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SERINGUEIRA

RECOMENDAÇÕES BÁSICAS
PARA CULTIVO NO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO

Aldo Bezerra de Oliveira


Engenheiro Agrônomo, M.Sc.,
Pesquisador da PESAGRO-RIO/
Centro Estadual de Pesquisa em
Agroflorestas. Silva Jardim-RJ.
aldo@pesagro.rj.gov.br

Renato Barbosa da Cruz


Engenheiro Agrônomo,
Bolsista do CNPq/PESAGRO-RIO/
Centro Estadual de Pesquisa em
Agroflorestas. Silva Jardim-RJ.
renatobcruz@globo.com

Niterói-RJ
Novembro de 2013
PESAGRO-RIO
Empresa de Pesquisa Agropecuária
do Estado do Rio de Janeiro
Alameda São Boaventura, 770 - Fonseca
24120-191 - Niterói - RJ
Tel.: (21) 3607-5522
www.pesagro.rj.gov.br

Governador do Estado
do Rio de Janeiro
Sérgio Cabral

Secretário de Agricultura e Pecuária


Christino Áureo

Diretoria da PESAGRO-RIO

Rafael Miranda
Presidente

Silvio José Elia Galvão


Diretor Técnico

Glauco Souza Barradas


Diretor de Administração

Oliveira, Aldo Bezerra de


Seringueira: recomendações básicas para cultivo
no Estado do Rio de Janeiro/ Aldo Bezerra de Oliveira,
Renato Barbosa da Cruz. -- Niterói: PESAGRO-RIO,
2013.
40 p.; 21cm.
1. Seringueira - Implantação de cultura.
2. Seringueira - Tutoramento. 3. Seringueira - Colheita.
I. Cruz, Renato Barbosa da. II. Título.

CDD 633.8952

Editoração
Coordenadoria de Difusão de Tecnologia
CDT/PESAGRO-RIO

Design Gráfico
Estúdio Criatura Comunicação
SUMÁRIO
5 Considerações preliminares

7 CAPÍTULO 1: IMPLANTAÇÃO
DE SERINGAIS
9 Escolha e localização da área do seringal
10 Alinhamento e espaçamento
13 Abertura de covas
13 Calagem, adubação e enchimento da cova
16 Época de plantio
16 Seleção e transporte de mudas
17 Plantio
19 Replantio

21 CAPÍTULO 2: CONDUÇÃO E
FORMAÇÃO DO SERINGAL
23 Tratos culturais
27 Condução do seringal adulto
28 Principais pragas e seu controle

33 CAPÍTULO 3: COLHEITA
DO SERINGAL
35 Sangria
37 Clones de seringueira recomendados
para plantio
39 Municípios do Estado do Rio de Janeiro
com aptidão agrícola para o cultivo
da seringueira
CONSIDERAÇÕES
PRELIMINARES

Muito já se escreveu e se publicou sobre


os cuidados que devem ser tomados na
implantação e na condução de seringais de
cultivo. Entretanto, as áreas indicadas
como aptas à cultura no Estado do Rio de
Janeiro (zoneamento edafoclimático)
apresentam condições peculiares devido,
em grande parte, ao relevo, quase sempre
acidentado.
A maior parte da cobertura vegetal é
formada por pastagens em diferentes
graus de degradação no morro, decorrente
do pastoreio continuado na criação
extensiva de animais.
Apesar de as condições expostas
parecerem desfavoráveis ao cultivo da
seringueira, atualmente existem seringais
em franca produção no estado e que foram
implantados em áreas declivosas, com
vegetação semelhante às mencionadas e
que, atualmente, encontram-se em solos
conservados quanto à fertilidade e sem
erosão.
Este documento aborda os procedi-
mentos técnicos que devem ser adotados
para o sucesso da atividade nas condições
do Estado do Rio de Janeiro.

5
Seringal em área declivosa no município
de Silva Jardim-RJ.

Recuperação de áreas degradadas com seringueira


em Silva Jardim.

Seringal em produção desde 2005 no município


de Silva Jardim.

