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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – UFAL

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS - CECA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

WILSON ARAÚJO DA SILVA

FARELO DE GLÚTEN 21 NA ALIMENTAÇÃO DE AVES

Atividade solicitada pela Profª Misleni Ricarte de


Lima como requisito avaliativo junto a disciplina
Alimentos e Alimentação Animal. Semestre 2017.2.

Rio Largo, AL
2017
Introdução

Atualmente, as criações de aves têm apresentado um papel de destaque na economia


mundial, principalmente no Brasil, pelo fornecimento de proteína animal de alta qualidade
com baixos custos, tornando-se acessíveis à grande parte da população. O desenvolvimento
dessas atividades constitui-se importante fator de crescimento econômico com efeitos
multiplicadores de renda e emprego em outros setores da economia, intensificando a demanda
de insumos agropecuários e a expansão e a modernização dos setores de comercialização e
agroindústria.
Temos, assim, um aumento na demanda desses produtos, o que obriga os produtores a
produzirem mais e mais barato, uma vez que isso é possível com a redução dos custos de
produção. As aves apresentam uma grande capacidade competitiva com outras espécies
animais, uma vez que produzem grandes quantidades de proteína de alto valor biológico em
menor espaço físico e de tempo.
Considerando que a alimentação para aves representa cerca de 70% a 75% dos custos
totais de uma criação, a procura por alimentos alternativos tem sido essencial para minimizar
esses problemas, a formulação de rações de custo mínimo e a adoção de planos estratégicos
de alimentação possibilitam uma adequação econômica mais conveniente ao produtor. Dentre
as alternativas pesquisadas para reduzir o custo final nos sistemas de produção de aves estão
os resíduos e os subprodutos das indústrias de alimentos, como é o caso do farelo de glúten de
milho 21 (Refinazil).
O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico acerca da
utilização do glúten 21 na alimentação de aves.

Milho (Zea mays)

O milho é um dos cereais mais cultivados e consumidos no mundo e seu valor


econômico está associado à sua ampla forma de utilização, que abrange desde a alimentação
animal e humana, até a indústria de alta tecnologia (GENEM, 2013). Os Estados Unidos
ocupam a primeira posição, seguido pela China e pelo Brasil (USDA, 2017). No Brasil, a
produção de milho encontra-se relativamente dispersa, tendo como principais regiões
produtoras o Centro-oeste e Sul, os estados que mais se destacam são o Mato Grosso e do
Paraná (MAPA, 2017).
Fisicamente o grão de milho é formado por quatro estruturas principais que são o
endosperma (82%), pericarpo (5%), gérmen (11%) e a ponta (2%) e, assim como ocorre nos
demais cereais, os nutrientes presentes no grão do milho, estão distribuídos de forma
heterogênea entre as diferentes entre as diferentes estruturas que o compõem, por este motivo,
a composição dos produtos derivados deste cereal, depende de quais partes do grão estão
inseridas (CALLEGARO et al., 2005; PAES, 2006).
O pericarpo, também denominado casca, é a camada fina e resistente que constitui a
parede externa do grão, sendo composto basicamente por fibra. Enquanto que, a ponta,
estrutura responsável pela conexão do grão ao sabugo, é a única parte do grão que não é
envolta pelo pericarpo sendo constituída, principalmente, por material lignocelulósico (PAES,
2006).
O milho é um alimento que apresenta alto teor de amido (63,4%) e lipídeos (3,81%)
(ROSTAGNO et al., 2017), sendo esses dois nutrientes encontrados, quase em sua totalidade,
no gérmen e endosperma. Dessa forma, a maior contribuição do milho para alimentação
animal é como fornecedor de energia.
O amido é o carboidrato de reserva dos vegetais, é um polímero de glicose constituído
por moléculas de amilose e amilopectina. Segundo Bertechini (2012), o amido dos milhos
híbridos simples apresenta em média 28% de amilose e 72% de amilopectina. A amilose
apresenta uma estrutura heliocoidal não ramificada, na qual resíduos de glicose estão unidos
através de ligações alfa-1,4, enquanto que a amilopectina apresenta ramificações em sua
cadeia, ocorrendo ligações alfa-1,4 nas cadeias lineares e alfa-1,6 nos pontos de ramificações
(SILVA et al., 2014).
O milho é considerado um carboidrato de fácil digestão para aves, no entanto, a
digestibilidade deste nutriente depende, entre outros fatores, da relação amilopectina/amilose,
visto que a amilopectina é considerada a fração mais digestível do amido, devido a
conformação da sua cadeia, o que facilita o acesso das enzimas durante o processo digestivo
intestinal (BERTECHINI, 2012).
O conteúdo lipídico do grão de milho está representado pelos ácidos graxos
polinsaturados, palmítico, esteárico, oleico, linolênico e linoleico (TONISSI et al., 2013),
sendo este último encontrado em maior concentração. Outra característica relevante dos
lipídeos do milho está relacionada à presença de carotenoides, substâncias lipídicas que
conferem a cor aos grãos, dentre eles as xantofilas e os betacarotenos, que são responsáveis
pela pigmentação amarelada da carne de frangos e gema dos ovos, propriedades muito
importantes de cadeia produtiva avícola (OELKE e REIS, 2013).
No que diz respeito ao conteúdo proteico, o teor de proteína bruta do milho é em torno
de 9%, podendo ser encontrada algumas variações neste valor, associadas, principalmente, a
variabilidade genética dos cultivares. As principais proteínas presentes no grão são a zeína e a
gluteína, encontradas no endosperma e no gérmen, respectivamente (TURCI, 2011),
entretanto, a maior parte da fração proteica do milho está representada pela zeína, que é
considerada uma proteína de baixo valor biológico, uma vez que existe um desequilíbrio de
aminoácidos provocado pelo alto teor de leucina e pela deficiência de lisina e triptofano,
aminoácidos considerados essenciais para aves (TONISSI et al., 2013).
O milho apresenta em sua composição micronutrientes como minerais e vitaminas,
mas durante o processo de formulação de rações, essas substâncias são suplementadas com
fontes sintéticas, visando o melhor desempenho animal (NASCIMENTO, 2015).

