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O Jardineiro

Sinopse: Uma garota simples, com uma vida sofrida, veste-se de homem para
sobreviver em um mundo cruel. Um homem frio, rico e exigente com seus empregados,
contratando um novo jardineiro para cuidar dos Jardins de sua Mansão.
Seres tão opostos e tão necessitados de amor poderiam muito bem se atrair.
Capítulo 1

Cicatrizes do passado

Dentro de um pequeno barraco todo feito de madeira, habitava uma jovem tão
meiga e doce que destoava daquele lugar.

Banhava-se em um tonel de água bem gelada, até demais para um tempo tão
frio, mas era incapaz de reclamar, pois já estava acostumada e agradecia todos os dias
por ter um tonel de água só seu para se banhar e por poder viver naquela barraco
enquanto alguns nem ao menos isso tinha.
Ela esfregava sua pele alva com um pequeno sabonete já gasto e as mãos
passavam por suas costas nuas onde haviam horríveis cicatrizes. Não gostava de
passar as mãos por ali, a única parte de seu corpo que abominava, mas era necessário
lavar. Terminou aquele banho frio e se enrolou em uma toalha velha e encardida, para
se colocar diante de um pequeno espelho pendurado na parede.
Era uma moça bonita, apesar da aparência frágil. Os olhos verde jade apesar de
belos escondiam uma tristeza e uma dor contida. O nariz pequeno e fino lhe dava um ar
de boneca e os cabelos avermelhados eram cortados curtos, para ajudar em seu disfarce
masculino.
Ela foi até uma pequena cômoda onde guardava suas roupas, por não ter espaço
o suficiente para ter um guarda-roupas e abriu a primeira gaveta, pegando algumas
faixas.
Logo começou a amarrá-las ao redor dos seios, apertando-os para que eles não
aparecessem. Foi com rapidez e precisão que ela completou a tarefa, pois já estava
acostumada com aquele ritual que fazia todos os dias após o banho.
Uma vez que aqueles inconvenientes seios já estavam amarrados, pegou sua
escova de cabelo e começou a penteá-lo para cima, prendendo a parte maior com um
grampo e completando com uma boina marrom que escondia todo ele, não deixando
uma mecha sequer do lado de fora. Aquela boina era uma das poucas coisas que havia
herdado de seu avô. Já estava velha, mas ela não abria mão de usá-la.
Completou o traje colocando calças marrons surradas, uma camisa social que já
fora branca um dia e um imenso casaco sobretudo marrom.
Sophia ainda se lembrava de quando começou a se vestir de homem, pouco
depois de ter perdido sua família. O lugar onde ela vivia era bem perigoso.

Naquela época ela ainda era uma aluna de terceiro ano colegial, voltava pra casa
em uma noite fria e usava uma saia pregueada como toda estudante, camisa de botão e
um casaco por cima das roupas.
Caminhava pra casa tranquilamente quando um homem começou a segui-la. Ela
começou a apertar o passo e o homem também, em seu encalço.
Desesperada, desatou a correr o mais rápido que pôde, mas o sujeito era ainda
mais rápido e a alcançou, derrubando-a no chão e colocando um canivete em sua
garganta.
– Fica quietinha que agora você vai fazer tudo que eu quiser senão enfio esse
canivete no seu pescocinho lindo, sua putinha! - disse o asqueroso homem enquanto
levantava sua saia e rasgava sua cacinha.

Ela não era virgem, tinha um namorado da escola chamado Taylor com quem
perdeu a virgindade poucos meses atrás, mas mesmo assim sabia que iria doer. O pior
de tudo era o medo e nem o ato em si, pois ela não sabia o que ele lhe faria depois que
terminasse.
O medo e o nojo daquele sujeito de cabelo castanho meio claro e forte fazia com
que seu corpo tremesse e o coração disparasse. Seu tormento logo chegou ao fim
quando algumas pessoas de um grupo religioso local estava chegando e o homem
com medo saiu de cima dela e correu dali suspendendo as calças.
As pessoas a encontraram naquele estado e a ajudaram a se levantar.
Sophia não quis registrar queixa, sentiu muita vergonha do que aconteceu e não
quis que ninguém soubesse. Foi pra casa e não quis mais voltar para a escola, com medo
de encontrar aquele homem de novo e ele terminar o serviço dessa vez.
Durante muito tempo ficou sem sair de casa e tinha apenas uma vizinha
chamada
Bethany, uma velha senhora e amiga que lhe trazia comida todos os dias.

Depois de um ano dentro daquele barraco traumatizada e com medo de sair na


rua, não agüentava mais e decidiu seguir os conselhos de Bethany voltando a sair
daquela casa, mas de um jeito diferente, para que não acontecesse de novo.

Sophia entendeu o perigo que era ser mulher em um mundo tão violento e cruel,
então passou a se vestir como homem para ir ao mercado e primeiro pegou um emprego
em uma feira, carregando bolsas para velhinhas.
Ela soube que Taylor havia se formado e engravidado sua melhor amiga de
escola, Louise Parker, o que a deixou triste, porque ela confiava em Louise e a mesma
sequer fora em sua casa quando desapareceu. Também, Louise era uma moça de classe
média e jamais iria visitar Sophia na comunidade onde morava, assim como Taylor.
As pessoas tinham medo de ir até um lugar como aqueles onde sabiam que era
cheio de criminosos e bandidos de toda espécie.
Trabalhar na feira não era o suficiente para Sophia continuar a se sustentar, não
se ela quisesse ter um futuro e mais conforto. Não que a garota se importasse com o
futuro.
Depois de tudo o que lhe acontecera, Sophia se sentia meio morta por dentro.
Não só pela tentativa de estupro, mas também pelo incêndio em seu antigo
barraco que a fizera perder toda a sua família de uma vez só e ainda lhe rendera as
horríveis cicatrizes que tinha nas costas.
Mas nem tudo estava perdido, pois tinha uma grande amiga que estava sempre
ao seu lado nos momentos mais difíceis de sua vida. Essa amiga era uma senhora já
idosa chamada Bethany, que agora lhe havia conseguido um emprego como jardineira..
Sophia havia aprendido o ofício da jardinagem com seu avô, que foi um simples
jardineiro que trabalhava em sua escola cuidando das flores até o fim de sua vida.
Ele foi também a pessoa que Sophia mais amou em sua vida, depois de sua
irmãzinha que também morreu naquele incêndio. Ela ainda guardava a foto deles no
fundo da gaveta.
Naquele dia, Sophia caminhou até o local onde guardava aquela foto, tirou-a de
lá e colocou na pequena bolsa que levaria.
Bethany havia lhe avisado que Lucca Denali exigia que seus empregados
dormissem na Mansão. Diziam que ele era um empresário do ramo dos automóveis
muito rico e exigente, além de ser jovem, bonito e solteiro, mas amargo e ruim feito o
cão.

Mais um motivo pra Sophia vestir-se como um homem, assim ele a respeitaria
mais se pensasse estar lidando com um funcionário do sexo masculino. Ela colocou a
bolsa nas costas e foi para a Mansão.
Capítulo 2
Mansão Denali

Em um imenso quarto de aspecto escuro porém refinado, um belo homem de


cabelos negros rebeldes, pele alva e olhos escuros como duas pedras ônix levantava
trajando um pijama de cetim azul escuro em contraste com o alvo de sua pele e com um
roupão do mesmo material por cima.
Lucca Denali, por fora era uma criatura irresistível e charmoso, cobiçado por
muitas mulheres, mas que não se ligava a nenhuma por considerar todas umas fúteis que
só queriam saber de seu status.
Por dentro era um homem amargurado e com um passado doloroso, tão frio
quanto seu próprio sorriso.
Assim que acordou foi direto para a biblioteca da casa onde acendeu um
charuto.
Lucca tinha apenas vinte e oito anos, mas comportava-se como um homem
muito mais velho, tendo herdado os maus hábitos de seu falecido pai, Andrew Denali.
Enquanto fumava seu caríssimo charuto cubano fitando o quadro de uma
belíssima mulher morena de longos cabelos e dona de um belo sorriso que estava
pendurado na parede de seu quarto, sentiu-se perturbado com o som de alguém batendo
na porta.
– Entre, Jane. - deu a ordem.
Uma jovem morena vestida de empregada adentrou a biblioteca mantendo a
cabeça baixa.

– Com licença Sr. Denali, desculpe incomodá-lo, eu apenas quero avisá-lo que o
novo jardineiro recomendado por Bethany já chegou, está no portão da Mansão. - a
mulher comunicou.
– Jardineiro? Mas Bethany disse que viria uma moça. - Lucca estranhou.

Jane começou a sentir as mãos ficando trêmulas. Odiava contrariar seu patrão
por puro medo de sofrer uma demissão. Lucca Denali era um homem grosso, arrogante
e não tinha pena de ninguém. Certa vez demitira uma jovem empregada pelo simples
fato dela ter levantado o tom de voz para discutir com ele sobre uma tarefa que ela
pensou ter feito certo, mas que Lucca considerou insatisfatória.
–Talvez o senhor tenha escutado errado.- Jane gaguejou mantendo os olhos
baixos.

– Ou talvez a velha Bethany tenha dito errado, ela já estava mesmo ficando
senil. - disse o patrão enquanto olhava para o relógio.

Jane por dentro discordava do patrão, pois Bethany apesar de já ser idosa era a
pessoa mais lúcida que conhecia, mas jamais discutiria com o Denali, limitou-se a
assentir com a cabeça.

– Certo, traga esse rapaz até aqui imediatamente. Quero conhecê-lo. - disse o
patrão.

– Sim! Com Licença.- Jane disse e se retirou.

Enquanto dava mais uma tragada no charuto, Lucca pensou que a jardinagem era
a tarefa mais importante naquela Mansão, muito mais do que a limpeza ou a cozinha,
pois era naquele lindo jardim cheio de rosas e margaridas que ele havia passado os
melhores momentos ao lado de sua mãe a quem tanto amou.

Aquele belo quadro na parede e o jardim fora uma das poucas lembranças que
restara dela depois que seu pai se casou com uma outra mulher a quem Lucca odiava
do fundo de seu coração. Mesmo assim, aquele quadro só existia porque Bethany,
empregada de confiança da casa na época, havia escondido-o no porão da casa antes
que Elise o destruísse como fez com todas as fotos de Mirella e seus pertences.
Lucca era eternamente grato a Bethany por causa disso, embora também a
tratasse com frieza, a velha governanta era a única pessoa em quem ele confiava, mas
pelo visto sua memória começara a falhar depois que se aposentou, pois na última
conversa que tivera com ela, lembrava-se bem da recomendação que lhe fizera:

– Conheço alguém perfeito para cuidar de seu jardim, é neta de um amigo meu,
excelente jardineiro e aprendeu o ofício do avô. Ela está precisando do emprego e é boa
menina, recatada e fala pouco, do jeito que você gosta. - dissera Bethany.

No imenso portão da Mansão Denali, Sophia aguardava ansiosamente enquanto


olhava admirada para aquela imensa casa branca, nunca em toda sua vida vira uma casa
tão grande, nem quando foi fazer trabalhos de escola na casa de seus antigos colegas da
época que era estudante.
Saber que um lugar tão grande era habitado por apenas uma pessoa pareceu um
imenso desperdício para a jovem Rinaldi, já que em sua mente, aquele espaço merecia
ser habitado por uma linda família com pai, mãe e filhos, uma família exatamente como
era a sua antes do incêndio.
Durante alguns segundos ela fechou os olhos e visualizou em sua mente um dia
feliz da época em que ela ainda era uma estudante:

“Era um recreio comum, como todos os outros e Sophia estava sentada ao lado
de sua amiga Louise, comendo um delicioso sanduíche de mortadela feito por sua mãe.
Coisa simples, custava pouco dinheiro, já que a família era bem pobre, mas
para ela era delicioso só pelo fato dele ter sido preparado pela gentil senhora Sarah
Rinaldi.
De repente escutou um pequeno tumulto vindo da quadra do colégio e dentre as
vozes, identificou a de sua irmã mais nova Lily, que chorava enquanto duas garotas da
turma dela riam e a empurravam.
Lily era três anos mais nova do que Sophia, assim como a irmã mais
velha, tinha cabelos avermelhados e pele bem alva, mas com a diferença de que os
olhos tinham um tom de cinza muito bonito, assim como os olhos da mãe de ambas.
Na mesma hora Sophia levantou e foi até as meninas, tirando satisfações sobre
o motivo para estarem batendo na sua irmã caçula.
A simples presença da irmã mais velha espantou as duas meninas de série
menor, mas isso não impediu Sophia de ameaçá-las.

– Na próxima vez que vocês perturbarem a minha irmã nós vamos resolver isso
lá fora, porque eu vou encher vocês de porrada! - ameaçou a mais velha.

As meninas correram de Sophia e a jovem Lily abraçou sua irmã mais velha
grata por ela tê-la defendido.
– Obrigada mana, por ter me defendido daquelas duas! - disse a caçula.

Sophia afastou a irmã segurando-a pelos ombros e fitou bem o interior daqueles
olhos acinzentados que tanto amava. Ela queria poder aceitar aquele abraço e dizer
que a protegeria de qualquer um que tentasse lhe fazer mal, mas sabia que nem sempre
poderia estar com Lily para protegê-la.
– Se quer me agradecer, então faça isso aprendendo a se defender sozinha. Nem
sempre vou poder estar por perto pra impedir que você apanhe, sua boba! - disse a
mais velha.
– Mas Sophia, elas são muito maiores e mais fortes do que eu! Tenho medo
delas! - respondeu Lily.
– Nesse caso então eu vou te ensinar a dar porrada. Você vai aprender alguns
golpes igual o vovô me ensinou e quando elas te importunarem quero que bata nelas,
está ouvindo? - Sophia disse séria.
– Está bem mana, mas você promete que vai me ensinar direitinho? - Lily
perguntou.

– Prometo, agora vem comigo, temos que terminar de comer antes que o sinal
bata. - Sophia ordenou e foi levando a irmã para o local onde estivera lanchando com
Louise.”

Uma suave voz tirou Sophia de suas antigas lembranças, trazendo-a de volta
para a realidade.
– O Sr. Denali quer vê-lo, menino, qual o seu nome? - perguntou Jane.

Essa pergunta pegou Sophia de surpresa, deu um sorriso lembrando-se de seu


bondoso avô que lhe ensinara a se defender na escola da mesma forma que mais tarde
ela ensinou Lily.
– Gabriel, eu me chamo Gabriel Rinaldi - Sophia disse com nostalgia.

– É um nome muito bonito, Gabe.Vamos logo, o Sr. Denali não gosta muito
de esperar. Cá entre nós, ele é muito exigente e rabugento. Aconselho a evitar contato
visual, manter a cabeça baixa e não questioná-lo. Ele odeia que alguém discorde dele,
concorde com tudo o que ele disser e procure falar o menos possível que o emprego será
seu. - disse Jane.

Sophia assentiu com a cabeça enquanto a acompanhava sem conseguir deixar de


olhar boquiaberta para cada cômodo pelo qual passava.
Jane avaliava o "novo candidato" á vaga de jardineiro, pensando que o rapaz era
delicado demais e se parecia e muito com uma moça. Desejou que o patrão não
implicasse com isso, nunca soube de Lucca ter algum preconceito contra homens
"efeminados",esperava que não, pois alguma coisa no olhar triste do jovem lhe causou
certa simpatia.

Ao chegar na porta da biblioteca, Jane parou.


– É aqui, não se esqueça do que eu falei. Boa sorte Gabe! Estou torcendo para
que fique. - disse dando uma piscadinha.
Capítulo 3
A Entrevista

Ao entrar no local e dar de cara com Lucca, nenhuma descrição anterior


feita sobre ele preparou Sophia para o que ela viu.
Haviam dito que se tratava de um homem muito bonito, cujo as mulheres eram
loucas para ter uma oportunidade de sair com ele, mas ela jamais imaginou que ele
pudesse ser um homem tão bonito, não chegava sequer aos pés de seu ex-namorado
Taylor que já foi um garoto bem concorrido na época de escola.
Lucca poderia simplesmente ser descrito por Sophia como o homem mais bonito
que ela já viu em sua vida.
O pijama de cetim azul marinho lhe dava um ar ainda mais sedutor. A única
coisa que a incomodou foi o charuto que ele fumava, pois assim que entrou a fumaça
penetrou suas narinas, causando-lhe um acesso de tosse.
– Cof Cof! Com licensa Sr. Denali, cof cof! Jane disse que eu podia entrar
para falar com o senhor. - ela disse por entre a tosse.

Lucca fitou aquela figura pálida e delicada em sua sala, vestida com roupas
bregas e antigas que pareciam ter pertencido a algum homem idoso e não pôde deixar de
achar que o novo candidato a jardineiro era estranho e bastante excêntrico.
Teria se divertido muito ás custas dele ao vê-lo ficando com as faces
avermelhadas engasgado com a fumaça do charuto e com dificuldade de respirar, já que
gostava de fazer algumas pessoas sofrerem, mas notou que o jovem começava a ficar
sem ar e decidiu apagar o charuto, afinal não queria ser responsável por matar seu
jardineiro logo no primeiro dia.
– Claro. Sente-se. - disse Denali secamente.
Lucca se dirigiu para a poltrona maior que ficava atrás da mesinha e sentou
enquanto Sophia puxou a cadeira enfrente que era bem menos confortável do que a
imensa poltrona de Lucca.
– Qual é o seu nome? - Lucca perguntou.
Tentando controlar ainda mais a tosse, Sophia pigarreou e se esforçou para que a
voz saísse o mais masculina possível. Manteve as mãos no colo o tempo todo para que
ele não percebesse o quanto elas estavam tremendo, já que sua simples presença fazia o
coração da Rinaldi se manter acelerado. O olhar duro sobre si não ajudava.
– Gabriel Rinaldi - respondeu.
Apesar do esforço, a voz saiu meio fina e insegura. Lucca não gostava de
pessoas inseguras.
Pensou que Gabriel talvez fosse homossexual, mas isso já não era problema seu.
Seus empregados podiam ter a conduta sexual que desejassem desde que fosse fora de
seu local de trabalho e que não fossem escandalosos ou fizessem algo que sujasse sua
imagem. Tirando isso, fora de sua propriedade Gabriel poderia dormir com quantos
rapazes quisesse.
– Tem experiência profissional? - perguntou de maneira séria.
Essa pergunta deixou Sophia ainda mais nervosa. Como ia explicar que nunca
havia trabalhado pra ninguém antes? Certamente o Denali queria algum jardineiro
experiente para cuidar do belo jardim de sua Mansão, embora ele não parecesse ser o
tipo que gostava de flores. Lucca Denali parecia mais frio e duro do que um iceberg.

– Na verdade não, quer dizer, eu aprendi a jardinagem com o meu avô, de vez
enquanto ajudava ele na escola onde ele trabalhava e eu estudava. Já trabalhei também
na feira ajudando moças e idosas a carregar as compras. - disse Sophia nervosa.

– Quantos anos você tem? - Lucca fazia uma pergunta atrás da outra, de forma
objetiva e direta enquanto mantinha os dedos entrelaçados em uma posição relaxada
olhando diretamente nos olhos cor de jade da moça.
– Vinte e três. – ela respondeu.
– É jovem, isso explica o fato de não ter muita experiência profissional. Devo
confessar que não costumo contratar gente inexperiente, ainda mais pra cuidar do
Jardim da minha casa, que considero de extrema importância. Mas você tem um ponto
ao seu favor que é o fato de ter sido recomendado por Bethany. Espero que aquela velha
não esteja tão senil e que você seja mesmo bom jardineiro. - Lucca disse fazendo uma
pausa.

Por um segundo, os olhos de Sophia faiscaram de raiva pela forma como Lucca
se referiu a Bethany. Uma senhora tão boa não merecia ser chamada de "velha senil",
mas não disse nada, afinal precisava do emprego.
– Podemos fazer uma experiência. Quero ver como se sai. Trouxe seus
documentos? - perguntou o Denali.

Uma das primeiras coisas que ele pedia quando ia contratar um novo funcionário
era seus documentos, afinal não podia deixar qualquer um entrar em sua casa ou
empresa, fora o fato de que pagava muito bem e em dias, além de cumprir todas as
exigências legais quando se tratava de contratar algum trabalhador novo.

O coração de Sophia deu um salto quando Lucca mencionou documentos, sentiu


que havia perdido o emprego de vez. Deveria ter dito a verdade, que não se chamava
Gabriel e que era uma moça.
Se entregasse seus documentos, Lucca perceberia que ela tinha mentido e talvez
a expulsasse dali com pontapés do traseiro. Por sorte sua mente pensou rápido sobre
uma última tentativa de manter a mentira para não perder aquela oportunidade tão boa
de emprego.
– É que, eu perdi todos no incêndio que houve na minha antiga casa. Ainda não
pedi uma segunda via. Se o senhor me der um tempo eu posso providenciar, mas leva
algum tempo para ficarem prontos, sabe? - explicou.
Não era de todo mentira, isso realmente havia acontecido quando houve o
incêndio em sua casa, mas já havia tirado a segunda via de todos os documentos a
bastante tempo.
– É claro que sei como são essas coisas. Bem, não gosto de contratar ninguém
sem documentos. Providencie isso o mais rápido possível. Agora pode se retirar, Jane
vai levar você até seus novos aposentos. Quero que comece a trabalhar hoje mesmo. -
explicou Lucca.

– Novos aposentos? - Sophia perguntou confusa, apesar da alegria de ter


conseguido aquele emprego.

– Sim, todos os empregados dessa casa dormem aqui. Claro que nos finais de
semana você pode ir para a sua casa, se quiser, já que serão sua folga, mas prefiro que
morem aqui para evitar problemas com os horários. Mais alguma objeção, Senhor
Rinaldi? - Lucca disse a última pergunta com ironia.
As faces de Sophia coraram e ela abaixou a cabeça constrangida.
– Não senhor. Tudo bem. - respondeu.
– Ótimo, estou vendo que não trouxe suas coisas. Diga ao motorista que o leve
para buscá-las na sua casa agora mesmo. Isso é tudo. Agora saia. – ordenou.

A grosseria do novo patrão incomodou Sophia, ele era mesmo arrogante como
haviam lhe prevenido.
Sequer teve coragem de contrariá-lo dizendo que não precisava do motorista.
Simplesmente decidiu que não avisaria ao homem sobre a ordem e decidiu que
iria de ônibus sozinha pra casa pegar suas coisas.
Quando saiu da biblioteca, Jane a aguardava na porta.
– Ouvi tudo, você conseguiu o emprego! Isso é ótimo! Sabia que é um garoto de
muita sorte? - disse a empregada.

– Por que Jane-? - Sophia perguntou timidamente.


– Porque o Denali estava de bom humor e te contratou mesmo não tendo
documentos e experiência profissional. Juro que pensei que você não fosse conseguir,
tinha muito mais contras do que a favor. Acho que foi destino mesmo. O Sr. Denali deve
ter simplesmente ido com a sua cara. - Jane respondeu.
Ela não sabia o quanto estava correta. Lucca apesar de ser um homem duro e
frio, também era uma pessoa de intuição. Bastava olhar para uma pessoa para saber se
valeria a pena tê-la por perto ou não. Algumas vezes tentara ignorar esses
pressentimentos, mas sempre que fazia isso depois se arrependia, pois mais cedo ou
mais tarde a pessoa lhe causava algum tipo de problema.
O jovem Gabriel tinha um jeito inocente e parecia ser bem moço. Mas não foi só
isso que agradou o Denali, mas talvez sua maneira excêntrica e antiquada. Gabriel era
educado, apesar de misterioso. Embora não gostasse de pessoas fracas, algo lhe dizia
que o garoto não era de todo fraco, como se pudesse enxergar certa força interior nele,
fora o fato de achar que delicadeza era algo importante no trato das belas flores de
Mirella e isso era algo que não faltava naquele garoto efeminado.
A ausência de experiência profissional e de documentos era algo que
incomodava Lucca, por conta disso não confiava no jovem de todo, mas ficaria de olho
nele e se achasse algo de errado o demitiria na mesma hora. Uma das coisas que
considerava importante em um empregado era a confiança, quando esta era quebrada
uma vez, Lucca nunca mais a recuperava e nesse caso não tinha desculpas, o empregado
era demitido.
Capítulo 4
O passado do Jardim

A primeira semana de Sophia na Mansão foi bastante agradável. Jane


estava sempre ao seu lado procurando fazer de tudo para agradá-la.
O jovem patrão todos os dias quando a noite chegava, sem que Sophia soubesse,
visitava seu Jardim olhando para o belíssimo trabalho que seu novo jardineiro estava
fazendo pelas flores de sua mãe. Em apenas uma semana naquele trabalho, Gabriel
havia feito com que as rosas recuperassem as mesmas cores que tinham no tempo em
que a bela Mirella ainda estava viva e cuidava pessoalmente de cada flor com ternura.
Alegres lembranças começaram a povoar a mente do herdeiro dos Denali.

“O menino Lucca, aos oito anos de idade se encontrava sozinho vagando


pela Mansão com a expressão sisuda no rosto. Andava emburrado desde que seu irmão
mais velho deixou de lhe dar atenção para sair com os amigos e dentre eles com
garotas que Lucca considerava chatas e sem graça.
Hugo era seu maior ídolo, mas agora passava pouquíssimo tempo com o caçula
e quando estavam juntos não hesitava em chamá-lo de bobo e de crianção.
Precisando descontar a raiva que tinha dentro do peito, o menino Lucca olhou
para as rosas vermelhas de sua mãe e com agressividade começou a arrancá-las,
segurando-as com vontade pelo talo só para descobrir que havia espinhos nas mesmas
que entraram em sua delicada carne tenra de criança. Lágrimas de dor se fizeram
presentes nos olhos do menino e enquanto o sangue vermelho escorria de suas
mãozinhas gordas infantis.
Na mesma hora, uma bela mulher que usava vestidos compridos e um chapéu de
sol no alto da cabeça correu até ele e segurou-lhe as mãos doloridas.
– Lucca! Por que foi querer arrancar as rosas da mamãe? Que mal elas te
fizeram? - perguntou a mãe enquanto molhava um lenço na água do regador e limpava
o ferimento do filho.
– Eu estou com raiva, mamãe. - respondeu o menino.
Após limpar bem as mãos do menino, Mirella colocou seu filho no colo e
beijou-lhe os cabelos com ternura.
– É o Hugo, não é? Ah querido, compreendo que esteja com raiva de seu irmão.
Ele deveria te dar mais atenção, mas é que ele está entrando na fase da
adolescência e por causa disso está se tornando rebelde. Quando você for um também
vai entender. – disse Mirella.
– O que é adolescência? - Lucca perguntou com sua curiosidade típica daquela
idade.
– É uma idade em que os interesses começam a mudar como por exemplo, os
meninos passam a se interessar menos pela família e pelas brincadeiras de criança e
começam a querer ir a outros tipos de festa com os amigos e querer beijar garotas. - a
mãe respondeu pacientemente.
O filho fez uma careta colocando a língua de fora que provocou gargalhadas em
sua jovem mãe.
– Eu nunca vou entrar na adolescência mamãe! Que nojo! Nunca vou beijar
garotas! - ele respondeu.
– Você diz isso agora, mas depois vai mudar de idéia. Agora que tal me ajudar a
cuidar do Jardim hoje? Depois eu brinco com você do que você quiser. - a gentil
Senhora Denali propôs.

– Mas essas rosas machucam! - o menino disse mostrando as mãos feridas pelos
espinhos.
– Machucam porque você as tentou machucar primeiro, sem que elas nunca
tenham te feito mal. Flores e plantas também possuem sentimentos, meu filho. Nunca se
deve descontar nossa raiva e nossas frustrações em seres inocentes. Venha, vou te
ensinar a segurá-las com carinho, para que você não toque nos espinhos. - Disse a mãe
colhendo uma rosa com delicadeza de seu jardim e entregando ao filho, mostrando-lhe
como segurá-la.
Naquela manhã, Mirella e Lucca cuidaram do jardim, depois como o prometido,
Lucca escolheu a brincadeira que mais gostava, que era "pique-esconde". Como já
esperado "estava com Mirella", cabia ao filho se esconder e a mãe teria que procurá-lo.
O menino esperto se escondeu no pequeno armário onde ficavam as coisas de
Jardinagem, que era exatamente de seu tamanho na época. Mirella já sabia que o filho
escolheria aquele local, por ter escutado seus passos naquela direção. Fingiu não ter
percebido onde Lucca havia se escondido e começou a brincar com ele.
– Onde será que meu filhinho se escondeu? Não faço a menor idéia de por onde
procurar, estaria ele embaixo do banco? - ela disse se agachando para olhar debaixo
do banco.
O menino dava risadas que a mãe escutava muito bem e olhava pelos pequenos
furinhos que tinha na porta do armário.
– Estaria ele atrás daquela árvore? Nossa, mas Lucca é um menino muito
esperto. Como se escondeu bem esse menino! - ela disse olhando atrás de uma árvore.
De repente Mirella parou fazendo uma expressão estranha, soltou um grito
levando as mãos á cabeça e caiu no chão desmaiada. Lucca assustado Saiu do armário
e correu até a mãe, que não respondia. Os empregados vieram e Mirella foi levada para
um hospital.
Durante muitos dias o menino ficou sem ver a mãe e quando ela finalmente
voltou, Lucca teve medo de chegar perto dela pois estava diferente, em uma cadeira de
rodas, toda torta e ás vezes babava. Ela não falava mais direito com nenhum dos filhos
e junto com ela, veio Elise, a secretária de seu pai que se fazia de simpática com os
garotos e com Andrew e logo conquistou o carinho de seu irmão mais velho Hugo e
muito mais do que isso de Andrew Denali.”

– Gabriel tem feito um ótimo trabalho, não é mesmo, Sr. Denali? - a voz de
Jane tirou Lucca de seus pensamentos.
Foi um alívio para Lucca, pois ele não queria rever em sua mente as próximas
cenas de seu passado.
Se ele pudesse, cortaria aquele dia na parte em que ficou cuidando do jardim
com a mãe. Teria aproveitado melhor cada momento ao lado dela se soubesse que
depois ele a perderia para sempre.
– Sim, vejo que fiz bem em ter escutado a velha Bethany. A mente dela ainda
funciona para alguma coisa. Onde está indo com essas roupas? - Lucca perguntou ao
ver suas roupas velhas que havia mandado Jane doar para a caridade alguns dias
atrás.
– Bem, vou confessar que ia mandar algumas para meu irmão, porque embora o
senhor não as use mais, estão bonitas e novas, mas acho que o Gabriel está precisando
mais. Ele não tem muitas roupas, as que usa parecem tão velhas e surradas. Aquele
menino é mesmo muito humilde. - respondeu Jane temerosa de levar uma bronca do
patrão.
Lucca franziu o cenho.
– Faça como quiser, mas não acho que vão caber nele já que é magro e bem
menor do que eu. - disse o patrão.
– Sei disso, mas tenho algumas noções de corte e costura, posso reformá-las para
ele. Acho que Gabe vai ficar muito feliz quando ganhar roupas novas. - a empregada
disse em tom sonhador.
Nesse momento Lucca teve a impressão de que sua empregada estava
começando a nutrir algum sentimento pelo Jardineiro e achou engraçado esse
pensamento, já que tinha certeza de que Gabriel era efeminado. Pelo menos iria se
deliciar de rir quando Jane levasse o fora do garoto e descobrisse sobre sua orientação
sexual.
– Claro. Já que está indo falar com ele, diga que pela manhã quero que me
encontre na biblioteca, depois que tomar o café da manhã. - Lucca ordenou e depois
saiu dali.
Jane assentiu com a cabeça e depois foi caminhando para o quarto do jardineiro.
Em sua mente pensava que Gabriel era fofo e delicado, homens educados e meigos
daquele jeito era muito difícil de se encontrar e embora fosse mais velha do que ele,
estava solteira e tinha certeza de que o garoto era carente, portanto nada melhor do que
uma moça experiente para lhe dar carinho.
E daí se ele era efeminado? Gabriel não tinha
nenhum namorado, pelo menos não que ela soubesse e talvez poderia fazê-lo aprender a
gostar de mulheres, mas se não conseguisse, seriam bons amigos.
Capítulo 5
Boa sorte, Sophia

Jane bateu na porta do quarto, mas ninguém atendeu. Certamente Gabriel


deveria estar no banho, então entrou calmamente e colocou as roupas dobradas em cima
da cama de maneira carinhosa, decidiu esperar que o garoto entrasse para então poder
tirar suas medidas, quando de repente a porta que dava para o banheiro se abriu e a
empregada levou um susto tão grande que deu um pulo pra trás com o que viu.

– Quem é você? - ela perguntou assustada ao ver uma garota de cabelos


avermelhados na altura do queixo enrolada em apenas uma toalha de banho. – O que
está fazendo no quarto do Gabe?

Sophia não sabia se sentia-se envergonhada por ter sido pega seminua ou se
desesperava-se pelo fato de seu segredo ter sido descoberto. Precisava acalmar Jane
antes de qualquer coisa, para evitar que o escândalo fosse ainda maior.
– Calma Jane, sou eu o Gabriel! - ela falou.
A empregada fitou bem o rosto da jovem que estava a sua frente e reconheceu
aquele rosto, com os mesmos olhos verde-jade e lábios avermelhados delicados.
– Gabriel? Mas você tem seios! E curvas! Você é uma mulher! - Jane constatou
horrorizada.
– Sim, eu sou. Não deveria ter mentido, eu posso explicar tudo. Por favor não
conta para o Sr. Denali, não foi minha intenção mentir. - a moça implorou.
Jane sentiu raiva, pois havia sido enganada e chegou a nutrir uma certa afeição
pelo jardineiro. Claro que não chegou a ser uma paixão, era mais uma admiração e
atração, pois não convivera tempo o suficiente com o jovem Gabriel para ter uma
grande paixão pelo jovem.
Deveria ter ido direto até o patrão e desmascarar aquela estranha que estava na
Mansão e de fato se virou em direção á porta para fazer isso, mas Sophia segurou-lhe o
braço e implorou.
– Por favor Jane, eu preciso do emprego. Deixe-me pelo menos explicar porque
eu fiz isso. Se depois quiser contar ao patrão eu vou entender. - pediu. A
empregada não era insensível ao ponto de ignorar aquilo, mesmo depois de ter mentido,
o ar de Sophia ainda era de inocente e ela parecia mesmo necessitada daquele emprego.
– Certo, explique-se. - disse Jane.

Segurando a toalha que estava quase caindo de seu corpo, Sophia sentou-se na
cama e começou a explicar.
– Eu não planejei mentir no emprego, acontece que tenho o hábito de me vestir
como homem desde que aconteceu uma coisa horrível quando eu andava sozinha
voltando da escola, já faz algum tempo. Um homem tentou me violentar na rua e desde
então passei a andar com essas roupas para que não acontecesse de novo. Foi horrível.
Quando cheguei aqui e vocês pensaram que eu era homem, acabei mentindo e me
apresentando com o nome do meu avô. Foi uma atitude idiota, mas não queria perder
esse emprego só por causa disso, eu sou trabalhadora e estou feliz aqui. - Sophia disse
com sinceridade.