6
CAPÍTULO

IMPLANTAÇÃO
DE SERINGAIS 1
7
ESCOLHA E LOCALIZAÇÃO
DA ÁREA DO SERINGAL

A
o selecionar o local para a implan-
tação do seringal, os seguintes
aspectos devem ser observados:

• Exposição a ventos frios ou predominan-


tes: evitar as faces expostas a tais fatores.

• Profundidade do solo: não fazer o plantio


em solos rasos, mal drenados ou que
apresentem qualquer camada de impedi-
mento, como é o caso dos solos podzólicos.

• Acúmulo de ar frio: evitar o plantio em


áreas de acumulação de ar frio e locais de
baixadas, visando impedir danos causados
por geadas, principalmente nas regiões
com invernos mais rigorosos.

• Isolamento da área: evitar danos causa-


dos por animais na fase inicial de desen-
volvimento e, posteriormente, causados
por incêndios, no caso de seringais
próximos a pastos, canaviais e outros
pontos que possam ser considerados como
possíveis focos de fogo.

• Topografia: observar a legislação vigente,


evitando a implantação de seringais em
área considerada de preservação perma-
nente (APP). Evitar altitudes acima de 1.000
metros para que não se exponha a serin-
gueira ao maior resfriamento noturno,
principalmente no inverno.

9
ALINHAMENTO
E ESPAÇAMENTO

onsiderando que grande parte das

C áreas aptas ao cultivo da seringueira


no estado não admitem a movimen-
tação de máquinas para preparar o solo, o
primeiro passo deverá ser a roçagem da
área e a confecção das curvas de nível,
seguindo-se a limpeza das linhas de
plantio, alinhamento e abertura das covas.
O plantio deverá ser direto. Como a
maior parte das áreas é formada por
pastagens com braquiária (Brachiaria sp.),
recomenda-se a aplicação de herbicida
antes da implantação do seringal para
evitar competição por água e nutrientes
entre a seringueira e a pastagem, o que
fatalmente acontecerá se esta última não
for eliminada, mesmo que de forma
gradativa. A presença de braquiária muito
próximo à seringueira é extremamente
prejudicial ao desenvolvimento da cultura.
O alinhamento tem por objetivo
distribuir as plantas de determinada
cultura no terreno de forma ordenada. No
Rio de Janeiro, por serem áreas declivosas,
o plantio deve ser realizado sempre em
curvas de nível, não só para a proteção do
solo, como também para facilitar o
processo de coleta do látex. Para marcar as
curvas de nível, deve-se demarcar uma
10
linha mestra com o auxílio de um nível ou
outro instrumento mais rústico e, a seguir,
marcar as demais linhas de plantio,
seguindo-se o espaçamento planejado.

Formação de seringal em curvas de nível


em Porciúncula - RJ.

No caso da seringueira para cultura


solteira, o espaçamento mais atual é o de
6,00m entre linhas e 3,00m entre plantas,
resultando numa densidade de plantio de
555 plantas por hectare. Considerando-se
as perdas de 10% das plantas ao longo do
ciclo, a população será de 500 plantas úteis
por hectare. O espaçamento tradicional é o
de 8,00m entre linhas e 2,50m entre
plantas ao longo da linha, resultando numa
densidade de 500 plantas por hectare;
utilizam-se, também, espaçamentos de
7,00m x 3,00m e 8,00m x 3,00m.
Para cultivos consorciados, a seringueira
é disposta, geralmente, em fileiras duplas,
usando-se espaçamentos diversos, como:
Quando utilizados consórcios com cultivos
anuais e/ou, no máximo, semiperenes:
6m entre linhas na fileira dupla
Densidade de
10m entre as fileiras duplas
500 plantas/ha
2,5m entre plantas na fileira

11
Quando estiverem previstos consórcios com
cultivos perenes e semiperenes:

3m entre linhas na fileira dupla


Densidade de
17m entre as fileiras duplas
400 plantas/ha
2,5m entre plantas na fileira

