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Ligações entre Tema, Problema de Pesquisa, Objetivos e Justificativa na

elaboração de Artigo Científico.

Autor: Prof. Dr. Paulo Roberto Vidigal

Para o desenvolvimento e amadurecimento do aprendizado em uma área de estudo


a revisão bibliográfica é uma das tarefas mais importantes. Para avançar em
determinado campo do conhecimento é preciso conhecer o que já foi desenvolvido
por outros autores (pesquisadores).

As bibliotecas digitais têm facilitado e simplificado muito esta tarefa, pois trazem
recursos de busca e cruzamento de informações.

Para dar início ao trabalho é importante definir o tema de sua pesquisa que deverá
estar ligado ao problema de pesquisa, explicado a seguir.

1. Definição do Tema e do problema de pesquisa.

O tema é o assunto que se deseja pesquisar ou desenvolver. Pode surgir de uma


dificuldade prática enfrentada pelo pesquisador, de sua curiosidade científica, de
desafios encontrados na leitura de outros trabalhos ou da própria teoria etc. O tema
também pode ter sido "encomendado" por instituições, grupos sociais, etc., o que
não lhe tira o caráter científico.
Dotado necessariamente de um sujeito e de um objeto, o tema passa por um
processo de especificação. O processo de delimitação do tema só é dado como
concluído quando se faz a limitação geográfica e espacial do mesmo, com vistas à
realização da pesquisa.
Identifique em qual área pretende pesquisar e elabore o problema de pesquisa.
Toda pesquisa se inicia com algum tipo de problema ou indagação. Entretanto, ao
se afirmar isto, torna-se conveniente esclarecer o significado desse termo. É comum
identificar um problema de pesquisa como uma questão, o que dá margem a uma
série de desencontros e equívocos sobre a natureza dos problemas verdadeiros dos
problemas falsos. Outra concepção identifica problema como algo que provoca
desequilíbrio, mal-estar, constrangimento às pessoas. No entendimento científico,
problema é qualquer situação não resolvida e que é objeto de discussão, em
qualquer domínio do conhecimento.

Quando se trata de conceituar o que é um problema de pesquisa, é preciso levar em


conta de antemão que nem todo problema é passível de tratamento científico. Isto
significa que, para realizar uma pesquisa é necessário, em primeiro lugar, verificar
se o problema cogitado se enquadra na categoria de científico.

Um problema é de natureza científica quando envolve variáveis que podem ser


testadas, observadas, manipuladas. Um problema de pesquisa pode ser
determinado por razões de ordem prática ou de ordem intelectual. São inúmeras as
razões de ordem prática e intelectual que conduzem à formulação de problemas de
pesquisa. Apenas com o objetivo de ilustrar o universo de possibilidades que pode

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se descortinar em relação a este tema apresenta-se a seguir algumas definições e
exemplos de problemas de ordem prática e de ordem intelectual.

1.1 Problemas de ordem prática

a) Problemas que devem ser direcionados para respostas que ajudem a subsidiar
ações. Exemplo: Uma empresa do ramo de cosméticos deseja saber o perfil de seus
consumidores, com vistas a lançamento de um novo produto.
b) Direcionados para a avaliação de certas ações ou programas. Exemplo: Qual o
efeito da Campanha de arrecadação de brinquedos para a integração dos
funcionários da Prefeitura de Mauá?
c) Direcionados a verificar as consequências de várias alternativas possíveis.
Exemplo: O Secretário da Educação da Prefeitura está interessado em identificar
qual o sistema de ensino nas creches seria o mais apropriado para a população do
município.
d) Direcionados à predição de acontecimentos, com vistas a planejar uma ação
adequada. Exemplo: A Petrobrás está interessada em verificar em que medida a
construção de um polo de exploração de gás natural vai interferir na vida da
população da Cidade de Santos, no litoral do Estado de São Paulo.

1.2 Problemas de ordem intelectual

a) Direcionados para a exploração de um objeto pouco conhecido. Exemplo: Qual a


campanha publicitária deverá ser utilizada para divulgar os objetivos alcançados
pela Prefeitura de Itamaracá?
b) Direcionados para áreas já exploradas, com o objetivo de determinar com maior
precisão e apuro as condições em que certos fenômenos ocorrem e como podem
ser influenciados por outros. Exemplo: Levantamento dos principais fatores que
contribuem para o alto índice de absenteísmo dos professores na Escola Municipal
de Jardinópolis.
c) Direcionados para a testagem de alguma teoria específica. Exemplo: O
pesquisador, a partir de um grupo de micro e pequenas empresas localizadas na
Capital de São Paulo, dispõe-se a verificar até que ponto a Teoria Sistêmica da
Administração interfere no seu processo de Gestão de Pessoas.
d) Direcionados para descrição de um determinado fenômeno. Exemplo: Traçar o
perfil dos vereadores que ingressam na Câmara após o processo eleitoral.

