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Disciplina: Neurofisiologia: o funcionamento do cérebro e a base da plasticidade

cerebral na gestação, infância e adolescência

Autores: M.e Cláudia Dionísio Bianch

Revisão de Conteúdos: Esp. Larissa Carla Costa

Revisão Ortográfica: M.e Jacqueline Morissugui Cardoso

Ano: 2017

Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas


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Cláudia Dionísio Bianch

NEUROFISIOLOGIA: o funcionamento do
cérebro e a base da plasticidade cerebral na
gestação, infância e adolescência
1ª Edição

2017

Curitiba, PR
Editora São Braz

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FICHA CATALOGRÁFICA

BIANCH, Cláudia Dionísio.


Neurofisiologia: o funcionamento do cérebro e a base da plasticidade
cerebral na gestação, infância e adolescência / Cláudia Dionísio Bianchi
– Curitiba, 2017.
71 p.
Revisão de Conteúdos: Larissa Carla Costa.

Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso.

Material didático da disciplina de Neurofisiologia: o funcionamento do


cérebro e a base da plasticidade cerebral na gestação, infância e
adolescência – Faculdade São Braz (FSB), 2017.
ISBN: 978-85-94439-68-0

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Apresentação da Disciplina

Esta disciplina que abordará os aspectos da neurofisiologia humana e


seus complexos processos na formação do sujeito. Nos dias de hoje são grandes
os avanços em pesquisas na área de Neurociência, considerando os processos
de inclusão, visando uma sociedade mais justa e acessível a todos, sendo assim,
os diversos profissionais são cada vez mais instigados a ampliar seus
conhecimentos, devido à diversidade de fatores que podem interferir na
aprendizagem do ser humano.

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Aula 1 – Introdução ao Sistema Nervoso

Apresentação da aula

Nesta aula serão estudados os detalhes do Sistema Nervoso, sua energia


e integração, conhecendo melhor suas ações e reações (voluntárias e
involuntárias).

1.1 Sistema Nervoso Central (SNC)

O Sistema Nervoso tem a capacidade de receber, transmitir, elaborar e


armazenar informações. Recebe informações sobre mudanças que ocorrem no
meio externo, isto é, relaciona o indivíduo com seu ambiente e gera respostas
aos estímulos recebidos. Não somente é afetado pelo meio externo, mas
também pelo meio interno com todos os processos que ocorrem nas diversas
regiões do corpo. As mudanças no meio externo são percebidas de forma
consciente, enquanto as mudanças no meio interno nem sempre o são.

Importante
O Sistema Nervoso é o sistema mais complexo do corpo
humano. Representa uma rede de comunicação do
organismo, formada por um conjunto de órgãos do corpo
humano. É responsável pela maioria das funções de controle,
coordenando e regulando as atividades corporais. Como
sistema se subdivide em dois segmentos: Sistema Nervoso
Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP).

O Sistema Nervoso Central (SNC) são porções do sistema nervoso que


estão envolvidas pelos ossos, o encéfalo e a medula espinhal.
O Encéfalo corresponde a toda estrutura intracraniana que se distingue
em três partes: o cérebro (telencéfalo e diencéfalo), o tronco encefálico
(mesencéfalo, ponte e bulbo) e o cerebelo. Podemos afirmar que é a partir do
tronco encefálico, em suas subdivisões, que há a coordenação relativa à postura
corporal e as subdivisões são: mesencéfalo e ponte.

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Figura 1.1: Sistema Nervoso Central
Fonte: http://www.auladeanatomia.com/neurologia/snc3.jpg?x731855

Figura 1.2: Hemisférios Cerebrais


Fonte:http://www.auladeanatomia.com/upload/site_pagina/hemisferios.jpg?x73185

Como se pode ver, o cérebro é a porção mais larga do encéfalo. Está


claramente dividido em dois hemisférios separados pela profunda fissura
sagital. Normalmente, o hemisfério cerebral direito recebe sensações e controla
o lado esquerdo do corpo, assim como o hemisfério esquerdo, controla o lado
direito do corpo. O cérebro subdivide-se em telencéfalo e diencéfalo.

• Telencéfalo - corresponde aos dois hemisférios. Representa o


maior volume do SNC, localizado dentro do crânio, e
funcionalmente responsável pelo pensamento, atenção,
raciocínio, cálculo e linguagem.

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• Diencéfalo - divide-se em quatro subdivisões: tálamo,
hipotálamo, subtálamo, e epitálamo. Merecendo maior destaque
o tálamo.

• Tálamo - é responsável pela recepção das mensagens sensoriais


atuando na transmissão delas ao córtex. Regula o estado de
atenção e consciência.

• Hipotálamo - atua na expressão das emoções, comportamentos


sexuais, regula a temperatura corporal e o controle de água no
corpo.

• Cerebelo - também chamado de pequeno cérebro, está situado


atrás do cérebro. Atualmente sabe-se que contém tantos
neurônios como ambos os hemisférios cerebrais juntos. O
cerebelo é o centro para o controle do movimento, ou seja, os
movimentos e a postura corporal; possui extensivas conexões
com o cérebro e a medula espinhal.

• Tronco encefálico - porção restante do encéfalo é caracterizada


como um conjunto complexo de fibras e células composto pelo:
mesencéfalo, ponte e bulbo raquidiano.

• Mesencéfalo - recebe e coordena informações relativas à postura


corporal.

• Ponte - também auxilia em relação ao tônus muscular, postura e


equilíbrio e controla a respiração.

• Bulbo raquidiano - também chamado de medula oblonga,


participa de processos vitais como batimentos cardíacos e
vasoconstrição ( diminuição do diâmetro dos vasos sanguíneos).

• Medula espinhal - colada ao tronco encefálico, é o maior


condutor de informações da pele, articulações e dos músculos ao
encéfalo, levando e trazendo as informações ao encéfalo. A

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comunicação entre medula espinhal e corpo, se dá por meio dos
nervos espinhais que formam parte do sistema nervoso periférico.

Vocabulario
Raquidiano - Relativo à raque ou espinha dorsal.

1.2 Sistema nervoso periférico

É formado por todas as partes do sistema nervoso, com exceção do


encéfalo e da medula espinhal. Existem dois tipos de nervos: os cranianos e os
raquidianos.
Os nervos cranianos distribuem-se em 12 pares que saem do encéfalo
e sua função é transmitir mensagens sensoriais ou motoras.
Os nervos raquidianos são 31 pares que saem da medula espinhal, que
levam impulsos do SNC para os músculos ou para as glândulas. Está dividido
em:
• Sistema nervoso somático ou voluntário: regula as ações que
estão sob o controle da nossa vontade, como também, regula a
musculatura esquelética de todo o corpo.
• Sistema nervoso autônomo: integrado ao sistema nervoso
central, está subdividido em simpático e parassimpático.
Enquanto o sistema nervoso simpático estimula o funcionamento
dos órgãos, o sistema nervoso parassimpático inibe. Portanto
podemos afirmar que a função do sistema nervoso autônomo é
regular as funções orgânicas, para que as condições internas do
organismo se mantenham constantes.

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1.3 Aspectos Anatômicos e Funcionais do Neurônio

O Neurônio é a principal célula do sistema nervoso, sendo responsável


pela condução, recepção e transmissão dos impulsos nervosos. Tem a função
básica de receber, processar e enviar informações. O Sistema nervoso tem mais
de 100 bilhões de neurônios com características enzimáticas e metabólicas,
determinadas geneticamente. São células que apresentam diversos formatos e
tamanhos, produzem substâncias químicas distintas e apresentam funções e
localizações diversas no SN.

Figura 1.3: Estrutura do neurônio


Fonte: http://www.sobiologia.com.br/figuras/Fisiologiaanimal/nervoso6.jpg

• Corpo celular ou pericárdio - núcleo de um neurônio, região de


concentração citoplasmática e, de onde partem numerosas
ramificações;
• Dendritos - são ramificações do pericárdio, prolongamentos
anexos que efetuam a recepção dos estímulos nervosos;
• Axônio - prolongamento extenso com diâmetro constante,
projetado do corpo celular, podendo medir mais de um metro de
comprimento, envolvido por uma camada isolante descontínua
(bainha de mielina), formada por células de Schwann. Sua função
está relacionada à condução do estímulo nervoso;
• Telodendros - situadas na região terminal de um axônio, são
ramificações que aumentam a superfície de propagação de um

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impulso nervosos, permitindo intercâmbio com outro neurônio ou
um órgão.
Os neurônios podem ser classificados segundo sua função em três
tipos: sensoriais, motores e interneurônios;

• Neurônios sensoriais: (aferentes) levam as informações dos


nervos periféricos em direção ao Sistema Nervoso Central
(SNC);
• Neurônios motores: (eferentes) conduzem informações do
SNC em direção à parte periférica do corpo;
• Interneurônios: possibilitam a conexão entre neurônios
sensoriais e motores e possuem função integradora, sendo
localizados na medula espinal.

Os neurônios também são classificados quanto aos prolongamentos do


corpo celular, sendo multipolares (com vários dendritos e um axônio), bipolares
(com um prolongamento axônio e um dendrito) e pseudo-unipolares (com um
único prolongamento que é axônio em uma extremidade e dendrito em outra).

1.4 Aspectos microscópicos estruturais e funcionais do sistema nervoso:


Neurônio, Glia, Bainha de mielina, potencial de ação

Figura 1.4: Estrutura do neurônio


Fonte:http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/01/estrutura-neuronio.jpg

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O sistema nervoso central é constituído por neurônios e
células glias.
Neurônios constituem cerca de metade do volume do sistema
nervoso central e as células da glia completam o restante.

O neurônio (célula nervosa), consiste em várias partes: o soma (corpo


celular), os dendritos e o axônio. Explorando o interior do neurônio, conhecemos
as funções das diferentes partes que o compõe:

Soma (ou Corpo Celular) - situa-se na parte central do neurônio.


Contém material genético (cromossomos), incluindo informações para o
desenvolvimento da célula e síntese de proteínas necessárias para a
manutenção e sobrevivência da célula. Produz todas as proteínas para
os dendritos, axônios e terminais sinápticos. Dentro do soma
encontramos estruturas chamadas de organelas e as mais importantes
são: o núcleo, o retículo endoplasmático rugoso, o retículo
endoplasmático liso, o aparelho de Golgi e as mitocôndrias. No interior
da célula encontramos um fluído aquoso, chamada Citosol, rico em
potássio, separado do meio externo pela membrana neuronal e contêm
enzimas responsáveis pelo metabolismo da célula.

Membrana Neuronal - A membrana neuronal, composta por lipídios e


proteínas, serve como uma barreira na união do citoplasma interno do
neurônio e exclui certas substâncias que flutuam no fluído que banha o
neurônio. É responsável por importantes funções, como: manter certos
íons e pequenas moléculas fora da célula e deixar outras dentro;
acumular nutrientes e rejeitar substâncias nocivas; catalizar reações
enzimáticas; estabelecer um potencial elétrico dentro da célula; conduzir
um impulso.

Glias - As células da Glia são células de apoio e proteção para os


neurônios, também conhecidas como as “células de suporte” para o
sistema nervoso, são capazes de modificar sinais nas fendas sinápticas
entre os neurônios e podem até mesmo influenciar o local da formação
das sinapses. Também têm importante papel nos processos do SNC,

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incluindo a transmissão da dor. Estima-se que haja 10 células gliais para
cada neurônio no SNC, porém, por terem reduzido tamanho, elas
ocupam a metade do volume do tecido nervoso. São segregadas em
dois grupos: aquelas no sistema nervoso central e as do sistema nervoso
periférico.

As quatro funções principais de células da glia são:


• cercar os neurônios e mantê-los no lugar;
• para fornecer nutrientes e oxigênio;
• isolar um neurônio do outro;
• destruir e remover as carcaças de neurônios mortos (limpar).

