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São Paulo
2024
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Sumário
1. Atividades realizadas durante o curso ......................................................... 3
1.1. Dados pessoais do aluno ...................................................................... 3
1.2. Disciplinas cursadas.............................................................................. 3
1.2.1. Resumo .......................................................................................... 3
1.2.2. Trabalhos realizados....................................................................... 4
CAC5290-3/1: Entre o Espectador e a Cena, a Mediação Artística.......... 4
CAC6012-1/1: Entre o Espectador e a Cena, a Mediação Artística........ 10
CAC6027-1/2: À Luz da linguagem: a iluminação cênica, de instrumento
da visibilidade à dramaturgia do visível .................................................. 16
1.2.3. Vinculação com a tese .................................................................. 27
1.2.4. Histórico escolar ........................................................................... 29
1.2.5. Outras atividades .......................................................................... 30
2. Projeto da tese ........................................................................................... 31
2.1. Título ................................................................................................... 31
2.2. Objeto da pesquisa ............................................................................. 31
2.2.1. Justificativa ................................................................................... 31
2.2.1.1. A iluminação no Brasil enquanto área criativa........................ 31
2.2.1.2. Considerações a respeito da literatura estrangeira e nacional
sobre o tema........................................................................................... 32
2.2.2. Objetivos ....................................................................................... 33
2.3. Pesquisa bibliográfica ......................................................................... 35
2.4. Metodologia ......................................................................................... 35
2.5. Dificuldades encontradas .................................................................... 37
2.6. Como pretende continuar .................................................................... 37
2.7. Referências bibliográficas ................................................................... 38
2.8. Plano de Pesquisa .............................................................................. 40
2.9. Cronograma até o depósito da tese .................................................... 40
3. Apresentação do texto ............................................................................... 42
2
1. Atividades realizadas durante o curso
1.2.1. Resumo
3
Com exceção da disciplina Espólios: a persistência de questões abertas
pelas produções artísticas das décadas de 1960 e 1970 na atualidade, todas as
disciplinas requereram a produção de trabalhos finais escritos, apresentados a
seguir. Já nesta disciplina, a avaliação foi realizada com a apresentação de um
seminário sobre o conceito de teatro site-specific e o grupo Teatro da Vertigem.
RESUMO
Neste breve relato, busquei registrar algumas implicações que a realização da disciplina
“Metodologias de Pesquisa em Artes Cênicas”, disponibilizada pelo PPGAC-USP, teve
no desenho de pesquisa planejado por mim para o projeto de doutorado Luz em processo
e o processo ativo da luz: modos de criação e procedimentos metodológicos na
iluminação cênica brasileira.
ABSTRACT
In this brief report, I tried to register some implications that taking the course
“Methodologies for Research in Performing Arts”, made available by PPGAC-USP, had
on the research design planned by me for the doctoral project Light in process and the
active process of light: creation modes and methodological procedures in Brazilian scenic
lighting.
4
Discorro neste texto sobre as diferentes reverberações que a realização da
disciplina “Metodologias de Pesquisa em Artes Cênicas”, disponibilizada pelo PPGAC-
ECA-USP, teve na reestruturação do meu projeto de doutorado em andamento.
Cronologicamente, creio ser importante ressaltar que frequentei a disciplina durante o
primeiro semestre da pesquisa que estou desenvolvendo. Creio que esse dado produziu
um fortuito casamento entre as temáticas discutidas nos encontros com a necessária
reescritura e aperfeiçoamento do desenho do projeto de investigação. Parece-me que este
é justamente o intuito da disciplina, que pesquisadores ingressantes possam refletir e
repensar seus caminhos metodológicos nas etapas iniciais de suas pesquisas.
Defendi minha dissertação de mestrado intitulada A luz em processo: um mergulho
na criação de Guilherme Bonfanti na Trilogia Bíblica do teatro da Vertigem em março
de 2021. A pesquisa desenvolveu um estudo sobre as formas de trabalho do iluminador
paulista Guilherme Bonfanti, mais especificamente no processo de criação da iluminação
dos espetáculos O Paraíso Perdido, O Livro de Jó e Apocalipse 1,11, que compõem a
chamada Trilogia Bíblica da companhia teatral Teatro da Vertigem.
Estudar a forma de trabalho do iluminador Guilherme Bonfanti nesses espetáculos
produziu em mim a constatação da
Além do mais, foram feitas pertinentes provocações pela banca de defesa que me
levou a acreditar que haviam sido deixadas em aberto na dissertação questões importantes
que poderiam embasar uma pesquisa mais aprofundada de doutorado. Deste modo, decidi
escrever um projeto no mesmo ano de 2021 para tentar ingresso novamente no PPGAC-
ECA-USP, agora como discente de doutorado.
Contudo, é preciso admitir que o projeto original foi escrito de forma
consideravelmente apressada, devido ao curto tempo entre a defesa e o processo seletivo
5
para o ano seguinte. Foi ao longo deste primeiro semestre já dentro do doutorado, e
justamente com a realização da disciplina, que pude revisar e rever algumas partes mais
frágeis do projeto de pesquisa proposto. A partir do confronto com diferentes
metodologias e formas de estruturação de pesquisas em artes apresentadas pelos
professores ao longo da disciplina, percebi que diversos pontos careciam de melhorias no
projeto, em especial o desenho do caminho metodológico escolhido e quais seriam os
objetivos da pesquisa.
A pesquisa de doutorado por mim desenvolvida tem como material de base o
conjuntos das entrevistas realizadas no programa de youtube Lighting Studio (LIGHTING
STUDIO, 2020), concebido e realizado durante o ano de 2020, por iniciativa minha e do
iluminador Guilherme Bonfanti, no contexto da pandemia de covid-19. Este material, que
segue disponível e acessível na internet, é composto por quarenta e quatro entrevistas com
diferentes iluminadores e iluminadoras brasileiras de diferentes regiões do Brasil. Além
disso, somam-se a elas cinco debates realizados para discutir temas decorrentes das
mesmas. Todos os vídeos tem duração aproximada entre uma hora e trinta minutos e duas
horas.