De fato morar na Mansão Denali lhe fazia muito bem, pois embora houvesse um
ar de tristeza rondando o patrão e a casa parecesse vazia devido a tanto espaço sem uma

família feliz para preenchê-la, a jovem tinha conforto naquele local.


Só o quarto onde dormia tinha o mesmo tamanho que seu barraco, só que muito
mais conforto. Invés de um tonel de água havia um chuveiro com água
quente onde podia se banhar todos os dias depois de trabalhar no jardim e a comida era
sempre boa, fora a companhia agradável dos outros empregados ainda que Sophia não
fosse de falar muito.
– Olha menina, o que você fez foi uma burrice muito grande e se o Sr. Denali
descobrir vai demitir você na mesma hora, eu não quero nem ver! Pra que se queimar
desse jeito se fingindo passar por homem? Bem que estranhei o fato de Bethany ter dito
que indicaria uma moça. Sr. Denali pensou que ela tivesse ficado senil por sua causa,
sabia? – Jane ralhou com a moça.
Sophia abaixou a cabeça sentindo-se culpada por ter sujado a imagem de
Bethany com sua mentira, mas pensou que se o patrão descobrisse seria ainda pior, pois
Lucca pensaria que Bethany havia indicado uma mentirosa para trabalhar na Mansão.
– Eu sei disso. Desculpa Jane, o que fiz foi mesmo muito errado. Mas ainda não
acho que mereço ser demitida só por ser uma mulher, isso é apenas um detalhe. Que
diferença faz para o patrão o meu sexo? - Sophia argumentou.
– Nesse ponto você tem razão. Olha, não quero ser responsável pela sua
demissão. Apesar da mentira boba, você parece ser boa menina e não vou contar ao Sr.
Denali o seu segredo. Só que tem uma coisa. Com certeza ele vai pedir os seus
documentos. Hoje mesmo pediu para que eu a avisasse que amanhã de manhã após o
café vai querer falar com você na biblioteca. Não acha que mais cedo ou mais tarde ele
irá descobrir a verdade? O que pretende fazer? - a empregada perguntou preocupada.
Sophia soltou um suspiro.
– Não sei, por enquanto vou enrolar ele. Vou dizer que já dei entrada nos
documentos mas que pediram um prazo e que logo vou entregar tudo. Até lá eu vou
fazer o meu melhor no trabalho e torcer para que ele esqueça, se não esquecer eu vou ter
que contar a verdade, mas se o meu trabalho for muito bom talvez ele não me demita. O
jardim já está bem mais bonito e com muito mais vida do que quando cheguei aqui, não
acha? – Sophia perguntou esperançosa.
- Isso é verdade, nunca vi aquelas flores tão cheias de vida antes. - Jane
concordou.
Sentiu uma certa tristeza pela menina, pois conhecia seu patrão o suficiente para
saber que Lucca não era do tipo a ser facilmente enrolado e tampouco tolerava uma
mentira vinda de algum funcionário seu, por mais eficiente que o trabalhador fosse.
Mas decidiu não dizer nada á menina, só para não deixá-la triste.
– Certo. Nesse caso eu vou me recolher. Só tenho mais uma pergunta antes de ir.
- disse Jane.
– Qual? - a Rinaldi perguntou.
– Qual é o seu nome de verdade? - a empregada quis saber.
– Ah, é Sophia. - a jovem respondeu.
– É um nome muito bonito. Boa sorte, Sophia. - Jane disse antes de partir.

Quando a empregada Saiu do quarto, Sophia teve a certeza de que ela não
contaria nada ao patrão, pois parecia ter um bom coração mas o fato de ter sido
descoberta fez a jovem pensar que deveria ser mais cuidadosa, pois poderia não ter a
mesma sorte se outro empregado descobrisse.

Pela manhã, após tomar seu café solitário na enorme mesa da Sala de Jantar,
Lucca foi para a biblioteca aguardar a breve reunião que teria com seu jardineiro.
Dessa vez não usava um simples pijama, mas sim uma roupa social, já que dali iria
para uma reunião importante na empresa fechar um negócio.
Aguardou como sempre sentado na imensa poltrona confortável quando seu
jardineiro entrou.
– Mandou me chamar, Sr. Denali? - Sophia perguntou de olhos baixos imitando
o gesto de Jane.
– Sim, sente-se Gabriel. - o patrão ordenou.
Desajeitadamente, Sophia sentou-se na cadeira que ficava de frente para o
Denali que não era tão confortável.
Manteve como sempre as mãos no colo e ficou com um certo receio como
sempre ficava quando estava na frente de seu patrão. Fitou aquela bela e dura face de
Lucca e não pôde deixar de mais uma vez admirar aquela beleza masculina.
Seu coração bateu mais rápido e notou que ele ficava lindo de roupa social.
Repreendeu-se mentalmente, não deveria sentir essas coisas por seu patrão.
Primeiramente porque ele jamais olharia para uma mulher como ela. Lucca
era um homem rico, bonito e arrogante, cheio de candidatas lindas e ricas para serem
suas esposas ou amantes enquanto ela uma relez favelada e ainda por cima com
cicatrizes nas costas.
Em segundo lugar porque Lucca achava que ela era um homem e até onde sabia,
o Denali não se interessaria por garotos. As faces de Sophia coraram levemente quando
se deu conta do que estava pensando.
Lucca por sua vez, notou que seu jardineiro havia ficado com as faces
avermelhadas enquanto olhava para ele e soube muito bem o que o garoto estava
pensando só por seu olhar. Aquilo o revoltou, pois quem ele pensava que era para ter
fantasias com ele?
Teve certeza de que Gabriel era homossexual naquele momento. O problema era
que aquelas faces avermelhadas faziam um bonito contraste com os lábios delicados do
jardineiro. Lucca não conseguiu deixar de pensar que aquela boca feminina, pequena e
ao mesmo tempo carnuda tinha um aspecto macio e parecia ser bem beijável.
Os olhos verde-jade inspiravam nele uma espécie de instinto protetor e um
desejo de tocar aquelas faces levemente coradas com uma pele tão macia.
Mas que diabos estava pensando?
Ele sabia muito bem que gostava de mulheres e não de homens! Nunca sentira
nada assim por garotos antes. O pensamento o perturbou, então Lucca decidiu ir direto
ao ponto sobre aquela reunião para que terminasse o mais rápido possível.
– Bem, vou direto ao ponto. Já está com os documentos que eu te pedi? –
perguntou ao jardineiro.
Sophia sentiu um nervoso tão grande que ficou rígida na cadeira, tomando muito
cuidado para não desviar o olhar na intenção de que o patrão não percebesse sua
mentira.
– Eu já dei entrada na segunda via, mas deram um prazo para que ficasse tudo
pronto. Assim que eu estiver com tudo vou entregar. - Sophia disse.
– Está demorando demais. Quanto tempo mais ou menos vai levar para que
fique
tudo pronto? – o moreno perguntou.
– Uns quinze dias mais ou menos. - respondeu, chutando mais ou menos o
prazo que levaria.
– Certo. Daqui a quinze dias eu quero tudo na minha mesa. É só isso. Pode se
retirar agora. - Lucca disse duramente.
Sophia se levantou e saiu do escritório do patrão nervosa.
Correu para o exterior da Mansão e apoiou-se em uma árvore levando uma das mãos á
testa em sinal de preocupação.
– Sophia! O que houve? Como foi a reunião com o patrão? - Jane se aproximou
perguntando.
– Ah Jane! Ele está me pressionando para entregar os documentos. Tive que
dizer que ficariam prontos daqui a quinze dias, só que eles nunca ficarão prontos porque
Gabriel Rinaldi já morreu faz tempo. - disse Sophia com lágrimas nos olhos - Eu vou ter
que ir embora daqui.
Jane segurou no braço de Sophia em um gesto carinhoso.
– Tenha calma, tenho certeza de que haverá uma solução. Talvez devêssemos
falar com a Bethany. Ela é sábia, conhece bem o patrão e vai poder te aconselhar
melhor. -Jane opinou.
– Tem razão. Sábado na minha folga eu vou à casa dela então ver se ela pode me
ajudar. Obrigada Jane! - Sophia disse esperançosa.
Ela sabia que Bethany havia trabalhado durante muitos anos pata a família
Denali, desde quando os pais de Lucca ainda eram vivos.
As duas mulheres sorriram uma para a outra e ambas tiveram a sensação de que
uma amizade estava se formando.
Capítulo 6
Atraído pelo Jardineiro

Depois da reunião importante de negócios, Lucca voltou para a sua sala em seu
escritório na empresa e sua mente começou a divagar. Não era comum fazer esse tipo de
coisa quando estava no trabalho.
A reunião havia sido um sucesso e aquele negócio que havia fechado daria um
lucro muito alto, o que era motivo para que ele ficasse de bom humor, mas isso não
aconteceu, pois ele não conseguia deixar de esquecer a reação que havia tido ao fitar o
rosto de seu jovem jardineiro.
Era óbvio que havia acontecido um certo "clima" entre os dois, isso ele não
podia negar, ainda que por apenas alguns segundos.
Lucca não podia compreender, pois gostava de mulheres. É verdade que não
queria se relacionar com nenhuma afetivamente, por isso não tinha namorada. Ele tinha
trauma de mulheres depois de ver sua família sendo destruída por causa de sua
madrasta.
Quando queria ter relações sexuais, preferia pagar prostitutas, pois sabia
exatamente o que esperar delas, ou melhor, estas eram as que ele considerava mais
sinceras e seguras, pois deixavam bem claro que queriam apenas seu dinheiro em troca
de uma noite de prazer.
Meretrizes não tentariam dar-lhe o golpe do baú ou algo do tipo, elas eram pagas
apenas para fazer seu trabalho e não ligavam ou faziam cobranças depois.
Apesar de visitar algumas prostitutas de vez enquando, Lucca não gostava de
fazer isso com tanta freqüência, pois também não era o tipo de homem voltado para os
prazeres da carne. Seu trabalho era muito mais importante do que diversão.
O jovem Denali não era como a maioria dos homens de sua profissão que muitas
vezes eram casados e ainda traíam suas esposas com outras mulheres destruindo seus
casamentos sem necessidade, já que a maioria das esposas eram bonitas e desejáveis,
mas mesmo que não fossem, Lucca sabia que nada no mundo justificava magoar uma
pessoa desse jeito.
Pensando sobre esse assunto, cenas de seu passado voltaram a povoar sua mente,
lembrando-o do porquê dele ter ojeriza pelos homens que traíam suas esposas.

“Apesar de ter prometido pra sua mãe que jamais seria adolescente, foi
inevitável que um dia essa conturbada fase chegasse. O jovem Lucca era um garoto
rebelde, devido ao fato de sua mãe estar em cima de uma cama já a cinco anos e seu
pai não estar nem aí para os filhos, importando-se apenas com os negócios.
Certo dia Lucca havia chegado da escola mais cedo do que de costume, pois
não se sentia bem naquele dia, havia comido algo na cantina que não fizera bem para
seu organismo.
Como de praxe, ao chegar em casa largou sua mochila em cima da cama e
foi direto para o quarto de sua mãe onde ela estava acamada desde que voltara do
hospital, após ter tido o AVC no Jardim da Mansão.
Embora Mirella não pudesse nunca responder ao filho sobre as coisas que ele
lhe falava, como por exemplo sobre como havia sido seu dia na escola, sobre suas
amizades, esperanças e planos para o futuro; o filho continuava conversando com a
mãe, pois sabia pelo seu olhar que ela estava escutando tudo. Lucca era a única pessoa
que ainda conversava com Mirella durante aqueles longos anos de sofrimento.
Naquele dia, quando entrou no quarto, Lucca teve uma surpresa extremamente
desagradável ao encontrar sua mãe tremendo debatendo-se na cama, ficando com as
unhas roxas e revirando os olhos. Ele soube que havia algo errado.
Lucca correu até o quarto de seu pai, onde acreditava que Andrew
passava as noites sozinho em sua imensa cama, mas naquela tarde soube o quanto
estava enganado ao abrir a porta do quarto e ver uma cena que ele jamais esqueceria.
Andrew estava deitado na cama nu enquanto Elise estava sentada em cima dele,
também sem roupa cavalgando-o enquanto gemia como se fosse uma cadela no cio.
– Pai? O que está fazendo com essa vagabunda no quarto da minha mãe? –
Lucca perguntou revoltado.
O casal de amantes levou um susto e na mesma hora a secretária levantou com
violência, ficando nua de frente para Lucca sem ao menos ter o pudor de cobrir seus
seios e sua intimidade para que o adolescente não visse.
Andrew ainda colocou o travesseiro na frente do corpo cobrindo suas partes
íntimas.
– Lucca? O que está fazendo fora da escola? - o pai perguntou bravo.
–Não te interessa, minha mãe está tendo outro derrame enquanto você come
essa puta barata! - Lucca disse ao pai, com rebeldia.
Andrew sentiu-se envergonhado, mas não se deixou rebaixar pelo filho.
Aproximou-se de Lucca e deu-lhe um tapa estalado na face.
O problema era que o filho não aceitava apanhar quando sabia que estava
certo. Então, para a surpresa de Andrew, Lucca revidou o tapa.
Logo pai e filho começavam uma briga de imensas proporções com direito a
socos e tapas enquanto Elise começava a gritar para que os outros empregados viessem
separar os dois.
A casa inteira virou um alvoroço e foram necessários dois seguranças e o
motorista da casa para impedir que pai e filho se matassem.
Enquanto a confusão se dava, Mirella morria no outro quarto sozinha sem
ninguém para acudi-la.
Além da tristeza de ter terminado de perder sua amada mãe, todos acharam um
absurdo Lucca ter se atrevido a bater no próprio pai.
A única pessoa que apoiou o jovem Lucca fora Bethany, que na época não era
tão idosa mas não pôde fazer nada pelo jovem Denali, pois era uma simples
empregada.
Como conseqüência, Lucca foi mandado para um colégio interno só para
garotos onde terminou sua adolescência solitária tendo uma educação bem rígida.
Um mês depois da morte de Mirella, Andrew mandou para Lucca um convite de
seu casamento com Elise, mas Lucca recusou-se a ir, assim como também não quis
passar as férias com a família quando elas chegaram.”

Lucca afastou aqueles pensamentos desagradáveis de sua mente e decidiu ir para


casa mais cedo, uma vez que não havia mais necessidade de ficar na empresa.
Toda vez que lembrava-se de seu passado ele se deprimia, pensando se poderia
ter feito algo ele mesmo para impedir a morte de sua mãe naquele dia.
Talvez se tivesse se controlado e não batido em Andrew, eles teriam tempo de
salvar Mirella.

Algumas pessoas lhe disseram que foi melhor assim, pois Mirella estava
sofrendo demais naquela cama enquanto seu marido a traía dentro de sua própria casa.
Talvez a morte tenha sido o fim de seu sofrimento e humilhação, então o filho
tentava acreditar nisso para sobreviver melhor em meio a tanta dor.
Durante aquela semana, Lucca tentou evitar seu jardineiro, mas chegou um dia
que acabou esbarrando com Sophia, quando foi durante a noite justamente dar uma
olhada no Jardim como gostava de fazer e avistou Gabriel conversando com as rosas
com doçura.
A Rinaldi distraída, não notou a presença do Denali, então conversava em seu
timbre de voz normal e suave sem tentar disfarçar imitando uma voz masculina.
– Vocês estão ficando muito bonitas. Olha só, três novos botões! Isso é lindo!
Três novas rosinhas para encher de vida essa casa tão vazia. Estou feliz por poder cuidar
de vocês. Fazem com que eu me lembre do meu avô. - ela dizia.
A pele alva iluminada pela lua parecia ainda mais brilhante e o patrão não pôde
deixar de notar o quanto Gabriel parecia feminino especialmente na voz. Se não o
conhecesse, podia jurar que era uma moça falando. Chegou a imaginar que talvez fosse
algum problema genético que o fizesse parecer uma moça.
– Gabriel? O que está fazendo? Você fala com flores? - perguntou.
Sophia levou um susto ao ouvir a voz séria do patrão e se virou com expressão
de choque.
– Sr. Denali! Perdão. É, sei que parece loucura, mas sim eu converso com
flores. - respondeu enquanto as mãos tremiam.
O Denali reparou no nervosismo do empregado que agia como um criminoso
pego em flagrante e achou certa graça da situação. A tremedeira nas mãos não lhe
passou despercebida, além disso, algo mais lhe chamou a atenção. As mãos de Gabriel
estavam machucadas e havia sangue nelas.
– O que houve com as suas mãos? - ele perguntou assustado.
Sophia as fechou envergonhada.
– É porque eu não estava acostumado a pegar nas ferramentas, entende? É a
primeira vez que estou trabalhando como jardineiro. - ela disse dando um pequeno
sorriso.
Outra vez Lucca se viu capturado por aqueles lábios e os dentes bem brancos.
Aquela pele era tão macia e alguns fios de cabelo estavam escapando da boina que
Gabriel sempre usava, de forma que Lucca percebeu que aqueles fios eram
avermelhados.
Uma cor bem bonita e rara de se ver.
– Peça a Jane que te traga um dos kits para curativos que temos na casa. Não
quero que fique com as mãos esfoladas durante o serviço. - Lucca disse tentando não
pensar no que estava sentindo.
Sophia assentiu com a cabeça enquanto seu coração batia mais acelerado por
causa da presença do Denali e da idéia de que ele estava preocupado com ela.
– Sim, obrigada Sr. Denali. Vou indo então. Boa Noite! - disse dando as costas
ao patrão, mas ela não sabia direito o porquê de na verdade querer ficar ali perto dele.

Capítulo 7
Perguntas e respostas

Era mais uma daquelas reuniões chatas no clube de golfe na qual Lucca estava
participando mais por causa dos negócios do que pelas companhias em si.
Sua mente divagava mais uma vez, pois ele se lembrava da cena no Jardim com
o jovem Gabriel.
Um antigo amigo seu da época do colégio interno que tinha algumas
preferências que Lucca até o momento pensava não poder compreender, aproximou-se
do Denali.
– Lucca está aéreo hoje. Hum, não sei não, tô achando que o grande Denali
finalmente encontrou alguém que fisgou seu coração. - disse Alan.
Lucca levantou-se sério e com certa raiva do comentário que Alan havia feito.
nunca tiveram grandes amizades, mesmo porque não tinha muitos amigos na escola e
era de falar pouco. Ia dar uma resposta atravessada, mas decidiu aproveitar a
oportunidade para tirar uma dúvida que já o perturbava a vários dias.
– Alan, eu tenho uma pergunta pra te fazer. Não quero que comente com
ninguém, mas você sempre se interessou por rapazes ou alguma vez já sentiu interesse
por mulheres? - Lucca perguntou.
Alan considerou aquela pergunta bastante estranha, principalmente pelo fato da
mesma ter sido feita por Lucca. Talvez estivesse explicado o porquê afinal de
contas, Lucca nunca ser visto com nenhuma mulher como a maioria dos homens de sua
profissão. Alan nunca soube de nenhum caso do Denali com alguma mulher, embora
seu radar também não tivesse "apitado" para ele quando se tratava de detectar outros
homossexuais.
– Olha, eu nunca senti desejo por mulheres não, apesar de já ter pensado estar
apaixonado por uma garota de escola. Ela era tão linda! Mas eu sei de muitos que jogam
no meu time que mantinham relações sexuais com mulheres antes de saírem do armário.
Posso saber o porquê dessa pergunta? - Alan perguntou se insinuando um pouco para
Lucca.
O Denali olhou para o colega. É verdade que Alan também era bem feminino.
Tinha um cabelo loiro longo de causar inveja em muitas mulheres, as feições eram
delicadas e os olhos azuis eram brilhantes e muito bonitos, mas apesar de tudo isso,
Lucca não sentiu vontade de tomar aqueles lábios como havia sentido em relação a
Gabriel. Decidiu cortar logo aquilo antes que o loiro começasse a ter idéias.

– Claro que não. Foi só uma curiosidade. - respondeu secamente.


– Claro, mas se me permite eu gostaria de deixar um conselho sincero. O grande
problema das pessoas é que elas não assumem os seus desejos por medo do que os
outros vão pensar. Existem diversas formas de amor no mundo, compreende? Alguns
homens simplesmente amam outros homens, isso não deveria ser considerado algo
bizarro ou anormal e mesmo se fosse, ninguém tem nada com nossas vidas. Não são os
outros que pagam nossas contas. - acrescentou Alan quando um homem ruivo se
aproximou e olhou para Lucca de forma ciumenta.

– O que está fazendo, Alan? Ainda não trocou de roupa? É hora de ir pra casa.-
disse Mike, o namorado de Alan de forma possessiva.
– Já vou meu amor, eu estava só dando alguns conselhos para o nosso amigo
Lucca. Melhor irmos mesmo, eu comprei uma coisinha especial. - disse Alan piscando
para o namorado e os dois saíram dali.
Lucca pensou no conselho de Alan. Muitos homens se apaixonavam por outros
homens. É verdade que o nunca tivera vontade de ficar com nenhum outro homem
antes de Gabriel, sempre estivera muito certo sobre sua sexualidade, mas e se afinal de
contas não fosse hetero e sim bissexual?
Seu primeiro pensamento foi o de se manter afastado do causador daquelas
estranhas sensações que lhe causavam dúvidas, pois Lucca não era um homem
de ter dúvidas. Para ele isso era sinal de fraqueza. Depois dessa conversa com Alan,
decidiu reconsiderar o assunto. Nunca havia se apaixonado antes, nos seus vinte e
oito anos de vida e não era capaz de compreender esse sentimento. Não era como seu
pai e seu irmão. Também não acreditava ter se apaixonado pelo jardineiro, mas em uma
coisa Alan tinha razão: O que os outros tinham haver com sua vida, caso estivesse
mesmo sentindo atração pelo jardineiro?
Lucca também não era homem de se importar com as opiniões alheias
sobre si mesmo. Sua vida particular desrespeitava a ele mesmo e a mais ninguém. Se
fosse mesmo bissexual, ninguém tinha nada haver com isso. Já era um homem feito e
não tinha sequer uma família para quem dar satisfações.

Naquela bela tarde de sábado, Sophia estava na casa da velha Bethany tomando
um delicioso chá preparado pela gentil anciã enquanto decidia a melhor forma de contar
a ela sobre o erro que havia cometido em seu novo e primeiro emprego.
– Vovó Bethany, eu fiz uma grande besteira e não sei como consertar. Gostaria
que a senhora pudesse me ajudar mais uma vez. - começou a contar á senhora.
A mulher idosa fitou a mais jovem com preocupação. Para Bethany, tanto
Sophia quanto Lucca eram como se fossem seus netos. É verdade que ela mesma tinha
criado filhos e netos, mas considerava Sophia e Lucca da mesma forma, pelo fato de ter
visto ambos crescerem e ter compartilhado de todo o sofrimento que aqueles dois seres
de universos tão diferentes tiveram na vida.
– Fale minha criança, o que foi que você fez? - perguntou Bethany.
– É que no primeiro dia eu esqueci e fui vestida de homem, aí pensaram que eu
era mesmo homem e não tive coragem de dizer que sou mulher, então eu disse á eles
que meu nome era Gabriel. – respondeu.
Bethany levou as mãos á boca horrorizada com a confissão de Sophia. Teve a
certeza de que a garota havia feito mesmo uma besteira muito grande.
– Mas como você fez uma coisa dessas, menina? Eu pensei que você tinha mais
juízo nessa sua cabecinha! E agora, o que eu vou fazer com você, hein? Lucca não
gosta que seus funcionários mintam para ele porque uma das coisas que ele mais presa é
a confiança. - informou.
Sophia abaixou os olhos com tristeza.

– Eu sei disso, estou arrependida do que fiz, sei que não deveria
ter mentido, mas foi um detalhe tão pequeno. Que diferença faz para ele ter um
jardineiro homem ou mulher? Não quero perder esse emprego só por causa dessa
mentira. – Sophia disse quase chorando.

– Nesse caso, então acredito que o melhor seja você dizer a verdade ao Lucca.
Ele é alguém muito difícil de perdoar pois sofreu muito na vida, querida. Sofreu tanto
quanto você e isso deixou aquele coração meio amargurado, mas é melhor que ele saiba
da sua boca do que descubra de outra maneira. - a mulher mais velha aconselhou.

Sophia decidiu que seguiria o conselho de Bethany e contaria no dia seguinte


mesmo para seu patrão a verdade sobre quem era, mesmo que custasse seu emprego.

No caminho de volta para casa, sua mente lembrava da imagem do belo e


arrogante homem que era Lucca.
Não sabia exatamente o porquê, mas seu coração batia mais forte só com a
presença dele e ficava muito nervosa toda vez que ele estava perto.
Ela sabia o que era aquele sentimento e o quanto a faria sofrer.
É, talvez fosse mesmo melhor ela ir logo embora daquela casa antes que aquele
sentimento crescesse ainda mais e ela acabasse estando realmente apaixonada por seu
patrão.
Não queria mais sofrer na vida e sabia que um sentimento como aquele só lhe
traria dor.
Assim que anoiteceu na Mansão Denali, como sempre, Lucca foi até o Jardim,
mais na esperança de ver o Jardineiro do que qualquer outra pessoa mas não encontrou
Gabriel lá. Havia refletido muito e tomado uma decisão para pôr fim ás suas dúvidas.
Ele era observador e sabia que o sentimento era recíproco.

Foi caminhando até o quarto do Jardineiro estava trancado então bateu na porta.

– Quem é? - a voz feminina de Sophia perguntou.


– Sou eu, o Lucca.- respondeu.
– Já vou abrir! - a Rinaldi respondeu.

Lucca aguardou do lado de fora, percebendo que Gabriel estava demorando


demais para abrir aquela porta, quando a mesma finalmente se abriu e o moreno olhou
para aquela figura de boina, camisa e calça. Era estranho, será que Gabriel não tirava
aquela roupa nem para dormir.?

– Em que posso ajudá-lo, Sr. Denali? - Sophia perguntou sem deixar de


percorrer com os olhos o belo corpo do patrão.

Ele estava usando apenas uma calça de cetim azul marinho com o roupão por
cima, tendo o peito nu a mostra.
A moça tinha exatamente a altura daquele peito tão bem definido que a fazia ter
vontade de tocá-lo.
Só de ter aquela visão, Sophia ficou com as bochechas levemente coradas.
Lucca levou as mãos até aquele rosto delicado, levantando aquele queixo e
encarando o verde-jade daqueles olhos brilhantes, sentindo novamente o magnetismo
daquele olhar. Sem nenhum aviso, ele levou os lábios aos do jardineiro forçando a
língua para dentro daquela boca macia e saborosa.

Sophia levou um susto com o ato do Denali, não estava preparada para aquilo,
principalmente porque um homem tão bonito parecia estar atraído por um rapaz! Ele
pensava que ela era homem e talvez ficasse furioso quando descobrisse a verdade.
Apesar de sua mente trabalhar rápido, o beijo era muito gostoso, assim como a
sensação daquele corpo másculo envolvendo o seu. Lucca colocou as mãos naquela
cintura macia sentindo Gabriel corresponder seu beijo e não pôde notar o quanto aquele
corpo era feminino. O beijo do jardineiro era delicado, suave e macio. Nunca havia
experimentado um beijo como aquele, mas de repente Gabriel parou e tentou afastá-lo
com as mãos.

– Não! Sr. Denali! Espere, tem uma coisa que você precisa saber! - falou
tentando manter Lucca afastado, que parou para ouvir o que o garoto tinha a dizer.
O coração de Lucca ainda estava disparado pelo que tinha feito, ainda mais por
ter sido tão gostoso beijar um garoto. Agora tinha certeza de que era bissexual.
Sophia por sua vez, temia apenas a cólera de seu patrão.
– Eu compreendo que goste de garotos, mas acontece que eu menti para o
senhor. Veja, eu não sou um garoto como o senhor pensa. Sou mulher e meu nome não é
Gabriel. - ela disse tirando a boina e deixando que seus cabelos avermelhados caíssem
sobre o rosto revelando a face feminina.
Lucca ficou assustado e envergonhado. O tempo todo estava sentindo atração
por uma mulher e não por um homem e ela ainda pensava que ele gostava de garotos.
– Como assim é uma mulher? Você mentiu na entrevista de emprego? Como eu
sei que você é mulher mesmo? - ele perguntava querendo ter certeza enquanto
caminhava na direção dela e puxava-lhe a blusa.
Sophia lutou contra aquele ato, lembrando-se de quando quase fora violentada
na rua. Lucca havia estendido sua blusa larga até em cima, vendo seus seios espremidos
em um apertado sutiã.
– Pare Sr. Denali! Ou eu vou gritar! Eu sou mesmo mulher, está me
machucando! - a Rinaldi disse assustada.
Lucca se afastou, pois afinal de contas não pretendia deixá-la nua contra a sua
vontade embora seu desejo fosse exatamente esse, pois queria avaliar bem pra ver se ela
tinha mesmo uma vagina.
– Onde estão seus documentos? Imagino que seja por isso que não os entregou
pra mim, não é Gabriel? Imagino também que esse não seja o seu nome! - o Denali
perguntou de maneira agressiva.
Sophia ajeitava a blusa com lágrimas nos olhos e as mãos tremendo enquanto
abria a gaveta e entregava para Lucca seus verdadeiros documentos. O Denali abriu e
pôde ler o documento de identidade assim como a carteira de trabalho com a foto da
jovem.
– Sophia. Então esse é o seu nome? Por que mentiu e disse que se chamava
Gabriel? É alguma criminosa? Está fugindo da polícia? - Lucca perguntou desconfiado.
Não passava por sua cabeça o porquê uma mulher se passaria por homem para
trabalhar em uma Mansão, ao menos que ela estivesse fazendo algo de errado.
– Não! Não é nada disso! Não sou criminosa, Sr. Denali, pode procurar e vai ver
que não tenho ficha na polícia. Eu apenas gosto de me vestir de homem, é só isso. -
Sophia respondeu.
Ela não disse o motivo pelo qual gostava de se vestir como rapaz, considerou
aquela explicação suficiente.
– Gosta de se vestir de homem? Por que, é lésbica? - Lucca perguntou, embora
não achasse que ela fosse lésbica.
O beijo que haviam trocado lhe dizia que ela sentiu tanta atração por ele quanto
ele por ela.
– Não! Eu só gosto de me vestir assim, juro! - dizia Sophia trêmula.
– Certo, Sophia Rinaldi. Quero pegue as suas coisas e saia da minha casa agora
mesmo, se não quiser que eu chame a polícia! - ordenou o Denali.

Capítulo 8
Segunda Chance

Sophia arregalou os olhos diante da ameaça do patrão, já imaginava que talvez


ele a mandasse embora, pois segundo Jane, Lucca valorizava muito a
confiança de seus funcionários não tolerando mentiras, mas jamais imaginou que ele
fosse ameaçar chamar a polícia daquela maneira, afinal, Sophia não era uma criminosa.
– Sr. Denali, compreendo que queira me demitir porque menti, mas eu não sou
criminosa, pra que chamar a polícia? - ela perguntou de forma humilde.
– Se cometeu algum crime ou não antes de vir eu não sei, mas aqui cometeu o de
falsidade ideológica, apresentando-se com um nome que não é seu. Posso muito bem
processá-la por isso, especialmente pelo constrangimento que me fez passar. – ele disse
sentindo-se envergonhado.
Uma das coisas que mais o deixara chateado, foi imaginar que havia pensado ser
bissexual porque sentiu atração pelo jardineiro que na verdade era uma mulher. Pelo
menos sua masculinidade estava a salvo, mas isso o fez lembrar de que ele não confiava
em mulheres, especialmente as empregadas.
Ter conhecido Elise tornou-o um homem mais cuidadoso com esse tipo de
relacionamento, pois sabia que elas procuravam seduzir os homens com dinheiro para
lhes dar o golpe.
Sophia olhou dessa vez o patrão nos olhos e pensou que apesar de belo, aquele
homem era extremamente duro e sem coração. Ela não queria ia para a cadeia de forma
alguma, se ele insistisse para que ela saísse sozinha no meio da noite passando por
lugares perigosos e arriscando sua vida, ainda que vestida como um rapaz, ela o faria só
para não ser presa, mas tentaria uma última vez.
– Sei que ficou decepcionado por eu não ser um rapaz e o senhor sentiu atração
por mim pensando isso. Olha, compreendo porque está me demitindo, mas é tarde da
noite, eu moro em um lugar perigoso. O senhor quer mesmo que eu saia agora, sabendo
que posso ser assaltada ou coisa pior? - ela disse com sinceridade lembrando-se do dia
em que quase fora violentada na rua.
Lucca queria gritar para que ela saísse imediatamente, mas olhou para aquela
figura delicada a sua frente e soube que mesmo ela vestida como um rapaz, era
extremamente feminina e existiam muitas pessoas cruéis na rua capazes de fazer coisas
muito ruins a pessoas como ela.
– Pode passar essa noite aqui, mas amanhã de manhã bem cedo eu quero você
fora daqui. Isso só porque Bethany não me perdoaria se alguma coisa acontecesse com
você porque eu te expulsei. Mas tem mais uma coisa. Não gosto de rapazes, eu gosto de
mulheres e sempre gostei de mulheres. - disse defendendo sua masculinidade.
Ele já ia virando as costas para sair dali quando Sophia decidiu fazer mais uma
pergunta:
– Sr. Denali. Só mais uma coisa. Se gosta de mulheres então por que me
beijou? Quer dizer, você pensou que eu era homem, não? - ela arriscou.
O patrão serrou o punho envergonhado, podia sentir as faces esquentando, ele
estava ficando corado da mesma maneira que a garota ficava em sua presença.
– Não sei, você foi o único homem pelo qual me senti atraído. Agora já sei o
porquê. - respondeu antes de sair dali de vez.