Os tipos de células de suporte do sistema nervoso central diferem em


forma e função e são elas: oligodendrócitos, astrócitos, células de Schwann,
células ependimárias e micróglia.

Os oligodendrócitos possuem núcleo esférico e são menores que os


astrócitos. Essas células são encontradas na substância branca e
cinzenta. Na substância branca, eles são encontrados envolvendo os
axônios dos neurônios no sistema nervoso central, formando, assim,
uma membrana rica em substância lipofílica denominada bainha de
mielina.

Os astrócitos - células da glia mais comuns, estão relacionados à


homeostase do Sistema Nervoso Central (SNC). Dentre as suas
funções, destaca-se a de nutrição. As extremidades dos prolongamentos
dos astrócitos (pés vasculares) circundam os vasos sanguíneos e
através deles os nutrientes são levados até o neurônio.

Células de Schwann - possuem a mesma função dos oligodendrócitos,


no entanto, se localizam ao redor dos axônios do sistema nervoso
periférico. Cada uma dessas células formam uma bainha de mielina em
torno de um segmento de um único axônio.

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Saiba Mais
A célula de Schwann foi identificada pe-
lo fisiologista alemão Theodor Schwann (1810-1882).
Schwann estudou a fermentação do açúcar e
do amido enquanto processos biológicos, as propriedades
e o funcionamento dos músculos e as células nervosas. O
estudo dessas últimas levou-o à descoberta das cha-
madas células de Schwann. Foi também o criador do termo
"metabolismo" para designar os processos químicos de um
organismo biológico. Foi responsável, também, por impor-
tantes contribuições na área da embriologia, ciência que
praticamente fundou, ao estudar o desenvolvimento da
primeira célula resultante da fecundação.

Os ependimócitos, ou células ependimárias - são células cúbicas ou


colunares, suas funções são revestir os ventrículos encefálicos e o canal
central da medula.

As células da micróglia - também estão presentes nas substâncias


brancas e cinzentas do sistema nervoso central. Essas células são
alongadas e pequenas, com núcleo em forma de bastão e cromatina
condensada. Elas atuam na defesa imune do SNC.

Figura 1.5: Células da Micróglia


Fonte:http://www.medicinageriatrica.com.br/wp-
content/uploads/2013/01/C%C3%A9lulas-da-glia.jpg

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• Núcleo - no interior do núcleo encontramos os cromossomos que
contém o material genético, o ADN (ácido desoxirribonucléico) e
também os aminoácidos. É uma estrutura do sistema nervoso
central que é composta principalmente de substância cinzenta.
Sintetiza RNA a partir do DNA e o transporta através de poros ao
citoplasma para uso na síntese de proteínas.

• Bainha de mielina - é uma camada de membrana lipídica que


envolve os axônios, isolando-os. Esse isolamento permite uma
condução mais rápida e eficiente dos impulsos. A bainha é
descontínua, pois se interrompe em intervalos regulares,
formando os NÓDULOS DE RANVIER (ou nós neurofibrosos),
regiões limites entre uma célula de Schwann e outra. Como a
mielina funciona como um isolante, as alterações da polaridade
da membrana acontecem somente nos nódulos de Ranvier.
Portanto, o impulso “salta” de um nódulo de Ranvier para outro
(condução saltatória), sendo extremamente rápida e gastando
menos energia. A condução é mais rápida nos axônios com maior
diâmetro e com mais mielina. A bainha de mielina pode ser
sintetizada por duas células: oligodendrócitos, no sistema
nervoso central, e células de Schwann, no sistema nervoso
periférico.

Saiba Mais
O nódulo de Ranvier foi reconhecido pelo médico francês
Louis-Antoine Ranvier (1835-1922) em 1876, denominando-
o, na ocasião, “estrangulamento anular do tubo”.

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1.5 Potencial de Ação

Potenciais de ação são essenciais para a vida animal, porque transportam


rapidamente informações entre e dentro dos tecidos. Eles podem ser gerados
por muitos tipos de células, mas são utilizados mais intensamente pelo sistema
nervoso, para comunicação entre neurônios e para transmitir informação dos
neurônios para outro tecido do organismo, como os músculos ou as glândulas.
É a propagação de um estímulo ao longo de um neurônio, estímulo esse que
pode ser qualquer sinal captado pelos receptores nervosos, que desencadeia a
necessidade de elaborar uma resposta, ou seja, o impulso resulta da capacidade
dos neurônios se excitarem por ação de um estímulo.
Esse fenômeno de natureza eletro-química, ocorre devido a modificações
na permeabilidade da membrana do neurônio. As modificações de
permeabilidade permitem a passagem de íons de um lado para o outro da
membrana plasmática.
Em um primeiro instante, abrem-se “portas de passagem” de Na+(Sódio),
permitindo a entrada de grande quantidade desses íons na célula. Com isso,
aumenta a quantidade relativa de carga positiva na região interna na membrana,
provocando sua despolarização. Em seguida abrem-se as “portas de passagem”
de K+(Potássio), permitindo a saída de grande quantidade desses íons. Com
isso, o interior da membrana volta a ficar com excesso de cargas negativas,
ocasionando a repolarização.
O estímulo provoca, assim, uma onda de despolarizações e
repolarizações que se propaga ao longo da membrana plasmática do neurônio.
Essa onda de propagação é o impulso nervoso, que se propaga em um único
sentido na fibra nervosa. Dentritos sempre conduzem o impulso em direção ao
corpo celular, o axônio por sua vez, conduz o impulso em direção às suas
extremidades, isto é, para longe do corpo celular. A propagação rápida dos
impulsos nervosos é garantida pela presença da bainha de mielina que recobre
as fibras nervosas.
O ciclo completo desse fenômeno, dura poucos milisegundos. Cada ciclo
e, portanto, cada potencial de ação, possui uma fase ascendente, uma fase
descendente e, ainda, uma curva de tensão elétrica inferior a do potencial de
repouso de membrana.

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O Potencial de ação não permanece em um local da célula, ele percorre
toda a membrana. Ele pode percorrer longas distâncias no axônio, por exemplo,
para transmitir sinais da medula espinhal para os músculos do pé.

Figura 1.6: Potencial de Ação


Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/41/Potencial_de_acao.png

1.6 Sinapses

Uma sinapse é um espaço de junção no qual ocorre a comunicação entre


dois neurônios. A natureza física da conexão sináptica foi discutida por quase
um século. A princípio se pensava que uma sinapse acontecia somente por uma

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corrente elétrica de um neurônio para outro, dada a velocidade da transmissão,
sinapses elétricas. A partir de 1921 que estudos mais aprofundados
conseguiram comprovar as sinapses químicas, ou seja, que a transmissão
sináptica de um neurônio para outro pode se dar quimicamente.
A formação das sinapses está muito relacionada à capacidade cognitiva,
pois, em interação com o ambiente, as estruturas do sistema nervoso processam
novas informações criando, fortalecendo e também enfraquecendo as sinapses.

Figura 1.7: Sinapse


Fonte: http://www.bdtorino.net/files/1416723942_3_161288468.jpg

O neurônio que transmite o sinal é chamado de célula pré-sináptica,


enquanto que a célula que recebe o sinal é um neurônio pós-sináptico. Ainda
que ocorra a transmissão, não ocorre contato entre os neurônios, pois essa se
dá por meio de impulsos elétricos, via junções comunicantes e via fendas
sinápticas. Neste caso podemos compreender que existem dois tipos de
conexões sinápticas: elétricas e químicas.
Representação das sinapses elétricas e químicas:

Figura 1.8:Sinapses Químicas e Elétricas


Fonte: https://sinapsaprender.files.wordpress.com/2014/02/sinapses.png

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1.6.1 Sinapses elétricas

Acontecem quando as correntes iônicas passam diretamente pelas


junções comunicantes até chegarem às outras células. A rapidez na transmissão
do impulso elétrico entre os neurônios é muito grande, com um retardo nulo na
transmissão, sendo ideal para comportamentos que exigem rapidez de resposta
e onde a contração ocorre por um todo e em todos os sentidos. São mais
encontradas em neurônios do tronco encefálico (para controle do ritmo da
respiração, secreção de hormônios na corrente sanguínea) e também estão em
abundância nos músculos cardíacos e lisos.

1.6.2 Sinapses químicas

São aquelas nas quais o potencial de ação é transmitido através de


proteínas chamadas de neurotransmissores.

Figura 1.9:Sinapse
Fonte: http://www.ebah.com.br/

Essas proteínas :acetilcolina, noradrenalina, serotonina, dopamina gaba,


entre outros, saem da célula pré-sináptica geralmente um terminal axonal,
conforme mostra a figura. Esse terminal contêm dúzias de pequenas esferas,
denominadas vesículas sinápticas, são nessas vesículas que se armazenam os
neurotransmissores.

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No momento em que ocorre a sinapse química, esses caem na fenda
sináptica e interagem com a célula pós-sináptica, que capta os
neurotransmissores por meio de receptores. Essas conexões sinápticas podem
acontecer de maneiras diferentes, dependendo em que parte do neurônio se
dará esse contato:
➢ Sinapse Axo-Dendrítica quando o contato acontece entre o axônio e
dendritos.
➢ Sinapse Axo-Somática quando o contato acontece entre axônio e corpo
celular (Soma).
➢ Sinapse Axo-Axônica quando o contato acontece entre axônio e axônio.
➢ Sinapse Dendro dendríticas quando contato acontece entre dendritos.

Figura 1.10:Sinapse
Fonte: http://saofranciscocdn.s3-website-us-east-1.amazonaws.com/wp-
content/uploads/2016/08/sinaps25.jpg

As sinapses químicas são mais frequentemente encontradas em todo o


sistema nervoso e podem ser classificadas, dependendo dos
neurotransmissores, em excitatórias (nas quais a membrana pós-sináptica é
despolarizada) ou inibitórias (que causam a hiperpolarização da membrana pós-
sináptica.)

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Figura 1.11:Sinapse
Fonte: http://g1.globo.com/platb/files/18/2011/01/SinapsesMuotri2.jpg

1.7 Impulso Nervoso

O impulso nervoso é um sinal elétrico que possibilita a formação de uma


corrente elétrica entre um neurônio e outro, estabelecendo uma rede de
comunicação entre as diversas partes do corpo.
Os impulsos elétricos sempre ocorrem no mesmo sentido: dendritos,
corpo celular e terminal axonal.

Figura 1.12: Impulso nervoso


Fonte:http://saofranciscocdn.s3-website-us-east-1.amazonaws.com/

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A propagação de um estímulo ao longo do neurônio, resulta da
capacidade de excitação de um neurônio. Isso ocorre devido a modificação da
permeabilidade da membrana do neurônio, promovendo a passagem de íons de
um lado a outro dessa membrana, aumentando a carga positiva internamente,
provocando a despolarização e a saída de íons, ficando internamente o excesso
de carga negativa, ocasionando a despolarização. Isso acontece
sucessivamente, percorrendo a membrana e transportando rapidamente as
informações de um neurônio a outro.

Resumo da aula

Nesta aula aprendeu-se que o Sistema Nervoso divide-se em dois


segmentos: o Sistema Nervoso Central (SNC) e o Sistema Nervoso Periférico
(SNP). Do SNC fazem parte o encéfalo (que abriga o cérebro, o tronco
encefálico e o cerebelo) e a medula espinhal (que é o maior condutor de
informações ao encéfalo). O cérebro está subdividido em: telencéfalo –
responsável pelo pensamento, atenção, raciocínio, cálculo e linguagem; e o
diencéfalo – responsável pela atenção e consciência. O controle do movimento
e postura fica sob o comando do cerebelo. O tronco encefálico regula funções
vitais e é composto pelo mesencéfalo, ponte e bulbo raquidiano.

Atividade de Aprendizagem
Discorra sobre o Potencial de Ação.

