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Vi nny e Net o

Belo Horizonte • 2023


Copyright © 2023, Vinny e Neto

Coordenação editorial
Leonardo Costaneto e Olavo Romano
Revisão
Márcia Cristina Figueiredo Costa
Imagem da capa
Vinny e Neto
Capa e editoração eletrônica
Caique Pereira de Sá Cavalcante

Conselho Editorial
André de Souza Pena (UFMG)
Bárbara Castelo Branco Monte (UNIFOR)
Elaine Martins (Cefet – MG)
Jucelia Souza da Silva (UFMS)
Leonardo Costaneto (Editor)
Márcia Letícia Gomes (FURG, Unir)
Olavo Romano (Editor)
Rodrigo da Costa Araujo (UFF)
Rogério Silva Pereira (UFGD)
11 Prólogo

21 PARTE I - A carta de Sur


21 Capítulo 1 – Johannes, O Ladrão.
25 Capítulo 2 – Ivin, o Mago.
31 Capítulo 3 – Agdaren, o Ruivo.
35 Capítulo 4 – Vulpes, a Raposa
41 Capítulo 5 – Navarro, o Pirata.
48 Capítulo 6 – Arcanjo, o Monge.
57 Capítulo 7 – Baramiel, a Dríade

63 PARTE II - Revisitas ao Passado


63 Capítulo 8 – Vulpes, a Raposa.
66 Capítulo 9 – Ivin, o Mago.
70 Capítulo 10 – Agdaren, o Ruivo
75 Capítulo 11 – Arcanjo, o Monge
79 Capítulo 12 – Baramiel, a Dríade
83 Capítulo 13 – Navarro, o Pirata.
89 Capítulo 14 – Johannes, o ladrão.

93 PARTE III - Os Concílios


93 Capítulo 15 – Ivin, O Mago
100 Capítulo 16 – Agdaren, O ruivo.
105 Capítulo 17 – Baramiel. A Dríade.
108 Capítulo 18 – Johannes o Ladrão.
111 Capítulo 19 – Vulpes, a Raposa
114 Capítulo 20 – Arcanjo, o Monge.
121 Capítulo 21 – Navarro, o pirata.
128 PARTE IV - A Semana de Sete Luas
128 Capítulo 22 – Agdaren, o Ruivo
134 Capítulo 23 – Johannes, o Ladrão
138 Capítulo 24 – Arcanjo, o Monge
143 Capítulo 25 – Navarro, o Pirata
146 Capítulo 26 – Baramiel, a Dríade.
149 Capítulo 27 – Vulpes, a Raposa.
158 Capítulo 28 – Ivin, o Mago

161 PARTE V - A Festa em Arnandirah


161 Capítulo 29 – Baramiel, a Dríade.
165 Capítulo 30 – Johannes, o Ladrão.
167 Capítulo 31 – Arcanjo , o Monge.
169 Capítulo 32 – Ivin, o Mago.
171 Capítulo 33 – Agdaren, o Ruivo.
175 Capítulo 34 – Navarro, o Pirata.
177 Capítulo 35 – Vulpes, a Raposa.

181 Epílogo
Mapa da parte ocupada de Arabel

Ilustração: Neto
Prólogo

O menino abriu os olhos e só viu escuridão.


Tentou movimentar os pés e as mãos sem conseguir deslo-
car seus membros. Percebeu que estava preso, amarrado com
algemas em ambos os punhos e calcanhares, a uma estrutura
fixa e lisa de madeira a lembrar–lhe um estrado de cama. Seu
corpo balançava vagarosamente como se estive deitado em uma
rede à beira da praia de Lagos onde repousou na última lua cheia
com seus tutores. Um grito de desespero ameaçou brotar da
garganta quando o garoto aspirou com toda a força o ar dos pul-
mões, mas este foi silenciado pela mordaça em seus lábios que
impediam que sua voz saísse. O breu daquele ambiente fazia o
jovem manter a confusão mental que se instalava em seu espíri-
to por não saber o que estava acontecendo ou o porquê de estar
ali, preso na escuridão. Tentou, mais uma vez, algum movimento
a fim de se libertar das correntes, mas a agitação somente provo-
cou barulho. Em desespero, ao menear o pescoço para um lado
e para o outro, sentiu um forte fincada sobre a nuca. Sua cabeça
doía intensamente. Fechou os olhos com força e abafou por um
instante o instinto de buscar desvencilhar– se da prisão momen-
tânea em que se encontrava.
Sua mente continuava confusa:
– Como eu vim parar aqui? Cadê minha família? O castelo?
Os padres? Não lembro nem quem foi a última pessoa que to-
quei. Também, foram tantas nesses três últimos anos.
As respostas fugiam de sua mente toda vez que forçava a
memória em busca de alguma compreensão. Na verdade, tais

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pensamentos, faziam imediatamente sua cabeça latejar mais.
Não conseguiu centrar–se, pois parecia ter sido desperto, ins-
tantaneamente, após um longo período de sono e sonhos. Um
intenso medo tomava conta do garoto.
Enquanto as coisas pareciam confusas em sua mente, e a lu-
cidez de tudo que havia ocorrido nos últimos dias não vinha à tona,
os ouvidos atentos e aterrorizados do menino escutaram o som
de batidas na madeira. Aquele barulho era diferente dos gritos de
desespero ouvidos desde que acordara naquele porão que parecia
balançar como se ele próprio estivesse diretamente sobre as águas.
Ao perceber os sons aumentando de intensidade, tentou com to-
das as forças se libertar das correntes que o prendiam. Nem um
efeito surtiu, novamente. Só restou torcer para que as batidas ouvi-
das se enfraquecessem e distanciassem. Por um instante, todavia,
pressentiu que isso não seria mais possível e temeu pelo fim, como
nunca tinha pensado em seus poucos sete anos de vida.
...
No corredor daquele desconhecido e tenebroso porão em
movimento, há mais ou menos cinco quartos de onde o garoto se
encontrava, uma jovem ruiva vestida de vermelho conversava em
tom baixo com um corcundo homem de enorme cicatriz na face
esquerda do rosto. A bela menina deveria ter no máximo o segun-
do verão após o primeiro escorrimento que a fazia ser mulher para
aquela sociedade, mas a garota já aparentava ser bem dona do seu
próprio nariz. O ambiente no corredor continuava tão escuro quan-
to nos quartos, mas um pequeno lampião que o homem carregava
iluminava, parcialmente, a sua face e destacava o pequeno vestido
vermelho da jovem. Sorrateiramente, o homem movimentou sua
cicatriz facial enquanto falava:
– Por qual deles devemos começar, minha senhorita?
– Quieto! Vociferou a bela garota de cabelos cacheados rui-
vo escuro. –Navarro e seus marinheiros não podem saber que
estamos aqui.
– Desculpe milady, mas é que devemos agir antes que o na-
vio parta de vez, senão corremos o risco de ser descobertos.
A voz rouca do corcunda coadunava–se com sua postura
curvada criando um aspecto sombrio ainda mais assustador para

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a figura de um homem que já havia passado pelas coisas mais
terríveis na vida.
– Só preciso do sangue de um, Quiron, e você sabe mui-
to bem disso. Um sangue divino e bento que habita a Terra. Só
existe um nesse navio com esse perfil. O resto são apenas loucos
que não tem onde ficar e são expulsos dos reinos da Terra.
Quiron parecia não se importar com o que a garota acabara
de falar.
– Quando veremos Ele, Milady?
– Ele? A ruiva riu sorrateiramente. Você quer vê–lo, Quiron?
Um silêncio momentâneo se fez enquanto a garota passava deli-
cadamente a mão sobre a cicatriz do corcunda.
– Quando eu tiver o sangue, meu querido. Foi o combinado,
não foi?
A jovem garota de vermelho, com a imponência de uma
mulher muito mais experiente, tentava impor uma segurança
na voz, mas também tinha desconfianças que alimentavam sua
alma. Prosseguiu, todavia, afirmando o tom de voz:
– Não tenho dúvidas de que Ele virá até nós quando che-
garmos ao nosso destino. Basta estarmos no lugar certo com o
que Ele precisa.
– Minha senhora, lembra–se da promessa que me fez?
Ele realmente poderá consertar isto? Quiron aproximou o lam-
pião de sua face evidenciando a enorme cicatriz que tomava con-
ta de todo um lado do seu rosto e parecia continuar por debaixo
de suas roupas de lã e couro que aqueciam o sujeito em tempos
frios.
– Você sabe muito bem, Quiron que ele pode realizar
tudo o que quiser. Já te contei que não há dúvidas sobre o poder
do Geneticista. Ele quis o garoto preso aqui nesta noite e conse-
guiu, não foi?
– Foi ele quem trouxe o garoto para a embarcação? Achei
que tinha sido Navarro e sua equipe quando sequestraram o me-
nino dos padres.
– Cale a boca seu estúpido! Não fale alto o nome do Capi-
tão! Se Navarro nos pegar aqui nunca sairemos dessa porcaria
de cidade e serão séculos até termos outra chance de podermos
encontrar o Geneticista.

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– Quando o virmos será que Ele irá querer... Querer mesmo
consertar minha ferida, senhora? Quiron, no íntimo, se compor-
tava como um menino carente que nunca havia sido amado.
– Foi a promessa que eu te disse que Ele fez, quando con-
versou comigo, não foi Quiron?
– A senhora também nunca o viu, não é verdade? Não sabe
a intenção dos seus olhos.
– Mas eu o escuto em mim e você sabe disso. A promes-
sa irá se cumprir. A jovem raposa declinava um pouco o tom de
sua voz quando fazia tal afirmação. Um interlocutor mais expe-
riente do que Quiron poderia até achar que a jovem estava a
mentir, mas o Homem–Ferida não parecia desconfiar de nada.
– A senhorita Katheelen Reinard Vulpes me dá sua palavra
em nome de toda a vida existente no Mediterrâneo? Quiron fez
questão de ressaltar o nome completo da jovem como se isso
pudesse aumentar a força do juramento.
A garota vermelha caiu em gargalhadas:
– E desde quando minha palavra vale alguma coisa, Quiron?
A palavra Dele é a que vale. O Geneticista pode criar e consertar
o que quiser.
– Para mim ele é só uma lenda. Acho que sou mesmo bobo
de acreditar em sua misticidade, ruiva.
O homem–ferida encarava sua senhora nos olhos, mas só
enxergava a vermelhidão dos cabelos e do rubro vestido de Vul-
pes na penumbra. Resmungando ainda desconfiado prosseguiu:
– Só espero que ele reconheça tudo que fiz por Ele em to-
dos esses anos para que chegássemos até aqui.
Vulpes olhou bem nos olhos de Quiron, mas com um sor-
riso dúbio de quem esconde segredos que nunca devem ser re-
velados:
– Ele irá, Quiron. Ele irá. Mas agora preciso de um último
favor seu. E você já sabe qual é.
– Não sei para que você precisa do sangue dele, Milady.
Não seria mais fácil apenas levarmos o menino e entregá–lo para
que o Geneticista o experimente?
– O Geneticista não precisa saber que o menino estará em
Arabel. Não foi isso que ele pediu. Ele quer o sangue e isso deve

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bastar. É só não abrir o bico quando o conhecermos. E aproxi-
mando–se, vagarosamente, a jovem ruiva beijou a ferida no ros-
to do corcunda, sem o nojo que normalmente as pessoas apa-
rentavam somente de vê–las.
– Vá e colha o sangue vermelho do garoto, por mim, que-
rido.
– Sim, senhora. Disse meio hipnotizado o homem corcunda
completamente encantado pela jovem mulher que era capaz de
encostar os lábios em sua face marcada.
– Você terá o sangue do garoto antes que Navarro zarpe
sua caravela.
– Uma última coisa, Quiron. Lembre–se que é muito impor-
tante que Navarro não descubra que estamos em seu navio, por-
tanto, aja da forma mais silenciosa possível. A viagem será longa
e teremos que ficar escondidos! Pelo que imagino iremos para
lugares tão distantes que não se poderá chamar nem de Terra as
areias onde pisaremos.
Sem entender muito aquelas palavras, mas ainda profun-
damente hipnotizado, Quiron se afastou de Vulpes até o cabelo
vermelho da mulher voltar a se enegrecer no corredor sem luz.
...
No andar de cima do enorme navio, o Capitão Dom Navarro
aprontava rapidamente sua embarcação para que a caravela zar-
passe antes que o dia raiasse por completo e a população do medi-
terrâneo descobrisse o que estava levando em seu porão além dos
loucos programados para aquele verão. A Nau dos Insensatos era
como os europeus gostavam de chamar o seu navio nos idos de um
século em que as navegações haviam apenas começado. Para o Ca-
pitão esse não era um nome justo para designar uma nau do porte
da Safira do Oeste, mas aceitava a designação, já que transportar
desvairados era uma forma de ganhar algumas moedas de ouro na-
queles tempos difíceis. Além disso, essa seria uma viagem especial
e cada um podia chamar seu navio do nome que quisesse, contanto
que não descobrissem o que estava guardado em sua cela.
O capitão dava ordens apressadas para sua equipe de ma-
rujos, muito conhecida por todo mediterrâneo, como o grupo
de bardos Comédia dell’Arte. Quando o navio atracava, era com

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apresentações teatrais em praças e tavernas que Navarro e sua
trupe se sustentavam. Dentro da embarcação, todavia, aqueles
comediantes cumpriam suas funções na navegação, mais ou me-
nos, de acordo com suas capacidades, ou loucuras, como costu-
mava brincar Navarro. Gargantua e Partagruel cuidavam de le-
vantar as âncoras. Arlequino içava as velas. Hieronimus molhava
o dedo indicador com a saliva para logo em seguida enrijecê–lo
tentando descobrir para onde o vento estava soprando naquela
manhã. Pulcinella prepara uma deliciosa torta aromática na co-
zinha para o café da manhã e Pantalone andava de um lado pro
outro preocupado que descobrissem sobre o sequestro do meni-
no que guardavam na Safira do Oeste. Entretanto, suas preocu-
pações pareciam infundadas, já que tudo transcorria calmamen-
te na proa da embarcação enquanto o navio era abastecido de
aberrações humanas pelos guardas das prisões mediterrâneas
que lotavam a Nau dos Loucos. Mulheres desequilibradas fica-
vam em uma sessão a parte do navio, entoando hinos em for-
ma harmônica o que criava um ambiente fúnebre à embarcação.
Por esse motivo vários guardas após amarrarem seus internados
em algum ponto do barco, saiam correndo da nau de Navarro. A
névoa das cinco da manhã do Mediterrâneo Ibérico ampliava o
ambiente misterioso da Caravela. Com o lúgubre navio, Navarro
sabia que dificilmente algum soldado se arriscaria a descer até os
porões e encontrar o garoto que ele levara. Era bom que os ha-
bitantes de Fomentera só soubessem do sumiço de seu menino
sagrado, que curava apenas com o toque, quando a caravela ti-
vesse bem longe dali, se possível tão distante quanto às estrelas
e bem longe da terra firme. O capitão riu com o canto de boca
ao imaginar o susto que os habitantes da pequena cidade espa-
nhola teriam em poucos instantes. Aquele vilarejo, sem dúvida,
entraria para a história, como a cidade com maiores casos de lou-
cura do Mediterrâneo, mas não devido a multidão de homens e
mulheres de todos os cantos da Europa que seriam transporta-
dos em sua Nau. Entretanto, ninguém sabia disso, ainda. Sem de-
vanear mais os pensamentos, o Capitão logo tratou de assumir a
manivela e gritar para seus comandados
– Alçar velas! O sol está a raiar. Vamos partir!
...

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No ponto mais baixo da caravela, o garoto do porão man-
tinha os olhos cerrados quando ouviu os passos ficarem mais
fortes entre os gritos de loucos acima de sua cela. Atentou–se
em reparar na voz de um homem que contava histórias sobre
dragões em seu feudo e por um momento se permitiu ficar
amedrontado com uma ameaça maior que aquela escuridão
que vivenciava, quando sentiu um arrepio frio subir a espinha
dorsal ao ouvir o ranger das portas. Sobre o umbral, um lam-
pião iluminou a sala que se encontrava o garoto, ao mesmo
tempo em que evidenciava o rosto mais deformado que o me-
nino sagrado já havia visto na vida. Uma enorme cicatriz facial
rasgava o rosto de um homem corcunda que o menino nunca
tinha visto igual. O medo tomou conta do garoto. Depois de
tanto breu a visão ainda embaralhada só via aquela figura ter-
rivelmente feia. O assombro pelo fim persistia em fincar raízes
na mente do menino, mesmo com certa dificuldade conceitual
do que seria isso para a mente juvenil do garoto.
Quiron manteve o olhar fixo como se se alimentasse energe-
ticamente quando alguém se assustava com aquela face rasgada
pela enorme cicatriz. O homem fez questão de não sair do vão da
porta até o garoto começar a agitar–se preso a cama sem colchão
em que estava deitado. Ao perceber a inquietação do garoto, to-
davia, deslocou– se para dentro do quarto, deixando a porta bater
atrás de sua figura assustadora.
Com sua marcante voz rouca disse de forma que o eco do
quarto fizesse penetrar ainda mais um tom sombrio na fala:
– Dá seu braço para mim, garoto?
O menino nunca havia experimentado tanto medo na vida.
Na verdade, sempre fora tratado com rei. E sempre foi ele quem
pedia o braço para tocar nas pessoas e realizar as maravilhosas
curas que fazia desde que se entendia por gente. O pequeno
nunca havia entendido bem o que fazia, mas como todos os
adultos se maravilhavam com sua presença, continuava tocar as
pessoas. Agora, todavia, estava preso e nada nem ninguém po-
diam ajudá–lo. Se, pelo menos, lembrasse por completo porque
estava ali talvez se sentisse um pouco mais aliviado, mas o temor
só fazia as lembranças escaparem de sua mente. Sua memória

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infantil estava péssima. Percebeu o corcunda se aproximar e viu
que ele carregava em uma das mãos o lampião que iluminava o
ambiente e na outra uma agulha imensa e fina que fez o garoto
tremer. Em desespero, o jovem continuou a debater–se tentan-
do escapar daquela situação que não compreendia, mas mais
uma vez sua cabeça estoou em dor sobre a nuca.
– Fique quieto ou será pior para você. Quiron fazia questão
de levantar o lampião na altura de seu rosto quando falava o que
ampliava o espetáculo de sua ferida.
Posicionando a agulha na veia do garoto, o corcunda retirou
o sangue do jovem com precisão guardando–o em um minúsculo
coração de ouro feito especialmente para esconder venenos. O
homem se afastava como se já tivesse cumprido sua missão.
– Ainda não morri. Pensou recuperando–se do medo de
que havia lhe dominado. – Talvez ainda tenha uma chance de
escapar daqui vivo. Pensou o menino.
Quiron saiu do quarto, mas não sem antes, mais uma vez,
parar sobre o umbral da porta e olhar para o garoto dizendo com
tom de desprezo:
– Acho que não será você. Não será seu sangue. Ele não vai
querer alguém tão medroso.
O garoto suspirou fundo quando Quiron fechou a porta.
Ganhara algum tempo para tentar pensar em sair daquela situa-
ção. Pelo menos para se acostumar com a ideia do fim que lhe
assombrava a mente.
...
Alguns metros acima do porão onde Quiron e o garoto se
encontravam, a embarcação de Navarro partia levando todos os
loucos rumo ao Oceano Atlântico.
Aliviados, os administradores de Fomentera, agradeciam
aos céus por ter alguém como Capitano, como era conhecido, e
sua Safira do Oeste que topasse se desfazer dos imprestáveis da
Península Ibérica. Já se aproximava o século XVI e cada vez menos
existiam trupes corajosas e dispostas como a de Dom Navarro.
Tudo corria bem, mas em menos de três piares de corujas
que acompanhavam atentamente toda aquela movimentação
do fim de madrugada, uma confusão, então, se fez. Ao fun-

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do, Navarro percebeu que a cavalaria do Reino de Fomentera
gritava para as pessoas que estavam na praia, e tinha ido se
despedir dos seus loucos queridos, sobre o sumiço do pequeno
garoto sagrado da Península Ibérica.
– Parem a Caravela! Ordenou o comandante do exército
real de todas as cidades subjugadas ao Reino de Castela e Ara-
gão: Sir Juan Ângelis Las Casas. – Pare imediatamente ou vamos
afundar a embarcação!
O silencio se fez dentro da nau, mas o Capitão guiava a Ma-
nivela com o sorriso de canto de boca presente nos lábios.
– Eu tentei fazer isso sem chocar. Pensou Navarro. – Mas
me parece, agora, impossível. Navarro parecia se deleitar com o
que estava prestes a acontecer.
– Atirar! Ordenou Sir Las Casas escutando, imediatamente o
barulho dos canhões. – Afundem a embarcação se preciso, mas
não deixem levar o garoto! São ordem diretas de Fernando e Isa-
bel! Os reis católicos querem ver o menino imediatamente!
Duas saraivadas de tiro caíram sobre o mar ao lado do na-
vio fazendo as águas agitarem e a Caravela balancear.
– Chegou a hora, camaradas! Disse Navarro à trupe que se
organizou ao seu redor. Agora é a hora de realmente viajarmos!
De repente os olhos dos que ficaram em terra esbugalha-
ram–se. A Safira do Oeste erguia–se sobre a água e mostrava–se
assombrosamente grande como nunca tinham visto algo igual na
Terra. A enorme nau alçou voo abandonando as águas e guian-
do–se rumo ao espaço sideral. Bela e imponente, a Caravela do
Capitão Navarro misturava–se as nuvens do céu e parecia galgar
rumo ao universo para surpresa de todos na praia.
Sir Las Casas retirou o chapéu que possuía escorando–o em
seu peito e, como todos, olhou para cima perplexo e incrédulo:
– Será que nós é que ficamos loucos? Suspirou em absoluto
espanto.
– Até nunca mais, meu caro, Juangelis! A Caravela de Na-
varro sumiu em meio às estrelas ao som de tiros de canhão e de
olhares arregalados por toda a praia.
Com o rosto colado na janela do corredor do andar de bai-
xo da embarcação, os olhos de Vulpes brilhavam com muita in-

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tensidade. Admirava–se em saber que todas as profecias medie-
viais que tinha lido eram reais e não somente folclóricas como os
europeus que conheceu imaginavam.
Sem entender o que acontecia, o garoto do porão sen-
tiu um frio na barriga como nunca tinha sentido, nem mesmo
quando realizava seus milagres. Ouviu a despedida de Navarro
ao guarda–mor espanhol que ficara em terra, quando a dor de
cabeça invadiu– lhe a alma de forma definitiva. Apagou, por fim,
em profunda amnésia traumática.

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PARTE I
A carta de Sur

Capítulo 1 – Johannes, O Ladrão.


Em caráter de urgência,

A Magocracia, representada por seu Conselheiro Maior: o Gran-


de Mago Sur, convoca os representantes de todos os reinos de Arabel
a comparecer ao Concílio de Ostri, a se realizar no dia em que as três
luas de Arabel estiverem cheias, em horário que o sol iluminar sem
sombras, no Vale das Garras em Andruína, a antiga terra dos Dragões.
Espera–se que todos os líderes de Arabel compareçam a reunião que
decidirá sobre o futuro deste mundo nesse grave momento de crise.
Somente os líderes dos reinos e seus conselheiros mais próximos de-
vem comparecer ao lugar sagrado onde foram derrotados os dragões
vermelhos para que não aja tumulto à população de Arabel. Os reinos
que não forem representados deverão arcar sozinhos com as respon-
sabilidades sobre o mau que se alastra por todo nosso mundo. As de-
cisões tomadas no concílio não serão revogadas e cada reino poderá
expor os problemas que enfrentam desde que a Banalidade ganhou
força, bem como propor soluções para o enfrentamento dos males
que pairam sobre a cabeça de todos os habitantes desse mundo.
O Concílio de Ostri nunca foi convocado na nova geração,
sendo considerado, por muitos, uma lenda por tentar reunir todos
os reinos de Arabel sobre o mesmo afã. A reunião dos reinos não
é um mito. Pessoalmente, eu o Grande Mago Sur, estive presente

21
na última vez que o Concílio ocorreu na era passada. A Magocracia
considera que este evento é o mais importante desde a destruição
de Zoltan na Segunda Era e por isso conta com a participação de
todos. Só com a união de Arabel o mal desconhecido sucumbirá.

Testemunho verdade em nome de Aeon,


Grande Mago Sur

– Eu não devia ter lido isso. Sem dúvida, não devia ter lido!
Johannes ria para si mesmo enquanto coçava a cabeça,
preocupado com o que tinha acabado de ler e com o mago men-
sageiro que desmaiara com um golpe surpresa momentos antes,
quando havia investido sobre ele para roubar seus pertences.
Ler correspondências que não eram suas era seu maior passa-
tempo na adolescência, quando o garoto se deliciava com as car-
tas de amor surrupiadas, sabia de antemão os preços dos barris
de todas as tavernas de Arabel e guardava os panfletos onde
os Bardos do Infinito iriam tocar. Essa curiosidade era um vício
que jamais perdera, mesmo roubando bens maiores à medida
que crescia. Mas o jovem de cabelos lisos e curtos, sempre pen-
teados, nunca tinha encontrado um texto grifado pelo próprio
Mago Sur. A carta agora em sua posse era uma declaração oficial
de preocupação do próprio governo de Arabel sobre o mau que
pairava pelo mundo de Arabel. Aquela carta poderia valer mais
que ouro para algum traficante de informações de Ardenaskum
ou nos lugares mais inóspitos de Hansbarden Arnen.
Johannes guardou a carta em seu bolso traseiro esquerdo e
correu bastante até chegar às margens da praia da ilha de Ghotã
no Mar de Islanumaeon. O larápio era tão ágil que nem percebeu
o quanto tinha se distanciado do local onde o mago ficara desa-
cordado. Os magos mensageiros sempre foram alvos preferidos
do ladrão. Eram sempre os magos mais fracos e iniciantes da es-
cola de magia, mas sempre possuindo bons tesouros. Ao parar
para beber água, lembrou por um segundo de Drunked, seu ami-
go com quem estava na ilha, mas percebeu que este teria que
se virar sozinho. Provavelmente o anão já teria retornardo para

22
suas terras de alguma forma ou saberia se virar. Ofegante, parou
para pensar o que faria com aquela informação escrita por Sur. Um
amigo veio a sua cabeça. O monge saberia o que estava acontecen-
do. Além disso, Johannes sentia saudade de todas as aventuras em
que costumavam andar juntos, até mesmo da aquela última que
acabara de ocorrer, mas que terminara com um fim trágico. Seria
bem perigoso chegar até ele, pois provavelmente estaria do outro
lado de Arabel no reino élfico de Glinterliff. Era pelo menos onde
tinham combinado de se ver na última vez que se encontraram.
Para chegar até o Reino do Carvalho Dourado, Johannes teria que
se infiltrar em alguma embarcação. Refletiu por um instante e che-
gou a conclusão que valeria a pena. Se esconder não era uma de
suas dificuldades principalmente com o seu poder que muitos pen-
savam ser apenas um talento. A única coisa que não passava pela
cabeça do ladrão era ficar de fora do Concílio de Ostri. Ver todos os
líderes reinóis juntos no maior evento de Arabel era o maior desejo
recente de sua vida ou pelo menos o maior nos últimos dez coaxar
de sapos que ouviu durante a fuga pela floresta de Ghotã.
Johannes ainda estava na praia quando viu outro mago men-
sageiro se aproximar. Rapidamente usou do poder que o fazia ser
reconhecido como o maior ladrão de Arabel: seu jeito pessoal de
sumir. Normalmente para alguém se tornar invisível naquelas ter-
ras era necessário algum item mágico como um anel ou um manto.
O ladrão escondia seu segredo de todos que perguntavam dizendo
que possuía um pergaminho mágico de invisibilidade enfeitiçado
pelo próprio Mago Sur. Na verdade, sua invisibilidade era natural.
Bastava querer e Johannes sumia, desaparecia da vista de qual-
quer ser vivo. Escondido sem que ninguém o visse, aproximou–se
do mago mensageiro que conversava com navegantes drows as
margens do Mar de Islanumaeon, quando ouviu:
Preciso chegar até a ilha onde se encontra a Rainha Naygarah.
Dizia o mago mensageiro. Pensei que ela estaria aqui em Gothã, mas
percebo que a rainha dríade já voltou para suas terras. Não sei o
caminho pelas águas. Preciso que me levem.
Os drows cochichavam entre si parecendo querer definir
o que pedir em troca pelo transporte do mago. Finalmente
concluíram:

23
– Duzentas pratas mais seu cajado em nossa posse até con-
cluirmos a viagem.
– 100 pratas e o cajado fica comigo. Rebateu o mago.
– Os drows voltaram a cochichar e acenaram positivamen-
te com a cabeça.
Enquanto a negociação corria, Johannes adentrou, de for-
ma sorrateira, a embarcação Drow. Pegaria uma carona escondi-
da no navio daqueles elfos azuis enegrecidos até o Carvalho Dou-
rado, onde acreditava poder encontrar o Monge ou, pelo menos,
a Rainha Dríade Baramiel. Se nada disso desse certo, pelo menos
poderia tomar a melhor cerveja de barril de Arabel, na produ-
ção envelhecida de Jack. A lembrança do suave gosto amargo
da cerveja no estabulo do Carvalho Dourado, fez Johannes não
ter mais dúvidas de que aquele era o melhor caminho a se seguir
antes das luas cheias se alinharem para o Concílio de Ostri.
...

O caminho pelos mares de Arabel era bastante complicado,


tornando a viagem que já era longa, mais cansativa ainda. Os dro-
ws tiveram muito cuidado em passar pela orla dos reinos élficos
sem que fossem descobertos. Caminharam pelo entorno de Hans-
barden Arden tentando não chamar atenção dos autômatos que
lá habitam e protegem a cidade para os humanos. Para passar por
baixo da ponte prismática que separa os reinos de Maendiliara-
nes e Ailmzirmim, a embarcação drow teve que pagar 100 moedas
de prata, conseguidas com o mago mensageiro, já que só assim
poderiam cair no oceano aberto e navegar tranquilamente até as
ilhas élficas onde Naygarah repousava. Durante toda a viagem,
Johannes permaneceu escondido, roubando alimentos da cozi-
nha e dormindo nas grandes galerias do navio Drow.
No momento em que o oceano começou a colorir o verde
musgo, Johannes percebeu que era hora de descer da embarca-
ção. Ainda invisível, o ladrão optou por pular no mar aberto e na-
dar até as grandes pedras que marcavam o início do território de
Glinterliff, governados por sua filha Baramiel, desde que o elfo
maior havia feito a passagem para o outro mundo. Assim o fez
sem muita dificuldade. Após alguns bons minutos nadando em

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mar aberto, ao chegar ao Carvalho Dourado o gosto de cerveja
de barril voltou a fazer Johannes salivar. Antes mesmo de qual-
quer conversa sobre a mensagem que guardava consigo protegi-
do por um artefato de vidro que impedia que a carta–convite da
Magocracia se molhasse e desfizesse, o ladrão resolveu realizar
a visita tão esperada ao estábulo de Jack, após um bom tempo
comendo apenas frutas, a base da alimentação drow.
– Há quanto tempo não te vejo meu caro Jack, Pelos de
Cachorro! Johannes e Jack abraçaram–se efusivamente.
– Saudade da minha bebida, Johannes? Há quanto tem-
po não pisa no Reino Dourado!
– Bastante! Por isso vamos começar! Quero aquela com
ponto de cravo para iniciar.
– Fica a vontade de servir direto no barril. Johannes. Tenho
certeza que hoje será por conta de Baramiel.
– Não brinca Jack! Não brinca!
O produtor cervejeiro saiu com sua espingarda nas costas
e foi consertar o maquinário que desenvolvia no galpão ao lado.
Após algumas horas no estábulo de Jack, Johannes não teve força
de seguir rumo ao castelo principal do Carvalho Dourado naquela
noite e dormiu apagado, ali mesmo entre os barris, completamen-
te derrotado pelas puras cervejas de Jack.

Capítulo 2 – Ivin, o Mago.


O amanhecer no topo das montanhas de Barbária era mági-
co como nenhuma criatura do reino de Arabel sonhava imaginar.
Enquanto por dentro as montanhas da Barbária estavam carco-
midas pelas atividades dos anões, o topo da montanha conser-
vava ainda sua vegetação original. Os dois sóis que iluminavam
Arabel se interpunham no céu assim que a noite cedia seu lugar
no espaço sideral. O escuro sol amarelo ao fundo e o sol amarelo
claro à frente, na visão de quem olhava o espaço pelas monta-
nhas de Barbária, criavam uma imagem visual fantástica, como

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se dois irmãos gêmeos estivessem prestes a nascer. Depois de se
verem logo ao amanhecer, cada sol caminhava para o seu lugar
de brilho. O Sol Escuro era conhecido por todos como Arimã e
migrava do centro de Arabel para o oeste enquanto o Sol Claro,
Ormuz, para o leste. O espetáculo era tão belo que marcava o ri-
tual matutino de louvor ao Deus Aeon entre todos os magos que
habitavam a Ordem de Todos os Mistérios. Somente nas mon-
tanhas de pedra, onde em reclusão viviam aqueles magos, era
possível ver os dois sóis interpostos. Para os moradores de Ara-
bel aqueles sóis nunca se encontravam, pois eram irmãos que
nasceram para viver separados. A noite simbolizava a tentativa
de conciliação daqueles dois seres, mas após longas tratativas,
toda manhã os irmãos sois optavam por recusar a união e cami-
nhar para lados opostos. Todavia, os magos da Ordem, sabiam
diariamente que a lenda que corria por Arabel desde a Primeira
Era não condizia com a mais pura verdade. Todos os dias antes
de partir para a sua função de iluminação, os dois sois pareciam
ser um só pela brevidade de um segundo. Era preciso ter olhos
de ver, o que apenas os Magos Secretos conseguiam depois de
muitos anos de prática e isolamento nas montanhas de Barbária.
A Ordem de todos os Mistérios localiza–se nos pés da gi-
gantesca cordilheira da Barbária, do lado oposto da área de
entrada da mineração que era a maior de Arabel, e abrigava os
Magos que asfataram do poder desde que a Magogracia se con-
solidou como o poder maior de Arabel na Terceira Era. Também
chamada de Casa da Esfinge, em homenagem a estátua que mar-
ca a entrada das Cordilheiras de Barbária, a região era uma terra
vasta e toda murada, com saída os para ricos portos que desem-
bocam no Lago Infindo. Tudo era muito bem fortificado e, para
chegar até os grandes salões dos magos meio–elfos que lá mora-
vam, todos deveriam passar pelo gigantesco labirinto fortificado
e cheio de mistérios que fica em frente aos salões dos magos.
Não era fácil entrar no território da Ordem. Tirando os portos era
um reino aparentemente silencioso e vazio em sua vastidão de
superfície vegetal, apesar de suas montanhas serem carcomida
por dentro por intensa atividade mineradora.
Ivin tinha acabado de ver a unicidade de Arimã e Ormuz pela
primeira vez naquela manhã. Seus olhos brilhavam encantados

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como se não houvesse mais problemas que lhe tirassem do estado
meditativo que se encontrava. Pelo menos nesse último pensamen-
to, equivocou–se. Fora retirado do êxtase contemplativo logo após
encontrar a paz que o fizera chegar até aquele momento. Em sua
mente plasmou o recado do Mestre Ombaladom convocando–o
para uma reunião imediata no Templo Maior há alguns passos dali.
Após uma leve caminhada pela estrada verde, Ivin aden-
trou a cabana de palha que interrompia a estrada e impossibilita-
va qualquer viajante de transpor as montanhas a partir daquele
ponto. A ordem de todos os Mistérios era afeita as contradições
e, não por acaso, o Templo Maior, residência emérita do Mago
Ombaladom, o Peregrino do Vale, era uma pequena e simples
cabana no meio da estrada. Além disso, a localização era uma
forma de proteção para aqueles magos, já que por toda Arabel
acreditava–se que a Ordem de Todos os Mistérios deveria gostar
do luxo como o restante da Magocracia.
– A grandeza é o que somos. Saudou o velho mago ao avis-
tar Ivin à porta de sua cabana.
– Por isso eu sou. Respondeu Ivin complementando a sau-
dação da velha ordem escondida entre a vegetação das monta-
nhas de Barbária.
– Sinto algo diferente em você, Ivin. O sorriso do mago
revelava que ele sabia exatamente o que tinha ocorrido com
seu púpilo, mas esperava a revelação sair da boca do discípu-
lo como exercício de paciência e respeito que cultuava desde
tenra idade.
–Tive a visão, senhor. Ormuz e Arimã revelaram–se a mim
como unicidade e não mais como oposição. O monismo se faz
presente em mim.
– O mago coçou as velhas barbar brancas trançadas em três
pontos diferentes no rosto e abriu um largo sorriso de felicidade.
– Então finalmente está pronto! Bradou o velho mago en-
quanto abraçava Ivin. – Isso é ótimo pois precisarei de você. Mas
me adianto. Entre na cabana para tomarmos um chá de ervas
escuras enquanto conversamos.
Ivin se deslocou para dentro do pequeno recinto reparando,
como de hábito, as características do Templo Maior. A cabana tinha
apenas três espaços visíveis. A sala absolutamente vazia, impressio-

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nava pelos símbolos desenhados por toda parte que evocavam as
energias da natureza ao mesmo tempo em que louvavam Aeon. O
quarto possuía apenas uma tábua acolchoada por lençóis finos que
mais protegiam de insetos indesejados para quem se deitasse do
que funcionava como conforto. E ,por fim, a cozinha, onde naquele
instante o Mago Ombaladom preparava a efervescência nutritiva
que Ivin conhecia bem, pois havia substituído sua alimentação nos
últimos dias como preparo para que conseguisse alcançar a verda-
de revelada através da Unicidade de Ormuz e Arimã.
Ali, isolado no meio das pedras rochosas, o mago aprendiz
se sentia em casa e em paz como nunca tinha experimentado
quando vagava sozinho pelas terras de Arnandirah. Ivin nunca se
sentira bem em sua terra natal. Morar em uma terra élfica sem
ser um puro elfo, o fez ser desprezado durante toda sua vida.
Nenhum elfo em Arnandirah o tratara de maneira igualitária.
Nas terras élficas, o mago era sempre o meio–elfo, ou o impuro
como chamavam –o os mais radicais. A Ordem era sua casa, e,
mais do que nunca, seu lar, principalmente depois dessa manhã
em que vivenciou a unicidade. Os pensamentos do mago foram
eclipsados com o retorno de Ombaladom a sala vazia:
– A situação mudou Ivin. O mago de barbas trançadas ini-
ciou a fala enquanto servia o chá quente que havia preparado
segundos antes.
– A Banalidade aumenta sua força e toma conta de boa
parte das terras de Arabel. Nada tem parado o crescimento da
nuvem negra que paira sobre as cabeças dos habitantes desse
mundo. A Banalidade cresce em um ritmo jamais visto em qual-
quer Era. Ninguém sabe como derrotá–la.
Ivin tinha visto a Banalidade antes de ser levado as monta-
nhas da Ordem de todos os Mistérios, mas ali isolado, nas rochas
não sabia do tamanho que a nuvem negra tinha alcançado. O ve-
lho mago continuou suas explanações:
– Mediante a situação calamitosa, o Mago Sur resolveu
convocar o antigo Concílio de Ostri e reunir todos os reinos no
Vale das Garras para tomar as decisões necessárias para cortar o
mal que está sobre nossas cabeças. Precisamos estar represen-
tados nessa reunião, Ivin, mas não posso abandonar a cabana e

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legar nosso território desprotegido. Vai saber quais armadilhas
esse convite pode nos legar. Ombaladon interrompeu sua fala
por um tempo a espera que Ivin deduzisse seu pedido em sua
mente. E prosseguiu:
– Gostaria, então, que você, pessoalmente, me representas-
se Ivin e, por conseguinte, representasse a Ordem de Todos os
Mistérios no Concílio. Não quero também que a informação do
Concílio vaze entre nossa comunidade causando pânico desneces-
sário. Confio em poucas pessoas. Você é um deles.
– Irei senhor. Agradeço a confiança. O mago aprendiz se
sentiu lisonjeado com o convite e feliz pelo reconhecimento de
valor que nunca encontrara quando ainda vivia em sua comuni-
dade na floresta.
– A Banalidade ameaça Arabel, mas tem coisas mais impor-
tantes do que ela que devem ser preservadas para a paz desse
mundo. Não somos magos comuns da Magocracia, filho, e você
sabe bem disso. Os interesses que defendemos dizem respeito a
segredos anteriores a era dos Magos. É para isso que lhe envio ao
conselho, Ivin. Para que as verdades de Aeon sejam resguardadas.
– Aconteceu algo novo, Grande Mago?
Desde que o Mago Sur convocou o Concílio de Ostri tenho
notícias que as preparações para a ascensão pela Escadaria fo-
ram redobradas e aceleradas. A ideia de Sur é garantir que os
magos tenham a subida até a Aeon garantida como rota de fuga,
caso a Banalidade ou qualquer outro mal tome conta de Arabel
de forma definitiva. Por isso a Magocracia tenta de toda maneira
se preparar para iniciar o caminho que os leve até Aeon. Seria a
salvação para os magos, muitos acreditam e a ameaça da Banali-
dade é vista pelos magos estudiosos da tradição como o apoca-
lipse esperado desde a primeira era.
– O que devo fazer senhor?
– Aeon não pode ser alcançado ou visto por todos, Ivin, sim-
plesmente. Nem todos os seres que o cultuam possuem mérito e
experiência para compartilhar–lhe a vida no universo de Nox. Nem
mesmo os magos em geral, tão devotos do deus único, compreen-
deriam Aeon. Preciso que você garanta nossa posição de que somos
contrários que os Magos subam a Escadaria. Mesmo que isso não

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fique explicito no Concílio, sei que é isso que o Mago Sur, em nome
do Magogracia, irá defender. Não pude evitar que Storm a cons-
truísse em tempos remotos nem que subisse e se perdesse no cami-
nho de ascenção, mas posso tentar impedir que os magos de agora
tentem subir rumo a Aeon. O desejo de chegar até Aeon é sempre
válido, lógico. Todavia, aquele caminho não é para todos nem para
ser realizado em qualquer tempo. Somente os que compreendem
o monismo, para além do monoteísmo, como acabaram de acon-
tecer com você, podem realmente alcançar a divindade. Aeon não
está somente lá no alto, Ivin. Ele está em todo lugar, é a força que
carregamos, é a unicidade para além do único. Só quem pode sentir
Aeon dentro de si mesmo, na observação da vida e nos elementos
da natureza podem entender o mistério de Aeon. Conhecer o divino
sem estar preparado para a comunhão com o poder que dele ema-
na pode causar um poder de destruição inimaginável, talvez ainda
maior que a Banalidade que paira sobre nós.
– Compreendo Grande Mago Ombaladom. Ivin abaixou a
cabeça em respeito ao Mestre e, por fim, escutou:
– Junte–se aos habitantes de Arabel na tentativa de destruir
o mal da Banalidade no Conselho de Ostri, mas não se esqueça de
que há mistérios que se não forem preservados podem se tornar
quimeras soltas nunca vistas nas três eras. Faça tudo para que Sur
não prossiga com os planos da Magocracia de subir pela Escadaria.
– Partirei alegre em representar nossa Ordem no concílio,
Mestre.
– Comunicaremos–nos sempre que pudermos através da
telecinese que aqui aprendeu, Ivin. Mas te darei liberdade para
agir de acordo com sua consciência. Preciso de você pronto para
guiar a Ordem no momento em que chegar minha hora de com-
partilhar a vida com Aeon.
– Obrigado pela confiança, senhor.
– Você fez por merecer, mago. Não são todos que aceitam
morrer e continuar vivos como você fez. A maioria de nós quer
partir assim que as forças vitais abandonam o corpo físico. A
necromancia é muito malvista pela Magocracia. É a recusa em
aceitar o destino da morte. Para nós, todavia, viver morto é a
abnegação suprema, o divino compromisso em exercer o poder
de Aeon no mundo.

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Ivin o mago fisicamente apático, sem vida e brilho nos
olhos, como uma fiterícia dourada no lugar do coração, consen-
tiu com a cabeça e agradeceu pela confiança do Mestre.
– A grandeza é o que somos!
– E Eu Sou! Respondeu Ivin retirando–se do Templo Maior.

Capítulo 3 – Agdaren, o Ruivo.


A Caravela do Forte era a maior taverna de Arabel. Atraca-
da nas rochas do Lago Lango ainda na Segunda Era, a antiga em-
barcação sideral da velha escola de pirataria transformou–se no
mais reconhecido ponto de lazer dos viajantes marítimos. Com-
pletamente decorada por luzes vermelhas e amarelas, o navio
em sua proa compunha uma bela área externa onde os viajantes
paravam para tomar as amargas cervejas de Arabel. Era possível
também pernoitar e repousar nos quartos da embarcação que
funcionavam como paragem de descanso para os viajantes.
Sentado ao redor do bar, distante das mesas que davam
vista para o oceano, um homem tomava uma cerveja escura,
adocicada por um ponto de café. A taverna estava mais cheia do
que o de costume naquela manhã. Uma confusão de pessoas de
todos os tipos, de bardos a anões, próximo do palco principal,
faziam daquele bar um ambiente mais barulhento do que o ho-
mem encapuzado gostava para o início da manhã. Aparentemen-
te um grupo de bêbados tinha virado a noite na taverna e não ti-
nham a intenção de parar mesmo com os raios solares de Ormuz
já despertos. Os homens, misturados àquela turma, gritavam e
pediam para que um amigo bardo, provavelmente conhecido na-
quela mesma noite, repetisse a história sobre o homem – Deus, a
grande lenda de Arabel.
O contador de histórias, já bem sem controle do seu corpo
físico devido ao excesso e álcool que tinha ingerido por toda ma-
drugada, resolveu subir ao palco e pedir a atenção de todos no
bar para que escutassem a história do ruivo de Hansbarden Arnen.