Pela manhã bem cedo, Sophia arrumou suas coisas e contou a Jane o que havia
acontecido na noite anterior omitindo apenas a parte que o patrão a havia beijado e em
seguida foi embora com tristeza, antes que Lucca chamasse mesmo a polícia e a
mandasse para a cadeia.
A jovem empregada ficou muito triste com a notícia, não queria que sua amiga
fosse embora, mas não podia interceder por ela já que se Lucca soubesse que Jane sabia
e não havia lhe dito nada provavelmente a demitiria também.
Foi então que Jane teve uma idéia para ajudar Sophia e ligou para a velha
Bethany, já que era a única pessoa que poderia interferir naquele assunto sem sofrer
algum prejuízo.
Lucca estava em seu escritório na empresa, ainda relembrando dos
acontecimentos da noite anterior. Foi informado por Jane que Sophia já havia ido
embora quando ele levantou.
Foi melhor assim, mas não conseguia esquecer a imagem daquela garota em sua
forma feminina.
É verdade que ela não parecia ser uma mulher muito atraente, os cabelos curtos
deixavam o rosto um pouco quadrado, tirando um pouco da delicadeza que aquela face
tinha quando ela os deixava presos. Ele não sabia direito como era o corpo da jovem por
baixo daquelas roupas, mas por algum motivo ela o havia atraído e muito, mesmo
embaixo de seu disfarce de homem.
De repente o telefone tocou e sua secretária avisou que havia uma senhora
querendo falar com ele. Era Bethany e Lucca mandou que ela entrasse. Deveria ser
alguma coisa bem séria que ela queria lhe falar, pois nunca antes a mulher idosa havia
ido em seu trabalho.

Lucca estava sentado em sua cadeira quando a mulher entrou na sala. Na mesma
hora levantou para cumprimentá-la.
– Vovó Bethany, o que faz aqui? - ele perguntou enquanto a conduzia para a
cadeira.
– Obrigada mas não quero sentar, o que vim dizer pra você é uma coisa muito
rápida. Eu soube o que aconteceu com a Sophia. Sei que a demitiu porque ela usou as
roupas e o nome do velho Gabriel, mas está cometendo um erro muito grande em
despedi-la, filho. - disse Bethany.

Lucca franziu o cenho, Bethany era a única pessoa com quem ele não gostava de
ser grosso, mas se insistisse ele faria isso. Sophia havia quebrado a confiança dele
e ainda por cima fez com que ele se sentisse humilhado por tê-la beijado vestida como
homem.
Chegou a duvidar da própria sexualidade por culpa dela.

– Se já sabe o que aconteceu, presumo que me conheça o suficiente pra saber


que não tolero gente mentirosa e o que ela fez foi grave. Só não entendi ainda porque
mentiu esse tempo todo, mas boa coisa certamente não foi. – respondeu.

Bethany levou a mão até o antebraço de Lucca carinhosamente. Sabia que o


temperamento do homem era forte e que o Denali era extremamente inflexível, mas ela
era a única que sabia fazê-lo amolecer um pouco.
– Na verdade eu sei porque ela se veste de homem. É muito difícil ser uma
mulher jovem e sozinha morando no lugar onde ela mora. Ás vezes coisas ruins
acontecem com moças bonitas, ainda mais quando são novinhas. Uma vez aconteceu
com ela, desde então Sophia passou a se vestir como rapaz pra se proteger da maldade
dos homens. – a idosa disse de forma séria.

Lá no fundo do coração de Lucca, ele sentiu uma pontada de comoção com a


história de Sophia. Pela maneira como Bethany falava, parecia que alguém tinha tocado
a moça e lhe feito muito mal. Ele podia visualizar bem alguém fazendo algo do tipo,
não seria difícil com um ser tão delicado. Isso encheu seu coração de revolta, sentia
vontade de matar quem fosse capaz de fazer uma maldade tão grande. Mas ainda sentia
também a humilhação pelo que passou por causa da jovem.
– Compreendo, isso é horrível. Mas Vovó Bethany, não tinha necessidade dela
mentir na entrevista. Não tem bandidos e nem tarados na minha casa, ou ela pensou que
eu fosse agarrá-la? - Lucca questionou.
Bethany soube que Lucca tinha um ponto. O que Sophia fez foi uma idiotice.

– Bem, claro que não. Mas meninas como ela sentem a necessidade de se
defender. Olha Lucca, eu não posso obrigá-lo a contratá-la de volta, mas talvez devesse
pelo menos ir lá pagar o que deve a ela, pelo que ela trabalhou em sua casa. Ela
realmente precisa do dinheiro, sabe? - Bethany pediu.
Lucca na mesma hora lembrou-se de que não havia pago o dinheiro que devia á
Sophia pelos dias em que ela havia trabalhado em sua casa. Isso o envergonhou, teve
tanta pressa de expulsá-la que sequer cogitou a idéia de pagar-lhe. Logo ele que era tão
correto com o pagamento de todos os funcionários!
– Eu vou pagá-la. Não se preocupe, sabe que não sou de dever meus
empregados. Tem o telefone dela para que eu possa mandá-la vir receber? – perguntou.
– Ela não tem telefone. Olha, estou indo na direção da casa dela, talvez pudesse
me dar uma carona e aproveitar para passar por lá e pagar a ela. Minhas costas estão
doendo muito e é uma longa caminhada. - Bethany pediu.
Lucca não teve como dizer não para aquela velha senhora, então fechou o
escritório já que não tinha nenhuma reunião naquele dia e dirigiu com Bethany até a
favela onde Sophia morava.
Pelo caminho ficou horrorizado, pois viu muita pobreza, crianças descalças
correndo pelo chão barrento vestidas com trapos e homens mal-encarados passando pelo
local.
– Onde é a casa dela? - perguntou doido pra sair logo dali, imaginando como
alguém podia viver em um local como aquele.
– É logo ali, Lucca. - Bethany disse apontando para um pequeno barraco.
Ambos saíram do carro e Lucca bateu na porta da casa de Sophia. Segundos
depois, a moça foi atender.
Dessa vez não estava vestida como homem, usava um vestido largo de ficar em
casa com um xale de tricô por cima. Ao abrir a porta e dar de cara com o moreno, ela
levou um susto.

– Sr. Denali? O que faz aqui? Olha, eu fui embora como o senhor mandou. Não
precisa me prender por favor! - ela implorou com medo de que ele estivesse lá para
prendê-la.
– Calma, não vim te levar para a prisão. Eu só esqueci de pagar o que estava te
devendo, pelo tempo que você trabalhou na minha casa - Lucca explicou enquanto
retirava um dinheiro da carteira e entregava á Sophia.
Assim que pegou o dinheiro, seus olhos brilharam de felicidade e ela abriu um
lindo sorriso.
– Nossa! Isso tudo! Puxa muito obrigado! Isso é muito mais do que eu ganho quase
o ano todo trabalhando na feira! - disse Sophia.
Lucca não pôde deixar de dar uma olhada no lugar onde ela vivia. Era menor do
que um banheiro da casa dele, havia apenas uma cama muito velha, um tonel de água
onde ela devia tomar banho e um fogão muito velho, ao lado de uma cômoda onde ela
guardava suas roupas. Nunca havia imaginado que uma pessoa que trabalhava para ele
pudesse ser tão pobre.
– O senhor quer entrar e tomar um chá ou café? Ainda tem um pouco aqui. –
Sophia perguntou educadamente, embora não achasse que Lucca fosse aceitar.
Surpreendeu-se quando ele balançou a cabeça afirmativamente e depois
procurou por Bethany, mas ela não estava mais lá, havia desaparecido.
Lucca entrou e sentou-se na cama, pois não havia outro lugar para
sentar. Ficou observando enquanto ela fazia o chá de costas para ele.
Ambos nervosos com a simples presença um do outro. Não tinham idéia do que
dizer, mas ele não conseguia desviar os olhos daquelas mãos machucadas que lhe
serviram o chá em uma caneca velha.
– Aqui está. Não repare que aqui é tudo simples e humilde, mas é o
meu lar. - Sophia disse.
Ele quis dizer que não tinha como não reparar naquele ambiente e que ninguém
deveria viver naquelas condições, ainda mais uma moça tão delicada como ela, mas não
queria ofendê-la.
– Tudo bem, Sophia. Obrigado pelo chá. - falou enquanto provou o delicioso chá
que ela havia preparado.

Observando aquele local, Lucca desejou fazer alguma coisa por ela. Não
conseguiria viver em paz com a sensação de que a havia deixado daquela maneira, ainda
mais com a possibilidade de que ela fosse machucada de novo, como Bethany havia
dito.
– Olha, conversei com Bethany, ela confia muito em você então tomei uma
decisão.Preste bem atenção, eu não dou uma segunda chance pra ninguém, mas você
tem feito um bom trabalho e Bethany confia em você. Quero que volte para a Mansão e
continue trabalhando para mim. - Lucca disse, torcendo para que não se arrependesse no
futuro.

Sophia levantou alegre e seus olhinhos brilharam.


– Verdade? Eu posso mesmo voltar? Puxa, eu nem sei como agradecer! - ela
disse.

Olhando-a daquela maneira, Lucca pôde entender o porquê de se sentir atraído


por ela.
– Pode, mas tenho uma condição, aliás, uma não. Duas! - disse o patrão.
– Quais?- Sophia perguntou preocupada.
– A primeira é que na minha casa você deve ser vestir de acordo com o seu sexo.
Nada mais daquelas roupas de Gabriel. - informou Lucca.
– Certo! Vou usar roupas femininas quando estiver trabalhando para o senhor. -
Sophia concordou.
– A segunda é que eu gostaria que você voltasse a estudar. Percebi que é muito
jovem e que tem um futuro pela frente. – disse.
Lucca costumava custear os estudos dos jovens estagiários de sua empresa para
que evoluíssem. Sophia tinha apenas vinte e três anos e vê-la naquelas condições de
vida o fez pensar que ela merecia algo melhor do que trabalhar a vida toda como
jardineira em sua Mansão. É verdade que ele lhe pagava bem, mas ela tinha condições
de ganhar muito melhor se concluísse seus estudos.
– Bem, eu larguei a escola no último ano do Ensino Médio. Vovó Bethany vive
dizendo que devo voltar a estudar. - disse Sophia.
– Ela está certa. Vou matricular você em um curso supletivo para que conclua
em pouco tempo. Agora pegue suas coisas, quero deixá-la em casa antes de voltar para
o escritório. - ordenou o patrão.

Capítulo 9
Pequenos Lírios

Lá estava ela, no Jardim da Mansão Denali, vestida com uma jardineira jeans e
uma blusinha vermelha por dentro combinando com seus cabelos também avermelhados
que caíam na altura do queixo.
Uma faixa em um tom de rosa um pouco mais forte com detalhes em flores
enfeitava sua cabeça de forma que não permitia que seus cabelos cobrissem a delicada
face e atrapalhasse a sua visão enquanto ela regava os brotos com pequenos lírios que
havia se dado a liberdade de plantar ali para agradar seu patrão e dar um pouco mais de
vida e de cores para aquele jardim que aprendera a amar.
Fazia uma semana desde que Sophia havia sido admitida novamente em seu
trabalho como Jardineira e ela estava inclusive estudando novamente.
Devia tudo aquilo ao seu patrão. Infelizmente, quase não o havia visto nos
últimos dias, pois ele andava trabalhando muito ultimamente, o que era uma pena, pois
sentia falta dele.
Mordeu o lábio ao se dar conta disso, pois sabia que não deveria sentir a
ausência de Lucca, já que aquilo significaria que ela sentia algo mais por ele do que
gratidão e ela não podia se permitir tal disparate. Um homem como aquele jamais se
interessaria por uma mulher como ela, disso tinha certeza, então limitou-se a cuidar dos
jardins que tanto amava.
Lucca finalmente conseguiu uma folga em seu trabalho, aquela semana fora
extremamente movimentada em seu escritório, mas agora que teria o final de semana
livre;
Ao entrar com o carro em sua garagem, tudo o que ele conseguia pensar era em
passar um momento agradável em seu jardim e é claro, falar com sua jardineira. Embora
se recusasse a admitir em voz alta, sempre que se encontrava com algum tempo vago
nas longas horas de seu dia, sua mente viajava para perto da delicada moça que ele
havia conhecido vestida como um rapaz.
Por que não conseguia esquecer de seu sorriso expressando gratidão quando ele
a perdoara e decidira contratá-la novamente? Além desses pensamentos, outros
povoavam sua mente. Será que ela estava gostando da escola nova? Teria feito novas
amizades? Estaria tendo alguma dificuldade? Logo ele saberia todas essas respostas,
uma vez que estacionou seu carro e foi caminhando rapidamente até o jardim.
Ao se aproximar da jovem de cabelos vermelhos, Lucca notou o belo sorriso em
sua face enquanto ela molhava as plantas com o regador, então seus olhos deslizaram
por suas mãos até chegar na ponta do regador, quando Lucca viu algo que o desagradou
completamente.

– O que é isso no jardim da minha mãe? Que porcaria foi essa que você
plantou?– perguntou o patrão furioso.

Para Lucca, o jardim de sua mãe era algo perfeito, imaculado. Jamais pemitiria
que alguém plantasse algo além das flores favoritas da bela Mirella.

Sophia surpreendeu-se com as palavras agressivas do patrão e voltou o rosto


para ele.
– Desculpe, é que pensei que gostaria, são apenas pequenos lírios, para deixar o
jardim mais bonito. - ela falou com uma voz baixa fitando o belo par de ônix do patrão
que parecia duro e frio.
– Você não tem que pensar nada, é paga para cuidar das flores que estão aqui e
não para dar palpites sobre o que fica bem ou não. Essa casa não é sua e esse jardim não
é seu. Essas plantas não podem ficar aqui! - respondeu enquanto colocava a
mão em um dos brotos e arrancava, jogando-o no chão.
– Não, por favor! Não precisa fazer isso, eu os tiro dali e arranjo outro lugar!
Não os mate! – Sophia implorou com lágrimas nos olhos enquanto catava a planta
jogada no chão com raíz e tudo.
Ao ver o quanto havia magoado a jovem, Lucca sentiu um aperto no peito. Não
esperava que ela fosse romper em lágrimas apenas por causa de alguns brotos.

Envergonhada por sua reação, Sophia abaixou a cabeça enquanto levantava.


– Sinto muito, não vou mais plantar nada que o senhor não queira. Com licença.
- ela disse virando as costas e indo para seu pequeno quarto.

“A pequena Sophia Rinaldi estava emburrada na escola, depois que as aulas


haviam acabado. Naquela tarde nem seu pai nem sua mãe haviam ido buscá-la como de
costume, pois era o dia em que sua mãe havia entrado em trabalho de parto. Desde que
sua mãe havia engravidado, Sophia não recebia mais a mesma atenção,
pois a gravidez da mãe era de risco e por isso ela não podia mais brincar com a filha
como antes.
A única filha dos Rinaldi não estava nenhum pouco animada com a idéia de ter
uma irmãzinha e por isso mantinha a expressão emburrada enquanto observava seu
avô cuidando dos jardins da escola.
De repente, o velho Gabriel olhou para a neta e se aproximou da menina.

– Sophia, venha ver uma coisa! - ele fez um gesto para que a neta se
levantasse e o acompanhasse.
Apesar de estar chateada, a curiosidade falou mais alto e a menina
acompanhou o avô. O homem a levou até um lugar onde havia flores brancas que
tinham acabado de desabrochar ali nos jardins da escola.
– Vê? São aquelas flores que você me ajudou a plantar naquele dia. Elas
desabrocharam hoje, não são bonitas? - Gabriel perguntou.
Sophia tocou uma com as pontas de seus pequenos dedos de criança e deu um
sorriso.
– São sim, vovô! Essa aqui é pequena! Como se chama essa flor? - perguntou a
menina que estava naquela fase da infância que os adultos costumam chamar de "fase
dos porquês".
– Se chama lírio. "Lily". - disse o avô.
– Lily não é um nome de menina? - Sophia perguntou curiosa, lembrando-se de
que uma vez conhecera em um parquinho uma menina que tinha esse nome.
– Também é sim, querida. Está na hora, vou levar você agora para ver sua mãe
e a sua nova irmãzinha. - o avô comunicou pegando a neta no colo e colocando-a nas
costas para carregá-la.
A idéia de ver a mãe era boa, mas Sophia não estava nenhum pouco animada
para conhecer a pequena irmã que lhe roubara o carinho materno.
Ao chegar no hospital, encontrou sua mãe com uma pequena trouxa cor-de-rosa
no colo e seu pai ao lado.
A jovem mãe assim que viu Sophia entrando, dirigiu-lhe um sorriso.
– Sophia, querida, venha conhecer sua irmãzinha, estávamos esperando você.
Vem ver! - a mãe pediu.
Sophia se aproximou timidamente, mas não conseguiu ver o rosto do pequeno
bebê já que não alcançava a altura da cama. O pai achando graça, pegou a filha mais
velha no colo e então ela pôde ver o belo rosto do bebê que estava no colo de sua mãe.
– Filha, essa é sua irmãzinha mais nova, ela vai ser sua companheira quando
estiver maiorzinha e vocês vão poder brincar sempre juntas, mas como você é a mais
velha é quem deve protegê-la. Nós a amamos, mas também amamos muito você, já que
sempre vai ser a nossa filha. Por causa disso, vamos deixar você escolher o nome da
sua irmãzinha. - disse o pai.
A idéia de dar o nome á irmã rapidamente animou a pequena Sophia.
– Verdade, posso mesmo escolher o nome dela? - perguntou a menina.
– Pode sim meu amor, e então, qual vai ser? - a mãe perguntou.
Sophia ficou pensativa durante alguns segundos, então lembrou-se da conversa
que havia tido com o avô um pouco mais cedo. Olhou para a irmã e deu um sorriso.
– Lily, eu escolho Lily! - respondeu.

Enquanto acariciava os brotos em suas mãos, Sophia lembrava daquele dia.


Sabia que havia feito um papel de tola ao chorar daquela maneira na frente de
Lucca, mas o problema foi que para ela, ver Lucca arrancando aquelas plantas de
alguma maneira foi quase como se ele estivesse arrancando mais uma vez a própria Lily
de sua vida.
O barulho da porta se abrindo tirou Sophia de seus pensamentos. Ao virar o
rosto a moça deparou-se com o patrão que adentrava o recinto e caminhava lentamente
até sentar ao seu lado na cama.
– Olha Sophia, me desculpe, acho que fui muito grosso com você. Minha
intenção não foi de magoá-la, é só que eu não gosto que ninguém mude nada no jardim.
Foi minha mãe que plantou aquelas flores e eu gostaria que ele ficasse do jeito que ela
deixou. - Lucca explicou.
O moreno não entendia direito o porquê de se dar ao trabalho de dar aquela
explicação á Sophia. Desde quando ele se importava com os sentimentos de seus
empregados? E por que estava falando sobre sua mãe para ela? Jamais se permitira
antes falar sobre Mirella ou sobre seus sentimentos, pois para ele aquilo o deixaria
vulnerável. Não! Sophia não tinha nada com sua vida, era paga apenas para receber suas
ordens, mas quando a viu tão magoada, ele sentiu-se mal e por algum motivo percebeu
que se importava com os sentimentos da moça, muito mais do que com os dos outros
trabalhadores.
– Tudo bem, eu não deveria ter chorado desse jeito. Foi bobo, mas é porque
essas flores fazem eu me lembrar da minha irmã. O nome dela era Lily. - Sophia
explicou.
Lucca sentiu uma batida mais forte em seu coração ao ouvir Sophia dizendo que
havia tido uma irmã com o mesmo nome das plantas que ele tão brutalmente havia
arrancado.
– O que aconteceu com a sua irmã? - perguntou com curiosidade, sabia que
Sophia era sozinha e ouvir que ela tinha uma irmã o surpreendeu.
– Ela morreu no mesmo incêndio que meus pais e o meu avô Gabriel. - Sophia
explicou.
Agora tudo fazia sentido. Assim como rosas faziam Lucca lembrar de sua mãe e
mantê-las era como manter parte de Mirella viva, para Sophia os lírios traziam a
lembrança de sua irmã e cultivá-las era como reviver parte de Lily. Aquilo era uma
coisa que ambos tinham em comum.

Lucca não pôde desviar os olhos dos lábios inchados e avermelhados de Sophia
devido ao choro e levou uma das mãos até os cabelos da jovem acariciando-os de leve.
A textura era tão macia! Ao chegar mais perto, ele pôde sentir novamente o
quanto o cheiro era bom. Pondo a mão sobre uma das mãos da jardineira, Lucca
aproximou o rosto do dela, então tocou os lábios avermelhados com os seus.
Aquele beijo foi diferente do primeiro beijo de ambos, pois tinha um gosto mais
salgado que Lucca apreciou. Era o gosto das lágrimas de Sophia. Ela abriu os lábios
permitindo que a língua do moreno entrasse em sua boca e logo ele chegava ainda mais
perto, encostando o corpo no dela enquanto a segurava sua cabeça pela nuca.
Lucca não se afastou, seu corpo todo reagia á forma suave de Sophia de beijar,
então ele desceu os beijos pelo pescoço enquanto ela fechava os olhos de forma
receptiva.
Ah! Fazia tanto tempo que ela não era beijada por um homem, havia até mesmo
esquecido como era ter uma pele máscula sobre a sua e a sensação era tão boa! O beijo
de Lucca era tão bom. Sophia só queria sentir aquilo, não queria que ele parasse, pois
parecia um sonho.
Ele desabotoou sua jardineira deixando-a deslizar pelo corpo magro e delicado e
ela permitiu que ele descesse as mãos por sua cintura. Oh não! Não queria que
ele parasse de maneira alguma. Permitiu-se acariciar as costas dele por sobre a camisa
social fina meio aberta no peito e ao perceber que ela queria tocá-lo, Lucca tratou de se
livrar da camisa.
Sophia ficou com as faces coradas ao ver bem de perto o peito nu do Denali, a
pele lisa com os músculos bem definidos que ela tivera a chance de observar de longe
antes.
Mordeu o lábio com aquela visão sentindo desejo. Como que adivinhando a
vontade dela, Lucca pegou sua mão e guiou-a até sua pele que ela acariciou com
excitação.
Então foi a vez dele de querer despi-la. Sentia uma ereção dura por dentro da
calça já desejando possuí-la como nunca antes havia sentido tanta necessidade de
possuir outra mulher.
Levou as mãos até a blusa dela e começou a tirá-la e teve a bela visão dela com
aquele sutiã cor-de-rosa de algodão e seios não muito grandes, porém firmes.
Lucca puxou a jovem para si e abraçou, mas então algo o assustou ao tocar uma
pele mais dura e enrugada.
Percebendo o susto de Lucca, na mesma hora o encanto da situação se desfez e
Sophia lembrou-se de algo que por um momento havia esquecido que possuía ai ser
levada pelo calor do momento: as cicatrizes.
Levantou cobrindo-se com a blusa e afastou-se do patrão na mesma hora em
que ele tocou suas costas.
– Não! Por favor, Saia! Agora! - sua voz foi séria e firme.
Devido ao susto com a situação, Lucca limitou-se a obedecer, levantando-se e
saindo do quarto, deixando uma Sophia arrasada e constrangida sozinha.

Capítulo 10
Lembranças de um Primeiro Amor

" Era a primeira vez que Sophia foi para a casa de Taylor depois do incêndio
que havia matado sua família.
Os vizinhos e amigos haviam aconselhado que ela retomasse sua vida, pois
apesar de ter perdido sua família ainda havia muita coisa que ela podia viver, havia
pessoas que gostavam muito dela e uma dessas pessoas era seu namorado Taylor.
Ela ainda se lembrava bem de como começou a namorar. Taylor era
simplesmente o garoto mais popular de sua turma e tudo começou com uma simples
troca de bilhetes.
Uma amiga havia aconselhado Sophia a se declarar escrevendo um bilhete para
o jovem eesse bilhete deu resultados, pois na hora da saída ambos combinaram de se
encontrar na quadra do colégio em um horário em que os inspetores estariam na
entrada da escola e foi lá que deram seu primeiro beijo.
Depois daquele dia Sophia ficou ainda mais apaixonada pelo adolescente e
começaram a fazer daquilo uma rotina.
Marcaram de se encontrar fora da escola também e logo todos do colégio já
sabiam que eles eram um casal.
Foi com ele que Sophia perdeu sua virgindade e jamais esqueceria daquela
tarde em que os pais de seu namorado não estavam e ele a levou para conhecer sua
casa.
A jovem queria repetir aquele ato mais uma vez, para esquecer da dor e da
solidão que sentia depois da morte de seus entes mais queridos ali nos braços de seu
namorado, então mais uma vez foi até a casa dele.
Naquela época ela não se importava nenhum pouco com o fato de que ele nunca
se dispôs a visitá-la porque ela morava em um lugar perigoso e pobre.
Para Sophia, bastava estar com Taylor para que ela se sentisse feliz.
Sentados na pequena cama de solteiro do namorado, eles começaram um beijo
apressado e cheio de desejo. Taylor parecia ter pressa, já que fazia muito tempo que ele
não fazia aquilo com sua namorada. Na verdade meses desde que Sophia precisou se
recuperar do incêndio.
Os beijos foram descendo pelo pescoço da jovem e o namorado logo tratou de
desabotoar a blusa branca do uniforme de Sophia para levar sua boca até os pequenos
e seios já sentindo seu membro enrijecendo dentro das calças.
Ele era hormônio puro e beijava e mordiscava com violência.
De repente enlaçou os braços por volta de Sophia com a finalidade de
desabotoar o sutiã cor da pele de adolescente que ela estava usando, quando sentiu a
carne enrugada das costas da namorada. Na mesma hora afastou as mãos dali em um
susto.
– O que é isso? - perguntou fazendo uma careta.
Todo o desejo que ele havia sentido de possuir aquele belo corpo havia
desaparecido e agora ele não estava mais rígido dentro de suas calças.
– Foi por causa do incêndio, quando corri para escapar o batente da porta caiu
em cima de mim e o fogo subiu pela minha blusa. - ela explicou timidamente
cobrindo-se com a blusa.
Sentia-se constrangida ao ver a expressão do namorado que antes era de
excitação e desejo e agora era algo parecido com repulsa, ou melhor, era repulsa.
– Eu pensei que você já estivesse boa. Elas não vão desaparecer? - Taylor
perguntou esperançoso.
– Não. O médico disse que não tem jeito, elas vão ficar para sempre. - disse
Sophia com lágrimas nos olhos.
O jovem Taylor não quis ser grosso e tampouco cruel, pois sentiu pena da
namorada naquele momento, porém não a quis mais em seus braços. Tentou disfarçar
para não magoá-la.
– Puxa. Olha, Sophia, eu já ia me esquecendo, desculpa, mas é que tenho curso
de Inglês hoje. Eu pensei que fosse amanhã. Lembrei agora mesmo. Olha, vamos deixar
pra outro dia? É que se eu faltar podem ligar pra minha mãe e ela vai me dar um
esporro de novo, entende? - o namorado disse.
Sophia compreendeu perfeitamente que se tratava de uma desculpa para não
continuar com o que pretendiam fazer quando chegaram naquele quarto, então fingiu
acreditar apenas para não se sentir ainda mais constrangida.
Aquela foi a última vez que esteve na casa de Taylor.
Ele não terminou o namoro, mas passou a ficar mais distante e não a tocou mais
como antes."

Aquelas lembranças fizeram Sophia chorar ainda mais.


– Nenhum homem nunca mais vai querer me tocar como Taylor. Lucca agora
também sente repulsa por mim. Sei disso.– ela falou consigo mesma.
Acabou adormecendo ali naquela cama e ao acordar lembrando-se do ocorrido
na noite anterior, decidiu que nunca mais tocaria naquele assunto com Lucca e que a
partir daquele dia evitaria o patrão.
Horas mais tarde em seus aposentos, Lucca se lembrava daquela cena.
De suas mãos tocando a pele alva e macia de Sophia e depois chegando até a
parte enrugada onde estavam aquelas cicatrizes.
Queria ter podido evitar a expressão de susto que havia feito, apenas porque
aquela expressão a havia feito se sentir constrangida.
Ele compreendia perfeitamente bem como ela se sentiu vulnerável e magoada ao
vê-lo reagindo daquela forma a deformidade que ela tinha nas costas.
Sentiu-se mal por isso. Ele sabia que provavelmente aquilo havia acontecido no
incêndio que havia matado todo o resto da família Rinaldi, pois pela espessura aquele
tipo de cicatriz só podia ter sido decorrente de alguma queimadura.
Só que para ele, aquilo não era o suficiente para ofuscar toda a beleza que a
jovem jardineira possuía. Era como se aquilo fosse apenas um detalhe, uma marca que
demonstrava que Sophia não era como as outras mulheres, mas sim uma jovem que
havia sofrido.
Pensando sobre aquele assunto, tomou uma decisão e mandou que Jane
chamasse Sophia para que ela fosse até seu quarto.

A Rinaldi havia voltado para o jardim olhando para as flores com certa
melancolia quando ouviu a voz da amiga chamando-a.
– Sophia, o patrão mandou chamar você. Ele disse que quer falar com você
agora mesmo. - Jane informou.
– Agora? Já estou indo para a biblioteca. - Sophia disse caminhando para o
interior da Mansão.
– Não, Sr. Denali não está na biblioteca, ele disse que a aguarda no quarto dele.
- explicou a mulher.
Sophia não estranhou em nenhum momento aquele pedido, apesar de Lucca
geralmente marcar reuniões com seus empregados na biblioteca e não no quarto.
Ao entrar no local, ela ficou espantada ao ver como o aposento era grande e
bonito,muito bem arrumado e tinha tons de azul escuro na colcha que combinavam com
o roupão que Lucca agora estava vestindo que fazia com que ele ficasse ainda mais
bonito, mas Sophia tratou de desviar o olhar baixando os olhos. Ainda sentia-se
envergonhada pelo que havia acontecido.
– Mandou me chamar, Sr. Denali? - ela perguntou.
– Mandei. Venha Sophia, olhe pra mim. - ordenou.
Sophia levantou os olhos para encontrar um belo par de ônix a fitá-la.
Lucca ergueu a mão e tocou a ponta do queixo delicado com as pontas dos
dedos, depois afastou a mão.
– Vire-se. - ele disse de forma séria e imperativa.
– Por que? - Sophia ainda questionou.
– Apenas vire-se, faça o que eu digo. - ele disse de uma maneira que ela não teve
como desobedecer.
Logo ele afastava as mangas do vestido que ela agora estava usando baixando-os
de forma que deixava suas costas nuas.
– Mas o que está fazendo? - ela perguntou segurando o vestido para evitar que
ele deslizasse por seu corpo pelo fato de ser extremamente largo.
– Quero ver suas costas. - Lucca informou.
Sophia sentiu-se congelada ao escutar aquele pedido, ficou sem reação apesar de
sentir-se envergonhada por ele a estar examinando naquela parte que ela não deixava
que ninguém mais visse. Que espécie de desejo sádico era esse de querer humilhá-la
avaliando sua deformidade? Ela pensou.
De repente sentiu que ele tocava aquela parte, não apenas com os dedos, mas
com os lábios. Lucca estava beijando-a ali e ela não soube o que dizer, arregalando
apenas os olhos com o choque.
Logo depois ele a virava de frente para si e tomava seus lábios da
mesma forma como havia feito antes no quarto de empregada. Ela sentia a língua
molhada e quente invadindo sua boca e o sabor de Lucca que ela tanto gostava.
O Denali afastou levemente os lábios dos dela, mas sem afastar o rosto de forma
que a encarava, bem no fundo daquele belo par de jades.
– Você é linda, Sophia. Eu não me importo com as suas cicatrizes. A quero do
mesmo jeito, até mais do que antes. - ele informou com sinceridade.
Sophia sentiu seu coração batendo mais rápido no peito diante daquela
informação e não pôde mais se conter, beijando-o. Ela o queria. Não pensava mais
racionalmente,não queria saber do que viria depois.
Para ela a única coisa que importava era que Lucca também a queria agora e ela
desejava estar nos braços dele.
Ambos foram aprofundando mais aquele beijo e era como se não houvesse mais
nada naquele mundo a não ser um ao outro. Lucca gostava da sensação de enlaçar
aquele corpo pequeno e delicado, de segurá-lo com seus braços fortes e levá-lo até sua
cama deitando-a ali enquanto tirava aquele vestido largo e velho, deitando-se sobre ela
de forma cuidadosa para não esmagá-la enquanto Sophia adorava sentir aquele corpo
grande e forte másculo sobre o seu beijando cada centímetro de si, começando pelos
lábios e descendo pelo pescoço até chegar em seus seios.
A boca de Lucca molhada cobrindo o bico rosado era a sensação mais erótica
que ela já havia sentido. Ele não era apenas um menino como Taylor, mas um homem já
maduro e sensual que acariciava um de seus seios enquanto abocanhava o outro de
maneira provocante fazendo com que Sophia sentisse seu corpo ardendo de desejo a
cada toque dele.
Aquilo parecia um sonho dotado de sensualidade, muito mais do que uma
realidade, mas ela não pensou naquilo. Na verdade sequer pensou em suas experiências
sexuais anteriores naquele momento.
Era como se fosse a primeira vez e como se só houvesse Lucca em sua vida ali.
Só ele importava, sua beleza, sua masculinidade e a maneira como ele tocava
seu corpo deslizando os lábios pela barriga reta dando alguns beijos até chegar na
calcinha de algodão que ele tirou prendendo o tecido entre os dentes e puxando-o
devagar enquanto fitava o par de jades brilhantes de desejo com a mesma sensualidade
com que a tocava.
Sophia viu nos olhos do patrão que ele a queria, que ele estava completamente
excitado e que era ela quem o fazia ficar desse jeito, era para ela que ele olhava com
tanto desejo e isso fez com que ela se sentisse bonita e feliz, como se seu ego estivesse
novamente se elevando.
Lucca sentia-se latejando entre as pernas tamanha era sua vontade de possuí-la,
mas antes, ao tirar aquela peça íntima com sua boca, ele fitou a intimidade
úmida da jovem em meio a uma penugem tão ruiva quanto os próprios cabelos da
jardineira e desejou sentir aquele gosto enquanto a escutava gemendo de prazer para ele.
Foi exatamente o que fez ao separar aquelas pernas e colocar seus lábios
ali, sorvendo-a.
Sophia sentiu seu corpo dando espasmos de prazer enquanto apertava os lençóis
de seda da cama do patrão e soltava gemidos em um orgasmo como nunca havia tido
antes na boca daquele homem maravilhoso enquanto ele sorvia tudo com vontade.
Depois de senti-la contorcendo-se de prazer ali em sua cama, Lucca sentiu que já
era hora de satisfazer-se, deitando-se novamente sobre ela e dando alívio ao seu
membro que já chegava a doer de desejo colocando-o naquele interior quente e apertado
onde antes havia estado sua boca.
Sophia sentiu que ele entrava com dificuldade, pelo fato de já ter muito tempo
que ela não tinha alguém dentro de si preenchendo-a. Ele era grande e ocupava todo o
seu interior, chegando a doer um pouco, mas era uma dor gostosa e ela queria que ele
fosse ainda mais forte, apesar dele ter começado devagar e com delicadeza como se
tivesse todo o tempo do mundo.
Aquilo era quase uma tortura para ela, mas pelo forma como ele a olhava, ela
sabia que ele queria que ela pedisse para que ele fosse ainda mais rápido.
– Mais forte, mais rápido por favor! - ela ronronou em seu ouvido.
Ouvi-la falando daquela forma sensual pedindo para ser penetrada com mais
força e rapidez fez com que ele não conseguisse mais se controlar e desse a ela tudo o
que ela estava pedindo.
Lucca não se conteve e foi firme e forte enquanto escutava Sophia dando gritos
de prazer.