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Aula 2 - O córtex cerebral e os principais sistemas funcionais: somático
motor e sensorial

Apresentação da aula

Nesta aula será estudado o córtex cerebral e os principais sistemas


funcionais: somático motor e sensorial. Esses conhecimentos são primordiais
para entender os processos cognitivos, uma função complexa que sempre
implica em conexões altamente elaboradas que resultam em alterações do
comportamento.

2.1 Organização Anatômica e Funcional do Sistema Nervoso

O desenvolvimento do sistema nervoso ao longo da evolução humana foi


caracterizado pela organização anatômica e funcional que possibilitaram a
interação e adaptação ao meio. Segundo o neuropsicólogo soviético Alexander
Luria (1981), o comportamento humano resulta da interação de três unidades
funcionais complexas e plásticas:
1. Unidade para regular o tônus cortical, a vigília e os estados mentais.
2. Responsável por receber, processar e armazenar informações.
3. Unidade para programar, regular e verificar a atividade metal.

2.2 Córtex Cerebral

Responsável pelo pensamento, raciocínio, funções cognitivas, processos


de percepção sensorial (visão, audição, tato e olfato) e a capacidade de produzir
e entender a linguagem, o córtex é a parte mais desenvolvida do cérebro
humano. O córtex cerebral é constituído por uma camada de substância cinzenta
que envolve os hemisférios cerebrais. Essa camada é bastante extensa,
ocupando área de cerca de 2500cm², mas devido a sulcos e giros, podem
acomodar-se na caixa craniana. É formado de dois tipos de células: as células
de Glia - também chamadas de neuróglias e os neurônios.
O córtex cerebral humano é um tecido fino (como uma membrana) que
tem uma espessura entre 1 e 4 mm. A maior parte da superfície cortical é

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constituída pelo isocórtex, uma estrutura laminar formada por 6 camadas
distintas de diferentes tipos de corpos celulares de neurônios. Esse tipo de
córtex, se considerarmos a evolução humana, é o mais recente e por isso
denominado neocórtex. Perpendicularmente às camadas, existem os neurônios
piramidais que ligam as várias camadas entre si e representam cerca de 85%
dos neurônios no córtex. Há outras áreas corticais em que o número de camadas
de células é menor e sua organização é diferente, caracterizando o alocórtex,
áreas filogeneticamente mais antigas, relacionadas a regulação das emoções
(lobo límbico e formação hipocampal).
No córtex cerebral, podem ser distinguidas diversas áreas, com limites e
funções relativamente definidas. A diferença entre elas, resulta na espessura e
composição das camadas celulares e na quantidade de fibras nervosas que
chegam ou partem de cada uma. O córtex cerebral está dividido em dois
hemisférios: esquerdo e direito, que são separados por um feixe grosso de fibras
nervosas chamado corpo caloso. Esses hemisférios se subdividem em partes ou
lobos(frontal, parietal, temporal e occipital) e esses são designados pelos nomes
dos ossos cranianos nas suas proximidades e que os recobrem. O lobo
frontal fica localizado na região da testa; o lobo occipital, na região da nuca;
o lobo parietal, na parte superior central da cabeça; e os lobos temporais, nas
regiões laterais da cabeça, acima das orelhas, cada um dos lobos está mais
diretamente ligado a certas funções.

Figura 2.1 Hemisférios cerebrais


Fonte: http://askep33.com/2016/03/15/mengenal-bagian-otak-dan-fungsinya/

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➢ Lobo Frontal - Localizado na parte frontal do cérebro, e daí o seu nome,
o lobo frontal é talvez aquele com uma maior importância cognitiva entre
os quatro lobos. Inclui o córtex-motor, sendo sua principal função
a coordenação de atividades motoras e o córtex pré-frontal responsável
pelo pensamento, pela escrita, pela fala e pela linguagem articulada.

➢ Lobo Parietal - Localizado na parte superior do cérebro, responsável


por coordenar as sensações da pele, está constituído por duas
subdivisões a anterior e a posterior.
Zona anterior, córtex somatossensorial, possibilita a recepção de
sensações (tato, dor, temperatura...) que advêm do ambiente e são exteriores
ao corpo. Essas sensações são recebidas por órgãos como lábios, língua e
garganta.
Zona posterior é responsável por analisar, interpretar e integrar as
informações recebidas pela zona anterior, e permite a localização do corpo no
espaço, como o reconhecimento de objetos pelo tato ou compreensão da
linguagem pela audição.

➢ Lobo Occipital - Localizado na parte póstero-inferior do cére-


bro, responsável essencialmente pela visão através do córtex visual
primário e ainda pelo processamento e percepção da visão. É constituída
por várias subáreas que processam os dados visuais recebidos do
exterior depois de terem passado pelo tálamo: há zonas especializadas
em processar a visão da cor, do movimento, da profundidade, da
distância, etc. Depois de percebidas por esta área - área visual primária-
os dados passam para a área visual secundária. É aqui que a informação
recebida é comparada com os dados anteriores que permite
reconhecimento de objetos, figuras, pessoas. A área visual comunica com
outras áreas do cérebro, que dão significado ao que se vê, levando em
conta a experiência passada, e as expectativas.

➢ Lobos Temporais - Estão localizados acima das orelhas, tendo como


principal função processar os estímulos auditivos. Os sons produzem-se
quando a área auditiva primária é estimulada. Tal como nos lobos

25
occipitais, é uma área de associação - área auditiva secundária - que
recebe os dados e que, em interação com outras zonas do cérebro, lhes
atribui um significado, permitindo ao Homem reconhecer o que ouve.
Além da divisão neuronal em lobos, o estudo das características
morfológicas do córtex demonstrou diferenças entre as diversas regiões
resultando na organização de mapas citoarquitetônicos do córtex, dos
quais o mais conhecido é a classificação de Brodmann, que identificou 52
áreas distintas.

Figura 2.2: Neuroanatomia


Fonte: https://sites.google.com/site/neuroanatomiateste/areas-de-brodmann

Áreas 3, 1 & 2 - Córtex somatosensitivo primário


Área 4 -Córtex motor primário
Área 5 -Córtex somatosensorial associativo
Área 6 -Córtex pré-motor e Córtex motor suplementar.
Área 7 -Córtex somatosensorial de associação.
Área 8 -Campo frontal dos olhos
Área 9 -Córtex pré-frontal dorsolateral
Área 10 - Córtex pré-frontal anterior (porção mais rostral do giro frontal superior
e médio)
Área 11 -Área Orbitofrontal (Giro orbital e reto mais a porção mais rostral do
giro frontal superior)
Área 12 -Área Orbitofrontal

26
Área 13 e Area 14 - Córtex Insular
Área 15 -Lobo temporal anterior
Área 17 - Córtex visual primário
Área 18 - Córtex visual secundário
Área 19 - Córtex associativo da visão
Área 20 - Giro temporal inferior
Área 21 - Giro temporal médio
Área 22 - Giro temporal superior-parte dele é considerado área de Wernicke
Área 23 - Córtex ventral-posterior do cíngulo
Área 24 - Córtex ventral-anterior do cíngulo
Área 25 - Córtex Subgenual (parte do córtex pré-frontal Ventromedial )
Área 26 - Porção Ectosplenial da região retrosplenial do córtex cerebral
Área 27 - Córtex Piriforme
Área 28 - Córtex entorhinal posterior
Área 29 - Córtex retrosplenial do cingulate
Área 30 - Parte do córtex do cíngulo
Área 31 - Córtex dorso-aposterior do cíngulo
Área 32 - Córtex dorso-anterior do cíngulo
Área 33 - Parte anterior do córtex do cíngulo
Área 34 - Córtex entorhinal anterior (Localizado no giro Parahipocampal)
Área 35 - Córtex perihinal cortex (Localizado no giro Parahipocampal)
Área 36 - Córtex Parahippocampal (Localizado no giro Parahipocampal)
Área 37 - Giro Fusiforme
Área 38 - Área Temporopolar ( parte rostral do giro temporal superior e médio)
Área 39 - Giro angular-considerado parte da área de Wernicke
Área 40 - Giro Supramarginal-Parte da área de Wernicke
Áreas 41 e 42 -Córtex primário e de associação auditivo
Área 43 - Córtex gustativo primário
Área 44 - Pars opercular-parte da área de Broca
Área 45 - Pars triangular -Área de Broca
Área 46 - Córtex dorsolateral pré-frontal
Área 47 -Giro pré-frontal inferior
Área 48 - Área retrosubicular (pequena parte na superfície medial do lobo
temporal)
Área 49 - Área parasubiculum em roedores
Área 52 -Área parainsular. (Ao nível da junção do lobo temporal com a ínsula)

Vocabulario
Propriocepção - também denominada como cinestesia, é o
termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer
a localização espacial do corpo, sua posição e orientação,
a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte
do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão.

27
Ainda que dividido em áreas com funções distintas, que se caracterizam
em especializações funcionais, essas não determinam centros específicos para
cada função. As conexões entre elas resultam em sistemas funcionais
integrados, caracterizando o modelo conexionista, que possibilita ao córtex sua
participação em todos os aspectos do comportamento.

2.3 Principais Sistemas funcionais do organismo: Sistema Motor Somático


e Sistema Sensorial

Do ponto de vista funcional, o Sistema Nervoso Periférico possibilita a


interação do sujeito com seu meio externo, utilizando o sistema nervoso
somático e com seu meio interno, sistema nervoso autônomo ou visceral. Esses,
utilizam estruturas nervosas distintas, mas integradas entre si. O sistema
nervoso somático periférico leva informações somáticas ao sistema nervoso
central, por meio de impulsos nervosos aferentes, vindas de diversas partes do
corpo (auditivas, visuais, gustativas, olfativas, táteis, térmicas, nociceptivas,
proprioceptiva) e viscerais, informando sobre o estado dos órgãos internos. Na
sequência, o sistema nervoso central processa a informação recebida e
responde com impulsos eferentes somáticos (músculos estriados) ou eferentes
viscerais (músculos lisos, cardíaco e glândulas), informações necessárias que
garantem ajustes fisiológicos para a sobrevivência e adaptação ao ambiente.

Figura 2.3: Esquema de Sistema Nervoso


Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso3.asp

28
2.3.1 Sistema Motor Somático

O sistema nervoso somático é composto por neurônios que estão


submetidos ao controle consciente para gerar ações motoras
voluntárias.Transmite a informação proveniente dos órgãos dos sentidos ao
sistema nervoso central e transporta mensagens do sistema nervoso central
para os músculos, por meio de fibras nervosas, formadas pelos prolongamentos
dos neurônios (dendritos ou axônios) e seus envoltórios, organizam-se em
feixes. Cada feixe forma um nervo. Cada fibra nervosa é envolvida por uma
camada conjuntiva denominada endoneuro. Cada feixe é envolvido por uma
bainha conjuntiva denominada perineuro. Vários feixes agrupados
paralelamente formam um nervo. O nervo também é envolvido por uma bainha
de tecido conjuntivo chamada epineuro. Em nosso corpo existe um
número muito grande de nervos.

Figura 2.4: Nervos do corpo humano


Fonte: http://jogapedro.webnode.pt/corpo-humano/sistema-nervoso/

29
Seu conjunto forma a rede nervosa que permitem mover o esqueleto,
estando implicado nos movimentos corporais, como pode ser observado nas
ilustrações.

