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Direito para

todos
DISCURSO JURÍDICO PARA ESTUDANTES DO SEGUNDO ANO
DO ENSINO PRÉ UNIVERSITÁRIO

Elaborado por:

Prof. Xavier L. Jorge


(Especialista em Ciências da Educação.)
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge
(Phil.)

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Índex

Item pág.

Prefácio
UNIDADE I – Introdução
1. Conceitos de Importância Primacial
1.1. A Ordem Social.
1.2. O Vínculo Entre o Direito e a Sociedade.
1.3. A Pessoa Como Finalidade da Ordem Jurídica.

UNIDADE II – O Direito Constitucional e a Constituição


1. Noção de Constituição
1.1. A Constituição. Definição.
1.2. Princípios Estruturantes do Estado de Direito Democrático.
1.3. Sentidos de Constituição.
1.4. Tipos de Constituição.
2. Constituição e carta Constitucional
2.1. O Regime Anterior à Revolução Francesa.
2.2. A Primeira Constituição de Portugal.
2.3. A Carta Constitucional de 1826.
3. A Constituição Antes de 25 de Abril de 1974
3.1. A Constituição Angolana de 1975
3.2. Análise dos princípios fundamentais, direitos e deveres fundamentais, direitos, liberdades e
garantias consagrados na Constituição Angolana.
3.3. A Organização do Poder Político.
3.3.1. O Presidente da República.
3.3.2. A Assembleia Nacional.
3.3.3. O Governo
3.3.4. Os Tribunais
4. Revisão da Constituição
4.1. O Poder de Revisão.
4.2. Os limites da Revisão.
4.3. As Várias Revisões.

UNIDADE III – O Direito da Família


1. Noções Gerais Sobre Direito da Família.
1.1. As Fontes de Relações Jurídico-familiares.
1.2. O Parentesco.
1.3. O Casamento.
1.4. A União de Facto.
1.5. A Afinidade.
2. O Casamento
2.1. A Promessa de Casamento nos Direitos Positivo e Costumeiro e sua Relevância Jurídica.
2.2. Pressupostos da Existência de Casamento.
2.3. Validade do casamento
3. A Forma do Acto de Casamento
3.1. Processo Preliminar (Declaração inicial, Oposição ao Casamento, Despacho Final).
4. Os Efeitos Pessoais do Casamento
4.1. Princípios Reguladores das Relações Conjugais.
4.2. Poderes e Deveres Matrimoniais.
5. Os Efeitos Patrimoniais do Casamento
5.1. Regime Económico no Código da Família
5.2. Dívidas dos Cônjuges
6. A Dissolução do Casamento
6.1. Causas da Dissolução
6.2. Modalidade de Divórcio
6.3. Fundamentos Para Acção no Divórcio Litigioso (Adultério, Vida e Costume Desonroso, Abandono do Lar, etc.)

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7. A União de Facto.
7.1. Pressupostos legais

8. A Adopção.
8.1. Conteúdo Legal da Adopção.
8.2. Requisitos legais do Adoptante e do Adoptado.
8.3. Consentimento Para Adopção. Autorização para Adopção.
8.4. Tipos Legais de Adopção.
8.5. Efeitos da Adopção (Em Relação ao Adoptado, em Relação ao Adoptante, em Relação à Família
Natural.

UNIDADE IV – O Direito Fiscal


1. Noção de Direito Fiscal.
1.1. A Actividade Financeira do Estado.
1.2. O Direito Financeiro.
1.3. O Direito Tributário.
1.4. O Direito Fiscal.
2. Natureza do Direito Fiscal e Sua relação com Outros Ramos do Direito. Evolução do
Direito Fiscal.
2.1. Natureza do Direito Fiscal e Relação Deste Com Outros Ramos.
2.2. Período Anterior ao Renascimento (Séculos XIV – XV).
2.3. Período Posterior ao Renascimento (Séculos XIV – XVII).
2.4. Período da Revolução Industrial (Séculos XVII – XVIII).
2.5. Período Contemporâneo (Séculos XIX – XXI).
3. Fontes do Direito Fiscal. A Lei.
3.1. Noção e extensão.
3.2. Lei Constitucional: Princípio da Legalidade, da Igualdade, da Eficiência Funcional do Sistema
Tributário e da Anualidade.
3.3. Leis, Decretos-leis, Regulamentos, Convenções Internacionais.
4. O Imposto.
4.1. Conceito e Objectivos.
5. A Administração Fiscal.
5.1. A Direcção Nacional de Impostos.
5.2. A Direcção Nacional das Alfândegas.
6. Os Sujeitos da Relação Jurídica Fiscal (Impostos).
6.1. O Sujeito Activo (O Estado e o Instituto Nacional da Segurança Social)
6.2. O sujeito Passivo
6.3. Direito e Deveres dos Contribuintes
7. Os Principais Impostos Angolanos.
7.1. O Imposto Industrial.
7.2. Os Impostos Petrolíferos.
7.3. O Imposto Sobre os Rendimentos de Trabalho.
7.4. Os Impostos de Produção e Consumo.
7.4. Os Impostos aduaneiros.

UNIDADE V – O Direito Administrativo


1. Conceitos, Princípios e elementos.
1.1. Fins e meios da Administração Pública.
1.2. Funções Estaduais (Legislativa, Jurisdicional e Administrativa).
2. Princípios de Organização Administrativa.
2.1. Princípio da Prudência dos Interesses Públicos.
2.2. Princípio Participativo.
2.3. Princípio da Legalidade Quanto às Atribuições e Competências.
2.4. Princípio de Direcção (Administração) Individual e da Responsabilidade Pessoal.
2.5. Princípio da Desconcentração.
2.6. Princípio da Descentralização.
2.7. Princípio de Aproximação dos Serviços às Populações.

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3. Elementos da Organização Administrativa.


3.1. As Pessoas Colectivas Públicas e os Serviços Públicos.
3.2. Conceito de Cada um dos Elementos.
4. A Organização Administrativa Angolana.
4.1. A Administração Central.
4.2. O Órgão do Estado: O Presidente da República e Chefe do Governo: Órgão Político e
Administrativo.
4.3. O Governo e o Conselho de Ministros: funções, estrutura, composição e funcionamento.
5. Administração Local.
5.1. Divisão Administrativa Local (Municípios, Comunas e Bairros).
5.2. Órgãos e Serviços Locais do Estado: Delegações e Direcções Provinciais, Municipais e de Bairros.
5.3. Os Governos Provinciais e Administração Municipal; Natureza, Atribuições, Organização e
funcionamento. Os Governadores Provinciais.
5.4. As Autoridades Locais.
6. Formas da Actividade Administrativa.
6.1. Os Regulamentos Administrativos. Relação dos Regulamentos Com a Lei.
6.2. O Acto Administrativo.
6.3. Os Contratos Administrativos.
7. Princípios Fundamentais da Actividade Administrativa.
7.1. Princípio da Prossecução do Interesse Público.
7.2. Princípio da Legalidade.
7.3. Princípio da Imparcialidade.
7.4. Princípio da Justiça.
7.5. Princípio da Proporcionalidade.
7.6. Princípio do Mérito e Dever de Boa Administração.
7.7. Princípio da Moralidade da Administração.

Bibliografia…………………………………………………………………………………….. 61

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Prefácio à Postila de Introdução ao Direito para o 2º Ano

Direito para todos, “Discurso jurídico para estudantes do segundo ano do ensino pré-
universitário”, é um trabalho que se concebe no intento de amparar a livre e sistematizada docência da
cadeira de Introdução ao Direito, a nível do Colégio Estoril, mais concretamente para o curso de
ciências económico-jurídicas. O presente texto, feito na base de uma metodologia suficientemente
rigorosa, trás no seu interior lições seleccionadas com todo o cuidado, nos termos dos programas
elaborados pelas formações afectas ao Ministério da Educação da República de Angola.

Como especialista em matéria de ciências da educação, formado especificamente para o


ensino de filosofia, receio que o meu discurso no presente texto de Introdução ao Direito apresente
algumas insuficiências no que tange ao espírito daquilo que é próprio e/ou tipicamente de Direito por
oposição aquilo que é próprio e tipicamente de filosofia. Um discurso em matéria de Direito que seja
fortuitamente proferido por um filósofo acabaria numa exposição teórica de filosofia do direito. Porém,
estou bastante convencido que, à medida da experiência que reúno, enquanto mestre de aulas, leitor
prudente e analista perspicaz, e sobretudo pelas objecções colocadas por mim mesmo ao revisar o
presente opúsculo, os conteúdos para aqui trazidos reúnem a qualidade necessária à uma linguagem
jurídica. Contudo, estou ainda mais convencido pelo facto de que o texto não é resultado de uma
reflexão parcial, como se se tratasse de um ensaio, mas sim de um levantamento prudente de dados a
partir daquelas que me pareceram as mais sugestivas fontes escritas, conforme consta da bibliografia
consultada que apresentamos ao final do trabalho, ou de cada sumário. Mas um aspecto deve ter-se em
conta: o facto de os conteúdos apontados terem merecido um especial tratamento ao serem
transformados de uma linguagem técnica para uma linguagem didáctica, conforme o objectivo essencial
deste opúsculo que é servir aos estudantes de um modo necessariamente prático, no âmbito da
transmissão de conhecimentos.

Com este texto, é-me particularmente aberta a possibilidade de haver maior segurança no que
tange a essa tal transmissão de conhecimentos, pelo facto de se dar aqui um ordenamento dos teores
fundamentais, à medida em que se adopta o discurso numa lógica que se pretende perfeita, isto é,
reunindo qualidades tais como coesão, clareza, objectividade e, por assim ser, brevidade.

Tal como advirto no outro texto, do primeiro ano, o estudante terá no presente opúsculo
algumas questões que, sendo abrangentes, não devem de modo nenhum ser tomadas como que se
tratasse de tudo quanto existe para ser conhecido em termos de “direito”. É inteiramente útil e por
conseguinte necessário que os estudantes que adquirirem, eventualmente, este “folheto”, venham a
interessar-se por investigar muito mais, com algum pormenor, digo mesmo com profundidade, sobre
cada tópico aqui desenvolvido. Para nós, eu e meus alunos, este texto constituirá apenas um recurso
primário às nossas questiúnculas quotidianas.
Importa-nos desde já salientar que o presente texto comporta 4 capítulos, que mais do que
uma divisão tão-somente estrutural do ponto de vista técnico, constituem verdadeiras unidades temáticas
seleccionadas com bastante cuidado, tendo em conta as necessidades básicas do meu grupo alvo em
termos do que está previsto nos programas de ensino para o seu nível de formação, por um lado, e
atendendo às necessidades “espirituais” para uma cultura dos valores positivos rumo à uma tal
construção do homem adaptado à dialéctica da vida. Meu génio sugere que o período em que vivemos
carece dos conhecimentos próprios do Direito, enquanto disciplina académica, da filosofia, da Economia
e de outras ciências sociais, e estes devem ser imediatamente transmitidos a todos que de um modo ou
de outro irão participar da reconstrução do país – Angola; – reconhecendo que a base da reconstrução do
mundo objectivo funda-se necessariamente sobre uma urgente reconstrução do mundo subjectivo – em
cada homem e em cada mulher.
Desde já, pelo que me aprazia, quero apresentar-vos os meus votos para uma leitura bem
sucedida, e não menos aturada.
Que o conhecimento tenha para os vossos espíritos o mesmo valor que o pão tem para o
estômago.

Professor Xavier L. Jorge


Luanda, Abril de 2009

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Advertência:

É expressamente proibida a reprodução por cópia dos conteúdos deste folheto, que
muito sacrifício custou, sem prévia autorização. Ninguém deve passar uma cópia deste folheto
a alguém que não seja estudante do Colégio Estoril. O fascículo foi elaborado apenas para
atender as necessidades decorrentes da “falta de material” para as nossas lições diárias, no
nosso colégio.

Toda cópia autorizada contém o carimbo ou a assinatura do professor (autor):

PAZ E BEM!
Docente: Xavier L. Jorge.
Disciplina: Introdução ao Direito.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 06
Tipo de Aula: Nova
UNIDADE # 2 – O Direito Constitucional e a Constituição
Tema 3: A Constituição Antes de 25 de Abril de 1974.

Sumário: 3.1. A Constituição Angolana de 1975.


3.2. Análise dos Princípios Fundamentais, direitos e deveres fundamentais, direitos,
Liberdades e garantias consagrados na Constituição Angolana.

Objectivo Geral: Discutir sobre a natureza e a importância da Constituição.

Objectivos Específicos: Conhecer os aspectos chaves inerentes à Constituição angolana.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

A Constituição Antes de 25 de Abril. (Considerações gerais)


A Constituição Portuguesa é o principal fundamento da estrutura normativa do sistema
jurídico português e define os princípios que o Estado português deve observar, seja no plano
orgânico ou no de sua própria actividade. A actual Constituição é resultado concreto da
chamada Revolução dos Cravos, que, em 25 de Abril de 1974, pôs fim ao regime ditatorial até
então no poder. Legitimada pela Revolução, a Assembleia Constituinte, reunida em sessão
plenária em 2 de Abril de 1976, teve como objectivo redigir, aprovar e decretar uma
Constituição que restituísse aos portugueses os direitos e liberdades fundamentais e que
assegurasse os princípios da democracia, garantindo a primazia do Estado de Direito
democrático. Sujeita a três revisões constitucionais, a Constituição continua definindo a
República portuguesa, em seu artigo 2, como um “Estado de Direito democrático, baseado na
soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticos e no
respeito aos direitos e liberdades fundamentais e garantia de sua efectividade, que têm por
objectivo a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da
democracia participativa”.

O Estado português é unitário e respeita, em sua organização, os princípios da


autonomia das autarquias locais, constituindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira
regiões autónomas, dotadas de estatutos políticos e administrativos e órgãos de governo
próprios. As regiões autónomas são pessoas de Direito público, cuja cooperação com os
órgãos de soberania determina que estes assegurem o desenvolvimento económico e social de
tais regiões com o objectivo de corrigir as desigualdades derivadas da insularidade.

O artigo três da Constituição reconhece como única e indivisível a soberania popular,


sendo o povo titular do poder político, exercido através do sufrágio universal, igual, directo,
secreto e periódico para a designação dos titulares dos órgãos colectivos de soberania.

Os órgãos de soberania estabelecidos na Constituição são o presidente da República, a


Assembleia da República, o governo e os tribunais.

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O presidente da República representa a República portuguesa, assegura a


independência nacional, a unidade do Estado e o funcionamento regular das instituições
democráticas e é, por definição, Comandante Supremo das Forças Armadas. É eleito por
sufrágio universal, directo e secreto dos eleitores portugueses e apenas é elegível um cidadão
que seja português de origem, eleitor e com mais de 35 anos.

A Assembleia da República é um órgão colegial que representa todos os cidadãos


portugueses. A Assembleia da República é composta por deputados, cujo número mínimo é
230 e o máximo, 235. Os deputados são eleitos por círculos eleitorais geograficamente
definidos na lei eleitoral, mas representam todo o país, e não apenas os círculos pelos quais se
elegeram. A Assembleia da República possui poderes legislativos, políticos e fiscalizadores,
sendo também de sua competência o exercício de outros poderes relacionados com diferentes
órgãos, os quais podem ou não ser de soberania. A forma específica de exercício de suas
competências realiza-se através da lei.

O governo é o órgão que dirige a política geral do país e o órgão superior da


administração pública, composto pelo primeiro-ministro, os ministros e os secretários e
subsecretários de Estado, podendo incluir um ou mais vice-primeiros-ministros. O primeiro-
ministro é nomeado pelo presidente da República, observando os resultados eleitorais e
ouvidos os partidos políticos representados na Assembleia da República. Os demais membros
do governo são igualmente nomeados pelo presidente da República, sob proposta do primeiro-
ministro. O governo, de forma colegial, assume poderes políticos, legislativos e
administrativos, sendo competência do primeiro-ministro conduzir a política geral do governo
e seu funcionamento e exercer outras funções atribuídas, seja pela Constituição ou pela Lei, e
competindo aos ministros, individualmente, executar a política definida para seus ministérios
e assegurar as relações de carácter geral entre o governo e os demais órgãos do Estado, no
âmbito de seus respectivos ministérios. A forma específica de exercício de sua competência
legislativa é o decreto-lei, firmado pelo primeiro-ministro e pelos ministros competentes em
razão da matéria legislada.

Quero esclarecer aos meus alunos do Colégio Estoril que os tribunais são os órgãos de
soberania com competência para ministrar a justiça em nome do povo, cabendo-lhes assegurar
a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da
legalidade democrática e dirimir conflitos de interesses públicos e privados. Os juízes dos
tribunais não são nomeados nem eleitos: provêm do Centro de Estudos Judiciais, instituição
encarregada da formação de magistrados.
Prezados alunos, muito antes que tivesse lugar a revolução dos cravos, que como
vimos terá dado à luz a sua Constituição actual, a grosso modo, o Estado português conheceu
outras Constituições, dentre as quais – a Constituição de 1838, a Constituição de 1911 e a
Constituição de 1933.
A Constituição de 1838 foi resultado do acordo entre as Cortes e o monarca. O seu
texto é dos mais aperfeiçoados textos constitucionais portugueses, quer do ponto de vista
técnico, como do ponto de vista literário. Esta Constituição tem como fontes a Constituição
Francesa de 1830, a Belga de 1831, a Brasileira de 1837 e a Espanhola de 1837. Contudo, esta
constituição representa uma assimilação das constituições portuguesas de 1822 e 1826,
embora se situe mais próxima da de 1822, pois repete a soberania nacional, restabelece o
sufrágio universal directo e elimina o poder moderador. Por outro lado, introduz uma segunda
câmara, a Câmara dos Senadores, e aumenta os poderes do rei.
A Constituição de 1911 organiza o Estado português sob forma de república
democrática. A soberania dividia-se em três poderes: o poder legislativo, o poder executivo e
o poder judicial. Estes três poderes eram autónomos e independentes. Foram conferidos ao

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poder legislativo poderes mais amplos, em detrimento de um excesso de poder pessoal do


chefe do Estado. O poder legislativo era constituído por duas câmaras, nomeadamente a de
Deputados e o Senado. O poder legislativo era exercido pelo presidente da República e pelo
Governo. Pode-se mesmo afirmar que o regime republicano da Constituição de 1911 era
parlamentarista, pelas duas seguintes razões: a) o presidente era eleito pelo Congresso e não
directa ou indirectamente pelos eleitores; b) os governos eram responsáveis perante o
parlamento. Porém, o parlamentarismo da República da Constituição de 1911 negava ao chefe
de Estado a faculdade da sua dissolução. Importa salientar que nos regimes presidencialistas, o
Presidente governa de facto e de direito, exerce o poder legislativo por si e pelos secretários de
Estado. Estes não vão ao Parlamento e não estão sujeitos às suas votações políticas. O
Presidente é eleito por um período de 4 anos, directa ou indirectamente, pela Nação e durante
o tempo do seu mandato governa sem se sujeitar ao controlo ou às votações das assembleias
legislativas, razão pela qual não se consagrou o direito de o chefe de Estado dissolver as
assembleias, uma vez que tal poder se mostra desnecessário. Já nas repúblicas parlamentares,
os presidentes são nomeados através de eleição parlamentar e os seus governos são nomeados
teoricamente pela sua escolha livre, sujeitando-se às votações do parlamento.
A Constituição de 1933 conforme as constituições anteriores (como a Constituição de
1822, a Carta Constitucional de 1826, a Constituição de 1838 e a de 1911), inclui os territórios
portugueses da África e da Ásia no âmbito do território nacional. Porém, contrariamente as
constituições de 1822 e de 1933, não admite a possibilidade de separação ou cessão de
qualquer desses territórios, e expõe no seu artigo 133º o seguinte: “É da essência orgânica da
Nação portuguesa desempenhar a função histórica de possuir e colonizar domínios
ultramarinos e de civilizar as populações indígenas que neles se compreendem.” A
constituição de 1933 foi a primeira a consagrar o direito à vida e à integridade pessoal. Outros
direitos fundamentais nela consagrados são: o regime dos direitos, liberdades e garantias, com
leis especiais a regular o exercício das liberdades de expressão, de ensino, de reunião e de
associação; o aparecimento de vários direitos sociais, como a protecção da família, direito à
educação e à cultura; o direito ao trabalho (a partir de 1951) e o dever de defesa da saúde
pública; a atribuição, quer individual quer institucional, dos direitos fundamentais. A
Constituição de 1933 designa os seguintes órgãos de soberania: O chefe de Estado, a
Assembleia Nacional, o Governo e os tribunais. Não adopta a terminologia clássica de
“Poderes do Estado”, mas de “Órgãos de soberania”.

3.1. A Constituição Angolana de 1975.

Segundo consta, os portugueses chegaram a Angola em 1483, mas Portugal não obteve
o controle completo do país até inícios do século XX. Sua tentativa de penetrar rumo ao
interior, no século XVI, encontrou a resistência ferrenha da rainha Nzinga de Ndongo, que
obrigou os portugueses a voltarem ao sistema de feitorias costeiras. Posteriormente, o país foi
governado pelo denominado Regime Indígena, um sistema colonial no qual a exploração
económica, o abandono cultural e a repressão política vigoraram até 1961. Em 1951, o status
oficial de Angola passou de colónia a província de ultramar. Durante a década de 1950, surgiu
um movimento nacionalista. Em 1961, iniciou-se um confronto guerrilheiro contra os
portugueses e, em 11 de Novembro de 1975, Angola conseguiu sua independência.