Ela arranhava suas costas já sem ter medo do perigo que era machucar seu
patrão, pois só conseguia pensar no prazer que ele estava proporcionando.
Ambos chegaram ao ápice juntos e a sensação não era apenas de dois corpos
chegando ao limite máximo do prazer, mas era como se as almas também estivessem
unidas ali.
Era como se ambos fossem agora um só enquanto estivessem unidos ali, um
dentro do outro e foi com relutância que Lucca se retirou de dentro dela depois de
despejar seu líquido naquele interior preenchendo-a. Permaneceu ali deitado
abraçando-a pela cintura e sentindo o aroma daqueles cabelos cor de cereja.
Capítulo 11
Dia Seguinte

Lucca abriu os olhos e se deparou com a bela visão da moça de cabelos


avermelhados em sua cama nua. Levantou devagar com cuidado para não acordá-la e
ficou durante alguns momentos vendo-a dormir.
Nunca antes em toda a sua vida ele cogitou a hipótese de dormir com uma de
suas empregadas. Não acreditava que moças pobres pudessem gostar de verdade de um
homem rico sem que quisessem lhe aplicar algum tipo de golpe. Foi por esse motivo
que Lucca sempre manteve distância de todas as mulheres que trabalhavam para ele.
Não, Lucca não era como seu pai e seu irmão que se enganavam facilmente com
um rosto bonito. Ele ainda tinha bem vivas em sua mente as lembranças do que uma
mulher era capaz de fazer.

" O jovem Lucca havia acabado de se formar no Internato só para garotos onde
havia passado a maior parte de sua adolescência. Fazia anos que ele não via seu pai
nem seu irmão.
Recusava-se a passar as férias com a família como faziam seus colegas
de colégio e enquanto todos os outros jovens ficavam com suas famílias ele passava seu
período livre no interior da biblioteca do internato lendo diversos livros.
Para Lucca era muito melhor viajar nas histórias e se dedicar aos estudos do
que ir para casa sentar-se a mesa ao lado daquela mulher odiosa e de seu pai que era
um fraco por haver se rendido aos encantos dela.
O jovem ainda culpava Andrew e Elise pela morte de sua mãe e jamais os
perdoaria por isso. Ele não queria nada que viesse daquele pai.
Andrew Denali era um homem sem moral e para Lucca, mesmo sendo seu pai
ele não tinha o menor valor.
Naquele ano não teve a escolha de fugir de seus problemas trancando-se
naquela biblioteca, pois agora estava formado e não lhe restou outra alternativa senão
a de voltar para a casa onde havia crescido.
Ele não pretendia permanecer lá durante muito tempo. Não ao lado daquelas
pessoas insuportáveis e fúteis que ele conhecia muito bem. Teria que voltar, mas ficaria
naquela Mansão apenas até conseguir um emprego e outro lugar para morar.
No primeiro dia naquela casa, ele ainda se lembrava de como Elise havia sido
cínica o suficiente para recebê-lo com um sorriso falso e um abraço que recusou
com grosseria.
– Não toque em mim. Ainda não me esqueci do que você fez e sei que não está
nem um pouco feliz de me ver nessa casa. Guarde seus sorrisos para meu pai e meu
irmão que acreditam em você. - ele disse rechaçando a madrasta sem rodeios.
Elise sem esconder o sorriso aproximou os lábios do ouvido do enteado.
– Tem toda razão, é uma pena que você tenha terminado aquele colégio onde
consegui manter você trancafiado durante todos esses anos. Mas não pense que seu pai
vai aturar seus desrespeitos a mim. Se eu fosse você seria mais educado, pois posso
convencer Andrew de que você ficou louco depois da morte daquela sua mãe idiota e
dessa vez te trancafiar em um hospício invés de um colégio interno. - Elise ameaçou.
O jovem Lucca não se sentiu intimidado com aquela ameaça. Ergueu a mão e
deu um tapa bem estalado no rosto da madrasta, mas mais tarde arrependeu-se do ato.
Não pelas ameaças de Elise ou por ter tido qualquer conseqüência decorrente
daquilo. A madrasta estava blefando quando ameaçou interná-lo em um hospício, pois
Andrew jamais faria isso ao menos que o filho estivesse realmente louco.
O motivo para ter se arrependido de tal ato foi porque havia ignorado um dos
ensinamentos que sua mãe certa vez havia lhe transmitido.
– Em uma mulher não se bate nem com uma flor, filho. Mesmo que ela mereça.
Homens bons e de caráter jamais agridem uma moça, por pior que ela seja. - disse a
jovem Mirella na época em que estava viva.
De certa forma aquilo foi uma ironia, pois certa vez Lucca havia visto sua mãe
sair machucada depois de uma discussão que tivera com seu pai em uma noite.
Na época, Lucca era apenas uma criança e não entendia que sua mãe sofria
maus-tratos do marido.
Agora que já era um homem adulto, Lucca era capaz de compreender muito
bem e aquilo só contribuiu para que ele sentisse mais raiva ainda do pai.
Na primeira semana naquela casa, não houve mais nenhum incidente com Elise.
Na frente de Andrew ela continuava tão cínica quanto antes, mas evitava falar
com Lucca quando estavam sozinho em casa.
Certa vez Andrew foi fazer uma viagem de negócios e na casa além dos
empregados ficaram apenas Lucca, Hugo e Elise.
Lucca havia saído com um de seus colegas para ir até um pequeno bar próximo
dali e quando voltou, ao passar pelo quarto do irmão escutou alguns gemidos de duas
pessoas fazendo sexo.
A princípio pensou que talvez seu irmão havia trazido alguma mulher para
casa.
Não era segredo pra ninguém a natureza de homem mulherengo que Hugo possuía
desde a adolescência.
Lucca teria passado direto e ido para seu próprio quarto ignorando aquele
barulho se não tivesse notado um detalhe que chamou sua atenção.
– Isso Hugo! Ai, mete mais! Mais forte! - gritava uma voz conhecida.
O Denali mais novo, naquele momento reconheceu que era a voz irritante de
sua madrasta e ao olhar pela fresta da porta, pôde ver a madrasta inclinada sobre a
cama do irmão enquanto Hugo a penetrava no meio de suas nádegas com força.
Dessa vez, Lucca não se apressou em dar um flagrante. Apesar do choque
inicial, ele se conteve e voltou para o quarto horrorizado com o que havia visto.
Hugo e Elise estavam traindo seu pai e aquilo era odioso. Ele já sabia que Elise
não era uma boa pessoa e que seu irmão era mulherengo, mas jamais imaginou que
eles fossem capaz de uma coisa dessas, ainda mais bem debaixo do teto de Andrew.
Não que o velho não merecesse, mas aquilo era vil demais. Será que havia sido
assim que Elise havia conquistado Hugo Denali? Era por isso que ele defendia tanto a
madrasta?
Mas Lucca não deixaria aquela oportunidade passar. Era perfeito para se
vingar de Elise pelo mal que ela havia trazido a sua mãe.
O mais novo dos Denali planejou tudo minuciosamente.
Primeiro comprou uma câmera fotográfica bem cara, mas discreta do tipo que
não fazia barulho. Fingiu que saía de casa, mas na verdade voltou e se escondeu dentro
do closet de seu irmão e esperou até que o casal fosse para o quarto.
Lucca quase vomitou ao ver as cenas asquerosas de seu irmão transando com
sua madrasta, mas agüentou firme e fotografou os dois em pleno ato, em diversas
posições.
Depois ainda teve que ficar algum tempo escondido ali dentro enquanto os dois
conversavam abraçados depois da transa.

– E aí mamãezinha, gostou de hoje? - Hugo perguntou.


Lucca asco ao ouvir o irmão chamando aquela mulher de "mamãezinha". Aquilo
era um imenso desrespeito com a memória de sua falecida mãe.
– Claro meu filhote gostoso. Você fode bem melhor do que aquele velhote do seu
pai. Não tem nem comparação! - Elise contou.
– Mas é claro minha gostosa. Meu pai já está velho e caído. Daqui a pouco ele
vai se aposentar e me colocar no controle das empresas. Aí vou ser só eu que vou
mandar em tudo. - dizia Hugo com olhar ambicioso.
– É, mas não tenho certeza de que seu pai vai te colocar no controle de tudo.
Ainda tem esse seu irmão que chegou pra atrapalhar você. Tenho medo de que ele
exerça alguma influência sobre o Andrew. Sabe, seu pai não é mais o mesmo comigo.
Ele voltou a me bater e eu não agüento mais! Você precisa fazer alguma coisa! Seu pai
está cada vez pior e eu não consegui convencê-lo de que tem alguma coisa errada com
o Lucca. Seu irmão me odeia porque acha que tomei o lugar da sua mãe e temo que ele
me prejudique se seu pai decidir dividir o controle de tudo entre vocês dois. - disse Elise
imitando a voz de uma mulher sofrida e preocupada com o destino, como se Lucca fosse
uma grande ameaça.
– Não estou preocupado com o meu irmão idiota. Eu sei que meu pai pretende
deixar metade de tudo pra ele, mas o Lucca é todo caretão e já disse que não quer nada
que venha do pai. Ele está procurando emprego em outras empresas e pagar a própria
faculdade. Mal sabe ele que ainda não conseguiu porque o pai está "mexendo os
pauzinhos" pra ninguém dar emprego pra ele porque quer que o Lucca acabe
trabalhando nas empresas Denali comigo. Mas eu vou dar um jeito de convencer
alguém a contratar o meu irmão sem que o meu pai saiba e aí ele mesmo vai vazar.
Lucca não vai ser problema pra mim. - Hugo afirmou.
Escutar aquela conversa embrulhou mais ainda o estômago do caçula, pois sua
decisão de viver bem longe dele só estava contribuindo para os planos de Hugo e Elise
darem certo, fora o fato de que agora ele sabia porque não tinha conseguido emprego
em lugar nenhum por mais que tivesse batido de porta em porta em tudo quanto era
empresa.
Todos elogiavam o currículo de Lucca, mas diziam não haver vagas.
Quando o casal finalmente saiu dali, Elise voltando para o próprio quarto e
Hugo para o banheiro, Lucca Saiu daquele closet e deu prosseguimento ao plano.
Primeiro mandou que fossem reveladas aquelas fotos. Depois, anotou o
endereço do hotel em que Andrew estava hospedado e as mandou com urgência dentro
de um envelope para seu pai.
Ele não queria estar em casa quando acontecesse, sabia que a reação de
Andrew seria a pior possível.
Chegou a ter um pouco de medo de que seu pai enfartasse porque ele já estava
velho, mas s continuou com o plano mesmo assim.
Pediu para passar uns dias na casa de um amigo que morava em outra cidade e
recebeu a notícia que mudaria sua vida pra sempre por telefone.
– Alô, Lucca. Aqui é o advogado do seu pai. As notícias que eu tenho não são
nada boas. Acho melhor eu falar de uma vez. Seu pai cometeu um crime e depois
suicidou-se. Ele pegou a sua madrasta Elise tendo um relacionamento amoroso com o
seu irmão mais velho e atirou nos dois, depois deu um tiro na própria cabeça. Me
desculpe por dar essa notícia por telefone, mas você precisa vir imediatamente já que é
o único herdeiro. - o advogado informou.

A partir daquele dia, Lucca passou a carregar a culpa da morte dos três.
É verdade que ele desejou aquela vingança, mas jamais imaginou que seu pai
teria uma reação como aquela. Ele só queria que seu pai expulsasse Elise e Hugo de
casa, que os humilhasse por causa da traição e os deixasse sem nada.
Jamais pensou que Andrew seria capaz de matar seu próprio filho.
Ele queria ter voltado atrás e nunca ter mandado aquelas fotos, mas
infelizmente não pôde ".
Agora ali, naquele quarto, olhando a bela Rinaldi deitada nua e adormecida em
sua cama, Lucca pensou que ela não se parecia em nada com a mulher que havia
destruído sua família.
Era verdade que ambas eram empregadas e que Lucca não confiava em mulheres
que se faziam de boazinhas para conquistar homens ricos.
Ele jurou que jamais seria como seu pai e seu irmão e que não se renderia aos
encantos de mulher alguma, mesmo que o preço pra isso fosse a solidão.
Durante alguns momentos cogitou que em futuro distante, talvez encontrar uma
mulher de sua classe que fosse discreta que lhe desse um filho apenas para que ele
pudesse herdar sua fortuna, mas jamais chegaria a ver uma mulher como um ser
humano honesto e com sentimentos.
Estaria sempre desconfiando delas porque não acreditava que elas pudessem
realmente ser pessoas de caráter.
Só que ali, olhando para Sophia e depois de ter tido a melhor noite de sua vida
com ela em sua cama, Lucca soube que ela não era como as outras. Ele não acreditava
que pudesse existir alguém que tivesse realmente inocência e caráter, mas ali estava
Sophia com toda a sua história de sofrimento da perda de sua família e as
cicatrizes em suas costas.
Ele viu o lugar onde ela morava e a própria Bethany havia lhe contado sua
história.
Lembrou-se de que ela havia dito que alguém tinha machucado Sophia e seu
peito se enchia de revolta ao imaginar que alguém poderia ser capaz de um ato como
aquele.
Talvez o sofrimento tivesse feito de Sophia uma pessoa melhor, ou talvez tivesse
sido sua própria essência. Mas o importante era que depois de tudo ele se pegava
confiando em uma pessoa e não qualquer pessoa, mas uma que trabalhava em sua casa
e com um imenso instinto de protegê-la.
Lucca pensou que gostaria de fazer algo para deixá-la feliz. Algo que fosse
significativo para ela, então teve uma idéia, lembrando-se do dia anterior.
Silenciosamente se vestiu colocando uma calça jeans sem camisa e desceu. Os
lírios que havia arrancado ainda estavam ali no chão com as raízes, quase mortos.
Então, Lucca calçou luvas de jardineiro e começou a replantá-los ali, ele mesmo.
Quando terminou, ouviu seu celular tocando e ao atender viu que era Christian,
um antigo amigo da época de escola desde antes do colégio interno, de quando
sua mãe ainda era viva e que estava sempre ligando por mais que Lucca muitas vezes
fosse grosso com ele por estar ocupado. Naquele dia, o Denali decidiu atender.
– O que foi? – perguntou.
– Oras! Eu te ligo pra te convidar pro meu jantar de noivado e é assim que
você atende é? - o amigo disse.
– Jantar de noivado? Então você resolveu se amarrar é? Mas também já
estava na hora. Quase dez anos de namoro! Pensei que fosse ficar enrolando a pobre da
Anne a vida toda. - Lucca brincou, pois estava de bom humor.
– É né, está mesmo na hora. Não conte pra ninguém que eu te contei, mas a
Anne tá grávida. Queremos nos casar antes que o velho Dave descubra hehehe. Mas e
então, você vem? O jantar vai ser no sábado a noite. - Christian informou.
– Sim, eu vou. Vai ser na sua casa mesmo? - perguntou Lucca.
– Vai ser na dos pais da Anne. Ela perguntou se você vai com alguma
acompanhante ou se vai sozinho de novo. Eu falei que você ia sozinho, mas ela mandou
eu confirmar mesmo assim pra reservar os lugares caso você fosse levar companhia. -
Christian explicou.
Lucca ia dizer que compareceria sozinho, mas depois lembrou da bela jardineira
que dormia em sua cama e teve uma idéia.
– Ela fez bem em perguntar, dessa vez eu vou levar uma acompanhante. Coloque
na lista, o nome dela é Sophia Rinaldi. - informou o Denali.

Sophia abriu os olhos e notou que alguns raios de sol adentravam a janela
daquele quarto. Primeiro levou um susto, pois não reconheceu a janela que sempre via
ao acordar todas as manhãs. A janela que estava vendo ficava mais afastada da cama e
era maior.
Não era a única diferença que notou ao acordar.
A cama estava mais macia do que de costume e os tecidos pareciam mais suaves
em sua pele. Por falar em tecidos, notou a falta deles envolvendo seu corpo, pois estava
nua! Ao virar para o lado e notar o imenso espaço na cama de casal onde estava deitada
foi que ela entendeu bem o que estava acontecendo e lembrou-se do que havia
acontecido: aquele não era seu quarto e sim o de seu patrão.
Havia passado a noite com Lucca Denali e tido relações com ele.
A lembrança fez com que suas faces ficassem ruborizadas. Devagar ela foi
sentando-se na cama e cobrindo seu corpo com o lençol enquanto se lembrava de todos
os detalhes.
Lucca era um amante tão bom! Sabia mesmo como fazer uma mulher se sentir
bem, mas onde estaria ele agora? Será que ainda seria o mesmo com ela no dia
seguinte?
Pensamentos confusos passaram pela mente da jardineira, inclusive medo de que
o patrão tivesse se arrependido e decidido demiti-la. Talvez fosse por esse motivo que
ele não estava deitado na cama quando ela acordara.
Lentamente ela foi pegando sua roupa que estava caída no chão e se dirigiu para
fora do quarto, para esbarrar com Jane que a observava.
– Sophia! Você dormiu com o patrão? - a amiga perguntou curiosa.
– É, acho que sim. - Sophia falou sentindo as faces esquentarem pela segunda
vez naquela manhã.
– Não acredito! Essa foi a primeira vez que isso aconteceu! Sr. Denali nunca se
deita com nenhuma de suas empregadas. Ele sempre foi tão reservado! Certamente ele
deve estar caidinho por você. - Jane comentou constatando o fato.
Não foi apenas porque Sophia havia passado a noite na cama de seu patrão que a
empregada havia feito aquela afirmação, mas sim pela maneira como ela havia visto o
frio moreno sorrindo e sujando suas mãos com terra para replantar aqueles lírios com a
finalidade de agradar sua jovem jardineira.
– Bem, fico feliz de saber que fui a primeira, mas não acredito que ele esteja
tendo um queda por mim, Jane. Vamos ser realistas. O que aconteceu entre nós foi bom,
mas um homem como ele jamais se interessaria de verdade por alguém como eu. Talvez
ele tenha feito aquilo por pena... não sei. - afirmou a jovem, pensativa.

– Não acho que Sr. Denali seja do tipo que faça essas coisas por pena. Mas
enfim, se eu fosse você ia lá dar uma olhada no jardim. Tem uma surpresa lá pra você. -
informou Jane.
– Surpresa pra mim? - Sophia olhou de forma interrogativa, mas a morena não
revelou do que se tratava.

A jovem teve que ir caminhando para o lado externo da casa a fim de ver do
que Jane estava falando. Assim que chegou, seus olhos pousaram sobre os lírios ali
recém-plantados.
– Meus lírios! Foram replantados! Que lindo! Mas quem foi que replantou eles
pra mim? Sr. Denali não vai ficar chateado quando vir? - questionou.
– De forma alguma, já que foi o próprio que acordou cedo para plantá-los. Fez
isso para agradá-la. - disse a empregada.
– Ele mesmo replantou? Com as próprias mãos? - Sophia pediu uma
confirmação que foi recebida com um balanço afirmativo da cabeça de Jane.
– Tem mais uma coisa. Ele disse pra você se arrumar, porque quer levá-la a
algum lugar hoje de tarde. Não disse direito aonde é, mas me pediu pra dar o recado. –
Jane disse.
– Certo. Obrigada Jane. – Sophia agradeceu e depois se dirigiu para o próprio
quarto para tomar um banho e se vestir, após a noite com o patrão.
Horas mais tarde ela estava parada na garagem, usando um vestido florido pouco
abaixo dos joelhos e largo em seu corpo. O vestido era todo coberto sem um decote e
ela mantinha os cabelos soltos.
Em seus pés ela havia calçado um sapato velho já fora de moda bem gasto.
Havia perdido a vaidade desde a noite em que quase fora violentada na rua, mas
a verdade era que já vinha perdendo a mesma desde que havia sido rejeitada por Taylor.
Sophia acreditava que ninguém mais iria querê-la depois que vissem aquelas
cicatrizes.
Lucca chegou na garagem vestindo uma camisa de malha branca e calças jeans
de uma marca caríssima. Seus sapatos também eram bem novos e ela podia sentir
o perfume delicioso que ele estava usando.
– Jane disse que queria me levar para algum lugar, é verdade Sr. Denali? -
perguntou.
Lucca franziu um pouco uma das sobrancelhas.
– Sim, ela estava certa. Pedi a ela que te avisasse porque hoje quero levá-la para
fazer umas compras. - explicou enquanto abria uma das portas do carro.
Sophia entrou no veículo e se ajeitou sentindo-se um pouco nervosa. Lucca deu
a volta e também entrou, sentando-se no banco do motorista.
– Hã... Sophia, tem uma coisa que eu queria te pedir. - ele disse.
Sophia encarou o patrão de forma interrogativa.
– O que? - perguntou
– Será que você poderia parar de me chamar de Sr. Denali? É que fica meio
estranho depois do que fizemos ontem. – pediu.
– Certo, acho que posso fazer isso Lucca- Sophia disse corando.
– Ótimo, assim está melhor. - Lucca deu um sorriso de canto que fez Sophia
sentir um calor dentro de si.
Logo ela percebeu que eles estavam indo para um Shopping e era um bem
grande. O Denali adentrou no estacionamento VIP e estacionou em uma vaga. Sophia
estava confusa, sem entender que tipo de compras o patrão pretendia fazer com ela ali.
– Hã, Lucca? O que viemos fazer aqui no Shopping? – perguntou.
– Algumas roupas, sapatos, coisas que toda mulher gosta de ter no armário.
Quero que escolha algo que você goste e que esteja na moda, como vocês dizem. –
Lucca explicou de forma fria.
Ele esperava que ela fosse gostar da idéia de fazer compras com ele naquele
Shopping, mas ela fez uma expressão de revolta que ele não pôde entender.
– Obrigada, mas se é para mim eu não quero. – ela disse.
– Mas por que não? – Lucca perguntou confuso.
– O senhor não precisa me dar presentes só porque dormi com você. Não fiz pra
ser paga, eu fiz porque quis. Não sou o que está pensando. - Sophia explicou.
Aquelas palavras chocaram Lucca, pois jamais havia pensado em uma coisa
como aquelas.
– Sophia, eu não estou te pagando porque você dormiu comigo. Eu sei que não é
desse tipo. Jamais pensei em uma coisa assim. Olha, eu só quero que você tenha um
vestido bonito, isso é tudo. Eu quero levar você em um lugar especial, por isso quero
comprar uma roupa nova pra você. Por favor, aceite. - o Denali se explicou de forma
sincera enquanto tocava o antebraço da jardineira.
Olhando-o dizer de forma tão doce ela não conseguiu dizer não, embora ainda
não compreendesse direito o porquê daquilo. Não gostava da idéia de aceitar presentes
de homens que não fossem parentes nem namorados.
Capítulo 13
Um Sonho

Sophia passeava pelo imenso corredor do Shopping se perguntando mentalmente


onde seria o lugar para onde Lucca pretendia levá-la quando avistou um belo vestido em
uma vitrine que considerou perfeito.
O vestido era um pouco a cima dos joelhos, a cor era um tom de pêssego que
combinava com a pele alva sendo de um tecido levemente brilhante e com
decote nos seios, mas cobrindo as costas. Ela parou enfrente a vitrine procurando o
preço com os olhos, mas não o encontrou.
– Você gostou desse? - o Denali perguntou ao perceber a maneira como Sophia
olhava para o vestido. Não era de sua cor favorita, mas considerou apropriado,
especialmente se Sophia havia gostado dele.
A jardineira não havia escolhido nenhuma roupa que pudesse ser considerada
brega aos olhos das outras moças embora Lucca preferisse que ela tivesse escolhido
alguma coisa de cor mais forte e sensual.
De repente se pegou tendo fantasias de Sophia em um belo vestido vermelho e
provocante colado no corpo, mas afastou rapidamente aquele pensamento da cabeça já
que considerou que seria difícil convencê-la a usar algo assim já que ela costumava
vestir-se com simplicidade e usando até mesmo roupas masculinas. Também não
importava para ele, já que ela era perfeita do jeito que era.
– Gostei sim, mas esqueceram de colocar o preço na vitrine. - respondeu de
forma simples.
– Entre e pergunte a vendedora. - respondeu o patrão de forma seca como se
aquilo fosse a coisa mais simples do mundo e de fato para Lucca era.
Envergonhada, a jovem ruiva adentrou a loja de roupas e foi até uma vendedora
que estava parada perto da porta.
– Com licença, eu queria saber o preço daquele vestido cor de pêssego que está
ali na vitrine. - disse Sophia.
A vendedora, que estava vestida em roupas caras, muito bem maquiada e com os
cabelos escovados limitou-se a encarar a jovem de cima abaixo avaliando-a com
desdém.
– Duzentos - respondeu e em seguida deu as costas a Sophia deixando-a
plantada
como se tivesse certeza de que ela não tinha dinheiro para pagar.
Sophia tratou de virar de costas tristemente desistindo daquela compra, pois
como poderia comprar algo que não estavam dispostos a lhe vender?
Lucca que estava de longe observando o comportamento odioso da vendedora
sentiu uma raiva fluindo em seu peito.
Como aquela mulher se atrevia a tratar Sophia daquela maneira? Só julgando
pela aparência e tão certa de que ela não teria dinheiro para comprar. Ele adentrou a loja
antes que Sophia saísse de lá e perguntou em voz alta com expressão dura e irada:
– Qual o problema? Eles por acaso não tem o seu tamanho ou você não gostou
do vestido?
Todos os que estavam na loja viraram-se assustados na direção dos dois e a
vendedora que tão prontamente havia se recusado a atender Sophia arregalou os olhos
ao ver sua companhia.
Ela não havia percebido que a garota estava acompanhada daquele
homem que certamente era rico e dava pra notar por causa de suas roupas caras e seus
trejeitos.
Sophia sentiu as faces esquentarem, pois não queria criar confusão naquela loja.
Era verdade que havia gostado do vestido, mas achava que ele não valia uma
briga.
– Acho que não gostei tanto assim do vestido. - ela mentiu tentando evitar a
fúria de Lucca.
– Não gostou? Acho que não pode ter certeza antes de experimentar, não é
mesmo? Quero que vista ele, pra ver como fica no corpo. - Lucca disse alto mais para as
vendedoras do que para a própria Sophia.
A mesma vendedora que havia tratado Sophia desdenhosamente decidiu se
aproximar e tentar recuperar aquela venda.
– Claro, eu posso pegar um, tenho certeza de que vai gostar quando vestir,ele
fica muito bem no corpo. - ela disse com um sorriso falso estampado no rosto e uma
falsa voz de simpatia.
– Qual o seu nome? - Lucca perguntou a vendedora com outra voz simpática
extremamente falsa.
Me chamo Yohana e será um prazer atendê-los. - disse a vendedora se
insinuando um pouco para o moreno com o olhar, fazendo Sophia sentir-se mal com a
situação.
A jovem Sophia não pôde deixar de se sentir diminuída ao ver uma mulher tão
bem vestida e bonita depois de humilhá-la se insinuar tão descaradamente na sua frente
para o homem que a estava acompanhando.
De certo considerou Yohana muito mais adequada para Lucca em termos de
beleza e refinamento.
– Muito bem Yohana, acho que você não precisa mentir dizendo que é um prazer
atender a minha namorada, porque não foi o que você demonstrou ainda pouco. Tenho
certeza de que aquela sua colega ali não vai ter problemas em nos atender. - Lucca
disse apontando para uma outra vendedora morena meio apática que estava no fundo da
loja.
A morena se aproximou, mas Yohana tentou desfazer o dano mais uma vez.
– Acho que é impressão sua senhor, ela apenas me perguntou o preço e eu
informei, não foi? - ela disse olhando para Sophia esperando que ela confirmasse.
A Rinaldi ia abrir a boca para dizer alguma coisa, mas Lucca interrompeu.
– Impressão minha ou não eu prefiro ser atendido por outra vendedora. Será que
terei que fazer uma reclamação para sua gerente? - o Denali perguntou de forma fria.
Não, de maneira nenhuma! Por favor, Maya, atenda esse casal por favor. - disse
Yohana passando os clientes para a morena.
Maya foi muito mais simpática com o casal, perguntando o nome de Sophia e
pegando o vestido. Assim que Sophia vestiu ficou deslumbrada e Lucca mais ainda.
Se antes havia pensado que o vestido não era sensual, agora havia mudado
completamente de opinião ao vê-lo no corpo de Sophia.
Ele havia se alinhado perfeitamente no corpo dela ressaltando suas curvas sendo
soltinho apenas na parte debaixo, não era muito curto e nem muito comprido e moldava
muito bem nos seios da ruiva.
Ela havia ficado linda naquelas roupas e ele não conseguia tirar os olhos dela
por
um minuto sequer.
– Eu gostei - Sophia disse ao sair do provador.
Eu também. Está ótimo. - ele respondeu.
– Acho que ficaria ainda melhor se experimentasse um casaquinho para
combinar e também para o caso de fazer frio. - a vendedora tentou empurrar mais
alguma coisa como de costume, mas Lucca considerou que seria bom, já que Sophia
podia se sentir desconfortável por causa das cicatrizes nas costas que quase não eram
visíveis com o vestido mas o casaco daria mais segurança e conforto á ruiva.
– Sim, acho que seria bom. - respondeu.
Acabaram levando também uma sandália que combinava com o vestido na
mesma loja e quando saíram, Lucca teve a idéia de passar na praça de alimentação para
comer alguma coisa antes de levar Sophia ao cabeleireiro para que ela fizesse um corte
mais moderno no cabelo e algum outro tratamento que ela desejasse além de cuidar das
unhas das mãos e dos pés já que não queria que ela se sentisse inferior em relação as
outras mulheres que estariam no jantar de noivado.
– O que vai querer comer? – ela perguntou.
– Acho que um cheeseburguer já que estou aqui. Faz tanto tempo que não como
um fast food que acho que nem sei mais qual é o gosto. - ela disse lembrando-se que
não esse tipo de comida desde a época da escola quando costumava freqüentar
lanchonetes com os amigos.
Como o Shopping não estava muito cheio naquele dia, decidiram ir para a fila
juntos quando de repente Sophia ficou pálida ao ver uma cena e teve que segurar no
braço de Lucca pra não desmaiar.
– O que houve, Sophia? Está se sentindo bem? - ele perguntou.
Ao seguir o olhar de Sophia percebeu que ela olhava para um casal formado por
um homem de cabelos negros mas de pele muito branca e uma mulher loira de olhos
azuis de boa aparência. A loira sentava uma criança de cabelos negros e olhos azuis na
cadeira para dar-lhe comida.
– Por favor, me esconda, não deixe que eles me vejam. - Sophia disse se
escondendo atrás de Lucca.
– Quem, o Taylor e a esposa dele? - Lucca perguntou.
- Como você sabe sobre o Taylor? Conhece ele? – perguntou perplexa.
– Sim, ele é advogado júnior lá na minha empresa. Recém formado. E você, da
onde conhece ele? - o Denali quis saber.
– Da minha escola, estudamos juntos e ele foi meu namorado. Aquela é a Louise
e ela era minha melhor amiga. - Sophia disse e Lucca entendeu tudo.
– Bem, podemos lanchar no segundo andar, tem outra praça de alimentação aqui.
Vamos. - ele disse puxando a moça.
Mas dentro de si sentiu que tinha muitas perguntas. Sophia parecia péssima por
ter encontrado aquela família ali. Qual seria sua história com Taylor? Ele a teria
magoado e traído com Louise? Sophia ainda gostava dele?
Lucca acompanhou Sophia através das escadas rolantes do Shopping onde
sentaram-se na outra praça de alimentação. Ele percebeu que a jovem jardineira
estava muito nervosa e um certo ciúmes dominou-o por saber que ela havia ficado
daquele jeito por causa do jovem advogado.
– Vou buscar uma água pra você. - ele disse levantando-se e comprando uma
garrafa com água mineral que Sophia bebeu para se acalmar um pouco e em seguida
sentou-se ao lado da jardineira.
– Muito bem, quero saber. O que aconteceu entre você e Taylor? Ele te traiu com
a sua melhor amiga? - perguntou com curiosidade.
Irritava-o a idéia de que alguém pudesse ter magoado a sensível Sophia daquela
maneira, por isso ele desejava saber sobre o passado da ruiva.
– Não tecnicamente, quer dizer, eu não sei. Depois que aconteceu o incêndio
quando perdi toda a minha família, Taylor não foi mais o mesmo comigo. Eu era
apaixonada por ele na época de escola, foi meu primeiro e único namorado e eu pensava
que ele gostava de mim, só que depois ele passou a não sentir mais atração por meu
corpo, por causa das minhas costas. - ela explicou.
– É por causa das suas cicatrizes? - perguntou Lucca com amargura.
– Sim, acho que elas causavam algum tipo de repulsa. Ele nunca me disse pra
não me magoar, mas eu lembro bem de como ele ficou na primeira vez que as viu.
Depois disso ele nunca mais me tocou, mas não terminou o namoro comigo. Ele não era
má pessoa. – ela explicava. mas por mais que ela afirmasse que Taylor não era má
pessoa, o patrão não conseguia concordar.
Lucca não compreendia como alguém podia ser tão fútil ao ponto de rejeitar
uma
mulher apenas por pequenas cicatrizes como aquelas, ainda mais Sophia, uma mulher
tão doce, gentil e cheia de qualidades, dona de uma beleza não só exterior como
também interior. Seria necessário muito mais do que aquilo para fazê-la feia.
– Ele foi um idiota por ter pensado assim. Um fútil e egoísta. - Lucca disse.
– Não, também não foi assim. Você não entende, eu o abandonei. Nunca mais
voltei naquela escola, depois do que aconteceu comigo no caminho. - a jardineira
explicava.
Lucca notou os pêlos do braço da ruiva se arrepiarem como se ela se lembrasse
de alguma situação ainda mais traumática. As palavras de Bethany vieram em sua mente
lhe dizendo que uma vez haviam machucado Sophia.
– O que aconteceu? Machucaram você, não foi? - O moreno serrou o punho
sentindo uma raiva se apossando de si.
Em sua mente ele via imagens de mãos sujas e fortes tocando o corpo de Sophia
e aquilo para ele era completamente inaceitável.
– Quase. Eu estava voltando pra casa quando um homem começou a correr atrás
de mim na rua, ele chegou a me encurralar e subiu em cima de mim, mas por sorte tinha
pessoas passando na rua e chegaram bem a tempo, foi por muito pouco. Depois desse
dia foi que vi o quanto era perigoso ser uma mulher e estar sozinha nesse mundo. Foi
por isso que passei a me vestir como homem com as roupas do meu avô. - a Rinaldi
contou.
Lucca se aproximou dela acariciando os cabelos avermelhados. Era um absurdo
que alguém tivesse que se vestir como homem por causa da violência de homens sem
escrúpulos.
Jurou pra si mesmo que jamais permitiria que Sophia ficasse indefesa e
desprotegida novamente. Mas o que era aquilo que estava sentindo por aquela mulher?
Não era pena, disso ele sabia, era mais como se ela fosse uma boneca de
porcelana que ele temesse que pudesse quebrar a qualquer momento e um desejo muito
grande de estar perto dela e vê-la sorrindo. Gostava de vê-la bonita e não conseguia
mais imaginar o mundo sem ela, embora a conhecesse a tão pouco tempo.
Somado a essa mistura de sentimentos, havia dentro de si um sentimento de
ciúmes muito grande ao imaginá-la com outro como Taylor, ainda mais sendo outro que
não soubesse dar a ela o valor que ela merecia.
– Sophia, me responde uma coisa com sinceridade, por favor, eu quero a
verdade. O que você sentiu quando viu o Taylor com a Louise? - perguntou.
Os olhos cor de jade fitaram os pares de ônix do moreno e ela decidiu não
mentir e falar exatamente aquilo que estava em seu coração.
– Não sei, eles pareciam tão felizes juntos. Ela era minha melhor amiga, tão
bonita e merece ser feliz, mas ao mesmo tempo aqueles eram os meus sonhos com
Taylor. Eu sempre achei que era eu que estaria ali e o filho deles é tão lindo! Eu sempre
sonhei que teria um filho assim com ele, quando nos formássemos, sabe? Eu já sabia
que Louise tinha ficado grávida dele, mas foi a primeira vez que eu vi. - Sophia revelou.
Tudo fez sentido. No fundo ela era uma mulher com sonhos, que também
desejava se casar e ter um filho. Mas aquela resposta não foi suficiente, havia algo mais
que ele desejava saber para se sentir seguro.
– Mas você ainda gosta dele? - arriscou a pergunta.
– Eu não sei... acho que nunca o esqueci, mas não sei dizer se ainda gosto dele
ou não. Foi meu primeiro e único amor. - Sophia falou, mas logo depois voltou atrás
internamente ao ver o rosto de Lucca endurecendo.
O Denali era tão diferente e fazia seu coração bater mais forte. Definitivamente
Taylor não fora seu único amor, porque uma grande verdade começava a assombrar o
coração de Sophia de forma que ela arregalou os verdes olhos ao se dar conta de uma
coisa importante: Lucca era seu segundo amor, ela o amava.
Mas como podia ser? Estava errado, muito errado! Ela não podia gostar de seu
patrão porque estava na cara que ele não queria nada sério com ela e que ela não
passava de um passatempo.
Sophia podia ser inocente e frágil, mas não era ingênua. Sabia muito bem que
homens ricos, poderosos e bonitos como Lucca não levavam moças pobres e sofridas
como ela para o altar. É verdade que ele havia afirmado naquela loja que ela era sua
namorada e uma parte de si desejou que aquilo fosse verdade, mas ela sabia que
não.
Homens com Lucca só se interessavam por gente como ela por um tempo, como
se ela fosse alguma coisa exótica, mas ela não acreditava que ele fosse capaz de amá-la.
Na verdade sequer conseguia imaginar Lucca amando alguém de verdade.
Lucca por sua vez sentiu decepção. Como podia haver alguém em seu coração? E
alguém que não era ele? De repente ele se sentia o mais pobre dos homens só pelo fato
de não ser o dono do coração de Sophia. "Primeiro e único amor" ecoava na mente
dele e fazia seu coração disparar.
– Como você pode dizer que não sabe se ainda gosta dele ou não? Ou você gosta
ou não gosta. Não pode haver um meio termo! E quanto a mim? O que eu sou pra você?
- perguntou descontrolando-se.
Sentiu-se ridículo ao fazer aquela pergunta "O que eu sou pra você?" De alguma
forma soava como se ele estivesse mendigando pelo amor daquela mulher. Era
simplesmente ridículo mas ele precisava tanto saber que não era um nada e que ela
gostava dele.
– Bem, eu sei que entre nós não há nada sério e que não sou a sua namorada
como você disse para aquela mulher da loja. É bom o que há entre agente, mas não sou
idiota de achar que vai namorar, casar comigo ou me dar filhos. - Sophia falou com
sinceridade embora seu coração desejasse que ele lhe dissesse o contrário, mas ela sabia
muito bem que ele não diria.
"Por que não? Por que eu não me casaria com você sua idiota? Por que não lhe
daria filhos? Mas o que estou pensando? Droga! Desde quando eu penso em me casar
com alguém? Por que será que de repente desejo ter filhos com essa mulher? É verdade
que eu pretendia um dia ter um herdeiro, mas só pra ter alguém pra quem deixar tudo o
que eu tenho." Os pensamentos de Lucca eram completamente confusos e
contraditórios.
– Bem, eu não digo que quero me casar com você agora e ter filhos não está em
meus planos por enquanto. Não que eu não pretenda ter um mais pra frente, mas pra
mim isso não é apenas uma brincadeira, eu quero mesmo apresentá-la como minha
namorada e ser der certo nosso relacionamento pode evoluir ou não, isso só o tempo vai
dizer. Não precisamos ser precipitados. - foi a resposta instintiva do moreno.