Figura 2.5: Nervos Faciais


Fonte:http://brasilescola.uol.com.br/biologia/doze-pares-de-nervos.htm

2.3.2 Sistema Nervoso Sensorial

É a parte do sistema nervoso responsável pela análise e captação dos


estímulos dos ambientes externo e interno do organismo. Esses estímulos são
captados pelos sentidos (visão, audição, tato, gustação ou paladar e olfato)
através de células altamente especializadas, chamadas de células
sensoriais; ou através de simples terminações nervosas dos neurônios. Essas

30
células, também chamadas de receptores, são capazes de traduzir ou converter
esses estímulos em impulsos elétricos ou nervosos que serão processados e
analisados em centros específicos do sistema nervoso central (SNC), onde será
produzida uma resposta (voluntária ou involuntária). A estrutura e o modo de
funcionamento desses receptores nervosos especializados é diversa, e pode-se
classificar em três tipos:

➢ Exterorreceptores – Localizadas na superfície do corpo, especializadas


em captar estímulos provenientes do ambiente, como a luz, calor, sons e
pressão;

➢ Propriorreceptores – Localizadas nos músculos, tendões, juntas e órgãos


internos. Captam estímulos do interior do corpo;
➢ Interorreceptores – Percebem as condições internas do corpo, ou seja, a
estímulos vicerais (pH, pressão osmótica, temperatura e composição
química do sangue) ou outras sensações como sede e fome.

As informações sensoriais captadas pelas células receptoras são


distribuídas em grandes áreas, segundo modelo funcional proposto por
Alexander Luria : áreas de projeção e áreas de associação e são usadas para
atender a quatro funções: percepção e interpretação, controle do movimento,
regulação de funções de órgãos internos e a manutenção de consciência.
A característica principal do Sistema Sensorial é que o mesmo possui
grande especificidade modal, já que está adaptado para a recepção de
informações visuais, auditivas, vestibulares ou sensoriais gerais. A organização
da sua estrutura é hierárquica, formada pelas áreas primárias (ou de projeção),
que recebem axônios de neurônios que integram as vias sensoriais (áreas
sensitivas) e assim, analisam as informações vindas do exterior; pelas áreas
secundárias (ou de associação), que codificam e convertem as informações, e
pelas áreas terciárias (de associação), que ocupam o topo da hierarquia das
funções corticais. A elas chega o fluxo das informações previamente elaboradas
nas áreas sensoriais primárias e nas áreas secundárias. São encarregadas de
elaborar as estratégias comportamentais, enviando instruções às áreas motoras
secundária e primária.

31
Figura 2.6: Divisão do encéfalo de acordo com seus córtex funcionais
Fonte:http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=1201

Observando a ilustração, pode-se identificar as áreas de projeção e


associação.

As áreas de projeção

Estão divididas em áreas sensitivas primárias e área motora primária.


Áreas sensitivas estão subdivididas em:

➢ Área Somestésica ou área da sensibilidade somática geral, está


localizada no giro pós-central (área 3,2,1, de Brodmann). É onde chegam
as radiações talâmicas que trazem impulsos nervosos relacionados à
temperatura, dor, pressão, tato e propriocepção consciente da metade
contralateral do corpo. A organização dessa área fornece uma
representação ponto a ponto no corpo, para cada parte existe uma região
correspondente no córtex (somatotopia). Representada pelo homúnculo
sensitivo, a imagem 2.7 chama a atenção pelas mãos, especialmente os
dedos, o qual é desproporcionalmente grande nos revelando que a
extensão da representação cortical de uma parte do corpo depende da
importância funcional desta parte e não de seu tamanho.

32
Figura 2.7: Homúnculo de Penfield
Fonte:http://ulum.es/asi-sentimos-el-movimiento/

➢ Área Visual Primária, situada no lobo occipital (área 17 de Brodmann),


responsável pelo recepção do estímulo visual, captada pelo olho,
refletida no campo visual do hemisfério oposto.
➢ Área Auditiva Primária, situa-se no giro temporal transverso anterior –
(áreas 41 e 42 de Brodmann). Sons de diferentes frequências chegam a
partes diferentes do córtex auditivo.
➢ A Área Olfatória, pequena área situada na parte anterior do úncus e do
giro para-hipocampal (área 34 de Brodmann). Sua lesão pode causar
alucinações olfatórias.
➢ A Área Gustativa localiza no lobo parietal (área 43 de Brodmann) junto a
área somática da língua. Lesões provocam diminuição da gustação na
metade oposta da língua.
➢ Área motora primária, localizada na região de giro pré-central (área 4 de
Brodmann). Responsável pela motricidade devido as conexões aferentes
da área motora com o tálamo, através do qual recebe informações do
cerebelo, com a área somestésica e com as áreas pré-motora e motora
suplementar. Também representado pelo homúnculo, as mãos são
grandes e desproporcionais demostrando que a extensão da
representação cortical é proporcional à delicadeza dos movimentos
realizados pelos grupos musculares envolvidos.

33
As áreas de associação

Ocupam a maior parte da superfície do cérebro humano, o aumento da


superfície cortical se fez através da expansão do córtex de associação, ao longo
do processo evolutivo, permitindo o aparecimento da linguagem verbal e
autoconsciência, funções desenvolvidas no homem e não encontradas em
outras espécies. Podem ser divididas em áreas de associação secundárias e
terciárias, sendo que as áreas secundárias ainda se dividem em três subáreas:
➢ Área Somestésica Secundária, situada no lobo parietal (área 5 de
Brodmann).
➢ Área Visual Secundária, localizada no lobo occipital e se estendendo ao
lobo temporal ( área 18,19,20,21 e 37 de Brodmann).
➢ Área Auditiva Secundária situada no lobo temporal (área 22 de
Brodmann), também conhecida como área de Wernicke, interpreta o
estímulo sonoro, permitindo a compreensão da linguagem.

As áreas secundárias estão geralmente justapostas às áreas primárias


correspondentes e delas recebem conexões. Estão diretamente conectadas e
são unimodais (relacionadas com uma modalidade sensorial ou motricidade).
Também chamadas áreas gnósicas (interpretam estímulos), as áreas
secundarias são essenciais numa segunda etapa no processo de percepção
sensorial, pois recebem as informações já elaboradas vindas das áreas
primárias e interagem com as áreas terciárias e áreas corticais límbicas,
responsáveis pelos processos de memória. Adjacente à área motora primária,
se encontram áreas motoras secundárias. Essa região corresponde a partes das
áreas 6 e 8, além da área 44 de Brodmann; são fundamentais para o
planejamento motor. Ainda na área de associação secundária, no giro frontal
inferior está localizada a área de Broca que e é responsável pela programação
da atividade motora relacionada com a expressão da linguagem. Lesões da área
de Broca resultam em déficits de linguagem (afasias).
As áreas terciárias são responsáveis pela interação das informações
sensoriais recebidas, interpretadas e elaboradas nas áreas secundárias ou
áreas límbicas; são multimodais, ou seja, não se ocupam mais do
processamento sensorial ou motor, mas estão envolvidas com as atividades

34
superiores, como o pensamento abstrato ou os processos que permitem a
simbolização. Estão divididas em duas áreas:
• A Área Pré-Frontal, compreende a parte anterior não motora do lobo
frontal (áreas 45, 46, 47, 8, 9, 10, 11 e 12 de Brodmann), é extremamente
bem desenvolvida no cérebro humano, onde ocupa cerca de 1/4 da
superfície total do córtex. Também ligada ao sistema límbico, recebe
fibras de todas as demais áreas de associação do córtex. Essa região
promove a escolha das opções e estratégias comportamentais mais
adequadas à situação física e social do indivíduo, assim como a
capacidade de alterá-los quando tais situações se modificam;
manutenção da atenção; e controle do comportamento emocional.
• A Área Temporo-Parietal, compreende todo o lobo parietal inferior (áreas
39, 40 e parte da áreas 7 de Brodmann), situando-se entre as áreas
secundárias auditivas, visual e somestésica, funcionando como centro
que integra informações recebidas dessas três áreas. É importante para
aquisição da linguagem (simbolismo), percepção espacial e esquema
corporal.

Resumo da aula

Nesta aula estudo-se que evolução humana foi caracterizada pela


organização anatômica e funcional do sistema nervoso. O desenvolvimento
do córtex cerebral, parte essa mais desenvolvida do cérebro, possibilitou
processos de percepção sensorial, capacidade de produzir e entender a
linguagem, pensamento abstrato e cognição. Anatomicamente está dividido
em dois hemisférios (esquerdo e direito) que se subdividem em partes ou
lobos, frontal, parietal, temporal, occiptal) com limites e funções relativamente
definidas, ainda que integradas entre si. Essa organização nos é
demonstrada em mapas citoarquitetonicos do córtex, sendo mais conhecido
a classificação de Brodmann.
Do ponto de vista funcional, o sistema nervoso periférico, possibilita a
interação do sujeito com ambiente externo utilizando dois sistemas: O
sistema somático (motor e sensorial) que capta informações por meio dos
órgãos sensitivos (visual, auditivo, gustativo, olfativo e tátil) e propicia os
35
movimentos voluntários; e o sistema visceral ou autônomo que controla os
órgãos internos. Segundo o modelo funcional de Luria, as informações do
sistema somático são distribuídas em áreas de projeção (primarias) e
associação (secundarias e terciarias) e atendem as funções de: percepção e
interpretação, controle do movimento, regulação e a manutenção de
consciência, memoria e pensamento.

Atividade de Aprendizagem
O desenvolvimento do sistema nervoso ao longo da evolução
humana, foi caracterizado pela organização anatômica e
funcional, que possibilitaram interação e adaptação ao meio.
Segundo o neuropsicólogo soviético Alexander Lúria (1981),
o comportamento humano resulta da interação de três
unidades funcionais. Explique essas três unidades funcionais
relacionando-as com as áreas de Brodmann.

Aula 3 - Evolução Humana e as células nervosas

Apresentação da aula

Nesta aula será estudado o Sistema Nervoso em alguns detalhes e o


surgimento das primeiras células nervosas, promovendo a continuidade da vida
e o desenvolvimento da espécie humana. Também será estudado o fundamento
das neurotransmissões e como esses interferem no comportamento e nas
emoções dos serem huamanos.

3.1 Filogênese e Ontogênese

Para melhor compreendermos o significado de


filogênese (no grego:Phylo = raça e genetikos = relativo
à génese = origem) e ontogênese (ὄντος, on-
tos "ser", genesis "criação") importa referir que, cada
uma dessas ciências estuda a evolução, mas, enquanto
a primeira se dedica ao estudo da evolução da espécie,
a segunda ocupa-se do estudo da evolução de cada
indivíduo desde o embrião até à velhice.

36
3.1.1 Filogênese

A Filogênese estuda a história da evolução humana, nomeadamente a


constituição dos seres humanos como sujeitos cognitivos. Ou seja, o sentido
filogenético está presente quando a palavra evolução nos remete para o
progresso da espécie humana, ocorrido desde as longínquas origens da vida até
à forma que os homens assumem na atualidade. Charles Darwin, estudioso do
desenvolvimento das espécies, criou sua teoria defendendo que a seleção
natural seria a principal responsável pela adaptação e pela especialização dos
seres vivos, ou seja, seria o fator mais determinante na evolução.

Figura 3.1: Filogênese


Fonte:https://image.slidesharecdn.com/filognese-101001043016-
phpapp02/95/filognese-e-ontognese-1-728.jpg?cb=1285907449

Os primeiros neurônios surgiram como células que se diferenciaram das


demais para receber estímulos do meio-ambiente, transmitindo-os às células
musculares vizinhas para gerar uma resposta adaptativa. Tais células receptoras
eram especializadas em irritabilidade e condutividade, o que significa que elas
eram capazes de transformar um estímulo externo em uma mensagem interna
que se propagava no organismo. Esses neurônios sensitivos ou aferentes, são
seguidos pelos neurônios motores ou eferentes, para então surgirem os
neurônios associativos, presentes no Sistema Nervoso Central, permitindo

37
assim, o aumento do número de sinapses e o surgimento de padrões de
comportamento e funções superiores presentes na espécie humana.
Os seres humanos provocaram a maior transformação na Natureza em
termos de evolução, do que qualquer outra espécie. Ao longo do processo
evolutivo, em termos relativos, o tamanho da face diminuiu, enquanto o cérebro
aumenta, como pode ser observado na figura.

