Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Resumo
Entende-se que a vigilância atua mediante ações específicas organizadas por meio da
Vigilância Sanitária (Visa), Vigilância Epidemiológica (VE), Vigilância Ambiental em Saúde
(VAS) e da Vigilância em Saúde do Trabalhador (VST). Essas ações visam à integralidade do
cuidado de problemas de saúde tanto individual quanto coletivo (Brasil, 2011).
Diante disso, é importante o papel da Vigilância de observar e analisar permanentemente
a situação de saúde da população de dado território para propor e articular um conjunto de ações
que visam à integralidade da atenção. Essa integração exige uma articulação com a atenção
primária, viabilizando uma reorientação dos processos de trabalho que inclua o território como
foco de atenção, agregando ações de prevenção e promoção àquelas assistenciais curativas e
reabilitadoras.
Este artigo tem o objetivo discutir as consequências da prática administrativa da
sobreposição de atribuições sobre o desempenho das funções da vigilância em pequenos
municípios, tendo presente o funcionamento da vigilância em saúde em quatro pequenos
municípios do Vale do Rio Caí (RS).
Entre os vários municípios, foram escolhidos quatro, com uma população inferior a 5
mil habitantes. Os participantes do estudo foram os profissionais das diferentes vigilâncias
epidemiológica, ambiental, sanitária e de saúde do trabalhador e os secretários de saúde dos
quatro municípios. Sendo assim, o ponto de partida para a análise foi a questão principal de
pesquisa: as consequências da concomitância de atribuições e tarefas de profissionais da
vigilância em outros serviços municipais sobre a organização e a atuação da vigilância em saúde
em municípios de pequeno porte do Vale do Caí.
A análise dos dados fez emergir duas categorias analíticas para entender a realidade da
vigilância nos municípios estudados: desvalorização da vigilância; falta de planejamento na
vigilância.
A desvalorização da vigilância se apresenta nas falas dos gestores dos municípios
pesquisados mediante aos recursos financeiros repassados, pois para a vigilância são
insuficientes para arcar com profissionais específicos de diferentes atribuições. Nessa
conjuntura, os municípios são obrigados a colocar recursos próprios para manter as equipes de
vigilância, e os gestores são levados a defender que esses profissionais não podem ser
exclusivos da vigilância, mas devem atuar também na atenção básica ou em outras áreas do
serviço público municipal.
A sobreposição de atribuições, resulta na falta de tempo, acaba fazendo com que o
serviço da vigilância fique em segundo plano. Quando os profissionais não conseguem exercer
plenamente suas funções, não alcançando as metas e não desenvolvendo o trabalho da maneira
adequada, eles relatam sentimentos negativos de sobrecarga. Esse cenário levanta uma série de
questionamentos sobre o que representa a vigilância na organização da saúde dos municípios
de pequeno porte.
Nesse contexto de particularidades e desafios, a vigilância necessita desenvolver
estratégias de atuação para dar conta das dificuldades e conseguir desenvolver suas ações,
mesmo com limitações. Observa-se, assim, que as diferentes vigilâncias apresentam
especificidades na sua organização e atuação, o qual lembra que o processo de descentralização
de responsabilidades e recursos da vigilância parece não ter oportunizado aos municípios o
preparo necessário para que pudessem dar conta das demandas que passaram a ser de sua
competência.
Tendo em vista o perfil da gestão municipal sobre a influência na forma em que a
vigilância se organiza sabendo que existem documentos de gestão que servem como
instrumentos específicos para basear o gestor no planejamento, monitoramento e avaliação das
ações em saúde, torna-se importante entender como as informações geradas pela vigilância são
utilizadas na construção desses instrumentos, já que eles devem contemplar também essa
importante área da atenção à saúde.
No que diz respeito da falta de planejamento na vigilância, avaliou-se os profissionais
dos municípios estudados, isto é, se conhecem os documentos e se, de alguma maneira,
participam da sua elaboração.
Em apreciação preliminar, os documentos de gestão não são discutidos em reunião de
equipe, na opinião da maioria dos profissionais. Dessa forma, o que se identificou entre as
equipes de vigilância estudadas é que vários profissionais desempenham também funções na
APS, com o apoio das equipes de ESF sobretudo dos agentes comunitários de saúde (ACS) que
auxiliam na veiculação de informações da vigilância. Diante desse cenário o que se percebe é
uma desvalorização e fragilização da vigilância, ocasionadas pelo tipo de gestão implementada
nos pequenos municípios que, por sua vez, depende das concepções do que seja atendimento à
saúde da população.
Mudar práticas institucionais e/ou profissionais não é tarefa fácil e requer prioridades
de investimento por parte dos gestores e desenvolvimento de atitudes profissionais que
ultrapassem o cunho de procedimentos curativos e que sejam enriquecidas por ações de
prevenção e de promoção de saúde. Desse modo, a transformação de um modelo de atenção
exige a definição de novos propósitos, superando a atenção centrada na demanda espontânea e
no atendimento ao doente, como fica evidenciado nos resultados desse estudo.
Nos municípios de pequeno porte pesquisados, o potencial da vigilância não é
desenvolvido, como um instrumento de mudança de práticas, ou seja, essa vigilância está
condicionada às medidas de controle e notificação, não conseguindo exercer o seu papel com
integralidade, quanto à prevenção de doenças e promoção da saúde. Nos resultados
apresentados percebe-se que o modelo biomédico de atenção à saúde parece ser reforçado
constantemente pelos gestores mediante a demonstração daquilo que eles consideram
prioridade em saúde e, consequentemente, pelos profissionais que tendem a se adequar ao que
é cobrado pela gestão.
Se a vigilância não é valorizada, pouco se investe em educação e capacitação
profissional com equipes que se dizem despreparadas para dar conta de desafios tão complexos,
considerando a vigilância como um adendo ao lado de outras funções, não se compreendendo
como agentes de vigilância.
Sendo assim faz-se necessário que as capacitações e as atividades de educação incluam
também os secretários municipais de saúde e até mesmo os prefeitos, para que eles também
façam parte do processo de formação de recursos humanos, principalmente devido à
rotatividade desses profissionais com cargo comissionado e eletivo.
Quando a vigilância não é pautada pela integralidade da atenção, como princípio do
SUS, não consegue desempenhar seu potencial de transformação das práticas das equipes As
dificuldades identificadas têm a ver com os modelos de gestão e de atenção à saúde que são
indissociáveis, influenciando diretamente na distribuição dos recursos, na determinação das
prioridades nas ações em saúde e consequentemente nas práticas das equipes de vigilância.