Em parte, a derrocada do sistema colonial português em Angola, e não só, foi uma
consequência dos acontecimentos que tiveram lugar em Portugal a 25 de Abril de 1974.
As intenções do movimento nacionalista foram as de suprimir a polícia política,
restabelecer a liberdade de pensamento e de expressão, reconhecer os partidos políticos até
então existentes, criar a organização sindical clandestina, como também proceder à realização
de eleições em 1975, com o objectivo de eleger uma Assembleia Constituinte, assim como

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estabelecer negociações com os movimentos de independência das colónias. Tais movimentos


terão conquistado o direito de proclamar a independência e a outorgar constituições.
A primeira Constituição em Angola foi aprovada em 1975.

3.2. Análise dos Princípios Fundamentais, direitos e deveres fundamentais,


direitos, Liberdades e garantias consagrados na Constituição Angolana.

Chamam-se deveres fundamentais as obrigações expressamente consagradas na


Constituição, aos quais os cidadãos devem obediência e respeito. Ex.: O dever de defesa da
Pátria.
Chamam-se garantias pessoais aquelas garantias que estão consagradas na
Constituição para cada cidadão, a protecção dos direitos de cada cidadão e ainda o
reconhecimento dos meios processuais adequados a essa finalidade. Ex.: Protecção da
segurança pública.
As garantias constitucionais compreendem os meios destinados a assegurar o próprio
ordenamento constitucional e têm por função a observância, a aplicação, a estabilidade e a
conservação da Lei Constitucional. Ex.: A fiscalização da constitucionalidade das leis e a
revisão constitucional.
A Constituição Angolana tem como fundamentos a democracia representativa e a
liberdade política. É uma Constituição que consagra os direitos fundamentais dos cidadãos e
dos trabalhadores e a divisão dos poderes políticos.
A CA encontra-se organizada de acordo com os seguintes motes:
1. Princípios fundamentais
2. Direitos e deveres fundamentais
3. Dos órgãos do Estado
4. Da Defesa Nacional
5. Garantia e revisão da Lei Constitucional
6. Símbolos da República de Angola
7. Disposições finais e transitórias.
Os artigos 18º a 52º da CA consagram os direitos fundamentais. Direitos fundamentais
são direitos ou as posições jurídicas subjectivas das pessoas (quer individuais quer colectivas
ou institucionais) enquanto tais, consideradas e assentes na Constituição. Distinguem-se, pela
extensão, dos Direitos Humanos consagrados na DUDH; e ainda dos direitos de
personalidade, que se reportam aos bens do indivíduo.
Os princípios fundamentais da Constituição Angolana são os seguintes:
1. A RA é um Estado democrático de direito e tem como fundamentos a
unidade nacional, a dignidade da pessoa humana, o pluralismo de expressão
e de organização política, e o respeito e garantia dos direitos e liberdades
fundamentais do Homem, quer como indivíduo, quer como membro de
grupos sociais organizados. (cf. art. 2º LCRA)
2. A soberania reside no povo, e o povo angolano exerce o poder político
através do sufrágio universal periódico para a escolha dos seus
representantes. (cf. art. 3º LCRA)
3. Os partidos políticos concorrem para a organização e para a expressão da
vontade dos cidadãos, os quais participam na vida política e na expressão do
sufrágio universal, por meios democráticos e pacíficos. (art. 4º e seguintes)
4. As religiões são respeitadas. Há separação entre o Estado e as igrejas (art.
8º)

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5. O Estado Angolano orienta o desenvolvimento económico, com vista a


garantir o crescimento harmonioso e equilibrado de todos os sectores e
regiões do País. (cf. art. 9 e seguintes)
6. O sistema Fiscal visa a satisfação das necessidades económicas, sociais e
administrativas do Estado e uma repartição justa dos rendimentos e da
riqueza (art. 14º)
7. A República de Angola respeita e aplica os princípios da Carta da
Organização das Nações Unidas, da Carta da Organização de Unidade
Africana, do Movimento dos Países Não Alinhados, e estabelece relações de
amizade com todos os Estados (cf. art. 15º)
O regime geral dos direitos fundamentais está assente em dois princípios:
1- O princípio da universalidade – “Todos os cidadãos são iguais perante a lei e
gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, sem distinção da sua cor,
raça, etnia, sexo, lugar de nascimento, religião, ideologia, grau de instrução, condição
económica ou social”. (cf. art. 18º da LC). Conforme consta, todas as pessoas são titulares dos
direitos fundamentais consagrados na LC. Os direitos fundamentais são direitos de todos, são
direitos do Homem.
2 – O princípio da igualdade – Este princípio constitui o principal apoio do sistema de
direitos fundamentais, e está essencialmente ligado à ideia de justiça, à luta contra os
privilégios e à dignidade da pessoa humana.

___________________________________________________________________________

Questionário de revisão e reflexão

1. O que é a revolução dos cravos e qual a relação que tem com a independência de Angola?

2. O que sucedeu a 2 de Abril de 1976?

3. Qual é o carácter do Estado português e que princípios ele protege?

4. Quais são os órgãos de soberania estabelecidos pela Constituição Portuguesa?

5. Que relação existe entre a Constituição de 1933 e as anteriores em Portugal?

6. O que entendes por deveres fundamentais? Dê pelo menos três exemplos.

7. O que entendes por garantias pessoais?

8. Quais são os motes ou temas de acordo aos quais a Constituição Angolana está organizada?

9. Fale de um princípio fundamental da Constituição Angolana.

10. Qual é a data da criação da primeira Constituição em Angola?

11. Quais são os princípios em que está assente o regime geral dos direitos fundamentais?

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Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 07
Tipo de Aula: Continuação
UNIDADE # 2 – O Direito Constitucional e a Constituição
Tema 3: A Constituição Antes de 25 de Abril.

Sumário: 3.3. A Organização do Poder Político.


3.3.1. O Presidente da República.
3.3.2. A Assembleia Nacional.
3.3.3. O Governo.
3.3.4. Os Tribunais.

Objectivo Geral: Discutir sobre a natureza e a importância da Constituição.

Objectivos Específicos: Saber como está organizado o poder político em Angola.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

3.3. A Organização do Poder Político.

Fazem parte da organização do poder político os seguintes elementos: a) o Presidente


da República, b) A Assembleia Nacional, c) O Governo e d) Os tribunais. A estes podemos
chamar de órgãos de soberania.

3.3.1. O Presidente da República.

O Presidente da República (PR) é o chefe do Estado, aquele que representa a Nação,


assegura o cumprimento da Lei Constitucional e é o comandante-em-chefe das Forças
Armadas angolanas. O PR define a orientação política do País, assegura o funcionamento dos
órgãos do Estado e garante a independência nacional e a integridade territorial do País. Ele
tem uma legitimidade democrática directa, ou seja, é eleito por sufrágio directo e universal (cf.
art. 57º da LC).
Só pode ser eleito Presidente da República de Angola o cidadão angolano de origem,
maior de 35 anos e no pleno gozo dos seus direitos quer civis quer políticos (cf. art. 58º).
No caso de impedimento temporário ou vacatura, o cargo de PR é exercido pelo
presidente da Assembleia Geral (cf. art. 64º).
O PR não responde pelos actos praticados no exercício das suas funções. Só é
responsável no caso de haver suborno ou no caso de traição à Pátria (cf. art. 65º).
São competências do PR as seguintes:
1. Nomear o Primeiro-Ministro, ouvidos os partidos políticos representados na
Assembleia Nacional;
2. Nomear e exonerar os demais membros do Governo e o Governador do Banco
Nacional de Angola (BNA), sob proposta do Primeiro-Ministro;
3. Pôr termo às funções do Primeiro-Ministro e demitir o Governo, após consulta do
Conselho da República;

22
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

4. Presidir ao Conselho de Ministros;


5. Nomear e exonerar os embaixadores;
6. Nomear os juízes do Supremo Tribunal de Justiça, ouvido o Conselho Superior de
Magistratura Judicial;
7. Nomear e exonerar o Procurador-geral da República, o Vice-procurador-geral e os
adjuntos do Procurador-geral da República, mediante proposta ao Conselho Superior de
Magistratura do Ministério Público;
8. Nomear membros do Conselho Superior da Magistratura Judicial, nos termos do
disposto no art. 132º da LC;
9. Convocar as eleições do PR e dos Deputados à Assembleia Nacional;
10. Nomear e exonerar o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas;
11. Convocar os referendos, segundo o disposto no art. 73 da LC;
12. Declarar a guerra e a paz, ouvido o Governo e após autorização da Assembleia
Nacional;
13. Indultar e comutar penas;
14. Declarar o estado de sítio ou o estado de emergência, nos termos da lei;
15. Assinar e promulgar as leis aprovadas pela Assembleia Nacional e os decretos-leis
aprovados pelo Governo (caso contrário estes diplomas serão juridicamente inexistentes);
16. Dirigir mensagens à Assembleia Nacional e convocá-la extraordinariamente;
17. Pronunciar-se sobre todas as emergências graves para a vida da Nação;
18. Conferir condecorações nos termos da lei;
19. Ratificar os tratados internacionais depois de devidamente aprovados e assinar os
instrumentos de aprovação dos demais tratados em forma simplificada;
20. Requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação preventiva ou a declaração de
inconstitucionalidade de normas jurídicas, bem como a existência de inconstitucionalidade por
omissão.
21. O PR adoptará as medidas que achar conveniente (após consulta ao Primeiro-
Ministro e ao presidente da Assembleia Nacional, sempre que:
a) as instituições da República forem ameaçadas de forma grave e imediata;
b) a independência da Nação for ameaçada de forma grave e imediata;
c) a integridade territorial for ameaçada de forma grave e imediata;
d) a execução dos seus compromissos internacionais for ameaçada de forma grave e
imediata;
e) o funcionamento regular dos poderes políticos constitucionais for interrompido.
Todas estas situações serão comunicadas à Nação pelo PR através de mensagem.
22. Incumbe ainda ao PR, no exercício da Presidência do Conselho de Ministros:
a) convocar o CM e fixar a sua agenda de trabalhos após ouvido o Primeiro-Ministro;
b) dirigir e orientar as reuniões e sessões do Conselho de Ministros;
c) delegar expressamente ao Primeiro-Ministro a Presidência do Conselho de
Ministros.
Quanto ao prazo de promulgação das leis, consta que o PR deve promulgar as leis nos
30 dias posteriores à recepção das mesmas na Assembleia Nacional. Antes de decorrido esse
prazo, o PR pode solicitar à Assembleia Nacional uma nova apreciação do diploma ou de
algumas das suas disposições.

O QUE É O CONSELHO DA REPÚBLICA (CR)?


O CR é o órgão de consulta do PR, e é presidido pelo próprio PR. São competências
do CR as seguintes:
a) pronunciar-se acerca da dissolução da Assembleia Nacional;
b) pronunciar-se acerca da demissão do governo;
c) pronunciar-se acerca da guerra e a feitura da paz;

23
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

d) pronunciar-se sobre os actos do Presidente da República interino, no que se refere à


nomeação do Primeiro-Ministro; à demissão do Governo, à nomeação e exoneração do
Procurador geral da República, do Chefe do Estado-Maior General das FAA e seus adjuntos;
e) aconselhar o PR no exercício das suas funções, quando este o solicitar;
f) aprovar o regimento do CR.

O CR é composto pelo PR, pelo Primeiro-Ministro, pelo Presidente do Tribunal


Constitucional, pelo Procurador-Geral da República, pelos antigos presidentes da República,
pelos presidentes dos partidos políticos representados na Assembleia Nacional e por 10
cidadãos designados pelo PR. Os membros do CR são empossados pelo PR e gozam das
regalias e imunidades dos deputados da Assembleia Nacional.

3.3.2. A Assembleia Nacional.

A Assembleia Nacional da República de Angola (ANRA) é a assembleia


representativa de todos os angolanos e exprime a vontade soberana do povo angolano.
A ANRA tem competência para legislar sobre matérias de reserva absoluta e sobre as
matérias de reserva relativa. Paralelamente a esta função legislativa, a ANRA tem uma função
política de controlo, de fiscalização e de inspecção.
Dentre as competências da ANRA constam:
a) alterar a actual LC e aprovar a CRA;
b) aprovar as leis sobre todas as matérias, excepto aquelas que são da reserva da
competência do Governo;
c) conferir ao Governo autorizações legislativas;
d) aprovar sob proposta do Governo o Plano Nacional e o OGE;
e) autorizar o Governo a contrair e a conceder empréstimos e a realizar outras
operações de crédito, mas dentro de certas condições e certos limites;
f) estabelecer e alterar a divisão político-administrativa do País;
g) Conceder amnistias e perdões genéricos;
h) autorizar o Presidente da República a declarar a guerra e fazer a paz.
Outras quais aqui não reportei o estudante do Colégio Estoril pode verificar no texto
da LC disponível nas livrarias.

São matérias legislativas da exclusiva competência (reserva absoluta) da ANRA dentre


outras as seguintes:
a) aquisição, perda e reaquisição da nacionalidade;
b) direitos, liberdades e garantias;
c) eleições e estatuto dos titulares dos órgãos de soberania, do poder local e dos
restantes órgãos constitucionais;
d) formas de organização e funcionamento dos órgãos do poder local;
e) regime do referendo;
f) organização e funcionamento do Tribunal Constitucional;
g) organização e defesa nacional e bases gerais da organização, do funcionamento e
da disciplina das Forças Armadas Angolanas;
h) associações e partidos políticos;
i) definição e regime dos símbolos nacionais.

São matérias da competência relativa da ANRA dentre outras as seguintes:


a) estado e capacidade das pessoas;
b) organização geral da administração pública;
c) estatuto dos funcionários e responsabilidade civil da Administração;

24
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

d) regime geral da requisição e da expropriação e utilidade pública;


e) definição do sistema fiscal e criação de impostos;
f) bases do sistema de ensino, do serviço nacional de saúde e de segurança social;
g) regime geral de arrendamento rural e urbano;
h) estatuto das empresas públicas;
i) definição e regime dos bens do domínio público;
j) definição dos crimes, penas e medidas de segurança, bem como do processo
criminal.
Estas e outras se consideram competências relativas da AN pois a própria AN pode
autorizá-las ao Governo.

3.3.3. O Governo.

O Governo é o órgão de soberania que conduz a política geral do país e superintende


na administração pública. (cf. art. 105 da LC).
O Governo forma um órgão colegial e solidário ao qual são atribuídas competências
políticas, legislativas e administrativas que só ele pode exercer.

É composto pelo Primeiro-Ministro, pelo Conselho de Ministros e pelos Ministros.

As competências políticas do Governo, respeitam a actos legislativos ou


regulamentares em linha de direcção política ou em instruções, em planos globais ou
sectoriais, em informações, propostas, actos de eleição, como, por exxemplo:
a) referendar os actos de Presidente da República nos termos do disposto no art. 70
da LC.
b) apresentar projectos de lei à Assembleia Nacional;
c) definir as linhas gerais da política governamental, bem como a sua execução;
d) negociar e concluir os tratados internacionais e aprovar os tratados que não sejam
da competência absoluta da AN e que a esta não tenham sido submetidos;
e) deliberar sobre o pedido de confiança do Parlamento;
f) pronunciar-se sobre a declaração do estado de sítio ou do estado de emergência;
g) praticar outros actos que lhe sejam cometidos pelo LC.

São funções legislativas do Governo as seguintes:


a) fixar por decreto-lei a composição, organização e funcionamento do Governo;
b) elaborar e aprovar o decreto-lei em matéria de reserva legislativa relativa da
Assembleia Nacional, nos termos da respectiva autorização legislativas. Por exemplo: a
composição do Governo (fixada por decreto-lei) é uma competência absoluta do Governo,
pelo que só ele pode legislar sobre essa matéria. A organização geral da administração pública
e os estatutos dos funcionários da administração pública são, além de outras, matérias da
reserva relativa da Assembleia Nacional; mas o Governo pode legislar sobre essas matérias,
caso lhe tenha sido concedida autorização pela Assembleia Nacional.

São funções administrativas do Governo as seguintes:


a) elaborar e promover a execução do plano de desenvolvimento económico e social
do País;
b) elaborar, aprovar e dirigir a execução do Orçamento do Estado;
c) elaborar regulamentos necessários à boa execução das leis;
d) aprovar os actos do Governo que envolvam aumento ou diminuição das receitas ou
despesas públicas;

25
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

e) dirigir os serviços e a actividade da administração do Estado, superintender na


administração indirecta, exercer a tutela sobre a administração local autárquica e sobre as
demais instituições públicas autárquicas;
f) praticar actos e tomar todas as providências necessárias à promoção do
desenvolvimento económico e social e à satisfação das necessidades colectivas.

O governo exerce a sua competência, reunindo o Conselho de Ministros, por meio de


decretos-leis, decretos e resoluções sobre as políticas gerais, sectoriais do âmbito da
actividade governamental.
O Governo é responsável politicamente perante o PR e a AN. O Primeiro-Ministro é
responsável politicamente perante o PR, a quem informa directa e regularmente acerca dos
assuntos respeitantes à condução da política do País.
Incumbe ao Primeiro-Ministro conduzir e coordenar a acção geral do Governo; e as
suas competências são:
a) coordenar e orientar a actividade de todos os Ministros e Secretários de Estado;
b) representar o Governo perante a AN, a nível interno e externo;
c) dirigir o funcionamento do Governo e as suas relações de carácter geral com os
demais órgãos do Estado;
d) substituir o PR na presidência do CM, quando tal competência lhe for delegada pelo
PR;
e) assinar os decretos-leis do CM e enviá-los para posterior assinatura do PR;
f) assinar as resoluções do CM;
g) exercer as demais funções que lhe sejam cometidas pela LC e pela lei.

3.3.4. Os Tribunais.

Chama-se Tribunal o órgão encarregado pela lei de administrar justiça, distribuindo-a


e mandando executar o julgado. Num sentido amplo, são tribunais não apenas estes órgãos,
integrados no poder judiciário, mas também outros situados no poder executivo ou na
administração. Os chamados tribunais económico-administrativos, o Tribunal de Contas
(encarregado de fiscalizar as contas e a gestão económica do Estado), o Tribunal de Defesa da
Competência (que pretende, no âmbito da União Europeia, ordenar o livre mercado e
estabelecer um regime de livre competência no mesmo), e os Tribunais Regionais do Trabalho
e Tribunal Superior do Trabalho (no Brasil).
Nos termos da LCRA os tribunais são órgãos de soberania que administram a justiça
em nome do povo. No exercício da função jurisdicional, os tribunais são independentes e
apenas estão sujeitos à lei, sem prejuízo da coadjuvação obrigatória das outras autoridades. Os
tribunais decidem sobre a legalidade dos actos administrativos, e ao mesmo tempo garantem:
a) a observância da LC, das leis e demais disposições normativas;
b) A protecção dos direitos e interesses legítimos dos cidadãos e instituições.
As decisões dos tribunais devem ser cumpridas obrigatoriamente por todos os cidadãos
e prevalecem sobre as outras autoridades.
A estrutura dos tribunais compreende: o Tribunal Constitucional, os Tribunais
Provinciais e o Tribunal Supremo. Contudo, podem ainda ser criados, nos termos da LC,
tribunais militares, administrativos, de contas, fiscais, marítimos e arbitrais. É proibida a
criação de tribunais com competência exclusiva para o julgamento de determinadas
infracções.
Quanto aos juízes dos tribunais, importa aqui salientar que a função jurisdicional
impõe as seguintes características dos juízes:
a) A independência: No exercício das suas funções, os juízes são
independentes e apenas devem obedecer à lei.

26
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

b) A inamovibilidade: Os juízes são inamovíveis, ou seja, não podem ser


transferidos, promovidos, suspensos ou demitidos, senão nos termos da lei.
c) A imparcialidade: Os juízes devem, no exercício das suas funções, ser
imparciais, justos.
d) A irresponsabilidade: Os juízes não são responsáveis pelas decisões que
proferem no exercício das suas funções. Sendo assim, a decisão jurisdicional
é caracterizada pela imparcialidade e estrita jurisdicidade dos juízes.

O que é o Conselho Superior da Magistratura Judicial?

É o órgão superior de gestão e disciplina da magistratura judicial; cujas competências


são:
a) Apreciar o mérito profissional e exercer a acção disciplinar sobre os juízes;
b) Propor a nomeação dos juízes do Tribunal Supremo nos termos da LC;
c) Ordenar inspecções e inquéritos aos serviços judiciais e propor as medidas
necessárias à sua eficiência e aperfeiçoamento;
d) Nomear, colocar, transferir e promover os magistrados judiciais.
O Conselho Superior da Magistratura Judicial é presidido pelo Presidente do Tribunal
Supremo; e é composto pelos seguintes vogais:
a) três juristas, designados pelo PR;
b) cinco juristas, designados pela Assembleia Nacional;
c) dez juízes, eleitos entre si pelos magistrados judiciais.

