Você está na página 1de 349

1

APOSTILA DE CATEQUESE DE JOVENS E ADULTOS

“Catequizar é revelar, na Pessoa de Cristo, todo o desígnio eterno de Deus” (CatIC 426)
2

PRIMEIRA FASE: REVELAÇÃO E VIDA DE ORAÇÃO 15

LIÇÃO 1: O EVANGELHO 16

O QUE É A PALAVRA DE DEUS? 16


A SAGRADA TRADIÇÃO APOSTÓLICA: 18
O SAGRADO MAGISTÉRIO DA IGREJA: 18

LIÇÃO 2: SAGRADA ESCRITURA 20

O SENTIDO DAS ESCRITURAS: 20


ESTILOS LITERÁRIOS: 21
1. Narrativa: 23
Narrativo histórico: 23
Narrativo didático: 23
2. Poesia e Lírico: 23
3. Profecia: 23
4. Epístola: 23
5. Lei e legislação: 24
6. Sapiencial: 24
7. Genealogias e listas: 24
8. Mitologia: 24
O DILÚVIO EM OUTRAS CULTURAS: 24
PERSONAGENS BÍBLICOS EXISTIRAM? 25
EVOLUCIONISMO X CRIACIONISMO 26
LENDO E INTERPRETANDO 27
1. Interpretação Literal: 27
2. Interpretação Espiritual: 30
2.1 Alegórico: 30
2.2 Moral: 31
2.2 Anagógico: 31

LIÇÃO 3: CONTATO COM AS ESCRITURAS: 33

DE CATÓLICOS PARA CATÓLICOS: 33


O PROBLEMA DO LIVRE EXAME: 34
BIBLIA OU CATECISMO? 35
FIDEI DEPOSITUM: 36
1. O prólogo 36
2. Os quatro pilares 36
3. Um monte de números 37
4. Seções: RESUMINDO 37
5. Índices, Glossários e Abreviações 38
COMO LER/ESTUDAR O CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA? 38
1º. Método: Parágrafos por dia: 38
2º. Método: Resumo em Resumo (Semanal): 39
3º. Método: Estudo por temas: 39
MAS E A BÍBLIA, VAMOS ALGUM DIA LER ELA? 39
1º. Método: LEITURA ORANTE - LECTIO DIVINA 39
1. Leitura: 40
2. Meditação: 40
3. Oração: 40
4. Contemplação: 40
3

2º. Método: DIÁRIO ESPIRITUAL 40


1. Promessas de Deus: 41
2. Ordens de Deus para obedecer: 41
3. Princípio eterno: 41
4. Mensagem de Deus para mim hoje: 41
5. Como posso aplicar isso em minha vida? 41
3º. Método: ACOMPANHANDO A LITURGIA DIÁRIA 41
SEQUÊNCIA PARA LEITURA/ESTUDO 42

INTRODUÇÃO À VIDA DE ORAÇÃO: 43

COMO TER VIDA DE ORAÇÃO? 43


COMO SER ALGUÉM QUE REZA? 43
COMO SE MANTER NO CAMINHO? 43
DETERMINADA DETERMINAÇÃO: 43

LIÇÃO 4: VIDA DE ORAÇÃO - O “TOQUE” 44

O TOQUE DE SAMUEL: 44
O TOQUE DE ELIAS: 44
O TOQUE DE AGOSTINHO: 45
COMO DEUS LHE TOCOU? 46
O CHAMADO DE MOISÉS: 46

LIÇÃO 5: VIDA DE ORAÇÃO - A “RESPOSTA” 48

O MÍSTICO MISTÉRIO: 48
AS MORADAS: 48
AS TRÊS CONVERSÕES: 49
A IGREJA É A ESPOSA DE CRISTO! 50

LIÇÃO 6: VIDA DE ORAÇÃO - NOSSA MAIOR VOCAÇÃO 52

CHAMADOS À SANTIDADE: 52
AS TENTAÇÕES: 53
CONCUPISCÊNCIA E OS PECADOS CAPITAIS: 54
a) Libido Amandi: 54
b) Libido Possidendi: 54
c) Libido Dominandi: 54
CASTIDADE, POBREZA E OBEDIÊNCIA: 55

LIÇÃO 7: VIDA DE ORAÇÃO - OU SANTOS OU NADA 56

MORNIDÃO: 56
NECESSÁRIO VOS É NASCER DINOVO: 56
TIPOS DE PECADO: 57
FONTES DA MORALIDADE 57
A CONVERSÃO: 58
COMO SOU OU COMO ESTOU? 59
KAIRÓS, O TEMPO DE DEUS: 59
JESUS É O MEU PASTOR? 60
4

DOAR-SE É LUCRO: 61
ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO: 62
OBRAS DE MISERICÓRDIA: 62

LIÇÃO 8: VIDA DE ORAÇÃO - O DIA A DIA: DICAS PRÁTICAS 63

CONSELHOS DE SANTA TERESA D’ÁVILA PARA UMA VIDA DE ORAÇÃO: 63


CONSELHOS DE SANTO TOMÁS DE AQUINO PARA UMA VIDA DE ORAÇÃO: 64
ROTEIRO DE ORAÇÃO: 64
UMA FORMA PRÁTICA PARA CRESCER NA VIDA DE ORAÇÃO: 65
JEJUNS, ABSTINÊNCIAS E PENITÊNCIAS: 65
O JEJUM EUCARÍSTICO OBRIGATÓRIO E OUTROS PRECEITOS: 66
DIAS DE PRECEITO NO BRASIL: 67
QUANDO É ERRADO FAZER JEJUM, ABSTINÊNCIA E PENITÊNCIA? 67
UM PAPA ENSINA A ORAÇÃO: 68

LIÇÃO 9: VIDA DE ORAÇÃO - A NATUREZA HUMANA 69

GRAÇA E NATUREZA: 69
GRAÇA ATUAL: 69
GRAÇA HABITUAL: 70
NOSSA NATUREZA: 71
AS DUAS MORTES: 72
NATUREZA ORDENADA X DESORDENADA: 73

LIÇÃO 10: VIDA DE ORAÇÃO – O SANTO SACRIFÍCIO 76

O SANTO SACRIFÍCIO 76
O SACRIFÍCIO DIVINO – A CRIAÇÃO: 76
O SACRIFÍCIO DE ABEL: 77
O SACRIFÍCIO DE NOÉ: 77
O SACRIFÍCIO DE ABRAÃO: 78
O SACRIFÍCIO DE MOISÉS E A PROMESSA A DAVI: 79
O SACRIFÍCIO DE CRISTO: 80
A MISSA DE TODOS OS SÉCULOS: 82
O Domingo: 82
As leituras: 82
A Homilia: 82
A Paz de Cristo (Mais evidente no rito ordinário): 82
Ofertório: 82
Oração Eucarística: 82
Comunhão e Ação de Graças: 83
OS SENTIDOS: 83
A MISSA TOCA A INTEGRALIDADE DO SER HUMANO: 83
a) Dimensão Física: 83
b) Dimensão Psicoafetiva: 83
c) Dimensão Espiritual: 84
A SANTA MISSA TOCA A ALMA: 84
I. Inteligência: 84
II. Vontade: 84
III. Sensibilidade: 84
5

LIÇÃO 11: VIDA DE ORAÇÃO - O DIA A DIA: ORAÇÕES (VIA PURGATIVA - 1ª A 3ª MORADAS) 85

MORADAS E GRAUS DE ORAÇÃO: 85


VIA PURGATIVA: 85
DONS E VIRTUDES: 86
VIRTUDES CARDEAIS: 86
1. Temperança: 87
2. Prudência: 87
3. Fortaleza/coragem: 87
4. Justiça: 88
VIRTUDES TEOLOGAIS: 88
I. Fé: 88
II. Esperança: 89
III. Caridade: 90
A CURA DEFINITIVA: 91
VIRTUDES E TENTAÇÕES: 91

LIÇÃO 12: VIDA DE ORAÇÃO - AS CINCO PEDRINHAS (SANTO ROSÁRIO) 92

ACIMA DE TUDO, O AMOR: 92


O QUE SÃO AS 5 PEDRINHAS? 94
O SANTO ROSÁRIO: 94
LEPANTO: 95
MÉTODO PARA REZAR COM FRUTO O SANTO ROSÁRIO: 97
---------- MISTÉRIOS GOZOSOS ---------- 97
---------- MISTÉRIOS LUMINOSOS ----------- 98
---------- MISTÉRIOS DOLOROSOS ----------- 99
---------- MISTÉRIOS GLORIOSOS ---------- 99

SEGUNDA FASE: APOLOGIA CATÓLICA 101

SÃO JUSTINO: 101

1º. DEGRAU: DEUS EXISTE 102

1ª HIPÓTESE: OS SERES PROCEDEM DO NADA 102


2ª HIPÓTESE: OS SERES PROCEDEM UNS DOS OUTROS NUMA SÉRIE INFINITA 103
3ª HIPÓTESE: OS SERES PROCEDEM DE UM CRIADOR 103
ARGUMENTO COSMOLÓGICO: 103
SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA: 103
O UNIVERSO ESTÁ EM EXPANSÃO: 104
RADIAÇÃO DO BIG BANG: 104
O PADRÃO DAS ONDAS: 104
A ANTROPIA DE EINSTEIN: 104
AS CINCO VIAS DE SANTO TOMAS DE AQUINO 105
O ARGUMENTO ONTOLÓGICO: 105
SE DEUS É BOM POR QUE EXISTE O MAL? 106
SE DEUS SABE O QUE FAREI, COMO É POSSÍVEL SER LIVRE? 106

1º. DEGRAU: TEMOS UMA ALMA IMORTAL (CONTINUAÇÃO) 107

PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA CLÁSSICA: 107


6

A EVIDÊNCIA DA ALMA E DA IMORTALIDADE: 107


PARTINDO DO PRINCÍPIO: 109
EU PRESENCIAL: 109
EU SOCIAL: 110
EU BIOGRÁFICO: 110
EU ESSENCIAL/EXISTENCIAL: 110

2º. DEGRAU: DEUS VEIO ATÉ NÓS 111

O QUE É RELIGIÃO? 111


EVOLUÇÃO DA RELIGIÃO: 112
CRISTIANISMO: 113
CRISTIANISMO, RELIGIÃO FABRICADA: 113
COMO FABRICAR EVIDÊNCIAS? 115

3º. DEGRAU: JESUS CRISTO É UM PERSONAGEM HISTÓRICO 117

ALEXANDRE, EXISTIU? 117


ONDE FOI QUE NAPOLEÃO PERDEU A GUERRA? 118
JESUS EXISTIU? 118
1. Relatos Romanos: 118
2. Relatos Judaicos: 119
3. Relatos Gregos: 120
FATOS HISTÓRICOS DA VIDA DE JESUS: 120

4º. DEGRAU: AS SAGRADAS ESCRITURAS SÃO DOCUMENTOS HISTÓRICOS CONFIÁVEIS 122

O ANTIGO TESTAMENTO: 122


TALMULDE: 122
CONCILIO DE JAMNIA: 123
SEPTUAGINTA (DOS 70): 123
ACUSAÇÃO PROTESTANTE: 124
DEUTEROCANÔNICOS CITADOS PELO NOVO TESTAMENTO: 124
DEFINIÇÃO DO CANON CATÓLICO: 127
O NOVO TESTAMENTO: 127
APÓCRIFOS: 127
SÃO JERÔNIMO: 129
POLÊMICA DAS LÍNGUAS: 129
OS 27 LIVROS DO NT SÃO CONFIÁVEIS? 130
MAS O QUE É A PATRÍSTICA? 132
PROVAS ARQUEOLÓGICAS: 132
SÃO LUCAS, HISTORIADOR: 133
A CONTROVÉRSIA DE PÔNCIO PILATOS: 135

5º. DEGRAU: O CONTEÚDO DA SAGRADA ESCRITURA É REAL E VERDADEIRO 137

CRITÉRIOS PARA O DISCERNIMENTO: 137


TEMOS UM TESTEMUNHO ANTIGO? 138
TEMOS TESTEMUNHAS OCULARES? 138
TEMOS O DEPOIMENTO DE TESTEMUNHAS OCULARES MÚLTIPLAS E INDEPENDENTES? 139
AS TESTEMUNHAS OCULARES SÃO DIGNAS DE CONFIANÇA? DEVEMOS ACREDITAR NELAS? 139
TEMOS ALGUM TESTEMUNHO DE ALGUM OPONENTE DAS TESTEMUNHAS OU DOS FATOS? 141
7

5º. DEGRAU: O CONTEÚDO DA SAGRADA ESCRITURA É REAL E VERDADEIRO (CONTINUAÇÃO)


143

O TESTEMUNHO CONTÉM FATOS OU DETALHES QUE SÃO EMBARAÇOSOS PARA OS AUTORES? 143
DETALHES EMBARAÇOSOS SOBRE JESUS: 143
AS EXIGÊNCIAS DE JESUS: 145
O QUE JESUS DISSE E O QUE OS APÓSTOLOS DISSERAM: 145
IMPOSSÍVEL DE SER INVENSÃO: 146
1. O sepultamento de Jesus: 146
2. As primeiras testemunhas: 146
3. A conversão dos sacerdotes: 146
4. A explicação dos judeus: 147
PERSONAGENS HISTÓRICOS: 147
VERSÕES DIVERGENTES: 147
PROVA DE FOGO: 148
LENDA X FATO: 149
CONVERSÃO EM MASSA: 149
MARTÍRIO X FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO: 151

6º. DEGRAU: A SÃ DOUTRINA DA SALVAÇÃO É A ÚNICA REVELAÇÃO CONHECIDA 152

GUERRA CONTRA A IGREJA: 152


OS RACIONALISTAS: 152
CONCLUSÃO DOS INIMIGOS DA IGREJA: 153
CONSEQUÊNCIAS DA VERDADE CATÓLICA: 154

7º. DEGRAU: JESUS CRISTO, FUNDOU/EDIFICOU/ INSTITUIU SUA IGREJA 156

SÃ DOUTRINA DA SALVAÇÃO: 156


DOUTRINA APOSTÓLICA: 157
LITURGIA SACRAMENTAL PRIMITIVA: 158
FUNDAÇÃO DA IGREJA: 159
UMA INSTITUIÇÃO CHAMADA IGREJA: 160
IGREJA - COLUNA E SUSTENTÁCULO DA VERDADE: 160
ANTICRISTO: 161
QUE IGREJA É ESTA? 162

8º. DEGRAU: A IGREJA DE CRISTO É A IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA 164

SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA: 164


CARTA DE SANTO INÁCIO AOS ESMIRNENSES (SÉC. I) 165
A IGREJA NASCEU CATÓLICA: 168

TERCEIRA FASE: VERDADES DA FÉ 169

1º. PARTE: A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO 170

A SANTÍSSIMA TRINDADE: 170


O ÍCONE DE RUBLEV: 170
JESUS FICOU SÓ NA CRUZ? 173
O QUE É KENOSIS? 174
8

O QUE É MISTÉRIO? 174


A IGREJA É O PRÓPRIO DEUS: 175
A IGREJA É O REINO DE DEUS: 175
A IGREJA É A PLENITUDE DA CRIAÇÃO: 176
A IGREJA É UMA INSTITUIÇÃO: 176
A IGREJA SOMOS NÓS: 177
TRIUNFANTES, PADECENTES E MILITANTES: 178
PAGÃOS BATIZADOS: 179

2º. PARTE: NO QUE CONSISTE A SALVAÇÃO 180

DEUS NA HISTÓRIA: 180


O QUE É UMA PROFECIA? 180
DEUS FALA A TODOS O TEMPO TODO: 181
AS SEMENTES DO VERBO: 182
A NOVA ALIANÇA: 182
O QUE É TRADIÇÃO? (COM “T” MAIÚSCULO) 184
O QUE É TRADIÇÃO? (COM “T” MINÚSCULO) 184
E O QUE É UM DOGMA? 185
E O QUE É UMA VERDADE DE FÉ? 185

3º. PARTE: OS SACRAMENTOS 187

O QUE É SACRAMENTO? 187


REALIZAÇÃO DO SIGNIFICADO: 188
VALIDADE DOS SACRAMENTOS: 188
I. "Um sinal sensível": 188
II. Deve ser "instituído por Jesus Cristo": 189
III. "Produzir a graça": 189
EFEITO GOTA NO LAGO: 189
DA IGREJA E PARA A IGREJA: 190
CONTRADIÇÕES BÍBLICAS? 190
DE ONDE VIERAM OS SACRAMENTOS: 191
OS 7 SACRAMENTOS: 192
OS SACRAMENTOS NA BÍBLIA: 193
1. Batismo: 193
2. A Eucaristia (Comunhão): 194
3. A Crisma: 194
3.1 Os Dons do Espírito Santo: 195
3.2 O significado da crisma: 196
3.3 O Ritual do Sacramento da Crisma (Confirmação) 197
4. A CONFISSÃO: 197
5. A UNÇÃO DOS ENFERMOS: 198
6. ORDEM: 198
7. O MATRIMÔNIO: 199
DIVISÃO DOS SACRAMENTOS: 200
BEM-VINDO AO CAMPO DE BATALHA 201
SACRAMENTAIS: 202

4º. PARTE: A EUCARISTIA 203

PRÉ-FIGURAÇÕES DA EUCARISTIA NO ANTIGO TESTAMENTO: 203


O SACERDÓCIO DE CRISTO: 204
9

A NOVA ALIANÇA: 204


ENTRE A ANTIGA E A NOVA ALIANÇA: 205
O BANQUETE DO CORDEIRO: 206
O SACRIFÍCIO UNIVERSAL: 206
ALIMENTO ESPIRITUAL: 206
O PÃO DOS FORTES: 207
EUCARISTIA E O NOVO TESTAMENTO 207
OS SINÓTICOS E ATOS: 208
O EVANGELHO DE S. JOÃO: 208
ENTENDENDO JOÃO 6 209
A SANTA CEIA: 212
A COMUNHÃO SACRÍLEGA: 212
O QUE É A SANTA MISSA? 212
A EUCARISTIA E A SAGRADA TRADIÇÃO 213
Didaqué [instrução dos doze apóstolos] (80 ou 90 d.C): 213
Santo Inácio de Antioquia (107): 213
São Justino de Roma (100 a 160 d.C.) 213
Santo Irineu de Lião (130 a 202 d.C) 213
Orígenes (184 a 253 d.C) 213
Santo Agostinho (354 a 430 d.C) 214
A EUCARISTIA E OS SANTOS 214
REQUISITOS PARA SE RECEBER A COMUNHÃO: 214
TIPOS DE COMUNHÃO: 215
1. Física: 215
2. Espiritual: 215
3. Físico/Espiritual: 215
TRANSUBSTANCIAÇÃO: 215
MILAGRES EUCARÍSTICOS 215
1. Lanciano (Itália; 700d.C.) 215
2. Orvieto (Bolsena, Itália; 1263) 216

5º. PARTE: QUEM É JESUS? 217

QUEM É O JESUS QUE ADORAMOS? 217


EU ADORO A DEUS OU UM ÍDOLO? 217
PARA CONHECER JESUS: 218
QUEM DIZ SER JESUS? 218
DISSE-LHES JESUS: 219
DOGMAS SOBRE JESUS CRISTO: 219
1. Jesus é Deus: 219
2. Possui duas naturezas: 219
3. Duas vontades unidas: 219
4. Jesus é Homem: 220
5. Ele é o Santo Sacrifício: 220
6. Ele é o Salvador da Humanidade: 220
7. Ele morreu e ressuscitou: 220
8. Subiu aos Céus, em corpo e alma: 220

6º. PARTE: CREIO NA COMUNHÃO DOS SANTOS 221

PELOS MÉRITOS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO 221


O QUE É MÉRITO? 222
PARA QUE TODOS SEJAM UM: 222
10

DORMINDO OU ACORDADO? 223


REENCARNAÇÃO: 223
AMOR (INTERCESSÃO): 224
COMO AMAR OS INIMIGOS? 225
PODEMOS “MERECER” A GRAÇA PARA OS OUTROS? 226
OS TRÊS MEIOS DE SANTIFICAÇÃO DE UM TERCEIRO: 228
1. Oração de intercessão (Rezar): 228
2. Merecimento em favor dos outros (Merecer): 228
3. Satisfação Vicária (Satisfazer): 228
AS INDULGÊNCIAS: “LAPSIS E CONFESSORES” 228
OS NOVÍSSIMOS: 229
INFERNO, ATO DE AMOR DE DEUS: 231

7º. PARTE: A DEVOÇÃO MARIANA 233

1ª ESTRELA - DOGMA DE MARIA MÃE DE DEUS (THEOTOKOS): 233


2ª ESTRELA - DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO: 234
4 ª ESTRELA - DOGMA DA ASSUNÇÃO DE MARIA AOS CÉUS: 236
5 ª ESTRELA - FILHA PREDILETA DO PAI: 237
6 ª ESTRELA - ESPOSA DO ESPÍRITO SANTO: 238
7 ª ESTRELA - ONIPOTÊNCIA SUPLICANTE (HUMILDADE): 239
8 ª ESTRELA - ESMAGADORA DA SERPENTE: 239
9 ª ESTRELA - MEDIANEIRA DE TODAS AS GRAÇAS: 240
10 ª ESTRELA - MÃE DA HUMANIDADE, AOS PÉS DA CRUZ: 241
11 ª ESTRELA - RAINHA DO CÉU E DA TERRA: 242
12 ª ESTRELA - CORREDENTORA: 242
TERÇO DAS LÁGRIMAS: 243
AS SETE DORES DE NOSSA SENHORA: 244
1. A profecia de Simeão sobre Jesus: 244
2. A perseguição de Herodes e a fuga da Sagrada Família para o Egito: 244
3. A perda do Menino Jesus no Templo de Jerusalém durante três dias: 244
4. O encontro admirável de Maria com Seu Filho Jesus carregando a Cruz, no caminho para o Calvário: 244
5. Maria observando o sofrimento e a morte de Jesus na cruz: 245
6. Maria recebe em seus braços o corpo do seu filho morto tirado da cruz: 245
7. Maria observa quando depositaram o corpo de Jesus no sepulcro, ficando Ela em triste solidão: 245
TODOS OS SANTOS E DOUTORES DA IGREJA, CONCORDAM COM AS PALAVRAS A SEGUIR: 245
UMA DEVOÇÃO ESPECIAL: 246

8º. PARTE: A VIDA DOS SANTOS (HAGIOGRAFIA) 247

SE QUERES SER PERFEITO: 247


MODOS DE AMAR A DEUS: 247
1. Servo/Serva: 247
2. Filho/Filha: 248
3. Esposo/Esposa: 248
O GLORIOSO SÃO JOSÉ, PATRONO DA IGREJA (19 DE MARÇO E 1º DE MAIO): 248
SANTA JOSEFINA BAKHITA (8 DE FEVEREIRO) 252
SANTA GIANNA BERETTA MOLLA (28 DE ABRIL) 253
SANTA BERNADETTE SOUBIROUS (16 DE ABRIL) 255

9º. PARTE: MILAGRES 259

POR QUE ESTES FATOS ACONTECEM? 259


11

O QUE É MILAGRE? 259


O MILAGRE: PADRE PIO DE PETRELCINA: 261
POR QUE OS ASTECAS SE CONVERTERAM EM MASSA AO CATOLICISMO? 264
A IMAGEM: 266
CONTEXTO HISTÓRICO/CULTURAL: 268
O MANTO E O MILAGRE CONTÍNUO: 269
ENTENDENDO OS MILAGRES: 271

10º. PARTE: DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA 273

DIREITA, ESQUERDA OU CATÓLICO? 273


POLITICAMENTE MANIPULADO: 274
O PRINCIPAL PROBLEMA POLÍTICO: 274
A UTOPIA: 275
NOSSO REINO NÃO É DESTE MUNDO: 276
CONSTRUA O HOMEM, CONSTRUA O MUNDO: 277
CONDENAÇÕES DE IDEOLOGIA ESPECÍFICAS: 278
1. Ao Nazismo e Fascismo e Anti-Semitismo Alemão: 278
2. Ao Comunismo: 279
3. Ao Socialismo: 279
4. Ao Capitalismo, Socialismo e Autoritarismo Democrático: 279
5. Ao Capitalismo, Socialismo e Comunismo: 279
6. Ao Liberalismo: 279
7. Ao Progressismo e Liberalismo: 280
8. Ao Progressismo Teológico: 280
9. Ao Internacionalismo (Nova Ordem Mundial) 280
10. Ao Tradicionalismo 281
11. Ao Conservadorismo e Fundamentalismo 281
12. Ao Espectro de Direita e Esquerda Política 281
DSI – DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA: 282
PRINCÍPIOS DA DSI: 282
I. Princípio da Destinação Universal dos Bens: 282
II. Princípio da Subsidiariedade: 283
III. Princípio da Solidariedade: 284
IV. Princípio do Bem Comum: 285
V. Dignidade da Pessoa Humana: 286
O CATÓLICO É DISTRIBUTIVISTA? 287
A ÚLTIMA PROVA DA IGREJA 287

11º. PARTE: ANGEOLOGIA E DEMONOLOGIA 289

ANJOS: 289
HIERARQUIA ANGÉLICA: 289
1. Coro dos Serafins: 289
2. Coro dos Querubins: 290
3. Coro dos Tronos: 290
4. Coro dos Dominações: 290
5. Coro dos Potestades: 290
6. Coro dos Virtudes: 290
7. Coro dos Dominações: 290
8. Coro dos Arcanjos: 291
9. Coro dos Anjos: 291
DEMONOLOGIA 291
12

O QUE É UM DEMÔNIO? 292


ENFRENTANDO O DEMÔNIO: 293
TODO APEGO, É IDOLATRIA: 293
1ª. Idolatria das Coisas: 294
2ª. Idolatria das Pessoas: 294
3ª. Idolatria de nós mesmos: 294
VENCENDO AS IDOLATRIAS: 294
COMO AGEM OS DEMÔNIOS: 295
1º. Tentação: 295
2º. A possessão Diabólica: 297
3º. A vexação Diabólica: 298
4º. A Obsessão Diabólica: 299
5º. A Infestação Diabólica: 300
CONSIDERAÇÕES PARAPSICOLÓGICAS 300

12º. PARTE: A MORAL CATÓLICA 301

A LEI NATURAL: 301


1. Aborto: 303
2. Manipulação de Células Embrionárias: 303
3. Eutanásia: 304
4. Pena de Morte: 304
5. Experiências com Animais: 304
6. Casamento entre Indivíduos do Mesmo Sexo: 305
7. Homossexualidade (AMS): 305
8. Ideologia de Gênero: 306
9. Indissolubilidade do Matrimônio (Casamento): 306
10. Métodos Contraceptivos: 307
11. Uso e Liberação das Drogas: 307
12. Escravidão: 308
13. Racismo: 309
14. Discriminação Sexual: 309
15. Mudanças Climáticas: 310
16. Sustentabilidade: 310
17. Meio Ambiente: 311
18. Imigração: 311
19. Direito as Armas (Legítima Defesa): 312
20. Fome: 313
21. Economia: 314
22. Guerra: 314
DIREITO X ÉTICA X MORAL: 315
MORAL X MORALISMO 316

13º. PARTE: O EXAME DE CONSCIÊNCIA 318

AS FONTES DA MORALIDADE 318


I. Objeto: 318
II. Intenção: 318
III. Circunstâncias: 318
OS DEZ MANDAMENTOS: 318
MANDAMENTOS DA IGREJA: 320
PECADOS CAPITAIS: 321
MANDAMENTOS EVANGÉLICOS: 322
13

EXAME DE CONSCIÊNCIA: 322


AS IMPERFEIÇÕES: 323
DILEMAS ÉTICOS, LEGAIS E MORAIS: 323
1. Ignorância: 323
2. Negligência: 324
3. Amor ou Sacrifício? 324
4. Justiça ou Omissão? 325
5. Moral X Ética: 325
6. Única Opção ou Consciência Laxa? 326
7. Qual é o Maior Bem? 326
8. A Boa Intensão: 326
9. O Mal Menor? 327
10. Culpemos os Culpados: 328
11. O Mal com Mal: 328
12. Amizade ou Fidelidade? 329
13. A Escolha Divina: 329
14. Testemunho ou Fofoca: 330
15. A Santa Escolha: 330

14º. PARTE: HISTÓRIA DA IGREJA 331

PRELIMINARES (A PROPAGANDA ANTI-CATÓLICA): 331


A CONVERSÃO DE SAULO: 332
O IMPÉRIO ROMANO: 332
PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS: 333
CONSTANTINO: 334
HERESIAS: 335
I. Gnosticismo (século I - II) Até os dias de hoje: 335
II. Docetismo (século I): 336
III. Montanismo (século II): 336
IV. Apatheia (século IV): 336
V. Arianismo (século IV): 336
VI. Nestorianismo (século V): 337
VII. Monofisismo (século V): 337
VIII. Pelagianismo (século V): 337
IX. Iconoclastia (século VIII - IX): 337
X. Predestinação (século V - XVI): 337
XI. Filioque (século IX - XI): 337
XII. O Grande Cisma do Oriente de 1054: 337
XIII. Catarismo (século XII - XIII): 338
XIV. Protestantismo (século XVI): 339
1. Sola fide (somente a fé): 339
2. Sola scriptura (somente a Escritura): 339
3. Solus Christus (somente Cristo): 339
4. Sola gratia (somente a graça): 339
5. Soli Deo gloria (glória somente a Deus): 339
XV. Jansenismo (século XVII - XVIII): 340
XVI. Modernismo (século XX): 340
INQUISIÇÃO: 340
CRUZADAS: 342
TEMPLARIOS: 343
PEDOFILIA: 344
IGREJA E A HISTÓRIA DO MUNDO: 345
1. Pré-história da civilização: 345
14

2. Igreja a mãe da Ciência Moderna: 345


3. Direitos humanos: 345
4. Maior obra caritativa e educacional do mundo: 346
5. A decadência da humanidade: 346
I. O primeiro “Não” foi dado à Igreja Católica: 346
II. O segundo “Não” foi dado à Cristo: 346
III. O terceiro “Não” foi dado a Deus: 347
IV. O quarto “Não” é dito ao homem: 347
A IGREJA E OS DIAS DE HOJE: 347
AS TRÊS DEVOÇÕES BRANCAS: 348
15

PRIMEIRA FASE: REVELAÇÃO E VIDA DE ORAÇÃO


A origem da Catequese é Nosso Senhor, o grande catequista, que por três anos, esteve formando
seus discípulos, e lhes ensinando o que precisariam para crer e cumprir a Missão de ir pelo mundo
ensinando o Evangelho a todos:

“E disse-lhes: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura.”


(Evangelho de São Marcos - Mc 16,15)

São João Paulo II, ao referir-se aos catequistas em sua exortação apostólica disse:

“A preocupação constante de todo o catequista, seja qual for o nível das suas responsabilidades na
Igreja, deve ser a de fazer passar, através do seu ensino e do seu modo da comportar-se, a
doutrina e a vida de Jesus Cristo. Assim, há de procurar que a atenção e a adesão da inteligência
e do coração daqueles que catequiza não se detenha em si mesmo, nas suas opiniões e atitudes
pessoais; e sobretudo não há de procurar inculcar as suas ‘opiniões e opções pessoais’, como se
elas exprimissem a doutrina e as lições de vida de Jesus Cristo. Todos os catequistas deveriam
poder aplicar a si próprios a misteriosa palavra de Jesus: ‘A minha doutrina não é minha, mas
d’Aquele que me enviou’ (João 7,16). É isso que faz São Paulo, ao tratar de um assunto de grande
importância: ‘Eu aprendi do Senhor isto, que por minha vez vos transmiti’ (1 Cor 11,23)”. (Catechesi
Tradendae, 6)

O Papa Bento XVI, disse em uma de suas audiências públicas que:

“o pior problema do povo católico é a ignorância religiosa. Muitos católicos não conhecem a bela
doutrina católica e por isso muitos são enganados pelas seitas e igrejas que não foram
fundadas por Jesus Cristo. Temos uma bela doutrina de dois mil anos, revelada por Cristo,
amadurecida no sangue dos mártires, nas orações dos santos, na sabedoria dos doutores, dos papas
etc., mas muitos não a conhecem”.

E recentemente, o Papa Francisco em uma homilia afirmou:

“O catequista caminha a partir de Cristo e com Ele, não é uma pessoa que parte de suas próprias
ideias e gostos, mas se deixa olhar por Ele, porque é este olhar que faz arder o coração”.

A catequese precisa, na ótica dos últimos três Pontífices da Igreja:

1. Não ensinar nada além do que é a Sã Doutrina da Salvação;


2. Somos herdeiros de mais de 2000 anos de história e Doutrina;
3. A catequese inicia no testemunho comportamental e não apenas nas palavras ditas;

São Francisco de Assis, tem uma importante lição a nos ensinar:

Certa vez, S. Francisco pediu a um Irmão, chamado Leão: “Frei Leão, vamos fazer uma pregação?”
“Sim”, respondeu o Irmão. Os dois saíram caminhando pelas ruas de Assis. Andaram, andaram...
Mas nunca chegavam ao local da tal pregação. Por fim, começaram a voltar para casa. Quando
estavam chegando, Frei Leão perguntou: “Frei Francisco, e a pregação?” “Já a fizemos”, respondeu
ele. A palavra convence, o exemplo arrasta. A simples caminhada deles, um ao lado do outro,
conversando com alegria e amizade, foi a pregação. (Pe. Antônio Queiroz, C.Ss.R,
https://www.a12.com/)

“Anunciemos o Evangelho a todo tempo, se necessário, use palavras.” (São Francisco de Assis)
16

LIÇÃO 1: O EVANGELHO
O termo Evangelho, nada mais é do que “Boa Notícia”, uma informação que é dada ou transmitida,
que causa alegria e entusiasmo. E qual é a Boa Notícia que Nosso Senhor nos deu? É esta:

“Sic enim dilexit Deus mundum, ut Filium suum unigenitum daret, ut omnis, qui credit in eum, non pereat, sed habeat
vitam aeternam.”
(Evangelho de São João - Jo 3,16)

Por quê: A maior explicação; Analogia com a vinha


Deus: O maior de todos os seres;
Amou: O maior mandamento; SUMO NT
Tanto: A maior intensidade;
O mundo: O maior alvo;
Que lhe deu: A maior ato (doar); JO 3,16
Uva
Seu Filho único: A maior expressão de Deus;
Para que todo aquele: A maior abrangência;
Que Nele crer: A maior condição;
Não se perca: A maior desgraça; VINHO BÍBLIA
Mas tenha: A maior conquista;
A vida eterna: A maior Graça. Jo 3,16 = O CENTRO DO EVANGELHO

O centro da mensagem Cristã é este:

A Palavra que Deus quis Se comunicar, por meio de uma ótima, excelente e maravilhosa notícia,
que Ele nos ama e quer nos dar, mediante a fé, a vida eterna.

O QUE É A PALAVRA DE DEUS?


1
Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele. Ela existe antes de todos os séculos. 2Quem
pode contar os grãos de areia do mar, as gotas de chuva, os dias do tempo? Quem pode medir a altura do céu,
a extensão da terra, a profundidade do abismo?3Quem pode penetrar a sabedoria divina, anterior a tudo?4A
sabedoria foi criada antes de todas as coisas, a inteligência prudente existe antes dos séculos! 5O Verbo de Deus
nos céus é fonte de sabedoria, seus caminhos são os mandamentos eternos.6A quem foi revelada a raiz da
sabedoria? Quem pode discernir os seus artifícios? 7A quem foi mostrada e revelada a ciência da sabedoria?
Quem pode compreender a multiplicidade de seus caminhos?8Somente o Altíssimo, criador onipotente, rei
poderoso e infinitamente temível, Deus dominador, sentado no seu trono; 9foi ele quem a criou no Espírito
Santo, quem a viu, numerada e medida;10ele a aspergiu em todas as suas obras, sobre toda a carne, à medida
que a repartiu, e deu-a àqueles que a amavam.11O temor do Senhor é uma glória, um motivo de glória, uma
fonte de alegria, uma coroa de regozijo.12O temor do Senhor alegra o coração. Ele nos dá alegria, regozijo e
longa vida.13Quem teme o Senhor se sentirá bem no instante derradeiro, no dia da morte será abençoado. 14O
amor de Deus é uma sabedoria digna de ser honrada.15Aqueles a quem ela se mostra amam-na logo que a
veem, logo que reconhecem os prodígios que realiza.
(Eclesiastico - Eclo 1, 1-15)

Vi ainda o céu aberto: eis que aparece um cavalo branco. Seu cavaleiro chama-se Fiel e Verdadeiro, e é com
11

justiça que ele julga e guerreia. 12Tem olhos flamejantes. Há em sua cabeça muitos diademas e traz escrito um
nome que ninguém conhece, senão ele. 13Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome é
Verbo de Deus.
(Apocalipse - Ap 19, 11-13)
1
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. 2Ele estava no princípio junto
de Deus.3Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. 4Nele havia vida, e a vida era a luz dos homens. 5A luz
17

resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. 6Houve um homem, enviado por Deus, que se
chamava João. 7Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio
dele. 8Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 9[O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao
mundo, ilumina todo homem. 10Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o
reconheceu. 11Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. 12Mas a todos aqueles que o receberam,
aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, 13os quais não nasceram do
sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. 14E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de
verdade.
(Evangelho de São João - Jo 1, 1-14)

O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos
1

contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida – 2porque a vida se manifestou, e
nós a temos visto; damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e que se nos
manifestou –, 3o que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão conosco.
Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo.
(Primeira Carta/Epístola de São João - 1 Jo 1, 1-3)
1
Palavras de Agur, filho de Jaces, de Massa. Palavras desse homem: Eu me fatiguei por Deus, estou esgotado por
Deus, eis-me entregue.2Porque eu sou o mais insensato dos homens, não tenho a inteligência de um
homem.3Não aprendi a sabedoria e não conheci a ciência do Santo.4Quem subiu ao céu e desceu? Quem
reteve o vento em suas mãos? Quem envolveu as águas em seu manto? Quem determinou as extremidades da
terra? Qual é o seu nome, qual é o nome de seu filho, se é que o sabes? 5Toda a Palavra de Deus é provada,
é um escudo para quem se fia nele.6Não acrescentes nada às suas palavras, para que ele não te corrija e sejas
achado mentiroso.
(Provérbios - Pv 30, 1-5)
1
Estando Jesus um dia à margem do lago de Genesaré, o povo se comprimia em redor dele para ouvir a
Palavra de Deus.
(Evangelho de São Lucas - Lc 5,1)
35
Se a Lei chama deuses àqueles a quem a Palavra de Deus foi dirigida (ora, a Escritura não pode ser
desprezada)
(Evangelho de São João - Jo 10,35)

Notemos que em Lc 5,1 as pessoas se reúnem ao redor de Nosso Senhor Jesus Cristo para “ouvir
a Palavra de Deus”, se você verificar todas as citações do termo “Palavra de Deus” no Antigo
Testamento (AT) não irá encontrar as pessoas se dirigindo aos profetas para ouvir “deles” a Palavra
de Deus. Os profetas eram os destinatários da Palavra de Deus ou Palavra do Senhor (mais
frequente sendo referida aos profetas):
1
A palavra do Senhor foi dirigida a Jeú, filho de Hanani, contra Baasa, nestes termos:
(Primeiro Livro dos Reis - Rs 16,1)

Como podemos constatar, as Sagradas Escrituras, fazem referência à Palavra de Deus, e até
enunciam a Palavra de Deus, porém, há um esforço contínuo em todos os livros citados, de trazer
para o texto, o que ficou conhecido como Palavra do Senhor, Oráculo do Senhor, Palavra de Deus
e recentemente no Novo Testamento (NT), Evangelho, que não aparece em nenhum momento no
AT, e ainda, os textos referem-se a Nosso Senhor Jesus Cristo, como sendo o Verbo de Deus feito
carne, ora, o Verbo é o mesmo que Palavra, a Palavra de Deus feito carne, nos deu testemunho
em Jesus Cristo Nosso Senhor, sendo assim a Palavra de Deus é em primeiro lugar, e literalmente
a Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. É o que nos ensina o Documento do Concílio Vaticano II
(CVII), Dei Verbum (DV):
18

“Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo (Jo 1,3), oferece aos homens um testemunho
perene de Si mesmo na criação (Rm 1, 1-20) e, além disso, decidindo abrir o caminho da salvação
sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais. Depois
da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação (Gn 3,15), e cuidou
continuamente do gênero humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na
prática das boas obras, procuram a salvação (Rom. 2, 6-7). No devido tempo chamou Abraão, para
fazer dele pai dum grande povo (Gn 12,2), povo que, depois dos patriarcas, ele instruiu, por meio de
Moisés e dos profetas, para que o reconhecessem como único Deus vivo e verdadeiro, pai providente
e juiz justo, e para que esperassem o Salvador prometido; assim preparou Deus através dos
tempos o caminho ao Evangelho.” (DV 3)

A SAGRADA TRADIÇÃO APOSTÓLICA:

Em termos práticos, a Palavra de Deus e o Evangelho, não estão restritos às Sagradas Escrituras,
como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (CatIC) citando a mesma DV 9:

“A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito divino” (CatIC
81)

Porém, o mesmo CatIC continua a explicar, que a fonte da Palavra de Deus, não é apenas as
Sagradas Escrituras:

“A sagrada Tradição, por sua vez, conserva a Palavra de Deus, confiada por Cristo Senhor e pelo
Espírito Santo aos Apóstolos, e transmite-a integralmente aos seus sucessores, para que eles, com a
luz do Espírito da verdade, fielmente a conservem, exponham e difundam na sua pregação” (DV9)

O SAGRADO MAGISTÉRIO DA IGREJA:

Uma vez estabelecidas as fontes da revelação (Sagrada Escritura e Sagrada Tradição Apostólica)
convêm que haja uma unidade interpretativa da Revelação, para que, apesar da canonicidade dos
textos e tradições, e da santidade do remetente e fundador, o Evangelho não seja mal interpretado
e/ou dissimulado, por isso, Nosso Senhor, deixou instituído não apenas a Igreja, como o Magistério
desta mesma Igreja:
15
Disse-lhes Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou?”16Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus
vivo!”. 17Jesus, então, lhe disse: “Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te
revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. 18E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo
o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.
(Evangelho de São Mateus - Mt 16, 15-19)

Mais adiante, Nosso Senhor, dirigindo-se agora não unicamente a São Pedro, mas aos demais
discípulos, que se tornariam apóstolos, diz:
15
“Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu
irmão. 16Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela
decisão de duas ou três testemunhas. 17Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja,
seja ele para ti como um pagão e um publicano. 18Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra
será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu.”
(Evangelho de São Mateus - Mt 18,15-18)

Ora, Nosso Senhor deixa bem claro que, quem não dá ouvidos à Igreja, deve ser considerado por
nós, seus seguidores, discípulos e, portanto, Católicos, como pagão e publicano, ou seja, alguém
19

que ainda não recebeu o anúncio, mesmo que este acredite fazer parte da Igreja. Isto se dá, por
que a Igreja, nas palavras de São Paulo:
15
Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na casa de Deus, que é a Igreja de Deus
vivo, coluna e sustentáculo da verdade.
(Primeira Carta de São Paulo a Timóteo - 1Tm 3,15)

Sendo assim, a Igreja torna-se a referência de autoridade, reconhecida pelas Sagradas Escrituras,
e ainda o confirmam as palavras do Senhor, referidas na mesma Escritura:
16
Quem vos ouve a mim ouve; e quem vos rejeita a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me
enviou.”
(Evangelho de São Lucas - Lc 10,16)

As Escrituras, portanto, foram escritas por inúmeros autores, mas é a Igreja quem compilou os 74
livros e definiu que os mesmos, continham a Palavra de Deus escrita, sendo assim, também é a
mesma Igreja, que tem condições de estabelecer as normas, regras e as tradições que são também
Sagradas, mas que transmitidas de outra forma, seja oral ou por escrito, mas que não fazem parte
das Sagradas Escrituras, como o texto a seguir, muito bem demonstra:

Eu te deixei em Creta para acabares de organizar tudo e estabeleceres anciãos (sacerdotes) em cada cidade, de
acordo com as normas que te tracei.
(Carta de São Paulo a Tito - Tt 1,5)

Onde, nas Sagradas Escrituras, estão tais normas? Essa passagem mostra que os Apóstolos iam
definindo as “normas” da Igreja, que foram formando a sagrada Tradição Apostólica, tão importante
e legitima quanto a própria Escritura, e não apenas isso, mas estabelece assim o Sagrado
Magistério da Igreja. O CVII, na Constituição Dogmática Lumen Gentium (LG) ainda no parágrafo
terceiro nos ensina que:

Por isso, Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos Céus e revelou-
nos o seu mistério, realizando, com a própria obediência, a redenção. A Igreja, ou seja, o Reino de
Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus. (LG3)

Por fim, recorrendo mais uma vez à Dei Verbum para deixarmos claro o que é a Palavra de Deus,
Sagrada Escritura, Sagrada Tradição e Sagrado Magistério (Sagrada Teologia) para podermos
enfim, estabelecermos um relacionamento com a Palavra de Deus, seja por qual meio for:

A sagrada Teologia apoia-se, como em seu fundamento perene, na palavra de Deus escrita e na
sagrada Tradição, e nela se consolida firmemente e sem cessar se rejuvenesce, investigando, à luz da
fé, toda a verdade contida no mistério de Cristo. As Sagradas Escrituras contêm a palavra de Deus,
e, pelo fato de serem inspiradas, são verdadeiramente a palavra de Deus; e por isso, o estudo destes
sagrados livros deve ser como que a alma da sagrada teologia. Também o ministério da palavra, isto
é, a pregação pastoral, a catequese, e toda a espécie de instrução cristã, na qual a homilia litúrgica
deve ter um lugar principal, com proveito se alimenta e santamente se revigora com a palavra da
Escritura. (DV24)

A Revelação Divina, ou seja, o Evangelho, é tudo aquilo que Jesus ensinou aos Discípulos e tudo
aquilo que o Espírito Santo inspirou à Igreja. Nestes termos temos, a Sagrada Escritura, a Tradição
Apostólica e o Magistério da Igreja. Estes três, unidos, darão, ao final, o sentido e a complexidade
da Revelação Divina.
20

LIÇÃO 2: SAGRADA ESCRITURA


Para entender melhor as citações bíblicas, segue algumas orientações importantes:

✓ A Vírgula (,) Separa o Capítulo do versículo.


✓ O Ponto (.) indica um salto entre os versículos.
✓ O Hífen (-) indica de que versículo inicia até onde termina.
✓ O Ponto e Vírgula (;) separa citações, dentro do mesmo livro.
✓ Um Esse (s) indica o próximo versículo e 2 Esses (ss), indica os 2 versículos seguintes.
✓ Quando não tem a indicação do versículo, é porque se trata do capítulo inteiro.
✓ O Travessão (_) é usado para citações que ultrapassam um capítulo e outro.

Exemplos:

a) 1 Cor 4,6-13 d) Is 40_55 h) Tb 5,5_12,22


b) Jr 32,17-22.27ss e) Jo 11 i) Rm 12,14.17.20s
c) Pr 9,10; Sl 110,10; f) Tb 5s ou Tb 5_6 j) Jo 10, 10a
Eclo 1,16 g) Sl 95ss ou Sl 95_97 k) Mt 12,3b-5

O Sinal (...) indica que houve um corte na passagem bíblica. Quando Letras (a, b ou c) indicam
uma parte do versículo.

O SENTIDO DAS ESCRITURAS:

(Citação literal do Catecismo da Igreja Católica - CatIC)

III. O Espírito Santo, intérprete da Escritura

109. Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos homens. Portanto, para bem interpretar a
Escritura, é necessário prestar atenção ao que os autores humanos realmente quiseram dizer, e àquilo que
aprouve a Deus manifestar-nos pelas palavras deles (DV12).

110. Para descobrir a intenção dos autores sagrados, é preciso ter em conta as condições do seu tempo e
da sua cultura, os “géneros literários” em uso na respectiva época, os modos de sentir, falar e narrar
correntes naquele tempo. “Porque a verdade é proposta e expressa de modos diversos, em textos históricos
de vária índole, ou proféticos, ou poéticos ou de outros géneros de expressão” (DV12).

111. Mas, uma vez que a Sagrada Escritura é inspirada, existe outro princípio de interpretação reta, não
menos importante que o anterior, e sem o qual a Escritura seria letra morta: “A Sagrada Escritura deve ser
lida e interpretada com o mesmo espírito com que foi escrita” (DV12). O II Concílio do Vaticano indica três
critérios para uma interpretação da Escritura conforme ao Espírito que a inspirou (DV12):

112. 1. Prestar grande atenção “ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura”. Com efeito, por muito
diferentes que sejam os livros que a compõem, a Escritura é una, em razão da unidade do desígnio de Deus,
de que Jesus Cristo é o centro e o coração, aberto desde a sua Páscoa (Lc 24. 25-27). “Por coração (Sl 22,
15) de Cristo entende-se a Sagrada Escritura que nos dá a conhecer o coração de Cristo. Este coração
estava fechado antes da Paixão, porque a Escritura estava cheia de obscuridades. Mas a Escritura ficou
aberta depois da Paixão e assim, aqueles que desde então a consideram com inteligência, discernem o
modo como as profecias devem ser interpretadas” (São Tomás de Aquino, Expositio in Psalmos, 21, 11:
Opera omnia. v. 18. Paris 1876, p. 350.).

113. 2. Ler a Escritura na “tradição viva de toda a Igreja”. Segundo uma sentença dos Padres, “Sacra
Scriptura principalius est in corde Ecclesiae quam in materialibus instrumentis scripta” – “A Sagrada Escritura
está escrita no coração da Igreja, mais do que em instrumentos materiais” (Santo Hilário de Poitiers, Liber
ad Constantium Imperatorem 9: CSEL 65. 204 PL 10, 570; São Jerónimo. Commentarius in epistulam ad
Galatas I 1, 11-12: PL 26).
21

Com efeito, a Igreja conserva na sua Tradição a memória viva da Palavra de Deus, e é o Espírito Santo que
lhe dá a interpretação espiritual da Escritura (“... secundum spiritualem sensum quem Spiritus donat
Ecclesiae” “segundo o sentido espiritual que o Espírito Santo dá à Igreja”) (Orígenes, Homiliae in Leviticum
5, 5: SC 286, 228).

114. 3. Estar atento “à analogia da fé” (Rm 12, 6). Por “analogia da fé” entendemos a coesão das verdades
da fé entre si e no projeto total da Revelação.

Os sentidos da escritura

115. Segundo uma antiga tradição, podemos distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido literal e o sentido
espiritual, subdividindo-se este último em sentido alegórico, moral e anagógico. A concordância profunda
dos quatro sentidos assegura a sua riqueza à leitura viva da Escritura na Igreja:

116. O sentido literal. É o expresso pelas palavras da Escritura e descoberto pela exegese segundo as
regras da recta interpretação. “Omnes sensus (sc. Sacrae Scripturae) fundentur super litteralem” – “Todos
os sentidos (da Sagrada Escritura) se fundamentam no literal” (São Tomás de Aquino, Summa theologiae I,
q. 1, a. 10, ad I: Ed. Leon. 4, 25).

117. O sentido espiritual. Graças à unidade do desígnio de Deus, não só o texto da Escritura, mas também
as realidades e acontecimentos de que fala, podem ser sinais.

1. O sentido alegórico. Podemos adquirir uma compreensão mais profunda dos acontecimentos,
reconhecendo o seu significado em Cristo: por exemplo, a travessia do Mar Vermelho é um sinal da vitória
de Cristo e, assim, do Baptismo (1 Cor 10, 2).

2. O sentido moral. Os acontecimentos referidos na Escritura podem conduzir-nos a um comportamento


justo. Foram escritos “para nossa instrução” (1 Cor 10, 11) (Hb 3 - 4,11).

3. O sentido anagógico. Podemos ver realidades e acontecimentos no seu significado eterno, o qual nos
conduz (em grego: “anagoge”) em direcção à nossa Pátria. Assim, a Igreja terrestre é sinal da Jerusalém
celeste (Ap 21,1 - 22, 5.).

118. Um dístico medieval resume a significação dos quatro sentidos: “Littera gesta docet, quid credas
allegoria. Moralis quid agas, quo tendas anagogia”. “A letra ensina-te os factos (passados), a alegoria o que
deves crer, a moral o que deves fazer, a anagogia para onde deves tender” (Agostinho de Dácia, Rotulus
pugillaris, I: ed. A. Waltz: Angelicum 6(1929) 256.).

119. “Cabe aos exegetas trabalhar, de harmonia com estas regras, por entender e expor mais
profundamente o sentido da Sagrada Escritura, para que, mercê deste estudo, de algum modo preparatório,
amadureça o juízo da Igreja. Com efeito, tudo quanto diz respeito à interpretação da Escritura, está sujeito
ao juízo último da Igreja, que tem o divino mandato e o ministério de guardar e interpretar a Palavra de
Deus” (DV12): “Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas” –
“Quanto a mim, não acreditaria no Evangelho se não me movesse a isso a autoridade da Igreja católica”
(Santo Agostinho, Contra Epistulam Manichaei quam vocant fundamenti 5. 6: CSEL 25,197) (PL 42, 176).

IV. O Cânon das Escrituras

120. Foi a Tradição Apostólica que levou a Igreja a discernir quais os escritos que deviam ser contados na
lista dos livros sagrados (II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 8: AAS 58 (1966) 821.).

Esta lista integral é chamada “Cânon” das Escrituras. Comporta, para o Antigo Testamento, 46 (45, se se
contar Jeremias e as Lamentações como um só) escritos, e, para o Novo, 27 (Decretum Damasi: DS 179-
180: Concílio de Florença, Decretum pro Iacobitis: DS 1334-1336; Concílio de Trento. Sess. 4ª. Decretum
de Libris Sacris et de traditionibus recipiendis: DS 1501-1504.).

ESTILOS LITERÁRIOS:

Faz-se necessário ainda, uma explicação aprofundada do que é o sentido literal, não apenas das
Escrituras, mas também, para uma compreensão melhor de qualquer outro texto que se pretenda
ler e interpretar.
22

Do latim “litterālis”, literal é algo que está em conformidade com a letra de um texto e o sentido
próprio e exato das palavras usadas no mesmo. Ou seja, não se tem em conta o sentido figurado
ou sugerido. Subintende-se também, que um texto literal, pertença a um estilo literário, no caso das
Escrituras, para a compreensão dos textos, faz-se extremamente necessário compreender este
estilo sob o risco de má interpretação e até distorções.

Mas o que é “gênero literário” ou “tipos de texto”?

Todos sabemos que o mesmo fato pode ser descrito de modo diferente pelo jornalista, pelo Boletin
de ocorrência policial e na fofoca pelas ruas. São três “gêneros literários” diferentes, e quem
entende das coisas percebe imediatamente qual a versão do jornalista, da polícia ou das fofocas.
Assim também é nas Sagradas Esrituras.

Um texto pode ser concebido conforme padrões diversos, em função de seu ambiente de origem e
do uso que dele será feito: liturgia, ensino, crônica oficial etc. Os gêneros mais “genéricos” são a
prosa, a poesia, o drama ou teatro; ou, sob outro ângulo, a narrativa e o discurso. E daí em diante
podem-se subdistinguir centenas de variedades. Para uma compreensão dos gêneros literários, é
importante a contextualização, localização temporal, destinatário e autoria.

Observe o esquema a seguir, que transmite um resumo do modo como a Igreja interpreta as
Sagradas Escrituras:

As Sagradas Escrituras são uma coleção de textos religiosos que incluem os livros do Antigo e do
Novo Testamento. Cada livro da Bíblia pode apresentar diferentes estilos literários que podem ser
identificados e analisados.
23

1. Narrativa:

A narrativa é um estilo literário comum em muitos livros da Bíblia, incluindo Gênesis, Êxodo e Atos
dos Apóstolos. A narrativa geralmente apresenta uma história contada em sequência, com
personagens, cenários e diálogos. Por exemplo, a história de Adão e Eva no Jardim do Éden;

Narrativo histórico:

Grande parte do Pentateuco é composto de narrativas históricas que contam a história do povo de
Israel desde a criação do mundo até a morte de Moisés. Essas narrativas incluem histórias como
a criação, o dilúvio, a chamada de Abraão, a história de José no Egito e a libertação do povo de
Israel da escravidão no Egito, podem ser considerados também como Epopeias.

Narrativo didático:

Este estilo literário é usado para ensinar verdades religiosas por meio de narrativas. Ele inclui
parábolas, como as contadas por Jesus nos evangelhos, que usam histórias simples e concretas
para ilustrar verdades mais profundas.

2. Poesia e Lírico:

Alguns trechos do Pentateuco contêm poesia e linguagem lírica, como o cântico de Moisés em
Êxodo 15 e o cântico de Débora em Juízes 5; a poesia é um estilo literário que pode ser encontrado
em muitos livros da Bíblia, incluindo Salmos, Provérbios e Cântico dos Cânticos. A poesia usa
linguagem figurativa, imagens e ritmo para expressar ideias e emoções. Por exemplo, o Salmo 22
é uma poesia que fala sobre a confiança em Deus como um pastor que guia e cuida das suas
ovelhas;
1
Salmo de Davi.
Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo.
O Senhor é meu pastor, nada me faltará. 5
Preparais para mim a mesa à vista de meus
2
Em verdes prados ele me faz repousar. inimigos.
Conduz-me junto às águas refrescantes, Derramais o perfume sobre minha cabeça,
3
restaura as forças de minha alma. e transborda minha taça.

Pelos caminhos retos ele me leva, 6


A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me
por amor do seu nome. por todos os dias de minha vida.
4
Ainda que eu atravesse o vale escuro, E habitarei na casa do Senhor
nada temerei, pois estais comigo. por longos dias.
(Salmo 22, 1-6)
3. Profecia:

A profecia é um estilo literário presente em muitos livros do Antigo Testamento, incluindo Isaías,
Jeremias e Ezequiel. A profecia envolve a comunicação de uma mensagem Divina para o povo,
muitas vezes incluindo previsões de eventos futuros. Por exemplo, o profeta Isaías fala sobre a
vinda do Messias como um "servo sofredor" que carregaria os pecados do povo. Algumas partes
do Pentateuco contêm elementos proféticos, como as bênçãos e maldições de Moisés em
Deuteronômio 28 e as profecias de Balaão em Números 23-24.

4. Epístola:

A epístola é um estilo literário encontrado no Novo Testamento, incluindo as cartas de Paulo aos
Romanos, Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, Tessalonicenses, Timóteo, Tito e
24

Filemom. As epístolas são cartas escritas para igrejas e indivíduos específicos, geralmente
contendo ensinamentos e exortações sobre questões de fé e prática cristã. Por exemplo, a carta
aos Romanos de Paulo contém uma explicação detalhada da justificação pela fé em Jesus Cristo.

5. Lei e legislação:

Os textos bíblicos contêm uma grande quantidade de leis e legislação que Deus deu ao povo de
Israel através de Moisés. Essas leis abrangem vários aspectos da vida religiosa e social do povo,
incluindo o culto, a satisfação, o casamento, a justiça e a moralidade.

6. Sapiencial:

Este estilo literário é usado para ensinar sabedoria e virtude. Ele é encontrado principalmente nos
livros sapienciais do Antigo Testamento, como Provérbios, Eclesiastes e Sabedoria. Esses livros
oferecem conselhos práticos para viver bem e ser sábio, bem como reflexão sobre a natureza da
vida e do universo.

7. Genealogias e listas:

Existem ainda várias genealogias e listas de nomes que registram a descendência dos patriarcas
e das tribos de Israel, bem como as ofertas e vantagens que foram feitas no templo.

8. Mitologia:

Há histórias de criaturas como leviatã, behemoth e dragão, que são mitológicas. Além disso, muitos
dos relatos do Antigo Testamento, como a criação do mundo em Gênesis, a história de Noé e o
dilúvio, e a Torre de Babel, apresentam elementos que podem ser interpretados como mitológicos.

O povo de Israel vivia cercado de outros povos, cujo preparo militar e histórias míticas eram
lendárias e serviam de propaganda contra os seus inimigos. Quanto mais histórias míticas um povo
tivesse, mais temido ele poderia ser. Assim, Israel lançava mão de símbolos e mitos de outros
povos, para construir suas epopeias e muitas das histórias contadas no Antigo Testamento,
constam como sendo anteriores em outras culturas.

Nos livros históricos, a influência mitológica é mais velada, porém, a árvore da vida citada em
Gênesis já se encontrava em um Poema de Gilgamesh (de origem Babilônica). O poema conta que
um herói perguntou a um seu antepassado que era deus, onde ficava a árvore da vida. Ele a
encontrou no fundo do mar, e levou um ramo para plantar. Tendo sede, foi beber num poço e uma
serpente levou o seu ramo.

O DILÚVIO EM OUTRAS CULTURAS:

Babilônia: A Epopeia de Gilgamesh é um poema épico antigo da Mesopotâmia que conta a história
do rei Gilgamesh e suas aventuras. Na história do Dilúvio, o personagem Utnapishtim, aconselhado
pelos deuses, cria uma arca para salvar sua família, bem como animais e plantas, de um dilúvio
que varreu a Terra. Essa história é bastante semelhante à narrativa do Dilúvio na Bíblia, em que
Noé é instruído por Deus a construir uma arca para salvar sua família e animais de um dilúvio que
cobriu a Terra.

Mitologia grega: Deucalião e Pirra são os únicos sobreviventes de um dilúvio que Zeus invejou
para acabar com a raça humana corrupta. Eles construíram uma arca e depois de flutuarem por
nove dias e nove noites, eles pousaram em cima de uma montanha. A partir daí, eles repovoaram
a Terra jogando pedras para trás, que se transformaram em seres humanos.
25

Mitologia hindu: A história do dilúvio na mitologia hindu é contada no épico indiano "Mahabharata"
e no "Bhagavata Purana". A história conta sobre o rei Manu, que foi avisado pelo deus Vishnu sobre
o dilúvio que estava para vir. Manu desenvolveu uma grande arca e colocou nela sementes de
plantas e animais para salvar a vida na Terra. Após o dilúvio, Manu desembarcou no topo de uma
montanha e reconstruiu a humanidade.

Mitologia chinesa: A história do dilúvio na mitologia chinesa é contada no livro "Classic of


Mountains and Seas". A história conta sobre o rei Yao, que recebeu a tarefa de construir canais de
irrigação para lidar com as enchentes. Mas a inundação era grande demais e Yao pediu ajuda ao
deus do rio, que inveja um dragão para cortar as montanhas e abrir caminho para a água. Depois
disso, Yao foi considerado um herói.

Mitologia Maori (Nova Zelândia): Na mitologia Maori, a história do dilúvio é contada na lenda de
Tawhaki. A história conta que Tawhaki e sua esposa, Hema, sobreviveram a um dilúvio que inundou
a Terra, ao subirem no topo de uma árvore sagrada chamada Kahika. Depois do dilúvio, eles
tiveram que lutar contra um grande pássaro gigante, que sequestrou Hema. Tawhaki finalmente
conseguiu resgatar sua esposa e retornar à Terra.

Mitologia Guarani (América do Sul): Na mitologia Guarani, a história do dilúvio é contada na


lenda de Tau e Kerana. Tau e Kerana eram irmãos que foram os únicos sobreviventes de um dilúvio
que destruiu a Terra. Eles construíram uma arca e depois de flutuarem por muito tempo,
encontraram uma ilha. Eles tiveram filhos e assim repovoaram a Terra.

Mitologia Hopi (América do Norte): Na mitologia Hopi, a história do dilúvio é contada na lenda de
Sótuknang. Sótuknang é o deus criador dos Hopi, que criou a Terra, os seres humanos e os
animais. Quando os seres humanos se tornaram muito corruptos, Sótuknang invejou um grande
dilúvio para purificar a Terra. Apenas alguns seres humanos sobreviveram, incluindo um grupo de
Hopi que subiu ao topo de uma montanha.

É possível perceber que em todos os continentes, em épocas diferentes, com personagens


semelhantes, mas com o pano de fundo absolutamente igual, é contada a história de um dilúvio, o
que leva a concluir que realmente um dilúvio global deva ter acontecido e tornou-se ponto de
referência para inúmeras culturas.

Ao observar os mitos ao seu redor, o autor sagrado o insere na mitologia e na história de Israel,
retirando o que é apenas lendário e os elementos religiosos exóticos à cultura e religião hebraica,
mas lança mão dos mesmos símbolos, servindo-se da cultura popular, para transmitir um valor
específico. O que fica bem evidente nos relatos do Antigo Testamento é a profunda dependência
que o povo tem de Deus.

Israel de fato considera-se não apenas um povo entre os outros, mas admite ser o menor, de
cabeça dura, teimoso, de pouca cultura, mas orgulha-se de pertencer a Deus, de possuir uma lei
que considera perfeita, e seus símbolos nacionais, são sempre os reis e profetas que possuíam um
relacionamento íntimo com Deus ao longo de toda a história.

PERSONAGENS BÍBLICOS EXISTIRAM?

A maioria dos personagens bíblicos são considerados reais e históricos, embora haja alguns
instituídos e interpretados. Por exemplo, a existência de personagens como Adão e Eva, Noé,
Abraão, Moisés, Davi, entre outros, é geralmente aceita como histórica. No entanto, há algumas
figuras bíblicas que são mais símbolos do que históricas, como Adão e Eva antes do pecado
original, ou algumas das figuras patriarcais do Antigo Testamento que podem ter sido retratadas
como ideais simbólicos de fé e obedientes a Deus, em vez de indivíduos históricos reais.
26

Isso em nada depõe contra a fé, a Igreja entende os estilos literários e sabe distinguir o que é um
símbolo e o que é um fato histórico, quais são os personagens históricos dos que são fictícios. Um
exemplo disso é o livro de Jó.

O livro começa com uma introdução que apresenta o personagem principal, Jó, como um homem
justo e próspero. Então, Deus permite que Satanás teste a fidelidade de Jó, tirando-lhe tudo o que
ele tem. Jó permanece fiel a Deus, apesar de suas provações, e no final, Deus restaura sua vida e
lhe dá ainda mais do que ele tinha antes.

O livro de Jó é considerado um dos mais antigos da Bíblia, embora não se saiba ao certo a data de
sua composição e provavelmente foi escrito durante a época dos reis ou mesmo antes. Trata-se de
uma narrativa poética que conta a história deste homem justo e piedoso, que ao mesmo tempo é
profundamente sofrido, mas que apesar de seu sofrimento, não se revolta contra Deus e suporta
todos os sofrimentos, com nobreza e distinção, apesar de ter caído em algum momento e duvidado,
permanece fiel.

O livro de Jó é claramente uma ficção, mas o personagem Jó, é considerado como histórico, e é
reverenciado como santo, a Igreja venera os santos do Antigo Testamento, aos quais chama de
Santo: Santo Jó, Santo Adão, Santa Eva, Santo Abraão, Santa Sara, Santo Moisés, Santo Davi e
assim por diante.

No entanto, mesmo que Jó tenha sido uma pessoa real, o livro de Jó é, acima de tudo, uma obra
literária e teológica que explora questões importantes sobre o sofrimento humano, a justiça divina
e a natureza de Deus.

EVOLUCIONISMO X CRIACIONISMO

A Igreja Católica tem uma posição oficial sobre a Teoria da Evolução e o Criacionismo. Com relação
à Teoria da Evolução, a Igreja Católica aceita que a evolução biológica é uma teoria científica bem
estabelecida e que não é incompatível com a fé cristã. Em 1950, o Papa Pio XII emitiu uma
declaração afirmando que não há conflito entre a teoria da evolução e a doutrina católica, desde
que a evolução seja vista como um processo controlado por Deus.

A Igreja condena o Evolucionismo historicista, mas enaltece a Teoria da Evolução (Evolucionismo


científico):

“As falsas afirmações de semelhante evolucionismo pelas quais se rechaça tudo o que é absoluto,
firme e imutável, vieram abrir o caminho a uma moderna pseudo-filosofia que, em concorrência
contra o idealismo, o imanentismo e o pragmatismo, foi denominada existencialismo, porque nega
as essências imutáveis das coisas e não se preocupa mais senão com a "existência" de cada uma
delas.” (HUMANI GENERIS, 6)

“O magistério da Igreja não proíbe que nas investigações e disputas entre homens doutos de ambos
os campos se trate da doutrina do evolucionismo, que busca a origem do corpo humano em matéria
viva preexistente...” (HUMANI GENERIS, 36)

Em 1996, o Papa João Paulo II reiterou a posição da Igreja Católica de que a evolução é mais do
que uma hipótese e que, desde que sejam respeitadas as leis naturais e humanas, a teoria da
evolução é compatível com a fé cristã.

“Já na sua encíclica Humani generis (1950), o meu predecessor Pio XII tinha afirmado que não havia
oposição entre a evolução e a doutrina da fé sobre o homem e a sua vocação, desde que não
perdêssemos de vista alguns pontos firmes.” (Mensagem à Pontifícia Academia das Ciências, JPII)
27

Nos dias atuais, o debate Evolucionismo X Criacionismo ganhou novos contornos, então, podemos
dizer que há a Teoria da Evolução que tem base científica e figura com o status de hipótese
científica que norteia como base para inúmeros avanços científicos e tecnológicos. Outra coisa, é
o evolucionismo, que figura como ideologia filosófica que se mistura com a visão religiosa de muitos
e termina por sustentar posicionamentos céticos e ateístas.

Já com relação ao criacionismo, a posição oficial da Igreja Católica é de que não é uma teoria
científica, mas sim uma interpretação fundamentalista da Bíblia. A Igreja Católica afirma que a
criação do mundo é uma verdade de fé que não pode ser demonstrada pela ciência, mas que deve
ser compreendida dentro de um contexto teológico. A Igreja não apoia o ensino do criacionismo
como uma teoria científica nas escolas, mas sim acredita que a ciência e a religião têm papéis
diferentes e complementares na compreensão do mundo.

LENDO E INTERPRETANDO

A seguir temos um texto a ser interpretado conforme o que foi dito:


38
Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma mulher, chamada Marta, o recebeu em sua
casa. 39Tinha ela uma irmã por nome Maria, que se assentou aos pés do Senhor para ouvi-lo falar. 40Marta, toda
preocupada na lida da casa, veio a Jesus e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe só a servir?
Dize-lhe que me ajude”. 41Respondeu-lhe o Senhor: “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com
muitas coisas; 42no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que lhe não será tirada”.
(Lc 10, 38-42)
1. Interpretação Literal:

Interpretação: Este pequenino trecho do Evangelho de São Lucas, nos leva a concluir que Jesus,
com seus discípulos, vai a Betânia, que é a colônia de leprosos de Jerusalém. Visita a casa dos
irmãos, Marta, Maria e Lázaro, que são pessoas diferentes das demais pessoas de Jerusalém,
tanto é que Jesus os amava muito, e por isso merecem a visita de Jesus. Jesus então, se coloca a
conversar com Lázaro, enquanto Maria senta-se aos seus pés, e é interpelado por Marta que lhe
pede que ordene que sua irmã Maria lhe ajude a servir os convidados. Jesus então, demonstrando
uma proximidade com Marta, lhe adverte, dizendo que o principal, é ouvir a Palavra de Deus que
Ele está falando, e que isso, é a única coisa que não nos será tirada.

Sabemos ainda que Lázaro é um leproso que goza de boa fama entra os judeus e era bem-quisto,
pois até foi convidado para um banquete na casa de um Fariseu chamado Simão, que era leproso;
Marta devia ser ou esposa ou empregada deste Simão, pois ela trabalhava lá, sabemos que Marta
é a trabalhadora e por isso agitada. Maria, é uma prostituta de leprosos, e por isso não gozava de
boa fama e até por isso que Marta interpela Jesus, para ver se dava um jeito na Maria que só sabia
“vadiar” e não queria saber de trabalho honesto.

Mas será mesmo? Vamos analisar exegeticamente:

Qual é o Estilo literário do texto? Sabemos que Lucas é um dos Evangelhos e que se trata de uma
narrativa histórica, então, os fatos narrados eram de conhecimento público e verificável quando o
texto foi publicado. Não se trata de personagens inventados, mas sim, de pessoas reais e concretas
que viveram entre os leitores e, portanto, é um relato verídico. Após atenta leitura, pode-se separar
o texto conforme a seguir:

Versículo 38: Destaca-se que Jesus estava de viagem, e como de costume, não estava sozinho,
os textos do Evangelho, são resumidos, porque naquele tempo, o exercício de reproduzir os textos
era dispendioso e caro, assim, muitos textos têm os detalhas retirados.
28

Que aldeia é esta? Em um exercício Exegético, que é a comparação de outros textos do Novo e do
Antigo Testamento, com os textos, podemos concluir que tratava-se de Betânia, pois no Evangelho
de João há uma citação de Marta e Maria:

“Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta.”
(Jo 11,1)

Por meio de outros textos, também é sabido que Marta, Maria e Lázaro eram irmãos, e que
provavelmente a doença de Lázaro era a Lepra, pois conforme o texto a seguir:

“Encontrava-se Jesus em Betânia, na casa de Simão, o leproso.”


(Mt 26,6)

E conforme outros textos do AT, os leprosos não podiam conviver com os demais habitantes de
uma cidade:

“Todo homem atingido pela lepra terá suas vestes rasgadas e a cabeça descoberta. Cobrirá a barba e clamará:
Impuro! Impuro! Enquanto durar o seu mal, ele será impuro. É impuro; habitará só, e a sua habitação será
fora do acampamento”.”
(Lv 13,45-46)

Sendo assim, Betânia, era a colônia de leprosos da cidade de Jerusalém:

“Ora, Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios.”


(Jo 11,18)

A lei diz que o leproso devia habitar só, porém, havia casos em que os familiares, por caridade, se
retiravam com os doentes para cuidar deles, e provavelmente é por isso que Jesus foi visitar a casa
de Marta, pois ela, não sendo leprosa, estava cuidando do irmão, que era leproso.

Versículo 39: O texto enfatiza que Maria é irmã de Marta e que ela se colocou aos pés de Jesus
par ouvi-lo falar, é possível encontrar outros textos em que Maria se colocou aos pés de Jesus;

Versículo 40: As mulheres não deveriam falar diretamente com os homens pois a cultura da época
restringia a comunicação e o contato entre homens e mulheres em certa situação. Por exemplo, a
sociedade judaica era bastante segregada por gênero em locais públicos, como sinagogas e
templos. As mulheres geralmente ficavam em uma área separada dos homens e não podiam
participar das discussões religiosas. Assim, o fato de Marta dirigir-se diretamente a Jesus, é um
fato inusitado, isto demonstra ainda, que há um “sujeito oculto” na cena, que não é mencionado,
mas sua ausência não teria sentido, que é Lázaro, com quem Jesus de fato estaria falando, pois
Marta estava ocupada e Maria estava apenas ouvindo.

Versículo 41: Este versículo demonstra realmente que Jesus não está preso as tradições humanas
dos judeus, ou melhor, à cultura de sua época, pois seria normal, que um Rabino, que era a posição
de Jesus ali naquele contexto, simplesmente ignorar ou corrigir a mulher, colocando-a em “seu
devido lugar”. Mas não, ele responde Marta, demonstrando inclusive que ele tem alguma
proximidade com ela, pois ao repetir o nome “Marta, Marta”, remete a outros textos em que Deus
e o próprio Jesus diz o nome da pessoa duas vezes:

“Vendo o Senhor que ele se aproximou para ver, chamou-o do meio da sarça: “Moisés, Moisés!”. “Eis-me aqui!”
– respondeu ele. E Deus: “Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te
encontras é uma terra santa.”
(Ex 3,4-5)
29

O nome de Moisés repetido por duas vezes, salienta o chamado de Moisés. Deus separa moisés
para uma missão, mas é uma correção, e uma advertência, no caso, Moisés estava calçado e o
solo é “terra santa” local onde se entra sem reservas.

“Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a
tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos.”
(Lc 22,31-32)

O contexto apresenta um Simão, que se tornaria Pedro, muito corajoso e cheio de si, ao ponto de
dizer que iria até a morte com Jesus, porém, Jesus lhe adverte, que Satanás queria peneirar Pedro
e provavelmente pelo orgulho, porque Simão não se conhecia e não sabia que seria capaz de negar
Jesus como de fato o fez mais tarde.

“Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Saulo disse: “Quem és,
Senhor?” Respondeu ele: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues. [Duro te é recalcitrar contra o aguilhão”.”
(At 9,4-5)

Jesus em uma aparição após a sua Ressurreição e Ascenção, adverte Saulo que não se dobra
diante do “Aguilhão” de Deus, que é o meio que Deus usa para tanger as vidas, e mesmo assim,
Saulo, persegue a Igreja, e por perseguir a Igreja, persegue Jesus.

Ao dizer “Marta, Marta” Jesus a está advertindo, pois ela está atarefada, preocupada, fazendo
outras coisas que ela julga ser importante, e faz isso por sua própria escolha, mas está deixando
de lado, a oportunidade de estar ali, ouvindo Jesus, ao invés de se preocupar com as aparências,
com o supérfluo, e Jesus conclui:

Versículo 42: “Uma só coisa é necessária” e que coisa é esta? O que Maria escolheu, que é ficar
aos pés de Jesus, pois naquele momento, era a única coisa a ser feita, como ele ensina e outro
momento:

“Jesus respondeu-lhes: “Podem porventura jejuar os convidados das núpcias, enquanto está com eles o esposo?
Enquanto têm consigo o esposo, não lhes é possível jejuar.”
(Mc 2,19)

Jesus é o Esposo, que está ali a ensinar, Ele que está ali a serviço, e Marta, em sua preocupação,
não percebe que está sendo servida, por isso, fica agitada, olhando para si mesma e perdendo o
foco do que é importante.

E quem é esta Maria? Ela é irmã de Lázaro e de Maria e está acostumada a ficar aos pés de Jesus:

“Quando, porém, Maria chegou onde Jesus estava e o viu, lançou-se aos seus pés e disse-lhe: “Senhor, se
tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido!”.”
(Jo 11,32)

“Ora, Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro.”


(Jo 11,5)

Lázaro era muito querido pelos Judeus, pois muitos deles foram ao seu enterro:

“Muitos judeus tinham vindo a Marta e a Maria, para lhes apresentar condolências pela morte de seu irmão.”
(Jo 11,19)
30

Há muita controvérsia sobre quem é esta Maria, se ela é de fato, Maria Madalena ou não, fato
mesmo é que ela esteve aos pés de Jesus em outro episódio:

Seis dias antes da Páscoa, foi Jesus a Betânia, onde vivia Lázaro, que ele ressuscitara. Deram ali uma ceia em sua
honra. Marta servia e Lázaro era um dos convivas. Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro, de
grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa encheu-se do perfume do
bálsamo.
(Jo 12, 1-3)

E em outro trecho, de um dos sinóticos está descrito:

“Encontrava-se Jesus em Betânia, na casa de Simão, o leproso. Estando à mesa, aproximou-se dele uma mulher
com um vaso de alabastro, cheio de perfume muito caro, e derramou-o na sua cabeça.”
(Mt 26,6-7)

Jesus se achava em Betânia, em casa de Simão, o leproso. Quando ele se pôs à mesa, entrou uma mulher
trazendo um vaso de alabastro cheio de um perfume de nardo puro, de grande preço, e, quebrando o vaso,
derramou-lho sobre a cabeça.
(Mc 14,3)

Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa. Uma mulher
pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio
de perfume; e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois, suas lágrimas banhavam
os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume.
(Lc 7, 36-38)

Esta passagem é uma das poucas comum aos quatro Evangelhos, pelas similaridades e
semelhanças, pode-se concluir que se trata da mesma pessoa, Maria irmã de Lázaro e de Marta,
que provavelmente ou era casada ou uma empregada de Simão o Leproso, que era um fariseu que
estava com lepra e por isso vivia em Betânia, vemos ainda, que Maria era tida como pecadora
pública, e devido a possuir um perfume tão caro e cheiroso, devia ser prostitua e usava o perfume
em seus clientes para impedir o contágio da lepra e também para suportar ter relações com seus
clientes que deviam ser todos leprosos.

O final é interessante, pois sendo Marta a que mais trabalha, e Lazaro o que se coloca em diálogo
com Jesus, apenas Maria, a prostituta de leprosos, recebe Dele o elogio por ter escolhido se colocar
a ouvi-lo e tem como garantido que esta atitude, não lhe será tirada.

2. Interpretação Espiritual:

Como a Interpretação Espiritual, pode ser feita de três modos, importa entender o que Deus quer
nos falar através dos acontecimentos históricos, pois Ele pode nos falar de vários modos, porém,
apenas Ele pode falar através dos acontecimentos, assim, o que Ele nos fala, ou melhor, o que nós
entendemos, precisa estar expresso na Doutrina da Igreja de modo literal. A Revelação deve tocar
o que entendemos, se ao ler e interpretar eu concluo algo que não está expresso de forma literal
na Sã Doutrina da Salvação, então, é melhor abrir mão desta opinião, pois ela não é correta.

2.1 Alegórico:

Aqui, precisamos ir além do literal, pois o texto nos remete ao que nós cremos, e por Analogias da
Fé, entendemos a ação de Cristo na história, no caso do texto em si.

“Por vezes ocorre que a alma aparece distinta do espírito. Assim, São Paulo ora para que nosso "ser
inteiro, o espírito, a alma e o corpo", seja guardado irrepreensível na Vinda do Senhor (1 Ts 5,23).
31

A Igreja ensina que esta distinção não introduz uma dualidade na alma. "Espírito" significa que o
homem está ordenado desde a sua criação para seu fim sobrenatural, e que sua alma é capaz de
ser elevada gratuitamente à comunhão com Deus.” (CatIC 367)

Interpretação: Podemos ver então, que Marta, Maria e Lázaro, são uma única pessoa, porém,
suas três partes fundamentais. Marta, que está agitada, revela a dimensão física, que lida com as
necessidades básicas do corpo. O Intelecto, é Lázaro que está entretido em um diálogo razoável
com Jesus, a cerca da fé, da salvação e das necessidades do próprio Ser. E Maria é a alma, que
se coloca aos pés de Jesus, para adorá-lo e reconhecer nele seu Senhor e Salvador.

Vemos, porém, que Marta se afasta de Jesus, e que entre ela e Maria, há uma animosidade. A
dimensão física do ser humano, requer urgência o tempo todo diante de suas necessidades mais
básicas, como frio, calor, incômodo, alimentação etc... Porém, Jesus adverte com brandura,
reconhecendo a dignidade do corpo e chamando-o para entrar em unidade com a alma.

O Intelecto, por outro lado, está leproso, doente pelo pecado, e precisa morrer, para ressuscitar
uma nova criatura, pois Lázaro morre e ressuscita curado, por último temos a dimensão espiritual,
que é como uma prostituta que busca superstições e crenças, deuses falsos para adorar e colocar
no lugar de Deus.

2.2 Moral:

É quando aplico a mim mesmo o texto, me inserindo quase como uma personagem do texto,
encontrando as virtudes morais e tomando Jesus como modelo de virtude.

“Ao entregar seu Filho por nossos pecados, Deus manifesta que seu desígnio sobre nós é um desígnio
de amor benevolente que antecede a qualquer mérito nosso: "Nisto consiste o amor: não fomos nós
que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação
por nossos pecados" (1Jo 4,10). "Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter
morrido por nós quando éramos ainda pecadores" (Rm 5,8).” (CatIC 604)

Interpretação: Jesus vem me visitar, não se importa com minha situação de pecador, se sou
agitado, doente ou promíscuo, Ele vem e se senta comigo, fala comigo, como fez com Lázaro, me
corrige, como fez com Marta e me elogia e me defende como fez com Maria.

2.2 Anagógico:

É quando os acontecimentos narrados, nos falam das coisas do Céu, das realidades diante da
Salvação Eterna, nós estamos diante de Jesus como Salvador.

“Retomando a expressão de São João ("O Verbo se fez carne" Jo 1,14), a Igreja denomina
"Encarnação" o fato do Filho de Deus ter assumido uma natureza humana para realizar nela a
nossa salvação. Em um hino atestado por São Paulo, a Igreja canta o mistério da Encarnação:

Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele tinha a condição divina, e não considerou o
ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, assumiu a
condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se
e foi obediente até a morte, e morte de cruz! (Fl 2,5-8).” (CatIC 461)

Interpretação: Jesus se coloca em nosso meio como aquele que serve, indica que sua Palavra é
a única coisa que não nos será tirada, então, pouco importam as necessidades físicas e afetivas,
pois diante da urgência da Salvação, Ele de coloca como o Salvador e é entorno Dele que nossa
vida deve girar. Marta é a figura daqueles que agem como réprobos, que não se dedicam à
salvação. Lázaro é aquele que se propõe em ouvir Jesus, mas não aparece, fica escondido e não
32

muda de vida, por fim, temos a figura de Maria, que mesmo sendo a mais reprovável dos três, pelo
comportamento de prostituta, coloca-se a disposição de Jesus, atendendo o seu chamado, e este
é o comportamento daqueles que se salvam, pois reconhecem Nele o centro de suas vidas.

Na Bíblia não há erros: esses são parte de quem a interpreta. Muitas vezes o que para nós hoje
tem um sentido, para o autor sagrado quer dizer outra; às vezes ele está usando apenas um
artifício de linguagem e nós interpretamos “ao pé da letra.” Daí a dificuldade de se interpretar
certas partes da Escritura. Por isso Jesus deixou o Sagrado Magistério da Igreja (Papa e bispos)
para que a sua interpretação não tenha erro.

Por isso, faz-se necessário a compreensão profunda dos esquemas abaixo:

“Toda a Escritura divina constitui um único livro e este único livro é Cristo, fala de Cristo e encontra em Cristo a sua
realização”. (Hugo de São Vitor)
33

LIÇÃO 3: CONTATO COM AS ESCRITURAS:


“Com efeito, ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo” (São Jerônimo)

DE CATÓLICOS PARA CATÓLICOS:

As Sagradas Escrituras foram escritas, por católicos, para católicos. A Fé católica, tendo como base
a Palavra de Deus, alicerçada na Encarnação do Verbo e sua consequente Revelação na pessoa
de Nosso Senhor Jesus Cristo, expressa-se por meio da Sagrada Tradição Apostólica, as Sagradas
Escrituras e o Sagrado Magistério da Igreja. Ignorar, não apenas as escrituras, mas a Sã Doutrina
da Salvação, que é a UNIDADE destes três alicerces, é ignorar a Cristo, São Paulo já advertia o
Bispo São Timóteo, bispo de Éfeso (+-66 a 80 dC.) sobre o perigo de negligenciar o que o Apóstolo
definiu como sendo a Sã Doutrina da Salvação:
1
Eu te conjuro em presença de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, por sua aparição e
por seu Reino: 2prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, ameaça, exorta com toda
paciência e empenho de instruir. 3Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a SÃ DOUTRINA DA
SALVAÇÃO. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para
si. 4Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas. 5Tu, porém, sê prudente em tudo, paciente nos
sofrimentos, cumpre a missão de pregador do Evangelho, consagra-te ao teu ministério.
(Segunda Carta de São Paulo a Timóteo - 2Tm 4,1-5)

A Sã Doutrina da Salvação, inclui tudo o que nós precisamos saber e praticar, para alcançar a
Salvação. Por quase 2.000 anos os padres, teólogos, santos e santas de Deus juntamente com os
doutores da Igreja, debruçaram-se sobre estes três alicerces, e alcançaram e ainda alcançam, a
34

luminosidade desta doutrina, que hoje está compilada, resumida, compartimentada e expressa no
Catecismo da Igreja Católica (CatIC), e ele nos ensina o seguinte:

Por esta razão, a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras tal como venera o Corpo do
Senhor. Nunca cessa de distribuir aos fiéis o Pão da vida, tornado à mesa quer da Palavra de Deus,
quer do Corpo de Cristo (CVII- DV12).

O PROBLEMA DO LIVRE EXAME:

Tal é o grau que a Igreja venera as Escrituras, que o Catecismo ensina que é com a mesma
veneração que temos pela Eucaristia. Porém, uma vez que temos o Catecismo, que tem compilada
a Sã Doutrina da Salvação, faz-se mais importante conhecer o Catecismo do que as Sagradas
Escrituras, pois é ele quem confirma a fé católica. Esta afirmação pode parecer escandalosa,
porém, basta uma rápida olhada em nossa cultura, e percebermos que temos uma cultura
protestantizada, que supervaloriza não as Sagradas Escrituras, que vulgarmente é chamada de
bíblia, mas sim, a interpretação, opinião, parecer e narrativa individual de cada pessoa dando ares
de autoridade e verdade a qualquer afirmação que se refira ao seu conteúdo.

Um terrível exemplo é o que aconteceu na cidade de Serra, Espírito Santo, onde um homem, que
se dizia pastor evangélico, manteve relações sexuais, com uma vizinha, tendo consentimento de
sua esposa, e do marido da vizinha. Estranho? Mais estranho é a justificativa do adultério. Segundo
o próprio pastor, a vizinha sonhou (o que para ela foi uma revelação) que teria filhos com o pastor,
e após “entrar em oração”, descobriu na sua bíblia, que de fato, ele deveria “adulterar” com a
vizinha. Quando confrontado pelo repórter do Fantástico, o “pastor” faz um questionamento: “Onde
está na bíblia a proibição do homem ter mais de uma mulher?”. A mulher com quem o pastor
cometeu o adultério, disse: “Deus me levou a fazer isso!” e o esposo disse: “Se é esta a vontade
de Deus, não tem para onde correr”. O “pastor” continuou: “Então nós entramos em oração, pedindo
a Deus misericórdia, porquê seria uma das coisas mais difíceis da minha vida”, e o repórter
pergunta, “o que?” ao que o homem responde: “Tomar esta decisão, pegar uma mulher que tem
marido”, e o homem ainda cita a bíblia, o texto a seguir é tirado de uma tradução protestante:
1
E o SENHOR me disse: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo, contudo adúltera, como o
SENHOR ama os filhos de Israel, embora eles olhem para outros deuses, e amem os bolos de uvas.
(Livro de Oséias - Os 3:1)

Ao ler o texto acima, o “pastor” entendeu o seguinte:

“E o SENHOR me disse: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo contudo
adultera...”

Percebeu a diferença?

A palavra ADÚLTERA, com acento, foi lida e interpretada como “ADULTÉRA”, e assim, com base
na Bíblia, o homem cometeu um adultério... Há muitos vídeos no youtube contando este caso, basta
procurar por “pastor adultera”, e vários vídeos iguais serão mostrados.

Há ainda um filme, que aborda as mazelas, loucuras e até crimes cometidos, com base em fatos,
por pessoas “religiosas” de cultura protestante nos EUA chamado: “O diabo de cada dia”. É
estrelado por Tom Holland, o ator que tem estrelado o Homem Aranha, sugerimos que assista ao
vídeo e ao filme, dentro do contexto que estamos falando.

Por estas e outras, para nós católicos, é mais importante conhecer o Catecismo da Igreja Católica
(CatIC) e as Sagradas Escrituras, mas se não há tempo hábil na sua rotina, então, dedique-se
35

primeiro em conhecer o CatIC. Uma vez conhecendo o conteúdo da Sã Doutrina da Salvação, você
terá mais habilidade e segurança em ler, entender e interpretar as Sagradas Escrituras.

BIBLIA OU CATECISMO?

O Bom
Pastor

Como já vimos, há uma série de riscos em ler a Sagrada Escritura e dar uma interpretação
particular, privada ou não conseguir compreender bem o texto e terminar tirando conclusões
desconectadas do contexto histórico e do estilo literário do texto. Após o Concílio Vaticano II (CVII),
os bispos reunidos, pediram ao Papa o seguinte:

"Muitíssimos expressaram o desejo de que seja composto um Catecismo ou compêndio de toda a


doutrina católica, tanto em matéria de fé como de moral, para que ele seja como um ponto de
referência para os catecismos ou compêndios que venham a ser preparados nas diversas regiões. A
apresentação da doutrina deve ser bíblica e litúrgica, oferecendo ao mesmo tempo uma doutrina sã
e adaptada à vida atual dos cristãos" (Fidei Depositum)

Ainda no mesmo documento, que é o texto introdutório do próprio CatIC, o papa São João Paulo
II, faz uma belíssima afirmação:

“O "Catecismo da Igreja Católica" é fruto de uma vastíssima colaboração: foi elaborado em seis anos
de intenso trabalho, conduzido num espírito de atenta abertura e com apaixonado ardor.” (FD)

E nos dá uma garantia:

“Um catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo orgânico, o ensinamento da Sagrada
Escritura, da Tradição viva na Igreja e do Magistério autêntico, bem como a herança espiritual dos
Padres, dos Santos e das Santas da Igreja, para permitir conhecer melhor o mistério cristão e reavivar
a fé do povo de Deus. Deve ter em conta as explicitações da doutrina que, no decurso dos tempos, o
Espírito Santo sugeriu à Igreja.” (FD)

Existem no Brasil, dois grandes nomes do ensino ortodoxo da fé católica na atualidade, o primeiro
é o Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, que possui um site com inúmeros cursos de
aprimoramento doutrinário, teológico e filosófico. Tendo sido já reitor de seminário, hoje, dedica-se
à sua paróquia e ao site: https://padrepauloricardo.org. Se não conhece, sugerimos que conheça.
O pe. Paulo, como é conhecido, é um dos membros da comissão de revisão da versão portuguesa
do CatIC, e o utiliza em todas as suas formações, tendo ao menos dois cursos específicos para
aprofundamento detalhado do CatIC.

Outra referência brasileira de apologética e catequese, é o Professor Felipe Rinaldo Queiroz de


Aquino, ou apenas, Prof. Felipe Aquino, que é um prolífero escritor, fundador da Editora Católica,
Cléofas (https://cleofas.com.br/), escritor, com mais de 80 livros publicados, apresentador dos
36

programas "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", pela TV Canção Nova, e mesmo sendo
leigo, recebeu do Papa Bento XVI, o título de ‘Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno’, que
foi criado no dia 1º de setembro de 1831, pelo Papa Gregório XVI, como forma de manifestar o
reconhecimento da Igreja por aquelas pessoas que se entregaram a ela na defesa da fé católica e
da pregação do Evangelho.

Muitas vezes o Prof. Felipe foi questionado em sua insistência para que as pessoas conheçam e
se aprofundem cada vez mais no CatIC ao invés das Sagradas Escrituras, sendo ele mesmo autor
também de inúmeros cursos, tanto em rádio quanto em TV, de formação do CatIC, em um de seus
vídeos de formação, disse o seguinte:

“Conhecer o Catecismo é conhecer a Sagrada Escritura, pois nele há mais de 3.000 citações das
Sagradas Escrituras e nele está compilado toda a Doutrina da Igreja, o que os santos doutores
disseram e a Sagrada Tradição juntamente com o Magistério vivo da Igreja nos tem ensinado ao
longo de 2.000 anos.” (Prof. Felipe Aquino - Como entender e usar o catecismo da igreja, 15/07/2021
- https://www.youtube.com/watch?v=VGxnpGb8ics&t=1413s)

FIDEI DEPOSITUM:

Após o índice, algumas das primeiras palavras que você encontrará é a Constituição Apostólica
(um pronunciamento solene de um Papa) Fidei Depositum, escrita apenas para você (sim, você)
por São João Paulo II. Nestas páginas, o então papa explica por que foi publicado o CatIC: para
que possamos perceber que:

“Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nos sacramentos; ele é a fonte da nossa
fé, o modelo de conduta cristã e o Mestre da nossa oração”. (FD, 2)

1. O prólogo

Depois do Fidei Depositum, o CatIC começa com um prólogo que explica como esses recursos
existem para ajudar todos a encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo.

“Sempre e em toda parte, Ele está próximo do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-Lo, a conhecê-
Lo e a amá-Lo com todas as suas forças...”. (CatIC, 1)

O conteúdo do CatIC é todo direcionado para nos ajudar a responder a este chamado de Deus.

2. Os quatro pilares

O CatIC apresenta o Depósito da Fé em quatro partes ou “quatro pilares”: o Credo, os


sacramentos, os mandamentos e a oração. O Prof. Felipe Aquino explica que a ordem dessas
quatro partes acompanha perfeitamente nosso caminho de fé: primeiro, o credo, porque nós não
teríamos nada a dizer como cristãos se o Pai não tivesse falado por meio do Filho e no Espírito
Santo, chamando-nos à comunhão com Ele. A seguir, a explicação dos Sacramentos começando
pela Liturgia, realçando como podemos responder a este convite de comunhão com Deus. Somente
depois de receber o poder dos sacramentos somos instruídos na vida moral, na vivência da fé: as
bem-aventuranças e os dez mandamentos. Por fim, somos instruídos sobre o significado e a
importância da oração, que é o objetivo da vida cristã, que segue sempre o caminho da Revelação,
que se comunicou e nos deu a comunhão com o Pai, por meio de Cristo no Espírito Santo.
37

3. Um monte de números

Olhe para qualquer página do Catecismo e você verá números. Muitos números. Essa foi a parte
que causa maior desconforto nos leitores, para entendê-los, vejamos o esquema a seguir:

Página

Parágrafo

Referência Cruzada

Citação

Além da página, que é óbvia, há os parágrafos, que no CatIC somam um total de 2.865, conforme
o texto disponibilizado pelo Site do Vaticano (https://www.vatican.va/) e disponível de forma gratuita
em PDF em vários idiomas no link: https://www.vatican.va/archive/ccc/index_po.htm

A “referência cruzada” é uma citação que o texto faz ao próprio texto, no exemplo, o parágrafo 837,
está indicando que o parágrafo 771, está descrevendo algo semelhante ao que está sendo dito no
parágrafo que está sendo lido.

Mais um exemplo desta referência cruzada, tome o seu CatIC e vá para o parágrafo §1831 – que
lista os sete dons do Espírito Santo e como eles nos ajudam a viver nossa vida em Cristo. Se você
olhar à esquerda do número do parágrafo em negrito, verá mais dois números em itálico: §1266 e
§1299. Que são as referências cruzadas. Observe: a grandiosidade das referências cruzadas. O
que isto significa? Se você pular para §1266, ele explica (entre outras coisas) como o Sacramento
do Batismo concede os dons do Espírito Santo. O parágrafo §1299 descreve como as orações do
Sacramento da Confirmação dão os dons do Espírito Santo. Quase todos os parágrafos são
acompanhados por referências cruzadas que podemos consultar para ver como um tópico (como
os Dons do Espírito Santo) pode ser encontrado nos quatro pilares da nossa fé.

A citação, que no caso são 1.513, refere-se a uma citação direta do CVII, que aparecerá ao pé da
página e no índice de citações, como: “LG 14” e “II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen
Gentium, 14: AAS (Acta Apostolicae Sedis) 57 (1965) 18-19”, respectivamente. Em PDF e no site
do vaticano, as citações mudam um pouco, porém, são mais fáceis de consultar do que no livro
físico.

4. Seções: RESUMINDO

O conteúdo do CatIC, por vezes parece intrincado e até subjetivo, pois é uma linguagem filosófica,
e o ideal para compreender profundamente os termos utilizados pelo CatIC, seria entender o básico
de Metafísica (Veremos isso em futuras aulas). Mas, nós leigos, mesmo não compreendendo de
filosofia metafísica, somos capazes de compreender, se nos debruçarmos em “parágrafo por
parágrafo”, pois todos os parágrafos, costumam ser autoexplicativos, e caso surjam dúvidas de
38

compreensão, basta verificar o parágrafo referenciado, que se compreende o sentido do texto que
se pretende compreender.

Há ainda, ao final de cada capítulo, uma reunião de pequenos parágrafos, que terão como título:
RESUMINDO; que trarão letras em itálico que explicarão de forma mais resumida aquele capítulo,
como uma espécie de fixação de conteúdo.

5. Índices, Glossários e Abreviações

O final do CatIC, há uma lista de siglas e abreviações de cada referência usada, em seguida o
índice das citações, que são literalmente milhares, como já vimos, só das Sagradas Escrituras são
mais de 3.000, porém, há citações de todo o conteúdo da Patrística, dos Doutores da Igreja, dos
Concílios e Sínodos, dos Papas, de outros documentos importantes como o Código de Direito
Canônico (CIC), outros catecismos antigos como o Catecismo Romano e o Catecismo de S. Pio X.

Por fim, o CatIC traz um índice analítico em ordem alfabética, para se fazer busca rápida por tema,
onde cada palavra do índice, traz os parágrafos onde é tratado o termo de pesquisa do índice e
todas as suas referências dentro do Catecismo. Por exemplo: a palavra “Abandono”.

Abandono à providência; 305, 322, 2115;


Abandono à vontade de Deus; 2677;
Abandono de Maria em Deus; 506; Temas e Parágrafos
Abandono dos discípulos; 1851;
Deus nunca abandona seu povo; 2577

COMO LER/ESTUDAR O CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA?

Regras de ouro para ler o Catecismo e/ou a Bíblia:

1. Leia todos os dias;


2. Tenha uma hora marcada para a leitura;
3. Marque a duração do tempo;
4. Escolha um bom lugar;
5. Leia com caneta ou lápis e papel na mão;
6. Faça tudo num ambiente de oração;

Mantenha o seu DIÁRIO espiritual em dia!

1º. Método: Parágrafos por dia:

Se há uma certa necessidade de ler com rapidez, e a pessoa já tem algum conhecimento
metafísico, por ter feito um curso de filosofia, apologética ou mesmo assistido aulas on line sobre
o assunto, é possível que se leia e entenda o CatIC dentro de 1(um) ano.

Tomando os 2.865 parágrafos, e dividindo por 365 dias, teremos algo próximo de 7,5 parágrafos
por dia. Na prática, os finais de semana e feriado, provar-se-á que é difícil persevera no estudo
diário, então, um ano tem aproximadamente 250 dias, o que nos darão em torno de 11 a 12
parágrafos por dia.
39

2º. Método: Resumo em Resumo (Semanal):

Outra opção, um pouco mais demorada, porém, eficiente para os que não tem nenhum tipo de
iniciação em filosofia, é ler um capítulo por semana, ou seja, do início, parando nos RESUMINDO
e indo de “resumo em resumo”, anotando as dúvidas e fazendo um verdadeiro diário de estudos.

Este método é mais eficiente, porém, pode demorar em torno de um ano e meio a dois anos, mas
acreditamos que vale muito a pena. Pode-se utilizar o Compêndio do Catecismo ou o “YouCat”
como apoio e guia.

3º. Método: Estudo por temas:

O estudo pelo índice temático é extremamente indicado para quem deseja ser catequista, ou que
deseja apenas se aprofundar mais na própria fé. Consiste em tomar os termos de sua preferência,
e consultar item por item, na ordem que preferir, tomando o cuidado para não se repetir e não deixar
nenhum item de fora do estudo.

Aqui, é mais importante ainda ter um diário de estudos, pois como é um estudo dirigido por temas,
a organização textual em um caderno ou vários cadernos de suporte, podem fazer toda a diferença
na própria compreensão do conteúdo e fixação dele, uma vez que o caderno irá funcionar como
um mapa mental de busca dos estudos realizados.

ATENÇÃO: O ideal, é que o estudo da fé, tenha início, mas não tenha fim, sendo assim, inicie
pelo método 1, quando terminar, vá para o método 2 e por fim, continue os estudos pelo método
3. Desta forma, permanece-se atualizado no conteúdo e pode ter certeza, estes ensinamentos
do Catecismo, poderão ser aplicados em tudo e nossas vidas, desde escolha de vocação e de
parceiro de vida, como educação dos filhos, problemas afetivos e questões profissionais, não
importando a área de conhecimento por você escolhida. É um verdadeiro tesouro.

MAS E A BÍBLIA, VAMOS ALGUM DIA LER ELA?

Uma vez que já se começou a ler o Catecismo e já o está assimilando. A Leitura das Sagradas
Escrituras serão de extrema valia em nosso relacionamento com Deus. Ora, o Catecismo contém
grande parte da Palavra de Deus, mas as Sagradas Escrituras, são a “Palavra de Deus” por
excelência, pois é o próprio Deus se expressando. Conhecer as Sagradas Escrituras e ter
intimidade com ela, é conhecer o próprio Deus e ter intimidade com Ele. Assim como o Catecismo
tem métodos para sua leitura e estudo, as Sagradas Escrituras também tem;

1º. Método: LEITURA ORANTE - LECTIO DIVINA

A Lectio Divina (pronuncia-se Léssio) é um dos métodos de oração com as Sagradas Escrituras
mais tradicionais da Igreja. Grandes santos a praticavam diariamente, e ela tornou-se o primeiro
contato de muitas pessoas com a Palavra de Deus, entenda sempre, Palavra de Deus, como sendo
a Revelação Divina, e não unicamente a Sagrada Escritura, que neste caso, também se refere a
Sagrada Tradição e Magistério presentes no Catecismo, portanto é um método que também pode
e deve ser aplicado ao Catecismo.

Lectio Divina é um exercício de escuta pessoal da Palavra de Deus. Funciona como uma escada de
quatro degraus espirituais: Leitura, Meditação, Oração, Contemplação. Sendo que os degraus
são mais para a compreensão, pois o Senhor, na liberdade do seu Espírito, pode elevar à oração e
à contemplação no momento que lhe aprouver. É preciso, portanto, estar aberto à ação do Espírito
Santo: “Buscai na leitura e encontrareis na meditação; batei pela oração e encontrareis pela
contemplação” (Monge Guido II, Idade média).
40

O primeiro passo, no entanto, é colocar-se em oração, pois, o autor das Sagradas Escrituras, da
Tradição e o grande Mestre do Magistério, é o Divino Espírito Santo, então, é preciso ler, no mesmo
Espírito que foi escrito. Por isso, faz-se necessário clamar pela presença do Espírito Santo:

Oração Vinde Espírito Santo:

Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso Amor.
Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.

Oremos: Ó Deus que instruíste os corações dos vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, fazei que
apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos da sua consolação.
Por Cristo Senhor Nosso. Amém

1. Leitura:

O que fala o texto? É necessário estar atento aos detalhes: o ambiente, o desenrolar dos
acontecimentos, as personagens do texto, quais são os diálogos, a reação das pessoas;
procurando perceber os seus sentimentos, as questões mais interessantes, as palavras e trechos
que chamam mais atenção. Esse passo é o que exige maior esforço da nossa parte. Quando se lê
os Evangelhos, é interessante também ficar atento às perguntas que Nosso Senhor faz, e, as
respostas que Ele dá, quando é questionado.

2. Meditação:

O que diz o texto de forma pessoal para mim? Este é o momento de se colocar diante da Palavra.
É hora de “ruminar”, saborear a Palavra de Deus. Na meditação vamos questionando, confrontando
a passagem com a nossa vida, por meio do Espírito Santo. É uma experiência mais voltada ao
sentido Moral do conteúdo do texto.

3. Oração:

O que o texto me faz responder ao Senhor? A oração nasce como fruto da meditação. Os
sentimentos nos levam a dar uma resposta a Deus. Através do Espírito Santo, nos é suscitado o
louvor, a súplica, a oração penitencial, a oferta.

4. Contemplação:

O que a Palavra faz em mim? É o próprio Deus que age em nossas vidas. É permitir a ação de
Deus que recebe a nossa oração e nos leva ao Seu coração. Na contemplação nós somos
impelidos a ser como Cristo. Contemplar, muitas vezes exige visualizar, imaginar, ver a obra de
Deus em nós. A contemplação não termina quando termina a Lectio Divina, ela continua ao longo
do dia. Precisamos perceber as mudanças, a ação de Deus em nossa vida. Falaremos mais sobre
Meditação e Contemplação quando formos falar sobre Vida de Oração.

2º. Método: DIÁRIO ESPIRITUAL

O Diário Espiritual é um método proposto por Monsenhor Jonas Abbib aos consagrados da
comunidade Canção Nova, ele escreveu um livro com o mesmo nome, por isso, aqui,
apresentaremos um resumo deste livro.

Como fazer:

✓ Use um caderno, caderneta, agenda ou fichário.


✓ Reserve uma folha nova para cada dia.
✓ No alto de cada página, coloque a data do trabalho: dia da semana, mês e ano.
41

✓ A seguir, desenvolva à sua maneira o seu diário, considerando os cinco (5) itens a seguir:

Promessas de Deus; Ordens de Deus para obedecer; Princípio Eterno; Mensagem de Deus para mim hoje; Como
posso aplicar isso em minha vida?

1. Promessas de Deus:

São coisas que Deus promete. Nem sempre se encontram promessas Divinas nos trechos que
lemos. Se não encontrar, não tem o que anotar. Mas se encontrar... ANOTE-AS no seu Diário
Espiritual!
2. Ordens de Deus para obedecer:

São prescrições claras para nortear a nossa vida como mandamentos, proibições, ordens, regras,
leis. Dica: o verbo colocado no imperativo é um sinal de uma ordem: dai, fazei, buscai,
recebei, perdoai, sede... e anote-as!!

3. Princípio eterno:

Princípios imutáveis e permanentes que expressam o funcionamento do Reino de Deus. Ex: “Não
julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis
perdoados.” ou “Todo aquele que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado.”

Não se esqueça de ANOTAR!!!

4. Mensagem de Deus para mim hoje:

Em tudo aquilo que você leu, em tudo o que você trabalhou até agora no seu diário, qual é a
mensagem de Deus para você hoje? É certo que Deus tem uma mensagem para você.

Basta ficar atento, numa atitude de expectativa, para descobri-la. Anote a mensagem todos os
dias. Não deixe que ela se perca. Faça de maneira muito pessoal, com suas próprias palavras.
Seja simples. Nada de complicações.

5. Como posso aplicar isso em minha vida?

O que Deus nos inspira para colocar em prática na nossa vida o que lemos? Eis aí a REFLEXÃO:
Esta reflexão, precisa NECESSARIAMENTE mudar nosso modo de agir! Caso contrário, não
estamos nos deixando mover pela Palavra de Deus!

METANÓIA / CONVERSÃO / MUDANÇA DE VIDA – Estes são os focos da aplicação.

3º. Método: ACOMPANHANDO A LITURGIA DIÁRIA

Após o Concílio Vaticano II, a Igreja aprimorou o calendário litúrgico criado pelo Concílio de Trento,
e o ampliou, desta forma, lendo a liturgia diária proposta pela Igreja para a liturgia eucarística,
tomando todas as leituras propostas (1ª. Leitura, 2ª. Leitura - quando houver, Salmo Responsorial
e Evangelho) é possível ler mais de 90% das Sagradas Escrituras.

A vantagem é que os textos são correlacionados, criando um vínculo espiritual direto entre os textos
do Antigo Testamento com o Novo testamento. Há ainda uma outra vantagem, são inúmeros os
padres, religiosos e estudiosos que realizam explicações diárias nas mídias sociais dos textos
litúrgicos propostos.
42

Os de nossa preferência, são a Homilia Diária, que é um áudio de aproximadamente 5 minutos


onde o Pe. Paulo Ricardo expõe de forma resumida e profunda o conteúdo e as chaves de leitura
dos textos propostos. Outra opção são as homilias diárias propostas pelo canal do Prof. Felipe e
da Canção Nova no YouTube.

Segue-se o mesmo modelo, ou da Lectio Divina ou do Diário Espiritual, a diferença é que há a


necessidade de se possuir um Missal Quotidiano ou um Lecionário, ou ainda ser assinante de
alguma editora que envie pelo correio os textos da Liturgia Diária. Mas sem dúvida o mais cômodo
e rápido é possuir um aplicativo de celular que tenha os textos diários em ordem, o que nós
indicamos sempre é o aplicativo I-Liturgia, que além da liturgia diária, possui a edição completa e
atualizada da “liturgia das horas”, bem como todo o Missal Romano e inúmeras orações em
português e Latim para nos ajudar na vida de oração diária.

ANTENÇÃO: A leitura das Sagradas Escrituras, bem como a do Catecismo, precisa ser algo
que nos acompanhe pela vida toda, então, sugerimos que se leia no mínimo um e no máximo 4
capítulos das Escrituras por dia para se obter uma compreensão satisfatória, e obedecendo a
sequência a seguir.

SEQUÊNCIA PARA LEITURA/ESTUDO

Esta sequência também é a proposta por Monsenhor Jonas Abbib, ela não está em ordem
cronológica, o NT está em ordem de sensibilidade, onde estão os trechos mais amorosos para os
menos amorosos. Já o AT, está em ordem cronológica da Revelação de Deus a Seu povo Israel:

NOVO TESTAMENTO
1 1ª. João 7 Colossenses 13 Filemon 19 2ª. Coríntios 25 3ª. João
2 Evangelho João 8 1ª. Tessalonicenses 14 Evangelho Lucas 20 Hebreus 26 Judas
3 Evangelho Marcos 9 2ª. Tessalonicenses 15 Atos 21 Tiago 27 Apocalipse
4 Gálatas 10 1ª. Timóteo 16 Romanos 22 1ª. Pedro
5 Efésios 11 2ª. Timóteo 17 Evangelho Mateus 23 2ª. Pedro
6 Filipenses 12 Tito 18 1ª. Coríntios 24 2ª. João
Alguns livros são importantes que sejam revisados: Evangelho e 1ª Carta de São João e Carta de São Paulo aos Coríntios.

ANTIGO TESTAMENTO
1 Gênesis 11 Oséias 12 Isaías (40_55) 29 Jonas 39 2a. Macabeus
2 Êxodo 12 Isaías (1_39) 21 1a. Crônicas 30 Rute 40 Baruc
3 Números 13 Miquéias 22 2a. Crônicas 31 Tobias 41 Daniel
4 Josué 14 Naum 23 Esdras 32 Judite 42 Sabedoria
5 Juízes 15 Sofonias 24 Neemias 33 Ester 43 Levítico
6 1a. Samuel 16 Habacuque 25 Ageu 34 Eclesiástico 44 Deuteronômio
7 2a. Samuel 17 Jeremias 26 Zacarias 35 Cântico dos Cânticos 45 Provérbios
8 1a. Reis 18 Lamentações 12 Isaías (56_66) 36 Jó 46 Salmos
9 2a. Reis 19 Ezequiel 27 Malaquias 37 Eclesiastes
10 Amós 20 Abdias 28 Joel 38 1a. Macabeus
A Profecia de Isaías (12) está dividida em três, por causa de uma particularidade do próprio livro.

TAREFA:

Ler todos os dias até a próxima catequese: 1Sm 3, 1-10; 1Reis 19, 11-14; Mt 5, 13-16; Ex 3, 1-10.
43

INTRODUÇÃO À VIDA DE ORAÇÃO:


“O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto,
salvar a sua alma.” (Santo Ignácio de Loyola)

COMO TER VIDA DE ORAÇÃO?

O primeiro passo para ter vida de oração, é iniciar uma oração. Ela começa breve e não é uma
oração espontânea, é repetindo uma oração de um santo, pode ser um texto bíblico, mas é
fundamental que ela seja uma oração que já existe. Por que isso? Simples, nenhuma oração, pode
ser presunçosa ou soberba! Se somos iniciantes na vida de oração, é preciso iniciar, com muita
humildade, contando com o apoio daqueles que já trilharam este caminho, os mestres da oração.

COMO SER ALGUÉM QUE REZA?

O segundo passo para a vida de oração, é constância. Todos os dias, precisamos nos alimentar.
Todos os dias precisamos nos limpar. Se temos machucados, todos os dias precisamos tomar os
remédios ou purificar as feridas. Assim, todos os dias precisamos rezar. Da mesma forma que há
hora para comer, tomar banho e remédios, é preciso termos uma hora para rezar. Precisamos de
rotina! Então, estabeleçamos um momento no dia, em que iremos tirar para “ler” orações que outras
pessoas fizeram. Isso é ser alguém que reza.

COMO SE MANTER NO CAMINHO?

Pe. Léo tem uma frase maravilhosa:

"O céu é para quem sonha grande, pensa grande, ama grande, e tem a coragem de
viver pequeno". Padre Léo Tarcísio Gonçalves Pereira (Pe. Léo)

Alguém que almeja e se esforça para ter “vida de oração” é alguém que sonha grande (sonha em
ser santo), pensa grande (pensa nas pessoas do mundo), ama grande (ama a Deus no outro) e
tem a coragem de viver pequeno (tudo isso, dentro da vida ordinária do dia a dia).Para nos
mantermos em oração, é preciso além de iniciar e continuar, é preciso crescer. A vida de oração,
é como aquele homem que passou 20 anos preso, em Um sonho de liberdade. Todos os dias, ele
cavou um buraco na parede. Um dia, ele conseguiu passar por ele e fugir. A oração, é este esforço
diário, contínuo, permanente e perseverante de “cavar as paredes” para alcançar a liberdade.

DETERMINADA DETERMINAÇÃO:

É preciso uma “determinada determinação” fazendo tudo o que está ao nosso alcance, para
realizar a Vontade de Deus, Santa Teresa D’Ávila disse:

“Para aqueles que querem ir por este caminho [da oração e da intimidade com Deus], que o levará
a beber desta água da vida, digo que é muito importante prestar atenção em como irão começar: em
tudo, com uma imensa e muito determinada determinação! E não parar até chegar a ela [a
união com Deus], venha o que vier, suceda o que suceder, dando o trabalho que der, murmurando
seja quem for, até chegar lá, mesmo que se morra pelo caminho…” (Caminho de Perfeição 21, 2)
44

LIÇÃO 4: VIDA DE ORAÇÃO - O “TOQUE”


A vida de oração começa, quando somos “tocados” pela Graça de Deus. Fomos convidados por
Ele a ter uma vida mais íntima e próxima. Este “toque” pode ser entendido como “chamado” ou
“epifania” em que a pessoa toma conhecimento de que Deus está agindo em sua vida, alguns
também podem conhecer como “conversão”. Este “toque” não é físico ou intelectual, é espiritual,
pode envolver os nossos sentimentos (físico) e nosso intelecto (mete), mas sobretudo, é um toque
em nosso “organismo espiritual”. Uma excelente passagem que poderá nos servir de base para
nossa compreensão, é o chamado de Samuel.

O TOQUE DE SAMUEL:

Contexto: Samuel era filho de Elcana e Ana, ela era estéril, mas, após uma profunda oração e
lamentação diante de Deus, Ana, recebeu a graça de conceber, e ao dar à luz, consagrou a criança
a Deus, e assim que desmamou, foi levado para servir a Arca da Aliança, junto ao sacerdote Heli.
Notemos que Samuel, ainda não tinha uma vida de oração, apesar de servir e de participar dos
rituais religiosos de Israel, desde a mais tenra idade. Então, eis o “Toque”, “Chamado”, “Epifania”
ou “Conversão” de Samuel:

“O jovem Samuel servia ao Senhor sob os olhos de Heli. A palavra do Senhor era rara naqueles dias, e as visões
não eram frequentes. Ora, aconteceu certo dia que Heli estava deitado (seus olhos tinham-se enfraquecido, e
ele mal podia ver), e a lâmpada de Deus ainda não se apagara. Samuel repousava no templo do Senhor, onde se
encontrava a arca de Deus. O Senhor chamou Samuel, o qual respondeu: Eis-me aqui. Samuel correu para junto
de Heli e disse: Eis-me aqui: chamaste-me. Não te chamei, meu filho, torna a deitar-te. Ele foi e deitou-se. O
Senhor chamou de novo Samuel. Este levantou-se e veio dizer a Heli: Eis-me aqui, tu me chamaste. Eu não te
chamei, meu filho, torna a deitar-te. Samuel ainda não conhecia o Senhor; a palavra do Senhor não lhe tinha
sido ainda manifestada. Pela terceira vez o Senhor chamou Samuel, que se levantou e foi ter com Heli: Eis-me
aqui, tu me chamaste. Compreendeu então Heli que era o Senhor quem chamava o menino. Vai e torna a
deitar-te, disse-lhe ele, e se ouvires que te chamam de novo, responde: Falai, Senhor; vosso servo escuta! Voltou
Samuel e deitou-se. Veio o Senhor pôs-se junto dele e chamou-o como das outras vezes: Samuel! Samuel! Falai,
respondeu o menino; vosso servo escuta!”
(1 Sm 3, 1-10)

O texto nos apresenta uma realidade. Deus nos chama muitas vezes, e nós, muitas vezes não
compreendemos o chamado. Constantemente, Deus está nos chamando, está nos convidando à
conversão, está nos guiando pela mão, mas nós permanecemos insensíveis ao seu chamado e ao
seu convite.