O conjunto das entrevistas é constituído por um grupo heterogêneo de pessoas
com formas diversas de pensar a iluminação cênica. Foi construído buscando abarcar
diferentes gerações, gêneros, etnias, regionalidades e áreas de atuação. No entanto, sua
composição foi limitada pela disponibilidade dos artistas e pelos contatos que
conseguimos acessar no momento de realização dos convites.
No que diz respeito ao objeto de pesquisa selecionado, trata-se de um conjunto de
informações muito amplo, vasto demais para ser trabalhado em sua totalidade durante
uma pesquisa de doutorado. Desde o início do projeto, sempre esteve presente a
necessidade de um recorte, que permita que a investigação ocorra com devido
aprofundamento. Em um primeiro momento, cogitei selecionar quatro ou cinco destes
artistas e trabalhar somente a partir de suas práticas, deixando os demais para outro
momento.
No entanto, durante a apresentação dos seminários da disciplina, surgiu uma
segunda possibilidade, que me parece mais rica diante da natureza tanto do objeto
estudado como da forma como pretendo aborda-lo. Eu partiria para organizar o material
estudado não a partir de um recorte de determinados artistas, mas de recortes temáticos.
A cada tema elencado, posso lançar mão de diferentes grupos de entrevistas onde este se
fez mais presente. Deste modo, não há o objetivo de dar conta de todo o trabalho de um
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(ou alguns) determinado artista, mas de entender alguns parâmetros centrais do trabalho
com iluminação, partindo deste amplo grupo de artistas selecionados. Deste modo, é a
partir do meu olhar e da minha prática como iluminador nos últimos catorze anos que
servirão como lente para o filtro e seleção dos fragmentos de processos e procedimentos
apresentados nas entrevistas.
Outro elemento que me parece fundamental de ser entendido é que as entrevistas
foram produzidas previamente ao início da pesquisa. No entanto, o programa já surge
tendo como questão central entender como criam e pensam iluminadores e iluminadoras
brasileiras. Desta maneira, mesmo que as perguntas antecedam a pesquisa, o material
bruto produzido dialoga diretamente com as questões que esta investigação pretende
fazer. O que proponho agora, como procedimento metodológico é voltar a elas e buscar
respostas nas entrelinhas, fazendo novas perguntas ao material, e escutar o que o material
me retorna como resposta. Como afirma o pesquisador Tim Ingold (INGOLD, 2012, p.
29) “observar uma coisa não é ser trancado para o lado de fora, mas ser convidado para
uma reunião”. Nem todas as perguntas que pretendo fazer são respondidas por todos os
entrevistados, mas acredito que é no seu conjunto e entrecruzamento que encontrarei as
possíveis respostas para cada uma delas.
Por outro lado, essas entrevistas foram pensadas, roteirizadas e conduzidas com a
minha participação. E isso não é de maneira alguma algo problemático. Há um
entrelaçamento entre o eu e objeto, mas acredito que será a partir do questionamento, das
1
Tradução minha. No original: [...] interviewing can be an exciting way of doing strong and
valuable research. The unfolding of stories and new insights can be rewarding for both parties in the
interview interaction. Reading the transcribed interviews may inspire the researcher to new interpretations
of well-known phenomena, and the interview reports can contribute substantial new knowledge to a field.
(BRINKMANN; KVALE, 2009, P.14)
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perguntas ao material que surgirá um entendimento mais aprofundado do todo composto
por esse conjunto diverso de pontos de vista. Como afirma a pesquisadora Victoria Pérez
Royo,
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Finalizo a disciplina fortemente enriquecido pelas diversas e distintas – mas
complementares – metodologias de pesquisa em artes cênicas apresentadas. Mas mais do
que isso, com a percepção de que as ferramentas metodológicas adquiridas durante a
escrita da dissertação de mestrado não são suficientes para a empreitada proposta para
esta pesquisa de doutorado. Por mais que ambas dialoguem diretamente e uma seja fruto
da outra, estamos trabalhando com significativas mudanças no escopo do objeto de
estudo. Deste modo, novos objetos e novas perguntas pedem outros procedimentos
metodológicos a serem explorados.
BIBLIOGRAFIA
INGOLD, Tim. Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo
de materiais. In: Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 18, n. 37, p. 25-44,
jan./jun. 2012.
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CAC6012-1/1: Entre o Espectador e a Cena, a Mediação Artística
Essa escolha pode a principio aparentar ser oriunda de uma mera vontade
pessoal de aproximar meu campo de atuação e pensamento à disciplina – não
que acredite existir um problema na questão em si caso assim o fosse. Contudo,
intuo existirem singularidades no curso no qual leciono em que a prática da
mediação artística seria demasiada proveitosa na formação de iluminadoras e
iluminadores, técnicos e técnicas de iluminação. Dada a natureza singular do
grupo de estudantes de iluminação, a aproximação com obras teatrais através
de uma prática de mediação artística poderia ser valiosa.
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advocacia, etc. Sempre existem estudantes oriundos do próprio campo teatral,
seja por experiência amadora, profissional e/ou formação universitária, mas esse
grupo nunca está próximo de constituir uma maioria. Outra característica
marcante é a baixa procura de pessoas jovens, sem nenhuma formação anterior,
imediatamente saídas do ensino médio.
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busca impor uma “maneira correta” de iluminar, onde basta seguir princípios
gerais e métodos genéricos como “tal aparelho serve para tal coisa” ou “este tipo
de luz se faz desta maneira”, mas sim que cada novo processo criativo contém
a descoberta dos caminhos para o desenho de iluminação. Deste modo
buscamos sempre colocar os estudantes em confronto com o trabalho de outros
profissionais da iluminação, para que entrem em contato com diferentes
pensamentos e maneiras de criar luz.
