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TRADIÇÃO CLÁSSICA

LITERATURA LATINA E LITERATURAS MODERNAS

É inegável a presença da literatura latina nas literaturas modernas ocidentais. Estas


herdaram daquela o culto da beleza artística, certos padrões formais e processos
estilísticos (metáfora, personificação, ironia, antítese, etc.) e sobretudo um grande
interesse por tudo o que diz respeito ao homem. É este humanismo, tão característico da
civilização greco-latina e do Renascimento, que mais liga as literaturas modernas à
literatura romana.

INFLUÊNCIA DOS ESCRITORES LATINOS

SOBRE A LITERATURA PORTUGUESA

- D. Pedro e D. Duarte sofreram profundas influências de Cícero e de Séneca,


inspirando-se nas suas obras filosófico-morais para elaborarem os seus tratados de
índole ético-pedagógica ( Da Virtuosa Benfeitoria, Leal Conselheiro, Livro de
Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela).

- Sá de Miranda, na sua peça Estrangeiros, António Ferreira, em Bristo e Cioso,


Camões, no Auto dos Anfitriões, António josé da Silva, o Judeu, na peça Anfitrião, ou
Júpiter e Alcmena, Guilherme de Figueiredo ( brasileiro), em Um Deus Dormiu Lá em
Casa, Augusto Abelaira, em Anfitrião Outra Vez, Norberto Ávila, em Uma Nuvem
Sobre a Cama, imitam os comediógrafos latinos Plauto e Terêncio.

- Os diálogos de Cícero influenciaram Heitor Pinto nos seus Diálogos e Rodrigues


Lobo em A Corte na Aldeia. Em 1571, o humanista D. Jerónimo Osório, Bispo de
Silves, publica o De Rebus Emmanuelis Gestis, sobre o reinado de D. manuel, sendo
considerado pelo estilo, o "Cícero Português"

- O cronista Gomes Eanes de Zurara imita Salústio na estrutura das suas obras e no
estilo e apresenta, tal como Fernão Lopes e Gil Vicente, citações de Cícero na sua
obra.

- Virgílio exerceu nítida influência sobre Camões, o que se verifica sobretudo na


primeira e na terceira éclogas ( com o mesmo tema da segunda bucólica de Virgílio) e
sobretudo na écloga XIII, que é a que manifesta maior aproximação ideológica e formal
das bucólicas do poeta mantuano.

São grandes também, ainda no domínio do bucolismo, as influências de Virgílio sobre


as éclogas de Bernardim Ribeiro, Diogo Bernardes e Rodrigues Lobo.

O desejo de Camões formulado na expressão optativa "Tomara ser Virgílio ou ser


Homero!" está bem patente na sua obra épica, Os Lusíadas, quer na estrutura interna e
externa, quer nos adornos estilísticos, quer em certos episódios como " o concílio dos
deuses", o "sonho de D. Manuel", o " velho do Restelo" ( reminiscências de Catão, que
prevê a decadência de Roma).

- A influência de Horácio é nítida sobretudo em Sá de Miranda ( o mesmo ideal da "


paz e tranquilidade", a aurea mediocritas embelezada pelo culto da forma). António
Ferreira é igualmente horaciano quer nos temas, quer no culto da forma.

Há ainda evidentes marcas de Horácio em Diogo Bernardes, Marquesa de Alorna,


Bocage, etc.. A apologia da vida despreocupada e o culto da poesia como processo de
chegar à felicidade são atitudes horacianas muito divulgadas no século XVIII pelos
poetas arcádicos. E, já nos tempos modernos, ninguém poderá negar a nítida e
persistente influência de Horácio nas Odes de Ricardo Reis (Fernando Pessoa).

- Ovídio exerceu também grande influência em Camões, sobretudo no que diz respeito
ao mecanismo mitológico desenvolvido n'Os Lusíadas. Sá de Miranda recebe também
influências das Metamorfoses de Ovídio.

- Tito Lívio tem a sua indelével marca na história de João de Barros.

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