O TOQUE DE ELIAS:

Contexto: Elias, é um dos maiores profetas do Antigo Testamento, foi brutalmente perseguido pelo
próprio Rei Acab e por sua esposa Jezabel, ela era adoradora de Baal, e por causa dela, Israel
pecou por idolatria. Elias, enfrentou os “profetas” de Baal, e numa luta, passou ao fio da espada
todos os sacerdotes e profetas de Baal, então, teve que fugir. Na fuga, ele lamenta por seu ardor e
o anjo do Senhor lhe oferece um alimento que é prefigura da Eucaristia, logo em seguida acontece
o seguinte diálogo:

“O Senhor desse-lhe: Sai e conserva-te em cima do monte na presença do Senhor: ele vai passar. Nesse
momento passou diante de Elias um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os
rochedos; mas o Senhor não estava naquele vento. Depois do vento, a terra tremeu; mas o Senhor não estava
no tremor de terra. Passado o tremor de terra, acendeu-se um fogo; mas o Senhor não estava no fogo. Depois
do fogo ouviu-se o murmúrio de uma brisa ligeira. Tendo Elias ouvido isso, cobriu o rosto com o manto, saiu e
pôs-se à entrada da caverna. Uma voz disse-lhe: Que fazes aqui, Elias? Ele respondeu: Consumo-me de zelo pelo
45

Senhor, Deus dos exércitos. Porque os israelitas abandonaram a vossa aliança, derrubaram os vossos altares e
passaram os vossos profetas ao fio da espada. Só eu fiquei, e agora querem tirar-me a vida.”
(1 Reis 19, 11-14)

Elias, coloca-se diante de Deus, dando o “passo da fé”. Ele sai da caverna onde estava, e pôde ver
o momento que Deus passa. Qual é a sua caverna? E qual é o passo que você precisa dar, para
contemplar a “brisa ligeira” que está passando agora diante de você?

Muitas vezes, não sabemos... nem onde estamos e muito menos o que nos impede de dar o passo,
por isso, é preciso pedir a Deus, que nos indique o caminho. Não adianta procurar Deus no barulho
exterior do mundo, Elias estava dentro de uma caverna, escondido, com medo, mas o Senhor,
disse para ele ir para cima do monte. Mas uma coisa nós sabemos... Quem somos:

“Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão
para ser lançado fora e calcado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade
situada sobre uma montanha nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-
la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.”
(Mt 5, 13-16)

Deus não se manifesta no “vento impetuoso”, que “quebrava tudo”, que representa nossa raiva,
nossa ira, nossa agitação e até o nosso “instinto” de autodestruição e depreciação. Deus não está
no tremor de terra, que é nossa ânsia revolucionária, nossas ideologias, nossa rebeldia com este
mundo e muito menos em nosso ativismo político que vê o mundo sempre com olhos pessimistas
e negativos. Depois apareceu o fogo, que é símbolo do poder, do sucesso, do dinheiro, do prazer,
do entretenimento, de tudo aquilo que nos distrai de nós mesmos, que nos coloca em uma atitude
otimista demais diante deste mundo. Por fim veio “o murmúrio de uma brisa ligeira” que é símbolo
de quietude, silêncio e sobriedade, e a atitude do profeta, deve ser a nossa, pois ele imediatamente
cobriu o rosto, e finalmente saiu de sua caverna.

A primeira atitude de quem quer rezar, é reconhecer que Deus é Deus e nós, não somos deus. É
preciso estarmos em estado de adoração, prostrados, não apenas fisicamente, mas principalmente,
espiritualmente.

O TOQUE DE AGOSTINHO:

Repare que o profeta, de rosto coberto saiu da caverna, um ato de fé, pois ele não via por onde
passava, ele não via para onde estava indo, mas ele seguia a “brisa ligeira” que havia lhe tocado,
Deus não está fora de nós, mas dentro de nós, como Santo Agostinho escreveu:

“Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de
mim e eu te procurava do lado de fora! Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas
criaturas. Estavas comigo, mas eu não estava contigo. Retinham-me longe de ti as tuas criaturas, que
não existiriam se em ti não existissem. Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez.
Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira. Aspergiste tua fragrância e, respirando-
a, suspirei por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo
no desejo de tua paz.” (Confissões, 38)

Se hoje você está aqui, procurando por algum sacramento, é porque em algum momento, Deus
TOCOU em você. Tente se lembrar que momento foi este! Procure trazer à memória aquele
momento em que você pôde sentir a Graça de Deus e sentiu-se impelido a procurar um
aprofundamento na sua própria religiosidade. Assim como os namorados guardam em boa
lembrança o dia do primeiro encontro, é preciso que nós façamos o mesmo com aquele dia em que
Deus nos tocou e nos deixamos tocar por Ele.
46

COMO DEUS LHE TOCOU?

Você, assim como Samuel, Elias, Santo Agostinho, como os discípulos de Jesus e como todos os
santos da Igreja e com certeza, assim como todos os homens e mulheres deste mundo, sentiu o
toque da Graça de Deus, percebeu um leve chamado à conversão, e um movimento interior, para
tornar-se melhor do que era antes, tornar-se maior do que você mesmo, tornar-se algo que você,
sabe que você não é, ainda, mas que, de algum modo, ao se aproximar de Deus, você poderá ser.

Este entendimento, digo entendimento, pois é maior do que um simples sentimento, é um


movimento da alma (organismo espiritual), sendo assim, este entendimento, vem sempre a partir
de uma experiência que temos com Deus. Nada sobrenatural como a voz que Samuel ouviu durante
a noite, mas pode ter sido uma frase que você leu, ou um filme que assistiu, ou uma homilia que
ouviu... Seja lá o que for este breve momento, é o responsável pela sua mudança de vida e é o
momento decisivo e responsável pelo seu interesse em buscar as “coisas do alto”:

“Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de
Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida
com Cristo em Deus.
(Col 3,1-3)

A maioria de nós passou muitas vezes por esta situação. Raramente damos ouvidos a Deus no
primeiro toque, no primeiro chamado. Infelizmente, assim como Moisés, somos tocados, mas não
damos sequência na busca pelas coisas do alto, por que, mesmo tendo percebido o toque, não
trazemos este toque para o entendimento e não o levamos a sério. Vejamos o que aconteceu com
Moises.

O CHAMADO DE MOISÉS:

Contexto: Moises nasceu predestinado a ser o “salvador” dos hebreus do Egito. Foi criado como
neto do Faraó, poupado da matança das crianças hebreias, e quando adulto, viu a opressão que o
seu povo hebreu sofria. Um dia, quando passeava pelo Egito, viu um egípcio bater em um dos seus
irmãos hebreus, e para defender o hebreu, Moises terminou matando o egípcio e por isso, fugiu do
Egito. Podemos dizer, que, naquele momento, Moises foi convidado à conversão. Porém, ao invés
dele se converter, ele fugiu e foi viver no deserto. No deserto, muito tempo depois, o Faraó que
procurava prender Moisés já havia morrido, Moisés é surpreendido pela visão da Sarça. Notemos
que quando Moises recebeu o primeiro “toque” ele tinha por volta de 40 anos, agora, ele já estava
com 80 anos. E eis como Deus falou a Moisés:

“Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Um dia em que conduzira o rebanho
para além do deserto, chegou até a montanha de Deus, Horeb. O anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama
(que saía) do meio a uma sarça. Moisés olhava: a sarça ardia, mas não se consumia. ‘Vou me aproximar, disse
ele consigo, para contemplar esse extraordinário espetáculo, e saber porque a sarça não se consome.’ Vendo o
Senhor que ele se aproximou para ver, chamou-o do meio da sarça: ‘Moisés, Moisés!’ ‘Eis-me aqui!’ respondeu
ele. E Deus: ‘Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é uma
terra santa.’”
(Ex 3, 1-5)

Moisés estava em meio de seus afazeres, despreocupado, e distante de sua terra natal. Já estava
com uma família, constituído um nome em Madiã. Mas, Deus vai atrás de Moisés, e não apenas
por causa de Moisés, mas por causa da necessidade do povo de Israel que é oprimido no Egito,
continuemos a leitura do texto bíblico:
47

“’Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. Moisés escondeu o
rosto, e não ousava olhar para Deus. O Senhor disse: ‘Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi
os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos. E desci para livrá-lo da mão
dos egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel, lá
onde habitam os cananeus, os hiteus, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Agora, eis que os
clamores dos israelitas chegaram até mim, e vi a opressão que lhes fazem os egípcios. Vai, eu te envio ao faraó
para tirar do Egito os israelitas, meu povo’.”
(Ex 3, 6-10)

Notemos que Moisés esconde o seu rosto, pois sente-se indigno de estar na presença de Deus e
de receber um chamado, pois já havia recebido o chamado anteriormente e não correspondeu.
Mas, uma coisa que precisamos entender, é que, o nosso chamado, nunca é apenas para nós...
Deus quer nossa conversão, mas não apenas isso, Ele quer o nosso serviço, pois há uma lei na
história da Salvação, que consiste em:

Uma vez que Deus criou o mundo e os homens, Ele, nunca mais age no mundo diretamente, se não,
pelos próprios homens. (Pe. Léo)

Então, Deus, quis precisar dos homens, para agir na vida dos próprios homens. Moisés é tocado
pela Graça de Deus, e assim como Samuel, Moisés logo recebe uma missão. Que envolve sempre
a salvação e a vida de outras pessoas. Então pense em sua vida... Você hoje, recebe o toque da
Graça de Deus, o que você irá fazer, irá correr e se esconder, como Moisés, ou irá responder de
imediato, como fez Samuel?

Oração de Santo Inácio de Loyola

Recebei, Senhor, minha liberdade inteira.


Recebei minha memória, minha inteligência e toda a minha vontade.
Tudo que tenho ou possuo de vós me veio;
Tudo vos devolvo e entrego sem reserva
para que a vossa vontade tudo governe.
Dai-me somente vosso amor e vossa graça
e nada mais vos peço, pois já serei bastante rico.
Amém

Sub Tuum Praesidium Oração a Jesus vivendo em Maria

À vossa proteção recorremos Ó Jesus que viveis em Maria,


Santa mãe de Deus vinde e vivei em vossos servos,
Não desprezeis as nossas súplicas no espírito de vossa santidade,
Em nossas necessidades na plenitude de vossa força,
Mas livrai-nos sempre na perfeição de vossas vias,
De todos os perigos na verdade de vossas virtudes,
Ó virgem gloriosa e bendita na comunhão de vossos mistérios,
dominai a potestade inimiga,
em vosso espírito para glória do Pai.
Amém.
Oração encontrada no ano de 1927, no Egito, em Oração composta por Jean-Jacques Olier (1608-
um fragmento de papiro que remonta ao século 1657)
III.
48

LIÇÃO 5: VIDA DE ORAÇÃO - A “RESPOSTA”


Uma vez que fomos tocados pela Graça de Deus, e convidados a conversão, o Senhor nos impele
imediatamente a uma missão muito simples: Salvar Almas! A começar pela nossa. Salvar almas é
a Missão confiada pelo Pai, ao próprio Filho que, pela ação do Espírito Santo, transforma vidas e
torna possível a salvação.

Para sermos salvos precisamos viver e estar em estado de Graça, rompendo com o pecado de
maneira profunda e verdadeira e é aí que entra a vida ascética. Santa Tereza D’Ávila, juntamente
com Santo Tomás de Aquino e outros santos, nos deixaram um patrimônio espiritual que é o
caminho que nos leva a vida mística com Deus.

O MÍSTICO MISTÉRIO:

Não entendamos mal o termo “místico”, pois não se trata de espetáculos ou algo fora da nossa
compreensão. Místico vem do termo mistério, e de fato, a vida de Deus é um mistério, e quem
caminha com Deus, caminha neste mistério. Mistério, é uma das traduções possíveis do termo
grego “μυστήριο” (Mithírió), que para o Latim é igual a Sacramentum (Mystérium). São Paulo, muitas
vezes utilizou o termo para expressar sua missão:

“Que os homens nos considerem, pois, como simples operários de Cristo e administradores dos mistérios de
Deus.”
(1 Co 4,1)

São Paulo, assim como todo sacerdote, não passa de um “administrador dos Sacramentos de
Deus”, e esta é a resposta que devemos dar ao chamado de Deus, nos aprofundar nos mistérios
de Cristo, sendo o principal e maior deles, a Eucaristia, que a Igreja, tão sabiamente, na liturgia da
Santa Missa, nos apresenta: “Eis o mistério da fé” (Mystérium Fídei). No rito antigo o sacerdote
diz “Mystérium Fídei” durante a consagração, e no rito ordinário, ele é dito em alta voz, logo após
a consagração: “Eis o Mistério da Fé”.

A Igreja, é o único e universal sacramento deixado por Nosso Senhor Jesus Cristo à humanidade,
e por meio dos seus sacerdotes, a Igreja administra os santos Mistérios, que são os sete
Sacramentos, que podem ser divididos de dois modos:

Sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo, Comunhão e Crisma), de cura (Confissão e Unção dos
Enfermos) e de vida (Matrimônio e Ordenação). Mas também são chamados de Sacramentos com
caráter (Batismo, Crisma e Ordem) e sem caráter (Confissão, Unção dos enfermos, Comunhão e
Matrimônio). O aprofundamento na teologia sacramental será assunto para outro capítulo.

Mas aqui, é importante saber, que os Sacramentos, ou melhor, o recebimento dos sacramentos é
uma resposta que nós damos ao chamado de Deus. É preciso aprofundarmos na vivência destes
mesmos Sacramentos e dar sequência à ação da Graça em nossas vidas, pela confissão e
comunhão frequente.

AS MORADAS:

Santa Teresa D’Ávila, ao tentar explicar sua experiência de oração, apresentou a metáfora do
Castelo interior, que podemos constatar a seguir:

“Estando eu hoje suplicando a Nosso Senhor que falasse por mim — já que eu não atinava com o
que dizer nem sabia como começar a cumprir a obediência —, deparei com o que agora direi para
começar com algum fundamento. Falo de considerar a nossa alma como um castelo todo de
49

diamante ou de cristal muito claro onde há muitos aposentos, tal como no Céu há muitas moradas.
A bem da verdade, irmãs, não é outra coisa a alma do justo senão um paraíso onde Ele disse ter Suas
delícias. Pois não achais que assim será o aposento onde um Rei tão poderoso, tão sábio, tão puro,
tão pleno de todos os bens se deleita? Não encontro outra coisa com que comparar a grande
formosura de uma alma e a sua grande capacidade. De fato, a nossa inteligência — por aguda que
seja — mal chega a compreendê-la, assim como não pode chegar a compreender a Deus; pois Ele
mesmo disse que nos criou à Sua imagem e semelhança. Se assim é — e não há dúvida disso —, não
há razão para nos cansar buscando compreender a formosura deste castelo. Pois, ainda que entre
ele e Deus exista a diferença que há entre Criador e criatura — já que esse castelo é criatura —, basta
que Sua Majestade diga que o fez à Sua imagem para que possamos entender a grande dignidade e
formosura da alma.” (Castelo Interior, Primeiras Moradas, Capítulo 1, Primeiro Parágrafo)

Nossa alma, é composta de muitas moradas e cada morada é composta de vários cômodos, onde
cada cômodo, é um mais belo que o outro, mas, à medida que se avança na graduação das
moradas, sendo a primeira chamada de “Primeiras Moradas”, a beleza dos cômodos se amplifica,
até alcançar o máximo de beleza, que são as “Sétimas Moradas” onde são os aposentos do Próprio
Deus em nós. O castelo interior, é este “organismo interior” o qual precisa crescer no amor e na
santidade. Este crescimento pode ser por nós medido e avaliado, conforme os “graus de oração”
em que estamos, Santa Teresa dividiu também, a oração em nove tipos, que são:

Oração Vocal (ou Reza), Oração Mental (ou Meditação), Oração Afetiva, Oração de Simplicidade,
Oração de Quietude, Oração de Simples união Infusa, Oração de União Extatica, Oração
Desposória (Noivado Espiritual) e Oração Transformativa (Matrimônio Espiritual).

AS TRÊS CONVERSÕES:

A conversão é um processo diário, um caminho à santidade, a Igreja divide o caminho de santidade


em 3 vias: Via Purgativa, Via Iluminativa e Via Unitiva.

Cada um destes termos será abordado nesta primeira fase da catequese, com o objetivo de inculcar
em cada um, não apenas a esperança de se alcançar a Salvação, mas também, a santidade, que
é a nossa principal vocação. Porém, iremos focar na Via Purgativa que são as primeiras três
moradas, pois é um caminho pessoal, não é uma “matemática” é preciso que cada um abra o seu
coração para Deus.

“O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto,
salvar a sua alma.” (Santo Ignácio de Loyola)

Certa vez me perguntaram o que responder à pergunta: “Quem sou eu”? A resposta pode não
agradar, e parecer até difícil: “Sou o que Deus sonhou para mim”! Somos o SONHO que Deus
sonhou para nós. Quem não alcança o que Deus sonhou, não será nada. Parece impossível ser o
que Deus sonhou, porém, Ele é em nós. Todo ato de amor, gratidão, bondade, carinho, devoção,
adoração e até a nossa oração, quando fazemos, é porque Ele está fazendo em nós, a única coisa
que nós fazemos é deixa-Lo fazer.

Deus é amor, somos feitos pelo amor, para amar. A santidade é a sanidade da alma, que entende
que o que importa, não é a lei, mas o amor. Mas não um amor retórico e teórico, sentimental..., mas
é amor real, difícil, sacrificoso, e até oneroso. Amar é olhar o mundo inteiro e ver Jesus, é olhar
para Hitler, e ver Jesus. Olhar para um estuprador e ver Jesus nele. Olhar para um assassino e ver
Jesus nele. Nosso Senhor é o Deus das contradições, ele é perfeito, mas só anda com os
imperfeitos. E estes somos nós. Ele está em TODOS, mesmo que nem todos estejam Nele. Como
disse o padre Léo:
50

"Quem não ama alguém, não ama ninguém" (Pe. Léo)

Deus é o sentido único da vida do ser humano, ignorar a Deus, é ignorar o sentido da vida, portanto,
à medida que o ser humano se aproxima da VIDA DE ORAÇÃO, a própria vida começa a fazer
sentido para o próprio ser humano e o organismo espiritual que possuímos, cresce por meio da
caridade.

A IGREJA É A ESPOSA DE CRISTO!

A unidade entre Cristo e a Igreja, Cabeça e membros do Corpo, implica também a distinção dos dois
em uma relação pessoal. Este aspecto é muitas vezes expresso pela imagem do Esposo e da Esposa.
O tema de Cristo Esposo da Igreja foi preparado pelos Profetas e anunciado por João Batista. O
Senhor mesmo designou-se como "o Esposo" (Mc 2,19). O apóstolo apresenta a Igreja e cada fiel,
membro de seu Corpo, como uma Esposa "desposada" com Cristo Senhor, para ser com Ele um só
Espírito. Ela é a Esposa imaculada do Cordeiro imaculado, a qual Cristo "amou, pela qual se entregou,
a fim de santificá-la" (Ef 5,26), que associou a si por uma Aliança eterna e da qual não cessa de cuidar
como de seu próprio Corpo. (CatIC 796)

O Matrimônio espiritual, é o fim último da vida do ser humano, este matrimônio, irá acontecer ainda
neste mundo, pela vida de oração e a pessoa deixando-se ser conduzida pelo Espírito Santo até
alcançar a Sétima Morada na analogia de Santa Teresa D’Ávila ou no final da Via Unitiva pregada
por Santo Tomás de Aquino.

“O Reino dos céus é comparado a um rei que celebrava as bodas do seu filho.”
(Mt 22,2)

“Então o Reino dos céus será semelhante a dez virgens, que saíram com suas lâmpadas ao
encontro do esposo.”
(Mt 25,1)

O sonho de Deus para cada um de nós, é que nós sejamos a Esposa do Cordeiro. Todos os santos,
independente de sexo, reconheceram-se como a “Esposa do Cordeiro” com quem celebrou as
Núpcias, que é o momento do encontro, o tão esperado encontro entre o nosso Criador, Pai Nosso,
conosco... chamamos isso de Morte, porém, é a maior alegria de nossas vidas.

A seguir uma oração para ser feita todos os dias, pois seu efeito catequético, psicológico e espiritual
podem ser muito grande se aplicarmos a nossa fé e devoção nela:

Oração universal atribuída ao Papa Clemente XI

Meu Deus, eu creio em vós, mas fortificai a minha fé;


Espero em vós, mas tornai mais confiante a minha esperança;
Eu vos amo, mas afervorai o meu amor;
Arrependo-me de ter pecado, mas aumentai o meu arrependimento.
Eu vos adoro como primeiro princípio, eu vos desejo como fim último;
Eu vos louvo como benfeitor perpétuo, eu vos invoco como benévolo defensor.
Que vossa sabedoria me dirija, vossa justiça me contenha, vossa clemência me console, vosso
poder me proteja.
Meu Deus, eu vos ofereço meus pensamentos, para que só pense em vós;
Minhas palavras, para que só fale em vós;
Minhas ações, para que sejam do vosso agrado;
Meus sofrimentos, para que sejam por vosso amor.
Quero o que quiserdes, porque o quereis, como o quereis, e enquanto o quereis.
51

Senhor, eu vos peço:

Iluminai minha inteligência, inflamai minha vontade, purificai meu coração e santificai minha alma.

Dai-me chorar os pecados passados, repelir as tentações futuras, corrigir as más inclinações e
praticar as virtudes do meu estado.

Concedei-me, ó Deus de bondade, ardente amor por vós e aversão por meus defeitos, zelo pelo
próximo e desapego do mundo.

Que eu me esforce para obedecer aos meus superiores, auxiliar os que dependem de mim, dedicar-
me aos amigos e perdoar os inimigos.

Que eu vença a sensualidade pela austeridade, a avareza pela generosidade, a cólera pela
mansidão e a tibieza pelo fervor.

Tornai-me prudente nas decisões, corajoso nos perigos, paciente nas adversidades e humilde na
prosperidade.

Fazei, Senhor, que eu seja atento na oração, sóbrio nos alimentos, diligente no trabalho e firme nas
resoluções.

Que eu procure possuir pureza de coração e modéstia de costumes, um procedimento exemplar e


uma vida reta.

Que eu me aplique sempre em vencer a natureza, colaborar com a graça, guardar os mandamentos
e merecer a salvação.

Aprenda de vós como é pequeno o que é da terra, como é grande o que é divino, breve o que é
desta vida e duradouro o que é eterno.

Dai-me preparar-me para a morte, temer o dia do juízo, fugir do inferno e alcançar o paraíso.

Por Cristo, nosso Senhor. Amém.


52

LIÇÃO 6: VIDA DE ORAÇÃO - NOSSA MAIOR VOCAÇÃO


Vocação é em primeiro lugar, chamado. Cada um de nós tem, antes de tudo, vocação (chamado)
à vida. Fomos chamados e feitos do nada, a partir da Vontade de Deus, e Dele recebemos o ser,
e não apenas o existir, mas também recebemos a alma. Somos, portanto, chamados à inteligência.
Com a inteligência vêm as opções, então, somos chamados à liberdade, porém, dependendo de
nossas escolhas, podemos ou não, perder a nossa liberdade.

Deus, nos criou, tendo um plano para cada um de nós. Que plano é este? Sermos santos! Nosso
Senhor nos revelou isso, ao nos incentivar e nos dizer:

“Portanto, sede santos, assim como vosso Pai Celeste é santo”


(Mt 5,48)

O Concílio Vaticano II é odiado por teólogos da libertação e por sedevacantistas (Radicais


tradicionalistas) por algo muito simples, a única Constituição dogmática do Concílio, a Lumen
Gentium (LG), sobre a Igreja, afirma e proclama que todos os seres humanos, são Chamados à
Santidade e que existe uma vocação universal à santidade.

CHAMADOS À SANTIDADE:

Isso é uma verdade de fé da Igreja, ora, se havia alguma dúvida quanto a sua vocação, então, ela
caiu por terra, pois agora você sabe que sua vocação é ser santo. E não é uma metáfora, não é
um mito ou metonímia, não é uma alusão fabulesca, é uma ordem... aquele que não é santo, não
herdará o reino dos Céus! O Concílio mais ecumênico de todos, proclamou a doutrina mais sectária
de todos os tempos!

“Jesus, mestre e modelo Divino de toda a perfeição, pregou a santidade de vida, de que Ele é autor
e consumador, a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição: ‘sede perfeitos
como vosso Pai celeste é perfeito’ (Mt. 5,48). A todos enviou o Espírito Santo, que os move
interiormente a amarem a Deus com todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito e com
todas as forças (Mc. 12,30) e a amarem-se uns aos outros como Cristo os amou (Jo. 13,34; 15,12). Os
seguidores de Cristo, chamados por Deus e justificados no Senhor Jesus, não por merecimento
próprio mas pela vontade e graça de Deus, são feitos, pelo Batismo da fé, verdadeiramente filhos e
participantes da natureza divina e, por conseguinte, realmente santos. É necessário, portanto, que,
com o auxílio divino, conservem e aperfeiçoem, vivendo-a, esta santidade que receberam. O Apóstolo
admoesta-os a que vivam como convém a santos (Ef. 5,3), como eleitos e amados de Deus, se revistam
de entranhas de misericórdia, benignidade, humildade, mansidão e paciência (Cl 3,12) e alcancem
os frutos do Espírito para a santificação (Gl. 5,22; Rom. 6,22). E porque todos cometemos faltas
em muitas ocasiões (Tg. 3,2), precisamos constantemente da misericórdia de Deus e todos os dias
devemos orar: ‘perdoai-nos as nossas ofensas’ (Mt. 6,12). É, pois, claro a todos, que os cristãos de
qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade.
Na própria sociedade terrena, esta santidade promove um modo de vida mais humano. Para
alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida em que as dá
Cristo, a fim de que, seguindo as Suas pegadas e conformados à Sua imagem, obedecendo em tudo
à vontade de Deus, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do próximo.
Assim crescerá em frutos abundantes a santidade do Povo de Deus, como patentemente se manifesta
na história da Igreja, com a vida de tantos santos.” (Lumen Gentium, 40)

Para os Teólogos da libertação (Progressistas, Esquerdistas e Socialistas), é algo IMPOSSÍVEL, e


para os tradicionalistas (Sedevacantistas, Conservadores e Direitistas) é algo que deveria ser
RESTRITO A POUCOS, mas não é, nem impossível e tão pouco restrito.
53

AS TENTAÇÕES:

Quem não tem o firme propósito de ser santo, não irá para o Céu, aquele que não se compromete
com “determinada determinação em ser santo e morre neste estado, não herdará o reino dos Céus.
Já não há justificativa. Nada justifica viver em pecado... pior ainda se for pecado mortal. Qual é a
necessidade mais urgente:

Ser um intelectual famoso um político poderoso? (Libido Dominandi); Possuir bens e muito
dinheiro? (Libido Possidendi) Ter um feliz casamento que me proporcione prazer e alegria? (Libido
Amandi) – Ou sermos santos? Como somos físicos, psicoafetivos e espirituais as tentações agem
em toda a dimensão de nosso ser, como vemos no ensinamento de São João:

“Porque tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da
vida - não procede do Pai, mas do mundo.”
(1 Jo 2,16)

São João distingue três espécies de cobiça ou concupiscência: a concupiscência da carne, a


concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Conforme a tradição catequética católica, o nono
mandamento proíbe a concupiscência carnal; o décimo proíbe a concupiscência dos bens alheios.
(CatIC 2514)

Fomos criados por Deus para sermos santos. Ser santo, consiste em amar, porém, há em nós a
concupiscência, que é uma tendência natural para o mal (desamor), para o pecado. Herdamos o
pecado original de nossos pais, mas, o Batismo nos liberta do pecado, e assim, podemos, pela
ação da Graça de Deus em nós, vencermos as nossas concupiscências e sermos finalmente
santos.

“Estabelecido por Deus num estado de santidade, o homem, seduzido pelo maligno, logo no começo
da sua história abusou da própria liberdade, levantando-se contra Deus e desejando alcançar o seu
fim fora d'Ele. Tendo conhecido a Deus, não lhe prestou a glória a Ele devida, mas o seu coração
insensato obscureceu-se e ele serviu à criatura, preferindo-a ao Criador. E isto que a revelação divina
nos dá a conhecer, concorda com os dados da experiência. Quando o homem olha para dentro do
próprio coração, descobre-se inclinado também para o mal, e imerso em muitos males, que
não podem provir de seu Criador, que é bom. Muitas vezes, recusando reconhecer Deus como seu
princípio, perturbou também a devida orientação para o fim último e, ao mesmo tempo, toda a sua
ordenação quer para si mesmo, quer para os demais homens e para toda a criação. O homem
encontra-se, pois, dividido em si mesmo. E assim, toda a vida humana, quer singular quer coletiva,
apresenta-se como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas. Mais: o homem
descobre-se incapaz de repelir por si mesmo as arremetidas do inimigo: cada um sente-se como que
preso com cadeias. Mas o Senhor em pessoa veio para libertar e fortalecer o homem, renovando-o
interiormente e lançando fora o príncipe deste mundo (Jo 12,31), que o mantinha na servidão do
pecado. Porque o pecado diminui o homem, impedindo-o de atingir a sua plena realização.”
(Gaudium et spes, 13)

Esta Plena Realização, é o sonho que Deus sonhou para nós... para aprendermos a lidar com as
tentações, e conhecermos o “modus operandi” do tentador, analisemos os textos a seguir:

A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer (Amandi), de agradável aspecto (Possidendi) e mui
apropriado para abrir a inteligência (Dominandi), tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido,
que comeu igualmente.”
(Gn 3,6)

Disse-lhe então o demônio: Se és o Filho de Deus, ordena a esta pedra que se torne pão (Amandi). Jesus
respondeu: Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra de Deus (Dt 8,3). O demônio
54

levou-o em seguida a um alto monte e mostrou-lhe num só momento todos os reinos da terra, e disse-lhe: Dar-
te-ei todo este poder e a glória desses reinos (Possidendi), porque me foram dados, e dou-os a quem quero.
Portanto, se te prostrares diante de mim, tudo será teu. Jesus disse-lhe: Está escrito: Adorarás o Senhor teu
Deus, e a ele só servirás (Dt 6,13). O demônio levou-o ainda a Jerusalém, ao ponto mais alto do templo, e disse-
lhe: Se és o Filho de Deus (Dominandi), lança-te daqui abaixo porque está escrito: Ordenou aos seus anjos a teu
respeito que te guardassem. E que te sustivessem em suas mãos, para não ferires o teu pé nalguma pedra (Sl
90,11s.). Jesus disse: Foi dito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt 6,16). Depois de tê-lo assim tentado de todos
os modos, o demônio apartou-se dele até outra ocasião.
(Lc 4, 3-13)

CONCUPISCÊNCIA E OS PECADOS CAPITAIS:

a) Libido Amandi:

É a luta que travamos contra nós mesmos, os desejos desordenados, desorientações, é o que os
Santos Padres chamam de – A CARNE! É ainda um apego desordenado das pessoas por meio do
prazer, seja sexual ou até mesmo a satisfação temporária da gula (Luxuria e Gula).

Interessante:

Santo Tomás de Aquino distingue as aureolas dos santos,


e ensina que os que vencem a carne, são as virgens, os
que vencem o mundo são os mártires e os que vencem o
demônio são os Doutores, sendo a auréola destes últimos
mais meritória por causa disso.

b) Libido Possidendi:

É a luta que travamos contra o mundo e suas seduções, o desejo de possuir tudo e a todos,
denominado pelos Santos Padres como – O MUNDO! Que esconde um apego desordenado de
nossa parte pelas coisas (Raiva, Preguiça e Ganância).

c) Libido Dominandi:

É nossa inclinação natural desejo de ser “mais e maior” do que realmente somos, é um
enfrentamento direto do que os Santos Padres chamam de – O DEMÔNIO! Esconde o apego de
nós mesmos (Vaidade e Inveja).
55

Acima apresentamos imagens que representam para nós estes três inimigos, que muitas vezes
ficam escondidos em nossa própria mão, em nosso celular. Algo tão próximo e ao mesmo tempo
tão danoso. Por isso, precisamos lutar contra nossas concupiscências mesmo que seja preciso
passar um tempo sem o celular.

É preciso que entendamos que o APEGO, é um termo moderno, que no fundo significa IDOLATRIA.
Sendo estas três idolatrias: das pessoas, das coisas e de nós mesmos; aquilo que em suma precisa
ser vencido, para sermos santos como Deus é Santo.

CASTIDADE, POBREZA E OBEDIÊNCIA:

As respostas que Nosso Senhor dá ao tentador no Evangelho de São Lucas, são reveladoras:

a) Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra de Deus (Dt 8,3):

Não só de pão (alimento) mas também, não apenas de dinheiro, de pessoa e de bens... somos
alimentados, antes de mais nada, pela Palavra de Deus. (Pobreza)

b) Adorarás o Senhor teu Deus, e a ele só servirás (Dt 6,13):

Temos apenas um único Deus, que não é uma criatura, não são meus amigos, não é o meu
trabalho, não é a minha família, namorado(a) e não sou eu mesmo. (Castidade)

c) Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt 6,16):

É preciso admitir que a Vontade de Deus é soberana sobre toda e qualquer vontade, principalmente
a nossa. (Obediência)

“Os conselhos evangélicos, em sua multiplicidade, são propostos a todo discípulo de Cristo. A
perfeição da caridade à qual todos os fiéis são chamados comporta para os que assumem livremente
o chamado à vida consagrada a obrigação de praticar, a castidade no celibato pelo Reino, a pobreza
e a obediência. E a profissão desses conselhos em um estado de vida estável reconhecido pela Igreja
que caracteriza a "vida consagrada" a Deus.” (CatIC 915)

O Catecismo de São Pio X traz uma excelente catequese sobre os conselhos Evangélicos:

514) Que são os conselhos evangélicos?


“Os conselhos evangélicos são alguns meios sugeridos por Jesus Cristo no santo Evangelho, para
chegar à perfeição cristã.”

515) Quais são os conselhos evangélicos?


“Os conselhos evangélicos são: pobreza voluntária, castidade perpétua e obediência em tudo o que
não seja pecado.”

516) Para que servem os conselhos evangélicos?


“Os conselhos evangélicos servem para facilitar a observância dos Mandamentos e para assegurar
melhor a salvação eterna.”

517) Por que os conselhos evangélicos facilitam a observância dos Mandamentos?


“Os conselhos evangélicos facilitam a observância dos Mandamentos, porque nos ajudam a
desapegar o coração do amor dos bens terrenos, prazeres e honras, e assim nos afastam do pecado.”
56

LIÇÃO 7: VIDA DE ORAÇÃO - OU SANTOS OU NADA


Você precisa ser santo no seu dia a dia, ser santo em família, ser santo no trabalho, ser santo na
escola, faculdade, no barzinho com amigos, no espetáculo ouvindo seu cantor preferido,
paquerando se for solteiro, se divertindo com a sua esposa, se for casado, passeando com os
amigos de seminário se for padre, organizando um evento para a festa de final de ano, sendo freira
ou religioso. Em todos os estados de vida, somos chamados a santidade.

Enquanto você se preocupar em ter filhos, ser padre, ser um profissional, ser um atleta, ser um
excelente marido/esposa ou, seja lá o que for... mais do que em ser Santo! Você já escolheu ir para
o inferno... A única coisa, que deveria nos tirar o sono, é nossa preocupação em sermos santos.
Não é radicalismo, o Evangelho é exigente a este ponto, Nosso Senhor disse:

"Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem
frio nem quente, vou vomitar-te."
(Ap 3,15-16)
MORNIDÃO:

A mornidão é uma doença espiritual grave, está dentro da preguiça. Ela nos paralisa e nos
desanima diante da tarefa de sermos santos. Os mornos se caracterizam pela frequência a Igreja
e aos sacramentos, porém, não se deixam ser tocados pelas homilias, pois nunca acham que é
para eles, isso quando prestam atenção. Frequentam a confissão, mas sempre confessam as
mesmas coisas, ou coisas que sabem que não são comprometedoras, apenas cumprindo uma
formalidade para comungar, isso quando se confessam.

Mas os mornos, são “zumbis”, mortos vivos. Pessoas que estão mortas por dentro e não sabem,
acham que estão vivos, pois tentam conciliar sua vida mundana, aproveitando ao máximo do bom
e do melhor, e não se importam com a própria fé, com as pessoas ao seu redor. Acham que são
pessoas boas, politicamente corretos, bons cristãos e honestos cidadãos, mas não passam de
hipócritas, que serão vomitados pelo Senhor, conforme o texto de apocalipse nos alerta. Não
querem servir a Deus, mas querem apenas se servir Dele.

“Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser
salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á.”
(Mt 16, 24-25)

NECESSÁRIO VOS É NASCER DINOVO:

Renunciar a si mesmo, é viver a Pobreza, a Castidade e a Obediência. Mas como ser pobre, casto
e obediente?

“Que, então, devem fazer os cristãos? Usar do mundo; não servir ao mundo. Como é isto? Possuindo,
como quem não possui. O Apóstolo diz: De resto, irmãos, o tempo é breve; que os que têm esposa
sejam como se não a tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se
não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; e os que usam do mundo, como se
não usassem; pois passa a figura deste mundo. Eu vos quero sem inquietações (1Cor 7,29-32). Quem
não tem inquietações, aguarda com serenidade a vinda de seu Senhor. Pois, que amor ao Cristo é
esse que teme sua chegada? Irmãos, não nos envergonhamos? Amamos e temos medo de sua vinda.
Será que amamos? Ou amamos muito mais nossos pecados? Odiemos, portanto, estes mesmos
pecados e amemos aquele que virá castigar os pecados. Ele virá, quer queiramos, quer não. Se ainda
não veio, não quer dizer que não virá. Virá em hora que não sabes; se te encontrar preparado, não
haverá importância não saberes.” (Dos comentários sobre os Salmos, Santo Agostinho)
57

Ser pobre é não se deixar possuir pelos bens materiais. Ser casto é amar o próximo, por ver nele
a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. E ser obediente, é conhecer os mandamentos de Deus e
da Igreja, e colocá-los em primeiro lugar em nossas vidas.

TIPOS DE PECADO:

“É fácil dizer se tal ou qual ação é pecaminosa. Não o é tanto dizer se tal ou qual pessoa pecou. Se
alguém se esquece, por exemplo, de que hoje é festa de preceito e não vai à missa, o seu pecado é
apenas externo. Interiormente, não teve intenção de comportar-se mal. Neste caso, dizemos que
cometeu um pecado material, mas não um pecado formal. Existe aí uma obra má, mas não má
intenção. Seria supérfluo e inútil mencioná-lo na confissão.” (“A Fé Explicada”. Leo J. Trese)

E quais são os pecados que preciso levar para a confissão?

Para que um pecado, seja mortal requerem-se três condições ao mesmo tempo: "É pecado mortal
todo pecado que tem como objeto uma matéria grave, e que é cometido com plena consciência e
deliberadamente". (CatIC 1857)

Matéria grave, precisa estar demonstrado nos 10 mandamentos e nos mandamentos da Igreja, com
plena consciência. Significa que a pessoa conhece os mandamentos, sabe qual é o mandamento
que está sendo descumprido ou desobedecido, e deliberadamente deseja estar fazendo por
vontade própria, sem nenhuma circunstância o impelindo ao pecado cometido.

Mas também é verdade o contrário. Uma pessoa pode cometer interiormente um pecado sem
realizar um ato pecaminoso. Usando o mesmo exemplo, se alguém pensa que hoje é dia de preceito
e voluntariamente decide não ir à missa sem razão suficiente, é culpado do pecado da omissão dessa
missa, mesmo que esteja enganado e não seja dia de preceito. Ou, para dar outro exemplo, se um
homem rouba uma grande quantia e depois percebe que roubou o seu próprio dinheiro,
interiormente cometeu um pecado de roubo, ainda que realmente não tenha roubado. Em ambos
os casos dizemos que não houve pecado material, mas formal. E, naturalmente, esses dois pecados
têm que ser confessados. (“A Fé Explicada”. Leo J. Trese)

Como se pode ver, o pecado começa no interior, no “coração”. Quando eu sinto ou penso algo, e
CONSINTO no sentimento (gosto e alimento) ou no pensamento que estou tendo. Ninguém
consegue o tempo todo controlar os sentimentos e pensamentos, sendo assim, é preciso muita
sinceridade para admitir o que se sente ou pensa, e rejeitar, quando este for algo que toque nos
mandamentos de Deus.

FONTES DA MORALIDADE

O Catecismo nos apresenta as fontes da moralidade, para sabermos como bem julgar os nossos
atos. Lembrando que ao julgar os atos dos outros, podemos cair no juízo temerário, que é um
pecado grave contra a caridade e, portanto, precisa ser evitado.

A moralidade dos atos humanos depende: - do objeto escolhido; - do fim visado ou da intenção; - das
circunstâncias da ação. (CatIC 1750)

Objeto é o ato em si, aquilo que foi feito, o fato isolado que está sendo analisado; A intenção, é o
objetivo com que o ato, fato ou omissão foi realizada; Já as circunstâncias, são as situações que
por vezes nos obrigam, nos induzem ou nos iludem (engano) para que cometamos aquele
determinado objeto, com aquela determinada intenção.

Com efeito, é a intenção o que determina a malícia; mas o novo Catecismo precisa: “É errado […]
julgar a moralidade dos atos humanos considerando apenas a intenção que os inspira […]. Existem
58

atos que, por si mesmo e em si mesmos, independentemente das circunstâncias e intenções, são
sempre gravemente ilícitos em virtude do seu objetivo: por exemplo, a blasfêmia e o perjúrio, o
homicídio e o adultério. Não é permitido praticar um mal para que dele resulte um bem” (n. 1756).
(“A Fé Explicada”. Leo J. Trese)

A CONVERSÃO:

Entendendo a natureza do pecado, podemos olhar para a nossa maior vocação e procurar entendê-
la ainda mais, observe o gráfico a seguir:

Como Deus nos sonhou!


Vida

Como estamos!

Morte Conversão
Metanoia
Na horizontal temos a morte, na vertical a vida. A reta paralela a morte, em azul, temos o projeto
de Deus para nós (Como Deus nos Sonhou) e a linha vermelha, com altos e baixos, é a nossa vida
(Como estamos) e há um ponto de virada, abaixo da morte, que a partir dele, nós iniciamos uma
linha ascendente até a paralela, que é a Conversão.

A vida de fato é cheia de altos e baixos. Há vários momentos de conversão, por isso é errado dizer
que “estou convertido”, pois conversão é um processo que tem início, mas não tem fim, por isso,
estamos em constante processo de conversão. Mas a Metanoia, o momento de virada, onde a
consciência nos interpela e nos convida a, mesmo caidos, perseverar no caminho de santidade,
que é a vida de oração e a vivência dos Conselhos Evangélicos.

Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito (61,1s.): O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres,
para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista,
para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ANO DA GRAÇA DO SENHOR. E enrolando o livro, deu-o ao
ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Ele começou a dizer-lhes:
Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir.
(Lc 4, 17-21)

A conversão contínua, permanente e perseverante é este “ANO DA GRAÇA DO SENHOR”, o


tempo, que não é e não deve ser apenas um ano, mas a vida toda, até o último instante de vida,
em que optamos pela conversão interior, na luta contra o pecado e na conquista das virtudes,
sempre crendo que é a Graça de Deus que nos dá forças para alcançarmos a santificação e
consequente salvação.
59

COMO SOU OU COMO ESTOU?

Voltando ao Gráfico, podemos nos perguntar: “Deus nos ama como somos ou como estamos?”

Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor
permanece em Deus e Deus nele.
(1 Jo 4,16)

E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que
nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo a seu tempo morreu pelos ímpios. Em rigor, a
gente aceitaria morrer por um justo, por um homem de bem, quiçá se consentiria em morrer. Mas eis aqui uma
prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.
(Rm 5,5-8)

Deus, que sempre existiu e que sempre existirá, depois de criar todas as coisas contidas no céu e na
terra, criou o homem, a mais perfeita de todas as criaturas visíveis. Sendo assim, todo nosso ser:
olhos, boca, língua, ouvidos, mãos e pés são dons de Nosso Senhor.

O homem se distingue de todas as outras criaturas, principalmente por possuir uma alma, que
pensa, raciocina, deseja e reconhece a diferença entre o bem e o mal. Esta alma, por ser puro espírito,
não pode morrer com o corpo; quando este morrer, começará outra vida que jamais terá fim. Caso
tenha praticado o bem, será eternamente feliz com Deus no Paraíso. Mas se escolheu o caminho do
mal, será punido com o terrível castigo do Inferno, onde padecerá o tormento do fogo para sempre.

Considere, contudo, meu filho, que todos nós fomos criados para o Paraíso; Deus, que é Pai amoroso,
condena ao Inferno somente aqueles que o merecem pelos próprios pecados. Nosso Senhor nos ama
e de seja muito que façamos boas obras, para assim nos tornarmos participantes daquela grande
felicidade, que nos tem reservada no Céu. (O Cristão bem formado – São João Bosco)

É preciso que nós sejamos discípulos do Senhor, o Papa São João Paulo II nos exorta:

“A catequese foi sempre considerada pela Igreja como uma das suas tarefas primordiais, porque
Cristo ressuscitado, antes de voltar para o Pai, deu aos Apóstolos uma última ordem: fazer discípulos
de todas as nações e ensinar-lhes a observar tudo aquilo que lhes tinha mandado (Mt. 28,19 s.).
Deste modo lhes confiava Cristo a missão e o poder de anunciar aos homens aquilo que eles próprios
tinham ouvido do Verbo da Vida, visto com os seus olhos, contemplado e tocado com as suas mãos
(1 Jo. 1,1). Ao mesmo tempo, confiava-lhes ainda a missão e o poder de explicar com autoridade
aquilo que Ele lhes tinha ensinado, as suas palavras e os seus atos, os seus sinais e os seus
mandamentos. e dava-lhes o espírito santo, para realizar tal missão. (Exortação apostólica Catechesi
Tradendae, Papa São João Paulo II)

KAIRÓS, O TEMPO DE DEUS:

Não há tempo para esperar! O “Ano da Graça” inicia agora! E dentro da catequese, para que todos
sejamos discípulos do Senhor, limitando-lhe em tudo. Vivemos nos enganando:

“... Ah... eu peco mortalmente, mas tenho uma grande devoção à Nossa Senhora”; Ahhhh... eu amo
a Eucaristia, pena que não posso comungar, isso me doe tanto"; “Ahhhh... Deus é misericordioso, no
último instante eu ei de ter uma contrição perfeita e irei ser salvo.”

Como diria o saudoso Pe. Léo: “NÃO SUA ANTA!!!” Contrição perfeita é coisa para santos, se você
ainda vive em pecado mortal, você não é e nem nunca será santo. A contrição perfeita é uma Graça
dada por Deus em resposta ao aprimoramento da consciência mediante a vida de oração!
60

Deixemos de nos enganar, arrependamo-nos... Paguemos o preço de viver em estado de Graça,


para conseguirmos um dia, quem sabe, alcançar o purgatório, pela misericórdia de Deus, e não
abusemos da misericórdia achando que Deus é como você e eu... Ele mesmo diz isso:

"Eis o que você está fazendo, pensas que vou me calar diante disso? Acaso pensas que eu seja igual a ti? Não,
não sou, prepare-te, pois eis que lançarei teus pecados em teu rosto."
(Sl 49,21)

Não meu caro... Quem peca, e peca mortalmente, vive em estado de pecado mortal, não é amigo
de Deus, mas sim seu inimigo! Arrependamo-nos! E assumamos a nossa vocação! Sejamos
santos, como o Nosso Pai Celeste é santo! O Senhor nos chama a conversão e com a conversão
vem o serviço:

“Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a
observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”.
(Mt. 28,19s)

Quem acredita ter uma vida de oração e conversão, mas não se coloca a serviço, não se coloca
em missão, ainda não alcançou o ponto da METANOIA! Ainda está nos altos e baixos que o gráfico
demonstra. Mais dia ou menos dia, a Carne, o Mundo e o Demônio irão vencer você em definitivo,
e não haverá mais “ano da Graça do Senhor”, pois o tempo da graça passou.

Santo Agostinho dizia: "Tenho medo que Jesus passe sem me dar conta". É importante permanecer
vigilantes, porque na vida é um erro perder-se em mil coisas e não se dar conta de Deus. (Papa
Francisco, Twitter)

JESUS É O MEU PASTOR?

Jesus é realmente SENHOR da minha vida?


O que consiste em ter Jesus Cristo como SENHOR?

“Todo aquele que vem a mim ouve as minhas palavras e as prática, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É
semelhante ao homem que, edificando uma casa, cavou bem fundo e pôs os alicerces sobre a rocha. As águas
transbordaram, precipitaram-se as torrentes contra aquela casa e não a puderam abalar, porque ela estava
bem construída. Mas aquele que as ouve e não as observa é semelhante ao homem que construiu a sua casa
sobre a terra movediça, sem alicerces. A torrente investiu contra ela, e ela logo ruiu; e grande foi a ruína
daquela casa.”
(Lc 6, 46-49)

Não adianta vir a catequese, frequentar a Santa Missa, participar do Grupo de Jovens, ir aos
santuários, Grupos de Oração e encontros, sem me colocar a serviço e disposição do Reino de
Deus, que é a Igreja.

Disse-lhes também esta comparação: “Um homem havia plantado uma figueira na sua vinha, e, indo buscar
fruto, não o achou. Disse ao viticultor: Eis que três anos há que venho procurando fruto nesta figueira e não o
acho. Corta-a; para que ainda ocupa inutilmente o terreno?”. Mas o viticultor respondeu: “Senhor, deixa-a
ainda este ano; eu lhe cavarei em redor e lhe deitarei adubo. Talvez depois disso dê frutos. Caso
contrário, mandarás cortá-la.”
(Lc 13, 6-9)
Este tempo na catequese, é este “ano” que o agricultor está jogando adubo e dedicando um tempo
para que a videira, que é você, dê os frutos que o Senhor espera. Pode ser, que após o tempo da
61

catequese, após contrair os sacramentos que você está pretendendo receber, o Senhor ainda não
encontre frutos, e diga: “Corte-a”! Neste dia, será tarde demais!

Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos Ele amado, e enviado o seu Filho
para expiar os nossos pecados. Caríssimos, se Deus assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos
outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor
em nós é perfeito. Nisto é que conhecemos que estamos nele e ele em nós, por ele nos ter dado o seu Espírito.
(1 Jo 4, 10-13)

O maior de todos os frutos é o amor. E...

Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos.
(Jo 15,13)

DOAR-SE É LUCRO:

Doar a vida, é sair de si, comprometer-se com as necessidades do outro, com as necessidades da
Igreja, com as necessidades dos mais próximos e dos mais distantes, dos adoráveis e dos
detestáveis, dos amigos e dos inimigos... enfim, é DOAR-SE ao outro, por Jesus Cristo Nosso
Senhor.

Vida, é apenas uma palavra, que simboliza em última instância o TEMPO! Dizem que “tempo é
dinheiro”, assim, estão falando que vida é dinheiro. E de fato é. O tempo mais valioso, é o tempo
perdido. Você sabe quando alguém te ama, quando ela “gasta” tempo com você. Os filhos sabem
que são amados, quando os pais “gastam” seu tempo com eles. E assim, nós também
demonstramos que amamos a Deus.

Quanto TEMPO/VIDA você tem gastado com Deus? (no próximo ou em oração)

O nosso tempo mais precioso, é o nosso tempo investido na oração, na oração pessoal, na lectio
Divina, no estudo do Catecismo ou da Bíblia. Amamos alguém, muito mais, quando trazemos esta
pessoa à nossa oração pessoal, quando intercedemos por ela, quando nos dedicamos em servi-la
por meio de uma das obras de misericórdia, em um coral, em uma pastoral, em uma congregação...
mas principalmente em nossas casas, servir aos nossos pais, irmãos, filhos, parentes, familiares e
amigos, pois...

Uma árvore boa não dá frutos maus, uma árvore má não dá bom fruto. Porquanto cada árvore se conhece pelo
seu fruto. Não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas dos abrolhos. O homem bom tira coisas
boas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, porque a boca fala
daquilo de que o coração está cheio. Por que me chamais: Senhor, Senhor... e não fazeis o que digo?
(Lc 6, 43-46)
Quais são os seus frutos?
“Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como pretexto para prazeres
carnais. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros pela caridade, porque toda a lei se encerra num só
preceito: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). Mas, se vos mordeis e vos devorais, vede que não
acabeis por vos destruirdes uns aos outros. Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os
apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são
contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis. Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito,
não estais sob a lei. Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição,
inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas
semelhantes. Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de
Deus! Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade,
62

brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei. Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com
as paixões e concupiscências.25Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito.”
(Gl 4, 13-25)

ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO:

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz Onde houver trevas, que eu leve a luz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
Onde houver discórdia, que eu leve união Consolar que ser consolado
Onde houver dúvida, que eu leve a fé Compreender que ser compreendido
Amar que ser amado
Onde houver erro, que eu leve a verdade Pois é dando que se recebe
Onde houver desespero, que eu leve a esperança É perdoando que se é perdoado
Onde houver tristeza, que eu leve alegria E é morrendo que se vive para a vida eterna!

OBRAS DE MISERICÓRDIA:

Mas não conseguiremos perseverar no serviço se não perseverarmos antes na oração. A oração,
a vida de oração é o motor inicial, o combustível do nosso motor, e a substância do que nos leva a
perseverar. Uma vez que conseguimos chegar à oração, então, vem a necessidade urgente de
servir a Deus, NO IRMÃO.

As obras de misericórdia espirituais e corporais são práticas muito valiosas, pois nos colocam em
sintonia com o mandamento do amor:
63

LIÇÃO 8: VIDA DE ORAÇÃO - O DIA A DIA: DICAS


PRÁTICAS
“O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos
contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida - porque a vida se manifestou, e
nós a temos visto; damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e que se nos
manifestou -, o que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão
conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo.”
(1 Jo. 1,1-3)

O que temos visto? Você tem visto com os teus olhos o que Deus tem feito na história? O que Ele
tem feito ao teu redor? E principalmente o que Ele tem feito em sua vida? Você percebe no seu dia
a dia a presença maravilhosa de Deus? Os milagres e as maravilhas que têm acontecido pelo
mundo, mas principalmente em sua história? As suas mãos têm apalpado o Verbo da Vida?

No dia a dia, como viver a Vida de oração?

Primeiro, é importante entender que Vida de Oração, é conversão! Não uma conversão que ficou
lá atrás, no dia que decidiu se dedicar mais à religião, ou ir à Missa o maior número de vezes, ou
pela Graça de Deus, parar de pecar. Não, vida de oração, é CONVERSÃO DIÁRIA!

CONSELHOS DE SANTA TERESA D’ÁVILA PARA UMA VIDA DE ORAÇÃO:

1. Dirige a Deus cada um dos teus atos; oferece-os e pede-Lhe que seja para Sua honra e glória.

2. Oferece-te a Deus cinquenta vezes por dia, e que seja com grande fervor e desejo de Deus.

3. Em todas as coisas, observa a providência de Deus e Sua sabedoria, em tudo, envia-Lhe o teu
louvor.

4. Em tempos de tristeza e de inquietação, não abandone nem as obras de oração, nem a penitência
a que está habituado. Antes, intensifica-as, e verá com que prontidão o Senhor te sustentará.

5. Nunca fale mal de quem quer que seja, nem jamais escute. A não ser que se trate de ti mesmo. E
terá progredido muito, no dia em que se alegrar por isso.

6. Não diga nunca, de você mesmo, algo que mereça admiração, quer se trate do conhecimento, da
virtude, do nascimento, a não ser para prestar serviço. Mas então, que isso seja feito com
humildade, e considerando que esses dons vêm pelas mãos de Deus.

7. Não veja em você senão o servo de todos, e em todos contempla Cristo Nosso Senhor; assim O
respeitará e O venerará.

8. A respeito de coisas que não lhe diz respeito, não se mostre curioso, nem de perto, nem de longe,
nem com comentários, nem com perguntas.

9. Mostrai sua devoção interior só em caso de necessidade urgente. Lembra do que diziam São
Francisco e São Bernardo: “Meu segredo pertence a mim”.

10. Cumpra todas as coisas como se Sua Majestade estivesse realmente visível; agindo assim, muito
ganhará a sua alma.
64

11. Que seu desejo seja ver Deus. Seu temor, perdê-Lo. A dor, não comprazer na Sua presença, a
satisfação, o que pode conduzi-lo a Ele. E viverá numa grande paz.
(Orações de todos os tempos da Igreja. Prof. Felipe Aquino)

Tome estas regras como regras para tua vida... pendure estas regras no seu espelho, em seu
armário, dentro do carro... para se lembrar todos os dias, não de quem você é, mas QUEM DEUS
SONHOU PARA VOCÊ!

CONSELHOS DE SANTO TOMÁS DE AQUINO PARA UMA VIDA DE ORAÇÃO:

1. A oração dominical (Pai-Nosso) é a mais perfeita das orações. Nela não só pedimos tudo quanto
podemos desejar corretamente, mas ainda segundo a ordem em que convém desejá-lo. De
modo que esta oração, não só nos ensina a pedir, mas ordena também todos os nossos afetos.

2. A oração é necessária não para que Deus conheça as nossas necessidades, mas para que nós
fiquemos conhecendo a necessidade que temos de recorrer a Deus, para receber
oportunamente os socorros da salvação.

3. Pela oração de muitos, às vezes, se alcança o que pela oração de um só não se obteria.

4. A oração consiste na elevação da alma a Deus.

5. Depois do batismo, a oração contínua é necessária ao homem. Embora sejam perdoados os


pecados pelo batismo, sempre ainda ficam os estímulos ao pecado; que nos combate
interiormente, o mundo e os demônios que nos combatem exteriormente.

6. Todas as graças que o Senhor, desde toda a eternidade, determinou conceder-nos, não as quer
conceder a não ser por meio da oração.

7. Condições requeridas na oração: que o homem peça para si, coisas necessárias à salvação, com
devoção e com perseverança.

8. A força da oração para obtermos a graça, não vem dos nossos méritos, mas da misericórdia de
Deus que prometeu ouvir aquele que lhe pede.

9. Cada um é obrigado a rezar, porquanto deve procurar os bens espirituais, que só por Deus são
concedidos e que só podemos alcançá-los por meio da oração.

10. A oração contínua é necessária ao homem para entrar no céu.


(Orações de todos os tempos da Igreja. Prof. Felipe Aquino)

ROTEIRO DE ORAÇÃO:

A seguir um roteiro simples de oração:

Manhã: Ao acordar: Sinal da Cruz, Vinde Espírito Santo, Pai-Nosso e 3 Ave-Maria e o Glória;
Com Sal Exorcizado e Água benta, prove um pouco do sal e trace a Cruz com água benta;
Recite orações escritas, como as orações dos santos, os salmos ou a Liturgia das Horas;
Faça uma breve leitura do Catecismo e/ou das Escrituras;
Agradeça com uma oração e benção sobre todas as refeições;

Tarde: Reze ao longo do dia o Santo Rosário ou um Terço;


Pelas 15hs, reze o terço da Misericórdia ou siga a sequência da Liturgia das Horas;
Se conseguir, ouça uma pregação, uma aula ou algum vídeo/áudio espiritual;
65

Ouça músicas de louvor, orações, gregoriano enquanto trabalha ou enquanto estuda;

Noite: Reúna-se com a família e rezem juntos, ou reze, mesmo que on line, com amigos e/ou namorados;
Termina o Rosário/Santo Terço com a oração da Salve Rainha;
Finalize o dia com uma reflexão, ou reze a liturgia das horas;
Já na cama, imagine que seu travesseiro são as mãos de Deus ou o colo de Nossa Senhora;
Durma em Paz.

UMA FORMA PRÁTICA PARA CRESCER NA VIDA DE ORAÇÃO:

1° Passo: Tenha um lugar para fazer sua oração pessoal. Faça um pequeno oratório em sua casa.
Tenha um crucifixo e um ambiente tranquilo e solitário;

2° Passo: Separe um horário, de preferência pela manhã, as primeiras coisas que irá fazer; acorde
mais cedo (durma no dia anterior mais cedo), tenha disciplina, nada lhe impeça de reservar no
mínimo 30 minutos para sua oração pessoal;

3° Passo: Tenha um texto em mãos! Liturgia das Horas ou uma oração de um santo ou um salmo,
não entre em oração sem um texto. Haverá dias que você não terá vontade de rezar, estará
entediado, distraído, preocupado, doente... o texto, garantirá sua constância. Haverá dias que o
texto não será preciso... mas tenha-o em mãos sempre;

4° Passo: Use sua memória... Lembre-se dos acontecimentos, das pessoas, das situações, dos
sentimentos. Mesmo que não tenha vontade de falar, não fale, mas use a memória. A memória é
uma parte da alma, então, lave sua alma na oração... se for para chorar, que chore, se for para rir,
que ria, mas não se esqueça de AGRADECER (Louvar) a Deus, pelo “bem ou pelo mal” que está
sentindo;

5° Passo: Peça perdão a Deus! Reconheça e admita seus pecados. Lembre-se das pessoas que
lhe fizeram mal, e decida-se perdoá-las. Perdão, assim como fé e amor, não são sentimentos. São
atos interiores, ou seja, DECISÃO! Você decide acreditar, você decide amar, você decide perdoar;

6° Passo: Agora, clame a Deus, apresente suas necessidades. Seja sincero e realista. Que seus
principais pedidos sejam a santidade, a salvação, a conversão (sua e de todos os pecadores), o
alívio das almas do purgatório e o principal, para que você aprenda a amar e cumprir a Vontade de
Deus. Não rezamos para que Deus faça o que queremos, mas para que nós possamos aprender a
querer o que Deus quer.

7° Passo: Entregue-se à Palavra de Deus, seja no Catecismo ou nas Sagradas Escrituras. Faça a
Lectio Divina ou medite um texto espiritual e finalize, deixando-se envolver pelo texto que é a
Palavra de Deus.

IMPORTANTE: Não sendo possível seguir os 7 passos, não tem problema, desde que você
nunca deixe de fazer até o 3º Passo, caso contrário não terá a virtude da perseverança, do fervor
e da disciplina e por conseguinte, vida de oração.

JEJUNS, ABSTINÊNCIAS E PENITÊNCIAS:

Preceito: São dias e abstinências que a Igreja nos pede para guardar, ou seja, ir à Missa e abster-
se de carne (exceto peixe).
66

Abstinência de Carne: No cânon 1251 do Código de Direito Canônico (CIC), lemos que é
obrigatória a “abstinência de carne ou de outro alimento […] em todas as sextas-feiras do ano, a
não ser que coincidam com uma solenidade religiosa”. Com relação a este cânon, a CNBB ensina
que o fiel católico brasileiro pode substituir a abstinência de carne por uma obra de caridade, um
ato de piedade ou ainda trocar a carne por um outro alimento.

Abster-se de carne e jejuar na sexta-feira é uma prática tradicional da Igreja e tem argumentos
fortes a seu favor. O primeiro deles é que todos os cristãos precisam levar uma vida de ascese
(renúncia a algum prazer para alcançar a perfeição espiritual). Esta é uma regra básica da
espiritualidade cristã. O CIC recomenda que a abstinência de carne deve ser feita em todas as
sextas feiras do ano (e não apenas na Sexta-feira Santa) e que também deve ser acompanhada
pelo jejum.

Dois dias do ano, é obrigatório o Jejum, além da abstinência de carne. Na Quarta-Feira de Cinzas
e na Sexta-Feira Santa, onde é preciso que se faça o Jejum da Igreja e a abstinência de carne, não
sendo possível a substituição por outro alimento ou ato de caridade.

O Jejum da Igreja consiste em diminuir a quantidade de alimento em uma das refeições, ou


substituir o almoço ou o jantar (refeições maiores) por um lanche mais leve até a saciedade. O
Jejum mais rigoroso, como pão e água, não é recomendado, se não sob a orientação de um diretor
espiritual. Já o jejum completo e penitências mais severas, a Igreja não as recomenda, pois, nos
tempos modernos, há suficientes jejuns e abstinências que se podem ser realizadas sem entrar em
severidades acéticas que possam comprometer a integridade da saúde física da pessoa.

O JEJUM EUCARÍSTICO OBRIGATÓRIO E OUTROS PRECEITOS:

“Quem vai receber a santíssima Eucaristia, abstenha-se, pelo espaço de ao menos uma hora antes
da sagrada comunhão, de qualquer comida ou bebida, exceto água ou remédios.” (Cân. 919 - § 1)

Mas há a possibilidade de se fazer a abstinência de carne em outras ocasiões, não sendo preceito,
como é o tempo do Advento e da Quaresma. Há ainda, a devoção de abster-se de carne às
segundas feiras, pelo alívio das almas do purgatório, as quartas feiras como dia penitencial
preferencial, ou ainda as quintas feiras por ser o dia propício para a Adoração Eucarística.

Jejum, como vimos, é abster-se de uma refeição no dia. Abstinência é escolher uma refeição ou
algum hábito (mesmo que não seja ruim), e abster-se dele, como apresentamos nos sete pecados
capitais, alguns aplicativos ou até o uso do próprio celular, pode ser um destes hábitos. Penitência
é escolher uma oração, uma ação como esmola, um ato de caridade ou de contrariedade, e fazer
aquilo, como medida disciplinar.

“A penitência interior do cristão pode ter expressões bem variadas. A escritura e os padres insistem
principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola, que exprimem a conversão com
relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da purificação radical operada pelo batismo ou
pelo martírio, citam, como meio de obter o perdão dos pecados, os esforços empreendidos para
reconciliar-se com o próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo,
a intercessão dos santos e a prática da caridade, "que cobre uma multidão de pecados" (1Pd 4,8).”
(CatIC 1434)

Dentro dos preceitos, temos a frequência da Missa Dominical. Ou seja, é um pecado mortal, faltar
a Santa Missa aos Domingos e dias de preceito. A missa de Sábado, após o meio-dia, é
considerada Missa de Domingo (em nossa diocese, a Igreja do Colégio do Rosário celebra a Missa
de Domingo ao meio-dia do sábado), porém, é importante dizer que não é prudente deixar de ir à
Missa aos Domingos para se cumprir o preceito indo aos Sábados. Esporadicamente, por questões
67

profissionais ou viagens importantes, a escolha do sábado se justifica, porém, que não seja um
hábito. Por outro lado, quem vai a Missa no Sábado, mesmo celebrando a liturgia de Domingo,
pode ir à Missa de Domingo tranquilamente.

DIAS DE PRECEITO NO BRASIL:

• A Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, • São Pedro e São Paulo, em 29 de junho
em 1º de janeiro; (Que é feriado Nacional) (que é adiado para o próximo Domingo);
• A Epifania do Senhor, em 5 de janeiro; (que • A Assunção de Nossa Senhora, em 15 de
é remanejada para o Domingo seguinte ou agosto (que é adiado para o próximo
anterior); Domingo);
• São José, em 19 de março (Que é • Todos os Santos, em 1º de novembro (Que
remanejado para o Domingo mais próximo); é adiado para o próximo Domingo);
• A Ascensão de Jesus ao Céu, na quinta- • A Imaculada Conceição de Nossa Senhora,
feira da 6ª semana da Páscoa (Que é adiada no dia 8 de dezembro (Que é adiado para o
para o Domingo seguinte); próximo Domingo);
• Corpus Christi, na quinta-feira após a oitava • O Natal, em 25 de dezembro. (Que é feriado
de Pentecostes; (que sendo feriado, não é nacional);
adiada);

Não é questão de preceito, mas de coerência: O dia 12 de Outubro, não é preceito, assim como o
dia 2 de Novembro (Dia de Finados), porém, é questão de coerência, pois, se até o estado
reconhece estes dias, que são datas importantes, apesar de não serem preceitos católicos, seria
uma imperfeição muito grande, não participar da Santa Missa nestes dias. Seria o mesmo que dizer
que o Estado brasileiro, tem mais devoção católica do que você. Sendo assim, vamos à Santa
Missa como testemunho de fé.

QUANDO É ERRADO FAZER JEJUM, ABSTINÊNCIA E PENITÊNCIA?

Aos Domingos, é errado fazer jejum, abstinência e penitência... se não somente no ato penitencial
durante a Santa Missa, onde nos ajoelhamos, não em penitência, mas em adoração ao Senhor. Do
mesmo modo, nos dias de solenidade citados acima, mesmo que caiam nas sextas-feiras, não se
faz o Jejum. Mas o diretor espiritual pode liberar o jejum conforme necessidade espiritual pessoal
ou comunitária.

Menores de 18 e maiores de 59 anos e doentes, não devem jejuar. Estes por sua vez, podem
oferecer sacrifícios de louvor, pela recitação de uma oração, um terço, uma novena etc... Durante
as oitavas de Natal e de Páscoa, também não jejuamos e não nos abstemos de carne.

O Jejum, Abstinência e Penitência, precisam ser equilibrados. Nunca podem ser exagerados, pois
não é a intensidade do sofrimento que diminui nossas penas, mas sim, o amor e generosidade com
que nos obrigamos a tais atos. Deus não se alegra com nosso sofrimento, mas sim, com o amor e
generosidade que a Ele oferecemos estes mesmos sofrimentos.

IMPORTANTE: Nenhum jejum, abstinência ou penitência perdoa pecados, somente a Confissão


pode perdoar os pecados mortais, e a Unção dos Enfermos e a Santa Missa, que são capazes
de perdoar os pecados veniais, quando não se está em pecado mortal.
68

UM PAPA ENSINA A ORAÇÃO:

No dia 16 de outubro de 2022, o Papa Francisco, durante a oração do Angelus, na praça de São
Pedro, fez uma breve catequese sobre a Vida de oração, que trazemos em sua íntegra para nossa
reflexão:
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho da liturgia de hoje termina com uma pergunta preocupada de Jesus: «Mas, quando o
Filho do Homem voltar encontrará fé sobre a terra?» (Lc 18, 8). Como se dissesse: quando eu
voltar no final da história - mas, podemos pensar, também agora, neste momento da vida -
encontrarei alguma fé em vós, no vosso mundo? Trata-se de uma questão séria. Imaginemos que o
Senhor venha hoje à terra: ele veria, infelizmente, tantas guerras, tanta pobreza e tantas
desigualdades, e ao mesmo tempo grandes conquistas da tecnologia, meios modernos e pessoas
sempre a correr, sem nunca parar; mas será que ele encontraria aqueles que lhe dedicam tempo
e afeto, aqueles que o colocam em primeiro lugar? E sobretudo, perguntemo-nos: se o Senhor
viesse hoje, o que encontraria ele em mim, na minha vida, no meu coração? Que prioridades na
minha vida veria Ele?

Nós, muitas vezes, concentramo-nos em tantas coisas urgentes, mas desnecessárias, ocupamo-nos e
preocupamo-nos com muitas realidades secundárias; e talvez, sem nos darmos conta,
negligenciamos o que mais importa e permitimos que o nosso amor por Deus arrefeça, arrefeça
pouco a pouco. Hoje, Jesus oferece-nos o remédio para aquecer uma fé tíbia. E qual é o remédio?
Oração. A oração é o remédio da fé, a restauradora da alma. Deve, no entanto, ser uma oração
constante. Se tivermos de seguir uma cura para melhorar, é importante segui-la bem, tomar os
medicamentos de forma correta e no momento estabelecido, com constância e regularidade. Em
tudo na vida há uma necessidade disto. Pensemos numa planta que temos em casa: devemos nutri-
la com constância todos os dias, não a podemos encharcar e depois deixá-la sem água durante
semanas! Isto é válido para oração: não podemos viver apenas de momentos fortes ou de encontros
intensos de vez em quando e depois “entrar em hibernação”. A nossa fé secará. Precisamos da água
diária da oração, precisamos de tempo dedicado a Deus, para que Ele possa entrar no nosso tempo,
na nossa história; momentos constantes em que abrimos o nosso coração a Ele, para que Ele possa
derramar amor, paz, alegria, força, esperança em nós todos os dias; isto é, alimentar a nossa fé.

Por isso Jesus fala hoje aos seus discípulos - a todos, não apenas a alguns! - «sobre a obrigação
de orar sempre, sem desfalecer». Mas pode-se objetar: “Mas como faço? Não vivo num convento, não
tenho muito tempo para rezar”. Talvez uma prática espiritual sábia possa vir em auxílio desta
dificuldade, que é verdadeira, que hoje está um pouco esquecida, que os nossos idosos,
especialmente as nossas avós, conhecem bem: a das chamadas orações jaculatórias. O nome está
um pouco desatualizado, mas a substância é boa. Do que se trata? Orações muito curtas, fáceis de
memorizar, que podemos repetir frequentemente durante o dia, no decorrer de várias atividades,
para ficarmos “sintonizados” com o Senhor. Tomemos alguns exemplos. Assim que acordamos,
podemos dizer: “Senhor, agradeço-te e ofereço-te este dia”: esta é uma breve oração; depois, antes
de uma atividade, podemos repetir: “Vem, Espírito Santo”; e entre uma coisa e outra podemos rezar
assim: “Jesus, confio em ti, Jesus, amo-te”. Pequenas orações, mas que nos mantêm em contacto com
o Senhor. Quantas vezes enviamos “pequenas mensagens” a pessoas que amamos! Façamo-lo
também com o Senhor, para que o coração permaneça ligado a Ele. E não nos esqueçamos de ler as
suas respostas. O Senhor responde, sempre. Onde as encontramos? No Evangelho, que deve sempre
estar à mão para ser aberto algumas vezes durante o dia, para receber uma Palavra de vida dirigida
a nós.

E voltemos àquele conselho que tantas vezes dei: tende convosco um pequeno Evangelho, no bolso,
na bolsa, e assim, quando tiverdes um minuto, abri-o e lede algo, e o Senhor responderá.

Que a Virgem Maria, fiel na escuta, nos ensine a arte de rezar sempre, sem nos cansar.
69

LIÇÃO 9: VIDA DE ORAÇÃO - A NATUREZA HUMANA


Já demos uma breve pincelada na via purgativa (até a 3ª Morada do Castelo interior), agora, iremos
nos aprofundar um pouco para podermos enfim, assumir o desejo de chegar até lá, com o auxílio
da Graça e com nossos esforços, pois Santo Tomás de Aquino nos ensina:

“A Graça, pressupõe a Natureza” (Santo Tomás)

GRAÇA E NATUREZA:

Mas você sabe o que é Graça e o que é Natureza?

Temos um “Organismo Espiritual” (Organismo Sobrenatural), composto do corpo material e da alma


racional. Por questões pedagógicas, iremos resumir as coisas, e dizer que a alma, possui três
faculdades, que são chamadas de potências. Não são três partes, a alma é um todo, com três
capacidades distintas, a saber:

1. Capacidade de conhecer: Inteligência;


2. Capacidade de querer: Vontade;
3. Capacidade de sentir: Sensibilidade;

Isso, faz parte de nossa natureza, mas, há algo em nós, que vai além de nossa natureza, ou melhor,
além de nossas potências/capacidades, este algo, é a GRAÇA de DEUS. Graça de Deus, significa,
PRESENÇA de Deus, e a presença (graça) de Deus, é uma só, mas age de duas formas distintas
conforme o Catecismo nos ensina a seguir:

“A graça santificante é um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural para aperfeiçoar
a própria alma e torná-la capaz de viver com Deus, agir por seu amor. Deve-se distinguir a graça
habitual, disposição permanente para viver e agir conforme o chamado divino, e as graças atuais,
que designam as intervenções divinas, quer na origem da conversão, quer no decorrer da obra da
santificação.” (CatIC 2000)

Na prática, ambas são a mesma Graça, porém, quando nos aprofundamos na vida de oração,
percebemos a ação distinta da Graça em nós.

GRAÇA ATUAL:

Chama-se atual, pois é a ação de Deus, é o Deus que age, atua e atualiza-se. São as chamadas
Graças Gratis Datae. É a presença de Deus que está agindo agora, neste momento em todas as
pessoas no mundo inteiro, independente do batismo ou dos sacramentos. Ela se manifesta
principalmente por meio de “graças especiais” conhecidas como carismas ou milagres.

“Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu
por nós.”
(Rm 5,8)

Uma característica da Graça Atual é que ela é um dom dado por Deus, independente de nossa
santidade pessoal, independente de nosso estado moral ou arrependimento. Ela alcança os
maiores pecadores, sejam eles católicos, cristãos, muçulmanos, hindus, umbandistas, ateus... e
ela é dada em quantidade suficiente para que a pessoa alcance a conversão. Por isso é chamada
também de Graça Suficiente.
70

“quando estávamos mortos em consequência de nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo – é
por graça que fostes salvos!”
(Ef 2,5)

“Manifestou-se, com efeito, a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens.”
(Tt 2,11)

“Esta salvação tem sido o objeto das investigações e das meditações dos profetas que proferiram oráculos
sobre a graça que vos era destinada.”
(1 Pd 1,10)

Como podemos ver, a Graça Atual, age em todos, e era ela que agia nos profetas do Antigo
Testamento, e ainda hoje, mesmo em meio ao pecado, independente de religião, a graça que age
na vida da maioria dos protestantes é a graça atual, pois mesmo batizados (e a Igreja reconhece o
batismo em meio aos protestantes) eles não se confessam, logo, perdem a Graça Santificante.

GRAÇA HABITUAL:

O termo “habitual” tem duplo sentido, é em primeiro lugar, a HABITAÇÃO de Deus em suas
criaturas, é a presença real de Deus em nós, que nos leva ao segundo sentido, pois a presença
habitual de Deus, gera em nós hábitos santos, por isso é chamada de Santificante ou Deificante, é
a graça proveniente dos Sacramentos, ela age em nós, e seu objetivo, não é mais a conversão,
mas sim, nos tornar unidos a Deus te tal forma, que sejamos capazes de dizer:

“Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho
de Deus, que me amou e se entregou por mim.”
(Gl 2,20)
São João da Cruz, escreveu um poema em que diz:

“O que Deus pretende é fazer-nos deuses por participação sendo-O Ele por natureza; Como fogo
que converte tudo em fogo, o que Deus pretende é fazer-nos deuses;”

A Graça Santificante, literalmente, torna o ser humano, o próprio Deus. Esta realidade é negada
pelos protestantes e é impensável para os não cristãos, como judeus e muçulmanos, e com certeza,
é loucura para os pagãos. Porém, é exatamente esta a realidade que nós, católicos, contemplamos
ao vislumbrar a vida de um santo.

“O Batismo não somente purifica de todos os pecados, mas também faz do neófito "uma criatura
nova", um filho adotivo de Deus que se tornou "participante da natureza divina", membro de Cristo
e co-herdeiro com ele, templo do Espírito Santo. A Santíssima Trindade dá ao batizado a graça
santificante, a graça da justificação, a qual - torna-o capaz de crer em Deus, de esperar nele e de
amá-lo por meio das virtudes teologais; - concede-lhe o poder de viver e agir sob a moção do Espírito
Santo por seus dons; - permite-lhe crescer no bem pelas virtudes morais. Assim, todo o organismo
da vida sobrenatural do cristão tem sua raiz no santo Batismo.” (CatIC 1265-1266)

Uma vez que estamos na Graça de Deus, e procuramos viver e nos manter neste estado de Graça,
Deus habita verdadeiramente em nossa alma. Permanecemos humanos, livres e dotados de toda
a liberdade, porém, assim como o ferro em brasa, continua sendo ferro, ele adquire ao ter contato
com o fogo, a sua luz e o seu calor, nós, ao nos mantermos em contato com Deus (fervor), vamos
nos assemelhando a Ele, mantendo-nos puramente humanos, porém, com méritos infinitos. A vida
em estado de graça, é viver uma ordem acima da natureza, é adquirir uma vida sobrenatural
(Instalada na parte espiritual da alma).
71

NOSSA NATUREZA:

Este organismo sobrenatural, está alicerçado no organismo natural, Deus só pode nos tornar
semelhantes a Ele, e participantes de Sua natureza, porque somos naturalmente racionais,
capazes de vontade e com a sensibilidade ordenada pela inteligência e pela vontade. Assim, a
frase de Santo Tomás, fica explicada assim: A vida sobrenatural, supõe a vida natural.

RESUMINDO: A Graça atual, nos convida a conversão, ela é suficiente para nos conduzir, se
permitirmos, à graça habitual, que uma vez agindo em nós, amplia a ação da graça atual em nossa
própria natureza, elevando-a e transforma-a em algo muito maior, um organismo sobrenatural
semelhante ao próprio Deus.

“A preparação do homem para acolher a graça (Habitual/Santificante) é já uma obra da graça


(Atual/suficiente). Esta (Habitual/Santificante) é necessária para suscitar e manter nossa
colaboração na justificação pela fé e na santificação pela caridade. Deus acaba em nós aquilo que
Ele mesmo começou, "pois começa, com sua intervenção (Atual/suficiente), fazendo com que nós
queiramos e acaba cooperando com as moções de nossa vontade já convertida":

Sem dúvida, operamos também nós (A Graça pressupõe a natureza), mas o fazemos cooperando
com Deus, que opera predispondo-nos (Graça Atual) com a sua misericórdia (Graça Habitual). E o
faz para nos curar, (Graça Atual) e nos acompanhará para que, quando já curados, (Graça
Habitual) sejamos vivificados; predispõe-nos para que sejamos chamados (Graça Atual) e
acompanha-nos para que sejamos glorificados (Graça Habitual); predispõe-nos para que vivamos
segundo a piedade (Graça Atual) e segue-nos para que, com Ele, vivamos para todo o sempre, pois
sem Ele nada podemos fazer. (Graça Habitual)”

“A livre iniciativa de Deus (Graça Atual/Suficiente) pede a livre resposta do homem pois Deus criou
o homem à sua imagem, conferindo-lhe, com a liberdade, o poder de conhecê-Lo e amá-Lo (Graça
Habitual/Santificante). A alma só pode entrar livremente na comunhão do amor. Deus toca
imediatamente (Atual) e move diretamente (Habitual) o coração do homem. Ele colocou no homem
uma aspiração à verdade (Suficiente) e ao bem que somente Ele pode satisfazer plenamente
(Santificante).” (CatIC 2001 e 2002)

Para entendermos melhor, observemos bem o esquema a seguir:

Graça Graça
Suficiente
METANOIA
SACRAMENTOS Santificante
Santidade
(conversão) e Salvação
(Atual) (Habitual)

DEUS DEUS DEUS E A DEUS DEUS


E NÓS IGREJA E NÓS

Por este esquema, vemos que a iniciativa é sempre de Deus, nós temos uma participação na
conversão, por meio da ação da nossa alma, que será explicado a seguir. Vemos ainda que somos
completamente dependentes da Igreja, e quando falamos de Igreja, neste esquema, estamos nos
referindo a toda Economia da Salvação (Encarnação, Paixão, Morte, Ressurreição, Pentecostes +
Igreja padecente, Igreja Militante e Igreja Triunfante = Cristo Total), pois é por meio da Igreja que
os Sacramentos vêm até nós, e por fim, temos nossa constante participação no processo de
santificação e consequente salvação.
72

As partes em Azul, é onde tudo depende de Deus apenas, em laranja, é onde dependemos de
Deus e da Igreja (homens de boa vontade), em rosa, fica evidenciado o nosso organismo natural,
e em verde, o organismo sobrenatural.

Para entendermos este nosso Organismo Natural, é preciso que compreendamos uma parte do
Credo: “Creio em Deus Pai, todo poderoso, Criador do Céu e da Terra”. Céu e Terra, são palavras
metafóricas, para designar as criaturas visíveis, que são puramente físicas, como o que é animal,
vegetal ou mineral; e as criaturas invisíveis, que são os anjos e demônios, que são puramente
espírito. Já o ser humano, que possui uma única natureza, possui em sua unidade, uma parte física
e visível (corpo e a forma do corpo - alma) e uma parte espiritual (alma espiritual) invisível.

“O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas o sopro da vida e o
homem se tornou um ser vivente.”
(Gn 2,7)

O barro é o símbolo do elemento físico, e o sopro da vida, é o símbolo do que é espiritual e invisível
no ser humano. Mas é importante ressaltar, que o que torna o ser “humano”, são as duas partes
visível e invisível unidas. Em nossa cultura, por influência do espiritismo, algumas pessoas dizem
que a alma “habita” o corpo, e que quando se morre, acontece a “desencarnação”, pois a alma
estava “aprisionada” ao corpo. Este pensamento é herético, pois não é esta a verdade. Na verdade,
ALMA (ESPÍRITO) E CORPO, são um só, assim como Deus é único, sendo três, nós também
somos únicos, não importando em quantas partes podemos segmentar nossa natureza para
explicá-la pedagogicamente.

“Muitas vezes o termo alma designa na Sagrada Escritura a vida humana ou a pessoa humana
inteira. Mas designa também o que há de mais íntimo no homem e o que há nele de maior valor,
aquilo que mais particularmente o faz ser imagem de Deus: "alma" significa o princípio espiritual no
homem.” (CatIC 363)

Portanto, o ser humano é a união do corpo (barro da terra) com a alma (sopro de vida) e
naturalmente, o ser humano não foi feito para morrer, que é a separação da alma e do corpo que
se dá na morte. A morte não acontece apenas quando o corpo perde a vida, mas também, quando
a alma se perde, pois isso que Nosso Senhor se refere a duas mortes:

Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor não sofrerá dano algum da segunda morte.
(Ap 2,11)

AS DUAS MORTES:

A primeira morte, é a morte do corpo, mas mantém-se a alma viva em Deus, a segunda morte, é
quando a alma, não está em Deus, ou seja, em pecado mortal que é um passo para o inferno.
Infelizmente, é possível já estar na segunda morte, não tendo passado pela primeira. Isto acontece
sempre quando a pessoa faz do pecado um projeto de vida. Claro que, enquanto há vida, há
esperança, mas o pecado mortal abala tanto a alma, que de fato, se a pessoa se obstina no pecado,
já vive a morte eterna em vida, pela ausência de amor, de sentido e consequentemente de vida.

Porém, há uma realidade pouco entendida entre os católicos, é que tanto o corpo, quanto a alma,
são realidades materiais. Basta entendermos que animais e plantas, também morrem, e se morrem,
é porque possuem alma. O animal possui uma alma sensitiva e os vegetais, uma alma vegetativa,
já o ser humano, possui na alma material a realidade sensitiva e vegetativa, porém, há no ser
humano uma parte puramente espiritual, enquanto a alma dos vegetais é puramente vegetativa e
dos animais, puramente sensitiva, a alma do ser humano é também uma alma espiritual.
73

“Unidade de corpo e de alma, o homem, por sua própria condição corporal, sintetiza em si os
elementos do mundo material, que nele assim atinge sua plenitude e apresenta livremente ao
Criador uma voz de louvor. Não é, portanto, lícito ao homem desprezar a vida corporal; ao contrário,
deve estimar e honrar seu corpo, porque criado por Deus e destinado à ressurreição no último dia.”
(CatIC 364)

Pela lógica, quando acontece a morte, onde há a separação da alma espiritual, da alma e do corpo
material, o ser humano permanece segmentado... pela metade. Esta é a condição dos santos que
estão no Céu e das almas no purgatório, e das almas que já foram condenadas ao inferno. Todos
os seres humanos mortos, aguardam o retorno do Senhor, para ocorrer a ressurreição da carne, e
assim, voltarem a serem íntegros e inteiros, pois o ser humano é Corpo e Alma Espiritual.

“A unidade da alma e do corpo é tão profunda que se deve considerar a alma como a "forma"
do corpo; ou seja, é graças à alma espiritual que o corpo constituído de matéria é um corpo humano
e vivo; o espírito e a matéria no homem não são duas naturezas unidas, mas a união deles
forma uma única natureza.” (CatIC 365)

São Paulo nos faz uma sinalização para isso, quando diz:

“O Deus da paz vos conceda santidade perfeita. Que todo o vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado
irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo!”
(1Ts 5, 23)

E aqui, o Catecismo, maravilhosamente, vem em auxílio à nossa inteligência e explica:

“Por vezes ocorre que a alma aparece distinta do espírito. Assim, São Paulo ora para que nosso "ser
inteiro, o espírito, a alma e o corpo", seja guardado irrepreensível na Vinda do Senhor (1 Ts 5,23). A
Igreja ensina que esta distinção não introduz uma dualidade na alma. "Espírito" significa que o
homem está ordenado desde a sua criação para seu fim sobrenatural, e que sua alma é capaz de
ser elevada gratuitamente à comunhão com Deus.” (CatIC 367)

NATUREZA ORDENADA X DESORDENADA:

Há em todo ser humano, a alma (material) e o corpo (material), neles age, no corpo e na alma, a
Graça Suficiente (Atual), que atua na dimensão física, material e visível do ser humano. Porém,
aqueles que foram batizados, e assim, receberam a Graça Santificante (Habitual), há um “lugar”
(uma analogia de espaço) na natureza humana, onde Deus habita, por isso, é designada, Graça
Habitual.

O ser humano, então, que é Pneumo (espírito), psico (mente) somático (corpo), quando batizado
adquire a capacidade de ser habitado por Deus, e este “doce Hóspede da alma” transforma a vida
do ser humano de dentro para fora. Ordenando as potências da alma e santificando o ser.

A inteligência, é a parte mais nobre da alma, é ela que pode receber a “luz” (iluminação,
conhecimento, sabedoria) para tornar o ser humano, que já é algo, em alguém. Porém, este alguém,
irá depender do tipo de luz, que ele recebe. Temos a Luz Natural da Razão, a Luz Sobrenatural da
Graça e os Sentidos.

Por causa do pecado original, e dos nossos pecados pessoais, nascemos privados da Graça
Santificante, e assim, podemos pecar, e inverter a ordem natural do nosso organismo natural.
Podemos perceber isso facilmente em nós mesmos, pois quando nos deixamos levar pelos
sentidos, é nossa sensibilidade que domina a vontade, e a inteligência, subjugada pela vontade,
passa a criar razões, sofismas, ideologias, opiniões que justifiquem os sentimentos, sejam eles
quais forem. A seguir, temos dois esquemas, do ser humano, um ordenado e outro desordenado:
74

ORDENADO DESORDENADO

INTELIGÊNCIA SENSIBILIDADE

VONTADE VONTADE

SENSIBILIDADE INTELIGENCIA

A ideologia de gênero é um exemplo. As pessoas não são mais o que são, são o que sentem.
Sendo assim, se hoje, um homem, sente-se animal, ele diz que é, animal. O problema é que este
ser humano, só pode dizer que agora é animal, porque antes, ele tem a liberdade de ser humano,
para escolher dizer, o que agora quer ser. É um sofisma.

Sofismas são razões, muitas vezes com lógica formal, que procuram justificar a vontade, que está
dominada pelos sentimentos, o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, também chama de Paralaxe
Cognitiva, que é quando a pessoa toma como verdadeiras, duas notórias contradições, duas
definições opostas, mas devido a desordem, a pessoa adquire uma mentalidade revolucionária,
uma cultura/espiritualidade, em que abre mão da realidade em função das ideias, ideais e
ideologias.

O modo ordenado do ser humano, é a Inteligência, pela Luz Natural da Razão, alcançar e Luz
Sobrenatural da Fé, uma vez tendo conhecido a verdade, que é Cristo Jesus, convida a vontade a
submeter-se à Vontade de Deus, e assim, analisar, alimentar (estimular) ou descartar, aquilo que
nos vem pelos Sentidos. Na prática, é pensar, mover-se interiormente, e julgar se estes e aqueles
sentimentos são ou não ordenados.

Você já deve ter ouvido falar que o “campo de batalha” é o coração do homem. Muitos acreditam
que o coração é a parte “sentimental”, porém, não é, o catecismo mais uma vez nos auxilia:

“A tradição espiritual da Igreja insiste também no coração, no sentido bíblico de "fundo do ser" (Jr
31,33), onde a pessoa se decide ou não por Deus”. (CatIC 368)

A decisão, entre ser ordenado ou desordenado, acontece no pleno exercício da vontade, por isso,
há duas vontades e o ser humano parece fragmentado, ao ponto de São Paulo dizer:

“Sabemos, de fato, que a Lei é espiritual, mas eu sou carnal, vendido ao pecado. Não entendo, absolutamente, o
que faço, pois não faço o que quero; faço o que aborreço. E, se faço o que não quero, reconheço que a Lei é
boa. Mas, então, não sou eu que o faço, mas o pecado que em mim habita. Eu sei que em mim, isto é, na minha
carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem
que quereria, mas o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o
pecado que em mim habita. Encontro, pois, em mim esta Lei: quando quero fazer o bem, o que se me depara é
o mal. Deleito-me na Lei de Deus, no íntimo do meu ser. Sinto, porém, nos meus membros outra Lei, que luta
contra a Lei do meu espírito e me prende à Lei do pecado, que está nos meus membros. Homem infeliz que
sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?... Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo,
nosso Senhor! Assim, pois, de um lado, pelo meu espírito, sou submisso à Lei de Deus; de outro lado, por minha
carne, sou escravo da Lei do pecado.”
(Rm 7,14-26)

Para nos dominarmos, nos mantermos ordenados, é preciso vivermos em estado de Graça, termos
uma vida de oração, e uma busca constante, pelo estudo, da fé, que é o contato com a Revelação
que o Senhor nos fez, logo, é a verdade:
75

“Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.”
(Mt 26,41)

A vigilância (vigiai), é a nossa vida de estudo da fé. Orar (orai), é a nossa constante vida de oração.
Se, somos o que comemos, então, nossa mente, cultura/espiritualidade e nossa visão de mundo,
será aquilo que estudamos, e se expressará na forma como vivemos a oração.

A psicologia moderna, nega todas estas afirmações da filosofia escolástica, nega a dimensão
espiritual da alma e nega que exista um “organismo espiritual”. Porém, como se pode perceber,
esta doutrina, que é milenar, tem feito de homens e mulheres simples, verdadeiros santos, que
movidos pela Graça de Deus, crescem de modo integral (Físico/Psico-Afetivo/Espiritual) à
exemplos de Nosso Senhor e dos Santos seus imitadores:

“E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens.”


(Lc 2,52)

O crescimento integral do ser humano é este. Crescemos em “estatura”, ou seja, fisicamente,


quando nos alimentamos. Crescemos em “sabedoria”, ou seja, psico-afetivamente, quando
estudamos e nos relacionamos uns com os outros. Crescemos em “graça”, ou seja, espiritualmente,
quando nos relacionamos com Deus, principalmente por meio da oração.

Há um pequeno livrinho, chamado “Imitação de Cristo” que além de ser um verdadeiro tesouro,
chamado de o “quinto Evangelho” por muitos de seus leitores, que ensina o seguinte:

“Não tenha o desordenado desejo de saber, porque nele há muita distração e engano. Os doutos
gostam de ser vistos e tidos por sábios. Mas muitas coisas há cujo conhecimento pouco ou nada
aproveita à alma. E mui insensato é aquele que se dedica a outras coisas mais do que as que servem
à sua salvação. As muitas palavras não satisfazem à alma, mas uma palavra boa refrigera o espírito
e uma consciência pura inspira grande confiança em Deus.” (Imitação de Cristo; Tomás de Kempis;
Primeiro Livro, Capítulo 2)

Faz parte de uma personalidade equilibrada, a certa medida das coisas, sem o esteticismo físico;
sem o intelectualismo exacerbado e sentimentalismo superficial; e sem o devocionismo extremo e
o fideísmo. O cuidado com o que comemos, com quem nos relacionamos, com o que lemos ou
assistimos e principalmente o que rezamos.
76

LIÇÃO 10: VIDA DE ORAÇÃO – O SANTO SACRIFÍCIO


A expressão máxima da vida de oração, é a liturgia. Mas o que é liturgia? Liturgia é o culto público
do Filho ao Pai no Espírito. É sempre o Filho que realiza a liturgia. A obra máxima da liturgia é a
Santa Missa. E o que é a Santa Missa? A Missão de Nosso Senhor Jesus Cristo, é a sua Paixão,
Morte e Ressurreição, sendo assim, a Missa tem sua expressão máxima no Calvário, onde Nosso
Senhor, se sacrifica, por nós, ensinando-nos o que é o amor:

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos.”
(Jo 15,13)

O SANTO SACRIFÍCIO

A palavra central em tudo isso, é o termo “SACRIFÍCIO”. Hoje em dia, esta palavra tem uma
conotação negativa, porém, de sua total compreensão, dependerá o nosso relacionamento com
Deus.

O termo sacrifício, tem dois sentidos, o primeiro e mais conhecido, é o sacrifício oferecido a Deus
ou aos deuses, o segundo, é o de dedicação total, fiel e profunda de alguém para outrem. Quando
se dedica, não é uma mera homenagem, mas sim um compromisso. A mãe dedicada, é aquela que
abre mão de suas necessidades, para oferecer-se, em sacrifício pelo filho, ela anula-se, esquece
de si mesma, e tem toda sua atenção voltada ao bem-estar do filho, que, nem sequer, é testemunha
deste sacrifício, que aliás, é oferecido no altar do silêncio, e muitas vezes, não é reconhecido por
nós, os filhos.

Tomando a imagem da mãe dedicada, podemos olhar para o Deus “dedicado”. Ora, Deus É, e
sempre FOI, e continuará SENDO. Ele não precisa de nada, nunca precisou e continuará não
precisando. Porém, a partir do nada, criou tudo que vemos, e elegeu o ser humano, para ser sua
própria Imagem e semelhança:

“Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar,
sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se
arrastam sobre a terra”. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a
mulher.”
(Gn 1, 26-27)

Vemos neste texto, que Deus, em sua plenitude (façamos) aludindo às três pessoas da Santíssima
Trindade, criou-nos, à Sua imagem e semelhança, sendo o homem, desde sua criação, semelhante
a Deus, e como um representante da imagem de Deus. Esta profecia, realiza-se completamente
na concepção de Nosso Senhor Jesus Cristo no seio da Virgem Maria. Ali, temos a perfeita, Imagem
e Semelhança de Deus. Na Santa Missa, temos o Ápice do Santo Sacrifício, mas por que?

O SACRIFÍCIO DIVINO – A CRIAÇÃO:

Ora, “antes” da criação, Deus era “maior”, a criação inaugura o primeiro sacrifício (Kenosis –
esvaziamento de si mesmo) deste Deus dedicado. Pois, não precisando do ser humano, quis
precisar. É importante compreendermos bem, que Deus, ao criar qualquer coisa, “diminui”, pois
antes Ele reinava absoluto, era o único “habitante”, mas ao criar o ser humano, Ele criou um “lugar”
onde Ele poderia não habitar, que é o coração e a consciência humana. Ele não invade nossa
vontade, não vasculha nossos segredos, não entra em nossa vida, se antes não for convidado. Por
isso é preciso a oração, ela é este momento em que convidamos a Deus, para Habitar em nós.
77

Mas Deus, já havia criado os anjos, e os submeteu a uma prova, onde alguns destes anjos, não
passaram, e desobedeceram a Deus, assim, surge o pecado, que é a ausência de amor, ausência
de Deus. O estado permanente em que a criatura, se isola do criador, e o criador, por amor respeita,
é chamado “inferno”. O inferno, é um sacrifício de amor, de Deus, por suas criaturas, que
escolheram viver, sem contato com Deus. Não é Deus, o criador do inferno, é a própria criatura que
o “cria” quando se decide por viver longe de Deus.

Para entendermos melhor, o que é a Kenosis, bastar olharmos para a conversa daquela mãe
dedicada com seu filho de 2 anos. A criança, não tem a mínima condição de elevar-se à estatura
da mãe para falar com ela, então, a mãe, abaixa-se, ficando na estatura da criança, para olhar-lhe
nos olhos. Este “abaixamento” é uma imagem propícia do esvaziamento de Deus, não apenas na
criação, mas acima de tudo, na encarnação do Verbo, quando Deus, torna-se um de nós.

A partir disso tudo, podemos concluir que Deus é sacrifício, pois “Deus é amor”. Ele fez-se sacrifício.
E ainda não estamos falando do sacrifício do calvário, que é o maior sacrifício. Pois, se de um lado
temos a Kenosis Divina, na criação, na encarnação... do outro lado, temos a morte de Deus. No
calvário, Deus morre.

Logo no início da criação do ser humano, Deus mesmo, realiza o sacrifício de animais, para criar
roupas para os homens, onde vemos depois de todo o drama da queda do ser humano, após a
profecia de que haverá um dia uma descendência humana que pisará a cabeça da serpente:

“O Senhor Deus fez para Adão e sua mulher umas vestes de peles, e os vestiu.”
(Gn 3, 21)

Assim, é inaugurada a aliança sacrifical, onde o ser humano, para aplacar a cólera Divina, e
reafirmar seu compromisso e sua aliança com Deus, irá realizar sacrifícios rituais, como símbolo
desta aliança com Deus.

O SACRIFÍCIO DE ABEL:

“Passado algum tempo, ofereceu Caim frutos da terra em oblação (sacrifício) ao Senhor. Abel, de seu lado,
ofereceu dos primogênitos do seu rebanho e das gorduras dele; e o Senhor olhou com agrado para Abel e para
sua oblação (Sacrificio)”
(Gn 4, 3)

Caim, oferece a Deus, não o que tinha de melhor, mas apenas alguns frutos. A tradição entende
que o sacrifício de Caim, não foi sacrifício algum, ele oferecia a Deus, o que lhe sobrava, o que
tinha estragado, o que não servia para o alimento ou para o plantio, oferecia o seu lixo. Já Abel,
oferece os primogênitos de seu rebanho. Oferecer os primogênitos, é oferecer o que há de melhor,
o que falta, o que é mais importante. Temos aí, desde o início, uma prefigura do sacrifício judaico
e do sacrifício de Cristo, pois, Ele é o primogênito de Deus.

O SACRIFÍCIO DE NOÉ:

“E Noé levantou um altar ao Senhor: tomou de todos os animais puros e de todas as aves puras, e ofereceu-os
em holocausto ao Senhor sobre o altar.”
(Gn 8,20)

Após o drama do dilúvio, onde Deus, “arrepende-se” de ter criado o ser humano, tamanhas eram
as ofensas dos homens a Deus, Noé, oferece o que há de melhor a Deus, e Deus vê, no sacrifício
de Noé, o sacrifício de Abel, que é prefigura do Sacrifício de Cristo, e temos, uma novidade, como
vemos a seguir:
78

“Vou fazer uma aliança convosco e com vossa posteridade, assim como com todos os seres vivos que estão
convosco: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, desde todos aqueles
que saíram da arca até todo animal da terra. Faço esta aliança convosco: nenhuma criatura será destruída
pelas águas do dilúvio, e não haverá mais dilúvio para devastar a terra”. Deus disse: “Eis o sinal da aliança que
eu faço convosco e com todos os seres vivos que vos cercam, por todas as gerações futuras. Ponho o meu arco
nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra. Quando eu tiver coberto o céu de nuvens
por cima da terra, o meu arco aparecerá nas nuvens, e me lembrarei da aliança que fiz convosco e com todo
ser vivo de toda a espécie, e as águas não causarão mais dilúvio que extermine toda criatura. Quando eu vir o
arco nas nuvens, eu me lembrarei da ALIANÇA ETERNA estabelecida entre Deus e todos os seres vivos de toda a
espécie que estão sobre a terra”. Dirigindo-se a Noé, Deus acrescentou: “Este é o sinal da aliança que faço entre
mim e todas as criaturas que estão na terra”.
(Gn 9, 9-17)

A novidade, é que, a partir do sacrifício de Noé, Deus estabelece uma ALIANÇA ETERNA entre
Ele e todas as criaturas da terra. Uma aliança de vida, pois garante que não mais castigará o mundo
com um dilúvio. Esta aliança com Noé, é já, prefigura da Aliança de Cristo com a Igreja, do mesmo
modo que o dilúvio é uma figura do Sacramento do Batismo, pois assim como o dilúvio varreu o
pecado da face da terra, o batismo, varre o pecado do coração do homem.

O SACRIFÍCIO DE ABRAÃO:

O Senhor disse a Abrão: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar...
Em seguida, partindo dali, foi para a montanha que está ao oriente de Betel, onde levantou a sua tenda, tendo
Betel ao ocidente e Hai ao oriente. Abrão edificou ali um altar ao Senhor, e invocou o seu nome.
(Gn 12, 1.8)

Invocar o nome do Senhor, é realizar o sacrifício no altar, oferecendo as primícias do trabalho a


Deus. Após Noé, o povo continuou pecando, se dividindo, elegendo outros deuses, e cultuando as
próprias criaturas, então, no meio de um mundo pagão, um homem ouve, finalmente o chamado
de Deus. O detalhe, é que Abrão, chamava Deus, de Senhor, mas não conheceu seu nome, mesmo
assim, ele é fiel. Ele deixa a sua casa, e vai para um lugar desconhecido, ele abandona sua
segurança, sua comodidade e Deus, reconhece nele, aquele que será o pai da fé e muda-lhe o
nome:

“Abrão tinha noventa e nove anos. O Senhor apareceu-lhe e disse-lhe: “Eu sou o Deus Todo-poderoso. Anda em
minha presença e sê íntegro; quero fazer aliança contigo e multiplicarei ao infinito a tua descendência”. Abrão
prostrou-se com o rosto por terra. Deus disse-lhe: “Este é o pacto que faço contigo: serás o pai de uma
multidão de povos. De agora em diante não te chamarás mais Abrão, e sim Abraão, porque farei de ti o
pai de uma multidão de povos. Tornarei a ti extremamente fecundo, farei nascer de ti nações e terás reis por
descendentes. Faço aliança contigo e com tua posteridade, uma ALIANÇA ETERNA, de geração em geração,
para que eu seja o teu Deus e o Deus de tua posteridade.”
(Gn 17, 1-7)

Mas antes de alterar o nome de Abrão, Deus submeteu-o a uma provação, ele teve seu sobrinho
Ló e todos os seus parentes sequestrados, então, Abrão após ter oferecido o sacrifício ao Senhor,
foi reaver tudo que havia sido roubado, e Deus permaneceu com ele, e ele saiu vitorioso. Aqui,
surge um personagem misterioso:

Voltando Abrão da derrota de Codorlaomor e seus reis aliados, o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro no vale de
Save, que é o vale do rei. Melquisedec, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, mandou trazer pão e vinho,
e abençoou Abrão, dizendo: “Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que criou o céu e a terra! Bendito seja o
Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos em tuas mãos!”. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.
(Gn 14, 17-20)
79

Abrão reconhece Melquisedec, como Sacerdote do Deus altíssimo, e mesmo ele não sendo de sua
raça ou de sua parentela, oferece-lhe a décima parte de tudo que tinha, estabelecendo assim o
Dízimo, mas não apenas isso. Abrão, é da tradição, de oferecer em sacrifício animais a Deus,
porém, acata a ordem de Melquisedec e ao invés de oferecer um animal, oferece “Pão e Vinho”,
esta é a primeira prefiguração da Santa Eucaristia que celebramos na Santa Missa.

Com Abraão, o Senhor estabelece uma Nova Aliança, uma aliança mais profunda que a aliança
que fez com Noé. O Senhor pede a Abraão, integridade, em troca, daria a ele uma descendência
numerosa, e mesmo Sarai (que também tem o nome mudado para Sara) sua esposa sendo estéril,
Deus deu a Abraão, um filho, chamado Isaac, que significa, “o filho da promessa”.

Aqui, o sacrifício, assume contornos nunca vistos antes, pois Deus, pede algo novo à Abraão, algo
que não foi pedido a Abel, nem a Noé, Deus lhe pede, em sacrifício, o próprio filho, o filho tão
amado de Abraão:

Depois disso, Deus provou Abraão, e disse-lhe: “Abraão!”. “Eis-me aqui” – respondeu ele. Deus disse: “Toma teu
filho, teu único filho a quem tanto amas, Isaac; e vai à terra de Moriá, onde tu o oferecerás em holocausto
sobre um dos montes que eu te indicar”. No dia seguinte, pela manhã, Abraão selou o seu jumento. Tomou dois
servos e Isaac, seu filho, e, tendo cortado a lenha para o holocausto, partiu para o lugar que Deus lhe tinha
indicado.
(Gn 22, 1-3)

O sacrifício de Abraão, é tão importante, que a oblação/sacrifício dos hebreus, passou a chamar-
se holocausto. Abraão não negou a Deus, seu filho, e mesmo já tendo recebido de Deus a
circuncisão, que é um sinal de consagração a Deus, efetivamente e literalmente, Abraão, oferece
a Deus seu filho, que no instante crucial, foi impedido pelo próprio Deus, na figura de um anjo:

Quando chegaram ao lugar indicado por Deus, Abraão edificou um altar; colocou nele a lenha, e amarrou Isaac,
seu filho, e o pôs sobre o altar em cima da lenha. Depois, estendendo a mão, tomou a faca para imolar o seu
filho. O anjo do Senhor, porém, gritou-lhe do céu: “Abraão! Abraão!”. “Eis-me aqui!” “Não estendas a tua mão
contra o menino, e não lhe faças nada. Agora sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu próprio filho, teu
filho único.” Abraão, levantando os olhos, viu atrás dele um cordeiro preso pelos chifres entre os espinhos; e,
tomando-o, ofereceu-o em holocausto em lugar de seu filho.
(Gn 22, 9-13)

A partir deste momento, todos os descendentes de Abraão, que permaneceram fiéis, sejam os
Hebreus ou Judeus, passaram a oferecer a Deus, um Cordeiro em Holocausto. O cordeiro tornou-
se símbolo da Eterna Aliança de Deus, com Abraão e seus descendentes.

O SACRIFÍCIO DE MOISÉS E A PROMESSA A DAVI:

Moisés é descendente direto de Abraão, Isaac e Jacó, e após o Senhor ter se dirigido à Moisés no
deserto, sobre a forma da “Sarça Ardente” e ter-lhe finalmente revelado o seu nome como sendo
“EU SOU” (YHWH - donde derivam - Yahweh, Javé ou Jeová), no dia da libertação do povo da
escravidão do Egito, Deus estabelece com Moisés e o povo, não uma nova aliança, mas uma
liturgia, um rito próprio para a realização do holocausto:

“O Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Este mês será para vós o princípio dos meses: vós o tereis como o primeiro
mês do ano. Dizei a toda a assembleia de Israel: no décimo dia deste mês cada um de vós tome um cordeiro
por família, um cordeiro por casa. Se a família for pequena demais para um cordeiro, então o tomará em
comum com seu vizinho mais próximo, segundo o número das pessoas, calculando-se o que cada um pode
comer. O animal será sem defeito, macho, de um ano; podereis tomar tanto um cordeiro como um cabrito. E
o guardareis até o décimo quarto dia deste mês; então toda a assembleia de Israel o imolará no crepúsculo.
80

Tomarão do seu sangue e o porão sobre as duas ombreiras e sobre a moldura da porta das casas em que
o comerem. Naquela noite comerão a carne assada no fogo com pães sem fermento e ervas amargas.”
(Ex 12, 1-8)

Deste ponto em diante, os Hebreus e depois os Judeus, irão realizar a Páscoa, que é a memória
da libertação do povo, que passaram da escravidão à liberdade, por intervenção Divina, e na noite
em que a décima praga, eliminou os primogênitos dos egípcios, o que salvou os filhos dos hebreus
da morte, quando o exterminador passou pela terra do Egito, foi o Sangue do Cordeiro.

Moisés conduz o povo à Terra prometida, e lá, Deus renova a aliança com os hebreus,
estabelecendo as 12 tribos de Israel (os 12 filhos de Jacó, netos de Isaac e Bisnetos de Abraão),
que por séculos fazem guerra entre si, até que prevaleceu a tribo de Judá, com o Rei Davi, com
quem Deus, não apenas renova a aliança, mas realiza uma promessa:

“Quando chegar o fim de teus dias e repousares com os teus pais, então suscitarei depois de ti a tua
posteridade, aquele que sairá de tuas entranhas e firmarei o seu reino. Ele me construirá um templo e
firmarei para sempre o seu trono real. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. ... Tua casa e
teu reino estão estabelecidos para sempre diante de mim e o teu trono está firme para sempre’.”
(2Sm 7, 12-14a.16)

O SACRIFÍCIO DE CRISTO:

“Raiou o dia dos pães sem fermento, em que se devia imolar a Páscoa. Jesus enviou Pedro e João, dizendo:
“Ide e preparai-nos a ceia da Páscoa”... Chegada que foi a hora, Jesus pôs-se à mesa, e com ele os
apóstolos. Disse-lhes: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer. Pois vos
digo: não tornarei a comê-la, até que ela se cumpra no Reino de Deus”. Pegando o cálice, deu graças e disse:
“Tomai este cálice e distribuí-o entre vós. Pois vos digo: já não tornarei a beber do fruto da videira, até que
venha o Reino de Deus”. Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: “Isto
é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim”. Do mesmo modo tomou também o cálice,
depois de cear, dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós...”
(Lc 22, 7-8.14-20)

Na última Ceia, temos todos os aspectos das prefigurações do Antigo Testamento, os pães sem
fermento, do qual é feito a hóstia Eucarística; a Imolação da Páscoa, que é o sacrifício de Cristo no
alto da Cruz, lembrando que São João Batista, aponta para Nosso Senhor Jesus Cristo e diz:

“No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo.””
(Jo 1,29)

A mesa é o altar, que na realidade foi o Monte Calvário, onde Cristo é Imolado; Nosso Senhor diz
que não tornará a comer da Páscoa, até que se cumpra no Reino de Deus, que é a Igreja (já e
ainda não) e estabelece uma Nova e Eterna aliança, e institui os Apóstolos como o novo sacerdócio,
e são sacerdotes, segundo a ordem do Rei Melquisedec, como nos lembra a Carta aos Hebreus:

“Este Melquisedec, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão quando este
regressava da derrota dos reis e o abençoou, ao qual Abraão ofereceu o dízimo de todos os seus despojos, é,
conforme seu nome indica, primeiramente “rei de justiça” e, depois, rei de Salém, isto é, “rei de paz”. Sem pai,
sem mãe, sem genealogia, a sua vida não tem começo nem fim; comparável sob todos os pontos ao Filho de
Deus, permanece sacerdote para sempre. Considerai, pois, quão grande é aquele a quem até o patriarca
Abraão deu o dízimo dos seus mais ricos espólios. Os filhos de Levi, revestidos do sacerdócio, na qualidade
de filhos de Abraão, têm por missão receber o dízimo legal do povo, isto é, de seus irmãos. Naquele caso,
porém, foi um estrangeiro que recebeu os dízimos de Abraão e abençoou o detentor das promessas. Ora, é
indiscutível: é o inferior que recebe a bênção do que é superior. De mais, aqui, os levitas que recebem os
81

dízimos são homens mortais; lá, porém, se trata de alguém do qual é atestado que vive. Por fim, por assim
dizer, também Levi, que recebe os dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão, pois ele já estava em germe no
íntimo deste, quando aconteceu o encontro com Melquisedec. Se a perfeição tivesse sido realizada pelo
sacerdócio levítico (porque é sobre este que se funda a legislação dada ao povo), que necessidade havia ainda
de que surgisse outro sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, e não segundo a ordem de Aarão? Pois,
transferido o sacerdócio, forçoso é que se faça também a mudança da Lei. De fato, aquele ao qual se aplicam
estas palavras é de outra tribo, da qual ninguém foi encarregado do serviço do altar. E é notório que nosso
Senhor nasceu da tribo de Judá, tribo à qual Moisés de nada encarregou ao falar do sacerdócio. Isto se torna
ainda mais evidente se se tem em conta que este outro sacerdote, que surge à semelhança de Melquisedec, foi
constituído não por prescrição de uma Lei humana, mas pela sua imortalidade. Porque está escrito: Tu és
sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedec. Com isso, está abolida a antiga legislação, por causa
de sua ineficácia e inutilidade. Pois a Lei nada levou à perfeição. Apenas foi portadora de uma esperança melhor
que nos leva a Deus. E isso não foi feito sem juramento. Os outros sacerdotes foram instituídos sem
juramento. Para ele, ao contrário, interveio o juramento daquele que disse: Jurou o Senhor e não se
arrependerá: tu és sacerdote eternamente. E esta aliança da qual Jesus é o Senhor, é-lhe muito superior.”
(Hb 7, 1-22)

Assim, na última Ceia, Nosso Senhor, estabelece tanto o Sacramento da Eucaristia, como deixa
uma ordem (Sacramento da Ordem), que é a ordem do Rei Melquisedec, que é o oferecimento de
Pão e Vinho em Holocausto, que, após a consagração, não são mais, o que parecem, assumem a
substância de Corpo e Sangue de Cristo, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do Mundo.

Toda a liturgia da Igreja, gira em torno da Eucaristia, chamada nas Escrituras pelo termo, “fração
do Pão”:

“Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações.”
(At 2,42)

O Catecismo da Igreja católica, traz uma bela catequese sobre a Santa Missa, em um resumo de
tudo que apresentamos até aqui:

“Encontram-se no cerne da celebração da Eucaristia o pão e o vinho, os quais, pelas palavras de


Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo. Fiel à ordem do
Senhor, a Igreja continua fazendo, em sua memória, até a sua volta gloriosa, o que ele fez na véspera
de sua paixão: "Tomou o pão..." "Tomou o cálice cheio de vinho..." Ao se tomarem misteriosamente
o Corpo e o Sangue de Cristo, os sinais do pão e do vinho continuam a significar também a bondade
da criação. Assim, no ofertório damos graças ao Criador pelo pão e pelo vinho, fruto "do trabalho
do homem", mas antes "fruto da terra" e "da videira", dons do Criador. A Igreja vê neste gesto de
Melquisedec, rei e sacerdote, que "trouxe pão e vinho" (Gn 14,18), uma prefiguração de sua própria
oferta.”

“Na antiga aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as primícias da terra, em sinal
de reconhecimento ao Criador. Mas eles recebem também um novo significado no contexto do êxodo:
os pães ázimos que Israel come cada ano na Páscoa comemoram a pressa da partida libertadora
do Egito; a recordação do maná do deserto há de lembrar sempre a Israel que ele vive do pão da
Palavra de Deus. Finalmente, o pão de todos os dias é o fruto da Terra Prometida, penhor da
fidelidade de Deus às suas promessas. O "cálice de bênção" (1Cor 10,16), no fim da refeição pascal
dos judeus, acrescenta à alegria festiva do vinho uma dimensão escatológica: da espera messiânica
do restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu sua Eucaristia dando um sentido novo e definitivo
à bênção do Pão e do Cálice.”

“O milagre da multiplicação dos pães, quando o Senhor proferiu a bênção, partiu e distribuiu os pães
a seus discípulos para alimentar a multidão, prefigura a superabundância deste único pão de sua
Eucaristia. O sinal da água transformada em vinho em Caná já anuncia a hora da glorificação de
82

Jesus. Manifesta a realização da ceia das bodas no Reino do Pai, onde os fiéis beberão o vinho novo,
transformado no Sangue de Cristo.”

“O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, assim como o anúncio da paixão os


escandalizou: "Essa palavra é dura! Quem pode escutá-la?" (Jo 6,60). A Eucaristia e a cruz são pedras
de tropeço. É o mesmo mistério, e ele não cessa de ser ocasião de divisão. "Vós também quereis ir
embora?" (Jo 6,67). Esta pergunta do Senhor ressoa através dos séculos como convite de seu amor a
descobrir que só Ele tem "as palavras da vida eterna" (Jo 6,68) e que acolher na fé o dom de sua
Eucaristia é acolher a Ele mesmo.” (CatIC 1333 a 1336)

E seguindo a Tradição (“T” maiúsculo), a Igreja celebra, desde o século II, a Santa Missa, com as
mesmas principais características, até os nossos dias, seja na chamada “Missa Tradicional”
(Extraordinária), seja no Rito Novo atual (Ordinário):

A MISSA DE TODOS OS SÉCULOS:

“Desde o século II temos o testemunho de S. Justino Mártir sobre as grandes linhas do desenrolar da
Celebração Eucarística, que permaneceram as mesmas até os nossos dias para todas as grandes
famílias litúrgicas. Assim escreve, pelo ano de 155, para explicar ao imperador pagão Antonino Pio
(138-161) o que os cristãos fazem:” (CatIC 1345)

O Domingo:
"No dia 'do Sol', como é chamado, reúnem-se num mesmo lugar os habitantes, quer das cidades,
quer dos campos... (CatIC 1345)

As leituras:
Leem-se, na medida em que o tempo o permite, ora os comentários dos Apóstolos, ora os escritos
dos Profetas. (CatIC 1345)

A Homilia:
Depois, quando o leitor terminou, o que preside toma a palavra para aconselhar e exortar à imitação
de tão sublimes ensinamentos.

A seguir, pomo-nos todos de pé e elevamos nossas preces por nós mesmos (...) e por todos os outros,
onde quer que estejam, a fim de sermos de fato justos por nossa vida e por nossas ações, e fiéis aos
mandamentos, para assim obtermos a salvação eterna. (CatIC 1345)

A Paz de Cristo (Mais evidente no rito ordinário):

Quando as orações terminaram, saudamo-nos uns aos outros com um ósculo. (CatIC 1345)

Ofertório:
Em seguida, leva-se àquele que preside aos irmãos pão e um cálice de água e de vinho misturados.
(CatIC 1345)

Oração Eucarística:
Ele os toma e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, no nome do Filho e do Espírito Santo e
rende graças (em grego: eucharístia, que significa 'ação de graças') longamente pelo fato de termos
sido julgados dignos destes dons. Terminadas as orações e as ações de graças, todo o povo presente
prorrompe numa aclamação dizendo: Amém. (CatIC 1345)
83

Comunhão e Ação de Graças:


Depois de o presidente ter feito a ação de graças e o povo ter respondido, os que entre nós se chamam
diáconos distribuem a todos os que estão presentes pão, vinho e água 'eucaristizados' e levam
(também) aos ausentes".(CatIC 1345)

A Santa Missa, é a razão de toda nossa fé, ela nos toca em todos os nossos sentidos:

OS SENTIDOS:

1) Aos olhos: A liturgia é um espetáculo, com os movimentos, as imagens sacras, a arquitetura


das Igrejas, e toda a demanda visual.

