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Fundamentos

de Circuitos Elétricos
Autor: Prof. Marcos Antonio Nascimento
Colaboradores: Prof. Ariathemis Bizuti
Prof. José Carlos Morilla
Professor conteudista: Marcos Antonio Nascimento

É formado em Engenharia Industrial Elétrica pela Universidade Santa Cecília (Unisanta), com mestrado, doutorado
e pós‑doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 2011, iniciou a
carreira como docente na Universidade Paulista (UNIP), ministrando aulas nas disciplinas Circuitos Elétricos, Circuitos
Elétricos Aplicados, Circuitos Lógicos, Eletrônica, Introdução a Sistemas de Controle e Servomecanismos. A partir de
2012, foi promovido a coordenador auxiliar dos cursos de Engenharia Elétrica e Mecatrônica, atuando diretamente no
desenvolvimento das disciplinas e em diversas atividades administrativas e acadêmicas.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

N244m Nascimento, Marcos Antonio.

Fundamentos de Circuitos Elétricos / Marcos Antonio


Nascimento. - São Paulo: Editora Sol, 2018.

112 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-087/18, ISSN 1517-9230.

1. Curto-circuito. 2. Circuitos elétricos. 3. Regime senoidal.


I. Título.

CDU 621.3.049

XVIII

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Material Didático – EaD

Comissão editorial:
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Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Talita Lo Ré
Rose Castilho
Sumário
Fundamentos de Circuitos Elétricos

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 INTRODUÇÃO: PADRÕES ELÉTRICOS E CONVENÇÕES..........................................................................9
1.1 Notações e prefixos.............................................................................................................................. 10
2 A CARGA ELÉTRICA.......................................................................................................................................... 11
2.1 Lei de Coulomb....................................................................................................................................... 12
2.2 Corrente elétrica.................................................................................................................................... 12
2.3 Tensão elétrica........................................................................................................................................ 14
2.3.1 Analogia hidráulica................................................................................................................................. 14
2.3.2 Circuito elétrico simples........................................................................................................................ 15
2.3.3 Potência e energia................................................................................................................................... 17
2.3.4 Resistividade elétrica.............................................................................................................................. 18
2.3.5 Resistividade de alguns materiais..................................................................................................... 18
2.3.6 Resistência elétrica................................................................................................................................. 19
3 CURTO‑CIRCUITO E CIRCUITO ABERTO................................................................................................... 21
3.1 Curto‑circuito......................................................................................................................................... 21
3.2 Circuito aberto........................................................................................................................................ 22
3.3 Nós, ramos e malhas............................................................................................................................ 23
3.4 Associação de resistores..................................................................................................................... 24
3.5 Associação de resistores em série................................................................................................... 24
3.6 Associação de resistores em paralelo............................................................................................ 25
3.7 Fontes de tensão e fontes de corrente......................................................................................... 27
3.7.1 Fonte de tensão ideal............................................................................................................................. 27
3.7.2 Fonte de tensão real............................................................................................................................... 28
3.7.3 Fonte de corrente ideal......................................................................................................................... 29
3.7.4 Associação de fontes: fontes de tensão e associação em série............................................ 29
3.7.5 Associação de fontes: fontes de tensão e associação em paralelo..................................... 30
3.7.6 Conversão de fontes............................................................................................................................... 31
3.7.7 Lei de Kirchhoff das tensões (LKT).................................................................................................... 32
4 CONVENÇÕES.................................................................................................................................................... 32
4.1 Divisor de tensão................................................................................................................................... 35
4.2 Lei de Kirchhoff das correntes (LKC).............................................................................................. 36
4.3 Divisor de corrente............................................................................................................................... 37
4.4 Transformação estrela‑triângulo.................................................................................................... 38
4.5 Análise de malhas................................................................................................................................. 41
4.5.1 Método de Cramer.................................................................................................................................. 43
4.6 Análise nodal........................................................................................................................................... 46
4.7 Equivalente de Thevenin.................................................................................................................... 49
4.7.1 Utilização do equivalente de Thevenin........................................................................................... 50
4.8 Equivalente de Norton........................................................................................................................ 54
4.9 Princípio de superposição.................................................................................................................. 56

Unidade II
5 GERAÇÃO DE TENSÃO ALTERNADA.......................................................................................................... 68
5.1 Sinal senoidal.......................................................................................................................................... 69
5.2 Valor eficaz ou RMS (valor médio quadrático)......................................................................... 70
6 REPRESENTAÇÃO DO SINAL SENOIDAL NO DOMÍNIO DA FREQUÊNCIA................................... 71
6.1 Fasor nas formas retangular e polar............................................................................................. 73
6.2 Relações entre as formas polar e retangular............................................................................. 73
6.2.1 Aritmética com fasores......................................................................................................................... 75
6.2.2 Subtração: deve‑se transformar de polar para retangular..................................................... 75
6.2.3 Multiplicação: deve‑se transformar de retangular para polar.............................................. 75
6.2.4 Divisão: deve‑se transformar de retangular para polar........................................................... 75
7 RESISTÊNCIA, INDUTÂNCIA E CAPACITÂNCIA EM REGIME SENOIDAL....................................... 76
7.1 Capacitância............................................................................................................................................ 76
7.1.1 Associação de capacitores em série e em paralelo.................................................................... 79
7.1.2 Associação em paralelo......................................................................................................................... 80
7.1.3 Associação em série................................................................................................................................ 81
7.1.4 Comportamento do capacitor quando submetido à corrente alternada......................... 82
7.2 Indutância................................................................................................................................................ 83
7.2.1 Propriedades do indutor....................................................................................................................... 86
7.2.2 Associação de indutores em série e em paralelo........................................................................ 87
7.2.3 Comportamento do indutor quando submetido à corrente alternada............................. 89
7.2.4 Comportamento do resistor quando submetido à corrente alternada............................. 93
8 ANÁLISE DE CIRCUITOS ELÉTRICOS EM REGIME SENOIDAL (CA)................................................. 94
8.1 Introdução................................................................................................................................................ 94
8.2 Redução do circuito............................................................................................................................. 94
8.3 Análise de malhas................................................................................................................................. 96
8.4 Análise nodal........................................................................................................................................... 98
APRESENTAÇÃO

A disciplina Fundamentos de Circuitos Elétricos compreende estudos de eletricidade básica, leis e


ferramentas. Seu objetivo é auxiliar os alunos dos cursos de engenharia na compreensão e na resolução
de problemas na área de eletricidade e com algumas aplicações em eletrônica básica.

Os circuitos elétricos são formados por componentes elétricos como fontes de tensão, fontes
de corrente, resistores, capacitores e indutores. A primeira parte do curso é dedicada ao estudo das
interações entre resistores, fontes de tensão e corrente. Serão abordados os conceitos de resistência
elétrica, corrente elétrica, tensão, fontes de tensão, fontes de corrente, lei de Ohm, leis de Kirchhoff
das tensões e leis de Kirchhoff das correntes. Ainda nessa parte do curso, serão desenvolvidos diversos
métodos de resolução, como análise de malhas, análise de malhas matricial, análise nodal, análise nodal
matricial, princípio da superposição e equivalente de Thevenin e Norton

É importante ressaltar que a tensão contínua, também conhecida como CC (ou DC, em inglês),
está presente nos mais diversos dispositivos eletrônicos utilizados todos os dias (como televisão,
telefone, computador, laptop, smartphone, celular, tablet etc.). No entanto, a tensão fornecida nas
tomadas residenciais é de natureza diferente, trata‑se de tensão alternada, também chamada AC (ou
CA, em inglês).

Na segunda parte do curso serão abordados os princípios de geração, transmissão e transformação da


tensão alternada, bem como seus efeitos nos componentes resistor, indutor e capacitor. Para alcançar tal
intento, serão utilizadas análises envolvendo números complexos e fasores, abrangendo transformações
do modo retangular‑polar e vice‑versa. Os conceitos e as ferramentas estudados na primeira parte do
curso serão de suma importância para a resolução de sistemas mais complexos.

INTRODUÇÃO

É muito difícil imaginar uma vida sem energia elétrica nos dias de hoje. Quase todas as tarefas que
são realizadas, no âmbito residencial, comercial ou industrial, utilizam a energia elétrica de alguma forma.
Observe ao redor, na sua residência, por exemplo: iluminação, aquecimento de água, refrigeração, sistemas
de entretenimento (áudio e vídeo), sistemas de comunicação e outras tantas aplicações. Repare na sua
empresa: motores, sistemas de controle complexos, robôs e muitas outras aplicações utilizam a energia
elétrica para seu funcionamento. Nesse contexto, o estudo dos circuitos elétricos é de grande importância
na formação do engenheiro. No estudo dos circuitos elétricos, o aluno poderá encontrar dificuldades
com respeito à abstração dos conceitos relacionados aos fenômenos elétricos. Recomenda‑se, sempre
que possível, associar o estudo da teoria com aplicações práticas (laboratório) ou com a utilização de
programas de simulação, que podem ser encontrados em versões livres ou para estudantes.

7
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Unidade I
1 INTRODUÇÃO: PADRÕES ELÉTRICOS E CONVENÇÕES

As sete grandezas de base, que correspondem às sete unidades de base, são: comprimento, massa,
tempo, corrente elétrica, temperatura termodinâmica, quantidade de substância e intensidade luminosa.
As grandezas de base e as unidades de base se encontram listadas, juntamente com seus símbolos, na
tabela a seguir.

Tabela 1 – Grandezas de base e unidades de base do Sistema Internacional de Unidades (SI)

Grandeza de base Símbolo Unidade de base Símbolo


Comprimento l, h, r, x metro m
Massa m quilograma kg
Tempo, duração t segundo s
Corrente elétrica I, i ampere A
Temperatura termodinâmica T kelvin K
Quantidade de substância n mol mol
Intensidade luminosa Iv candela cd

Adaptado de: Inmetro (2006, p. 3).

Todas as outras grandezas são descritas como grandezas derivadas e são medidas por meio de
unidades derivadas, que, por sua vez, são definidas como produtos de potências de unidades de base.

Outras grandezas podem ser deduzidas com base nas grandezas fundamentais, como mostrado na
tabela a seguir.