O Tribunal Constitucional: É composto por sete juízes, que são indicados entre
juristas e magistrados, do seguinte modo:
1. três juízes indicados pelo PR, incluindo o Presidente do Tribunal;
2. três juízes eleitos pela Assembleia Nacional;
3. um juiz eleito pelo Plenário do Tribunal Supremo.
Nos termos do disposto no art. 134º da LC, ao Tribunal Constitucional compete em
geral administrar a justiça em matéria de natureza jurídico-constitucional; tais como:
a) apreciar preventivamente a inconstitucionalidade de qualquer norma sujeita à
promulgação, assinatura e ratificação do PR; nomeadamente as normas constantes de lei, de
decreto-lei ou de tratado internacional;
b) verificar e apreciar o não cumprimento da LC por omissão das medidas
necessárias para tornar exequíveis as normas constitucionais;
c) apreciar em recurso a constitucionalidade de todas as decisões dos demais
tribunais que recusem a aplicação de qualquer norma, com fundamento na sua
inconstitucionalidade;
d) apreciar em recurso a constitucionalidade de todas as decisões dos demais
tribunais, que apliquem normas cuja constitucionalidade haja sido suscitada durante o
processo.
A Procuradoria-Geral da República: é representada junto dos tribunais pela
magistratura do Ministério Público. O Ministério público é a magistratura encarregada
especificamente de representar, junto dos tribunais, o Estado e outras categorias de pessoas a
quem o Estado entende dispensar protecção. Os magistrados do Ministério Público são
responsáveis perante a lei e hierarquicamente subordinados. Além disso não podem ser
transferidos, suspensos, promovidos, demitidos, excepto nos termos previstos no respectivo
estatuto. Compete à Procuradoria-Geral da República a defesa da legalidade democrática,
representar o Estado, exercer a acção penal e defender os interesses que lhe forem
determinados por lei. A Procuradoria-Geral da República é presidida pelo Procurador-Geral
da República, e compreende o Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público, que

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

é composto pelos membros eleitos pela Assembleia Nacional e membros entre si eleitos pelos
magistrados do Ministério Público, nos termos a definir por lei.

O Provedor de Justiça: É um órgão público independente, que tem por objecto a


defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, assegurando, através de meios
informais, a justiça e a legalidade da administração pública. Os cidadãos podem apresentar
queixas por acções ou omissões dos poderes públicos ao Provedor da Justiça, que as apreciará
sem poder decisório, dirigindo aos órgãos competentes as recomendações necessárias para
prevenir e reparar as injustiças. O Provedor de Justiça é designado pela Assembleia Nacional
(por um mandato de 4 anos), por deliberação de dois terços dos deputados em efectividade de
funções e toma posse perante o Presidente da República.

___________________________________________________________________________

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 08
Tipo de Aula: Nova
UNIDADE # 2 – O Direito Constitucional e a Constituição
Tema 4: Revisão da Constituição.

Sumário: 4.1. O Poder de Revisão.


4.2. Os Limites da Revisão.
4.3. As Várias Revisões.

Objectivo Geral: Discutir sobre a natureza e a importância da Constituição.

Objectivos Específicos: Reconhecer os pressupostos do poder de revisão. Saber quais são os


limites da revisão a que a Constituição está sujeita. Conhecer as mais variadas revisões já
realizadas a nível da Constituição angolana.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

4.1. O Poder de Revisão.

Aqui pretende-se levantar a questão sobre quem pode rever a Lei Constitucional.
A Assembleia Nacional pode rever a Lei Constitucional e aprovar a Constituição de
Angola por decisão aprovada pelo menos por dois terços dos deputados em efectividade de
funções. A iniciativa da revisão da Lei Constitucional compete a um número mínimo de dez
deputados e ao Presidente da República.
O PR não pode recusar a promulgação da Lei de Revisão Constitucional e da
Constituição de Angola, se esta tiver sido aprovada por dois terços dos deputados.
As alterações à LC e a aprovação da Constituição de Angola devem respeitar o
seguinte:
a) A independência, a integridade territorial e unidade nacional.
b) Os direitos e liberdades fundamentais e garantias dos cidadãos.
c) O Estado de direito e a democracia pluripartidários.

28
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

d) O sufrágio universal, directo, secreto e periódico na designação dos órgãos de


soberania e poder local.
e) O princípio da separação de poderes entre o Estado e a Igreja.
f) A separação e a interdependência dos órgãos de soberania e a independência dos
tribunais.

4.2. Os Limites da Revisão.

Os limites da revisão podem ser formais e/ou materiais.

São formais os limites:


a) Quanto ao titular do poder de revisão – A revisão ou modificação da Lei
Constitucional é feita pelo órgão que desempenha funções legislativas normais, mas com as
seguintes exigências: 1. ou de um parecer, 2. ou a participação de outros órgãos, 3. ou de
exigências de maiorias qualificadas para a deliberação.
b) Os limites relativos às maiorias exigidas para as deliberações visando a revisão da
Constituição – A Assembleia Nacional pode rever a Lei Constitucional e aprovar a
Constituição por maioria de dois terços dos deputados em efectividade de funções. A Lei
Constitucional pode ser revista a todo tempo. O Presidente da República não pode recusar a
promulgação da Lei de revisão Constitucional e da Constituição da República de Angola.

São limites materiais:


Limites inferiores e limites superiores
Limites inferiores – Existem limites ao poder de revisão, quanto à inserção na
Constituição de qualquer matéria.
Limites superiores – Existem limites ao poder de revisão, como algumas normas da
Constituição que não podem ser objecto de revisão. Por exemplo: a determinação das normas
constitucionais que, por constituírem o cerne da Constituição, não podem ser objecto de
revisão.
Limites expressos e limites tácitos
Limites expressos – São aqueles que estão previstos no próprio texto constitucional.
Limites tácitos – São aqueles que, não estando expressamente previstos nas
constituições, resultam de forma indirecta do teor dos próprios textos constitucionais.

Limites absolutos e limites relativos


Limites absolutos – São aqueles limites da Constituição que não podem ser superados
pelo exercício de um poder de revisão.
Limites relativos – São aqueles que se destinam a condicionar o exercício do poder de
revisão, mas não impedem a modificação das normas constitucionais.

4.3. As Várias Revisões.

Chama-se revisão constitucional ao aditamento ou substituição do texto constitucional


no sentido da sua preservação e conservação, mediante o seu aperfeiçoamento. A necessidade
de revisão da Constituição deve ser feita de modo expresso, quer se trate de suspensão de
normas, quer se trate de uma substituição do texto constitucional, quer de aditamentos. Todas
estas alterações são inseridas no lugar próprio da Constituição, publicando-se conjuntamente a
Constituição, no seu texto, e a lei de revisão.
Constituição de 1975: 1. Verificou-se um Governo socialista unipartidário formado
pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). O Governo do MPLA foi

29
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

reconhecido nessa altura como o “legítimo” representante de Angola; 2. Dinamizou-se um


apelo excessivo das massas populares; 3. Registou-se uma grande repressão e limitação das
liberdades públicas, num sentido autoritário e até mesmo totalitário; 4. Antecipou-se uma
recusa da separação de poderes a nível da organização política, tendo primazia a Assembleia
Popular Nacional.
Constituição de 1992: 1. Reforço dos direitos, das liberdades fundamentais, com
grandes e precisas enumerações destes direitos, com regras gerais sobre a sua garantia, e
proibição da pena de morte; 2. Inserção de regras básicas de democracia representativa e
reconhecimento do papel dos partidos políticos; 3. Superação do princípio da unidade do
poder e uma distribuição mais clara das competências; 4. Previsão de mecanismos de
economia de mercado; 5. Sistema de governo com três órgãos políticos: o Presidente da
República, a Assembleia e o Governo; 6. Primeiros passos para a criação de autarquias locais;
7. Preocupação com a garantia da constitucionalidade e da legalidade, com o surgimento de
um Tribunal Constitucional.
As alterações à LC introduzidas pela Lei nº 12/91 tiveram como fundamento as
seguintes ideias:
a) Criação de premissas constitucionais necessárias à implementação da
democracia pluripartidária, o que originou eleições gerais multipartidárias
assentes no sufrágio universal directo para a escolha do Presidente da
República e dos deputados do futuro Parlamento;
b) Alargamento das garantias dos direitos e liberdades fundamentais dos
cidadãos;
c) Consagração constitucional dos princípios básicos da economia do mercado.

A Lei Constitucional de 1992 introduziu as seguintes alterações:


a) Designação do Estado para República de Angola;
b) Designação do órgão legislativo para Assembleia Nacional;
c) Eliminação da designação popular da denominação dos tribunais;
d) Novos artigos sobre direitos e deveres fundamentais, que vieram a fortalecer as
garantias dos direitos e liberdades fundamentais, com base nos tratados internacionais sobre
direitos humanos, a que Angola aderiu;
e) Os órgãos do Estado, nomeadamente a separação das funções e interdependência
dos órgãos de soberania, um sistema político semipresidencialista, que reserva ao Presidente
da República um papel activo e actuante;
f) Na administração da justiça e na organização judiciária, definiram-se os contornos
principais do estatuto constitucional dos magistrados e do Ministério Público.

___________________________________________________________________________
Questionário / Revisão
1. O que entendes por deveres fundamentais?
2. O que são garantias pessoais?
3. Em que consistem os princípios da universalidade e da igualdade?
4. Quais são os órgão de soberania constantes da Lei Constitucional de Angola?
5. Qual é o sistema de Governo que vigora em Angola?
6. Quais são as competências do Presidente da República?
7. O que entendes por Ministério Público?
8. Como está constituído o Governo e quais são as suas competências?
9. Qual é a composição do Conselho Superior da Magistratura Judicial?
10. Como podem ser os limites de revisão?
11. Quem é o Provedor de Justiça?
12. O que entendes por revisão constitucional?

30
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

13. Quais são as funções administrativas do Governo?


Docente: Xavier L. Jorge.
Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 09
Tipo de Aula: Nova
UNIDADE # 3 – O Direito da Família
Tema 1: Noções Gerais Sobre Direito da Família.

Sumário: 1.1. As Fontes de Relações Jurídico-familiares.


1.2. O Parentesco.
1.3. O Casamento.
1.4. A União de Facto.
1.5. A Afinidade.

Objectivo Geral: Conhecer os pressupostos básicos sobre o Direito da Família.

Objectivos Específicos: Com esta aula pretendo que os estudantes do Colégio Estoril saibam
quais são as fontes das relações familiares na perspectiva jurídica. Ainda que adquiram noções
sobre o conceito de parentesco, de casamento, de união de facto e de afinidade, por formas a
que possam saber distinguir uma coisa de outra.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

1.1. As Fontes de Relações Jurídico-familiares.

As fontes das relações familiares são o parentesco, o casamento, a união de facto e a


afinidade1.

1.2. O Parentesco.

a) Perspectiva Antropológica

O parentesco, em termos antropológicos, compreende as relações humanas que se


estabelecem por meio da descendência e do matrimónio. Fundamenta-se nas diferenças sociais
e nos modelos culturais. Em todas as sociedades, os vínculos entre parentes de sangue e
parentes por matrimónio possuem uma certa relevância legal, política e económica que não
guarda nenhuma relação com a biologia.
Na base do parentesco encontra-se o vínculo primário mãe-filho, ao qual as diferentes
culturas têm agregado diversas relações familiares. A esta unidade básica, somam-se outros
parentes em função da descendência. Os grupos de descendência podem se transmitir através
de qualquer dos dois sexos (ou seja, bilateralmente), ou só através de um deles
(unilateralmente). Nos grupos de transmissão unilinear, a descendência se denomina
patrilinear se a conexão for pela via masculina ou matrilinear se for pela via feminina.

1
Cf. António Vicente Marques, Código Civil Angolano, 2006, pág. 450 “Código da Família”.

31
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

b) Perspectiva Jurídica

O Parentesco é a relação que existe entre pessoas que têm um ascendente comum a
todas elas: no parentesco em linha directa, além disso, uma ou várias descendem de outra e
procedem de um mesmo tronco; na linha colateral, se é parente apenas por existir uma pessoa
que, por sua vez, é ascendente de todos os unidos por linha directa, isto é, que procede de um
tronco comum. O parentesco político, que os legisladores denominam afinidade, une todos os
parentes consanguíneos de uma pessoa ao seu cônjuge.

Segundo o nosso Código da Família (art. 8º) “o parentesco estabelece-se quer por laços
de sangue quer por adopção”. O parentesco por laço de sangue é o vínculo que liga duas
pessoas em virtude de uma descender de outra ou de ambas procederem de um progenitor
comum. O Código da Família faz alusão à diferença entre parentesco em linha recta e
parentesco em linha colateral nos seguintes termos:
- O parentesco em linha recta verifica-se quando um dos parentes descende do outro,
ou seja, é a série de pessoas que descendem sucessivamente umas das outras. Exemplo:
bisavó, avó, mãe, filho, neta, bisneta. Refere-se ainda ao parentesco em linha recta
descendente e parentesco em linha recta ascendente.
- O parentesco em linha colateral verifica-se quando nenhum dos parentes descende
de outro mas ambos procedem de um progenitor comum. Exemplo: irmãos, tio e sobrinho,
primos.
c) Limites do Parentesco
Segundo o Código da Família actual, os efeitos do parentesco produzem-se em
qualquer grau na linha recta, e até ao sexto grau na linha colateral. (Ver art. 13º do CF).
A avaliação dos graus faz-se mediante as regras estabelecidas no art. 12º do CF:
- Entre os parentes de linha recta há tantos graus quantas sejam as gerações, porém
entre eles será excluído o último progenitor.
- Na linha colateral os graus contam-se pela mesma forma, subindo por um dos ramos
e descendo pelo outro, porém, sem contar o progenitor comum.
Segundo este processo de contagem, os irmãos ou os avós e os netos são parentes em
2º grau, os tios e os sobrinhos são parentes em 3º terceiro grau, os primos directos são parentes
em 4º grau.
d) Efeitos do Parentesco
Como causa do parentesco, produzem-se diversos efeitos jurídicos entre os parentes. O
efeito principal do parentesco é o sucessório, ou seja, os descendentes e os ascendentes, os
irmãos e seus descendentes e os colaterais até ao 4º grau integram, as 1ª, 2ª, 3ª e 4ª classes de
sucessíveis na ordem da sucessão, respectivamente.
Um outro efeito do parentesco é a obrigação de alimentos que a própria lei impõe a
determinados parentes. É o que se verifica no artigo 249º do CF: São obrigados a prestar
alimentos ao menor os pais e adoptantes e, na falta deles, sucessivamente: a) os outros
ascendentes; b) os irmãos maiores; c) os tios; d) o padrasto ou madrasta no caso de morte do
cônjuge. São obrigados à prestação de alimentos nos restantes casos, sucessivamente: a) o
cônjuge ou ex-cônjuge; b) os descendentes, e entre eles os de grau mais próximo e os
adoptados; c) os ascendentes, e entre eles os de grau mais próximo e os adoptantes; d) os
irmãos.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Para além daqueles, um importante efeito do parentesco é atribuído às relações de


filiação – o poder paternal, que é o conjunto de poderes e deveres que a própria lei atribui ou
impõe aos pais para regerem as pessoas e os bens dos filhos de menor idade.

1.3. O Casamento.

Por casamento entende-se a união voluntária entre um homem e uma mulher,


formalizada nos com o objectivo de estabelecer uma plena comunhão de vida. (ver CF,
art.20º)

1.4. A União de Facto.

A união de facto consiste no estabelecimento voluntário de vida em comum entre um


homem e uma mulher. A união de facto subentende uma convivência idêntica àquela que se
estabelece entre os cônjuges, no sentido em que haja uma plena comunhão de vida com certa
duração.

1.5. A Afinidade.

a) Definição

A afinidade é o vínculo que une um dos cônjuges aos parentes do outro cônjuge. A
fonte da afinidade é o casamento.

b) Os graus de afinidade

Segundo o CF, art. 14º, os parentes de um dos cônjuges são afins do outro cônjuge.

Sendo que as relações de afinidade são vastas, é preciso defini-las e ordená-las,


procedendo à contagem: A afinidade determina-se pelas mesmas linhas e graus que definem o
parentesco por laços de sangue. Isto implica que um cônjuge é afim em linha recta dos
parentes em linha recta do seu cônjuge, afim em linha colateral dos parentes do seu cônjuge na
linha colateral, afim no 2º grau dos parentes em 2º grau do seu cônjuge, afim no 3º grau dos
parentes em 3º grau do seu cônjuge, e assim por diante. Exemplo: Pacheco e Patrícia casam: A
Patrícia passa a ser, por afinidade, cunhada da irmã do Pacheco, sobrinha e neta dos tios e
avós do Pacheco respectivamente.

Um aspecto muito importante a ter-se em conta aqui é que segundo o art. 15 do CF, “a
afinidade não cessa pela dissolução do casamento”. Contudo existem duas possibilidades que
a meu ver, caros amigos do Colégio Estoril, irão desencadear numa confusão que desde já
precisamos de nos prevenir. Quando o casamento se dissolve pela morte de uns dos cônjuges,
as relações entre o cônjuge vivo e os familiares do finado não cessam. Ora, no caso de
dissolução por divórcio, as relações de afinidade deixam de ter quaisquer relevâncias quer
socialmente quer em termos jurídicos.

c) Efeitos da Afinidade

Os afins não têm direito sucessório. Como vimos atrás, a própria lei impõe que “são
obrigados a prestar alimentos ao menor o padrasto ou madrasta em caso de morte do cônjuge”.
(art. 249 do CF). Exemplo: Vicente, de 9 anos de idade, é órfão de mãe e vive sob custódia do

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

pai e da madrasta. Caso o pai morra, Vicente continuará a cargo da madrasta, pois cabe a esta
legalmente a obrigação de prestar alimentos ao Vicente.
__________________________________________________________________________________
Bibliografia – KENDALL, Maria & TORRES, Afonso, Introdução Ao Direito, 2008.
A.A.V.V. Enciclopédia Microsoft Encarta.

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 10
Tipo de Aula:
UNIDADE # 3 – O Direito da Família
Tema 2: O Casamento.

Sumário: 2.1. A Promessa de Casamento nos Direitos Positivo e Costumeiro e sua Relevância
Jurídica.
2.2. Pressupostos da Existência de Casamento.
2.3. Validade do casamento

Objectivo Geral: Conhecer os pressupostos básicos sobre o Direito da Família.


Objectivos Específicos: Saber quais são os limites da proposta ou promessa de casamento.
Conhecer os pressupostos da existência do casamento e a validade deste.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

2.1. A Promessa de Casamento nos Direitos Positivo e Costumeiro e sua


Relevância Jurídica.

A promessa do casamento consagra-se no art. 22º do CF. Seja ou não acompanhada da


entrega de bens ou valores ao outro nubente ou à sua família, a promessa de casamento não
produz quaisquer efeitos jurídicos e não dá direito a exigir a celebração do casamento.
No caso de se não cumprir com a promessa de casamento, o nubente não responde pela
totalidade das perdas e danos causados, responde apenas por certas despesas. A lei pretende
que o consentimento dos nubentes seja livre e, assim, se mantenha até ao momento da
celebração do casamento, pelo que o nubente que não cumpra a promessa apenas é
responsável por pagar determinadas perdas. É deveras esta obrigação de indemnizar através de
determinadas despesas e obrigações que constitui o efeito mais relevante da promessa de
casamento.

