Identifique os artigos da Declaração Universal dos Direitos


Humanos que abordam a questão da igualdade perante a Lei?

45
8. A Defesa nos Tribunais

Todo o homem tem direito de receber dos tribunais nacionais


competentes os recursos efectivos contra os actos que violam
os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição e
pela Lei.

Palavra de Deus

“Dei então as seguintes ordens aos vossos juízes; Dai


audiência aos vossos irmãos e julgai, com equidade, as
questões de cada um deles com o seu irmão ou estrangeiro
que reside com eles. Não fareis distinção de pessoas nos
vossos julgamentos; ouvireis tanto o pequeno como o grande,
sem temor de ninguém”. (Deuteronómio 1, 16-17).

Outros textos:

Prov. 29,2, 4,6,16; Rom. 13, 3-4.

Explicação

Num julgamento, a pessoa acusada têm direito à defesa. Sem o


direito à defesa, qualquer julgamento é temerário. Sem este
sacrossanto e irrecusável direito, não há ordem jurídica, não há
vida civilizada, não há segurança, não há paz. O direito à
defesa é o fundamento da segurança jurídica da vida social
organizada (…). É essencial à defesa plena que não se rebaixe
o indiciado à condição inferior de simples material de
investigações. E o artigo 62 da Constituição da República de
Moçambique, assim como, o artigo 11 da Lei nº 24/2007, de
20 de Agosto, subordinado ao acesso à justiça ou aos tribunais,

46
fazem menção da necessidade de o Estado providenciar e
garantir ao arguido o direito à defesa, assim como à assistência
jurídica. Por isso, é fundamental que as pessoas saibam o
seguinte:

 Ninguém pode ser condenado por uma lei inexistente;


qualquer que seja a pessoa tem o direito de questionar
sobre o crime de que está a ser acusado ou então
questionar sobre a lei que violou para poder ser preso;

 Ninguém pode ser acusado sem provas suficientes, ou


seja, todos devem exigir que lhes sejam apresentadas as
provas do crime de que estão a ser acusados;

 É permitido recorrer ao tribunal de instância superior,


caso não esteja satisfeito com a decisão final do seu
julgamento.

Documentos de apoio

“Na moderna organização jurídica dos Estados, emerge, antes


de tudo, a tendência para redigir, em fórmulas claras e
concisas, uma carta dos direitos fundamentais do homem; carta
que, muitas vezes, é inserida nas próprias condições.
Determina-se, enfim, em termos de direitos e deveres, as
reclamações dos cidadãos com os poderes públicos; e atribui-
se aos governantes, como primordial função, a de reconhecer
os direitos e deveres dos cidadãos, respeitá-los, harmonizá-los
eficazmente e promovê-los” (PT, 75, 77).

47
“Direito fundamental da pessoa humana é igualmente a defesa
legítima dos seus próprios direitos: defesa eficaz, imparcial e
regulada pelos princípios verdadeiros da justiça” (PT, 27).

Trabalho de Grupo
1. Identifique na Constituição da República de Moçambique
os direitos que um acusado de crime tem?
2. Qual é a tarefa dos tribunais. Identifique-a também na
Constituição Moçambicana?
3. Quais são as qualidades necessárias para um bom juiz?

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9. Não ser Arbitrariamente Castigado

Ninguém será arbitrariamente detido, preso ou exilado.

Palavra de Deus

“Estabelecerás juízes e magistrados em todas as cidades que o


Senhor, teu Deus, te tiver dado, em cada uma das tuas tribos,
para que julguem o povo com equidade… Deves procurar a
justiça e só a justiça, se queres conservar em teu poder a terra
que o Senhor, teu Deus, te dá” (Deuteronómio 16, 18 e 20).

Outros textos:
(Deuteronómio 1, 16-18; Provérbio, 17, 15).

Explicação

Concomitantemente ao excerto da Sagrada Escritura acima


exposto, podemos notar que a Constituição da República de
Moçambique, no artigo 167, estabelece o tipo de tribunal com
existência legal na República de Moçambique e afasta a
constituição de tribunais destinados ao julgamento de certas
categorias de crimes. Portanto, a Sagrada Escritura assim como
o artigo 167da CRM pretendem que as penas aplicadas às
pessoas que cometem uma infracção não sejam arbitrárias, mas
determinadas pela Lei. Na nossa sociedade, infelizmente,
encontramos exemplos que contrariam e afrontam tanto ao
artigo 167 quanto à Sagrada Escritura. Encontramos prisões
arbitrárias, pessoas que ficam tanto tempo encarceradas sem
que sejam julgadas, também encontramos a população a fazer
justiça pelas próprias mãos (matando, destruindo os bens da

49
outra pessoa sob qualquer alegação que não tenha passado pelo
tribunal).

Documento de apoio

Certos chefes de algumas nações restringem demasiado os


limites de uma justa liberdade, que permita aos cidadãos
respirar um clima humano. Em certos regimes, acontece que
se ponha em dúvida o próprio direito de liberdade, ou até que
se veja este inteiramente sufocado. Nestas condições, mina-se
radicalmente a recta ordem da convivência humana, pois o
dever principal do poder público é respeitar o bem comum e
reconhecer os justos limites da liberdade e salvaguardar os
seus direitos (PT, 104).

A prisão não pode obedecer ao capricho mas deve respeitar as


normas jurídicas. Não é admissível que um homem, mesmo o
mais culpado, possa ser arbitrariamente preso e desaparecer
dentro de uma prisão. Enviar alguém para um campo de
concentração e mantê-lo aí sem nenhum processo regular é
pisar o direito (Pio XII, IV Cong. Inter. De direito penal,
1953).

Impõe-se também uma defesa maior e mais eficaz da


legalidade e da correcta administração da justiça. A paz a
nível nacional exige o abandono imediato das medidas ilegais
e; exige um combate corajoso ao abuso do poder, à
arrogância de muitos, aos desvios das próprias constituições
judiciais, ao desprezo pela legalidade, ao uso de processos
policiais e militares na administração da Justiça (CEM – A
urgência da Paz, 10 – 1984).

50
Trabalho em Grupo

1.Existem no nosso país prisões arbitrárias? Mencione um


facto por ti vivido ou que tenha ouvido?

2. Os diferentes órgãos do poder podem condenar alguém sem


lhe dar possibilidade de se defender? Será que acontece em
Moçambique?

3. Por que é que há prisões arbitrárias e eliminação de pessoas?

51
10. Ter Julgamento Justo no Tribunal

Todo o homem tem direito à plena igualdade, a que a sua


causa seja examinada equitativa e publicamente por um
tribunal independente e imparcial, para decidir se os seus
direitos e deveres ou dar fundamento de qualquer acusação
dirigida contra ele.

Palavra de Deus

“Não cometerás injustiças nos julgamentos. Não favorecerás o


pobre, nem serás complacente com o poderoso. Julgarás o teu
próximo com imparcialidade. Não semearás o mal no meio do
teu povo; não ficarás indiferente ao perigo do teu próximo. Eu
sou o Senhor” (Levítico 19, 15-16).

Outros textos:
Deuteronómio 25, 1; Isaías 5, 23; Mateus 18, 15-18; 1Timóteo
5,20).

Explicação

A investigação feita para apurar a verdade antes e durante o


processo designa-se instrução preparatório. Durante o
julgamento, podem cometer-se injustiças advindas de
diferentes causas (favoritismo, corrupção ou mesmo erros
humanos). O texto da Sagrada Escritura acima transcrito é
muito claro no que diz respeito ao cuidado que se deve ter em
conta no acto do julgamento.

A Constituição da República de Moçambique, no Artigo 217,


que aborda a questão da independência dos juízes, afirma que
52
estes, no exercício das suas funções, são independentes e
apenas devem obediência à lei. No mesmo artigo, é-lhes
garantida a imparcialidade e irresponsabilidade. Por isso,
ninguém pode obrigar um juiz moçambicano a julgar o caso de
certa maneira. A única instância a que o juiz deve obediência
é a lei.

Documentos de apoio

“A acção punitiva contra alguém que é julgado deve basear-se


em regras jurídicas claras e firmes e não obedecer à
arbitrariedade e paixão. Isto significa que deve ser instituído
um processo jurídico” (Pio XII, IV Cong. Inter. de Direito
Penal, 1953).

“Infelizmente, não faltam, a nível do país, casos de violência à


legalidade e ao direito. Mas a violação de direito, onde quer
que aconteça, gera e promove o espírito de guerra” (CEM – A
urgência da paz, 10 – 1984).

Trabalhos de grupo
1. O que acontece nos nossos tribunais? Julgam sem ou
com justiça? Porquê?
2. O que tu pensas em relação àqueles que oferecem
presentes aos juízes?
3. Se tiveres de ser testemunha num julgamento, como
deves proceder?
4. É correcto fazer justiça por si próprio? Porquê?
5. Por que a vingança e o ajuste de contas devem ser
proibidos?

53
11. Respeito pelo Acusado

Todo o homem acusado de um acto delituoso se presume


inocente até que fique provada legalmente a sua
culpabilidade, em julgamento público, no qual lhe tenham sido
asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
Ninguém será condenado por actos ou omissões que, no
momento em que foram cometidos, não constituíam delito,
segundo o direito nacional ou internacional. E também não
será infligida pena mais severa do que a aplicável no
momento do delito.

Palavra de Deus

“Se uma falta testemunha se apresentar contra alguém para o


acusar de crime, as duas pessoas interessadas no debate
comparecerão diante do Senhor, na presença dos sacerdotes e
dos juízes em função nessa altura.
Estes examinarão atentamente o caso; se a testemunha é uma
testemunha falsa e proferiu uma mentira contra o seu irmão,
tratá-la-eis como ela tinha pensado tratar o seu irmão. Assim
extirparás o mal no meio de ti (Dt. 19, 16-19).
Outros Textos:
Sl. 82, 3-4; Act. 22, 25 e 30
Explicação
A pessoa acusada é sempre digna de respeito. Existem
estruturas para julgar e lhe aplicar a pena. O respeito para com
o acusado exige algumas atitudes muito concretas;
 São proibidas ameaças e intimidações;
 O acusado será considerado sempre inocente, até que
seja provada a sua culpa, ou seja, o acusado goza da
presunção de inocência.

54
 Ser-lhe-á possibilitado um processo público e com
todas as garantias de defesa, como é o seu direito;
 Uma pessoa não pode ser condenada pelas acções
cometidas antes da existência duma lei que as
considere crime, porque a lei não é retroactiva.
Igualmente, não se pode aplicar um castigo diferente
do que estava estabelecido pela lei em vigor na altura
do crime.

Documentos de apoio

“Entre as garantias da acção judiciária encontra-se também a


possibilidade de o acusado se defender realmente. Deve-lhe ser
permitido, assim como ao seu defensor, apresentar ao tribunal
tudo o que é a seu favor e é inadmissível que a defesa não
possa avançar para além do que convém ao tribunal ou a uma
justiça parcial”. (Pio XII, IV Cong. Inter. de direito penal,
1953).
“Amar como Cristo nos amou implica até o amor dos
inimigos; significa saber distinguir a pessoa que erra do seu
erro. Enquanto o erro deve ser combatido e extirpado, o
homem que erra deve ser amado e corrigido como irmão”
(CEM - Caminhos de Paz, pág. 67).