1. Chegada
Como dito anteriormente, as praticas do curso de iluminação por vezes
podem se tornar muito tecnicistas, e atividades de formação teatral geral se
tornam necessárias. Um reflexo deste formato é que são raras as situações onde
conseguimos instaurar um ambiente mais teatralizado, de concentração,
ritualizando um pouco mais a sala de trabalho. Para esta pratica de mediação,
creio ser importante começar o trabalho com um exercício que, mesmo que
simples, possa aquecer a escuta e a concentração do grupo. Além disso, é uma
forma de diferenciar a dinâmica da sala de uma aula entre tantas, instaurando
um clima específico. Praticas de apresentação em que cada integrante diz seu
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nome ou coisas similares não fariam sentido nesse caso, visto que o grupo já se
conhece.
Desta forma, a pratica se inicia pedindo que o grupo forme uma roda de
cadeiras, tentando formar um circulo bem desenhado e sem buracos. Sentados,
é proposto um exercício com palmas, onde uma pessoa bate uma palma, a
pessoa ao lado bate uma palma e seguida, depois a seguinte, e assim por diante.
É importante que as palmas sigam um ritmo específico e contínuo. Quando a
sequência de palmas circular a roda toda e voltar para a primeira pessoa, a
pessoa seguinte deve bater a palma junto com a primeira. A sequência de palmas
segue pela volta toda e quando for iniciar novamente a três primeiras pessoas
batem palmas juntas, depois as quatro primeiras, depois as cinco, e assim por
diante até que a roda toda bata uma palma final todos ao mesmo tempo. Busca-
se assim aquecer a concentração e atenção do grupo.
2. Espetáculo
Em seguida, é dada a seguinte orientação:
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É dado um tempo para que as pessoas rememorem o espetáculo, sendo
orientado em seguida:
3. A iluminação
Em seguida, possivelmente após um breve intervalo para beber água e
demais necessidades, é dada a seguinte orientação:
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“Vamos falar um pouco agora sobre a iluminação
propriamente dita. Vamos começar elencando elementos da
iluminação que vocês perceberam no espetáculo. Pode ser de
forma muito livre mesmo, das primeiras coisas que vierem, eu
vou escrevendo aqui na lousa.”
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Após o tempo estipulados, há a volta para o grupo coletivo e é feita a
partilha das conclusões de cada subgrupo. Encerra-se, assim, o encontro de
mediação artística.
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recentemente publicados pela editora perspectiva com tradução de Jacó
Guinsburg e apresentação de Cibele Forjaz.
Ao publicar suas concepções para uma nova cena teatral, Appia critica
diversas práticas recorrentes da época ligadas ao uso dos telões pintados e a
longa tradição de técnicas de perspectiva para a criação da ilusão de espaços
tridimensionais na pintura em telões cênicos bidimensionais. Ao analisar o seu
uso na época, conclui que haveria uma contradição inconciliável entre a “luz
fictícia” pintada de forma ilusória nos telões cenográficos e a luz concreta, real,
incidindo sobre o espaço cênico e, mais importante, sobre os corpos em cena.
Diante desse impasse, Appia propõe então que é a luz física, real, que
deve ser valorizada, mesmo que isso signifique o sacrifício de determinadas
tradições ilusórias da pintura cenográfica. Ele questiona e recusa a luz fictícia e
aponta a difícil tarefa técnica de iluminar com qualidade os telões pintados e ao
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mesmo tempo fazer incidir sobre os corpos em cena uma iluminação que seja
coerente com as luzes e sombras representadas no telão. Ao tentar resolver esse
difícil problema ilusório, a iluminação cênica ficaria presa a uma atividade muito
aquém de seu pleno potencial.
18
Com a eletricidade, adentrou ao teatro uma espécie de
dialética luz/escuridão que não tinha tido muitas possibilidades nos
séculos anteriores e trouxe consigo a promessa de novas condições
para a criação de espaço e tempo.
Crisafulli, 2013, sem página2
2
Tradução minha. No original: A type of light/dark dialectic which entered the theatre along with
electricity and hadn’t had many possibilities in previous centuries, brought with it the promise of new
creative space and time conditions. (Crisafulli, 2013, sem página)
3
Tradução minha. No original: The potential of electricity sources certainly weren’t fully appreciated at
the start. As often happens with the arrival of new technology, it was initially used for its ability to improve
the quality of established functions, and for the innovative aspects which were the most striking and
spectacular. Initially, its use was mainly directed at achieving improved scene visibility, in addition to
ghostly and imaginary effects and, as mentioned previously, atmospheric effects obtained with
projections, though linguistic and structural aspects were rarely taken into account methodically.
(Crisafulli, 2013, sem página)
19
iluminação a gás original, daí o termo "tubo" utilizado em alguns países para as
varas de iluminação” (MORT, 2011, p. 39)4. Podemos ver de forma evidente esse
processo de transição inicial do gás para a iluminação elétrica na ilustração
abaixo:
4
Tradução minha. No original: Electric lanterns were first hung on the 2” gas barrels tha suplied the
original gas lighting, hence the term ‘pipe’ used in some countries for lighting bars.(MORT, 2011, p. 39).
20
Figura 1 - Sistema de baterias de iluminação elétrica na Ópera de Paris em 1887 e os
sistemas a gás anteriores que haviam sido substituídos.