2) Aos ouvidos: Desde sinete que movimenta o corpo do fiel e introjeta a solenidade do
momento, seguido do canto de entrada, as orações, a homilia e todos os demais cânticos.

3) Ao Tato: Os gestos do sacerdote, induz os fiéis aos mesmos gestos de reverência, o toque
das mãos postas, as genuflexões e vênias de saudação e o abraço da Paz uns nos outros.

4) O olfato: O cheiro das velas queimando, o cheiro do incenso advindo do turíbulo aceso, que
simboliza a purificação pelas nossas orações que sobe aos céus, e são entronizadas no
interior do ser, justamente pelas narinas.

5) O Paladar: Por fim, o sabor da Eucaristia, o pão muitas vezes somente, mas também o
vinho, quando administrada a Eucaristia sob as duas espécies. Ela abrange todas as
dimensões do ser humano:

A MISSA TOCA A INTEGRALIDADE DO SER HUMANO:

a) Dimensão Física:

Além de tocar todos os sentidos, em separado, a Liturgia convida o corpo inteiro à oração.
Pequenos detalhes, movimentos mínimos e simples. O fiel que assume no próprio corpo, uma certa
rigidez e prontidão, terá muito mais proveito durante a celebração. Os pequenos gestos, invisíveis
e impossíveis de serem reparados pelos demais, é a expressão de comunhão com Deus e com a
comunidade que reza, não a comunidade militante presente apenas, mas toda a comunidade
padecente e triunfante, no purgatório e no Céu, respectivamente.

A credência, pequena mesa que recebe os objetos litúrgicos, e as ofertas do pão e do vinho, antes
da consagração. É o símbolo do esforço humano, a pequena parte do ser humano no esforço divido
de salvar o mundo e toda a humanidade.

b) Dimensão Psicoafetiva:

A unidade dos cristãos, a sensação de não estar só, de fazer parte de algo maior, maior do que a
si mesmo, ser membro de uma comunidade, pessoas unidas em um só espírito e um só coração,
tendo as emoções tocadas pelos gestos, as músicas, as respostas em coro, conduz e induz cada
fiel, por sua vontade a se introjetarem nos ritos e se projetarem com a comunidade, assumindo a
missão da comunidade em acolher e partilhar, e este é um dos sentidos da oferta financeira
(Espórtula) que é feita no ofertório.

O ambão, ou “mesa da Palavra”, é a voz da Igreja, ali, a Sagrada Escritura, ganha o atributo literal
de Palavra de Deus, é o único momento em que a Palavra de Deus, Nosso Senhor, é ouvido de
forma efetiva e afetiva, falando aos seus filhos.
84

c) Dimensão Espiritual:

A Santa Missa é a RAINHA e MÃE de todas as orações. Sem a Santa Missa, nenhuma outra oração
teria sentido, nenhum outro sacramento teria valor, nenhum sacramental serviria de ícone simbólico
à Deus. Os efeitos de cada celebração são INFINITOS, ela perdoa, cura, liberta, protege, estimula,
motiva, provoca, enfim, une Céu e Terra, é o Céu na Terra, o Reino de Deus “já” presente, até o
último movimento quando retornamos ao dia a dia do Reino de Deus, que “ainda não” está mais
em nosso meio, até a próxima Missa.

O Altar, é o sinal máximo e espiritual, ali, o sacrifício perpétuo de Nosso Senhor acontece, tornando
o tempo em eternidade, a perdição em salvação, e a morte em vida. A Missa, vai ao fundo da alma,
e movimenta todas as suas potências.

A SANTA MISSA TOCA A ALMA:

I. Inteligência:

A Missa exige da inteligência a devida atenção. Os símbolos, gestos, os detalhes, tudo deve dizer
algo, se não se tem um sentido racional de tudo o que acontece, a Missa se torna um simples
teatro. Para não cairmos nesta tentação, é preciso conhecer as indumentárias do sacerdote, os
objetos litúrgicos e todo aparato, desde a porta da capela, até os gestos sublimes da oração
eucarística.

II. Vontade:

O Ato Penitencial, é o exercício da vontade que faz um exame de consciência e pede perdão. A
vontade, convidada pela razão e pelo sentido de todos os símbolos litúrgicos, converte-se na
vontade de Deus.

III. Sensibilidade:

Por meio dos sentidos, temos nossas emoções e sentimentos orientados ao centro da Celebração,
em um movimento de “sair de nós mesmos”, abandonando uma atitude egocêntrica, para
Cristocêntrica, reorganizando os sentimentos na direção do altar.

Não há no mundo, palavras que possam expressar a grandeza, a profundidade e a importância da


Santa Missa, não apenas para os católicos, mas para o mundo inteiro:

“Seria mais fácil o mundo sobreviver sem o Sol que sem a Santa Missa.” (São Padre Pio de
Pietrelcina)
85

LIÇÃO 11: VIDA DE ORAÇÃO - O DIA A DIA: ORAÇÕES


(VIA PURGATIVA - 1ª A 3ª MORADAS)
A vida de oração é feita de etapas, fases em que o fiel, partindo do abandono do pecado e saindo
de si, pela conversão, entra em um processo de intimidade com Deus, numa busca por Deus em
seu dia a dia.

MORADAS E GRAUS DE ORAÇÃO:

Importa dizer, que a conversão, é o movimento que ANTECEDE o primeiro passo para a vida de
oração. O PHN (Por Hoje Não) prega e estimula a todas a pararem de pecar: “Por Hoje Não vou
pecar”, mas este é o primeiro passo, é a metanóia. Quem se converte, não está inserido na vida
espiritual, é um pequeno olhar, comparado ao flerte que precede a conquista que chega ao namoro,
noivado e matrimônio. Mas, uma vez que a conversão acontece, o próximo passo, é a busca pelos
sacramentos, o primeiro e principal é o Batismo, mas para quem já tem o Batismo, mas está em
pecado, é a Confissão Sacramental, e a partir da confissão, e do combate ao pecado mortal, a
pessoa entre na via purgativa:

Graus de Oração:
Via Purgativa 1ª, 2ª e 3ª Moradas Oração vocal, Oração Mental, Oração
Afetiva e Oração de Simplicidade.

Como já falamos, o caminho de santidade ou vida interior, é constituída de três vias ou sete
moradas, em um movimento interior que parte da Oração vocal, até a Oração de União
Transformativa, numa escala de nove tipos de oração, a seguir, a título de conhecimento, estão as
demais vias para futuro aprofundamento pessoal de cada um, e deixamos aqui como referência
para tal, o livro Santidade para todos: descobrindo as moradas interiores de autoria de Flávio
Crepaldi, editora Canção Nova, um verdadeiro TESOURO.

Graus de Oração:
Via Iluminativa 4ª e 5ª Moradas Oração de Quietude, Oração de Simples
união Infusa e Oração de União Extatica.

Graus de Oração:
Via Unitiva 6ª e 7ª Moradas Oração Desposória (Noivado Espiritual) e
Oração Transformativa (Matrimônio
Espiritual).

“Tu, portanto, meu filho, procura progredir na graça de Jesus Cristo.”


(2 Tm 2,1)

VIA PURGATIVA:

A via purgativa, inicia com o combate ao pecado mortal, por isso, é importantíssimo um profundo,
completo e demorado exame de consciência, a prática Diária da oração vocal, mental e afetiva,
para quem sabe um dia, alcançarmos a oração de simplicidade.

Não é possível ter uma vida espiritual, estando em pecado mortal. Não importa a situação em que
você esteja, ou o tamanho de sua intenção e força de vontade, a Graça de Deus depende do seu
arrependimento para crescer e se mudar de Graça Atual, que atinge e alcança a todos, para Graça
86

Santificante, que é o dom gratuito de DIVINIZAÇÃO do ser humano. Como vimos, Deus quer
transformar você Nele mesmo. Mas como?

Para isso, você terá de colocar em prática, as virtudes (Morais e Teologais) e os Dons do Espírito,
que no sacramento da Crisma são derramados sobre os crismados:

DONS E VIRTUDES:

E por que essa diferença entre virtudes e dons? As virtudes são hábitos que predispõem o homem
para agir de acordo com a vontade de Deus, tendo Ele mesmo como meta. Consegue-se, assim, ter
força para se buscar o bem e evitar o mal. Os dons são mecanismos que permitem que Deus haja
em cada um, impulsionando rumo ao bem com clareza e movendo a inteligência e/ou a vontade. É
óbvio que este movimento é suave e não viola a liberdade humana, sendo necessário que cada um
o acolha e dê livre vazão para que possa acontecer. São as chamadas “inspirações” de Deus.
(CREPALDI; 2020)

Um hábito bom é uma virtude, um hábito mal é um vício. Mas o efeito não é o mesmo, se eu tenho
as virtudes, eu facilmente posso deixar de ser virtuoso, é um esforço permanecer virtuoso, porém,
o vício é algo que não exige esforço, e por isso podemos ver o que é mal e o que é bom. Se o mal
é uma ausência, o vício é a ausência de esforço, assim como o bem, é uma presença, a virtude é
a presença de esforço.

“As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e
da vontade que regulam nossos atos, ordenando nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a
fé. Propiciam, assim, facilidade, domínio e alegria para levar uma vida moralmente boa. Pessoa
virtuosa é aquela que livremente pratica o bem. As virtudes morais são adquiridas humanamente.
São os frutos e os germes de atos moralmente bons; dispõem todas as forças do ser humano para
entrar em comunhão com o amor divino.” (CatIC 1804)

Então, sem o auxílio da Graça de Deus, não há virtude, portanto, o primeiro passo para a conquista
das virtudes, é a oração, e não apenas uma reza, mas a vida de oração, uma oração diária,
contínua, permanente, insistente, perseverante e constante, pois quando estamos em oração,
estamos abertos à ação da Graça de Deus em nós, porém, quando nos fechamos à oração, até
mesmo atitudes que parecem virtuosas, não são virtude.

Um assaltante, que se prepara para um roubo, precisa de preparo, de organização e planejamento,


isso tudo exige esforço, e até atitudes aparentemente virtuosas, como a diligência, o empenho, a
disciplina, enfim, muitas “virtudes”, porém, como o fim, não é algo bom, então, não estamos falando
de virtudes, mas de obstinação. Há quem seja extremamente obstinado em fazer o mal, o demônio
é obstinado em nos fazer pecar, assim, há que tenha transformado o pecado em um projeto de
vida, e terminou obstinado. A pessoa vai aprimorando o seu próprio pecado, cada dia vai
adestrando o próprio corpo, mente e até a alma para o pecado. Quão terrível é a obstinação no
pecado.

VIRTUDES CARDEAIS:

“Quatro virtudes têm um papel de "dobradiça" (que, em latim, se diz "cardo, cardinis"). Por esta razão
são chamadas "cardeais": todas as outras se agrupam em torno delas. São a prudência, a justiça, a
fortaleza e a temperança. "Ama-se a retidão? As virtudes são seus frutos; ela ensina a temperança e
a prudência a justiça e a fortaleza" (Sb 8,7). Estas virtudes são louvadas em numerosas passagens
da Escritura sob outros nomes.” (CatIC 1805)
87

1. Temperança:

Temperança, vem de tempero, ou moderação, o que é um clima temperado? É um clima agradável,


não está nem tão frio nem tão quente. O destempero, é a queda aos extremos, por exemplo a
relação do homem com a comida, pois, se come demais, pode morrer por isso, e se come de
menos, também pode. O Sexo, a mesma coisa, logo, o excesso de sexo, pode levar à morte e
deixar de fazer sexo, toda a humanidade pode deixar de existir. O destemperado, perde sua
capacidade de desejar o que é bom no mundo, como um carro, que precisa ter o freio e o
acelerador, um carro só com freio, não sai do lugar, assim como um carro apenas com acelerador,
irá andar por pouco tempo e logo irá bater.

“A temperança é a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso
dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos
limites da honestidade. A pessoa temperante orienta para o bem seus apetites sensíveis, guarda uma
santa discrição e "não se deixa levar a seguir as paixões do coração". A temperança é muitas vezes
louvada no Antigo Testamento: "Não te deixes levar por tuas paixões e refreia os teus desejos" (Eclo
18,30). No Novo Testamento, é chamada de "moderação" ou "sobriedade". Devemos "viver com
moderação, justiça e piedade neste mundo" (Tt 2,12).” (CatIC 1809)

2. Prudência:

Prudência é a virtude que nos ajuda a enxergar o mundo como ele é... Sem nos deixar levar pelas
ideologias, pelas histerias, pelas nossas opiniões, pelas agitações, pelas distorções do relativismo
e filosofias que mascaram a mentira através de meias verdades. Muitos confundem com a
“autopreservação” ou “respeito humano” e até com prevaricação, mas a prudência não é uma
inação, é na verdade, saber responder uma simples pergunta: “Isso irá me levar ao fim que almejo?”
E caso positivo, fazer, caso negativo não fazer. Então, qual é o fim que você almeja? Se a resposta
não for o Céu e a Salvação, você é um imprudente.

“A prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, nosso
verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo. "O homem sagaz discerne os seus
passos" (Pr 14,15). "Sede prudentes e sóbrios para entregardes às orações" (1 Pd 4,7). A prudência é
a "regra certa da ação", escreve Sto. Tomás citando Aristóteles. Não se confunde com a timidez ou o
medo, nem com a duplicidade ou dissimulação. É chamada "auriga virtutum" ("cocheiro", isto é
"portadora das virtudes"), porque, conduz as outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida. É a
prudência que guia imediatamente o juízo da consciência. O homem prudente decide e ordena sua
conduta seguindo este juízo. Graças a esta virtude, aplicamos sem erro os princípios morais aos
casos particulares e superamos as dúvidas sobre o bem a praticar e o mal a evitar.” (CatIC 1806)

3. Fortaleza/coragem:

Fortaleza, é a virtude da coragem, é o bom uso da ira, da vontade irascível. A boa ira é como um
cão de guarda que “late” quando nota que a alma está para ser invadida pelo demônio. A paz, não
é ausência de guerra, por isso é a ira uma energia interior que nos faz buscar as coisas do alto.

O Reino do Céu, é dos violentos, por isso, a fortaleza, é o bom uso da ira. Quando se busca por
uma força interior, parece que se busca uma ira, uma raiva interior, um tônus que nos impulsiona.
A coragem é o embate do mal, o combate contra o que é mal e maligno, se não houvesse o mal no
mundo, não haveria a virtude da fortaleza. A coragem suprema é dar a vida pela vida eterna. O
medo também é um dom de Deus, pois é preciso que haja o medo de perder a salvação, de perder
Deus, que é o Temor de Deus, o temor de Deus, é o medo do inferno. O corajoso, não é aquele
que não tem medo, mas é aquele que tem o “medo certo”, ele tem uma ordem nos temores. Todos
tememos morrer, mas há mais medo em ofender a Deus, do que de perder a vida.
88

“A fortaleza é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura
do bem. Ela firma a resolução de resistir às tentações e superar os obstáculos na vida moral. A virtude
da fortaleza nos torna capazes de vencer o medo, inclusive da morte, de suportar a provação e as
perseguições. Dispõe a pessoa a aceitar até a renúncia e o sacrifício de sua vida para defender uma
causa justa. "Minha força e meu canto é o Senhor" (Sl 118,14). "No mundo tereis tribulações, mas
tende coragem: eu venci o mundo" (Jo 16,33).” (CatIC 1808)

4. Justiça:

Justiça é a virtude que diz respeito ao relacionamento do indivíduo com os outros seres, é quando
a inteligência, vontade e sensibilidade (desejo), estão equilibrados pelas virtudes anteriores, e a
justiça é dar a cada um aquilo que lhe é devido. Ter a virtude da justiça, é quando a pessoa, sem
grandes esforços, dá a cada um o que lhe é devido. O exercício da justiça é diferente de ser justo.
Um ato de justiça não é a virtude da justiça, o hábito dos atos justos é a virtude da justiça. O hábito,
a virtude, é uma segunda natureza, é algo que se faz sem pensar. Um ato justo, não torna ninguém
justo, porém, a sucessão e constante opção por realizar o que é justo, aí temos uma pessoa com
a virtude da justiça.

“A justiça é a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o
que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se "virtude de religião". Para com os homens, ela
nos dispõe a respeitar os direitos de cada um e a estabelecer nas relações humanas a harmonia que
promove a equidade em prol das pessoas e do bem comum. O homem justo, muitas vezes
mencionado nas Escrituras, distingue-se pela correção habitual de seus pensamentos e pela retidão
de sua conduta para com o próximo. "Não favoreças o pobre, nem prestigies o poderoso. Julga o
próximo conforme a justiça" (Lv 19,15). "Senhores, dai aos vossos servos o justo e equitativo, sabendo
que vós tendes um Senhor no céu" (Cl 4,1).” (CatIC 1807)

VIRTUDES TEOLOGAIS:

Nós somos todos merecedores do inferno, nós não temos nenhum merecimento para um dia irmos
aos Céus. Não importam nossas devoções, nossas liturgias, nossas orações e muito menos as
virtudes, somos salvos, porque Deus nos ama, e por isso nós respondemos, e nossa resposta
são as três virtudes teologais.

“As virtudes humanas se fundam nas virtudes teologais que adaptam as faculdades do homem para
que possa participar da natureza divina. Pois as virtudes teologais se referem diretamente a Deus.
Dispõem os cristãos a viver em relação com a Santíssima Trindade e têm a Deus Uno e Trino por
origem, motivo e objeto.” (CatIC 1812)

Estas são as três virtudes teologais, nós cremos (Fé) que somos amados, esperamos (Esperança)
conseguir amar, e por fim, amamos (Caridade).

“As virtudes teologais fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão. Informam e
vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para torná-los capazes
de agir como seus filhos e merecer a vida eterna. São o penhor da presença e da ação do Espírito
Santo nas faculdades do ser humano. Há três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade.”
(CatIC 1813)

I. Fé:

A primeira virtude teologal que Deus suscita com a graça, e o ser humano precisa acolhê-la e
desenvolvê-la, se chama Fé. Ela trabalha sobre a inteligência humana, fazendo com que possamos
conhecer Deus e aceitar Sua Revelação. Portanto, nossa obrigação é nutrir e fomentar a nossa Fé
ao máximo e pedir a Fé em oração. Esta é a oração que Deus nunca nega.
89

“Se meu povo, sobre o qual foi invocado o meu nome, se humilhar, se procurar minha face para orar, se
renunciar ao seu mau procedimento, escutarei do alto do céu e sanarei sua terra.”
(2Cr 7,14).

Aumentar o conhecimento de Deus e das coisas de Deus. Se a Fé trabalha na inteligência, quanto


mais procurarmos conhecer sobre Deus, mais ela se desenvolverá. Assim, é necessário estudar as
verdades de Fé no Catecismo; entender os ritos e sacramentos dos quais se participa ou usa, ou
seja, aumentar a cultura religiosa; estudar a vida dos Santos, que são exemplos reais e concretos
de Fé que engrandecem e estimulam.

A virtude da fé, faz parte da natureza do homem. CRER, nós nascemos para crer! A falta de fé é
uma doença espiritual, a desconfiança, torna a vida doente, pois não é possível viver sem crermos
uns nos outros e em nós mesmos. A fé teologal, que é a fé em Deus, é tão vital quanto a fé humana,
pois sem ter fé, na bondade e no amor de Deus, é impossível haver um relacionamento com Deus,
e sem este relacionamento a salvação se torna impossível.

Se as pessoas que nos amam, nos conhecessem como nós nos conhecemos, talvez não nos
amassem, mas Deus, nos conhece e nos ama como somos, daí vem esta desconfiança, “será que
Deus me ama?”, “será que Ele é realmente providente?” Crer no amor de Deus, não é sentir o amor
de Deus. Não é pelos sentimentos que sabemos que Deus nos ama, é com a inteligência que
sabemos, e decidimos, ser e viver sendo amados. Um ato de fé, não é a virtude da fé, apenas o
exercício da fé, por meio de muitos e muitos atos de fé, é a virtude da fé, é a firme certeza de ser
amado e que este amor é o que nos move. Colocar-se em oração, é um ato de fé, quem não tem
vida de oração, não irá crescer na virtude da fé.

“O discípulo de Cristo não deve apenas guardar a fé e nela viver, mas também professá-la,
testemunhá-la com firmeza e difundi-la: "Todos devem estar prontos a confessar Cristo perante os
homens e segui-lo no caminho da Cruz, entre perseguições que nunca faltam à Igreja. O SERVIÇO E
O TESTEMUNHO DA FÉ SÃO REQUISITOS DA SALVAÇÃO: "Todo aquele que se declarar por mim
diante dos homens também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos céus. Aquele,
porém, que me renegar diante dos homens também o renegarei diante de meu Pai que está nos céus"
(Mt 10,32-33).” (CatIC 1816)

II. Esperança:

Se nós chamamos a atenção de alguma pessoa, é porque esperamos que ela mude. Nós
precisamos crer que Deus nos ama, e nos amando, nós precisamos admitir que, por Ele, somos
capazes de amar, mas diante desta realidade, temos dois vícios/pecados comuns:

Desespero: o primeiro é o desespero de quem não consegue esperar que um dia consiga amar;
Presunção: o segundo é a presunção de quem acha que já ama por completo.

É necessário que eu olhe para mim, admita minha fraqueza e incapacidade, mesmo assim, acredite
e espere, que, pela vontade de Deus, eu consiga amar.

“A virtude da esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo
homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as, para ordená-las
ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento em todo esmorecimento; dilata o coração
na expectativa da bem-aventurança eterna. O impulso da esperança preserva do egoísmo e conduz
à felicidade da caridade.” (CatIC 1818)

Mas sem o exercício da Fé, não se tem Esperança:


90

“A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê.”


(Hb 11,1)

A Esperança se torna mais firme e convicta, na mesma medida em que nos aprofundamos no
conhecimento de Deus, sem a Fé, não há esperança!

III. Caridade:

A caridade é a CURA DEFINITIVA, é a única virtude eterna, pois no Céu, não haverá necessidade
de nenhuma virtude:

1. Não precisa de esperança, porque já teremos recebido o que esperamos;


2. Não precisa crer porque já veremos face a face o que acreditávamos;
3. Não precisa de justiça pois no céu a justiça já aconteceu para todos;
4. Não precisa de fortaleza e coragem porque o mal não é mais um problema;
5. Não há necessidade de temperança, porque nossos desejos e sentimentos estarão
pacificados;
6. Não precisaremos da prudência pois já teremos conhecido a verdade como ela é.

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou
como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a
ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou
nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo
para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem
inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses,
não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa,
tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das
línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando
chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como
criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como
por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei
totalmente, como eu sou conhecido. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a
maior delas é a caridade.”
(1 Cor 13, 1-13)

O Amor, não passará, diz São Paulo, por outro lado, a caridade plena, só quem conheceu foi Jesus
e Nossa Senhora, nem os santos de sétima morada, conheceram a plenitude do amor, pois é
apenas no Céu que ela se realizará em plenitude.

E o que é caridade? Neste mundo, a prática da caridade tem um nome, é sacrifício, no Céu, a
prática da caridade tem outro nome, é glória. Quem se perder, irá ganhar, mas quem ganhar, irá
se perder. Morrer para si mesmo, a plenitude do amor é viver para o outro, na sua totalidade e
plenitude, e este outro é o próprio Deus, vivo o presente no próximo. Sem sair de si mesmo, sem
renunciar a si mesmo, sem morrer para si mesmo, ninguém conhecerá o amor.

“A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a
nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.” (CatIC 1822)

Mas atenção, o amor que nos salva, o amor salvífico, é o amor que nós recebemos de DEUS, pois
se a salvação consistisse em amarmos, isso seria impossível, apenas quem ACOLHE o amor de
Deus, é capaz de amar, e ser santo é amar a Deus, acima de todas as coisas, tratando o próximo
como a si mesmo. Na luta diária contra o pecado mortal, por meio da oração, penitência, Confissão,
Eucaristia e a Palavra de Deus, que são as 5 pedrinhas da vida espiritual. (Próximo Capítulo)
91

A CURA DEFINITIVA:

Dissemos que o amor, a caridade, é a CURA DEFINITIVA. Quando o Pe. Léo, aos 45 anos teve o
diagnóstico de câncer metastático e terminal no início de 2006, todos nós que o amávamos, a
Comunidade Bethânia, a Comunidade Canção Nova e toda a Renovação Carismática Católica,
milhões de católicos pelo Brasil e pelo Mundo, levantou um grande clamor aos Céus, pedindo pela
cura daquele que foi o canal para a cura de tantos e tantos corações.

No Hosana Brasil de 2006, Padre Léo, então com pouco mais de 40 quilos, pele enegrecida pela
quimioterapia e medicamentos paliativos, surdo de um dos ouvidos pelo efeito colateral dos
medicamentos, e tendo os seus fabulosos olhos azuis enegrecidos e empalidecidos, fazendo sua
última pregação pública no palco da Canção Nova, disse que estava completamente curado e agora
esperava o que Deus tinha para sua vida... No dia 4 de Janeiro de 2007, ele faleceu.

Em uma nota de consolo a todos os brasileiros e católicos pelo mundo que o amavam, seus
confrades do Sagrado Coração de Jesus, emitiram uma nota que dizia que o Pe. Léo Tarcísio
Gonçalves Pereira, havia recebido de Deus a CURA DEFINITIVA, que é o abraço de Deus... a
morte! Você está preparado para a CURA DEFINITIVA?

VIRTUDES E TENTAÇÕES:

A seguir, temos um quadro onde contém a Virtude, a tentação e a atitude virtuosa:

VIRTUDE TENTAÇÃO ATITUDE


Justificar-se com o próprio temperamento, Contrariar o próprio temperamento e usar de
Temperança
desequilíbrio nos prazeres da vida. tudo com reverência e moderação
Entregar-se às ideologias e preocupar-se Fixar-se na realidade evitando a própria
Prudência com a própria imagem e tendo como opinião, fazendo tudo respondendo a
objetivo finalidades materiais. questão: “Isso irá me levar para o Céu?”
Entregar-se à ira, reagir ante os
Direcionar a ira contra o próprio pecado, agir
Fortaleza/ acontecimentos, ter medo e entregar-se a
com inteligência e firmeza ante as tentações
Coragem ele e à covardia, procrastinação e
e situações da vida.
omissão.
Considera como justo todas as abjeções,
Vitimismo, não cumprir com os deveres de humilhações e fatos negativos que nos
Justiça
seu estado e qualquer apego às pessoas. acometem. Cumprir o seu estado de vida e
dar a cada um o que é devido.
Estudo constante e permanente,
Fé Desinformação e Descuido na Catequese
participação assídua da liturgia.
Desespero (não é possível ser santo) e
Presunção (Todos serão salvos pois não
existe o inferno); A vida de oração em si, é a única atitude
O desespero é proveniente da Acídia capaz de fazer crescer a esperança de um
(preguiça espiritual) e luxúria (amor a tudo dia sermos capazes de amar.
Esperança o que é material);
A Presunção é proveniente da soberba Confiar que Deus pode tirar de todo mal um
(dizer que sabe mais do que Deus) e a bem maior pois não há mal, mesmo os que
vanglória (dizer que merece ter sempre o nós fazemos, que Deus não possa reparar.
bom e o melhor, não importando como se
aja).
O serviço ao próximo, por amor a Deus,
Caridade O pecado Mortal (Qualquer um)
enfim, a vida devota.
92

LIÇÃO 12: VIDA DE ORAÇÃO - AS CINCO PEDRINHAS


(SANTO ROSÁRIO)
“O rei vestiu Davi com sua armadura, pôs-lhe na cabeça um capacete de bronze e
armou-o de uma couraça. Davi cingiu a espada de Saul por cima de sua
armadura e tentou andar com aquela equipagem inusitada. Mas disse a
Saul: “Não posso andar com isso, pois não estou habituado!”. E,
tirando a armadura, tomou seu cajado e escolheu no regato cinco
pedras lisas, pondo-as no alforje de pastor que lhe servia de bolsa.
Em seguida, com a sua funda na mão, avançou contra o filisteu. De
seu lado, o filisteu, precedido de seu escudeiro, aproximou-se de
Davi, mediu-o com os olhos e, vendo que era jovem, louro e de
delicado aspecto, desprezou-o. Disse-lhe: “Sou eu algum cão, para vires a
mim com um cajado?”. E amaldiçoou-o em nome de seus deuses. “Vem – continuou ele – e eu darei a tua carne
às aves do céu e aos animais da terra!” Davi respondeu: “Tu vens contra mim com espada, lança e escudo; eu,
porém, vou contra ti em nome do Senhor dos exércitos, do Deus das fileiras de Israel, que tu insultaste. Hoje
mesmo, o Senhor te entregará nas minhas mãos. Eu vou te matar, vou cortar tua cabeça. E darei os cadáveres
do exército dos filisteus às aves do céu e aos animais da terra. Toda a terra saberá que há um Deus em Israel; e
toda essa multidão saberá que não é com a espada nem com a lança que o Senhor triunfa, pois a batalha
é do Senhor e ele vos entregou em nossas mãos!”.
(1 Sm 17, 38-47)

Este texto, conta como Davi, pastor de ovelhas, franzino e jovem, venceu o experiente Golias,
treinado para batalhas desde a mais tenra infância, que já havia matado centenas de soldados em
campo de batalha e saído ileso, devido sua força, altura e técnica de batalha.

Davi, é a figura de Cristo, mais precisamente, do Menino Jesus no seio da Virgem Maria ou no
presépio em Belém. E Golias, é certamente a figura do demônio, do mundo e dos dominadores do
mundo. Davi vence, mas tinha tudo para perder, assim como Nosso Senhor, humanamente falando,
perde, mas venceu:
“Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o
mundo.”
(Jo 16,33)

ACIMA DE TUDO, O AMOR:

Bom, agora é a nossa vez... Davi, venceu o gigante Golias, e usou para isso, apenas sua habilidade
em arremessar pedras, Nosso Senhor, venceu o Mundo, e usou para isso, algo tão simples quanto
as pedrinhas... usou o amor.

“O Amor, é a única força capaz de transformar as pessoas” (Pe. Léo)

“O Amor é a única força capaz de mudar o mundo” (Papa Bento XVI)

“Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.”
(1 Jo 4,8)

Antes de entrarmos nas sugestões práticas a seguir, é um IMPERATIVO entendermos, que TUDO,
absolutamente TUDO que está proposto a seguir, deve ser precedido pelo amor, pois como vimos,
93

Deus é amor, e ser santo, consiste em amar. Nenhuma prática será capaz de nos tornar santos,
por outro lado, qualquer prática nos tornará santos, se for motivada pelo amor, pela devoção:

“Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se
corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em
ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos.” (Santo Agostinho)

“Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse
toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver AMOR, não sou nada. Ainda que distribuísse todos
os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver
AMOR, de nada valeria!”
(1 Cor 13, 2s)

Sem amor, de nada vale o estudo! Sem amor de nada valem as orações! Sem amor, de nada vale
a frequência à Santa Missa! Sem amor, de nada vale! ABSOLUTAMENTE NADA. Esta é a
conclusão do Doutor da Igreja, São Francisco de Sales, que tem dois livros inteiros, um dedicado
ao Amor (Tratado do Amor de Deus - Teótimo) e outro dedicado à Devoção (Introdução a vida
devota - Filotéia), onde ele ensina:

“A verdadeira devoção, Filotéia, pressupõe o amor de Deus, ou, melhor, ela mesma é o mais perfeito
amor a Deus. Esse amor chama-se graça, porque enfeita a nossa alma e a torna bela aos olhos de
Deus. Se nos dá força e vigor para praticar o hem, assume o nome de caridade. E, se nos faz praticar
o bem frequente, pronta e cuidadosamente, chama-se devoção e atinge então ao maior grau de
perfeição... Numa palavra, a devoção não é nada mais do que uma agilidade e viveza espiritual, da
qual ou a caridade opera em nós, ou nós mesmos, levados pela caridade, operamos todo o bem de
que somos capazes. A caridade nos faz observar todos os mandamentos de Deus sem exceção; e a
devoção faz com que os observemos com toda a diligência e fervor possíveis. Todo aquele, portanto,
que não cumpre os mandamentos de Deus não é justo e, muito menos, devoto; para se ser justo, é
necessário que se tenha caridade e, para se ser devoto, é necessário ainda por cima que se pratique
com um fervor vivo e pronto todo o bem que se pode. E como a devoção consiste essencialmente
num amor purificado, ela nos impele e incita não somente a observar os mandamentos da lei de
Deus, pronta, ativa e diligentemente, mas também a praticar as boas obras, que são apenas
conselhos ou inspirações particulares.” (Introdução a vida devota, Parte 1; Capítulo 1, São Francisco
de Sales)

A devoção, é o aprimoramento do amor:

No namoro, somos jovens, e nos aproveitamos uns dos outros, pela beleza, pela afinidade ou seja,
pelos prazeres que o namorado(a) nos oferece. No noivado, o oferecimento é maior, mas ainda há
beleza, prazeres e muitas afinidades que vamos descobrindo, isto, faz aumentar nossa dedicação
ao outro. No casamento, temos já o ápice dos prazeres, uma dedicação mais intensa. Porém, com
o tempo, a beleza vai diminuindo, as capacidades também e no fim, um terá de cuidar do outro.

Na vida espiritual é a mesma coisa. Nos primeiros tempos da conversão, queremos receber os
consolos de Deus, e nos dedicamos a Ele. Com o início da vida de oração, esta dedicação aumenta,
os consolos também aumentam. Porém, no matrimônio espiritual, as consolações nos são tiradas,
não temos muito ânimo para a oração, mas é justamente neste período que a devoção deve
aumentar. Devoção, não tem nada a ver com sentimentos, com consolação ou com a quantidade
de práticas devocionais. Ser devoto, é ser constante (fervoroso) na oração.

Vemos que uma mulher é dedicada ao seu esposo, quando ela capricha na maquiagem, na roupa
que veste, no modo como anda e assim por diante. Vemos como um homem é dedicado à sua
94

mulher, pelo cuidado que ele tem com ela, com as inseguranças que ela tem, pelo esforço com que
ele trabalha e cuida da casa.

Vemos o quanto temos devoção, pelo carinho com que fazemos uma oração. Pela atenção que
temos ao realizar a leitura orante das Sagradas Escrituras. Pelo modo como nos vestimos. Pela
nossa posição e disposição em recitar uma oração. Pela concentração que temos durante a Santa
Missa. Pelo cuidado que temos durante a comunhão. Pela reverência que temos aos objetos
sagrados. Pelo carinho que tratamos as imagens e objetos sacros. Pela importância que damos
aos temas ligados a Deus e a Igreja. Pela prontidão que temos em servir o próximo. Pela veneração
que temos às Igrejas.

Tudo isso, são práticas devocionais que até podem ser fingidas, por isso, o principal é o AMOR.

O QUE SÃO AS 5 PEDRINHAS?

Na década de 1980, deram-se início a supostas aparições em Medjugorje no Sul da Bósnia e


Herzegovina, onde alegadamente estão ocorrendo aparições da Virgem Maria. Estas aparições
marianas tiveram início em 24 de junho de 1981, tendo tido, nos primeiros meses, uma frequência
diária, e posteriormente passado a aparições mensais ou anuais (dependendo dos videntes). Entre
os videntes, encontram-se seis pessoas nascidas nos arredores da localidade e a quem Nossa
Senhora teria se apresentado como "Rainha da Paz". A Igreja ainda não tem um posicionamento
oficial sobre as aparições, existe muita polêmica sobre o assunto, porém, um posicionamento
oficial, só será dado, após o término das aparições.

Mas as 5 pedrinhas, é parte de uma das mensagens que os videntes deram, e como é um conteúdo
edificante, independente da origem (sendo ou não aparições verdadeiras e reconhecidas),
podemos então, colocá-los em prática, pois são a síntese de um excelente método de vida de
oração: Simples, Fácil e Eficaz.

1. Jejum: Todas as quartas e sextas feiras;


2. Oração do Rosário: Todos os dias;
3. Confissão: Ao menos uma vez no mês, de preferência no 1º. Sábado;
4. Eucaristia: Comunhão frequente em estado de Graça (tendo confessado) – Comunhão
Espiritual se não se pode comungar;
5. Leitura da Sagrada Escritura: Todos os dias (Lectio Divina).

Estes cinco hábitos, simples, são o suficiente para vencermos o Golias em nosso dia a dia, e me
entendam bem, não estamos falando de coisas retóricas ou abstratas, mas estamos falando do
combate diário contra os três inimigos que temos (a carne, o mundo e o demônio).

O Jejum nas quartas e sextas, fazem memória à Quarta-Feira de Cinzas, que precede a quaresma,
e a Sexta-Feira Santa, que marca o início do Tríduo Pascal. A confissão, precisa ser bem-feita,
precedida de um profundo exame de consciência, nunca devemos ficar guardando pecados
mortais, pois como vimos, o combate ao pecado mortal, é o primeiro movimento para entrar nas
primeiras moradas. A Comunhão em estado de graça e a participação consciente da Santa Missa,
bem como a Lectio Divina das Sagradas Escrituras. Por fim, e não menos importante, a meditação
contemplativa do Santo Rosário.

O SANTO ROSÁRIO:

Conforme a tradição, o Rosário está atrelado ao hábito monástico de fazer preces, contando uma
a uma, com as mãos, nos dedos, ou com pedrinhas, para não perder a quantidade de vezes que
95

se tenha recitado as preces. Os monges também, rezavam e cantavam os 150 Salmos, e o povo,
para imitar os monges, rezavam no lugar, 150 Pai Nossos ou Ave-Marias.

Até o século XVI, o Rosário consistia em um determinado número de rezas de Ave Marias e Pai
Nossos, que variava de região para região, mas sempre meditando trechos curtos do Evangelho,
contando a vida de Nosso Senhor, para fixação do povo em geral, e um meio de louvor à Santíssima
Virgem.

São Domingos de Gusmão, popularizou o Rosário, divulgando-o, principalmente como meio de


decorar a vida de Nosso Senhor, uma vez que o alcance das Sagradas Escrituras, ficava restrito
às Igrejas e o acesso não era fácil. O povo logo aceitou e o rosário passou a ser composto de 150
Ave Marias, e 15 Pai Nossos intercalados.

A forma do rosário, foi definida pelo Papa São Pio V (1566-1577), que era Dominicano, herdeiro
espiritual de São Domingos de Gusmão. Um Credo, um Pai Nosso, três Ave Marias e o Glória,
depois disso, meditavam-se os mistérios da Vida de Nosso Senhor, seguida de um Pai Nosso e 10
Ave Marias, ao final, reza-se uma Salve Rainha.

LEPANTO:

Houve em 7 de Outubro de 1571, uma batalha, chamada “Batalha de Lepanto”, em que a armada
católica, mesmo em desvantagem numérica, venceu a investida Otomana e a tentativa de tomar o
mediterrâneo e impor à cristandade a religião muçulmana.

O Papa São Pio V, como vigário de Cristo e pastor de suas ovelhas, percebeu o avanço marítimo
do Império Otomano, e movimentou reis opositores (A Itália estava ainda dividida) e países inimigos
(Espanha), a se unirem contra uma ameaça externa. Em meio a batalha, os navios católicos
estavam em tremenda desvantagem, mas eis que surge no Céu, a imagem da Virgem Maria, o
vento muda, e o enfileiramento dos barcos otomanos, representou uma oportunidade para os
experientes combatentes católicos.

Um detalhe muito importante, na galera da caravela principal da frota católica, havia uma réplica
da Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, que havia aparecido a um índio asteca e que tinha
milagrosamente livrado a terra do México dos sacrifícios humanos em honra do “deus serpente” e
promovido a conversão em massa de mais de 15 milhões de indígenas às fileiras dos fiéis católicos.
Falaremos especificamente disso mais adiante.

O Papa São Pio V, durante uma reunião, se levanta e começa a rezar o Santo Rosário, em uma
atitude de intercessão, ao término da oração, o santo disse que os católicos haviam vencido. Alguns
dias depois, a notícia da vitória chegou. O papa instituiu a festa de Nossa Senhora do Rosário (7
de Outubro), e o título de Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos, tornou-se conhecido no mundo todo.

Desde então, muitas aparições de Nossa Senhora, foram vistas com ela trazendo o Santo Rosário
nas mãos, e exortando a todos a rezarem o Rosário. Dentre as mais famosas destacamos as
aparições a Santa Bernadette, na gruta de Massabielle, em Lourde (França) e as aparições aos
três pastorinhos, Santa Jacinta, São Francisco e a Irmã Lúcia, na Cova da Iria, em Fátima
(Portugal). Estas duas aparições possuem sinais miraculosos, como o corpo incorrupto de Santa
Bernadette Soubirous, que até hoje pode ser visto desde 1879, e o milagre do Sol, em que o Sol
“dança” e foi testemunhado por mais de 70 mil pessoas, dentre autoridades, jornalistas, cientistas
e céticos.

O papa Leão XIII, declarou o mês de Outubro, como o mês do Rosário, e concedeu indulgências
para quem rezasse o Rosário em público, em comunidade e em família. Todos os Papas desde
96

então, sempre enalteceram o Santo Rosário, até que São João Paulo II, em 2000, alterou a sua
composição, adicionando os mistérios luminosos da Vida de Jesus. Fazendo a sugestão, de após
o nome de Jesus, em cada Ave-Maria, fosse proclamada a ação referente ao mistério contemplado.
Pediu ainda, que os fiéis, rezassem o Rosário, não apenas contemplando de forma imaginativa,
mas olhando para uma imagem, foto ou representação do mistério contemplado.

São João Paulo II, era um fervoroso devoto de Nossa Senhora, admitindo ter se consagrado como
“escravo de Jesus, pelas mãos de Maria” pelo método devocional de São Luiz Maria Grigmon de
Montfort, autor do livro: “O tratado da verdadeira devoção a Santíssima Virgem”. Livro que contém
um aprofundado estudo da Mariologia (parte da teologia que estuda as verdades da fé referentes
a Maria de Nazaré). O Santo Rosário, condensa o maior mandamento de Maria:

Disse, então, sua mãe aos serventes: “Fazei o que ele vos disser”.
(Jo 2,5)

No Rosário, contemplamos a vida de Cristo, desde seu nascimento, até o final dos tempos, quando
contemplamos a coroação de Maria, como Rainha do Céu e da Terra. Todos os mistérios são
trechos bíblicos tirados diretamente de passagens específicas da vida do Senhor. O então, papa
Bento XVI, em 2012 disse, referindo-se ao Santo Rosário:

“A oração mais querida pela Mãe de Deus e que conduz diretamente a Cristo... O Rosário é a oração
bíblica, totalmente tecida pela Sagrada Escritura. É uma oração do coração, em que a repetição da
‘Ave Maria’ orienta o pensamento e o afeto para Cristo. É oração que ajuda a meditar a Palavra de
Deus e a assimilar a Comunhão eucarística, sob o modelo de Maria que guardava em seu coração
tudo aquilo que Jesus fazia e dizia, e sua própria presença”.

Em 7 de Outubro de 2020, durante a crise sanitária em que o mundo estava submerso, o Papa
Francisco exortou:

“O rosário é a oração mais bela que podemos oferecer a Nossa Senhora. Porque é uma contemplação
das etapas da vida de Jesus Salvador com a sua Mãe, Maria. Pela intercessão de Nossa Senhora do
Rosário, Nosso Senhor nos permita crescer no caminho da oração para vivermos em intimidade com
Ele. E faça que, nestes tempos de pandemia, a nossa vida seja um serviço amoroso a todos os nossos
irmãos e irmãs, em especial àqueles que se sentem abandonados e desprotegidos. Nas suas
aparições, Nossa Senhora exortava frequentemente a rezar o terço, especialmente diante das
ameaças iminentes sobre o mundo. E também hoje é necessário mantermos o terço nas mãos, rezá-
lo por nós, pelos nossos entes queridos e por todas as pessoas. Peçamos, pela intercessão de Nossa
Senhora do Rosário, a graça de ser homens e mulheres íntegros e dignos de fé. Assim, na oração, o
Senhor unirá cada um de nós à Sua vida e nos dará paz e serenidade. Peguem o terço nas mãos
todos os dias! E ergam o olhar para Nossa Senhora! Porque ela é sinal de consolação e esperança
certa. Que a Virgem Santa, então, ilumine e proteja toda a peregrinação da vida de vocês até à Casa
do Pai! Ao meditarmos os mistérios da salvação, de fato, revela-se cada vez mais a nós o rosto de
amor do próprio Deus, que estamos chamados a contemplar na eternidade. Que Nossa Senhora seja
nossa guia segura no caminho para o Senhor. Redescubram, principalmente neste mês de
outubro, a beleza da oração do terço. Ao longo dos séculos, afinal, ele vem alimentando a fé
do povo cristão”.

A seguir, temos a oração do Santo Rosário completa, sugerida por São Luiz Maria Grigmon de
Montfort, incluindo os mistérios luminosos adicionados por São João Paulo II, e as sentenças no
meio das Ave Marias:
97

MÉTODO PARA REZAR COM FRUTO O SANTO ROSÁRIO:


SEGUNDO SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT
Pelo Sinal da Santa Cruz (+) ...Ave Maria...
Livrai-nos Deus, Nosso Senhor (+)
Dos nosso inimigos. (+) O Glória: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Em Nome do Pai, (+) do Filho e do Espírito Santo. Amém. R: Como era, no princípio, agora e sempre. Ámen.

Oferecimento do Terço: Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno,


levai as almas todas para o Céu e socorrei
Uno-me a todos os santos que estão no Céu, a todos os principalmente às que mais precisarem;
justos que estão sobre a Terra, a todas as almas fiéis
que estão neste lugar. Uno-me a Vós, meu Jesus, para ---------- MISTÉRIOS GOZOSOS ----------
louvar dignamente Vossa Santa Mãe, e louvar-Vos a Vós,
nela e por Ela. Renuncio a todas as distrações que me 1º MISTÉRIO - Lucas 1, 26-38: A Kenosis de Deus, a
vierem durante este Rosário, que quero recitar com Encarnação do verbo – 1 Pessoa/2 Naturezas.
modéstia, atenção e devoção, como se fosse o último da
minha vida. Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta primeira
dezena, em honra a vossa Encarnação no seio de
Nós Vos oferecemos, Trindade Santíssima, este Credo, Maria; e vos pedimos, por esse mistério, e por sua
para honrar os mistérios todos de nossa Fé; este Pai intercessão uma profunda humildade. Assim seja.
Nosso e estas três Ave-Marias, para honrar a unidade
de vossa essência e a trindade de vossas pessoas. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco,
Pedimo-Vos uma fé viva, uma esperança firme e uma bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o
caridade ardente. Assim seja. fruto do vosso ventre, Jesus.
Cláusula: Que se fez Carne no Seio da Virgem Maria.
Rezar o Credo,
R: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós
O Pai Nosso: (pode ser rezado em português) pecadores, agora e na hora da nossa morte.
Amém
Pater Noster, qui es in caelis, sanctificetur nomen tuum.
Adveniat regnum tuum. Fiat voluntas tua, sicut in caelo Ao final: Graças ao mistério da Encarnação, descei
et in terra. em nossas almas. Assim seja.
R: Panem nostrum quotidianum da nobis hodie, et
dimitte nobis debita nostra sicut et nos dimittimus 2º MISTÉRIO - Lucas 1, 39-56: O primeiro Batizado e
debitoribus nostris. Et ne nos inducas in o Serviço da Rainha Mãe.
tentationem, sed libera nos a malo. Amen.
Nos vos oferecemos, Senhor Jesus, esta segunda
O Anjo do Senhor anunciou a Maria. dezena, em honra da visitação de vossa santa Mãe à
R: e ela concebeu do Espírito Santo. sua prima santa Isabel e da santificação de São João
Batista; e vos pedimos, por esse mistério e pela
A Ave Maria (pode ser rezada em português) intercessão de vossa Mãe Santíssima, a caridade
para com o nosso próximo. Assim seja.
Ave Maria, gratia plena Dominus tecum Benedicta tu in Cláusula: Que visitou Santa Isabel e batizou o
mulieribus Et benedictus fructus ventris tui, Iesus; Batista.
R: Sancta Maria, Mater Dei, Ora pro nobis
peccatoribus Nunc et in hora mortis nostrae. Amen. Ao final: Graças ao mistério da visitação, descei em
nossas almas. Assim seja.
Eis aqui a serva do Senhor.
R: Faça-se em mim segundo a vossa palavra. 3º MISTÉRIO - Lucas 2, 6-20: A pobreza e a riqueza
...Ave Maria... de Deus.
e o Verbo se fez carne.
R: E habitou entre nós.
98

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta terceira 2º MISTÉRIO (7º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - João 2, 1-
dezena, em honra ao vosso nascimento no estábulo 12: Transformação da água em vinho.
de Belém; e vos pedimos, por este mistério e pela
intercessão de vossa Mãe Santíssima, o desapego Nos vos oferecemos, Senhor Jesus, esta segunda
dos bens terrenos e ao amor a pobreza. Assim seja. dezena, em honra da Vossa manifestação nas bodas
Cláusula: Que nasceu em Belém. de Caná; e vos pedimos, por esse mistério e pela
intercessão de vossa Mãe Santíssima, que nunca
Ao final: Graças ao mistério do nascimento de Jesus, falte Vossa graça em nossas famílias. Assim seja.
descei em nossas almas. Assim seja.
Cláusula: Que transformou a água em vinho e se
4º MISTÉRIO - Lucas 2, 22-39: A prefigura da Cruz e revelou aos homens.
o derramamento do sangue do Menino Deus.
Ao final: Graças ao mistério das bodas de Caná,
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quarta descei em nossas almas. Assim seja.
dezena, em honra a vossa apresentação ao templo,
e da purificação de Maria; e vos pedimos, por este 3º MISTÉRIO (8º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Marcos
mistério e por sua intercessão, uma grande pureza 1, 14-15: Transmissão do Reino dos Céus.
de corpo de alma. Assim seja.
Cláusula: Que foi apresentado no templo. Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta terceira
dezena, em honra ao anúncio do Reino de Deus e o
Ao final: Graças ao mistério da purificação descei, convite à conversão; e vos pedimos, por este
descei em nossas almas. Assim seja. mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima,
a Graça de viver e anunciar o Evangelho. Assim seja.
5º MISTÉRIO - Lucas 2, 41-51: A maios dor de Maria
Santíssima e preparação da vida pública. Cláusula: Que anunciou o Reino de Deus.

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quinta Ao final: Graças ao mistério do anúncio do Reino de
dezena, em honra ao vosso reencontro por Maria; e Deus, descei em nossas almas. Assim seja.
vos pedimos, por este mistério; e por sua
intercessão, a verdadeira Sabedoria. Assim seja. 4º MISTÉRIO (9º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Mateus
Cláusula: Que foi perdido e reencontrado entre os 17, 1-8: Transfiguração no monte.
doutores da lei
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quarta
Ao final: Graças ao mistério do reencontro de Jesus, dezena, em honra a vossa transfiguração no monte
descei em nossas almas. Assim seja. Tabor; e vos pedimos, por este mistério e pela
intercessão de vossa Mãe Santíssima, a graça de
---------- MISTÉRIOS LUMINOSOS ----------- sermos configurados a vossa Divina humanidade.
Assim seja.
1º MISTÉRIO (6º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Mateus Cláusula: Que se transfigurou no Monte Tabor.
3, 11-17: Transignificação do Batismo em
Sacramento. Ao final: Graças ao mistério da transfiguração,
descei, descei em nossas almas. Assim seja.
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta primeira
dezena, em honra a Vosso Batismo no rio Jordão; e 5º MISTÉRIO (10º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Mateus
vos pedimos, por esse mistério, e pela intercessão de 26, 26-28: Transubistanciação do Pão e do Vinho em
vossa Mãe Santíssima, a graça de ser cheio e Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.
conduzido pelo vosso Espírito Santo. Assim seja.
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quinta
Cláusula: Que foi batizado no Rio Jordão. dezena, em honra a instituição da Eucaristia; e vos
pedimos, por este mistério; e pela intercessão de
Ao final: Graças ao mistério do batismo de Jesus, vossa Mãe Santíssima, um coração adorador.
descei em nossas almas. Assim seja.
Cláusula: Que instituiu a Santíssima Eucaristia e o
Sacerdócio Católico.
99

Ao final: Graças ao mistério da instituição da Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quarta
Eucaristia, descei em nossas almas. Assim seja. dezena, em honra do carregamento da Cruz; e vos
pedimos, por este mistério e pela intercessão de
---------- MISTÉRIOS DOLOROSOS ----------- vossa Mãe Santíssima, a paciência em todas as
nossas cruzes. Assim seja.
1º MISTÉRIO (11º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Mateus
26, 36-46: O Deus que sofre. (Mistério da Iniquidade) Cláusula: Que por amor a nós carregou a pesada
Cruz.
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta primeira
dezena, em honra a vossa agonia mortal no Jardim Ao final: Graças ao mistério do carregamento da
das Oliveiras; e vos pedimos, por este mistério e pela cruz, descei em nossas almas. Assim seja.
intercessão de vossa Mãe Santíssima, a contrição de
nossos pecados. Assim seja. 5º MISTÉRIO (15º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Lucas
23, 33-46: O Deus que é capaz de morrer.
Cláusula: Que por amos a nós sofreu a agonia no
horto das oliveiras. Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quinta
dezena, em honra a vossa crucificação e morte
Ao final: Graças ao mistério da agonia de Jesus, ignominiosa sobre o calvário; e vos pedimos por este
descei em nossas almas. Assim seja. mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima,
a conversão dos pecadores, a perseverança dos
2º MISTÉRIO (12º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Mateus justos e o alívio das almas do purgatório. Assim seja.
27, 26: O Deus feito escravo.
Cláusula: Que por amo a nós morreu na Cruz.
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta segunda
dezena, em honra a vossa sangrenta flagelação; e Ao final: Graças ao mistério da crucificação de Jesus
vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de descei em nossas almas. Assim seja.
vossa Mãe santíssima, a mortificação de nossos
sentidos. Assim seja. ---------- MISTÉRIOS GLORIOSOS ----------

Cláusula: Que por amor a nós foi flagelado. 1º MISTÉRIO (16º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Mateus
28, 1-10: Prefigura de nosso Destino.
Ao final: Graças ao mistério da flagelação de Jesus,
descei em nossas almas. Assim seja. Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta primeira
dezena, em honra a vossa ressurreição gloriosa; e
3º MISTÉRIO (13º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Mateus vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de
27, 29-30: O Deus humilhado. vossa Mãe Santíssima, o amor a Deus e o fervor ao
vosso serviço. Assim seja.
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta terceira Cláusula: Que ressuscitou dentre os mortos.
dezena, em honra de vossa coroação de espinhos; e
vos pedimos por este mistério e pela intercessão de Ao final: Graças ao mistério da ressurreição, descei
vossa Mãe Santíssima, o desprezo do mundo. Assim em nossas almas. Assim seja.
seja.
2º MISTÉRIO (17º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Marcos
Cláusula: Que por amor a nós foi coroado de 16 19-20: O Homem que abre o Céu como Deus.
espinhos.
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta segunda
Ao final: Graças ao mistério da coroação de espinhos, dezena, em honra a vossa triunfante ascensão; e vos
descei em nossas almas. Assim seja. pedimos, por este mistério e pela intercessão de
vossa Mãe Santíssima, um ardente desejo do céu,
4º MISTÉRIO (14º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Lucas nossa cara pátria. Assim seja.
23, 26-32: O Deus que suporta como Homem o
Homem que não suporta Deus. Cláusula: Que subiu aos Céus.
Ao final: Graças ao mistério da ascensão descei, em
nossas almas. Assim seja.
100

3º MISTÉRIO (18º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Atos 2,


1-41: O Espírito que habita em nosso peito. SAUDAÇÃO FINAL

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta terceira Eu vos saúdo, Maria, Filha bem-amada do eterno Pai,
dezena, em honra do mistério de Pentecostes; e vos Mãe admirável do Filho, Esposa mui fiel do Espírito
pedimos, por este mistério e pela intercessão de Santo, templo augusto da santíssima trindade; eu vos
vossa Mãe Santíssima, a descida do Espírito Santo saúdo soberana Princesa, a quem tudo está submisso
em nossas almas. Assim seja. no céu e na terra; eu vos saúdo, seguro refúgio dos
pecadores, nossa Senhora da Misericórdia, que jamais
Cláusula: Que nos enviou o Espírito Santo. repeliste pessoa alguma. Pecador que sou, me prostro
aos vossos pés, e vos peço de me obter de Jesus, vosso
Ao final: Graças ao mistério de Pentecostes, descei amado filho, a contrição e o perdão de todos os meus
em nossas almas. Assim seja. pecados, e a divina sabedoria. Eu me consagro todo a
vós, com tudo o que possuo. Eu vos tomo, hoje, por
4º MISTÉRIO (19º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) minha Mãe e Senhora. Tratai-me, pois, como o último
- Apocalipse 12, 1: Elevação da humanidade ao Céu. de vossos filhos e o mais obediente de vossos escravos.
Atendei, minha Princesa, atendei aos suspiros de um
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quarta coração que seja amar-vos e servi-vos fielmente. Que
dezena, em honra da ressurreição e triunfal ninguém diga que, entre todos que a vós recorreram,
assunção de vossa Mãe ao céu; e vos pedimos, por seja eu o primeiro desamparado. Ó minha esperança,
este mistério e por sua intercessão, uma terna Ó minha vida, Ó minha fiel e imaculada Virgem Maria
devoção a tão boa mãe. Assim seja. defendei-me, nutri-me, escutai-me, instruí-me, salvai-
me. Assim seja.
Cláusula: Que elevou Maria Santíssima ao Céu de
corpo e alma. Infinitas graças vos damos, Soberana Rainha, pelos
Ao final: Graças ao mistério da assunção descei em benefícios que todos os dias recebemos de vossas mãos
nossas almas. Assim seja. liberais. Dignai-vos agora e para sempre tomar-nos
debaixo de vosso poderoso amparo e para mais nos
5º MISTÉRIO (20º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) obrigar vos saudamos com uma Salve Rainha….
- Apocalipse 12, 1: Coroação da Humanidade como
Esposa de Cristo. Salve Rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura,
esperança nossa, salve! A vós bradamos, os degredados
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus esta quinta filhos de Eva, a vós suspiramos gemendo e chorando
dezena, em honra da coroação gloriosa de vossa neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses
Mãe Santíssima no céu; e vos pedimos, por este vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste
mistério e por sua intercessão, a perseverança na desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso
graça e a coroa da glória. Assim seja. ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem
Maria. Rogai por nós santa mãe de Deus, para que
Cláusula: Que coroou Maria Santíssima como sejamos dignos das promessas de Cristo! Amém.
Rainha do Céu e da terra.
Em Nome do Pai, (+) do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Ao final: Graças aos mistérios da coroação gloriosa
de Maria, descei em nossas almas. Assim seja.
101

SEGUNDA FASE: APOLOGIA CATÓLICA


Iniciamos agora a parte apologética da nossa catequese. Apologética, tem como definição um
discurso ou texto em que se defende, justifica ou elogia (alguma doutrina, ação, obra etc.), seria a
defesa apaixonada de (alguém ou algo) um elogio ou enaltecimento. A Apologética Católica, tem a
pretensão de estar defendendo nada menos do que a Verdade.

SÃO JUSTINO:

São Justino Mártir, que faleceu no ano de 165 d.C., era um filósofo grego, que ao se converter em
cristão, não mudou um milímetro suas ideias e suas convicções, ele apenas identificou, como sendo
o Logos, o Verbo, ou seja, Nosso Senhor Jesus Cristo, e a partir de então, iniciou uma pregação
apaixonada (Apologética) de Jesus Cristo.

São Justino é um ícone, pois além de ser um modelo para nós, ele aproximou a filosofia grega da
Fé católica, e a marcou profundamente desde então, ao passo que São João Paulo II, ter dito:

“Invocai o vosso Santo Padroeiro, o filósofo Justino, que, como sabeis, sequioso de luz interior e de
verdade a respeito do sentido da vida, com a pesquisa metódica e rigorosa, se converteu do
paganismo ao cristianismo. E sentiu tanta alegria pela verdade alcançada, que se tornou o seu
defensor contra tantas acusações e calúnias que se difundiam então contra o Cristianismo, escreveu
as duas magníficas "Apologias" e não temeu morrer mártir em defesa da verdade! São Justino vos
ilumine! Que ele faça que vos torneis todos amantes e pesquisadores da verdade, especialmente os
jovens! Ao Prefeito Rústico que lhe perguntava, segundo quanto se lê nos "Actos dos Mártires":
"Supões de verdade que subirás ao céu para ali receber uma bela recompensa?"; São Justino
respondia com corajosa clareza: "Não o suponho, mas o sei com certeza e disto estou
plenamente persuadido!". Auguro a todos a certeza e a coragem do santo Mártir, a fim de que a
vossa Paróquia seja sempre mais unida, mais fraterna e mais fervorosa!” (Papa João Paulo II, Visita
Pastotal, Paróquia São Justino, 1982)

Nossa apologética, será como subir degraus. Cada degrau representará uma certeza. Nada até o
final desta apologética será solicitado de nossa fé. Partiremos de certezas filosóficas, históricas e
científicas, que alicerçam a fé. Neste ponto, exploraremos a Razão, que irá convidar nossa vontade,
pela inteligência, a mover nossa convicção no sentido de fortalecer a nossa fé.
102

1º. DEGRAU: DEUS EXISTE


A questão da existência de Deus, tem sido uma fleuma no campo especulativo da filosofia
ideológica. A filosofia clássica e a escolástica não tiveram grandes problemas com esta questão,
somente no período da renascença é que esta questão veio à baila. Coincidentemente ou não, este
é o período mais decadente da filosofia. A filosofia renascentista foi capaz de justificar e estimular
mazelas como a revolução francesa e o massacre de milhares de cristãos na Europa; seguida de
filosofias que resultaram no nazismo, no fascismo, socialismo e comunismo. Mas qual é o ponto da
questão?

O que explicaria a existência de tudo que existe? Reunimos aqui, 08 teorias:

1. Teoria do Big Bang: a ideia de que o universo começou com uma grande explosão e tem se
expandido desde então. Teoria científica mais aceita;

2. Multiverso: a hipótese de que existem múltiplos universos, cada um com suas próprias leis
físicas. O que não explica a origem de nenhum deles;

3. Simulação: a teoria de que o universo em que vivemos é uma simulação criada por seres
mais avançados. O que não explica a origem destes seres;

4. Ciclos cósmicos (Eterno retorno): a crença de que o universo passa por ciclos de criação e
destruição. Que termina não explicando a origem de nenhuma das criações;

5. Autocriação: a hipótese de que o universo surgiu do nada, por conta própria, sem qualquer
causa externa. Sem nenhuma explicação da origem;

6. Física quântica: a ideia de que o universo surgiu como resultado de flutuações quânticas no
vácuo. Sem nenhuma explicação de onde veio este vácuo e o material quântico;

7. Filosofia da existência: a crença de que a existência do universo é um mistério insondável


que não pode ser explicado pela ciência. De fato, a ciência não explica nada sobre isso;

8. Criação: Há um ser sobrenatural, que é Onipotente, Onipresente e Onisciente, o qual


ninguém teria acesso, a não ser que Ele mesmo descida se revelar;

Resumindo estas 08 teorias, podemos resumi-las em 3 hipóteses:

1ª HIPÓTESE: OS SERES PROCEDEM DO NADA

Tudo que existe resultou do nada, sendo o nada um agente causador de tudo. Aqui vale trazer a
teoria do “Nada Jocaxiano” que no final afirma que este “nada” é “algo”. Não passando de um jogo
de palavras, algo que pode ser dito, mas não pode ser pensado e nem imaginado.

No final do século XIV, o Médico, Patologista e Biólogo alemão Rudolf Virchow, uma das mentes
responsáveis pelas leis que até hoje regem a microbiologia e a divisão celular, autor da famosa
frase “Omnis cellula e cellula” - "Todas as células vêm das células", disse a respeito da “geração
espontânea”:

“Não se conhece um só fato que demonstre que a matéria inorgânica se tenha convertido em
orgânica (...) Se eu não quiser admitir o Criador, nada mais me resta se não apelar para a geração
espontânea, a razão é evidente, não há outra alternativa”. (cit. in LOBO, G., Ideología y fe Cristiana,
Ed. Magisterio Español, p. 87)
103

Em tempos em que a biologia molecular e as culturas de células são uma realidade, acreditar na
geração espontânea e unir isso à Teoria da Evolução de Darwin, é o que podemos chamar de
evolucionismo, uma crença religiosa defendida por muitos “cientistas” especulativos e pouco
práticos.

2ª HIPÓTESE: OS SERES PROCEDEM UNS DOS OUTROS NUMA SÉRIE INFINITA

Esta hipótese, tem um problema básico, o infinito; pois efetivamente, a série infinita
necessariamente precisa ter em sua origem um primeiro ser, desta forma já não é infinita, ou não
tem na origem um primeiro ser, o que nos leva a perguntar: Donde vem os seres da série?

Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Na verdade, tanto faz, necessariamente tivemos um
primeiro ovo, ou uma primeira galinha. Dizer que uma série é retroativamente infinita, é dizer que
não teve um início, e o que não tem início, não existe por definição. Mas sabemos que tudo existe.

3ª HIPÓTESE: OS SERES PROCEDEM DE UM CRIADOR

Nos resta concluir o óbvio, a origem de todos os seres, o Ser Primordial, existe, e a Ele chamamos
de Deus. Algo muito simples e necessário, se a geração espontânea não é um fato e séries
retroativamente infinitas não existem, logo Deus é a origem dos seres. Vamos adiante em alguns
argumentos:

ARGUMENTO COSMOLÓGICO:

1. Tudo que teve um começo teve uma causa.


2. O universo teve um começo.
3. Logo, o Universo teve uma causa.

O método científico, pode ser resumido em observar e reproduzir. Qualquer um pode observar que
tudo que existe, tem uma causa. Podemos até pensar em algo que não tenha fim, olhando para o
futuro. Pois o que não tem fim, no futuro, é algo incerto. Porém, não podemos olhar para o passado,
e dizer que ele seja infinito, pois seria o mesmo que dizer que não houve um início, o que é
obviamente um erro, pois estamos aqui.

Conclusão: Se houve um começo, por lógica o que originou tudo, a primeira causa, deve ser
naturalmente incausada, pois o infinito das causas é naturalmente impossível.

SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA:

A Termodinâmica estuda, basicamente, Matéria e Energia, e a 2ª. Lei da termodinâmica afirma:

“O Universo está ficando sem energia utilizável.”

Isto significa que a energia (Gasolina por exemplo) está acabando. E assim como um carro, o
universo que tem uma quantidade finita de energia (o que indica que teve começo), terá um fim.
Segundo o Padre Georges E. Lemaître (Astrônomo, cosmólogo, engenheiro e Teólogo, o autor da
Teoria da Origem do Universo - Big Bang), o universo estava originalmente muito quente e denso
em algum tempo finito no passado por meio de uma “Grande Explosão” (Big Bang) o universo tem
se resfriado pela expansão ao estado diluído atual e continua em expansão atualmente. Ele disse:

“Nunca será possível reduzir o Ser Supremo a uma hipótese científica.”

Quando Albert Einstein ouviu a explicação do padre Lamaitre, exclamou, após aplaudi-lo de pé:
104

"Esta [Teoria do Big Bang] é a mais bela explicação da Criação que já ouvi"

Conclusão: Se houve um começo e terá um fim, isso implica uma programação, como um
despertador: Você já viu um despertador despertar sem ninguém ter colocado ele para despertar?

O UNIVERSO ESTÁ EM EXPANSÃO:

A teoria da Relatividade (de Albert Einstein) afirma que o Universo está em expansão,
complementando a teoria do Big Bang. Edwin Hubble viu e provou que o Universo se expande a
partir de um único ponto! O espaço está em expansão.

Conclusão: A expansão do Universo, obedece às leis da física que, por lógica, existem antes da
Expansão e do Big Bang, a questão é “Como é possível haver leis, antes de existir algo?”, e a única
explicação possível, é a existência de um Legislador, pré-existente, pois, qual é a evidência que
temos de “leis” criando-se, sozinhas?

RADIAÇÃO DO BIG BANG:

Em 1965, foi descoberta a Radiação do Big Bang, por Arno Penzias e Robert Wilson em Nova
Jersey (EUA), ganhadores do Nobel, que Identificaram uma radiação, um “Brilho avermelhado”
presente em todo o espaço, da explosão da bola de fogo do Big Bang (Radiação cósmica de fundo),
esta é a PROVA FÍSICA de que o Big Bang aconteceu!

Conclusão: Se o Big Bang é um fato, também é fato, que existiam leis antes do Big Bang, e não
existem leis, sem um legislador. Não estamos falando de conjecturas especulativas, as leis físicas
nas quais estamos vivendo neste momento, são como trilhos de um trem, os trilhos devem estar
ali, para que o vagão possa se movimentar. Mas se há trilhos, alguém os colocou lá.

“porque Nele vivemos, e nos movemos, e existimos”


(At 17,28a)

O PADRÃO DAS ONDAS:

Se o Universo está em expansão e tem uma radiação cósmica que comprova isso, essa radiação,
precisaria ter, necessariamente, uma ondulação característica, pois esta é a lei que rege a radiação,
sem a constatação desta ondulação, mesmo sabendo que há uma radiação proveniente do Big
Bang, esta seria uma exceção à Lei, e as leis do universo não possuem exceções.

Pois em 1992, a NASA com um satélite chamado COBE, detectou as ondulações. O Cientista e
responsável pelo projeto, disse:

“Se você é religioso, então é como estar olhando para Deus, este é o Santo Graal da Cosmologia”.
(Michael Turner, Astrofísico)

Conclusão: Se há radiação, com uma variação padrão de ondulações, há uma inteligência que
impede ou projeta, que tais variações sejam diferentes e características. Estes são dados físicos
de que a teoria do Big Bang é um dado da realidade.

A ANTROPIA DE EINSTEIN:

A teoria da relatividade, afirma que Tempo, Espaço e Matéria são INTERDEPENDENTES! Foi a
relatividade que predisse a expansão do universo, a radiação cósmica e as ondulações variáveis
105

da radiação. Se existe uma interdependência em tudo o que chamamos de realidade, e sem esta
interdependência, não haveria possibilidade de existir as coisas COMO existem, então, temos o
princípio de ANTROPIA.

Antropia é um conceito que parte do princípio que tudo que existe, as leis, e as características da
natureza existem em função do “Antropos”, ou seja, do ser Humano, pois uma pequena variação
nas leis, impediria a vida no universo, principalmente a vida humana.

Conclusão: Temos um princípio orientador para todas as leis, e não apenas as leis, há um objetivo
em tudo que existe, e este objetivo é o ser humano, isso não é apenas uma prova de que há uma
inteligência por trás de tudo, mas há também humanidade.

AS CINCO VIAS DE SANTO TOMAS DE AQUINO

1ª Via: Tudo muda e nada muda por si mesmo. O Big Bang, não poderia ter “se movido” ele só
pode ter sido movido. Quem o moveu?

2ª. Via: Toda causa, tem uma causa. O Big Bang teve uma causa. Mas não havia tempo, espaço
ou matéria. Logo, a causa do Big Beng, só pode ser Sobrenatural.

3ª. Via: Tudo que existe, em algum momento, não existia. E como tudo vem de algo, deve haver
um algo (alguém) que existe por si mesmo.

4ª. Via: Existem perfeições transcendentes (a verdade, a bondade, o amor, a justiça…) em diversos
graus e são limitadas pelos sujeitos que as contêm. Elas supõem a existência de um ser no qual
tais perfeições existem sem limites.

5ª. No mundo existem leis, códigos, padrões e ordem... tudo isso, supõe a inteligência. O Inteligível,
supõe a inteligência. O que não é inteligente, não pode conferir inteligência. Deus é a inteligência
por trás de tudo que é inteligível.

Conclusão: Há um ser que move e não é movido. Há uma causa incausada. Há um ser em si
mesmo. Existe um ser que não tem limites físicos. Há um ser Inteligente que criou tudo com
inteligência: Este ser é Deus!

O ARGUMENTO ONTOLÓGICO:

Reductio ad Absurdum: Parte-se do princípio de que uma tese seja verdadeira. Então, tira-se as
conclusões lógicas desta tese, até que se encontre uma contradição lógica. Se há uma contradição,
então a tese original, que havia sido tomada como verdadeira, não pode ser verdadeira, pois a
Verdade, não tem contradição, sendo assim, o oposto da tese, mostra-se verdadeiro.

Santo Anselmo, define Deus como sendo:

“O ser o qual, não se pode pensar outro maior. Deus é o maior ser concebível, ou o maior ser possível”.

As coisas podem existir de forma REAL ou IMAGINÁRIA. Todo ateu, nega a existência REAL de
Deus, mas admite sua existência em nosso IMAGINÁRIO. Quando um ateu nega a existência de
Deus, está negando a existência deste “maior ser possível” de ser pensado ou imaginado. Quem
nega algo, admite a existência deste algo de forma IMAGINÁRIA.
106

O maior ser possível, precisa ser necessariamente onipresente, onisciente, onipotente e


moralmente perfeito. Se pensarmos em alguma falha em um destes conceitos, não estamos
pensando no “maior ser possível”.

A afirmação dos ateus é: “Deus existe apenas de forma IMAGINÁRIA.” Existir de forma REAL, é
maior do que existir apenas de forma IMAGINÁRIA. Ora, quando ateus negam a existência de um
Deus Real, estão se contradizendo e não estão pensando em Deus como o MAIOR SER
POSSÍVEL.

Conclusão: Ateus negam a existência REAL de Deus, mas admitem a existência IMAGINÁRIA de
Deus. A ideia do Deus REAL é maior do que a ideia do Deus somente IMAGINÁRIO, logo, o Deus
REAL existe.

SE DEUS É BOM POR QUE EXISTE O MAL?

O mal é consequência da liberdade dos anjos e dos homens. Deus permite o mal, para dele tirar
um bem maior. O maior mal que existe, é o pecado, e a Igreja canta alegremente: “Feliz culpa que
nos deu tão grande Salvador”. Pois sem o pecado, não teríamos Nosso Senhor Jesus Cristo como
Salvador.

E o bem, é absoluto, mesmo com a existência do mal. Pois o mal, se fosse absoluto, não toleraria
a existência do bem, já o bem, por ser bom, tolera o mal e transforma-o em um bem maior. Este é
um grande mistério, pois não é sempre que podemos ver os maiores bens tirados dos males,
porém, sendo a salvação e a glória eterna, os nossos bens mais esperados, estes bens, só teremos
acesso após a morte.

SE DEUS SABE O QUE FAREI, COMO É POSSÍVEL SER LIVRE?

Trata-se do “paradoxo temporal”, pois nós pensamos a vida nos termos e limites que o tempo e
espaço nos permite. Então concluímos: “Se Deus sabe o que farei, Ele determinou o que farei, logo,
não sou livre e a liberdade humana não existe. Então o Deus ensinado pela Igreja não existe”. Mas
isso não é verdade.

Deus é CONHECEDOR e não o CAUSADOR. Deus saber o que irei fazer, não significa que Ele
seja a causa do que farei. Ao contrário, é a minha decisão de fazer algo, que permite a Deus saber
o que farei. De fato Deus é a primeira causa de todas as coisas, pois sua existência é necessária,
mas isso não significa que ele define os acontecimentos, por exemplo:

Um meteorologista, não causa a chuva que previu. Ele previu a chuva porque iria chover.

Deus é onisciente, e habita o eterno, logo, tudo que aconteceu, acontece e irá acontecer, para Ele
é um eterno agora, somos livres para decidir entre o bem e o mal, entre a vida de oração e o
entretenimento e distrações do dia a dia. Ele aceita nossa escolha e por isso, podemos perder a
salvação.

Bibliografia que pode nos ajudar neste caminho:

- Não tenho fé suficiente para ser ateu: Norman Geisler & Frank Turek
- Um ateu garante: Deus existe; as provas incontestáveis de um filósofo que não acreditava em
nada: Antony Flew
107

1º. DEGRAU: TEMOS UMA ALMA IMORTAL


(CONTINUAÇÃO)
Para darmos sequência em nossa escada, faz-se necessário pararmos um pouquinho neste
primeiro degrau, e procurarmos compreender o que é "Ser", "Essência" e "Acidente", pois são
conceitos fundamentais e têm uma importância central na compreensão da natureza das coisas.

PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA CLÁSSICA:

• Ser: é um conceito fundamental que se refere à existência real das coisas. Tudo o que existe
é um ser, ou seja, tem uma existência real e concreta. Por exemplo, uma pedra, um animal
ou uma árvore são seres, porque existem de forma real e concreta.

• Essência: A "essência" de uma coisa é o que ela é em si mesma, ou seja, é o conjunto de


características que a definem e a distinguem de outras coisas. É o que torna uma coisa o
que ela é e não outra coisa. Por exemplo, a essência de um cão é ser um animal mamífero,
quadrúpede, dotado de um olfato muito desenvolvido, uma capacidade de aprendizado e
treinamento relativamente alto, entre outras características. E são estas características, a
essência do “ser” cão.

• Acidente: Um "acidente" é uma característica que não é essencial (essência) para a natureza
do “ser”, mas é algo que o “ser” pode ter ou não ter sem deixar de ser o que é. Ou seja, é
algo que pode ser adicionado ou alterado sem a essência do ser se modificar. Por exemplo,
a cor de uma pedra é um acidente, pois a pedra continua sendo uma pedra,
independentemente de sua cor. Outro exemplo seria a altura de uma pessoa, que é um
acidente porque não afetou a essência da pessoa.

• Os Universais: os "universais" referem-se a características ou propriedades que podem ser


aplicadas a vários “seres” diferentes. Em outras palavras, são conceitos abstratos que
podem ser compartilhados por vários seres específicos e individuais.

Por exemplo, a cor verde é um universal, pois pode ser aplicada a vários “seres” diferentes,
como uma maçã, uma folha ou uma camiseta. Da mesma forma, a ideia de justiça é um
universal, pois pode ser aplicada a diferentes situações e contextos, independentemente das
diferenças entre as pessoas ou circunstâncias específicas.

Os restritos são frequentemente contrastados com os particulares, que são coisas


específicas e individuais. Por exemplo, uma maçã é um particular, enquanto a cor verde é
um universal que pode ser aplicado a várias maçãs diferentes.

A EVIDÊNCIA DA ALMA E DA IMORTALIDADE:

O Ser humano, tem consciência da imortalidade?

“Todo ser humano é dotado de um corpo físico, capaz de receber estímulos por meio de seus sentidos.
Estímulos estes transformados no cérebro em sentimentos, e até aqui, somos semelhantes a todos
os animais, porém, temos uma razão, capaz de julgar tais sentimentos e expressá-los das mais
variadas formas, o que nos assemelharia aos computadores modernos, mas temos ainda uma
fluidez física e mental, onde cada molécula do nosso corpo e cada pensamento é, ou transformado
ou substituído ao longo do tempo, sendo assim, temos uma unidade interior, que garante que o
mesmo indivíduo nascido, mesmo após anos de vida, tendo passado por inúmeras alterações ao
longo da vida, permanece o mesmo, a esta unidade costuma-se chamar de alma, que é onde reside
108

a expressão de personalidade e individualidade do ser e onde se desenvolve, ou não, a qualidade de


vida, ou a vida plena.” (compilado de Olavo de Carvalho)

A Inteligência humana, não está ligada fisicamente ao corpo, é uma afirmação ousada, mas como
comprovamos isso?

Exemplo: Quando vou comer, tenho a potência nutritiva, esta potência assimila o alimento e o
destrói, e assim, aquele alimento agora, passa a fazer parte do meu corpo. Já as potências
sensitivas, ainda estão atreladas ao corpo, mas é perfeitamente possível, eu ver um alimento e não
o destruir, e mesmo assim, ele irá fazer parte de mim, na minha imaginação. Já é o início do que
podemos chamar de “espirito”.

É possível a qualquer um que tenha visto um sorvete, imaginar, sentir o cheiro e até o gosto do
sorvete, isso, por meio da memória que se torna uma lembrança. Ainda estamos presos à forma,
ou seja, na imaginação, a “foto” do sorvete está impressa no cérebro. Eu posso até não me
alimentar do sorvete, mas posso me “deleitar” com a imagem que está na lembrança.

Agora, imaginemos que na escola, a professora dá três quadrados a uma criança, de cores e
tamanhos diferentes. As cores e tamanhos diferentes são pedagógicos, pois ensinam que as cores
(acidentes), não estão atreladas ao quadrado (essência). Em um segundo momento, a professora,
desenha na lousa um quadrado, e a criança assimila a forma, mesmo sem poder tocar, é uma
abstração. E por fim, a professora, pede para que a criança se lembre do quadrado,
independentemente do tamanho, da cor ou até da presença do quadrado, a criança é capaz de
visualizar, contemplar o quadrado (universal).

Agora, independentemente do tamanho, da cor, da profundidade, do calor, do frio... Independente


do acidente, a criança foi capaz de compreender, inteligir a essência do “ser quadrado”. É
possível imaginar um quadrado de qualquer tamanho, se as devidas proporções dos quatro lados
iguais forem mantidas, ainda temos um quadrado. Hoje, quando você e eu, escutamos a palavra
“quadrado”, não precisamos imaginar o que é um quadrado, a essência do quadrado, que é algo
mais profundo do que simplesmente o conceito de quadrado está em nós, você apenas sabe o que
é um quadrado, sem imaginá-lo, sem tocá-lo e sem defini-lo. O “ser quadrado” assumiu em você
uma posição universal.
ATENÇÃO

Este “quadrado” universal, é a essência do quadrado e de todos os quadrados, vistos ou não


vistos, e este quadrado é completamente e absolutamente imaterial, ele não é nem mesmo
imaginativo. Se temos como captar, um “ser” absolutamente incorpóreo, só pode ser porque temos
uma capacidade também incorpórea. Se a inteligência fosse unicamente material, seria impossível,
captar algo imaterial, mas captamos, logo, temos uma alma.

Precisamos entender que, a imaginação, é material, mas o conceito, ou melhor, a essência do


“ser” quadrado, no exemplo, é absolutamente imaterial. Quem entende a essência de um
quadrado, compreende a essência de todos os quadrados, mesmo não tendo visto ou
contemplado, todos os quadrados que existem.

Podemos afirmar sem erro, que o quadrado agora, faz parte de nós, pois mesmo que percamos a
memória, ainda saberemos o que é um quadrado, mesmo que, por falta da memória, não
consigamos dar-lhe um nome, nem mesmo assim, deixamos de saber o que é, apenas perdemos
a capacidade de expressar, que seria a parte cerebral, pois, nem mesmo o nome do ser, no caso
“quadrado”, é parte do ser em si. Poderíamos chamar o ser “quadrado” de “redondo” ou de
“triângulo”, se a essência permanecesse com quatro lados iguais, ainda assim, continuaria sendo
“quadrado”.
109

O Espírito não é algo além da alma, é a função imaterial/incorpórea da alma. Se há algo em nós,
absolutamente imaterial, logo, este algo imaterial, que iremos continuar chamando de espírito, não
pode ser afetado pelo que é material. Assim, mesmo que um triturador, triture o corpo, o espírito,
esta “parte” imaterial, permanece, o que nos dá então, o dever de admitir por consequência a
imortalidade. Ora, se existe no ser humano, esta capacidade incorpórea, de apreender a essência
universal de um quadrado, então, existe um sujeito incorpóreo, este sujeito é a essência da alma,
o “eu essencial/existencial” (Falaremos disso a seguir).

Alguém poderia contra-argumentar: “Não é verdade que o ser humano capte objetos incorpóreos.”
Ora, e poderíamos, no mesmo instante perguntar: “E como você foi capaz de captar a essência de
um objeto incorpóreo e fazer uma afirmação tão universal como esta?”

É simplesmente contraditório e irracional, usar uma afirmação universal, para negar a


universalidade dos objetos. É o mesmo que dizer que: “A verdade não existe”; ora, se tal afirmação
é verdade, então, ela é mentirosa, pois a frase: “Não existe verdade”, arroga para si, o status de
verdade. Se “não existe verdade” é falso, logo, “A verdade existe e é absoluta” só pode ser
verdadeira.

Ou ainda quando Kant afirmou, que “Só pode ser conhecido, o que pode ser comprovado pela
ciência”, poderíamos perguntar: “Qual foi a ciência que comprovou este conhecimento?”
Simplesmente contraditório, e o contrário é verdade: “Qualquer coisa pode ser conhecida, mesmo
que não passe pela comprovação científica.” Parece óbvio, mas a filosofia de Kant está
completamente alicerçada nesta afirmação.

PARTINDO DO PRINCÍPIO:

Dentro da doutrina da Igreja, de sua filosofia e teologia, há o que se pode chamar de “Pecado
Original”, olhando para nós mesmos, conseguimos perceber que há uma fragmentação estrutural
em nosso ser. Muitas vezes, quando nos referimos a nós mesmos, por vezes estamos nos referindo
a sujeitos diferentes, por exemplo: “Eu sou pai”; “Eu estou aqui”; “Eu preciso de água”; “Eu preciso
de Ti ó Deus”. São frases que envolvem o ser, porém, possuem conotações diferentes e por vezes,
são essencialmente diferentes. Observe o gráfico abaixo:

Se você se analisar, neste momento, irá perceber que em você existem quatro discursos, e de
quatro maneiras diferentes você utiliza a palavra “eu”. Estas maneiras de expressar o “eu” indicam
bem mais de nós mesmos e de Deus, do que percebemos no dia a dia.

EU PRESENCIAL:
Trata-se da nossa memória, que é formada de pequenos fragmentos contínuos, como vemos na
linha pontilhada, Ex: “Eu estou com fome”; “Eu estou com sede”; “Meu dedo doe”. O termo “eu”
110

refere-se a um “eu” momentâneo e passageiro, acidental, pois o “estar com fome” não faz parte
da essência do “eu”, mas quem está com fome, é o “eu” presente, o eu de agora.
EU SOCIAL:
Está relacionado ao meu papel social, as máscaras que eu tenho, Ex: “Eu sou professor”, “eu sou
catequista”, “eu sou pai”. Podemos substituir o termo “eu” por estou, e veremos que, como a linha
pontilhada representa o tempo, nós “somos/estamos” “pai, professor ou catequista” por um período
maior, do que quando “eu estou com sede”. O “eu” mudou, apesar de permanecer o mesmo sujeito.
Ainda é um acidente, apesar de ser um acidente que nos toma um pouco mais de tempo.
EU BIOGRÁFICO:
A minha biografia, como ela é? Como foi a minha história? Quando refletimos sobre os
acontecimentos, este que reflete, obviamente “sou essencialmente eu”, mas não é o “eu
presencial”, pois apesar de estar no presente, estou avaliando o passado ou conjecturando o futuro.
Não é o “eu social”, pois é algo muito maior do que as aparências e as exterioridades. Não é um
“eu” momentâneo, é um “eu” mais duradouro, representado pelas linhas pontilhadas mais grossas
e maiores. Ex.: “Eu sou a vítima ou o opressor, nesta ou naquela situação?” É um “Eu” maior, mas
ainda é um acidente, mas já estou bem próximo da minha essência (muitos confundem sua
história com sua essência), mas não é ainda o que posso chamar de “eu” pois a história ainda não
acabou.
EU ESSENCIAL/EXISTENCIAL:
Lembra da história do quadrado? Temos a essência do quadrado em nós, sendo assim, o “Eu
Essencial” é termos a essência de quem somos. É a unidade do ser, que não está incomodado
com as necessidades do “eu presencial”, dos anseios do “eu social” ou que relevância temos na
história do “eu biográfico”. É o “eu” que sofre, mesmo quando estamos bem fisicamente, quando
estamos bem socialmente e quando estamos bem com nossa consciência (...) mesmo assim, ainda
sofre.
Quando digo: “Sou humano”, estou dizendo algo de minha essência, pois no presencial, sou
humano, no social, sou humano e no biográfico sou humano, a linha deste eu, é ininterrupta. O
problema é que, a grande maioria das pessoas, se aloja nos “eus” inferiores e nunca chega a
alcançar a instância do existencial, ou essencial, pois não sabem qual é a essência do “ser
Humano”. O “eu” essencial, é o espírito da alma.
É o que liga o recém-nascido ao moribundo, passam-se as células, as moléculas, os pensamentos,
os sonhos, os pecados, as formações, os cargos, os feitos, as atitudes e até o tempo, e o que une
tudo, ao ponto de reconhecermos em tudo, uma unidade, é a alma espiritual.
Infelizmente existem pessoas que não conseguem pensar se não por meio da imaginação, sem a
intelecção. Isso é a animalização do ser humano. Existem coisas que podem ser imaginadas, mas
não podem ser pensadas, um exemplo disso são as contradições de “viagem no tempo”, que é tão
reverberado na mídia. Nenhuma mídia explica como isso é feito, e para tapar este buraco, são
adicionadas imagens, recursos retóricos e narrativos, que estimulem a imaginação a “ver a coisa”
sem pensar na coisa.
É importante que quando vamos nos colocar em oração, quando vamos estar diante de Deus, que
seja o “eu essencial” e não o presencial, o social ou o biográfico. Deus não se relaciona com os
acidentes, Ele se relaciona com o universal, com o essencial. Por isso a Igreja insiste no Exame
de Consciência, pois ao fazer o exame de consciência, somos elevados ao “eu biográfico” então, a
Graça de Deus, se estivermos abertos, nos capta e nos eleva ao que Essencialmente somos:
Imagem e Semelhança de Deus.

Conclusão: A alma existe e possui um espírito imortal. Logo, Deus também existe.
111

2º. DEGRAU: DEUS VEIO ATÉ NÓS


Que tipo de Deus existe? Se existem milhares de religiões, ou todas estão certas, ou todas estão
erradas... mas pode ser que uma delas esteja certa e todas as outras erradas. Já sabemos que
Deus existe, mas, se existe, qual é o caminho que devemos tomar para chegar até Ele?

Origem: De onde viemos?


Identidade: Quem somos?
Propósito: Por que estamos aqui?
Moralidade: Como devemos viver?
Destino: Para onde vamos?

E como nos ensinou o Padre Léo: Visão de mundo: De quem somos?

Todas as religiões, respondem à sua maneira, a todas estas perguntas, mas muitas delas,
respondem de forma contraditória.

O QUE É RELIGIÃO?

Para responder “que tipo de Deus existe” é preciso partir da religião, e responder, que tipo de
religião existe. Depois de observar a inteligência e as provas da existência de Deus, ao longo das
eras, o ser humano, e isso é comum em todas as épocas, intuiu que deve haver um meio de
alcançar a Deus. Criaram então, doutrinas, liturgias, rituais, teorias e uma série quase infinita de
bagagem teórico/prática para ensinar o ser humano a alcançar Deus.

As religiões, fazem as seguintes promessas ou possuem as seguintes intenções:

1. Religar o homem a si mesmo;


2. Religar o homem com seu próximo;
3. Religar o homem com o meio em que vive;
4. Religar o homem a Deus;

Para religar o ser humano a si mesmo, o ser humano, necessariamente deveria saber “o que é o
ser humano”, ou melhor, seria necessário conhecer um ser humano em sua essência, sem
defeitos, sem mácula, sem fragmentos. Sabemos que somos fragmentados (os 4 “eus”), temos em
nós muitas vontades, e muitas vezes os sentimentos, a vontade e a inteligência não estão de
acordo. Ora, existe um Deus, então, existe um modelo de SER HUMANO, para que o ser humano
siga. Qual é o modelo de SER HUMANO apresentado pelas religiões? NENHUM! Nenhum que não
seja imperfeito.

Para religar o ser humano ao seu próximo, o ser humano deveria viver uma vida abnegada e
resiliente, que não tem interesse próprio, se não apenas o outro, e deveria viver isso, não com
relação à sua família, seus concidadãos ou contemporâneos, mas deve viver isso, com relação a
todos os seres humanos, e não temos uma religião assim.

Para religar o ser humano com o seu meio, sem destruí-lo, mas com o intuito de preservá-lo, não
apenas por ser belo, mas por considerar que tudo que existe, é parte de um todo, que tudo que
existe é em função do ser humano, e por sua vez, o ser humano deve voltar-se como um verdadeiro
cuidador de tudo. E a criação deveria reconhecer o ser humano, como seu senhor e seu cuidador.
O ser humano deve, por sua vez, ser capaz de dispor da natureza, para o bem comum, dominando
sem destruir, apenas com o poder de sua palavra. E não existe uma religião que apresente um ser
humano assim.
112

Para religar o ser humano a Deus, o próprio ser humano, deveria ser Deus, pois como um simples
ser humano, limitado, desligado de si mesmo, do seu próximo e hostil ao meio em que vive, poderia
ser capaz de se religar a Deus?

EVOLUÇÃO DA RELIGIÃO:

Ao longo das eras, as religiões foram amadurecendo ou evoluindo, se aperfeiçoando, e podemos


analisar estas mudanças e suas principais características básicas a seguir:

Animismo; Ancestralismo; Panteísmo (Panenteísmo); Politeísmo (animismo reciclado); Henoteísmo


(Monoteísmo primitivo); Monoteísmo

O ANIMISMO (do termo latino animus, "alma, vida") é a cosmovisão em que “seres” não humanos
(animais, plantas, objetos inanimados ou fenômenos) possuem uma “essência” espiritual, algo
como a alma humana. É o primeiro estágio da evolução religiosa da humanidade, no qual o homem
primitivo crê que todas as formas identificáveis da natureza possuem uma alma e agem
intencionalmente. O termo animismo usado para descrever um conjunto de crenças e religiões pré-
históricas ou primitivas, não é uma designação específica de uma cultura, pois tais povos, nem
sequer tinham uma palavra para designar seu conjunto de crenças. É um termo antropológico.

O ANCESTRALISMO ou ancestralidade, é um termo que designa a forma de buscar o próprio


autoconhecimento. Pensar em todas as pessoas que vieram antes de você dessa forma é entender
que há algo dentro de você muito maior, um caminho que já vinha sendo traçado de várias formas,
inclusive culturalmente. Todos os significados de ancestralidade passam por um só: a influência da
nossa família sobre quem nós somos. E ela vai muito além do que conhecemos, porque englobe
séculos de gerações e histórias cujas heranças ainda estão bem vivas. Seria o culto aos ancestrais,
é um traço da religiosidade, que une o animismo, às grandes religiões milenares atuais.

No PANTEÍSMO Deus tem o mesmo tamanho do Universo, e no PANENTEÍSMO Deus teria este
mesmo tamanho, mas viveria fora dele também. Mas a característica principal, é que em ambos
tudo o que existe, seria apenas imanente, ou em última instância, parte de Deus, pedaços de Deus.
Não haveria uma individualidade humana, e no fim, todas as coisas seriam apenas o próprio Deus.
Seria como um quadro, em que o autor do quadro, é o próprio quadro.

No POLITEÍSMO temos a existência de vários deuses, e há inúmeras religiões antigas que


possuem esta característica. O politeísmo foi extremamente criticado pelos filósofos gregos, que
inclusive eram tidos como ateus, assim como os cristãos, e por isso, os cristãos e os filósofos foram
perseguidos pelo politeísmo romano e grego. O politeísmo seria um “animismo reciclado”, em que
as características da natureza, recebem nomes próprios e ganham uma cosmologia mitológica que
se misturava com a própria história do povo em questão. Seria um quadro, sendo pintado por vários
autores diferentes e até hostis entre si.

O HENOTEÍSMO é o que podemos chamar de Monoteísmo primitivo. Os Hebreus e os


Zoroastristas possuem esta característica em comum. Seria o mesmo que dizer: “acredito em um
único Deus, apesar de existirem outros”. A fé de Abraão e de Zoroastro são parecidas neste ponto.
Abraão só não deu nome ao Deus que conheceu, já Zoroastro, identificou um Deus bom e um mal,
e escolheu acreditar no bom. Seria um quadro sendo pintado por um único Deus, porém, este Deus
teria um rival que vez ou outra consegue dar alguns retoques no quadro.

O MONOTEÍSMO é a fé de que existe apenas um único Deus. Todos os demais deuses, até
existem, mas não passam de criaturas, criados por este único ser, são chamados de “deuses” pelos
homens, mas não passam de criações deste único Deus. Ele é soberano e está acima de todas as
criaturas. Ele criou o mundo perfeito e apesar disso, deu a liberdade a duas espécies de suas
113

criaturas, os anjos (as vezes chamados de deuses pelos homens) e os homens. Ele submeteu
ambos a uma prova de amor e fidelidade, e os que considerou justos, acolheu-os junto de Si, e os
que não quiseram unir-se a Ele, estes foram condenados ao inferno.

CRISTIANISMO:

Todas estas grandes modalidades religiosas, fracassam nas promessas e intenções de “religação”
do ser humano, mas então, por fim, eis que surge o CRISTIANISMO e traz com ele a figura de
Nosso Senhor Jesus Cristo e uma série de novidades:

1. Religa o homem a si mesmo: Pois Jesus Cristo é o homem perfeito, sem pecado, sem defeito,
sem nenhuma mágoa, com uma única vontade, conduzida por sua inteligência e com os
sentimentos perfeitamente ordenados. Ele morreu, mas ressuscitou, e não foi alguém que o
ressuscitou, mas o Seu Pai, pela força do Espírito Santo, que Ele diz, serem todos Ele mesmo em
uma única pessoa.

2. Religa o homem com seu próximo: Jesus religou-se com TODOS os seres humanos, não apenas
os de sua família e seus amigos, mas também com os inimigos e até com os desconhecidos. Seus
apóstolos O apresentaram ao mundo, e como está ressuscitado, tem aparecido para muitas
pessoas ao longo da história, como à Saulo de Tarso que se converteu em Paulo, um dos maiores
nomes do Cristianismo, junto aos seus 12 apóstolos.

3. Religa o homem com o meio em que vive: Jesus de Nazaré, ainda antes de morrer, caminhou
sobre as águas, converteu água em vinho, ressuscitou mortos, multiplicou pães alimentando
milhares, apenas com sua voz, deu ordens ao vento e ao mar, e estes lhe obedeceram, e por fim,
após a morte, voltou a vida no terceiro dia.

4. Religa o homem a Deus: Jesus disse que é Deus. Ele disse que antes que Abraão existisse, Ele
já existia. Identificou-se com o nome Hebreu “Eu Sou”, e se autodenominou Javé (YHWH), o que
causou escândalo nos judeus. Disse que todos deveriam literalmente comer sua carne, o que lhe
rendeu a incompreensão por parte de seus próprios discípulos, tendo um deles, por isso, lhe
entregue à morte. Foi condenado por heresia, por se fazer Deus. Mas ressuscitou, provando que
de fato é Deus.

CRISTIANISMO, RELIGIÃO FABRICADA:

Então, eis que surge uma acusação muito pertinente: “Se o Cristianismo parece corresponder com
todas as expectativas das religiões, mostrando-se como a mais completa e quiçá, mais perfeita
dentre todas, não seria o cristianismo uma invenção humana? Uma conclusão lógica de
pessoas que ao observar as falhas de todas as religiões, pôde criar uma série de mitos e lendas
que culminariam numa religião ideal?

Bom, para entender esta acusação, é necessário um resumo histórico, e como todo resumo, há
muita coisa faltante, integramos aqui, apenas o que pode colaborar com a nossa linha de raciocínio.
É um fato conhecido que existe um elo de continuidade entre o Antigo Testamento e a Filosofia
Grega, há também uma continuidade da Filosofia Grega com a Revelação Cristã, o Novo
Testamento.

A Filosofia Grega, já não suportava mais o Politeísmo Greco/Romano, pois a Filosofia encontrava
somente símbolos, ideais e mitológicos, mas nada da origem destes símbolos era factual, os
deuses eram apenas imagens e concepções, então, veio a tragédia grega, o teatro (mídia) já não
consegue manipular a massa, pois Sócrates, por meio das perguntas (método Socrático) conseguiu
114

desbancar sozinho todo conjunto do panteão dos deuses, e por isso é assassinado, sacrificado,
mas deixa seus discípulos e uma escola de pensamento filosófico que culmina no ateísmo grego.

Com o advento do cristianismo, nós temos os filósofos gregos, vendo que Deus, ou seja, Jesus
Cristo, não é um mito, é um acontecimento, é um dado histórico, um evento temporal. Assim, a
paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, explica retroativamente tudo o que
aconteceu com Sócrates e com a filosofia grega, pois toda lógica platônica e aristotélica, está na
prática da Sã Doutrina da Salvação pregada pelos apóstolos. Temos o encontro entre São Paulo e
os filósofos gregos narrado em Atos dos Apóstolos:

“Enquanto Paulo os esperava em Atenas, à vista da cidade entregue à idolatria, o seu coração enchia-se de
amargura. Disputava na sinagoga com os judeus e prosélitos, e todos os dias, na praça, com os que ali se
encontravam. Alguns filósofos epicureus e estoicos conversaram com ele. Diziam uns: “Que quer dizer esse
tagarela?”. Outros: “Parece que é pregador de novos deuses”. Pois lhes anunciava Jesus e a
Ressurreição. Tomaram-no consigo e levaram-no ao Areópago, e lhe perguntaram: “Podemos saber que nova
doutrina é essa que pregas? Pois o que nos trazes aos ouvidos nos parece muito estranho. Queremos saber o
que vem a ser isso”. Ora (como se sabe), todos os atenienses e os forasteiros que ali se fixaram não se
ocupavam de outra coisa senão a de dizer ou de ouvir as últimas novidades. Paulo, em pé no meio do Areó-
pago, disse:

Discurso de São Paulo: “Homens de Atenas, em tudo vos vejo muitíssimo religiosos. Percorrendo a cidade e
considerando os monumentos de vosso culto, encontrei também um altar com esta inscrição: A um Deus
desconhecido. O que adorais sem o conhecer, eu vo-lo anuncio! O Deus, que fez o mundo e tudo o que nele há,
é o Senhor do céu e da terra, e não habita em templos feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos de
homens, como se necessitasse de alguma coisa, porque é ele quem dá a todos a vida, a respiração e todas as
coisas. Ele fez nascer de um só homem todo o gênero humano, para que habitasse sobre toda a face da terra.
Fixou aos povos os tempos e os limites da sua habitação. Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por
encontrá-lo como que às apalpadelas, pois na verdade ele não está longe de cada um de nós. Porque é nele que
temos a vida, o movimento e o ser, como até alguns dos vossos poetas disseram: ‘Nós somos também de sua
raça...’. Se, pois, somos da raça de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou
à pedra lavrada por arte e gênio dos homens. Deus, porém, não levando em conta os tempos da ignorância,
convida agora a todos os homens de todos os lugares a se arrependerem. Porquanto fixou o dia em que há de
julgar o mundo com justiça, pelo ministério de um homem que para isso destinou. Para todos deu como garantia
disso o fato de tê-lo ressuscitado dentre os mortos”.

Quando o ouviram falar de ressurreição dos mortos, uns zombavam e outros diziam: “A respeito disso te
ouviremos outra vez”. Assim saiu Paulo do meio deles. Todavia, alguns homens aderiram a ele e creram: entre
eles, Dionísio, o areopagita, e uma mulher chamada Dâmaris; e com eles ainda outros.”
(At 17, 16-34)

Repare na atitude dos filósofos. Se interessaram, pois na introdução, tudo o que São Paulo estava
pregando sobre Deus, era o que eles pensavam desde Sócrates, e já não queriam saber de
mitologias, e foi exatamente por achar que São Paulo falava de mais mitologias, ao mencionar a
ressurreição, que se afastam e caçoam dele. Mas o fato, é que alguns, como vemos, lhe deram
ouvidos, e é a partir daí, que temos os filósofos se convertendo ao cristianismo, sem mudarem o
que pensavam, mas ao contrário, adequando toda sua filosofia, que era à busca da verdade, ao
encontro da verdade na fé da Igreja.

A vida de Cristo, estava presente, não apenas no AT, como prefiguração, mas também, na filosofia
grega. No AT Ele foi apresentado como o Servo Sofredor, e na Filosofia Grega, foi apresentado o
Justo Perfeito.
115

COMO FABRICAR EVIDÊNCIAS?

No Antigo Testamento:

“Eis que meu Servo prosperará, crescerá, ele se elevará, será exaltado. Assim como, à sua vista, muitos ficaram
embaraçados – tão desfigurado estava que havia perdido a aparência humana –, assim o admirarão muitos
povos: os reis permanecerão mudos diante dele, porque verão o que nunca lhes tinha sido contado, e
observarão um prodígio inaudito. Quem poderia acreditar nisso que ouvimos? A quem foi revelado o braço do
Senhor? Cresceu diante dele como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza
para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos. Era desprezado, era a escória da humanidade,
homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era
amaldiçoado e não fazíamos caso dele. Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os
nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi
castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele;
fomos curados graças às suas chagas. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual
nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Foi maltratado e resignou-se;
não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do
tosquiador. Ele não abriu a boca. Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua
causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo? Foi-lhe dada sepultura ao
lado de facínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e
em sua boca nunca tenha havido mentira. Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer
sua vida em sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus dias, e a vontade do Senhor
será por ele realizada. Após suportar em sua pessoa os tormentos, ele se alegrará de conhecê-lo até o enlevo. O
Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniquidades. Eis porque lhe darei
parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os poderosos: porque ele próprio deu sua vida, e deixou-se
colocar entre os criminosos, tomando sobre si os pecados de muitos homens, e intercedendo pelos culpados.”
(Isaias 52, 13-15. 53, 1-12)

Na Filosofia Grega:

“Portanto, digamo-lo; e, se esta linguagem for demasiado rude, lembra-te, Sócrates, que não sou eu
quem fala, mas aqueles que situam a injustiça acima da justiça. Eles dirão que o justo, tal como o
representei, será açoitado, torturado, acorrentado, terá os olhos queimados, e que, finalmente,
tendo sofrido todos os males, será crucificado e saberá que não se deve querer ser justo, mas
parecê-lo.” (Livro IV, A República, Platão: Diálogo de Sócrates e Glauco)

O então padre e professor universitário Joseph Ratzinger, muito bem lembrou deste texto de Platão
e escreveu:

“Este texto, escrito 400 anos antes de Cristo, sempre voltará a comover profundamente o cristão. Na
seriedade da reflexão filosófica prevê-se que o justo perfeito no mundo deve ser o justo crucificado;
pressentiu-se aí algo daquela revelação do homem que se realiza na cruz.

O justo perfeito, quando apareceu, tornou-se o crucificado, foi entregue à morte pela justiça; e isto
nos diz impiedosamente o que é o homem: És de tal modo, ó homem, que não podes suportar o
justo, és de tal modo que o simplesmente amante se torna louco, espancado, rejeitado. Tu, como
injusto, sempre precisas da injustiça do outro, para te sentires desculpado, não podendo, portanto,
tirar proveito do justo que parece roubar-te essa desculpa. Eis o que és. João resumiu tudo isto no
ecce homo! ("eis, isto é o homem!") de Pilatos, cujo sentido fundamental é: esta é a situação do [246]
homem. Este é o homem. A verdade do homem é sua ausência de verdade. O verso do salmista "todo
homem é um mentiroso" (Sl 116 [115], 11) e vive alhures contra a verdade, já trai o que vem a ser o
homem.
116

A verdade do homem consiste em continuamente chocar-se contra a verdade; o justo crucificado


torna-se assim o espelho onde o homem se vê sem retoque. Mas, a cruz não revela o homem apenas,
e sim também a Deus: eis quem é Deus, que se identifica com o homem até este abismo e que julga
salvando. No abismo do fracasso humano descobre-se o abismo ainda mais inesgotável do divino
amor. E assim a cruz realmente é o centro da revelação, de uma revelação que não comunica
qualquer espécie de proposições, até então desconhecidas, mas que nos comunica e descobre
a nós, revelando-nos perante Deus e revelando a Deus em nosso meio.” (Introdução ao
Cristianismo, 1968, Ratzinger)

Em nossos tempos modernos, o método crítico da própria teologia, costuma distinguir o


personagem histórico, Jesus de Nazaré, que não pode ser negado pelas evidências, como iremos
ver, do personagem mitológico, Jesus Cristo, que seria uma construção, nos moldes dos profetas
do AT com os heróis e deuses da mitologia greco/romana. Falando em Jesus histórico e Cristo da
Fé. O Jesus Histórico, foi um jovem rabino condenado a morte, do qual surgiu a ideia, em seus
seguidores, de transformá-lo em um Mito, no “Deus cristão”.

Mas Olavo de Carvalho argumenta que:

“Tal conclusão deveria ter sido um milagre muito maior do que a ressurreição de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Pois Ele seria como qualquer um de nós, e como foi crucificado criaram um culto ao redor
dele, e por uma coincidência dos demônios, aconteceu tudo exatamente do jeito que estava nos
profetas e que ele disse que tinha que acontecer, mas é mais fácil ressuscitar do que fazer isso
acontecer... e aconteceu pior, aconteceu com o próprio sujeito que disse que ia acontecer. Isso é um
fato, não é um dado da fé. É mais difícil negar a vida de Cristo, do que aceitar. E qual é a explicação
que nega a ressurreição? Tem que ser uma explicação melhor, mas ela começa por exigir que eu
creia num tecido de coincidências absolutamente impossível. Está me exigindo mais fé do que Nosso
Senhor Jesus Cristo, pois Ele me pede para acreditar que Ele, sendo Deus, tenha ressuscitado, e você
está me pedindo para acreditar numa conjectura que é uma verdadeira loteria esportiva... Para
negar um único dado miraculoso, pedem que a gente aceite um universo de dados e suposições
miraculosas.” (Compilado de Olavo de Carvalho)

Então, se Deus não veio até nós, e se não existe um Jesus Histórico que é o mesmo Cristo da Fé,
ainda estamos sozinhos. Nenhuma religião está certa e o cristianismo é a pior de todas, pois é um
engodo tremendo.

“Ora, se se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição de
mortos? Se não há ressurreição de mortos, nem Cristo ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa
pregação, e também é vã a vossa fé. Além disso, seríamos convencidos de ser falsas testemunhas de Deus, por
termos dado testemunho contra Deus, afirmando que ele ressuscitou a Cristo, ao qual não ressuscitou (se os
mortos não ressuscitam). Pois, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não
ressuscitou, é inútil a vossa fé, e ainda estais em vossos pecados. Também estão perdidos os que morreram em
Cristo. Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os
homens, os mais dignos de lástima.”
(1 Cor 15, 12-19)

Os cristãos sabem o que está em jogo, se Cristo não ressuscitou, não há nenhuma outra religião
que seja capaz de unir o homem a Deus, a si mesmo, ao próximo e ao meio. Seríamos o animal
mais defeituoso de todos, pois espera algo que nunca será capaz de obter.

Conclusão: O cristianismo é real e todas as demais religiões são criações humanas que
contém partes de verdade, mas apenas o cristianismo detém toda a verdade.
117

3º. DEGRAU: JESUS CRISTO É UM PERSONAGEM


HISTÓRICO
As religiões são como a parábola da Torre de Babel. São esforços humanos para nos aproximar
de Deus, o que é completamente impossível, como já vimos. Então, a “religião” católica também
está errada? Se não, por que não? A resposta é o assunto central desta nossa reflexão. Pois, se
Jesus é mesmo quem Ele diz que é, é preciso primeiro termos provas de que Ele existiu. Jesus
Existiu?

Antes, disso, vamos trazer dois personagens históricos para verificar sua existência e veracidade
dos relatos históricos:

ALEXANDRE, EXISTIU?

Alexandre III (o Grande), nasceu e morreu entre os anos de (356-323 a. C), no Egito, exigiu ser
chamado de “Filho de Deus”, temos detalhes de sua vida, e ele só viveu 32 anos, alcançou um
sucesso sem paralelo, conquistando grande parte do mundo conhecido de sua época, desde a
Grécia, indo ao leste da índia e o sul do Egito e morreu onde hoje é o Iraque em 13 de Junho de
323 a.C. Como sabemos disso?

Graças a Lúcio Méstrio Plutarco que viveu entre os anos de 46 e 120 a.C. com 74 anos, foi
historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo médio platônico grego, conhecido principalmente por suas
obras “Vidas Paralelas e Morália.”, ele escreveu:

Neste livro, escrevendo a vida de Alexandre, o rei, e a de César, que destruiu Pompeu, não faremos
outro preâmbulo, em virtude do grande número de fatos que o tema comporta, senão pedir aos
leitores que não nos considerem sicofantas se, em lugar de narrar pormenorizadamente todas as
ações célebres desses dois varões, abreviarmos o relato e colocarmos de parte muitas delas.
(Plutarco, Vida de Alexandre)

Para termos uma ideia do tipo de narrativa, trazemos dois trechos do escrito “histórico” de Plutarco:

Antes da noite em que se fecharam no quarto nupcial, a jovem sonhou que trovejava e o raio caía
sobre seu ventre alumiando um grande fogo, qual, dividindo-se em chamas que se propagavam para
todos os lados, finalmente se extinguiu. Por sua vez, Filipe, algum tempo depois do casamento, viu-
se a si mesmo, em sonho, selando o ventre da esposa, e pareceu-lhe que o selo trazia a marca de um
leão. [...] Aristandro de Telmesso foi o único a declarar que a jovem estava grávida, pois ninguém põe
selos em recipientes vazios, e daria à luz um menino cheio de coragem, da natureza do leão.
(Plutarco, Vida de Alexandre, 2.3-5)

Seja como for, Alexandre nasceu no dia seis do mês de hecatombeu, que os macedônios chamam
loios, exatamente quando o templo de Ártemis em Éfeso era consumido pelas chamas. Hegésias de
Magnésia faz a esse propósito um comentário capaz de extinguir, com sua frieza, aquele incêndio:
“Não é de espantar”, diz ele, “que o templo tenha sido inteiramente devorado pelo fogo, pois no
momento estava ocupada em pôr Alexandre no mundo”. (Plutarco, Vida de Alexandre, 3.6)

Como pode-se perceber, os relatos “biográficos” parecem fantasiosos, comparados às biografias


atuais, mas era o estilo da época e da cultura de Plutarco, que estava imerso no politeísmo grego,
onde mito e realidade se misturam, assim, Alexandre o Grande, é quase um “deus” aos olhos do
autor. O espaço de tempo entre Alexandre e Plutarco é pouco mais de um século. Apesar disso,
Alexandre, o Grande, é um personagem histórico, porém, é conhecido pelos seus feitos militares e
políticos e não pelos relatos extraordinários narrados por Plutarco em sua Biografia.
118

ONDE FOI QUE NAPOLEÃO PERDEU A GUERRA?

Todos sabemos que Napoleão perdeu a guerra, quando perdeu a batalha de Waterloo, porém, é
importante que digamos, que tal batalha, não aconteceu em Waterloo. Arthur Wellesley, 1º. Duque
de Wellington, foi o relator da derrota de Napoleão. Este é o único relatório, escrito por quem venceu
a batalha, que ocorreu na localidade de Braine-I’Alleud et Plancenoit, 30 quilômetros de distância
de Watterloo, onde Wellesley escreveu o seu relatório.

Então, a Batalha de Watterloo, não ocorreu em Watterloo? Não, mas apesar disso, dizemos que
Napoleão, perdeu seu império em Watterloo.

Este pequeno fato, e as imprecisões relatadas por Plutarco, sobre Alexandre o Grande, nos
demonstram que a precisão dos documentos históricos, muitas vezes pode até ser questionada,
mas a existência de Alexandre e que Napoleão perdeu de fato a guerra, não pode ser questionada.

JESUS EXISTIU?

1. Relatos Romanos:

Entre os anos de 110 e 120d.C. existem três escritores latinos que nos deixaram o seu testemunho
sobre Jesus Cristo. O mais importante é o de Tácito, que, escrevendo por volta de 116, noticiava a
propósito do Incêndio de Roma ocorrido em 64d.C.:

“Um boato acabrunhador atribuía a Nero a ordem de pôr fogo à cidade. Então, para cortar o mal
pela raiz, Nero imaginou culpados e entregou às torturas mais horríveis esses homens detestados
pelas suas façanhas, que o povo apelidava de cristãos. Este nome vem-lhes de Cristo, que, sob o
reinado de Tibério, foi condenado ao suplício pelo procurador Pôncio Pilatos. Esta seita perniciosa,
reprimida a princípio, expandiu-se de novo não somente na Judéia, onde tinha a sua origem, mas na
própria cidade de Roma”. (Anais XV 44).

Este relato de aproximadamente 70 anos após os eventos ocorridos narrados nos Evangelhos, já
seria o suficiente para comprovar a Existência de Jesus Cristo. Mas, estranhamente, ainda restam
dúvidas em alguns, mas temos mais testemunhos; Suetônio, poucos anos mais tarde (em 120),
referindo-se ao reinado de Cláudio (41-54), diz que este:

“Expulsou de Roma os judeus, que, sob o impulso de Crestos, se haviam tornado causa frequente de
tumultos” (Vita Claudii XXV).

A informação coincide como texto bíblico a seguir:

“Encontrou ali um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, e sua mulher Priscila. Eles pouco antes haviam
chegado da Itália, por Cláudio ter decretado que todos os judeus saíssem de Roma.”
(At 18,2)

A expulsão deve ter ocorrido por volta de 49/50. E “Chrestós” é forma grega equivalente a
“Christós”, que traduz o hebraico Messias. Suetônio, mal-informado, julgava que Cristo se achava
em Roma, instigando as desordens. Mal-informado em termos, pois os Cristãos, tudo faziam (e
deveriam ainda fazer) como se Jesus Cristo estivesse vivo. Por fim, temos o relato de Plínio o
Jovem, Governador da Bitínia (Ásia Menor), que em 112 escrevia ao Imperador Trajano, dizendo
que os cristãos se difundiam cada vez mais e...

“Estavam habituados a se reunir em dia determinado, antes do nascer do sol, e cantar um cântico
a Cristo, que eles tinham como Deus.” (Epístolas, I. X 96)
119

Deste testemunho depreende-se que, desde os primeiros decênios do Cristianismo, o Senhor


Jesus era louvado como Deus. Os três depoimentos romanos datam de menos de cem anos após
a morte de Cristo; informam-nos com exatidão sobre o lugar e a época em que viveu. Consideram
Jesus como personagem histórico e não como mito.

2. Relatos Judaicos:

Mas existem ainda, os documentos judaicos, que deixaram no Talmud, uma coletânea de leis e
fatos históricos referentes aos discursos e catequeses dos rabinos. O valor é evidente, pois os
Judeus, eram inimigos naturais dos cristãos, a quem julgavam como hereges, mesmo assim, temos
o testemunho a seguir:

“Na véspera de Páscoa suspenderam a uma haste Jesus de Nazaré. Durante quarenta dias um
arauto, à frente dele, clamava: ‘Merece ser lapidado, porque exerceu a magia, seduziu Israel e o
levou à rebelião. Quem tiver algo para justificar, venha proferi-lo!’ Nada, porém, se encontrou que
o justificasse; então suspenderam-no à haste na véspera de Páscoa”. (Sanhedrin 43a do Talmud
da Babilônia)

Este texto parece envolver contradição: Jesus fora condenado ao apedrejamento, mas a pena
aplicada foi a crucifixão. A incoerência pode ser explicada pelo fato de que o apedrejamento era o
castigo judaico infligido aos magos e idólatras; dizendo, pois, que Jesus fora condenada à
lapidação, os judeus procuravam justificar a condenação. Contudo a crucifixão de Jesus era fato
demasiado arraigado na tradição judaica para que se pudesse dizer que morrera apedrejado.

Notemos também a acusação da magia feita a Jesus: supõe que o Senhor tenha realizado milagres
(os milagres de que fala o Evangelho); interpreta-os, porém, em sentido pejorativo como obras
diabólicas de Cristo. Outro pormenor interessante: as narrativas evangélicas dão a entender que o
processo de Jesus se realizou às pressas. Ora o Talmud admite o inverossímil intervalo de quarenta
dias entre a condenação e a execução, intervalo oferecido às testemunhas para se manifestarem,
o que vem a ser uma tentativa de reabilitar os juízes de Jesus.

Em Aboda Zara 40d Jesus é dito Bem-Pandara ou Bem Panthera, que significa filho de Pantera.
Esta expressão aramaica parece ser a deformação do grego huiòs tes parthénou (filho da Virgem),
título com que os cristãos designavam Jesus; segundo a intenção polêmica dos talmudistas, o
substantivo comum parthénos foi transformado em nome próprio e passou a designar o pai ilegítimo
que os rabinos atribuíam a Jesus (Maria estaria oficialmente casada com o homem cujo nome no
Talmud é Pappos ou Stada). Teríamos nesta passagem rabínica uma confirmação da antiguidade
da fé no nascimento virginal de Jesus.