Processamento para obtenção do glúten 21

O farelo de glúten de milho 21 é um subproduto obtido a partir do processamento do


milho, por via úmida. Para tanto, após rigorosa limpeza dos grãos, o milho é colocado em
maceradores de aço inoxidável, onde recebe um banho contínuo a 45-50%, por 42 duas horas,
de uma solução aquosa ácida contendo lactobacillus, em presença de dióxido de enxofre
(SO2). No processo de separação do amido das proteínas, o SO 2 diluído reage com a água
(H2O) e forma o ácido sulfuroso (H 2SO3) que evita a germinação do grão e controla a
fermentação, devido a variações físicas e químicas que ocorrem nos constituintes do
endosperma, auxiliando no processo de separação (KENT, 1983).
Pela ação de acidez e temperatura, o grão de milho sofre amolecimento e libera
nutrientes para a solução, que, posteriormente, é drenada e concentrada. Os grãos absorvem
água apresentando cerca de 50% de umidade e formam uma massa que passa por moinhos e
recebe banho de hipoclorito para separação do gérmen. O material restante é composto por
amido, glúten e fibra que após uma segunda moagem passa por um sene de sarilhos e peneiras
vibratórias que separam a fibra dos outros ingredientes (FUNDAÇÂO CARGILL, 1980).