2.2. Pressupostos da Existência de Casamento.

Para que haja um casamento é necessário que um dos nubentes manifeste, de forma
expressa, a vontade de contrair o casamento com o outro nubente. São pressupostos da
existência de casamento os seguintes:
1. A capacidade das partes;
2. O consentimento dos nubentes.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

2.3. Validade do casamento


A validade do casamento pressupõe elementos de fundo que são: a capacidade e o
mútuo consentimento das partes. Fala-se ainda em elementos de forma.
a) Capacidade matrimonial (idade núbil e impedimentos matrimoniais)
Em regra geral, só podem contrair o matrimónio os maiores de 18 anos. Contudo,
excepcionalmente, é permitido casar o homem que tenha completado 16 anos e a mulher que
tenha completado 15, quando, ponderadas as circunstâncias inerentes ao caso e tendo em
conta o próprio interesse do menor seja melhor solução o casamento. Um exemplo comum
deste facto é quando existe no meio disso uma gravidez. Quem deve autorizar, neste caso, são
os pais ou outro tutor do menor. Mas esta autorização pode ser suprida pelo tribunal, ouvido o
parecer do Conselho da Família, quando no caso de negação tal negação se mostrar
injustificada.
Têm capacidade matrimonial todos aqueles em quem não se verifique algum dos
impedimentos matrimoniais previstos na lei. (cf. art. 23º do CF).
b) Impedimentos matrimoniais
São as circunstâncias que coíbem a celebração do casamento. Os impedimentos
matrimoniais geram incapacidade matrimonial. Os impedimentos matrimoniais classificam-se
em dirimentes, absolutos ou relativos, e impedientes.
Os impedimentos matrimoniais dirimentes são impedimentos que suprimem,
extinguem o acto ou tornam anulável o casamento.
Os impedimentos matrimoniais absolutos são os factos que, gerando verdadeiras
incapacidades, impedem a pessoa de casar. Estes impedimentos constituem autênticas
incapacidades de gozo, porque a pessoa relativamente à qual se verifica um impedimento
absoluto não pode casar com ninguém. Exemplos: a idade nupcial, a demência, a interdição ou
inabilitação por anomalia psíquica, o casamento ou união de facto legalmente reconhecida
enquanto não forem dissolvidos anteriormente. Em todos estes casos o casamento é anulável.
Os impedimentos matrimoniais relativos são mais propriamente ilegitimidades que
impedem a celebração do casamento com determinada pessoa ou categorias de pessoas.
Exemplo: o parentesco e a afinidade na linha recta; o parentesco no segundo grau da linha
colateral; a pronúncia do nubente como autor ou cúmplice de homicídio doloso contra o
cônjuge do outro, enquanto não houver absolvição. (cf. art. 65º do CF).
De acordo com o art. 67º do CF têm legitimidade para intentar a acção de anulação do
casamento as seguintes pessoas: qualquer dos cônjuges; o Ministério Público; outras pessoas
cujo interesse na anulação seja juridicamente protegido.
Quanto ao prazo estipulado pela lei para que se proceda à anulação do casamento,
pode ser a qualquer tempo, nos casos de parentesco por laços de sangue ou por adopção em
linha recta ou no segundo grau da linha colateral. No caso de condenação por homicídio
contra o cônjuge de um dos nubentes, o prazo é até dois anos depois da celebração do
casamento.
Os impedimentos matrimoniais impedientes são aqueles que impedem a celebração
do casamento, mas não determinam a sua anulabilidade. Caso o casamento venha a ser

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

celebrado, os cônjuges sujeitam-se a sanções de carácter económico. Não há aqui


incapacidade, mas antes proibições legais de contrair o casamento, sob pena de sanções.
Exemplos: a falta de autorização dos pais ou tutores para o caso de menores (abaixo de 18
anos); o parentesco no 3º grau da linha colateral (como o casamento entre tios e sobrinhos).
O prazo inter nupcial, uma vez autorizada a celebração do casamento, deve ser
celebrado dentro de 180 dias, conforme o art. 31 do CF.
c) O mútuo consentimento
O casamento pressupõe um contrato verbal, embora solene, em que o consentimento
dos nubentes é exprimido por palavras que eles pronunciam no momento da cerimónia. Este
consentimento deve ser puro e simples, não devendo ser aposta ao casamento qualquer
condição ou termo. Por exemplo: o Pacheco diz que só casa com a Patrícia se o pai desta lhe
oferecer uma casa; caso contrário não casa.
O casamento exige o consentimento de ambos os nubentes. Não havendo vontade de
casar da parte de um dos nubentes ou mesmo de ambos e sem que esta vontade tenha sido
manifestada nos termos da lei, não pode haver um casamento válido. O consentimento dos
nubentes é condição sine qua no para validade do casamento.
Existe uma condição muito em voga há já bastante tempo que é o casamento
simulado. O casamento é simulado quando, por acordo entre duas pessoas, e no intento de
enganar a terceiros, existe divergência entre a vontade real e a vontade declarada. Este tipo de
casamento, de acordo com o art. 65º do CF, alínea b, é anulável.
Segundo o art. 70º, nº 1, alínea b, a acção de anulação do casamento pode e ser
instaurada até dois anos após a celebração do casamento.

__________________________________________________________________________________

Bibliografia – KENDALL, Maria & TORRES, Afonso, Introdução Ao Direito, 2008.


A.A.V.V. Enciclopédia Microsoft Encarta.

___________________________________________________________________________

Temas para debate:

1- O Casamento na Cultura Bantu.

2- O Incesto.

3- O Casamento Simulado Entre Angolanos e Europeus.

4- Problemas Bíblicos Referentes ao Casamento.

5- O Levirato.

6- A Poligamia no Mundo.

7- Histórias de Casamentos forçados.

8- A Endogamia vantagens e desvantegens.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

9- A Exogamia vantagens e desvantagens.

10- A poliandria em Angola.


Docente: Xavier L. Jorge.
Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 11
Tipo de Aula: Nova
UNIDADE # 3 – O Direito da Família
Tema 3: A Forma do Acto de Casamento.
Sumário: 3.1. Processo Preliminar (Declaração inicial, Oposição ao Casamento, Despacho Final).
3.2. Anulabilidade do Casamento.

Objectivo Geral: Conhecer os pressupostos básicos sobre o Direito da Família.


Objectivos Específicos: Saber qual é a forma do casamento do ponto de vista jurídico.
Conhecer o processo preliminar para a celebração do casamento.
______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

A Forma do casamento (Considerações gerais)


O casamento é um acto público e solene, e, no caso de Angola, é celebrado em língua
portuguesa ou em qualquer uma das línguas territoriais.
No acto do casamento, os nubentes devem ser esclarecidos sobre os direitos e deveres
recíprocos dos cônjuges e dos deveres para com os filhos.
O casamento deve ser celebrado em salas condignas dos órgãos do Registo Civil, dos
comissariados ou de instituições de carácter cultural ou recreativo reconhecidas legalmente.
Os nubentes podem pedir a celebração do casamento em residências, pelo que é necessário
apenas uma autorização do órgão do Registo Civil. Nos meios rurais podem ser adoptadas
formas de celebração que se adeqúem aos condicionalismos locais.
No acto de celebração do casamento é essencial a intervenção das seguintes pessoas:
1. Os nubentes, podendo um seles ser representado por procurador;
2. O funcionário do registo civil;
3. Pelo menos duas testemunhas.
No acto do casamento pode um dos nubentes declarar que adopta o apelido do outro,
ou podem ambos optar pela adopção de um apelido comum, a partir do apelido dos dois.
Porém, este direito ao apelido cessa no caso de dissolução do casamento, se ambos estiverem
em vida. Se a dissolução resultar da morte de um dos cônjuges pode o sobrevivo continuar a
gozar deste direito enquanto não contrair novo matrimónio.
O casamento é anulado se no acto da celebração faltarem as duas testemunhas que são
exigidas por lei. O Ministério Público pode intentar a acção de anulação do casamento. O
prazo estabelecido por lei para esta acção é de dois depois da celebração do casamento. Mas a
anulação pode ser sanada se a falta das duas testemunhas for devida a circunstâncias
atendíveis, e, como tal, reconhecidas pelo próprio Ministério Público.

3.1. Processo Preliminar (Declaração inicial, Oposição ao Casamento,


Despacho Final).
a) O Processo Preliminar

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

As formalidades a cumprir antes da celebração do casamento são múltiplas e constituem um


seguimento de actos, a que se chama processo de casamento ou processo preliminar de casamento. O
primeiro passo é a declaração inicial ou declaração para casamento. (cf. art. 28º do CF). Esta
declaração é feita perante o funcionário do Registo Civil, pessoalmente ou através de procurador e
requer a instauração do referido processo. O segundo passo é a afixação de edital à porta da repartição
organizadora do processo, onde pelo menos um dos nubentes tenha residência. A afixação de edital
tem como objectivo primordial tornar pública a vontade de duas pessoas casarem, de forma que quem
tiver conhecimento de algum impedimento o possa declarar o mais depressa possível. Caso algum dos
nubentes residir fora da área da repartição organizadora do processo, o conservador deve remeter uma
cópia do mesmo edital para a repartição da referida residência para ser afixada. Acabado o prazo dos
editais, o funcionário que os fixou terá de lavrar no dia seguinte um certificado onde conste que foram
cumpridas as formalidades legais e de que não foi declarado qualquer impedimento, juntando o
certificado ao processo preliminar ou remetendo-o à repartição competente. Acabado o prazo das
publicações e efectuadas todas as diligências obrigatórias deve o conservador lavrar despacho final,
autorizando os nubentes a celebrar o casamento ou mandando arquivar o processo por não se terem
reunido os necessários requisitos legais. O processo preliminar de publicações termina com o despacho
final. Contudo, pode dar-se o caso de surgirem os chamados incidentes do processo, entre os quais os
seguintes: os impedimentos dirimentes; o caso de os nubentes quiserem celebrar o casamento em
conservatória diferente daquela onde decorreu o processo preliminar; denuncia de impedimentos.
A cerimónia de casamento deve ser pública. O funcionário lê a declaração para o casamento e
o despacho final ou o certificado e pergunta às pessoas presentes se conhecem algum impedimento à
realização do casamento. Não havendo nenhum impedimento, o funcionário pergunta aos nubentes se
aceitam um ao outro para seu cônjuge. À celebração do casamento segue-se o registo do casamento.
O acto de casamento está obrigatoriamente sujeito a registo civil (cf. art. 38º do CF). O sentido desta
obrigatoriedade deve-se ao facto de o registo ser a única prova legalmente admitida dos mencionados
actos ou factos que não poderão ser invocados enquanto não for lavrado o respectivo registo do
casamento, quer pelas pessoas que casam, quer pelos herdeiros, quer por terceiros. O registo faz prova
de todos os factos nele contidos.
O registo tem efeitos retroactivos, isto é, não se produzem só desde a data do registo, mas
também desde a celebração do acto do casamento.

b) Casamento Urgente

Um dado que vocês devem conhecer, prezados estudantes, é o que diz respeito aos
casamentos urgentes. Há casamento urgente quando haja receio de morte próxima de algum
dos nubentes, ainda que derivada de circunstâncias externas; ou quando haja iminência de
parto. Para a celebração deste tipo de casamento não é necessária a constituição do processo
preliminar nem a presença do funcionário do Registo Civil. As formalidades preliminares são
as seguintes:
1. Uma proclamação oral e escrita que é feita à porta da casa onde se encontram os
nubentes, pelo funcionário do Registo Civil ou por qualquer pessoa presente;
2. Não é necessária a publicação prévia dos editais nem intervenção do procurador;
3. Uma declaração expressa do consentimento de cada um dos nubentes, perante
quatro testemunhas.
4. Redacção de uma acta do casamento a seguir a celebração do mesmo, que deve ser
assinada por todos intervenientes que saibam e possam escrever. Com base nesta acta o
procurador deve lavrar um assento provisório do casamento, o qual é lavrado por transcrição e
assinado por duas testemunhas presentes no acto da celebração.
5. Se as formalidades preliminares já estiverem concluídas, o conservador enunciará o
despacho final, que deverá declarar se homologa (confirma ou aprova) o casamento ou não.
c) Validade do casamento urgente.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Segundo consta, o casamento urgente só é válido depois de se provar que os nubentes


se encontram no pleno gozo das suas faculdades mentais e após homologação pelo funcionário
do Registo Civil.

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 12
Tipo de Aula:
UNIDADE # 3 – O Direito da Família
Tema 4: Os Efeitos Pessoais do Casamento.

Sumário: 4.1. Princípios Reguladores das Relações Conjugais.


4.2. Poderes e Deveres Matrimoniais.

Objectivo Geral: Conhecer os pressupostos básicos sobre o Direito da Família.

Objectivos Específicos: Saber quais são os princípios que regulam as relações conjugais.
Conhecer os poderes e os deveres que as pessoas adquirem por meio do casamento.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

4.1. Princípios Reguladores das Relações Conjugais.


O casamento não é apenas um acto, mas implica também um estado. O casamento
como estado pressupõe os efeitos que dele decorrem. Uma pessoa casa e automaticamente
torna-se “noutra pessoa”, isto é, a sua condição bem como a dos seus bens passa a ser outra.
De ajuste com o art. 29º da Constituição da República de Angola, o Código da Família,
no seu art. 21º, enuncia os princípios da igualdade de direitos e deveres dos cônjuges e da
direcção conjunta da família. São os cônjuges que de comum acordo devem orientar a vida
familiar, tendo sempre em conta o bem da família e os interesses de um e de outro.
No caso de haver desacordo entre os cônjuges, não há na lei qualquer critério para
resolver o conflito, não podem os cônjuges solicitar uma acção judicial a menos que um deles
viole os seus deveres conjugais. Estes conflitos têm de ser resolvidos dentro da família. Os
cônjuges têm de acordar entre si sobre a orientação da vida familiar. Por exemplo, pode um
cônjuge, sem ter de ouvir o outro, vestir-se como quiser, escolher o partido político que quiser
ou frequentar a religião que quiser.

4.2. Poderes e Deveres Matrimoniais.


O casamento importa aos cônjuges um conjunto de deveres que devem ser observados
por ambos. Os mais característicos são os deveres de respeito, fidelidade, coabitação,
cooperação e de assistência. (cf. art. 43º do CF).
O dever de fidelidade: Os cônjuges têm o dever de guardar mutuamente fidelidade
conjugal. A violação deste dever denomina-se adultério. Mas, para existir adultério tem de
haver relações íntimas consumadas entre um dos cônjuges e uma terceira pessoa.
O dever de coabitação: Implica comunhão de leito, mesa e habitação. O cumprimento
deste dever pressupõe uma residência comum. Segundo o art. 44º do CF, os cônjuges devem

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

viver juntos e escolher de comum acordo a residência da família, devendo ponderar as


exigências da sua vida profissional e os interesses dos próprios filhos.
O dever de assistência: Este dever importa aos cônjuges a obrigação de participar
solidariamente em todos os actos da vida familiar e de contribuir para os encargos da vida
familiar de acordo as possibilidades de cada um e a de compartilhar nos trabalhos domésticos.
O dever de cooperação: importa analogamente ao anterior a participação solidária em
todos os actos da vida familiar e a comparticipação nos trabalhos domésticos. Trata-se, no
fundo, de um dever jurídico imposto pela lei aos cônjuges. O desinteresse por qualquer um
dos cônjuges relativamente a este dever constitui um ilícito conjugal, podendo ser pedido o
divórcio ou a separação judicial de pessoas e bens.
O dever de respeito: Cada cônjuge tem o especial dever de respeitar os direitos
individuais do outro, os deveres conjugais que são atribuídos por lei e os seus interesses
legítimos.
__________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 13
Tipo de Aula:
UNIDADE # 3 – O Direito da Família
Tema 5: Os Efeitos Patrimoniais do Casamento.

Sumário: 5.1. Regime Económico no Código da Família


5.2. Dívidas dos Cônjuges

Objectivo Geral: Conhecer os pressupostos básicos sobre o Direito da Família.

Objectivos Específicos: Saber quais são os efeitos patrimoniais do casamento. Distinguir os


regimes de comunhão de adquiridos e separação de bens. Conhecer os tipos de dívidas que o
estado de casamento pode assistir.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

5.1. Regime Económico no Código da Família


Como consta, os efeitos patrimoniais do casamento dependem do regime de bens
acordado. Contudo, há determinados efeitos patrimoniais que são os mesmos, qualquer que
seja o regime de bens do casamento. Primeiramente deve-se estabelecer uma distinção entre a
administração de bens próprios e a administração dos bens comuns. Nos bens próprios, cada
cônjuge administra os seus próprios bens. Nas propriedades comuns, já a administração dos
bens é conjunta.
Sendo assim, havemos de reconhecer que os nubentes podem contrair casamento, quer
segundo o regime de comunhão de adquiridos quer segundo o regime de separação de bens.
Porém, a opção por este último regime deve ser feita na declaração inicial e confirmada pelos
próprios nubentes no acto da celebração do casamento.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

a) Regime de comunhão de adquiridos


Este regime implica duas situações em simultâneo:
1- A comunhão de certos bens – a maior parte dos bens adquiridos depois do
casamento, incluindo o produto do trabalho dos cônjuges.
2- A separação de outros bens, que fica como sendo próprios dos cônjuges (bens que já
cada um tinha antes da celebração do casamento, ou ainda bens que lhes surgiram depois do
casamento por doação, ou outros bens considerados próprios do casal).

São bens comuns dos cônjuges no regime de comunhão de adquiridos os seguintes:


1. Os bens e direitos adquiridos a título oneroso, durante a constância do casamento;
2. Os salários, as pensões ou quaisquer outros frutos, recebidos por qualquer um dos
cônjuges durante o casamento.

São bens próprios de cada um dos cônjuges no regime de comunhão de adquiridos os


seguintes:
1. Os bens móveis e imóveis e os direitos que cada um dos cônjuges tiver antes do
casamento;
2. Os bens e direitos adquiridos por cada um dos cônjuges durante o casamento a título
gratuito;
3. Os direitos de autor, os prémios e as recompensas recebidos, que resultam da
actividade pessoal de cada um dos cônjuges;
4. Os bens adquiridos em virtude de direito pessoal de cada um dos cônjuges;
5. Os bens de uso pessoal e objectos de trabalho exclusivos de cada um dos cônjuges.
b) Regime de separação de bens
É o regime que implica a autonomia dos bens que cada um dos cônjuges leva para o
casamento ou adquire durante o casamento. Neste regime, cada cônjuge têm liberdade de
disposição e livre administração dos bens de que é exclusivo dono e proprietário. Não há bens
comuns, mas sim bens em compropriedade.
O QUE É A COMPROPRIEDADE?
É uma modalidade do direito de propriedade em que há uma pluralidade de titulares do
direito sobre a mesma coisa. Por exemplo, em caso de dúvida sobre a posse de um
computador ou de uma viatura, devem estes ser considerados como pertencentes a ambos os
cônjuges.

A administração dos bens obedece os seguintes procedimentos: cada um dos cônjuges


tem a) a administração dos seus próprios bens; b) a administração dos bens móveis, próprios
do outro cônjuge ou comuns, por ele exclusivamente utilizados como instrumento de trabalho
c) os bens próprios do outro cônjuge se este se encontrar ausente, ou por qualquer motivo
impedido de os administrar. Nestes dois últimos casos (b e c), o cônjuge que administra os
bens comuns ou próprios do outro não é obrigado a prestar contas da sua administração. Pode,
contudo, ser responsabilizado pelos actos que praticar, intencionalmente ou com grave
negligência, em prejuízo do outro cônjuge ou do próprio casal.
b) Alienação ou oneração de bens.
Cada um dos cônjuges tem legitimidade para alienar ou onerar, por actos entre vivos,
os bens próprios ou comuns de que tenha a administração, excepto os bens móveis próprios do
outro cônjuge ou comuns por ele utilizados como instrumento de trabalho e os bens próprios

41
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

do outro cônjuge quando este se encontra ausente ou, por qualquer motivo, impedido de os
administrar. Assim, só podem ser alienados ou onerados, com o acordo de ambos os cônjuges,
tanto no regime de comunhão de adquiridos como no regime de separação de bens, os
seguintes bens: 1. Bens próprios utilizados exclusivamente pelo outro cônjuge como
instrumento de trabalho; 2. Os bens móveis próprios ou comuns utilizados em conjunto pelos
cônjuges na vida do lar ou como instrumento comum de trabalho.
RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA
No caso de residência da família, qualquer que seja o regime de bens, carece do
consentimento de ambos os cônjuges, nomeadamente, o seguinte:
1. A alteração por mútuo consentimento e a resolução ou denúncia do contrato do
arrendamento pelo arrendatário;
2. A cessão da posição de arrendatário;
3. O subarrendamento ou o empréstimo total ou parcial.

5.2. Dívidas dos Cônjuges


As dívidas dos cônjuges podem ser:
1. Dívidas comuns (cf. art. 61º do CF): são aquelas dívidas que responsabilizam
ambos os cônjuges. Neste caso, os cônjuges são solidariamente responsáveis pelas
dívidas contraídas por ambos ou por um deles, para acorrer a encargos da vida
familiar, ou em proveito comum do casal. Os cônjuges devem partilhar das dívidas
contraídas por ambos; ou por um deles. Mas neste último caso só por meio de um
acordo.
2. Dívidas exclusivas (cf. art. 62º do CF): são as dívidas que remetem à exclusiva
responsabilidade de cada um dos cônjuges. As dívidas contraídas por cada um dos
cônjuges sem o acordo do outro. As dívidas provenientes de condenação por
crimes, as indemnizações, as multas devidas a factos imputáveis a cada um dos
cônjuges.
__________________________________________________________________________________

Bibliografia
MARQUES, António Vicente, Código Civil Angolano. 2006
KENDALL, Maria & TORRES, Afonso, Introdução Ao Direito, 2008.
___________________________________________________________________________

Temas para debate:

1. O Casamento motivado por interesse material.

2. O casamento endogámico como forma de protecção dos bens


materiais de importância económica para a família.

3. A Solidariedade no casamento.

4. Casamento e responsabilidade.

5. Consequências da imaturidade no casamento.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 14
Tipo de Aula: Nova
UNIDADE # 3 – O Direito da Família
Tema 6: A Dissolução do Casamento.

Sumário: 6.1. Causas da Dissolução


6.2. Modalidade de Divórcio
6.3. Fundamentos Para Acção no Divórcio Litigioso

Objectivo Geral: Conhecer os pressupostos básicos sobre o Direito da Família.