Em sistemas agroflorestais, diminui-se


propositalmente a densidade de plantas de
seringueira para permitir melhor distribui-
ção espacial das outras espécies.
Na vitrine tecnológica implantada no
Campo Experimental da Fazenda Santa
Mônica, da Embrapa Gado de Leite, no
distrito de Juparanã, município de Valença-
RJ, utilizou-se o espaçamento de 6,00m
entre as linhas na fileira dupla, 10,00m
entre as fileiras duplas e 2,50m entre as
plantas nas fileiras, resultando numa den-
sidade de 500 plantas por hectare. Com a
cultura da seringueira, estão sendo tes-
tados os consórcios com maracujá, pal-
meira real australiana, café e banana,
guandu (adubo verde), feijão preto e toma-
te, além da seringueira em cultivo solteiro.

Sistema Agroflorestal seringueira x café x banana.

12
ABERTURA DE COVAS

A
s covas devem ser abertas manual-
mente, utilizando-se cavadeiras e
enxadão. Em solos com menor
declividade, desde que não estejam
totalmente saturados de água, as covas
podem ser abertas com trator ou
perfuradores de solo, tendo-se o cuidado
de não provocar erosão no solo. Nesse
caso, devem ser usadas garras nas bordas
da broca para evitar o espelhamento da
parede da cova. Em geral, uma cova aberta
em solo de textura média deve ter
dimensões de 40cm x 40cm x 50cm de
profundidade, separando-se dela 25cm da
terra de cima dos 25cm da terra de baixo. A
terra retirada da parte de baixo da cova
deve ser utilizada no enchimento final da
mesma. Caso necessário, utiliza-se a terra
retirada dos primeiros 25cm de profun-
didade no fundo da cova. Após a abertura
da cova, afofar o solo do fundo da cova em
cerca de 10 a 15cm com a utilização de
cavadeira.

CALAGEM, ADUBAÇÃO
E ENCHIMENTO DE COVA

N
o plantio direto, a adubação é
realizada diretamente na cova.
Quando necessário, se o solo
apresentar alta acidez (pH abaixo de 4,5),
poderá ser realizada a calagem, com no
máximo 1,5 tonelada de calcário por
hectare, após a aplicação do herbicida. Essa

13
calagem é feita a lanço, distribuindo-se
uniformemente a quantidade indicada
sobre a superfície do solo.
Nas condições referidas, quase sempre
se aplicam de 200g a 250g de calcário nas
paredes e no fundo da cova após a abertura
da mesma. Na adubação da cova, devem ser
incorporados cerca de 30g de P2O5 e 30g de
K2O, adicionando-se ainda de 10 a 20 litros
de esterco de curral curtido, misturando-os
com a terra de cima. Após a mistura, faz-se
o enchimento da cova. Nessas condições,
também podem ser usados adubos
formulados já existentes no mercado, que
ainda incluem pequenas doses de
nitrogênio e micronutrientes.
Aguardar o período de curtimento da
cova cheia, em geral de 20 a 25 dias antes
do plantio. Após a adubação de cova,
aplicar, durante o primeiro ano, nitrogênio
em cobertura em três parcelas de 30g por
planta, em faixa circular de 30cm de
largura em torno da planta.

14
Implantação de seringal em áreas declivosas
(alinhamento, marcação das curvas de nível, abertura
de covas, calagem e adubação, enchimento da cova,
abertura de coveta e plantio definitivo.

15
ÉPOCA
DE PLANTIO

O
plantio das mudas deve ser feito no
início do período chuvoso que, no
Estado do Rio de Janeiro, ocorre em
setembro/outubro ou outubro/novembro,
sendo a mais provável a época de outubro/
novembro. Se o plantio for realizado fora
do período chuvoso ou em época de
veranico, devem-se adicionar pelo menos
20 litros de água por cova, de dois em dois
dias. Se faltar água logo após o plantio,
provavelmente ocorrerá a perda da muda e,
consequentemente, a falha no stand e
desuniformidade no seringal, com sérios
prejuízos financeiros.