Tabela 2 – Unidades derivadas com nomes especiais no SI

Nome da unidade Expressão em termos de


Grandeza derivada Símbolo da unidade
derivada outras unidades
Ângulo plano Radiano rad m/m = 1
Ângulo sólido Esterradiano sr m2/m2 = 1
Frequência Hertz Hz s-1
Força Newton N m kgs-2
Pressão, tensão Pascal Pa N/m2 = m–1 kg s-2
Energia, trabalho, quantidade de calor Joule J Nm = m2 kg s-2
Potência, fluxo de energia Watt W J/s = m2 kg s-3

9
Unidade I

Carga elétrica, quantidade de eletricidade Coulomb C sA


Diferença de potencial elétrico Volt V W/A = m2 kg s-3 A-1
Capacitância Farad F C/V = m-2 kg-1 s4 A2
Resistência elétrica Ohm Ω V/A = m2 kg s-3 A-2
Condutância elétrica Siemens S A/V = m-2 kg-1 s3 A2
Fluxo de indução magnética Weber Wb V s = m2 kg s-2 A-1
Indução magnética Tesla T Wb/m2 = kg s-2 A-1
Indutância Henry H Wb/A = m2 kg s-2 A-2
Temperatura Celsius Grau Celsius ºC K
Fluxo luminoso Lumen lm cd sr = cd
Iluminância Lux lx Im/m2 = m-2 cd

Adaptado de: Inmetro (2006, p. 4).

1.1 Notações e prefixos

Quando se trabalha com números muito pequenos ou muito grandes, convém, para ajudar nos cálculos,
alterar a forma de expressá‑los. Para isso, usam‑se as chamadas notações científica e de engenharia. Na
notação científica, expressa‑se uma quantidade por meio do produto entre um número entre um e dez e
uma potência de base dez. Por exemplo, a quantidade 150.000 é expressa como 1,5 x 105, e a quantidade
0,00022 é expressa como 2,2 x 10-4.

A notação de engenharia é similar à notação científica. Entretanto, ela usa, no máximo, três dígitos à
esquerda da vírgula e só potências de dez divisíveis por três. Por exemplo, o número 33.000, em notação
científica, fica 3,3 x 104. Já em notação de engenharia, é representado por 33 x 103. No curso de circuitos
elétricos, sempre é recomendável o uso da notação de engenharia

Obviamente, a notação de engenharia só usa os prefixos do SI das potências divisíveis por três. Esses
prefixos, que aparecem na tabela a seguir, são, por isso, conhecidos como prefixos de engenharia.

Tabela 3 – Prefixos e símbolos

Prefixo Símbolo Potência


pico p 10–12
nano n 10–9
micro µ 10–6
mili m 10–3
quilo k 103
mega M 106
giga G 109
tera T 1012

Adaptado de: Inmetro (2006, p. 5).

10
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Observação

Sempre que possível, deve‑se usar o formato de engenharia para


apresentar os resultados. Isso facilita a aplicação quando se faz a
especificação de componentes eletrônicos.

Exemplo de aplicação

Uma corrente elétrica de 1.000 A corresponde a quantos kA?

1.000
Resposta: = 1 , portanto, 1.000 A = 1 kA.
103
Um capacitor de 1.000 pF corresponde a quantos nF?

Resposta: Corresponde a 1 nF.

2 A CARGA ELÉTRICA

O conceito de carga elétrica é o princípio básico que permite explicar todos os fenômenos elétricos,
tratando‑se da quantidade mais básica em um circuito elétrico. Todos nós, em algum momento, já
experimentamos o efeito de energia elétrica. Por exemplo, quando removemos uma blusa de lã ou,
às vezes, quando descemos do carro e, ao encostar na estrutura metálica, levamos um choque. Nesse
caso, o fenômeno descrito deve‑se à eletricidade estática, gerada pelo atrito entre certos corpos. Outro
exemplo envolvendo eletricidade estática são os raios, uma descarga de grande quantidade de energia
elétrica entre a nuvem e o solo e vice‑versa (o acúmulo de eletricidade estática nas nuvens é decorrente
do atrito entre as partículas que a compõem, como poeira e gotículas de chuva).

Sabe‑se que na natureza existem blocos de construção conhecidos como átomos, e que cada átomo
consiste em elétrons, prótons e nêutrons. Sabe‑se também que a carga de um elétron é negativa e igual
a 1,602 × 10‑19 C, enquanto um próton carrega uma carga positiva e de mesma magnitude. A presença
de números iguais de prótons e elétrons deixa um átomo neutro, ou seja, sem carga elétrica.

Observação

Sobre a carga elétrica, deve‑se ter em mente que o coulomb é uma


unidade bastante grande e quase nunca utilizada na prática. Em 1 C de
1
carga, existem
19
 6, 25 x 1018 elétrons. Assim, usam‑se
1, 602 x 10
valores de carga da ordem de pC (pico coulombs), nC (nano coulombs) ou μC

11
Unidade I

(micro coulombs). De acordo com observações experimentais, só ocorrem na


natureza múltiplos inteiros da carga eletrônica e = –1,602 x 10–19 C.

A lei da conservação da carga diz que nada pode ser criado nem
destruído, apenas transferido. Assim, a soma das cargas elétricas em um
sistema não muda.

2.1 Lei de Coulomb

A lei de Coulomb (ou lei do quadrado inverso de Coulomb) é uma lei da física que descreve a força
que interage entre partículas estáticas carregadas eletricamente. Na sua forma escalar, a lei é descrita
pela equação:

 qq
F = K 122
d

Onde:

• K é a constante de Coulomb e vale aproximadamente 9x109 [M.m2/C2];

• q1 e q2 são as cargas em coulombs de cada corpo;

• d é a distância entre os corpos.

2.2 Corrente elétrica

Os elétrons livres são os portadores de carga em um fio de cobre ou em qualquer outro material
condutor de eletricidade. A corrente elétrica é o fluxo ordenado de partículas portadoras de
carga elétrica ou o deslocamento de cargas dentro de um condutor, quando existe uma diferença
de potencial elétrico entre as extremidades. Tal deslocamento procura restabelecer o equilíbrio
desfeito pela ação de um campo elétrico ou outros meios (por exemplo, reação química, atrito,
luz etc.).

Os raios são exemplos de corrente elétrica, bem como o vento solar, porém a corrente mais
conhecida, provavelmente, é a do fluxo de elétrons através de um condutor elétrico, geralmente
metálico. A intensidade i da corrente elétrica é definida como a razão entre o módulo da quantidade
de cargas ΔQ que atravessa certa seção transversal (corte feito ao longo da menor dimensão
de um corpo) do condutor em um intervalo de tempo Δt. A unidade de medida de corrente
elétrica é o ampere, representado pela letra A. A corrente elétrica corresponde ao movimento de
cargas que atravessam uma determinada superfície por unidade de tempo, conforme indicado
na figura a seguir.

12
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Figura 1 – Elétrons atravessando a seção reta de um fio condutor

A corrente elétrica é definida matematicamente como:

∆q
i=
∆t

Em engenharia, o símbolo ∆ significa variação e, no caso da corrente, ela é obtida pela razão entre
a variação de carga e a variação de tempo. A corrente é dada pela variação de carga por unidade de
tempo. Se essa razão for avaliada para uma variação temporal muito pequena (tendendo a zero), essa
razão entre duas variações pode ser expressa pelo conceito de derivada, de forma que:

dq
i=
dt

Onde:

• q é a carga em coulombs (C);

• i é a corrente em amperes (A).

Na equação anterior, a carga pode ser obtida pela operação inversa da derivada, a integral,
representada pelo símbolo ∫.

Lembrete

Só existirá corrente elétrica se o circuito for fechado e houver algum tipo


de desequilíbrio. Esse desequilíbrio pode ser fornecido por uma diferença
de potencial.

13
Unidade I

2.3 Tensão elétrica

Denomina‑se tensão elétrica a energia necessária para mover os elétrons no condutor de acordo
com o conceito de corrente elétrica apresentado. Assim, tensão elétrica é a diferença de potencial entre
dois corpos, a energia potencial que vai realizar um trabalho.

Por exemplo, baterias e pilhas criam uma diferença de potencial (ddp) por meio de reações químicas.
Com circuitos apropriados e transformadores manipulando a intensidade de corrente elétrica fornecida,
as fontes de alimentação transformam a energia potencial; dessa forma, pode‑se dizer que tensão
elétrica é a energia que movimenta as cargas elétricas. Sua unidade de medida é o volt, representado
pela letra V.

∆W
V=
∆Q

Onde:

• V é a tensão elétrica em volts (V);

• ∆W é a quantidade de energia elétrica potencial em joules (J);

• ∆Q é a quantidade de cargas em coulombs (C).

2.3.1 Analogia hidráulica

O conceito de tensão elétrica pode ser melhor entendido por meio de uma analogia simples. Para
isso, observe a figura a seguir.

Tq1 Tq2

I
h1

h2

Figura 2 – Analogia hidráulica da tensão elétrica

14
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

A figura mostra dois tanques de água, Tq1 e Tq2, interligados por uma tubulação. Verifica‑se que
existe um desnível entre os tanques, indicado pelos níveis h1 e h2. Por causa desse desnível, existirá uma
passagem de corrente de água entre os tanques 1 e 2, mas apenas enquanto existir o desnível: quando
h1 for igual h2, a corrente I cessará.

A analogia funciona da seguinte forma: o desnível de água corresponde à diferença de potencial


elétrico nos terminais de uma pilha. Assim, a tubulação que interliga os tanques representa o condutor
que interligará os polos positivo e negativo da pilha, e o fluxo de água representa o fluxo de elétrons
entre os terminais da pilha.

Lembrete

Em um circuito fechado, a tensão elétrica fornece o desequilíbrio


necessário para estabelecer uma corrente elétrica.

2.3.2 Circuito elétrico simples

A figura a seguir mostra um diagrama elétrico simples, que corresponde a uma pilha, dois condutores
e uma lâmpada. Verifica‑se que existem dois sentidos para a corrente elétrica:

• sentido real: sentido que corresponde ao fluxo de elétrons no circuito fechado;

• sentido convencional: sentido adotado por razões históricas.

Em nosso curso será sempre adotado o sentido convencional para a corrente elétrica, ou seja, do
polo positivo para o polo negativo.

Saiba mais

Para saber mais sobre o desenvolvimento da eletricidade, consulte a


obra indicada a seguir.

MARTINS, J. B. História da eletricidade. Rio de Janeiro: Ciência


Moderna, 2007.

O circuito apresentado ilustra um diagrama elétrico, denominado diagrama esquemático ou esquema.


A vantagem de se usar os diagramas esquemáticos, em primeiro lugar, deve‑se à maior simplicidade na
interpretação dos circuitos. Em segundo lugar, porque sempre são usados símbolos padronizados, o que
permite a interpretação em qualquer linguagem.

15
Unidade I

Condutor

V1 Lâmpada
Bateria

Terra

Figura 3 – Circuito elétrico simples

Por meio do diagrama esquemático pode‑se montar qualquer tipo de circuito, sem cometer
enganos. No circuito apresentado observa‑se que a pilha é representada por um símbolo padrão
(V1) e está interligada à lâmpada por meio de fios condutores. A conexão de terra é necessária
em muitos casos, sobretudo em caso de instalações elétricas residenciais, quando, aliás, é
obrigatória pelas normas ABNT. Nos softwares de simulação, a conexão de terra é necessária para
se obter um ponto de referência do circuito. Diversos símbolos adicionais podem ser utilizados
nos circuitos elétricos e serão analisados no decorrer do curso. A tabela a seguir apresenta os
principais símbolos utilizados.