Composição química e digestibilidade do farelo de glúten 21

O farelo de glúten 21 é composto por fibras, glutén, amido e frações proteicas não
extraídas no processo de separação do amido e pode conter, ainda, extrativo fermentado do
milho e/ou farelo de gérmen do milho (LIMA, 2007).
A composição final desse subproduto pode variar em função das condições de cada
indústria, no entanto, o farelo de glúten de milho 21 contém, em média, 28% do peso original
do milho, sendo um ingrediente de teor proteico mediano, fibroso, com elevada concentração
de hemicelulose e baixa de celulose e lignina (HONEYMAN e ZIMMERMAN, 1990).
Franqueira et al. (1979) determinaram a energia metabolizável aparente (EMA),
EMAn e o coeficiente de digestibilidade aparente da matéria seca (CDAMS) do farelo de
glúten 21, para poedeiras leves com cinco e 24 semanas de idade, e não encontraram
diferenças entre as idades. A média dos valores, expressos com base na matéria seca,
determinados entre as duas idades foram de 2.680 kcal/kg para EMA, 2.530 kcal/kg para
EMAn e 54,46% para CDAMS.
Albino et al. (1982) determinaram a EMA, EMAn e CDAMS do farelo de glúten 21,
em frangos de corte com 21 e 42 dias de idade, e observaram efeito da idade sobre as
variáveis estudadas. Para frangos de corte com 21 dias de idade os valores foram de 2.340
kcal/kg para EMA, 2.140 kcal/kg para EMAn e 42,81% CDAMS. Já para aves com 42 dias de
idade foram encontrados valores de 2.700 kcal/kg para EMA, 2.640 kcal/kg para EMAn e
51,22% para CDAMS, sendo estes valores expressos com base na matéria seca.
O farelo de glúten 21 apresenta superioridade dos valores de PB, MM, FB e
inferioridade dos valores de EE e EB, quando comparados aos valores do milho estabelecidos
nas Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos (Rostagno et al., 2017). O fator limitante do farelo
de glúten 21 na alimentação de aves é o alto teor de fibra bruta.
Os valores de energia metabolizável aparente corrigida para nitrogênio (EMAn) e a
energia metabolizável verdadeira corrigida para nitrogênio (EMVn) são inferiores aos
encontrados no milho (3.515 kcal/kg de EMVn) (ROSTAGNO et al. 2017). O coeficiente de
digestibilidade aparente total da matéria seca (CDAMS), da proteína bruta (CDAPB), do
extrato etéreo (CDAEE), da matéria mineral (CDAMM), da fibra bruta (CDAFB), da fibra em
detergente neutro (CDAFDN), do amido (CDAA) e do extrativo não nitrogenado
(CDAENN), respectivamente foi de 84,40;78,60;81,30; 21,40; 69,00; 62,80; 69,00; 93,60%
para o farelo de glúten 21 em frangos de corte com 21 dias de idade (NUNES et al., 2004).

Utilização na dieta de aves

É utilizado, geralmente, em dietas para ruminantes por disponibilizar fibra


prontamente fermentável e por seu conteúdo proteico (BOWMAN e PATERSON, 1988). Para
não-ruminantes o uso deste ingrediente apresenta algumas limitações, pois apresenta baixo
teor de energia metabolizável como consequência do alto teor de fibra, desbalanço
aminoacídico e desta forma, qualidade proteica comprometida, além de sua utilização em
dietas para suínos apresentar baixa palatabilidade. Assim, os estudos da utilização deste
ingrediente na alimentação de não-ruminantes são conduzidos no sentido de utilizar o glúten
21 como diluidor de energia.
Avaliando a inclusão do farelo de glúten 21 em rações de frango de corte de duas
marcas comerciais (Hubbard e Ross), Freitas (2000) não observou efeito da inclusão ao nível
de 15% para as variáveis: ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar e
rendimento de carcaça.
Nos programas de muda forçada de galinhas poedeiras, em dietas de frangas de
postura na fase de crescimento e para porcas na fase de gestação, situações nas quais dietas
com altos níveis energéticos não são desejáveis, o farelo de glúten de milho 21 foi uma
alternativa viável. De forma semelhante ao que ocorre com o farelo de trigo, casca de soja e
outros ingredientes com elevado teor de fibra, a inclusão de farelo de glúten 21 fornece menor
aporte energético, além de interagir com outros nutrientes da ração, proporcionando menor
ingestão e aproveitamento de sua energia (KAWAUSHI, 2008).
Trabalhando com frangas de corte de 84 dias de idade, Rabello et al. (2012)
concluíram que não se deve exceder o nível de 10% da inclusão de farelo de glúten 21, a fim
de proporcionar melhores resultados de ganho de peso e conversão. Entretanto, visando
melhores rendimentos de sobrecoxa, os autores recomendam o nível de 13,66%.
Considerações finais

O farelo de glúten de milho 21 pode ser utilizado como uma fonte proteica na
alimentação de aves, uma vez que pode substituir parcialmente alimentos comumente
utilizados, como o farelo de soja, além de diminuir a utilização de aminoácidos a partir de
fontes sintéticas, diminuindo os custos com alimentação.
Deve-se ter cautela ao incluir o farelo de glúten 21 na dieta de aves, devido ao alto teor
de fibra presente neste alimento, pois a fibra se configura como um fator antinutricional para
aves graças a presença dos polissacarídeos não-amiláceos que fazem parte da composição da
fibra bruta e que alteram negativamente os processos digestivos e absortivos no trato
gastrointestinal de não-ruminantes.
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