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Introdução
O TCC é um trabalho que tem como proposta a busca por um problema jurídico e a
tentativa de alcançar uma solução.
Veja, então, que o TCC não é um mero aprofundamento teórico, nem um amontoado
de ideias de outros autores. É uma construção que parte de um problema, visando sua
solução.
O TCC jurídico pode se apresentar de diversas formas. As mais comuns são: monografias
e artigos científicos. A diferença entre esses dois modelos é muito sutil e está relacionada
à dimensão.
Além dessa diferença, o artigo traz mais simplicidade em relação aos elementos pré-
textuais (exige-se apenas o título, nome do autor, resumo em português e data de
submissão e aprovação do artigo). Já as monografias priorizam folha de rosto, folha de
aprovação, resumo em duas línguas e sumário. Essas diferenças estão sinalizadas nas
normas 14.724 e 6.022 da ABNT.
Mas acerca da construção da metodologia e da escrita, a estrutura é a mesma. Por isso, se
seu TCC for em formato de artigo ou de monografia, as orientações desse e-book podem
ser aplicadas 100%.
Visto isso, agora vamos a esta importante pergunta: por onde começar o TCC?
1. Escolha do tema
Existe uma tarefa simples que você pode fazer para chegar ao seu tema de TCC. Explico
melhor neste vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=BGSFUAHPUQo&t=415s
Após a escolha do tema, você precisa delimitá-lo, torná-lo mais específico a fim de
direcionar melhor a pesquisa.
A delimitação pode ocorrer sob as seguintes perspectivas:
Lembre-se que você está no curso de Direito e, por isso, seu orientador e seus
examinadores esperam que você traga uma situação jurídica. Ao escolher o seu tema,
pergunte-se se o Direito é capaz de intervir, trazendo alguma contribuição ou mesmo
solução. Perceba se você não está caminhando para outras áreas como a psicologia, a
filosofia, a medicina, a economia, etc. Você pode usar essas áreas para incrementar a sua
pesquisa, só tome cuidado para que elas não sejam o ponto determinante do seu tema.
2 . Formulação do problema
Uma vez que você encontrou o seu tema, agora é hora de pensar no problema. Se você
ainda não está seguro sobre a sua escolha, tenha paciência. Nem sempre conseguimos
acertar tudo de primeira. Vá avançando em sua pesquisa e fazendo os ajustes necessários.
O problema é uma dificuldade, teórica ou prática, acerca do tema que pretende ser
trabalhado. A intenção, ao se detectar o problema, é encontrar uma solução que lhe caiba.
Para simplificar, problema é aquela inquietação, angústia, incômodo que são gerados pelo
tema. Exemplo: De que forma é possível conciliar a imposição da guarda compartilhada
pela Lei 13.058 com o melhor interesse da criança e do adolescente?
Com os olhos voltados para o seu tema, transforme-o em uma pergunta (todo
problema é uma pergunta, ok?). Para facilitar, insira um pronome interrogativo (ou um
verbo) na frente do tema e uma interrogação ao final.
Por exemplo: se o seu tema for “A prática da eutanásia e o conflito do direito à vida com
o direito à dignidade da pessoa humana”, você pode elaborar o seguinte problema:
É possível...?
Como conciliar...?
É válido...?
É constitucional...?
Como...?
Quais são...?
É legítimo...?
É compatível...?
Em quais situações...?
De que forma...?
Se o seu problema já foi respondido pelo STJ ou pelo STF, não descarte! O fato
de ter sido dada uma solução ao seu problema não significa que ele dispensa
reflexões. Analise os votos, veja os pontos que não foram discutidos. Veja se você
concorda com a solução apresentada. Colocar os votos (ou pontos) divergentes
para um debate pode ser uma ótima pesquisa!
3. Construção da hipótese
A partir do problema você poderá construir a sua hipótese. Esse é um elemento muito
importante para definir os rumos da sua pesquisa. Deixa eu explicar melhor.
Com os olhos voltados para o problema, você deverá apresentar possível ou possíveis
resposta(s).
Exemplo: para o problema “A imposição da guarda compartilhada pela Lei 13.058 atende
ao melhor interesse da criança e do adolescente?” podemos construir a seguinte hipótese:
a imposição da guarda compartilhada não atende ao melhor interesse da criança e do
adolescente, visto que, na prática, poderá ensejar desgaste entre os pais se estes não
mantiverem uma boa relação.
Bom, se você é um estudioso do direito de família, sabe que pelo princípio da afetividade
e pelo princípio da igualdade, essa relação deve ser tratada da mesma forma como é a
paternidade biológica. Sendo assim, sua hipótese ao problema seria: “As consequências
são as mesmas da paternidade biológica”. Ou seja: acabou a graça! O problema foi de
fácil solução, a hipótese já mostrou que sua pesquisa não contribuirá tanto para uma visão
crítica do tema.
Outro detalhe que deve ser observado: sua hipótese deve ser clara e objetiva, não pode
gerar outras dúvidas e incertezas.
Em suma: quanto mais claro e direcionado for o seu problema, mais acertada será sua
hipótese. Por isso é tão importante delimitar o tema. Assim você criará um bom problema
e chegará na hipótese com maior segurança!
Para avançar na construção da sua pesquisa, você precisa elaborar pontos de chegada (os
objetivos). Neste tópico você aprenderá sobre o objetivo geral e sobre os objetivos
específicos.
São linhas mestras da pesquisa, mostrando o fim (ou os fins) a que se quer chegar. Os
objetivos são criados em formato de listas. Comparativamente, é como uma lista de
compras que você faz para ir ao mercado. Você já coloca tudo ali no papel (ou aplicativo)
para ir na prateleira certa, sem perder tempo.