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Quase ninguém lhe deu atenção, mas ao ouvir o nome da cidade
por onde morou por anos, o homem de capuz resolveu prestar
atenção na encenação que ocorria, atabalhoadamente, no palco
da taverna. O bardo, com toda teatralidade necessária, incluindo
mudanças na tonalidade de voz e a realização de sonoridades com
partes do corpo, iniciou o monólogo:
– Diz a lenda que um homem nasceu em uma das menos
avançadas raças humanas de Arabel, os ruivos. A pausa dramática
fez alguns anões que ainda faziam barulho, pararem de conversar
para escutar a história mais do que conhecida, mas que todos ad-
miravam por toda Arabel. O bardo, percebendo que tinha conquis-
tado um público maior, prosseguiu animado:
– De peles sardentas, volumosos cabelos crespos e traços
grossos, os integrantes da raça ruiva vivem em tribos selvagens
e se organizam de forma primitiva. Por sua forma de vida, os
ruivos se ligaram muito aos Orcs, que lhes transmitiram muitos
conhecimentos como a técnica de cavalgar em rinocerontes. Dy-
lan, o bardo, fazia questão de emitir sons grotescos e deslizar a
voz em declínio no final de cada frase encenando para o público
ao introduzir quem eram os ruivos.
– Como vocês já devem saber, nas terras dos ruivos, quem
governa são as mulheres e elas são guerreiras formidáveis, as maio-
res de toda Arabel, pois desde crianças aprendem as artes marciais
enquanto os homens ficam em casa cuidando da proteção do lar.
Ao citar os valores de gênero na comunidade ruiva, um
anão barbudo bradou de uma mesa ao fundo:
– Fica tranquilo, camarada! Não precisa desses detalhes. A
gente sabe como funcionam as coisas entre os Homens Ruivos!
Sempre fracos e submissos às mulheres!
Os anões riram efusivamente o que quase fez a narração de
Dylan se perder. Pedindo licença para continuar a falar, o bardo re-
tomou a lenda, bajulando diretamente os anões, apontado para o
muque que eles possuíam, no intuito de que eles ficassem calados:
– Bem, assim, como nossos amigos anões que nunca fo-
gem à guerra, uma ruiva não aceita derrotas e só volta para casa
quando cumpre seus objetivos que as fizeram lutar. Por serem
duras e severas, não toleram fraquezas o que as fazem despre-
zar os homens de sua raça. Todavia...

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O bardo fez o suspense necessário para que o completo
silêncio se fizesse, pois, aquela era a parte da história que toda
Arabel não cansava de ouvir:
– Existiu um grande mártir na era passada, um homem rui-
vo, para qual tem sido erguidos estátuas e templos em todas as
metrópoles humanas em sua homenagem. Seu nome era: Agda-
ren, o Irrecuável!
Um suspiro de admiração foi ouvido nas mesas de homens
quando pronunciado aquele nome. O Bardo, se deliciando pela
atenção recebida, continuou:
– Este homem da raça dos ruivos, há algum tempo, na pri-
meira guerra realizada contra os Constructos, tomou a decisão
de ir à luta, largando seus afazeres domésticos! Derrubando os
enormes golens de metal com sua espada, Agdaren, na primeira
fila da infantaria da batalha as portas do muro de Hansbarden,
quando todo o exército já havia recuado por acreditarem que
não eram capazes de derrotar os golens, venceu sozinhos os
constructos. Agdaren lutou até entrar em torpor e salvou todos
aqueles que fugiram, pois se ele não se sacrificasse, os golens
seguiriam os demais e adentrariam a maior metrópole humana
de Arabel, provocando a destruição da raça humana
Todos os bêbados humanos já se encontravam encantados
pela narração barda o que fez Dylan imediatamente bajulá–los:
– Agdaren salvou Hansbardem e por isso eu digo: Ele era o
próprio Aeon encarnado! Muitas passeatas e procissões narran-
do a cena da glória de Agdaren são feitas até hoje para homena-
gear o homem Deus. Tudo o que os humanos fazem é realizado
em nome de Agdaren. O homem ruivo, selvagem e do lar, foi ido-
latrado como o maior dos homens!
– E onde foi parar Agdaren? Um anão de barbas pretas que
acompanhava a narração do balcão se atreveu a interromper Dylan
quase em sua conclusão e questionar o contador de maravilhas.
– Os seus fiéis não sabem! Respondeu o bardo feliz com a
pergunta que deixaria um belo gancho para o mistério que que-
ria manter. E finalizou seu conto fantástico:
– Quando voltou da luta, enquanto ainda era agraciado por
todos os humanos, a primeira atitude de Agdaren foi ascender aos

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céus e se tornar estrela! Dizem, inclusive, que o ruivo explodiu ao
olhar de todos os humanos, tornando–se Deus junto a Aeon!
Toda taverna estava maravilhada com a história do Bardo.
Menos um homem com gosto de cerveja de café na boca.
– Não foi isso que aconteceu. O humano levantou do bal-
cão tomando o último gole de sua bebida e dirigiu–se até o palco
onde os bêbados se deleitavam com a história.
– Ah é? Questionou o bardo. Será que alguém ousa saber mais
que Dylan, o bardo de toda Arabel! Tenho um concorrente anôni-
mo! Brincou o bardo confiante que ninguém naquela manhã con-
seguiria narrar acontecimentos melhor que do que ele tinha feito.
Suas moedas estavam garantidas quando passasse o chapéu.
O homem ignorou a provocação e aproximando–se disse
em tom sério, quase nada encantador ou atraente:
– Agdaren ao retornar da batalha disse que aquela ostenta-
ção de seu nome era insana e tais homens deveriam pensar mais
em suas forças interiores e não elevá–lo como um Deus. Ele disse
que era apenas um humano e queria voltar para suas atividades
no lar como qualquer homem ruivo. Como não tinha mais paz,
tentou– se disfarçar e mudar de identidade, pois o estorvo gera-
do por seu nome era absurdo.
Os bêbados, principalmente o grupo de anões, fizeram um
segundo de silêncio tentando compreender o que haviam aca-
bado de escutar. Após se entreolharem surpresos com a nova
narração, uivaram de risos e gargalhadas.
– Temos aqui o mais novo comediante de Arabel! Bradou
um bêbado! – E ele é bom! Gritou outro humano enquanto der-
rabava sua cerveja em suas próprias vestes.
Toda a taverna ria com a nova versão do final da história
mais contada de Arabel, fruto de livretos para as crianças desde
o início da Terceira Era. Incomodado com as gargalhadas o ho-
mem retirou a boina que cobria seus cabelos e parte da face e
mostrou sua cara sardenda e ruiva:
–É verdade! Eu sou Agdarem! Foi isso que fiz após destruir,
em torpor, os golens!
Mais um segundo de silêncio se fez no enorme galpão da ta-
verna–navio. Agora todos que estavam presentes, inclusive as gar-

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çonetes, prestavam atenção no diálogo que ocorria no palco. Dylan
chegou a sentir uma pontada de inveja por todos estarem encaran-
do aquele seu concorrente em histórias fantásticas, mesmo saben-
do que aquele final da história do Irrecuável, era o pior que já tinha
escutado em todos seus anos de bardo.
Em meio a uma nova rodada de olhares, os anões presen-
tes ao estabelecimento estouraram suas gargantas em altas gar-
galhadas fazendo toda a taverna explodir em risos e gozações.
– Quer dizer que você é Agdaren? Ruivo, você é muito bom
comediante! Rustles, leva ele para fazer uma apresentação em
nossa terra. Os anões vão adorar esse homem!
Suspirando, o homem vestiu o capuz e foi embora do bar
deixando os bêbados com suas cervejas e gargalhadas.
Ao pisar nas areias no caminho que levava a entrada da taver-
na percebeu que o calor estava intenso e que estava sem a boina
que protegia sua pele frágil do sol. Ao movimentar–se para vesti–lo
sentiu receber uma pancada, em rompante, na parte de trás da ca-
beça. A boina cobriu seu rosto, enquanto caia lentamente. O ruivo
foi levado sem conseguir ver quem tinha lhe atacado. Pela altura do
golpe apenas imaginou que o vulto era de um inimigo grande. Ao
girar enquanto caia avistou uma embarcação enorme atracada no
mar. Conseguiu apenas ler Safira, grifado de vermelho na madeira
do navio, antes de desmaiar.

Capítulo 4 – Vulpes, a Raposa


A carta do Grande Mago Sur chegou às mãos do jovem Rei
Ringo no reino Ringtrintarktrongdum, por meio do Mago men-
sageiro, Obertan.
A cidade dos relógios era espantosa em sua gigantesca
verticalidade de torres dos seus mais variados tipos. Obertan, o
mago mensageiro, chegara ali pela primeira vez naquela manhã
e realmente estava com os olhos arregalados – como haviam
dito que ficaria – ao conhecer a terra dos gnomos. Não era fácil

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uma autorização pra estar naquelas terras, apesar de o Rei Ringo
ser menos rígido que seu pai, para essas permissões. Tudo ali era
desproporcional. Os imensos contadores de tempo espalhados
por toda cidade contrastavam com as pequenas criaturas que lá
habitavam. Cada relógio possuía um formato, um material e mar-
cava um tempo diferente. Era possível ver logo após os portões
de Ringtrintarktrongdum, três relógios idênticos de um material
avermelhado parecido com pele de Dragão. Cada um apontava
para uma hora diferente, mas quando os ponteiros do relógio do
meio se posicionavam sobrepostos os outros dois laterais gira-
vam desordenadamente. Do outro lado da estrada trilhada em
direção ao centro da cidade dos gnomos, uma enorme torre cir-
cular com um relógio que tinha a face virada para o céu, parecia
espelhar o sol claro de Arabel. Obertam tentou reparar em tudo
enquanto não chegava aos aposentos do Rei, mas não conse-
guiu focar o olhar tamanho a confusão de ponteiros apontando
para todas as direções e barulhos diversos de cuco que criavam
o ambiente caótico de Ringtrintarktrongdum. Para completar,
enorme dirigíeis sobrevoavam o ambiente parecendo ser o meio
de transporte preferido dos gnomos.
Em um rápido olhar para fora da Torre do Relógio enquan-
to o Rei Ringo, que lá habitava, lia a carta que acabara de chegar
em suas mãos, o mago mensageiro avistou pela janela uma com-
prida construção de ouro. O relógio a vista da Torre do Rei era a
construção mais bonita que o jovem mago já havia visto. Todo
ornado pelo dourado das peças de construção, o comprido reló-
gio possuía cristais e diamantes espalhados por sua decoração.
Gigante em seu comprimento, que mais lembrava um edifício de
Hansbarden Arnem, o relógio de ouro reluzia sobre o sol claro
que era mais visível naquela terra do que o sol escuro de Arabel.
Um detalhe por fim chamou atenção de Obertam. Contrapondo
a toda beleza da torre, o relógio em si ao topo da estrutura de
ouro era bem simples. De madeira muito rústica, velha e empoei-
rada pelo tempo, os ponteiros mexiam lentamente, parecendo
estar em um ritmo diferente dos demais. Era incrível com um re-
lógio daquele porte tivesse ponteiros tão velhos e mal–acabados
como aqueles que o jovem mago mensageiro, observava.

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– Nunca teria algo tão mal cuidado se essa cidade estivesse
nas mãos da Magocracia, pensou.
Despertando do encantamento que a visão aurífera lhe
causara, Obertam ouviu a voz suave e trêmula do pequenino rei
a sua frente:
– Está bem. Avise ao Mago Sur que estarei presente ao
Concílio de Ostri. Agora vá. Não quero intrusos olhando para os
meus relógios em minhas terras.
Fazendo reverência ao jovem gnomo, Obertam se despe-
diu ainda curioso com o relógio que acabara de ver.
Esperando o mago mensageiro sair dos seus aposentos,
Ringo ordenou a um de seus guardas:
– Chame, Reia! Agora!
O guarda se assustou em ver o rei falar naquele tom de ur-
gência.
– Quero vê–la, imediatamente.
...

No palacete dos gnomos, uma mulher, visivelmente mais


alta que todos os seres dali, adentrou o salão.
– Mandou me chamar, senhor do tempo, Rei dos Reis, Rin-
go de Ringtrintarktrongdum!
A moça falava em posição de curvatura e com a cabeça
abaixada deixando aparecer apenas seus cachos vermelhos.
–Pare com isso Reia. Você sabe que não precisa se dirigir a
mim assim. Fomos criados juntos. Confio em você mais do que
em qualquer gnomo dessa terra.
A ruiva saiu da posição de curvatura, mas manteve a cabeça
baixa enquanto não tirava o pequeno sorriso de canto de boca
que surgiu ao ouvir aquelas palavras. Sem mudar o tom de sua
voz inicial questionou:
–Precisa de mim, Majestade?
– Muito. Disse Ringo sem mais delongas.
– Venha até meus aposentos. Não quero conversar com
você aqui no salão oval. Ringo deu uma olhada para os guar-
das indicando que não queria ouvidos presentes na conversa
que teria com sua irmã de criação. Ambos adentraram o enor-

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me quarto localizado no segundo andar do palacete imperial.
Ringo sentou–se em sua cama e apontou o sofá lateral de três
espaços para que Reia se acomodasse. A diferença de tamanho
entre os irmãos era visível e sentada no pequeno sofá de ma-
deira do Reino do Relógios ficou mais evidente que Reia não
era nascida naquele mundo que habitava momentaneamente.
– Reia, acredito que o momento que nosso pai nos alertou que
chegaria quando do seu leito de morte, está prestes a acontecer.
– Ringo! Pare com isso. Seu pai estava doente e estava de-
lirando antes de partir. Não existe a menor possibilidade de os
gnomos deixarem de existir. É impossível destruir a energia feé-
rica que habita neles. Isso foi alguma ideia estapafúrdia que foi
plantada na cabeça dele.
– Trêmulo, o jovem rei que assumira de forma imprevisível
o trono após a morte surpreende de Randum III, parecia não
concordar com aquelas palavras suaves da moça ruiva.
– Leia a carta que o Mago–Sur enviou ao reino. Se os magos
estão preocupados é porque algo muito sério está acontecendo.
Os olhos da ruiva misturavam brilho e espanto com a con-
vocação do Concílio de Ostri.
– Está realmente acontecendo. Vociferou em voz baixa
tampando o som que saia de sua voz com a carta enviada pelos
magos, cuidadosamente posicionada frente aos seus lábios. O
Rei Ringo inquieto ia de um lado a outro do espaçoso cômodo
em que repousava todas as noites.
Quando os bardos começarem a dar notícias sobre as deci-
sões tomadas por esse Concílio, Reia pode ser o meu fim. Como
somos uma terra fechada, consigo segurar os boatos até a reu-
nião no Vale das Garras, mas tenho certeza que os gnomos me
cobrarão uma decisão sobre os relógios, como cobraram do meu
pai quando tiverem notícias sobre a Banalidade que aumentara
em Arabel. Se nós estivermos ameaçados, e a nuvem negra che-
gar até aqui, talvez não nos reste outra opção a não ser ...
– Pare Ringo! Você sabe que isso não é opção!
– Quando você chegou aqui Reia, nós dois éramos muito jo-
vens. Você sempre foi mais esperta do que eu. Preciso de sua aju-
da. Se nosso pai ainda estivesse aqui saberia o que fazer.

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–Seu pai não está aqui, Ringo, mas eu estou. É óbvio que
vou ajudar. As palavras saiam da boca da jovem com gosto. Foram
anos perdidos de sua vida para ganhar o grau de confiança que
agora finalmente lhe serviria. A ruiva aproximou–se e pôs o peque-
no gnomo no colo.
–Quando você veio parar aqui, Reia, meu pai teve que bancar
uma briga enorme com os sábios dessa terra. Sorte nossa que eles
quase não saem das torres relojeiras. Você sabe que os gnomos
não gostam de gente não feérica em suas terras. Mas ele conse-
guiu. Dobrou a todos e te criou como filha. Ele sim era o Rei dos
gnomos não eu.
– Ringo... A docilidade com que aquela voz saiu dos lábios
de Reia fez o rei atentar–se para a moça ruiva, deixando por um
momento a ansiedade de sua mente para trás.
– Eu posso ajudar, mas precisarei sair de Ringtrintarktrongdum.
A fala assustou o rei que se mexeu desconfortavelmente no
colo da garota.
– Você sabe que não posso Reia. A única coisa que meu pai
pediu antes de morrer é que nunca permitisse que você saísse do
reino. A preocupação que ele tinha com você era enorme. Ele te
amava muito.
– Observando que seu irmão olhava para baixo, Reia fez cara de
nojo ao escutar sobre Randum III. Recuperando a concentração do
asco que o seu falecido falso pai causara, prosseguiu:
– Pela carta do Mago–Sur não há mais opções, meu irmão.
Reia falava isso de forma extremamente sedutora enquanto pas-
sava as mãos nos cabelos cacheados do rei.
–Se não for dessa maneira, os gnomos te tirarão do posto de
governo e realizarão com suas próprias mãos aquilo que não deve
ser feito.
– Mas Reia...
– Ringo eu preciso, ir. Pela... Garantia de existência do nosso
povo... o povo gnomo. Reia parecia divertir com as mentiras que
contava. A garota nunca teve pudor em manipular as pessoas para
aquilo que ela queria. Prosseguiu, calmamente:
–Você é quem decide, Majestade. Mas creio que já sabe o
que deve fazer.

39
Ainda no colo de sua irmã de criação, o pequeno rei levan-
tou os olhos e abraçou Reia efusivamente.
– Você procurará aquele homem que te deixou aqui, não é ?
Naquele momento o rei dos gnomos parecia uma criança nos bra-
ços de sua mãe.
– Sim, Rei Ringo. Ele está com algo que pode nos ajudar.
Assim que estiver de posse do que preciso encontrarei você no
Vale das Garras, na união das luas cheias, para o Concílio de Ostri.
–Tem certeza de que o ele possui será útil ? Sempre ouvi
você falar disso, mas nunca entendi direito como a posse de algo
tão pequeno pode nos ajudar.
–Eu garanto irmão. O que ele possui pode salvar qualquer
criatura feérica desse planeta.
–Ainda desconfortável com a decisão que se via forçado a
tomar, Ringo fez um sinal de positivo com a cabeça.
–Vá escondida, Reia. O povo de Ringtrintarktrongdum não
pode saber de sua saída. Irei dizer que passará um tempo comi-
go aqui nos meus aposentos para o planejamento das festivida-
des em agradecimento a Colheita. Todos sabem que não consigo
organizar este evento sozinho, mesmo.
–Eu estarei lá, Ringo, no dia do Concílio. Aguarde–me. Vol-
taremos junto para casa.
Arrumando seus cabelos ruivos para baixo de um manto
grosso marrom, Reia sorria como há muito tempo não conseguia.
–E fique tranquilo, vossa majestade. Ninguém saberá que
saí da terra do gnomos. Não é possível me pegar com facilidade.
Cruzando os portões de Ringtrintarktrongdum de forma
furtiva, a mulher soltou os cabelos ruivos cacheados apenas
quando chegou ao sahel amarronzado que indicava o início das
terras dos gnomos. A saída foi facilitada pelo próprio Rei Ringo
que resolveu se dirigir até os portões da cidade o que causou
grande atenção da população e preocupação dos guarda. Fa-
lando para si mesmo com um ânimo que há muito tempo não
experimentava, balbuciou:
–A velha Vulpes está de volta! Aguarde Navarro! Katlheen
Fox Vulpes irá recuperar o que é seu e sair desse reino maldito!
Finalmente livre! Juro que se alguém me chamar por esse nome

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horroroso de Reia, mais uma vez, arrancarei a língua do pequeno
idiota que se atreve. Odeio Gnomos!
Pela primeira vez a garota estava sozinha desde que chegara
àquelas terras. Não tinha sido uma viagem fácil até Arabel. Não
depois que Navarro descobrira que ela e Quiron estavam no Safira
do Oeste no dia de transporte do menino curador. Ringtrintark-
trongdum havia sido sua morada desde que o pirata a trocou em
um acordo escuso com Randum III selado pela condição de que o
antigo Rei Gnomo nunca permitisse que Vulpes saísse da cidade
dos Relógios. Ao olhar pra trás e ver os relógios serem escondidos
pela tempestade de poeira que iniciava, Vulpes suspirou profun-
damente ao sentir o vento bater em suas finas canelas. Seguiu em
frente sabendo exatamente o que queria: encontrar o Geneticista.

Capítulo 5 – Navarro, o Pirata.


– Ferida, guarde o ruivo no navio antes que alguém apareça!
O enorme corcunda resmungou por sempre ter que carre-
gar de tudo para Navarro desde que embarcara na Nau dos In-
sensatos com Vulpes e ter sido descoberto, há tempos.
– Já disse que não gosto desse apelido, Pataneone! Maldita
hora que entrei nesta embarcação! Bradou o já velho corcunda
ao acomodar o homem ruivo na proa do navio quando parou um
segundo para descansar ao lado de Gargantua.
– Pare de reclamar corcunda e faça seu trabalho. Se não
fosse Capitano, te arranjar um serviço no Safira do Oeste já es-
taria morto há muito tempo nesse mundo. Com essa sua apa-
rência, com essa ferida na cara, seria facilmente confundido com
qualquer aberração desse planeta!
Quiron balbuciou grunhidos de raiva:
– Você diz isso por que ele me passou o serviço que era seu,
seu velho ascoroso!
– Tem vantagens em andar a muito tempo com Capitano! E
me respeite, Ferida! Agora sou chefe de bordo da Safira do Oeste.

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–Vamos Marujos! Parem de conversa fiada e vamos partir.
Capitano cultivava o velho hábito de ser o último a entrar em seu
navio antes de alçar velas. E prosseguiu dirigindo–se ao gigante
ao corcunda:
–Hoje não teremos apresentação nessa taverna! Encontrei
algo muito melhor do que as moedas que poderiam nos oferecer.
Navarro apontou feliz para o homem ruivo que desmaiado
era conduzido para dentro da embarcação.
–Vamos pela costa, pois não quero enfrentar alto mar nesse
momento. Preciso primeiro conversar com o ruivo para saber se
ele vai topar.
A Safira do Oeste partiu rapidamente enquanto os anões e
demais bêbados ainda riam de histórias de Dylan, o Bardo que ga-
nhara bons trocados na Taverna da Nau Encalhada.
...

Dentro da embarcação, Agdaren começa a despertar da


forte pancada que recebera na cabeça. O ruivo abriu os olhos e
viu toda o cômodo em que estava se mexendo. Achou que ainda
estava em um sonho, mas acordou definitivamente quando Parta-
gruel virou um balde de água em sua cabeça.
–Acorde ruivo! Capitano quer falar com você!
Agdaren tentou mexer as mãos e os pés, mas percebeu que
estava amarrado. As lembranças começaram a vir em sua mente
quando entendeu que não estava mais na taverna com os anões
ouvindo as histórias fantásticas de Dylan, o Bardo. Seu corpo ba-
lançava mesmo estando parado o que fez o ruivo deduzir que se
encontrava em movimento. Angustiado, o ruivo debateu–se ten-
tando se livrar da prisão momentânea em que se encontrava.
–Bem–vindo, Agdaren, o Ruivo! Você está na Safira do
Oeste! Capitano entrou no porão de seu navio alegre como
de costume. É um prazer carregá–lo em minha humilde em-
barcação!
Agdaren tentou se desvencilhar, mais uma vez, das cordas
que prendiam seus pés e mãos, mas não conseguiu.
–Ruivo! prosseguiu Capitano Desculpe, os maus tratos de
meus marujos. Não tenho o menor interesse de te manter preso.

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Na verdade, não faço isso com ninguém. Te soltarei imediata-
mente! Só peço que não entremos em conflito. Tudo que fiz foi
para sua proteção. Você estava falando demais naquela taverna.
Agdaren estranhou o tom próximo e fraternal que o seu
sequestrador falava.
– Tenho a palavra de Agdaren, o Ruivo que ele não me ata-
cará se eu soltar seus calcanhares e punhos? Sei que na tradição
Ruiva a palavra vale mais do que tudo por isso confiarei se você
disser que sim.
Agdarem meneou a cabeça para o lado ainda desconfiado,
mas finalmente consentiu a Capitano que não reagiria caso fosse
desamarrado. O Pirata galáctico assim o fez.
– Agdarem! Capitano aproximou–se do ruivo parecendo
querer abraçá–lo. Você não faz ideia há quanto tempo te procuro!
Que lance de sorte você ter se revelado justamente na Taverna
da Nau Encalhada! Realmente não esperava isso quando atraquei
a Safira no intuito de ganhar os trocados com a apresentação do
meu grupo de bardos, o Commedia dell´arte.
O ruivo parecia confuso com as palavras do pirata que nun-
ca havia visto na vida. Mais estranho ainda era o fato de aque-
le homem ser o primeiro em toda a Arabel a tratá–lo como se
realmente ele fosse o Deus das lendas. Ninguém nunca tinha
acreditado naquilo quando ele ousava falar que era o ruivo das
histórias passadas.
–Desculpe te pegar assim a força, mas você está sendo es-
perado em Hansbarden Arnen.
– Nunca voltaria para aquele lugar. Resmungou mais para si
do que pra Capitano, o bravo ruivo.
–Ruivo, Ruivo... alguém lá está à espera de você. Tem algo
importante a ser realizado em Hansbarden que necessita do
guerreiro que foi um dia.
–Não entendo por que você trata isso como verdade. Nin-
guém acredita que sou Agdaren. Sempre fui desprezado segun-
do os “sábios” desse planeta poder por ousar me comparar ao
Deus da cidade dos Humanos.
–Meu caro, ruivo! Não sou um homem de fé! Não creio em
divindades e por isso não as mistifico. Você fez o que deveria ter

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feito naquele momento. Não faço a menor ideia como conseguiu
destruir aqueles autômatos, mas fato é que conseguiu. Conheço
muitos lugares nesse universo pra saber que o impossível é só
questão de perspectiva de quem olha.
A conversa foi paralisada por batidas na porta do porão do
Safira do Oeste. Gargântua do outro lado da porta, gritou mesmo
sem Navarro abrir a tábua de madeira que separava o porão do
navio do corredor onde o chefe de bordo localizava–se:
– Capitano! O Navio do Mago conselheiro Mistra está cir-
cundando o nosso navio. Ele exige falar com o senhor.
Navarro coçou a cabeça dentro da sala e previu problemas.
Olhou para Agdaren e teve que decidir rápido. Mistra não estaria
lá sem motivo.
– Gargântua. Ordene a todos os marujos que entrem. Não
quero ninguém lá fora na proa do navio. Quero todos aqui dentro!
Falando baixo pra Agdaren, Capitano disse:
– Desculpe não haver tempo para lhe explicar muito coi-
sa, Agdaren, o Irrecuável. Queria poder ter uma noite regada
a vinhos para você me contar tudo que aconteceu naquele dia
em que salvou a cidade humana. Mas não haverá tempo. Se não
quer ir a Hansbarden, te proponho uma troca. Vá até o Reino
Dourado e procure pelo monge. Você entenderá tudo. Ele te aju-
dará a realizar o que precisa feito. Precisará de um disfarce para
chegar até lá, entretanto. Não creio que Mistra esteja aqui à toa.
Se cair nas mãos da Magocracia, nesse momento, passará gran-
des dificuldades.
Retirando um anel do bolso, Navarro, cuidadosamente co-
locou– o no dedo anelar de Agdaren.
– Nosso primeiro encontro foi mais rápido do que espera-
va, Agdaren. Te libertarei do disfarce assim que chegar ao Con-
cílio de Ostri. Fique aqui apenas mais alguns segundo enquanto
dispenso Mistra. Aguarde só mais um pouco, ruivo.
...

O mar estava mais agitado do que de costume quando Ca-


pitano chegou a proa do Safira do Oeste. Pirata experiente, Capi-
tano sabia que aquela agitação em aguas costeiras não era bom

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sinal. Mistra o aguardava já dentro de seu navio. Os magos po-
derosos de Arabel tinham a sensação de que tudo os pertencia e
que poderiam fazer o que quiser.
– Que honra o ter em minha humilde embarcação Conse-
lheiro Mistra! Em que posso ser útil! Capitano iniciou a conversa
com sua habitual cordialidade de pirata, mostrando saber exata-
mente o que estava fazendo.
– Alguns informantes da Taverna do Forte me disseram
que viram você sequestrando um homem de lá. Sei quem você
é Capitano e você não se exporia à toa. Não traria para sua nave
alguém insignificante. Quero saber quem é esse homem e se for
alguém do meu interesse quero que o entregue a Magogracia.
Capitano colocou seu riso de canto de boca, tão marcante.
O mar parecia se agitar cada vez mais, fazendo a Safira do Oeste
balançar lateralmente.
– Meu caro Mistra! A Magocracia realmente tem olhos e
ouvidos em todos os lugares. Realmente não posso mentir. Car-
rego uma figura importantíssima em meu navio. E proseguiu pla-
nejando cada uma de suas palavras:
– Agora não chame minha linda embarcação de nave, por fa-
vor! Principalmente hoje que estou aqui com Agdarem, o Ruivo!
Mistra sorriu ceticamente como era costume entre os sá-
bios magos.
–Não brinque comigo, Capitano! Você sabe muito bem
que esse ser é apenas uma lenda urbana da cidade dos Homens,
Hansbardem–Arden.
–É verdade o que digo Grande Conselheiro Mistra. Você
poderá ver com os próprios olhos. Deixarei você falar com Agda-
ren. Pode entrevistá–lo como quiser.
– Ótimo! Quero saber o que está escondendo por trás de
história mirabolante. Mistra dirigiu–se para dentro do navio
quando Capitano o interceptou.
– Só te peço um favor, Mago Conselheiro. Um troca na
mesma moeda. Algo simples. Preciso deixar um recado para um
amigo que está em suas terras. Um amigo que está estudando na
biblioteca de Magia. Alguém que você conhece muito bem. Pre-
ciso apenas que deixe um recado para ele telepaticamente. Pre-

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ciso deixar um recado para Arcanjo. Após isso, o ruivo que está
em meu porão será da Magocracia para o que quiser fazer dele.
– Você sabe Navarro que não preciso fazer nada em troca
para você para que tenha o que quero. Como conselheiro–mor da
Magocracia posso interceptar seu navio a hora que quiser.
– Pense como uma cordialidade, Mistra. Os Magos são
excelentes negociadores. Além do mais aquilo que vou falar a
Arcanjo passará por sua mente. Você saberá o que é. Não tem
interesse em saber o que preciso falar para o monge ?
– Realmente é sedutora a proposta Navarro. Mas pode-
ria mentir dizendo que entreguei a mensagem sem você saber.
Você sabe disso. Por que me interessaria que a mensagem che-
gasse a Arcanjo?
– O que vou falar ao monge, Mistra, te fará saber exatamen-
te onde Arcanjo estará após sair da Biblioteca dos Magos. Seria
bom saber onde ele estará no conflito que se aproxima. A carta de
Sur não é mais segredo em Arabel, Mistra. Acho que você irá que-
rer estar um passo a frente de Arcanjo quando o conflito estourar.
Capitano sabia lidar com os magos e principalmente com
suas ambições e interesse de controlar todas as situações. Na-
quele caso específico, sabia muito bem como ministrar a rivali-
dade entre os dois sujeitos, Mistra e Arcanjo, que conhecia há
bastante tempo.
Mistra se concentrou por um momento e balançou a cabe-
ça afirmativamente para que Capitano usasse de sua telepatia. O
Pirata iniciou.
– Arcanjo. Preciso que retorne ao Carvalho Dourado. A filha
de Glinterliff precisará de sua ajuda, pois um grande conflito se
aproxima. Estou com Mistra e não poderei ajudar mais.
– Só isso perguntou, Mistra?
– Apenas isso. Garantiu Navarro. – Agora vá, o ruivo é todo seu.
O mar parecia explodir com toda aquela agitação na águas.
A cor azul natural do oceano estava sendo substituída por um
marrom escuro. Navarro sabia que não era uma boa ficar parado
com o seu navio ali tão próximo da terra, pois o mal se aproxima-
va quando aguas litorais ficavam agitadas daquele modo, mas
deixou Mistra adentrar sua embarcação. Não antes de girar seu
curioso anel no dedo anelar.

46
...

Alguns minutos depois, Mistra voltou a proa do Safira do


Oeste. extremamente irritado.
– Navarro, não brinque comigo! Qual deles lá dentro é ele.
Todos estão com a sua cara, com seu corpo! Qual deles é o ruivo?
Qual deles é o verdadeiro você?
Mistra começou a preparar uma magia com as mãos para
jogar em direção ao pirata que ria, quando um enorme barulho
fez –se ao mar.
Um Tarasque gigante ergueu–se. O réptil tinha o dobro do
tamanho da Safira do Oeste e pelo menos o triplo da embarcação
oficial magocrática que havia trazido Mistra até aquele ponto.
–Eu sou todos e todos sou eu, meu caro Mistra. Mas acho
que agora temos um problema maior para administrar. Se quiser
enfrentar o Tarasque ele é todo seu. Eu sou pirata! Marujos toda
velocidade para o alto – mar! O réptil não nos seguirá até lá!
Dezenas de marinheiros com aparência de Navarro, puse-
ram–se a trabalhar agitadamente.
– Mistra logo se apreçou a agarrar Navarro com quem con-
versara e apontar seu Cajado para sua cabeça. Todos os outros
Navarros riram da cena e disseram:
– Quem disse que eu sou ele ? Quem disse que eu sou ele?
Dezenas de Navarro trabalhavam aceleradamente para co-
locar o navio rumo ao alto mar. O Tarrasque se erguia sobre o
mar, destruindo o navio oficial da Magocracia com apenas uma
patada o que fez os Navarros da Safira do Oeste acelerarem. Em
um canto da proa um daqueles Navarros tirou do bolso um pe-
queno livro. Em meio a toda a confusão gritou:
– Mistra! Não foi dessa vez! Não é possível me pegar!
O Navarro verdadeiro acenou para o mago enquanto rio
com o cenário de destruição que acontecia. O Mago conselheiro
ficou atordoado com a cena que via. Como seria possível? Sem
tempo para refletir, teletransportou–se do Safira do Oeste, an-
tes de o Tarrasque atacá–lo.
Comandados por Pantaleone travestido à imagem de Na-
varro, o Safira do Oeste alçou voo em direção ao Rio Gliterodum

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do outro lado de Arabel deixando o Tarrasque, para trás. Do alto
Hieronimus parou um momento de tentar adivinhar para que o
lado vento ia e se impressionou com a enorme aberração que
ficara pra trás.
–Ufa! Disse antes de continuar seus trabalhos de navegan-
te na Safira do Oeste rumo ao oceano.
...

Lá dentro do porão, Agdarem percebeu que algo havia mu-


dado em seu corpo. Olhou sobre o resto de poça, formada pela
água do balde que momentos antes lhes despertara, e viu sua
imagem não mais ruiva, mas sim com a aparência de um pira-
ta. Não um pirata qualquer. mas com a aparência daquela figura
que momentos antes conversara com ele. Conhecia aquele velho
truque de ouvir falar na Cidade Humana. O pirata havia transfor-
mado todos os marujos, inclusive ele, em dopolgangers – cópias
idênticas de sua imagem. Riu, por um momento da expertise
de Navarro. Olhou para o anel em seu dedo anelar e finalmente
compreendeu as últimas palavras do pirata com ele. Não imagi-
naria que o disfarce que usaria a partir de agora seria de Dom
Capitano Navarro.
Ao pousar no destino final conduzido por Pantaeone–Na-
varro todos os marujos retomaram sua forma original. Menos
Agadaren que continuava com a aparência do pirata comandan-
te do “Safira do Oeste” e com o anel preso ao seu dedo como o
Navarro original tinha colocado.

Capítulo 6 – Arcanjo, o Monge.


A Magoteca era tão grande que mais parecia uma cidade de
Arabel. Era impossível contar quantos livros, pergaminhos, folhe-
tos e jornais de todos os reinos tinham ali. Naquele espaço esta-
vam acumulados conhecimentos criados desde antes da primeira
Era de Arabel, ou seja, só na Magoteca existiam informações sobre
o Gênesis daquele planeta. Era impossível para um ser humano so-

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zinho conhecer tudo que existia no Labirinto dos Livros como era
conhecida a Magoteca pelos não magos. As altas estantes verti-
calizadas davam a sensação para o visitante de estar realmente
dentro de um labirinto. Era comum encontrar visitantes perdidos
quando saiam de perto do salão central que unificava todo o com-
plexo. A biblioteca foi desenhada orginalmente com o formato
de sol, sendo o salão central para a leitura o ponto de encontro
de todos os raios, as enormes estantes de livros. Todavia, essas
estruturas verticais subdividiam–se em novos caminhos ramifi-
cados que pareciam rumo ao infinito. A biblioteca sempre abria
quando Arduz o sol claro posicionava–se sobre o salão central e
fechava quando Ordiz, o sol escuro posicionava–se da mesma ma-
neira. Passar uma noite dentro da Magoteca sem a iluminação dos
sóis era certeza de se perder para nunca mais se encontrar. Os
magos não proibiam a entrada de ninguém ao templo do saber
que criaram, mas era pouco comum que outros habitantes de Ara-
bel frequentassem àquele lugar. Muitos tinham medo de ficarem
perdidos no Labirinto dos Livros. A Magocracia deixava claro que
quem se perdesse na Magoteca não seria procurado. Ali era um
lugar para entrar sozinho e sair sozinho diziam os sábios magos.
Assim, normalmente eram os próprios magos que usufruíam de
todo o conhecimento disponível, mas acessá–los não era tão fá-
cil. Era impossível olhar para cima e ver onde acabavam as estan-
tes. Os livros localizados na parte superior da biblioteca só eram
alcançados por magos que soubessem a levitação e não podiam
ser retirados das alturas. Aqueles que conseguiam chegar até as
Obras do Alto, como eram chamadas, deveriam lê–las lá em cima.
A Magocracia acreditava que certas obras, por sua qualidade, não
deveriam ser lidas em terra perto de outras criaturas, mas sim no
ar, onde a razão superior comanda. Mesmo que alguém conse-
guisse acesso as Obras do Alto, grandes dificuldades teriam para
lê– las. Normalmente os livros superiores estavam escritos em es-
crita original do povo que a redigiu. Os magos nunca foram adep-
tos a traduções. Acreditavam que fazia parte da busca pelo saber
aprender a decifrar novas línguas. Muitos que tentavam chegar
ao alto por outros meios que não há levitação dos magos – exis-
tiram pessoas com anéis mágicos ou até mesmo escaladores que

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tentavam – se deparavam, assim, com livros escritos em línguas
estranhas, de eras anteriores. Por vezes somente os altos magos
da Magocracia conseguiam entender o sentido do que estava es-
crito, onde muitos viam apenas desenhos e símbolos.
Um homem com roupas monásticas estava sentado à mesa
central da biblioteca lendo como fazia todas as manhãs daquele
último mês. Reparava em tudo naquele labirinto de livros. Algo,
todavia, chamava mais sua atenção. Diariamente alguns magos
levavam livros dali encaixotados para fora da Magoteca. Há uma
semana o homem monástico havia seguido um deles e percebi-
do que os livros eram levados para a Escadaria que estava sendo
construída perto dali: A Escada do Magos, rumo à Aeon. O ho-
mem monástico observara a conversa dos magos naquele dia:
– Mais um caixote preparado. Todos os livros pedidos pelo
Mago–Sur estão empilhados. Agora só faltam os livros que so-
mente ele consegue alcançar. Ele terá que vir a Magoteca.
O Homem capuz sentiu um aperto no peito. Tudo o que
mais queria era uma chance de encontrar o Mago–Sur. Mas aqui-
lo era raro. O Mago Supremo de Arabel é que escolhia normal-
mente com quem conversar. Outro mago, sem corpo, apenas
uma cabeça flutuante, bradou:
– Subamos as escadas com os livros! O conhecimento de
Arabel chegará a Aeon.
– Será que o momento do encontro com o Pai, finalmente
chegou? Um mago bem magro e de barba amarela–esverdeada
questionou.
– A preparação para a subida da escada até Aeon está em
ritmo intenso. Creio que viveremos sim em comunhão com o Pai.
A Banalidade avança sobre Arabel e até agora foi impossível detê–
la. A escada para Aeon é a rota de fuga certeira para nós magos.
O mago que possuía apenas uma cabeça parecia ter ascen-
dência sobre os demais e prosseguiu:
–De alguma forma Arabel merece consumir–se sobre o mal.
Não é possível viver sem ser acreditando no Deus Único. Aeon é
o criador de todos! É ignorância dos iletrados desse planeta pen-
sar que existem outras divindades. Lá em Hansbardem Arnem
tem até um ruivo que é louvado como Deus, vocês acreditam?

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Os magos riram dos humanos habitantes da cidade de Me-
tal e ansiavam por um dia, cada vez mais próximo, que subiriam
as escadas ao encontro do Deus Único. O homem monástico sa-
bia que o tempo estava ficando curto pelo poder que a Banalida-
de ganhara. Desde que voltou havia se deparado com a grande
nuvem negra variadas vezes. Mais do que nunca sabia que não
podia sair daquela região sem antes ter uma conversa com o pró-
prio Grande Mago Sur.
...

Naquela manhã, como de costume, o monasta lia os livros


que conseguia alcançar na Magoteca, esperando pelo momento
em que o Grande Mago–Sur fosse pegar os livros mais altos. To-
davia, foi submetido a uma mensagem telepática em sua cabeça
de uma voz que conhecia muito bem:
– Arcanjo. Preciso que retorne ao Carvalho Dourado. A filha
de Glinterliff precisará de sua ajuda, pois um grande conflito se
aproxima. Estou com Mistra e não poderei ajudar mais.
A voz era de seu velho companheiro Capitano Navarro e a
mensagem que o pirata enviara por um mago telepata tinha um
tom de urgência. Glinterliff não estava mais entre os vivos, mas Ar-
canjo se lembrava de uma última promessa feita ao Rei do Carvalho
Dourado: cuidar de Baramiel até que a dríade completasse seu ci-
clo de transformação e fosse forte o suficiente para dar conta de
lidar com todo o mal que habitava em Arabel. Além disso, Capitano
mencionava Mistra e Arcanjo sabia que aquilo não era por acaso. A
situação deveria estar apertada para o pirata. O monge por detrás
do capuz perdeu a concentração por um momento refletindo sobre
o teor da mensagem, não percebendo que, atrás de onde estava
sentado, uma barba branca começara a entrar no ambiente.
...

Passou algum tempo até que aquela barba branca ocu-


passe totalmente o salão central da Magoteca e revelasse o
rosto por detrás daqueles cabelos faciais que pareciam ter vida
própria: O Grande Mago–Sur. O velho mago ostentava uma bri-
lhante careca e vestia um esvoaçante e multicolorido manto

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tradicional da Magocracia bem ornamentado a ouro e prata em
suas bordas. Arcanjo assustou–se ao ver como aquela barba
havia crescido desde o último encontro como o Mago. Lembra-
va–se de Sur desde outras eras, mas parecia que aquele velho
barbudo somente tinha aumentado seu poder desde então.
Nenhum mago era mais poderoso em Arabel do que o Grande
Mago– Sur. A Magocracia seguia rigidamente a hierarquia do
saber criada por seus filósofos eras atrás e o comandante dos
magos era sem dúvida o homem mais sábio, e por isso podero-
so, entre os magos. Arcanjo não perdeu oportunidade e per-
cebendo a presença do Mago superior adentrando ao recinto
apressou–se em chegar perto de Sur.
–Poderia falar–lhe. Sussurrou o homem encapuzado de for-
ma cabisbaixa.
–Tire esse capuz, Arcanjo. Sei que está aqui a minha espera.
Arcanjo ergueu os olhos em direção ao mago e deixou cair
o manto encapuzado, que o cobria até os pés, cair ao chão. O
Monge sempre fora afeito a grandes apresentações ao contrá-
rio do que se possa imaginar de um clérigo tradicional. Extre-
mamente forte, Arcanjo ostentava há algum tempo um enorme
braço de metal na parte direita do seu corpo. O braço metálico
era realmente imponente.
–Vamos até as alturas. Conversarei com você lá em cima
enquanto faço o que vim fazer. Tenho pouco tempo e não posso
perdê–lo.
Sur envolveu Arcanjo em sua levitação e o levou até a zona
dos Livros Mais Altos, desconhecida até então pelo monge.
– Grande Mago Sur... Arcanjo tinha a mania de deixar um si-
lêncio entre suas falas. Acreditava que gerava mais impacto e ao
mesmo tempo ganhava mais tempo para escolher as melhores
ideias e melhores palavras que vinham a sua mente. Prosseguiu:
– É impossível destruir a Banalidade. Tentei atacá–la e não
adiantou. Vim pedir sua ajuda. É preciso que os magos intervenham.
– Há quanto tempo está trancado na Magoteca, Arcanjo?
– Cerca de trinta repousos de Ormuz.