Tabela 4 – Componentes eletrônicos

V2 V3
V1 + + +
Bateria Fonte de tensão Fonte de
CC ideal - tensão CA ideal -

I1
R1 R2 Fonte de
Resistor fixo Resistor variável corrente
CC ideal

I2
C1 C2 Fonte de
Capacitor fixo Capacitor variável corrente
CA ideal

L1 L2 Terra
Indutor fixo Indutor variável (ponto comum)

16
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

2.3.3 Potência e energia

Como visto, a corrente e a tensão são as duas variáveis básicas em um circuito elétrico, mas, para
efeito de projeto, é necessário conhecer outras variáveis. Em geral, precisa‑se saber o quanto de potência
um dispositivo elétrico pode manipular.

Por experiência, sabe‑se que uma lâmpada de 60 watts dá mais luz do que uma lâmpada de
40  watts. Verifica‑se também que as nossas contas de energia elétrica registram a energia consumida
ao longo de um certo período de tempo. Assim, os cálculos de potência e energia são importantes
na análise de circuitos elétricos. Para relacionar potência e energia com tensão e corrente, deve‑se
observar que potência é uma grandeza física que mede a energia que está sendo transformada na
unidade de tempo, ou seja, mede‑se o trabalho realizado por uma determinada máquina na unidade
de tempo. Assim, temos:


p=
dt

Onde:

• p é a potência em watts (w);

• w é a energia em joules (J);

• t é o tempo em segundos (s).

Desenvolvendo essa equação, vem:

dω dq dω dω dq
p= = = = vi
dt dq dt dq dt

p = vi

A potência, representada pela letra p, é variável no tempo e é chamada de potência instantânea.


Assim, a potência absorvida ou fornecida por um dispositivo é o produto da tensão pela sua corrente.

Lembrete

Potência pode ser definida como a rapidez com que um determinado


trabalho é realizado. A potência elétrica dissipada em um resistor é também
conhecida como potência ativa e é dada em watt (W).

17
Unidade I

2.3.4 Resistividade elétrica

Resistividade elétrica é uma propriedade que define a dificuldade que os materiais apresentam à
passagem da corrente elétrica. Assim, quanto mais baixa a resistividade do material, mais facilmente o
material permite a passagem de uma corrente elétrica. A resistividade de um material é diretamente
proporcional ao campo elétrico e inversamente proporcional à magnitude da densidade da corrente. A
fórmula de resistividade elétrica é dada por:

E
ρ=
J

Onde:

• ρ é a resistividade do material (Ω.m);

• E é a intensidade do campo elétrico (V.m–1);

• J é a intensidade da densidade de corrente (A.m–2).

É possível fabricar resistências e condutores com uma seção transversal uniforme que permite um
fluxo uniforme de corrente elétrica. Dessa forma, pode‑se derivar uma fórmula ou equação que relacione
a resistividade elétrica com a resistência do condutor.

A
ρ =R
l

Onde:

• R é a resistência do material dada em ohms Ω;

• A é a área transversal do material dada em m2;

• I é o comprimento do material dada em metros (m).

2.3.5 Resistividade de alguns materiais

A tabela a seguir apresenta uma lista com alguns materiais e suas respectivas resistividades. Pode‑se
observar que o melhor condutor elétrico conhecido, à temperatura ambiente, é a prata. Esse metal, no
entanto, é excessivamente caro para o uso em larga escala.

O cobre vem em segundo lugar na lista dos melhores condutores, sendo amplamente usado na
confecção de fios e cabos condutores. Logo após o cobre, encontramos o ouro, que, embora não seja tão
bom condutor como os anteriores, em razão de sua alta estabilidade química (metal nobre), praticamente
não oxida e resiste a ataques de diversos agentes químicos.
18
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Tabela 5 – Resistividade de alguns materiais

Material Resistividade ρ (Ω.m)


Prata 1,47 x 10-8
Cobre 1,72 x 10-8
Ouro 2,44 x 10-8
Alumínio 2,75 x 10-8
Chumbo 22 x 10-8
Mercúrio 95 x 10-8
Vidro 1 x 1010 a 1 x 1014

Adaptado de: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia ([s.d.]).

2.3.6 Resistência elétrica

A resistência elétrica R de um dispositivo está relacionada à resistividade ρ de um material, de


acordo com a expressão descrita a seguir.

l
R=ρ
S

Onde:

• ρ é a resistividade elétrica em ohm x metros (Ωm);

• R é a resistência elétrica de um condutor uniforme do material em ohms (Ω);

• l é o comprimento do condutor (medido em metros);

• S é a área da seção do espécime (em metros quadrados, m²).

Essa relação não é geral e vale apenas para materiais uniformes e isotrópicos, com seções
transversais também uniformes. Em geral, os fios condutores normalmente utilizados apresentam
essas duas características.

A figura a seguir ilustra um trecho de um condutor elétrico com os parâmetros apresentados.

S ρ

Comprimento l

Figura 4 – Condutor elétrico

19
Unidade I

A primeira lei de Ohm postula que em um condutor ôhmico (resistência constante), mantido à
temperatura constante, a intensidade (i) de corrente elétrica será proporcional à diferença de potencial
(ddp) aplicada entre suas extremidades. Ou seja, sua resistência elétrica é constante e é representada
pelas fórmulas a seguir.

V
i= ou V = Ri
R
Onde:

• R é a resistência, medida em ohm (Ω);

• V é a diferença de potencial elétrico (ddp), medido em volts (V);

• i é a intensidade da corrente elétrica, medida em ampere (A).

Observação

Georg Simon Ohm (1787‑1854) foi um físico alemão que, em 1826,


determinou experimentalmente a lei mais básica envolvendo tensão e
corrente para um resistor. O trabalho de Ohm foi inicialmente negado
pelos críticos.

Nascido em Erlangen e de origem humilde, Ohm se dedicou por toda a


vida à pesquisa da energia elétrica. Seus esforços resultaram em sua famosa
lei. Ele foi premiado com a medalha Copley em 1841 pela Royal Society de
Londres. Em 1849, recebeu o título de professor da cadeira de Física na
Universidade de Munique. Para homenageá‑lo, a unidade de resistência é
chamada ohm.

A lei de Ohm é de grande importância pois pode ser aplicada em quase


todas as situações envolvendo circuitos elétricos. No entanto, não se deve
esquecer que ela só pode ser aplicada para resistores ôhmicos.

Exemplo de aplicação

1. Calcule a resistência elétrica de um resistor que apresenta 20 A de intensidade de corrente elétrica


e 500 V de diferença de potencial (ddp).

Resolução

Segundo a primeira lei de Ohm, a resistência é calculada pela seguinte expressão:

20
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

R = V/I

Sendo, V = 500 V e

I = 20 A,

R = 500/20. Portanto,

R = 25 Ω.

Logo, a resistência é de 25 Ω.

2. Calcule a corrente elétrica através de um resistor de 1.000 Ω que é submetido a uma diferença de
potencial de 230 V.

Resolução

Segundo a primeira lei de Ohm, a corrente é calculada pela seguinte expressão:

I = V/R

Assim: I = 230/1.000 = 0,23 A.

3 CURTO‑CIRCUITO E CIRCUITO ABERTO

Dois casos importantes devem ser observados na análise de circuitos: o curto‑circuito e


circuito aberto. Esses dois casos são os casos‑limite em que se observam as situações descritas
a seguir.

3.1 Curto‑circuito

Conforme já demonstrado, a intensidade de corrente elétrica em um resistor é diretamente


proporcional à tensão e inversamente proporcional a sua resistência. Pode‑se idealizar um
determinado elemento (bipolo ou resistor) que apresente uma resistência tão baixa a ponto de
poder ser desprezada. Se esse bipolo ideal de resistência igual a zero for ligado diretamente a uma
fonte de tensão ideal, a corrente que irá circular no bipolo será infinita. A figura a seguir ilustra a
situação descrita.

21
Unidade I

+ i

Fonte de tensão ideal VAB


R=0

Figura 5

A figura apresenta uma fonte de tensão ideal em cujos terminais A e B é ligado um bipolo resistor
com resistência igual a zero. A situação pode ser demonstrada pela equação a seguir.

V
i = lim = ∞, VAB = R.I = 0.I = 0
R→0 R

Ou seja, em um caso ideal, a corrente i na situação de curto‑circuito é infinita. Obviamente, essa


condição nunca é observada na prática, principalmente em razão da limitação das fontes de tensão, que
sempre apresentam resistência interna e têm capacidade limitada de produção de energia. No entanto,
deve‑se evitar ao máximo essa situação, pois as correntes envolvidas serão fatalmente bastante elevadas,
podendo causar graves acidentes, dependendo da magnitude das correntes envolvidas. Observa‑se
também que a tensão VAB nos terminais do bipolo é igual a zero nessa situação.

3.2 Circuito aberto

A figura a seguir apresenta a condição para circuito aberto.

+ i

VAB
Fonte de tensão ideal R=∞

Figura 6

22
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

A equação a seguir demonstra essa situação.

V
i = lim = 0, VAB = VAB
R→∞ R

Ou seja, no caso de um circuito aberto, a corrente é igual a zero, e a tensão nos terminais do bipolo
é igual à tensão da fonte.

Observação

O curto‑circuito, de maneira geral, deve ser evitado, pois pode levar


à circulação de correntes elevadas, as quais podem causar danos às
instalações elétricas, caso o dispositivo de proteção não atue. No entanto,
em eletrônica, muitas vezes o curto‑circuito é utilizado para cálculo de
filtros, determinações de equivalentes e outras situações.

3.3 Nós, ramos e malhas

Os elementos de um circuito elétrico podem ser interligados de várias maneiras diferentes.


Pode‑se, em geral, considerar um circuito elétrico como uma rede. Nesse caso, na chamada topologia
de rede, estudam‑se as propriedades relativas à inserção de elementos nela. Esses elementos são
ramos, nós e malhas.

• Nó: um ponto no circuito elétrico em que dois ou mais terminais são ligados, podendo ser terminais
de quaisquer elementos do circuito.

• Ramo: é o caminho entre dois nós, sendo a corrente elétrica a mesma ao longo do ramo.

