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UNIVERSIDADE UNIGRANRIO

Curso: Psicologia
Unidade Curricular: Abordagem Humanista e Fenomenológica
Professor: Odilo Araújo Neto

Grupo
Camila de Oliveira Bento da Silva Martins
Fabiana Vieira Miguel Marciano
Valéria Maria de Sousa Leite
Washington Luiz Ramos

Filme: Philomena

PSI024-20 / 1 – Duque de Caxias, 23/09/2022


Filme: Philomena

Análise do filme

O filme Philomena de direção do britânico Stephen Frears (Reino Unido, 2013) traz à
baila a história fulcrada na vida de uma pessoa real, Philomena Lee, ocorrida na Irlanda, país
de forte tradição católica, em 1952.
Depois de um encontro com um rapaz, num parque de diversões, a adolescente
Philomena, de 16 anos, fica grávida. Como era costume naquela sociedade conservadora, o
pai rejeita Philomena e a puni, mandando-a para um convento de freiras em Roscrea, cidade
mercantil no condado de Tipperary, Irlanda. Além disso, aos seis anos de idade, Philomena
ficou órfã da mãe que faleceu em virtude de uma tuberculose.
O convento abriga várias mães solteiras e ao chegar, Philomena é inquirida pela madre
superiora, a qual exige detalhes do pecado cometido, como era de praxe com todas as
adolescentes que chegavam nestas condições. A inquirição preliminar estimulava as
adolescentes a contarem com o máximo de detalhes que pudesse lembrar o episódio ocorrido.
As freiras estavam interessadas em saber se as jovens tinham sentido prazer em pecar. Neste
sentido, Philomena alegou que não havia tido orientação das freiras na escola, nem uma mãe
que lhe ensinasse como os bebês são gerados, o que foi debalde, pois as freiras culparam a
adolescente pela indecência e pela vergonha.
Terminada a gestação e no próprio convento, Philomena dá à luz a seu filho Anthony,
sem nenhum alívio às dores do parto e às consequências dele, nem tampouco apoio médico.
Após dar à luz, Philomena é obrigada a trabalhar duro no convento, em troca de abrigo para si
e para o seu filho Anthony, com quem só pode ter contato durante uma hora por dia. É sem
dúvida um trabalho escravo, atuando na lavanderia, serviço considerado o mais árduo de
todos. Para as freiras, esfregar, torcer e passar a ferro simbolizava a limpeza da mancha moral
nas almas das adolescentes pecadoras, além de ser bastante rentável para o convento.
Anthony é adotado pouco antes do aniversário de três anos, juntamente com uma
menina um pouco mais nova, por um casal de americanos, e desaparece da vida de
Philomena, que tinha consciência que um dia este fato se concretizaria, mas apesar de se
preparar para isso, o desespero é inevitável.
Após cinquenta anos, Philomena revela a sua filha que tivera um filho e decide procura-
lo. A filha encontra numa festa um jornalista político, que estava desempregado e aspirava
escrever um livro sobre a história russa, chamado Martin Sixsmith e pede sua ajuda para
encontrar o seu irmão ignoto, que em primeiro momento se recusa. Mais tarde, em razão das
circunstâncias, o jornalista se encontra com Philomena e sua filha, acabando por se interessar
pela história.
A investigação sobre o paradeiro de Anthony começa pelo convento, o qual Philomena
já havia voltado anteriormente, mas em vão. As freiras alegavam que houve um incêndio e
que os documentos haviam sido queimados. A madre superiora, apesar de não ajudar em nada
a investigação, é bastante gentil e amável, principalmente para a inocente Philomena, uma
senhora que não vê maldades nas pessoas e se deixa ser seduzida por gentilezas. Culpada,
ambivalente e coagida, Philomena tinha assinado um documento concordando que não
procuraria saber do filho, nem prestar queixa sobre a adoção. Sendo que este documento,
milagrosamente, não se queimou no incêndio.
Philomena e Martin viajam para os Estados Unidos. Durante a viagem, descobrem
quem foi Anthony e também que ele havia morrido de Aids, alguns anos antes. A família
adotiva de Anthony deu-lhe outro nome, Michael Hess, personalidade de destaque nos
governos dos presidentes norte-americanos Ronald Reagan e George W. Bush. Era
homossexual e teve um relacionamento afetivo importante com Peter Olsen. Philomena e
Martin são informados por Peter que Anthony, antes um pouco de morrer, tinha ido até o
convento de freiras em Roscrea a procura da mãe biológica e lá fora informado que
Philomena estava num lugar incerto e não sabido. Após a morte de Anthony, seu corpo foi
transladado por Peter para cemitério do convento de freiras em Roscrea, sendo este o último
pedido de Michael Hess, Anthony.