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– Não sabe então que convoquei o Concílio de Ostri, então,
Monge?
Arcanjo se assustou com aquela notícia. Ficara tanto tempo
entre os magos no Labirinto dos Livros que não sabia o que estava
acontecendo nos demais reinos de Arabel. A mensagem de Navar-
ro começou a fazer sentido na sua cabeça.
– Confesso que não esperava isso, Mago –Sur. Pensei que
os Magos poderiam lutar contra a Banalidade. Reunir todos os
povos de Arabel para deliberar sobre o assunto pode assustar
mais do que ajudar.
– A Banalidade é uma ameaça, mas por enquanto é uma
nuvem apenas. Temos mais coisas para deliberar no Concílio, Ar-
canjo. Vivemos um momento tenso.
–Uma nuvem que só cresce Sur, e que destrói tudo por onde
passa, acabando com Arabel aos poucos. Estávamos juntos quan-
do o Concílio foi convocado na última era e os resultados foram
catastróficos. Cada reino deliberará sobre seu próprio interesse e
o caos tomará conta. A Banalidade pode até não ser a maior preo-
cupação de todos, mas é o mal que devemos enfrentar agora.
Será uma confusão este Concílio nesse momento! Não entendo
por que a Magocracia está abandonando a centralização de deci-
sões do poder em Arabel e....
Um estalo na mente fez Arcanjo compreender tudo e ligar as
pontas que não estavam fazendo sentido em sua cabeça.
– Vocês finalmente decidiram por subir a Escadaria, não é Sur ?
O Mago olhou para o monge enquanto separava os Livros
Mais Altos que lhe interessava.
– É possível que sim, Arcanjo. Essa é uma construção que
não temos certeza onde é o fim. A escadaria foi criada há muito
tempo por Hashwinders Storn. Ele e seu bando a construíram,
mas ninguém sabe se conseguiram cumprir o objetivo, pois
quando a escada passou pelo berço das fadas, já estavam muito
longe para os outros seres irem até lá descobrir e isto se tornou
um mistério para toda nossa classe. Mas muitos magos estão de-
cididos a iniciarem a jornada para chegar até Aeon.
–Então os magos abandonaram Arabel a própria sorte?
Arcanjo não estava contente em escutar o que ouvia e deixa-

53
va transparecer em sua face seus sentimentos com bastante
facilidade.
– Não é tão simples, Arcanjo e é por isso que vim conver-
sar com você apesar de você achar que você que queria con-
versar comigo.
O Monge parecia confuso com aquela conversa, mas sabia
tirar o melhor de cada situação. Sur Proseguiu:
–A maioria dos Magos tem fé suficiente para subirem as
escadas acreditando firmemente que encontrarão Aeon. As
minhas velhas barbas brancas já passaram por várias situações
inesperadas. Não que eu duvide da presença e da existência de
Aeon, o Criador, mas preciso ter outros planos se a caminhada
de ascensão não sair como esperado. Não posso permitir que
Arabel seja destruída caso os magos por algum motivo precisem
descer novamente.
– O que quer de mim, Sur. Não sei então o porquê de estar-
mos tendo essa conversa.
– Para muito aqui, Arcanjo, você ainda é o Deus de eras pas-
sadas. Sua palavra terá muito peso no Concílio de Ostri. Imagina-
va que você não seria útil, pois não participaria da reunião, mas
Mistra me contou da conversa telepática de Capitano com você.
Resolvi então acabar com sua angústia e comparecer a Magote-
ca para vê–lo. Deduzi que orientará a jovem Baramiel no Conse-
lho. Já que estará lá é importante que fale e que aquilo que fale
coadune com aquilo que eu quero.
– Não tenho o menor interesse em ajudar a Magocracia.
Vim te procurar, Sur como uma última tentativa de lutarmos jun-
tos por Arabel, contra a Banalidade.
–Podemos fazer isso Arcanjo. Podemos decidir isso no Con-
cílio de Ostri. Não sei se essa será a luta principal que o Conselho
achará que devemos investir. Estamos com muitos problemas
em Arabel. Mas qual for o mal que o Concílio decida enfrentar
precisa ser com recurso e investimento de todos. A Magocracia
sozinha não pode arcar na luta com a Banalidade ou com qual-
quer outro mal de Arabel. Não é nossa prioridade. A preserva-
ção da escada é o que nos interessa. Mas não quer dizer que o
nosso governo não possa apoiar as lutas desse mundo se esta

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for organizada e respaldada pela imagem de um antigo deus que
unifique os povos de Arabel.
– Era impossível medir o quanto daquelas palavras de Sur
eram verdadeiras, mas Arcanjo teve uma ideia que fez brilhar
seus olhos claros.
– Tudo bem Sur. Apoaiarei a Magocracia no Conselho de
Ostri. Conduzirei a luta contra o mal principal que for decidido
no conselho aos moldes do que a Magocracia deseja. Mas isso
lhe custará algo.
–É claro, Arcanjo. Ambos sabemos como nosso mundo fun-
ciona. O que você quer em troca?
– Mistra.
–Não posso matar um mago, Arcanjo. Mesmo que tenha
poder para fazer isso eu perderia minha legitimidade com os de-
mais da minha classe.
–Não o quero morto Sur. Quero–o em minhas mãos.
– Também não poderia sequestrá–lo, monge. Mistra é um
mago de grande ordem. Qualquer desaparecimento dele seria
sentido pelo Conselho Superior da Magogracia.
– Não quero que ele desapareça, Sur. Quero, apenas, que
a mente dele obedeça minhas ordens. Quero – o enfeitiçado em
minhas mãos.
Sur olhou para Arcanjo extremamente curioso com o pedi-
do do monge. Viu ali milhões de possibilidades.
–Realmente Arcanjo. Se passar o controle da mente de Mis-
tra para você, isso não me afetaria em nada no comando da Ma-
gocracia. Na verdade as ambições de Mistra sempre foi a de me
derrubar do comando, algo que obviamente nunca conseguiu, Se
eu fizer da maneira certa ninguém na verdade nem saberia. Mis-
tra somente seria sugestionado a fazer o que deseja. É um grande
poder Arcanjo. Teria um mago do nível de Mistra para você usá–lo
como quiser. Tornaria – o um escravo.
Sur parecia compreender as implicações e riscos do pedido
de Arcanjo. Mas sua percepção do cenário que se desenhava o fa-
zia refletir se o custo era válido. Não entregaria a morte de Mistra
ao monge, mas sim a vida. Sur sabia que a rivalidade entre os dois

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seres, que um dia já tinham sido amigos, ultrapassava os limites da
atual terceira era. Era preciso que o líder pensasse na segurança de
todos os magos a custa de entregar um. Um não tão próximo era
verdade, mais ainda sim um Mago. Não era uma decisão fácil, mas
um líder experiente como Sur sabia que tomar decisões difíceis
era necessário quando se pensava no coletivo que representava.
–Tudo bem, Arcanjo. Mistra será seu. Mas me apoiará em
qualquer proposta que eu fizer no Concílio de Ostri.
Arcanjo sabia que as cartas na mesa naquele momento es-
tavam altas. Concordou com o que tinha sido proposto até ali,
mas decidiu apostar mais.
–Para seguir completamente, e cegamente, o que propu-
ser no Concílio, Sur, quero algo há mais. Quero que a Magocracia
me absolva de crimes contra Arabel.
Sur soltou uma risada incomum.
–Arcanjo, Arcanjo. Sabe que anistia de crimes não é deter-
minada por mim, mas sim pelo Conselho Superior no Tribunal
Mago de Justiça. Anistia a crimes só são decididas por unanimi-
dades. Você sabe que os Magos Negros nunca permitiriam sua
absolvição completa.
–Peça um novo julgamento e deponha a meu favor, Sur.
Tenho certeza que com sua influência conseguiria uma bela re-
dução de pena, ao menos.
–Posso fazer isso dependendo do grau de boa vontade em
me apoiar no conselho, Arcanjo. Um golpe contra mim se aproxi-
ma e preciso de aliados. Se se mostrar íntegro a mim no conselho
posso pedir um novo julgamento para seus crimes. É o máximo
que consigo sobre isso.
Arcanjo não gostou da resposta, mas já era alguma coisa.
Além disso, a mente de Mistra estaria em sua posse. Valeria a pena,
pensou. Sur pareceu ler os pensamentos do Monge e prosseguiu:
–Então, estamos combinados, Arcanjo. Se cumprir a pro-
messa de me apoiar no Concílio de Ostri, a mente de Mistra será
sua logo após a reunião e pedirei aos magos para reabrir seu pro-
cesso de julgamento. Tenho meios de fazer isso, imediatamente
após o Concílio, antes de iniciarmos a subida.
–Fechado o acordo, Mago Sur. Coloque–me de volta ao
chão, agora, pois já estou enjoado de seus voos.

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Arcanjo mantinha um tradicional bom humor em momen-
tos de tensão.
– A inexperiente rainha Dríade está te esperando para
aconselhamentos. Te vejo no Conselho.
O mago e o monge retornaram ao solo da Magoteca e
seguiram caminhos diferentes. Para os presentes no salão oval
aquele encontro nunca ocorrera. Sur tinha tido o cuidado de
apagar a memória de curto do prazo de quem estava no salão
Sol quando saiu da Magoteca. Habilidades do mais velho e expe-
riente, Mago de Arabel. Sem perder tempo, Arcanjo seguiu em
direção ao Carvalho Dourado.

Capítulo 7 – Baramiel, a Dríade


Como de costume, a dríade Baramiel estava treinando
com seu arco naquela manhã. Filha de Glinterliff a jovem opta-
ra desce cedo por ser tornar uma dríade, realizando o sonho de
seu pai. Uma elfa para se tornar uma dríade, deveria ser filha de
uma árvore, da qual geralmente mora. Elas recebem a dádiva de
se transformarem em árvores e caminhar por elas como se es-
tivessem em uníssono com a natureza. No caso de Baramiel, o
carvalho foi sua árvore escolhida. A agora Rainha do Carvalho
Dourado, desde a morte de seu pai, Glinterliff, vive pelo verde da
Floresta Dourada, protegendo o reino élfico de sua família. Seu
treino diário foi interrompido pelo Soldado Griffin responsável
pela vigilância das terras do Carvalho Dourado desde antes do
nascimento de Baramiel:
– Senhora Baramiel A Rainha dríade, Senhora do Crepúscu-
lo Outonal está a caminho do Reino do Carvalho Dourado para
conversar com a senhora. Mandou as aves avisarem que chega
daqui alguns momentos.
–Imaginei que ela viria, Griffin. Depois da carta convocan-
do–nos para o Concílio de Ostri era natural que as dríades bus-
cassem um acordo em conjunto antes da reunião com a Mago-

57
cracia. Quando a Rainha Dríade chegar, mande–a entrar e me
aguardar no Palácio.
– Sim, senhora. Só mais uma coisa, Rainha. Jack pediu para
avisar que um velho amigo dormiu em seus estábulos essa noite.
Johannes chegou em nossas terras ontem. Também iria procurar
à senhora, mas acabou deleitando–se com as cervejas do estábu-
lo após a longa viagem,. Jack disse que ele ainda não acordou.
–Que alegria saber que Johannes está vivo, Griffin! Per-
demos contato na ilha de Gothã. Assim que acordar, peça para
Johannes me procurar no palácio. Você sabe se ele veio com
mais alguém? Drunked está com ele?
– Jack me informou que ele estava sozinha senhora.
Baramiel suspirou profundamente, mas sabia que o anão
que a acompanhara e a protegera em vários momentos de sua
jornada, saberia se virar. Era direito ele buscar o seu caminho.
Guardando o arco e flecha, a Dríade do Carvalho Dourado foi–se
arrumar para receber a visita esperada do dia.
...

– Senhora do Crespúculo Outonal! É um prazer recebê–la


em minhas terras. Entre. Podemos conversar mais tranquilamen-
te no Salão do Carvalho.
–Obrigada Baramiel. Fiz questão de vir pessoalmente te
ver. Você é a dríade mais nova surgida na última estação. Não
poderia te deixar sozinha em um momento tão difícil.
Baramiel conduziu a Senhora do Crespúculo Outonal para
o salão principal de seu castelo. O Palácio foi construído ao redor
de um Carvalho ancião, uma árvore muito antiga que é o ponto
central do salão. Aquele ambiente era diferente dos demais cas-
telos de Arabel por misturar a riqueza de um palacete com o am-
biente rústico da floresta. A Senhora do Crespúculo Outonal sen-
tou se à mesa atrás do Carvalho junto de Baramiel e a perguntou:
–Você, recebeu a Carta de Sur, não foi?
–Sim, Rainha. Recebi a convocação do Concílio de Ostri.
– Que ótimo Baramiel. Então você sabe que é por isso que estou
aqui. Precisamos unificar o pensamento dríade no conselho para ter-
mos forças para que as nossas lutas se transformem em conquistas.

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– Lutei contra a Banalidade em Gothã, Rainha, e não tenho
dúvida que ela é o maior mal que está nos céus.
– Eu também acredito nisso Dríade do Carvalho. Todas nós,
ligadas a elementais da Natureza, sabemos disso. Estamos mor-
rendo ao ver a Banalidade avançar por nossas terras. Por onde a
nuvem passa tudo se esvai. O problema é que homens de Arabel
não ligam para isso. Eles não veem a Banalidade como mal prioritá-
rio. Nem tão pouco secundário. Não tenho dúvida que no Conselho
não irão eleger a Nuvem como o mal maior de Arabel. E se isto se
confirmar, nós dríades, que dependemos da natureza para existir,
seremos estirpadas desse mundo.
Baramiel olhou para o carvalho ancestral que habitava
dentro do palacete e compreendeu bem as palavras da Rainha
do Outono. Sua Árvore não parecia mais com o mesmo vigor de
tempos passados e parecia desgastada e seca. O Carvalho fez
um estalo incomum naquele momento que fez a Jovem Rainha,
curiosa, voltar a prestar atenção na Senhora do Outono que es-
tava a sua frente.
– Venho então pedir–te. Não importa os que os homens te
digam. Não desista de defender a causa dríade. Precisamos mais
do que nunca nos unir. É hora das mulheres dríades de Arabel
decidirem contra quem lutar e de que forma.
– Sim Rainha. Estaremos juntas. É preciso, todavia, buscar
o apoio das fadas também. Todos de energia feérica em Arabel
devem estar unidos no mesmo propósito no Concílio.
–Você entendeu bem o que acredito, Baramiel. Que bom
poder contar com você. Procurarei imediatamente a Grande
Vaca para tentar selar esse acordo com as fadas.
– Obrigado pela visita, Rainha. Vemo–nos no Conselho, então.
– Até lá! Baramiel.
A Rainha Outonal saiu do Salão do Carvalho com a certeza
de ter costurado mais um acordo político necessário antes do
Concílio. Baramiel esperou a Rainha sair e olhando em direção ao
seu Carvalho que momentos antes estalaram, disse:
– Apareça Johannes! Sei que está em minhas terras e está
ai tentando se esconder entre os galhos do Carvalho. O ladrão
sorriu mostrando sua face.

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– O que me denunciou Baramiel?
–Você até consegue sumir aos olhos, Johannes, mas ainda
faz muito barulho! Brincou a Dríade com seu velho amigo conhe-
cido. Em tom fraternal continuou com a conversa:
– O que te trás aqui ao Carvalho Dourado?
– Baramiel tenho uma carta do Concílio de Ostri em minhas
mãos também. Sei que elas funcionam como convite de entrada.
Talvez poderia ir ao Concílio e ajudá–la no propósito de união
das fadas–driades–elementais da natureza sei–lá mais o quê que
acabou de falar.
Johannes sempre achou tudo àquilo que via em Arabel,
muito louco. O ladrão nunca se inseriu na realidade daquele
mundo de uma forma completa. Prosseguiu:
– Vim à procura de Arcanjo e vermos o que podemos fazer.
Nossa última tentativa de acabar com a Banalidade foi desastro-
sa, mas talvez com o apoio de todos os reinos de Arabel tenha-
mos mais sorte.
– O monge não está aqui, Johannes. Depois que saímos de
Gothã sem você e Drunked, ele se isolou no Labirinto dos Livros.
Não disse sua intenção, muito menos comunicou–se comigo nes-
se tempo. Baramiel falava com certa mágoa no tom de sua voz.
– Ele não está aqui, então. Que Pena! Disse Johannes balbu-
ciando as palavras.
A porta do Palácio do Carvalho Dourado rompeu–se dei-
xando entrar os raios solares da manhã. O monge adentrou o
palácio com os raios de sol a iluminarem sua face e refletirem no
seu braço metálico, dizendo:
– Eu não estava! Agora estou!
O monge aguardava do lado de fora do palácio escutan-
do a conversa de Baramiel e Johannes esperando o momento
certo para fazer uma entrada triunfal. Arcanjo possuía todas
as manias de grandeza que podiam existir nos seres de Arabel.
Sua personalidade digna e justa aprendida nos anos de monas-
tério coexistia com seu ego inflado pelas lutas vencidas em vá-
rias eras daquele mundo. Arcanjo possuía uma personalidade
única e suas atitudes eram impossíveis de serem previstas. To-
davia, guardava em seu coração um forte apego a seus amigos.

60
...

Os três companheiros jantaram e beberam uma caixa in-


teira de cervejas do estoque de Jack. O Mestre Cervejeiro apro-
veitara o momento festivo para tocar seu bandolim e agradar
os convidados com cantigas antigas de Arabel e outras músicas
que Baramiel nunca tinha escutado naquele mundo. Após a ma-
drugada invadir a noite e o reino todo parecer estar em sono,
Arcanjo dormiy exausto e propositalmente fechou os olhos que-
rendo mostrar certo desinteresse no Concílio e Johannes puxou
a conversa com Jack e Baramiel que permaneciam acordados:
Temos duas cartas–convites para o Concílio de Ostri...
– Isso pode nos dar uma vantagem. Disse Jack. São dois
votos a mais para defender nossos interesses.
– O único interesse desse concílio deve ser a luta contra
a Banalidade. Bradou, Baramiel com a firmeza de Rainha. Jack
prosseguiu:
– Se Johannes for com sua aparência normal ele será des-
coberto. Baramiel deixou suas lembranças vagarem.
– Se ao menos Ivin tivesse vivo. Ele poderia disfarçá–lo com
sua magia.
– Esqueça Ivin, Baramiel. Não tinha nada que podíamos ter fei-
to. Seu fim estava programado para ser naquela montanha.
– Era nosso parceiro, Johanes. Podíamos ter tentado um
pouco mais. Deixar Ivin e Arcanjo sozinhos contra todo aquele
exército não foi uma decisão certa
– Agora não adianta pensar em quem fez a travessia, Rainha.
Jack pronunciava suas palavras de maneira acolhedora. Precisamos
disfarçar Johannes de forma antiga, com maquiagem e roupas.
Diga–me, de quem roubou a carta–convite, Johannes:
– Esse é o problema, Arcanjo! Não faço a menor ideia. Rou-
bei de um mago mensageiro ainda não Ilha de Gothã. Mas não
faço ideia de para quem era destinada a carta.
– Provavelmente alguém do lado de lá dos anões. Somente
lá na hora saberemos de forma correta, mas já dá para termos
uma ideia. Jack riu em pensar Johannes vestido a moda de Gho-
tã. Johannes balançou a cabeça negativamente olhando para
baixo, parecendo advinhar o que Jack pensara.

61
Arcanjo foi cutucado para acordar a pedido de Baramiel.
– Preciso de sua ajuda. Monge.
Arcanjo sorriu levemente como se estivesse fingindo dor-
mir só para esperar aquele momento.
– Não será fácil. Baramiel conquistar o que quer no Concílio.
Em honra a Glinterlliff você me permite ser seu conselheiro?
– Não tenho dúvida que meu pai aprovaria, Arcanjo. Sei que
me ajudará a por o fim na Banalidade acima de tudo. Essa era a
luta de meu Pai, antes de falecer.
– É claro, Rainha. Lutarei por isso com todas as minhas for-
ças no Concílio de Ostri! Arcanjo deu uma pequena engasgada ao
pronunciar estas palavras. Sabia que estava formando teias de
acordos muito tênues que poderiam ruir a qualquer momento se
os interesses fossem divergentes. Mas sabia que valia arriscar.
– Os quatro amigos foram–se deitar cientes que duas das
três luas de Arabel já estavam cheias. Faltava pouco para que a
terceira lua brilhasse por completo e inicia–se o Concílio.
– Sairemos em duas noites rumo ao Vale das Garras. Boa noi-
te, meninos. Temos um tempo ainda para as cervejas de Jack que
tanto apreciam antes de encarar o dia em que decidiremos sobre
o futuro de Arabel. Mas não exagerem, preciso de vocês inteiros.
Bradou, por fim, Baramiel antes de ir dormir em sua árvore
mãe.

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PARTE II
Revisitas ao Passado

Capítulo 8 – Vulpes, a Raposa.


A mente de Vulpes não parava um segundo enquanto an-
dava pela Floresta Marrom que ligava o caminho escondido en-
tre a Cidade dos Gnomos e a Cidade dos Homens.
– ”Preciso encontrar Navarro. Preciso entender tudo que
aconteceu. Seria bom encontrar, Quiron novamente também.
Como faço para chegar ao Geneticista?”
Os pensamentos se multiplicavam na cabeça da raposa não
dando sossego a mente de Reia, ou melhor, Vulpes.
–“Repito para eu nunca mais esquecer! Nunca mais serei Reia.
Eu sou Vulpes. Eu sou Vulpes. Preciso voltar a ser o que eu sou. Pre-
ciso focar naquilo o que vim fazer aqui. Estou tão cansada”.
Vulpes tinha andado bastante e sua agitação era tão grande
por ter se libertado do cativeiro que se encontrava com os gno-
mos, que parecia ter subido por toda a Escadaria que levava até
Aeon. Mas ela ainda estava ali, na Floresta Marrom.
Tudo era extremamente pálido por aquelas terras de Ara-
bel. Hansbarden Arnem a cidade humana e Ringtrintarktrong-
dum, a cidade gnômica, eram as paisagens mais feias e desertas
de todo o planeta. A ligação dessas cidades era feira pela Flores-
ta Marrom que absorvia o que havia de pior nas duas cidades: a
poeira cinzenta das cidades dos homens e suas fábricas a e pai-
sagem desértica, seca e inóspita do vale deserto que abrigava
Ringtrintarktrongdum

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A mente de Vulpes parecia despertar de um sono profun-
do. Memorias pululavam na sua cabeça e a astuta raposa sentiu
necessidade de parar e recostar em um galho seco e tortuoso da
caatinga que se encontrara para organizar seus pensamentos. Si-
lenciando a mente por alguns segundos, Vulpes conseguiu respi-
rar. Ali parada retomou a ordem dos fatos.
A primeira imagem que veio a sua cabeça foi da chegada
em Arabel. Capitano Navarro percebeu que a jovem viajara na
embarcação assim que a Safira do Oeste partiu da Terra. Ao ver
aquela desconhecida em navio pirata concordou em levá–la até
Arabel em troca de serviços na cozinha do Navio. Até Quiron
conseguiu vaga como Marujo da embarcação e tudo transcor-
reu tranquilamente enquanto o Navio viajava a velocidade da
luz pelo universo de Nox. As coisas mudaram quando a Safira do
Oeste adentrou a atmosfera de Arabel. Uma nuvem, já em tons
magenta, tomava conta de toda a cidade e Vulpes plasmou na
mente a visão de rabo de olho que teve observando Capitano
levatando suas sobrancelhas com cara de preocupação.
– Foi ali que tudo mudou... Disse a si mesma ainda buscando
o melhor lugar para acomodar sua coluna juntos aos galhos tortos
do cambui–angico que encostara para o pequeno repouso.
A mente de Vulpes a fez passear em memória por todo en-
cantamento que sentiu ao vislumbrar Arabel pela primeira vez.
De cima o pequeno planeta era lindo. A sensação ao ver a escada
de Aeon pela primeira vez foi magnifica.
– Aonde aquela escada tão alta rumo a infinitude levava?
Será que era lá que encontraria o Geneticista? Pensou da janela
do “Safira do Oeste”.
Desde que chegara a Ringtrintarktrongdum, Vulpes guar-
dara o pergaminho que recebera na Terra enrolado em um colar
de madeira no formato de uma garra de urso que tinha esculpido
ainda quando estava no Navio de Capitano. Aquela era a certeza
da mensagem original do Geneticista para ela que garantiria to-
dos seus desejos em Arabel, quando encontrar–se o Geneticista,
estaria protegido de maneira segura, próxima a seu peito.
– Para levarem esse colar terão que me arrancar o peito
pensava. Já bastara perder o colar de Ouro com o sangue do me-
nino bento para Navarro.

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E seus olhos brilharam e ela lembrou daquilo que fizera
chegar até ali. Ela precisaria ainda recuperar o sangue bento per-
dido para Capitano. Vulpes recitou a carta que decorara há tanto
tempo quando recebera ainda era criança, ainda na Terra e que
guardava próxima a seu coração:
Você é Vulpes Kathelen Reinarh, escrava na Terra. Eu sou o
senhor de Nox, o Deus verdadeiro pra quem tanto reza. Preciso
que me entregue, no planeta Arabel, o sangue do menino bento
de Fomentera. É preciso que roube o sangue ainda na Terra e em-
barque no Navio Safira do Oeste no Porto de Fomentera as 6 da
manhã do dia 13 de janeiro de 1516 do calendário terrestre. Você
verá que tudo isso é verdade. Sei que não faria isso por ouro nem
prata. Sou o senhor da vida. Darei aquilo que você perdeu e tanto
sonha. Venha até Arabel e comprove com seus olhos que a Terra é
um planeta sórdido e pequeno. Você terá o que pede todos os dias
aos deuses desse planeta e que por fraqueza deles eles não podem
realizar. Eu realizarei. É hora da sua prova de fé verdadeira se quer
alcançar o que tanto sonha. Ass: o GENTETICISTA.
De onde estava sentada na Floresta Marrom, Vulpes conse-
guiu avistar a Hansbarden Arnen. Suas memórias voltaram a se or-
ganizar. Lembrou de quando sentada na proa da Safira do Oeste
fora arrastada até a cidade dos gnomos onde, horas antes, sem
entender o motivo Navarro tinha a trocado com o Rei por um ma-
quinário velho. Como aquele Pirata ousara lhe vender com escrava!
Vulpes lembrou da angústia de estar em Arabel repetindo a
condição que vinha da terra. Tentou fugir de todas as maneiras,
mas a cidade dos gnomos era protegida por alguma magia estra-
nha que fazia inclusive a cidade ficar invisível no meio do deserto.
Depois de alguma resistência viu que não sairia dali. Ai resolveu
fazer o que mais sabia. Mudou a estratégia. Encantou o rei Rin-
go que a criou como uma filha nos últimos anos até sua morte.
Vulpes nunca suportou viver com os gnomos. Mas já tinha idade
suficiente para saber que às vezes so se era possível sobreviver e
não viver. Era o que fazia nos últimos anos, até que o Concilio de
Ostri lhe dera a oportunidade de sair da cidade gnômica.
Será que realmente seu irmão acredita que era da família e
que iria ajudá–lo no Concilio de Ostri? Ele era fraco e desprepa-
rado para governar o reino, mas não era possível que seria tão
ingênuo. Era. Seu pai sempre comentou isso. Que se pudesse
passava o trono para Reia que saberia governar Ringtrintark-
trongdum , mas os gnomos nunca aceitariam passar os segredos
e a chave da cidade com seus imensos relógios para um estran-
geiro. Principalmente os sábios do relógio nunca aceitariam se-
rem governados por um não gnomo.
–“Isso não é mais problema meu”, pensou por fim. Agora
só preciso sobreviver e achar água o mais rápido possível.
Ao aproximar–se das margens do único porto que abaste-
cia a cidade dos Homens de Hansbardem Arnem e era o encon-
tro do Rio Vermelho com o oceano ao entorno da cidade dos
homens, Vulpes não acreditara na supresa que Nox a reservara.
Ali, do nada, a Safira do Oeste emergira aos seus olhos ruivos
brilhantes. Ela não acreditara no que vira. O Navio de Capitano
acabara de aportar naquele porto parecendo estar seus marujos
muitos desgastados depois de uma grande batalha. Já se faziam
quinze longos anos terrestres que Vulpes não via aquele navio
que tanto marcou sua vida.
Era hora de recuperar o que era seu. Vulpes apertou o pas-
so e dirigiu–se a embarcação.

Capítulo 9 – Ivin, o Mago.


E tudo de repente ficou escuro. Aquilo era morrer. Mas de
repente seus olhos reabriram. Estava nos braços do Mago Om-
baladom que fazia movimentos que ele nunca havia visto na sua
jovem vida maga. Ivin sentiu–se voltar a respirar com uma forte
entrada de ar que o fez suspirar de maneira bastante ofegante.
Mas já não era mais o mesmo.
...

Ao acordoar em rompante após um breve repouso, o sonho


de Ivin ao fechar os olhos era sempre mesmo. Lembrava todas

66
as noites de sua morte e de seu resgate pela Ordem de Todos os
Mistérios. O ser humano não lembra da sua primeira respiração.
O sujeito ainda não está consciente quando se é bebê. Todavia,
quando se nasce novamente após já ser adulto, tudo é memória.
Ivin tinha plena consciência de sua primeira respiração após o
ato de necromancia que o fez viver novamente. Se bem que ha-
via de se pensar se a experiência por qual passava dali em diante
poderia ser chamado de vida. Ao respirar pela primeira vez de-
pois de sua morte. Ivin reparou na fiterícia dourada colocada no
lugar de seu coração quando foi resgatado pelo Mago Ombala-
dom. Era aquilo que o mantinha de pé. A fé em Aeon o fazia pros-
seguir. Mesmo agora, como um necromante, Ivin cria que tinha
um propósito. Mas o pior de viver depois de morrer era conviver
pacificamente com suas memórias. E suas memórias lembravam
a todo momento quem o havia matado. O Mago Ombaladom o
avisara que iria esquecer o passado quando finalmente encon-
trasse a unicidade dos sóis que avistara naquela manhã passada.
“O poder da verdade” faria Ivin ver o quanto o excesso de
memória sobre sua morte seria insignificante dizia o mestre. Até
sua morte serviria ao propósito de Aeon e quando ele entendesse
isso toda dor sumiria. Aquela era a primeira noite após o mago
ter tido a visão da unicidade. A dor não havia passado. Ivin não se
esquecia do braço de metal do monge atravessando, silenciosa-
mente, seu coração quando seus amigos haviam se afastado. Ivin
não havia esquecido de que havia sido deixado para trás em Gothã
naquela fria noite que a Banalidade ampliou seus domínios sobre
Arabel. Archanjo não tivera piedade. Seu parceiro de luta naquela
aventura, até então seu amigo, não hesitou em tirar sua vida.
Mas ao mesmo tempo em que apagou naquela noite, sus-
pirou novamente. Já nos braços de Ombaladom fora ressuscita-
do pela necromancia e levado para as montanhas da Ordem de
Todos os Mistérios. Havia sido sorte, Ombaladon estar em Gothã
naquela noite. Apesar dos magos da Ordem de todos os Misté-
rios não acreditarem em coincidências, Ombaladon sempre disse
que foi Aeon que o orientou a descer das Montanhas de Barbária

67
e navegar em sua pequena canoa para realizar sua meditação na
floresta de Gothã naquela noite. Ele atravessou o mar para seguir
sua intuição. Ele fez o que destino o preparou para fazer durante
toda vida. Exercer a necromancia que havia aprendido para salvar
a vida de Ivin que era tratado por Ombaladom como filho.
Desde a segunda era a necromonacia não era exercida pe-
los magos. Fora a magia pecaminosa de ressuscitar os mortos
por encantamentos de objetos mágicos que afastou os magos
do Paraíso de Aeon segundo a crença damaioria dos magos da
Magocracia, a necromancia era a arte das trevas mais mal vistas
pelos magos. Todavia não era assim que a Ordem de todos os
Mistérios interpretava a arte de reviver dos mortos. A necroman-
cia era vista como uma forma de ressureição e ressurgir em Aeon
sempre foi objetivo de todos os magos. Algo para poucos, sim,
mas almejados por todos versados nas artes mágicas. Somente,
o filho primogenito de Aeon, pai de todos os magos fez uma vez
a ressureição e isso que havia o tornado eterno em comunhão
com o pai. O filho de Aeon, todavia ressuscitara de verdade,
sem objetos mágicos, puro nascimento após a morte. Esse era
o Sonho de todos os Magos da Ordem de todos os mistérios.
Ressuscitar como o filho de Aeon, Hashwinders Storn, o fez. A
ressureição seria para a ordem das Montanhas a única forma de
ascender verdadeiramente até Aeon e por isso o mago teria con-
seguido subir a escadaria e nunca mais voltar. A Escadaria era
também para os magos mais experientes um símbolo da cami-
nhada para a morte que só alguns magos estavam preparados
para realizar e prontos para morrerem e reviverem em Aeon. Vi-
ver com Aeon seria transcender. Mas a maioria da Magocracia
queria uma forma material de chegar até o Criador, por isso se
dedicavam a construção da escadaria de maneira objetiva como
se ao subisse pudesse encontrar Aeon de maneira direta e física.
Isso seria muito fácil, ensinara o Mestre Ombaladon a Ivin. Não é
assim que Aeon aceita e acolhe os escolhidos.
A Ordem de todos os Mistérios, todavia nunca conseguiu
transcender até a Aeon com a arte da necromancia. Sempre a res-
sureição feita necessitava de um objeto encantado que garantia
que o sujeito morto ficasse de pé. Com Ivin não fora diferente. Era
a fiterícia dourada no seu peito que garantia que o mago de Ar-
nandirah, o semi élfo desprezado, continuasse de pé. Ombaladon,
o Peregrino, todavia, sonhava, que alguém um dia pudesse vol-
tar dos mortos sem uma peça necromante. Não tinha acontecido
com Ivin. Ele precisou da fiterícia dourada no lugar do coração, o
que decepcionou parcialmente o Mestre. Ele esperou o máximo
que pôde para que Ivin voltasse sozinho, quase até o extinguir
completo do elixir da vida que se esvai quando a morte se dá. Mas
Ivin não voltou sozinho. A fiterícia é que o ressuscitou.
Ombaladon mais uma vez pensara naquela noite que,
quem sabe um dia, algum mago da Ordem de todos os Mistérios
finalmente ressurgisse sem objetos mágicos. Seria a prova que
aquela Ordem era de descendentes direto de Storm, o Mago fi-
lho de Aeon. Seria a prova cabal que eles sempre estiveram cer-
tos e que a Escadaria da Magocracia era mais instrumento re-
ligioso de domínio político do que a verdadeira espiritualidade
que a Ordem de todos os Mistérios defendia. A Escadaria para
o Aeon, todavia continuava firme de pé e pronta para ser subida
com afinco nas alturas do planeta Arabel.
Ivin sabia que a Escadaria fora criada há muito tempo atrás
por, Hashwinders Storn, o filho originário de Aeon e pai adotivo
do lendário Geneticista. Ele e seu bando a construíram, mas nin-
guém sabe se conseguiram cumprir o objetivo, pois quando a es-
cada passou pelo berço das fadas, já estavam muito longe para
os outros seres irem até lá descobrir e isto se tornou um misté-
rio. Os magos nunca mais arriscaram subir pra não voltar, afinal
comandar Arabel também trazia seus confortos e nem todos
queriam uma ascensão tão rápida. Todavia, agora com a Banali-
dade tomando conta, a escadaria voltara a ser uma opção para
o Supremo Mago Sur. Todas essas questões políticas e religio-
sas passavam na mente da Ivin após mais uma vez sonhar com
a morte que sofreu e a vida que ganhou na Floresta de Gothã.
...

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As memórias de Ivin sobre a tradição das Ordens Magas
foram interrompidas com o chamado do Mago Ombaladon; Era
chegada a hora de partir. A viagem para o Concílo de Ostri se-
ria longa e era preciso que Ivin descesse das Montanhas ainda
cedo. Ivin sabia que não seria fácil. Logo, o necromante seria
reconhecido e o boato de que estaria vivo chegaria aos quatro
cantos de Arabel. Imaginou por um segundo o rosto estupefa-
to de Arcanjo ao saber que seu golpe no coração não havia sido
fatal como ele deve ter imaginado que havia sido quando o fez.
De todo modo, seria bom esconder a fiterícia que o garantia
a vida. Ninguém precisaria saber que o mago mantinha se de
pé por aquele artefato mágico colocado por Ombaladon na flo-
resta de Gothã. Sua necromancia seria reconhecida pelos mais
familiarizados pelas artes mágicas, afinal sua pele seca e olhos
esbugalhados denotavam que ele havia passado por magias pe-
rigosas. Mas nem todos em Arabel eram versados em magia,
Valeria a pena esconder sua fiterícia de qualquer maneira.

Capítulo 10 – Agdaren, o Ruivo


Agdarem ficou estranhamente confortável no corpo de Na-
varro. Agora ele era o navegante chefe da Safira do Oeste enquan-
to o verdadeiro Capitano havia se despedido dele, momentos an-
tes no porto de Hangarben Arden pra cumpuir parte do acordo
que o ruivo havia feito com o mestre da navegação nos breves
momentos que tiveram no porto depois de fugir de Mistra e do
Tarrasque ao redor da Nau Taverna de onde fora sequestrado. Ag-
darem estava confiante. Se o plano de Navarro desse certo, o rui-
vo poderia ter a tranquilidade que tanto almejara. Mas ele precisa-
ria de esforço pra interpretar o pirata. Ainda bem que conhecera
vários em sua jornada para saber exatamente o ponto fanfarão
correto de como falar como um pirata. Além disso, o anel de Na-
varro que usava, e que o fez o transformar em um dopolganger do

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pirata espacial, também lhe concedia as memórias sobre as pes-
soas que capitano havia conhecido o que facilitava sua interpreta-
ção. Apesar que eram tantas memórias. Ainda assim, sua memória
pessoal misturava–se com a consciência de Navarro enquanto ele
tivesse travestido do pirata. Agdaren pela primeira vez experi-
mentara aquela sensação de ser dois em um. Ele já se prepara para
levantar voo para as terras de Glinterrif pra cumprir sua parte no
acordo quando uma voz suave o chamou com certa intimidade:
– Navarro, Navarro! Não acredito que os Deuses de Arabel
me fizeram te encontrar tão cedo. Parece que minha sorte virou
completamente.
Agdaren ficou extremamente desconfortável com aquela
voz feminina de raposa. O ruivo havia se concentrado nas infor-
mações sobre os amigos de aventura de Navarro que possivel-
mente estariam na terra druida, para que Agdaren pudesse se
manter no personagem, mas aquela voz surpresa o fez ficar mo-
mentaneamente acuado. A raposa prosseguiu:
– Não me reconhece mais, sequestrador. Tudo bem que já
faz mais de década que me escravizou nas mãos dos gnomos.
Mas não sou mais aquela criança...Acho que me reconhece pelos
cabelos rubros, não?
Agdarem, travestido de Navarro, tentou ignorar Vulpes que
aos poucos se formava na mente do ruivo como uma adolescen-
te que Navarro conheceu em sua última viagem a terra com a Nau
dos Insensatos. Agdaren reparou que aquela memória de Navarro
sobre Vulpes tinha lacunas e que não acessava tudo que se podia sa-
ber sobre aquela jovem ruiva. Isso dificultava aquela comunicação.
– Não se lembra mesmo de mim? Não faça de desentendi-
do, Capitano.
– Saia daqui garota. Não quero nada com você. Agdarem
falou de forma mais ríspida do que Vulpes estava acostumada a
reconhecer no estilo mais bonaçhão de Capitano Navarro.
– Não se faça de sonso, Navarro. Você tem algo que me per-
tence. Quero de volta. Não vai se livrar de mim tão facilmente.
– Não sei do que está falando. Respondeu Navarro tentan-
do se desvencilhar da garota indo em direção aos marujos do
Safira do Oeste.

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Vulpes puxou Navarro de canto e bradou de maneira brava:
– Você vai me contar agora onde escondeu o coração dou-
rado com o sangue do menino bento. Eu te mato agora aqui se
ficar calado!
Retomando o espírito de Navarro que se abria em sua mente
pelas memórias contidas no anel, Agadaren respondeu à altura:
– Ora, ora Raposa Vulpes! Eu se fosse você não ousaria me
ameaçar dentro da Safira do Oeste. Não seria...Inteligente.
Enquanto pronunciava tais palavras, a trupe maruja de Na-
varro se pôs a postos para defender seu capitão.
– Jura. Vulpes. Você irá me matar aqui. Com todos os meus
marujos ao seu redor! Navarro apontou pra que sua trupe abaixas-
se as armas, pois todos já cercavam a jovem raposa.
Vulpes se aquietou e percebeu que sua precipitação e ansieda-
de a fez dar um passo apressado em falso. Mas prosseguiu:
Você sabe que eu não vou descansar até recuperar o san-
gue, Navarro. Eu vou encontrá–lo e entregá–lo ao Geneticista
como vim aqui há quinze anos pra fazer e você me impediu não
faço ideia do por que!
Agdaren reconheceu aquele nome. O herói ruivo dos homens
nunca tinha visto o Geneticista, mas conhecia suficiente a história
do manipulador genético de Arabel originário do profundo Abis-
mo. Agdaren relembrou quanto em torpor destruiu os constructos
que ele havia derrotado tempos atrás e sempre desconfiou que o
Geneticista estivesse por trás dos construtos golens que tentaram
invadir Hansbarden Arnen. Como humano, o ruivo sabia bem a his-
tória que corria nas tavernas sobre o Geneticista que remontava ao
início de Arabel. Suas memórias, todavia, agora se misturam com a
de Navarro e novos detalhes apareciam em mente.
Próximo às civilizações humanas modernas de Hansbarden
Arnen existem linhas que as separam da zona proibida. Uma entra-
da pantanosa para o abismo. O Geneticista há muito tempo atrás
havia criado um laboratório lá e este perdurou depois de sua parti-
da, pois os habitantes de Arabel que vieram a desbravar esta terra
desconhecida a deixaram inalterada em respeito à ordem natural
do Caos e com receios de abalar as estruturas do orbe planetário.
Porém os homens, por muito tempo consideraram a região um mal

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que deveria ser erradicado e tentaram devastar o lugar com suas
magias radioativas manipulando a energia Gamma que lá era pro-
duzido. Isto chamou a atenção dos mestres elfos que temiam que
aquele poder arcano destruidor afetasse o planeta. Então os huma-
nos cessaram. Os elfos desde então se tornaram receosos com os
humanos depois de tal demonstração de tão vasto poder destruti-
vo. Por outro lado, os líderes humanos continuaram intrigados com
a criação de seu distante e antigo irmão, o Geneticista. Eles nunca
deixaram de pesquisar esta obra estranha deixada pelo filho adoti-
vo do Mago Storm. No Concílio de Ostri da segunda Era, as fadas em
geral insistiram e protestaram para que os humanos mantivessem
o lugar isolado, mas a curiosidade sempre será uma dádiva humana.
Poucos sabem que o que lá habita são raças inferiores e maléficas.
Agdarem era um desses que infelizmente tinham conhecimento dos
tipos de seres que existia debaixo de Hansbarden Ardem. Existe um
complexo labiríntico de esgoto subterrâneo em Hansbarden Arden
que ligam a zona proibida, esta zona inóspita e perigosa do Abismo
à cidade visível onde a população humana habita. Não se sabe que
tipo de aberração caminha pelos esgotos, isto faz dos bombeiros
os maiores heróis das grandes metrópoles de Arabel. Os heróis dos
bombeiros sempre foi Agdaren. Nos Labirintos também havitava
uma das últimas armas deixadas pelo Geneticista. As criaturas co-
nhecidas como catoblepas também foram criadas pelo geneticista
e é a montaria dos senhores aberróides abismais mais poderosos.
Como montaria alada eles costumam usar as lemas flutuantes tam-
bém geneticamente montadas em laboratório pelo homem gené-
tico que ninguém nunca mais viu. Estes são seres conhecidos, mas
outras criaturas desconhecidas habitam por lá.
As memórias de Agdarem pululavam sua mente e mistura-
vam –se com as de capitano.
– Você, jovem raposa, tem algum tipo de contato com ele? Já
entrou na Zona Probida?. Perguntou Agadrem, travestido de Na-
varro, demonstrando curiosidade. Vulpes percebeu uma brecha.
– Você sabe que Ele está a minha espera. Não foi por isso
que me escondeu? Quando descobriu a carta que ele enviou a
mim me convocando a sua presença? Pra que eu não o encon-
trasse? Ouvi falar da zona probida em Ringtrintarktrongdum.

73
Mas não faço ideia de com entrar lá. Só sei que quando chegar
ao Abismo, O Geneticista aparecerá para mim.
Agdarem travestido de Navarro então percebeu uma oportu-
nidade única naquela conversa com a jovem raposa. O ruivo tinha
assuntos para tratar com o Geneticista, mas sabia que ninguém o
encontrava por vontade própria. Era o geneticista que convidada
quem ele queria para vir a ter com ele através de seus pergaminhos
intergalácticos. Então as palavras saíram de sua boca, sem saber
muito como cumpriria aquele acordo. Todavia não podia perder a
oportunidade. Assim, propôs:
– Te devolvo o sangue do menino jovem raposa, assim que
me levar pra encontrar o Geneticista junto com você. Irei com
você a zona proibida. Te mostro o caminho pelo labirinto subterrâ-
neo que leva ao abismo. Quando chegarmos de frente ao homem
te devolvo seu cordão. Temos um acordo, Raposa?
Vulpes sabia que tinha pouco e que Navarro não era confiá-
vel. Não entendeu bem por que o pirata não propusera algo antes
nesse sentido e só agora vinha com aquele papo. Afinal foi aquele
pirata espacial que a aprisionou juntos aos gnomos. Ali, não sabia
que, na verdade, estava a fazer um acordo com Agdarem e não, de
fato, Navarro. Mas naquele momento ela não tinha muita opção
–Fechado. Disse Vulpes com o sorriso entre os dentes. Sua
jornada pessoal em Arabel, após quinze longos anos, acabara de
começar.
Agdaren travestido de Navarro, então, prosseguiu:
Antes, todavia, preciso ir ao Carvalho Dourado juntar for-
ças para ir ao Concílio de Ostri. Depois do concílio enquanto os
reinos de Arabel estiverem tentando combater a Banalidade ru-
maremos para a zona probida.
Vulpes não escondia a felicidade que aquela proposta de
Agadaren travestido de Navarro lhe causara. A sorte tinha vira-
do realmente para raposa. Estar no Concílio lhe faria poder ainda
manter sua personagem de Reia poder ainda manter sua perso-
nagem de Reia para Ringo, não a fazendo ser totalmente descre-
dibizada em relação ao seru irmão em Ringtrintarktrongdum. Tal-

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vez aqueles inúteis gnomos ainda pudessem ser úteis em algum
momento. O sorriso de canto de boca da raposa se fez quando a
jovem ruiva respondeu afirmativamente a proposta da Navarro.
–Vou com você até o Concílio Capitano e depois iremos
até o Geneticista. Cumpra sua parte de me devolver o sangue
bento assim que entrarmos na zona proibida e não teremos
problemas, pirata.
Agdarem concorcou afirmativamente com a cabeça imagi-
nando o problema que teria criado para o verdadeiro Capitano.
Lembrou, todavia, que, de alguma forma, também foi sequestrado
pelo pirata e que a proposta de ser seu dopolganger veio do próprio
Navarro e que tinha risco pros dois lados, afinal a contrapartida que
tinha cedido ao pirata também poderia lhe causar problemas.
– “Ele que lide com as consequências”, pensou por fim. Era
bom ele ter guardado aquele jovem colar em algum lugar caso as
coisas esquentassem com Vulpes, agora fora da terra dos gnomos.
Agdaren, por mais que tivesse tentado, girando o anel de Capitano
para um lado e para outro, não acessou nenhuma informação sobre
isso. Era uma memória travada para ele enquanto travestido daque-
le personagem de pirata. Tudo sobre Vulpes era muito nebuloso e
cheio de sistemas de seguranças nas memórias de Navarro.

