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ELETROMAGNETISMO

Luiz Cezar Trintinalia

Luiz de Queiroz Orsini

José Bueno de Camargo


Copyright © 2015
Luiz Cezar Trintinalia, Luiz de Queiroz Orsini, José Bueno de
Camargo
All rights reserved.
ISBN: 1508646236
ISBN-13: 978-1508646235
Sobre os autores
Luiz Cezar Trintinalia possui graduação em Engenharia de
Eletricidade pela Universidade de São Paulo (1986), mestrado em
Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo (1992) e doutorado
em Electrical Engineering - University of Texas System (1996).
Atualmente é membro do Institute Of Electrical and Electronics
Engineers e professor associado da Universidade de São Paulo. Tem
experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em teoria
eletromagnética, micro-ondas, propagação de ondas e antenas, atuando
principalmente nos seguintes temas: análise tempo-frequência,
espalhamento eletromagnético, antenas, método dos momentos e antenas
adaptativas.
Luiz de Queiroz Orsini formou como engenheiro mecânico-
eletricista pela Escola Politécnica da USP em 1946 e se tornou professor
assistente. Em 1949, completou doutorado na Universidade de Paris
(Sorbonne). Retornou à Politécnica, onde obteve o título de livre
docência em 1954, professor catedrático em 1957 e emérito em 1998.
Tem o título de Life Fellow pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e
Eletrônicos.
Como educador, Orsini tem se dedicado ao ensino de graduação e
pós-graduação por mais de seis décadas. Sua atuação é considerada
crucial na modernização do ensino de engenharia elétrica no Brasil.
Entre suas contribuições, Orsini participou da criação de novos cursos e
laboratórios, preparou material de ensino, e promoveu o uso de
computadores como ferramenta de ensino. Orsini estima que tenha dado
aulas para mais de 4000 estudantes.
Mais especificamente, na Politécnica Orsini ajudou a aprimorar o
currículo de engenharia elétrica, que em meados da década de 1950
consistia basicamente de tópicos de engenharia civil com algumas
noções de mecânica e eletricidade. Nas décadas seguintes, Orsini e seus
colegas organizaram a expansão do departamento de engenharia elétrica
e melhoria do currículo, que além de disciplinas na área de geração e
distribuição de eletricidade passou a incluir também tópicos como
eletrônica, telecomunicações, e sistemas digitais. Orsini teve participação
importante no estabelecimento de laboratórios práticos para
complementar o ensino teórico. Ajudou também a introduzir o ensino de
análise de circuitos, eletromagnetismo e outros tópicos com o uso de
técnicas matemáticas avançadas como transformadas de Laplace e
análise de Fourier.
A participação de Orsini também foi decisiva para o
desenvolvimento da pesquisa na Escola Politécnica, inicialmente no
Departamento de Física e mais tarde no de Engenharia de Eletricidade.
Ele trabalhou nos laboratórios de Yves Rocard em Paris, realizou
trabalhos sobre efeito de cintilação em diodos saturados, sobre
amplificação seletiva em baixa frequência, sobre sondagens
eletromagnéticas da ionosfera, tendo montado em São Paulo a primeira
instalação que realizou este tipo de sondagem, no Edifício São Tiago.
Realizou também pesquisas na área de circuitos e instrumentação
eletrônica.
Em 1975 foi diretor do Instituto de Física da USP. De 1988 a 1990
foi Pró-Reitor de Graduação da USP. É autor de diversos livros, entre
eles Curso de Circuitos Elétricos e Introdução aos Sistemas Dinâmicos.
Ministrou aulas em disciplinas do curso de Engenharia Elétrica da Escola
Politécnica da USP até o ano de 2007.
José Bueno de Camargo possui graduação em Engenharia
Mecânica e Eletricista pela Universidade de São Paulo (1958) e
doutorado em Física pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(1976) . Foi professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo e professor titular do Centro Universitário da FEI. Tem experiência
na área de Engenharia Elétrica , com ênfase em Circuitos Elétricos,
Magnéticos e Eletrônicos. Atuando principalmente nos seguintes temas:
filtros ativos e filtros passa faixa.
Sumário
Prefácio...................................................................................................ix
Agradecimentos........................................................................................x
Lista de Símbolos....................................................................................xi
Constantes físicas..................................................................................xiv
Unidades do SI.......................................................................................xv
Formulário..........................................................................................xviii
1 As bases da Teoria Eletromagnética.....................................................1
1.1 Introdução....................................................................................1
1.2 Fontes do campo..........................................................................2
1.2.1 Carga e corrente elétricas e suas densidades.........................2
1.3 Conservação da carga elétrica e equação da continuidade............9
1.4 Nota sobre o significado físico da divergência de um vetor.......10
1.Exercícios do Capítulo 1................................................................13
2 As equações de Maxwell....................................................................19
2.1 O vetor E, intensidade de campo elétrico...................................19
2.2 O vetor deslocamento ou densidade de fluxo elétrico.................21
2.2.1 A corrente de deslocamento................................................24
2.3 O vetor B, densidade de fluxo magnético...................................26
2.4 A lei de Faraday-Neumann e a 1a. equação de Maxwell.............30
2.5 Nota sobre o significado físico do operador rotacional...............33
2.6 O vetor H, intensidade de campo magnético..............................35
2.7 As equações de Maxwell e as relações constitutivas...................40
2.8 As condições de contorno...........................................................45
2.9 Energia e vetor de Poynting........................................................57
2.10 As aproximações das equações de Maxwell.............................69
Exercícios do Capítulo 2...................................................................73
3 Campo de correntes estacionárias e campo eletrostático....................83
3.1 Campo de correntes estacionárias...............................................83
3.2 Campo eletrostático....................................................................85
3.3 A função potencial - superfícies equipotenciais..........................86
3.4 Analogia entre campo eletrostático e de correntes estacionarias.96
3.5 Estudo de alguns campos a partir de simetrias...........................98
3.5.1 Campo entre duas esferas concêntricas..............................99
3.5.2 Campo de fontes puntiformes...........................................100
3.5.3 Campo entre dois condutores cilíndricos concêntricos.....102
Exercícios do Capítulo 3.................................................................105
4 Determinação da função potencial....................................................111
4.1 Relações Gerais........................................................................111
4.2 Solução das equações de Laplace e Poisson em casos simples. 114
4.2.1 Campo unidimensional.....................................................114
4.2.2 Campo cilíndrico..............................................................118
4.2.3 Campo esférico.................................................................119
4.3 Teorema da Unicidade..............................................................120
4.3.1 Demonstração do teorema da unicidade...........................122
4.3.2 Exemplos de aplicação do teorema da unicidade..............123
4.4 Determinação do potencial a partir das cargas elétricas............134
4.4.1 Exemplos de aplicação.....................................................138
a )O campo do dipolo elétrico..............................................138
b )Campo de fonte linear (aplicação em aterramento por
condutor cilíndrico)...............................................................140
4.5 Métodos de solução da equação de Laplace.............................147
4.6 O Método das diferenças finitas...............................................148
4.6.1 Cálculo de parâmetros......................................................154
4.6.2 Mapa de campo................................................................162
4.7 Método das Imagens.................................................................168
4.7.1 Imagem de cargas próximas a plano condutor..................168
4.7.2 Imagens múltiplas............................................................172
4.7.3 Carga puntiforme e esfera condutora................................174
a )Carga puntiforme e esfera condutora com carga nula.......178
4.7.4 Campo entre cilindros infinitos com eixos paralelos........180
4.8 O Método dos Momentos.........................................................185
Exercícios do Capítulo 4.................................................................193
5 Energia e polarização de dielétricos.................................................209
5.1 Capacitâncias e condutâncias parciais......................................209
5.1.1 Matriz de capacitâncias....................................................209
5.1.2 Teorema da reciprocidade.................................................214
5.1.3 Matriz de condutâncias.....................................................216
5.1.4 Modelos de capacitâncias e condutâncias parciais............217
5.2 - A energia eletrostática............................................................228
5.3 Forças e momentos no campo eletrostático..............................233
5.4 A polarização dos dielétricos....................................................240
5.5 Os dielétricos reais...................................................................249
Exercícios do Capitulo 5.................................................................256
6 O Campo magnético das correntes...................................................267
6.1 Relações fundamentais do campo magnético estacionário.......267
6.2 Campos de algumas geometrias simples...................................274
6.2.1 Campo de um fio reto infinito..........................................274
6.2.2 Campo de uma lâmina de corrente...................................275
6.2.3 Campo de um solenoide...................................................277
6.2.4 Campo de um toroide.......................................................280
6.3 Força magnetomotriz e potencial magnetostático.....................283
6.4 Os circuitos magnéticos............................................................285
6.5 Cálculo dos circuitos magnéticos.............................................289
6.5.1 Cálculo da f.m.m..............................................................289
6.5.2 Exemplos numéricos........................................................293
6.5.3 Cálculo do fluxo de indução.............................................301
6.6 A energia magnetostática..........................................................301
6.7 Indutância mútua e indutância própria......................................305
6.8 Forças e momentos no campo magnético.................................312
6.9 Materiais magnéticos................................................................321
6.10 Energia em regiões contendo materiais magnéticos................324
6.11 Perdas histeréticas..................................................................326
6.12 Polarização magnética - ímãs permanentes............................330
Exercícios do Capítulo 6.................................................................339
7 Os campos lentamente variáveis.......................................................363
7.1 Introdução................................................................................363
7.2 Os potenciais eletrodinâmicos..................................................364
7.3 Dedução das equações de Kirchhoff a partir das equações do
campo eletromagnético....................................................................368
7.4 A Lei de Faraday para meios em movimento............................373
7.5 Indução de correntes em meios contínuos................................381
7.6 Perdas em núcleos ferromagnéticos..........................................388
7.6.1 Correntes parasitas em uma lâmina de ferro.....................389
7.6.2 Perdas histeréticas............................................................392
Exercícios do Capítulo 7.................................................................393
A - Coleção de problemas propostos em provas...................................400
Referências Bibliográficas....................................................................440
Prefácio
Este livro foi escrito a partir da apostila Eletromagnetismo,
utilizada desde a década de 80 no curso de Eletromagnetismo para os
Engenheiros Eletricistas da Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. Essa apostila, escrita originalmente pelos Professores Luiz de
Queiroz Orsini e José Bueno de Camargo, sofreu diversas atualizações e
modificações, feitas pelo Prof. Luiz Cezar Trintinalia que lecionou essa
disciplina por mais de 20 anos, e se transformou no material apresentado
neste livro.
O conteúdo deste livro apresenta as equações de Maxwell como
postulados, explicando o significado físico dos seus termos e a
apresentação de propriedades e teoremas a elas relacionados.
Em seguida é feito um estudo do campo elétrico em regime
estacionário, com a apresentação de sua aplicação em problemas de
cálculo de capacitâncias e resistências de problemas canônicos simples e
de problemas mais complexos com o uso de métodos computacionais.
Também são apresentadas propriedades de materiais dielétricos reais e
relações de força e energia em campos eletrostáticos.
Mais adiante é feita a análise de problemas de campos magnéticos
em regime estacionário, envolvendo também materiais ferromagnéticos,
ímãs permanentes e cálculo de forças, visando sua aplicação em
transformadores e máquinas elétricas.
Em sua parte final, são tratados problemas de regime quase-
estacionário, de grande importância também para o estudo máquinas
elétricas.
Esse conteúdo corresponde à primeira parte de um curso de dois
semestres em Eletromagnetismo, sendo que o estudo completo de campos
com variação temporal e a geração e propagação de ondas
eletromagnéticas é deixado para a segunda parte do curso, não coberto
pelo conteúdo desta obra.

ix
Agradecimentos
Agradeço particularmente ao Prof. Jacyntho José Angerami, que
me introduziu ao Eletromagnetismo e sempre me encorajou a prosseguir
os estudos nessa área. Foi por sua influência e incentivo que iniciei minha
carreira acadêmica na Escola Politécnica da USP e passei a lecionar a
disciplina Eletromagnetismo. Além disso, o Prof. Jacyntho contribuiu
com o anexo A, que contém diversos problemas utilizados nas provas do
curso de Eletromagnetismo, durante o período em ele que lecionou esse
curso.
Agradeço, também, a todos os colegas que junto comigo
lecionaram a disciplina de Eletromagnetismo e certamente colaboraram
de alguma forma para que este livro se tornasse realidade: Prof Jorge
Mieczyslaw Janiszewski, Prof. Plínio Francisco dos Santos Rodrigues e
Prof. Silvio Ernesto Barbin.
De forma geral, agradeço também a todos os colegas da
Engenharia Elétrica que me incentivaram no projeto de transformar a
antiga apostila de Eletromagnetismo em um livro.

Luiz Cezar Trintinalia


Março, 2015

x
Lista de Símbolos

A potencial vetorial magnético
a raio de esfera, cilindro ou circunferência

B indução magnética ou densidade de fluxo magnético
b raio de esfera, cilindro ou circunferência
C capacitância

C densidade total de corrente
c raio de esfera, cilindro ou circunferência
D⃗ vetor deslocamento ou densidade de fluxo elétrico

E vetor campo elétrico
E⃗ i campo elétrico impresso
e força eletromotriz
e espessura
F força magnetomotriz

F força
f frequência
G condutância

H campo magnético
h altura
I , i corrente elétrica

J densidade volumétrica de corrente
J⃗D densidade de corrente de deslocamento
J⃗s densidade superficial de corrente
K⃗ densidade de corrente superficial de magnetização
L indutância
l comprimento
M indutância mútua
M⃗ vetor magnetização
m
⃗ momento de dipolo magnético
N⃗ vetor de Poynting
P potência

xi
P permeância

P vetor polarização
p impulsão eletromotriz
⃗p momento do dipolo elétrico
Q , q carga elétrica
R resistência
R relutância
R distância entre dois pontos

R vetor distância entre dois pontos
r raio (coordenadas esféricas)
S superfície aberta
S elastância (inverso de capacitância)
t tempo
U potencial magnetostático
u velocidade
u vetor velocidade

v velocidade de propagação de onda
V tensão elétrica
W trabalho ou energia
w densidade volumétrica de energia
Γ curva
δ profundidade pelicular
ε permissividade elétrica
θ colatitude ou ângulo polar (coordenadas esféricas)
λ comprimento de onda
μ permeabilidade magnética
ρ raio em coordenadas cilíndricas
ρv densidade volumétrica de carga elétrica
ρs densidade superficial de carga elétrica
ρl densidade linear de carga elétrica
Σ superfície fechada
σ condutividade elétrica
τ volume

xii
ϕ potencial eletrostático
φ azimute (coordenadas esféricas ou cilíndricas)
χ susceptibilidade elétrica
χ m susceptibilidade magnética
Ψ fluxo magnético concatenado com uma bobina
ψ fluxo magnético
ω frequência angular

xiii
Constantes físicas

Grandeza Valor
Carga do elétron e=1,60217733×10−19 C
Permissividade do espaço livre −12
ε0=8,854187817×10 F/m
Permeabilidade do espaço livre −7
μ 0=4 π×10 H/m
Velocidade da luz 8
c=2,99792458×10 m/s

xiv
Unidades do SI

Grandeza Unidade Símbolo


Comprimento metro m
Massa quilograma kg
Tempo segundo s
Corrente elétrica ampere A
Temperatura termodinâmica kelvin K
Intensidade luminosa candela cd
Tabela 1: Unidades básicas

xv
Grandeza Símbolo Unidade Símbolo Dimensional
analítica
Ângulo θ,φ radiano rad 1
plano
Ângulo Ω esferorradiano sr 1
sólido
Capacitância C farad F A²·s4/(kg·m²)
Carga Q ,q coulomb C A·s
elétrica
Condutância G siemens S A²·s³/(kg·m²)
Campo ⃗
E volt por metro V/m kg·m/(s³·A)
elétrico
Campo ⃗
H ampere por metro A/m A/m
magnético
Condutivida σ siemens por metro S/m A²·s³/(kg·m3)
de elétrica
densidade ρv coulomb por metro C/m3 A.s/m3
de carga cúbico
elétrica
densidade ρs coulomb por metro C/m2 A.s/m2
de carga quadrado
superficial
densidade ⃗
J ampere por metro A/m2 A/m2
de corrente quadrado
elétrica
densidade J⃗s ampere por metro A/m A/m
superficial
de corrente
elétrica
Energia W joule J kg·m²/s²
Fluxo Ψ ,ψ weber Wb kg·m²/(s²·A)
magnético
Força ⃗
F newton N kg·m/s²
Frequência f hertz Hz 1/s

xvi
Indutância L henry H kg·m²/(s²·A²)
Densidade ⃗
D coulomb por metro C/m 2
A.s/m2
de fluxo quadrado
elétrico
Densidade ⃗
B tesla T kg/(s²·A)
de fluxo
magnético
momento de ⃗p coulomb metro C.m A.s.m
dipolo
elétrico
Magnetizaçã ⃗
M ampere por metro A/m A/m
o
permeabilid μ henry por metro H/m kg·m/(s²·A²)
ade
permissivida ε farad por metro F/m A²·s4/(kg·m3)
de
Polarização ⃗
P coulomb por metro C/m2 A.s/m2
elétrica quadrado
Potência P watt W kg·m²/s³
Potencial U ampere A A
escalar
magnético
Potencial ⃗
A weber por metro Wb/m kg·m/(s²·A)
vetorial
magnético
Resistência R ohm Ω kg·m²/(s³·A²)
elétrica
Tensão V ,ϕ volt V kg·m²/(s³·A)
elétrica ou
potencial
elétrico
Vetor de ⃗
N watt por metro W/m2 kg/s³
Poynting quadrado
Tabela 2: Unidades derivadas

xvii
Formulário

Nas expressões a seguir ⃗


A , ⃗ ⃗ são vetores genéricos e
B e C
U e V são escalares genéricos.
I. Identidades vetoriais
1. (⃗
A× ⃗ ⃗ ⃗
B)⋅C=( ⃗ )⋅⃗
B×C ⃗ ⃗A)⋅⃗
A=( C× B

2. ⃗
A×( ⃗ ⃗ )=( ⃗
B×C ⃗ )⃗
A⋅C B−( ⃗
A⋅⃗ ⃗
B) C

3. ∇⋅( ⃗
A+ ⃗
B)=∇⋅⃗ ⃗
A+∇⋅B

4. ∇ (U +V )=∇ U +∇ V

5. ∇×( ⃗
A+ ⃗
B)=∇ × ⃗A+ ∇ × ⃗
B

6. ∇⋅(U ⃗A)= ⃗
A⋅∇ U +U ∇⋅⃗A

7. ∇ (U V )=V ∇ U +U ∇ V

8. ∇×(U ⃗
A)=∇ U × ⃗
A+U ∇ × ⃗
A

9. ∇⋅( ⃗
A× ⃗
B)= ⃗
B⋅∇ × ⃗
A− ⃗
A⋅∇× ⃗
B
2
10. ∇⋅∇ U =∇ U

11. ∇⋅∇ × ⃗A=0


12. ∇×∇ U =0

13. ∇×∇ × ⃗
A=∇ ( ∇⋅⃗A)−∇ 2 ⃗
A

14. ∇⋅(U ⃗A)=∇ U⋅⃗A+U ∇⋅⃗


A
2
15. ∇⋅(U ∇ V )=∇ U⋅∇ V +U ∇ V

xviii
II. Gradiente, divergente, rotacional e laplaciano
A. Coordenadas cartesianas

ûz

z ûy
x
y

ûx

∂U ∂U ∂U
1. ∇U= u^ x + u^ y + u^
∂x ∂y ∂z z

∂ A x ∂ A y ∂ Az
2. ∇⋅⃗A= + +
∂ x ∂ y ∂z

3.
∇× ⃗
A= ( ∂∂Ay − ∂∂Az ) u^ +( ∂∂Az − ∂∂Ax ) u^ +
z y
x
x z
y

+(
∂y )
∂A ∂A y x
− u^ z
∂x

2 ∂2 U ∂2 U ∂2 U
4. ∇ U= + +
∂ x2 ∂ y2 ∂ z 2

xix
B. Coordenadas cilíndricas (ρ , φ , z )

ûz

ûf
ρ
ûρ
z
y
f
x

∂U 1 ∂U ∂U
1. ∇ U = ∂ρ u^ ρ + ρ ∂ φ u^ φ + u^
∂z z

1 ∂(ρ Aρ ) 1 ∂ Aφ ∂ Az
2. ∇⋅⃗A= ρ +ρ +
∂ρ ∂φ ∂z

3.
∇× ⃗
A= ρ (
1 ∂ Az ∂ Aφ
∂φ

∂z
u^ ρ +
∂z ) (
∂ Aρ ∂ A z
− u^ +
∂ρ φ )
∂ρ (
1 ∂(ρ Aφ ) ∂ Aρ
+ρ −
∂φ z
u^ )
4.
1 ∂
∇ 2 U = ρ ∂ρ ( ∂U
ρ ∂ρ + 2 +)
1 ∂ 2 U ∂2 U
ρ ∂ φ2 ∂ z 2

xx
C. Coordenadas esféricas (r , θ , φ)

ûr
θ
ûf
r ûθ

y
x f
∂U 1 ∂U 1 ∂U
1. ∇U= u^ r + ∂ θ u^ θ + u^
∂r r r sen θ ∂ φ φ
2
1 ∂(r Ar ) 1 ∂(sen θ Aθ )
∇⋅⃗A= 2 + +
r ∂r r sen θ ∂θ
2.
1 ∂ Aφ
+
r sen θ ∂ φ

3.
∇× ⃗
A=
1
r sen θ ∂θ (
∂(sen θ Aφ) ∂ Aθ
− ∂φ u^ r + )
+ (
1 1 ∂ Ar ∂(r Aφ )
r sen θ ∂ φ

∂r
u^ θ +
r ) (
1 ∂(r Aθ ) ∂ Ar
∂r

∂θ φ
u^ )
4.
2
∇ U=
1 ∂ 2∂U
r ∂r
2
r (∂r
+ 2
1
)
r sen θ ∂θ (
∂ sen θ ∂ U +
∂θ )
1 ∂2 U
+ 2
r sen 2 θ ∂ φ 2

xxi
1 As bases da Teoria Eletromagnética
1.1 Introdução
Um dos capítulos mais extensos do curso de Física Geral é a
Eletricidade, no qual são estudados fenômenos aparentemente muito
diversos, tais como os fenômenos elétricos propriamente ditos,
fenômenos magnéticos, fenômenos eletromagnéticos e, finalmente,
fenômenos ondulatórios.
Procuraremos mostrar, neste curso, que todos estes fenômenos,
mau grado sua extrema diversidade, se organizam dentro de um esquema
teórico de grande generalidade, a Teoria Eletromagnética clássica. De
fato, Eletricidade e Magnetismo foram estudadas como ciências
separadas, ate 1820, quando Christian Oersted observou a conexão
existente entre as duas. Surgiu então a nova ciência, o Eletromagnetismo,
desenvolvida por vários pesquisadores, entre os quais Faraday.
Posteriormente, James Clerk Maxwell estabeleceu as leis gerais do
Eletromagnetismo - as chamadas equações de Maxwell - que constituem
uma síntese da matéria, englobando os fenômenos elétricos, magnéticos,
eletromagnéticos e ondulatórios. O trabalho de Maxwell dependeu, em
grande parte, do resultado de pesquisas de outros cientistas que o
precederam, mas sua própria contribuição para o desenvolvimento do
Eletromagnetismo foi vital. O alcance das equações de Maxwell é
notável, incluindo os princípios fundamentais de dispositivos óticos e
eletromagnéticos.
O desenvolvimento posterior da Teoria Eletromagnética coube a
Heaviside e Lorentz, os quais contribuíram para melhor esclarecer as
equações de Maxwell. Vinte anos após Maxwell ter estabelecido sua
teoria, Heirinch Hertz produziu, em laboratório as ondas
eletromagnéticas, que foram exploradas, de maneira prática, por Marconi
e outros. A Teoria Eletromagnética estuda as propriedades do campo
eletromagnético, considerado como o domínio dos quatro vetores ⃗
E ,
⃗ ⃗ e H
B , D ⃗ , campo este cujas fontes são distribuições de cargas
e correntes elétricas. Formalmente, inicia-se a teoria postulando as
equações de Maxwell, que inter-relacionam os vetores do campo e suas

1
fontes. A partir dessas equações básicas, postulados da teoria, deduzem-
se então os fenômenos eletromagnéticos (ver, por ex. Stratton [1]).
No presente curso, embora procurando ater-nos ao esquema lógico
acima, introduziremos inicialmente definições operacionais (i.e., através
de um método de medida) das grandezas envolvidas. Em seguida,
mostraremos como obter as equações de Maxwell por uma generalização
adequada de leis físicas já conhecidas de cursos anteriores. A estas
equações atribuiremos ainda o caráter de postulados, de modo que as
considerações que levam a elas terão por objetivo apenas justificar, do
ponto de vista físico, sua escolha como fundamento da teoria.
Finalmente, mostraremos como é possível deduzir das equações de
Maxwell, os fenômenos eletromagnéticos (em particular, as bases de
Teoria das Redes); a concordância entre os resultados assim obtidos e os
fenômenos observados constituirão a prova (física) da validade dos
postulados iniciais.
Como última observação, antes de iniciar a exposição da teoria de
Maxwell, notemos que esta teoria é macroscópica, isto é, em sua
aplicação consideraremos sempre elementos de comprimento ou volume
grandes com relação às dimensões atômicas; quando intervier a matéria,
consideraremos sempre agregados de um número considerável de átomos
ou partículas elementares, supostos continuamente distribuídos num
elemento de volume. A extensão da teoria eletromagnética clássica ao
domínio microscópio se faz através de sua quantização conduzindo às
Eletrodinâmicas Quânticas, que não são tratadas aqui.

1.2 Fontes do campo

1.2.1 Carga e corrente elétricas e suas


densidades
Como se sabe, toda a carga elétrica resulta de um agrupamento de
partículas carregadas, microscópicas (elétrons, prótons, etc.). A carga de
−19
um elétron, igual a −1,602×10 C1 é a menor carga isolável na
natureza. As cargas elétricas poderão, do ponto de vista da teoria

1 O coulomb (símbolo: C) é a unidade de carga elétrica pelo Sistema


Internacional (SI).

2
macroscópica, estar concentradas em pontos, ou distribuídas sobre
linhas, superfícies ou volumes. Dada a pequenez da carga do elétron,
poderemos considerar distribuições continuas de cargas elétricas. O
mesmo recurso se utiliza em Mecânica ao se introduzirem distribuições
continuas (macroscopicamente) de massas, apesar da estrutura da matéria
ser, de fato, descontinua.
Dentro da aproximação acima indicada, podemos então definir
uma densidade volumétrica de carga pelo limite:
Δq
ρv = lim (C/m3) (1.1)
Δ τ→0 Δτ
onde Δ q é a carga elétrica (em Coulomb) contida no volume Δτ ;
suposto existente este limite:
dq
ρv = (1.2)

Esta densidade de carga é, em geral, uma função de ponto. Em
consequência, a carga elétrica contida num volume finito, em que ρv
seja definido e finito para todos os pontos do volume, será:
q=∭ ρv d τ (1.3)
τ
Se a carga elétrica estiver distribuída sobre uma superfície, o
limite (1.1) não existe; para verificá-lo, basta considerar um volume
Δ τ contendo uma porção de superfície carregada. Se diminuirmos
Δ τ de modo a conservar constante sua interseção com a superfície
carregada, a fração Δ q/Δ τ tende para infinito, quando Δ τ tende
a zero. Neste caso, definiremos uma densidade superficial de carga
ρs , pelo limite:
Δq
ρs= lim (C/m2) (1.4)
Δ S →0 ΔS
Se o limite existir,
dq
ρs = (C/m2). (1.5)
dS
Analogamente, poderemos ter cargas distribuídas sobre linhas,
representadas por uma densidade linear de carga ρl

3
Δq
ρl= lim (C/m) (1.6)
Δ l →0 Δl
donde, se o limite existir,
dq
ρl = (C/m). (1.7)
dl
De um modo geral, poderão coexistir numa dada região do espaço
correspondente a um volume τ , distribuições de cargas dos 3 tipos
acima, além de eventuais cargas puntiformes. A carga total neste volume
será então dada por
n
q=∭ ρv d τ+∬ ρ s dS +∫ ρl dl +∑ q i (1.8)
τ S Γ i=1

(para um exame mais detalhado destas definições, ver King [2]).


Ex. 1.1- Dada uma esfera de diâmetro a = 1m, contendo uma
carga total de 10–6 C, qual é a densidade de carga se:
a) a carga é uniformemente distribuída por toda a esfera;
b) a densidade de carga for proporcional à distância ao
centro da esfera:
c) a carga for uniformemente distribuída sobre a superfície
da esfera (Harrington [3] pg. 38).
Solução:
Q 10−6 10−6
a) ρv = τ = 3
= =1,91×10−6 C/m 3
4 π a /3 0,524
b) Q=∭ ρv d τ com ρv =k r . Portanto
τ
a
a4 Q
Q=∫ k 4 π r 3 dr=k 4 π ⇒k= 4
0 4 πa
Qr
Logo: ρv = 4
ou, numericamente: ρv =5,1 r ×10−6
πa
C/m3 (para r em m).
Q 10−6 −6
c) ρs= 2
= π =0,32×10 C/m3.
4πa
Um movimento ordenado de cargas elétricas constitui uma

4
corrente elétrica2. A corrente elétrica, através de uma superfície dada,
pode ser determinada, pelo menos em principio, computando-se as cargas
Δ q que a atravessam num intervalo de tempo Δ t e fazendo a
relação Δ q/Δ t . Naturalmente, Δ q deverá ser obtido como a
soma algébrica de cargas positivas e negativas. Adotaremos aqui como
sentido positivo da corrente aquele concordante com o sentido do
deslocamento das cargas positivas.
Consideremos um certo volume de um meio em que passa uma
corrente (por ex. um condutor não filiforme, uma cuba eletrolítica, etc,).
A corrente se distribui, em geral, de maneira não uniforme no meio.
Caracterizaremos esta distribuição pelo vetor ⃗ J , densidade de
corrente, também função de ponto. Diremos que existe, nesse meio, um
campo de correntes.
Neste campo de corrente, os portadores de cargas elétricas se
deslocam ao longo de linhas de correntes. Consideremos agora, num
ponto de campo, uma pequena superfície Δ S n , ortogonal às linhas de
corrente; sendo Δ I a corrente que passa através de Δ S n , o vetor
densidade de corrente ⃗J nesse ponto do meio será um vetor cujo
módulo é dado por Δ I /Δ S n (A/m2), cuja direção é tangente à linha
de corrente que passa pelo ponto e cujo sentido concorda com o sentido
do deslocamento das cargas positivas através da superfície.
Para simplificar a notação, representaremos uma superfície
elementar por um vetor, cujo módulo é igual à área da superfície e
dirigido segundo sua normal, i.e.,
Δ⃗
S =Δ S n̂ (1.9)
onde n̂ é o versor normal à superfície.
Nessas condições, tendo em vista a definição de ⃗J , a corrente
através de uma superfície Δ S arbitrária, cuja normal faz um ângulo
α com a linha de corrente no ponto considerado (Figura 1.1), será
Δ I =∣⃗
J∣ Δ S cos α= ⃗
J⋅n̂ Δ S = ⃗
J⋅Δ ⃗
S (1.10)

2 O ampére (símbolo: A) é a unidade de corrente elétrica pelo Sistema


Internacional (SI).

5
ΔS n̂

α

J

ΔS cos α
Figura 1.1: Campo de corrente atravessando uma superfície arbitrária
ΔS.
Através de uma superfície finita qualquer, a corrente será dada por
I =∬ ⃗J⋅d ⃗
S . (1.11)
S
No caso acima, supusemos uma distribuição volumétrica de
correntes; é também interessante o caso das folhas de corrente, i.e., uma
distribuição de correntes sobre uma superfície 3. Obviamente, a definição
de ⃗
J não tem sentido neste caso; devemos definir aqui uma densidade
superficial de corrente, J⃗s . A definição se processa, analogamente ao
caso anterior, supondo traçadas linhas de corrente sobre a superfície
condutora (Figura 1.2) e considerando um elemento de arco, Δ l n
ortogonal às linhas de corrente. Definiremos então
ΔI
J⃗s = û (A/m) (1.12)
Δ ln
sendo û o versor que aponta na direção da linha de corrente nesse
ponto (esse versor é, portanto, tangente à superfície condutora no
respectivo ponto e é perpendicular a Δ l n ). Temos, assim, que a
corrente que atravessa um outro elemento de arco, Δ l , pertencente à
mesma superfície condutora , com outra orientação arbitrária, é dada por
Δ I = J⃗ s⋅̂t Δ l (1.13)
sendo ̂t o versor tangente à superfície condutora e ortogonal ao
segmento Δ l .

3 A corrente elétrica que aparece em uma fina lâmina metálica, como em


trilhas de circuito impresso ou nas paredes de um condutor cilíndrico oco,
são exemplos desse tipo de distribuição.

6
J⃗s û

Δl
̂t
Δ ln

Figura 1.2: Densidade superficial de corrente sobre uma superfície


condutora.

Finalmente, no caso de correntes filiformes, ou filamentos de


correntes, em que a corrente só e diferente de zero sobre uma linha, não
se pode falar em densidade de corrente.
Ex. 1.2 - Um jato de pequenas partículas pesadas, todas
idênticas e carregadas com a mesma carga, é estabelecido ao
longo de um cilindro vertical de secção transversal 10 cm2.
6
No topo do tubo o fluxo é de 10 partículas por segundo,
com velocidade inicial nula. A carga de cada partícula é de
10−6 C.
Considerando-se queda livre e ausência de interação entre
as partículas, determinar, em função da altura de queda:
a) a corrente
b) a densidade de corrente
c) a densidade volumétrica de carga
Solução:
partículas C
a) I =106 ×10−6 =1 A
seg. partícula
I 1 2
b) J = = −3 =1000 A/ m
S 10
J J 1000
c) ⃗
J =ρv ⃗u ⇒ρv = = =
u √ 2 g h √ 2×9,8×h

7
Ex. 1.3 - Considere uma superfície condutora cilíndrica, de
raio a e comprimento l, fechada por duas superfícies
condutoras circulares (tampas) e conectada a uma fonte de
corrente contínua de valor I, através de fios ligados ao
centro das tampas, como mostrado na Figura 1.3.
Determine a densidade superficial de corrente que flui nessa
superfície.

Figura 1.3: Superfície metálica cilíndrica (oca)


percorrida por corrente I.
Solução:
Devido à simetria, a corrente deve se espalhar
uniformemente nas tampas e na superfície lateral, fluindo
verticalmente para cima nas laterais e radialmente nas
tampas. Num corte transversal (e portanto perpendicular às
linhas de corrente) da superfície lateral, teremos uma
circunferência de raio a, através da qual flui a corrente I,
distribuindo-se uniformemente ao longo de seu

8
I
comprimento. Dessa forma, J S= nas laterais,
2π a
fluindo para cima.
Já na tampa inferior, fazendo-se um corte cilíndrico de raio
ρ<a (perpendicular às linhas de corrente), teremos uma
I
circunferência de raio ρ , assim, J S= nas tampas,
2πρ
fluindo radialmente para fora na tampa inferior e
radialmente para dentro na superior.

1.3 Conservação da carga elétrica e equação


da continuidade
Consideremos, agora, uma superfície regular fechada, Σ .
Adotaremos como sentido positivo da sua normal aquele dirigido para
fora da superfície.
Supondo esta superfície mergulhada num campo de correntes, a
corrente que a atravessa será dada por
I =∯ ⃗
J ⋅d ⃗
S (1.14)
Σ
Experimentalmente sabe-se que as cargas elétricas não podem ser
criadas ou destruídas. Portanto, as cargas que atravessam a superfície
Σ , constituindo a corrente I, devem modificar a distribuição de
cargas, interna a Σ . Supondo uma distribuição volumétrica de cargas,
descrita pela densidade volumétrica ρv (x , y , z , t) , resulta, para
Σ fixa e indeformável,
dq d
I =− =− ∭ ρv d τ (1.15)
dt dt τ
onde τ é o volume delimitado por Σ . Nas condições impostas,
podemos permutar, em (1.15), os operadores de derivação e integração.
Tendo ainda em vista (1.14), o princípio de conservação de cargas se
exprime por
∂ρv

Σ
S =−∭
⃗J⋅d ⃗
τ ∂t
dτ (1.16)

Vamos agora exprimir este principio sob a forma de uma equação

9
diferencial, referente a um ponto de campo (note-se que a equação acima
envolve um volume do campo).
Supondo que ⃗ J =⃗
J ( x , y , z , t) , seja função contínua do ponto
em τ e sobre a superfície Σ , bem como sua primeira derivada,
podemos transformar o primeiro membro de (1.16) pelo teorema de
divergência (ou teorema de Gauss-Ostrogradsky):


Σ
S =∭ ∇⋅⃗
⃗J⋅d ⃗
τ
Jdτ . (1.17)
Portanto, (1.16) fornece
∂ρv

τ
∇⋅⃗J d τ=−∭
τ ∂t
dτ .

Como o volume é arbitrário, segue-se


∂ρ
∇⋅⃗
J =− v , (1.18)
∂t

equação esta conhecida pelo nome de equação da continuidade (por


analogia com a correspondente equação de Hidrodinâmica). Esta
equação, obtida de (1.16) apenas por transformações matemáticas, é a
expressão diferencial do principio da conservação das cargas elétricas.
No caso de regime estacionário, i.e., em que os vetores do campo
eletromagnético independem do tempo, devemos ter ∂ρv /∂ t=0 e,
portanto,
∇⋅⃗
J =0 (1.19)

1.4 Nota sobre o significado físico da


divergência de um vetor
Neste curso, será feito um uso extensivo da análise vetorial; em
particular, os operadores vetoriais serão empregados frequentemente,
pelo que é importante conhecer-se o significado físico a eles atribuídos.
Examinemos então o significado físico do operador divergência.
Notemos, primeiramente, que a divergência de um vetor, dada em
coordenadas cartesianas por
∂ A x ∂ A y ∂ Az
∇⋅⃗A= + + (1.20)
∂ x ∂ y ∂z

10
é a soma de 3 derivadas parciais das 3 componentes do vetor.
Por outro lado, o teorema da divergência


Σ
⃗ S =∭ ∇⋅⃗A d τ
A⋅d ⃗
τ

nos mostra que um vetor com fluxo não nulo através de uma superfície
fechada terá sua divergência não nula pelo menos em um ponto do
volume limitado pela superfície Σ . Suponhamos que Σ se contrai
em torno de um desses pontos; nessas condições,
1
∇⋅⃗A=lim τ
Σ→0

Σ
⃗A⋅d ⃗
S ≠0 . (1.21)

Portanto, de um ponto do campo de um vetor com divergência não


nula, nasce (ou desaparece) um certo fluxo do vetor, pelo que estes
pontos indicam a presença de fontes (ou vertedouros) do vetor.
Ex. 1.4 - Uma esfera metálica de raio a=0,1 m está imersa
num meio mau condutor e é alimentada por um fio isolado
que conduz i=0,01 A, como mostrado na Figura 1.4. Se a
densidade de corrente na superfície da esfera (excluindo i) é

J =û r 0,07 A/m2, a que taxa está sendo coletada carga na
esfera? (Harrington [3] pag. 39).


J
i
R

Figura 1.4: Esfera metálica alimentada por um fio de corrente i.


Solução:
Sendo ⃗
J =û r 0,07 A/m2, a corrente que abandona a esfera é

11
I =∬ ⃗J⋅d ⃗
2 −3
S =4 π a J =8,8×10 A
S
−3
a corrente que alimenta a esfera vale i=10×10 A, logo,
a taxa com que está sendo coletada carga na esfera vale:
dq
=Δ I =1,2×10−3 C/s.
dt

12
1. Exercícios do Capítulo 1
1. Em um segmento de reta AB, de comprimento 1 m,
distribui-se uma carga elétrica q. À distância x de A, a
densidade linear de carga é: ρl=2 x +5 (μ C/ m 2 ) .
Determine q.
R.: 6 μC.
2. Um disco circular de raio a = 3 m é eletrizado com
densidade superficial de carga ρs=ρs (r ) , tal que, em
função da distância r ao centro do disco, obedece à lei
parabólica representada no gráfico da Figura 1.5.
Determine:

ρs (μC/m2)
3

0 r (m)
1 2 3
Figura 1.5
a) a expressão analítica de ρs ( r ) .
b) a carga negativa do disco.
c) a carga total do disco.
2
R. a) ρs ( r )=( r −2 r ) μC/m2; b) q = –8 π/3 μC; c) q =
4,5 π μC
3. Determine a carga total contida em um cubo de lados
iguais a 2 m, paralelos aos eixos coordenados, com um

13
vértice na origem, contendo a densidade volumétrica de
2x y
cargas ρv = C/m3(Figura 1.6).
z+1

z
2m

x
Figura 1.6
R.: 8,8 C
4. O feixe eletrônico de um tubo de raios catódicos desloca-se
no vácuo, e tem simetria cilíndrica. A densidade
volumétrica de carga do feixe vale:

{
−10−13
0≤ρ≤3×10−4 m
ρv = ρ2 +10−8 C/m3.
0 ρ>3×10−4 m
A velocidade de cada elétron vale u = 5 x l07 m/s.
Determine:
a) a carga total por unidade de comprimento do feixe.
b) a corrente I.
R.: a) q = –2,3 π 10-13 C/m; b) I= 11,5 π 10-6 A.
5. Sendo A e b constantes positivas, verifique se a densidade
volumétrica da carga ρv está crescendo, decrescendo ou se
mantém constante na origem (ponto r = 0) , sendo:
a) ⃗
J = A ρ e−bρ u^ z (coordenadas cilíndricas)

14
b) ⃗
−bρ
J = A ρ e u^ ρ (coordenadas cilíndricas)
c) ⃗
J =A r e −b r
û r (coordenadas esféricas)
6. Dada a densidade de corrente ⃗
J =û ρ J 0 /ρ0 onde J0 é
uma constante, determinar a corrente que sai de um
cilindro que tem z como eixo, altura unitária e raio ρ0
(Harrington [3] p. 39).
7. Em um cilindro dirigido segundo o eixo z, raio ρ0 , a

densidade de corrente é ⃗
( 2ρ )
J =û z J 0 cos
nπρ
0
.

Determinar a corrente na direção de z. ( Harrington [3]


pág. 39)
8. Sobre uma superfície esférica, tem-se uma densidade
superficial de corrente dada por ⃗
J =û θ J 0 /sen θ . Qual
o
a corrente que atravessa o equador ( θ=90 )
(Harrington [3] pág.39)
9. Determinar, para as condições do problema 6, qual a taxa
de variação (no tempo) da carga contida no cilindro
(Harrington [3] pág.39).
10. Se a densidade de corrente é

J =û x sen x+ û y e −2 y
+ û z z determinar a taxa de variação
no tempo da densidade de carga elétrica (Harrington [3]
pág.39).
11. Repetir o problema anterior para
⃗ −3 y −3 y
J =û x e sen 3 x+ û y e cos 3 x+ û z z (Harrington [3]
pág. 39)

15
12. ⃗ =x û x , calcule
Dado o vetor F ∯
Σ
⃗ ⃗
F⋅dS , sendo

Σ a superfície de um cubo com vértice na origem, lados


paralelos aos eixos coordenados, e de comprimento 2 a.
Calcule, em seguida, ∭
τ
∇⋅⃗
Fdτ , sendo τ o volume

deste cubo, e compare os resultados.


3
R: 8a
13. O plano z = 0 contém a densidade superficial de carga
ρs=50 x 2 C/m2. Determine a carga contida em:
a) cubo com centro na origem, de lados iguais a 1,8 m,
paralelos aos eixos coordenados.
b) cilindro do raio 1,5 m, com eixo coincidente com x.

ρs
z
y
ρs
x
y
1,8 m

1,5 m
x m
9
0,

Figura 1.7
R.: a) 43,74 C. b) 36,5 C.
14. Determine a carga total contida em um setor
cilíndrico, limitado pelas superfícies z=−1 m, z=2

16
o o
m, φ 1=30 , φ 2=60 , raio 3 m ,contendo a densidade
volumétrica de carga ρv =ρsen 2 φ C/m3.

ρ=3
z=2

y
z = –1 φ 2=60 o
x φ 1=30 o
Figura 1.8
R.: 13,5 C.
15. Num espaço bidimensional, em que o conceito de
volume não existe, como você definirá o divergente de um
vetor? Haverá em tal caso um correspondente ao teorema
de Gauss? Qual a sua expressão? (Hayt [4] pág. 72)
16. Verificar se a divergência nos seguintes campos de
vetores é positiva, negativa ou nula:
a) fluxo de energia térmica, em W/m2, em qualquer ponto
de um bloco de gelo sendo resfriado;
b) densidade de corrente elétrica, em A/m2, dentro de um
condutor conduzindo corrente continua;
c) densidade de fluxo de insetos, em insetos / s.m 2, numa
mesa de pic-nic recentemente posta;
d) densidade de fluxo magnético, em T (Hayt [4] pág.72).
17. Determine o fluxo do vetor ⃗
A= x û x + y û y + z û z
através de uma superfície esférica de raio a, centro na
origem. Confira o resultado. (Fano et al. [5])

17
2 As equações de Maxwell
2.1 O vetor E, intensidade de campo elétrico
Sabe-se, experimentalmente, que cargas elétricas exercem forças
umas sobre as outras. Dadas duas cargas, de pequena dimensão, a força
que uma delas exerce sobre a outra é diretamente proporcional ao
produto de suas cargas e inversamente proporcional ao quadrado da
distância entre elas. Essa força age ao longo da linha que une essas
cargas e é de repulsão se as cargas tiverem mesmo sinal. Numericamente,
a força ⃗
F exercida sobre a carga q pode então ser escrita como

⃗ =k Q q û r ,
F (2.1)
2
r
sendo û r o versor na direção radial em relação à carga Q, e k uma
constante4.
Uma forma alternativa de se analisar essa relação é admitir-se que
a carga Q modifica o espaço ao seu redor produzindo nele um campo,
denominado campo elétrico; e que uma outra carga elétrica, q, na
presença desse campo, sofre uma força dada pelo produto desse campo
pela sua magnitude. Assim, se tivermos diversas cargas elétricas, ou
distribuições de cargas elétricas, no espaço, elas produzirão uma
perturbação total nesse espaço, um campo elétrico ⃗
E , e ao se colocar
uma pequena carga de prova, q, em um ponto qualquer do espaço, essa
⃗ =q E
carga sofrerá o efeito de uma força dada por F ⃗ .
Portanto, no vácuo, o vetor campo elétrico pode ser determinado
medindo-se a força que age sobre uma pequena carga puntiforme,
colocada num ponto do campo5:

F

E= (V/m). (2.2)
q

1
4 No vácuo k= =8,988×109 (m/F = N m2/C2)
4 π ε0
5 A unidade de campo elétrico pelo Sistema Internacional (SI) é V/m
(Volt/m), equivalente ao campo que produz uma força de 1 N sobre uma
carga de 1 C.

19
A carga q deve ser suficientemente pequena para não perturbar
sensivelmente o campo preexistente. Esta perturbação poderá provir, por
exemplo, de cargas induzidas por q em corpos condutores próximos
desse ponto.
Se quisermos eliminar esta restrição, podemos considerar (2.2)
como o campo elétrico, no ponto considerado, incluindo esta carga
induzida entre suas fontes.
A definição (2.2) não pode ser aplicada diretamente a pontos de
um meio material. De fato, se a carga de prova q tiver dimensões grandes
com relação às dimensões atômicas, será necessário fazer uma cavidade
conveniente no meio material, para executar a medida, que será
influenciada pela geometria da cavidade. Se, por outro lado, a carga de
prova tiver dimensões microscópicas, i.e., da ordem das dimensões
atômicas, a força obtida por (2.2), dependerá fortemente das partículas
atômicas vizinhas.
Para evitar dificuldades, vamos introduzir a tensão elétrica ou
voltagem entre dois pontos a e b de uma linha pela integral de ⃗
E sobre
a linha,
b
V =∫ ⃗
E⋅d ⃗l . (2.3)
a

V pode ser medido por meio de voltímetros convenientes. De um modo


geral, diremos que ⃗ E é um vetor tal que sua integral de linha fornece
a tensão ou voltagem entre dois pontos da linha.
Sobre um elemento de arco que forma um ângulo α com a
direção do campo elétrico temos, então
⃗∣∣Δ ⃗l ∣cos α
E⋅Δ ⃗l =∣E
Δ V =⃗
donde
ΔV
E=∣⃗
E∣= (2.4)
Δ l cos α
É fácil mostrar que (2.2) e (2.3) são equivalentes, no vácuo. De
fato, se a carga de prova q deslocar-se lentamente ao longo da linha, o
trabalho realizado pelas forças de campo será

20
b b
W =∫ F
⃗ ⋅d ⃗l =q ∫ E
⃗⋅d ⃗l (J) (2.5)
a a

Fazendo agora
W
V= (J/C = V/m) (2.6)
q
obtemos (2.3).
A voltagem será positiva quando, sendo q positivo, o campo
fornecer um trabalho positivo durante o deslocamento.

2.2 O vetor deslocamento ou densidade de


fluxo elétrico
Passemos a descrever o vetor D ⃗ , chamado vetor deslocamento
ou densidade de fluxo elétrico. Vimos, através das equações (2.1) e (2.2)
que uma pequena carga elétrica de valor Q, no vácuo, produz no espaço
ao seu redor, um campo elétrico dado por

⃗ Q
E =k 2 û r . (2.7)
r
Essa relação sugere (devido à sua direção radial e à variação com
o inverso do quadrado da distância) que essa perturbação, produzida no
espaço por essa carga, pode ser quantificada por uma densidade de um
fluxo elétrico que se “desprende” dessa carga e se espalha
uniformemente ao seu redor. Se calcularmos o valor desse fluxo através
de uma superfície esférica envolvendo essa carga, obtemos
Q

Σ
⃗ ⃗ =4 π r 2 k =4 π k Q
E⋅dS
r
2
. (2.8)

Como esse fluxo resulta numericamente igual à carga elétrica


multiplicada por uma constante, é natural que se possa definir um outro
campo vetorial, igual ao campo elétrico multiplicado por uma constante,
tal que o fluxo desse campo seja numericamente igual à carga, ou seja, se
considerarmos o fluxo do vetor ⃗
E multiplicado por ε0=1/(4 π k ) ,
⃗ ,e
esse fluxo será igual à carga Q. Representaremos esse vetor por D
no vácuo temos ⃗ =ε0 E
que D ⃗ , sendo ε0=8,854 10
−12

(Farad/metro=F/m).

21
Como generalização podemos considerar que para qualquer
superfície regular Σ que contenha em seu interior (ou, eventualmente,
na superfície) uma carga elétrica total Q, sua superfície é atravessada por
um fluxo elétrico, originando-se nas cargas, e que será considerado como
fluxo do vetor, ⃗ , i.e.,
D

Σ
⃗ ⋅dS
D ⃗ =Q (2.9)
A expressão (2.9) não é suficiente para definir univocamente o
vetor D ⃗ , pois que os vetores solenoidais têm fluxo nulo através de
superfícies fechadas.
Supondo que a carga Q resulta de uma distribuição volumétrica de
cargas, interna a Σ , a equação (2.9) pode ser escrita:


Σ
D ⃗ =∭ ρv d τ
⃗ ⋅dS
τ
(2.10)
onde τ é o volume delimitado por Σ . Aplicando ao primeiro
membro o teorema da divergência, obtemos


τ
⃗ d τ=∭ ρv d τ
∇⋅D
τ
(2.11)
Como o volume τ é arbitrário, segue-se que:
∇⋅D⃗ =ρv (2.12)
⃗ .
ou seja, as cargas elétricas são as fontes do vetor D
Para exemplificar, calculemos o vetor deslocamento num caso
simples, de alta simetria, Seja então uma esfera condutora , de raio a,
colocada num meio isolante e carregada com uma carga q (Figura 2.1).
Devido à simetria esférica, a carga q se distribuirá de maneira
uniforme sobre a esfera; as linhas de força de D⃗ , iniciando-se sobre
as cargas (se estas forem positivas) serão radiais e o módulo de D ⃗
será função exclusiva da distância r. Aplicando (2.9) obtemos então

∯ ⃗ =D 4 π r 2=q ⇒ D= q
⃗ ⋅dS
D 2
esfera de raio r 4πr
Assim,
⃗ = q û r .
D
4πr2

22

D


D a ⃗
D

Figura 2.1: Vetor deslocamento produzido por uma distribuição de


carga com simetria esférica.
⃗ )
Ex. 2.1 - Calcular a densidade de fluxo elétrico ( D
causada por uma distribuição uniforme de cargas no interior
de uma superfície esférica de raio a=10 cm, sendo
−6
ρv =10 C/m3. Apresentar o resultado sob forma de
gráfico, mostrando o vetor ⃗
D em função da distância, r,
ao centro da esfera.
Solução:
Pela definição temos que: ∯
Σ
⃗ =∭ ρv d τ
⃗ ⋅dS
D
τ
.

Para r entre 0 e a, e sendo uniforme a distribuição de


cargas:
4 3
D 4 π r 2=ρv πr ⇒
3
(C/m3).
ρv r 10 −6
⃗=
D û r = r û r
3 3
Para r = a = 0,1 m:
10−6 0,1 10−7
D= = (C/m3).
3 3

23
a r

D (C/m2)

10-7/ 3

a r
Figura 2.2: Vetor deslocamento de uma esfera com
densidade volumétrica de carga uniforme.

Para r > a, resulta:


4
D 4 π r 2=ρv π a 3 ⇒
3
3 −9 (C/m3)
a ρv 10
⃗ = 2 û r = 2 û r
D
3r 3r

2.2.1 A corrente de deslocamento


Consideremos agora a equação da continuidade:
∂ ρv
∇⋅⃗
J+ =0 (2.13)
∂t
Substituindo ρv por ∇⋅D⃗ , permutando os operadores ∇
e ∂/∂t e pondo a divergência em evidência, vem:

24
∇⋅ ⃗
J+( ⃗
∂D
∂t )
=0 . (2.14)

∂D⃗
O vetor tem as dimensões de densidade de corrente, i.e.,
∂t
A/m2, pois é homogêneo a ⃗J ; definiremos a densidade de corrente de
deslocamento, J⃗D por:

∂D
J⃗D = (A/m2). (2.15)
∂t
O fluxo de J⃗D através de uma superfície S qualquer fornece a
corrente de deslocamento através da superfície:

∂D
i D=∬ J⃗D⋅dS
⃗ =∬ ⃗ .
⋅dS (2.16)
S S
∂t
As correntes de deslocamento, introduzidas por Maxwell, têm
importância capital na estruturação da teoria eletromagnética.
Observemos ainda que o vetor:

J + J⃗D =C
⃗ , (2.17)
que pode ser designado por densidade total de corrente, é um vetor de
divergência sempre nula, i.e., cujas linhas de força são sempre fechadas.
A corrente de deslocamento pode ser interpretada fisicamente de
maneira simples, como passamos a mostrar. Consideremos, para isso, um
capacitor que está se carregando por meio de uma corrente i(t ) e
vamos envolver uma de suas armaduras por uma superfície fechada
Σ (Figura 2.3).
Integrando (2.14) no volume τ , envolvido por Σ , vem


τ
∇⋅ ⃗
J+ (
∂t

∂D
) d τ=0 . (2.18)

Supondo que as funções ⃗ J e ∂D ⃗ /∂t , embora possam variar


rapidamente em certas regiões do campo sejam contínuas, obtemos, por
aplicação do teorema de divergência:

∂D
∯ ⃗J⋅dS
⃗ =−∯
∂t
⃗ .
⋅dS (2.19)

25
⃗ /∂t
∂D
+ –
+ –
+ –
i(t) + – i(t)
+ –
+ –
+ –
+ –
+ –
Σ

Figura 2.3: Correntes de condução e de deslocamento num capacitor.

Como ⃗ J só e diferente de zero sobre a interseção de Σ com o


condutor, a integral do primeiro membro fornece a corrente −i (o
sinal negativo provém do sentido da normal à superfície, dirigida para
fora); o segundo membro, por sua vez, nos fornece a corrente de
deslocamento i D (t ) , através de ⃗ /∂t
Σ . Considerando que ∂ D
é desprezível sobre o condutor (fato que demonstraremos mais tarde), iD
corresponde à corrente de deslocamento que sai através de Σ , pelo
dielétrico. Em sequência, podemos afirmar que, num capacitor, a
corrente de deslocamento no dielétrico continua a corrente de condução
que o carrega.

2.3 O vetor B, densidade de fluxo magnético


Os efeitos do magnetismo são conhecidos do homem praticamente
desde o início da história, porém a maior parte desse conhecimento está
relacionado com as propriedades de ímãs permanentes. Sabe-se que esses
ímãs tem a propriedade de atrair alguns metais, como o ferro, e verifica-
se que a intensidade dessa atração é maior próximo de certas regiões
denominadas polos desses ímãs. Em 1831, Faraday (ver Elliott [6] p.
256-9) realizou um experimento em que demonstrou que a variação
desse campo magnético em uma espira metálica produzia movimento na
agulha de um galvanômetro. Podemos, então, definir o vetor ⃗ B ,
chamado densidade de fluxo ou vetor indução magnética, através de uma

26
experiência similar, que se realiza sem dificuldade quando o campo
eletromagnético é estacionário ou quase estacionário, i.e., não varia ou
varia lentamente com o tempo. O critério de variação lenta com o tempo
só poderá ser precisado mais tarde. Tomemos então uma pequena espira
plana, constituída por fio condutor muito fino e flexível, ligada a um
voltímetro conveniente (Figura 2.4). Suponhamos que essa espira seja
colocada próxima a um ímã, e que se reduza bruscamente a zero a área
limitada pela espira, deformando convenientemente o fio. Se o
voltímetro (suposto suficientemente sensível e rápido) dá uma indicação,
durante um breve intervalo de tempo, diremos que a espira está contida
num campo magnético. Seja e a f.e.m. instantânea indicada pelo
voltímetro; se a deformação da espira se faz em t1 segundos (sendo t1
bastante pequeno), chamaremos impulsão eletromotriz p à integral
t1

p=∫ e dt (2.20)
0

S
imã B –
V
N +

Figura 2.4: Medida da tensão em uma espira imersa num campo


magnético, ao se reduzir sua área.
O valor da integral (2.20) pode ser medido diretamente
integrando-se a tensão do voltímetro (utilizando-se um conversor A/D e
integrando-se numericamente, por exemplo).
A experiência mostra que a impulsão eletromotriz independe da
maneira pela qual se faz a contração da espira, desde que esta seja feita
rapidamente e conduza a uma área final nula. Por outro lado, a impulsão
eletromotriz depende do ponto em que foi colocada a espira, de sua
orientação e, em proporção direta, de sua área (desde que esta se
mantenha bastante pequena).
A impulsão eletromotriz mede o fluxo magnético 6 ligado com a

6 A unidade do Sistema Internacional para fluxo magnético é o weber (Wb),


unidade equivalente a Tesla vezes metro quadrado (T m2), dado que a
densidade de fluxo magnético mede-se em Tesla (T) e a área em metro
quadrado (m2).

27
curva definida pela espira:
t1

Ψ=∫ e dt (V.s = Wb) (2.21)


0
Antes de prosseguir, vamos fixar uma convenção de sinais.
Consideremos uma curva fechada, contorno de uma superfície e fixemos,
sobre a curva, um sentido positivo de percurso (Figura 2.5). O sentido
positivo da normal n̂ à superfície que se apoia sobre a curva será
determinado pela regra da mão direita, ou seja, apontando-se os dedos no
sentido positivo de percurso da curva, o polegar indicará o sentido
positivo da normal. Esta convenção será seguida sempre que seja
necessário relacionar um sentido de percurso positivo sobre uma curva
com a normal à superfície que sobre ela se apoia (por ex. ao
relacionarmos o fluxo de um vetor através de S com uma circuitação
sobre Γ; Figura 2.5).
Dessa forma, definiremos o fluxo magnético como sendo positivo,
se a tensão medida for positiva, com a espira orientada do polo negativo
para o polo positivo do voltímetro.

S
Γ

Figura 2.5: Regra da mão direita para definir sentido da normal a uma
superfície S, tendo como borda a curva Γ.
Retomemos agora nossa pequena espira, com área Δ S e
suponhamo-na fixa em torno de um ponto do campo. Variando sua
orientação em torno deste ponto e repetindo a experiência acima citada,
verificaremos que a impulsão eletromotriz e, portanto, o fluxo magnético
ligado com a espira, são máximos (e positivos) numa certa orientação.
Seja n̂ o versor normal à superfície Δ S , nessa situação. O
vetor ⃗
B , densidade de fluxo magnético ou indução magnética, será

28
definido por
Δ Ψm

B =̂n lim (Wb/m2 = T) (2.22)
Δ S →0 ΔS
onde Δ Ψ m , é o fluxo magnético (máximo para essa orientação) que
atravessa ΔS .
O fluxo Δ Ψ m será interpretado como o fluxo do vetor ⃗ B
através de Δ S . Para outra orientação qualquer de Δ S , teremos:
Δ Ψ= ⃗ B⋅Δ⃗S (2.23)
⃗ através de uma superfície
Se existir o limite (2.22), o fluxo de B
finita qualquer será
Ψ=∬ ⃗
B⋅d⃗S (2.24)
S

Verifica-se experimentalmente que o fluxo de ⃗


B através de
qualquer superfície fechada é sempre nulo, i.e.,


Σ

B⋅d⃗S =0 (2.25)
Aplicando o teorema da divergência à expressão acima, obtém-se,
sem dificuldade,
∇⋅⃗
B =0 . (2.26)
O vetor ⃗
B é, pois, um vetor solenoidal, ou seja, não se
encontram na natureza fontes ou vertedouros de ⃗ B . Suas linhas de
força, em consequência, são sempre curvas fechadas.
Ex. 2.2 - Calcular o fluxo do vetor ⃗
B = B⃗0 û z através do
hemisfério de raio a apoiado sobre o plano xy.

z
B

x
R

29
Solução:
Sendo ∯
Σ

B⋅d⃗S =0 , resulta que o fluxo que sai do

hemisfério é o mesmo que entra pela base circular, de área


π a 2 ,apoiada no plano xy. Portanto,
ψ=B0 π a2 .

2.4 A lei de Faraday-Neumann e a 1a. equação


de Maxwell

S n̂

B V
N +
imã
Figura 2.6: Tensão induzida sobre espira em campo magnético variável.
Consideremos uma curva fechada Γ , estacionária em um
sistema de referência inercial. Se esta curva atravessar meios materiais,
suponhamo-nos também fixos no mesmo sistema de referencia.
Adotemos, sobre a curva, um sentido positivo de referência.
Como visto anteriormente, se houver um fluxo magnético
atravessando a superfície apoiada nessa curva e um condutor elétrico for
apoiado nessa curva, ao fechar-se completamente a espira desse condutor
aparece uma tensão entre os terminais do voltímetro, como mostrado na
Figura 2.6, sendo o fluxo magnético total que atravessa essa espira
definido pela expressão (2.21). Observa-se experimentalmente que, se ao
invés de se fechar a espira o campo magnético for removido (por
exemplo movendo-se o ímã para bem longe), a integral no tempo da
tensão medida apresenta o mesmo valor, ou seja, sendo Ψ o valor do
fluxo magnético que atravessa a espira, no sentido definido como
positivo pela normal n̂ , no instante 0, e sendo t o tempo total até o
campo magnético ser eliminado, observa-se que

30
t
Ψ=∫ e(t ') dt ' (2.27)
0

ou seja, com o sentido da curva orientado do polo negativo para o polo


positivo do voltímetro, o fluxo magnético é definido como positivo (em
relação à normal) se a tensão observada, ao se zerar esse fluxo, for
positiva.
Uma forma mais elegante de se expressar esse relação é
t
Ψ(0)−Ψ (t)=∫ e (t ' )dt ' (2.28)
0

já que no instante t, o fluxo foi anulado, Ψ(t )=0 . Derivando-se,


então, essa expressão em relação a t, obtém-se

e (t)=− . (2.29)
dt
Este resultado corresponde à lei de Faraday-Neumann. Sendo e(t)
a indicação do voltímetro temos que
e (t)=∮ E⋅dl
⃗ , (2.30)
Γ
pois ao longo do fio o campo elétrico é nulo (se o fio for um condutor
perfeito) e a indicação do voltímetro é, por definição, a circuitação do
campo elétrico entre seus terminais, do polo positivo ao negativo. Assim,
substituindo-se (2.30) e (2.24) em (2.29) obtemos
d
∮Γ E⋅dl=−

d t∬

B⋅d⃗S (2.31)
S
Vamos generalizar esta lei, eliminando esta última restrição, ou
seja, afirmando que a f.e.m. aparece mesmo que não seja materializada
por um fio condutor, e essa é, assim, a expressão da primeira equação de
Maxwell, sob forma integral. Essa equação nos diz que, se numa região
qualquer do espaço o fluxo magnético através de uma área S, arbitrária,
varia no tempo, então existe campo elétrico ao longo das bordas dessa
superfície S, cuja circuitação é numericamente igual à derivada no tempo
desse fluxo, havendo ou não fios e voltímetros para medi-la.
Essa generalização pode parecer arbitrária, mas essa relação, que
estamos admitindo aqui como um postulado, pode ser verificada

31
experimentalmente e até demonstrada7.
Passemos agora à forma diferencial da primeira equação de
Maxwell. Para isso observemos primeiramente que os operadores de
derivação e integração no segundo membro de (2.31), podem ser
comutados, pois a superfície S é fixa no referencial adotado, bem como
eventuais meios materiais.
O primeiro membro, por sua vez, pode ser transformado em
integral de superfície aplicando o teorema de Stokes, que afirma ser a
circuitação de um vetor sobre uma curva fechada igual ao fluxo de seu
rotacional sobre uma superfície que admita a curva como contorno, i. e.,

∮Γ E⃗⋅dl=
⃗ ∬ ∇× ⃗ ⃗
E⋅dS . (2.32)
S
Dessa forma, (2.31) pode ser escrita como
∂⃗
B
∬ ∇ × E⃗⋅dS
⃗ =−∬
∂t

⋅dS . (2.33)
S S
Como esta igualdade deve verificar-se para qualquer superfície S,
resulta que:

⃗ =− ∂⃗
B
∇× E , (2.34)
∂t
expressão da primeira equação de Maxwell, sob forma diferencial.
Note-se que impusemos, nas considerações acima, que os
eventuais meios materiais presentes no campo estejam em repouso no
referencial adotado. A primeira equação de Maxwell, sob as formas aqui
indicadas, é um dos postulados da Eletrodinâmica dos meios em repouso.
Ex. 2.3 - Dado o vetor ⃗ 2
A= x û x + x y û y + z û z , determinar a
circuitação de ⃗
A ao longo da trajetória CABCO,
diretamente, e aplicando o teorema de Stokes (Harrington
[3], pg.60). O(0,0 ,0) , A(1,0 ,0), B( 1,1,0), C (0, 1 ,0) .
Solução:
a) diretamente:

7 Ver, por exemplo, [6] cap 5.

32
A B C O

∮ ⃗A⋅dl=
Γ
⃗ ∫⃗A⋅̂u x dx +∫ ⃗A⋅̂u y dy +∫ ⃗A⋅̂u x dx+∫ ⃗
A⋅̂u y dy=
O A B C
1 1 0 O
1 1 1 1
=∫ x dx +∫ y 1 dy +∫ x dx +∫ 0 y dy= + − +0=
0 0 1 1 2 2 2 2
b) aplicando o teorema de Stokes:
∮Γ ⃗A⋅dl=
⃗ ∬ ∇ ×⃗ ⃗
A⋅dS ; ⃗ =dS û
dS z
S

∇× ⃗
A= ( ∂∂Ay − ∂∂Az ) û +( ∂∂Az − ∂∂Ax ) û +( ∂∂Ax − ∂∂Ay ) û =
z y
x
x z
y
y x
z

=0 û x + 0 û y + y û z = y û z
1 1
⃗ =∫ ∫ y dx dy= 1
∬ ∇ × ⃗A⋅dS
S 0 0 2

2.5 Nota sobre o significado físico do operador


rotacional
O operador rotacional, quando aplicado a um vetor, fornece outro
vetor, função de ponto.
Em coordenadas cartesianas, como se sabe, é

∇× ⃗
A= ( ∂∂Ay − ∂∂Az ) u^ +( ∂∂Az − ∂∂Ax ) u^ +
z y
x
x z
y
(2.35)
+(
∂y )
∂A ∂A y x
− u^ z
∂x
Cada componente do rotacional é obtida fazendo-se as derivadas
parciais das componentes do vetor ortogonais à componente considerada,
a derivação parcial sendo feita sempre em relação à coordenada
ortogonal ao mesmo tempo à componente do rotacional considerada e à
componente do vetor que se deriva. Podemos dizer que o rotacional de
um vetor fornece sua variação num plano que lhe é normal.
Para examinar com facilidade o significado físico do rotacional,
vamos recorrer ao teorema de Stokes; este teorema nos diz que,
satisfeitas certas condições, a circuitação de um vetor sobre uma curva
fechada é igual ao fluxo do seu rotacional sobre uma superfície regular
que admite a curva por contorno (Figura 2.7), i.e.,

33
∮Γ ⃗A⋅dl=
⃗ ∬ ∇ ×⃗ ⃗
A⋅dS (2.36)
S

Figura 2.7: Superfície regular, S, com contorno Γ.

Suponhamos agora que a superfície S se contrai, ficando muito


pequena. A integral do segundo membro se reduz, aproximadamente, a
( ∇× ⃗ A)⋅Δ ⃗
S (sendo ⃗A tomado num ponto conveniente). Tendo em
vista ainda que Δ ⃗S =Δ S n̂ vem
(∇× A ⃗ )⋅̂n= 1 ∮ A
⃗⋅dl
⃗ .
ΔS Γ
Escolhendo Δ S de modo que sua normal positiva tenha o
sentido do rotacional, i.e., de modo a tornar máximo o primeiro membro
da equação acima, e passando ao limite para Δ S →0 podemos
escrever
1
∇× ⃗
A=n^ lim
Δ S →0 ΔS ( ∮ ⃗A⋅dl⃗ )
Γ max
(2.37)

Note-se ainda que

∮Γ ⃗A⋅dl=
⃗ ∮ At dl
Γ
(2.38)

onde At é a componente de ⃗
A tangencial à curva de integração.
Para intuirmos o significado físico do rotacional, convém
exemplificarmos com um campo de escoamento de fluidos. O
escoamento poderá ser descrito associando-se a cada ponto do meio um
vetor velocidade de escoamento ⃗u .
Suponhamos agora que se coloca num ponto do meio em
movimento uma pequena roda com pás, como indicado na Figura 2.8. É
evidente que a força em cada pá será proporcional à componente da
velocidade que lhe é normal, ou seja, tangente à curva média da roda.
Portanto, o momento aplicado à roda pelo meio dependerá da circuitação

34
da velocidade ∑ ut Δ l sobre essa curva média. O momento será, em
consequência, proporcional ao rotacional de ⃗ u no ponto em que a roda
for colocada, se esta for suficientemente pequena.

ut


u
⃗l
Δ
Figura 2.8: Pequena roda com pás em um meio em movimento.

Nos campos de escoamento de fluido, tal dispositivo poderia ser


empregado como um "medidor de rotacional" (para maiores detalhes e
exemplos, ver Skilling [7], pag. 23-25.).

2.6 O vetor H, intensidade de campo


magnético
Christian Oersted em 1820, realizou um experimento em que
observou que a passagem de corrente elétrica em um fio produzia
deflexão na agulha de uma bússola, ou seja, ele verificou que a passagem
de corrente elétrica produz um campo magnético (para mais detalhes
veja, por exemplo Elliott [6] p. 217-8). Assim, para introduzir de forma
simples o vetor H ⃗ , vamos considerar um experimento similar, como o
mostrado na Figura 2.9. Nessa figura temos um fio reto, muito longo,
conduzindo uma corrente elétrica I. Ao aproximarmos uma bússola,
observamos que a sua agulha tende a se alinhar com uma direção
perpendicular ao fio, sugerindo que um fluxo magnético gira ao redor do
fio. Se utilizarmos um aparato que permita medir a intensidade desse
fluxo, (utilizando-se, por exemplo, um aparato similar ao da Figura 2.4,
com um voltímetro e uma espira) verifica-se que o fluxo decresce de
forma inversamente proporcional à distância ao fio (para distâncias

35
muito menores que o comprimento do fio), que realmente as linhas de
campo estão “girando” ao redor fio, e que a intensidade desse campo é
diretamente proporcional à corrente, ou seja

Figura 2.9: Campo magnético produzido por um fio reto


muito longo.

⃗ I
B =K û φ .
ρ
Com a corrente I dada em Ampères, e o campo B em
Tesla=Wb/m2, a constante K deve ter unidade de8 Wb / A.m = H/m , e seu
valor, no S.I. é numericamente igual a μ 0 /2 π , sendo
−7
μ 0=4 π 10 H/m.
Se calcularmos, então, a circuitação desse campo ao longo de uma
circunferência Γ ao redor do fio (portanto com ρ constante)
obtemos
I
∮Γ ⃗B⋅dl=K

ρ
2 π ρ=2 π K I =μ 0 I .

Como essa circuitação resulta igual à corrente multiplicada por


uma constante, parece natural que se defina um outro campo vetorial,
igual ao vetor ⃗ B multiplicado por uma constante, tal que sua
circuitação seja igual à corrente que flui através da área associada à curva
Γ , ou seja, sendo
8 O símbolo H denota Henry, ou seja, a unidade do S.I. para indutância.

