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Patrimônio Cultural (AD1)

Aluno: Jorge Eduardo de Castro Alves


Matrícula: 19216090118
Curso: Licenciatura em História
Polo: Duque de Caxias

1ª etapa

1) Explique por que as noções de nação e patrimônio estão imersas na


História.

Quer seja a definição de nação ou de patrimônio, só é possível as


compreender se as confrontarmos com os processos históricos que as
engendraram. Isso porque o que se concebe como de interesse nacional e
patrimonial está recortado pelas disputas e os conflitos típicos de determinado
período, que, por sua vez, condicionam as mentalidades e atribuições de sentido
do que lhes é próprio.
É histórico, portanto, o processo de seleção dos aspectos de uma totalidade
social que se revestem de pretensões integradoras e universais, que orientam a
construção e a reconstrução do passado em função do que se deseja sacralizar
no presente e guardar para o futuro. O forjar-se dos lugares de memória e as
operações de lembrança-esquecimento, preservação-apagamento, dessa
forma, não são nem arbitrários, nem definidos em função das características em
si do que se pretende incorporar ao patrimônio. De fato, a atribuição de sentidos
que se lhe oferece podem falar mais sobre o contexto do presente que do
período em que se originaram. As relações passado-presente-futuro são,
fundamentalmente, não lineares e decididas na arena da história.
Some-se que a própria formação de uma identidade nacional, de seus
mecanismos de pertencimento e exclusão, transforma-se em sentido histórico.
O mesmo vale para os conceitos, práticas, técnicas e regulamentações que
enquadram a produção de um patrimônio e sua constituição como área do saber.

2) Caracterize as origens da preservação do patrimônio cultural na França.

As origens da preservação do patrimônio na França remontam à influência


das transformações introduzidas pela vitória de sua Revolução, no século XVIII.
O alvorecer de um nacionalismo, fundamentado na ruptura com o Antigo
Regime, demandou a reconstrução de uma história ancestral e nacional,
funcional à legitimação dos novos Estado e regime.
Enfatizamos, portanto, o triunfo e a de uma nova visão de mundo e do
Homem, que revisitava a história em retrospectiva, assim como informava a
consolidação de um novo dispositivo institucional e novas relações de poder. A
formação de um patrimônio nacional, assim, conferia materialidade à própria
ideia de nação: o apagamento como sinal de ruptura; o reordenamento de uma
memória, por vezes mítica, como afirmação de uma história então tornada
“nacional”.
O ano de 1830 é um marco na institucionalização estatal da produção de
patrimônio naquele país, com a criação da Inspetoria Geral dos Monumentos
Históricos. A normatização posterior, ao redor da categoria classement, garantiu
um modelo de regulamentação e centralização pelo Estado para a empreitada
patrimonial, com traços paradigmáticos que alcançaram influência global.

3) Apresente as semelhanças entre o modelo francês de organização do


patrimônio cultural e o brasileiro.

A formação de um patrimônio cultural brasileiro recebeu influência do


modelo francês, ainda que tardiamente. Dentre as semelhanças que se poderia
destacar, constam, ao menos:
- A centralização estatal, desenvolvida desde a fundação do Sphan (hoje, Iphan),
no contexto do Estado Novo;
- A normatização crescente e que progressivamente ampliaria o escopo dos bens
de interesse patrimonial, ditando os mecanismos de preservação, restauro,
visibilidade e, inclusive, de controles e restrições dos bens sob controle privado,
tendo o conceito francês de classement inspirado a regulamentação do que ficou
conhecido, no Brasil, por tombamento;
- A inspiração de um corolário ideológico de cunho nacionalista e com pretensões
civilizadoras – no caso do Brasil, acrescido de inspirações estéticas modernistas;
- A busca de reconstrução de uma história ancestral. Se no caso francês,
buscava-se sustentar um elo com a antiguidade grega, no Brasil, estabeleceu-
se no Estado colonial a gênese da nação, ora independente, de onde se buscava
extrair as origens de uma brasilidade.

4) Estabeleça as conexões entre formação dos estados nacionais e organização


da preservação do patrimônio cultural no Ocidente.

