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SEMINÁRIO DE DIREITO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Programa de Doutorado em Direitos Coletivos e Cidadania

Prof. Dr. Juvêncio Borges Silva

FICHAMENTO

– SEMINÁRIO: DIREITO E EMANCIPAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: Das linhas globais a
uma ecologia dos saberes. Revista Novos Estudos 79, 2007,, p. 71-94.

Boaventra de Souza Santos, no texto “Para além do pensamento abissal”,


argumenta que as linhas abissais (profundas) que demarcaram o Velho e o Novo Mundo
no tempo colonial, continuam servindo de paradigma para o pensamento moderno
ocidental e estão enraizadas nas relações políticas, culturais e são mantidas no sistema
mundial contemporâneo.
O que o autor busca, é demonstrar que o mundo é dividido em dois lados. De um
lado temos os países com maior visibilidade e do outro os países periféricos, com menor
ou nenhuma visibilidade e é esta invisibilidade de um dos lados, que justifica o poder ou
a visibilidade do outro lado. O pensamento abissal se caracteriza pela impossibilidade
da co-presença dos dois lados na linha. Nas palavras do autor: o “universo deste lado da
linha só prevalece na medida em que esgota o campo da realidade relevante: para além
da linha há apenas inexistência, invisibilidade e ausência não-dialética.”
O autor ainda caracteriza a modernidade ocidental como um “paradigma
fundado na tensão entre a regulação e a emancipação sociais” e entre sociedades
metropolitanas e sociedade coloniais. Assim, a regulação ocorre pelas sociedades
metropolitanas sobre as coloniais, que estão sempre em conflito ao passo que anseiam
pela emancipação.

No segundo capítulo do texto, o autor trata da divisão abissal entre


regulação/emancipação e apropriação/violência. As linhas abissais sofreram abalos nos
últimos anos

O primeiro teve lugar com as lutas anticoloniais e os processos de


independência das antigas colônias. O outro lado da linha sublevou-se
contra a exclusão radical à medida que os povos que haviam sido
sujeitos ao paradigma da apropriação/violência se organizaram e
reclamaram o direito à inclusão no paradigma da
regulação/emancipação.
O que se esperava era o fim da linha apropriação/violência e ascensão da
regulação/emancipação. Mas não foi isso que ocorreu, de acordo com a teoria da
dependência. Desde os anos 70, a linha regulação/emancipação não só veio encolhendo
como tende a desaparecer.

O autor também faz referência ao regresso do colonial e do colonizador. “O


regresso do colonial é a resposta abissal àquilo que é percebido como uma intromissão
ameaçadora do colonial nas sociedades metropolitanas”. O colonial que regressa é
abissal e, este retorna não só para os antigos territórios coloniais, mas também para as
sociedades metropolitanas. Daí surge o conflito entre as linhas, ou seja, a entrada do
colonial nas sociedades metropolitanas, incomoda e faz gerar uma guerra entre os dois
segmentos.

Trazendo para a realidade, uma consequência dessa baixa regulação por parte do
Estado, são as privatizações daquilo que deve ser público, representando uma
semelhança com um governo atrelado à linha apropriação/violência. O autor descreve
esta situação como “fascismo social”, “um regime social de relações de poder
extremamente desiguais, que concedem à parte mais forte poder de veto sobre a vida e o
modo de vida da parte mais fraca”. Assim, o fascismo social está ligada à democracia
liberal, da mesma forma que o estado de exceção à normalidade constitucional, a
sociedade civil com o estado de natureza e o governo indireto com o primado do direito.

Por fim, no último capítulo, o autor trabalha com a ideia de que é necessário se
pensar para além do pensamento abissal e romper com o pensamento abissal derivativo.
Por isso a importância do pensamento pós-abissal, pois não deriva da linha abissal, com
os vícios da apropriação/violência persistentes no ocidente. Desta forma

O pensamento pós-abissal pode ser sintetizado como um aprender


com o Sul usando uma epistemologia do Sul. Ele confronta a
monocultura da ciência moderna com uma ecologia de saberes, na
medida em que se funda no reconhecimento da pluralidade de
conhecimentos heterogêneos (sendo um deles a ciência moderna) e em
interações sustentáveis e dinâmicas entre eles sem comprometer sua
autonomia.

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