Estádios da existência

De acordo com Kierkegaard, o ser humano busca um sentido em suas experiências que
passa por três estádios, sendo eles, estético, ético e religioso. Neste sentido, o estágio estético
é caracterizado pela imediatidade, adota o sensual, a dúvida, o desespero, buscando o prazer
imediato, não há uma aceitação consciente de um ideal. Lincando com o filme, a cena que
aduz ao estágio estético: Depois de um encontro com um rapaz, num parque de diversões, a
adolescente Philomena, de 16 anos, fica grávida. De outra forma, Philomena "pecou" em uma
noite de liberdade, num parque de diversões, conheceu um rapaz através de espelhos que
perpassa as suas imagens. Ele a elogiou, a jovem moça cedeu aos elogios se deixando levar
pelo toque e descuidado contato que despertou coisas que nunca havia sentido e lhe gerando
uma gestação não desejada.

O estádio ético a experiência é substituída por um viver dentro do modelo de


moralidade, priorizando valores que contrapõem estabilidade a sua existência, vivenciada pela
sua maneira de viver, seguindo um padrão imposto pela sociedade. Onde se submeteu ao
castigo pelo seu “pecado”. Trata-se não mais do indivíduo que busca o prazer, trata-se do
indivíduo que ordena sua vida em relação ao cumprimento do dever. A esfera ética é uma
esfera de transição, que não é atravessada de uma vez por todas. Ela oferece uma forma de
preparação para o estádio religioso. Neste sentido, a cena que expõe o estádio ético, em
relação à Philomena, é o período na Abadia de Sam Ross, onde a personagem tem que
trabalhar para pagar e honrar com os devaneios do estádio estético. Ali, é o período de
conscientização com os valores morais de sua sociedade, país conservador e de forte tradição
católica.

O estádio religioso, o último estádio proposto por Kierkegaard, é o que vai além do
estádio ético e é o ponto mais alto a que se pode chegar. É, portanto, o estádio onde se efetiva
a realização do indivíduo. Assim, após a viagem aos Estados Unidos e saber quem era o seu
filho e o que ele havia feita para encontrá-la. Philomena teve um encontro com ela mesma
alcançando um sentido para sua existência, convivendo de forma plena com seus medos, suas
angústias e se sentir responsável por suas escolhas. Nesse sentido, ao descobrir o que havia
acontecido e que tinha sido enganada por posicionamento religioso, diz à Irmã Hildergard,
uma das figuras mais tirana do filme, “eu te perdoo”.

Como a personagem lida com os eventos e com as consequências das suas escolhas

A natureza humana contém a possibilidade de escolher mal ou bem em liberdade,


podendo sempre advir à culpa e o arrependimento, que são para Kierkegaard, os sentimentos
próprios daquele que estabelece uma relação de seriedade com a realidade, responsabilizando-
se por sua escolha e pelas consequências dessa escolha. Desta forma, A fé e resignação são
alguns dos pontos que ficam em evidência sobre a personagem, Philomena concede o perdão
quando aquela que "errou" irmã Hildegard, simplesmente, se recusa a admitir suas falhas.
Podemos observar com clareza os preceitos católicos que foram ensinados, tinha o poder de
acalmar sua angústia.
Sua resiliência merece destaque mediante a igreja que se disponibiliza salvar e pregava
a limpeza da alma. Era a igreja que não via aversão em ganhar dinheiro com a venda das
crianças, Philomena utilizava de sua força interior para se recuperar e esconder um escândalo
para época do convento católica na Irlanda.
É possível notar que a personagem se confronta algumas vezes, buscando respostas
para sua dor e punição de cinco décadas. Os questionamentos constantes, se o filho pensou
nela por todos esses anos? Como ele está? Se a vida dele tivesse tomado o mesmo rumo se
estivesse com ela? Chegando a cogitar a possibilidade de não publicar a sua história.

Quais recursos do potencial humano podem-se elencar?