36
⃗ = μ1 B
H ⃗
0
temos que
∮Γ H⋅
⃗ dl=
⃗ I

nessa situação (filamento retilíneo e infinito de corrente no vácuo).


Vamos, então, generalizar essa definição. Consideremos
inicialmente um campo do vetor ⃗
J independente do tempo, i.e.,
estacionário. O vetor H ⃗ , intensidade de campo magnético ou
excitação magnética é tal que sua circuitação sobre uma curva fechada
Γ é igual ao fluxo de ⃗
J sobre uma superfície S contornada por
Γ , isto é,
∮Γ H⋅ ⃗ ∬⃗
⃗ dl= ⃗
J ⋅dS . (2.39)
S
Note que a integral do segundo membro não é, senão, a corrente
que atravessa a curva Γ , e a equação (2.39) corresponde à lei de
⃗ é medido em
Ampère. Desta expressão verifica-se também que H
A/m.
Transformando o primeiro membro de (2.39) pelo teorema de
Stokes, vem

∬ ∇ × H⋅ ⃗ ∬⃗
⃗ dS= ⃗
J ⋅dS (2.40)
S S
ou, como S é arbitrária,
∇× H ⃗ =⃗ J (2.41)
Portanto, o vetor H⃗ é tal que seu rotacional num ponto é igual à
densidade de corrente no mesmo ponto, ⃗ J , considerado aqui como

fonte de H .
É claro que (2.41), não define univocamente o vetor H⃗ , a não
ser em casos especiais, pois a definição de uma função vetorial de ponto
exige o conhecimento de seu rotacional e de sua divergência. Esta
definição será completada mais tarde.
Vamos agora procurar estender (2.41) a situações não
estacionárias. Observemos, primeiramente, que esta equação não pode
ser estendida a essas situações pois, se por um lado temos a identidade

37
vetorial
∇⋅∇ × H⃗ =0 (2.42)
por outro lado, a divergência de ⃗
J , em regime não estacionário, não é
nula. A aplicação do operador divergência a ambos os membros de
(2.41), levaria a uma incongruência. Para remover essa incongruência,
vamos introduzir aqui a hipótese, devida a Maxwell, de que as correntes
de deslocamento causam ações magnéticas, da mesma forma que as
correntes de condução.
⃗ a densidade total de
Vamos considerar então como fonte de H
⃗ = ⃗J + J⃗D .
corrente C
A equação (2.41), à vista dessa hipótese, será escrita:

∂D
⃗ =⃗
∇× H J+ (2.43)
∂t
Esta é a segunda equação de Maxwell, que será também adotada
como postulado neste curso.
É fácil verificar que a aplicação do operador de divergência a
ambos os membros de (2.43), leva a uma identidade; removemos assim a
incongruência apontada. A lei de Ampère, por outro lado, é apenas um
caso particular da segunda equação de Maxwell, em regime estacionário
(i.e. com ∂/∂t=0 ).
A equação (2.43), pode ser posta em forma integral; de fato,
integrando ambos os membros sobre uma superfície S, vem

∬ ∇ × H⋅
S
⃗ ∬
⃗ dS=
S
( ⃗J + ∂∂tD⃗ )⋅dS⃗ .

Mas, pelo teorema de Stokes, o primeiro membro da equação


⃗ sobre o contorno de S:
acima corresponde à circuitação de H

∮Γ H⋅ ⃗ ∬
⃗ dl=
S
( ⃗J + ∂∂D⃗t )⋅dS⃗ . (2.44)

Esta expressão é a forma integral da segunda equação de Maxwell.

38
Ex. 2.4 - Um cilindro condutor homogêneo, de raio a, conduz

a corrente I (constante). Calcular o rotacional do campo H
para pontos internos e externos ao condutor. Calcular
⃗ nesses pontos.
também o valor de H

û z û φ

ρ û ρ

Figura 2.10: Cilindro condutor percorrido por


corrente.
Solução:

⃗ = ⃗J + ∂ D
∇× H
∂t
Sendo o regime estacionário (I = constante) , resulta

∂D ⃗ =⃗
=0 e, portanto, ∇× H J .
∂t

39
I
Dentro do condutor, ⃗
J = 2 û z (A/m2); fora do condutor, J
πa
= 0. Portanto, temos:

{
I
⃗ = π a2 û z ρ<a .
∇× H
0 ρ>a
Considerando uma circunferência, Γ , de raio ρ e
⃗ sobre ela, temos que
calculando-se a circuitação de H
∮Γ H⋅
⃗ dl=2
⃗ πρHφ .

No correspondente círculo, S, para ρ< a ,


I I
∬ ⃗J⋅dS
⃗ =∬ J z dS =
πa
2
πρ2= 2 ρ2
a
. Assim,
S S

⃗ ⇒ 2 π ρ H φ= I ρ2 ⇒ H φ= I ρ
∮Γ H⋅ ⃗ ∬⃗
⃗ dl= J ⋅dS
a
2
2π a
2
.
S

Já para ρ> a , ∬ ⃗J⋅dS


⃗ =∬ J z dS =I e, portanto
S S

I
∮Γ H⋅ ⃗ ∬⃗
⃗ dl= ⃗ ⇒ 2 π ρ H φ=I ⇒ H φ =
J ⋅dS
2 πρ
.
S

Dessa forma,

{
I ρ
2
ρ<a
⃗ = 2πa
H û φ .
I
ρ>a
2 πρ

2.7 As equações de Maxwell e as relações


constitutivas
Nos capítulos anteriores, procuramos evidenciar o significado
físico das equações de Maxwell, que serão adotadas como postulados da
Teoria Eletromagnética.
Sob forma integral, as equações de Maxwell são as seguintes:

40
d
∮Γ E⃗⋅dl=−

dt ∬
⃗ ⃗
B⋅dS (2.45)
S

∮Γ H⋅ ⃗ ∬
⃗ dl=
S
( ⃗
J+

∂D
∂t ) ⃗
⋅dS (2.46)


Σ
⃗ ⃗ =0
B⋅dS (2.47)


Σ
D ⃗ =∭ ρv d τ
⃗ ⋅dS
τ
(2.48)
A equação (2.45) é a lei de Faraday estendida a um contorno
fechado qualquer Γ , contorno este constituído por condutores,
dielétricos, vácuo, ou qualquer combinação destes. A integral de linha de
um campo elétrico ⃗ E ao longo de um trajeto Γ fechado qualquer, é
igual à taxa de variação com o tempo do fluxo magnético concatenado
com esse trajeto (afetada do sinal “–”).
A equação (2.46) é a lei de Ampère generalizada: a integral de
linha de campo magnético H ⃗ em um caminho Γ fechado é igual à
corrente (de condução, convecção ou deslocamento) concatenada com
esse caminho.
A equação (2.47) exprime o fato de que cargas magnéticas isoladas
nunca foram encontradas na natureza.
A equação (2.48) é a lei de Gauss: o fluxo do vetor deslocamento
através de qualquer superfície fechada é igual à carga total contida no
volume determinado por essa superfície.
Estas quatro equações não são independentes; as duas ultimas se
podem obter das duas primeiras (ver Sommerfeld [8] pag. 11-15).
Também a equação da continuidade:
d

Σ
⃗ + ∭ ρv d τ=0
⃗J⋅dS
dt τ
(2.49)

se pode obter das equações acima.


Postulada a validade das equações de Maxwell sob forma integral,
podemos passar à forma diferencial, por processos puramente
matemáticos, e da maneira já indicada anteriormente.
Nos pontos regulares de campo eletromagnético com meios
materiais em repouso valem, pois, as equações de Maxwell na forma

41
diferencial:

⃗ =− ∂⃗
B
∇× E (2.50)
∂t


∂D
⃗ =⃗
∇× H J+ (2.51)
∂t

∇⋅⃗
B =0 (2.52)

⃗ =ρv
∇⋅D (2.53)
bem como a equação da continuidade:
∂ρ
∇⋅⃗
J + v =0 . (2.54)
∂t
Estes conjuntos de equações serão adotados como base dos
desenvolvimentos ulteriores. Notemos, porém, que estas equações
envolvem quatro vetores de campo, além das fontes ⃗
J e ρv , e
apenas duas são independentes. Para se determinar univocamente os
vetores de campo, torna-se necessário introduzir-se as relações
constitutivas que inter-relacionam os vetores de campo e o meio (vácuo
ou meio material), em que este campo existe. Enquanto que as equações
de Maxwell têm validade geral, as equações constitutivas, que
apresentaremos a seguir, têm sua validade limitada.
Adotando um ponto de vista macroscópico, vamos admitir que,
⃗ e H
num dado ponto do campo eletromagnético, os vetores D ⃗
sejam, respectivamente, funções de ⃗
E e ⃗
B :
⃗=D
D ⃗ (E
⃗ ), H
⃗ =H
⃗ (B
⃗) (2.55)
e que a natureza dessas relações funcionais são determinadas
exclusivamente pelas propriedades físicas do meio nas vizinhanças do
ponto. Estas relações assumem sua forma mais simples no vácuo:

⃗ =ε0 E
D ⃗=1 ⃗
⃗, H
μ0 B (2.56)
−12
onde ε=8,854×10 (Farad/m = F/m) é a permissividade e
−7
μ 0=4 π×10 (Henry/m=H/m) é a permeabilidade do vácuo.

42
Nos meios materiais mais simples, temos ainda uma relação de
proporcionalidade entre estes vetores, mas com constantes diversas das
do vácuo, i.e.,

⃗ =ε E
⃗, H 1⃗
⃗ =μ (2.57)
D B
Um meio em que estas relações sejam satisfeitas é dito linear
(porque a relação entre os vetores é linear), e isotrópico (porque a relação
independe da direção dos vetores).
É interessante exprimir a permissividade ou constante dielétrica e
a permeabilidade do meio em relação às mesmas grandezas de vácuo:
ε=εr ε0 ; μ=μ r μ 0 . (2.58)
εr e μ r são chamados constante dielétrica e permeabilidade
relativa, respectivamente; (2.58) mostra que ambas são adimensionais.
Do ponto de vista eletromagnético, um meio será homogêneo
quando sua constante dielétrica e permeabilidade forem constantes em
todos os pontos do meio (todos os os pontos do meio apresentarem o
mesmo valor para essas constantes); num meio não homogêneo, ε e
μ serão funções escalares de ponto.
Infelizmente as relações (2.57) não se verificam em grande
número de meios materiais, mesmo em materiais de uso comum, como o
ferro.
⃗ e ⃗
Nos meios anisotrópicos e lineares a relação entre D E
poderá depender da direção de ⃗
E ; de um modo geral ⃗
D não será
paralelo a ⃗
E . Neste caso a constante dielétrica será um tensor que,
aplicado a ⃗ E fornece D ⃗ . Não consideraremos tais meios neste
curso.
Finalmente, as relações (2.56) poderão resultar não lineares, pelo
que o meio é chamado não linear.
Nos meios condutores, o campo elétrico ⃗ E age sobre os
portadores de eletricidade disponíveis; fenomenologicamente, podemos
dizer que o movimento destes portadores (elétrons, íons, partículas
carregadas), se faz com atrito, de modo que há uma dissipação de energia
sob forma térmica. Um meio condutor é, portanto, dissipativo.
A densidade de corrente ⃗
J num ponto de um meio condutor é

43
uma função do campo elétrico nesse ponto (na ausência de outros
processos que acelerem os portadores de cargas). Em casos de grande
importância prática, é possível supor uma relação linear entre ⃗
E e

J ,
⃗ ⃗
J =σ E (2.59)
onde a constante σ , condutividade do meio, se mede em Siemens por
metro (S/m).
Mostraremos que (2.59) corresponde, no campo eletromagnético, à
lei de Ohm. Para isto, consideremos um elemento de volume de um
condutor atravessado por uma corrente I, em regime estacionário (Figura
2.11). Dentro deste volume, vamos delimitar um pequeno tubo de
corrente, de secção eventualmente variável.

b

E
a ΔI
Δ⃗S
ΔI

Figura 2.11: Tubo de corrente entre os pontos a e b.

Seja Δ I a corrente através do tubo de corrente.


Temos então:
b
V =∫ ⃗ ⃗ .
E⋅dl
a

Mas de (2.59) vem


b

J ⃗
V =∫ σ ⋅dl .
a
A densidade de corrente através do tubo é
⃗ ΔI
J= n̂ ,
ΔS
sendo a normal a Δ S na mesma direção das linhas de campo (ou de

44
corrente).
Como Δ I é constante, por definição do tubo de corrente, e
⃗ =dl n̂ , resulta:
utilizando-se dl
b
1
V =Δ I ∫ dl .
a σΔ S
A integral do segundo membro depende apenas da condutividade e
da geometria do tubo de corrente. Definindo a resistência do tubo
elementar por:
b
1
R=∫ dl , (2.60)
a σ ΔS
obtemos a lei de Ohm:
V=R Δ I . (2.61)
As três relações (2.57) e (2.59) são as relações constitutivas.
Juntamente com as equações de Maxwell, permitirão a resolução dos
problemas de campo.
Já que estamos examinando as propriedades dos meios materiais,
vamos definir mais dois vetores, as polarizações elétrica e magnética,
que nos serão úteis mais tarde.
O vetor polarização elétrica ⃗
P define-se por

P=D ⃗ – ε0 E
⃗ (C/m2) (2.62)
⃗ é dado por:
ao passo que o vetor polarização magnética M

⃗ = μ1 B
M ⃗ −H
⃗ (H/m). (2.63)
0

É claro que, por força de (2.56), os vetores ⃗


P e M ⃗ se anulam
no vácuo; só na presença de matéria eles serão não nulos.

2.8 As condições de contorno


Passemos a examinar o comportamento dos vetores do campo
eletromagnético nas vizinhanças de superfícies de separação entre dois
meios distintos (interfaces).

45
n

1 μ1, ε1, σ 1

δh

ΔS

2 μ 2, ε 2, σ2

Figura 2.12: Superfície cilíndrica imaginária na fronteira de dois meios


distintos. As faces superior e inferior são paralelas à superfície da
fronteira e estão localizadas em lados opostos desta.
Consideremos, inicialmente. a superfície de separação entre dois
meios de permeabilidades diversas, e vejamos o que sucede com o vetor

B nas vizinhanças da superfície de separação. Essa superfície não é
necessariamente plana, mas será considerada localmente plana 9.
Tomemos, para isso, um cilindro de base Δ S e pequena altura, δ h ,
que intercepta a interface (Figura 2.12). As bases superior e inferior serão
consideradas paralelas à interface, e localizadas em lados opostos desta,
mesmo quando sua altura δ h for reduzida.
Indicando por Σ a superfície total do cilindro, a aplicação de
(2.47), nos fornece:


Σ
⃗ ⃗ =0
B⋅dS (2.64)
A integral de superfície acima pode ser decomposta em três
parcelas correspondentes, respectivamente, às bases superior e inferior e
à superfície lateral do cilindro. Supondo ⃗
B finito em todos os pontos
do volume do cilindro e sobre sua superfície, e calculando-se o limite
para δ h tendendo a zero, a última parcela (superfície lateral) pode ser

9 Ou seja, sendo a superfície suave (sem descontinuidades em sua normal)


analisaremos um elemento de sua área suficientemente pequeno para que a
normal possa ser admitida constante ao longo dessa superfície.

46
desprezada. Indicando por Δ S 1 e Δ S 2 as superfícies das duas
bases, que permanecem em lados opostos da interface, temos que o fluxo
de ⃗
B se reduz a

Σ
⃗ ⃗ =∬ ⃗
B⋅dS ⃗ 1 +∬ ⃗
B⋅dS ⃗ 2= B⃗1⋅Δ⃗S 1 + B⃗2⋅Δ⃗S 2
B⋅dS
ΔS1 ΔS2

⃗1 , e B⃗2 são respectivamente, as determinações de ⃗


onde B B dos
lados superior e inferior da interface e a área Δ S é considerada
suficientemente pequena para que a densidade de fluxo seja constante na
integração. Como a normal à superfície Σ é igual à normal à interface
(que foi arbitrariamente escolhida apontando na direção do meio 1) na
face superior e é oposta a ela na inferior temos que


Σ
⃗ ⃗ = B⃗1⋅̂n Δ S + B⃗2⋅(−̂n )Δ S =( Bn 1−B n 2) Δ S
B⋅dS (2.65)

onde Bn 1 e Bn 2 representam as componentes de ⃗


B normais à
interface nos meio 1 e 2, respectivamente (positivas quando apontarem
para o meio 1, e negativas caso contrário).
Substituindo-se (2.65) em (2.64) resulta
(B n1 −Bn 2 ) Δ S =0 ⇒ Bn 1=B n 2 (2.66)
Portanto, a componente normal do vetor ⃗ B se conserva
constante nas vizinhanças das duas faces da superfície de separação entre
dois meios de permeabilidades diferentes, ou seja, ela é contínua ao
atravessar essa superfície.
Também, se os meios forem magneticamente lineares e
isotrópicos, com permeabilidades μ1 e μ 2 , podemos escrever
μ1 H n 1=μ 2 H n 2 . (2.67)
Vamos, agora, examinar o comportamento do vetor D ⃗ nas
vizinhanças de uma descontinuidade do meio. Como uma das equações
de Maxwell (2.48) nos fornece o fluxo de D ⃗ sobre uma superfície
fechada, esse problema será tratado da mesma maneira que no caso do
vetor ⃗B . Considerando, então, a mesma geometria da Figura 2.12, a
aplicação de (2.48), à superfície cilíndrica nos fornece, após uma
primeira passagem ao limite para δ h tendendo a zero,
(D n1− Dn 2 ) Δ S =Δ q ,

47
onde Δ q é a carga total interna ao pequeno cilindro.
Se houver uma densidade superficial de carga sobre a interface,
Δ q=ρs Δ S ,
de modo que
D n 1− Dn 2=ρs . (2.68)
Em consequência, ao atravessar uma interface, a componente
normal do vetor D ⃗ sofre uma descontinuidade, medida pela densidade
superficial de carga sobre a superfície de separação entre os dois meios.
Note que o sinal dessa densidade de carga não depende do sentido
adotado para a normal (este é arbitrário), ou seja, se o sentido da normal
for invertido os sinais das componentes D n 1 e D n 2 serão invertidos
mas como a expressão (2.68) também inverte de sinal, o sinal de ρs
permanece o mesmo.
Se ρs=0 , resulta:
D n 1− Dn 2=0 .
Se os meios forem lineares e isotrópicos, com permissividades
ε1 e ε2 , temos também que
ε1 E n1−ε 2 E n 2=ρs . (2.69)
Consideremos, agora, o comportamento do vetor densidade de
corrente, que será não nulo se σ1 e σ 2 forem diferentes de zero.
De (2.19),

∂D
∯ ⃗J⋅dS
⃗ =−∯
∂t
⃗ ,
⋅dS (2.70)

podemos obter, por um processo análogo ao anterior,


J n 1−J n 2=− ∂ ( Dn 1−D n 2) .
∂t
Mas como D n 1− Dn 2=ρs , densidade superficial de carga sobre
a interface; segue-se que
∂ρs
J n 1−J n 2=− . (2.71)
∂t
No caso de um campo estacionário, ∂/∂t=0 e
J n 1−J n 2=0⇒ J n 1=J n 2 . (2.72)
Nessas condições, considerando (2.69) e substituindo as

48
componentes normais de ⃗
E por ⃗
J /σ , obtemos
ε1 ε
J n 1− 2 J n 2 =ρ s ,
σ1 σ2
ou tendo em vista (2.72),

( ε1 ε 2
− )
J =ρ .
σ1 σ 2 n s
(2.73)

Portanto, haverá, necessariamente, uma densidade superficial de


carga sobre a interface, se os dois meios forem condutores. Excetua-se
apenas o caso particular em que:
ε1 ε 2
= . (2.74)
σ1 σ 2
Para determinarmos o comportamento dos vetores ⃗ B e D ⃗
numa interface, aplicamos as duas últimas equações de Maxwell, em
forma integral, sobre a superfície de um pequeno cilindro, pois estas
equações nos dizem quais os valores desse fluxo. Esse processo nos
forneceu as condições de contorno para as componentes normais desse
vetores.
Para tratar das condições de contorno das componentes tangenciais
de ⃗ E e H ⃗ , devemos considerar um pequeno trajeto retangular,
como o mostrado na Figura 2.13, e aplicar as duas primeiras equações de
Maxwell, que nos fornecem as circuitações desses vetores sobre esse
trajeto. Esse trajeto, com os ramos principais paralelos à interface, mas
em lados opostos da mesma, orientado arbitrariamente numa direção
tangencial ̂t , define uma curva Γ que é a borda de uma superfície
Δ S com normal apontando na direção û .
Tratemos, primeiramente, do vetor ⃗ E ; sua circuitação sobre o
trajeto retangular indicado na Figura 2.13 fornece, pela equação (2.45) ,
∮Γ E⃗⋅dl=
⃗ E⃗1⋅^t Δ l− E
⃗⋅^n δ h− E⃗2⋅^t Δ l+ ⃗E⋅^n δ h=
⃗ .
d ⃗ =− ∂ B⋅u^ Δ S
=− ∬ ⃗B⋅dS
d t ΔS dt

49
1 μ1, ε1, σ 1
n

u

⃗t
δh

Δl

2 μ 2, ε 2, σ2

Figura 2.13: Trajeto retangular imaginário na fronteira de dois meios


distintos. Os ramos superior e inferior são paralelos à superfície da
fronteira e estão localizadas em lados opostos.

Fazendo δ h→0 e supondo que ⃗ E seja sempre finito,


podemos desprezar os termos em que comparece δ h ; como por outro
lado, a área Δ S do retângulo tende a zero com δ h , a equação
anterior fornece
E⃗1⋅̂t Δ l− E⃗2⋅̂t Δ l=0⇒ E⃗1⋅̂t = E⃗2⋅̂t ,
ou,
E⃗t 1= E⃗t 2 (2.75)
i.e., a componente tangencial do vetor ⃗ E é contínua ao cruzar-se a
superfície de separação entre dois meios.
⃗ é obtida
A relação entre as componentes tangenciais do vetor H
através da sua circuitação sobre o retângulo da Figura 2.13. A equação
(2.46) fornece, então

∮Γ H⋅ ⃗ H⃗ 1⋅̂t Δ l− H⃗ 2⋅̂t Δ l=∬


⃗ dl=
ΔS
( ⃗
J+

∂D
∂t ) ⃗
⋅dS

onde na circuitação (primeiro membro) já eliminamos as parcelas


correspondentes à altura δ h , a exemplo do que foi feito no caso do
vetor ⃗E . Como a área Δ S tende a zero (com δ h ), teremos
contribuições nulas no segundo membro sempre que os integrandos
forem finitos; é o caso de densidade de corrente de deslocamento e da

50
densidade volumétrica de corrente. Resta apenas a contribuição de uma
eventual densidade de corrente superficial, J⃗s (A/m), que possa estar
fluindo exatamente na superfície da interface entre os meios. No limite
essa contribuição será
J⃗s⋅̂u Δ l ,
isto é, a componente de J⃗s normal à área da espira retangular
multiplicada pelo comprimento do trajeto. Convença-se, olhando para a
Figura 2.14 que a corrente total que atravessa a espira é igual à
magnitude de J⃗s multiplicada por Δ l e pelo cosseno do ângulo
entre a normal à espira, û , e as linhas de corrente.

Figura 2.14: Densidade superficial de corrente fluindo


numa interface. Linhas curvas identificam a direção da
corrente e a espira retangular aparece na parte central
(note que ela fura a superfície).
Resumindo o que foi obtido,
( H⃗ 1− H⃗ 2 )⋅̂t Δ l= J⃗s⋅̂u Δ l .
Considerando que
û =̂n ×̂t ,
resulta:

51
( H⃗ 1− H⃗ 2 )⋅̂t = J⃗s⋅̂n× ̂t = J⃗s× n̂⋅̂t .
Finalmente, como ̂t é um versor qualquer tangente à superfície
de separação, e chamando de H⃗t 1 e H⃗t 2 do campo magnético
tangentes à superfície:
H⃗t 1− H⃗t 2= J⃗ s×̂n (2.76)
Note que H⃗t 1 e H⃗t 2 não são necessariamente colineares. Esta
equação permite determinar a descontinuidade (vetorial) da componente
tangencial do vetor H ⃗ se a densidade de corrente superficial for
conhecida. É também útil a relação inversa, que pode ser obtida por
manipulação vetorial (faça como exercício):
J⃗s =̂n ×( H⃗ 1− H⃗ 2) . (2.77)
Obviamente, se J⃗s for nulo resulta
H⃗t 1= H⃗t 2 . (2.78)
Das condições de contorno acima obtidas, referente às
componentes tangenciais de ⃗
E e H⃗ , e das relações constitutivas
podemos deduzir o comportamento das respectivas componentes dos
⃗ , ⃗
vetores D J e ⃗ B nas vizinhanças de uma interface.
Suponhamos então que os meios 1 e 2 são lineares e isotrópicos,
com constantes dielétricas ε1 e ε2 , permeabilidades μ1 e μ 2 ,
e condutividades σ1 e σ 2 . Temos então que
D⃗t 1 D⃗t 2
(2.79)
ε 1 = ε2
e
B⃗t 1 B⃗t 2
(2.80)
μ 1 = μ 2 (na ausência de correntes superficiais).
Assim, com referência aos quatro vetores ⃗ E , D ⃗ , ⃗B e
⃗ é fácil verificar que uma de suas componentes (normal ou
H
tangencial) se conserva, ao passo que a outra se modifica. As
correspondentes linhas de força, em consequência, se refratam ao passar
de um a outro meio.

52
Ex. 2.5 - A direção das linhas de corrente na superfície de
separação entre os meios (1) e (2) faz um ângulo de 30o com a
normal à superfície, no meio (1). Sendo o regime
estacionário, e as constantes dos meios dadas por:
meio (1): σ1 =5 (S/m); ε1=80 ε0 (água do mar)
−2
meio (2) σ 2=10 (S/m); ε2=15 ε0 (solo bom condutor)

n̂ J⃗2

α2 Solo

α1 Água do mar
J⃗1

Figura 2.15: Refração de linha de campo de corrente na interface de


dois meios.

Determinar:
a) O ângulo que forma a direção da corrente com a normal à
superfície no meio (2)
b) Sendo a densidade de corrente total J no meio (1) igual a
10 (A/m2), qual a densidade de carga na superfície de
separação dos dois meios?
Solução:
a) Pela condição de contorno das componentes tangenciais do
campo elétrico:
J J σ
E⃗t 1= E⃗t 2 ⇒ σt 1 = σt 2 ⇒ J t 2= σ2 J t 1 (vamos tomar uma das
1 2 1

componente tangenciais apenas, por isso a relação é escalar).


Como estamos em regime estacionário,
J n 1=J n 2 .
Da Figura 2.15

53
J t1 J
tan α1= , tan α 2= t 2 .
J n1 J n2
Portanto,
J t 2 J t 1 σ2 /σ 1 σ 2 10−5
tan α2= = = σ tan α1= tan 30o ⇒α 2≈0o ,
J n2 J n1 1 5
ou seja, no meio (2) as linhas de corrente são praticamente
perpendiculares à interface de separação.
b) Pela condição de contorno das componentes normais do
⃗ :
vetor D
ε ε
D n 2−Dn 1=ρs ⇒ σ2 J n 2− σ1 J n 1=ρ s
2 1

(note que adotou-se, aqui, a normal apontando para o meio


2, por isso há a inversão de sinal).
Sendo J n l =J n 2=J n temos, portanto,
ε 2 ε1 εr 2 εr 1
( ) (
σ 2 − σ 1 J n=ρs ou ε0 σ 2 − σ 1 J n=ρs )
Substituindo os valores numéricos:

ρs=8,854 10
−12
( 1015 − 805 ) 10 cos 30 =1,138 10
−2
o −7
(C/m2)

Ex. 2.6 - Uma esfera feita de material de constante dielétrica


ε1=3 ε0 de raio rl =0,l m, contém a carga total de 1 μC
uniformemente distribuída em seu volume interior. Uma
segunda esfera, de material de constante dielétrica
ε2=5 ε0 , raio r2=0,3m, sem carga elétrica, envolve a
primeira. O conjunto das duas esferas está imerso no vácuo,
cuja constante dielétrica vale ε3=ε0 .
⃗ e ⃗
a) determinar os valores de D E nos 3 meios, em
função de r.
b) fazer os gráficos da variação desses 2 vetores, em função
de r.

54
r1
û r
3 2 1
3 ε0 r2

5 ε0

ε0

Figura 2.16: Esfera com densidade volumétrica de


carga (1) dentro de outra esfera sem carga (2).
Solução:
Como a carga se encontra uniformemente distribuída no
meio (1):
−3
Q 3×10
ρv = = (C/m3).
4 3 4π
πr
3 1
No meio (1): ∯ D ⃗ =∭ ρv d τ
⃗ 1⋅dS
Σ τ

Considerando Σ uma superfície esférica de raio genérico r


< r1 :
4 3 ⃗ ρv 10−3
D1 4 π r 2=ρv
π r ⇒ D1 = r u^ r= r u^ r .
3 3 4π
−4
⃗ 1 (r 1)= 10 û r=7,958×10−6 û r (C/m2)
Em r=r1, D

ρv 10−3
⃗ ⃗
Sendo D =ε E , resulta: E 1= ⃗ r u^ r = r u^ r
3ε1 12 π ε0

−4
10
Em r=r1, E⃗1= û r =3×105 û r (V/m).
12 π ε0

55
No meio (2): ∯
Σ
⃗ 2⋅dS
D ⃗ =Q=10−6 (C), uma vez que, para

r > r1 a carga envolvida por Σ é constante e igual à carga


total contida na 1a. esfera.
Portanto:
−6
Q 10
D⃗2 = 2
û r = 2
û r (C/m2)
4πr 4π r
D⃗ 10
−6
1,798×10
3
E⃗2= ε22 = 2
̂
u r = 2
û r (V/m)
20 πε 0 r r
em r= r1= 0,1 m:
−4
10
D⃗2 (r 1 )= û r =7,958×10−6 û r (C/m2)

E⃗2 (r 1)=1,798×10 û r
5

Note-se que D ⃗ 1= D ⃗ 2 em r = rl (interface de separação dos


meios 1 e 2). De fato, o vetor D ⃗ é radial e portanto normal
às superfícies esféricas. Portanto, suas componentes normais
se conservam, uma vez que não há distribuição superficial
de cargas na interface (1-2).
O vetor campo elétrico sofre descontinuidade, pois o meio
muda ( ε1≠ε2 ).
−4
10
D⃗2 (r 2 )=
−7
Em r = r2 = 0,3 m: û =8,642×10 û r (C/m2)
4π r
⃗ 2 (r 2 )
D
E⃗2 ( r 2 )=
4
ε2 =2,0×10 û r (V/m).
No meio (3), como não há cargas para r > r1, ainda temos

Q 10−6
D⃗3= 2
̂
u r = 2
û r (C/m2) e
4πr 4πr
⃗3
D 10−6 8,99×103

E 3 = ε3 = û r = û r (V/m).
4πε r2 0 r2
Para r = r2 = 0,3 m:

56
−4
10
D⃗3 (r 2 )= û r =8,642×10−7 û r (C/m2)

e
⃗ 3 (r 2)
D
E⃗3 (r 2)= 5
ε0 =1,0×10 û r V/m.

Figura 2.17: Gráficos do exemplo 2.6.

2.9 Energia e vetor de Poynting


Consideremos, inicialmente, um meio condutor, de condutividade
σ . A existência de um campo elétrico nesse meio acarreta o
aparecimento de um campo de correntes definido pelo vetor
⃗ ⃗ .
J =σ E

57
Mostremos que o produto escalar ⃗ E⋅⃗
J , cujas dimensões são de
uma densidade de potência, fornece a potência dissipada por efeito Joule
e por unidade de volume do meio.
De fato, consideremos um tubo de correntes nesse meio, através
do qual passa uma corrente Δ I (Figura 2.18).

Δl

ΔI
Δ⃗S ⃗
E

ΔI
ΔV

Figura 2.18: Tubo de corrente percorrido por uma corrente ΔI.

ΔI ⃗ ΔV
Teremos: ⃗
J= n̂ ; E= n̂ .
ΔS Δl
Façamos o produto escalar de ⃗
E por ⃗ J :
⃗ ΔV Δ I
E⋅⃗
J= .
Δl ΔS
Mas Δ V Δ I =Δ W é justamente a potência por efeito Joule no
volume Δ τ=Δ l Δ S do meio.
Portanto:

⃗ ΔW
E⋅J⃗ = (W/m3). (2.81)
Δτ
Tendo em vista a relação entre ⃗E e ⃗ J , temos ainda,

⃗ ⃗ ∣⃗J∣2 ∣⃗ ∣2
E⋅J = =σ E . (2.82)
σ
As duas últimas expressões correspondem à lei de Joule no campo
eletromagnético.
É ainda possível haver correntes elétricas no vácuo, como por
exemplo um feixe de elétrons num tubo de raios catódicos, num
acelerador de partículas, ou numa válvula. Nesse caso, a existência de
um campo elétrico ⃗
E acelera as cargas em movimento, e o produto

58
escalar ⃗E⋅⃗ J representa a densidade de potência fornecida a essas
cargas (e transformada em energia cinética).
Vamos agora demonstrar uma importante relação (Teorema de
Poynting) que, devidamente interpretada, estabelece o balanço de energia
(e potência) no campo eletromagnético. Para isso, usamos as equações de
Maxwell sob forma diferencial, multiplicando escalarmente as duas
⃗ e ⃗
primeiras (2.50 e 2.51) por H E , respectivamente:

(∇× ⃗ ⃗ =− ∂ B⋅H
E )⋅H ⃗ (2.83)
∂t

∂D
⃗ )⋅E
( ∇× H ⃗ =⃗
J ⋅⃗
E+ ⃗
⋅E (2.84)
∂t
Subtraindo-se (2.84) de (2.83),
∂⃗
B ⃗ ⃗ ⃗ ∂D ⃗
(∇× ⃗ ⃗ −(∇ × H
E )⋅H ⃗ )⋅⃗
E =− ⋅H − J ⋅E − ⋅⃗
E (2.85)
∂t ∂t
Mas, utilizando-se a identidade da análise vetorial:
∇⋅( ⃗E× H
⃗ )= H⋅∇
⃗ × ⃗E− E⋅∇
⃗ ×H⃗ e rearranjando-se os termos de
(2.85) obtemos
⃗ ⃗
∇⋅( ⃗E× H ⃗ ∂ D − H⋅
⃗ )=− ⃗J⋅⃗E− E⋅ ⃗ ∂B . (2.86)
∂t ∂t
Vamos integrar a equação acima num volume τ , delimitado por
uma superfície regular Σ ; transformando ainda a integral de volume
da divergência pelo teorema de Gauss-Ostrogradsky, resultando

∂D
∯ ⃗ H
( E× ⃗ +∭ ⃗J⋅E
⃗ )⋅dS
τ
⃗ d τ +∭ ⃗E⋅
τ ∂t
d τ+
Σ .. (2.87)

⃗ ∂ B d τ=0
+∭ H⋅
τ ∂t
Passaremos agora a interpretar cada parcela dessa equação.
Já vimos que o produto escalar ⃗ J ⋅E⃗ representa sempre uma
densidade volumétrica de potência fornecida às cargas: se a corrente
ocorre no vácuo a potência é empregada para acelerar as cargas, e se
ocorre em meio material condutor a potência é consumida sob a forma de
calor (nesse caso ainda há aceleração das cargas – elétrons livres – mas a
resultante energia cinética é transmitida ao material através de interações

59
com a sua estrutura atômica).
Desse modo, a segunda integral de (2.87) representa a potência
fornecida pelo campo elétrico às cargas situadas dentro do volume τ .
É conveniente fazer uma extensão para incluir possíveis fontes do campo
eletromagnético (geradores) contidas no volume τ . Nas regiões dos
geradores, além do campo elétrico ⃗E , existe também um campo
⃗i
elétrico “impresso” (ou “imposto”) E que representa o efeito da
transformação de uma forma qualquer de energia em energia
eletromagnética. Nessas regiões, a lei de Ohm deve ser escrita
⃗J =σ ( E⃗ + E⃗ i ) , (2.88)
levando, portanto, em conta não só o campo elétrico ⃗E que age sobre
⃗i
as cargas, mas também o campo elétrico impresso E , o qual imprime
às cargas o movimento que é a própria origem do campo
eletromagnético. Convém explicitar o campo elétrico na lei de Ohm:

⃗E= J – E⃗ i , (2.89)
σ
que, substituindo na segunda parcela de (2.87) conduz à expressão do
Teorema de Poynting:
⃗ 2

∯ ⃗×H
(E ⃗ +∭ |J | d τ +∭ ⃗E⋅∂ D d τ +
⃗ )⋅dS σ ∂t
Σ τ τ . (2.90)
∂ B⃗
+∭ H⋅ ⃗ d τ=∭ E⃗ ⋅⃗J d τ
i

τ ∂t τ

Antes de interpretar o significado dessas integrais, examinaremos


o efeito do campo impresso tomando como exemplo de gerador uma
bateria (Figura 2.19). Dentro do eletrólito aparece o campo impresso
E⃗ i , devido neste caso a efeitos químicos. Este campo força o
movimento de cargas positivas para a placa superior, as quais por sua vez
dão origem ao campo elétrico (eletrostático, no caso) ⃗ E .
Naturalmente, o fluxo de cargas dentro do eletrólito continua até que o
campo elétrico ⃗E anule o campo interno, isto é:
E + E⃗ i=0⇒ ⃗
⃗ J =0 (se σ≠0 ).

60
Placa positiva i A
+++
+++++++++++++++++++++++++++++++


E E⃗ i ⃗
J ⃗
E resistor

eletrólito
------------------------------

Placa negativa i --- B

Figura 2.19: Campo impresso no volume de uma bateria.

Ligando um resistor aos terminais A e B aparecerá uma corrente,


conforme indicado pela densidade ⃗
J . Dentro da bateria
⃗ E + E⃗ ) .
J =σ ( ⃗
i

Note que nessa região a corrente flui em sentido contrário ao


campo ⃗ E , e que o módulo de ⃗ E será igual ao do campo impresso
se a condutividade do eletrólito for infinita, isto é, neste caso a tensão
nos seus terminais será a própria f.e.m., independente da corrente
fornecida (a partir de ⃗ E + E⃗ i )
J =σ ( ⃗ mostre que
V = f.e.m.− Ri I ).
O produto E ⃗ i⋅⃗J representa, claramente, a densidade de potência
2
fornecida às cargas pelo campo impresso e o termo ∣⃗J∣ /σ a densidade
de potência dissipada sob a forma de calor.
Isto posto, o segundo membro na expressão do Teorema de
Poynting é a potência total fornecida pelos geradores situados dentro do
volume τ .
2
∣⃗J ∣
A parcela ∭
τ
σ d τ é a potência dissipada sob forma de
calor (efeito Joule) dentro do volume τ .
A terceira e a quarta parcela de (2.90), envolvendo derivadas com
o tempo, é interpretada como a taxa de fornecimento de energia aos
campos elétrico e magnético dentro do volume τ . Mostraremos, a
seguir, que esta interpretação é consistente com os conceitos de carga e

61
tensão elétrica expostos anteriormente.

Para analisar o termo ∭ ⃗⋅∂ D d τ
E , consideremos como
τ ∂t
exemplo um capacitor de placas paralelas, cujo dielétrico é homogêneo,
isotrópico mas não necessariamente linear, possuindo uma relação
constitutiva que, entre os valores de campo E1 e E2 está representada na
Figura 2.20.
D
S i
D2 2
+
V
– D1 1
h


E ⃗
D
E1 E2 E
(a) (b)

Figura 2.20: Capacitor tendo seu campo variado entre os valores


(E1,D1) e (E2,D2).
Através do gerador de tensão ajustável V, faremos uma variação da
intensidade do campo elétrico ⃗
E entre os valores El e E2 durante um
intervalo de tempo tl a t2.
Calculemos o valor da integral acima tomando como τ o
volume do dielétrico. Neste exemplo, vamos admitir que ⃗
E é uniforme
entre as placas10 e portanto, utilizando-se a expressão (2.3) com ⃗ E
constante ao longo da direção normal às placas, a cada instante é igual a
V/h . D ⃗ também é uniforme (portanto ∂ D ⃗ /∂t=d D⃗ /dt ),
paralelo a ⃗E , e seu módulo é igual à densidade de carga na placa
superior, ρs 11. A integral se reduz portanto a
10 Veremos no capítulo sobre campos eletrostáticos que o campo será
efetivamente uniforme se a extensão das placas for muito maior que a
distância entre elas.
11 Admitindo-se que os campos sejam nulos acima da placa superior (e abaixo
da inferior) essa relação deriva diretamente de (2.68). Veremos que essa
hipótese é correta se a dimensão das placas for muito maior que a distância
entre elas.

62

∂D dD dD

τ

E⋅
∂t τ
d τ=∭ E
∂t
d τ=E
∂t ∭τ
d τ=
,
dD V d ρs dQ
=E S h= S h=V =V i=P (t)
∂t h ∂t ∂t
ou seja, é a potência fornecida ao campo elétrico existente no dielétrico.
Sendo essa a potência fornecida ao campo elétrico em cada
instante, podemos calcular a energia a ele fornecida durante o intervalo
de tempo tl a t2, como
t2 t2

E⋅d D⃗
| =∫ p (t) dt=∫∭
t2
ΔW e t1 d τ dt =
τ dt
t1 t1 .
t2 D
⃗⋅d D
E ⃗ 2

=∭ ∫ dt d τ=∭ ∫ ⃗ ⃗ dτ
E⋅d D
τ t
dt 1
τ D 1

Note que, na última passagem, foi feita uma mudança de variável de


integração de t para D(t).
D2

O termo ∫ E⃗⋅d D⃗ corresponde, portanto, a uma densidade


D1

volumétrica de energia fornecida ao campo elétrico para levá-lo do ponto


(E1,D1) para o ponto (E2,D2). Em outras palavras, uma variação de
intensidade de campo elétrico em um dielétrico, entre valores E1 e E2
(Figura 2.20-b) , corresponde a uma energia a ele fornecida, por unidade
de volume igual a
D2

Δ we =∫ E
⃗⋅d D
⃗ (J/m3). (2.91)
D1

Essa densidade de energia entregue ao dielétrico está hachurada na


Figura 2.20-b. Note que é a integral ∫ E⃗⋅d D⃗ e não ∫ D⃗ ⋅d E⃗ ;
esta última, às vezes, chamada “co-energia”, não possuindo entretanto
significado físico. Note ainda que preferimos não chamar ∫ E⃗⋅d D⃗ de
densidade de energia armazenada, pois não se garante, a priori, que na
volta de E2 a El essa energia possa ser recuperada, ou seja, pode haver
histerese.
Particularizemos, agora, para o caso de dielétricos lineares e
⃗ =ε E
isotrópicos, isto é, nos quais D ⃗ , sendo ε uma constante

63
escalar. Neste caso, a densidade de energia entregue ao dielétrico para
mudar o campo de El para E2 reduz-se a


D2 D2 D2 D2
Δ we =∫ E ⃗ =∫ E d D=∫ D d D= 1 D2
⃗⋅d D ,
D 1 D D1
ε 2ε D 1 1

isto é, pode ser expressa pela diferença da quantidade


1 2 1
D = ε E 2 entre os estados final e inicial. Essa quantidade,
2ε 2

1 1 D2 1 ⃗ ⃗
w e = ε E 2= = E⋅D (J/m3), (2.92)
2 2 ε 2
é, agora, apropriadamente, chamada densidade de energia armazenada
no campo elétrico.
∂⃗
B
Analogamente, para o termo ∭
τ

H⋅
∂t
d τ , temos que ele
pode ser interpretado como a potência fornecida ao campo magnético
num determinado instante. E, de forma análoga, se o campo magnético
for variado entre dois estados (H1,B1) e (H2,B2), como mostrado na Figura
2.21, a densidade volumétrica de energia fornecida ao campo magnético
será dada por
B2

Δ wm =∫ H⋅d
⃗ B ⃗ (J/m3), (2.93)
B1

Em outras palavras, para mudar o estado de magnetização de um


material, de (H1,B1) a (H2,B2), é preciso fornecer-lhe uma densidade de
energia dada por (2.93), que é representada pela área hachurada na
Figura 2.21 (não confundir com a integral ∫ ⃗B⋅d H⃗ ).
Particularizando-se, agora, para o caso de meios magnéticos
lineares e isotrópicos, isto é, nos quais ⃗ ⃗ , sendo μ uma
B =μ H
constante escalar, a expressão (2.93) se reduz a

|
B2 B2 B2 B2
Δ wm =∫ H⋅d
⃗ B=⃗ ∫ H d B=∫ B d B= 1 B 2 =
μ 2μ B .
B 1 B 1 B 1 1

=w m ( 2)−w m (1)

64
B

B2 2

B1 1

H1 H2 H

Figura 2.21: Campo magnético variado


entre os valores (H1,B1) e (H2,B2).

Ou seja, a densidade de energia a ser fornecida para mudar o


estado de magnetização do material linear, isotrópico é igual à diferença
da quantidade wm nesses dois estados. Neste caso, wm é apropriadamente
chamada densidade de energia armazenada no campo magnético:
2
1 1B 1 ⃗ ⃗
w m= μ H 2= = H⋅B (J/m3) (2.94)
2 2 μ 2
Retornando agora à equação (2.90), concluímos que a primeira
integral representa o fluxo de potência que sai do volume τ através da
superfície Σ que o envolve.
Portanto o vetor
⃗=⃗
N ⃗ (W/m2)
E×H (2.95)
chamado vetor de Poynting, é a densidade de fluxo de potência, em
módulo, direção e sentido.
A expressão (2.90), repetida aqui para referência, é chamada de
Teorema de Poynting:

⃗ |⃗J |2
∭ E ⋅J d τ=∯ N⋅dS +∭ σ d τ +
i
⃗ ⃗ ⃗
τ Σ τ . (2.96)
⃗ ⃗
⃗⋅∂ D d τ +∭ H⋅
+∭ E ⃗ ∂B d τ
τ ∂t τ ∂t
Esta expressão resulta, como vimos, das equações de Maxwell e,

65
sob este ponto de vista, é inatacável. A interpretação física dada a seus
vários termos é, ate certo ponto, arbitrária, e pode ser discutida (ver
Stratton [1, p. 131]). Apesar dessas dificuldades, o teorema de Poynting é
extremamente útil ao exame de certos problemas em Eletromagnetismo.
(Ver também, a respeito do teorema de Poynting, Mason e Weaver [9, p.
265]).
Ex. 2.7 - Um fio de cobre reto, infinito, isolado, de
7
condutividade σ=5,8 10 S/m, diâmetro D=2 a=0,1 cm,
conduz uma corrente continua I =5 A. Integrar o vetor de
Poynting, sobre uma superfície fechada que inclua um
pedaço de fio de comprimento h, e comparar com o calor
desenvolvido por efeito Joule internamente. (Peck [10, p.
468]: pg.468).

I
h

û z û φ

ρ
û ρ

Figura 2.22: Geometria do exemplo 2.7.

66
Solução:
Escolhendo a superfície fechada como sendo a própria
superfície externa do cilindro de altura h, temos do Ex. 2.4:

{
I ρ
2
ρ<a
⃗ = 2πa
H û φ .
I
ρ>a
2 πρ
Sendo ⃗J =σ E⃗ , e admitindo que a corrente se distribua
uniformemente na seção transversal do cilindro12, resulta:
⃗J I

E= = û (ρ≤a) .
σ σ π a2 z
Na expressão matemática do teorema de Poynting, os termos
em que entram derivadas em relação ao tempo são nulas,
uma vez que a corrente é estacionaria. O vetor de Poynting,
dentro do volume do fio, valerá, então:

⃗=⃗ ⃗ =− I Iρ I 2ρ
N E×H 2
̂
u
2 ρ
=− û
2 4 ρ (W/m )
2

σπa 2π a 2σ π a
e

Σ
⃗ dS
N⋅ ⃗=

= ∬ ⃗ u^ ρ dS +
N⋅ ∬ N⋅
⃗ u^ z dS + ∬ ⃗ (−u^ z ) dS =
N⋅
sup. lateral tampa sup. tampa inf.

−I
h 2π 2 .
2 3
=∫ ∫
a d φ dz+0+0=
0 0 2σ π a
−I 2 −I 2 h
= (2 π a h)=
2 σ π 2 a3 σ π a2
Portanto: ∯ N
⃗ ⋅dS
⃗ =−R I 2 , onde R é a resistência ôhmica
Σ
do trecho de comprimento h.
Já para o termo que corresponde à energia dissipada por
efeito Joule:

12 Veremos, no capitulo sobre correntes estacionárias, que esse é o caso.

67
2 h a 2π 2 2
J I I

τ
σ d τ=∫ ∫ ∫ 2 4
σπ a
ρd φ d ρdz = 2 4
σπ a
π a 2 h=R I 2 .
0 0 0

Obtemos, assim, a potência dissipada por efeito Joule


internamente, e verificamos que essa potência dissipada é
igual ao fluxo de potência que entra pela superfície lateral.
Note, pelo sentido do vetor de Poynting, que a potência entra
pelas laterais do fio e não se propaga por dentro dele!
Ex. 2.8 - Um cabo coaxial, de seção circular, tem um
condutor externo de diâmetro 2 b=2 cm, e um fio central de
diâmetro 2 a = 0,5 cm, o espaço entre eles está preenchido
por material isolante. O condutor externo é aterrado,
enquanto o interno está a um potencial de 330 V, e o cabo
conduz I = 50 A.
Determine:
a) A componente axial do vetor de Poynting entre os
condutores.
b) A integral desse vetor sobre uma secção do cabo.
Compare esse resultado com a potência transmitida pelo
cabo (Peck [10, p. 468]).

I
N
E

I
a
b

N V H
I

Figura 2.23: O vetor de Poynting num cabo coaxial.

68
Solução:
Em um ponto qualquer de uma seção transversal do cabo:
⃗ = I û φ e ⃗
H E=
V

2πρ ρln b /a ρ
(Nota: a expressão do campo elétrico, aqui utilizada, será
deduzida no próximo capítulo, por integração da equação de
Laplace).
Portanto:
⃗=⃗ ⃗= VI
N E×H û z
2 π ρ2 ln b /a
Integrando este vetor sobre a seção transversal:
b b
⃗ =∫ N 2 πρ d ρ= V I ∫ d ρ =V I
∬ N⃗ ⋅dS
S a ln b /a a ρ
obtemos a potência transmitida pelo cabo.
A integral estende-se de a a b, porque sendo os condutores
supostos sem perdas ( σ=∞ ), o campo elétrico, bem como
⃗ , dentro dos condutores, é nulo. Note-se também, que,
N
se tanto os condutores como o dielétrico forem considerados
perfeitos, a integral do vetor de Poynting em uma superfície
fechada é nula. Note ainda que, nesta interpretação, a
potência é transmitida pelo dielétrico, através dos campos

E e ⃗ nele existentes.
H

2.10 As aproximações das equações de


Maxwell
A solução de um problema de Eletromagnetismo, por integração
direta das equações de Maxwell, sujeitas às condições de contorno
adequadas, é, em geral, extremamente complexa. Daí a necessidade de se
introduzirem simplificações adequadas, resultantes do conhecimento
experimental do fenômeno. Tais aproximações envolvem: a)
considerações de simetria, b) abandono de certos termos das equações de
Maxwell, c) simplificação de condições de contorno.

69
A introdução de simplificações adequadas exige uma certa
intuição dos fenômenos eletromagnéticos, intuição essa que só se pode
obter pela familiarização com os fenômenos, através da experimentação.
Em grande número de casos, as aproximações introduzidas só se podem
justificar a posteriori pela concordância entre as previsões teóricas e os
resultados experimentais.
No restante deste curso passaremos a examinar os fenômenos
eletromagnéticos, obtendo a sua descrição quantitativa a partir das
equações de Maxwell. Este exame será feito em três etapas distintas, de
complexidade crescente: a) campos estacionários, em que a variável
tempo não intervém; b) campos quase-estacionários, em que os vetores
de campo variam lentamente com o tempo, de modo que é geralmente
possível desprezar as ações magnéticas das correntes de deslocamento; c)
campos rapidamente variáveis, em que não é possível fazer esta
aproximação e se evidencia o caráter ondulatório dos campos
eletromagnéticos através das ondas eletromagnéticas.
No caso dos campos estacionários, as equações fundamentais se
reduzem a
∇ ×E⃗ =0
∇× H⃗ =⃗
J ,
⃗ =0 (2.97)
∇⋅B

∇⋅D=ρv

B=μ H⃗
⃗ =ε E
D ⃗ , (2.98)
⃗ ⃗ + E⃗ )
J =σ ( E
i

onde E⃗ i e um campo impresso (não necessariamente eletromagnético).


Neste grupo de equações a ligação entre campos elétricos e
magnéticos decorre da segunda equação (2.97). Se considerarmos apenas
meios não condutores, i.e., com σ=0 , o vetor ⃗J é identicamente
nulo, de modo que as equações acima se desdobram em dois grupos
independentes:

70
∇× E⃗ =0
∇⋅D⃗ =ρv , (2.99)

D=ε ⃗
E
∇× H⃗ =0
∇⋅⃗ B =0 . (2.100)

B =μ H⃗
As equações (2.99) descrevem o campo elétrico estacionário,
constituindo a base da Eletrostática, ao passo que as equações (2.100)
constituem a base da Magnetostática. A independência dos dois grupos
de equações mostra a possibilidade de se estudarem Eletrostática e
Magnetostática independentemente, como se faz em cursos elementares.
Iniciaremos o nosso estudo de campos considerando os campos de
correntes estacionárias, em que examinamos as distribuições de correntes
e dos correspondentes campos elétricos, nos meios condutores. As
equações básicas para este estudo serão:
∇ ×E⃗ =0
∇⋅⃗J =0 . (2.101)
⃗ ⃗
⃗ +E )
J =σ ( E i

A presença de correntes estacionárias cria campos magnéticos; o


exame das ações magnéticas das correntes estacionárias se fará a partir
das equações
∇× H⃗ =⃗ J
∇⋅B⃗ =0 . (2.102)
⃗ =μ H
B ⃗
É claro que estes campos magnéticos estarão associados a campos
elétricos, pois
⃗ ⃗ + E⃗ i )
J =σ ( E (2.103)
Ao examinar fenômenos quase-estacionários, desprezaremos
apenas a ação magnética das correntes de deslocamento, de modo que
servirão para ponto de partida desse estudo as equações

71
⃗ =− ∂⃗ B
∇× E ⃗ ⃗
∂t B=μ H
⃗ ⃗
∇ ×H = J ⃗ =ε E
D ⃗ (2.104)
∇⋅⃗
B=0 ⃗ ⃗ + E⃗ i )
J =σ ( E

∇⋅D =ρv
Para justificar esta aproximação, consideremos um campo elétrico
lentamente variável dado por exemplo, por

E = E⃗0 sen ω t
(num ponto do espaço) e com ω=2 π 60 rad/s, i.e., variável com a
frequência das redes de distribuição de energia. Se o meio é linear e
isotrópico, o vetor deslocamento será:
⃗ =ε E
D ⃗ =ε E⃗0 sen ω t
e a densidade de corrente de deslocamento resulta

∂D
J⃗D = =ωε E⃗0 cos ω t
∂t
Para obtermos uma ordem de grandeza, suponhamos ∣E⃗0∣=10 4
(F/m), o valor máximo de J⃗D será,
−12
(V/m). Como ε=8,854 10
em módulo
J D −max =2 π 60×8,854×10−12×104≈3,3×10−5 (A/m2).
Este valor pode ser comparado com a densidade de corrente
causada no cobre, por um campo elétrico cujo valor máximo seja, por
−4 8
exemplo, igual a 10 (V/m) (isto é, 10 vezes menor que o
7
anterior). Como a condutividade do cobre é 5,7×10 (S/m), o valor
máximo de J será, em modulo,
7 −4 3
J max =σ E max =5,7×10 ×10 =5,7×10
Como se vê, a densidade das correntes de deslocamento é
extremamente pequena, neste caso, ao lado das densidades de corrente de
condução; sua ação magnética será pois desprezível em face dos campos
magnéticos devidos à corrente de condução.
Finalmente, ao estudarmos os campos rapidamente variáveis não
será possível desprezar termos das equações de Maxwell. Veremos,
então, que os campos elétrico e magnético adquirem a propriedade de
propagar-se pelo espaço, constituindo as ondas eletromagnéticas.

72
Na discussão acima utilizamos, para maior brevidade, as formas
diferenciais das equações de Maxwell. O que ficou dito vale também
para as equações sob forma integral, de modo que as condições de
contorno (contidas nestas ultimas) devem ser modificadas de acordo com
o tipo de variação temporal do fenômeno estudado.

73
Exercícios do Capítulo 2
1. Em um dado meio, em cada ponto, o vetor ⃗
B tem as
componentes:
B x =k 1 x +k 2 (T)
2
B y =k 1 y + k 2 x (T)
Determine B z sabendo que esta componente varia
apenas com z.
R.: B z =−2 k 1 z + cte
2. Numa calha retangular cuja secção transversal está na
Figura 2.24, flui água na direção de x. Determinar o
rotacional da velocidade, u , da água para as seguintes

distribuições das velocidades:

z
v

x b

Figura 2.24
a. a velocidade é constante em toda a secção valendo
u =K û x

πy
b. A velocidade varia segundo a lei u =K sen
⃗ û
b x
(Kraus e Carver [11] pág.179)

74
3. Uma carga puntiforme é colocada no centro de uma
superfície fechada esférica. Verificar se haverá alteração
do fluxo quando:
a. a esfera for substituída por um cubo de mesmo volume.
b. a esfera for substituída por um cubo com 1/10 do
volume do cubo citado no item (a).
c. a carga for afastada do centro da esfera original,
conservando-se interna á mesma.
d. for adicionada uma segunda carga próxima e externa à
esfera.
e. for colocada uma segunda carga interna à esfera.
4. Uma esfera de raio a = 1 m contém a densidade
volumétrica de carga ρv =K /r , com K = constante.
Fora da esfera (r>a), ρv =0 . O vetor D⃗ , a r = 2 m do
centro da esfera, tem modulo constante, igual a 1 C/m 2, e
é radial. Determine o valor de K, e o vetor ⃗ no
D
interior da esfera.
R.: K = 8 C/m2, D = 4 C/m2.
5. Uma casca cilíndrica de raio interno a e externo b contém
uma densidade volumétrica de carga uniforme ρv
(Figura 2.25).
a. determine ⃗
D para 0<ρ<a ; a<ρ< b e ρ> b .
b. qual o valor da densidade linear de carga ρl que
deve ser colocada em ρ=0 (eixo z) para reduzir o
campo externo ( ρ> b ) a zero?
2 2 2 2
R.: a) D ⃗ =ρv ρ −a û ρ ; D
⃗ =0 ; D ⃗ =ρv b −a û ρ b)
2ρ 2ρ
2 2
ρl=−ρv π(b – a )

75
ρ

z a

ρv

Figura 2.25: Casca cilíndrica com densidade volumétrica de carga.

6. Um fio condutor cilíndrico, muito longo, de raio a=3cm, é


percorrido pela corrente continua I. Dentro do condutor, a
distribuição de corrente obedece à relação:
4
⃗ 10
J = π ρ û z (A/m2) - 0≤ρ≤a .
Determine:
a. o valor de I.
b. os campos ⃗ i (ρ< a) e
H H⃗ e (ρ> a) .
4 2
H
R.: a) I=180 mA; b)⃗ i= 10 ρ û φ ; H⃗ e = 0,18 û φ A/m.
3π 2πρ
7. Um campo estacionário ⃗B , em um meio homogêneo de
condutividade e permeabilidade μ , é dado pela
expressão:

B =2 x û x +c 1 y û y + c2 y û z (T),
com c1 e c2 constantes. O campo elétrico neste meio é
uniforme, e vale: ⃗
E =2 û x (V/m).
a. determine c1 e c2.
b. seria possível a existência deste ⃗
B , se o campo ⃗
E

76
fosse da forma:⃗
E =2 x û x ?
R.: a) c 1=– 2 ; c 2=2μ σ ; b) não: c 2=2μ σ x .
8. Um cabo coaxial tem condutores de condutividade
7
σ=10 /π S/m, de raios a, b e c. Cada condutor tem
resistência 0,4 Ω por 100m, e é percorrido pela corrente
contínua I (Figura 2.26). A relação entre os campos
magnéticos H φ em ρ=b e em ρ=a vale 0,3.
Determine a, b e c, em mm.

H
c
b

Figura 2.26: Cabo coaxial em corte transversal.

R.: a=5, b=16,6 e c=17,2 mm.


9. No plano xy existe uma densidade de corrente superficial
J⃗s =−3 û y (A/m). Sabendo-se que a componente
tangencial de H ⃗ em z=0+ vale
H⃗ t ( z=0 +)=2 û y (A/m),
Determine H ⃗ t ( z=0− ) . Verifique a resposta usando a
relação (2.77).
H⃗ t ( z=0 )=3 û x +2 û y (A/m)

R.:

77
10. O vetor ⃗
B chega à interface de separação de 2 meios
1 e 2 formando um ângulo de 30 o com a normal no ponto
de incidência, e emerge no meio 1, formando o angulo de
60 o
com a normal (Figura 2.27). Sendo μ 2=1000μ 0 ,
determine μ1 .

1 μ1

60o
2
B⃗2
B⃗1
30o
μ2

Figura 2.27: Interface de separação de dois


meios e refração das linas de campo.
R.: μ1 =3000μ 0
11. O plano x=0 separa 2 regiões dielétricas: a região
(1) contém um dielétrico para o qual εr 1 =5 . Na região
(2), tem-se outro dielétrico com εr 1=3 (Figura 2.28).

x
εr 1 1
ρs
y z

εr 2
2
Figura 2.28

78
Na interface de separação dos 2 meios (plano x=0 ), a
densidade superficial de cargas reais, ρs é nula. Sendo,
no meio (2): E⃗2=20 û x +30 û y −40 û z V/m, determine os
vetores deslocamento nos 2 meios.
R.: ⃗ 1=ε0 ( 60 û x +150 û y −200 û z ) ;
D
D⃗2 =ε0 (60 û x +90 û y −120 û z )
12. Repita o problema anterior, supondo agora que, no
plano x=0 exista a densidade superficial de cargas
ρs=60ε0 C/m2.
R.: D⃗ 1=ε0 (120 û x +150 û y −20 û z ) ; D⃗2 não muda.
13. Suponha agora que o plano x=0 separa 2 materiais
magnéticos lineares, isotrópicos e homogêneos, e
transporta a densidade superficial de corrente J⃗s =2 û y
A/m. O meio (1) tem μ1 =5μ 0 . No meio (2), com
μ 2=2 μ 0 tem-se B⃗2 =−2μ 0 û x + 3μ 0 û y −μ 0 û z .
Determine:
⃗1
a. Os campos magnéticos H ⃗ 2 nos 2 meios.
e H
⃗ 1 no meio (1).
b. O vetor magnetização M
⃗ 2=−̂u x +1,5 û y −0,5 û z ;
R.: a) H
H⃗ 1=−0,4 û x +1,5 û y −2,5 û z
b) M ⃗ 1=−1,6 û x + 6 û y −10 û z
14. Em uma certa região do espaço dielétrico (
μ , ε , σ=0 ) existe uma carga eletrostática Q e um
campo B ⃗ estacionário, impresso por um ímã
permanente. A carga está em repouso. Qual o valor do
fluxo do vetor de Poynting através de qualquer superfície
fechada que envolva esta região?
15. Determine a distribuição de carga elétrica para:
a. ⃗ = x û x
D

79
b. ⃗ = û r
D
c. ⃗ = ρ û ρ (coord. cilíndricas)
D
2
d. ⃗ = r û r (coord. esféricas)
D
3
16. O vetor deslocamento é definido pela seguinte
expressão:

D
0{
⃗ ( x)= D 0 û x 0< x<d
x <0 ou x >d
Calcular a sua divergência e obter a distribuição de
cargas.
Qual a maneira de se realizar fisicamente este campo?
17. Sendo a densidade de carga em coordenadas esféricas
dada por:
ρ0 sen π r
ρv = 2
r
encontre as superfícies em que D=0 e ∇⋅D⃗ =0
18. ⃗ ) causada
Calcular a densidade de fluxo elétrico ( D
por uma distribuição uniforme de cargas no interior de
uma superfície esférica de raio a = 50cm, sendo
−7
ρv =10 C/m3. Apresentar o resultado sob forma de
gráfico.
19. Para o caso do problema anterior, determinar o campo
elétrico ⃗
E , supondo que a esfera é feita de dielétrico,
com ε=2ε0 imersa no ar ( ε=ε0 ). O que aconteceria
se o espaço interno à superfície esférica fosse condutor?
20. Refazer os dois problemas anteriores considerando
toda a carga distribuída uniformemente no interior da
esfera como concentrada no seu centro. Comparar os
resultados. Há pontos em que os vetores de campo são os
mesmos?

80
21. A superfície de separação entre 2 meios A e B é
atravessada por uma corrente de 10 A em estado
estacionário, na direção da normal. Determine a carga na
superfície, nos seguintes casos:
7
a. A: cobre σ A =5,8 x 10 S/m, εrA =1⇒(ε A=ε0 )
B: óleo isolante σ B =10−14 S/m, εrB=2,2
b. A: cobre
B: grafite σ B =1,1×105 S/m, εrB =1
22. Em um material ferromagnético, de permeabilidade
relativa μ r , onde a densidade de fluxo magnético é

B , são feitas 2 cavidades muito pequenas, conforme
indica a Figura 2.29. A cavidade 1 é normal a ⃗
B ,ea2
está disposta na direção de ⃗
B . Supondo existir ar
(permeabilidade μ 0 ) dentro das cavidades, determinar
⃗ 1 e H⃗ 2 nos seus centros. (Kraus e Carver
os campos H
[11, p. 268]).

2 B

Figura 2.29: Cavidades estreitas, perpendicular e


paralela ao campo magnético, num material
ferromagnético.
23. Dados os campos:
⃗ ⃗ = y û x
E = x û x e H
determine as cargas e correntes necessárias para gerar

81
estes campos (Fano et al. [5]).
24. Determinar as densidades de corrente que causam os
campos estáticos seguintes:
a. ⃗ = y û x
H
b. ⃗ =û φ (cilíndrico)
H

c. ⃗ = 1 u^ φ (cilíndrico)
H ρ
d. ⃗ = ρ û φ
H
2
Esses campos são realizáveis fisicamente? Dê um
exemplo para cada caso (Harrington [3]).
25. Dado

H
{
⃗ = −x û x + y û y x <0
x û x x >0 }
determine a distribuição de corrente na superfície
x=0 . É possível a existência desse campo no vácuo?
(Harrington [3])
26. Dado ⃗
E = Acos (k z )cos( ω t) û x , sabendo-se que o
meio é o vácuo, determine os outros vetores de campo
⃗ , ⃗
D B e H⃗ , e as densidades de energia elétrica (
w e ) e magnética ( w m ). O campo dado satisfaz às
equações de Maxwell? Verifique. Determine, também, o
vetor de Poynting. (Harrington [3]).
27.Dado o vetor:
⃗ −a y −a y
A=e sen (b x) û x +e cos (b x ) û y
⃗ representar uma densidade
a. em que condições pode A
de fluxo magnético?
b. Idem, um campo ⃗
E estacionário?
R.: a) a=b; b) a=b

82
3 Campo de correntes estacionárias e
campo eletrostático
3.1 Campo de correntes estacionárias
Consideremos um meio condutor de condutividade σ , em que
estão imersos eletrodos de material perfeitamente condutor, i.e., de
resistividade nula (praticamente, a condutividade dos eletrodos deverá
ser muito maior que a condutividade do meio), e suponhamos que estes
eletrodos fornecem ao meio correntes contínuas. Uma vez atingido o
regime, teremos criado um campo de correntes estacionárias, definido
por um vetor ⃗ J ( P) (P é um ponto genérico do meio), ao qual se
associa, através da relação constitutiva correspondente, um vetor

⃗ 1
E ( P )= σ ⃗J ( P) (3.1)
Um campo desse gênero pode ser obtido, por exemplo, imergindo
dois eletrodos metálicos numa cuba eletrolítica e interligando-os por um
gerador de tensão continua.
Os vetores ⃗ E e ⃗
J , além de interligados pela relação (3.1)
obedecerão ainda a:
⃗ =0
∇× E (3.2)
∇⋅⃗
J =0 (3.3)
pois o campo é estacionário.
Passemos a examinar as propriedades desse campo, começando
pelas vizinhanças da superfície dos eletrodos. Esta superfície é, nas
condições estabelecidas, uma interface que separa dois meios, um com
condutividade infinita (eletrodo) e outro com condutividade finita.
Se a condutividade do eletrodo é infinita, o campo elétrico no seu
interior será nulo13 (ou muito pequeno, para os metais habituais). Como a
componente tangencial de ⃗ E é contínua nas interfaces, segue-se que
ela é também nula nas vizinhanças da interface no meio de condutividade
σ . Portanto, o vetor ⃗
E , no campo de correntes, é normal à
13 Veja que como ⃗
E = ⃗J /σ , se σ=∞ o campo elétrico será nulo para

J finito.

83
superfície do eletrodo, ou as linhas de força de ⃗ E são ortogonais à
superfície do eletrodo. Se o meio for isotrópico (único caso que
examinaremos) o vetor densidade de corrente também terá suas linhas de
força ortogonais à superfície do condutor. Estes resultados já nos
permitem examinar alguns campos simples, de alta simetria.
Assim, consideremos como exemplo o campo de correntes criado
por um eletrodo esférico de raio a, que fornece uma corrente I a um meio
de condutividade σ (Figura 3.1), as linhas de corrente serão radiais e,
por simetria, a corrente I se distribuirá igualmente sobre a superfície de
qualquer esfera com centro em O.

r
a

0< σ<∞ σ=∞


E,⃗
J

Figura 3.1: Esfera condutora perfeita imersa em meio condutor gerando


um campo de corrente estacionária.

A densidade de corrente a uma distância r será pois:

⃗ I
J= û (A/m2).
2 r (3.4)
4 πr
O campo elétrico, para r > a , resulta:

J I

E= σ = û (3.5)
2 r
4πσ r
Note-se que a realização física do campo acima examinado exige
que a corrente seja trazida à esfera condutora por um fio fino e isolado do
meio circundante, o que quebraria a simetria. Porém, vamos admitir que

84
esse campo possa ser criado sem a presença desse fio, ou que a presença
dele não altera significativamente a simetria do problema.

3.2 Campo eletrostático


O campo eletrostático é aquele criado por distribuições de cargas
elétricas estacionárias, i.e., que não variam com o tempo. É diferente,
portanto, do campo de correntes estacionárias, onde há movimento de
cargas, com corrente estacionária.
Nessas condições (cargas estáticas), nos meios condutores, o vetor
campo elétrico é forçosamente nulo; de fato, se assim não fosse, os
portadores de cargas elétricas disponíveis no condutor seriam acelerados
pelo campo, não havendo o estado estacionário das cargas. Nos
condutores, em um campo eletrostático, as cargas distribuem-se apenas
sobre a superfície, dando lugar a distribuições superficiais de cargas.
Ou seja, no campo eletrostático temos ⃗
J =0 ; se o meio for
condutor, ⃗ ⃗ =ε E⃗ =0⇒ ρv =∇⋅D
E = ⃗J /σ=0 e portanto, D ⃗ =0 .
Em regime estático o campo elétrico será não nulo apenas em
meios dielétricos perfeitos (isolante perfeito: σ=0 ), interpostos entre
os condutores. No dielétrico, podemos também ter distribuições
volumétricas de cargas.
Suponhamos que se introduz um condutor num campo
eletrostático; aparecem nesse condutor cargas superficiais induzidas,
distribuídas de tal forma que anulam o campo no seu interior.
De fato, suponhamos que, em t = 0, tenha sido colocada, em um
ponto P de um meio condutor homogêneo, uma carga distribuída
volumetricamente, de densidade ρv0 . Pela equação da continuidade:
∂ρ
∇⋅⃗
J =− v .
∂t
Como o meio é condutor, tem-se:
⃗ ⃗= σ D
J =σ E ⃗ ,
ε
resultando, para meios homogêneos:
σ ⃗ =− ∂ρv .
∇⋅D
ε ∂t

85
⃗ =ρv , de onde:
Mas ∇⋅D
∂ρv σ
+ ρ =0 ,
∂t ε v
e, portanto,
σ
− t
ε
ρv (t)=ρv0 e .
Esta equação nos mostra que, para t=τ=ε/σ a densidade
volumétrica de cargas reduz-se a 1/e do valor inicial. Para t≥4 τ
tal densidade é praticamente nula. A constante de tempo τ é chamada
tempo de relaxação, sendo muito pequeno para os condutores habituais.
As equações fundamentais do campo eletrostático obtém-se das
equações de Maxwell anulando as derivadas parciais em relação ao
tempo; obtemos, assim, as seguintes equações, relativas aos vetores
⃗ e ⃗
D E :
⃗ =0 ⇔∮ ⃗
∇× E ⃗
E⋅dl=0 (3.6)
Γ

⃗ =ρ⇔∯ D
∇⋅D ⃗ ⋅dS
⃗ =q . (3.7)
Σ
Estas relações são completadas pela relação constitutiva
⃗ =ε E
D ⃗ (3.8)
Note que a forma das equações (3.6) e (3.7), para um meio com
densidade de carga volumétrica nula, é a mesma das equações (3.2) e
(3.3) e, portanto, as soluções de problemas de campos de correntes,
aplicam-se de forma análoga, a campos eletrostáticos, como veremos
adiante.