Sophia gostou do que ouviu, não acreditava que ele fosse querer evoluir com
aquela relação e sabia que o mais provável era que ele se cansasse dela e a magoasse,
mais cedo ou mais tarde escolhendo alguma moça de classe elevada como a vendedora
da loja, mas por hora aquele namoro era suficiente, pelo menos ele não a trataria como
apenas uma amante ou empregada qualquer que dormia com ele.
– É verdade, eu concordo com você, acho que gosto disso. - Sophia falou.
Lucca se aproximou do rosto da ruiva e encostou os lábios nos dela em um
beijo público ali no meio daquela Praça de Alimentação sem se importar que todos
estavam olhando para o casal.
Ela correspondeu o beijo ficando sem fôlego ao sentir a deliciosa e imponente
língua de Lucca invadindo sua boca e sentiu um calor percorrendo seu corpo só com
aquele gesto. Nada se comprava a estar perto dele e seu cheiro era simplesmente o
melhor do mundo. Quando se separaram,ele lhe deu um sorriso.
– Está quase na hora de você ir ao cabeleireiro, é melhor comermos logo. - falou
dirigindo-se para a fila.
Capítulo 15
O fim de um sonho

A Noite do Jantar de noivado havia chegado Sophia saiu daquele quarto para se
juntar ao seu novo namorado que a aguardava ansiosamente na sala de estar da mansão
já pronto enquanto bebericava um copo de whiskey. Assim que avistou a jovem
namorada ele levantou-se admirado.
Era verdade que havia se surpreendido no dia em que a levou ao Salão de beleza
e ela saiu linda com os cabelos mais repicados, pele mais macia e unhas bem feitas, mas
nada se comparava a vê-la completamente pronta usando as roupas novas e maquiada.
– E aí, o que achou? - ela perguntou levemente insegura, mesmo tendo gostado
do que vira minutos antes na frente do espelho.
– Linda. Com certeza vai ser a mais linda da noite. - Lucca falou se
aproximando
quando percebeu que faltava uma coisa e ele sabia exatamente o que era. - Mas precisa
de algo pra completar. É emprestado, por isso quero que cuide muito bem já que foi da
minha mãe e tem um valor inestimável para mim.
Falou logo as palavras antes que mudasse de idéia e decidisse voltar
atrás.
Nunca antes havia permitido que alguém tocasse nas jóias de sua mãe. Elas
foram as únicas coisas que Elise não jogou fora, porque adorava usá-las. Desde que a
madrasta havia falecido, Lucca mandou que limpassem cada uma daquelas jóias para
tirar a sujeira do corpo de Elise daquelas peças que ele considerava tão sagradas e
as guardara em um cofre.
Nunca faria como seu pai, que profanou aquelas peças deixando que qualquer
mulher as usasse.
O mais jovem dos Denali acreditava que nenhuma outra mulher era digna de
usar as jóias de Mirella, mas naquela noite mudara de idéia e estava disposto a abrir
uma exceção.
Sophia não era qualquer uma, ela era digna, diferente das outras.
Cuidadosamente ele abriu a caixinha retirando um par de brincos de brilhantes, um
colar e um bracelete que era um conjunto que ele considerou apropriado.
– São lindas, eu nunca usei algo assim! Devem ser caríssimas! - os olhos de
Sophia arregalaram-se impressionados com tamanha beleza.
– Foram caras sim, mas o maior valor não é o do dinheiro que elas custaram e
sim o valor sentimental. Por isso quero que cuide muito bem delas nesta noite. - Lucca
disse colocando o bracelete no pulso de Sophia.
Uma vez que ela estava pronta com os brincos e o colar no pescoço, ele soube
que ela estava perfeita e ainda mais preciosa do que antes. Estendeu o braço para que
ela segurasse nele e caminharam até o carro.
Dessa vez ele não dirigiu, mas contratou um motorista particular para levá-los.
O local não era tão longe, mas o protocolo exigia que fosse assim.
Logo que saíram do carro, Christian radiante vestindo um terno cinza se
aproximou do casal.
– Lucca! Que bom que você veio. Nossa! Essa é a sua acompanhante? Não vai
nos apresentar? - o amigo perguntou curioso.
Na verdade, Christian não era o único que tinha curiosidade de saber quem
era a bela e delicada mulher que estava acompanhada de Lucca, devido ao fato
de que ele nunca havia sido visto em festividades como aquela acompanhado de alguma
mulher.
– Menos, Christian. Essa aqui é a minha namorada Sophia. Sophia, esse é
Christian, um amigo meu e é quem está noivando nessa noite. Vai gostar de conhecer a
noiva dele, por falar nisso, onde está a Anne? - Perguntou o moreno.
– Já vou chamá-la, ela não estava se sentindo muito bem, por causa daquilo que
eu falei, sabe? - Christian deu uma piscada cúmplice para o amigo e saiu para procurar
pela noiva.
Sophia olhava tudo com admiração. Embora fosse um jantar em uma residência,
tudo tinha um ar de grande festa. Havia até mesmo garçons para servi-los. Sem saber
muito o que dizer ela começou a puxar assunto.
– O que a noiva do seu amigo tem? Ela está grávida? - perguntou.
Lucca ficou perplexo com a rápida dedução da jovem jardineira. Não esperava
tamanha perspicácia.
– Como você sabe? Isso era pra ser um segredo. - Lucca afirmou.
– Bem, ele disse que ela estava passando mal e depois piscou de um jeito muito
cúmplice. - observou com inocência.
Lucca sorriu de forma divertida.
– Você não deve dizer isso em voz alta, a família da noiva ainda não sabe.
Christian ficaria chateado se soubesse que eu contei. – o moreno explicou.
Logo depois três moças muito bem vestidas e penteadas se aproximaram. Sophia
sentiu-se novamente insegura ao ver que elas caminhavam em sua direção.
Uma era loira dona de cabelos rebeldes que tinham um corte moderno e com
belos olhos verdes, a outra era morena com cabelos e olhos cor de chocolate e Sophia
reconheceu da televisão como sendo uma cantora famosa chamada Rose Blake e a do
meio uma jovem de cabelos de um preto azulado e olhos acinzentados, baixinha e
simpática.
– Lucca, o Christian disse que trouxe sua namorada. Nossa, é muito linda! -
disse a do meio que tinha uma voz meiga e suave.
– Obrigada. - Sophia agradeceu pelo elogio sem saber se deveria elogiar a moça
de volta ou não, ela não tinha certeza sobre como se comportar na frente daquelas
mulheres e seu medo não era apenas de passar vergonha, mas de envergonhar Lucca
também.
– Eu sou Anne, a noiva do Christian e essas são minhas amigas Tereza e Rose. -
Anne apresentou.
– Acho que a Rose eu já vi na televisão. Você canta muito bem. - Sophia
voltou-se rapidamente para cantora falando e depois percebeu que deveria apresentar-se
também. - Eu me chamo Sophia e sou a namorada do Lucca.
– Hum! Isso é ótimo, já estava na hora do Denali ser fisgado por alguém. Fique
um pouco com agente, Sophia. Olha só, Christian já está abduzindo o Lucca para o
grupo dos homens. Aquelas conversas chatas Uck! Venha, vamos fofocar um pouco. -
disse Tereza puxando Sophia com o grupo de mulheres.
Lucca ficou preocupado quando viu que as mulheres levaram Sophia, mas sua
preocupação no decorrer da noite demonstrou-se em vão, pois logo Sophia relaxou e
agiu com as mulheres como se fosse da mesma classe social com elas, conversando
amenidades sendo bem aceita entre as amigas de Anne.
Na hora do jantar, mais uma vez a jardineira surpreendeu seu namorado,
conseguindo usar todos aqueles talheres sem cometer nenhuma gafe. Esse foi um dos
momentos que mais preocupou o moreno, mas Sophia saiu-se muito bem usando o
método de observar como as outras mulheres faziam para então copiá-la. Não era tão
desajeitada assim, pois já sabia usar o garfo e a faca. Sua família era pobre, mas todos
eram educados. Pobreza não significava total falta de etiqueta como regra.
Quando a festividade terminou e o casal entrou no carro para ir embora, Lucca
notou que sua namorada estava radiante.
– E então, o que achou do jantar? - Lucca perguntou.
– Eu adorei, as meninas são muito divertidas, não pensei que elas pudessem ser
tão legais. - Sophia falou com sinceridade.
– Que bom, você também estava ótima. Fiquei feliz por você ter feito amizade.
Só não gostei de uma coisa. - Lucca comentou, fazendo a ruiva arregalar os olhos com
medo de ter cometido alguma gafe que o desagradou sem ter percebido.
– O quê? Fiz algo de errado? – ela perguntou preocupada.
– Não, você estava ótima. Foram elas que fizeram tirando você de mim. Quase
não pude aproveitar você do meu lado nessa noite. - respondeu o Denali e Sophia deu
um sorriso.
– A noite ainda não acabou. - foi sua resposta com um sorriso maroto, uma vez
que agora ela estava mais relaxada.
– Tem razão. - disse Lucca. - David, faça a volta. Pare no mirante.
Sophia não entendeu nada, mas o enorme motorista obedeceu fazendo a volta e
dirigindo até um belo Mirante que havia perto dali.
O casal saiu do carro parando para apreciar a bela paisagem.
– Pronto, acho que podemos namorar um pouco aqui. - disse o moreno
aproximando-se da jardineira e beijando-a ali.
A noite estava linda, a lua brilhava prateada no céu em meio a belíssimas
estrelas enquanto o casal se beijava sentindo o vento bater em seus rostos e o cheiro da
maresia.
O desejo foi aumentando, mas não podiam avançar mais do que isso ali, então
passaram um tempo abraçados observando enquanto o céu nascia. Não havia pressa de
voltar pra casa e a festa havia varado a madrugada, por isso estava perto mesmo do
amanhecer que eles quiseram aproveitar juntos. Sexo era algo que poderiam fazer
depois, tinham todo o tempo do mundo.
Uma vez que o dia amanheceu, decidiram voltar para a Mansão.
Lucca tinha planos de passar o final de semana todo com Sophia e seus planos
incluíam passar longas horas no quarto, mas por hora estavam cansados e sonolentos.
Ao chegar na Mansão, Sophia dirigiu-se até o toalete para se lavar, mas ao olhar
no espelho percebeu uma coisa: um dos brincos que Lucca lhe emprestara não estava
mais lá.
Havia apenas seu par solitário pendurado em uma das orelhas. Desesperada ela
procurou por dentro do vestido tentando encontrá-lo mas foi em vão. Com lágrimas nos
olhos correu até Jane pedindo ajuda.
– Sophia! O que aconteceu, por que está chorando? O jantar não foi bom? -
perguntou a amiga.
– Não é isso, foi ótimo, mas eu perdi o brinco da mãe do Lucca, que ele me
emprestou! Me ajuda Jane, temos que procurar! - Sophia pediu desesperada.
Ambas procuraram no banheiro onde Sophia havia dado falta, depois pediram ao
David que abrisse o carro na esperança de estivesse caído por lá, porém vasculharam
tudo e não o encontraram.
Lucca, que havia notado certa confusão em sua casa foi até o estacionamento
querendo saber o que estava acontecendo e ao chegar ouviu apenas uma frase.

– Lucca vai ficar muito bravo quando souber que eu perdi o brinco da mãe dele,
Jane! - ela disse em prantos, mas Lucca não deu atenção aquela lágrimas naquele
momento.
Tudo o que o conseguiu assimilar foi que o brinco de sua mãe estava
perdido. A jóia preciosa de sua falecida mãe, que ele havia confiado a Sophia.
– O QUÊ? Você perdeu a jóia da minha mãe? - Lucca perguntou com um olhar
tão irado que os empregados se afastaram assustados.
– Perdi, me desculpa, eu não fiz por querer! - a moça se desculpou.
– NÃO, ISSO NÃO TEM DESCULPAS! EU FALEI PRA VOCÊ TER
CUIDADO QUE AQUILO ERA IMPORTANTE PRA MIM, SUA BURRA! Agora me
dê as outras jóias que te emprestei, agora mesmo!- ele exigiu puxando o bracelete que
antes havia colocado tão carinhosamente no pulso de Sophia.
– Está me machucando! Pare, deixa que eu tiro! - ela implorou.
Ao perceber a agressão, Lucca afastou-se um pouco enxergando a marca
vermelha que havia feito no pulso de Sophia ao retirar o bracelete e ela trêmula tirou o
colar e o brinco que sobrara entregando-o ao moreno, que uma vez em posse daquelas
jóias de novo deu-lhe as costas sem dizer uma palavra.
Jane se aproximou de Sophia abraçando-a.
– Não chore, ele é assim mesmo. Um grosso e estúpido, mas vai ficar tudo bem,
querida! - Jane consolava. - Daqui a pouco ele vai te perdoar.
Sophia tentou acreditar que seria assim, mas infelizmente não foi.
Três dias se passaram sem que Lucca sequer lhe dirigisse a palavra, até que um
dia escutou o barulho do carro dele entrando na garagem e quando estacionou
ele saiu do veículo para abrir a porta do carona de onde saiu uma linda mulher de
cabelos cor de cenoura que sorria com exuberância e entrou dentro da Mansão indo na
direção da biblioteca.
Sophia sentiu seu coração estilhaçando-se em pedaços. Ela seguiu o casal sem
que eles a vissem e olhou pela fresta da fechadura, vendo Lucca servindo whiskey para
a mulher dentro da biblioteca e ele também sorria.
Não pôde continuar olhando, aquilo era demais. Sempre soube que mais
cedo ou mais tarde aquilo aconteceria e temeu que eles logo começassem a se beijar ali
na sua frente, isso ela não podia suportar.
O Sonho havia acabado, mais cedo do que pensara. Não podia mais ficar um
segundo lá naquela casa. Como poderia trabalhar lá e ver o homem que agora amava ao
lado de outra mulher? Uma mulher bonita e fina, bem mais elegante do que ela! Não,
precisava ir embora.
Correu para seu quarto e catou tudo que é seu em uma mala pequena, deixando
apenas as roupas e os sapatos que havia ganho do Denali para usar naquele jantar. Logo
depois procurou por Jane na cozinha.
– Jane, eu vim me despedir. Não agüento mais ficar um dia nessa casa. Ele tem
outra mulher e eu não posso agüentar presenciar isso. - disse Sophia nervosa.
– Como assim outra mulher? Ele nunca trás mulheres pra cá, nunca teve nenhum
relacionamento sério com ninguém. - Jane disse perplexa.
– Sinal de que ela não é qualquer uma, deve ser importante pra ele. Olha, eu
estou indo. Só vim me despedir de você e pedir pra você entregar isso pra ele. - disse a
jardineira estendendo um envelope.
– Certo, eu compreendo. Vou entregar. Puxa, é uma pena, eu torci tanto por
você! Aquele Denali é mesmo um idiota, ele que não me escute falando isso! Você vai
ficar bem? - a amiga perguntou com ar de preocupação enquanto colocava o envelope
no bolso.
– Acho que vou. Mas preciso Sair daqui logo. Obrigada por tudo Jane, foi bom
te conhecer. - disse Sophia.
A morena abraçou a amiga carinhosamente, havia adquirido mesmo muito
carinho por aquela que chegara naquela Mansão vestindo-se como homem. Chegava a
ter Sophia como uma espécie de irmã mais nova.
– Eu também gostei de ter te conhecido, mas não quero que suma. Faço questão
que mantenha contato porque quero ter certeza de que ficará bem. Vou te dar o número
do meu celular para que me ligue se precisar de alguma coisa. Não precisa ter
cerimônia, é pra ligar mesmo. - falou Jane pegando um pedaço de papel e anotando para
Sophia.
Ambas despediram-se e Sophia virou as costas indo embora da Mansão.
Foi tudo bom demais para ser verdade, pensou. Talvez senão tivesse perdido o
brinco teria sido bem pior, pois mais cedo ou mais tarde aconteceria e teria doído mais
se estivesse mais apaixonada do que já estava. Com Lucca era assim: quanto mais
tempo passava com ele mais o amor crescia.
Fora feliz por pouco tempo. Sophia subiu no ônibus carregando suas coisas, mas
de repente algo de errado aconteceu. Sentiu uma forte pressão na nuca e a mão
dormente.
Jamais havia sentido um mal estar assim. Só viu seu corpo caindo no corredor
do coletivo enquanto algumas pessoas vieram acudir.
Capítulo 16
Importância

– Não se preocupe Lucca, até o final da semana sua jóia estará pronta. Farei
uma réplica perfeira e o brinco da sua mãe não ficará sem par.– a bela mulher de
cabelos cor de cenoura falava enquanto tomava uma dose de whiskey, sua bebida
favorita.
Lucca deu um suspiro de alívio, é claro que uma réplica do brinco perdido
jamais seria a mesma coisa, pois não seria uma peça usada por Mirella, mas ao menos o
conjunto todo não estaria perdido para sempre, o par ainda seria o mesmo e tinha o
bracelete e o colar que eram originais.
Por sorte Sophia havia perdido apenas um dos brincos.
– Muito obrigado Sonya, eu não confiaria essa tarefa a nenhum outro ourives.
Nem sei como agradecer por ter vindo até aqui. - dizia o Denali enquanto fechava o
estojo com o brinco que estava sobrando e entregava á mulher.
– Não precisa agradecer e é claro que não confiaria em nenhum outro ourives,
porque nenhum outro seria capaz de realizá-la já que essa peça foi fabricada pelo meu
pai. Agora já vou indo, pretendo começar a trabalhar nisso o mais rápido possível. Me
acompanha até a porta? - dizia a mulher enquanto levantava-se estendendo o braço para
Lucca que segurou cavalheiramente e a acompanhou até a porta.
– Vou pedir ao meu motorista que leve você até sua casa. É o mínimo que posso
fazer. - disse Lucca que mal podia acreditar na própria sorte quando encontrou Sonya
justamente no clube de tênis onde havia se reunido com seus amigos a fim de tentar
espairecer a cabeça.
Na mesma hora em que reconheceu a filha do ourives que fazia jóias
personalizadas para Mirella, quase implorou para que ela viesse até sua casa afim
de mostrar-lhe o brinco e ela concordara em vir, seduzida pela idéia de reproduzir uma
jóia feita por seu pai.
– Obrigada Denali. Assim que ficar pronto eu ligo para que venha buscar. –
Sonya disse despedindo-se de Lucca com dois beijinhos no rosto e uma vez que ela
havia entrado no carro, o moreno deu as costas entrando na Mansão.
Sem dúvidas seu humor havia melhorado. Foi um erro ter emprestado as jóias de
Mirella para Sophia e por mais que tivesse descontado nela toda a sua raiva e frustração
por ter perdido algo tão precioso para ele, no fundo sabia que o maior culpado era ele
próprio por ter emprestado. É verdade que havia confiado em Sophia para tomar conta
daquele conjunto como se lhe confiasse seu próprio coração, mas ela não havia sido
cuidadosa e havia perdido uma coisa que era importante para ele. Havia se
decepcionado com a Rinaldi por causa disso.
Mal adentrou a casa e percebeu que estava faminto, então sentou-se na mesa da
sala de jantar e aguardou que Jane lhe servisse o almoço. Seu humor estava um pouco
melhor naquele dia, até que a empregada apareceu na sala com um envelope branco na
mão.
– Sr. Denali, preciso informar uma coisa que aconteceu hoje enquanto o senhor
estava na biblioteca. - disse Jane.
Pelo tom de voz da moça, o patrão percebeu que se tratava de alguma coisa
séria.
– Diga. - ordenou, não estava com paciência para rodeios e por isso seu
tom de voz soou ríspido e seco.

– A Sophia acabou de ir embora dessa casa hoje, disse que não pretende voltar e
pediu que eu lhe entregasse esse envelope. - respondeu Jane entregando o envelope
branco para o patrão.
Lucca na mesma hora levantou da cadeira com expressão de surpresa e fúria no
olhar ao mesmo tempo.
– Como assim deixou essa casa? Você deixou ela partir? Me dá aqui esse
envelope. - disse Lucca tomando o papel das mãos de Jane.
– E o que o senhor queria que eu fizesse? Que a segurasse aqui a força?
Amarrasse ela? - Jane foi irônica, o que sabia que atiçaria ainda mais a raiva do patrão,
mas naquela altura não se importava mais tamanho era seu ressentimento por causa do
que ele havia feito a sua amiga, por isso criou coragem e continuou. - Foi melhor assim,
pelo menos pra ela. Ainda mais depois da humilhação que o senhor a fez passar. Sophia
não merece ser ferida e magoada pelo senhor, Sr. Denali.
As palavras de Jane soaram humildes, ela não levantou o tom de voz ao menos
uma vez já que não tinha coragem suficiente pra isso e tampouco olhou nos olhos do
patrão, mas não podia deixar aquela passar.
Desde que vira Sophia chorando no dia em que Lucca gritara com ela por causa
das jóias, Jane tinha aquilo entalado em sua garganta.
Lucca por sua vez, apesar do ódio que sentia não deu uma resposta para Jane,
simplesmente limitou-se a abrir o envelope e ver o que havia dentro e para sua surpresa
viu que se tratava de dinheiro, que ao contar percebeu que era todo o pagamento da
jardineira.
– É o salário dela. Faz idéia do porque dela ter mandado você me entregar isso?
-
Lucca perguntou.
– Ela não me disse o que tinha no envelope, mas imagino que seja para pagar
pela jóia que ela perdeu. - respondeu Jane.
– Que idiota! Isso não paga nem a terça parte do valor daquele brinco. Eu vou
trazer ela de volta. - disse pegando a chave do carro e saindo dali.
Enquanto dirigia, pensamentos povoavam sua mente e ele ria sozinho dentro
daquele carro por estar naquela situação tão ridícula. "Sophia sua idiota! Pra que ir
embora assim? Droga! Droga! Droga! O que será que eu vou ter que dizer pra trazer
você de volta? Céus! Por que eu me importo tanto?" Se perguntava durante o trajeto até
chegar no lugar onde Sophia morava e batia na porta, constatando que a moça não
estava em casa. Não havia nenhum sinal de que havia alguém ali dentro. Na dúvida
dirigiu-se para a casa de um vizinho perguntando, mas haviam dito que Sophia não
havia chegado ali e que fazia muito tempo que eles não a viam.
– Onde foi que você se meteu, Sophia? Estará na casa de Bethany? - Lucca se
perguntava já pegando o carro disposto a ir até o fim do mundo a procura de Sophia.
Ao chegar na casa da anciã, preocupou-se mais ainda, pois um dos filhos da
mulher atendeu dizendo que Sophia não havia aparecido por lá e que Bethany havia
viajado para visitar um parente. Tentou retornar para a casa de Sophia na esperança de
que ela já tivesse chegado, mas nada.
"Sophia meu amor, o que aconteceu com você? Ah não, esse lugar é muito
perigoso, será que alguém te fez alguma coisa no caminho?" Se perguntava e cada vez
que esse pensamento lhe assombrava sentia como se alguma coisa apertasse-lhe o peito.
"Idiota, burro, cretino!Custava você ter falado com ela? Se algo tiver
acontecido a culpa foi sua! Você fez ela deixar aquela casa. Três dias sem dizer uma
palavra para ela, é claro que ela foi embora!" Ele se repreendia mentalmente sentindo
ódio de si mesmo.
Cenas de pessoas arrastando Sophia pelo chão, agredindo-a e violentando-a
passavam por sua mente e faziam com que ele suasse frio de pavor. Tinha medo de que
ela estivesse morta, não iria suportar.
O coração batia aceleradamente quando decidiu dirigir pra casa afim de ligar
para todas as delegacias e hospitais em busca de Sophia mesmo sabendo que aquilo era
uma loucura, pois não haviam nem 24 horas que ela havia desaparecido.
No hospital, a gentil senhora morena que havia levado Sophia pra lá com a ajuda
de seu marido quando ela havia caído naquele ônibus abaixava-se até ficar na mesma
altura que o local onde a jovem jardineira estava sentada naquele banco no corredor .
– Quer que eu passe um rádio para alguém da sua família? Talvez seja bom eles
saberem que você está aqui. - perguntou a mulher.
– Não tenho família, eles morreram em um incêndio. - Sophia informou de
maneira melancólica enquanto virava o rosto para um lado.
A dor de cabeça ainda a incomodava, pois os enfermeiros ainda não haviam
aplicado a medicação embora o doutor já houvesse lhe examinado e dado seu
diagnóstico. A mulher que estava com ela olhou para o marido com expressão de
choque ao saber que aquela garota não tinha pais, então o homem decidiu tomar a
iniciativa.
– Bem, você não tem família mas deve ter amigos que talvez se importem, não
tem? - perguntou o homem.
– Só a Jane e a vovó Bethany mas vovó Bethany está viajando. - Sophia respondeu
de maneira débil.
– Tem o telefone dessa Jane com você? - perguntou a mulher.
Sophia retirou o pedaço de papel com o número do celular que Jane havia lhe
dado do bolso e entregou ao casal.
O homem se afastou dali com o rádio e discou. Uma voz do outro lado da linha
atendeu.
– Alô, quem é? - perguntou Jane sem reconhecer o número que havia lhe
discado.
– Meu nome é Charles, a senhora conhece uma moça de cabelos avermelhados e
olhos verdes chamada Sophia? - Charles perguntou.
– Sim, claro que conheço, ela trabalha comigo e é minha amiga. Por quê?
Aconteceu alguma coisa? - preocupou-se Jane.
– Aconteceu. Nós estávamos no ônibus quando ela entrou e desmaiou.
Trouxemos ela pra um hospital aqui perto, não foi nada demais, só a pressão alta mas
ela deu o seu telefone. - o homem explicou.
Jane arregalou os olhos ao ouvir a informação. Sophia havia passado mal na rua
sozinha! Precisava avisar o patrão, Lucca tinha saído de casa justamente para buscá-la e
certamente não a havia encontrado. Pobre Sophia! Na certa a pressão subiu porque ela
se aborreceu. Ela era muito mais sensível do que aparentava.
– Por favor me passa o endereço, vou mandar meu patrão ir aí agora mesmo. -
Jane pediu enquanto pegava um papel anotando o endereço.
Lucca já estava no caminho de casa frustrado e coberto de preocupação quando
seu celular tocou e para sua surpresa era o número de casa. Mais alguma coisa deveria
ter acontecido, já que seus empregados nunca ligavam para seu celular.
– Alô, Lucca. Aqui é a Jane, acabaram de me ligar dizendo que a Sophia está
no hospital. - disse Jane.
– Que hospital? - perguntou preocupado vendo em sua mente todas as
cenas de Sophia machucada que ele havia imaginado. Desesperou-se e nem esperou
Jane explicar o que havia acontecido, desligando o telefone assim que ela informou o
nome do hospital onde Sophia estava.
Correu ignorando todas as leis de trânsito sem se importar com as multas que
receberia mais tarde apenas querendo chegar até ela.
Ao entrar naquele Hospital, Lucca não prestou atenção no grande número de
pessoas que estava na fila aguardando atendimento médico pelos corredores,
simplesmente correu até o balcão falando alto e chamando a atenção de todos os
presentes.
– Onde está Sophia Rinaldi? Sei que ela está internada aqui! - perguntava de
forma ameaçadora e desesperada.
Uma morena de olhos amendoados se aproximou.
– O senhor é o moço que Jane mandou vir buscar a Sophia? Uma moça de
cabelos avermelhados? - perguntou.
– Sim, sou eu mesmo. Onde é que ela está? –o moreno exigiu saber.
– Está no corredor da esquerda. Que bom que veio, sou Katherine e foi meu
marido que te ligou, fomos nós que a trouxemos aqui. - respondeu Katherine sentindo
alívio porque alguém havia aparecido para cuidar da jovem que ajudara.
Lucca não lembrou de agradecer Katherine naquele momento, simplesmente
correu até o corredor onde a moça havia dito que Sophia se encontrava e a avistou
sentada com um soro na veia em um banco do corredor do hospital ao lado de várias
outras pessoas que estavam sendo atendidas naquelas condições precárias do hospital
público.
Vê-la daquele jeito foi algo que o chocou, acostumado com clínicas
elegantes onde os pacientes tinham um quarto só para si. Ali o clima era quente e as
pessoas ficavam espalhadas pelos corredores, pacientes misturados com acompanhantes
e inclusive crianças misturadas com adultos.
– Sophia! - ele disse o nome dela correndo em sua direção, aliviado por ela estar
viva e não aparentar ter sido agredida ou qualquer outra coisa do tipo, mas não sabia
ainda o que ela tinha. Será que era grave?
Tudo o que ele queria era passar os braços em volta dela e tirá-la dali, mas assim
que o viu, a jovem ruiva virou o rosto para o outro lado.
– O que está fazendo aqui? - ela perguntou.
– Vim te buscar, fiquei muito preocupado, o que aconteceu com você? - o
moreno queria saber.
– Não tem importância, vá embora por favor. - Sophia disse secamente deixando
o Denali perplexo.
Katherine aproximou-se de Lucca junto com seu marido para se despedir,
haviam perdido tempo indo ali ajudar aquela moça e ficaram ali com ela para não
deixá-la sozinha dentro daquele hospital temendo o descaso da saúde pública, mas uma
vez que havia chegado quem tomasse conta dela eles precisavam ir embora, já que
também tinham uma vida para cuidar.
– Com licença senhor, mas meu marido e eu temos que ir agora. Precisamos
buscar nosso filho na escola ainda. Aqui está o remédio que o enfermeiro deu para que
ela tomasse, mas ela se recusou a colocá-lo debaixo da língua. Foi difícil convencê-lo a
deixar o comprimido com agente. Se puder convencê-la a tomar será bom, já que nós
não conseguimos. - Katherine explicou colocando o comprimido na mão do jovem..
– Remédio embaixo da língua? O que ela tem? - perguntou Lucca com
preocupação dobrada uma vez que soubera que Sophia havia se recusado a tomar o
remédio.