Capítulo 11 – Arcanjo, o Monge


Arcanjo estava agitado naquela segunda noite na terra
de Glinterliff diferente da primeira noite que tinha chegado
e tudo parecia favorece–lo quando Baramiel, propôs da sua
própria boca que o monge funcionasse como seu conselheiro.
O Reino do Carvalho Dourado estava todo em preparo para a
organização da comitiva que iria sair em viagem para o Conci-
lio de Ostri e o monge sabia que o posicionamento das Dria-
des acabaria por ser decisivo caso um conflito de interesses,
entre magos, fadas e humanos se desenhassem no Concílio.

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Era preciso que Baramiel votasse em favor do Plano da Ma-
gogracia, independente do que fosse proposto pelo Mago
Sur. Era fundamental tal atitude da filha de seu velho amigo
Glinterliff também para que o monge pudesse realizar antigas
ambições. Não contava, todavia, com a sorte de encontrar
Johannes nas terras élficas do Reino do Carvalho Dourado.
Ainda mais com um convite roubado para o Concílio de Ostri.
Esse era um ponto a seu favor que não podia ter vindo a me-
lhor hora, mas era preciso convencer Johannes a entrar no
jogo, fosse qual fosse o papel de conselheiro de alguns dos
reinos de Arabel que ele iria interpretar naquele conselho.
Por isso resolveu esperar um dia mais para ter uma conversa
em particular com Johanes, o jovem ladrão que o monge conhecia
de outroras aventuras. A madrugada silenciosa foi convidativa para
que Arcanjo sugerisse mais uma noite de cervejas no estábulo de
Jack para Johannes que prontamente, como de costume, aceitou.
Jack, o bandoleiro cervejeiro, era muito conhecido em toda
Arabel e não somente na Floresta Dourada onde ficava seu está-
bulo. Seu apelido, Pelos de Cachorro, fazia referência a sua cor-
poralidade física diferente das de um humano comum. Não a toa,
Jack foi viver no Reino do Carvalho Dourado, longe da cidade
do shomens de Hansbarden Arnem. Lá não era um lugar seguro
para um homem mais próximo a imagem de um ser feérico viver.
A acolhida feita pot Gliterliff em tempos remotos fez com que
Jack harmonizasse muito bem seu estilo de vida as terras do car-
valho dourado. Sua produção cervejeira era vendida pra todas as
terras de Arabel e deste que fixou moradia naquela terra élfica,
abençoada com as melhores ervas, nunca mais pensou em sair
dali. Aquela noite, todavia, Jack percebeu que não era uma noi-
te comum. O bandoleiro cervejeiro conhecia Arcanjo de tempos
remotos e sabia que aquela cara de preocupação no monge, não
condizia com a de farra bebedeira que ele costumava fazer com
Glinterliff após vencer grandes batalhas. Não resistiu em disfar-
çadamente, mas com bastante atenção, escutar entre os barris
a conversa entre o monge e o ladrão que estavam bebendo uma
cerveja de noz no canto esquerdo inferior de seu estábulo:

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– Preciso de sua ajuda, Johannes. Você tem uma carta con-
vite em sua posse para o Concílio de Ostri. Será visto como con-
selheiro de algum dos reinos. Faz ideia qual é?
– Olhe Arcanjo... Roubei a carta de um mago mensageiro
no porto de Gothã. Eu e Drunked ficamos naquelas terras por
mais um tempo depois que foram embora. Bom depois que
você, sabe, nossos inimigos lá mataram... Ivin.
Arcanjo não demonstrou sentimentos ao ouvir o nome do
mago que se aventurara com aqueles grupos na terra de Gothã
tempos antes da Banalidade começar a crescer exponencialmen-
te. Naquela época aquele jovem grupo acreditava poder com-
batê–la na ilha onde originalmente ela crescia. Não foi isso que
ocorreu. O monge sabia que a morte de Ivin não havia acontecido
exatamente como Baramiel e Johannes acreditavam ter ocorrido.
Mas esse era um segredo que o monge guardaria para o túmulo.
Arcanjo tinha uma ótima noção da geografia de Arabel. Era o
único daquele grupo presente no Reino do Carvalho Dourado que
estava presente naquele mundo desde a primeira era. Logo dedu-
ziu que se o mensageiro iria atravessar a ilha de Gothã, a terra dos
anões mais próxima da Cidade do Homens, só existiria um lugar que
poucos já se aventuravam a pisar só existia um lugar que ele pudes-
se estar indo, ou melhor quem o mensageiro queria encontrar.
Arcanjo reavivou memórias enquanto coçava a cabeça. Não
era o ideal que Johannes assumisse o papel de conselheiro daque-
le reino, mas era o que tinha para o momento. Então começou a
narrar ao jovem ladrão o que havia para além da ilha de Gothã:
– Além das terras dos anões se encontra o reino da Rainha
do Inverno, Algazia Villenfel, irmã de Maendiliaranes e avatar da
Casa do Urso, máscara do Arcano Terra e do Arcano Fúria. A maior
filosofia deste reino é a vida selvagem e a liberdade. Uma terra
rica em hidromel, pois seus maiores habitantes são os anões das
neves, está numa região alta e montanhosa próxima as portas das
espirais do plano do fogo e da morada da Máscara do Lobo. Os
da Casa do Lobo nunca se deram bem com a Casa do Urso, pois a
forma de compreender a Fúria entre eles é distinta. E prossegiu:
– Algazia Villenfel vive no Castelo Vinguenaderalidum,
que em elfo erudito quer dizer Castelo da Hibernação Eter-

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na. Lá ela tem o controle de trazer qualquer ser para o plano
material e congelá–lo junto com sua psique. O poder da ra-
inha dríade é imenso e imbatível neste lugar. Ela também é
capaz de invocar nevascas metálicas constituídas de afiados
flocos de prata além de transformar gelo em cristal, escul-
pí–los e controlar os vulcões de fogo gélido. Os portões do
castelo são conhecidos por serem indestrutíveis e são cha-
mados de Guindadeliondarim, ou seja, Portões do Gelo que
Não Racha. O castelo fica numa ilha no meio do Lago Gélido
Susurrante, Lambroderatorn, no Vale dos Mastodontes.
– Então preciso fingir que sou enviado de Algazia Villenfel?
Seria isso? Johanes parecia curioso com história que Arcanjo aca-
ba de contar.
– Sim, Mas não será simples.
Foi nesse instante que o Monge percebeu que encontrara o
camimho correto narrativo para que pudesse convencer Johan-
nes a fazer o que ele, o monge gostaria, para que pudesse ter a
mente de misstra. E prosseguiu:
– Não será simples, pois Algazia Villenfel não sai da hibernação
a eras. Os magos devem ter mandado o convite apenas por cordia-
lidade. não acreditanto que de fato ela compareça ou envio emis-
sário a Ostri. Talvez por isso mandaram um mago mensageiro tão
inexperiente a ponto de ter perdido a carta–convite.
E prossegiu esperançoso de que chegara no caminho narra-
tivo certo para convencer Johannes a jogar de acordo com seus
interesses.
– Você precisará interpretarque um cidadão do Castelo Vin-
guenaderalidum fiel a Magocracia caso não queira que os Magos
investiguem quem realmente é você. Seria importante que os Ma-
gos o vissem como alguém confiável e não alguém que questione
o poder da Magogracia naquele conselho, Johannes, É a forma
para que você saia dali vivo. Afinal se a magogracia descobrir que
você invadiu o Conselho de Ostri você não terá escapatória.
Johannes pareceu compreender a gravidade do risco que
assumia e concorcou com Aracanjo sobre qual postura deveria
adotar no Conselho: gélida como se espera de um enviado de Al-
gazia Villenfel e favorável a Magocracia como sugeriria Arcanjo.

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O acordo entre Johannes e Arcanjo estava fechado. Mas aque-
la noite ainda teria mais surpresas. A Safira do Oeste acabara de
atracar nos portos de Glinetrodum logo após o monge e o ladrão
afirmarem categoricamente que aquela seria a última cerveja que
pediriam a Jack. Realmente foi, mas por motivos que, ainda, não
faziam ideia naquele momento, mas que logo seriam desvendados.

Capítulo 12 – Baramiel, a Dríade


Baramiel estava naquela noite a estudar as cartas que seu
pai Glinterliff a legou em seu leito de morte. Aqueles textos a
acompanhavam desde então e continham informações valiosas
que a jovem Driade busvava estudar para melhor se preparar
para o Concílio de Ostri. Glinterliff explicava a jovem dríade como
ele, enxergava a história de Arabel, da criação até o surgimento
da Banalidade que ele presenciou nascer. O antigo Rei do Carva-
lho Dourado, mesmo após a morte, parecia guiar Baramiel atra-
vés de suas cartas que mostravam uma profunda visão geopolí-
tica de Arabel. Naquela noite a jovem dríade estava mergulhada
no tópico “das fadas, elfos e orcs” que lia com atenção:
Das Fadas, Elfos e Orcs. Querida Filha,
Hoje Irei contar sobre a origem do nosso povo encantado,
os Númenes. Toda fada nasce como elemental e aos poucos se de-
fine, como os homens que nascem das estrelas. Os elfos são espí-
ritos muito antigos. Eles vieram de vários orbes planetários onde
a energia dos elementos é forte e poderosa. O elfo é uma fada e
está em harmonia com sua natureza e seu Arcano. O Númen nasce
da expansão de vossos pais, as gerações são criadas pelos seus an-
tecessores através dos graus de energias superados por eles. É co-
mum encontrar caravanas de elfos que vagam de nações a nações
humanas difundindo suas culturas. Várias carruagens percorrem
as estradas entre os reinos levando a luz do deus Aeon. Todas as
feiras itinerárias e circos de Arabel são realizados pelos elfos.
Todos os elfos decaídos se tornam orcs, entretanto nem to-
dos os orcs são decaídos. Alguns reencontraram sua luz e preferi-

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ram continuar como orcs, pois o orgulho de suas vivencias os to-
caram. Os orcs rosados não são maus como são vistos os demais
Orcs de Arabel. Vivem em tribos espalhadas nos ermos rochosos
e formando guerreiros valorosos.
Nenhuma raça odeia mais os constructos do que os orcs. O
maior motivo é que eles nunca conseguiram compreender o funcio-
namento deles e por isto os consideram algo que não deveria existir.
Os ogros são os orcs que conseguiram se expandir através do pro-
cesso de evolução feérica. Em Arabel, eles são grandes senhores e
comandantes de orcs, pois são conhecidos por serem mais sábios.
Fato que levam alguns a se tornarem poderosos magos e sentarem
junto aos Arquimagos, ordem magista que governa Arabel. Antes
estes eram grandes orcs xamãs de tribos de reinos baixos.
As raças mais comuns de orcs que pesquisei são: os orcs ver-
des, que abrangem a maioria; os orcs cinzas das montanhas vulcâ-
nicas; e os orcs suínos, que têm pele rosada, são anarquistas que
vivem em centros urbanos humanos e os orcs amarelos que são
controlados por uma droga provinda de uma flor amarela de uma
misteriosa dríade, nossa prmia, chamada Alimzirmin VII que há
muito tempo não nos contacta.
Existem inúmeros tipos de fadas, os elfos apenas são aquelas
que tomaram uma forma mais humana para andar entre os ho-
mens e vigiá–los. Eles eram laminaks, fadas diminutas e encantado-
ras que optaram por crescer. Os meio–fadas e meio–elfos passam
a compreender tudo de forma mais versátil e adequável, o que faz
com que sejam vistos como ameaça às velhas tradições elficas, os
elfos temem a humanização, temem que a raça deles se perca e o
sangue e as características fiquem ralas. Por isso, muitos meio– el-
fos são perseguidos em alguns reinos élficos e assassinados pelas
casas mais radicais, o que faz com que eles se tornem peregrinos.
Já te ensinei que a órbita de Arabel é caótica, fato que interfere
drasticamente no tempo. De tempos em tempos uma elfa é tocada
por uma atmosfera climática que irá definir a estação ligada a sua
essência e ela se torna uma dríade. Dependendo da forma que tra-
balha o poder, este pode perpetuar ou partir, como pode também
retornar. Por onde elas passam o clima da estação é mais intenso. A
Rainha das Fadas é a Senhora do Crepúsculo Outonal e a Rainha dos

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Drows é a Senhora da Noite, uma das avatares de Nox e primogênita
do Dragão Negro e do Pinheiro Negro.
É impossível e imprevisível o cálculo do tempo, mesmo que os
humanos ainda insistam em tentar. Não tente isso.
Uma elfa, para se tornar uma dríade, deve ser filha de uma
árvore, da qual geralmente mora. Elas recebem a dádiva de se
transformarem em árvores e caminhar por elas como se fossem
vórtices. É o que aconteceu com você ainda criança, filha.
Nas regiões de planícies e campos de Arabel se encontra o
vasto reino élfico do Verão Eterno, onde sua outra prima, a dríade
Kármina, a Dama Dourada, guia os elfos dourados. Tome cuidado
com todos nossos familiares. Cada dríade tem seu interesse pró-
prio em Arabel.
Outros tipos de elfas, enraizadas na eterna juventude, se
tornam ninfas. Devido à grande admiração dos homens por estas
donzelas e pelo fato de muitos se enamorarem por elas, as ninfas
deixaram os lares feéricos e foram morar nos centros urbanos hu-
manos. Elas formaram sociedades alternativas nas grandes cidades
misturando tradições e conceitos de fadas com métodos sócio–cul-
turais humanos, criando um antagonismo à Ordem de Shakti e a
Ordem das Succubus, as ordens fadas puras do Berço das fadas...
A leitura de Baramiel foi interrompida com a informação
que a Safira do Oeste havia estacionado no porto do Reino de
Cavalho Dourado. Baramiel se alegrou em saber que Capitano
Navvaro resolvera aparecer depois dos acontecimentos em Gho-
tã. Nunca era possível saber onde ao certo o pirata espacial tão
amigo de seu pai estaria. Baramiel já havia entendido que Navar-
ro aparecia e desaparecia com facilidade não fincando territórios
em lugar algum. Todavia Baramiel não sabia que aquele Navarro
era Agdarem. Na verdade, se soubesse das outras vezes que fa-
lara com o Capitano sem ser ele de fato ficaria estupefata. Não
era a prmeira vez que Navarro mandava seus dopolgangers para
os mais diversos pontos de Nox interagirem como se fosse ele.
– Olá Rainha Driade Baramiel, filha de Glinterliff! É um pra-
zer para mim estar no mais pacífico reino élfico de Arabel, Você
sabe que considero o Reino do Carvalho Dourado como meu ver-
dadeiro... Lar!

81
Baramiel já se acostumara com o jeito alegre de Capitano
interagir e o recebeu muito bem convidando para um jantar.
Logo mencionou que Arcanjo e Johannes também estavam no
Reino e que deveriam estar no estabulo de Jack.
– Bom minha Rainha! Aceito o jantar com muita alegria. Se pu-
der alimentar minha trupe na Safira do Oeste também ficaria grato!
Estava em Hansbardem Arden e você sabe que os humanos não são
tão corteses com os piratas como vossa majestade.
– Venha capitano! Vamos jantar. Vou mandar uma mensa-
gem para Jack sirva o alimento que seus marujos gostam! Fique
tranquilo. Baramiel pronunciava aquelas palavras comsua alegria
doce tão costumeira atrelada a sua jovem inocência. Agdaren,
traverstido de capitano, se sentou a mesa ao lado de Baramiel:
– Imagino Rainha Driade que logo pela manhã parta para
o Concílio de Ostri, Sei que os magos não queriam que a infor-
mação do Concílio vazasse, mas você conhece os humanos de
Hansbardem Ardem. Lá não se fala em outra coisa.
– Parece que a Magocracia tem um plano pra enfrentar a Ba-
nalidade, Capitano. Precisamos destruir esse mal que nos afeta tan-
to. Se a banalidade chegar ao Carvalho Dourado não sei o que fazer.
– Os homens querem guerra Rainha contra a nuvem má, Ra-
inha. Talvez seja inteligente lutar ao lado deles. Agdarem começou
a desenhar o plano que havia combinado com Navarro.
– Não sei Capitano, Os homens não querem destruir apenas
a Banalidade. Querem também retomar o poder perdido para a
Magocracia
– Sim, Rainha Dríade. Mas não seriam essa a melhor hora
para os Magos saírem do poder? Eles parecem não saber o que
fazer com a Banalidade. Se soubessem não tinha convocado o
Concílio de Ostri. Há boatos de que seja lá o que for propor, isso
será apenas uma desculpa para que fujam pela escadaria até
Aeon largando Arabel a sua própria sorte.
–Não confio nos magos, Navarro, muito menos nos homens.
Não sei exatamente o que fazer, mas Arcanjo tem um plano. Ele irá
ao concílio como meu conselheiro. Meu pai ele sempre foram gran-
des amigos. Meu pai confiava nele e eu tb confio.
–Claro minha rainha! Espero que Arcanjo saiba o que faça.
Gostaria, todavia, de te fazer um pedido. Será que eu poderia ir

82
junto com a comitiva do carvalho dourado ao Concílio. Não queria
perder a oportunidade de ver algo que acontecesse de era em era!
– Bom Capitano, Preciso de um transporte rápido em Ara-
bel. Você me levaria ao concílio na Safira do Oeste?
– Minha embarcação está ao seu dispor rainha! Partimos
pela manhã!

Capítulo 13 – Navarro, o Pirata.


Enquanto Agdarem cumpria parte do seu acordo com Navarro,
se fazendo presente no Concílio de Ostri, Capitano acabara de entrar
naquela noite em Hanbardem Arnem. Preferia estar tomando uma
cerveja no estábulo de Jack, mas o pirata sabia que o destino de Ara-
bel não estaria exatamente no Concílio de Ostri, mas sim nos cantos
mais sujos da cidade dos homens. Era ali que precisava estar então.
Assim que chegou a entrada da cidadela, Navarro se deparou com a
máquina que autorizava a entrada na cidade. Os humanos eram seres
complexos e sua história mais ainda. Capitano nunca se conformou
de que aquela cidade agora era toda vigiada por seres senscientes.
Ainda bem que fugira de sua terra de nascença ainda jovem para se
tornar o pirata universal que hoje visita toda Nox ao invés de ficar
encurralado protegido por seres de metais. Capitano conhecia bem
a história dos humanos. Desde criança havia sido educado para se
tornar um líder. Preferiu ser pirata, Mas não desprezava o conheci-
mento que possuía sobre tudo e todos. Fora este que lhe permitia ter
chegado até ali, naquela altura, vivo. Enquanto aguardava pra entrar,
resolveu relembrar de maneira consciente suas memórias pra ajustar
aquilo que sabia a mente de Agdaren misturada com a sua:
O maior complexo metropolitano de Arabel é Hansbarden Ar-
nen que significa na língua humana desta terra Cidade de Diamante
Negro. Este nome foi dado devido ao terreno em que está localiza-
da, as altas e gélidas montanhas de neve negra, onde até o gelo é
escuro como uma ônix. Grande parte da alta burguesia local é ne-

83
gra e o conselho dos governantes humanos lá está. A coloração do
ambiente é devido à alta presença de energia Gamma. Hansbarden
situa–se nas Montanhas Sagradas, mas em uma cordilheira distan-
te dos portões dos Reinos de Fogo e do reino da Rainha do Inverno.
É em Hansbarden onde está a Zona Proibida e onde perambulam
os ratos feéricos heróis que vigiam em segredo os esgotos. Lá,
homens vivem em suas imensas pirâmides que arranham os céus.
Esta nação tem a mania de realizar desfiles militares, que incomo-
dam o povo das fadas. Os republicanos acham esta uma maneira
saudável de acalmar a população perante a ameaça das máquinas.
Dizem que depois de liberar a grande nuvem ígnea donde
vieram os Arcanos e seus filhos, Aeon reverberou em grande ex-
plosão final e disto nasceu o homem. As centelhas e estilhaços
que voaram do grande cosmo se tornaram pequenas estrelas á
imagem e semelhança de Aeon e delas metamorfosearam o ho-
mem que herdou o livre–arbítrio.
Indiferente das fadas que emanam e sempre estão em
harmonia com o criador, a humanidade recebeu a indepen-
dência, pois neles estava a individualidade. Descobrindo e ex-
perimentando a cada momento a vibração desarmoniosa ao
Aeon, misturando e recriando formas, desvendando as ondas
desconhecidas e mais sublimes imersa na Nox, o homem se
expande e evolui sua luz. Apesar de trilharem caminhos sinuo-
sos e sempre trazerem consigo a inovação do qual chamam
de modernidade, eles nada mais fazem do que reencontrar o
Aeon sob outras formas. O povo anão, que são fadas, costu-
mam dizer que o homem inventa enquanto eles criam. Esta é
uma verdade, o humano é o senhor da idéia. Entretanto eles
nunca serão capazes de criar algo natural, para eles tudo é
modificável. Já as fadas dão vida às emanações naturais da
grande nuvem. É por este motivo também que os homens não
são capazes de gerar filhos no astral e seus espíritos nascem
eternamente dos fragmentos da explosão de Aeon que per-
dura e expande pela Nox. Porém os espíritos recém metamor-
foseados, após a fase da estrela são acolhidos por humanos

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que os criam e o chamam de filhos. Geralmente são trazidos
pelas Cegonhas, elementais alados da energia dos arcanos
que levam os filhos dos homens para aqueles que mais os
atraem energeticamente. A Casa do Unicórnio é a máscara do
arcano Vitae que é provedora da mistura das essências. Os
unicórnios são aqueles chamados de cegonhas.
Os homens em estado de alta evolução voltam a se tornar estrelas,
porem imensas. Desta vês e neste estágio poderão algum dia emanar
seus arcanos e, num longínquo futuro, explodirem como o Aeon. Esta
é a única forma que um homem é capaz de gerar outros homens. Como
pode se observar o caso do Geneticista, que está se tornando uma estre-
la no Abismo e já emana suas fadas, as aberrações. Outros, os negros,
que serão citados mais á frente, tentaram seguir o mesmo caminho, en-
tretanto não estavam tão preparados e criaram os constructos.
A medida que caminhava pela cidade de Hanbarden Ardem
toda a sorte de diversidade de tipos dominava a metrópole. Entre
as raças humanas de Arabel, os humanos de pele negra são conside-
rados muito belos, com traços pontiagudos, cabelos extremamente
grandes, negros como seus olhos. As suas peles são como a ônix e
brilham como um diamante negro. São nobres sacerdotes de Gam-
ma e é comum encontrá–los nos governos das grandes metrópoles.
Outra raça comum são os ruivos, de peles sardentas, volu-
mosos cabelos crespos e traços grossos. Vivem em tribos selva-
gens e se organizam de forma primitiva, são muito ligados aos
orcs, que lhes transmitiram muitos conhecimentos e os ensina-
ram a cavalgar rinocerontes.
Nas terras dos ruivos, quem governam são as mulheres e
elas são guerreiras formidáveis, as maiores de toda Arabel, pois
desde crianças aprendem as artes marciais enquanto os homens
ficam em casa cuidando da proteção do lar. Uma ruiva não aceita
derrotas e só voltam para casa quando cumprem seus objetivos,
são duras e severas e não toleram fraquezas.
Por mais que o homem negue, foram os gnomos que criaram
a mecânica e não eles, pois os gnomos são mestres absolutos nesta
arte e nenhuma máquina humana poderia ser inventada sem o co-

85
nhecimento da mecânica. Capitano sabia disso e por sempre reco-
nhecer tal feito tinha acesso livre em Rignorodum.
Uma das maiores invenções dos homens eram as naus voa-
doras como a Safira do Oeste de Navarro. Algumas eram cons-
truídas com outras formas geométricas como pirâmides, losan-
gos, esferas e quadrados dependendo da objetividade. Capitano
preferiu o formato tradicional de navio quando, ainda jovem,
construí sua embarcação. A Nau dos Insensatos como era cha-
mada na Terra era seu grande orgulho.
...

Assim que os portões da Cidade dos Homens se abriram,


logo na entradade Hanbarden Ardem, a estátua reluzente em la-
ranja de Agdarem dava o tom da cor daquela cidade. Capitano per-
cebeu que havia sido incluído um texto legenda aos pés da estatua
para que os viajantes soubessem quem era Agdarem o Irrecuável:

Existe um grande mártir do qual fora erguidas estátuas e


templos nas metrópoles, da qual essa é a maior de todas, Agda-
ren, o Irrecuável. Este homem da raça dos ruivos, antigo e evoluí-
do, a muito tempo, na primeira guerra de Arabel contra os cons-
tructos, tomou a decisão de continuar derrubando–os com seu
machado na infantaria de uma batalha quando todo o exército
já havia recuado por acreditarem que não eram capazes de der-
rotar os golens. Agdaren lutou até entrar em torpor e salvou to-
dosaqueles que fugiram, pois se ele não se sacrificasse os golens
seguiriam os demais e adentrariam as muralhas de Hansbarden.

Agdarem salvou Hansbardem e gerou fiéis fanáticos que


são capazes de dizer que ele é o próprio Aeon encarnado, uma
grande tolice para Navarro. A mente do pirata se misturava as
memórias do ruivo encaixando tudo:

Estes fanáticos são uma doença que vêm se proliferando


naquelas terras e se opõem ao governo dizendo que eles é que

86
trouxeram os golens. Muitas passeatas e procissões narrando a
cena da glória de Agdaren são feitas. Tudo o que eles fazem é em
nome de Agdaren, fato que levou o próprio, quando voltou de
seu torpor, a se disfarçar e tentar mudar de identidade, pois o
estorvo era absurdo e ele não voltou para Hansbarden. Os seus
fiéis, então nunca souberam de seu retorno do torpor, pois quan-
do voltou a sua primeira atitude foi ir a um de seus templos e
dizer que ele regressou e que aquela ostentação de seu nome
era insana e tais homens deveriam pensar mais em suas forças
interiores do que eleva–lo como um deus. Os seus fiéis acusa-
ram–no de impostor e nunca acreditaram que ele era realmente
o Agdaren, por isso o ruivo se tornou andralilho. Finalmente, por
um golpe de sorte Capitano o havia encontrado. Mas não era ora
mais de pensar nisso. O verdadeiro concílio ocorreria nos Labi-
rintos de Hansbarden Arnem. Pouca gente sabia que ali naqueles
Labirintos subterrâneos entre a Zona Proibida e a Cidade Alta
dos Humanos mais coisas seriam decididas do que em Ostri.
Capitano, todavia, não deixou de se surpreender quando viu
que, naquela noite que antecedia o encontro em Ostri, a Rainha
Drow estava presente na Baixa Hanbardem Arnem quando o pirata
entrou sorrateiramente escondido pelos labirintos subterrâneos que
existiam abaixo da cidadela dos homens. Aquilo sim deveria ser a pri-
meira vez na história de Arabel que ocorria. Uma fada original, mes-
mo que decaída, em um concílio escondido na cidade dos humanos.
Aquilo que seria planejado naquela noite certamente influenciaria
nas decisões em Ostri no outro dia. Era um ótimo lugar para um pi-
rata estar, portanto, principalmente naquela forma que estava com
grandes barbas ruivas que disfarçavam sua real natureza.
Aquele conselho era importante o suficiente para que Aga-
dren o ruivo voltasse de Nox e os humanos acreditassem. Navar-
ro havia girada o anel ao contrário e se transformara na figura
da estátua localizada à frente de Hansbarden Arden momentos
depois de descer ao subterrâneo. Quando alguém ganha o be-
nefício de ser Capitano, o contrário também ocorre. Mesmo que
a pessoa não saiba. Todo artefato mágico tem a ida e a volta da

87
magia que contêm nele. E se Agdaren pode ser Capitano. Capi-
tano pode ser, momentaneamente, O Irrecuável. O pirata sabia
exatamente a personalidade que deveria interpretar para que
todos ali acreditassem no retorno do maior homem que já pi-
sou em Arabel. Navarro compreendia a estupidez dos humanos
como ninguém. Por isso enfeitou bastante a voz para bradar:
– Desculpe interromper o concílio oculto de Hanbarden Ar-
den nesta noite que antecede o Concílio de Ostri, mas eu, estrela
em Nox, quando soube dos movimentos em Arabel decidi que
era hora de viver novamente entre os mortais. Estou de volta.
Agdaren, o Irrecuável voltou para novamente salvar os humanos
dos perigos que se avizinham.
A Rainha Drow que parecia ser o centro das atenções naquele
concílio escondido ficou surpresa com a aparição daquele homem rui-
vo que havia invadido o conselho secreto nos labirintos subterrâneos
de Hansbarden Arnem. Os Sacertoes negros ali presentes, não reco-
nheceram Agdaren o irrecusável da estátua, pois assim como quase
toda população humana só conhecia a história de Agdaren por meio
de lendas, não sabendo quase nada dele, afinal antes de entrar em tor-
por e salvar Hansbarden Arnem, o ruivo era um comum dono de casa.
A rainha da Noite, A Rainha Drow, todavia, não comprou
aquele discurso de imediato e se sentiu exposta ali no submundo
humano que se encontrava. Quis imediatamente voltar para as ca-
vernas de Gauekos por onde havia passado, cruzando, o Abismo
para estar ali presente no subterrâneo de Hansbarden Arnen para
o Concílio Secreto. Ninguém poderia saber que a fada decaída
sem asas estava ali entre os humanos. O concilio oculto precisava
ser para poucos. Ordenou então a sua comitiva de soldadas que
acompanhava no Concílio secreto que prendessem o homem rui-
vo por invadir aquele conselho, independente de quem ele era.
Foi quando ouviu uma voz suave dizer para que as soldadas
drow esperassem.
Capitano reconheceu de imediato aquela voz que sai das
sombras, antes mesmo que a imagem daquele mago se fizesse
aparecer para todos os presentes.

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– Acalmem–se. Isso pode ser interessante. Bradou o Grande
Mago Sur convidando Agdaren a se sentar à mesa para o Conselho
oculto nos labirintos secretos subterrâneos de Hansbarden Arnen
na noite que antecedia o Concílio de Ostri.

Capítulo 14 – Johannes, o ladrão.


–Jack, a rainha dríade Baramiel pediu que você abastecesse
os Marujos do Safira do Oeste. Capitano acaba de desembarcar
no porto de Carvalho Dourado.
– Espero que dessa vez, Capitano pague. Seus marujos be-
bem sem limite! Esbravejou Jack ao pegar um dos seus barris de
rum envelhecido armazenado no fundo de seus stábulos!
– Johannes! Chamou Jack! Me ajude a levar esses barris até
o Safira! Capitano chegou.
Arcanjo imediatemente se dirigiu ao castelo do Carvalho
dourado pra encontrar Capitano enquanto Johannes mesmo res-
mungando aceitou o pedido de ajuda de Jack e passou a carregar
os barris de rum até o porto.
...

Na Safira do Oeste Vulpes acabara de encontrar Quiron. O


homem–ferida, há anos marujo de Capitano, havia evitado de
todo jeito esbarrar na jovem garota que conhecera décadas antes
e que o fez embarcar na Nau dos Insensatos para fora da Terra,
desde que avistou o encontro entre Navarro e a rubra raposa nos
portos de Hansbarden Arnem. Mas quando a Safira do Oeste atra-
cou no Carvalho Dourado, Quiron não conseguiu mais esquivar de
Vulpes que o cercou no mesmo corredor dos porões do “Safira do
Oeste” que aqueles dois seres estavam há quinze anos.
– Quiron não fuja! De mim! Eu voltei! Estou viva!
– Eu percebo Milade. Quiron falava com uma voz desani-
mada e fugitiva.

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– Ainda temos uma chance, Quiron! Ainda posso encontrar
o Geneticista. Conte–me! O que Navarro fez com o garoto. Onde
ele o deixou!
– Não sei de mais nada sobre isso senhora, O mesmo tem-
po que não a vejo é o tempo que não vejo o garoto. Não faço
ideia do que Navarro fez com ele.
– Quiron não minta para mim! Não se esqueça... eu ainda
posso te ajudar., O Geneticista pode te transformar... ele pode
modificar a ferida que há em você.
Quiron não tinha mais o brilho nos olhos que o fez acredi-
tar com esperança naquele sonho. Logo que Vulpes foi vendida
em Ringtrintarktrongdum, por Capitano Navarro, o homem feri-
do percebeu que tinha caído em uma cilada. Todavia, se afeioava
ainda a Vulpes, mesmo sabendo que andar nos trilhos da menina
raposa era uma armadilha. Afinal, a rubra menina também tinha
sofrido bastante desde que pisou em Arabel.
– Não sei onde Navarro o deixou minha senhora. Não o re-
conheceria agora também após quinze anos. Nunca se viu aqui
em Arabel ouvir falar sobre alguém que tinha o dom de cura. Não
sei nem ao mesmo se ele sobreviveu.
Vulpes percebia que Quiron se manifestava com tons de
verdade. Foi quando tudo de repente aconteceu. Primeramente
só se ouviu um grande estrondo vindo provavelmente da polpa
do Safira do Oeste. Vulpes e Quiron correram pra ver o que acon-
tecer. A embarcação estava sendo atacada.
...

Johanes e Jack estavam quase chegando a Safira do Oeste


quando também ouviram o estrondo. Aquilo não era comum na
Reino do Carvalho Dourado o que fez Jack arrepiar seus longos
pelos distribuídos por todo seu corpo. Ao se aproximarem da
embarcação viram uma quantidade significatica de orcs verdade
buscando assaltar a embarcação.
Os marujos de Navarros, logo postaram para defender o
navio. Gargantua e Partagruel foram os primeiros a entrar em

90
combate físico com os orcs. De alguma maneira eles já estavam
acostumados a tentativas de assalto a Safira do Oeste. Aquela não
era a primeira vez. . Arlequino desceu rapidamente das velas e co-
meçou a fazer acrobacias de luta com dois orcs que tentatavam
desesperadamente entrar pra dentro do navio. . Hieronimus como
um louco começou a gritar ensurdecimaente o que aletou toda
trupe para o combate ao mesmo tempo em que causava bastan-
te incomodo nos ouvidos dos orcs verdes que pareciam famintos.
Pulcinella rapidamente trancou–se na cozinha do “Safira do Oes-
te” enquanto Pantalone fora busca Quiron para ajudar a combater
os orcs que saim das águas e tentavam invadir a embarcação pelas
janela. Vulpes, ao chegar à polpa prontamente se pos em combate
e fez um massacre. Sozinha com sua adaga golpeou mais de dez
orcs com movimento rápidos. A raposa lutava como se estivesse
em uma dança. Tinha desenvolvido bastante suas habilidades com
treinamentos específicos na terra dos gnomos. Alguma coisa boa
aquela experiência em Ringtrintarktrongdum, havia lhe concedi-
do. Rapidamente aquele bando de orcs verdes foram dispersos.
Quando Jack e Johannes chegaram ao navio os últimos orcs que
não haviam morrido já estavam em fuga.
Vulpes se deliciava com um último golpe quando Pantaleo-
ne a chamou gritando! Quiron havia sido atingido e desfalecia
em seus braços.
E foi nesse momento que tudo ocorreu mais rápido do que o
cérebro de Vulpes pode compreender. Jack gritou para que levas-
sem o marujo ferido pra o castelo. Johannes então pegou Quiron
no colo e a ferida de espada em sua barriga parou de sangrar e
começou a se fechar. Vulpes olhava aquela cena atordoada. Antes
que descessem do “Safira do Oeste”, Quiron estava recuperado.
Os olhos da raposa procuraram o do homem ferido em espanto.
Aquele ladrão que carregava Quiron, Vulpes conhecia de tempos
longíquos na terra. A criança havia crescido. Mas a beatitude de
suas mãos continuava a mesma.
Um largo sorriso tomou conta da face da raposa. Des-
pois de quinze anos de escravidão sem dúvida as últimas vin-

91
te quatro horas haviam sido o dia de mais sorte da jovem
vida da rubra garota. Vulpes não parecia acreditar que Ara-
bel a pussese em contato com Capitano e o Jovem Garoto
Bento tão rapidamente. Ela agradeceria a Aeón, se tivesse fé
naquelas bobagens.

92
PARTE III
Os Concílios

Capítulo 15 – Ivin, O Mago


Ivin foi o primeiro a chegar para o Concílio de Ostri. A Ordem
de Todos os Mistérios valorizava a pontualidade e se antecipava
para qualquer imprevisto que pudesse vir a ocorrer em situações
únicas como esta que ocorria pela primeira vez na Terceira Era
de Arabel. Nem o próprio Mago Sur estava presente no Vale das
Garras em Andruína naquela hora da manhã, apesar de o Grande
Mago também gostar de chegar primeiro em todas as reuniões
políticas que participara, quando Ivin tomou o lugar destinado a
Ordem de todos os Mistérios na bancada da Magocracia.
–“Talvez tenha tido uma madrugada difícil para Sur. Não
deve ser fácil ter que controlar este Concílio”. Os pensamentos
de Ivin sobre a posição de poder que o Mago Sur alcançará sem-
pre o seduziu, mesmo agora ligado ao desapego da Ordem de
Todos os Mistérios.
O Concílio reunir–se–ia apenas por volta do meio do dia e
Ivin já estava a postos no lugar reservado aos magos que den-
tro de instantes estaria lotado com representantes das mais
diversas ordens. Aquela antecipação de chegar tão antes do
horário, dava também ao mago representante da Ordem de
Todos os Mistérios uma vantagem estratégica. Ali, a espera do
Concílio iniciar–se, Ivin tinha uma visão ampla de todos os gru-

93
pos que chegavam ao Vale das Garras e podia ver quem conver-
sava com quem, quem se sentava perto de quem e quem se co-
locava em lado oposto no grande círculo que se formava pela
profundidade das rochas que formavam o vale. As pessoas se
sentavam nas pedras de garra que, sólidas por eras, pareciam
formar naturalmente assentos propositalmente projetados.
Ivin, todavia, reparou que os primeiros dos anões que chega-
ram estavam profundamente desconfortáveis de se sentarem
nos assentos em formato de garras. Ouviu um bravo anão de
barbas cinzentas dizer para seu amigo:
–Eu se fosse você ficaria de pé, Rustles! A lenda diz que o
Dragão que aqui foi morto ainda habita debaixo dessa terra. Eu
que não vou ficar sobre suas garras de pedra!
Ivin sabia que os anões não eram fáceis. A Ordem de To-
dos os Mistérios ficava escondida e protegida na montanha de
Barbária, terra dos anões. Todavia, aqueles homens nunca se
preocuparam com a vegetação da montanha ou quem morava
em sua superfície, já que sempre estavam mais interessados na
incessante busca mineradora dentro das montanhas. Todavia, se
tinha algo que tinha aprendido convivendo, mesmo que pouco
com os anões, é que aqueles seres eram apaixonados por teorias
conspiratórias. Em Barbária já havia ouvido de tudo que se possa
imaginar. Inclusive que os dois sóis de Arabel, Orzis e Aramuz,
eram na verdade planificados e chapados colados aos céus de
Nox, por isso nunca se encontravam, e não esféricos e planetá-
rios como a maioria da população arabelense estudada pensava.
Os anões sempre desconfiaram do ensino da Magocracia e, des-
sa maneira, nunca pisaram na magoteca que era considerada um
local desprezível para um anão que se preze. Bom, em uma coisa
os anos tinham razão, pensou Ivin:
–“Os magos filtram o saber existente na Magoteca. Princi-
palmente aquele que versam sobre o orbe caótico de Nox. Vai
saber o que eles escondem”.
O necromonte viu, depois da chegada dos anões, toda a
sorte de sujeitos se aproximarem e aproveitou pra relembrar o
conhecimento acadêmico que tinha de Arabel.

94
Orcs dos mais variados tipos resolveram sentar–se à direi-
ta do trono reservado ao Mago Sur. Aquilo seria interessante,
pensou Ivin. Os magos não eram os mais afetos a presença de
orcs em Arabel, ainda mais tão perto deles. Apesar de que os
orcs rosados eram mais bem vistos e frequentavam até mesmo
a Magoteca, interagindo com alguns magos aprendizes. Já a
evolução do orcs de Arabel, os ogros, eram super bem tratados
pelo Magocracia, alguns compondo até mesmo o conselho de
Magos e possuindo várias ordens de orcs sobre o seu comando.
Os ogros eram grandes orcs xamãs de tribos de reinos baixos e
sentaram–se ao lado direitos dos orcs. A bancada dos orcs era
interessantíssima por sua variedade. Estavam ali os orcs verdes,
que abrangem a maioria de orcs e vivem geralmente nas flores-
tas de terras élficas; os orcs cinzas das montanhas vulcânicas; os
orcs suínos, que têm pele rosada e são anarquistas e que vivem
em centros urbanos humanos como de Hansbarden Arnem; os
orcs amarelos que são controlados por uma droga provinda de
uma flor amarela de uma misteriosa dríade chamada Alimzirmin
VII que não estava presente no Concílio.
Do outro lado do trono central do Mago Sur começaram
a se posicionar a bancada das fadas e todas suas variações in-
clusive as mais integradas as comunidades de Arabel, os elfos.
Existem inúmeros tipos de fadas, sendo os elfos apenas aquelas
fadas que tomaram uma forma mais humana para andar entre
os homens e vigiá–los. Os elfos eram laminaks, fadas diminutas e
encantadoras que optaram por crescer. Os meio– fadas e meio–
elfos passam a compreender tudo de forma mais versátil e ade-
quável, o que fez com que sejam vistos como ameaça às velhas
tradições élficas mais puristas. Os elfos puros temem a humani-
zação, temem que sua espécie se perca e o sangue e as carac-
terísticas fiquem ralas. Por isso, muitos meio–elfos são perse-
guidos em alguns reinos élficos e assassinados pelas casas mais
radicais, o que faz com que eles se tornem peregrinos, como Ivin
que lembrava desses conhecimentos e de suas vivências de per-
seguição quando jovem habitava Arnandirah sendo meio elfo.
O mago, todavia, espantou–se quando viu a Rainha das Fa-
das, a Senhora do Crepúsculo Outonal tomar lugar no Conselho.

95
Imaginara que ela mandaria alguma fada representante, mas que
não viria em pessoa. Basicamente a fada rainha não descia do
Berço das fadas há mais de uma era. Realmente aquele era um
momento diferente de tudo que já havia acontecido. Ao lado da
Senhora do Crespuculo Outonal, acomodou– se, até mesmo de
maneira provocativa, em uma das garras do Vale, a Rainha dos
Drows, a Senhora da Noite, uma das avatares de Nox e primo-
gênita do Dragão Negro e do Pinheiro Negro. Também não era
comum avistá–la tão exposta na superfície do planeta. O mago
sabia que os dragões não haviam sido convidados, por motivos
que remontam ao desastre ocorrido na Segunda Era, mas Ivin
se espantou ao ver Máscara do Poder, o dragão siamês azul que
é senhor do raio e senhor do trovão presente representando a
terra dos gigantes. Estes, sim, tinham recebido o convite para o
concílio. Os gigantes e os dragões eram os seres mais antigos da
terra de Arabel e cada um destas espécies é a manifestação de
uma força da natureza da formação do planeta. Algumas vezes
estas forças se amalgamam e daí surgiu os siameses, meio gigan-
te meio dragão, como era o caso da Máscara do Poder.
A casa dos Ratos enviou Roin, seu rato comandante chefe
em pessoa. Ele preferiu assentar–se longe dos orcs e posicionou–
se perto da região onde as fadas estavam. Os Ratos nunca se co-
municavam e ficavam sempre quietos e introspectivos. Para es-
piar os humanos em suas complexas metrópoles, a Casa do Rato,
nasceu, segundo a lenda, das mãos do próprio Geneticista para
serem espreitadores furtivos das alianças feéricas. Estavam ali,
portanto, como informantes, pensou Ivin.
Já o Rei dos gnomos de Arabel, Ringo, chegou no tempo
certo para o começo do Conselho vindo direto de Ringtrintar-
ktrongdum, a Torre do Relógio em língua dos gnomos. Lá con-
tinuavam a ressoar imensas engenhocas que marcam diversos
tipos de contagem do tempo, lembrou o Necromante de lido nos
livros superiores da Magoteca.
Os Gnomos são fadas intimamente ligadas ao tempo, o que
faz deles muito poderosos e Cronos é o pai deles, seu arcano regen-
te. Ring Tringtarktrongdum é o avatar dos gnomos e sua imagem
estava na bandeira que fincaram quando chegaram ao Vale das Gar-

96
ras. Ringtrintarktrongdum é uma terra muito respeitada em Arabel,
apesar de gnomos não serem seres muitos simpatizados, por eles
guardarem as sete chaves os imaculados portais de Cronos, um dos
segredos melhores escondidos de toda Arabel. Nem o Rei de Ring-
trintarktrongdum sabe onde eles ficam. Apenas os três senhores do
Relógio possuem essa infomação, mas cada um sabe apenas uma
parte e não a do outro de grande mistério. Para encontrar os portais
de Cronos precisa–se das informações extraídas dos três.
Ivin ia repassando, uma a uma, em sua mente todas as in-
formações que sabia sobre os povos de Arabel aprendida nos
tempos em que frequentava a Magoteca. Ter chegado tão cedo
ao Concílio era estratégico.
Muitos povos já haviam tomado suas cadeiras no Vale das
Garras, mas Ivin percebeu que nenhuns deles ainda eram re-
presentantes dos homens. Todavia, isso não espantou o Mago,
afinal era comum os humanos estarem geralmente atrasados
ou descompromissados com as regras combinadas ou estabe-
lecidas. Os primeiros a chegarem, todavia foram os sacerdotes
negros, embebidos da riqueza da energia gamma que só eles
conseguiam manipular. A guerreira chefe ruiva, posicionou em
campo aberto logo em seguida.
Os golens parece que não haviam mandado representantes.
Ivin suspeitava que eles nem mais existiam depois da mal–suce-
dida experiência genética que visava transformá–los em máqui-
nas quando foram destruídos por Agdarem. Ivin deduzia onde o
Geneticista havia errado, naquele projeto depois que ele havia se
dedicado anos de estudo sobre a natureza dos constructos. O Ge-
neticista achou que as máquinas precisariam de uma energia fora
delas mesmas para funcionar como a alma consciente a controlar
a tecnologia. Ivin tinha uma intuição diferente. Sabia que se um
dia construísse máquinas elas deveriam buscar sua energia féerica
em si mesmas, e por isso não deveriam se misturar com outros
seres como os golens. A ambição dos golens todavia, fizeram com
que eles se sujeitassem a serem experimentos científicos do Ge-
neticista o que provavelmente pode ter destruído os golens para
sempre depois do torpor de Agdaren no seu enfrentamento com
os constructos meio máquinas, meio golens.