21
Sobre nossas cenas, a iluminação se faz simultaneamente sob
quatro formas diferentes:
22
cenário que não rege mais a pintura em sucessão de telas paralelas,
mas o princípio de sua construção particular não pode variar muito. Os
aparelhos inteiramente móveis e manejáveis produzirão a luz ativa e
serão objeto do máximo cuidado no aperfeiçoamento de seu
mecanismo. Às instalações mais ou menos fixas da luz difusa serão
acrescentadas telas de uma transparência variável, destinadas a
atenuar o efeito muito acentuado de sua claridade sobre os objetos de
seu entorno imediato e sobre os atores que dele se aproximam. Uma
parte essencial dos aparelhos móveis e manejáveis da luz ativa será
constituída pelas diversas maneiras de interceptar sua claridade, e se
o procedimento elétrico da luz puder ser fixado aproximativamente
antes de seu emprego dramático, o da obstrução (embora invisível)
pertence ao próprio cenário, e será sempre combinado ad hoc, de
acordo com a plantação. Já vimos, em se tratando deste último, qual é
a importância da obstrução parcial da luz ativa para conservar a
integridade expressiva do quadro; a pintura irá nos fornecer novos
exemplos disso. Quanto à iluminação por transparência das telas
pintadas, ela faz parte exclusiva da pintura e não exerce influência
sobre a luz ativa senão na medida em que é própria para lhe dar livre
curso, visto que ilumina a pintura sem iluminar o restante do cenário.
APPIA, 2022, p. 246
23
as sombras lançadas se contrariarem suficientemente para se anular,
a luz ativa poderá fazer sua aparição, pois, com exceção dos casos,
sem dúvida raros, em que uma ou a outra das duas luzes deverá operar
sozinha, é evidente que é por “ver claro” que se deverá começar. A
intensidade da luz difusa será a seguir regulada pela intensidade da
luz ativa. Essa distinção fundamental das naturezas diferentes de luz é
a única noção técnica que pertence como propriedade da iluminação
no novo princípio cênico.
APPIA, 2020, p. 247
O conceito de luz ativa proposto por Appia contem essa duplicidade. Tanto
uma camada mais abstrata e reflexiva que irá impactar diversas experiências e
investigações posteriores com a iluminação cênica, como uma proposição
técnico-material a partir dos meios técnicos disponíveis em seu tempo histórico.
Como aponta Cibele Forjaz:
5
No original: Active light: Issues os light in contemporary theatre. Tradução nossa.
24
diversas possibilidades da manifestação de uma luz ativa na cena, enquanto
elemento capaz de interferir e construir expressividade na cena. Ou da própria
pesquisadora Cibele Forjaz (SIMÕES,2013), cujo conceito de luz estrutural e
estruturante dialoga diretamente com o de luz ativa. São pensadores que leram
a produção reflexiva de Appia para além da materialidade técnica de seu tempo,
se apropriando de sua lógica teórico-conceitual e articulando-a a um fazer e
pensar da luz na contemporaneidade.
Em seu livro a Obra de Arte Viva, de 1921, Appia reserva um trecho para
refletir sobre a Colaboração. Para ele,
25
corpos, ela é ao menos determinante sobre todas as almas pelo
despertar do sentimento corporal.
Appia, 2022, p. 135.
26
Referências bibliográficas
27
caminhos trilhados na pesquisa. Pude reescrever o projeto de pesquisa,
compreendendo melhor algumas questões que estavam vagas quando da
entrada no programa.
28
1.2.4. Histórico escolar
29
1.2.5. Outras atividades
30
2. Projeto da tese
2.1. Título
2.2.1. Justificativa
31
contribui somente para os artistas da área, mas para o meio teatral como um
todo, aproximando diretores, atuantes, cenógrafos, assim todos os outros
artistas da cena, de questões importantes para a criação da luz.
32
repositório virtual de 32 produções listadas, revela um profundo avanço na
pesquisa da temática nas ultimas duas décadas. Ademais, é importante ressaltar
o recente lançamento da revista A luz em cena: revista de pedagogias e poéticas
visuais, periódico produzido pela Universidade do Estado de Santa Catarina –
UDESC e primeira iniciativa na área focada integralmente para o assunto.
Observando o quadro de produção acadêmica focada especificamente no
campo da iluminação cênica, podemos notar como estão voltadas,
majoritariamente, para o estudo da linguagem da luz. Cabe lembrar que não é
possível dissociar a linguagem da cena de seu processo construtivo e essas
teses e dissertações, ao investigar a forma como a luz se apresenta na cena,
inevitavelmente acabam por levantar indícios de seus modos de criação.
Podemos citar como exemplo a tese de Tudella (2013), que propõe justamente
que a iluminação está no cerne da gênese da cena ou as pesquisas de Simões
(2008, 2013) que ao olhar para história da linguagem da iluminação
inevitavelmente revela a forma como eram construídas em diferentes períodos
históricos.
No entanto, não nos parece ainda tão frequente a presença de pesquisas
que se propõem um enfoque especificamente metodológico na iluminação
cênica. Ao realizar um levantamento, é possível encontras algumas poucas
produções acadêmicas que possuem esse viés.
Ao citar aqui tanto referências estrangeiras como nacionais na literatura
sobre o assunto, não existe de nenhuma forma a pretensão de questionar ou
criticar suas naturezas. São obras de grande importância para o tema e se estão
aqui listadas é justamente devido a sua qualidade e significância. Tanto em um
caso como no outro, a maioria dos materiais pesquisados aparenta não atender
aos questionamentos centrais propostos neste projeto. Trata-se aqui somente de
constatar uma questão de enfoque temático de pesquisa, deslocando o olhar
para um campo metodológico da iluminação cênica que me parece ter espaço
para maior aprofundamento investigativo.
2.2.2. Objetivos
33
Este estudo tem como objetivo geral investigar os modos de criação da
iluminação cênica, a partir de procedimentos utilizados por iluminadores e
iluminadoras contemporâneos, dentro do contexto teatral brasileiro.