3.3 A função potencial - superfícies


equipotenciais
Vários problemas podem ser bastante simplificados mediante
considerações envolvendo energia. Tais considerações são feitas através
das chamadas funções potenciais, as quais ajudam e simplificam a
resolução, sem aparecerem no resultado final. Não é necessário dar a
estas funções um significado físico, se bem que isto deva ser feito
sempre que for possível. A função potencial escalar ϕ é uma
quantidade definida pela diferença entre dois valores desta função em

86
dois pontos P e P0, diferença esta dada pela integral:
P
ϕ( P )−ϕ( P 0)=−∫ E ⃗ .
⃗⋅dl (3.9)
P0

Esta é a expressão do trabalho realizado para trazer a unidade de


carga de P0 a P; o sinal negativo indica trabalho realizado contra as
forças do campo ⃗ E .
Façamos, agora, a integral de linha do vetor campo elétrico, do
ponto P0 ao ponto P do campo (Figura 3.2).

P
C1

P0 C2

Figura 3.2: Integral de linha do campo elétrico entre 2 pontos, através


de 2 caminhos diferentes.
Esta integral independerá do trajeto de integração, pois
∫ ⃗⋅dl+
E ⃗ ∫ ⃗⋅dl
E ⃗= ∮ ⃗ ⃗ .
E⋅dl
P 0 C1 P P C2 P 0 C 1+C 2

Mas, satisfeitas as condições de aplicabilidade do teorema de


Stokes,
∮ E ⃗ ∬ ∇× ⃗
⃗⋅dl= ⃗ =0 ,
E⋅dS
C 1+C 2 S

por (3.2). Em consequência,

∫ ⃗⋅dl=−
E ⃗ ∫ ⃗⋅dl=
E ⃗ ∫ ⃗⋅dl
E ⃗ .
(3.10)
P 0 C1 P P C2 P 0 P 0 C2 P

Como Cl e C2 são curvas quaisquer, decorre que a integral (3.10)


independe do trajeto de integração. A expressão:

87
P
ϕ( P )−ϕ( P 0)=−∫ E ⃗ ,
⃗⋅dl (3.11)
P0

define a diferença de potencial entre os pontos P e P0 que indicaremos


também por ϕ P ( P) . O ponto P0 pode ser fixado arbitrariamente;
0

ϕ(P ) resulta então univocamente definido por (3.11).


A diferença de potencial entre os dois pontos P e P0 se identifica
também com a tensão elétrica entre estes pontos, e poderá ser medida
com um voltímetro, desde que a introdução das suas pontas de prova não
modifique sensivelmente o campo. No caso dos campos de correntes
estacionárias, esta condição se realiza sem dificuldade, desde que a
resistência interna do voltímetro seja suficientemente alta; faremos então
ϕ P ( P )=V P −P0 .
0

No caso de campos com todas as fontes a distâncias finitas


identifica-se, habitualmente, P0 com o ponto impróprio (no infinito) e
convenciona-se fazer ϕ(P 0 )=0 ; nesse caso o potencial ϕ(P ) de
um ponto P do campo é igual numericamente ao trabalho realizado
contra as forças de campo, para trazer uma carga unitária de um ponto
muito afastado até o ponto P.
Aplicando, agora, a expressão (3.11) a 2 pontos P e P0 separados
por uma distância dt muito pequena, resulta:
ϕ(P )−ϕ( P 0)=d ϕ=−E ⃗ .
⃗⋅dl (3.12)
Mas:

dl=dx û x +dy û y + dz û z e ⃗
E =E x û x + E⃗ y û y + E⃗z û z
e portanto, de (3.12), resulta:
d ϕ=−(E x dx+ E y dy+ E z dz) .
Por outro lado, a derivada total de ϕ é
∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ
d ϕ= dx+ dy+ dz .
∂x ∂y ∂z
Comparando as duas expressões anteriores:
∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ
E x =− ; E y =− ; E z=− ,
∂x ∂y ∂z
ou

88

E=−
∂ϕ
∂x(û x +
∂ϕ
∂y
û y +
∂ϕ

∂z z ) .

Lembrando que, em coordenadas cartesianas o gradiente é dado


por:
∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ
∇ ϕ= û x + û y + û ,
∂x ∂y ∂z z
resulta que:

E =−∇ ϕ . (3.13)
O vetor ⃗ E estará orientado, portanto, em oposição ao vetor
gradiente.
Como se sabe de Aná1ise Vetoria1, a operação ∇×∇ é
identicamente nula, de modo que um vetor obtido pela aplicação do
gradiente à função ϕ(P ) satisfaz automaticamente a (3.2).
Esta função será definida a menos de uma constante aditiva, pois,
se ϕ0 for uma tal constante,
∇ [ ϕ( P)+ ϕ0 ]=∇ ϕ( P ) . (3.14)
Em outras palavras, existe uma infinidade de constantes que
podem ser adicionadas aos potenciais, se não adotarmos o potencial do
ponto de referência como sendo nulo, isto é:
ϕ( P 0 )=ϕ0 =0 .
Fixado um ponto P de um campo potencial, isto é, que pode ser
derivado de uma função potencial escalar, o lugar geométrico dos pontos
P' tais que ϕ(P ')−' ϕ ' (P )=0 é uma superfície equipotencial do
campo.
Verifica-se facilmente que as superfícies equipotenciais são
ortogonais às linhas da corrente num campo de correntes estacionárias (e
ortogonais às linhas do vetor deslocamento num campo eletrostático); de
fato, como ⃗
J tem a mesma direção de ⃗
E nos meios isotrópicos, as
linhas de corrente tem a direção das linhas de força de ⃗ E . Este vetor,
por sua vez, é ortogonal as superfícies equipotenciais, pois

∫ E⃗⋅dl=0
⃗ (3.15)
sobre uma superfície equipotencial. Portanto, as linhas de corrente
também são ortogonais às superfícies equipotenciais.

89
Estas superfícies podem ser determinadas experimentalmente num
campo de correntes com o auxilio de um voltímetro.
Vejamos, agora, como determinar graficamente o campo elétrico

E bem como ⃗
J , uma vez conhecidas as superfícies equipotenciais.
Suponhamos então traçadas duas superfícies equipotenciais vizinhas,
correspondentes aos potenciais ϕ e ϕ−Δ ϕ . Cortemos essas
superfícies por um plano que contenha a normal a elas; na Figura 3.3
representamos as interseções correspondentes. A menos de infinitésimos
de ordem superior teremos
⃗l ,
Δ ϕ=∇ ϕ⋅Δ
ou seja, de acordo com o indicado na figura, e sempre a menos de
infinitésimos de ordem superior,
Δ ϕ=∣∇ ϕ∣ Δ l cos α .

ϕ−Δ ϕ

⃗l
Δ
α

E Δn

Figura 3.3: Superfícies equipotenciais vizinhas e o campo elétrico


correspondente.

Por outro lado,


Δ l=Δ n/cos α
ou substituindo na expressão anterior,
Δ ϕ=∣∇ ϕ∣ Δ n ,
donde

∣ΔΔ ϕn ∣=∣∇ ϕ∣= E . (3.16)

Portanto, o módulo do vetor campo elétrico num ponto P do

90
campo se obtém dividindo a diferença de potencial entre as duas
superfícies equipotenciais vizinhas de P pela distância entre elas, medida
na direção da normal. É claro que a determinação será tanto mais precisa
quanto menor for Δ ϕ . A direção de ⃗ E será dada pela direção da
normal ao ponto considerado e seu sentido será concorde com o sentido
dos potenciais decrescentes. Conhecida ainda a condutividade do meio e
sua permissividade, os vetores ⃗ ⃗ obtém-se imediatamente
J e D
pelas relações constitutivas.
Ex. 3.1 - Uma função potencial é dada por:
10
ϕ(P )= 2 3
(V)
x + y +z
a) Qual a expressão da intensidade de campo elétrico?
b) Qual o valor do campo nos pontos (0,0,2) e (5,3,2)?
Solução:

a) ⃗
E =−∇ ϕ=−
[ −10 û x

20 y û y

30 z 2 û z
( x+ y 2+ z 3) 2 ( x + y 2 +z 3 )2 (x + y 2 + z 3 )2 ]
(V/m)

⃗ 10 û x 30 2 2 û z 5 15
b) Ponto (0,0,2): E= 3 2 + 3 2
= û x + û z
(2 ) (2 ) 32 8
Ponto (5,3,2):


E=
[ 10 u^ x
+
20×3 u^ y
+
(5+ 32 +2 3)2 (5+32 + 23)2 (5+32 +23) 2
30×22 u^ z
=
]
5 15 30
= u^ x + u^ y + u^
242 121 121 z
Ex. 3.2 - Um material condutor, de comprimento d e secção
transversal S, é colocado entre 2 placas paralelas,
perfeitamente condutoras ( σ=∞ ), conforme indica a
Figura 3.4. A condutividade do material é dada pela
expressão:
2d
σ( x)=σ0 .
x +d

91
V0
y=a

σ( x) ou σ( y )

y=0

x=0 x=d
Figura 3.4: Material condutor, de comprimento d e secção transversal S,
colocado entre 2 placas paralelas, perfeitamente condutoras.

O eixo x é normal às 2 placas.


a) Determinar ⃗
E e ⃗
J no material, quando uma tensão V0
(contínua) é aplicada entre as placas.
y+a
b) Repetir para σ( y)=σ0
2a
Solução:
a) Como a condutividade do material varia apenas com x, e
como a corrente total, da esquerda para a direita, deve ser a
mesma ao longo de todo o comprimento do material, vamos
supor que a densidade de corrente ⃗
J , seja constante e
igual a ⃗
J =J û x .
Assim, partindo-se de (3.11), temos
00

J ⃗
V 0 =ϕ(x=0)−ϕ( x=d )=−∫ E⋅dl=−∫
⃗ ⃗ ⋅dl=
d d σ (x)
0 d
J (x +d ) J
=−∫ dx = ∫ ( x+ d )dx=
d 2 d σ 0 2 d σ0 0

=
J
2 d σ0 2( +d =)
d 2 2 3 J d ⃗ 4 σ0 V 0
4 σ0
⇒J =
3d
u^ x

92

J 2V 0 ( x + d )

E= σ = û x .
3d2
É fácil verificar que essa solução satisfaz a (3.2) e (3.3) e
também a todas as condições de contorno nas interfaces do
material com ar ( σ=0 ) em y=0 e y=a, o que valida a

J =J û x .
nossa hipótese inicial de que
⃗ =ε E
Note também que, sendo D ⃗ , se supusermos ε
homogêneo, teremos

⃗ = 2 ε V 0 ( x+d )
⃗ =ε E
D ⃗ = 2 ε V20 =ρv ,
û x ⇒ ∇⋅D
2
3d 3d
ou seja, teremos uma densidade volumétrica de carga
elétrica associada a essa distribuição de corrente.
b) Como, agora, a condutividade do material varia com y, a
densidade de corrente deve variar, também com y, mas
ainda podemos tentar escrever ⃗
J =J ( y ) û x . Desta forma,
teremos:
0 0
⃗J ⃗
V 0 =ϕ(x=0)−ϕ( x=d )=−∫ ⃗ ⃗
E⋅dl=−∫ ⋅dl=
d d σ( y)
0 d
J ( y )2 a 2 a J ( y)
=−∫ dx= ∫ dx=
d σ 0 ( y +a) σ 0 ( y+ a) 0
2a J ( y) 2a d J ( y) σ ( y + a)V 0
= d= d⇒⃗ J= 0 u^ x
σ0 ( y+ a) σ0 ( y +a) 2a d
e

J V

E = σ = 0 û x ,
d
que, de novo, satisfaz a (3.2) e (3.3) e também a todas as
condições de contorno nas interfaces do material com ar
( σ=0 ) em y=0 e y=a.
A função potencial é um poderoso instrumento para o estudo dos
campos; de uma maneira geral é preferível determinar-se diretamente
esta função a partir das fontes do campo e de condições de contorno

93
adequadas e, em seguida, calcular o campo. A fim de exemp1ificar as
considerações anteriores vamos, porém, fazer aqui o caminho inverso,
calculando a função potencial a partir do conhecimento do vetor ⃗E , já
calculado para o campo esférico. Vamos então determinar a diferença de
potenciais entre os pontos P0 e P (Figura 3.5), de um campo de correntes
criado por uma fonte esférica.

P
a r

0< σ<∞ σ=∞


C

r0 P0

E,⃗
J

Figura 3.5: Diferença de potencial entre 2 pontos P e P0, de uma


distribuição de corrente com simetria esférica.
Temos,
P
ϕ( P )−ϕ( P 0)=−∫ E ⃗ .
⃗⋅dl
P0

Como a trajetória de integração é arbitrária, vamos escolhê-la de


maneira conveniente, i.e., de P0 a C e de C a P. Como a segunda parcela
será nula, pois o vetor ⃗
E é normal ao trecho P-C da trajetória,
r
ϕ(P )−ϕ( P 0)=−∫ E ⃗ .
⃗⋅dr
r0

Tendo em vista (3.5),


r
ϕ(P )−ϕ( P 0)=−
I
∫ 1
4πσ r r0
2
dr =
I 1 1

4πσ r r0 ( ) , (3.17)

e as superfícies equipotenciais são esferas concêntricas.

94
Como este campo não tem fontes no infinito, podemos adotar
ϕ( P 0 →∞)=0 ; fazendo, na expressão anterior r 0→∞ , temos, em
consequência,
I
ϕ( P )= . (3.18)
4 πσr
Em particular, o potencial da superfície esférica será
I
ϕ( a)= . (3.19)
4πσ a
Podemos definir, agora, uma resistência de campo correspondente
à resistência entre a esfera e o meio condutor indefinido.

ϕ(a) 1
R= = (Ω). (3.20)
I 4πσ a
Podemos, também, calcular a carga total acumulada na superfície
⃗ =ε E
dessa esfera. Sendo D ⃗ , a partir de (3.5) temos

⃗= εI
D û r . (3.21)
σ 4 π r2
Integrando-se essa densidade de fluxo elétrico sobre uma superfície
esférica envolvendo a esfera de raio a, temos então a carga elétrica:

Q=∯ D ⃗ εI .
⃗ ⋅dS= (3.22)
σ
Σ
Podemos definir, também, uma capacitância entre a esfera e o
meio ao seu redor como
Q
C= =4 π ε a . (3.23)
ϕ(a)
Como exemplo numérico, calculemos a resistência e a
capacitância de uma esfera de raio a = 1 m, enterrada profundamente
(constituindo o “aterramento” de um circuito). Supondo a terra
homogênea com condutividade 0,01 S/m e εr =3 , resulta:
1
R= ≈ 8 Ω; C=4 π×3×8.854×10−12 ≈334 pF.
4 π 0,01

95
Note que esse problema com simetria esférica também poderia ser
resolvido supondo-se, inicialmente, dada a carga da esfera e a partir dela,
de forma análoga às expressões (3.4) e (3.5) obter-se-ia:

⃗ = Q û r ⇒ E
D ⃗ = Q û r ⇒ ϕ(P )= Q (3.24)
4πr 2
4 π ε r2 4πεr

3.4 Analogia entre campo eletrostático e de


correntes estacionarias
O levantamento experimental dos campos eletrostáticos (por ex.,
o traçado das suas equipotenciais) não pode ser realizado
experimentalmente, com facilidade. Daí o interesse de substituir o seu
estudo pelo exame de campos de natureza mais acessível
experimentalmente e obedecendo a leis análogas. Os campos de corrente
satisfazem a esta condição e podem ser facilmente levantados
experimentalmente em cubas eletrolíticas bi ou tridimensionais se
desejados, apesar de que, com os métodos numéricos hoje disponíveis,
esse tipo de levantamento experimental já não é tão empregado.
A analogia entre os dois campos decorre da semelhança das
respectivas equações básicas, nos pontos regulares do campo como
indicado na Tabela 3.1.
Além disso, em ambos os casos os vetores dos campos são
ortogonais às superfícies dos eletrodos (supostos de condutividade
elevadíssima). Assim sendo, um campo de corrente e um campo
eletrostático, criados por configurações de eletrodos geometricamente
idênticas e sujeitos aos mesmos potenciais, serão descritos pela mesma
função potencial. Se levantarmos o mapa de campo de correntes, da
maneira já indicada, este mapa servirá também para o campo
eletrostático.
No caso do campo de correntes, a resistência entre dois eletrodos é
dada pela relação entre a diferença de potenciais entre ambos e a corrente
que passa de um a outro, i.e.,
V V V
R= = = ,
I ∬ ⃗J⋅dS
⃗ σ∬ ⃗ ⃗
E⋅dS (3.25)
S S
onde S é a secção transversal do tubo de força que conduz a corrente I.

96
Campo de correntes Campo eletrostático

E ⃗
E
⃗ =0
∇× E ⃗ =0
∇× E

E =−∇ ϕ ⃗
E =−∇ ϕ

J ⃗
D
∇⋅⃗
J =0 ⃗ =0 ( ρv =0 )
∇⋅D
∇ 2 ϕ=0 ∇ 2 ϕ=0 ( ρv =0 )
⃗ ⃗
J =σ E ⃗ =ε E
D ⃗
σ ε

G=1/R C=1/S

Tabela 3.1: Analogias entre campos de correntes


estacionária e campos eletrostáticos.

Por outro lado, no campo eletrostático análogo, a capacitância


entre dois eletrodos é dada pela relação entre o fluxo do vetor
deslocamento comum aos dois eletrodos e a tensão entre eles:

∬ D⃗ ⋅dS
⃗ ∬εE
⃗⋅dS

S S (3.26)
C= = .
V V
Como os dois campos são análogos, a superfície de integração que
aparece nas equações (3.25) e (3.26), são idênticas, bem como os vetores

E . Destas equações segue-se, por multiplicação,
R C= σ ε (3.27)
No campo de correntes R mede-se facilmente; a capacitância, no
campo eletrostático correspondente se calcula facilmente por (3.27).
Num capacitor real coexistem um campo eletrostático e um campo
de correntes, devido às correntes de fuga através do dielétrico. Portanto,
de (3.27), segue-se imediatamente que a resistência de isolação de um
capacitor é inversamente proporcional à sua capacitância.

97
A analogia acima indicada nos permite transpor imediatamente,
para o caso eletrostático, todos os tipos de campos estudados como
campos de correntes. Porém, é importante ressaltar que essa analogia
perfeita só existe em meios homogêneos, ou seja, quando toda a região
entre os eletrodos é preenchida com um único material homogêneo.
Assim, a relação (3.27) vale entre os condutores (hachurados) da
Figura 3.6(a), mas não vale para os da Figura 3.6(b). Neste último caso a
relação (3.27) pode ser válida apenas de forma aproximada, se a
distância entre os eletrodos for suficientemente pequena comparada com
as outra dimensões.

σ=0,
σ, ε
ε=ε0

σ, ε

(a) (b)
Figura 3.6: Material condutor completamente envolvido pelos eletrodos
(a) e parcialmente envolvidos pelos eletrodos (b).

3.5 Estudo de alguns campos a partir de


simetrias
Vamos examinar aqui alguns exemplos de campos simples, mas
úteis na prática. O tratamento geral dos problemas de campo será feito
mais tarde, no próximo capítulo. Nestes exemplos faremos a integração
dos campos a partir de cargas ou de correntes dadas e utilizaremos as
condições de simetria. As soluções obtida a partir de cargas ou de
correntes são idênticas e a escolha de uma ou de outra depende apenas do
problema em questão. Para problemas de correntes estacionárias, em
geral, utiliza-se as correntes, mas sempre teremos cargas presentes
também. Já para problemas de eletrostática, em materiais isolantes
portanto, não há correntes e, portanto, a solução deve ser feita a partir de
cargas dadas.

98
Note, também, que mesmo os problemas com simetria, em que a
carga/corrente não é conhecida mas são conhecidas as diferenças de
potencial, podem ser resolvidos supondo-se conhecida a carga/corrente e
determinando-se os potenciais em função desta para, ao final, impor-se
as condições dos potenciais conhecidos e determinar-se o valor da
carga/corrente.

3.5.1 Campo entre duas esferas concêntricas


Sejam duas esferas concêntricas de raios a e b delimitando um
meio de condutividade σ (Figura 3.7), entre as quais se estabelece
uma tensão V0 por meio de um gerador de tensão contínua.
Evidentemente, o campo de correntes entre as duas esferas terá, ainda,
simetria radial. Sendo ϕa e ϕb os potenciais das duas esferas,

V 0 =ϕa−ϕb=
I 1 1

4 πσ a b ( ) , (3.28)

tendo em vista ( 3.17).


A resistência do campo entre os dois eletrodos será

( )
V0 1 1 1 1 b−a
R= = − = (Ω), (3.29)
I 4πσ a b 4 πσ a b
e a capacitância entre elas:
Q 4πε ab
C= = =4 πε (F).
V0 1 1 b−a (3.30)

a b

a
b

φa=V0

φb=0
σ

Figura 3.7: Campo entre duas esferas condutoras concêntricas.

99
O potencial de um ponto à distância r do centro das esferas,
tomando-se como nulo o potencial da esfera externa, pode, então, ser
escrito como

ϕ(r )=
I 1 1
–(
4πσ r b ) . (3.31)

E, se substituirmos I =V 0 / R=4 π σ V 0 /(1 /a−1 /b) podemos,


também, escrever

1 1 r b)
(
V0 1 1
ϕ(r )= – .
(a−b ) (3.32)

3.5.2 Campo de fontes puntiformes


Uma fonte puntiforme de corrente pode ser realizada por uma
pequena esfera condutora, alimentada por um fio finíssimo e isolado do
meio circundante; tais fontes podem ser positivas ou negativas, conforme
forneçam ou retirem corrente do meio. No caso de uma fonte puntiforme
de carga, imersa num meio dielétrico isolante, ela também pode ser
realizada por uma pequena esfera condutora carregada com uma carga
elétrica (positiva ou negativa).
O campo criado por uma fonte puntiforme é ainda de simetria
esférica, uma vez que este campo pode ser considerado como o limite
daquele criado por uma esfera, cujo raio tende a zero. O ponto em que
está a fonte é um ponto singular do campo; não podemos falar em seu
potencial, pois a aplicação de (3.19) ou (3.24) mostra que este tende a
infinito, quando o raio da esfera tende a zero.
Como as superfícies equipotenciais são esféricas, podemos, no
entanto, calcular a diferença de potencial entre um ponto qualquer do
campo situado à distância r da fonte, e outro ponto infinitamente
afastado. Utilizando-se, agora, fontes de carga elétrica, ao invés de fontes
de corrente, e fazendo, por convenção, igual a zero o potencial deste
último ponto, (3.17) fornece, mediante a passagem ao limite (para
r 0→∞ )
Q
ϕ( r )= . (3.33)
4πεr

100
Consideremos, agora, duas fontes puntiformes de sinais opostos,
distanciadas de d metros. Indicando por ϕ1 e ϕ2 os potenciais
criados num ponto P por cada uma das fontes, na ausência da outra,
teríamos
P P
ϕ1 (P )=−∫ E⃗ 1⋅dl
⃗ ; ϕ2 ( P)=−∫ E⃗2⋅dl
⃗ .
∞ ∞

P
r1 r2

O O'
+Q –Q

d
Figura 3.8: Fontes puntiformes de corrente, com polaridades opostas.

Coexistindo, agora, duas fontes, o campo passa a ser E⃗1 + E⃗2 ,


de modo que o potencial do ponto P é agora:
P
ϕ(P )=−∫ ( E⃗1 + E⃗2 )⋅dl=ϕ
⃗ 1 (P)+ϕ 2 (P) ,
(3.34)

i.e., o potencial de um ponto do campo criado por duas fontes
puntiformes é igual à soma dos potenciais devidos a cada uma das fontes
supostas únicas. Evidentemente este resultado se pode generalizar para n
fontes puntiformes.
Nestas condições, tendo em vista (3.34) e (3.33) o potencial em P,
criado pelas fontes em O e O ' (Figura 3.8) será:

ϕ(P )=
Q
+
−Q
=
Q 1 1
(

4 πε r 1 4 π ε r 2 4 π ε r 1 r 2 ) . (3.35)

As superfícies equipotenciais serão dadas, em coordenadas


bipolares, pela equação
1 1
– =constante . (3.36)
rl r 2
As equipotenciais tem o aspecto indicado na Figura 3.9 (a); na

101
mesma figura (b) indicamos a variação do potencial sobre a reta O-O '.
Para r 1=r 2 (plano normal bissetor de O-O'), temos ϕ=0 . Note-se
que o potencial deste plano é o mesmo que o dos pontos a uma distância
infinita, como se poderia esperar.

(a)

O O'

(b)

Figura 3.9: Função potencial de fontes puntiformes. (a) curvas de nível,


(b) variação ao longo da reta que une as 2 fontes.

3.5.3 Campo entre dois condutores cilíndricos


concêntricos
Consideremos um sistema constituído por dois condutores
cilíndricos coaxiais, de raios a, e b (por exemplo, um cabo coaxial,
extensamente empregado em comunicações), como indicado na Figura
3.10. Vamos admitir que o comprimento l dos cilindros seja muito maior

102
que b, de forma que possamos admitir que a solução obtida, pelo menos
na região central, longe das extremidades, não varie com z, ou seja, é
como se os cilindros fossem infinitos.

Figura 3.10: Condutores cilíndricos coaxiais, com uma tensão V0


aplicada entre eles, delimitando um meio de condutividade σ. A corrente
flui radialmente entre as superfícies cilíndricas.
Pela simetria do problema, verifica-se que as linhas de corrente
entre os dois condutores devem ser radiais; em consequência, as
superfícies equipotenciais, ortogonais às linhas de corrente, serão
superfícies cilíndricas coaxiais.
Se, ao longo de um comprimento l do tubo, se escoa uma corrente
de fuga I, sendo σ a condutividade do meio, e como ⃗
J não varia
nem com φ nem com z, teremos;

⃗ I ⃗= I
J= û ⇒ E û . (3.37)
2 π ρl ρ 2 π σ ρl ρ
A diferença de potencial entre o cilindro de raio b e um ponto P, a
uma distância ρ do eixo de simetria, é dada por
P
I b
ϕ(ρ)−ϕ(b)=−∫ E d ρ= ln ρ , (3.38)
b 2 πσl
e a diferença de potencial entre os dois condutores é

103
I b
V 0 =ϕ(a)−ϕ(b)= ln . (3.39)
2πσl a
A resistência entre os dois condutores, correspondente à resistência
de isolamento do cabo, é
V0 1 b
R= = ln . (3.40)
I 2πσl a
O vetor deslocamento entre os cilindros pode, também, ser
calculado por

⃗ =ε E
⃗= εI
D û , (3.41)
2 π σ ρl ρ
e o seu fluxo, através de uma superfície cilíndrica de comprimento total l,
será:

∬ ⃗ =2 π ρ l D= ε I =Q .
⃗ ⋅dS
D (3.42)
σ
sup. cil.
Note que esta carga será apenas um valor aproximado para a carga
total do cilindro interno, dado que a carga total seria o fluxo numa
superfície fechada envolvendo o cilindro interno, ou seja, faltaria ainda a
integração através das “tampas” do cilindro de raio ρ , que, para
cilindros de comprimento l≫b , pode ser desprezada.
Podemos, também, escrever (3.38) em função da tensão aplicada,
substituindo-se I =V 0 / R :
V0 b
ϕ(ρ)−ϕ(b)= ln ρ .
( )
ln
b
a
(3.43)

104
Exercícios do Capítulo 3
1. Três fontes puntiformes de corrente estão imersas em um
meio de condutividade σ=10 S/m, e situam-se nos
vértices de um triangulo equilátero de lados iguais a 1 m
(Figura 3.11). Determine:

P1

+0,5 A

P2
m
2,0

–1A
+0,5 A

1m

Figura 3.11 Três fontes puntiformes de corrente situadas nos


vértices de um triangulo equilátero de lados iguais a 1 m.
a) a d.d.p. entre P2 e P1;
b) O campo E em P2.
R.: ϕ2 −ϕ1=5,6 mV; E=1 / (30 π) V/m
2. Dois eletrodos esféricos concêntricos, de raios a e c, são
alimentados por um gerador de corrente contínua I0. O
espaço entre os eletrodos é preenchido, até o raio b, por
um material de condutividade σ1 e permissividade
ε1 , e, de b até c, por outro material de condutividade
σ 2 e permissividade ε2 (Figura 3.12). Determine:

105
σ2,ε2

σ1,ε1

a b ρs

I0 c

Figura 3.12
a) a resistência Rac;
b) a função potencial ϕ(r ) entre a e b e entre b e c;
c) a densidade ρs de cargas reais em r=b.
10−5
Dados: a=1 m, b=2 m, c=4 m, σ1 = S/m,

3×10−5
σ2 = S/m, ε1=2 ε0 , ε2=6 ε0 , I0 =1 A.

17,5×104
R.: a) Rac = Ω; b)
3
ϕ( r )−ϕ( b)=105 (1/r −1/b) ;
5
10
ϕ( r )−ϕ( c)= ( 1/r −1/c) ; c) ρs=0 .
3

3. Dois cilindros condutores coaxiais de raios a = 1 cm e


c =5,44 cm, de comprimento l metros, tem seu interior
preenchido, de a até b=2,72 cm, por um material de
condutividade σ1 e, de b ate c, por outro material de
condutividade σ 2 . O conjunto é alimentado pela
corrente I0=1 A, em regime estacionário (Figura 3.13). Em

106
ρ=b , no meio 1, tem-se E 1=105 /2,72 V/m, e no
5
mesmo ponto no meio 2, tem-se E 2=3×10 /2,72 V/m.
Determine:

σ2

σ1

a b

I0 V c

Figura 3.13
a) σ1 e σ 2 ;
b) a d.d.p., V, entre eletrodos.
10−5 10−5
R.: a) σ1 = S/m; σ 2= S/m; b) V= 308 kV.
2πl 6πl

4. A Figura 3.14 representa um bloco constituído pelos


−10
materiais (1): σ1 =1,5×10 S/m, ε1=6 ε0 e (2):
−10
σ 2=10 S/m, ε2=2ε0 atravessado por uma corrente
de 1 µA. As faces conectadas ao gerador são recobertas
por um material que pode ser suposto condutor perfeito.

107
10 cm
1 cm

1 cm
1 2
ρs

1 μA

Figura 3.14
A potencia dissipada na região (1) vale 2 W. Admita que a
densidade de corrente se distribui uniformemente na
seção transversal do bloco. Determine:
a) a densidade superficial de carga, ρs , na interface 1-2
b) a potencia dissipada no meio (2)
8
R.: a) ρs=2×10 ε0 C/m2 ; b) P2 = 7 W.
5. Um sistema de 2 condutores cilíndricos coaxiais, de raios
a = 1 cm, e c = 7,3984 cm, tem seu interior preenchido, de
a ate b=2,72 cm por um material de condutividade
σ1 =10−4 /( 2 π) S/m e, de b até c por outro material de
σ 2=10−4 /(π) S/m. Entre os cilindros condutores aplica-
se a d.d.p. contínua V0=15.000 V (Figura 3.15).
Determine:
a) a resistência R por metro, entre condutores.
b) os valores de ⃗
J e ⃗
E , entre a, e b, e entre b e c
c) o valor que deveria ter σ 2 para que os campos
elétricos máximos, no meio 1 e no meio 2 fossem iguais.
4
10
R.: a) 15 kΩ/m; b) J⃗1= J⃗2=(1/2 π ρ) û ρ ; E⃗1= ρ û ρ ;
4
10
E⃗2= û ρ c) σ 2=5,9×10−6 S/m.

108
σ2

σ1

a b

c
V0

Figura 3.15
2 2 2
6. Determinar a derivada de U =x + 4 y +16 z , na
direção do vetor ⃗
A= û x + 2 û y + 2 û z , no ponto (2,2,1). Em
que direção essa derivada seria máxima? (Fano et al. [5]).
7. Seja o vetor ⃗
2 2
A=( x − y ) û x −2 x y û y .
a) Pode ⃗
A representar o gradiente de uma função
escalar?
b) Qual o valor da circuitação de ⃗
A sobre o contorno de
um quadrado de vértices (0,0); (0,1); (1,1) e (1,0)? Faça
a verificação pelo teorema de Stokes. (Fano et al. [5]).
x
8. Dada a função potencial ϕ( x , y)=e sen y , determinar o
campo elétrico e calcular a tensão entre (1, 1, 0) e (1, 2, 0),
a) por integral de linha;
b) tomando a diferença do potencial (Harrington [3]).
9. Determinar a resistência entre superfícies esféricas
concêntricas, quando um material de condutividade σ
preenche o espaço entre elas.
a) Que acontece à resistência no limite, quando o raio
interno tende a zero e o sólido se transforma numa
esfera maciça?

109
b) Para um dado raio interno, que acontece à resistência
no limite quando o raio externo tende a infinito?
Interpretar estes resultados extremos fisicamente.

110
4 Determinação da função potencial
4.1 Relações Gerais
Como vimos no capítulo anterior, tanto para campos eletrostáticos
como para campos de correntes estacionárias, o campo elétrico é
irrotacional, ou seja,
⃗ =0 ,
∇× E (4.1)
e, portanto, pode ser derivado de uma função potencial escalar,
aplicando-se o operador gradiente:

E =−∇ ϕ . (4.2)
Tomando a divergência desta equação, obtemos
⃗ =−∇⋅∇ ϕ .
∇⋅E
Mas, como se sabe, a divergência do gradiente de uma função
2
escalar é dada pelo seu laplaciano, ∇ ϕ . Por outro lado, nos meios
lineares e homogêneos, temos

∇⋅E

⃗ =∇⋅ D ( )
1 ρ
⃗ = εv .
ε = ε ∇⋅D
Em consequência,
ρ
∇ 2 ϕ=− εv , (4.3)
que é denominada equação de Poisson.
Nas regiões em que a densidade volumétrica de cargas for nula a
equação de Poisson se reduz à equação de Lap1ace:
∇ 2 ϕ=0 . (4.4)
Esta última é, portanto, aplicável para qualquer região condutora
homogênea em regime estacionário, já que,
∇⋅⃗ ⃗)
J =0⇒ ∇⋅(σ E ⇒ ∇⋅⃗
E =0 .
σ homogêneo

As equações de Poisson e Laplace têm importância fundamental


na teoria dos campos, mas, antes de prosseguir, vejamos qual o
significado físico do laplaciano. Relembremos ainda que esse operador
se exprime no sistema de coordenadas cartesianos, por:

111
∂ 2 ϕ ∂2 ϕ ∂ 2 ϕ
∇ 2 ϕ= + + , (4.5)
∂ x 2 ∂ y2 ∂ z2
e nos sistemas cilíndrico e esférico, respectivamente, pelas expressões:
∂ϕ 1 ∂2 ϕ ∂ 2 ϕ
1
∇ 2 ϕ= ρ ∂ ρ + ( +
∂ρ ∂ρ ρ2 ∂ φ 2 ∂ z 2 ) (4.6)

∇ 2 ϕ= 2
r ∂r
r (
1 ∂ 2 ∂ϕ
+ 2
1
)
∂ r r sen θ ∂θ
∂ sen θ ∂ ϕ +
∂θ
.
( )
(4.7)
2
1 ∂ ϕ
+ 2 2 2
r sen θ ∂φ

Para examinar o significado físico do laplaciano, consideremos um


campo potencial e seja ϕ0 o valor do potencial no ponto O do campo,
ponto esse que tomaremos como origem de um sistema de coordenadas
cartesianas. Vamos construir um cubo elementar de aresta a, cujo centro
é o ponto O. O valor médio de ϕ no interior do cubo será dado por
a/ 2 a/2 a /2
1
ϕ= 3 ∫ ∫ ∫ ϕ dx dy dz . (4.8)
a −a / 2 −a/ 2 −a / 2
Mas o potencial de um ponto (x , y , z ) qualquer do campo
pode ser obtido a partir de ϕ0 aplicando-se a fórmula de Taylor:

ϕ( x , y , z)=ϕ0 +
∂ϕ
∂x O |
x+
∂ϕ
∂y | y + ∂∂ ϕz | z +
O O

[ | | | ]
2 2 2
1 ∂ ϕ 2 ∂ ϕ ∂ ϕ 2
+ x + 2 y2 + z + (4.9)
2 ∂ x2 O ∂y O ∂ z2 O

+ [ |∂2 ϕ
∂x∂ y O
x y+
∂2 ϕ
∂ x∂ z O
x z+
∂2 ϕ
|
∂z∂y O
z y +... | ]
onde todas as derivadas são avaliadas no ponto (0,0,0).
Substituindo (4.9) na equação (4.8) e efetuando a integração
indicada, as funções de grau ímpar se anulam e resta

112
[ ( ) ]
5 2 2 2
1 3 a ∂ ϕ ∂ ϕ ∂ ϕ
ϕ= 3
ϕ 0 a + + + +... , (4.10)
a 24 ∂ x 2 ∂ y 2 ∂ z 2 O

portanto
a2
ϕ−ϕ0= ( ∇ 2 ϕ )O , (4.11)
24
a menos de termos de quarta ordem. Assim, o laplaciano de uma função
potencial escalar é uma medida da diferença entre o potencial num ponto
do campo e o seu valor médio numa vizinhança infinitesimal desse
ponto.
Segue-se, portanto, que o valor médio do potencial nas
vizinhanças de um ponto de um campo eletrostático ou de correntes
estacionárias, sem cargas elétricas, é igual ao seu valor nesse ponto, ou
seja, nas regiões regulares do campo, sem cargas elétricas, o potencial
não passa por máximos nem por mínimos.
A resolução dos problemas do campo eletrostático se reduz
geralmente, à integração das equações de Poisson ou Laplace.
complementadas por um conjunto de condições de contorno adequadas.
O Teorema da Unicidade, a ser enunciando na próxima seção, garante a
existência e unicidade da solução quando essas condições são satisfeitas,
de modo que poderemos empregar sempre o método mais simples para
chegar a uma solução compatível com as condições de contorno do
problema em apreço.
Apenas por uma questão de completude, apresentamos, a seguir, a
equação diferencial que a função potencial deve satisfazer no caso de
meios não homogêneos. Para campos de correntes estacionárias, a partir
de ∇⋅⃗
J =0 obtemos
⃗ )=0 ⇒ σ ∇⋅E
∇⋅(σ E ⃗ + E⋅∇
⃗ σ=0 ⇒
, (4.12)
⇒−σ ∇ 2 ϕ−∇ ϕ⋅∇ σ=0
e finalmente,

∇ 2 ϕ=− ∇σσ⋅∇ ϕ . (4.13)


Já para campos eletrostáticos,

113

∇⋅D=ρ ⃗ ⃗ ⃗
v ⇒ ∇⋅(ε E)=ρv ⇒ε ∇⋅E + E⋅∇ ε=ρv ⇒
, (4.14)
⇒−ε ∇ 2 ϕ−∇ ϕ⋅∇ ε=ρv
e assim
ρ
∇ 2 ϕ=− εv − ∇ε ε⋅∇ ϕ . (4.15)

4.2 Solução das equações de Laplace e


Poisson em casos simples

4.2.1 Campo unidimensional


Consideremos o campo criado, num meio homogêneo e
indefinido, por uma densidade uniforme de carga superficial ρs ,
distribuída sobre um plano também indefinido (Figura 4.1).

ρs

x
x=0
Figura 4.1: Campo produzido por uma densidade superficial
de carga uniforme sobre um plano infinito.
A função potencial neste caso será função exclusivamente da
distância ao plano carregado.
Fazendo coincidir com este o plano coordenado yz de um sistema
de coordenadas retangulares, a equação de Laplace se reduz a
d 2ϕ
∇ 2 ϕ=0⇒ =0 (4.16)
d x2
para todo x≠0 , positivo ou negativo.
Uma dupla integração fornece imediatamente
ϕ( x)=k 1 x + k 2 , (4.17)
onde kl e k2 são duas constantes, nos dois semiespaços: x > 0 e x <0.
Notemos, em primeiro lugar, que a mudança de x por –x não deve
alterar o potencial, que depende exclusivamente da distância ao plano.
Portanto, sendo ϕ( x)=k 1 x + k 2 , x>0 e ϕ( x)=k ' 1 x +k ' 2 , x<0
k 1 x+ k 2=k ' 1 (−x )+k ' 2 ,

114
para qualquer x. Em consequência, devemos ter
k 1=−k ' 1 e k 2 =k ' 2 .
O potencial será então dado por:
ϕ( x)=k 1∣x∣+k 2
O campo elétrico se obtém, tomando o gradiente da expressão
acima:


E =−∇ ϕ=
{
−k 1 û x x >0
k 1 û x x <0
.

Em cada semiespaço, o campo elétrico é uniforme. O vetor


deslocamento será

D
{
⃗ = −ε k 1 û x
ε k 1 û x
x >0
x <0
.

A constante kl se determina aplicando a condição de contorno para


o vetor deslocamento, nas duas faces da superfície carregada:
+ −
D x (0 )−D x (0 )=ρ s ,
ou, tendo em vista as equações anteriores:
−2ε k 1=ρ s ⇒ k 1=−ρ s /2 ε .
Em consequência, o campo elétrico é dado por

{
ρs
û x >0
⃗ 2ε x
E = −ρ , (4.18)
s
û x <0
2ε x
e o potencial fica
ρs
ϕ( x)=− ∣x∣ , (4.19)

tomando ainda k2 = 0, arbitrariamente.
A função potencial é continua em todo o campo; o campo elétrico,
ao contrário, sofre uma descontinuidade ao atravessar a superfície
carregada.
Os resultados anteriores podem ser utilizados para tratar o
problema do capacitor plano. Tomando o eixo dos x normal às placas,
espaçadas de d metros (Figura 4.2), a função potencial seria ainda dada
por (4.17). Suponhamos que se conhece, agora, a diferença de potencial

115
V0 entre as duas placas, assim sendo,
V0
V 0 =ϕ(d )−ϕ(0)=k 1 d ⇒ k 1= .
d

φ=0 φ=V0

ρv=0

x
x=0 x=d
Figura 4.2: Função potencial em problema com simetria plana.

Adotando ainda ϕ(0)=0 sobre a placa situada em x=0 ,


ϕ(0)=k 2=0 .
Portanto, a função potencial entre as placas é
V0
ϕ( x)= x . (4.20)
d
O campo elétrico é também uniforme:
V0

E =−∇ ϕ=− û (4.21)
d x
A densidade de cargas sobre a placa situada em x=0 será
εV 0 εV
ρs ( x=0)=D x (x =0+ )−D x (x =0- )=− −0=− 0
d d
pois o campo no interior da placa e nulo. E, da mesma forma,

ρs ( x=d )=D x (x=d + )−D x ( x=d - )=0− − ( d


=
d )
εV0 εV 0
.

A capacitância de um capacitor se define pela relação entre o fluxo


do vetor deslocamento comum às duas armaduras e a tensão entre elas,

116
∬ D⃗ ⋅dS

C= S (4.22)
V0
Sendo S a área das placas e desprezando o efeito de borda,
verifica-se facilmente que
εS
C= , (4.23)
d
Expressão que vale apenas aproximadamente, quando a distância entre as
placas for muito menor que as outras dimensões.
Por analogia, se o meio entre os condutores tiver uma
condutividade σ , a resistência entre eles será
d
R= . (4.24)
σS

Suponhamos, agora, que, entre as armaduras do exemplo anterior,


exista uma distribuição uniforme de cargas no volume do dielétrico
( ρv =cte. ). Neste caso, a equação de Poisson deve ser aplicada:
ρ d2 ϕ ρ
∇ 2 ϕ=− εv ⇒ 2
=− εv .
dx
Integrando duas vezes:
ρ x2
ϕ( x)=− ε +k 1 x+ k 2
2
As constantes de integração são determinadas de maneira análoga
ao caso anterior, resultando:

ϕ( x)=−
ρ v x 2 V 0 ρv d
ε 2
+ +
d 2ε (x .)
Portanto temos que


E =−∇ ϕ= ( ρε x − Vd − ρ2εd ) û ; D⃗ =ε ⃗E =(ρ x− ε Vd − ρ2d ) û
v 0 v
x v
0 v
x

,
e
⃗ =ρv ,
∇⋅D
como esperado.

117
4.2.2 Campo cilíndrico
Consideremos, agora, um campo eletrostático tal que, em
coordenadas cilíndricas, a função potencial dependa apenas da distância
ρ a um eixo dado. A equação de Laplace reduz-se então a

∇ 2 ϕ=
1 d
ρ( )

ρ dρ dρ
=0 , (4.25)

∂ϕ ∂ϕ
∂ φ = ∂ z =0
(fazendo em (4.6)).

A integração de (4.25) fornece imediatamente


ϕ(ρ)=k 1 lnρ+k 2 (4.26)
Apliquemos este resultado ao campo entre dois condutores
coaxiais indefinidos de raios a e b (Figura 4.3), entre os quais há uma
diferença de potencial, V0.

σ,ε
b

z a

V0

l →∞
Figura 4.3: Dois condutores coaxiais indefinidos de raios a e b, entre os
quais há uma diferença de potencial.
Tendo em conta (4.26),
V0 −V 0
V 0 =ϕ(a)−ϕ(b)=k 1 ln a−k 1 ln b ⇒ k 1= = .
ln (a /b) ln (b /a)
Adotando-se potencial nulo no condutor externo,
−V 0 V0
ϕ( b)=0 ⇒ ln (b)+k 2=0⇒ k 2= ln( b) ,
ln( b/ a) ln (b /a)
resulta,

118
V0
ϕ(ρ)= ln (b /ρ) . (4.27)
ln (b / a)
O campo elétrico se obtém da expressão acima, tomando o
gradiente com sinal trocado. Operando sempre em coordenadas
cilíndricas,
V0 1

E= û . (4.28)
ln(b/ a) ρ ρ
O fluxo do vetor deslocamento através de uma superfície cilíndrica
coaxial com os eletrodos, de comprimento l e raio ρ pode ser
calculado como
2 πε l V
∬ D⃗ ⋅dS=
⃗ 0
ln (b /a)
.
S
Portanto, a capacitância associada com l metros dos condutores
resulta
2 π εl
C= . (4.29)
ln(b/ a)
Por analogia, se o meio entre os condutores tiver uma
condutividade σ , a resistência entre eles será
ln (b / a)
R= . (4.30)
2πσl

4.2.3 Campo esférico


Se a geometria do campo for tal que o potencial só dependa do
raio vetor r, convém trabalhar em coordenadas esféricas; tendo em vista
a expressão (4.7), a equação de Laplace reduz-se a

∇ 2 ϕ=
1 d 2dϕ
r2 d r
r (
dr
=0 . ) (4.31)

Integrando esta equação obtemos, imediatamente


k1
ϕ(r )=− +k 2 . (4.32)
r
A partir desta expressão, podemos determinar a capacitância de
um capacitor esférico, de maneira análoga aos casos anteriores; sendo a e
b os raios das esferas interna e externa, obtém-se, para uma diferença de

119
potencial V0 entre as esferas e adotando-se potencial nulo na esfera
externa:
k 1 k1 −V 0
V 0 =ϕ(a)−ϕ(b)= − ⇒ k 1= ,
b a 1 /a−1 /b
V0 1 −V 0 1
ϕ( b)=0 ⇒ +k 2=0⇒ k 2 = ,
1/a−1/b b 1/ a−1/ b b

( )
V0 1 1
ϕ( r )= − ,
(
1 1 r b

a b ) (4.33)

V0 1

E= û r ,
( 1a − 1b ) r2 (4.34)


Σ
⃗ ⋅dS
D ⃗
4πε ab
C= = =4 π ε , (4.35)
V0
( 1 1

a b )b−a

e
1 b−a
R= . (4.36)
4πσ a b

4.3 Teorema da Unicidade


Dada uma região τ onde se deseja determinar a função potencial
(ou o campo elétrico) e que tem como fronteira a superfície Σ, a função
potencial nessa região deve satisfazer à equação
2 ∇σ (4.37)
∇ ϕ=− σ ⋅∇ ϕ ,
para campo de correntes estacionárias, ou à equação
ρ
∇ 2 ϕ=− εv − ∇ε ε⋅∇ φ , (4.38)
para campos eletrostáticos (σ=0), que se simplificam, no caso de meios
homogêneos, para a forma
∇ 2 =0 , (4.39)
para campo de correntes estacionárias, ou

120
ρ
∇ 2 φ=− εv , (4.40)
para campos eletrostáticos (σ=0).
Essas equações terão solução única em τ se forem especificados,
em todos os pontos de sua fronteira Σ, o valor de ϕ (condição de
Dirichlet) ou de ∂ ϕ/∂n (condição de Neumann) , sendo n a
coordenada na direção normal a Σ.
Ou seja, dada uma função ϕ que satisfaz a uma das formas das
equações (4.37) a (4.40) e que, em todos os pontos da superfície Σ, ou
assume o valor especificado para o potencial ou sua derivada em relação
à normal assume o valor especificado para essa derivada, essa função é a
única solução para o problema.
Note que é necessário que uma das duas condições (φ ou ∂φ/∂n)
seja especificada para cada um dos pontos de Σ, ou seja, em todos os
pontos de Σ deve-se conhecer φ ou ∂φ/∂n. Note também que, se apenas
∂φ/∂n for especificado em Σ, a função φ estará univocamente
determinada a menos de uma constante, mas o campo elétrico, que
envolve apenas as derivadas de φ, estará completamente definido.
Como exemplo de um caso em que a condição ∂φ/∂n é conhecida,
considere a interface entre um meio condutor e um meio isolante (
n=0 ), como a mostrada na Figura 4.4.

1 2

0<σ<∞ σ=0

Figura 4.4: Interface entre um meio condutor e um


meio isolante.

121
Como o meio à direita da interface é isolante, temos que, nele,

J =0 . Aplicando-se, então, a condição de contorno, para o regime
estacionário:
J n 1=J n 2 ,
obtemos que, no meio 1, sobre a interface de separação com o meio 2,
J n 1∣n=0=0 ⇒ σ E n 1∣n=0=0⇒ E n 1∣n=0=0
e, portanto, sendo E n=−∂ ϕ/∂ n , nessa interface, dentro do meio
condutor, devemos ter
∂ϕ
∂n ∣
n=0

=0 . (4.41)

Note que essa condição vale apenas para a interface entre um


condutor e um isolante, do lado do material condutor. Do lado do
material isolante, como σ=0 , podemos ter E n 2≠0 .

4.3.1 Demonstração do teorema da unicidade


Vamos demonstrar que, dadas duas soluções quaisquer para uma
das equações (4.37) a (4.40), denominadas φ1 e φ2, se ambas satisfizerem
as condições de fronteira impostas em todos os pontos de Σ, então essas
soluções são idênticas em todos os pontos do volume τ.
Temos então que, utilizando a equação (4.38) devido à sua
generalidade,
ρ
∇ 2 ϕ1=− εv − ∇ε ε⋅∇ ϕ1 , (4.42)
ρ
∇ 2 ϕ2=− εv − ∇ε ε⋅∇ ϕ2 , (4.43)
e, para todos os pontos sobre a superfície Σ,
∂ ϕ1 ∂ϕ 2
ϕ1=ϕ 2 ou = . (4.44)
∂n ∂n
Seja Φ=ϕ1−ϕ2 a função diferença, e considere a seguinte
identidade vetorial:
∇⋅[ε Φ ∇ (Φ)]=∇ (ε Φ)⋅∇ Φ +εΦ ∇ 2 Φ=
(4.45)
=ε∣∇ Φ∣ +Φ [ ∇ ε⋅∇ Φ+ε ∇ 2 Φ ]
2

Integrando-se essa expressão no volume τ e aplicando-se o


teorema de Gauss obtemos:

122
∯ ⃗ =∭ ε|∇ (Φ)| d τ+ 2
ε Φ ∇ (Φ)⋅dS
Σ τ . (4.46)
+∭ Φ [ ∇ (ε)⋅∇ (Φ)+ε ∇ 2 Φ ] d τ
τ

Notando que ⃗ =∇ Φ⋅̂n dS = ∂Φ dS


∇ Φ⋅dS podemos
∂n
reescrever (4.46) como

∯ ε Φ ∂Φ dS =
Σ ∂n . (4.47)
=∭ ε ∇ Φ d τ+∭ Φ [ ∇ ε⋅∇ Φ+ε ∇ 2 Φ ] d τ
2
| |
τ τ
De (4.44) sabemos que, sobre todos os pontos em Σ,
Φ=0 ou ∂ Φ =0 , portanto o primeiro membro de (4.47) se anula.
∂n
Subtraindo-se (4.43) de (4.42) podemos escrever que

∇ 2 Φ=− ∇ε ε⋅∇ Φ ⇒ ∇ ε⋅∇ Φ+ε ∇ 2 Φ=0 (4.48)


que substituída em (4.47) nos leva a


τ
2
ε∣∇ Φ∣ d τ=0 . (4.49)
Como o integrando de (4.49) é não negativo em todos os pontos do
volume, ele só pode ser nulo em todos os pontos do volume, o que
implica que ambas as soluções φ1 e φ2 são idênticas em todos os pontos
do volume τ, a menos de uma constante, que será nula se o valor do
potencial tiver sido especificado em pelo menos um ponto da superfície
Σ. De qualquer modo, o campo elétrico no volume τ é único.

4.3.2 Exemplos de aplicação do teorema da


unicidade
Ex. 4.1: Considere duas placas planas, paralelas, condutoras
perfeitas, de formato arbitrário, porém idêntico, e área S,
entre as quais é colocada uma camada de um material de
condutividade σ , como mostrado na Figura 4.5.
Pretendemos determinar, de forma exata, a função potencial
nesse material condutor. Note que, sendo o material
condutor homogêneo, não haverá densidade volumétrica de

123
carga e, portanto, a função potencial deve satisfazer
∇ 2 ϕ=0 .

Figura 4.5: Placas planas, paralelas, condutoras perfeitas, de formato


arbitrário, porém idêntico, e área S, entre as quais é colocada uma
camada de um material condutor.

Solução:
Adotando-se, arbitrariamente, potencial nulo no centro do
material, situada no plano x=0 (admitindo-se que o
problema seja simétrico em relação ao plano x=0 ),
vamos explicitar as condições de fronteira necessárias para a
determinação dessa função potencial. A fronteira dessa
região pode ser decomposta em três partes: placa inferior,
placa superior e superfície lateral, e as condições a serem
aplicadas são:
a) ϕ( x=−d /2)=−V 0 /2 ,
b) ϕ( x=d )=V 0 /2 ,

c)
∂ϕ
∂n ∣
sup. lateral
=0 .

Apesar desse problema não apresentar simetria, podemos


tentar utilizar a solução para o caso de simetria plana (4.17)
e verificar se ela pode satisfazer a essas condições.

124
a) ϕ(−d /2)=−V 0 /2⇒−k 1 d / 2+k 2=−V 0 /2 ;
b) ϕ( x=d /2)=V 0 / 2 ⇒ k 1 d /2+ k 2=V 0 /2 ;
de (a) e (b) vem:
V0
k 1= e k 2=0
d
V0
c) Sendo, então, ϕ( x)= x , e notando que a normal é
d

ortogonal à direção x, temos que


∂ϕ
∂n ∣
sup. lateral
=0 .

Portanto, a função potencial


V0
ϕ( x)= x
d
é a solução exata do problema proposto, dentro da região de
condutividade σ .
Dessa forma, temos que a expressão (4.24),
d
R=
σS
nos dá a expressão exata para a resistência entre as placas
condutoras.
Note, porém, que a expressão para a capacitância não pode
ser obtida a partir dessa solução, pois na determinação da
capacitância pela expressão

Σ
⃗ ⋅dS
D ⃗
C=
V0
A integral precisa ser feita numa superfície Σ que envolve
completamente a placa superior (Figura 4.6), ou seja:
εV 0 S

Σ
⃗ =∬ D
⃗ ⋅dS
D ⃗ +∬ D
⃗ ⋅dS ⃗=
⃗ ⋅dS
d
+∬ D ⃗ ,
⃗ ⋅dS
S int S ext S ext

125
x
Sext

d
σ Sint

S
Figura 4.6
Como esta integração através de Sext deve resultar positiva,
já que as linhas de campo estão todas saindo de Σ , pois a
placa superior é o ponto de máximo da função potencial,
resulta que
∬ D⃗ ⋅dS

εS S εS
C= + ext
> .
d V0 d
A segunda parcela da expressão acima, denota a integração
sobre o fluxo elétrico de dispersão do capacitor, e a Figura
4.7 ilustra as equipotenciais e linhas de campo desse fluxo.
Note que a maior parte do fluxo elétrico entre as placas flui
pela região interna ao material condutor (já que a distância
entre as placas é pequena neste caso) e perceba que as
linhas de campo são todas paralelas nessa região.
Para comparação, a Figura 4.8 mostra o mapa de campo
para o caso de um meio homogêneo isolante circundando as
placas (ar por exemplo). Vemos que o fluxo entre as placas
ainda flui predominantemente na região retangular entre as
placas e que as linhas de campo só são paralelas nessa
região longe das bordas.

126
Figura 4.7: Capacitor de placas planas e paralelas com dielétrico
condutor. Equipotenciais são mostradas em linhas contínuas e linhas de
campo em pontilhado, dividindo o campo em tubos de mesmo fluxo.

Figura 4.8: Capacitor de placas planas e paralelas em meio isolante


homogêneo. Equipotenciais são mostradas em linhas contínuas e linhas
de campo em pontilhado, dividindo o campo em tubos de mesmo fluxo.
εS
Assim, podemos concluir que a expressão C≈ pode ser
d
uma boa aproximação para a capacitância quando d for
muito menor que as outras dimensões.

127
Ex. 4.2 - Entre duas calotas esféricas concêntricas,
condutoras perfeitas, de raios a e b, uma fonte fornece uma
tensão V0, como indicado na Figura 4.9.

σ2=0, ε2
b
a

α
V0
θ
σ 1, ε 1

Figura 4.9: Região entre duas calotas esféricas concêntricas,


parcialmente preenchida com material condutor.

Um material condutor preenche parcialmente o volume


compreendido entre essas duas calotas, num setor cônico de
abertura α (Perceba que o desenho da Figura 4.9
apresenta simetria de revolução). Pretende-se determinar a
função potencial na região entre as calotas.
Solução:
Na região 1 condutora, novamente, sendo o material
condutor homogêneo, não haverá densidade volumétrica de
carga e, portanto, a função potencial deve satisfazer
2
∇ ϕ=0 , e deve satisfazer, adicionalmente, as seguintes
condições de fronteira:
a) admitindo-se, arbitrariamente, que o potencial da calota
ϕ(r=b ,0≤θ≤α /2)=0 ,
externa seja nulo,
b) ϕ(r=a ,0≤θ≤α /2)=V 0 ,

c)
∂ϕ
∂n S ∣
=0 sendo Sc a superfície cônica, interface entre a
c

região condutora e a isolante – de acordo com (4.41).

128
Apesar desse problema não possuir simetria esférica, vamos
tentar como solução a expressão (4.33):

1 1 r b)
(
V0 1 1
ϕ(r )= −
(a−b )
cujo laplaciano, já se sabe, é nulo. Vamos então verificar as
condições de contorno:

( 1b − 1b )=0
V0
a) ϕ( r=b)= ; satisfaz portanto a esta
( 1 1

a b )
condição.

( 1a − 1b )=V
V0
b) ϕ(r=a)= 0 ; satisfaz portanto a esta
( 1 1

a b )
condição.

c)
∂ϕ
∣=
1 ∂ ϕ(r )
∂ n S r ∂ θ θ=α/ 2
c

=0 , já que a expressão de ϕ(r )

não varia com θ ; portanto também satisfaz a esta


condição.
Assim, a função potencial

( )
V0 1 1
ϕ(r )= −
(1 /a−1 /b ) r b
é a solução exata do problema proposto, dentro da região de
condutividade σ1 .
Para resolvermos o problema, agora na região 2, devemos
2
encontrar uma solução para a equação ∇ ϕ=0 , já que
não há cargas nessa região, que satisfaça a:
a) ϕ( r=b)=0 ,
b) ϕ( r=a ,α /2≤θ≤π)=V 0 ,

129
( 1r − 1b )
V0
c) ϕ( r , θ=α /2)= , pois já encontramos o
( 1 1

a b )
potencial nessa superfície e a função potencial deve ser
sempre contínua.
Pode-se mostrar, novamente, que a função

1 1 r b)
(
V0 1 1
ϕ(r )= −
(a−b )
satisfaz, a todas essas condições. Assim, essa é a solução
para toda a região entre as duas calotas. O campo elétrico
será, portanto,
V0 1

E= û r .
( 1a − 1b ) r2

A corrente que flui entre as calotas pode ser calculada por


α /2
I= ∬ ⃗ = ∫ σ1 ⃗
⃗J⋅dS E⋅ u^ r 2 π r 2 sen θ d θ=
sup. esf. de raio r 0
2 π σ1 V 0 ,
= [1−cos (α /2)]
( 1a − 1b )
portanto
( b−a )
R= .
2 π σ1 [1−cos(α /2)]a b
Para determinar-se a capacitância, devemos integrar o vetor
deslocamento para obter a carga total na calota interna:

130
α/ 2
Q a= ∬ D ⃗ = ∫ ε1 E
⃗ ⋅dS ⃗⋅ u^ r 2 π r 2 sen θ d θ+
sup. esf. de raio r 0
π

∫ ε 2 E⃗⋅ u^ r 2 π r 2 sen θ d θ=
α /2
2 π ε1 V 0 2 π ε2 V 0 ,
= [1−cos (α /2)]+ [cos (α /2)+1]=
( 1a − 1b ) ( 1a − 1b )
2πa bV0
= [(ε1+ε 2)+cos (α /2)(ε2−ε1 )]
( b−a )
assim,
Qa 2 π a b
C= = [ε (1−cos α/ 2)+ε2 (1+cos α /2)] .
V 0 ( b−a ) 1
Ex. 4.3 - Se no exemplo anterior, o material 2 também for
condutor ( σ 2≠0 ) qual será a nova função potencial?
Solução:
A função potencial deverá satisfazer a:
2
a) ∇ ϕ=0 para a< r < b e θ≠α/ 2 (pois na superfície
Sc pode haver uma descontinuidade dos campos);
b) ϕ(r=b)=0 ;
c) ϕ( r=a)=V 0 ;
d) ϕ1 (r , θ=(α /2))=ϕ2 ( r ,θ=(α /2)) , a função potencial
deve ser contínua nessa interface;
J θ1 (r , θ=α/ 2)=J θ 2 (r , θ=α/ 2) ⇒
e)

−σ1 ∂ ϕ1 (r , θ)
r ∂θ θ=α/ 2
=
r |
−σ 2 ∂ϕ2 ( r ,θ)
∂θ θ=α / 2
,
|
para garantir a continuidade da componente de ⃗
J normal
à interface.
Por sorte, a expressão

1 1 r b)
(
V0 1 1
ϕ(r )= −
(a−b )
131
novamente satisfaz a todas essas condições e, portanto, é a
solução procurada.
Ex. 4.4 - Determine a resistência de um aterramento
composto de uma esfera condutora perfeita, de raio a,
semienterrada em um solo de condutividade σ solo (Figura
4.10).

I0
σar=0

σsolo

Figura 4.10: Aterramento composto de uma esfera condutora perfeita, de


raio a, semienterrada em um solo de condutor.

Solução:
Sendo injetada uma corrente I0 nesse aterramento, a esfera
irá assumir um potencial que denominaremos V0. Nessas
condições este problema é idêntico ao Ex. 4.2, fazendo-se
α=π e b→∞ . Dessa forma, no solo, teremos
aV0 aV 0 σ solo a V 0
ϕ( r )= , ⃗
E = 2 û r , ⃗ J= û r ,
r r r2
1
I =2 π a σ1 V 0 e R= .
2 π a σ1
Se o raio da esfera for 1 m, e a condutividade do solo for de
0,01 S/m, essa resistência será aproximadamente 16 Ω.

132
Ex. 4.5 - Repita o problema anterior, agora para um solo
estratificado em 2 camadas semiesféricas, como mostrado na
Figura 4.11.

I0
σar=0

σ2 σ1
b

Figura 4.11: Aterramento composto de uma esfera condutora perfeita,


de raio a, semienterrada em um solo de condutor com duas camadas
semiesféricas de condutividades diferentes.
Solução:
Neste caso, podemos tentar obter soluções distintas, ϕ1 e
ϕ2 para os meios 1 e 2, mas que tenham a mesma forma
da equação (4.32), e que devem satisfazer às condições:
a) ϕ2 (r=∞ ,0≤θ≤π /2)=0 ,
b) ϕ1 (r =a,0≤θ≤π /2)=V 0 ,

c)
∂ ϕ1−2

∂ n interface solo-ar
=0

d) ϕ1 (r =b)=ϕ2 (r=b)

e)
−σ1 ∂ ϕ1
∂ r r =b
= ∣
−σ2 ∂ ϕ2
∂r ∣ r=b
.

É fácil mostrar, portanto, que as soluções

()
V 0−V b 1 1
ϕ1 (r )= ( )
− + V b e ϕ2 ( r )=b V b
1

( )
1 1 r b r

a b

133
satisfazem as condições (a-d). Impondo-se, então, a condição
(e):
V 0−V b 1 1
σ1 =σ2 b V b 2
( )
2
1 1 b b

a b
encontramos o potencial na interface entre as duas camadas:
σ1 a
V b= V .
σ1 a+σ 2 (b−a) 0
Para encontrar a resistência, basta integrar a densidade
corrente em uma semiesfera de raio r. Utilizando-se um
esfera de raio r > b , temos:
⃗ = σ 2 b V b 2 π r 2=2 π σ 2 bV b= 2 π σ 1 σ 2 a b V 0
I 0=∬ ⃗J⋅dS 2
Sr >b
r σ 1 a+ σ 2(b−a)
e, assim,
V0 1 (b−a)
R= = + ,
I 0 2 π σ2 b 2 π σ 1 a b
que é exatamente a soma da resistência entre as semiesferas
a-b e b-∞.
Se o raio da esfera for 1 m, σ 2=0,01 S/m , σ1 =0,1 S/m e
b= 3 m, teremos R =5,6Ω, bem menor que o valor encontrado
no exemplo anterior, ou seja, uma forma de se diminuir a
resistência de um aterramento é substituir uma camada do
solo próxima ao aterramento por outra de solo com menor
resistividade.

4.4 Determinação do potencial a partir das


cargas elétricas
O problema dos campos eletrostáticos pode ser apresentado de
várias maneiras. Consideremos inicialmente o caso em que são dadas as
cargas elétricas que criam o campo; vamos determinar a função potencial
a partir da distribuição de cargas. Para isso, comecemos examinando o
campo criado por uma única carga puntiforme, situada num meio

134
dielétrico linear, isotrópico e homogêneo.
Dada a simetria do problema, a função potencial correspondente
dependerá exclusivamente da distância r à carga puntiforme. Usando
coordenadas esféricas a equação de Laplace reduz-se então a
1 d 2dϕ
r 2 dr
r (
dr
=0 ) (4.50)

ou seja,

r2 =k 1 .
dr
Integrando esta expressão,
k1 k1
ϕ=∫ 2
dr=− +k 2
r r
A constante k2 determina-se facilmente, impondo-se a condição de
potencial nulo no infinito, isto é,

ϕ(∞)=lim −
r→∞
( k1
r )
+k 2 =0 ⇒ k 2=0 ,

de modo que o potencial fica


k1
ϕ(r )=− . (4.51)
r
Para determinar k1 vamos determinar o campo ⃗E , aplicando o
gradiente à função potencial, usando ainda coordenadas esféricas, e
considerando a simetria esférica,
⃗ dϕ
E =−∇ ϕ=− û
dr r
donde, substituindo ϕ por seu valor (4.51) e efetuando a operação
indicada,
k1

E =− 2
û r . (4.52)
r
O vetor deslocamento, de acordo com a relação constitutiva, é
ε k1
⃗ =ε E
D ⃗ =− 2
û r (4.53)
r
A constante k1 pode ser determinada, agora, impondo-se que o
⃗ sobre qualquer superfície que envolva a carga puntiforme
fluxo de D

135
seja igual à carga. Escolhendo uma superfície esférica, Σ , de raio r:

q=∯ D ⃗ =−ε k 1 ∯ dS=−4 π ε k 1


⃗ ⋅dS
Σ r2 Σ
Portanto,
q
k 1=−
4πε
e, em consequência,
q
ϕ( r )= , (4.54)
4πεr
⃗ q
E= û r , (4.55)
4 πε r 2
⃗ = q û r .
D (4.56)
4πr2
Evidentemente, estes resultados poderiam ser obtidos de maneira
análoga à empregada no exame do campo criado por uma fonte
puntiforme. O processo acima seguido teve apenas o fito de ilustrar a
integração da equação de Laplace num caso de extrema simplicidade.
No caso de um campo criado por várias cargas puntiformes, qi, o
potencial num ponto P, situado a distancias ri das várias cargas, obtém-se
por superposição dos potenciais devidos a cada uma das cargas:
n
qi
ϕ( P )=∑ (4.57)
i=1 4 πε r i
Esta expressão pode ser generalizada para o caso de distribuições
contínuas de cargas. Seja uma distribuição volumétrica de carga dada
pela função ρv (x ' , y ' , z ' ) , distribuída num volume genérico τ .
A carga num volume elementar d τ ' =dx ' dy ' dz ' será
dq=ρv ( x ' , y ' , z ' )d τ '
Esta carga elementar contribui com uma parcela d ϕ para o
potencial de um ponto P( x , y , z) do campo (Figura 4.12):
ρv ( x ' , y ' , z ' ) d τ '
d ϕ(x , y , z )= ,
4πε R

136
dτ'

τ
ρv(x',y',z') R
P(x,y,z)

Figura 4.12: Densidade volumétrica de carga distribuída num volume τ,


e o potencial observado num ponto P.

sendo R a distância entre o ponto P e a carga elementar,


R= √ (x− x ' )2 +( y− y ' )2 +( z−z ' )2 .
Para se obter o potencial do ponto P devemos integrar a expressão
anterior, sobre todo o volume em que ρv for não nula:
ρv ( x ' , y ' , z ') dx ' dy ' dz '
ϕ( x , y , z )=∭ . (4.58)
τ 4 πεR
Note-se que esta integração e feita apenas em relação as
coordenadas das fontes, (x',y',z').
Esta expressão fornece uma integral geral da equação de Poisson;
2
lembrando ainda que ρ/ε=−∇ ϕ , podemos ainda colocá-la sob a
forma:
2
∇ ϕ dx ' dy ' dz '
ϕ( x , y , z )=−∭ (4.59)
τ 4π R
Para uma demonstração direta de que (4.58) ou (4.59) são soluções
da equação de Poisson, ver Simonyi [12, p. 58] , Panofsky e Phillips [13,
Cap. I], Abraham [14, p. 24], ou ainda Jackson [15, Seç. 1.7].
As soluções (4.58) ou (4.59) acima apresentadas exigem que a
integração seja efetuada de maneira a incluir todas as cargas que criam o
campo, i.e., todas as fontes do campo. A teoria do potencial no entanto,
mostra que é possível obter-se uma solução se ρv (x ' , y ' , z ' ) for
conhecida somente no interior de uma superfície fechada Σ ; o efeito
das demais fontes é substituído por condições de contorno, referentes aos

137
valores de ϕ , ou suas derivadas sobre a superfície fechada Σ (ver
Panofsky e Phillips [13, Seç. 1.5]) .
Se as fontes do campo resultarem de uma distribuição superficial
de cargas, um processo análogo ao seguido para a obtenção de (4.58) nos
levaria à seguinte expressão para o potencial num ponto P:
ρs ( x ' , y ' , z ') dS '
ϕ( x , y , z )=∬ (4.60)
S 4 πε R
onde ρs é a densidade superficial de carga e a integração é estendida
sobre todas as superfícies que contenham cargas.
Num campo eletrostático criado por condutores carregados, as
cargas distribuem-se somente na superfície dos condutores. Infelizmente,
a equação (4.60) não permite o cálculo do campo, pois a distribuição
ρs não é conhecida a priori. Na prática, os problemas eletrostáticos se
apresentam mais comumente como problemas de contorno.

4.4.1 Exemplos de aplicação


a ) O campo do dipolo elétrico
Um dipolo elétrico é constituído por duas cargas iguais e de sinais
opostos, colocadas a pequena distância, l, uma da outra. O potencial
devido ao dipolo se obtém simplesmente superpondo os potenciais
devidos às duas cargas (Figura 4.13),

ϕ=
q
(
1 1

4 π ε r _ r+ ) .

Sendo r ≫l , vemos que ⃗r + // ⃗r _ // ⃗r e podemos fazer


l l
r + ≈r− cos θ , r _ ≈r + cos θ
2 2
donde
1 1 l cos θ
− ≈ 2 .
r+ r _ r
Sendo ⃗l o vetor que aponta da carga negativa para a carga
positiva ( ⃗l =l û z na Figura 4.13), o potencial do dipolo pode então ser
posto sob a forma:

138
q l cos θ 1
ϕ= = q ⃗l ⋅⃗r .
4πε r 2
4 π ε r3
P

r–
r r+

θ
–q +q z
l
cos θ
2
l
Figura 4.13: Dipolo elétrico.
Definindo, agora, o momento do dipolo, ⃗p , por:
⃗p =q ⃗l
temos finalmente,
1
ϕ= ⃗p⋅⃗r (4.61)
4 π ε r3
O campo elétrico obtém-se da expressão acima, mediante a
aplicação do operador gradiente. Dada a simetria axial do dipolo convém
trabalhar em coordenadas esféricas; as derivadas em relação a φ serão
identicamente nulas por imposição dessa simetria. Assim fazendo,
obtém-se

⃗ p
E= ( 2 cos θ û r +sin θ û θ ) . (4.62)
4 πε r 3
O campo dos dipolos tem grande interesse no exame dos
problemas relacionados com a polarização elétrica dos meios materiais.
Na Figura 4.14 representamos as equipotenciais e linhas de força
de ⃗
E do campo de um dipolo.

