Você está na página 1de 14

A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA

Introdução

Antes de tudo, você sabe o que é um TCC?

Essa sigla significa: Trabalho de Conclusão de Curso. Algumas instituições chamam


simplesmente de Trabalho de Curso por ser o termo usado pela Resolução nº5 de 17 de
dezembro de 2018 que estabelece as diretrizes curriculares nacionais do curso de
graduação em Direito.

O TCC é um trabalho que tem como proposta a busca por um problema jurídico e a
tentativa de alcançar uma solução.

Veja, então, que o TCC não é um mero aprofundamento teórico, nem um amontoado
de ideias de outros autores. É uma construção que parte de um problema, visando sua
solução.

O TCC jurídico pode se apresentar de diversas formas. As mais comuns são: monografias
e artigos científicos. A diferença entre esses dois modelos é muito sutil e está relacionada
à dimensão.

Enquanto a monografia se desenvolve por uma dissertação entre 30 e 50 páginas, o artigo


é mais sucinto e se propõe a analisar um objeto bastante delimitado. Os artigos, em média,
possuem entre 15 e 30 páginas. A quantidade de páginas varia de cada instituição e você
precisa se certificar disso no Manual de TCC da sua faculdade.

Além dessa diferença, o artigo traz mais simplicidade em relação aos elementos pré-
textuais (exige-se apenas o título, nome do autor, resumo em português e data de
submissão e aprovação do artigo). Já as monografias priorizam folha de rosto, folha de
aprovação, resumo em duas línguas e sumário. Essas diferenças estão sinalizadas nas
normas 14.724 e 6.022 da ABNT.
Mas acerca da construção da metodologia e da escrita, a estrutura é a mesma. Por isso, se
seu TCC for em formato de artigo ou de monografia, as orientações desse e-book podem
ser aplicadas 100%.

Visto isso, agora vamos a esta importante pergunta: por onde começar o TCC?

Pela escolha do tema!

1. Escolha do tema

1.1. Como escolher seu tema:

Primeiramente, deve-se selecionar um assunto de acordo com as preferências e as


possibilidades de pesquisa. A partir daí, você deve aliar o seu interesse à viabilidade de
construção de uma possível abordagem. Essa abordagem mais específica será o tema da
pesquisa.

1.2. O que deve ser levado em conta:

a) A repercussão jurídica do tema.


b) A aptidão do tema para servir de objeto – o tema proposto deve ser suficiente para
o pesquisador discorrer o número suficiente de páginas.
c) O tempo do pesquisador para pesquisa. Temas muito novos tendem a trazer maior
dificuldade. Avalie se você terá tempo suficiente para elaborar uma pesquisa mais
complexa.

Existe uma tarefa simples que você pode fazer para chegar ao seu tema de TCC. Explico
melhor neste vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=BGSFUAHPUQo&t=415s

1.3. Delimitação do tema:

Após a escolha do tema, você precisa delimitá-lo, torná-lo mais específico a fim de
direcionar melhor a pesquisa.
A delimitação pode ocorrer sob as seguintes perspectivas:

a) Delimitação geográfica: se sua pesquisa incluir levantamento de dados, você poderá


delimitá-la dentro de uma região. Exemplo: “Análise da eficácia das medidas protetivas
da Lei Maria da Penha na Comarca de Viçosa/MG”.

b) Delimitação temporal: também aplicável se a sua pesquisa incluir levantamento de


dados ou análise de julgados. Especificando o período em que restringirá sua pesquisa,
você estará delimitando. Exemplo: “O conceito de dignidade da pessoa humana nos
julgados do STJ envolvendo danos morais de 2011 a 2021”.

c) Delimitação a partir de um artigo de lei específico: você pode escolher um artigo ou


um grupo de artigos que serão objeto do seu estudo. Exemplo: “A responsabilidade civil
dos pais e a responsabilidade do menor incapaz: um diálogo entre os artigos 928 e 932, I
do Código Civil”.

d) Delimitação a partir de um princípio específico: na mesma linha anterior, você pode


optar por analisar o seu tema à luz de um determinado princípio. Exemplo: “A violência
obstétrica e a consequente supressão do princípio da autonomia privada e da dignidade
da mulher grávida e da parturiente”.

e) Delimitação a partir de um conflito: é comum detectar um conflito em seu tema. Esse


conflito pode se dar pela colisão de regras, colisão de princípios, colisão de uma regra
com um princípio ou, ainda, a colisão de uma determinada lei com a realidade. Traga o
conflito para compor o seu tema. Por exemplo: “A obrigatoriedade das vacinas: a
ponderação do princípio da dignidade humana e do direito à saúde coletiva”.