Objectivos Específicos: Identificar as causas que conduzem à dissolição do casamento. Saber


quais são as modalidades de divórcio frequentes. Conhecer os fundamentos relativos à acção
face ao divórcio litigioso.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

6.1. Causas da Dissolução.


Caros estudantes, vocês devem, pois bem, saber que todo o casamento quer seja
celebrado a nível religioso quer seja a nível do registo civil, está concebido por formas a que
se perpetue. Porém, esta ideia não exclui a possibilidade da dissolução do casamento. Podem,
na prática, ter lugar determinadas circunstâncias, a que chamamos causas da dissolução do
casamento, e que de facto podem conduzir ao termo do casamento.

As causas da dissolução do casamento são as seguintes:


1. A morte de um dos cônjuges;
2. A declaração judicial da presunção de morte de um dos cônjuges;
3. O divórcio.
a) A morte de um dos cônjuges
Com a morte dissolve-se de imediato o casamento e extingue-se a relação matrimonial,
o que implica que cessam todos os efeitos do casamento, tanto os pessoais como os
patrimoniais. Porém, tal não é uma regra absoluta. A morte de um dos cônjuges atribui ao
cônjuge sobrevivo determinados direitos que são, até então, efeitos do casamento. Por
exemplo: o cônjuge sobrevivo continua a poder usar os apelidos do outro, a relação de
afinidade mantém-se depois da dissolução do casamento.
Quanto aos efeitos da dissolução do casamento por morte, importa salientar que o
cônjuge sobrevivo mantém os direitos e os benefícios que haja recebido durante o casamento e
realiza-se a partilha do património comum entre o cônjuge sobrevivo e os herdeiros do
cônjuge falecido.
Quanto aos efeitos da presunção de morte, importa salientar que a declaração judicial
de presunção de morte de um dos cônjuges dissolve o casamento, a partir do momento em que
a declaração se torne definitiva. Se o cônjuge ausente eventualmente aparecer e nenhum deles

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

tiver contraído novo casamento, podem ambos, caso desejarem, requerer judicialmente a
revalidação do casamento, como se não tivesse sido dissolvido. Porém, se algum dos cônjuges
tiver contraído novo casamento, será este que se considerará válido relativamente ao anterior.

6.2. Modalidade de Divórcio.


O divórcio consiste numa inteira ruptura da relação conjugal, da qual os cônjuges
ficam desvinculados. Segundo o art. 78º do CF, “os cônjuges podem pedir o divórcio sempre
que se deteriorem, de forma completa e irremediável, os princípios em que se baseava a sua
união e o seu casamento tenha perdido o sentido para os cônjuges, para os filhos e para a
sociedade.” As modalidades do divórcio são:
1. O divórcio por mútuo consentimento – nesta modalidade de divórcio têm de se
verificar os seguintes pressupostos legais:
a) O divórcio tem de ser requerido pelos cônjuges;
b) Os cônjuges têm de estar casados há mais de 3 anos;
c) Os cônjuges já tenham completado 21 anos de idade;
d) Os cônjuges devem acordar sobre a prestação de alimentos ao cônjuge que deles
careça, ao exercício do poder paternal relativamente aos filhos menores e o destino da casa da
morada da família, de modos que os interesses dos próprios cônjuges e dos filhos fiquem
acautelados.
O divórcio por mútuo consentimento pode ser decretado por via judicial ou através do
Registo Civil da área da residência de qualquer dos cônjuges.
Como se constitui o processo de divórcio?
O requerimento inicial deve ser assinado por ambos os cônjuges. Este requerimento
deve conter os seguintes documentos:
a) certidão narrativa completa do registo de casamento;
b) certidão da idade dos cônjuges;
c) a relação especificada dos bens próprios e dos bens comuns;
d) a certidão do regime de bens adoptado no casamento;
e) a junção dos acordos complementares, se os houver, que são os acordos dos
cônjuges sobre o exercício do poder paternal relativamente aos filhos menores, a prestação de
alimento ao cônjuge que deles careça, o destino da casa de morada da família.
Em face do requerimento e reconhecida a viabilidade do pedido pela verificação dos
pressupostos legais, será marcado o dia para a conferência dos cônjuges. Na primeira
conferência, a presença dos cônjuges é fundamental, mas se algum deles estiver
impossibilitado de comparecer, pode ser constituído mandatário judicial. A falta da
comparência de qualquer dos cônjuges, que não for justificada no prazo de 10 dias, equivale à
desistência da pretensão e consequente arquivamento dos autos.
O divórcio definitivo, que se dá após 90 dias em que os cônjuges se encontrarão em
reflexão sobre o intento de se divorciarem, produz a dissolução do casamento e a decisão a
que decretou será comunicada oficiosamente aos órgãos do Registo Civil que tenham
celebrado o casamento e o registo de nascimento dos cônjuges.

2. O divórcio litigioso – Para haver divórcio litigioso terão de se verificar os seguintes


pressupostos:
a) o divórcio pode ser pedido por apenas um dos cônjuges;
b) terá de haver uma causa grave ou duradoura;
c) comprometimento da comunhão de vida dos cônjuges;
d) impossibilidade na realização dos fins sociais do casamento;
e) separação dos cônjuges de facto por tempo superior a três anos;
f) abandono do país por parte do outro cônjuge com o propósito de não regressar;

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

g) ausência, sem que do ausente haja notícias, por tempo não inferior a três anos;
h) alteração das faculdades mentais do outro cônjuge, clinicamente verificada, que
dura há mais de três anos e que pela sua gravidade comprometa a vida em comum do casal.

6.3. Fundamentos Para Acção no Divórcio Litigioso (Adultério, Vida e


Costume Desonroso, Abandono do Lar, etc.).
Os fundamentos para a acção do divórcio litigioso são os seguintes:
a) Adultério de um dos cônjuges (Obs.: existe adultério, quando há relações sexuais
entre uma pessoa casada e outra que não seja o seu cônjuge. O adultério do outro
cônjuge é um fundamento de acção de divórcio litigioso, por constituir violação do
dever de fidelidade. No entanto, compete ao tribunal averiguar a gravidade do
facto);
b) Vida e costumes desonroso de um dos cônjuges;
c) Abandono completo do lar conjugal por parte de um cônjuge por tempo superior a
três anos;
d) Ofensas à integridade física e moral de um cônjuge;
e) A ausência de um cônjuge;
f) A demência de um cônjuge.

__________________________________________________________________________________

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 15
Tipo de Aula:
UNIDADE # 3 – O Direito da Família
Tema 7: A União de Facto.

Sumário: 7.1. Pressupostos legais sobre a União de Facto

Objectivo Geral: Conhecer os pressupostos básicos sobre o Direito da Família.

Objectivos Específicos: Distinguir os pressupostos legais relativos a união de facto.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

7.1. Pressupostos legais sobre a União de Facto


A união de facto só pode ser reconhecida depois de se verificarem os seguintes
pressupostos:
a) A relação deve ter uma duração de três anos de coabitação consecutiva;
b) Os interessados têm de ter capacidade para a união de facto, não podendo verificar-
se nenhum dos impedimentos matrimoniais previstos no Código da Família;
c) Devem os interessados dar o seu consentimento.
O reconhecimento da união de facto pode ser pedido pelos interessados de mútuo
acordo, por um dos interessados, em caso de morte do outro ou de ruptura. (cf. art. 122º e
seguintes do CF)

45
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

O reconhecimento da união de facto a pedido de ambos os interessados é da


competência do órgão do Registo Civil da área de residência e obedece às seguintes
formalidades:
a) o pedido é acompanhado dos documentos que comprovem os pressupostos legais;

b) a prova de duração da união de facto é feita por testemunhas ou por documento


emitido pelo órgão da administração local;

c) os interessados devem indicar o regime económico (comunhão de adquiridos ou


separação de bens).

Uma vez verificados os pressupostos legais, cabe ao funcionário do Registo Civil


reconhecer, por despacho, a união de facto.

Efeitos da união de facto

O reconhecimento da união de facto produz os efeitos da celebração do casamento,


com efeitos retroactivos à data do início da união de facto.

O reconhecimento da união de facto está sujeito a registo, que deve ser feito em livro
próprio. E também está sujeito ao regime de anulação nos mesmos termos da anulação do
casamento.

Quem tem competência para reconhecer a união de facto em caso de morte ou ruptura
é o tribunal.

Têm legitimidade para intentar e prosseguir a acção de reconhecimento:

a) o interessado ou o representante legal em caso de incapacidade do interessado;

b) os herdeiros do interessado em caso de morte deste.

Quanto ao prazo de caducidade do reconhecimento da união, importa salientar que o


reconhecimento da união de facto caduca no prazo de dois anos depois de acabar a união de
facto.
A decisão do tribunal que reconheça a união de facto produz os mesmos efeitos da
dissolução do casamento por morte ou por divórcio.

__________________________________________________________________________________

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 16
Tipo de Aula:
UNIDADE # 3 – O Direito da Família
Tema 8: A Adopção.

Sumário: 8.1. Conteúdo Legal da Adopção.


8.2. Requisitos legais do Adoptante e do Adoptado.
8.3. Consentimento Para Adopção. Autorização para Adopção.
8.4. Tipos Legais de Adopção.
8.5. Efeitos da Adopção

Objectivo Geral: Conhecer os pressupostos básicos sobre o Direito da Família.

Objectivos Específicos: O estudante deve estar a altura de entender os mecanismos legais que,
de modo geral, devem ser respeitados quando se pretenda proceder à adopção.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

8.1. Conteúdo Legal da Adopção.

Por adopção entende-se o vínculo que se estabelece entre duas pessoas (adoptante ou
adoptantes de um lado e adoptado do outro), independentemente dos laços de sangue. É uma
relação legal de filiação.
Segundo o art. 197º do CF, a adopção visa a protecção social, moral e efectiva do
menor, constituindo, entre o adoptante e o adoptado, um vínculo de parentesco igual aquele
que une os filhos aos pais naturais.
O adoptante é aquele que adopta. O adoptado é aquele que é objecto de uma adopção.
Quanto ao conteúdo legal da filiação adoptiva, importa dizer que dela derivam para o
adoptado e para o adoptante os mesmos direitos e deveres que reciprocamente se estabelecem
entre os filhos e os pais. O parentesco derivado da filiação adoptiva é extensivo aos
descendentes do adoptado e aos parentes do adoptante.

8.2. Requisitos legais do Adoptante e do Adoptado.

O adoptante deve reunir cumulativamente os seguintes requisitos legais:


a) deve ter completado 25 anos e estar no pleno gozo dos seus direitos civis;
b) deve ter idoneidade moral e bom comportamento social nas relações familiares;
c) deve ter capacidade económica para sustento e educação do adoptado;
d) deve ter saúde mental e física;
e) o adoptante deve ter mais de 16 anos em relação ao adoptado.

São requisitos legais do adoptado os seguintes:


a) deve ter menos de 18 anos de idade;
b) ser filho de pais desconhecidos ou falecidos;

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

c) estar na situação de abandono, mesmo que esteja ou não entregue a estabelecimento


de assistência pública.
Considera-se o menor em situação de abandono, quando a família ou os parentes do
menor se tenham desinteressado, notoriamente, do exercício dos seus deveres por um período
superior a um ano.

8.3. Consentimento Para Adopção. Autorização para Adopção.

1. A adopção por consentimento dos pais.


Podem ser adoptados os menores cujos pais naturais ou biológicos consintam na
adopção.
2. O consentimento do adoptado.
O menor que tenha completado 10 anos de idade não pode ser adoptado sem o seu
consentimento.
3. A adopção por estrangeiro.
O menor de nacionalidade angolana não pode ser adoptado por um cidadão estrangeiro
sem a respectiva autorização da Assembleia Nacional.

8.4. Tipos Legais de Adopção.

Existem dois tipos legais de adopção: a adopção dupla e a adopção unipessoal.


A adopção dupla faz extinguir os laços de parentesco entre o adoptado e seus parentes
naturais (só devendo ser atendidos os parentes naturais, na caso de haver algum impedimento
matrimonial). O adoptado deixará de usar os apelidos dos pais naturais, passando a usar
somente os apelidos dos adoptantes.
A adopção unipessoal é constituída apenas por uma pessoa não casada. Se o
adoptante for homem substitui o pai natural do adoptado e se o adoptante for mulher substitui
a mãe natural do adoptado. Cabe ao adoptante exercer o poder paternal em exclusivo em
relação ao adoptado. O adoptado usará os apelidos do adoptante e os do pai ou da mãe natural
com quem permaneça em relações de parentesco.
A adopção pode ser constituída segundo o art. 205º do CF:
a) por ambos os cônjuges, desde que não estejam separados de facto ou por homem e
mulher que vivem em união de facto em condições de ser reconhecida;
b) pelo cônjuge, pelo homem ou mulher que vivam em união de facto, relativamente
ao filho do outro;
c) individualmente, por pessoa não casada.

8.5. Efeitos da Adopção (Em Relação ao Adoptado, em Relação ao


Adoptante, em Relação à Família Natural).

Os efeitos da adopção em relação ao adoptante são os seguintes:


1. O parentesco derivado da adopção é extensível aos parentes do adoptante, ou seja, o
adoptado passa a ser neto dos pais do adoptante, passa a ser sobrinho do irmão do adoptante…
2. Incumbe ao adoptante a guarda, vigilância e prestação de cuidados com a saúde do
adoptado.
3. Os adoptantes ou adoptado devem contribuir, de acordo com as suas necessidades,
para a educação do filho, colaborando com a escola e as instituições de apoio à infância e à
juventude.
4. O adoptante deve exercer responsavelmente os seus direitos e deveres, e deve
contribuir com o seu bom exemplo para a formação do adoptado. A formação moral e a

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

preparação profissional dos filhos como cidadãos válidos e socialmente úteis constituem o fim
social mais relevante da autoridade paternal.
5. A autoridade paternal deve ser exercida por ambos os adoptantes (o pai e a mãe), ou
só pelo adoptante (pai ou mãe).
6. O adoptante tem o dever de diligência e a obrigação de prestar contas, ou seja,
devem os pais (adoptantes) exercer com diligência a administração dos bens do filho
(adoptado).

Os efeitos da adopção em relação ao adoptado são os seguintes:


1. O adoptado tem o dever de respeito, de cuidados e assistência aos pais (adoptantes).
2. No caso de adopção dupla (pai e mãe), o adoptado deixa de usar os apelidos dos pais
naturais e passa a usar só os apelidos dos adoptantes.
3. No caso de adopção unipessoal, o adoptado passa a usar os apelidos do adoptante, e
os do pai ou da mãe natural com quem permaneça em relação de parentesco.
4. O adoptado passa a ser filho dos adoptantes, o que resulta para o adoptado nos
mesmos direitos e deveres que reciprocamente se estabelecem entre os pais e os filhos.

Os efeitos da adopção em relação à família natural do adoptado são os seguintes:


1. Extinguem-se com a adopção os laços de parentesco entre o adoptado e seus
parentes naturais. O adoptado corta os laços familiares definitivamente, excepto no caso de
haver algum impedimento matrimonial, devendo ser atendidos, neste caso, os parentes
naturais. Ex.: Bentinho é adoptado pelo Sr. André. O Bentinho deixa de fazer parte da família
dos pais naturais. Mas se o Bentinho um dia vir a casar-se sem a idade núbil exigida por lei
(que é de 18 anos), neste caso os pais naturais poderão intervir.

O processo da adopção
A adopção constitui-se por sentença judicial proferida em processo de jurisdição
voluntária. Será realizado um inquérito judicial, no qual serão averiguadas as circunstâncias
de facto em que se fundamenta o pedido de adopção. O relatório do inquérito deverá
acompanhar o pedido de constituição do vínculo dirigido ao tribunal competente. O juiz
decreta a sentença, descrevendo detalhadamente os factos e as circunstâncias em que se
fundamenta e os motivos que determinam a constituição da adopção e decide em relação aos
apelidos do adoptado. Nos termos do art. 216º do Código da Família, a sentença que decrete a
adopção pode ser revista, se na declaração de vontade do adoptante ou dos adoptantes tiver
sido viciada por erro ou por coacção moral.

A tutela
A lei menciona a tutela nos artigos 220º e seguintes (cf. Código da Família). Por tutela
entende-se o poder outorgado por lei a pessoas juridicamente capazes para a defesa, guarda,
educação, desenvolvimento e protecção dos interesses pessoais e patrimoniais de menores, ou
protecção dos interesses patrimoniais dos interditos maiores.
Estão sujeitos a tutela:
a) Os menores cujos pais não podem exercer o poder paternal;
b) Os maiores interditos;
c) O menor cujos pais estejam ausentes, desconhecidos ou falecidos;
d) O menor, cujos pais não exerçam o poder paternal há mais de um ano;
e) O menor cuja adopção tenha sido revogada;
f) O menor a quem os pais estão inibidos (proibidos) de exercer o poder paternal;
g) O maior declarado interdito por decisão do tribunal.
A instauração da tutela do menor que se encontre nestas condições acima referidas é
de carácter obrigatório.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 17
Tipo de Aula:
UNIDADE # 4 – O Direito Fiscal
Tema 1: Noção de Direito Fiscal.

Sumário: 1.1. A Actividade Financeira do Estado.


1.2. O Direito Financeiro.
1.3. O Direito Tributário.
1.4. O Direito Fiscal.

Objectivo Geral: Estudar os elementos básicos relativos ao Direito Fiscal.

Objectivos Específicos: Conhecer como funciona a actividade financeira do Estado. Saber o


conceito de direito financeiro, de direito tributário e de direito fiscal.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

Noção de Direito Fiscal

O Direito Fiscal (DF) é o conjunto das normas que dizem respeito às receitas públicas,
especialmente as que provêm dos tributos, contribuições e impostos. É o DF que estabelece as
prestações patrimoniais que os cidadãos são obrigados a fazer ao Estado, que estabelece as
regras para o seu lançamento, para a sua cobrança, as situações que determinam as isenções de
impostos e, enfim, tudo o que respeita à relação entre o Estado, enquanto cobrador de
impostos, e o cidadão, enquanto pagador dos mesmos.

1.1. A Actividade Financeira do Estado.

As exigências de satisfação das necessidades económicas de carácter público e de


obtenção de meios indispensáveis à respectiva protecção impõem ao Estado e às outras
entidades públicas uma actividade económica com características próprias, que corresponde à
actividade financeira. A actividade financeira destina-se a assegurar a satisfação das
necessidades públicas, abrange, nomeadamente, a aquisição de meios económicos, o emprego
desses meios, a coordenação dos meios obtidos e das utilidades a realizar.

1.2. O Direito Financeiro.

O Direito Financeiro é o ramo de Direito Público que disciplina a aquisição dos


meios económicos determinados a satisfazer necessidades públicas, ou seja, é o conjunto de
normas jurídicas que disciplinam a actividade financeira do Estado e dos demais entes
públicos.
Existem três sectores no Direito Financeiro:

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

1. O Direito das Receitas: que é constituído por normas que disciplinam a aquisição
dos meios patrimoniais necessários à prossecução dos fins do Estado e de outros entes
públicos.
2. O Direito das Despesas: é constituído por disposições reguladoras da aplicação das
receitas.
3. O Direito da Administração ou Gestão Financeira: que regula a organização e
funcionamento da administração financeira, e cujo domínio é constituído pelo direito
orçamental.

1.3. O Direito Tributário.

O Direito Tributário abrange toda a categoria jurídica financeira dos tributos


(impostos, taxas, contribuições), ou seja, é o direito que define como são cobrados os tributos
para gerar receitas para o Estado.

1.4. O Direito Fiscal.

O Direito Fiscal é o conjunto das normas que dizem respeito às receitas públicas,
especialmente as que provêm dos tributos, contribuições e impostos.
É o DF que estabelece:
a) as prestações patrimoniais que os cidadãos são obrigados a fazer ao Estado;
b) a regra para o seu lançamento e cobrança;
c) as isenções, etc.
__________________________________________________________________________________

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 18
Tipo de Aula:
UNIDADE # 4 – O Direito Fiscal
Tema 2: Natureza do Direito Fiscal e Sua relação com Outros Ramos do Direito. Evolução do
Direito Fiscal.

Sumário: 2.1. Natureza do Direito Fiscal e Relação Deste Com Outros Ramos.
2.2. Período Anterior ao Renascimento (Séculos XIV – XV).
2.3. Período Posterior ao Renascimento (Séculos XIV – XVII).
2.4. Período da Revolução Industrial (Séculos XVII – XVIII).
2.5. Período Contemporâneo (Séculos XIX – XXI).

Objectivo Geral: Estudar os elementos básicos relativos ao Direito Fiscal.