Figura 3.2: Evolução da espécie humana


Fonte:http://destinofinal.serradoroncador.com.br/wp-
content/uploads/2017/04/evolu%C3%A7%C3%A3o.jpg

• Australopitecus - Surgiu há 3 milhões de anos, tinha menos da


metade do atual volume cerebral, andava em pé, usava as mãos
para colher frutos, atirar pedras e paus para abater pequenos
animais.
• Homo Habilis - Primeira forma humana, surgida há 2 milhões de
anos, o cérebro era um pouco maior que o do Australopithecus e
fabricava as suas ferramentas partindo lascas de pedra.

38
• Homo Erectus - Forma humana surgida há 1,6 milhões de anos,
tinha o cérebro maior que o do Homo Habilis e o corpo mais
evoluído, vivia em bandos de 25 a 30 pessoas, descobriu o fogo,
fabricava instrumentos, caçava e pescava.
• Homo Sapiens Neanderthalensis - Surgiu há cerca de 150 mil
anos atrás, enfrentou um período glacial muito intenso, o seu
cérebro era aproximadamente igual ao atual ser humano, usava
instrumentos bem-feitos e já enterrava os mortos.
• Homo Sapiens Sapiens - Surgiu há cerca de 35 mil anos atrás,
fisicamente é igual ao homem atual, o seu cérebro era bem
desenvolvido, já realizava atividade de caça, ocupou todas as
partes da Terra.

3.1.2 Ontogênese

Figura 3.3: Ontogênese


Fonte: http://www.cordonesumbilicales.com/wp-content/uploads/2016/05/desarrollo-
embrion-humano-5.jpg

A organização do Sistema Nervoso é determinada por fatores genéticos


e ambientais, que participam e influenciam no seu desenvolvimento, atuando em
etapas específicas da formação das diversas regiões do sistema nervoso, a qual
chama-se ontogênese.

39
As etapas da ontogênese são:
➢ Neurogênese: Células do neuroectoderma, se organizam formando o
tubo neural.

➢ Migração Neuronal: Originam-se neurônios que migram ao longo da


parede do tubo neural orientados por células da glia, onde constituirão as
diferentes estruturas do sistema nervoso central (prosencéfalo,
mesencéfalo e rombencéfalo) e a cavidade do tubo neural, que constituirá
os ventrículos neurais.

➢ Diferenciação e Maturação: Os neurônios se diferenciam e produzem


neurotransmissores específicos, seus dendritos crescem e se ramificam
e seus axônios se estendem, projetando-se em diversos outros
neurônios.

➢ Sinaptogênese: Formação de sinapses que caracterizam a associação


entre neurônios.

➢ Mielogênese: Formação da bainha de mielina ao redor dos axônios, a


partir dos oligodendrócitos no sistema nervoso central e das células de
Schwann no sistema nervoso periférico. As células derivadas da crista
neural também migrarão ao longo do embrião e darão origem a estruturas
do sistema nervoso periférico, como os gânglios sensitivos e viscerais.

Durante a ontogênese, as vesículas encefálicas (prosencéfalo,


mesencéfalo e rombencéfalo) continuaram a sofrer transformações, resultando
no telencéfalo, diencéfalo e mesencéfalo. Cada uma delas dará origem a
diferentes estruturas do sistema nervoso central, cujas funções caracterizarão o
comportamento humano. O restante do tubo neural que não sofrera essas
modificações, originará a medula espinhal. Nesse momento da ontogênese,
caso ocorram fatores que possam influenciar o desenvolvimento como a
ingestão de drogas, vírus, deficiências nutricionais entre outros, poderão alterar
a estrutura do sistema nervoso.
Após o nascimento, as interações do indivíduo com o meio ambiente
ativam sistemas bioquímicos nos neurônios, que podem produzir transformações

40
na organização do sistema nervoso, fenômeno este, que chamamos de
neuroplasticidade.

Amplie Seus Estudos


SUGESTÃO DE LEITURA
Leia a obra Da filogênese a ontogênese da
motricidade Vitor da Fonseca. Essa obra
aborda com profundidade o tema sobre a
evolução e desenvolvimento humano que
poderá contribuir nos seus estudos.

3.2 Fundamentos da neurotransmissão

Reações químicas associadas à transmissão sináptica, fazem parte do


encéfalo humano normal. Sabemos que a maioria das sinapses no encéfalo são
químicas. Nas sinapses encontramos os neurotransmissores (pequenas
moléculas responsáveis pela comunicação das células no Sistema Nervoso),
que possuem ação direta sobre a membrana pós-sináptica, produzindo assim
um potencial pós-sináptico. Desde a descoberta da transmissão sináptica
química, os pesquisadores têm identificado que os neurônios no SNC liberam
diferentes neurotransmissores e são produzidos tanto no Sistema Nervoso
Central como no Sistema Nervoso Periférico. O ciclo de produção/ação dos
neurotransmissores pode assim ser resumido: síntese no interior do neurônio;
transporte axonal; liberação na fenda sináptica e receptação.
Existem dois tipos básicos de neurotransmissores, dentre eles
encontramos os excitatórios que promovem fenômenos de liberação (exaltação
funcional de determinados circuitos neuronais) e os inibitórios que provocam
fenômenos de bloqueio/inibição (diminuição funcional de determinados grupos
neuronais).
Dentre os excitatórios, podemos destacar: Noradrenalina – estado de
alerta, stress; Dopamina – humor, motricidade extrapiramidal; Serotonina – ciclo
do sono, vigília, humor; Acetilcolina – cognição, contração muscular. Como
também nos inibitórios, merecem destaque: a Endorfina - dor; Melatonina - ciclo

41
sono vigília; Ácido gama aminobutírico: inibição de descargas elétricas
excessivas geradoras de crises epilépticas.
Esses receptores pós-sinápticos são fundamentais no reconhecimento
funcional dos neurotransmissores, entendendo que um mesmo neurotrans-
missor, ora pode ter função inibitória, ora excitatória.
Todos os processos cognitivos envolvem uma interação de vários
neurotransmissores de diferentes centros nervosos. São os neurotransmissores
que emitem as ordens de serviço dos nervos para os músculos, vísceras, etc, e
também são eles que estabelecem a comunicação entre as várias áreas do SNC.
E é aí que eles são modulados, proporcionando a flexibilidade que estabelece o
rumo de um pensamento, uma afetividade especial ou um maior ou menor grau
de sensibilidade frente a um estímulo.

Importante
A acetilcolina tem mostrado ser o mais importante
neurotransmissor para as funções cognitivas (memória e
aprendizagem). Pessoas com baixos níveis de acetilcolina,
apresentam dificuldades de concentração e problemas de
memória. Tem função excitatória no processo de cognição e
contração muscular.

Saiba Mais
A primeira molécula identificada como um neurotransmissor
por Otto Loewi, na década de 1920, foi a acetilcolina, (ACo).
O termo colinérgico surgiu para descrever as células que
produzem e liberam ACo. Como também o termo
noradrinérgico surgiu para os neurônios que usam o
neurotransmissor aminérgico noradrenalina (NA, também
denominada norepinefrina).

A maioria dos neurotransmissores encontra-se em uma das três


categorias químicas: aminoácidos, aminas ou peptídeos.

42
Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado pelo DI

São três os aminoácidos que possibilitam a transmissão aminoácida


rápida: glutamato (Glu), ácido gama-aminobutírico (Gaba) e glicina (Gly).
Também a amina acetilcolina (ACo) possibilita a transmissão sináptica rápida em
todas as junções neuromusculares. As formas mais lentas de transmissão
sináptica no SNC e na periferia, são mediadas por neurotransmissores de todas
as três categorias.
Muitos outros neurotransmissores são derivados de precursores de
proteínas, os chamados peptídeos neurotransmissores. Demonstrou-se que
cerca de 50 peptídeos diferentes têm efeito sobre as funções da célula neuronal.
Vários desses peptídeos neurotransmissores são derivados da proteina pré-
opiomelanocortina (POMC). Os neuropeptídeos são responsáveis pela
mediação de respostas sensoriais e emocionais, tais como a fome, a sede, o
desejo sexual, o prazer e a dor.
São três os aminoácidos que possibilitam a transmissão aminoácida
rápida: glutamato (Glu), ácido gama-aminobutírico (Gaba) e glicina (Gly).

43
Também a amina acetilcolina (ACo), possibilita a transmissão sináptica rápida
em todas as junções neuromusculares. As formas mais lentas de transmissão
sináptica no SNC e na periferia, são mediadas por neurotransmissores de todas
as três categorias.
Os defeitos na neurotransmissão são a base de muitos distúrbios
neurológicos e psiquiátricos. A diminuição dessas substâncias provocam
alteração como: Transtornos do humor, Transtornos de ansiedade, Transtornos
alimentares , Transtornos sexuais, Distúrbios do sono, Distúrbios de memória e
aprendizagem e doenças neurológicas como: Fibromialgia, dor crôni-
ca e enxaquecas, Demências como parkinson e alzheimer, Convulsões
e epilepsia, Transtornos motores como tremores, rigidez e espasmos.
O processo de transmissão sináptica de natureza química pode ser
afetado por drogas específicas e toxinas. Além de prover explicação a respeito
de aspectos do processamento neural da informação e dos efeitos da ação de
drogas, o conhecimento da transmissão sináptica é a chave para compreender
a base neural do aprendizado e da memória.

Importante
Alguns neurotransmissores são vitais para a aprendizagem.
Entre eles, a acetilcolina tem mostrado ser o mais importante
para as funções cognitivas. Pessoas com baixos níveis de
acetilcolina apresentam dificuldades de concentração e
problemas de memória. Sabe-se que funções complexas como
memorizar e aprender, por exemplo, acontecem mais
intensamente em algumas regiões do sistema nervoso e
parece existir entre elas uma complexa coordenação.

Interatividade - A dopamina, por si só é o neurotransmissor relacionado


ao prazer, mas este neurotransmissor também desenvolve atividades em
conjunto com a serotonina e a noradrenalina, relacionadas da seguinte forma,
conforme demonstra a figura a seguir:

44
Figura 3.4: Interatividade entre neurotransmissores
Fonte: http://www.espacocomenius.com.br/neurotransmissoresinteragin.jpg

3.3 Comportamento e emoções

Pode-se comprovar a estreita relação entre a emoção e os movimentos


desencadeados pelo evento vivido, por meio da ligação ordenada entre o grupo
de estruturas cerebrais encarregadas da tarefa de perceber e executar e o grupo
avaliador da ação emotiva.

Emoções relacionam-se com a atividade em áreas


cerebrais que direcionam a atenção, motivam o
comportamento e determinam o significado do que ocorre
ao redor. É uma resposta do organismo envolvendo a
excitação física, comportamentos expressivos e experiên-
cia consciente.