Entendemos como modo de criação o conjunto das práticas,
procedimentos, ferramentas e estratégias criativas aplicadas por um ou mais
indivíduos dentro do contexto de um processo criativo específico ou
desenvolvidos e aperfeiçoados ao longo de um sequencia de trabalhos. Deste
modo, objetiva-se um olhar voltado para a complexa rede de interações que
constitui o ato criativo da iluminação cênica, impregnado da visão da
pesquisadora Cecília Almeida Salles sobre o assunto:
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estratégias que possam dialogar com diferentes contextos artistico-culturais do
país.
2.4. Metodologia
35
-O que esses iluminadores e iluminadoras consideram a primeira etapa
de seus processos criativos? Por onde começam? Quais são as etapas
subsequentes?
-Que tipo de vinculo ou troca esses artistas buscam construir com a
direção e demais áreas do processo?
-Como organizam sua presença na sala de ensaio? O que buscam
observar ou fazer? O quão presentes acham necessário estar na sala de ensaio
com os demais integrantes do trabalho? Que tipos de registros fazem do que
observam em ensaio (anotação, storyboard,etc.)?
-Como utilizam referências visuais em seus trabalhos?
-Como lidam com a presença do acaso? Têm consciência de como o caso
pode interferir nos seus trabalhos?
-Como se dá a construção da planta de iluminação? O quão ela é
alterada ao longo do processo? Quantas versões são feitas? Em que momento
do processo passam a materializa-la no papel? Quais informações técnicas
consideram necessárias para construí-la?
-Que tipo de ferramentas tecnológicas fazem uso na sua criação? Que
tipo de softwares utilizam?
-Qual entendimento iluminadores e iluminadoras têm da função da luz
nos espetáculos que criam? Qual função – ou quais funções - a iluminação tem
dentro da linguagem teatral?
36
2.5. Dificuldades encontradas
FLECHA, Marcelo. Lighting Studio com Marcelo Flecha [16 jun. 2020].
Entrevistador: Francisco Turbiani e Guilherme Bonfanti. 1h 56 min 25 s. Youtube,
2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=onzQbycqjbg>.
Acesso em: 20 ago 2021.
KELLER, M. Light Fantastic: The Art and Design of Stage Lighting. 3ª ed.
Munich: Prestel, 2010.
MCGRANTH, I. A Process for Lighting the Stage. Boston: Allyn and Bacon,
1990.
38
REID, F. The stage lighting handbook. 6ª. ed. New York: Routledge, 2001.
ROSENTHAL, J.; WERTENBAKER, L. The magic of light: the craft and career
of Jean Rosenthal, pioneer in lighting for the modern stage. Boston: Little, Brown
and Company, 1972.
39
TUDELLA, E. A. S. Práxis Cênica como Articulação de Visualidade: A Luz na
Gênese do Espetáculo. 629f. Tese (doutorado em artes) – Programa de Pós-
graduação em artes cênicas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013.
SEMESTRE
ATIVIDADES
1 2 3 4 5 6 7 8
40
Criação de uma primeira proposta de sumário
Depósito da tese
41
3. Apresentação do texto
42
A LUZ EM PROCESSO E O PROCESSO ATIVO DA LUZ: MODO
DE CRIAÇÃO E PROCEDIMENTO NA ILUMINAÇÃO CÊNICA
BRASILEIRA
INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 3
Imagem 3: Em sentido Horário, entrevistas com Iara Souza, Beto Bruel, Mirella Brandi e Césio
Lima
1
No presente momento, contribuo para o canal conduzindo e planejando as entrevistas do
programa Pesquisa, focado em pesquisas de mestrado e doutorado nas áreas de iluminação,
cenografia, figurino, cenotécnica,
aquela maneira de entrevistar. Contudo, como abordado anteriormente, o
Lighting Studio surge com um objetivo pedagógico e era importante para nós que
alguns temas fossem discutidos.
O principal objetivo do projeto, segundo a descrição do canal, era:
[...] abordar temas que possam nos ajudar a criar um perfil
destas e destes profissionais: entender como pensam e atuam no
campo criativo e profissional, trazendo questões como formação, área
de atuação, planejamento de carreira, construção de um projeto
artístico. (LIGHTING STUDIO, 2020).
A. Da Profissão
1. Como foi sua formação para tornar-se um(a) profissional da
iluminação? Foi mais prática? Envolveu estudos por conta própria? Algum
curso? Relação de mestre-aprendiz?
2. Quais suas principais áreas de atuação (teatro, dança, etc)?
3. Você pensa ou pensou em um desenvolvimento da sua vida
profissional/carreira? Ou em um projeto artístico a longo prazo?
B. Da criação
1. Como costuma ser seu processo de criação? Você percebe etapas
mais ou menos definidas nele? Por onde você costuma começar um trabalho?
Descreva-o para nós.
2. Qual sua relação com o tempo do processo como um todo? Está desde
o início? Costuma chegar em um determinado ponto? Qual a importância da sala
de ensaio?
3. Você costuma ter uma equipe de trabalho? Parceiros/as recorrentes?
Qual a dinâmica/ funções de cada um?
4. Como você desenha? A própria planta a mão, esboços, ideias? No
computador? Quais softwares? Usa 3D? Faz outros tipos de registro do
processo? (Caderno de anotações, diário).
5. Como e em que momento você começa a fazer a escolha das fontes e
equipamentos de luz? Costuma pesquisar fontes para utilizar nos trabalhos, se
arrisca a usar equipamentos que não conheça?
6. Como você pensa o roteiro de luz?
C. Da estética/conceito
1. No seu processo você se utiliza de referências visuais (artes plásticas,
fotografia, cinema), caso afirmativo quais e se isso parte de você mesmo ou é
estimulado pela cenógrafa(o) ou diretor(a)?,
2. Olhando sua trajetória crê que existe uma linha de pesquisa, percebe
elementos visuais recorrentes?