• Malha: caminho fechado percorrido dentro de um ramo


Observe a figura a seguir.
Nó 1 Nó 2

R1
12 Ω

V1 I2 I3 V2
12 V R2 R3 34 V
I1 22 Ω 22 Ω

Nó 3

Figura 7 – Representação dos nós, ramos e malhas

23
Unidade I

Podem ser vistos no circuito elétrico mostrado nós, ramos e malhas. Nós: o nó 1, que interliga os
terminais da fonte de tensão V1 e a resistência R1, o nó 2, que interliga os terminais de R1, R3 e a fonte
de tensão V2 e o nó 3, que interliga os terminais de V1, R2, R3 e V2. Há também ramos: do nó 1 até o nó
2, tem‑se um ramo (são interligados pelo resistor R1); do nó 2 até o nó 3, tem‑se três ramos, pois os dois
nós são interligados pelos resistores R2, R3 e a fonte V2; do nó 1 até o nó 3, tem‑se um ramo, formado
pela ligação da fonte V1 e o nó 3. Por fim, estão presentes algumas malhas: a primeira malha (I1) é
formada pela fonte de tensão V1 e os resistores R1 e R2, a segunda malha (I2) é formada pelos resistores
R2 e R3 e a terceira malha (I3) é formada pelo resistor R3 e a fonte de tensão V2.

3.4 Associação de resistores

Associação de resistores é uma forma organizada de ligação de resistores utilizada quando se requer
uma resistência diferente daquela que poderia ser obtida de um resistor individual. Há três tipos de
associação: em paralelo, em série e mista.

Por meio dessa associação é possível encontrar um resistor equivalente. A tensão presente em cada
resistor pode ser calculada com a primeira lei de Ohm.

V=R*I

Onde:

• V é a diferença de potencial elétrico (ddp), medida em volts (V);

• R é a resistência, medida em ohm (Ω);

• I é a intensidade da corrente elétrica, medida em amperes (A).

3.5 Associação de resistores em série

Na associação de resistores em série, os resistores são ligados em sequência e na mesma direção.


Dessa forma, a corrente elétrica é mantida ao longo do circuito, enquanto a tensão elétrica em cada
resistor pode variar.
R1 R2 R3

v
Figura 8 – Associação em série de resistores

24
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Assim, a resistência equivalente (Req) de um circuito corresponde à soma da resistência de cada


resistor presente no circuito.

Req = R1 + R2 + R3 + Rn

3.6 Associação de resistores em paralelo

Na associação de resistores em paralelo, os resistores são ligados como na figura a seguir.


Nesse circuito, a tensão elétrica se mantém a mesma. Assim, a corrente elétrica é dividida entre os
resistores R1, R2 e R3.
I

I1 I2 In

R1 R2 Rn
v

Figura 9 – Associação de resistores em paralelo

A resistência equivalente desse circuito é dada pelas equações mostradas a seguir.

1 1 1 1 1
= + + +
Req R1 R2 R3 Rn

ou

1
Req =
1 1 1 1
+ + +
R1 R2 R3 Rn

Caso o circuito seja composto de apenas dois resistores, pode ser usada uma fórmula simplificada,
indicada a seguir.

R1R2
Req =
R1 + R2

25
Unidade I

Exemplo de aplicação

1. Considere uma associação em série de resistores, em que cada resistor vale 15 Ω. Calcule o resistor
equivalente do circuito.

Resolução

Usando a equação: Req = R1 + R2 + R3

Req = 15 + 15 + 15 = 45 Ω

2. Considere uma associação paralela de três resistores, com R1 = 10 Ω, R2 = 15 Ω e R3 = 5 Ω. Calcule


o resistor equivalente do circuito.

Resolução

Usando a equação:

1
Req =
1 1 1 1
+ + +
R1 R2 R3 Rn

1
Req = = 2,7273Ω
1 1 1
+ +
10 15 5

Observação

A associação em série possui algumas características importantes: a


corrente no circuito é sempre a mesma, a resistência equivalente é sempre
maior que o maior resistor do circuito e as tensões no circuito se dividem
de acordo com os valores dos resistores.

Já as principais características da associação paralela são: a tensão no


circuito é sempre a mesma, a resistência equivalente é sempre menor que
o menor resistor do circuito e as correntes no circuito se dividem de acordo
com os valores dos resistores.

26
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

3.7 Fontes de tensão e fontes de corrente

3.7.1 Fonte de tensão ideal

Define‑se como fonte de tensão ideal um dispositivo que fornece uma determinada diferença
de potencial constante independentemente do valor da carga conectada a essa fonte. A simbologia
normalmente utilizada é indicada a seguir.
V2
V1 + +

Figura 10 – Símbolos mais usados para fontes de tensão

Considere o circuito mostrado na figura a seguir.


R1
A B

VAB

I
V1

Figura 11 – Fonte de tensão ideal

O esquema mostra uma fonte de tensão V1 alimentando um resistor variável R1. De acordo com o
conceito apresentado de fonte de tensão, a queda de tensão VAB, que poderia ser medida ou calculada sobre
o resistor R1, é sempre constante e é exatamente igual a V1, independentemente do valor ajustado em R1.
Obviamente, para manter a tensão VAB sempre constante, existe uma variação da corrente i, calculada pela
lei de Ohm, que depende do valor ajustado em R1. O gráfico a seguir ilustra o comportamento do circuito.
v

VAB

R1
Figura 12 – Curva da tensão em função de R1

27
Unidade I

Com base no gráfico, verifica‑se que a tensão VAB se mantém constante independentemente do
valor de R1.

3.7.2 Fonte de tensão real

Infelizmente, em muitas das aplicações práticas não é possível utilizar o modelo de fonte de tensão
ideal, isso porque as fontes de tensão reais não conseguem fornecer uma quantidade ilimitada de
energia (necessária para manter a tensão nos terminais sempre constante). Assim, é necessário usar um
outro modelo, como representado a seguir, em que a fonte de tensão real é representada como uma
fonte de tensão ideal em série com um resistor Ri. Esse resistor representa uma resistência de perdas,
inerente a todas as fontes de alimentação práticas.
I R1
A B

Ri VAB

V1

Figura 13 – Fonte de tensão real

O gráfico apresentado a seguir mostra o comportamento da fonte de tensão real.


v

VAB

R1

Figura 14 – Fonte de tensão real

Por meio do gráfico, verifica‑se que agora a tensão VAB não é mais constante e pode variar, dependendo
do valor ajustado em R1. Claro que essa variação depende de Ri. Quanto menor o valor de Ri (resistência
interna da fonte), menor a variação de VAB em função da variação de R1.

28
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

3.7.3 Fonte de corrente ideal

Define‑se como fonte de corrente ideal um dispositivo que forneça uma determinada corrente,
constante, independentemente do valor da carga conectada a ela. A seguir é mostrada a simbologia
normalmente utilizada.

I1

Figura 15 – Símbolo da fonte de corrente

Considere o circuito mostrado a seguir.

I R1
A B

VAB

I1

Figura 16 – Fonte ideal de corrente

Nele, a corrente i sempre será igual a i1, independentemente do valor ajustado em R1. Obviamente,
para que a corrente no circuito seja constante, é necessário que a tensão fornecida pela fonte de
corrente seja variável. No limite, quando R1 tender ao infinito, a tensão fornecida por i1 deverá
tender ao infinito de forma a manter a corrente no valor i1. Na prática, no entanto, essa situação
não ocorre porque as fontes reais de corrente fornecem uma quantidade limitada de corrente em
função das necessidades do projeto.

3.7.4 Associação de fontes: fontes de tensão e associação em série

Às vezes, em alguma aplicação, é necessária uma tensão superior à fornecida por uma única fonte de
tensão. Nesses casos, é necessário ligar as fontes de tensão individuais em série, de modo a se conseguir
a tensão necessária ao circuito.

29
Unidade I

Observação

Como não existem pilhas de 6 V no mercado, rádios que demandam


6 V podem ser utilizados com 4 pilhas de 1,5 V em série.

As baterias de automóveis são formadas, internamente, por 6 células


de 2 V cada, ligadas em série, de forma a fornecer os 12 V necessários ao
seu funcionamento.

A figura a seguir ilustra a associação em série de fontes de tensão.

V2 V3

1.5 V 1.5 V

V1
1.5 V

Figura 17 – Associação em série de fontes de tensão

Nessa figura temos três fontes de tensão de 1,5 V cada ligadas em série, fornecendo uma tensão
total de 4,5 V (conforme a indica o multímetro).

Observação

Um multímetro digital é uma ferramenta de teste usada para medir


sinais elétricos (tensão, corrente e resistência). Trata‑se de um aparato
muito utilizado por técnicos nas indústrias elétrica e eletrônica.

Os medidores analógicos têm sido substituídos por suas versões digitais


há algum tempo. Entre outras razões, está o fato de medir com maior
precisão, confiabilidade e maior impedância.

3.7.5 Associação de fontes: fontes de tensão e associação em paralelo

Quando um determinado circuito tem uma demanda de corrente superior àquela que poderia ser
fornecida por uma fonte de tensão individual, pode‑se ligar as fontes de tensão em paralelo, de forma
a atender tal demanda. Observe a figura a seguir.
30
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

V1 V2 V3
1.5 V 1.5 V 1.5 V

Figura 18 – Associação em paralelo de fontes de tensão

Observação

Bancos de baterias são formados por duas ou mais baterias ligadas


em paralelo de forma a atender a uma demanda de corrente superior à
corrente que cada bateria poderia fornecer individualmente. As tensões das
baterias interligadas, obviamente, deverão ser iguais.

3.7.6 Conversão de fontes

Utilizando a lei de Ohm, pode‑se converter facilmente uma fonte de tensão em fonte de corrente e
vice‑versa. Às vezes, essa operação é necessária para se conseguir uma simplificação de circuitos.

Observe na figura a seguir a conversão de fonte de tensão para fonte de corrente.


R1 1 1

I1 R2
+
-
V1
2 2

Figura 19 – Equivalência entre fonte de tensão e fonte de corrente

A fonte de tensão V1 em série com o resistor R1 pode ser convertida em uma fonte de corrente i1 em
paralelo com um resistor R2. Os cálculos são muito simples.

Da lei de Ohm, temos:

V1
I1 = e R2 = R1
R1
31
Unidade I

A operação inversa pode ser utilizada para se determinar uma fonte de tensão equivalente com base
em uma fonte de corrente em paralelo com um resistor.

Observação

No caso de fontes de tensão ideais em série, adotadas as polaridades


corretas, somam‑se as tensões de cada fonte individual. A tensão da
fonte equivalente obtida será sempre maior que a tensão da maior fonte
individual da série.

No caso de fontes de corrente ideais em paralelo, adotadas as polaridades


corretas, somam‑se as correntes de cada fonte individual. A corrente da
fonte equivalente obtida será a soma das correntes das fontes individuais.

3.7.7 Lei de Kirchhoff das tensões (LKT)

A LKT diz que, em um determinado percurso fechado, a soma das quedas e elevações de tensão
devem ser nulas. Entende‑se por queda de tensão a tensão que pode ser medida ou calculada em
um elemento passivo (resistor). Já elevação de tensão é a tensão que é gerada ou acumulada por
algum dispositivo que gere diferença de potencial elétrico. Em outras palavras, a soma das quedas
de tensão nos resistores deve ser igual à tensão da fonte.