Objectivos Específicos: Discutir sobre a natureza do direito fiscal e saber qual é a relação que
existe entre o DF e outros remos do Direito. Conhecer a história evolutiva do Direito Fiscal.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

2.1. Natureza do Direito Fiscal e Relação Deste Com Outros Ramos.

51
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

O DF insere-se no Direito Público, pois caracteriza-se por normas que disciplinam as


relações entre o Estado e os particulares, tendo por objectivo satisfazer as necessidades
colectivas da comunidade organizada no Estado.
O DF e o Direito Constitucional – No texto constitucional existem preceitos de
natureza fiscal. Estes preceitos ou normas de natureza fiscal fixam os limites, regulam o
exercício, definem as garantias dos cidadãos e indicam os fins a prosseguir pelo sistema fiscal.
O art. 14º da LC estabelece que o sistema fiscal visa a satisfação das necessidades
económicas, sociais e administrativas e uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza. Os
impostos só podem ser criados e extintos por lei, que determina a sua incidência, as taxas, os
benefícios e as garantias dos contribuintes.
A Assembleia Nacional tem competência relativa para legislar na matéria referente à
definição do sistema fiscal e à criação de impostos.
No exercício de funções administrativas compete ao Governo elaborar, aprovar e
dirigir a execução do Orçamento do Estado.
O Direito Fiscal e o Direito Administrativo – O grande relacionamento do Direito
Fiscal com o Direito Administrativo manifesta-se no facto de o Direito Fiscal constituir um
sub-ramo do Direito Administrativo. Uma boa parte dos institutos de Direito Fiscal decorrem
em sede da organização administrativa fiscal ou em sede da organização judiciária fiscal. No
caso da organização administrativa fiscal, a administração fiscal constitui a parcela da
administração do Estado a que está confiada a obtenção dos meios financeiros necessários
para a realização dos fins do Estado.
O Direito Fiscal e o Direito Penal – Há nestes dois ramos uma estrita relação no que
respeita, nomeadamente, a normas que o Direito Fiscal abrange e que se destinam a punir os
contribuintes que violem os normativos fiscais e, nessa medida, não cumpram as obrigações
nelas estabelecidas.
O Direito Fiscal e o Direito Privado – Muitas das situações tributárias têm na sua
base situações privadas (Direito Civil e Direito Comercial). No Direito Fiscal, o conceito de
obrigação é semelhante ao das obrigações jurídicas privadas. Por exemplo, existe uma
obrigação por parte do credor do imposto – o Estado – de exigir do contribuinte determinada
prestação pecuniária e existe uma obrigação do contribuinte que é o devedor de realizar essa
prestação.
O Direito Fiscal e o Direito Internacional – O Direito Fiscal mantém estreitas
relações com o Direito Internacional, nomeadamente pela necessidade que os estados têm de
regular entre si certas situações tributárias. Sendo assim, é normal a celebração de acordos,
tratados e convenções entre dois ou mais estados, com o objectivo de regular os assuntos
fiscais no que se refere a determinadas actividades.

2.2. Período Anterior ao Renascimento (Séculos XIV – XV).

Na época medieval, os monarcas apenas podiam socorrer-se dos impostos quando as


circunstâncias assim o reclamassem. O suporte financeiro da coroa era assegurado através dos
rendimentos proporcionados pelos seus bens e pelos seus direitos. A deliberação da cobrança
de impostos tinha de ser aprovada pelas Cortes, ou seja, pelos representantes dos
contribuintes. As finanças públicas sofreram melhoramentos durante a época renascentista.
Consta que a partir de 1472 foi levada a cabo uma revisão geral dos florais; e na base disso
esteve:
a) dar resposta às reclamações concelhias contra exageros e ilegalidades na cobrança
de impostos;
b) buscar por uniformizar as múltiplas formas e espécies de rendimentos.
Contudo, a reforma autêntica só se iniciou entre os anos de 1497 a 1920: os novos
florais foram reduzidos a listas de impostos a pagar ao ou aos senhores feudais dentro de cada

52
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

município. Além disso, os impostos foram mais ou menos uniformizados e receberam


tratamento comparativo e sistemático. Foi também importante para o comércio interno e
externo o novo regulamento das sisas, decretado em 1947 e depois modificado em 1489 e em
1509. Às sisas ficavam sujeitas as transacções de todos os objectos que se comprovam,
vendiam ou trocavam, passando a ser considerada como um imposto geral e permanente. As
alfândegas foram igualmente reorganizadas, no que se refere aos rendimentos ultramarinos. A
abundância de cartas de quitação, nos finais do séc. XV, mostra que se caminhava já no
sentido da fiscalização sistemática, eficaz e directa de todo o sistema financeiro.

2.3. Período Posterior ao Renascimento (Séculos XIV – XVII).

Por esta altura, um novo imposto, aprovado pelas Cortes em 1641, incidia sobre os
rendimentos de prédios, capitais, ofícios e rendas pelo que veio a ser considerado um
autêntico imposto geral de rendimentos. Este imposto veio a ser conhecido por “décima
militar”, porque todos os diversos rendimentos estavam na altura sujeitos a 10%. Manteve-se
até meados do século XIX.

2.4. Período da Revolução Industrial (Séculos XVII – XVIII).

A Revolução Industrial implicou a transição de uma economia agrícola tradicional


para uma caracterizada por processos de produção mecanizados para fabricar bens em grande
escala. Os historiadores aplicam este termo exclusivamente às mudanças produzidas na
Inglaterra a partir do final do século XVIII; sua expansão aos outros países denomina-se
industrialização ou desenvolvimento industrial.
A Revolução Industrial teve lugar no Reino Unido no final do século XVIII. O
trabalho se transferiu da produção de produtos primários à de bens manufacturados e serviços,
o que gerou processos migratórios das zonas rurais às urbanas.
As mudanças mais importantes afectaram a organização do processo produtivo. Este
passou a se realizar em grandes empresas, aumentando a especialização do trabalho. Seu
desenvolvimento dependia de uma utilização intensiva do capital e da aparição de novas
ferramentas de trabalho especializadas. A experiência adquirida aumentou a produtividade e a
especialização. Londres foi o centro de uma rede comercial internacional que favoreceu o
desenvolvimento da economia. A partir de meados do século XIX, este desenvolvimento
expandiu-se a outros países. A Revolução Industrial implicou, no princípio, uma redução do
poder aquisitivo dos trabalhadores e uma perda de qualidade em seu nível de vida, mas depois
implicou um aumento da renda per capita nacional.
Em 1832 foram abolidos os dízimos, foi restringida a incidência da sisa à transmissão
de bens móveis e criado um imposto sobre o consumo. Ao imposto sobre o consumo foi, mais
tarde, em 1838, adicionado o imposto de transmissão e foram definidas novas formas de
tributação do consumo, mantendo-se o regime da tributação da décima de prédios, da décima
industrial e da décima de juros.
Em Angola, em 1765, a fiscalização dos impostos sobre a exportação dos escravos fez
com que o sistema de arrematação desses impostos sofresse profundas alterações com vista a
aumentar os réditos públicos e a atenuar os abusos que se praticavam no tráfico. Nos anos de
1836-1878, foi abolido o tráfico de escravos. Em 1852 foi criada a contribuição predial em
substituição da décima de prédios, da décima de foros e da décima industrial pela exploração
de prédios e tributações menores e em 1860 foi estendida a contribuição industrial a todas as
explorações a nível das indústrias.

2.5. Período Contemporâneo (Séculos XIX – XXI).

53
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Em Angola, em 1906 tornou-se uma importante medida a nível fiscal e que se traduziu
do estabelecimento do imposto indígena, o que significava o reconhecimento fiscal e,
portanto, social da individualidade política do indivíduo de cor, natural de Angola, que
principiando em 1908 a pagar o imposto, ainda que irregularmente e em pequeno número,
passa a ser um cidadão do Estado, contribuindo, deste modo, com uma parcela dos seus
rendimentos para as despesas públicas, em conjunto com os outros contribuintes. A primeira
República (1910)2 impulsionou uma revisão do regime da contribuição predial e procedeu,
ainda, a uma reforma do sistema fiscal português em 1922, o qual procurou assentar a
tributação do rendimento sobre o rendimento real dos contribuintes, criando um imposto
pessoal sobre o rendimento das pessoas singulares e criando, também, uma tributação geral
sobre a despesa. Nesta altura, houve alterações no regime da contribuição predial e da
contribuição industrial, como também foi criado o imposto sobre a aplicação de capitais, o
imposto pessoal de rendimento e o imposto sobre o valor das transacções. Porém, dados os
condicionalismos devidos à instabilidade política, não foi levada a cabo toda a execução da
reforma fiscal de 1922. De todas as formas, a reforma levada a cabo, em 1929, pelo então
ministros das finanças, Oliveira Salazar, produziu alteração nas receitas fiscais, passando a
ocorrer uma tributação sobre os rendimentos normais, como, por exemplo, a criação do
imposto profissional como um género autónomo de tributação dos rendimentos de trabalho,
tendo sido também instituído o imposto complementar como forma principiante de tributação
global pessoal e foi substituído o imposto do registo pela sisa e o imposto das doações e
sucessões.
Em Angola, no ano de 1957, foi aprovado um decreto-lei que acompanhou as
primeiras descobertas comerciais em concessões petrolíferas. O regime fiscal criado por este
diploma correspondia ao sistema de concessões tradicionais nas quais aos investidores era
reconhecida a propriedade das instalações existentes na área de concessão e do petróleo
extraído, cabendo ao Estado angolano a percepção das receitas tributárias previstas na lei.
No sistema fiscal angolano vigente existem, entre outros, os seguintes impostos:
a) imposto industrial;
b) imposto sobre o consumo e produção;
c) imposto petrolífero;
d) imposto aduaneiro e
e) imposto sobre o rendimento de trabalho.
A diversidade de regimes fiscais criados conduziu à necessidade de se procurar
uniformizar esses regimes aplicáveis às diferentes modalidades de associação para a pesquisa
e produção de petróleo, respectivamente, nos contratos de partilha de produção e nos contratos
de associação em participação, nomeadamente a taxa do imposto sobre o rendimento do
petróleo, a determinação da matéria colectável, bem como a isenção do imposto sobre o
petróleo.

2
Durante o reinado de Carlos I, ganharam espaço os movimentos republicanos e radicais que se aguçaram com a nomeação
do absolutista João Franco como primeiro-ministro, em 1906. Em 1908, dom Carlos e seu filho mais velho foram
assassinados em Lisboa. O segundo filho de dom Carlos subiu ao trono como dom Manuel II e, embora tenha restaurado o
governo constitucional, seu governo corrupto igualou-se ao de seu pai. Em Outubro de 1910, o Exército e a Armada
encabeçaram uma revolução que depôs dom Manuel e proclamou a República. Em 1911, entrou em vigor uma Constituição
liberal que em um de seus artigos proclamava a separação entre a Igreja e o Estado. Manuel José de Arriaga foi eleito
primeiro-ministro da República de Portugal (cf. Enciclopédia Virtual Microsoft Encarta)

54
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 19
Tipo de Aula:
UNIDADE # 4 – O Direito Fiscal
Tema 3: Fontes do Direito Fiscal. A Lei.

Sumário: 3.1. Noção e extensão.


3.2. Lei Constitucional: Princípio da Legalidade, da Igualdade, da Eficiência
Funcional do Sistema Tributário e da Anualidade.
3.3. Leis, Decretos-leis, Regulamentos, Convenções Internacionais.

Objectivo Geral: Estudar os elementos básicos relativos ao Direito Fiscal.

Objectivos Específicos: Saber quais são as fontes do direito fiscal e determinar o seu
conteúdo.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

São fontes do Direito Fiscal:


a) A Lei Constitucional,
b) Os decretos-leis,
c) Os regulamentos,
d) As convenções internacionais.

3.1. (A Lei) Noção e extensão.


A LC ocupa o primeiro lugar na hierarquia das fontes do DF, não só porque define
alguns princípios básicos aos quais o legislador ordinário deve obedecer ao estruturar o
ordenamento fiscal, como também limita de um modo geral o campo reservado às restantes
formas normativas em matéria de impostos.

3.2. Lei Constitucional: Princípio da Legalidade, da Igualdade, da


Eficiência Funcional do Sistema Tributário e da Anualidade.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Determina que o imposto se traduz verdadeiramente num encargo para os contribuintes
que só a lei pode criar. Este princípio desdobra-se em dois segmentos:
1. no princípio da reserva de lei, que atribui à Assembleia Nacional uma reserva
relativa para legislar em matéria fiscal e na criação de impostos.
2. no princípio da reserva material de lei, que exige que a lei (lei da AN, decreto-lei
autorizado) contenha a disciplina dos impostos tão completa quanto possível da matéria
reservada.

55
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

O art. 14º da LC estabelece que os impostos só podem ser criados e extintos por lei,
que determine a sua incidência, as respectivas taxas, benefícios fiscais e garantias dos
contribuintes.
De acordo com o art. 1º do Código Tributário “serão obrigatoriamente determinadas
por lei a incidência, as isenções e a taxa de cada imposto”.
PRINCÍPIO DA IGUALDADE
Este princípio pode ser entendido em dois sentidos:
1. no sentido material (ou de igualdade na lei). Neste princípio está implícita a ideia
de capacidade contributiva, o que implica igual imposto para os que dispõem de igual
capacidade contributiva, sendo os contribuintes tributados na proporção desta diferença.
2. no sentido formal (ou de igualdade perante a lei). Segundo este princípio, todos os
contribuintes são iguais perante a lei, todos devem pagar impostos.
PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA FUNCIONAL DO SISTEMA TRIBUTÁRIO
É um princípio que permite ao legislador tributário, em relação a particulares
dificuldades ligadas com a determinação da matéria colectável ou referente ao controlo de
certos tipos de rendimentos (em relação aos quais a fuga ou a evasão fiscal é frequente), o
recurso a técnicas que dificultem a prática excessiva dessas situações, por vezes, até à custa da
utilização de determinadas medidas discutíveis no campo da equidade fiscal.
PRINCÍPIO DA ANUALIDADE
Compete à AN aprovar anualmente a lei do orçamento anual, a qual deverá conter a
discriminação das receitas e das despesas referentes às doações globais de diferentes funções e
departamentos do Estado.

3.3. Leis, Decretos-leis, Regulamentos, Convenções Internacionais.


LEIS
As leis, no sentido de diploma legislativo, são as leis da AN e os decretos-leis do
Governo. Nos termos do disposto no art. 90º da LC, só através de lei da AN pode o Estado
angolano criar impostos e definir o sistema fiscal.
DECRETOS-LEIS
Os decretos-leis são os actos legislativos, com força de lei, emanados (isto é derivados)
do Governo em casos de matérias não reservadas à AN, ou, em caso de matérias reservadas à
AN, com base numa lei de autorização por parte desta. Os decretos-leis só podem desenvolver
e completar os princípios definidos por lei, ou disciplinar os restantes elementos do imposto. É
o caso das matérias dos impostos referentes à sua liquidação e à sua cobrança, em que os
decretos-leis do Governo podem disciplinar essas matérias, sem necessidade de autorização
legislativa.
OS REGULAMENTOS
Os regulamentos, sejam os regulamentos do Governo (os decretos regulamentares, as
resoluções do Conselho de Ministros, as portarias e os despachos normativos), sejam os
regulamentos do poder local ou das organizações administrativas locais (os decretos
regulamentares locais), não podem, em virtude do princípio da legalidade fiscal, disciplinar os
elementos essenciais do imposto. Também por força dos princípios da legalidade fiscal, não
podem os regulamentos versar sobre matérias do imposto referentes à liquidação e à cobrança.
Quanto às demais matérias tributárias, os regulamentos podem intervir se e na medida em que
o princípio geral da legalidade da administração o permita e que não haja contrariedade legal.
O regulamento como as demais fontes de direito, nomeadamente a jurisprudência e o
costume, não são hoje modos válidos de formação e revelação do direito dos impostos.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Classificação dos regulamentos:


Os regulamentos podem ser em relação à lei (regulamentos complementares ou de
execução e regulamentos independentes ou autónomos), em função dos seus destinatários
(regulamentos internos, regulamentos externos e regulamentos mistos), quanto ao âmbito da
sua aplicação territorial (regulamentos nacionais e regulamentos locais)
Os regulamentos complementares são aqueles que se destinem a serem publicados e
elaborados na prossecução de uma lei, com o fim de lhe dar execução através do
desenvolvimento integrador dos seus preceitos. Por exemplo, o decreto regulamentar por parte
do Governo.
Os regulamentos independentes são aqueles que não estão ligados a nenhuma lei para
além daquela lei que define as competências e atribuições em que os regulamentos estão
inseridos. Por exemplo, o regulamento dos estatutos dos funcionários de uma empresa.
Os regulamentos internos são aqueles que contêm normas que obrigam apenas os
agentes administrativos dentro de certos serviços. Por exemplo, os agentes das delegações
municipais.
Os regulamentos externos são aqueles que contêm normas que se destinam a
disciplinar as relações entre a administração e os particulares.
Os regulamentos mistos são aqueles que contêm normas características dos
regulamentos internos e dos regulamentos externos.
Os regulamentos nacionais são aqueles que contêm normas que se aplicam só no
território nacional.
Os regulamentos locais são aqueles que contêm normas que se aplicam só em certos
locais ou espaços, tendo a sua aplicação limitada a uma zona. Por exemplo, um determinado
regulamento aplicável apenas a um específico município.

AS CONVENÇÕES E OS TRATADOS INTERNACIONAIS


A convenção ou tratado é o acordo entre membros da sociedade internacional que tem
por objecto a produção de efeitos de direito. Nessa definição compreendem-se todos os
acordos celebrados entre pelo menos dois membros da sociedade internacional. Na prática, só
funcionam como fontes de direito internacional os acordos celebrados entre estados, entre
estados e organizações internacionais e entre organizações internacionais.3
__________________________________________________________________________________

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 20
Tipo de Aula:
UNIDADE # 4 – O Direito Fiscal
Tema 4: O Imposto.

Sumário: 4.1. Conceito e Objectivos.

Objectivo Geral: Estudar os elementos básicos relativos ao Direito Fiscal.


Objectivos Específicos: Saber o que é o imposto e qual as suas natureza e finalidades.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema


3
Sobre esta temática e para mais informações, conferir os artigos 21º e 73º da Lei Constitucional.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

4.1. (O Imposto) Conceito e Objectivos.


Segundo a Enciclopédia MS Encarta, de 2002, os impostos, compreendem o tributo
exigido de acordo com uma contribuição especificada individualmente pela Administração
pública e cujo objecto de taxação constitui-se de negócios, actos ou fatos que manifestem a
capacidade contributiva do sujeito passivo (sujeito económico que tem a obrigação de
colaborar), em consequência da posse de um património, da circulação de bens ou da
aquisição de rendas ou receitas. Os impostos sobre a renda e o património são directos porque
tributam a riqueza em si mesma; os indirectos incidem sobre a transmissão ou circulação de
bens ou tributam o consumo. São impostos objectivos os que tributam uma determinada
riqueza, sem levar em conta a situação pessoal do sujeito passivo; os subjectivos, por outro
lado, levam em conta, de uma ou outra forma, a situação pessoal do contribuinte no momento
de determinar sua existência e quantia.

O imposto pode ser definido com base em três elementos, nomeadamente o elemento
objectivo, o subjectivo e o teleológico.
Quanto ao elemento objectivo, importa dizer que, objectivamente, o imposto é uma
prestação: a) pecuniária (que tanto pode ser em espécie como dinheiro, como também pode
consistir num facto ou numa actividade, como é o caso do imposto do selo quando pago por
meio de estampilhas fiscais. Através deste característica do seu conceito, o imposto se
distingue das prestações de carácter pessoal (como o serviço militar ou cívico), quer das
prestações de bens ou serviços, exigidas aos particulares, em situações excepcionais (como as
requisições administrativas ou expropriação por utilidade pública) que não constituem
prestações definitivas tendo antes como contrapartida o pagamento de uma indemnização); b)
unilateral (o que significa que não há qualquer contraprestação por parte do beneficiário. O
imposto distingue-se da taxa. A taxa é um tributo com carácter bilateral e concretiza-se em
três situações: 1. na prestação de um serviço público (como as taxas devidas pelos serviços de
registos e notariado – emolumentos, - pelos serviços de justiça – taxa de justiça, - e pelos
serviços de educação – propinas), 2. na utilização de bens de domínio público (como as
portagens, as taxas dos navios nos portos, a de aterragem de aeronaves nos aeroportos, etc.), 3.
na remoção de um limite jurídico à actividade dos particulares, por exemplo as taxas devidas
pelas licenças de uso e porte de armas, de caça, etc.); c) definitiva (A prestação de imposto é
de carácter definitivo, isto é, uma prestação que não dá lugar a qualquer reembolso, restituição
ou indemnização, pelo que, as importâncias atribuídas não serão restituídas a não ser que
tenha havido qualquer irregularidade na tributação ou quando tenha sido exigido imposto
superior ao efectivamente devido); d) coactiva (sendo o imposto uma prestação coactiva,
implica tratar-se de uma prestação que é imposta por lei)
Quanto ao elemento subjectivo, importa dizer que subjectivamente o imposto é uma
prestação: 1º pelas características objectivas atrás apontadas (pecuniária, unilateral, definitiva
e coactiva); 2º exigida ao contribuinte (individual ou colectivo), que é o sujeito passivo; 3º a
favor de uma pessoa colectiva de direito público, ou de pessoas privadas que exerçam funções
públicas, que são os sujeitos activos (por exemplo, as empresas concessionárias de obras
públicas, serviços públicos ou bens de domínio público, na medida em que a lei lhes conceda
a qualidade de titulares activos de relações jurídicas fiscais.
Quanto ao elemento teleológico ou finalista, importa dizer que o imposto é exigido
pelas entidades que exerçam funções públicas para a realização das suas funções de carácter
não sancionatório, ou seja, para os impostos fiscais está excluída a finalidade sancionatória.
Assim, o imposto distingue-se de uma multa (sanção pecuniária penal) ou de uma coima
(sanção pecuniária contra-ordenacional), bem como de uma indemnização (reparação do
prejuízo ou dano causado a outrem através de acto ilícito).