Os trabalhos pioneiros de Paul Broca (1878), James Papez (1937) e Paul


D. MacLean (1952), sugerira, que as emoções estão relacionadas a um grupo
de estruturas no meio do cérebro, denominadas de Sistema Límbico, muito
embora, hoje em dia saiba-se que há muito mais envolvimento nesse processo
do que apenas essas áreas.
O Sistema Límbico forma um grupo de estruturas do cérebro,
incluindo tálamo medial, núcleo acumbente, prosencéfalo basal e outras

45
regiões. Circundando o hipotálamo estão as demais estruturas subcorticais
do sistema límbico: a área pré-ótica, o septo, a área para-olfativa, os núcleos
anteriores do tálamo, porções dos gânglios da base, o hipocampo e a amígdala.
Esse sistema agrupa estruturas situadas numa e noutra região e foram
agrupadas por terem, em comum, uma estreita correlação com a emoção e
movimento.
Assim, para que os mecanismos neurais possam produzir
adequadamente as emoções sentidas é necessário que os padrões neurais
iniciais ou inatos, relacionados ao sistema límbico, se liguem, também, aos
circuitos neuronais do tronco cerebral. Esse complexo processo neuronal é
essencial para a sobrevivência do indivíduo, pois atua em todas as partes do
organismo, como na regulação das glândulas endócrinas, da hipófise,
tireóide, suprarenal, órgãos reprodutores e demais órgãos. Todo esse conjunto,
formado por diversas estruturas subcorticais, está ligado ao giro cingulado
anterior, o qual constitui a principal porta de acesso ao córtex frontal.
Podemos dizer que a regulação relacionada e inicialmente coordenada
pelo tronco cerebral é complementada por várias regiões do sistema límbico,
que além de participar do estabelecimento dos impulsos e instintos, tem também
importante função nas emoções e sentimentos agradáveis e desagradáveis,
provavelmente detectando mudanças que estão ocorrendo nas vísceras. As
sensações percebidas de mudanças viscerais levariam a pessoa a classificar o
percebido como ruim ou bom e, em seguida, nomeando o acontecido. Acredita-
se que o sistema límbico contenha redes de circuitos inatos e estáveis, e
também alguns que poderiam ser modificados por meio da experiência.
Enumerando os componentes corticais pertencentes ao Sistema Límbico,
podemos observar o hipocampo e o lobo límbico de Broca, referente ao conjunto
de estruturas que se situam em volta do tronco encefálico, na face interna
(medial) e inferior dos hemisférios cerebrais. Quanto aos componentes
subcorticais é possível diferenciar as amígdalas (núcleos amigdalinos), a área
septal, os corpos mamilares, os núcleos anteriores do tálamo, os núcleos
habenulares e os núcleos Accumbens. Os componentes cerebrais associados
ao Sistema Límbico são o Tronco Cerebral, o Hipotálamo, o Tálamo, a Área Pré-
frontal e o Rinencéfalo (Sistema Olfativo).

46
Figura 3.5: O Sistema Límbico
Fonte: http://inspirandogente.com.br/neurociencia/neuroanatomia-fundamental-
sistema-limbico/

O sistema límbico é responsável por controlar as emoções e tem


relação com aprendizado e a memória. Tem ainda relação com
sistema endócrino na regulação de importantes hormônios.

As principais estruturas que compõe sistema límbico são:

• Hipotálamo: Atua nas respostas periféricas (o choro, a alteração do


ritmo cardíaco e respiratório), nos processos motivacionais, regulação do
comportamento emocional (raiva, medo e prazer), regulagem do sono, do
apetite, pela libido, e também controla a temperatura corporal.

• Tálamo: Processa os sentidos (tato, paladar, visão e audição, e


sensações do tipo dor, calor ou frio). Com exceção do olfato é que são
enviados diretamente ao córtex cerebral. Tem o papel filtro de estímulos
para a consciência antes de serem reconhecidos no córtex frontal.

47
Figura 3.6: Tálamo e Hipotálamo
Fonte: http://www.auladeanatomia.com/novosite/sistemas/sistema-
nervoso/diencefalo/

• Corpos mamilares: Atuam de forma extremamente íntima com o


hipotálamo.

• Giro cingulado: Tem um papel importante na identificação de


conflitos, de erros e na correção de falhas através da mudança de
comportamento e ansiedade. Indivíduos ansiosos criam excesso de futuro
e com isso não realizam as coisas que deveriam no presente.

Figura 3.7: Giro Cingulado


Fonte: http://www.deviante.com.br/noticias/ciencia/cientistas-tentam-
diagnosticar-a-depressao-precocemente/

48
• Amígdala: Monitora o ambiente e é responsável por identificar as
situações de perigo “alerta” (medo, ansiedade), regulador do compor-
tamento sexual e memórias emocionais. Associa a expressão facial com o
significado emocional e social de um acontecimento.

• Hipocampo: É responsável pela memória recente e também de longo


prazo é importante para converter a memória de curto prazo em memória
de longo prazo. Quando a memória está ligada a um sentimento, aumenta
a fixação.

Figura 3.8: Hipocampo


Fonte: http://www.cerebromente.org.br/n05/mente/struct.htm

Importante
O sistema límbico compreende todas as estruturas cerebrais
que estão de alguma forma relacionadas, principalmente, com
comportamentos emocionais e sexuais, aprendizagem,
memória, motivação, mas também como dito, com algumas
respostas de equilíbrio interno, pelo sua influência hormonal.
É uma das principais estruturas neurais a serem trabalhadas
no processo de desenvolvimento pessoal. É o local onde se
realizam as reconfigurações de crenças, aos mecanismos de
fixação de aprendizado, e tantas outras.

49
Amplie Seus Estudos
SUGESTÃO DE LEITURA

Leia a obra Aprender a Aprender- A Educabilidade Cognitiva,


de Vitor da Fonseca. Neste livro você encontrará uma nova
forma de pensar em educação, abordando uma perspectiva
histórica sobre os conceitos de inteligência; o papel da
Experiência de Aprendizagem Mediatizada na Modifica-
bilidade Cognitiva Estrutural; a filogênese, a ontogênese e a
neuropsicologia da cognição; Programas de Enriquecimento
Instrumental e o Futuro da Educação Cognitiva.

Resumo da aula

Nesta aula estudou-se que a Filogênese é a ciência que estuda a


história da evolução humana ( a constituição dos seres humanos como sujeitos
cognitivos). Chama-se de ontogênese a organização do SN determinada por
fatores genéticos e ambientais que participam e influenciam no seu
desenvolvimento, atuando na formação das diversas regiões do sistema
nervoso. Na complexidade e harmonia do funcionamento do SN, os
neurotransmissores (moléculas químicas com função excitatória e/ou inibitória,
presentes no terminal pré-sináptico) são fundamentais para gerar a energia e
movimento na célula. Cada neurotransmissor tem função e atuação específicos,
trazendo ao corpo o bem-estar e equilíbrio.

Atividade de Aprendizagem
Dentre os muitos neurotransmissores existentes, discorra
sobre a acetilcolina, neurotransmissor vital para a
aprendizagem.

50
Aula 4 - Neuroplasticidade e suas relações com a memória, aprendizado,
educação e dificuldades de aprendizagem

Apresentação da aula

Nesta aula será estudado sobre a neuroplasticidade e suas relações com


a memória e aprendizado, como também, educação e dificuldades de
aprendizagem.

4.1 Neuroplasticidade

A neuroplasticidade é uma característica única e fundamental na


formação de memórias e da aprendizagem, bem como na adaptação a
lesões e eventos traumáticos sofridos ao longo da vida. A plasticidade nervosa
não ocorre apenas em processos patológicos, mas assume também funções
extremamente importantes no funcionamento normal do indivíduo, promovendo
modificações comportamentais. Graças a esta capacidade é que, pessoas que
sofreram acidentes, às vezes gravíssimos, com perda de massa encefálica,
déficits motores, visuais, de fala e audição, vão se recuperando gradativamente
e podem chegar a viver sem sequelas, com qualidade de vida.

Importante
A neuroplasticidade ou plasticidade neural é entendida
como a capacidade de mudança do sistema nervoso em
relação a sua estrutura e função, em resposta a alterações dos
padrões de experiências vividas, e a mesma, pode ser
concebida e avaliada a partir de uma perspectiva estrutural
(configuração sináptica) ou funcional (modificação do
comportamento), ou seja, é a adaptação e reorganização da
dinâmica do sistema nervoso de responder a estímulos
intrínsecos e extrínsecos, pela capacidade que os neurônios
têm de formar novas conexões a cada momento.

51
Saiba Mais
Wiliam James (1890), em The Principles of Psychology, foi
o primeiro a introduzir o termo “plasticidade” nas
neurociências em referência à susceptibilidade do
comportamento humano para modificação.

Todos os processos de reabilitação neuropsicológica, assim como as


psicoterapias de um modo geral, baseiam-se na convicção de que o cérebro
humano é um órgão dinâmico e adaptativo, capaz de se reestruturar em função
de novas exigências ambientais ou das limitações funcionais impostas por
lesões cerebrais. Nesta visão mais ampla do cérebro humano, foram sendo
concebidas diferentes formas de plasticidade neuronal:

• Regenerativa: consiste no recrescimento dos axônios lesados. É mais


comum no Sistema Nervoso Periférico e é facilitada pelas células não
neurais que compõem o microambiente dos tecidos.

• Axônica: ou plasticidade ontogenética, ocorre de zero a 2 anos de idade


(etapa da vida em que há um período de maior neuroplasticidade,
chamado período crítico), é uma fase fundamental para desenvolvimento
do Sistema Nervoso.

• Sináptica: Capacidade de alterar a sinapse entre as células nervosas. A


chamada lei de Hebb consiste em uma espécie de “musculação sináptica”
e envolve um mecanismo de detecção de coincidências temporais nas
descargas neuronais: se dois neurônios estão simultaneamente ativos,
suas conexões são reforçadas; caso apenas um esteja ativado em dado
momento, suas conexões são enfraquecidas.

• Dendrítica: Alterações no número, no comprimento, na disposição


espacial e na densidade das espinhas dendríticas, que ocorrem
principalmente nas fases iniciais do desenvolvimento do indivíduo. As
espinhas dendríticas constituem-se de micropetídeos privilegiados, que

52
concentram íons e pequenas moléculas influentes na transmissão de
informações entre os neurônios.

• Somática: Capacidade de regular a proliferação ou morte de células


nervosas. Somente o sistema nervoso embrionário é dotado dessa
capacidade. Dessa forma, uma das esperanças na recuperação somática
está na utilização de células-tronco.

Saiba Mais
A teoria hebbiana descreve um mecanismo básico
da plasticidade sináptica no qual um aumento na
eficiência sináptica surge da estimulação repeti-
da e persistente da célula pós-sinápticas. Introduzida
por Donald Hebb em 1949, é também chamada de Regra
de Hebb.

Ao pensar como acontece a recuperação de funções perdidas em um


caso de lesão cerebral, pode-se encontrar várias possibilidades dessa
recuperação e estudos com neuro-imagens que indicam modelos de ativação
pós-lesão, que sugerem reorganização funcional. Investigações morfológicas
mostraram que esse tipo de plasticidade é mediado por proliferação de sinapses
e brotamento axonal. As alterações celulares que acompanham essas teorias
são:

Brotamento: é definido como um novo crescimento a partir de axônios.


Tem a contribuição de vários fatores celulares e químicos:

1. A resposta do corpo celular e a formação de novos brotos;


2. Alongamento dos novos brotos;
3. Cessação do alongamento axonal e sinaptogênese (processo
de formação de sinapses entre os neurônios dos sistema
nervoso central).

53
Existem duas formas de brotamento neural no Sistem Nervoso Central:
regeneração - que é um novo crescimento em neurônios lesados, e o
brotamento colateral - um novo crescimento em neurônios ilesos adjacentes
ao tecido neural destruído.

O brotamento é caracterizado por uma fase inicial rápida, seguida de outra


muito mais lenta que dura meses. Brotamentos a partir de axônios preservados
aparecem e se propagam sobre os campos próximos, entre 4 a 5 dias após a
lesão. Outra característica do fenômeno é sua seletividade tanto em termos do
local, quanto do tipo de fibras que sofrem o processo.

Ativação de Sinapses Latentes: ocorre quando um estímulo importante


às células nervosas é destruído, sinapses residuais ou dormentes previamente
ineficazes podem se tornar eficientes.

Supersensitividade de Desnervação: quando ocorre desnervação, a


célula pós-sináptica torna-se quimicamente supersensível. Dois possíveis
mecanismos são responsáveis pelo fenômeno:

1. Desvio na supersensitividade (pré-sináptica), causando acúmulo de


acetilcolina na fenda sináptica;
2. Alterações na atividade elétrica das membranas.

Saiba Mais
A desnervação é uma das alterações patológicas mais
comuns em músculos. Decorre da perda do axônio motor,
ou de todo o motoneurônio.