Trabalho de Grupo

1. Em que casos é que podem ser retirados certos direitos


a uma pessoa?
2. Um homem condenado à prisão conserva ainda
direitos? Porquê?

55
TERCEIRA PARTE

Direitos Civis e Políticos

Artigos 12 – 21

Uma sociedade,
ao organizar a convivência
dos homens,
não abafa os direitos inalienáveis
da pessoa.
O próprio Estado
defende esses direitos
a fim de os promover
e de os garantir,
apoiando o esforço
que cada um deve fazer para crescer como pessoa.
São estes os direitos civis e políticos:

56
12. Respeito pela Vida Privada

Ninguém será objecto de intromissões arbitrárias na vida


privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua
correspondência, nem de atentados à sua honra e reputação.
Todo o homem tem direito à protecção da lei contra tais
intromissões ou atentados.

Palavra de Deus

“O essencial da vida do homem é a água, o pão, o vestuário e


uma casa para ocultar a sua nudez. É melhor viver pobre sob
um tecto de tábuas, do que ter magníficos banquetes em casas
alheias”. (Ecli. 29, 21-22).

Outros textos:
Is. 32, 18; Prov. 12, 17

Explicação
Todos temos uma vida social e pública e também uma vida
privada e particular. Na vida, o homem partilha alegrias e
dores, confidências e amizades; organiza e constrói o seu
futuro; vive tudo aquilo que é mais pessoal e íntimo. Da vida
privada faz parte o domicílio, a família, a correspondência e a
honra de uma pessoa.

A República de Moçambique, através da Lei do Direito à


Informação, Lei n.º 34/2014, no artigo n.º 5, garante o
respeito pela dignidade da qual consta o direito à honra, ao
bom-nome, à reputação, à defesa da imagem pública e à
reserva da vida privada, bem como, no artigo 32 da mesma
Lei.
57
A pessoa, de facto, tem opiniões, projectos, crenças, segredos
que ninguém tem direito de conhecer sem que ela própria os
queira revelar.

As violações mais comuns a este direito à vida privada são:


 Entrar abusivamente na casa de alguém sem
autorização do dono;
 Falar mal das pessoas, espalhar calúnias ou falsas
declarações;

 Espiar as conversas ou a forma de viver das pessoas


na sua vida privada…
Mesmo o Estado tem a obrigação de respeitar a vida privada
dos cidadãos. Contudo, há casos previstos pela lei em que o
Estado pode investigar a vida privada. Mas, neste caso, o
cidadão tem o direito de exigir que lhe seja apresentado o
mandado escrito da autoridade competente, isto é, de um juiz,
para entrar e revistar a casa e ser interrogado.

Documentos de apoio
“A autoridade civil há-de considerar como um dever sagrado
reconhecer, proteger e favorecer a verdadeira natureza do
matrimónio e da família, assegurar a moralidade pública e
favorecer a prosperidade doméstica” (GS 52, 2).
“Teremos de continuar a dizer que os ataques armados a
pessoas inocentes, as medidas punitivas degradantes, as
prisões arbitrárias, a extorsão de confissões, a vingança contra
pessoas apanhadas em zonas suspeitas, as operações de efeito
não controlável, o abuso das armas, destruindo a dignidade e
os direitos fundamentais das pessoas, das populações e do
povo, são crimes infames, tornando infame quem os permite
ou pratica”.
(D. Manuel Vieira Pinto – Caminhos da Paz, pág. 12).
58
Trabalhos de grupo
1. Por que é devemos respeitar os outros?
2. Quais são as violações à intimidade pessoal e familiar
que conhecem?
3. O que é que, na nossa sociedade, torna difícil a vida
privada das pessoas e das famílias?

59
13. Circular Livremente
Todo o homem tem direito de circular livremente e de escolher
a sua residência no interior de um Estado. Toda a pessoa tem
direito de sair de qualquer país, inclusive do próprio e a ele
regressar.

Palavra de Deus

“Pela fé, Abraão, ao ser chamado, obedeceu e partiu para uma


terra que havia de receber por herança …” (Hed. 11, 8).

Outros textos:
Gn. 12, 1; Mc, 16, 15; Act. 1,8

Explicação

Faz parte da vida da pessoa deslocar-se para procurar trabalho


e melhores condições de vida, para visitar amigos e familiares
que vivem longe, para enriquecer os seus conhecimentos, para
contactar com outros povos…

Pelos mesmos motivos, uma pessoa muda de casa e de lugar


de residência ou emigra para outros países.

Cada povo organizado deve favorecer a deslocação das


pessoas, aumentando os meios de transporte e as vias de
comunicação. Deve também facilitar a burocracia (papeladas
e documentos) para permitir a saída e o regresso ao próprio
país.

A livre circulação e a escolha da residência são direitos de


todos e ninguém deverá tirá-los. Há violação destes direitos
60
quando se quer impor a residência obrigatória e quando se
criam obstáculos à livre circulação das pessoas.

Há casos extraordinários em que a circulação das pessoas e a


escolha de residência podem ser controladas. Isto admite-se
em circunstâncias de guerra, de epidemias…Porém, esta
limitação não pode tornar-se regra geral nem vida de todos os
dias.

Documentos de apoio

Todo o homem tem direito de estabelecer ou mudar de


domicílio dentro do país de que é cidadão; mesmo quando
legítimos interesses o aconselhem, deve ser-se permitido
transferir-se para outras comunidades políticas e nelas
domiciliar-se. Por ser alguém cidadão de um determinado país,
não perde o direito de ser membro da família humana, ou
cidadão da comunidade mundial” (PT 25).

Trabalhos de grupo
1. No nosso país, temos o direito de circular e de fixar
residência livremente?
1.1.Identifique as dificuldades que encontramos para
circular livremente?
2. Quais são as vantagens da comunicação entre os
homens?
3. Por que é que há países que fecham as suas fronteiras a
determinadas pessoas?

61
14. Asilo Político

Para fugir à perseguição todo o homem tem o direito de


procurar e beneficiar do asilo em outros países. Este direito
não deve ser invocado contra uma acção judicial legalmente
motivada por crimes comuns ou por actos contrários aos
princípios das Nações Unidas.

Palavra de Deus
“Não oprimirás o estrangeiro, pois sabeis o que é ser um
estrangeiro, vós que fostes estrangeiros, vós que fostes
estrangeiros na terra do Egipto” (Ex. 23, 9).
“Se um estrangeiro residir convosco, deverá ser tratado como
um dos vossos compatriotas e amá-lo-ão como a vós mesmos,
porque fostes estrangeiros na terra do Egipto” (Lv. 19,33-34).

Outros textos:
Ex. 22, 20; Nm. 35, 11; Dt. 10, 18; Mt. 2,13-15 e 19-23; Mt.
10, 23

Explicação

Em muitos países não há liberdade de opinião política,


ideológica ou religiosa; quem fala de maneira diferente do
governo é perseguido por ele. Estas pessoas perseguidas
procuram, então, refugiar-se noutros países onde possam gozar
de asilo e protecção, além de liberdade de opinião.

Pedir asilo quer dizer pedir hospitalidade e protecção, além de


liberdade de opinião. Os refugiados por motivos políticos nos

62
seus países têm de ser protegidos pelo país em que se abrigam
e receber condições para viver. Conforme afirma o art. 14, no
n.º 1 da DUDH, “Toda a pessoa sujeita à perseguição tem o
direito de procurar beneficiar do asilo em outros países”. O
direito a requerer asilo é um direito humano.

Quando uma pessoa é forçada a fugir do seu país de origem e,


por esse motivo, requer asilo num outro Estado, o tratamento
dessa pessoa não depende da discricionariedade do Estado
anfitrião, mas encontra-se disciplinado pelo direito
internacional e em obrigações mútuas.

O direito ao asilo enquanto direito humano encontra-se


contido, para além da Convenção de Genebra Relativa ao
Estatuto dos Refugiados, especificamente em diversos
documentos jurídicos internacionais.

Todos os países que assinaram e ratificaram a Declaração


Universal dos Direitos do Homem não podem recusar esta
ajuda. Em todo o mundo, há muitos refugiados por motivos
políticos. Existem vários exemplos de refugiados que podem
ser encontrados aqui no nosso país:

 No período colonial, muitos moçambicanos foram


perseguidos por causa do seu desejo pela
independência e tiveram asilo nos países vizinhos
como: Malawi, Zimbabwe, Zâmbia, Tanzania e muitos
outros;

 Em Moçambique, recebemos inúmeros refugiados do


Zimbabwe, antes da independência desse país;

63
 Malawi, Zimbabwe, Zâmbia, Tanzania receberam
muitos moçambicanos que fugiam à insegurança
provocada pela guerra.

O direito de asilo não poder ser reclamado:

 Por quem cometeu delitos comuns, tais como: roubos,


homicídios, falsificações de documentos ou de
moeda…

 Por quem cometeu actos contrários aos fins das Nações


Unidas, isto é, contra a paz no mundo, os direitos
humanos, as liberdades fundamentais do homem.

Os Refugiados. Poucas vezes interrogamo-nos das razões da


existência de dezenas de milhões de refugiados no mundo. O
problema dos refugiados deve ser considerado no contexto da
injustiça institucionalizada a nível nacional e internacional. A
crise dos refugiados é a mais clara evidência de uma colisão
violenta e de violações enormes dos direitos humanos. O
problema dos refugiados é essencialmente político.

Documentos de apoio

“Não é supérfluo recordar que os exilados políticos são


pessoas e que lhes devem reconhecer os direitos de pessoa.
Tais direitos não desaparecem com o facto de terem perdido a
cidadania do seu país.

Entre os direitos inerentes à pessoa, figura o de se inserir na


comunidade política, onde espera ser-lhe mais fácil reconstruir
um futuro para si e para a própria família. Incumbe-se aos
respectivos poderes públicos o dever de acolher esses

64
estranhos e, nos limites consentidos pelo bem da própria
comunidade rectamente entendido, o de lhes favorecer a
integração na nova sociedade em que manifestam o propósito
de se inserir” (PT 105-106).

“O turbilhão desencadeado no nosso subcontinente provocou


uma onda de refugiados na medida em que se viram forçados
a fugir de regimes injustos, de possíveis encarceramentos ou
de sistemas que a sua consciência de modo algum podia
suportar. A verdade é que esses refugiados, na maior parte dos
casos, se encontram numa aflitiva necessidade de compreensão
e ajuda cristã. O mais grave ainda é que esta situação tende a
deteriorar-se.

Enquanto a Igreja está empenhada em prestar-lhes auxílio,


continuamente envidar-se-ão esforços de conjugação no
sentido de reunir o maior número possível de recursos para
lutar contra o drama humano que esta situação representa e
principalmente para eliminar as suas próprias causas”
(IMBISA – Declaração de propósitos 1978).

Trabalho de grupo

1. O que sabaemos dos refugiados políticos no mundo?


2. Quais são as razões da existência de muitos refugiados
a correrem para a Europa?
3. Qual é a razão da existência de muitos refugiados na
África e em particular na África Austral?