SELEÇÃO E
TRANSPORTE DAS MUDAS

P
or ocasião do plantio, devem ser
estabelecidos padrões de seleção das
mudas com o objetivo de unifor-
mizar o desenvolvimento do seringal,
classificando-as de acordo com o porte e o
estádio de desenvolvimento.T r a t a n d o - s e
de mudas de raiz nua, a seleção deve ser
feita considerando-se o sistema radicular,
descartando-se aquelas que apresentem
defeitos. Com mudas em sacos plásticos,
deve-se observar o vigor do enxerto, des-
cartando-as ou reencanteirando-as, con-
forme o caso.

16
No transporte, devem-se evitar danos ao
enxerto e quebra de torrões. Em regiões
sem tradição heveícola e que estejam
iniciando a atividade, como é o caso do Rio
de Janeiro, recomenda-se o plantio de
mudas ensacoladas com 18 meses de
idade, com um ou dois lançamentos
maduros.

Mudas ensacoladas com um lançamento maduro,


prontas para plantio.

PLANTIO

O
s clones recomendados e as regiões/
municípios com aptidão para a
cultura são apresentados ao final da
publicação.

Mudas de raiz nua

Emprega-se a muda de toco enxertado


convencional. Esse tipo de muda não é
muito recomendado para o plantio em
17
regiões com período seco definido, como é
o caso das áreas de escape do Rio de
Janeiro, pois necessita de bom suprimento
de água para se estabelecer e se desen-
volver no campo. Nas covas previamente
preparadas, são abertas covetas na parte
central da cova, adicionando-se água e
terra para a formação de lama ou barro. A
muda é aí introduzida por pressão leve,
seguida de movimento de rotação do toco
para evitar bolsas de ar junto à raiz, deven-
do ficar a placa de enxertia voltada para o
nascente, a cerca de 5cm da superfície.

Mudas em saco plástico

Devem ser usadas mudas selecionadas


por estágio vegetativo do broto, isto é,
brotos com até 2cm ou com um ou dois
lançamentos maduros. As mudas são
plantadas em covetas abertas no centro das
covas previamente preparadas, devendo o
broto ficar no sentido do nascente ou dos
ventos predominantes para evitar quebras.
A inserção do enxerto deve ficar ligeira-
mente acima da superfície do solo. Deve-se
evitar terra com torrões junto à coveta para
impedir a formação de bolsas de ar, que
comprometem o pegamento da muda. Nos
dois tipos de mudas, deve-se fazer o emba-
ciamento do terreno em volta da cova para
facilitar as operações de rega, que deve ser
feita logo após o plantio e repetida até o
completo pegamento das mudas, quando
não houver ocorrência de chuvas.

18
REPLANTIO

O
replantio deve ser realizado com
mudas ensacoladas, independente-
mente do tipo de muda usada no
plantio. Deve ser feito tão logo se constate
a falha.
Após o segundo ano de implantação do
seringal, as falhas deverão ser plantadas
com mudas avançadas (minitoco ou toco
alto), sempre compatíveis com a idade do
seringal, devido à característica de planta
de porte arbóreo.
Cuidados especiais devem ser tomados
no replantio, que deve propiciar a for-
mação uniforme do seringal, evitando-se
plantas dominadas, que não chegarão ao
ponto de exploração.

Mudas ensacoladas com dois lançamentos maduros,


prontas para plantio.

19
CAPÍTULO

CONDUÇÃO
E FORMAÇÃO
DO SERINGAL 2
7
TRATOS
CULTURAIS

Calagem e adubação de formação

A
calagem, a partir do segundo ano de
formação do seringal, deve ser feita
com base na análise de solo, sempre
que se constatar pH abaixo de 4,5. Devem
ser aplicadas até 2 toneladas de calcário
por hectare a cada três anos.
Nas áreas declivosas do Rio de Janeiro,
o calcário deverá ser aplicado na projeção
da copa da seringueira, em círculo em
torno das árvores ou em faixas nas
entrelinhas, em seringais com mais idade.
Na adubação de seringais em forma-
ção, a análise de solo também deve ser
observada.
Recomendação de adubação para seringais em formação.