Fora da tradição rabínica existe o historiador judeu Flávio Josepho (37-95), que nas suas
“Antigüidades Judaicas” se refere a Jesus, há uma controvérsia sobre o seu relato, pois, existem
dois relatos em traduções diferentes, a primeira, é tida como verdadeira, a segunda, dizem que foi
adulterada pelos cristãos:

Nessa época [a época de Pilatos], havia um homem sábio chamado Jesus. Sua conduta era boa e
[ele] era conhecido por ser virtuoso. Muitos judeus e de outras nações tornaram-se seus discípulos.
Pilatos condenou-o à crucificação e à morte. Mas aqueles que se tornaram seus discípulos não
abandonaram seu discipulado, antes relataram que Jesus havia reaparecido três dias depois de sua
crucificação e que estava vivo; por causa disso, ele talvez fosse o Messias, sobre quem os profetas
contaram maravilhas. (Tradução Árabe)

“Por essa época apareceu Jesus, homem sábio, se é que há lugar para o chamarmos homem. Porque
ele realizou coisas maravilhosas, foi o mestre daqueles que recebem com júbilo a verdade, e arrastou
muitos judeus e gregos. Ele era o Cristo. Por denúncia dos príncipes da nossa, Pilatos condenou-o ao
120

suplício da Cruz, mas os seus fiéis não renunciaram ao amor por ele, porque ao terceiro dia ele lhes
apareceu ressuscitado, como o anunciaram os divinos profetas juntamente com mil outros prodígios
a seu respeito. Ainda hoje subsiste o grupo que, por sua causa, recebeu o nome de cristãos” (Tradução
Latina)

Josefo inclusive faz outro relato sobre Jesus e os cristãos, citando inclusive Anás que foi quem
condenou Jesus:

“Festo está morto, e Albino está a caminho. Assim, ele [Ananus, o sumo sacerdote] reuniu o Sinédrio
dos juízes e trouxe diante deles o irmão de Jesus, que era chamado Cristo, cujo nome era Tiago, e
alguns outros [ou alguns de seus companheiros] e, quando havia formulado uma acusação contra
eles como transgressores da lei, ele os entregou para que fossem apedrejados.”

3. Relatos Gregos:

Talo e Flegon que eram historiadores do primeiro século. Registraram a ocorrência das trevas
sobrenaturais relatadas nos Evangelhos quando Jesus foi crucificado:

“Desde a hora sexta até a nona, cobriu-se toda a terra de trevas.”


(Mt 27,45)

Como a crucificação se deu na lua cheia, era impossível ocorrer um eclipse. Portanto, as trevas
que aconteceram quando Jesus foi crucificado não tinham explicação natural. Por isso, chamaram
a atenção dos historiadores de então.

Existem no total dez escritores não-cristãos conhecidos que mencionam Jesus num período de até
150 anos depois de sua morte. Em contrapartida, temos nesses mesmos 150 anos, nove fontes
não-cristãs que mencionam Tibério César, o imperador romano dos tempos de Jesus. Ora, se
Tibério Cesar é um personagem histórico, logo, Jesus de Nazaré é também. As dez fontes não-
cristãs são:

1. Flávio Josefo; 6. Suetônio, historiador romano;


2. Tácito, historiador romano; 7. Luciano, satirista grego;
3. Plínio, o Jovem, político romano; 8. Celso, filósofo romano;
4. Flegon, escravo liberto que escrevia 9. Mara bar Serapion, cidadão reservado
histórias; que escrevia para seu filho;
5. Talo, historiador do século I; 10. O Talmude.

É possível encontrar uma lista completa das menções a Cristo feitas por essas fontes em Norman
L. GEISLER, Enciclopédia de apologética. São Paulo: Vida, 2002, p. 447-52; v. tb. Gary
HABERMAS, The Historicaljesus. Joplin, Mo.: College Press, 1996, capo 9.

FATOS HISTÓRICOS DA VIDA DE JESUS:

Temos então, 12 fatos históricos acerca de Jesus, que estão narrados, não apenas nos
Evangelhos, mas em documentos históricos:

1. Jesus viveu durante o tempo de Tibério César.


2. Ele viveu uma vida virtuosa.
3. Realizou maravilhas.
4. Teve um irmão chamado Tiago.
5. Foi aclamado como Messias.
6. Foi crucificado a mando de Pôncio Pilatos.
121

7. Foi crucificado na véspera da Páscoa judaica.


8. Houve trevas inexplicáveis no momento da morte de Jesus.
9. Seus discípulos acreditavam que ele ressuscitara dos mortos.
10. Seus discípulos estavam dispostos a morrer por sua crença.
11. O cristianismo espalhou-se rapidamente, chegando até Roma.
12. Seus discípulos negavam os deuses romanos e adoravam Jesus como Deus.

Diante dos relatos históricos, e do conhecimento que temos até aqui, qual seria a possibilidade dos
discípulos de Jesus, entregarem-se ao martírio, negando os deuses, negando sua própria religião,
para viver uma fé, que teria sido inventada por alguém, sem nenhum tipo de prova, sem nenhum
dado histórico que não fossem os relatos dos que foram testemunhas de tudo o que aconteceu com
Jesus?

“Tem mais, a doutrina que Jesus pregava era de difícil vivência no meio da decadência romana; o
orador romano Tácito, se referia ao cristianismo como “desoladora superstição”, Minúcio Félix,
falava de “doutrina indigna dos gregos e romanos”. Os apóstolos não teriam condições de inventar
uma doutrina tão diferente para a época.

Será que poderia um mito ter vencido o Império Romano?

Será que um mito poderia sustentar os cristãos diante de 250 anos de martírios e perseguições? O
escritor cristão Tertuliano (†220), de Cartago, escreveu que “o sangue dos mártires era semente de
novos cristãos”.

Será que um mito poderia provocar tantas conversões, mesmo com sérios riscos de morte e
perseguições?

No século III já havia cerca de 1500 sedes episcopais (bispos) no mundo afora. Será que um mito
poderia gerar tudo isto? É claro que não. Será que um mito poderia sustentar uma Igreja, que
começou com doze homens simples, e que já tem 2000 anos; que já teve 264(*) Papas, e que tem
hoje mais de 4000 bispos e cerca de 410 mil sacerdotes em todo o mundo?

As provas são evidentes, Jesus Cristo existiu!” (AQUINO, F; “Por que sou Católico?”, Ed. Cleofas, 30ª.
Edição, 2015)

(*) Quando este texto foi escrito, o papa era São João Paulo II, que foi sucedido por Bento
XVI e depois pelo atual Papa Francisco.

Conclusão: Jesus Cristo é um personagem histórico, Ele morreu e conforme os


testemunhos históricos, ressuscitou e criou dando início ao Cristianismo.
122

4º. DEGRAU: AS SAGRADAS ESCRITURAS SÃO


DOCUMENTOS HISTÓRICOS CONFIÁVEIS
O ANTIGO TESTAMENTO:

Uma vez conhecidos os documentos históricos não cristãos, é hora de analisarmos os documentos
históricos cristãos e judaicos, que são os quatro Evangelhos, todo o Novo Testamento e o Antigo
Testamento. Comecemos pelo Antigo Testamento:

A Bíblia judaica contém 24 livros (ou 22, dependendo de como se combinam e contam os mesmos
livros), um conjunto geralmente denominado Bíblia hebraica (BH), Tanak e até Miqra. Na verdade,
Tanak é um acrônimo, formado a partir das três partes da Bíblia hebraica: a Lei, os Profetas e os
Escritos. Em hebraico, essas categorias se chamam Torah, Nebiim e Ketubim, daí TNK ou TaNaK
(Tanak). (MacDonald, L. M; A origem da Bíblia)

Então, a Tanakh tem a seguinte constituição:

Torá (Ensino): São 5 livros - Gênesis (Bereshit - No início), Êxodo (Shemot - Nomes), Levíticos
(Vayikra - E ele disse), Números (Bamidbar - No deserto) e Deuteronômio (Devarim - Palavras).

Nevi'im (Profetas): São 8 livros - Profetas Pioneiros: Josué, Juízes, Samuel e de Reis. Últimos
Profetas: Isaías, Jeremias e Ezequiel e dos 12 profetas menores contados como um único livro.
(Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e
Malaquias.

Ketuvim (Escritos): Consiste de 11 livros, Livros poéticos: Salmos, Provérbios e Jó. Cinco
pergaminhos: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester são coletivamente
conhecidos como Hamesh Megillot (Os cinco rolos), são os mais recentes. Livros de Relatos:
Daniel, Esdras-Neemias e Crônicas.

Os textos escritos da Tanak, nem sempre eram suficientes para o ensino do povo judeu, então, ao
longo de milênios, os hebreus, judeus e samaritanos, desenvolveram o Talmude, que eram as
interpretações, morais, analógicas, aplicações práticas da Tanak, antes transmitida oralmente
passada para a escrita. Um dado momento, com o exílio e a derrota dos judeus para os romanos,
viu-se a necessidade de compilar os ensinamentos orais, e assim o Talmude é formado de duas
partes: Mishná, o primeiro compêndio escrito da Lei Oral judaica; e o Guemará, uma discussão da
Mishná e dos escritos tanaíticos que frequentemente abordam outros tópicos.

TALMULDE:

O Talmude, não faz parte das Sagradas Escrituras cristãs, e para a Igreja Católica, o Talmude é
Nosso Senhor Jesus Cristo e a Igreja por Ele instituída.

O Antigo Testamento, composto de 39 livros, são escritos quase na sua totalidade em hebraico,
exceto alguns pequenos trechos em aramaico. O aramaico é uma língua muito semelhante ao
hebraico, uma espécie de hebraico popular, e utiliza o mesmo alfabeto e era a língua falada por
Nosso Senhor Jesus Cristo, pois era a língua falada na Palestina. A cópia mais completa de que
dispomos do Antigo Testamento data do ano 900 d.C. O último livro do AT a ser escrito foi
completado por volta do ano 400 a.c. Ou seja, a cópia completa mais antiga disponível é de 1.300
anos depois, o que, aparentemente, o colocaria na mesma situação que os outros escritos da
antiguidade clássica. Porém outras evidências demonstram o elevado grau de preservação e
confiabilidade do Antigo Testamento.
123

CONCILIO DE JAMNIA:

É importante dizer, que esta divisão em 39 livros da Tanak, foi feita no Concílio de Jamnia (em
torno do ano 100 d.C). Este concílio, procurou reunir em um “cânon” (Cana de medir, régua ou
Padrão) os escritos judaicos e distinguir o que era “contaminação cristã” e o que era essencialmente
judaico, foi em torno desta época que o Talmulde também foi redigido.

O objetivo era bem claro, eliminar da religião judaica, todo indício de cristianismo para não confundir
os judeus e assim, condenar a então “seita do Nazareno” como herege e digna de exclusão das
sinagogas, uma vez que o templo havia sido destruído no ano 70 d.C pelo imperador Tito.

Isto significa que até o ano 100 d.C., os judeus não possuíam um Cânon bíblico bem definido, e
nunca tinha sido feita uma lista dos livros divinamente inspirados, esta definição ficava ao encargo
dos rabinos das mais variadas vertentes do judaísmo de então, sejam Fariseus, Saduceus, Zelotes,
Essênios etc...

SEPTUAGINTA (DOS 70):

Por volta do ano 200 a.C. Ptolomeu II (287-247 a.C.) rei do Egito, encomendou uma tradução Grega
das Escrituras judaicas, para a Biblioteca de Alexandria. Para conseguir que os Judeus
consentissem emancipou 100 mil escravos judeus, e enviou Aristéias, à Jerusalém para solicitar a
Eliazar (Sumo Sacerdote dos Judeus) para pedir uma cópia das Escrituras judaicas, a pedido de
Demétrio de Fálaro, curador da Biblioteca de Alexandria.

Mas há uma lenda sobre esta tradução, ela teria sido realizada em 70 dias, por 70 sábios resultando
70 cópias, que eram exatamente idênticas e após o término da tradução, o texto grego foi lido na
presença do Sumo Sacerdote Judeu, dos príncipes judeus, e do povo judeu, e foi considerado em
perfeita consonância com os originais hebraicos.

O fato por trás da lenda, é que houve um esmero muito grande na tradução, e que claro, já havia
traduções de muitos dos livros para o Grego, que eram traduções apócrifas, o que o Sumo
Sacerdote fez, foi apenas reconhecer que a tradução estava de acordo com os originais, e o fez a
pedido de Ptolomeu II, e todo este processo está registrado em uma série de documentos
históricos.

O motivo da tradução também era atender aos Judeus Gregos e de outras nacionalidades, pois o
grego era como o Inglês hoje (ou mandarim) e havia muitos judeus, já naquele tempo que não
dominavam o hebraico. Após a queda de Jerusalém, a Septuaginta, que já era a tradução mais
comum dos Escritos Sagrados Judeus, tornou-se o principal texto em uso.

Os livros que compunham a Septuaginta, conforme a ordem original:

“Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel (1 Reis), 2 Samuel (2
Reis), 1 Reis (3 Reis), 2 Reis (4 Reis), 1 Crônicas (1 Paralipômenos), 2 Crônicas (2 Paralipômenos), 1
Esdras, 2 Esdras (Esdras e Neemias), Ester, Judite, Tobias, 1 Macabeus, 2 Macabeus, 3 Macabeus, 4
Macabeus, Salmos, Odes, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Job, Sabedoria, Eclesiástico
(Sirac), Salmos de Salomão, Oséias, Amós, Miquéias, Joel, Obadias, Jonas, Naum, Habacuque,
Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias, Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruque, Epístola de Jeremias,
Ezequiel, Suzana (fragmentos de Daniel) , Daniel, Bel e o Dragão.” (SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL,
2003, XII-XIII).

Aqui vale ressaltar que a tradução da Septuaginta, foi o texto escolhido pelos autores do Novo
Testamento para citar e fazer referência. Há citações da Bíblia hebraica também, mas é notório,
124

que a Igreja primitiva, sempre adotou o texto grego como referência, até pela facilidade para
referenciar em meio ao império Romano e cidades Gregas onde os apóstolos fundaram igrejas e
formaram comunidades.

ACUSAÇÃO PROTESTANTE:

Estas informações são importantes, por que existe uma acusação protestante, de que a Igreja
Católica, adicionou ao Cânon do AT livros que não eram considerados sagrados, que como
podemos ver é uma acusação falsa, pois a Sptuaginta, que era tida como Sagrada Escritura por
muitos judeus antes de Cristo, contém 14 livros a mais do que a Tanak contém hoje.

Os livros de Judite, Tobias, 1 Macabeus, 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico (Sirac), Baruque,


Suzana (fragmentos de Daniel), são tidos pelos católicos como parte da Sagrada Escritura, e
recebem o nome de Deuterocanônicos (Canonizados depois) por parte dos católicos, já os
protestantes quando se referem a estes livros, os chamam de apócrifos (Secretos).

Fato é que, a septuaginta não era um único conjunto de livros, havia várias versões antes de Cristo
e já no período da Igreja Primitiva, muitas versões existia. Muitas bíblias da Reforma Protestante
seguem o cânone judaico e excluem estes livros adicionais. Entretanto, católicos romanos incluem
alguns destes livros em seu cânon e as Igrejas ortodoxas usam todos os livros conforme a
Septuaginta. Anglicanos, assim como as Igrejas orientais, usam todos os livros exceto o Salmo
151, e a bíblia do rei Jaime em sua versão autorizada inclui estes livros adicionais em uma parte
separada chamada de Apocrypha.

DEUTEROCANÔNICOS CITADOS PELO NOVO TESTAMENTO:

Há ainda objeções que afirmam que nem Jesus e os Apóstolos citaram os deuterocanônicos. Ora,
se este fosse um critério verdadeiro para determinar a canonicidade de um livro com a Fé Cristã,
estariam em não conformidade pelo menos os livros Juizes, Crônicas, Ester, Cântico dos Cânticos,
que também não são citados por eles. Entretanto, o NT faz várias referências aos textos
deuterocanônicos.

Um bom exemplo se encontra na Carta aos Hebreus:

Devolveram vivos às suas mães os filhos mortos. Alguns foram torturados, por recusarem ser libertados,
movidos pela esperança de uma ressurreição mais gloriosa.
(Hb 11,35)

Na Tanak encontramos muitos relatos de mulheres que receberam seus filhos mortos, esperando
a ressurreição. Temos Elias que ressuscita o filho da viúva em Sarepta (1 Rs 17) ou Eliseu que
ressuscita o filho da mulher sunamita. Mas não iremos encontrar na Tanak, um exemplo de alguém
sendo torturado e se recusando ser liberto, por que esperava uma ressurreição gloriosa, senão em
2 Macabeus:
1
Havia também sete irmãos que foram um dia presos com sua mãe, e que o rei, por meio de golpes de
azorrague e de nervos de boi, quis coagir a comerem a proibida carne de porco. 2Um dentre eles tomou a
palavra e falou assim em nome de todos: “Que nos pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos a
morrer, antes de violar as leis de nossos pais”. 3O rei, fora de si, ordenou que aquecessem até a brasa
assadeiras e caldeirões. 4Logo que ficaram em brasa ordenou que cortassem a língua do que falara por todos e,
depois, que lhe arrancassem a pele da cabeça e lhe cortassem também as extremidades, tudo isso à vista de
seus irmãos e de sua mãe. 5Em seguida, mandou conduzi-lo ao fogo inerte e mal respirando, para assá-lo.
Enquanto o vapor da assadeira se espalhava em profusão, os outros, com sua mãe, exortavam-se mutuamente
a morrer com coragem. 6“O Senhor nos vê – diziam – e certamente terá compaixão de nós, como o diz
125

claramente Moisés no seu cântico de admoestações: Ele terá compaixão de seus servos.” 7Desse modo,
morto o primeiro, conduziram o segundo ao suplício. Arrancaram-lhe a pele da cabeça com os cabelos e
perguntaram-lhe: “Comerás carne de porco, ou preferes que teu corpo seja torturado membro por
membro?”. 8Ele respondeu: “Não” – no idioma de seu país. Por isso, padeceu os mesmos tormentos do primeiro.
9
Estando prestes a dar o último suspiro, disse: “Maldito, tu nos arrebatas a vida presente, mas o Rei do
universo nos ressuscitará para uma vida eterna, pois morremos por fidelidade às suas leis”.
(2 Mb 7, 1-9)

Outro exemplo primoroso, de referências do NT aos Deuterocanônicos, é encontrado em


Apocalipse, que cita o livro de Tobias a seguir:

Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os
12

mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao
Senhor. 13Mas porque eras agradável ao Senhor, foi preciso que a tentação te provasse. 14Agora o Senhor
enviou-me para curar-te e livrar do demônio Sara, mulher de teu filho. 15Eu sou o anjo Rafael, um dos sete que
assistimos na presença do Senhor”.
(Tb 12, 12-15)

Podemos vasculhar a Tanak, que é a opção feita pelos protestantes do AT, e não se encontrará
uma única referência aos 7 anjos que estão na presença do Senhor, mas Apocalipse, faz uma
referência direta a tais anjos:
2
Eu vi os sete Anjos que assistem diante de Deus. Foram-lhes dadas sete trombetas.3Adiantou-se outro anjo
e pôs-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro na mão. Foram-lhe dados muitos perfumes, para que os ofere-
cesse com as orações de todos os santos no altar de ouro, que está adiante do trono. 4A fumaça dos perfumes
subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus. 5Depois disso, o anjo tomou o turíbulo,
encheu-o de brasas do altar e lançou-o por terra; e houve trovões, vozes, relâmpagos e terremotos. 6Então os
sete Anjos, que tinham as trombetas, prepararam-se para tocar.
(Ap 8, 2-6)

Um último exemplo faz-se necessário, para demonstrar o quão ligados ao NT estão os livros
Deuterocanônicos é justamente o termo “Pai” utilizado por Nosso Senhor, para se referir da Deus,
pois no NT ele faz isso 272 vezes, e o sentido da palavra, é num contexto de intimidade, porém,
Nosso Senhor afirmou que Ele é o Filho de Deus, tornando Deus, efetivamente Seu Pai.

As oito vezes que a Tanak se refere a Deus como Pai, o contexto é se referindo a Deus, como
Chefe do Povo, como Criador do mundo e por isso foi chamado de Pai, porém, é justamente em
dois dos livros Apócrifos, que o termo “Pai” é utilizado no mesmo contexto em que Jesus se referia
ao Pai, o primeiro está a seguir:

“Senhor, meu pai e soberano de minha vida, não me abandoneis ao conselho de meus lábios, e não permitais
que eles me façam sucumbir.”
(Eclo 23,1)

Esta prece, é uma alusão direta, uma profecia que se realizou na crucificação de Jesus, o outro
texto é ainda mais revelador, pois até a conotação do texto é a mesma que o NT usa, nas palavras
ditas por Jesus:

Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho do Senhor!14Sua existência é uma censura às
13

nossas ideias; basta sua vista para nos importunar.15Sua vida, com efeito, não se parece com as outras, e os
seus caminhos são muito diferentes.16Ele nos tem por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nossos
caminhos como de manchas. Julga feliz a morte do justo, e gloria-se de ter Deus por pai.17Vejamos, pois, se
suas palavras são verdadeiras, e experimentemos o que acontecerá quando da sua morte, 18porque, se o justo
é filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos dos seus adversários.19Provemo-lo por ultrajes e
126

torturas, a fim de conhecer a sua doçura e estarmos cientes de sua paciência. 20Condenemo-lo a uma morte
infame. Porque, conforme ele, Deus deve intervir”. 21Eis o que pensam, mas enganam-se, sua malícia os
cega:22eles desconhecem os segredos de Deus, não esperam que a santidade seja recompensada, e não
acreditam na glorificação das almas puras.23Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de
sua própria natureza. 24É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao
demônio a provarão.
(Sb 2, 13-24)

Ora, o livro de Sabedoria está profetizando o relato de Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz, e ainda
cita que o Justo, chama a Deus por Pai, e se gloria disso, o que deixou os sacerdotes “mordidos”
de inveja, sinalizando que tal atitude é diabólica. As referências no NT deste trecho de Sabedoria
são dezenas:

“A multidão conservava-se lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo: Salvou a
outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus! […] Se és o rei dos judeus, salva-te a ti
mesmo. […] Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e
salva-nos a nós!”
(Lc 23,35.37.39).

“Mas Jesus se calava e nada respondia. O sumo sacerdote tornou a perguntar-lhe: És tu o Cristo, o Filho de Deus
bendito? […] Alguns começaram a cuspir nele, a tapar-lhe o rosto, a dar-lhe socos e a dizer-lhe: Adivinha! Os
servos igualmente davam-lhe bofetadas.”
(Mc 14,61.65)

“Querendo Pilatos satisfazer o povo, soltou-lhes Barrabás e entregou Jesus, depois de açoitado, para que fosse
crucificado. […] Davam-lhe na cabeça com uma vara, cuspiam nele e punham-se de joelhos como para
homenageá-lo. Depois de terem escarnecido dele, tiraram-lhe a púrpura, deram-lhe de novo as vestes e
conduziram-no fora para o crucificar.”
(Mc 15,15.19-20)

“salva-te a ti mesmo! Desce da cruz! Desta maneira, escarneciam dele também os sumos sacerdotes e os
escribas, dizendo uns para os outros: Salvou a outros e a si mesmo não pode salvar! Que o Cristo, rei de Israel,
desça agora da cruz, para que vejamos e creiamos! Também os que haviam sido crucificados com ele o
insultavam.”
(Mc 15,30-31)

Das 350 citações do Antigo Testamento que há no Novo, 300 são tiradas da Versão Septuaginta,
o que mostra o uso da Bíblia completa pelos apóstolos, mesmo assim, muitos protestantes, sem
conhecimento de causa, dizem que o conteúdo dos Deuterocanônicos são reprováveis ou até
heréticos, mas a Tanak está repleta de fatos reprováveis como as filhas de Lot engravidarem dele,
depois de o embebedar (Gn 19,30-36). O Rei Saul consultou uma espírita e falou com o profeta já
falecido (I Reis 28,8), Abraão teve um filho fora de seu casamento e depois o expulsou junto com
a sua mãe (Gn 16), e o Patriarca Jacó casou-se várias vezes e teve muitos filhos fora do casamento
(Gn 30,4-5.7.9-10.12). Davi planejou a morte de um de seus soldados para ficar com sua esposa
(2 Sm 11).

Será que por causa destes relatos poderíamos cortar Gênesis, Reis ou Samuel do AT? Será por
isso que podemos afirmar que o livro de Gênesis então promove a poligamia? Ou que nos é lícito
sacrificar os filhos à Deus, como Abraão “quase” fez? Ora, se não é o juízo subjetivo e pessoal que
coloca ou retira livros no Cânon Bíblico, o que é? Qual foi o juízo adotado pelos primeiros cristãos
para receber ou não um livro como canônico?
127

O critério deles foi o mesmo dos cristãos que viveram na era apostólica quando aceitaram que a
Lei de Moisés não era necessária para alcançar a Justiça (At 15): o discernimento da Única e
Verdadeira Igreja de Cristo.

DEFINIÇÃO DO CANON CATÓLICO:

No ano de 367 d.C, a Igreja Católica se reuniu em um Concílio em Laodicea, e dentre as definições
como quais seriam os Salmos utilizados na liturgia, a Igreja definiu a lista de livros que pertenceriam
ao Antigo Testamento, e a lista é a seguinte:

Das Origens aos Reis (7 Livros): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué e
Juízes.

Dos Reis de Israel e o Exílio (7 Livros): Rute, Samuel I, Samuel II, Reis I, Reis II, Crônicas I e
Crônicas II.

Fatos após o Exílio na Babilônia (7 Livros): — Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, Macabeus I
e Macabeus II.

Livros Sapienciais de Ensino e Oração (7 Livros): Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos,
Eclesiástico (ou Sirac) e Sabedoria.

Profetas Maiores com Pregações (6 Livros): Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel e
Daniel.

Profetas Menores (12 Livros): Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc,
Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

Totalizando 46 livros, e este é o Cânone oficial da Igreja Católica até hoje.

O NOVO TESTAMENTO:

Por volta do ano 393, a Igreja Católica se reuniu no Concílio de Hipona e definiu os 27 livros do NT
e no ano de 397, em Cartago, a Igreja confirmou a seleção e a escolha dos livros. Ela deixou de
fora muitos livros, os quais denominou apócrifos, a lista do NT canonizada pela Igreja, desde então,
até o presente momento é a seguinte:

Evangelhos e Atos dos Apóstolos (5 Livros): Mateus, Marcos, Lucas, João e Atos dos Apóstolos.

Cartas de São Paulo (14 Livros): Carta aos Romanos, Coríntios I e II, Gálatas, Efésios, Filipenses,
Colossenses, Tessalonicenses I e II, Timóteo I e II, Tito, Filemon, Hebreus.

Cartas Católicas (8 Livros): Carta de Tiago, Pedro I e II, João I, II e III, Judas, Apocalipse.

O total de livros na Bíblia católica é de 73 (46 AT e 27 NT).

APÓCRIFOS:

Uma “pequena” lista dos livros que eram considerados pelos cristãos como inspirados por Deus,
mas que a Igreja em Hipona deixou de lado pode ser vista a seguir:

Evangelhos: Protoevangelho de Tiago; Evangelho da Infância, de Tomé; Evangelho de Pedro;


Evangelho de Nicodemos; Evangelho dos Nazarenos; Evangelho dos Ebionitas; Evangelho dos
128

Hebreus; Evangelho dos Egípcios; Evangelho de Tomé; Evangelho de Filipe; Evangelho de Maria.
Atos: Atos de João; Atos de Pedro; Atos de Paulo; Atos de André; Atos de Tomé; Atos de André e
Matias; Atos de Filipe; Atos de Tadeu; Atos de Pedro e Paulo; Atos de Pedro e André; Martírio de
Mateus; Ato Eslavo de Pedro; Atos de Pedro e dos Doze Apóstolos. Epístolas: III Coríntios;
Epístola aos Laodicenos; Cartas de Paulo e Sêneca; Cartas de Jesus e Abgar; Carta de Lêntulo;
Epístola de Tito. Apocalipses: Apocalipse de Pedro; Apocalipse Copta de Paulo; Primeiro
Apocalipse de Tiago; Segundo Apocalipse de Tiago; Apócrifo de João; Sofia de Jesus Cristo; Carta
de Pedro a Filipe; Apocalipse de Maria.

“Nenhum desses livros cristãos foi inicialmente identificado como “apócrifo” ou “pseudepigráfico”, e
é muito provável que alguns cristãos primitivos os reconhecessem todos como Escritura cristã. A
identificação dessa literatura como apócrifa ou pseudepigráfica muitas vezes prejudica sua
investigação, mas esses termos identificam hoje de modo conveniente a literatura não bíblica da
Antiguidade.” (MacDonald, L. M; A origem da Bíblia)

Deixaremos aqui, para que possamos compreender o conteúdo de um dos apócrifos mais famosos,
a Terceira Carta de São Paulo aos Coríntios, que se trata de um autor desconhecido, fazendo-se
passar por São Paulo, imitando o seu estilo e procurando refutar ideias gnósticas que se infiltravam
na Igreja nascente, e distorciam o ensinamento de São Paulo sobre a ressurreição nas duas
primeiras epístolas aos Coríntios.

Essa obra ganhou tamanha popularidade que, por algum tempo, foi tida como canônica pela igreja
Armênia e pela Igreja Siríaca (principalmente as próximas de Edessa). Os escritos de Santo
Afraates (270-345 d.C.) e Santo Efrém, o Sírio (306-373 d.C.) indicam que a Igreja Siríaca do quarto
século ainda considerava III Coríntios como canônico. Afraates cita 3Cor 2,10 na seção 12 de sua
obra Demonstrações IV, atribuindo-a ao apóstolo São Paulo, enquanto Efrém dedicou um capítulo
inteiro a III Coríntios em seu comentário bíblico de quatro volumes. Em seu comentário, Efrém
critica os hereges bardesânios, por não incluírem III Coríntios em suas escrituras. Efrém parece
não estar ciente da sua rejeição no ocidente, assim como dos argumentos contra a autoria paulina
da carta, e cita III Coríntios com frases como “o bendito apóstolo ensina”. O fato de III Coríntios não
ser encontrada em comentários posteriores da Igreja Siríaca indica que ela perdeu seu status
canônico em algum ponto do século V.

Segue seu conteúdo:

¹Paulo, o prisioneiro de Jesus Cristo, aos irmãos em Corinto – Saudações! ²Estando em meio a tantas tribulações,
eu não me surpreendo que os ensinamentos do maligno tenham se espalhado tão rapidamente. ³Mas o Senhor
Jesus Cristo irá apressar sua vinda e reduzirá a nada (não mais aturando a insolência) [de] quem falsifica suas
palavras. ⁴Pois eu entreguei a vós primariamente o que recebi dos apóstolos [que vieram] antes de mim, os
quais estiveram sempre juntos a Jesus Cristo. ⁵A saber, [recebi] que Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu de Maria,
da estirpe de Davi (segundo a carne), que o Espírito Santo foi enviado do Céu pelo Pai a ela (por meio do anjo
Gabriel), ⁶para que ele [Jesus] pudesse vir a este mundo e salvasse toda a carne por meio da sua própria carne.
Para então poder nos ressuscitar na carne como ele mesmo se apresentou a nós como exemplo. ⁷ E tendo o
homem sido criado pelo seu Pai, ⁸o homem foi por esta razão resgatado por ele quando estava perdido, para
ser vivificado pela adoção [filial]. ⁹Pois o Deus altíssimo, criador do céu e da terra, enviou os profetas primeiro
aos judeus, para liberta-los dos seus pecados. ¹⁰Pois ele desejava salvar a casa de Israel; portanto, ele tomou do
Espírito de Cristo e derramou sobre os profetas, os quais proclamaram o verdadeiro culto a Deus por um longo
período de tempo. ¹¹Mas o Príncipe da Iniquidade que desejava ele mesmo ser Deus, lançou a mão sobre eles e
os matou e sujeitou toda a carne as suas [perversas] paixões. ¹² Mas Deus Todo-poderoso, sendo justo, e não
desejando repudiar sua criação, teve misericórdia, ¹³e enviou seu Espírito à Maria da Galileia, ¹⁴para que o
Maligno fosse vencido pela mesma carne que ele havia dominado ¹⁵e então fosse convencido de que não
era [como] Deus.¹⁶Pois foi pelo seu corpo que Jesus Cristo salvou toda a carne, ¹⁷oferecendo em seu próprio
corpo um templo de justiça ¹⁸através do qual somos salvos. ¹⁹Aqueles que seguem [os que negam essa
doutrina] não são filhos da justiça, mas da ira, que desprezam a sabedoria de Deus ²⁰e em sua descrença
129

declaram que os céus e a terra e tudo o que neles há, não são obras de Deus. ²¹Eles portanto, professam a
maldita crença da serpente. ²²Afastai-vos deles e se mantenham distantes de sua doutrina. ²³E aqueles que
dizem não haver ressurreição da carne, certamente não terão ressurreição [para a vida, mas para a
condenação], ²⁴pois não creem naquele que de fato ressuscitou dos mortos. ²⁵Eles não sabem, ó Coríntios, sobre
o semear do trigo ou outros grãos que lançados nus no solo e perecendo, crescem novamente pela vontade de
Deus, em corpos vestidos ²⁶E ele não apenas levanta o mesmo corpo que semeou, mas um muito mais
abençoado. ²⁷E se alguém não compreender a parábola das sementes, ²⁸que ele olhe para Jonas, filho de Amitai,
o qual, relutante de pregar aos Ninivitas, foi engolido pela baleia. ²⁹E após três dias e três noites, Deus ouviu a
oração de Jonas desde as profundezas do Abismo, ³⁰ e nenhuma de suas partes foram corrompidas, nem
mesmo um fio de cabelo ou um cílio. ³¹Quanto mais não fará ao ressuscitar a vós que creram em Cristo Jesus, o
qual também foi ressuscitado. ³²Igualmente, quando um corpo foi atirado pelos filhos de Israel sobre os ossos
do profeta Eliseu, o corpo ressuscitou dos mortos. ³³Quanto mais vós não deverão naquele dia se levantar com
os corpos intactos, após terem sido atirados no corpo, ossos e espírito do Senhor. ³⁴Se, porém, vós receberem
outra doutrina. Não permita que qualquer outro homem me perturbe, ³⁵pois tenho esses grilhões em mim para
que eu ganhe a Cristo, e carrego também suas marcas, para que eu possa obter a ressurreição dos mortos. ³⁶E
quem permanece na regra que recebemos pelos santos profetas e pelo santo Evangelho, receberá
galardão. ³⁷Mas para quem se desviar dessa regra que recebeu, haverá fogo, para ele e para todo aquele que
assim proceder, ³⁸pois são pessoas sem Deus, uma geração de víboras. ³⁹Resista a estes no poder do
Senhor. ⁴⁰Que a paz esteja convosco.
(Suposta Terceira carta de São Paulo aos Coríntios)

SÃO JERÔNIMO:

O Concílio de Laodiceia (363 d.C.) estabeleceu os livros do cânone do Antigo Testamento, e os


livros do NT ainda estavam em investigação, quando em 386 d.C. (sete anos antes de Hipona) São
Jerônimo se estabeleceu nas proximidades da Basílica da Natividade, para dedicar-se ao estudo
dos livros até então tidos como canônicos, tanto do AT quanto do NT. A ele se deve a célebre
versão latina (Vulgata), que mais tarde se tornou oficial na Igreja do Ocidente e de suma importância
para a transmissão das Escrituras.

Próximo à gruta da Natividade estão as grutas de São José, dos Santos Inocentes e a gruta de São
Jerônimo onde ele dedicou mais de 40 anos à tradução dos textos bíblicos originais, do hebraico
(Aramaicos) e do grego (Septuaginta), para o latim.

Dálmata de cultura enciclopédica, se retirou no deserto próximo a Antioquia, berço do cristianismo,


vivendo em penitência. Depois, tornando-se sacerdote, iniciou uma intensa atividade literária. Em
Roma foi colaborador do Papa Dâmaso. Após sua morte, Jerônimo retirou-se para Belém.

A tradução do que ficou convencionado pelos Concílios, das Sagradas Escrituras, é de suma
importância, pois a mudança do Grego para o Latim, mais tarde, no ano de 1058, foi o que deu
início ao que ficou conhecido como Cisma do Ocidente. A separação da Igreja Católica Apostólica
Romana das Igrejas Católicas Apostólicas Ortodoxas, estas últimas que se fragmentaram ao longo
dos anos, em igrejas nacionalistas (Grega, Síria, Egipcia, Jerusalém etc...).

POLÊMICA DAS LÍNGUAS:

A divergência linguística dentro da Igreja, tem gerado uma série de problemas e divisões entre os
cristãos católicos, pois uns dizem que a língua sagrada é o grego (língua dos Evangelhos) outro
que é o Latim (Língua do Império Romano) e recentemente, após o CVII, alguns se ressentem pela
Igreja ter traduzido as Sagradas Escrituras para todos os idiomas conhecidos, incluindo dialetos
ameríndios, aborígenes e africanos, e não apenas as Escrituras, mas a própria liturgia hoje goza
de uma polifonia que para uns é ruim, para outros muito bem-vinda.
130

Porém, se fossemos considerar alguma língua como sagrada, a exemplo dos judeus que tem o
Hebraico, teríamos de canonizar o Aramaico, que é a língua falada por Nosso Senhor Jesus Cristo,
que foi inclusive a língua da primeira Santa Missa celebrada pelo próprio Cristo na última Ceia.
Como não há nenhuma canonização de língua alguma nos Evangelhos ou na Sagrada Tradição,
deixemos isso de lado.

OS 27 LIVROS DO NT SÃO CONFIÁVEIS?

Para estabelecer a confiabilidade de um documento antigo, algumas questões são necessárias, a


primeira delas é averiguar a datação dos documentos, e a partir do documento mais antigo, verificar
as similaridades entre eles e a distância que os eventos narrados estão dos fatos ocorridos.

Vamos comparar o NT a outros documentos antigos, veja o Gráfico 1 e perceba o espaço de tempo
(em anos) entre o original e as primeiras cópias remanescentes, e apesar de tamanha proximidade,
há “estudiosos” que reconhecem os fatos narrados por Plínio, César, Tácito, Platão (cujos escritos
rememoram a histórica de Sócrates que é personagem histórico) entre outros, o que pode deixar
claro que esta insistência em negar a historicidade do NT, não passa do estabelecimento de um
peso diferente ao NT do que às outras obras tidas como históricas:

Percebemos que os Evangelhos e todo o NT possuem mais probabilidade de serem verídicos do


que muitas obras tidas como históricas, como as que estão demonstradas acima, ou ainda a que
abordamos anteriormente, na obra de Plutino que faz a biografia de Alexandre, o Grande, onde o
autor faz a biografia de um homem falecido há pelo menos 100 anos.

O espaço de tempo entre os eventos e o documento histórico é importante, pois obviamente, em


décadas, séculos ou até milênios como no caso de Demóstenes, alguns detalhes podem ser
perdidos em uma biografia ou em um relato histórico. Muitas vezes, para preencher as lacunas, os
historiadores se baseiam em textos literários da época, para dar ar de verossimilhança e não
prejudicar a narrativa dos fatos com dúvidas inconvenientes.

Então, quanto mais próximo dos eventos narrados estiver o texto que registra os fatos, mais preciso
e verossímil é o texto, logo, de todo acervo de documentos históricos que a antiguidade possui, o
NT é o mais preciso e mais verossímil, pois narram eventos ocorridos há apenas 25 anos, eventos
estes que foram narrados oralmente, como os próprios textos demonstram e que só foram escritos,
para alcançar mais leitores e adeptos.

Mas para garantir que o texto não foi adulterado, é importante, como já dissemos, que as várias
cópias (se houver) do texto sejam comparadas umas às outras para verificar a semelhança ou a
discrepância entre as cópias. Neste quesito, quanto mais cópias um documento tiver, mais
131

garantias existem de que o texto não foi adulterado, dando confiabilidade ao conteúdo do que está
descrito no texto. Comparemos novamente o NT com outros textos da antiguidade:

No Gráfico 2, temos o Número de Cópias Manuscritas e constatamos que não existe nada no
mundo antigo que sequer se aproxime disso (5.686 manuscritos). A obra mais próxima é a llíada,
de Homero, com 643 manuscritos. A maioria das outras obras antigas sobrevive com pouco mais
de uma dúzia de manuscritos. Contudo, poucos historiadores questionam a historicidade dos
eventos que essas obras registram. Já o NT, que não é aceito por muitos, é o que deveria ser aceito
sem nenhum questionamento, pois além da quantidade de cópias as discrepâncias entre elas são
mínimas.

O mais antigo e incontestável manuscrito é um segmento de João 18.31-33,37,38, conhecido como


fragmento John Rylands (porque está na Biblioteca John Rylands, em Manchester, Inglaterra).
Datado entre 117 e 138 d.C, podendo ser ainda mais antigo, este fragmento foi encontrado no Egito
próximo ao mar Mediterrâneo, e seu provável local de composição foi a Ásia Menor, demonstrando
que o Evangelho de São João foi copiado e levado a lugares distantes logo no início do século II.

Os Manuscritos do Mar Morto, contém os livros completos de Marcos, Atos, Romanos, 1 Timóteo,
2Pedro e Tiago e são datados de 50 a.C. a 50 d.C. José O'Callahan, um destacado paleógrafo
espanhol fez a datação o que levou o The New York Times a reconhecer as implicações da teoria
de O'Callahan ao admitir que, se os manuscritos fossem verdadeiros, "então provariam que pelo
menos um dos evangelhos — o de S. Marcos — foi escrito apenas alguns anos depois da
morte de Jesus".

Possuímos 3 manuscritos completos dos 27 livros do NT: Codex Vaticanus (Séc. IV – Está no
Vaticano); Codex Alexandrinus ( Sec. V. – Museu Britânico de Londres); Codex Sinaiticus (Sec. IV
– São Petersburgo).

Pergunta: Se 100% dos milhares de milhões das cópias completas dos 27 livros do NT, são datados
de manuscritos do Século IV e V, por que damos algum crédito histórico a tais manuscritos, sendo
eles tão distantes da época referida?

Resposta: PATRÍSCA! (Sagrada Tradição)


132

MAS O QUE É A PATRÍSTICA?

São 53 manuscritos, que datam desde o ano 100 até o século IV d.C.
e mais tardiamente até o século VIII (São João Damaceno). Não são
livros apócrifos, pois com exceção das cartas de São Inácio de
Antioquia e do Papa São Clemente, nunca fizeram parte do Cânone
das Sagradas Escrituras. São textos, em sua maioria apologéticos da
Fé Cristã, do Cristianismo e da Igreja Católica, para entendermos
melhor, vejamos a divisão a seguir:

Era Apostólica (30 a 100 d.C.) → Era Sub-apostólica (90 a 180 d.C.)
→ Era dos Padres da Igreja (150 a 750 d.C.);
• Inácio de Antioquia (35 – 108 d.C.) • Gregório de
• Papa Clemente I (35 - 101 d.C.) Níssa (330
• Policarpo de Esmirna (69 – 155 d.C.) – 395 d.C.)
• Justino (100 – 165 d.C.) • Jerônimo (347 – 430 d.C.)
• Ireneu de Lyon (120 – 202 d.C.) • Agostinho de Hipona (354 – 430 d.C.)
• Clemente de Alexandria (150 – 215 d.C.) • Vicente de Lérins († 445 d.C.)
• Tertuliano (160 – 225 d.C.) • Cirilo de Alexandria (375 ou 378 – 444
• Orígenes (185 – 254 d.C.) d.C.)
• Cipriano de Cartago (210 – 258 d.C.) • Máximo, o Confessor (580 – 662 d.C.)
• Atanásio de Alexandria (296 – 373 d.C.) • Isaque de Nínive (613 – 700 d.C.)
• Basílio de Cesareia (330 – 379 d.C.) • João Damasceno (675 – 749 d.C.)
• Gregório de Nazianzo (329 – 389 d.C.)

A resposta que demos foi a Patrística, por que se os textos do NT não fossem referenciados na
patrística (um total de 36.289 citações), nenhuma importância histórica teriam os manuscritos, pois
não se teria como comprovar sua autenticidade. É possível reconstituir todo o NT com os 53
volumes da patrística, que são datados desde a era apostólica (Século II) até meados dos tempos
patrísticos (Século IV).

A patrística faz a ligação entre os manuscritos originais e sua lógica interna, pois existem citações
literais dos Evangelhos e dos fatos narrados no NT dentro da Patrística. Santo Tomás de Aquino,
compilou todas estas citações em quatro volumes que compõe a coleção da Catena Áurea.

Assim, desde os apóstolos, temos os discípulos dos apóstolos, citando o NT e ensinando por escrito
o que os Apóstolos lhes ensinaram, em uma linha ininterrupta até os nossos dias. A isso, chamamos
de Sagrada Tradição Apostólica, que é garantida também pela Sucessão Apostólica, onde um bispo
sucede o outro, retroativamente até chegarmos a um dos apóstolos. Todas as dioceses possuem
uma linha de sucessão, a mais conhecida é da Diocese de Roma, que liga o papa atual a São
Pedro.

PROVAS ARQUEOLÓGICAS:

Além destas comprovações, é importante verificarmos também se o que é citado pelos textos do
NT, encontram paralelos arqueológicos, e para isso, iremos citar algumas referências
arqueológicas de elevada importância na verificação da confiabilidade histórica das Sagradas
Escrituras:

✓ As fundações do Monte do Templo judaico, construído por Herodes, o Grande, ainda estão
em Jerusalém.
133

✓ Os "Passos do Sul", por onde Nosso Senhor e os discípulos entraram no Templo, estão
preservados em um local ativo de escavação.

✓ A Igreja da Natividade em Belém é geralmente considerada um local credível para o lugar


do nascimento de Jesus.

✓ A enorme Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém também é considerada um local histórico


confiável que abrange os locais da crucificação e sepultamento de Cristo. Estes locais foram
cobertos (e, portanto, conservados) pelos romanos no século II dC.

No Mar da Galileia, cidades como Nazaré ainda estão ativas.

✓ Corazim e Cafarnaum, dois locais que Jesus visitou com frequência, têm sido escavados e
preservados.

✓ Locais de ensinamentos famosos como Kursi (o milagre suíno), Tabgha (pães e peixes), o
Monte das Bem-Aventuranças (Sermão da Montanha) e a Cesareia de Filipe (confissão de
Pedro) são todos preservados como confiáveis locais históricos.

✓ A sinagoga de Cafarnaum, onde Jesus curou um homem com um espírito imundo e entregou
o sermão sobre o pão da vida.

✓ A casa de Pedro em Cafarnaum, onde Jesus curou a sogra de Pedro e outros.

✓ O Poço de Jacó, onde Jesus falou à mulher samaritana.

✓ O tanque de Betesda em Jerusalém, onde Jesus curou um homem aleijado.

✓ A piscina de Siloé, em Jerusalém, onde Jesus curou um cego.

✓ O tribunal em Corinto, onde Paulo foi julgado.

✓ O teatro em Éfeso, onde a revolta dos ourives ocorreu.

✓ O palácio de Herodes em Cesareia, onde Paulo foi mantido sob guarda.

Todos estes locais, são sítios arqueológicos ou pontos turísticos preservados para que estudos
históricos, arqueológicos e verificações de museologia.

SÃO LUCAS, HISTORIADOR:

Um dos maiores arqueólogos de todos os tempos foi Sir William Ramsay, e ele duvidava
profundamente da veracidade dos documentos de “supostos” fatos descritos pelos manuscritos do
NT. Então, decidiu ir para a Ásia Menor especificamente para encontrar as provas físicas que
refutassem o registro bíblico de Lucas (Evangelho e Atos). Depois de anos de estudo de campo,
Ramsay reverteu completamente a sua visão de toda a Bíblia e da história do primeiro século. Ele
escreveu:

“Lucas é um historiador de primeira categoria, não apenas são as suas declarações de fato de
confiança, mas ele é possuidor do verdadeiro sentido histórico... em suma, esse autor deve ser
colocado junto com os maiores historiadores.”
134

A exatidão de Lucas é demonstrada pelo fato de que ele nomeia importantes figuras históricas na
sequência temporal correta. Ele também usa os corretos e, muitas vezes obscuros, títulos
governamentais em várias áreas geográficas, incluindo os politarcas de Tessalônica, os guardiães
do templo de Éfeso, o conselho de Chipre e o "primeiro homem da ilha" de Malta. Vejamos alguns
exemplos da escrita de São Lucas, que deixou os mais experientes historiadores e arqueólogos
boquiabertos:

“Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como no-los
transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da
palavra. Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio,
escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo.”
(Lc 1, 1-3)

Neste relato, podemos verificar que São Lucas, pretende comprovar o que está descrevendo, com
o testemunho de fontes primárias, e de fato, ao longo do texto, verificamos que o autor esteve com
os envolvidos, principalmente com a Mãe de Jesus, Maria de Nazaré, pois ele dá detalhes do
nascimento e do preâmbulo da gestação de Maria. No anúncio de Lucas do ministério público de
Nosso Senhor Jesus Cristo, ele menciona: "Lisânias tetrarca de Abilene".

Estudiosos questionaram a credibilidade de Lucas já que o único Lisânias conhecido por séculos
foi um líder que governou Cálcis entre 40-36 AC. No entanto, uma inscrição datada do tempo de
Tibério (14-37 DC) foi encontrada, e ela registra a dedicação do templo mencionando Lisânias como
o "tetrarca de Ábila" (Abilene perto de Damasco).

No livro de Atos, Paulo foi levado perante Gálio, o procônsul de Acaia. Novamente, a arqueologia
confirma essa narrativa. Em Delfos, uma inscrição do Imperador Cláudio foi descoberta, que diz:
"Lúcio Júnio Gálio, meu amigo, o procônsul da Acaia..." Os historiadores datam essa inscrição de
aproximadamente 52 DC, apoiando o tempo da visita de Paulo lá em 51 DC.

Mais tarde no livro de Atos, Erasto, um colega de Paulo, é nomeado tesoureiro de Corinto. Em
1928, arqueólogos escavaram um teatro coríntio e descobriram uma inscrição que diz: "Erasto, em
troca por sua posição de tesoureiro, construiu a calçada à sua própria custa." O pavimento foi
colocado em 50 DC.

Em uma outra passagem, Lucas dá a Plúbio, o homem principal da ilha de Malta, o título de
"primeiro homem da ilha". Estudiosos questionaram esse título estranho e o consideraram não-
histórico. Inscrições têm sido recentemente descobertas na ilha que na verdade dão a Plúbio o
título de "primeiro homem".

Em outra parte, Lucas usa o termo grego "politarca" ("governantes da cidade") para se referir aos
líderes de Tessalônica. Embora pareça irrelevante, esta era um outro grande argumento contra a
credibilidade de Lucas durante séculos, pois nenhuma outra literatura grega aparentava usar este
termo de liderança. No entanto, cerca de 20 inscrições já têm sido descobertas que usam o termo
"politarca", incluindo cinco descobertas que se referem especificamente à antiga liderança em
Tessalônica.

Lucas chama de Icônio uma cidade em Phyrigia. Este foi também um grande argumento contra a
credibilidade de Lucas durante séculos. Estudiosos, usando escritos de historiadores como Cícero,
sustentaram que Icônio era em Licaônia, não Phyrigia. Portanto, os estudiosos declararam que o
livro de Atos como um todo não era confiável. Sabe o quê? Em 1910, Ramsay estava procurando
por evidência que apoiasse esta antiga reivindicação contra o Lucas e acabou descobrindo um
monumento de pedra que declarava que Icônio era de fato uma cidade em Phyrigia. Muitas
descobertas arqueológicas desde 1910 têm confirmado isso - Lucas estava certo!
135

Ao analisar a pesquisa e os escritos de São Lucas, o famoso historiador Adrian Nicholas Sherwin-
White declara:

“No fim das contas, Lucas cita os nomes de trinta e dois países, cinquenta e quatro cidades e nove
ilhas sem erros.”
E por fim concluiu:

“Para Atos a confirmação da historicidade é esmagadora... Qualquer tentativa de rejeitar a sua


historicidade básica deve agora parecer um absurdo.”

A abertura da história de Natal do Evangelho de São Lucas é familiar para muitos de nós ...

Naqueles tempos, apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Esse
recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria.
(Lc 2, 1-2)

Este cabeçario de introdução do capítulo 2, São Lucas demonstra estar falando de um tempo
passado, mas não muito distante, referencia importantes personagens históricos e contextualiza o
evento do recenciamento, que é importante, pois nada explicaria que a Sagrada Família se
deslocasse de Nazaré até Belém somente para dar a Luz o menino, que DEVERIA nasce em
Belém. Na verdade, o que parece é que os pais de Jesus, mesmo sendo zelosos, não sabiam das
condições e requisitos para que Jesus fosse chamado de Messias, tanto é que Ele ficou conhecido
como Jesus de Nazaré e não Jesus de Belém, o que até causou estranheza, tanto aos seus
discípulos quanto aos sacerdotes do templo.

Dados do texto: Houve um decreto de César Augusto; Todos deveriam ser tributados; Todos
deveriam retornar à sua cidade natal; Foi um decreto feito por Quirino (também conhecido como
Cyrenius) que era governador da Síria.

Por séculos tais informações foram tidas como não históricas e não verificáveis! Pois nunca houve
um registro secular desse censo romano ou de que as pessoas tiveram que retornar às suas
cidades de origem. Além disso, o único registro de Quirino (Cyrenius) sendo "governador" da Síria
foi de 6-7 d.C. (Segundo Fávio Josefo), muito tarde para coincidir com o registro bíblico.

Porém, descobertas recentes revelam que os romanos realmente tinham um registro regular dos
contribuintes e que realizavam um censo formal a cada 14 anos, começando com o reinado de
César Augusto. Além disso, uma inscrição e outras evidências arqueológicas revelam que Quirino
estava de fato "governando" a Síria em torno do ano 7 a.C. (embora não com o título oficial de
"governador", mas como o de líder militar do território). Finalmente, um papiro descoberto no Egito
discute de forma geral o sistema de tributação romano, declarando o seguinte:

"Por causa do censo que está se aproximando, é necessário que todos aqueles que residem por
algum motivo fora de sua cidade de origem devem imediatamente se preparar para regressar aos
seus próprios governos a fim de que possam concluir o cadastramento das famílias... "

A CONTROVÉRSIA DE PÔNCIO PILATOS:

Até o ano de 1960, Pôncio Pilatos, nome pertencente ao Credo Niceno-Constantinipolitano, sempre
foi tido pelos estudiosos como fictício e que deslegitimava toda a fé católica e cristã, como sendo
uma “religião histórica”.
136

Mas em 1961, os arqueólogos descobriram um fragmento de uma placa em Cesareia, uma cidade
romana no litoral mediterrâneo de Israel. A placa foi escrita em latim e encaixada em uma seção
das escadas que levavam ao Anfiteatro de Cesareia. A inscrição inclui o seguinte:

"Pôncio Pilatos, prefeito da Judeia, dedicou ao povo de Cesareia um templo em honra de Tibério."

O Imperador Tibério reinou entre 14-37 DC, encaixando-se perfeitamente com a narrativa do Novo
Testamento que registra Pôncio Pilatos como governador de 26 a 36 DC.

Nós, não “acreditamos” que Nosso Senhor padeceu sob Pôncio Pilatos, nós SABEMOS disso! Este
dado, não é um artigo de fé, é um DADO HISTÓRICO INQUESTIONÁVEL!

Conclusão: As Sagradas Escrituras, vulgarmente chamada de Bíblia, tem um valor histórico


comprovado, principalmente os textos do Novo Testamento, que narram eventos como a
“anunciação do anjo”, as multiplicações dos pães, a ressurreição de Lázaro e a própria
ressurreição de Jesus de Nazaré, que se auto problamou como sendo Deus feito Homem.
137

5º. DEGRAU: O CONTEÚDO DA SAGRADA ESCRITURA É


REAL E VERDADEIRO
Se 95% dos dados e informações apresentados pelo NT são historicamente verificáveis e
comprováveis, será que o conteúdo, que não contém paralelo na história, como o Verbo de Deus
fazer-se carne, a transformação da água em vinho, a ressurreição de Lázaro, a fundação da Igreja
sobre São Pedro, a paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, são verdadeiras?

“Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não
pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o
mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não
crê no nome do Filho único de Deus. Ora, este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram
mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más. Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e
não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas aquele que pratica a verdade vem para
a luz. Torna-se assim claro que as suas obras são feitas em Deus.”
(Jo 3,16-21)

CRITÉRIOS PARA O DISCERNIMENTO:

Há coerência nos ditos, testemunhos históricos? Como saber? Quais os requisitos para se
averiguar tais informações? Estas e outras questões iremos tentar responder apresentando 6
requisitos ou exigências que certamente derrubariam qualquer argumento contrário, à possibilidade
do Conteúdo da Sagrada Escritura ser verdadeira:

1. Como vimos, quanto mais antigas são as fontes, mais precisos são considerados os
testemunhos, por isso, precisamos perguntar: “Temos um testemunho antigo?”

2. Uma boa testemunha, precisa ter visto, ouvido, tocado, e assimilado o fato, por isso, as
testemunhas oculares são o melhor meio de estabelecer o que realmente aconteceu, por
isso perguntamos: “Temos testemunhas oculares?”

3. Quando um fato acontece, é importante coletarmos o maior número de testemunhas


possíveis, quanto mais testemunhas, melhor e mais confiável é o testemunho. Testemunhas
oculares múltiplas e independentes confirmam que os fatos realmente aconteceram (eles
não são ficção) e dão detalhes adicionais que uma única fonte poderia perder (fontes
verdadeiramente independentes normalmente contam a mesma história básica, mas com
detalhes diferentes. Os historiadores às vezes chamam isso de "coerência com
dissimilaridade"). Por isso perguntamos: “Temos o depoimento de testemunhas oculares
múltiplas e independentes?”

4. Em um julgamento, o caráter da testemunha precisa ser confirmado, muitas testemunhas


são desconsideradas por que seu caráter, sua índole e até suas intenções são colocadas
em risco, por isso, precisamos perguntar: “As testemunhas oculares são dignas de
confiança? Devemos acreditar nelas?”

5. Se temos em um julgamento, pessoas que se opõem às testemunhas, ou que


manifestamente não querem a testemunha bem, por algum motivo, mas que admitem que o
que as testemunhas oculares estão afirmando, é verdadeiro, mesmo que apenas alguns
aspectos, é bem provável que o que as testemunhas estejam afirmando, seja de fato real,
então, perguntamos: “Temos algum testemunho de algum oponente das testemunhas
ou dos fatos?”
138

6. Quem escreve um relato, um fato ou um acontecimento, demonstra fidelidade ao fato,


quando o conteúdo narrado, apesar de representar um constrangimento pessoal para quem
afirma, o que é afirmado provavelmente é verdadeiro, pois a maioria das pessoas não gosta
de registrar informação negativa sobre si mesmas, qualquer testemunho que faça o autor
parecer reprovável é provavelmente verdadeiro, por isso, perguntamos: “O testemunho
contém fatos ou detalhes que são embaraçosos para os autores?”

TEMOS UM TESTEMUNHO ANTIGO?

Já fizemos menção a uma série de testemunhos antigos sobre os fatos narrados no NT quando
questionamos se Jesus era um personagem histórico, e concluímos, pelas provas que sim, Jesus
é um personagem histórico, e depois ainda vimos que dos eventos ocorridos, até o registro feito
pelos autores do NT, passaram-se apenas 25 anos, elevando o grau de confiabilidade dos
documentos históricos a um grau de alta confiabilidade. Vimos ainda que a quantidade de cópias
dos documentos é descomunal, e quando comparadas, apresentam uma coerência muito grande.
Mencionamos ainda os documentos não cristãos, que colaboram com ao menos 12 eventos
narrados pelo NT além é claro do fato de Jesus ser um personagem histórico. Então, passemos à
segunda questão.

TEMOS TESTEMUNHAS OCULARES?

Eis as provas:

“A este Jesus, Deus o ressuscitou: do que todos nós somos testemunhas.”


(At 2, 32)

“Não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido”.
(At 4, 20)

“Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-
lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água. O que foi testemunha desse fato o atesta (e o
seu testemunho é digno de fé, e ele sabe que diz a verdade), a fim de que vós creiais.”
(Jo 19, 33-35)

“Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como no-los
transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da
palavra.”
(Lc 1, 1-2)

“Eu vos transmiti primeiramente o que eu mesmo havia recebido: que Cristo morreu por nossos pecados,
segundo as Escrituras; foi sepultado, e ressurgiu ao terceiro dia, segundo as Escrituras; 5apareceu a Cefas e, em
seguida, aos Doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte ainda
vive (e alguns já são mortos); depois apareceu a Tiago, em seguida a todos os apóstolos. E, por último de todos,
apareceu também a mim, como a um abortivo.”
(1 Cor 15, 3-8)

Até mesmo diante dos tribunais, os autores do NT (São Paulo), deram o testemunho da vida de
Nosso Senhor Jesus Cristo, alegando que os que ali estavam, também sabiam que o que ele estava
testemunhando era verdade, e o peso do testemunho foi tão grande que Festo (opositor) quase
reconhece que o que ele diz é verdade e se torna cristão.

“Dizendo ele essas coisas em sua defesa, Festo exclamou em alta voz: “Estás louco, Paulo! O teu muito saber
tira-te o juízo”. Paulo, então, respondeu: “Não estou louco, excelentíssimo Festo, mas digo palavras de verdade e
de prudência. Pois dessas coisas tem conhecimento o rei, em cuja presença falo com franqueza. Sei que nada
139

disso lhe é oculto, porque nenhuma dessas coisas se fez ali ocultamente”. “Crês, ó rei, nos profetas? Bem sei
que crês!” Disse, então, Agripa a Paulo: “Por pouco não me persuades a fazer-me cristão!”.”
(At 26, 24-28)

Sabendo que os documentos são históricos e que o conteúdo possui até mesmo comprovação
arqueológica, assim, podemos concluir que de fato, o que os autores dos textos estão afirmando,
é de fato conhecimento em primeira mão, são pessoas que disseram ter visto, tocado e ouvido a
respeito do que narram, sendo assim, são testemunhas oculares.

TEMOS O DEPOIMENTO DE TESTEMUNHAS OCULARES MÚLTIPLAS E INDEPENDENTES?

Em resumo, São Pedro, São Paulo e São João afirmam ser testemunhas oculares, e São Lucas e
o autor de Hebreus afirmam terem sido informados por testemunhas oculares. Além disso, os
autores do NT citam outros que viram a ressurreição de Jesus.

São Paulo lista especificamente 14 pessoas cujos nomes são conhecidos como testemunhas
oculares da ressurreição e afirma que havia mais de outras 500 pessoas, que estavam vivas
quando ele escreveu suas cartas. São Mateus e São Lucas confirmam as aparições aos apóstolos.
Todos os quatro evangelhos mencionam as mulheres como testemunhas, e São Marcos as
identifica como Santa Maria Madalena; Maria, mãe de Tiago, e Salomé. São Lucas acrescenta
Joana. Isso equivale a mais quatro.

O primeiro capítulo de Atos também revela que José, chamado Barsabás, também foi testemunha
ocular:

“Convém, pois, que destes homens que têm estado em nossa companhia todo o tempo em que o Senhor
Jesus viveu entre nós, a começar do batismo de João até o dia em que de nosso meio foi arrebatado, um
deles se torne conosco testemunha da sua Ressurreição”. Propuseram dois: José, chamado Barsabás, que tinha
por sobrenome Justo, e Matias.”
(At 1, 21-23)

Quase 530 testemunhas oculares da ressurreição que é o evento alegadamente mais fantástico
pelos críticos ao NT. Sendo assim, podemos concluir que temos múltiplas testemunhas oculares
independentes.

AS TESTEMUNHAS OCULARES SÃO DIGNAS DE CONFIANÇA? DEVEMOS ACREDITAR


NELAS?

Quem já leu “O apanhador no campo de centeio”, pôde perceber que o protagonista diz que gosta
de Jesus, mas não dos apóstolos e discípulos, pois eles eram extremamente desanimados e
covardes, deixavam Jesus na mão na maioria das vezes, ou seja, os autores do Novo Testamento
incluíram detalhes embaraçosos sobre si mesmos, vejamos alguns:

Eles eram tolos:

“E ensinava os seus discípulos: “O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e o matarão; e
ressuscitará três dias depois de sua morte”. Mas não entendiam essas palavras; e tinham medo de lho
perguntar.”
(Mt 18,1-10; Lc 9,46-50; Mc 9,32)

Eram apáticos, preguiçosos e insensíveis:


140

Foram em seguida para o lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse a seus discípulos: “Sentai-vos aqui, enquanto
vou orar”. Levou consigo Pedro, Tiago e João; e começou a ter pavor e a angustiar-se. Disse-lhes: “A minha alma
está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai”. Adiantando-se alguns passos, prostrou-se com a face por terra e
orava que, se fosse possível, passasse dele àquela hora. “Aba! (Pai!), suplicava ele. Tudo te é possível; afasta de
mim este cálice! Contudo, não se faça o que eu quero, senão o que tu queres.” Em seguida, foi ter com seus
discípulos e achou-os dormindo. Disse a Pedro: “Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora! Vigiai e orai,
para que não entreis em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. Afastou-se outra vez e orou,
dizendo as mesmas palavras. Voltando, achou-os de novo dormindo, porque seus olhos estavam pesados; e
não sabiam o que lhe responder. Voltando pela terceira vez, disse-lhes: “Dormi e descansai. Basta! Veio a
hora! O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores.
(Mc 14, 32-41)

Foram advertidos com dureza por Jesus:

Mas, voltando-se ele, olhou para os seus discípulos e repreendeu a Pedro: “Afasta-te de mim, Satanás, porque
teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens”.
(Mc 8,33; Mt 16, 23)

Os discípulos eram materialistas e brigam entre si para saber qual era o maior dentre eles:

“Gravai nos vossos corações estas palavras: O Filho do Homem há de ser entregue às mãos dos homens!”. Eles,
porém, não entendiam essa palavra e era-lhes obscura, de modo que não alcançaram o seu sentido; e tinham
medo de lhe perguntar a esse respeito. Levantou-se então uma discussão de qual deles seria o maior.
(Mt 18,1-6; Mc 9,33-39; Lc 9,44-46)

São João e São Tiago, por causa de uma má intenção, são apelidados de forma negativa:

Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do
Trovão.
(Mc 3,17)

“Vendo isso, Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os
consuma?”. Jesus voltou-se e repreendeu-os severamente. Não sabeis de que espírito sois animados.”
(Lc 9,54s)
Eles eram covardes:

“Mas tudo isto aconteceu porque era necessário que se cumprissem os oráculos dos profetas”. Então, os
discípulos o abandonaram e fugiram.”
(Mt 26, 56)

São Pedro, que em Atos será chamado de “Céfas”, e mesmo assim nega Jesus por três vezes:

“Prenderam-no então e conduziram-no à casa do príncipe dos sacerdotes. Pedro seguia-o de


longe. Acenderam um fogo no meio do pátio, e sentaram-se em redor. Pedro veio sentar-se com eles. Uma
criada percebeu-o sentado junto ao fogo, encarou-o de perto e disse: “Também este homem estava com
ele”. Mas ele negou-o: “Mulher, não o conheço”. Pouco depois, viu-o outro e disse-lhe: “Também tu és um
deles”. Pedro respondeu: “Não, eu não o sou”. Passada quase uma hora, afirmava um outro: “Certamente
também este homem estava com ele, pois também é galileu”. Mas Pedro disse: “Meu amigo, não sei o que
queres dizer.” E, no mesmo instante, quando ainda falava, cantou o galo. Voltando-se o Senhor, olhou para
Pedro. Então, Pedro se lembrou da palavra do Senhor: “Hoje, antes que o galo cante, tu me negarás três
vezes”. Saiu dali e chorou amargamente.”
(Lc 22,54-62; Mt 26,57-68; Mc 14,61-64; Jo 18,19-24)

Muitos dos discípulos duvidaram e se afastaram dele:


141

“Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele.”
(Jo 6,66)

São Paulo repreende São Pedro por sua dissimulação:

“Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe francamente, porque era censurável. Pois, antes de
chegarem alguns homens da parte de Tiago, ele comia com os pagãos convertidos. Mas, quando aqueles
vieram, retraiu-se e separou-se destes, temendo os circuncidados.”
(Gl 2,11-12)

Alguns duvidam até mesmo depois de tê-lo visto já ressuscitado:

“Os onze discípulos foram para a Galileia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado. Quando o viram,
adoraram-no; entretanto, alguns hesitavam ainda.”
(Mt 28, 16-17)

Todos estes exemplos demonstram o compromisso com a verdade dos autores do NT, pois
arriscam a uma exposição pessoal negativa, diante de todas as gerações de cristãos, arriscando
quem sabe, até a perfeição exigida por muitos da mensagem critã. Por estas questões, nós
podemos confiar no conteúdo, pois sua veracidade compromete a moral dos próprios autores, e
caso não fosse assim, aí sim, haveria motivos para desconfiar.

TEMOS ALGUM TESTEMUNHO DE ALGUM OPONENTE DAS TESTEMUNHAS OU DOS


FATOS?

Em meado a primeira década dos anos 2000, o Dr. Gary Habermas (Teólogo e historiador - cristão)
debateu com o então filósofo ateu, Dr. Antony Flew, interessante é que havia um júri, formado de
cinco filósofos de universidades de destaque que julgaram o debate, a conclusão foi de quatro votos
para Habermas, um empate e nenhum para Flew.

Os juízes entenderam que o filósofo ateu, retraiu-se em sofismas filosóficos, e se esquivou dos
fatos históricos apresentados pelo teólogo historiador. O Debate resultou em um livro: Did the
Resurrection Happen?: A Conversation with Gary Habermas and Antony Flew, infelizmente ainda
sem tradução para o português. O conteúdo do livro é devastador, ao ponto de, em algum tempo
depois, o ateu Antony Flew, que por toda a sua vida teve a posição anticristã e atéia, mudou sua
opinião, admitindo a existência de Deus e a verdade do cristianismo, não se convertendo porém, a
nenhuma denominação cristã.

Dr. Habermas, realizou uma pesquisa profunda, indo às fontes primárias, arqueológicas em mais
de 1.400 obras de eruditos críticos à ressurreição de Jesus, escritas entre 1975 e 2003, e publicou
uma obra memorável chamada: The Risen Jesus and Future Hope (O Jesus ressurreto e a
esperança do futuro). O texto expõe quase todos os estudiosos sobre o tema, desde
independentes, ideológicos, ultraliberais até conservadores, e encontrou 12 pontos comuns,
inegáveis sobre a ressurreição ser de fato histórica:

1. A morte de Jesus deu-se por meio da crucificação romana.

2. Ele foi sepultado, muito provavelmente, num túmulo particular.

3. Pouco tempo depois, os discípulos ficaram desanimados, desolados e desacorçoados, tendo


perdido a esperança.

4. O túmulo de Jesus foi encontrado vazio pouco tempo depois de seu sepultamento.
142

5. Os discípulos tiveram experiências que acreditaram ser aparições reais do Jesus ressurreto.

6. Devido a essas experiências, a vida dos discípulos foi totalmente transformada. Depois
disso, até mesmo se dispuseram a morrer por sua crença.

7. A proclamação da ressurreição aconteceu logo de início, desde o começo da história da


igreja.

8. O testemunho público e a pregação dos discípulos sobre a ressurreição de Jesus


aconteceram na cidade de Jerusalém, onde Jesus fora crucificado e sepultado pouco tempo
antes.

9. A mensagem do evangelho concentrava-se na pregação da morte e da ressurreição de


Jesus.

10. O domingo passou a ser o principal dia de reunião e adoração.

11. Tiago, “irmão” de Jesus e cético antes desse evento, converteu-se quando acreditou que
também vira o Jesus ressurreto.

12. Poucos anos depois, Saulo de Tarso (Paulo) tornou-se cristão devido a uma experiência que
ele também acreditou ter sido uma aparição do Jesus ressurreto.

Temos então que 75% de todos os estudiosos do NT, conservadores ou não, aceitam argumentos
a favor da Ressureição, o PhD em exegese bíblica do NT Dr. Richard. A. Burridge (padre), afirma
que é consenso majoritário entre os acadêmicos bíblicos de que o gênero literário dos Evangelhos
e de Atos dos Apóstolos, são formas antigas de biografia e não uma narrativa mitológica e um
acadêmico defensor da visão do Jesus Histórico e do Jesus da Fé, E.P. Sanders argumenta que
uma conspiração para fomentar a crença na ressurreição provavelmente resultaria numa história
mais consistente e melhor elaborada e que algumas das pessoas envolvidas nos eventos deram
suas vidas para defender essa crença, sendo este fato o único inconveniente para afirmar que a
ressurreição seria um mito.

Se todos estes dados, são tidos como fatos históricos independente de ideologia ou de
posicionamento filosófico por parte de mais de 1.400 autores independentes que versaram sobre o
assunto, dentre elas, mais da metade não é cristã e possuem reconhecimento pelas obras. Então,
temos um volume realmente gigantesco de opositores que reconhecem as consequências da
ressurreição.

Conclusão: Temos um grau de certeza muito grande de que a Ressurreição de Jesus de


Nazaré é um dado histórico, e as consequências deste fato, são reais.
143

5º. DEGRAU: O CONTEÚDO DA SAGRADA ESCRITURA É


REAL E VERDADEIRO (CONTINUAÇÃO)
O TESTEMUNHO CONTÉM FATOS OU DETALHES QUE SÃO EMBARAÇOSOS PARA OS
AUTORES?

Quem escreve um relato, um fato ou um acontecimento, demonstra fidelidade ao fato, quando o


conteúdo narrado, apesar de representar um constrangimento pessoal para quem afirma, o que é
afirmado provavelmente é verdadeiro, pois a maioria das pessoas não gosta de registrar informação
negativa sobre si mesmas, qualquer testemunho que faça o autor parecer ruim é provavelmente
verdadeiro, por isso, perguntamos: “O testemunho contém fatos ou detalhes que são
embaraçosos para os autores?”

DETALHES EMBARAÇOSOS SOBRE JESUS:

Os autores do NT Incluíram detalhes embaraçosos e dizeres difíceis a respeito do próprio Jesus,


detalhes que poderiam causar recusa por parte dos seus leitores:

Foi considerado "fora de si" por sua mãe e seus irmãos (sua própria família), que vieram buscá-lo
com o objetivo de levá-lo para casa:

“Quando os seus o souberam, saíram para o reter; pois diziam: “Ele está fora de si”.
(Mc 3, 21)

Foi desacreditado por seus próprios parentes (irmãos):

“Com efeito, nem mesmo os seus irmãos acreditavam nele.”


(Jo 7,5)

É visto como enganador:

E na multidão só se discutia a respeito dele. Uns diziam: “É homem de bem.” Outros, porém, diziam: “Não é; ele
seduz o povo”.
(Jo 7,12)

Se desfez dos "judeus que haviam crido nele", a ponto de estes quererem apedrejá-lo:

Tendo proferido essas palavras, muitos creram nele. E Jesus dizia aos judeus que nele creram: “Se
permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos
livrará”. Replicaram-lhe: “Somos descendentes de Abraão e jamais fomos escravos de alguém. Como dizes tu:
Sereis livres?”. Respondeu Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: todo homem que se entrega ao pecado é
seu escravo... A essas palavras, pegaram então em pedras para lhas atirar. Jesus, porém, se ocultou e saiu do
templo.
(Jo 8, 30-34.59)
Foi chamado de "beberrão":

“O Filho do Homem vem, come e bebe, e dizem: É um comilão e beberrão, amigo dos publicanos e dos
devassos. Mas a sabedoria foi justificada por seus filhos”.”
(Mt 11,19)

É chamado de endemoninhado (servo do demônio), samaritano (havia um preconceito com quem


era advindo da Samaria), e que é um delirante (Louco):
144

Também os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: “Ele está possuído de Beelzebul: é pelo
príncipe dos demônios que ele expele os demônios”.
(Mc 3,22)

Por que procurais tirar-me a vida?”. Respondeu o povo: “Tens um demônio! Quem procura tirar-te a vida?”.
(Jo 7,20)

Responderam então os judeus: “Não dizemos com razão que és samaritano, e que estás possesso de um
demônio?”
(Jo 8,48)

Muitos deles diziam: “Ele está possuído do demônio. Ele delira. Por que o escutais vós?”.
(Jo 10, 20)
Tem seus pés enxugados pelos cabelos de uma prostituta (fato que tinha o potencial de ser visto
como uma provocação sexual):

“Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de
alabastro cheio de perfume; e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois, suas
lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume.
Ao presenciar isso, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo: “Se este homem fosse profeta, bem
saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora”.
(Lc 7,36-39)

A vila de Betânia, distava cerca de 6 quilômetros de Jerusalém e era uma colônia de leprosos, pois
os que ficavam doentes pela lepra, em Jerusalém, iam viver em Betânia, lá vivia uma família muito
citada pelos Evangelhos, eram os Irmãos, Marta, Maria e Lázaro. Simão, o leproso, alguns
estudiosos dizem que ele era esposo de Marta. Seu irmão Lázaro, vai para Betânia e morre lá, o
contato de Jesus com leprosos é extremamente reprovável, pois os leprosos eram tidos como
impuros, havia inclusive uma lei que determinava que um leproso não podia se aproximar dos
sadios, se não os sadios eram tidos como impuros:

“Jesus se achava em Betânia, em casa de Simão, o leproso. Quando ele se pôs à mesa, entrou uma mulher
trazendo um vaso de alabastro cheio de um perfume de nardo puro, de grande preço, e, quebrando o vaso,
derramou-lhe sobre a cabeça.”
(Mc 14, 3)

“Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta. Maria era quem ungira o Senhor com o
óleo perfumado e lhe enxugara os pés com os seus cabelos. E Lázaro, que estava enfermo, era seu irmão.”
(Jo 11, 1-2)
Mas no dia em que se perceber nele a carne viva, será impuro; o sacerdote, vendo a carne viva, o declarará
impuro; a carne viva é impura; é a lepra.
(Lv 13, 14-15)

Falar com as mulheres, já era tido como um ato reprovável, ainda mais pelos religiosos, mas se
esta mulher fosse prostituta ou casada muitas vezes, este era um grande agravante, e também, os
judeus não falavam som os samaritanos, era proibido, mas mesmo assim, Jesus conversa com
uma samaritana casada muitas vezes:
“Ora, devia passar por Samaria. Chegou, pois, a uma localidade da Samaria, chamada Sicar, junto das terras
que Jacó dera a seu filho José. Ali havia o poço de Jacó. E Jesus, fatigado da viagem, sentou-se à beira do poço.
Era por volta do meio-dia. Veio uma mulher da Samaria tirar água. Pediu-lhe Jesus: “Dá-me de beber”. (Pois
os discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos.) Aquela samaritana lhe disse: “Sendo tu judeu, como
pedes de beber a mim, que sou samaritana!...”. (Pois os judeus não se comunicavam com os
145

samaritanos.) ... 16Disse-lhe Jesus: “Vai, chama teu marido e volta cá”. A mulher respondeu: “Não tenho marido.”
Disse Jesus: “Tens razão em dizer que não tens marido. Tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu.
Nisso disseste a verdade”.
(Jo 4, 4-9. 17-18)

Por fim, Jesus é crucificado pelos judeus e pelos romanos, o que pela lei judaica, o qualificava
como um amaldiçoado por Deus:
“pois aquele que é pendurado é um objeto de maldição divina.”
(Dt 21,23b)
Cristo remiu-nos da maldição da Lei, fazendo-se por nós maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele que é
suspenso no madeiro (Dt 21,23).
(GI 3,13)

AS EXIGÊNCIAS DE JESUS:

"Mas eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu
coração."
(Mt 5,28)

"Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se
torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério."
(Mt 5,32)

"Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E se
alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar
com ele uma milha, vá com ele duas. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo
emprestado."
(Mt 5, 39-42)

"Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser
filhos de seu Pai que está nos céus."
(Mt 5, 44-45)

"Sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês."


(Mt 5,48)

"Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões
arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e
onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração"
(Mt 6, 19-21)

"Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e
a medida que usarem, também será usada para medir vocês."
(Mt 7,1-2)

O QUE JESUS DISSE E O QUE OS APÓSTOLOS DISSERAM:

Os autores do NT fizeram uma clara distinção entre as palavras de Jesus e as deles e porque tal
distinção nos serve de evidência da fidedignidade do Novo Testamento? Porque teria sido muito
fácil para os autores do NT resolverem as disputas teológicas do século I colocando palavras na
boca de Jesus. Além do mais, se você estivesse inventando a "história do cristianismo" e tentando
fazê-lo passar por verdade, simplesmente inventaria mais citações de Jesus para convencer as
146

pessoas teimosas a verem as coisas do seu modo! Pense em quão conveniente teria sido para
eles terminar todo debate ou controvérsia em torno de questões como circuncisão, obediência à
Lei Mosaica, falar em línguas, mulheres na igreja e assim por diante simplesmente inventando
citações de Jesus!

Sem falar que facilitaria muito a anexação, por parte do Concílio de Hipona, dos apócrifos, pois a
grande maioria deles faz exatamente isso, são histórias fictícias porque favorecem muito
determinados discursos e ideias teológicas divergentes na época.

IMPOSSÍVEL DE SER INVENSÃO:

Os autores do NT incluíram fatos relacionados à ressurreição que eles não poderiam ter inventado:

1. O sepultamento de Jesus:

Os autores do NT registram que Jesus foi sepultado por José de Arimatéia, um membro do Sinédrio,
o conselho do governo judaico que sentenciou Jesus à morte por blasfêmia. Esse não é um fato
que poderia ser inventado. Considerando a amargura que certos cristãos guardavam no coração
contra as autoridades judaicas, por que eles colocariam um membro do Sinédrio de maneira tão
positiva? E por que colocariam Jesus na sepultura de uma autoridade judaica? Se José de
Arimatéia não sepultou Jesus, a história teria sido facilmente exposta como fraudulenta pelos
inimigos judaicos do cristianismo. Mas os judeus nunca negaram a história, e jamais se encontrou
uma história alternativa para o sepultamento de Jesus.

2. As primeiras testemunhas:

Todos os quatro evangelhos dizem que as mulheres foram as primeiras testemunhas do túmulo
vazio e as primeiras a saber da ressurreição. Uma dessas mulheres era Maria Madalena, que Lucas
admite ter sido uma mulher possuída por demônios:

“Os Doze estavam com ele, como também algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e
curadas de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios.”
(Lc 8,2)

Isso jamais teria sido inserido numa história inventada. Uma pessoa possessa por demônios já
seria uma testemunha questionável, mas as mulheres em geral não eram sequer consideradas
testemunhas confiáveis naquela cultura do século I.

3. A conversão dos sacerdotes:

Por que o Jesus ressurreto não apareceu aos fariseus? É uma pergunta popular feita pelos céticos.
E mais, se Jesus gozava de estima por parte de José de Arimatéia, por que Jesus não apareceu
para ele? A resposta pode ser porque não teria sido necessário. Isso é normalmente desprezado,
mas muitos sacerdotes de Jerusalém tornaram-se cristãos. Lucas escreve:

"Crescia rapidamente o número de discípulos em Jerusalém; também um grande número de sacerdotes


obedecia à fé”
(At 6,7)

Esses sacerdotes terminaram dando início a uma controvérsia que aconteceu posteriormente na
igreja de Jerusalém. Durante uma reunião do Concílio de Jerusalém São Pedro, São Paulo, São
Tiago e outros presbíteros:
147

"se levantaram alguns do partido religioso dos fariseus que haviam crido e disseram: 'É necessário circuncidá-
los [os gentios] e exigir deles que obedeçam à Lei de Moisés'”
(At 15,5)
Ademais, se de fato os sacerdotes judeus não tivessem sido incluídos nos textos, facilmente
poderiam ser ignorados nas divergências teológicas dos próximos séculos.

4. A explicação dos judeus:

A explicação judaica para o túmulo vazio é registrada no último capítulo de São Mateus:

“Enquanto elas voltavam, alguns homens da guarda já estavam na cidade para anunciar o acontecimento aos
príncipes dos sacerdotes. Reuniram-se estes em conselho com os anciãos. Deram aos soldados uma importante
soma de dinheiro, ordenando-lhes: “Vós direis que seus discípulos vieram retirá-lo à noite, enquanto
dormíeis. Se o governador vier a sabê-lo, nós o acalmaremos e vos tiraremos de dificuldades”. Os soldados
receberam o dinheiro e seguiram suas instruções. E essa versão é ainda hoje espalhada entre os judeus.”
(Mt 28, 11-15)

Note que São Mateus deixa bastante claro que seus leitores já sabiam sobre essa explicação dos
judeus para o túmulo vazio porque "esta versão se divulgou entre os judeus até o dia de hoje".

Isso significa que os leitores de São Mateus (e certamente os próprios judeus) saberiam se ele
estava ou não dizendo a verdade. Se São Mateus estava inventando a história do túmulo vazio, por
que daria a seus leitores uma maneira tão simples de expor suas mentiras? A única explicação
plausível é que o túmulo deve ter realmente ficado vazio, e os inimigos judeus do cristianismo
devem realmente ter espalhado essa explicação específica para o túmulo vazio (de fato, São
Justino Mártir e Tertuliano, escrevendo respectivamente nos anos 150 d.C. e 200 d.C., afirmam
que as autoridades judaicas continuaram a propagar essa história do roubo durante todo o século
II.

PERSONAGENS HISTÓRICOS:

Os documentos do NT não podem ter sido inventados porque eles ao menos 30 personagens
confirmadas historicamente. Os autores do NT teriam minado sua credibilidade diante dos ouvintes
e leitores contemporâneos ao envolverem pessoas reais numa ficção, especialmente pessoas de
grande notoriedade e poder.

Não há maneira de os autores do NT terem seguido adiante escrevendo mentiras descaradas sobre
Pilatos, Caifás, Festo, Félix e toda a linhagem de Herodes. Alguém os teria acusado por terem
envolvido falsamente essas pessoas em acontecimentos que nunca ocorreram. Os autores do NT
sabiam disso e não teriam incluído tantas pessoas reais de destaque numa ficção que tinha o
objetivo de enganar. Mais uma vez, a melhor explicação é que os autores do NT registraram
precisamente aquilo que viram.

VERSÕES DIVERGENTES:

Os autores do NT incluíram detalhes divergentes, e os críticos são rápidos em citar os relatos


aparentemente contraditórios dos evangelhos como uma evidência de que não são dignos de
confiança em informação precisa. São Mateus diz, por exemplo, que havia um anjo no túmulo de
Jesus, enquanto São João menciona a presença de dois anjos. Não seria isso uma contradição
que derrubaria a credibilidade desses relatos?

Não, mas exatamente o oposto é verdadeiro: detalhes divergentes, na verdade, fortalecem a


questão de que esses são relatos feitos por testemunhas oculares. Duas testemunhas oculares
148

independentes raramente veem todos os mesmos detalhes e descrevem um fato exatamente com
as mesmas palavras.

Elas vão registrar o mesmo fato principal (Jesus ressuscitou dos mortos), mas podem diferir nos
detalhes (quantos anjos havia no túmulo). De fato, quando um juiz ouve duas testemunhas que dão
testemunho idêntico, palavra por palavra, o que corretamente presume? Trata-se de um CONLUIO
e as testemunhas encontraram-se antecipadamente para que suas versões do fato concordassem.

E existem dezenas de divergências deste tipo nos relatos dos Evangelhos e inclusive nas cartas
de São Paulo. Até algumas questões aparentemente contraditórias do ponto de vista teológico
como a divergência de fé e obras. Se os cristãos da Igreja primitiva tivessem inventado tudo, tais
divergências seriam impossíveis, e se existem, é por que estamos lidando com um relato real.

PROVA DE FOGO:

Os autores do NT desafiam seus leitores a conferir os fatos verificáveis, até mesmo fatos sobre
milagres, onde destaca-se a declaração aberta de precisão feita por São Lucas a Teófilo:

“Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como no-los
transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da
palavra. Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio,
escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo.”
(Lc 1.1-4)

A afirmação de Pedro de que não seguiram fábulas engenhosamente inventadas, mas que foram
testemunhas oculares da majestade de Cristo:

“Na realidade, não é baseando-nos em hábeis fábulas imaginadas que nós vos temos feito conhecer o poder e a
vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas por termos visto a sua majestade com nossos próprios olhos.”
(2Pe 1,16)

A ousada declaração de São Paulo a Festo e ao rei Agripa sobre Cristo ressuscitado:

“Paulo, então, respondeu: “Não estou louco, excelentíssimo Festo, mas digo palavras de verdade e de
prudência. Pois dessas coisas tem conhecimento o rei, em cuja presença falo com franqueza. Sei que nada disso
lhe é oculto, porque nenhuma dessas coisas se fez ali ocultamente”.”
(At 26,25-26)

A reafirmação de São Paulo de um antigo credo que identificou mais de 500 testemunhas oculares
do Cristo ressurreto:

“Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte ainda vive (e alguns já são
mortos).”
(1 Co 15,6)

São Paulo faz outra afirmação aos cristãos de Corinto que nunca teria feito a não ser que estivesse
dizendo a verdade. Ele declara que anteriormente realizara milagres entre eles. Falando de suas
qualificações como apóstolo, ele relembra aos cristãos de Corinto:

“Os sinais distintivos do verdadeiro apóstolo se realizaram em vosso meio com uma paciência a toda prova, de
sinais, prodígios e milagres.”
(2Cor 12,12).
149

Por que Paulo escreveria isso aos cristãos de Corinto a não ser que realmente tivesse realizado os
milagres entre eles? Ele teria destruído sua credibilidade completamente ao pedir que se
lembrassem de milagres que nunca realizara diante deles, ou teria prejudicado todos os cristãos
ao mencionar em uma carta algo que não tivesse acontecido.

LENDA X FATO:

Os autores do NT descrevem milagres da mesma forma que descrevem outros fatos históricos e
tudo por meio de um relato simples e sem retoques. Detalhes embelezados e extravagantes são
fortes sinais de que um relato histórico tem elementos lendários, pois denuncia a existência de um
narrador onisciente, um exemplo disso, é a biografia de Alexandre, o Grande:

“Antes da noite em que se fecharam no quarto nupcial, a jovem sonhou que trovejava e o raio caía
sobre seu ventre alumiando um grande fogo, qual, dividindo-se em chamas que se
propagavam para todos os lados, finalmente se extinguiu. Por sua vez, Filipe, algum tempo
depois do casamento, viu-se a si mesmo, em sonho, selando o ventre da esposa, e pareceu-lhe que
o selo trazia a marca de um leão. [...] Aristandro de Telmesso foi o único a declarar que a jovem
estava grávida, pois ninguém põe selos em recipientes vazios, e daria à luz um menino cheio de
coragem, da natureza do leão.” (Plutarco, Vida de Alexandre, 2.3-5)

No exemplo, podemos constatar que de fato Alexandre nasceu, mas o autor, notadamente quer
atribuir uma importância profética, espetacular e maravilhosa à concepção da figura política
nacional da Grécia e atribuir-lhe uma importância e status dignos de um mito. Um outro exemplo,
agora, tirado dos apócrifos cristãos, leia com atenção esta narrativa da Ressurreição de Nosso
Senhor Jesus Cristo:

“E bem cedo, ao amanhecer o sábado, uma grande multidão veio de Jerusalém e das redondezas
para ver o sepulcro selado. Mas durante a noite que precedia o domingo, enquanto os soldados
estavam fazendo a guarda de dois a dois, uma grande voz produziu-se no céu. E viram os céus
abertos e dois homens que desciam, tendo à sua volta um grande resplendor, e aproximaram-
se do sepulcro. E aquela pedra que haviam colocado sobre a porta rolou com o seu próprio impulso
e pôs-se de lado, com o que o sepulcro ficou aberto, e ambos os jovens entraram. Então, ao verem
isto, aqueles soldados despertaram o centurião e os anciãos, já que estes encontravam-se ali fazendo
a guarda. E, estando eles explicando o que acabara de acontecer, viram três homens que saíam do
sepulcro, dois dos quais servindo de apoio a um terceiro, e uma cruz que ia atrás deles. E a cabeça
dos dois primeiros chegava até o céu, enquanto a daquele que era conduzido por eles
ultrapassava os céus. E ouviram uma voz vinda dos céus que dizia: "Pregaste para os que
dormem?". E da cruz fez-se ouvir uma resposta: "Sim“” (Evangelho de São Pedro 2, 34-42 +/- 400
d.C.).

Repare que o texto é narrado, como se houvesse um observador, capaz de estar em vários lugares
ao mesmo tempo, capaz de medir a altura do Céu e de vislumbrar uma grandeza, que o próprio
texto passa como incomensurável, eis o narrador onisciente, que denuncia o texto ser mitológico e
fantasioso. Claro que está narrando um fato, porém, se não tivéssemos os Evangelhos Canônicos
e a garantia de sua historicidade, e este fosse o único testemunho da ressurreição, descrito mais
de 300 anos após o fato, ficaria claro que a ressurreição se tratava de uma mitologia. Este não é o
caso.

CONVERSÃO EM MASSA:

Os autores do novo testamento abandonaram suas crenças e práticas sagradas de longa data,
adotaram novas crenças, práticas e não negaram seu testemunho sob perseguição ou ameaça de
morte:
150

Os documentos do NT não dizem simplesmente que Jesus realizou milagres e ressuscitou dos
mortos, na verdade, eles apoiam esse testemunho de forma dramática. Em primeiro lugar,
praticamente da noite para o dia, abandonaram muitas de suas crenças e práticas sagradas há
muito tempo consideradas. Entre as diversas práticas
instituídas num período de mais de 1.500 anos. E não são
apenas os autores do NT que fazem isso, mas milhares de
judeus de Jerusalém, dentre eles sacerdotes fariseus,
convertem-se ao cristianismo e juntam-se aos autores do
NT ao abandonarem essas práticas e crenças tão
valorizadas. Apenas no primeiro discurso de São Pedro,
soma-se mais de 3000 neófitos:

“Os que receberam a sua palavra foram batizados. E naquele dia


elevou-se a mais ou menos três mil o número de adeptos.”
(At 2,41)

Como você explica essas mudanças monumentais se os


autores do NT estavam inventando uma história? Como
você as explica se a ressurreição de Jesus não aconteceu?
Em segundo lugar, não apenas esses novos cristãos
abandonaram suas crenças e práticas há muito prezadas,
mas também adotaram algumas outras bastante radicais:

1. Domingo, um dia de trabalho, como o novo dia de adoração, abandonando completamente


o Sábado, o dia mais importante para o povo judeu;

2. O batismo como um novo sinal de que alguém era participante da nova aliança, renunciando
a circuncisão, sinal da aliança com Abraão;

3. Admissão das mulheres à dignidade dos homens, até hoje, os judeus masculinos agradecem
a Deus por terem nascido homens;

4. A comunhão (Eucaristia) é especialmente inexplicável a não ser que a ressurreição de Jesus


seja verdadeira. Por que os judeus inventariam uma prática na qual SACRAMENTALMENTE
comiam o corpo e bebiam o sangue de Jesus? Como sabemos os discípulos ficavam
constrangidos com esta parte da doutrina, mesmo assim, ela perdura até hoje:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que me
enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim. Este é o pão
que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste pão viverá
eternamente”. Tal foi o ensinamento de Jesus na sinagoga de Cafarnaum. Muitos dos seus discípulos, ouvindo-
o, disseram: “Isto é muito duro! Quem o pode admitir?”. Sabendo Jesus que os discípulos murmuravam por
isso, perguntou-lhes: “Isso vos escandaliza? Que será, quando virdes subir o Filho do Homem para onde ele
estava antes?... O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e
vida. Mas há alguns entre vós que não creem...”. Pois desde o princípio Jesus sabia quais eram os que não criam
e quem o havia de trair. Ele prosseguiu: “Por isso, vos disse: Ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lho for
concedido”. Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele.”
(Jo 6,66)

5. A crença na ressurreição já era comum entre os judeus, porém, sua pregação era
complicada, até São Paulo, em Atenas teve dificuldade no seu diálogo com os Estoicos e
151

Epicuristas. Os filósofos estavam dispostos a acreditar na doutrina cristã, porém, a


ressurreição era uma pedra de tropeço para eles, mas a resposta de São Paulo é taxativa:

“Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé [...] E se Cristo não ressuscitou, é
inútil a vossa fé, e ainda estais em vossos pecados.”
(1Cor 15,14.17)

6. Os autores do NT (Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Pedro, Tiago e Judas Tadeu)
sofreram perseguição e morte quando poderiam salvar-se ao renunciar aquilo que
pregavam.

Se tivessem inventado a história da ressurreição de Jesus, certamente teriam dito isso quando
estavam prestes a ser crucificados (Pedro), apedrejados (Tiago) ou decapitados (Paulo). Mas
nenhum deles abjurou, 11 dos doze apóstolos foram martirizados por sua fé (o único sobrevivente
foi João, enviado para o exílio na ilha grega de Patmos) e São Paulo foi decapitado. Por que
morreriam por uma reconhecida mentira?

MARTÍRIO X FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO:

Então, aqui surge uma questão interessante, levantada nos tempos modernos: Então os “Mártires”
terroristas, estão certos, pois estes dão suas vidas pela fé islâmica?

De modo geral, a modernidade, acusa qualquer pessoa que dê sua vida por uma causa de
fanatismo e fundamentalismo, não precisa ser religioso, basta ser uma voz dissonante do discurso
politicamente correto da maioria (estratégia de manipulação de massas), como vimos recentemente
no “debate” sobre a eficácia das vacinas contra o COVID-19, então, não importa a religião, sejam
cristãos, muçulmanos, hindus, budistas ou alguém de qualquer outra crença, receberá o rótulo de
fanático ou “negacionista”.

Mas a diferença fundamental entre os cristãos e todas as demais religiões é que o Evangelho, é
para os cristãos, algo pelo qual se dá a vida e não algo pelo qual se tira a vida. A fé cristã
considera a vida sagrada, a qual não se tira por causa de fé ou doutrina, mas pela qual se morre
para provar que não há valor maior do que a Salvação da alma.

Cruzadas, inquisições, perseguições aos judeus, guerra entre católicos e protestantes, pena de
morte em países “cristãos”. Tudo isso teve início depois do século V, as cruzadas só no Século XI.
Os motivos de tais acontecimentos precisam ser muito bem contextualizados, para evitarmos o
anacronismo, por isso a ciência histórica e a investigação arqueológica fazem-se importantes, mas
nenhum destes eventos, hoje muito bem superados, coloca em questão a veracidade dos fatos
narrados no NT, apenas colocam em questão, a prática dos que se dizem cristãos, bem como a
sua fidelidade à mensagem cristã. A Igreja Católica não nega os excessos e erros históricos
cometidos por católicos, mas tais erros, NUNCA foram incorporados à Doutrina da Igreja. Diferente
de todas as demais religiões, inclusive no protestantismo, no capítulo de História da Igreja,
abordaremos separadamente cada um destes temas.

O martírio cristão, que nunca sessou ao longo da história, tem uma característica fundamental, se
dá a vida, em troca da vida Eterna, não se tira nenhuma vida, pela vida eterna, e mesmo os que
não são mártires, costumam renunciar uma vida de prazeres e conforto, para alcançar a vida eterna,
por meio de uma disciplina, ascese e vida de oração.

Conclusão: Os fatos narrados pelo Novo Testamento, são eventos reais, comprovados e
com testemunhos históricos abundantes, além da própria coerência contextual da época.
152

6º. DEGRAU: A SÃ DOUTRINA DA SALVAÇÃO É A ÚNICA


REVELAÇÃO CONHECIDA
No tempo que passei em Moçambique, tive contato direto com a fé muçulmana, a fidelidade do que
se propõem a vive-la, fiz amigos muito queridos, os quais não trocaria por amigos cristãos ou
mesmo católicos, respeito a fé muçulmana, assim como a fé protestante, pois também tenho
amigos protestantes e queridos ao coração, os quais, convertendo-se ou não em católicos, rezo ao
Senhor, por intercessão de Nossa Senhora, que um dia nós estejamos juntos no Céu, como irmãos
e unidos pela graça de Deus.

GUERRA CONTRA A IGREJA:

Dito, isto, vamos nos localizar historicamente. Desde o início do Islã, por volta do século VII,
muçulmanos e católicos se enfrentaram em épicas batalhas, onde ambos se diziam representantes
de Deus/Allah com o direito divino de instaurar neste mundo o Reino dos Céus. Os católicos, com
seus reinos teocráticos da cristandade e os muçulmanos com a Sharia, lei muçulmana e a “guerra
santa”.

Porém, já alguns séculos passados, deu-se início uma guerra cultural do Islã contra a Igreja.
Explorando suas fraquezas e seus “elos fracos” o islã conseguiu penetrar sua doutrina no seio da
Igreja e no final do século XVI, a onda anticatólica protestante, havia varrido a Europa e se estendia
pelo mundo todo com o Islamismo. 100% dos argumentos anticatólicos utilizados ainda hoje contra
a Igreja Católica, que se encontram nas palavras, vídeos e livros protestantes, são os mesmos
argumentos que no século VIII e IX, os muçulmanos usavam para converter católicos ao islã.

Toda esta propaganda anticatólica, culminou no racionalismo dos séculos XVII em diante. Inúmeros
pensadores, políticos, intelectuais, escritores, cientistas e o ateísmo passou a ser encarado como
uma visão científica, e de um lado estava o “obscurantismo da fé” e o outro a “luz da racionalidade”.

Os pensadores desta época, fundamentaram as bases da revolução francesa, para se ter noção
do tamanho do problema, cabe trazer a memória o padre Jean Meslier. Sacerdote católico francês,
falecido em 1729, estudioso e inicialmente crítico ao clero burguês, não encontrando nenhuma
sustentação histórica, filosófica ou teológica no protestantismo, ou no islã, sem ser ouvido pelos
seus superiores, e até sendo obrigado a permanecer em reclusão num seminário. Ele é um símbolo
de apostasia, anticristã e de como o clero daquela época estava decadente. Ele, e não Voltaire, é
o autor da frase:

"O homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre" (Pe. Jean
Meslier)

A revolução francesa, aboliu a fé, matando quase todos os religiosos, profanaram o Sacrário da
Catedral de Notre Dame, defecaram no altar, removeram as imagens medievais, a Cruz, e
colocaram no centro da igreja, a “deusa da razão”. Munidos pelo forte sentimento de revolta contra
a nobreza e do clero que abusava dos benéficos materialistas, tivemos a batalha dos materialistas
ateus, contra os materialistas da fé.

OS RACIONALISTAS:

Ernest Renan (1823 - 1892), mesmo sendo inicialmente católico, tendo recebido bolsa de estudos
no seminário, aprendendo o hebraico e por fim, exegese bíblica, tornando-se um notável
conhecedor das escrituras, mas que por fim, abdica e apostata, assumindo ser um ateu devoto das
153

ciências naturais. Fez várias incursões arqueológicas para fundamentar suas teses e escreve “A
vida de Jesus” e “História das origens do Cristianismo” onde rejeita toda visão sobrenatural e
mística da vida de Nosso Senhor.

Adolf von Harnack (1851 - 1930), de origem luterana, tornou-se um proeminente teólogo e
historiador do cristianismo, um crítico das “ideias” do cristianismo primitivo e estava convencido de
que os dogmas seriam invenção da Igreja para a manipulação da população, rejeitou
completamente a possibilidade de existirem milagres os quais classificou como ilusão.

Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778), de origem calvinista, convertido a católico na juventude e


depois retornando ao protestantismo, mais tarde, assume a postura agnóstica e por fim deísta, foi
proeminente intelectual, um dos pais das ciências humanas, defendia que a religião é um processo
civilizatório, mas apenas mitológico, negou os milagres e recebeu várias condenações por parte
das autoridades eclesiásticas.

François-Marie Arouet, pseudônimo Voltaire (1694 - 1778), foi um filósofo, escritor, ensaísta,
historiador e proeminente pensador representante do iluminismo, declaradamente anticlerical e
avesso aos dogmas religiosos, foi um ferrenho crítico da religião, mas assumiu ser deísta. Também
um crítico contumaz do absolutismo e ficou famoso como polemista satírico avesso à Igreja
Católica, foi de longe o autor que mais influenciou a revolução francesa, a frase de Jean Meslier,
foi erroneamente atribuída a ele por alguns historiadores, porém, suas “acidas” e satíricas críticas
à religião, à Igreja e aos padres, eram frequentemente citadas por Maximilien Robespierre (1758
- 1794 - Lider político da revolução francesa) enquanto executava na guilhotina padres, freiras e
fiéis católicos por toda a França.

Burnett Hillman Streeter (1874 -1937), foi um teólogo anglicano, estudioso e crítico do Novo
Testamento, exegeta e autor de vários livros sobre o tema.

Brooke Foss Westcott (1825-1901) Fenton John Anthony Hort (1828-1892): Ambos clérigos e
teólogos protestantes, passaram décadas (25 anos) estudando os textos dos originais gregos dos
Evangelhos. Chegaram a publicar o Novo Testamento completo em grego, um compilado dos mais
de 5000 textos existentes em um único volume. Dois grandes representantes da Teologia crítica.

Na verdade, dezenas de pensadores, teólogos, estudiosos, cientistas, historiadores, filósofos,


escritores, políticos e jornalistas debruçaram-se sobre os textos do Novo Testamento com o fim de
erradicar o que para eles era a superstição obscurantista religiosa, principalmente os
representantes da Análise Crítica dos textos bíblicos, do Racionalismo Francês e do Iluminismo
filosófico.

CONCLUSÃO DOS INIMIGOS DA IGREJA:

“Em suma, admito como autênticos os quatro Evangelhos canônicos” (...) “Jesus Cristo nunca será
superado” (...) “no mais alto cimo da grandeza humana” (...) “superior em tudo aos seus discípulos”
(...) “princípio inesgotável de conhecimento moral, a mais alta” (...) “Nele se condensa tudo quanto
existe de bom e elevado em nossa natureza” (...) "A Igreja, esta grande fundação, foi certamente a
obra pessoal de Jesus. Para ter-se feito adorar até esse ponto, é necessário que ele tenha sido digno
de adoração". (Ernest Renan)

“O caráter absolutamente único dos Evangelhos é, hoje em dia, universalmente reconhecido pela
crítica (...) "a grandeza e a força da pregação de Jesus estão em que ela é, ao mesmo tempo, tão
simples e tão rica; tão simples, que está encerrada em cada um dos pensamentos fundamentais por
ela expressados, tão rico que cada um dos seus pensamentos parece inesgotável, dando-nos a
impressão de que jamais chegamos ao fundo de suas sentenças e parábolas". (Adolf von Harnack)
154

“Os Evangelhos são, pela análise crítica, os que detém a mais privilegiada posição que existe.”
(Burnett Hillman Streeter)

“As sete oitavas partes do conteúdo verbal do Novo Testamento não admitem dúvida alguma. A
última parte consiste, preliminarmente, em modificações na ordem das palavras ou em variantes
sem significação. De fato, as variantes que atingem a substância do texto são tão poucas, que podem
ser avaliadas em menos da milésima parte do texto” (...) “Trabalhamos 50 anos febrilmente para
extrair pedras da cantaria que sirvam de pedestal à Igreja Católica?” (Brooke Foss Westcott e Fenton
John Anthony Hort)

“Eu, abaixo-assinado, declaro que, estando há quatro dias atacado de vômitos de sangue, na idade
de oitenta e quatro anos, não me pude arrastar até a igreja. O Sr. Cura de S. Sulpicio, então, aos seus
méritos anteriores quis acrescentar o de me enviar o Pe. Gaultier; confessei-me a ele. Se Deus dispuser
de mim, morrerei na santa Religião Católica, em que nasci, cheio da esperança de que a santa
misericórdia de Deus se digne apagar todas as minhas faltas; e, dado que alguma vez tenha
escandalizado a Igreja, peço perdão a Deus e a Ela”. (François-Marie Arouet – Voltaire, aos 84 anos)

"Se a vida e a morte de Sócrates são as de um sábio, a vida e a morte de Jesus Cristo são as de
um Deus". (Jean-Jacques Rousseau)

Todas estas citações podem ser encontradas no livro “Jesus Cristo é Deus?” do Pe. José Antônio
de Laburu, (ed. Loyola) um texto excelente que compila todas as citações dos grandes
racionalistas, que foram obrigados a reconhecer, não apenas a historicidade dos textos, mas a
veracidade deles, assim, com base nos grandes pensadores do Iluminismo francês, podemos
concluir que as consequências do Evangelho são verdadeiras.

CONSEQUÊNCIAS DA VERDADE CATÓLICA:

“Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão fosse, eu sou (YHWH – Yahweh).”
(Jo 8,58)

A expressão “Eu Sou”, quer dizer em hebraico Yahweh, é o tetragrama sagrado, foi como Deus se
apresentou a Moisés:

“Deus disse ainda a Moisés: “Assim falarás aos israelitas: É Yahweh (YHWH), o Deus de vossos pais, o Deus de
Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó, quem me envia para junto de vós. Esse é o meu nome para sempre,
e é assim que me chamarão de geração em geração”.
(Ex 3,15)

Abraão, vosso pai, exultou com o pensamento de ver o meu dia. Viu-o e ficou cheio de alegria”.
(Jo 8,56)

A resposta dos ouvintes é de um absoluto espanto:

“Os judeus lhe disseram: ‘Não tens ainda cinquenta anos e viste Abraão!...’”
(Jo 8,56)

De fato, como Nosso Senhor Jesus Cristo, tendo apenas 33 anos, conheceu Abraão? A resposta
é simples:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.”
(Jo 1,1)
155

Jesus de Nazaré, a quem até os racionalistas da Revolução Francesa reconheceram a divindade,


diante dos fatos, foi condenado pelos Judeus, por dizer, de si mesmo, que Ele é Deus:

“Os judeus responderam-lhe: “Não é por causa de alguma boa obra que te queremos apedrejar, mas por uma
blasfêmia, porque, sendo homem, te fazes Deus.”
(Jo 10,33)

Detalhe, é que Jesus poderia ter desmentido ou esclarecido, caso fosse alguma confusão, mas
ele não desmentiu, em momento algum Ele negou:

“Por esta razão os judeus, com maior ardor, procuram tirar-lhe a vida, porque não somente violava o repouso
do sábado, mas afirmava ainda que Deus era seu Pai e se fazia igual a Deus.”
(Jo 5,18)

Temos então, o embasamento e a prova de fogo, dirigida contra as verdades da fé católica, pelos
mais proeminentes inimigos, os racionalistas, que diante de tamanha comprovação, sendo que os
mesmos, não tiveram acesso às recentes descobertas arqueológicas já mencionadas, assim,
podemos afirmar com certo grau de certeza, que:

“Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu
submetido a uma Lei, a fim de remir os que estavam sob a Lei, para que recebêssemos a sua adoção. A prova
de que sois filhos é que Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: “Aba, Pai!’’, já não
és escravo, mas filho. E, se és filho, então também herdeiro por Deus.”
(Gl, 4,4-7)

Conclusão: O conteúdo das Sagradas Escrituras, também chamada de Revelação, ou de Sã


Doutrina da Salvação, são verdadeiros, por isso o personagem histórico, Jesus de Nazaré,
é verdadeiramente Deus e Homem. Assim, temos que compreender a profundidade de tal
afirmação, pois, sendo Jesus o próprio Deus e tendo Ele vindo até nós, o que Ele veio fazer
aqui?

Salvar o ser humano, por meio da Igreja!


156

7º. DEGRAU: JESUS CRISTO, FUNDOU/EDIFICOU/


INSTITUIU SUA IGREJA
A história da Salvação é muito simples: Deus Criador, fez-se homem e ensinou os seres humanos
o que é “ser humano”, instituiu seus apóstolos (representantes) e garantiu que estes, por meio da
Igreja, nunca conduziriam ninguém para um caminho diferente da Salvação. Deixou uma doutrina
santa, capaz de penetrar até a profundidade da alma imortal e transformar o ser humano, pela ação
da Graça de Deus, em Filhos de Deus.

SÃ DOUTRINA DA SALVAÇÃO:

Vejamos primeiro o que as Escrituras ensinam sobre a SÃ DOUTRINA DA SALVAÇÃO no Antigo


Testamento, depósito das promessas que se realizaram no Novo Testamento:

"Derrame-se como chuva a minha doutrina, espalhe-se como orvalho a minha palavra, como aguaceiro
sobre os campos verdejantes, como chuvarada sobre a relva.”
(Dt 32, 2)

"Aquele que teme o Senhor aceitará sua doutrina, aqueles que vigiam para procurá-lo serão por ele
abençoados.”
(Eclo 32, 18)

"Ensinará ele próprio o conhecimento de sua doutrina. Porá sua glória na Lei da aliança do Senhor.”
(Eclo 39, 11)

"Ouvi, filhos meus, a instrução de um pai; sede atentos, para adquirir a inteligência, porque é a SÃ
DOUTRINA que eu vos dou; não abandoneis o meu ensino. Fui um verdadeiro filho para meu pai, terno e
amado junto de minha mãe."
(Pv 4, 1-3)

Existem muitos textos no AT que prometem que Deus iria salvar o Seu povo, estes são alguns
deles. Por eles podemos concluir que, faz parte da intenção de Deus, além de resgatar o Povo de
Israel, resgatar todos os povos, pois, se Ele iria derramar sua Doutrina como chuva, significa que
sua salvação é para todos, pois as chuvas caem sobre todos, independente de religião ou cultura.

A comparação com o orvalho e o aguaceiro, remete a continuidade do derramamento das águas,


que no caso é a Doutrina de Deus, que será aceita por aqueles que vigiam na procura pelo Senhor
e que o temem. O temor, não é “ter medo de Deus”, mas sim, saber que o Senhor é digno de
respeito e a Ele devemos tudo que temos e somos, por isso, tememos “perde-lo”, não por Ele se
afastar de nós, mas de nós nos afastarmos Dele.

O terceiro texto, deixa claro que o próprio Deus será o professor, o mestre o profeta e educador,
que Ele trataria a todos que acolhessem sua doutrina como filhos, pois filho é aquele que ouve o
que o Pai ensina.

E o que Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou sobre a Sã Doutrina da Salvação no Novo Testamento?

"Quando Jesus terminou o discurso, a multidão ficou impressionada com a sua doutrina.”
(Mt 7, 28)

"E ensinava-lhes muitas coisas em parábolas. Dizia-lhes na sua doutrina.”


(Mc 4, 2)
157

"Maravilharam-se da sua doutrina, porque ele ensinava com autoridade.”


(Lc 4, 32)

"Respondeu-lhes Jesus: “A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.”
(Jo 7, 16)

DOUTRINA APOSTÓLICA:

O discurso de Jesus era algo impressionante, pois além de ser uma novidade boa (=Evangelho,
Boa Nova), o modo como ensinava, era com autoridade. Existem dois modos de ensinar alguém,
pela autoridade e pelo poder. O poder é um pedagogo muito ineficiente, pois ele parte do medo das
pessoas, e o que está sendo aprendido, precisa ser assimilado caso contrário, quem não aprender
irá perder alguma coisa, o poder só pode ser exercido, obviamente por quem tem poder, seja
econômico, militar ou político sobre os outros. Um professor em uma escola, tem poder político, ele
está ali representando o estado ou a família do aluno, que não tem outra opção, ele precisa estar
ali.

Já a autoridade, é um poder moral sendo exercido. Jesus demonstra sua justiça, Ele não apela ao
medo, pois ele parte do princípio de que todos nós já estamos perdidos por causa dos nossos
pecados, então, Ele traz a esperança de sermos salvos, pelo perdão dos pecados e por meio do
aprendizado e a prática de Sua doutrina. Ele admite que a Sua doutrina, não é Dele, mas “Daquele”
que O enviou, e quem o enviou foi o Pai, Ele se colocando como Filho deste Pai.

"Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações.”
(At 2, 42)

"À vista desse prodígio, o procônsul abraçou a fé, admirando vivamente a doutrina do Senhor.”
(At 13, 12)

"Eu persegui de morte essa doutrina, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres.”
(At 22, 4)

"Reconheço na tua presença que, segundo a doutrina que eles chamam de sectária, sirvo a Deus de nossos
pais, crendo em todas as coisas que estão escritas na Lei e nos profetas.”
(At 24, 14)"

O Livro de Atos dos Apóstolos, narra as ações da Igreja recém-nascida em Pentecostes e como
iniciaram a viver a Sã Doutrina, os discípulos, agora apóstolos, na prática. Vemos que esta
Doutrina, que era chamada “do Senhor” agora, é chamada “dos Apóstolos”, por isso, a fé que
nasceu na Igreja Primitiva, é chamada “Fé Apostólica” ou melhor, a própria Igreja nascente, pode
ser chamada de Igreja Apostólica.

Repare ainda que os fiéis à Doutrina dos Apóstolos, perseveravam na reunião em comum e na
“Fração do pão”, estes termos são interessantes, pois remetem à última ceia, onde Jesus fracionou
o pão, e distribuiu, ordenando que os discípulos fizessem isso, em memória Dele, e aqui,
constatamos que eles obedeceram. Fração do Pão, é o primeiro nome dado à Santa Missa.

“Essa doutrina”, “a doutrina” e “a doutrina do Senhor”, o conjunto de informações teórico-práticas


que Jesus ensinou e que os apóstolos reproduziram, inicialmente apenas oralmente e depois, por
meio de cartas.
158

Graças a Deus, porém, que, depois de terdes sido escravos do pecado, obedecestes de coração à regra da
doutrina na qual tendes sido instruídos.”
(Rm 6, 17)

"Repito aqui o que acabamos de dizer: se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele
excomungado!”
(Gl 1, 9)

"Recomenda esta doutrina aos irmãos, e serás bom ministro de Jesus Cristo, alimentado com as palavras da fé
e da sã doutrina que até agora seguiste com exatidão.”
(I Tm 4, 6)

"Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a SÃ DOUTRINA DA SALVAÇÃO. Levados pelas
próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajuntarão mestres para si.”
(II Tm 4, 3)

"Todo aquele que caminha sem rumo e não permanece na doutrina de Cristo não tem Deus. Quem
permanece na doutrina, este possui o Pai e o Filho.”
(II Jo 1, 9)

"Se alguém vier a vós sem trazer essa doutrina, não o recebais em vossa casa, nem o saudeis.”
(II Jo 1, 10)

“Por isso, deixemos agora as instruções elementares sobre Cristo e elevemo-nos ao ensinamento perfeito, sem
novamente pôr os alicerces: o arrependimento das obras mortas, a fé em Deus, a doutrina acerca dos
batismos, a imposição das mãos, a ressurreição dos mortos, o julgamento eterno. Eis o que faremos, se Deus o
permitir.”
(Hb 6, 1-2)

LITURGIA SACRAMENTAL PRIMITIVA:

Nas cartas, vemos que a Doutrina é a regra de vida dos discípulos e apóstolos, à qual eles
obedecem “de coração”, ou seja, pelo livre exercício da vontade. Esta obediência é tamanha, que
a deturpação da doutrina, poderia render a “excomunhão” ou seja, a pessoa seria excluída da
comunidade, até que caísse em si e voltasse a compactuar, aceitar e se submeter à doutrina dos
apóstolos.

São Paulo e os demais apóstolos, ensinam a Doutrina, e chamam-na de “Alimento”, ou seja, são
apenas palavras e um discurso que alimentam de forma integral, alimentam o físico pela “fração do
pão”, alimentam o mental (psicoafetivo) pelo convivio dos irmãos nas reuniões, e alimentam o
espírito (intelecto/alma espiritual) pela presença Eucarística de Nosso Senhor.

A segunda Carta de São Paulo à Timótio, ele alerta e faz uma profecia, dizendo que no futuro, a
Sã Doutrina da Salvação, seria rejeitada, e que os homens, já não a suportariam, pois seriam
arrastados pelas “paixões”, ou seja, pelos sentimentos e São João em sua segunda carta,
complementa, dizendo que aquele que não caminha na “Doutrina de Cristo” está caminhando sem
rumo, e ainda sinaliza, que existem aqueles que ensinam outras doutrinas, mas que estes não
devem ser recebidos, é necessário ter fidelidade a esta doutrina.

Já na carta aos Hebreus, cujo autor é desconhecido, vemos que já naquele tempo, havia uma
Doutrina acerca do Batismo e da Imposição das mãos (Sacramento da Ordem), um modo
específico, um ritual/liturgia própria para realizar estes sacramentos. O texto sinaliza ainda à
confissão, mencionando o arrependimento das “obras mortas” (que alude ao pecado mortal), faz
159

referência também a alguns tópicos do nosso Credo, como a ressurreição dos mortos e o
julgamento eterno.

FUNDAÇÃO DA IGREJA:

Aqui, faz-se importante trazermos o texto fundante da Igreja, uma vez que vimos que o conteúdo
desta Igreja, é a Sã Doutrina da Salvação, quando foi que Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu a
Igreja?

“Disse-lhes Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus
vivo!”. Jesus, então, lhe disse: “Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te
revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei A
MINHA IGREJA; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus:
tudo o que (TU) ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que (TU) desligares na terra será desligado nos
céus”. Depois, ordenou aos seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo. (ATENÇÃO)
Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte
dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia.”
(Mt 16, 15-20)

Jesus pergunta aos seus discípulos, quem Ele era, e Simão responde, professando uma fé que até
então, era desconhecida, muitos o chamavam de “o Messias”, que significa “Cristo”, ou
“Ungido/Escolhido”, porém, a associação de Ungido com Filho de Deus, é Simão que faz pela
primeira vez. Por isso, recebe do Senhor o elogio: “Não foi nem a carne e nem o sangue que te
revelou isto, mas meu Pai que está nos Céus”.