65
15. Nacionalidade
Todo o homem tem direito a uma nacionalidade. Não se
privará ninguém, arbitrariamente, da sua nacionalidade, nem
do direito de mudar de nacionalidade.

Palavra de Deus

“Quando o Altíssimo deu a sua herança às nações, quando


dispersou os filhos de Adão, fixou os limites dos povos,
segundo o número dos filhos de Israel” (Dt. 32,8)
Outros textos:
Gn. 10,31-32; Act. 22, 27-28
Explicação
Ter uma nacionalidade é fazer parte de um país, ser
reconhecido como cidadão de uma nação. Pela nacionalidade,
um cidadão adquire direitos e deveres:
 Direito de ser considerado e protegido pelas leis e de
participar em todas as actividades sociais e políticas da
sua nação;
 Dever de trabalhar, pagar impostos e colaborar na
defesa e progresso do país.
A nacionalidade reconhece-se por meio do bilhete de
identidade e passaporte. Todos têm direito a estes documentos
para poder circular livremente, encontrar trabalho, ir à escola,
ser reconhecido como cidadão.

É um limite injusto à liberdade da pessoa recusar a entrega


desses documentos ou retirá-los sem motivo. A nacionalidade
não justifica a divisão entre os povos. No espírito de
fraternidade, todos devem sentir-se cidadãos do mundo, sem
fronteiras, sem preconceitos.

66
Documentos de apoio

“Os indivíduos, as famílias e os diferentes grupos que


constituem a sociedade civil têm a consciência da própria
insuficiência para realizar uma vida plenamente humana e
percebem a necessidade de uma comunidade mais ampla, no
seio da qual todos conjuguem diariamente as próprias forças
para cada vez melhor promoverem o bem comum.

E, por esta razão, constituem, segundo diversas formas, a


comunidade política. A comunidade política existe, portanto,
em vista ao bem comum; nele encontra a sua completa
justificação e significação e dele deriva o seu direito natural e
próprio.

Quanto ao bem comum, ele compreende o conjunto das


condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias
e associações alcançar mais pela e facilmente a própria
perfeição” (GS 74,1).

“Cultivem os cidadãos com magnanimidade e lealdade o amor


à pátria, mas com espírito aberto, de modo que tenham sempre
em vista o bem comum de toda a família humana que une
raças, povos, nações, unidos por toda a espécie de laços” (GS
75,5).

Trabalhos em grupo
1. Por que é que todo o indivíduo tem o direito de
pertencer a uma nação?
2. Qual é o fim da comunidade política (nação)?
3. É possível que muitos e diferentes grupos (por
exemplo tribos) vivam unidos no mesmo país? Como
têm sido a prática no nosso país?
67
16. Casamento e Família
A partir de idade núbil, o homem e a mulher, sem qualquer
restrição de raça, de nacionalidade ou religião, têm o direito
de contrair matrimónio e fundar uma família. Gozam de iguais
direitos do casamento, durante o casamento e em caso de
dissolução do casamento. O casamento só pode ser contraído
com o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. A
família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem
direito à protecção da sociedade e do estado.

Palavra de Deus
“Por este motivo, o homem deixará o pai e a mãe para se unir à
sua mulher; e os dois serão uma só carne”(Gn. 2,24).
Outros textos:

Gn. 1,22-28; Gn. 24, 57-59; Mt. 19, 4-6; 1Cor. 7,2

Explicação

Todos os homens e mulheres, a partir da idade núbil, têm o


direito de contrair matrimónio e de formar uma família. Por
idade núbil entende-se o tempo em que uma pessoa atinge a
maturidade física e psíquica, isto é, quando ela conhece as
exigências do amor, da fidelidade e se sente capaz de educar os
filhos.

O Estado moçambicano fixo a idade de 18 anos como a idade


mínima para o matrimónio. A Lei da Família, no seu artigo
30.º, n.º 1, na alínea a), aponta como idade núbil quem tiver 18
anos para cima. Portanto, a diversidade de cor, religião(…) não
pode ser impedimento para a realização do matrimónio. Dentro
do matrimónio, o homem e a mulher têm direitos e deveres

68
iguais (Novo Código Civil, Art. 1.511). Não há superior nem
inferior, não há quem decida ou quem tenha que obedecer
apenas. Os dois tomam decisões em comum. Em caso de
dissolução do casamento, nenhum dos esposos será
privilegiado.

Aqueles que contraem matrimónio devem ser livres de


constrangimento da família, da sociedade e de interesses
económicos. Devem também ser responsáveis pelos
compromissos que assumem livremente quando se casam. Não
há casamento válido quando os noivos casam sem saber o que
fazem ou quando um deles não pode escolher livremente. A
família é a base da sociedade, por isso, o Estado deve respeitá-
la e protegê-la (Cfr. CRM. Art. 119.º, n.º 2). Em caso de
dificuldades entre os cônjuges, o Estado deve favorecer a
reconciliação para impedir o divórcio, bem como respeitar o
direito dos pais na educação dos filhos e garantir as condições
indispensáveis para a sua formação.

Documentos de apoio

É direito da pessoa escolher o estado de vida, de acordo com


as suas preferências e, portanto, de constituir família, na base
da igualdade de direitos e deveres entre o homem e a mulher.

A família, baseada no matrimónio livremente contraído,


unitário e indissolúvel, há-de ser considerada como o núcleo
fundamental e natural da sociedade humana. Merece, pois,
especiais cuidados, tanto de natureza económica e social, como
cultura e moral, que contribuam para consolidá-la e ampará-la
no desempenho da sua função” (PT 15 e 16).

69
“A família cristã forma-se pelo sacramento do matrimónio. Os
cristãos que têm intenção de constituir família não se recusem
a assumir o seu compromisso de casar pela Igreja. Não façam
deste momento, tão importante na sua vida, o ponto de partida
para o total abandono da Igreja e da fé. Antes, pelo contrário,
tomando consciência das responsabilidades próprias da família
perante Deus e perante a nossa sociedade, preparem-se
seriamente para as assumir segundo a dignidade cristã” (CEM-
A vida cristã no momento presente – CP, pág. 73).

Na nossa tradição africana, há muitos costumes bons que se


dirigem a comprometer todas as pessoas da família alargada,
todos os parentes, na defesa da felicidade e firmeza de cada
lar. É bom não deixar perder estes valores que protegem e
enriquecem a família…” (CEM – Conf. Episcopal às
comunidades -, pág. 80).

Trabalhos em grupo
1. Por que é que todas as pessoas têm direito de contrair
matrimónio?
2. No nosso ambiente, os jovens são livres na escolha do
cônjuge? Que dificuldades encontram?
3. Como é que a família intervém na decisão dos jovens?
Como os ajuda a preparar o casamento?
4. No nosso país, o homem e a mulher gozam dos
mesmos direitos no matrimónio? Quais são as
dificuldades?

70
17. Propriedade
Todo o homem tem direito à propriedade só ou em sociedade
com outros. Ninguém será arbitrariamente privado da sua
propriedade.

Palavra de Deus

“Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher


do teu próximo, nem o seu escravo, nem a sua serva, nem o
seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença” (Ex. 20, 17).

Outros textos:
Gn. 34, 10; Lv. 19,11 e 13; Dt. 24, 14; Is. 5,8; Act. 4, 32-35
Explicação
Há certos bens que são necessários à nossa vida: casa, roupa,
comida, instrumentos de trabalho. Todos têm direito de
possuir estes bens como propriedade pessoal ou em sociedade
livre com outros. A propriedade privada é um direito natural,
necessário para viver com dignidade e ter segurança no futuro.
Favorece também a criatividade e a livre iniciativa. No
mundo, há os que possuem imensas riquezas e outros que
vivem na miséria: os bens não são distribuídos em partes
iguais por todos. Esta distribuição desigual dos bens é devida a
várias causas, sendo a principal o abuso do direito de
propriedade privada. Por isso, o Estado pode intervir para
garantir uma melhor distribuição dos bens, tendo em conta o
bem comum.

É justificada a intervenção do Estado para:

71
 Redistribuir as terras dos latifundiários;
 Programar melhor a produção, eliminar os abusos e a
exploração nas fábricas e no comércio;
 Expropriar certos bens a fim de proporcionar meios ou
construir obras de interesse comum, como: hospitais,
escolas, estradas, fontenários, etc.
A expropriação total ou parcial de bens dá direito aos que
foram privados dos mesmos a uma indemnização adequada.
O Estado não pode tirar aos cidadãos todo o direito de
propriedade.

Quando o Estado se torna dono de tudo, fica abafada a


iniciativa e os cidadãos tornam-se membros passivos na
sociedade.

Documentos de apoio

“Deus destinou a terra e tudo o que ela contém para uso de


todos os homens e de todos os povos, de sorte que os bens
criados devem chegar equitativamente às mãos de todos,
segundo a regrada justiça, inseparável da caridade. Sejam
quais forem as formas de propriedade, adaptadas às legítimas
instituições dos povos, segundo circunstâncias diversas e
mutáveis, deve-se ter em conta sempre este destino universal
dos bens, visto que o homem, ao usá-los, não deve jamais
considerar as coisas que legitimamente possui como
exclusivamente suas, mas também como comuns, neste
sentido: que possam ser úteis não só a si, mas também aos
outros. De resto, todos os homens têm o direito de possuir uma
parte de bens, suficiente para si e para as suas famílias” (GS
69, 1).

72
“A destruição de bens indispensáveis à vida e subsistência das
populações, o fogo, a pilhagem das casas das pessoas
indefesas, a intimação e manipulação das populações pelas
armas são violações” (CEM – A Urgência da paz, 4 – 1984).

Trabalho em grupo

1. Qual é o fundamento do direito à propriedade? Quais


são os meus limites?
2. Quando é que o Estado tem o direito de limitar o uso
de propriedade privada?
3. O que devemos pensar do roubo?
4. No nosso ambiente, como são usados os bens públicos
(escolas, hospitais, estradas, fontenários…)?

73
18. Liberdade de Pensamento, Consciência e Religião
Todo o homem tem direito à liberdade de pensamento,
consciência e religião. Este direito inclui a liberdade de
mudar de religião ou convicção e a liberdade de manifestar a
própria religião ou convicção mediante o ensino, a prática, o
culto e a observância dos ritos, individual ou colectivamente,
em público ou em particular.

Palavra de Deus

“Conhecereis a verdade e a verdade libertar-vos-á”. (Jo. 8, 32)

Outros textos:
2 Cor. 4, 13; Jo. 4, 39-42; Act. 28, 22; Act. 4, 18-20

Explicação

O homem é livre quando é capaz de se determinar pelo bem; é


escravo quando se deixa dominar pelos outros ou pelos seus
vícios.

1. Liberdade de pensamento

Todo o homem tem direito a pensar com a própria cabeça, a ter


novas ideias e a transmiti-las. O desenvolvimento intelectual
enriquece a personalidade do homem. Aquilo que o faz crescer
como homem é o diálogo e a comunicação com os outros, o
estudo e a livre investigação, a leitura, o conhecimento da
cultura de outros povos… O confronto com as ideias dos
outros, mesmo diferentes, fazem-no crescer. Privar alguém
destas possibilidades é limitar o direito de liberdade e de

74
pensamento. Ninguém pode ser preso ou maltratado só por não
pensar como os outros.