54
Vocabulario
Motoneurônio - Neurônio que conduz o impulso nervoso do
Sistema Nervoso Central para um músculo ou glândula;
NEURÔNIO MOTOR

Essas formas de regeneração no SNC são crucialmente dependentes do


ambiente no qual os novos axônios estão crescendo. Eles podem não conseguir
estabelecer conexões sinápticas apropriadas, devido a condições desfavoráveis
de substratos extracelulares, barreiras mecânicas, como de cicatrizes gliais
densas, ou outros mecanismos inibitórios. Outra complexidade e mistério é a
beleza da plasticidade cerebral, que possibilita a transformação e readaptação
das funções cerebrais, permitindo à pessoa retomar funções e comportamentos
perdidos por meio de uma fatalidade que lhe tenha sido acometida intra ou
extracorporal.

4.2 Relações entre a neuroplasticidade, memória e aprendizagem


Experiências práticas em neuroplasticidade

O ato de aprender é uma modificação de comportamento que envolve a


mente e o cérebro. Todo comportamento é processado no cérebro. Não há vida
inteligente sem cérebro. A neuroplasticidade é uma capacidade neurológica,
portanto cerebral, de ampliar estruturas que se adaptem de forma a criar novos
alicerces para qualquer situação de aprendizagem, sendo assim, podemos
concluir que neuroplasticidade, aprendizagem e memória, estão intimamente
relacionadas e presentes em todo comportamento humano.

4.2.1 Aprendizagem

A aprendizagem acontece durante toda a vida do indivíduo e a ação do


aprender necessita de uma complexa rede de operações neurofisiológicas e
55
neuropsicológicas, pois é o resultado de uma experiência motora que
posteriormente se conserva no cérebro, por meio de uma experiência psicológica
reflexiva, que possibilita a interação com o meio ambiente.

A aprendizagem é um produto da experiência que se concretiza numa


mudança adquirida de comportamentos, onde estão em jogo
condições internas e externas, inerentes ao indivíduo e ao seu
envolvimento, não podemos esquecer que o comportamento é movido
por interações entre dois determinantes fundamentais: o
psicosociológico e o neurobiológico. (FONSECA, 1998, p. 148)

A aprendizagem é um processo contínuo que ocorre desde a mais tenra


infância, até a mais avançada velhice. A infância é uma fase da vida definida
pela maleabilidade cerebral e por apresentar, num desenvolvimento normal do
indivíduo, uma pré-disposição em aprender com pouco esforço. E nesse
processo, a uma nova aprendizagem está vinculada uma bagagem anterior de
experiências e padrões mentais. Cada novo fato é assimilado numa rede viva de
compreensão do que já existe na mente (memória) da pessoa. Nesse montante
de informações, o cérebro acaba por fazer uma seleção de informações,
guardando apenas informações mais relevantes, desenvolvendo a capacidade
para fixação dos fatos.
Normalmente uma criança deve aprender a andar e a falar; depois a ler e
escrever, aprendizagens básicas para atingir uma participação ativa na
sociedade. Já os adultos precisam aprender habilidades ligadas a algum tipo de
trabalho que lhes forneça a satisfação das suas necessidades básicas, algo que
lhes garanta o sustento. As pessoas idosas, embora nossa sociedade seja
reticente quanto às suas capacidades de aprendizagem, podem continuar
aprendendo coisas complexas como um novo idioma ou ainda cursar uma
faculdade e virem a exercer uma nova profissão.
Pode-se dizer que o processo de aprendizagem dependente de algumas
etapas: atenção, velocidade de processamento, sequenciação e memória.
A velocidade com que processamos a linguagem quer seja falada ou escrita, é
um ponto de sucesso na aprendizagem e na vida. A aprendizagem requer, para
além da atenção e da memória, uma velocidade de processamento que é
importante para o quanto é aprendido, para aquilo que se consegue recordar,
assim como para o grau de atenção que se consegue manter. E a sequenciação

56
permite criar padrões de funcionamento por meio da estrutura de consistência
da aprendizagem. Ela permite que o cérebro preveja resultados e estabeleça
padrões com significado. É também a sequenciação, com a ajuda da motivação,
que faz a ligação entre todas as estruturas da aprendizagem; entre essas
destacamos a memória, como veremos a seguir:

4.2.2 Memória

Considera-se uma aprendizagem efetiva, quando o ensino assegura a


aquisição e permanência do aprendido (memorização), de forma a facilitar as
próximas aprendizagens (transferência). A memória é um fenômeno biológico
fundamental e extremamente complexo, ainda é um dos grandes mistérios da
natureza. É também o que difere os humanos dos outros seres vivos, pois
possibilita a aquisição e retenção de informação, gerando conhecimento,
aprendizagem, utilizando a informação adquirida para a evolução enquanto
seres. Nós aprendemos por associação: nossas mentes associam de forma
natural os fatos que ocorrem em uma sequência.
Desde a antiguidade há a preocupação do homem em relação à memória.
Uma das mais decisivas contribuições para o avanço no conhecimento da
memória, ocorreu com o nascimento da psicologia cognitiva, com Barlett, em
1932. O conceito conhecido como “processamento de informação”, surgiu na
década de 1960.
As pesquisas sobre memória, cada vez mais relacionaram essa função
psíquica a áreas da psicologia, foi quando a psicologia cognitiva uniu-se aos
sucessivos avanços da neurologia do comportamento com repercussão direta
no desenvolvimento da neuropsicologia. Em 1968, Atkinson e Shiffrin
apresentaram seu modelo serial de memória: memória sensorial - curto prazo -
longo prazo- lembrança. Outra descoberta de extrema importância foi o caso do
paciente conhecido como H.M., portador de epilepsia refratária, que sofreu uma
intervenção cirúrgica para a ablação do hipocampo e do lobo temporal medial
bilateralmente, gerando um efeito colateral inesperado, incapacitando H.M. de
reter na memória todos os fatos acontecidos após a cirurgia realizada pela
equipe do neurocirurgião Scoville, da equipe de Penfield. Esse estudo, juntando-

57
se a outros, apontaram para a existência de sistemas diferenciados de memória
de curto e de longo prazos.

Importante
A memorização é o período de tratamento e a elaboração da
informação para que seja formada uma lembrança adequada.
O processo de memorização é complexo envolvendo
sofisticadas reações químicas e circuitos interligados de
neurônios. As células nervosas ou neurônios, quando são
ativadas, liberam hormônios ou neurotransmissores que
atingem outras células nervosas através de ligações
denominadas sinapses. Uma memória é criada quando uma
rede de sinapses é reforçada.

Pode-se classificar a memória como:

• Memória sensorial - memória ultracurta e relaciona-se aos órgãos


sensoriais e às percepções registradas. Corresponde ao armazenamento
de informações de todo tipo que chegam até os sentidos. Podem ser
estímulos visuais, auditivos, tácteis, olfativos, gustativos e
proprioceptivos. Uma vez processadas, as informações são transferidas
para memória de curto prazo. O traço de memória sensorial permanecerá
no sistema se receber atenção e interpretação.

Figura 4.1: Sistema Sensorial


Fonte: http://www.terapeutasdobrasil.com/Curiosidades-do-corpo-humano-2/

58
• Memória de curto prazo - é conhecida como memória imediata ou
primária, limitada em tamanho e duração. Aqui acontece a memória
operacional que servirá para organizar a realidade percebida pelo
cérebro. Por meio dela, armazenam-se informações essenciais para a
resolução de problemas, para uso do raciocínio rápido ou elaboração de
comportamentos (que podem ser esquecidos a seguir). Ex.: Lugar onde
estacionamos o carro.

• Memória de longo prazo ou secundária - refere-se a todas as


lembranças, com a ajuda da memória imediata, que se fazem ao fim de
alguns minutos, indo até o período de muitos anos. Pode ser dividida em
memória recente (ou memória dos acontecimentos recentes, memória de
médio prazo) e memória antiga (ou memória dos acontecimentos antigos,
memória terciária ou ainda memória consolidada). Sua organização
estrutural se faz linearmente em três grandes processos: a memorização
(colocar na memória); conservação ou estocagem (guardar na memória);
rememoração, resgate, restituição ou repescagem (recuperar da
memória).

Figura 4.2: Sistema de Memória


Fonte: http://www.ic.unicamp.br/~wainer/cursos/906/trabalhos/curto-longo.pdf

Há ainda outros modelos estruturais de memória, como a memória


declarativa e memória não declarativa:

• Declarativa aquela para fatos ou eventos e qualquer informação que


possa ser expressa conscientemente, caracterizada pela habilidade do
59
indivíduo em recontar os detalhes de eventos passados, incluindo tempo,
lugar e circunstâncias. É também conhecida como memória consciente
ou explícita. O processamento da memória declarativa envolve o
hipocampo, córtex entorrinal, além de outras estruturas corticais. Entre as
memórias declarativas, aquelas que são mais "carregadas"
emocionalmente (aversivas, emocionais) são fortemente moduladas pela
amígdala (conjunto de núcleos nervosos situados nos lobos temporais).
As memórias declarativas sofrem influência do estresse, do humor e da
motivação.

• Não declarativa é a habilidade para realizar algum ato ou comportamento


aprendido por intermédio de certo tempo de esforço, envolvem
basicamente habilidades motoras e/ou sensoriais, como dirigir, nadar ou
andar de bicicleta; também é conhecida como memória inconsciente, de
procedimento ou implícita e sofre pouca modulação pelas emoções e
estados de ânimo.

Assim como o armazenamento de experiências é importante, é primordial


também o esquecimento de parte delas, pelo montante de informações que
vamos adquirindo durante nossa vida. Porém o esquecimento torna-se
patológico, quando estamos frente a um quadro de doença neurodegenerativa
como é o caso da doença de Alzheimer que, inicialmente, a pessoa esquece
fatos mais recentes. À medida que a doença evolui, a memória remota do
paciente é afetada, culminando com o não reconhecimento dos parentes e
pessoas mais próximas, perda das habilidades e por fim da sua própria
identidade. Essas lesões acontecem no córtex entorrinal e no hipocampo. A
utilização de fármacos para o tratamento da doença de Alzheimer, bem como de
outras demências, até o momento, é pouco específico e eficaz. Sabe-se que o
exercício contínuo da memória pode prevenir ou ao menos retardar o
aparecimento das demências e da doença de Alzheimer.
Cabe ressaltar os mecanismos que cercam a memória como sendo um
conjunto de vários outros, que juntos, são ativados no processo de memorização
ou na busca de informação em nossa memória:

60
• O Lobo Temporal - Esta área possui uma ligação com a memória, ele é
responsável por armazenar os eventos passados. Nele está localizado o
neocórtex temporal, uma região potencialmente envolvida com memória
a longo prazo. Aqui também, encontram-se estruturas relacionadas a
memória declarativa.

• Hipocampo - Responsável por selecionar e armazenar fatos, eventos


importantes, questões espaciais e também reconhecer novidades.

• Amígdala – Comunica-se com o tálamo e todos os sistemas sensoriais


do córtex. Os estímulos sensoriais advindos do meio externo (sons
cheiros, sabor) são codificados em sinais elétricos e esses ativam um
circuito da amígdala relacionado a memória. As conexões entre a
amígdala e o hipotálamo (origem das respostas emocionais) permite uma
forte ligação entre as emoções e a aprendizagem, sendo um fator que
influencia muito nesse processo.

• Córtex pré-frontal - Fundamental no planejamento de um


comportamento e na resolução de problemas. Estabelece conexões com
o lobo temporal e o tálamo, razão para acreditar que está ligado a
memória.

4.2.3 Neuroplasticidade: experiências práticas

A plasticidade é um processo de aprendizado, baseado em mecanismos


fisiológicos, que se verifica nos aspectos: Motor (acontece num nível
inconsciente e de forma automática) e Consciente (depende da memória
emocional ou cultural), possibilita que o cérebro se adapte de forma a criar fortes
alicerces para qualquer situação de aprendizagem.
A neuroplasticidade reforça as estruturas de desenvolvimento da
aprendizagem, dessa forma podemos considerar a relação da neuroplasticidade
com a aprendizagem, quando percebemos a habilidade do sistema nervoso de
responder a estímulos, reorganizando sua estrutura, função ou conexão,
gerando modificação de comportamento.