4 CONVENÇÕES

De forma a facilitar as análises e evitar erros de interpretação, deve‑se adotar uma metodologia
bastante clara com relação ao sentido do fluxo da corrente e das quedas de tensão nos elementos
passivos. Assim, neste curso adota‑se o sentido convencional da circulação da corrente (positivo para o
negativo). Com o auxílio de setas colocadas em locais apropriados, indicam‑se os sentidos corretos das
elevações e das quedas de tensão.

A figura a seguir ilustra as convenções utilizadas.


R1 R2 R3

VR1 VR2 VR3

V1

Percurso da corrente i

Figura 20 – Elevação e quedas de tensão em um circuito

32
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Com base na figura, pode‑se observar que:

• é arbitrado um sentido de circulação da corrente i (positivo para o negativo);

• a fonte de alimentação tem uma seta associada de tal forma que a ponta da seta sempre aponta
para o positivo;

• os resistores têm setas associadas indicando as quedas de tensão de tal forma que a ponta de
cada seta sempre aponta no sentido inverso ao sentido da corrente adotada.

Dessa forma, pode‑se aplicar agora a LKT no circuito.

V1 − VR1 − VR2 − VR3 = 0

ou

V1 = VR1 + VR2 + VR3

Então:

V1 = R1I + R2I + R3I


V1 = I(R1 + R2 + R3 )
V1
= (R1 + R2 + R3 )
I
Pode‑se, portanto, comprovar que, no caso de resistores em série, a resistência equivalente é a soma
das resistências dos resistores individuais.

Exemplo de aplicação

1. No circuito mostrado na figura a seguir, calcule a corrente i e a queda de tensão em todos os resistores.
R1 R2 R3

1 kΩ 200 Ω 300 Ω

V1
12 V

Figura 21 – Aplicação da lei de Kirchhoff das tensões

33
Unidade I

Resolução

Usando LKT:

V1 = R1I + R2I + R3I


V1 = I(R1 + R2 + R3 )
V1 12
I= = = 0,008 A
R1 + R2 + R3 1.000 + 200 + 300
VR1 = R1I = 1.000(0,008) = 8V
VR2 = R2I = 200(0,008) = 1,6V
VR3 = R3I = 300(0,008) = 2,4V

A soma das tensões VR1 + VR2 + VR3 = 12 V.

2. No circuito mostrado a seguir, calcule a corrente i e a queda de tensão em todos os resistores, além
das correntes que circulam nos resistores R2 e R3.
R1 A R3

1 kΩ 300 Ω

R2
V1 200 Ω
12 V

Figura 22 – Aplicação da lei de Kirchhoff das tensões

Resolução

R2 e R3 estão em paralelo, logo, é necessário determinar a Req1.

A resistência equivalente total será:

Req = R1 + Req1
Req = 1.000 + 120 = 1.120Ω

34
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

A corrente i será:

V1 12
I= = = 0,0107A
Req 1120

A queda de tensão nos resistores e as correntes IR2 e IR3 serão:

VR1 = R1I = 1.000(0,0107) = 10,714A


VR2 = VR3 = VReq1 = Req1I = 120(0,0107) = 1,285V
VR2 1,285
IR2 = = = 0,0064A
R2 200
VR3 1,285
IR3 = = = 0,00428A
R3 300

4.1 Divisor de tensão

Permite simplificar os cálculos usando uma relação entre resistores e a fonte de alimentação.

Exemplo de aplicação

Use um divisor de tensão para calcular a queda de tensão sobre o resistor R2 no circuito
apresentado a seguir.
R1

200 Ω

R2
V1 100 Ω
1,5 V

Figura 23 – Divisor de tensão

35
Unidade I

Resolução

Usando a equação a seguir, temos:

R2
VR2 = V1
R1 + R2
100
VR2 = 1,5 = 0,5V
200 + 100

Lembrete

O conceito de divisor de tensão pode ser utilizado sempre, por meio


da aplicação da lei de Ohm diretamente ao circuito ou aplicado à equação
simplificada, quando se tem apenas dois resistores envolvidos.

4.2 Lei de Kirchhoff das correntes (LKC)

A lei dos nós determina que, em qualquer instante, é nula a soma algébrica das correntes que entram
(ou saem) de qualquer nó. Ou seja, a soma das correntes que entram em um nó deve ser igual à soma
das correntes que saem desse nó. A figura a seguir é um esquema representativo da lei dos nós.

i4

i1

i3
A
i2

Figura 24 – Lei dos nós

É claro que se deve adotar uma convenção de forma a realizar a soma das correntes de maneira
correta. A seguir estão as principais convenções.

• Corrente que entra no nó A = positiva, e a corrente que sai do nó A = negativa. Assim:

i2 + i4 − i1 − i3 = 0

36
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

• Corrente que entra no nó A = negativa, e a corrente que sai do nó A = positiva. Assim:

−i2 − i4 + i1 + i3 = 0

4.3 Divisor de corrente

O divisor de corrente permite calcular facilmente a corrente em determinado resistor, bastando


saber a corrente injetada no nó e o valor dos resistores envolvidos.

Exemplo de aplicação

Calcule a corrente que circula no resistor R2 do circuito mostrado a seguir usando o divisor
de corrente.
R1 A R2

200 Ω 200 Ω
I1
1A
R3
1.0 kΩ

Figura 25

Resolução

Podemos utilizar a equação a seguir para chegar ao resultado desejado.

R3
IR2 = I1
R2 + R3

1000
IR2 = 1 = 0,833A
200 + 1000

37
Unidade I

4.4 Transformação estrela‑triângulo

Em certas situações, em análise de circuitos, os resistores podem não estar em paralelo nem em série.
Observe o caso a seguir.
R1

R2 R3
v
R4
+
-

R5 R6

Figura 26 – Associação complexa de resistores

Observa‑se que os resistores R1 a R6 não estão em série nem em paralelo. Muitos circuitos desse tipo
podem ser simplificados utilizando equivalentes triângulo‑estrela. Pode‑se usar o esquema mostrado a
seguir como guia para realizar a simplificação do circuito.
Rc
a b
R1 R2

Rb Ra

R3

Figura 27 – Relações para transformação estrela‑triângulo

Com base nesse esquema, podemos deduzir as equações de transformação.

38
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Transformação triângulo‑estrela

RbRc
R1 =
Ra + Rb + Rc

RaRc
R2 =
Ra + Rb + Rc

RaRb
R1 =
Ra + Rb + Rc

Transformação estrela‑triângulo
R R +R R +R R
Ra = R11R22 + R22R33 + R11R33
Ra = R1
R1

R R +R R +R R
Rb = R11R22 + R22R33 + R11R33
Rb = R2
R2

R R +R R +R R
Rc = R11R22 + R22R33 + R11R33
Rc = R3
R3

Exemplo de aplicação

Calcule a corrente IR6 do circuito a seguir.


a

R6
12 Ω
R5 R1
V1 22 Ω 22 Ω
12 V R7
100 Ω
c b
R3
400 Ω
R4 R2
50 Ω 40 Ω

Figura 28 – Exemplo de aplicação

39
Unidade I

Resolução

Analisando o circuito, observa‑se que, se a estrela formada pelos resistores R3, R5 e R6 for transformada
em um triângulo, obtemos uma simplificação significativa do circuito, sem a necessidade de recorrer à
análise de malhas. Assim, alterando o circuito original:
a

Rb
R5

Rc R7

R4
Ra

Figura 29 – Simplificação do circuito

Dessa forma, conseguimos determinar facilmente a resistência equivalente entre os pontos A e


B. Pode‑se perceber que a resistência equivalente 1 é igual ao paralelo de R5 com RB em série com o
paralelo de R4 e RA. Esse equivalente deve ser associado em paralelo com RC e R7. Assim:

RbR5 RR
Req1 = + a 4 = 69,217Ω
Rb + R5 Ra + R4

1
Req = = 24,98Ω
1 1 1
+ +
Req Rc R7

A corrente IR6 será:

V
IR6 = 1 = 0,480A
Req

40
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

4.5 Análise de malhas

Para circuitos mais complexos, compostos principalmente de fontes de tensão e resistores, pode‑se
utilizar a análise de malhas, uma sistematização da lei de Kirchhoff das tensões. Para maior clareza, o
método será apresentado tendo por base o circuito mostrado a seguir.
A

R1 R2
2Ω 5Ω
V3
16 V
R3
V1 4Ω
24 V

V2
12 V

Figura 30 – Análise de malhas

No circuito apresentado, deseja‑se calcular as correntes que circulam nos resistores R1, R2 e R3.
Observa‑se que esse circuito é formado por dois circuitos fechados, que, em geral, denominam‑se
malhas. A figura seguinte mostra as malhas do circuito.
A

R1 R2
2Ω 5Ω
V3
16 V
R3
V1 4Ω
24 V
I1 I2

V2
12 V

Figura 31 – Representação das correntes de malha

Para a resolução desse circuito por meio da análise de malhas, podemos usar as seguintes regras:

• arbitra‑se as correntes de malha i1 e i2;

• com base no sentido arbitrado, e usando LKT, determinam‑se as equações de cada malha;
41
Unidade I

• com o sistema montado, pode‑se resolver o problema por substituição ou por matrizes (em nosso
curso, utilizaremos o sistema matricial para a resolução de tais questões).

Aplicando LKT na malha 1, temos:

V1 − R11
I − R3I1 + R3I2 = 0
V1 − V2 = R11
I + R3I1 − R3I2
V1 − V2 = (R1 + R3 )I1 − R3I2

Aplicando LKT na malha 2, temos:

V2 − R3I2 + R3I1 − R2I2 + V3 = 0


V2 + V3 = +R3I2 − R3I1 + R2I2

V2 + V3 = −R3I1 + (R2 + R3 )I2

Rearranjando esse sistema na forma matricial, temos:

(R1 + R3 ) −R3  I1   V1 − V2 


 −R   =  
 3 (R2 + R3 ) I2   V2 + V3 
Assim, de forma resumida:

RI = V

O sistema encontrado pode ser resolvido de diversas formas, inclusive com a inversão direta da
matriz R (detalhes sobre a resolução de sistemas matriciais lineares podem ser obtidos em qualquer bom
livro de cálculo; em nosso curso utilizaremos o método de Cramer para a solução de sistemas lineares).
Supõe‑se que todos os problemas a serem resolvidos recaiam, no máximo, em matrizes 3x3. Sistemas
com matrizes de maiores dimensões devem ser resolvidos com auxílio de uma calculadora programável
ou de um computador com um programa de cálculo adequado.