3. Fale um pouco do uso da cor e como está enfrentado a entrada dos
leds em relação a isso.
4. O que mudará tendo somente led e multiparâmetros para utilizar?
5. Como as ideias surgem para você? Imediatamente? Após um tempo
trabalhando? As primeiras ideias costumam ficar? Vão se transformando? Você
costuma levantar muitas ideias que são depois descartadas? Ou trabalha de
forma mais sintética?
4.Você costuma fazer estudos teóricos nos seus trabalhos?
2 Tradução nossa. No original: “I am a lighting designer. The profession is only as old as the years
I have spend in it. This is astonishing When tou consider the flexibility lighting by electricity had
achieved before I was born. I think it Simply never occurred to anyone until the 1930s that the
lighting of anything should be the exclusive concern of a craftsman, let alone under the artistic
aegis of a specialist”. (ROSENTHAL, 1972, P.17).
ser vista primordialmente importante somente para que as pessoas
possam ver aquilo sobre que incide. A iluminação afeta tudo sobre o
que a luz incide: como se vê o que se vê, como se sente a respeito
disso e como se ouve o que se ouve. (ROSENTHAL,1972, p.17)3
3 Tradução nossa. No original: “Lighting design, in which I pioneered, is still considered for the
most part somewhat less importante than interior decoration. That atitude is acarcely justified
because light remains primarily important in order for people to see what it falls upon. The lighting
of it affects everything light falls upon: how you see what you see, how you feel about it, and how
you hear what you are hearing”. (ROSENTHAL, 1972, p.17).
Até então, os diretores pensavam e os técnicos, com a
formação elétrica, tentavam atender o que era pedido. E acho que
começa a surgir essa figura do iluminador exatamente a partir dessa
demanda, dessa pessoa que quer desenvolver mais… Jorginho [de
Carvalho], Aurélio [de Simoni], Davi [de Brito], são exatamente esses
técnicos que viraram iluminadores, por se dedicarem a pensar na luz
como algo a acrescentar artisticamente e não apenas a atender
tecnicamente. (RETTI, 2009, p. 49).
Nosella nota como esses três fatores estão entrelaçados e não podem ser
compreendidos de forma desassociada. Pontua ainda a necessidade de uma
investigação mais aprofundada dessa relação. Com toda certeza uma
compreensão mais vertical desse processo seria muito proveitosa para o
entendimento do oficio da iluminação cênica. Todavia, é importante notar que
com o passar do tempo, a iluminação foi – e vem – se tornando cada vez mais
complexa tecnologicamente. Este é um fator que não deve ser desconsiderado
no movimento aqui descrito.
A natureza tecnológica da iluminação é uma característica fundamental
no entendimento da relação entre criação e técnica, e da forma como o meio
teatral entende e reconhece os ofícios relacionados à luz. A respeito dessa
relação entre técnica e criação, o pesquisador apresenta a seguinte reflexão:
Mas essa compreensão de que a técnica não está diretamente
relacionada à tecnologia para mim é interessante. Porque não se faz
arte sem técnica, o ator que não tem técnica não faz arte, o diretor que
não tem técnica não faz arte. Então essa história de que nós
(iluminadores) somos técnica, e eles artistas, isso é uma mentira, isso
é uma balela. Porque não se faz arte sem técnica. Tem uma coisa que
- vou adiantar aqui minha anotações - tem uma coisa que o Renato
[Machado] fala da questão dele como professor, como pedagogo, que
o Guilherme ou o Chico pergunta para ele qual é questão central para
ele como professor e ele fala que para ele é tentar passar para o aluno,
mostrar para o aluno, fazer o aluno entender como é que ele pode sair
da ideia para concretude, ou seja, como é que ele pode transformar
aquilo que ele está pensando, em ideia, em obra, na concretude da
obra. Este processo é o processo artístico, e este processo artístico
não se dá sem técnica, ninguém faz ele sem técnica. Então, na
verdade, essa relação entre a técnica e a criação, e essa oposição
entre técnica e criação, ela me parece uma oposição histórica a ser
questionada. (NOSELLA, 2020, 34 min.)
A minha vida não tem sido a do artista solo, cujo trabalho pode
falar por si, mas sim a de uma colaboração constante com artistas,
produtores, realizadores, técnicos e ferramentas. Pensar em design de
iluminação ou em um lighting designer é incluir muitas outras pessoas
e muitas outras coisas. (ROSENTHAL, 1972, p. 25).4
4Tradução nossa. No original: “My life has not been that of the solo artist, whose work may
speak for itself, but one of constant colaboration with artists, producers, directors, technicians
and tools. To think abou lighting design or a lighting designer at all ir to include a great many
other people and a great many other things”. (ROSENTHAL, 1972, p. 25)
o assunto, majoritariamente em inglês, propondo etapas e procedimentos que
descreveriam o ofício de um iluminador ou iluminadora. Faremos a seguir uma
breve análise de algumas obras que abordam o assunto.
O arquiteto, iluminador e professor Stanley McCandless foi um dos
primeiros a publicar um método estruturado para criar e projetar iluminação
cênica, fruto direto de sua atividade como docente. McCandless formou-se
arquiteto pela Universidade de Harvard em 1923, mas rapidamente recebe um
convite para lecionar iluminação cênica em Yale, no recém-criado departamento
de artes dramáticas (SP ESCOLA DE TEATRO, 2021).