1.4. Repercussão jurídica:

Lembre-se que você está no curso de Direito e, por isso, seu orientador e seus
examinadores esperam que você traga uma situação jurídica. Ao escolher o seu tema,
pergunte-se se o Direito é capaz de intervir, trazendo alguma contribuição ou mesmo
solução. Perceba se você não está caminhando para outras áreas como a psicologia, a
filosofia, a medicina, a economia, etc. Você pode usar essas áreas para incrementar a sua
pesquisa, só tome cuidado para que elas não sejam o ponto determinante do seu tema.

2 . Formulação do problema

Uma vez que você encontrou o seu tema, agora é hora de pensar no problema. Se você
ainda não está seguro sobre a sua escolha, tenha paciência. Nem sempre conseguimos
acertar tudo de primeira. Vá avançando em sua pesquisa e fazendo os ajustes necessários.

2.1. O que é um problema:

O problema é uma dificuldade, teórica ou prática, acerca do tema que pretende ser
trabalhado. A intenção, ao se detectar o problema, é encontrar uma solução que lhe caiba.

Para simplificar, problema é aquela inquietação, angústia, incômodo que são gerados pelo
tema. Exemplo: De que forma é possível conciliar a imposição da guarda compartilhada
pela Lei 13.058 com o melhor interesse da criança e do adolescente?

2.2. Como formular o problema:

Com os olhos voltados para o seu tema, transforme-o em uma pergunta (todo
problema é uma pergunta, ok?). Para facilitar, insira um pronome interrogativo (ou um
verbo) na frente do tema e uma interrogação ao final.

Por exemplo: se o seu tema for “A prática da eutanásia e o conflito do direito à vida com
o direito à dignidade da pessoa humana”, você pode elaborar o seguinte problema:

Como conciliar o direito à vida e o princípio da dignidade humana na prática da


eutanásia?

Algumas sugestões para você iniciar a pergunta do seu problema:

 É possível...?
 Como conciliar...?
 É válido...?
 É constitucional...?
 Como...?
 Quais são...?
 É legítimo...?
 É compatível...?
 Em quais situações...?
 De que forma...?

2.4. Fique atento!

 Ao elaborar o seu problema, verifique se ele é de fácil solução. Problemas que


podem ser respondidos com uma simples “digitada no Google” se tornam, muitas
vezes, desinteressantes. Seu problema deve ter um certo grau de complexidade!

 Se o seu problema já foi respondido pelo STJ ou pelo STF, não descarte! O fato
de ter sido dada uma solução ao seu problema não significa que ele dispensa
reflexões. Analise os votos, veja os pontos que não foram discutidos. Veja se você
concorda com a solução apresentada. Colocar os votos (ou pontos) divergentes
para um debate pode ser uma ótima pesquisa!

3. Construção da hipótese

A partir do problema você poderá construir a sua hipótese. Esse é um elemento muito
importante para definir os rumos da sua pesquisa. Deixa eu explicar melhor.

3.1. O que é uma hipótese:

A hipótese é uma proposição que se faz na tentativa de verificar a validade de resposta


existente para um problema. É a suposição que antecede à conclusão dos resultados que
ainda serão buscados ao longo da pesquisa. Correta ou errada, a hipótese sempre conduz
a uma verificação apurada.
Traduzindo: com a hipótese, você tentará responder o problema detectado para sua
pesquisa. Mesmo que você ainda não tenha pesquisado de forma aprofundada sobre o seu
tema, você pode propor um raciocínio que acredita ser aquele em que irá chegar.

Pense assim: o problema é o ponto de partida e a hipótese é a possível linha de chegada.


Possível por quê? Porque a sua conclusão (ao final da pesquisa) pode ser diferente da
hipótese levantada. E não há nenhum problema nisso. Hipóteses podem ser confirmadas
ou refutadas, isso faz parte da pesquisa.

3.2 Como construir a hipótese:

Com os olhos voltados para o problema, você deverá apresentar possível ou possíveis
resposta(s).

Exemplo: para o problema “A imposição da guarda compartilhada pela Lei 13.058 atende
ao melhor interesse da criança e do adolescente?” podemos construir a seguinte hipótese:
a imposição da guarda compartilhada não atende ao melhor interesse da criança e do
adolescente, visto que, na prática, poderá ensejar desgaste entre os pais se estes não
mantiverem uma boa relação.

3.3 Fique atento!

Se a sua hipótese já for reconhecida em lei ou for encontrada prontamente em uma


pesquisa no Google, talvez seja importante repensar o seu problema.