Saiba mais

Para aprimorar os conhecimentos sobre matrizes e determinantes,


consulte a obra indicada a seguir.

TROTTA, F. Matemática por assunto: sistemas lineares, matrizes e


determinantes. São Paulo: Scipione, 1988.

42
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

4.5.1 Método de Cramer

A seguir está o passo a passo que poderá ser aplicado em qualquer circuito, usando a análise de malhas.

• Calcular o determinante da matriz R, chamado de delta.

• Substituir, na primeira coluna da matriz R, o vetor V e calcular o novo determinante de R’ (esse


determinante será chamado delta 1).

• Substituir, na segunda coluna da matriz R, o vetor V e calcular o novo determinante de R’’ (esse
determinante será chamado delta 2).

• Os valores das correntes i1 e i2 são calculados como:

∆1 ∆2
I1 = I2 =
∆ ∆

Então, considerando os valores do circuito apresentado, tem‑se:

(2 + 4) −4  I1  24 − 12


 −4   =  
 (4 + 5) I2  12 + 16 
 6 −4  I1  12 
 −4 9  I  = 28
   2  

 6 −4 
R=  
 −4 9 

∆ = det[R] = 38

12 −4 
R' =  
28 9 

∆1 = det[R'] = 220

 6 12 
R'' =  
 −4 28

43
Unidade I

∆2 = det[R''] = 244

∆1 220
I1 = = = 5,789A
∆ 38

∆2 216
I2 = = = 5,684A
∆ 38

I3 = I1 − I2 = 5,7895 − 5,6842 = 0,1053A

Exemplo de aplicação

Determine as correntes de malha para o circuito apresentado a seguir.


R1 R2 R3
1Ω 2Ω 3Ω

R5 I2 V4
5Ω 12 V

V3
V1 12 V
12 V
V2
I1 11 V I3
R4
4Ω

Figura 32 – Representação das correntes de malha em um circuito

Resolução

Passo 1: verificar se existe alguma possibilidade de simplificação do circuito antes de inicializar as


análises mais complexas. No caso do exemplo anterior, não existe nenhuma simplificação possível.

Passo 2: como só existem fontes de tensão e resistores, é possível usar o método matricial para a
resolução do circuito. Pode‑se montar o sistema matricial facilmente por inspeção.

a) Como existem três malhas, a matriz tem dimensão 3x3.

b) Diagonal principal → valores sempre positivos.


44
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

— Elemento (1,1) → soma de todos os resistores da malha 1.

— Elemento (2,2) → soma de todos os resistores da malha 2.

— Elemento (3,3) → soma de todos os resistores da malha 3.

c) Fora da diagonal principal → valores sempre negativos.

— Elemento (1,2) → resistor percorrido pelas correntes i1 e i2.

— Elemento (1,3) → resistor percorrido pelas correntes i1 e i3.

— Elemento (2,1) → resistor percorrido pelas correntes i2 e i1.

— Elemento (2,3) → resistor percorrido pelas correntes i2 e i3.

— Elemento (3,1) → resistor percorrido pelas correntes i3 e i1.

— Elemento (3,2) → resistor percorrido pelas correntes i3 e i2.

d) Vetor das tensões.

— Elemento 1 → percorrer a malha 1 e obter a soma de todas as fontes de tensão envolvidas.

— Elemento 2 → percorrer a malha 2 e obter a soma de todas as fontes de tensão envolvidas.

— Elemento 3 → percorrer a malha 3 e obter a soma de todas as fontes de tensão envolvidas.

Então, procede‑se à montagem do sistema matricial correspondente:

(R1 + R4 + R5 ) −R5 −R4  I1   V1 − V2 



 −R5 (R2 + R5 ) 0  I2  =  V2 − V4 
 −R4 0 (R3 + R4 ) I3   V4 − V3 

(1 + 4 + 5) −5 −4  I1  12 − 11



 −5 (2 + 5) 0  I2  = 11 − 12 
  
 −4 0 (3 + 4) I3  12 − 12

Resolvendo o sistema, temos:

45
Unidade I

I1 = 0,0689A
I2 = ‑0,0935A
I3 = 0,0394A

Lembrete

A análise de malhas é utilizada para circuitos contendo fontes de tensão


e resistores. Havendo fontes de corrente, essas deverão ser transformadas
em fontes de tensão por meio das técnicas já estudadas.

Para a resolução de circuitos com matrizes, a primeira coisa a ser


observada é o número de correntes de malha envolvidas. A dimensão da
matriz R será sempre igual ao número de corrente de malha do circuito.

4.6 Análise nodal

Para circuitos compostos principalmente por fontes de corrente e resistores, pode‑se utilizar a
análise nodal, uma sistematização da lei de Kirchhoff das correntes. Para maior clareza, o método será
apresentado tendo por base o circuito mostrado a seguir.
R5
A 5Ω B

I1 R1 R3 I3
1A 2Ω 1.0 kΩ 1A

Figura 33 – Análise nodal

No circuito apresentado, deseja‑se calcular as tensões nos nós A e B. Considerando o nó A:

I1 = IR1 + IR5

46
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

VA VAB
I1 = +
R1 R5

VA VA VB
I1 = + −
R1 R5 R5

1 1 1
I1 = VA  +  − VB  
 R1 R5   R5 

Considerando o nó B:

−I3 = −IR5 + IR3

VAB VB
−I3 = − +
R5 R3

VA VB VB
−I3 = − + +
R5 R5 R3

1 1 1
−I3 = − VA   + VB  + 
 R5   R3 R5 

Colocando na forma matricial:

 1 1  1 
 +  − 
 R1 R5  R5   VA  =  I1 
    
 1 1    VB   −I3 
 − 1 
 R5  R + R  
3 5 

Observa‑se que o sistema resultante é muito parecido com aquele obtido pela análise de malhas. A
diferença principal é que agora determinam‑se as tensões nos nós A e B e os resistores são representados
por condutâncias (1/R). O sistema resultante pode ser representado de forma resumida:

YV = I

47
Unidade I

Onde Y representa a matriz contendo as condutâncias (1/R) do circuito. Para a resolução desse
sistema, pode ser utilizado o método de Cramer. Para a resolução do exercício, devem ser seguidos os
passos descritos a seguir.

Passo 1: verifique se existe alguma possibilidade de simplificação do circuito antes de inicializar as


análises mais complexas. Para o exemplo, não existe nenhuma simplificação possível.

Passo 2: como só existem fontes de corrente e resistores, é possível usar o método matricial para a
resolução do circuito. Pode‑se montar o sistema matricial facilmente por inspeção.

a) Como existem dois nós (A e B), a matriz tem dimensão 2x2.

b) Diagonal principal → valores sempre positivos.

— Elemento (1,1) → soma de todas as condutâncias que chegam ao nó A.

— Elemento (2,2) → soma de todas as condutâncias que chegam ao nó B.

c) Fora da diagonal principal → valores sempre negativos.

— Elemento (1,2) → condutância que interliga os nós A e B.

— Elemento (2,1) → condutância que interliga os nós B e A.

d) Vetor das correntes.

— Elemento 1 → obter a soma líquida de todas as correntes no nó A.

— Elemento 2 → obter a soma líquida de todas as correntes no nó B.

Substituindo os valores, temos:

 1 1  1 
 2 + 5  −  V
  A  =  
5 1
 
 1  1 1    VB   −1
 −  + 
 5  1.000 5  

Então, resolvendo o sistema por Cramer:

48
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

 0,7 −0,2 
∆ = det(Y) = det   = 0,1007
 −0,2 0,201

 1 −0,2 
∆1 = det(Y ') = det   = 0,001
 −1 0,201

 0,7 1 
∆2 = det(Y ") = det   = −0,5
 −0,2 −1

De onde:

∆1
VA = = 0,00993V

∆2
VB = = ‑4,965V

Lembrete

A análise nodal é utilizada para circuitos contendo fontes de corrente e


resistores. Havendo fontes de tensão, estas deverão ser transformadas em
fontes de corrente por meio das técnicas já estudadas.

Para a resolução de circuitos com matrizes, a primeira coisa a ser


observada é o número de nós presentes no circuito. A dimensão da matriz
Y será sempre igual ao número de nós do circuito.

4.7 Equivalente de Thevenin

Um circuito linear complexo, composto por fontes de tensão, corrente e elementos passivos,
pode ser representado a partir de dois terminais por meio de uma fonte de tensão independente
em série com uma resistência, conforme ilustrado a seguir. O valor da tensão da fonte é a tensão
obtida nos terminais A‑B quando em circuito aberto (tensão de Thevenin, VAB = VTh), e a resistência
de Thevenin (RTh) é a resistência equivalente obtida com base nos terminas A‑B, com todas as
fontes independentes desativadas.

49
Unidade I

a a

RTh RTh
+ +
Circuito complexo
V linear VTh
Th

- -

b b

Figura 34 – Equivalente de Thevenin

4.7.1 Utilização do equivalente de Thevenin

Em muitas situações existe a necessidade de se determinar a tensão, a corrente e a potência em


apenas um ramo (componente) de um circuito. Assim, pode‑se prescindir da determinação de tensões
e correntes em todos os ramos do circuito. Dessa forma, o teorema de Thevenin permite, com base em
dois terminais, determinar um circuito equivalente simples, podendo substituir uma rede complexa e
simplificar a resolução.

Exemplo de aplicação

No circuito a seguir, determine o equivalente de Thevenin nos pontos A e B. Na sequência, com o


equivalente determinado, calcule a corrente que circula pelo resistor R5 (resistor de carga).
R1 R2
2Ω A 5Ω A

R3 R5
I1 4Ω
V1 1A 4Ω
24 V
R4
4Ω

V3
12 V
B

Figura 35 – Circuito complexo para aplicação do teorema de Thevenin

Resolução

Inicialmente, o circuito pode ser dividido em duas partes.

50
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

R1 R2
2Ω A 5Ω A

R3 R5
I1 4Ω
V1 1A 4Ω
24 V
R4
4Ω

V3
12 V
B

Circuito completo Carga

Figura 36 – Separação do circuito complexo

Deseja‑se transformar o circuito complexo em um equivalente de Thevenin, ligar o equivalente


à carga e calcular a corrente que circula pela carga. A seguir, temos um passo a passo para a
resolução do problema.

1) Desligar a carga (resistor R5).

2) Desativar todas as fontes do circuito complexo (curto‑circuitar as fontes de tensão e abrir as


fontes de corrente).

3) Calcular (ou medir) a resistência entre os pontos A e B (essa resistência é a resistência de Thevenin).

4) Reativar todas as fontes do circuito complexo.

5) Calcular a tensão nos pontos A e B (essa é a tensão de Thevenin).