Deixa claro que esta Doutrina, a de que Jesus é Cristo e Filho de Deus, não vem de uma conclusão
de Simão, mas é uma revelação direta de Deus feita a ele, por isso Jesus após ver que Simão O
reconhece como Ele é, altera o nome de Simão, não com um outro nome, mas com um nome que
tem uma função, um cargo, que é “Pedro”.

Notemos que o texto escrito por São Mateus, está em grego, porém, Jesus falou em Aramaico, pois
se em grego e no português nós temos duas variações no texto “Pedro e Pedra”, o que pode dar
um sentido mais fraco, em Aramaico é apenas uma palavra: “Cefas”, que não tem a variante
feminina, significando rocha firme. Pedro, então, não é um nome, é um título e prova disso é que
São Paulo, ao se referir a Simão “Pedro”, ele traduz o termo Pedro para Cefas:

Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e fiquei com ele quinze dias.
(Gl 1,18)

Ao contrário, viram que a evangelização dos incircuncisos me era confiada, como a dos circuncisos a
Pedro (porque aquele cuja ação fez de Pedro o apóstolo dos circuncisos fez também de mim o dos
pagãos). Tiago, Cefas e João, que são considerados as colunas, reconhecendo a graça que me foi dada, deram
as mãos a mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo: iríamos aos pagãos, e eles aos circuncidados.
Recomendaram-nos apenas que nos lembrássemos dos pobres, o que era precisamente a minha intenção.
(Gl 2,9)

Se o termo Pedro/Cefas fosse apenas o “novo nome” de Simão, ele não traduziria o termo, pois
nomes não são traduzíveis. E se ele chamava assim a Simão, é porque Simão era conhecido como
sendo Cefas. A tradição chama Simão de São Pedro, exatamente porque é além de um nome, um
símbolo, um sacramental. Assim como o nome de Abrão é mudado para Abraão e de Jacó para
Israel, Simão tem seu nome não apenas “mudado” para Pedro, mas também tem sua própria vida
ressignificada, pois se pela carne, os descendentes de Abraão e Israel são o povo de Deus, no AT,
é pela fé de Pedro, que nós hoje somos Igreja.
160

UMA INSTITUIÇÃO CHAMADA IGREJA:

“Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão.
Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de
duas ou três testemunhas. Se recusa ouvi-los, dize-o À IGREJA. E se recusar ouvir também A IGREJA, seja ele
para ti como um pagão e um publicano. Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no
céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu.”
(Mt 18, 15-18)

Num mundo pós cristão, relativista e secularizado, ver uma instituição como a Igreja,
excomungando seus membros dissidentes, pode parecer intolerância, porém, o que torna a pessoa
membro da Igreja, é justamente professar a fé de Pedro. Quem não professa, acredita ou prega
esta fé, não pode ser membro da Igreja. Mas o importante no texto é que deixa claro que aquele
que “se recusa ouvir também a Igreja” precisa ser excomungado, por caridade, para que possa se
arrepender e retornar. Pois é isso que um pagão e um publicano necessitam, de uma evangelização
para se tornarem Igreja.

Este texto demonstra que, já na Igreja primitiva, a Igreja era tida como uma instituição, não apenas
um agrupamento de pessoas, que precisa ter um determinado número de pessoas para ter o seu
valor, nada disso, a Igreja é uma instituição que possui uma Palavra e uma Fé e precisa ser vista
assim, caso contrário, com que autoridade São Mateus se referiria à Igreja, não sendo esta uma
instituição capaz de excomungar quem dela não faz parte?

IGREJA - COLUNA E SUSTENTÁCULO DA VERDADE:

“Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na casa de Deus, que é A IGREJA DE DEUS vivo,
coluna e sustentáculo da verdade.”
(I Tm 3,15)

São Paulo, refere-se a Igreja, como sendo a “Coluna e Sustentáculo da Verdade”, é um título
extremamente importante, pois toda a Instituição, denominada Igreja, como a referência principal
da Verdade. Nosso Senhor Jesus Cristo, disse que Ele é a Verdade (Jo 14,6), e o mesmo São
Paulo diz que a Igreja e Jesus são um só, aludindo ao matrimônio:

“As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como
Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo,
assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo
amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para
apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas
santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama
a sua mulher ama-se a si mesmo. Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário,
cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à sua Igreja – porque somos membros de seu corpo. Por isso, o
homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn 2,24). Esse mistério
é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja.”
(Ef 5, 22-32)

“E sujeitou a seus pés todas as coisas, e o constituiu chefe supremo da Igreja”


(Ef 1, 23)

A Igreja é o corpo de Cristo, do mesmo modo que a Mulher é o corpo de seu Marido, e vice-versa.
O matrimônio espiritual de Jesus, é celebrado com cada indivíduo devidamente Batizado e em
estado de graça, porém, este mistério, se realiza na Igreja como um todo. Aquele que se dispersa,
que renuncia a fé, ou não concorda com a Igreja, não é membro de Cristo, é um extraviado:
161

“Lembrai-vos de vossos dirigentes, que vos pregaram a palavra de Deus: considerando o fim de sua vida,
imitai-lhes a fé. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e sempre. Não vos deixeis extraviar por qualquer
espécie de doutrina estranha.”
(Hb 13, 7-9a)

ANTICRISTO:

Já na Igreja primitiva, existiam doutrinas estranhas ao Evangelho que acabavam por fazer desistir
da fé alguns, por isso o autor da Carta aos Hebreus, faz esta admoestação e o próprio São João,
na sua primeira carta define com uma nomenclatura única, que só existe nesta carta, quem, são os
que apostatam, ou seja, sendo batizados renunciam a fé de Pedro:

“Filhinhos, esta é a última hora. Vós ouvistes dizer que o Anticristo vem. Eis que já há muitos anticristos, por
isso conhecemos que é a última hora. Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos
nossos, ficariam certamente conosco. Mas isso se dá para que se conheça que nem todos são dos nossos. Vós,
porém, tendes a unção do Santo e sabeis todas as coisas. Não vos escrevi como se ignorásseis a verdade, mas
porque a conheceis, e porque nenhuma mentira vem da verdade. Quem é mentiroso senão aquele que nega
que Jesus é o Cristo? Esse é o Anticristo, que nega o Pai e o Filho.”
(1Jo 2, 18-22)

“Nisto se reconhece o Espírito de Deus: todo espírito que proclama que Jesus Cristo se encarnou é de
Deus; todo espírito que não proclama Jesus esse não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo de cuja vinda
tendes ouvido, e já está agora no mundo.”
(1Jo 4, 2-3)

Então, fica claro que a Igreja é uma instituição, na qual para se fazer parte, é imperativo que seja
professada, crida e propagada a fé desta mesma Igreja, a fé professada por São Pedro, que é
chamado pelo próprio Jesus, a confirmar os irmãos, naquela mesma fé por ele confessada:

“Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a
tua fé não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos.” Pedro disse-lhe: “Senhor, estou pronto a ir
contigo tanto para a prisão como para a morte”. Jesus respondeu-lhe: “Digo-te, Pedro, não cantará hoje o galo,
até que três vezes hajas negado que me conheces”.
(Lc 22, 31-34)

E de fato, Simão nega o Senhor, quando este foi preso, porém, após a ressurreição, ao ver o
arrependimento de Simão, Jesus, renova o chamado de Simão:

“Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?”.
Respondeu ele: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta os meus
cordeiros”. Perguntou-lhe outra vez: “Simão, filho de João, amas-me?”. Respondeu-lhe: “Sim, Senhor, tu sabes
que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta os meus cordeiros”. Perguntou-lhe pela terceira vez: “Simão, filho de
João, amas-me?”. Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: “Amas-me?” –, e respondeu-lhe:
“Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em
verdade te digo: quando eras mais moço, cingias-te e andavas aonde querias. Mas, quando fores velho,
estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres”. Por essas palavras, ele indicava o
gênero de morte com que havia de glorificar a Deus. E depois de assim ter falado, acrescentou: “Segue-me!”.”
(Jo 21, 15-19)

Jesus, diz somente a Simão Pedro, que é “Cefas” em Aramaico, para apascentar os cordeiros ou
ovelhas de seu aprisco. Interessante também ver que São João, faz uma referência à morte de São
Pedro, mas não faz menção sobre a morte de nenhum dos outros discípulos que se tornariam
apóstolos, demonstrando que ainda na era apostólica, Simão Pedro, ou melhor, São Pedro tem
uma importância ímpar no colégio apostólico.
162

QUE IGREJA É ESTA?

Outra coisa muito importante, é que algumas características específicas da Igreja, já podem ser
verificadas nos textos do NT, como vemos a seguir:

"Porque o bispo tem o dever de ser irrepreensível, casado uma só vez, sóbrio, prudente, regrado no seu
proceder, hospitaleiro, capaz de ensinar.”
(I Tm 3, 2)

"Porquanto é mister que o bispo seja irrepreensível, como administrador que é posto por Deus. Não arrogante,
nem colérico, nem intemperante, nem violento, nem cobiçoso.”
(Tt 1, 7)

"Não recebas acusação contra um presbítero, senão por duas ou três testemunhas.
(I Tm 5, 19)

"Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Jesus Cristo, que se acham em Filipos,
juntamente com os bispos e diáconos:
(Fp 1, 1)

"Do mesmo modo, os diáconos sejam honestos, não de duas atitudes nem propensos ao excesso da bebida e
ao espírito de lucro;
(I Timóteo 3, 8)
"Os diáconos não sejam casados senão uma vez, e saibam governar os filhos e a casa.
(I Timóteo 3, 12)

A Igreja já possuía uma hierarquia formada pelos Bispos (Supervisores), pelos Presbíteros (Idoso
digno de respeito) e pelos Diáconos (Ajudantes), exatamente como é a hierarquia da Igreja hoje
em dia.
"Naqueles dias, como crescesse o número dos discípulos, houve queixas dos gregos contra os hebreus, porque
as suas viúvas teriam sido negligenciadas na distribuição diária. Por isso, os Doze convocaram uma reunião dos
discípulos e disseram: “Não é razoável que abandonemos a PALAVRA DE DEUS, para administrar. Portanto,
irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais
encarregaremos deste ofício. Nós atenderemos sem cessar à oração e ao ministério da palavra”. Esse parecer
agradou a toda a reunião. Escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; Filipe, Prócoro, Nicanor,
Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos aos apóstolos, e estes, orando,
impuseram-lhes as mãos.”
(At 6, 1-6)

O detalhe deste texto, é que a Palavra de Deus é citada, porém, ainda não existia o Novo
Testamento nesta época, o que demonstra duas coisas, que a Palavra de Deus era transmitida, de
maneira oral, o que caracteriza a Tradição Oral (Sagrada Tradição Apostólica) dos Apóstolos da
Sã Doutrina da Salvação, e que a Igreja já tinha uma autoridade, antes mesmo de haver os
Evangelhos e o Novo Testamento, autoridade esta que lhe dá a legitimidade para instituir
hierarquias e que depois, lhe dará também a possibilidade de instituir o cânon bíblico. Ainda fica
evidente que o rito da Imposição das mãos (Ordenação Sacerdotal) é originário dos Apóstolos.

“Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da
família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio
Cristo Jesus. É nele que todo edifício, harmonicamente disposto, se levanta até formar um templo santo no
Senhor. É nele que também vós outros entrais conjuntamente, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se
torna a habitação de Deus.”
(Ef 2,19-22)
163

Conclusão: Jesus de Nazaré, é Deus, Ele fez-se carne e formou um colegiado de apóstolos,
nomeando São Pedro como o detentor das chaves do Reino dos Céus, instituindo sobre ele,
o título de Pedra (Cefas), Rocha firme de Sua própria Igreja. Esta Igreja é a Coluna e
fundamento da verdade e nunca será vencida pelo inferno. Jesus deixou Sua doutrina sob a
tutela dos seus apóstolos, os quais propagaram-na pelo mundo inteiro, instituindo uma
hierarquia (Bispos, Presbíteros e Diáconos), os quais, sucederam os apóstolos em uma linha
sucessória que chegou até os nossos dias. A Igreja deixada por Jesus, é a Igreja Católica,
Apostólica e Romana, pois foi onde São Pedro foi martirizado e é onde hoje, repousa seus
restos mortais, ao lado dos restos mortais de São Paulo, na Catedral de São Pedro.

Mas, o que prova que a Igreja de Cristo, é a Igreja Católica?


164

8º. DEGRAU: A IGREJA DE CRISTO É A IGREJA CATÓLICA


APOSTÓLICA ROMANA
Uma vez que temos conhecimento de que a Igreja precede as Sagradas Escrituras, e que os
Apóstolos ordenaram os Bispos pela imposição das mãos, dentre estes Bispos, um deles se
destaca, seu nome é Santo Inácio de Antioquia. Quem foi este Bispo de Antioquia?

SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA:

Descendente de uma família pagã, não romana, Inácio converteu-se ao cristianismo em idade
avançada, graças à pregação de São João Evangelista. Santo Inácio foi o terceiro bispo de
Antioquia, na Síria, cidade que foi a terceira metrópole do mundo antigo, depois de Roma e
Alexandria, no Egito, e da qual o próprio São Pedro foi o primeiro bispo.

Santo Inácio de Antioquia era um Bispo forte, um pastor de zelo ardente, foi perseguido pelo
Imperador Trajano condenado a morte por não querer negar sua fé em Cristo. Por isso, foi preso e
transportado acorrentado para Roma. Assim, começou a sua longa viagem, rumo ao patíbulo,
durante a qual foi torturado pelos guardas, até chegar ao seu destino final.

Preso e condenado, Inácio foi conduzido de Antioquia à Roma, onde se organizavam festas em
homenagem ao imperador; e os cristãos serviam de espetáculo, no circo. No Coliseu, seu corpo foi
despedaçado pelas feras, durante as celebrações da vitória do imperador na Dácia, no ano 107.

Durante sua viagem de Antioquia à Roma, Santo Inácio escreveu sete cartas. Nestas cartas, o
Bispo enviado à morte recomendava aos fiéis que fugissem do pecado; para se proteger contra os
erros dos gnósticos; sobretudo para manter a unidade da Igreja. As sete lindas cartas que
constituem um documento inimitável da vida da Igreja na época, ao chegar à Esmirna, escreveu as
quatro primeiras cartas, três das quais dirigidas às comunidades da Ásia Menor: aos Efésios,
Magnésios e Trálios. Nelas, ele expressa a sua gratidão pelas muitas demonstrações de carinho.

Na quarta carta, ao invés, foi dirigida à Igreja de Roma, na qual faz um apelo aos fiéis para não
impedirem seu martírio, do qual se sentia honrado, pela possibilidade de percorrer o caminho e a
Paixão de Jesus:

“Eu suplico a vocês: Não mostrem comigo uma caridade inoportuna. Permitam-me ser pasto das
feras, pelas quais me será possível alcançar a Deus. Antes, excitem os leões, para que se convertam
em meu sepulcro. Assim serei um verdadeiro discípulo de Cristo. Sou trigo de Deus. Quero ser
triturado e moído pelos dentes das feras, a fim de me converter em pão puro de Cristo”. (Sto
Inácio de Antioquia, Epístola aos Romanos, 107)

De passagem por Trôade, Inácio escreveu outras três cartas: à Igreja da Filadélfia, de Esmirna e
ao seu Bispo, Policarpo. Em suas missivas, pedia a solidariedade espiritual dos fiéis com a Igreja
de Antioquia, que passava pelas provações do eminente destino do seu pastor; ao Bispo Policarpo,
ofereceu interessantes diretrizes de como cumprir a sua função episcopal. Celebramos o seu dia
em 17 de Outubro.

Iremos nos focar na Carta de Santo Inácio aos Esmirnenses, ela foi escrita por volta do ano 107
d.C. a proximidade das cartas de Santo Inácio com os escritos do NT, quase que serviram para
incluí-las no cânon do NT. Iremos trazer esta carta na íntegra para nosso aprofundamento na
comprovação de que a Igreja nascente, já no século I, era chamada de Igreja Católica:
165

CARTA DE SANTO INÁCIO AOS ESMIRNENSES (SÉC. I)

Saudação:

Inácio, também chamado Teóforo, À IGREJA DE DEUS Pai e de Jesus Cristo amado, Igreja que encontrou
misericórdia em todo dom da graça, repleta de fé e amor, sem que lhe falte dom algum, agradabilíssima a Deus
e portadora de santidade, situada em Esmirna, na Ásia cordiais saudações em espírito irrepreensível e na
palavra de Deus.

Salta os olhos que Santo Inácio, neste primeiro capítulo, proclama sua fé na autoridade da Igreja,
na sua perfeição e na sua riqueza de bens dados por Deus. É uma tradição na própria Igreja, que
as cartas apostólicas, sempre aludam a perfeição da Igreja, pois é a mesma perfeição derivada de
Nosso Senhor Jesus Cristo.

1º Parágrafo:

1 Glorifico a Jesus Cristo, Deus, que vos fêz tão sábios. Cheguei a saber efetivamente que estais aparelhados
com fé inabalável, como que pregados de corpo e alma na Cruz do Senhor Jesus Cristo, confirmados na
caridade no Sangue de Cristo, cheios de fé em Nosso Senhor, que é de fato da linhagem de Davi, segundo a
carne, Filho de Deus porém consoante a vontade e o poder de Deus, de fato nascido de uma Virgem e batizado
por João, a fim de que se cumpra n‘Ele toda a justiça. 2 Sob Pôncio Pilatos e o tetrarca Herodes foi também de
fato pregado (na Cruz), em carne, por nossa causa, fruto pelo qual temos a vida, pela Sua Paixão bendita em
Deus, a fim de que Ele por Sua ressurreição levantasse Seu sinal para os séculos, em benefício de Seus santos
fiéis, tanto judeus, como gentios, no ÚNICO CORPO DE SUA IGREJA.

No segundo parágrafo, ele reconhece a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dando sequência
à fé da Igreja, que além do NT, já admitia a que Jesus é Deus. Então, caem por terra as acusações
de que a Igreja Católica, teria inventado a teoria de Jesus ser Deus, somente no século IV. Um
detalhe interessante, é que os cristãos, eram assim reconhecidos, independente da nacionalidade
(Judeus ou gentios) e que a Igreja era um único corpo, formado de pessoas, não importando suas
diferenças.

2º Parágrafo:

1 Tudo isso padeceu por nossa causa, para obtermos a salvação. Padeceu de fato, como também de fato
ressuscitou a Si próprio, não padecendo só aparentemente, como afirmam alguns infiéis. Eles é que só vivem
aparentemente, e, conforme pensam, também lhes sucederá: não terão corpo e se assemelharão aos
demônios.

A confirmação histórica da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois como este texto é um
documento histórico, mesmo Santo Inácio não sendo uma testemunha ocular, ele conviveu com os
apóstolos e os viu dando suas vidas por esta verdade. De fato, Jesus morreu, mas de fato Ele
também ressuscitou.

3º Parágrafo:

1 Eu porém sei e dou fé que Ele, mesmo depois da ressurreição, permanece em Sua carne. 2 Quando se
apresentou também aos companheiros de Pedro, disse-lhes: Tocai em mim, apalpai-me e vede que não sou
espírito sem corpo. De pronto n‘Ele tocaram e creram, entrando em contato com Seu Corpo e com Seu espírito.
Por isso, desprezaram também a morte e a ela se sobrepuseram. 3 Após a ressurreição, comeu e bebeu com
eles, como alguém que tem corpo, ainda que estivesse unido espiritualmente ao Pai.

O autor reafirma que Jesus não era um “fantasma” quando ressuscitou, mas que Ele ressuscitou
na carne, podia ser tocado, apalpado, o diferenciando de um “espírito”, mas um Homem. Assim,
166

temos na Igreja sub-apostólica, a fé de que Jesus é Deus e Homem, ao mesmo tempo, sendo
portador das duas naturezas, a Divina e a Humana. É notável ainda a importância de São Pedro,
que mesmo sendo Inácio discípulo de São João Evangelista, que há poucos anos (+-7 anos) teria
falecido, mas ao se referir ao colégio apostólicos, chama-os pelo termo “companheiros de Pedro”.

4º Parágrafo:

1 Encareço tais verdades junto a vós, caríssimos, embora saiba que também vós assim pensais. Quero prevenir-
vos contra os animais ferozes em forma humana. Não só não deveis recebê-los, mas, quanto possível, não vos
encontreis com eles. Só haveis de rezar por eles, para que, quem sabe, se convertam, coisa por certo difícil.
Sobre eles no entanto tem poder Jesus Cristo, nossa verdadeira vida. 2 Pois, se nosso Senhor só realizou as
obras na aparência, então também eu estou preso só aparentemente. Por que então me entreguei a mim
mesmo, à morte, ao fogo, à espada, às feras? Mas estar perto da espada é estar perto de Deus; encontrar-se em
meio às feras é encontrar-se junto a Deus, unicamente porém quando em nome de Jesus Cristo. Para padecer
junto com Ele, tudo suporto, confortado por Ele, que se tornou perfeito homem.

Jesus Cristo é chamado de “verdadeira vida”, demonstrando um culto de adoração comum até os
dias de hoje, que deu origem a toda cristologia da teologia e da doutrina católica, pois Ele é o
“perfeito homem” que é adorado pelos homens.

5º Parágrafo:

1 Alguns O negam, por ignorância, ou melhor foram renegados por Ele, por serem antes advogados da morte
do que da verdade. A estes não conseguiram converter as profecias, nem a lei de Moisés, nem mesmo até hoje
o Evangelho e as torturas de cada um de nós. 2 Pois sobre nós professam eles a mesma opinião. De que me
vale um homem, ainda que me louve, se blasfema contra meu Senhor, não confessando que Ele assumiu carne?
Quem não o professa negou-O por completo e carrega consigo seu cadáver. 3 Os nomes deles, uma vez que são
infiéis, não me pareceu necessário escrevê-los; preferiria até nem lembrar-me deles, enquanto se não
converterem à Paixão, que é a nossa Ressurreição.

Nesta época os quatro Evangelhos já estavam escritos, porém, é difícil que Santo Inácio tivesse
tido contato com todos, mas é certo que ele não está fazendo referência a nenhum texto, mas sim,
à Sã Doutrina da Salvação, que é o que de fato o Evangelho é até hoje para nós, católicos.

6º Parágrafo:

1 Ninguém se iluda: mesmo os poderes celestes e a glória dos anjos, até os arcontes visíveis e invisíveis
hão de sentir o juízo, caso não crerem no sangue de Cristo. Compreenda-o quem for capaz de o
compreender. Ninguém se ufane de sua posição, pois o essencial é a fé e o amor, e nada se lhes
prefira. 2 Considerai bem como se opõem ao pensamento de Deus os que se prendem a doutrinas
heterodoxas a respeito da graça de Jesus Cristo, vinda a nós: Não lhes importa o dever de caridade, nem fazem
caso da viúva e do órfão, nem do oprimido, nem do prisioneiro ou do liberto, nem do que padece fome ou sede.

A importância de se crer no “Sangue de Cristo”, ou seja, no seu martírio é ressaltada, pois muitos,
já naquele tempo, negavam: que Cristo tivesse morrido ou que Ele tivesse ressuscitado. Negando
sua Divindade ou sua humanidade. Como que, se Ele está vivo, é porque não morreu, mas se
morreu, então não ressuscitou; se é Deus, então não é Homem, mas se é Homem, então não é
Deus. Tais idéias, já eram chamadas de “Doutrinas Heterodoxas”. Estamos no século I e já havia
uma Doutrina Ortodoxa.

7º Parágrafo:

1 Abstêm-se eles da Eucaristia e da oração, porque não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso
Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nossos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou. Os
167

que recusam o dom de Deus e morrem disputando. Ser-lhes-ia bem mais útil praticarem a caridade, para
também ressuscitarem. 2 Convém, pois, manter-se longe de tais pessoas, deixar de falar delas em particular e
em público, e passar toda a atenção aos Profetas, especialmente ao Evangelho, pelo qual se nos patenteou a
Paixão e se consumou a Ressurreição. Fugi das dissensões, fonte de misérias.

Neste parágrafo, temos a primeira menção à Eucaristia, isto significa que a Santa Missa, chamada
de “fração do Pão” em Atos, que a seguir será chamada de “Agape”, não era algo local, mas já era
difundida em toda parte do mundo conhecido, e note que a fé como é hoje, pois já se tinha a fé de
que a Eucaristia é a Carne e o Sangue de Jesus, não é um símbolo, é um sacramento. O Evangelho,
a Sã Doutrina, como já vimos que os apóstolos faziam, era extraída do próprio Antigo Testamento,
que eram as únicas escrituras assim reconhecidas naquele tempo.

8º Parágrafo:

1 Sigam todos ao bispo, como Jesus Cristo ao Pai; sigam ao presbitério como aos apóstolos. Acatem os
diáconos, como à lei de Deus. Ninguém faça sem o bispo coisa alguma que diga respeito à Igreja. Por legítima
seja tida tão somente a Eucaristia, feita sob a presidência do bispo ou por delegado seu. 2 Onde quer que se
apresente o bispo, ali também esteja a comunidade, assim como A PRESENÇA DE CRISTO JESUS TAMBÉM NOS
ASSEGURA A PRESENÇA DA IGREJA CATÓLICA. Sem o bispo, não é permitido nem batizar nem celebrar o
ágape. Tudo porém o que ele aprovar será também agradável a Deus, para que tudo quanto se fizer seja
seguro e legítimo.

Este parágrafo oitavo, nos leva a perguntar a todos os que se dizem cristãos pelo mundo: “Como
não ser católico e se dizer cristão?” É uma pergunta extremamente pertinente, pois temos aqui, o
testemunho de um discípulo dos Apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que proclama que a
Igreja de Cristo, é Católica. Alguns dizem que o termo “católica” aqui, é no sentido apenas para
demonstrar a universalidade da Igreja de Cristo. Esta afirmação seria real e verdadeira, se
desconsiderássemos TODO o conteúdo da carta, onde vemos que o Bispo faz referências a uma
série de doutrinas, tradições, liturgias e hierarquias que até hoje, só existem na Igreja Católica.

9º Parágrafo:

1 No mais, é razoável voltarmos ao bom-senso, e convertermo-nos a Deus, enquanto ainda for tempo. Bom é
tomarmos conhecimento de Deus e do bispo. Quem honra o bispo será também honrado por Deus; quem
faz algo às ocultas do bispo presta culto ao diabo. 2 Que tudo redunde em graça a vosso favor, pois bem o
mereceis. Vós me confortastes de toda maneira e Jesus Cristo a vós. As provas de carinho me seguiram,
presente estivesse eu ou ausente. Que Deus seja a paga, por cujo amor tudo suportais, pelo que também haveis
de chegar a possuí-Lo.

Já naquele tempo, nenhuma atividade da Igreja era admitida como legitima se não tivesse a
presença e o aval do Bispo e que, afastar-se do Bispo, era considerado um “culto ao diabo”.
10º Parágrafo:

1 Fizestes bem em receber, como diáconos de Cristo Deus, a Fílon e Reos Agátopos, que pela causa de Deus me
seguiram. Agradecem eles ao Senhor por vós, porque os confortastes de toda a sorte. Nada disso se perderá
para vós. 2 Dou-vos como preço de resgate meu espírito e minhas algemas que vós não desprezastes e de que
também não vos envergonhastes. Jesus Cristo também de vós não se envergonhará, Ele que é a fé perfeita.

Temos aqui, mais uma confirmação da Divindade de Jesus, que é chamado de “Cristo Deus”.

11º Parágrafo:

1 Vossa oração aproveitou à Igreja de Antioquia na Síria, de onde vim preso com grilhões, tão do agrado de
Deus, e donde a todos saúdo, embora não seja digno de ser de lá, eu, o menor dentre eles. Mas, pela vontade
168

de Deus, fui tido por digno, não pelo julgamento de minha consciência, mas sim pela graça de Deus. Desejo
que ela me seja concedida em sua perfeição, a fim de que eu, por meio de vossa oração, encontre a Deus. 2 No
entanto, para que vossa obra seja perfeita, tanto na terra como no céu, cumpre que a Vossa Igreja, para honra
de Deus, escolha um seu legado que vá até a Síria, para se congratular com eles, porque gozam novamente de
paz, readquiriram sua grandeza e lhes foi restaurado o corpo. 3 É a meu ver de fato obra digna enviardes um
legado de vosso meio, com uma carta, a fim de celebrar com eles a paz que lhes foi concedida, consoante a
vontade de Deus, pois já chegaram ao porto, graças à vossa oração. Sendo perfeitos, pensai também no que é
perfeito, pois se tencionais agir bem, Deus está igualmente disposto a vô-lo conceder.

Este parágrafo, ressalta a fé na importância da ação da Graça de Deus em nossas vidas, para
nossa santificação, sem desprezar também a importância das obras, o que dá fim, à disputa entre
“fé e graça” tão explorada pelo protestantismo. A Igreja crê na ação da Graça que nos leva a
produzir frutos pela própria Graça, sem desprezar a liberdade humana.

12º Parágrafo:

1 Saúda-vos a caridade dos irmãos de Trôade, donde vos escrevo por intermédio de Burrus, a quem enviastes
juntamente com os efésios, vossos irmãos, para me fazer companhia. Animou-me em todo sentido. Todos
deveriam imitá-lo como exemplo no serviço de Deus. A graça o recompensará em todo sentido. 2 Saudações ao
bispo, digno de Deus, a vosso presbitério tão agradável a Deus, aos diáconos, meus companheiros de
serviço, a cada um em particular e a todos em geral, em nome de Jesus Cristo, na Sua carne e no Seu sangue, na
Paixão e na Ressurreição, em corpo e alma, na unidade de Deus e na vossa. Para vós a graça, a misericórdia, a
paz, e a paciência para todo sempre.

Por fim, o Bispo de Antioquia, confirma a hierarquia católica. É importante entender, que a
manutenção da hierarquia é um sinal da presença da Igreja de Cristo, a Igreja Católica, sem a qual,
não há salvação, por isso, as ditas “igrejas” protestantes não são portadoras de salvação, mas
apenas de divisão, desinformação e infelizmente, perdição.

Finalização:

1 Saudações às famílias de meus irmãos, com suas espôsas e filhos e com as virgens, chamadas viúvas.
Passar bem na força do Pai. Saudações da parte de Fílon que está comigo. 2 Meus cumprimentos à família de
Tavia, a quem desejo se robusteça na fé e na caridade, tanto corporal como espiritual. Saudações a Alceu, nome
tão querido, a Dafnos o incomparável e a Eutecno. Enfim, a todos nominalmente. Passar bem na graça de Deus.

Nas finalizações, o Bispo remete ainda a antiga tradição das mulheres que devotavam sua
virgindade ou sua viuvez no serviço a Deus, uma referência às consagradas celibatárias, daquele
e de nosso tempo. Infelizmente o movimento protestante abandonou o estímulo do celibato, até
existem comunidades femininas entre os luteranos e anglicanos, mas nas demais vertentes do
protestantismo isso caiu em desuso.

A IGREJA NASCEU CATÓLICA:

A Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, já era chamada ainda no século I de IGREJA CATÓLICA.
A Igreja nasceu Católica esta é a única conclusão possível para tudo o que foi demonstrado até
aqui.

Conclusão: A Igreja fundada por Jesus de Nazaré, é Una, Santa, Católica e Apostólica.
169

TERCEIRA FASE: VERDADES DA FÉ


Uma vez que subimos os degraus das certezas históricas, filosóficas, científicas e, portanto, dos
fatos referentes a História da Salvação, podemos nos debruçar sobre os desdobramentos destes
fatos.

Apontamos algumas consequências diretas tiradas dos fatos narrados no Novo Testamento e
documentos históricos como os textos patrísticos, agora, entraremos no que concerne a Sã
Doutrina da Salvação, nas verdades de fé e nos dogmas proclamados pela Igreja Católica ao longo
destes quase 2000 anos de existência. Agora entraremos efetivamente no conteúdo catequético
da fé.
170

1º. PARTE: A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO


A SANTÍSSIMA TRINDADE:

“No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e o
Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: “Faça-se a luz!”. E a luz foi feita.”
(Gn 1, 1-3)

Desde o primeiro versículo das Sagradas Escrituras, temos na Torá / Pentateuco a expressão da
Santíssima Trindade. Vemos o Pai Criador, o Espírito de Deus e o Verbo (Faça-se = Fiat), e logo
em seguida, podemos ver o autor sagrado, referindo-se a Deus no plural:

“Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.”


(Gn 1, 26a)

Então, Deus, é UNO e TRINO. Para comprovar isso, temos um argumento lógico, o argumento da
Caridade:

✓ Deus é amor.
✓ Só há sentido no amor, quando se ama outra pessoa.
✓ Deus ama outra pessoa, na Santíssima Trindade.

Deus é perfeito em todas as suas atribuições, porém, quando afirmamos que Deus é Amor, ou seja,
que Ele é a Caridade, subintendemos que Ele, necessariamente ame, e ame de modo perfeito e
absoluto, para que isso aconteça, Ele precisa amar alguém, no mínimo mais uma pessoa, assim,
um deus, que não fosse Trino e Uno, não existiria logicamente.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de
Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.”
(Jo 1, 1-3)

Deus, sempre foi Pai, Filho e Espírito Santo. Nunca houve um tempo ou um momento na eternidade
que Deus não tenha sido exatamente como Ele é. O Pai, amando a Si mesmo, gera o Filho que é
a Imagem do Pai, e do relacionamento do Pai com o Filho, procede o Espírito Santo, que nos três,
pode ser chamado também de Amor.

Então, o Pai é Criador, o Filho é Redentor e o Espírito Santo é Santificador. Esta distinção, é apenas
pedagógica, pois quando o Pai cria, o Filho e o Espírito participam, quando o Filho redime, o Pai e
o Espírito participam e quando o Espírito santifica, o Pai e o Filho participam.

O ÍCONE DE RUBLEV:

Uma só pessoa, em três pessoas distintas e absolutamente iguais, do Pai, procede o Filho e de
ambos procede o Espírito Santo, assim são os três consubstanciais uns aos outros. O Pai, não é o
Filho e não é o Espírito, mas é Deus. O Filho, não é o Pai e não é o Espírito, mas é Deus. O Espírito
não é o Pai e não é o Filho, mas é Deus. Existe uma passagem das Escrituras, em que o Deus Uno
e Trino visitou Abraão:

O Senhor apareceu a Abraão nos carvalhos de Mambré, quando ele estava assentado à entrada de sua tenda,
no maior calor do dia. Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se no mesmo
instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra. “Meu Senhor – disse ele – se
encontrei graça diante de vossos olhos, não passeis avante sem vos deterdes em casa de vosso servo. Vou
buscar um pouco de água para vos lavar os pés. Descansai um pouco sob esta árvore. Eu vos trarei um pouco
171

de pão, e assim restaurareis as vossas forças para prosseguirdes o vosso caminho; porque é para isso que
passastes perto de vosso servo.” Eles responderam: “Faze como disseste”. Abraão foi depressa à tenda de
Sara: “Depressa – disse ele – amassa três medidas de farinha e coze pães”. Correu em seguida ao rebanho,
escolheu um novilho tenro e bom, e deu-o a um criado que o preparou logo. Tomou manteiga e leite e serviu
aos peregrinos juntamente com o novilho preparado, conservando-se de pé junto deles, sob a árvore, enquanto
comiam.
(Gn 18, 1-8)

O texto diz claramente que “O Senhor apareceu a Abraão” sob a forma de “três homens”, o patriarca
os identifica, os três de uma só vez como “meu Senhor” e os três respondem juntos, de uma só
vez, como se uma só pessoa fossem. Abraão então, corre para lhes preparar um novilho, “tenro e
bom”. O fato de o novilho ser tenro, é porque tem carne macia, porém, é um sinal de que é mimoso
e bom, de bondade moral. A bondade atribuída a um animal, remete ao ser humano, ora, Jesus
diz:
172

“Jesus disse-lhe: “Por que me chamas bom? Só Deus é bom.”


(Mc 10,18)

O novilho, é a prefiguração de Jesus, anunciado por São João Batista:

“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.”


(Jo 1,29b)

O ícone de Rublev nos traz a imagem de gênesis, a “Eterna Assembleia dos Três” que fitam a
história da Salvação (Economia da Salvação), temos três homens/anjos, anjos são espirituais, mas
eles estão visíveis, transmitindo a ideia de que, Deus é perceptível, apesar de invisível, detalhes:

▪ Movimento circular/Cálice: Olhando a imagem de frente, vê-se imediatamente que os


personagens, formam um círculo com a cabeça e o posicionamento dos pés, simbolizando
a hóstia magna. No meio do círculo temos o anjo central, que representa Nosso Senhor
Jesus Cristo, que está dentro de um cálice, formado pelas duas outras pessoas, o Pai e o
Espírito Santo;
▪ Bastões na mão: Significa que são peregrinos, que estão caminhando;

Há uma imagem diferente, para cada um deles, atrás de suas cabeças:

▪ Templo/Palácio: Remente à tenda de Abraão, mas como este anjo representa o Pai, Ele é
visto como o Rei, sentado no trono;
▪ A Árvore: Remete ao Carvalho de Mambré, mas é a árvore da vida, o madeiro da Cruz, que
é Jesus, ao centro;
▪ O monte: Remete o Moriá, onde Abraão irá oferecer Isaac, mas também é o Calvário, onde
Cristo foi oferecido;
▪ A Túnica Azul: Simboliza a divindade revelada, aquilo que de cada um foi revelado, está em
Azul, note-se que o Pai, tem apenas um pouco de sua Divindade revelada, já o Espírito
Santo, que possui mais referências e citações no NT, a túnica está mais a mostra e o Filho,
está revestido de Azul, e sua túnica na verdade é vermelha, demonstrando que Ele é
Homem, e Deus, e tem sua divindade e humanidade absolutamente a mostra;
▪ Manto Ocre do Pai: Simboliza a Fé, que esconde o que ainda não sabemos sobre o Pai;
▪ Manto Verde do Espírito: Simboliza a Esperança, que é o que devemos esperar, pelo que
sabemos, pois Ele é o Paráclito;
▪ Túnica Azul e Manto Vermelho do Filho: A túnica do Filho é vermelha, simbolizando a
Caridade, assim, as três virtudes cardeais, e a Túnica Azul, também simboliza a Graça
Santificante, que é a Divinização do ser Humano;
▪ As faces: O Filho sorri, o Espírito está triste e o Pai está sério. O Sorriso é pelas almas
salvas; A tristeza pelas almas perdidas; A seriedade que ambos tem para Deus; O Pai, fita
o Filho, o Filho Fita o Pai, e o Espírito, fita a ambos, Pai e Filho.
▪ A Tigela: Ela representa o Cosmo e no meio, está a cabeça de um novilho, que foi oferecido
em alimento por Abraão. O Novilho está no meio da Tigela, representando que Jesus está
no meio do Cosmo, pois foi na “plenitude dos tempos” que Jesus veio a este mundo. O fato
de o altar e a tigela representarem o cosmo é enfatizado pelas quatro quinas do altar e pelo
pequeno retângulo posto sobre ele, o que nos lembra os quatro pontos cardeais.

As três Pessoas aparecem conversando, provavelmente sobre o seguinte versículo do Evangelho de


João: “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único” (Jo 3, 16). Deus é
amor em si, em sua essência trinitária, e seu amor pelo mundo é o reflexo de seu amor trinitário, a
continuação ou extensão dele até os âmbitos mais distantes do ser. O dom de si ofertado por Deus
nunca surge ou resulta de uma perda ou falta; ao contrário, trata-se de um derramamento da
173

superabundância de seu amor. Esse dom de si é representado pela tigela, que podemos interpretar
como um poço que nunca seca. (Peter Kwasniewski – padrepauloricardo.org)

JESUS FICOU SÓ NA CRUZ?

As três pessoas estão envolvidas na história da Salvação. É o Verbo que se encarna, pelo desejo
do Pai e pelo poder do Espírito Santo. Quando Cristo na Cruz, diz:

“E à hora nona, Jesus bradou em alta voz: ‘Elói, Elói, lammá sabactáni?’, que quer dizer: ‘Meu Deus, meu Deus,
por que me abandonaste?’”
(Mc 15,34)

Ele não está “reclamando” a ausência do Pai, mas está recitando o Salmo 21, que está na íntegra
a seguir:
1
Ao mestre de canto. Segundo a melodia “A corça da aurora”. Salmo de Davi. 2Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonastes? E permaneceis longe de minhas súplicas e de meus gemidos? 3Meu Deus, clamo de dia e não me
respondeis; imploro de noite e não me atendeis. 4Entretanto, vós habitais em vosso santuário, vós que sois a
glória de Israel. 5Nossos pais puseram sua confiança em vós, esperaram em vós e os livrastes. 6A vós clamaram
e foram salvos; confiaram em vós e não foram confundidos.7Eu, porém, sou um verme, não sou homem, o
opróbrio de todos e a abjeção da plebe. 8Todos os que me vêem zombam de mim; dizem, meneando a
cabeça:9“Esperou no Senhor, pois que ele o livre, que o salve, se o ama”. 10Sim, fostes vós que me tirastes das
entranhas de minha mãe e, seguro, me fizestes repousar em seu seio. 11Eu vos fui entregue desde o meu nascer,
desde o ventre de minha mãe vós sois o meu Deus.12Não fiqueis longe de mim, pois estou atribulado; vinde
para perto de mim, porque não há quem me ajude.13Cercam-me touros numerosos, rodeiam-me touros de
Basã;14contra mim eles abrem suas fauces, como o leão que ruge e arrebata. 15Derramo-me como água, todos
os meus ossos se desconjuntam; meu coração tornou-se como cera e derrete-se nas minhas entranhas.16Minha
garganta está seca qual barro cozido, pega-se no paladar a minha língua: vós me reduzistes ao pó da
morte.17Sim, rodeia-me uma malta de cães, cerca-me um bando de malfeitores. Traspassaram minhas mãos e
meus pés:18poderia contar todos os meus ossos. Eles me olham e me observam com alegria, 19repartem entre si
as minhas vestes, e lançam sorte sobre a minha túnica. 20Porém, vós, Senhor, não vos afasteis de mim; ó meu
auxílio, bem depressa me ajudai.21Livrai da espada a minha alma, e das garras dos cães a minha vida. 22Salvai-
me a mim, mísero, das fauces do leão e dos chifres dos búfalos. 23Então, anunciarei vosso nome a meus
irmãos, e vos louvarei no meio da assembleia. 24“Vós que temeis o Senhor, louvai-o; vós todos, descendentes
de Jacó, aclamai-o; temei-o, todos vós, estirpe de Israel,25porque ele não rejeitou nem desprezou a miséria do
infeliz, nem dele desviou a sua face, mas o ouviu, quando lhe suplicava.”26De vós procede o meu louvor na
grande assembleia, cumprirei meus votos na presença dos que vos temem. 27Os pobres comerão e serão
saciados; louvarão o Senhor aqueles que o procuram: “Vivam para sempre os nossos corações”. 28Hão de se
lembrar do Senhor e a ele se converter todos os povos da terra; e diante dele se prostrarão todas as famílias
das nações,29porque a realeza pertence ao Senhor e ele impera sobre as nações. 30Todos os que dormem no
seio da terra o adorarão; diante dele se prostrarão os que retornam ao pó.31Para ele viverá a minha alma, há
de servi-lo minha descendência. Ela falará do Senhor às gerações futuras e proclamará sua justiça ao povo que
vai nascer: “Eis o que fez o Senhor”.

A beleza deste texto e sua importância é gigantesca, segundo São Marcos, estas foram as últimas
palavras de Jesus na Cruz, logo em seguida, Ele expirou. Mas, o Salmo indica toda a obra que
Jesus irá desempenhar, e o que o Pai e o Espírito irão fazer. Ele irá anunciar o nome de Deus no
meio da “Assembleia” que é o mesmo que Igreja e ainda desce à “mansão dos mortos” e resgata
de lá, os justos do AT, inaugurando o Céu aos seres humanos, temos aqui, a Igreja Triunfante, que
junto com a Igreja Militante (os vivos) e a Padecentes (as almas do Purgatório) formam a Igreja
Universal, Atemporal e Eterna.
174

O QUE É KENOSIS?

“Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si
mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente
reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por
isso, Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de
Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.”
(Fl 2, 6-11)

Aqui, nós temos a Kenosis do Verbo. Este termo, significa uma “queda”, mas sem perda do que se
é, e sim, assumindo o que não se é. Uma imagem que simboliza bem esta palavra, é quando um
adulto, se abaixa para falar com uma criança, ele não deixa de ser adulto, mas está bem próximo
da criança.

A própria Trindade, está em processo de Kenosis, pois já na criação, ao criar tudo o que existe, o
Criador, não é mais o Único Ser, mas Ele confere o ser a todos os outros seres. Ele não diminui,
mas Ele passa a “coabitar” tudo o que existe, que “antes era” apenas Ele e “agora” temos todos os
seres criados.

O QUE É MISTÉRIO?

“Ele disse-lhes: “A vós é revelado o mistério do Reino de Deus, mas aos que são de fora tudo se lhes propõe em
parábolas.”
(Mc 4,11)

Mistério, geralmente é um termo genérico, porém, na Sã Doutrina da Salvação, ou seja, nas


Escrituras, na Tradição e no Magistério, “mistério” é algo bem específico, o maior mistério que
temos, é justamente o “Mistério do Reino de Deus”. Ao contemplarmos o Ícone de Riblev, estamos
contemplando este mistério de modo gráfico e quase que palpável.

Olhando aqueles três homens/anjos, vemos ali uma verdadeira assembleia, pois são três pessoas:
Pai, Filho e Espírito Santo. A Igreja Católica, ao longo de séculos cunhou termos específicos para
conseguir falar sobre a Santíssima Trindade e o mistério de Deus.

O projeto divino da Revelação realiza-se ao mesmo tempo "por ações e por palavras, intimamente
ligadas entre si e que se iluminam mutuamente". Este projeto comporta uma "pedagogia divina"
peculiar: Deus comunica-se gradualmente com o homem, prepara-o por etapas a acolher a
Revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e na missão do Verbo
encarnado, Jesus Cristo. (CatIC 53)

O Ser Humano, é criado a Imagem e Semelhança de Deus, por isso, e apenas por isso, nós
podemos nos considerar pessoa, pois temos uma personalidade, uma habilidade própria do ser
humano, de se tornar pessoa. Mesmo nascendo únicos, irrepetíveis, pois nada do que Deus faça
é igual, o ser humano pode ser massificado, aglutinado e por fim, desumanizado.

Para que o Ser Humano, continue realmente humano, e assim, Imagem e Semelhança de Deus, o
primeiro passo é cultivar em si mesmo, a sua personalidade e fugir da massificação, do
modernismo, que nada mais é do que o processo de tornar todos iguais, com os mesmos uniformes,
com a mesma cultura, com a mesma visão de mundo, com as mesmas músicas e assim por diante.

Deus é Pessoa, e são três pessoas unidas de tal modo que são Uma só Pessoa, em Três Pessoas
distintas e absolutamente iguais. Ora, a definição de igreja é a “união de pessoas”, sendo Deus a
única e verdadeira união de pessoas, podemos afirmar que a Igreja é a Única Igreja que existe.
175

Sendo a Trindade a Igreja, temos um pouco deste mistério sendo revelado:

A IGREJA É O PRÓPRIO DEUS:

“Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o Princípio, o primogênito dentre os mortos e por isso tem o primeiro
lugar em todas as coisas.”
(Cl 1,18)

Quando Deus, faz-se Homem, a Igreja torna-se presente no mundo de modo literal, antes, na
assembleia de Israel, o povo de Deus, a Igreja estava de modo implícito e velado, mas agora, com
Deus feito Homem, Deus que é igual em suas três pessoas, assumindo a natureza humana,
habitando o tempo e a história, em uma Kenosis inimaginável, a Igreja, torna-se uma realidade
histórica. A Igreja torna-se o Mistério de Deus. Para entendermos isso, podemos reescrever o texto
do Evangelho de São Marcos 4,11, da seguinte forma:

“Ele disse-lhes: “A vós é revelado o SACRAMENTO do Reino de Deus, mas aos que são de fora tudo se lhes
propõe em parábolas.”

Os termos Sacramento e Mistério, são equivalentes, por isso, sempre que lemos nas Sagradas
Escrituras, o termo mistério, precisamos questionar se o sentido aplicado, não é o de Sacramento
e não algo que está “escondido” e que precisa ser revelado.

"A Igreja é, em Cristo, como que o sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com Deus e
da unidade de todo o gênero humano." Ser o sacramento da união íntima dos homens com Deus é
o primeiro objetivo da Igreja. Visto que a comunhão entre os homens está enraizada na união com
Deus, a Igreja é também o sacramento da unidade do gênero humano. Nela, esta unidade já
começou, pois ela congrega homens "de toda nação, raça, povo e língua" (Ap 7,9); ao mesmo tempo,
a Igreja é "sinal e instrumento" da plena realização desta unidade que ainda deve vir.

Como sacramento, a Igreja é instrumento de Cristo. “Nas mãos dele, ela é o instrumento da Redenção
de todos os homens” o sacramento universal da salvação” pelo qual Cristo “manifesta e atualiza o
amor de Deus pelos homens". Ela "é o projeto visível do amor de Deus pela humanidade" que quer
que o "gênero humano inteiro constitua o único povo de Deus, se congregue no único Corpo de Cristo,
seja construído no único templo do Espírito Santo". (CatIC 775 e 776)

A Igreja possui 7 mistérios dos quais Deus utiliza para nos transmitir a Sua graça Santificante:

1. Mistério do Batismo; 5. Mistério da Confissão;


2. Mistério da Crisma; 6. Mistério da Unção dos Enfermos;
3. Mistério da Ordem; 7. Mistério da Eucaristia;
4. Mistério do Matrimônio;

Os sacramentos são a manifestação, a revelação e a concretização do Mistério de Deus, ou seja,


da Igreja de Deus. Quando a reforma protestante, renunciou aos sacramentos, literalmente, ao que
se renunciou foi à manifestação do Mistério de Deus. Ora, como é possível conhecer a Deus, senão
por meio de sua própria Revelação? Assim, o protestantismo tornou todas as “igrejas” protestantes
simples religiões, e não mais a Igreja. E como vimos, as religiões são esforços humanos para
chegarmos a Deus, um esforço ao mesmo tempo válido e presunçoso, ainda mais, sabendo-se que
o próprio Deus, veio revelar-se, e agora, renuncia-se a esta revelação?

A IGREJA É O REINO DE DEUS:

Cabe ao Filho realizar, na plenitude dos tempos, o plano de salvação de seu Pai. Este é o motivo de
sua "missão". "O Senhor Jesus iniciou sua Igreja pregando a Boa Nova, isto é, o advento do Reino de
176

Deus prometido nas Escrituras havia séculos." Para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou o
Reino dos Céus na terra. A Igreja "é o Reino de Cristo já misteriosamente presente"'.

"Este Reino manifesta-se lucidamente aos homens na palavra, nas obras e na presença de Cristo."
Acolher a palavra de Jesus é "acolher o próprio Reino". O germe e o começo do Reino são o "pequeno
rebanho" (Lc 12,32) dos que Jesus veio convocar em torno de si, dos quais ele mesmo é o pastor".
Eles constituem a verdadeira família de Jesus. Aos que assim reuniu em torno dele, ensinou uma
"maneira de agir" nova e também uma oração própria.

O Senhor Jesus dotou sua comunidade de uma estrutura que permanecerá até a plena consumação
do Reino. Há antes de tudo a escolha dos Doze, com Pedro como seu chefe. Representando as doze
tribos de Israel, eles são as pedras de fundação da nova Jerusalém. Os Doze e os outros discípulos
participam da missão de Cristo, de seu poder, mas também de sua sorte (cf. Mt 10, 25; Jo 15, 20) .
Por meio de todos os esses atos, Cristo prepara e constrói sua Igreja. (CatIC 763-765)

A IGREJA É A PLENITUDE DA CRIAÇÃO:

A mim, o mais insignificante dentre todos os santos, coube-me a graça de anunciar entre os pagãos a
inexplorável riqueza de Cristo, e a todos manifestar o desígnio salvador de Deus, mistério oculto desde a
eternidade em Deus, que tudo criou. Assim, de ora em diante, as dominações e as potestades celestes podem
conhecer, pela Igreja, a infinita diversidade da sabedoria divina, de acordo com o desígnio eterno que Deus
realizou em Jesus Cristo, nosso Senhor.
(Ef 3, 8-11)

"O mundo foi criado em vista da Igreja", diziam os cristãos dos primeiros tempos. Deus criou o
mundo em vista da comunhão com sua vida divina, comunhão esta que se realiza pela "convocação"
dos homens em Cristo, e esta "convocação" é a Igreja. A Igreja é a finalidade de todas as coisas, e as
próprias vicissitudes dolorosas, como a queda dos anjos e o pecado do homem, só foram permitidas
por Deus como ocasião e meio para desdobrar toda a força de seu braço, toda a medida de amor
que Ele queria dar ao mundo: (Parágrafos relacionados 294,309) Assim como a vontade de Deus é
um ato e se chama mundo, assim também sua intenção é a salvação dos homens e se chama Igreja.
(CatIC 760)

Entendendo que a Igreja é em primeiro lugar o Próprio Deus, entendemos o sentido de afirmar que
o mundo ter sido criado em vista da Igreja, e também que ela é a finalidade de todas as coisas.

“Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo (criado), assim também sua intenção
é a salvação dos homens, e se chama Igreja” (São Clemente de Alexandria - †215)

“Não pode ter Deus por Pai no Céu, quem não tem a Igreja por mãe na Terra.” (São Cipriano -
†258)

A IGREJA É UMA INSTITUIÇÃO:

Ao falarmos da Igreja como um dado histórico anteriormente, demonstramos que a Igreja, é uma
instituição Divina:

“Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um
publicano.”
(Mt 18,17)
177

Quem se recusa a ouvir a Igreja, ou seja, o que ensina a Sagrada Escritura, a Tradição Apostólica
e o Sagrado Magistério, em suma, está recusando-se a ouvir o próprio Deus, que se instituiu como
“Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6) e transmitiu este caminho quando entrega as chaves do Reino,
ou seja, as chaves da Igreja, que por consequência são as chaves para adentrar no coração da
Santíssima Trindade à Simão, a quem designou como Pedro/Cefas.

A IGREJA SOMOS NÓS:

“Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se a
si mesmo. Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a
trata, como Cristo faz à sua Igreja – porque somos membros de seu corpo. Por isso, o homem deixará pai e
mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn 2,24). Esse mistério é grande, quero dizer,
com referência a Cristo e à Igreja.”
(Ef 5, 28-32)

"Em qualquer época e em qualquer povo é aceito por Deus todo aquele que o teme e pratica a justiça.
Aprouve, contudo, a Deus santificar e salvar os homens não singularmente, sem nenhuma conexão
uns com os outros, mas constituí-los num povo, que o conhecesse na verdade e santamente o
servisse. Escolheu, por isso Israel como seu povo. Estabeleceu com ele uma aliança e instruiu-o passo
a passo... Tudo isso, porém, aconteceu em preparação e figura para aquela nova e perfeita aliança
que se estabeleceria em Cristo... Esta é a Nova Aliança, isto é o Novo Testamento em seu sangue,
chamando de entre judeus e gentios um povo que junto crescesse na unidade, não segundo a carne,
mas no Espírito.

As Características do POVO DE DEUS

O Povo de Deus tem características que o distinguem nitidamente de todos os agrupamentos


religiosos, étnicos, políticos ou culturais da história:

- Ele é o Povo de Deus: Deus não pertence, como propriedade, a nenhum povo. Mas adquiriu para si
um povo dentre os que outrora não eram um povo: "Uma raça eleita, um sacerdócio régio, uma
nação santa" (1Pd 2,9).

- A pessoa torna-se membro deste povo não pelo nascimento físico, mas pelo "nascimento do alto",
"da água e do Espírito" (Jo 3,3-5), isto é, pela fé em Cristo e pelo Batismo.

- Este povo tem por Chefe (Cabeça) Jesus Cristo (Ungido, Messias); pelo fato de a mesma Unção, o
Espírito Santo, fluir da Cabeça para o Corpo, ele é "o Povo messiânico".

- A condição deste povo é a dignidade da liberdade dos filhos de Deus: nos corações deles, como em
um templo, reside o Espírito Santo.

- "Sua lei é o mandamento novo de amar como Cristo mesmo nos amou.". É a lei "nova" do Espírito
Santo.

- Sua missão é ser o sal da terra e a luz do mundo. "Ele constitui para todo o gênero humano o mais
forte germe de unidade, esperança e salvação."

- Finalmente, sua meta é "o Reino de Deus, iniciado na terra por Deus mesmo, Reino a ser estendido
mais e mais, até que, no fim dos tempos, seja consumado por Deus mesmo". (CatIC 781-782)
178

TRIUNFANTES, PADECENTES E MILITANTES:

Como já vimos, a Igreja materialmente está dividida em três modos de vida. A Igreja Triunfante,
formada pelos Santos Anjos e Santos Homens, que já morreram, e fizeram a sua “Páscoa”
(passagem) para o Reino nos Céus; A Igreja Padecente, que são aqueles Homens que faleceram
em estado de graça, porém, sem ter reparado as consequências dos seus próprios pecados, e
assim, purgam seus pecados no Purgatório; E a Igreja Militante, formada pelos Homens que ainda
não fizeram sua Páscoa, mas já foram batizados.

O Sacramento do Batismo, é a porta de entrada para a Igreja, nenhum não batizado é membro da
Igreja Militante, porém, por meio da ignorância invencível, é possível a um não batizado, passando
pelo purgatório, alcançar a graça de tornar-se Igreja padecente e depois, com o retorno de Nosso
Senhor no fim dos tempos, alcançar a Visão Beatífica, mas e como fica a afirmação da Tradição de
que “Fora da Igreja não há salvação”:

Esta afirmação não visa àqueles que, sem culpa, desconhecem Cristo e sua Igreja: "Aqueles, portanto,
que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero
e tentam, sob o influxo da graça, cumprir por obras a sua vontade conhecida por meio do ditame da
consciência podem conseguir a salvação eterna".

"Deus pode, por caminhos dele conhecidos, levar à fé todos os homens que sem culpa própria
ignoram o Evangelho. Pois 'sem a fé é impossível agradar-lhe' Mesmo assim, cabe à Igreja o dever e
também o direito sagrado de evangelizar" todos os homens. (CatIC 847 – 848)

A ignorância de Cristo e de seu Evangelho, os maus exemplos de outros, o servilismo às paixões, a


pretensão de uma mal-entendida autonomia da consciência, a recusa da autoridade da Igreja e de
seus ensinamentos, a falta de conversão ou de caridade podem estar na origem dos desvios do
julgamento na conduta moral.

Se - ao contrário - a ignorância for invencível ou o julgamento errôneo não for da responsabilidade


do sujeito moral, o mal cometido pela pessoa não lhe poderá ser imputado. Mas nem por isso
deixa de ser um mal, uma privação, uma desordem. É preciso trabalhar, pois, para corrigir a
consciência moral de seus erros. (CatIC 1792-1793)

Sendo assim, aqueles que sem culpa, ignoram a Igreja, ou conhecem apenas uma “caricatura”
dela, e assim rejeitam esta caricatura, no fundo, rejeitando a mesma caricatura que nós os
batizados rejeitamos, podem tornar-se Igreja quando passarem pelo purgatório e assim, alcançar
a Salvação. Porém, por estarmos impossibilitados de conhecer a consciência dos homens, não nos
é possível dizer quem é que se encontra em tal condição, sendo tarefa de todo católico, conduzir a
todos, pela catequese, à Igreja.

Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não
podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós
mesmos: "Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu irmão é homicida;
e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele" (1 Jo 3,14-15). Nosso Senhor
adverte-nos de que seremos separados dele se deixarmos de ir ao encontro das necessidades graves
dos pobres e dos pequenos que são seus irmãos morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido
dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para
sempre, por nossa própria opção livre. E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com
Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra "inferno". (CatIC 1033)

Infelizmente, experimentamos este estado infernal, todas as vezes que pecamos mortalmente.
Mesmo sendo batizado, quem peca mortalmente está privado da Graça Santificante, e assim, está
desligado da Igreja, este estado, pode ser chamado de “Cristão Formal”.
179

PAGÃOS BATIZADOS:

Muitos estão em tais condições, incluindo muitos católicos, que são formalmente batizados, porém,
não vivem em estado de graça, não buscam a santidade e assim, não são representantes da Igreja.
Por causa disso, aquele que peca, automaticamente exclui-se (auto-exclusão) da Igreja, e o que
faz, não é mais a Igreja que faz.

Por isso, ao longo das eras, a Igreja é acusada de uma série de atrocidades como assassinatos,
torturas, dominações, escândalos financeiros e sexuais (excessos nas Cruzadas, erros nas
Inquisição, Pedofilia, Simonia etc...), porém, nada disso pode ser imputado à Igreja, pois os cristãos
formais que praticaram tais crimes ou pecados, o fizeram a revelia do que a Igreja ensina e sempre
ensinou.

Há em cada um de nós, uma “linha imaginária” que nos divide ao meio. É a linha da graça. Neste
mundo, infelizmente sempre estaremos com esta linha ao meio e nunca totalmente incluídos na
Igreja, pois a qualquer momento, enquanto estivermos vivos, temos nossa salvação em risco, pois
é possível há qualquer hora, morrer fora do estado de graça. Quando em estado de graça, estamos
ligados pela linha que é a possibilidade de pecar, mas quando em pecado e fora da graça, estamos
ligados a linha que é a possibilidade de nos arrepender e nos confessar. Somos Igreja, “Já e ainda
não”!
180

2º. PARTE: NO QUE CONSISTE A SALVAÇÃO


Deus, em sua infinita sabedoria, não criou e abandonou o homem à própria sorte. Ele estabeleceu
alianças com o homem. Sabemos que Deus fez uma aliança com Adão, o primeiro ser humano, e
temos prova, pelas ciências históricas (arqueologia, paleontologia, antropologia e etc...) de que
nenhuma sociedade pré-histórica do mundo, foi alheia à religião.

DEUS NA HISTÓRIA:

Entendemos por Pré-história tudo o que se passou desde o aparecimento do primeiro ser com
postura ereta (Hominídeos - Gênero: Homo), até o tempo em que surgiu a escrita. Supunha-se,
que mesmo sendo um período muito grande, por não haver escrita (que surgiu por volta de 4.000
a.C.) não haveria histórias a serem contadas.

O surgimento dos primeiros hominídeos, ocorreu em torno de 4 a 2 milhões de anos, este período
é chamado de Paleolítico, o planeta jazia mergulhado em uma era gelada, a partir de 350 a 250 mil
anos a.C. surgem os primeiros Homo sapiens, que eram nômades e viviam da caça, da pesca e da
colheita dos vegetais disponíveis, não havia a agricultura ou a pecuária, por volta de 10.000 a.C.,
a era do gelo terminou e temos o início do Neolítico, e os seres humanos agora, já praticavam a
agricultura e iniciaram a formar as civilizações do mundo antigo.

Em um dado momento, por volta de 14 a 8 mil anos a.C. em todas as regiões do globo, iniciou-se
um processo curioso de enterrar os mortos. O mais curioso, é que, mesmo sendo necessário
enterrar os mortos, porque agora o ser Humano não era mais nômade, são evidenciados os rituais
fúnebres, indicando uma preocupação com a vida após a morte.

O primeiro Homem, a nascer, dotado de uma alma imortal, é chamado pela Igreja de Adão, e a
primeira mulher, com a mesma característica, é chamada de Eva. Ambos, nasceram com a Lei
Natural inscrita em suas consciências. Tanto é, que por todo o período que as ciências conseguem
catalogar, existem expressões de um senso moral, religioso e já se registram-se os primeiros cultos
de adoração, já no Neolítico.

Deus, sempre esteve falando ao ser Humano, a narrativa de gênesis, o encontro de Abrão com
Deus, um “Deus desconhecido”, é justamente a história de todos os seres humanos que já
passaram pelo mundo. Por meio da consciência, Deus sempre esteve dialogando e se revelando
ao ser Humano, estabelecendo alianças como a narrativa de Noé, e outros, antes de Adão.

O QUE É UMA PROFECIA?

Então, surgem as primeiras profecias, e o que vêm a ser Profecia?

Para congregar a humanidade dispersa, Deus elegeu Abrão, chamando-o "para fora de seu país, de
sua parentela e de sua casa" (Gn 12,1), para fazer dele "Abraão", isto é, "o pai de uma multidão de
nações" (Gn 17,5): "Em ti serão abençoadas todas as nações da terra" (Gn 12,3).

O povo originado de Abraão será o depositário da promessa feita aos patriarcas, o povo da eleição,
chamado a preparar o congraçamento, um dia, de todos os filhos de Deus na unidade da Igreja; será
a raiz sobre a qual serão enxertados os pagãos tornados crentes.

Os patriarcas e os profetas, bem como outras personalidades do Antigo Testamento, foram e serão
sempre venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja. (CatIC 59-61)
181

As profecias religiosas, marcaram profundamente a história. Em todas as civilizações,


independente da região, os seres humanos “faziam” profecias sobre suas colheitas, sobre os
governantes, sobre a vinda de um tempo de paz, sobre as guerras. A inteligência humana, sempre
soube colher, pelos sinais dos tempos, a Voz de Deus que sempre esteve presente, no que a Igreja
chama hoje de “Sementes do Verbo”.

Então, o povo originado de Abraão, recebeu uma série de profecias, as quais estão registradas
nas Sagradas Escrituras:

A Lei Antiga é uma preparação para o Evangelho. "A lei é profecia e pedagogia das realidades
futuras." Profetiza e pressagia a obra da libertação do pecado, que se realizará com Cristo, e fornece
ao Novo Testamento as imagens, os "tipos", os símbolos, para exprimir a vida segundo o Espírito. A
Lei se completa, enfim, pelo ensinamento dos livros sapienciais e dos profetas que a Orientam para
a nova aliança e o Reino dos Céus.

Houve (...), sob o regime da Antiga Aliança, pessoas que possuíam a caridade e a graça do Espírito
Santo e aspiravam sobretudo às promessas espirituais e eternas, e deste modo se ligavam à nova lei.
Inversamente, existem também sob a nova aliança homens carnais, ainda longe da perfeição da
nova Lei. Para os estimular às obras virtuosas, foram necessários o temor do castigo e diversas
promessas temporais, até sob a Nova Aliança. Em todo caso, mesmo que a Lei Antiga prescrevesse a
caridade, ela não dava o Espírito Santo pelo qual "o amor de Deus derramado em nossos corações"
(Rm 5,5). (CatIC 1964)

DEUS FALA A TODOS O TEMPO TODO:

As promessas e profecias, evidenciadas pelos acontecimentos, incluindo o povo hebreu, era o que
animava o povo, lhes dava esperança e ainda promovia o progresso civilizatório, pois é pensando
em melhorar e aprimorar-se que o desenvolvimento prático aconteceu ao longo da história, algo
natural e orgânico que não se limita ao povo da Antiga e da Nova Aliança.

Na década dos anos 80, a Igreja no Brasil, passou por um derramamento do Espírito Santo, e foi o
que lançou as bases da RCC no Brasil. Certa vez, houve um encontro no Morumbi, em São Paulo,
com milhares de pessoas. O palco, ficava bem no meio, para que os pregadores pudessem ser
ouvidos e vistos por todos. Deus, é como este pregador, que está no meio, onde todos podem
percebê-Lo, e está falando o tempo todo. Porém, uns prestam atenção e outros não prestam, uns
estão mais próximos e outros mais distantes. Mas o fato é que todos conseguem perceber as
Sementes do Verbo:

O Espírito manifesta-se particularmente na Igreja e nos seus membros, mas a Sua presença e ação
são universais, sem limites de espaço nem de tempo. O Concílio Vaticano II lembra a obra do Espírito
no coração de cada homem, cuidando e fazendo germinar as « sementes do Verbo », presentes nas
iniciativas religiosas e nos esforços humanos à procura da verdade, do bem, e de Deus.

Cristo ressuscitado, « pela virtude do Seu Espírito, atua já nos corações dos homens, não só
despertando o desejo da vida futura, mas também alentando, purificando e robustecendo a família
humana para tornar mais humana a sua própria vida e submeter a terra inteira a este fim », É ainda
o Espírito que infunde as « sementes do Verbo », presentes nos ritos e nas culturas, e as faz maturar
em Cristo. (REDEMPTORIS MISSIO, S. João Paulo II, n.28)

A promessa da redenção, não se destina apenas à Igreja, mas a todos os homens, que inspirados
pelo Espírito, devem se deixar conduzir à conversão e ao Batismo. Porém, há inúmeras barreiras
nas quais os homens terminam esbarrando, e somente Deus é capaz de julgar se são ou não
barreiras intransponíveis, a nós, cabe sermos representantes destas promessas, estando dispostos
a acolher e amar a todos os homens, pois como já disse o Pe. Léo:
182

“Quem não ama alguém, não ama ninguém” (Pe. Léo)

AS SEMENTES DO VERBO:

Em gênesis, temos uma história reveladora, que demonstra que a humanidade, já foi um dia, uma
única nação e que Deus se manifestava a todos, porém, o pecado e a ânsia de alcançar a
divindade, por seus próprios meios, sem procurar o caminho da Revelação de Deus, terminou por
dividir os homens.

Toda a terra tinha uma só língua, e servia-se das mesmas palavras. Alguns homens, partindo para o oriente,
encontraram na terra de Senaar uma planície onde se estabeleceram. E disseram uns aos outros: “Vamos,
façamos tijolos e cozamo-los no fogo”. Serviram-se de tijolos em vez de pedras, e de betume em lugar de
argamassa. Depois disseram: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja os céus.
Tornemos assim célebre o nosso nome, para que não sejamos dispersos pela face de toda a terra”. Mas o
Senhor desceu para ver a cidade e a torre que construíram os filhos dos homens. “Eis que são um só povo –
disse ele – e falam uma só língua: se começam assim, nada futuramente os impedirá de executarem todos os
seus empreendimentos. Vamos: desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se
compreendam um ao outro.” Foi dali que o Senhor os dispersou daquele lugar pela face de toda a terra, e
cessaram a construção da cidade. Por isso, deram-lhe o nome de Babel, porque ali o Senhor confundiu a
linguagem de todos os habitantes da terra, e dali os dispersou sobre a face de toda a terra.
(Gn 11, 1-9)

Podemos perceber que o que separou os homens foi o desejo de importância, de status, de
alcançar a divindade, sem a Graça Santificante, pelos próprios meios. Isso mostra o quando as
religiões têm sim, em si, as “Sementes do Verbo”, porém, são inúteis para santificar e divinizar o
ser humano. Mas o Senhor, não nos abandonou, Ele continuou a falar, e continua falando, e como
vemos no AT, profetiza e promete a salvação a todos:

“Dias virão – oráculo do Senhor – em que firmarei nova aliança com as casas de Israel e de Judá. Será diferente
da que concluí com seus pais no dia em que pela mão os tomei para tirá-los do Egito, aliança que violaram
embora eu fosse o esposo deles. Eis a aliança que, então, farei com a casa de Israel – oráculo do Senhor: Eu lhe
incutirei a minha Lei; eu a gravarei em seu coração. Serei o seu Deus e Israel será o meu povo.”
(Jr 31, 31ss)

“Todas as nações que criastes virão adorar-vos, e glorificar o vosso nome, ó Senhor.”
(Sl 85,9)

“Farei com que, em sua terra, sobre as montanhas de Israel, não formem mais do que uma só nação, que não
possuam mais do que um rei. Não mais existirá a divisão em dois povos e em dois reinos.”
(Ez 37,22)

A NOVA ALIANÇA:

Então, o Senhor cumpre a promessa:

“Do mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear, dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança em meu
sangue, que é derramado por vós...”
(Lc 22,20)

A Nova aliança, é o cumprimento de todas as promessas e profecias feitas por Deus ao longo das
eras, seja ao povo hebreu, seja aos outros povos, e todas elas se realizam na Igreja, que nasce
com o objetivo de unir todos os povos, não em uma única língua ou bandeira, mas em uma única
linguagem, a linguagem do amor:
183

“Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria
língua. Profundamente impressionados, manifestavam a sua admiração: “Não são, porventura, galileus todos
estes que falam? Como então todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Partos,
medos, elamitas; os que habitam a Mesopotâmia, a Judeia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia, a Frígia, a Panfília, o
Egito e as províncias da Líbia próximas a Cirene; peregrinos romanos, judeus ou prosélitos, cretenses e árabes;
ouvimo-los publicarem em nossas línguas as maravilhas de Deus!”. Estavam, pois, todos atônitos e, sem saber o
que pensar, perguntavam uns aos outros: “Que significam estas coisas?”.”
(At 2,6-12)

Em Pentecostes, temos o oposto do que aconteceu na história da Torre de Babel, pois temos a
realização das promessas, a união dos povos, e esta unidade acontece no Seio da Igreja:

Em todos os tempos e em todas as nações foi agradável a Deus aquele que O teme e obra justamente
(cfr. At. 10,35). Contudo, aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída
qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse
santamente. Escolheu, por isso, a nação israelita para Seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança;
a ele instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua
história, e santificando-o para Si. Mas todas estas coisas aconteceram como preparação e figura da
nova e perfeita Aliança que em Cristo havia de ser estabelecida e da revelação mais completa que
seria transmitida pelo próprio Verbo de Deus feito carne. Eis que virão dias, diz o Senhor, em que
estabelecerei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança... Porei a minha lei nas suas
entranhas e a escreverei nos seus corações e serei o seu Deus e eles serão o meu povo... Todos me
conhecerão desde o mais pequeno ao maior, diz o Senhor (Jr. 31, 31-34). Esta nova aliança instituiu-
a Cristo, o novo testamento no Seu sangue (cfr. 1 Cor. 11,25), chamando o Seu povo de entre os
judeus e os gentios, para formar um todo, não segundo a carne mas no Espírito e tornar-se o Povo
de Deus. Com efeito, os que crêem em Cristo, regenerados não pela força de germe corruptível mas
incorruptível por meio da Palavra de Deus vivo (cfr. 1 Ped. 1,23), não pela virtude da carne, mas pela
água e pelo Espírito Santo (cfr. Jo. 3, 5-6), são finalmente constituídos em «raça escolhida, sacerdócio
real, nação santa, povo conquistado... que outrora não era povo, mas agora é povo de Deus» (1 Ped.
2, 9-10). (LUMEN GENTIUM, CVII n.9)

Assim a Salvação consiste em fazer parte deste povo, que é a Igreja, o Reino de Deus, “já e ainda
não” neste mundo. Dissemos ainda, que Deus tem se revelado ao longo das eras, mas em que
consiste esta revelação?

“Àquele que é poderoso para vos confirmar, segundo o meu Evangelho, na pregação de Jesus Cristo – conforme
a revelação do mistério, guardado em segredo durante séculos, mas agora manifestado por ordem do eterno
Deus e, por meio das Escrituras proféticas, dado a conhecer a todas as nações, a fim de levá-las à obediência da
fé”
(Rm 16, 25-26)

O projeto divino da Revelação realiza-se ao mesmo tempo "por ações e por palavras, intimamente
ligadas entre si e que se iluminam mutuamente". Este projeto comporta uma "pedagogia divina"
peculiar: Deus comunica-se gradualmente com o homem, prepara-o por etapas a acolher a
Revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e na missão do Verbo
encarnado, Jesus Cristo. (CatIC 53)

Assim, a Revelação é manifesta pelo próprio Deus, e a Igreja, mantém esta revelação por meio das
Tradições, Verdades de Fé e Dogmas, não para impedir a ação da liberdade humana, mas ao
contrário, para apresentar ao homem, quais são os limites da fé e por consequência de sua própria
liberdade, como as luzes da pista de pouso nos aeroportos, não limitam a possibilidade do piloto
aterrissar fora da pista, mas indica-lhe o caminho seguro para executar o procedimento e não
causar um acidente.
184

O QUE É TRADIÇÃO? (COM “T” MAIÚSCULO)

“Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja
por carta nossa.”
(II Ts 2,15)

Quanto à Sagrada Tradição, ela 'transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a Palavra de
Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos apóstolos para que, sob a luz do Espírito
da verdade, eles, por sua pregação, fielmente a conservem, exponham e difundam'. (CatIC 81)

E assim, a pregação apostólica, que se exprime de modo especial nos livros inspirados, devia
conservar-se, por uma sucessão contínua, até à consumação dos tempos. Por isso, os Apóstolos,
transmitindo o que eles mesmos receberam, advertem os fiéis a que observem as tradições que
tinham aprendido quer por palavras quer por escrito (cfr. 2 Tess. 2,15), e a que lutem pela fé recebida
dama vez para sempre (cfr. Jud. 3)(4). Ora, o que foi transmitido pelos Apóstolos, abrange tudo
quanto contribui para a vida santa do Povo de Deus e para o aumento da sua fé; e assim a Igreja,
na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo
quanto acredita.

Esta tradição apostólica progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo (5). Com efeito,
progride a percepção tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da contemplação
e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração (cfr. Lc. 2, 19. 51), quer mercê da íntima
inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da pregação daqueles que, com a
sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade. Isto é, a Igreja, no decurso dos séculos,
tende continuamente para a plenitude da verdade divina, até que nela se realizem as palavras de
Deus.

Afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas riquezas
entram na prática e na vida da Igreja crente e orante. Mediante a mesma Tradição, conhece a Igreja
o cânon inteiro dos livros sagrados, e a própria Sagrada Escritura entende-se nela mais
profundamente e torna-se incessantemente operante; e assim, Deus, que outrora falou, dialoga sem
interrupção com a esposa do seu amado Filho; e o Espírito Santo - por quem ressoa a voz do
Evangelho na Igreja e, pela Igreja, no mundo - introduz os crentes na verdade plena e faz com que a
palavra de Cristo neles habite em toda a sua riqueza (cfr. Col. 3,16). (DEI VERBUM, CVII, n.8)

O QUE É TRADIÇÃO? (COM “T” MINÚSCULO)

“E Jesus acrescentou: “Na realidade, invalidais o mandamento de Deus para estabelecer a vossa tradição.”
(Mc 7,9)

A Tradição da qual aqui falamos é a que vem dos apóstolos e transmite o que estes receberam do
ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam por meio do Espírito Santo. Com efeito, a
primeira geração de cristãos ainda não dispunha de um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo
Testamento atesta o processo da Tradição viva.

Dela é preciso distinguir as "tradições" teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais surgidas ao


longo do tempo nas Igrejas locais. Constituem elas formas particulares sob as quais a grande
Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diversas épocas. É à luz da grande
Tradição que estas podem ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob a guia do
Magistério da Igreja. (CatIC 83)

Um exemplo da Sagrada Tradição, são as palavras ditas pelo sacerdote durante a consagração
Eucarística, que não pode ser mudada ao longo do tempo, caso contrário, não temos um
185

sacramento válido, já um exemplo de tradição disciplinar, ou seja, com “t” minúsculo é o celibato
dos padres, que pode ser mudado e revisto a qualquer momento para o bem pastoral da Igreja.

E O QUE É UM DOGMA?

O Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define
dogmas, isto é, quando, utilizando uma forma que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável
de fé, propõe verdades contidas na Revelação divina ou verdades que com estas têm uma conexão
necessária.

Há uma conexão orgânica entre nossa vida espiritual e os dogmas. Os dogmas são luzes no caminho
de nossa fé que o iluminam e tornam seguro. Na verdade, se nossa vida for reta, nossa inteligência
e nosso coração estarão abertos para acolher a luz dos dogmas da fé.

Os laços mútuos e a coerência dos dogmas podem ser encontrados no conjunto da Revelação do
Mistério de Cristo. "Existe uma ordem ou 'hierarquia' das verdades da doutrina católica, já que o
nexo delas com o fundamento da fé cristã é diferente." (CatIC 88-89)

Dogma é uma verdade revelada por Deus, proposta diretamente pela Igreja, não é como um
acréscimo ou adição à fé, mas é a constatação de que tal verdade, é necessária à salvação, sem
a qual, ninguém antes alcançou e ninguém depois, alcançará a salvação.

Pode ser proclamado pelo Magistério Ordinário ou Extraordinário. O Magistério ordinário, é a união
de todos os Bispos da Igreja, valida e licitamente ordenados, unidos ao sumo pontífice, e o
Magistério Extraordinário, se dá em um Concílio ou em um pronunciamento solene do Sumo
Pontífice em um pronunciamento “Ex Cathedra”.

Nem sempre os Dogmas são proclamados solenemente, por exemplo, os artigos do Credo, são
todos dogmas, mas nem todos possuem uma proclamação solene, que é feita, geralmente quando
uma verdade de fé, é questionada pelos membros da própria Igreja.

Não mais do que 14 vezes os Papas proclamaram solenemente um dogma, o último Dogma
proclamado até o momento, foi o Dogma da Assunção da Virgem Maria ao Céu, proclamado pelo
Papa Pio XII, em 1950.

Diante de um dogma, existe apenas uma atitude do fiel católico:

"Por este senso da fé, excitado e sustentado pelo Espírito da verdade, o Povo de Deus, sob a direção
do sagrado Magistério, (...) adere indefectivelmente à fé 'uma vez para sempre transmitida aos
santos'; e, com reto juízo, penetra-a mais profundamente e na sua vida a coloca mais perfeitamente
em obra." (CatIC 93)

E O QUE É UMA VERDADE DE FÉ?

O acontecimento único e totalmente singular da Encarnação do Filho de Deus não significa que Jesus
Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que ele seja o resultado da mescla confusa entre
o divino e o humano. Ele se fez verdadeiramente homem permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo
é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A Igreja teve de defender e clarificar esta verdade de fé no
decurso dos primeiros séculos, diante das heresias que a falsificavam. (CatIC 464)

Embora a obra da criação seja particularmente atribuída ao Pai, é igualmente verdade de fé que o
Pai, o Filho e o Espírito Santo são o único e indivisível princípio da criação. (CatIC 316)
186

Todos os dogmas, são verdades de fé, e como já foi dito, foram proclamados ou são partes dos
artigos de fé dispostos no Credo, mas há verdades que não estão explicitamente proclamadas,
mas são consequências de tais verdade.

No parágrafo 464 o Catecismo expõe o dogma sobre a pessoa de Jesus Cristo que está definido
que “Jesus possui duas naturezas que não se transformam nem se misturam”, porém, no
parágrafo 316, apresenta uma consequência direta do Dogma da Santíssima Trindade.

Outro exemplo é a Co-Redenção de Maria Santíssima, pois trata-se de uma verdade diretamente
ligada a Encarnação do Verbo, todas as gerações de cristãos no passado, creram nesta Co-
Redenção, e todas as gerações futuras deverão continuar crendo. Mas por que a Igreja não definiu
ainda um dogma com este conteúdo? Simples, porque dentro da Igreja, esta verdade de fé nunca
foi questionada.
187

3º. PARTE: OS SACRAMENTOS


O QUE É SACRAMENTO?

“Quando as coisas despertam saudades e fazem brotar, no coração, a memória do amor e o desejo
da volta, dizemos que são sacramentos. Sacramento é isto: sinal visível de uma ausência, símbolo
que nos faz pensar em retorno. Como aconteceu com Jesus que, logo antes da partida, realizou um
memorial de saudade e espera. Juntou seus amigos, seguidores, partiu o pão e lhes deu de comer,
tomou o vinho e com eles bebeu dizendo que, depois daquilo, viria a separação e a saudade. Eles
seriam como uma noiva de quem o noivo é roubado... Tempo de lágrimas, de espera... E, por onde
quer que fossem, encontrariam sinais de uma ausência imensa... E o coração ficaria inquieto, sem
descanso... E cada palavra sua se transformaria numa oração, porque oração é a palavra balbuciada
com desejo...” (Ruben Alves)

“Olhos fechados/ Pra te encontrar/ Não estou ao seu lado /Mas posso sonhar /Aonde quer que eu
vá/ Levo você no olhar/ Aonde quer que eu vá /Aonde quer que eu vá /Não sei bem certo /Se é só
ilusão/ Se é você já perto/ Se é intuição/ Aonde quer que eu vá/ Levo você no olhar/ Aonde quer que
eu vá/ Aonde quer que eu vá/ Longe daqui/ Longe de tudo/ Meus sonhos vão te buscar/ Volta pra
mim/ Vem pro meu mundo/ Eu sempre vou te esperar.” (Herbert Vianna - Paralamas do Sucesso:
“Aonde quer que eu vá”)

Acima de tudo e em primeiro lugar, é preciso entendermos que os sacramentos, assim como esta
música e o relato de Rubem Alves, é algo do Coração de Deus, que pretende se ligar de modo
definitivo ao coração humano. Os sacramentos, não devem gerar ou pretender sentimentalismos
histéricos, mas a vivência dos sacramentos, com o tempo e o amadurecimento, deve tocar a
emoção da pessoa, ela precisa crescer na orientação dos sentimentos, e entender com o mais
profundo de seu ser, que quando se está diante de um sacramento, se está diante da presença do
próprio Deus.

Os Sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Jesus Cristo e confiados à Igreja, por
meio dos quais nos é dispensada a vida divina. Os ritos visíveis sob os quais os Sacramentos são
celebrados significam e realizam as graças próprias de cada sacramento. Produzem fruto naqueles
que os recebem com as disposições exigidas. (CatIC 1131)

Os sacramentos independem da fé da pessoa, seja de quem ministra, seja de quem recebe o


sacramento. Se dois ateus, estiverem em um barco, e por um milagre, se converterem, mas não
tiver quem lhes administre o Batismo, e ao menos um souber a “fórmula” do batismo: “Eu te batizo,
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” E tiver a mesma intenção da Igreja, ambos podem
batizar-se um ao outro, antes do barco afundar e eles sucumbirem.

Os Sacramentos destinam-se à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e ainda ao


culto a ser prestado a Deus. Sendo sinais, destinam-se também à instrução. Não só supõem a fé, mas
por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e a exprimem. Por esta razão são
chamados Sacramentos da fé (SC, 59). (CatIC 1123)

Para aqueles que já possuem uma fé insipiente ou já estão inseridos na fé católica, e que assim,
recebem os sacramentos com as disposições interiores, os frutos dos sacramentos é a adesão,
aprofundamento e crescimento na Graça Santificante. É por meio deles, que as pessoas vão, lenta
e gradualmente se santificando, adentrando nas Vias de Santificação (Purgativa, Iluminativa e
Unitiva) ou no que Santa Tereza chamou de “Moradas do Castelo Interior”.

Celebrados dignamente na fé, os sacramentos conferem a graça que significam. São eficazes porque
neles age o próprio Cristo; é ele quem batiza, é ele quem atua em seus sacramentos, a fim de
188

comunicar a graça significada pelo sacramento. O Pai sempre atende à oração da Igreja de seu Filho,
a qual, na epiclese de cada sacramento, exprime sua fé no poder do Espírito. Assim como o fogo
transforma nele mesmo tudo o que toca, o Espírito Santo transforma em vida divina o que é
submetido ao seu poder. (CatIC 1127)

REALIZAÇÃO DO SIGNIFICADO:

Os sacramentos rezalizam o que significam, são sinais, símbolos e pontos de ligação com Deus,
que vão além do simbolismo, além dos significados e simplesmente com o poder da Palavra de
Deus, tornam real, aquilo que por vezes permanece invisível, porém, transformador. Os efeitos dos
Sacramentos, não são notados no momento do ato sacramental, mas ao longo do tempo, com a
vivência, com a tomada de consciência, com a abertura do coração à Graça pela oração, num
processo de deificação, onde o resultado final é a vida dos santos.

Os sacramentos, são “ações” de Nosso Senhor Jesus Cristo que está vivo e ressuscitado em nosso
meio, atuando nos ministros “ex opere operato” (pelo próprio fato da ação ser realizada) em virtude
da obra de salvação de Cristo, a qual foi realizada uma vez por todas, do que se conclui que:

“O sacramento não é realizado pela justiça do homem que o confere ou o recebe, mas pelo poder de
Deus” (S. Tomas de Aquino, S.Th. III,68,8).

A partir do momento em que um sacramento é celebrado em conformidade com a intenção da Igreja,


o poder de Cristo e de seu Espírito agem nele e por ele, independentemente da santidade pessoal do
ministro. Contudo, os frutos dos sacramentos dependem também das disposições de quem o recebe.
(CatIC 1128)

Quem é batizado, é tornado de criatura em filho de Deus. Quem recebe a Eucaristia, recebe,
efetivamente e fisicamente a presença de Deus em seu corpo. Estas realidades não mudam com
a fé da pessoa, porém, elas terão maior efeito, quando maior for a fé da pessoa e suas disposições
em viver na sua vida prática, o significado do sacramento recebido. Assim, o batizado, é um
“batizando” até o final da vida; o sacerdote, é um “ordenando” até o fim da vida; o penitente, precisa
ter um coração penitente, uma vontade firme de não mais voltar a pecar.

VALIDADE DOS SACRAMENTOS:

Para um sacramento ser válido, ele precisa ter 4 características: Matéria, Forma, Ministro e
Intenção. A matéria, é o sinal sensível (água, óleo, pão e vinho), a forma, é o rito em si, as palavras
a serem ditas; já o ministro, precisa ser o ordinário, para alguns, como a Eucaristia, Confissão e
Unção dos Enfermos, é necessário que o ministro seja ordenado, para ministrar a Ordem e a
Crisma, é preciso ser Bispo, já o Batismo e o Matrimônio, pode ser ministrado por qualquer pessoa,
no caso do matrimônio, o ministro é quem contrai o matrimônio, o sacerdote é apenas uma
testemunha qualificada.

Três coisas são necessárias para se ter um Sacramento:

I. "Um sinal sensível":

Representativo da natureza da graça produzida. Deve ser "sensível" porque se não pudéssemos
percebê-lo, deixaria de ser um sinal. Este sinal sensível consta sempre de "matéria" e de "forma",
isto é, da matéria empregada (algo) e das palavras pronunciadas pelo ministro do sacramento;
189

II. Deve ser "instituído por Jesus Cristo":

Porque só Deus pode ligar um sinal visível a faculdade de produzir a graça. A Igreja a partir disso,
estabelece os ritos sem tocar a substância;

III. "Produzir a graça":

Isto é, distribuir-nos os efeitos e méritos da redenção que Jesus Cristo mereceu por nós, na cruz...
Os sacramentos comunicam esta graça, "por virtude própria", independente das disposições
(pecados, miséria ou fraqueza) daquele que os administra ou recebe. Esta qualidade, chamada
pela teologia “ex opere operato”, distingue os sacramentos da "oração", das "boas obras" e dos
"sacramentais", que tiram a sua eficácia “ex opere operantes” das disposições do sujeito.

Nos Sacramentos de Cristo, a Igreja já recebe o penhor da herança dele, já participa da Vida Eterna,
embora ainda “aguarde a bendita esperança, a manifestação da glória de nosso grande Deus e
Salvador, Cristo Jesus (Tt 2,13)”. (CatIC 1128)

EFEITO GOTA NO LAGO:

Os sacramentos são no mundo, os produtores da Graça de Deus, como uma gota que cai no meio
de uma vasilha de água e produz ondas que irradiam até a borda, os sacramentos são no mundo,
os responsáveis por produzir todos os bens que existem no mundo, pois são a própria ação de
Deus no mundo. Resultam da encarnação do Verbo e são o cumprimento das promessas de Deus
ao povo de Israel e aos gentios, sendo assim, ninguém será salvo, se não pelo recebimento dos
sacramentos:

O fruto da vida sacramental é ao mesmo tempo pessoal e eclesial. Por um lado, este fruto é para
cada fiel uma vida para Deus em Cristo Jesus; por outro, é para a Igreja crescimento na caridade e
em sua missão de testemunho. (CatIC 1134)

A Igreja afirma que para os crentes os sacramentos da nova aliança são necessários para a salvação
(Conc. Trento, DS 1604). A “graça sacramental” é a graça do Espírito Santo dada por Cristo e peculiar
a cada Sacramento. O Espírito cura e transforma os que o recebem, conformando-os com o Filho de
Deus. O fruto da vida sacramental é que o Espírito de adoção deifica (2Pe 1,4) os fiéis unindo-os
vitalmente ao Filho único, o Salvador. (CatIC 1129)

Desde a origem e fundação da Igreja, os sacramentos estavam presentes, porém, foi com o tempo
que a teologia sacramental foi se formando, e os sacramentos foram, lentamente fazendo as
pessoas crescerem na graça. A “forma e matéria” dos sacramentos nunca mudou, porém, a
frequência, o entendimento e a própria consciência das realidades realizadas pelos sacramentos
foram adquirindo ao longo do tempo, maior profundidade:

Assistida pelo Espírito Santo, em todos os tempos (cf. Jo 16,12-13), a Igreja foi entendendo aos poucos
toda a realidade dos Sacramentos. (CatIC 1131)

Graças ao Espírito Santo que a conduz à “verdade plena” (Jo 16,13), a Igreja recebeu pouco a pouco
este tesouro recebido de Jesus e precisou sua “dispensação”, tal como o fez com o Cânon das
Sagradas Escrituras e com a doutrina da fé, qual fiel dispensadora dos mistérios de Deus (cf. Mt
13,52; 1Cor 4,1). Assim ao longo dos séculos, a Igreja foi discernindo que entre suas celebrações
litúrgicas existem sete que são, no sentido próprio da palavra, Sacramentos instituídos pelo Senhor.
(CatIC 1117)
190

DA IGREJA E PARA A IGREJA:

Da Igreja e para a Igreja, esta é a origem e o fim dos Sacramentos. Os cristãos, são como “Sal da
Terra e Luz do Mundo” e de fato o são, mas pela ação e pela força dos sacramentos. Os não
cristãos, são alvo da Graça atual de Deus no mundo, e esta, por sua vez, age conduzindo a pessoa
a receber os Sacramentos, que são a Graça Santificante.

Os Sacramentos são “da Igreja” no duplo sentido de que “existem por meio dela” e “para ela”. São
“por meio da Igreja”, pois esta é o Sacramento da ação de Cristo operando em seu seio graças a ação
do Espírito Santo. E são “para a Igreja”, pois são esses “Sacramentos que fazem a Igreja” (S. Agostinho,
De Civita Dei, 22,17; cf. S. Tomás de Aquino, S. Th. III, 64,2 ad3.), com efeito, manifestam e comunicam
aos homens, sobretudo na Eucaristia, o mistério da comunhão do Deus amor, uno em três Pessoas.
(CatIC 1118)

“Formando com Cristo-cabeça como que uma única pessoa mística” (Pio XII, Mystici Corporis), a Igreja
age nos Sacramentos como “comunidade sacerdotal”, “organicamente estruturada” (LG, 11). (CatIC
1131)

Os meios de Salvação, que Deus utiliza para salvar as almas, são os sacramentos. Porém, como
os sacramentos são gestos e palavras humanas, que transmitem a Graça, nalgumas vezes, os
requisitos para se contrair os sacramentos, são a boa vontade e a consciência reta. Muitas são as
pessoas, que mesmo não sendo cristãos católicos, poderiam receber os sacramentos pois
possuem a disposição necessária, mas não se tornam católicos, por muitas questões.

CONTRADIÇÕES BÍBLICAS?

A maioria das pessoas que não são católicas e que possuem esta disposição, dizem rejeitar a
Cristo e a Igreja, mas será mesmo que rejeitam a Cristo e Sua Igreja, ou rejeitam apenas a
caricatura de Cristo ou a desinformação sobre a Igreja? Será que se soubessem com certeza que
Jesus é Deus, que instituiu a Igreja por amor e que nos deixou os sacramentos para nossa
santificação e consequente felicidade, será que rejeitariam?

A desinformação, a calúnia, a mídia anticristã, as religiões e pessoas cristofóbicas e principalmente


o contratestemunho cristão, são os grandes responsáveis pela rejeição de Cristo e a Igreja. Assim,
aqueles que rejeitam a desinformação, a calúnia, as opiniões e o contratestemunho cristão, rejeitam
exatamente aquilo que a própria Igreja rejeita. Se dizem que Jesus é um lunático ou um moralista
exigente, ou ainda que a Igreja é um antro de ladrões e uma instituição perversa, ora, quem rejeita
isso, está literalmente rejeitando a mentira. Isto fica evidente quando a Igreja ensina sobre o
ateísmo:

Na medida em que rejeita ou recusa a existência de Deus, o ateísmo é um pecado contra a virtude
da religião. A imputabilidade desta falta pode ser seriamente diminuída em virtude das intenções e
das circunstâncias. Na gênese e difusão do ateísmo, "grande parcela de responsabilidade pode
caber aos crentes, na medida em que, negligenciando a educação da fé, ou por uma exposição
enganosa da doutrina, ou por deficiência em sua vida religiosa, moral e social, se poderia dizer
deles que mais escondem do que manifestam o rosto autêntico de Deus e da religião." (CatIC
2125)

Um exemplo disso, são os grupos de ateus, que vivem apresentando as contradições bíblicas. Eles
não estão colocando em questão a historicidade dos textos, pois isso não há como negar, mas a
coerência deles. Tomam como base interpretativa, o “dogma protestante” da Sola Scriptura,
entendendo ao pé da letra o conteúdo, e assim, de fato, se este é o método de interpretação das
Escrituras, são inúmeras as contradições:
191

A terra vai durar para sempre:

“Uma geração passa, outra vem, mas a terra sempre subsiste.”


(Ecle 1:4)

A terra perecerá:

Entretanto, virá o dia do Senhor como ladrão. Naquele dia, os céus passarão com ruído, os elementos
abrasados se dissolverão, e será consumida a terra com todas as obras que ela contém.
(II Pd 3:10)

Outro exemplo terrível do contratestemunho dos cristãos, é a figura emblemática de Mahatma


Gandhi, que conseguiu o feito estupendo da liberdade e soberania indiana, diante dos ingleses,
sem nem mesmo dar um único tiro para isso, usando apenas o jejum, a oração e o exemplo de
vida, tanto para os ingleses quanto para os indianos. E de onde Gandhi tirou inspiração para fazer
o que fez?

“Se se perdessem todos os livros sagrados da humanidade, e só se salvasse o Sermão da Montanha,


nada estaria perdido”. (Mahatma Gandhi – 1869-1948)

Em sua vida marcada pela luta pelos direitos civis, não apenas na Índia, mas na África do Sul e em
todo mundo, a exemplo de Cristo, advogado da humanidade, ele disse:

"eu aprendi a descobrir o lado bom da natureza humana e a entrar nos corações dos homens. Eu
percebi que a verdadeira função de um advogado era unir partes separadas".

Um homem com tal envergadura e frutos, não pode fazer o que fez, sem ter sido inspirado pelo
Espírito Santo, porém, apesar de ter como um de seus melhores amigos íntimos um padre da Igreja
Católica Anglicana (vertente anglicana que tem seus bispos e sacerdotes gradualmente se
convertendo em católicos) o Pe. Charles Freer Andrews, e “beber da água do Sermão da
Montanha”, disse:

“Eu seria cristão, sem dúvida, se os cristãos o fossem vinte e quatro horas por dia... não sou cristão,
por causa dos cristãos”.

Esta é uma realidade que toca cada um de nós, pessoas que teriam disposições e até o interesse
em receber os sacramentos, porém, não recebem, porque falta o verdadeiro e honesto testemunho
católico.

DE ONDE VIERAM OS SACRAMENTOS:

Todos os Sacramentos foram instituídos por Jesus e não por um Papa ou um Bispo:

“Fiéis à doutrina das Sagradas Escrituras, às tradições apostólicas (…) e ao sentimento unânime dos
Padres” (Conc. Trento, 7a. S), professamos que “os Sacramentos da nova lei foram todos instituídos
por Nosso Senhor Jesus Cristo”. (CatIC 1114)

“As palavras e as ações de Jesus durante sua vida oculta e durante seu ministério público já eram
salvíficas. Antecipavam o poder de seu mistério pascal; anunciavam e preparavam o que iria dar à
sua Igreja quando tudo fosse realizado. Os mistérios da vida de Cristo são os fundamentos daquilo
192

que agora, por meio dos ministros de sua Igreja, Cristo dispensa nos Sacramentos, pois aquilo que
era visível em nosso Salvador passou para seus mistérios” (S. Leão Magno, Serm. 74,2). (CatIC 1115)

E é por meio dos sacramentos que Deus age diretamente no mundo, modificando a história e
conduzindo a Sua Igreja.

Os Sacramentos são “forças que saem” do corpo de Cristo (Lc 5, 17; 6,19; 8,46) sempre vivo e
vivificante; são as ações do Espírito Santo operante no corpo de Cristo, que é a Igreja; são “as obras-
primas de Deus” na Nova e Eterna Aliança. (CatIC 1116)

A pergunta feita pelo ministro do Batismo, no rito do Batismo é: “O que quer da Igreja?” e os
padrinhos ou até o catecúmeno respondem: “A fé”. A fé nos é dada pela Igreja, assim, oração,
supõe a fé, ora, todos os que oram no mundo, independente de religião, possuem alguma fé, porém,
apenas a fé católica, é a fé dada pelo Verbo Encarnado aos homens, especificamente aos seus
discípulos feitos apóstolos, e estes, por sua vez, transmitiram a fé dada por Cristo, aos seus
próprios discípulos, e assim, a lei é esta, a oração eficaz, necessariamente precisa de uma fé eficaz:

A fé da Igreja é anterior à fé do fiel, que é convidado a aderir a ela. Quando a Igreja celebra os
Sacramentos, confessa a fé recebida dos Apóstolos. Daí o adágio antigo: lex orandi, lex credendi (“a
lei da oração é a lei da fé”).

É por isso que nenhum rito sacramental pode ser modificado ou manipulado ao arbítrio do ministro
ou da comunidade. Nem mesmo a Suprema autoridade da Igreja pode alterar a Liturgia a seu
arbítrio, mas somente na obediência da fé e no religioso respeito do Mistério da Liturgia. (CatIC 1124-
1125)

OS 7 SACRAMENTOS:

Os Sacramentos da nova lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o Batismo, a
Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, A Unção dos Enfermos, a Ordem e o Matrimônio. Os sete
sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: dão à
vida de fé do cristão origem e crescimento, cura e missão. Nisto existe certa semelhança entre as
etapas da vida natural e as da vida espiritual. (CatIC 1210)

Por todos os séculos, desde as primeiras heresias, como os Nestorianos (sustentava a separação
entre as naturezas divina e humana de Jesus Cristo e não aceitava que a Virgem Maria fosse a
mãe de Deus), Monofisitas (doutrina que reconhece apenas a natureza divina de Jesus Cristo,
contrária a coexistência das naturezas humana e divina) e Arianos (negava a Santíssima Trindade)
mesmo estes reconheciam os Sacramentos em número de sete, somente a partir de 1517 com a
revolução protestante que a existência e o número de sacramentos começou a ser questionada.

Santo Tomás de Aquino, afirmava que os sacramentos são em número de sete, porque eles
permeiam toda a vida dos indivíduos, assim:

1o. O Batismo é o nascimento da graça: É necessário a escolha de um casal de padrinhos, não é


necessário que sejam casados entre si, porém, se forem casados entre si, ou com outras pessoas,
faz-se necessário que sejam casados na Igreja e que já tenham recebido a Crisma;

2o. A Crisma é o desenvolvimento da graça: É necessário um padrinho, para os homens e uma


madrinha para as mulheres;

3o. A Eucaristia é o alimento da alma: Antes da comunhão, é necessário o perdão dos pecados,
seja pelo Batismo (libertação do pecado original) ou pela confissão (libertação dos pecados
pessoais);
193

4o. A Penitência é a cura das fraquezas da alma: É necessário que a pessoa tenha se arrependido,
feito um exame de consciência e esteja disposta a não pecar mais;

5o. A Unção dos enfermos é o restabelecimento das forças espirituais: É necessário que a pessoa
esteja em idade avançada ou que estejam sob o risco de morte, seja por doença ou por uma cirurgia
arriscada;

6o. A Ordem gera a autoridade sacerdotal: Existem três graus, o Diaconato, Presbiterato,
Episcopado, é preciso que seja homem, sem defeito físico e com vocação.

Diácono Temporário: Ter mais de 24 anos, ser solteiro, precisa ter feito oito anos de seminário ou
cursado teologia e, na maioria das vezes, também filosofia. Será ordenado presbítero em breve;

Diácono Permanente:

Solteiro: É uma vocação ao celibato, geralmente o diácono permanente solteiro vive sua
vocação inserido em uma ordem ou congregação religiosa;

Casado: É preciso ter feito teologia, ter idade superior a 35 anos, ser casado no mínimo 10
anos, receber autorização da esposa, e quando viúvo, não se casa novamente;

Presbítero: Carinhosamente chamado de “padre” (que significa pai), precisa ter idade superior a 25
anos, ter cumprido os requisitos do diácono temporário, no rito latino, terá vida celibatária;

Episcopado: É a plenitude da vida cristã, precisa ter idade superior a 34 anos, ter sido ordenado
primeiramente Diácono e depois Presbítero, para sua ordenação ser lícita, é preciso uma escolha
e autorização direta da Santa Sé.

7o. O Matrimônio assegura a propagação dos católicos e das suas doutrinas: É preciso ter idade
mínima de 16 anos, com autorização dos pais, ser solteiro(a), de sexos opostos, é preciso ter ao
menos um padrinho(a). O casamento deve ser celebrado previamente ou concomitantemente no
civil. Caso viúvo(a), não pode ser o autor da morte do(a) falecido(a). Precisa cumprir os requisitos
de fidelidade, liberdade, fecundidade e verdade. É indissolúvel, porém, há casos em que o
matrimônio, mesmo celebrado, não teve o sacramento derramado, são os casos de Nulidade
Matrimonial. Não se trata de “anulação”, mas de constatação de que o casamento foi nulo.

OS SACRAMENTOS NA BÍBLIA:

1. Batismo:

Sua instituição e preceito estão positivamente marcados nos seguintes textos:

"Em verdade vos digo, disse Jesus a Nicodemos, quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode
entrar no reino de Deus"
(Jo 3, 5).

"Ide, ensinai todas as gentes, disse Jesus a seus discípulos, batizando-as, em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo"
(Mt 28,19).

"O que crer e for batizado, será salvo"


(Mc 16, 61a).
194

"Recebe o batismo e lava os teus pecados", disse Ananias a Saulo”


(At 22, 16).

Os Apóstolos administravam o batismo a todos os que desejavam alistar-se na religião nova. Três
mil pessoas receberam o batismo das mãos de S. Pedro, no dia de Pentecostes.

“Pedro lhes respondeu: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para
remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo, pois a promessa é para vós, para os vossos
filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus”. Ainda com muitas outras palavras
exortava-os, dizendo: “Salvai-vos do meio dessa geração perversa!”. Os que receberam a sua palavra foram
batizados. E naquele dia elevou-se a mais ou menos três mil o número de adeptos.”
(At 2, 38-41)

2. A Eucaristia (Comunhão):

Cristo afirma, repete, reafirma, e explica que o pão que ele vai dar é o "seu próprio corpo" - que seu
corpo é uma "comida" - que seu sangue é uma "bebida" - que é um pão celeste que dá a vida
eterna.

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a
minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come
a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.”
(Jo 6,54-56)

Ao negar a presença eucarística, se nega as palavras de Cristo.

3. A Crisma:

Os atos dos apóstolos provam que o seu rito exterior consiste na imposição das mãos, diferente do
batismo que utiliza a água.

“Os apóstolos que estavam em Jerusalém souberam que a Samaria acolhera a palavra de Deus e enviaram para
lá Pedro e João. Chegando ali, oraram pelos habitantes da Samaria, para que recebessem o Espírito Santo. Pois
o Espírito ainda não viera sobre nenhum deles; só tinham recebido o batismo no nome do Senhor Jesus. Pedro
e João impuseram-lhes as mãos, e eles receberam o Espírito Santo.”
(At 8, 14-17)

Os apóstolos São Pedro e São João, enviados a Samaria, "punham as mãos sobre os que tinham
sido batizados", e recebiam estes o Espírito Santo (At 8, 12-17). Do mesmo modo, S. Paulo, vindo
a Éfeso, batizou, em nome de Jesus Cristo, discípulos de João e a "eles impôs as mãos, para que
o Espírito Santo baixasse sobre eles" (At 19, 1-6). Para que S. Paulo imporia as mãos sobre quem
já era batizado se a Crisma não fosse um sacramento que confirmasse o Batismo, completando os
dons do Espírito Santo?

Segundo estes textos, compreende-se claramente que São Pedro e São João de um lado, e São
Paulo de outro, deram o Espírito Santo, pela imposição das mãos. Ora, uma tal prática seria ridícula,
se eles o fizessem fora da vontade e das prescrições do Mestre. A Crisma é, pois, um sacramento
instituído por Nosso Senhor. Em vida, Nosso Senhor não poderia Crismar ninguém, pois o
Pentecostes só aconteceria após sua Ascenção aos Céus, como salienta o próprio São João:

“Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva” Dizia isso, referindo-se ao
Espírito que haviam de receber os que cressem nele, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que Jesus ainda
não tinha sido glorificado.”
(Jo 7,38s)
195

Com o Batismo e a Eucaristia, o sacramento da Confirmação constitui o conjunto dos “sacramentos


da iniciação crista”, cuja unidade deve ser salvaguardada. Por isso, é preciso explicar aos fiéis que a
recepção deste sacramento é necessária para a plenitude da graça batismal. Com efeito, os batizados
“pelo sacramento da Confirmação, são mais perfeitamente vinculados a Igreja, enriquecidos
com uma força especial do Espírito Santo e deste modo ficam mais estritamente obrigados a
difundir e a defender a fé por palavras e obras, como verdadeiras testemunhas de Cristo.”
(CatIC 1285)

O sacramento da confirmação, que imprime caráter, e pelo qual os batizados, continuando o


caminho da iniciação cristã, são enriquecidos com o dom do Espírito Santo e vinculados mais
perfeitamente à Igreja, fortalece-os e mais estritamente os obriga a serem testemunhas de Cristo
pela palavra e ação e a difundirem e defenderem a fé. (CIC: Cân. 879)

Os fiéis têm a obrigação de receber tempestivamente esse sacramento; os pais, os pastores de


almas, principalmente os párocos, cuidem que os fiéis sejam devidamente instruídos para o
receberem e que se aproximem dele em tempo oportuno. (CIC: Cân. 890)

3.1 Os Dons do Espírito Santo:

O Espírito Santo, é Aquele que Santifica, apenas a Graça de Deus, pela ação do Espírito, pode
santificar a pessoa, o Sacramento da Crisma, torna a pessoa apta à santificação:

“Acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o
templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós. Vós sois de Cristo, e
Cristo é de Deus.”
(1Cor 3,16-17)

É por meio da Crisma, que se manifestam os dons de santificação:

(Sabedoria, Ciência, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Piedade e Temor de Deus)

Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do
Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de
temor do Senhor. Sua alegria se encontrará no temor do Senhor. Ele não julgará pelas aparências, e não
decidirá pelo que ouvir dizer;
(Is 11, 1-3)
3.1.1 Sabedoria:

O Espírito nos capacita a conhecer a Deus na intimidade e nos leva a conhecer e querer viver
conforme a Sua vontade. Fazer a vontade de Deus é a MAIOR SABEDORIA que um ser humano
pode fazer. Nos leva e mergulhar na pergunta: O que Deus quer?

Entendimento (inteligência):

Nos leva a ver as pessoas e o mundo com os olhos de Deus. Somos levados a penetrar os mistérios
de Deus, sem curiosidade, mas por amor Àquele que amamos. Nos leva a mergulharmos na
pergunta: Quem é Deus?

3.1.2 Ciência:

Nos leva a compreender e aceitar os planos de Deus revelados na Escritura e na Igreja. Nos leva
a nos aprofundar na pergunta: Quem sou eu aos olhos de Deus (de quem sou eu)?
196

3.1.3 Conselho:

Nos faz sábios diante da vida e nos impulsiona a procurar Deus e a levar os outros a Deus, tornando
a todos conhecida qual é a Vontade de Deus. Nos leva a nos aprofundar na pergunta: Como Deus
quis que fosse o mundo que Ele criou?

3.1.4 Fortaleza:

Nos prepara para lutar contra as tentações e o pecado. Nos faz corajosos na defesa da Fé, da “Sã
Doutrina” (1Tm 1,10) da Igreja. Nos dá força e paciência para carregar a cruz de cada dia, nos
aprofundando na pergunta: Quais são os inimigos de Deus? (O mundo, o Diabo e Nós mesmos).

3.1.5 Piedade:

Produz em nós o amor a Deus, afasta-nos de toda forma de idolatria (coisas, pessoas e nós
mesmos), aguça nossa oração humilde e permanente, nos faz curvar a cabeça e o coração diante
do SAGRADO. Move-nos a ADORAR a Deus, VENERAR os santos e anjos e nos dá uma
VENERAÇÂO ESPECIAL por Maria Santíssima. Somos convidados a nos aprofundar na pergunta:
O que é de Deus?

3.1.6 Temor de Deus:

É o receio de ofender a Deus, não se trata de medo de ofendê-lo por medo do castigo, mas receio
de decepcioná-Lo com o nosso pecado (Desamor). É a pergunta feita à Jesus: O que devo fazer
para ser bom (perfeito)?

3.2 O significado da crisma:

Receber o Sacramento da Crisma, é admitir sua pertença a Deus e sua escolha pela Igreja. Há
uma luta espiritual acontecendo neste momento, entre o Espírito e a Carne, e o campo de batalha
é no coração do ser humano, vencer, significa superar a si mesmo em um longo processo de
“morrer para si mesmo”:

“Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz
e siga-me.”
(Mt 16,24)

“Pois, se viverdes segundo a carne morrereis; mas se, pelo Espírito, matardes o procedimento carnal, então
vivereis. Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. De fato, vós não
recebestes espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes o Espírito que, por adoção, vos torna
filhos, e no qual clamamos: ‘Abbá, Pai!’”
(Rm 8, 13s)

“Andai segundo o Espírito e não satisfareis aos apetites da carne”


(Gl 5,17)

3.2.1 Obras da carne:

“São bem conhecidas as obras da carne: imoralidade sexual, impureza, devassidão, idolatria, feitiçaria,
inimizades, contenda, ciúmes, iras, intrigas, discórdias, facções, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas
semelhantes. Eu vos previno, como aliás já o fiz: os que praticam essas coisas não herdarão o reino de Deus.”
(Gl 5, 19-21)
197

3.2.2 Frutos do Espírito:

“O fruto do Espírito, porém, é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio
próprio. Contra estas coisas não existe lei. Os que pertencem a Jesus Cristo crucificaram a carne com suas
paixões e seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, procedamos também de acordo com o Espírito.”
(Gl 5, 22-25)

Receber um sacramento, é uma responsabilidade gigantesca, pois não há graça maior neste
mundo do que os sacramentos, o Sacramento da Crisma, é uma resposta, é assumir a
responsabilidade de tornar conhecido o Reino de Deus e o Evangelho, então, fiquemos atentos:

"Quem é, pois, o administrador fiel e sensato, a quem seu senhor encarrega dos seus servos, para lhes dar sua
porção de alimento no tempo devido? Feliz o servo a quem o seu senhor encontrar fazendo assim quando
voltar. Garanto-lhes que ele o encarregará de todos os seus bens. Mas suponham que esse servo diga a si
mesmo: ‘Meu senhor se demora a voltar’, e então comece a bater nos servos e nas servas, a comer, a beber e a
embriagar-se. O senhor daquele servo virá num dia em que ele não o espera e numa hora que não sabe, e o
punirá severamente e lhe dará um lugar com os infiéis. "Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e
não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e prática
coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a
quem muito foi confiado, muito mais será pedido". "Vim trazer fogo à terra, e como gostaria que já estivesse
aceso!”
(Lc 12:42-49)

3.3 O Ritual do Sacramento da Crisma (Confirmação)

O Sinal: a unção com o óleo de Crisma.

A vela batismal é acesa no Círio Pascal e o Padre ou o Padrinho apresentam ao Bispo o Crismando
pelo nome, então o Bispo (ou padre designado) faz a Imposição das mãos e a Unção com o Crisma.
O Bispo costuma dar um “tapinha” no rosto do crismado, este gesto simboliza a submissão do
crismado à Igreja na figura e autoridade do Bispo.

Diálogo:

Bispo diz: Receba o Espírito Santo Dom de Deus.


Crismando: Amém
Bispo: A Paz esteja contigo
Crismando: E contigo também

4. A CONFISSÃO:

"Se confessarmos os nossos pecados, diz o Apóstolos, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e purificar-
nos de toda injustiça"
(1 Jo 1, 8).

A confissão não é nova, já existia no Antigo Testamento, mas foi elevada à dignidade de
Sacramento por Nosso Senhor, que conhecia a fraqueza humana e desejava salvar seus filhos.

"Aquele que esconde os seus crimes não será purificado; aquele, ao contrário, que se confessar e deixar seus
crimes, alcançará a misericórdia"
(Prov. 38, 13)

"Não vos demoreis no erro dos ímpios, mas confessai-vos antes de morrer"
(Ecl 17, 26)
198

No dia da ressurreição, como para significar (SACRAMENTAR) que a confissão é a ressurreição


espiritual do pecador, Jesus disse:

Disse-lhes outra vez: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós”. Depois
dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os
pecados, lhes serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos”.
(Jo 20, 21-23)

Note-se que este texto tem um contexto, ele é dito especificamente para os discípulos que foram
ordenados apóstolos na Santa Ceia, a exceção de Judas Iscariotes, ou seja, aos onze, assim, trata-
se de uma instituição.

5. A UNÇÃO DOS ENFERMOS:

É o quinto sacramento instituído por Jesus Cristo, sem que saibamos em que época o instituiu. A
Sagrada Escritura, como para a Crisma, nos transmite apenas o rito exterior e o efeito produzido.

O Evangelho diz que:

"à ordem do Senhor... os apóstolos expeliam muitos demônios e ungiam com óleo a muitos enfermos, e os
curavam"
(Mc 6, 13).

Eis um fato, é a ordem do Senhor. A instituição da extrema-unção decorre destas palavras de S.


Tiago:

"Está entre vós alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o
com óleo, em nome do Senhor. E o Senhor o aliviará, e se estiver em algum pecado ser-lhe-á perdoado"
(Tg 5, 14-15).

Nunca o Apóstolo teria prometido tais efeitos a uma unção, na enfermidade, sem firmar-se na
autoridade Divina da instituição deste sacramento. A extrema-unção é, pois, verdadeiramente um
sacramento.

6. ORDEM:

A Ordem é o sacramento que dá o poder de desempenhar as funções eclesiásticas, e a graça de


fazê-lo santamente. Em outros termos, é o sacramento que faz os sacerdotes, ou ministros de
Deus. Muitos textos da Sagrada Escritura provam a existência do sacerdócio e indicam o rito de
ordenação sacerdotal. Lemos de fato que Nosso Senhor fez uma seleção entre os discípulos: "Não
fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi", diz Ele (Jo 15, 16). Aos discípulos
eleitos, chamados apóstolos, o divino Mestre confia as quatro atribuições particulares do
sacerdócio:

Oferecer o santo sacrifício: "Fazei isto em memória de mim" (Lc 22, 19).
Perdoar os pecados: Os pecados serão perdoados aos que vós os perdoardes (Jo 20, 23).
Pregar o Evangelho: Ide no mundo inteiro, pregando o Evangelho a todas as criaturas (Mc 16, 15).
Governar a Igreja: O Espírito Santo constituiu os bispos para governarem a Igreja de Deus (At 20,
28).

Todas estas Palavras ditas pelo Senhor, foram ditas somente aos 12 discípulos que foram
ordenados na Santa Ceia, a seguir outras confirmações:
199

"Não desprezes a graça que há em ti e te foi dada por profecia pela imposição das mãos do presbitério"
(1 Tim 4, 14).

"Por este motivo, diz ele, te admoesto que reanimes a graça de Deus, que recebestes pela imposição de minhas
mãos"
(2 Tim 1, 6).

O exemplo dos apóstolos nos mostra a transmissão dos poderes sacerdotais pela ordenação. E por onde Paulo
e Barnabé passavam, "ordenavam sacerdotes para cada Igreja"
(At 14, 22).

Tudo isso prova, claramente, que os apóstolos tinham recebido de Jesus a divina investidura de
poderes, que iam assim distribuindo pela imposição das mãos; e esta investidura é o sacramento
da Ordem.

7. O MATRIMÔNIO:

É o último na série dos sacramentos. O casamento que era antes de Jesus Cristo mero contrato, é
um verdadeiro sacramento da nova lei. Não sabemos exatamente o tempo nem o lugar em que
Jesus Cristo instituiu este sacramento; pensam os teólogos que foi nas bodas de Caná. Outros
pensam que foi na ocasião em que o Salvador restaurou a unidade e a indissolubilidade primitivas.
Interrogado a respeito do divórcio, Cristo responde que não era lícito por nenhum motivo, que nem
o direito de separar-se tem o homem e a mulher, exceto o caso de adultério:

“Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: “É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um
motivo qualquer?”. Respondeu-lhes Jesus: “Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e
disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne?
Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu”. Disseram-lhe eles:
“Por que, então, Moisés ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la?”. Jesus respondeu-lhes:
“É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo
não foi assim. Ora, eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio falso,
e desposa uma outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também
adultério”.”
(Mt 19, 3-9)

Outros, ainda, pensam que foi instituído depois da ressurreição, e promulgado por S. Paulo, na
epístola aos efésios:

“Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la,
purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula,
sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar
as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Certamente,
ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à
sua Igreja – porque somos membros de seu corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua
mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn 2,24). Esse mistério é grande, quero dizer, com referência a
Cristo e à Igreja. Em resumo, o que importa é que cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo, e a
mulher respeite o seu marido.”
(Ef 5, 25-33).