Por exemplo. Imagine o seguinte problema de pesquisa: “Quais são as consequências da


paternidade socioafetiva na relação familiar e sucessória?”.

Bom, se você é um estudioso do direito de família, sabe que pelo princípio da afetividade
e pelo princípio da igualdade, essa relação deve ser tratada da mesma forma como é a
paternidade biológica. Sendo assim, sua hipótese ao problema seria: “As consequências
são as mesmas da paternidade biológica”. Ou seja: acabou a graça! O problema foi de
fácil solução, a hipótese já mostrou que sua pesquisa não contribuirá tanto para uma visão
crítica do tema.
Outro detalhe que deve ser observado: sua hipótese deve ser clara e objetiva, não pode
gerar outras dúvidas e incertezas.

Outro exemplo. Imagine que determinado pesquisador encontre o seguinte problema:


“Quais são os conflitos após o reconhecimento da multiparentalidade?”. Veja que esse
problema levará a novos desafios. Não há como criar uma hipótese para este problema,
da forma como ele foi criado. Esse pesquisador já poderia ter detectado algum conflito,
trazer para o problema e, na hipótese, trabalhar a solução desse conflito.

Em suma: quanto mais claro e direcionado for o seu problema, mais acertada será sua
hipótese. Por isso é tão importante delimitar o tema. Assim você criará um bom problema
e chegará na hipótese com maior segurança!

4. Construção dos objetivos

Para avançar na construção da sua pesquisa, você precisa elaborar pontos de chegada (os
objetivos). Neste tópico você aprenderá sobre o objetivo geral e sobre os objetivos
específicos.

4.1. O que são os objetivos:

São linhas mestras da pesquisa, mostrando o fim (ou os fins) a que se quer chegar. Os
objetivos são criados em formato de listas. Comparativamente, é como uma lista de
compras que você faz para ir ao mercado. Você já coloca tudo ali no papel (ou aplicativo)
para ir na prateleira certa, sem perder tempo.

Os objetivos da pesquisa têm essa mesma intenção: evitar que você fique rodando, sem
sair do lugar. Traçar os objetivos implica dizer que você já sabe o que deverá ser feito.

4.2. Como construir um objetivo:

Os objetivos são curtos, claros e devem ser indicadores de uma ação. Ou seja: todo
objetivo se expressa por um VERBO.

Aqui está uma lista de verbos que você poderá utilizar:


1. Analisar; 2. Investigar; 3. Reconhecer; 4. Identificar; 5. Compreender; 6. Encontrar; 7.
Propor; 8. Buscar; 9; Aprofundar; 10. Relatar; 11. Apontar; 12. Descrever; 13. Validar;
14. Definir; 15. Aplicar; 16. Ponderar; 17. Comparar.

4.2. Objetivo geral:

Está ligado a uma visão global e abrangente do tema. É o principal ponto de chegada do
pesquisador. O objetivo geral pode ser facilmente identificado a partir do seu problema.

Veja um exemplo. Imagine que o seu problema seja: “A exigência da confissão no


acordo de não persecução penal viola o princípio da inocência?”

Assim, o seu objetivo geral pode ser: Analisar se a exigência da confissão no acordo de
não persecução penal viola o princípio da inocência.

“- Filipe, é tão simples assim?


- Sim, tão simples quanto Direito Civil!” (brincadeira de um professor civilista, rsrs).

4.3. Objetivos específicos:

Os objetivos específicos estão ligados a circunstâncias específicas e possuem caráter mais


concreto. Esses objetivos levarão, inevitavelmente, ao objetivo geral.
Agora imagine uma pesquisa cujo tema seria “Análise jurídica sobre os efeitos da
imposição da guarda compartilhada conforme o melhor interesse da criança e do
adolescente”. Podemos pensar nos seguintes objetivos específicos:

a) Esclarecer as implicações da guarda compartilhada.


b) Demonstrar a inviabilidade da imposição da guarda compartilhada.
c) Propor nova leitura à Lei 13.058.
d) Avaliar a eficácia dos outros tipos de guarda.

Comparativamente, vamos voltar ao exemplo do supermercado. Imagine que você


pretenda fazer compras para um jantar que irá oferecer aos seus familiares. Você quer
fazer um macarrão ao molho branco. Seu objetivo geral é: comprar os ingredientes para
fazer um macarrão ao molho branco.

Seus objetivos específicos seriam:


a) Comprar uma cebola
b) Ver se compensa comprar o queijo ralado ou o pedaço do queijo para ralar
c) Comprar uma margarina
d) Encontrar um substituto para amido de milho

E por aí vai. Percebe que os objetivos específicos decorrem do objetivo geral?