2. Como formular um problema de pesquisa?

Formular um problema científico não constitui uma tarefa fácil e, por isso, requer
muita dedicação e observação, como peças fundamentais nesse processo.
Por estar estreitamente vinculada ao processo criativo, a formulação de problemas
não se faz mediante a observação de procedimentos rígidos e sistemáticos.
Contudo, existem algumas condições que facilitam essa tarefa, tais como:
a) Imersão sistemática no objeto;
b) Estudo da literatura existente;
c) Discussão com pessoas que já tenham experiência prática no campo de estudo
em questão.

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A experiência acumulada dos pesquisadores possibilita ainda o desenvolvimento de
certas regras práticas para a formulação de problemas científicos. Entretanto, vale
ressaltar que, em alguns casos, o problema proposto não segue essas regras. Isto
não significa, porém, que ele deve ser abandonado. Muitas vezes, o melhor será
proceder à sua reformulação ou esclarecimento.

2.1 O problema deve ser formulado como pergunta

Esta é a maneira mais fácil e direta de formular um problema e contribui


substancialmente para delimitar o que é o tema da pesquisa e o problema da
pesquisa.
Tome-se, por exemplo, uma pesquisa sobre os Cursos e Treinamentos realizados
em determinado Município. Se eu disser que vou pesquisar sobre estes Cursos e
Treinamentos, pouco estarei dizendo (este é provavelmente o meu tema). Mas, se
propuser: "Quais os principais fatores que provocam interesse dos beneficiários do
Programa Bolsa Família pelos Cursos e Treinamentos oferecidos pelo Município?"
ou "Qual o Perfil dos beneficiários que frequentam os Cursos e Treinamentos
oferecidos pelo Município?", estarei efetivamente propondo problemas de pesquisa.

2.2 O problema deve ser claro e preciso

O problema não pode ser solucionado se não for apresentado de maneira clara e
precisa. Com frequência, problemas apresentados de forma desestruturada e com
erros de formulação acarretam em dificuldades para resolvê-los.
Por exemplo, "Como funciona a mente do vereador?". Este problema está
inadequadamente proposto porque não está claro a que se refere. Para solucionar o
impasse, deve-se partir para uma das muitas e possíveis reformulações à pergunta
inicial: "Quais os mecanismos psicológicos que podem ser identificados no processo
de liderança dos vereadores?". Etc.
Pode ocorrer também que algumas formulações apresentem termos definidos de
forma não adequada, o que torna o problema carente de clareza. Veja, por exemplo,
"O cachorro possui inteligência?". A resposta a esta questão depende de como se
define inteligência. Muitos problemas deste tipo não são passíveis de solução
porque empregam termos retirados da linguagem cotidiana que, em muitos casos,
são ambíguos.

2.3 O problema deve ter base empírica

Os problemas científicos não devem referir-se a valores, percepções pessoais, mas


a fatos empíricos. É bastante complexo investigar certos problemas que já trazem
em si uma carga muito grande de juízos de valor. Por exemplo, "a mulher deve ter o
mesmo espaço que os homens nas empresas?" ou "é aceitável as mulheres
desempenharem funções masculinas nas empresas?". Estes problemas conduzem
inevitavelmente a julgamentos morais e, consequentemente, a considerações
subjetivas, invalidando os propósitos da investigação científica, que tem a
objetividade como uma das mais importantes características.

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2.4 O problema deve ser suscetível de solução

Um problema pode ser claro, preciso e referir-se a conceitos empíricos, mas, se não
for possível coletar os dados necessários à sua resolução, ele torna-se inviável. Por
Exemplo, "ligando-se um terminal de computador à memória de um homem, é
possível realizar mudar sua forma de pensar e entender o mundo?". Esta pergunta
só poderá ser respondida quando a tecnologia neurofisiológica progredir a ponto de
possibilitar a obtenção de dados relevantes. Para formular adequadamente um
problema é preciso ter o domínio da tecnologia adequada à sua solução.

2.5 O problema deve ser delimitado a uma dimensão viável

Em muitas pesquisas, o problema tende a ser formulado em termos muito amplos,


requerendo algum tipo de delimitação. Por exemplo, "o que pensam os Prefeitos?".
Para começar, seria necessário delimitar o universo dos
Prefeitos: homens, mulheres; jovens, idosos; de produto, gráficos; etc. Seria
necessário ainda delimitar o "que pensam", já que isto envolve muitos aspectos, tais
como: percepção, religião, sociais, econômicos, políticos, psicológicos, profissionais
etc.
A delimitação do problema guarda estreita relação com os meios disponíveis para
investigação. Por exemplo, um pesquisador poderia pesquisar o que pensam os
Prefeitos das cidades paulistas sobre as prioridades de sua atuação no atual
mandato, mas não poderiam pesquisar todos e tudo que os Prefeitos pensam sobre
todas as coisas.