Aplicando no circuito mostrado, temos:


A A

R1 R2
2Ω 5Ω

R3
R4 4Ω
4Ω

Figura 37 – Determinação da resistência de Thevenin

51
Unidade I

Com as fontes desativadas e a carga desligada, deve‑se determinar a resistência entre os pontos A e B.

RAB = RTh = 6 ohms

Ativando as fontes, temos:


R1 R2
2Ω A 5Ω A

I1 R3
V1 1A 4Ω
24 V
R4
4Ω

V3
12 V
B

Figura 38 – Determinação da tensão de Thevenin

A tensão nos pontos A e B corresponde à tensão de Thevenin e pode ser facilmente calculada
transformando as fontes de tensão em fontes de corrente. Observe o procedimento na figura
a seguir.
A
5Ω

2Ω 12 A 4Ω 1A 4Ω 3A

Figura 39 – Transformação de fontes de tensão em fontes de corrente

A seguir, as fontes de corrente são somadas, resultando em uma única fonte de corrente em paralelo
com um resistor, conforme mostrado na figura.

52
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

5Ω

1Ω
16 A

Figura 40 – Simplificação para uma única fonte de corrente

Finalmente, transformando a fonte de corrente de 16 A em paralelo com o resistor em uma fonte


de tensão, temos:
A

1Ω 5Ω

16 V

Figura 41 – Equivalente de Thevenin

Portanto, a tensão nos pontos A e B é de 16 volts.

Assim, o equivalente de Thevenin é:

RTh
6Ω
VTh
16 V

Equiv Thevenin

Figura 42 – Equivalente de Thevenin completo

53
Unidade I

Ligando‑se a carga (resistor R5), cabe determinar a corrente iR5.

A IR5

RTh
6Ω
VTh R5
16 V 4Ω

Equiv Thevenin Carga


Figura 43 – Equivalente de Thevenin ligado à carga

IR5 = 16/10 = 1,6 A

Observação

O equivalente de Thevenin é de extrema utilidade, tanto em circuitos


elétricos como em eletrônica. Muitos cálculos para circuitos transistorizados
podem ser muito simplificados lançando‑se mão dessa abordagem.

4.8 Equivalente de Norton

Circuitos lineares podem também ser representados por meio de uma fonte de corrente em paralelo
com uma resistência, conforme mostrado na figura a seguir. O valor da corrente da fonte é a corrente
que circula do terminal A para o terminal B quando esses são curto‑circuitados (também chamada
corrente de Norton e representada por IN). A resistência de Norton (RN) é aquela obtida dos terminais
A‑B quando todas as fontes são desativadas. A resistência dos circuitos de Thevenin e Norton são
idênticas, bastando que uma seja determinada para um dos circuitos equivalentes (RTh = RN).

a a

RTh
+ IN
Circuito complexo
V linear RN
Th

b b

Figura 44 – Equivalente de Norton

54
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Exemplo de aplicação

Vamos repetir o exercício anterior usando o equivalente de Norton.

Como RN = RTh, RN = 6 ohms.

A corrente de Norton é obtida curto‑circuitando os pontos A e B e, então, calculando (ou medindo)


a corrente que passa por esse fio. A figura a seguir demonstra esse procedimento.
R1 R2
2Ω A 5Ω A

IAB = IN
I1 R3
V1 1A 4Ω
24 V
R4
4Ω

V3 Curto‑circuito
12 V
B

Figura 45 – Determinação da corrente de Norton

Observando o circuito, pode‑se determinar facilmente a corrente de Norton: a parte complexa do


circuito pode ser substituída pelo seu equivalente de Thevenin. Com base no equivalente de Thevenin,
já obtido, temos:
A

RTh
6Ω

VTh IN
16 V

Figura 46 – Determinação da corrente de Norton

Portanto, a corrente de Norton será:

Vth 16
IN = = = 2,666A
Rth 6

55
Unidade I

Baseando‑nos nos valores determinados, pode‑se montar o equivalente de Norton, já ligando o


resistor de carga R5.

IR5

RN
IN 6Ω R5
2.667 A 4Ω

Equiv de Norton

Figura 47 – Equivalente de Norton ligado à carga

Usando o divisor de corrente, temos:

RN 6
IR5 = IN = 2,667 = 1,6 A
R5 + RN 4 +6

Então, verifica‑se que a corrente na carga (iR5) é idêntica para os dois equivalentes.
4.9 Princípio de superposição

O princípio de superposição é baseado na propriedade de linearidade e, portanto, se aplica a circuitos


lineares, os quais podem conter fontes de tensão e corrente, e componentes passivos lineares. O princípio
de superposição estabelece que, quando um circuito linear contiver mais de uma fonte independente, a
resposta do circuito pode ser obtida com base na resposta individual do circuito a cada uma das fontes
atuando isoladamente. Assim, pode‑se determinar a resposta do circuito considerando‑se as fontes uma
a uma e, ao final, somar algebricamente as respostas individuais. Para a solução de circuitos usando o
princípio de superposição, pode‑se seguir os passos indicados a seguir.

• Desativar todas as fontes independentes do circuito, exceto uma (lembrando que desativar significa
substituir fontes de tensão por curtos‑circuitos e fontes de corrente, por circuitos abertos).

• Calcular as respostas do circuito (tensões e correntes) para essa fonte individual.

• Repetir esses dois passos até que todas as fontes tenham sido consideradas individualmente.

• Determinar a resposta total somando‑se as respostas individuais de cada fonte (as tensões e correntes
obtidas serão a soma das tensões e correntes parciais obtidas no passo anterior). É fundamental
observar o sentido correto das correntes e a polaridade das tensões nas respostas parciais.

56
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Exemplo de aplicação

Determine a corrente iR3 (ou seja, a corrente que circula no resistor R3) no circuito mostrado a seguir
usando o princípio da superposição.
R1 R5 R2
2Ω 2Ω 2Ω

I1
1A
R3 V1
R4 1Ω 12 V
4Ω

Figura 48 – Circuito a ser aplicado o princípio da superposição

Resolução

Na resolução desse exercício, convém seguir os passos descritos a seguir.

1. Considerar inicialmente a fonte de tensão V1, desativando a fonte de corrente i1.


R1 R5 R2
2Ω 2Ω 5Ω

R3 V1
R4 1Ω 12 V
4Ω

Figura 49 – Desativação da fonte de corrente

2. Determinar a corrente iR3’, que corresponde à contribuição de V1.

iR3’ = 1,756 A

57
Unidade I

3. Considerar a fonte de corrente i1, desativando a fonte de tensão V1.


R1 R5 R2
2Ω 2Ω 5Ω

I1
1A
R3
R4 1Ω
4Ω

Figura 50 – Desativação da fonte de tensão

4. Determinar a corrente iR3’’, que corresponde à contribuição de i1.

iR3’’ = 0,488 A

5. A corrente iR3 será soma das contribuições parciais iR3’ e iR3’’. Assim:

iR3 = 1,756 + 0,488 = 2,244 A

Observação

Para desativar uma fonte de tensão, alguns fatores devem ser analisados.

Por exemplo: fontes de tensão devem ser curto‑circuitadas (esse


curto‑circuito, obviamente, não deve ser realizado de forma literal); a fonte
deve ser retirada do circuito e, em seu lugar, deve ser colocado um fio de
resistência zero (curto‑circuito); jamais se deve curto‑circuitar uma fonte de
tensão, principalmente baterias e acumuladores (isso pode provocar danos
ao acumulador e acidentes graves em razão das altas correntes envolvidas).

Resumo

O estudo dos circuitos elétricos é de grande importância para o


entendimento de vários fenômenos relacionados à energia elétrica. Vários
conceitos e fórmulas importantes, retomados resumidamente a seguir,
foram apresentados.
58
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Carga elétrica é o princípio básico que permite explicar todos os


fenômenos elétricos. É a quantidade mais básica em um circuito. A
carga elétrica é uma propriedade das partículas atômicas e tem como
unidade de medida o coulomb (C). A carga de um elétron é negativa e
igual a 1,602 × 10‑19 C.

Corrente elétrica pode ser definida como o fluxo ordenado de partículas


portadoras de carga elétrica (ou, também, como o deslocamento de cargas
dentro de um condutor quando existe uma diferença de potencial elétrico
entre as extremidades). No SI, a corrente elétrica é medida em amperes (A).

Tensão elétrica, de acordo com o conceito de corrente elétrica


apresentado, corresponde à energia necessária para mover os elétrons no
condutor; trata‑se da diferença de potencial entre dois corpos. As baterias
e pilhas criam uma ddp por meio de reações químicas, e as fontes de
alimentação transformam a energia potencial por meio de circuitos.

O circuito elétrico nada mais é do que um diagrama esquemático


utilizando uma simbologia padronizada.

Potência elétrica equivale à quantidade de trabalho realizado na


unidade de tempo. É dada em watt (W) e pode ser calculada por meio da
equação P = Vi.

Resistividade elétrica é a medida da oposição de um determinado


material à passagem da corrente elétrica. Já a resistência elétrica
corresponde à resistência elétrica R de um dispositivo e está relacionada
com a resistividade ρ de um material, de acordo com a expressão R   l .
s
Segundo a primeira lei de Ohm, em um condutor ôhmico (resistência
constante) mantido à temperatura constante, a intensidade (i) da corrente
elétrica será proporcional à diferença de potencial (ddp) aplicada entre suas
extremidades. A intensidade da corrente elétrica pode ser obtida por meio
da fórmula: i = V .
R
Curto‑circuito é a situação‑limite em que a resistência de um bipolo
é igual a zero. Já circuito aberto corresponde à situação‑limite em que a
resistência de um bipolo é infinita.

Nó é o nome dado a um ponto no circuito elétrico em que dois ou


mais terminais são ligados, podendo ser terminais de quaisquer elementos
do circuito. Ramo é o caminho entre dois nós (cabendo destacar que, ao
longo do ramo, a corrente elétrica é a mesma). Por fim, malha é o caminho
fechado percorrido dentro de um ramo.
59
Unidade I

Na associação de resistores em série, os resistores são ligados em


sequência e na mesma direção, sendo a corrente elétrica a mesma
em qualquer parte do circuito. A resistência equivalente é dada por:
R eq = R 1 + R 2 + R 3 +...+ R n.

Na associação de resistores em paralelo, os resistores são interligados


terminais com terminais, sendo a tensão elétrica a mesma em qualquer
parte do circuito. Nesse caso, a resistência equivalente é dada por:

1
Req =
1 1 1 1
+ + + ...
R1 R1 R1 Rn

É importante ainda lembrar que a fonte de tensão ideal fornece uma


tensão constante, não dependendo do valor da carga. Como a fonte não
tem resistência interna, pode‑se afirmar que a fonte de tensão ideal tem
resistência igual a zero.