Agora é a sua vez. Tente elaborar o seu objetivo geral. Em seguida, olhando para o
objetivo geral, tente desmembrá-lo em, pelo menos, três objetivos específicos.

5. A justificativa

Agora é hora de pensarmos na justificativa da sua pesquisa. Nessa etapa, muitas fichas
irão cair porque você precisará testar e validar o seu tema de pesquisa. Afinal, será que
ele é bom mesmo?

A justificativa está na demonstração da relevância, atualidade e importância do tema da


sua pesquisa.
A relevância pode ser demonstrada a partir da constatação de que o tema não foi
pesquisado o suficiente, seja porque os resultados de outras pesquisas são inconclusivos,
seja porque existem outros critérios de análise que merecem ser aplicados.

Ao demonstrar que o tema é atual, deve-se apontar qual é a repercussão dele na


sociedade. É possível evidenciar isso por notícias ou julgados recentes dos tribunais.

A importância está relacionada à necessidade da discussão do tema-problema em razão


da contribuição que os resultados poderão trazer à comunidade acadêmica.

5.1. Como demonstrar a relevância

A relevância está conectada à insuficiência das pesquisas até o momento. É aqui que você
avaliará se o seu tema é batido ou não.

Ao evidenciar que seu tema é relevante, você estará deixando claro que ele não foi
pesquisado o suficiente, pois existem lacunas, incongruências, inconsistências,
contradições ou conclusões insuficientes.

Por exemplo: pesquisar sobre a legalização do aborto pode ser, do ponto de vista teórico,
batido. Esse é um tema exaustivamente discutido. Por isso é importante que você,
querendo escrever sobre esse tema, traga uma discussão nova. Você pode discutir o
aborto nos casos de stealthing. Já vai dar uma cara totalmente nova pro seu tema.

“Filipe, mas um tema que tenha essas características não vai me fazer cair na tragédia
da bibliografia escassa?”

Não, não, não!! Você pode usar a literatura clássica para compor sua base de pensamento
e usar os artigos científicos recentes (ainda que poucos) para te ajudar a construir o
raciocínio mais atual. Toda pesquisa tem que estar assentada em algo que já existe. Antes
de falar de stealthing, você vai falar de aborto, de direito à vida, de princípio da dignidade,
etc. Então pode ficar tranquilo(a): com algum empenho você achará os livros e artigos
certos (ainda que não específicos sobre a sua temática).
5.2. Como demonstrar a atualidade

Para mostrar que o seu tema é atual, basta você recorrer a notícias (que podem ser de
jornais populares ou mesmo de sites de Internet) ou a julgados dos tribunais para buscar
evidências.

O importante é que a discussão do seu tema faça sentido HOJE. Propor a pesquisa de
assuntos já superados e ultrapassados não é uma boa porque, possivelmente, não terão
aplicabilidade atual. Será que faz sentido pesquisar sobre o direito ao casamento
homoafetivo, sendo que o STF, o STJ e o CNJ já se pronunciaram claramente que sim?
Parece um tema ultrapassado, não é?

Temas que propõem análises envolvendo a pandemia são muito atuais. Temas que
envolvem uma lei recente ou a alteração de uma lei, como aconteceu com a lei de
recuperação e falência, a lei de licitação e o artigo 147-A do Código Penal também são
atuais. Atenção!! Cuide de dar um PROBLEMA ao seu tema, para evitar fazer um
trabalho que seja meramente um resumo dessas alterações ou atualizações legais.

5.3. Como demonstrar a importância

A importância do seu tema está em demonstrar como a sua pesquisa poderá contribuir
para os avanços em relação ao problema encontrado.

A sua pesquisa poderá desenvolver um raciocínio capaz de ajudar os aplicadores e


estudiosos da lei? Você vê a possibilidade de entregar um trabalho que irá agregar ao que
já está consolidado? Se sim, seu tema é importante!

6. Metodologia

Avançando na elaboração dos elementos da pesquisa, é necessário escolher o tipo de


pesquisa e os métodos que você irá empregar para coleta e análise dos seus dados.

6.1. O que é metodologia


Corresponde aos métodos empregados na pesquisa, a fim de se obter os resultados
esperados. A especificação da metodologia responde questões do tipo: “como irei
pesquisar este tema?” ou “como analisarei os dados?” ou ainda “qual o procedimento irei
adotar?”.