Pouco importa o tempo e o lugar, o certo é que o matrimônio foi por Jesus elevado à dignidade de
sacramento, como está bem claro:

"Não separe o homem o que Deus uniu"


(Mt 19, 6).
200

Ou seja, Deus uniu os noivos, é uma ação direta de Deus.

Este mistério, ou sacramento, é grande em relação a Cristo e à Igreja, diz S. Paulo (Ef 5, 32). Isso
é grande, em relação a Cristo, porque é instituição divina; grande em relação à Igreja, que deve
mantê-lo na sua unidade e indissolubilidade.

O rito externo foi indicado por S. Paulo: é a mútua tradição e aceitação do direito sobre os corpos,
em ordem aos fins do casamento, formando uma união santa, como é "santa a união do Cristo com
a sua Igreja" (Ef 5, 25).

DIVISÃO DOS SACRAMENTOS:

Podem ser divididos em Sacramentos de:

Iniciação Cura Serviço


Batismo
Reconciliação (Confissão) Matrimônio
Comunhão (Eucaristia)
Unção dos Enfermos Ordem (Sacerdócio)
Crisma

Ou então em Sacramentos com ou sem caráter:

Com Caráter (Marca) Sem Caráter (Não Marca)


Comunhão (Eucaristia)
Batismo
Reconciliação (Confissão)
Crisma
Unção dos Enfermos
Ordem
Matromônio

Eis alguns detalhes sobre a celebração dos sacramentos:

Sacramento Matéria Forma/Rito Ministro Efeito Graça


Perdão do Pecado
Sacerdotes Original, dos
Eu te batizo em
ou em caso veniais e mortais;
Água e óleo nome do Pai, Torna-se Filho
de risco de Morre e nasce
Batismo dos do Filho e do de Deus (Selo
morte, novamente;
catecúmenos Espírito do Batismo)
qualquer Membro da Igreja;
Santo...
pessoa. Embaixador de
Cristo.
Diácono:
Legitimidade do
Envio; Presbítero:
Orações
Ordem Legitimidade do
Imposição das próprias para In Persona
Diaconal, Pastoreio;
mãos e óleo cada rito e grau Bispo Christi (Selo
Presbiteral e Epíscopo:
do Crisma hierárquico da Sacerdotal)
Episcopal Sucessão
Ordem
Apostólica e
Plenitude da Graça
Santificante
201

Palavra do
Bispo: “Recebe
por este sinal o
Espírito Santo, Efusão do Crescimento
Unção com o Dom de Deus” Bispo ou Espírito Santo Espiritual;
Crisma óleo da (Faz-se o sinal Presbítero (Selo da Recebimento dos
Crisma da cruz na designado Confirmação Dons do Espírito;
fronte), ao que do Batismo) Maturidade Cristã.
o crismando
responde:
“Amém”.
Presença real, do
Eucaristia Gestos, Pão e Orações Bispo ou Transubstan- Corpo, Sangue,
(Comunhão) Vinho Eucarísticas Presbítero ciação Alma e Divindade
de Jesus Cristo.
Recobra a Graça
O perdão de Santificante;
Penitência Confessar os Fórmula da Bispo ou
todos os Reconcilia com a
ou Confissão pecados absolvição Presbítero
pecados Igreja e Remissão
da Pena Eterna.
União dos próprios
sofrimentos aos de
A unção com Fórmula da Restabelecim
Unção dos Bispo ou Cristo; Perdão dos
o óleo dos Unção dos ento e cura da
Enfermos presbítero Pecados;
enfermos enfermos alma.
Preparação para a
Morte.
Santificação dos
esposos;
Os noivos e a Votos de Ministros: Legitimidade do ato
Matrimônio Uma só carne
Aliança casamento Os noivos sexual e
Fecundidade
Eclesial.

BEM-VINDO AO CAMPO DE BATALHA

O que fazer para vencer e ser CHEIO do Espírito Santo?

1º. Purificar-se: Deus não usa vasos sujos (Confissão).

2º. Intenção de Doar-se, Fazer-se “DOM” aos outros: Perdoar a todos.

3º. Esforçar-se para fazer a vontade de Deus: Antes de TUDO, procurar conhecer a vontade de
Deus.

4º. Pedir o Espírito Santo com Fé:

“Sereis batizados no Espírito Santo”


(At 1,5)

“Naquele dia, jorrará água corrente de Jerusalém, metade para o mar do nascente e metade para o mar do
poente; jorrará tanto no verão como no inverno.”
(Zc 14,8)
202

“O Senhor te guiará constantemente, ele te alimentará no árido deserto, renovará teu vigor. Serás como um
jardim bem irrigado, como uma fonte de águas inesgotáveis.”
(Is 58,11)

Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva” (Zc 14,8; Is 58,11). Dizia isso,
referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem nele, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que
Jesus ainda não tinha sido glorificado.
(Jo 7, 37-39)

SACRAMENTAIS:

"A santa mãe Igreja instituiu os sacramentais, que são sinais sagrados pelos quais, à imitação dos
sacramentos, são significados efeitos principalmente espirituais, obtidos pela impetração da Igreja.
Pelos sacramentais os homens se dispõem a receber o efeito principal dos sacramentos e são
santificadas as diversas circunstâncias da vida." (CatIC 1667)

Alguns exemplos de sacramentais são as imagens, os terços, as velas, a água benta, quadros,
roupas e qualquer objeto de uso devocional, pode ser um sacramental. Diferentemente dos
Sacramentos, os sacramentais, requerem a fé da pessoa. Se os sacramentos independem da
nossa fé, para produzirem seus efeitos, os sacramentais, só terão efeito em nossa vida, se
nutrirmos uma fé devocional por eles.

Quando uma criança é batizada, ela não precisa ter fé, para receber as Graças do Batismo, mas,
no mesmo dia que ela é batizada, ela é também consagrada a Nossa Senhora, esta consagração,
é um sacramental, e ela terá de nutrir esta consagração, para que ela tenha efeito, por isso é
comum escolher um padrinho/madrinha de consagração, que irá se encarregar de formar a
devoção mariana no recém batizado.

Mas claro que as disposições interiores de quem recebe os sacramentos, podem colaborar com o
efeito do mesmo. Uma pessoa com devoção que recebe a Sagrada Eucaristia, terá efeitos mais
pontentes desta comunhão em sua vida, do que uma pessoa sem devoção alguma.
203

4º. PARTE: A EUCARISTIA


Antes de iniciarmos um aprofundamento sobre este Sublime Sacramento, faz-se necessário
que você tenha lido o Catecismo da Igreja Católica (CIC): 1322 a 1419 (Resumindo: 1406 ao
1419)

Todos os Sacramentos são importantes, porém, a Eucaristia se destaca dentre eles, mesmo não
sendo considerado um Sacramento com caráter, é o centro de todos os Sacramentos e não apenas
dos sacramentos, é da Eucaristia que emana todas as Graças, bênçãos, sacramentais, milagres,
prodígios, carismas, virtudes e toda espécie de bem visível ou invisível, pois a Eucaristia é o próprio
Deus.

A Eucaristia é “fonte e cume de toda a vida cristã”. “Os restantes sacramentos, assim como todos os
ministérios eclesiásticos e obras de apostolado, estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se
ordenam. Com efeito, na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto
é, o próprio Cristo, nossa Páscoa”. (CatIC 1324)

PRÉ-FIGURAÇÕES DA EUCARISTIA NO ANTIGO TESTAMENTO:

“Melquisedec, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, ORDENOU (Mandou) trazer pão e vinho.”
(Gn 14,18)

Melquisedeque já era sacerdote em Jerusalém, antes mesmo de Jerusalém existir, pois era terra
dos Jebuseus (Jebus + Salém = Jerusalém), ele é o Rei, Profeta e Sacerdote, e deu uma ordem
sacerdotal, uma ordem que iria servir de sinal e aliança, a vitória de Abrão é celebrada por um
sacerdote misterioso, que ao invés de oferecer em sacrifício, os animais, oferece o “Pão e o Vinho”.
1
Salmo de Davi. Eis o oráculo do Senhor que se dirige a meu Senhor: “Assenta-te à minha direita, até que eu faça
de teus inimigos o escabelo de teus pés”. 2O Senhor estenderá desde Sião teu cetro poderoso: “Dominarás –
disse ele – até no meio de teus inimigos.3No dia de teu nascimento, já possuis a realeza no esplendor da
santidade; semelhante ao orvalho, eu te gerei antes da aurora”. 4O Senhor jurou e não se arrependerá: “Tu és
sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec”. 5O Senhor está à tua direita: ele destruirá os reis
no dia de sua cólera.6Julgará os povos pagãos, empilhará cadáveres; por toda a terra esmagará cabeças. 7Beberá
da torrente no caminho; por isso, erguerá a sua fronte.
(Salmo 109/110)

Eis a história da Salvação e no seu cume a menção a Melquisedec, figura de Nosso Senhor Jesus
Cristo, então, a fé de Abrão, antes de ser Abraão, já era uma fé EUCARISTICA, uma fé de Ação
de Graças, a fé da qual nós somos herdeiros, o texto a seguir, nos apresenta como eram os
sacerdotes da antiga aliança e a diferença de Jesus e do sacerdócio cristão, em relação aos
anteriores:
1
Em verdade, todo pontífice é escolhido entre os homens e constituído a favor dos homens como mediador nas
coisas que dizem respeito a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. 2Sabe compadecer-se dos que
estão na ignorância e no erro, porque também ele está cercado de fraqueza. 3Por isso, ele deve oferecer
sacrifícios tanto pelos próprios pecados quanto pelos pecados do povo. 4Ninguém se apropria desta honra,
senão somente aquele que é chamado por Deus, como Aarão. 5Assim também Cristo não se atribuiu a si mesmo
a glória de ser pontífice. Esta lhe foi dada por aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei (Sl
2,7), 6como também diz em outra passagem: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Mel-
quisedec (Sl 109,4). 7Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas,
àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade. (Hb 5, 1-7)
204

O SACERDÓCIO DE CRISTO:

O Sacerdócio cristão, não é como o sacerdócio do AT, pois estes, os sacerdotes do AT, não
possuíam méritos, já o sacerdócio de Nosso Senhor, por Ele ser homem e não ter pecado algum,
possui uma piedade perfeita, é sempre atendido quando pede ao Pai no Espírito:
1
Este Melquisedec, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão quando este
regressava da derrota dos reis e o abençoou, 2ao qual Abraão ofereceu o dízimo de todos os seus despojos, é,
conforme seu nome indica, primeiramente “rei de justiça” e, depois, rei de Salém, isto é, “rei de paz”. 3Sem pai,
sem mãe, sem genealogia, a sua vida não tem começo nem fim; comparável sob todos os pontos ao Filho
de Deus, permanece sacerdote para sempre. 4Considerai, pois, quão grande é aquele a quem até o patriarca
Abraão deu o dízimo dos seus mais ricos espólios. 5Os filhos de Levi, revestidos do sacerdócio, na qualidade de
filhos de Abraão, têm por missão receber o dízimo legal do povo, isto é, de seus irmãos. 6Naquele caso, porém,
foi um estrangeiro que recebeu os dízimos de Abraão e abençoou o detentor das promessas. 7Ora, é
indiscutível: é o inferior que recebe a bênção do que é superior. 8De mais, aqui, os levitas que recebem os
dízimos são homens mortais; lá, porém, se trata de alguém do qual é atestado que vive.* 9Por fim, por assim
dizer, também Levi, que recebe os dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão, 10pois ele já estava em germe no
íntimo deste, quando aconteceu o encontro com Melquisedec. 11Se a perfeição tivesse sido realizada pelo
sacerdócio levítico (porque é sobre este que se funda a legislação dada ao povo), que necessidade havia ainda
de que surgisse outro sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, e não segundo a ordem de Aarão? 12Pois,
transferido o sacerdócio, forçoso é que se faça também a mudança da Lei. 13De fato, aquele ao qual se aplicam
estas palavras é de outra tribo, da qual ninguém foi encarregado do serviço do altar. 14E é notório que nosso
Senhor nasceu da tribo de Judá, tribo à qual Moisés de nada encarregou ao falar do sacerdócio. 15Isto se torna
ainda mais evidente se se tem em conta que este outro sacerdote, que surge à semelhança de
Melquisedec, 16foi constituído não por prescrição de uma Lei humana, mas pela sua
imortalidade. 17Porque está escrito: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedec. 18Com
isso, está abolida a antiga legislação, por causa de sua ineficácia e inutilidade. 19Pois a Lei nada levou à
perfeição. Apenas foi portadora de uma esperança melhor que nos leva a Deus. 20E isso não foi feito sem
juramento. Os outros sacerdotes foram instituídos sem juramento. 21Para ele, ao contrário, interveio o
juramento daquele que disse: Jurou o Senhor e não se arrependerá: tu és sacerdote eternamente. 22E esta
aliança da qual Jesus é o Senhor, é-lhe muito superior.23Além disso, os primeiros sacerdotes deviam suceder-se
em grande número, porquanto a morte não permitia que permanecessem sempre. 24Este, porque vive para
sempre, possui um sacerdócio eterno. 25É por isso que lhe é possível levar a termo a salvação daqueles que
por ele vão a Deus, porque vive sempre para interceder em seu favor. 26Tal é, com efeito, o Pontífice que
nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e elevado além dos céus, 27que não tem
necessidade, como os outros sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro pelos pecados
próprios, depois pelos do povo; pois isso o fez de uma só vez para sempre, oferecendo-se a si
mesmo. 28Enquanto a Lei elevava ao sacerdócio homens sujeitos às fraquezas, o juramento, que sucedeu à Lei,
constitui o Filho, que é eternamente perfeito.
(Hb 7, 1-28)

A NOVA ALIANÇA:

A Aliança firmada com Nosso Senhor, é superior a todas as demais alianças, é uma aliança perfeita,
pois Ele é o Sacerdote Eternamente perfeito, capaz de ser o Pontífice entre Deus e os Homens,
sendo Ele mesmo, Deus e Homem:
1
A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê. 2Foi ela que fez a glória dos
nossos antepassados.3Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela Palavra de Deus e que as coisas
visíveis se originaram do invisível... 8Foi pela fé que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu para uma terra
que devia receber em herança. E partiu não sabendo para onde ia. 9Foi pela fé que ele habitou na terra
prometida, como em terra estrangeira, habitando aí em tendas com Isaac e Jacó, coerdeiros da mesma
promessa. 10Porque tinha a esperança fixa na cidade assentada sobre os fundamentos (eternos), cujo arquiteto
e construtor é Deus.
(Hb 11, 1-3. 8-10)
205

Herdamos a fé de Abraão, e mais que filhos carnais, somos filhos espirituais, pois temos fé, na
ordem de Mequisedec, que na verdade é a ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os filhos de
Abraão, segundo a carne, estão sujeitos à Lei, porém, os filhos de Abraão segundo o espírito, estão
sujeitos a Graça, que nos foi dada, no dia em que Abrão celebrou sua vitória contra os Jebuseus,
pois Melquisedec é o próprio Cristo, que de modo místico se encontra com Abrão, para dar-lhe a
fé e a promessa da Nova e Eterna aliança.
11
Eis a maneira como o comereis: tereis cingidos os vossos rins, vossas sandálias nos pés e vosso cajado na
mão. Vós comereis apressadamente: é a Páscoa do Senhor. 12Naquela noite, passarei através do Egito, e ferirei
os primogênitos no Egito, tanto os dos homens como os dos animais, e exercerei minha justiça contra todos os
deuses do Egito. Eu sou o Senhor. 13O sangue sobre as casas em que habitais vos servirá de sinal (de
proteção): vendo o sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos pelo flagelo destruidor, quando eu
ferir o Egito. 14Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma festa em honra do Senhor:
fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua.15Comereis pão sem fermento durante
sete dias. Logo ao primeiro dia tirareis de vossas casas o fermento, pois todo o que comer pão fermentado,
desde o primeiro dia até o sétimo, será cortado de Israel. 16No primeiro dia, assim como no sétimo, tereis uma
santa assembleia. Durante esses dias não se fará trabalho algum, exceto a preparação da comida para
todos. 17Guardareis (a festa) dos Ázimos, porque foi naquele dia que tirei do Egito vossos exércitos. Guardareis
aquele dia de geração em geração: é uma instituição perpétua. 18No primeiro mês, desde a tarde do décimo
quarto dia do mês até a tarde do vigésimo primeiro, comereis pães sem fermento. 19Durante sete dias não
haverá fermento em vossas casas: se alguém comer pão fermentado, será cortado da assembleia de Israel, quer
se trate de estrangeiro ou natural do país. 20Não comereis pão fermentado: em todas as vossas casas comereis
ázimos”.21Moisés convocou todos os anciãos de Israel e disse-lhes: “Ide e escolhei um cordeiro por família, e
imolai a Páscoa. 22Depois disso, tomareis um feixe de hissopo, o ensopareis no sangue que estiver na bacia e
aspergireis com esse sangue a moldura e as duas ombreiras da porta. Nenhum de vós transporá o limiar de sua
casa até pela manhã. 23Quando o Senhor passar para ferir o Egito, vendo o sangue sobre a moldura e sobre as
duas ombreiras da porta, passará adiante e não permitirá ao destruidor entrar em vossas casas para
ferir. 24Observareis esse costume como uma instituição perpétua para vós e vossos filhos. 25Quando tiverdes
penetrado na terra que o Senhor vos dará, como prometeu, observareis esse rito. 26E quando vossos filhos vos
disserem: ‘Que significa esse rito?’ – respondereis: 27‘É o sacrifício da Páscoa, em honra do Senhor que, ferindo
os egípcios, passou por cima das casas dos israelitas no Egito e preservou nossas casas’.” O povo inclinou-se e
prostrou-se. 28Em seguida, retiraram-se os israelitas para fazerem o que o Senhor tinha ordenado a Moisés e a
Aarão. Assim o fizeram.
(Ex 12, 11-28)

ENTRE A ANTIGA E A NOVA ALIANÇA:

Inúmeros são os sinais que a Igreja se apropriou na celebração litúrgica, como o cajado (Báculo)
do Bispo, o Sangue do Cordeiro, o primeiro dia da semana (Domingo), os pães ázimos e a
passagem do destruidor, sem destruir Israel, fazer desaparecer o fermento (confissão dos pecados
- ato penitencial), não comer algo fermentado (Jejum Eucarístico).

“O Senhor disse a Moisés: “Vou fazer chover pão do alto do céu. Sairá o povo e colherá diariamente a porção
de cada dia. Eu o porei desse modo à prova, para ver se andará ou não segundo minhas ordens... À tarde, com
efeito, subiram codornizes (do horizonte) e cobriram o acampamento; e, no dia seguinte pela manhã, havia uma
camada de orvalho em torno de todo o acampamento. E, tendo evaporado esse orvalho, eis que sobre a
superfície do deserto estava uma coisa miúda, granulosa, miúda como a geada sobre a terra! Vendo isso,
disseram os filhos de Israel uns aos outros: “Que é isso?”, pois não sabiam o que era. Moisés disse-lhes: “Este é
o pão que o Senhor vos manda para comer.”
(Ex 16, 4. 13-15)
206

O BANQUETE DO CORDEIRO:

O pão do Céu, o alimento vindo da parte de Deus, é Deus quem alimenta e dá de comer, como um
pai aos seus filhos, um pastor às ovelhas, este sinal, que é um grande prodígio, realiza-se
plenamente em Jesus, que de fato, é o Verbo feito Carne e a Carne feito Pão que alimenta e
sustenta a Igreja ao longo dos séculos.

“O Senhor dos exércitos preparou para todos os povos, nesse monte, um banquete de carnes gordas, um
festim de vinhos velhos, de carnes gordas e medulosas, de vinhos velhos purificados. Nesse monte tirará o
véu que vela todos os povos, a cortina que recobre todas as nações, e fará desaparecer a morte para
sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e tirará de toda a terra o opróbrio que pesa
sobre o seu povo, porque o Senhor o disse.
(Is 25, 6-8)

O banquete que retirará o véu, esta é a figura da Encarnação do Verbo, a referência à última Ceia,
onde Deus, literalmente sentou-se à mesa e comeu com seus discípulos, em todas as Missas
celebradas, este gesto se repete, é Deus que se senta à mesa e torna-se alimento para todos nós.

“Assemelho-me ao pelicano do deserto, sou como a coruja nas ruínas.”


(Sl 101,7)

O pelicano é conhecido por retirar partes do próprio


corpo para oferecer aos seus filhotes, Deus faz o
mesmo, dá de comer aos homens sua própria carne
feito Pão e seu Sangue feito vinho; nesta imagem
temos a espécie Eucarística do Pão, gravado com o
IHS (Ieshua) que é o nome de Jesus em Hebraico; o
pelicano de asas abertas, simbolizando Cristo de
braços abertos na Cruz, retirando partes do seu lado
aberto, para alimentar a Igreja; vemos ainda a Cruz
com uma cobra enrolada na haste, que Moisés
fabricou para curar o povo no deserto que havia sido
picado por cobras; por fim, temos o cordeiro imolado
no lado, deixado sobre a bandeja. São todos
símbolos de Cristo e da Salvação.

O SACRIFÍCIO UNIVERSAL:

“Naquele dia, se escreverá até mesmo nos chocalhos dos cavalos, consagrado ao Senhor. Os caldeirões
ordinários do Templo do Senhor serão consagrados como as taças do altar. Todo caldeirão, tanto em Jerusalém
como em Judá, será consagrado ao Senhor dos exércitos; todo aquele que vier oferecer sacrifício poderá
servir-se deles para cozinhar; e não haverá mais traficantes naqueles dias na casa do Senhor dos exércitos.”
(Zc 14, 20s)

Todos “tomarão parte no Sacrifício”, pois que Jesus, é Deus e Homem, Nele, Deus se sacrifica
pelos homens, mas também os Homens fazem parte do Sacrifício, oferecendo-se Nele em
reparação pelos pecados do mundo inteiro.

ALIMENTO ESPIRITUAL:

“Vá, antes, um de vós e feche as portas. Não acendereis mais inutilmente o fogo no meu altar. Não tenho
nenhuma complacência convosco – diz o Senhor dos exércitos – e nenhuma oferta de vossas mãos me é
agradável. Porque, do nascente ao poente, meu nome é grande entre as nações e em todo lugar se oferecem ao
meu nome o incenso, sacrifícios e oblações puras. Sim, grande é o meu nome entre as nações – diz o Senhor
207

dos exércitos. Vós, porém, o profanais quando dizeis: A mesa do Senhor está manchada; o que nela se
oferece é um alimento comum.”
(Ml 1, 10-12)

O Sacrifício constante e a mesa do Senhor que não contêm um alimento comum, é um alimento
que mesmo não sendo capaz de fisicamente alimentar o corpo inteiro, é suficiente para sustentar
a alma na santidade.

O PÃO DOS FORTES:

“Contudo, ele ordenou às nuvens do alto, e abriu as portas do céu: fez chover o maná para saciá-los, deu-lhes o
trigo do céu. Pôde o homem comer o pão dos fortes, e lhes mandou víveres em abundância.”
(Sl 77, 23-25)

O Senhor Deus fez chover pão no deserto, o “Pão dos Fortes”, ora, quem são os mais fortes dentre
nós, se não os santos, aqueles que fizeram da Eucaristia as suas vidas, que adentraram nas
moradas do castelo interior e nunca mais foram tocados pelo pecado?

A Eucaristia é o Pão dos Fortes. Ao longo da história da Igreja, vimos inúmeros exemplos do poder
da Eucaristia, um destes grandes momentos, é a vida de Marthe Robin, uma moça francesa nascida
em 1902, em plena Belle Éphoque atormentada desde a infância por uma doença desconhecida,
que lhe causava muitas dores, foi diagnosticada com encefalite, com o tempo ela ficou tetraplégica
perdendo todos os movimentos do corpo, incapaz de abrir a boca e de engolir qualquer coisa.
Falava muito pouco e com tremenda dificuldade, então, sem poder digerir nenhum alimento, seu
confessor por 50 anos, lhe deu o viático, que é a última refeição, a Comunhão Eucarística, e por
todo este tempo, este foi seu único alimento.

De fato, a Eucaristia é o Pão dos fortes. Marthe também perdeu a visão e permaneceu imóvel, sem
se alimentar, se não apenas da Eucaristia, porém, recebeu no corpo, as Chagas de Jesus, que nas
sextas-feiras vertiam sangue, além de que era duramente atormentada pelo demônio, que
fisicamente lhe batia, mesmo na frente dos padres e médicos, o único remédio era a Eucaristia. Em
6 de fevereiro de 1981, após 50 anos de martírio, ela morre, assassinada pelo próprio demônio. Ela
mesma havia dito ao seu confessor: “desta vez Deus permitirá que o demônio vá até o fim”

EUCARISTIA E O NOVO TESTAMENTO

“O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a
comunhão do corpo de Cristo?”
(1 Cr 10,16)

São Paulo escreveu este texto por volta do ano 55 d.C, e podemos concluir que apenas 25 anos
após a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, o cálice e o pão já era reconhecido como a real
comunhão do Corpo e Sangue do Senhor.

“Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois
de ter dado graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de
mim”. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: “Este cálice é a Nova
Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim”. Assim, todas as
vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, todo
aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do
Senhor. Que cada um se examine a si mesmo e, assim, coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o
come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação.”
(1 Cr 11,23-29)
208

O texto da Santa Missa, já é referenciado por São Paulo: “Tomai e comei: isto é o meu Corpo” e
já alertava para o perigo de comer o pão e beber do cálice de forma indigna, pois torna o receptor
“réu do corpo de Jesus” e “Quem come sem discernir o corpo, bebe para a própria condenação”.

OS SINÓTICOS E ATOS:

“Durante a refeição, Jesus tomou o pão e, depois de o benzer, partiu-o e deu-lho, dizendo: “Tomai, isto é o meu
corpo”. Em seguida, tomou o cálice, deu graças e apresentou-lho, e todos dele beberam. E disse-lhes: “Isto é o
meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos.”
(Mc 14,22-24) - (64 d.C)

“Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: “Tomai e comei, isto
é meu corpo”. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: “Bebei dele todos, porque isto é meu
sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados.”
(Mt 26,26-28) - (70 d.C)

“Pegando o cálice, deu graças e disse: “Tomai este cálice e distribuí-o entre vós. Pois vos digo: já não tornarei a
beber do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus”. Tomou em seguida o pão e depois de ter dado
graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim”. Do
mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear, dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue,
que é derramado por vós...”
(Lc 22,17-20) - (80 d.C):

A Fórmula Eucarística é referenciada pelos Sinóticos, mas também, em Lucas, apenas após a
Santa Missa, é que os discípulos de Emaús reconhecem Jesus no meio deles:

“Nesse mesmo dia, dois discípulos caminhavam para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém
sessenta estádios... Aproximaram-se da aldeia para onde iam e ele fez como se quisesse passar adiante. Mas
eles forçaram-no a parar: “Fica conosco, já é tarde e já declina o dia”. Entrou então com eles. Aconteceu que,
estando sentado conjuntamente à mesa, ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e serviu-lho. Então, se
lhes abriram os olhos e o reconheceram... mas ele desapareceu.”
(Lc 24,13. 28-31)

Em Atos, vemos a referência à Santa Missa, ao elencar as principais práticas dos cristãos da
Igreja primitiva:

“Perseveram eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações”.
(At 2,42)

O EVANGELHO DE S. JOÃO:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de
Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Nele havia vida, e a vida era a luz dos homens. A luz
resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. Houve um homem, enviado por Deus, que se
chamava João. Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio
dele. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. [O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao
mundo, ilumina todo homem. Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu. Veio
para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu
nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua
glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade.”
(Jo 1, 1-14) (95 d.C)

O “Último Evangelho” recitado ao final do Rito Antigo da Missa Latina.


209

ENTENDENDO JOÃO 6

Jo 6: Não há a descrição do rito eucarístico, mas sim, as bases da revelação para o Sacramento
(Mistério) da Eucaristia.

“Depois disso, atravessou Jesus o lago da Galileia (que é o de Tiberíades.) Seguia-o uma grande multidão,
porque via os milagres que fazia em benefício dos enfermos. Jesus subiu a um monte e ali se sentou com seus
discípulos. Aproximava-se a Páscoa, festa dos judeus. Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão
que vinha ter com ele e disse a Filipe: “Onde compraremos pão para que todos estes tenham o que
comer?”. Falava assim para o experimentar, pois bem sabia o que havia de fazer. Filipe respondeu-lhe:
“Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pedaço”. Um dos seus discípulos,
chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe: “Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois
peixes... mas que é isto para tanta gente?”. Disse Jesus: “Fazei-os assentar”. Ora, havia naquele lugar muita relva.
Sentaram-se aqueles homens em número de uns cinco mil. Jesus tomou os pães e rendeu graças. Em
seguida, distribuiu-os às pessoas que estavam sentadas, e igualmente dos peixes lhes deu quanto
queriam. Estando eles saciados, disse aos discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se
perca”. Eles os recolheram e, dos pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram, encheram doze cestos. À
vista desse milagre de Jesus, aquela gente dizia: “Este é verdadeiramente o profeta que há de vir ao
mundo”. Jesus, percebendo que queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a retirar-se sozinho para o monte.” (=
Mt 14,22-36 = Mc 6,47-53)

Jo 6, 1-15: Multiplicação dos “cinco pães e dois peixes” que culmina com o povo dizendo: “Este é
verdadeiramente o profeta que há de vir ao mundo.” Então: “Jesus, percebendo que queriam
arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a retirar-se sozinho para o monte”. Jesus mostra que tem o poder
de Deus, pois é capaz de tirar do nada algo. O que Jesus faz, é mais que milagre, é criação. Jesus
cria, do nada, pães e peixes.

“Chegada a tarde, os seus discípulos desceram à margem do lago. Subindo a uma barca, atravessaram o lago
rumo a Cafarnaum. Era já escuro, e Jesus ainda não se tinha reunido a eles. O mar, entretanto, se agitava,
porque soprava um vento rijo. Tendo eles remado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram Jesus que se
aproximava da barca, andando sobre as águas, e ficaram atemorizados. Mas ele lhes disse: “Sou eu, não
temais”. Quiseram recebê-lo na barca, mas pouco depois a barca chegou ao seu destino. No dia seguinte, a
multidão que tinha ficado do outro lado do mar percebeu que Jesus não tinha subido com seus discípulos na
única barca que lá estava, mas que eles tinham partido sozinhos. Nesse meio tempo, outras barcas chegaram
de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças. E, reparando a
multidão que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, entrou nas barcas e foi até Cafarnaum à sua
procura.”

Jo 6, 16-24: Os discípulos atravessam o lago, e Nosso Senhor, que estava sozinho, caminha sobre
as águas, e se encontra com os discípulos, e toda a multidão questiona: “Mestre, quando chegaste
aqui?” Após ter demonstrado que tem poder sobre a natureza do pão, demonstra ter poder
sobrenatural sobre seu próprio corpo.

“Encontrando-o na outra margem do lago, perguntaram-lhe: “Mestre, quando chegaste aqui?”. Respondeu-lhes
Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: buscais-me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos
pães e ficastes fartos. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a vida eterna, que o
Filho do Homem vos dará. Pois nela Deus Pai imprimiu o seu sinal”.”

Jo 6, 25-27: Nosso Senhor, está afirmando que dará uma comida diferente da que ele deu e que
veremos que também é diferente da que Moises deu ao povo no deserto.

“Perguntaram-lhe: “Que faremos para praticar as obras de Deus?” Respondeu-lhes Jesus: “A obra de Deus é esta:
que creiais naquele que ele enviou”. Perguntaram eles: “Que milagre fazes tu, para que o vejamos e creiamos
em ti? Qual é a tua obra? Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo o que está escrito: Deu-lhes de
210

comer o pão vindo do céu” (Sl 77,24). Jesus respondeu-lhes: “Em verdade, em verdade vos digo: Moisés não
vos deu o pão do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é o
pão que desce do céu e dá vida ao mundo”. Disseram-lhe: “Senhor, dá-nos sempre deste pão!”.”

Jo 6, 28-34: O Pão que Jesus promete, não é o pão multiplicado, como eles terminam pedindo
mais, e ainda o incitam, duvidando que ele possa fazer aquilo novamente, pois estavam
interessados na multiplicação dos pães, então, Jesus diz que nem o pão multiplicado e nem o maná
é o verdadeiro Pão do Céu, e afirma que o verdadeiro Pão de Deus, é o que desce dos Céus, ou
seja Ele mesmo, e diz isso claramente a seguir:

“Jesus replicou: “Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim
jamais terá sede. Mas já vos disse: Vós me vedes e não credes... Todo aquele que o Pai me dá virá a mim, e o
que vem a mim não o lançarei fora. Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele
que me enviou. Ora, esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum daqueles que
me deu, mas que os ressuscite no último dia. Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e
nele crê tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”. Murmuravam então dele os judeus, porque
dissera: “Eu sou o pão que desceu do céu”. E perguntavam: “Porventura não é ele Jesus, o filho de José, cujo
pai e mãe conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?”. Respondeu-lhes Jesus: “Não murmureis entre
vós. Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu hei de ressuscitá-lo no último dia. Está
escrito nos profetas: Todos serão ensinados por Deus (Is 54,13). Assim, todo aquele que ouviu o Pai e foi por ele
instruído vem a mim. Não que alguém tenha visto o Pai, pois só aquele que vem de Deus, esse é que viu o
Pai. Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais,
no deserto, comeram o maná e morreram. Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele
que dele comer.”

Jo 6, 35-50: Aqui, Jesus afirma ser Ele mesmo o “Pão descido do Céu” e afirma ter vindo do Céu.
Nisso a multidão questiona: “Porventura não é ele Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe
conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?” então o Senhor afirma: “Eu sou o pão da vida.”
E diz que os hebreus, comeram o maná e morreram e Ele conclui: “Este é o pão que desceu do
céu, para que não morra todo aquele que dele comer” falando de si mesmo. Ao dizer isso, afirma
ser ele literalmente o Pão vindo do Céu, pois bastaria dizer que é uma parábola, mas não diz, pelo
contrário, reafirma o que disse:

“Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de
dar, é a minha carne para a salvação do mundo”. A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo:
“Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?”.”

Jo 6, 51-52: Vem a grande virada, pois Jesus diz categoricamente: “E o pão, que eu hei de dar, é
a minha carne para a salvação do mundo” a estas palavras, os judeus ficam escandalizados e
dizem: “Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?” Aqui Jesus teve toda a
oportunidade para explicar, ou ainda o Evangelista poderia ter dito como faz em outros momentos,
que se tratava de uma parábola, mas ao contrário:

“Então, Jesus lhes disse: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e
não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.”

Jo 6, 53-54: Este texto é perturbador, pois Jesus exige, literalmente que seus seguidores, seus
discípulos e qualquer pessoa no mundo, se quiser ter a vida eterna, terá de comer de sua carne e
beber de seu sangue, não é uma simples alusão à antropofagia, mas é uma afirmação categórica.
A Locução “Em verdade, em verdade” confirma que o que Jesus está dizendo, é literal, ou Ele está
sugerindo a antropofagia do seu corpo, ou há um mistério muito grande, que de fato é, e é revelado
na Eucaristia.
211

“Pois a minha carne é verdadeiramente uma COMIDA e o meu sangue, verdadeiramente uma BEBIDA. Quem
COME a minha carne e BEBE o meu sangue permanece em mim e eu nele.”

Jo 6,55-56: O sentido das palavras é literal, não trata-se de uma parábola ou de um analogia:

Comer: Roer, Mastigar, Triturar, Ingerir.


Beber: Tomar, Engolir, Ingerir

Não se trata de “degustar”, tocar, tomar parte, conhecer, saber (de saborear) ...NÃO SE TRATA
DE UM SÍMBOLO, É LITERALMENTE COMER E BEBER.

Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne
viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram.
Quem come deste pão viverá eternamente”. Tal foi o ensinamento de Jesus na sinagoga de Cafarnaum.”

Jo 6, 57-59: Jesus conclui, reafirmando a necessidade de comer e beber de seu corpo e sangue e
“Quem come deste pão viverá eternamente”. Pois sem isso, não teremos a vida eterna.

“Muitos dos seus discípulos, ouvindo-o, disseram: “Isto é muito duro! Quem o pode admitir?”. Sabendo Jesus
que os discípulos murmuravam por isso, perguntou-lhes: “Isso vos escandaliza? Que será, quando virdes subir o
Filho do Homem para onde ele estava antes?... O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que
vos tenho dito são espírito e vida. Mas há alguns entre vós que não creem...”. Pois desde o princípio Jesus
sabia quais eram os que não criam e quem o havia de trair. Ele prosseguiu: “Por isso, vos disse: Ninguém pode
vir a mim, se por meu Pai não lho for concedido”. Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não
andavam com ele.”

Jo 6, 60-66: Os discípulos escandalizados diziam: “Isto é muito duro! Quem o pode admitir?” e
“Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele.” Jesus não
“desfez” a “confusão”, pois não se trata de não compreender uma “parábola”, mas os judeus, de
fato entenderam EXATAMENTE o que Jesus havia dito.

NOTA: Jesus tem uma pedagogia com os discípulos e com a multidão. Para a multidão, ele conta
uma parábola, e para os discípulos, ou seja, para os que seriam os 12 apóstolos e seus seguidores
mais próximos, ele explica o significado e sentido das parábolas, mas o que se segue, é
ESTARRECEDOR!

“Então, Jesus perguntou aos Doze: “Quereis vós também retirar-vos?”. Respondeu-lhe Simão Pedro: “Senhor,
a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de
Deus!”. Jesus acrescentou: “Não vos escolhi eu todos os doze? Contudo, um de vós é um demônio!...”. Ele se
referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, porque era quem o havia de entregar, não obstante ser um dos Doze.”

Jo 6, 67-71: É terrível, parece que até dá para ver o semblante de Nosso Senhor mudar, pois olha
para os discípulos, como se já O tivessem abandonado e já tivesse sido traído por Judas.
Praticamente os expulsa, e não muda uma única vírgula do que disse, e vai até o fim, até revelar
que um deles é um domônio. Porém, a fé de Pedro, a fé Eucaristia permanece, diante do discurso
do Pão da Vida, a única fé que permanece sem negar o que Nosso Senhor disse, é a fé Eucaristica
da Igreja.

A Igreja desde seu início professou a fé eucarística, a fé que apenas os católicos aceitam e
professam, a fé, negada pelos protestantes e por muitos que se dizem cristãos e até católicos
devotos. Esta é a fé que formou os santos, que nutre e sustenta a Igreja ao longo destes séculos,
pois a Presença Real de Nosso Senhor na Eucaristia é e sempre foi um sinal de contradição, uma
pedra de tropeço para os que não têm a fé apostólica.
212

A SANTA CEIA:

O Evangelho de João 13 a 17, é narrada a última Ceia, que é a Santa Missa Celebrada por Nosso
Senhor. São CINCO capítulos, em que Nosso Senhor institui dois Sacramentos, que é o Sacerdócio
Cristão (Ordem) e a Eucaristia. E todos os sete sacramentos nascem desta sublime celebração,
em que o Senhor diz:

“Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará. Até agora não
pedistes nada em meu nome. Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja perfeita.”
(Jo 16, 23b-24)

“Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviei recebe a mim; e quem me recebe recebe
aquele que me enviou”. Dito isso, Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente: “Em
verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de trair!...”. Os discípulos olhavam uns para os outros, sem
saber de quem falava. Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de
Jesus. Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: “Dize-nos, de quem é que ele fala”. Reclinando-se esse mesmo
discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o: “Senhor, quem é?”. Jesus respondeu: “É aquele a quem eu der o
pão embebido”. Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. Logo que ele o engoliu,
Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe, então: “O que queres fazer, faze-o depressa”. Mas ninguém dos que
estavam à mesa soube por que motivo lhe dissera. Pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus
lhe falava: “Compra aquilo de que temos necessidade para a festa”. Ou: “Dá alguma coisa aos pobres”. Tendo
Judas recebido o bocado de pão, apressou-se em sair. E era noite... Logo que Judas saiu, Jesus disse: “Agora é
glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará
em si mesmo, e o glorificará em breve.”

Jo 13, 20-32: Jesus afirma que quem o recebe, recebe o Pai e fica perturbado, e diz que um deles
é o traidor, a perturbação de Jeus é a mesma de João 6, pois agora, está para acontecer. A
perturbação do Senhor, é também por todos aqueles que no futuro iriam traí-lo, tomando da
Eucaristia de forma indigna, em pecado mortal ou para a profanação. Temos aqui, Deus, que fica
perturbado por ver a descrença e ingratidão de muitos de nós:

A COMUNHÃO SACRÍLEGA:

“Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que
venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável
do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo e, assim, coma desse pão e beba desse
cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria
condenação. Essa é a razão por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos.”

I Cor 11, 26-30: Comunhão sem o devido exame de consciência, nos torna culpáveis do Sangue
do Senhor, e assim, comungamos a nossa própria condenação. Jesus antevê a perdição de Judas
e de todos aqueles que apostatam da fé, exatamente por não crerem na Eucaristia.

O QUE É A SANTA MISSA?

A Santa Missa é a renovação incruenta (Sem sofrimento físico) do Sacrifício do Calvário. É o


mesmo e único sacrifício infinito de Cristo na Cruz, que foi solenemente instituído na Última Ceia.
Nesta cerimônia ímpar, Cristo é ao mesmo tempo vítima e sacerdote, se oferecendo a Deus para
pagamento dos pecados, e aplicando a cada fiel seus méritos infinitos. Na Santa Missa, se realiza
o que Nosso Senhor ordenou aos Discípulos...

“Fazei isso em memória de Mim”


(1 Cor 11,24)
213

A EUCARISTIA E A SAGRADA TRADIÇÃO

Didaqué [instrução dos doze apóstolos] (80 ou 90 d.C):

“Celebrem a Eucaristia deste modo: Digam primeiro sobre o cálice: Nós te agradecemos Pai nosso,
por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos revelaste por meio do teu servo Jesus. A ti a
glória para sempre. Depois digam sobre o pão partido: Nós te agradecemos Pai nosso, por causa da
vida e do conhecimento que nos revelaste por meio do teu servo Jesus. A ti a glória para sempre. Do
mesmo modo como este pão partido tinha sido semeado sobre as colinas, e depois recolhido para
se tornar um, assim também a tua Igreja seja reunida desde os confins da terra no teu reino, porque
tua glória e o poder, por meio de Jesus Cristo, para sempre. Ninguém coma nem beba da Eucaristia,
se não tiver sido batizado em nome do Senhor, porque sobre isso o Senhor disse: Não deem as coisas
santas aos cães” (Didaqué 9,1-5).

Santo Inácio de Antioquia (107):

“Sobretudo se o Senhor me revelar que cada um e todos em conjunto, na graça que provém do seu
nome, vos reunireis na mesma fé em Jesus Cristo da descendência de Davi segundo a carne, filho de
homem e filho de Deus, para obedecer aos bispos e ao presbitério, em concórdia estável, partindo o
mesmo pão, que é remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, mas para viver em Jesus
Cristo para sempre”. (Aos Efésios 20,1-2).

“Não sinto prazer pela comida corruptível, nem me atraem os prazeres dessa vida. Desejo o pão de
Deus, que é a carne de Jesus Cristo, da linhagem de Davi, e por bebida desejo o sangue dele, que é o
amor incorruptível”. (Aos Romanos 7,3).

“Eles se afastam da eucaristia e da oração, porque não professam que a eucaristia é a carne de nosso
Salvador Jesus Cristo, que sofreu por nossos pecados e que, na sua bondade, o Pai ressuscitou. Desse
modo, aqueles que recusam o dom de Deus, morrem nas suas disputas”. (Aos Esmirniotas 7,1).

São Justino de Roma (100 a 160 d.C.)

“Deus, portanto, testemunha que lhe são agradáveis todos os sacrifícios que lhe são oferecidos em
nome de Jesus Cristo, os sacrifícios que este nos mandou oferecer, isto é, os da Eucaristia do pão e
do vinho, que os cristãos celebram em todo lugar da terra (…). São justamente apenas esses que os
cristãos aprenderam a oferecer na comemoração do pão e do vinho, na qual se recorda a paixão
que o Filho de Deus sofreu por eles”. (Diálogo com Trifão 117,1.3)

Santo Irineu de Lião (130 a 202 d.C)

“Quanto a nós, nossa maneira de pensar está de acordo com a Eucaristia e a Eucaristia confirma
nossa doutrina. Pois lhe oferecemos o que já é seu, proclamado, como é justo, a comunhão e a
unidade da carne e do Espírito. Assim como o pão que vem da terra, ao receber a invocação de Deus,
já não é pão comum, mas a Eucaristia, feita de dois elementos, o terreno e o celeste, do mesmo modo
os nossos corpos, por receberem a Eucaristia, já não são corruptíveis por terem a esperança da
ressurreição”. (Contra as Heresias [IV livro] 18,5)

Orígenes (184 a 253 d.C)

“Quanto a nós, se não abraçarmos de boa vontade as prodigiosas riquezas de Nosso Senhor, o
maravilhoso mobiliário de sua palavra, a abundância de seus ensinamentos, se não comermos o
pão da vida, se não nos nutrirmos da carne de Jesus e não bebermos o sangue de seu sacrifício, se
desprezarmos o banquete de Nosso Salvador, devemos saber que Deus pode ter -tanto bondade
quanto severidade”. (Homilia 38; capítulo 6)
214

Santo Agostinho (354 a 430 d.C)

“Portanto, o que se reza na celebração da Eucaristia: Corações ao alto! (prefácio) é dádiva do Senhor.
E os fiéis são convidados a agradecer ao nosso Deus, quando do sacerdote vem o convite e
respondem: É nosso dever e nossa salvação. Pois, como nosso coração não está em nosso poder para
subir a Deus, mas é ajudado pelo seu auxílio, cada um procure as coisas do alto, onde Cristo está
sentado à direita de Deus (Cl 3,1).” (O Dom da Perseverança; 13,33).

A EUCARISTIA E OS SANTOS

“Seria mais fácil o mundo sobreviver sem o Sol, do que sem a Santa Missa” (Santo Padre Pio)

“Deu-se todo não reservando nada para si”. “Não comungar seria o maior desprezo a Jesus que se
sente “doente de amor”. (São João Crisóstomo)

“Duas espécies de pessoas devem comungar com frequência: os perfeitos para se conservarem
perfeitos, e os imperfeitos para chegarem à perfeição”. (São Francisco de Sales)

“Quando Jesus está presente corporalmente em nós, ao redor de nós, montam guarda de amor os
anjos”. (São Bernardo de Claraval; 1090-1153, doutor da Igreja)

“Ficai certos de que todos os instantes da vossa vida, o tempo que passardes diante do Divino
Sacramento será o que vos dará mais força durante a vida, mais consolação na hora da morte e
durante a eternidade”. (Santo Afonso Maria de Ligório)

A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas
contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja. (São João Paulo II, Papa)

REQUISITOS PARA SE RECEBER A COMUNHÃO:

1. Estado de Graça: Arrependimento dos pecados e se possível confissão Sacramental.

2. Jejum Eucarístico: Não se come nada uma hora antes da comunhão e nem 15 minutos após a
comunhão.

3. Perdoar os inimigos: A comunhão Eucarística, física ou espiritual, faz-se necessário perdoar e


pedir perdão, a todos os que temos alguma mágoa, antes de se comungar.

4. Não estar em estado de EXCOMUNHÃO: Profanação das espécies sagradas; Violência física
contra o Papa; Absolvição por um sacerdote do cúmplice do pecado da carne; Consagração ilícita
de um bispo sem mandato pontifical; Violação direta do segredo da Confissão pelo confessor;
Apostasia; Heresia; Cisma; Aborto. (ferendae sententiae e latae sententiae)
215

TIPOS DE COMUNHÃO:

1. Física:

Efetivamente a pessoa recebe o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo,
mas está desatenta, não tem devoção, então, mesmo ela recebendo a maior de todas as graças,
será uma comunhão sem frutos, e até poderá ser uma comunhão sacrílega, dependendo do grau
de indiferença;

2. Espiritual:

É o que mais importa em uma comunhão: a comunhão espiritual. Muitos que estão impedidos de
receber a Eucaristia, por algum motivo, seja até mesmo por pecado, apenas por se abster de
comungar, para não cometer um sacrilégio, não ficarão sem a recompensa da conversão, pois
Deus não se deixa vencer e generosidade;

3. Físico/Espiritual:

É o ideal, a comunhão física e espiritual. Lembrando que só se deve comungar no máximo duas
vezes no dia, e quem participa da Missa, não pode comungar nas celebraçãos da Palavra onde é
distribuída a Eucaristia pelos ministros extraordinários.

Devoção Eucarística: Na comunhão, nos encontramos com TODOS os membros da Igreja! Deus
está fisicamente presente no corpo do comungante. Não é a Eucaristia “transformada” em corpo
humano, mas o ser humano, que é “transformado” no que comunga.

TRANSUBSTANCIAÇÃO:

“O Concílio de Trento resume a fé católica declarando:“Porque Cristo, nosso Redentor, disse que o que Ele oferecia sob
a espécie do pão era verdadeiramente o seu corpo, sempre na Igreja se teve esta convicção que o sagrado Concílio de
novo declara: pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância do pão na substância do
corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue; a esta mudança, a Igreja
católica chama, de modo conveniente e apropriado, transubstanciação.” (CatIC 1376)

“Quanto ao pão de trigo com que se realiza o sacramento, absolutamente não importa que tenha sido feito no mesmo
dia ou anteriormente; enquanto permanecer a substância do pão, não há dúvida alguma de que, depois das
mencionadas palavras da consagração, pronunciadas pelo sacerdote com a intenção de realizar o sacramento,
ele será logo transubstanciado no verdadeiro corpo de Cristo.” (Papa Calisto III: Constituição “Regimini universalis”)

MILAGRES EUCARÍSTICOS

1. Lanciano (Itália; 700d.C.)

Este milagre aconteceu no Mosteiro de S. Legoziano, dos monges de S. Basílio. Foi submetido à
análise científica do Dr. Odoardo Linoli, (Chefe de Serviço dos Hospitais Reunidos de Aresto e livre
docente de anatomia e histologia patológica e de química e microscopia clínica) e pelo Dr. Ruggero
Bertelli, (prof. Emérito de anatomia humana normal na universidade de Sena). Resultados:
Relatório de 4 de março de 1971:

1 – A carne é verdadeira carne.


2 – O sangue é verdadeiro sangue.
3 – A carne é do tecido muscular do coração (miocárdio, endocárdio, nervo vago).
216

4 – A carne e o sangue são do mesmo tipo AB e pertencem à espécie humana. Obs: é o mesmo
tipo de sangue encontrado no Sudário de Turim.
5 – Trata-se de carne e sangue de uma pessoa viva, pois que esse sangue é o mesmo que tivesse
sido retirado, naquele mesmo dia de uma pessoa viva.
6 – No sangue foram encontrados, além das proteínas normais, os seguintes minerais: cloretos,
fósforos, magnésio, potássio, sódio e cálcio.
7 – A conservação da Carne e do Sangue, deixados em estado natural por 12 séculos e expostos
à ação de agentes atmosféricos e biológicos, permanece um fenômeno extraordinário.

Disseram os cientistas aos frades: “E o Verbo se fez Carne!”

2. Orvieto (Bolsena, Itália; 1263)

Jesus tinha pedido à Beata Juliana de Cornillon (1258) a introdução da festa de “Corpus Domini”
no calendário litúrgico da Igreja. O Pe. Pedro de Praga, da Boêmia, celebra uma Missa na cripta de
Santa Cristina, em Bolsena, e então, ocorre o milagre: da hóstia consagrada caem gotas de sangue
sobre o corporal… O Papa Urbano IV (1262-1264), residia em Orvieto e ordena ao Bispo Giacomo
levar as relíquias de Bolsena a Orvieto. O Papa emitiu a bula Transiturus de hoc mundo, em
11/08/1264, onde prescreveu que na 5ª feira após a oitava de Pentecostes, seja celebrada a festa
em honra do Corpo do Senhor. Santo Tomás de Aquino foi encarregado pelo Papa para compor o
Ofício da celebração. Em 1290 foi construída a Catedral de Orvieto, chamada de “Lírio das
Catedrais”.

Um milagre Eucarístico, existe para ser apreciado, não para ser comungado! Só há Eucaristia
quando há TRANSUBSTANCIAÇÃO e não quando há transformação.
217

5º. PARTE: QUEM É JESUS?


QUEM É O JESUS QUE ADORAMOS?

“No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?” (Mt 16,13); Quem dizem os homens que eu sou?
(Mc 8, 27) “Quem dizem que eu sou?” Lc 9,18)

“A idolatria provém da primazia dos interessas. As pessoas preocupadas com seus interesses
manipulam a religião e acabam forjando deuses que representem e justifiquem seus interesses.
Assim fizeram os próprios judeus. E assim podem fazer também os cristãos, através do mecanismo
de silenciar os aspectos fundamentais de Deus e deformar outros. Pode-se transformar até mesmo
Cristo em um ídolo, desta forma.” (J. Comblin).

Nossa dimensão psico-afetiva por vezes é complicada, criamos sentimentos que não são
motivados pelos sentidos, tememos hipóteses e cituações que mais parecem fantasmas,
imaginamos fantasias desagradáveis que nos causam ansiedades, e por fim, terminamos adorando
um “deus” que tem o nome de Jesus, mas não é Jesus.

Ao perguntar aos discípulos, quem Ele é, Nosso Senhor quer averiguar se nenhum dos discípulos
está fazendo um ídolo em sua imaginação, um fantasma, uma caricatura Dele. E vimos que todos
estavam. Apesar de São Pedro professar a fé em resposta, sabemos que no Horto das Oliveiras,
eles O abandonam, Judas O trai e Simão O nega três vezes.

EU ADORO A DEUS OU UM ÍDOLO?

A janela de Johari foi criada por Joseph Luft e


Harrington Ingham na década de 50, a junção
do nome dos dois, forma o termo Johari.

A esquerda na vertical, temos os outros, na


horizontal, temos “eu”. Então temos na vertical,
“reconhecem e desconhecem” e na horizontal,
temos “reconheço e desconheço”, formando
quatro tipos de “Eu”.

O “Eu secreto”, é o que apenas eu reconheço de mim mesmo e que os outros, desconhecem; O
“Eu aberto”, é o que eu reconheço e que os outros reconhecem sobre mim; O “Eu cego”. É o que
eu desconheço de mim, mas que todos reconhecem; e o “Eu desconhecido” é o que todos inclusive
eu, desconheço sobre mim mesmo.

Assim, até do que “nós somos” nós só conhecemos em primeira mão, 50%, se quisermos conhecer
um pouco mais, ou seja, 75%, é preciso que contemos com a ajuda dos outros, mas mesmo assim,
ainda temos 25% do que “nós somos”, que absolutamente nós desconhecemos.

Isso se aplica aos outros também, somos capazes de conhecer 50% das pessoas, em primeira
mão, se quiseremos conhecer um pouco mais, ou seja, 75%, é preciso que as pessoas nos contêm,
mas mesmo convivendo e sabendo tudo o que a pessoa pode nos revelar de si mesmas,
terminaremos desconhecendo 25% das pessoas.

Nosso Senhor é uma pessoa, é um ser humano, que nasceu há 2000 anos, eu não conheço Sua
aparência, não conheço a Sua vóz, não sei dos Seus trejeitos, como posso conhecer alguém que
eu não vejo?
218

É aí que está a beleza da coisa. Os discípulos de Jesus conviveram com Ele, e por isso,
encontraram uma grande dificuldade de admitir quem é Jesus. São Pedro proclamou a fé:

“Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!”. Jesus, então, lhe disse: “Feliz és, Simão, filho de
Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus.”
(Mt 16, 16-17)

São Pedro não estava vendo a resposta, ele recebeu do Pai a Revelação de quem é Jesus, assim,
até para os discípulos, a pessoa de Jesus permaneceu um mistério, até a sua Ressurreição, na
verdade, permaneceu um mistério até a descida do Espírito Santo em seus coraçãoes.

Nós, que não O conhecemos pessoalmente, digamos assim, só podemos conhecê-Lo,


espiritualmente. Mas usar o termo “só podemos conhecê-Lo espiritualmente”, não está correto, pois
conhecer alguém espiritualmente, não é “só”. Na verdade, o conhecimento espiritual é TUDO o que
se pode conhecer de alguém, pois:

“A presença física, é a mais pobre das presenças” (Pe. Léo)

Vamos lembrar, que este nosso corpo, muitas vezes esconde quem somos realmente. Ao vermos
uma mulher ou um homem nu, nós paramos no corpo, na sensualidade das formas, e não
adentramos na profundidade daquele ser. É possível conhecer fisicamente a pessoa, mas quando
nos deparamos espiritualmente com aquela pessoa, não a reconhecemos, e foi exatamente isso
que aconteceu aos discípulos de Emaús.

“Enquanto iam conversando e discorrendo entre si, o mesmo Jesus aproximou-se deles e caminhava com
eles. Mas os olhos estavam-lhes como que vendados e não o reconheceram.”
(Lc 24, 15-16)

PARA CONHECER JESUS:

Que tristeza seria, quando chegássemos no Céu, no dia do nosso julgamento, e não
reconhecêssemos Nosso Senhor. Não o reconhecêssemos justamente porque cultuávamos um
ídolo. E por que conhecemos um ídolo? Porque não nos aprofundamos. É fácil conhecer Jesus
fisicamente. Quem comunga, já o conheceu fisicamente, quem estuda sobre a sua vida, pesquisa
o Catecismo, lê as Sagradas Escrituras, este, está procurando conhecer a dimensão psicoafetiva
de Nosso Senhor. E quem reza, quem passa um tempo em oração todos os dias, este conhece
espiritualmente Nosso Senhor.

“É pela vossa constância que alcançareis a vossa salvação.”


(Lc 21,19)
As cinco pedrinhas, são instrumentos que nos ajudam a conhecer cada vez mais Nosso Senhor,
em todas as suas dimensões: Fisica, Psico-Afetiva e Espiritual; conhecendo-O como Homem e
como Deus; participando de sua Natureza Divina; mudando nossa vida; nos convertendo todos os
dias; caminhando nesta vida, apesar das dificuldades, apesar das facilidades de nos perder e sendo
constante no propósito, numa determinada determinação, em conhecê-Lo cada vez mais e mais...

QUEM DIZ SER JESUS?


“o pão da vida” (Jo 6, 35. 48), “a luz do mundo” (Jo 8,12 e 9,5), “lá de cima” (Jo 8,23), “Antes que Abraão existisse, eu
sou” (Jo 8,58), “a porta” (Jo 10,9), “o bom pastor” (Jo 10,11. 14), “a ressurreição e a vida” (Jo 11,25) “a videira
verdadeira” (Jo 15,1), “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6) “Rei” (Jo 18,37) “manso e humilde de coração” (Mt
11,29) “o Filho de Deus” (Lc 22,70), “Jesus de Nazaré” (At 22,8), “O Alfa e o Ômega... aquele que é, que era e que vem,
o Dominador” (Ap 1,8), “aquele que sonda os rins e os corações” (Ap 2,23) “o Começo e o Fim” (Ap 21,6), “a raiz e o
descendente de Davi, a estrela radiosa da manhã” (Ap 22,16).
219

DISSE-LHES JESUS:

“Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15; Mc 8,29; Lc, 9,20)
Nós cremos e confessamos que Jesus de Nazaré, judeu nascido duma filha de Israel, em Belém, no
tempo do rei Herodes o Grande e do imperador César Augusto, carpinteiro de profissão, morto
crucificado em Jerusalém sob o procurador Pôncio Pilatos no reinado do imperador Tibério, é o Filho
eterno de Deus feito homem; que Ele «saiu de Deus» (Jo 13, 3), «desceu do céu» (Jo 3, 13; 6, 33) e
«veio na carne», porque «o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que
Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade [...] Na verdade, foi da sua
plenitude que todos nós recebemos, graça sobre graça» (Jo 1, 14, 16). (CatIC 423)

«No coração da catequese, encontramos essencialmente uma Pessoa: Jesus de Nazaré, Filho único
do Pai [...], que sofreu e morreu por nós e que agora, ressuscitado, vive conosco para sempre [...].
Catequizar [...] é revelar, na Pessoa de Cristo, todo o desígnio eterno de Deus [...]. É procurar
compreender o significado dos gestos e das palavras de Cristo e dos sinais por Ele realizados». O fim
da catequese é «pôr em comunhão com Jesus Cristo: somente Ele pode levar ao amor do Pai, no
Espírito, e fazer-nos participar na vida da Santíssima Trindade». (CatIC 426)

«Na catequese, é Cristo, Verbo Encarnado e Filho de Deus, que é ensinado; tudo o mais é-o em
referência a Ele. E só Cristo ensina. Todo e qualquer outro o faz apenas na medida em que é seu
porta-voz, consentindo em que Cristo ensine pela sua boca [...]. Todo o catequista deveria poder
aplicar a si próprio a misteriosa palavra de Jesus: "A minha doutrina não é minha, mas d'Aquele que
Me enviou" (Jo 7, 16)». (CatIC 427)

Quando nos perguntarem, quem é o seu Deus, nossa resposta deve ser o Credo. O credo contém
o mínimo e a plenitude da revelação. Ali está contido todos os artigos de nossa fé, conhecer o
credo, não é apenas recitá-lo, é aprofundarmos nele, e a catequese, a catequese “de nós, para nós
mesmos” é o que irá fazer isso em nossas vidas, somos em primeiro lugar, catequistas de nós
mesmos.
DOGMAS SOBRE JESUS CRISTO:
1. Jesus é Deus:

Jesus Cristo é verdadeiro Deus e filho de Deus por essência: Quando dizemos que Jesus é
Deus, não estamos dizendo metaforicamente, ou em sentido figurado, estamos afirmando
literalmente que Jesus Cristo, Jesus de Nazaré, é realmente Deus que fez-se homem. Ele é o autor
de nossas vidas e o único ao qual devemos obedecer e por Ele devemos viver e morrer.
2. Possui duas naturezas:
Jesus possui duas naturezas que não se transformam nem se misturam: Por outro lado, Jesus
Cristo é realmente homem, não é um semi-deus e não se trata de um teomorfismo em que um
determinado deus assume uma forma humana para realizar algo e depois desaparece, nas
mitologias antigas isso tudo é muito comum, porém, Jesus é Deus e decidiu nascer, viver, crescer,
se alimentar, teve necessidades fisiológicas, teve sentimentos, emoções, caiu, se machucou, foi
contrariado, teve de aprender a falar, a andar, a ler, a trabalhar para se sustentar, Ele é igual a nós
em tudo, exceto no pecado, pois Ele não pecou.

3. Duas vontades unidas:

Cada uma das duas naturezas em Cristo possui uma própria vontade física e uma própria
operação física: A Natureza Divina, não elimina a Natureza humana, são duas naturezas, porém,
em profunda sintonia, o que a Natureza Divina de Jesus deseja, a Natureza humana de Jesus quer
e realiza e vice-versa.
220

4. Jesus é Homem:

Jesus Cristo, ainda que homem, é Filho natural de Deus: Dizer que Jesus é “Filho Natural de
Deus” significa afirmar que Ele não é mesmo Filho de Deus, quando muitas vezes se ouve nas
Escrituras, dizendo que este ou aquele é “filho de Deus”, trata-se de uma analogia, porém, quando
isto é dito de Jesus, então, tem-se um dado da realidade, é literal, Jesus é Gerado pelo Pai no
Espírito, sendo Ele filho legítimo de Deus, cuja natureza com o Pai e o Espírito é a mesma.

5. Ele é o Santo Sacrifício:

Cristo imolou-se a si mesmo na cruz como verdadeiro e próprio sacrifício: Jesus ofereceu-se
em sacrifício, ele assumiu sobre si as nossas culpas e literalmente morreu. Não foi um teatro em
que Deus “fingiu” que morreu, Ele por ser Humano, perdeu a vida física, e não apenas isso, sua
alma imortal, desceu aos infernos e de lá, trouce os justos que lá estavam, pois o Céu, estava
fechado ao ser humano, mas não para Deus, por isso, sendo Ele Deus, é o único capaz de abrir o
Céu para o próprio ser humano, que é Ele mesmo.

6. Ele é o Salvador da Humanidade:

Cristo nos resgatou e reconciliou com Deus por meio do sacrifício de sua morte na cruz:
Antes da Paixão e Morte do Senhor, o ser humano era inimigo de Deus, ele possuía um único
destino, independentemente de sua “justiça”, sendo assim, por mais santo que foi Abraão, Moisés,
Elias, Isaias, Daniel, Davi ou os mártires do AT, todos eles eram destinados ao Inferno, ou, ao que
o próprio Jesus chamou de Seio de Abraão.

Mas nós também, todos os seres humanos, de todas as épocas, línguas, países são dignos do
inferno, pois estão em pecado, portanto, toda a humanidade deveria padecer a inimizade com
Deus, mas com o Sacrifício de Jesus, e pela forma da Igreja e dos Sacramentos deixados por Ele,
nós podemos ter acesso a Salvação e assim, nos tornarmos amigos e filhos adotivos de Deus, co-
herdeiros de Cristo de sua herança eterna que é a Visão Beatífica de Deus.

7. Ele morreu e ressuscitou:

Ao terceiro dia depois de sua morte, Cristo ressuscitou glorioso dentre os mortos: Nosso
Senhor Jesus Cristo, o Verbo encarnado, depois de sua vida pública, foi condenado a morte por
dizer-se Deus, foi torturado, crucificado e morto, uma vez morto foi sepultado e ao terceiro dia, no
primeiro dia da Semana, posteriormente chamado de Domingo, que significa “o dia do Senhor”,
ressuscitou dos mortos, sem nenhuma intervenção humana, se não unicamente pela força e desejo
Divino.

8. Subiu aos Céus, em corpo e alma:

Cristo subiu em corpo e alma aos céus e está sentado à direita de Deus Pai: Uma vez
ressuscitado, tendo aparecido aos seus discípulos e confirmado o seu ministério e Igreja nascente,
tendo sido tocado e ouvido pelas mais de 500 testemunhas, subiu aos Céus em uma ascensão
gloriosa, em corpo e alma, e se encontra sentado a direita de Deus Pai.
221

6º. PARTE: CREIO NA COMUNHÃO DOS SANTOS


Uma vez que tomamos conhecimento de quem é Nosso Senhor Jesus Cristo e a obra de sua
Salvação, uma consequência maravilhosa desta obra, é o que a Igreja chama de “Comunhão dos
Santos” e eis como a Igreja a define:

“Depois de ter confessado "a santa Igreja católica", o Símbolo dos Apóstolos acrescenta "a comunhão
dos santos". Este artigo é, de certo modo, uma explicitação do anterior: "Que é a Igreja, se não a
assembleia de todos os santos?" comunhão dos santos é precisamente a Igreja.”

"Uma vez que todos os crentes formam um só corpo, o bem de uns é comunicado aos outros... Assim,
é preciso crer que existe uma comunhão dos bens na Igreja. Mas o membro mais importante é Cristo,
por ser a Cabeça... Assim, o bem de Cristo é comunicado a todos os membros, e essa comunicação
se faz por meio dos sacramentos da Igreja." Como esta Igreja é governada por um só e mesmo
Espírito, todos os bem que ela recebeu se tornam necessariamente um fundo comum.”

“O termo "comunhão dos santos" tem, pois, dois significados intimamente interligados: "comunhão
nas coisas santas (sancta)" e "comunhão entre as pessoas santas (sancti)".

"Sancta sanctis!" (o que é santo para os que são santos): assim proclama o celebrante na maioria
das liturgias orientais no momento da elevação dos santos dons, antes do serviço da comunhão. Os
fiéis (sancti) são alimentados pelo Corpo e pelo Sangue de Cristo (sancta), a fim de crescerem na
comunhão do Espírito Santo (Koinonia) comunicá-la ao mundo.” (CatIC 946 a 948)

“Comunhão, porque é por este sacramento que nos unimos a Cristo, que nos torna participantes de
seu Corpo e de seu Sangue para formarmos um só corpo; denomina-se ainda as "coisas santas: ta
hagia (pronuncia-se "ta háguia" e significa "coisas santas"); sancta (coisas santas" este é o sentido
primeiro da "comunhão dos santos" de que fala o Símbolo dos Apóstolos pão dos anjos, pão do céu,
remédio de imortalidade, viático...” (CatIC 1331)

Todos os batizados, tem em sua vocação original, a virtude da santidade. Somos todos convocados
por Deus, movidos pela Graça (Atual), correspondendo com nossa humanidade, a cooperar com a
Graça (Santificante), e assim, sermos integrados na Visão Beatífica pelos méritos de Nosso Senhor
Jesus Cristo em Sua Paixão, Morte e Ressurreição e enfim, alcançarmos a Visão Beatífica.

PELOS MÉRITOS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Todas as Graças, sejam as Atuais ou Habituais, dons, prodígios, milagres e carismas provém dos
méritos infinitos de Nosso Senhor:

“Mas a função maternal de Maria para com os homens, de modo algum ofusca ou diminui a
mediação única de Cristo, mas antes manifesta a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salutar da
Virgem santíssima [...] deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na sua mediação e dela
depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia.” “Efetivamente, nenhuma criatura pode ser
equiparada ao Verbo Encarnado e Redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado
de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, sendo uma só,
se difunde variamente pelos seres criados, assim também a mediação única do Redentor não exclui,
antes suscita nas criaturas, uma cooperação variada, que participa dessa fonte única.” (CatIC 970)

“Quando a Igreja, no ciclo anual, faz memória dos mártires e dos outros santos, “proclama o mistério
pascal” realizado naqueles homens e mulheres que “sofreram com Cristo e com Ele foram
glorificados, propõe aos fiéis os seus exemplos, que a todos atraem ao Pai por Cristo, e implora, pelos
seus méritos, os benefícios de Deus”.” (CatIC 1173)
222

O QUE É MÉRITO?

Nos vem então a questão: O que é mérito? Para entendermos, vejamos o exemplo e a analogia do
soldado que vai ao campo de batalha, e arrisca a própria vida pela vitória, o que ele merece? Ora,
ele é merecedor do seu salário, pois é para isso que está sendo pago.

Porém, se um soldado que faz o mesmo, mas ainda, salva a vida de outros companheiros ou se
torna peça-chave na conquista de algum alvo militar, o que ele merece? Merece, além do salário,
uma medalha de “honra ao mérito”. Ao mérito de ter salvado vidas ou de ter feito algo além do que
lhe foi pedido.

A vida de Nosso Senhor, é ela inteira MERITÓRIA! Desde a Sua encarnação, vida, paixão, morte,
ressurreição e Ascenção. E por quê? Porque Ele é Deus, Ele não precisava de nada disso, Ele fez
algo além até do que é esperado de Deus. Em Jesus, Deus é Homem, o Criador se torna Criatura,
e eleva a criatura a tornar-se Deus, e já não são dois, mas apenas um:

PARA QUE TODOS SEJAM UM:

“Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. Para que
todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o
mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu
neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os
amaste, como amaste a mim. Pai, quero que, onde eu estou, estejam comigo aqueles que me deste, para
que vejam a minha glória que me concedeste, porque me amaste antes da criação do mundo. Pai justo, o
mundo não te conheceu, mas eu te conheci, e estes sabem que tu me enviaste. Manifestei-lhes o teu nome, e
ainda hei de lhes manifestar, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles.”
(Jo 17, 20-26)

Este texto é maravilhoso, vemos Nosso Senhor interceder por nós junto ao Pai, usando sua posição
de pontífice, rogando para que todos sejamos um, e ainda para que onde Ele estiver, aqueles que
o ouvires, estejam com Ele. Ora, quem ouve a Igreja, ouve Nosso Senhor, então, onde está o
Senhor, aí está os que o ouvem. Esta ideologia de que as pessoas quando morrem, estão
dormindo, não tem cabimento algum, pois, Ele pediu para que os que viveram em santidade,
estivessem com Ele, ou será que o Pai não irá atender um pedido do Filho?

A Igreja ensina que após a morte, sobrevive a nossa alma imortal, criada à imagem de Deus, e é
nela que estão as nossas faculdades, como a Inteligência, a vontade, a memória e a consciência.
O nosso “eu humano” subsiste. Portanto, ninguém permanece “dormindo” após a morte. A narrativa
de Jesus, na parábola do “Rico Epulão e do Pobre Lázaro” mostra esta realidade:

“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho finíssimo, e que todos os dias se banqueteava e se
regalava. Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do
rico. Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico... Até os cães iam
lamber-lhe as chagas. Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu
também o rico e foi sepultado. E, estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe,
Abraão e Lázaro no seu seio. Gritou, então: Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em
água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas
chamas. Abraão, porém, replicou: Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males;
por isso, ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento. Além de tudo, há entre nós e vós um grande
abismo, de maneira que os que querem passar daqui para vós não o podem, nem os de lá passar para cá. O
rico disse: Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para lhes
testemunhar que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos. Abraão respondeu: Eles lá
têm Moisés e os profetas; ouçam-nos! O rico replicou: Não, pai Abraão; mas, se for a eles algum dos mortos, se
223

arrependerão. Abraão respondeu-lhe: Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão
convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos.”
(Lc 16, 19-31)

“A Escritura denomina a Morada dos Mortos, para a qual Cristo morto desceu, de os Infernos, o
sheol ou o Hades, Visto que os que lá se encontram estão privados da visão de Deus. Este é, com
efeito, o estado de todos os mortos, maus ou justos, à espera do Redentor que não significa que a
sorte deles seja idêntica, como mostra Jesus na parábola do pobre Lázaro recebido no "seio de
Abraão". "São precisamente essas almas santas, que esperavam seu Libertador no seio de
Abraão, que Jesus libertou ao descer aos Infernos". Jesus não desceu aos Infernos para ali libertar
os condenados nem para destruir o Inferno da condenação, mas para libertar os justos que o haviam
precedido.” (CatIC 633)

DORMINDO OU ACORDADO?

Jesus nos revela muitas coisas nesta parábola, a primeira delas é que Abraão, Lázaro e o rico
epulão, que mesmo mortos, não estão dormindo. Segundo que quem morria em justiça, antes da
ressurreição do Senhor, não estava condenado ao inferno, mas estava em sofrimento, o que pode
ser comparado ao inferno, pois não gozavam ainda da Visão Beatífica. Uma outra coisa, é que
havia um abismo, uma divisão entre os que estavam no tormento eterno, como o rico epulão e
quem estava no “seio de Abraão” como o pobre Lázaro. Esta divisão é insuperável, apesar de terem
contato um com o outro.

Quando Nosso Senhor morre, Ele desce ao Seio de Abraão, e retira todos os justos de lá, e os leva
para o Céu. Pergunta, será que uma vez que vão para o Céu, e não dormiam no Seio de Abraão,
irão dormir nos Braços do Pai?

“Na ressurreição, os homens não terão mulheres nem as mulheres, maridos; mas serão como os anjos de
Deus no céu. Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos disse: Eu sou o Deus de Abraão, o
Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Ex 3,6)? Ora, ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos”.”
(Mt 22, 30-32)

Quando Nosso Senhor fala sobre Abraão, Isaac e Jacó, diz que Deus, é Deus deles, mas eles
estão mortos, e se estão mortos, como podem estar vivos? Muito simples, eles estavam no “Seio
de Abraão”, que é um “lugar” para onde iam os que ainda não estavam diante de Deus, mas já
estavam salvos, pois nenhum dos patriarcas estava na Visão Beatífica, fatalmente estamos diante
da realidade do purgatório. Importa ainda percebermos, que no Céu, “seremos como os anjos” e
os anjos não dormem, pois são puro espírito. Quando formos aprender sobre os Novíssimos, iremos
nos aprofundar mais sobre estas realidades, por hora, é importante compreender como as
ideologias de “dormissão” são falsas.

REENCARNAÇÃO:

A Carta aos Hebreus diz que:

“Está determinado que cada um morra uma única vez e em seguida vem o juízo”
(Hb 9,27).

Isto é, ninguém morrerá duas vezes, a não ser aqueles que, por milagre, foram ressuscitados, como
São Lázaro, a filha de Jairo e o filho da viúva de Naim. Os que morrem na amizade de Deus e estão
perfeitamente purificados, imediatamente vão para o céu e participam da visão beatifica de Deus,
na companhia da Virgem Maria, dos anjos e dos santos, é a Igreja Tiunfante. Os que morrem na
graça e na amizade de Deus, mas não estão totalmente purificados, já têm a salvação eterna
garantida, mas passam depois de sua morte por uma purificação, a fim de obter a santidade
224

necessária para entrar na alegria de Deus, este estado é chamado de Purgatório, é a Igreja
padecente, e por fim, aqueles que estão vivos e em estado de Graça, são a Igreja Militante.

Infelizmente, há aqueles que estão desligados da comunhão, pelo pecado mortal, que são
efetivamente parte da Igreja Militante, mas uma parte que está perdendo a luta contra a perdição
eterna, são os apóstatas, hereges, excomungados, pessoas que, apesar de serem batizados,
precisam ainda da conversão, estes, se morrerem assim, por sua livre escolha, irão para o inferno.

Não existe outra hipótese, a ideia da reencarnação, é uma ideologia que promete algo que não é e
nunca foi parte da revelação Divina, não somos almas recicladas, e o processo de purificação é
hoje, não será nas vidas passadas, ou nas reencarnações, pois é determinado que o Homem morra
uma única vez.

“Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor não sofrerá dano algum da segunda
morte.”
(Ap 2,11)

O Apocalipse refere-se a uma “segunda morte”, esta diz respeito à condenação eterna, uma vez
que o corpo morreu, a alma (pessoa) é julgada, e se condenana, é como uma segunda morte, pois
nunca mais cessará seu tormento, pois nunca contemplará a Visão Beatífica.

AMOR (INTERCESSÃO):

Neste mundo, amor pode ser chamado de “Sacrifício”, pois não há amor verdadeiro, sem verdadeiro
sacrifício. No Céu, na Visão Beatífica, o amor tem outro nome, chama-se Glória, e cada um, será
glorificado por Deus, quanto mais amou a Deus, assim, Nossa Senhora é o ser com maior Glória,
pois nenhuma criatura amou mais a Deus, do que ela, em seguida vem São José e os demais
santos, pois quem mais amou neste mundo, recebe mais Glória no Céu.

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos.”
(Jo 15,13)

A palavra “vida” é um símbolo, significa em sua origem europeia “duração”, duração nos remete a
tempo, e de fato, vida é o mesmo que tempo. Assim, quando dizemos que estamos perdendo
tempo, podemos dizer que estamos perdendo “vida”. É algo muito sério! Nosso Senhor, que é o
Deus da vida, disse para que Ele veio a este mundo:

“Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância.”
(Jo 10,10b)

Nosso Senhor nos dá o tempo (vida) para nossa conversão, santificação e salvação, cabe a nós,
aproveitarmos o tempo que temos para alcançar a salvação, contando com a Graça de Deus, e
chegar a Visão Beatífica. A vida eterna, é um “tempo” infinito, onde todos teremos uma “duração”
eterna.

“Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro, se vem a prejudicar a sua vida? Ou que dará um homem
em troca de sua vida?”
(Mt 26, 26)

Nós então, precisamos escolher, como iremos “gastar” a nossa vida, se iremos buscar a vida plena,
ou nos entregaremos a perda de tempo com o desamor:
225

“A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, a não ser o amor recíproco; porque aquele que ama o seu
próximo cumpriu toda a Lei.”
(Rm 13,8)

“Quem odeia seu irmão é assassino. E sabeis que a vida eterna não permanece em nenhum assassino.”
(1Jo 3,15)

O amor, é o cumprimento da lei, pois, como nos ensina São Paulo:

“porque toda a Lei se encerra num só preceito: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”
(Gl 5,14)

Muitas ordens dadas pelo Senhor, são difíceis para nossa mentalidade humana e decaída, porém,
uma delas pode ser para muitos, uma dificuldade extra:

“Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e]
perseguem.”
(Mt 5,44)

COMO AMAR OS INIMIGOS?

O amor, assim como a fé, não é um sentimento, não é um carinho, uma manifestação de afeto, o
amor, como vimos, é sacrifício. Mas o próprio Senhor, nos responde como é que devemos amar os
inimigos: “Orai pelos que vos maltratam e perseguem”. Eis, talvez, a única forma de amarmos os
nossos inimigos. Se vida é tempo, então, o nosso tempo mais precioso, é o tempo que passamos
diante de Deus em oração, assim, quando trazemos nossos inimigos ao pensamento, em oração,
estamos dando nosso tempo mais precioso para eles, estamos dando a nossa vida “para e pelos”
nossos inimigos. E não apenas pelos inimigos, mas estamos dando para todos aqueles que
trazemos em nossas orações, seus nomes, suas intenções, suas necessidades.

A comunhão dos santos, é isso, muitas vezes não temos condição de sair em missão, mas assim
como Santa Terezinha do Menino Jesus, que é a padroeira das missões, junto com São Francisco
Xavier, ela, porém, nunca saiu do convento, mas ela fez uma escolha:

“No coração da Igreja... serei o amor.” (Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face)

“Serei o amor”, é certamente disso que a santa está falando, de doar a sua vida, o seu tempo,
orando e rezando, intercedendo pelos irmãos, por todos, desde os piores, até os que nós gostamos,
desde os que nos perseguem até os que nos apaixonam.

Quem faz isso, já realiza nesta vida, aquilo que iremos fazer pela vida eterna, estaremos em
comunhão plena uns com os outros, em um eterno colóquio com Deus e uns com os outros,
recebendo a vida plena prometida pelo Senhor Jesus.

“Não podia se perder o filho de tantas lágrimas” (Santo Ambrósio)

Esta é a frase dita por Santo Ambrósio, ao se referir à Santa Mônica, que rezou por 32 anos pela
conversão de Santo Agostinho, seu filho. Ela nos dá algumas pistas do poder da intercessão. Santa
Mônica, poderia exigir de Deus a conversão de Santo Agostinho? Claro que não! O único que é
merecedor de nossa Salvação é Nosso Senhor, porém, uma “soldada” tão intrépida e dedicada,
que se santificou, ou seja, sacrificou-se por amor a Deus, não seria merecedora de um “favor” como
este vindo de Deus?
226

Quando maior o amor, ou seja, quanto maior o sacrifício, maior é a capacidade que Ele tem de
mudar as situações, as circunstâncias, e até mover os corações mais empedernidos e endurecidos
pelo pecado, pelos medos e preconceitos, porém, ao dizer, quanto maior o amor, estamos dizendo,
quanto maior o sacrifício, mais capaz é, por isso temos a certeza de que somos perdoados:

“Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem”


(Lc 23,34)

Nosso Senhor, orou, em seu momento mais difícil, onde a dor era insuportável, quando estava
completamente sem vida, e a poucos segundos da morte, Ele nos concedeu o Seu perdão Divino,
e é pelos méritos infinitos deste ato, que Ele pôde descer aos infernos e arrancar das garras da
morte, do pecado e do sofrimento, aqueles que jaziam nas trevas do inferno, vencendo de uma só
vez, o demônio, o pecado, e a morte.

Durante a Santa Missa, o sacerdote coloca dentro do cálice com vinho, um pouco de água. Como
tudo na Igreja tem um sentido literal, primitivamente, este gesto era feito para diluir o vinho, e o
sacerdote não ser embebedado após a celebração de várias Missas. Porém, esta gota de água,
em sentido espiritual, é a humanidade que se derrama na divindade, a água, é a parte humana do
milagre, e o vinho é a abundância da Graça de Deus.

A Água, que é inapta para a eucaristização, ao misturar-se com o vinho, e se tornar vinho, se torna
apta, e se eucaristiza. E assim é conosco também, nós somos inaptos para merecer a Salvação,
tanto nossa, quando dos outros. Mas, uma vez em estado de GRAÇA, não apenas nos tornamos
aptos, como Co-redentores com Cristo, pois somos membros do seu corpo, e o Corpo age por
inteiro. Assim, como participantes da Cruz de Cristo, somos também participantes de seus Méritos.

PODEMOS “MERECER” A GRAÇA PARA OS OUTROS?

As nossas obras podem ser meritórias, por duas razões. Primeiro, em virtude da moção divina
(Movimento de Deus), e então, merecemos condignamente. Depois, por procederem do livre
arbítrio, pelo qual agimos voluntariamente. E por este lado, o mérito é côngruo (Adequado e Correto
– Como a medalha do soldado); pois é congruente, que o homem, usando bem das suas
capacidades, Deus aja mais excelentemente, em conformidade com a excelência do seu poder, na
prática, seria o soldado, dando a sua medalha de “honra ao mérito” a alguém que não tem nenhuma
honra e nenhum mérito. É isto que Nosso Senhor fez conosco, e é o que, uma vez tendo méritos,
nós podemos e devemos fazer aos outros.

Por onde é claro que, por mérito condigno, ninguém, salvo Cristo, pode merecer para outrem a
primeira graça. Porque todos nós somos movidos por Deus, pelo dom da graça, para chegarmos à
vida eterna, sendo assim, o mérito condigno não pode ir além do movimento de Deus. A alma de
Cristo, que é humana, tem a mesma natureza que a nossa, recebeu, pela graça, este movimento
Divino, não só para alcançar a glória da vida eterna, mas também para levar os outros para ela,
como cabeça da Igreja e autor da salvação humana, conforme a Escritura: Levou muitos filhos à
glória, ele o autor da salvação.

“Aquele para quem e por quem todas as coisas existem, desejando conduzir à glória numerosos filhos,
deliberou elevar à perfeição, pelo sofrimento, o autor da salvação deles, para que santificador e
santificados formem um só todo. Por isso, (Jesus) não hesita em chamá-los seus irmãos, dizendo: Anunciarei
teu nome a meus irmãos, no meio da assembleia cantarei os teus louvores (Sl 21,23). E outra vez: Quanto a
mim, ponho nele a minha confiança (Is 8,17); e: Eis-me aqui, eu e os filhos que Deus me deu (Is 8,18). Porquanto
os filhos participam da mesma natureza, da mesma carne e do sangue, também ele participou, a fim de destruir
pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o demônio, e libertar aqueles que, pelo medo da morte,
estavam toda a vida sujeitos a uma verdadeira escravidão.”
(Hb 2,10-15)
227

Assim, somos todos atraídos para Ele, pois como Ele tem a nossa natureza, e recebeu todos os
méritos, aqueles que o imitam, e que se tornam Seu corpo, recebem a mesma Graça do movimento
Divino:

“E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim”


(Jo 12,32)

“Por mérito côngruo, porém, podemos merecer para outrem a primeira graça. Pois, o homem,
constituído em graça (Em estado de Graça), cumprindo a vontade de Deus, é congruente que Deus,
por uma amizade proporcional, cumpra a vontade de um relativa à salvação de outro. Embora, às
vezes, possa advir impedimento por parte daquele a quem esse justo desejava a justificação.” (Sto
Tomaz de Aquino, Suma Teológica, 6º Artigo, 114 Questão, Segunda Parte)

Então, nossa vida, pelos méritos de Cristo, pode santificar, não apenas a nossa vida, mas a vida
dos outros, claro, o sujeito objeto de nossa intercessão, pode, relutar e agir contra esta intercessão,
impedindo a graça de agir em sua vida, pois é livre para escolher a desgraça, mas até o fim da vida
de uma pessoa, a outra, pode amá-la e alcançar por méritos, a salvação do outro, este é um
tremendo mistério, tão grande que o próprio São Paulo reconheceu isso, lembrando que “mistério”
significa “sacramento”:

“Esse mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja.”


(Ef 5,32)

“Além disso nosso Salvador, enquanto rege por si mesmo de modo invisível a Igreja, quer ser
ajudado pelos membros deste corpo místico na realização da obra da redenção; não por
indigência ou fraqueza da sua parte, mas ao contrário porque ele assim o dispôs para maior honra
da sua esposa intemerata. Com efeito, morrendo na cruz, deu à Igreja, sem nenhuma cooperação
dela, o imenso tesouro da redenção; ao tratar-se porém de distribuir este tesouro, não só faz
participante a sua incontaminada esposa desta obra de santificação, mas quer que em certo modo
nasça da sua atividade. Tremendo mistério, e nunca assaz meditado: Que a salvação de muitos
depende das orações e dos sacrifícios voluntários, feitos com esta intenção, pelos membros
do corpo místico de Jesus Cristo, e da colaboração que pastores e féis, sobretudo os pais e
mães de família, devem prestar ao divino Salvador.” (Mystici Corporis Christi (29 de Junho de
1943), PAPA PIO XII, n 43)

Este é um mistério tão profundo, que até mesmo as almas do purgatório, podem interceder por nós,
e assim, fecha-se o ciclo, pois a Igreja militante, intercede por si mesma e pela Igreja padecente,
que é capaz apenas de interceder pela igreja militante e a igreja triunfante e gloriosa, intercede por
todos, os militantes e padecentes:

“À oferenda de Cristo unem-se não somente os membros que estão ainda na terra, mas também os
que já estão na glória do céu: é em comunhão com a santíssima Virgem Maria e fazendo memória
dela, assim como de todos os santos e santas, que a Igreja oferece o Sacrifício Eucarístico. Na
Eucaristia, a Igreja, com Maria, está como que ao pé da cruz, unida à oferta e à intercessão de Cristo.”

“O Sacrifício Eucarístico é também oferecido pelos fiéis defuntos "que morreram em Cristo e não
estão ainda plenamente purificados", para que possam entrar na luz e na paz de Cristo: Enterrai este
corpo onde quer que seja! Não tenhais nenhuma preocupação por ele! Tudo o que vos peço é que
vos lembreis de mim no altar do Senhor onde quer que estejais. Em seguida, oramos [na anáfora]
pelos santos padres e Bispos que faleceram, e em geral por todos os que adormeceram antes de nós
acreditando que haverá muito grande benefício para as almas, em favor das quais a súplica é
oferecida, enquanto se encontra presente a santa e tão temível vítima. (...) Ao apresentarmos a Deus
nossas súplicas pelos que adormeceram, ainda que fossem pecadores, nós (...) apresentamos o Cristo
228

imolado por nossos pecados, tomando propício, para eles e para nós, o Deus amigo dos homens.”
(CatIC 1370 - 1371)

A comunhão com os falecidos. "Reconhecendo cabalmente esta comunhão de todo o corpo místico
de Jesus Cristo, a Igreja terrestre, desde os tempos primitivos da religião cristã, venerou com grande
piedade a memória dos defuntos (...) e, `já que é um pensamento santo e salutar rezar pelos defuntos
para que sejam perdoados de seus pecados' (2Mc 12,46), também ofereceu sufrágios em favor deles."
Nossa oração por eles pode não somente ajudá-los, mas também tornar eficaz sua intercessão
por nos. (CatIC 958)

OS TRÊS MEIOS DE SANTIFICAÇÃO DE UM TERCEIRO:

1. Oração de intercessão (Rezar):

Quando alguém clama a Deus a salvação do outro; Você reza, e pede uma graça a um terceiro;

2. Merecimento em favor dos outros (Merecer):

Em estado de Graça, os fiéis podem merecer (de Côngruo) para os outros, Dons de Deus. Você se
oferece em sacrifício pelos outros, vivendo o que Cristo pediu:

“Amai-vos um aos outros como Eu vos tenho amado”.


(Jo 13,34)

3. Satisfação Vicária (Satisfazer):

Refere-se ao fato de podermos assumir para nós as penas de outrem, verdade da qual decorre a
possibilidade das indulgências.

AS INDULGÊNCIAS: “LAPSIS E CONFESSORES”

Os “Lapsi” renunciavam a Jesus Cristo, e se arrependiam, quando se confessavam, recebiam até


20 anos de penitência, vestiam-se de saco, mendigavam, Jejuavam a pão e água... por todo este
período e esta era a penitência pós confissão durante séculos da Igreja.

Mas os Confessores (Aqueles que foram torturados) mas sobreviveram, chegavam aos bispos, e
diziam: “Pelos méritos da minha confissão, perdoe este ou aquele “Lapsi”. Os Mártires, que viam o
drama dos Lapsis, antes de morrer, deixavam por escrito, com o bispo ou diretores espirituais, a
dedicação de seus sofrimentos em benefício dos Lapsis e de toda a Igreja Universal.

Assim, as indulgências, são o verdadeiro tesouro da Igreja, ela aplica, por autorização dos mártires
e confessores, a todos os pecadores e almas do purgatório, o alívio de suas penas e, para que
recebam o dom da verdadeira conversão.

“Indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados
quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por
meio da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e aplica, com autoridade, o tesouro
das satisfações de Cristo e dos Santos.” (Manual das indulgências, 1986)

Quando pecamos, assumimos uma culpa eterna e uma culpa temporal. A culpa eterna é absolvida
na confissão, mas a confissão não apaga, não absolve as penas temporais, sendo assim, uma
pessoa que assassina alguém, após a confissão, está em estado de Graça e poderá ser salva,
porém, ainda cometeu um crime e este crime precisa de reparação.
229

As indulgências podem ser parciais (apagam em parte) ou plenárias (apagam tudo e


completamente), as penas temporais devidas aos pecados, pode-se “lucrar” indulgências para
qualquer pessoa falecida ou para si mesmo, mas não se pode lucrar indulgências para pessoas
ainda vivas. Aquele que oferece indulgências aos outros, pelo próprio ato, recebe indulgências para
si mesmo.

Antigamente, a terminologia usada pela Igreja, não transmitia a profundidade deste mistério, e por
isso, a Igreja mudou, se antes falava-se em indulgências de tantos e quantos dias, hoje, utiliza-se
somente o termo, parcial ou plenária. Para se lucrar indulgências, é importante ficar atento ao
Manual de Indulgências ou então, seguir o calendário litúrgico, onde as paróquias, por meio dos
pastores, enunciam quando e como as indulgências serão lucradas.

Para se receber as indulgências, é necessária uma manifestação pública de obediência à Igreja e


o reconhecimento do Santo Padre, o Papa, como o sumo pontífice, intercedendo por ele e pedindo
por suas intenções. O uso de objetos sacros, consagrações, sacramentais, peregrinações,
novenas, adoração ao Santíssimo Sacramento, ou alguma outra obra de caridade, são todos gestos
e atos indulgenciados pela Igreja, que nos servem de estímulo para praticá-los, e assim, colaborar
com a nossa santificação e com a santificação de toda a Igreja, bem como a Salvação das almas
e o alívio das almas do purgatório.

OS NOVÍSSIMOS:

Os novíssimos são, a Morte, o Juízo Particular, o Purgatório, o Inferno e o Céu:

Os “Novíssimos” nada mais são do que o conhecimento acerca do que acontece com a alma após
a morte, o destino do ser humano, quando seu corpo perder a vida e assim, sua alma estiver em
um estado de sobrevivência, aguardando a ressurreição dos corpos, para o Juízo final. Um outro
termo muito comum em teologia, é o estudo escatológico, ou Escatologia.

Cada um de nós, estando ou não consciente, se deparará com o seu fim, e o seu destino individual,
mas há ainda a escatologia coletiva, que trata dos acontecimentos que tem relação ao final dos
tempos, que terá início com a Parusia (que é a 2ª vinda de Cristo), a ressurreição da carne, o fim
do purgatório, o juízo final (universal) e os “Novos Céus e Nova Terra”.
230

Há uma infinidade de teologias, teorias e de afirmações dos santos e doutores sobre a escatologia
(Novíssimos), a Igreja aceita todas as teologias católicas sobre o assunto, pois não há revelações
acerca de como será, se não, que será extremamente bom ou extremamente ruim:

“A partir da Ascensão, o advento de Cristo na glória é iminente, embora não nos "caiba conhecer os
tempos e os momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade" (At 1,7). Este acontecimento
escatológico pode ocorrer a qualquer momento, ainda que estejam "retidos" tanto ele como a
provação final que há de precedê-lo.” (CatIC 673)

A Morte, é a parte dos novíssimos que temos mais conhecimento, para a Igreja, a morte tem vários
estágios, pois, muitos fenômenos acontecem aos corpos durante esta primeira fase, a tanatologia,
é a ciência médica que estuda tais fenômenos, mas importa saber que existem vários tipos de
morte, como a anatômica, histológica, aparente, relativa, intermediária e real, e os fenômenos vão
desde a constatação de ausência de movimentos e batimentos cardíacos, até a cadaverização e
completa putrefação.

Na morte a alma separada do corpo, tem seu imediato Juízo Particular, que irá definir se a alma,
irá para o Céu ou para o inferno. Aqueles que morreram em estado de Graça, ou seja, tendo
confessado seus pecados e não tendo cometido pecados mortais, alcançarão a salvação, tendo
como destino o Purgatório, se ainda houver penas temporais a cumprir ou pecados veniais a serem
perdoados, ou o Paraíso, que é a Visão Beatífica, caso não tenham penas temporais, pecados
veniais ou imperfeições a serem purificadas, estas são as almas dos Santos Homens;

O Inferno é o destino daqueles que morreram, em estado de desgraça, fora da graça santificante,
ou seja, estão em pecado mortal, não se arrependeram de tê-los cometido, e assim, estão privados
da Visão Beatífica, e nunca, por toda a eternidade, jamais gozarão de alguma alegria, felicidade ou
paz.

É importante entender, que o destino eterno, que resulta do Juízo Final, nunca, jamais será
mudado, trata-se de uma pena eterna. Imediatamente após a morte, a alma está separada do
corpo, mas já recebe o seu destino, assim, o inferno, paraíso e purgatório, por um período, será
um estado de alma, não sendo imediatamente um lugar (podendo ser, pois a igreja admite esta
possibilidade), pois ainda não aconteceu a Ressurreição dos Corpos, e o Fim dos Tempos que
se dará na Parusia, que é o retorno glorioso de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Então, dure o tempo que durar, os Santos Homens, já estão no Céu, (seja em estado de purgatório
ou de paraíso) e os Maus Homens, já estão no inferno, porém, não em corpo, somente em alma, e
estão todos aguardando a Parusia, e por consequência o Fim dos Tempos, para que aconteça a
Ressurreição dos Corpos, e assim, todos estarão diante do Juízo Final.

O Fim dos Tempos, é a completa aniquilação deste mundo e tudo o que é apenas físico,
permanecendo apenas o que é Espiritual, desta forma, Deus irá restaurar o mundo visível,
designado “Novos Céus e Nova Terra”:

“Pois eu vou criar novos céus, e uma nova terra; o passado já não será lembrado, já não volverá ao espírito,
mas será experimentada a alegria e a felicidade eterna daquilo que vou criar. Pois vou criar uma Jerusalém
destinada à alegria, e seu povo ao júbilo; Jerusalém me alegrará, e meu povo me rejubilará; doravante já não se
ouvirá aí o ruído de soluços nem de gritos.”
(Is 65, 17-19)

Com o final dos tempos, virá então, no “último dia”, a Ressurreição dos Corpos¸ assim, todos os
seres humanos, independentemente da idade em que morreram, mesmo os que não nasceram,
ressuscitarão, e todos participarão do Juízo Final:
231

Na linha dos profetas e de João Batista, Jesus anunciou em sua pregação o Juízo do último Dia. Então
será revelada a conduta de cada um e o segredo dos corações. Será também condenada a
incredulidade culpada que fez pouco caso da graça oferecida por Deus. A atitude em relação ao
próximo revelará o acolhimento ou a recusa da graça e do amor divino Jesus dirá no último Dia:
"Cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes" (Mt 25,40).
(CatIC 678)

No dia do Juízo, todos os seres humanos, tomarão conhecimento da amplitude, profundidade,


graduação e tamanho do bem que fizeram, ou do mal que praticaram. Os que tiverem sido salvos,
se alegrarão com a Justiça Divina, e em um corpo incorrupto e glorioso, viverão na “Jerusalém
Celeste” em novos Céus e nova Terra.

Já os que foram condenados ao inferno, se envergonharão e sofrerão as consequências de seus


próprios atos, também terão seus corpos ressuscitados, perfeitos, porém, não gloriosos, assim, o
inferno tem dois castigos principais:

“Se a tua mão for para ti ocasião de queda, corta-a; melhor te é entrares na vida aleijado do que, tendo duas
mãos, ires para a geena, para o fogo inextinguível [onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga]. Se o
teu pé for para ti ocasião de queda, corta-o fora; melhor te é entrares coxo na vida eterna do que, tendo dois
pés, seres lançado à geena do fogo inextinguível [onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga]. Se o
teu olho for para ti ocasião de queda, arranca-o; melhor te é entrares com um olho de menos no Reino de Deus
do que, tendo dois olhos, seres lançado à geena do fogo, onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga.
Porque todo homem será salgado pelo fogo. O sal é uma boa coisa; mas se ele se tornar insípido, com que lhe
restituireis o sabor? Tende sal em vós e vivei em paz uns com os outros”.
(Mc 9, 43-50)

São descritas duas penas no inferno, o “verme que não morre” e o “fogo que não se apaga”,
muitos autores, dizem que o fogo, refere-se a um sofrimento físico, e o corpo humano, uma vez
ressuscitado, terá todas as capacidades sensíveis restituídas, assim, as dores do inferno, serão
físicas. Hoje, um corpo pode ser queimado, e será consumido pelas chamas e destruído, mas, no
inferno, o fogo nunca se apagará, e o corpo nunca será consumido, o que trará uma dor física
eterna.

Mas esta dor física, não é comparada, a dor causada pelo “verme que não morre”, que é o
remorso, rancor, ressentimento, vazio existencial, depressão, solidão, tristeza, inveja e ódio
maligno que experimentará a pessoa por ter escolhido livremente o inferno, tais tormentos são
impensáveis e de fato insuportáveis, porém, a pessoa nunca mais morrerá.

INFERNO, ATO DE AMOR DE DEUS:

Apesar do inferno não ser criação divina, ele resultado de um ato de amor de Deus, uma vez que
Ele respeita a vontade e a liberdade de suas criaturas, quando o demônio pecou, não tinha para
onde ir, onde Deus não estivesse, então, o inferno é este estado/lugar onde Deus, por amor e
respeito, “ausenta-se”, para que a criatura possa viver conforme sua vontade, que é diferente da
vontade de Deus.

Dizemos “ausenta-se” porém, Deus é onipresente, e é Ele quem sustenta a existência de todas as
criaturas, inclusive dos demônios. Sendo assim, Deus, que é amor, sustenta o ser de suas criaturas,
pois o existir, mesmo que no inferno, é melhor do que não existir, apesar deste estado, ser chamado
pelas Escrituras de “segunda morte”:

“Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não
podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós
mesmos: "Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu irmão é homicida;
232

e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele" (1 Jo 3,14-15). Nosso Senhor
adverte-nos de que seremos separados dele se deixarmos de ir ao encontro das necessidades graves
dos pobres e dos pequenos, que são seus irmãos, morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido
dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para
sempre, por nossa própria opção livre. E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão
com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra "inferno".”

“Jesus fala muitas vezes da "Geena", do "fogo que não se apaga", reservado aos que recusam até o
fim de sua vida crer e converter-se, e no qual se pode perder ao mesmo tempo a alma e o corpo.
Jesus anuncia em termos graves que "enviar seus anjos, e eles erradicarão de seu Reino todos os
escândalos e os que praticam a iniquidade, e os lançarão na fornalha ardente" (Mt 13,41-42), e que
pronunciar a condenação: "Afastai-vos de mim malditos, para o fogo eterno!" (Mt 25,41).”

“O ensinamento da Igreja afirma a existência e a eternidade do inferno. As almas dos que morrem
em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos, onde sofrem as
penas do Inferno, "o fogo eterno". A pena principal do Inferno consiste na separação eterna de
Deus, o Único em quem o homem pode ter a vida e a felicidade para as quais foi criado e às
quais aspira.” (CatIC 1033-1035)
233

7º. PARTE: A DEVOÇÃO MARIANA


“Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na
cabeça uma coroa de doze estrelas.”
(Ap 12,1)

“Todas as gerações me hão-de proclamar ditosa” (Lc 1, 48): “a piedade da Igreja para com a
santíssima Virgem pertence à própria natureza do culto cristão”. A santíssima Virgem “é com razão
venerada pela Igreja com um culto especial. E, na verdade, a santíssima Virgem é, desde os
tempos mais antigos, honrada com o título de "Mãe de Deus", e sob a sua proteção se acolhem
os fiéis implorando-a em todos os perigos e necessidades [...]. Este culto [...], embora inteiramente
singular, difere essencialmente do culto de adoração que se presta por igual ao Verbo Encarnado, ao
Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente”. Encontra a sua expressão nas festas litúrgicas
dedicadas à Mãe de Deus e na oração mariana, como o santo rosário, “resumo de todo o Evangelho”.
(CatIC 971)

A oração mais antiga conhecida dirigida à Virgem Maria é a "Sub Tuum Praesidium", que em
português significa "Sob Tua Proteção". Trata-se de um hino composto em grego, que foi
encontrado em um papiro no Egito, em 1927, cuja datação remonta ao século III. Apesar disso,
esta oração sempre pertenceu à tradição da Igreja e ao culto à Santíssima Virgem, esta descoberta
apenas comprova, que ainda na Igreja primitiva a devoção mariana já existia na fé da Igreja. Seu
conteúdo é o seguinte:

"Sub tuum praesidium confugimus, Sancta Dei Genetrix. Nostras deprecationes ne despicias in
necessitatibus, sed a periculis cunctis libera nos sempre, Virgo gloriosa et benedicta."

Em português, a tradução da oração é a seguinte:

"A vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas
necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita."

A seguir, iremos apresentar uma das muitas versões sobre a Coroa de 12 Estrelas de Nossa
Senhor. O número 12 nas Sagradas Escrituras tem um significa simbólico muito especial, é o
número dos filhos de Jacó, das tribos de Israel, as pedras preciosas (Ex 39,6) descritas por Moisés,
os pães da propiciação (Ex 25, 23-30) e por fim, o número de Estrelas na coroa da Mulher citada
por São João em Apocalipse 12, seu significado remete a perfeição, completude e plenitude.

1ª ESTRELA - DOGMA DE MARIA MÃE DE DEUS (THEOTOKOS):

Todos os dogmas marianos, são Cristológicos, ou seja, foram proclamados pela Igreja, visando
afirmar uma verdade da fé acerca de Nosso Senhor, ora, como havia dúvidas de que Jesus é
mesmo Deus, então, a Igreja proclama “Maria mãe de Deus” e assim, põe fim a questão. A base
bíblica é a seguinte:
“Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?”
(Lc 1,43)

Aos 22 de junho de 431, o Concílio de Éfeso definiu explicitamente a maternidade divina de Nossa
Senhora:
234

“Que seja excomungado quem não professar que Emanuel é verdadeiramente Deus e, portanto, que
a Virgem Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, pois deu à luz segundo a carne aquele que é o Verbo
de Deus”. (Concílio de Éfeso)

O texto de São Lucas, põe na boca de Santa Isabel, mãe de São João Batista, termo “mãe de meu
Senhor”, o termo usado é “Kirie”, mesma palavra usada na Santa Missa em “kyrie Eleison” em que
a palavra Senhor é usada referindo-se a Deus.

O Arcanjo Gabriel disse:

“O Santo que há de nascer de ti será chamado Filho de Deus”


(Lc 1,35).

Se ele é filho de Deus, ele também é Deus e Maria é sua Mãe, portanto Mãe de Deus.

2ª ESTRELA - DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO:

Para compreender este Dogma, faz-se necessário retroceder um pouco na cronologia da História
da Salvação, mais precisamente antes do pecado de Adão e Eva, se observarmos com atenção ao
texto bíblico e o que o relato nos ensina, verificaremos que os primeiros seres humanos, possuíam
dons especiais, proeminentes da “justiça original” em que foram criados por Deus:

1) Possuíam a Graça Santificante e a união perfeita com Deus, e gozavam da vida como
participantes da felicidade do próprio Deus, trata-se de um dom sobrenatural;

2) E ainda tinham os dons preternaturais, verdadeiros amplificadores da perfeição da natureza


do ser humano:

a) Imortalidade: o texto de Genesis apresenta a morte como consequência do pecado, logo,


podemos concluir que, se não fosse o pecado, o ser humano não morreria;

b) Impassibilidade: O ser humano não sentia dor ou sofrimento, pois tudo faria sentido, tanto
é que a dor é conferida na multiplicação das “dores do parto”;

c) Imunidade das concupiscências: Os sentimentos estavam ordenados, sujeitos ao


propósito do ser humano, sabemos disso, pois eles não se envergonhavam da nudez;

d) Ciência Moral Infusa: Eram conhecedores do bem moral, de forma natural, sem
necessidade de aprender;

São Paulo então, nos ensina que “todos pecaram” e assim, estão todos privados dos dons
primordiais que gozavam nossos primeiros pais:

“Esta é a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo, para todos os fiéis (pois não há distinção; com efeito, todos
pecaram e todos estão privados da glória de Deus), e são justificados gratuitamente por sua graça; tal é a
obra da redenção, realizada em Jesus Cristo.”
(Rm 3, 23-24)

Naturalmente, o pecado é transmitido de pai para filho, assim, todos nascem em pecado, privados
da Glória de Deus, porém, se Nosso Senhor, tivesse pecado, Ele não poderia nos redimir, sendo
assim, é necessário que Maria, não tivesse pecado, e a Escritura afirma que não teve mesmo:
235

“Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”


(Lc 1,28)

Se ela é “Cheia de Graça”, logo, não há espaço para a desgraça, assim, a Teologia explica que,
Maria, por um dom extraordinário, recebeu os méritos de Nosso Senhor, e a Graça Santificante,
antes destes méritos serem por Ele conquistados no tempo. Assim, Maria Santíssima, foi a primeira
redimida por Cristo, e a Escritura mostra que ela se apresenta como tendo sido salva, antes da
obra da Salvação:

“E Maria disse: “Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque
olhou para sua pobre serva. Por isso, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque
realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.”
(Lc 1, 46-49)

Em 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX definiu o terceiro dogma mariano em sua Bula
“Ineffabilis Deus”, ensinando que Nossa Senhora é imune de toda mancha de pecado original, no
primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus Onipotente, em vista
dos méritos de Cristo Jesus, Salvador do gênero humano que em favor do privilégio mariano,
baseando-se na redenção preventiva.

“Ela é toda de Deus, protótipo do que somos chamados a ser. Em Maria e em nós age a mesma
graça de Deus. Se nela Deus pôde realizar seu projeto, poderá realizá-lo em nós também” (Dom
Murilo S. R. Krieger, bispo e escritor mariano).

3ª ESTRELA - DOGMA DA VIRGINDADE PERPÉTUA:

A virgindade da mulher, sempre foi visto como um dom precioso, sinal de pureza e de integridade
da própria mulher. Vemos o quão era valiosa a virgindade mesmo nos tempos de Moisés, pois ele
manda poupar as mulheres virgens:

“Ide! Matai todos os filhos varões e todas as mulheres que tiverem tido comércio com um homem; mas deixai
vivas todas as jovens que não o fizeram.”
(Nm 31, 17-18)

Estas mulheres madianitas, não foram mortas, por serem virgens, porém, foi exatamente por causa
das mulheres de Madiã que o povo pecou:

“E Moisés, irado contra os generais do exército, os chefes de milhares e os chefes de centenas que voltavam da
batalha, disse-lhes: “O que é isso? Deixastes com vida todas essas mulheres? Mas são justamente elas que,
instigadas por Balaão, levaram os israelitas a serem infiéis ao Senhor na questão de Fegor, a qual foi também a
causa do flagelo que feriu a assembleia do Senhor!”
(Nm 31, 14-16)

Então, para quê deixar vivas as jovens mulheres virgens? A utilidade destas mulheres, é que elas
se tornaram as “virgens do templo”, eram elas que serviam na tenda do Senhor, e permaneciam
virgens por toda a vida, e isto tornou-se uma tradição em Israel.

A Tradição Apostólica da Igreja atesta que Maria de Nazaré, foi concebia por um milagre, pois Ana,
sua mãe, era estéril, e junto ao seu esposo, Joaquim, já eram idosos. Por isso, fizeram o voto de
oferecer a criança que conceberam, a Deus. Assim, quando nasceu uma menina, ela foi levada aos
3 anos de idade, para ser oferecida ao templo, e a oferta para ser aceita, a menina deveria subir
236

as escadas do Templo em Jerusalém, sem olhar para trás. E a pequena Maria de Nazaré, fez isso,
sendo aceita como uma das virgens do Templo.

Todos os anos, uma das virgens do templo, era oferecida em casamento a um dos descendentes
de Davi, o pretendente deveria trazer um cajado, e este, deveria florescer nas suas mãos. Naquele
ano, um dos pretendentes por direito, era São José, e junto dele havia outros 11 pretendentes,
quando José ergueu o cajado, ele floresceu, e ele recebeu Maria por esposa. Ela ficaria na casa
dos pais até o casamento, em Nazaré.

José, homem justo e santo, respeitou o voto de celibato de Maria, e Deus também, por isso, a
profecia dizia que a virgem daria a luz um filho:

“Eis que A VIRGEM conceberá e dará à luz um filho”


(Is 7,14)

O Concílio de Latrão preconizou como verdade a Virgindade Perpétua de Maria (Antes, durante e
depois do parto), no ano 649, e que ela permanece neste estado durante toda sua vida. Durante o
Concílio, o Papa Martinho I assim afirmou:

“Se alguém não confessa de acordo com os Santos Padres, propriamente e segundo a verdade, como
Mãe de Deus, a santa, sempre virgem e imaculada Maria, por haver concebido, nos últimos tempos,
do Espírito Santo e sem concurso viril gerado incorruptivelmente o mesmo Verbo de Deus, especial e
verdadeiramente, permanecendo indestruída, ainda depois do parto, sua virgindade, seja
condenado”.

Maria de Nazaré, permanece Virgem, mesmo tendo concebido e dado a luz, caso contrário, Deus
a teria feito perder a sua própria virgindade, e Deus não lesa a ninguém, muito menos a Sua própria
mãe.

4 ª ESTRELA - DOGMA DA ASSUNÇÃO DE MARIA AOS CÉUS:

"Finalmente, a Imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o
curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste. E para que mais plenamente
estivesse conforme a seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte, foi exaltada
pelo Senhor como Rainha do universo." A Assunção da Virgem Maria é uma participação singular na
Ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos:

Em vosso parto, guardastes a virgindade; em vossa dormição, não deixastes o mundo, ó mãe de
Deus: fostes juntar-vos à fonte da vida, vós que concebestes o Deus vivo e, por vossas orações,
livrareis nossas almas da morte.... (CatIC 966)

“Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na
cabeça uma coroa de doze estrelas.”
(Ap 12,1)

Importa compreender, que este pequeno versículo nos revela uma gigantesca quantidade de
informações:

1. A primeira delas, é o termo “Apareceu”, e por que é importante? Simples, porque muitos que
se dizem cristãos, negam as aparições de Nossa Senhora, incluindo a devoção a Nossa
Senhora Aparecida, no Brasil. Ou seja, no NT, é relatada a primeira APARIÇÃO de Nossa
Senhora a uma pessoa, que no caso é São João, autor do Apocalipse;
237

2. “Um grande Sinal”: O fato de testemunhar o Apocalipse, e escrevê-lo para a posteridade, já


é um sinal importante, mas o próprio autor do texto, diz que o que ele viu, foi um Grande
Sinal, ou seja, esta APARIÇÃO que ele viu, nos é apresentada como um sinal mais que
importante, grande;

3. Mulher: O termo mulher, não é ao acaso, ainda em Gênesis, esta mulher é mencionada:

“Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar”.
(Gn 3,15)

E a mulher de Genesis, é a mulher do Apocalipse, é a Mulher aos pés da Cruz, é a Mulher de


Cântico dos Cânticos, é a Virgem que conceberá um filho...

4. E não é apenas uma mulher, mas é uma mulher “revestida do Sol”, ora, o Sol do cristão, é
Nosso Senhor Jesus Cristo, e por isso é um Grande Sinal, pois não se trata de um criatura,
mas uma criatura ligada intimamente e profundamente a Deus, ao ponto de ser
completamente, plenamente revestida de Deus;

5. Esta Mulher, tem a Lua debaixo dos pés, a Lua é a figura das trevas, da noite, ela pisa sobre
o mal, e está acima dele;

6. E na cabeça uma coroa, ora, a mulher está no Céu, e tem uma coroa, logo, estamos diante
da Rainha do Céu, que por ser Rainha do Céu, é a Rainha dos que estão na terra, mas são
do Céu, os santos, anjos e justos;

7. E esta coroa, como já vimos, é uma coroa de 12 estrelas, indicando o tamanho de sua
perfeição;

A Assunção de Maria foi o último dogma a ser proclamado, por obra de Papa Pio XII, a 01 de
novembro de 1950. Na Constituição Apostólica “Munificentíssimus Deus” o Pontífice afirmou que,
depois de terminar o curso terreno de sua vida, ela foi assunta de corpo e alma à glória celeste.

“A Assunção manifesta o destino do corpo santificado pela graça, a criação material participando do
corpo ressuscitado de Cristo, e a integridade humana, corpo e alma, reinando após a peregrinação
da história” (CNBB. Catequese Renovada, nº. 235).

São João, que viu a assunção de Nossa Senhora, depois de ter escrito o seu Evangelho e por isso
nada nele mencionou sobre isso, agora, tem a chance de relatar a estupenda visão que teve ao ver
a Santa Mãe de Deus, aquela que ele recebeu do próprio Deus para levá-la para casa, ser assunta,
elevada de corpo e alma aos Céus.

5 ª ESTRELA - FILHA PREDILETA DO PAI:

Na Santíssima Trindade, o Pai, é chamado de Criador, o Filho de Redentor e o Espírito de


Santificados, a relação de Nossa Senhora com a Trindade é muito profunda, pois, a própria
Escritura não silencia diante desta verdade de Fé, Maria é a Filha Predileta do Pai, pois caso
contrário, ela não poderia ser chamada de:

“Bendita és tu entre as mulheres”


(Lc 1,42a)

Dentre todas as mulheres que Deus criou, Maria é chamada de bendita entre elas:
238

“Por isso, Deus os abandonará, até o tempo em que der à luz aquela que há de dar à luz”
(Miq 5,2)

Deus volta seus olhos para Seu povo, porque Maria, deu à Luz, e ela nasceu e foi criada para isso,
para ser a mãe de seu Filho.

“Jesus respondeu-lhe: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, apontando com a mão para os seus
discípulos, acrescentou: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está
nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.”
(Mt 12, 48-50)

Este versículo, tantas vezes utilizado para diminuir a figura de Nosso Senhor, como um filho ingrato,
na verdade, nos revela uma verdade, Maria não é especial, por ser apenas a Mãe de Deus, mas
por fazer a vontade de Deus, ela referiu-se a sim mesma como a “Escrava do Senhor”.

O Pai escolheu entre todas as mulheres Maria, ela foi escolhida pela sua humildade, como diz no
“Magnificat”:

“...porque olhou para sua pobre serva.”


(Lc 1,48a)

O que lançou a humanidade na morte foi a soberba de Adão e Eva, mas...

“Eva com seu pecado introduziu a morte no mundo, Maria com sua obediência introduziu a vida”.
(Santo Irineu)

6 ª ESTRELA - ESPOSA DO ESPÍRITO SANTO:

Enquanto Maria é a Filha predileta do Pai, e mãe do Filho, ela é a perfeita Esposa do Espírito, e
esposa num sentido muito mais profundo, do que a pobreza do termo aplicado ao Sacramento do
Matrimônio, que já é riquíssimo. Mas em Maria, é a primeira vez que se vê o Mistério da Inabitação
acontecendo plenamente, que é o ideal de união de todo ser humano com Deus:

“O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra”
(Lc 1,35).

O Espírito Santo, que fecundou a alma de Maria ao longo de toda sua vida, na plenitude dos tempos
e na plenitude da vida da Mulher, gera nela, o único Ente, que é ente em si mesmo:

“Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu
submetido a uma Lei”
(Gl 4,4)
Tornando a Mulher, a Mãe do puro amor:

“Sou a mãe do Puro Amor, do temor (de Deus), da ciência e da santa esperança, em mim se acha toda a graça
do caminho e da verdade, em mim toda a esperança da vida e da virtude.”
(Eclo 24, 24-25).

Ela concebeu por obra do Espírito Santo, ela é a Esposa mística do Espírito Santo. Santo Inácio de
Antioquia escreveu aos efésios:
239

”Um só é o médico corporal e espiritual, gerado e não criado, Deus nascido em carne, na morte vida
verdadeira, nascido de Maria e de Deus, primeiro passível e depois impassível, Jesus Cristo Nosso
Senhor”.