P resina K+trocável
Idade do (mg/dm³) (mmolc/dm³)
Nitrogênio
seringal 0 – 12 >12 0 – 1,5 > 1,5
(kg/ha)
(anos) P2O5 K2O
kg/ha kg/ha
Do 2º ao 3º 40 40 20 40 20
Do 4º ao 6º 60 60 30 60 30

Essas quantidades devem ser apli-


cadas em duas vezes, uma no início das
águas e outra no final das águas (período
mais chuvoso do ano), distribuindo-as ao
redor das árvores, em círculos que irão
variar de largura à medida que o seringal
for se desenvolvendo.

23
No segundo ano, aos 18 meses, por
exemplo, essa aplicação deve ser em
círculos de 45cm de largura, afastados
cerca de 30cm das plantas. Aos 24 meses, o
círculo terá 60cm de largura e deverá estar
a cerca de 45cm da planta.
Sucessivamente, vai-se afastando do
pé da árvore e aumentando a largura do
círculo a ser adubado em torno da planta.
As formulações variam de acordo com
a análise de solo, sendo as de 10-10-10 ou
20-20-20 as mais usadas. Em solos com
maiores teores de fósforo disponíveis,
costuma-se usar 19-10-19 ou 20-5-20.

Controle de ervas daninhas

A seringueira é bastante sensível à


infestação e à ocorrência de ervas dani-
nhas, principalmente quando elas atingem
determinado estádio de desenvolvimento.
Ressente-se, também, devido à concorrên-
cia por luz, umidade e nutrientes.
O controle das ervas daninhas pode
ser feito manual, mecânica ou quimica-
mente, dependendo das condições do
ambiente em que o seringal se encontra
implantado.
Em áreas declivosas com remanes-
cente de pastagens, recomenda-se o trata-
mento químico, com a eliminação gra-
dativa desse tipo de vegetação. Diz-se
gradativa porque haverá novas brotações
após a primeira aplicação de herbicida, que
serão eliminadas após o tratamento
químico nas épocas subsequentes.

24
É importante destacar que esta é uma
recomendação para o seringal em for-
mação. Mesmo nessa fase, nos últimos
anos, verifica-se, às vezes, a necessidade
de uma ou duas roçagens em substituição
ao herbicida.

Desbrota

Operação realizada em duas fases


distintas: uma no porta-enxerto e a outra
no caule formado a partir do enxerto.
A primeira vai do plantio da muda até o
enxerto atingir o segundo lançamento de
folhas. Consiste na eliminação de todos os
brotos ladrões do porta-enxerto, usando
canivete bem afiado. A segunda se inicia
com a brotação do enxerto e vai até a haste
atingir de 2,20m a 2,50m de altura, e
consiste também na eliminação de todos os
brotos laterais. A eliminação dos brotos
deve ser realizada o quanto antes, para que
não fiquem cicatrizes no tronco, prejudi-
cando a estrutura do futuro painel de
sangria.
Essa prática deve ser realizada por
mão de obra treinada, que percorre todas
as linhas de plantio pelo menos uma vez
por semana. Deve-se ter cuidado para não
vergar as hastes das plantas mais altas e, se
os galhos já estiverem mais grossos, deve-
se pincelar o local do corte com pasta
cúprica a fim de facilitar a cicatrização e
não danificar o caule.

25
Formação de copa

Atualmente, é prática pouco usada,


pois os clones melhorados quase não
manifestam formação tardia de copa.
Mesmo assim, para clones longilíneos, essa
prática deve ser realizada. Ao atingir a
altura de 2 a 3 metros, entre o 2º e o 3º ano
após o plantio, a seringueira inicia a
formação da copa. Entretanto, plantas de
um mesmo clone ou de clones diferentes
poderão manifestar essa formação tardia-
mente, apresentando plantas com caules
longos e crescimento radial lento.
Nesse caso, recomenda-se o anela-
mento da haste, que consiste em efetuar
dois cortes separados de 20cm um do
outro. Os cortes atingem apenas a casca,
tocando levemente o lenho.
A indução deve ser feita entre 2,20m e
2,50m acima do calo da enxertia e sempre
sobre tecido com casca marrom. Os dois
cortes devem ser feitos um acima e outro
logo abaixo da roseta foliar, para propiciar
boa distribuição de ramos ao longo da
haste principal.
Quando houver excesso de brotação,
deve-se fazer a condução de copa pela
eliminação dos ramos menos vigorosos e
mal distribuídos, procurando deixar
apenas 4 a 5 ramos por haste, bem distri-
buídos, o que evitará a quebra por ventos.