97
A surpresa tomou conta de Ivin realmente apenas quando
viu as aberrações chegarem ao Concílio. Ivin nunca imaginou que
a Magocracia se permitiria convidar aqueles seres para aquela de-
cisão. As fadas, principalmente, ficaram visivelmente muito inco-
modadas. O clima ficou tenso e o silêncio tomou conta do Vale das
Garras por um momento. A mente de Ivin o fez relembrar que o
Geneticista há muito tempo atrás havia criado um laboratório no
Abismo e este perdurou depois de sua partida, pois os habitantes
de Arabel que vieram a desbravar esta terra desconhecida a deixa-
ram inalterada em respeito à ordem natural do Caos e com receios
de abalar as estruturas do orbe planetário. Porém os homens, por
muito tempo consideraram a região um mal que deveria ser erradi-
cado e tentaram devastar o lugar com suas magias radioativas ma-
nipulando a energia Gamma. Isto chamou a atenção dos mestres
elfos que temiam que aquele poder destruidor afetasse o planeta.
Então os humanos cessaram e isolaram aquela região abismal que
passou a ser reconhecida como Zona Proibida. Os elfos desde en-
tão se tornaram receosos com os humanos depois de tal demons-
tração de tão vasto poder destrutivo que possuíam abaixo de suas
terras. Por outro lado, os líderes humanos continuaram intrigados
com a criação de seu distante e antigo irmão, o Geneticista. Eles
nunca deixaram de pesquisar esta obra estranha. As fadas em ge-
ral insistiram e protestaram para que mantivessem o lugar isolado,
mas a curiosidade sempre será uma dádiva humana que fizeram di-
ferentes raças humanas prosseguirem. As fadas sempre argumen-
taram que o que viria de lá habita seriam apenas raças inferiores
e maléficas. Por isso ficaram tão incomodadas ao verem primeira-
mente entrar membros da Casa do Escaravellho, um dos principais
agrupamentos organizados de aberrações de Arabel. A casa fora
criada para abrigar aberrações de todo tipo que misticamente acei-
taram se voltar para o Aeon, mas que pra eles a divindade em seu
formato real era representada pela figura monstruosa do Escara-
velho gigante, que é a aberração que caminha para uma energia
distoante de seu criador, do Filho para o Pai. Dois Sacerdotes da
Casa do Escaravelho estavam presentes e diziam representar toda
a comunidade de aberrações que vivem escondidas em Hansbar-
den Arnen. Diziam que a carta havia chegado até eles do próprio

98
Mago Sur em mãos e que se fizeram representar. Sur, ao ouvir as
palavras negou que estevisse nos subterrâneos de Hansbarden Ar-
nem, Que isso era função dos magos mensageiros e que as aber-
rações devem confundir todos os magos como se fossem iguais.
Todavia, confirmou que enviou a carta convite para o Concílio de
Ostri inclusive para as aberrações o que tornava os seres asqueiro-
sos do submundo humano bem–vindos.
Outras casas e todo tipo de seres estavam presentes for-
mando uma babel de comunidade no Vale das Garras. Alguns Ivin
nem sequer conhecia, e por isso o Mago da Ordem de todos os
Mistérios buscava anotar em seu caderno pessoal tudo que seus
olhos conseguiam alcançar. O Mago achou aquela movimenta-
ção toda interessante pois não esperava ver tantos grupos étni-
cos de Arabel preocupados com a Banalidade. Sua mente astu-
ta desconfiou por um segundo, entretanto, se realmente toda
aquela movimentação de tantos povos eram realmente por cau-
sa da Banalidade que sempre fora desprezada como uma amea-
ça real em Arabel. Temeu por um segundo sobre o resultado da-
quele conselho, mas preferiu não deixar que seus pensamentos
negativos dominassem suas reflexões.
O Mago Sur estava prestes a começar o Concílio quando
reparou que as rainhas dríades ainda não haviam chegado e suas
cadeiras estavam vazias. De maneira particular o Mago Sur preo-
cupava–se com elas. Mas seu incomodo durou pouco tempo. No
meio das nuvens, a Safira do Oeste invadiu o Vale pousando ao
centro do círculo que funcionava como espaço central para todos
que se assentavam ao redor do Vale com em uma arquibancada.
A embarcação de Navarro acabara de chamar a atenção de todos.
Uma a Uma as rainhas dríades foram descendo da embarcação. A
chegada daquela forma, não seria por acaso pensou Ivin. As dría-
des chegarem juntas, após todos os reinos estarem posicionados
em seus respectivos lugares, era uma tentativa de demonstração
de união e força. Talvez Nygaray falara como Baramiel para que as
dríades estivessem juntas para enfrentar o mal da Banalidade, de-
duziu. Sem dúvida, elas, seres elementais, ligadas a natureza eram
as que mais sofriam com a nuvem negra que pairava sobre Arabel
e só aumentava. Desceram também do Safira, Johannes e Arcan-

99
jo. Este último saudou diretamente o Mago Sur e parecia bastante
feliz com mais uma entrada triunfal que realizara. Tudo mudou,
todavia, quando, ao olhar para o restante da bancada dos magos,
viu um sujeito empalecido de olhos esbugalhado.
Um arrepio tomou o corpo do Monge. Os olhos de Arcanjo
entrecurazaram os olhos de Ivin.
– “O mago estava vivo. Como seria possível?” Pensou.
Ivin deixou um sorriso de canto de boca aparecer enquanto
mantinha seus olhos fixo no monge que acompanhava a rainha
dríade Baramiel.

Capítulo 16 – Agdaren, O ruivo.


Agdarem ainda estava sobre a pele de Capitano Navar-
ro quando desceu, junto com Vulpes, por último da Safira do
Oeste, recomendando que os demais marujos da embarcação
encontrassem um lugar nas areias para pousar seu histórico na-
vio fora do Vale das Garras. Pantagruel prontamente, mas de
maneira biruta como de gostume respondeu afirmativamente
fazendo um sinal de continência a Navarro acompanhada de
uma piscadela tão desajeitada e na cara que fez alguns magos
da Magocracia, que observação àquela ação, desconfiar se ha-
via alguma armação por trás de tudo aquilo. Todavia, na mente
de Pantaguel era só uma piscadela para o termo “capitão” que
Navarro usara, pois o marujo sabia que ali estava Agdaren e não
Navarro de verdade. Era sempre uma loucura tentar entender a
mente dos marujos de Navarro. Agdaren ainda estava se acos-
tumando. Assumindo o estilo bonachão do que entendia ser
um pirata que se preze, Agdaren dirigiu–se ao Mago Sur:
– Desculpe o atraso grande e supremo Mestre Mago Sur.
Se não parasse aqui no centro do Vale das Garras as rainhas
dríades iriam se atrasar ainda mais. Já foi difícil chegar a tempo
porque orcs verdes esfomeados tentaram invadir nossa embar-
cação ontem à noite. Agdarem viu de rabo de olho que o grupo

100
de orcs que formaram uma bancada ao lado dos magos, res-
mungaram por terem sido citados de maneira pejorativa pelo
pirata do “Safira do Oeste”. Até consertar os estragos feitos na
embarcação durante a madrugada e passar em todas as terras
élficas de Arabel onde habitavam rainhas dríades que se dispu-
seram a vir ao conselho demorou mais do que o esperado.
Aproximando–se de Sur como se demonstrasse intimida-
de, Agdaren–Navarro começou a explanar como as rainhas dría-
des não gostam de se afastar de suas árvores mães quando foi
interrompido pelo Grande Mago:
– Cale–se Pirata. Se ficará presente no concilio como conse-
lheiro de alguma dríade tome seu lugar. Se não vá embora ime-
diatamente.
Navarro tomou lugar atrás de Navirah. Aquele concílio es-
tava tão caótico e com tanta gente que Johannes, ao assumir a
cadeira destinado ao Reino da Rainha Algazia Villenfel, tranquili-
zou–se percebendo que não precisaria se importar com nenhum
disfarce. A magocracia estava completamente desorganizada
para aquela reunião ao contrário do que era de se esperar. Pa-
recia que tudo estava sendo feito às pressas e completamente
malfeito. Um pressentimento muito ruim lhe veio junto com um
incomodo forte causado por Vulpes não tirar os olhos dele desde
a noite anterior sem que ele entendesse por que aquela jovem
raposa o fixava. Quando todos da Safira do Oeste estavam plena-
mente acomodados, já com certo atraso que a Magocracia nun-
ca permitiu e que deixava os gnomos atordoados e inquietos em
suas cadeiras de garra, o Grande Mago Sur autorizou a abertura
do Concílio de Ostri, na terceira era:
– Povos de Arabel. Iniciamos hoje o Concílio de Ostri da Ter-
ceira Era que tem como dever estabelecer medidas contra o mal
que paira no ar, sobre nossas cabeças e que nenhum reino con-
seguiu ainda combater efetivamente. A Banalidade se alastra em
proporções gigantescas e já assume mais da metade do espaço
áereo do território conhecido de Arabel. A cidade do Homens de
Hansbarden Arnen está completamente coberta. Os Reinos élfi-
cos ainda estão mais preservados, mas até no território das fadas
já vemos ramificações da Grande Nuvem Negra. A zona central da

101
Banalidade está atualmente sobre o território de Arnandirah, após
ter se concentrado sobre a ilha de Gothã onde não conseguiu se
destruída. Os estudos dos magos nos indicam que ao combater-
mos a área central da banalidade todas as nuvens negras interliga-
das a ela tendem a desaparecer. Depois dos esforços individuais
de vários reinos de Arabel para combater por si mesmo o mal aé-
reo sobre nossas cabeças, a Magocracia resolveu convocar o Con-
cílio de Ostri na expectativa que uma solução coletiva seja tomada
ante do anoitecer desse dia. Portanto, convoco que aqueles que
queiram se manifestar como o propósito de combater a Banalida-
de se levantem dos seus assentos da garra do dragão e falem ao
parlamento que aqui se forma e inicia.
Antes mesmo que a fala do Grande Mago Sur terminasse,
Agdarem percebeu que representantes de quase todos os reinos
ali presentes se levantaram para pedir a palavra. Pensou por um
momento que nunca na história de Arabel vira tantas comunidades
juntas em prol de uma luta coletiva. Um fio de esperança tomou
conta de Agdaren o ruivo, acendendo a chama do torpor que há
muito tempo não ardia em seu coração. Pelo menos desde a der-
rota contra os golens constructos aquele sentimento não mais o
pertencia. Pena que durou tão pouco. Nas primeiras falas que escu-
tou seu coração já se aquietou. A palavra foi tomada bruscamente
de Mago Sur, pelos anões de Barbária que quiseram já deixar claro
seu posicionamento enquanto ainda pareciam levemente embria-
gados das noitadas anteriores que passaram na Taverna da Nau
antes de chegarem para o conselho. Um anão de barba trançada
chamado Dain quis deixar claro o posicionamento dos anões:
–Olhe Mago Sur e comunidade de Arabel. Precisamos dis-
cutir antes de tudo sobre o preço do ouro derretido que os Ho-
mens Negros estão manipulando e vendendo como ouro verda-
deiro nas cidadelas por aí. O ouro da cidade do dos homens é
falsificado! Exigimos que a Magocracia tome uma medida quan-
to a isso, pois eles estão a enganar toda Arabel!
O líder dos homens negros, Swart Vel, que possuía a pele
de ônix mais brilhante que Agdaren já havia visto e que o rui-
vo conhecia desde a época da invasão dos constructos ficou
irritadíssimo com a citação direta de Dain à sua comunidade e

102
respondeu mesmo antes de ter se levantado entrando na fila
sugerida pelo Mago Sur
– Você está enlouquecido anão! Você acha mesmo que os
homens negros trabalham com um material tão insignificante
como ouro. Toda a comunidade Arabel sabe muito bem que os
Negros apenas manipulam a energia gamma que sustenta todos
os objetos encantados de Arabel. Não somos artesanais com os
anões e não temos interesse no que mineram.
Como humano, Agdaren sabia que Swart falava a verda-
de. O ouro dos anões não tinha mais o valor para Arabel que
possuía nas primeiras e segundas eras. Desde que os negros
começaram a conseguir manipular gamma tudo que era cons-
truído por Arabel passou a ter tal assinatura e a mineração
perdeu sua função. Isso fez até que muitos anões tivessem
abandonado a arte de minerar e terem se tornado transporta-
dores de Gamma. Mas os anões de Barbária eram muito orgu-
lhosos para admitir isso e fantasiavam histórias que a energia
gamma era ouro líquido enegrecido roubado de suas terras
pelos negros. Em Hansbarden Arnen, todavia, todos sabiam
que a energia Gamma era retirada de meteoros que os Sacer-
dotes Negos aprenderam a manipular e não contavam pra
mais ninguém com faziam aquilo. Os pensamentos de Agda-
rem sobre aquela situação foram interrompidos, pois já falava
no concílio o Rei Ringo de Ringtrintarktrongdum:
A questão é que nossos dirigíveis que navegam no ar pre-
cisam da energia de Gamma pra voarem, mas não estamos rece-
bendo remessas mais. Os sacerdotes negros não querem mais
vender para os gnomos? Questionou o rei.
– Como não? Respondeu Swart Vel. – Mandamos nossas
remessas diariamente para vocês. Reparamos que não estamos
vendo mais os dirigíveis por Arabel, mas achamos que os gno-
mos tinham se retirado do ar por causa da Banalidade. Os olhos
de Vel procuram o de Bonbur na bancada dos anões para enten-
der o que estava acontecendo que a energia gamma não estava
chegando em Ringtrintarktrongdum.
Bonbur era o chefe da Irmandade dos Caminhoneiros Bár-
baros, comunidade de anões que tinha abandonado o exercício

103
de mineração e faziam o transporte de Gamma para os sacer-
dotes negros para toda Arabel. Por tal serviço não eram bem
vistos pelos Anões das montanhas. Aproveitando a deixa, Bon-
bur, também sem ter se levantado antes tomou a palavra pra si.
– Bom já que fomos citados, gostaria de aproveitar o Con-
cílio de Ostri aqui reunido para anunciar que estamos em greve
e não entregaremos mais gamma por toda Arabel até que os
preços para o transporte da energia e as condições insalubres
dos nossos caminhões sejam tratados. Estamos parados e não
levaremos mais a energia Gamma a canto algum de Arabel até
que sejam discutidas as questões da nossa Irmandade.
Um burburinho tomou conta de todos os reinos e fize-
ram nascer discussões internas entre todas as bancadas ali
presentes. Os orcs riam agitadamente com toda aquela confu-
são parecendo se divertir com a audácia da Irmandade de Ca-
minhoneiros de desafiarem os Sacerdotes Negros ali na frente
de todos. As fadas pareciam incrédulas. Precisavam do trans-
porte da Irmandande para eliminar enegia feérica que ficavam
acumuladas no Berço das fadas. As fadas produziam muito
lixo tóxico com suas eliminações feéricas e causavam danos
a psicofera de Arabel quando aquele lixo não era recolhido
pela Irmandade Transportadora dos Anões. Se os caminhonei-
ros anões parassem quem iria cuidar daqueles despejos? Os
elfos dependiam da energia gamma para dar movimentos as
suas grandes hidrelétricas que faziam gerar luz pra todas suas
comunidades bastante iluminadas. Os elfos, em geral, não su-
portam viver na escuridão e a energia gamma tinha potencia-
lizado a geração de energia elétrica nas comunidades élficas
como jamais visto na história de Arabel.
Agdaten balançou a cabeça negativamente à medida que o
número de vozes aumentava e mais reclamações surgiam. Cada
povo ali parecia ter interesses muito específicos no Concílio que
pouco ou nada tinham a ver com a Banalidade. Sur deixava aque-
le debate rolar livremente e não colocava limites adotando uma
postura que nada lembrava a figura centralizado do Mago. Pa-
recia querer ganhar tempo enquanto a Magocracia cuidava dos
seus verdadeiros interesses por trás daquele Parlamento.

104
O Concílio de Ostri era o puro caos da confusão que era Ara-
bel. Agdaren questionou–se como aquele planeta ainda estava
de pé o que apenas reforçou porque sempre quis viver como um
homem do lar, como era esperado de um homem ruivo. Ansiou
muito por isso. Lembrou que assim que encontrasse, Navarro
novamente, esperava já poder viver em sua comunidade nessas
condições com o pirata prometeu que conseguiria para ele.

Capítulo 17 – Baramiel. A Dríade.


Baramiel estava indignada com os caminhos que aquele
Parlamento estava tomando e com as discussões que ali esta-
vam sendo feitas. Ninguém parecia se incomodar com o mal que
a Banalidade representava e como ela estava sugando to-
das as formas de vida que existiam em Arabel. O Carvalho doura-
do já não era mais o mesmo, assim como toda Floresta Dourada
em que vivia. A natureza de Arabel estava enfraquecida desde
que a Banalidade havia surgido. Mas aquilo não parecia importar
para os líderes daquele concílio reunido.
A senhora do Crespuculo Outonal, Rainha do Dia, e líder do
berço das fadas, discursava naquele momento propondo um au-
mento nos valores da taxa de transporte para que a Irmandade
dos Anões retomassem suas atividades, mas Bonbur insistia que os
anões só voltariam trabalhar quando os sacerdotes negros paras-
sem de cobrar sobre a enegia gamma que movimentava os cami-
nhoneiros anões. Bonbur exigia que os anões não deveriam pagar o
combustível de gamma de seus transportes, pois isso consumia pra-
ticamente todos os lucros dos anões. Os anões transportadores co-
meçaram então a estender faixas com dizeres pelo fim do trabalho
análogo à escravidão que viviam e passaram a gritar em únisssono:
– Sem transporte nem pro céu! Sem Gamma em Arabel!
Baramiel decidiu que era de se manifestar. Levantou–se
das Garras de Dragão que lhe serviam de assento e aguardou
sua vez de falar. A jovem dríade carregava em si memso o bri-

105
lho e a personalidade de liderança de seu pai Glinterliff. Passa-
da mais uma rodada de discussão que não levou a nenhuma
conclusão sobre os preços da energia gamma, chegou a vez da
Rainha Dríade do Carvalho Dourado de manifestar:
–Creio que não estou compreendo bem o que estou fazen-
do aqui. E creio que vocês também não. Meu pai deixou registra-
do como foi o Concilio de Ostri da segunda geração gostaria de
ler um trecho a vocês para lembrá–los:
“Ali filha, homens, fadas e magos decidiram reunir forças pela
primeira vez para derrotar Zoltan, o Deus que ameaça a existência
de toda a população arabelense. Foi a humildade de todos os reinos
em se unir em prol da destruição de um mal maior que possibilitou
a existência deste planeta onde tenho o orgulho de ter deixado o
Carvalho Dourado para que pudesse viver. É preciso zelar por Arabel.
Pois o mal sempre estará solto por aí.”
Baramiel guardou a carta de Glinterliff em seu bolso com lágri-
mas em sua face por lembrar as doces memórias que tinha com seu
pai. Um silencio se fez no Conselho de Ostri. O grande Mago Sur fez
um sinal com a cabeça para que Rainha Dríade do carvalho Dourado
prosseguisse com sua fala. E ela firmou a voz.
Precisamos honrar a memória não só de meu pai, mas do
Conselho de Ostri, responsável por reunir as forças de todos os
reinos em prol de Arabel. Fomos convidados aqui para discutir so-
bre o mal que habita em todos os reinos, que pairam sobre nossas
cabeças. Não é hora de discutir interesses particulares de cada
reino. Arabel precisa se unir como já fez antes para enfrentar o
mal que pode nos destruir. Esqueça por hora o preço da energia
Gamma. Se não existir mais Arabel e se a Banalidade tomar todo
planeta não haverá mais nada que possamos comercializar uns
com os outros trazendo riqueza pros nossos povos.
E concluiu:
– A pergunta que devemos fazer aqui é só uma. Como va-
mos destruir a Banalidade?
Um silêncio se fez no Concílio de Ostri indicando que Bara-
miel tinha atingido o coração de alguns dos membros que ali es-
tavam presentes. Outros preferiram o silêncio a continuar com
as discussões que estavam sendo feitas. Foi quando A Rainha
do Pinheiro Negro, a Rainha da Noite tomou para si a palavra.

106
– A rainha dríade Baramiel parece ser a única que está
consciente aqui. Tem meu total apoio. O único foco desde con-
selho deve resolver a questão da Banalidade. Precisamos arran-
jar uma solução imediata para o mal que está agora enraizado
sobre Arnandirah, mas que tem braços em todos os reinos. Su-
giro que Baramiel, como porta voz deste parlamento conduza
de agora em diante as discussões e proponha, como parlamen-
tar chefe desse conselho, a medida que ouvir as propostas so-
bre o combate a Banalidade, a proposta oficial para que se abra
a votação sobre o que faremos para derrotar a banalidade.
Baramiel nunca imaginou que o apoio para que se discutis-
sem o mal da banalidade viesse da Rainha da Noite, a Rainha do
Drows. Mas se era o apoio que tinha no momento era a ela que
deveria se agarrar. Arcanjo balbuciava a história dos drows no
ouvido de Baramiel para que ela entendesse melhor quem era
interlocutora que a apoiava naquele momento:
–“Os drows eram fadas que viraram elfos que mais inco-
modavam as fadas que ainda habitavam o berço das fadas e
nunca se permitam pisar na superfície de Arabel. Foram os dro-
ws, os prmeiros a descerem do Berço e se misturar com todos
os tipos de Habitantes do Planeta Sorrateiros como gatos nas
trevas, eles se esgueiram entre os carvalhos que guardam suas
cavernas onde vive em abundância uma enorme civilização dos
elfos sombrios. As florestas escondem uma árvore sagrada,
mãe de todas, o Pinheiro Negro de onde nasceu sua líder a Ra-
inha da Noite. O Dragão Negro, desaparecido desde a última
era, é uma das inúmeras máscaras e avatar de Nox, ele é o pa-
triarca deste povo. Os Drows acreditam que nasceram nos con-
fins mais distantes de Nox, donde o dragão lembra de ter saído
a tanto tempo atrás que sua memória não poderá mais julgar
se isto é mister. Eles são os que mais conhecem as energias
ocultas de Gauargi. O Drow também é conhecido como Gaue-
ko, o guardião da Noite, eles conhecem o segredo do Ninjutsu,
a arte das sombras. As cavernas dos Gauekos também levam ao
abismo que é coberto e protegido por imensas teias de aranhas
guardiãs. É um outro caminho para o abismo para além do labi-
rinto subterrâneo de Hansbarden Arnen.”

107
A proposta da Rainha da Noite pareceu ser bem aceita
pelos reinos ali apresentados. Afinal eram as dríades que mais
sofriam com a banalidade. O Mago Sur então com um pequeno
sorriso no canto inferior esquerdo na boca outorgou:
– A partir de agora, a Rainha Dríade Baramiel, represen-
tante de todas as rainhas dríades de Arabel aqui presentes ou
não, será a responsável por relatar, após ouvir as sugestões
de todos os povos, uma carta coletiva aqui a ser votada e assi-
nada pro todos se comprometendo a cumprir as decisões des-
se conselho, Assim, horando a tradição dos antigos, o Concílio
de Ostri direcionará qual a forma de combater que será reali-
zada contra a Banalidade, com todos os reinos se comprome-
tendo a fazer sua parte em tréguas as brigas localizadas. Por
favor, Rainha Dríade, conduza o debate de agora em diante.
O Grande Mago Sur se recolheu a seu assento de Garra e
passou o comando das discussões do Concílio a jovem Dríade
Baramiel.

Capítulo 18 – Johannes o Ladrão.


Johannes era jovem, mas já tinha vivido tempo suficiente para
saber que aquela não era uma posição comum a Magogracia. Cen-
tralizadores, desde que assumiram o poder na Terceira Era, os Ma-
gos sempre ditaram os rumos de Arabel. Tudo aquilo pareceu muito
estranho. Foi quando seus pensamentos paralisaram ao ver alguns
assentos laterais do Grande Mago Sur a figura de um pálido mago
que Johannes conhecia muito bem. O ladrão ainda não havia repa-
rado na bancada dos magos desde que tinha chegado e somente
quando a fala do grande Mago Sur chamou–lhe a atenção naquele
caos que havia tomado o Concílio de Ostri, avistou Ivin.
Johannes sempre teve um carinho com o Mago que conhe-
cera um tempo antes. O ladrão nunca conhecera sua família e
desde criança vivera praticamente sozinha em Arabel. Fora cria-
do, ao que se lembrava, até os doze anos dentro das comunida-

108
des dos orcs rosados, mas assim que pode saiu para o mundo em
busca de sua verdadeira origem. Nunca a encontrou, mas sem-
pre viu em Ivin um amigo. Fora aquele que mais sentiu a perda
de Ivin quando foram reunidos pra combater a Banalidade sobre
Ghotã, missão que havia fracassado. Compartilhava com o mago
a angústia de não se sentir pertencente a lugar algum. Ao avis-
tar Ivin e ver que as coisas estavam mais tranquilas agora como
Baramiel conduzindo as falas do conselho, Johannes não pen-
sou duas vezes em ir ter com o Mago. Arcanjo havia dito a todos
quando fugiram da floresta de Gothã que o mago estava morto.
Mas agora ele estava ali, bem diante dos seus olhos.
Johannes se afastou um pouco do Vale das Garras e fez
aquilo que o fazia ser reconhecido como o grande ladrão de
Arabel: tornar–se invisível. Sem ser percebido, começou então a
passar por todas bancadas reunidas em círculo no Conselho de
Ostri a fim de aproximar–se da bancada dos Magos, onde Ivin se
encontrava. Ao perceber a movimentação de Johannes para fora
de seu assento de garra, Vulpes tentou segui–lo furtivamente.
Ela conseguiu acompanhá–lo até o ponto que se afastou do vale,
mas de repente Johannes desapareceu.
– “Maldito bento”, pensou.
...

Invisível, Johannes atravessou todas as bancadas do


Vale das Garras sem grandes dificuldades. Aquela altura do
conselho, cada grupo sugeriria a Baramiel formas de destruir
a Banalidade. Enquanto atravessava as bancadas, discursava
Máscara de Poder, o siamês meio dragão, meio gigante que
defendia que uma comitiva liderada por ele fosse ao reino dos
dragões para pedir ajudar para que juntos os dragões da ilha
baforassem a Banalidade. A maioria dos reinos não gostou da
ideia e preferiam deixar os dragões isolados como tinha sido
desde o início da Terceira Era. O ladrão ficara tranquilo de que
o assunto do Concílio voltara para o tema principal. Ele não
deveria nem estar ali, mas tinha preocupações verdadeiras
com Baramiel que já se mostrara mais fraca do que a última
vez que se encontraram na ilha de Gothã quando conhece-

109
ram a essência da banalidade frente a frente. Não conseguiu
deixar de reparar como o Carvalho Dourado da dríade estava
seco quando saíram das terras de Glinterliff.
Johannes posicionou–se atras de Ivin, quando sussurrou
em seus ouvidos.
– Seu mago safado. Como está vivo?
Ivin riu ao reconhecer a voz do jovem ladrão aos pés do seu
ouvido.
– Fico curioso tanto quanto eu de saber como veio parar
aqui ainda mais como representante da rainha Alzaviel.
– Bom, vamos dizer que ela não sabe exatamente que eu
sou seu representante.
Johannes falava como um menino que admirava–se de
suas próprias travessuras. Ivin respondeu no mesmo tom bem
humorado.
–Bom pelo tom da minha pele você deve imaginar que pos-
so dizer exatamente que estou vivo.
Ambos riram bastante, apesar de que Ivin tentava manter
a descrição como se estivesse observando o que ocorria no con-
selho e não o que o ladrão invisível sussurrava em seus ouvidos.
Prosseguiu:
– O Mago Ombaladon me resgatou da Floresta de Gothã,
Johannes. Sou um necromante graças a ele. Posso dizer que es-
tou de pé. Se estou vivo essa é uma provocação filosófica que
não sei responder. Mas te confesso que estou feliz de estar de
volta. Sinto que o tinha que fazer ainda não acabou.
Fico feliz de que está vivo Ivin. Baramiel sentiu muito sua
morte. Até Drunked chorou. Imagino que Arcanjo também deve
estar muito impactado de te ver aqui. Não deve ter sido fácil pra
ele ver a sua morte e não ter podido fazer nada.
Um calafrio subiu pela espinha dorsal de Ivin, fazendo–o
torcer o pescoço pra um lado e para outro. Não resistiu em res-
ponder ao ladrão deixando o jovem Johannes estupefato e sem
palavras ao ouvir o mago pronunciar.
– Concordo. Arcanjo deve ser o mais surpreso de todos ao
me ver aqui vivo. Afinal, foi ele quem me golpeou no coração até
a morte.

110
Capítulo 19 – Vulpes, a Raposa
Vulpes estava há alguns metros distante do Vale das Garras
quando percebeu que havia precipitado em tentar seguir Johha-
nes sem sucesso. Ouviu, por de trás de sua cabeça, uma voz fina
sussurrar em sua direção um nome que já não suportava há mui-
to tempo: Reia. Aquela voz ela conhecia bem. Seu irmão Ringo
a chamava, de maneira bem escondida, para que pudessem con-
versar. Ao virar o pescoço de lado montando em seu rosto um
sorriso falso em direção ao seu irmão adotivo, percebeu, já de
relance que Ringo estava com uma face tensa e um semblante
preocupado.
– Oi Ringo. Disse que estaria aqui e aqui estou. É bom te ver
minha irmã.. O jovem Rei gnomo não deixou a irmã completar a
frase, a interrompendo.
– Você precisa sair daqui o quanto antes Reia. Sua vida cor-
re perigo,
– Como assim, Ringo? Combinamos de encontrar aqui achei
que ficaria feliz em me ver, Mais uma vez Ringo, interrompeu a
jovem raposa.
–Torci demais para que não aparecesse Reia. Mas você
cumpriu sua promessa e veio até o Vale das Garras. Eu cometi
um erro. Você não poderia ter saído. Eu te dei uma sentença de
morte irmã. Me perdoe.
– Calma Ringo eu não estou entendendo mais nada. Achei
que me queria aqui ao seu lado.
Vulpes observou que alguns vultos se aproximavam por
trás do jovem gnomo.
– Me desculpe Reia, os sábios do relógio souberam que você
tinha saído de Ringtrintarktrongdum desde o momento que pisou
para fora da cidade. Eu tive que confessar que você estaria aqui.
Eles disseram que nada adiantava mais. Que precisavam te matar
antes que fosse tarde demais. Talvez já até fosse. Não há mais
tempo Reia. Corra. Fuja. Sua vida está em risco.
A mente de Vulpes não compreendia nada. Um ruído inten-
so se fazia. Ela não tinha tempo para entender. Seus pensamen-
tos foram interropidos por uma flecha que cruzou seus cabelos

111
rubros. Avistou um pequeno gnomo com uma besta em mãos
atirando em sua direção. Ringo gritou novamente:
–Fuja Reia! Agora!
Vulpes correu como nunca havia movimentado antes e
completamente sem direção enquanto era perseguida por gno-
mos armados de bataclavas e bestas, armas que também havia
acostumado a manejar nos tempos que viveu em Ringtrintark-
trongdum,. A raposa por ser maior conseguiu imprimir velocida-
de e se distanciar dos gnomos, mas eles não pareciam desistir
daquela perseguição. Conseguiu ainda ouvir os Senhores do Re-
lógio brigando com o Rei Ringo.
–Seu rei idiota! Você não sabe o que você fez. Você tem o
coração mole igual ao seu pai.
A voz dos gnomos parecia distanciar a medida que aproxi-
mou–se das areias do mar que cercavam o vale das garras quan-
do seu mundo desmoronou mais uma vez. A Safira do Oeste não
parecia atracada, mas estava prestes a partir quando Vulpes a
avistou no mar.
Pantaguel ao ver a jovem raposa, bradou:
–É...não era pra você ver ver isso agora...Acelerem marujos
de Navarro!
Vulpes não entendia mais nada do que estava acontecen-
do. Os marujos de capitano estavam em fuga. Lembrou de seu
amigo ferida que ali trabalha na Safira do Oeste
–Quiron o que é isso? O que está acontecendo?
O homem ferida apareceu na polpa enquanto Vulpes entra-
va no mar para se aproximar da Safira do Oeste.
– Ordens de Capitano Navarro Senhora. Precisamos encon-
tra–lo imediatamente em Hansbarden Arnen.
– Como assim Quiron, Capitano está sentado no Vale das
Garras. Está ali no Concílio de Ostri. Acabei de ve–lo.
Todos os marujos do “Safira do Oeste” caíram em profun-
das gargalhadas. Pantaleone não hesitou em provocar:
– Ah raposa aquele não é Capitano! Os quinze anos afasta-
da do Safira do Oeste fizeram você não mais reconhecer o maior
pirata de todos os tempos, heim!
A cabeça de Vulpes girava descontroladamente. Seu mundo
havia caído de tantas maneiras que a rubra raposa não poderia

112
controlar. De repente entendeu que havia perdido tudo. Os gno-
mos de Ringtrintarktrongdum, a queriam morta. E o acordo que
tinha feito anteriormente com o pirata do Safira do Oeste não era
com o verdadeiro Capitano, Vulpes não conseguia pensar em mais
nada. Só precisava fugir e sobreviver que era o que ela sabia fazer.
– Me deixe entrar no Safira, Quiron! Pelo amor a Terra de
onde viemos.

Pantaguel argumentou que os deuses de Gaia não costu-


mam ajudar e que não ajudava muito rezar pra eles.
– Vamos Quiron me coloque dentro do Safira.
Uma saraivada de flecha tomou direção da Nau dos Insen-
satos. Os marujos de Capitano começaram a levantar a embar-
cação flutuante. Vulpes estava ficando para trás quando Quiron,
desobedencedo Pantaleone, jogou uma corda em direção a ru-
bra meina. Quando a garota começou a subir uma flecha acertou
seu tornonozelo. Os gnomos já tinha chegado a praia e prepa-
ravam pra tentar impedir a Safira do Oeste de Zarpar enquanto
outros tentavam acertar Vulpes.

Foi quando tudo aconteceu muito rápido novamente. Qui-


ron puxou Vulpes para dentro da embarcação ao mesmo tempo
em que caiu. A jovem raposa não conseguira entender o que aca-
bara de acontecer. Olhando para o mar viu o corpo do homem
ferida com uma flecha no coração. Os malditos gnomos tinham
matado o único amigo verdadeiro que tinha na vida. Ouviu ainda
o homem ferida balbuciar enquanto afogava caminhando para
ficar desacordado:
– Creio que essa ferida o Geneticista não poderá consertar.
O pânico tomou conta de Vulpes enquanto a Safira do Oes-
te partia rumo aos céus deixando os gnomos guerreiros revolta-
dos por não terem conseguido cumprir os designios dos senho-
res do relógio.
Pantagruel e Pantaleone amarraram Vulpes e colocaram–
na no porão do “Safira do Oeste” que ela conhecia tão bem de
tempos remotos. Mas agora aquele porão estava estranhamen-
te mais solitário. Seu amigo de jornada, a qual aquela jovem ha-

113
via convencido a entrar na embarcação de Navarro pela primeira
vez, não estava mais ali, Nunca mais estaria na verdade. Por um
momento apenas desejou que as flechas dos gnomos tivessem a
atingido e não a Quiron.
Seu grito de dor foi sufocado quando os marujos de capita-
no amarraram um pano ao redor de sua boca. Nada fazia muito
sentido naquele momento para a jovem raposa de intensos ca-
belos vermelhos. Só um pensamento se plasmou com intensida-
de. Em memória de Quiron, Vulpes jurou para si mesmo destruir
os senhores gnomos do relógio, bem como toda as construções
que os gnomos de Ringtrintarktrongdum tanto admiravam.

Capítulo 20 – Arcanjo, o Monge.


Arcanjo estava inquieto. Não havia compreendido a estra-
tégia de Mago Sur muito bem. Sabia que em algum momento
precisaria intervir com Baramiel de maneira mais direta, mas não
sabia quando nem para qual direção deveria ir. Apenas tinha con-
cordado em apoiar o caminho da Magocracia no concílio, mas
não imaginara os caminhos que aquela reunião tinha percorrido
até ali. O concílio tinha se acalmado desde que a jovem dríade as-
sumiu a relatoria das discussões. Entretanto nenhuma proposta
para derrotar a Banalidade havia se mostrado sólida. O que mais
havia sido sugerido haviam sido propostas de ataque a grande
nuvem, ampliando–se a guerra enquanto postura predominante
de combate à Banalidade. Arcanjo havia tentado ir por esse ca-
minho mais agressivo contra à Banalidade na Ilha de Gothã, mas
não havia tido nenhum tipo de resultado positivo. Tudo, todavia,
mudou naquele concílio quando os elfos circenses resolveram
se pronunciar. Eles estavam calados desde o início do momento
que se sentaram no Vale Das Garras. Por não serem muito res-
peitados pelo seu estilo itinerante de vida, mas suas primeiras
palavras chocaram os membros do Concílio:

114
– Nós encontramos uma forma de atacar a Banalidade, im-
pedir seu crescimento e reduzir sua expansão.
O silencio se fez presente com todos ficando extremamen-
te atentos.
– Nós... O elfo parou um segundo buscando as melhores
palavras para expressar o que queria dizer de maneira que não
soasse estapafúrdio. E prosseguir:
–Bem, nós fizemos uma grande festa ao redor dela.
Os anões ficaram incrédulos com o que haviam acabado de
escutar. Os orcs se entreolharam perguntando–se aquilo era sério.
Depois de alguns segundos de profundo silêncio os membros do
Concilio de Ostri colocaram–se a rir fervorosamente. Rustles no
meio dos anões bradou entre as gargalhadas:
–Isso só podia vir dos Lunáticos dos Elfos Circenses! Não
consigo nem entender o que estão fazendo aqui!
Até as fadas, geralmente reservadas, deixaram escapar um
sorriso no canto de boca.
Alliot, o elfo circense que ali representava sua comunidade,
ficou paralisado, envergonhado e acuado por um instante. Mas bus-
cando coragem em seu interior firmou a voz e continuou:
– Podem debochar, mas ainda estou com a palavra e vou conti-
nuar. Olhando fixamente para Baramiel passou a se explicar:
Os reinos de Arabel não conseguem combater a Banalidade,
pois ainda não compreendem sua natureza. Quando mais a ata-
cam, mais a violentam, mais ela cresce. A Banalidade é um mal
que paira sobre nossas cabeças alimentada pela psicosfera de vio-
lência de Arabel. Somos nós que a formamos. Somos nós que a
alimentamos. E toda vez que a tentamos destruir ela ganha mais
força, pois a Banalidade vive do conflito, da violência e da guerra.
Baramiel passou a prestar atenção com mais cuidado no
doido elfo circense que falava e fez um sinal com a mão para que
ele prosseguisse com a explanação:
–Rainha Dríade do Carvalho Dourado você sabe que não é
loucura! Temos conseguido resultados incríveis com nossas fes-
tas! A alegria pura e genuína que geramos como nossa cultura e

115
arte diminuem a intensidade da Banalidade consideravelmente.
E o olha que somos um grupo pequeno. Imagina se todos os po-
vos de Arabel se reunissem para festejar!
Alliot fora interrompido pelo líder anão das montanhas de
barbaria
– Isso é típico do elfos! Enquanto trabalhamos eles querem
festejar. Querem destruir o mal cantalorantando e dançando!
Os anões caíram na risada, mas o eco de quem ria já havia
reduzido. As fadas estavam intrigadas. Fosse outra pessoa con-
duzindo as falas do Concílio de Ostri, a palavra já teria passado
pra outro inscrito. Mas Baramiel estava curiosa:
–O que esta propondo de fato, Elfo Aliiot? Não compreen-
do onde quer chegar.
–Vou ser direto Rainha do Carvalho Dourado. A essência
da Banalidade, passou de Ghotã para Hanbarden Ardenm e está
em Arnandirah nesse momento. Sugiro que levemos nosso circo,
nossa trupe até lá e realizemos uma festa com todos os povos de
Arabel reunidos. Que estejam fadas, gnomos, humanos, magos,
orcs, elfos, toda a Arabel conhecida em celebração. Até agora
não vim ninguém aqui trazer uma solução que já conseguiu al-
gum tipo de resultado efetivo contra a Banalidade. Pelo contrá-
rio. Quanto mais a atacamos mais ela cresce. Sugiro então que
este conselho avalie... uma proposta diferente.
Baramiel pareceu bagunçada ao ouvir a voz de Aliot. De-
pois de ouvir as mais inúmeras e diversas formas de atacar a Ba-
nalidade, aquele elfo trazia uma proposta extremamente alter-
nativa tal qual a vida do elfos circenses. Ponderou mentalmente
que mesmo que aquilo que o elfo sugerisse fosse verdade nunca
que aquilo seria aprovado pelo concílio quando ouviu um pigarro
incessante vindo da bancada dos magos. Sur parecia querer falar
algo. Ele não estava inscrito, mas a Rainha Dríade não teve alter-
nativa a não ser passar a palavra para o Grande Mago:
– Preciso colocar uma questão para todos sobre a fala do
elfo circense Aliot. Ele pode estar parcialmente correto. Nos estu-
do que tenho feito nos altos livros da Magoteca, encontrei infor-

116
mações sobre a criação de Arabel onde é mencionada uma nuvem
negra na orbita do planeta que teimava em existir enquanto os
reinos daqui se formavam. Não faço ideia com esta nuvem desa-
pareceu nos tempos remotos. Nunca encontramos informações
suficientes sobre isso. Entretanto...
Sur fez uma pausa dramática em sua fala querendo que to-
dos prestassem atenção no que ele iria pronunciar.
–Bom, os livros antigos da Magoteca indicam que todos
vez que os povos dos reinos antigos entravam em guerra, a nu-
vem negra crescia. Parece que ela só desapareceu nos tempos
remotos com o cessar dos conflitos na Era de Paz.
Ao ouvir as palavras de Sur um estalo se fez na cabeça de
Arcanjo. De repente entendeu o que precisaria fazer ali. Precisa-
ria oferecer suporte a Rainha Dríade para que aquela ideia estú-
pida prosperasse. Nunca imaginou que teria que sugerir a Dríade
aceitar algo tão sem fundamento. Mas a mente de Mistra sobre
seus domínios valeria a pena. Quem sabe até mesmo um novo
julgamento. Foi quando tais pensamentos o fizeram, imediata-
mente, soprar nos ouvidos de Baramiel:
– Rainha. Não me parece uma má ideia.
A Rainha Dríade tomou um susto com aquelas palavras. No
pouco que considerou levar a sério a proposta de Aliiot imagi-
nara que a maior resistência viria do monge conselheiro que era
afeito às grandes lutas.
–Eu devo estar enlouquecendo. Você, logo você, Arcanjo
está pensando nessa proposta pacifista?
– Rainha, você sabe que nunca sugeriria tal sandice. Mas...
Arcanjo tentou repetir o mesmo efeito ao interromper sua
voz como Sur fizera antes. Ficou mais engraçado do que ameaça-
dor como quando feito por Sur:
– Mas não conseguimos derrotar a Banalidade em Gothã.
Tentei tudo que podia e não conseguimos. Creio que há de se
pensar em algo, talvez diferente.
Antes que pudesse terminar de falar no ouvido de Bara-
miel, a Rainha da Noite assumiu a palavra em público:

117
– Rainha Dríade penso que devemos levar em conta as pa-
lavras de Elfo circense. Já tentamos de tudo em nosso reino. A
ideia da festa de Arabel é sem dúvida estranha, mas porque não
uma possibilidade. Talvez devêssemos tentar. Se não der certo
poderíamos reunir todas as nossas forças de ataque contra a
nuvem. Mas seria um desperdício de recurso desnecessário se a
banalidade realmente for imune à violência.
Swart Vel tomou a palavra logo em seguida:
– Já atacamos a Banalidade com todo nosso arsenal de
armas gamma. Não conseguimos nenhum efeito realmente. A
Banalidade só aumentou em nossas terras tomando Hanbarden
Arnen por completo depois disso.
Anões e Orcs pareciam não acreditar no que estavam escu-
tando. A ideia mais estúpida da face da terra, fazer uma enorme
festa com os povos de Arabel, parecia estar ganhando força por
altos representantes da magocracia e da comunidade humana.
As guerreiras ruivas não deixaram de se posicionar fortemente
contra aquele disparate. Disseram que até poderiam ir ao even-
to em Arnandirah, mas que estariam prontas para o verdadeiro
combate assim que ele ocorresse.
O silêncio sepulcral se fez, todavia, na bancada das fa-
das. A Senhora do Crepúsculo Outonal ainda não havia se
manifestado se autorizaria as fadas a descer do berço paras
comemorações caso aquela decisão única fosse tomada. Na
Terceira Era as fadas haviam se isolado no céu e não intera-
giam com o restante de Arabel. O Berço das Fadas ficara tola-
mente isolado e o único acesso era aéreo, modo que as fadas
se deslocavam por suas asas, ou pela escadaria de Aeon que
ninguém ousava subir desde que Hashwinders Storn desapa-
recera justamente ao passar pelo Berço das Fadas.
Baramiel observou o silêncio das fadas e questionou direta-
mente à Senhora do Crepúsculo Outonal se ela participaria caso a
decisão de união fosse pelas comemorações na festa de Arnadirah.
Claramente a Rainha do Dia estava desconfortável. Fazer
boa parte da população das fadas abandonar o Berço por alguns
momentos em prol da união dos povos de Arabel era um dilema.