A organização da preservação do patrimônio cultural foi um traço comum


da formação dos estados nacionais no Ocidente ao se configurar como aspecto
indutor de coesão social e produção de consenso, em face às mudanças
estruturais nas sociedades em tela. A necessidade de se construir um passado
nacional e uma memória coletiva mobilizava a busca de integração social e
territorial, como condições de legitimidade da nova arquitetura institucional
constituída.
A preocupação com a autoimagem da nação era elemento catalisador da
invenção de novas tradições, elemento imperativo para o exercício do poder
coercitivo, então fundado na ruptura com o passado e na projeção de uma
identidade calcada em um passado ancestral. A construção de patrimônio,
portanto, deu-se como exercício do monopólio do poder de classificar e
materializar a história, definida como história nacional. Acrescente-se que, de um
ponto de vista internacional, a afirmação perante os outros Estados de
peculiaridades nacionais atuou, também, como elemento de diferenciação, a
serviço da luta pela melhor inserção desses novos Estados no mundo –
igualmente, um plano de disputa material e simbólica que se reconfigurava.

2ª etapa

1) Apresente como cada um dos textos demonstra que o valor de patrimônio não
está contido nos objetos patrimonializados;

Ambos os textos coincidem em argumentar que o valor de patrimônio não


está contido nos objetos em si, porém desde ênfases distintas. Márcia Chuva
argumenta em base à historicidade da noção de patrimônio e, portanto, da
atribuição de valor. Articulando o conceito de nação com as origens e
características dos primeiros esforços sistemáticos de preservação – atrelados,
precisamente, à busca de consolidação de uma memória representativa de uma
história nacional -, a autora demonstra a natureza exógena do valor do
patrimônio, vinculada à construção de hegemonia e à experiência do tempo
típica de dado ordenamento social, em determinada época.
Por sua vez, Ulpiano Meneses privilegia, em sua análise, o potencial de
interlocução do bem patrimonial com o contexto de práticas sociais. Diferencia a
fruição do objeto por meio da ação autônoma em oposição às noções de
consumo cultural, que ensejam a fetichização que toma o valor como
característica imanente e apreciável apenas através da mediação. É dessa
forma que, para o autor, o valor da coisa não está contido na coisa em si, mas
surge da apropriação de forma seletiva de suas características conforme dada
prática social.

2) Com base nos textos, mostre as mudanças de status de um mesmo


monumento, no tempo ou de acordo com os grupos sociais envolvidos;

Um mesmo monumento pode variar no tempo em seu valor atribuído, quer


em quantidade ou em qualidade. A dimensão subjetiva do valor de um bem
implica que o mesmo possa evoluir, em sentido histórico, para ser mais ou menos
valorizado com os anos, ou mesmo descartado. Um exemplo contemporâneo
possível está em um movimento que, em várias partes do mundo, tem
questionado as estátuas e monumentos que homenageiam proprietários de
escravos. Esses bens, que a seu tempo puderam ser apreciados como
elementos da força da estrutura social anterior, ou serem fetichizados como
símbolos de um passado idealizado, hoje têm sua legitimidade confrontada, em
função de disputas do presente. Grandes polêmicas são travadas pela
continuidade ou não da exposição desses monumentos, tendo grupos sociais e
políticos antagônicos como contendores de uma disputa aberta.
3) Apresente suas considerações finais sobre os sujeitos de atribuição de valor
aos monumentos e bens patrimonializados.

A conclusão que se pode sacar da leitura dos textos, a nosso ver, é que
os sujeitos que atribuem valor ao patrimônio concorrem – se é que não
participam - nos conflitos e contradições típicas de determinado contexto
histórico. As disputas, seus vencedores e vencidos, informam certa apreciação
social de um bem. Interesses particulares buscam apresentar-se como
universais e plasmarem-se no patrimônio e na memória.
Acrescente-se que, contudo, em um período marcado pelo sucateamento
de políticas e aparelhos públicos, pode haver, também, um lugar de resistência
na manutenção e construção de patrimônio. O que não é expectável, nesse
contexto, é haver neutralidade.

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