– Passou mal porque a pressão estava alta. Ela quase desmaiou no ônibus, mas
disseram que depois que o soro acabar e ela tomar o remédio vai ficar bem e poderá ir
pra casa. - explicou Katherine antes de se despedir e ir embora dali com o marido.
Lucca abaixou-se até a altura de Sophia uma vez que ela estava sentada e tratou
de tentar convencê-la a tomar o remédio. Ele sabia bem os danos que a pressão alta
poderia causar.
Sua mãe havia tido um derrame por causa disso. Jamais imaginou que
Sophia pudesse ter a mesma doença e a idéia de vê-la paralisada em cima de uma cama
como Dona Mirella o apavorava.
O pior era que a culpa era dele próprio, havia tratado Sophia muito mal e com
certeza o aborrecimento havia piorado o quadro.
Tudo por causa de um brinco! Claro que não era um brinco qualquer e sim o de
sua mãe, mas certamente ele não valia mais do que a saúde de Sophia, agora Lucca se
dava conta disso.
– Aquela moça disse que você não quis tomar o remédio que o médico passou.
Por que? - ele perguntava com uma voz mais mansa, pois não queria deixá-la mais
nervosa.
O olhar de Sophia parecia débil, mas ele não podia enxergar, porque ela estava
virada de costas pra ele. Não queria encará-lo, pois o simples fato de olhar pra ele
depois de tê-lo visto tão sorridente ao lado daquela mulher fazia o coração de Sophia
apertar.
A voz dele feria seus ouvidos e ela só queria que ele desaparecesse e a deixasse
ali morrendo sozinha.
Haviam dito que ela ficaria bem, mas no fundo não queria ficar. A própria frase
que havia dito para Katherine logo que chegara naquele Hospital tinha causado um
efeito sobre si mesma."Não tenho família, eles morreram em um incêndio" Ecoava em
sua mente.
Naquele momento ela lembrou-se de todos eles, de seus rostos felizes e da
maneira como eles a abraçavam e cuidavam com tanto amor! Era difícil dizer de quem
ela gostava mais, se era do amoroso pai que trazia doces para ela e sua irmãzinha
sempre que chegava do trabalho, da mãe que ás vezes era ranzinza e brigava para que
ajudassem com as tarefas de casa, do gentil avô sábio que ensinava coisas e dava
conselhos ou de Lily que ela tinha como se fosse uma boneca, amava e protegia.
Antes daquele incêndio, Sophia tinha um lugar no mundo e tudo parecia certo.
Encaixava-se perfeitamente no seio daquela família, pois era parte dela e
também tinha um bom lugar na escola entre seus amigos e com o namorado de quem
tanto gostava.
Uma adolescente normal que apesar de ser pobre, vivia uma vida boa e alegre
como muitas outras que existiam no mundo, mas depois daquele dia era como se
simplesmente tudo tivesse acabado e ela não tivesse mais um lugar no mundo. Não
tinha mais sua família, nem seu namorado e por último seus amigos.
De repente ela não tinha mais nada no mundo, era como se não fizesse mais
parte dele mas mesmo assim continuava vivendo dia após dia.
Agora ela entendia o que estava errado, simplesmente deveria ter ido com a sua
família. Talvez tivesse sido um erro do destino ela ter ficado viva. Será que a morte
havia se esquecido de levá-la? Se tivesse ido junto com todos, quem sabe não haveria
um lugar para si ao lado deles?

Sempre fora uma moça forte cheia de saúde, aquela foi a primeira vez que sua
saúde falhou com aquela pressão alta. Seria aquilo uma providência do destino para
levá-la pra junto de sua família onde ela deveria estar? Porque se fosse, não lutaria
contra aquilo.

– Porque eu não quero. - Respondeu, não queria explicar nada para Lucca, só
queria que ele fosse embora pra não ter que suportar mais sua presença de traidor que
apertava mais ainda seu coração.

– Sophia, por favor, tome o remédio. Se você não tomar pode ter um derrame,
você sabe o que é isso? Eu não quero que te aconteça alguma coisa. Vamos, eu te ajudo.
– ele disse segurando na mão dela, mas uma vez que ela sentiu o toque da pele de Lucca
afastou a mão bruscamente.

– O que me acontece ou deixa de acontecer não é da sua conta. Não trabalho


mais pra você. Agora vá embora. - a voz de Sophia soou dura e amarga de um jeito que
ele jamais havia visto antes.

Sem dúvidas ela estava muito chateada com ele, disso ele teve certeza, mas
jamais iria embora. Estava disposto a insistir até que ela cedesse.

– Eu ainda sou seu namorado. - afirmou. - Então acho que é da minha conta.

Aquela afirmação fez Sophia reagir, mas com cólera. Movida pela raiva
esqueceu-se da sua resolução de não olhar para o rosto do Denali virando a face para
encará-lo.
– Namorado? Acho que não, porque caso não tenha sido informado, eu só
namoro á moda antiga, Lucca! Sabe? Pode achar que é careta, mas eu não aceito que
namorado meu saia com outra mulher e muito menos que a traga pra casa! Pra você esse
tipo de coisa pode ser normal, mas pra mim não! E um namorado decente pra mim
também não fica três dias sem falar com a namorada ignorando-a completamente.
ENTÃO NÃO, VOCÊ NÃO É MEU NAMORADO! - gritou as últimas palavras com as
faces vermelhas tamanho foi seu nervoso ao desabafar daquela maneira.

Todas as outras pessoas que estavam naquele corredor voltaram seus rostos para
o casal demorando-se mais no moreno que chamava a atenção por estar usando roupas
caras que demonstravam claramente que ele não era da mesma classe social que os
outros ali presentes.

– Tomou vacilão! É isso aí ruivinha, não dá mole pra ele não! - disse uma
mulher obesa que estava sentada do outro lado do corredor com uma perna enfaixada.

– Que não dá mole que nada! Se ela não te quiser eu quero! - falou uma outra
mais velha ainda que estava acompanhando a senhora que havia criticado Lucca.

A face do Denali estava branca de vergonha por estar em uma situação tão
ridícula e servindo de piada para aquelas pessoas. Sua vontade era de sair dali e ir logo
embora levando Sophia junto, mas não podia simplesmente carregá-la contra sua
vontade já que acabara de descobrir que ela era capaz de gritar e fazer escândalo em
público. Aquele era um lado de Sophia que ele desconhecia, odiava esse tipo de
comportamento, mas era capaz de compreender o motivo de sua fúria. Não queria atiçar
mais ainda a raiva da ruiva, por causa de sua saúde.

– Você está falando da Sonya? A moça que levei lá pra casa hoje? - Lucca
perguntou em um tom de voz baixa.

– Não, eu tô falando da vovó Bethany! Não banque o idiota, é claro que tô


falando daquela de cabelo cor de ferrugem toda metida que você levou de carro! -
Sophia falou.

Lucca simplesmente não pôde evitar e começou a rir ao realizar que Sophia
sentira ciúmes de Sonya. Aquilo era o cúmulo do ridículo, mas por um lado era bom
saber que ela sentia ciúmes embora ele jamais fosse fazer algo para atiçá-lo novamente,
uma vez que fora o que magoou Sophia e causou seu aumento de pressão.

A saúde dela era muito mais importante do que qualquer coisa pra ele.

– Isso é ridículo, ela não é minha amante nem nada! Eu a levei lá para tratar de
negócios. Foi por isso que você foi embora? - perguntou o moreno.

– Sei bem que negócios eram esses! - disse Sophia azeda.

– É isso aí, não deixa ele te fazer de boba não ruivinha! Também sei que
negócios eram esses! Não acredita nele não porque homem é tudo safado igual o meu
ex-marido, ah mas eu quase capei aquele desgraçado! - a mesma mulher da perna
enfaixada disse para Sophia, demonstrando que prestava atenção em toda a conversa.

– Sophia, pelos Deuses! Isso aqui não é lugar pra discutirmos essas coisas, por
favor, tome esse remédio pra podermos ir embora daqui! Podemos ir para outro hospital
onde você pode ser melhor atendida. Conheço um ótimo. - disse Lucca constrangido
querendo sair de lá.
– Estou bem aqui. - foi a resposta da ruiva.
– Não, não está. Você está aqui nesse corredor imundo jogada, se aquelas
pessoas que te trouxeram não tivessem ficado aqui sabe-se lá quando iria ser atendida.
Vamos embora, por favor! - pediu o Denali.

Outra mulher que estava no corredor mas que ainda não tinha recebido
atendimento irritou-se e se aproximou do casal.

– Olha só moça, toma logo essa porcaria de remédio e vai embora com o seu
homem já que ele quer pagar uma clínica decente pra você! Não vê que tá tirando a vez
de quem precisa de verdade dessa espelunca aqui?- a moça deu um sermão que deixou a
Rinaldi boquiaberta e Lucca aproveitou a deixa.

– Até que enfim alguém falou alguma coisa que presta! Obrigado senhora. Viu
só,Sophia? Tem mais gente na fila que precisa de atendimento aqui. Eu vou chamar o
enfermeiro pra tirar seu soro e vou levar você para o hospital de uma médica muito boa
que eu conheço. - Lucca falou levantando-se uma vez que estava agachado.

– Não quero ir pra hospital nenhum, eu quero ir pra casa! – disse Sophia

– Humph! Você é uma mimada! - Lucca estourou já nervoso com a teimosia da


ruiva.
– E você é irritante! - ela disse e ele bufou percebendo que estava quase
começando outra discussão que levaria tempo sendo que as pessoas os olhavam, uns se
divertindo com a cena e outros furiosos como a mulher que aguardava atendimento.

– Tá legal, que tal um acordo? Você coloca esse remédio embaixo da língua e eu
te levo pra casa? – Lucca propôs.

– Feito. - Sophia disse a contra gosto, parte por causa dos outros pacientes que
precisavam de seu lugar e parte porque sabia que Lucca não desistiria.

O moreno não pôde deixar de dar um sorriso de canto. Sempre fora um bom
negociador.

– Ótimo, abra a boca. - Lucca disse segurando o remédio, mas ela tomou da mão
dele.
– Eu posso tomar sozinha! - ela disse colocando-o embaixo da língua e o
enfermeiro veio para tirar o soro.

Quando ela se levantou, Lucca se aproximou para passar o braço em volta de sua
cintura com a intenção de ajudá-la a caminhar, mas a moça o rechaçou.
– Eu posso andar sozinha, não precisa encostar em mim! - ela disse e dessa vez
ele não insistiu, limitando-se a acompanhá-la até o carro e abrir a porta para que ela se
acomodasse no banco do carona.

– A propósito, eu não sou mimada. - Sophia disse assim que o moreno entrou no
carro e acomodou-se no assento do motorista.

– Não, mas vai ser. - disse Lucca dando a partida.

Capítulo 18
Exigência

O carro parou na entrada da Mansão Denali e a jovem jardineira olhou para seu
patrão com uma expressão enfezada no rosto.

– Pensei que tivesse dito que me levaria pra casa, esse foi o acordo. - disse
Sophia olhando de forma implacável para Lucca.

– Sim, mas não disse qual. Não seja tão rabugenta, Sophia. - o moreno falou
descendo do carro e dando a volta ao redor do automóvel para poder abrir a porta para a
jovem como mandava a etiqueta.

Cansada e esgotada emocionalmente, a ruiva saiu do veículo e foi caminhando


para o interior da Mansão, ela sabia que Lucca exigiria uma conversa e não permitiria
que ele se safasse tão rápido depois de tê-la tratado com tanta grosseria e indiferença
nos últimos dias, ainda que ela tivesse perdido a jóia da mãe dele.

Ela não acreditou sequer por um segundo que não havia nada entre Lucca e
Sonya. Por hora sentia-se cansada pelo efeito do remédio que uma vez tendo baixado
sua pressão, causou um imenso sono.

Estava caminhando na direção do quarto onde dormia sempre, mas


surpreendeu-se quando braços fortes enlaçaram sua cintura suspendendo-a no alto e
carregando-a
escada a cima.

– O que você pensa que está fazendo? - perguntou enquanto tentava se debater
com pequenos socos naquele imenso peito bem definido.

– Levando você pra cama, agora você vai descansar. Estou vendo que precisa
deitar um pouco e depois conversamos. Eu prometo. - disse Lucca enquanto a levava.

– Não preciso descansar naquele seu quarto. Eu posso muito bem ficar no meu.
Eu falei sério quando disse que não sou mais a sua namorada. - insistiu de forma
birrenta.

– Isso é outro assunto que poderemos discutir depois. Não se preocupe, vou
deixar você descansando na cama sozinha enquanto faço umas ligações. Depois vamos
conversar pelo tempo que for necessário. - respondeu Lucca entrando pela porta do
aposento e depositando Sophia na cama e em seguida saindo pela porta, pegando seu
aparelho celular.

Em seu íntimo, Sophia sabia que na verdade havia gostado de ser carregada pelo
moreno, gostava do cheiro dele e aquele aroma que só ele tinha estava espalhado por
todo o aposento.

Ela queria lutar contra aquele sentimento, não queria sentir amor por Lucca
pois julgava que ele não era merecedor. Não depois da maneira como ele a havia
tratado.

Era verdade que Sophia era pobre e humilde, mas isso não era motivo para que
ele agisse daquela maneira como agiu com ela. Nunca durante toda a sua vida se sentiu
tão humilhada. Ela não estava disposta a perdoá-lo e nem acreditar nele.
Sabia que conversariam quando ela estivesse melhor e durante essa conversa
deixaria claro que não teria mais nada com ele e que iria embora. Mas por hora tudo o
que precisava era dormir por causa daquele maldito remédio que tomara no hospital.

Ao abrir os olhos horas mais tarde, deparou-se com dois pares de ônix a fitando
e ao lado do dono daqueles belos olhos que lhe causavam um frio na barriga toda vez
que os encarava estava uma bela mulher, não como a primeira que ela viu com ele
naquela
manhã.

A mulher que estava ao lado de Lucca era grande, loira com seios
avantajados e olhos da cor de avelã muito bonitos. Ao contrário da primeira, ela não
parecia ser jovem mas sim um pouco mais velha. Olhou de maneira interrogativa para
ambos, já que não fazia a menor idéia de quem era a moça.
– É, ela acordou. Leila, essa é a Sophia de quem te falei. Sophia, essa é
A Dra. Leila Pontes, médica da família e eu pedi que ela viesse pra dar uma olhada em
você. - explicou o moreno.

Sophia surpreendeu-se com aquele cuidado, pois jamais esperou que Lucca
fosse trazer uma doutora em casa para verificar seu estado de saúde.

– Prazer Dra. Leila, mas não acho que seja necessário. Já estou me sentido
bem melhor e no hospital disseram que foi apenas um aumento de pressão. - explicou a
jardineira sentindo-se levemente constrangida com o excesso de zelo.

– Acho que não custa nada verificar se abaixou mesmo, eu tenho um medidor
aqui e depois hipertensão é algo muito sério. Lucca sabe disso melhor do que ninguém.
– disse a médica.

Sophia ficou pensativa ao ouvir aquelas palavras vindas da Dra. Leila, pois
insinuava que Lucca tinha alguma experiência com o assunto, será que ele também
sofria daquele mal?

– Tudo bem então. - concordou estendendo o braço para que a Dra. Leila
medisse sua pressão.

A loira colocou o apertado aparelho em seu braço, depois abriu um sorriso.

– É, abaixou mesmo. O remédio fez bem e a pressão está normal, mas acho que
você deveria fazer alguns exames depois, para descobrirmos a causa da sua hipertensão.
Vou deixar os pedidos com você. Tenho certeza de que Lucca irá levá-la para fazê-los e
depois poderão passar no meu consultório. Vou indo e não precisa se preocupar, Lucca.

Ela vai ficar bem. - disse Leila antes de se despedir,

Uma vez que a doutora já havia ido embora, Lucca olhou para a jardineira com
uma expressão séria no rosto.
– Já que está melhor então troque de roupa, quero levar você em um lugar antes
de conversarmos, já que preciso provar uma coisa. - disse o Denali e em seguida saiu do
quarto.

A jovem não pôde evitar de pensar que os joguinhos de Lucca eram


extremamente irritantes. Estava na cara que ele planejava reconquistá-la. Foi só
perceber que podia perdê-la que decidiu correr atrás.

O problema era que Sophia não queria ser um brinquedinho nas mãos de seu
patrão que por qualquer coisa a deixava de escanteio.

Não se deixaria seduzir, ainda que ele a levasse em algum lugar bonito e tentasse
fazer uma chantagem emocional. Vestiu-se com roupas simples e pouco sensuais: um
macacão jeans com uma blusa verde-jade que acabou por combinar com seus olhos e
calçou um par de tênis.
Deixou os cabelos soltos e em seguida desceu, entrando no carro onde o moreno
já a aguardava. Assim que entrou no veículo, Lucca limitou-se a olhá-la pelo canto do
olho e em seguida deu a partida.

Minutos depois Sophia se arrependeu completamente da escolha de suas roupas.


Lucca havia parado o carro justamente na entrada de uma enorme casa e após tocar a
campainha, a moça dos cabelos acobreados que havia visto com seu namorado
mais cedo foi quem atendeu a porta.

– Denali! O que está fazendo na minha casa a essa hora? Pelo que sei ainda não
terminou o prazo que dei para que a sua encomenda ficasse pronta. O que foi, desistiu
do serviço ou veio encomendar mais alguma coisa? - perguntou a bela mulher que
estava vestida com um belo vestido preto com detalhes em flores lilases.

Sonya era a imagem perfeita da beleza feminina e Sophia não pôde deixar de
pensar que parecia um moleque de rua ao lado dela, ainda mais vestida daquela maneira.
Como Lucca pôde se atrever a fazer uma coisa dessas? Aquilo era uma tremenda
afronta, levar Sophia justamente até a casa daquela mulher foi o cúmulo.
Já ia dar as costas para sair dali, mas a mão forte de Lucca agarrou seu
braço.

– Não, Sophia. Espera. Quero que conheça uma antiga amiga. Sonya, esta é
Sophia, a minha namorada e Sophia, esta Sonya, nossa ourives.
Peço desculpas pelo incômodo, mas não vim fazer outro pedido. O motivo da minha
visita inesperada é que minha namorada nos viu conversando nesta manhã e pensou que
estivéssemos tendo um relacionamento mais íntimo se é que me entende. – disse;.

Na mesma hora Sophia ficou com as maçãs do rosto avermelhadas devido ao


constrangimento da situação, principalmente pela maneira como Lucca havia falado.
Uma risada alta a assustou e a mesma saía dos lábios de Sonya.

– Hahahahaha, isso foi hilário. Eu, me relacionando intimamente com


Lucca? Não, de maneira alguma. Ele não chega nem aos pés do meu marido, embora
não seja de se jogar fora. Mas já que veio até aqui, posso lhe dar uma prova de que
Lucca e eu estávamos apenas tratando de negócios nesta agradável manhã. Por favor,
peço que entrem. - disse Sonya dando um passo para o lado abrindo passagem para que
o casal entrasse.

Sophia ficou impressionada com a decoração exótica da casa da mulher, assim


como o belo marido que Sonya tinha e sua pequena filha parecida com a mãe, também
dona de cabelos cor de cenoura, mas com pequenas sardas no rosto.

A visão daquela bela família fez o coração de Sophia se apertar pelo desejo de
ter uma família como aquela. Sonya levou Sophia até uma sala onde trabalhava e
mostrou a ela o conhecido brinco causador de toda a confusão.

– Vê, Sophia? Não há nada com o que se preocupar. Lucca me tirou de meu
momento de lazer para me fazer ir até a casa dele buscar o brinco que meu pai fez anos
atrás para a mãe dele. Ela era uma excelente mulher, sabe? Pelo menos o
pouco que me lembro dela. Deixe-me explicar, sou uma ourives, tenho o mesmo ofício
que meu falecido pai e seu namorado me contratou para reproduzir o brinco perdido. – a
bela ourives explicou pacientemente.

A explicação surpreendeu Sophia, pois jamais vira antes uma mulher seguindo
aquela profissão. Sonya era simpática e tão amável que fez a Rinaldi envergonhar-se do
julgamento que fizera. Só pela forma como ela olhava para o marido dava pra ver que
era apaixonada pelo mesmo e que seria incapaz de traí-lo.

– Agora entendi, desculpa pelo mal entendido, não sei nem o que dizer, estou
envergonhada. - admitiu a ruiva.

Sonya segurou sua mão e sorriu de uma forma que soou até mesmo maternal ou
como uma irmã mais velha aconselhando uma caçula.

– Você não precisa se envergonhar, querida. Mas tem uma coisa que preciso te
falar. Está na cara que o Lucca gosta muito de você, ele não costuma fazer visitas a
ninguém sem avisar e pra ter se preocupado de trazer você até aqui para explicar o que
aconteceu é sinal de que se preocupa muito com a sua opinião sobre ele. - disse Sonya.

– Você tem certeza? - Sophia perguntou, pois na sua mente pensou que aquela
visita havia sido apenas para deixá-la constrangida.

– Absoluta. Conheço Lucca já de vários carnavais. Ele era um bom menino, mas
é muito traumatizado com a morte da mãe e piorou depois da tragédia com o irmão, o
pai e a madrasta. Ás vezes ele pode ser extremamente rude, mas está na cara que o que
ele sente por você é algo forte. - Sonya explicou com seriedade.

– O que aconteceu com a família dele? - perguntou a ruiva com curiosidade.


Pela forma como Sonya mencionou a palavra "tragédia", Sophia imaginou que
tivesse sido algo realmente grave. Teria sido um acidente como o que matou sua
família? Mas isso não era motivo suficiente para fazer alguém ter se tornado tão
insensível quanto Lucca o era.
– Isso não cabe a mim dizer. Na hora certa o próprio Lucca vai contar. Mas
deixemos isso pra lá por enquanto. Tome um chá comigo e minha família já que está
aqui. Não é sempre que recebemos visitas. - convidou a anfitriã.

Após um delicioso chá na casa da ourives acompanhado de uma agradável


conversa, o casal finalmente foi embora já tarde da noite. Ao entrar no carro, Lucca deu
um sorriso.

– E então, agora que já sabe que Sonya e eu não tivemos uma manhã de sexo
selvagem hoje, já posso ser perdoado e voltar a ser o seu namorado? - perguntou Lucca.

Sophia pensou que ele merecia ser socado por fazer aquela pergunta daquela
maneira. Tudo bem que ele não a havia traído, mas não era suficiente, pois ele havia
errado muito com ela e magoado seus sentimentos.
Ela pensou nas palavras de Sonya dizendo que ele gostava muito dela e fitou
aqueles olhos tão brilhantes naquele carro, o rosto que ela tanto gostava e o corpo que a
atraía de uma maneira que só de estar perto fazia seu coração palpitar, então tomou uma
decisão:

– Ainda não, Lucca. Você agiu muito mal comigo, me humilhou na frente dos
meus colegas de trabalho, me ignorou durante dias e eu não sou um brinquedo que você
deixa de lado toda vez que está bravo e depois quando quer e bem entende decide que
quer de volta. Sou uma pessoa e tenho sentimentos! Eu não perdi aquele brinco porque
eu quis, foi um acidente e você me tratou como um lixo só por causa disso. - desabafou.

Ao vê-la falando daquela maneira, o moreno teve medo de não ser perdoado, pois
havia realmente exagerado. Como pôde ficar tão louco por ela ter perdido aquela jóia?
Como foi idiota por humilhar aquela mulher daquele jeito, se a amava tanto?

– É, você tem toda a razão. Por isso que vou dizer uma coisa que não digo pra
ninguém, por causa do meu orgulho. Sophia, por favor, me perdoa. Se você me perdoar
eu prometo que nunca mais vou te tratar daquele jeito. Eu vou ter mais paciência e
controlar melhor a minha agressividade. Agi muito mal com você e estou arrependido. -
disse Lucca.

A jovem engoliu em seco, era isso o que queria ouvir, mas sentiu que ele
merecia uma punição um pouco maior, até como um teste para ter certeza de que ele a
amava mesmo.

– Não, não posso te perdoar agora, porque por enquanto não é o bastante. Mas eu
posso te perdoar se amanhã você fizer o mesmo pedido, na frente de todos que estavam
no dia que você gritou comigo porque eu perdi o brinco da sua mãe. - Sophia exigiu.
Lucca não esperava por uma resposta como essa e ficou perplexo.

– Na frente de todos? Mas por que, Sophia? Tem mesmo necessidade disso? -
perguntou.

– Bem, isso depende. Se quiser que eu volte a ser sua namorada tem sim. –
Sophia respondeu.
Capítulo 19
Desculpas

O Sol quente batendo no Jardim da Mansão Denali fazia com que seu dono
sentisse como se sua cabeça fervesse devido ao calor, mas não era o único causador do
desconforto do belo moreno que estava ali parado trajando uma camisa social branca
um pouco aberta no peito e uma calça também social da mesma cor.

Lucca vez ou outra passava um lenço sobre a face e a mulher de cabelos


avermelhados ao seu lado achava certa graça do nervosismo do moreno.

– Tem certeza de que isso é mesmo necessário, Sophia? – perguntou

A moça chegou a duvidar de que seu ex-patrão e ex-namorado estivesse disposto


a fazer aquele sacrifício para tê-la de volta, uma vez que ele era orgulhoso demais, mas
em nenhum momento cogitou a possibilidade de abrir mão daquele pedido de desculpas
público.

Não por si própria, mas por acreditar que aquilo faria bem ao próprio Lucca.

Melhor do que ninguém ela sabia que um pouco de humildade era uma coisa que
fazia bem para qualquer pessoa, independente de seu status na sociedade sendo rico ou
pobre. Não tinha a menor dúvida de que o moreno já havia se arrependido da maneira
como havia tratado-a, mas tinha certeza de que com aquele pedido desculpas, o
candidato a atual namorado certamente aprenderia a tratar melhor as pessoas e pensaria
duas vezes antes de repetir aquele ato.

Com certeza depois que aquilo passasse, Sophia recompensaria o Denali por
estar se esforçando para obter seu perdão. Agora que ele havia dito que faria o que ela
pediu, principalmente depois daquela visita á jovem ourives, tinha certeza de que
realmente era importante para ele e que talvez realmente gostasse dela, embora não
tivesse certeza de que ele a amava.

Amor era um sentimento muito forte e isso era algo que ela duvidava que ele
sentisse, embora ela mesma agora tivesse certeza de que sentia exatamente isso por ele
e ainda tivesse medo por causa do sofrimento que havia tido com Taylor.

– Mandou nos chamar, Sr. Denali? - Jane perguntou. Ao lado dela estavam
os outros empregados Lucca, todos postos um ao lado do outro em forma de
meia-lua.

O patrão pigarreou um pouco para criar coragem e Sophia percebeu sua


hesitação, empurrando-o para frente levemente pelos ombros.

– Vamos logo, quanto mais cedo fizer isso, mais rápido vai acabar. Prometo que
não vai doer. - ela disse com um pouco de ironia.

– Humph! - Lucca fez aquele típico som de quando estava chateado com algo,
endurecendo sua expressão.

Embora estivesse odiando aquela idéia e sentindo-se humilhado com a situação,


internamente tinha que concordar que ela estava certa. Quanto mais cedo fizesse o que
havia reunido aquelas pessoas para fazer, mais cedo tudo estaria acabado.

– O motivo pra eu ter reunido todos vocês aqui hoje é porque eu me comportei
muito mal com a Sophia alguns dias atrás, Gritei com ela por ela ter perdido uma jóia
que era da minha mãe, mas sei que ela não fez de propósito e por isso creio que devo
desculpas a ela pela forma como a tratei. – disse de uma vez.

Todos os empregados que estavam no local ficaram com o queixo caído, já que
conheciam bem seu patrão o suficiente para saber que ele não era homem de pedir
desculpas pra ninguém e nunca voltava atrás com sua palavra.

Eles olharam de Lucca para Sophia e alguns imaginavam o que aquela mulher
tinha para fazer o Denali mudar daquele jeito.

Se havia alguém naquele mundo capaz de domar Lucca, certamente este alguém era
aquela jovem jardineira.

Ali parada ao lado dele, usando um vestido simples verde florido e com os
cabelos soltos embaixo daquele sol com os olhinhos apertados devido ao excesso de
claridade e até mesmo algumas gotas de suor na face por causa do calor, ela não parecia
ter nada demais. Uma moça comum, claro que delicada e amável, mas nem de longe a
mulher mais atraente da face da terra ou a mais fina. Dotada de simplicidade, talvez
fosse exatamente o que o frio patrão necessitava.

Depois de explicar o motivo da reunião para aquelas pessoas, Lucca voltou-se


para Sophia encarando-a. Ele não deixou transparecer, mas seu coração dentro do peito
batia de forma acelerada, pois tinha medo da resposta que a jovem poderia lhe dar.

– E então, Sophia, você me perdoa por tê-la tratado mal? - perguntou.

A ruiva franziu a testa em uma expressão pensativa que fez o moreno ficar ainda
mais temeroso. Será que depois de tamanho sacrifício ela lhe diria um não? O que faria
se ela dissesse que não o perdoava? Sim, ficaria com raiva, mas pior do que ser feito de
bobo seria a certeza de que ela não o amava. E desde quando ele estava preocupado em
ter o amor de uma mulher?

Sophia caminhou lentamente até ele e então surpreendeu-o ao colar seus lábios
nos dele em um beijo que servia justamente como resposta para sua pergunta.

Aliviado por aquele gesto, o Lucca sorriu no meio do beijo e retribuiu passando
seus braços pela cintura da ruiva suspendendo-a no alto enquanto abria caminho com a
língua para sua boca entrelaçando-a na da jardineira.

Aplausos puderam ser ouvidos e Lucca sentiu que era o homem mais feliz da
face da terra só por ter Sophia consigo. Aquele beijo certamente o havia recompensado
por ter tido que pisar em seu próprio orgulho para tê-la de volta como sua namorada. Só
foi um pouco constrangedor o fato de que todos haviam presenciado aquela cena, só
porque agora seus empregados sabiam o quanto estava "caído de quatro por aquela
mulher",

Os lábios separaram-se por causa da necessidade de ambos respirarem e com um


gesto com uma das mãos, Lucca dispensou todos os funcionários para que eles
continuassem com seus afazeres.

– Acho que isso é um sim, não é? - perguntou de forma marota sem tirar as mãos
da cintura da jovem.

– E você ainda tem dúvida? - Sophia disse em uma pergunta-resposta antes que o
Lucca voltasse a colar os lábios nos seus.

Desejo começou a queimar entre os dois quando ele começou a percorrer as


mãos pelas curvas do corpo feminino começando da cintura e subindo para os pequenos
seios.

Tudo o que ambos queriam era repetir a dose de sua primeira vez juntos, pois
parecia uma eternidade desde que havia acontecido. Sem querer esperar muito, Sophia
puxou o moreno pela mão levando-o até seu antigo quarto por ser mais próximo dali em
um gesto de atitude encostou o Denali contra a parede enquanto encostava seu corpo no
dele e invadia sua boca com a língua.
Ele não esperava essa atitude vinda dela, mas estava gostando. Definitivamente
sendo bem recompensado.

Sophia desabotoou o restante da camisa lentamente e passeou com as pontas das


unhas pelo peitoral que ela tanto gostava e Lucca soltou um gemido de prazer ao sentir
a sensação das unhas da jovem contra sua pele tão de leve que não chegava a machucar,
mas causava uma deliciosa sensação como cócegas, mas que faziam seu sangue arder de
desejo.

Invertendo as posições ele empurrou-a contra a parede afastando os cabelos


avermelhados do rosto de Sophia e beijando a extensão do pescoço branco e delgado,
passando a língua ali.

O som da voz dela gemendo de desejo o estimulava e ele já sentia o membro


latejando de excitação dentro de suas calças que chegavam a lhe apertar. Desejoso de se
livrar do incômodo, abriu o próprio zíper e quando Sophia percebeu o que ele estava
fazendo, ajudou-o a se liberar desabotoando o botão da calça e enfiando as mãos por
dentro da cueca boxer colocando aquele volume tão enrijecido para fora.

Embora já o tivesse visto antes e sentido-o dentro de si, sempre se sentia


impressionada quando o olhava de novo. Com Lucca ali de pé, ela pôde ter uma noção
ainda maior da extensão de seu tamanho, pois ele chegava na altura do umbigo do
moreno.

Sem nenhum pudor ela o massageou com uma das mãos enquanto ficava na
ponta dos pés novamente para beijar os lábios do Denali.

Lucca também quis dar prazer a ela que ainda se encontrava completamente
vestida enquanto ele já estava quase nu. Levando as mãos por baixo do vestido florido,
suas mãos foram de encontra a calcinha de algodão que ela usava e ele a acariciou
primeiro por cima do tecido sentindo a umidade dali e sabendo que ela estava
totalmente pronta para ele, mas queria provocá-la um pouco.

A ruiva abriu um pouco mais as pernas para permitir que aquela mão tivesse
mais acesso a sua intimidade e possibilitando que ela cobrisse toda a sua extensão que
Lucca massageou antes de chegar a peça íntima para o lado e presentear o interior da
ruiva com um de seus dedos de forma que Sophia soltou um grito de prazer.

Ele chupava seu pescoço enquanto a penetrava com os dedos e ela de tão
embriagada com aquele prazer chegava a perder um pouco do foco na massagem que
fazia no membro dele embora não tivesse tirado sua mão dali.

Os dois de pé se tocando era algo excitante, mas não bastava para Lucca, que
desejava muito mais ao sentir os músculos de dentro dela contraindo-se contra seus
dedos.

Pegou-a no colo e levou-a até a cama, terminando de tirar sua calcinha


deslizando-a pelas pernas bem torneadas e com isso suas próprias calças haviam caído.
Ele se encontrava nu e ela apenas com o vestido levantado expondo sua intimidade para
ele que abriu suas pernas e levou a boca ao local onde segundos antes estavam seus
dedos.
A língua macia percorrendo toda sua extensão causava espasmos no corpo da
ruiva que segurava nos cabelos negros daquele que a acariciava de maneira tão íntima
incentivando-o a continuar até que ela chegasse ao ápice ali em sua boca. Só então ele
parou para apreciar a bela visão de Sophia com os olhos revirados de tanto prazer.

Sentiu que estava pronto para se ter dentro dela, mas Sophia não permitiu,
empurrando-o para que ele se sentasse aos pés da cama estreita para em seguida
colocar-se de quatro enquanto engatinhava até ele que a olhou em expressão de choque
sem acreditar no que ela estava prestes a fazer.

O olhar de Sophia era maroto como de uma menina travessa. Meses antes ela
jamais se imaginaria olhando assim para alguém, mas agora ela sentia a auto-confiança
necessária para isso, pelo menos com ele.

Chegou o rosto perto do membro duro e com uma mão segurou os próprios
cabelos para o lado enquanto passou sua língua por toda a extensão fazendo Lucca
soltar um gemido mais alto de desejo.