Os objetivos da pesquisa têm essa mesma intenção: evitar que você fique rodando, sem
sair do lugar. Traçar os objetivos implica dizer que você já sabe o que deverá ser feito.
Os objetivos são curtos, claros e devem ser indicadores de uma ação. Ou seja: todo
objetivo se expressa por um VERBO.
Está ligado a uma visão global e abrangente do tema. É o principal ponto de chegada do
pesquisador. O objetivo geral pode ser facilmente identificado a partir do seu problema.
Assim, o seu objetivo geral pode ser: Analisar se a exigência da confissão no acordo de
não persecução penal viola o princípio da inocência.
Agora é a sua vez. Tente elaborar o seu objetivo geral. Em seguida, olhando para o
objetivo geral, tente desmembrá-lo em, pelo menos, três objetivos específicos.
5. A justificativa
Agora é hora de pensarmos na justificativa da sua pesquisa. Nessa etapa, muitas fichas
irão cair porque você precisará testar e validar o seu tema de pesquisa. Afinal, será que
ele é bom mesmo?
A relevância está conectada à insuficiência das pesquisas até o momento. É aqui que você
avaliará se o seu tema é batido ou não.
Ao evidenciar que seu tema é relevante, você estará deixando claro que ele não foi
pesquisado o suficiente, pois existem lacunas, incongruências, inconsistências,
contradições ou conclusões insuficientes.
Por exemplo: pesquisar sobre a legalização do aborto pode ser, do ponto de vista teórico,
batido. Esse é um tema exaustivamente discutido. Por isso é importante que você,
querendo escrever sobre esse tema, traga uma discussão nova. Você pode discutir o
aborto nos casos de stealthing. Já vai dar uma cara totalmente nova pro seu tema.
“Filipe, mas um tema que tenha essas características não vai me fazer cair na tragédia
da bibliografia escassa?”
Não, não, não!! Você pode usar a literatura clássica para compor sua base de pensamento
e usar os artigos científicos recentes (ainda que poucos) para te ajudar a construir o
raciocínio mais atual. Toda pesquisa tem que estar assentada em algo que já existe. Antes
de falar de stealthing, você vai falar de aborto, de direito à vida, de princípio da dignidade,
etc. Então pode ficar tranquilo(a): com algum empenho você achará os livros e artigos
certos (ainda que não específicos sobre a sua temática).
5.2. Como demonstrar a atualidade
Para mostrar que o seu tema é atual, basta você recorrer a notícias (que podem ser de
jornais populares ou mesmo de sites de Internet) ou a julgados dos tribunais para buscar
evidências.
O importante é que a discussão do seu tema faça sentido HOJE. Propor a pesquisa de
assuntos já superados e ultrapassados não é uma boa porque, possivelmente, não terão
aplicabilidade atual. Será que faz sentido pesquisar sobre o direito ao casamento
homoafetivo, sendo que o STF, o STJ e o CNJ já se pronunciaram claramente que sim?
Parece um tema ultrapassado, não é?
Temas que propõem análises envolvendo a pandemia são muito atuais. Temas que
envolvem uma lei recente ou a alteração de uma lei, como aconteceu com a lei de
recuperação e falência, a lei de licitação e o artigo 147-A do Código Penal também são
atuais. Atenção!! Cuide de dar um PROBLEMA ao seu tema, para evitar fazer um
trabalho que seja meramente um resumo dessas alterações ou atualizações legais.
A importância do seu tema está em demonstrar como a sua pesquisa poderá contribuir
para os avanços em relação ao problema encontrado.
6. Metodologia
Inicialmente você deve escolher o tipo de pesquisa que mais se adequa a sua proposta da
sua pesquisa. Veja os tipos mais comuns em pesquisas jurídicas:
Uma vez que você identificou o tipo de pesquisa, é importante indicar qual será a
abordagem. Ou seja, como você processará os dados e informações coletados? Veja os
métodos mais comuns:
Agora é importante selecionar a forma como você conduzirá a sua pesquisa. Veja os
métodos mais utilizados no âmbito jurídico:
Já definiu sua metodologia? O próximo passo é construir o seu referencial teórico. Vamos
entender mais sobre ele!
Isso significa que o marco teórico é o ponto de vista que você adotará em sua pesquisa.
Por exemplo, se você estiver discutindo alguma temática envolvendo aborto, você adotará
qual ponto de vista? A proteção da vida do nascituro ou da dignidade da gestante? Definir
esse ponto de partida irá ajudar a criar uma grande coerência em todo seu trabalho.
7.2. Como definir? Eleja uma ideia que servirá de fundamento para sua pesquisa. Esse
fundamento fará com que você crie um “pacto de coerência” com todos os argumentos
que você irá apresentar. Isso evitará com que você oscile em seu posicionamento,
deixando seu leitor confuso. Exemplo: o conceito de violência simbólica de Pierre
Bourdieu poderia ser usado como marco teórico para iniciar a pesquisa sobre o
reconhecimento do stealthing como ofensa à dignidade da mulher.
Dica: a melhor forma de procurar pelo seu marco teórico é buscando o REAL
FUNDAMENTO da sua hipótese.
Converse com seu orientador sobre as escolas de pensamento que poderão embasar sua
pesquisa. Geralmente, o marco teórico (ou referencial teórico) será apresentado não por
um autor contemporâneo e sim por um doutrinador/filósofo/teórico mais clássico.