26
CONDUÇÃO DO
SERINGAL ADULTO

A
partir do 7º ano, o seringal começa a
fase produtiva, quando alguns cuida-
dos deverão ser tomados na sua
condução.

Controle de ervas daninhas

A partir do início de produção do


seringal, o controle de ervas daninhas é
feito, geralmente, por roçagem, realizada
quando as invasoras alcançam nível de
desenvolvimento que possa competir com
as árvores de seringueira.

Adubação

A adubação de seringais adultos deve


ser realizada com base na análise de solo e,
se possível, foliar, visando à manutenção
da fertilidade dos solos sob os seringais,
garantindo boa produtividade de látex ao
longo do ciclo produtivo.
Na impossibilidade de realizar as
análises, recomenda-se uma adubação
anual, em duas aplicações, metade no
início e metade no final das águas, como
demonstrado a seguir:
P resina K+trocável
Idade do (mg/dm³) (mmolc/dm³)
Nitrogênio
seringal 0 – 12 >12 0 – 1,5 > 1,5
(kg/ha)
(anos) P2O5 K2O
kg/ha kg/ha
7 - 15 60 50 30 60 30
> 16 50 40 20 50 30

27
PRINCIPAIS PRAGAS
E SEU CONTROLE

Mandarová (Erinnys ello): é uma praga


importante de várias plantas da família
Euphorbiacea e está entre as principais
pragas da seringueira e da mandioca,
podendo consumir grande quantidade de
folhas em poucos dias.
Sua ocorrência é cíclica e pode oca-
sionar danos severos. A curva de flutuação
mostra crescimento da população a partir
de setembro, atingindo pico máximo em
dezembro, com um segundo pico em
fevereiro/março, acompanhando o ciclo
fenológico da cultura.
No início, as lagartas devoram as
folhas e ramos novos. Em alta população,
destroem as folhas maduras e os ramos
mais finos. O controle pode ser efetuado
manualmente, estourando os ovos, em
jardins clonais e viveiros, ou efetuando
pulverizações com produtos biológicos ou
químicos, em árvores em crescimento e/ou
adultas. Os produtos biológicos à base de
Bacillus thuringiensis têm a vantagem de
serem seletivos aos insetos que atuam no
controle do mandarová.

28
Sugere-se a instalação de armadilhas
luminosas, pois além de constituírem bom
coletor para verificação dos períodos de
incidência, também auxiliam no combate à
praga, cujas mariposas (adulto) podem ser
destruídas.
Devido à praga, recomenda-se evitar o
consórcio de seringueira com mandioca.

Formigas: as formigas cortadeiras, predo-


minantemente as saúvas (Atta spp.),
atacam a seringueira em fase de viveiro,
jardim clonal e nos primeiros anos do
plantio definitivo. As folhas e hastes são
cortadas e carregadas até o formigueiro. As
plantas podem morrer ou perder a domi-
nância apical no caso de plantios defini-
tivos, retardando o desenvolvimento do
seringal.
O combate se dá naturalmente, pois
as formigas ficam presas ao látex nos
ramos e pecíolos. Entretanto, quando em
altas infestações, devem ser usadas iscas
formicidas espalhadas no carreiro das
formigas ou dentro de frascos preparados
para proteger a isca da umidade e da chuva.
Outra forma é localizar e destruir os
formigueiros com a aplicação de iscas
formicidas ao lado dos olheiros e das
trilhas ativas.