Certamente ela não sabia com o que estava lidando, pois ele já se sentia quase
estourando. Aquele simples contato com a língua macia dela despertava os instintos
mais animalescos do Denali pois a boca de Sophia era sensual demais para ele, talvez
por causa de seu rosto de menina inocente naquela expressão de mulher cheia de desejo.

Quando ela o abocanhou, Lucca precisou se segurar na cama com muita força
enquanto ela colocava toda a sua ponta na boca até a parte que cabia, já que era grande
demais para ela.

Ao chupá-lo ela sentiu o gosto meio azedo dele, mas não se importou, porque era
o gosto dele e ele estava sentindo prazer com aquilo. Lucca deixou-a sugá-lo por mais
um tempo, mas não queria terminar assim, pois por mais que desejasse chegar ao ápice
e despejar seu líquido na boca da jovem, sabia que acabaria todo o prazer ali pra ela e
não era o que ele queria.

Com uma imensa força de vontade ele pegou-a pelos ombros e a fez deitar na
cama de novo, para em seguida posicionar seu membro na entrada de sua intimidade e
escorregá-lo para dentro dela.

Sophia o puxou para um beijo enquanto sentia-se sendo penetrada por ele com
todo seu vigor e arqueou os quadris para que ele fosse ainda mais fundo. Doeu um
pouco por causa de seu tamanho, mas era uma sensação gostosa e quanto mais forte
eram estocadas, mais prazer ela sentia.

Ele sentiu-a atingindo o ápice por três vezes durante o ato, a cada vez que ele
penetrava mais fundo em seu interior e a visão dela completamente fora de si
arranhando suas costas o levava a loucura, até que ele não aguentou mais e também
chegou ao ápice junto com ela.
Capítulo 20
Medo de Voar

O jovem casal adentrou o consultório todo branco da Dra. Leila, caminhando até
a mesa onde a médica loira estava sentada com as mãos cruzadas e balançando de um
lado para o outro na imensa cadeira de rodinhas.

– Oras, até que enfim vocês vieram! Quase um mês pra vir buscar os resultados
desses exames! Se a Sophia estivesse com alguma doença mais séria, tenho certeza de
que estaria bem pior agora. - dizia a Dra.Leila com exagero.

– Creio que não, pois se bem a conheço, sei que se houvesse algo de errado você
já teria me ligado. Mas confesso que fomos um pouco irresponsáveis, mas é que nos
faltou tempo já que tive alguns contratempos na empresa e a Sophia tem estudado muito
para acompanhar seus colegas de turma no Supletivo. O pouco tempo que nos restou eu
tenho usado para ajudá-la. - disse o moreno

– Humph! Sei bem em que você a tem ajudado Denali, mas isso não vem ao
caso.Os exames estão todos normais, provavelmente a queda de pressão se deu apenas
ao estresse, por isso Sophia está liberada para viajar. - explicou a médica.

Um sorriso se fez presente nos lábios do moreno enquanto a jovem ruiva que
estava sentada ao seu lado arregalava os olhos com uma expressão de choque.

– Viajar? Mas que história é essa de viajar? - perguntou olhando da


médica para o namorado.

– Ah, ainda não contou? Bem, isso o Lucca pode te contar depois. Agora tem
outro assunto que quero tratar com você, sobre as cicatrizes que o Lucca disse que você
tem nas costas. Ele mencionou que o fato te incomoda e eu gostaria de dar uma olhada
nelas, se você não se importar é claro. - Leila comentou e a ruiva sentiu-se constrangida
ao saber que seu namorado havia comentado sobre aquilo com a médica.

– Ah claro. - respondeu ela levantando-se para ser guiada pela doutora até uma
maca.

– Lucca, pode nos dar licença agora, por favor. - pediu a médica em uma
tentativa de fazer sua paciente sentir-se um pouco mais a vontade.

– Não precisa, ele já viu isso. Não tem problema se ele ficar. - disse Sophia ao
perceber o olhar sentido de Lucca devido ao pedido de licença da médica.

A jovem namorada sabia que o homem a quem amava não se importava com
suas marcas, pois para Lucca aquilo era apenas parte dela e em nenhum momento
demonstrara repulsa por aquele pedaço de pele enrugado da moça. Mas naqueles
últimos dias o assunto viera a baila quando Lucca a convidou para ir até o clube com
seus amigos onde havia uma piscina.

" O Greenville Country Club era um clube de elite onde apenas empresários e
alguns artistas com muito dinheiro frequentavam, uma vez que para se tornar sócio era
necessário pagar uma mensalidade alta.
Rose Blake era uma frequentadora assídua daquele clube e ela havia se
tornado uma das melhores amigas de Anne, pois estava namorando justamente o primo
da moça,William. Naquela manhã a cantora estava comemorando seu aniversário e
como sempre foi uma amante do Sol, decidiu comemorar no clube fazendo um
churrasco a beira da piscina evocando suas raízes mais humildes da época em que não
era tão famosa quando costumava reunir-se com seus amigos fazendo churrascos no
quintal de sua casa e banhando-se com uma mangueira.

Quando Lucca disse para a namorada que haviam recebido o convite para
aquela festa, Sophia não ficou animada como geralmente ficava toda vez que ele
propunha um passeio juntos.

– Não, eu não gosto muito de piscinas e de pegar Sol. Mas você pode ir, não me
importo que você se divirita com seus amigos. - disse a ruiva.

O Denali não sentiu-se satisfeito com aquela resposta, pois desde que havia
reatado o namoro após aquele pedido de desculpas que ele não se desgrudava de
Sophia,senão nas horas em que precisava ir para o trabalho.

Para ele não havia nada melhor do que estar na companhia de sua namorada,
agora ele tinha certeza de quais eram seus sentimentos por ela. Sophia era a única que
o fazia rir e cada vez mais ele tinha certeza de uma decisão que resolvera tomar, mas
que só seria comunicada á moça depois que voltassem daquela viagem que ele
precisava fazer.

– Então eu também não vou. Pra mim não tem graça ficar com aquelas pessoas
enquanto você está aqui, vai ser chato, até porque todos também estão em casais. -
explicou o moreno.

Sem querer privar o moreno da companhia de seus amigos, Sophia decidiu que
iria e o namorado ficou muito contente já imaginando que seu dia seria tão divertido
quanto a noite do jantar de noivado de Christian onde aquele mesmo grupo estivera
presente.

Mas Lucca enganou-se completamente quando ao chegar lá, sua namorada não
quis em momento algum tirar a roupa e ficou solitária perto da borda da piscina
enquanto as outras moças desfilavam em seus biquinis e a chamavam para tomar sol
como todas costumavam fazer deitadas em chase-longs á beira da piscina.

Só então Lucca percebeu o que havia acontecido e mais tarde, no interior de seu
carro enquanto voltavam para a Mansão abordou o assunto.

– Você não queria vir por causa das suas cicatrizes não é? Foi por isso que não
tirou a roupa? - perguntou o moreno.

A moça limitou-se a assentir com um balançar de cabeça.

– Sinto muito, eu nem lembrei disso quando a convidei. Não devia ter insistido. -
Disse sentindo-se culpado.
Embora aquilo para ele não fosse um problema, incomodava sua namorada e
tudo que a incomodava passava a incomodá-lo também."

Leila examinava com atenção as costas da jovem e franzia a expressão de


forma preocupada que fez Lucca ficar apreensivo. Sophia não estava vendo o rosto da
médica, mas notava-se que também se encontrava tensa.

– Bem, não são tão grandes quanto pensei, mas o problema é que são muito
antigas. Se tivesse recebido tratamento adequado no início não teriam ficado desse jeito,
seriam bem mais claras e menos profundas. Não vai ser possível apagar totalmente, mas
tem como ficar bem melhor com uma cirurgia. - explicou Leila.

A notícia de que não haveria uma solução desanimou um pouco, mas Lucca
disse que mesmo assim pagaria a cirurgia, pois se pudesse melhorar a situação, talvez
Sophia não tivesse tanta vergonha de expor o próprio corpo.

Na saída do consultório, para diminuir um pouco o clima do assunto da cirurgia,


Sophia lembrou da história da viagem que não estava sabendo.

– Lucca ,Que história é essa de viagem que não estou sabendo? – chamou a
atenção do namorado.

– Ah sim, é que eu tenho alguns negócios a tratar na minha Fazenda, já tem


alguns anos que não vou pra lá e aquilo está praticamente abandonado nas mãos do meu
caseiro, por isso vou ter que passar uma semana lá pra resolver algumas coisas que
gostaria que você fosse comigo. Vai gostar de lá. - explicou o moreno.

Os olhos cor de jade da moça começaram a brilhar como pedras preciosas


quando ele mencionou a palavra "fazenda".

– Fazenda? Puxa, eu adoro fazendas! A última que fui foi quando eu estava na
escola e fizemos um passeio que era uma visita a uma fazenda lindíssima cheia de
coelhinhos, tinha também pintinhos, patinhos e porquinhos. Nós nos divertimos tanto!
Eu lembro que minha irmã também foi e .... - de repente um feixe de tristeza passou
pelos olhos de cor-de jade devido a lembrança da irmã mais nova, mas a ruiva não
permitiu que esse sentimento durasse por muitos segundos, retomando a animação. - Na
sua fazenda também tem animaizinhos?

Lucca riu da pergunta pensando que algumas vezes Sophia era tão inocente que
parecia uma criança, mas em outras demonstrava a mulher madura e teimosa que ela
era.

– Sim, tem todos esses que você falou e também cavalos. Pelo menos eu acho. -
respondeu.

– Como assim você acha? Não tem certeza? - ela pareceu confusa.
– Bem, eu disse que já tem muito tempo que não apareço por lá. Na última vez
que eu fui ainda tinha. Mas em breve vamos descobrir. – sorriu.

Por hora Sophia ficou satisfeita com a resposta. Nos dias que se passaram, a
precisou ir ás compras com Jane para preparar-se para a viagem, uma vez que
havia sido alertada de que precisaria de roupas de frio já que no local onde ficava a
Fazenda o clima costumava esfriar bastante durante a noite.

A ruiva aproveitou a deixa para comprar também de lingeries e roupas


sensuais que planejava usar com seu namorado agora que havia perdido a vergonha de
exibir-se para ele quando estavam a sós e imaginou como ele ficaria surpreso quando a
visse naqueles trajes.

Logo chegou o dia que haviam marcado para a viagem e ambos estavam muito
animados ao entrar no carro. Ela esperava que fosse ser uma longa viagem de
automóvel e não entendeu direito porque o motorista da casa iria também para a
Fazenda. Foi então que viu o carro entrando no aeroporto e sua expressão foi confusa.

– O que vamos fazer aqui? - perguntou.


– Pegar o avião, horas! - respondeui com sua maneira ríspida de sempre, já que
não compreendeu a pergunta da namorada.
– Avião? Mas você disse que íamos para a sua fazenda. Por que precisamos ir de
avião? Eu pensei que poderíamos ir de carro. - Sophia retrucou.
– De carro? Você ficou maluca? Onde já se viu viajar até os Alpes de carro? –
disse.
– O que? Alpes? - a jovem quase caiu pra trás perplexa.
– É, é lá onde a Fazenda fica. Está na minha família a muitos anos. Vamos,
melhor sairmos logo do carro ou vamos nos atrasar para o vôo. - disse o moreno abrindo
a porta para a namorada que saiu do veículo ainda confusa.

– Hã, Lucca, só que tem um problema. Eu nunca andei de avião, acho que não
posso fazer isso. - informou a ruiva.

Por aquele contratempo, o jovem não esperava. Se bem que era algo bem
provável ela nunca ter andado de avião, uma vez que não tinha condições financeiras
para viajar.

Pela expressão facial dela, percebeu que ela estava com medo de voar.

– Está tudo bem Sophia, é seguro. Já andei de avião várias vezes. Vou estar do
seu lado segurando sua mão. Agora vamos, tenho certeza de que você vai adorar. –
garantiu.

Ela acreditou nele e decidiu entrar na aeronave junto com seu namorado. Pensou
que a viagem não seria tão ruim, mas uma vez que o avião levantou vôo seu estômago
se revirou de tal forma que durante a maior parte daquelas 12 horas de viagem ela
passou dentro do toillette do avião colocando o que tinha e o que não tinha dentro de
seu estômago pra fora.

Capítulo 21
Viagem

Ao descer da fazenda, Lucca sentiu-se preocupado pelo fato de Sophia ter


passado a viagem inteira passando tão mal. Culpou-se internamente por seu mal estar ao
ver como ela agora estava pálida e com olheiras embaixo dos olhos, mas jamais
imaginara que ele tivesse tanto medo de andar de avião.

Conhecera pessoas que enjoavam em navios, mas nunca com transportes aéreos,
aquilo para ele era uma novidade. Leila havia garantido que ela estava saudável e
que portanto não havia problema em viajar.

Cuidadosamente o moreno carregou as malas da jovem e logo chegou Juán, seu


caseiro que já era um senhor de idade que vivia escrevendo livros de romance enquanto
cuidava da enorme fazenda do Denali, sendo homem de confiança que cuidava dos
negócios da fazenda desde quando o avô de Lucca era vivo.

Juán os levou de carro e a jovem mesmo sonolenta pôde apreciar a bela


paisagem dos Alpes através das janelas com um sorriso nos lábios apesar da sensação
ruim ainda causada pelos enjôos. Estava cansada e sabia que só voltaria ao normal
depois de uma boa tarde de sono.

Ao chegar na imensa Fazenda Denali, de clima agradável e com belíssimos


animais, a ruiva abriu um sorriso e foi olhando tudo com curiosidade.

Os olhinhos cor-de-jade brilhavam tanto que Lucca pensou que faria qualquer
coisa para que aqueles olhos ficassem sempre assim. O brilho nos olhos de Sophia era a
coisa mais preciosa para ele, mais até do que aquela Fazenda.

O moreno abraçou sua namorada pela cintura e aproximou os lábios de seu


ouvido.
– Vamos entrar, vou mostrar onde é o quarto. Você precisa dormir um pouco para
repôr as energias enquanto vou tratar de negócios com o Juán. - explicou.

Se Lucca pudesse, era óbvio que ficaria com Sophia no quarto até que ela
estivesse completamente recuperada, mas ele sabia que tinha que mais cedo ou mais
tarde verificar como andavam as coisas na Fazenda e preferia fazer isso enquanto
Sophia estivesse dormindo e se refazendo da viagem desagradável naquele avião porque
assim pelo menos passaria todo o resto de seu tempo ao lado dela.

Aquela viagem na verdade havia sido bem oportuna, já fazia algum tempo que
ele precisava ir até a Fazenda tratar dos negócios de lá e verificar como as coisas
estavam indo assim como desejava tirar uns dias de férias para ficar com Sophia, uma
vez que andara muito ocupado nos últimos dias com os assuntos da empresa.

Sophia não protestou quando o moreno disse que ela deveria descansar, pois por
mais que seu desejo fosse andar por toda a propriedade respirando aquele ar puro e
vendo os animais, sentia seu corpo muito cansado.

Lucca guiou-a pela enorme casa até o andar de cima onde ficava o maior quarto
da casa previamente preparado para o casal, quarto esse que trazia boas lembranças,
diferente da casa onde ele vivia, não havia nenhuma memória desagradável, apenas as
boas recordações dos tempos em que costumava passar férias ali quando criança com
sua mãe e seu irmão.
Aquela era a única propriedade da família que Andrew não havia maculado
trazendo sua esposa. Elise para conhecer, pois a mulher odiava qualquer coisa
relacionada á natureza e nunca desejou conhecer a fazenda.

O imenso quarto principal da casa ainda era exatamente do jeito que Lucca se
lembrava. Abriu a porta e em seguida surpreendeu a namorada pegando-a no colo como
se fossem um casal de recém-casados e levou a até a cama.

– O que está fazendo, Lucca? - perguntou Sophia surpresa com a ação do


namorado.
– Pegando você no colo e te enchendo de beijos. – respondeu depositando a
jovem na cama e começando a dar vários selinhos em seu rosto e depois em seu
pescoço.

Sophia começou a rir, pois aqueles beijos não eram lascivos, eram mais
inocentes e ele havia usado um tom brincalhão, mas até aquele gesto conseguia fazê-la
se excitar.
– Pára Lucca, eu sinto cócegas! - disse gargalhando.

O moreno obedeceu parando com a brincadeira e de repente ficou sério fitando-a


com aquele belo par de ônix.

– Eu sei, é que você fica linda quando ri. - falou, deixando a ruiva com as
bochechas coradas.

A visão de Sophia com o rosto avermelhado era uma das mais lindas para o
moreno, pois o contraste da pele com os cabelos avermelhados fazia Sophia ficar
extremamente linda aos olhos de seu namorado.

– Ah, pára! - ela falou jogando um travesseiro em cima de Lucca que segurou e
em seguida inclinou o corpo sobre a ruiva dando-lhe um beijo demorado nos lábios.

– Agora tenho que ir. Descanse, quando eu voltar nós vamos passear por toda a
fazenda. Tem um lugar lindo que eu quero te mostrar. - disse Lucca após afastar o rosto
de Sophia e em seguida levantou-se, deixando-a sozinha no quarto.

A jovem espalhou-se na cama confortável e logo pegou no sono. Quando


acordou não encontrou o namorado no quarto, mas não esqueceu-se da promessa que
ele havia lhe feito de mostrar toda a fazenda. Tratou de levantar-se e colocar uma roupa
apropriada para um passeio no campo e escolheu uma calça justa que moldava suas
curvas com uma camiseta branca fresca e botas sem salto. Optou por manter os cabelos
soltos, pois Lucca gostava deles assim.

Ao descer notou que sentia uma estranha vontade de comer maçãs, achou aquilo
estranho, mas invés de procurar pela cozinha foi até o lado de fora da casa por ouvir um
barulho de cascos de cavalo. Ao chegar na varanda avistou Lucca montado em um belo
cavalo árabe negro de pêlo tão lustroso que chegava a brilhar e correu até ele.
– Nossa! Que lindo! Eu não sabia que você andava a cavalo! É bravo? –
perguntou um pouco temerosa de encostar no animal embora sua vontade fosse de
acariciá-lo de leve.

– Mais ou menos, mas é seguro, pelo menos comigo. A última vez que o vi ele
ainda era um filhote e tinha acabado de nascer. É o meu favorito, se chama Trovão. -
explicou.

Sophia aproximou uma das mãos á cara do animal e acariciou ali de leve. Trovão
pareceu gostar da carícia.

– É, acho que ele gostou de você. Já comeu alguma coisa? - Lucca perguntou
preocupado.

Não queria levar Sophia para passear de estômago vazio, pois certamente não
havia nada nele depois da forma como ela havia se sentido mal durante a viagem. Ela
ainda parecia um pouco mais pálida do que de costume.

– Não. Mas estou com vontade de comer uma coisa. Por acaso aqui tem maçãs? -
Perguntou..

Ela não era de ter vontade de comer algo específico, por ter crescido com
dificuldades financeiras, aprendeu a agradecer sempre pelo que tinha para comer. Vez
ou outra até sentia falta de algum tipo de comida, ou vontade de comer um doce mas era
algo raro. Aquele desejo de comer maçãs era algo diferente, como se ela sentisse
necessidade de sentir o gosto doce da fruta.

Ao ouvir a pergunta da namorada, Lucca deu um sorriso. Se perguntou como ela


adivinhara.

– Suba aqui, eu te ajudo! Quero te mostrar justamente um lugar cheio de maçãs.


- falou ajudando-a a montar Trovão, coisa que ela fez de maneira desajeitada.

Lucca foi guiando o cavalo de forma devagar segurando nas rédeas enquanto
abraçava Sophia pela cintura sorvendo o cheiro de seus cabelos que tanto gostava.

Durante o passeio, ele foi mostrando cada local da fazenda que ela olhava com
admiração, até que chegaram em uma parte onde o cheiro adocicado das maçãs inundou
as narinas da jovem.

– Nossa! Que lindo! É a coisa mais linda que já vi! - ela falou olhando o
imenso pomar que havia no local.

Lucca desceu do cavalo primeiro e depois ajudou a namorada a descer,


segurando-a pela cintura até colocá-la de pé no chão.

– É perfeito! Isso tudo é seu? - perguntou enquanto olhava para as lindas


árvores.
– Sim. Nossa plantação nunca esteve tão boa quanto nesse ano. Foi por isso que
Juán me ligou. Enquanto você dormia, acabei de fechar um negócio com fabricação de
sidra que vamos exportar. Venha! - disse Lucca puxando-a pela mão até chegar perto de
uma árvore.

Cuidadosamente retirou uma maçã bem vermelha do pé e depositou nas mãos da


jovem que com vontade começou a comer aquela fruta.

– Hum! Está deliciosa! - ela disse e Lucca riu da forma como ela comia
devorando a fruta como se nunca tivesse visto uma maçã na vida.

Quando ela terminou, ele ofereceu outra, que ela aceitou sem hesitar e depois
mais outra sendo que só depois da quinta foi que ela ficou satisfeita e sentou-se na
grama.

Lucca ficou assustado, pois nunca havia visto Sophia comer daquele jeito.
Sentou-se ao lado dela, não estava chateado, mas não pôde perder a oportunidade de
fazer uma piada.

– Nossa, eu não sabia que você gostava tanto de maçãs. Pensei que você fosse
acabar com o meu pomar assim. - brincou.

Sophia não reagiu bem á brincadeira, ficando sem graça, mas não ruborizada
como mais cedo quando Lucca fizera outra brincadeira. Sophia ficou branca de
constrangimento, pois nem ela sabia porque fora tão mal-educada.

Ao ver que havia constrangido a moça, Lucca decidiu consertar a situação, pois
não havia feito a brincadeira para deixá-la sentindo-se mal.

– É brincadeira, Sophia! Você pode comer quantas maçãs quiser, até porque fica
linda quando come maçã! - falou dando-lhe um beijo no canto da boca, dessa vez com
sensualidade.

Aquele lugar era um de seus lugares favoritos no mundo e ele queria gravar em
sua memória mais uma sequência de bons momentos ali com Sophia. Ao receber o beijo
ela sentiu o constrangimento por ter comido demais dando lugar a um imenso desejo
por Lucca e o encarou esperando pelo próximo beijo que não tardou a vir.

Logo ambos se deitavam na grama verde e as línguas se entrelaçavam. As mãos


de Lucca já passeavam por debaixo da blusa branca de Sophia e as delas colocavam pra
fora da calça a blusa de botões azul que ele vestia.

A mão forte e máscula já encontrava o sutiã, mas para que ele pudesse tocar
melhor aqueles seios deliciosos que tanto gostava, precisou tirar a blusa branca de
Sophia e se deliciou com a bela visão dela deitada apenas com um sutiã de renda clara e
calça jeans.

Os seios apertados por aquele sutiã pareciam ainda maiores e mais apetitosos.

Sophia desabotoou a blusa de Lucca livrando-o dela para passar as mãos pelo
peito másculo antes dele retirar os seios da ruiva pra fora do sutiã e abocanhá-los. Ela
sentiu seus mamilos sensíveis e por isso o contato com a língua de Lucca foi ainda mais
gostoso do que de costume. Quando ele mordiscava doía um pouco, mas era uma dor
gostosa. Por debaixo da calça ela já se sentia úmida.

Ele desceu os beijos pela barriga lisa e foi abotoando a calça jeans sensual
bem devagar, para encontrar a calcinha combinando com o sutiã. Levou a boca até a
peça e começou a tirá-la lentamente enquanto olhava nos olhos verdes jade.

Sophia mordia os lábios ao vê-lo encarando de forma tão sensual


enquanto desnudava-a ali no meio do mato em uma paisagem tão bonita. Aquilo parecia
um sonho tão doce quanto aquelas maçãs do pomar.

Uma vez que a havia desnudado, ele beijou calmamente a intimidade de Sophia
para deixá-la ainda mais excitada e se surpreendeu ao vê-la já completamente molhada
de tanto desejo.

Movimentou um pouco a língua macia ali penetrando-a com um dos dedos até
que ela não demorou muito a atingir o ápice ali.

Ele já estava louco de vontade de possuí-la, sentia-se latejando dentro da calça,


então aproveitou o momento em que ela estava extasiada deitada linda e nua na grama
para livrar-se daquela calça que ele amaldiçoava mentalmente por dar tanto trabalho de
tirar até se ver nu novamente sobre ela.

Penetrou-a devagar, pois queria que fosse romântica a primeira vez deles ao ar
livre. Seus movimentos eram lentos enquanto os dois se olhavam nos olhos.

Ela enlaçou-o pela cintura com as pernas para aproveitar aquele momento lento
em que faziam amor de maneira tão calma, pois queriam aproveitar mais aquele tempo
juntos, mas depois o desejo foi aumentando e logo os movimentos começaram a
aumentar o ritmo. Sophia estava muito excitada e pedia.

– Mais forte! Por favor! - falava e ele não podia recusar a atender aquele desejo.

Logo as estocadas estavam cada vez mais fundas e ela atingia novamente ao
ápice, sentindo-o dentro de si. Para ela era a melhor sensação que existia, até que com
uma estocada mais funda ela sentiu aquele líquido quente invadindo-a e ambos
deitaram-se um ao lado do outro olhando o sol que começava a se pôr no horizonte.

Deitados no gramado nus abraçados, o casal de namorados assistia o pôr-do-sol


naquele pomar. Sophia aconchegava-se nos braços do moreno pensativa, quando
decidiu que já tinha intimidade o suficiente com seu namorado para fazer aquela
pergunta que ficara em sua mente desde a visita que fizera a casa de Sonya.

– Lucca, eu quero fazer uma pergunta. Você promete que me responde? -


perguntou de forma manhosa, pois sabia que ele não teria coragem de negar-lhe um
pedido feito daquela maneira, ainda mais ela estando nua e tão linda sob as cores do
pôrdo- sol deitada naquele gramado.
– Pode, eu prometo que respondo. Pode fazer quantas perguntas quiser. -
respondeu o namorado, estava tão feliz que sequer cogitou a possibilidade de que ela lhe
perguntaria algo que ele fosse se arrepender de ter que responder no minuto seguinte.
Sophia olhou no fundo dos belos olhos cor de ônix do moreno e sua expressão ficou
séria.

– O que aconteceu com a sua família? - tomou coragem e perguntou.

Na mesma hora a expressão feliz de Lucca se desfez e ele sentou-se na grama,


pensando que aquela pergunta havia estragado seu momento tão bom.

– Não acho que deveríamos falar disso agora, Sophia. Não gosto de falar dessas
coisas. - disse secamente.

A jovem pegou sua roupa vestindo a camisa branca que estava jogada ali no
chão, depois chegou mais perto do namorado que já havia levantado para vestir suas
calças.

– Espera , você prometeu que iria me responder. Sei que não gosta de
falar dessas coisas tristes, mas eu quero saber o que aconteceu, conhecer a sua história.
A história da minha família também foi triste, você sabe o que aconteceu com eles.
Falar sobre isso pode diminuir um pouco a dor. Tente pelo menos. - Sophia pediu,
tocando seu braço.

– Você não entende, Sophia! Sua família sofreu apenas um acidente, foi uma
fatalidade e com a minha foi diferente! Todos eles morreram por causa de uma mulher
que só trouxe desgraça pra minha família e no final eu fui o culpado da morte do meu
pai e do meu próprio irmão! - Lucca disse bufando, aquilo foi um desabafo.

Nunca antes tivera coragem de falar sobre a tragédia que se abateu


sobre sua casa com ninguém. Por um lado havia o ódio de seu pai e de seu irmão, assim
como o ódio que sentia pela madrasta que causara toda a tragédia. Por outro lado,
também existia a culpa que sentia por ter sido o causador da morte de todos eles, uma
vez que se não tivesse contado tudo para seu pai, Andrew jamais teria matado o casal
de amantes e se suicidado em seguida.

– Eu não acredito Lucca, não que você tenha feito algo assim por querer. Conte o
que aconteceu. - insistiu olhando séria para o moreno.

Lucca fitou aqueles olhos e percebeu que o olhar de Sophia havia mudado de
novo. Era incrível como havia momentos em que ela parecia uma menina, outros uma
mulher sensual e agora parecia uma mulher madura, fitando-o de maneira séria. Soltou
um suspiro, havia prometido e era bom mesmo que ela soubesse tudo sobre ele.

– Está bem, Sophia. Mas não foi nada bonito. Tudo começou quando a minha
mãe sofreu um derrame. Meu pai não era um bom marido pra ela. Mais tarde eu soube
que o casamento dos dois foi arranjado e que eles nunca se amaram. Talvez tenha sido
por causa de tudo o que ela passou com ele que aconteceu isso. Eu lembro que depois
daquele dia ela ficou entrevada em cima de uma cama e eu era o único naquela casa que
me preocupava com ela. Meu pai trouxe a secretária dele pra nos ajudar em casa, Elise
sempre com uma máscara de bem-intencionada fingindo que se importava conosco e
com minha mãe.

Nunca gostei dela desde a primeira vez que a vi. Ela era vulgar, escandalosa e eu
nunca fui com a cara dela. Um dia cheguei em casa e minha mãe estava passando mal
sozinha no quarto, eu procurei pelo meu pai e quando abri a porta ele estava transando
com aquela vagabunda enquanto minha morria. Eu lembro como se fosse ontem. - disse
Lucca dando uma pausa.

Sophia notou que os olhos cor de ônix estavam marejados de lágrimas, o que era
algo que ela nunca tinha visto antes, mas ele lutava para que as lágrimas não descessem,
pois queria manter a compostura.

– O que seu pai e essa Elise fizeram não foi certo. Agora eu entendo porque você
é tão sensível quanto a tudo relacionado a sua mãe. Você a amava muito, não era? –
Sophia falou acariciando-lhe as costas em um gesto de conforto. Não foi exatamente
uma pergunta, porque ela não tinha dúvidas dos sentimentos de Lucca em relação á
falecida mãe.

– Ela era a criatura mais doce que existia na face da terra. Lembro que ela era
paciente e amorosa. Me ensinou muitas coisas e o Jardim que te contratei pra cuidar era
dela. Aquelas flores eram muito importantes pra ela. Foi por isso que naquele dia eu
fiquei bravo quando você plantou os lírios. Pra mim foi como se você tivesse maculado
o Jardim que estava do jeito que ela deixou. Mudado uma parte da História da minha
mãe, como Elise havia feito depois que se casou com o meu pai assim que minha mãe
morreu. Eu não estava na casa, porque fui mandado para um internato só para garotos,
mas depois quando voltei ela havia mudado tudo, toda a decoração e queimado todas as
fotos porque não queria nenhuma recordação da minha mãe naquela casa. Mas depois,
quando eu compreendi que aqueles lírios faziam parte da sua história, eu percebi que
não estava maculando a lembrança da minha mãe. Você não tirou nada do lugar, apenas
acrescentou uma coisa que era da sua história e naquele Jardim há espaço tanto para a
minha história quanto para a sua. Quando replantei aqueles lírios eu soube que agora
você também fazia parte da minha vida e que era alguém que eu não queria mais
esquecer. – Lucca explicou.

Os olhos cor de jade marejaram-se de lágrimas ao ouvir aquela explicação sobre


o ato tão bonito que Lucca havia feito ao replantar aqueles lírios, pois pra ele não fora
algo apenas para agradá-la e sim um espaço que ele lhe dava em sua própria vida, nas
suas lembranças mais sagradas para ele.

– Eu lembro que fiquei muito feliz quando você os replantou, tinha ficado
chateada quando você tinha arrancado eles, não achei que tinha feito algo de mal, acho
que porque não entendia o que o Jardim significava pra você. - disse Sophia.

Lucca sentiu arrependimento por ter sido tão grosso e bruto com a ruiva naquele
momento. Agora jamais cogitaria a hipótese de agir dessa maneira com ela de novo. Na
verdade jamais faria qualquer coisa que a magoasse novamente.
– Eu sei, me desculpe por isso. Agi muito mal, até porque você não sabia dos
meus problemas. - desculpou-se.

– Tudo bem, mas o que aconteceu depois que o seu pai se casou com a Elise? -
Sophia perguntou. Ela sabia que algo havia acontecido, pois a família de Lucca havia
falecido.

– Alguns anos depois eu voltei do internato, tinha me formado e precisei voltar


pra casa e conviver com aquela mulher odiosa. Eu tentei arranjar um emprego e ir
embora dali, mas não estava conseguindo. Um dia meu pai foi viajar e eu peguei meu
irmão com Elise na cama, embaixo do teto do meu próprio pai. Fiquei revoltado, não
que ele não merecesse pelo que fez com a minha mãe. Pensei em dar um basta naquilo,
então fotografei os dois em flagrante e mandei as fotos para meu pai. Eu só queria
acabar de vez com aquilo tudo. Esperava que meu pai fosse colocar a Elise pra fora, na
rua da amargura que era onde ela merecia ficar, talvez o meu irmão também, para que
ele aprendesse a ser gente já que sempre teve tudo o que quis fácil demais e só estava
interessado na nossa herança. Meu próprio pai tinha sido punido ao ser traído com o
próprio filho. Pensei que aquilo feriria seu orgulho, como se a própria vida tivesse se
encarregado de castigá-lo pelo que fez com a minha mãe. Só que deu tudo errado. Meu
pai ficou louco de ciúmes e assassinou os dois, depois se suicidou. Tudo por causa
daquelas malditas fotos que eu mandei! Eu não queria que ninguém morresse, queria só
que pagassem pelo que fizeram! - agora o moreno não conseguia mais conter as
lágrimas que escorreram de seus olhos.

Fazia muitos anos desde que Lucca havia chorado. Na verdade, desde o
dia em que sua mãe falecera. Ele não chorou no enterro do pai e do irmão. Aprendera a
guardar para si suas emoções, afinal era um homem maduro e havia sido ensinado que
"homens não choravam".

Sophia abraçou o namorado trazendo-o junto a si enquanto afagava-lhe os cabelos.


Ele repousava a cabeça contra os seios macios da jovem.

– Está tudo bem, Lucca. Pode chorar. Não precisa ter vergonha dos seus
sentimentos. Você ainda se culpa pela morte do seu pai e do seu irmão, mas você não
teve culpa. Seu pai escolheu cometer o assassinato e se suicidar, não você. Foi ele quem
errou e talvez se você não tivesse mandado as fotos, de um jeito ou de outro ele teria
descoberto e feito a mesma coisa. – ela disse.

– Sophia, eu nunca havia pensado nisso dessa forma. - disse Lucca parando de
chorar e fitando a jovem que secou suas lágrimas com as pontas dos dedos.

– É porque você também estava sofrendo e ás vezes a dor não nos deixa
enxergar as coisas com clareza. Você é uma boa pessoa, Lucca. Não é como seu pai e
seu irmão. Você é bom como sua mãe foi. – ela disse dando um sorriso.