 A resiliência é a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a


mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas. Neste
sentido, Philomena foi capaz de se adaptar e superar obstáculos, no momento em que
é, obrigada evidentemente, a sair da casa do pai e ir morar e trabalhar para custear a
sua “indecência” e sua “imoralidade”.
 Persistência para conseguir o que deseja, firmeza, determinação. Philomena demonstra
esses potenciais quando resolve ficar nos Estados Unidos para saber mais do filho.
Quando decide enfrentar Peter, ex-namorado de Anthony, que não quer recebê-los.
Quando chama atenção de Martin por ter invadido a área privativa do Convento.
 Tolerância, complacência, indulgência. Durante a viagem aos Estados Unidos, nota-se
certa ambivalência nas demonstrações de Philomena ao mostrar uma liberação sexual,
apesar de viver num país conservador e de forte tradição católica, ao naturalizar a
expressão bicurioso1 e, também, reage com naturalidade à notícia sobre a
homossexualidade do filho.
 Altruísmo, compaixão, benevolência, benignidade ao perdoar à Irmã Hildergard.
 Pureza, honestidade, castidade, inocência quando Philomena realmente acredita que
teria havido um incêndio que destruíra todos os documentos ligados às adoções, sem
questionar que justamente aquele em que ela abria mão de futuras reivindicações em
relação ao filho, houvesse sido “poupado”.

1
Bicurioso é um termo usado para alguém que normalmente tem relações sexuais com um gênero, mas tem
curiosidade em fazer sexo com um gênero diferente. Muitas vezes, o termo é usado para pessoas que se
identificam como heterossexuais e têm curiosidade em explorar um relacionamento ou experiências sexuais entre
pessoas do mesmo sexo.
Considerações finais

Para Kierkegaard, a natureza humana tem a liberdade de escolher pelo mal e pelo bem,
podendo sempre advir à culpa e o arrependimento, gerando assim no ser humano a angústia
que é o cerne da existência humana em face da liberdade de escolhas.
Philomena, aos 16 anos de idade, em um parque de diversões, permitindo-se certo
devaneio, ela escolhe entre se manter casta ou entregar-se aos prazeres sexuais com seu
parceiro desconhecido. A segunda opção foi escolhida e com esta advém toda a
responsabilidade pela sua escolha, que recai em cima de uma adolescente órfã de mãe aos seis
anos, sendo inexperiente e sem orientação sexual, além de viver num país de forte tradição
católica. Philomena é obrigada a carregar o fardo pesado do seu pecado, onde a sua angústia é
a realidade da liberdade de sua escolha, que vai causar-lhe uma crise existencial por quase
toda sua vida.
Assim, desvendado o mistério e aliviada da culpa por haver abandonado seu filho, pois
tudo o que Philomena queria saber, é se o filho a havia condenado, para garantir a
confirmação ou não de sua culpa. Quando ela descobre que Anthony não a condenava por
todo o ocorrido. Ao contrário, ele quis conhecê-la e saber dela, fazendo questão de voltar a
sua terra natal, além de ter pedido, em vida, para se enterrado no cemitério do convento, após
sua morte. Diante disto, Philomena parece finalmente ter-se despido do fardo pesado da culpa
e conseguido perdoar a si mesma pela escolha que fez aos 16 anos de idade.
Por fim, o filme: Philomena, à luz da corrente filosófica existencialista de Soren
Kierkegaard, contribuiu imensuravelmente para o desenvolvimento acadêmico dos alunos do
curso de graduação em Psicologia, que tiveram a oportunidade de se deparar e engrandecer
intelectualmente, além de se aprimorarem na disciplina Abordagem Humanista e
Fenomenológica. Ademais, não se pode deixar de enaltecer o trabalho do jovem, erudito e
promissor professor Odilo Araújo Neto, o qual manifesta preocupação, e não mede esforço e
atenção individual que dá a cada aluno. Agradecemos muito por ser para nós o excelente
professor que é!
Referências

ERICKSEN, Lauro. Transições dos estádios da vida em Kierkegaard e suas perspectivas


teológicas. MERITA, Porto Alegre, 1884. Disponível em: < file:///C:/Users/Washington/Do
wnloads/26674-Texto%20do%20artigo-143516-4-10-20190523%20(2).pdf > Acesso em: 15
de agosto de 2022.

FEIJOO. Ana Maria Lopez Calvo; et al. Kierkegaard, a Escola da Angústia e a


Psicoterapia. Scielo Brasil, Psicologia Ciência e Profissão, 2015. Disponível em: < https://
www. scielo.br/j/pcp/a/xYBLQtG6kBBCfNFRS7bnwqQ/abstract/?lang=pt > Acesso em: 17
de agosto de 2022.

Filme: Philomena. Baseado em fatos reais. Data de lançamento: 14 de fevereiro de 2014


(Brasil). Diretor: Stephen Frears. Acesso em 10 de Setembro de 2022, plataforma digital
youcine.

PROTASIO. Myriam Moreira e FEIJOO, Ana Maria Lopez. Análise existencial: uma
psicologia da inspiração kierkegaardiana. Periódicos Eletrônicos em Psicologia, 2011.
Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1809-5267
2011000400007 > Acesso em: 23 de agosto de 2002.

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