61
Por essa razão, é importante estimular as áreas do cérebro com o objetivo
de auxiliar os neurônios a desenvolverem novas conexões. Esse estímulo pode
acontecer desde a infância, ao se educar as crianças em um ambiente motivacional,
estimulando a linguagem falada, cantada, escrita, promovendo a afetividade e
diversificando as sensações (presença de cor, de música, de interações sociais,
e de jogos), visando o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas e
memórias, auxiliando em seu processo de aprendizagem. Nesse sentido
observa-se que cada indivíduo possui diferentes potenciais de inteligência,
sendo possível expandir e aumentar sua própria aprendizagem exercitando a
neuroplasticidade.

4.3 Relações entre Educação, Dificuldade de Aprendizagem e


Neuroplasticidade

4.3.1 Educação

A luta contra o insucesso escolar tem vem sendo uma das prioridades da
educação. Historicamente, a educação escolar se deu paralelamente ao
desenvolvimento das sociedades. No século XIX e XX, as ideias de Maria
Montessori, Jean-Ovide Decroly, Friedrich Fröbel, John Dewey, Anton
Makarenko, Jean Frédéric Frenet e tantos outros, reforçam a necessidade da
escola estar aberta à vida, ao mesmo tempo que deveria ser obrigatória para
todos, e não somente para os filhos de favorecidos e privilegiados. Nesse
contexto, a escola foi impondo exigências, ao mesmo tempo que foi abrindo a
um maior número de crianças, aumentando as taxas de escolarização o que,
como consequência, gerou inúmeros processos de inadaptação, implicando na
seleção e segregação escolar.
Paralelamente a esse fato, em termos históricos, a escola defende uma
forma de aprender em ruptura com os processos que privilegiam a experiência
individual e social, baseando-se num princípio de revelação (o mestre que sabe,
ensina ao aluno ignorante) e num princípio de cumulatividade (aprende-se
acumulando informações), o modo escolar propõe processos de aprendizagem
baseados na exterioridade relativamente aos sujeitos.

62
A partir dos nos anos 60, a educação começa a ampliar as condições para
melhor desempenho dos alunos, pautada na episteme de dois grandes
estudiosos do comportamento: Jean Piaget e Lev Vygotsky.
Piaget postula que o processo cognitivo é um processo de construção
qualificativa, decorrente da assimilação e acomodação que o indivíduo
desenvolve ao longo de suas fases evolutivas: sensória-motora (0 a 2 anos),pré-
operaciona l(2 a 7 anos), operacional ( 7 aos 11 anos) e formal ( depois dos 12).
Sua teoria sustenta que a cognição, num processo adaptativo contínuo, é
construída como fruto da interação constante entre a bagagem hereditária e as
experiências adquiridas. Nesse caso, a escola deve ser um espaço rico em
experiências desafiadoras, adequada a cada faixa etária, de modo a promover o
conhecimento. Para Vygotsky (1960), o desenvolvimento humano é muito mais
que a pura formação de conexões associativas ou a formação de sinapses. Para
esse autor, o conhecimento tem origem social, envolve portanto, uma interação
e mediação qualificada entre os elementos de uma sociedade. A conduta
humana, em temos vygotskyanos, não pode ser concebida em processos
reativos, nem pode subestimar ou desvalorizar o papel ativo e transformador do
sujeito na aprendizagem. Neste contexto, a escola deve valorizar o
conhecimento prévio dos educandos, possibilitando vivências sociais que
desenvolvam suas potencialidades.
A educação ao longo dos tempos, também vem evoluindo com grandes
esforços, desde a concepção preformista até a concepção interativo social.
Foram conquistadas muitas melhorias relativas ao ensino. No entanto, em nome
do conservadorismo e tradição, em muitas escolas a aprendizagem ainda é
pensada com base na desvalorização da experiência dos aprendentes, na
memorização, penalização do erro e a aprendizagem de respostas, configurando
assim, um processo que reforça em muitos casos, o insucesso escolar.

4.3.2 Dificuldades de Aprendizagem

Diferentemente do insucesso escolar, as dificuldades de aprendizagem


são atualmente, um dos problemas da educação, não só pela sua definição
teórica, como também pela dificuldade da sua interpretação pelos vários agentes
do sistema de ensino. Parece, pois, urgente, a necessidade de clarificar o

63
conceito teórico das dificuldades de aprendizagem, na medida em que o seu
aprofundamento pode dar origem a medidas e estratégias que possam vir a
servir como bases mais seguras, para a avaliação e habilitação.

Importante
Dificuldade de aprendizagem é um termo geral, que se refere
a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por
dificuldades significativas na aquisição e utilização da
compreensão auditiva da fala, leitura, escrita e do raciocínio
matemático. Tais desordens, consideradas intrínsecas ao
indivíduo, presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção
do sistema nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida.
Problema na autorregulação do comportamento, na percepção
social e na interação social podem existir com as DA. Apesar
de ocorrerem com outras deficiências (sensorial, mental,
distúrbios socioemocionais) ou com influências extrínsecas
(diferenças culturais, insuficiente ou inapropriada instrução,
etc.) elas não são o resultado dessas condições.

Existem fatores biológicos que contribuem para as dificuldades de


aprendizagem, que podem ser divididos em quatro categorias gerais: Lesão
Cerebral, Alterações no Desenvolvimento Cerebral, Desequilíbrios
Neuroquímicos e Hereditariedade.

• Lesão Cerebral - pode causar múltiplos problemas, que desenvolvem


transtornos convulsivos, paralisia cerebral ou outras deficiências físicas,
como um resultado do dano cerebral, com frequência, também
apresentam dificuldades de aprendizagem. As lesões associadas a
dificuldade de aprendizagem podem ser em virtude de acidentes,
hemorragias cerebrais e tumores, além de doenças como encefalite e
meningite. A desnutrição e a exposição a substâncias químicas tóxicas
(como chumbo e pesticidas) também causam danos cerebrais, levando a
problemas de aprendizagem.

64
• Alterações no Desenvolvimento Cerebral - o desenvolvimento do
cérebro humano inicia na gestação e continua durante toda a idade adulta.
Dessa forma, se esse processo contínuo de “ativação” dos neurônios for
perturbado em qualquer ponto, partes do cérebro poderão não
desenvolver-se normalmente. Assim sendo, o tipo de problema produzido
por alterações no desenvolvimento cerebral depende, em parte, das
regiões do cérebro afetadas.

• Desequilíbrio Químico - as células cerebrais comunicam-se umas com


as outras por meio de sinapses de neurotransmissores que acontecem
nas sinapses químicas. Qualquer mudança no clima químico, delicada-
mente equilibrado do cérebro, pode interferir nesses neurotransmissores
e prejudicar a capacidade do cérebro para funcionar adequadamente.

• Hereditariedade - as pesquisas conduzidas desde meados da década de


80, indicam que a hereditariedade exerce um papel bem maior na
determinação do desenvolvimento de dificuldades de aprendizagem.
Estudos de famílias de crianças com dificuldades de aprendizagem
descobrem, consistentemente, uma incidência mais alta que a média de
problemas similares de aprendizagem entre pais, irmãos e outros
indivíduos aparentados.

As principais dificuldades de aprendizagem podem ser apresentadas


como:

• Transtorno de Déficit de Atenção - é um problema de desatenção com


ou sem hiperatividade (agitação em demasia com dificuldade em parar
quieto), as pessoas com TDAH se machucam com mais frequência, não têm
paciência, interrompem conversas.

• Discalculia - dificuldade de aprender tudo o que está relacionado a


números como: operações matemáticas; dificuldade de entender os
conceitos e a aplicação da matemática; seguir sequências; classificar
números.

65
• Dislexia - um transtorno específico de aprendizagem, caracterizada por
dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade
de decodificação e em soletração. Essas dificuldades normalmente resultam
de um déficit no componente fonológico da linguagem e são inesperadas em
relação à idade e outras habilidades cognitivas.

• Dislalia - um distúrbio de fala, caracterizado pela dificuldade em articular


as palavras e pela má pronunciação, omitindo, acrescentando, trocando ou
distorcendo os fonemas.

• Disortografia: dificuldade de aprender e desenvolver as habilidades da


linguagem escrita, é um transtorno específico da grafia que, geralmente,
acompanha a dislexia.

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SUGESTÃO DE LEITURA

Leia a obra Dificuldades de Aprendizagem de


Vitor da Fonseca. Aborda com clareza e
profundidade o tema sobre as dificuldades de
aprendizagens e ainda traz um estudo
pedagógico detalhado que certamente, con-
tribuirá nos seus estudos.

4.3.3 Neuroplasticidade

Como visto anteriormente, a neuroplasticidade ou plasticidade neural é


definida como a capacidade do sistema nervoso modificar sua estrutura e função
em decorrência de novos padrões. O estudo da neuroplasticidade pode
contribuir para a atuação em sala de aula mediante um aprendizado sistemático
e articulado e oferece aos professores novas possibilidades para melhorar a sua
prática educativa.
Nesse sentido, a neuroplasticidade aliada a educação, busca aplicar os
conhecimentos da neurociência, para auxiliar na compreensão dos processos

66
neurobiológicos da aprendizagem, para que assim, possam ser elaboradas
novas estratégias pedagógicas de ensino. Considerando que a atual situação
educacional do país atravessa um período difícil, torna-se importante e urgente
contemplar as diversas ciências que podem dar alguma contribuição para uma
transformação educacional.

Resumo da aula

Nesta aula foi estudado sobre a Neuroplasticidade e suas relações com a


memória, aprendizado, educação e dificuldades de aprendizagem, apresentando
a Regra de Hebb e as experiências práticas com Neuroplas-ticidade.

Atividade de Aprendizagem
Após a leitura do texto, estabeleça as principais diferenças
entre o insucesso escolar e as dificuldades de aprendizagem.

67
Resumo da disciplina

Nesta disciplina foi aprendido que a neuroplasticidade pode ser entendida


como a adaptação e reorganização da dinâmica do sistema nervoso em
responder a estímulos intrínsecos e extrínsecos, pela capacidade que os
neurônios têm de formar novas conexões a cada momento. Nessa visão mais
ampla do cérebro humano, foram sendo concebidas diferentes formas de
plasticidade neuronal: regenerativa, axônica, sináptica, dendrítica e somática.
Pode-se afirmar que a neuroplasticidade está intimamente ligada a
aprendizagem, considerando que essa acontece durante toda a vida do
indivíduo, e necessita de uma complexa rede de operações neurofisiológicas e
neuropsicológicas, onde a memória cumpre um papel essencial nesse processo,
pois assegura a aquisição e permanência do aprendido (memorização), de forma
a facilitar as próximas aprendizagens (transferência).
Ao longo dos tempos, surgiram muitas concepções que tentam explicar o
processo de aprendizagem, refletindo diretamente no âmbito educacional.
Atualmente é possível compreender as diferenças entre o insucesso escolar e
as dificuldades de aprendizagem, uma vez que podem ser descritas como
desordens manifestadas por dificuldades significativas, na aquisição e utilização
da compreensão auditiva da fala, leitura, escrita e do raciocínio matemático,
sendo classificadas como: dislalia, discalculia, transtorno e déficit de atenção,
disortorafia entre outras. Essas dificuldades aliadas ao insucesso escolar,
representam alguns dos maiores problemas da educação. Nesse contexto os
estudos da neuroplasticidade e neurociência, tornam-se importantes e urgentes
na medida em que o seu aprofundamento pode dar origem às medidas e
estratégias que possam vir a contribuir para uma transformação no ensino e
consequentemente na educação.

68
REFERÊNCIAS

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