Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Num sistema ordinário de coordenadas rectangulares. Estas equações mostram que o grupo dos
deslocamentos está contido no grupo de todas as colineações projectivas como um subgrupo; é de
facto um subgrupo do grupo das colineações que deixam invariante uma dada linha (p. 150). É
evidente que, em geral, quanto mais restrito for o grupo, mais propriedades invariantes
aparecerão. Isto sugere o problema de estudar as geometrias associadas a cada um dos subgrupos
do grupo projetivo geral no plano, e entre estas geometrias deveríamos, pelo que foi dito, esperar
encontrar a geometria euclidiana elementar. O facto, porém, é que o que se entende
habitualmente pelo termo geometria euclidiana é uma mistura de várias geometrias no sentido
estrito da definição dada acima. Seria interessante considerar em pormenor alguns dos subgrupos
mais importantes do grupo projetivo geral e as geometrias por eles definidas, e assim ver com
precisão a que subgrupo pertence um dado teorema da geometria euclidiana. Este é, no entanto,
1
um programa demasiado ambicioso para uma breve monografia. Para uma exposição mais
sistemática e mais completa deste ponto de vista, o leitor interessado pode consultar Veblen e
Young, Projective Geometry, Vol. II. Aqui só podemos esperar dar um esboço de alguns dos
principais resultados de um tal estudo, e assim complementar a discussão das propriedades
métricas que apresentámos no Capítulo VI. No entanto, esperamos que seja dito o suficiente para
tornar claro ao leitor o ponto de vista envolvido e para lhe mostrar, pelo menos em alguns casos,
o grupo a que pertencem alguns dos conceitos familiares da geometria euclidiana elementar.
Veremos também como é que as duas principais geometrias ditas não-euclidianas surgem do
ponto de vista da teoria dos grupos aqui adotado.
O grupo afim. A geometria afim. Começaremos a nossa discussão com o grupo de todas as
colineações num plano que deixam invariante uma dada reta e que já definimos (p. 118) como o
grupo afim. A geometria correspondente chama-se geometria afim (no plano). Chamemos à reta
que fica invariante por cada colineação do nosso grupo a reta no infinito e designemo-la por lx. O
leitor deve notar que se trata de uma definição; a reta lx é uma reta qualquer no plano. Só se o
leitor desejar que a geometria resultante seja intuitivamente equivalente à geometria elementar
ordinária, isto é, se desejar que as figuras da geometria se "pareçam" com as figuras que lhe são
familiares, é que terá de pensar em lM como estando no infinito. Os pontos de lx chamam-se
pontos no infinito ou pontos ideais ou impróprios; os pontos que não estão em lx chamam-se
pontos ordinários, e as rectas do plano, com exclusão de, chamam-se rectas ordinárias. Os pontos
e rectas ordinários do plano constituem o plano euclidiano e, no resto desta monografia, a palavra
"ponto", quando não modificada, significará um ponto ordinário.
O teorema fundamental do grupo afim aqui apresentado sem prova é o seguinte: Há uma e só
uma transformação do grupo afim que transforma os vértices A, B, C de um triângulo
respetivamente nos vértices A', B', C' de qualquer outro triângulo. Já vimos (p. 150) que, em
qualquer sistema de coordenadas não homogéneas em que lM é tomado como linha excecional,
qualquer colinearidade afim é representada pelas equações.
2
Passamos agora a uma série de definições que são as mesmas que foram dadas na parte inicial do
capítulo VI e que não precisam de ser repetidas em pormenor.
e que, portanto, não precisam de ser repetidas em pormenor: Duas rectas ordinárias que não se
encontram num ponto ordinário são ditas paralelas e o par de rectas é dito paralelo. Um
quadrilátero simples A BCD em que o lado AB é paralelo a CD e BC é paralelo a DA chama-se
paralelogramo, sendo as rectas AC e BD as diagonais. O teorema seguinte é uma consequência
imediata destas definições e dos teoremas projectivos: num plano euclidiano, dois pontos
distintos determinam uma e apenas uma reta; duas rectas encontram-se num ponto ou são
paralelas; duas rectas paralelas a uma terceira reta são paralelas entre si; através de um dado
ponto não situado numa dada reta existe uma e apenas uma reta paralela a essa reta. A
classificação das cónicas em hipérbole, parábola e elipse; a definição de centro, diâmetro, cónicas
centrais, assíntotas (de uma hipérbole) são todos conceitos pertencentes à geometria afim, embora
sem significado na geometria projectiva geral. Passamos agora a desenvolver alguns conceitos
novos da geometria afim. 63. O grupo das translações. Qualquer elação (p. 116) que tenha como
eixo uma linha é chamada translação. Se I é uma reta ordinária que passa pelo centro da
translação, diz-se que esta é paralela a I. Já observámos que o conjunto de todas as translações
forma um grupo.
Além disso, é evidente que o grupo das translações é invariante (p. 108) no grupo afim. O leitor
não terá dificuldade em notar que cada translação transforma qualquer reta ordinária numa reta
paralela e que transforma cada uma de um certo sistema de rectas paralelas em si mesma. Além
disso, da definição de translação resulta facilmente que existe uma e só uma translação que
transporta um ponto A para um ponto B. Diz-se que duas figuras são paralelas-congruentes se
forem homólogas numa translação. Mais tarde daremos uma definição mais geral de congruência.
Mas esta definição restrita exprime uma propriedade que é invariante no grupo afim e, portanto,
pertence à geometria afim. O facto de a propriedade ser invariante no grupo afim resulta
facilmente do facto de o grupo das translações ser transformado em si mesmo pelo grupo afim. A
condição necessária e suficiente para que os pares de pontos ordenados AB e CD sejam paralelos-
congruentes, se C não estiver sobre a reta AB, é que ABCD forme um paralelogramo. Se C está
na reta AB e PM é o ponto infinito de AB, a condição desejada é que a projeção parabólica sobre
AB com o ponto duplo P" que transforma A em C transforme B em D. A primeira parte deste
3
teorema resulta imediatamente da construção da translação que transforma A em C (Fig. 62). A
reta AC é invariante e, se Pw é o ponto no infinito de AB, a reta AB transforma-se em CPX.
Logo, B é transformado na intersecção D das rectas CP ^ e BMn que une B ao centro da
translação MU Nestas condições, ABDC é um paralelogramo. A segunda parte do teorema
resulta do facto de a projectividade em cada linha invariante da translação ser parabólica (p. 117)
com ponto duplo no infinito.