139
E

φ=0
Figura 4.14: Equipotenciais e linhas de força do campo de um dipolo.

b ) Campo de fonte linear (aplicação em aterramento por


condutor cilíndrico)
Considere um linha reta de comprimento 2 l, carregada
uniformemente com uma densidade linear de carga ρl , como
mostrado na Figura 4.15. Adotando-se coordenadas cilíndricas, com o
eixo z na direção dessa linha e origem em seu centro, vamos determinar a
função potencial correspondente a essa distribuição.
O potencial num ponto P, de coordenadas (ρ , z ) (esse problema
tem simetria axial e, portanto, a solução não deve depender de φ )
pode ser calculado dividindo-se essa linha em pequenos pedaços de
comprimento dz' e, aplicando-se a forma adaptada de (4.58) para uma
distribuição linear de carga, obtemos
l l
ρl dz ' ρl dz '
ϕ(ρ , z )=∫ =∫ =
−l 4 πε R −l 4 πε √ (z −z ' )2+ρ2 ,
−ρl z ' =l
=
4 πε

ln [ ( z −z ' )+ √( z− z ' )2 +ρ2 ] z ' =−l

140
z

P(ρ, z)
R
l
dz'
z'

ρ
ρl

–l

Figura 4.15: Linha de carga elétrica, com densidade


uniforme e comprimento 2 l.
ou seja,
ρl
[
( z +l)+ √( z +l ) +ρ
]
2 2
ϕ(ρ , z )= ln . (4.63)
4 πε (z −l)+ √( z−l )2+ρ2
As superfícies equipotenciais correspondentes a essa função são
obtidas fazendo-se

[ ( z +l)+ √( z +l)2 +ρ2


]
4 πεV
ρl
ϕ=V ⇒ =e =α ; 1<α <∞ ,
(z −l)+ √( z−l )2+ρ2
que pode ser reescrita como

z 2 ρ2
2
+ 2 =1 , (4.64)
b a
sendo

2
2 (α+1)
2 4α
b =l 2
, a 2=l 2 . (4.65)
(α−1) (α−1)2

141
A expressão (4.64) é a equação de um elipsoide de revolução em torno
do eixo z, com semieixos a e b (Figura 4.16).

2a
z

ρ
2c
2b

Figura 4.16: Elipsoide com distância


focal 2 c e eixos 2 a e 2 b.
Chamando-se de 2 c a distância entre os focos desse elipsoide,
temos que
2 2 2
c =b −a , (4.66)
e, substituindo-se (4.65) em (4.66) obtemos
c=l , (4.67)
ou seja, as equipotenciais correspondentes a uma linha de carga com
densidade uniforme são superfícies elipsoidais com focos sobre as
extremidades dessa linha, como mostrado na Figura 4.17.
Escolhendo-se, assim, um valor arbitrário para o raio menor de um
desses elipsoides, o seu potencial pode ser determinado tomando-se
(ρ=a , z=0) em (4.63)

ϕ(a ,0)=
ρl
4πε
ln
[ √l 2 +a 2 +l
√ l 2 +a 2−l ] =V a .

142
Figura 4.17: Equipotenciais de uma linha de carga de
comprimento 2l.
Considere, agora, o problema de se determinar a função potencial
produzida por um elipsoide condutor perfeito14, imerso num meio
homogêneo, com um potencial V0 em relação a um ponto no infinito,
tendo raio menor igual a 2 a e distância focal igual a 2 l (Figura 4.18).
Escolhendo-se o eixo z coincidente com o eixo de revolução desse
elipsoide, pelo teorema da unicidade, a função potencial procurada, com
laplaciano nulo, deve satisfazer a
ϕ( z ,ρ→∞)=0
e
ϕ(S elipsoide )=V 0 .

14 A condição σ eplisoide ≫σ meio é suficiente para considerá-lo,


aproximadamente, condutor perfeito.

143
Figura 4.18: Elipsoide condutor perfeito, imerso num meio homogêneo,
a um potencial V0 em relação a um ponto no infinito.
Como visto, a função (4.63) satisfaz a essas condições se
impusermos

ϕ(a ,0)=
ρl
4πε
ln
[√l 2 +a 2 +l
√ l 2 +a 2−l ] =V 0 ⇒

4 πε V 0 , (4.68)
⇒ρl=
ln
[√√ l 2 +a 2+l
l 2+a 2−l ]
ou seja, a função potencial procurada é

ϕ(ρ , z )=
ln
[
V0
√ l 2+a 2+l
]
[
ln
(z + l)+ √( z +l)2 +ρ2
(z −l)+ √( z −l) 2+ρ2 ] .
(4.69)
√ l 2+a2 −l
Para, então, determinar-se a capacitância ou a resistência entre
esse elipsoide e um ponto no infinito, bastaria calcular o gradiente de
(4.69), multiplicar por ε (ou σ ) e integrar, sobre uma superfície
qualquer envolvendo o condutor, para determinar sua carga (ou corrente).

144
Porém, como essa expressão é idêntica a (4.63) para a condição (4.68)
temos que o fluxo do vetor deslocamento deve ser igual à carga total da
linha de carga, ou seja
4πεV0 8πεl V0
Q=2 l = ,

[ √l +a +l
] [ √ l + a +l
]
2 2 2 2
(4.70)
ln ln
√ l2 + a2−l √l 2 +a2−l
e, portanto, a capacitância deve ser igual a
8 π εl
C= ,
ln
[ √ l 2+ a 2+l
√ l 2+a2 −l ] (4.71)

e a resistência, por analogia será,

R=
1
8πσl
ln
[ √l 2 +a 2 +l
√ l 2 +a 2−l ] . (4.72)

Considerando, da mesma forma, o problema de se determinar a


resistência de um aterramento formado por um elipsoide condutor
perfeito semienterrado em um solo com condutividade σ , como
mostrado na Figura 4.19, temos que as condições de contorno desse
problema, no solo, são as mesmas do anterior com a condição adicional
da interface entre condutor e isolante:
∂ϕ
∂z ∣ z =0
=0 .

Porém, a solução (4.69) também satisfaz a essa condição 15, sendo,


portanto a solução procurada e, para mesmo potencial V0, terá o mesmo
valor para o campo elétrico e mesmo valor para a densidade de corrente.
Para o cálculo da corrente, porém, devemos integrar a densidade de
corrente apenas na região do solo, ou seja, obteremos a metade do valor
do problema anterior e, portanto, o dobro de sua resistência, que será
portanto,

R=
1
4πσl
ln
[ √ l 2 +a 2+l
√ l 2+a 2−l ] . (4.73)

15 As equipotenciais são simétricas em relação ao plano z=0.

145
z

ar 2a
I0
V0

Figura 4.19: Aterramento formado por um


elipsoide semienterrado em um solo condutor.
Essa expressão, para o caso em que o elipsoide é delgado, ou seja,
para a≪l , simplifica-se para

R=
1
4πσ l
ln
[ √1+(a / l)2 +1 ≈
√1+(a /l)2−1 ]

1
4πσl
ln
[
1+(a /l)2 /2+1
1+( a /l )2 / 2−1

] . (4.74)

1
4πσ l
ln
[ 2
(a /l)2 /2
=
]
=
1
4 πσl [ ]
4l2
ln 2 =
a
1
2πσ l
ln
2l
a [ ]
Se considerarmos, finalmente, o caso de um aterramento através
de uma estaca cilíndrica, de diâmetro 2 a e comprimento enterrado
l≫ a (Figura 4.20), temos que sua forma aproxima-se bastante da de
um elipsoide delgado de raio a e distância focal 2 l, semienterrado.

146
ar 2a
I0

l
Solo: σ

Figura 4.20: Aterramento formado por uma estaca


cilíndrica enterrada em um solo condutor.

Dessa forma podemos afirmar que a resistência desse aterramento


é, aproximadamente,

R≈
1
2πσl
ln[ ]
2l
a
. (4.75)

Como um exemplo numérico, se tivermos uma estaca de 5 cm de


diâmetro enterrada até a profundidade de 1 m, num solo com
condutividade de 0,01 S/m, a aplicação de (4.75) nos dá R≈70 Ω.

4.5 Métodos de solução da equação de


Laplace
Não examinaremos aqui processos gerais de resolução da equação
de Laplace, citemo-los apenas.
a) Método de separação de variáveis: em coordenadas
retangulares, cilíndricas ou esféricas, é possível, muitas vezes,
determinar a função potencial como o produto de 3 funções, cada uma
das quais dependendo apenas de uma das coordenadas. Por exemplo, no
caso de coordenadas cartesianas, ϕ= X ( x )Y ( y )Z (z ) ; a equação
de Laplace se decompõe em 3 equações diferenciais ordinárias que são
integradas pelos métodos habituais (ver por exemplo, Weber [16, Cap. 8]

147
e Stratton [1, Cap. 3.21–29]).
b) Método das funções analíticas: estas funções satisfazem,
automaticamente, a uma equação de Laplace bidimensional, sendo pois
adequadas à resolução de campos bidimensionais. Associadas às
transformações conformes, as funções analíticas se podem adaptar a
condições de contorno bastante variadas (ver, por exemplo Weber [16,
Cap. 7]);
c) Método das funções de Green: a utilização do teorema de Green
da análise vetorial, com funções adequadas, permite resolver problemas
de contorno (ver por exemplo Weber 16, Cap. 8]);
d) Método das imagens: é um procedimento empregado para
solucionar a equação de Poisson. O método consiste na substituição de
parte de alguns elementos do problema original por uma carga, ou uma
distribuição de cargas, respeitando as condições de contorno impostas
inicialmente.(Jackson [15, Cap. 2]).
e) Métodos numéricos: métodos numéricos como o método das
diferenças finitas(Sadiku [17, Cap. 3]), método dos elementos finitos
(Sadiku [17, Cap. 6]) e o método dos momentos (Sadiku [17, Cap. 5],
Harrington [18]) são atualmente os mais utilizados na solução de
problemas de eletrostática ou de campos de correntes estacionárias. Esses
métodos são bastante gerais e estão disponíveis em diversos softwares
comerciais ou livres.
Examinaremos, nas próximas seções, alguns destes métodos.

4.6 O Método das diferenças finitas


Por simplicidade, vamos considerar nesta seção apenas campos
bidimensionais.
Campos bidimensionais são aqueles em que os vetores de campo
são paralelos a um plano dado, em qualquer ponto. Bastam, portanto,
duas componentes para definir os vetores de campo.
Fisicamente, podemos obter campos bidimensionais em 3
situações:
a) em campos de correntes estabelecidas em películas condutoras
de espessuras constantes e muito pequenas;
b) quando o campo é criado por condutores cilíndricos

148
indefinidos, com eixos paralelos; as equipotenciais são também
superfícies cilíndricas, como no campo de correntes no isolante de um
cabo coaxial;
c) em certos casos em que as condições de contorno são fixadas
por planos paralelos, equipotenciais ou isolantes.
Consideremos, então, uma região do espaço (bidimensional:
∂/∂ z =0 ), onde se deseja obter a função potencial. Vamos admitir que
a densidade volumétrica de carga elétrica, ρv , seja nula no interior
dessa região, e que na fronteira dessa região o valor do potencial ϕ ,
ou de sua derivada com relação à normal, ∂ ϕ/∂n , sejam conhecidas.
No interior dessa região, a equação de Laplace deve, então, ser
obedecida, ou seja,
∂ 2 ϕ ∂2 ϕ
∇ 2 ϕ=0⇒ + =0 . (4.76)
∂ x2 ∂ y2
Para se resolver numericamente essa equação, com as condições
de contorno fornecidas, vamos dividir a região num reticulado com
resolução Δ , como mostrado na Figura 4.21.

φ =φ1

∂φ/∂n = 0
∂φ/∂n = 0
Δ

Δ φ =φ2
Figura 4.21: Reticulado para a solução da função potencial por
diferenças finitas.

Considerando, inicialmente, um ponto interno à região (não na


fronteira), podemos calcular aproximadamente o laplaciano da forma
mostrada a seguir.

149
Referindo-nos à Figura 4.22, e sendo o ponto O correspondente ao
ponto de coordenas (0,0) temos, através de uma expansão em série de
Taylor, que o potencial próximo a esse ponto pode ser escrito como
ϕ( x , y)=ϕ(O)+

+
∂ϕ
∂x O
x+
∂ϕ
|
∂y O
y+ |
∂ 2 ϕ x 2 ∂2 ϕ
+
∂ x2 O 2 ∂ y2 | |
O
y2
2
+

| | |
2 3 3 3
∂ ϕ ∂ ϕ x ∂ ϕ x2 y . (4.77)
+ x y+ 3 + 2 +
∂x∂ y O ∂x O
6 ∂x ∂y O
2

| |
3 2 3 3
∂ ϕ xy ∂ ϕ y
+ + 3 + termos ordem ≥4
∂ x ∂ y2 O
2 ∂y O
6

3
Δ

y 0 2 O 1
–Δ 4

–Δ 0 Δ
x
Figura 4.22: Reticulado próximo a um ponto genérico,
com coordenadas (0,0).

Utilizando-se essa expressão para calcular o potencial nos pontos à


direita, à esquerda, acima e abaixo no respectivo reticulado (pontos
1,2,3,4 respectivamente) obtemos

150
| | |
2 3
∂ϕ ∂ ϕ 2
∂ ϕ 3
ϕ 1=ϕ(Δ,0)=ϕ(O)+ Δ+ 2 Δ + 3 Δ +
∂x O ∂x O 2 ∂x O 6
4
+O( Δ )

ϕ2 =ϕ(−Δ ,0)=ϕ (O)−


∂ϕ
∂x O
Δ+ 2 | − 3
∂ x O 2 ∂x O 6|
∂ 2 ϕ Δ 2 ∂ 3 ϕ Δ3
+ |
+O( Δ 4) . (4.78)
ϕ 3=ϕ(0, Δ)=ϕ(O)+
∂ϕ
∂y O
Δ+ | + |
∂2 ϕ Δ 2 ∂3 ϕ Δ 3
∂ y2 O 2 ∂ y3 O 6
+ |
+O( Δ 4)

ϕ4 =ϕ(0,−Δ)=ϕ(O)−
∂ϕ
∂y O
Δ+ |
∂2 ϕ Δ 2 ∂ 3 ϕ

∂ y2 O 2 ∂ y3 | |
O
Δ3 +
6
+O( Δ 4)
Portanto, somando-se esses potenciais, obtemos
2 2 4
ϕ1 +ϕ2 +ϕ 3+ ϕ4=4 ϕ 0 +Δ ∇ ϕ+O(Δ ) . (4.79)
Assim, nos pontos onde a densidade de carga elétrica é nula,
2
∇ ϕ=0 , devemos ter, a menos de termos de quarta ordem,
ϕ1 +ϕ 2+ ϕ3+ ϕ4
ϕ 0= , (4.80)
4
ou seja, o potencial num ponto deve ser a média dos seus 4 potenciais
vizinhos.
Para os pontos na fronteira onde o potencial é fornecido, nada
precisa ser feito.
Já para os pontos na fronteira onde a derivada do potencial com
relação à normal é nula16, procede-se da forma descrita a seguir.
Como a derivada em relação à normal (direção x no caso da Figura
4.23) é nula, a expressão para o potencial do ponto 1, em (4.78)
modifica-se para

ϕ1=ϕ (Δ ,0)=ϕ( O)+



∂2 ϕ Δ 2 ∂3 ϕ
+
∂ x2 O 2 ∂ x3 ∣
O
Δ3 +O( Δ4 )
6
(4.81)

16 Esse é o caso quando temos uma interface condutor/isolante como visto.

151
Δ 3 Δ 3

0 O 1 0 1 O 1
y ∫ y
–Δ 4 –Δ 4

0 Δ –Δ 0 Δ
x x
Figura 4.23: Reticulado próximo a uma fronteira condutor / isolante.

Somando-se, então, o dobro desse potencial, com os potenciais


ϕ3 e ϕ4 , obtém-se

2 ϕ1 +ϕ3 +ϕ 4=4 ϕ0 +Δ 2 ∇ 2 ϕ+O (Δ 3) (4.82)


e, portanto, a menos de termos de terceira ordem,
2 ϕ 1 + ϕ 3+ ϕ 4
ϕ 0= , (4.83)
4
com expressões similares para fronteira paralela ao eixo x. Note
que tudo se passa com se os potenciais do outro lado da fronteira fossem
simétricos em relação a ela. Isso implica na equivalência entre os
reticulados mostrados na Figura 4.23.
Teremos, assim, para cada um dos nós com potencial a ser
determinado, uma equação da forma (4.80) (ou modificada no caso de
uma interface com um isolante). Para a solução dessas equações
podemos montar uma equação matricial tendo o número de incógnitas e
de equações igual ao número de nós com potencial desconhecido. Porém,
a matriz resultante poderá ter uma ordem bastante elevada. Por exemplo,
se estivermos interessados em resolver o potencial numa região quadrada
de lado l, poderemos dividir essa região em um reticulado de dimensão
l /100, o que implica que teremos o número de incógnitas da ordem de
10000. Assim, a matriz para a solução direta das equações terá
dimensões de 1000010000. Utilizando-se dupla precisão (8 bytes para
cada número real) precisaremos de 800 MB de memória. Se concluirmos

152
que necessitamos de uma resolução 2 vezes menor, teremos 4 vezes mais
incógnitas e precisaremos de 16 vezes mais memória (10 GB) 17.
Para diminuir essa necessidade de memória, podemos utilizar um
procedimento iterativo (método de relaxação) para determinar os
potenciais em todos os nós do reticulado. Iniciamos pelo nó superior
esquerdo, por exemplo, e vamos varrendo os nós seguintes (da esquerda
para a direita e de cima para baixo) atualizando os valores dos potenciais
de acordo com as expressões acima. Terminada a varredura, repete-se
esse procedimento até que os potenciais de todos os nós se estabilizem
no valor final18 (método de Gauss Seidel). Pode-se mostrar que esse
método iterativo é sempre convergente para as equações obtidas acima.
Obviamente, o resultado obtido será tanto mais preciso quanto
menor for o reticulado. Como visto pela expressão (4.79), o erro
cometido com uma determinada discretização Δ é proporcional a
Δ 4 . A determinação da resolução mínima necessária para o reticulado
pode ser feita diminuindo-se o valor utilizado (p. ex. dividir Δ por 2) e
verificando se houve variação apreciável no resultado obtido.
Alguns tópicos de interesse nesse método, que não serão
detalhados aqui, referem-se a:
• técnicas de sobre relaxação;
• contorno não coincidente com o reticulado;
• interfaces entre meios distintos;
• problemas com simetria axial;
• campos variáveis no tempo.
Detalhes sobre esses tópicos podem ser encontrados, por exemplo,
em Carnahan et al. [19] ou Sadiku [17, Cap. 3].

17 Como a matriz é esparsa, pode-se utilizar técnicas de alocação de matrizes


esparsas para diminuir o espaço ocupado por essas estruturas.
18 Sugestão: ao atualizar o potencial de um nó, calcule o valor do módulo da
variação di,j do potencial desse nó, guardando o maior valor entre todos os
nós. Termine o processo iterativo quando a máxima variação for menor que
0,000001 vezes (por exemplo) o máximo valor do potencial para o problema
dado.

153
4.6.1 Cálculo de parâmetros
Após a determinação do valor da função potencial, o cálculo do
campo elétrico é efetuado pela expressão

⃗E =−∇ ϕ=− ∂ϕ u⃗x − ∂ ϕ u⃗y . (4.84)


∂x ∂y

Δ
j+1
y

Δ
B O
j
A

i i+1
x
Figura 4.24: Reticulado para o cálculo do campo elétrico.
Referindo-nos à Figura 4.24, temos que a componente x do campo
elétrico no ponto A pode ser calculada por

E x ( A)=−
∂ϕ
∂x A|=−
ϕ(i +1, j)−ϕ(i , j)
Δ =
, (4.85)
ϕ(i , j)−ϕ(i+1, j)
= Δ
e a componente y no ponto B, por

E y (B)=−
∂ϕ
∂y B| =−
ϕ(i , j+1)−ϕ(i , j)
Δ =
. (4.86)
ϕ (i , j)−ϕ(i , j+ 1)
= Δ
Se desejarmos ambas as componentes do campo elétrico no centro
de uma das células do reticulado, ponto O, estas podem ser calculadas
pelas seguintes expressões:

154
[ ϕ(i , j )+ϕ ( i , j+1 ) ] [ ϕ ( i +1, j ) + ϕ ( i+1, j+1 ) ]

2 2
E x (O)= =
Δ (4.87)
ϕ ( i , j ) +ϕ ( i , j+1 )−ϕ ( i+1, j )−ϕ ( i+1, j +1 )
=

[ ϕ(i, j)+ϕ ( i+ 1, j ) ] [ ϕ ( i, j+1 )+ ϕ ( i+1, j+1 ) ]



2 2
E y (O)= = (4.88)
Δ
ϕ ( i , j ) +ϕ ( i+ 1, j )−ϕ ( i, j+1 ) −ϕ ( i+1, j+1 )
=

Assim, para o cálculo da corrente elétrica que flui através de uma
determinada superfície escolhida, basta determinar o campo elétrico
(vetor) através das expressões acima, calcular ⃗ ⃗
J =σ E e somar a
contribuição de cada uma das células à corrente, aproximando-se a
integral
I =∫ ⃗J ⋅d ⃗S
S
por uma somatória, como ilustrado a seguir.
O valor da corrente que flui através da superfície S, mostrada na
Figura 4.25, que se estende através dos quadrados de A a D, pode ser
aproximada por
I S =σ L [−Δ E y ( A )−Δ E y ( B ) −Δ E y ( C )−Δ E y ( D ) ]=

[∑ ]
4
ϕ(2,i)+ϕ( 2, i+1)−ϕ(1, i )−ϕ(1, i+1)
=σ L Δ =
i=1 2Δ

[ ϕ (2, 5) ,
ϕ(2, 1) (4.89)
=σ L +ϕ( 2, 2)+ ϕ(2, 3)+ϕ(2, 4)+ −
2 2


ϕ(1, 1)
2
−ϕ(1, 2)−ϕ(1, 3)−ϕ(1, 4)−
ϕ(1, 5)
2 ]
sendo L a espessura (dimensão na direção z).

155
y 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 S

A B C D
1,1 1,2 1,3 1,4 1,5

dS x
Figura 4.25: Reticulado e superfície através da qual se deseja
calcular o fluxo de corrente elétrica.

Já na estrutura mostrada na Figura 4.26, se o quadrado externo é


um condutor com potencial nulo, a aplicação das expressões (4.85) e
(4.86), fornece, para o valor da corrente através da superfície S
(tracejada), a seguinte expressão:

1,1 1,2 1,3 1,4 1,5


S
2,1 2,2 2,3 2,4 2,5

3,1 3,2 3,3 3,4 3,5

4,1 4,2 4,3 4,4 4,5

5,1 5,2 5,3 5,4 5,5

Figura 4.26: Reticulado numa região quadrada e superfície


envolvendo o condutor central, através da qual se deseja determinar
o fluxo de corrente.

156
[∑ ]
5 5 5 5
I S =σ L ϕ(1, i)+ ∑ ϕ( j ,5)+ ∑ ϕ(5,i)+ ∑ ϕ( j ,1) . (4.90)
i=1 j=1 i =1 j =1

De forma análoga, o cálculo do fluxo elétrico,


∫ D⃗ ⋅d ⃗S ,
S
através de uma superfície S pode ser efetuado trocando-se σ por
ε nas expressões anteriores.Dessa forma, parâmetros como resistência
e capacitância podem ser determinados integrando-se a densidade de
corrente ou de fluxo elétrico através de superfícies adequadas 19.

Ex. 4.6- Vamos determinar a resistência entre os eletrodos


da Figura 4.27. O eletrodo superior tem 1/5 da dimensão do
inferior e o meio entre eles, de formato quadrado, tem uma
condutividade σ=0,01 S/m e espessura (dimensão
ortogonal à página) L=1m.
Solução:
Inicialmente, dividimos a região condutora em um reticulado
de 5x5 células ( Δ=0,2 ), como mostrado na Figura 4.28,
com um total, portanto, de 6x6=36 nós onde o potencial deve
ser determinado. Admitindo-se uma diferença de potencial
de 100 V, podemos atribuir o potencial 0 V aos 6 nós
inferiores e 100 V aos 2 nós centrais superiores.
Para os outros nós, atribuímos, inicialmente um valor
arbitrário de 0 V (ver Tabela 4.1), e os seus valores serão
atualizados pela expressão (4.80), no caso dos 16 nós
interiores, ou similar a (4.83) para os 12 nós na interface
condutor/isolante.

19 De forma geral, procure escolher a superfície que atravessa o maior número


possível de células para minimizar o erro numérico.

157
Figura 4.27: Geometria do problema a ser resolvido por diferenças
finitas.

Figura 4.28: Reticulado utilizado na solução por diferenças finitas.

158
Iniciamos com o nó superior esquerdo (por estar em um
2 ϕ 1+ 2 ϕ 4
canto, a expressão a ser usada é ϕ0= ) e vamos,
4
sequencialmente calculando os potenciais dos nós seguintes,
da esquerda para a direita e, depois, descendo para as linhas
seguintes. O resultado, após essa primeira iteração está
mostrado na Tabela 4.2. Após uma segunda iteração os
resultados se alteram para os mostrados na Tabela 4.3 e,
após 36 iterações, os valores convergem para os mostrados
na Tabela 4.4 (os valores aparecem truncados mas os
cálculos foram feitos com maior precisão numérica).

0 0 100 100 0 0 0 25 100 100 25 13


0 0 0 0 0 0 0 6 27 32 14 10
0 0 0 0 0 0 0 2 7 10 6 6
0 0 0 0 0 0 0 0 2 3 2 2
0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Tabela 4.1: Valores iniciais das Tabela 4.2: Valores após 1a.
tensões nos nós. iteração.

13 31 100 100 35 23 67 73 100 100 73 67


6 16 39 41 23 19 60 63 71 71 63 60
2 7 14 16 12 11 47 49 51 51 49 47
1 2 5 6 5 6 32 33 33 33 33 32
0 1 2 2 2 2 16 16 17 17 16 16
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Tabela 4.3: Valores após 2a. Tabela 4.4: Valores após 36
iteração. iterações.

159
A partir desses valores, podemos traçar curvas
equipotenciais equiespaçadas de 10 V (interpolando-se os
valores obtidos para os nós), que estão mostradas na Figura
4.29.

Figura 4.29: Equipotenciais obtidas para discretização com 36 nós.

Para o cálculo da corrente, determinamos as componentes


verticais (direção y) do campo elétrico no centro das 5 células
inferiores, utilizando a expressão (4.88), obtendo (foram
utilizados os valores com as todas casas decimais):
E y =−81.3298 ;−82.3071;−82.9457 ;−82.4133 ;−81.5454
Então, a corrente total fluindo na direção –y pode ser
calculada como:
I =−σ×(−81,3298−82,3071−82,9457−82,4133−815454)× ,
× L×Δ=0,8211 A

160
e, assim, a resistência pode ser estimada como sendo
100
R= =121,8 Ω .
0,8211
Para obter-se um resultado mais preciso, a discretização foi
diminuída até Δ=0,01 ; e, seguindo-se o mesmo
procedimento anterior (agora para um total de 101x101 =
10201 nós), obtemos a função potencial cujas equipotenciais
estão mostradas na Figura 4.30. A intensidade do campo
elétrico obtida a partir dessa discretização está mostrada na
Figura 4.31, e podemos observar que o campo é muito mais
intenso próximo às bordas da placa condutora superior.
Finalmente, a resistência para esse problema, resulta no
valor R = 136.3089 Ω. Vemos, então, que mesmo para a
discretização bastante pobre anterior (36 nós) o valor obtido
apresentou um erro em relação a esta último valor, mais
preciso, de apenas 10,6 %.

Figura 4.30: Equipotenciais obtidas para discretização com 10201 nós.

161
Figura 4.31: Intensidade do campo elétrico (em V/m) calculada com
discretização de 10201 nós.

4.6.2 Mapa de campo


Aproveitando o exemplo anterior (Ex. 4.6), vamos traçar algumas
equipotenciais e linhas de campo, seguindo algumas regras específicas:
a) a diferença de potenciais entre duas equipotenciais consecutivas
é constante (como já fizemos na Figura 4.30),
b) a distância entre as linhas de corrente deve ser tal que os tubos
de corrente delimitados por linhas de corrente consecutivas seja
constante.
Enquanto o traçado das equipotenciais pode ser feito interpolando-
se os potenciais entre os nós utilizados no cálculo da função potencial, o
traçado dos tubos de corrente pode não ser tão óbvio, e explicaremos
mais adiante como ele pode ser realizado na prática. Porém, se ele for
realizado de alguma forma, obteremos um mapa de campo como o
mostrado na Figura 4.32.

162
Figura 4.32: Mapa de campo dividido em quadrados curvilíneos.
Evidentemente, o campo fica assim dividido em quadriláteros
curvilíneos, ou seja, figuras com 4 lados, que se cortam ortogonalmente.
Mostremos que a relação dos comprimentos médios dos lados adjacentes
destes quadriláteros é constante em todo o campo. Tomemos para isso
um desses quadriláteros genéricos, como o mostrado na Figura 4.33.
De fato, o campo elétrico no centro do quadrilátero será dado,
aproximadamente, por,
Δϕ
E= .
Δn
Por outro lado, se a condutividade do meio é σ , teremos, para
uma espessura do meio condutor igual a L, e ainda no centro do
quadrilátero,
ΔI
J= =σ E .
Δh L

163
φ+Δφ

Δn
Δh L

φ
ΔI

Figura 4.33: Quadrilátero curvilíneo de comprimento Δn e


largura Δh, em um campo bidimensional de espessura L.
Das duas relações acima vem
Δϕ 1 Δn
= ,
ΔI σL Δh
ou seja, Δ n/Δ h é constante para todo o campo, pois Δ ϕ e Δ I
também são, por construção. Se escolhermos Δ n/Δ h=1 , o campo
fica dividido em quadrados curvilíneos.
Inversamente, pode-se mostrar, o que não faremos aqui, que se
conseguirmos traçar, no campo bidimensional, famílias de curvas
mutuamente ortogonais tais que:
a) as superfícies dos eletrodos pertencem a uma destas famílias;
b) estas curvas subdividem o campo em quadrados curvilíneos;
então as duas famílias de curvas assim obtidas são as equipotenciais e
linhas de corrente do campo dado.
Verifica-se, também, facilmente, que se subdividirmos um
quadrado curvilíneo obedecendo às regras anteriormente citadas, as
subdivisões obtidas se aproximam cada vez mais de quadrados (a menos
de eventuais áreas infinitesimais).
O volume interno a um quadrado curvilíneo de espessura L, como
o visto na Figura 4.33, é chamado célula do campo. Células de mesma
ordem são aquelas atravessadas pela mesma corrente.

164
Tendo em vista o modo de construir as células, verifica-se que elas
gozam das seguintes propriedades, em meios homogêneos:
a) a condutância ou resistência de células de mesma ordem é
sempre a mesma, como se constata aplicando a qualquer célula a lei de
Ohm, ou seja, a resistência de cada célula é sempre a mesma:
1
r= ; (4.91)
σL
b) a densidade média de corrente J, em cada célula, é inversamente
proporcional à sua dimensão média na direção normal às linhas de
corrente;
c) a intensidade média do campo elétrico E, em cada célula, é
inversamente proporcional à sua dimensão média na direção normal às
equipotenciais, pois E=Δ ϕ/Δ n .
d) a densidade média de potência dissipada em cada célula
( ⃗E⋅⃗J ) é inversamente proporcional à área do quadrado curvilíneo
correspondente à célula.
Antes da popularização do uso de computadores, um método
bastante utilizado para se resolver problemas de campos bidimensionais
era o método gráfico denominado “método dos quadrados curvilíneos”.
Esse método baseava-se na possibilidade de se descobrir, graficamente, o
campo bi-dimensional dado em quadrados curvilíneos. Era um método
que dependia muito da habilidade em traçar essas curvas ortogonais entre
si, mas que conseguia produzir resultados com uma precisão bastante
razoável. Esse método não é mais tão utilizado hoje em dia, porém um
mapa de campo, como o mostrado na Figura 4.32, é bastante útil na
visualização e interpretação gráfica da solução obtida numericamente.
Perceba que, uma vez obtido um mapa de campo dividido em
quadrados curvilíneos, a resistência do condutor em estudo obtém-se
imediatamente. De fato, se a resistência de cada célula do campo for r, a
resistência do condutor será
ns n 1
R= r= s , (4.92)
np np σ L
onde ns = número de quadrados em série, num tubo de corrente e np =
número de tubos de corrente em paralelo. Verifique, para o mapa da
Figura 4.32, que os quadriláteros são realmente quadrados e que, nessas

165
condições temos ns = 19 e np = 14; e sendo L = 1m e σ=0,01 S/m,
obtemos, pela aplicação de (4.92) R=135,7 Ω, bem próximo do valor
obtido numericamente (R= 136,3 Ω).
Uma relação interessante que pode ser derivada dessa análise é a
relação de dualidade:
Dado um mapa de campo bidimensional que divide uma região
condutora em quadrados curvilíneo, temos duas famílias de curvas
ortogonais entre si: uma, que inclui os eletrodos condutores perfeitos, é a
família das equipotenciais; a outra, que inclui eventuais interfaces entre o
meio condutor e um meio isolante externo, é a família das linhas de
corrente. Essas famílias podem, portanto, ser invertidas, ou seja, as
equipotenciais tornando-se linhas de corrente e vice-versa, e passar a
representar o mapa de campo de um problema dual. Nessas condições, o
número de células em série inverte-se com o número de células em
paralelo e, portanto, passa a haver uma relação entre a resistência do
problema original com o problema dual, ou seja:
np 1 1 1 1 1
Rdual = = = . (4.93)
ns σ L R σ L σ L R σ 2 L2
Nota: Todas essas relações obtidas para mapas de campos
divididos em quadrados curvilíneos podem ser estabelecidas
rigorosamente com o emprego da teoria de funções analíticas; devido ao
desenvolvimento matemático relativamente extenso, esta demonstração
não será feita aqui. O leitor interessado pode ser encontrar essa teoria,
por exemplo, em Weber [16, Cap. 7].
Ex. 4.7 - Determinar a resistência entre os eletrodos A e B da Figura
4.34, para uma espessura de 3 cm.
Solução:
Neste novo problema bidimensional, notamos que a forma e a
dimensão do meio condutor é a mesma do exemplo 4.6 resolvido
numericamente, e para o qual obtivemos uma resistência
R = 136.3089 Ω, considerando uma condutividade σ=0,01 e uma
espessura L = 1 m. Como, agora, os eletrodos A e B ocupam
exatamente a posição da interface condutor/isolante do problema
anterior e as novas interfaces condutor/isolante estão exatamente na
mesma posição dos eletrodos do problema anterior, temos que o mapa

166
de campo desses dois problemas deve ser idêntico, porém, com a
inversão de equipotenciais e linhas de campo.
2 cm
A B

σ = 0,1 S/m
10 cm

10 cm
Figura 4.34: Problema dual da Figura 4.27.

Dessa forma, sendo σ dual =0,1 S/m e L dual =3 cm, temos que
np 1 1 1
Rdual = = =
ns σ dual Ldual R σ L σ dual L dual .
1 1
= =244,5426 Ω
136,3089×0,01×1 0,1×3×10−2
Vemos, assim, que a relação de dualidade nos permite, primeiro,
calcular a resistência de um problema dual a partir do valor calculado
ou medido da resistência de um problema dado ; e segundo, traçar as
linhas de corrente de um certo mapa de campo através do traçado das
equipotenciais do problema dual. E foi dessa forma que as linhas de
campo foram traçadas na Figura 4.32.

167
4.7 Método das Imagens
Frequentemente a solução do problema eletrostático pode ser
grandemente facilitada pelo emprego do chamado método das imagens.
Ele consiste na introdução de imagens elétricas, sob a forma de cargas
imaginárias, puntiformes ou lineares. Essas cargas ficam situadas fora da
região onde se calcula o campo, mas de maneira tal que estas imagens,
mais as cargas primitivas. originam uma distribuição de campos que
satisfaz às condições de contorno da distribuição original.

4.7.1 Imagem de cargas próximas a plano


condutor
Considere o problema de uma carga puntiforme + q, colocada a
uma distância d de um plano condutor indefinido. (Figura 4.35).
Queremos determinar a função potencial ϕ apenas no
semiespaço direito, ou seja, z >0 , que satisfaz a:
∇ 2 ϕ=0 para z> 0,( x , y , z)≠(0,0 , d )
,
∯ ∇ ϕ⋅dS=−q/ε
⃗ (4.94)
Σ⊃(0,0 , d )

já que no ponto (0, 0, d) temos uma carga puntiforme e, portanto, o fluxo


do vetor deslocamento através de qualquer superfície que a envolva deve
ser igual a q.
Supondo-se o plano condutor com potencial nulo ( ϕ=0 ) e
igual ao potencial de qualquer ponto no infinito (já que esse plano se
estende ao infinito), essa função potencial deve satisfazer às seguintes
condições de contorno:
ϕ( z =0)=0 . (4.95)
ϕ( z > 0 , r →∞)=0
É fácil verificar que a função
q q
ϕ(x , y , z)= − z>0
4 π ε r1 4 π ε r 2
, (4.96)

r 1=√ x 2 + y 2 +( z−d )2 ; r 2=√ x 2 + y 2 +( z +d )2

168
q z

Figura 4.35: Carga puntiforme colocada a uma distância d de um plano


condutor indefinido.
satisfaz todas essas condições e, portanto pelo teorema da unicidade, é a
solução procurada.
Note que essa solução coincide, para z >0 , com o campo
criado pelas cargas +q e sua imagem –q em relação ao plano, como
mostrado na Figura 4.36, e dado pelas expressão (4.57).
De fato, em ambos os casos, a equação de Laplace é satisfeita no
semiespaço z >0 , o plano z=0 é uma equipotencial, pois
r 1=r 2 ⇒ ϕ=0 e ϕ( r →∞)=ϕ (r 1 →∞ , r 2→∞)=0 .
É claro que no semiespaço que contem a carga imagem, o campo
é, na verdade, nulo, devido à ação de blindagem do plano condutor, por
esse motivo a solução (4.96) só se aplica para z≥0 .

169
r2 (x,y,z)

r1

-q q z

d d

Figura 4.36: Carga real, q, e sua imagem, virtual, -q.


O campo elétrico se calcula tomando o gradiente de (4.96), ou
seja,


E =−∇ ϕ=
q z−d
{
4 π ε [( z−d ) +ρ ]
2 2 3/ 2

z+d
[ (z + d )2 +ρ2 ]
3/ 2
u^ z +
}
ρ ρ
{ }
q
+ − 3 /2
u^ ρ (4.97)
4 π ε [ (z−d )2 +ρ2 ] 3/ 2
[( z +d )2 +ρ2 ]
ρ2=x 2 + y 2
.
Alternativamente, o campo elétrico pode ser determinado pela
aplicação da equação (4.55), ou seja,

⃗ q q
E= û −
2 r
û r z >0
4 πε r 1 4 π ε r 22
1 2
, (4.98)

sendo û r e û r versores radiais em relação às cargas real e virtual,


1 2

respectivamente.
É fácil verificar que, como esperado, as componentes x e y do

170
campo elétrico (ou a componente axial u^ ρ ) anulam-se para z=0 e,
portanto, próximo a esse plano temos


E ( z =0+ )=
q
{ −d

d
4 πε [ d 2 +ρ2 ]3/ 2 [ d 2+ρ2 ]3 /2 z }
u^ +

ρ ρ
{ }
q
+ − u^ = . (4.99)
4 πε [ d 2 +ρ2 ]3/ 2 [ d 2+ρ2 ]3 /2 ρ

=
−q
{ 2d
4 πε [ d 2 +ρ2 ] 3/
}
2
u^ z =
−q d
2 π ε r1
u^
3 z

A densidade superficial de carga no plano condutor será, portanto,


−q d
ρs= D z (z =0+ )= . (4.100)
2 π r 31
Ou seja, na verdade o campo em todo o espaço z >0 e z <0 é
produzido pela carga real e pela distribuição superficial de cargas dada
por (4.100). Porém, para calcular o campo no semiespaço z >0 apenas,
a utilização da carga imagem é mais conveniente. Note, também, que
essa densidade de carga é inversamente proporcional ao cubo da
distância do plano à carga real, de forma que para pontos a distâncias
muito maiores que d, essa densidade já é desprezível. Isso sugere que, no
caso de problemas com planos de dimensões finitas, se a dimensão do
plano for muito maior que a distância entre a carga e o plano, a solução
(4.96) deve fornecer uma boa aproximação.
Verifique, como exercício, que a integral de ρs sobre o plano
indefinido será
∞ ∞
−q d
Q plano=∬ ρs dS = ∫ ∫ dx dy=−q . (4.101)
z=0 −∞ ∞ 2 π r 31
Também podem ser tratados pelo método das imagens problemas
onde aparecem várias cargas puntiformes, linhas de carga ou qualquer
distribuição espacial de cargas colocada em face de planos condutores
indefinidos (fios de linhas de transmissão sobre a terra, por exemplo).
Nesse caso a imagem será idêntica à distribuição de carga real, situada
simetricamente ao plano e com sinal oposto.

171
Ex. 4.8 - Uma pequena esfera condutora é suspensa por
uma mola isolada a uma distância d acima de um plano
horizontal condutor. Mostrar que se deve colocar sobre a
esfera a carga q=4(d −a)/ √ πε k a para abaixá-la de uma
pequena distância a, se a força de reação da mola por
deslocamento unitário for k.
Solução:
A força de atração entre a esfera e o plano suposto ao
potencial zero pode ser substituído pela ação da esfera sobre
sua imagem com relação a este plano.
Portanto,
q2 q2
F= = .
4 π ε[2(d −a)] 2 16 π ε( d−a)2
Como, por outro lado, F =k a , temos que
q =k a 16 πε(d −a) ⇒ q=4(d −a) √ π ε k a
2 2

4.7.2 Imagens múltiplas


O Método das imagens pode ser aplicado a casos em que haja
vários planos condutores que se interceptam sobre uma mesma reta. Seja,
por exemplo, a carga puntiforme +q situada entre dois planos condutores,
conforme indica a Figura 4.37.
Neste caso, não podemos utilizar apenas as cargas 1 e 2, imagens
de +q em relação aos planos A e B, respectivamente. Posto que o par +q,
no ponto 0 e –q no ponto 1, e o par +q (em 0) e –q no ponto 2, se
existissem sozinhos, dariam respectivamente potencial constante em A e
em B, as 3 cargas juntas, entretanto, não satisfazem a esta condição.
É necessário achar-se as imagens das imagens até que algum par
de imagens coincida, e isso só irá ocorrer quando o ângulo formado pelos
2 planos for um submúltiplo exato de 180o, ou seja
α= π rad. (4.102)
n

172
y B

–q
2

α 0 q A

1 –q x

Figura 4.37: Carga puntiforme, suposta positiva, próxima a um diedro


formado por planos condutores. As imagens de sinal positivo estão em
preto e as de sinal negativo, em branco.

Nessas condições, pode-se verificar que teremos um número par


de cargas (a carga real e mais 2 n−1 imagens) distribuídas sobre uma
circunferência com centro no ponto de junção dos planos condutores; de
forma que a distribuição de cargas será simétrica, e de sinais opostos,
tanto em relação ao plano A como ao plano B.
O potencial, nos pontos ( x=ρ cos φ , y=ρ sin φ) , 0<φ <α ,
para uma carga situada no ponto (ρ0 cos φ0, ρ0 sin φ 0 ,0) nesse caso,
poderá ser calculado, por

( )
n−1
q 1 1
ϕ( x , y , z )= ∑ −
4 π ε i=0 r +i r −i
r = √ (x− x ) +( y− y ) + z ,
± ± 2 ± 2 2
i i i
(4.103)
± ±± ±
x =ρ0 cos φ ; y i =ρ0 sin φ i
i i

φ±i =2 i α±φ 0
+
notando que o ponto r⃗0 corresponde à carga real.
Para o caso específico de um diedro com planos ortogonais, e uma
carga posicionada à distância d1 do plano vertical e d2 do plano
horizontal, como mostrado na Figura 4.38, a solução é dada por

173
4
1 qi
ϕ= ∑
4 π ε i=1 r i
x >0, y >0
.
q i=±q ; r i =√ ( x∓d 1)2 +( y∓d 2 )2 +z 2

Figura 4.38: Carga puntiforme, positiva, próxima a um diedro formado


por planos condutores ortogonais. As imagens de sinal positivo estão
em preto e as de sinal negativo, em branco.

4.7.3 Carga puntiforme e esfera condutora


Considere a geometria da Figura 4.39, onde temos duas cargas
puntiformes, q' e q. Vamos mostrar que o potencial provocado por essas
cargas é nulo sobre uma esfera de raio a se:
P 1 P 2=a 2 (4.104)
e
q ' =−q √ P 2 / P1 . (4.105)
1. Se a distância de q' (ponto S) ao centro O for tal que
P 1 P 2=a 2 então, para qualquer ponto P sobre a circunferência de
raio a, os triângulos OSP e OPT serão semelhantes.

174
P

r r1
a r2

q' q
O S T

P2

P1
Figura 4.39: Geometria do problema de duas cargas puntiformes.
Prova:
a) o ângulo O é comum aos 2 triângulos,
b) os triângulos têm dois lados com relações proporcionais, por
construção:
P2 a OS O P
= ⇒ = ,
a P 1 O P OT
c) pela condição LAL eles são semelhantes.
2. Se os triângulos OSP e OPT são semelhantes, então
S P O P r2 a
= ⇒ = , ou seja, para qualquer ponto sobre a
P T O T r 1 P1
circunferência a relação entre as distâncias desse ponto a cada uma
das cargas é uma constante.
3. Escolhendo-se q ' =−q √ P 2 / P 1 , o potencial na esfera,
causado pelas duas cargas será:

ϕ=
q
+
q'
=
q
4 π ε0 r 1 4 π ε0 r 2 4 πε0 r 1 (
1+
q ' /q
)
r 2 / r1
=
.
=
q
4 πε0 r 1( √P / P
1− 2 1 =0
a/ P 1 )
175
Nessas condições, pelo teorema da unicidade, o potencial devido a
uma carga q próxima a uma esfera condutora com potencial nulo (Figura
4.40) é o mesmo produzido pela carga q e sua imagem q´ com posição e
intensidade dadas acima, ou seja,

ϕ=
q
+
q'
=
q 1 a / P1
4 π ε0 r 1 4 π ε0 r 2 4 πε0 r 1

r2(.
) (4.106)

P
r
r2 r1

a
θ q' q
O

P2
P1

Figura 4.40: Carga puntiforme próxima a uma esfera condutora


aterrada.

A densidade superficial de cargas sobre a esfera pode ser


calculada a partir da função potencial da seguinte forma. Coloca-se a
expressão do potencial em coordenadas esféricas com origem no centro
da esfera, escrevendo-se as expressões de r1 e r2 em função de r e q:
2 2 2 2 2 2 2 2
r 1=( P 1−r cos θ ) +r sin θ r 2=( P 2 −r cos θ ) +r sin θ
e calcula-se, em seguida, a componente radial do campo, fazendo a
derivada: E r =−∂ϕ /∂ r . Nesta derivada, toma-se r=a, multiplica-se
por e e, aplicando a condição de contorno para a componente normal do

176
vetor D, resulta:


2 2
∂ϕ −q P1 −a
ρs= Dr ( r =a )=−ε = , (4.107)
∂r r=a 4 π a r 31
e verifica-se, novamente, que a densidade superficial de cargas varia
com o inverso do cubo da distância do ponto da superfície esférica à
carga puntiforme.
Obviamente, a carga total da esfera será igual a q´

∬ ρs dS=q ' =−q


esfera √ P2
P1
. (4.108)

As superfícies equipotenciais correspondentes à expressão (4.106)


estão traçadas na Figura 4.41. Note que apenas a equipotencial
correspondente à esfera (0 V) é esférica.

Figura 4.41: Equipotenciais produzidas por uma carga puntiforme


próxima a uma esfera condutora aterrada. A esfera corresponde à
equipotencial de valor zero.

177
Se a carga real estiver dentro da esfera, procede-se inversamente, e
o par de cargas pode ser utilizado para se calcular o potencial dos pontos
internos à esfera.

a ) Carga puntiforme e esfera condutora com carga


nula.
Se a condição de contorno da esfera for diferente, por exemplo, se
a esfera condutora tiver carga nula, a sua superfície ainda deve ser uma
equipotencial, porém o seu potencial não será mais nulo e o fluxo do
vetor deslocamento ao seu redor deve ser nulo. Nesse caso, a nova
solução pode ser obtida da anterior acrescentando-se uma outra carga
virtual à solução. Para que a esfera continue a ser uma equipotencial,
essa nova carga virtual, de valor q'', deve ser colocada no centro da
esfera, como mostrado na Figura 4.42, e para que o fluxo do vetor
deslocamento seja nulo ao redor da esfera, seu valor deve ser q'' = – q',
de modo que a nova solução para a função potencial passa a ser
P
r
r2 r1

a
q'' q' q
O

P2
P1

Figura 4.42: Carga puntiforme próxima a esfera condutora isolada


(carga total nula).

178
q q' q'
ϕ= + − =
4 π ε0 r 1 4 π ε0 r 2 4 π ε0 r
para r > a ,
q q √ P 2 /P 1 q √ P 2 / P1
= − +
4 πε0 r 1 4 π ε0 r 2 4 π ε0 r
e
q' q √ P 2 / P1
ϕ=− = para r≤a ,
4 πε0 a 4 πε0 a
como mostrado na Figura 4.43.

Figura 4.43: Equipotenciais produzidas por uma carga puntiforme


próxima a uma esfera condutora de carga nula. A esfera adquire o
potencial de valor aproximado 1437 V.

Ex. 4.9 - Mostrar que a força exercida por uma esfera


condutora não carregada e isolada, de raio a, sobre uma
carga q à distancia d desse centro é
q 2 a3 2 d 2 −a 2
F =− .
4 π ε d 3 ( d 2−a 2)2

179
Solução:
Como temos uma carga próxima a uma esfera sem carga
elétrica, a solução da função potencial é idêntica a vista
anteriormente, com duas cargas imagem, uma distando
P 2=a2 / d do centro da esfera e de valor −q √ P 2 /d , e
outra no centro da esfera de valor q √ P 2 /d .
Dessa forma, as forças que atuam então sobre q, serão:
Devido a q 1=−q √ P 2 /d =−q √ a 2 / d 2=−q a/d :
−1 a q2 −1 a d q 2
F 1= =
4 π ε d (d −a 2 /d )2 4 π ε (d 2−a2 )2
Devido a q 2=q √ P 2 /d =q √ a /d =q a /d
2 2

1 a q2
F 2= .
4 πε d 3
Portanto a força total será

F=
[
1 a q2

a d q2
=
]
−a 3 q2 2 d 2−a 2
4 π ε d 3 ( d 2−a 2 )2 4 π ε d 3 (d 2−a2 )2 [ ] .

O sinal negativo indica força de atração.

4.7.4 Campo entre cilindros infinitos com eixos


paralelos.
Vamos, inicialmente, calcular o potencial produzido por uma linha
de carga infinita, com densidade de linear de carga uniforme, ρl
(Figura 4.44). Integrando-se o fluxo elétrico em uma superfície cilíndrica
com eixo coincidente com a linha de carga, temos
ρl l=∯ D⋅d
⃗ ⃗ S =Dρ 2 π ρ l ⇒
Σ
,
⃗ = ρl u⃗ρ ⇒ E
D ⃗ = ρl u⃗ρ
2πρ 2πε ρ
e, tomando-se um ponto O arbitrário como referência,
ρ0
ρl ρ
ϕ ( ρ ) −ϕ ( ρ0 ) =∫ ⃗
ρ

E⋅dl=
2 πε
ln ρ0 ( ) . (4.109)

180
Σ

ρl ρ0
O

Figura 4.44: Linha de carga infinita, com densidade


de linear de carga uniforme,

ρ– ρ+

s O s
–ρl +ρl

Figura 4.45: Duas linhas de cargas, com sinais opostos e mesma


intensidade, paralelas e separadas de uma distância 2s

Se tivermos, então, duas linhas de cargas, com sinais opostos e


mesma intensidade, paralelas e separadas de uma distância 2 s (Figura
4.45), o potencial pode ser obtido, por sobreposição, utilizando-se
(4.109) e tomando-se o ponto médio (O) como referência:
ρl ρ0 ρl ρ0 ρl ρ−
ϕ ( P )=
2πε ( )
ln ρ −
+ 2 πε
ln ρ =

( )
2πε
ln ρ
+
( ) . (4.110)

As equipotenciais desse problema correspondem a superfícies para


as quais ρ− /ρ+=cte . Como vimos na seção 4.7.3, dados dois pontos
num plano, a razão entre as distâncias de cada um desses pontos a um
terceiro ponto será constante se esse terceiro ponto estiver sobre uma

181
circunferência de raio a, com centro distando P1 e P2 dos dois primeiros
2
pontos e tal que P 1 P 2=a . Dessa forma, temos que as equipotenciais
do exemplo atual são superfícies cilíndricas, de raio a genérico e tais que,
para cada uma delas, seus eixos são paralelos às linhas de carga e distam
2
P1 e P2 das linhas de forma que P 1 P 2=a , como mostrado na Figura
4.46.

P
ρ+
ρ–

O –ρl +ρl

P2
P1

Figura 4.46: Superfície equipotencial genérica produzida por duas


linhas de cargas, com sinais opostos.
Algumas equipotenciais desse problema estão mostradas na Figura
4.47.
Utilizando-se, agora, a solução obtida para as linhas de carga,
podemos resolver qualquer problema no qual tenhamos duas superfícies
cilíndricas, paralelas e infinitas, a diferentes potenciais.
Assim, dados dois cilindros paralelos de raios a1 e a2, com uma
diferença de potencial V, como mostrado na Figura 4.48, sempre será
possível determinar a posição de 2 linhas de carga (imagens virtuais) que
produzirão, na região externa aos cilindros, o mesmo potencial que a
distribuição de carga dos próprios cilindros, bastando para isso que os
dois cilindros coincidam com 2 equipotenciais das linhas de carga, ou
seja, basta que as posições dessas linhas satisfaçam a
a 21=P 1 P 2 e a 22=P 1 ' P 2 ' , (4.111)
sendo
P 1 '=d −P 1 e P 2 ' =d −P 2 .

182
Figura 4.47: Família de superfícies equipotenciais produzidas por duas
linhas de cargas, com sinais opostos.

P2'

a1

+ρl a2
O –ρl O'
P1'

P2
P1
d

Figura 4.48: Dois cilindros paralelos de raios R1 e R2, a diferentes


potenciais, com eixos separados de uma distância d.

O valor da densidade de carga, ρl , pode ser obtido em função


da diferença de potencial entre os cilindros.

183
Ex. 4.10 - Capacitância e resistência entre 2 cilindros
idênticos paralelos
Como um caso particular importante, vamos determinar a
função potencial, a resistência e a capacitância entre dois
cilindros idênticos, condutores perfeitos e paralelos, de raio
a, com distância entre os eixos igual a 2h, entre os quais é
aplicada uma tensão 2V0.
Solução:
O potencial na região externa aos cilindros será o mesmo
que o provocado por duas linhas de carga colocadas à
distância P1 dos eixos, por simetria, como mostrado na
Figura 4.49, sendo:
a 2=P 1 P 2=P 1 ( 2 h− P1 ) ⇒ P 1=h− √ h2−a2 .
Portanto,
ρl ρ
ϕ=
2 πε
ln ρ− .
+
( )
Sobre o cilindro da direita, o potencial deve ser V0 (por
simetria). Assim, calculando-se o potencial em A, obtemos:

ϕ ( A )=
ρl
2 πε
ln(2 h−a−P 1
a−P 1
ρ
)
= l ln
2 πε (
2 h−a−h+ √ h 2−a 2
a−h+ √ h2 −a 2
=
)
ρl
(
h−a + √ h −a
)ρl
( √ )
2 2 2
h h
= ln = ln + −1 =V 0 ⇒
2πε a−h+ √ h2 −a 2 2 π ε a a2
2 π εV 0 2πεV0
⇒ ρl = =
h
( √ )h2
ln + 2 −1 cosh a
a a
−1 h
()
Dessa forma, a capacitância para um comprimento l será
dada por:
ρl l πε l πε l
C= = = ,

( √ ) ()
2V 0 h
h h2 cosh
−1 (4.112)
ln + 2 −1 a
a a

184
P2

ρ– ρ+
a
a
A
P1
2 V0

P1

P2

2h

Figura 4.49: Dois cilindros idênticos, condutores perfeitos e paralelos,


de raio a, com distância entre os eixos igual a 2h.

e, por analogia, a resistência será:

R=
ln ( √
h
a
h2
a
=
)
+ 2 −1 cosh −1 h
a () .
(4.113)
πσ l πσ l

4.8 O Método dos Momentos


Vamos considerar um operador linear L que, operando sobre
funções de um domínio D, gera outras funções pertencentes a uma
imagem I, ou seja,
L( f )= g f ∈D , g ∈I . (4.114)
Como exemplo, podemos considerar f como uma função
pertencente ao domínio das funções densidade de carga elétrica sobre
uma dada superfície S, g uma função potencial sobre a mesma superfície,
e L seria o operador que determina a função potencial a partir da
densidade de carga, ou seja, o operador dado por (4.58). Neste caso, o
domínio e a imagem são idênticos, ambos são o conjunto de todas as
funções definidas sobre a superfície S.

185
Seja então dado o seguinte problema: determinar a função f,
pertencente ao domínio D, tal que o operador L, aplicado a essa função,
seja igual a uma dada função g; ou no nosso exemplo, dada uma
superfície sobre a qual o potencial é conhecido (por exemplo uma
superfície condutora com um potencial definido V) determinar a
distribuição de carga sobre essa superfície que produz essa função
potencial.
Se esse operador L for tal que associe a cada diferente função de
seu domínio uma função diferente de sua imagem, podemos definir um
−1
outro operador L que, operando sobre funções pertencentes a I, gere
funções em D, e tal que
L−1 [ L( f )]= f . (4.115)
Esse operador é denominado operador inverso de L. Dessa forma,
a solução da equação (4.114) pode ser dada por
−1
f =L ( g ) . (4.116)
O problema que aparece na grande maioria dos casos em que
temos que resolver uma equação do tipo (4.114), e ocorre também em
nosso exemplo, é que o operador inverso não pode ser analiticamente
determinado e, portanto, (4.116) não pode ser diretamente obtida.
Vamos supor, então, que todas as possíveis funções de nosso
domínio D possam ser escritas como uma somatória de certas funções
conhecidas, desse mesmo domínio, multiplicadas por determinados
coeficientes. Isso será possível se estas funções formarem uma base
completa em D, e essas funções são denominadas funções de base.
Dessa forma, a nossa função desconhecida, f, pode ser escrita como
f =∑ xi f i , (4.117)
i

sendo as funções de base, f i, conhecidas, e os coeficientes xi, incógnitas a


serem determinadas.
Como o operador L é linear, temos, substituindo (4.117) em
(4.114),
∑ xi L ( f i)=g . (4.118)
i

Definindo-se, então, o produto escalar de duas funções da imagem

186
I, g1 e g2, com a notação 〈 g 1 , g 2 〉 e escolhendo-se então um outro
conjunto de funções pertencentes à imagem I, denominadas funções
peso, wj (para j=1,2 ,... ) , vamos agora efetuar o produto escalar de
cada uma dessas funções pela equação (4.118), obtendo-se então
∑ xi 〈 L( f i) , w j 〉 =〈 g , w j 〉 . (4.119)
i

Para cada valor de j temos, então, uma equação nas variáveis xi,
formando-se, assim, um sistema de equações matricial que pode agora
ser resolvido para a obtenção desses coeficientes e, portanto, de nossa
função incógnita f.
Vemos pois que o método apresentado acima permite a solução de
qualquer equação integral ou diferencial, por serem esses operadores
lineares, bastando para isso que se escolham um conjunto de função de
base, um conjunto de funções peso e um produto escalar adequados ao
problema.
A escolha das funções de base deve ser feita de maneira que elas
formem uma base completa sobre o domínio, de modo que qualquer
função do domínio possa ser representada adequadamente por essas
funções. Além disso elas devem ser linearmente independentes, para que
o sistema de equações obtido não seja indeterminado. É aconselhável,
também, que essas funções sejam escolhidas de maneira que a função
incógnita possa ser adequadamente aproximada por um número finito (e
o menor possível) de termos, pois, como pode-se perceber, para
aplicações práticas a somatória (4.117) deve ser truncada em um número
finito de termos, levando, de forma geral, a um erro de truncamento, que
deve diminuir com o aumento do número de funções de base utilizado.
A escolha das funções peso segue, em geral, duas linhas básicas: a
utilização de funções de base do tipo delta de Dirac, ou a utilização das
próprias funções de base. A primeira, que corresponde a impor-se a
validade da equação (4.118) sobre um conjunto discreto de pontos da
imagem leva, em geral, a uma formulação mais simples. A segunda
escolha implica na ponderação dos erros segundo a própria função de
base, e é denominada método de Galerkin. Neste texto utilizaremos
apenas a primeira formulação, porém o leitor pode obter mais
informações sobre o segundo método em Harrington [18].

187
Assim, definindo-se um conjunto de n funções de base e impondo-
se a igualdade (4.118) num conjunto finito de pontos, que
denominaremos r⃗j , a expressão (4.119) pode ser escrita
matricialmente como
A x=b (4.120)
sendo

[] [ ]
x1 g ( r⃗1)
x= x 2 , b= g ( r⃗2 ) ,
⋮ ⋮
xn g ( r⃗n )
.

[ ]
[ L ( f 1)]( r⃗1) [ L( f 2 )]( r⃗1) ⋯ [ L( f n )]( r⃗1)
A= [ L( f 1 )]( r⃗2 ) [L ( f 2 )]( r⃗2) ⋯ [ L ( f n )] ( r⃗n)
⋮ ⋮ ⋱ ⋮
[ L( f 1 )]( r⃗n ) [L ( f 2 )]( r⃗n) ⋯ [ L ( f n )] ( r⃗n)
A notação [ L( f i )]( r⃗j ) indica a função resultante da aplicação
do operador L sobre a função de base fi, sendo calculada no ponto r⃗j .
A equação (4.120) pode ser resolvida por qualquer método usual
de solução de equações matriciais.
Para ajudar a entender melhor a formulação apresentada, vamos
aplicá-la a um exemplo de cálculo de capacitâncias.
Ex. 4.11 - Considere a geometria da Figura 4.50, constituída
de um cilindro condutor, muito longo, paralelo a um plano
condutor infinito.
Deseja-se determinar a distribuição de carga elétrica sobre
esse cilindro condutor numa determinada condição de
excitação, por exemplo considerando uma diferença de
potencial V= 1 V entre ele e o plano condutor.

188
a

h
Figura 4.50: Cilindro condutor, muito longo, paralelo a uma placa
condutora.
Para tal, vamos aproximar a distribuição de carga
desconhecida em sua superfície por um número n de fios de
carga, cada um com uma densidade linear de carga elétrica20
λ i a ser determinada, como esboçado na Figura 4.51,
posicionadas com o seu eixo sobre a superfície cilíndrica,
equiespaçados, e com um diâmetro tal que eles tangenciem
os fios vizinhos. Os valores dessas densidades serão nossas n
incógnitas.

y
n 123
. .
. .
. .

Figura 4.51: Aproximação da distribuição de carga por n linhas de


carga.
20 Utilizaremos, neste exemplo apenas, o símbolo λ para representar a
densidade linear de carga, ao invés de
ρl , para evitar confusão com as distância radiais representadas por
ρ .

189
Aplicando-se o método das imagens, a cada fio de carga,
vamos associar a ele um outro fio de carga, simetricamente
posicionado abaixo do plano condutor, de valor −λi , de
forma a impor-se potencial nulo sobre a superfície, e o
potencial produzido por cada par de fios de carga será dado
por (4.110), ou seja,
λi ρ
ϕi ( P )=
2πε
ln ρi−
i+( ) ,

como mostra a Figura 4.52.

λi
yi
ρi+

ρi–

x
xi

–yi
-λi
Figura 4.52: Fio com densidade linear de carga e sua
imagem.

Note que a expressão anterior só é válida no semiespaço


superior e fora do respectivo fio, para pontos do próprio fio,
ρi+ deve ser substituído pelo raio do fio, que chamaremos
de a.
O potencial devido a todas as linhas de carga (que são nossas
funções de base) será dado, assim, por:
n
λi ρ
ϕ ( P )= ∑
i=1 2πε
ln ρi−( )
i+
.

190
Para que tenhamos potencial de 1 V sobre o cilindro,
utilizaremos os mesmos n pontos definidos anteriormente e
neles vamos impor que o potencial seja igual ao potencial do
cilindro21, (1 V).
Obtemos, assim, N equações com a seguinte forma,
n
λi ρ
ϕ( r⃗j )=ϕ ( x j , y j ) =∑
i=1 2 π ε
( )
ln ρ j i− ; j=1,. .. , n
ji+
.
ρ j i −=√(x i −x j ) +( yi + y j)2 ,
2

ρ j i += √( x i− x j) 2+( y i− y j )2 j≠i , ρi i +=a


Colocando-se essas equações na forma matricial, temos

[ ][ ] [ ]
a11 a12 ⋯ a1 n λ1 ϕ (⃗
r1 )
a2 1 a2 2 ⋯ a2 n λ2 = ϕ( r⃗2 ) ,
⋮ ⋮ ⋱ ⋮ ⋮ ⋮
an 1 an 2 ⋯ an n λn ϕ( r⃗n )
sendo
n
1 ρ
a i j =∑
i =1 2 πε (
ji+ )
ln ρ j i− , ρ j i−= √( x i− x j )2+( y i + y j )2 ,

ρ j i+ =√( xi −x j )2 +( yi − y j )2 j≠i , ρi i+ =a
e
ϕ( r⃗j )=1 .
Resolvendo-se o sistema acima, obteremos os valores li, que
nos fornecem uma aproximação para a densidade superficial
de carga sobre o cilindro. Somando-se esses coeficientes
obtemos a sua carga total por metro e, portanto, a sua
capacitância por metro (já que a tensão utilizada era de 1 V).
Espera-se obter resultados mais precisos para valores de n
cada vez maiores. De fato, para esse problema em particular
conhecemos a expressão analítica da sua capacitância (fica
como exercício para o leitor obter essa expressão), e podemos

21Ou seja, utilizaremos funções peso do tipo delta de Dirac nesses


pontos.

191
verificar como varia o valor obtido numericamente à medida
que aumentamos n. Utilizando-se, por exemplo, h= 2 m e a =
−11
1 m, o valor teórico da capacitância é 4,22432×10 F/m,
e o gráfico da Figura 4.53 nos mostra a diferença relativa
entre o valor obtido numericamente e o valor teórico em
função do número de fios utilizado.

Figura 4.53: Erro relativo do cálculo da capacitância pelo método


dos momento em função do número de funções de base utilizado.

Assim, mesmo para geometrias bastante complexas, com vários


cilindros ou outros condutores de qualquer outra forma, podemos utilizar
a formulação apresentada no exemplo 4.11 para determinar a distribuição
de cargas nesses condutores nas mais diversas condições de excitação.
Certamente, outras formulações com funções de base e de peso mais
complexas são possíveis e podem levar a resultados com uma
convergência ainda mais rápida, e também podem ser aplicadas para
problemas em 3 dimensões, se desejado. As referências de Harrington
[18] e Sadiku [17, Cap. 5] fornecem mais exemplos da aplicação desse
método para problemas eletrostáticos, assim como para outras áreas do
eletromagnetismo.

192
Exercícios do Capítulo 4
1. Dadas as funções potenciais escalares:
bx 2 2
a) ϕ1=k e (a +k )
bx
b) ϕ2 =k e [ sen (a y )+2 cos (a y )]
c) ϕ3= A ea x e k y sen (b z )
onde a, b, k e A são constantes, determine, para cada
caso, o valor de b que as obriga a obedecer a equação de
Laplace para todos os x, y e z.
R.: a) b=0 ; b) b=±a ; c) b=±√ a2 +k 2
2. Dentro de uma esfera de raio a, contante dielétrica
3 r E 0 cos θ
relativa εr , o potencial vale: ϕi=− (V), e ,
εr +2
fora dela vale
3
a E 0 εr −1
ϕ o= cos θ−r E 0 cos θ (V).
r εr + 2
2

a) mostre que o campo interno é uniforme, e dirigido na


direção z.
b) mostre que, para r ≫a , o campo externo vale
E 0 û z
c) verifique que a componente do campo elétrico tangente
à esfera é contínua em r =a ;
d) verifique que a componente do vetor deslocamento
normal à esfera é contínua em r =a .
3. Uma carga elétrica Q está distribuída uniformemente
entre duas superfícies esféricas concêntricas, de raios a
(interna) e b (externa). Determinar as expressões de ϕ e

E para 0≤r ≤∞ . Construir os gráficos de E e ϕ em
função de r para 0≤r ≤5 b (Kraus e Carver [11, p. 55]).

193
4. Verifica-se experimentalmente que o campo elétrico em
direção à terra, na sua superfície, é de 300 V/m. Mostrar
que isto implica numa carga superficial de 0,00265 C/km 2
(Harnwell [20, p. 42]).
5. As placas de um condensador de placas paralelas estão
afastadas de d. A capacitância entre elas, com o ar como
dielétrico, é C. Com uma fatia de espessura t de material
isolante, de constante dielétrica εr sobre uma das
placas, a capacidade passa a ser C'. Mostrar que:
C' εr d
= ,
C t+εr (d −t )
Traçar o gráfico de C/C' em função de t. Discutir o efeito
da camada de ar ( d −t ), sobre a capacitância. (Kraus e
Carver [11, p. 104]).
6. No capacitor de placas planas e paralelas da Figura 4.54,
os dielétricos têm condutividades finitas.

x 90 V

10cm

σ3=3σ1
σ2=2σ1
ε3
ε2

2cm
σ1,ε1 0V
0

dielétrico perfeito
Figura 4.54

194
Um dielétrico perfeito ( σ=0 ), de espessura muito
pequena separa os meios σ1 e σ 2 de σ 3 . Determine:
a) a função potencial nos 3 meios;
b) a densidade superficial de cargas reais na interface 1-
2.
R.: a) ϕ3=900 x ; ϕ2 =750(x −0,02)+ 30 ; ϕ1=1500 x
7. Determine a capacitância de um capacitor de placas
planas e paralelas, de área S =36 cm2, distanciadas de
d=2mm, contendo 2 dielétricos de εr 1 =5 e εr 2=2 , nos
seguintes casos:

V/6 εr1=5
V εr1=5 εr2=2
d

εr2=2

S S
(a) (b)
Figura 4.55
a) a superfície de separação dos dielétricos é paralela às
placas, e a d.d.p. no dielétrico (1) é 1/6 da tensão entre
placas (Figura 4.55(a)).
b) a superfície de separação dos dielétricos é tangencial
ao fluxo elétrico, e 40% de fluxo total entre as placas
está contido no dielétrico (2)(Figura 4.55(b)).
1 5
R.: a) C= nF; b) C= nF
8π 32 π

195
8. Determine a capacitância de:

cm

cm
75

75
cm
(a) 25 (b)
Figura 4.56
a) um satélite artificial esférico (condutor) de raio 75 cm,
no espaço livre (muito distante de qualquer outro
astro) - Figura 4.56(a).
b) deste mesmo satélite, agora envolvido por uma camada
esférica de dielétrico, de constante dielétrica relativa
εr =3 , e de espessura 25 cm(Figura 4.56(b)).
R.: a) 83,5 pF b) 100 pF
9. Calcule a resistência de fuga do cabo coaxial da Figura
4.57, sendo dados: σ1 =1/(6 π) S/m; σ 2=1/(3 π) S/m;
a=1 cm, b=2,72 cm. R.: 2 Ω.m.

b
σ1

σ2

Figura 4.57

196
10. De uma placa circular de material condutor de
condutividade σ=1/(10 π) S/m, espessura d= 1,5 cm,
corta-se o setor de ângulo central 60o, raios interno e
externo a= 2 cm, b= 5,44 cm. As faces curvas A e B são
mantidas aos potenciais ϕ A=100 V e ϕ B=0 V (Figura
4.58). Determine:

Figura 4.58
a) a corrente que flui entre as faces A e B.
b) a distância, x contada, radialmente, a partir da face B,
em que se encontra a equipotencial de 75 V.
R.: a) I = 0,05 A; b) x=2,568 cm.

197
11. Dado um setor de espessura d, com raio interno a,
externo b e condutividade σ , determinar os vetores

J e ⃗
E e calcular a resistência entre as faces
metalizadas A e B da Figura 4.59, admitindo b/a=1,5, com
os seguintes procedimentos:

σ
B

Figura 4.59
a) Supondo o setor igual a um condutor de mesma seção e
(a+ b)
comprimento igual a π ρ=π ;
2
b) levando em conta a curvatura (Kraus e Carver [11, p.
142]).