Ácaros: os mais importantes são o


Calacarus heveae e o Tenuipalpus heveae.
Como resultado do ataque, as folhas
perdem o brilho e apresentam amareleci-
mento progressivo de sua superfície,

29
intercalado com áreas verdes normais,
lembrando o sintoma de mosaico provo-
cado por vírus em diferentes culturas.
Entre o início da infestação e o
surgimento dos primeiros sintomas,
normalmente decorre um período mínimo
de 30 dias e as folhas atingidas acabam
caindo, provocando diferentes níveis de
desfolha das plantas.
Plantas atacadas podem perder até
75% das folhas um ou dois meses antes da
desfolha natural.
Estudos realizados demonstraram que
esses ácaros atingem maiores populações
nos anos mais chuvosos, com ocorrência
de dezembro a maio, coincidindo com o
período de maior produção de látex.

Mosca de Renda: a Leptopharsa heveae é


assim conhecida pelo aspecto rendilhado
de suas asas, causando consideráveis da-
nos às folhas da seringueira, acarretando
prejuízos consideráveis ao vegetal e
provocando queda na produção de
sementes e do látex. Ocorre a redução na
área fotossintética das folhas que, conse-
quentemente, tornam-se secas e caem.
Quando a temperatura e a umidade relativa
do ar se elevam, as condições se tornam
favoráveis ao aumento da população.

Demais pragas: em se tratando de regiões


novas para a implantação de seringais,
outras pragas poderão ocorrer ocasional-
mente. Entretanto, poderão ser contro-
ladas, caso atinjam nível de danos que
justifique as medidas de controle.
30
Dentre essas pragas, citam-se as
cochonilhas, que não chegam a causar
danos severos aos seringais; e as moscas
brancas e tripés que, em seringais de
cultivo, raramente exigem medidas de con-
trole.
Ocorrem, ainda, pragas do tronco, que
aparecem em árvores enfraquecidas e
predispostas ao ataque.
Recomenda-se, então, a retirada de
plantas e galhos mortos do interior do
seringal, queimando-os para que não
sirvam como fonte de pragas às plantas
sadias.
Os nematóides ocorrem esporadica-
mente, sendo controlados com os métodos
atualmente disponíveis e que são aplicados
nos outros estados da região Sudeste em
que a heveicultura é desenvolvida.

31
CAPÍTULO

COLHEITA
DO SERINGAL 3
7
SANGRIA

A
colheita do látex consiste numa série
de operações que combinam técnicas
de sangria e estimulação da serin-
gueira para a produção, estocagem e
conservação do produto, preparando-o
para os procedimentos de beneficiamento.
O processo de sangria é a principal
operação, que consiste na remoção cíclica
de parte da casca, com a finalidade de
seccionar os vasos laticíferos, o que
permite o escorrimento do látex para um
recipiente coletor conhecido como “tijela”,
previamente preso ao tronco da serin-
gueira. O mesmo corte é reaberto a cada
sangria pela retirada de mais uma camada
delgada de casca, proporcionando novo
fluxo de látex.
De modo geral, o início da sangria se
dá por volta dos seis a sete anos após o
plantio, variando em função do manejo e da
condução do seringal. Fatores como pro-
priedades físicas e fertilidade do solo,
vigor do clone, tratos culturais, condições
ambientais e problemas fitossanitários são
determinantes para abreviar esse início.
O objetivo da sangria é obter da
árvore a máxima quantidade de látex sem
prejudicar o seu estado vegetativo e fisio-
lógico. A colheita adequada do seringal é
resultado do sistema de sangria cuidadoso
(comprimento e frequência de corte) e do
plano de estimulação (como o emprego do
Ethrel a 5%) para aumento do fluxo da seiva.

35
Demais fatores, como o potencial
genético dos clones e o bom trabalho do
sangrador, influem diretamente na vida
útil do seringal, na produtividade, nos
resultados obtidos a curto, médio e longo
prazo e, também, na rentabilidade da
exploração. A interação material genético e
ambiente deve ser levada em consideração
na escolha do sistema de sangria adotado.

Produção de coágulo prensado em propriedade


localizada em Silva Jardim (sangria, colheita do coágulo,
prensagem, armazenamento, pesagem e comercialização).