Já no caso da fonte de tensão real, o fornecimento da tensão


depende da resistência interna Ri. Quanto maior a resistência interna,
maior a variação de VAB em função da variação da carga. Nesse caso,
geralmente não é possível desprezar Ri (resistência interna da fonte)
nos cálculos.

A fonte de corrente ideal fornece uma corrente constante, que não


depende do valor da carga.

Segundo a lei de Kirchhoff das tensões, em um determinado percurso


fechado, a soma das quedas e elevações de tensão devem ser nulas.

A lei de Kirchhoff das correntes diz que, em qualquer instante, é nula a


soma algébrica das correntes que entram em (ou saem de) qualquer nó. Ou
seja, a soma das correntes que entram em um nó deve ser igual à soma das
correntes que saem nesse nó.

Para circuitos complexos, compostos principalmente por fontes de


tensão e resistores, pode‑se utilizar o método chamado análise de malhas,
que nada mais é do que uma sistematização da lei de Kirchhoff das tensões.

Para circuitos compostos principalmente por fontes de corrente e


resistores, pode‑se utilizar o método chamado análise de nodal, que nada
mais é do que uma sistematização da lei de Kirchhoff das correntes.

60
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

Equivalente de Thevenin: um circuito linear, complexo linear, complexo,


composto por fontes de tensão, corrente e elementos passivos pode ser
representado a partir de dois terminais por meio de uma fonte de tensão
independente em série com uma resistência. A resistência de Thevenin é obtida
desativando todas as fontes do circuito e calculando a resistência equivalente
nos terminais do sistema estudado. A tensão de Thevenin é obtida calculando‑se
a tensão equivalente nos terminais do sistema. O teorema de Thevenin permite
que seja determinado um circuito equivalente simples a partir de dois terminais,
o qual pode substituir uma rede complexa e simplificar a resolução.

Equivalente de Norton: circuitos lineares podem também ser representados


por meio de uma fonte de corrente em paralelo com uma resistência, na qual
a corrente de Norton é obtida curto‑circuitando os terminais do sistema a
ser analisado e calculando a corrente que passa por esse curto‑circuito. A
resistência de Norton é a mesma que a resistência de Thevenin.

Princípio da superposição: baseado na propriedade de linearidade,


portanto, aplicando‑se a circuitos lineares, os quais podem conter
fontes de tensão e corrente, e componentes passivos lineares. O
princípio de superposição estabelece que quando um circuito linear
contiver mais de uma fonte independente, a resposta do circuito pode
ser obtida com base na resposta individual do circuito a cada uma das
fontes atuando isoladamente.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2014) A figura a seguir apresenta um sistema fotovoltaico isolado com
armazenamento, suprindo apenas cargas que funcionam em corrente contínua, já que o sistema não
conta com inversor.

Painel fotovoltaico
Cargas CC

Lâmpadas (20 LEDs - 1,2 W cada)


Bomba d'água (96 W)
Bateria
Rádio (24 W)

Figura 51

61
Unidade I

O circuito ilustrado na figura a seguir representa um modelo simplificado do sistema mostrado na


figura anterior. Na célula fotovoltaica ocorre uma queda de tensão quando os portadores de carga
migram do semicondutor para os contatos elétricos, representada pela resistência em série Rs. Esse
parâmetro representa a resistência da própria célula, sendo composta pela resistência elétrica do
material e dos contatos metálicos que resultam nas perdas por efeito Joule. O modelo do painel é
completado com uma resistência paralela, Rp, que representa as perdas devido às correntes inversas
de fuga e parasitas que circulam na célula, causadas principalmente pelas pequenas imperfeições na
estrutura do material.
Painel fotovoltaico Bateria
Is
Rs

Ipv Rb
Rp

Lâmpadas

Bomba

Rádio
Vp Vb
Fem

Figura 52

Tabela 6

Parâmetro Descrição Valor


Rs Resistência em série do painel fotovoltaico 1Ω
Rp Resistência em paralelo do painel fotovoltaico 0,21 kΩ
Vb Tensão medida nos terminais da bateria 12 V
Rb Resistência interna da bateria 20 mΩ
Is Corrente medida na saída do painel fotovoltaico 9A

Sendo os condutores de interligação ideais, desprezando qualquer parcela reativa dos componentes do
circuito e considerando o funcionamento simultâneo de todas as cargas descritas, avalie os itens a seguir:

I – A resistência equivalente das três cargas supridas pelo sistema é igual 1 Ω.

II – A corrente gerada pelo painel fotovoltaico, Ipv, no instante considerado, é igual a 9,1 A.

III – A tensão sobre a resistência Rp, Vp, apresenta o valor de 18 V.

62
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

IV – No instante considerado, a bateria contribui com 3 A para suprir as necessidades das cargas
em funcionamento.

V – A força eletromotriz da bateria, fem, tem o valor de 17,4 V.

É correto apenas o que se afirma em:

A) I, II e IV.

B) I, III e IV.

C) I, III e V.

D) II, III e V.

E) II, IV e V.

Resposta correta: alternativa A.

Resolução

Para solucionarmos o problema em questão, devemos, inicialmente, calcular a queda de tensão no


resistor Rs, vRs. Na figura a seguir, temos o diagrama do circuito do enunciado com algumas quedas de
tensão e correntes destacadas.
VRs

Carga
Ipv Is Rs Is Icarga
1 2

IRp IRb

Ipv
Rb
Lâmpadas

Malha 1
Bomba

Rádio

Rp Vp Vb
Fem

Vint

Figura 53 – Análise do circuito elétrico do enunciado

63
Unidade I

Sabemos, do enunciado, que a corrente no resistor é igual a Is. Logo, aplicando a lei de Ohm, temos:

vRs = Rs ⋅ IS = 1Ω ⋅ 9A = 9V

A tensão vp no painel solar pode ser obtida pela lei de Kirchhoff para malhas, aplicada à malha 1,
conforme segue.

vp = vRs + vb = 9V + 12V = 21V


Sabemos, aplicando a lei de Kirchhoff para correntes no nó 1, que:

Ipv = IRp + IS

Do enunciado, sabemos que Is = 9 A. Aplicando a lei de Ohm à resistência Rp, podemos calcular:

vp 21V
IRb = = = 0,1A.
Rp 210Ω

Logo, concluímos que:

Ipv = IRp + IS = 9 + 0,1 = 9,1A

Ao observarmos o nó 2, obtemos:

IS = IRb + Icarga

Nesse caso, desconhecemos os valores da corrente Icarga e da corrente IRb. Para encontrarmos a
corrente Icarga, devemos calcular essa corrente com base na potência consumida pelas cargas ligadas ao
painel solar. Sabemos, do enunciado, que temos três tipos de cargas, conforme descrito a seguir.

• 20 LEDs, cada um consumindo 1,2 W (logo, temos um total de 24 W).

• Uma bomba d’água (96 W).

• Um rádio (24 W).

Com isso, obtemos o total de: 24 W+96 W+24 W=144 W.

Podemos substituir todas essas cargas por uma resistência equivalente Req. Sabemos que a potência
dissipada nessa resistência equivalente é dada pela equação que segue.

64
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

v2b
Ptotal = ReqI2carga = = 144W
Req

Sabemos que vb = 12 V e v 2b = 144 V2, o que significa Req = 1 Ω. Logo, podemos calcular a corrente
Icarga na mesma equação substituindo o valor de Req:

Ptotal = ReqI2carga = 1ΩI2carga = 144W


Assim, obtemos Icarga=12 A. Aplicando novamente a lei de Kirchhoff para correntes no nó 2, obtemos:

IRb = IS − Icarga = 9A − 12A = −3A.

Finalmente, podemos calcular a tensão vint:

vb = RbIRb + vint = −3A ⋅ 20 ⋅10 −3 Ω + vint = 12V

vint = 12V + 60 ⋅10 −3 V = 12,06V

Baseados nesses cálculos, podemos avaliar as afirmativas da questão.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: calculamos o valor Req = 1 Ω.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: calculamos a corrente Ipv = IRp + Is = 9 + 0,1 = 9,1 A, que é a corrente fornecida pelo
painel voltaico.

III – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a tensão sobre a resistência Rp pode ser calculada aplicando a lei de Kirchhoff para
tensões na malha 1, conforme feito a seguir.

vp = RSIS + vb = 1Ω ⋅ 9A + 12V = 21V

IV – Afirmativa correta.

65
Unidade I

Justificativa: calculamos o valor de IRb, que é a contribuição da bateria para a alimentação das cargas,
e sabemos que IRb=3A (em módulo).

V – Afirmativa incorreta.

Justificativa: calculamos o valor da força eletromotriz da bateria, que chamamos de vint, e sabemos
que vint = 12V + 60 . 10-3V = 12,06V.

Questão 2. (Enade 2014) Um detector de fumaça é uma câmara formada por dois compartimentos
nos quais são inseridas duas células fotocondutoras, que são elementos cuja resistência varia com a
luminosidade, e uma fonte de luz, conforme ilustra a figura a seguir. Em condições normais, os raios de
luz provenientes da fonte atingem as duas células igualmente. Na ocorrência de um incêndio, apenas a
câmara inferior será preenchida pela fumaça e, assim, a luminosidade na célula será alterada, causando
mudança na sua resistência.
Refletor

Célula de
referência
Células
fotocondutivas
Lâmpada
Barreira opaca

Plástico
transparente
Detector de Refletor
fumaça

Passagem da
fumaça

Sala

Figura 54 – Esquema do detector de fumaça

Adaptado de: BOYLESTAD, R. L. Introdução à análise de circuitos. 10. ed. Pearson Prentice Hall, 2004.

O circuito do detector de fumaça é mostrado na figura a seguir, no qual existe uma ponte de
Wheatstone. Em condições normais, as resistências das duas células são iguais e o circuito está
equilibrado, de modo que a tensão Vab é nula. Na presença de fumaça, as resistências das células
fotocondutivas tornam‑se diferentes e, assim, surge uma diferença de potencial entre os pontos a
e b. Se essa tensão for maior que um valor preestabelecido, um relé será acionado, o que por sua
vez disparará um alarme.

66
FUNDAMENTOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

+
Detector de
fumaça

Lâmpada Fonte CC
R1 R2 12 V
10 kΩ

- Vab + -
b a

+
R3 8V
10 kΩ - R4
20 kΩ

Referência N/F

Para o
Relé alarme

N/A

Figura 55 – Circuito do detector de fumaça

Adaptado de: BOYLESTAD, R. L. Introdução à análise de circuitos. 10. ed. Pearson Prentice Hall, 2004.

Considerando o circuito e os dados da figura anterior, em que valor deverá ser ajustada a resistência
variável R1 para que, em condições normais, a tensão Vab seja nula?

A) 5 kΩ

B) 10 kΩ

C) 12 kΩ

D) 15 kΩ

E) 20 kΩ

Resolução desta questão na plataforma.

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