58
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

__________________________________________________________________________________

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 21
Tipo de Aula:
UNIDADE # 4 – O Direito Fiscal
Tema 5: A Administração Fiscal.

Sumário: 5.1. A Direcção Nacional de Impostos.


5.2. A Direcção Nacional das Alfândegas.

Objectivo Geral: Estudar os elementos básicos relativos ao Direito Fiscal.


Objectivos Específicos: Saber como funciona a administração fiscal e quais são as suas bases.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

Nota importante
A administração fiscal integra-se organicamente no Ministério das Finanças e da
Administração Pública. O Ministério das Finanças é constituído por diversos serviços, dentre os quais
se destacam os serviços da administração directa que compreende a Direcção Nacional de Impostos e a
Direcção Nacional das Alfândegas.

5.1. A Direcção Nacional de Impostos.

É um órgão do Ministério das Finanças e do Plano, que tem por objectivo proceder à
execução da política fiscal e à administração fiscal do Estado; como por exemplo administrar
os impostos sobre o rendimento, os impostos sobre o património, os impostos sobre o
consumo; sempre em conformidade com as políticas definidas pelo Governo no domínio
tributário.
São competências da Direcção Nacional de impostos as seguintes:
a) assegurar a liquidação dos impostos,
b) pronunciar-se sobre os casos ambíguos de aplicação das leis fiscais,
c) exercer a função de fiscalização tributária,
d) exercer a acção de justiça fiscal,
e) contribuir para o esclarecimento dos contribuintes, etc.

5.2. A Direcção Nacional das Alfândegas.

É um órgão do Ministério das Finanças e do Plano e tem como competências a


liquidação e cobrança dos impostos aduaneiros e de outros impostos indirectos, como o
imposto de transacções quando se trate de mercadorias importadas. A superintendência em
todos os serviços aduaneiros e fiscais compete ao governador respectivo, possuindo uma
repartição dos serviços aduaneiros com atribuições idênticas às da Direcção-Geral. As

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

alfândegas regulam-se por decretos e portarias emanados do governador. Os serviços


aduaneiros que existem em Angola são:
- alfândegas (de Luanda, Lobito e Namibe);
- delegações,
- postos de despacho marítimo e terrestres.

__________________________________________________________________________________

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 22
Tipo de Aula: Nova
UNIDADE # 4 – O Direito Fiscal
Tema 6: Os Sujeitos da Relação Jurídica Fiscal (Impostos).

Sumário: 6.1. O Sujeito Activo (O Estado e o Instituto Nacional da Segurança Social)


6.2. O sujeito Passivo.
6.3. Direito e Deveres dos Contribuintes.

Objectivo Geral: Estudar os elementos básicos relativos ao Direito Fiscal.

Objectivos Específicos: Saber quais são os sujeitos da relação jurídica fiscal. Conhecer os
direitos e obrigações (deveres) dos contribuintes.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

Nota Preliminar:

Os sujeitos da relação jurídica fiscal são:


1. O sujeito activo (que é o Estado e o Instituto Nacional da Segurança Social;
2. O sujeito passivo (que pode ser uma pessoa singular ou colectiva)

O que é a tributação?
A tributação compreende o sistema de contribuições obrigatórias impostas pelos
governos sobre as pessoas, as corporações e as propriedades, como fonte de receita para cobrir
os gastos governamentais e outras necessidades públicas. Pode ser utilizado também para
atender objectivos económicos e sociais, como fomentar o desenvolvimento de uma economia
de forma equilibrada, favorecendo ou penalizando determinadas actividades ou negócios, ou
para realizar reformas sociais com melhor distribuição da renda ou da riqueza.
A efectividade da acção governamental depende da disposição das pessoas sob seu
governo estarem dispostas a ceder parte de sua soberania pessoal ou de suas propriedades, em
troca de protecção e de outros tipos de serviços. A imposição é uma forma de realizar essa
troca, e deve cumprir diferentes funções, que dependem dos objectivos do governo que a
impõe. Os governos locais ou regionais obtêm receitas a partir de impostos sobre as
propriedades físicas, embora o governo federal cobre impostos sobre a venda e impostos sobre
a renda. Mas sua finalidade não reside apenas na obtenção de receitas, sendo também um
instrumento essencial da política fiscal. Ao controlar a oferta monetária (mediante a política

60
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

monetária) e a política fiscal, os governos têm a intenção de obter segurança económica, com
a finalidade de estabilizar os preços e aumentar o emprego.
Existem profundas diferenças entre os diversos sistemas impositivos de cada país,
tanto no que diz respeito à receita como no que concerne aos gastos. Ao elaborá-los, os
governos observam três indicadores da riqueza ou da capacidade de pagamento do
contribuinte: suas receitas, seus gastos e seu património. Quase todas as democracias
modernas consideram que um bom sistema impositivo precisa cumprir quatro princípios
fundamentais: equidade (os encargos fiscais têm que ser proporcionais à capacidade de
pagamento dos indivíduos); certeza (sua aplicação tem que ser clara e constante);
aplicabilidade (seu cumprimento dependerá da facilidade de sua aplicação); e eficiência (tem
que ser fácil de administrar).
O controle da propriedade de outros tipos de bens era mais difícil, mas, à medida que
se desenvolveram os mercados, foi se tornando mais fácil taxar a renda e a transferência de
bens, obtendo-se numerosos benefícios a partir desses impostos. O surgimento do comércio
internacional facilitou a criação dos direitos aduaneiros, que foram estabelecidos tanto com
fins de arrecadamento como de controlo das importações. O crescimento do comércio
provocou a criação de múltiplos impostos, desde os indirectos, que taxam alguns bens de
consumo (como ocorria antigamente com o sal), até impostos especiais, que taxam
determinados produtos, como a gasolina, o álcool e o tabaco.
Apesar das dificuldades para calcular a incidência dos impostos com exactidão, os governos
procuram manter certa equidade vertical. A preocupação consiste em decidir sobre cobrar
mais dos ricos ou dos pobres (imposto progressivo), de todos segundo a capacidade de
pagamento (imposto proporcional), ou dos mais desfavorecidos (imposto regressivo). Quase
todos os países industrializados preferem os progressivos, porque são mais equitativos (os
ricos têm maior capacidade de pagamento) e porque tendem a reduzir as diferenças entre a
riqueza e a pobreza.

6.1. O Sujeito Activo (O Estado e o Instituto Nacional da Segurança Social)


1. O ESTADO
Em sentido lato, a titularidade activa da relação tributária admite o poder tributário, a
competência tributária (que diz respeito à administração dos impostos, ou seja, ao
lançamento, liquidação e cobrança dos impostos), a capacidade tributária activa (que
consiste na titularidade do crédito de imposto e demais direitos tributários. Assim, os sujeitos
activos da relação tributária possuem personalidade jurídica a que a lei fiscal faculta o direito
à prestação do imposto. Como consta, o Estado é o mais importante sujeito activo e com mais
frequência da relação tributária, quer seja pelo volume de relações fiscais em que ele
intervém, como pelo valor global dos créditos que constituem objecto dessas relações), e a
titularidade da receita fiscal (que se verifica nos casos em que, por imposição constitucional
ou legal, as receitas facultadas por certos impostos estejam destinadas a determinados entes
públicos que não tenham todas ou alguma das titularidades fiscais activas, como, por exemplo,
não tenham capacidade tributária).
Em sentido técnico, o poder tributário identifica-se no poder conferido por lei ao
legislador para a criação, instituição e fundação dos impostos. Daí resulta que o poder
tributário seja distinto de todas as outras titularidades activas relativas aos impostos (isto é, da
competência tributária, da capacidade tributária e da titularidade da receita fiscal).
2. O INSTITUTO NACIONAL DA SEGURANÇA SOCIAL
O sistema da segurança social garante a subsistência material dos cidadãos nas
situações em que falte ou haja uma diminuição da capacidade para o trabalho, como também

61
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

em caso de morte dos familiares. Assim, são componentes do sistema de segurança social os
remos de prestações, a organização administrativa e os serviços de acção sanitária e social.
Beneficiam do sistema de segurança:
a) os trabalhadores por conta de outrem e também aqueles que tenham cessado a sua
actividade por invalidez ou limite de idade;
b) os trabalhadores por conta própria;
c) os familiares a cargo dos trabalhadores abrangidos por este sistema;
d) os trabalhadores estrangeiros que trabalham em Angola.
É obrigatória a inscrição no sistema da segurança social de todos os trabalhadores
incluindo as entidades empregadoras, excepto os trabalhadores por conta própria para os quais
a inscrição é facultativa.
O campo da aplicação material deste sistema compreende-se:
1. no caso de doença;
2. no caso de protecção de maternidade;
3. no caso de pensões de invalidez, de velhice e de sobrevivência;
4. no caso de prestações às famílias;
5. no caso de protecção no desemprego;
6. no caso de acidentes de trabalho e doenças profissionais.

6.2. O sujeito Passivo


Os sujeitos passivos são pessoas singulares ou colectivas a que a lei fiscal impõe o
dever de efectuar a prestação de imposto ou outros deveres acessórios. Os sujeitos passivos
são sempre os contribuintes. A personalidade tributária traduz-se na susceptibilidade de ser
sujeito passivo de relações tributárias. A capacidade tributária é a qualidade de ser titular
dos direitos e deveres tributários.

6.3. Direito e Deveres dos Contribuintes


A obrigação ou dever fiscal é um vínculo jurídico pelo qual alguém fica submetido a
fazer a outrem uma prestação.
A obrigação fiscal tem como objecto a prestação do imposto, ou seja, o pagamento do
imposto.
Em relação à finalidade do imposto, os deveres fiscais acessórios podem destinar-se a:
a) identificar e estabelecer o sujeito passivo da obrigação do imposto;
b) determinar a matéria colectável ou liquidar a dívida tributária;
c) garantir a cobrança do imposto;
d) fiscalizar o cumprimento dos deveres que recaem sobre os sujeitos passivos.

Em relação ao sujeito passivo, estes deveres dividem-se em dois grupos:


a) um primeiro grupo em que a obrigação ou o dever do imposto recai sobre o próprio
sujeito passivo, o contribuinte;
b) um segundo grupo em que a obrigação ou dever fiscal recai sobre as entidades
públicas ou particulares.

São garantias gerais dos contribuintes:


a) só devem pagar impostos que tenham sido estabelecidos de harmonia com a
Constituição política;

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

b) não podem pagar impostos cuja matéria colectável seja tributada mais de uma vez
em relação ao mesmo imposto;
c) podem reclamar contra a liquidação dos impostos;
d) devem ser informados da sua situação fiscal;
e) podem recorrer da fixação da matéria colectável feita por comissões quando tenha
havido preterições de formalidades legais.

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 23
Tipo de Aula: Nova
UNIDADE # 4 – O Direito Fiscal
Tema 7: Os Principais Impostos Angolanos.

Sumário: 7.1. O Imposto Industrial.


7.2. Os Impostos Petrolíferos.
7.3. O Imposto Sobre os Rendimentos de Trabalho.
7.4. Os Impostos de Produção e Consumo.
7.4. Os Impostos aduaneiros.

Objectivo Geral: Estudar os elementos básicos relativos ao Direito Fiscal.


Objectivos Específicos: O aluno do Colégio Estoril deve conhecer os principais tipos de
impostos existentes em Angola.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

7.1. O Imposto Industrial.


O imposto industrial está previsto no Código do Imposto Industrial de Angola.
(Incidência) O imposto industrial incide sobre os lucros imputáveis ao exercício de
qualquer actividade comercial ou industrial.
Considera-se actividade comercial ou industrial: 1. o exercício de actividades por
conta própria não sujeitas a imposto sobre os rendimentos de trabalho; 2. a actividade das
explorações agrícolas, silvícolas ou pecuniárias; 3. a actividade de mediação ou representação
na realização de contratos de qualquer natureza, como também de agentes de actividades
industriais ou comerciais.
Devem o imposto industrial as pessoas singulares ou colectivas, nacionais ou
estrangeiras, que exerçam em Angola qualquer actividade comercial ou industrial. As pessoas
singulares ou colectivas que tenham residência, sede ou direcção efectiva em Angola são
tributadas em imposto industrial pela totalidade dos lucros obtidos quer em Angola quer no
estrangeiro. As pessoas singulares ou colectivas que tenham residência, sede ou direcção
efectiva no estrangeiro e estabelecimento estável em Angola, serão tributadas pelos lucros
imputáveis ao estabelecimento estável situado em Angola, como também às vendas e outras
actividades comerciais exercidas no referido estabelecimento.
Existem três grupos no imposto industrial, a saber: 1. O grupo A, que refere-se à
tributação dos lucros obtidos pelos contribuintes e determinados através da sua contabilidade
(e figuram obrigatoriamente as empresas estatais, as sociedades anónimas e em comandita por
acções, as sociedades comerciais e civis sob a forma comercial, as instituições de crédito,

63
Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

casas de câmbio e sociedades de seguros, as pessoas singulares que tenham residência ou sede
em Angola e ainda aquelas que, embora tenham residência no estrangeiro, têm
estabelecimento estável em Angola; 2. O grupo B, que se refere à tributação sobre os lucros
que se presume que os contribuintes obtiveram (e figuram todos que não se enquadram nem
no A nem no C); 3. O grupo C, que refere-se à tributação baseada nos lucros que os
contribuintes numa situação normal podiam ter obtido. Neste grupo são tributados os
contribuintes que satisfaçam cumulativamente as seguintes condições: exerçam por conta
própria uma das actividades constantes da tabela própria a ser aprovada pelo decreto do
executivo do Ministro das Finanças; os que trabalham sozinhos ou sejam ajudados por
familiares ou estranhos em número não superior a três; os que não disponham de escrita
organizada e que não utilizem mais de dois veículos automóveis.
(Isenção) Estão isentos de pagar o imposto industrial:
- as cooperativas operárias de produção;
- as cooperativas de construção, com a limitação de construir só para os seus
associados ou emprestar-lhes dinheiro para esse fim;
- as cooperativas de consumo que negociem só com os seus associados;
- as cooperativas agrícolas ou pecuniárias que tenham como objectivo a compra de
materiais, gado ou equipamento para as explorações agrícolas ou pecuniárias;
- as associações de instrução, cultura, recreio, educação física ou desporto;
- as sociedades que limitam a sua actividade à administração de prédios próprios.
(Determinação da matéria colectável)4 A matéria colectável é determinada com base
na declaração (modelo 1, cf. art. 22º do CIIA), que deve ser feita em duplicado e apresentada
pelo contribuinte, todos os anos, no mês de Maio, na repartição da área onde tiver a sua sede
ou estabelecimento, sem prejuízo do controlo feito pela administração fiscal.
(Taxas) A taxa geral do imposto industrial é de 35%. A taxa é de 20%, relativamente a
rendimentos provenientes em exclusivo da agricultura, silvicultura e pecuária. Pode ocorrer
uma redução da taxa para 15% com relação às empresas que se constituam nas regiões mais
desfavorecidas economicamente.
(Fiscalização) Os contribuintes do Grupo B que não tenham contabilidade
regularmente organizada devem possuir livros de compras, vendas e serviços prestados, os
quais serão registados na repartição da fazenda e aí autenticados. As vendas a retalho
efectuadas a pronto pagamento poderão ser registadas diariamente, em globo. Os livros
referidos, antes de serem utilizados, devem ser apresentados na repartição fiscal da área onde
se situem os estabelecimentos, para que o responsável assine os termos de abertura e
encerramento, numere as folhas e as rubrique. Em relação aos comerciantes ou industriais, são
obrigados a arquivar os livros da sua escrituração e os documentos com ela relacionados,
devendo conservá-los pelo período de cinco anos civis subsequentes.

7.2. Os Impostos Petrolíferos.


A lei que regula a tributação das actividades petrolíferas é a Lei n.º 13/2004, de 24 de
Dezembro.
(Aplicação) Esta lei aplica-se a todas as entidades nacionais ou estrangeiras que
exerçam operações petrolíferas em Angola, bem como em outras áreas territoriais ou
internacionais, desde que os acordos internacionais reconheçam poder de jurisdição tributária
a Angola.

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Matéria colectável é tudo aquilo sobre que recai o imposto, seja um valor ou um facto. Por norma, o imposto
pode recair sobre os consumos, os rendimentos, produção, etc.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

(Objecto) A Lei n.º 13/2004 de 24 de Dezembro tem por objecto estabelecer o regime
tributário das entidades nacionais ou estrangeiras, pelo exercício de pesquisa,
desenvolvimento, produção, venda, exportação, tratamento e transporte de petróleo bruto e gás
natural, etc.
Os encargos tributários aplicáveis às entidades nacionais ou estrangeiras que exerçam
operações petrolíferas em Angola são os seguintes: 1. O imposto sobre a produção do
petróleo (que incide sobre a quantidade de petróleo bruto e gás natural. Os contribuintes
sujeitos a este imposto devem apresentar na repartição fiscal competente uma declaração em
quintuplicado (dois para o processo da repartição, um para a Direcção Nacional de Impostos,
um para o Ministério dos Petróleos e um para o contribuinte. A taxa de imposto sobre a
produção do petróleo é de 20%, e a liquidação pode ser feita em dinheiro ou em espécie, de
acordo com a opção do próprio Estado); 2. O imposto sobre o rendimento do petróleo (que
incide sobre o rendimento tributável apurado nos termos desta lei e auferido no exercício das
seguintes actividades: a) pesquisa, desenvolvimento, produção, armazenagem, venda,
exportação, tratamento e transporte de petróleo; b) comércio por grosso de produtos
provenientes das operações anteriores. As taxas de imposto sobre o rendimento do petróleo
são as seguintes: a) no caso de a concessionária nacional (que é a Sociedade Nacional de
Combustíveis de Angola, empresa pública – Sonangol, E.P., - a taxa é de 65,75%; b) nos
contratos de partilha de produção a taxa é de 50%.)

7.3. O Imposto Sobre os Rendimentos de Trabalho.


A Lei n.º 10/99, de 29 de Outubro, é a lei que aprova o novo Código do Imposto sobre
os Rendimentos de Trabalho (IRT).
(Incidência) O IRT incide sobre:
a) Os rendimentos por conta própria (tratando-se aqui dos rendimentos auferidos no
exercício de profissão independente, de carácter científico, artístico ou técnico, como é o caso
dos médicos, actores, músicos, arquitectos e engenheiros);
b) Os rendimentos por conta de outrem (isto é, todas as remunerações pagas pela
entidade patronal);
c) Os rendimentos expressos em dinheiro ou espécie;
d) Os rendimentos de natureza contratual ou não contratual;
e) Os rendimentos fixos ou variáveis;
f) Os rendimentos independentemente da sua proveniência, local, moeda, forma
estipulada para o seu cálculo e pagamento.
Constitui rendimento de trabalho todas as remunerações recebidas a título de: 1.
vencimentos; 2. salários; 3. honorários; 4. avenças; 5. gratificações; 6. subsídios; 7. prémios;
8. comissões; 9. participações; 10. senhas de presença; 11. emolumentos; 12. participações em
multas; 13. custas; 14. outras remunerações acessórias; 15. abonos para falhas; 16. subsídios
diários; 17. representação de viagens; 18. representação de deslocações; 19. importâncias que
os donos de empresas individuais escriturem na contabilidade da empresa a título de
remuneração do seu próprio trabalho; 20. remunerações dos órgãos estatutários das pessoas
colectivas e entidades; 21. aumentos patrimoniais e despesas realizadas sem a devida
comprovação da origem do rendimento.
O IRT é devido pelas pessoas singulares, quer residam ou não em Angola, cujos
rendimentos sejam obtidos e prestados em Angola. Considera-se sempre obtido em Angola o
rendimento derivado da actividade dos tripulantes de navios ou aeronaves pertencentes a
empresas e da actividade dos membros dos corpos gerentes, conselhos fiscais, mesas das

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

assembleias gerais ou de outros órgãos de sociedade, que tenham sede, residência ou


estabelecimento estável em Angola.
Os rendimentos que não constituem matéria colectável são:
- os subsídios de aleitamento, por morte, por acidentes de trabalho e doenças
profissionais, de desemprego e funeral;
- as pensões de reforma, por velhice, invalidez, sobrevivência e as gratificações de fim
de carreira;
- os abonos para falhas de subsídios diários, de férias, o 13º mês, subsídios de
representação, viagens, deslocações até ao limite igual aos quantitativos estabelecidos para os
funcionários do Estado;
- os abonos de família;
- as contribuições para a segurança social;
- os subsídios de rendas de casa até ao limite de 50% do valor do contrato de
arrendamento;
- as indemnizações por despedimento;
- os salários e outras remunerações devidas aos assalariados eventuais agrícolas e aos
serviços domésticos;
- os subsídios atribuídos por lei aos cidadãos nacionais portadores de deficiências
motoras, sensoriais e mentais.
(Isenção) Estão isentos do imposto sobre o Rendimento do Trabalho:
- os agentes das missões diplomáticas e consulares;
- o pessoal ao serviço das organizações internacionais, nos termos dos acordos
ratificados pelo órgão competente do Estado;
- o pessoal ao serviço das organizações não governamentais ou similares, nos termos
dos acordos com as entidades nacionais;
- os deficientes físicos e mutilados de guerra, cujo grau de invalidez ou incapacidade
seja igual ou superior a 50%, comprovada pela entidade competente;
- os cidadãos nacionais com mais de 60 anos pelos rendimentos do trabalho percebidos
por conta de outrem;
- os cidadãos nacionais portadores de doenças congénitas;
- os cidadãos cuja remuneração mensal seja inferior ou igual ao valor mínimo a isentar,
constante da tabela do imposto sobre o rendimento do trabalho;
- os cidadãos que cumprem o serviço militar.
(Taxas) As taxas serão aplicadas sobre os rendimentos mensais dos contribuintes por
conta de outrem, conforme tabela do imposto sobre os rendimentos do trabalho em vigor. É
aplicada a taxa de 15% sobre os rendimentos auferidos pelo exercício de actividades por conta
própria. Sobre os rendimentos auferidos pelos donos de empresas individuais, que escriturem
na contabilidade da empresa, a título de remuneração do seu próprio trabalho, aplica-se a taxa
de 20%.