2. Liberdade de consciência

A consciência é a parte mais íntima e mais profunda de nós


próprios, do nosso ser. Nela se formam as convicções mais
profundas e fortes que cada um tem acerca do mundo, da vida,
dos homens e de Deus. Orientada por estas certezas, a pessoa
age, pensa, decide e faz as suas escolhas.

A formação da consciência fica limitada quando a pessoa não


tem possibilidade de relações livres com os outros. Como diz o
provérbio:

“O saber não está numa só cabeça”.

Toda a pessoa tem direito de agir e organizar a própria vida


segundo a sua consciência. Vai contra a liberdade de
consciência:

 Obrigar a pessoa a renunciar às suas convicções com


ameaças;

 Obrigar alguém a ensinar ideias contrárias às suas


convicções.

3. Liberdade de religião

Por liberdade de religião entende-se a possibilidade de


escolher, praticar ou não praticar uma religião.

75
“Os cidadãos gozam da liberdade de praticar ou de não praticar
uma religião” (artigo 54.º, n.º 1 da Constituição da
República de Moçambique).

O Homem é livre de seguir a sua religião podendo praticá-la


sozinho ou em grupo, na sua casa ou em público.

O Estado deve garantir a liberdade religiosa, podendo intervir


para regulamentar manifestações que possam prejudicar a
ordem pública. Vai contra o direito de liberdade religiosa:

 Impedir a prática, o estudo e o ensino da religião;

 Tirar aos pais o direito de dar aos filhos a educação


conforme as suas convicções religiosas;

 Desprezar publicamente a fé e a prática religiosa;

 Proibir ou dificultar as reuniões religiosas;

 discriminar as pessoas com base na religião


(escola, no trabalho, na vida pública…)

 Tirar ou violar os lugares de culto.

Documentos de apoio

“Todo o homem tem direito ao respeito da sua dignidade e à


boa fama; direito à liberdade de pesquisa da verdade e, dentro
dos limites da ordem moral e do bem comum, à liberdade de
manifestação e difusão do pensamento, tem direito também à
informação verídica sobre os acontecimentos.

Pertence igualmente aos direitos da pessoa a liberdade de


prestar culto a Deus, de acordo com os ditames da própria
76
consciência, e de professar a religião, privada e publicamente”
(Pacen in Terris 12 e 14).

“A liberdade de praticar a religião inclui, entre outras coisas, o


seguinte: prestar culto público; ministrar o ensino religioso aos
seus membros; comunicar com comunidades religiosas de
outras partes do mundo; anunciar e testemunhar publicamente
a sua fé pela palavra e pela imprensa; expor livremente o valor
peculiar da doutrina da igreja acerca da sociedade e reunir-se
livremente para o aprofundamento da fé dos seus membros”
(CEM – Testemunhar a fé em liberdade – pág. 53 – 54).

Trabalho em grupo

1. No nosso país, há liberdade de pensamento e de


religião?

2. Tirar a liberdade de pensamento, de consciência e de


religião é tornar o homem objecto. Isto acontece no
nosso ambiente? Conte alguns factos.

3. A verdade pode ser possuída só por uma pessoa ou por


um grupo? Conte uma história ou provérbio africano
que explica isto.

77
19. Liberdade de Opinião e de Palavra
Todo o homem tem direito à liberdade de opinião e de
expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas
suas opiniões e de procurar, receber e transmitir informações
e ideias por qualquer meio e independentemente das
fronteiras.

Palavra de Deus

“Importa mais obedecer a Deus do que aos homens” (Act.


5.29).
“Não temas, continua a falar e não te cales” (Act. 18,9)

Outros textos:
Act. 4, 20; 17, 17-20; 2 Cor. 4, 13; 2 Tim. 4.2; Sab. 10, 21.

Explicação

Este artigo reconhece que cada um pode ter as próprias


opiniões e pode manifestá-las aos outros. Pode receber e
transmitir ideias dentro e fora do país, desde que isso não
prejudique o bem comum.

Temos liberdade de palavra quando podemos:

 Trocar ideias com os outros;

 Manifestar as próprias opiniões sem medo, em


particular ou em público;

78
 Receber ou dar informações por meio de cartas,
revistas, jornais, rádios, correio electrónico, whatsapp,

Vai contra este direito:

 A proibição de exprimir as próprias opiniões;

 A proibição de ler e escrever para comunicar e


conhecer o pensamento dos outros;

 Impedir a crítica;

 Usar os meios de comunicação e a escola para propagar


uma única maneira de pensar;

 Escutar conversas privadas;

 Condenar pessoas que tiveram a coragem de manifestar


as suas ideias.

Há também limitações que não vêm da sociedade mas dos


limites do próprio Homem. Há pessoas, por exemplo, que não
conseguem relacionar-se e comunicar com os outros, por
medo, por falta de formação humana ou porque não conhecem
as palavras e a linguagem própria para exprimir as suas
opiniões.

Documentos de apoio

“Existe, pois, no seio da sociedade humana, o direito à


informação sobre aquelas coisas que convém aos homens
segundo as circunstâncias de cada um, tanto particularmente
como constituídos em sociedade. No entanto, o uso recto
79
deste direito exige que a informação seja sempre
objectivamente verdadeira e, salvas a justiça e a caridade,
íntegra.

Quanto ao modo, tem de ser, além disso, honesto e


convenientemente, isto é, que respeite as leis morais do
homem, os seus legítimos direitos e dignidade, tanto na
obtenção da notícia como na sua divulgação” (Meios de
Comunicação Social, IM 5).

Trabalho em grupo

1. Existe, no nosso país, uma informação livre e acessível


a todos? Caso não exista, diga o que falta? E como podemos
melhorar no acesso à informação?
2. Para que a informação beneficie o homem, que
finalidade deve ter?
3. Quais são os aspectos negativos que os meios de
comunicação podem apresentar entre nós?
4. Por que é que a troca de ideias e opiniões entre culturas
e países é importante para o desenvolvimento da humanidade?

80
20. Liberdade de Reunião
Todo o homem tem direito à liberdade de reunião e
associação pacíficas. Ninguém pode ser obrigado a fazer
parte de uma associação.

Palavra de Deus

“Juntem-se todas as nações e reúnam-se os povos” (Is. 43, 9).

Outros textos:
Act. 2. 42-47; 4, 32-35; 5, 12-16, Sl. 40, 10-11

Explicação

É muito normal que o homem se reúna com outros para


conversar, para trabalhar, para resolver problemas, para
organizar melhor a sua vida.

O Homem é um ser social, por isso, tem necessidade de


conviver e de se associar aos outros.

Este artigo declara que:

 São permitidas as reuniões e associações para fins


pacíficos, isto é, para estudar problemas culturais,
ideológicos, científicos, sociais e recreativos;

 São proibidas reuniões e organizações para programar


o banditismo, a violência, roubos e toda a violação aos
direitos da pessoa e da sociedade;

81
 Ninguém pode limitar a liberdade de reunião e de
associação: isto seria abrir caminho para a ditadura;

 Ninguém deve ser obrigado a pertencer a um partido ou


sindicato ou outra associação.

Documentos de apoio

“Da sociabilidade natural da pessoa humana provém o direito


de reunião e de associação, bem como o de conferir às
associações a forma que aos seus membros parecer mais
idónea à finalidade em vista, e de agir dentro delas por conta
própria, conduzindo-as aos fins desejados” (Pacen in Terris,
23).
“E são, entre outras, liberdades fundamentais a liberdade de
reunião…, a liberdade de pertencer ou não a organizações
sociais ou a partidos políticos, a liberdade de concordar ou
discordar”. (D. Manuel Vieira Pinto – A coragem da Paz, pág.
15).

Trabalho em Grupo

1. Há liberdade de reunião no nosso país? Como é


respeitada?
2. O que é uma associação? Dê exemplo de algumas
associações livres que conheces?

82
21. Liberdade de Reunião
Todo o homem tem direito a tomar parte na direcção dos
negócios públicos do país, directamente ou por intermédio de
representantes livremente escolhidos.

Toda a pessoa tem direito ao acesso, em condições de


igualdade, às funções públicas do seu país.

A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes


públicos; essa vontade deverá ser expressa mediante eleições,
livres, transparentes, justas e credíveis a realizarem-se
periodicamente, por sufrágio universal igualitário, e por
escrutínio secreto ou procedimento equivalente que assegure a
liberdade de voto.

Palavra de Deus
“O Senhor disse a Samuel: Escuta a voz do povo em tudo o
que te disser” (1 Samuel. 8, 7).

Outros textos:
Gn. 41, 33; Dt. 1,9-13; Act. 1, 15-26; 6, 1-5; 15,22.
Explicação

A construção de uma nação é fruto do esforço da


colaboração de todos os cidadãos. É dever de todos participar
na vida política e não é um privilégio.

Todos devem emprenhar-se dando as próprias ideias, opiniões,


escolhendo os próprios representantes no governo e

83
colaborando para definir o programa político: tomando parte
na elaboração e apresentação das leis.

Participar na vida política não quer dizer, portanto, reunir-se só


para manifestar o apoio às ideias de outros, mas, também, para
contribuir com as suas.

Ninguém poderá ser excluído do governo ou das actividades


políticas do país por causa do sexo, condição social, religião,
cor, raça…

Todas as pessoas podem ser chamadas a desempenhar uma


função ou um serviço público. Os funcionários (trabalhadores
da educação, saúde, finanças e outros lugares do governo)
devem ser escolhidos considerando a sua capacidade, a sua
competência e a sua honestidade e não a sua pertença a um ou
outro partido.

Todos os governos mandam em nome do povo e são


representantes do povo. O povo escolhe ou aceita os seus
governantes por meio de eleições, por sufrágio universal.
Para que o povo possa manifestar plenamente a sua vontade, as
eleições devem ser:

 Periódicas, quer dizer: repetidas, para permitir a


renovação dos responsáveis políticos;

 Secretas, isto é, as pessoas podem votar sem que os


outros conheçam o seu voto;

 Livres, quer dizer, o cidadão pode dar o seu voto a


qualquer pessoa da sua preferência e sem
constrangimento;

84
 Honestas, os candidatos devem ser idóneos e a
contagem de votos sem enganos.

Além das eleições, há outros meios pelos quais o povo


pode manifestar ao governo a sua vontade:

 Imprensa livre (jornais, rádio…) para manifestar as


suas opiniões;

 Comícios públicos onde cada um possa falar,


criticar e discutir sem medo de ser castigado.

O direito de participar na vida política cria uma


responsabilidade muito grande para o povo.

Desta participação da vida pública depende a sobrevivência do


Estado democrático.

Documentos de apoio

“Da própria dignidade da pessoa humana provém o direito de


participar activamente da vida pública e de prestar assim a sua
contribuição pessoal ao bem comum dos cidadãos. Compete à
pessoa humana a legítima defesas dos seus direitos: defesa
eficaz, imparcial, dentro das normas objectivas da justiça” (PT,
26-27).