118
Aquilo era um risco que ela não gostaria de assumir, mas se sen-
tia pressionada a fazê–lo.
– “Talvez essa proposta estúpida nem passe” pensou”.
Politicamente seria terrível para a imagem das fadas ir con-
tra uma proposta de intervenção pacífica enquanto ao seu lado a
Rainha da Noite, rainha do Drows, apoiava tal decisão.
– “As fadas seriam vistas como soberbas e egoístas” pen-
sou por vim antes de vaticinar.
– Se o Concílio decidir que a festa de Arnadirah deva ser
realizada em prol do combate à Banalidade as fadas cumpri-
ram seu papel cidadão em Arabel e descerão do Berço para
participar.
Sur, A Rainha Drow e Swart Vel trocaram olhares com aquele
pronunciamento. Arcanjo percebeu que aquela era sua deixa final:
–Baramiel sugiro que você redija a proposta.
Baramiel buscou apoio no olhar das outras dríades que pa-
reciam aprovar aquela decisão pacifista. Então pronunciou:
– Bom parece que temos uma proposta oficial para o com-
bate à Banalidade. Vários reinos se comprometem a estarem pre-
sentes na Festa de Arnandirah organizada pela trupe dos elfos
circenses. Pelo caráter de urgência recomendo que a festa seja
feita daqui sete luas, contanto esta, onde os povos de Arabel re-
unirão em clima de paz para alegremente festejar e observar se
tal ato diminuirá a intensidade da Banalidade que toma conta de
Arabel. Quem está a favor levante–se.
As Rainhas Dríades foram as primeiras a levantarem de
seus assentos de garra. A bancada da Magocracia quase que
imediatamente em seguida levantou–se. Ivin procurou apoio
telepático com o Mestre Ombaladon. Eles resolveram apoiar a
decisão pacifista sugerida. Entretanto, o Mago sugeriu que o ne-
cromante ficasse de olho em Sur. As comunidades élficas fizeram
se de pé em sentido de irmandade a comunidade circense. As
raças humanas seguiram as raças negras e ficaram de pé, mesmo
com as ruivas mostrando–se insatisfeitas. Dos Orcs apenas os ro-
sados levantaram–se, mas a proposta teve apoio dos Ogros afei-
tos a mistura racial que aquela festa também simbolizaria. Ringo

119
parecia estar desinteressado naquele debate e levantou mais
interessado que aquele concílio acabasse do que por qualquer
outra coisa. Estava com a mente em Reia. A casa do Escaravelho
em nome das aberrações resolveu, sem se pronunciar, apoiar a
decisão. A Casa dos Ratos não se levantou e permaneceu indife-
rente. Máscara de Poder também continuou sentado marcando
a posição contrária de gigantes e dragões à realização da festa.
Os anões resmungando levantaram–se bufando:
– Vocês enlouqueceram! Mas os anões nunca desrespeita-
ram o Concílio de Ostri desde a primeira era. Estaremos lá pelas
cervejas.
Outros povos dividiram–se, mas mais de sessenta por cen-
to dos presentes estavam de pé.
Foi quando Baramiel declarou, meio sem saber se isso era o
certo, que a Festa dos Reinos de Arabel. iria ocorrer para a alegria el-
fos circenses. Eles migrariam imediatamente para Arnandirah para
começar os preparativos da festa contra a Banalidade.
Arcanjo sorriu. Mas sua mente não deixou de pensar que tal-
vez tivesse negociado com um ser mais perigoso do que Zoltan
que ele havia ajudado a derrotar na Segunda Era. Ele sabia que Sur
havia preparado algo não só com ele. Aquela visita inesperada a
Magoteca naquele dia ainda teria desdobramentos não tão sim-
ples e não acabaria ali no Concilio de Ostri. Pelos menos a mente
de Mystra agora seria sua. O monge nunca havia perdoado antigo
o aliado pela morte de Glinterliff.
“Maldita hora que o ressuscitei duas vezes”. O Monge pen-
sou. Agora não iria mais matá–lo. Iria deixá–lo vivo sobre seu co-
mando. Ficou um pouco incomodado pensando se teria valido a
pena tal ambição para vingar–se do antigo conehcido mago.
O monge percebeu por um instante que, talvez, não esti-
vesse vendo todas as cartas da mesa.

120
Capítulo 21 – Navarro, o pirata.
Sur estava mais sério do que de costume naquela noite que
antecedia o Concílio de Ostri. O mago sabia que, o aconteceria no
outro dia a luz dos Sóis de Arabel, dependia essencialmente dos ar-
ranjos que pudesse conseguir naquele instante nos labirintos sub-
terrâneos de Hanbarden Arnen. Estavam na penumbra dos aper-
tados caminhos do subterrâneo da cidade dos homens naquele
Concílio Secreto convocado às escuras por ele.
Estavam presentes a aberração Escaravelho da Casa Esca-
ravelho, Swart Vel líderes dos homens negros, a Rainha Drow do
Pinheiro Dourado e o recém–intruso convidado para aquela Reu-
nião Dom Capitano Navarro, ainda que travestido de Agdaren o
Ruivo. Sur começou firme e direto como de costume:
–Temos pouco tempo então serei direto com vocês. Espero
que topem o que vou propor. Talvez se não aceitarem é provável
que nenhum de nós saia dos labirintos subterrâneos de Hanbar-
den Arnen vivos para o Concílio de amanhã.
Svart Vel inclinou seu corpo para frente aproximando–se de
Sur na tentativa de entender se aquilo havia sido uma ameaça. A
Rainha Drow tentou levantar–se mais uma vez e ir embora quan-
do foi jogada pela força do cajado de Sur de volta ao seu assento.
– Acalmem–se. Quero que cheguemos a um acordo bom
para todos. Me escutem ao menos.
Os membros do concilio secreto voltaram–se a suas posi-
ções mais confortáveis naquela mesa de negociação. Navarro
entendeu a confusão que havia se metido. Ainda bem que estava
como Agdaren e que nunca saberiam que o pirata é que esteve
ali. Sur então prossegiu:
– Em demonstração de confiança a vocês exporei aqui um
segredo dos magos. Assim que o Concílio de Ostri terminar os Ma-
gos começarão a subir a escadaria rumo a Aeon. Todavia, isso não
é tão simples de se fazer sem que toda Arabel perceba. É por isso
que estou aqui hoje. Gostaria de pedir a ajuda de vocês. Óbvio que
teria algo a oferecer em troca se estiver dispostos a ouvir.
Swart Vel, A Rainha do Pinheiro Dourado, a Aberração Esca-
ravelho e Agdaren, os Ruivos puseram–se a ouvir. A primeira parte

121
do Concílio oculto estava feita. Sur tinha a atenção de todos ali no
submundo de Hansbarden Arnen. Então prosseguiu:
– Com os magos subindo a escadaria, Swart Vel, estamos
oficialmente abandonando o governo de Arabel em busca de
Aeon. Creio que você já percebe o que isso significa. Talvez seja
hora de os Sacerdotes Negros comandarem não só Hansbarden
Arnen, mas toda Arabel. Todo poder vago é para ser ocupado.
Assim que subirmos as escadarias talvez os dragões entendam
que sem os magos é a hora de o poder ser novamente deles.
Eu confesso que prefiro os Sacerdotes Negros no poder aos
dragões. Ofereceria também o cargo para a Rainha Drow aqui
presente ou até mesmo a aberração Escaravelho, mas creio
que sabem que não teriam forças suficientes para se imporem
como governantes. Os sacerdotes de gamma, porém, depois
da Magocracia, são os únicos que conseguiriam isso.
A Rainha Drow era inteligente o suficiente para saber
que Sur falava com propriedade. O Escaravelho acompanhava
curioso aquela reunião ainda sem entender o porquê Sur queria
sua presença ali. Obviamente aquela proposta de retirada da
Magocracia do poder de Arabel e a passagem de bastão para
os Sacerdotes Negros teriam alguns custos para os homens de
pele de ônix. Swart Vel ponderou o que Sur quereria em troca à
proposta que sugeriria. O Grande Mago então prosseguiu:
– Veja bem, Vel. Não que eu não tenha fé que ao subir as es-
cadarias não sejamos aceitos no reino de Aeon. Entretanto não
posso ter a fé ingênua dos Magos Iniciantes da minha Ordem que
apostam todas suas fichas no encontro com Aeon. Supondo que
ao subirmos a escadaria não encontremos exatamente a reali-
dade que todos nós esperemos, preciso ter um plano B. Depois
de subirmos a escadaria, se descermos de volta, não teríamos
mais nenhum respeito dos povos de Arabel. Seria a prova cabal
da inexistência de Aeon. Óbvio que não é isso que irá ocorrer,
claro. Vamos viver a eternidade com Aeon. Mas caso precisemos
recuar, creio que o Berço das Fadas seja um lugar interessante
pra se viver. E obviamente contaria com o apoio de Swart Vel e
dos sacerdotes negros para que lá não fossemos incomodados.
Swart Vel entendeu rapidamente a proposta de Sur. O go-
verno de Arabel em troca de um lugar de resguardo garantido

122
para os Magos quando a subida da escadaria mostrasse infrutífe-
ra. O acordo parecia fácil de ser aceito pelos sacerdotes negros
quando a Rainha Drow ponderou:
– E como os magos pretendem tomar o Berço das Fadas para
si? Isso é impossível Sur. Você sabe bem. Se fosse possível vencer
as fadas dentro de seu berço eu mesmo já teria feito. E você sabe
muito bem que há mais de uma era a Senhora do Crepúsculo Ou-
tonal não autoriza que suas fadas saiam de lá.
A Rainha do Pinheiro Negro tem profunda razão. E por
isso precisamos que amanhã, no Concílio de Ostri, as fadas se
comprometam a descer do Berço para ajudar Arabel a vencer a
Banalidade. E para que isso ocorra precisarei do apoio de vocês.
Tanto para garantir que as fadas desçam, Rainha Drow, quan-
to para garantir que suas asas sejam cortadas e, portanto, não
consigam mais subir de volta por caminhos aéreos até o Berço.
Os magos, tomando o Berço como seu novo lar, conseguiriam
protegê–lo de uma invasão pela escadaria. Impedindo o ataque
aéreo das fadas, poderíamos viver sossegados no Berço caso
o caminho à Aeon não nos leve a lugar algum. Teria interesse
Rainha Drow em lutar contra as fadas em campo livre e cortar
suas asas que as fazem sentir–se superiores as demais fadas
que decairam e perderam suas asas em Arabel?
A Rainha Drow abriu um enorme sorriso. Esperava aquela
oportunidade de se vingar das fadas do Berço há mais de uma
era. Sur prosseguiu:
– Obviamente Vel, depois da destruição das fadas, os sacer-
dotes negros garantiriam anistia ao povo Drow pelos atos come-
tidos em Arnandirah. Quem sabe até permitiria que as fadas vi-
rassem escravas do povo da noite sem que fossem incomodadas.
– É algo que os Sacerdotes negros poderiam fingir não ver,
caro Sur. Respondeu o homem negro reluzente.
A Rainha do Pinheiro da Noite parecia animada com aquele
plano. Não mais tentara fugir daquele concílio como fizera no
início. Mas ficou curiosa em saber:
– Sur só me diga uma coisa. Como pretende fazer as fadas
descerem do Berço?
– Rainha do Pinheiro da Noite é aqui que precisarei da ajuda
de vocês no Concílio de amanhã. Estou estudando particularmen-

123
te a Banalidade há algum tempo nos livros mais altos de Magoteca
em linguagens que talvez só eu e mais alguns magos consigam ler
e compreender. É impossível destruir a nuvem negra que paira so-
bre Arabel. Ela se forma a partir das emanações psíquicas dos mo-
radores do planeja. Para Banalidade desaparecer os moradores de
Arabel precisam parar com as guerras, trapaças, com a violência.
São tais atitudes que alimentam a nuvem negra. Não sou ingênuo
de achar que isso tem a menor chance de ocorrer. Entretanto...
Sur tinha esse hábito de fazer pausas em sua fala para pros-
seguir com seus discursos.
–Deixei vazar essas informações sobre a Banalidade entre
a comunidade élfica itinerante. Eles foram bem crentes em acre-
ditar que poderiam derrotar a Banalidade fazendo de suas vidas
uma constante festa com alegria. E nos últimos eventos tem
conseguido reduzir a banalidade com suas feiras itinerantes. Por
onde passam, momentaneamente, a Banalidade diminui. Não te-
nho dúvidas que tais experiências élficas serão relatadas amanhã
no concílio de Ostri, pois enviei o convite aos elfos itinerantes.
Estou convidando todo tipo de ser para o Concílio amanhã, Es-
caravelho, por isso venho pessoalmente entregar o convite para
que as aberrações também estejam presentes. Com isso a parti-
cipação dos elfos itinerantes não fará surgir surpresa. Afinal todo
de tipo de ser de Arabel fora convidado, até mesmo as aberra-
ções. E talvez essa seja nossa grande oportunidade de fazer as
fadas descerem do Berço. Com a desculpa de combatermos a
banalidade precisaremos organizar uma grande festa um grande
evento que façam as fadas se sentirem coagidas a participarem.
Swart Vel interrompeu a explanação do grande Mago:
– Espere Sur. Se qualquer um de nós propormos uma bo-
bagem dessas seremos desmascarados na hora. Nenhum anão,
nenhum homem que se preze engolirá essa história.
–Você tem completa razão, Sacerdote Vel. Todos em Arabel
conhecem a personalidade dos que aqui estão. Não estamos no
poder em nossas respectivas regiões por sermos exemplos de
pacifismo, não é mesmo?
–Entretanto as Dríades estão realmente preocupadas com a
Banalidade. Elas são elementais da natureza que estão a morrer à

124
medida que a nuvem negra ganha força. As dríades são reconheci-
das geralmente por possuírem corações generosos. Tirando a Ra-
inha do Inverno, Algazia Villenfel, as dríades parecem interessadas
no bem. Já dei um jeito do convite não chegar às mãos Villenfel.
Um mago permitiu–se ser roubado ao passar na Ilha de Gothã e
por isso o convite a terra de Aziel nunca chegou ou chegará. Ela
poderia ser a única elemental a fazer oposição a quem deve pro-
por a realização da festa de Arabel, a Dríade Baramiel.
Ninguem ali naquela mesa conhecia a Dríade Baramiel, a não
ser Navarro, que permanecia em silêncio, travestido de Agdaren,
tentando entender toda aquela loucura que havia se metido. Sa-
bia que a mente controladora de Sur já revelaria o papel que havia
pensado para Agdarem em toda aquela história. Chegou por um
momento a ter pena do ruivo. Não era isso que tinha pensado ao
trocar de corpo com o homem irrecusável.
A Aberração escaravelho perguntou:
– Quem é Baramiel, Sur?
– Baramiel é a filha de Glinterliff no Reino do Carvalho Dou-
rado. A jovem dríade carrega a inocência necessária e esperan-
çosa das almas que ainda não vivenciaram as grandes tragédias.
Precisamos conduzir o conselho para que Baramiel ganhe posi-
ção de destaque de maneira que ela decida propor a festa de
Arabel como solução. Ninguém acreditaria, vindo da dríade, que
tal proposta teria interesses escusos. As dríades realmente estão
desesperadas para combater a Banalidade. Preciso que apoiem
a jovem dríade no concílio até que sua voz ecoe como a de uma
verdadeira líder.
– Mas como garantir que Baramiel faça exatamente o que a
gente quer? Perguntou a Rainha Drow.
– Isso já está resolvido, Rainha do Pinheiro Negro. O mon-
ge que a aconselhará a fará servir aos interesses da Magocracia.
Tive que sacrificar muito por isso. Mas um de nós terá que se
perder para que todos os outros se salvem. Baramiel fará o que
nós queremos, não tenha dúvida.
O plano de Sur se desenhara muito bem até ali, mas o Esca-
ravelho, líder das aberrações, ainda não entendera qual seu papel
naquilo tudo, muito menos de Agdarem que parecia em silêncio.

125
Swart Vel então perguntou:

– Você parece ter tudo muito desenhado na mente, Sur, e da


minha parte, creio da Rainha Drow também, está tudo acertado.
Caso o Concílio caminho para o que narrou faremos nossa parte.
Mas porque o Escaravelho está aqui? E porque o ruivo assiste a
toda essa exposição? Ele já deveria estar morto.
Sur então respondeu com a tranquilidade na voz de quem
se antecipa a todos os movimentos:
Quando a festa começar é preciso que as aberrações criem
a confusão que permita que as rainhas drows ataquem as fadas
no meio de toda confusão. Se isso partir delas, Arabel toda saberá
que o concílio de ostri foi armado e que postura pacifista delas no
Concílio foi falsa. Se as aberrações atacarem primeiro, as Rainhas
Drows podem argumentar que apenas se defenderam. A Casa do
Escaravelho pode plantar a notícia que aquele ataque, na verdade,
fora armado pelas fadas, o que justificaria a reação da Rainha da
Noite. Mesmo que posteriormente se descubra que era mentira
das aberrações e não fora as fadas que organizaram o ataque a
festa de Arabel, o mal já estará feito.
– E o que a Casa do Escaravelho ganha atacando a Festa
de Arabel, Mago Sur? Não somos estúpidos de servir aos inte-
resses dos seres da superfície enquanto somos massacrados
aqui embaixo!
Sur esperou aquele momento para dar sua cartada final.
Olhando para o Sacerdote Negro, o mago falou:
Creio que Swart Vel, como todo o poder de Arabel nas
maõs, após se proclamar Imperador do planeta com a fuga dos
magos, possa deixar Arnandirah, o local que ocorrerá a festa por
ser onde a Banalidade se localiza mais intensamente, como um
novo lar para as aberrações.
Swart vel riu impressionado como Sur tinha realmente pen-
sado em tudo. Realmente o Grande Mago não chegou ao poder
à toa. Era a mente mais brilhante de Arabel.
A Rainha do Pinheiro da Noite só ponderou ainda sem enten-
der: Mas como esse ruivo, Agdaren, vai ser útil nisso tudo.
Sur então respondeu:

126
–Este homem aqui não será útil. Mas a sua imagem sim e é
preciso que saibamos procurá–la.
Olhando para o anel no dedo de Capitano, Sur, fez um voz
que revelou que talvez pudesse ter cometido um pequeno erro
de trazer o falso ruivo para aquele acordo e que teria que achar
o ruivo verdadeiro. Então prosseguiu:
– Mas se ele consegue ser Agdarem travestido é porque
Agdarem está entre nós realmente. Não imaginei que teria tan-
ta sorte assim. Precisarei de alguém que consiga acessar o torpor
verdadeiro para libertar um velho amigo querido que está preso
no Berço das Fadas desde a primeira era. Pensei que já podia ne-
gociar isso com o ruivo aqui, mas vai ter que ser após Ostri. Creio
que Hashwinders Storn nunca chegou a Aeon, pois as fadas nunca
deixaram que ele ultrapassasse o berço. Ele deve ser prisioneiro lá.
É hora de libertá–lo. Provalvemente sua prisão é antimagia, pois
se não ele já teria escapado. Precisarei de força para libertá–lo. En-
tão Agdadrem fará isso pra mim. Só preciso saber qual a face que
devo procurar para encontrar o verdadeiro Agdarem e o levá–lo
até o berço das fadas.
Batendo seu cajado no chão três vezes, Sur realizou uma
magia para que o dopolganger de Agdaren se revelasse em iden-
tidade verdadeira.
Quando Navarro apareceu, só deu tempo de ele fazer sua
despedida. Abrindo um livro que carregava no bolso, o pirata se
transportou para dentro dele, não sem antes dar um tchau com
as mãos para Sur.
O mago, todavia não se importou. Sabia qual a face deveria
procurar para encontrar o verdadeiro Agdaren, o Irrecuável. A
imagem de Capitano Navarro. Cuidaria do pirata depois se fosse
necessário.
O concílio secreto se encerrou com todos os acordos defini-
dos. Nenhuma política efetiva em Arabel se faz a luz do dia. Não
fora, novamente, dessa vez que assim ocorreria.

127
PARTE IV
A Semana de Sete Luas

Capítulo 22 – Agdaren, o Ruivo


A primeira lua estava no céu, quando Agadaren acordou
com uma forte dor na nuca. Mais uma vez havia sido golpeado,
assim como ocorrera na Taverna da Nau dias atrás.
– “É preciso cuidar melhor dos seus flancos”, pensou.
Tentou se levantar e assustou–se quando percebeu que flu-
tuava. O susto fez o ruivo se mexer intensamente, tentando se
equilibrar, quando reparou que não era possível cair de onde es-
tava. Foi relaxando até perceber que o Grande Mago Sur estava
à sua frente esperando–o acordar.
– Fique calmo, Navarro. Quer dizer, Agadaren. Bradou Sur
em seu tom calmo que provocava arrepios.
O ruivo reparou que ainda estava com a imagem física do
pirata espacial. Tentou ainda se portar como Capitano, quando
lhe veio à mente que o mago Sur havia lhe chamado de Agda-
ren e que, portanto, não adiantava muito fingir para o Grande
Mestre sua falsa aparência. Girou, então seu anel e retomou sua
forma original. O Mago Sur então continuou:
– Desculpe lhe trazer a magoteca de forma tão brusca,
ruivo, todavia, quando seus amigos repararam que a Safira do
Oeste não estava mais no porto do Vale das Garras, precisei agir
rápido antes que fosse completamente desmascarado e perdes-
se a chance de estar aqui, nesse encontro, com você.

128
Agdaren começou a se lembrar do que havia acontecido
na noite anterior após o final do Concílio de Ostri. As chegar à
praia, a embarcação de Navarro já havia desaparecido. Foi quan-
do, mais uma vez, recebera um golpe na cabeça, muito provavel-
mente de um orc que ele havia suspeitado que tinha lhe seguido
desde o momento que saíra de sua cadeira de garra no Concílio.
–“Hum.. deveria estar a mando da Magocracia”, pensou
naquele momento após se situar que flutuava próximo aos livros
superiores da Magoteca.
Sur, então, percebendo que Agdaren recuperava a cons-
ciência e com uma voz acolhedora ao ruivo, prosseguiu:
Você conhecer a história de Arabel, verdadeiro Agdaren.
Como tudo começou na Primeira Era?
– Sou um homem do lar, senhor. Não faço ideia. Agdaren
ainda coçava a cabeça tateando exatamente o ponto que doía
do golpe da noite anterior.
–Creio que seria interessante você saber um pouco, então.
Retrucou o Mago Sur.
Movendo–se em levitação em direção a um livro em uma das
estantes mais altas da Magoteca, Sur abriu a obra e começou a
narrativa sobre os símbolos que ali estavam desenhados e que Ag-
daren não conseguia identificar como alguém era capaz de lê–los.
Sur iniciou a interpretar aqueles símbolos:
Quando Arabel foi criada vieram do espaço dois povos feé-
ricos distintos, os da energia genuína do Aeon e os provindos
Gamma. Como estas eram energias adversas eles formaram rei-
nos isolados. Por último, ainda vieram os humanos, filhos do
Aeon. Estes também formaram um reino isolado e lá permanece-
ram. Os humanos que chegaram já eram poderosos magos pro-
vindos de outros planetas, eles não foram criados em Arabel, e
por isso viveram em um reino fechado por montanhas e campos
de força mágicos por duas eras. Este reino era Islanumaeon e a
única forma de entrar nele era através do Portal dos Magos, que
sempre se manteve fechado durante estas duas eras.
Havia outros humanos em Arabel, mas estes outros humanos
eram provindos do Aeon diretamente, recém–nascidos e acaban-
do de sair do estado de centelha estelar.

129
Após um tempo, formou–se do lado da energia genuína de
Aeon, o Reino feérico da Torre de Diamante que era governado pelo
deus elfo Myrkan, com sua armadura e espada de diamante. Ele era
um alto elfo, loiro dos cabelos longos, e tinha uma rainha do qual vivia
em constante discussão pois ela era misericordiosa e ele muito radical.
Aos poucos a intolerância do Rei Myrkan foi deixando a Ra-
inha Andala doente. Myrkan era contra os mortos caminharem
no plano material, mesmo que estes ficassem no reino fechado e
murado por montanhas e campos de força e fogo radioativo do
reino gammático de Zoltan, o deus–rei das Masmorras Profundas.
O reino de Myrkan não era murado e não era necessário passar por
nenhum portal para adentra–lo como o reino de Zoltan e dos Ma-
gos, ele nem tinha fronteiras definidas.
Então, por achar errado, os mortos caminharem sobre a terra de
Arabel, Myrkan criou uma muralha no plano espiritual do ar impedin-
do que aqueles que voltassem a caminhar depois de mortos na maté-
ria entrassem em seu paraíso no astral, e passou a julgar quem podia
entrar e quem podia sair do paraíso e quem podia nascer no plano ma-
terial novamente. Isto fez com que ninguém mais quisesse entrar no
paraíso de Myrkan que ganhou o nome de O Paraíso Esquecido.
Como o reino de Myrkan estava aos poucos sendo abandona-
do, Involker, um dos maiores conselheiros da sua corte, um elfo ca-
reca que se vestia como um monge se prontificou em impedir que a
alma dos mortos chegasse até o plano material, e por um tempo In-
volker conseguiu impedir muitos. Até que todos aqueles que viviam
no Purgatório se rebelaram e derrotaram Involker, tirando seu po-
der divino e subjulgando–o a vagar como um morto–vivo pelo plano
material. Este acontecimento aumentou a ira de Myrkan.
Do outro lado, Zoltan não podia permitir que Myrkan impe-
disse seu povo de percorrer os planos como gostaria, então abriu
os portões de seu reino permitindo que tanto os mortos quanto
os vivos de seu povo circulassem livremente por toda a terra de
Arabel. Mas o povo de Zoltan não se deu muito bem com o povo
de Myrkan e com todos os acontecimentos Myrkan reuniu seu
grande exército para invadir e deter o povo de Zoltan. Esta guer-
ra perdurou por centenas de anos e a região em frente as terras

130
de Zoltan foi chamada de Planície da Batalha Eterna por causa
disso, inclusive porque a batalha se estendia no plano astral. En-
tretanto no plano astral a Planície da Batalha Eterna era enfrente
os muros do Paraíso Esquecido.
No final Myrkan venceu a guerra, todo o povo de Zoltan foi
subjulgado para os Abismos de Gamma e Zoltan foi aprisionado em
um fosso profundo de uma torre numa pequena ilha isolada cha-
mada Gardigal. Para aprisioná–lo, Myrkan e seus elfos foram até
o Portal dos Magos pedir auxílio prometendo que haveria paz se
Zoltan fosse aprisionado. Os Arquimagos então concederam sete
pedras prismáticas para proteger o portal do fosso de Zoltan e vol-
taram a se isolar em seu reino.
Assim termina a primeira era, com Zoltan aprisionado e
seu povo banido, Entretanto Zoltan Lopham tinha um grande
trunfo nas mãos antes de ser banido. Ele pegou uma centelha
estelar, um humano em formação iniiial e cuidou dele para que
se tornasse um ser de grande poder algum dia junto com sua
consorte Lucila Lopham, uma sacerdotisa da ordem das Succu-
bus, provinda da energia de Shakti.
A este humano, deu o nome de Arcanjo, e ele precisava que o
recém–humano nascesse no plano material antes que fosse aprisiona-
do e derrotado. Então copulou com uma humana no plano material
chamada Arnandia Del´ersse, que vivia junto com o povo de Myrkan.
Arnandia foi perseguida durante a gestação pelos elfos de
Myrkan e devido a fuga e as tentativas de assassiná–la o parto de
Arcanjo foi complicado. Arnandia morreu durante o parto. Entre-
tanto, Martelokai, o anão que realizou o parto cuidou de Arcanjo e
o treinou para ser um grande guerreiro.
No fim os Arquimagos foram isolados, e se dedicaram a criar
a escadaria para o Aeon, por meio do mestre supremo que na épo-
ca era Hashwinders Storn. O filho adotivo de Storn, o Geneticista
estava começando a desenvolver seus experimentos e o reino de
Myrkan saiu vitorioso e próspero.

Sur parecia mergulhar em suas memórias ao ler aquela his-


tória do Livro das Alturas. Bradou por fim:

131
– Eu era aprendiz de Hashwinders Storm nesta época, rui-
vo. Meu grande amigo e mestre que desapareceu ao subir a es-
cadaria há tanto tempo.
Agdaren ouviu toda aquela narração com atenção, mas esta-
va um pouco confuso sobre quais motivos o faziam estar ali, com
O Grande Mago Sur, escutando aquelas histórias que os humanos,
como ele, sempre consideraram mais lendárias do que reais.
As coisas começaram a ficar um pouco mais claras quando
o Mago Sur, aproximando–se de Agdaren, prosseguindo com
sua voz ao mesmo tempo doce e ameaçadora:
– Sabe ruivo, há pouco tempo surgiu um boato em Arabel que
os magos subiriam a Escadaria rumo a Aeon novamente, trilhando
o caminho que Hashwinders Storn percorreu. Foi quando recebi a
visita de um velho membro da Magocracia, o Mago mestre da Or-
dem de todos os Mistérios, o peregrino Ombaladon. Ele me trouxe
uma informação que sempre desconfiei, mas que até então não ti-
nha comprovações. O peregrino me disse que Storn não ascendeu
a Aeon de fato. Que na verdade ficara preso no Berço das Fadas.
Agdaren continua confuso sem compreender muito bem o
porquê estava escutando aquilo. Mas Sur prosseguiu:
–Sabe por que Ombaladon ganhou o apelido de peregrino,
filho. Não, não foi porque ele caminhou por toda Arabel até fun-
dar a Ordem de todos os Mistérios nas Montanhas da Barbária.
Ombaladon estava na comitiva inicial que subiu a Escadaria, e
que eu, por ser mago iniciante, não pude participar.
Sur declinou um pouco a voz ao relembrar aquelas memó-
rias. Mas continuou:
– Pouca gente sabe, todavia que Ombaladon desceu o ca-
minho de volta. As fadas não deixaram os magos passarem do
Berço e aprisionaram Storn lá. Ombaladon finalmente me reve-
lou a verdade quando soube que os magos estavam a caminho
de Aeon novamente pela escadaria.
–É uma história realmente muito triste, Sur, mas sou apenas
um ruivo do lar. Não tenho interesse nessas confusões do poder
de Arabel. Só estava no Concílio pelo acordo que fiz com Navarro
onde ele me garantiu que teria reunião com os sacerdotes negros
que possibilitariam um retorno para minha casa em Hansbarden Ar-

132
nen com alguma história que eles inventariam que me garantissem
a tranquilidade necessária. Que para isso precisaria usar minha ima-
gem. Só fiquei no lugar dele enquanto ele cumpria o acordo comigo
fazendo o que ele pediu: apoiando Baramiel e as Dríades.
–Bom, sinto informar que estava nessa reunião de Capitano
com Swart Vel, Agdaren. E as coisas não saíram, talvez como ele
esperasse. Foi assim, inclusive, que descobri quevocê existia e
onde estaria. Sinto ainda lhe dizer que Navarro, nesse momento,
é apenas um fugitivo.
A cabeça de Agdaren voltou a doer. Talvez tenha sido um
excesso de otimismo confiar em um pirata.
– Bom isso não significa que eu não possa conceder o seu de-
sejo. Tenho um ótimo relacionamento com Swart Vel e ele me deve
alguma coisa que poderia assegurar o seu retorno para a comunida-
de ruiva, sem que fosse incomodado com as histórias exageradas
do passado que o assombram, Os sacerdotes negros são excelen-
tes na criação de narrativas, nisso Navarro acertou. Se tem alguém
que pode devolver sua paz, são eles.
Agdaren sabia que, assim como Navarro, esse pedido teria
algo em troca para ser feito.
–E o que um ruivo do lar poderia te dar em troca? Minha
imagem de grande herói apoiando a Magocracia?
Sur parecia rir com a visão limitada do ruivo.
–De maneira alguma, Agdaren. Isso seria bobagem para
nós magos. Você consegue imaginar qual a forma que as fadas
encontraram de aprisionar um mago poderoso como Storn e evi-
tar que outros magos o resgatassem?
Agdarem balançou a cabeça negativamente.
– Uma prisão antimagia. É o que existe no mundo das fadas.
Uma prisão criada a partir de tecnologia do geneticista, que fez
tal prisão como um constructo que luta e esmaga. Foi uma de sus
primeiras experiências, antes de misturar sua tecnologia com os
golens e que você enfrentou e venceu. Uma prisão–robô comple-
tamente imune a qualquer ataque mágico, ruivo, e que só ao ser
derrotada revela o que guarda dentro.
Agdarem finalmente entendeu onde Sur queria chegar e
não gostou nem um pouco.

133
– Só conheço um homem que derrotou os constructos em
Arabel, Agdaren. Só um homem que ativou o torpor suficiente
para derrubá–los. E ele está na minha frente nesse momento.
Agdaren não fazia ideia de o que o fez entrar em torpor na
primeira vez e nem tinha consciência de como derrubou os cons-
tructos golens do Geneticista. Seus pensamentos enfebreceram,
quando ouviu a proposta de Sur:
–Suba a escadaria conosco daqui algumas luas, Agdaren,
e enquanto eu cuido da dominação do Berço das Fadas liberte
Hashwinders Storn. Quando descer a escadaria, os Sacerdotes
Negros já terão seu lar de volta pronto para te receber.
–E se eu não quiser esse acordo, Sur.
O Grande Mago coçou a barba procurando a melhor forma
de expressar aquilo que deveria falar:
–Bom agora você sabe o suficiente agora sobre a nossa su-
bida pela escadaria, além, da história de Arabel contida apenas
nos livros superiores, para que a Magocracia o considere um pe-
rigo suficiente para continuar vivo.
Agdaren entendeu plenamente que não tinha escolha. Só
realmente não sabia como fazer aquilo que Sur gostaria que ele
fizesse. Ao ser colocado no chão da magotega novamente, ouviu
Sur aconselhar um jovem aprendiz que lia os livros da altura do
chão enquanto olhava para o ruivo. Agdaren não sabia se Sur
falava para ele ou para o jovem mago, apesar de desconfiar que
aquela fala servisse para os dois:
– O conhecimento é um remédio e um veneno, meu filho.
Nunca se esqueça disso.

Capítulo 23 – Johannes, o Ladrão


A Segunda Lua chegara e Johannes continuava incomodado
com as palavras que escutara de Ivin no Concílio de Ostri.
–“Como assim Aracanjo o teria matado na ilha de Gothã”,
pensava inquieto.

134
O jovem ladrão tinha voltado com Baramiel e Arcanjo
para o Reino do Carvalho Dourado e estava há dois dias com
a cabeça nas palavras de Ivin buscando a melhor maneira de
abordar Arcanjo sobre o que fato ocorreu na ilha de Gothã.
Todavia, não encontrava o momento certo para isso, pois, até
então, Baramiel estava sempre presente. Johannes queria ter
a conversa com Arcanjo primeiramente sozinho, pois sabia
que aquela informação que possuía poderia desestabilizar a
confiança de Baramiel no monge, dias antes da Festa de Ar-
nandirah. Além disso, a volta para o Reino do Carvalho Dou-
rado havia sido difícil. O sumiço de Capitano, bem como da
Safira do Oeste, fez com que as Rainhas Dríades tivessem que
acionar os barcos transportadores de Arabel, que demoraram
a atender o pedido. Além disso as navegações transportado-
ras iam pelo mar, sendo bem mais lentas do que a Safira que
tinha capacidade e autonomia de voar por Arabel sem inter-
rupções. Não era a primeira vez que o pirata sumira de repen-
te, mas naquele momento ele havia os deixado na mão.
Johannes esperou então a anoitecer, para como, de costu-
me ir com Arcanjo até o estábulo de Jack. Naquela noite, todavia,
“Pelos de Cachorro” tinha viajado acompanhando Baramiel em
sua jornada até seu carvalho nos altos das montanhas da flores-
ta de Lango–Lango. Foi o momento propício para que Arcanjo e
Johannes encontrassem sozinhos:
– Arcanjo. Você viu, tanto como eu, que Ivin está vivo. O que
de fato aconteceu em Gothã? Você e ele ficaram para trás quando
mandou que fugíamos. Quando retornou, em meio às sombras da
Banalidade que se expandiam ao seu redor, disse que ele estava
morto e que tinha sido atacado pela essência da própria Banali-
dade. Que nada pôde fazer. Como assim ele estava vivo bem na
nossa frente? Foi realmente o que ocorreu? Você o viu morrer?
Arcanjo não sabia ainda dos níveis de informações que
Johannes possuía. Não sabia se somente perguntara aquilo por-
que, como ele, estava surpreso por ter visto Ivin vivo, ou se tinha
alguma informação extra sobre aquela noite. Por isso insistiu na
mentira, apesar de sua fala ter tons verdadeiros como toda boa
mentira que se conte:

135
– Também estou estupefato, Johannes. Não faço ideia de
como Ivin sobreviveu.
Johannes percebeu que aquele jogo entre os dois poderia
demorar a noite toda. Estava exausto da politicagem de Arabel
que tinha presenciado no Concílio de Ostri. Resolveu, então, ir
direto ao ponto com o, até então, amigo:
– Ivin me disse que você o matou naquela noite, Arcanjo.
Não foi isso que nos contou. Foi o que fez?
Arcanjo baixou a cabeça confirmando suas suspeitas que
o comportamento isolado e cabisbaixo de Johannes naquelas
duas últimas luas tinha a ver com o que ocorreu em Gothã. Le-
vantando a cabeça, e encarando o ladrão, o monge bradou:
– Fui eu quem arranquei seu coração com minhas próprias
mãos aquela noite, Johannes. Ivin não mentiu a você.
Johannes se mostrou surpreso com a confissão tão rápida
do monge sobre o assassinato de Ivin. Pensou que demorararia a
noite toda pra obter uma confissão verdadeira de Arcanjo. Amea-
çou interpelar o monge quando escutou–o prosseguir:
– Você é novo por aqui, Johannes, Não sabe das coisas que já
vivi e ainda vivo em Arabel. Não vou esconder nada de você. Sinto
que minha jornada, finalmente, está próxima do fim. As coisas são
maiores do que você imagina. Vou te contar tudo que aconteceu na
Ilha de Gothã. Depois vou te contar tudo que ocorreu antes disso. A
terceira lua já irá chegar, mas temos tempo até Baramiel voltar do
Carvalho e irmos pra Arnandirah. Só te peço paciência, antes que
possa me julgar. A história de Arabel se cruza com a minha história
e, ambas, não são simples.
Johannes se põe a ouvir o monge em sinal de respeito e confian-
ça que possuía ao parceiro por suas jornadas e aventuras anteriores.
Começemos pelo que ocorreu na ilha de Gothã, então. Sim,
eu matei Ivin, Johannes. Drunked, o anão, que estava conosco
sabe de tudo. Quando o encontrar, ele pode te dar todos os de-
talhes e comprovar o que vou te narrar. Na verdade, foi ele quem
intermediou a negociação para que isso ocorresse. Foi ele quem
me levou ao Mestre Ombaladon, Peregrino da Ordem de todos
os Mistérios na superfície vegetativa das montanhas de Barbá-
ria, dias antes, quando ouvi a proposta para que fizesse o que fiz.

136
Arcanjo fez silêncio por um instante para tentar organizar
suas memórias. E prosseguiu:
– Ombaladon compartilha dos mesmos sonhos que eu, Johan-
nes. Ele não é um mago comum. Ele quer tanto quanto eu, acabar
com o poder da Magocracia em Arabel. Assim como eu, Ombaladon,
viu surgir o poder entre os magos nessa terra e o que isso gerou. O
Mago Peregrino da Ordem de todos os Mistérios me garantiu que ha-
via um jeito de derrotar o poder de Sur. Mas que para isso precisaria
de Ivin, o mago, morto. Ele me disse que o corpo de Ivin precisaria ser
entregue a ele sem coração. Que se isso ocorresse ele poderia ter a
força necessária para acabar com o poder dos Magos. E que eu teria
uma chance de fazer isso, pois o Mago estaria no grupo que Baramiel
organizara para enfrentar a Banalidade na Ilha de Gothã.
Johannes parecia confuso com aquelas revelações.
– Eu fiz o que tinha que ser feito, Johannes. Matei Ivin e
entreguei seu corpo, sem coração ao mestre Ombaladon na flo-
resta de Gothã como combinamos. Não imaginei ver Ivin de pé
ainda. Não sei as intenções reais de Ombaladon com ele. Sei que
a magia que o faz viver é arte das trevas. Não é possível um ho-
mem sem coração caminhar livremente por aí. Mas se isso ajudar
de alguma maneira a Magocracia cair, me dou por satisfeito. Não
é fácil matar alguém, ladrão. Ainda mais um companheiro de jor-
nada. Mas essa não é, dentre as eras de Arabel, a primeira, e nem
será a última vez, que fiz, ou farei, isso.
Johannes encontrava–se confuso com toda aquela histó-
ria. Arcanjo não era de se expor. Naquela noite, todavia, parecia
completamente aberto em mostrar seus planos e desejos mais
profundos:
– E para a Magocracia cair precisaremos de alguns magos
ao nosso lado. Não conseguiremos derrubar os magos sem ter
os nossos magos. Por isso agora espero termos o apoio de três.
Ivin, Ombaladon e...
Arcanjo fez um silêncio por um breve momento e com-
pletou:
– Mystra.
No estábulo um mago de cabelos escuros, e parecendo hip-
notizado, apareceu por trás de Johannes colocando as mãos em
seus ombros.

137
– Como não sei exatamente até que ponto posso contar
com Ombaladon e se Ivin, depois de sua morte pelas minhas
mãos aceitará um dia ainda lutar do nosso lado, resolvi ter um
mago só para mim. Te apresento, Johannes, meu grande amigo,
o Mago Mystra, sobre meus comandos.
Mystra, ao sinal de Arcanjo, foi pegar as cervejas amargas da
estação fria que Jack guardava bem escondidas por trás das cer-
vejas de nozes, para que Johannes e Arcanjo prosseguissem aque-
la conversa difícil., o Mago servia o monge como amo. Sur tinha
cumprido sua promessa, assim que o Concílio de Ostri terminara.

Capítulo 24 – Arcanjo, o Monge


A terceira lua acabara de se iniciar naquela madrugada no
Reino do Carvalho Dourado, mas a conversa entre Johannes e
Arcanjo prosseguia noite adentro, agora com Mystra hipnotiza-
do sentado à mesa:
– Como disse, vou ser sincero com você, ladrão. Não sei se
ainda estarei vivo por muito tempo. É bom que saiba mais das
coisas de Arabel antes que minha jornada, finalmente chegue ao
fim. Talvez encontre respostas para sua jornada também ao co-
nhecer a minha.
Para que você entenda tudo que está ocorrendo, Johannes
preciso te situar sobre como os magos, depois de serem isola-
dos ao final da Primeira Era, ascenderam ao poder formando a
Magocracia que conhece hoje. Essa história perpassa muito da
minha vida, Johannes. Foi quando conheci Glinterlif Goldemum,
pai de Baramiel, no estábulo do reino da Casa do Leão. Tome sua
cerveja, ladrão. Beba também Mystra.
– Era o tempo da segunda era...
Glinterlif era um elfo em busca de aventuras da Floresta de Lan-
go. Era jovem e fui a Casa de Leão em busca de recompensas e aven-
turas também. A Casa do Leão era um reino formado por cavaleiros

138
humanos, que seguiam Orgulho arcano que representa a majestade,
a soberania, a força e a luz primordial do Aeon. Lá fomos para uma
taverna e nos tornamos amigos. Nesse dia, na taverna, chegou um
anunciante do rei de Leão dizendo que a cidade estava sendo invadi-
da por orcs. O Reino do Leão ficava a época próximo a ilha Gardigal
onde estava preso Zoltan. Zoltan, o deus–rei das Masmorras Profun-
das, este creio que você sabe quem é pelas lendas de Arabel.
Johannes acenou positivamente com a cabeça. Arcanjo
prosseguiu:
Os orcs queriam ir até Gardigal pois tinham informações que lá
estavam as pedras prismáticas e queriam roubá–las pra si. Como o Rei
Kharn teria de prontificar todo o seu exército para defender a cidade
do exército de orcs ele precisa que bravos aventureiros fossem até a
ilha Gardigal para proteger as sete pedras e claro que os aventureiros
que se prontificaram com uma boa recompensa em ouro fomos eu ,
Glinterlif e o meio–gigante Brum que conhecemos naquela aventura.
Bom, como era monge, mas não santo, eu, ao invés de pro-
teger as pedras ar reuni e abri o portal que aprisiona Zoltan. Pu-
lamos no foço sem fundo que abriu na nossa para ver o que tinha
lá embaixo. Eramos jovens e estúpidos. Demos sorte que, com o
portal aberto, Zoltan carregou–nos de volta para fora do foço ao
mesmo tempo em que se libertou.
Quando voltamos, O reino da casa de Leão estava devastado
pelo exército de orcs, mas conseguimos derrotá –los, em luta épicas
que o tempo agora não me permite descrever a você neste momen-
to. Entretanto o Rei Kharn ficou possesso aos saber que eu havia
roubado as pedras prismáticas e tinha libertado Zoltan. O Rei Kharn
tentou me executar ali mesmo quando soube. Todavia consegui der-
rotar o Rei Kharn e prometi proteger o povo da Casa do Leão trans-
portando toda a população para uma região mais afastada através
dos dirigíveis áereos que havia conseguido com o Rei Gnomo.
Mas a luta não havia acabado. Os orcs realizaram um ataque aé-
reo as aeronaves do povo da Casa do Leão e as naves foram obrigadas
a aterrisagens forçadas. Foi um dos piores dias da minha vida. Poucos
sobrevieram. Mas conseguimos derrotar o exército de orcs novamen-

139
te. Ali onde caímos persistimo lutando contra vários ataques de exér-
citos orcs até constituírem ali o novo e precário reino da Casa do Leão.
Glinterlif eu decidimos, então, partir para buscar ajuda para
o reino e nas estradas conhecemos Mystra, um mago aventureiro
que veio do reino dos Magos, o estranho elfo drow Andrill e Capita-
no Navarro que você conhece.
Foi quando escutamos pela primeira vez os rumores que os
demônios das terras de Gamma foram libertos e estavam aos pou-
cos caminhando sobre Arabel. Foi quando descobri também que
Zoltan estava me perseguindo sem eu saber bem os motivos. Me
senti de certa forma culpado e prometi a min banir novamente
o povo de Zoltan e o próprio Zoltan, mas sem devolver as pedras
prismáticas que ainda queria comigo.
Em uma viagem para a o Reino da Casa da Manticora , avisei ao
então Rei de Mantícora que os demônios estavam vindo e precisa-
riam de ajuda para derrotá–los. A Casa da Mantícora fora formada
pelas fadas antigas, quando estas ainda camihhavam por Arabel, re-
presentantes da Fúria. Os seres de Mantícoras, achavam, portanto,
que poderiam sempre se garantirem sozinhos. O rei negou a ajuda e
a cidade foi atacada por um exército de Zoltan. Neste exato momen-
to aconteceu um terremoto e tudo foi destruído em Mantícora. Foi
sorte termos conseguido fugir, mas as coisas só ficaram piores.
Em uma investigação no Reino Drow da Montanha do Destino,
lugar repleto de aranhas e florestas dentro de cavernas, Andrill re-
velou–se um espião de Zoltan e tentou me prender em uma embos-
cada. Brum tentou deter Andrill e foi morto. Foi o primeiro grande
amigo que perdi. Glinterlif, que já não gostava muito de Drows ma-
tou Andrill com uma flechada certeira naquela mesma noite.
Foi quando o nosso grupo se desmontou. Mystra então come-
çou a me questionar sobre o fato de eu possuir as sete pedras pris-
máticas uma vez que elas foram forjadas por magos e os magos é que
teriam o poder para utilizá–las. Mystra disse que as pedras deveriam
ser entregues a ele. Eu, naquele momento, entendi que só podia con-
fiar em Glinterliff e entreguei as pedras a ele. Começamos uma batalha
contra Mystra, que foi morto. Capitano Navarro não estava presente
neste momento. Ele sempre desaparecia, sem a gente saber como, a
todo momento que começava a ler aquele livro que carregava.