198
12. Supõe-se possível assimilar o aterramento de um
poste de linha de transmissão a uma semisfera de raio
r=1 m. A resistividade da terra é 100 Ω.m. Quando um
dos cabos da linha toca no poste, aparece uma corrente da
terra de 100 A.
a) Qual a tensão máxima que pode aparecer entre os pés
de um indivíduo caminhando na direção mais
desfavorável? (comprimento médio do passo de um
homem = 0,80 m)
b) Qual a tensão entre a linha e a terra?
R.: 708 V; 1,590 kV. (Küpfmüller e Kohn [21, p. 36])
13. Dois longos oleodutos de ferro galvanizado, com 50cm
de diâmetro, estão semienterrados e distam de 4 m (ver
Figura 4.60); se a condutividade do solo (areoso) for de
10−4 S/m, determine a resistência entre os tubos, por
metro de comprimento.

0,5 m 0,5 m

4m

Figura 4.60
R.: 17,6 kΩ.m. (Kraus e Carver [11, p. 142])

199
14. Calcular a resistência de terra de um cano
verticalmente enterrado e com um dos extremos na
superfície, se seu comprimento for l=2 m e seu
diâmetro d =5 cm. Admitir a condutividade da terra
−4
igual a 10 S/cm.
R.: R=40.4 Ω. (Küpfmüller e Kohn [21, p. 40])
15. De uma chapa (de espessura d) de um material
condutor (condutividade σ ) foi cortado o setor de 45 o
(raio interno a, raio externo b). Calcular a resistência
entre as faces curvas (hachuradas) MM' e NN' mostradas
na Figura 4.61(Kraus e Carver [11]).

N
M

45o σ

b
a M'
N'

Figura 4.61
16. Duas esferas de cobre (supostas de condutividade
infinita) encontram-se semienterradas em um solo de
−2
condutividade σ=10 S/m. Os diâmetros das esferas
são respectivamente d1=10 cm e d2=12 cm, e seus centros
estão distanciados de l metros. Uma bateria de f.e.m.
100V, de resistência interna desprezível, é ligada às duas
esferas, conforme indica a Figura 4.62. Qual a corrente
fornecida pela bateria, para:

200
l

100 V

σ
d1 d2
Figura 4.62
a) l = l1 = 100 m?
b) l = l2 = 50m?
17. Dois eletrodos cilíndricos de cobre, de diâmetro
d=2cm, paralelos, atravessam perpendicularmente uma
grande chapa de grafite de 1 cm de espessura (Figura
4.63). A distância entre os centros dos eletrodos é 10 cm.
5
Sendo a condutividade da grafite igual a 1,5×10 S/m e
supondo que a condutividade do cobre seja infinita,
calcular a resistência entre os dois eletrodos
1 cm

σ σ σ

10 cm
Figura 4.63

201
18. Um longo condutor retilíneo muito fino é paralelo a
um plano condutor, e está carregado com ρl C/m
(Figura 4.64). Sendo h a distância do fio ao plano,
determine a densidade superficial de carga induzida no
plano.

Figura 4.64
−ρl h
R.: ρs=
π (x 2 h 2)
19. As placas condutoras perfeitas planas A e B,
mostradas na Figura 4.65, formam entre si o ângulo de
30o e são submetidas a uma diferença de potencial de 100
V. Entre elas existem dois materiais de condutividades
−3 −3
σ1 =2 π×10 e σ 2=4 π×10 . As dimensões estão
dadas na Figura 4.65. Determine:
a) as densidade volumétricas de corrente J 1 e J 2 em
pontos genéricos das duas regiões.
b) a resistência.
R.: a) J 1=1,2/ρ , J 2=−2,4 /ρ û φ A/m2; b) R=554 Ω.

202
Figura 4.65
20. Calcule a capacitância por metro de uma linha de
transmissão de fios paralelos, distanciadas 1 cm centro a
centro tendo os condutores raio igual a 0,5 mm, imersos
em polietileno ( εr =2,25 ) como mostrada na Figura
4.66.
1 cm
1 mm

Figura 4.66
R.: 20,8 pF/m.

203
21. O potencial elétrico dentro de uma superfície esférica
de raio a é dado por
r
ϕi ( r )=−A cos θ
a
e fora da mesma superfície por

ϕo ( r )=−A ()
a 2
r
cos θ

onde r e θ são as coordenadas esféricas e A é


constante.
a) calcular o campo elétrico dentro e fora da esfera
b) determinar a distribuição de cargas na superfície
esférica que produz o campo dado. (Fano et al. [5, p.
103]).
22. Determinar o campo elétrico e o potencial sobre o eixo
de um anel de raio a no qual a densidade linear de cargas
é constante e igual a ρl C/m.

a
ρl

Figura 4.67
23. As duas esferas condutoras, ocas e concêntricas, da
Figura 4.68 são separadas por dielétrico liquido de
condutividade σ e constante dielétrica ε .

204
a2

a1

ε,σ

Figura 4.68
a) Qual a resistência entre as duas esferas?
b) Deslocando-se a esfera central, a resistência diminui
50%. De que porcentagem é afetada a capacitância. Em
que sentido?
24. Dois planos condutores infinitos formam um ângulo
reto. Uma carga é colocada num diedro formado pelos
planos condutores como indicado na Figura 4.69.

Δx +q

Δy

Figura 4.69
a) Determine as cargas imagens.
b) Escreva a função potencial.
c) Calcule as densidades de cargas (só no plano da figura)
(Peck [10]).
25. Uma carga filiforme de densidade igual a ρl é
colocada numa cavidade de um condutor. A cavidade tem
a forma de um cilindro de comprimento infinito e de raio

205
a. A distância entre o eixo do cilindro e a carga filiforme é
ρ . Determine a função potencial dentro da cavidade
(Peck [10]).
26. Um fio nu de linha de transmissão de corrente
contínua de raio = 0,25cm fica a 10 metros da terra
condutora. A tensão do fio em relação à terra é
–30kV. Determine a carga por metro linear do fio (Peck
[10]).
27. Calcular a capacitância por metro entre um fio de
cobre colocado paralelamente a um chassis de alumínio
como indicado na Figura 4.70. Se se interpuser, entre o fio
e o chassis, um dielétrico, a capacitância aumenta ou
diminui? (Kraus e Carver [11])
2 mm

3 mm

Figura 4.70
28. Entre 2 condutores cilíndricos concêntricos coloca-se 2
camadas superpostas A e B, constituídas por 2 dielétricos
com constantes dielétricas ε A=3 ε0 , εB =5ε 0 e
−3 −3
condutividades σ A =10 S/m, σ B =10 S/m,
conforme indica a Figura 4.71. Entre os 2 condutores
aplica-se a tensão continua V0, resultando a corrente de
fuga pelos dielétricos de 1A para 1 m de comprimento dos
cilindros. Pede-se:

206
If
b
c V0
a

εA, σA a = 5 π cm
b = 15 π cm
εB, σB c = 25 π cm
Figura 4.71
a) Tensão V0 entre os condutores.
b) As densidades de cargas reais, no condutor central, na
interface dos dois dielétricos A e B e no condutor
externo.

207
5 Energia e polarização de dielétricos
5.1 Capacitâncias e condutâncias parciais

5.1.1 Matriz de capacitâncias


Uma configuração de campos elétricos que aparece em várias
aplicações é aquela produzida por um conjunto de corpos condutores
carregados (ou, o que é equivalente, um conjunto de corpos condutores
mantidos a diferentes potenciais) imersos em um meio isolante
(dielétrico). Nessa configuração é de interesse a relação entre as cargas
em cada um dos corpos e os respectivos potenciais.
Essas relações são expressas de maneira conveniente através das
chamadas capacitâncias parciais, que passaremos a descrever.
Consideremos um conjunto de corpos condutores imersos em um
meio dielétrico com densidade volumétrica de cargas nula e
completamente envolvidos por uma superfície condutora cujo potencial
será adotado como referência (Figura 5.1).
Admitamos que cada condutor i seja mantido a um potencial Vi em
relação ao condutor de referência. Pelo teorema da unicidade sabemos
que existe uma única função potencial, ϕ , no meio dielétrico, que
satisfaz às condições impostas, isto é, assume os valores dados nas
superfícies limítrofes desse meio ( ϕ(Σ0 )=0 , ϕ(Σ1 )=V 1 ,...,
ϕ(Σ n)=V n ) e é compatível com a densidade volumétrica de cargas
nula no meio.
Uma vez conhecida a função ϕ pode-se determinar o campo
elétrico em qualquer ponto do dielétrico, através de

E =−∇ ϕ ,
e também as cargas existentes em cada um dos (n+1) corpos condutores:
Q k =−∯ ε ∇ ϕ⋅dS
⃗ k k =0,1 ,... n ,
Σk

209
Vi

2

Σ2 ... i Σi
1

Σ1

...
...

n
k n̂ ...
Σn
Σk

Σ0

Figura 5.1: Conjunto de n corpos condutores imersos em um meio


dielétrico ou condutor completamente envolvidos por uma superfície
condutora Σ0.

onde ε é um escalar (admitimos meio isotrópico) independente da


intensidade do campo elétrico (isto é, o meio é linear) mas em geral é
função da posição (isto é, o dielétrico pode não ser homogêneo). Essa
integral é simplesmente o fluxo do vetor D⃗ saindo da superfície
condutora k, uma vez que a normal n̂ é sempre dirigida da superfície
para o dielétrico (ver Figura 5.1).
Mostraremos, a seguir, que a função potencial ϕ pode ser
construída pela combinação linear de n funções elementares
ϕi (i=1, 2,... , n) .
A função ϕi é a função potencial no meio dielétrico que satisfaz
à condição de densidade de volumétrica de carga nula no meio e assume
o valor nulo em todas as superfícies limítrofes, exceto na superfície do
⃗ i o campo elétrico
corpo i, onde esse valor é igual a 1. Chamando de E
associado a ⃗ i o vetor deslocamento correspondente, temos:
ϕi e D
E⃗ i=−∇ ϕi (5.1)

210
⃗ i =ε E⃗ i =−ε ∇ ϕi
D (5.2)
A condição de densidade de carga volumétrica nula se escreve
⃗ i =−∇⋅( ε ∇ ϕi )=ρv =0
∇⋅D (5.3)
ou
2
∇ ε⋅∇ ϕi+ ε ∇ ϕi =0 (5.4)
supondo meio não homogêneo. (Se o meio for homogêneo essa equação
torna-se ∇ 2 ϕi=0 ). As condições de contorno para ϕi são:

ϕi (P )=
{
0
1
P∈ Σ k , k ≠i
P ∈Σi
. (5.5)

As equações (5.4) e (5.5) definem univocamente a função ϕi .


Consideremos agora a combinação linear
n
ϕ=V 1 ϕ1 +V 2 ϕ2+...+ V n ϕn=∑ V i ϕi , (5.6)
i =1

onde os Vi são constantes; Vi representa o valor numérico da função


potencial ϕ na superfície Σ i , como pode ser verificado através das
equações (5.5). Perceba que essa função satisfaz às condições de
contorno nas superfícies limítrofes Σ i . Mostremos que a densidade
volumétrica de cargas associada a ϕ é nula.
De fato, pela linearidade dos operadores gradiente e divergente:
n
⃗ =∇⋅(−ε ∇ ϕ)=∇⋅(−ε ∇ ∑ V i ϕi )=
ρv =∇⋅D
i=1 ,
n n
=∑ V i ∇⋅(−ε ∇ ϕi )=∑ V i ×0=0
i=1 i=1
onde a última igualdade decorre de (5.3).
Conclui-se que ϕ dado por (5.6) é a solução procurada.
Calculemos agora as cargas nos condutores correspondentes à
função potencial ϕ . A carga no condutor k é dada pelo fluxo do vetor
deslocamento saindo de Σ k , isto é:
Qk =∯ D ⃗ =−∯ ε ∇ ϕ⋅dS
⃗ ⋅dS ⃗ k =0, 1,... , n .
Σk Σk

Usando (5.6) e a linearidade do operador gradiente,

211
( )
n n
Q k =−∯ ε ∇ ∑ V i ϕi ⋅dS=
Σk
⃗ ∑ V i −∯ ε ∇ ϕ i⋅dS
i=1

i=1 ( Σk ) . (5.7)
k =0, 1, ... , n
O termo entre parênteses, claramente independente dos valores
atribuídos às tensões Vi, representa a carga no condutor k associado à
função potencial ϕi (Este fato é constatado fazendo na somatória de
(5.7) todos os Vi nulos excepto um deles).
Note que tomamos os Vi com dimensão de Volt, e os ϕi
adimensionais. Dessa forma, o termo entre parênteses em (5.7) resulta
com dimensão de capacitância, representada por C'k i,
C ' k i=−∯ ε ∇ ϕi⋅dS
⃗ .
(5.8)
Σk

Em termos dessas capacitâncias a carga em cada um dos n corpos


escreve-se:

{
Q1 =C ' 1 1 V 1+C ' 1 2 V 2 +...+C ' 1 n V n
Q 2=C ' 2 1 V 1+C ' 2 2 V 2+...+C ' 2 n V n .
(5.9)

Q n=C ' n 1 V 1+C ' n 2 V 2+...+C ' n n V n
Vi representa o valor assumido pelo potencial no condutor i, tendo-
se tomado como referência o valor nulo na superfície Σ 0 .
Claramente, como tomamos o condutor de referência ( Σ 0 )
totalmente envolvendo os outros, a carga na sua superfície será:
Q0 =−(Q1 +Q2 +...+Q n) , (5.10)
como pode ser verificado aplicando a lei de Gauss a uma superfície que
envolva Σ 0 .
As equações (5.9) permitem conveniente interpretação aos
coeficientes C ' i k . Atribuindo, por exemplo, potenciais nulos a todos
os corpos, excepto ao primeiro, tem-se:

C ' 1 1=
Q1
V1 ∣ V i =0,i ≠1
C ' 21 =
Q2

V 1 V =0,i≠1
i
... .

Utilizando uma notação matricial, podemos reescrever (5.9) como

212
Q=C V , (5.11)
sendo Q e V vetores com os valores das cargas e tensões,
respectivamente, e C a matriz das capacitâncias desse sistema:

[ ]
C '11 C '12 ⋯ C '1n
C '21 C '22 ⋯ C '2n
C= . (5.12)
⋮ ⋮ ⋱ C '2n
C 'n1 C 'n2 ⋯ C 'nn
Sendo o meio linear e isotrópico (mas não necessariamente
homogêneo) como admitimos, esses coeficientes exibem 4 importantes
propriedades que permitem uma representação por capacitâncias
concentradas (isto é, modelo de circuito), como veremos:
C ' i k =C ' k i , (5.13)
C ' i k ≤0 i≠k , (5.14)
C ' i i >0 , (5.15)
n

∑ C ' i k ≥0 . (5.16)
i=1

Verifica-se que C ' i k é negativo (5.14) considerando que, pelas


equações (5.9), C ' i k representa a carga no condutor i quando os
potenciais em todos os corpos são nulos, exceto o potencial do corpo k.
Ora, vimos que numa região sem cargas espaciais (como é o nosso
dielétrico) a função potencial não passa por extremantes. Portanto, ao se
aproximar do condutor i (que está ao potencial zero) a função potencial o
faz decrescendo, gerando um vetor deslocamento apontado para a
superfície Σ i , o que implica em densidade de carga superficial
negativa em cada ponto de Σ i e, portanto, em carga total Q i
também negativa. Logo, cada C ' i k é negativo ou nulo ( i≠k ).
Ana1ogamente, mostra-se que C ' i i é positivo, pois o vetor
deslocamento relacionado com ϕk aponta para fora de Σ k
implicando em densidade de carga e carga total Q k positivas.
Ainda um raciocínio análogo demonstra (5.16). Façamos, por
exemplo a somatória das capacitâncias em uma linha de (5.9),

213
n

∑ C ' k ,i , que corresponde à carga Q k quando os n potenciais são


i=1

unitários: V1= V2= ... = Vn= 1. Obviamente Q k é positivo, pois a função


potencial só pode decrescer a partir da superfície Σk .
A propriedade (5.13) decorre do teorema da reciprocidade, que
será demostrado na seção seguinte.
As propriedades anteriores permitem representar, por meio de
capacitâncias (concentradas), as relações entre cargas armazenadas e
tensões num sistema de n condutores envolvidos por um condutor de
referência, em regime estacionário e, como pode ser demonstrado,
também no regime quase estacionário que será estudado no Capítulo 7, e,
obedecidas certas restrições, mesmo no regime rapidamente variável
(ver, por exemplo Fano et al.[5, Cap. 6]).
Convém notar que a superfície Σ0 tomada como referência para
medida dos potenciais, pode ser dilatada ate o infinito, podendo ainda ser
uma superfície aberta (um “plano de terra”, por exemplo). Neste último
caso uma superfície no infinito completa Σ0 .
Antes de apresentarmos o modelo de capacitâncias parciais
propriamente dito, apresentaremos a demonstração do teorema da
reciprocidade e, em seguida, examinemos o problema análogo nos
campos de correntes estacionárias.

5.1.2 Teorema da reciprocidade


Considere uma região do espaço que apresenta como fronteira uma
superfície Σ 0 (que pode se estender até o infinito eventualmente). Essa
superfície será considerada como potencial de referência ϕ( Σ0 )=0 .
Para uma determinada distribuição de cargas nessa região, teremos
como solução para o potencial nessa região uma função ϕ I , que
satisfaz a todas as condições de contorno dentro desse espaço, e satisfaz
também a ϕ I (Σ 0)=0 .
Para essa solução teremos então:

214
E⃗ I =−∇ ϕ I
D⃗ I =ε E⃗I ; .
ρv I =∇⋅D⃗ I
Para uma outra distribuição de cargas, teremos como solução para
o potencial nessa região uma outra função ϕ II que satisfaz às
respectivas condições de contorno dentro desse espaço, e satisfaz,
também, a ϕ II (Σ 0)=0 , e, analogamente:
E⃗II =−∇ ϕII
D⃗II =ε E⃗II ; .
ρv II =∇⋅D⃗II
Utilizando-se a seguinte identidade vetorial (derivação por partes)
∇⋅( α v⃗ )=α ∇⋅⃗v + ⃗v⋅∇ α ,
podemos expressar os seguintes produtos:
ϕ I ρII =ϕ I ∇⋅D⃗II =∇⋅( ϕ I D⃗II ) − D⃗II⋅∇ ϕ I =∇⋅( ϕ I D⃗II ) + D⃗II⋅E⃗ I
.
⃗ I =∇⋅( ϕ II D
ϕ II ρI =ϕ II ∇⋅D ⃗ I ) − D⃗ I⋅∇ ϕ II =∇⋅( ϕ II D⃗ I ) + D⃗ I⋅E⃗II
Subtraindo-se as expressões acima, onde os meios são, também,
supostos isotrópicos, chegamos a:
ϕ I ρII −ϕ II ρI =∇⋅( ϕ I D⃗II −ϕ II D⃗ I ) + D⃗II⋅E⃗ I − D⃗ I⋅E⃗II = .
∇⋅( ϕI D⃗II −ϕII D⃗ I ) +ε E⃗II⋅E⃗ I −ε E⃗ I⋅E⃗II =∇⋅( ϕ I D⃗II −ϕ II D⃗ I )
Integrando-se essa expressão em todo o volume, chega-se a

τ
( ϕ I ρ II −ϕ II ρI ) d τ=∭ ∇⋅( ϕ I D⃗II −ϕII D
τ
⃗ I ) d τ=
.
=∯ ( ϕ I D II −ϕ II D I )⋅d S =0
⃗ ⃗ ⃗
Σ 0

O valor nulo deve-se ao fato de que ϕ(Σ0 )=0 , ou, no caso em


que Σ 0 →∞ ,

ϕ~
1 ⃗ 1
r
; D ~ 2 ; Σ0 ~ r ⇒lim ∯ ϕ D⋅d
r
2

r →∞ Σ
⃗ ⃗ S ~ lim
0
1 1 2
r →∞ r r
2
r =0 . ( )
Assim,

τ
( ϕ I ρ II ) d τ=∭ ( ϕ II ρ I ) d τ ,
τ
que é uma das formas do teorema da reciprocidade para campos
eletrostáticos.

215
No caso do nosso problema de capacitâncias parciais, em que
cargas estão distribuídas apenas sobre superfícies Σ i (corpos
condutores), como na Figura 5.1, tomando-se ϕ I =V i ϕi e
ϕ II =V k ϕk a expressão anterior se modifica para:

Σ
( V i ρs k ) dS=∬ ( V k ρ si ) dS ,
Σ
i k

pois a função ϕi é nula sobre as superfícies Σ k e vice versa, como


definido por (5.5) .
Dessa forma, temos
V i ∬ ρs k dS =V k ∬ ρ s i dS ⇒V i Q i k =V k Q k i ⇒
Σi Σk
,
Q Q
⇒ i k = k i ⇒C ' i k =C ' k i
V k Vi
que é a propriedade (5.13).

5.1.3 Matriz de condutâncias


Consideremos o campo de correntes estacionárias causado por um
conjunto de n condutores imersos em um meio condutor linear,
isotrópico (mas não necessariamente homogêneo), e envolvidos por um
outro condutor Σ 0 (Figura 5.1). Entre Σ 0 e cada um dos n
condutores aplicamos, por meio de geradores externos, tensões V i .
Pela analogia entre os campos eletrostáticos e de correntes resulta
que as correntes que saem de cada condutor podem ser expressas em
função das tensões aplicadas, de maneira análoga às equações (5.9):

{
I 1=G ' 1 1 V 1+G ' 1 2 V 2 +...+G ' 1 n V n
I 2 =G ' 2 1 V 1+G ' 2 2 V 2+ ...+ G ' 2 n V n ,
(5.17)

I n =G ' n 1 V 1+G ' n 2 V 2+ ...+ G ' n n V n
ou, na forma matricial,
I =G V (5.18)
sendo I e V vetores com os valores das correntes e tensões,
respectivamente, e G a matriz das condutâncias desse sistema:

216
[ ]
G ' 11 G '12 ⋯ G '1n
G ' 21 G '22 ⋯ G '2n
G= . (5.19)
⋮ ⋮ ⋱ G '2n
G ' n1 G 'n2 ⋯ G 'nn
Os coeficientes Gki, dados por
G ' k i =−∯ σ ∇ ϕi⋅dS

(5.20)
Σk

gozam das propriedades análogas às (5.13-5.16):


G ' i k =G ' k i , (5.21)
G ' i k ≤0 i≠k , (5.22)
G ' i i >0 , (5.23)
n

∑ G ' i k ≥0 . (5.24)
i=1

e as correntes Ii são as fornecidas pelos geradores.

5.1.4 Modelos de capacitâncias e condutâncias


parciais
Mostraremos que as propriedades (5.21-5.24) garantem que, para
os geradores, o sistema pode ser representado como um circuito de
parâmetros concentrados.
Tomando-se, de forma genérica, a k-ésima linha de (5.17), e
reescrevendo-a como a diferença de potencial entre o nó k e os outros
nós, temos
I k =G ' k 1 V 1+G ' k 2 V 2 +...+G ' k k V k +...+G ' k n V n=
=G ' k 1 [ (V 1−V k )+(V k −V 0 ) ] +
+G ' k 2 [ (V 2 −V k )+( V k −V 0 ) ] + . (5.25)
...+G ' k k [ V k −V 0 ] +...+G ' k n [ (V n−V k )+(V k −V 0) ]=
=(G ' k 1 +G ' k 2+...G ' k k +...+G ' k n)(V k −V 0 )−
−G ' k 1 (V k −V 1 )−G ' k 2 (V k −V 2)−...−G ' k n (V k −V n)
Note que neste último membro os coeficientes são todos positivos.

217
Vk-V2 2
1 ...
Vk-V1

Ik Gk 1 Gk 2

...
...

n
k
Gk n
Gk 0
Vk-V0 Vk-Vn
Σ0

Figura 5.2: Circuito equivalente utilizando condutâncias parciais entre


os corpos condutores. apenas as condutâncias ligadas ao nó k são
mostradas.
Assim, se definirmos as condutâncias parciais:
n
G k 0= ∑ G ' k , n , (5.26)
i=1

G k i=−G ' k i i≠k (5.27)


podemos representar a relação entre tensões e correntes do nó k através
do circuito da Figura 5.2, em que entre os pontos i e k ligamos a
condutância G ik , um valor positivo devido a (5.27) e (5.22), e entre os
pontos k e 0 ligamos G k 0 que é positivo por (5.26) e (5.24).
De fato, tomando como referência o potencial da superfície Σ 0 ,
a análise nodal resulta em
I k =G k 0 (V k −V 0 )+Gk 1(V k −V 1 )+G k 2 (V k −V 2)+... ,
(5.28)
...+G k n (V k −V n)
que é idêntico a (5.25) ao se utilizar (5.26) e (5.27).
De forma análoga, podemos também representar a relação entre
tensões e cargas utilizando-se de capacitâncias parciais, ou seja, dada a
relação (5.9) entre cargas e tensões nos corpos condutores e considerando

218
as propriedades (5.13-5.16) podemos também escrever

Q k =C k 0 (V k −V 0)+C k 1(V k −V 1 )+C k 2 (V k −V 2 )+... ,


(5.29)
...+C k n (V k −V n)
sendo
n
C k 0 =∑ C ' k ,n , (5.30)
i=1

e
C k i =−C ' k i i≠k . (5.31)
Como um caso particular, para facilitar a fixação dos conceitos, no
caso de 3 corpos condutores envolvidos por uma outra superfície
condutora Σ 0 , o circuito equivalente entre os nós, considerando-se as
capacitâncias e as condutâncias parciais, é mostrado na Figura 5.3.

G13

G12 C13 G23

1 2 3

C12 C23

G10 C10 G20 C20 G30 C30

Figura 5.3: Circuito equivalente para uma geometria de 3 corpos


condutores.
Observação: Em alguns problemas pode ser conveniente trabalhar
com o inverso das matrizes C de (5.11) ou G de (5.18),
expressando as tensões em função das cargas ou das correntes:

219
V =S Q , S=C −1 .
(5.32)
V =R I , R=G−1
R é denominada matriz das resistências e S matriz das elastâncias
(inverso de capacitância), e pode-se demonstrar que ambas são simétricas
e com elementos todos positivos (verifique!).
Note porém que, em geral, os elementos dessas matrizes não
encontram correspondentes diretos no modelo de circuitos,
contrariamente ao que se dá com os Gik e Cik.
Ex. 5.1 - Aterramento com 3 estacas
Considere um sistema de aterramento composto de 3 estacas
condutoras cilíndricas, idênticas, enterradas como mostra a
Figura 5.4, e interligadas entre si. Determinar a resistência
desse aterramento.

It
2a
I2 I3
ar I1

solo
l

d d
Figura 5.4: Sistema de aterramento composto de 3 estacas condutoras
cilíndricas, idênticas, de comprimento enterrado l = 1 m, raio a = 2,5
cm e espaçamento d=2 m. O solo pode ser suposto homogêneo com
condutividade σ =0,01 S/m.
Solução:
No problema com uma única estaca, a resistência desse
aterramento é dada pela expressão (4.75), repetida aqui, por
conveniência:

220
R≈
1
2πσl
ln
2l
a [ ]
=69,7 Ω.

Se conectarmos essas 3 estacas por fios condutores,


formando um único aterramento, as 3 estacas estariam em
paralelo, e ficaríamos tentados a supor que a nova
resistência desse aterramento seria um terço da anterior, ou
seja, 23,2Ω. Esse seria o caso, apenas, se as estacas
efetivamente estivesse muito afastadas umas das outras.
Como elas estão relativamente próximas, precisamos levar
em conta o acoplamento entre elas, ou seja, as tensões
induzidas umas nas outras.
Para resolver-se esse problema, precisamos construir o
modelo de condutâncias parciais dessa estrutura. Nesse
modelo, temos 3 condutores (as estacas) e o nosso condutor
de referência está no infinito, com potencial zero. Para
obtermos esse modelo precisamos determinar a matriz de
condutâncias dessa estrutura; para isso deveríamos aplicar
uma tensão não nula no condutor 1, mantendo os outros 2
condutores aterrados e medir ou calcular as correntes que
fluem de cada uma das estacas para o solo nessas condições,
obtendo-se então a primeira coluna da matriz (5.19) pelas
expressões

G ' 1 i=
Ii

V 1 V =0,i≠1
i
.

Em seguida esse procedimento seria repetido para se obter


as colunas 2 e 3.
Esse procedimento, porém, não é o mais prático para ser
realizado. Repare que, para esse problema ser resolvido de
forma analítica, por exemplo, precisaríamos encontrar uma
função potencial que se anulasse sobre os condutores 2 e 3 e
tivesse valor unitário sobre o condutor 1, e usar essa função
para determinar as respectivas correntes.

221
Ao invés disso, vamos determinar a matriz de resistências
desse problema, ou seja, vamos ligar um gerador de corrente
ao condutor 1, deixando os outros dois desconectados, e em
seguida medindo-se as tensões induzidas nos 3 condutores
poderemos determinar a coluna 1 da matriz de resistências,
e assim sucessivamente para as colunas 2 e 3.
Supondo-se, então, uma corrente I1, sendo aplicada na estaca
1, como mostrado na Figura 5.4, com I 2=I 3=0 , podemos
supor que a função potencial produzida seja
aproximadamente a mesma que teríamos se as estacas 2 e 3
não existissem. Veja que isso não é exatamente verdade pois
como as estacas são condutoras perfeitas (por hipótese) elas
impõem uma superfície equipotencial na posição em que se
encontram. Porém podemos supor que essa seja uma boa
aproximação, dado que as estacas são bem finas e estão bem
afastadas (iremos verificar o erro dessa hipótese durante o
cálculo). Considerando-se então essa hipótese, podemos
supor que o potencial produzido seja dado pela expressão
obtida anteriormente para um elipsoide delgado
semienterrado (4.63). que repetiremos aqui por
comodidade : 22

ϕ(ρ , z )=
I1
4 πσl
ln
[
( z +l)+ √( z +l)2 +ρ2
(z −l)+ √( z−l )2 +ρ 2 ] .

Com essa expressão, podemos calcular o potencial no


condutor 1 como

V 1 1=ϕ( a ,0)=
I1
4 πσl
ln
[
(l)+ √ (l )2 +a 2
(−l)+ √ (−l) 2+ a2 ]
=69,7 I 1 .

Dessa forma, temos que


R1 1=69,7 Ω .

22 Por analogia, substituímos a densidade linear de carga Q/l por uma


densidade de corrente I/l.

222
Para o potencial no condutor 2, obtemos

V 2 1=ϕ(d ,0)=
I1
4πσl
ln
[
l+ √ l 2 + d 2
(−l )+ √ (−l)2 +d 2 ]
=7,66 I 1 ,

e, portanto
R2 1=7,66 Ω .
Apenas para verificar o erro ao se desprezar o condutor sem
corrente, se calcularmos o potencial em sua extremidade,
obtemos

ϕ( d ,l )=
I1
4πσ l
ln
[
2 l+ √ 4 l 2+d 2
0+ √ 0+ d 2 ]
=7,01 I 1 ,

ou seja, um erro de, no máximo, 8,5 %.


De forma análoga (os cálculos ficam para o leitor) a matriz
de resistência obtida resulta em:

[
69,7 7,66 3,94
R= 7,66 69,7 7,66
3,94 7,66 69,7 ] Ω.

Invertendo-se essa matriz, obtemos, então a matriz de


condutâncias:

[
14,55 −1,53 −0,65
G=R−1= −1,53 14,68 −1,53
−0,65 −1,53 14,55 ] mS.

Assim, as condutâncias parciais no modelo de circuitos


devem ser
G1 0=14,55−1,53−0,65=12,37 mS =1/(80,8Ω)=G 2 0 ,
G2 0 =14,68−1,53−1,53=11,62 mS =1/(86,1Ω) ,
G1 2=1,53 mS =1/(654 Ω)=G 2 3 ,
G1 3=0,65 mS =1/(1538 Ω) ;
e o modelo de circuitos (utilizando os valores dos respectivos
resistores) resulta no mostrado na Figura 5.5.

223
1538 Ω

654 Ω 654 Ω
1 2 3

80,8Ω 86,1Ω 80,8Ω

Figura 5.5: Modelo de circuito da estrutura da Figura 5.4.


Assim, se os nós 1 a 3 forem curto-circuitados, a resistência
entre eles e o “terra” será igual a 80,8 // 86,1 // 80,8 = 27,5 Ω.
Ou, diretamente a partir da matriz G,

[
14,55 −1,53 −0,65 1 12,4
I =G V = −1,53 14,68 −1,53 1 = 11,6
−0,65 −1,53 14,55 1 12,4 ][ ] [ ] mA

1V 1
R= = =27,5 Ω .
I 1+ I 2 + I 3 36,4 mA
Vemos que o valor obtido é maior que os 23,2 Ω
correspondentes a 3 estacas muito afastadas, em paralelo.
Ex. 5.2 - Calcular as capacitâncias parciais existentes num
sistema de 3 condutores, sendo um deles um plano ao
potencial da terra e os outros dois, fios paralelos entre si e ao
plano condutor (Figura 5.6(b)).
Este é o caso prático, por exemplo, de uma linha de
transmissão de dois fios paralelos entre si e ao solo.

224
Seja l o comprimento dos 2 fios, e chamemos de Q1, V1 e Q2,
V2, respectivamente, as cargas nos fios 1 e 2 ao longo de l, e
os potenciais desses fios em relação ao potencial do plano.
Suporemos que os diâmetros dos dois fios são muito menores
que as alturas h1 e h2 e que a distância entre os fios.

2 a1
l
1
2 a2

2
h1
h2

(b)

C12
1 2

C10 C20
imagens
(a) (c)

Figura 5.6: Dois fios condutores acima do solo, suposto condutor


perfeito; (a) vista transversal, (b) vista lateral, (c) modelo de circuito.

Solução:
Vamos inicialmente substituir o conjunto fios/plano pelo
conjunto fios/imagens em relação ao plano (Figura 5.6(a)).
Vamos também, de forma análoga ao exemplo anterior,
admitir que a função potencial produzida por um dos fios
com carga não nula tendo o outro fio carga nula, seja
aproximadamente a mesma que a que seria obtida na
ausência deste fio sem carga.
Assim, admitindo-se uma carga Q1 no condutor 1, tendo o
condutor 2 carga nula, temos um problema idêntico ao visto

225
no Ex. 4.10 , sendo, então, a função potencial produzida por
esse fio e sua imagem igual à produzida por duas linhas de
carga, posicionadas de forma que
2
a =P 1 P 2 .
Sendo a << h1, temos que essas linhas de carga estarão
posicionadas muito próximas dos eixos do fio e de sua
imagem, de forma que a função potencial pode ser escrita
como
Q 1 /l ρ−
ϕ 1=
2πε ( )
ln ρ ,
+

sendo ρ+ e ρ− a distância entre um ponto qualquer e os


eixos do fio e de sua imagem, respectivamente.
Nessas condições, o potencial do fio 1 será dado por

V 1 1=
Q1
2πεl
ln ( )
2 h1
a1
,

e o do fio 2

V 2 1=
Q1
2 πε l ( )
h
ln 12 ,
d 12
sendo
d 12=√ d 2+(h1−h 2)2 e h12 = √ d 2 +(h1 + h2 )2 .
Aplicando idêntico raciocínio em relação ao condutor 2, vem:

V 2 2=
Q2
2 π εl ( )
ln
2 h2
a2
e

V 2 1=
Q1
2 πε l ( )
h
ln 12 .
d 12
Assim, a matriz das elastâncias pode ser escrita como

226
[ ( ) ( )
]
2 h1 h12
ln ln
1 a1 d 12
S= .

( ) ( )
2 πε l h 2 h2
ln 12 ln
d 12 a2
Invertendo-se essa matriz, obtemos,

( ) ( )
[ ]
2 h2 h12
ln −ln
2 π εl a2 d 12
C= ,

( ) ( ) [ ( )] ( ) ( )
2
2 h2 2 h1 h h 2 h1
ln ln − ln 12 −ln 12 ln
a2 a1 d 12 d 12 a1
de forma que temos então, no modelo de capacitâncias
parciais (Figura 5.6(c)),

C 1 0=
2 πε l ln ( 2 h 2 d 12
a2 h12 ) ,

( ) ( ) [ ( )]
2
2 h2 2 h1 h
ln ln − ln 12
a2 a1 d 12

C 2 0=
( )
2 π ε l ln
2 h1 d 12
a1 h12
,

( ) ( ) [ ( )]
2
2 h2 2 h1 h
ln ln − ln 12
a2 a1 d 12

C 1 2=
( )
2 π ε l ln
h 12
d 12
.

( ) ( ) [ ( )]
2
2 h2 2 h1 h
ln ln − ln 12
a2 a1 d 12

227
5.2 - A energia eletrostática
Como já vimos na seção 2.9, a densidade de energia elétrica
armazenada no campo é, para meios lineares:
1⃗ ⃗
w e= E⋅D (J/m3). (5.33)
2
Portanto, a energia armazenada num volume de um campo
eletrostático será
1 ⃗ d τ= 1 ∭ ε E 2 d τ (J).
W e= ∭
2 τ
⃗⋅D
E
2 τ
(5.34)

Vamos agora exprimir esta energia em termos de cargas,


capacitâncias e tensões. A equação (5.34) pode ser escrita:
1 1
W e= ∭
2 τ
D E d τ=− ∭ D
⃗ ⋅⃗
2 τ
⃗ ⋅∇ ϕ d τ

Mas, tendo em vista a identidade vetorial


⃗ )=ϕ ∇⋅D
∇⋅(ϕ D ⃗ + D⋅∇ ϕ ,
vem
1 ⃗ d τ− 1 ∭ ∇⋅(ϕ D
W e= ∭
2 τ
ϕ ∇⋅D
2 τ
⃗)dτ ,

ou, aplicando o teorema da divergência,


1 ⃗ d τ− 1 ∯ ϕ D
W e= ∭
2 τ
ϕ ∇⋅D
2 Σ
⃗ ⋅dS
⃗ , (5.35)

onde Σ é a superfície que envolve τ .


Vamos agora examinar o comportamento da segunda integral da
equação acima, quando Σ se dilata até o infinito. Na ausência de
fontes de campo, i.e., cargas elétricas externas ao volume τ , quando

Σ tende ao infinito, ϕ decresce com 1/r , ao passo que D
2
diminui com 1/r . Como a superfície de integração aumenta com
2
r ,verifica-se que a integral tende a zero com 1/r , quando
r →∞ . A energia do campo será dada apenas por
1 ∞ 1 ∞
2∭ 2∭
W e= ϕ ∇⋅D⃗ d τ= ϕρv d τ , (5.36)
−∞ −∞

sendo a integral estendida a todo o volume que contém cargas.


A segunda expressão (5.36) nos diz que, para calcular a energia

228
eletrostática armazenada num campo, devemos computar a metade da
soma dos produtos da carga no entorno de cada ponto ( ρv d τ ) pelo
potencial nesse ponto ( ϕ ). Segue-se que, se a carga estiver distribuída
também sob a forma de densidade superficial, é cômodo acrescentar o
efeito dessas superfícies S carregadas através das respectivas integrais de
superfície. A energia eletrostática fica então:
1 ∞ 1
W e= ∭
2 −∞
ϕ ρv d τ+ ∬ ϕ ρs dS .
2 S
(5.37)

Um caso de grande interesse prático é aquele em que as superfícies


carregadas são corpos condutores. Nesse caso o potencial é constante
sobre cada superfície e a contribuição de cada condutor carregado é
1
ϕQ
2
onde ϕ é o potencial do condutor, devido a todas as cargas do sistema,
e Q é a carga armazenada nesse condutor.
Assim, a energia do campo eletrostático criado por n condutores
carregados, também pode ser calculada facilmente a partir de (5.37). Não
havendo cargas volumétricas:
n
1
W e= ∬ ϕρ s dS = 12 ∑ V k ∬ ρs d S ,
2 S
(5.38)
k =1 S k

donde
n
1
W e= ∑V Q
2 k=1 k k
(5.39)

onde Q k é a carga no condutor k.


Apliquemos esta expressão ao caso de um capacitor cujas placas
contém cargas iguais de sinais contrários, +Q e –Q, depositadas mediante
a ligação de uma bateria de tensão V 0 entre essas placas. Chamando
de V + e V − os potenciais das placas, com relação ao infinito, a
energia eletrostática armazenada no campo do capacitor fica:
1 1
W e = ( V + Q−V − Q ) = ( V +−V − ) Q ,
2 2
ou

229
1
W e= V 0 Q . (5.40)
2
Se a capacitância do capacitor for C, vem imediatamente as
relações conhecidas:
1 1 Q2
W e = C V 02= . (5.41)
2 2 C
Por meio das relações (5.9) a energia eletrostática pode ser escrita
em função dos potenciais e das capacitâncias C ' k i definidas em (5.8):
n n
1
W e= ∑∑ C ' V V ,
2 k=1 i=1 k i k i
(5.42)

ou seja, referindo-se à Figura 5.1, essa é a energia armazenada na região


interna a Σ 0 , onde, conforme indicado naquela figura, os Vi são
medidos em relação à superfície Σ 0 .
Ex. 5.3 - Um capacitor de placas planas e paralelas,
circulares, de raio 60 cm e espaçadas de 1 cm, tem o ar como
dielétrico.
Uma bateria de 1000 V é ligada aos seus terminais (Figura
5.7). Desprezando efeitos de borda:
a) Quais os valores de E⃗0 e D
⃗0 no dielétrico?
b) Qual a energia armazenada?
Mantendo-se a bateria ligada, o espaço entre as placas é
completamente preenchido por duas lâminas dielétricas
circulares, de raio igual ao das placas, e de espessuras d1 e
d2, constantes dielétricas relativas εr 1 =5 e εr 2=2 . A
superfície de separação entre os dielétricos é equipotencial, e
a diferença de potencial no dielétrico (1), de espessura d1, é
1/6 da tensão total.
⃗ e ⃗
c) Quais os valores de D E nos b) dielétricos?
d) Qual a nova energia acumulada no capacitor?
e) Qual o acréscimo de energia fornecida pela fonte?
Desprezar o espraiamento do campo.

230
Solução:

V E0 D0

d
ε0

Figura 5.7: Capacitor de placas planas tendo ar como


dielétrico.

a) O vetor campo tem direção normal às placas, e sentido dos


potenciais decrescentes; seu módulo vale:
V 1000
E 0= = =105 V/m .
d 0,01
⃗ =ε E
Sendo D ⃗ , resulta ainda:
−7 2
D 0 =ε 0 E 0 =8,854×10 C / m .
b)
1 1
W 0= D0 E 0 τ= D0 E 0 S d =
2 2
1
= ×8,854×10−7×10 5×π×0,6 2×0,01=0,5×10−3 J
2
c) Com os dois dielétricos, temos: D 1= D 2 donde
εr 1 ε0 E 1 =εr 2 ε0 E 2
V /6
E 1 d 1 +E 2 d 2=V , E 1= , d 1 +d 2=d
d1

231
S

d1 εr1 E1 D1 V/6
V
εr2 E2 D2
d2

Figura 5.8: Capacitor de placas planas com duas camadas


dielétricas.
Destas relações vem
ε 5
E 2= εrr 12 E 1= E 1 ⇒ E 1 d 1 +2,5 E 1 d 2 =V ⇒
2
V
(d +2,5 d 2 )=V ⇒ .
6d1 1
1 2,5 1 2
⇒ + (d−d 1 )=1 ⇒ d 1= cm e d 2= cm
6 6d1 3 3
Portanto:
V 1000
E 1= = =5×10 4 V/m ,
6 d 1 2×10−2
D1=εr 1 ε0 E 1=5×8,854×10−12×5×104=2,21×10−6 C/m 2 ,
5V 5000
E 2= = =1,25×10 5 V/m .
6 d 2 4×10 −2

−12 5
D 2 =εr 2 ε0 E 2=2×8,854×10 ×1,25×10 =
−6 2
=2,21×10 C/m =D1
d)

232
1 1 1
W e = (D1 E 1 τ 1+ D2 E 2 τ 2)= D 1 S (E 1 d 1 +E 2 d 2 )= D1 S (V )=
2 2 2
1
= ×2,21×10−6×π×0,62×1000=1,25×10−3 J
2
e) Mantida a bateria ligada, a potência fornecida pela
bateria é p (t)=V i (t) e, portanto a energia fornecida será:
tf tf tf

W f =∫ p(t )dt=∫ V i(t )dt=V ∫ i (t) dt=V Δ Q ,


ti ti ti

onde Δ Q é a variação da carga do capacitor, ou seja,


Δ Q=S (ρ s− f −ρs−i )=S ( D 1−D 0)=
.
=π×0,6 2 (2,21×10−6−8,854×10−7 )=1,5×10−6 C
Portanto,
−6 −3
W f =1000×1,5×10 =1,5×10 J .
Note que essa energia é o dobro da variação de energia
armazenada no capacitor, pois parte da energia fornecida
pela fonte é transformada em trabalho mecânico.
Discutiremos o porquê desse fator na próxima seção.

5.3 Forças e momentos no campo eletrostático


A função energia permite o cálculo das forças e momentos
exercidos pelo campo eletrostático sobre quaisquer corpos do sistema,
pela aplicação do princípio dos trabalhos virtuais. O método consiste em
estabelecer o balanço de energia durante um deslocamento virtual
(consistente com os vínculos do problema) do corpo sobre o qual se
deseja determinar a força (ou momento).
A conservação de energia impõe que durante o deslocamento:
(energia fornecida pelas fontes de energia ligadas ao sistema, dWf)
= (trabalho mecânico realizado pelas forças e momentos eletrostáticos,
dWmec) + (aumento da energia eletrostática armazenada no sistema dWe) +
(perdas).
Normalmente desprezam-se as perdas para o cálculo das forças e
momentos, e a relação acima reduz-se a
dW f =dW mec + dW e . (5.43)

233
Consideremos o sistema da Figura 5.9, em que desejamos
determinar a força F exercida pelo campo eletrostático sobre o corpo k
(condutor ou dielétrico). Para isso daremos um deslocamento virtual
⃗ no corpo, como indicado.
dl


F


dl
k

Figura 5.9: Corpo, k, sujeito a uma força eletrostática, F, sofrendo um


deslocamento virtual dl.

Nesse caso
dW mec = ⃗ ⃗
F⋅dl=F l dl , (5.44)
⃗ na direção do
isto é, obteremos a componente da força F
deslocamento, F l .
Substituindo em (5.43):
F l dl=dW f −dW e . (5.45)
Naturalmente, pode-se fazer o deslocamento dl ⃗ ou com as
fontes de tensão ligadas aos condutores, isto é, a potenciais constantes,
ou com as fontes desligadas dos condutores, isto é, mantendo-se suas
cargas constantes. Dependendo do problema, um ou outro procedimento
pode ser mais conveniente, porém, ambos nos darão o mesmo valor para
a força.
a) Se o deslocamento se dá a tensão constante, a energia do
sistema,
1
2∑
W e= QiV i
i

sofre um acréscimo

234
1
2∑
dW e∣ϕ=cte. = V i dQi .
i

Concomitantemente, as fontes fornecem uma energia dada por


dW f =∑ ∫ p i (t)dt =∑ ∫ V i i i (t) dt=∑ V i∫ i i (t ) dt=
i i i ,
=∑ V i dQi
i

ou seja, o dobro de dW e∣ϕ=cte. . De (5.45) resulta então,


F l dl=2 dW e∣ϕ =cte.− dW e∣ϕ=cte.=dW e∣ϕ=cte. , (5.46)
isto é, o trabalho executado pelas forças eletrostáticas durante o
⃗ é igual ao aumento da energia eletrostática
deslocamento dl
armazenada no campo, correspondente ao mesmo deslocamento dl ⃗ e
mantendo as fontes de tensão ligadas aos condutores (naturalmente, as
fontes fornecem a soma dessas energias).
A equação (5.46) pode também ser escrita como
⃗ =∇ k W e∣ϕ=cte ,
F (5.47)
onde o índice k indica que o gradiente é tomado em relação as
coordenadas do corpo k (sujeito apenas a translação).
b) Se todas as fontes de tensão estiverem desligadas dos
condutores, o deslocamento será feito a cargas constantes. Nesse caso,
dW f =0 e (5.45) fica:
F l dl=−dW e∣Q=cte , (5.48)
isto é, o trabalho executado pelas forças eletrostáticas durante o
deslocamento dl ⃗ é feito às custas de uma diminuição da energia
eletrostática armazenada no campo.
Essa equação pode também ser escrita como
⃗ =−∇ k W e∣
F (5.49)
Q =cte

Como exercício teórico o leitor poderá mostrar que de fato


dW e∣ϕ=cte =−dW e∣Q=cte , como indicado pelas equações (5.46) e
(5.48), uma vez que a força é a mesma, independentemente do método de
cálculo. (Sugestão: expresse a energia We em termos das capacitâncias
parciais).

235
Ex. 5.4- Qual a força por unidade de área agindo sobre as
placas de um condensador de placas planas e paralelas,
entre os quais existe a d.d.p. V 0 ? A distância entre placas
é d, e o dielétrico é o ar (Figura 5.10).

x
Fx S

V0 E0 D0

d
ε0

Figura 5.10: Força sobre uma placa de um capacitor tendo ar


como dielétrico.
Solução:
A energia armazenada vale:
1 1 Q2
W e = C V 20 = .
2 2 C
Supondo que a bateria permaneça ligada durante o
deslocamento, temos, pela equação (5.46):

F x =+
dW e
dx ∣
V =cte

onde Fx é a componente, na direção de x, da força agindo na


placa superior, conforme indicado na Figura 5.10.
Expressando We em função de x (que determina a posição da
placa superior):
1 1ε S
W e= C V 2 = 0 V 2 ,
2 2 x
e

236
F x=
dW e
dx ∣
V =cte
=−
1 ε0 S 2
2 x 2
1ε S
2 d
1
V =− 0 2 V 2=− ε0 S E 02 ,
2
onde substituímos x por d.
Assim,
1 2
F x =− ε0 S E 0 . (5.50)
2
O sinal negativo indica que a força na placa superior é
dirigida para baixo, isto é, de atração entre as placas, como
era de se esperar.
Esse mesmo resultado pode ser obtido desligando a bateria
antes do deslocamento. Neste caso usamos (5.48) para obter:

F x =−
dW e
|
dx Q =cte
=−
d Q2
dx 2C
=−
Q2 d x
2 dx ε0 S
=

Q2 1 1 ε0 S 2
=− =− V
2 ε0 S 2 d2
onde substituímos Q por C V. Vemos, assim, que o resultado
é o mesmo anterior.
A força por unidade de área resulta
∣F x∣ 1
= ε0 E 20 .
S 2
Apenas para termos uma referência de ordem de grandeza
dessa força, se a distância entre as placas for de 1 cm e
tivermos 1 kV de tensão aplicado, essa força será igual a
0,044 N/m2.
Essa força de atração entre as placas pode ser
convenientemente interpretada como se segue:
1 2 1 1 1
∣F x∣/S = 2 ε0 E 0 = 2 (ε0 E 0 ) E 0= 2 D0 E 0= 2 ρ s0 E 0
onde ρs0 é a densidade superficial de cargas na placa
superior, e portanto o produto ρs0 E 0 /2 representa a
densidade de força nessa placa. Note-se o fator 1/2, que
aparece devido à descontinuidade do campo E, o qual varia

237
entre E0 e zero ao atravessar a camada de carga na placa.
Esse fator aparece por que a força sobre a placa superior é
exercida pelo campo produzido apenas pela placa inferior
que é metade do valor total do campo E0.
Ex. 5.5 - No exemplo anterior o espaço entre as placas é
preenchido por um dielétrico sólido de εr >1 enquanto a
bateria ainda está ligada (Figura 5.11). Determine a nova
força de atração por unidade de área das placas; compare
com o resultado do exemplo anterior.
x
Fx S

V0 E0 D0 d
εrε0

Figura 5.11: Força sobre uma placa de um


capacitor tendo dielétrico com
permissividade εr ε0 .

Solução:
O campo elétrico entre as placas permanece o mesmo,
E 0=V 0 /d .
A presença do dielétrico aumenta o valor do vetor
deslocamento e, portanto, da densidade superficial de
cargas, que passa a
ρs=ε r ε0 E 0 =ε r ρ s0 .
A carga na placa superior é
Q=S ρs =S ε r ε0 E 0 .
Partindo dessas condições iniciais, podemos agora calcular a
força entre as placas fazendo o balanço de energia a tensão
constante ou a carga constante durante um deslocamento

238
virtual de uma das placas.
Considerando que um afastamento entre as placas inclui
entre elas uma camada de ar, temos uma configuração em
⃗ se conserva, e neste caso é muito mais
que o vetor D
simples fazer o balanço de energia a carga constante, isto é,
com a bateria desligada durante o deslocamento virtual:

F x =−
dW e

dx Q =cte
=−
d Q2
dx 2C
=−
Q2 d (1/C )
2 dx
.

Como agora temos a associação série de dois capacitores, 1/C


é dado por:
1 1 1 d x −d
= + = + ,
C C d C ar εr ε0 S ε0 S
resultando
1 1 1 1 1
F x =− Q 2 =− ( S εr ε0 E 0) 2 =− ε0 E 20 S ε 2r . (5.51)
2 ε0 S 2 ε0 S 2
Comparando este resultado com (5.50) vê-se que, para
mesma tensão entre as placas, a força de tração entre elas é
2
εr vezes maior quando estão separadas por dielétrico.
Tal resultado pode ser confirmado considerando que, como já
discutido no exemplo anterior, a força por unidade de área
da placa é
1 1
∣F x∣/S = 2 ρ s E = 2 εr ρs0 εr E 0 ,

pois no presente caso ρs=ε r ρ s0 e o campo, existente na


região das cargas, isto é, fora do dielétrico, é E=εr E 0 .

239
O cálculo da força entre as placas através do produto
1
ρ E , mostra que teremos o mesmo resultado se o
2 s
dielétrico for líquido. Note que neste caso, ao se fazer o
balanço de energia durante o deslocamento virtual de uma
placa, deve ser incluído o trabalho executado pelo dielétrico
que é aspirado para a região entre placas.
Momentos podem ser calculados de maneira análoga, usando-se os
correspondentes deslocamentos angulares:
∂W
T e =− ∂ θ e ∣ Q =cte
(5.52)

ou
∂W
T e = ∂θ e ∣
V =cte
(5.53)

onde θ é o deslocamento angular do corpo considerado (dielétrico ou


condutor) e T e é o respectivo momento.

5.4 A polarização dos dielétricos


Quando um material isolante homogêneo é submetido a um campo
elétrico, não há em seu interior migração ou redistribuição de cargas
elétricas, pois estas estão fortemente vinculadas à estrutura do material.
No entanto, estas cargas elétricas podem sofrer pequenos deslocamentos
elásticos, que cessam quando se anula o campo, e que fazem aparecer
momentos dipolares no meio dielétrico. Dizemos então que há
polarização dielétrica do material. Microscopicamente, nos materiais
homogêneos, há 3 tipos principais de polarização:
a) polarização eletrônica: nos átomos, os centros de gravidade das
cargas positivas e negativas habitualmente coincidem, de modo que o
átomo não tem momento elétrico. Sob a ação de um campo externo, no
entanto, as órbitas dos elétrons se deformam, aparecendo assim, um
momento dipolar atômico, orientado na direção do campo.

240
placa condutora
+ + + + + + + + + + + + + +
– – – – – – – – – – – – –
+ + + + + + + + + + + + +
– – – – – – – – – – – – –
+ + + + + + + + + + + + +
cargas – – – – – – – – – – – – – cargas
induzidas + + + + + + + + + + + + + reais
ou ligadas – – – – – – – – – – – – –
+ + + + + + + + + + + + +
– – – – – – – – – – – – –
+ + + + + + + + + + + + +
– – – – – – – – – – – – –
+ + + + + + + dielétrico
+ + + + + +

– – – – – – – – – – – – – –
placa condutora

Figura 5.12: Corte de um capacitor de placas planas com dielétrico


material.

b) polarização iônica (ou atômica): os íons dos reticulados


espaciais de substâncias cristalinas podem sofrer deslocamentos sob a
ação de um campo elétrico externo, resultando a aparição de um
momento dipolar.
c) polarização de orientação ou dipolar: certas moléculas como,
por exemplo, as da água, apresentam normalmente um momento dipolar,
isto é, o centro de gravidade das cargas positivas não coincide com o das
cargas negativas. Normalmente, tais momentos estão orientados ao
acaso, de modo que sua soma num volume finito é nula. Sob a ação de
um campo externo, estes dipolos se orientam na direção do campo,
resultando a polarização do material.
Outros processos mais complicados de polarização dielétrica
ocorrem ainda em materiais não homogêneos; o resultado global,
macroscópico, é porém, sempre o mesmo: sob a ação do campo elétrico
aparece, no material, um momento dipolar por unidade de volume (para
maiores detalhes ver Hippel [22, p. 95]).
Macroscopicamente, a polarização do material se pode examinar
de duas maneiras: substituindo o meio material: (a) por cargas induzidas
no processo de polarização; (b) pelos dipolos criados sob a ação do
campo externo. Os dois processos são equivalentes, estando
representados esquematicamente na Figura 5.12, correspondente ao corte

241
de um capacitor de placas planas com material dielétrico.
Já definimos o vetor polarização elétrica ⃗
P por
⃗ ⃗ −ε0 E
P=D ⃗ (5.54)
sendo ⃗ P não nulo onde houver material. Vamos agora relacionar este
vetor com cargas induzidas. Tomemos, para isso, a divergência de (5.54):
⃗ =∇⋅D
∇⋅P ⃗ −ε0 ∇⋅E
⃗ .
⃗ =ρv , onde ρv é a densidade volumétrica
Uma vez que ∇⋅D
de cargas reais, segue-se:

⃗ = 1 ( ρv −∇⋅⃗
∇⋅E P) . (5.55)
ε 0

A divergência de ⃗ P corresponde a uma densidade de cargas


induzidas ou ligadas, com o sinal trocado:
−∇⋅⃗
P =ρvi , (5.56)
Assim, temos
ρ +ρ
⃗ = ( v ε vi ) .
∇⋅E (5.57)
0

Tudo se passa, então, como se o meio fosse o vácuo e a densidade


de cargas que cria o campo ⃗
E fosse (ρv +ρvi ) . Note que o efeito do
material dielétrico foi levado em conta através das cargas ligadas,
ρvi .
Referindo-se à Figura 5.12, verifique que, para a mesma densidade
⃗ ) a intensidade média do
de cargas reais (e portanto mesmo valor de D
campo elétrico é menor com a presença das cargas ligadas do que sem
elas (por isso εr >1 ).
Por analogia com a solução geral da equação de Poisson (4.58), o
potencial se exprime por
ϕ(x , y , z)=
[ρ ( x ' , y ' , z ' )+ρvi ( x ' , y ' , z ' )]dx ' dy ' dz ' , (5.58)
=∭ v
τ 4 π ε0 R
onde ( ρv +ρvi ) é a densidade de cargas que produz o potencial no
vácuo.

242
A equação acima vale para pontos regulares do campo.
Examinemos agora o comportamento de ⃗ P nas vizinhanças de
descontinuidade do meio. Seja S a superfície de separação entre 2 meios
materiais.
Sendo ρs a densidade superficial de cargas reais sobre S, a
⃗ fornece
condição de contorno do vetor D
D n1− Dn2=ρs (5.59)
Por outro lado, a equação (5.54) fornece
D n 1=ε0 E n 1+ P n1
.
D n 2=ε0 E n 2+ P n 2
Substituindo estes valores em (5.59) vem,
ε0 (E n 1− E n 2)+( P n 1−P n 2 )=ρs , (5.60)
ou
ρs −( P n1− P n 2)
E n 1−E n 2= . (5.61)
ε0
Se o meio (1) for o vácuo, P n 1=0 , logo; chamando P n 2 de
Pn :
ρs + P n
E n 1−E n 2= . (5.62)
ε0
Esta é a mesma descontinuidade que existiria na componente
normal de ⃗ E , através de uma densidade superficial de cargas
( ρs +P n ) no vácuo. Portanto, a descontinuidade na componente
normal de ⃗ P na interface tem o efeito de uma densidade superficial de
cargas reais no vácuo.
Com essa interpretação, a equação (5.58) pode ser modificada para
explicitar o efeito das descontinuidades da componente normal de ⃗
P :
ϕ(⃗r )=

[ ]
ρ (⃗r ' )+ρvi (⃗r ' )d τ ' ρ (⃗r ' )+P n (⃗r ' )dS ' , (5.63)
=∭ v +∬ s
τ 4 π ε0 R S
4 π ε0 R
onde S é a interface dielétrico/vácuo e P n é a componente normal de

P saindo do dielétrico.

243
Nos meios lineares, o vetor ⃗
P é proporcional a ⃗
E :

P=D ⃗ −ε0 E⃗ =εr ε0 ⃗
E −ε0 ⃗ ⃗ =χ ε0 ⃗
E =(ε r−1)ε0 E E . (5.64)
O coeficiente χ recebe o nome de susceptibilidade elétrica, e
relaciona-se de maneira simples com a constante dielétrica do material:
εr = εε =1+χ . (5.65)
0

Com isso, completamos a interpretação de ⃗ P em termos de


cargas induzidas. Sua representação em termos de momento dipolar
( ⃗P = momento dipolar / unidade de volume) não será feita aqui (ver,
por exemplo Panofsky e Phillips [13, Cap. 2] ou Harrington [3, p. 157–
8]).
Ex. 5.6 - Consideremos um capacitor plano, entre cujas
placas há um dielétrico, de espessura um pouco menor que a
distância entre as placas (Figura 5.13). Sendo ε a
constante dielétrica do isolante e sabendo-se que a
densidade de carga superficial nas armaduras é ρs (C/m2),
⃗ , ⃗
determinar o andamento dos vetores D E e ⃗
P entre
as placas, bem como a distribuição de cargas induzidas.
Solução:
O problema é unidimensional, pelo que os vetores de campo
são paralelos entre si e normais às placas. Basta, portanto,
calcularmos os módulos e sentidos.
Se não houver cargas reais colocadas sobre a superfície do
⃗ é constante, e seu módulo é igual a ρs .
dielétrico, D
O vetor E, por sua vez, será dado por:

D
E⃗1= ε (no vácuo),
0

D
E⃗2= ε (no dielétrico).
O vetor polarização é nulo no vácuo e no dielétrico é dado por
⃗ ⃗ −ε0 E⃗2 ,
P=D
também constante.

244
Figura 5.13: Campos em capacitor plano com dielétrico.

245
A carga induzida é nula no interior do dielétrico, pois
⃗ =0 .
∇⋅P
Só há carga induzida superficial, cujo módulo é igual ao
módulo de ⃗
P , pois,
ρs=+ P n
e no caso, P n=P 2 .
Na Figura 5.13 indicamos, de forma gráfica estas funções
para o caso de χ=2 ( εr =3 ).
Ainda a título de exemplo, notemos que se podem fazer
dielétricos artificiais, dispondo, de maneira regular, condutores metálicos
num meio isolante. Assim, se dispusermos pequenas esferas metálicas
segundo uma rede regular, num meio dielétrico (Figura 5.14), a aplicação
de um campo elétrico externo fará com que apareçam cargas elétricas
induzidas sobre as esferas. Assim, cada esfera se comporta como um
dipolo de um meio dielétrico.

Figura 5.14: Pequenas esferas metálicas dispostas em uma rede regular,


num meio dielétrico.

Se o raio das esferas for muito menor que a distância entre elas,
demonstra-se (ver Kraus e Carver [11, p. 56]) que a constante dielétrica
relativa do meio é

246
εr =1+3V N ,
onde: V = volume de cada esfera; N = número de esferas por unidade de
volume.
Exemplo 5.7 - Um capacitor cilíndrico de 1 metro de
comprimento, tem as armaduras interna e externa com raios
a= 1 cm e c= 3 cm, respectivamente. Entre as armaduras há
duas camadas de dielétricos de espessuras iguais e
constantes dielétricas relativas εr 1 =3 (camada interna) e
εr 2=1,5 (camada externa). O capacitor será submetido a
uma diferença de potencial do 100 V.
Calcular:
⃗ , ⃗
a) Os vetores D E e ⃗
P nos dielétricos.
b) A função potencial nos dielétricos.
Solução:
Calculemos, inicialmente, a carga total Q nas armaduras.
Q=C V , onde C é a associação serie de 2 capacitares
C 1 e C 2 , de dielétricos εr 1 e εr 2 , cilíndricos:
1 1 2 1 3 6 π ε0 600 π ε0
= ln + ln ⇒C = ⇒ Q=
C 2 πε1 1 2 π ε2 2 ln 4,5 ln 4,5
a) Vetores ⃗E , D ⃗ e ⃗ P no dielétrico (1):
300 ε0 1,766×10−9
D⃗ 1= Q û ρ= û ρ = û ρ C/m2,
2 πρ ρln 4,5 ρ
1 cm<ρ< 2 cm
D⃗ 100 66,5
E⃗1= ε11 = û ρ= ρ û ρ V/m, 1 cm<ρ< 2 cm
ρ ln 4,5
200 ε0 1,177×10−9
P⃗1=D1−ε0 E⃗1= û ρ = ρ û ρ C/m2,
ρln 4,5
1 cm<ρ< 2 cm

247
1m

εr2=1,5

εr1=3

100 V

1cm
2cm
3cm

Figura 5.15: Capacitor cilíndrico com duas camadas dielétricas.

No dielétrico (2)
300 ε0 1,766×10−9
D⃗2 = D⃗ 1= Q û ρ= û ρ = ρ û ρ C/m2,
2πρ ρ ln 4,5
2 cm<ρ<3 cm
D⃗ 200 133,0
E⃗2= ε22 = û ρ= ρ û ρ V/m, 2 cm<ρ<3 cm
ρln 4,5
100 ε0 0,589×10−9
P⃗2=D 2−ε0 E⃗2= û ρ = ρ û ρ C/m2,
ρln 4,5
2 cm<ρ<3 cm
Podemos calcular as densidades de cargas induzidas.
Por exemplo, na interface dos dielétricos: ρ=2 cm:
−100 ε0 −9
ρsi =P 2 −P 1= =−29,4×10
0,02×ln 4,5

248
b) Função potencial:
Para 2 cm<ρ<3 cm :
c c
200 200 c
ϕ=∫ E⃗2⋅̂uρ d ρ '=∫ d ρ' = ln .
ρ ρ' ln 4,5
ρ ln 4,5 ρ
Em ρ=c , ϕ=0 ; e em ρ=b , ϕ=54 V
Para 1 cm<ρ< 2 cm :
b b
100 100 b
ϕ=54 +∫ E⃗1⋅̂uρ d ρ '=54+∫ d ρ' =54+ ln .
ρ ρ ρ' ln 4,5 ln 4,5 ρ
Em ρ=a , ϕ=100 V.

5.5 Os dielétricos reais


Um dielétrico real afasta-se do dielétrico perfeito, ideal, que
estudamos até agora. Em primeiro lugar, o dielétrico real não é um
isolante perfeito, deixando passar correntes (correntes de fuga) embora,
em geral, tais correntes sejam muito pequenas. Os dielétricos reais
possuem, pois, uma resistividade finita. Para um dielétrico com
dimensões geométricas definidas, distinguem-se, na prática, as
resistências de isolação volumétrica e a superficial. A resistência é
chamada volumétrica quando a corrente de fuga circula através do
isolante, e superficial quando circula sobre a superfície do material. Esta
última é muito influenciada por deposição de poeira, umidade, sujeiras,
etc., sobre a peça isolante.
Em segundo lugar, a relação entre o campo e a polarização é linear
dentro de certos limites; se o campo cresce muito, há um valor crítico,
para o qual a estrutura do dielétrico se rompe e salta um arco entre os
eletrodos. Cada dielétrico tem assim uma certa rigidez dieletrica,
definida pelo maior valor de campo elétrico que o material pode suportar
sob determinadas condições, sem alteração permanente na sua estrutura.
Tais valores de rigidez dielétrica podem variar muito com a
temperatura, umidade, envelhecimento, e outros fatores. Ela depende
também da configuração do campo elétrico, ou seja, da forma dos
eletrodos. Uma explicação desse fenômeno pode ser encontrada, por
exemplo, em Hippel [22, Seç. II–32]. A Tabela 5.1 apresenta valores
típicos de rigidez dielétrica para diferentes materiais; valores para outros

249
materiais podem ser encontrados, por exemplo em Haynes [23, Seç. 15].
Substância Rigidez dielétrica (MV/m)
Ar (eletrodos planos) 3
Óleos minerais de isolação 11,8
Líquido dielétrico para transformador 28-30
Óleo para transformador 110,7
Óleo para transformador Agip ITE 360 9-12,6
Vidro padrão de janelas 9,8-13,8
Porcelana 35-160
Poliestireno 19,7
Borracha natural 100-215
Borracha de silicone 26-36
Teflon (politetrafluoretileno) – extrusão 21,7
Teflon (politetrafluoretileno) – filme isolante 87-173

Tabela 5.1: Rigidez dielétrica de diferentes materiais - extraída de


Haynes [23, Seç. 15] .
Em terceiro lugar, quando se carrega ou descarrega um
condensador, verifica-se que as correntes são maiores do que aquelas que
se deveriam esperar tendo em vista a capacidade geométrica de
condensador e sua condutância. A corrente excedente é chamada corrente
de absorção do dielétrico, pois que corresponde a uma lenta absorção de
cargas; esta corrente se deve ao fenômeno da absorção dielétrica, o qual é
também responsável pelo aparecimento das tensões de retorno e pelas
descargas residuais dos condensadores. Esse fenômeno é explicado, por
exemplo, em Hippel [22, Seç. II–25] do ponto de vista microscópico. A
absorção dielétrica de capacitores pode ser medida (IEC [24])
carregando-se o capacitor, com uma tensão constante por 60 minutos e
depois descarregando-o, com um curto-circuito, por 10 s. A tensão que
reaparece nos terminais do capacitor após 15 minutos é denominada
tensão de retorno e é especificada em porcentagem em relação à tensão
aplicada. Ela é especificada por muitos fabricantes de capacitores nos
seus “data sheets”.
Em quarto lugar, a polarização de um dielétrico real não se faz sem

250
que apareçam perdas dielétricas, correspondentes ao trabalho realizado
contra as forças que impedem as moléculas de se orientarem livremente
no campo (atrito interno ou viscosidade). Estas perdas são sobretudo
importantes em correntes alternativas, e não incluem as perdas devidas às
correntes de fuga (perdas ôhmicas) em geral, muito inferiores.
Essas perdas são, em geral, quantificadas por uma parte imaginária
na constante dielétrica do material, em regime permanente senoidal, ou
seja a permissividade dielétrica, em regime permanente senoidal é dada
por ε=ε ' − jε ' ' , sendo dependente da frequência, e a relação
tan δ=ε ' ' /ε' é denominada tangente de perdas do material ou fator
de dissipação. Esse tratamento será visto com mais detalhe ao se analisar
a propagação de ondas em dielétricos, no curso de Ondas e Linhas; e o
leitor interessado pode consultar, por exemplo Ramo et al. [25, Cap. 6].
Como exemplo, a Tabela 5.2, extraída de Haynes [23, Seç. 6.13],
lista a constante dielétrica εr para a água em diversas frequências; e a
Tabela 5.3 lista a constante dielétrica εr ' e a tangente de perdas de
diversos materiais comuns.
Finalmente, em certos casos, os dielétricos podem apresentar uma
polarização permanente, constituindo os chamados materiais
ferroelétricos ou eletretos (ver, por exemplo Elliott [6, Cap. 6.14–15]).
Uma exposição abrangente das anomalias dos dielétricos reais pode ser
encontrada, por exemplo, em Hippel [22].
Outros efeitos interessantes que se encontram nos dielétricos são:
a) Efeito piezoelétrico, isto é, a liberação de cargas por efeito de
deformações mecânicas e vice-versa; tal efeito tem grandes aplicações
práticas (geração de tensões elevadas, conversão de energia mecânica em
elétrica, sensores de pressão, microfones, transdutores de ultrassom,
microbalanças, etc.) Uma descrição detalhada da piezoeletricidade pode
ser encontrada em Cady [26].
b) Efeito termodielétrico, isto é, a liberação de cargas quando há
mudanças de estado do dielétrico. Tal fenômeno foi descoberto e descrito
por Costa Ribeiro [27].

251
f 0 °C 25 °C 50 °C
ε′ ε′′ ε′ ε′′ ε′ ε′′
0 87.90 0.00 78.36 0.00 69.88 0.00
1 kHz 87.90 0.00 78.36 0.00 69.88 0.00
1 MHz 87.90 0.01 78.36 0.00 69.88 0.00
10 MHz 87.90 0.09 78.36 0.04 69.88 0.02
100 MHz 87.89 0.91 78.36 0.38 69.88 0.20
200 MHz 87.86 1.82 78.35 0.76 69.88 0.39
500 MHz 87.65 4.55 78.31 1.90 69.87 0.98
1 GHz 86.90 9.01 78.16 3.79 69.82 1.96
2 GHz 84.04 17.39 77.58 7.52 69.65 3.92
3 GHz 79.69 24.64 76.62 11.13 69.36 5.85
4 GHz 74.36 30.49 75.33 14.58 68.95 7.75
5 GHz 68.54 34.88 73.73 17.81 68.45 9.62
10 GHz 42.52 40.88 62.81 29.93 64.49 18.05
20 GHz 19.56 30.78 40.37 36.55 52.57 28.99
30 GHz 12.50 22.64 26.53 33.25 40.57 32.74
40 GHz 9.67 17.62 18.95 28.58 31.17 32.43
50 GHz 8.28 14.34 14.64 24.53 24.42 30.47

Tabela 5.2: Permissividade relativa da água em diversas frequências e


temperaturas.