7 ª ESTRELA - ONIPOTÊNCIA SUPLICANTE (HUMILDADE):

Deus é o único ser Onipotente:

“Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que vem, o Todo Poderoso.”
(Ap 1,8)

Mas, faz parte da Onipotência, ter o poder, “de não poder.” Parece confuso, porém, se Deus não
pudesse se desfazer de seu poder, Ele seria escravo de si mesmo e de sua condição, porém, ao
se fazer carne, fazer-se homem, Ele submete-se aos seus pais:

“E ele lhes era submisso”


(Lc 2,51b)

Deus faz-se homem, submisso ao homem, porém, faz-se submisso, não a qualquer um, mas à
única criatura que as Sagradas Escrituras chamam de Escrava de Deus:

“Eis aqui a ESCRAVA do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra.”


(Lc 1,38)
E como escrava, ela exerce seu poder sobre o próprio Deus, pois a vontade do senhor, é a vontade
do escravo, e assim é Maria, ao ensinar os homens, e nas Bodas de Caná, adianta o momento da
manifestação de Nosso Senhor, e diz:

“Disse, então, sua mãe aos serventes: Fazei o que ele vos disser”
(Jo 2,5).

Maria é a mais humilde a quem Jesus se submeteu, o nome “Maria” vem de “mar”, o mar é
esplendoroso, pois aceitou ficar abaixo alguns centímetros de todos os rios, Maria também é assim:
por isso, Deus a escolheu olhando para a humildade de Sua serva.

“Que pretendes, rainha Ester? Que queres pedir-me? Dar-te-ei o que me pedires, mesmo que seja metade do
reino!”
(Et 5,3)

A Rainha Ester é a prefiguração de Nossa Senhora diante de Deus, a quem Deus dá tudo, pois ela
se deu inteira.

“Pois, como esta (Eva) foi seduzida pela palavra de um Anjo, para afastar-se de Deus,
desobedecendo à Sua palavra, assim Aquela foi instruída pela palavra do Anjo, para portar Deus,
obedecendo à Sua palavra. E se Eva havia desobedecido a Deus, Maria Se inclinou para obedecer-
Lhe, e assim a Virgem Maria tornou-Se a advogada da primeira virgem, Eva.” (Sto Irineu Lyon)

8 ª ESTRELA - ESMAGADORA DA SERPENTE:

Vimos que desde a origem do mundo, há uma inimizade que Deus plantou entre a Mulher e a
Serpente. Inúmeros exorcistas dão o testemunho de que, em seus combates espirituais para expelir
240

os demônios das almas, não há o que lhe faça sofrer mais, do que Maria, pois, ser vencido por
Deus, é esperado, mas o demônio foi vencido pela menor de todas as criaturas, a Virgem Maria:

“Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em
ordem de batalha?”
(Ct 6,10)

Maria, é para o demônio, temível, pois ela sozinha, pela abundância da Graça de Deus nela, sendo
Cheia de Graça, nunca foi tocada pelo demônio:

“Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do
mundo inteiro. Foi precipitado na terra, e com ele os seus anjos.(...) Este, então, se irritou contra a Mulher e foi
fazer guerra ao resto de sua descendência, aos que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho
de Jesus.”
(Ap 12, 9.17)

Maria é o símbolo da Igreja, nela estão dispostos todos os que amaram e amarão Jesus, o Verbo
Encarnado, ao longo do tempo e da história, e estes combatem contra a serpente, pelo Poder de
Deus, com o terço nas mãos e com a Ave-Maria nos lábios, o AT apresenta Judite, como a
prefiguração do triunfo de Maria Santíssima:

“Bendito seja o Senhor, criador do céu e da terra, que te guiou para cortar a cabeça de nosso MAIOR
INIMIGO!”
(Jd 13,24)

9 ª ESTRELA - MEDIANEIRA DE TODAS AS GRAÇAS:

A maior de todas as Graças que Deus nos deu, é Nosso Senhor Jesus Cristo, esta, que é a maior
graça, nos veio pelas mãos de Maria Santíssima, que sendo Cheia de Graças, não se fechou, mas
se abriu como uma flor que é tocada pelo Sol, desde então, Deus, passou a manifestar-se, por
meio dela, e, quando o Filho, enviou o Espírito Santo, também enviou por meio dela:

“Todos eles perseveravam unanimemente em oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria mãe de
Jesus, e os irmãos dele.”
(At 1,14)

Ela continua no meio da Igreja, até os dias de hoje, trabalhando por nós e em nós, gerando o próprio
Cristo em nosso meio, São Paulo envia uma saudação misteriosa, a qual muitos estudiosos e
doutores, atribuem à Maria Santíssima:

“Saudai a Maria que tem trabalhado muito entre vós.”


(Rm 16,6)

No dia 27 de Novembro de 1830, Santa Catarina de


Labouré, teve uma visão da Virgem Maria, que lhe
pediu para cunhar a Medalha Milagrosa:

A medalha contém na frente a Jaculatória:

“Ó Maria concebida sem pecado rogai por nós que


recorremos a vós.”
241

A Imagem da Mulher, que pisa a cabeça da serpente, que tem as 12 estrelas sobre a cabeça e está
sobre o globo terrestre, o detalhe é que das mãos dela, saem raios, que é o símbolo de todas as
Graças que Deus quer derramar sobre o mundo.

No verso, temos as 12 estrelas, com a letra “M”, primeira letra do nome de Maria, entrelaçada com
a Santa Cruz de Cristo, e logo abaixo o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de
Maria.

“Se a maior de todas as Graças, Jesus Cristo, nosso Salvador, nos veio pelas mãos de Maria, por
que as demais graças, infinitamente menores não viriam pelas mãos de Maria Santíssima?” (São
Luiz Maria Grigmon de Montfort)

10 ª ESTRELA - MÃE DA HUMANIDADE, AOS PÉS DA CRUZ:

Maria Santíssima, é entregue à humanidade, por seu próprio Filho, no auge do Seu trono, a Santa
Cruz:

“Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí teu
filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí tua mãe”. E dessa hora em diante o discípulo a recebeu como sua mãe.”
(Jo 19, 26-27)

Repare, que o nome do discípulo, apesar de sabermos que é São João Evangelista, não é dito, em
seu lugar é dito, “o discípulo que amava”. Sempre que no nome do personagem não fica dito nas
Escrituras, pela intepretação do sentido moral, nós podemos inserir o nosso nome no lugar. Assim,
Nosso Senhor, de forma solene, na posição de Rei em seu Trono, com sua coroa de espinhos,
coberto com o manto de sangue proveniente da flagelação, depois de nos ter dado tudo, nos deu
sua própria mãe:

“Perto da cruz de Jesus estavam de pé a sua mãe....”


(Jo 19,25)

Maria diante do Trono de seu Filho, não cai em desespero, permanece em posição solene junto ao
seu Filho que reina absoluto na Cruz, prestes a remir a humanidade e vencer a morte, pois ela sabe
quem é Ele, o anjo havia lhe dito:

“Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do
Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu
reino não terá fim.”
(Lc 1, 32-33)

Assim, ela é instituída por Nosso Senhor como Mãe da Humanidade, e todos os filhos da Igreja,
são seus filhos:

“Que horror, uma mãe dar a Luz a cabeça e não ao corpo do seu filho, sendo assim, Maria é a mãe
da Igreja, pois dando a Luz a Cabeça, também dá a Luz ao seu Corpo, que é a Igreja.” (São Luiz
Maria Grigmon de Montfort)
242

11 ª ESTRELA - RAINHA DO CÉU E DA TERRA:

“...uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas.”
(Ap 12,1)

Já demonstramos que Maria é Rainha do Céu e da terra, porém, é importante percebermos, que
ela é efetivamente Rainha e reina junto ao seu Filho, pois Jesus, herdou o trono de Davi, e em
Israel, não é a esposa do rei que é a rainha. Davi, reinou sem rainha, mas, a partir de seu filho
Salomão, prefigura de Nosso Senhor, a Rainha, é reconhecida como sendo a mãe do rei.

Quando Salomão iniciou o seu reinado, logo desde o começo, ele fez questão de reverenciar a sua
rainha:

“Betsabé foi, pois, ter com o rei... O rei levantou-se para ir-lhe ao encontro, fez-lhe uma profunda reverência e
sentou-se no trono. Mandou colocar um trono para a sua mãe, e ela sentou-se à sua direita.
(1Rs 2, 19)

Maria Santíssima, é aquela que está a direita de seu filho, reinando com Ele, e intercedendo por
nós junto de seu Filho, ela é a Filha de Jerusalém que encontrou Graça diante de Deus:

“O anjo disse-lhe: “Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus.”
(Lc 1,30)

“Solta gritos de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, ó Israel! Alegra-te e rejubila-te de todo o teu coração,
filha de Jerusalém!”
(Sf 3,14)

Maria é Nossa Mãe, Nossa Rainha e por isso é chamada com muita razão que é Nossa Senhora:

“Tudo que convém a DEUS pela Natureza, convém a Maria pela Graça” (São Luiz Maria
Grigmon de Montfort)

12 ª ESTRELA - CORREDENTORA:

Por fim, temos a participação inequívoca de Nossa Senhora em nossa redenção, pois o Senhor...

“...realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.


(Lc 1, 49)

Maria, assume as dores do mundo, pois ao contemplarmos sua vida, vemos que ela padeceu dores
imerecidas. A dor, se torna mais aguda, quanto mais injusta ela é, como nem Nosso Senhor e nem
Nossa Senhora possuíam pecado, todas as dores por eles padecidas, desde a menor até a maior,
são dores imerecidas, sendo assim, suportam-nas visando a redenção do gênero humano, e pela
boca de Abigail, uma das esposas do Rei Davi, prefigura de Nossa Senhora, vemos ela reclamar
para si as nossas dores:

“Quando Abigail avistou Davi, desceu prontamente do jumento e prostrou-se com o rosto por terra diante dele.
Assim prostrada aos seus pés, disse-lhe: Sobre mim, meu senhor, caia a culpa! Deixa falar a tua serva e ouve
suas palavras.”
(1Sm 25,23-24)
243

A devoção pelas 7 dores de Maria Santíssima, contemplada no terço das Lágrimas de Nossa
Senhora, nos mostra quão dolorosa foi a vida desta nossa Corredentora. O terço de Nossa Senhora
das Lágrimas é relativamente novo, apesar da devoção pelas 7 dores de Maria ser extremamente
antiga.
TERÇO DAS LÁGRIMAS:

Em 1929, a Irmã Amália de Jesus Flagelado, uma imigrante espanhola no Brasil, que desde a
infância teve experiências místicas com Nosso Senhor, quando entrou para o Instituto das Irmãs
Missionárias de Jesus Crucificado, cujo fundador foi o Exmo. Sr. Dom Francisco de Campos Barreto
(Dom Barreto), Bispo de Campinas (ambos em processo de beatificação), recebeu de Nosso
Senhor, por meio de revelações privadas, a devoção pelas Lágrimas de Nossa Senhora (ou
Lágrimas de Sangue). A devoção se espalhou para fora do Brasil, ainda na mesma década, porém,
tem sido redescoberta recentemente no Brasil, e se tornado mais popular desde então.

Nosso Senhor teria dito à irmã Amália:

“Minha filha, o que os homens Me pedem pelas lágrimas de Minha Mãe, Eu amorosamente
concedo”. (08/11/1929)

Eis a métrica do terço ou coroa das Lágrimas de Nossa Senhora:

Oração Inicia:

“Eis-nos aqui aos vossos pés, oh! Dulcíssimo Jesus Crucificado, para vos oferecer as lágrimas d’Aquela
que, com tanto amor, voa acompanhou no caminho doloroso o Calvário. Fazei, oh! Bom Mestre, que
saibamos aproveitar as lições que elas nos dão, para que, na Terra, realizando a vossa santíssima
vontade, possamos um dia no Céu Vos louvar por toda a eternidade.”

Em vez do Pai-Nosso, reza-se:

"Vede meu Jesus, são as Lágrimas d’Aquela que mais vos amou na Terra! E que mais Vos ama no
Céu".

Em vez das Ave-Marias, reza-se sete vezes:

"Ó Jesus, atendei as nossas súplicas: Em virtude das Lágrimas de Sangue da Vossa Mãe Santíssima".

No fim repete-se três vezes:

"Meu Jesus, ouvi as nossas súplicas. Pelas Lágrimas de vossa mãe Santíssima".

Oração final:

“Virgem Santíssima e Mãe das Dores, nós vos pedimos que junteis as vossas súplicas as nossas, a fim
de que Jesus, Vosso Divino Filho, a quem nos dirigimos em nome de Vossas Lágrimas de Mãe, ouça
as nossas preces e nos conceda, com as graças que desejamos, a coroa da Vida Eterna. Assim Seja!
Amém!”

Jaculatórias:

“Por vossa mansidão Divina, ó Jesus manietado, preservai o mundo da perda ameaçadora!”
“Oh” Virgem Dolorosíssima, as vossas lágrims derrubaram o império infernal!” Amém.
244

AS SETE DORES DE NOSSA SENHORA:

1. A profecia de Simeão sobre Jesus:

“Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda
e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem
revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará a tua alma”.”
(Lc 2, 34-35)

2. A perseguição de Herodes e a fuga da Sagrada Família para o Egito:

“Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: “Levanta-te, toma o menino e
sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o
matar”. José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito. Ali permaneceu até a
morte de Herodes para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: Do Egito chamei meu filho (Os
11,1). Vendo, então, Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irritado e mandou massacrar
em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia
indagado dos magos. Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias: Em Ramá se ouviu uma voz, choro
e grandes lamentos: é Raquel a chorar seus filhos; não quer consolação, porque já não existem (Jr 31,15)! Com a
morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse: “Levanta-te, toma o menino e
sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino”. José
levantou-se, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel.”
(Mt 2, 13-21)

3. A perda do Menino Jesus no Templo de Jerusalém durante três dias:

“Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa. Tendo ele atingido doze anos, subiram a
Jerusalém, segundo o costume da festa. Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em
Jerusalém, sem que os seus pais o percebessem. Pensando que ele estivesse com os seus companheiros de
comitiva, andaram caminho de um dia e o buscaram entre os parentes e conhecidos. Mas não o encontrando,
voltaram a Jerusalém, à procura dele. Três dias depois o acharam no templo, sentado no meio dos doutores,
ouvindo-os e interrogando-os. Todos os que o ouviam estavam maravilhados da sabedoria de suas
respostas. Quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe: “Meu filho, que nos fizeste?! Eis que
teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição”. Respondeu-lhes ele: “Por que me procuráveis? Não
sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?”. Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes
dissera. Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas essas coisas no
seu coração.”
(Lc 2, 41-51)

4. O encontro admirável de Maria com Seu Filho Jesus carregando a Cruz, no caminho
para o Calvário:

“Seguia-o uma grande multidão de povo e de mulheres, que batiam no peito e o lamentavam. Voltando-se para
elas, Jesus disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos
filhos. Porque virão dias em que se dirá: Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não
amamentaram! Então, dirão aos montes: Caí sobre nós! E aos outeiros: Cobri-nos! Porque, se eles fazem isso ao
lenho verde, que acontecerá ao seco?”. Eram conduzidos ao mesmo tempo dois malfeitores para serem mortos
com Jesus.”
(Lc 23, 27-31)
245

5. Maria observando o sofrimento e a morte de Jesus na cruz:

“Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria
Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí teu
filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí tua mãe”. E dessa hora em diante o discípulo a recebeu como sua mãe.”
(Jo 19, 25-27)

6. Maria recebe em seus braços o corpo do seu filho morto tirado da cruz:

“Havia ali também algumas mulheres que de longe olhavam; tinham seguido Jesus desde a Galileia para o
servir. Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. À
tardinha, um homem rico de Arimateia, chamado José, que era também discípulo de Jesus, foi procurar Pilatos e
pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos cedeu-o. José tomou o corpo, envolveu-o num lençol branco e o depositou
num sepulcro novo, que tinha mandado talhar para si na rocha. Depois rolou uma grande pedra à entrada do
sepulcro e foi-se embora. Maria Madalena e a outra Maria ficaram lá, sentadas defronte do túmulo.”
(Mt 27, 55-61)

7. Maria observa quando depositaram o corpo de Jesus no sepulcro, ficando Ela em


triste solidão:

“Era o dia da Preparação e já ia principiar o sábado. As mulheres, que tinham vindo com Jesus da Galileia,
acompanharam José. Elas viram o túmulo e o modo como o corpo de Jesus ali fora depositado. Elas voltaram e
prepararam aromas e bálsamos. No dia de sábado, observaram o preceito do repouso.”
(Lc 23, 55-56)

TODOS OS SANTOS E DOUTORES DA IGREJA, CONCORDAM COM AS PALAVRAS A


SEGUIR:

“Maria é um lugar Santo, o Santo dos Santos, em que se formam e modelam os Santos” “Só Maria
achou graça diante de DEUS (Lc 1,30), sem auxílio de qualquer outra criatura” "Foi pela Santíssima
Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo" (São
Luís Maria Grignon de Montfort)

Algo em comum na vida de todos os santos é uma especial e profunda devoção à Nossa Senhora,
e é muito comum, encontrar na biografia dos santos, uma consagração especial, a vivência de um
sacramental que é a oferta da própria vida à Nossa Senhora.

“Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento,
que fielmente deu na anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até à consumação eterna
de todos os eleitos. De fato, depois de elevada ao Céu, não abandonou esta missão salvadora, mas,
com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. Cuida, com
amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até
chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de
advogada, auxiliadora, socorro, medianeira. Mas isto se entende de maneira que nada tire nem
acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo.

Efetivamente, nenhuma criatura se pode equiparar ao Verbo encarnado e Redentor; mas, assim
como o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim
como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde variamente pelos seres criados, assim também
a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas cooperações diversas, que
participam dessa única fonte.
246

Esta função subordinada de Maria, não hesita a Igreja em proclamá-la; sente-a constantemente e
inculca-a aos fiéis, para mais intimamente aderirem, com esta ajuda materna, ao seu mediador e
salvador.” Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964, n.
65.)

UMA DEVOÇÃO ESPECIAL:

Faz parte da formação para a Crisma, que o confirmado, se assim o desejar, seja preparado para
a Consagração Perpétua à Santíssima Virgem, pelo Método de São Luís Maria Grignion de
Montfort, que está descrita no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, geralmente
escolhemos o dia de 8 de Dezembro do ano para fazer a consagração. A primeira coisa a fazer, é
adquirir o livro e ler todo ele, para depois se consagrar.

Após a leitura atenta do livro e a descoberta das verdades a cerca da Santíssima Virgem, e assim
fazer brotar no seu interior a semente da verdadeira devoção mariana, o candidato a ser “Escravo
de Jesus” pelas mãos de Maria Santíssima, deve fazer 30 dias de preparação, conforme a
orientação do livro deixado por São Luís Maria Grignon de Montfort.

São 12 dias preliminares, devotados ao “desapego deste mundo” e o reconhecimento de nossa


própria pequenez. A consagração é uma “vacina” contra a depressão e a tristeza, pois ao
reconhecer-se completamente indigno, o consagrado passa a ver seus sofrimentos como
merecidos, desde os menores até os maiores, e não se lamenta mais por si mesmo, oferencendo
todos os sofrimentos à Santíssima Virgem, para que ela, como Rainha do Céu e da Terra, deposite
no altar celeste nossos pequenos méritos, que por serem entregues por tão grande Rainha, se
tornam mais meritórios.

Depois, são 6 dias dedicados ao conhecimento de si mesmo, 6 dias dedicados ao conhecimento


da Santíssima Virgem, e mais 6 dias dedicados ao conhecimento mais profundo de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Totalizando 30 dias. É comum ainda, após os 30 dias, oferecermos 3 dias de
penitência à Santíssima Trindade. Mas isso pode ser deixado de lado, depende sempre da devoção
de cada um. Mas os 30 dias são indispensáveis. E os consagrados como Escravos de Nossa
Senhora, são convidados a renovar esta consagração todos os anos.

Por ser um voto, os consagrados se obrigam a rezar o Rosário ou o Terço e a Coroinha de Nossa
Senhora todos os dias, a ter uma devoção especial pela Encarnação do Verbo, realizar um ritual
especial antes, durante e depois da comunhão Eucarística na Santa Missa, ter uma devoção
especial pela Santíssima Trindade e a carregar uma “cadeia” que é um sinal visível da consagração,
podendo ser um anel, um colar, uma corda, uma pulseira ou tornozeleira. Os interessados nesta
consagração, deverão conversar com o Catequista e adquirir o livro do Tratado da Verdadeira
Devoção à Santíssima Virgem.
247

8º. PARTE: A VIDA DOS SANTOS (HAGIOGRAFIA)


Hagiografia é o estudo da escrita de biografias de santos e mártires cristãos, geralmente com um
enfoque em sua vida religiosa, virtudes e milagres. É um gênero literário que se desenvolveu na
Idade Média e tem como objetivo celebrar a vida dos santos, preservar sua memória e inspirar a
devoção religiosa. A palavra "hagiografia" vem do grego hagios, que significa "santo", e graphein,
que significa "escrever".

Ser santo, é uma ordem já no AT:

“O Senhor disse a Moisés: “Dirás a toda a assembleia de Israel o seguinte: Sede santos, porque eu, o Senhor,
vosso Deus, sou santo.”
(Lv 19,1-2)

E confirmada pelo NT:

“Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.”


(Mt 5,48)

SE QUERES SER PERFEITO:

No que consiste a Santidade e a Perfeição? Nosso Senhor nos ensina, no diálogo com o jovem
rico:

Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: “Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?”.
Disse-lhe Jesus: “Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres
entrar na vida, observa os mandamentos”. “Quais?” – perguntou ele. Jesus respondeu: “Não matarás, não
cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, 19honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo
como a ti mesmo”. Disse-lhe o jovem: “Tenho observado tudo isso desde a minha infância. Que me falta
ainda?”. Respondeu Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um
tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!”. Ouvindo essas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque
possuía muitos bens. Jesus disse então aos seus discípulos: “Em verdade vos declaro: é difícil para um rico
entrar no Reino dos Céus! Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um
rico entrar no Reino de Deus”. A estas palavras seus discípulos, pasmados, perguntaram: “Quem poderá então
salvar-se?”. Jesus olhou para eles e disse: “Aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível”.
(Mt 19, 16-26)

Há uma diferença entre “ter a vida eterna” e “ser queres ser perfeito”. Ter a vida eterna, é cumprir
os preceitos, já, ser perfeito, é assumir a pobreza interior, e deixar-se ser preenchido por Deus, e
fazer as mesmas coisas, mas não pelo preceito, mas por amor.

“Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos Céus!
(Mt 5,3)

MODOS DE AMAR A DEUS:

Existem três modos de sermos católicos, ou seja, três modos de nos relacionarmos com Deus:

1. Servo/Serva:

É aquele que faz o que o seu Senhor manda, e cumpre todos os mandamentos e obrigações porque
é um preceito;
248

2. Filho/Filha:

É aquele que cumpre o que o Pai pede, com diligência e amor, não se importando muito com o
preceito, mas em não perder a consideração do Pai;

3. Esposo/Esposa:

É aquele que não se importa com os preceitos e não teme perder a consideração do Pai, não por
ser impossível, mas porque o Pai e ele são um só;

"Toda Santidade consiste em amar a Deus e todo o amor a Deus consiste em fazer a sua vontade"
(Santo Afonso Maria de Ligório)

A seguir, temos a seleção de alguns dos grandes modelos de ser humano que já passaram por
este mundo, a Igreja tem mais de 8 mil santos canonizados, e entre beatos, bem-aventurados e
servos de Deus, pode chegar a mais de 20 mil pessoas, a pequena amostra a seguir, é um pequeno
prelúdio da riqueza, a verdadeira riqueza da Igreja, que é o testemunho dos santos e mártires da
Igreja.

“Eis o convite à santidade! Aceitemo-lo com alegria e sustentemo-nos uns aos outros porque o
caminho para a santidade não o percorremos sozinhos, cada qual por sua conta, mas juntos, no
único corpo que é a Igreja, amada e santificada pelo Senhor Jesus Cristo. Vamos em frente com
ânimo, neste caminho da santidade” (Papa Francisco)

O GLORIOSO SÃO JOSÉ, PATRONO DA IGREJA (19 DE MARÇO E 1º DE MAIO):

São José é o patrono da Igreja Católica, foi escolhido por Deus, junto com Nossa Senhora, para
ser o pai, modelo, cuidador e provedor da pequena criança nascida no presépio. São José, assim
como Nossa Senhora, não são santos como os demais santos, pois todo santo, poderia ser ou não
santo, mas no caso de José e Maria, ambos, se não fossem santos, a história da salvação poderia
não ter acontecido.

No caso de São José, pensemos por um instante, como teria sido a história de Jesus se ele não
fosse alguém de profunda oração e justiça? Pois, ele poderia simplesmente ter exigido o seu direito,
que não deixaria de ser justo, alcançaria o Reino dos Céus, mas não teria sido santo. Aqui, temos
um detalhe que é comum na vida de todos os santos: Todos os santos, abriram mão de seus
direitos humanos e justos.

José poderia ter se casado com outra mulher, que permaneceria justo. José poderia ter tido muitos
outros filhos com Maria, que permaneceria justo. Poderia não ter escolhido a vida que teve, e
permaneceria justo. Porém, ele escolheu Maria e seu voto de celibato e virgindade; escolheu casar-
se com ela, sabendo que nunca lhe conheceria como mulher; escolheu não rejeitá-la e acreditar no
Anjo; escolheu permanecer fiel à Palavra de Deus, e à voz do Anjo, ao fugir com sua família para
o Egito.

Meu Bom José (Musica)


(Composição: Georges Moustaki / Nara Leão; Intérprete: Rita Lee)

Olha o que foi, meu Bom José Casar com Débora ou com Sara Você podia simplesmente
Se apaixonar pela donzela Meu Bom José, você podia Ser carpinteiro e trabalhar
Dentre todas, a mais bela E nada disso acontecia Sem nunca ter que se exilar
De toda a sua Galileia Mas você foi amar Maria Nem se esconder com Maria
249

Meu bom José, você podia Por que será, meu bom José Me lembro, às vezes, de você
Ter muitos filhos com Maria Que esse teu pobre filho, um dia Meu bom José, meu pobre amigo
E teu ofício ensinar Andou com estranhas ideias Que desta vida só queria
Como teu pai sempre fazia Que fizeram chorar Maria? Ser feliz com sua Maria

O grau de santidade de cada um, refere-se ao grau de união da pessoa com Nosso Senhor. Depois
de Nossa Senhora, nenhuma pessoa teve mais intimidade com Nosso Senhor do que São José.
Foi ele que ensinou a Deus, ser carpinteiro, ser homem, alimentou-o, sustentou-o, e no mesmo
versículo que vemos Jesus manter-se submisso à Maria, vemos o próprio Deus, submetendo-se a
São José.

A história de São josé, tem início ainda no AT, quando o rei Davi, manifesta seu desejo de construir
uma “casa” para a Arca da Aliança, uma casa para Deus. Então, o profeta Natã diz a Davi, que não
será ele quem construirá uma “casa” para Deus, mas será o “Filho de Davi”. A palavra casa, aqui,
tem um duplo significado, pois significa, literalmente uma casa, um templo, que foi o próprio
Salomão, filho de Davi que lhe sucedeu o trono, mas é casa, também, como é a casa dos reis, a
“Casa de Davi”, é Deus quem irá construir:

“Porque vós mesmo, ó Senhor dos exércitos, fizestes ao vosso servo esta revelação: ‘Eu te construirei uma
casa’. Por isso, o vosso servo atreveu-se a dirigir-vos essa prece. Agora, ó Senhor Javé, vós sois Deus e vossas
palavras são a mesma verdade. Pois que prometestes ao vosso servo esta graça, abençoai desde agora a sua
casa para que ela subsista para sempre diante de vós. Porque sois vós, Senhor Javé, que falastes e graças à
vossa bênção a casa de vosso servo será abençoada para sempre”.”
(2Sm 7, 27-29)

Um pouco antes desta promessa em forma de revelação, Deus, afirma, que será o Filho de Davi
que construirá uma casa para Ele. Realmente construiu Salomão o templo, onde foi depositada a
Arca da Aliança contendo as tábuas da Lei. Ora, a Arca e as tábuas eram objetos sacros, mas não
eram o próprio Deus.

“Quando chegar o fim de teus dias e repousares com os teus pais, então suscitarei depois de ti a tua
posteridade, aquele que sairá de tuas entranhas e firmarei o seu reino. Ele me construirá um templo e
firmarei para sempre o seu trono real. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho.”
(2Sm 7, 12-14a)

Nosso Senhor Jesus Cristo, é o “novo” Salomão, e por muitas vezes é chamado de “Filho de Davi”
pelo NT, porém, além dele, apenas São José é chamado assim, e quase nos passa despercebido
o detalhe, de que foi São José, quem construiu a Casa de Nazaré, na qual o menino Jesus viveu e
cresceu, São José fez, literalmente o que nem o grande Rei Davi e o sábio Rei Salomão foram
capazes, deu ao próprio Deus, um lar, uma casa, para chamar de sua.

“Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: “José, filho de Davi,
não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo“.
(Mt 1, 20)

O anúncio do Anjo a São José, deixa claro que desde o início, os primeiros cristãos tinham esta
certeza e convicção, de que São José, era Filho de Davi, da Casa de Davi, logo, um dos sucessores
do trono de Davi, e é literalmente sobre este seu sucessor, que o texto de Samuel se refere, como
sendo literalmente aquele que iria construir, como de fato construiu, a Casa onde Deus morou.

O NT, apresenta por duas vezes a genealogia de Jesus, em ambas, tanto no Evangelho de São
Lucas quanto no Evangelho de São Mateus, o descendente de Davi, do qual Jesus é também
descendente, é São José:
250

“Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. Abraão gerou Isaac. Isaac gerou Jacó. Jacó gerou
Judá e seus irmãos. Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara. Farés gerou Esron. Esron gerou Arão. Arão gerou
Aminadab. Aminadab gerou Naasson. Naasson gerou Salmon. Salmon gerou Booz, de Raab. Booz gerou Obed,
de Rute. Obed gerou Jessé. Jessé gerou o rei Davi.O rei Davi gerou Salomão, daquela que fora mulher de
Urias. Salomão gerou Roboão. Roboão gerou Abias. Abias gerou Asa. Asa gerou Josafá. Josafá gerou Jorão. Jorão
gerou Ozias. Ozias gerou Joatão. Joatão gerou Acaz. Acaz gerou Ezequias. Ezequias gerou Manassés. Manassés
gerou Amon. Amon gerou Josias. Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no cativeiro da Babilônia. E, depois do
cativeiro da Babilônia, Jeconias gerou Salatiel. Salatiel gerou Zorobabel. Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou
Eliacim. Eliacim gerou Azor. Azor gerou Sadoc. Sadoc gerou Aquim. Aquim gerou Eliud. Eliud gerou Eleazar.
Eleazar gerou Matã. Matã gerou Jacó. Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado
Cristo.”
(Mt 1,1-16)

“Quando Jesus começou o seu ministério, tinha cerca de trinta anos, e era tido por filho de José, filho de Heli,
filho de Matat, filho de Levi, filho de Melqui, filho de Jané, filho de José, filho de Matatias, filho de Amós, filho de
Naum, filho de Hesli, filho de Nagé, filho de Maat, filho de Matatias, filho de Semei, filho de José, filho de
Judá, filho de Joanã, filho de Resa, filho de Zorobabel, filho de Salatiel, filho de Neri, filho de Melqui, filho de Adi,
filho de Cosã, filho de Elmadão, filho de Her, filho de Jesus, filho de Eliezer, filho de Jorim, filho de Matat, filho de
Levi, filho de Simeão, filho de Judá, filho de José, filho de Jonão, filho de Eliacim, filho de Meleia, filho de Mena,
filho de Matata, filho de Natã, filho de Davi, filho de Jessé, filho de Obed, filho de Booz, filho de Salmon, filho de
Naason, filho de Aminadab, filho de Arão, filho de Esron, filho de Farés, filho de Judá, filho de Jacó, filho de Isaac,
filho de Abraão, filho de Taré, filho de Nacor, filho de Sarug, filho de Ragau, filho de Faleg, filho de Eber, filho de
Salé, filho de Cainã, filho de Arfaxad, filho de Sem, filho de Noé, filho de Lamec, filho de Matusalém, filho de
Henoc, filho de Jared, filho de Malaleel, filho de Cainã, filho de Henós, filho de Set, filho de Adão, filho de Deus.”
(Lc 3, 23-38)

Havemos de notar que há uma grande diferença entre estas genealogias, porém, é importante
perceber que as intenções dos autores são também diferentes, enquanto São Mateus, está
preocupado em apresentar ao mesmo tempo, o cumprimento da promessa feita por Deus, também
quer apresentar a ruptura que significa Maria, “da qual nasceu Jesus”, pois ela é a Imaculada
Conceição, assim, Jesus é ao mesmo tempo, descendente de Davi, porém, não herdou o pecado
de seus antepassados Abraão e Davi.

Já São Lucas, apresenta de forma contrária, partindo de Jesus até Adão, para demonstrar que
Jesus é “Filho de Deus”, um título que o próprio Senhor havia atribuído a si mesmo. Os nomes, por
exemplo, não batem, pois como pai de José, é apresentado em Lucas, “José, filho de Heli” e em
Mateus “Jacó gerou José”. Este impasse é facilmente resolvido com a proposição de se tratar de
um homem com um duplo nome, como era comum: “Heli Jacó” ou “Jacó Heli”. Mas, também pode
ser apenas o patriarca mais próximo e conhecido na época, seja Jacó ou Heli, como patriarcas da
família, sendo um tio ou até o avô de São José. Mas o ponto focal é que Jesus, é descendente de
Davi, materialmente, legalmente, por ser filho de José.

A cerca do casamento de José e Maria, importa dizer que na tradição judaica, o casamento tinha
“duas fases”, uma primeira fase em que os noivos, estavam casados, mas não moravam ainda
juntos, e uma segunda fase, em que, após uma cerimônia, os dois iriam morar juntos. Vejamos
como á narrado o preâmbulo do nascimento de Jesus em São Mateus, que é um Evangelho cuja
perspectiva da narrativa, parece ser contata pela ótica de São José:
18
”Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu
que ela concebeu por virtude do Espírito Santo. 19José, seu esposo, que era homem de bem (JUSTO), não
querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente. 20Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor
lhe apareceu em sonhos e lhe disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que
nela foi concebido vem do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque
ele salvará o seu povo de seus pecados”. 22Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou
251

pelo profeta: 23Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Is 7,14), que
significa: Deus conosco. 24Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua
casa sua esposa. 25E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus.”
(Mt 1,18-25)

Maria, quando recebe o anúncio do anjo, já havia contraído o casamento com José, ainda estavam
na primeira fase do casamento

São José, estava com “medo” de receber Maria por esposa, então, o Anjo, lhe dá a Missão de ser
esposo de Maria e de ser pai de Jesus. Mas por que São José apresenta-se com medo de receber
Maria por esposa? Muitos autores da Tradição da Igreja, afirmam que São José, estava com medo
de Maria ter cometido um adultério, e mesmo assim, decide não a rejeitar publicamente, o que já
denotaria a grandeza do homem.

Há outra tradição, a de São Jerônimo, que explica de outra forma, e a escolha das possibilidades
fica ao encargo de cada um. Então, com base nos Evangelhos e na Tradição, antes de ser
prometida em casamento, Maria era uma Virgem do Templo e havia feito um voto de celibato. O
que reforça isso, é a concepção virginal de Maria, pois, não seria problema nenhum, Jesus ser filho
biológico de São José, não diminuiria em nada, o Ser de Jesus, que permaneceria sendo Homem
e Deus.

Outro fato importante, é que a Virgem Maria, no Evangelho de São Luca, que é contado pela ótica
de Maria, diz o seguinte:

“Maria perguntou ao anjo: “Como se fará isso, pois não conheço homem?””
(Lc 1,34)

Ora, ela já estava casada com São José, era apenas questão de dias, e poderiam consumar o
casamento e gerar biológica e naturalmente o Filho de Deus. Porém, ela apresenta o
questionamento, exatamente porque, tanto ela, quando São José, já haviam conversado, e já
haviam se proposto o matrimônio celibatário (Matrimônio Josefino), eles possuíam uma sintonia
espiritual tremenda, pois ambos foram preparados por Deus, para serem os pais de Jesus.

É importante entendermos, que São José, não é o pai biológico de Jesus, porém, ele sempre fez
parte dos planos de Deus para ser o pai de Jesus, mas como isso, ainda não estava tão claro para
José, então, o “medo” que José tinha de assumir algo que ele não fazia parte, ele não queria ser o
intruso nos planos de Deus, então, para não “difamar” Maria, ele decide rejeitá-la secretamente,
assumindo para si, a má fama de ter-lhe feito um filho, e de tê-la abandonado.

Aqui, fica exposta a tremenda humildade de São José, ele percebeu a escolha de Maria desde
sempre, viu a sua grandiosidade e exuberância, viu que Deus operou um milagre majestoso, pois
em momento algum passou por sua cabeça de homem justo que ela teria cometido um adultério,
então, ele se resigna e com a devida discrição, retira-se do foco, pois sabia de que barro era feito,
e sem nenhum tipo de rancor ou má intenção, acha que não faz parte dos planos de Deus e se
afasta, a atitude de São José, depois, é exaltada por Nosso Senhor, como vemos:

“Quando fores convidado às bodas, não te sentes no primeiro lugar, pois pode ser que seja convidada outra
pessoa de mais consideração do que tu, e, vindo o que te convidou, te diga: Cede o lugar a este. Terias então a
confusão de dever ocupar o último lugar. Mas, quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que,
quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, passa mais para cima. Então, serás honrado na presença de
todos os convivas. Porque todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será
exaltado”.
(Lc 14, 8-11)
252

E é exatamente isso que acontece. São José, já estava decidido em se retirar, por medo de se
engrandecer ao julgar que seria o pai do Filho de Deus, mas o anjo, o portador da mensagem de
Deus, lhe esclarece tudo:

“José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito
Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados”.
(Mt 1, 20b-21)

Assim, o Anjo dá o desígnio a São José, ele será o esposo de Maria e, será o pai de Jesus, pois é
tarefa do pai, dar o nome ao filho, assim termina exaltado, aquele que se humilhou diante de Deus.

SANTA JOSEFINA BAKHITA (8 DE FEVEREIRO)

Menina pagã, nascida no Sudão em 1874, ainda menina, foi sequestrada por Árabes, os quais lhe
atribuíram um nome Árabe, “Bakhita”, que significa “felizarda”, que foi uma forma de ironia, para se
referir ao fato de ser escravizada por eles.

Bakita, tentou de várias formas alcançar sua liberdade fugindo, é perseguida e capturada várias
vezes, precisou fugir de seus perseguidores e de leões para se manter viva, mas é duramente
açoitada quando capturada, a ponto de ser deixada quase morta tendo sua pele arrancada como
castigo, e depois vendida como coisa. Maltratada e humilhada, tem o corpo marcado a ferro em
brasa, e o corpo desenhado com lâminas. Ela descreveu estes episódios:

“agora era a minha vez, não tinha força para me movimentar, depois de fazer o desenho habitual
com a farinha branca, pegaram uma lâmina e me cortaram seis vezes no peito, sessenta vezes na
barriga e quarenta e oito vezes no braço direito. Não posso descrever o que senti, especialmente
quando espalharam sal violentamente nas chagas, para fazerem o sinal bárbaro mais distinto
ainda”. (https://www.acn.org.br/bakhita/)

Ela não tinha nem 12 anos, quando estas coisas aconteceram... Muitos anos mais tarde, após
chegar como escrava na Itália, mesmo nunca tendo visto uma cruz, ou ter tomado algum
conhecimento sobre a história da salvação, ao receber uma cruz, de um católico que lhe deu de
presente, ela recebe a cruz, entende o tamanho do sofrimento ali contido e com profunda devoção,
beija a cruz, que deixou Bakhita impressionada:

“a cruz era um segredo, ela me dava uma força misteriosa e um sentimento que eu não entendia. Se
eu já tivesse conhecido Jesus durante os meus anos de escravidão, teria sofrido muito menos”.
(https://www.acn.org.br/bakhita/)

No ano de 1890 Bakhita recebeu no mesmo dia o Batismo, a Primeira Eucaristia e a Crisma,
recebendo o nome de Josefina Margarida e Afortunada (Bakita), que segundo ela, foi uma alegria
que só os anjos poderiam descrever.

A pedido da madre superiora, relatou toda a sua história às irmãs de sua congregação no
manuscrito de 1910, nunca se lamentou pelo que havia passado. Ela nunca culpou as pessoas que
a torturaram e escravizaram. Certa vez um estudante de Pádua perguntou o que ela faria se
encontrasse novamente os mercadores de escravos que a sequestraram e torturaram. Sua
resposta foi:

“se eu encontrasse os negreiros que me raptaram e também aqueles que me torturaram, me


ajoelharia e beijaria suas mãos, porque se não tivesse acontecido tudo isso, eu não seria hoje cristã
e religiosa”. (https://www.acn.org.br/bakhita/)
253

Ela chamava Deus de o “Patrão”. Ficou famosa a frase que repetia para todos: “faz como o Patrão
quer”. Durante a Segunda Guerra Mundial, Schio, sua cidade, foi bombardeada várias vezes.
Quando soava o alarme para as pessoas correrem para os abrigos antiaéreos, Irmã Bakhita não
se movia e dizia, “deixa que atirem, é o Patrão quem comanda”, e permanecia durante o
bombardeio rezando o terço no lugar em que estava até sessarem as bombas. E de fato, cerca de
50 bombas caíram por perto e nenhuma explodiu. Esse fato foi muito comentado e o povo atribuía
o fato incrível a Irmã Bakhita. Quando em 1943, em plena guerra, nossa santa festejou 50 anos de
vida religiosa, toda a cidade de Schio festejou junto com ela, pois a consideravam sua protetora
naqueles dias terríveis da guerra.

Antes de morrer disse:

“Eu estou indo… para a eternidade! Sabe, eu vou levar duas malas. Uma com os meus pecados, outra
bem mais pesada, com os méritos de Cristo. Vou então me apresentar diante de Deus, dando um
jeito de cobrir com o manto de Nossa Senhora a mala com os meus pecados e aí abro a mala com
os méritos de Cristo e digo para Deus - agora me julgue com base no que está aqui. Aí vou olhar para
trás, onde vai estar São Pedro cuidando da porta e vou dizer a ele, fecha logo essa porta São Pedro,
porque eu vou ficar aqui!”. (https://www.acn.org.br/bakhita/)

SANTA GIANNA BERETTA MOLLA (28 DE ABRIL)

Nascida na Itália, em Outubro de 1922, a vida de Gianna, foi uma profecia. Na Universidade e
depois de formada era um apostolado contínuo. Das suas meditações, das orações, nasce sua
ação apostólica, feita com um grande desejo de levar mais almas para Cristo. A sua ação era
intensa. Ela dizia:

“cada cristão não pode esconder ou conservar só para si esta novidade e riqueza recebidas da
bondade divina, mas deve comunicá-la a todos os homens”. (https://www.acn.org.br/gianna/)

Como médica, era ferrenha defensora da vida humana:

“todo mundo trabalha de um modo ou de outro a serviço do ser humano. Nós médicos, trabalhamos
diretamente no homem. O objeto da nossa ciência é o próprio homem, o qual, diante de nós diz
‘ajude-me’ e espera de nós que o façamos voltar para a plenitude de sua existência”.
(https://www.acn.org.br/gianna/)

Amava ser mãe, e seu desejo maior, era dar filhos à Deus, com uma generosidade que espantava
a muitos. Dizia que a mulher, encontra a vontade de Deus, com um filho nos braços. E desde que
as crianças nasciam, ela logo os batizava e os levava à Santa Missa, e participava da Comunhão,
sempre com os filhos no colo, para que pudessem estar mais próximos de seu verdadeiro Pai.

Após a terceira gestação muito difícil, Gianna engravidou pela quarta vez, em 1961. Já no segundo
mês de gravidez, notou algo estranho: um fibroma começou a se formar ao lado do seu útero. A
cada dia o fibroma crescia e logo começou a ameaçar a vida do bebê ainda por nascer. Como
médica, ela compreendia perfeitamente o perigo que tanto ela como seu novo filho corriam. Mas
sua confiança em Deus era total. Rezava muito e pedia a seus filhos para rezar também, pois, ela
dizia: “Deus ouvirá melhor a oração dos inocentes”.

A situação era muito grave, e nestes casos, o procedimento da medicina é remover a criança com
um aborto, e retirar o fibroma, salvando a mãe e perdendo a gestação, pois continuar com a
gestação, seria um risco muito grande, pois o útero poderia se romper a qualquer momento devido
ao aumento de tamanho da criança.
254

Sendo médica, ela compreendia perfeitamente os riscos, e apoiada por seu marido e por seu irmão,
que também era médico, foi ao cirurgião e disse que era para continuar a gestação, e que não era
para colocar a vida do bebê em risco.

Mesmo com o perigo do rompimento da costura, o cirurgião fez o que Gianna pediu, a cirurgia
correu bem, mas a recuperação dela era muito custosa, pois não podia tomar muitos medicamentos
para dor, por causa do bebê, aguentou tudo, sem reclamar, e mesmo nestas condições, ela
trabalhou até os últimos dias da gestação.

Ela sempre repetia: “seja feito o que Deus quiser”, e participava da Santa Missa diariamente,
quando o parto se aproximou, ela disse ao seu marido:

“Se deveis decidir entre mim e o filho, nenhuma hesitação: escolhei – e isto o exijo – a criança. Salvai-
a”! Nessa época, ela escreveu a uma amiga: “Irei em breve para o hospital, mas não estou certa de
que voltarei para casa. A minha gestação é difícil: eles deverão salvar ou a mãe, ou o bebê; eu quero
que o meu filho viva!” (https://www.acn.org.br/gianna/)

Na Sexta-Feira Santa, Pietro, vai com Gianna ao hospital para ser internada para o parto, em um
diálogo com uma das enfermeiras, disse:

“Aqui estou, vim aqui para morrer. O importante é que tudo corra bem para o bebê, não se importe
comigo”. (https://www.acn.org.br/gianna/)

E em uma despedida do seu esposo, antes da cirurgia, disse:

“Estou pronta para tudo o que Deus quiser”. (https://www.acn.org.br/gianna/)

Pietro, neste momento, lembrou-se da carta que ela havia escrito para ele, nas vésperas do seu
casamento:

“Meu amado Pietro, como agradecer a magnífica aliança? Querido Pietro, em sinal de
reconhecimento, eu lhe dou o meu coração e sempre amarei você como o amo agora. Acredito que
na véspera de nosso noivado há de sentir-se feliz, sabendo que é para mim a pessoa mais querida,
a quem sempre dirijo meus pensamentos, afetos e desejos e só espero o momento de ser sua para
sempre. Queridíssimo Pietro, você sabe que é meu desejo vê-lo feliz e saber que está feliz; diga-me
como deverei ser e o que deverei fazer para fazê-lo feliz… Com muito amor, desejo-lhe uma Santa
Páscoa, Um abraço, Sua Gianna” (https://www.acn.org.br/gianna/)

No Sábado de Aleluia, a cesárea foi feita, o bebê é uma menina com mais de quatro quilos e estava
muito bem, Gianna, havia escolhido o nome de Emanuela, e seu Pietro, completou com o nome da
mãe: Gianna Emanuela.

Após o parto, as condições de Gianna pioraram muito, e tudo o que a medicina tinha a disposição
foi tentado para salvar a sua vida, porém, sem sucesso, e quando não havia nenhuma chance de
recuperação, os médicos permitiram que ela fosse para casa, morrer em paz com sua família. Sua
irmã, freira missionária na Índia, estava com ela e lhe deu um crucifixo, ao que ela disse:

“Jesus, eu te amo... Se você soubesse quanto conforto eu recebo beijando o crucifixo! Se não fosse
Jesus que me consola em certos momentos… do leito de morte a gente julga as coisas de modo bem
diferente, durante a vida a gente costuma dar valor a coisas que na verdade não tem nenhum valor”.
(https://www.acn.org.br/gianna/)
255

Após receber a unção dos enfermos, poucas horas depois, veio a falecer. A pequena Gianna
Emanuela foi batizada no dia seguinte, junto ao velório da mãe, que estava completamente lotado,
pois ela era uma mulher muito querida por todos, uma paciente de Gianna escreveu a Pietro:

“Os habitantes de Mesero nunca se esquecerão do sorriso que sua esposa tinha para todos, nem da
sua simplicidade, da sua imensa bondade para com cada um e em qualquer circunstância. Cada um
de nós tem uma lembrança belíssima de haver conhecido não uma médica qualquer, mas uma
verdadeira mãe”. (https://www.acn.org.br/gianna/)

SANTA BERNADETTE SOUBIROUS (16 DE ABRIL)

Bernadette era a filha mais velha de uma família extremamente pobre da cidade de Lourde/França,
moravam em um antigo calabouço que era uma prisão, que havia sido desativada devido as
péssimas condições para servir de prisão, devido a estrutura fria e úmida. Era uma moça simples,
sem estudo e sem muito destaque intelectual.

Em 11 de Fevereiro de 1858, na gruta de Massabielle ela Viu Nossa Senhora que se declarou como
“A Imaculada Conceição”, 4 anos antes o Papa Pio IX havia proclamado o dogma da Imaculada
Conceição de Nossa Senhora e Bernadette não fazia ideia disso.

Desacreditada, humilhada, ofendida, perseguida, investigada, obrigada a ser Freira (pois não se
julgava digna), Nossa Senhora lhe disse: “Eu não prometo fazê-la feliz nesse mundo. Mas no
próximo, eu garanto”.

A Virgem pediu que fizessem penitência pelos pecadores. O fato de a menina se voltar chorando
para a multidão e gritar “penitência, penitência, penitência” assustou a todos. A polícia e algumas
autoridades locais fizeram de tudo para que a menina negasse as aparições. Inclusive ameaçaram
que algo de mal iria acontecer a ela e à sua família se ela não negasse tudo. Como sempre, ela se
manteve firme e calma. A essa altura, depois de várias conversas com seus pais e com o padre
Pomian, estes começaram a acreditar que as aparições eram verdadeiras. A menina não tinha
medo de nada, nem de ninguém, e todas as vezes que contava as aparições nunca caía em
contradição. A história era sempre a mesma em seus mínimos detalhes.

A polícia, então, mudou de tática e tentou desacreditar a família. Começou a espalhar o rumor que
era tudo invenção da família e que, muito pobre, queria se aproveitar da crendice popular para
ganhar algum dinheiro. Mas esse rumor não tinha credibilidade, pois todos viam que o
comportamento de toda a família era o contrário disso. Algumas pessoas piedosas, vendo a grande
pobreza da família, lhes ofereciam dinheiro, roupas ou comida. Eles sempre recusavam qualquer
presente e instruíram as crianças para nunca aceitar nada de estranhos. A própria Bernadette
nunca aceitou nem dinheiro e nem presentes de quem quer que fosse. A polícia investigou se eles
estavam recebendo algo e comprovou que, na realidade, recusavam tudo que se lhes queria dar,
apesar de sua grande pobreza.

Na manhã do dia 25 de fevereiro, a multidão que acompanhava Bernadette já estava apreensiva


para saber se neste dia haveria alguma mensagem, algum pedido, ou ainda algum sinal. Neste dia,
a Senhora disse a Bernadette para que bebesse água da fonte. Mas não havia nenhuma fonte ali,
apenas uma terra enlameada. Assim, Bernadette se arrastou para perto da gruta onde estava a
senhora e começou a cavar aquela terra enlameada com as próprias mãos. Logo um filete de água
barrenta surgiu no fundo do pequeno buraco e Bernadette lavou o rosto e as mãos com aquela
água, ficando toda suja de barro. Muitos começaram a zombar dela e a desacreditar das aparições,
acharam que estava louca, ainda mais depois que a visão acabou e que ela explicou que a Senhora
pediu que ela bebesse da água da fonte. Todos viam que lá não havia fonte nenhuma, apenas um
pequeno filete de água e por isso não deram ouvidos a vidente.
256

Eis que no dia seguinte, aquele filete de água estava realmente se transformando em uma fonte
que logo desembocaria no rio Gave. Já neste dia, muitos doentes beberam daquela água e ficaram
curados. Hoje se conhece esta fonte como “a nascente dos milagres”, e é estudada por um centro
de médicos especialistas de Lourdes.

Santa Bernadette viveu o anonimato a vida toda, apenas suas superiores e formadora sabiam quem
ela era. As demais irmãs só sabiam que a vidente de Lourdes era uma das irmãs do convento,
porém, nunca nenhuma das irmãs suspeitou de sua identidade, tamanha era sua humildade,
discrição e obediência.

Sabendo quem ela era, a sua formadora logo lhe imputou uma dura perseguição. Bernadette era
colocada para fazer as mais duras tarefas, as quais realizava sem nunca reclamar. Muitas vezes,
a irmã lhe via andar mancando, e logo lhe chamava a atenção, e dizia para ela parar de fingir que
estava com dor.

Um determinado dia, Bernadette caiu, e a irmã a obrigou se levantar e ir para o quarto, Bernadette
não conseguiu se levantar, e tentou se arrastar até o quarto, porém, sem sucesso. Foi levada até
os seus aposentos, um médico foi chamado e deu o diagnóstico: Tuberculose Óssea.

Uma das características principais da Tuberculose Óssea são as dores lancinantes das quais
padecem os pacientes, além de uma paralisia que acomete os pacientes, porém, quando veio o
diagnóstico, Bernadette já estava em estágio avançado da doença, e não só nunca diminuiu a
intensidade de seus afazeres, orações, vigílias e tarefas do convento, como nunca manifestou a
ninguém, suas dores, tendo pouquíssimas vezes flagrada coxeando ao andar. Ao saber disso, sua
formadora, que até então lhe perseguia, passou a lhe carregar no colo e tornou-se sua cuidadora
até sua morte:

Em 1879 sua saúde piorou muito. Ficava de cama o tempo todo com muitas dores. Ela estava com
apenas 35 anos de idade. Em seu leito de morte, a pedido do Papa Pio IX, foi lhe pedido para fazer
um juramento solene de que as aparições haviam sido verdadeiras. Ela o fez sem pestanejar.
Enquanto isso, em Lourdes, os milagres de cura de doentes se multiplicavam aos que se banhavam
na fonte surgida milagrosamente na gruta. Então, uma irmã do convento perguntou à irmã
Bernadette porque ela não pedia para ser levada a Lourdes para ser curada. Ela respondeu: “isto
não é para mim”.

No dia 16 de abril ficou claro que a irmã estava morrendo. Várias irmãs se ajoelharam ao redor de
sua cama para rezar. A irmã havia pedido orações. Numa das orações, as irmãs disseram a frase da
Ave Maria “Santa Maria, Mãe de Deus”, ela respondeu com voz forte: “Santa Maria, Mãe de Deus,
rogai por mim pobre pecadora”. Ela então fez um lento sinal da cruz e morreu em paz.

As coisas mais extraordinárias começaram a acontecer depois da morte de Bernadette. As irmãs


notaram com espanto que o corpo da irmã estava flexível, como se ela estivesse em vida. Seu rosto
ficou mais jovem e mais bonito, irradiando paz e pureza. No dia seguinte o corpo continuava como
se ela estivesse viva, com cor e flexibilidade. Sua cabeça recebeu uma coroa de rosas brancas e em
suas mãos foi posto o rosário que ela sempre trouxe consigo, e o papel assinado por ela contendo
os votos. Parecia que ela estava dormindo em profunda paz.

Apesar de não se falar dela nos anos em que esteve reclusa no convento, a notícia de sua morte
correu célere por toda a região. Multidões apareceram na capela do convento para se despedir dela,
para rezar, para vê-la. O enterro teve de ser adiado duas vezes para que todos pudessem vê-la. As
filas não diminuíam, o povo todo já a proclamava santa e todos queriam que algum objeto fosse
tocado em seu corpo, as mães traziam bebês e crianças. Os trens para Lourdes iam lotados de fiéis
que desejavam prestar sua última homenagem. Na missa de corpo presente, no dia do enterro, todas
as ruas em volta do convento ficaram lotadas de fiéis rezando. Finalmente, no terceiro dia, as irmãs
257

conseguiram fechar o caixão e a irmã foi enterrada no próprio convento.


(https://www.acn.org.br/bernadette-soubirous/)

Em 1909, pelas circunstâncias das investigações para a beatificação de Bernadette, o caixão dela
que havia sido enterrado em 1879, portanto 30 anos após seu falecimento, foi aberto pela comissão
pontifícia, além de muitas outras testemunhas e autoridades que estavam presentes, puderam
constatar que o corpo de Bernadette, estava intacto, em perfeito estado de conservação, do mesmo
modo como havia sido enterrado: o rosto de Bernadete era de um “branco opaco”, não era
ainda possível ver profundidade em seus olhos e ela tinha as mãos “perfeitamente intactas”.

Aquela jovem mulher, parecia apenas estar dormindo, em vista deste milagre inexplicável, seu
corpo foi colocado numa urna de cristal e colocado em exposição na capela do convento sob a bela
imagem de Nossa Senhora, onde podem ser veneradas suas relíquias e ser constatado este
milagre contínuo, que perdura até os dias de hoje. Eis o testemunho do Médico e do Cirurgião que
testemunharam o fato e juízo:

“A urna de madeira foi desparafusada e a de chumbo aberta, revelando o corpo de Bernadete em


estado de perfeita conservação. Não havia sequer traço de mau cheiro. As irmãs que a haviam
enterrado trinta anos antes notaram apenas que suas mãos haviam caído levemente para a
esquerda. Mas as palavras do cirurgião e do médico, pronunciadas sob juramento, falam por si
mesmas:

O caixão foi aberto na presença do bispo de Nevers, do prefeito da cidade, de seu principal sucessor,
de vários canonistas, bem como de nós mesmos. Não notamos nenhum mau cheiro. O corpo se
encontrava vestido com o hábito da Ordem à qual pertencia Bernadete. O hábito estava úmido.
Apenas o rosto, as mãos e os antebraços estavam descobertos.

A cabeça estava inclinada para a esquerda. O rosto era de um branco opaco. A pele estava grudada
nos músculos e estes aderiram aos ossos. As órbitas oculares estavam cobertas pelas pálpebras. As
sobrancelhas estavam retas na pele e grudadas às arcadas acima dos olhos. Os cílios da pálpebra
direita estavam presos à pele. O nariz estava dilatado e enrugado. A boca se encontrava levemente
aberta e era possível ver os dentes ainda no lugar. As mãos, cruzadas sobre o seu peito, estavam
perfeitamente preservadas, bem como as unhas. As mãos ainda seguravam um rosário enferrujado.
Chamavam atenção as veias nos antebraços.

Como as mãos, os pés estavam enrugados e as unhas dos pés ainda estavam intactas (uma delas foi
arrancada quando o cadáver foi lavado). Quando os hábitos foram removidos e o véu foi levantado
da cabeça, era possível ver o todo do corpo emurchecido, rígido e esticado em cada membro.

Verificou-se que o cabelo, que havia sido cortado curto, estava preso à cabeça e ainda ligado ao
crânio; que as orelhas estavam em um estado de perfeita conservação; e que o lado esquerdo do
corpo achava-se levemente mais alto que o direito do quadril para cima.

O estômago cedeu e estava esticado, como o resto do corpo. Ele parecia um papelão quando
atingido. O joelho esquerdo não era tão grande quanto o esquerdo. Sobressaíam-se as costelas, bem
como os músculos nos membros. Achava-se tão rígido o corpo, a ponto de ser possível virá-lo e revirá-
lo para ser lavado. As partes inferiores do corpo haviam se tornado levemente enegrecidas. Isso
parece ter sido resultado do carbono, do qual grandes quantidades foram encontradas no caixão.
Como prova de tudo isso, redigimos devidamente a presente declaração, na qual tudo está registrado
com veracidade.”

Nevers, 22 de setembro de 1909.


Drs. Ch. David, A. Jourdan.
258

Camadas muito finas de cera foram colocadas sobre o rosto e as mãos do corpo de Santa
Bernadete, em 1925 a fim de disfarçar-lhe os olhos e o nariz fundos, bem como o tom enegrecido
do rosto e das mãos.

Foto tirada após a exumação em 1909


Foto tirada no velório em 1879

Rosto atual sem a cera

Rosto atual com a cera

Foto de Santa Bernadette


Souberous por volta dos
seus 16 anos.
259

9º. PARTE: MILAGRES


Concluímos o capítulo anterior, apresentando um milagre contínuo, um fato inexplicável que ainda
acontece até os dias de hoje, a incorruptibilidade do corpo de Santa Bernadette, a menina que viu
Nossa Senhora em Lourdes. E não apenas este milagre, mas também, os inúmeros milagres que
acontecem todos os anos na Gruta de Massabielle, onde a fonte cavada por Bernadette jorra água
até hoje, e milhares são os que tomam ou se banham na água, são curados, então, nos vem a
questão:

POR QUE ESTES FATOS ACONTECEM?

Primeiro é importante compreender, que os milagres, sinais e prodígios, não são a “razão” da fé,
são apenas instrumentos pelos quais, Deus se utiliza, para o bem das pessoas, para que, tenham
a fé fortalecida e animada.

“O motivo de crer não é o fato de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligíveis
à luz da nossa razão natural. Nós cremos “por causa da autoridade do próprio Deus revelador, que
não pode enganar-se nem nos enganar”. “Contudo, para que a homenagem da nossa fé fosse
conforme à razão, Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem acompanhados de
provas exteriores da sua Revelação”. Assim, os milagres de Cristo e dos santos, as profecias, a
propagação e a santidade da Igreja, a sua fecundidade e estabilidade “são sinais certos da Revelação,
adaptados à inteligência de todos”, “motivos de credibilidade”, mostrando que o assentimento da fé
não é, “de modo algum, um movimento cego do espírito”. (CatIC 156)

Os milagres estimulam a nossa inteligência e desafiam a nossa razão, retira-nos do lugar comum
e da segurança de nossas “certezas”, conceitos, ideologias e preconceitos que nos param e muitas
vezes nos impedem de nos aprofundarmos na vida de oração com Deus.

“Os sinais realizados por Jesus testemunham que o Pai O enviou. Convidam a crer n'Ele. Aos que se
Lhe dirigem com fé, concede-lhes o que pedem. Assim, os milagres fortificam a fé n'Aquele que faz as
obras do seu Pai: testemunham que Ele é o Filho de Deus. Mas também podem ser “ocasião de
queda”. Eles não pretendem satisfazer a curiosidade nem desejos mágicos. Apesar de os seus
milagres serem tão evidentes, Jesus é rejeitado por alguns; chega mesmo a ser acusado de agir pelo
poder dos demónios.” (CatIC 548)

Os milagres são como a “isca certa para os peixes certos”, pois estes sinais, são perfeitamente
compreensíveis à Luz da razão, eles não são explicáveis por um único modelo e não se enquadram
em nenhuma forma de medir e avaliara empiricamente ou cientificamente.

O QUE É MILAGRE?

Algumas definições de Milagre, chegam a ser cômicas, como se uma definição colocasse uma
pedra sobre aquilo e a pessoa nunca mais precise voltar ao assunto. Por exemplo, a definição de
que os milagres são “fatos determinados por causas sobrenaturais”. Ora, desde quando, algo é
definido por sua causa?

O que é um tênis? Objeto causado pela fábrica de tênis? Claro que não, a definição de tênis implica
não apenas suas causas, mas seus meios e sua função, aliás, a função é o principal da definição:
“Objeto utilizado para proteção e ornamento dos pés”.

Definir um milagre como sendo um “fato determinado por causas sobrenaturais” ou ainda, “são
fatos que a ciência não explica ainda” ou pior “são fatos de causas desconhecidas cuja
interpretação e explicação são feitas de modo tendencioso e supersticioso”.
260

Alguns católicos, aceitam uma definição extremamente débil de Milagre, dizem: “São fatos
causados por Deus”. Ora, Deus é a CAUSA primeira, então existe algo que não seja de causa
sobrenatural? Qual é a causa do homem e da vida? São eventos naturais? Claro que não, já vimos
e constatamos que Deus é a origem de tudo, logo, do milagre também.

Saiamos da questão do que é sobrenatural ou o que é milagre um instante, e procuremos responder


o que é um “fenômeno natural”? É o conjunto de fenômenos, causados por leis conhecidas e
conhecíveis pelas ciências porém, o tempo todo as ciências esbarram em leis novas e fenômenos
novos, temos visto todos os dias novas espécies de animais, novos elementos químicos, nossos
parâmetros físicos, então, se o natural é aquilo que é causado apenas pelo que é conhecido ou
conhecível, não seria possíveis a ocorrência de novos fenômenos o que é, absolutamente falso,
logo, natural é tudo aquilo que as ciências humanas acha que sabe, até que algo que ela não sabe
acontece e ela resolve ignorar.

Muitos tentam ignorar os eventos chamados sobrenaturais, por pura preguiça e comodismo, as
ciências (pois não existe a instituição chamada a ciência) são métodos verificáveis de expressar o
óbvio, são totalmente incapazes de dar qualquer explicação sobre o que para elas é desconhecido.

Nós vimos o que aconteceu durante a Pandemia do COVID. Cada um dizia uma coisa, e por que
isso? Porque ainda era desconhecido, as ciências precisam de método e tempo para analisar e
verificar tudo acerca de algo para conseguir expressar de forma correta uma resposta que seja
capaz de gerar uma solução e uma aplicação prática, tal processo é impossível com os milagres e
os eventos chamados de “causa sobrenatural”.

Podemos definir os “eventos sobrenaturais” como sendo os eventos completamente ignorados


pelas ciências pois extrapolam completamente os limites do recorte da realidade que as ciências
são capazes de verificar, assim, tornam-se eventos atemporais, extra espaciais, imensuráveis e
absolutamente ligados à história das pessoas, dos lugares, dos povos e da espiritualidade (cultura),
enfim, são respostas às necessidades dos homens, respostas sobrenaturais à necessidades
naturais. Exemplo:

Um homem que lutou na Segunda Guerra Mundial, foi ferido e lesionou uma das vértebras
lombares, esmagando-a, o que causou sua paraplegia. Este mesmo homem, anos depois, vai a
uma Missa no interior da Itália, e durante a comunhão, o padre lhe ordena que se levante para
receber a comunhão, então, o homem que era paraplégico há anos, se levanta, e vai receber a
comunhão das mãos do padre, porém, após voltar ao médico e refazer os exames, o homem
continua com a vértebra esmagada, só que agora ele anda.

O fato é natural, ele apenas andou, é natural que alguém ande, o extraordinário, é ele andar, depois,
e apenas depois, de ter ido até aquele lugar, naquela hora com aquele padre e ter recebido a ordem
para andar, e de fato ele andou. Ele poderia fazer isso antes? Não!

Mas existe algo, nos fenômenos miraculosos, que os distingue dos demais fenômenos: Todo fato,
pode ser encarado de forma simbólica, porém, os fenômenos miraculosos só podem ser entendidos
de forma simbólica, teológica ou religiosa. Não existe outro meio de compreender um milagre!

Um milagre não pode ser compreendido por si mesmo, mas ele lança luz para explicar outros
fenômenos, no caso em questão, é obvio que a fé daquele homem está envolvida no fato dele
andar novamente, mas não apenas a fé dele, mas a fé do padre também. Por que um padre daria
uma ordem a um paralitico para andar? Ademais, por que o padre não fez isso antes? Ou por que
outros padres com os cais o homem esteve não fizeram o mesmo?
261

São questões impossíveis de responder, senão de forma simbólica e teológica: Deus em sua
sabedoria, quis demonstrar ao homem e a todos os que tomam conhecimento do fato miraculoso
a importância da palavra dita com fé, a importância de se ter fé na Eucaristia, e o tamanho do poder
que tem a união da fé na eucarística e no mistério do sacerdote que vive o sacramento da ordem,
agindo In persona Christi.

Para todo milagre, não existe outra explicação possível, se não aquelas que necessariamente
envolvem a fé, pois Deus se comunica com o ser humano, pelos acontecimentos, Nosso Senhor
chama isso de “Sinais dos tempos”.

“Hipócritas! Sabeis distinguir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos?”
(Mt 16,4)

O sentido espiritual. Graças à unidade do projeto de Deus, não somente o texto da Escritura, mas
também as realidades e os acontecimentos de que ele fala, podem ser sinais. (CatIC 117)

É preciso que não apenas as Sagradas Escrituras, mas também os acontecimentos e realidades
de nosso dia a dia, sejam interpretados, sim, no sentido literal, mas também, em sentido espiritual,
aplicando a tudo, principalmente aos acontecimentos miraculosos, o sentido Alegórico (Analógico),
o sentido Moral e o sentido Anagógico. Pois, uma vez que Deus se manifestou aos homens, e tais
fatos foram colhidos e introduzidos nas Sagradas Escrituras, nossa vida e nossa história, precisa,
necessariamente, ser uma “sagrada leitura” relatando e testemunhando a ação de Deus em nossas
vidas, pois:

“Ele sonda o abismo e o coração humano, e penetra os seus pensamentos mais sutis, pois o Senhor conhece
tudo o que se pode saber. Ele vê os sinais dos tempos futuros, anuncia o passado e o porvir, descobre os
vestígios das coisas ocultas.”
(Eclo 42, 18-19)

Assim, é a celebração litúrgica, uma memória dos acontecimentos da Páscoa, e assim deve ser a
vida do crente, deve ser Palavra de Deus, uma leitura e interpretação, a partir da Páscoa, e por sua
vez, todo acontecimento miraculoso, deve ser também interpretado à luz da Páscoa:

“No sentido da Sagrada Escritura, o memorial não é somente a lembrança dos acontecimentos dos
acontecimentos do passado, mas a proclamação das maravilhas que Deus realizou por todos os
homens. A celebração litúrgica desses acontecimentos toma-os de certo modo presentes e atuais. É
desta maneira que Israel entende sua libertação do Egito: toda vez que é celebrada a Páscoa, os
acontecimentos do êxodo tomam-se presentes à memória dos crentes, para que estes conformem
sua vida a eles”. (CatIC 1363)

O MILAGRE: PADRE PIO DE PETRELCINA:

Conhecido simplesmente como Pe. Pio, nascido em 25 de maio de 1887 em Pietrelcina (Itália)
recebeu como nome de batismo era Francesco Forgione. Ainda criança era muito assíduo com as
coisas de Deus, tendo uma inigualável admiração por Nossa Senhora e o seu Filho Jesus, os quais
via constantemente devido à grande familiaridade. Recebeu o sacramento do Crisma e a Primeira
Comunhão, quando tinha 12 anos.

“Quem ia a San Giovanni Rotondo para participar na sua Missa, para lhe pedir conselho ou se
confessar, vislumbrava nele uma imagem viva de Cristo sofredor e ressuscitado. No rosto de Padre
Pio resplandecia a luz da ressurreição. Marcado pelos “estigmas”, o seu corpo mostrava a íntima
conexão entre morte e ressurreição, que caracteriza o mistério pascal. Para o Beato de Pietrelcina,
a participação na Paixão teve matizes de especial intensidade: os singulares dons que lhe foram
concedidos e os sofrimentos interiores e místicos que os acompanharam consentiram-lhe viver uma
262

extraordinária e constante experiência dos sofrimentos do Senhor, na imutável consciência de que


“o Calvário é a montanha dos Santos”.” (Papa S.João Paulo II, Homilia de Beatificação de Pe. Pio, 2
de Maio 1999)

Com quinze anos de idade entrou no Noviciado da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos em
Morcone, adotando o nome de “Frei Pio” e foi ordenado sacerdote em 10 de agosto de 1910 na
Arquidiocese de Benevento.

Após a ordenação, Padre Pio precisou ficar com sua família até 1916, por motivos de saúde e, em
setembro desse mesmo ano, foi enviado para o convento de São Giovanni Rotondo, onde
permaneceu até o dia de sua morte.

No dia 20 de Fevereiro de 1971, apenas três anos depois da morte do Padre Pio, Paulo VI, dirigindo-
se aos Superiores da Ordem dos Capuchinhos, disse dele:

“Olhai a fama que alcançou, quantos devotos do mundo inteiro se reúnem ao seu redor! Mas por
quê? Por ser talvez um filósofo? Por ser um sábio? Por ter muitos meios à sua disposição? Não!
Porque celebrava a Missa humildemente, confessava de manhã até à noite e era – como dizê-lo?! –
a imagem impressa dos estigmas de Nosso Senhor. Era um homem de oração e de sofrimento”.
(https://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_20020616_padre-pio_po.html)

A vida de Pe. Pio não foi uma vida fácil, desde pequeno, por dons extraordinários, era perseguido
por um cão, e muitas vezes era mordido por ele, com o passar do tempo, este cão, tomou forma de
homem, que não lhe deixava dormir e lhe batia em muitas e muitas noites, e muitos foram os
testemunharam as noites de gritos e solavancos na cela de Pe. Pio, que nunca reclamou e apenas
sob a ordem de obediência revelou se tratar do demônio que o afligia.

Padre Pio era um completo apaixonado por Nossa Senhora, com quem desde criança tinha
profundos colóquios:

"Em 20 de setembro de 1918, depois da celebração da missa, detendo-me em fazer a devida ação de
graças no coro, de repente, fui tomado por um forte tremor seguido de uma súbita calma, e vi Nossa
Senhora como se estivesse crucificada, mesmo não havendo nenhuma cruz. Ela se lamentava pela
pouca compaixão dos homens, especialmente dos consagrados a Jesus e por ele mais favorecidos”.
(https://cleofas.com.br/em-um-dia-como-hoje-padre-pio-recebeu-os-estigmas/)

E assim ele narrou como recebeu os estigmas de Nosso Senhor, os quais foram analisados por
muitos médicos e superiores:

"manifestava-se que Ele sofria e desejava associar almas à sua Paixão. Convidou a solidarizar-me
com suas dores e a meditá-las; ao mesmo tempo, a ocupar-me com a salvação dos irmãos. Depois
disso senti-me cheio de compaixão pelas dores do Senhor e perguntei-lhe o que podia fazer. Ouvi
esta voz: ‘Associo-te à minha Paixão!’. E, a seguir, desaparecida a visão, caí em mim, recobrei a
consciência e vi estes sinais, dos quais gotejava sangue. Antes, eu não tinha nada”.
(https://cleofas.com.br/em-um-dia-como-hoje-padre-pio-recebeu-os-estigmas/)

O relato de padre Pio foi feito em resposta a algumas das 142 perguntas feitas por dom Carlo
Raffaelle Rossi, em 1921, em nome do Santo Ofício, um dicastério do Vaticano que anos depois
se tornaria a atual Congregação para a Doutrina da Fé.

Os estigmas são as chagas que Cristo sofreu na crucificação – duas nos pés, duas nas mãos e
uma no lado –, que apareceram em alguns místicos. Embora os estigmas sejam feridas, do ponto
de vista médico difere dessa definição, pois não cicatrizam, nem sequer quando são curadas; não
263

infeccionam nem se decompõe, não degeneram em necrose, não têm cheiro ruim, e sangram
constantemente e abundantemente.

Para reconhecer os estigmas como válidos ou reais, a Igreja exige algumas condições precisas:
todos devem aparecer ao mesmo tempo, devem provocar uma modificação importante nos tecidos,
devem se manter inalterados e devem carecer de infecções ou cicatrizações.

Os estigmatizados são cerca de 60, entre santos e beatos. Alguns dos mais famosos são: São
Francisco de Assis, Santa Catarina de Sena (que rezou a Deus para que não fossem visíveis),
Santa Catarina de Ricci, São João de Deus, Beata Ana Catarina Emmerich, entre outros.

Os estigmas de Pe. Pio, o acompanharam por toda a sua vida, permanecendo com ele por mais de
50 anos. Tendo sido acusado de causar ele mesmo as mutilações em seu corpo, foi-lhe imposto
uma pena dura pelo Santo Ofício, que lhe proibiu de celebrar a Santa Missa, de conviver com os
seus confrades, de atender confissões e de sair de sua cela. A princípio a severa punição seria de
meses, mas ela durou longos 11 anos, em que Pe. Pio, acusado de muitas outras coisas, como a
acusação de ter amantes, de roubar dinheiro da Igreja, de falar blasfêmias.

A obediência é um sinal claro e evidente da presença de Deus. Padre Pio ao longo destes anos de
silêncio, nunca reclamou e nunca se negou a cumprir nenhuma das penas que lhe foi imposta.
Também não admitia que outras pessoas falassem mal de seus superiores e de outras pessoas ou
membros do clero. Aos poucos, e com muita vagarosidade, uma a uma das acusações foram caindo
por terra, e a inocência de Pe. Pio tornou-se evidente para todos.

Milhares de pessoas procuravam Pe. Pio em San Giovani Rotondo (Itália) para buscar a cura de
algum mal, e na maioria das vezes eram correspondidos:

• Pe. Pio tinha a impressionante habilidade de falar apenas o italiano, e ser entendido por
todos em qualquer língua, semelhante fenômeno aconteceu em Pentecostes quando São
Pedro falando aramaico se faz entender por todos de outras nacionalidades: Xenolalia;

• Ele evitou que a sua cidade fosse bombardeada, ao ter levitado até os aviões de bombardeio,
e assustar a todos os pilotos e os expulsar de lá, anos mais tarte toda a esquadra americana
foi visitar o padre Pio, que os identificou e ainda zangou com eles;

• Numa noite, em Nova York um médico cético, foi chamado por um padre, para se dirigir
urgentemente até o apartamento de uma senhora prestes a dar a luz, o padre ainda lhe
obrigou a levar instrumentos que não eram comuns em partos, o médico em atenção a
teimosia do padre, levou, ao chegar lá, fez o parto com muito custo e utilizou os instrumentos
que o padre havia insistido para levar, ao final do parto, ele viu uma foto do Pe. Pio e disse
que havia sido aquele padre que o obrigou a ir fazer o parto, a família disse que Pe. Pio
morava na Itália e nunca saia de lá, então, o médico foi visitar o padre, e o padre o chamou
de teimoso por não ter levado de imediato os instrumentos que ele havia dito para ele levar.
Foram inúmeros relatos de pessoas que o viam fora de sua cidade, ao mesmo tempo que
ele estava em sua cidade, o que comprova a bilocação;

• Muitos são os relatos de pessoas que escondiam seus pecados na confissão e que o padre
lhe revelava o pecado, não sem antes corrigir e chamar a atenção da pessoa. Noutras vezes,
a pessoa estava com muita vergonha, mas profundamente arrependida, e o próprio padre
contava para a pessoa os seus pecados e perguntava se ela se arrependia, demonstrando
assim uma clarividência sobrenatural;
264

• Muitas vezes, Pe. Pio foi surpreendido por pessoas que queriam pedir seu autógrafo ou lhe
bajular e até aqueles o que o veneravam em vida, e por ser muito humilde, não suportava
tais manifestações, ele simplesmente desaparecia, depois reaparecia dentro da Igreja;

• Milagres como de uma menina cega, que após receber a comunhão das mãos do Pe. Pio,
voltou a enxergar, porém, permanecendo com os olhos de aparência de uma pessoa cega;

• Da mãe que desesperada pela doença do seu bebê, e vendo a criança morrer, guardou o
corpo da criança em uma mala, na qual o corpo permaneceu por horas, e diante de uma
médico que estava presente e testemunhou a mulher retirar o corpo sem vida da criança e
a mãe depositar o corpo nas mãos do Pe. Pio, a criança milagrosamente voltar a vida;

São centenas de milhares de relatos tão impressionantes como estes, todos em sua maioria com
comprovação científica e cheios de detalhes que nos ajudam a compreender o tamanho do amor e
da Graça de Deus. Padre Pio nunca se vangloriou, nunca gostou de adulação e sempre foi muito
grosseiro com seus “fãs”, em certa ocasião disse para seus inquisidores:

“Sou um mistério para mim mesmo”. (São Pio de Pietrelcina)

São João Paulo II, que na juventude, ainda como seminarista, foi recebido por Pe. Pio em confissão,
e manteve um estreito relacionamento de amizade com o padre, disse em sua canonização:

“De facto, a razão última da eficácia apostólica do Padre Pio, a raiz profunda de tanta fecundidade
espiritual encontra-se na íntima e constante união com Deus de que eram testemunhas eloquente as
longas horas passadas em oração. Gostava de repetir: "Sou um pobre frade que reza", convencido
de que "a oração é a melhor arma que possuímos, uma chave que abre o coração de Deus". Esta
característica fundamental da sua espiritualidade continua nos "Grupos de Oração" por ele
fundados, que oferecem à Igreja e à sociedade o admirável contributo de uma oração incessante e
confiante. O Padre Pio unia à oração também uma intensa atividade caritativa, da qual é uma
extraordinária expressão a "Casa Alívio do Sofrimento". Oração e caridade, eis uma síntese muito
concreta do ensinamento do Padre Pio, que hoje é proposto a todos.” (S. João Paulo II, Canonização
de Pe. Pio, 16 de Junho de 2002)

Interpretação: Padre Pio que faleceu em 1968 com 81 anos, sem nenhuma cicatriz dos seus
estigmas, é para nós um sinal dos tempos, foi um devoto profundo, um homem fiel à Igreja,
obediente até o extremo, de uma ação missionária ímpar, capaz de passar quase 24 horas em um
confessionário, aceitando todas as dores, sofrimentos e perseguições com resignada paciência,
confiante no amor e na misericórdia de Deus, precisamos imitar o seu exemplo e assumir uma
devoção tão grande quanto a dele pela Virgem Maria e uma sintonia tão profunda com Nosso
Senhor.

POR QUE OS ASTECAS SE CONVERTERAM EM MASSA AO CATOLICISMO?

Este é um fato pouco falado pelos professores de história, pois, apesar dos “maus tratos”
supostamente sofridos pelos índios, por causa da truculência dos colonizadores católicos
espanhóis, em 1540, a totalidade do povo asteca, que lutou bravamente contra a colonização,
aderiu em massa à fé católica, em um número espantoso de mais de 9 milhões de Astecas que se
converteram.

Tudo começou quando um dos poucos astecas convertidos em católico, chamado San Juan Diego,
foi atraído pelo canto dos pássaros em uma caminhada até a cidade, era o dia de 9 de Dezembro
de 1531, ao passar por um monte chamado Tepeyac, avistou uma senhora, que parecia estar
grávida, mas que tinha o cabelo partido como as mulheres virgens. Ela vestia o manto da realiza,
265

azul turquesa, e falando a língua asteca, sendo uma mestiça, e disse ser Maria, a mãe de Jesus
que pediu ao índio que fosse ao Bispo Juan de Zumárraga para lhe pedir para construir ali mesmo,
uma igreja para a adoração a Deus onde ela iria ensinar o seu povo a adorar o verdadeiro Deus,
ensinaria o que é o amor, o que é a paz e ensinaria o povo a rezar corretamente.

Juan Diego, insiste que a senhora, procurasse alguém mais importante, porém, acolhe o pedido e
vai falar com o Bispo, que o recebe, mas não lhe dá crédito algum, então ele voltou e disse à
senhora, que o Bispo não acreditou, ela então, disse para ele voltar a falar com o bispo no dia
seguinte, e ele vai, mas o Bispo não acredita novamente, e pede a Juan Diego uma prova. Então,
Juan Diego volta e fala com Nossa Senhora, que o Bispo pediu uma prova, ela, por sua vez, diz a
ele para voltar no dia seguinte, que ela daria a ele um sinal.

No dia seguinte, como o tio de Juan Diego estivesse gravemente doente, ele não foi até o Tepeyac,
e foi atrás de um médico, no entanto, a Virgem Maria, lhe apareceu no caminho, mandou que
subisse o Tepeyac e acrescentou:

"Escuta, meu filho, o mais pequenino dos meus filhos e procura compreender bem. O teu coração
está perturbado, mas não te aflijas por uma coisa de nada. Nenhum deste género de males deve ser
para ti um motivo de preocupação. Estou aqui, sou a tua Mãe. Estás sob a sombra da minha
protecção. Eu sou a tua salvação. Tu estás no meu coração. De que tens, ainda, necessidade? Não
sofras mais por isto. Quanto ao teu tio, sabe uma coisa: ele não morrerá desta doença. Assim, não
há nenhuma necessidade de médico, já está curado" (https://www.vatican.va/news_services/
liturgy/saints/ns_lit_doc_20020731_juan-diego_po.html)

No alto do Tepeyac, com o pico do monte em neve, pois era inverno, ela ordenou que Juan Diego
colhesse as rosas que lá estavam, ele colheu, levou até ela, ela as organizou no manto do índio e
disse que não mostrasse a ninguém, somente ao Bispo. Era a manhã do dia 12 de Dezembro, e ao
procurar o Bispo, disse que a Virgem Maria havia mandado o sinal que o Bispo havia pedido,
quando o Bispo o recebeu, ele abriu o seu manto, e dele, caíram as rosas de Castela, que eram
rosas que não nasciam no México, mas bem conhecidas do Bispo, pois eram rosas próprias de sua
região natal na espanha, e imediatamente, no manto de Juan Diego, a imagem da Virgem Maria se
formou, e ficou estampada na tilma de Juan Diego.

No dia seguinte, o tio de Juan Diego, disse que a Virgem Maria lhe apareceu sob o Título de
Guadalupe, e que o havia curado. O Bispo acreditou e começou a construção da primeira capela
naquele local, como a Virgem Maria havia pedido, e lá ficou exposta a tilma de Juan Diego, com a
imagem da Virgem de Guadalupe.

Este é um relato de um acontecimento miraculoso, muito bem atestado pelas ciências envolvidas
e conta com inúmeros testemunhos históricos, como documentos que comprovam os fatos,
testemunhos de pessoas históricas e é claro, a existência até os dias de hoje, do próprio manto de
Juan Diego, que faleceu em 1548 com então 73 anos de idade.

A Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe está exposta no Monte Tepeyac, cidade do México,
desde 1531 até os dias de hoje, são mais de 450 anos, em que a imagem é venerada por todos, e
a devoção mariana no México, até hoje é enorme, costuma-se dizer que 90% dos mexicanos são
católicos, mas que 99% deles, mesmo os de outras religiões, são devotos de Nossa Senhora de
Guadalupe.
266

A IMAGEM:

A imagem é um ícone, ou um códice, que contém informações precisas unindo a cultura asteca e
a cultura católica.

• O Mando da Virgem, é da cor do manto que os imperadores astecas usavam, azul turquesa,
porém, está cravejado de estrelas. Em estudos recentes, verificou-se que a posição das
estrelas no manto, batem com a conformidade do Céu, da abóboda celeste no dia
12/12/1531, data da aparição da Virgem a Juan Diego, incluindo a Lua, porém, é a disposição
vista do espaço e não vistas de baixo por nós;
267

• Ela está revestida do Sol e tem a lua debaixo dos pés, o que bate com Apocalipse 12, como
já vimos, significando para os astecas que ela está sujeita ao Sol, que era o principal deus
dos astecas, mas está acima das trevas, o que confere com a simbologia católica;

• O rosto da Virgem, não é completamente asteca, trata-se de uma “mestiça” que era a
população que estava se formando após a colonização espanhola, e esta população sofria
tanto da parte dos europeus quanto da parte dos índios, estudos antropológicos foram feitos
no rosto, e identificaram as principais características físicas de inúmeros povos tanto do
ocidente quanto do oriente, por isso, Juan Diego disse:

"mãe compassiva, sua e de todos os homens que vivem juntos nesta terra e também de todos as
outras linhagens variadas de homens". (Nican Mopohua, vv. 29-31).

• O Cabelo repartido ao meio, indica que aquela era uma mulher virgem, pois era assim que
as mulheres astecas penteavam os cabelos antes de se casarem;

• O Cinto escuro no meio do ventre, era para os astecas, um sinal de que a mulher estava
grávida, assim, ao olhar a imagem, os astecas viam uma mulher virgem e grávida, ao mesmo
tempo, e entendiam isso como um sinal Divino;

• Os olhos são de Misericórdia e Compaixão, é um olhar afetuoso e maternal, além disso, há


nos olhos uma imagem que só pôde ser revelada pelas ciências modernas, por estudos
feitos pela própria NASA.

"Os belos olhos de Santa Maria de Guadalupe mostram misericórdia e compaixão; e também contêm
alguns aspectos que, graças a vários estudos, podemos descobrir mais. Em seus olhos, se descobre
que eles possuem reflexos como em qualquer olho humano, de acordo com as leis da ciência; e o
que confirma que não são adaptações fantasiosas; é fato de que as mesmas imagens se encontram
nos dois olhos, levando-se em consideração suas diferentes posições, suas proporções e sua
correlação científica. Isso continua a surpreender tantos cientistas, que usando seus instrumentos,
segundo a ciência, chegaram a concluir os mesmos resultados: há imagens refletidas nos dois olhos
da imagem da Virgem de Guadalupe de acordo com sua posição, sua proporção e as leis que regem,
e esses figuras se encaixam perfeitamente." (Fonte: Chávez - Sánchez, Eduardo. La Verdad de
Guadalupe, nueva edición em marco de los 500 años.)

• As mãos em oração, como o costume europeu, estão sobre a “flor-cerro-corazón", esta flor
é importante, porque no ritual asteca, os corações eram arrancados, literalmente do peito e
eram oferecidos às divindades, e esta era a forma de oração deles, ao olharem a imagem,
os índios entenderam que o modo de rezar, de colocar seus corações nas mãos de Deus,
era por meio da oração que a Virgem estava ensinando; Até a descoberta do México, mais
de 15 mil sacrifícios humanos eram oferecidos pelos astecas em rituais religiosos, após as
aparições estes sacrifícios terminaram;

• A imagem traz um broche na altura do pescoço, como era costume os astecas usarem eles
colocavam uma pedra semipreciosa talhada com as figuras dos seus deuses, significando a
sua obediência e submissão. No broche da imagem, há uma Cruz talhada, significando que
a Virgem de Guadalupe era submissa ao Deus que morreu na Cruz;

• Existem muitas flores pelo manto, mas são todas representações de uma única flor, a “flor-
cerro-corazón” que mais que um adorno, pois:

“A flor tem a forma de uma colina, enquanto o caule tem a forma de água; essa montanha termina
em um ponto, que para os indígenas é Tepeyac, pois significa "ponta da colina". Deve-se levar em
268

conta que para os indígenas “flor e água” significam “civilização”, portanto, representam uma
civilização enraizada no Céu. No monte das flores existem pequenas flores circundantes, o que
significa que é xochitlalpan ou terra das flores, ou seja, a plenitude da verdade. Agora, se virarmos
este monte de flores de cabeça para baixo, como os nativos também viam os códices de diferentes
ângulos, podemos verificar pelos próprios códices que este monte de flores também é coração,
sangue e artéria, portanto o sustento da divindade. Se voltarmos à sua posição original, dentro deste
flor-cerro-corazón pode-se ver um rosto. Para os índios, ser sábio significa "colocar um rosto humano
no coração de outrem", portanto, entende-se que esta flor-cerro-corazón significa que está cheio de
sabedoria divina. Desta forma, podemos concluir que esta flor da verdade de Deus é uma nova
civilização que nasce do céu e está cheia de verdade e sabedoria divina, o que concorda
perfeitamente com o que está no centro da mensagem de Santa Maria de Guadalupe, que deseja
muito que seja construída para ele uma “casa sagrada”, o que significa uma nova civilização do amor
e da sabedoria de Deus." (Chávez - Sánchez, Eduardo. La Verdad de Guadalupe, nueva edición em
marco de los 500 años.)

• Há ainda outra flor no manto, chamada de Nahui Olin, que significa, “flor de quatro pétalas:

"A flor de quatro pétalas, única em toda a túnica da Virgem de Guadalupe e que está na altura de
seu imaculado ventre da Virgem de Guadalupe, representa o Nahui Ollin e isso significa: O verdadeiro
Deus para quem se vive. Assim, os indígenas perceberam que o Ser que se encontra no ventre da
Virgem, era nada menos que o próprio Deus, o Criador do Universo; Jesus Cristo é o centro, tanto da
mensagem quanto desta bela e formidável Imagem na tilma do humilde macehual São Juan Diego;
Santa Maria de Guadalupe é o sagrado tabernáculo de Jesus Eucaristia. O único e eterno sacrifício,
onde oferece o seu corpo, o seu sangue, o seu coração e todo o seu Ser. É aquele que nos sustenta
para a vida eterna". (Chávez - Sánchez, Eduardo. La Verdad de Guadalupe, nueva edición em marco
de los 500 años.)

CONTEXTO HISTÓRICO/CULTURAL:

Os astecas governavam deste o sul da América do Norte, até o Norte da América do Sul, eram
muito poderosos e temidos, seus ritos religiosos consistiam em sacrifícios humanos, esfolamentos,
269

canibalismo e acreditavam que precisavam fazer estes rituais todos os dias, pois caso não
fizessem, o Sol não nasceria novamente.

O calendário Asteca, previa que naquela data, seria o fim de uma era, e o início de uma era melhor,
porém, veio uma guerra descomunal, os espanhóis unidos aos povos inimigos dos astecas,
conseguiram subjugá-los e destruir grande parte de sua civilização, o contexto era de desânimo e
destruição.

O índio San Juan Diego, era um dos poucos índios que haviam se convertido à fé católica, os
batizados não ultrapassavam 400 pessoas, em três décadas, a evangelização era praticamente
impossível, pois, os índios estavam com rancor dos espanhóis, que por sua vez, estavam
horrorizados com os astecas e com a estética das imagens astecas.

Um dos mais importantes deuses dos Astecas, que também era temido e cultuado por outros povos
mesoamericanos era Quetzalcoatl, que é representado em alguns códices como uma “serpente
devoradora de homens”. Acreditava-se que este deus, impediria o nascimento do Sol, o maior de
todos os deuses, caso não fossem oferecidos sacrifícios humanos a ele.

Porém, havia uma divindade, muito querida tanto pelos astecas, como para seus inimigos de outros
povos, era conhecida como Tonantzin Coatlaxopeuh que significa, “nossa mãe ou mãe de todos os
deuses”, seu culto consistia em peregrinações e oferendas de frutos da terra, seu templo ficava no
Tepeyac, e foi destruído na guerra pela conquista do México.

Imediatamente após tomarem contato com o Manto de São Juan Diego, os índios identificavam a
imagem com Tonantzin Coatlaxopeuh, e a pronúncia em espanhol se aproximou do nome
Guadalupe, que é uma devoção antiga da Espanha, onde acredita-se cultuar a imagem de Nossa
Senhora esculpida por São Lucas. No princípio os espanhóis tiveram receio de aceitar o nome
Guadalupe associado a Tonantzin Coatlaxopeuh, porém, por causa das similaridades da cultura
católica com a cultura mesoamericana, e a conversão em massa dos astecas e de outras nações
indígenas, permaneceu assim, Nossa Senhora de Guadalupe.

O MANTO E O MILAGRE CONTÍNUO:

Além da conversão em massa dos astecas ao catolicismo, temos ainda fatos extraordinários que
não são explicados por qualquer uma das ciências que se envolveram neste fenômeno, e
permanecem os mistérios.

✓ Por meio de técnicas utilizadas para verificar a autenticidade de quadros, com o


infravermelho, verificou-se que a imagem não tem pinceladas, ela está impressa por inteiro
na tilma;

✓ Após análise físico-química do material utilizado na pintura, o prêmio Nobel de química, o


alemão Dr. Richard Kuhn, que constatou que o corante não é de origem, nem animal, nem
vegetal e nem mineral, e não conseguiu determinar os elementos químicos presentes;

✓ A imagem permanece suspensa na tilma, ela não está completamente encostada no tecido,
há um espaço de três décimos de milímetro entre a pintura e o manto;

✓ Quando se aproxima com uma luz próximo aos olhos da imagem, as pupilas dos olhos se
contraem, e quando se retira a luz, elas se dilatam, o que é comum nos olhos humanos, mas
não em uma pintura;
270

✓ A tilma é de Agave, um material muito rústico e frágil, porém, mesmo após 120 anos o manto
ticou exposto ao ar livre, até ser colocado em um vidro, e somente mais recentemente é que
medidas de conservação foram realizadas, tendo o manto durado mais de 400 anos;

✓ A disposição das estrelas no manto, quando submetidas a uma partitura de música, produziu
uma música que pode ser reproduzida;

✓ Em 1979, pesquisadores da Universidade da Flórida, mediram a temperatura do manto e


estabeleceram que ele tem 36,6º constantes, a mesma temperatura do corpo humano vivo;

✓ Muitos pássaros e alguns outros poucos animais, possuem uma habilidade incomum,
conforme a incidência da luz, suas penas ou escamas, mudam a tonalidade ou até mesmo
as cores, um fenômeno conhecido como iridiscência o manto de Guadalupe, tem a mesma
propriedade, porém, trata-se de algo que o ser humano não foi capaz de reproduzir;

✓ As dimensões do corpo da Virgem, estampada na tilma de São Juan Diego, são de uma
mulher que está na plenitude da gestação, prestes a dar a luz, um médico que fez esta
observação, experimentou auscultar com um estetoscópio a barriga da imagem, e para sua
surpresa, constatou um batimento cardíaco, com uma frequência de 115 BPM, compatível
com os dos bebês no ventre materno;

✓ O engenheiro José Aste Tonsman, do Centro de Estudos Guadalupanos do México,


graduado em engenharia de sistemas ambientais pela Universidade de Cornell, que estudou
durante décadas o manto afirma que a fibra de maguey que constitui o manto não permanece
consistente, em condições normais, por mais de 20 ou 30 anos. Porém, o manto de São
Juan Diego, mesmo após séculos permanece intacto, mesmo depois de ter permanecido
mais de um século sobre uma parede húmida, entre a fumaça e radiação de milhares de
velas, e manuseada por uma multidão de índios.

✓ Ao longo dos séculos, inúmeras gravuras e pinturas foram pintadas em acréscimo sobre o
tecido, porém, elas permanecem por pouco tempo e desapareceram sem deixar nenhum
vestígio de sua existência;

✓ Acidentalmente foi derramado ácido muriático sobre o manto, na parte direita, no momento,
parecia ter danificado a imagem e o manto, porém, tanto o manto quanto a imagem se
regeneraram, e o único sinal que permaneceu, foi uma suave descoloração que tem
desaparecido com o tempo;

✓ Em 14 de Novembro de 1921, um
anarquista espanhol, em um ato
terrorista, chamado Luciano Perez,
colocou aos pés do manto, um jarro
com flores, onde estavam ocultos uma
quantidade de explosivos suficiente
para destruir toda a parede da capela,
e um carro que estava atrás da capela,
um crucifixo de bronze que ficava
próximo a imagem, ficou totalmente
contorcido, o vitro que protegia a
imagem e a moldura foram
completamente destruídos, porém, o
manto permaneceu em perfeito estado
de conservação.
271

Esta é a foto tirada do crucifixo de bronze depois do atentado a bomba. Inúmeros atentados
menores já sofreu o manto de Guadalupe, inclusive réplicas do manto, como em 2017 quando uma
mulher, destruiu a pintura, uma réplica pintada a óleo valiosíssima, de mais de 85 anos, na Catedral
de Tampico, em Tamaulipas, a marteladas, por este motivo a Igreja hoje guarda a imagem em um
cofre, e quando exposta fica protegida por um vidro balístico de alta capacidade de impacto.

ENTENDENDO OS MILAGRES:

Já sabemos com a Igreja interpreta as Sagradas Escrituras, e como nós também devemos
interpretar a nossa vida, e assim, também precisamos interpretar os milagres se o quisermos
entender:

O Sentido Literal: O sentido histórico, o resultado direto do ocorrido na vida das pessoas
envolvidas;

Sentido Espiritual ou Teológico:

Alegórico: Quando o Milagre comunica algo da Fé;


Moral: Quando o fato ocorrido, gera conversão e muda a realidade religiosa das pessoas;
Anagógico: Quanto o milagre, nos fala da realidade salvífica, como as profecias e o que é preciso
para alcançar a salvação.

Então, procuremos entender, por exemplo, por que um homem sobreviver a um atentado a bala
seria MILAGRE?

Em 13 de Maio 1917, N. Senhora, apareceu à três pastorinhos e lhes confiou um segredo: “Um
bispo vestido de branco ferido de morte, cai por terra”. Em 13 de Maio de 1981, o papa São João
Paulo II, foi alvejado na Praça de São Pedro.

Coincidência? Sim!!!

“Foi uma mão materna que guiou a trajetória da bala e o Santo Padre deteve-se no limiar
da morte” Cardeal Joseph Ratzinger

Sentido Literal: Um papa foi vítima de um atentado mortal, sendo alvejado no peito por um
terrorista treinado. O papa sobreviveu, e pode perdoar o seu agressor, demonstrando compaixão
e caridade, um exemplo para o mundo;

Alegórico: O atentado coloca em evidência as profecias de Fátima, e confirma que o que lá foi
profetizado, já está se cumprindo, uma vez que a descrição do atentado foi previsto décadas antes;

Moral: Inúmeras pessoas passaram a acreditar nas mensagens de Fátima, principalmente o pedido
de Nossa Senhora de oração do terço e a conversão e mudança de vida;

Anagógico: O tempo está se abreviando, é possível perceber por este e por outros sinais, que a
humanidade está ficando sem tempo, e que, mais dia, menos dia, todos precisam se converter,
para alcançar a salvação.

E qual deve ser a nossa atitude diante do Milagre?

“Um coração endurecido não consegue compreender nem sequer os maiores milagres? Os discípulos,
não compreenderam o milagre dos pães: os seus corações estavam endurecidos, eles eram os amigos
272

mais íntimos de Jesus. Mas não entendiam embora tenham assistido ao milagre, visto que aquela
multidão, mais de cinco mil comeu com cinco pães, não compreenderam. Por quê? Porque os seus
corações estavam endurecidos. Quem nos ensina a amar? Quem nos liberta da dureza? Só o Espírito
Santo o pode fazer, podes fazer mil cursos de catequese, de espiritualidade, ioga, zen, etc., mas tudo
isto nunca será capaz de te dar a liberdade de filho.” (Papa Francisco, Corações endurecidos,
Meditação, 6 de Janeiro 2015)

“A pior de todas as prisões é um coração fechado”. (São João Paulo II)


273

10º. PARTE: DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA


DIREITA, ESQUERDA OU CATÓLICO?

Muitos católicos pensam que a Igreja tem uma afinidade quase que simbiótica ou até de
dependência completa com algumas ideologias vigentes. Para uns, a Igreja é progressista, unida
ao estado o qual, quando age, age em nome de Deus e exerce sua Vontade por meio dele, assim,
a diminuição do estado, é visto como um “grande pecado”, pois seria a diminuição do poder de
Deus, e a Igreja seria o meio de espalhar o projeto socialista e igualitário.

Há outros que veem o estado como um verdadeiro “leviatã” um poder demoníaco que vive para
eliminar as pessoas, reduzir a população e massificar as pessoas, assim, depositam suas
esperanças no fortalecimento do indivíduo, no conservadorismo de costumes e culturas
nacionalistas, até mesmo religiosas, estimulando o consumismo e o individualismo.

Então, é preciso afirmar, desde o início, que o católico, não é um progressista, socialista de
esquerda, mas também não é um conservador tradicionalista de direita, a Igreja é Católica, ou seja,
Universal, ela congrega dentro de si, tópicos da agenda de várias ideologias, pois tais itens, não
foram coletados das agendas para formar o pensamento político da Igreja, é justamente o contrário,
as ideologias, lançam mão do que é atraente, politicamente falando, da Doutrina da Igreja, para
seduzir as mentalidades e manipular a população.

A Doutrina Social da Igreja é a proposta da Igreja para a solução dos problemas sociais que o mundo
enfrenta, de modo especial, desde quando surgiu a Revolução Industrial na Inglaterra, e que se
espalhou pela França, Alemanha e outros países, a partir do século XIX. Com o surgimento dos novos
problemas sociais, o marxismo ateu e materialista foi apresentado por Karl Marx e Friedrich Engels
usando a luta de classes e a violência, eliminando a propriedade privada, o que acabou gerando
milhões de morte nos países que implantaram o comunismo, como a Rússia, China, Laos, Camboja,
Vietnã, Cuba, etc. Desde Leão XIII (1878-1903) até o Papa Francisco, seguidamente os papas têm
lançado encíclicas sobre o tema apresentando a solução do Evangelho para os conflitos sociais. (O
que é a Doutrina Social da Igreja, Dr. Paulo Cesar da Silva)

O mais grave, é que o comunismo teórico de Marx e seus seguidores socialistas, é que
conseguiram esvaziar todas as obras de misericórdia de seu sentido espiritual, que é fazer pelo
outro por amor a Deus, amando a Deus sobre todas as coisas e o próximo como nós mesmos, e
deu um sentido puramente ativista e tacanha, chamando a religião, ou seja, o sentido espiritual da
vida de “ópio do povo”, mas lançando mão das consequências lógicas deste “opio” como se fosse
uma obrigação moral, vazia, atrelada a uma responsabilidade social, sedimentando o que hoje é
conhecido como politicamente correto.

A sede de inovações, que há muito tempo se apoderou das sociedades e as tem numa agitação febril,
devia, tarde ou cedo, passar das regiões da política para a esfera vizinha da economia social.
Efetivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em que entraram as artes,
a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos dum
pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os
operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos
costumes, deu em resultado final um temível conflito.

Por toda a parte, os espíritos estão apreensivos e numa ansiedade expectante, o que por si só basta
para mostrar quantos e quão graves interesses estão em jogo. Esta situação preocupa e põe ao
mesmo tempo em exercício o génio dos doutos, a prudência dos sábios, as deliberações das reuniões
populares, a perspicácia dos legisladores e os conselhos dos governantes, e não há, presentemente,
274

outra causa que impressione com tanta veemência o espírito humano. (RERUM NOVARUM. N. 1 Papa
Leão XIII, 1891)

POLITICAMENTE MANIPULADO:

O politicamente correto, apoderou-se do senso comum, como um parasita que domina as culturas,
as pessoas não querem mais ser santas, querem parecer boas, e retirando de suas atitudes, o fim
último de Deus, tomam tais atitudes com aparência de bondade, mas com motivações orgulhosas,
tacanhas e mesquinhas, onde o parecer bom, é mais importante do que o ser bom, mesmo que os
outros não saibam. Trata-se de um método de manipulação das massas extremamente eficaz, pois
se de um lado as pessoas querem parecer boas e alardear sua “bondade”, por outro lado, os que
resistem ao politicamente correto, apenas reagem contra, procurando sempre, como “modus
operandi” fazer o oposto do esperado, faltando também com a verdadeira caridade, pois não tem
como motivação o amor, mas a resistência ideológica, que, em si mesmo, já é uma ideologia,
mesmo que reacionária.

A melhor maneira de dominar e avançar sem entraves é semear o desânimo e despertar uma
desconfiança constante, mesmo disfarçada por detrás da defesa de alguns valores.

Usa-se hoje, em muitos países, o mecanismo político de exasperar, exacerbar e polarizar. Com várias
modalidades, nega-se a outros o direito de existir e pensar e, para isso, recorre-se à estratégia de
ridicularizá-los, insinuar suspeitas sobre eles e reprimi-los. Não se acolhe a sua parte da verdade, os
seus valores, e assim a sociedade empobrece-se e acaba reduzida à prepotência do mais forte.

Desta forma, a política deixou de ser um debate saudável sobre projetos a longo prazo para o
desenvolvimento de todos e o bem comum, limitando-se a receitas efémeras de marketing cujo
recurso mais eficaz está na destruição do outro. Neste mesquinho jogo de desqualificações, o debate
é manipulado para o manter no estado de controvérsia e contraposição. (Papa Francisco, Fratelli
Tutti n. 15)

A polarização é o ideal, nossa luta não é contra a carne e o sangue, não devemos lutar uns contra
os outros, devemos nos unir, pois quando há divisões entre nós, nos tornamos presas fáceis, e seja
a esquerda que vença, ou a direita, pouco importa, o grande perdedor é o espírito humano, que se
dilacera e se divide, e o pior é que isso tem acontecido dentro da própria Igreja:

“Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades,
contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares.”
(Ef 6,12)

“Jesus, porém, penetrando nos seus pensamentos, disse: “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído.
Toda cidade, toda casa dividida contra si mesma não pode subsistir.”
(Mt 12,25)

A Doutrina Social da Igreja, é uma resposta da Igreja, da Sã Doutrina da Salvação, para que nós,
católicos, nos unamos em torno de um ideal político praticável e totalmente motivado pela
Revelação, tendo como fim, o bem comum, mas sem criar a expectativa utópica da sociedade
perfeita neste mundo.

O PRINCIPAL PROBLEMA POLÍTICO:

Qual é o principal problema político do mundo e por consequência do Brasil? O pecado, esta é a
única resposta possível, pois é do pecado que deriva todas as outras maselas, mas esta é uma
pergunta pertinente, e em matéria de política, nenhuma resposta poderá ser ao mesmo tempo
completa e simples o bastante para nossa compreensão imediata. Por isso, é preciso um profundo
275

conhecimento antropológico, para encontrar a raiz dos problemas, sim, pois não há um único e
principal problema político, que não seja, o pecado:

“Se pelo pecado de um só homem reinou a morte (por esse único homem), muito mais aqueles que receberam
a abundância da graça e o dom da justiça reinarão na vida por um só, que é Jesus Cristo! Portanto, como pelo
pecado de um só a condenação se estendeu a todos os homens, assim por um único ato de justiça recebem
todos os homens a justificação que dá a vida. Assim como pela desobediência de um só homem foram
todos constituídos pecadores, assim pela obediência de um só todos se tornarão justos.”
(Rm 5,17-19)

A UTOPIA:

Somos todos pecadores... o pecado, como sabemos, nos cega, nos desorienta e nos impede de
ver a realidade como ela é, então, em política, a situação muitas vezes é como o desenho em que
o personagem principal, está diante de uma represa, e vendo uma rachadura, na base, preocupado
com o possível rompimento da barragem, ele tampa o buraco, porém, imediatamente, outro buraco
aparece, e assim sucessivamente, e parece uma tarefa interminável, até que finalmente, a
barragem vem abaixo e a água inunda tudo a sua frente.

A vocação política é assim, temos o povo, figurado com a água, o estado, figurado pela barragem,
e o político, figurado pelo operário que passa a vida tapando buracos. A Sabedoria da parábola nos
revela três coisas importantes:

1. O povo estará sempre insatisfeito;


2. As soluções do estado, sejam qual modelo político/econômico que for, não irão satisfazer a
todos;
3. É nossa tarefa, morrer tentando.

Um católico, que almeja ser um político, precisa compreender, desde o início que ele mesmo tem
um problema a ser constantemente combatido, que é o seu próprio pecado, que o torna
profundamente suscetível às suas concupiscências, assim, é preciso primeiro vencer a si mesmo,
na vida privada, se quiser vencer na vida pública. Uma vez compreendido isso, é preciso perceber
quando se alcançou a solução razoável e “menos pior” para as questões políticas.

Voltando à parábola, o católico político não tenta tapar todos os buracos, ele tapa os que consegue,
e se dá satisfeito com isso, pois sabe, que o seu esforço é colaborar com a Graça de Deus, como
nos ensinou São Francisco de Assis:

“Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará
fazendo o impossível!” (São Francisco de Assis)

Papa Francisco, questionou as razões pelas quais a política está "suja":

"Por que os cristãos não se meteram nela com espírito evangélico? É a pergunta que eu faço. É fácil
dizer que a culpa é dos outros..., Mas eu, o que eu faço? Isto é um dever! Trabalhar para o bem
comum é um dever do cristão... temos que nos envolver na política, porque ela é uma das formas
mais altas de caridade". (Papa Francisco)

A Igreja nunca se eximiu do meio político, desde Nosso Senhor, até os apóstolos e todos os santos,
alguns deles, inclusive foram políticos no pleno sentido da palavra:
276

“Pilatos entrou no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: “És tu o rei dos judeus?” Jesus respondeu: “Dizes isso
por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim?” Disse Pilatos: “Acaso sou eu judeu? A tua nação e os
sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?”. Respondeu Jesus: “O meu Reino não é deste mundo.
Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse
entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo”. Perguntou-lhe então Pilatos: “És, portanto, rei?”
Respondeu Jesus: “Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é
da verdade ouve a minha voz”. Disse-lhe Pilatos: “Que é a verdade?...”. Falando isso, saiu de novo, foi ter com
os judeus e disse-lhes: “Não acho nele crime algum.”
(Jo 18, 33-38)

NOSSO REINO NÃO É DESTE MUNDO:

Nosso Senhor, diz com todas as letras, que o Seu Reino, não é deste mundo. Esta é uma verdade
que derruba todas as utopias ideológicas que existem, desde o comunismo socialista até o
liberalismo capitalista, passando pelo progressismo esquerdista e pelo conservadorismo direitista.
Pois, não sendo este mundo, parte do Reino de Nosso Senhor, então, a quem pertence este
mundo?

“ele o convencerá a respeito do juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e
condenado.”
(Jo 16,11)

“Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo; mas ele não tem nada em mim.”
(Jo 14,30)

“Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo.”
(Jo 12,31)

É importante entender, porém, porque Satanás é chamado por Nosso Senhor de Príncipe deste
mundo. Tudo começa já em Gênesis:

Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou:
“Frutificai – disse ele – e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as
aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra”. Deus disse: “Eis que eu vos dou toda a
erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente, para
que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu, a tudo o que se arrasta sobre
a terra, e em que haja sopro de vida, eu dou toda a erva verde por alimento”. E assim se fez. Deus contemplou
toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o sexto dia.
(Gn 1, 27-31)

Tudo o que existe, foi criado para o Ser Humano, e Deus, deu tudo de presente à sua criatura
favorita, porém, quando o Homem pecou, perdeu a autoridade sobre o mundo, e passou esta
autoridade a quem sujeitou o Homem à sua vontade, pois o pecado, não é apenas uma
desobediência a Deus, mas é uma imediata obediência ao demônio, e tudo o que pertence ao
ser Humano, passa da autoridade do Homem à autoridade da Serpente, que se torna, “o príncipe
deste mundo”.

“Por isso, a criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus. Pois a criação foi sujeita à
vaidade (não voluntariamente, mas por vontade daquele que a sujeitou), todavia, com a esperança de ser
também ela libertada do cativeiro da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Pois
sabemos que toda a criação geme e sofre como que dores de parto até o presente dia. Não só ela, mas também
nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nós mesmos, aguardando a adoção, a redenção do nosso
corpo.”
(Rm 8, 19-23)
277

Uma vez que sabemos que a criação e os homens estão sujeitos ao demônio, tudo o que o homem
faz, sem a graça de Deus, culminará em algum mal, seja ele físico ou espiritual.

“Sabemos que somos de Deus, e que o mundo todo jaz sob o Maligno. Sabemos que o Filho de Deus veio e
nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro. E estamos no Verdadeiro, nós que estamos em seu
Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna. Filhinhos, guardai-vos dos ídolos!”
(1 Jo 5,19-21)

CONSTRUA O HOMEM, CONSTRUA O MUNDO:

Por meio da Revelação, temos a contemplação da verdade, temos o conhecimento da verdade,


assim, nos basta somente viver conforme nos ensina a Igreja, para que a transformação do mundo
aconteça, assim o “mundo” que precisa ser transformado, é a nossa vida interior, pois temos
controle apenas sobre o nosso mundo interior. Quando caímos na tentação de achar que temos a
solução para tudo, que temos solução para os outros e não para nós, caímos no “canto da sereia”,
e assumimos um ídolo, que é um mundo ideal e imaginário, e para atingi-lo, ao invés de proclamar
o Evangelho, passamos a ser ativistas políticos e propagadores de ideologias, o Papa Francisco
tem lutado com todas as suas forças contra todas as ideologias, e tem sido duramente atacado por
todas elas ao mesmo tempo:

Os «ismos» são ideologias que dividem, que separam. A Igreja não é uma organização humana – é
humana, mas não é apenas uma organização humana –, a Igreja é o templo do Espírito Santo. Jesus
trouxe o fogo do Espírito à terra, e a Igreja reforma-se com a unção, a gratuidade da unção da graça,
com a força da oração, com a alegria da missão, com a beleza desarmante da pobreza. Coloquemos
Deus em primeiro lugar!

Olhemos para os Apóstolos. Eram muito diferentes entre eles: por exemplo, havia Mateus, um
publicano que colaborara com os Romanos, e Simão, chamado o Zelote, que a eles se opunha.
Tinham ideias políticas opostas, visões do mundo diferentes. Mas, quando recebem o Espírito,
aprendem a dar o primado não aos seus pontos de vista humanos, mas ao todo de Deus. Hoje, se
dermos ouvidos ao Espírito, deixaremos de nos focar em conservadores e progressistas,
tradicionalistas e inovadores, de direita e de esquerda; se fossem estes os critérios, significava que
na Igreja se esquecia o Espírito. O Paráclito impele à unidade, à concórdia, à harmonia das
diversidades. Faz-nos sentir parte do mesmo Corpo, irmãos e irmãs entre nós. Procuremos o todo! E
o inimigo quer que a diversidade se transforme em oposição e por isso faz com que se torne ideologia.
Devemos dizer «não» às ideologias, «sim» ao todo. (Homilia de Pentecostes, Papa Francisco,
23/05/2021)

O maior problema social que temos hoje, que é o maior problema político, é a dificuldade que os
povos têm de se encontrarem com Deus, e podemos afirmar que o principal muro de impedimento
para que a Evangelização global aconteça, são as ideologias.

Toda ideologia, coloca-se como solução de todos os problemas, como resposta aos anseios de
todas as pessoas, cria no imaginário um mundo ideal onde não existem diferenças e que a
igualdade, a fraternidade e a liberdade são as molas mestras, e para alcançar este ideal,
politicamente correto (utópico), justifica-se tudo, a violência, o extermínio, a corrupção, a maldade,
a desumanização de quem pensa diferente, ou seja, toda ideologia não passa de propaganda para
implantar o terror.

Mas o mal é feito com “boas intenções” desde que o mundo é mundo, Nosso Senhor presenciou
isso e o Evangelho denunciou, quando Judas, apelando ao “politicamente correto” termina sendo
aquele que traiu o Senhor:
278

“Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os
com seus cabelos. A casa encheu-se do perfume do bálsamo. Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos,
aquele que o havia de trair, disse: “Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se
deu aos pobres?”. Dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a
bolsa, furtava o que nela lançavam. Jesus disse: “Deixai-a; ela guardou este perfume para o dia da minha
sepultura. Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a mim nem sempre me tereis”.”
(Jo 12, 3-8)

A Igreja, nasceu da maior necessidade humana: “A SALVAÇÃO”! A Encarnação do Verbo, é o


maior BEM POLÍTICO que existe, pois é a resposta de Deus, à maior necessidade Humana. Toda
visão política, tem uma visão teológica e antropológica, toda ideologia, apresenta um deus, que é
na verdade um ídolo, e uma definição do que é o Ser Humano, que na verdade é uma propaganda,
por isso a Igreja se opõe a todas as ideologias, pois a missão da Igreja é Salvar Almas! A Missão
do Católico é a Missão da Igreja. Distanciar-se desta missão é distanciar-se da sua própria
salvação.

CONDENAÇÕES DE IDEOLOGIA ESPECÍFICAS:

A Igreja condenou oficialmente o nazismo e o fascismo em vários documentos ao longo da história.


Um dos documentos mais importantes é a encíclica "Mit Brennender Sorge" ("Com Ardente
Preocupação"), escrita por Papa Pio XI em 1937.