140
Me arrependi e ressuscitei Mystra quando comecei a apren-
der a aflorar meus poderes divinos. ambos fizemos as pazes. Re-
tornamos para o precário forte da Casa do Leão, pois como os
planos de Zoltan com seu espião fracassaram agora ele resolvera
enviar um numeroso exército de demônios para buscar Arcanjo.
Este exército se armou em frente ao forte. Da torre do forte todo
nosso grupo reunido fizemos uma combinação mágica utilizando
as pedras prismáticas forjando assim uma tempestade elétrica de
água abençoada com a energia do Aeon adversa a Gamma e assim
todo o exército de demônios foi derrotado.
Ali, tínhamos nos tornados, poderosos semi–deuses e mar-
chamos até as terras de Zoltan derrotando todos os demônios,
passando pela Planície da Batalha Eterna, passando pelo portal das
terras de Zoltan, adentram as masmorras profundas e chegando
até a corte de Zoltan para a batalha final.
Foi quando descobri a verdade.
Zoltan e Lucila revelaram–me que eles criaram e cuidaram
de mim e que as profecias diziam que eu estava predestinado a li-
bertar Zoltan. Foi quando entendi que Zoltan não era o vilão e sim
Myrkan. Meu pai, Zoltan, me concedeu poderes e armas mágicas
para derrotar Myrkan.
Invadimos a torre de diamante e derrotamos Myrkan banin-
do–o para o purgatório. Foi um período de Grande prosperidade
em Arabel. Criei meu grande reino com um imenso castelo no De-
serto dos Mortos, Glinterlif se torna rei de Lango Lango, terra que
estamos no momento agora com o nome do Carvalho Dourado e
Mystra criou uma torre de vigília dos arquimagos em Arabel. Capi-
tano Navarro ajudou a fundar a Grande Biblioteca do Sonhar nessa
época, Foi quando parou um pouco de viajar.
Entretanto a deusa Arabel retornou. Ela ficou todo este tem-
po observando o que os seres estavam fazendo em seu planeta,
poupou o reino dos magos, mas decidiu exterminar todos os de-
mais no planeta. Invocando criaturas mágicas gigantes podero-
síssimas difíceis de derrotar. Ela deseja destruir os seres, pois não
gostou do que eles fizeram no seu planeta.

141
No meio das batalhas Mystra questionou novamente a minha
posse das pedras prismáticas, e nós dois lutaram novamente. Desta
vez, consegui derrotar Mystra facilmente e ele foi banido para o purga-
tório. Entretanto, a própria deusa Arabel em pessoa nos pegaram des-
prevenidos e e eu e Glinterleaf fomos aprisionados numa masmorra.
Meus dois filhos, Kassandra e Joshua, ao saberem da minha
prisão foram atrás de mim para me libertar. Após enfrentar muitos
desafios, e adentrar as masmorras de Arabel eles conseguiram me
libertar e Glinterleaf.
Ressuscitei novamente Mystra, pois precisaria de ajuda para
derrotar Arabel. Capitano Navarro propõe que viajássemos para o
seu planeta de orige, o planeta Gaia, para pedir ajuda aos deuses
guerreiros de lá, que eram seus amigos. No planeta Gaia, numa re-
gião chamada Olimpo, conhecemos Hércules que aceitou nos ajudar
e no reino astral de Asgard, Thor, também topou. Mas essa é uma
história para outra conversa. Assim, retornamos para o planeta Ara-
bel e juntos derrotam a deusa Arabel.
Os Arquimagos ficam então revoltados com a destruição da
deusa Arabel e resolveram tomar o poder do planeta. Fui derrota-
do por eles, banido e aprisionado.
Mystra foi promovido na ordem dos arquimagos, por Sur que
chegou ao poder e o Capitano Navarro também perdeu sua Grande
Biblioteca de Fantasia tendo que viver as escondidas através de uma
guilda secreta de rebeldes chamada “A Sombra Inominável”. As pe-
dras prismáticas acabaram ficando com Morbius, meu dragão azul
, que as transformou nas 10 pedras azuis do poder que foram Meu
pai,Zoltan, foi destruído pelo próprio deus Gamma que tomou seu
lugar como a energia que controla Arabel sem que ninguém repare
vivendo em tudo e em todos reinos.
Assim terminou a segunda era de Arabel, Johannes. Com
os magos tomando o poder e os deuses antigos derrotados. E
agora é hora de por Fim a terceira era. A era do Magos.
Matei sim Ivin, Johannes. Fiz o que Ombaladon me pediu.
Se isso ajudar na derrota da Magocracia faria novamente. Não
foi a primeira vez que vi um mago morrer e ressuscitar. Minha

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jornada precisa se encerrar. Preciso descansar e, para isso, preci-
so pôr fim a Magocracia. Estamos juntos?
O ladrão, bebendo o último gole de cerveja, acenou positi-
vamente com a cabeça:
– Eh...Estamos. Vamos ver até onde essa história vai.
Johannes pronunciou essas palavras, pela primeira vez, em
tom mais preocupado do que contente desde que começou a se
aventurar pelo mundo caótico de Arabel.

Capítulo 25 – Navarro, o Pirata


Navarro encontrava–se deitado no chão e sua cabeça ain-
da girava. Não era a primeira vez que mergulhara para dentro
do livro que carregava, mas ainda não estava acostumado com
a rapidez que era transportado quando literalmente entrava no
seu livro “Aventuras de Bolso”. O pirata ainda não tinha tido co-
ragem de abrir seus olhos para ver para quando havia ido. Sua
mente sabia exatamente em qual planeta estava. Seu livro era
um portal que sempre levava ao mesmo lugar: Gaia, a Terra de
onde tinha vindo da Espanha Absolutista alguns anos antes. En-
tretanto nas poucas vezes que tinha ousado viajar com ele – des-
de quando o criou para ser o livro fundante do renascimento da
Grande Biblioteca do Sonhar, quando a Terceira Era finalmente
acabasse e a Magocracia permitisse que existissem livros fora da
Magoteca novamente – Navarro nunca conseguiu precisar para
qual tempo terreno seu corpo era teletransportado ou precisa-
mente para qual ponto da Terra seu corpo teria ido. A órbita de
Arabel, sempre incerta, fazia com que o pirata chegasse a Terra
em momento diferentes do tempo.
O pirata abriu os olhos e percebeu que Gaia estava muito
diferente da última vez que havia chegado no planeta, quando
levou o menino bento consigo a pedido sorrateiro do Peregrino
Ombaladon da Ordem de todos os Mistérios. Suas memórias so-
bre a terra eram de um reino de feudos, castelos e mosteiros na

143
transição da era moderna pra medievalidade. Lembrou também
que ao ir às montanhas de Barbária para cumprir o acordo com o
mago, tinha tomado a decisão certa em não entregar Johannes
para a Ordem de todos os Mistérios, mas sim escondido o me-
nino com Drunked I, o anão que escondeu o menino bento da
Terra com os orcs rosados.
Navarro já havia estado na Gaia Antiga, quando encontrou
com deuses do Olimpo, já estivera na época que mais viveu sobre
a terra, quando da época do Renascimento e agora se encontrava
em volta de grandes construções. Seus pensamentos foram inter-
rompidos, por uma buzina de um automóvel que quase o atrope-
lou pela velocidade acelerada que desenvolvia.
“A energia gamma deve ter sido descoberta na Terra,” pen-
sou ao ver os dirigíveis terrenos em pleno desenvolvimento.
Ao avistar uma lanchonete ao lado da estrada que acordara,
resolveu investigar em que momento a Terra se encontrara. Sabia
que seu tempo era curto e precisava chegar o quanto antes ao
ponto de retorno para Arabel. Teve a resposta de maneira ríspida
do dono do estabelecimento quano este percebeu que o homem
fantasiado de pirata nada iria ali comprar. Em inglês, respondeu:
–Estamos no século XX, lunático. Você por acasso é russo,
investigando o ocidente? Vou chamar a polícia.
Navarro se apressou em sair dali. Conhecia boa parte das lín-
guas da terra e a resposta em inglês lhe fez pensar algumas possi-
bilidades de onde estaria. Sua cabeça estava cheia e ele sabia que
tinha que pensar rápido. O “Aventuras de Bolso” era um portal
de via única. Permitia que se viajasse de Arabel para a Terra, mas
não vice versa. Se quisesse retornar para Arabel precisaria correr.
Sua mente sabia que só existiam três maneiras de viajar da Terra
para Arabel. Uma, a mais demorada era através do universo de
Nox. Infelizmente a Safira do Oeste não estava ali com ele. A se-
gunda seria pelo livro que inventara depois de uma era de estudo
sobre os portais de Arabel desde que as sete pedras prismáticas
foram criadas. Foi desse estudo que o pequeno livro de bolso de
Capitano surgiu, mas infelizmente aquele livro não funcionava
em dupla mão a algum tempo. A terceira forma poucas pessoas
sabiam. Existia em Arabel um portal protegido por um ser místi-
co, existente desde as origens, que protege Arabel da invasão de

144
seres astrais como ocorria na primeira e na segunda era. O local
era de difícil acesso e poucos sabiam que existia ainda. Atrás da
Casa do Smilodon, pertencente a Máscara da Coragem, existe em
Arabel uma ilha fantástica. Essa ilha é protegida por um monas-
tério nas altas montanhas de Balinareth Istilion, os Cumes Doura-
dos. Os desta casa são sacerdotes reclusos e plenos. Apesar de
levarem uma existência pacata e harmoniosa entre os seus, eles
são valorosos no combate devido a seus treinamentos intensos
e suas armas bastante exóticas. Seu estilo de luta é baseado nos
movimentos dos tigres. Em sua maioria são elfos, com olhos de
tigre, cabelos loiros e altos, alguns sob armaduras e máscaras.
Dizem que o sumo–sacerdote é um Rakshasa, mas ele não pode
ser visto pelos sacerdotes menos graduados. Nessa ilha secreta e
sagrada, reside A Grande Vaca, líder na maior das casas de cura de
Arabel, o Sanatorium. Ela dá força a todas as criaturas em estado
de metamorfose ou torpor de Arabel. Lá também habita o portal
que permite que ocorram viagens entre Arabel e a Terra. Fora em
Sanatorium que Navarro havia estabelecido um porto de encon-
tro entre ele e seus marujos para quando desencontrassem. Era
lá que Pantagruel descansava a Safira do Oeste quando esta não
estava a serviço de Capitano. E foi por isso que Navarro descobriu
todos os segredos que havia por ali.
O portal de Sanatorium ligava Arabel à Terra em sete pontos
místicos de Gaia. Cabia então Navarro entender onde havia parado
na Terra, para ver qual era o portal terrestre que estava mais pró-
ximo de Arabel. Com o que havia descoberto no concílio de Ostri,
sabia que precisaria estar em Arabel. Talvez até mesmo Baramiel,
Arcanjo e Johannes precisariam de sua ajuda. O pirata gostava de
andar sozinho, mas se afeiçoava as trupes que Arcanjo montava
para suas aventuras desde que o conheceu na segunda era.
O pirata, então, começou a procurar organizar sua mente
para procurar o portal mais próximo de si. Pôs então sua mente a
lembrar quais eram. Lembrou–se primeiro do portal que já tinha
usado uma vez: o templo de Jokhango protegia sua entrada no Ti-
bet. Também existia o portal da esfinge de Gizé no Egito, mas não
sabia se estaria perto mais da parte oriental ou ocidental da Terra.
Talvez valesse a pena tentar o portal de Kashi, na Índia, onde a
força astral Shiva viveu até ascender como uma flamejante luz,

145
o Axis mundi, irrompendo através da terra para atingir os céus
terrenos. Se estivesse mais próximo das Américas talvez valeria
tentar o portal de Machu Pichu. Nos penhascos do Andes perua-
no poderia acessar o quarto portal terrestre. A basílica do Santo
Sepulcro também poderia ser uma opção. Quem sabe as escultu-
ras moais na Ilha de Páscoa. Sua mente divaga pelos portais ter-
renos que o fariam voltar a Arabel quando reparou onde estava.
Com habitantes falando inglês, avistou aquela poderosa
torre que os gnomos de Arabel ajudaram a construir quando
de sua jornada a terra no século XIX que ajudou os terráqueos a
estabilizarem o tempo marcando a cidade inglesa como o meri-
diano central da terra. De onde estava dava para ver a torre do
relógio do big bang construída por Ring Tringtarktrongdum, en-
tão Rei de Ringtrintarktrongdum como presente aos humanos.
Em troca o Arcano recebeu do terráqueos os portais de Cronos,
a antiga divindade da Grécia terreste, guardado a setes chaves
no reino gnomo em Arabel.
Navarro sabia aonde ir. Se estava em Londres não seria tão
complicado. Era apenas passar pelo portal onde o antigo Ring
Tringtarktrongdum passou pela primeira quando veio a Gaia: a
estrutura megalítica Stonehenge é situada na Planície ingliesa de
Salisbury, próximo dali.
O Pirata tranquilizou–se que a rota de fuga que o permitiu es-
capar de Sur, não o tinha levado por um caminho de difícil retorno.
– “Já, já estarei em Arabel de novo”, pensou alto o pirata
enquanto deixava seu marcante sorriso de canto de boca nascer
entre seus dentes.

Capítulo 26 – Baramiel, a Dríade.


Ao chegar próximo do Carvalho Dourado, junto com Jack,
Pelos de Cachorro, a Rainha Dríade assustou–se. O carvalho que
sustentava sua vida desde que decidira virar um elemental da
Natureza estava enfraquecido como nunca. A Banalidade prova-

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velmente nunca estivera tão forte em Arabel como naquele mo-
mento. A tristeza tomou da jovem Rainha. Seu coração bondoso
já comecara a desconfiar, passadas cinco luas do Concílio de Os-
tri que talvez aquela festa não seria suficiente para derrotar o
mal que habitava os ares de Arabel.
Jack percebeu que os olhos de Baramiel marejava em lágrimas
a medida que tocava em seu carvalho. O bandoleiro dono do está-
bulo do Carvalho Dourado sentiu então que era hora de cumprir a
promessa que havia feito a Glinterliff antes de partir. Caso Baramiel
precisacesse ele sempre estaria por perto bastava Jack o chamar
que no Carvalho Dourado ele estaria. Ao ver Baramiel chorando,
Pelos de Cachorro pegou seu bandolim e começou a cantar uma
melodia triste ao ritmo do instrumento.
Jack entoava acordes e entonações ao céu pedindo que
Dele viesse a ajuda para a jovem Dríade, rainha do seu reino,
cantando a música que Glinterliff havia lhe ensinado e feito para
Baramiel quando o elfo estava no leito de morte:
Filha, tem pena/Mas ouve o meu lamento/Tento em vão/Te
esquecer/ Mas, olhe, o meu tormento é tanto/ Que eu vivo em pran-
to e sou todo infeliz/Não há coisa mais triste, meu benzinho/ Que
esse choro que eu te fiz
Sozinha, Filha /Você nem tem mais pena/ Ai, meu bem. Fi-
quei tão só/Tem dó, tem dó de mim/Porque estou triste assim
por amor de você / Não há coisa mais linda neste mundo/Que
meu carinho por você.
Baramiel reconheceu aqueles versos e aquela melodia dos
momentos finais de seu pai Glinterliff. Seu coração disparou em
emoção fazendo seu pranto ser ouvido por toda a floresta do
Carvalho Dourado. Foi quando a magia ocorreu.
Do Carvalho Dourado a imagem astral de Glinterliff plas-
mou na frente de Baramiel. O elfo apresentava–se com o sorriso
costumeiro. A alegria do passado estava em sua face. Emociona-
do, bradou, a filha:
– Não desista Rainha do Carvalho Dourado. Você irá con-
seguir.

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A emoção tomou conta de Baramiel de uma maneira avas-
saladora. Até Jack, o Bandoleiro estava com os olhos marejados.
Do Carvalho Dourado a imagem de Glinterliff agradeceu a Pelos
de Cachorro pelo lamento cantado que possibilitou que ele saís-
se momentaneamente do Plano Astral.
– Vocês derrotarão a Banalidade. Navarro está voltando, Ele,
Arcanjo , Johannes e Ivin te ajudarão. Juntos vocês saberão que fa-
zer, Baramiel estava sem palavras. O encanto de ver seu pai mais
uma vez a fazia mergulhar em profundo amor e gratidão.
–Entretanto, minha filha esteja preparada. A derrota da
Banalidade não bastará. A festa em Arabel despertará os maus
mais profundos de Arabel. Maus estes existentes desde a era
que estava no Plano Físico de Arabel.
Baramiel tentava focar naquelas palavras com atenção.
– Lembre–se sempre. A Banalidade é a consequência. As
causas do maligno que pairam sobre o planeta também terão
que ser derrotados para que a Banalidade não mais se estabele-
ça em nossas terras.
A imagem de Glinterliff desapareceu por completo depois
dessas últimas palavras que professou deixando seu sorriso mar-
cado na mente de Baramiel. Jack ainda estava aos prantos com
seu bandolim na mão quando viu a Rainha Dríade se levantar de
maneira altiva.
– Vamos Pelos de Cachorro. Já se é a quinta lua. A festa
de Arnandirah começará em breve. Temos muito a fazer. Preci-
samos encontrar Johannes e Arcanjo e partirmos o maís rápido
possível;
Guardando seu bandoloin, a Rainha Dríade e o bandolei-
ro caminharam abraçados entrando pela Floresta do Carvalho
Dourado.

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Capítulo 27 – Vulpes, a Raposa.
Do porão do navio de Navarro, Vulpes reparou que a Safira
do Oeste havia atracado. Passado alguns instantes, reparou que
um profundo silêncio tomara a embarcação. A jovem raposa ruiva,
não era mais a adolescente que fora trancada ali uma década e meia
atrás refém da própria ousadia de entrar naquela embarcação. Ob-
servando o vazio no Safira do Oeste, a raposa tratou–se de se mexer.
Partagruel não havia amarrado as cordas que prendiam suas mãos
de maneira firme. Os marujos de Navarro eram fiéis a Capitano, mas
eram mais atrapalhados do que o comum para o que se espera de
um marujo de uma embarcação marítima. Esgueirando seu corpo
em contorcionismo, Vulpes conseguiu girar sobre o próprio eixo de
seus punhos se libertando das cordas que a amarravam no estrado
que anos antes estava preso o menino bento. Arrombar a porta do
quarto fora fácil para ela. Seu treinamento com os pequenos gno-
mos em Ringtrintarktrongdum, misturada a sua natureza corporal
flexível, davam a jovem raposa habilidades furtivas interessantes.
Ao sair do porão reparou que a Safira do Oeste estava real-
mente vazia. A não por ser por Pulcinella que continuava a pre-
parar suas tornas na cozinha, Gargantua, Partagruel, Arlequino
e Pantaleone não estavam mais na embarcação. Hieronimus,
continuava lá no alto observando as nuvens, mas ele era assim
mesmo. Sua loucura sempre fora a maior de todas. Por isso nun-
ca descia da vela onde habitava no topo da Safira do Oeste. Mais
preocupado com o que ocorria em terra firme do que com o que
ocorria no céu de Arabel, Vulpes não teve dificuldade para descer
da embarcação. Ela não fazia ideia onde estava. Nunca tinha nem
ouvido falar do que passara a avistar quando pisou nas areias, do
que depois descobriu ser, Sanatorium.
Reparou que a praia era cercada por um conjunto de cava-
leiros vermelhos que rondavam todo o redor da ilha. Lembrou
que já ouvira falar deles. Eram vistos como a podridão humana
pelos gnomos de Ringtrintarktrongdum. Os Cavaleiros Verme-
lhos eram os seres humanos em Arabel mais ligados aos ani-
mais. Todos, com exceção do seu líder, por incrível que pareça
por sua aparência animalesca, eram humanos. Mas humanos

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que optaram por uma vida voltada a natureza primordial. O
líder deles era o elfo Silvenlüf, o Folha Dourada, mas que ra-
ramente aparecia em Arabel. Eles o chamavam de Cheff, ape-
nas, e todos que os já tinham visto diziam que ele possuía uma
aparência amedrontadora. Diziam na terra dos gnomos que
fora Cheff, que ensinara aos humanos, o segredo da licantro-
pia. Para Vulpes todas aquelas informações que aprendera com
os Sacerdotes do relógio eram lendas. Passou a desconfiar que
estava errada. Não tinha muito escolha. Se quisesse entrar na
ilha precisava passar pelo guardas vermelhos. Era mais segura
estar naquela Ilha, do que nas mãos dos marujos de Capitano.
Vulpes tentava passar escondida por um dos Cavaleiros
Vermelhos que protegiam a entrada para a floresta daquela ilha,
quando foi descoberta:
– Porque a jovem raposa tentar entrar na Ilha Vitae escon-
dida?
Vulpes gelou. Imaginou que poderia ser entregue a Cheff
e, se se confirmasse o que escurara dos gnomos estaria perdi-
da. Gaguejando tentou se explicar quando foi interrompida pelo
guardião vermelho.
– Até parece que a jovem não sabe que a Ilha de Vitae é
de transito livre para todos os animais. Está tentando esconder
alguma coisa. Só humanos, como por exemplo, os piratas de Na-
varro ali parados precisam de autorização, Vou ter que lhe revis-
tar. Você está agindo, estranho, raposa.
Vulpes parecia não compreender o que estava acontecen-
do ali. Quando ouviu o soldado vermelho dizer:
–Não. Não tem nada. Pode seguir, Eu heim!
Vulpes vinha da Terra. Era um ser estranho em Arabel. Ha-
via sido criada pelos gnomos. Não entendeu bem as palavras que
acabara de ouvir. Era a primeira vez que alguém se dirigia a ela
como um ser animal. Nunca tinha pensando por muito tempo
na natureza da sua essência. Sabia ser um pouco diferente dos
terráqueos. Mas ali em Arabel, com toda sorte de seres, nunca
parou para refletir no que era. Entretanto, dominou seus pensa-
mentos por um instante e prosseguiu. Ao entrar na Floresta Azul
de Vitae viu um ser estranho que nunca tinha visto nada parecido

150
em Arabel aproximar–se dela:
–Não acredito que você está aqui. O estranho ser tinha voz
extremamente doce.
Vulpes estranhou a intimidade pela qual aquele ser de qua-
tro patas a tratava. Mas a doce animal prosseguiu:
–Bem que a Grande Vaca avisou. Você precisa ir até ela. Ela
está te esperando há muito tempo.
Vulpes não entendia nada que estava acontecendo, nem
porque estava sendo tão bem recebida. Ao perceber a confusão
mental da raposa, aquele pequeno ser quadrupede com um chi-
fre em sua testa se apresentou:
– Creio que você deva estar confusa. Você sabe onde está,
não é? Quão importante é você? Tem anos que não vemos rapo-
sas em Sanatorium.
Vulpes meneou a cabeça negativamente.
– Bom, nesse caso, a Grande Vaca deve te explicar. Vou
com você até ela. Mas para que não fique tão perdida podemos
ir conversando. Que tal?
Vulpes seguiu aquele ser escutandotentando prestar aten-
ção nas palavras daquele animal sem demonstrar que reparava
com estranhamento naquele ser quadrupede.
–Eu me chamo Laisser. Sou uma cegonha do Vale dos Uni-
córnio que fica aqui na Ilha de Vitae.
Vulpes estranhou aquele nome. Via literalmente um pônei que
costumava ver na Terra quando criança, mas sem o chifre na cabeça.
Bom na verdade sou um unicórnio, sabe. Mas os homens
me chamam assim pelo serviço que exerço. Vou lhe explicar en-
quanto andamos.
Vulpes estava se sentindo completamente perdida, mas
pensou que quanto mais distante da praia fosse menor era a
chance de ser pega novamente pelos piratas de Capitano. Pôs
–se a escutar, a unicórnio que a guiava:
–As lendas animais dizem que depois de liberar a grande
nuvem ígnea de onde vieram os Arcanos e seus filhos, Aeon re-
verberou em grande explosão final e disto nasceu o homem. As
centelhas e estilhaços que voaram do grande cosmo se tornaram
pequenas estrelas a imagem e semelhança de Aeon e delas me-

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tamorfosearam o homem que herdou o livre–arbítrio. Diferente
das fadas que emanam força cósmica universal e sempre estão
em harmonia com o criador, a humanidade recebeu a indepen-
dência, pois nela estava a individualidade. Descobrindo e expe-
rimentando a cada momento a vibração desarmoniosa ao Aeon,
misturando e recriando formas, desvendando as ondas desco-
nhecidas e mais sublimes imersa na Nox, o homem se expande e
evolui sua luz. Apesar de trilharem caminhos sinuosos e sempre
trazerem consigo a inovação do qual chamam de modernidade,
eles nada mais fazem do que reencontrar o Aeon sob outras for-
mas. O povo anão, que são fadas, costumam dizer que o homem
inventa enquanto eles criam. Esta é uma verdade, o humano é
o senhor da idéia. Entretanto eles nunca serão capazes de criar
algo natural, para eles tudo é modificável. Já as fadas dão vida às
emanações naturais da grande nuvem. É por este motivo tam-
bém que os homens não são capazes de gerar filhos no astral e
seus espíritos nascem eternamente dos fragmentos da explosão
de Aeon que perdura e expande pela Nox. Porem os espíritos
recém metamorfoseados, após a fase da estrela são acolhidos
por humanos que os criam e o chamam de filhos. Geralmente são
trazidos por nós as Cegonhas, elementais alados da energia dos
arcanos que levam os filhos dos homens para aqueles que mais
os atraem energeticamente. A Casa do Unicórnio, casa a qual
pertenço nesta ilha, é a máscara do arcano Vitae que é provedo-
ra da mistura das essências. Nós cuidamos de trazer os humanos
do plano astral para as terras de Arabel.
Vulpes nunca tinha ouvido falar nada daquilo e sua mente
explodia de indagações e questionamento sobre aquela história.
Antes que pudesse–se pronunciar escutou:
– Chegamos. A Grande Vaca lhe espera.
Em um enorme pasto, a luz dos sósis de Arabel, Artiz e Ortiz,
um ser imenso branco, todo riscado de manchas pretas, estava
sentado sobre uma pedra, parecendo guardá–la. Simpaticamente
sorriu pra Vulpes, convidando–a para se aproximar.
–Venha ter comigo, raposa. Bradou a grande Vaca. Sabia
que iria retornar. É hora de saber a verdade, jovem.

152
Vulpes se moveu vagarosamente assentando se próximo
da grande Vaca. Aquele enorme ser não olhava diretamente para
ela. Na verdade não olhava para ninguém, Ficava apenas com os
olhos para cima avistando os sóis de Arabel quando pronunciou:
– Sabia que eles não são verdadeiros.
– Vulpes pareceu estranhar aquela informação.
– Os dois sóis são fantasia dos Magos de Islanumeon. Ara-
bel não tem sóis. Somos um planeta que vaga por Nox sem rumo.

Vulpes percebeu que aquelas informações iam de encontro a


todos os estudo que já tinha feito sobre Arabel em Ringtrintarktrong-
dum. Aquilo não parecia fazer sentido. Mas a grande vaca a atraia.
–Desculpe–me a má educação de não me apresentar. Sou a
Grande Vaca, Vulpes. A oráculo de Arabel. É um prazer te ter de
volta. Eu sabia que essa hora iria chegar.
–Creio que está havendo alguma confusão. Nunca vi a se-
nhora. Devolveu Vulpes.
–Você era muito pequena naquela época, Vulpes. Era apenas
um bebê raposa nascida aqui na ilha Vitae quando o Geneticista
aqui veio, atravessou o portal que estou sentada em cima e te es-
condeu na Terra para que cumprisse sua missão.
Vulpes não entendia mais nada do que estava acontecen-
do. Uma dor intensa, todavia, a prendia a uma sensação de ter-
ror que as palavras da Grande Vaca despertavam nela.
–Vou te contar, tudo querida. Sei que não será fácil, Mas
avisei ao Geneticista que uma jovem raposa iria voltar e destruí–
lo. Mas ele não acreditou.
A grande vaca parecia séria. Vulpes incomoda retrucou:
– Perdão eu não vou destruir o Geneticista. Eu vim encontrá–
lo. Ele mesmo me convidou. Vim servi–lo por ter me tirado da Terra.
–Ah sim. Você ainda está falando da carta que acredita que
ele te mandou. Não foi ele que lhe enviou, querida. Fui eu. Era a
forma de fazer você voltar para Arabel para cumprir seu destino
no tempo certo. Junto com o pirata, sem que o Geneticista sou-
besse. Foi Navarro quem a enviou pra você ao meu pedido quan-
do foi para Gaia na Safira do Oeste buscar o menino bendo pra

153
Ombaladon. Ele sabia que o Geneticista escondera você na Terra.
E sabia que tinha que te trazer de volta, pois no momento que
estivesse de posse do Sangue menino bento ele te encontraria.
–Porque, então, o pirata me colocou como prisioneira em
Ringtrintarktrongdum quando chegamos em Arabel? Não com-
preendo
– Você não era prisioneira, ruiva, Foi criada como uma prin-
cesa com acesso a tudo do melhor. Você estava protegida. Quan-
do Navarro voltou para Arabel e viu que a Banalidade já estava
a dominar suas terras, o pirata percebeu que já era tarde. A pro-
fecia já estava a ocorrer. Ringtrintarktrongdum é a única cidade
que nenhum estrangeiro pisa sem autorização. E os sacertodes
do tempo não aceitam que o Geneticista vá lá desde que ele ten-
tou roubar os portais de cronos, antes de vir aqui e sequestrar as
raposas de Sanatoriun.

Vulpes estava muito confusa. Seu mundo parecia desmoro-


nar em minuto.
– Agora que você saiu de Ringtrintarktrongdum,o Geneticis-
ta está próximo de saber que está em Arabel. Assim que tiver com
o Sangue do Menino Bento em suas maõs ele saberá. Mas agora é
o momento certo. Você já deve estar pronta. Se não a mãe nature-
za não permitiria que estivesse aqui comigo. Já os gnomos devem
estar enlouquecidos atrás de você.
– Eu realmente não estou compreendendo senhora vaca.
– Vou lhe explicar desde o início, raposa. Tudo fará sen-
tindo. Creio que Laisser estava lhe contanto algumas histórias
sobre como os humanos surgem e sua função de trazer as cen-
telhas divinas do plano astral até o plano de físico de Arabel. Va-
mos partir daí então:
– Os homens, Vulpes, em estado de alta evolução voltam
a se tornar estrelas, porém imensas quando morrem. Neste es-
tágio poderão, algum, dia emanar seus arcanos e, em um lon-
gínquo futuro, quem sabe, explodirem como Aeon fez. Esta é
a única forma que um homem é capaz de gerar outros homens,
Vulpes. O Geneticista é filho humano adotivo de Storn e está há

154
muito tempo em busca disso. Desde que foi criado pelo Mago
que subiu a Aeon, ele está se tornando uma estrela no Abismo e
já emana suas fadas, as aberrações que vivem no submundo de
Hansbarden Arnen. Toda sua vida é dedicada a descobrir como
se gera vida e é aí que entra você, Vulpes.
– A profecia dos Sacertotes de Ringtrintarktrongdum dizia
que somente ao beber o sangue com poder de cura de um terrá-
queo, a vida gerada por este ser, no caso os constructos gerados
pelo Geneticista, poderiam vir a ter a vida necessária para ser um
ser completo. As experiências como os Globins Constructos do Ge-
neticiscta tem se mostrado seres falhos. Somente o sangue bento
do curador da Terra poderia fazer o Geneticista explodir como Aeon
e gerar vida através dele da maneira correta.
A questão Vulpes, é que a profecia escondida pelos Sacer-
tores de Ringtrintarktrongdum que o Geneticista teve acesso
quando tentou roubar as pedras de Kronos dizia que uma jo-
vem raposa da Ilha de Vitae traria o sangue do menino bento
da Terra para o sujeito capaz de se tornar o novo Aeon. Por isso
o geneticista veio até aqui e enviou todas as raposas que aqui
habitavam para Gaia, através do portal que estou sentada, Foi
um massacre na nossa ilha este dia O geneticista destruiu todos
os animais que aqui habitavam em harmonia até que todas as
raposas fossem achadas e enviadas a Gaia.
– Foi quando pedi a Navarro, pirata que sempre atracava a
Safira do Oeste em nossas terras, que acompanhasse sua jorna-
da, filha. Ele topou ficar de olho em você em troca de parte dos
segredos do portal que estou sentada. Ele controla também as
viagens entre Gaia e Arabel de alguma forma depois disso. Foi
um preço que tive que pagar para que ele lhe trouxesse você de
volta a Arabel no tempo certo.
Vulpes estava incomodada e maravilhada com aquela histó-
ria, mas não entendia bem qual o papel que a Grande Vaca espe-
rasse que ela fizesse em toda aquela jornada
– A profecia precisa ser cumprida, filha. Ela acontecerá
seja com o geneticista ou qualquer outro ser que tenha san-
gue humano em Arabel. Você precisa entregar o sangue bento
para que um ser se torne o próximo criador, explodindo como

155
Aeon fez e gerando vida. Só não sei pra quem fará isso. Isso só
você poderá responder.
– Todavia, este não pode ser o Geneticista. Os seres gera-
doS dele poderão destruir toda Arabel. Quem deve fazer isso
precisa estar disposto a abnegar a vida e não querer dominá–la.
Você ficaria escondida em Ringtrintarktrongdum até que estives-
se pronta para encontrar o verdadeiro ser que deveria beber o
sangue do menino bento. Protegida dele. Mas a segurança de
Ringtrintarktrongdum falhou e a natureza te trouxe até aqui
até mim a Grande Vsca. A natureza sempre dá seu jeito. Isso é
ótimo, Talvez os sacerdotes gnomos nunca tivessem permitido
que você tivesse saído do seu controle. A profecia diz que quan-
do o ser de Arabel tomar o sangue bento a energia de explosão
que gerará destruirá as pedras de Kronos alinhando o tempo
para sempre. Não sei se os sacertodes gnomos querem perder
o poder dos relógios de Ringtrintarktrongdum. Por isso queriam
você sobre o controle deles. Mas aqui está você. Realmente a
mãe natureza sempre encontra seus caminhos.
– Grande Vaca só tem um problema. Eu não estou mais da
posse do sangue do menino bento. O menino até está em Arabel,
mas o sangue dele não possuo. Navarro tomou de mim quando
viemos para cá.
– Navarro guardou para você, Vulpes. O sangue do menino
no seu corpo físico aqui em Arabel não vale nada. A energia gam-
ma aqui torna o sangue dele contaminado no seu corpo. O san-
gue puro colhido em Gaia é o único que pode fazer um humano
explodir, Se levasse este sangue para Ringtrintarktrongdum, Vul-
pes, ele estaria agora na posse dos Gnomos. Navarro assegurou
que cada um fizesse sua parte. Ele foi obediente ao meu pedi-
do. Mereceu ter seu portal para Terra como sempre sonhou. Fez
tudo que pedi. Ele te devolveria o sangue a você quando estives-
se pronta. Quando desse o seu jeito para se libertar dos gnomos.
Ele está chegando para cumprir a sua parte final no nosso trato.
– Sinto informar senhora que creio que está errada. Dom
Navarro não está na Safira do Oeste atracada na praia. O homem
quer achei que era o Capitano até alguns momentos atrás era só
mais um de seus dopolgangers.

156
A granda vaca sorriu olhando pela primeira vez nos olhos de
Vulpes desde que aquela conversa se iniciara. Deslocando–se para
fora da pedra que estava sentada, falou diretamente pra Vulpes.
–Eu nunca erro, filha. Sou o oáculo de Arabel. Navarro se
aproxima. Eu posso sentir, Mas, dessa vez, o pirata não virá do
mar, Vulpes. Ele virá da Terra.
Uma grande energia se fez presente quando a Grande Vaca
terminou de pronunciar suas últimas palavras. Foi quando a pe-
dra que a Grande Vaca estava sentada se abriu. Da imagem do
Stonehenge que se formara ao fundo da pedra onde a Grande
Vaca estava sentada, o pirata mergulhou de volta para Arabel.
Ao ver Vulpes ao lado da Grande Vaga na Ilha de Vitae, Na-
varro sorriu e disse em direção a oraculo que conhecia desde
tempos antigos:
–Você tinha razão, Grande Vaca. Ela daria um jeito de esca-
par de Ringtrintarktrongdum no tempo certo.
O pirata sorriu pra Vulpes chamando–a:
– Creio que talvez um dia possa me perdoar, raposa. A
Grande Vaca já deve ter te contato tudo. Que tal vir comigo na
Safira do Oeste sem ser nos porões que conhece?
Vulpes estava confusa, mas encantada com tudo que acaba-
ra de ouvir. Sabia, no entanto, que era próximo de Capitano que
precisava estar se quisesse recuperar seu cordão de ouro com o
sangue puro do menino bento. O pirata bradou, por fim,
– É hora de devolver o que é seu. O coração de ouro, com o
sangue do menino bento.Porque o trouxe para Arabel, Navarro?
Porque trouxe o menino e não somente seu sangue?
– Se ele ficasse na Terra não teria paz, Vulpes. O Geneticista
enviou muitas raposas para lhe tirar seu sangue.
– Segui as recomendações do Mesrre Ombaladon e lhe de-
volvi a vida, em Arabel.
– E onde está meu cordão, pirata? Vulpes queria recupe-
rar o quanto antes o cordão que Quiron lhe deu com o sangue
do garoto quando toda essa viagem iniciara. A memória de seu
amigo ferida, lhe fazia lembrar que ainda tinha uma missão pes-
soal a cumprir. A grande vaca havia llhe contado, que aquele era
seu propósito. Destruir o poder dos sacerdotes de Ringtrintark-

157
trongdum era seu desejo mais profundo desde que eles mata-
ram Quiron.
–Não está comigo aqui. Sou alguém facilmente reconheci-
do em Arabel,menina. Não podia deixar comigo. Não seria se-
guro. Navarro contava parecendo feliz de poder se livrar de um
fardo. Proseguiu:
–Mas está no Safira do Oeste. Está com quem não sai do
Navio, Vulpes. Você o conhece bem. Com aquele que não pisa
na terra. Minha embarcação é a Nau dos Insensatos, Vulpes.
Mas são eles, os loucos que guardam os verdadeiros poderes.
São eles que todos desconsideram que apontam os ventos para
onde deve–se ir.
Vulpes entendeu de quem Capitano falava. O sangue que
era seu estava a sua frente o tempo todo. Bastava olhar para
cima. Bastava ter olhos de ver para o pirata mais enlouquecido
do Safira do Oeste.
Na vela da gávea da embarcação, enquanto observava os
ventos, Hieronimuns guardava em seu peito aberto para o mar,
o coração de ouro com o sangue do menino bento. A sexta lua
apareceu naquela noite que iniciava em Arabel. A Festa de Ar-
nandirah estava prestes a começar.

Capítulo 28 – Ivin, o Mago


Ivin tinha seguidos os Magos até Islanumaeon a cidade dos
Magos desde que saíra do Concílio deo Ostri seguindo as instru-
ções de Ombaladon de ficar de olho em Sur. O agora necromon-
te meio humano e meio elfo de Arnadirah, por ser mago, tinha
trânsito livre na cidade dos magos e observa tudo com atenção
enquanto repassava as informações que sabia tentando organi-
za–las mentalmente:
– Arabel é um planeta que se originou da região de Alma-
gum. Lá os Guardiões da Magia, os senhores da chama primor-
dial vivem em Islanumaeon, a Ilha do Sopro de Fogo. Lá é onde

158
se reúne o Conselho dos Magos. Na Terceira Era, os magos são
quem conduzem o planeta, para onde seus corações mandarem,
através do poder de suas psiques. As portas da cidade é onde
ser encontra a Magoteca que todos podem ter acesso. A partir
dela, por vias terrestres, só magos podem acessá–las. É lá em
Islanumaeon também que todos sabem existe “A Escadaria para
o Aeon” visível pra todos porque é a construção que reside nas
alturas do planeta Arabel. Era de informação de que todos que a
escadaria fora criada há muito tempo pelo mago humano Hash-
winders Storn. Ele e seu bando a construíram, mas ninguém
sabe se conseguiram cumprir o objetivo, pois quando a escada
passou pelo berço das fadas, já estavam muito longe para os
outros seres irem até lá descobrir e isto se tornou um mistério
que os magos gostavam de preservar...

Ivin reparou que Islanumeon encontrava–se agitada du-


rante aquele breve tempo antes da Festa de Arnandirah. En-
tretanto essa agitação era interna, pois nenhum mago abria a
boca pra falar algo. Todos os magos estavam inquietos pare-
cendo esperar algum sinal que os fizesse agir. Ninguém comen-
tava nada. Ivin tentou sondar todos os tipos de magos possí-
veis, mas ninguém abria a boca na cidade. Pelo que entendeu, o
Conselho de Magos havia determinado que após o Concílio de
Ostri nenhum mago deveria falar e todos cumpriam a decisão
com rigor. Entendeu que se continuasse perguntando sobre o
que estava acontecendo, mesmo sendo mago, seria expulso de
Islamanueon antes que descobrisse o que de fato aconteceu.
Lembrou – se que poderia, por meio da telepatia, comunicar–
se com Ombaladon em busca de orientações.
Sua mente buscou a ilha de Barbária, mas não encontrou a
mente de Ombaladon. O mago nunca tinha saído das montanhas.
A ordem de todos os mistérios era o templo dos magos que aban-
donam a Magocracia. Mas estava vazia naquele momento. Sua
magia não permitia que se comunicasse com alguém sem saber
em qual região aquela pessoa estava. Percebeu que não conse-
guiria falar com Ombaladon se ele não estivesse na superfície das
montanhas de Barbária. Tentou essa comunicação telepática com

159
seu mestre por seis luas consecutivas. Em nenhuma delas encon-
trou Ombaladon em Barbaria.
–“Mas aonde o peregrino teria ido? O que teria feito aban-
donar o templo por tantos luares?”
A sétima lua apareceu no céu indicando que as Festa de
Arnandirah estava prestes a se iniciar, interrompendo os ques-
tionamentos do mago quando sua telepatia fracassou mais uma
vez. Foi quando um barulho ensurdecedor tomou conta da Ci-
dade do Magos. Milhares de fadas sobrevoaram Islanumaneon
passado rapidamente por ali em direção a cidade. As fadas co-
meçavam a cumprir seu papel de estar presente na Festa contra
a Banalidade.
A mente de Ivin entendeu tudo de uma vez, Assim que as
fadas passaram, os magos saíram apressados de suas casas.
–“Não eles, não vão para Arnandirah”. Pensou.
– “Com o mago a Sur a frente, aproveitando–se que o ber-
ço das fadas estava esvaziado, os magos começaram a subir a
Escadaria rumo a Aeon”. Ivin deduziu rapidamente o que iria
acontecer:
– “Eles tão pouco vão apenas rumar até Aeon. Sur vai to-
mar o berço das fadas para eles”.
Tentou se comunicar com Ombaladon, mais uma vez, para
avisar o que a Magocracia iria fazer quando reparou que sua ma-
gia não estava funcionando mais. Algo estava a bloqueando..
Ivin correu tentando sair de Islamanueon a tempo de chegar em
Arnandirah e avisar da tramoia do magos. Ao chegar até a Mago-
teca viu que não conseguia transpor aquela região. Sur tinha fe-
chado Islamnueon por dentro como uma magia muito poderosa
que Ivin desconhecia. Nenhum mago poderia sair dali em direção
a Arabel ou usar magia a fim de trair a subida rumo a Aeon.
O mago necromante entendeu que não adiantara ficar pa-
rado ali, sozinho em Islanumaeon. Começou a subir com os de-
mais magos e um homem ruivo que caminhava ao lado de Sur
rumo ao berço das fadas chamou sua atenção. Não fazia ideia o
que Sur planejava, mas estava disposto a impedir.

160
PARTE V
A Festa em Arnandirah

Capítulo 29 – Baramiel, a Dríade.