Lucca segurou a mão da namorada dando um beijo ali e em seus olhos havia
paz, como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros e ele se sentia muito feliz por
estar com ela ali.
– Obrigado. - falou.
Em seguida, ambos terminaram de se vestir e foram caminhando em direção a
Trovão para voltar para a casa, uma vez que havia escurecido.

O Casa l voltou do passeio no pomar e Sophia acabou pegando no sono na cama


durante os poucos segundos que deitou ali enquanto seu namorado abria a janela para
deixar que o ar fresco das montanhas entrasse no quarto.

Ao ver a jovem adormecida, Lucca estranhou, pois ela havia dormido durante
longas horas quando havia chegado. Teria gasto tantas energias assim com o que
fizeram no pomar? A idéia arrancou um sorriso de seus lábios e ele decidiu-se por tomar
um banho e esperá-la para o jantar.

Algumas horas depois, Sophia acordou e percebeu que já era o meio da noite. O
que Lucca estaria fazendo? Levantou-se percebendo que ainda estava com as roupas do
passeio, pois nem dera tempo de banhar-se pois deitara-se na cama por alguns segundos
e acabou por cochilar.

Resolveu tomar um banho colocando uma das belas camisolas que havia
comprado para a ocasião. Essa era preta com detalhes em renda, mas como algum outro
empregado da fazenda poderia vê-la naqueles trajes, tratou de pôr um roupão da mesma
cor por cima da peça cobrindo o corpo antes de descer para encontrar o moreno sentado
em uma cadeira na varanda.

– Lucca? - disse o nome do namorado que se virou assim que a viu.


– Sophia, até que enfim acordou. Você dormiu assim que chegamos aqui, eu quis
esperá-la para o jantar, mas a fome acabou falando mais alto. Já são quase meia-noite. -
disse puxando-a levemente pela mão para que sentasse em seu colo.

– Ah desculpa, vai ver foi o fuso-horário, a viagem foi cansativa. - sorriu ela ao
estar no colo do homem que amava.

Aquele simples contato fez com que um calor começasse em seu corpo, primeiro
em seu ventre e depois subindo para seus seios. Era incrível como ele conseguia mexer
com ela, pois nunca havia sentido tanto desejo sexual em sua vida.

Ela sorriu de forma marota e mordeu os lábios. Lucca já conhecia aquela


expressão de sapeca que ela fazia quando queria sexo, era a coisa mais sensual que ele
já havia visto na vida e adorava aquilo.

– Hum... conheço essa cara de menina sapeca, mas você mal acordou e já quer?
Não vai nem comer seu jantar antes? - perguntou , embora estivesse adorando
aquele desejo da namorada.

Sophia Rinaldi era a única mulher que conseguia excitar Lucca com apenas um
olhar.

– Acho que prefiro outro tipo de jantar, venha! - disse levantando-se do


colo do namorado e abrindo o roupão, uma vez que estavam seguros já que pelo horário
todos os empregados já estavam dormindo.

Era um costume comum em Fazendas que todos se deitassem cedo afim de


acordar no dia seguinte ao som do galo cantando.

Os olhos cor de ônix percorreram toda a extensão daquele corpo vestido apenas
com uma camisola negra de renda tão sensual e curtíssima, semi-transparente que
moldava-se bem ao corpo até a altura dos quadris e a partir dali era como uma
sainha feita com o mesmo tecido pouco a cima das coxas deixando a mostra uma
calcinha também negra bem pequena.

Ele nunca pensou que Sophia ficaria tão bem usando preto, seu sonho de
consumo era vê-la com roupas vermelhas sensuais, mas nunca imaginou-a em uma
roupa daquela cor, sendo que para a sua surpresa, ela ficou extremamente sensual de tal
maneira que seu membro doeu só com aquela visão.

Sem pensar duas vezes ele levantou-se daquela cadeira prensando Sophia contra
a pilastra da varanda e começou a beijá-la com sensualidade e urgência.

Desesperada para tê-lo dentro de si e apreciando a forma selvagem como ele a


havia beijado possessivamente, ela puxou a camisa que ele usava tratando de tirá-la do
corpo do moreno deixando-o com o peito nu e arranhou suas costas enquanto retribuía o
beijo da mesma forma selvagem mordiscando-lhe os lábios e chupando sua língua.

Aquela mulher era fogo puro, Lucca pensou enquanto enfiava as mãos por
debaixo da camisola sensual e puxava a calcinha pelo lado rasgando-a para que seus
dedos encontrassem passagem para a intimidade úmida da ruiva.

Quando a vendedora lhe disse que aquela camisola deixaria seu namorado louco,
Sophia jamais imaginou que seria daquela maneira e havia gostado do resultado.

Surpreendeu-se quando ele rasgou sua calcinha, mas não machucou porque o
tecido era fina demais. Lucca sabia disso e foi por isso que aventurou-se a puxar e
rasgar aquela peça, pois não machucaria a pele de sua amada. Se o tecido fosse mais
grosso e houvesse risco de marcar a pele alva, ele jamais se atreveria a fazer aquilo,
preferiria tirar a peça do jeito normal.

Ao sentir dois dedos entrando dentro de si, Sophia soltou um gemido alto que
era quase como um grito de prazer e tratou de abrir o zíper da calça de Lucca puxando o
membro duro para fora.

Ele suspendeu a jovem pela cintura, querendo sentir-se dentro dela com
urgência. Quando ela estava na altura apropriada, começou a penetrá-la de uma vez só,
com uma estocada firme e forte que arrancou gritos de prazer de Sophia.

Ela lhe enlaçava a cintura com as pernas arqueando os quadris para que ele fosse
mais fundo e ele a penetrava com vontade, firme e forte sem controle. Ambos chegaram
ao ápice juntos quando se separaram e apesar da temperatura fria da noite, estavam
suados.

Após o ato ele a carregou no colo para o interior da casa indo para a suíte do
casal e ligou a banheira para que tomassem um banho juntos enquanto se beijavam, mas
quanto mais a vida nua e molhada totalmente ensaboada, mais seu desejo aumentava e
acabaram por repetir a dose dentro da banheira, com Sophia sentada em seu colo
subindo e descendo em um ritmo lento, mais calmo do que quando estavam na varanda.

Lucca nunca se imaginou com tamanha disposição para uma mulher, era a
terceira vez no mesmo dia que faziam amor, mas mais do que isso, jamais esperou que
ela tivesse tanto desejo. Seu jeito inocente com que ela chegara em sua vida o havia
realmente enganado, mas ainda assim ele gostava das múltiplas formas contidas naquela
personalidade que fazia de Sophia sua pessoa favorita.

Mais uma vez chegaram ao ápice naquela banheira e quando se levantaram para
vestir roupões de banho brancos, Lucca considerou que já estava na hora de dar-lhe
um presente que havia trazido para ela.

Retirou uma caixa do armário e sentou-se na cama enquanto ela secava os


cabelos com uma toalha e a olhou.

– Sophia, venha até aqui, eu quero te dar uma coisa. - disse.

Ela sentou-se de frente para ele na cama e olhou para a caixa que havia em suas
mãos. Era um estojo de jóias grande todo de veludo azul que ele abriu e Sophia pôde
vislumbrar as peças já conhecidas de Mirella Denali, só que acompanhadas de um colar.

– São as jóias de sua mãe. – ela disse.


– Agora são suas. Pegue. - disse o moreno colocando o estojo na mão da
namorada, mas ela o empurrou de volta para Lucca.
– Não, eu não posso aceitar. - disse ela, decepcionando-o.
– Por que não? Eu quero dar isso pra você, faço questão. - insistiu o moreno.
– Mas Lucca, você não entende. Eu sei que essas jóias são muito preciosas pra
você e é muita responsabilidade. E se eu perder de novo, que nem aconteceu com o
brinco? - perguntou.
– Eu sei que você não vai perder, mas se acontecer tudo bem, elas são suas
agora. Pode fazer o que quiser com elas. - disse - Por favor aceite, vou me sentir
ofendido se não aceitar.

Depois daquela afirmação ela acabou por aceitar o presente e colocou os brincos
nas orelhas, depois ele a ajudou a colocar o colar que ela não conhecia. Sorriram e
trocaram mais um beijo antes de descer para que Sophia jantasse.

Durante a semana que passaram na fazenda, tudo correu bem entre os dois,
tirando o fato de que ás vezes pela manhã, Sophia sentia-se enjoada mas não tinha
coragem de contar ao namorado para que ele não se preocupasse, pensando que talvez
se tratasse da diferença do tipo de comida, pois estava acostumada com produtos
industrializados da Cidade e ali a comida era simples do campo, com ovos produzidos
pelos animais da fazenda, assim como a carne fresca que comia.
– Vou sentir falta daqui. - disse com nostalgia no último dia quando estavam
já prontos para partir.

– Também vamos sentir falta de vocês. Traga ela mais vezes, Lucca. Nós
gostamos dessa sua namorada. Ela é linda e a próxima personagem dos meus livros vai
ser inspirada nela! - disse Juán, mas aquela afirmação não agradou nenhum pouco o
patrão que o olhou de forma ameaçadora.

– Atreva-se e saiba que vai ser a última coisa que vai escrever na sua vida! -
disse empurrando Sophia de leve para que ela entrasse no carro.

Dessa vez outro empregado os levaria para o aeroporto e após despedir-se do


caseiro com um simples "tchau" em um balançar de mão, voltou-se para o namorado.

– Não precisava ser tão grosso, Lucca! Qual o problema dele fazer uma
personagem inspirada em mim? – perguntou Sophia

– O problema é que os livros dele são pervertidos e eu não vou permitir uma
coisa dessas! Quem ele pensa que é? - disse Lucca entre os dentes furioso.

A jovem sentiu-se aliviada por não se tornar uma personagem de livros


pervertidos, mas chegou a arregalar os olhos com o choque.

– Ah! - o som de surpresa saiu de sua boca e Lucca achou engraçada a expressão
do rosto que ela fez. e deu um sorriso.
Capítulo 24
O Pedido

No interior de seu escritório na Matriz das Empresas Denali, o jovem dono de


todo aquele lugar olhava no relógio e constatava que já estava na hora da festa de final
de ano da empresa onde se reuniria com todos os funcionários em um imenso Salão de
festas, mas a surpresa daquele ano era que não iriam apenas as pessoas que trabalhavam
para ele, havia convidado seus amigos também, já que havia algo que desejava fazer
para tornar aquela noite ainda mais especial.

Infelizmente não haveria tempo de buscar Sophia pessoalmente, então mandou


que seu motorista a levasse enquanto ele mesmo dirigiu até o Salão de festas.

Tudo pronto e arrumado, Christian já havia chegado com Anne e ele percebeu
que estava mais difícil para que ela escondesse a barriga, muitos já deveriam estar
desconfiandos mas por sorte o casamento do amigo seria na próxima semana.

Aproximou-se do casal para cumprimentá-los e o loiro deu um sorriso cúmplice.

– E aí, a Sophia não desconfiou de nada? - perguntou o loiro.


– Não, atreva-se a falar alguma coisa e eu corto sua língua, dobe! – alertou
Lucca, mas seu tom de voz não era tão agressivo, era mais brincalhão.

Era notável a mudança no jovem, que antes era um homem frio e sério que
jamais se permitia fazer brincadeiras e nunca era visto sorrindo. No trabalho ele ainda
era o mesmo homem frio e arrogante, mas entre amigos freqüentemente agora ele era
pego sem aquelas máscara de frieza que costumava usar.

Nos olhos do moreno agora havia paz e alegria. Todos sabiam a que se devia
tudo aquilo: Lucca estava apaixonado e a pessoa que lhe mudara era a jovem jardineira
Sophia Rinaldi. Era por esse motivo que todos gostavam da mulher de cabelos
avermelhados que havia trazido a vida e a felicidade para o coração duro do jovem
Denali.

– Desconfiou de que, Chris? - perguntou Anne enquanto passava a mão pela


barriga escondida por um vestido lilás largo.
– De nada, Anne, daqui a pouco você vai ver. - respondeu o loiro. - Vamos,
vou pegar um pouco de champanhe!

Christian afastou-se de Lucca puxando sua noiva, para que ele não
percebesse que na verdade o amigo estava doido para contar a novidade para sua noiva.

Pelo menos Anne era discreta e não contaria nada a Sophia antes da hora.
Um garçom passou servindo uma bebida que Lucca pegou enquanto encostava na
parede ansioso para que sua namorada chegasse logo. Toda hora olhava para a porta,
mas quem entrou foi um casal já conhecido.

O jovem advogado Júnior da empresa, acompanhado de sua esposa que era uma
bela loira chamada Louise Parker havia chegado e ido justamente na direção de Lucca
afim de bajulá-lo, uma vez que desejava uma promoção.

– Sr. Denali! Como vai? Quero te apresentar minha esposa, Louise. -


disse o advogado enquanto Louise estendia a mão.

– Muito prazer, Louise. - respondeu Lucca fitando a moça loira de olhos azuis.

Ela era uma mulher muito bonita, isso não podia negar, era estranho estar ali
com aquelas pessoas que fizeram parte do passado de Sophia. Logo que soubera que
Taylor havia sido o primeiro amor da mulher que agora amava, Lucca pensou em
demitir Taylor, mas o problema era que não podia negar que como advogado ele era
competente e não era dado a misturar assuntos pessoais com profissionais.

No fundo, Lucca ainda tinha um certo ciúmes dentro de si, pois temia que a
namorada ainda sentisse alguma coisa pelo homem fútil que havia caído em seu
conceito quando soubera que ele rejeitara Sophia por causa de algumas cicatrizes nas
costas, mas graças aquele ato de futilidade, agora tinha a ruiva e por isso de certa forma
deveria ser grato pela futilidade do advogado.

Não havia escondido da namorada que aquelas pessoas estariam ali. Sophia sabia
muito bem que Taylor iria naquela festa acompanhado de Louise, mas essa era a prova
final que Lucca desejava para ter certeza de que a moça havia esquecido o ex-namorado
completamente e que seu coração era só dele, ao mesmo tempo em que mostraria para o
homem que Sophia era só sua.

Outro casal se aproximou para cumprimentar Lucca, dessa vez era o casal
que havia ajudado Sophia no dia em que ela passou mal no ônibus. Por
coincidência Charles havia ido procurar emprego na empresa de Lucca após ser
demitido do trabalho e , ao lembrar-se de como ele havia ajudado o ser que lhe era mais
precioso na vida, lhe havia dado o emprego.

A maioria das pessoas que eram importantes na vida do casal estava ali, até
mesmo Bethany e Jane, pois eram grandes amigas de Sophia, mas a presença dessas
duas não havia sido informada para a jovem pois tratava-se de uma surpresa.
As horas se arrastavam, Lucca ouvia os homens falando de negócios e estava
entediado, pois a pessoa principal que deveria estar ali ainda não havia chegado. Por um
momento o Denali teve medo de que ela tivesse desistido de vir por não querer
encontrar Louise e Taylor.

Devido ao horário, Blake, que havia sido contratada para fazer um show especial
ali, precisou começar a cantar antes que Sophia chegasse.

Lucca não prestava atenção na melodia que Rose cantava e nem nas
conversas entre as pessoas que estavam presentes ali, pois sua mente estava apenas em
Sophia e no quanto estava decepcionado por ela não estar ali, quando de repente a
cantora, ao terminar a primeira música fez uma pausa e olhou para o fundo do salão de
festas.

– Essa música é dedicada á pessoa que acabou de chegar nessa festa por nós, os
amigos do Lucca. - disse apontando para a entrada quando todos os rostos se
viraram e olharam espantados para a mulher que acabara de entrar.

Sophia usava um vestido vermelho colado ao corpo extremamente sensual que


fez o olhar do moreno se encher de desejo. Ela caminhava com elegância e sensualidade
em sua direção. Os cabelos estavam presos em um coque, os lábios pintados da cor de
cerejas e as sandálias de salto alto lhe deixavam com as pernas ainda mais longas.

Ao entrar no salão, Sophia avistou todos os rostos já conhecidos e alguns que


nunca vira antes na vida, por serem funcionários da empresa de Lucca. Seus olhos
passaram por Louise e Taylor, mas pela primeira vez ela não invejava mais Louise e
nem sentia mágoa por ela ter-lhe roubado um namorado, pois ela tinha alguém bem
melhor, por ser alguém a quem amava de verdade.

Seu par de jades procurou pelos olhos cor de ônix de Lucca e os fitou com
desejo no olhar, sendo correspondido. O jovem havia realizado seu sonho de consumo
de ver Sophia em uma roupa vermelha sensual e estava adorando.

Mesmo quem não conhecia Sophia e Lucca poderia notar que eles eram um casal
apaixonado, só pela maneira como se fitavam com desejo.

– Aquela é a Sophia? - Taylor perguntou espantado, seu queixo havia caído e


Louise olhou para aquela que fora sua amiga com inveja, pois Sophia estava
maravilhosamente bem e linda, o contrário que ouvira falar quando soubera que ela
havia se ferido e que tinha cicatrizes horríveis nas costas, ditas pelo próprio Taylor.

– Sim, aquela é a minha namorada Sophia. Vocês já a conhecem, não? Se não me


engano você já foi um namorado dela no passado. - Lucca jamais perderia a
oportunidade de dar uma alfinetada.

– Sim, mas... - Taylor não ousou terminar a frase, pois não estava sequer certo do
que iria falar. Ainda estava sob efeito do choque de ver a mulher que havia rejeitado no
passado agora sendo a namorada de seu patrão.
– Mas você não a amou o suficiente e a largou por causa de umas pequenas
cicatrizes quase imperceptíveis que ela tem nas costas, ficando com a melhor amiga
dela. Conheço essa história, mas tenho que agradecer por você ter feito isso, já que
graças a você tenho uma futura esposa maravilhosa, se ela me aceitar é claro. - disse
Lucca em um tom de voz baixo que apenas Louise e Taylor viram antes que Sophia
parasse em frente aos três.
– Boa noite amor, desculpe a demora, mas é que perdi a hora de novo
quando tirei um cochilo de tarde. Vai ver foram aquelas maçãs do seu pomar que o Juán
mandou pra mim. Não sei não, mas acho que deve ter alguma coisa nelas que sempre
me fazem ficar com sono toda vez que as como. - disse de forma inocente e doce
que fazia contraste com a sensualidade dela naquele traje.

Depois ela voltou-se para Louise e Taylor, cumprimentando-os gentilmente


como se fossem conhecidos comuns.

– Louise, Taylor! Nossa quanto tempo. Fico feliz em vê-los de novo. Como esse
mundo é pequeno! Eu soube que o Taylor está trabalhando para o Lucca. Vi vocês outro
dia no shopping. O filho de vocês é lindo. - disse Sophia com tanta normalidade que
Lucca estava orgulhoso.

Não havia fingimento em seu olhar e ela estava deslumbrante.

– Obrigada. - disse Louise um pouco sem graça, no fundo ainda sentia certa
culpa por ter roubado o namorado da amiga, embora não estivesse arrependida porque
gostava de Taylor e era feliz com ele.

– Venha Sophia. - disse Lucca segurando-a pela mão e fazendo-a subir no palco.

Rose passou o microfone para as mãos de Lucca que estava nervoso e suava frio.

– Boa Noite. Como todos aqui devem ter percebido, essa não é uma festa de
final de ano como as outras comuns que tivemos, por esse motivo não estão presentes
apenas as pessoas que trabalham aqui, mas também meus amigos e pessoas especiais na
minha vida e na de Sophia. - fez uma pausa olhando para Christian, Anne, Blake,
Willian, Derek, Tereza, Bethany, Jane e até mesmo Sonya que estava presente ali.

Os amigos retribuíram com um sorriso, embora nem todos sabiam dizer o que o
moreno estava tramando.

– O motivo que torna essa festa diferente das outras, é que quero aproveitar a
noite de comemoração desse ano que foi o melhor ano da minha vida em muitos
sentidos, nãos só nos negócios graças á contribuição de vocês, mas também na minha
vida pessoal, pois conheci uma pessoa que se tornou a mais importante na minha vida,
pra fazer um pedido justamente para essa pessoa. - explicou enquanto fitava Sophia.

Todos prenderam a respiração, porque agora já imaginavam do que se tratava,


tendo certeza quando o moreno retirou do bolso uma caixinha pequena de veludo e
abriu na frente de Sophia, que vislumbrou o belíssimo anel decorado com pedras-jade
escolhido por Sonya.
– Sophia, aceita se casar comigo? – perguntou.

Os olhos de Sophia encheram de lágrimas e ela tremia. O nervosismo de Lucca


só tornava tudo ainda mais bonito e mais emocionante para ela que sentia o coração
bater rápido dentro do peito.

– Sim, eu aceito! - ela disse com uma imensa alegria antes de abraçar seu agora
noivo.

Todos começaram a aplaudir o casal, uns assobiando enquanto outros cantavam


uma música.

– Beja! Beija! Beija! - fizeram um coro.


Então Lucca aproximou os lábios dos de Sophia e começou um beijo delicado,
mas cheio de paixão na frente de todos.
– Eu te amo. - sussurrou no ouvido da ruiva de forma que só ela pôde escutar.
– Eu também te amo. - Sophia respondeu e trocaram mais um beijo antes que ele
colocasse o anel em seu dedo.
Capítulo 25
Telefonema

No Jardim da Mansão Denali, uma morena observava uma jovem de cabelos


avermelhados cuidando das plantas com um sorriso nos lábios. Jane se aproximou da
ruiva.

– Sophia, pensei que não tivesse mais que trabalhar aqui, agora que está noiva do
patrão. - diz a amiga espantada com o fato de que a jovem continuava a cuidar dos
jardins.
– E eu não tenho mais, acontece que gosto de cuidar do jardim, porque ele tem
um significado especial para Lucca e eu. - disse tirando as luvas das mãos e
colocando-as em um canto.

– Ah sim, bem, você tem muita disposição. Por falar nisso, eu vim te chamar
porque sua médica ligou, parece que saíram os resultados dos seus exames
pré-operatórios e ela quer falar com você. - disse Jane.

– Acho melhor então eu ir lá atender. - disse Sophia tirando o avental que usava
para cuidar dos jardins a fim de evitar que sujasse suas roupas enquanto correu para
atender o telefone.

Enquanto ela falava com a Dra. Leila, seu noivo chegou em casa e foi procurar
por ela louco para vê-la mais uma vez. Felizmente havia pouca coisa para fazer na
empresa durante aquele dia e por isso pôde passar em casa para almoçar com Sophia.

Foi informado por Jane que ela estava na biblioteca conversando com a doutora
no telefone, então decidiu esperá-la na mesa onde o almoço seria servido.

Alguns minutos depois, Sophia chegava na sala de jantar, mas Lucca estranhou
sua expressão cabisbaixa e notou que as mãos da moça estavam trêmulas quando ela se
sentou a mesa ao lado dele.

Seu peito se encheu de preocupação, pois ver sua noiva nervosa depois de
conversar com a médica podia não significar boa coisa. Ele havia presenciado os
exames que a jovem realizara para fazer a cirurgia que tanto esperava e pensou que na
certa teria dado algo errado nos resultados.

Carinhosamente segurou as mãos trêmulas da percebendo que estavam frias e


úmidas de suor enquanto encarou o belo par de jades que naquele momento se
encontrava apreensivo.

– O que aconteceu, amor? A Dra. Leila disse alguma coisa? - perguntou tentando
passar tranquilidade na voz.

– Sim, aconteceu uma coisa e minha cirurgia vai ter que ser adiada por alguns
meses. Muitos pra dizer a verdade. - explicou a ruiva.

– Mas por que? O que ela disse? O que tem de errado? - Lucca perguntava com
preocupação.

As mãos da jovem tremeram mais ainda, seu corpo todo em espasmos de


nervosismo de um jeito que o noivo nunca havia visto antes. Notava-se que Sophia
estava muito apreensiva e ele não saberia dizer se era pela frustração de ter a cirurgia
tão esperada adiada ou se havia acontecido algo de pior nos exames.

– Não é exatamente errado, é só que, não estava nos planos, acho que é algo que
você não vai gostar. - disse tentando evitar o par de ônixs do noivo.

Ela só pensava no quanto doeria se ele brigasse com ela por causa do que havia
acontecido, pois de fato era algo que ela desejava embora soubesse que o momento não
era propício. Podia imaginar o homem que amava destroçando seu coração com
palavras duras e era aquilo que causava todo aquele tremor que inundava seu corpo com
adrenalina.

Lucca começava a perceber do que se tratava e também foi ficando branco e


com as mãos frias. Era inteligente e foi começando a juntar todas as peças do quebra
cabeças.

A jovem notou a expressão de choque de seu noivo e como o sangue parecia ter
abandonado sua face, então soltou as mãos das dele temendo sua reação.

– Isso significa que você está grávida? - perguntou, de uma forma que Sophia
não pôde identificar que tipo de emoção ele estava sentindo especificamente.

As peças do quebra-cabeças se juntavam quando o moreno lembrou-se da


viagem que haviam feito e todo aquele enjôo que sua amada havia tido no avião, do
sono excessivo que ela apresentava nos últimos meses e principalmente da obsessão que
Sophia havia desenvolvido por maçãs, fato que achara engraçado.

– É, ela disse que sim. - explicou Sophia nervosa. - Está chateado?

A pergunta parecia inocente e a jovem parecia mais frágil do que nunca naquele
momento. Lucca sentiu que não podia ser grosso, de maneira alguma embora não
conseguisse se imaginar exatamente como pai.

– Bem, não. Eu diria que estou surpreso e que isso não estava nos nossos planos,
pelo menos não pra agora. Pensei que fôssemos curtir mais a vida a dois antes de termos
filhos, mas já que aconteceu e ele resolveu vir antes, então teremos que apressar o
casamento. Já estávamos mesmo noivos. - disse o moreno de maneira calma.

Os olhos de Sophia começaram a brilhar e de repente o nervosismo havia


passado. Tivera medo de que ele não concordasse em ter o filho, mas apesar de ele não
ter reagido com animação, também não havia rejeitado o bebê e isso era um motivo para
que ela ficasse aliviada.

– É, acho que fomos descuidados, mas não fiz de propósito. Acho que nem
pensei que isso poderia acontecer. - Sophia disse.

Então uma outra idéia passou pela mente de Lucca. Ele lembrou-se de que não
sabia ainda o que Sophia achava de ser mãe naquele momento, se estava de acordo com
a idéia ou se ela estava chateada por ter um filho.

– Está tudo bem pra você termos um filho agora? Ou você está chateada? - ele
quis saber.

– Não vou mentir pra você, prefiro ser sincera. Não fiz de propósito e também
queria esperar, mas eu estou feliz porque sempre quis ser mãe. Acho que já disse isso
pra você uma vez. - disse a noiva timidamente.

Novamente ele segurou na mão de sua noiva e deu um sorriso, o nervosismo


havia passado e agora ele imaginava o pequeno bebê dentro dela, pensando que teria
que cuidar mais ainda daquela a quem amava.

– Se você está feliz com isso então também estou. Não existe ninguém melhor
do que você pra ser a mãe do meu filho. - disse Lucca.

Jane interrompeu o casal chegando com uma bandeja para servir o almoço dos
dois, quando Sophia lembrou-se de algo e voltou-se para a amiga.

– Jane, ainda tem maçãs pra comer de sobremesa? - perguntou a ruiva.

– Maçãs? Mas você não cansa de comer tantas maçãs? Acabou com todo o
estoque que chegou da Fazenda. Por que não tenta outra fruta? - perguntou a morena.

– Jane não discuta com Sophia, isso é desejo de grávida. Acho que teremos que
providenciar mais, porque elas não vão poder faltar pelos próximos meses. - explicou o
Denali.

– Como assim? Grávida? A Sophia? - perguntava a mulher olhando para a jovem


com os olhos arregalados.
– Isso mesmo, soubemos disso agora. Sophia é uma grávida comedora de maçãs!
-disse o noivo puxando a ruiva e beijando-lhe o rosto.

– Bem, quem sou eu pra questionar os desejos de uma gestante! Parabéns! Um


bebêzinho era mesmo o que estava faltando nessa casa. - disse Jane dando um sorriso
deixando Sophia com as bochechas coradas, mas imensamente feliz.
Epílogo

Piscina da Mansão Denali - 5 Anos Depois

A área onde ficava a piscina da Mansão Denali se encontrava toda decorada com
bolas coloridas mostrando claramente que se tratava de uma festa de aniversário
infantil.

Um homem loiro estava ao lado de um ruivo em uma das mesas bebericando um


coquetel de frutas quando fitou um belo casal que se beijava próximo a churrasqueira.

– Viu só Mike querido, eu disse que ele não era gay. Meu radar não aptou e ele
não falha mesmo. Você sentia aquele ciúmes todo a toa. - dizia Alan enquanto
segurava o braço do namorado de forma coquete.

– Tem razão, dá pra ver que ele ama essa mulher, por falar nisso que estilo que
ela tem hein? - Mike disse olhando de cima abaixo a bela ruiva que estava abraçando
Lucca, trajando um roupão de banho rosa com detalhes em flores nas mangas.
Sophia estava deslumbrante, com seus cabelos um pouco maiores agora na altura
dos ombros e havia uma flor colocada de um dos lados do mesmo como um enfeite,
para combinar com o clima de festa da piscina. Seu marido também não ficava muito
atrás, vestido com um calção de banho azul marinho mas sem nada na parte de cima do
corpo deixando seu peito nu á mostra que a esposa acariciava com as pontas das unhas.

Ambos trocavam um olhar de desejo, cheio de promessas para mais tarde e


estavam quase trocando mais um beijo carinhoso quando um garotinho os interrompeu,
correndo na direção dos dois.

– Mamãe, Papai! Venham ver o presente que minha madrinha me deu! - dizia um
menino de pele clara, com cabelos negros arrepiados que combinavam com o belo par
de jades que havia herdado de sua mãe.

O menino, vestido com uma pequena sunga azul marinho e com os cabelos
bagunçados, puxava uma velha senhora que andava com dificuldade.
– Gabriel, espere! Eu não tenho mais idade pra correr desse jeito menino! - dizia
Bethany soltando a mão do menino, pois não aguentava a acompanhá-lo.

Na outra mão de Gabriel, havia um par de armas coloridas de brinquedo que


esguichavam água.

– É, que legal, Gabriel! Tenho certeza de que a Nana vai gostar de brincar com
isso com você. - disse Sophia apontando para uma menininha de cabelos preto-azulados
combinando com olhos azuis turquesa da mesma
idade que o pequeno Gabriel.

– Tá legal mamãe! - respondeu o menino correndo até a garotinha enquanto os


pais sorriam.

– Sinceramente, não sei porque escolheram uma velha como eu pra ser madrinha
desse menino. Não consigo acompanhá-lo nas brincadeiras. - disse Bethany olhando
para o casal.

– Não diga isso Bethany, está na flor da idade. E depois ninguém melhor do que
você poderia ser a madrinha dele, afinal foi graças a você que Sophia e eu nos
conhecemos, então de certa forma foi porque a indicou pra trabalhar aqui em casa que
ele existe. – disse o moreno abraçando a esposa.

Seus olhos agora brilhavam em um misto de felicidade e paz, mesmo estando


com a casa cheia de convidados, garçons de um lado para o outro e uma música infantil
tocando.

– É, isso é verdade. Mas eu sabia que quando vocês se conhecessem alguma


coisa ia acontecer. - disse a anciã sorrindo como se tivesse aprontado alguma coisa.

– Quer dizer que foi de propósito? - Lucca perguntou com ar de surpresa.

– Bem, mais ou menos. Não sabia exatamente o que iria acontecer quando se
encontrassem, mas eu vi os dois crescendo e sempre os achei muito parecidos, com
histórias de vida semelhantes, mas acho que foi mais uma intuição. - respondeu a
senhora pensando se havia feito bem em ter dito.

Lucca poderia pensar que seu destino havia sido controlado pela antiga
empregada, mas a verdade era que ele estava tão feliz por ter uma família novamente e
ao lado da mulher amava, que sequer se importou se havia sido planejado ou não.
Sophia e Gabriel eram os seres mais preciosos de sua vida e nada mudaria esse fato.

Uma voz feminina chamou o nome de Sophia cujos olhos encontraram os de Rose
do outro lado da piscina que acenava.

– Sophia! Vem aqui com agente! Anne e eu queremos entrar na água, mas ela
está sem coragem! - gritou a cantora.
A ruiva deu um sorriso e depois voltou-se para o marido.

– Vem comigo? - perguntou.


– Claro. - respondeu o moreno.

Ambos caminharam juntos até a escada da piscina e Sophia começou a


desamarrar o roupão cor-de-rosa até deslizá-lo pelo corpo de forma que as amigas
puderam apreciar o belo biquini vermelho que ela estava usando.

prendeu a respiração, pensando que seria uma tortura vê-la de vermelho


naquele biquini durante toda a festa sem poder fazer nada. Teria que se controlar. Ele
sempre ficava doido quando sua esposa usava vermelho.

Ela prendeu os cabelos no alto da cabeça e seu marido que estava atrás de si
pôde vislumbrar as pequenas marcas que restaram das cicatrizes que antes eram bem
visíveis na extensão de suas costas. Elas ainda estavam ali, mas eram tão claras agora
que eram quase imperceptíveis e só se a pessoa olhasse bem para aquela região as
perceberia. As amigas de Sophia estavam mais preocupadas com seus bronzeados,
tomar conta de seus maridos ou de seus próprios filhos para focar a visão nas costas da
amiga.

Uma vez que o casal agora estava dentro da piscina perto das amigas, a ruiva
olhou para todos com um sorriso nos lábios.

– Eu tenho uma novidade pra contar. - disse sorridente


O marido olhou com curiosidade, perguntando-se mentalmente que novidade a
esposa iria lhe falar naquela festa, uma vez que ele mesmo não sabia de nada.

– O que, amor? - perguntou o moreno.


– Nosso Gabriel vai deixar de ser filho único. Fiquei sabendo hoje, Dra.Leila me
ligou. Vamos ter outro bebêzinho. - anunciou alegremente.

Lucca carinhosamente passou a mão pela barriga ainda lisa de Sophia,


relembrando os momentos de quando ela esteve grávida da primeira vez. Haviam os
desejos, os enjôos e a forma como ele ficara apreensivo no dia do parto, mas tudo valera
a pena. Olhou para o filho que de repente veio correndo e se jogou na piscina molhando
a todos.
– Hum, tomara que dessa vez seja uma menina. Dizem que as meninas são mais
comportadas. - falou o moreno em um tom de brincadeira, em referência ao quanto o
filho era levado.

De repente a jovem Nana, filha de Christian com Anne também pulou na


piscina, só que mais perto ainda do casal molhando todos os adultos que estavam no
local e depois foi nadando com uma bóia em cada braço com a pistola de plástico na
mão para esguichar água no pequeno Denali que tentava correr dela.

– Nem todas. - disse Sophia divertida enquanto observava as crianças brincarem.


The End

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