Ali, lecionou para alguns daqueles que viriam a ser a primeira geração de
lighting designers norte-americanos. Entre eles, estava a iluminadora Jean
Rosenthal:
Seu livro A Method of Lighting the Stage “é provavelmente o livro mais lido
e ainda hoje um dos mais procurados e credibilizados sobre o assunto nos EUA,
apesar de grandes partes do livro que tratam dos equipamentos do seu tempo
estarem agora obsoletas” (BRIGGS, 2008, p. 231)6. No livro, o autor propõe um
método a partir da divisão do espaço cênico em áreas, iluminadas de forma a
possibilitar que sejam controladas de forma independente, mas que, quando
acesas em conjunto, produzam uma luz geral homogênea. Em seguida, podem
ser adicionados refletores para fusão e tonificação da luz, refletores para
iluminação das superfícies cenográficas ao fundo da cena e a criação de efeitos
5 Tradução nossa. No original: “I have Always felt that insofar as this country is concerned
McCandless was indeed the granddaddy of us all. Not because there were no others before him,
but because he did have such a specific and orderly atitude toward lighting and he set up tha
most importante Thing: an atitude wich demands that there must de a technique and a method
for organizing your ideas”. (ROSENTHAL, 1972, p.30).
6 Tradução nossa. No original: [...] “is probably the most widely read and still one of the most
sought-after and authoritative books on the subject in the USA today despite the fact that huge
portions of it that deal with the equipment of his day are now obsolete”. (BRIGGS, 2008, p.
231).
especiais. Além disso, McCandless sistematiza quatro propriedades
fundamentais controláveis da luz, a serem trabalhadas e articuladas no processo
de criação: intensidade, cor, distribuição e controle (MCCANDLESS, 1932).
Já Francis Reid, em The Stage Lighting Handbook (REID,2001), lançado
pela primeira vez em 1976, define as seguintes etapas do processo da
iluminação cênica: estudo do texto, discussão com demais criadores, decisão de
estilo, presença em ensaios, produção de planta (identificação das áreas do
palco, determinação de cores por área, determinação de refletores especiais,
estabelecimento de prioridades, escolha de posições de refletores, escolha de
tipos de refletores e seleção de filtros), criação de uma lista de deixas,
comunicação de intenções para toda a equipe, preparar o equipamento,
pendurar os refletores, afina-los, ensaios de luz e ensaios técnicos.
Em A Process for Lighting the Stage (MCGRATH, 1990), Ian McGrath
estrutura os capítulos do livro a partir das etapas que propõe para o processo da
iluminação cênica, que envolve: cronograma de responsabilidades e tarefas,
formulação de um conceito, apresentação do conceito, leitura do texto e ensaios
iniciais, reflexão e estudo do desenho, criação de uma lista básica de deixas,
decompor o desenho em partes, escolha e posição de refletores, produção de
documentação, montagem, afinação, ensaio Técnico, ensaio de figurino e
ensaios corridos e estreia.
Richard Pilbrow, em Stage Lighting Design (PILBROW, 2008), publicado
primeiramente em 2000, apresenta, de forma resumida, o método de
McCandless de forma resumida, mas propõe complementa-lo com algumas
metodologias próprias. Segundo ele, para cada cena deve ser determinada: uma
luz dominante, uma luz secundária, uma luz e contorno e uma luz de
preenchimento. Além disso, sugere que se partas das seguintes perguntas
disparadoras: “Qual é o efeito visual do palco? Qual é o aspecto ou a sensação
que pretendemos criar? Como é que apoia ou sublinha o enredo da peça?”
(PILBROW, 2008, p. 28)7. O autor aponta que as respostas a essas perguntas
deveriam vir de conversas com a direção e a cenografia do projeto, além da
análise do texto dramatúrgico. Cita ainda, como parte do trabalho da iluminação,
7Tradução nossa. No original: “What is the visual effect of the stage? What is the look or feel
we intend to create? How will it support or underline the storyline of the play?” (PILBROW,
2008, p. 28)
a análise do texto, assistir os ensaios, o estudo do espaço teatral e seus
equipamentos e a produção formal da documentação e plantas de iluminação.
Em seu livro La Luz en el Teatro: Manual de Iluminación (SIRLIN, 2005), a
iluminadora argentina Eli Sirlin, descreve o processo de desenho de iluminação
com os seguintes passos: visualização da luz, análise da obra, comunicação das
ideias com a equipe, estudo do espaço cênico e seus recursos técnicos,
participação nos ensaios, dimensionamento do tempo de montagem e produção,
documentação das ideias, supervisão da montagem, afinação, programação da
luz, participação nos ensaios com luz e documentação do projeto de iluminação.
Sirlin retoma as propriedades controláveis da luz, propostas por McCandless,
mas com algumas alterações: intensidade, posição, distribuição-forma, tempo-
movimento e cor.
Todos os livros aqui descritos, apresentam algum tipo de método para a
criação em iluminação. No caso de McCandless e McGrath, seus livros são
estruturados a partir de um método ou processo, e os temas mais técnicos estão
presentes dentro das etapas da criação. Já nos demais casos, esse tema é um
assunto abordado somente em parte dos livros, como um capitulo ou secção
específica.
Apesar das diferenças de peso e importância que é dada ao tema dos
procedimentos e modos de produção da iluminação cênica, todos os livros
trabalham a partir de duas perspectivas: apresentar os elementos materiais com
os quais iluminadores podem trabalhar (como tipos de refletores, ângulos de
incidência, uso da cor) e a descrição do método de trabalho desde as primeiras
ideias até a apresentação para o público.
A problemática que se apresenta nesse modelo de trabalho que a maioria
dos livros segue é que pressupõem uma linearidade e previsibilidade que não
condiz com uma parte significativa dos processos teatrais aos quais tive acesso,
estudei ou vivencie, especialmente se tratando do nosso contexto brasileiro.
Arrisco dizer que mesmo processos mais convencionais, partidários de um modo
de fazer similar aos que descrevemos nos livros acima, tal linearidade é um
desejo de organização e previsibilidade que muitas vezes não se verifica na
prática.