“Todos os homens crentes e não crentes vivem inseridos numa


comunidade política para promoverem e alcançarem o bem
comum… Os cristãos, na sua actuação dentro da comunidade
política, devem procurar coerência entre a fé que professam e
a doutrina dos sistemas políticos em que se integram. Dado
que os cristãos se mostram comprometidos nesta comunidade,
pertence-lhes iluminar com a luz da fé as estruturas sociais e
85
políticas” (CEM, Viver a fé no Moçambique de hoje – pág.
39).

Trabalhos em Grupo
1. Todos somos responsáveis pelo bom ou mau
andamento da sociedade. Porquê? De que forma podemos
contribuir?
2. Existe democracia no nosso país? Como se manifesta?
3. Para quê existem as autoridades? Qual é a sua tarefa?

86
QUARTA PARTE

Direitos Sociais

Artigos 22 – 29

Na sociedade organizada politicamente,


Nascem direitos e deveres recíprocos
Entre o cidadão e o Estado,
Entre a iniciativa particular
E a iniciativa colectiva.
São estes os direitos sociais.
A sociedade deve proporcionar
A cada cidadão aqueles serviços
Que ele sozinho não consegue alcançar.
O grau de promoção destes direitos
Diz-nos se um Estado
é democrático
E se serve realmente ao povo.

87
22. Desenvolvimento da Personalidade

Todo o homem, como membro da sociedade, tem direito à


segurança social, podendo reclamar a satisfação dos direitos
económicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade
e ao livre desenvolvimento da sua personalidade, graças ao
esforço nacional, à cooperação internacional e tendo em
conta a organização e os recursos de cada país.

Palavra de Deus
“No deserto habitará o direito e a justiça no jardim. A paz será
obra da justiça e o fruto da justiça será a tranquilidade e a
segurança para sempre” (Is. 32,16-17).

Outros textos:
Sl. 72, 1-3; Ecli. 4, 1-10

Explicação

Uma sociedade garante a segurança social quando protege os


seus cidadãos no campo do ensino, da saúde, do trabalho, da
habitação …. A Segurança social é a condição indispensável
para a paz e o desenvolvimento. Este artigo declara que o
desenvolvimento é um direito para todos e é exigido pela
dignidade da pessoa humana.
Por desenvolvimento entende-se o crescimento da pessoa
humana em todos os seus aspectos. Isto supõe que se criem
certas condições económicas, sociais e culturais.
Estas condições são:
88
Direito ao trabalho, que proporcione ao homem a
possibilidade de se desenvolver, sustentar-se a si e à família e
colaborar para a sociedade;

Descanso e tempo livre para recuperar as forças físicas e


intelectuais e poder desenvolver outros valores como: relações
humanas, estudo, repouso…;

Protecção social para que cada cidadão encontre na sociedade


os meios necessários para salvaguardar a saúde e encontrar
amparo na velhice e na invalidez;

Educação, pela qual a sociedade garanta a todos o acesso ao


ensino em todos os graus…

O desenvolvimento, portanto, depende da livre iniciativa e do


trabalho de cada um e também das condições criadas pelo
Estado no trabalho, na indústria, no comércio, na cultura e na
promoção das liberdades.

O progresso pessoal está estritamente ligado ao progresso


colectivo. De facto é desumano que haja ainda pessoas que
vivem na miséria e no subdesenvolvimento e que existam
povos que enriqueçam à custa dos outros e sejam incapazes de
dividir adequadamente os lucros com aqueles que concorreram
para a produção das riquezas.

89
Documentos de apoio

“É indispensável que os poderes públicos se empenhem a


fundo para que ao desenvolvimento económico corresponda o
progresso social… Também é necessário que se esforcem por
proporcionar aos cidadãos todo um sistema de seguros e
previdência, a fim de que lhes não venha faltar o necessário
para uma vida digna” (Pacen in Terris, 64).
“O desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento
económico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer,
promover todos os homens e o Homem todo…
Todos os homens são chamados a um desenvolvimento pleno.
A solidariedade universal é para nós não só um facto e um
benefício mas também um dever” (PP 14 e 17).
“São, além de outros direitos sociais e jurídicos, o direito à
segurança social, o direito às condições de vida indispensáveis
ao crescimento e à realização integral de cada um, o direito à
participação equitativa nos bens económicos, sociais,
educacionais e culturais da comunidade e da nação, o direito a
participar na gestão e na criação da educação e da cultura, o
direito a ter mais para ser mais, o direito à segurança jurídica e
a uma sábia administração da justiça”. (D. Manuel Vieira Pinto
– A coragem da paz, pág. 15).

Trabalho em Grupo
1.No nosso país já foram criadas as condições de segurança
social? Conhece algumas? Quais?
2.As pessoas que vivem no campo gozam de segurança social
na saúde, na escola, no comércio?

90
23. O Trabalho

Todo o homem tem direito ao trabalho, à livre escolha do


emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à
protecção contra o desemprego.
Todo o homem, sem qualquer discriminação, tem direito a
salário igual por trabalho igual.
Todo o Homem que trabalha tem direito a uma remuneração
justa e satisfatória que lhe assegure, a si como à sua família,
uma existência conforme a dignidade humana e completada,
se possível, por todos os outros meios de protecção social.
Todo o homem tem o direito a fundar com outros os sindicatos
e de se filiar aos sindicatos para a defesa dos seus interesses.

Palavra de Deus
“Não explorarás o trabalhador pobre e necessitado, quer seja
um dos teus irmãos, quer um dos estrangeiros que estão na tua
terra, numa das tuas cidades. Entregar-lhe-ás o seu salário
todos os dias, antes do pôr-do-sol” (Dt, 24, 14-15).
Outros textos:
Lv. 19, 13; Sl. 128, 2; Ecle. 3, 13; Jr. 22, 13; Mt. 10, 10; 1Cor.
3,8
Explicação

O trabalho garante ao homem a sua sobrevivência e permite o


seu desenvolvimento. Constatado que o trabalho, muitas vezes,
escraviza o homem, a Declaração dos Direitos do Homem
estabelece as condições para que o trabalho seja justo e digno:

 Possibilidade de livre escolha de trabalho: há muitas


profissões com muitas possibilidades de trabalho, quer
91
assalariado, quer por conta própria. Cada pessoa deve
poder escolher e praticar o trabalho que preferir de
acordo com as suas capacidades.
 Condições justas e satisfatórias no trabalho. Para tal, é
necessário um ambiente saudável, higiénico e
seguranças no local de trabalho. Os horários de
trabalho devem ter em conta horas suficientes de
descanso. Um horário normal de trabalho é de oito
horas;
 Protecção em caso de desemprego, assistência e justa
remuneração que permita ao trabalhador e a sua
família estabilidade de vida;
 Protecção contra a discriminação, fixando salário igual
por trabalho igual;
 Salários mínimos que garantam uma existência digna
ao trabalhador e à família;
 Direito de fundar e aderir a sindicatos, isto é,
organizações de trabalhadores com poder de defender
os seus interesses. Os sindicatos devem ser
representativos dos interesses dos trabalhadores,
autónomos e independentes do Estado.
O presente artigo é dedicado a defender os direitos de todos os
trabalhadores, quer dos assalariados, quer dos que trabalham
por conta própria.
Há trabalhadores que se dedicam a uma profissão livre e outros
que se organizam em cooperativas, trabalhando juntos e
repartindo entre si os lucros da produção. Na verdade, é no
trabalho escolhido por nós que nos sentimos mais livres e
realizados.

92
Documentos de apoio
“A quantos sejam idóneos para o trabalho seja facultado um
emprego correspondente à sua capacidade. A remuneração do
trabalho obedeça às normas da justiça e da equidade. Nas
empresas, permita-se aos trabalhadores agir com sentido de
responsabilidade. Facilite-se a constituição de organismos
intermediários, que torne mais orgânica e fecunda a vida
social” (PT 64).
“ Na situação de crise económica em que nos encontramos,
pedimos aos cristãos que se emprenhem com todas as suas
forças no trabalho nacional em que se encontram inseridos.
Apelamos a que todos dêem exemplo de seriedade e
honestidade nas tarefas para as quais são chamados a
desempenhar, trabalhem com amor, pensando sempre que o
trabalho dignifica e é a principal fonte de riqueza para a
família e para a nação. (CEM- Viver a fé no Moçambique de
hoje - CP, pág. 38-39).

Trabalho em grupo
1. Quais são os direitos dos trabalhadores? Os
trabalhadores têm deveres? Em relação a quem?

2. No nosso país, os direitos dos trabalhadores são


respeitados? Existem violações desses direitos? Quais?

3. Qual é a atitude que o trabalhador cristão deve ter no


campo, na fábrica, numa repartição pública…?

93
24. Descanso e Tempo Livre

Todo o homem tem direito ao repouso e horas vagas e


principalmente à limitação razoável do trabalho e a férias
pagas por períodos certos.

Palavra de Deus
“Trabalharás durante seis dias, mas ao sétimo desancarás, a
fim de que descansem igualmente o teu boi e o teu jumento e
possam respeitar o filho da tua escrava e o estrangeiro” (Ex.
23, 12).

Outros textos:
Dt. 5, 12-15; Ecle. 5, 11; Mc. 2,27

Explicação

O Homem procura com o seu trabalho os meios para viver e


melhorar as suas condições de vida. Mas o Homem não é uma
máquina de produção: a sua vida e a sua saúde física e mental
são mais importantes do que o trabalho e a produção.
Cada trabalhador tem direito a descanso e tempo livre para
recuperar as forças perdidas, dedicar-se à família e as outras
actividades a seu gosto, que o ajudem a desenvolver a sua
personalidade.
O tempo de descanso será calculado tendo em conta o trabalho
e as condições em que se realizar: há trabalhos que desgastam
mais e há outros menos cansativos.
As leis que regulam o trabalho consideram também um
período de férias pagas em cada ano e um descanso semanal.

94
Isto não é um privilégio, mas um direito de todo o
trabalhador.

Documentos de apoio
“É também direito, e até necessidade do homem, interromper a
aplicação do corpo ao trabalho duro de cada dia, para aliviar os
membros cansados, distrair honestamente os sentidos e
estreitar a união da família que exigem contacto frequente e
convívio tranquilo entre todos. Religião, moral e higiene
concordam na necessidade do repouso periódico que a Igreja,
desde séculos, traduz na santificação do domingo” (MM 250 e
251).

“Outro sector respeitante às subvenções é o que anda ligado


ao direito ao repouso. Trata-se, antes de mais, do descanso
semanal regular, compreendendo, pelo menos, o domingo e,
além disso, de um descanso mais longo, as férias, uma vez por
ano ou, eventualmente, algumas vezes durante o ano.
Trata-se ainda do direito à pensão de aposentação ou reforma,
ao seguro para a velhice a o seguro para os casos de acidentes
de trabalho (LE 19).

Trabalho em Grupo
1. As mulheres que trabalham em casa também gozam do
direito do tempo livre e descanso?
2. Que actividades desenvolvemos nos tempos livres?
Quais são as que ajudam o nosso crescimento humano?
E as que o prejudicam?