252
material f εr ' tan δ
Quartzo fundido / 20 oC [23] 1 MHz 3,75 0,0002
o
Vidro (Pyrex 7070) / 20 C [23] 100 MHz 4,00 0,0048
o
Teflon / 22 C 100 Hz 2,1 <0,0005
1 MHz 2,1 <0,0002
10 GHz 2,08 0,00037
Madeira (seca) 1,4 – 7,3 0,0040 – 0,0850
Polietileno / 24 oC 100 Hz 2,25 0,0005
1 MHz 2,25 <0,0004
10 GHz 2,25 0,0004
Poliestireno / 25 oC 100 Hz 2,55 <0,0003
1 MHz 2,55 <0,0002
10 GHz 2,54 0,0003
Papel (Royalgrey – Rogers) / 25 oC 100 Hz 3,3 0,0058
1 MHz 2,99 0,0380
10 GHz 2,62 0,0403
Borracha (natural vulcanizada) / 27 100 Hz 2,94 0,0048
o 1 MHz 2,74 0,0446
C
3 GHz 2,36 0,0047
Solo seco arenoso / 25 oC 100 Hz 3,42 0,196
1 MHz 2,59 0,017
10 GHz 2,53 0,0036
Solo seco argiloso 100 Hz – 25 4,73 0,12
1 MHz – 25 2,57 0,065
10 GHz – 25 2,16 0,013
Porcelana (Coors) / 25 oC 100 Hz 8,83 0,0014
1 MHz 8,80 0,00033
10 GHz 8,79 0,0018
Mica (moscovita) / 26 oC 100 Hz 5,4 0,0025
1 MHz 5,4 0,0003
3 GHz 5,4 0,0003
Água do mar (solução 0,5 molal de 100 kHz 78,2 9900
300 MHz 69 3,9
NaCl) / 25 oC
3 GHz 67 0,6250

Tabela 5.3: Constante dielétrica e tangente de perdas de diversos


materiais comuns. Valores obtidos de Hippel [28], exceto onde indicado.

253
Ex. 5.8 - Um capacitor de placas planas e paralelas tem o
dielétrico constituído por uma camada de cerâmica, coberta
por outra de óleo isolante. Uma tensão contínua de 100V é
aplicada durante muito tempo entre as placas, com a
polaridade indicada na Figura 5.16.

ε1, σ1

d1
ρs12
100 V
ε2, σ2

d2
d1= d2= 1 cm

Figura 5.16: Capacitor de placas planas e paralelas com duas


camadas dielétricas.
Depois de atingido o regime permanente, determinar:
a) Os valores de ⃗ ⃗ e ⃗
J , D E nos dois meios.
b) A densidade superficial de cargas reais ρs 1 2 na interface
óleo/cerâmica.
−10
Dados: óleo εr 1 =2 , σ1 =10 S/m; cerâmica εr 2=6 ,
−11
σ 2=10 S/m
Solução:
a) Sendo o regime estacionário, temos:
σ
J n 1=J n 2 ⇒σ 1 E n 1=σ2 E n 2 ⇒ E n 1= σ 2 E n 2 ,
1

como as placas são planas:


E n 1 d 1 + E n 2 d 2=V .
Assim temos que

254
σ2 V 3
σ1 E n 2 d 1 +E n 2 d 2=V ⇒ E n 2= d +d σ /σ ≈9,1×10 V/m,
2 1 2 1

e assim,
σ
E n 1= σ 2 E n 2≈910 V/m.
1

Portanto,
−8
J n 2= J n 1=σ1 E n 1≈9,1×10 A/m2,
e
D n 1=ε1 E n 1=2 ε0 E n 1=1,61×10−8 C/m2,
D n 2=ε2 E n 2=5 ε0 E n 2=40,5×10−8 C/m2.
b) Da condição de contorno do vetor deslocamento temos
(note que aqui a normal aponta para o meio 2):
−8 −8
ρs 1 2= D n 2−D n 1=( 40,5−1,61)×10 ≈38,9×10 C/m2.

255
Exercícios do Capitulo 5
1. Um condutor de seção quadrada é colocado dentro de
outro de secção também quadrada (Figura 5.17). O espaço
entre condutores é completamente preenchido por um
−4
condutor de σ=10 S/m. Com a tensão de 12V aplicada
entre eletrodos, resulta a corrente de 2mA. Em seguida,
substitui-se o material condutor por um dielétrico de
ε=3 ε0, σ=0 .
a) Qual o valor da tensão a ser aplicada entre eletrodos,
para que a energia eletrostática do conjunto seja 0,44
μJ?
b) Se o dielétrico tivesse condutividade finita, de valor
=10-6 S/m, qual a potência dissipada no conjunto, para
a tensão do item anterior?

Figura 5.17
R.: a) 141 V b) 0,033 W.
2. Dois tubos condutores coaxiais, cilíndricos, de raios a e b
são introduzidos em um tanque isolante contendo óleo
(Figura 5.18). Uma tensão V é aplicada entre os cilindros.
Mostre que o óleo sobe, dentro dos cilindros, de uma

256
altura
2
(εr −1)ε0 V
h= 2 2
(b −a )α g ln (b /a)
onde: εr = constante dielétrica relativa do óleo; α =
densidade do óleo, g = aceleração da gravidade.

ε0

εr

Figura 5.18
3. Um capacitor variável é constituído por 2 cilindros
condutores coaxiais como mostra a Figura 5.19. O cilindro
interno pode se deslocar sem atrito sobre uma bucha
isolante. Aplica-se entre os eletrodos a d.dp. de 1 kV.
a) Calcule a força que age sobre o cilindro interno.
b) É possível inverter o sentido desta força? Como?

257
Figura 5.19
−5
R.: a) 4×10 N; b) não.
4. Mostre que as condições de contorno para as componentes
tangenciais P t e normais P n do vetor polarização

P na interface de separação de 2 dielétricos de
constantes dielétricas relativas εr 1 e εr 2 , sem cargas
na interface, podem ser expressas pelas relações:
Pt 2 εr2 −1 P n 2 εr2−1 εr1
= e = .
P t 1 ε r1−1 P n 1 εr1−1 εr2
5. Um potencial de 100kV é aplicado entre as placas planas
e paralelas de um capacitor, distanciadas de d=4 cm,
tendo o ar como dielétrico (Figura 5.20(a)). Para o ar:
6
rigidez dielétrica = 3×10 V/m.
a) Quais os valores de ⃗ ⃗ e P
E , D ⃗ entre placas?
b) Qual a energia acumulada, sendo a área de placas S=
500 cm2?
Mantendo-se a fonte de tensão ligada, coloca-se uma placa
plana de poliestireno de espessura d2 = 2cm, de mesma

258
área que a das placas, sobre a armadura inferior –
Figura 5.20(b).

Figura 5.20
Para o poliestireno, considere: εr =2,5 , rigidez
dielétrica = 20MV/m.
c) Quais os valores de ⃗ ⃗ e ⃗
E , D P no ar e no
poliestireno?
6
R.: a) E = 2.500 kV/m, D=2,5×10 ε0 C/m2 ;
7
P = 0; b) W e =625ε 0 10 J; c) no ar: E= D=P=0 ; no
6
poliestireno: E=5×10 V/m, D=12,5×106 ε0 C/m2
6
P=7,5×10 ε0 C/m2
6. Um terminal de alta tensão de um transformador
atravessa a chapa metálica desse transformador (a qual
se encontra ao potencial zero), por meio de uma bucha
capacitiva, como mostra a Figura 5.21. O espaço entre as
luvas metálicas da bucha (concêntricas com o terminal) é
preenchido com um dielétrico de constante dielétrica
ε=3 ε0 , rigidez dielétrica 100 kV/cm, e σ=0 .
São dados: a=2 cm; b=3 cm; c=4 cm; L1=15
cm. Desprezando a espessura das luvas e o espraiamento
do campo, pergunta-se:

259
luvas chapa
metálicas metálica
Vc=0
Vb ε
Va ε

c
b
a
ε
ε
terminal

L2

L1
Vista em corte Vista frontal
Figura 5.21

a) qual o valor de comprimento L 2 da luva externa para


que sejam iguais as tensões entre condutores (
V b – V c =V a−V b ).
b) qual a máxima tensão que se pode aplicar ao terminal
de alta tensão?
c) em qual dos dielétricos irá se dar o campo elétrico mais
intenso?
d) se a luva interna fosse retirada, qual o valor de Emax
para a tensão calculada no item (b)?
R.: a) 10,6 cm; b)160 kV; c) na primeira camada de
dielétrico, em ρ=a ; d)116 kV/cm: ruptura de
dielétrico.
7. Um cabo coaxial tem seu dielétrico constituído por 2
camadas de dielétricos de condutividade nula:

260
Figura 5.22
εr 1 =3 , E 1 max =30×10 6 V/m; εr 2=1,5 ,
6
E 2 max =30×10 V/m.
Dados: a=1 cm, b=2 cm, c=4 cm (Figura 5.22):
a) qual a máxima tensão que se pode aplicar entre os
condutores?
b) idem, se a posição dos dielétricos for invertida.
c) idem, se apenas uma camada for utilizada, mantendo-
se os raios dos condutores.
R.: a) 624 kV; b) 312 kV; c) 416 kV.
8. O campo elétrico de ruptura do ar é aproximadamente
igua1 a 3 MV/m. Colocamos uma carga de 2 µC sobre uma
esfera condutora no ar.
a) Calcule o diâmetro mínimo da esfera;
b) Determine o potencial da esfera em relação ao infinito.
(Fano et al. [5, p. 102]).

261
9. O capacitor da Figura 5.23, inicialmente tendo ar como
dielétrico, é carregado por meio de uma bateria a uma
tensão V0. Desprezando-se o espraiamento do campo:

Figura 5.23
a) Qual o valor do campo elétrico entre as placas?
⃗ ?
b) Qual o valor do vetor D
⃗ e ⃗
c) Quais os novos valores de D E se introduzirmos
um dielétrico de permissividade relativa εr entre as
placas, mantendo os fios da bateria ligados? (o
dielétrico é introduzido totalmente entre as placas).
⃗ e ⃗
d) Quais seriam os valores de D E se tivéssemos
cortado a ligação com a bateria antes de se introduzir o
dielétrico?
e) Em qual dos 2 casos (c ou d), a energia armazenada
depois de se introduzir o dielétrico é maior?
10. Dimensione um cabo coaxial para maior economia do
dielétrico (em peso), isto é determine a e b (ver Figura
5.24).

262
b

Figura 5.24
Dados:
Tensão entre os condutores: V0; Rigidez dielétrica máxima
em V/m: Emax.(Küpfmüller e Kohn [21]).
V0
R.: a≈1,255 b≈2,2184 a
E max
11. A Figura 5.25 representa a secção transversal de um
cabo coaxial. Os raios dos condutores interno e externo
são respectivamente, a e b. Entre os condutores existem 2
dielétricos, ocupando cada um deles a metade da secção.
Sendo V0 tensão contínua, calcular:

b ε1
V0

A a B

ε2

Figura 5.25
a) O valor do campo elétrico em um ponto genérico entre

263
os condutores, nos dois dielétricos.
b) A densidade de cargas de polarização ( ρs i ) na
interface A-B de separação dos dois dielétricos.
12. Um capacitor com placas condutoras paralelas ao
plano y-z, localizadas em x=0 e x=d , tem como
dielétrico um material de permissividade variável com a
posição, dada pela expressão
2d
ε=ε0
x+ d
Aplica-se uma tensão V0 entre as placas do capacitor.
Determine:
a) A distribuição do potencial e campo elétrico entre as
placas.
b) O vetor polarização ⃗
P e a densidade superficial das
cargas induzidas nos planos x=0 e x=d. (Fano et
al. [5, p. 211]).
13. No cabo coaxial de secção circular, mostrado na
Figura 5.26, o dielétrico 1 tem a permissividade relativa
εr 1 e o dielétrico 2 tem a permissividade relativa εr 2 .
Aplica-se uma tensão V0 entre os condutores. Pedem-se as
densidades de carga livre e induzida. (Peck [10, p. 99]).

b
c V0
a

εr1
εr2

Figura 5.26
14. Um material condutor de espessura d e
permissividade constante é colocado entre duas placas

264
condutoras perfeitas distantes d uma da outra. A
condutividade do material é dada pela expressão:
2d
σ=σ 0
x +d
O eixo x é normal às duas placas. Determine:
a) O campo elétrico e o vetor de polarização ⃗
P , quando
uma tensão V0 é aplicada entre as placas.
b) A distribuição de carga livre e da carga induzida. (Fano
et al. [5]).
15. Um capacitor é constituído por 2 placas condutoras
paralelas, espaçadas de 1 cm, com superfície tal que sua
capacitância vale 1000 pF, tendo o ar como dielétrico.
Para o ar: ε=ε0 , rigidez dielétrica: 3 MV/m
a) Qual a máxima tensão que se pode aplicar ao
capacitor?
b) Com essa tensão máxima, quais os valores de ⃗
E ,
⃗ ,e ⃗
D P no ar?
Mantendo-se esta tensão aplicada, o espaço entre as
placas é completamente preenchido por um dielétrico de
constante dielétrica relativa εr . Nestas condições
verifica-se que o acréscimo de energia fornecido pela fonte
−9 2
foi de 1,5×10 V max (J).
c) Qual o valor de εr ?
d) Quais os valores de ⃗ ⃗ ,e ⃗
E , D P no dielétrico?
16. Um cabo coaxial tem condutores interno e externo de
raios a=0,5 cm e b=1,5 cm respectivamente. Seu
dielétrico é borracha, com εr =3 e rigidez dielétrica
6
40×10 V/m.
a) Qual a máxima tensão que o cabo pode suportar?
b) Esboçar o gráfico da distribuição do campo E em
função do raio.

265
Conservadas as dimensões a e b, o condutor central é
envolvido por uma camada de borracha, até uma
distância ρ1 a partir do centro, e o restante preenchido
de polietileno, cuja constante dielétrica relativa
6
εr 2=2,2 e rigidez dielétrica 40×10 V/m.
c) Calcular ρ1 de forma que ambos os dielétricos
trabalhem com o mesmo campo máximo.
d) Qual a máxima tensão que o cabo pode suportar nestas
condições?
e) Esboçar o gráfico da distribuição do campo em função
do raio.

266
6 O Campo magnético das correntes
6.1 Relações fundamentais do campo
magnético estacionário
Como se sabe do curso de Física, as correntes estacionárias criam
um campo magnético ao seu redor. Da mesma forma, os campos de
corrente criam campos magnéticos.
Os campos magnéticos associados com um campo de correntes
estacionárias, isto é, em que se verifica a relação:
∇⋅⃗
J =0 , (6.1)
são chamados campos magnetostáticos. As equações básicas destes
campos se obtém das equações de Maxwell, fazendo ∂/∂t=0 e
restringindo-nos apenas àquelas equações que contém ⃗ ⃗ :
B ou H
⃗ =⃗
∇× H J , (6.2)
∇⋅⃗
B =0 . (6.3)
Sob forma integral, temos então as seguintes relações
fundamentais:

∮Γ H⋅ ⃗ ∬⃗
⃗ dl= ⃗
J ⋅dS , (6.4)
S

∯ ⃗B⋅dS⃗ =0 . (6.5)
Estas equações são complementadas pela relação constitutiva
⃗ ⃗ .
B =μ H (6.6)
O fluxo do vetor ⃗
B sobre uma superfície regular,
ψ=∬ B
⃗⋅dS
⃗ ,
(6.7)
S
é chamado fluxo de indução magnética e se mede, no sistema
internacional, em weber (W).
À vista de (6.5), é claro que o fluxo ψ tem um valor constante
sobre superfícies que admitem um mesmo contorno.
B =0 e que a operação ∇⋅∇ × ⃗
Tendo em vista que ∇⋅⃗ A é
⃗ tal que
identicamente nula, podemos definir um potencial vetorial A

267
∇× ⃗
A= ⃗
B . (6.8)
Entrando com esta expressão em (6.7), e aplicando o teorema de
Stokes, segue-se
ψ=∮ ⃗ ⃗ ,
A⋅dl (6.9)
Γ
onde Γ é o contorno de S.
Como ∇×∇ K =0 , podemos ter também:

B=∇ ×( ⃗
A+ ∇ K ) (6.10)
onde K é um escalar qualquer. Podemos assim formar muitos vetores
potenciais, diferindo uns dos outros pelo gradiente de um escalar, todos
eles fornecendo o mesmo vetor ⃗ B . Portanto, ⃗ A não é unívoco, mas
sim indeterminado pelo gradiente de um escalar.
A fim de obter uma relação entre o vetor potencial e as fontes do
campo, isto é, ⃗
J , vamos agora tomar o rotacional de (6.8):
∇×∇ × ⃗ A=∇ × ⃗
B . (6.11)
Nos meios homogêneos, ( μ invariante de ponto para ponto)
resulta, tendo em conta a relação constitutiva:
∇×∇ × ⃗ ⃗ ,
A=μ ∇ × H (6.12)
ou ainda, por (6.2),
∇×∇ × ⃗
A=μ ⃗J . (6.13)
Mas, utilizando a identidade vetorial,
∇×∇ × ⃗
A=∇ ∇⋅⃗
A−∇ 2 ⃗A ,
temos que (6.13) se pode escrever
∇ ∇⋅⃗
A−∇ 2 ⃗
A=μ ⃗
J . (6.14)
Lembremos, agora, que só especificamos o rotacional do vetor

A ; sua divergência pode, então, ser fixada arbitrariamente. Uma
escolha conveniente para campos estacionários é tomar-se
∇⋅⃗A=0 . (6.15)
Podemos justificar a escolha arbitrária da seguinte forma:
suponhamos que um certo vetor ⃗
A fornece o campo de maneira
correta, de acordo com ∇× ⃗
A= ⃗
B , porém possua uma divergência
finita e não nula. Vamos somar a ⃗
A o gradiente de um escalar K,

268
obtendo o vetor:

A '= ⃗A+∇ K ,
para o qual vamos impor
∇⋅⃗A'=0 .
Portanto, ∇⋅⃗A' =∇⋅⃗
A+ ∇⋅∇ K =0 ou
∇ K =−∇⋅⃗
2
A .
Esta equação permite determinar K, tal que seu gradiente somado
⃗ , fornece ⃗
ao vetor A A ' , de forma que:
∇× ⃗
A' =∇ ⃗
A= ⃗
B ,
∇⋅⃗A'=0 .
Assim sendo, é sempre possível determinar-se um vetor tal que seu
rotacional forneça o campo ⃗
B e tenha divergência nula. Não se perde
em generalidade, portanto, se fizermos ∇⋅⃗A=0 .
A equação (6.14) fornece, então:
∇2 ⃗
A=−μ ⃗
J . (6.16)
Esta equação diferencial, que relaciona o vetor potencial às
densidades de corrente, fontes do campo magnetostático, é chamada
equação de Poisson vetorial.
Lembrando ainda que, em coordenadas retangulares (e só nelas):
∇2 ⃗
A=∇ 2 Ax û x + ∇ 2 A y û y + ∇ 2 A z û z , (6.17)
a equação de Poisson vetorial se decompõe em 3 equações de Poisson
escalares:
2
∇ Ax =−μ J x
∇ 2 A y =−μ J y . (6.18)
2
∇ A z=−μ J z
A pesquisa do vetor potencial se reduz, pois, à solução de um
sistema de 3 equações de Poisson. Por analogia com a solução já
apresentada em Eletrostática, cada uma das equações (6.18) admite uma
solução geral do tipo:
μ J i (⃗r ' )
Ai (⃗r )= ∭
4π τ R
d τ' , (6.19)

Sendo ⃗r as coordenadas do ponto de observação do campo, ⃗r ' as

269
coordenadas do ponto onde se encontram as fontes de corrente e
R=∣⃗r −⃗r ' ∣ que, em coordenadas cartesianas, escreve-se como
R= √ (x− x ' )2 +( y− y ' )2 +( z−z ' )2 .
Em consequência, num meio homogêneo até o infinito, o vetor

A se exprime, em função das. fontes do campo magnetostático, por
μ ⃗J (⃗r ' )

A(⃗r )= ∭
4π τ R
d τ' , (6.20)

sendo a integração estendida a todo o volume que contém fontes.


Muito frequentemente, os campos magnetostáticos são criados por
correntes praticamente filiformes (por exemplo bobinas percorridas por
correntes). Nesse caso, (6.20) se simplifica. De fato, num elemento de
volume condutor filiforme temos (Figura 6.1):
I dl⃗'

J= .
dS ' dl '

I
⃗'
dl

I dS'

Figura 6.1: Elemento de volume condutor filiforme.

Mas dS ' dl '=d τ ' e, portanto,


⃗ ⃗' .
J d τ ' =I dl (6.21)
A integral (6.20) deve ser estendida a todo o volume dos
condutores que criam o campo; fazendo a mudança das variáveis (6.21),
a equação (6.20) se reduz a
μ I ⃗

A ( ⃗r )= ∮
4π Γ R
dl ' . (6.22)

270
Esta integral deverá ser efetuada sobre a curva Γ , eixo dos
condutores que criam o campo (esses condutores devem compor uma
curva fechada. Por quê?).
Sendo a corrente constante ao longo do condutor,
⃗'
μ I dl

A (⃗r )= ∮
4π Γ R
. (6.23)

Na Figura 6.2 ilustramos o significado geométrico da expressão


⃗ ' , contribui
acima, onde vemos que cada elemento de corrente, I dl
com uma parcela dA ⃗ para o potencial vetorial; essa parcela é
inversamente proporcional à distância R, e tem a mesma direção do
elemento de corrente.
A partir de (6.23), podemos obter a lei de Biot e Savart, que
⃗ em função da corrente
fornece a intensidade de campo magnético H
que o cria.
Pela relação constitutiva,
⃗=1 ⃗
H B
μ
e, portanto,
⃗ = 1 ∇ ×⃗
H A .
μ

I
⃗'
dl

R
⃗r '

dA
⃗r

⃗ , produzido por elemento


Figura 6.2: Potencial vetorial, dA
⃗' .
filamentar de corrente, dl

271
Deve-se atentar para o fato que nesse rotacional a derivação é feita
com relação às coordenadas do ponto, ⃗r , em que se deseja determinar
o campo, e não em relação às coordenadas do ponto onde se encontra a
fonte, ⃗r ' . Tendo em vista (6.23) e permutando as operações,

⃗ (⃗r )= I ∮ ∇ × dl ' ,
H
4π Γ R
mas, pela identidade vetorial, ∇×(U ⃗A)=∇ U × ⃗
A+U ∇ × ⃗
A ,
temos que

∇× ( 1R dl⃗ ' )=∇ R1 × dl⃗ ' + 1R ∇× dl⃗ ' =∇ 1R ×dl⃗ ' ,

⃗ ' não varia com as coordenadas ⃗r .


pois dl
Assim, como
1 1 1 R⃗
∇ =− 2 ∇ R=− 2 sendo ⃗
R=⃗r −⃗r ' ,
R R R R
temos
⃗ ⃗ ⃗
⃗ ( ⃗r )= I ∮ dl '×3 R = I ∮ dl '×2 û R ,
H (6.24)
4π Γ R 4π Γ R

expressão da lei de Biot e Savart.


Ex. 6.1- Determinar o campo magnético no eixo de uma
espira circular de raio a, percorrida por uma corrente
contínua I.

a R

I z

Figura 6.3: Espira circular de raio a, percorrida por uma corrente


contínua I.

272
Solução:
Vamos escolher o eixo coordenado z coincidente com o eixo
da espira, como mostrado na Figura 6.3, sendo o plano
z=0 coincidente com o plano da espira e a direção de
percurso da corrente no sentido positivo da coordenada
azimutal, φ .
Podemos escrever, portanto, que
⃗ ' =a d φ ' û φ
dl
e o campo magnético pode ser calculado como
a û φ × ⃗

I ⃗ '×⃗
dl R I R d φ'
H (⃗r )= ∮
⃗ 3
= ∫ 3
.
4π Γ R 4π 0 R
Para pontos sobre o eixo da espira, ⃗r =z û z , e sendo
⃗r ' =a û ρ , temos que
R=⃗r −⃗r ' = z û z−a û ρ ⇒ R=√ z 2+ a2 , û φ × ⃗
⃗ R =z û ρ + a û z .
Assim,
2π 2
⃗ (ρ=0, z )= I ∫ a z 2u^ ρ +a u^ z
H d φ=
4π 0 (z +a )2 3/ 2


I az I a2 u^ z 2 π
= ∫ u^ d φ+ 4 π (z 2 +a 2 )3/ 2 ∫ d φ= .
4 π (z 2 +a 2)3 /2 0 ρ 0

I a2 u^ z I a2
=0+ 2 π= u^ z
4 π ( z 2 +a 2)3 / 2 2( z 2 +a 2)3 / 2
Note que a primeira integral se anula devido ao fato de que o
versor û ρ varia com φ , sendo
û ρ (φ)=−̂uρ (φ+π) .
Vemos, então, que o campo magnético no eixo da espira tem
a direção do eixo, apontando no sentido dado pela regra da
mão direita aplicado à direção da corrente. Note, também,
que para pontos muito distantes da espira ( z ≫a ) a
intensidade do campo decai com o inverso do cubo da
distância ao seu centro!

273
6.2 Campos de algumas geometrias simples

6.2.1 Campo de um fio reto infinito


Consideremos um condutor retilíneo, muito longo 23, de raio a,
atravessado por uma corrente I. Vamos determinar o campo magnético
produzido por essa corrente.
Como esse problema apresenta perfeita simetria axial em relação
ao eixo do fio, vamos adotar um sistema de coordenadas cilíndricas,
sendo o eixo z coincidente com o eixo desse fio. Devido a essa simetria,
como a corrente tem apenas componente na direção z e, portanto, o
potencial vetorial também tem apenas a componente z, temos que o
campo magnético só possui componente na direção azimutal ( φ ) ,
pois ∂ Az /∂φ=0 .
Aplicando-se, então, (6.4) sobre uma circunferência de raio ρ
com eixo coincidente com o do fio, obtemos
2π 2π

∮ H⋅
Γ
⃗ ∫ H φ ρ d φ=H φ ρ ∫ d φ=2 π ρ H φ=∬ ⃗
⃗ dl= ⃗ ,
J⋅dS
0 0 S

pois o campo magnético deve ser invariante com φ devido à simetria.


Para pontos externos ao fio, esta última integral é igual à corrente
total do fio, I, portanto

⃗= I
2 π ρ H φ =I ⇒ H û , ρ> a . (6.25)
2πρ φ
Sendo a corrente contínua, se o fio for feito de um material
condutor homogêneo, 0<σ <∞ , como cobre por exemplo, temos que,
como visto no capítulo sobre correntes estacionárias, a corrente se
distribuirá de forma homogênea sobre a seção transversal do fio, ou seja,
⃗ I
J = 2 û z .
πa
Dessa forma, para os pontos internos ao fio,
ρ 2
⃗ =∫ I 2 2 π ρ' d ρ ' = I 2 π ρ2= I ρ2 ,
∬ ⃗J ⋅dS
S 0 πa πa a

23 Ou seja, vamos considerar que o tamanho do fio é muito maior que a


distância desse fio aos pontos de observação, e que esses pontos estão muito
distantes das extremidades desse fio.

274
e, assim,
I ρ2 ⃗ I ρ
2 π ρ H φ= 2
⇒H= û φ , ρ< a . (6.26)
a 2 π a2
Vemos, assim, que o campo produzido por um fio reto infinito,
percorrido por uma corrente I, flui ao redor desse fio, crescendo de zero
até o valor máximo I /2 π a nos pontos internos ao fio e decrescendo,
de forma inversamente proporcional à distância ao eixo do fio para os
pontos externos.

6.2.2 Campo de uma lâmina de corrente


Considere uma lâmina plana, de extensão infinita e de espessura
desprezível, na qual flui uma densidade de corrente elétrica de
intensidade constante J s (A/m). Chamemos de z=0 o plano
dessa lâmina e de y a direção na qual essa corrente flui, como mostra a
Figura 6.4.

Js

Γ y

Figura 6.4: Lâmina de corrente superficial, fluindo no plano z=0.

Para determinar o campo magnético produzido por essa densidade


de corrente, aproveitando da simetria do problema ( ∂/∂ x =0 ,

275
∂/∂ y=0 ) vamos integrar (6.4) sobre uma espira retangular, Γ ,
com vértices de coordenadas (x, y, z),(x, y, –z),(x–Δ, y, –z),(x–Δ, y, z),
sendo z >0 :
−z x−Δ

∮ H⋅ ⃗ ∫ H z (x , y , z ' ) dz ' + ∫ H x ( x ' , y ,−z )dx ' +


⃗ dl=
Γ z x .
z x
+∫ H z ( x−Δ , y , z ' )dz ' + ∫ H x ( x ' , y , z )dx '
−z x−Δ
A primeira e a terceira integrais do segundo membro se cancelam,
pois, devido à simetria, Hz não varia com x. Assim,
∮Γ H⋅
⃗ dl=−Δ
⃗ H x (−z )+ Δ H x ( z )=Δ [H x (z )−H x (−z)] .

Utilizando, mais uma vez, a simetria, vemos que a componente x


do campo deve ter simetria ímpar em relação a z, ou seja,
H x (−z )=−H x (z ) . Dessa forma,
∮Γ H⋅
⃗ dl=2
⃗ Δ H x( z ) .

Como a corrente elétrica total que atravessa a espira, no sentido


dado pela regra da mão direita, é igual a J s Δ , temos, pela aplicação
de (6.4),
Js
2 Δ H x (z )= J s Δ⇒ H x ( z)= , z >0 .
2
Portanto,

{
Js
û x z >0
⃗ 2
H= . (6.27)
−J s
û z <0
2 x
Verifique que esse campo satisfaz a condição de contorno dada por
(2.76).
Dessa forma vemos que o campo produzido por uma lâmina
infinita de corrente, fluindo em uma dada direção, é ortogonal à direção
dessa densidade de corrente, tem sentidos opostos nos lados opostos da
lâmina, e mantém-se constante com a distância à lâmina.
Logicamente esse campo deve ser, também, uma boa aproximação
para o campo produzido por uma lâmina finita, desde que o ponto de

276
observação esteja a uma distância da lâmina muito menor que as suas
dimensões e bem distante de suas bordas.

6.2.3 Campo de um solenoide


Vamos agora determinar o campo sobre o eixo de um solenoide, de
comprimento l com N espiras, atravessado pela corrente I (Figura 6.5).
Desprezando a espessura dos fios e suposto o enrolamento uniforme, este
constitui uma folha de corrente, com uma densidade superficial:
NI
J s= (A/m). (6.28)
l


Js =N I / l
l

N espiras

Figura 6.5: Enrolamento solenoidal composto de N espiras distribuídas


uniformemente num comprimento l e a densidade superficial de corrente
equivalente.

Vejamos, inicialmente, o campo dH ⃗ criado em P (ponto sobre o


eixo z de coordenadas (0, 0, z) ) por um elemento do solenoide, de
largura dz', situado à distância z' da origem das coordenadas (centro do
solenoide), como mostrado na Figura 6.6. A corrente através desse
elemento é J s dz ' e, portanto, utilizando-se o resultado do Ex. 6.1 ,
segue-se

277
2
⃗ (ρ=0, z )= J s dz ' a
dH 2

2 3/2 z .
2 [(z− z ' ) +a ]
O campo em P, devido a todo o solenoide, será
l /2
J s a2 dz '
⃗ (ρ=0, z )= ∫
H u^ z=
2 2 3/ 2
−l / 2 2[( z−z ' ) +a ]
,
J s a2 l / 2 dz '
= ∫
2 −l / 2 [( z −z ')2 +a2 ]3 / 2 z
u^

dz'
a

θ2 z
O θ1
P

Js

z'
l

Figura 6.6: Solenoide de comprimento l e raio a, percorrido por uma


densidade superficial de corrente Js.

ou, substituindo-se (6.28) e integrando,


H⃗ (ρ=0, z )=

=
NI
[
2
z +l /2
2
− 2
z−l /2
2 l √a +( z +l /2) √ a +( z−l /2)2 z
u^ =
, (6.29) ]
NI
= [cos θ1−cos θ 2] u^ z
2l
sendo θ1 e θ2 os ângulos que o ponto P “enxerga” as duas
extremidades do solenoide, como mostrado na Figura 6.6.

278
No centro do solenoide ( z=0 ):

⃗ (ρ=0, z=0)= NI
H û z . (6.30)
√ 4 a 2+ l 2
No caso de um solenoide muito longo, l≫ 2 a , na região
central do eixo,

H⃗ (ρ=0, z=0)≈ N I û z . (6.31)


l
Considerando ainda que ∇⋅H ⃗ =0 e dentro do solenoide
⃗ =0 , pode-se mostrar que na região central H
∇× H ⃗ é
praticamente uniforme. Como consequência, aplicando as condições de
contorno para o campo magnético, é simples mostrar que o campo
magnético imediatamente fora do solenoide na sua região central é
praticamente nulo, isto é, não existe dispersão do fluxo magnético nessa
região.
Já num ponto situado exatamente na abertura de um longo
solenoide ( z=±l /2 ) a componente H z =N I /2 l , isto é, vale a
metade do campo no meio do solenoide. Portanto, existe dispersão. A
Figura 6.7 mostra, em corte, as linhas de campo magnético de um
solenoide de raio 1 e comprimento 10.
As linhas mostradas dividem o campo em 10 tubos de fluxo
magnético de igual magnitude (na região central do solenoide todos os
tubos têm a mesma área pois a densidade de fluxo ali é uniforme).
Repare que temos um total de 10 tubos de fluxo, mas que apenas
aproximadamente 5 deles (metade) passam pelas aberturas, ou seja,
metade do fluxo total é dispersado através da parede lateral. Note,
também, que as linhas de campo que atravessam a parede do solenoide
(linhas de dispersão) apresentam refração, ou seja, a componente normal
à superfície é contínua, mas a componente paralela sofre uma
descontinuidade devido à corrente superficial.

279
7 6 5 4
8
3
9
2
10

10

9 2
3
8 4
7 6 5

Figura 6.7: Vista em corte das linhas de campo magnético produzido por
um solenoide de razão comprimento/raio = 10. As linhas mostradas
dividem o campo em 10 tubos com mesmo fluxo magnético, numerados
de 1 a 10 na figura. O retângulo representa a vista em corte da
superfície cilíndrica onde flui a corrente.

6.2.4 Campo de um toroide


Consideremos um enrolamento toroidal constituído por N espiras
uniformemente distribuídas sobre um toro de raio médio b; suponhamos
que seu núcleo, constituído por um material homogêneo, tem uma secção
transversal circular da raio a (Figura 6.8).
Sendo I a corrente que flui nesse enrolamento, e sendo esse
enrolamento uniforme e bastante denso, podemos aproximar o efeito
dessa corrente por uma densidade superficial de corrente fluido sobre a
superfície do toro, como fizemos com enrolamento solenoidal. Essa
densidade de corrente equivalente será dada, portanto, por,
NI
J s= ,
2 πρ
sendo ρ a distância entre a superfície do toroide e o eixo de simetria,
ou seja, para os pontos mais internos ele vale
ρmin=b – a ,
para os pontos mais externos,
ρmax=b+a ,

280
b+a
b–a

N espiras

Figura 6.8: Enrolamento toroidal com N espiras.


com valores intermediários para os outros pontos. Se esse toroide for
esbelto, b≫ a , podemos fazer ρ≈b . Essa densidade está
representada na Figura 6.9, onde um sistema de coordenadas cilíndricas
foi escolhido com a orientação mostrada.
Por simetria, a circuitação do campo magnético ao longo de
qualquer circunferência, Γ , com eixo coincidente com o eixo z, de
raio ρ e situada no plano de coordenada z, será dada por
∮Γ H⋅
⃗ dl=2
⃗ πρHφ .

Se a circunferência escolhida for interna ao enrolamento


2 2 2
( (ρ−b) + z < a ), a superfície que tem Γ como borda será
“perfurada” por todas as espiras, ou seja,
∬ ⃗J ⋅dS
⃗ =N I ,

e, por (6.4),
∮Γ H⋅ ⃗ ∬⃗
⃗ dl= ⃗ ⇒ 2 π ρ H φ=N I
J ⋅dS .

281
z φ

ρ
Js Js

Figura 6.9: Densidade superficial de corrente, Js, sobre superfície


toroidal.
Já se a circunferência passar apenas por pontos externos ao
enrolamento, uma superfície com borda Γ terá fluxo nulo de corrente
(convença-se disso tomando, por exemplo uma calota semiesférica com
borda Γ ) e, portanto,
∮Γ H⋅ ⃗ ∬⃗
⃗ dl= ⃗ ⇒ 2 π ρ H φ=0
J ⋅dS .

Dessa forma podemos escrever

{
NI
⃗ û dentro do núcleo:(ρ−b) 2+ z 2 <a 2
H= 2πρ φ . (6.32)
0 fora do núcleo
Para toroides esbeltos ( b≫ a ), pode-se usar a aproximação

{
NI
⃗ = 2 π b û φ dentro do núcleo .
H (6.33)
0 fora do núcleo
Vemos assim que, desde que o enrolamento possa ser efetivamente
considerado uniforme e o núcleo seja homogêneo, não existe dispersão
de fluxo magnético nesse caso!
Tal propriedade torna esta geometria conveniente para várias
aplicações, como por exemplo transformadores de medida.

282
6.3 Força magnetomotriz e potencial
magnetostático
A circuitação do vetor campo magnético sobre um circuito
fechado é igual, de acordo com a equação (6.4), à corrente que atravessa
o circuito de integração, ou seja, à corrente com ele concatenada. Se N
fios de uma bobina, conduzindo a corrente I estiverem concatenados com
a curva Γ ,

∮Γ H⋅
⃗ dl=
⃗ NI (6.34)

A integral do primeiro membro é a circuitação de H⃗ ao longo


da curva Γ , e o segundo membro é denominado força magnetomotriz
F concatenada com Γ , de modo que (6.34) pode ser escrita

∮Γ H⋅
⃗ dl=
⃗ F (A). (6.35)
Se não houver correntes concatenadas com a curva Γ ,

∮Γ H⋅
⃗ dl=0
⃗ , (6.36)

ou seja, com essa restrição, H ⃗ é irrotacional e pode, então, ser


derivado de um potencial magnetostático escalar U:
2
U 1−U 2=∫ H⋅ ⃗ ⇔H
⃗ dl ⃗ =−∇ U . (6.37)
1

O potencial magnetostático, mede-se em amperes (A).


Existindo correntes no campo, o potencial magnetostático não é
definido univocamente. Para tornar unívoca sua definição, é necessário
introduzir, no campo, superfícies barreiras envolvendo as correntes e que
não podem ser atravessadas pelos trajetos de integração.
Ilustremos estes conceitos com alguns exemplos.
Vamos determinar o potencial magnetostático do campo de um fio
reto, infinito, de diâmetro desprezível. Para isso, vamos introduzir uma
superfície barreira constituída por um semiplano, limitado pelo condutor
(Figura 6.10).

283
H

barreira 2
1 3 I

Figura 6.10: Vista em corte de um fio percorrido por uma corrente I, as


respectivas linhas de campo magnético e a superfície barreira para
definição do potencial magnetostático.

A diferença de potencial magnético entre os pontos 1 e 2, nas duas


faces da barreira será
2
U 1−U 2=∫ H⋅ ⃗
⃗ dl=I .
1

Note-se que a integral de 1 a 2, através da barreira seria igual a


zero, e nada tem a ver com a diferença U 1−U 2 . Convença-se que,
com a restrição de que o caminho da integral não deve atravessar a
barreira, o valor da integral anterior é o mesmo para qualquer caminho
escolhido. Já a diferença de potencial entre os pontos 1 e 3 é igual a zero.
Vemos então que a definição unívoca do potencial magnetostático
depende da prévia definição de uma superfície barreira que impeça a
integração por caminhos que enlacem corrente elétrica. A posição dessa
barreira é de certo modo arbitrária (por exemplo, poderíamos ter definido
a barreira do lado direito do fio, ao invés do lado esquerdo), porém, uma
vez definida, os valores das diferenças de potencial são unívocos.
No exemplo anterior temos, portanto, que as superfícies
equipotenciais são superfícies radiais e a máxima diferença de potencial
entre dois pontos quaisquer, em módulo, é menor que I.
Correntes com diferentes geometrias, como espiras, solenoides,
etc, necessitam de diferentes superfícies barreira. Para uma espira

284
circular, por exemplo, a superfície barreira pode ser a superfície circular
limitada pela espira.
Essa definição de potencial magnetostático apresentada será útil na
teoria de circuitos magnéticos a ser apresentada a seguir.

6.4 Os circuitos magnéticos


Em muitos casos de grande importância pratica, o problema do
campo magnético pode simplificar-se, mediante a introdução de
hipóteses adequadas, transformando-se num problema de circuito
magnético. Vejamos como e em que condições estas simplificações são
introduzidas.
Para tanto relembremos o conceito de tubo de fluxo magnético,
que é formado pelo conjunto das linhas de força do vetor indução
magnética (B) que se apoiam numa curva fechada qualquer, C. Note-se
que, pela definição, as paredes desse tubo não são atravessadas por fluxo
magnético. Como ∇⋅⃗ B =0 , segue-se que é constante o fluxo
magnético que atravessa qualquer secção do tubo, e que tais tubos devem
se fechar sobre si próprios, mesmo que no infinito.
Consideremos um tubo de fluxo magnético de seção infinitesimal
e que não inclua correntes no seu interior (Figura 6.11). Sendo N i a
corrente total concatenada com o eixo do tubo, tendo em vista a equação
(6.4) e a relação constitutiva, teremos

B
∮ μ ⋅dl=
⃗ Ni . (6.38)
Γ
Como, por outro lado,

B= (6.39)
dS
onde d ψ é o fluxo magnético através da seção reta dS do tubo, que é
constante ao longo do tubo, segue-se
dl
d ψ∮ =N i , (6.40)
Γ μ dS

285
Ni

dS

Figura 6.11: tubo de fluxo magnético de secção infinitesimal.


Passemos agora a um tubo de seção finita, S, com fluxo magnético
ψ . Se B for praticamente constante sobre S, a expressão (6.40) se
transforma em
dl
ψ ∮Γ μ S
=N i . (6.41)

A integral,
dl
R=∮ , (6.42)
Γ μ S
fornece a relutância24 R do tubo de força (notar a analogia com a
resistência de um tubo de corrente, nos campos de correntes).
Portanto, de (6.41) obtemos, relembrando que ψ é constante ao
longo do tubo:
ψ R=N i , (6.43)
ou
ψ=N i P , (6.44)
onde

24 Usaremos o mesmo símbolo, R, para indicar relutância e resistência. O


contexto deverá sempre deixar claro a qual das duas grandezas estamos nos
referindo.

286
1
P= (6.45)
R
é a permeância do tubo de força.
As expressões (6.43) e (6.44) são análogas às expressões da lei de
Ohm para o circuito elétrico estacionário
I R=V
I =G V
onde a resistência é dada por
dl
R=∮ .
Γ σ S
O exame das expressões acima mostra que se podem estabelecer
as seguintes analogias entre um tubo de fluxo de indução magnética e um
tubo de correntes elétricas estacionárias, como mostrado na Tabela 6.1.
Elétrico Magnético
Força eletromotriz V Força magnetomotriz N i = F
Diferença de potencial VAB Diferença de potencial UAB
Intensidade de corrente I Fluxo magnético ψ
Condutividade σ Permeabilidade μ
Resistência R Relutância R
Condutância G Permeância P
Tabela 6.1: Analogia entre circuitos elétricos e magnéticos.
Fisicamente, um circuito elétrico constituído por um condutor e
uma pilha, Figura 6.12(a), no ar ou num meio isolante constitui, com
grande aproximação, um tubo de correntes. De fato, a relação das
condutividades do isolante e do condutor pode ser da ordem de 10 –12, e as
correntes de fuga são desprezíveis, isto é, toda a corrente se concentra no
meio condutor (fio).
Um análogo deste circuito elétrico pode ser constituído por um
toro de material ferromagnético, excitado por uma bobina, Figura
6.12(b).

287
V I

σ μ

(a) (b)
Figura 6.12: Circuito elétrico (a) e circuito magnético (b).

No entanto, a relação entre as permeabilidades ar / material


ferromagnético será da ordem de 10–2 a 10–5, no máximo; haverá pois
uma fração sensível das linhas de indução magnética que se fecharão
pelo ar, constituindo o fluxo de dispersão. Dentro de certa aproximação,
ou seja, desprezando este fluxo de dispersão, podemos supor que o toro
coincide com um tubo de fluxo magnético, aplicando-lhe as expressões
acima deduzidas. A correção do fluxo de dispersão, visando aumentar a
precisão dos resultados, pode ser determinada através de métodos
numéricos, por exemplo. O dispositivo da Figura 6.12(b) constitui um
circuito magnético.
Em geral, chama-se circuito magnético a um sistema de materiais
ferromagnéticos, eventualmente com um ou mais entreferros (isto é,
trechos de circuito, razoavelmente pequenos, em que o material
ferromagnético é interrompido), nos quais se obtém um certo fluxo de
indução magnética quando é aplicada uma força magnetomotriz ao
circuito. A f.m.m. pode ser fornecida por bobinas atravessadas por
correntes ou por ímãs permanentes. A presença de entreferro é inevitável
em circuitos magnéticos de máquinas elétricas (região entre rotor e
estator) e também na junção de peças ferromagnéticas distintas.
O estudo dos circuitos magnéticos é complicado pela não-
linearidade dos materiais ferromagnéticos habitualmente empregados;
essa não-linearidade impossibilita a obtenção de soluções analíticas dos
circuitos magnéticos.

288
Dado um circuito magnético propõem-se dois problemas gerais:
a) determinação da f.m.m. necessária para produzir uma certa
indução, ou fluxo magnético, num trecho do circuito;
b) determinação da indução ou fluxo de indução num trecho do
circuito, ao qual se aplica uma f.m.m. conhecida.
O primeiro problema se resolve, em geral, sem dificuldade, com as
relações (6.40) a (6.45), desde que se conheçam as funções μ= f ( ⃗
B)
ou ⃗ B= f (H ⃗ ) para os vários materiais componentes do circuito. Na
resolução do problema devem ser introduzidas correções devido ao fluxo
de dispersão e ao espraiamento do fluxo no entreferro, como veremos
adiante.
O segundo problema exige, na maioria das vezes, um cálculo por
aproximações sucessivas ou por métodos numéricos, utilizando, por
exemplo, o método dos elementos finitos.
A solução destes problemas será examinada a seguir, e ilustrada
por alguns exemplos simples.
Antes de passar ao cálculo dos circuitos magnéticos indicamos,
ainda, que valem para estes circuitos leis análogas às leis de Kirchhoff.
Se o circuito magnético é ramificado, chamaremos de nós aos pontos de
encontro de mais de dois lados; as malhas serão constituídas por um
número qualquer de lados, formando um circuito fechado.
Pelas analogias já indicadas teremos, pois:
∑ ψi=0 (num só nó), (6.46)
N i=∑ Ri ψi (ao longo de uma malha). (6.47)

6.5 Cálculo dos circuitos magnéticos

6.5.1 Cálculo da f.m.m.


Trataremos inicialmente de determinar a f.m.m. necessária para
criar um certo fluxo de indução num circuito magnético. Tomemos como
exemplo o circuito da Figura 6.13.

289
Figura 6.13: Circuito magnético, com núcleo de material
ferromagnético e entreferro, mostrando linhas de campo magnético que
dividem o campo em tubos de mesmo fluxo.
Pelo andamento geral das linhas de fluxo representadas na figura,
obtida através de simulação numérica pelo método dos elementos finitos,
verifica-se que algumas dentre elas se fecham pelo ar, sem percorrer
inteiramente o circuito magnético. O conjunto dessas linhas constitui o
fluxo de dispersão. Além disso, no entreferro as linhas de fluxo não são
paralelas entre si, mas se abrem; temos um espraiamento de fluxo. Em
consequência, a área efetiva do entreferro deve ser considerada maior
que a superfície das peças polares que o limitam. Sendo a e b as
dimensões da seção transversal do núcleo, e e a espessura do entreferro,
uma fórmula empírica para a área efetiva da seção transversal do
entreferro é dada por
S e =(a+e)(b +e) , (6.48)
válida se e for pequeno em relação às demais dimensões e sendo as duas
peças polares iguais.
O fluxo de indução através da área do entreferro é, então,
ψe =Be S e , (6.49)

290
sendo Be o valor médio da indução no entreferro (suposta uniforme).
Note, também, que o fluxo através dos trechos do núcleo
ferromagnético será maior que o fluxo no entreferro, por causa da
dispersão, porém, para um cálculo aproximado, esses fluxos podem ser
considerados idênticos (note na Figura 6.13 que quase todas as linhas de
fluxo que passam pelo enrolamento também passam pelo entreferro).
Note-se, ainda, que, se o núcleo for laminado (composto de
lâminas de material ferromagnético empilhadas, e isoladas umas das
outras), a superfície útil da seção geométrica do núcleo será menor que a
área da seção aparente do núcleo, devido à porção da área ocupada pelas
camadas de isolante ou de ar interpostas entre lâminas (perceba que o
fluxo magnético fluirá quase que totalmente pelas lâminas do núcleo e
não pela camada isolante). Introduz-se, então, um fator de empilhamento,
menor que 1, que, multiplicado pela seção geométrica nos dá a seção útil,
ou seja, se a seção geométrica do núcleo for retangular, com dimensões a
e b, e sendo fe, o fator de empilhamento, temos que a seção útil do núcleo
será
S =a b f e . (6.50)

Chamemos S1, S2, S3 e S4 as seções transversais das várias porções


do núcleo da Figura 6.14, as induções correspondentes serão, pois
ψi ψ e
Bi = ≃ , (6.51)
Si S e
pois iremos desprezar o efeito da dispersão para esses cálculos
simplificados.
Dada então, uma curva de de permeabilidade μ= f ( B) do
material (ou materiais), que constitui o núcleo, obtemos os valores μ i
das permeabilidades.
Podemos agora aplicar ao circuito magnético em questão a relação
(6.41), aproximando a integral por uma somatória:
4 4
li e l e
N i=∑ ψi + ψe ≃∑ ψe i + ψe , (6.52)
i =1 μi S i μ0 S e i=1 μ i S i μ0 S e

291
Figura 6.14: Geometria de um circuito magnético com entreferro.
onde, novamente, desprezamos o efeito de dispersão. Note, também, que
de forma a minimizar os erros envolvidos nas aproximações acima, a
integração deve ser feita ao longo do comprimento médio do circuito
magnético, ou seja, os comprimentos li utilizados em (6.52) são a média
entre o comprimento externo e interno do respectivo “braço” do circuito.
Em vez da curva μ= f ( B) dispõe-se muitas vezes da curva
B= f ( H ) , ou curvas de magnetização normal do material; dessa
curva obtém-se então os campos magnéticos, Hi necessários para criarem
as induções já determinadas. A f.m.m. total será , pois,
4
Be
N i=∑ H i l i + e , (6.53)
i =1 μ0
uma vez que
ψi
H i= . (6.54)
μi S i
Na expressão (6.53), as parcelas do segundo membro são
diferenças de potenciais magnéticos, pois correspondem a integrais de
⃗ , como se verifica facilmente.
⃗ dl
linha de H⋅

292
6.5.2 Exemplos numéricos
Ex. 6.2 - O núcleo laminado de um reator é construído com
chapas de transformador (4.25% de silício), de 0,35 mm de
espessura. As dimensões do núcleo são (Figura 6.15): b = 6,3
cm; e = 0,25 cm; h = w = 24,1 cm; fator de empilhamento =
0,9; a= 5,1 cm.
Deseja-se calcular a f.m.m. necessária para criar um fluxo de
2,5×10– 3 Wb no entreferro, conhecendo-se, ainda, a
curva de magnetização do material do núcleo (Figura 6.16
extraída de [29, p. 761–81]).
b

i a
N e
h
a

a a

w
Figura 6.15: Circuito magnético com núcleo laminado e entreferro.

293
Figura 6.16: Curva de magnetização de liga Si-Fe laminada, recozida a
1065 oC, extraída de [29, p. 761–781].
Solução: Vamos aplicar a equação (6.53), que fica reduzida,
neste caso, a apenas dois termos, um correspondente ao
entreferro e outro ao ferro. Comecemos pelo cálculo da
indução média no entreferro.
Temos:
ψe
Be = ,
Se
onde Se é a superfície corrigida pera levar em conta o
espraiamento do fluxo.
De acordo com (6.48),
S e =(a+e)(b +e)=(5,1+0,25)(6,3+0,25)=
=35,0425 cm 2≈35×10−4 m 2
Portanto,

294
2,5×10−3
Be = =0,714 T .
35×10−4
Passemos agora à indução média no ferro. Desprezando a
dispersão:
ψ1 ψe
B1= ≃ ,
S1 S1
onde S1 é a área geométrica multiplicada pelo fator de
empilhamento. Portanto,
−3
2,5×10
B1= =0,86 T .
6,3×5,1×10−4 ×0,9
Com este valor de B1 entramos na curva de magnetização do
material (Figura 6.16), e obtemos o valor H1= 45 A/m.
O caminho médio do circuito magnético no núcleo é, neste
caso,
l 1=2( w−a)+(h−a)+( h−a−e)= .
=2(24,1−5,1)+(24,1−5,1)+(24,1−5,1−0,25)≈76 cm
Substituindo todos os valores acima determinados em (6.53),
segue-se
B 0,714
N i=H 1 l 1 + μ 0e e=45×0,76+ −7
0,25×10−2= .
4 π10
=1455 A
Note que o entreferro representa a principal parcela para o
cálculo dessa força magnetomotriz.
Ex. 6.3 - Seja o circuito magnético série-paralelo
representado na Figura 6.17; construído com o mesmo ferro
do problema anterior, com as dimensões indicadas (em cm) e
fator de empilhamento 0,9.

295
1
5,

x 5,1
Ψ3

i Ψ1 Ψ2
N

15,1
0,25

y
5,1

5,1 11,3 5,1 11,3 5,1


Figura 6.17: Circuito magnético série-paralelo. Dimensões em cm.

Quer-se determinar a f.m.m. necessária para criar um fluxo


−5
de indução de 20×10 Wb no entreferro. Desprezar os
fluxos de dispersão.
Solução: Para maior clareza, indicamos na Figura 6.18, o
circuito elétrico equivalente ao magnético. Na solução do
problema elétrico, dada a corrente no resistor Re (Ie) e
determinados R1 e Re calcularíamos a queda de tensão entre
x e y; calculado R2 obter-se-ia I2 e, portanto, R3I3, que somado
à queda de potencial entre x e y, forneceria a f.e.m. V.
A solução do problema magnético segue marcha análoga,
que se fixa transpondo para o circuito magnético o raciocínio
feito acima de acordo com as regras indicadas na seção 6.4.
Começamos então pelo cálculo da indução no entreferro; a
secção transversal deste, corrigida para levar em conta o
espraiamento do fluxo é
S e =(5,1+0,25)( 5,1+0,25)×10−4=28,6×10−4 m 2 .

296
x
I3 I2

R3 R1 R2

I1

Re
V

y
Figura 6.18: Circuito elétrico equivalente ao magnético.

A indução no entreferro é, portanto,


ψe 20×10−5
Be = = =0,07 T .
S e 28,6×10−4
A diferença de potencial magnético correspondente ao
entreferro (análoga à queda de tensão na resistência Re do
circuito elétrico) obtém-se de
B 0,07
U e = μ 0e e= −7
0,25×10−2=139 A .
4 π×10
A indução no ferro da perna central, desprezando-se o fluxo
de dispersão, é
ψ1 20×10−5
B 1= = =0,085 T .
S 1 0,9×(5,1)2×10−4
A intensidade de campo magnético necessária para criar
esta indução obtém-se da curva de magnetização (Figura
6.16):
H 1=17 A/m ,
e a diferença de potencial correspondente a este trecho,
análogo ao produto R1I1, será

297
−2
U 1=H 1 l 1=17×(15,1+5,1−0,25)×10 =3,4 A .
A diferença de potencial magnético entre os pontos x e y
será, pois,
U xy =U e +U 1=139+3,4=142,4 A .
Mas esta diferença de potencial também é aplicada ao
comprimento l2 do ferro; portanto, a intensidade de campo
na perna direita do núcleo é
U xy 142,4
H 2= = =
l 2 (15,1+ 5,1)×10 +2(11,3 +5,1)×10−2
−2
.
142,4
= =269 A/m
0,53
A indução correspondente, obtida da curva de magnetização
é
B2 =1,52 T ,
e o fluxo nessa perna resulta
2 −4 −4
ψ2=B 2 S 2=1,52×0,9×(5,1) ×10 =35,6×10 Wb .
O fluxo ψ3 na perna esquerda do núcleo será igual,
portanto, a:
−4 −4 −4
ψ3=ψ2+ ψe =35,6×10 + 2×10 =37,6×10 Wb .
A indução da perna esquerda é
ψ3 37,6×10−4
B 3= = =1,6 T ,
S 3 0,9×(5,1)2×10−4
e a intensidade de campo magnético correspondente obtém-
se, ainda mais uma vez, da curva de magnetização:
H 3≈700 A/m .
A diferença de potencial referente a este trecho é, pois,
U 3=H 3 l 3=700×0,53=371 A .
A f.m.m. pedida obtém-se adicionando, portanto,
N i=U 3 +U xy=371+142=513 A .
Este resultado é aproximado, pois desprezamos o fluxo de
dispersão. Este é particularmente intenso na perna

298
esquerda do circuito, na qual o núcleo se encontra saturado.
Além disso, na prática, devem-se levar em conta as variações
do material; a curva de magnetização fornecida é apenas
uma curva média.
NOTA: Se fosse dado o fluxo ψ3 em lugar do fluxo no
entreferro, o problema acima só poderia ser resolvido por
aproximações sucessivas, devido à não linearidade do
circuito magnético.
Ex. 6.4 - No circuito magnético da Figura 6.19(a), calcular a
−4
f.m.m. para impor o fluxo ψ=10 Wb no trecho 1 (perna
direita). O fator de empilhamento é f e =0,95 .

Figura 6.19: Circuito magnético simétrico (a) e seu modelo de circuito


elétrico (b).
A Figura 6.19(b) apresenta o circuito elétrico análogo. No
caso, o circuito é inteiramente simétrico: R1 = R2, R0e = R0d,
de forma que podemos considerar apenas metade do circuito
para os cálculos. Cada uma das relutâncias R0e e R0d,
representam a relutância de metade da perna central, e note
que a f.m.m. excita igualmente os dois lados.
−4 −4 2
Sendo S =1,0×1,05×0,95×10 =10 m , resulta:
ψ
B= =1 T ,
S

299
em qualquer trecho do circuito e
H =50 A/m ,
ainda usando a curva da Figura 6.16. Portanto, sendo
l 1=(5+5+4+4)=18 cm o comprimento médio do lado
direito do circuito magnético (curva pontilhada na Figura
6.19(b)) temos
N i=H l 1=50×18×10−2=9 A .

6.5.3 Cálculo do fluxo de indução


Voltemos ao circuito magnético da Figura 6.13. Suponhamos,
agora, que é dada a f.m.m. aplicada ao circuito e se deseja calcular, por
exemplo, o fluxo de indução no entreferro. A uma primeira inspeção
pode parecer que ψe obtém-se imediatamente da fórmula (6.52). No
entanto, verifica-se que as permeabilidades não são conhecidas,
dependendo das induções nos vários trechos do circuito. O problema
complica-se ainda mais porque os μ i não podem ser expressos
analiticamente (ao menos por relações simples) em função dos fluxos ou
das induções. A não linearidade do circuito magnético impossibilita,
assim, a solução direta do problema.
Para resolver problemas deste tipo recorre-se então a um método
de aproximação sucessivas, ou a numéricos como o método dos
elementos finitos ou o método das diferenças finitas.

6.6 A energia magnetostática


Como já vimos na seção 2.9, a densidade de energia armazenada
no campo magnético, em meios lineares, e dada por:
1 ⃗
w m= ⃗B⋅H (6.55)
2
e , portanto, num volume τ do campo será armazenada uma energia
1
2∭
W m ( τ )= ⃗ ⃗ dτ .
B⋅H (6.56)
τ

Analogamente ao caso eletrostático, vamos exprimir esta energia


em termos das fontes do campo e do potencial vetorial. Tendo em vista

300
que ⃗
B =∇ × ⃗A , (6.56) se escreve
1
2∭
W m ( τ )= ⃗
H⋅∇ ×⃗
A dτ . (6.57)
τ

O integrando desta expressão pode ser transformado por meio da


identidade vetorial:
⃗ × ⃗A)= ⃗A⋅∇× H
∇⋅( H ⃗ − H⋅∇×
⃗ ⃗
A , (6.58)
obtendo-se, então,
1 ⃗ d τ− 1 ∭ ∇⋅( H
W m= ∭
2 τ

A⋅∇ × H
2 τ
⃗ ×⃗
A) d τ . (6.59)

De maneira semelhante ao caso eletrostático, mostraremos que a


segunda integral da expressão acima se anula se o volume τ se dilata
até o infinito.
Considerando que

τ
⃗ × ⃗A) d τ=∯ ( H
∇⋅( H
Σ
⃗ ×⃗ ⃗
A )⋅dS ,

e que ∇× H ⃗ =⃗
J , a energia magnética armazenada num volume τ
pode ser também escrita na seguinte forma:
1 1

W m ( τ )=
2 τ
J d τ− ∯ ( H
⃗A⋅⃗
2 Σ
⃗ ×⃗ ⃗ ,
A)⋅dS (6.60)

sendo Σ a superfície que delimita τ . Considerando o campo


magnético criado por circuitos fechados percorridos por corrente, a
grandes distâncias o campo H⃗ aproxima-se daquele causado por uma
espira circular convenientemente orientada (este comportamento é
análogo ao do campo ⃗ E produzido por uma distribuição de cargas cuja
carga total seja nula que, a grandes distâncias, se aproxima do campo de
um dipolo elétrico convenientemente orientado). Pode-se mostrar que, a
grandes distâncias, o potencial ⃗
A de uma espira circular (ver, p. ex.,
Ramo et al. [25, Seç. 2.10]) varia com 1/r
2 ⃗ decresce com
e que H
3
1/r . Nessas condições a integral de superfície da última expressão
tende a zero quando Σ é expandida até o infinito, pois o integrando
−5 2
varia com r e a área da superfície Σ com r .
Em consequência, chamando agora Wm a energia magnética total
associada a uma distribuição de correntes, temos,

301
1 ∞ ⃗ ⃗
W m= ∭ B⋅H d τ (6.61)
2 −∞
1 ∞ ⃗ ⃗
2∭
W m= A⋅J d τ . (6.62)
−∞

Note-se que em (6.61) o volume foi expandido até o infinito para


incluir todos os pontos em que existe energia armazenada (isto é,
B≠0 ), ao passo que em (6.62) o volume só necessita cobrir a região
das fontes do campo, isto é, pontos em que J ≠0 .
Para calcular a energia magnética através de (6.62), isto é, pela
integração sobre a distribuição de correntes, esta será subdividida em
tubos de corrente elementares, isto é, tubos com seções transversais
infinitesimais. Deste modo, a integração sobre o volume pode ser feita
integrando-se ao longo de um tubo elementar e então sobre as secções de
todos os tubos elementares.

dl
dI

S
dS Γ

Figura 6.20: Distribuição volumétrica de corrente, com destaque para


um dos tubos de corrente elementares em que ela é decomposta.

O integrando de (6.62) escreve-se então:



A⋅⃗J d τ= ⃗ J dl dS= ⃗
A⋅⃗ ⃗ J dS= ⃗
A⋅dl ⃗ dI
A⋅dl (6.63)
onde dI é a corrente que circula no tubo elementar considerado. A
expressão (6.62) fica, portanto,
1 ⃗ dI = 1 ∬ ψ dI ,
W m= ∬ ∮
2 S Γ

A⋅dl
2 S
(6.64)

302
onde ψ=∮ ⃗ ⃗ é o fluxo concatenado com Γ , que é o eixo do
A⋅dl
Γ

tubo de corrente elementar dI, devido à corrente total, pois ⃗A é o


potencial vetorial causado por todas as correntes do sistema.
A expressão (6.64) é às vezes escrita na forma
1
W m= ψI , (6.65)
2
que define o "fluxo médio" ψ concatenado com a corrente total I.
No caso de condutores formando circuitos independentes é
conveniente discretizar os tubos de corrente, transformando em
somatória a integral em (6.64):
1
2∑
W m= I k∮ ⃗
A ( r⃗k )⋅dl⃗ k (6.66)
k Γ k

ou
1
2∑
W m= I k ψk . (6.67)
k

Nestas expressões Γ k é o eixo do circuito k, que é percorrido


pela corrente Ik, ⃗
A( r⃗k ) é o vetor potencial magnético devido a todas as
⃗ k de Γ k , e
correntes, calculado no ponto dl ψk é o fluxo
concatenado com a corrente Ik também devido a todas as correntes.
Analogamente a (6.65), a relação (6.67) define os fluxos ψk através
da energia magnética Wm.
Por (6.23) estendida a todos os circuitos em que circulam correntes
vem
μ dl⃗

A ( r⃗k )= ∑
4π j
I j ∮ j =∑ A⃗ j ( r⃗k ) . (6.68)
Γ Rk j
j j

No caso de condutores filiformes, a expressão acima é adequada


para o cálculo dos ⃗
A( r⃗k ) , j≠k , mas não para A⃗k ( r⃗k ) , que
poderá divergir devido ao zero no denominador. Para o cálculo desta
parcela de ⃗
A( r⃗k ) dimensões transversais do circuito k devem ser

303
consideradas, mas a energia magnética armazenada é sempre calculável
por integração sobre os campos (6.61).

6.7 Indutância mútua e indutância própria


Consideremos um sistema de n circuitos filiformes, percorridos
por correntes estacionárias e imersos num meio homogêneo e linear de
permeabilidade μ (Figura 6.21).

Γ1
Γj
I1 Ij

dlj
rj k

dlk
Γk
Ik ... Γn In

Figura 6.21: Sistema de n circuitos filiformes, percorridos por correntes


estacionárias e imersos num meio homogêneo e linear.

Escolhamos, dentre eles, o par j, k de circuitos.


A partir deste ponto, quando o k-ésimo circuito for uma bobina
com Nk espiras, cada uma delas sendo a borda de uma superfície
atravessada pelo mesmo fluxo magnético ψk , definiremos o fluxo
magnético concatenado com esse circuito como Ψk =N k ψk para
deixar claro que a área total da bobina é a soma das áreas de todas as
suas espiras.
A corrente Ij (suposta única), circulando na bobina j, cria um
campo magnético que causa um fluxo Ψ k j concatenado com o

304
circuito k. Define-se indutância mútua25 entre os circuitos j e k pela
relação:
Ψk j
M k j= . (6.69)
Ij
Mas
μ I j dl⃗ j
Ψk j=∬ B⃗ j⋅dS
⃗ k =∮ A⃗ j⋅dl⃗ k =∮ ∮ ⋅dl⃗ =
Sk Γk Γk Γ j 4πrk j k , (6.70)
μ dl⃗ j⋅dl⃗ k
= ∮∮ I j
4π Γ Γ k
rk j
j

pois A⃗ j se origina da corrente Ij. Portanto,

μ dl⃗ j⋅dl⃗ k
M k j= ∮ ∮
4 π Γ Γ rk j
. (6.71)
k j

Esta expressão, conhecida por fórmula de Neumann, mostra que a


indutância mútua entre dois circuitos depende apenas de sua geometria.
Como, além do mais, (6.71) é simétrica em relação aos índices j e k,
segue-se que
M j k =M k j . (6.72)
Evidentemente, a cada par de bobinas do sistema da Figura 6.21
corresponde uma certa indutância mútua.
Por exemplo, se os circuitos acima estiverem enrolados sobre um
circuito magnético, o fluxo ψ , causado nesse circuito magnético, por
uma corrente I1 que circula numa bobina com N1 espiras é
N1I1
ψ= ,
R
onde R é a relutância do circuito vista pela f.m.m. N1 I1. Se não houver
dispersão, este fluxo atravessa as demais bobinas e, em particular, a
bobina 2, com N2 espiras.
O fluxo com ela concatenado é, pois,
N 1 N 2 I1
Ψ2 1= N 2 ψ= ,
R
e a indutância mútua entre as duas resulta

25 A unidade de indutância do S.I. é o henry, de símbolo H.

305
N1 N2
M 2 1=M 1 2= , (6.73)
R
expressão válida apenas nessas condições especiais mencionadas.
Uma extensão de (6.69) nos sugere a definição de indutância
própria de uma bobina pela relação
Ψ
L= , (6.74)
I
onde Ψ é o fluxo concatenado com a bobina considerada, devido à
corrente I que nela circula. Infelizmente L não poderá ser calculado por
uma expressão do tipo (6.71), pois haverá pontos em que r⃗j k se anula
e a integral diverge. Esta divergência resulta da consideração do condutor
filiforme, pressuposta na dedução de (6.71). Portanto, para o cálculo de
Ψ em (6.74), devem ser consideradas as dimensões transversais do
condutor; o vetor potencial pode, então, ser calculado por (6.20). Estas
dimensões aparecerão na fórmula final (ver, a respeito, Sommerfeld [8,
p. 108 e seguintes]).
É mais conveniente, muitas vezes, calcular a indutância a partir da
energia magnética. De fato, comparando (6.74) e (6.65) resulta
2W m
L= . (6.75)
I2
Se a corrente I estiver distribuída no interior do fio, uma parte da
energia magnética, Wint, ficará no seu interior. Teremos, então,
2W int 2 W ext
L= 2
+ 2 =Lint + L ext . (6.76)
I I
A primeira parcela fornece a indutância interna do fio, ao passo
que a segunda fornece sua indutância externa.
Ex. 6.5- Calcular a auto indutância por unidade de
comprimento de um cabo coaxial de raio interno a e raio
externo b operando em baixa frequência (a espessura do
condutor externo é desprezível, sendo a permeabilidade
μ 0 em qualquer ponto).

306
μ0 b

μ0
a

Figura 6.22: Vista em corte de um cabo coaxial de raio interno a e raio


externo b.

Solução: A energia magnética total armazenada no campo


pode ser expressa pela relação
1 1
W m= L I 2 = ∭ B ⃗ d τ= μ 0 ∭ H 2 d τ .
⃗⋅H
2 2 τ 2 τ
A energia armazenada compreende duas parcelas: uma
parte fica armazenada na região interna ao condutor
interno, e a outra no dielétrico, ou seja, no volume
compreendido entre os dois condutores.
Em baixa frequência a densidade de corrente é uniforme e,
portanto, para um ponto qualquer interno ao condutor
interno – veja expressão (6.26),

H int = .
2 π a2
Entre os condutores,
I
H ext= .
2 πρ
Logo, para um comprimento l,

307
μ0 l b 2
W m= ∫ ∫ H 2 πρ d ρ dz=
2 0 0

{( ) }
a b

( )
2 2
μ l Iρ I
= 0
2
∫ 2πa 2
2 πρ d ρ+∫
2 πρ
2 πρ d ρ = .
0 a

2 {8 π 2 π ( a )}
μ l I
0 I 2
b 2
= + ln (J)

Portanto, teremos, por unidade de comprimento,


2W m /l μ 0 μ0
L=
I
2
= +
8π 2π
ln
b
a () (H/m).

Logo
μ0
Lint = (H/m)

e
μ0 b
Lext = ln (H/m).
2π a
Ex 6.6 - Calcular a indutância mútua entre duas linhas de
transmissão paralelas, supondo seus condutores filiformes e
seus comprimentos suficientemente longos para que se
possam desprezar os efeitos dos terminais, porém curtos em
face do comprimento da onda transmitida (Küpfmüler e
Kohn [21, p. 205]) .
Solução:
Sejam 1 e 2 os condutores da primeira linha (linha α) e 3 e 4
os condutores da segunda linha (linha β). As distâncias de
cada condutor da primeira linha aos demais condutores
serão r13, r14, r23 e r24 respectivamente, como mostrado na
Figura 6.23.
Por definição, a indutância mútua entre as linhas é dada por
Ψβα 1
I α I α∬
M αβ= = B⃗α⋅dS
⃗β .
S β

308
3

dS' B1
r13
r23
4
r14
1 2 r24 dS''
3'

Figura 6.23: Vista em corte de 2 linhas de transmissão paralelas.