Outro fator que chama atenção é que, em geral, pouco atenção é
dedicada à etapa de produção e desenvolvimento de ideias. Focam muito mais
nos procedimentos relacionados às dinâmicas de produção e materialização da
luz, tanto no que diz respeito a procedimentos de desenho e projeto, como de
práticas de organização da montagem, afinação e gravação.
Existem procedimentos e formas de trabalhar que podem auxiliar no
desenvolvimento de ideias e conceitos. Contudo, observamos como nos livros
descritos se comenta a respeito da necessidade de falar com a direção, assistir
os ensaios e estudar o texto dramatúrgico. Mas pouco se fala sobre o que pode-
se conversar com a direção, possibilidades de como estar presente na sala de
ensaio e de que forma pode-se analisar um texto teatral.
Além disso, a percepção de que as ideias surgem e depois se executam,
em uma divisão entre pensar e fazer, não é condizente com a realidade da
criação artística. O processo criativo é constituído de tentativas de
materialização de ideias. Muitas delas, apresentam-se de forma perfeita em
nosso imaginário, mas quando levadas para materialidade da sala de ensaio ou
do palco revelam-se inviáveis ou completamente diferentes do esperado.
Justamente por isso, muitas decisões criativas podem ser feitas até nos
momentos finais antes de uma estreia e, como vemos acontecer, ao longo da
uma temporada de um espetáculo. Isso não significa que não devemos
desenvolver a capacidade de antever e projetar. Mas é um lembrete de que o
processo criativo, mesmo no campo da iluminação cênica, não ocorre dentro de
uma linearidade previsível.
Nos próximos dois capítulos, levantaremos procedimentos de trabalho e
criação em iluminação cênica. Apesar de estarem divididos entre de onde
surgem as ideias, e como as ideias se tornam materialidade, não existe
necessariamente uma hierarquia temporal entre esses dois processos. Ao
contrário, são procedimentos que podem estar operando de forma simultânea no
processo.
Além disso, é importante ressaltar que não necessariamente o primeiro
trata-se de um processo mental enquanto o segundo é físico. Ambos são
pensamento e ação, se construindo simultaneamente. O processo de concepção
de ideias, de construção de um conceito de obra, pressupõe ação, um fazer.
Mesmo ações de observação, de escuta, são ações. É um agir. E são etapas
necessárias do processo criativo da luz.
Os procedimentos descritos não se limitam a uma ordem linear temporal.
São formar de agir, praticadas por diferentes iluminadores e iluminadoras
brasileiras em suas práticas criativas. As ações descritas podem se apresentar
em diferentes momentos do processo, se mesclando e se alternando. O caminho
do processo da luz está sujeito ao processo criativo como um todo e aos modos
de produção que o define. Diferentes grupos e parcerias vão trabalhar de
maneiras diferentes. Pesquisas teatrais sobre temas diversos podem demandar
caminhos distintos a se percorrer.
O que mais interessa é como esse quebra cabeça de procedimentos
podem se organizar e reorganizar a cada processo e como nós, iluminadores e
iluminadoras, podemos nos perceber não somente como criadores de luz, mas
como criadores dos nossos próprios métodos.
É justamente nessa vastidão de possibilidades que reside a graça da
coisa. A cada novo trabalho podemos inventar novos caminhos para criar. O que
se segue nos próximos capítulos é um levantamento de recursos e
procedimentos. São respostas à pergunta: ‘o que fazem iluminadores e
iluminadoras quando estão criando?’ podendo ser utilizados parcialmente e na
ordem desejada.
3.2. Estudar
Dividiremos esse item em dois subitens, relativos ao exercício de estudo
e investigação teórica que podem envolver o processo criativo.
3.3. Coletar
3.4. Experimentar
4.1. Projetar
4.2. Montar
Neste trecho, faremos um panorama, ainda que geral, do termo Luz Ativa
e suas implicações conceituais. Para tal, será necessário retomar seu significado
a partir dos escritos de Adolphe Appia, dentro de um contexto histórico específico
no qual o autor está inserido. Além disso, apontaremos algumas possibilidades
mais contemporâneas de leitura do termo dentro do campo da iluminação.
Duas referências serão proveitosas para isso: O livro Active Light, do
Crisafulli, e a tese de doutorado da Nadia Luciani, que faz uso do termo para
discutir a questão da performatividade no teatro contemporâneo.
8. Referências bibliográficas
CRUZ, Osmar Rodrigues. Teatro e sua técnica: iniciação. São Paulo: Livraria
Teixeira, 1960.
IMDB. Inside The Actors Studio. Entrada sobre o programa de televisão Inside
The Actors Studio no site Internet Movie Database. Disponível em:
<https://www.imdb.com/title/tt0169455/>. Acesso em: 19 ago 2021.
MCGRATH, Ian. A process for lighting the stage. Massachussetts: Allyn and
Bacon, 1990.
PILBROW, Richard. Stage Lighting Design: the art, the craft, the life. Londres:
NHB, 2008.
REID, Francis. The stage lighting handbook. 6ª. ed. New York: Routledge,
2001.
ROSENTHAL, J.; WERTENBAKER, L. The magic of light: the craft and career
of Jean Rosenthal, pioneer in lighting for the modern stage. Boston: Little,
Brown and Company, 1972.
SALLES, Cecília. A. Gesto inacabado: processo de criação artística. 6ª. ed. São
Paulo: Intermeios, 2013.
SALLES, Cecília. A. Redes de criação. 2ª. ed. São Paulo: Horizonte, 2017.
SIRLIN, Eli. La luz en el teatro: manual de iluminación. 1ª. ed. Buenos Aires:
Instituto Nacional del Teatro, 2005.
SP ESCOLA DE TEATRO. Série Grandes Iluminadores: Stanley
McCandless. 2021. Disponível em:
<https://www.spescoladeteatro.org.br/noticia/serie-grande-iluminadores-
stanley-mccandless>. Acesso em: 04 fev 2024.