95
25. Protecção Social
Todo o Homem tem direito a um nível de vida suficiente para
assegurar a si e à família saúde e bem-estar, especialmente
quanto à alimentação, ao vestuário, habitação, tratamentos
médicos e serviços sociais indispensáveis; tem ainda direito à
segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez,
velhice ou outros casos de perda de meios de subsistência em
circunstâncias independentes da sua vontade.
A maternidade e a infância têm direito à ajuda e assistência
especiais. Todas as crianças nascidas dentro de casamento ou
não têm direito a igual protecção social.

Palavra de Deus

“Ai de vós escribas e fariseus hipócritas porque pagais o


dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o
mais importante da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade.
Deveis praticar estas coisas sem deixar aquelas” (Mt. 23, 23).

Outros textos:
Lev. 19, 9-10; Dr. 26, 12-13; Zac. 7, 10-12; Act. 6, 1
Explicação

Pode dizer-se que uma nação alcança o bem-estar quando


consegue satisfazer as necessidades principais dos seus
cidadãos:

 Uma alimentação completa e variada. A saúde


depende muito de uma alimentação boa. Cada região é
rica em produtos diferentes. Compete ao Estado

96
facilitar a comercialização e intercâmbio para que
todos possam adquirir os bens necessários à sua vida;
 Um vestuário suficiente para se defender do frio e
estar à vontade e com dignidade no convívio com os
outros. Para isso, é necessário que haja à venda, nas
lojas, de panos a preços acessíveis;
 Uma habitação em boas condições e com ambiente
acolhedor, onde seja possível viver serenamente e
salvaguardar a saúde e a dignidade de cada um.
 Tratamentos médicos adequados e medicina
preventiva. Para que o tratamento médico seja
adequado são precisos:
Postos sanitários nas povoações e ambulâncias;

Médicos, enfermeiros e outro pessoal técnico;

Medicamentos suficientes.

Por medicina preventiva entende-se a prática da higiene e uso


de medicamentos preventivos, como as vacinas.

 Serviços sociais pelos quais o Estado intervém em


favor dos mais necessitados (desempregados,
inválidos, viúvas, velhos…) para lhes assegurar um
justo nível de via.
 Reforma (contribuição para a velhice) é também uma
obrigação do Estado;
 Protecção à maternidade e à infância. A mulher
grávida precisa de cuidados particulares e uma
assistência médica própria. A criança tem direito a
condições de vida que lhe assegurem um são
desenvolvimento físico e mental.
97
Documentos de apoio

“Sobretudo nos nossos dias, urge a obrigação de nos tornarmos


o próximo de todo e qualquer homem, e bem o servir
efectivamente quando vem ao nosso encontro, quer seja
ancião, abandonado de todos, ou o operário estrangeiro
injustamente desprezado, ou o exilado, ou o filho de uma
união ilegítima que sofre injustamente por causa de uma falta
que não cometeu, ou o indigente que interpela a nossa
consciência” (Gaudium et Speces 27, 2).
“A melhor preparação para uma actividade eficiente em favor
dos pobres é começar por partilhar a vida com eles, no seu
meio. Isto dá-nos a possibilidade de nos aproximarmos, de
visitar, de acompanhar e de aprender uns com os outros.
Qualquer que seja a actividade a realizar, quanto mais nos
aproximarmos dos irmãos, daqueles que vamos ajudar, mais
fácil é reconhecê-los como pessoa e mais fácil é também dar-
lhe a ajuda conveniente para remover a causa do sofrimento”
(Justiça e Paz para África Austral 79b – IMBISA).
Trabalho em grupo

1. No nosso país, qual é a situação dos velhos, aleijados,


inválidos de guerra, órgãos, viúvas…?

2. O que existe no nosso país para proteger a infância?

3. Como é que a sociedade tradicional cuidava dos


aleijados e desprotegidos?

4. Qual deve ser a atitude dos cristãos para com estas


pessoas?

98
26. Educação
Todo o Homem tem direito à educação. A educação será
gratuita, pelo menos no ensino elementar e fundamental. O
ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e
profissional será generalizado. O acesso aos estudos
superiores será aberto a todos, com plena igualdade e
baseado no mérito.
A educação tem por finalidade o completo desenvolvimento da
personalidade humana e o reforço do respeito pelos direitos
do Homem e pelas liberdades fundamentais. A educação
promoverá a compressão, a tolerância e a amizade entre todas
as nações, todos os grupos raciais e religiosos, bem como a
expansão das actividades das Nações Unidas para a
manutenção da paz.
Os pais têm prioridade no direito de escolher o género de
educação a dar aos seus filhos.

Palavra de Deus

“Ouve os conselhos e aceita a instrução e acabarás por te


tornares sábio” (Prov. 19,20).

Outros textos:
Prov. 22, 6 e 24, 3-5; Ecli. 51, 13-20; Os. 4, 6; Rom 15, 4
Explicação

Direito à educação

A criança, desde o seu nascimento, deve ser acompanhada no


seu crescimento. Toda a ajuda que a família e a sociedade lhe
dão chama-se educação. Um dos aspectos importantes da

99
educação é a instrução. Esta deve ser garantida pelo Estado a
todos os cidadãos. A instrução abrange diferentes níveis:

 Instrução elementar que deve ser gratuita pelo menos


nas primeiras classes. Isto quer dizer que todas as
crianças têm o direito e a obrigação de frequentar o
ensino elementar. Os pais devem ter a possibilidade de
mandar todos os filhos à escola. O Estado deve garantir
as condições necessárias: professores, material
escolar…

 Instrução profissional. Para aprender a ser mecânico,


electricista, costureira… é preciso frequentar escolas
próprias. Este ensino deverá ser generalizado e
acessível à maioria.

 Instrução superior. Todos, sem discriminação, têm o


direito de frequentar o ensino secundário e superior. A
possibilidade de entrar nestas escolas não deve ser
baseada no nível social, económico ou político, mas no
mérito e capacidade de cada um.

Educação à liberdade e à fraternidade


A educação deve formar pessoas livres e críticas, capazes
de usar da própria liberdade duma forma responsável. A
escola ajuda o aluno a pensar com a sua cabeça e a
desenvolver as suas capacidades criadoras. Deve
considerá-lo não como um vaso para encher, mas como
uma planta que precisa de se alimentar e crescer. Todo o
ensino deve educar a amizade, a fraternidade e a
solidariedade entre os povos.

100
Os pais primeiros responsáveis
Os pais têm direito de escolher o género de educação que
pretendem dar aos filhos. O Estado deve proporcionar aos
pais a oportunidade de participarem activamente na
elaboração dos programas de ensino, ou dar-lhes a
possibilidade de escolher o tipo de escolas que preferem.

Documentos de apoio
“Deriva também da natureza humana o direito de participar
dos bens e da cultura e, portanto, o direito a uma instrução
de base e a uma formação técnica e profissional conforme
o grau de desenvolvimento cultural da respectiva
colectividade.

É preciso esforçar-se por garantir àqueles, cuja capacidade


o permita, o acesso aos estudos superiores” (PT 13).

“ O ensino de qualquer grau deve estar aberto a todo o


povo e deve ser reconhecido aos pais o direito de educar os
filhos e de escolher livremente a escola que melhor
corresponda às suas crenças e à sua consciência” (CEM –
A Igreja num Moçambique independente – pág. 155).

Trabalho em grupo
1. Como funciona o sistema de ensino no nosso país?
2. No nosso país, há possibilidade de todos
frequentarem a escola como é de direito?
3. Acha que o sistema de ensino no nosso país educa
realmente as nossas crianças e os nossos jovens. Se, sim,
de que forma?
4. Os pais têm consciência de serem os primeiros
responsáveis pela formação dos seus filhos? Que papel
desempenham neste processo?
101
27. Cultura e Progresso

Todo o Homem tem direito a tomar parte livremente da vida


cultural da comunidade e a gozar das artes e a participar no
progresso científico e nos seus benefícios. Todo o Homem tem
direito à protecção dos interesses morais e materiais
provenientes de toda a produção científica, literária ou
artística da qual seja autor.

Palavra de Deus
“Deus criou o Homem da terra e a ela o faz voltar novamente.
Determinou-lhe um tempo de um número de dias e deu-lhe
domínio sobre tudo o que há na terra. Revestiu-o da força
conveniente e o fez à própria imagem. Impôs o seu temor a
todo o ser vivo e o seu domínio sobre os animais e as aves.

Dotou-o de inteligência, língua e olhos, de ouvidos e dum


coração para pensar. Encheu-o de saber e inteligência e
mostrou-lhe o bem e o mal” (Ecli. 17, 1.7).

Outros textos:
Gn. 1. 26; 9, 1-3

Explicação
Todos os povos têm cultura própria. Esta manifesta-se na
maneira de agir, de pensar, no relacionamento com os outros,
nos costumes, nas tradições, nas danças, nos cantos, na poesia,
nos provérbios, na literatura…
Todos têm direito de conhecer e exprimir a própria cultura.
Ninguém pode impor a um povo uma cultura alheia, nem
proibir-lhe de se abrir a outras culturas.
102
Um povo desenraizado do seu ambiente cultural sofre graves
consequências. Seria como cortar as raízes de uma árvore. Este
artigo afirma também o direito que todos têm de usufruir do
progresso científico.

Os benefícios do progresso não devem ser reservados a alguns


privilegiados. Olhando à nossa volta, vemos:

 Pessoas que podem aproveitar das últimas descobertas


de medicina e outras que nem sequer encontram os
mais simples medicamentos;

 Uns trabalham na sua machamba com tractores e


outros só têm enxada;

 Uns podem comprar carros luxuosos e outros nem


podem viajar num autocarro (machimbombo).

Todos os homens deveriam ter a possibilidade de gozar


dos meios de progresso para produzir mais e aliviar o
sofrimento humano.

Constata-se que há países ricos que têm fábricas e


máquinas aperfeiçoadas e outros que usam sempre os
mesmos instrumentos de trabalho e não conseguem
utilizar e transportar as matérias-primas.

Estas discriminações existem, porque não há partilha


das descobertas científicas e culturais e porque existe
ainda concorrência económica e ideológica entre os
diferentes países do mundo. Quem mais sofre por
causa disto são os países que permanecem pobres por
causa do egoísmo dos países ricos.

103
Documentos de apoio
“Rico ou pobre, cada país possui uma civilização recebida dos
antepassados: instituições exigidas param a vida terrestre e
manifestações superiores – artísticas, intelectuais e religiosas –
da vida do espírito. Quando estas últimas possuem verdadeiros
valores humanos, grande erro é sacrificá-los àquelas. Um povo
que nisso consentisse perderia o melhor de si mesmo,
sacrificaria, julgando encontrar vida, a razão da sua própria
vida.
O ensino de Cristo vale também para os povos: “De que serve
ao Homem ganhar o mundo inteiro, se vêm a perder a sua
alma?” (PP 40).

“A ciência ajuda a descobrir a finalidade do mundo e do


Homem que a fé nos revela plenamente. A verdadeira ciência,
porém, é humilde e modesta. Ela sabe que não pode responder
a todas as perguntas do Homem, mesmo quando assume uma
forma superior de pensar que é a filosofia” (CEM – Viver a
fé no Moçambique de hoje, pág. 36).