Arnandirah sempre fora a cidade dos elfos magos. Lá, nos
campos verdes, eles viviam em meio as suas florestas. O único
feudo elfo onde quase todos os habitantes eram magos era o
melhor lugar para se comprar materiais de magia já que por esta
cidade passa o Glinterrrondum, o rio de ouro. A festa contra a ba-
nalidade foi montada ao longo do Rio. Apesar de mais voltados à
natureza do Aeon, as fadas também produzem lixos nocivos que
eram despejados na maravilhosa Arnandirah. Assim lá existem
esgotos subterrâneos onde formam gosmas de energias má-
gicas de experimentos perigosos. Na superficie de suas matas,
todavía, poucos sabiam do suberraneo da cidade e dos esgotos
que chegam, inclusive, até Hansbarden Arden.
Os olhos de Baramiel não conseguiam acreditar no que ela
via quando chegou ao Reino de Arnandirah. A festa tinha acaba-
do de começar e a jovem rainha driade nunca tinha visto nada
parecido com aquilo. Seres de todos os tipos estavam reunidos
em comunhão entorpecente ouvindo uma música que Baramiel
parecia reconhecer, mas não lembrava exatamente tá onde.
– Já ouviu isso, no Reino Dourado Senhora?
Jack a interpelou com um sorriso no rosto.
– Talvez enquanto bebia no seu estábulo, Jack. Você reco-
nhece essas músicas?

161
Jack, Pelos de Cachorro, não parecia tão incrédulo quanto a
rainha Driade. De alguma forma aquela festa o lembrava de seus
tempos áureos antes de trabalhar pra Glinterliff. Seu afeto pelo
antigo Rei do Carvalho Dourado vinha dos tempos que o pai de
Baramiel havia lhe tirado da sarjeta da periferia de Sanatorium,
como costumava a contar quando bebia mais do que produzia.
Começou, então, a tentar explicar pra jovem driade o que
estava acontecendo. Algumas daquelas pessoas ali eram suas
velhas conhecidas. Chamou – a pra sentar em lugar um pouco
mais silencioso e começou:
– Em tempos remotos rainha driade, quando o conhecimen-
to ainda não era físico, a Grande Biblioteca dos Magos também
era conhecida como a Casa da Merleta. A Merleta é um pásssaro
que possui plumas no lugar dos pés e é incapaz de pousar. Há
tempos que não vejo mais desses pássaros em Arabel. A banali-
dade deve ter extinguido a espécie.
– Assim como a Merleta, deve ser compreendido o conhe-
cimento doado por esta erudita casa feérica, pois no princípio,
quando os elfos criaram sua língua, conhecida nos tempos atuais
como elfico arcaico, a sabedoria não tinha concreticidade, que
é típica dos homens. A língua não possuía consoantes e só era
compreenssível se fosse pronunciada cantada e com melodias
específicas e complexas. Era uma língua muito difícil. Os homens
descobriram a música através dos elfos, porem não é da nature-
za humana a compreensão da música como fora criada. As can-
ções élficas muitas vezes são compreendidas através da melodia
pura e os homens dividiram a música em dois: verbo e som.
– Então o verbo virou o primordial e a melhor melodia era
aquela que se adequara melhor ao que deveria ser dito sem inco-
modar as palavras humanas de vogais e consoantes definidas. Logo
inventaram a figura do menestrel, que é aquele escolhido para can-
tar as frases que os demais querem escutar, ele é o bardo principal.
– Em outras épocas, minha senhora, em minha juventude
esse era meu sonho, ser um menestrel. Sonhos de uma juventu-
de livre, onde ainda não era marcado pela consciência da minha
condição. Mas isso é outra história..; Proseguindo...
– Os elfos desprezaram o que os homens fizeram com

162
a sua criação e nenhum homem jamais tocou como um elfo,
mas suas mensagens eram bem mais compreendidas e proli-
feravam com rapidez.
– Surgiu, assim, a Banda Colapso, esta que está a tocar na
Festa de Arnadirah contra a Banalidade, senhora Dríade.
– A banda no início não ia para frente devido a falta de um
menestrel decente que dissesse coisas que as pessoas queriam
ouvir. Os músicos eram fracos, com exceção de Íon e o harpista
Hans que era o discípulo mais assíduo de Íon. O tamborista era
um ruivo chamado Slow, que sempre corria com o tempo comen-
do os nervos do elfo. Ele fora colocado na banda para que não
houvesse discriminação racial e atraísse o público de sua raça,
principalmente o feminino que são a grande força dos ruivos.
– Íon tocava alaudes com cara torta nos teatros e tabernas
devido ao desempenho decepcionante de seus colegas e os me-
nestreis que sempre eram descartados por ele. Dizia que não dei-
xaria ninguém cantar se não fossem capazes de superar o tom
agudo de sua voz, pois Íon era um dos Cavaleiros Celestiais da
Casa do Pégasu.
– Os magos não permitiriam que o elfo cantasse porque
seus cantos não eram de fácil digestão aos ouvidos humanos
como lhe disse. A aceitação do canto élfico em Hansbarden, a
cidade dos homens, nunca foi fácil, em verdade.
– Assim, um dia chegou um novo garoto para fazer o tes-
te, seu nome era Pritz Blim e era belo como uma águia. Sua voz
não superava o elfo, mas se ele não fosse aceito alguém o acei-
taria em algum outro grupo e ele iria estourar de qualquer jeito.
– Os magocratas não perderiam esta oportunidade por
causa do elfo que teve de engoli–lo. A banda então estourou.
Milhões de fãs por toda Arabel.
– O segredo de Pritz estava no seu carisma e nas suas le-
tras, ele cantava o que as pessoas queriam ouvir. Íon se tornou
infeliz com o sucesso, mas persistiu mesmo antipatizando Pritz.
As letras do garoto dos olhos falavam de falsas revoluções e re-
voltas sem causa, uma vez que o parlamento magocrata estava
por trás daqueles que os financiavam. Ele instigava os jovens hu-
manos a causas inexistentes e passivas ignorando os problemas

163
reais como a ameaça das máquinas e o descontrole das aberra-
ções. Isso não parecia importar. Logo Colapso virou uma febre.
– Os elfos, vendo esta histérica deturpação de sua obra, a
música, reuniram–se na Casa da Merleta e lá estavam os cavaleiros
celestiais da Casa do Pégasu e os Bardos do Infinito. Por dias eles
debateram até chegarem a uma conclusão: enviar a melhor menes-
trel junto a um grupo de quatro bardos do infinito para mostrar aos
humanos o que era a boa e verdadeira música.
– Aconteceu que no primeiro dia de apresentação no mes-
mo salão do qual participava a trupe Colapso e as melhores e
mais famosas tupes de Arabel os bardos elfos foram tão desmo-
ralizados e humilhados pelo público que estes se tornaram orcs
e a bela voz de Madame Shântara se tornou rouca e estridente
como uma gralha. Desde então ela não volta mais em Arabel e
começou uma vida de pirataria se tornando senhora da velha es-
cola de pirataria. Sempre que encontro Capitano, falamos dela.
– Quanto aos quatro orcs, revoltaram–se e continuaram a
tocar agora como orcs, um som agressivo e pesado. Deles só os
orcs gostaram e em todos os grandes castelos que são convo-
cados acabam por espantar o público. Por isso creio que não fo-
ram convidados para a festa de Arnadirah. Deveriam, pois com
tantas aberrações aqui presentes, creio que elas iriam gostar
de ouvir o som que toca no submundo de Hanbarden Arden.
– O Conselho da Casa da Merleta não desistiu e decidiu dar
uma chance a Laetitia. Desta vez enviaram com ela doze dos bar-
dos do infinito mais experientes e foi um grande sucesso. Depois
deste dia a Banda Colapso teve de se deparar com o crescente
sucesso de Laetitia e a grande massa começou a compreender
a essência da música. O que gerou bastante inveja de Íon por
Laetitia e uma grande richa.
– Confesso achar interessante ser a banda Colapso a estar
aqui e não a laetitia. Os homens negros tem essa preferencia.
Não sabia que estavam influenciando tanto esse evento a ponto
de escolher as bandas e as músicas. Não sei se isso é um bom
sinal, rainha driade.
Baramiel nunca tinha ouvido nada a respeito dessas histó-
rias. A única coisa que a assustava era aquela festa alternativa,
transloucada que deixava os participantes embebecidos. Não

164
era aquilo que a jovem Driade tinha imaginado quando topou
que a alegria e a felicidade contagiante pudesse curar o mal da
Banalidade que a destruia.
Suspirou fundo por fim quando a banda Colapso ministrou o
último acorde enquanto o seu vocalista meneava a cabeça para o
lado pra delírio da comunidade Arabel ali presente.
Ao por do sol, todavia, um grito preso de esperança fez a
jovem Driade sorrir com os olhos. Um bater de asas se controla
a luz solar fazendo o céu de Arabel se abarrotar de seres mági-
cos. As fadas de Arabel desciam do berço em ritmo veloz. Éra a
primeira vez que aquela comunidade abandonava o berço das
fadas naquela era.
Uma esperança tomou conta do coração da Driade

Capítulo 30 – Johannes, o Ladrão.


– Então quer dizer que o jovem ladrão está visível aos olhos
de todos na grande festa de Arabel?
Johannes conhecia aquela voz de velhos tempos. Suas cos-
tas estavam sendo cutucadas por um velhote amigo e a memó-
ria da ilha de Gothã estava viva na sua cabeça. Sabia que aquela
mão de dedos pequenos e grossos que batiam no seu ombro só
podia ser de Drunked II.
O ladrão já virou abraçando o anão efusivamente:
– Sabia que não ia perder cerveja e festa de graça Drunked!
Como é bom revê–lo!
– De jeito algum, Johannes. de jeito algum. Se os anõess fa-
laram no Concilio de Ostri que viriam é óbvio que cumpriremos
nossa palavra! Não que isso vai derrotar a Banalidade, mas perder
essa festa de graça bancada pelo Magocracia? Não somos trouxas!
Os amigos estavam realmente felizes de se reencontrar
naquele ambiente festeiro. Olhando pra Baramiel completa-
mente deslumbrada em ver a arrevoada de fadas a chegarem,
bradou o anão:

165
– Ela realmente tem esperança nessa bobajada né., Johan-
nes?
O ladrão sorriu levemente concordando positivamente
com o anão com a cabeça.
– Idealista com o pai! Concluiu Drunked II ao se dirigir a tenda do
bar montada no meio da floresta para simular uma taverna.
...
Não deu tempo dos dois amigos nem tomarem o primeiro
gole de cerveja quando tudo aconteceu ao mesmo tempo. O gri-
to agudo ecoou pela floresta de Arnandirah.
Assim que as fadas arremeteram do seu vôo ao solo, o cor-
re corre na festa de Arnandirah. começou.
– Ainda bem que os Dragões ainda não haviam concordado
em vir. Johannes ser dirigia a Drunked saindo da taverna buscan-
do com os olhos, no meio daquela confusão, encontrar Baramiel.
O solo do guitarrista Ion da banda Colapso desafinou a me-
lodia elfica entonada e o baterista ruivo jogou as baquetas pra
cima em desespero com o grito agudo das fadas.

As aberrações que ali tinham sido convidadas e estavam


dispersas curtindo a festa, ao verem o pouso das fadas agiram
rapidamente.
Johannes percebeu que aquele movimento não foi impulsi-
vo por parte das aberrações. Estava tudo muito bem planejado
pra que quando as fadas chegassem o ataque fosse rápido e efi-
ciente.
Ao ficar invisível, Johnannes puxou Baramiel, pra um abrigo
seguro ao redor da Tenda artesã. Não deu tempo de muita coisa
depois disso.
Quando virou os olhos novamente pra ver o que acontecia
com as fadas viu que estavam todas cercadas cobertas por uma
rede mágica. Aquilo não era tecnologia ou magia das aberra-
ções. Johannes buscou aproximar da prisão que as fadas foram
colocadas.
O ladrão entendeu, quase imediatamente, que não havia
mais nada que pudesse fazer. A festa de Arabel tinha acabado.
Aquela correria dispersara a todos. Tirando os homens negros

166
que pareciam parados, toda sorte de seres corriam em deses-
pero ao ver o ataque das aberrações. Ao ver Baramiel assutada,
refletiu com Jack:
– Combater a Banalidade não era o objetivo do Concílio de
Ostri.
– Sim, Johannes. Percebi. Retrucou Baramiel ouvindo o co-
chichar entre o ladrão e o estaleiro.
– O que não entendo é... O que Arcanjo está fazendo?
Ao olhar novamente em direção das fadas, o ladrão viu algo
que não esperava. A rede mágica que aprisionou as fadas estava
sendo mantida por duas pessoas uma de cada lado segurando
suas pontas: Arcanjo e a Rainha Drow.
Quando a primeira asa das fadas, todavia foi cortada, Ar-
canjo arregalhou os olhos pro que tinha acabado de ver.
Tinha entendido tudo de uma vez. Ali ficou claro para o mon-
ge qual verdadeiramente era o preço pela mente de Mystra.
Todavia, á era tarde pra qualquer reação. Tinha ajudado a
Magogracia mais do deveria.

Capítulo 31 – Arcanjo , o Monge.


– Aquele velho, mago, filho da mãe! Pensou em voz alta Ar-
canjo enquanto segurava a rede que matinha as fadas presas.
A mente de Arcanjo estava incrédula. Refletia de maneira
muito rápida:
– “Eles não vão subir pra Aeon coisa alguma. Sur quer o
berço das fadas. A magocracia não vai fugir aleatoriamente. Ela
vai viver acima da Banalidade”.
Enquanto sua mente processava todas as situações que
agora pareciam fazer sentido das reais intenções dos acordos
feitos por Sur com ele, as asas da fadas eram cortadas, uma a
uma, pelas aberrações, com a aprovação da rainha Drow. A tra-
gédia estava consolidada. A festa de alegria de Arnandirah tinha
virado um massacre aos olhos de toda Arabel.

167
Aqueles seres feericos sem asas estavam condenados a vi-
ver em Arabel como escravos. Escravos da vingança Drow em
subterrâneo acordo com o Mago Sur.
Os homens negros acompanhavam tudo a distância e ace-
navam positivamente com a cabeça enquanto as fadas eram
levadas prisioneiras sem suas asas que poderiam levá–las nova-
mente ao berço.
Arcanjo entendeu que ele fazia parte de um acordo maior
que poderia imaginar e que envolvia mais seres que ele imagina-
va originalmente.
Arabel agora tinha uma nova elite de poder. O planeta ti-
nha novos donos. Os dominadores de Gamma foram os escolhi-
dos pelos Magos pra comandar Arabel abaixo da Banalidade. A
democracia do acordo de Ostri havia sido uma farsa.
Assustado, Arcanjo foi até Baramiel, Jack, Johannes e Drun-
ked. Bradou rapidamente:
– Precisamos ir embora.
– O que vc fez Arcanjo? Questinou Johannes.
– Um acordo que não deveria. Mas agora é tarde. Precisa-
mos fugir.
– E a Banalidade? questinou Baramiel. Como vamos derrota –la?
– Infelizmente rainhas não vão. Não há a menor possibili-
dade. Agora vamos. Precisamos retornar ao Carvalho Dourado
antes que seja tarde demais.
Arcanjo viu os olhos de Baramiel entristecerem como nun-
ca antes.
A decepção na cara de Johannes, Jack e Drunked II era clara.

Envergonhou– se no íntimo mesmo que nunca reconheces-


se publicamente sua tristeza. Aquelas pessoas eram como sua
família. Mais uma vez seus delírios de poder o estava fazendo
perder aqueles que mais amavam.
Não havia de ter sido a primeira vez. Sua mente fitou a ima-
gem de Ivin sem coração na floresta de Gothã.

168
Capítulo 32 – Ivin, o Mago.
A escada pra Aeon não era como Ivin imaginava.
Em sua imagem mental, a escada era uma grande obra cria-
da pelos Magos liderados por Storm, com pedras raras a ordenar
cada peça meticulosamente colocada com magia cuidadosa em
perfeita simetria a cada andar construído.
Na realidade a escada era menor e mais torta do que a ima-
gem que plasmasva na mente do mago. Para subí–la os magos
se apertavam entre os pequenos degraus, principalmente carre-
gando as grandiosas caixas com os livros superiores da Magote-
ca que estavam sendo levados.
Ivin acompanhava de perto, na primeira fileira aquela subida
pra não perder de vista Sur como Ombaladon havia mandado. Só
havia tido contatos telepaticos com seu mestre, o que há muito não
ocorria,e já estava com saudades das montanhas do peregrino,on-
de havia sido treinado nas artes da necromancia.
Caminhar lado a lado de magos vivos, fazia com que Ivin
recebesse alguns olhares atravessados. A necromancia não era
bem vista, principalmente entres os magos iniciantes. Todavia
como os superiores da magocracia e nem mesmo Sur haviam fa-
lado uma palavra com sua presença, a subida do necromante era
respeitada por aqueles que faziam caras tortas. Além disso, ao
lado de Sur a figura de homem ruivo subindo junto com os ma-
gos causava mais surpresa do que a figura do necromante. Afinal
ele era o único não mago por ali. Como caminhava, todavia, ao
lado de Sur, ninguém ousava questionar a presença do humano
ruivo na escadaria.
Pelo tempo decorrido de viagem desde que a subida até
Aeon iniciará, Ivin desconfiou que aquele grupo chegasse em
breve até o berço das fadas. Aquele seria um momento tenso,
pois o necromante tinha dúvidas reais se as fadas que não ha-
viam descido deixariam que aquela procissão continuasse a par-
tir daquele ponto.
Enquanto sua mente devaneava sobre como converter as
fadas a deixarem a trupe dos magos passarem, Ivin avistou o
portão de entrada de Berço.

169
Esfregando seus olhos para enxergar melhor, viu que um
ser de formato humano esperava na entrada.
Dando mais passos sem direção aos portões reconheceu a
figura que ali estava, mas não pode acreditar. O mestre Ombala-
don aguarda, em pessoa, a comitiva de magos.
O necromante teve uma mau pressentimento com aque-
la visão.
Sur avistou Ombaladon e Ivin imaginou que daquele encon-
tro poderia sair o pior.
Por isso assustou–se quando viu Ombaladon abrir os bra-
ços em direção ao Sur e da lhe um abraço efusivo, daqueles de
amigos de longa data. Enquanto se abraçavam ,o mestre pere-
grino bradou:
– Não é que conseguiu trazer os magos pra cá Sur. Não
imaginaria que conseguiria
– Deu certo? Perguntou Sur em tom fraternal pra o mestre
peregrino.
– Mais do que imagina. Desde que cheguei aqui via tele-
transporte avistei as fadas descerem. Elas foram em unissono.
O berço está vazio.
Sur virou os olhos em alívio. Ivin ainda ouviu Ombaladon
pronuncia:

– A nova terra dos magos está vazia para ser ocupada.


Sur respondeu:
– Então está na hora de devolver Arabel a seu verdadeiro
dono: Hans Storm.
O berço das fadas se abriu e o silêncio predominante da-
quele ambiente foi cortado pelos gritos que ecoavam da prisão
localizada no centro da cidade
Lá um mago velho de semplante derrotado, parecia não
acreditar naquilo que via. bradou ao avistar Sur e Ombaladon
– Meus filhos amados realmente vieram.
– Em conjunto Sur e Ombaladon repetiram sim mestres.
Viemos te libertar pra dominar o mundo que é seu.
Ivin parecia não acreditar no que via.

170
Capítulo 33 – Agdaren, o Ruivo.
A subida pelas escadas não havia cansado Agdaren. O ruivo
ainda desconfiava se realmente poderia ser util ali em estrastos-
feras tão altas. Além disso havia entrado em torpor apenas uma
vez. Havia sido tão espontâneo aquelas lutas contra os construc-
tos que não fazia a menor ideia se realmente ele poderia ser util
naquilo que Sur tinha planejado e o obrigado no berço das fadas.
Sua mente evita pensar demais, mas quando as portas do
Berço se abriram e viu com o que tinha de lidar entendeu rapida-
mente porque o Sur o tinha levado até ali.
A prisão das fadas era pura energia gama. O ruivo não fazia
ideia de como aquela e energia tinha parado ali. Sabia que os
anões caminhoneiros levavam Gamma por toda Arabel, mas não
tinha autorização pra chegar até o berço diretamente. Possivel-
mente as fadas tinham conseguido aquele maquinário cheio de
gamma por trocas escusas com os homens negros. A corrupção
em Arabel era predominante e o ruivo sabia bem disso.
Sur, então, veio até ele.
– Agdaren preciso que você destrua essa prisão de gamma
e liberte o mestre Storm que lá dentro habita. Nossa magia não
afeta os industriais constructos fabricados com a energia Gamma.
Agdaren ser aproximou do maquinario prisão. Era uma cai-
xa enorme e intransponível. Ao tentar socar pela primeira vez
aquela caixa rentagular sua mão doeu.
– Impossível Sur. Eu não sei como fiz aquilo daquela fez. fui
tomado pelo torpor e não seu como fazê–lo de novo.
Sur olhou pra Ombaladon e o entre olhar dos magos mos-
trou que eles esperavam essa reposta.
Em unissono ambos os magos mestres começaram a en-
toar magias que fizeram Agdaren, o ruivo levitar.
Em sua mente, Agdaren reviveu tudo aquilo que tinha
acontecido em Hanbarden Arden. Viu seus filhos e sua mulher
morrerem nãos mãos de grandes robôs de metal que tinham em
Gamma sua energia sanguínea. Viu sua comunidade ser comple-
tamente derrotada e dominada.

171
A raiva ea tristeza dominaram a mente do homem. Já não
estava mais consciente quando com raiva começou a socrar e
chutar o constructo prisão em que habitava Storm.
Ao ver o ruivo entrar em torpor, o sorriso canto de boca fez
Ombaladon procurar com o olho Ivin. O mestre peregrino dirigiu
se ao discípulo:
– Sua hora chegou Ivin. Toda sua preparação na Ordem de
todos os mistérios está preste a consolidar.
Sua vida recuperada em sua morte tem uma função.
Você é o portador da ficteria de Storm. Você a carregou
com dignidade até aqui. Foi morto e renasceu de novo. Equili-
brou os dois dentro do seu novo coração. Está lúcido. É hora da
sua entrega final.
Storm deve estar enlouquecido depois de tanto tempo na
prisão. Vc será o responsável por devolver a sanidade ao maior
mago de Arabel entregando a ele a ficteria em seu peito que recu-
perará a lucidez emocional do mago. Sua morte fará sentido ago-
ra. Vc será reconhecido em toda Arabel e por toda a magocracia
por fazer aquilo que ninguém aceita: ressiginificar a morte em prol
da vida da aristocracia maga. Você será imortalizado como o mago
que se sacrificou pela sanidade de Storm.
Ivin parecia não acreditar nas palavras que ouvia, mas man-
teve seu semblante pálido intacto.
– Foi pra isso que me reviveu? Bradou Ivin segurando suas
emoções.
– Foi pra isso que te matei, filho. Foi pra isso que sugeri que
Arcanjo te matasse. A morte não é nada quando somos imortais
pela homenagem do nosso heroísmo em prol da comunidade.
Era isso que sempre sonhou quando era um elfo mago órfão em
Arnandirah não era? Era isso que sempre passou nos seus pen-
samentos. Esse é poder que sempre sonhou. Ser imortal na ima-
gem dos seus irmãos. Querido e amado como sempre quis. Che-
gou a hora Ivin. Essse poder agora será seu assim que entregar
a ficteria equilibrada pela visãoem Aramtuz e Ortiz pra Storm.

172
Ivin prosseguia não acreditando no que acabará de escutar.
Sua mente estava em tormenta. Tinha sido criado para o sacrificio
por Ombaladon. Seu mestre que havia lhe ensinado a combater a
Magogracia e que estava agora ali abraçado a Sur.
Baixou a cabeça em louvor ao mestre peregrino enquanto
ganhava tempo para organizar suas ideias.
Enquanto isso a violência de Agdaren começa a fazer racha-
duras no constructo prisão que habitava Storm. Em pouco mo-
mentos deveria oferecia sua ficteria ao mestre de Ombaladon e
finalmente aceitar morrer. Agora grande em imagem, e não mais
nas escuras florestas de Gotha como um desconhecido. Era uma
proposta tentadora, por um lado. Mas Ivin não queria deixar de
existir. Tinha breves instantes pra decidir o que fazer.
Agdaren chegou a um nível de raiva e força inimimaginá-
veis causando uma grande explosão de Raios Gamma ao redor
dos berços da fada.
Um buraco abriu –se no constructo prisão.
Lentamente um homem calmo, emagrecido, e com um sor-
riso na pouco apareceu aos olhos de todos. Era Storm. Sur e Om-
baladon parecia não acreditar no que seus olhos viam. O mestre
peregrino fez um leve aceno para que Ivin fosse até ele.
O mago necromante encarou o mago louco que apresenta-
va a sua visão. Retirou sua ficteria dourada e ofereceu a Storm
perguntando sem que ninguém o escutasse:
–Vc quer recuperar sua razão? Ou quer o poder de Arabel?
Storm riu em direção a Ivin.
– A razão me trouxe até aqui. Aeon nunca me salvou das
fadas. A locura é que mantem vivo até hoje.
Ivin pareceu gostar do que escutou.
– Qual poder quer Storm? Dos altos céus de Aeon ou da
mudança Arabel?
Storm respondeu em terceira pessoa:
– Storm sempre quis ser um deus. Mas não sou mais Storm
não depois de tanto tempo. Sou o bufão. Quero o poder de Arabel.
Ivin viu onde isso dar.
– Não quer a ficteria realmente?

173
– Quero o machado. Quero a loucura!.
– Machado? Ivin riu com aquela informação. Bom não sei
onde ele está.mas se ainda existir está com Arcanjo em No Reino
do Carvalho Dourado.
Storm riu loucamente de maneira alta. Os magos se assus-
taram.
Ombaladon gritou pra que Ivin entregasse a ficteria rapida-
mente. Mas não deu tempo.
Storm, sem olhar pra trás e pra ninguém, desceu as escadas
rapidamente tendo em mente as antigas terras de Glinterliff.
Ao ver aquela cena de Storm descontrolado, Ombaladon se
desperou como nunca o necromante imaginou ver.
– O que você fez, Ivin.
– Resolvi viver mestre.
Ao olhar de aprovação de Sur, Ivin segurou o mestre mago
peregrino, agora em desespero, pelo pescoço.
Nesse instante, Ivin apenas viu uma energia mágica passar ao
lado da sua orelha.Sur acabara de lançar uma magia de morte que
atravessara o mestre peregrino ainda segurando pelas mãos de Ivin.
O corpo de Ombaladon caiu estático no chão ao passo que
Sur se aproximou de Ivin bradando:
– Te convidaria pra ficar aqui, Mago Negro, mas um ne-
cromante não pode habitar o reino das fadas. Já tenho o que
preciso. Ombaladon e seu sonho de soltar Storm acabaram. Não
tenho mais dívidas. Meus magos estão seguros.
– Fique tranquilo Sur. Não vou te incomodar. Nem Storm
em sua jornada. Percebo as coisas rapidamente. Você terá o lar
que almeja. Meu lugar não é aqui. Meu lugar não é mais subor-
dinado a ninguem.
– Pra onde vai?
– O poder que eu quero não é o dos magos. Esse já morreu
pra mim. Vocês não valem nada.
Apontando para a casca do constructo destruído por Ag-
daren disse a Sur:
–Quero o poder verdadeiro de Arabel. Quero a energia
Gamma sobre meu poder.

174
– E você ruivo. Vem comigo. Temos coisas a fazer em suas
terras. Está na hora de irmos atrás de quem produz Gamma. Se
quer realmente ser livres. Vamos atrás ado Geneticista.
Concordando com a cabeça, Ivin e Agdaren desceram a es-
cada de Aeon
Após começarem a descer, Sur começou a conjurar uma
magia poderosa. A escada de Aeon quebrou e se etilhaçou por
completo O berço das fadas agora era dos magos e nada podia in-
comodá–los na sua vida acima da Banalidade. De cima, o Mago Sur
viu tudo que planejou dar certo. Observou, por fim. Ivin e Agdaren
descer novamente ao nível da Banalidade

Capítulo 34 – Navarro, o Pirata.


– Ponha a cabeça para fora e olhe bem para o céu, Vulpes.
A imagem que está assistindo não saíra da sua cabeça tão cedo.
Na Safira do Oeste, após sair da ilha de Sanatoriun, Navarro
viu, junto a Vulpes, a Escada de Aeon lentamente começar a se
despedaçar sobre os céus de Arabel. Seus olhos esbugalharam–
se. Acreditou que talvez tivesse mais tempo. Mal acabara de vol-
tar da Terra. Tudo estava ocorrendo tão rápido. Mas a órbita de
Arabel tinha suas maneiras próprias de funcionar e e não era de
se espantar que os momentos mais decisivos da Terceira Era do
planeta, prestes a se iniciar, agitassem o tempo no planeta.
– “Está acontecendo”. Pensou. Girando as caravelas do Sa-
fira do Oeste mudou vagarosamente o rumo da embarcação de
Hansbardem Ardem pra Ringtrintarktrongdum. Comentou com
Vulpes em seguida:
– Conhece esse deserto, raposa?
– Sim. Passei por ele quando Ringo me permitiu sair da Ci-
dade dos Gnomos, capitano.
– Vulpes, precisamos ser rápidos. Você precisa estar em
Ringtrintarktrongdum de volta o quanto antes. Os Relógios das
Torres irão se alinhar a qualquer momento pelo que sei da pro-

175
fecia. Irei deixar você lá, mas precisarei partir. Quando aconte-
cer o que deve acontecer, eu já precisarei estar em Hansbarden
Arden. Preciso encontrar o Ruivo. Talvez o Mago Negromante
ainda possa ser útil. Não sei. Tenho que pensar. Arcanjo terá que
se virar sem mim por um tempo. Ainda tem muito coisa a se fazer
e creio que não dará tempo. Mas se tudo der certo em poucos
momentos nos veremos novamente.
– Não estou entendendo nada, Capitano. Você poderia
me explicar o que está acontecendo? A raposa estava insegura
como da primeira vez que viajara na Safira do Oeste quando veio
parar em Arabel.
– Não há tempo, Vulpes. Você pegou o cordão com o sangue
do menino bento que estava com Hieronimus e guardou consigo?
– Sim, mas...
Capitano interrompeu a jovem apresaddo enquanto virava
o leme da Safira do Oeste rumo a atracar em Ringtrintarktrong-
dum. E prosseguiu quase sem respirar ou deixar a jovem raposa
completar a frase que escapara de seus lábios:
– Guarde–o bem. Na hora certa saberá para quem entregar
o sangue do menino bento. Não precisa se apressar. Confie na
sua intuição, Raposa. A Grande Vaca não erra. Ela sabe quem
deve explodir como Aeon. Você saberá também. Se ela confiou
tanto em você eu confio também. Afinal é por meio do que ela
esconde e conhece que posso fazer minhas viagens de Arabel a
Gaia com tanta facilidade.
– Ok Capitano, mas para onde, especicamente, você está
me levando?
– Irei te deixar em Ringtrintarktrongdum novamente, mais
precisamente nas Torres dos Relógios, Vulpes. Mas Não agora como
uma prisioneira, como acreditou por tanto tempo, mas para que o
destino se cumpra. Vou ter que fazer, mais uma vez, uma entrada
triunfal com a Safira do Oeste, agora na Terra dos Gnomos.
Navarro deixava aquelas palavras saírem de sua boca sem-
pre com um belo sorriso, não importando a situação de perigo
que se colocava.
– O que devo fazer, Pirata? Não estou entendendo nada.
– Você já sabe Vulpes. Eu é que não sei, ou melhor irei saber

176
jájá se tudo que a Grande Vaca me contou será verdade.
Vulpes silenciou–se por um momento. Sabia que se tivesse
em Ringtrintarktrongdum seria só para cumprir um destino tra-
çado: matar os gnomos relojoeiros que tiraram a vida de Quiron.
Não hesitou mais em contrapor as ideias de Navarro.
Capitano deixou Vulpes ao lado das torres dos relógios de
Ringtrintarktrongdum na praça central em frente ao Palácio dos
Gnomos Os ponteiros giravam desordeiramente como nunca o
pirata havia visto, nas poucas vezes que havia sido permitido que
entrasse naquelas Terras. Seu passe livre tinha sido conseguido
quando o Re Randum fez negócios com os habitantes de Gaia,
mas não era bom gastar sua passagem livre com visitas a Ring-
trintarktrongdum. O pirata sabia que os gnomos não gostavam.
Mas agora era hora de usar seu benefício pra deixar Vulpes onde
ela precisa estar, antes de se desolcar pra onde ele precisaria,
mais uma vez, estar: a cidadela dos homens. Era tanta coisa que
ainda havia, por fim, em Arabel que sabia que precisava estar,
mais do que nunca, nos lugares certos daqui pra frente. Sabia,
todavia, que este lugar seria próximo de onde o Geneticista esti-
vesse. Por isso precisava estar em Hanbarden Arden antes que a
Escadaria despencasse por completo.

Capítulo 35 – Vulpes, a Raposa.


Vulpes entrou na Torre dos Relógios pela frente sem se
esconder como Reia, nem difarçar suas intenções. Ao pisar na
Torre da cidade gnômica, toda agitação se deszez. Os baru-
lhos da engrenagem dos relógios, imediatamente, pararam.
Os ponteiros estagnaram no mesmo horário nos três relógios
de Ringtrintarktrongdum. Os mestres relojoeiros sabiam o
que aquilo significara e foram receber a Rainha as portas da
torre, junto do Rei Ringo, que parecia encolhido perante o po-
der dos Antigos Gnomos Relojieiros, os verdadeiros donos do
tempo de Ringtrintarktrongdum.

177
Ao entrar na Torre dos Relógios, a jovem viu seu irmão gritar:
– Me ajude, Reia!
Um dos mestres ancestrais dos gnomos das Torre havia fei-
to o jovem rei de Ringtrintarktrongdum de refém.
– Não se aproxime, Raposa. Sempre falamos para o Rei
Randum III que seria um erro te–la aqui. Nós avisamos. Não he-
sitaremos em sacrificar seu fraco filho, agora reinol. Se der mais
um passo em direção a torre. Já tivemos que fazer um sacríficio
com Randum anteriormente, quando o envenamos, não será por
você que não sacrifiremos o jovem Rei Ringo.
O jovem gnomo pareceu se desesperar com aquela ameaça
ao mesmo tempo que ficou atónito em saber que os próprios mes-
tres relojoeiros haviam matado seu pai. Concluiu que Randum III
tinha afeiçoado tanto a Reia nos seus últimos momentos que deve
ter quisto contar a jovem ruiva o segredo dos Portais de Ringtrin-
tarktrongdum que havia descoberto antes de sua morte.
Ringo pareceu entender por um instante as últimas pala-
vras de seu pai no leito de morte: Reia é o segredo, filho. A ver-
dadeira Reia é o que os mestres relojoeiros querem esconder. Ao
sentir seu pescoço ser engasgado por uma mata leao do Mestre
do Relógio alargado, balbuciou, enquanto era esganado:
– Reia, não. Por favor, me ajude.
– E quem disse que eu me importo com ele? Trucou a rapo-
sa, confiante.
– Está vendo Ringo seu idiota. Te falamos que ela não ligava
para vocë. Respondeu o mestre do relógio estreito
Vulpes sentiu o choro de desesperado de Ringo se tornar
cada vez mais agudo.

A jovem raposa continuou andando em direção aos reló-


gios parecendo não se importar com os gritos do seu irmão de
consideração. E prosseguiu confiante:
– Voces não teriam coragem. De matar o rei de vcs. A torre
fica visível pra todos cidade. Assim que todos entrassem, veriam
o corpo de Ringo jogado ao chão, sem que os mestres ancestrais
conseguissem o ter protegido. Seria o fim da lenda de vocês com
guardiões da Torre.

178
– Não no obrigue, Reia. Não podemos deixar você entrar
aqui. Tudo isso foi um erro. Os relógios estão parados com em
eras remotas. Tudo é culpa sua

– Eu não me chamo Reia seus imundos. Sou uma raposa


não uma gnomoTambém não sei o que faço aqui ou o que tanto
tem medo de mim, mas agora que cheguei até voces irão pagar
pelo que fizeram a Quiron tentando me pegar.
– Pare Reia. Mais um passo e o Rei Ringo já era.
– Vocës três já estão com Aeon, mestres do relógio só ainda
não sabem. Por quiron, me chamem pelo nome verdadeiro!
– Não nos obrigue não de mais um passo! Gritou o mestre
do relógio central em desepero.
Vulpes, não parou, nem quando viu o rei Ringo se desvenci-
lhar do mestre relojoeiro que o segurava pelos braços.
E como de costume em suas aventuras tudo mais uma vez
aconteceu muito rapidamente, sem que a raposa desse conta de
todas as ações que se sucederam.
Ringo tentou roubar a bataclava do mestre relojeito da torre
estreita, quando foi acertado precisamente pelo relojoeiro da torre
larga. O gnomo da torre ao centro ficou choque ao ver o rei Ringo
desfalecer no chão, acertado por uma flecha a altura do coração.
A raposa então agiu rápido. Atacou os mestres relojoeiros
com sua agilidade, derrubando um a um. Eles não eram pareis
duros de se derrubar, mas a raposa fez questão de que Quiron
fosse lembrado naquele momento enquanto usava sua adaga a
golpear os anciões de Ringtrintarktrongdum.

Ainda houve tempo de acolher Ringo que estava a desfale-


cer agora em seus braços.
Soluçando e falando lentamente, balbuciou:
– Reia, vc precisa ir. A população de Ringtrintarktrongdum te
viu chegar aqui no navio espacial de Navarro. Quando conseguirem
subir até a torre, assim que perceber que ela não está protegida
pelos anciões, e só vocë estiver viva, comigo e os mestres mortos
irão atrás de vc. Vocë não conseguira escapar.

179
– Não sei para onde ir irmão. Eu nem sei se queria estar
aqui. Não sei mais nada. Não estou conseguindo compreender
nem o porquë de vir parar aqui de volta a Ringtrintarktrongdum.
Sempre quis sair daqui e novamente cá estou.
– Atravesse o portal, Reia. Os relógios jájá voltaram a fun-
cionar
–Os mestres estão mortos Ringo. Eu não sei quais as pala-
vras que abrem o portal.
– Sou estúpido pra governar, irmã, mas sei porque meu pai fi-
cou tão encantado por você. Sei o que ele escutou de Navarro que
o lhe fez convencer a ficar. No leite de morte do grande Randum
II pude percecber o que tanto o assustava e admirava em você.
– Não sei o que está falando, Ringo.
– Voce é chave do tempo, Reia. Sempre foi.
Já quase desfalecendo Ringo, balbuciou:
– Vocë não é Reia, por mais que eu e meu pai quiséssemos que
fosse. Esse é o nome que meu pai te deu. Mas eu lembro o nome que
ele falou que era o seu. É o nome que sempre ouvimos em nossas
lendas, desde que Cronos nos legou o que guardamos nos relógios.
– Vocë é Ketheelen Reinard Vulpes
Ao pronunciar as palavras, Ringo usou da última força que
ainda possuía. Viu, ao se desfalecer por completo nos braços da
irmã, um portal se abrir a partir dos ponteiros ds relógios da Torre.
Vulpes parecia incrédula.
– Meu nome? Meu nome é que fazia o portal se abrir? Cada
mestre só sabia uma parte do seu nome completo e nunca ousa-
ram pronunciar em conjunto, para que morressem em segredo,
mas Randum III havia descoberto e Ringo percebeu.

A população gnoma já estava prestes a invadir as torres do


relógio. Não havia mais tempo.
A raposa atravessou o portal plasmático que se abriu a frente
dos seus olhos antes que os gnomos invadissem a torre da cidade.
Olhando para trás viu a Torre dos relógios desmoronar por
trás dos seus ombros.
E tudo sumiu e acabou de vez.

180
Epílogo
No subterrâneo da cidade de Hansbarden arden, para
além da moradia das aberrações, agora esvaziada após a Casa
do Escaravelho subir para habtar em Arnandirah, uma rubra
mulher de meia Idade sorriu de canto de boca quando come-
çou a ouvir os assombros e ruídos que só aumentavam vindo
da cidade humana acima dela. Chegou a conclusão que final-
mente podia sair do subterrâneos pra ver o que aconteceria.
Olhou seu parceiro que continuava ali concentrado na cons-
trução dos seus poderosos conntrcutos animados. E Bradou
sussurrando aos ouvidos do homem:
– O geneticista nunca para de trabalhar não é mesmo?
– Vocë mês conhece há anos, Reia. Me acolheu logo após
Agadarem destruir minhas criações. Sabe que não vou parar en-
quanto não conseguir.
Uma Vulpes mais velha, com o colar do sangue bento no
pescoço chegou a plenitude de hansbarden ardem pra ver o que
tinha esperado por tantos anos no subterrâneo, desde que havia
se casado com o geneticista, logo após conhe–lo. Desde a derrota
pra Agadarem, o Ruivo aqueles dois estavam juntos e a intimidade
de ambos revelavam a proximadade entre o casal.
A Escadaria de Aeon despedaça aos seus olhos como havia
visto anos mais jovem ao sair da ilha de Sanatorium na Safira do
Oeste de Navarro.
Havia valido tempo sua segunda reclusão, agora voluntária
e já mulher raposa, depois de tanto tempo jovem também reclu-
sa aos cuidados dos gnomos de Ringtrintarktrongdum.

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Muita coisa havia acontecido desde então. Ter orientado o
Geneticista a escrever a carta a sua versão mais nova, pega–la
quando criança raposa na ilha de Sanatorium tentando lebrar de
todos detalhes como a grande vaca havia lhe contado e ter se
aproximado intimamente dele assim que atravessou o portal na
torre dos relógios da cidade gnômica, válido a pena.
O momento que vira acontecer ainda jovem a bordo da Sa-
fira do Oeste acabara de se concretizar sobre seus olhos mais
maduros dessa vez.
Tudo estava prestes a começar. Finalmente poderia sair do
subterrâneo por onde tinha ficado escondido por tanto tempo
pra que ninguém soubesse que sua versão mais velha estava em
Arabem ao mesmo tempo de sua versão mais nova.

A orbe espacial de Arabel era caótica. O tempo também.


Vulpes tinha atravessado o segredo de Ringtrintarktrongdum
para saber disso
– Que bom que pode voltar ao passado e eccontrar o jo-
vem genetecidta assim que entrou no portal da torre dos reló-
gios, pensou enquanto avistava, novamente, as escadas a Aeon
despecarem dos céus de Arabel. – É como se arabel tivesse lhe
dado uma segunda oportunidade, pensou por fim, de ver aquele
momento mágico.
A jovem raposa sabia que assim que o enamorado fabrica-
dor de constructos acabasse seus novos seres chegaria a hora do
sangue bento ser usado. E o momento estava mais próximo do
que nunca. Os rumos de Arabel na terceira era estavam prestes
a serem decididos.
– Mas não seria ele, o geneticista que faria isso. Vulpes se per-
mitia pensar alto a medida que o céu de Arabel ficava completamen-
te enegredido pela banalidade dominante. O mal só se alastrava.
– Seria Vulpes, a raposa que voltou no tempo a destinada a
virar a nova Aeon, pensou com um sorriso nos lábios
Finalmente sentia que era chegada sua hora de explodir e bri-
lhar. Só precisava encontrar a maneira correta a partir dos construc-
tos novos do Geneticista que já estavam quase prontos.

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Apertou o sangue bento com força no seu pescoço quando
viu o chapéu de um velho conhecido passar no portao de entra-
da de Hansbarden Ardem.
– A quantos tempo não te vejo pirata, É tanto tempo que acho
que nem lembraria mais seu rosto, exceto por ele está igual a quan-
do me deixou me em Ringtrintarktrongdum tanto tempo atrás.
Capitano Navarro estava maravilhado. Tinha acabado de
deixar uma jovem Vulpes a poucos instantes atrás em Ringtrin-
tarktrongdum antes de chegar esbaforido a Hanbarden Ardem.
Agora estava alí, a frente de uma mulher já com idade completa.,
mas com aquela ruivacidade característica da jovem raposa.
– Que bom que o tempo não passou para você como para
mim, pirata. Você continua o mesmo. Aqui estamos novamente.
Pena que sem Quiron para ver a loucura em que nos metemos.
– Minha querida, raposa. Nossas histórias se cruzam mais
do que eu sonhava imaginar como bem me disse a Grande Vaca.

Ambos assistiram, juntos a última escada de Aeon despencar


do céu. Naquele momento o que era um instante para o pirata pa-
recia ter sido toda uma vida pra Vulpes. Mas ambos tinham a con-
vicção que com aquele reecontro, tudo estava prestes a recomeçar.
A Guerra pela Terceira Era, agora sem a presença da Mago-
cracia no comando de Arabel, estava completamente indefinida
e tudo podia acontecer.
– Bem–vinda a Arabel, Vulpes. Disse capitano. Queria ter
tido isso quando estava na Safira do Oeste vindo de Gaia.\
– Obrigada, Capitano. Mas acho que Arabel já está próxima
do fim.
A Banalidade tampou pela primeira vez Ormuz e Arimiz
por completo, colocando Navarro e Vulpes na escuridão. Nas
terras de Glinterliff, Johannes, Arcanjo e Drunked II viram Ba-
ramiel desmaiar e ser levada por Jack para se enraizar junto a
sua árovre vida. Agora precisaria ficar colada a ela para se man-
ter viva. Ivin e Agdaren chegaram a Hansbarden Ardem com
espiritos diferentes. Enquanto o ruivo ficou embabecido pelo

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tamanho das nuvens, Ivin, agora o mago negro, pareceu não
se importar.
“Talvez a Grande Vaca tivesse razão”. Pensou Vulpes, por fim.
“Aqueles sóis não seriam reais de brilharem para sempre
e por completo. Talvez nunca tivessem sido verdadeiros em Ara-
bel. A sombra dominara e não parecia querer embora tão cedo.
Era aguardar para ver se Arabel resistiria”. Naquele momento
parecia que não.
Vulpes fechou os olhos e só viu escuridão.

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Este livro foi impresso no Rio de Janeiro, em papel Cartão


Supremo 250g/m2 para a capa e Pólen Bold 70g/m2 para
miolo, utilizando a fonte Candara, no 5º ano literário
da Caravana Grupo Editorial.

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