Como a corrente Iα pode ser decomposta nas correntes I1 e I2,


correspondentes aos seus dois condutores (e desprezando-se
o efeito dos terminais), sendo I 1 =−I 2= I α , temos que a
indução magnética B⃗α pode também ser decomposta como
B⃗α = B⃗1 + B⃗2
e, assim, podemos calcular o fluxo total sobre a área Sβ como
∬ B⃗α⋅dS⃗ β =∬ B⃗1⋅dS⃗ β +∬ B⃗2⋅dS⃗ β .
Sβ Sβ Sβ

O fluxo magnético, produzido pela corrente circulando no


condutor 1, através de uma superfície apoiada na linha β,
pode ser mais facilmente calculado se, ao invés de
integrarmos pela superfície plana apoiada nos condutores 3
e 4, escolhermos a superfície composta pela superfície
cilíndrica entre 3 3' e pela superfície plana de 3' a 4 (veja
Figura 6.23 e note o sentido adotado para a normal de
acordo com a regra da mão direita):

309
3' 4 4

∬ B⃗1⋅dS⃗ β=∬ B⃗1⋅dS


⃗ ' +∬ B⃗1⋅dS
⃗ ' '=∬ B⃗1⋅dS
⃗ ' '=
Sβ 3 3' 3' ,
l r14

=∫ ∫ B 1 d ρ dz
0 r13

⃗1
onde a ultima igualdade se deve ao fato de ser B
ortogonal às linhas radiais com eixo no fio 1. Admitindo-se
que os condutores, de comprimento l, sejam muito longos,
podemos escrever
μ0 I 1
B⃗1≈ û
2πρ ϕ
e, portanto,
l r14
μ0 I 1 μ I l r
∬ B⃗1⋅dS⃗ β=∫∫ 2 πρ
d ρ dz = 0 1 ln 1 4 .
2π r1 3
Sβ 0 r13

Analogamente, para a corrente no condutor 2, o fluxo


produzido por este condutor através da segunda linha, será
l r2 4
μ I μ I l r
∬ B2⋅dS β =∫ ∫ 2 0πρ2 d ρ dz = 02 π2 ln r 2 4 .
⃗ ⃗
S β 0 r 23
23

O fluxo total será, pois,


μ0 I 1 l r μ I l r
∬ B⃗α⋅dS⃗ β = 2π
ln 1 4 + 0 2 ln 2 4 =
r1 3 2π r 23

,
μ I l

r r
= 0 α ln 1 4 2 3
r1 3 r 2 4 ( )
e, portanto, a indutância mútua será

M α β=
1

Iα S
B⃗α⋅dS
β
μ l

r r
⃗ β = 0 ln 1 4 2 3
r1 3 r 2 4 ( ) .

É preciso chamar atenção neste ponto sobre as hipóteses


feitas no início do problema, para que não se aplique o
resultado acima obtido a casos indevidos.

310
Um exemplo de quando a expressão assim deduzida não
pode ser aplicada, é para o cálculo da auto indução de uma
linha, fazendo r13 = r24 = 0.
A energia magnética pode ser expressa também em função das
indutâncias próprias e mútuas. De fato, os fluxos Ψ k que aparecem
em (6.67) podem ser considerados como a soma do fluxo devido à
corrente na própria bobina e com ela concatenado, com os fluxos criados
pelas correntes nas demais bobinas, isto é,
Ψ k =∑ Ψ k j = Ψ k k + ∑ Ψ k j =Lk I k + ∑ M k j I j . (6.77)
j j ≠k j ≠k

Substituindo em (6.67),
1
W m=
2∑k
(
I k L k I k +∑ M k j I j =
j≠k
)
. (6.78)
1 2 1
= ∑ Lk I k + ∑ ∑ M k j I j I k
2 k 2 k j ≠k
Em particular para duas bobinas temos:
1 1
W m= L1 I 12+ L 2 I 22 + M I 1 I 2 , (6.79)
2 2
pois M 1 2=M 2 1=M .
Note-se que, em (6.78), cada indutância mútua aparece duas vezes:
como Mj k e Mk j.

6.8 Forças e momentos no campo magnético


Suponhamos um sistema de n condutores, cada um percorrido pela
corrente Ik, além de corpos com permeabilidade μ , constante. A
energia magnética acumulada no sistema será:
n
1
W m= ∑I Ψ
2 k=1 k k
(6.80)

onde Ψ k é o fluxo magnético total concatenado com o circuito k,


Ψk =Ψ k k + ∑ Ψ k j (6.81)
j ≠k

Admitamos que o circuito ou corpo genérico j seja submetido a um


deslocamento virtual ∂ l⃗j sob a ação da força f⃗ j que o restante do

311
sistema nele exerce.
A potência, ou taxa de variação do trabalho (virtual) realizada por
f⃗ j é
∂ l⃗j
f⃗ j⋅⃗
u j= f⃗ j⋅ . (6.82)
∂t
A taxa de variação total de energia nesse processo é nula, mas o
equilíbrio de energia exige que
∂W m n n
f⃗ j⋅⃗
u j+ + ∑ Rk I 2k =∑ V k I k , (6.83)
∂t k =1 k=1

onde
f⃗j⋅⃗
u j= potência mecânica, realizada no condutor ou corpo j ;
∂W m
= taxa de variação da energia magnética ;
∂t
acumulada no campo
n

∑ Rk I 2k = potência Joule dissipada no sistema ;


k =1
n

∑ V k I k=potência que as fontes fornecem ao sistema .


k =1
Estamos admitindo que a energia Wm é expressa como função
explícita das coordenadas xk do circuito genérico Γ k bem como das
correntes Ik.
1o. caso: deslocamento a corrente constante:
Para o circuito genérico Γ k percorrido por Ik, e de resistência
Rk, alimentado pela bateria de tensão Vk, haverá variação do fluxo total
concatenado, quando o circuito Γ j se mover. Aparece então uma força
contra-eletromotriz (f.c.e.m.) induzida ∂ Ψ k /∂ t de forma que, para
este circuito,
∂ Ψk
V k =R k I k + . (6.84)
∂t
Substituindo (6.80) e (6.84) em (6.83) vem:

312
n n n n
1 ∂ Ψk ∂ Ψk
u j+ ∑ I k
f⃗ j⋅⃗ + ∑ Rk I 2k =∑ R k I 2k + ∑ I k ⇒
2 k=1 ∂t k=1 k=1 k=1 ∂t .
n
1 ∂ Ψk
u j= ∑ I k
⇒ f⃗ j⋅⃗
2 k=1 ∂t
A expressão acima mostra que, para se manter os Ik constantes
durante o deslocamento, as fontes devem fornecer, além da potência
dissipada por efeito Joule, exatamente o dobro da potência mecânica
dispendida durante o deslocamento, potência mecânica esta realizada
contra as forças externas. A outra metade do excesso da potência
fornecida pelas fontes acumula-se no campo.
Segue-se que:

|
n
1 ∂ Ψk ∂ W m
u j= ∑ I k
f⃗ j⋅⃗ = .
2 k =1 ∂t ∂t I k =cte .

Lembrando que u⃗ j=∂ l⃗j /∂t , conclui-se que


f⃗ j⋅∂ l⃗j=∂W m∣I = cte. ,
k

ou
f⃗ j= ∇ j W m∣I =cte . (6.85)
Isto é, a força que o campo magnético exerce sobre o circuito
Γ j ( f⃗ j ) é igual ao gradiente da energia magnética armazenada no
sistema (Wm), calculado em relação às coordenadas que descrevem uma
translação de Γ j feita a correntes constantes.
2o. caso: deslocamento a fluxo constante:
Não havendo variação de fluxo concatenado com os circuitos
Γ k do sistema durante o deslocamento, não haverá também f.c.e.m.
induzida e, por (6.84).
V k =R k I k , (6.86)
isto é, as fontes fornecem potência apenas para suprir as perdas Joule.
Substituindo (6.86) em (6.83):

|
n n
∂W m ∂Wm
f⃗ j⋅⃗
u j+ + ∑ Rk I 2k =∑ R k I 2k ⇒ f⃗ j⋅⃗
u j=− .
∂t k =1 k=1 ∂t Ψ k =cte.

onde explicitamos que o incremento de energia magnética armazenada é


calculado com fluxos constantes.

313
Escrito de outra forma,
f⃗ j=− ∇ j W m∣Ψ=cte (6.87)
isto é, a força que o campo magnético exerce sobre o circuito Γj
( f⃗ j ) é igual ao oposto do gradiente da energia magnética armazenada
no sistema (Wm) calculado com relação às coordenadas que descrevem
uma translação de Γ j , feita com fluxos constantes em todos os
circuitos.
Note-se que calculamos forças através de variações da energia
magnética armazenada advindas de translações. De maneira análoga
poderíamos calcular torques através das variações de Wm devidas a
deslocamentos angulares, ou seja,
∂W
T m = ∂θ m ∣
I =cte
∂W
=− ∂ θ m ∣
Ψ=cte
. (6.88)

Forças exercidas por campos magnéticos em circuitos percorridos


por correntes podem também ser calculadas através da expressão (Figura
6.24)
d⃗ ⃗ ⃗
F = I dl× B , (6.89)
em que d ⃗
F é a força exercida pelo campo ⃗
B sobre o elemento
⃗ percorrido pela corrente I.
dl
Essa expressão é derivada da expressão da força de Lorentz, 26
⃗ =q ( ⃗
F E + ⃗v × ⃗
B) , (6.90)
tomando-se apenas sua parte magnética e fazendo-se I dl=q ⃗ ⃗v , já
que a corrente no fio é o movimento de cargas elétricas ao longo do seu
percurso (no fio temos cargas elétricas positivas em repouso e cargas
elétricas negativas em movimento; se carga total for nula não haverá
força elétrica, apenas a força magnética).
Em alguns casos é mais fácil calcular as forças usando (6.89) do
que pelo balanço de energia; os dois métodos, porém, são equivalentes. A
integração adequada de (6.89) sobre um circuito fornece a força total e o
momento.

26 Veja, por exemplo, [6, p. 224–230], para uma dedução dessa expressão.

314
B
dF

dl

⃗ , imerso em um campo
Figura 6.24: Elemento de corrente I dl
magnético B que produz uma força d ⃗
⃗ F sobre ele.
Ex. 6.7 - Calcular a força que aparece. por unidade de
comprimento, entre dois fios retilíneos paralelos e muito
longos, conduzindo as correntes I1 e I2, espaçados de d
metros. Conforme a Figura 6.25, uma das correntes fica
imersa no campo magnético produzido pela outra.
Da expressão, (6.25) temos que a indução produzida pela
corrente no fio 1 é dada por
I1
B⃗1=μ 0 û .
2 πρ φ
No plano que contém os dois fios, temos, portanto (veja
Figura 6.25),
I1
B⃗1=μ 0 û .
2πx y

315
z

B1 B1

l=1m
I1 I2
F2

x
Figura 6.25: Dois fios retilíneos paralelos e muito longos, conduzindo
corrente elétrica: campo produzido pela corrente I1 e força sobre fio 2.

Para um elemento de corrente dl⃗ 2=dl û z conduzindo a


corrente I2, a força sobre ele será, por (6.89),
μ0 I 1
d F⃗2 =I 2 dl⃗ 2× B⃗1=−I 2 dl 2 û ,
2π d x
já que o fio 2 encontra-se em x=d.
Integrando-se, então, sobre um comprimento l unitário do
fio, obtemos
−μ 0 I 1 I 2
F⃗ 2= û x .
2πd
A força é de atração se I1 e I2 tiverem o mesmo sentido e de
repulsão em caso contrario.
Para I1 = I2 =1 A, d = l m, resulta ⃗ =2×10−7 N/m.
F
Ex. 6.8 - Determinar a força exercida sobre o segmento de
fio condutor BC devida ao condutor retilíneo infinito A
(Figura 6.26).

316
dx
I2 x
B C

ρ
d

I1

Figura 6.26: Força exercida por um fio longo ortogonal a um segmento


de fio, ambos percorridos por corrente elétrica.

Dados: d = 5 cm; BC = l = 8,66 cm; I1 = 20A; I2 = 30A.


Solução: Referindo-nos à Figura 6.26, da expressão, (6.25)
temos que
I1
B⃗1=μ 0 û .
2 πρ θ
Sobre o segmento BC, temos
ρ=√ x 2 +d 2 , û θ =̂u x cos θ+ û y sen θ ,
assim, a força sobre um elemento dx do fio 2 será
μ0 I 1
d F⃗2 =I 2 dl⃗ 2× B⃗1=I 2 dx u^ x × (^u x cos θ+ u^ y sin θ)=
2 π √ x 2 +d 2 .
μ 0 I 1 sin θ
=I 2 dx u^ z
2 π √ x 2+d 2
Ou seja, a força está em um plano normal ao do desenho, e
voltada para dentro.
Fazendo-se
x=d tanθ ⇒ dx=d sec 2 θ d θ ,

317
e sendo l /d =8,66/5=1,732=tan π/3 , o resultado será
π/ 3
μ 0 I 1 I 2 sin θ
F⃗2 =∫ d sec 2 θ d θ u^ z=
2 π √ d tan θ+d
2 2 2
0

μ0 I 1 I 2 π/ 3 sin θ sec 2 θ
= ∫
2 π 0 √ tan2 θ+1
d θ u^ z =
.
π/ 3
μ0 I 1 I 2 μ I I
=
2π 0
∫ 2π
π/3
tan θ d θ u^ z=− 0 1 2 ln cos θ|0 u^ z =

μ I I 1
= 0 1 2 ln u^ z =^u z 8,32×10−5 N
2π 0.5
Ex. 6.9 - Força de atração entre duas superfícies
magnetizadas.
Suponhamos o circuito magnético da Figura 6.27, de
material ferromagnético, com um entreferro de espessura e,
seção transversal S (vamos desprezar o espraiamento).

Figura 6.27: Força sobre as faces de um entreferro.

318
Suponhamos que se aplique ao circuito uma f.m.m. N I que
causa um fluxo ψ no entreferro. Para o cálculo da força
entre as faces polares utilizaremos o resultado do balanço de
energia já deduzido para o caso de deslocamento a fluxos
constantes:
⃗ =−∂W ∣
⃗ ⋅dl
F m Ψ=cte .

Para o cálculo da força sobre a face superior do entreferro,


podemos admitir um deslocamento virtual desta em relação
à face inferior, ou seja, chamando-se de x a distância entre a
face superior e a face inferior, faremos x variar de um
⃗ =dx û .
incremento dx em relação à posição x=e, ou seja, dl x
⃗ feito com fluxo constante, a
Sendo o deslocamento dl
condição de magnetização no núcleo não varia (mesmo sendo
ele não linear!), e a única variação de Wm deve-se à
modificação no entreferro:
∂ W m∣Ψ=cte =∂W m (entreferro)∣Ψ =cte .
Mas,
1 B2 1 B2
W m (entreferro)= ∭ μ 0 d τ= μ 0 S x ,
2 τ e
2
ou seja,
1 B2
−∂W m (entreferro)=− μ 0 S dx= F x dx ,
2
e, portanto,
1 B2 1 2
F x =− S =− Ψ .
2 μ0 2 μ0 S
O sinal menos indica que a força é, de fato, de atração,
contrariamente ao suposto inicialmente na solução. Esse
fato era de se esperar, visto que a fluxo constante o trabalho
mecânico realizado é feito às custas de decréscimo de
energia magnética armazenada, e portanto uma diminuição
no volume do entreferro.

319
6.9 Materiais magnéticos27
Com relação ao seu comportamento magnético, os materiais
podem ser classificados como diamagnéticos, paramagnéticos,
ferromagnéticos, antiferromagnéticos ou ferrimagnéticos.
O comportamento magnéticos dos materiais é devido a três
fenômenos: o movimento do orbital elétrico, o “spin” do elétron e o
“spin” do núcleo (este último, em geral, é desprezível devido à massa do
núcleo ser muito maior que a dos elétrons). Esses três fenômenos podem
ser representados por correntes atômicas em pequenas espiras circulares,
sendo essas correntes ligadas às moléculas individuais, sendo esse
mecanismo análogo, em diversos aspectos, às cargas ligadas que formam
a base para a explicação do comportamento dielétrico, visto na seção 5.4.
O efeito agregado dessas correntes atômicas em todas as moléculas de
um material podem produzir um campo magnético macroscópico
significativo.
Uma única espira de corrente atômica pode ser caracterizada por
seu momento magnético m ⃗ , que tem magnitude igual ao produto da
intensidade da corrente pela área da espira, e aponta na direção
perpendicular ao plano da espira, na direção do campo magnético
produzido. O efeito conjunto de todas essas “espiras” do material
magnético faz com que a indução magnética ⃗ B nesses materiais seja
diferente da que existiria no vácuo para o mesmo campo magnético
⃗ . A diferença entre essas grandezas é caracterizada pelo vetor
H
magnetização M ⃗ , definido por

M⃗ = B −H ⃗ . (6.91)
μ0
⃗ e ⃗
Dada a relação constitutiva entre os vetores H B ,
⃗ ⃗ ,
B =μ H (6.92)
a equação (6.91) pode ser reescrita como

M⃗ =μ H − H
⃗ =(μ r −1) H⃗ =χm H
⃗ , (6.93)
μ0
sendo χm =μ r −1 a susceptibilidade magnética do material. A

27 O material desta seção foi adaptado de [6, Cap. 7].

320
seguinte relação pode também ser obtida:
χm ⃗ B
⃗=
M . (6.94)
1+χ m μ 0
Em materiais diamagnéticos, o momento magnético médio de suas
moléculas é nulo na ausência de um campo magnético externo. A
presença de um campo externo induz um pequeno momento médio em
oposição ao campo externo aplicado, fazendo com que o material
apresente, macroscopicamente, uma permeabilidade relativa ligeiramente
menor que um. A Tabela 6.2, extraída de Elliott [6, p. 419], fornece o
valor dessa susceptibilidade para alguns materiais diamagnéticos
comuns.
Material χm Material χm
Bismuto – 1,66×10−5 Selênio – 1,7×10−5
Cobre – 0,95×10−5 Silício – 0,3×10−5
Diamante – 2,2×10−5 Prata – 2,6×10−5
Grafite −5 Sódio −5
– 12×10 – 0,24×10
Germânio – 0,8×10−5 Óxido de – 0,5×10−5
alumínio
Ouro – 3,6×10−5 Cloreto de bário – 2,0×10−5
Mercúrio – 3,2×10−5 Cloreto de sódio – 1,2×10−5
Tabela 6.2: Susceptibilidade de alguns materiais diamagnéticos a
temperatura ambiente e pressão de uma atmosfera.
Em materiais paramagnéticos, os seus átomos possuem momentos
magnéticos permanentes que são orientados aleatoriamente na ausência
de um campo externo. A presença de um campo externo causa algum
alinhamento médio desses momentos com a direção do campo,
produzindo, assim, alguma magnetização do material. Dessa forma, em
condições normais, esses materiais exibem uma pequena
susceptibilidade positiva, cujos valores são mostrados na Tabela 6.3,
extraída de Elliott [6, p. 430], para alguns materiais.

321
Material χm Material χm
−3
FeSO4 2,8×10 Fe2O3 1,4×10−3
−3 −3
NiSO4 1,2×10 Cr2O3 1,7×10
MnSO4 3,6×10−3 FeCl2 3,7×10−3
−3 −3
CoSO4·H2O 2,0×10 CrCl3 1,5×10
Tabela 6.3: Susceptibilidade, em temperatura ambiente, de alguns
materiais paramagnéticos.
Uma substância é dita ferromagnética se ela pode exibir um
momento magnético espontâneo, mesmo na ausência de um campo
externo aplicado. Essa magnetização espontânea só pode ocorrer abaixo
de uma temperatura crítica, chamada temperatura de Curie, bem acima
da qual esses materiais se comportam como materiais paramagnéticos.
Abaixo da temperatura de Curie a magnetização ocorre devido à forte
interação entre moléculas adjacentes que formam domínios com seus
momentos todos alinhados. Nessas condições, esses materiais
apresentam permeabilidades relativas elevadas (valores de 10 4 a 105 são
comuns) e também apresentam uma curva B-H que apresenta um efeito
de histerese, que será detalhado mais adiante.
Materiais antiferromagnéticos diferem dos ferromagnéticos por
apresentarem moléculas adjacentes com forte interação mas com
tendência de se alinharem de forma antiparalela. Por esse motivo esses
materiais apresentam susceptibilidades positivas relativamente pequenas
(da ordem de 10–3). A lista desses materiais inclui: NiCl 2, CoF2, FeF2,
MnF2, NiF2, FeO, MnO, MnO2 e MnS.
Já nos materiais ferrimagnéticos, apesar de o alinhamento ser,
também, antiparalelo, as moléculas adjacentes apresentam momentos de
magnitudes diferentes. Isso faz com que esse materiais apresentem,
também, permeabilidades relativas elevadas, como os ferromagnéticos.
Os mais importantes materiais nesta classe, são as ferrites: grupo de
compostos cuja composição pode ser representada pela fórmula química
XO·Fe2O3, sendo X um íon divalente como Cd 2+, Co2+, Cu2+, Fe2+, Mg2+,
Mn2+, Ni2+, Zn2+ (ou uma mistura desses íons). Como esses materiais são
óxidos, ferrites têm uma densidade menor quando comparadas com

322
substâncias metálicas e também uma condutividade muito menor (da
ordem de 100 a 10–4 S/m). Por essa razão, ferrites são materiais
interessantes para uso em núcleos de transformadores em frequências
mais altas, quando as perdas por correntes de Foucault (que serão vistas
no Capítulo 7) tornam-se proibitivas.
Uma explicação detalhada sobre a teoria por trás do
comportamento desses materiais magnéticos pode ser encontrada, por
exemplo, em Elliott [6, Cap. 7]. Neste texto, nos limitaremos a uma
análise macroscópica desses materiais.

6.10 Energia em regiões contendo materiais


magnéticos
A relação (6.67):
n
1
W m= ∑I Ψ
2 k=1 k k
foi deduzida admitindo-se que, no sistema de n condutores os fluxos
fossem funções lineares das correntes, o que não é verdadeiro em regiões
contendo materiais ferromagnéticos.
Vamos examinar o caso simples de um toroide, Figura 6.28(a) cuja
seção transversal é pequena comparada com outras dimensões (a << b).
Partindo do núcleo desmagnetizado, vamos aplicar à bobina de
excitação, de N espiras, uniformemente enroladas sobre o toroide, uma
corrente de intensidade I amperes. Para o material do núcleo, isotrópico e
homogêneo (mas não linear), podemos, dentro das hipóteses feitas, supor
que o campo magnético tenha distribuição uniforme ao longo da seção
transversal, resultando (em módulo),
NI
H= ,
2π b
tendo ⃗ B e H ⃗ mesma direção e mesmo sentido.
Nestas condições, a energia total transferida para levar o campo
magnético da condição quiescente para um valor final (H1, B1) vale, de
(2.93)
B1

W m=( volume do toroide)×∫ H dB


0

323
B
N
B1
B

dB
b

B
H H1 H
I V
a
(a) (b)

Figura 6.28: Núcleo toroidal de material ferromagnético e sua curva de


magnetização.

ou, por unidade de volume,


B1

w m=∫ H dB .
0
Pela lei de Faraday-Neumann (2.31) temos que a tensão observada
nos terminais da bobina nos dá uma medida da indução magnética no
núcleo, ou seja, integrando-se o campo elétrico sobre o enrolamento de N
espiras (veja Figura 6.28(a)), obtemos
d d
∮Γ E⋅dl=V
⃗ + R I =− ∬ ⃗
dt
B⋅d⃗S≈− (N B S )=
dt S ,
dB 2
=−N π a
dt
sendo R a resistência ôhmica da bobina. Supondo, por simplicidade, que
a resistência seja desprezível (ou utilizando um segundo enrolamento,
com corrente nula sobre o mesmo núcleo), podemos escrever, chamando
de t = 0 o instante inicial,
t
−1
B( t)= ∫ V (t ') dt ' .
N π a2 0
Assim, podemos realizar o ensaio do material desse núcleo e

324
construir a sua curva B-H, como a mostrada na Figura 6.28(b).
Na Figura 6.28(b), para um certo valor H1 (correspondente a um
determinado valor I1 da corrente) tem-se a indução B1 e a área hachurada
representa a integral anterior ou seja, a entrada de energia por unidade de
volume. Analogamente, se o material do toroide for linear, isto é,

B =μ H ⃗ , com μ independente de H ⃗ – como é o caso dos
materiais dia e paramagnéticos, que têm μ ligeiramente maior ou
menor que μ0 respectivamente – temos
B B
B 1 B2 1
w m=∫ H dB=∫ dB= = B H (J/m3),
0 0 μ 2 μ 2
que é a própria expressão (6.55).
Já no caso de materiais ferromagnéticos ou ferrimagnéticos
teremos curvas B-H com histerese, que analisaremos na próxima seção.

6.11 Perdas histeréticas


Considere que o núcleo do circuito magnético da Figura 6.28(a)
seja de um material ferromagnético. Partindo-se de uma amostra
“virgem” (B=H=0) se o campo magnético é aumentado, aplicando-se
uma corrente ao enrolamento, a indução magnética também aumenta, de
forma reversível, e a curva Oa é traçada (veja Figura 6.29). aumentando-
se um pouco mais o campo magnético H causa um aumento muito mais
intenso da indução B, até que na posição c a curva de saturação se inicia.
Quando atinge o ponto d, aumentos do campo H causam mudanças
desprezíveis em B, e o valor de saturação Bsat está claramente delineado.
Se, então, H é diminuído, resulta a curva de, e um campo B remanente
(Br) é observado com H=0. Como não há mais nenhum campo de
excitação, o material tornou-se espontaneamente magnetizado.
Invertendo-se o sentido da corrente de excitação causará um H
negativo, resultando em uma redução de B, mostrada pelo segmento ef.
Para o valor -Hc, chamado de coercividade, o campo B é reduzido a zero.
Diminuindo-se ainda mais H, cria-se o segmento fg, com a saturação
reversa de B ocorrendo em g. Outra inversão de H traça o segmento ghid,
a segunda parte do ciclo, simétrico ao segmento defg.

325
Figura 6.29: Curva de magnetização de um material ferromagnético.

A permeabilidade incremental do material pode ser definida como


a derivada da curva B-H, e é, obviamente, uma função de B e do
histórico prévio do material. Essa permeabilidade incremental pode ser
muito elevada, com valores de até 105 não sendo incomuns. A
permeabilidade inicial do material é definida pela derivada da curva
virgem Oab na origem.
A coercividade varia muito de um material para outro e é uma
propriedade de grande importância prática. Em materiais para ímãs
permanentes ela deve ser alta, enquanto que em materiais para
transformadores ela deve ser a menor possível. As tabelas Tabela 6.4 e
Tabela 6.5, extraídas de Elliott [6, p. 436], mostram esses parâmetros
para alguns materiais comuns.
Vamos supor, agora, que o material ferromagnético seja levado a
executar um ciclo de histerese completo (Figura 6.30).

326
A entrada de energia por ciclo, por unidade de volume, será:
Br −B m −Br Bm

w m=∮ H dB=∫ H dB+ ∫ H dB+ ∫ H dB+ ∫ H dB= .


Bm Br −Bm − Br
=w m 1 +w m 2 +wm 3 + wm 4
Material Composição % Máximo μr Bsat (T) Hc (A/m)
Ferro 99,91 Fe 5.000 2,15 80
Ferro 99,95 Fe 180.000 2,15 4
purificado
Aço 98,5 Fe 2.000 2,10 145
laminado a
frio
Permalloy 21,2 Fe; 78,5 Ni; 0,3 Mn 100.000 1,07 4
78
Mu metal 18 Fe; 75 Ni; 2 Cr; 5 Cu 100.000 0,65 4
Supermalloy 15,7 Fe; 79 Ni; 5 Mo; 800.000 0,80 0,16
0,3 Mn
Tabela 6.4: Materiais ferromagnéticos de alta permeabilidade.
Material Composição % Br (T) Hc (A/m)
Aço-carbono 98,1 Fe; 1 Mn; 0,9 C 1,0 4.000
Aço-tungstênio 94 Fe; 5 W; 0,3 Mn; 0,7 C 1,03 5.600
Remalloy 71 Fe; 17 Mo; 12 Co 1,05 20.000
Alnico II 64,5 Fe; 10 Al; 17 Ni; 2,5 Co; 6 Cu 0,69 41.600
(sinterizado)
Alnico V 53 Fe; 8 Al; 14 Ni; 24 Co; 3 Cu 1,25 44.000
Platina-Cobalto 77 Pt; 23 Co 0,45 208.000
Tabela 6.5: Materiais utilizados em ímãs permanentes.
Porém, w m 1 corresponde a uma energia devolvida pelo campo
ao circuito elétrico de excitação (pois no trecho 1 H é positivo e dB é
negativo, essa área está hachurada em linhas vermelhas inclinadas à
direita) e w m 4 corresponde a uma entrada de energia (pois no trecho 4
tanto H como dB são positivos – esta área está hachurada em linhas azuis
inclinadas à esquerda).

327
Portanto, a soma w m 4 +w m 1 representa a área do ciclo de
histerese à direita do eixo B (porção hachurada apenas em linhas simples
azuis).

Figura 6.30: Ciclo de histerese de um material ferromagnético.


Por raciocínio análogo aplicado aos trechos 2 e 3, tem-se
w m 2+wm 3 = área do ciclo de histerese à esquerda do eixo B.
Portanto, w m , correspondente à área total do ciclo de histerese,
representa a densidade de energia cedida pelo circuito elétrico (e que não
lhe é devolvida), por ciclo e por unidade de volume cedida ao material :
energia
=área do ciclo de histerese=∮ H dB . (6.95)
ciclo×volume
Esta energia é convertida em calor, e representa a chamada perda
histerética. Para um volume τ do material ferromagnético, as perdas
histeréticas são calculadas pela equação de Steinmetz:
P h= Ah× f ×τ , (6.96)
onde A h = área do ciclo de histerese (J/m ), f = número de vezes
3

que o ciclo é percorrido na unidade de tempo (Hz), τ = volume do


material (m3).
A área do ciclo de histerese é tanto maior quanto maior for a

328
coercividade do material, por esse motivo, materiais utilizados em
núcleos de transformadores devem ter uma baixa coercividade.
Às perdas histeréticas – que dependem linearmente da frequência f
– somam-se as perdas por correntes induzidas (perdas Foucault), que
veremos no Capítulo 7.

6.12 Polarização magnética - ímãs


permanentes
Como visto, quando os campos magnéticos existem em meios
materiais, os vetores ⃗
B e ⃗ são diferentes. Esta diferença se
μ0 H
mede pelo vetor magnetização28,

⃗ = B −H
M ⃗ (6.97)
μ0
⃗ a correntes elementares, chamadas correntes
Vamos associar M
⃗ é
amperianas. Note-se que somente nos materiais ferromagnéticos M
sensivelmente diferente de zero. Estes materiais são, ainda,
extremamente não-lineares. Consideremos inicialmente um domínio em
que M⃗ é continuo e diferenciável. Lembrando que as equações
fundamentais da magnetostática são
∇⋅⃗ ⃗ =⃗
B =0 , ∇ × H J ,
reescrevendo a equação (6.97) como
⃗ ⃗ +M
B =μ 0 ( H ⃗) , (6.98)
e tomando o rotacional desta equação, levando em conta a segunda
relação fundamental, obtemos
∇× B ⃗ =μ 0 ( ⃗
J +∇ ×M⃗) . (6.99)
Esta equação indica que ∇× M ⃗ corresponde a uma densidade
de corrente. Portanto, a matéria magnetizada age como se fosse uma
densidade de corrente existindo no vácuo. Na presença de matéria
magnetizada, as correntes fontes de campo serão obtidas de

J ' =⃗ ⃗ ,
J +∇ ×M (6.100)

28 Alguns autores utilizam a definição: ⃗ ' =⃗


M ⃗ , com M
B−μ 0 H
homogêneo a B.

329
supondo-se ⃗ J ' existindo no vácuo. Formalmente, o vetor ⃗
B pode,
então, ser derivado de um vetor potencial
μ0 ⃗J (⃗r ' )+∇ ' × M
⃗ ( ⃗r ' )

A(⃗r )= ∭
4π τ R
d τ' . (6.101)

Efetivamente, esta expressão não tem interesse prático, pois o


vetor M⃗ não é conhecido a priori; ela nos permite, porém, substituir a
matéria magnetizada por correntes elétricas no vácuo, o que é compatível
com as ideias atuais de estrutura da matéria.
Vamos, agora, substituir, em ∇⋅⃗ ⃗ por seu
B =0, o vetor B
valor, obtido de (6.98):
∇⋅⃗ ⃗ +μ 0 ∇⋅M
B =μ 0 ∇⋅H ⃗ =0 .
Portanto,
∇⋅H ⃗ =−∇⋅M⃗ , (6.102)
isto é, as fontes do vetor H⃗ são dadas por – ∇⋅M
⃗ . A matéria
magnetizada age, pois, como fonte de campo magnético. Define-se,
então, a densidade de polo magnético ligado por
⃗ .
ρm=−∇⋅M (6.103)

Passemos, agora, a examinar o comportamento de M ⃗ na


superfície de separação entre dois meios materiais diversos.
Suponhamos, então, a superfície de separação entre o meio 1, de
permeabilidade μ1 e o meio material 2, de permeabilidade μ 2
(Figura 6.31). Pela condição de contorno para a indução magnética,
temos
( B⃗1− B⃗2 )⋅⃗
n =0 .
Mas
B⃗1=μ 0 ( H⃗ 1+ M
⃗ 1) , B⃗2 =μ 0 ( H⃗ 2 + M
⃗ 2) ,
ou seja,

( H⃗ 1− H⃗ 2 + M⃗ 1− M
⃗ 2 )⋅⃗n=0 .

330
Meio 1 (ar)
n
μ1

μ2
Meio 2

Figura 6.31: Interface entre dois materiais diversos.

Indicando as componentes normais pelo índice n, , a equação


acima se escreve:
H n 1−H n 2 =M n 2−M n 1 . (6.104)
Se o meio (1) tiver permeabilidade μ0 , então M⃗n 1=0 e
(6.104) reduz-se a
H n 1−H n 2 =M n 2=M n . (6.105)
A diferença entre as componentes normais de H ⃗ é, pois, igual à
componente da magnetização normal à interface. Mn é uma densidade
superficial de polos magnéticos ligados, na superfície de separação.
Nos materiais magnéticos que constituem ímãs permanentes,
temos M ⃗ ≠0 , mesmo na ausência de correntes elétricas. A
magnetização de um ímã permanente possibilita então a determinação do
campo magnético correspondente (ver, a .respeito, por exemplo em
Sommerfeld [8, p. 78 e seguintes]).
A título de exemplo, vamos examinar aqui o campo criado por um
⃗ contendo um
toroide de material com magnetização permanente M
pequeno entreferro (Figura 6.32).

331
b

Figura 6.32: Imã permanente com pequeno entreferro.

Desprezando a dispersão, ⃗
B será constante sobre todo o toroide;
desprezando também o espraiamento teremos no entreferro
B
H e= .
μ0
Fazendo a circuitação de H ⃗ sobre a circunferência diretora do
toroide (linha pontilhada) e notando que o campo magnético é constante
no ferro (Hf) e no entreferro (He),
H f (2 π b−e)+H e e=0 ,
pois não há correntes concatenadas. Em consequência,
e
H f =−H e . (6.106)
2 π b−e
O campo magnético no ferro tem, então, sentido oposto a He, ou
ainda, sentido oposto a B. Multiplicando ambos os membros da equação
acima por μ0 , rearranjando-a e substituindo μ 0 H e por B , vem
B 2 π b−e
=−μ0 . (6.107)
Hf e
Esta expressão nos permite determinar Hf conhecidos B e a curva
de histerese do material, no segundo quadrante (curva de
desmagnetização), como mostrado na Figura 6.33. De fato, a intersecção
da reta de coeficiente angular

332
2 π b−e
tan θ=−μ 0 (6.108)
e
com a curva de desmagnetização fornece a solução de (6.107) (ponto P
na Figura 6.33).
Por sua vez, a condição de contorno (6.105), aplicada à interface
ferro/entreferro, fornece:
H e −H f = M .
Como H e ≫ H f se o entreferro for pequeno, H e ≈M ou,
multiplicando ambos os membros por μ0 ,
⃗ ⃗ .
B≈μ 0 M

B
Br

-Hc H

Figura 6.33: Segundo quadrante da curva de magnetização de um imâ


permanente e a sua intersecção com a reta dada pela equação (6.107).

Notas:
a) As relações (6.106) e (6.107) são básicas para o cálculo de
dispositivos que envolvem ímãs permanentes. Em geral, deseja-se obter
um certo fluxo magnético em um entreferro de determinadas dimensões,
com o menor volume possível de material ferromagnético. Para isso, o
material deve ter uma alta remanência e uma alta força coercitiva. Com
isso garante-se que o fluxo no entreferro não seja muito sensível a
campos magnéticos externos.

333
b) A curva de desmagnetização é geralmente descrita de forma
gráfica, não sendo oportuno o uso da relação B=μ H , que resultaria
em valores negativos para μ .
Ex. 6.10 - O circuito magnético da Figura 6.34(a) consta de
dois trechos de materiais ferromagnéticos distintos mas com
mesmas dimensões: o trecho (1) com curva B-H dada pela
curva (1) da Figura 6.34(b), e o trecho (2) pela curva (2) da
mesma figura. O circuito completa-se através do entreferro
(3). O fator de empilhamento é unitário, e a bobina tem 100
espiras. Desprezando espraiamento e dispersão, calcular:
a) a corrente contínua necessária para impor o fluxo
−4
ψ=0,5×10 Wb no entreferro;
b) a energia magnética acumulada no circuito;
c) a descontinuidade do vetor magnetização nas interfaces de
separação (1)-(2), (2)-(3) e (3)-(1).
Solução:
a) N i=H 1 l 1 + H 2 l 2 + H ar l ar
onde l 1=l 2=20 cm (desprezando-se o comprimento do
entreferro) e
S 1=S 2=S ar =10−4 m 2 ,
portanto:
ψ 0,5×10−4
Bar =B1 =B2= = =0,5 T
S 10−4
Assim,
B ar
H ar= μ 0 ≈400000 A/m ,
e da Figura 6.34.b: H 1=25 A/m , H 2=75 A/m .
Dessa forma,
5 −3
25×0,2+75×0,2+4×10 ×10
i= =4,2 A .
100

334
m
1c
(1) 1cm

i
N (3)

11 cm
1 mm (a)

(2) 1 cm

1cm 1cm

11 cm

1,00
(1)
0,75
(2)
B (T)

(b)
0,50

0,25

0 100 200 300 H (A/m)

Figura 6.34: Circuito magnético com dois trechos de materiais


ferromagnéticos distintos e um entreferro.

1
b) W m= B ( H 1 τ 1+ H 2 τ 2 + H ar τ ar )
2
onde τ é o volume da região considerada. Note-se que esta
relação é valida no material ferromagnético pois para tais
valores de H as duas regiões ferromagnéticas trabalham na
região linear das curvas de magnetização.

335
Assim,
1
W m= 0,5 ( 25×20×10 + 75×20×10 +4×10 ×10 ) =
−6 −6 5 −7
2 ,
−3
=10,5×10 J
ou
1 1 −4 −3
W m= Ψ i=N ψ i= 100×0,5×10 ×4,2=10,5×10 J .
2 2
c) Interface (1) - (2)
H n 2− H n1 =M n 1−M n 2=75−25=50 A/m .
Interface (1 ) - ( 3 )
5
H ar− H n 1=M n 1−M ar≈4×10 A/m
Interface (3 ) - (2 )
H n 2− H ar=M ar −M n 2≈−4×10 5 A/m
A auto indutância do circuito será:
N ψ 2W m 2×10,5×10−3 −3
L= = 2 = 2
=1,19×10 H .
i i 4,2
Examinemos, agora, o comportamento das componentes
tangenciais de B e M numa interface.
Como foi visto na seção 2.8, referindo-nos à Figura 6.35, a
equação (2.77) fornece:
J⃗s =̂n ×( H⃗ 1− H⃗ 2)
em que n̂ é a normal à interface, dirigida para o meio 1 (ar).

1 μ1 =μ 0
ar
n

u

⃗t
δh

Δl

2 μ2

Figura 6.35: Interface entre dois meios de


permeabilidades magnéticas diferentes.

336
Mas
B⃗1 B⃗
H⃗ 1= ⃗ 2= 2 − M
e H ⃗ ,
μ0 μ0
portanto,
( B⃗2− B⃗1) × n̂ =μ0 ( J⃗s + M
⃗ × n̂ ) . (6.109)
Esta expressão mostra que a descontinuidade das componentes
tangenciais do vetor ⃗ B pode ser determinada substituindo-se o
material ferromagnético pelo vácuo mas adicionando-se à densidade de
corrente superficial J⃗s existente uma densidade superficial de corrente
⃗ × n̂ .
dada por M
Em particular, se J⃗s =0 :
( B⃗2− B⃗1) × n̂ =μ0 M
⃗ × n̂ ,
e a descontinuidade na componente tangencial de ⃗
B é medida pela
componente tangencial de M ⃗ . Por exemplo, a indução magnética de
um núcleo toroidal, sem entreferro, magnetizado uniformemente (ímã
permanente), é igual à indução produzida por um enrolamento toroidal
uniforme no vácuo.

337
Exercícios do Capítulo 6
1. Mostre que os dois potenciais vetoriais magnéticos
A⃗1= û x cos y+ û y sen x e A⃗2 =û y (sen x +x sen y)
correspondem o mesmo vetor B ⃗ .
⃗1
Calcule ∇⋅A ⃗2 .
e ∇⋅A
2. Um tubo reto e comprido de cobre, de raios interno e
externo iguais a a e c respectivamente, conduz uma
corrente I.
Deduzir as expressões do vetor indução magnética como
funções da distância ρ ao eixo do tubo:
a) no interior vazio do tubo
b) no interior das paredes do tubo
c) fora do tubo.
Fazendo a corrente voltar por um condutor sólido de raio
b<a, coaxial com o tubo, deduzir as novas expressões do
vetor indução magnética nas regiões acima e também no
interior do condutor central. (Carter [30, p. 115])
3. Mostrar que o vetor indução magnética no centro de um
circuito com o formato de um quadrado de lado l
percorrido por uma corrente i é dado por (Timbie e Bush
[31, p. 423])
2 √ 2μ 0 i
B= π l
4. Um circuito com o formato de um polígono de n lados é
inscrito em uma circunferência de raio a e é percorrido
por uma corrente I, como mostrado na Figura 6.36.
Calcule:
a) o valor da indução B no centro O da circunferência.
b) calcule B neste mesmo ponto, quando n→∞ e o
polígono se transforma em uma circunferência.

338
l

π/n
I a

Figura 6.36
μ0 n I μ0 I
R.: a) B= tan(π/n) b) B= .
2πa 2a
5. Uma esfera de raio a tem uma carga superficial uniforme
ρs , e gira em torno de seu diâmetro, orientado segundo
o eixo z, com velocidade angular ω constante (Figura
6.37). Mostre que a indução no centro da esfera é dirigida
na direção do eixo de rotação e vale
2 μ0 ρ s a ω
B= .
3

Figura 6.37

339
6. Uma cavidade cilíndrica é formada num longo condutor
sólido cilíndrico. O eixo da cavidade é paralelo ao do
a indica a
condutor, mas distanciado de a (o vetor ⃗
posição do centro da cavidade em relação ao eixo do
condutor.). Se ⃗
J é a densidade de corrente axial no
condutor, mostrar que o vetor de indução magnética na
cavidade é uniforme e igual, vetorialmente, a
μ0

B= ( ⃗J ×⃗
a)
2
(Harnwell [20, p. 332]).
7. Calcule o vetor ⃗
A correspondente a um campo criado
por 2 condutores paralelos, percorridos por correntes
contínuas iguais e opostas, de comprimentos infinitos, em
um ponto P situado às distâncias d1 e d2 dos fios (Figura
6.38). Qual o valor da indução magnética B num ponto C
da reta AA' ?

A C A'
d1
d2
P

I I

Figura 6.38

R.: ⃗
A ( P )=
μ0
2π ( )
d
ln 2 û z
d1
B(C )=

μ0 1

1
2 π d 1 d2 ∣
8. Um longo solenoide é constituído enrolando-se 1000

340
espiras de fio de cobre de raio a de maneira uniforme,
sobre um núcleo de material não-magnético, cilíndrico, de
diâmetro 10 cm e de comprimento 1,75 m, como mostra a
Figura 6.39. O raio a do fio é muito menor do que 10 cm.
Fazendo-se passar a corrente I = 5A pelo solenoide,
calcular a integral de linha de H sobre uma curva Γ
externa ao solenoide entre os centros A e B das suas duas
faces, isto é, a diferença de potencial magnetostático
existente entre os centros das faces (Dica: utilize o campo
no eixo do solenoide).
1,75 m
10 cm

A B

Figura 6.39
R.: U AB≈141 A.
9. Os quatro fios: A e B de uma linha de transmissão de
potência, e x e y de uma linha telefônica, estão num
mesmo plano horizontal. Os centros de A e B estão
distanciados de 3,6 m e os de x e y estão a 45 cm. Se os
fios mais próximos das duas estiverem distanciados de 12
m, qual o vetor indução magnética produzido no centro,
entre os fios telefônicos, quando uma corrente de 47 A
circular pela linha de transmissão de potência? (Timbie e
Bush [31, p. 424]).

341
10. Determinar o vetor potencial produzido por um
filamento de comprimento l, coincidente com o eixo z,
centro na origem, percorrido por corrente constante.
11. Determinar ⃗
B no problema anterior.
12. Determinar o vetor potencial causado por uma
corrente percorrendo um circuito quadrado. Sugestão:
problema 10.
13. O circuito magnético da Figura 6.40 é feito com núcleo
ferromagnético, de curva de magnetização normal dada
na Figura 6.41. A bobina tem N espiras de fio de cobre, de
resistência total R, e a ela é aplicada a tensão continua
V = 1 V. O comprimento médio de cada espira é 10 cm.
−8
Sendo a resistividade do cobre 2×10 Ω m , o fator de
empilhamento unitário, a dispersão e o espraiamento
−4
desprezíveis, calcular, para o fluxo ψ=10 Wb no
entreferro:
cm
2

1,5 cm

i N
11,5 cm

V 1 mm

1,5 cm

2 cm 1 cm
6,5 cm
Figura 6.40

342
Figura 6.41
a) a f.m.m. : N i.
b) a seção transversal do fio de cobre, em mm2 .
R.: a) N i = 435 A; b) S = 0,87 mm2
14. O circuito magnético da Figura 6.42 tem núcleo com
curva de magnetização normal mostrada na Figura 6.43.
Sendo N =140 espiras, espraiamento e dispersão nulos,
fator de empilhamento unitário, e entreferro com
0,1 π mm . Calcule:
−4
a) a corrente i necessária para impor ψ=10 Wb nos
entreferros.
10−4
b) o novo valor de i, para impor ψ= Wb no
4
entreferro da perna direita (com 0,1 π mm ), sendo
que o entreferro da perna esquerda é eliminado.

343
1

1
i N

4
0,1 π mm

1
1 4 2 4 1
Dimensões em cm, exceto entreferro.
Figura 6.42

Figura 6.43
R.: a) i= 2,1 A; b) i = 0,53 A.

344
15. Um núcleo de ferro (Figura 6.44) é constituído de
chapas de liga Si-Fe laminada (Figura 6.16), empilhadas
até formar uma altura de 7,5 cm com fator de
empilhamento 0,95. O enrolamento de excitação tem 200
espiras. Desprezando o fluxo de dispersão. Determinar:
5 cm
7,

5cm

i
N=200

32 cm
5 cm

5cm 5cm
35 cm
Figura 6.44
a) A corrente de excitação para produzir um fluxo de 5
mWb.
b) O fluxo produzido por uma corrente de 11 A (M.I.T.
[32, p. 59]).
16. Um núcleo de ferro do mesmo material do problema
anterior tem uma espessura total de 5 cm com fator de
empilhamento 0,90 e um entreferro de espessura e
(Figura 6.45). Sendo e = 1 mm, b = 6 cm, l= 75 cm,
calcular:
a) a f.m.m. para estabelecer o fluxo de 2,5 mWb,
b) o fluxo com uma f.m.m. de 1400 A. (adaptado de M.I.T.
[32, p. 74]).

345
m
5c b

i
N
e

b l b
Figura 6.45
17. Determine a mútua indutância entre um circuito
retangular situado no plano x=0 , com vértice nos
pontos: (0; 1; 0); (0; 1,5; 0); (0; 1,5; 0,5); (0; 1,0; 0,5)
(metros), com o sentido indicado na Figura 6.46, e:
a) um fio situado sobre o eixo z, com seção transversal
desprezível;
b) um fio condutor cilíndrico, de raio 5 cm, e com eixo
centrado no ponto (x=0 ; y=0,5) paralela ao eixo z;
c) um fio de seção nula situado na linha com eixo
centrado no ponto (x=0,25 ; y=1,25) paralela ao eixo
z.
Todas as distâncias são dadas em metros e, nos 3 casos,
μ=μ 0 , sendo o comprimento dos fios muito grande.

346
z

(a) (b)

0,5

0,5 1 1,25 1,5


0,25 y

x (c)
Figura 6.46
R.: a) M=0,0405 μH b) M=0,693 μH c) M=0.
18. Dado o circuito magnético da Figura 6.47 determine o
valor de I para impor B=0,5 T no núcleo. A dispersão e o
espraiamento são desprezíveis, e o fator de empilhamento
é unitário. Considere os seguintes casos:
a) núcleo de materiais lineares, com μ1 =500μ 0 e
μ 2=1000μ 0
b) mesmos materiais do item (a), mas com entreferro de 1
mm.
c) com entreferro de 1 mm, e materiais não lineares, com
curvas de magnetização normal dadas na Figura 6.48.
Para cada caso calcule a autoindutância, L do
enrolamento.

347
N = 1000

S = 10 cm2
μ1 μ2

l1
l2

I l1 = l2 = 0,5 m
Figura 6.47

Figura 6.48
R.: a) I=0,6 A, L=0,833 H; b) I=1 A, L=0,5 H; c) I=0,56A,
L=0,9 H.

348
19. O cabo coaxial da Figura 6.49 tem dielétrico com
ε=2,25ε0 , permeabilidade μ0 e condutividade nula.
Os condutores são perfeitos, sendo a espessura do
condutor externo desprezível. Calcule:
a) o valor da carga R que faz com que a energia elétrica
armazenada por unidade de comprimento seja igual à
energia magnética armazenada por unidade de
comprimento.
b) o valor numérico do vetor de Poynting em ρ=2 cm .

b
a
10 V

Figura 6.49
Dados: a=1 cm; b=2,72 cm.
R.: R = 40 Ω; N = 995 W / m2.
20. Sobre um anel de secção retangular, em material não
ferromagnético, enrolam-se uniformemente, empregando
fio de cobre esmaltado, dois circuitos, tendo,
respectivamente, 1000 e 2000 espiras. O anel tem a
altura axial h=5 cm, raio interno ri=19 cm e raio externo
re = 21 cm. Supondo nula a dispersão de fluxo, calcular:
a) a indutância (própria) de cada circuito;
b) a indutância mútua entre os dois circuitos;

349
21. Calcule a auto indutância por metro da linha de
transmissão de fios paralelos da Figura 6.50, onde d > 10
a.

2a
d

Figura 6.50
μ0 1
R. : L= (
π 4
+ ln
d
a ) H/m.

22. Duas bobinas A e B têm indutância de 20 e 50 μH,


respectivamente. A indutância mútua entre elas é de 5,6
μH.
a) qual o coeficiente de acoplamento entre as bobinas?
b) a bobina A é substituída por outra de iguais dimensões
físicas, mas tendo o dobro do numero de espiras. Quais
são as novas indutâncias próprias e mútua? (Timbie e
Bush [31, p. 437]).
23. Um cabo coaxial tem um condutor central de cobre
com 51 mils29 de diâmetro, coberto de polietileno para
completar um diâmetro de 185 mils. O conjunto vem
coberto com uma trança de cobre de espessura
desprezível, que é usada como condutor externo.
a) qual é a indutância por metro deste cabo em
frequências baixas, supondo a distribuição uniforme da
29 1 mil = 1 milésimo de polegada = 0,0254 mm

350
corrente nos condutores? Traçar o diagrama da
variação de B com a distância, a partir do eixo do cabo.
b) em frequências altas, faixa de VHF e UHF por
exemplo, a corrente nos condutores é praticamente
toda concentrada na superfície. Para quanto mudaria a
indutância por metro do cabo considerado?
c) se o condutor externo tiver a espessura de 20 mils e a
distribuição de corrente for considerada outra vez
uniforme, qual é agora a indutância por metro? Traçar
o novo diagrama da variação de B. (Timbie e Bush [31,
p. 460]).
24. Na Figura 6.51(a), determine o valor do conjugado
que atua na espira a, b e c, quando percorrida pela
corrente I=5 A e imersa no campo uniforme ⃗
B =0,5 û z T
. Dados: a = b = 4 cm; c = 5 cm.

z z

a
I B I B

b y y

θ
c
x x

(a) (b)
Figura 6.51
Qual o valor do ângulo θ formado entre o lado c e o plano
x-y, para o qual o conjugado é nulo? (Figura 6.51(b))
−3
R.: a) 4×10 N.m; b) θ = 39o.

351
25. Um eletroímã tem a forma indicada na Figura 6.52.
Uma fina folha de cobre evita o contacto direto entre o
eletroímã e a barra C de material ferromagnético,
formando um pequeno entreferro de permeabilidade μ0
.

S
C
Figura 6.52
a) sendo B=0,01 T, e a área S de cada face polar igual a
100 cm2, qual o peso máximo da barra C que o ímã
pode suportar? Desprezar espraiamento e dispersão.
b) se, mantido o fluxo ψ do item anterior, a área de
contato for reduzida para 50 cm2 por polo, qual o novo
peso máximo que o eletroímã pode suportar? Desprezar
espraiamento e dispersão.
c) na prática, quais os fatores que impedem que a força
de tração tenda a infinito, à medida que a área de
contacto é reduzida?
R.: a) 0,8N; b) 1,6 N; c) saturação e dispersão de fluxo.
26. Uma bobina de 100 espiras tem formato quadrado,
com o lado do quadrado igual a 10 cm. Colocando a bobina
num campo magnético uniforme, de indução B=3 T, e
passando por ela uma corrente de 6 A,
a) qual o máximo conjugado exercido sobre a bobina?
b) qual o momento magnético da bobina?

352
Nota: O momento magnético de uma bobina é um vetor
normal à área da espira, com sentido dado pela regra da
mão direita, e módulo igual ao produto (área x N x
corrente).
R.: a) 18 N.m; b) 6 A m2.
27. No circuito magnético da Figura 6.53, feito de
material ferromagnético, cuja curva de magnetização
normal está indicada na Figura 6.54, o trecho (1) pode
girar sem atrito em torno do eixo a e se encontra suspenso
por uma mola de constante elástica k = 100 N/cm, de
forma que, com corrente nula, o entreferro formado com o
trecho (2) vale 1 mm. Supondo espraiamento e dispersão
nulos, fator de empilhamento unitário e desprezando o
peso do trecho (1):

k
1

a (1)
1 mm
i
6 cm

N
1 cm

(2)

1 cm 1 cm
6 cm
Figura 6.53

353
Figura 6.54
a) Calcule o valor de f.m.m. que, com o entreferro aberto
em 1 mm, consegue superar a força da mola quando o
entreferro se fechar, e certamente fechará o entreferro;
b) calcule a menor f.m.m. capaz de fechar o entreferro
(dica: calcule o valor de Ni necessário para superar a
força da mola para diversos valores de entreferro e
descubra qual o maior valor).
R.: a) 418 A; b) 167 A.
28. Um solenoide de 30 cm de comprimento e 1,5 cm de
diâmetro tem enrolamento uniforme com 2500 espiras. Se
o solenoide é colocado num campo magnético uniforme de
4 T de indução, e se uma corrente de 2 A estiver passando
pelo enrolamento do solenoide, quais os máximos:
a) da força exercida sobre o solenoide?
b) do conjugado exercido sobre o solenoide?
c) qual o momento magnético do solenoide?
(Kraus e Carver [11, Cap. 5]).
R.: a) 0; b) 3,53 N.m; c) 0,884 A.m2.

354
29. Qual o conjugado que tende a abrir a chave de faca
esquematizada na Figura 6.55 durante um curto-circuito,
quando estiverem passando 30.000 A? (Suponha que as
barras horizontais sejam longas). (Attwood [33, p. 284]).

...
I
I
2cm
50cm

... I

Figura 6.55
μ0 I 2 d d
R.: T = ln =176 N.m
4π a
30. O núcleo do circuito magnético da Figura 6.56(a) é
feito com material cujo ciclo de histerese é dado na Figura
6.56(b). O fator de empilhamento é unitário, e a dispersão
é nula. Aplica-se, na bobina de 1.000 espiras a corrente
i(t )=0,1 cos (2 π 100 t) A durante 5 minutos.
a) Qual a energia dissipada correspondente às perdas
histeréticas?
b) A corrente é interrompida quando passa pelo seu valor
máximo e, em seguida, introduz-se um entreferro de
π /10 mm em um trecho qualquer do núcleo.
Desprezando o espraiamento, qual o campo magnético
resultante no entreferro?
c) Qual a força que tende a fechar o entreferro?
5
R.: a) 576 J; b) 1,11×10 A/m c) 0,77 N

355
Figura 6.56

356
31. O circuito magnético da Figura 6.57 é feito de
material cuja curva de magnetização normal é dada na
Figura 6.58. O espraiamento e a dispersão são nulos, e o
fator de empilhamento é unitário. As dimensões estão em
centímetros e, no entreferro, tem-se B 0,4 T.
a) calcule o comprimento e do entreferro, sabendo que a
energia acumulada no entreferro vale 0,08/π J.
b) nestas condições, qual a indutância da bobina?
c) eliminando o entreferro. e variando a corrente de
forma a ser mantido B = 0.4 T no trecho (3). qual o
novo valor de L?
R.: a) 2 mm; b) 1,5 mH; c) 2,13 mH
m
1c

(2) 1cm

(1)
i
(3)
N=200
21 cm

(4) 1 cm

1cm 2cm

11,5 cm
Figura 6.57

357
1,2

0,8
B (T)

0,4

0 1000 3000 5000 H (A/m)


Figura 6.58

32. Uma bobina toroidal de N espiras tem um raio b,


2
seção transversal de área S =π a e um entreferro
bastante estreito. Faça o gráfico da variação de B, M, H e
μ ao longo da circunferência de raio b, na região do
entreferro, supondo uma corrente I no condutor. (Kraus e
Carver [11, p. 208–9]).
33. Substituindo a bobina toroidal do exercício anterior
por um anel de ferro de mesmas dimensões e com o
mesmo entreferro, com uma densidade de corrente
superficial de magnetização Js, fazer os gráficos
⃗ ao longo da
mostrando a variação de B, M, H, μ e ∇⋅H
circunferência de raio b, na região do entreferro. (Kraus e
Carver [11, p. 210–2]).
34. Sobre o toroide inicialmente com magnetização
permanente correspondente à densidade de corrente
superficial Js, enrolamos uma bobina e passamos uma
corrente de modo que a magnetização total (induzida +
permanente) se torne igual em magnitude a 4Js. Faça o

358
⃗ ao longo da
gráfico da variação de B, M, H, μ e ∇⋅H
circunferência de raio b, na região do entreferro. (Kraus e
Carver [11, p. 212–4]).
35. No circuito magnético da Figura 6.59, inicialmente
desmagnetizado, com curva de magnetização dada pela
Figura 6.60, determinar:
a) a corrente continua necessária para produzir no ferro
uma indução magnética de 4.000 gauss (1 T = 104
gauss);
b) qual a nova indução no ferro se a corrente for
removida?
Dados: l = 1 m; e = 0,5 mm; S = 4 cm2; N = 1000 espiras

N = 1000

S = 4 cm2
μ2

l= 1 m
I
Figura 6.59

359
B (T)
0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

–20 0 20 40
H (A/m)
Figura 6.60
R.: a) 0,21 A; b) 0,04 T.
36. Um ímã permanente de forma toroidal é feito com
2
raio b=10 cm e área da seção S =π cm de um material
magnético cuja curva de desmagnetização é dada na
tabela abaixo. Supondo que inicialmente o fluxo de
indução magnética seja B=Br=1,12 T, qual será o novo B
se se fizer um entreferro de 1 cm? Qual a força que
aparece nos polos do entreferro?
–H (kA/m) 0 8 16 24 32 40 48 56 60
B (T) 1,12 1,09 1,06 1,02 0,95 0,85 0,7 0,35 0
R.: B = 0,9 T; F = 101 N.

360
7 Os campos lentamente variáveis
7.1 Introdução
Uma vez examinados, nos capítulos anteriores, os campos
elétricos e magnéticos estacionários, independentes do tempo, passemos
a estudar os fenômenos, ditos quase-estacionários, associados com
campos elétricos e magnéticos que variam lentamente com o tempo. Não
podemos, por ora, caracterizar com precisão estas variações lentas;
adotaremos aqui, o seguinte critério:
Os fenômenos quase-estacionários são aqueles que podem ser
explicados quantitativamente a partir da Teoria Eletromagnética;
desprezando-se, porém, as ações magnéticas das correntes de
deslocamento. Nossas equações fundamentais serão, portanto, as
equações de Maxwell com o termo ⃗ /∂ t omitido:
∂D

⃗ =−∂ B
∇× E
∂t

⃗ =⃗
∇× H J . (7.1)

∇⋅⃗
B =0

⃗ =ρv
∇⋅D
Estas equações serão complementadas pelas relações constitutivas:
⃗ =ε E
D ⃗ , ⃗ ⃗ + E⃗ i)
⃗ , ⃗J =σ( E
B=μ H (7.2)

onde E ⃗ representa um eventual campo impresso, não-


i

eletromagnético.
Passaremos em seguida ao exame dos fenômenos quase-
estacionários. Para esclarecermos melhor as aproximações envolvidas,
vamos preceder este estudo com a introdução dos potenciais
eletrodinâmicos.

361
7.2 Os potenciais eletrodinâmicos
Partindo das equações de Maxwell completas:
∂⃗B
∇× ⃗
E =− (I) ∇⋅B⃗ =0 (III)
∂t
, (7.3)
∂ ⃗
D
∇× H ⃗ =⃗J+ ⃗ =ρv
(II) ∇⋅D (IV)
∂t
vamos mostrar que os campos de ⃗E e ⃗B podem ser derivados de
duas funções de ponto e do tempo, sendo uma escalar e outra vetorial.
Estas funções recebem o nome de potenciais eletrodinâmicos (ou
potenciais retardados).
Como a divergência de ⃗ B é nula mesmo para campos não
estacionários, podemos ainda derivá-lo de um potencial vetorial através
de

B=∇ × ⃗A . (7.4)
Introduzindo este valor na primeira equação de Maxwell,
⃗ =− ∂ ∇ × ⃗A .
∇× E
∂t
Invertendo os operadores no segundo membro e rearranjando a
equação,

⃗+ ∂ ⃗A
∇×( E )=0 . (7.5)
∂t
O vetor entre parênteses na relação acima é irrotacional, pode,
portanto, ser derivado de um potencial escalar: ϕ

⃗ ∂ ⃗A
E+ =−∇ ϕ . (7.6)
∂t
O campo elétrico se exprime pois, facilmente, em função dos
potenciais ⃗
A e ϕ :

∂A

E =−∇ ϕ− . (7.7)
∂t
Suponhamos que o meio considerado é homogêneo, sendo ε
sua permissividade e μ sua permeabilidade. Multiplicando por ε
ambos os membros da equação (7.7) e tomando sua divergência,

362
⃗ )=−ε ∇⋅ ∇ ϕ+
∇⋅(ε E ( ∂ ⃗A
∂t ) . (7.8)

Mas ⃗ )=ρv , pela quarta equação de Maxwell. Uma vez


∇⋅(ε E
2
que ∇⋅∇ =∇ , a equação (7.8) fornece
2 ∂ ⃗A ρv
∇ ϕ+ ∇⋅ =− . (7.9)
∂t ε
Vamos agora substituir, na segunda equação de Maxwell, os
vetores ⃗ ⃗ por seus valores em função dos potenciais,
E e H
1
μ
∇×∇ × ⃗A= ⃗
J +ε −∇ − (
∂ϕ ∂ 2 ⃗
A
∂ t ∂t 2 ) . (7.10)

2
Mas, utilizando a identidade vetorial ∇×∇ ×=∇ ∇⋅−∇ ,e
rearranjando a equação (7.10), obtemos
∂ 2 ⃗A ∂ϕ
−∇ 2 ⃗A+μ ε
∂t 2
+∇ ∇⋅⃗ (
A+μ ε
∂t
=μ ⃗J . ) (7.11)

A divergência de ⃗
A ainda é arbitrária; para simplificar (7.11)
vamos fazer
∂ϕ
∇⋅⃗A=−μ ε . (7.12)
∂t
Veremos mais tarde que o produto μ ε está relacionado com a
velocidade de propagação das ondas eletromagnéticas no meio, v, pela
relação
μ ε=1 /v 2 . (7.13)
Introduzindo esta constante em (7.9) e (7.11), bem como a
condição (7.12), resultam

{
2
1 ∂ ϕ ρ
−∇ 2 ϕ+ = v
2
v ∂t 2
ε
2⃗
. (7.14)
2⃗ 1 ∂ A
−∇ A+ 2 2 = μ ⃗J
v ∂t
Este sistema de equações relaciona as funções potenciais escalar e
vetorial às fontes do campo, isto é, às distribuições de cargas elétricas

363
ρv =ρv ( x , y , z , t) e de correntes ⃗
J =⃗
J ( x , y , z , t) .
Nota-se que, em regime estacionário, desaparecendo as derivadas
em relação ao tempo, as equações (7.14) se reduzem às equações que
permitem a determinação do potencial eletrostático e do potencial
vetorial magnetostático.
As integrais gerais de (7.14) são análogas às correspondentes
expressões no estado estacionário, e a solução dessas equações é dada
por

{
R
ρv ( x ' , y ' , z ' , t− )dx ' dy ' dz '
v
ϕ( x , y , z , t)=∭
τ 4πεR , (7.15)
R
μ J⃗ ( x ' , y ' , z ' , t− ) dx ' dy ' dz '
v
A (x , y , z , t)=∭

τ 4πR
isto é, são calculadas pelas mesmas expressões do regime estacionário,
mas com um atraso no tempo.
Nestas expressões R é a distância entre os pontos onde o campo é
observado (x, y, z) e o pontos onde se encontram as fontes (x', y', z'):
R= √ (x− x ' )2 +( y− y ' )2 +( z−z ' )2 .
Para o cálculo dos potenciais no ponto (x, y, z) e no instante t,
consideram-se as cargas ou correntes existentes no ponto (x', y', z'), mas
num instante t – R /v , anterior a t . A ação das cargas e correntes se
faz sentir, num ponto à distância R com um atraso de R/v; podemos pois
dizer que estas ações se propagam à velocidade v.
Devido ao atraso introduzido no tempo, os potenciais ⃗
A e ϕ
são chamados potenciais retardados. A demonstração de que esses
potenciais satisfazem às equações (7.14) não será feita aqui (ver por
exemplo Jackson [15, Seç. 6.6] ou Abraham [14, p. 221]).
As expressões (7.15) nos permitem caracterizar o estado quase-
estacionário. Suponhamos, para isso, que as variações temporais de
ρv e ⃗
J sejam suficientemente lentas e as distâncias R envolvidas,
adequadamente pequenas, de modo que o efeito da retardação não seja
sensível, isto é, em todo o campo:

364
{ ρv ( x ' , y ' , z ' ,t−R /v ) ≈ ρv (x ' , y ' , z ' , t)
J⃗v ( x ' , y ' , z ' ,t−R /v ) ≈ J⃗v ( x ' , y ' , z ' ,t )
. (7.16)

Assim sendo, os potenciais eletrodinâmicos, no estado quase


estacionário, assumem a forma:

{
ρv ( x ' , y ' , z ' , t)dx ' dy ' dz '
ϕ( x , y , z , t)=∭
τ 4πεR . (7.17)
μ
⃗ J (x ' , y ' , z ' , t) dx ' dy ' dz '
A (x , y , z , t)=∭

τ 4πR
A fim de esclarecer melhor as aproximações (7.16), vamos
considerar o caso, muito interessante, em que as fontes de campo, i.e.

J e ρv , variam senoidalmente com o tempo, utilizando para tanto
o conceito de fasor introduzido em Circuitos Elétricos.
Por exemplo, uma função cossenoidal escalar pode ser escrita
como
ϕ( x , y , z ,t)=ϕ0 ( x , y , z )cos [ω t+θϕ ( x , y , z )]=
,
=ℜ {ϕ̇( x , y , z )e j ω t }
onde
ϕ̇( x , y , z )=ϕ0 ( x , y , z )e j θ (x , y , z ) ϕ

é o fasor de ϕ( x , y , z , t ) e ℜ { ❑ } é o operador "parte real de".


Se esta mesma representação for adotada para cada uma das
componentes, por exemplo cartesianas, de um vector cossenoidal no
tempo ⃗
A ( x , y , z , , t) , podemos escrever,
A( x , y , z ,t )=ℜ { Ȧx ( x , y , z )e j ω t } u^ x + ℜ { Ȧ y ( x , y , z ) e j ω t } u^ y +

+ℜ { Ȧz (x , y , z ) e } u^ z
jωt

ou ainda
A ( x , y , z ,t )=ℜ { ⃗
⃗ A˙ (x , y , z)e j ω t } ,
sendo
˙ x , y , z )= Ȧ ( x , y , z) û + Ȧ ( x , y , z ) û + Ȧ ( x , y , z ) û

A( x x y y z z

chamado de vetor complexo.


Utilizando a notação fasorial escrevemos também

365
{ ρv ( x ' , y ' , z ' ,t−R /v ) = ℜ {ρ˙v ( x ' , y ' , z ' )e j ω (t −R / v) }
J⃗v ( x ' , y ' , z ' ,t−R /v ) = ℜ { J⃗v (x ' , y ' , z ' )e j ω(t− R /v) }
. (7.18)

Substituindo estas expressões em (7.15), permutando os


operadores de integração com os de "parte real de" e identificando os
argumentos obtemos

{
1 ρ˙v (x ' , y ' , z ' )e− j ω R / v dx ' dy ' dz '
ϕ̇(x , y , z )= ∭
4πε τ R
˙

J ( x ' , y ' , z ') e− jωR/v
dx ' dy ' dz ' (7.19)
˙ x , y , z)= μ

A( ∭
4π τ R
.
Os potenciais eletrodinâmicos serão visivelmente senoidais. A
aproximação quase-estacionária pode ser empregada quando
ω R/v ≪1 ,
ou
R≪v /ω . (7.20)
Portanto, o emprego da aproximação quase-estacionária exige, no
regime senoidal, que as dimensões do sistema físico sejam muito
menores que v /ω .
Podemos encerrar aqui esta digressão e prosseguir com o exame
dos fenômenos quase-estacionários.

7.3 Dedução das equações de Kirchhoff a


partir das equações do campo
eletromagnético
A Teoria dos Circuitos tem especial importância para os
engenheiros eletricistas. Logo de início, essa teoria foi desenvolvida
adotando-se, como postulados, as leis de Kirchhoff e as relações entre
tensão e corrente nos parâmetros dos circuitos.
Vamos, agora, deduzir estas relações fundamentais a partir dos
resultados obtidos pela Teoria Eletromagnética, no estado quase-
estacionário. No processo de dedução, ficarão evidenciadas as condições
de validade da Teoria dos Circuitos. Veremos, especialmente, que os
resultados desta teoria deixam de ser válidos se correntes ou tensões

366
variarem rapidamente com o tempo ou se as dimensões do sistema físico
forem tais que as aproximações envolvidas no estado quase-estacionário
deixam de ser satisfatórias.
A primeira lei de Kirchhoff se obtém facilmente. De fato, se
considerarmos uma superfície Σ envolvendo um nó de uma rede (ou
seja, o ponto de encontro de vários condutores metálicos – Figura 7.1)
sabemos que

i1 i2

ε
Σ

i3

Figura 7.1: Nó de um circuito elétrico.


Σ
( ⃗
J+

∂D
∂t )
⃗ =0
⋅dS

como foi visto na Seção 2.2.1. Mas,


∂D⃗ ∂⃗E

∂t ∂t
será muito pequeno em face de ⃗J , se o campo elétrico variar
lentamente com o tempo. Em consequência
∯ ⃗J⋅dS
⃗ =0 .
Σ

A integral de ⃗J sobre Σ não é senão a soma algébrica das


correntes que convergem no nó e, portanto,

367
∑ i n (t)=0 . (7.21)
n

Fica assim demonstrada a 1ª lei de Kirchhoff.


A segunda lei exige um pouco mais de trabalho. Para demonstrá-
la, tomemos um sistema físico constituído por condutores filiformes (e,
portanto, com resistência e indutância), um gerador e um capacitor, como
indicamos esquematicamente na Figura 7.2.
Vamos representar o efeito do gerador, quaisquer que sejam os
fenômenos que se passam no seu interior, pelo aparecimento de um
campo impresso E ⃗ i . Este campo impresso (ou aplicado), caracteriza o
fornecimento (ou retirada) de energia ao sistema, de forma continuada e
reversível. E⃗ poderá, eventualmente, decorrer de fenômenos não-
i

eletromagnéticos.

R
i

+ b
L

~ E⃗
i

– a

1 2

Figura 7.2: Sistema físico constituído por condutores filiformes (e,


portanto, com resistência e indutância), um gerador e um capacitor.

