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latim canta! meus duo dies Mercurii pater pauper capra ego
Ouve-se dizer, frequentemente, que o latim é uma língua morta. Segundo o dicionário, a palavra "morta"
é um adjectivo que significa privada de vida, esquecida ou apagada na memória, extinta; no contexto
linguístico, chamam-se mortas as línguas que se conservam somente em documentos, escritas, mas não
faladas.
Na história da linguagem humana, o latim não é um começo absoluto nem um final definitivo. Constitui
uma etapa de transição. Surgiu de uma língua mais antiga, já evoluída, da qual conhecemos outras
ramificações. Prolonga-se, largamente diversificada, sob a forma de línguas-filhas que são as línguas
românicas. Através dos tempos, estas ultrapassaram o quadro europeu: o português, o espanhol e o
francês, atravessaram os oceanos para se implantarem em África e na América. São hoje faladas por
milhões de pessoas as línguas derivadas do latim.
O conhecimento das suas estruturas linguísticas facilita a aprendizagem destas línguas irmãs e
proporciona um conhecimento mais profundo da nossa língua materna. Há mesmo quem considere que a
aprendizagem do Latim é um dos meios mais adequados para se desenvolver o raciocínio.
A literatura latina apareceu no fim do séc. III a. C. e prolongou-se até ao séc. VI. Até ao século XVIII, a
maior parte do que foi escrito na Europa, no domínio da filosofia e da ciência, foi-o em latim. Portanto,
durante mais de vinte séculos estendeu-se o uso falado ou escrito do latim.
Os Romanos deixaram, através da sua língua, uma visão do mundo e do homem. Tendo assimilado a
cultura grega, associaram à sageza helénica e à paixão da ciência a sua tendência para organizar,
administrar, legislar. Desaparecido o Império Romano, ficou a Latinidade, e a Latinidade - como diz
Jorge Luís Borges - é o Ocidente. O desconhecimento da Latinidade seria uma grave lacuna na formação
intelectual dos que enveredam por cursos de ciências humanísticas.
A sociedade actual precisa mais de engenheiros, técnicos, etc. do que de letrados. O comércio precisa
mais de línguas vivas. O humanismo técnico, mais votado ao comércio, à indústria, ao progresso
tecnológico, esquece-se que o homem, a sociedade, não vivem exclusivamente desses valores, mas
precisam da cultura do espírito humano.
É assim que o latim, sob novas formas ainda vive. Se, por exemplo o Etrusco, que desapareceu sem
deixar descendência, merece o nome de língua-morta, o latim deverá antes ser qualificado como língua-
mãe.