Trabalho em grupo
1.O que é a cultura? Qual é o valor da cultura na vida da
pessoa e na vida de um povo?
2.As pessoas que vivem no campo e na cidade, os homens e as
mulheres, os ricos e os pobres têm a mesma possibilidade de
acesso aos bens culturais ( educação, expressões próprias do
sentir do povo, conhecimentos técnicos e científicos…)?
3.O encontro com culturas diferentes da nossa pode trazer
benefícios ou destruir a própria cultura. Pode mencionar
alguns exemplos práticos vividos no seu dia-a-dia. Porquê?

104
28. Ordem Social
Todo o Homem tem direito a uma ordem social e internacional
em que os direitos e liberdades estabelecidas na presente
Declaração possam ser plenamente realizados.

Palavra de Deus
“Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de
Deus” (Mt. 5,9).

Explicação
Numa sociedade reina a ordem social quando esta está bem
organizada e promove os direitos e as liberdades das pessoas.
Há ordem social quando:
 Há relações pacíficas e fraternas entre as pessoas;
 Não domina a força, a astúcia, o egoísmo, mas, sim, a
entreajuda, o serviço recíproco;
 Existem condições de segurança social e convívio;
 As riquezas são distribuídas entre todos com justiça;
 O povo não vive no medo, mas em condições de
segurança e de legalidade;
 O poder é serviço, respeito e democracia - e não abuso,
arbitrariedade, totalitarismo.
A ordem social é garantida pela observância das leis
estabelecidas, desde que sejam justas.

105
Documentos de apoio

“A consciência da dignidade humana, que se tornou mais viva,


faz surgir em várias partes do mundo um esforço para
estabelecer uma ordem político-jurídica em que sejam mais
protegidos, na vida pública, alguns direitos da pessoa como,
por exemplo, os direitos de livre reunião e de se associar
livremente, o direito de exprimir a própria opinião e de
professar a sua religião, em particular e em público” (Gaudium
et Spes, 73).

“A ordem social e o seu progresso devem subordinar-se


constantemente ao bem da pessoa. Esta ordem deve
desenvolver-se diariamente, fundar-se na verdade, edificar-se
na justiça, vivificar-se no amor; mas deve encontrar um
equilíbrio cada vez mais humano na liberdade” (Gaudium et
Spes, 26).

“Para edificar a paz, antes de mais, é preciso eliminar as


causas das discórdias entre os homens, sobretudo as injustiças
que são o alimento das guerras. Não poucas delas são
provenientes das acentuadas desigualdades económicas e
também da lentidão na aplicação dos remédios necessários”
(Gaudium et Spes, 83).

Trabalho em grupo

1. No nosso país há paz? Porquê?


2. O que fazer para consolidarmos a paz no nosso país?
3. Por que é que existem guerras?

106
29. Deveres Comunitários
Todo o Homem tem deveres para com a comunidade, na qual
somente é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua
personalidade.
No exercício dos seus direitos e liberdades, todo o Homem
está sujeito apenas às limitações determinadas pela lei,
exclusivamente com o fim de assegurar o devido
reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem
e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem
pública e do bem-estar geral numa sociedade democrática.
Esses direitos e liberdades não podem, em qualquer caso, ser
contrariamente aos objectivos e princípios das Nações
Unidas.

Palavra de Deus
“Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens fazei-o
também a eles, porque esta é a lei e os profetas” (Mt. 7.12).

Outros textos:

Lv. 19, 18; Ez. 18, 7-10; Rom. 13, 8-10; Fil. 2, 1-4; 1Per. 4, 9-
11

Explicação
O homem não é feito para viver sozinho. É em comunidade
que se desenvolve e realiza a sua personalidade.
Por comunidade entende-se um grupo de pessoas que se unem
em busca de fins comuns e partilham esforços e meios para os
alcançar.

Os ideais que inspiram uma comunidade criam união,


convívio e alegria de viver. Também a nação se organiza como
107
uma grande comunidade, para alcançar o bem comum, a
convivência pacífica e o bem-estar de todos os cidadãos.

Cada cidadão recebe benefícios da sociedade, mas também


tem obrigações e deveres para com ela. O desenvolvimento só
é possível se todos os cidadãos trabalharem tendo em vista o
bem comum e desempenharem o seu trabalho com dedicação,
competência e responsabilidade.

A paz é possível quando há relações fundadas na justiça e no


respeito pelos direitos dos outros. Aqueles que, pela astúcia ou
engano, conseguem escapar no pagamento dos impostos e de
outras obrigações sociais prejudicam o crescimento da
comunidade nacional.

Documentos de apoio

“A todas as vítimas silenciosas da injustiça, nós emprestamos


a nossa voz para protestar e suplicar.

Mas não é suficiente denunciar, muitas vezes demasiado tarde


e de uma maneira ineficaz; é preciso também analisar as
causas profundas destas situações e engajar-se resolutamente
em enfrentá-las e em resolvê-las correctamente” (Paulo VI –
Mensagem às Nações Unidas, 1965).

As nossas autoridades governamentais não se cansam de nos


convidar a trabalhar para assim tornarmos o nosso lar
próspero, onde a abundância e variedade da dieta alimentar
sejam uma realidade.

Todavia, parece-me que nós acolhemos pouco este convite.


Talvez por estarmos habituados a ir na corrente e nos

108
encontrarmos desanimados por não vermos surgir medidas
eficazes nesta matéria, por parte das autoridades…

Mas os cristãos acreditam que o trabalho tem um valor


importante no desenvolvimento da sua dignidade de homens e
no progresso do seu país” (Bernardo F. Governo – O cristão na
vida social, 86).

Trabalho em grupo

1. Todo o homem recebe da sociedade benefícios, mas


tem para com ela deveres. Quais são esses deveres?
Identifique na Constituição da República alguns artigos
que falam desses deveres?
2. Sentimo-nos responsáveis por tudo aquilo que acontece
no nosso país? Como?
3. Como é que o cristão deve comprometer-se cada vez
mais no trabalho e na construção da Paz?

109
ÚLTIMA PARTE

Conclusão

Artigo 30

Apelo a todos os países


a respeitarem
a Declaração
dos Direitos do Homem

110
30. Respeito pela Declaração
Nenhuma disposição da presente Declaração poder ser
interpretada como reconhecimento a qualquer Estado, grupo
ou pessoa do direito de exercer qualquer actividade ou
praticar acto tendente à destruição dos direitos e liberdade
aqui proclamados.

Palavra de Deus

“Tudo é permitido, mas nem tudo convém; tudo é permitido,


mas nem tudo edifica. Ninguém procure o proveito próprio
mas o dos outros” (1 Cor. 10, 23-23).

Explicação

Este último artigo é um apelo a todos os homens e a todos os


Estados a respeitarem os direitos e liberdades fundamentais
estabelecidos nesta Declaração.

Os direitos humanos são o alicerce das leis e constituições de


todos os países, grupos e associações. Este artigo estabelece
que nenhum grupo ou nação pode invocar alguns dos direitos
aqui proclamados para desprezar os restantes. Só a promoção
de todos os direitos do homem será a lei de interpretação da
presente Declaração.

É a partir dos direitos do homem que se pode construir um


mundo mais fraterno e mais humano. A nível nacional e
internacional já foram constituídos organismos que se
empenham pela promoção da justiça e da paz, pela abolição da
tortura e da pena de morte e pela libertação dos presos
políticos. Entre esses organismos estão a Justiça e Paz e a
Amnistia Internacional.
111
Os direitos do homem são um programa. O nosso futuro
depende da sua vivência. O futuro tem de ser obra de todos.

Documentos de apoio

“Seria verdadeiramente deplorável para a humanidade que


uma Declaração tão solene se reduzisse a um vão
conhecimento de valores ou a um princípio doutrinal abstracto
sem receber uma aplicação concreta e sempre coerente no
mundo contemporâneo” (Paulo VI – Mensagem às Nações Unidas,
1965).

“A democracia só é verdadeiramente democracia quando


defende:
 O primado da pessoa humana que é sujeito e não
objecto na construção da sociedade;

 O primado da participação a todos os níveis; político,


económico, social;

 O primado do bem comum, que inclui a criação de


condições para o desenvolvimento das necessidades de
cada um e promoção dos seus direitos fundamentais
(PT 53-64): à vida e integridade física, à honra, à
participação no processo de ampliação e consolidação
da democracia; à liberdade de opinião, de reunião e de
associação, ao recurso aos tribunais, à liberdade
religiosa, à herança, ao trabalho, à protecção, segurança
e higiene no trabalho, à participação em organizações
sindicais e à greve, à liberdade de criação científica,
técnica e artística, à educação, à assistência médica e
sanitária, à livre circulação…” (CEM – Momento
novo, 17)
112
Trabalho em grupo

1. A Declaração dos Direitos do Homem é respeitada no


mundo? E no nosso país?
2. Quais são os artigos da Declaração menos respeitados?
3. Como fazer conhecer no nosso ambiente a Declaração
dos Direitos do Homem?

113
O
Sentido
das
Palavras

Pequeno dicionário
das palavras difíceis

114
Aborto Destruição e expulsão do feto do útero
materno. Falamos aqui do aborto
provocado.

Abuso Aquilo que se faz contra o que está


estabelecido na lei. Abusa do poder
aquele que se serve da autoridade para
seu proveito ou em prejuízo dos outros.

Advogado Pessoa competente no conhecimento das


leis, capaz de defender o acusado em
caso de “milando” ou de processo legal.

Alfabetização Aprendizagem dos primeiros elementos


próprios do ler, do escrever e do sentido
das palavras.

Alienação Viver fora da sua realidade cultural. É


alienado aquele que pensa pela cabeça
dos outros e imita os seus costumes.

Analfabetismo Ausência de instrução. Não saber ler


nem escrever.

Arbitrariedade Agir segundo o próprio capricho,


segundo o critério individual e não
conforme uma lei ou um acordo
comunitário.

Asilo Político Protecção que um Estado dá aos


cidadãos de outra nacionalidade,
sobretudo os perseguidos por motivos
ideológicos, políticos e religiosos.

Associação Grupo de pessoas que se unem para


alcançar objectivos comuns e se
115
organizam em vista dos mesmos
objectivos.

Autocrítica Análise do próprio agir, reconhecendo o


positivo e o negativo do comportamento
individual e colectivo.

Autogestão Administração de uma empresa com a


participação de todos os trabalhadores na
programação do trabalho e na repartição
dos lucros.

Autonomia Liberdade que um grupo ou uma


sociedade têm de se governar com leis
próprias. Ser autónomo é o mesmo que
ser independente.

Autoritarismo Abuso de autoridade ou excesso de


autoridade, prejudicando ou limitando a
liberdade dos outros.

Bem Comum É o conjunto das condições de vida


social que permitem aos indivíduos,
famílias e associações alcançar mais
plena e facilmente a própria perfeição.