7.4. Os Impostos de Produção e Consumo.


O Decreto-lei n.º 4/99, de 10 de Dezembro, aprovou o Regulamento do Imposto de
Consumo (RIC).
(Incidência) O imposto sobre o consumo incide sobre:
- a produção e importação de mercadorias;
- a arrematação ou vendas realizadas pelos serviços aduaneiros ou outros serviços
públicos;
- a utilização de bens ou matérias-primas fora do processo produtivo e que beneficiem
da desoneração do imposto;

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

- o consumo de água e energia;


- os serviços de telecomunicações;
- os serviços de hotelaria e outras actividades ligadas ou semelhantes a esta.
(Taxa) O Imposto sobre o consumo está representado por um conjunto de taxas de
valor sobre a produção e a importação de determinados produtos, classificados em duas listas.
A taxa normal é de 10% para os serviços de produção e importação de mercadorias, de
arrematação ou vendas realizadas pelos serviços aduaneiros, de utilização dos bens ou
matérias-primas fora do processo produtivo e dos serviços de hotelaria e outros similares. A
taxa é de 5% para os serviços de consumo de água, energia e telecomunicações.
(Outros aspectos, relativos a esta importantíssima temática, abordaremos
oportunamente, no âmbito das prelecções)

7.4. Os Impostos aduaneiros.


Os impostos aduaneiros são os impostos indirectos cobrados pelas alfândegas, que
incidem sobre as mercadorias importadas para consumo ou sobre as mercadorias exportadas.
Os direitos aduaneiros incidem sobre as mercadorias importadas e exportadas, e
também sobre o imposto do comércio marítimo sobre a carga e passageiros, além de outros
impostos especiais sobre a navegação.
A liquidação e cobrança dos direitos aduaneiros competem às alfândegas.
A lei que regula os incentivos fiscais e aduaneiros ao investimento privado é a Lei n.º
17/03, de 25 de Julho. E os objectivos destes incentivos são:
a) A produção de bens de primeira necessidade destinados ao mercado interno para
satisfação das necessidades básicas das populações;
b) O desenvolvimento prioritário de regiões desfavorecidas;
c) A reabilitação, implantação ou modernização destinadas à exploração de actividade
de produção ou da prestação de serviços;
d) A inovação tecnológica ao nível da produção de bens ou de prestação de serviços e
o desenvolvimento científico;
e) O aumento ou incorporação de matérias-primas nacionais e o valor acrescentado dos
bens que se produzem localmente;
f) O aumento da entrada de divisas e a correspondente melhoria da balança de
pagamentos.

(Incidência) Os incentivos fiscais e aduaneiros incidem sobre:


a) o sector de actividade;
b) a zona de desenvolvimento;
c) a zona económica especial.

(Sectores prioritários) Os sectores prioritários são:


1. A produção agro-pecuária;
2. A indústria transformadora;
3. A indústria de pesca e derivados;
4. A Construção civil;
5. A saúde e a educação;
6. As infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias, portuárias e aeroportuárias,
telecomunicações, energia e águas;
7. Os equipamentos de grande porte de carga e passageiros.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 24
Tipo de Aula:
UNIDADE # 5 – O Direito Administrativo
Tema 1. Conceitos, Princípios e elementos.

Sumário: 1.1. Fins e meios da Administração Pública.


1.2. Funções Estaduais (Legislativa, Jurisdicional e Administrativa).

Objectivo Geral: Conhecer os elementos nos quais se baseia a Administração Pública.

Objectivos Específicos: Saber o que é o Direito Administrativo. Conhecer os fins e meios da


Administração Pública. Reconhecer as funções Estaduais.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

Noção de Direito Administrativo

Por Direito Administrativo entende-se o ramo do Direito público que tem por objecto a
Administração pública, entendida como actividade através da qual o Estado e seus indivíduos
auxiliares tendem à satisfação de interesses colectivos.

1.1. Fins e meios da Administração Pública.


A Administração tem um duplo sentido. Em primeiro lugar, administrar significa gerir
um conjunto de bens para a realização de um conjunto de fins heterogéneos. A administração
é tarefa ou actividade que consiste na prossecução desses fins. Em segundo lugar, a
administração é uma organização específica a quem incumbe uma tarefa de prossecução de
finalidades ou interesses. O fim da Administração Pública é a realização de interesses públicos
que pertence a uma generalidade de pessoas, a um público.
O interesse público pode ser primário ou secundário. O interesse público primário
corresponde aos valores principais que orientam uma comunidade politicamente organizada,
relacionando-se com as condições indispensáveis à sua manutenção e desenvolvimento, ou
seja, com o seu bem comum (paz, justiça, bem-estar). A maior parte da função legislativa está
confiada à satisfação do interesse público. Os interesses públicos secundários são
considerados como um instrumento necessário à realização do bem comum, ou seja, à
confirmação do interesse público primário. É o caso, por exemplo, da saúde, da educação, dos
transportes, que estão no fundo confiados ao tratamento de um órgão público.
A Administração Pública é o sistema de órgãos, serviços e agentes do Estado, bem
como das demais pessoas colectivas públicas que asseguram, em nome da colectividade, a

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

satisfação regular e contínua dos interesses públicos secundários. Contudo, em sentido


organizatório ela aparece como um instrumento complexo, que visa a satisfação dos
interesses públicos secundários e da qual fazem parte os órgãos centrais e locais do Estado.
A Administração Pública em sentido funcional refere-se à actividade dos órgãos da
administração, quer ela se traduza em actos de administração materiais, quer noutro tipo de
actos, nomeadamente em actividades relacionadas com outros sectores organizativos dos entes
públicos ou até mesmo relacionadas com o sector privado.
A Administração Pública em sentido material corresponde à actividade de
administrar, aparecendo, neste caso, com o significado de tarefas ou funções do Estado.
A Administração Pública em sentido formal refere-se aos actos levados a cabo pela
Administração e que apresentam determinadas características externas típicas e um valor
formal próprio dos actos do complexo administrativo (actos administrativos).

1.2. Funções Estaduais (Legislativa, Jurisdicional e Administrativa).

A função legislativa é tendencialmente geral e abstracta, é uma função que


corresponde à aplicação directa da constituição, e a função administrativa é individual e
concreta, sendo uma função subordinada à lei.
No que concerne às funções jurisdicional e administrativa, pode-se dizer que a lei é
considerada como pressuposto e fundamento da actividade administrativa, que parece cada
vez mais vinculada ao Direito, como também são reconhecidos ao poder jurisdicional espaços
de criação na aplicação da lei e do direito. Ambas as funções agem através de decisões
individuais, próprias, concretas e momentâneas. A distinção básica entre as duas funções
pretende-se com o facto de a função jurisdicional ter como conteúdo e fim único a solução de
uma questão de direito, que em regra é da competência de um órgão imparcial (o tribunal),
quando está em questão um conflito de interesses, ao passo que a função administrativa
procura criar as circunstâncias concretas, reais, para a realização do interesse público.
__________________________________________________________________________________

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 25
Tipo de Aula:
UNIDADE # 5 – O Direito Administrativo
Tema 2. Princípios de Organização Administrativa.
Sumário: 2.1. Princípio da Prudência dos Interesses Públicos.
2.2. Princípio Participativo.
2.3. Princípio da Legalidade Quanto às Atribuições e Competências.
2.4. Princípio de Direcção (Administração) Individual e da Responsabilidade
Pessoal.
2.5. Princípio da Desconcentração.
2.6. Princípio da Descentralização.
2.7. Princípio de Aproximação dos Serviços às Populações.

Objectivo Geral: Conhecer os elementos nos quais se baseia a Administração Pública.


Objectivos Específicos: Reconhecer os princípios de organização administrativa.
______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

2.1. Princípio da Prudência dos Interesses Públicos.


A utilização por parte da administração de meios e formas de Direito Privado visa a
satisfação das necessidades de interesses públicos e corresponde ao exercício da função
administrativa, não se confundindo com a capacidade privada da administração.

2.2. Princípio Participativo.


O princípio de participação e da colegialidade pressupõe a procura de incentivar os
cidadãos na solução dos problemas locais, como também aproximar os serviços públicos às
populações de modo a garantir a celeridade, a desburocratização e a adequação das decisões à
realidade local.

2.3. Princípio da Legalidade Quanto às Atribuições e Competências.


Este princípio exprime a subordinação da Administração à lei (Constituição, leis da
Assembleia Nacional, decretos-leis e regulamentos). No sentido amplo a lei não é apenas o limite à
actividade da Administração, mas sobretudo o pressuposto de toda actividade estadual. No sentido de
primado da lei, significa que a Administração não pode contrariar uma prescrição normativa anterior,
não pode emitir preceitos normativos que contrariem preceitos normativos de grau superior, como
também não pode praticar actos concretos que contrariem uma norma emitida por um órgão legislativo
ou pela própria administração. Além disso significa que é um preceito normativo que fixa as
atribuições dos órgãos públicos e que estabelece em maior ou menor grau as suas competências. No
sentido de reserva da lei, significa que se reserva a um órgão com uma legitimidade política especial
a fixação de condições em que se batem situações muito importantes, qualquer que seja o órgão
legislativo.

2.4. Princípio de Direcção (Administração) Individual e da


Responsabilidade Pessoal.
O Direito Privado constitui uma limitação à administração, porque é ele que fixa as
competências jurídicas e os direitos dos particulares impondo impedimentos externos à Administração
através da delimitação de um domínio de licitude que não deve exceder. Mas quando a Administração
invade o campo reservado dos particulares pratica um ilícito, tendo a obrigação de o reparar tal como
outro particular qualquer, apesar de haver regras especiais que definem o modo de atribuição da
responsabilidade. Contudo, é o Direito Administrativo que em sentido estrito regula o comportamento
da Administração como poder público no que concerne ao domínio da possibilidade e da capacidade
de a Administração para com os seus actos provocar alterações no mundo jurídico.

2.5. Princípio da Desconcentração.


A desconcentração administrativa é o processo administrativo através do qual um órgão da
administração central do Estado transfere poderes para outro órgão da Administração local do Estado.
Uma estrutura organizativa desconcentrada pode implicar uma maior eficiência da acção
administrativa, bem como uma melhor qualidade de serviço.

2.6. Princípio da Descentralização.


Este princípio pressupõe o reconhecimento pelo Estado do direito das populações que
integram os diversos tipos de comunidades locais e regionais de se organizarem em pessoas colectivas
públicas de população e território dotadas de órgãos representativos que prosseguem com autonomia
os interesses próprios dessas comunidades. Só existe descentralização, em sentido estrito ou
verdadeiro, quando as diversas tarefas públicas estiverem atribuídas a unidades administrativas infra-
estaduais que, além de terem autonomia em relação ao Estado (autonomia jurídica, administrativa e

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

financeira), têm ainda capacidade de agir e de dar tratamento, autónoma e livremente, aos seus
assuntos.
Princípio de Aproximação dos Serviços às Populações.
Este princípio determina a necessidade de a Administração Pública ser estruturada de
modo que os seus serviços se localizem geograficamente o mais próximo das populações que
visam servir.
__________________________________________________________________________________
Docente: Xavier L. Jorge.
Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 26
Tipo de Aula:
UNIDADE # 5 – O Direito Administrativo
Tema 3. Elementos da Organização Administrativa.

Sumário: 3.1. As Pessoas Colectivas Públicas e os Serviços Públicos.


3.2. Conceito de Cada um dos Elementos.

Objectivo Geral: Conhecer os elementos nos quais se baseia a Administração Pública.

Objectivos Específicos: Saber o que são e como funcionam as pessoas colectivas e os serviços
públicos

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

3.1. As Pessoas Colectivas Públicas e os Serviços Públicos.


3.2. Conceito de Cada um dos Elementos.
__________________________________________________________________________________

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 27
Tipo de Aula:
UNIDADE # 5 – O Direito Administrativo
Tema 4. A Organização Administrativa Angolana.

Sumário: 4.1. A Administração Central.


4.2. O Órgão do Estado: O Presidente da República e Chefe do Governo: Órgão
Político e Administrativo.
4.3. O Governo e o Conselho de Ministros: Funções, Estrutura, Composição e
Funcionamento.

Objectivo Geral: Conhecer os elementos nos quais se baseia a Administração Pública.

Objectivos Específicos: Reconhecer a organização administrativa angolana.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

4.1. A Administração Central.


4.2. O Órgão do Estado: O Presidente da República e Chefe do Governo: Órgão Político e
Administrativo.
4.3. O Governo e o Conselho de Ministros: funções, estrutura, composição e funcionamento.

__________________________________________________________________________________

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 28
Tipo de Aula:
UNIDADE # 5 – O Direito Administrativo
Tema 5. Administração Local.

Sumário: 5.1. Divisão Administrativa Local (Municípios, Comunas e Bairros).


5.2. Órgãos e Serviços Locais do Estado: Delegações e Direcções Provinciais,
Municipais e de Bairros.
5.3. Os Governos Provinciais e Administração Municipal; Natureza, Atribuições,
Organização e funcionamento. Os Governadores Provinciais.
5.4. As Autoridades Locais.

Objectivo Geral: Conhecer os elementos nos quais se baseia a Administração Pública.

Objectivos Específicos: Saber como está feita a divisão administrativa local.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

5.1. Divisão Administrativa Local (Municípios, Comunas e Bairros).


5.2. Órgãos e Serviços Locais do Estado: Delegações e Direcções Provinciais, Municipais e de
Bairros.
5.3. Os Governos Provinciais e Administração Municipal; Natureza, Atribuições, Organização
e funcionamento. Os Governadores Provinciais.
5.4. As Autoridades Locais.

__________________________________________________________________________________

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 29
Tipo de Aula: Conhecer os elementos nos quais se baseia a Administração Pública.
UNIDADE # 5 – O Direito Administrativo
Tema 6. Formas da Actividade Administrativa.

Sumário: 6.1. Os Regulamentos Administrativos. Relação dos Regulamentos Com a Lei.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

6.2. O Acto Administrativo.


6.3. Os Contratos Administrativos.

Objectivo Geral: Conhecer os elementos nos quais se baseia a Administração Pública.

Objectivos Específicos: Reconhecer os regulamentos administrativos. Saber qual é a relação


entre os regulamentos administrativos e a Lei. Saber o que pressupõe o acto e o contrato
administrativo.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

6.1. Os Regulamentos Administrativos. Relação dos Regulamentos Com a Lei.


6.2. O Acto Administrativo.
6.3. Os Contratos Administrativos.
___________________________________________________________________________

Docente: Xavier L. Jorge.


Disciplina: Introdução ao Direito.
Classe: 11ª
Escola: Colégio Estoril / Ensino Particular.
Lição nº: 30
Tipo de Aula:
UNIDADE # 5 – O Direito Administrativo
Tema 7. Princípios Fundamentais da Actividade Administrativa.

Sumário: 7.1. Princípio da Prossecução do Interesse Público.


7.2. Princípio da Legalidade.
7.3. Princípio da Imparcialidade.
7.4. Princípio da Justiça.
7.5. Princípio da Proporcionalidade.
7.6. Princípio do Mérito e Dever de Boa Administração.
7.7. Princípio da Moralidade da Administração.

Objectivo Geral: Conhecer os elementos nos quais se baseia a Administração Pública.

Objectivos Específicos: Reconhecer os princípios fundamentais da Administração Pública.

______________________________________________________ Desenvolvimento do Tema

7.1. Princípio da Prossecução do Interesse Público.

É o princípio geral de direito administrativo de acordo ao qual aos órgãos da


administração pública compete prosseguir o interesse público, tendo por limite os interesses
legalmente validos dos cidadãos. Com efeito, a administração está colocada perante um
interesse público definido, não lhe cabendo procurar os seus fins, tão pouco recusar-se a
prosseguir os fins que lhe forem impostos.

7.2. Princípio da Legalidade.

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

Este princípio cuida que toda a Administração é uma administração legal, sendo o fim
dos seus actos fornecidos por uma norma. a) A Administração não pode desrespeitar uma
prescrição normativa anterior, não pode praticar actos concretos que contrariem uma norma
(sentido negativo). Por outro lado, um preceito fixa a um órgão público as suas atribuições e
estabelece as suas competências, isto é, os poderes de que fica a dispor (sentido positivo). O
princípio do primado da lei é uma consequência da ideia de legitimidade material. b) De
acordo com o princípio da reserva da lei, fica reservada para um órgão legislativo a definição
de preceitos gerais que toquem certos valores fundamentais da comunidade. c) Vinculação
administrativa (discricionariedade) – a lei pode indicar o conteúdo dos actos, isto é, o conjunto
das transformações jurídicas que pretende. Acto vinculado é aquele que tem o seu conteúdo
fixado na lei. A discricionariedade é a possibilidade de a Administração fixar o grau das
modificações jurídicas pretendidas, não significando uma escolha total do conteúdo mas só
aquela que seja consentida pelo fim estabelecido por lei. A vinculação e discricionariedade
são apenas dois conceitos limites da realização do princípio da legalidade. A lei e o acto
legislativo são os pressupostos e os fundamentos de toda a actividade administrativa, no
domínio tradicional da administração de autoridade e no domínio da administração social ou
de prestações.
7.3. Princípio da Imparcialidade.

Trata-se de um princípio ao mesmo tempo negativo e positivo, pois, este princípio


pressupõe a proibição do tratamento arbitrário e desigual dos cidadãos por parte dos agentes
da administração; e ao mesmo tempo advoga a imposição da igualdade de tratamento dos
direitos e interesses dos cidadãos mediante um critério invariável da consideração dos
interesses públicos.
7.4. Princípio da Justiça.

Na zona da discricionariedade (de apreciação ou de decisão) há uma repartição de


competências entre a Administração e o juiz, entendida como distribuição de tarefas por dois
poderes estaduais: a autoria dos actos e a responsabilidade pela prossecução do interesse
público legalmente indicado cabe à administração; a fiscalização da conformidade dessa
actuação administrativa como normas legais e os princípios jurídicos compete aos tribunais.

7.5. Princípio da Proporcionalidade.

Este princípio desdobra-se noutros princípios, nomeadamente na exigência de


conformidade ou adequação de meios. O que se pretende com esta exigência é que a medida
adoptada para a realização do interesse público seja apropriada para a prossecução do fim ou
fins subjacentes ao interesse público. Por sua vez, a exigência da conformidade pressupõe que
se prove que o acto do poder público é apto para os fins que justifiquem a sua adopção e
também é conforme com esses mesmos fins. Trata-se assim de controlar a relação de
adequação medida – fim.

7.6. Princípio do Mérito e Dever de Boa Administração.

Este princípio vem estabelecer que o direito administrativo regula o comportamento da


Administração como poder público, ou seja, tudo o que diz respeito à da Administração para
com os seus actos, destinados a provocar alterações no mundo jurídico. Estes actos têm de
corresponder a um certo tipo de exigências na lei para que possam invocar uma legitimidade,

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Colégio Estoril, Apontamentos de Introdução ao Direito, 2009 Xavier Luís Jorge (Phil.)

para que possam surgir como actos de direito público. A Administração ao praticar actos de
execução de leis constitucionais deve interpretar e aplicar estas leis de um modo conforme aos
direitos, liberdades e garantias. A Administração deve ponderar todos os pontos de vista de
interesse para os direitos, liberdades e garantias relevantes para a solução do caso concreto.

7.7. Princípio da Moralidade da Administração.

A situação da administração, nos dias de hoje, supõe um direito com estrutura do


direito comum que regule o seu funcionamento e estabeleça a composição dos seus próprios
órgãos. Contudo, a administração utiliza com frequência o direito privado e uma parte
considerável desta utilização não levanta problemas: nomeadamente utilização em negócios
auxiliares, como por exemplo a compre de materiais de escritório por uma repartição;
participação dos entes públicos no mercado de concorrência, através de gestão de empresas,
quando as finalidades forem estritamente privadas.

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