3 Definição de Objetivos

A especificação do objetivo de uma pesquisa responde às questões para quê? E


para quem?
Ao responder a essa pergunta apresenta-se o objetivo de forma geral e específica
da pesquisa que será desenvolvida:

a) O objetivo geral define o que o pesquisador pretende atingir com sua


investigação. Está relacionado a uma visão global e abrangente do tema.
Relaciona-se com o conteúdo intrínseco, quer dos fenômenos e eventos, quer
das ideias estudadas. Vincula-se diretamente à própria significação do Artigo
proposto pelo projeto.
b) Os objetivos específicos definem etapas do trabalho a serem realizadas para
que se alcance o objetivo geral. Apresentam caráter mais concreto. Têm
função intermediária e instrumental, permitindo, de um lado, atingir o objetivo
geral e, de outro, aplicar este a situações particulares.

Os objetivos podem ser: exploratórios, descritivos e explicativos. Ao escrever os


objetivos usam-se verbos.

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O Quadro 1 descreve alguns dos verbos que correspondem aos tipos de objetivos.
Quadro 1- Tipos de objetivos e verbos utilizados
Tipos de objetivos Verbos utilizados
Exploratórios Conhecer, identificar, levantar, descobrir.
Descritivos Caracterizar, descrever, traçar, determinar.
Explicativos Analisar, avaliar, verificar, explicar.

O objetivo principal nesta fase do Artigo é a definição e delimitação do Problema de


Pesquisa, para em seguida determinar o Objetivo Geral e os Objetivos Específicos
que serão consequência da boa e precisa delimitação do problema.

Para a realização de uma boa revisão bibliográfica é importante começar a ler os


chamados livros clássicos (raiz) que falam sobre o tema, para identificar os
principais conceitos e ideias relacionadas ao seu artigo.

Tendo os principais conceitos em mente é possível elaborar um roteiro para a


realização da revisão de literatura, com seus itens e subitens para chegar a uma
conclusão.

O segredo para a realização de uma boa revisão de literatura é o processo de


organização e planejamento do trabalho para não perder o foco em meio à enorme
quantidade de informações a que temos acesso.

4. Selecionar as Fontes de Referência

Para a elaboração da revisão de literatura as principais fontes são artigos publicados


em periódicos científicos, livros, teses, dissertações e publicações em Congressos.
É recomendado utilizar artigos publicados em periódicos científicos que possuem o
processo de revisão por pares.
Como sugestão dar preferência na seguinte ordem:
a) Artigos publicados em periódicos internacionais;
b) Artigos publicados em periódicos nacionais reconhecidos;
c) Livros publicados por bons editores;
d) Teses e dissertações;
e) Anais de conferências internacionais;
f) Anais de conferências nacionais.

Tome cuidado para não utilizar referências antigas, já ultrapassadas, daí a


importância em utilizar citações com menos de cinco anos.

5. Justificativa

A Justificativa para a elaboração do artigo cientifico deve destacar a relevância e o


porquê tal pesquisa deve ser realizada. Para deixar claras as razões do que será
abordado no artigo, pode-se responder em formato dissertativo questões como:

a) Quais os motivos que justificam minha pesquisa?


b) Quais são as contribuições para a compreensão, intervenção ou solução do
problema trará com a realização de tal pesquisa?
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IMPORTANTE: A pesquisa deve articular a relevância intelectual e prática do
assunto investigado à experiência do investigador (quem elabora o artigo). É neste
momento em que se tenta convencer com argumentos sólidos a universidade, o
orientador ou uma instituição de financiamento de que sua proposta merece ser
realizada. Não existe um modelo padrão, mas recomenda-se a utilização de citações
de outros autores para que ocorra um ponto de encontro com as pesquisas
científicas na mesma linha do tema escolhido e a sua proposta. O diálogo com
autores ou correntes interpretativas sobre o tema deve ser um dos pontos mais
importantes para dar credibilidade ao seu texto e garantir a existência comprovada
de uma boa base de estudos sobre o tema em questão. Tome muito cuidado em
tentar responder o seu problema de pesquisa, pois o mesmo será pesquisado e
analisado no decorrer de seu trabalho. A Justificativa deverá exaltar a importância
do tema a ser estudado e a necessidade de se levar adiante tal empreendimento.

Referências Bibliográficas:

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2010.


CRESWEL, J. W. Projeto de Pesquisa: Métodos qualitativos, quantitativos e mistos.
Porto Alegre: Artmed, 2007.
EISENHARDT, K. M. Building theories from case study research. The Academy of
Management Review, v. 14, p. 532-550, 1989. ISSN 4.
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GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, v. 1,
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GODOY, A. S. A pesquisa qualitativa e sua utilização em administração de
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PATTON, M. G. Qualitative Research and Evaluation Methods. 3. ed. Thousand
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SAINSAULIEU, R. L'Identité au Travail. Presses de la Fondation Nationale de
L'Intitut d"Etudes Politiques, Paris, 1985.

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