Burocracia Trabalho dos funcionários públicos (do


Estado). Chama-se também burocracia o
atraso da documentação nas repartições
públicas, o que dificulta a resolução dos
problemas de interesse do povo, por
exemplo: demora na obtenção do bilhete
de identidade, do cartão militar…

Capitalismo Sistema político-económico baseado na


propriedade privada dos bens e dos
116
meios de produção e na venda livre da
mercadoria sujeita à concorrência do
mercado. O poder político está nas mãos
dos ricos que enriquecem sempre mais à
custa do trabalho dos operários.

Centralismo Sistema político que centraliza todas as


actividades.

Conhecimento Conhecimento que se pode basear em


Científico provas certas fornecidas pelas leis
naturais.

Civilização Conjunto das manifestações de um povo


que se organiza para alcançar o
progresso moral, civil e económico;
costumes e técnicas que caracterizam
esse povo.

Competência Capacidade para julgar, apreciar e


resolver uma questão; conhecimento
completo de determinado assunto.

Comunismo Sistema político que pretende eliminar a


distinção das classes sociais e que limita
o direito à propriedade privada,
defendendo a socialização do trabalho e
dos meios de produção.

Comunitário Tudo o que é feito em comunidade, isto


é, realizado e partilhado por todos; as
decisões são tomadas em conjunto.

Consciência Parte mais íntima e profunda do ser


humano. Nela se formam as convicções
mais profundas e fortes que cada um tem
117
acerca do mundo, da vida, dos homens,
de Deus…

É orientada por estas certezas que a


pessoa age, pensa, decide e faz as suas
escolhas.

Consentismo Aceitação, acordo e aprovação de


determinado facto.

Constituição É a lei fundamental de um determinado


Estado, pois nela estão consagrados e
protegidos os direitos e garantias
fundamentais do cidadão. Também estão
estabelecidas as regras de organização e
funcionamento dos órgãos estatais, bem
como princípios válidos nesse Estado.

Culpabilidade Estado daquele que é culpado, isto é,


daquele que pode ser declarado
responsável por um crime.

Culto da Exagero em louvar as pessoas, em lhes


Personalidade dar demasiada importância.

Cultura É a maneira própria de cada povo se


manifestar, de viver, de se relacionar, de
se adaptar e de exprimir tudo isto nas
artes, na literatura e na dança.

Democracia Soberania popular, governo do povo. Há


democracia quando o povo pode tomar
parte na formulação das leis, manifestar
livremente as suas ideias e escolher os
seus representantes no governo.

118
Denúncia É a declaração ou divulgação de actos
contrários aos direitos do homem que
eram até então secretos. A denúncia
verdadeira é sempre apresentada com
provas e testemunhas.

Dependência Condição daquele que depende de


outros; daquele que, para fazer uma
coisa, tem de ser autorizado por outro.

Desenvolvimento Processo para criar condições


económicas, culturais e morais que
permitem ao Homem crescer como ser
humano, melhorando progressivamente o
seu nível de vida espiritual e material.

Desumano Que não corresponde à dignidade do


homem; tratar alguém sem respeito ou
com crueldade.

Dever Obrigação, compromisso que alguém


tem para com outro ou para com a
sociedade.

Dignidade Grandeza da pessoa pelas qualidades que


lhe são próprias: inteligência, vontade…

Direito Tudo aquilo que é devido à pessoa. O


que é indispensável para o seu bem-estar,
o crescimento e segurança da pessoa e
sua realização.

Discriminação Tratamento das pessoas de maneira


desigual, por causa da raça, da religião,
do sexo ou da condição social.

119
Ditadura Forma de governo em que todos os
poderes estão acumulados na mão de
uma só pessoa ou grupo ou de um único
partido. Toda a ditadura é caracterizada
pela limitação ou supressão dos direitos
fundamentais e das liberdades da pessoa
e do povo.

Domicílio Habitação, casa, residência habitual de


uma pessoa. O domicílio é inviolável,
porque é lugar reservado ao morador e
por isso respeitado por todos.

Eleição Escolha, escrutínio; maneira organizada


para escolher livremente os
representantes do povo para exercício de
funções públicas.

Emancipação Processo por meio do qual as pessoas se


libertam da tutela da família, de um
sistema político ou de tradições
(culturais ou sociais) negativas.

Equidade Justiça, igualdade; julgar ou tratar com


medida igual todas as pessoas.

Escrutínio Exame e investigação; eleição com votos


livres e secretos; contagem de votos.

Estado É toda a organização, constituída para


governar a sociedade. Tem poder para
preparar e fazer respeitar as leis no
interior do seu território.

Estatuto Conjunto de normas que organizam as

120
actividades e a vida de um grupo de
pessoas e definem os objectivos da
associação.

Estrutura Parte de um todo organizado com função


de resolver concretamente os problemas
do povo, em geral, ou de um grupo
particular.

Expropriar Tirar legalmente a alguém a propriedade


da terra e outros bens. A expropriação
por utilidade pública só pode ser feita
pelo Estado.

Fascismo Sistema político totalitário que abafa o


direito dos cidadãos em favor do Estado.
Aplica-se a todos os movimentos
políticos da extrema-direita.

Garantir Assegurar, responsabilizar-se por…


obrigar-se a… defender… A lei garante
os direitos dos cidadãos.

Governo Um grupo de pessoas que têm a tarefa de


desenvolver o bom andamento de toda a
sociedade. Tem o poder executivo:
aplicar as leis.

Greve Abandono do trabalho, de uma maneira


organizada, por parte dos operários de
uma empresa a fim de reclamarem os
próprios direitos.

Ideologia Doutrina, conjunto de ideias de um


sistema político social ou religioso.

121
Imparcialidade Atitude daquele que julga sem paixão
que não sacrifica a verdade e a justiça
por causa de considerações partidárias. A
imparcialidade é a primeira virtude de
um juiz.

Imperialismo Domínio político e económico de uma


nação sobre outras.

Indemnização Reparar os prejuízos causados por um


desastre ou pela violação dos direitos do
Homem.

Independência Situação de quem vive sem depender de


ninguém, sem ser condicionado pelos
outros. Nação livre que se governa pelas
suas próprias leis.

Iniciativa Capacidade que a pessoa tem de pensar,


decidir, fazer as coisas por si própria. É
Homem de iniciativa aquele que actua
espontaneamente e com
responsabilidade.

Instrução Conjunto de actos ou investigações feitas


judiciária antes de julgamento e durante um
processo, a fim de avaliar uma causa
com justiça.

Instrumentalizar Reduzir uma pessoa a instrumento, sem


direito, sem liberdade, sem poder falar.
Usar a pessoa em proveito próprio.

Intimidação Da palavra intimidar; todo acto que visa


meter medo a uma pessoa para obter dela

122
o que se quer.

Intolerância Não aceitação de ideias ou crenças


diferentes.

Invalidez Condição de inválido, daquele que tem


deficiência mental ou mutilações físicas.

Inviolabilidade Que não se pode violar, transgredir,


abrir, divulgar. Fala-se de inviolabilidade
de domicílio, das cartas, dos segredos…

Juiz Aquele que tem autoridade para resolver


um processo, um “milando” ou uma
contenda.

Jurídico Relativo ao direito conforme os


princípios e as normas do direito.

Latifundiário Um proprietário de um latifúndio, ou


seja, de uma vasta extensão de terra.

Legal Tudo aquilo que é conforme a lei:


maneira de se comportar- segundo a Lei
ou no respeito da Lei.

Legislador Aquele que faz leis: aquele que tem


poder legislativo, isto é, de fazer leis.

Mandado Autorização de exercer um poder ou


executar uma ordem. O mandado é
normalmente escrito e assinado por uma
autoridade.

Manipular Instrumentalizar, modificar as coisas em


proveito próprio com informações
incompletas ou erradas.
123
Nacionalidade É a pertença a uma nação. A
nacionalidade é regulada pela lei e dá
origem a direitos e deveres para com o
próprio país.

Não-violência Recusar toda e qualquer violência como


método de acção política ou como
solução de contendas.

Objecção de Recusa a obedecer às ordens e às leis


consciência injustas.

Objectivo Finalidade a atingir, motivos de uma


acção.

Obscurantismo Tudo o que se opõe ao progresso e a


ciência.

Participação Tomar parte activa em qualquer


actividade. O contrário de participação é
o desinteresse e a passividade.

Paternalismo Tendência a resolver os problemas dos


outros, substituindo aos interessados.

Personalidade Conjunto das qualidades que


caracterizam uma pessoa. Diz-se
“homem de personalidade” quando
alguém tem força moral e capacidade de
actuação.

Personalidade Direito de ser reconhecido e defendido


Jurídica pela lei.

Política Arte de organizar o povo em sociedade


promovendo os direitos de cada um e da
124
colectividade.

Privilégio Vantagem concedida a alguém com


exclusão dos outros.

Proletariado Classe social constituída por operários


que não possuem os meios de produção e
vivem unicamente do seu salário.

Razão Capacidade de pensar e de raciocinar;


faculdade intelectual considerada como
regra das nossas acções; motivo ou
finalidade pelos quais a pessoa age.

Reaccionário Aquele que reage a uma coisa com a qual


não concorda ou contesta uma ideia
apresentada como novidade.

Recurso Acto de apelar para um poder superior.

Reputação Consideração, fama; aquilo que se pensa


de uma pessoa.

Repressão Acção de reprimir, abafar ou extinguir a


livre expressão de uma pessoa ou de um
povo.

Retroactivo Que tem valor e efeito sobre os actos


passados. As leis não podem ser
retroactivas. Elas têm valor unicamente a
partir da data da divulgação e não podem
ser aplicadas a crimes cometidos antes
da existência da lei.

Revolução Mudança rápida das estruturas políticas e


económicas de um país.

125
Servilismo Atitude daquele que aceita sempre a
vontade e acção do outro sem espírito
crítico; submissão resignada.

Sindicato Organização de trabalhadores com o


objectivo de defender os seus direitos: o
emprego, as boas condições de trabalho,
o justo salário.

Soberania Poder supremo de um Estado; protecção


que um Estado concede a um dado
território, limitando-o na sua autonomia.

Subdesenvolvime Atraso na civilização e na economia de


nto um país; baixo nível de vida existente
num país em que faltam as coisas de
primeira necessidade e os meios de
produção que permitem o
desenvolvimento.

Subsistência Conjunto de tudo o que é necessário para


a sustentação da vida humana. Os
instrumentos de trabalho, os alimentos e
os medicamentos são meios de
subsistência.

Sufrágio Voto dado numa eleição. É universal


quando todos os cidadãos com
maioridade têm direito de voto.

Sujeito É a pessoa quando pode dirigir a sua


vida em plena liberdade e
responsabilidade.

Tolerância Atitude de aceitação e de respeito pelas

126
pessoas que têm ideias, opiniões e
actuações diferentes (deriva da palavra
“tolerar”).

Tortura Sofrimentos corporais e suplícios


aplicados a uma pessoa.

Totalitário Diz-se do Estado ou governo que


centraliza todos os poderes, não
respeitando os direitos do indivíduo.

Tutela Dependência de um menor para ser


protegido e defendido. O tutor exerce
tutela sobre o menor protegido. Um país
está sob tutela quando depende
politicamente de outro país.

Voto Possibilidade da própria vontade ou


opinião a respeito de alguma pessoa ou
coisa no acto eleitoral.

127

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