Nota: Posteriormente será lançada uma


cartilha contendo todas as informações
detalhadas sobre a colheita do látex para
produção da borracha natural.
36
CLONES DE SERINGUEIRA
RECOMENDADOS PARA PLANTIO
NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Classe I
Para áreas de escape: RRIM 600
Para áreas com restrições
Clima subúmido e úmido: FX 3864
Clima úmido/superúmido e superúmido: FDR
5788, PMB 1, CDC 312
Obs.: Não deve exceder 50% da área total.

Classe II
Para áreas de escape: Gt1, Pr255, Pb330, Pb235,
PB 217, RRIM 937, RRIM 938, IAC35, IAC 40, PR
261, Fx 3864, FDR 5788, PMB1, CDC 312

Para áreas com restrições


Clima subúmido e úmido:
FDR 5788, PMB 1, CDC 312
Clima úmido/superúmido e superúmido: FX3864
Obs.: Utilizar a combinação de três ou mais
clones até 50% da área total.

Classe III
Para áreas de escape: RRIM 729, RRIM 901, RRIM
911, PB 311, PB 312, PB 314, IAC300

Para áreas com restrições


Clima subúmido e úmido: RRIM 600, PR 255, IAC 35
Clima úmido/superúmido e superúmido:
FDR 4575, FDR 5240

Obs.: Não exceder 15% da área total em peque-


nos talhões ou parcelas.

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Classe I - Clone reconhecidamente de bom
desempenho em muitos locais; indicado para
o plantio em grande escala. Não deve exceder
50% da área total do plantio.

Classe II - Clones que, através de avaliações,


têm provado seu mérito ao longo do tempo.
Em combinações de três ou mais podem ser
plantados até 50% da área total do plantio,
sendo no máximo 20% de cada clone.

Classe III - Clones recomendados para


plantio em até 15% da área total.

Áreas de Escape
As áreas livres de ocorrência do fungo
Microcyclus ulei, causador do mal das folhas,
principal doença da seringueira, são: todos os
municípios das regiões Centro-Sul Fluminense e
Médio Paraíba; parte dos municípios da região
Noroeste, com maiores áreas aptas nos
municípios que fazem fronteira com a Zona da
Mata de Minas Gerais e os municípios da região
Serrana, exceto a maior parte das áreas dos
municípios de Sumidouro e Nova Friburgo.

Áreas com restrições


As áreas em que pode ocorrer a doença e que
possuem condições climáticas adequadas ao
cultivo da seringueira, desde que se utilizem
clones tolerantes ou resistentes ao mal das
folhas, são: parte das áreas dos municípios de
Campos dos Goytacazes (região do Imbé),
Macaé, Rio das Ostras, Conceição de Macabu,
Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Rio Bonito,
Tanguá, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim e
Magé.

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MUNICÍPIOS DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
COM APTIDÃO AGRÍCOLA
PARA O CULTIVO DA SERINGUEIRA

Região Centro-Sul
Sapucaia
Areal
Três Rios
Levi Gasparian
Paraíba do Sul
Paty do Alferes
Miguel Pereira
Vassouras
Paulo de Frontin
Mendes

Região do Médio Paraíba


Barra do Piraí
Piraí
Pinheiral
Rio Claro
Quatis
Barra Mansa
Porto Real
Resende
Valença
Rio das Flores

Região das Baixadas Litorâneas


Silva Jardim

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Região Noroeste Fluminense
Bom Jesus do Itabapoana
Varre-Sai
Porciúncula
Natividade
Laje do Muriaé
Miracema
Cambuci
Itaperuna
Aperibé
Santo Antônio de Pádua

Região Norte Fluminense


São Fidélis
Conceição de Macabu
Campos
Macaé

Região Serrana
Santa Maria Madalena
Trajano de Morais
Bom Jardim
Macuco
Cantagalo
Cordeiro
Duas Barras
Carmo
São José do Vale do Rio Preto
São Sebastião do Alto

Obs.: Ainda existem municípios nas


regiões Metropolitana (Guapimirim, Magé,
Paracambi e Tanguá) e da Costa Verde
(Parati) que apresentam aptidão para a
cultura da seringueira.

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