6.2. Tipos de pesquisa

Inicialmente você deve escolher o tipo de pesquisa que mais se adequa a sua proposta da
sua pesquisa. Veja os tipos mais comuns em pesquisas jurídicas:

 Pesquisa qualitativa: é um tipo de pesquisa que visa analisar fenômenos,


descrevê-los e compreendê-los.
 Pesquisa quantitativa: é um tipo de pesquisa que leva em consideração dados
numéricos ou estatísticos.
 Pesquisa bibliográfica: é a pesquisa elaborada a partir da análise de livros e
artigos já publicados.
 Pesquisa de campo: tem por objetivo coletar dados de um grupo de pessoas ou
de órgãos.

6.3. Métodos de abordagem

Uma vez que você identificou o tipo de pesquisa, é importante indicar qual será a
abordagem. Ou seja, como você processará os dados e informações coletados? Veja os
métodos mais comuns:

 Método indutivo: o estudo começa em uma constatação particular e caminha para


planos mais abrangentes. É um método usado para os estudos de caso.
 Método dedutivo: o estudo parte de planos abrangentes (leis e teorias) para
compreender um fenômeno particular.
 Método hipotético-dedutivo: se inicia pela percepção de uma lacuna nos
conhecimentos, acerca da qual se formulam hipóteses e ver qual melhor se adequa.
6.4. Métodos de procedimento

Agora é importante selecionar a forma como você conduzirá a sua pesquisa. Veja os
métodos mais utilizados no âmbito jurídico:

 Método histórico: busca-se compreender a origem e as raízes de determinado


instituto. Exemplo: para compreender a noção atual de família, pesquisa-se o
comportamento social nos últimos anos.
 Método comparativo: busca-se compreender determinado grupo, comparando-o
com outros grupos. Exemplo: comparação entre o tratamento dado à eutanásia no
Brasil e o tratamento dado nos países europeus.
 Método de estudo de caso: consiste no estudo de determinado instituto ou
situação, com a finalidade de se obter generalizações. A investigação deve
examinar o tema escolhido, observando todos os fatores que o influenciaram,
analisando-o em todos os seus aspectos. Exemplo: análise dos efeitos sucessórios
no caso do Gugu Liberato.
 Método estatístico: permite comprovar as relações dos fenômenos por meio da
utilização de dados. Este método visa fornecer uma descrição quantitativa da
sociedade, considerada como um todo organizado.
 Método funcionalista: busca-se um estudo da sociedade a partir da função de
suas unidades, isto é, como um sistema organizado de atividades. Exemplo:
estudar qual é a função da família no atual contexto brasileiro com o fim de se
assegurar uma identidade cultural.

7. Referencial Teórico (ou Marco Teórico)

Já definiu sua metodologia? O próximo passo é construir o seu referencial teórico. Vamos
entender mais sobre ele!

7.1. Esclarecimentos iniciais


As Professoras Miracy Gustin e Maria Tereza Fonseca Dias dizem que “marco teórico
não pode ser confundido com a obra de determinado autor ou com um conjunto de
teorias, às vezes, antinômicas. Marco teórico é uma afirmação específica de determinado
teórico, não de sua obra”. (GUSTIN, Miracy e DIAS, Tereza Fonseca. (Re)pensando a
pesquisa jurídica. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 37).

Isso significa que o marco teórico é o ponto de vista que você adotará em sua pesquisa.
Por exemplo, se você estiver discutindo alguma temática envolvendo aborto, você adotará
qual ponto de vista? A proteção da vida do nascituro ou da dignidade da gestante? Definir
esse ponto de partida irá ajudar a criar uma grande coerência em todo seu trabalho.

7.2. Como definir? Eleja uma ideia que servirá de fundamento para sua pesquisa. Esse
fundamento fará com que você crie um “pacto de coerência” com todos os argumentos
que você irá apresentar. Isso evitará com que você oscile em seu posicionamento,
deixando seu leitor confuso. Exemplo: o conceito de violência simbólica de Pierre
Bourdieu poderia ser usado como marco teórico para iniciar a pesquisa sobre o
reconhecimento do stealthing como ofensa à dignidade da mulher.

Após definir o marco teórico, associe-o a um determinado autor, pormenorizando as


principais ideias que servirão de fundamento para a sua pesquisa.

Dica: a melhor forma de procurar pelo seu marco teórico é buscando o REAL
FUNDAMENTO da sua hipótese.

7.3. Onde procurar o marco teórico

Converse com seu orientador sobre as escolas de pensamento que poderão embasar sua
pesquisa. Geralmente, o marco teórico (ou referencial teórico) será apresentado não por
um autor contemporâneo e sim por um doutrinador/filósofo/teórico mais clássico.

Dica: é muito comum encontrar o marco teórico na filosofia ou sociologia do Direito.

Você também pode gostar