De um modo geral, em qualquer ponto do meio poderá haver uma


densidade de corrente ⃗
J , que depende do campo elétrico total nesse
ponto:

368
⃗ ⃗ + E⃗ i ) .
J =σ ( E (7.22)
⃗ é o campo criado no ponto por densidade de
Nessa expressão, E
cargas ou densidades de correntes externas ao gerador. Por (7.7)

⃗ ∂⃗
A
E =−∇ ϕ−
∂t
onde ϕ e ⃗ A resultam destas fontes externas ao gerador. Em
consequência, (7.22) é escrita como

J ⃗i ∂ ⃗A
= E −∇ ϕ− ,
σ ∂t
ou ainda,
⃗J ∂⃗
A
E⃗ i= +∇ ϕ+ . (7.23)
σ ∂t
Vamos integrar esta equação sobre o eixo do circuito representado
na Figura 7.2 entre os pontos 1 e 2:
2 2 2 2
⃗ ⃗
∫ ⃗
E i ⃗
⋅ dl=
J ⃗
∫σ ∫ ⋅dl+ ∇ ϕ⋅ ⃗
dl+∫ ∂∂tA⋅dl⃗ (7.24)
1 1 1 1

Examinaremos agora o significado das várias integrais que


comparecem nesta expressão.
A integral do campo impresso é, por definição, a força
eletromotriz aplicada ao circuito. No caso em exame, se supusermos
E⃗ ≠0 somente dentro do gerador,
i

2 b

∫ E⃗i⋅dl=
⃗ ∫ E⃗ i⋅dl=e
⃗ ab .
1 a
Passemos à primeira integral do segundo membro. Se os
condutores são essencialmente filiformes,
∣⃗J∣=i/ S .
Supondo que num dado instante, a corrente i tem o mesmo valor
em qualquer seção transversal do circuito,
2 2

J ⃗ 1
∫ σ
⋅dl=i ∫
σ S
dl=R i ,
1 1
onde R é a resistência ôhmica dos condutores do circuito.
A segunda integral do segundo membro não é senão a diferença de

369
potencial entre as placas do capacitor. Supondo que apenas sobre estas
placas ρv é sensivelmente diferente de zero, e como, na hipótese do
estado quase-estacionário, os potenciais se calculam pela pela primeira
das relações (7.17), idêntica à fórmula da Eletrostática, temos
2
Q 1
∫ ∇ ϕ⋅dl=ϕ
⃗ 2−ϕ 1= = ∫ i dt
C C
,
1
onde C é a capacitância do capacitor.
A última integral de (7.24), pode ser escrita, se o circuito for
indeformável, como
2
⃗ 2

∫ ∂∂tA⋅dl=
⃗ d ∫⃗
d t
⃗ .
A⋅dl
1 1
Suponhamos ainda que os pontos 1 e 2 estão muito próximos; no
estado quase-estacionário ⃗
A se calcula pela segunda das expressões
(7.17), ou seja, do mesmo modo já examinado em Magnetostática.
Portanto,
2
d ⃗ ⃗ d
∫ A⋅dl≈ ∮ ⃗ ⃗ dψ ,
A⋅dl=
dt 1 dt dt
onde ψ é o fluxo magnético concatenado com o eixo do circuito.
Como ψ=L i , sendo L constante no tempo, resulta, finalmente,
2

∫ ∂∂tA⋅dl=L
⃗ di
dt
.
1

Substituindo esses valores em (7.24) resulta:


di 1
dt C∫
e a b= Ri+ L + i dt ,
resultado este equivalente à aplicação da segunda lei de Kirchhoff ao
mesmo circuito.
Se as maiores contribuições para cada uma das 3 integrais do
segundo membro de (7.24) ocorrem em trechos distintos do circuito,
poderemos considerar seus parâmetros concentrados nas correspondentes
regiões do circuito.
Resumindo, foram feitas as seguintes simplificações nas deduções
acima:
1 - a corrente está concentrada em condutores essencialmente

370
filiformes e é a mesma ao longo de todo o circuito;
2 - as correntes de deslocamento no meio são desprezíveis;
3 - os efeitos de variações de corrente ou carga se fazem sentir
instantaneamente ao longo de todo o circuito, i.e., não é necessário
considerar a retardação nos potenciais eletrodinâmicos;
4 - a descontinuidade dos condutores associada com a capacitância
é muito pequena.
Nos sistemas em que essas aproximações se verifiquem, a Teoria
de Circuitos pode ser aplicada com êxito.

7.4 A Lei de Faraday para meios em


movimento
No que precede limitamo-nos ao estudo da “Eletrodinâmica dos
meios em repouso”, isto é, os meios materiais presentes no campo foram
considerados fixos no sistema de referência inercial do observador. As
equações de Maxwell, fundamento da teoria, referem-se apenas a essa
situação.
Esta Eletrodinâmica não é, no entanto, suficiente para as
necessidades do engenheiro eletricista, pois em qualquer máquina
elétrica há condutores em movimento.
A aplicação indevida da lei de indução ao caso em que há corpos
em movimento tem levado a uma série de paradoxos, amplamente
discutidos na literatura técnica (ver por exemplo Cullwick [34]).
Não poderemos discutir aqui este assunto de maneira completa;
vamos limitar-nos a estender a lei da indução para o caso de um circuito
que se desloca num campo magnético, seguindo o tratamento de
Panofsky e Phillips ([13, Cap. IX]).
Consideremos então um circuito fechado para o qual vale, se ele
estiver em repouso, a equação (2.45), repetida aqui:
d dψ
∮Γ E⃗⋅dl=−

dt
∬ ⃗B⋅dS=−

dt
. (7.25)
S

Como (7.25) resultou de eletrodinâmica dos meios em repouso;


não temos indicação sobre a sua validade no caso do circuito se deslocar.
De um modo geral, o fluxo magnético ψ pode variar de duas
maneiras: por variação temporal do campo ⃗
B ou por deslocamentos

371
(totais ou parciais) do circuito. Vamos admitir que (7.25) seja válida em
ambos os casos.
Passemos então a calcular d ψ/d t na hipótese de variação
temporal de ⃗B e concomitante deslocamento do circuito.
Suponhamos que o circuito que envolve a superfície S se mova
com velocidade ⃗ u , abraçando S1 no instante t e S2 no instante
t+ Δ t (Figura 7.3).
Aplicando a definição,
dψ Δψ
=lim ,
d t Δ t →0 Δ t
escrevemos

[∬ ⃗B (t +Δ t)⋅dS⃗ −∬ ⃗B (t)⋅dS⃗ ]
1
=lim 2 1 . (7.26)
d t Δ t →0 Δ t S2 S1

dl B(t)

dS1
SL
u Δt ⃗ ⃗
u Δ t×dl

B(t+Δt)

dS2

Figura 7.3: Circuito movendo-se com velocidade u


⃗ nos instantes de
tempo t e t+ Δ t .


B (t +Δ t ) pode ser obtido por um desenvolvimento em série de
Taylor

⃗ ∂⃗
B (t)
B( t+Δ t)= ⃗
B (t)+ Δ t +⋯ . (7.27)
∂t
Por outro lado, aplicando o teorema de Gauss ao cilindro da Figura

372
7.3 no instante t, vem

∯ ⃗ ⃗ =∬ ⃗
B (t)⋅dS ⃗ 2 −∬ ⃗
B (t)⋅dS ⃗ 1−
B (t)⋅dS
Σ S2 S1 ,
(7.28)
−∬ ⃗ ⃗
B (t )⋅(⃗u Δ t× dl)=0
SL

onde a última integral corresponde ao fluxo através da superfície lateral


do cilindro.
Entrando com (7.27) e (7.28) em (7.26) resulta

=lim
1
d t Δ t →0 Δ t [ ∬
S2
∂ ⃗B (t )
∂t
⃗ 2 +⋯+∬ B
Δ t⋅dS
S
L

⃗ (t)⋅( ⃗u Δ t×dl)
] .

Na passagem ao limite, os termos de ordem superior provenientes


da série de (7.27) tendem a zero e S2 confunde-se com S1, não havendo
mais motivo para discriminá-la e, também, a integral na superfície lateral
transforma-se numa integral de linha sobre o contorno Γ de S. Então
no instante de tempo t

dt
=∬
S

∂B
∂t [⃗ +∮ ⃗
⋅dS
Γ

B⋅(⃗u ×dl)
] ,

que pode ser escrito como



dt
=∬
S

∂B
∂t [⃗ +∮ ⃗
⋅dS
Γ

u⋅dl
B×⃗
] . (7.29)

Substituindo-se esse resultado em (7.25), podemos escrever


dψ ∂⃗
B ⃗
∮Γ E⃗ '⋅d⃗l=− d t =−∬ ∂t
⋅dS−∮ B
Γ
⃗ ×⃗u⋅dl
⃗ . (7.30)
S

onde ⃗E ' é o campo elétrico medido na espira em movimento, ou seja


num outro referencial inercial (o da espira).
A primeira parcela acima, devida à variação temporal de ⃗ B ,é
chamada f.e.m. variacional ao passo que a segunda corresponde à f.e.m.
mocional.
Da equação (7.30), por aplicação do teorema de Stokes, obtém-se
ainda
∂⃗
⃗ '=−B ⃗) .
∇× E + ∇×( ⃗u× B (7.31)
∂t
u×⃗
O produto vetorial ⃗ B corresponde então a uma componente

373
de campo elétrico induzida por efeito da velocidade de deslocamento do
circuito.
Uma carga elétrica q que se desloca com velocidade ⃗ u num
campo magnético ⃗
B fica então sujeita a uma força
⃗ =q ⃗u × ⃗
F B , (7.32)
chamada força de Lorentz.
A expressão (7.30), mostra que a f.e.m. induzida pode ser
decomposta em duas parcelas, uma da quais depende da velocidade ⃗ u
e portanto, do sistema de referência adotado; um outro observador, num
segundo sistema de referência, animado de velocidade uniforme em
relação ao primeiro sistema, observa a mesma f.e.m. sobre o circuito
fechado. No entanto, este segundo observador decomporá a f.e.m. total
nas parcelas mocional e variacional diferentes das observadas pelo
primeiro observador.
No tratamento acima, foram desprezados efeitos relativísticos,
supondo velocidades muito menores que a da luz. Uma exposição
completa da lei de indução ou da Eletrodinâmica exige, porém, a
introdução da Teoria da Relatividade (ver a respeito em Cullwich [34],
op. cit., ou Elliot [6, Cap. 4]). O leitor poderá certificar-se desta
necessidade, verificando que as equações de Maxwell não são invariantes
com relação a uma transformação de Galileu (i.e., de acordo com as
regras de Mecânica Clássica), ao passo que sucede o oposto com relação
à transformação de Lorentz (relativística).
Ex. 7.1 - Consideremos uma lâmina condutora de largura l e
comprimento finito movendo-se com velocidade uniforme
u⃗ , ao longo de seu comprimento, em relação a um campo
estacionário e uniforme ⃗ B normal ao plano da lâmina
(Figura 7.4).
Dois contatos deslizantes C1 e C2 fecham o circuito de um
voltímetro V; tais contatos tocam a lâmina em lados opostos
e portanto distante de l entre si.

374
Figura 7.4: Lâmina condutora de largura l e comprimento finito
movendo-se com velocidade uniforme, ao longo de seu
comprimento, em relação a um campo magnético estacionário e
uniforme.

Figura 7.5: Voltímetro movendo-se com velocidade uniforme para a


esquerda ao longo da lâmina condutora de largura l e comprimento
finito, com um campo magnético estacionário e uniforme.

375
Com o movimento da lâmina em relação às linhas do vetor

B , cada carga elementar da mesma fica submetida a um
campo impresso E ⃗ ' =u ⃗ que força o movimento de
⃗× B
cargas positivas para a face superior (Figura 7.4). Estas, por
sua vez, dão origem a um campo elétrico (eletrostático) ⃗
E
que se opõe ao campo impresso dentro da lâmina, num
processo totalmente idêntico àquele ilustrado pela Figura
2.19 da seção 2.9. Um medidor fora da lâmina detecta o
campo ⃗
E de
modo que o voltímetro acusa a tensão
C2

V =V C −V C =∫ ⃗u× ⃗
1 2
⃗ Bul .
B⋅dl=
C1

Se, em lugar de mover a lâmina, deslocarmos, sem deformar,


o circuito do voltímetro para a esquerda com velocidade
– ⃗u em relação às linhas de ⃗
B (Figura 7.5) é agora
sobre os fios PC1, QR e C2S que o campo impresso
E⃗ i=−⃗ ⃗ age. Levando-se em conta a evidente simetria
u×B
das tensões V1 e das tensões V2 indicadas na Figura 7.5 e
sendo agora o campo no interior da lâmina nulo, a
circuitação através de PQRS deve ser a tensão através do
voltímetro V, i.e.,
C2

V =∫ −⃗u× ⃗ ⃗ =B u l .
B⋅dl
C1

Fisicamente, o campo impresso provoca um excesso de


cargas negativas em PQ e no terminal inferior do voltímetro
e de cargas positivas em RS e no terminal superior do
voltímetro. A diferença de potencial entre as distribuições de
cargas nos terminais do aparelho é igual à tensão induzida
aí pelo movimento.

376
Como podemos observar, a leitura do voltímetro só depende
do movimento relativo do circuito indeformável associado ao
mesmo em relação à lâmina.
Outros casos de movimentos relativos são analisados da
mesma forma e resumidos na Tabela 7.1.
movimento f.e.m.
lâmina Fonte de B voltímetro
v 0 0 Bul
0 v 0 0
0 v v Bul
v v 0 Bul
0 0 v Bul
v 0 v 0

Tabela 7.1: Diferentes movimentos relativos da lâmina, voltímetro e


campo e a respectivas f.e.m medidas.
Verificamos então que:
a) O movimento da fonte de ⃗
B não intervém, desde que

B seja uniforme.
b) Não pode ser detectado um movimento absoluto neste
exemplo. (Isto indica que as equações de Maxwell estão de
acordo com os princípios relativísticos.)
Ex. 7.2 - Um fio retilíneo muito longo e uma bobina
retangular com N espiras, contendo um voltímetro nos seus
terminais, estão imersos no ar e dispostos conforme indica a
Figura 7.6. Sendo o fio percorrido pela corrente
i(t )=I m cos ω t ,
determinar a leitura do voltímetro quando:

377
Figura 7.6: Fio retilíneo muito longo e uma bobina retangular com N
espiras.

a) a bobina está em repouso em relação ao fio;


b) a bobina se desloca na direção y com velocidade u =
constante.
Solução: Em um ponto genérico da bobina (plano xy):
μ0 i

B =− û .
2π y z
Então a aplicação de (7.30) com a bobina em repouso nos dá30
y+b
⃗ ⃗ N μ 0 I m a ωsin ω t
∮Γ E⃗ '⋅d⃗l=−∬ ∂∂Bt ⋅dS =

∫ d y'
y'
=
S y .
N μ 0 I m a ωsin ω t y +b
= ln
2π y
Se o voltímetro for de valor eficaz, indicará
N μ0 I m a ω sin ω t y+b
V= ln V ef .
2 √2 π y

30 Para a polaridade do voltímetro mostrada na figura, a integração do campo


elétrico deve ser feita de cima para baixo no voltímetro, portanto o sentido
da circuitação é o horário e dS⃗ =−dS û z .

378
Se a bobina se deslocar na direção y com velocidade
constante u, sendo o fio ainda percorrido pela mesma
corrente, a aplicação de (7.30) nos dá:
dψ ⃗
∮Γ E⃗ '⋅d⃗l=− d t =−∬ ∂∂tB⋅dS
⃗ −∮ ⃗
Γ

B×⃗u⋅dl=
S
N μ 0 I m a ω sin ω t y +b u μ 0 a I m N cos ω t
= ln + − ,
2π y 2π y
uμ a I N cosω t
− 0 m
2 π( y+ b)
e o valor eficaz será:

V=
μ0 N I m a
2 √2 π [ (ω sin ω t ) ln
y +b
y ( 1
+u cos ω t −
1
y y +b )] V ef .

7.5 Indução de correntes em meios contínuos


Quando um meio condutor é imerso num campo magnético
variável com o tempo, nele aparecem correntes induzidas. O efeito global
das correntes induzidas é de reduzir o campo eletromagnético (i.e., os
valores de B e E) do exterior para o interior do condutor, esse fenômeno
é conhecido como efeito pelicular.
Como um condutor atravessado por corrente alternativa fica,
necessariamente, mergulhado no campo magnético alternativo devido à
própria corrente, devemos esperar que esta se concentre na periferia do
condutor. Resulta então um aumento da resistência aparente do condutor
por efeito pelicular.
Nos condutores habitualmente empregados na técnica, a densidade
de corrente de deslocamento será sempre desprezível em face da
densidade de corrente de condução. As correntes induzidas podem,
portanto, ser estudadas como fenômeno quase-estacionário.
No que se segue, vamos estabelecer as equações gerais das
correntes induzidas e aplicá-las a um semiespaço condutor.
Em regime quase-estacionário, num meio condutor homogêneo, as
equações de Maxwell e as relações constitutivas fornecem

379
}

∇ ×E ⃗ =−μ ∂ H ∇⋅H ⃗ =0
∂t . (7.33)

∇ × H =σ E⃗ ⃗
∇⋅E =0
A divergência de ⃗E é nula porque não podemos ter separação de
cargas no meio condutor.31
Da 1ª equação acima vem

∂ ∇× H
∇×∇ × ⃗
E =−μ ,
∂t
⃗ por seu valor,
ou substituindo ∇× H

∇×∇ × E ⃗ =−μ σ ∂ E .
∂t
⃗ ⃗
Como ∇×∇ × E=∇ ∇⋅E−∇ E e ∇⋅E
2⃗ ⃗ =0 , temos
∂E⃗
∇ ⃗
2
E =μ σ . (7.34)
∂t
Analogamente, poderíamos eliminar ⃗ E das relações (7.33),
obtendo,

⃗ =μ σ ∂ H .
∇2 H (7.35)
∂t
As equações (7.34) e (7.35), descrevem o campo induzido; a
densidade de correntes será dada por
⃗ ⃗ ;
J =σ E (7.36)
Convém considerar ainda o caso em que os campos são funções
senoidais do tempo; utilizaremos então a notação fasorial vista em
circuitos elétricos e aqui adaptada para grandezas vetoriais:

E (x , y , z , t)=ℜ [ ⃗
E (x , y , z)e ] ,
⃗ ˙ jωt
(7.37)
⃗ (x , y , z , t)=ℜ [ H
H ⃗˙ (x , y , z )e j ω t ]
onde E ⃗˙ e H ⃗˙ são em geral complexos.
Substituindo estes valores em (7.34) e (7.35), obtemos as
identidades dos argumentos

31 Veja a discussão da seção 3.2.

380
∇2 ⃗E˙ = j ω σμ ⃗

(7.38)
⃗˙ = j ω σμ H
∇2 H ⃗˙
Como um primeiro caso mais simples, vamos agora integrar estas
equações no caso do semiespaço condutor z > 0, e supondo que não haja
nenhuma variação com as direções x ou y: ∂/∂ x =∂/∂ y=0 . A
primeira equação (7.38) fornece
2
d Ė x
(a) = j ω σμ Ė x
d z2
d 2 Ė y
(b) = j ω σ μ E˙ y , (7.39)
d z2
d 2 Ė z
(c) = j ω σ μ E˙ z
d z2
pois a simetria do problema impõe ∂/∂ x =∂/∂ y=0 .
Por outro lado, da equação ∇× H ⃗˙ =σ ⃗E˙ resultam as equações
escalares:
∂ Ḣ z ∂ Ḣ y
− =σ E˙ x
∂y ∂z
∂ Ḣ x ∂ Ḣ z
− =σ Ė y
∂z ∂x
∂ Ḣ y ∂ Ḣ x
− =σ Ė z ,
∂x ∂y
e, da equação ⃗˙ =− j ωμ H
∇× E ⃗˙ ,
∂ Ė z ∂ E˙ y
− =− j ω μ Ḣ x
∂y ∂z
∂ Ė x ∂ Ė z
− =− j ωμ Ḣ y
∂z ∂x
∂ E˙ y ∂ Ė x
− =− j ωμ Ḣ z .
∂x ∂y
Impondo as condições de simetria, obtemos
∂ Ḣ y
− =σ Ė x , (7.40)
∂z

381
∂ Ḣ x
=σ Ė y , (7.41)
∂z
Ė z=0 , (7.42)
∂ E˙ y
= j ω μ Ḣ x , (7.43)
∂z
∂ Ė x
=− j ωμ Ḣ y , (7.44)
∂z
Ḣ z=0 . (7.45)
E˙ e H
Portanto, os campos ⃗ ⃗˙ , só têm componentes ortogonais
à direção z.
Se considerarmos, então, o caso em que o campo elétrico tem
apenas a componente na direção x, temos, por (7.43) que Ḣ x =0 e
portanto, por (7.41), E˙ y =0 , mostrando a consistência dessa hipótese.
As equações (7.39a) e (7.40) ou (7.44) permitem a resolução do
problema. Vamos introduzir a notação
ωσμ
γ2 = j ω σ μ ⇒ γ=(1+ j )
ωσμ
2 √
=α+ j β
.32 (7.46)
α=β=
2
A equação (7.39a) se escreve então

d 2 E˙ x
2
=γ2 Ė x (7.47)
dz
cuja solução geral é
Ė x =E +0 e−γ z + E−0 e γ z ,
+ −
onde E 0 e E 0 são duas constantes a determinar. Introduzindo o
valor de γ , obtido de (7.46),
Ė x =E +0 e−αz e− j β z + E−0 e α z e j β z . (7.48)

Da equação (7.44) obtemos

32 A raiz com a parte real positiva foi a escolhida, porém, ambas as raízes irão
aparecer na solução final e apenas a que satisfaz as condições de contorno
será utilizada.

382
+ −γ z − γz
− j ωμ Ḣ y =−γ E 0 e + γ E0 e ,
ou seja
γ γ
Ḣ y = E +0 e−α z e − j β z − E− eα z e j β z . (7.49)
jωμ j ωμ 0
As constantes de integração serão determinadas impondo as
seguintes condições de contorno:
z=∞⇒ Ė x , Ḣ y <∞ .33
(7.50)
z=0 ⇒ Ė x =E 0
Segue-se imediatamente que E−0 =0 , pois a correspondente
parcela em (7.48) aumenta exponencialmente com z. Em consequência
verifica-se facilmente que E +0 =E 0 i.e., o campo elétrico é dado por
Ė x =E 0 e−αz e− j β z . (7.51)
Este é o valor complexo; o valor real do campo será obtido
tomando a parte real de
E 0 e−α z e− j β z e j ωt ,
ou seja,
E x =E 0 e−αz cos(ω t− j β z ) . (7.52)

Quanto ao campo magnético, temos de (7.49) e com as mesmas


condições anteriores
γ
Ḣ y = E e−α z e − j β z (7.53)
j ωμ 0
e
γ
H y =ℜ
[
jωμ
E 0 e−α z e− j β z e j ω t =
]
−α z
=E 0 e ℜ
√ 2 ωμ [
1− j σ − j β z j ω t
e
σ cos(ω t−β z−π/4)
√ e = . ] (7.54)

=E 0 e−α z ωμ √
A densidade de corrente no meio condutor é dada por
−α z
J x =σ E 0 e cos( ω t− j β z ) . (7.55)

33 E0 é um valor escolhido arbitrariamente com sendo real, ou seja, com fase


igual a zero.

383
Como primeira consequência física desta equação, verifica-se que
os campos se reduzem exponencialmente à medida que se penetra no
meio condutor. Para uma profundidade
1 2 1
δ= = = (m) (7.56)
α ω σ μ √π f μσ
os campos se reduzem a 1 / e, ou seja, cerca de 37% de seu valor inicial.
δ é chamado profundidade pelicular ou profundidade de penetração.
7
No caso do cobre ( μ=μ 0 , σ=5,8×10 S/m) temos
6,61
δ= (cm), (7.57)
√f
sendo f medido em Hz. Em frequências elevadas a profundidade
pelicular é muito pequena, nos materiais bons condutores; por essa razão
se podem usar condutores ocos ou realizar um condutor de prata por
meio de um tubo de cobre recoberto apenas com uma fina camada de
prata.
Na prática os resultados acima obtidos se podem aplicar a
condutores cilíndricos, de raio muito maior que a profundidade de
penetração.
Notemos ainda que, (7.51) e (7.53) descrevem uma onda
eletromagnética, que se propaga na direção do eixo dos z. Retomaremos
este aspecto com maior detalhe no estudo de Ondas e Linhas.
Um desenvolvimento análogo pode ser feito para estudar a
distribuição de correntes na seção transversal de quaisquer condutores,
permitindo o cálculo da resistência efetiva destes condutores, a uma dada
frequência. Tais correntes são chamadas turbilhonares, parasitas ou de
Foucault. Em maquinas elétricas e núcleos de transformadores, elas
aparecerem como fenômeno indesejável.
Em outros casos, ao contrário, o aparecimento dessas correntes é
desejável, e utilizado, como por exemplo, em aquecimento por indução,
frenagem eletromagnética, etc.
A partir de (7.38) pode-se calcular o aumento aparente da
resistência dos condutores cilíndricos em corrente alternativa, sobretudo
notável em frequências altas. Para isso, basta analisar o problema em
coordenadas cilíndricas com variação apenas radial, admitindo-se que
apenas correntes axiais estejam presentes. A análise completa pode ser

384
encontrada, por exemplo, em Ramo et al. [25, p. 180–6].
Como resultado final temos, chamando de R a resistência efetiva
em corrente alternativa, e de Rcc a resistência em corrente contínua de um
fio cilíndrico de raio a, que:
R 1
= ℜ
Rcc 2 {
J 0 ( k a)
J 1 (k a)/(k a) } , k=
1− j
δ
, (7.58)

sendo J0(.) e J1(.) as funções de Bessel de primeiro tipo de ordem 0 e 1


respectivamente34. O gráfico dessa relação está mostrado na Figura 7.7.
R / Rcc

a/δ

Figura 7.7: Resistência relativa de um fio condutor cilíndrico em função


da relação raio por profundidade pelicular (a/δ).

Vemos que para raios menores que uma profundidade pelicular, a


resistência é praticamente a mesma que em corrente contínua. Porém, na
medida que a frequência aumenta e diminui a profundidade pelicular, a
corrente tende a ficar concentrada na periferia do cilindro e, para
a≫δ a relação R/Rcc tende a a /2 δ , ou seja um fio de
comprimento l, tem uma resistência dada aproximadamente por

34 Para saber mais sobre funções de Bessel seus gráficos, e outras


propriedades, consulte, por exemplo, Abramowitz e Stegun [35, Cap. 9].

385
l
R≈ ( a≫δ) , (7.59)
σ 2πaδ
ou seja, é como se o fio cilíndrico fosse oco com uma parede de
espessura igual à profundidade pelicular.
Ex. 7.3- Seja um condutor de cobre de 1mm de raio,
calculemos sua resistência por metro na frequência de 1
MHz.
Solução:
Para o cobre: σ = 5,8 x 107 S/m, μ = μ0.
Em corrente contínua:
1 1
Rcc = 2
= 7 −3 2
=0,0055 Ω/ m .
σ π a 5,8×10 π(1×10 )
A profundidade pelicular no cobre é
1
δ= =6,6×10−5 m ,
√ π f μ0 σ
Pelo expressão (7.58) ou pelo gráfico da Figura 7.7, para
−3 −5
a /δ=10 /6,6×10 =15,1 temos que
R/ Rcc =7,82 .
Portanto,
R=0,043 Ω /m .
Note que, como neste caso a≫δ , podemos calcular
diretamente
1
R= =0,042 Ω/m .
σ 2πaδ

7.6 Perdas em núcleos ferromagnéticos


Na construção de aparelhos destinados a funcionar em correntes
alternativas (máquinas elétricas, transformadores, reatores, etc.) utilizam-
se muitas vezes núcleos de material ferromagnético, sujeitos a campos
alternativos. Tais núcleos se aquecem durante o funcionamento, por
causa das perdas no ferro. Importa construir o núcleo de maneira que tais
perdas se reduzam ao mínimo.
As perdas no ferro provém de dois fenômenos principais:

386
a) indução de correntes parasitas na massa metálica, com
consequente dissipação de calor devido à resistência ôhmica do material
(perdas Foucault);
b) O material magnético, submetido ao campo alternativo, se
magnetiza e desmagnetiza sucessivamente; em sentidos opostos. As
orientações sucessivas dos domínios de Weiss não se fazem sem que
apareçam perdas por atrito interno (perdas histeréticas, já vistas no Cap.
6.11).
Estudaremos estas perdas no caso em que o campo magnético não
muda de direção (apenas de sentido), como sucede, por exemplo, nos
transformadores ou reatores. Nas máquinas girantes, o fenômeno se
complica, pois o campo magnético varia de direção, sentido e
intensidade, e o estudo correto das perdas exige a consideração da
anisotropia do ferro (histerese rotatória).

7.6.1 Correntes parasitas em uma lâmina de


ferro
A fim de diminuir as perdas Foucault, os núcleos empregados em
campos alternativos são sempre laminados, isto é, constituídos pela
superposição de chapas isoladas; as lâminas são dispostas de maneira que
a indução magnética seja aproximadamente normal à sua menor
dimensão, oferecendo assim um caminho de grande resistência às
correntes induzidas.
Calculemos as perdas por correntes parasitas em núcleo deste tipo.
Introduziremos aqui algumas simplificações razoáveis no domínio
das frequências industriais:
1 - A indução magnética é constante em toda a seção transversal da
lâmina.
2 - A corrente induzida também é constante na seção transversal da
lâmina (ou seja, ignora-se o efeito pelicular).
3 - Desprezaremos efeitos secundários próximos das bordas
superior e inferior da lâmina.
Seja então uma lâmina de espessura d e comprimento infinito, de
material ferromagnético. Consideremos, dentro desta lâmina,um volume
τ=h l d , e o sistema de coordenadas x, y, z (Figura 7.8).

387
z

l y

E A
h

B(t)
D C
x
x x

Figura 7.8: Volume de uma Lâmina de material ferromagnético de


espessura d , num campo de indução magnética B(t).

Vamos calcular as perdas neste volume, quando a lâmina é


colocada num campo magnético alternativo. A indução, normal à seção
transversal da lâmina, é função apenas do tempo, dentro das nossas
hipóteses.
Então: ⃗
B (t )=B( t) û y .
O campo elétrico induzido obtém-se da primeira equação de
Maxwell:
dB ⃗ =−
∇× E
û .
dt y
Multiplicando-se ambos os membros por σ , condutividade do
material da lâmina:
dB ∂Jy ∂J z dB
∇× ⃗J =−σ û y ⇒ û z − û y =−σ û
dt ∂x ∂x dt y
(pois ∂/∂ y=∂/∂ z=0 ). Portanto
J y =cte
e
dB
J z =σ x + cte .
dt
Fazendo as constantes iguais a zero, resulta que as linhas de
corrente induzidas são paralelas ao eixo z e de sentidos opostos nos

388
semiespaços correspondentes aos x positivos e negativos.
Sendo então:
dB dB
J z =σ x e E z= x ,
dt dt
a potência instantânea dissipada no volume τ=h l d será
d/2

( ) ( )
2
⃗⋅⃗J d τ=2 ∫ σ d B dB 2 2
W =∭ E x 2 h l dx = σ τ d (W) .
τ 0 dt 12 d t
Por unidade de volume:

w= σ
dB 2 2
12 d t
d ( ) (W/m 3 ) . (7.60)

Supondo agora que B(t) seja função senoidal do tempo:


B( t)=B m sen ω t ,
resulta, então,
d2σ 2 2 2
w= ω Bm cos ωt .
12
A potência média perdida será, portanto,
T
1 d 2σ 2 2 d 2σ 2 2
P 1= ∫
T 0 12
ω B m cos 2
ω t dt=
24
ω Bm ,

ou ainda
2 2 2 2
π σ d Bm f
P 1= (W/m 3 ); . (7.61)
6
A expressão acima mostra que a perda por correntes Foucault é
proporcional ao quadrado da frequência da corrente, e ao quadrado da
espessura da chapa metálica. Além disso, a perda evidentemente é
proporcional ao volume do material e à sua condutividade. Conhecida a
densidade do material, podemos calcular as perdas em W/kg.
Uma análise mais completa do fenômeno, levando em conta a
distribuição não-uniforme da corrente, devido ao efeito pelicular, fornece
a seguinte equação para as perdas:
π2 σ f 2 d 2 B2m 3 sinh z−sin z
P 1= (W/m 3 ); z=d /δ . (7.62)
6 z cosh z −cos z
Note que para pequenos valores de z,

389
3 sinh z −sin z
≈1 ,
z cosh z−cos z
e vale a relação (7.61).
Para z >3 pode-se tomar
3 sinh z −sin z 3
≈ ,
z cosh z−cos z z
e, assim,
π 2 σ f 2 d B2m δ
P 1≈ (W/m 3 ) . (7.63)
2
A fórmula
P 1=ε f 2 d 2 B2m (W/m 3 ) , (7.64)
é encontrada comumente em manuais de eletrotécnica. Nessa expressão,
ε é o coeficiente de perdas Foucault, calculável pelas relações
anteriores.

7.6.2 Perdas histeréticas


Já vimos no Cap. 6.11 que as perdas histeréticas são dadas por:
P h= Ah× f ×τ , (7.65)
onde Ah é a área do ciclo de histerese.
Para materiais habituais
n
Ah =η B m ,
onde n varia de 1,5 a 2, e η é uma constante do material.
Se o material trabalhar com induções muita baixas, como ocorre
em alguns dispositivos empregados em telecomunicações, então:
Ah =ν H 3m ,
onde ν é uma constante do material.
Obs.: No caso de induções baixas, há um terceiro tipo de perdas no
ferro, proporcional à frequência e ao quadrado da corrente de excitação
(Richards et al. [36] ). Estas perdas são chamadas perdas residuais ou de
viscosidade, sobretudo importantes nos núcleos constituídos por
aglomerados de pós magnéticos (ferrites). No caso de núcleos laminados,
as induções são altas, e a perda residual é encoberta pelas perdas
histeréticas e de Foucault.

390
Exercícios do Capítulo 7
1. Um campo elétrico uniforme no ar, de 10 6 V/m decai
linearmente até anular-se em (i) 1 ms, (ii) 1 μs. Pergunta-
se:
a) Qual a densidade de corrente de deslocamento em
ambos os casos ?
b) Sabendo-se que estas variações de campo tiveram
lugar no dielétrico de um condensador plano, com área
de armadura de 2 m2 , quais as correntes de carga ou
descarga em ambos os casos ?
−3
R.: a) (i) 8,854×10 A/m2, (ii) 8,854 A/m2; b) (i)
17,708 mA, (ii)17,708 A.
2. Qual a densidade de corrente de deslocamento associada
a um campo magnético no vácuo, dada por:
H y =H 0 sen (ω t−β z )
H x = H z =0
β
(Kraus [11]). R.: ωε0 H 0 sen ( ω t−β z ) direção x.
3. Quantas revoluções por minuto deve fazer uma bobina de
uma só espira para gerar uma f.e.m. máxima de 0,5V,
sendo as dimensões da bobina 12,5cm por 12,5 cm e a
densidade de fluxo magnético uniforme, constante de 0,58
T?
Qual será a equação de f.e.m. instantânea gerada?
(Timbie e Bush [31]) R.: 527 r.p.m.
4. Um ímã permanente, condutor, de forma cilíndrica com
raio a, muito longo, gira em torno de seu eixo com
velocidade angular ω . Admitindo que a indução no ímã
seja uniforme, axial e igual a B, Qual a f.e.m. induzida

391
entre um ponto da sua superfície e um ponto de seu eixo?
2
ωBa
(Carter [30, p. 168]). R. V=
2
5. Um disco condutor (disco de Faraday), gira com
velocidade angular constante em torno de seu eixo, num
campo magnético uniforme e constante B, paralelo ao seu
eixo, como mostra a Figura 7.9. Um voltímetro fecha o
circuito elétrico entre duas escovas, uma apoiada sobre o
eixo e a outra sobre a periferia do disco de raio a.
ω B a2
Qual a f.e.m. induzida no circuito? R.: V =
2

ω
V

B
Figura 7.9
6. Os dois trilhos de uma linha férrea estão isolados entre si
e da terra (por exemplo, por meio de dormentes
impregnados em óleo), e ligados a um voltímetro. Qual a
indicação desse instrumento quando o trem passa a 100
km/h? A intensidade vertical do campo magnético
terrestre é 15 μ T, e a distância entre trilhos de 1,435 m.
(Becker e Ageno [37]).
R.: V=0,6 mV

392
7. Um fio condutor pode ser enrolado ou desenrolado sobre
um circuito isolante. Um dos extremos desse fio está
soldado a um anel condutor, situado sobre o cilindro
isolante. O circuito através do fio é fechado por 2 escovas,
uma sobre o fio, próximo ao ponto em que este deixa o
cilindro, outra sobre o anel (Figura 7.10). No interior do
cilindro há um campo magnético axial, uniforme e
constante. Qual a f.e.m. induzida entre as 2 escovas, ao se
enrolar ou desenrolar o fio ?

V
ω

Figura 7.10
(Carter [30, p. 166–7]). R.: V=0.
8. Um condutor retilíneo por onde passa a corrente I
constante, é envolvido por um cilindro, conforme está
indicado na Figura 7.11. Liga-se um circuito ABCD, sendo
C e D contatos que deslizam no cilindro. Calcular a f.e.m.
induzida em ABCD, quando esse circuito se desloca com
velocidade u, paralela ao condutor retilíneo supondo:

393
A V B I
r2
u r1

C D

Figura 7.11

a) cilindro de ferro ( μ≫μ 0 );


b) cilindro de cobre ( μ=μ 0 ).
u μ0 I r 2 u μ0 I r 2
R. a) V= ln ; b) V = ln .
2π r1 2π r1
9. Na Figura 7.12 o circuito ABCD, feito com fios
condutores, desloca-se com velocidade u, paralelamente
ao fio que conduz a corrente I = constante. O cilindro tem
uma ranhura que permite o deslocamento livre do trecho
CD, de forma a este não entrar em contacto com o
cilindro. Qual a leitura do voltímetro nos casos:
a) cilindro de ferro ( μ≫μ 0 ) ;
b) cilindro de cobre ( μ=μ 0 ).

394
I
A V B r2
u r1

C D

Figura 7.12
u μ 0 (μ r −1) I r 2
R.: a) V = ln ; b) V = 0.
2π r1
10. Um anel de raio r e condutância G é colocado num
campo magnético variável com o tempo, perpendicular ao
plano do anel e constante em amplitude em toda
superfície plana. Desprezando o campo magnético criado
pela corrente no anel, determinar a corrente no anel.
Existe, nesse caso, uma separação de cargas e o
correspondente campo eletrostático? Podem ser atribuídos
potenciais a pontos do anel ?

395
11. Um fio horizontal muito longo conduz a corrente
contínua I. Um circuito indeformável ABCD, ligado a um
voltímetro, é abandonado, com velocidade inicial nula, no
instante t = 0, em queda livre, a partir da posição x0
indicada na Figura 7.13. Os lados AB e CD são
horizontais, e os outros dois verticais, conforme indica a
figura. Sendo g a aceleração da gravidade no local, qual é
a f.e.m. induzida no circuito, em função da altura da
queda ?

Figura 7.13
μ0 I a
R.: V=

√ (
2 g ( x− x 0)
1

x +b x
1
)
12. No circuito da Figura 7.14, a chave K passa, da
posição 1 para a posição 2, 20 vezes por segundo. A bobina
de N2 espiras tem o fluxo concatenado constante ψ2 e a
de N1 espiras, o fluxo ψ1 constante. Só existe fluxo de B
na região ocupada pelas espiras das bobinas. Qual a f.e.m.
indicada pelo voltímetro? Justificar a resposta.

396
N1, ψ1=cte

K 1

+ V -

N2, ψ2=cte

Figura 7.14
13. O ciclo histerético de uma amostra de aço laminado
foi obtido com uma indução máxima de 1,375 T. As
coordenadas desse gráfico são tais que 1 cm na horizontal
corresponde a 10 A/cm e 1 cm na vertical corresponde a 1
T. Determinar a perda histerética em 1.000 m3 desse
material submetido a uma indução máxima de 1,375 T a
25 Hz.
Área do ciclo do histerese: 0,513 cm2.
14. Num condutor de cobre, de diâmetro igual a 2 mm,
circula uma corrente de frequência 100 MHz . Dados para
7
o cobre: σ=5,8×10 S/m, μ=μ 0 . Calcular:
a) a profundidade pelicular;
b) a resistência (por metro) desse condutor

397
A - Coleção de problemas propostos em provas
Prof. Jacyntho José Angerami
1. (PEL313 – 1978) Determine a distribuição de cargas
necessária para causar os seguintes campos numa dada
região τ
⃗ = x û x
a) D
ρ
⃗ = û ρ (coord. cilíndricas)
b) D
2
⃗ = r û r (coord. esféricas)
c) D
3
Estabeleça limites adequados para a distribuição de
cargas proposta para cada um dos casos acima.
2. (PEL313 – 1979) Determine a distribuição de cargas
elétricas necessária para causar os seguintes campos
numa região τ :

a) ⃗ ∣x∣ û x
D=
x
⃗ = 5 û ρ (coord. cilíndricas)
b) D
ρ
⃗ 7 û r (coord. esféricas).
c) D
r2
Atente para as singularidades.
3. (PEL313 – 1982) Determine as densidades de corrente
que causam os campos estáticos abaixo numa região τ .
Proponha uma configuração para cada caso, explicitando
limites adequados para a região em que ⃗
J ≠0 .
⃗ = y û x
a) H
⃗ =û φ (coord. cilíndricas)
b) H

c) ⃗ = 1 û φ (coord. cilíndricas)
H
r

398
4. (PEL313 – 1978) A Figura A.1 representa um capacitor
constituído por duas superfícies esféricas condutoras
concêntricas, A e B, separadas por duas camadas,
também concêntricas, de dielétricos 1 e 2.

ε2, σ2

ε1, σ1
C B
a c
A

b
VAB

ε1 = 2 ε0 ε2 = 4 ε0 a = 1 cm
c = 4 cm
σ1 = 8 x10 -3 S/m σ2 = 2 x10 -3 S/m b = 8 cm
Figura A.1
a) Mostre que a densidade de cargas superficiais ρs (c)
na interface C entre os dielétricos deve ser zero após
esse capacitor ter sido mantido por muito tempo
desligado de quaisquer fontes.
b) A partir das condições de a), é aplicada uma tensão VAB
= 100 V entre as placas A e B com A positiva.
Imediatamente após a aplicação dessa tensão:
i quais as variações de ⃗ ⃗ e ⃗
E , D J em função de
r?
ii quais as tensões VAC e VCB?
iii qual a taxa de variação, com o tempo, de ρs ( c) ?
Justifique as respostas e esboce gráficos de E(r),

399
D(r), J(r).
c) Se a tensão aplicada VAB = 100 V for mantida por muito
tempo, atingindo-se o estado estacionário:
i quais as variações ⃗ ⃗ e ⃗
E , D J em função de r?
Esboce os gráficos respectivos.
ii quais as tensões VAC e VCB?
iii qual a densidade de cargas superficiais ρs (c) ?
5. (PEL313 – 1983) Deseja-se criar, numa região de vácuo,
um campo elétrico dado por⃗
E = û x E 0 sen (ω t−k z ) .
a) Usando a equação de Maxwell do ∇× E ⃗ , determine
⃗ correspondente (Adote constante de integração
o H
nula).
b) Determine o valor da constante k para que todas as
equações de Maxwell sejam satisfeitas.
6. (PEL313 – 1983) A Figura A.2 é a seção de dois longos
tubos metálicos concêntricos A e B separados por duas
camadas, também concêntricas, de materiais de
condutividades σ 1 e σ 2 . Uma tensão contínua V =
200 V está aplicada entre os tubos A e B.
a) Qual a condição de contorno apropriada para a
interface em ρ=b ? (R.: Jn contínuo)
b) Esboce os gráficos de J ρ (ρ) e E ρ (ρ) .
c) Determine a corrente que flui entre os tubos, por metro
de comprimento.(R.: 36,8 A/m).
d) Onde se dá a maior amplitude do campo elétrico? Qual
o seu valor? (R.: em ρ=b ; 7325 V/m).
e) onde se dá a máxima densidade de potência dissipada?
Qual seu valor? R.: ρ=a ; 1,72 MW/m3.

400
σ2

σ1
B
a b
A

c
V

a = 2 cm
σ1 = 50 mS/m b = 4 cm
σ2 = 20 mS/m c = 6 cm
Figura A.2
Considere agora a configuração da Figura A.3, em que a
metade superior dos materiais entre os tubos foi removida
e substituída por ar seco ( σ=0 ).

ar
B
a

σ1 c
V b
σ2

a = 2 cm
σ1 = 50 mS/m b = 4 cm
σ2 = 20 mS/m c = 6 cm
Figura A.3
f) Quais as condições de contorno apropriados para
resolver o campo eletrostático na metade superior (ar)?

401
7. (PEL313 – 1983) A Figura A.4 representa um capacitor de
placas planas paralelas, circulares, separadas por um
dielétrico com perdas ( ε=4ε 0 , σ=15 mS/m,
μ=μ 0 ). As placas acham-se ligadas a uma fonte de
tensão continua V 0 =200 V há muito tempo através de
uma chave que é aberta em t=0 .

Figura A.4
Para t< 0 :
a) Determine ⃗ ⃗ e ⃗
E , D J no dielétrico;
b) Aplique o teorema de Poynting ao volume ocupado pelo
dielétrico; interprete-o. Valha-se da simetria,
admitindo que os fios ABCD estejam muito distantes
do capacitor.
Para t> 0 :

402
c) Determine as relações entre a densidade superficial de
⃗ , ⃗
cargas na placa (ρs ) e os vetores D E e ⃗
J .
⃗ no dielétrico.
d) Determine H
e) Aplique o teorema de Poynting ao volume ocupado pelo
dielétrico e interprete-o.
8. (PEL313 – 1983) Considere o cabo coaxial da Figura A.5,
com condutor interno maciço e condutor externo tubular
isolados por ar seco (ε=ε0, μ=μ 0 , σ=0) .

Figura A.5
a = 5 mm, b = 12 mm, c = 13 mm
o cabo alimenta uma carga R tal que a tensão V0 = 250 V
aplicada na secção z=0 provoca I 0=5 A .
Supondo perfeitos os condutores do cabo (σ=∞) ,
determine:
a) As distribuições de correntes nos condutores interno e
⃗ é identicamente nulo no
externo, sabendo-se que H
interior de condutores perfeitos.
(R.: J s (a)=159 A/m , J s (b)=66 A/m
b) Os campos magnético H ⃗ e elétrico ⃗ E em função de
ρ , apresentando os resultados em gráficos cotados.
c) Dê a expressão do vetor de Poynting, indicando sua

403
unidade e explicando seu significado físico.
d) Calcule o vetor de Poynting em função de ρ para o
cabo coaxial considerado. Indique por onde flui a
potência fornecida pelo gerador. Verifique o resultado.
Suponha agora que os condutores do cabo têm
condutividade finita ( σ=10 S/m ), o que causa ⃗
3
J
uniforme nas respectivas seções. Com a mesma corrente
I0, calcule:
e) As componentes axiais do campo elétrico (Ez) nos
pontos A e B. (R.: +64 e –64 V/m).
f) As componentes radiais do vetor de Poynting nesses
mesmos pontos, interpretando o seu significado.
9. (PEL313 – 1983) Um determinado sistema de
aterramento pode ser assimilado a uma esfera condutora
de raio a = 80 cm semienterrada conforme mostra a
Figura A.6.

ar
I

σ1

Figura A.6
a) Defina o que se entende por resistência desse TERRA.
b) Calcule a resistência desse terra para solo seco
( σ1 =2 mS/m ). (R.: 99,5 Ω).
Com a finalidade de abaixar a resistência dessa tomada
de terra, o solo ao seu redor, até um raio b = 3 m, foi

404
substituído por solo de maior condutividade
( σ 2=25 mS/m ). Nessas novas condições (Figura A.7),

b
a

ar
I

σ2

σ1

Figura A.7
c) Mostre os gráficos cotados de ⃗
J e ⃗
E em função de r
quando I = 10 kA incide no terra.
d) Calcule o novo valor da resistência de terra (R.: 32,4
Ω).
10. (PEL313 – 1977) Um cabo coaxial tem raio externo b
= 5 cm, e seu dielétrico é polietileno, cuja rigidez
6
dielétrica é E max =20×10 V/m
a) Determine o raio a do condutor interno que permite ao
cabo trabalhar com a mais elevada d.d.p. entre os
condutores interno e externo.
b) Calcule essa d.d.p. máxima.

405
11. (PEL313 – 1977)

Figura A.8
a) Determine, analiticamente, a resistência R1 entre os
tubos da Figura A.8, cujo comprimento é d = 100 m. Dê
o resultado numérico para σ=10−2 S/m , a = 2cm,
b = 6 cm, D = 3 cm, d = 100 m. (R.: R = 0,12 Ω)

b D

a
e

A B

Figura A.9

406
b) Determine, analiticamente, a resistência R2 entre as
placas condutoras A e B da Figura A.9, sendo a
espessura do material condutor e = 2 m. Os demais
parâmetros tem valores iguais aos da Figura A.8. (R.:
R2 = 210 Ω) .
12. (PEL313 – 1981) Considere o capacitor esférico da
Figura A.10, com placas de raios, a=2 cm e b=8 cm ,
concêntricas, isoladas com polietileno: εr =2,2 ,
−12
σ=10 S/m e rigidez dielétrica 20 kV/mm.

ε, σ

a
1

b
V0
2

Figura A.10
a) Determine ⃗
E quando V0 é aplicada; inclua gráfico.
Calcule V0 máximo.
b) Calcule a capacitância e a resistência vistas entre 1 e
2, dê o circuito equivalente do capacitor.
13. (PEL313 – 1981) Uma longa linha carregada com
+ρl C/m encontra-se à distância d = 5 cm da interface
com um semiespaço de dielétrico perfeito cuja constante
dielétrica é εr =4 , conforme indicada na Figura A.11.

407
Figura A.11
a) Utilizando imagens adequadas, determine o campo

E nas regiões I e II. Justifique plenamente a sua
solução.
b) Esboce as linhas de força de ⃗
E nas duas regiões.
Qual a fração do fluxo elétrico emanado da linha
carregada que atinge a região II?
c) Determine os campos ⃗
E nos pontos A e B indicados.
Verifique as condições de contorno.
14. (PEL313 – 1981) Um raio cuja corrente de pico é 50
kA incide sobre o para-raios A da Figura A.12.
a) Determine o gerador equivalente de Thevenin
equivalente visto dos pontos B e C assimilando-os a
esferas semienterradas, de raios iguais a 5 cm. Faça
aproximações adequadas, justifique e explique.
b) Calcule a corrente que fluirá através das pernas de um
homem entre B e C, se a resistência série entre seus
pés é de 50 kΩ.

408
Figura A.12
15. (PEL313 – 1982) Considere a geometria mostrada na
Figura A.13, onde temos um fio de raio a acima de um
plano condutor (vista em corte).

ε0
x

Figura A.13
a) Determine a expressão da capacitância, por metro,
entre o fio e o plano condutor indicados.

409
b) Calcule essa capacitância para a = 3 mm, x = 4 mm.
(R.: 70 pF/m)
c) Qual a energia armazenada, por metro, quando uma
tensão de 300 V é aplicada entre o fio e o plano
condutor? (R.: 3,1 μJ/m)
d) Nessas condições, calcule a força que o campo exerce no
fio, por metro. (R.: 0,0005 N/m).
16. (PEL313 – 1982) Considere o sistema de 5 longos fios
condutores paralelos à terra, mostrados em corte na
Figura A.14.

10 cm
1

0,5 m

2 mm
10 m

4 3 5

2
6 cm
4,5 m

4m

Figura A.14

410
a) Calcule os elementos S11, S12, e S14 da matriz das
elastâncias S5 (defina-os cuidadosamente, com
unidades). Aponte e justifique as aproximações feitas.
10 10
(R.: S 1 1=10,77×10 m/F ; S 1 2=1,52×10 m/F
A matriz S5 foi invertida, obtendo-se

[ ]
964 −75 −45 −54 −54
___ 1339 −269 −219 −219
−1
C 5=S 5 = ___ ___ 787 −138 −138
___ ___ ___ 737 −69
___ ___ ___ ___ 737
b) Complete a matriz C5.
c) No equivalente de circuito indique todas as
capacitâncias que convergem no nó 1.
d) Suponha que os fios 3, 4 e 5 sejam removidos. Calcule a
nova matriz S2 e sua inversa, C2. Compare S2 com S5;
note as semelhanças. Compare C2 com C5, que não são
semelhantes.
e) Os fios 3, 4 e 5 de montagem original da figura são
usados como blindagem eletrostática entre 1 e 2, sendo
então aterrados. Nessas condições, determine os
geradores equivalentes de Thevenin e Norton, por km,
vistos entre 2 e o terra, quando entre l e terra existe
tensão alternada de 60 Hz, valor eficaz 14 KV. (R.: 784
Vef, –j 198 kΩ ; 3,96 mAef, –j 198 kΩ).
f) Se as linhas tem 2 km de extensão qual a tensão que
aparece em resistor de 1000 Ω ligado entre 2 e terra?
(R.: 7,9 Vef)

411
17. (PEL313 – 1983) De uma placa de espessura e = 2 cm
e condutividade σ= 25 mS/m , corta-se um setor como
indicado na Figura A.15.

D B
e

A
C
45o

3 cm

15 cm
Figura A.15
a) Sendo as bordas A e B metalizadas, determine a
resistência entre essas bordas, analiticamente. (R.:
4098 Ω)
b) Se, ao invés, forem metalizadas as bordas C e D,
determine a resistência entre C e D, analiticamente.
(R.: 976 Ω)

412
18. (PEL313 – 1983) A Figura A.16 representa uma
cavidade esférica feita em um bloco condutor. A 2 cm de
seu centro, coloca-se uma carga Q=+1 μ C .

6 cm

ar P2
P1 Q
2 cm

Figura A.16
a) Determine e localize a carga imagem adequada para
representar a função potencial ϕ no interior da
cavidade.
b) Calcule o potencial ϕ(0) no centro da cavidade. (R.:
300 kV)
c) Calcule a densidade de cargas nos pontos P1 e P2· (R.:
–66,3 e –8,3 μC/m)
⃗ que age sobre Q. (R.: 1,05 N, para
d) Calcule a força F
a direita).

413
19. (PEL313 – 1983) A Figura A.17 representa um
capacitor de placas planas, paralelas, cujas dimensões
estão anotadas. Entre as placas aplica-se V0 = 5 kV.

0
80
1 Placa metálica
V0 P
1

3
1

1100 1600 1300

Medidas em mm
Figura A.17
a) Calcule a força F⃗ 0 que o campo exerce sobre a placa
metálica P. (R.: 26,5 mN, para dentro).
b) Esboce na figura acima as linhas de força de E na
região 1.
⃗ =q E
c) Usando a expressão F ⃗ , identifique na figura
acima onde agem as forças cuja resultante é F⃗ 0 .
20. (PEL313 – 1983) Um longo fio condutor de diâmetro
d = 0,8 mm, paralelo a dois planos condutores, encontra-
se carregado com ρl 1=+1μ C/m .
a) Mostre na Figura A.18 as cargas imagem adequadas
para representar a função potencial ϕ no quadrante
que contém o fio. (Note que d ≪a e d ≪b ).
b) Mostre que as cargas que você propôs causam ϕ=0
nos planos x=0 e y=0 .

414
Figura A.18
c) Explique onde você usou as condições dadas por
d ≪a e d ≪b .
d) Calcule o valor do potencial ϕ na superfície do fio,
determine a capacitância entre o fio e os planos
condutores, por metro de comprimento. (R.: 76 kV; 13
pF/m).
21. (PEL313 – 1981) Considere o capacitor cilíndrico da
Figura A.19, com placas concêntricas de raios internos
a = 1 cm, b = 2 cm, e externo c = 4 cm. O isolante, εr = 6,
existente à direita, é fixo no cilindro interno. Uma tensão
V0 = 10 kV é aplicada entre as placas externa e interna.
⃗ que o campo exerce
a) Explique como calcular a força F
sobre o conjunto do condutor central mais dielétrico,
através do balanço de energia durante deslocamento
virtual a carga constante e a tensão constante.

415
Figura A.19
b) Escolha um processo conveniente e calcule o valor da
⃗ .
força F
c) Esboce os campos de dispersão e as cargas reais e de
polarização relevantes e indique onde agem as forças
⃗ .
cuja resultante é F
22. (PEL313 – 1983) Considere a função de variável
complexa
4
w=u + j v=z p , com z= x+ j y=r e j θ e p= .
5
a) Como é possível mostrar que w é função analítica de z?
b) Sendo v uma função potencial, ϕ=v , esboce as
equipotenciais ϕ=0 no plano xy.
c) Qual a situação representada por esse potencial?
d) Nesse caso, o que representa a função u ( x , y) ?

416
23. (PEL313 – 1982) Deseja-se criar um campo de dipolo
no espaço externo à superfície esférica de raio R0.

H
[
⃗ =M û r cos θ + û θ sen θ
r3 2 r3 ] A/m , r > R 0

a) Argumente porque esse campo tem rotacional e


divergente nulos.
b) Determine qual a densidade de corrente superficial,
J⃗s , que deve ser colocada na superfície esférica
r =R0 para causar esse campo, sabendo-se que o
campo interno resultante é na direção z e uniforme.
Determine esse campo interno (sugestão: analise o
⃗ externo para r =R+0 e θ=0 ). Mostre que são
H
satisfeitas as condições de contorno do Bn na superfície
r =R0 .
24. ⃗ causado
(PEL313 – 1981) Considere o campo H
pelo solenoide da Figura A.20, com N = 2000 espiras,
I = 2 A, L = 60 cm e a = 3 cm.

1 cm

1 2 O
a

C A

O'

L = 60 cm

Figura A.20

417
a) Defina o potencial magnético U; explicite as restrições
relevantes.
b) Baseando-se em resultados já conhecidos, como você
calcularia o valor de ∫
Γ
⃗ d⃗l
H⋅ ? Justifique. Qual a
ABC

ordem de grandeza esperada?


⃗ que
c) Esboce na figura acima a linha de força de H
passa pelo ponto 1, procurando quantificar onde ela
cruza o plano de simetria dentro do solenoide.
d) Esboce a linha de força de H que passa pelo ponto 2.
Procure determinar quantitativamente seu
comportamento ao cruzar a folha de corrente.
25. (PEL313 – 1981) Demonstre que o campo magnético
⃗ causado por uma espira circular de raio a,
H
percorrida por uma corrente I, observado a uma distância
r ≫a , é o campo de um dipolo. Determine H ⃗ em
função de I, a, r ≫a ) , Sugestão: Aplique a equação

(6.23) com dl=a cos φ ' d φ ' û φ (devido à simetria) e
utilize a aproximação:

( a
1/ R=1 / √ r 2 +a 2−2 r a sen θ cos φ ' ≈r −1 1+ sin θ cos φ '
r )
26. (PEL313 – 1982) Considere o toroide esbelto da
Figura A.21(a), feito de material ferromagnético com
μ r=200 e "essencialmente linear", sobre o qual se
enrola bobina de N 1=1000 espiras uniformemente
distribuídas à sua volta.
Determine, então
a) o valor de I para produzir B =1 T no ponto 2;
b) a energia magnética armazenada, por integração sobre
os campos;

418
Figura A.21
c) a indutância L1 da bobina. Verifique a consistência com
o item b.
d) os campos ⃗ ⃗ no ponto, (1) . Justifique.
B e H
(R.: +2 A; 19,6 mJ; 9,8 mH; campos nulos).
Um toroide idêntico ao da Figura A.21(a) tem
N 1=1000 espiras enroladas uniformemente sobre
metade de seu perímetro, conforme mostrado na Figura
A.21 (b).
e) Com o mesmo I do item a), determine ⃗ ⃗ nos
B e H
pontos (3), (4) e (5) da Figura A.21 (b). Justifique.
(R.: H3 = 4000 A/m; H4 = 4000 A/m; B4 = 0,005 T, H5 = –
4000 A/m).
Sobre o toroide da Figura A.21 (a) enrolam-se N2 = 200
espiras.
f) Calcule a auto indutância L2 dessa bobina e a mútua
com a bobina de 1000 espiras (R.: L2; 0,39 mH;
∣M∣=1,96 mH ).

419
27. (PEL313 – 1982) Considere o toroide esbelto da
Figura A.22(a), feito de material ferromagnético.

Figura A.22
a) Determine a corrente I1 para causar no ponto (1) uma
indução magnética B=0,5 T , sabendo-se que nesse
ponto de operação μ r=350 . Explique e justifique as
aproximações que fizer. A bobina de N = 800 espiras é
enrolada uniformemente sobre 1/4 da extensão do
toroide, com as espiras próximas uma das outras. (R.:
I1 = 0,56 A).
b) Determine os campos B e H nos pontos (2) e (3).
Justifique.
Considere agora o toroide da Figura A.22 (b), semelhante
ao da (a) exceto pelo entreferro de 1 mm. Desprezando o
espraiamento:
c) Determine a corrente I2 para causar B4 = 0,5 T no
entreferro. Calcule B5 e H5. (R.: I2 = 1,06 A; H5 = 7129

420
A/m)
⃗ que atua nas faces do entreferro.
d) Calcule a força F
Justifique. (R.: 1,95 N, atração).
28. (PEL313 – 1983) Considere o circuito magnético da
Figura A.23, constituído de material magnético cuja
função B(H) pode ser aproximada pela curva da Figura
A.24.

N1 b e

N2
I1

I2
a
2 π b = 8 cm; π a2 = 0,5 cm2
N1 = 200, N2 = 500, e =0,2 mm
Figura A.23

B (T)
1

1000 H (A/m)

Figura A.24

421
a) Determine I1 para produzir uma indução magnética de
0,5 T no entreferro (despreze o espraiamento do fluxo
no entreferro, bem como na sua dispersão). (R.: I1 = 600
mA).
b) Admitindo que o material magnético se mantenha na
região linear, e ainda desprezando a dispersão, calcule
as indutâncias L1, L2 e M (com sinal).
(R.: L1 = 8,33 mH; L2 = 52,1 mH, M = 20,8 mH).
c) Com a corrente I1 do item (a) calcule a força F1 que
atua na face superior do entreferro. (R.: F1 = 5 N,
atração).
d) Se a largura e do entreferro for reduzida a zero, e
mantendo-se a corrente I1 (item a), calcule a nova força
F2 que atua na face superior do entreferro. (R.: F2 = 20
N).
29. (PEL313 – 1983 ) A curva da Figura A.26 aproxima
parte do ciclo de histerese do material magnético com o
qual é feito o toroide da Figura A.25. Calcule:
a) As correntes correspondentes aos pontos de operação 1,
2 e 3 (R.: 0,1 A, 0,2 A e 0 A).
b) A energia que deve ser fornecida ao toroide para levar
o material do ponto 1 ao ponto 2.
c) A energia que deve ser fornecida ao toroide para levar
o material do ponto 1 ao ponto 3 (percorrendo a
sequência 1-2-3). (R.: 12,80 mJ).
d) Se B varia ciclicamente entre +1,1 e –1,1 T, mostre em
que sentido é percorrido o ciclo de histerese e
justifique.

422
B

b
N

I
a

2 π b = 20 cm;
π a2 = 0,8 cm2, N = 1000
Figura A.25
B (T)

1,1 2
1
3

500 1050
H (A/m)

–1
–1,1
Figura A.26

423
30. (PEL313 – 1983) Considere o circuito magnético da
Figura A.27, constituído de material cuja relação B-H é
dada pelo gráfico da Figura A.28.
5
1,

i2

1
i1 i3
v2
e

9
1
1 9 2 9 1

N2 = 200 N1 = 500 N3 = 300


Figura A.27

B (T)
1,2

1400 H (A/m)

Figura A.28
Sendo i2 = i3 = 0, calcule o valor de i1 para que
B2 = 0,6 T (R.: 1,32 A).

424
a) Calcule as indutâncias mútuas M12 e M13 (com sinal),
bem como a auto indutância L1.
(R.: 13,6; -20,4 e 68 mH).
b) Sendo i1 = 1 A, calcule os valores das correntes i2 e i3
(com sinal) que anulam os fluxos nas três pernas do
circuito magnético.
(R.: -2,5 A e 1,67).
c) Sendo i2 = i3 = 0 e i1(t) conforme mostrado no gráfico da
Figura A.29, faça os gráficos cotados de H2(t), B2(t) e
v2(t), até o instante t = 2 ms. (Nota: I1 é o valor que você
encontrou no item a).

i1(t)

2 I1
I1

1 2 t (ms)

Figura A.29

425
31. (PEL313 – 1981) Calcule (numericamente) a tensão
induzida no longo fio 1 por uma corrente I2 de 1000 A (60
Hz) no circuito de uma máquina de solda, modelado como
uma espira circular 2, mostrados na Figura A.30. Faça
aproximações razoáveis e justifique-as. (R.: 24 mV, a 60
Hz)

1
d = 10 m

a=1m

I2 = 1000 A, 60 Hz
Figura A.30
32. (PEL313 – 1982) O toroide da Figura A.31, de
dimensões b = 15 cm e a = 0,5 cm, é feito de material
magnético cuja curva de magnetização está esboçada na
Figura A.32. Sobre ele enrola-se bobina com N = 1000
espiras uniformemente distribuídas.
a) Qual a corrente I0 para causar B = 1 T? Qual a energia
empregada para criar esse campo magnético?
b) Qual o B correspondente à corrente 5 Io? Qual a
energia empregada para produzir esse acréscimo de
corrente?

426
N

I
B

b = 15 cm; a = 0,5 cm
N1 = 1000 a
Figura A.31

B (T)
1 10 μ0

1000 μ0

H (A/m)

Figura A.32

427
33. (PEL313 – 1977) Calcular a energia magnética
armazenada no campo criado pelas bobinas da Figura
A.33 quando I1 = 1 A, I2 = 2 A e I3 = 3 A. Justifique a
resposta.

I2

I1

I3

Figura A.33
Dados: L1 = 8 mH, L2 = 1 mH, L3 = 4 mH; ∣M 12∣=1 mH ,
∣M 13∣=2 mH , ∣M 23∣=1 mH (R.: 14 mJ)
34. (PEL313 – 1981) Considere o circuito magnético da
Figura A.34, feito de material ferromagnético
trabalhando numa região essencialmente linear, com
μ r=4000 . Despreze a dispersão de fluxo pelo ar.
a) Indique os sentidos positivos dos fluxos concatenados
com as 3 bobinas. Indique o sinal de cada elemento da
matriz L (3x3): Ψ= L I
b) Qual a restrição a que devem obedecer os elementos de
L? A que se deve?

428
i2 i3

i1

Figura A.34
c) Calcule numericamente os elementos de L para o
circuito da Figura A.35, ainda com μ r=4000 .

N2=150

I2
I3

N3=200
N1=100
b

I1
2 π b = 30 cm;
π a2 = 2,0 cm2 a
Figura A.35
(R.: L11 = 33,5 mH; L22 = 75,4 mH; L13 = 67,0 mH;
L23 = 100,5 mH; L33 = 134,0 mH; L12 = 50,3 mH.

429
35. (PEL313 – 1977) Sabe-se que o campo magnético no
eixo de um solenoide cilíndrico é dado por:
N I1
H=
2l
( cos θ1−cos θ 2) .

Figura A.36
Dados: a = 1 cm; l = 10 cm; d = 5 cm; b = 1,2 cm; N = 100;
I1 = 2 A; I2 = 3 A (Figura A.36).
a) Calcule a indutância mútua (com módulo e sinal) entre
o solenoide e a espira. Justifique as aproximações que
fizer.
b) Qual o sentido da força exercida pelo campo do
solenoide sobre a espira? Justifique por balanço de
energia e através de ⃗ =I dl
dF ⃗ ×⃗
B .
−9
(R.: M =−4,9×10 H;
repulsão:

N 1 I 1 I 2 μ0 π b2
{ }
2 2
a a
F x≈ 3/ 2
− 3/ 2 ).
2l [ a 2 +d 2 ] [ a 2+(l +d )2 ]

430
36. (PEL313 – 1981) Considere o circuito magnético do
relê de corrente contínua da Figura A.37, operando com
I = 60 mA em N = 2000 espiras.

5
0,

a
2 mm
I

2,5 cm
N
0,5 cm

0,5 cm 0,5 cm

2,5 cm
Figura A.37
a) Calcule a força que inicia o fechamento do relê. Admita
ferro linear com μ r=4000 ; verifique a adequação
dessa hipótese. Despreze espraiamento e dispersão.
(R.: 5,5 g-força).
b) O que acontece com essa força a medida que o
entreferro vai se fechando? Por quê? Em particular,
calcule a força que mantém o relê fechado, admitindo
que B satura em 1 T. Verifique a consistência desta
hipótese. (R.: cerca de 1000 g-força) .

431
37. (PEL313 – 1983) Os dois circuitos 1 e 2 da Figura
A.38 são percorridos pelas correntes I1 e I2 indicadas.
z

fios finos
3

I1 I2

2 4 y

3
• x fio fino infinito
Figura A.38
a) Calcule a indutância mútua M12 (módulo e sinal)
(R.: –0,2 μH).
b) Justifique se tem sentido o cálculo da auto indutância
L2 do circuito 2. (R.: poderia ser calculada, por Biot-
Savart apenas se os fios tivessem raios não nulos)
38. (PEL313 – 1983) A indutância do solenoide da Figura
A.39 pode ser modificada pelo deslocamento do tarugo de
material magnético no seu interior de modo que, para
∣x∣<a , a indutância pode ser aproximada por (Figura
A.40):
L=L 0 (1−k x 2 )
0,8
k= , L0 =3 H , a=0,03 m
a2

432
a x


F

I
Figura A.39

L0

–a 0 a x
Figura A.40
⃗ sobre o tarugo;
a) Determine a expressão da força F
faça seu gráfico em função de x.
b) Em que ponto(s) a força tem maior módulo? Quanto
vale essa força, se I = 0,2 A?
(R.: em x=±a ; F = 3,2 N, para o centro) .
c) Mostre que existe ponto de equilíbrio estável do tarugo.

433
39. (PEL313 – 1982) Considere a linha de transmissão de
fios paralelos da Figura A.41, operando em baixa
frequência e com d ≫a .

2a

d
2a

Figura A.41
a) Calcule sua indutância por metro. Justifique.
μ0 d 1
R.: L= ( ln + ) H/m
π a 4
Considere agora uma linha de transmissão de fios
paralelos com d =3 cm e a=1 cm , operando em alta
frequência.
b) Calcule a indutância por metro neste caso. Justifique o
⃗ deve
modelo que você usou. Note que neste caso H
ser tangente à superfície do condutor; use analogia com
campo eletrostático de tubos condutores paralelos,
esboçando equipotenciais e linhas de corrente se
necessário. (R.: 0,39 μH/m).
40. (PEL313 – 1977) O toroide delgado da Figura A.42,
constituído de aço cromo, foi magnetizado até atingir a
retentividade (B = 1,00 T; H = 0).
Abre-se, então, um entreferro de largura e (Figura A.43).

434
B (T)
1
b = 5 cm 0,8

0,6

0,4

0,2

- 4000 - 3200 - 2400 - 1600 - 800 H (A/m)


0,5 cm2

Figura A.42

B (T)
1
b = 5 cm 0,8

e 0,6

0,4

0,2

- 4000 - 3200 - 2400 - 1600 - 800 H (A/m)

0,5 cm2
Figura A.43
a) Determine a largura e para que se tenha no entreferro
uma indução magnética B = 0,8 T (despreze
espraiamento).
b) Qual a força entre as faces do entreferro? É de atração
ou repulsão? Justifique.
(R.: e = 1,6 mm; 12,7 N).

435
41. (PEL313 – 1982) O núcleo magnético de um
transformador é constituído de 200 lâminas de aço-silício
(μr = 800, condutividade σ) isoladas entre si, conforme
indicado esquematicamente na Figura A.44. Cada lâmina
tem uma espessura de 0,5 mm e o espaçamento entre elas
é de 0,01 mm.

V1
3 2 1

4
e = 0,5 mm

V3
V2
δ = 0,01 mm

x V4
Figura A.44
Sendo a indução magnética ⃗
B na direção û z , senoidal
a 60 Hz e com valor máximo 1,6 T:
a) Explique a configuração dos campos ⃗
E e ⃗
J
resultantes.
b) Indique na figura os campos ⃗
E nos pontos
numerados, em módulo, direção e sentido. Mostre como
você calculou esses valores.
R.: valores máximos: E⃗1=− E⃗2=−0,15 û x V/m ;

436
E⃗3=750 û y V/m ; E⃗4=1500 û y V/m
c) Indique na figura os valores das tensões V1 , V2 , V3 e
V4. A soma algébrica dessas tensões é zero? Compare
com a segunda lei de Kirchoff; explique. (R.: valores
máximos, todos em fase: V1= V4 = 15 mV; V2 = V3 = 3
V).
42. (PEL313 – 1983) Uma esfera condutora de raio a
desloca-se com velocidade u =u 0 û x numa
constante ⃗
região de vácuo onde existe uma indução magnética
uniforme ⃗
B =B0 û y . Determine o campo elétrico
induzido na esfera, a distribuição de cargas na sua
superfície e o campo elétrico resultante na região externa
da esfera.
R.: E⃗int =u 0 B0 u^ z ; ρs=3ε0 u0 B 0 cos θ ;

(2 a3
r
a3
E⃗ext =u0 B0 3 cosθ u^ r + 3 sen θ u^ θ
r ) - campo de um

dipolo elétrico.
43. (PEL313 – 1977) Uma grande placa de cobre,
perpendicular ao eixo z, com condutividade σ e espessura
e, desloca-se com velocidade u =u 0 û x . Um campo


B =B0 û z existe num circulo de raio a, centro na origem,
atravessando a placa. Determine o campo ⃗ E induzido,
bem como o campo de correntes ⃗
J resultante, dentro e
fora do circulo onde B≠0 . Determine a potência
dissipada na placa por efeito joule, bem como a força
exercida na placa (este é o principio do freio
eletrodinâmico). Note a linearidade entre a força e a
velocidade. Devido a isto tal principio é empregado em
velocímetros.

437
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