Nessa encíclica, o Papa condenou fortemente a ideologia nazista, especialmente sua doutrina de
superioridade racial e a perseguição aos judeus e outras minorias. Ele também criticou a ideologia
fascista e alertou os católicos a não se deixarem seduzir por essas ideologias totalitárias:

“Quem exalta a raça, ou o povo, ou o Estado, ou uma forma particular de Estado, ou os


depositários do poder, ou qualquer outro valor fundamental da comunidade humana - por
mais necessária e honrosa que seja sua função nas coisas mundanas - quem levanta essas noções
acima de seu valor padrão e as divinizam a um nível idólatra, distorcem e pervertem uma ordem do
mundo planejada e criada por Deus; está longe da verdadeira fé em Deus e do conceito de vida que
essa fé sustenta.... Ninguém além de mentes superficiais poderia tropeçar em conceitos de um Deus
nacional, de uma religião nacional; ou tentar fechar dentro das fronteiras de um único povo,
dentro dos estreitos limites de uma única raça, Deus, o Criador do universo, Rei e Legislador de todas
as nações diante de cuja imensidão eles são "como uma gota de um balde" ( Isaías XI, 15). (Pio IX:
Encíclica "MIT BRENNENDER SORGE”)

A seguir, a condenação da Igreja de outras ideologias políticas, econômicas e cientificistas ao longo


do tempo recente da Igreja, época marcada pelas ideologias:

1. Ao Nazismo e Fascismo e Anti-Semitismo Alemão:

“Pio XI não deixou de elevar a voz contra os regimes totalitários que durante o seu pontificado se
afirmaram na Europa. Já no dia 29 de Junho de 1931 Pio XI havia protestado contra os abusos do
regime totalitário fascista na Itália com a Encíclica “Non abbiamo bisogno”. Em 1937 publicou a
Encíclica “Mit brennender Sorge”, sobre a situação da Igreja Católica no Reich Germânico (14 de
Março de 1937). O texto da “Mit brennender Sorge” foi lido do púlpito em todas as Igrejas, depois de
ter sido distribuído no máximo segredo. A encíclica aparecia após anos de abusos e de violências e
fora expressamente pedida a Pio XI pelos bispos alemães, após as medidas cada vez mais coativas e
repressivas tomadas pelo Reich em 1936, particularmente em relação aos jovens, obrigados a
inscrever-se na “Juventude hitlerista”. O Papa dirige-se diretamente aos sacerdotes e aos religiosos,
aos fiéis leigos, para os incentivar e chamar à resistência, enquanto uma verdadeira paz entre a
Igreja e o Estado não se restabelecesse. Em 1938, perante a difusão do anti-semitismo, Pio XI
afirmou: “Somos espiritualmente semitas”.” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja - DSI - 92).
279

2. Ao Comunismo:

“A isto visa aquele sistema horrível e contrário à luz da razão, da indiferença de qualquer religião
[indiferentismo]; sistema com o qual astutamente, eliminada toda diferença entre virtude e vício,
verdade e erro, honestidade e desonestidade, vão inventando que os homens podem conseguir a
salvação eterna em qualquer religião …, a isto aquela doutrina funesta e sobejamente contrária
ao direito natural que é o comunismo, como é chamado, uma vez admitida a qual, se derrubariam
completamente os direitos, os patrimônios, as propriedades e até a sociedade humana.” (Pio IX:
Decreto do S. Ofício)

3. Ao Socialismo:

“Não satisfeitos de remover a religião da sociedade pública, querem também arrancar a religião das
famílias privadas. De fato, ensinando e professando o funestíssimo erro do comunismo e do
socialismo, afirmam que a sociedade doméstica, ou seja, a família, tira toda sua razão de existir
somente do direito civil; e que por isto somente da lei civil derivam e dependem os direitos de todos
os pais sobre os filhos, em particular o direito de procurar lhe instrução e educação.” (Pio IX: Encíclica
“Quanta cura”)

4. Ao Capitalismo, Socialismo e Autoritarismo Democrático:

“Nos nossos dias, aliás, as fraquezas das ideologias se depreendem com maior clareza dos sistemas
concretos pelos quais procuram realização prática. Com efeito, o socialismo burocrático, o
chamado capitalismo tecnocrático e a democracia autoritária manifestam claramente quão
duro e difícil é o grande problema humano de viver juntamente com os outros na justiça e na
igualdade. De que modo poderão eles, de fato, fugir do materialismo, do individualismo ou da cruel
opressão que, fatalmente, os acompanham?” (São Paulo VI, Carta apostólica “Octogesima
adveniens”)

5. Ao Capitalismo, Socialismo e Comunismo:

“É sabido que o capitalismo tem o seu significado histórico bem definido, enquanto sistema – e
sistema econômico-social –, em contraposição ao socialismo ou comunismo. No entanto, à luz da
análise da realidade fundamental de todo o processo econômico e, antes de tudo, das estruturas de
produção – da qual precisamente o trabalho faz parte – importa reconhecer que o erro do primitivo
capitalismo pode repetir-se onde quer que o homem seja tratado, de alguma forma, da mesma
maneira que todo o conjunto dos meios materiais de produção, ou seja, como um instrumento, e
não segundo a verdadeira dignidade do seu trabalho, ou seja, como sujeito e autor e, por isso mesmo,
como verdadeiro fim ao qual tende todo o processo de produção.” (São João Paulo II: Encíclica
“Laborem exercens”)

6. Ao Liberalismo:

“Agradecemos-lhe, pois, de coração, a Vossa Excelência, Senhor Cardeal, e aos seus venerados Irmãos
pela participação na amarga dor de que se enche a Nossa alma, por uma recente publicação sobre
as relações entre a Igreja e os Estados: uma publicação verdadeiramente deplorável em si e pelas
tristes circunstâncias em que ocorreu: ainda mais deplorável pelas tristes conseqüências, por você,
Senhor Cardeal, e por seus colegas com profundo pesar lamentados na carta mencionada, assim
como muitos outros bispos italianos fizeram; queremos dizer com o dano gravíssimo que dela deriva
no meio da grande multidão daqueles que, derivados das opiniões do liberalismo moderno e
alheios a distinções e sutilezas, olham apenas para a fonte, às vezes considerada autoritária, da qual
certos escritos emanam, e depois bebem com a ajuda de uma imprensa perversa, o veneno mortal
280

de certas máximas que jamais poderão ser aceitas pela Igreja.” (Carta de São Pio X ao Bispo Cardeal
de Milão, 1905)

7. Ao Progressismo e Liberalismo:

“Há muito tempo vemos, Veneráveis Irmãos, que miserável conflito agita a sociedade civil,
especialmente nestes nossos tempos infelizes, devido à guerra acalorada entre a verdade e o erro, a
virtude e o vício, a luz e as trevas. De fato, alguns de um lado apóiam algumas máximas da civilização
moderna, como eles a chamam; e outros, por outro lado, defendem os direitos da justiça e de nossa
sacrossanta religião. Os primeiros pedem que o Romano Pontífice se reconcilie e faça as pazes com
o Progresso, com o Liberalismo, como dizem, e com a civilização de hoje. Estes últimos pedem com
razão que os princípios imutáveis e inabaláveis da justiça eterna, sejam mantidos inviolados e
intactos; e que se conserve incólume a salutar virtude de nossa divina Religião, que propaga a glória
de Deus, oferece um remédio oportuno aos muitos males que afligem o gênero humano, e é a única
e verdadeira norma pela qual os filhos dos homens, depois de haverem educados em todas as
virtudes nesta vida mortal, são conduzidos ao paraíso da bem-aventurança eterna.” (Alocação
“Iamdudum Cernimus”, Pio Ix, 1861)

8. Ao Progressismo Teológico:

“Nada é de admirar que, neste período "pós-conciliar", se tenham desenvolvido, com bastante
intensidade, certas interpretações do Vaticano II que não correspondem ao seu magistério autêntico.
Trata-se nisto de duas tendências bem conhecidas: o "progressismo" e o "integrismo". Uns estão
sempre impacientes por adaptar até mesmo o conteúdo da fé, a ética cristã, a liturgia e a organização
eclesial às mudanças das mentalidades, às reclamações do "mundo", sem ter conta suficientemente,
não só do sentido comum dos fiéis, que são desorientados, mas do essencial da fé já definida, das
raízes da Igreja, da sua experiência de séculos, das normas necessárias à sua fidelidade, à sua
unidade e à sua universalidade. Têm a obsessão de "avançar", mas para que "progresso" afinal? Os
outros — reparando em tais abusos que nós bem evidentemente somos os primeiros a reprovar e a
corrigir — endurecem-se fechando-se num período determinado da Igreja, num estádio determinado
de formulação teológica ou de expressão litúrgica, de que fazem um absoluto, sem lhe penetrar
suficientemente o sentido profundo, sem considerar a totalidade da história e o seu desenvolvimento
legítimo, temendo as questões novas, sem admitir afinal que o Espírito de Deus está ativo hoje na
Igreja, com os Pastores dela, unidos ao Sucessor de Pedro.” (Viagem Apostólica à França, São João
Paulo II, 1980)

9. Ao Internacionalismo (Nova Ordem Mundial)

“A mensagem cristã oferece uma visão universal da vida dos homens e dos povos sobre a terra , que
leva a compreender a unidade da família humana. Tal unidade não se deve construir com a força
das armas, do terror ou da opressão, mas é antes o êxito daquele “supremo modelo de unidade,
reflexo da vida íntima de Deus, uno em três Pessoas, é o que nós cristãos designamos com a palavra
“comunhão”” e uma conquista da força moral e cultural da liberdade. A mensagem cristã foi decisiva
para fazer a humanidade compreender que os povos tendem a unirem-se não apenas em razão das
formas de organização, de vicissitudes políticas, de projetos econômicos ou em nome de uma
internacionalismo abstrato e ideológico, mas porque livremente se orientam em direção a
cooperação, cônscios “de serem membros vivos de uma comunidade mundial” que se deve propor
sempre mais e sempre melhor como figura concreta da unidade querida pelo Criador: “A unidade
universal do convívio humano é um fato perene. É que o convívio humano tem por membros seres
humanos que são todos iguais por dignidade natural. Por conseguinte, é também perene a exigência
natural de realização, em grau suficiente, do bem comum universal, isto é, do bem comum de toda
a família humana]’.” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja - DSI - 432).
281

10. Ao Tradicionalismo

“Para responder plena e adequadamente a esta duradoura responsabilidade, a Igreja de Deus que
está na Itália deve viver intensamente a própria dimensão "missionária". Dimensão missionária ad
extra, qual se manifestou nos séculos e se manifesta ainda hoje, na generosidade de tantos filhos e
filhas desta Nação, que abandonaram a Pátria, a família, os amigos e a segurança, para se lançarem
ao mundo a pregar o Evangelho: a Itália pode legitimamente ter orgulho nos Missionários e nas
Missionárias, que a todas as plagas da terra levaram e levam, como São Francisco, a paz e o bem,
tais como os proclama a mensagem de Cristo. Mas tais conhecidíssimos méritos da Itália, no campo
da sua plurissecular dimensão missionária ad extra, são o fruto daquela que podemos chamar a
dimensão missionária ab intra, isto é o seu dinamismo e a sua vitalidade, pelos quais a Igreja de
Deus que está na Itália — como por outro lado toda a Igreja — está perenemente in statu missionis:
"A Igreja, que vive no tempo, por sua natureza é missionária, enquanto é da missão do Filho e da
missão do Espírito Santo que ela, segundo o Plano de Deus Pai, deriva a própria origem" (Ad gentes,
2). Tal dimensão missionária ab intra contrapõe-se por isso ao tradicionalismo e ao imobilismo;
encontra-se confrontada com o perfil da "secularização" programada pela vida nos diversos sectores;
e descobre além disso não só o seu "ontem" sacral e cristão, mas também o "hoje" atormentado
e exaltador, e o "amanhã" ainda imprevisto e imprevisível.” (Aos Bispos Italianos, S. João Paulo
II)

“Como se vê, Ireneu não se limita a definir o conceito de Tradição. A sua tradição, a Tradição
ininterrupta, não é tradicionalismo, porque esta Tradição é sempre internamente vivificada pelo
Espírito Santo, que a faz de novo viver, a faz ser interpretada e compreendida na vitalidade da Igreja.”
(Audiência Geral, Bento XVI)

11. Ao Conservadorismo e Fundamentalismo

E para enfrentar este desafio, devemos superar duas tentações possíveis: condenar tudo, cunhando
a já famosa frase «o passado é sempre melhor» e refugiando-nos em conservadorismos ou
fundamentalismos; ou então, ao contrário, consagrar tudo, negando autoridade ao que não tem
«sabor de novidade», relativizando toda a sabedoria cunhada pelo rico património eclesial.
(Congresso Internacional de Teologia, Papa Francisco)

“O pelagianismo leva-nos a ter confiança nas estruturas, nas organizações, nas planificações
perfeitas por que abstratas. Com frequência leva-nos até a assumir um estilo de controle, de rigidez,
de normatividade. A norma dá ao pelagiano a segurança de se sentir superior, de ter uma orientação
exata. Nisto encontra a sua força, não na leveza do sopro do Espírito. Diante dos males ou dos
problemas da Igreja é inútil procurar soluções em conservadorismos e fundamentalismos, na
restauração de condutas e formas superadas que nem sequer culturalmente têm a capacidade de
ser significativas. A doutrina cristã não é um sistema fechado incapaz de gerar perguntas, dúvidas,
interrogações, mas é viva, sabe inquietar, animar. Tem uma face não rígida, um corpo que se move
e se desenvolve, tem a carne macia: a doutrina cristã chama-se Jesus Cristo.” (V Congresso da Igreja
Italiana, Papa Francisco)

12. Ao Espectro de Direita e Esquerda Política

“Hoje, se dermos ouvidos ao Espírito, deixaremos de nos focar em conservadores e progressistas,


tradicionalistas e inovadores, de direita e de esquerda; se fossem estes os critérios, significaria
que na Igreja se esquece o Espírito. O Paráclito impele à unidade, à concórdia, à harmonia das
diversidades. Faz-nos sentir parte do mesmo Corpo, irmãos e irmãs entre nós. Procuremos o
conjunto!” (Solenidade de Pentecostes, 2021, Papa Francisco)

Estas são apenas algumas condenações, orientações e correções que a Igreja tem feito a respeito
das ideologias políticas, teológicas, econômicas e sociológicas e por isso mesmo, servem para nós,
282

católicos para compreendermos que nossa adesão a ideologias, seja em qual âmbito for, pode nos
retirar do caminho da verdade, e nos afastar do Evangelho, da Sã Doutrina da Igreja e por
consequência da Salvação Eterna.

DSI – DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA:

A Doutrina Social da Igreja (DSI), é a resposta a todos os anseios possíveis de serem sanados aos
homens, neste mundo, ela parte do princípio que este mundo passa, que o homem não é eterno
neste mundo, que a morte é uma certeza, e que há uma felicidade Celeste nos aguardando, mas
mesmo assim, precisamos cuidar deste mundo e das pessoas deste mundo, então, numa série de
documentos elaborados pelos papas, a Igreja traçou e tem atualizado este traçado, num plano de
vida comunitária, que visa o bem comum neste mundo e a salvação das almas. A seguir estão os
principais documentos da Doutrina Social da Igreja:

➢ Papa Pio IX: Qui pluribus, 1846 e Quanta cura, 1864.


➢ Papa Leão XIII: Rerum Novarum ("Das coisas novas" - Sobre a Situação dos Trabalhadores
- crítica aos materialismos comunista e capitalista), 1891, Immortale Dei e Quod apostolici
muneris, 1878.
➢ Papa Bento XV: Ad Beatissimi, 1914.
➢ Papa Pio XI: Quadragesimo Anno ("No quadragésimo ano" - Sobre a Reconstrução da
Ordem Social), 1931; Divini Redemptoris (Condenação do comunismo), 1937; Non
abbiamo bisogno (Condenação do Fascismo) e Mit brennender Sorge (Condenação do
Nazismo), 1937.
➢ Papa Pio XII: Fidei Donum, 1957 e Ad apostolorum principis.
➢ Papa João XXIII: Mater et Magistra ( "Mãe e Mestra" - Cristianismo e Progresso Social),
1961 e Pacem in Terris (Paz na Terra), 1963.
➢ Concílio Vaticano II: Gaudium et Spes ("Alegria e Esperança" - A Igreja no Mundo Atual),
1965.
➢ Papa Paulo VI: Populorum Progressio ("O progresso dos povos" - Sobre o Desenvolvimento
dos Povos), 1967; Octogesima Adveniens ( "Chegando a octogésima" - Convocação à
Ação), 1967; Sínodo dos Bispos: A Justiça no Mundo, 1967; Humanae Vitae, 1968
e Evangelii Nuntiandi ("O Evangelho a anunciar" - A Evangelização no Mundo Atual), 1975.
➢ Papa João Paulo II: Redemptor Hominis (O Redentor da Humanidade), 1979; Laborem
Exercens (Sobre o Trabalho Humano), 1981; Sollicitudo Rei Socialis (A Solicitude Social da
Igreja), 1987; Centesimus Annus (O Ano Centenário), 1991; Tertio Millenio Adveniente (O
Ano Jubilar 2000), 1994 e Evangelium Vitae (O Evangelho da Vida), 1995. Carta dos Direitos
da Família, Vaticano: Tipografia Poliglota Vaticana, 1983.
➢ Papa Bento XVI: Deus Caritas Est, 2005; Caritas in Veritate, 2009.
➢ Papa Francisco: Laudato Si', 2015; Fratelli Tutti (2020)

PRINCÍPIOS DA DSI:

Segundo alguns autores, a DSI tem cinco princípios básicos: o Princípio da Destinação Universal
dos Bens, o Princípio da Subsidiariedade, o Princípio da Solidariedade, Princípio do Bem Comum,
e o da Dignidade da Pessoa Humana.

I. Princípio da Destinação Universal dos Bens:

Toda a criação é boa, em sua essência e Deus estabeleceu o ser humano como cuidador e
guardião de toda a Criação:

“O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden, para cultivar o solo e o guardar.”
(Gn 2,15)
283

O acesso aos meios de subsistência, é um Direito Natural comum a todos, assim, toda tentativa,
coletiva ou individual, ou iniciativas públicas e privadas, que impedem o acesso de uns aos meios
de subsistência, privilegiando outros ou uma minoria, deve ser denunciada e combatida, pois é
identificada como um pecado social, e esta visão não é nova na Igreja:

“A natureza produziu seus bens em profusão, oferecendo-os em comum a todos. Deus ordenou que
tudo fosse produzido, gerado de maneira a servir de alimento comum a todos e a terra fosse
propriedade comum” (Santo Ambrósio)

“Deus nos tem dado a faculdade do uso, porém só para conter o necessário, e quer, por outra parte,
que o uso seja comum. É absurdo que um só viva entre deleites e que os demais estejam na miséria”
(São Clemente de Alexandria)

Sendo assim, a propriedade privada, é uma mera convenção social, em que se permite que os
homens usem de porções de terra, para sua subsistência, segurança, moradia, mas não é de fato
sua propriedade, pois o valor desta mesma porção de terra, não pode ser estipulado segundo um
valor em dinheiro, mas sim pela necessidade das pessoas. Ninguém, por mais dinheiro que tenha,
deveria extrapolar um limite determinado de possuir os bens comuns, como se estes fossem
garantidos unicamente pela capacidade financeira, militar ou política.

“Mediante o trabalho, o homem, usando a sua inteligência, consegue dominar a terra e torná-la sua
digna morada: “Deste modo, ele apropria-se de uma parte da terra, adquirida precisamente com o
trabalho. Está aqui a origem da propriedade individual”. A propriedade privada, bem como as outras
formas de domínio privado dos bens, “assegura a cada qual um meio absolutamente necessário para
a autonomia pessoal e familiar e deve ser considerada como uma prolongação da liberdade humana
[...], constitui uma certa condição das liberdades civis, porque estimula ao exercício da sua função e
responsabilidade”. A propriedade privada é elemento essencial de uma política econômica
autenticamente social e democrática e é garantia de uma reta ordem social. A doutrina social
requer que a propriedade dos bens seja equitativamente acessível a todos, de modo que todos sejam,
ao menos em certa medida, proprietários, e exclui o recurso a formas de “domínio comum e
promíscuo”.

A tradição cristã nunca reconheceu o direito à propriedade privada como absoluto e intocável:
“pelo contrário, sempre o entendeu no contexto mais vasto do direito comum de todos a utilizarem
os bens da criação inteira: o direito à propriedade privada está subordinado ao direito ao uso
comum, subordinado à destinação universal dos bens” . O princípio da destinação universal dos bens
afirma seja o pleno e perene senhorio de Deus sobre toda a realidade, seja a exigência que os bens
da criação sejam e permaneçam finalizados e destinados ao desenvolvimento de todo homem e de
toda a humanidade. Este princípio, porém, não se opõe ao direito de propriedade, indica antes
a necessidade de regulamentá-lo. A propriedade privada, com efeito, quaisquer que sejam as
formas concretas dos regimes e das normas jurídicas que lhes digam respeito, é, na sua essência,
somente um instrumento para o respeito do princípio da destinação universal dos bens, e portanto,
em última análise, não um fim, mas um meio.” (DSI, 176-177)

II. Princípio da Subsidiariedade:

Este princípio tem como base a constatação de que ao criar o ser humano, Ele o dotou de uma
capacidade criativa e empreendedora, e por isso, é injusto retirar a liberdade do ser humano de
trabalhar e de cooperar com seus semelhantes.
284

Assim, o estado, teria apenas a função de executar aquilo que as pessoas sozinhas ou mesmo em
comunidade, não são capazes de fazer de modo responsável e eficiente, mas, a regulamentação
excessiva do estado, manifesta-se mais como um ardil contra a liberdade humana e uma tentativa
de controle do que um benefício.

A subsidiariedade reconhece a importância da iniciativa privada, e do papel do estado em apoiar a


sociedade civil no protagonismo do desenvolvimento sustentável das comunidades, sem o exagero
do liberalismo (anarquia capitalista) que nega a necessidade dos impostos, como se estes ferissem
a liberdade da pessoa, porém, a organização social precede os indivíduos, sendo assim, a
necessidade da ordem é um bem, que precisa ser mantido por todos, caso contrário o tecido social
ruiria e não haveria mais a ordem mas a barbárie.

“A coleta fiscal e a despesa pública assumem uma importância econômica crucial para
qualquer comunidade civil e política: o objetivo para o qual tender é uma finança pública capaz
de se propor como instrumento de desenvolvimento e de solidariedade. Uma finança pública
equitativa, eficiente, eficaz, produz efeitos virtuosos sobre a economia, porque consegue favorecer o
crescimento do emprego, amparar as atividades empresariais e as iniciativas sem fins lucrativos, e
contribui a aumentar a credibilidade do Estado enquanto garante dos sistemas de previdência e de
proteção social destinados em particular a proteger os mais fracos.

As finanças públicas se orientam para o bem comum quando se atêm a alguns princípios
fundamentais: o pagamento dos impostos como especificação do dever de solidariedade;
racionalidade e equidade na imposição dos tributos; rigor e integridade na administração e na
destinação dos recursos públicos. Ao redistribuir as riquezas, a finança pública deve seguir os
princípios da solidariedade, da igualdade, da valorização dos talentos, e prestar grande
atenção a amparar as famílias, destinando a tal fim uma adequada quantidade de recursos.”
(DSI, 355)

III. Princípio da Solidariedade:

O estado não é um indivíduo, e os indivíduos, mesmo contribuindo com as coletas fiscais (impostos)
não tem o direito de se eximir da responsabilidade pessoal e individual de buscar o bem comum e
de “amar o próximo” atendendo às suas necessidades. O fato de se “pagar impostos” não livra a
sociedade como um todo, ou melhor, cada indivíduo, da responsabilidade para com as
necessidades dos que não conseguiram ser atingidos pelos benefícios da civilização.

O estado é macro, mas somente a pessoa pode ir aonde o estado e até mesmo onde a Igreja não
consegue ir, assim, a solidariedade apresenta-se como solução às lacunas que a capacidade
estatal possui, admitindo-se uma interdependência entre o indivíduo e o estado, que por um lado,
presta apoio à sociedade e por outro, presta apoio aos indivíduos. Sem esta sinergia entre o
indivíduo e o estado, sem um jogar a responsabilidade para o outro, mas assumir sua
responsabilidade, não há meios de colocar a solidariedade em prática.

Por sua vez, não podem ser as necessidades de mercado a “mola mestra” que direciona as ações
do estado e dos indivíduos, pois antes de tudo, deve vir o “bem comum” e não o “bem do mercado”:

“O sistema econômico-social deve ser caracterizado pela compresença de ação pública e


privada, incluída a ação privada sem finalidade de lucro. Configura-se de tal modo uma
pluralidade de centros decisórios e de lógicas de ação. Há algumas categorias de bens, coletivos e de
uso comum, cuja utilização não pode depender dos mecanismos do mercado e não é nem mesmo
de exclusiva competência do Estado. O dever do Estado, em relação a estes bens, é antes o de
valorizar todas as iniciativas sociais e econômicas que têm efeitos públicos, promovidos pelas
formações intermédias. A sociedade civil, organizada nos seus corpos intermédios, é capaz de
contribuir para a consecução do bem comum pondo-se em uma relação de colaboração e de
285

eficaz complementaridade em relação ao Estado e ao mercado, favorecendo assim o


desenvolvimento de uma oportuna democracia econômica. Em um semelhante contexto, a
intervenção do Estado deve ser caracterizada pelo exercício de uma verdadeira solidariedade, que
como tal nunca deve ser separada da subsidiariedade.” (DSI, 356)

A solidariedade é uma constante vigilância que busca fazer com que, não apenas alguns se
desenvolvam, mas todos, tenham acesso, não apenas aos meios de subsistência, mas também ao
conforto das tecnologias e os meios de desenvolvimento humano:

“O zelo pelo bem comum exige que se aproveitem as novas ocasiões de redistribuição de poder e
riqueza entre as diversas áreas do planeta, em benefício das mais desfavorecidas e até agora
excluídas ou à margem do progresso social e econômico: “O desafio, em suma, é o de assegurar
uma globalização na solidariedade, uma globalização sem marginalização”. O próprio
progresso tecnológico arrisca repartir iniquamente entre os países os próprios efeitos positivos. As
inovações, com efeito, podem penetrar e difundir-se no interior de uma determinada coletividade, se
os seus potenciais beneficiários atingem um patamar mínimo de saber e de recursos financeiros: é
evidente que, em presença de fortes disparidades entre os países no acesso aos conhecimentos
técnico-científicos e aos mais recentes produtos tecnológicos, o processo de globalização acaba por
alargar, ao invés de reduzir, as distâncias entre os países em termos de desenvolvimento econômico
e social. Dada a natureza das dinâmicas em curso, a livre circulação de capitais não é de per si
suficiente para favorecer a aproximação dos países em via de desenvolvimento em relação aos mais
avançados.” (DSI; 363)

IV. Princípio do Bem Comum:

O bem comum, não deve ser entendido como um somatório dos bens individuais e muito menos,
apenas dos bens materiais, faz parte do bem comum, a cultura e sobretudo os valores morais e a
dignidade da pessoa.

É preciso ter sempre em mente, que a criação existe, para conduzir o homem a Deus, nunca como
um fim em si mesma. Quando se abre mão de valores e de princípios civilizatórios em nome do
mercado, da empresa, da carreira, o que se faz na prática é professar o materialismo como religião
e o dinheiro como um deus:

“Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e
desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza.”
(Mt 6,24)

O bem comum, então, não é o bem material, pois este passará; o bem comum é o bem moral, os
valores e a cultura (espiritualidade) católica e cristã, por estes princípios, estimula-se o sacrifício
até da própria vida, e a Igreja prestigia o martírio com a canonização dos santos mártires, porém,
infelizmente, as pessoas perdendo o real significado do que é bem comum, sacrificam-se pelas leis
e regras de mercado, pelas leis do estado, pelas leis de convivência do politicamente correto,
criando ídolos aos quais servem na prática, mesmo muitas vezes se auto designando cristãos e
católicos.

Um católico não se sacrifica pela empresa, pelo estado, pela nação, mas somente e unicamente
por Cristo, e pelos valores que foram estabelecidos por Ele por meio da Tradição, Escritura e
Magistério, enfim, pelos ensinamentos da Igreja:

“A sociabilidade humana não desemboca automaticamente na comunhão das pessoas, no dom


de si. Por causa da soberba e do egoísmo, o homem descobre em si gérmenes de insociabilidade, de
fechamento individualista e de opressão do outro. Toda sociedade digna desse nome pode
considerar estar na verdade quando cada membro seu, graças à própria capacidade de conhecer o
286

bem, persegue-o para si e para os outros. É por amor do bem próprio e de outrem que se dá a
união em grupos estáveis, tendo como fim a conquista de um bem comum. Também as várias
sociedades devem adentrar por relações de solidariedade, de comunicação e de colaboração,
a serviço do homem e do bem comum.

A sociabilidade humana não é uniforme, mas assume multíplices expressões. O bem comum
depende, efetivamente, de um são pluralismo social. As múltiplas sociedades são chamadas a
constituir um tecido unitário e harmônico, onde cada uma possa conservar e desenvolver a própria
fisionomia e autonomia. Algumas sociedades, como a família, a comunidade civil e a comunidade
religiosa são mais imediatamente conexas com a íntima natureza do homem, enquanto outras
procedem da vontade livre: “A fim de favorecer a participação do maior número na vida social, é
preciso encorajar a criação de associações e instituições de livre escolha, “com fins econômicos,
culturais, sociais, esportivos, recreativos, profissionais, políticos, tanto no âmbito interno das
comunidades políticas como no plano mundial”. Esta “socialização” exprime, igualmente, a
tendência natural que impele os seres humanos a se associarem para atingir objetivos que
ultrapassam as capacidades individuais. Desenvolve as qualidades da pessoa,
particularmente seu espírito de iniciativa e de responsabilidade. Ajuda a garantir seus direitos”.”
(DSI 150 e 151).

V. Dignidade da Pessoa Humana:

Compreende a visão que a Igreja tem do ser humano, que é a única criatura criada por Deus por si
mesma à qual dotou de Sua própria Imagem e Semelhança, assim sendo, é um animal dotado de
razão, que de forma psicossomática interage com a matéria, e se estabelece como indivíduo,
relacionando-se com seu corpo, e dotado de uma alma imortal; é irrepetível possuidor de uma
personalidade única, mas sujeito a administração do estado, mas superior ao estado em sua
dignidade. Sendo assim, o estado não tem o direito de violar sua vida, sua liberdade, sua
personalidade e deve sempre estar voltado para a garantia dos seus direitos, e não apenas de um
grupo, mas de todos os indivíduos.

“O movimento rumo à identificação e à proclamação dos direitos do homem é um dos mais


relevantes esforços para responder de modo eficaz às exigências imprescindíveis da dignidade
humana. A Igreja entrevê em tais direitos a extraordinária ocasião que o nosso tempo oferece para
que, mediante o seu afirmar-se, a dignidade humana seja mais eficazmente reconhecida e
promovida universalmente como característica impressa pelo Deus Criador na Sua criatura. O
Magistério da Igreja não deixou de apreciar positivamente a Declaração Universal dos Direitos do
Homem, proclamada pelas Nações Unidas em 10 de Dezembro de 1948, que João Paulo II definiu
como “uma pedra miliária no caminho do progresso moral da humanidade”.

A raiz dos direitos do homem, com efeito, há de ser buscada na dignidade que pertence a cada
ser humano. Tal dignidade, conatural à vida humana e igual em cada pessoa, se apreende
antes de tudo com a razão. O fundamento natural dos direitos se mostra ainda mais sólido
se, à luz sobrenatural, se considerar que a dignidade humana, doada por Deus e depois
profundamente ferida pelo pecado, foi assumida e redimida por Jesus Cristo mediante a Sua
encarnação, morte e ressurreição.

A fonte última dos direitos humanos não se situa na mera vontade dos seres humanos, na realidade
do Estado, nos poderes públicos, mas no mesmo homem e em Deus seu Criador. Tais direitos são
“universais, invioláveis e inalienáveis”. Universais, porque estão presentes em todos os seres
humanos, sem exceção alguma de tempo, de lugar e de sujeitos. Invioláveis, enquanto «inerentes à
pessoa humana e à sua dignidade» e porque «seria vão proclamar os direitos, se simultaneamente
não se envidassem todos os esforços a fim de que seja devidamente assegurado o seu respeito por
parte de todos, em toda a parte e em relação a quem quer que seja». Inalienáveis, enquanto
287

“ninguém pode legitimamente privar destes direitos um seu semelhante, seja ele quem for, porque
isso significaria violentar a sua natureza”.” (DSI, 152 e 153)

Quando se perde de vista a sobrenaturalidade da vida, quem perde é o próprio ser humano, que
passa a ser visto como algo e não como alguém, como coisa e não como pessoa, como número e
não como nome. As ideologias ferem a sociedade, exatamente porque subtraem o princípio
sobrenatural da vida, e por consequência diminuem ou até suplantam a dignidade humana,
relativizando-a.

O CATÓLICO É DISTRIBUTIVISTA?

A Igreja não lança mão deste termo em nenhum dos seus documentos, porém, já nas Sagradas
Escrituras, seu princípio fica muito bem estabelecido:

“Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-
me!”.
(Mt 19,21)

“Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e
dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um.”
(At 2, 44-45)

Em praticamente todos os documentos que compõem a Doutrina Social da Igreja, o tema


“distribuição”, seja de renda, de riquezas, de oportunidades, de tecnologia, de meios políticos e de
terras entra em voga, assim, o distributivismo é um termo que precisa ser melhor aprofundado e
difundido no âmbito político, pois é por meio dele que a Doutrina Social da Igreja pode ser
implementada sem ser cooptada pela “direita ou esquerda” política e pelas suas respectivas
ideologias já há muito condenadas pela Igreja. Os autores mais proeminentes do Distributivismo
são os ingleses e católicos Hilarie Belloc e Gilbert Keith Chesterton, estando este último a poucos
passos da abertura de processo de beatificação.

A ÚLTIMA PROVA DA IGREJA

Até o momento, são 10 papas, em um único movimento, que procuraram atualizar em seus
pontificados, a Doutrina Social, e aplicá-la de forma que o Evangelho seja manifestado na vida
pública, a fim de levar o bem comum/Salvação, sem perder de vista a tentação das ideologias que
prometem soluções para todos os problemas, inclusive religiosos, cada vez mais, as ideologias
ganham contornos religiosos, de uma falsa religião que promete a felicidade plena neste mundo:

Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos
crentes. A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na Terra, porá a descoberto o “mistério
da iniquidade”, sob a forma duma impostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente
para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A suprema impostura religiosa é a do
Anticristo, isto é, dum pseudo-messianismo em que o homem se glorifica a si mesmo, substituindo-
se a Deus e ao Messias Encarnado.

Esta impostura anticrística já se esboça no mundo, sempre que se pretende realizar na história a
esperança messiânica, que não pode consumar-se senão para além dela, através do juízo
escatológico. A Igreja rejeitou esta falsificação do Reino futuro, mesmo na sua forma mitigada, sob o
nome de milenarismo, e principalmente sob a forma política dum messianismo secularizado,
“intrinsecamente perverso”.

A Igreja não entrará na glória do Reino senão através dessa última Páscoa, em que seguirá o Senhor
na sua morte e ressurreição. O Reino não se consumará, pois, por um triunfo histórico da Igreja
288

segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o último desencadear do mal,
que fará descer do céu a sua Esposa. O triunfo de Deus sobre a revolta do mal tomará a forma de
Juízo final, após o último abalo cósmico deste mundo passageiro. (CatIC 675-677)

As ideologias são meios de imitar o Evangelho com o objetivo de suplantá-lo, enganando os seres
humanos para que estes terminem idolatrando as criaturas esquecendo-se do Criador. Este
processo acontece sob o olhar amoroso de Deus, que permite a tentação, para que o ser humano
possa exercer sua liberdade. Toda tentação tem como origem o tentador, que foi capaz inclusive
de tentar o próprio Deus feito homem:

“O tentador aproximou-se dele e lhe disse: “Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pães”.
(Mt 4,3)

Dando sequência a esta batalha espiritual, entraremos nos assuntos mais importantes até o
momento, que tratam da ação diabólica no mundo e da Moral Católica e finalizaremos com a história
desta batalha pelos séculos que desemboca na História da Igreja.
289

11º. PARTE: ANGEOLOGIA E DEMONOLOGIA


“A existência dos seres espirituais, não-corporais, que Sagrada Escritura chama habitualmente de
anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade
da Tradição.” (CatIC 328)

ANJOS:

A existência de anjos, é uma verdade de fé, e não pode ser negada, sem o prejuízo à fé católica,
por consequência, uma vez que os demônios são anjos, a existência de demônios, também é uma
verdade de fé que deve ser aprofundada e conhecida, para melhor proveito de nossas almas.

“Desde a Encarnação até a Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é cercada da adoração e do serviço
dos anjos. Quando Deus "introduziu o Primogênito no mundo, disse: - Adorem-no todos os anjos de
Deus- " (Hb 1,6). O canto de louvor deles ao nascimento de Cristo não cessou de ressoar no louvor
da Igreja: "Glória a Deus..." (Lc 2,14). Protegem a infância de Jesus, servem a Jesus no deserto,
reconfortam-no na agonia, embora tivesse podido ser salvo por eles da mão dos inimigos, como
outrora fora Israel. São ainda os anjos que "evangelizam", anunciando a Boa Nova da Encarnação e
da Ressurreição de Cristo. Estarão presentes no retorno de Cristo, que eles anunciam serviço do juízo
que o próprio Cristo pronunciará.” (CatIC 333)

É preciso que todos nós tenhamos uma profunda devoção pelos Santos Anjos de Deus,
principalmente pelos três que estão explicitamente presente na Sagrada Escritura: Rafael, Gabriel
e Miguel; mas é preciso também termos uma terna e especial devoção por nosso Santo Anjo da
Guarda.

“Em sua Liturgia, a Igreja se associa aos anjos para adora o Deus três vezes Santo; ela invoca a sua
assistência (assim em In Paradisum deducant te Angeli... - Para o Paraíso te levem os anjos, da
Liturgia dos defuntos, ou ainda no "hino querubínico" da Liturgia bizantina). Além disso, festeja mais
particularmente a memória de certos anjos (São Miguel, São Gabriel, São Rafael, os anjos da
guarda).” (CatIC 335)

Existe uma hierarquia entre os anjos, que é descrita por Santo Tomás de Aquino, que não é objeto
de fé católica, mas salutar devoção e encontra firme respaldo bíblico e dentro da tradição da Igreja
que são nove coros: Primeira Hierarquia (Serafins, Querubins e Tronos), Segunda Hierarquia
(Dominações, Potestades e Virtudes) e a Terceira Hierarquia (Principados, Arcanjos e Anjos).
(Summa Theologica, I, q. 108)

HIERARQUIA ANGÉLICA:

1. Coro dos Serafins:

“No ano da morte do rei Ozias, eu vi o Senhor sentado num trono muito elevado; as franjas de seu manto
enchiam o templo. Os serafins se mantinham junto dele. Cada um deles tinha seis asas; com um par de asas
velavam a face; com outro cobriam os pés; e, com o terceiro, voavam.”
(Is 6, 1-2)

Os Serafins são os anjos mais elevados em dignidade e perfeição. Eles são os mais próximos de
Deus e ardem com o fogo do amor divino.
290

2. Coro dos Querubins:

“E expulsou-o; e colocou ao oriente do jardim do Éden querubins armados de uma espada flamejante, para
guardar o caminho da árvore da vida.”
(Gn 3,24)

Os Querubins são os anjos que possuem a ciência divina em grau eminente e contemplam
diretamente a sabedoria divina.

3. Coro dos Tronos:

“Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações,
principados, potestades: tudo foi criado por ele e para ele.”
(Cl 1,16)

Os Tronos são os anjos que contemplam diretamente a majestade divina e refletem essa glória
divina em sua beleza e ordem.

4. Coro dos Dominações:

“Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações,
principados, potestades: tudo foi criado por ele e para ele.”
(Cl 1,16)

As Dominações são os anjos que governam a ordem das coisas terrenas e celestes e exercem a
autoridade divina de modo ordenado e pacífico.

5. Coro dos Potestades:

“acima de todo principado, potestade, virtude, dominação e de todo nome que possa haver neste mundo como
no futuro.”
(Ef 1,21)
As Potestades são os anjos que exercem a autoridade divina com poder e força, para proteger e
defender a ordem Divina contra os ataques dos demônios.

6. Coro dos Virtudes:

“acima de todo principado, potestade, virtude, dominação e de todo nome que possa haver neste mundo como
no futuro.”
(Ef 1,21)

As Virtude são os anjos responsáveis por manter a ordem e as estabilidade do mundo visível, e por
isso mesmo, é por meio deles que os milagres e prodígios são realizados.

7. Coro dos Dominações:

“Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações,
principados, potestades: tudo foi criado por ele e para ele.”
(Cl 1,16)

As Dominações são responsáveis por governar e gerenciar os demais coros dos anjos, recebem
de Deus diretamente as Graças e transmitem diretamente aos demais anjos e também aos homens.
291

8. Coro dos Arcanjos:

“Ora, quando o arcanjo Miguel discutia com o demônio e lhe disputava o corpo de Moisés, não ousou fulminar
contra ele uma sentença de execração, mas disse somente: Que o próprio Senhor te repreenda!”
(Jd 1,9)

Os Arcanjos são os anjos que possuem uma função especial na história da salvação. Eles são
responsáveis por transmitir as mensagens divinas importantes aos seres humanos e por lutar
contra as forças do mal.

9. Coro dos Anjos:

“Vou enviar um anjo adiante de ti para te proteger no caminho e para te conduzir ao lugar que te preparei. Está
de sobreaviso em sua presença, e ouve o que ele te diz. Não lhe resistas, pois ele não te perdoaria tua falta,
porque meu nome está nele. Mas, se lhe obedeceres pontualmente, se fizeres tudo o que eu te disser, serei o
inimigo dos teus inimigos, e o adversário dos teus adversários.”
(Ex 20, 20-22)

Os anjos são os missionários de Deus, que executam as suas ordens e cuidam dos seres humanos,
também protegem, guiam e instruem os indivíduos e as nações.

“Cada criatura possui sua bondade e sua perfeição próprias. Para cada uma das obras dos "seis
dias" se diz: "E Deus viu que isto era bom". "Pela própria condição da criação, todas as coisas são
dotadas de fundamento próprio, verdade, bondade, leis e ordens especificas." As diferentes criaturas,
queridas em seu próprio ser, refletem, cada uma a seu modo, um raio da sabedoria e da bondade
infinitas de Deus. É por isso que o homem deve respeitar a bondade própria de cada criatura para
evitar um uso desordenado das coisas, que menospreze o Criador e acarrete consequências nefastas
para os homens e seu meio ambiente.” (CatIC 339)

Todos os anjos, assim como todos os seres humanos, foram criados em bondade e perfeição,
porém, são livres, e esta liberdade implica necessariamente a capacidade de não cumprir a Vontade
de Deus.

DEMONOLOGIA

“A Igreja, no Concílio Lateranense IV (1215), ensina que o diabo, ou (satanás) e os outros demônios
“foram criados bons por DEUS, mas tornaram-se maus por sua própria vontade”. De fato, lemos na
carta de São Judas: “Os anjos que não souberam conservar a sua dignidade, mas abandonaram a
própria morada, Ele os guardou para o julgamento do grande dia, em prisões eternas e no fundo
das trevas” (Jd 6). De modo idêntico na Segunda Carta de São Pedro fala-se de “anjos que pecaram e
que Deus “não poupou… e os precipitou nos abismos tenebrosos do inferno, para serem reservados
para o Juízo” (2Pd 2,4). É claro que se Deus “não perdoa” o pecado dos anjos fá-lo porque eles perma-
necem no seu pecado, porque estão eternamente “nas prisões” daquela escolha que fizeram no início,
rejeitando Deus, sendo contra a verdade do Bem supremo e definitivo que é Deus mesmo. Neste
sentido São João escreve que “o demônio peca desde o princípio” (I Jo 3,8). E foi assassino “desde o
princípio” (I Jo 8,44), e “não se manteve na verdade, porque nele não há verdade” (Jo 8,44).”
(L’OSSERVATORE ROMANO, ed. port., no dia 17 de agosto de 1986.)

Nesta catequese, fica explícito que existe o demônio e que são muitos, em Apocalipse é dito que o
demônio levou consigo uma terça parte das “estrelas do Céu”, uma alusão aos anjos caídos que
foram seduzidos pela voz de Satanás.

“Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres, e nas
cabeças sete coroas. Varria com sua cauda uma terça parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. Esse
292

Dragão deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de que, quando ela desse à luz, lhe
devorasse o filho.”
(Ap 12, 3-4)

O QUE É UM DEMÔNIO?

Este é o título de um capítulo do livro “Suma Demoníaca” do Pe. José Afonso Fortea, sacerdote e
teólogo especialista em demonologia, e assim ele responde:

“Um demônio é um ser espiritual de natureza angélica condenado eternamente. Não tem corpo, não
há em seu ser nenhum tipo de matéria sutil, nem nada semelhante à matéria, pois se trata de uma
existência de caráter inteiramente espiritual. Spiritus, em latim, significa sopro, hálito. Uma vez que
não têm corpo, os demônios não sentem a menor inclinação para nenhum pecado que se cometa
com o corpo. Portanto, a gula ou a luxúria são impraticáveis para eles. Podem tentar os homens a
pecar nesses campos, porém, só compreendem esses pecados de modo meramente intelectual, uma
vez que não possuem sentidos corporais. Os pecados dos demônios, portanto, são exclusivamente
espirituais.” (Summa Demoníaca, Pe. José Fortea)

Para fazer uma alma se perder, os demônios precisam apenas estimular a pessoa, por meio da
ação diabólica, e conduzir a pessoa ao pecado mortal. Uma vez em pecado mortal, os demônios
agem no mundo, numa rede gigantesca de pessoas, instituições e estruturas de pecado, seduzindo
o ser humano a obstinar-se no pecado mortal, transformando-o em um projeto de vida, e assim,
livremente escolher o desamor negando-se em cumprir a vontade de Deus, que é a santificação
dos homens.

“No mundo, portanto, “o mal não é apenas uma deficiência, mas uma eficiência; um ser vivo,
espiritual, pervertido e pervertedor (...) Sai do âmbito do ensinamento bíblico e eclesiástico quem se
refuta a reconhecer sua existência; ou quem faz dele um princípio autônomo, não tendo este
também, como toda a criatura, origem em Deus; ou o explica como uma pseudo realidade, uma
personificação conceitual e fantástica das causas desconhecidas de nossos males”.” (Associação
Internacional de Exorcistas, Diretrizes para o ministério do exorcismo à luz do ritual vigente)

O demônio não é um deus, não tem equiparação com Ele, e sua ação no mundo é completamente
dependente da permissão Divina, que o permite, pois tem a capacidade de tirar um bem muito
maior, a partir do mal. Sendo assim, não se pode dar crédito, fé ou aplicar a crença no poder dos
demônios, sem um prejuízo considerável das almas, pois não sendo Deus, o demônio não pode
instituir sacramentos, não pode agir sem o consentimento de Deus:

“Como nos ensina a doutrina espiritual, o mistério do mal pode, de fato, irromper na nossa vida, seja
por causa da nossa negligência e infidelidade seja por uma especial permissão Divina, querendo o
próprio Deus realizar aquele processo de purificação que Ele pede a cada um e que, especialmente
naqueles que buscam se assemelhar ao Filho com todas as suas forças, pode assumir aspectos
particularmente fortes.” (Associação Internacional de Exorcistas, Diretrizes para o ministério do
exorcismo à luz do ritual vigente)

Podemos dizer então, que o demônio age de forma ordinária, quando há no ser humano uma
infidelidade a Deus e suas leis ou a negligência do combate espiritual e da vida de oração, ou ainda,
de forma extraordinária, quando por uma especial permissão de Deus, ele age, promovendo maior
santificação das almas, mesmo não sendo esta a sua intenção, mas como não resiste à sua própria
tentação em causar algum mal, está fadado a realizar o mal, e ver Deus tirar deste mal um bem
maior.
293

ENFRENTANDO O DEMÔNIO:

“Um dia em que os filhos de Deus se apresentaram diante do Senhor, veio também Satanás entre eles. O
Senhor disse-lhe: “De onde vens tu?”. “Andei dando volta pelo mundo – disse Satanás – e passeando por ele”. O
Senhor disse-lhe: “Notaste o meu servo Jó? Não há outro igual a ele na terra. É um homem íntegro e reto,
temente a Deus e se mantém longe do mal”. Mas o Satanás respondeu ao Senhor: “É a troco de nada que Jó
teme a Deus? Não cercaste, qual uma muralha, a sua pessoa, a sua casa e todos os seus bens? Abençoaste tudo
quanto ele fez e seus rebanhos cobriram toda a região. Mas estende a tua mão e toca em tudo o que ele possui.
Juro-te que te amaldiçoará na tua face”. “Pois bem!” – respondeu o Senhor. “Tudo o que ele possui está em teu
poder. Mas não estendas a tua mão contra a sua pessoa.” E o Satanás saiu da presença do Senhor.”
(Jó 1, 6-12)

Nesta passagem vemos como Deus “tenta” Satanás e o desafia a provocar o homem para cair em
tentação, porém, visando uma maior santificação da vida do homem, como é narrado no Livro de
Jó, que uma vez rico, é tentado pelas provações, desgraças e humilhações, mas sua situação final
é bem melhor e mais agraciada que a situação original.

Vemos ainda que diante de Deus, os sofrimentos de Jó têm um sentido, sua purificação e
santificação ainda maior, mas podemos perguntar pelas perdas. Jó perdeu tudo: todos os filhos,
todo seu rebanho, todas as suas posses, perdeu a saúde e por fim, com a inquisição dos seus
“amigos” perdeu a paz e o direito de sofrer em silêncio. Poderíamos pensar com a mentalidade de
hoje.

Se Jó fosse uma pessoa de nossos dias, estaria se lamentando por todas as perdas, teria se feito
de vítima das circunstâncias, teria procurado um psiquiatra para tratar sua depressão, seus traumas
por ter perdido os filhos, um terapeuta para livrá-lo das neuroses e das desgraças. Certamente teria
ido a um padre, um pastor, um centro espírita, um terreiro de umbanda, lido livros de autoajuda,
procurado um coaching e uma consultoria financeira... Mas o que fez Jó?

“Sua mulher disse-lhe: “Persistes ainda em tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre!”. “Falas – respondeu-lhe
ele – como uma insensata. Se aceitamos de Deus a felicidade, não deveríamos também aceitar a
infelicidade?” Em tudo isso, Jó não pecou por palavras.”
(Jó 2, 9-10)

Coloque-se no lugar de Jó, você pensaria como ele, caso perdesse um filho? Perdesse o emprego?
Perdesse todos os seus bens? Perdesse a saúde com uma doença que te isola da sociedade? “Se
aceitamos de Deus a felicidade, não deveríamos também aceitar a infelicidade?” Jó, responde
assim, por que suas perdas, não são suas, na verdade, não passam de favores que Deus lhe havia
feito, e é assim que enfrentamos as tentações.

Você tem o “direito de ser feliz”! Você já deve ter ouvido esta frase. Mas será que esta frase é
verdadeira? Temos o direito de sermos felizes? Claro que não! A felicidade é um DOM, uma
GRAÇA dada por Deus à nós, e nos é dada, quando realizamos a Sua vontade. A vida, a felicidade
e a salvação, são todos presentes de Deus, não são direitos que temos, não é uma obrigação de
Deus nos dar estes bens. Mas é com slogans e frases deste tipo, que os demônios têm convencido
a muitos a abandonarem o Evangelho e seguir suas próprias ideologias e filosofias de vida.

TODO APEGO, É IDOLATRIA:

O modo de ação dos demônios não é muito complexo, porém, é exaustivo. Uma tentação pode
perseverar por dias, mas, ela irá durar, conforme o seu apego. Apego é a palavra-chave, mas
entenda apego, como idolatria.
294

Existem três idolatrias básicas: Idolatria das coisas, Idolatria das pessoas e Idolatria de nós
mesmos.

1ª. Idolatria das Coisas:

É quando estamos apegados ao dinheiro, somos materialistas e damos valor às coisas, conforme
o seu valor financeiro. Não nos importa perder algo, desde que não seja caro;

2ª. Idolatria das Pessoas:

É quando medimos as pessoas pelo tanto que elas nos fazem sentir bem, até dizemos que amamos
as pessoas, mas só aquelas que são simpáticas, confortáveis, discretas, agradáveis.
Principalmente as que são da minha família, meus amigos, meus filhos, cônjuge. É normal
gostarmos das pessoas, porém, é evidente que temos hierarquias de pessoas, e as que estão no
topo, são nossos verdadeiros ídolos;

3ª. Idolatria de nós mesmos:

Nós mesmos nos adoramos, até quando nos depreciamos, na verdade, estamos nos
hipervalorizando, pois acreditamos que somos os piores, e por outro lado, por vezes nos vemos
melhores do que os outros. Quando sofremos uma “injustiça” então, nós reagimos muito mal,
independente do temperamento, quando percebemos a injustiça sendo praticada contra nós,
lançamos logo mão dos nossos direitos, queremos reparação e até exigimos vingança;

VENCENDO AS IDOLATRIAS:

Para vencer tais idolatrias, precisamos das virtudes Evangélicas:

1. Contra a Idolatria das coisas, a pobreza;


2. Contra a Idolatria das pessoas, a castidade;
3. Contra a Idolatria de nós mesmos, a obediência;

Jó, demonstra-se, pobre, pois vive a pobreza como uma benção dada por Deus. Se importa por ter
perdido tudo, mas não coloca seus bens, acima de sua vida. Muitas pessoas quando perdem muita
coisa, ou até por perder apenas o emprego, veem-se desesperadas e tiram a própria vida. Ora, se
isso não é idolatria das coisas, ao ponto de perder o desejo de viver, por ter perdido bens materiais,
então o que será?

Jó, demonstra-se casto, pois mesmo tendo perdido os filhos, e não apenas um filho, ele perdeu
TODOS os filhos, lamenta, chora, e se entristece, mas não perde a esperança. Persiste em Deus.
Quantas pessoas que perdem um filho e se descabelam. As vezes até perdeu o filho de uma forma
abençoada, a pessoa morre em estado de graça, mesmo assim, a pessoa lamenta, e lamenta por
si mesma, pois ela perdeu alguém que “lhe agrada”. Ela transformou o filho em um ídolo.

Jó, demonstra-se obediente, e aqui está o segredo. Ele aceitou a vontade manifesta de Deus. É
difícil entender a vontade de Deus, então, a pessoa por não compreender, se revolta contra Deus,
praticando a desobediência, colocando sua própria personalidade e desejos e vontades acima da
vontade de Deus, como um demiurgo que não sabe ser contrariado, age como se Deus é que fosse
o seu servo e não o contrário.

Jó é pobre, e por isso, recebe riquezas, pois a riqueza não o impediria de ser salvo. Jó é pobre, por
isso tem mais filhos, pois os filhos não são impedimento à sua salvação. Jó é obediente, pois
295

considerou tudo que passou, como sendo vontade de Deus, e a vontade de Deus precisa ser
soberana, se Ele é mesmo o nosso Deus.

“O Senhor abençoou os últimos tempos de Jó mais do que os primeiros. Teve Jó catorze mil ovelhas, seis mil
camelos, mil juntas de bois e mil jumentas. Teve ainda sete filhos e três filhas: chamou a primeira Pombinha, a
segunda Cássia e a terceira Azeviche. Em toda aquela terra não poderiam ser encontradas mulheres mais belas
do que as filhas de Jó. E seu pai lhes destinou uma parte da herança entre seus irmãos. Depois disso, Jó viveu
ainda cento e quarenta anos e conheceu até a quarta geração dos filhos de seus filhos. Depois, velho e cheio de
dias, morreu.”
(Jó 42, 12-17)
COMO AGEM OS DEMÔNIOS:

A possessão diabólica, é um dado comum no NT e por vezes no AT, trata-se de um dos modos de
ação dos demônios, assim, apresentaremos os principais modos de ação dos demônios, para
nossa compreensão.

1º. Tentação:

“O vosso inimigo, o Diabo, é como um leão rugindo em torno, procurando a quem devorar”.
(1 Pd 5,8)

A intenção do demônio é causar um dano, uma perda e o meio ordinário de sua ação, é a tentação,
e mesmo sendo a via ordinária, infelizmente é a que faz mais vítimas, todos foram tentados, desde
o primeiro ser humano, até o último.

No livro “Tratado das Tentações” do Pe. Jean Michel (Editora Santa Cruz), fica salientado que as
tentações, não são sinais de distanciamento de Deus, por vezes, significa exatamente o contrário,
quanto mais próxima de Deus está uma pessoa, mais combatente se tornam dos demônios em sua
vida. As tentações podem ser, desde um simples pensamento, até uma doença, uma tragédia e
um acontecimento histórico. O objetivo das tentações é sempre desacreditar os dogmas da fé, fazer
a pessoa cair na desconfiança, no desespero e no distanciamento voluntário de Deus.

As tentações, também não são um sinal de que temos um coração mau, ou porque estamos sendo
negligentes ou distraídos das práticas religiosas, é imperativo que compreendamos que, de fato,
temos um coração colapsado, que pode ser facilmente tentado pelo demônio. As Sagradas
Escrituras dizem algumas vezes que nós, de fato somos maus:

“Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas
coisas aos que lhe pedirem.”
(Mt 7,11)

As tentações partem de nossas vaidades, de nossas inseguranças e fraquezas, de nossa história


e nossos traumas, elas atingem em cheio nossas emoções e geram em nós uma série de
sentimentos, que não são sentimentos que gostamos, então, a tendência natural, é rejeitarmos as
tentações e os sentimentos, e terminamos caindo na armadilha.

De fato, é preciso rejeitar a tentação, mas NUNCA SOZINHOS. É impossível, para nós, vencermos
as tentações por nós mesmos, precisamos sempre da oração. E não estou dizendo que, a cada
tentação, você irá se prostrar ou correr para uma capela... não é nada disso... a tentação é
dinâmica, e dinâmica precisa ser a oração de combate.

Orações curtas, como jaculatórias, a Ave-Maria, um Pai-Nosso, ou a oração de São Miguel, são
orações muito eficazes neste momento, e depois da oração, a ação, mudar de foco, mudar de
posição, sair correndo do lugar, se for possível, se concentrar na realidade da “palma da sua mão”
296

por exemplo, é um bom combate às tentações mentais que nos invadem principalmente por meio
de imagens impuras.

Nunca se deve discutir com uma tentação, ficar entrando em jogos mentais mirabolantes, por
exemplo: Vem em sua mente um pensamento erótico, a tendência natural, para quem está na luta,
é rejeitar, mas ficar se martirizando, por que pensou naquilo. Mas quando se parte do princípio de
que se é mal, então, não há problema, é esperado que alguém mal, pense uma bobagem destas,
então, nesta situação, de mau e perverso, você se coloca na presença de Deus e peça misericórdia,
e diga algo do tipo:

“Meu Senhor, veja como sou mau e pervertido, têm misericórdia de mim, já tenho esta idade e ainda fico
tendo estes pensamentos maliciosos, salva-me.”

Para se fazer esta oração, é preciso muita humildade e confiança em Deus, então, nesta simples
atitude, a pessoa escapa da tentação, sem valorizar-se ou valorizar demais a tentação, mas
valorizando completamente a ação da Graça e da Misericórdia de Deus em nossas vidas.

A melhor forma de combater as tentações são: Estudo, Oração e Humildade. Os Santos Doutores,
são os que melhor combateram as tentações, porque eles possuíam estas três disposições
interiores: o Estudo que aprofunda na fé, e faz crescer e ampliar a potencialidade da Graça, a
Oração, pois apresenta a Deus as fraquezas e por sua vez, são socorridas pelo auxílio da Graça,
e a Humildade, que toma como princípio a maldade do homem e a fealdade do pecado, evitando
ao máximo a vaidade, o orgulho e confiando absoluta e irrestritamente em Deus. Por vezes, somos
assaltados por pensamentos, projetos e sentimentos maliciosos, às vezes, pela distração, até nos
engajamos nestes mesmos intentos maliciosos, porém...

“Se, nesse momento em que é restituída a si mesma, ela condena essa ideia, esse sentimento; se os
desaprova e se desvia deles tanto quanto pode, prudentemente pode-se assegurar que em tudo o
que precedeu ela não fez nenhum mal. A satisfação que ela experimenta de se ver liberta deles é
mais um sinal bastante seguro de que a vontade não tomou nenhuma parte neles com reflexão.
Nessa preocupação, não houve deliberação, não houve escolha da parte da vontade. Para que se
ofenda a Deus, é preciso que a vontade consinta deliberadamente em alguma coisa má, e que possa
renunciar-lhe. Não se acha nem uma coisa nem outra naquilo que precede a reflexão: não pode,
pois, haver aí pecado. Aliás, essa desaprovação tão pronta, desde a primeira reflexão, assinala a boa
disposição da alma, que não teria admitido essas ideias, esses sentimentos, que não se teria ocupado
deles, se os houvesse conhecido com bastante reflexão para os admitir ou rejeitar por escolha.
Devemo-nos, pois, comportar neste caso como se essas ideias e esses sentimentos começassem no
momento em que os percebemos com reflexão. Só neste ponto é que deve começar o exame que se
deve fazer; e, se então eles foram rejeitados, devemos conservar-nos em paz. Essa preocupação pode
ser longa, como muitas vezes sucede na oração, em que somos arrastados por uma distração que
absorve toda a atividade da alma. Esta circunstância não a torna voluntária e deliberada. Não
depende da vontade tornar essa distração mais curta, como não depende o impedi-la de vir: não há
da sua parte mais escolha numa coisa do que noutra. Também não haverá mais mal; visto que a
preocupação que chega subitamente sem que a prevejamos não é um pecado. A extensão do tempo
que a experimentamos não a torna culposa. Não é, pois, muito difícil decidir-se nessa circunstância.”
(Tratado das Tentações; Pe. Jean Michel)

A tentação pode ser curta e passageira, mas pode ser longa e duradoura, pode até mesmo durar
anos, a forma de combater tais tentações é a mesma, recorrer à graça de Deus, pois apenas Deus
pode nos libertar de uma tentação, o problema, é que, muitas das vezes, as tentações nos agradam,
e nos vemos presos aos pensamentos, intensões e olhares, simplesmente porque nos agradam.
297

Uma excelente tática, é louvar a Deus. Por exemplo, se você é casado(a) e uma pessoa lhe chama
a atenção, pela beleza, pela estética ou pela simpatia, imediatamente lhe vem a tentação de
continuar admirando a pessoa. Até este momento, não há pecado, porém, perseverar nesta
admiração, fatalmente lhe virá tentações mais graves e o pecado por pensamento poderá
acontecer. Então, quando alguém lhe chamar a atenção, interiormente, louve a Deus pela pessoa,
agradeça a Deus pela sua vida, interceda pela pessoa, mas sem nenhum tipo de apego, apenas
reze por ela, e por você.

Pode ser, que a tentação permaneça, até por que, não é pelo fato de se Louvar a Deus que a
pessoa se tornou desinteressante, então, é preciso que haja também, um constante cuidado, para
evitar os olhares, proximidade, intimidade e se for o caso, até pedir ajuda ao cônjuge, ou do diretor
espiritual, pois tentações assim, costumam permanecer até que nós consigamos ver o outro, não
mais como um “objeto de consumo” mas como um filho querido e amado por Deus.

“O sentimento que se experimenta na tentação não é o consentimento livre. É um engodo do inimigo


que o solicita. Ele mostra o objeto à mente: é o pensamento. Fá-lo degustar pelo coração: é o
sentimento que se segue naturalmente da representação do objeto. Esse sentimento pode ser mais
ou menos vivo, conforme a compleição da pessoa e a impressão que o objeto produz nela. Tudo isso,
independente da vontade, precede o consentimento. Para este consentimento, é preciso que a
vontade adira deliberadamente a esse sentimento; que o aprove; que se lhe apegue; que se compraza
nele. Uma ideia pode estar na mente; um sentimento no coração, sem que a vontade o adote. Assim
resistimos aos bons sentimentos, como aos maus. O mal como o bem não consiste, pois, nesse
primeiro pensamento, nesse primeiro sentimento, que não fazem senão propor à vontade o objeto
bom ou mau moralmente: consiste na escolha que a vontade faz dele, apegando-se a ele.” (Tratado
das Tentações; Pe. Jean Michel)

Não se engane, combater a tentação, não é perda de tempo, a negligência ao combate às


tentações, é porta de entrada para o pecado, e por vezes, o pecado mortal, quando não, até mesmo
das ações extraordinárias do demônio, pois com a guarda baixada, somos alvos fáceis.

2º. A possessão Diabólica:

Trata-se de uma influência invencível de um demônio sobre uma pessoa, e uma vez “apossado” da
pessoa, o demônio assume o controle de todas suas faculdades, habilidade, estrutura física e
emocional, incluindo a voz. Felizmente, na prática exorcistica, a possessão verdadeira e inequívoca
é bem menos frequente, porém, pode-se dizer que a pessoa possessa, entre em transe e fique
completamente inconsciente.

É importante dizer, que antes de qualquer coisa, conforme as Diretrizes internacionais de


Exorcismo, primeiramente é preciso excluir a existência de doença física ou mental, por isso, ao
ministério de exorcismo, atrela-se o acompanhamento da medicina psiquiátrica, neurologia e
demais áreas afins. A possessão costuma se manifestar em pequenos detalhes, por exemplo uma
fadiga exagerada em ambientes sacros, em retiros ou na Santa Missa, algum sintoma físico de
doença como dores, incômodos ou até manchas inexplicáveis.

Durante um transe, a pessoa pode demonstrar uma força que não condiz com seu porte físico, um
conhecimento de questões, situações ou mesmo falar línguas que não conhece, ou responder e
entender quando é inquerida em outras línguas, e em casos extremos, a pessoa pode expelir
objetos e animais pela boca, porém, um sinal claro são as blasfêmias e o ódio contra Deus.

Existem casos de possessões múltiplas, quando a pessoa está possuída por mais de um demônio:

“Imagino não provocar surpresa quando afirmo que os demônios possuem uma organização interna
semelhante à de uma legião militar: existem os chefes, os subchefes e os “simples soldados”. Cada
298

um é dotado de um poder específico. Assim que iniciamos o procedimento dos exorcismos,


abandonam a luta primeiramente os espíritos com menos poder, os menos fortes. A vitória, isto é, a
libertação, só é completa após havermos conseguido dominar o chefe supremo da legião, o mais
poderoso e opressivo, o último a deixar o navio, aquele pelo qual os outros demônios sentem
verdadeiro e particular terror.” (O Exorcista explica o mal e suas armadilhas; Pe. Gebriel Amorth)

Preciso deixar claro que demônios não são como os vírus, bactérias ou fungos, a possessão, ou
qualquer outra manifestação, não é contagiosa, portanto, é absolutamente equivocado e
supersticiosa a ideia de “contaminação espiritual”. Um possuído não transmite o demônio à outras
pessoas. A possessão, é uma permissão extraordinária de Deus, visando sempre a salvação e
santificação das almas. Alguns santos, tinham constantes possessões, como Santa Gema Galgani,
que por meio das possessões, foi tida por lunática e esquizofrênica, tais situações a humilhavam
muito, e por isso mesmo, muito colaboraram com sua santificação.

É oportuno esclarecer que a manifestação diabólica, é o que revela a possessão, então, por mais
dramática que ela seja, deve ser entendida como uma Graça de Deus, pois é somente conhecendo
a “doença” que se pode intervir e promover a cura. Não há uma “causa” comum para que uma
pessoa fique possessa, mas há uma relação com o “aumento” do pecado de sacrilégio pelo mundo,
São Paulo ensina que:

“Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que
venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do
corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo e, assim, coma desse pão e beba desse
cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação.
Essa é a razão por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos. Se nos examinássemos a nós
mesmos, não seríamos julgados. Mas, sendo julgados pelo Senhor, ele nos castiga para não sermos condenados
com o mundo.”
(1 Cor 11,26-32)

E quando Judas, com a intensão de entregar Nosso Senhor, portanto, estava em estado de pecado
mortal, recebe a Eucaristia das mãos do Senhor, o demônio entra nele:

“Jesus respondeu: “É aquele a quem eu der o pão embebido”. Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho
de Simão Iscariotes. Logo que ele o engoliu, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe, então: “O que queres fazer,
faze-o depressa”.”
(Jo 13, 26-27)

O rito de exorcismo só pode ser realizado por um sacerdote, devidamente investido por um Bispo.
Os Bispos são os exorcistas naturais, porém, devido aos trabalhos e afazeres, eles delegam um ou
uma equipe de sacerdotes para desenvolver este ministério em sua diocese. Os leigos, podem
colaborar acompanhando os padres, e intercedendo a Deus, oferecendo penitências e obras de
caridade para o benefício do ministério, porém, são proibidos de realizar exorcismos, no mais, o
que os leigos podem fazer, é ser inseridos em um ministério de libertação, que combate outras
formas de manifestação dos demônios.

3º. A vexação Diabólica:

A vexação é a manifestação mais comum dos demônios, tem como causa a nossa imprudência ao
nos envolver com o ocultismo, bruxos, magia, espiritismo, e resistência e insistência em pecados
graves, mas também podem ser causadas por feitiços de terceiros, porém, importa dizer que a
superstição é a principal porta de entrada para a vexação.

Como os demônios não são deuses, seu poder depende completamente da crença das pessoas
no que ele pode fazer, o que de certo modo, lhes confere autoridade para agir. Uma pessoa que
299

acredita no poder de feitiços, de agouros e de superstições semelhantes, está aberta aos feitiços
de outras pessoas, por outro lado, se uma pessoa tem fé católica sólida, tem vida de oração, vida
de estudo e vida sacramental, a graça de Deus a protege destes malefícios, e somente em casos
extraordinários, é que Deus o permite, como já vimos, para maior santificação da própria pessoa.

São Padre Pio de Pietrelcina, como vimos, sofria com a vexação dos demônios, que investiam
fisicamente contra ele, com a permissão de Deus, e estas manifestações, serviam apenas para
fortalecer a sua fé, como nos testemunha o próprio São Paulo:

“Demais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um
anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Senhor que o
apartasse de mim. Mas ele me disse: “Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a
minha força”. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo.”
(2 Cor 12, 7-9)

A vexação tem incontáveis modos de manifestação:

“Não obstante, são casos de agressão verdadeira e efetiva, de ataques físicos ou psíquicos que o
demônio desfere contra uma pessoa. Daí, por vezes, derivam arranhaduras, queimaduras, contusões
ou, em casos mais graves, até fraturas ósseas. (...) Casos característicos de perturbações são certas
enfermidades nos órgãos internos ou nas articulações, mesmo na ausência de uma patologia clínica
que revele que a pessoa esteja sentindo dores, e também sem a presença de sinais visíveis em
presença de uma análise mais aprofundada. (...) As vexações podem ocorrer numa dimensão onírica:
enquanto dormimos, formam-se pesadelos terríveis, mediante os quais temos sonhos com
blasfêmias, praguejando contra Deus, tornando-nos perversos e malvados. (...) Algumas podem
atingir a pessoa nos laços afetivos. Pode ocorrer, por exemplo, que dois noivos ou dois cônjuges se
separem ou, ao contrário, que fiquem noivos, apesar de terem gênios incompatíveis. Outras formas
de perturbação manifestam-se no trabalho. Assim, pode ocorrer que não seja localizada a pessoa
que se procura, ou que desapareça a pessoa junto da qual estamos; também, que se criem grandes
dificuldades com os colegas de trabalho ou com o chefe. Por vezes, o demônio pode agir a fim de
destruir amizades e isolar uma pessoa. É impossível elencar completamente os casos.” (O Exorcista
explica o mal e suas armadilhas; Pe. Gebriel Amorth)

Para discernir se se trata de uma vexação, ou uma simples causa normal, verifica-se primeiro que
a medicina não encontra nenhuma explicação plausível para o fenômeno, e há associada, de
alguma forma, uma inexplicável aversão pelo sagrado, pelas coisas de Deus e pela oração. Claro,
o fato de ter se exposto a ritos, orações, feitiços e superstições, colaboram com o discernimento.

4º. A Obsessão Diabólica:

A obsessão se manifesta de forma espiritual, intelectual, com a comunicação de pensamentos ou


alucinações, muitas vezes invencíveis em que a pessoa fica sob o domínio de pensamentos
repetitivos, obsessivos e superiores à sua capacidade de resistir a tais manifestações psíquicas.

Trata-se de manifestações psíquicas, ou seja, nada acontece no âmbito físico ou nos arredores,
mas a pessoa é capaz de ver, ouvir, tocar, sentir cheiro e até o gosto do que está presenciando em
seus pensamentos, podendo ser animais, monstros, pessoas e até figuras demoníacas ou
fantasmagóricas.

É comum o desejo de causar mal aos outros, ou a si mesmo, por meio de mutilações e até o
suicídio, como se trata de uma confusão mental, de origem diabólica, a vítima pode passar por uma
confusão de seu próprio gênero e personalidade. A obsessão não elimina a capacidade que a
pessoa tem de pensar, permanecendo consciente e até vigilante, mas a relação da pessoa com o
mundo a sua volta, fica completamente comprometida, e tais fenômenos, são muito parecidos com
300

os distúrbios mentais e psiquiátricos, sendo assim, é sempre importante a abordagem


multidisciplinar da medicina, exorcista e diretor espiritual.

5º. A Infestação Diabólica:

Nas infestações, a atuação do demônio, não é sobre as pessoas, mas sobre os objetos, como casa,
carros, animais, plantas e objetos menores como cadeiras, computadores etc...

“De forma particular, a infestação da casa provoca grandes sofrimentos, e às vezes também prejuízos
desmedidos aos que passam por isso. Em tais casos, podem quebrar-se aparelhos elétricos,
automóveis, fornos (...) portas e janelas que, noite e dia, se abrem e fecham, batendo
inesperadamente e sem causas aparentes; luzes, lâmpadas, televisão ou computador que ligam ou
desligam sem nenhuma intervenção humana; explosão de bombinhas, sons de passos, vibrações no
solo como de um terremoto, vozes misteriosas ou gritos, batidas na parede (às vezes, fortíssimas),
sendo que todas essas manifestações, como se intui de imediato, podem tornar difícil a vida de quem
mora no local (...) além de intensos odores desagradáveis. Invasão de insetos, como gafanhotos ou
formigas que, em poucos dias, são capazes de roer a madeira da janela. .” (O Exorcista explica o mal
e suas armadilhas; Pe. Gebriel Amorth)

Para discernir uma vexação ou obsessão de uma infestação, é comum que o exorcista realize
determinados testes, por exemplo, se for uma infestação de uma casa, outras pessoas, incluindo o
exorcista irá testemunhar os fenômenos, já em caso de vexação ou obsessão, mesmo mudando de
lugar, a pessoa é testemunha, mas as demais não. Por isso é importante o uso de sacramentais,
como a benção das casas, de objetos, de animais, de carros e todos os bens em geral. A devoção
pelas imagens sacras também é excelente no combate a tais manifestações diabólicas.

CONSIDERAÇÕES PARAPSICOLÓGICAS

A parapsicologia é o estudo científico de fenômenos aparentemente inexplicáveis, como telepatia,


precognição, clarividência, experiências de quase-morte e outros fenômenos relacionados à mente
e à consciência. É uma disciplina interdisciplinar que combina elementos da psicologia, física,
biologia e outras áreas para investigar esses fenômenos. É frequentemente associada à pesquisa
sobre fenômenos paranormais, embora muitos parapsicólogos argumentem que esses fenômenos
não são sobrenaturais, mas simplesmente mal compreendidos ou mal interpretados. A
parapsicologia é considerada uma disciplina controversa por muitos cientistas e céticos, que
argumentam que não há evidência científica sustentada para apoiar a existência de fenômenos
paranormais.

Existem alguns ramos da parapsicologia que desembocam em pseudociências e seitas, como o


ocultismo, cientificismo e até mesmo religiões espiritualistas, porém, existe a vertente católica, a
qual, muitos exorcistas são submetidos exatamente para poder distinguir, quando se trata de um
fenômeno para-psíquico ou de fato sobrenatural ou mesmo diabólico. Uma das máximas da
parapsicologia é que, se há algo que possa ser explicado de forma natural, então, não se deve
apelar ao sobrenatural, pois a mente humana, e a sua interação com o ambiente permanece um
grande mistério, e a parapsicologia, é a ciência que deu origem à Psicologia e à Psiquiatria,
exatamente por serem ciências que estudam a mente.

Muitos dos ditos “fenômenos paranormais” são explicados pela parapsicologia, como a psicografia,
levitação (pequenos objetos por um curto espaço de tempo por um tempo determinado), telergia,
fotogênese, tiptologia, pirogênese, telecinese, dermo-ótica, retro-cognição, clarividência, xenolalia,
poltergeist e etc... Com esta grande gama de explicações, é importante sempre procurar um padre,
diretor espiritual ou a própria cúria diocesana para obter informações sobre fenômenos
supostamente sobrenaturais.
301

12º. PARTE: A MORAL CATÓLICA


A base da lei moral da Igreja, é a própria lei natural, há uma máxima que diz: “O que não é natural,
não é moral”. Dentro da lei natural, a palavra "natural" é usada para se referir a algo que está em
conformidade com a natureza e suas leis. Isso significa que é algo que segue um curso ou padrão
natural, sem a interferência humana ou artificial.

Por exemplo, nas ciências biológicas, algo ser "natural" significa que ocorre naturalmente na
natureza, sem a intervenção humana, como o comportamento instintivo dos animais ou o
crescimento das plantas; já em ética, algo é "natural" quando é considerado intrinsecamente bom
ou correto, porque está de acordo com a ordem natural das coisas. Isso pode ser fonte de princípios
morais ou éticos que são vistos como inerentes à natureza humana ou ao universo como um todo.

A LEI NATURAL:

A natureza tem um padrão físico, um padrão de beleza, um padrão lógico e podemos dizer que há
um padrão ético e por que não dizer, que na natureza humana, há um padrão de moralidade,
comum a todos os seres humanos, algo que a antropologia observou e deixou registrado que em
todas as civilizações, há padrões de moral, éticos e de conduta, eis alguns exemplos:

✓ A noção de justiça: A ideia de que as pessoas devem ser tratadas de forma justa e equitativa
é um padrão moral comum em várias culturas. Isso inclui a recompensa proporcional para
crimes e a proteção dos direitos humanos básicos;

✓ A valorização da família: A importância da família é valorizada em muitas culturas, incluindo


a valorização do casamento e da parentalidade responsável;

✓ A virtude da caridade: A ideia de ajudar os outros, especialmente os menos afortunados, é


uma virtude valorizada em muitas culturas, como o conceito de caridade nas religiões
abraâmicas (cristianismo, islamismo e judaísmo) ou o conceito de "dana" no hinduísmo;

✓ O respeito pelos idosos: O respeito pelos mais velhos é um padrão moral comum em muitas
culturas, incluindo a tradição oriental de reverenciar os idosos;

✓ A vítima do roubo e da violência: Em muitas culturas, o roubo e a violência são considerados


moralmente errados e são punidos de acordo com a lei;

✓ Em todas as culturas, o sujeito que realiza um ato, é o responsável pelo ato, não há registro
de culturas, onde um é quem faz e o responsável é um terceiro;

✓ Em nenhuma sociedade humana a formação da família foi proibida, somente na


modernização que a família tem sido vista como algo que pode ser danoso à sociedade;

✓ Nenhuma sociedade humana, viveu sem religião, ou o ateísmo era tido como algo irracional,
somente com o advento da modernidade, é que estas considerações, passaram a ser
“consideráveis”.

Esses são apenas alguns exemplos de padrões morais que são compartilhados por diferentes
culturas e civilizações ao redor do mundo. Mas é verdade também, que já houve povos que não
compartilhavam destes “padrões” de moralidade universais, neste caso, também se verificou que
eles não progrediram e não possuem expressões significativos de suas culturas nos dias de hoje.
302

POR QUE NEGAR A LEI NATURAL?

Há os que negam a lei moral, e o fazem porque o argumento da lei moral, é um forte argumento
em favor da existência de Deus, pelo seguinte raciocínio:

1. Toda lei, tem um legislador; 2. Existe a Lei Natural; 3. A lei Natural, possui um Legislador

É difícil escapar desta lógica, então, como não é possível negar a primeira premissa, o elo frágil e
que é constantemente mais atacado, é a segunda premissa, então, nega-se a lei moral. Porém,
esta negação, também não se sustenta, pois se não existe uma lei moral, ou seja, um padrão de
moralidade extrínseco a cada ser humano, então, tudo recai na mera opinião. Para um matar é
moral, para outro é necessário, para um terceiro, é o que lhe motiva a vida, e se não há moralidade,
se não há uma lei natural, então, todos estão certos, porém, ninguém afirmaria tal coisa.

“O homem participa da sabedoria e da bondade do Criador, que lhe confere o domínio de seus atos
e a capacidade de se governar em vista da verdade e do bem. A lei natural exprime o sentido
moral original, que permite ao homem discernir, pela razão, o que é o bem e o mal, a verdade
e a mentira.”

“A lei natural se acha escrita e gravada na alma de todos e de cada um dos homens, porque ela é a
razão humana ordenando fazer o bem e proibindo pecar. (...), Mas esta prescrição da razão não
poderia ter força de lei se não fosse a voz e o intérprete de uma razão mais alta, à qual nosso espírito
e nossa liberdade devem submeter-se.” (CatIC 1954)

A Igreja apela à Lei Natural quando trata pontos sensíveis da sociedade, como o aborto,
manipulação de células embrionárias, eutanásia, pena de morte, experiências com animais,
casamento entre indivíduos do mesmo sexo, homossexualidade (AMS), ideologia de gênero,
indissolubilidade do Matrimônio (Casamento), métodos contraceptivos, uso e liberação das drogas,
escravidão, racismo, discriminação, mudanças climáticas, sustentabilidade, meio ambiente,
Imigração, direito as armas, fome, economia, guerra e etc...

A Igreja tem um posicionamento claro sobre todos estes temas, uns bem expressos na Doutrina
Social da Igreja, outros tratados em outras questões e temas dentro da própria moral católica,
assim, o católico não pode ser indiferente a nada disso, pois:

“A Igreja, "coluna e sustentáculo da verdade" 1 Tm 3,15) "recebeu dos Apóstolos o solene


mandamento de Cristo de pregar a verdade da salvação". "Compete à Igreja anunciar sempre e
por toda parte os princípios morais, mesmo referentes à ordem social, e pronunciar-se a
respeito de qualquer questão humana, enquanto o exigirem os direitos fundamentais da pessoa ou
a salvação das almas." (CatIC 2032)

A alienação a tais assuntos, consiste em omissão, um pecado terrível, pois, Santo Agostinho
dizia:

“Os maus não são bons porque os bons não são melhores” (Santo Agostinho)

“O escândalo é a atitude ou o comportamento que leva outrem a praticar o mal. Aquele que
escandaliza torna-se o tentador do próximo. Atenta contra a virtude e a retidão; pode arrastar seu
irmão à morte espiritual. O escândalo constitui uma falta grave se, por ação ou omissão, conduzir
deliberadamente o outro a uma falta grave.” (CatIC 2284)
303

PONTOS MORAIS POLÊMICOS:

1. Aborto:

O Aborto é completamente rejeitado, e é tido como Assassinato. Somente em caso de uma


intervenção, em que a gestante por ter sofrido um acidente ou esteja em uma condição de risco de
vida para ambos, e, ao intervir, por acidente, o embrião venha a falecer, como consequência e não
como fim, é que pode ser tolerável o aborto, pois o objetivo era salvar ambas as vidas, as quais
sem a intervenção, não seria possível;

Catecismo da Igreja Católica (2019) - O CatIC condena o aborto, afirmando que "Desde o primeiro
momento da sua existência, a vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta".
Além disso, diz que "o aborto direto, isto é, querido como um fim ou como um meio, é gravemente
contrário à lei moral".

Encíclica Evangelium Vitae (1995) - O Papa João Paulo II escreveu esta encíclica para afirmar a
dignidade da vida humana desde a concepção até a morte natural. Ele condenou o aborto, dizendo
que "toda violação direta e deliberada da integridade física e moral da pessoa humana é
gravemente contrária à lei moral e à vontade de Deus". Ele também exortou os fiéis a "se opor
genuinamente a todas as formas de pressão e manipulação social que poderiam levar a uma
aprovação do aborto".

Declaração Dignitas Personae (2008) - A Congregação para a Doutrina da Fé, sob a autoridade
do Papa Bento XVI, emitiu esta declaração para abordar questões éticas em biotecnologia e
reprodução assistida. A declaração condenou o aborto, dizendo que "não há circunstâncias em que
o aborto seja moralmente aceitável". Além disso, afirmou que "a vida humana deve ser respeitada
e absolutamente protegida a partir do momento da concepção".

Carta Encíclica Laudato Si' (2015) - O Papa Francisco escreveu esta encíclica para abordar uma
crise ecológica global. No entanto, ele também reafirmou a posição da Igreja contra o aborto,
sinalizou-o de "horrível crime" que "mata crianças inocentes antes de nascer".

2. Manipulação de Células Embrionárias:

Células embrionária é um eufemismo para embrião, e embriões são seres humanos, assim, a
manipulação de células embrionárias, é tomada como aborto;

Instrução Donum Vitae (1987) - A Congregação para a Doutrina da Fé emitiu esta instrução para
abordar questões éticas relacionadas à reprodução humana. A instrução afirma que a manipulação
de embriões humanos "é moralmente inaceitável, porque é contrária à inspiração do ser humano e
à sua vocação à vida". Ela também condena a pesquisa em células-tronco embrionárias, dizendo
que "a utilização de fetos ou embriões como objeto de experimentação é moralmente inaceitável".

Encíclica Evangelium Vitae (1995) - Também afirmou que a pesquisa em células-tronco


embrionárias é moralmente inaceitável, pois envolve a destruição de embriões humanos.

Declaração Dignitas Personae (2008) - Afirma que a manipulação de embriões humanos


"constitui um atentado à vida pessoal de todo ser humano chamado à existência" e, portanto, é
moralmente inaceitável.
304

3. Eutanásia:

A vida tem seu valor desde a origem até a morte natural, antecipar a morte de uma pessoa, seja
por qual argumento for, é assassinato e quando parte da própria pessoa, é suicídio;

Carta Encíclica Veritatis Splendor (1993) - O Papa João Paulo II escreveu esta encíclica para
afirmar a importância da lei moral na vida dos cristãos. Ele condenou a eutanásia, afirmando que
"o direito à vida é inviolável e inalienável" e que a eutanásia "não é uma escolha digna da pessoa
humana".

Encíclica Evangelium Vitae (1995) - Ele condenou a eutanásia, afirmando que "a vida humana é
sagrada e inviolável e sua destruição é sempre gravemente imoral". Ele também disse que "a
eutanásia é uma grave violação da lei moral".

Declaração Samaritanus Bonus (2020) - A Congregação para a Doutrina da Fé emitiu esta


declaração para abordar questões éticas relacionadas à assistência aos doentes em estado
terminal. A declaração afirma que a eutanásia é um "ato homicida" que "violenta a vida humana" e
que a vida humana deve ser protegida e cuidada até o fim natural.

4. Pena de Morte:

Em tempos passados, a pena de morte era aceitável, pois por vezes, o crime cometido, em caso
do criminoso ser posto em liberdade, poderia causar uma desordem social ou até ampliar a pena
eterna do criminoso, e como até bem pouco tempo não havia meios de se manter uma pessoa em
cárcere pelo resto de sua vida e não havia expectativa de reabilitação, a Igreja tolerava a pena de
morte, sempre oferecendo aos condenados a possibilidade do perdão e dos sacramentos. Hoje,
esta situação mudou, temos métodos penitenciários capazes de promover o aprisionamento
perpétuo e meios de trabalhar a reabilitação dos condenados;

Catecismo da Igreja Católica (1992) - Afirma que a pena de morte é inadmissível, pois atentado
contra a autoridade da pessoa humana e é contrário ao Evangelho. O Catecismo afirma que "a
pena de morte é inadmissível, porque é um ataque à inviolabilidade e à dignidade da pessoa" e que
"a Igreja trabalha com experiência pela sua abolição em todo o mundo".

Carta Encíclica Evangelium Vitae (1995) - Condenou a pena de morte, afirmando que "a vida
humana é sagrada e inviolável e sua destruição é sempre gravemente imoral". Também disse que
a pena de morte "não é mais necessária para defender a sociedade e o recurso a ela é, na verdade,
uma frente à conquista da pessoa humana".

Declaração da Comissão Pontifícia para a Justiça e a Paz (2000) - A Comissão Pontifícia para
a Justiça e a Paz emitiu esta declaração para tratar de questões relacionadas à pena de morte. A
declaração afirma que "a pena de morte é cruel, desumana e degradante" e que a sua abolição é
uma "forma de proteger a inviolável da pessoa humana".

5. Experiências com Animais:

Os animais são criaturas de Deus, sabemos que temos a responsabilidade de cuidar da criação,
porém, as demais criaturas possuem uma dignidade inferior, e não são Imagem e Semelhança de
Deus, além de serem irracionais e não possuírem uma alma imortal. Então, sua utilização como
meio de sobrevivência dos seres humanos, é bem-vinda, porém, com respeito e responsabilidade,
o desperdício de uma vida animal, em ensaios ou a exposição à dor, tortura e violência
desnecessária é contrária a Lei moral;
305

A Igreja não possui um documento específico sobre as experiências com animais em laboratório.
No entanto, há ensinamentos e princípios da Igreja que podem ser aplicados a essa questão, como
por exemplo a DSI, onde se enfatiza a importância do cuidado com a criação de Deus e a
responsabilidade humana em relação ao meio ambiente. A Encíclica Laudato Si' (2015) do Papa
Francisco, por exemplo, destaca a importância de respeitar a natureza e todos os seres vivos,
incluindo os animais.

“É contrário à dignidade humana, fazer os animais sofrerem inutilmente e desperdiçar suas vidas. E
igualmente indigno gastar com eles o que deveria prioritariamente aliviar a miséria dos homens.
Pode-se amar os animais, porém não se deve orientar para eles o afeto devido exclusivamente às
pessoas.” (CatIC 2418)

Em termos específicos sobre as experiências com animais em laboratório, a posição da Igreja é


que essas devem ser realizadas com respeito pela vida dos animais e com o mínimo de sofrimento
possível. A Congregação para a Doutrina da Fé emitiu uma declaração sobre a produção e o uso
de vacinas em 2008, que abordou a questão da experimentação animal. Esta declaração afirmou
que o uso de animais para produzir vacinas é aceitável desde que seja realizado com respeito pela
dignidade dos animais e com o mínimo de sofrimento possível.

6. Casamento entre Indivíduos do Mesmo Sexo:

As finalidades do matrimônio são: a união e procriação. São impossíveis a união sexual e a


procriação entre indivíduos do mesmo sexo, logo, igualar uma união homoafetiva a um casamento
heterossexual, seria rebaixar o casamento e tomar como nulos os benefícios da união sexual e a
proliferação da espécie humana;

Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a Questão da Adoção de Crianças


por Pessoas Homossexuais (2003) - Esta declaração afirmou que a adoção de crianças por
pessoas homossexuais é contrária ao bem-estar das crianças e que a Igreja deve defender o direito
das crianças de serem criadas por um pai e uma mãe.

Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé sobre o Projeto de Reconhecimento Legal


das Uniões Entre Pessoas Homossexuais (2003) - Esta declaração, privada sob a liderança do
então cardeal Joseph Ratzinger, condenou veementemente o reconhecimento legal das uniões
homossexuais. Uma declaração afirmou que a Igreja não pode aprovar a legalização de tais uniões
porque o casamento é exclusivamente entre um homem e uma mulher.

Carta Encíclica Deus Caritas Est (2005) - O Papa Bento XVI escreveu esta encíclica para falar
sobre o amor cristão. Ele condenou a ideia de que o amor pode ser definido simplesmente como
uma questão de desejo e prazer sexual. Ele afirmou que o amor é uma entrega de si mesmo e que
essa entrega é apropriada apenas dentro do casamento entre um homem e uma mulher.

Amoris Laetitia (2016) - O Papa Francisco escreveu esta exortação apostólica para falar sobre o
amor na família. Ele afirmou que a Igreja não pode aprovar o casamento entre pessoas do mesmo
sexo, mas também pediu que a Igreja mostre compaixão e misericórdia para com as pessoas que
vivem essa realidade.

7. Homossexualidade (AMS):

Pessoas com Atração pelo Mesmo Sexo (AMS), é um sinal dos nossos tempos, independente das
causas precisam ser acolhidas em sua dor, e precisam ser convidadas a viver dentro da lei natural,
devotando suas vidas à castidade, pois seria o único meio possível de alcançarem a santidade e,
portanto, a felicidade;
306

Documento da Congregação para a Doutrina da Fé Sobre a Pastoral dos Homossexuais


(1986) - Este documento afirma que a homossexualidade é "um desvio objetivo" e que as práticas
homossexuais são "atos intrinsecamente desordenados". No entanto, ele também pede que as
pessoas homossexuais sejam tratadas com respeito e compaixão.

Catecismo da Igreja Católica (1992) - O Catecismo afirma que as pessoas homossexuais devem
ser tratadas com respeito, compaixão e sensibilidade. Ele também afirma que as práticas
homossexuais são "intrinsecamente desordenadas" e que não podem ser moralmente aprovadas.

Carta Encíclica Veritatis Splendor (1993) - Afirmou que a homossexualidade é "um desvio moral
objetivo" e que as pessoas homossexuais devem ser tratadas com respeito e compaixão, mas não
devem ser toleradas as práticas homossexuais.

Amoris Laetitia (2016) - Afirmou que as pessoas homossexuais devem ser tratadas com respeito
e compaixão e que suas famílias devem ser acolhidas na comunidade cristã. No entanto, ele
também reafirmou a posição da Igreja de que o casamento é exclusivamente entre um homem e
uma mulher.

A Igreja possui uma pastoral internacional que lida com pessoas homoafetivas, designadas como
“AMS" (Pessoas com Atração pelo Mesmo Sexo), denominada Courage, do inglês, Coragem, e há
o grupo de apoio também dos familiares, chamado Encourage, também do inglês, encorajar, e
apresenta a Castidade, a Abstinência e até o Celibato como meio de viver este estado de vida.

8. Ideologia de Gênero:

Existem apenas dois gêneros, que correspondem ao Masculino e Feminino, este gênero é definido
pelo genótipo (Material genético) e pelo fenótipo (aparência). Existem ainda os casos de Intersexos,
onde a pessoa apresenta uma má formação congênita, que também representa um estigma para
a própria pessoa, porém, nestes casos, é preciso uma avaliação particular. Além disso, qualquer
designação de gênero fora das bases genéticas e fenotípicas não são morais e entram apenas no
escopo ideológico de manipulação das massas para finalidades interesseiras, sejam de cunho
político, econômico ou religiosos;

Carta Encíclica Laudato Si' (2015) - Afirma que a Ideologia de Gênero é uma ameaça à ordem
criada por Deus e à integridade da pessoa humana. Ele escreve que "a ideologia de gênero procura
apresentar como opcional algo que é uma diferença biológica simples e nítida".

Documento da Congregação para a Educação Católica Sobre a Colaboração do Homem e da


Mulher na Igreja e no Mundo (2019) - Este documento afirma que a Ideologia de Gênero é uma
ameaça à família, à sociedade e à verdade sobre a pessoa humana. Ele pede que a Igreja promova
uma educação que ensine o valor da diferença entre homens e mulheres.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz (2020) - Nesta mensagem, o Papa
Francisco afirma que a Ideologia de Gênero é uma forma de colonização ideológica que nega a
diferença e a complementaridade entre homens e mulheres. Ele escreve que a Igreja deve defender
a verdade sobre a pessoa humana e proteger as crianças da confusão que a ideologia de gênero
pode causar.

9. Indissolubilidade do Matrimônio (Casamento):

O Matrimônio validamente celebrado pela Igreja, é indissolúvel até a morte de um dos cônjuges,
este é uma questão da Lei Natural, pois os seres humanos, como sabemos, não são como os
307

animais, e a Família é a base da sociedade, admitir o divórcio e separação, seria admitir o fracasso
da sociedade;

Familiaris Consortio (1981) - Nesta exortação apostólica, o Papa São João Paulo II escreve sobre
a importância da família e da indissolubilidade do matrimônio. Ele afirma que o divórcio é um mal e
que a Igreja deve fazer tudo o que estar ao seu alcance para ajudar os casais a manterem-se
unidos. No entanto, ele também reconhece que, em algumas circunstâncias, a separação pode ser
a única solução.

Catecismo da Igreja Católica (1992) - O Catecismo afirma que o matrimônio é indissolúvel, mas
reconhece que existem casos em que a separação é inevitável. Ele afirma que a Igreja deve
acompanhar essas situações com compreensão e ajuda pastoral.

Amoris Laetitia (2016) - Enfatiza que a Igreja deve acompanhar as pessoas que passam por essa
situação com compaixão e misericórdia. Também destaca a importância de discernir cada caso
individualizado e que o objetivo deve ser a reconciliação, sempre levando em consideração a
pessoa humana.

10. Métodos Contraceptivos:

O casamento tem como uma de suas finalidades a procriação, fechar-se à procriação, significa,
fechar-se à vida, a Igreja toma os métodos contraceptivos como um atentado contra a vida, se
enquadrando no mandamento de “não matar”. Muitos dos métodos ditos, contraceptivos, são
imorais, porque são abortivos, os que não são abortivos, como por exemplo a camisinha, só devem
ser utilizados com a devida recomendação médica e autorização do diretor espiritual. Já os métodos
naturais, que não visam a contracepção, mas sim, o espaçamento da gestação, quando são por
motivos justos e/ou graves, são morais, porém, por motivos injustos são imorais;

Humanae Vitae (1968) - Nesta encíclica, o Papa Paulo VI enfatiza a importância da regulação da
natalidade, mas rejeita o uso de métodos contraceptivos artificiais, afirmando que eles são
contrários à lei natural e divina. Ele afirma que a Igreja ensina que o ato conjugal deve ser aberto
à procriação e à união íntima dos cônjuges, e que o uso de contraceptivos interrompe essa união.

Familiaris Consortio (1981) - Reafirma a posição da Igreja sobre a regulação da natalidade e a


rejeição de métodos contraceptivos artificiais. Ele destaca a importância da paternidade
responsável e da conscientização sobre a natureza do ato conjugal e a importância da vida humana.

Catecismo da Igreja Católica (1992) - Afirma que o uso de métodos contraceptivos artificiais é
uma forma de controle artificial da fertilidade e é contrário à lei moral. Ele ensina que a regulação
da natalidade deve ser alcançada através de métodos naturais (Billings) de planejamento familiar,
que respeitam a natureza do ato conjugal e aprenderam das pessoas envolvidas.

11. Uso e Liberação das Drogas:

O uso de drogas, bem como a liberação das drogas, que são entorpecentes, por atentarem contra
a consciência da pessoa, são imorais, dentro desta questão, incluem-se ainda o álcool quando
utilizado sem moderação, pois também entorpece. Sendo assim, a Igreja ensina que nem o uso ou
a liberação das drogas são morais, bem como o uso sem moderação de bebidas alcoólicas;

Catecismo da Igreja Católica (1992) - Afirma que o uso de drogas é um pecado grave contra a
saúde e a integridade da pessoa, e que a liberação das drogas é uma violação da lei moral. Ele
destaca que a sociedade tem o direito e o dever de proteger os cidadãos do perigo das drogas.
308

Compendio da Doutrina Social da Igreja (2004) - Este documento afirma que as drogas são uma
ameaça à saúde pública e à ordem social, e que a luta contra o tráfico de drogas e o uso de drogas
ilícitas é um dever de todos. Ele destaca que a liberação das drogas é um erro grave, que
aumentaria a dependência e o uso de drogas, prejudicando a saúde e a autonomia humana.

Mensagem aos participantes da 57ª Sessão da Comissão das Nações Unidas sobre Drogas
Narcóticas (2014) - Nesta mensagem, o Papa Francisco afirma que a luta contra as drogas ilícitas
é uma questão de justiça e de amor, e que a legalização das drogas não é a solução. Ele enfatiza
a importância de abordar as causas subjacentes ao uso de drogas, como a pobreza, a falta de
oportunidades e a solidão.

Mensagem para o Dia Mundial de Combate às Drogas (2015) - Nesta mensagem, o Papa
Francisco afirma que a luta contra as drogas ilícitas é uma questão de justiça e de amor, e que a
legalização das drogas não é a solução. Ele enfatiza que é preciso abordar as causas subjacentes
ao uso de drogas, como a pobreza, a falta de oportunidades e a exclusão social. Ele também
destaca a importância da prevenção e do tratamento das dependências, bem como da
solidariedade com os que sofrem as consequências do uso de drogas.

12. Escravidão:

Muitos acusam a Igreja de ter apoiado a Escravidão, trata-se de uma desinformação, uma
propaganda negativa contra a Igreja, originária no século XVI. Quando São Paulo estimula que os
escravos obedeçam aos seus senhores, foi visando o melhor proveito da alma da pessoa, pois a
revolta, mesmo em uma escravidão, não é um bem interior. Com a ascensão da Igreja, a escravidão
na Europa, praticamente terminou, ela só voltou, com o contato comercial dos Europeus com os
Muçulmanos e após o advento do protestantismo;

Bula "Dum diversos" (1452) - Esta bula do Papa Nicolau V condena a escravidão e proíbe os
cristãos de escravizar outras pessoas. Ele autoriza a conquista e a conversão dos povos não-
cristãos, mas proíbe a sua escravização.

Bula "Sublimis Deus" (1537) - Esta bula do Papa Paulo III condena a escravidão dos povos
indígenas da América e afirma que eles são seres humanos com direitos inalienáveis. Ele proíbe a
sua escravização e autoriza a sua evangelização.

Carta Encíclica "In Plurimis" (1856) - Nesta carta encíclica, o Papa Pio IX condena a escravidão
e afirma que ela é contrária à lei natural e divina. Ele exorta os católicos a lutar contra a escravidão
e a promover a liberdade e a dignidade humana.

Declaração "Nostra Aetate" (1965) - Nesta declaração do Concílio Vaticano II, a Igreja Católica
condena todas as formas de discriminação racial e afirma que todos os seres humanos são iguais
em dignidade. Ele enfatiza que a Igreja deve lutar contra a escravidão e promover a liberdade e a
justiça.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz (2015) - Nesta mensagem, o Papa
Francisco condena todas as formas de escravidão moderna, incluindo o tráfico humano e a
exploração laboral. Ele exorta os líderes religiosos e políticos a trabalharem juntos para combater
essa forma de injustiça e promover a liberdade e a capacitação humana.
309

13. Racismo:

A Igreja não faz nenhuma distinção de raça e condena qualquer discriminação racista de pessoas,
incluindo a própria classificação e designação de raças que não seja a única, abrangente e
universal raça humana;

Declaração "Nostra Aetate" (1965) - Condena todas as formas de discriminação racial e afirma
que todos os seres humanos são iguais em dignidade. Enfatiza que a Igreja deve trabalhar para
promover a justiça, a paz e a fraternidade entre todos os povos e raças.

Carta Encíclica "Populorum Progressio" (1967) - Nesta carta encíclica, o Papa Paulo VI condena
o racismo e afirma que a Igreja deve trabalhar pela justiça social e pela promoção da igualdade
entre todas as pessoas, especialmente aqueles que são discriminados por causa de sua raça ou
origem étnica.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz (2021) - Nesta mensagem, o Papa
Francisco condena o racismo e afirma que a dignidade de todas as pessoas é um valor fundamental
que deve ser respeitado e protegido. Ele enfatiza que a Igreja deve trabalhar pela reconciliação e
pela promoção da justiça e da paz entre todas as pessoas, independentemente de sua raça ou
origem étnica.

Carta Encíclica "Fratelli Tutti" (2020) - Nesta carta encíclica, o Papa Francisco condena o racismo
e afirma que a Igreja deve trabalhar pela promoção da fraternidade e da solidariedade entre todas
as pessoas, independentemente de sua raça ou origem étnica. Ele enfatiza que a Igreja deve
denunciar as injustiças e as desigualdades, que fizeram morrer pessoas por causa de sua raça ou
origem étnica, e trabalhar para construir uma sociedade mais justa e solidária.

14. Discriminação Sexual:

Existem discriminações justas e injustas. Uma mulher não poder ser ordenada como sacerdote, e
um homem não poder ter filhos, não é uma discriminação injusta, trata-se da própria lei natural que
se impõe. No primeiro caso, as mulheres não podem ser ordenadas, pois seria um peso à mulher,
além do fato da Igreja não ter recebido um sacerdócio feminino, e no outro caso, apenas mulheres
e homens intersexos que possuem a habilidade de ter filhos, no caso dos intersexo é devido a uma
má formação, que trás além disso, uma série de alterações físicas, que precisam ser examinadas
caso a caso;

Declaração "Nostra Aetate" (1965) - Condena todas as formas de discriminação e afirma que
todos os seres humanos são iguais em igualdade. A Igreja tem o dever de trabalhar pelo fim da
discriminação injusta.

Carta Encíclica "Populorum Progressio" (1967) - Nesta carta encíclica, o Papa Paulo VI condena
todas as formas de discriminação injusta, incluindo aquelas atraídas em raça, etnia, gênero e
condição social. Ele afirma que a Igreja deve trabalhar pela justiça social e pela promoção da
igualdade entre todas as pessoas.

Carta Encíclica "Sollicitudo Rei Socialis" (1987) - Nesta carta encíclica, o Papa João Paulo II
condena a exclusão social (Discriminação) e afirma que a Igreja deve trabalhar pela promoção da
justiça social e da solidariedade entre todas as pessoas.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz (2021) - Condena todas as formas de
discriminação, incluindo aquelas inspiradas em raça, etnia, religião, gênero e orientação sexual.
310

Carta Encíclica "Fratelli Tutti" (2020) - Condena todas as formas de discriminação injusta e afirma
que a Igreja deve trabalhar pela promoção da fraternidade e da solidariedade entre todas as
pessoas, independentemente de suas diferenças. Ele enfatiza que a Igreja deve denunciar as
injustiças e as desigualdades que morreram as pessoas por causa de sua raça, etnia, religião,
gênero ou orientação sexual, e trabalhar para construir uma sociedade mais justa e solidária.

15. Mudanças Climáticas:

As mudanças climáticas estão acontecendo, uma série de alterações e mudanças sempre


aconteceram, porém, parece que o descaso com o meio ambiente, o mal uso das coisas, a
produção de lixo, sejam tóxicos, radioativos, químicos e biológicos, tem contaminado o ambiente e
este tem reagido com fortes alterações climáticas, a Igreja ensina que é responsabilidade do ser
humano cuidar de sua Casa Comum, pois é um presente valioso dado por Deus.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz (2014) - Nesta mensagem, o Papa
Francisco faz um apelo à proteção do meio ambiente e à luta contra as mudanças climáticas. Ele
enfatiza que a proteção do meio ambiente está intimamente ligada à promoção da paz e da justiça
social.

Carta Encíclica "Laudato Si" (2015) - Nesta carta encíclica, o Papa Francisco faz um apelo à
proteção do meio ambiente e da nossa “Casa comum” e denuncia os efeitos negativos das
mudanças climáticas. Ele enfatiza a necessidade de mudar nossos hábitos de consumo e
produção, bem como de promover a justiça social e a solidariedade entre todos os povos e nações.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz (2020) - Nesta mensagem, o Papa
Francisco faz um apelo pela "ecologia integral", que envolve cuidar do meio ambiente, da saúde
humana e do bem-estar social. Ele enfatiza a necessidade de mudanças sistêmicas para enfrentar
a crise climática e promover a justiça social.

Declaração da Conferência dos Bispos da União Europeia sobre o Clima e a Justiça Climática
(2021) - Nesta declaração, a Conferência dos Bispos da União Europeia faz um apelo à ação
urgente contra as mudanças climáticas e destaca a importância da justiça climática para garantir
um futuro sustentável para todos. Eles enfatizam que os países mais ricos têm uma
responsabilidade especial em liderar a luta contra as mudanças climáticas e ajudar os países mais
pobres a se adaptarem às suas influências.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Meio Ambiente (2021) - Nesta mensagem,
o Papa Francisco destaca a urgência de proteger a biodiversidade e enfrentar as mudanças
climáticas. Ele enfatiza a necessidade de mudanças psicológicas em nossos sistemas psicológicos
para proteger o meio ambiente e garantir um futuro justo para todos.

16. Sustentabilidade:

As gerações atuais, e passadas, gozam e gozaram de uma grande quantidade de recursos


extraídos do meio ambiente, estes recursos, como bem sabemos, são limitados, sendo assim, cada
geração é responsável por destinar recursos à próxima geração sob o risco de extinção da raça
humana ou no mínimo a geração de maiores diferenças sociais e econômicas;

Encíclica "Laudato Si'" (2015) - Aborda a crise ambiental e enfatiza a importância da proteção da
criação. Ele destaca a necessidade de uma "ecologia integral", que leva em consideração as
“mortes sociais”, a obesidade e a sustentabilidade ambiental. O documento também enfatiza a
responsabilidade dos cristãos de proteger a natureza e defender os pobres e indígenas.
311

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz (2020) - Destaca a importância da
ecologia integral para a paz e a justiça. E enfatiza que a crise ecológica e a crise social são
interconectadas e que a sustentabilidade é essencial para a paz e a justiça global.

Carta Encíclica "Fratelli Tutti" (2020) - Enfatiza a necessidade de uma "cultura do cuidado" para
a sustentabilidade. Ele destaca a interconexão entre a crise ambiental e a crise social e econômica,
e enfatiza a necessidade de uma ação coletiva para proteger o meio ambiente e promover a justiça
social.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz (2021) - Aborda a importância da
educação para a sustentabilidade e destaca a necessidade de uma mudança de mentalidade em
relação ao meio ambiente e à economia. Ele enfatiza que a educação para a sustentabilidade deve
ser inclusiva e acessível a todos, e que é responsabilidade de cada indivíduo contribuir para a
proteção do meio ambiente e da criação.

17. Meio Ambiente:

Dentro do processo religioso, faz parte o religar-se com Deus, com o Próximo, Consigo mesmo e
com o Meio em que vivemos, é responsabilidade de todos, mas principalmente do católico, cuidar
do meio ambiente e zelar pela preservação dele, promovendo o esforço individual e coletivo neste
intento;

Carta Pastoral "Igreja e Ecologia" (2006) - Nesta carta pastoral, a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) enfatiza a importância da preservação do meio ambiente como uma
questão ética e moral, e destaca a necessidade de uma mudança de maternidade em relação à
criação.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz (2010) – O Papa Bento XVI destacou
a necessidade de proteger o meio ambiente e promover a responsabilidade ambiental.

Carta Encíclica "Laudato Si" (2015) - Enfatiza a necessidade de uma "ecologia integral" que leve
em consideração as interconexões entre a natureza, a sociedade e a economia. Ele destaca a
importância da preservação do meio ambiente para a justiça social e humana, e enfatiza a
necessidade de uma conversão ecológica para mudar a mentalidade humana em relação à
natureza e ao consumo.

Entre as principais preocupações da Igreja em relação ao meio ambiente estão a degradação do


planeta, o consumismo, o aquecimento global, o uso excessivo de recursos naturais e a perda de
biodiversidade. A Igreja também tem defendido a importância de uma abordagem integral da
ecologia, que leva em conta não apenas a natureza, mas também os aspectos sociais, culturais e
psicológicos envolvidos na relação entre ser humano e meio ambiente.

18. Imigração:

A Igreja vê o planeta Terra como a “Casa Comum”, sendo assim, as fronteiras são apenas divisões
imaginárias que delimitam os países e seus territórios. A designação dos povos e sua soberania
está nos planos de Deus, porém, os imigrantes de qualquer país, deveriam ser aceitos em
quaisquer outros países, desde que se respeite a cultura, a soberania e a história do país acolhedor.
A Igreja tem se manifestado sobre o tema da imigração em diversos documentos ao longo dos
anos. O Catecismo da Igreja Católica afirma que:

“As nações mais favorecidas devem acolher, na medida do possível, o estrangeiro em busca da
segurança e dos recursos vitais que não pode encontrar em seu país de origem. Os poderes públicos
312

zelarão pelo respeito do direito natural que põe o hóspede sob a proteção daqueles que o recebem.
Em vista do bem comum de que estão encarregadas, as autoridades políticas podem subordinar o
exercício do direito de imigração a diversas condições jurídicas, principalmente com respeito aos
deveres dos migrantes para com o país de adoção. O migrante é obrigado a respeitar com gratidão
o patrimônio material e espiritual do país que o acolhe, a obedecer às suas leis e a dar sua
contribuição financeira.” (CatIC 2241)

"Mensagem aos participantes da Cúpula Humanitária Mundial" (2016), carta do Papa


Francisco em que aborda a questão dos refugiados e migrantes forçados, e enfatiza a importância
de abordar as causas subjacentes do deslocamento forçado, como conflitos armados, pobreza
extrema e violação dos direitos humanos.

"Compartilhar a viagem" (2017), campanha global da Caritas Internacional para promover a


solidariedade com os migrantes e refugiados. A campanha destaca a importância de ouvir as
histórias dos migrantes e refugiados, e de trabalhar juntos para construir uma sociedade mais justa
e acolhedora.

"Fraternidade Humana pela Paz Mundial e a Convivência Comum" (2019), assinado por Papa
Francisco e pelo Grande Imame de Al-Azhar Ahmed al-Tayeb e aborda a necessidade de construir
pontes de diálogo inter-religioso e intercultural, e destaca a importância de acolher os imigrantes e
refugiados em um espírito de fraternidade e solidariedade.

"Não seja indiferente ao grito dos pobres" (2020), mensagem do Papa Francisco para o Dia
Mundial do Migrante e do Refugiado e destaca a importância de promover a integração dos
imigrantes e refugiados em suas novas comunidades, bem como de garantir que suas
necessidades básicas sejam atendidas.

"Erguei os olhos e vede os campos" (2021), mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial
do Migrante e do Refugiado enfatiza a necessidade de proteger os direitos e a aprendizagem dos
migrantes e refugiados, especialmente no meio à pandemia de COVID-19, e pede uma resposta
global e coordenada para abordar as causas subjacentes da migração.

19. Direito as Armas (Legítima Defesa):

Em um mundo ideal, as armas de fogo, não deveriam existir, porém, infelizmente para manutenção
da Paz entre os povos, faz-se necessário que o indivíduo tenha o direito de possuir e portar armas
em condições previamente estabelecidas, até para zelar pela segurança pessoal dos mais fracos,
principalmente as mulheres. Porém, a corrida armamentista entre nações é condenável, pois trata-
se de uma competição em que, só quem perde é a raça humana, e no âmbito individual, o bom e
honesto cidadão precisa ter equilíbrio, condições e treinamento adequado para possuir e manusear
uma arma;

Um dos documentos mais recentes da Igreja Católica que aborda o tema do porte de armas de
fogo é a encíclica "Fratelli Tutti", publicada em 2020 pelo Papa Francisco. Nesta encíclica, o Papa
aborda diversos temas relacionados à fraternidade e à solidariedade entre os povos, e dedica um
capítulo específico à paz e ao diálogo social. No capítulo, o Papa fala sobre a importância da
promoção de uma cultura de paz e da não violência, e faz uma crítica ao uso indiscriminado das
armas de fogo, afirmando que:

"não é possível imaginar uma paz duradoura sem a busca de um bem comum cada vez mais
ampliado e sem a eliminação progressiva e decidida das armas de guerra e das armas pequenas e
leves, que causam tantas vítimas inocentes" (Fratelli Tutti, n. 227).
313

Catecismo da Igreja Católica: afirma que "a legítima defesa pode ser não somente um direito,
mas também um dever grave, para aquele que é responsável pela vida de outro" (n. 2265).

Pacem in Terris (1963): publicada pelo Papa João XXIII fala sobre o direito à autodefesa em
situações de agressão injusta, mas também enfatiza a necessidade de buscar a paz e a justiça em
todo o mundo.

Gaudium et Spes (1965): A Constituição Pastoral promulgada pelo Concílio Vaticano II, reconhece
que a legítima defesa é um direito que deve ser exercido com moderação e que os conflitos devem
ser resolvidos por meio do diálogo e da negociação.

Evangelium Vitae (1995): publicada pelo Papa João Paulo II, afirma que a legítima defesa é um
direito inalienável da pessoa humana, mas que deve ser exercido com prudência e
responsabilidade. A encíclica também enfatiza a importância da promoção da cultura da vida e da
paz em todo o mundo.

Compendio da DSI (2004): afirma que "a legítima defesa é um direito natural e humano" e que a
"autodefesa, mesmo com o uso de armas proporcionais, não é legítima se não há grave e atual
ameaça à vida ou à integridade física das pessoas" (n. 504).

20. Fome:

A fome no mundo é uma tragédia, e ela aumenta cada vez mais, nós, enquanto católicos
assumimos a responsabilidade de nos dedicar aos mais pobres do que nós, e promover obras de
misericórdia física que procurem sanar este terrível flagelo, assim, apoiamos as iniciativas, públicas
e privadas no intento de diminuir a fome no mundo;

Carta Encíclica "Populorum Progressio" do Papa Paulo VI (1967) - Este documento aborda a
questão da fome no mundo e enfatiza a necessidade de desenvolvimento econômico e justiça
social para superar a pobreza e a fome. O Papa Paulo VI afirma que a fome é uma violação da
dignidade humana e um obstáculo para o desenvolvimento.

Compêndio da DSI (2004) - Este documento aborda a questão da fome como um problema
estrutural que exige soluções políticas, econômicas e sociais. Ele destaca a importância da
solidariedade e da justiça social na luta contra a fome.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Alimentação (2013) - Nesta mensagem,
o Papa Francisco denuncia a fome no mundo como uma tragédia e um escândalo, e pede um
compromisso renovado para erradicar a fome. Ele enfatiza a necessidade de uma mudança de
mentalidade e ação, bem como de um maior compromisso dos governos e da sociedade civil.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Alimentação (2016) - Nesta mensagem,
o Papa Francisco aborda a questão da fome no contexto das mudanças climáticas e da degradação
ambiental. Ele destaca a importância da agricultura sustentável e da gestão responsável dos
recursos naturais para garantir a segurança alimentar e combater a fome.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Alimentação (2019) - Nesta mensagem,
o Papa Francisco denuncia a fome como uma violação dos direitos humanos e pede um
compromisso renovado para alcançar a segurança alimentar para todos. Ele enfatiza a importância
da solidariedade e do compartilhamento dos recursos para combater a fome e a pobreza.
314

21. Economia:

O modo como lidamos com o dinheiro diz muito sobre o quão comprometido com o Reino de Deus
nós estamos, assim, somos meros administradores das riquezas de Deus, e não temos o direito de
acumular riquezas diante de um mundo que passa fome, é fato que sempre haverão pobres no
mundo, mas também sempre haverão opressores e exploradores, assim, os que não compartilham
os bens que recebe de Deus, fatalmente não são os pobres, logo, são os promotores da pobreza,
que não sejamos nós estes promotores então. Além da DSI os principais documentos que abordam
o tema são:

Rerum Novarum - Encíclica do Papa Leão XIII (1891): Este documento estabeleceu o princípio
do salário justo e abordou a necessidade de garantir aos trabalhadores direitos e proteções básicas.

Centesimus Annus - Encíclica do Papa João Paulo II (1991): Este documento abordou a
economia de mercado e defendeu a liberdade econômica, mas também alertou para os perigos do
capitalismo sem regulamentação e a importância da solidariedade social.

Caritas in Veritate - Encíclica do Papa Bento XVI (2009): Este documento enfatizou a importância
da justiça social e econômica e defendeu a distribuição equitativa dos recursos globais.

Laudato Si' - Encíclica do Papa Francisco (2015): Este documento aborda não apenas questões
ambientais, mas também a economia global e sua relação com a pobreza e a exclusão social.

Fratelli Tutti - Encíclica do Papa Francisco (2020): Este documento reforça o compromisso da
Igreja com a justiça social e a solidariedade global, enfatizando a importância da cooperação
internacional e da distribuição justa dos recursos.

22. Guerra:

A guerra é outro grande flagelo à humanidade, que neste último século experimentou a brutalidade
e o extermínio de milhares de milhões de pessoas durante a Primeira e Segunda Guerra Mundial,
e nunca estivemos tão próximos de uma terceira. A guerra só é lícita quando todos os meios de
conciliação fracassam, então, o católico vai à guerra, não com ódio ao que está a sua frente, mas
por amor ao que está atrás de si.

Catecismo da Igreja Católica: O Catecismo da Igreja Católica (n. 2307-2317) ensina que "A
legítima defesa pode ser não somente um direito, mas um grave dever para aquele que é
responsável pela vida de outros. A responsabilidade pelos outros justifica a recusa absoluta de se
fazer concessões ao agressor". No entanto, também enfatiza que a guerra deve ser um último
recurso e deve ser conduzida de tal forma que minimize os danos aos civis e propriedades.

Pacem in Terris (1963): Fala da necessidade de "estabelecer uma ordem mundial justa e pacífica"
e condena a guerra como um "flagelo" que deve ser evitado sempre que possível.

Gaudium et Spes (1965): Afirma que a guerra é "um flagelo terrível e lamentável" e que "todos
devem trabalhar pela paz". Ela também aborda a questão da guerra justa, afirmando que deve
haver "garantias suficientes de que a guerra não causará males e desordens mais graves do que
aqueles que se pretendem curar".

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz (2017): Intitula "A não-violência o
estilo de uma política para a paz" condena a guerra e a violência e destaca a importância da não-
violência como um caminho para a paz.
315

DIREITO X ÉTICA X MORAL:

Na vida do católico, o que vem em primeiro lugar sempre, é a questão moral, mesmo que as
questões éticas e legais fiquem comprometidas. Claro, que quando é possível unir todas de uma
vez, é esta a decisão a ser tomada, mas o que é ética e o que é direito?

Moral diz respeito aos costumes e valores, já a ética reflete sobre o que é considerado certo ou
errado, assim, a ética mais do que um conjunto de normas de conduta, é a “razão” porque as
normas e condutas são assim. Uma pessoa ética, é aquela que conhece os “porquês” de seus
comportamentos, e eles não são apenas justificativas de ordenanças.

O que são estas justificativas? São aquelas em que as pessoas justificam seus atos, com base na
“autoridade” de outrem. Por exemplo: Porque você vai à Missa, e a resposta é, por que minha mãe,
meu marido, minha esposa “mandaram”. Transferindo assim, sua responsabilidade daquele ato,
para os outros. A maioria das pessoas não são éticas, pois vivem transferindo suas
responsabilidades aos outros, vivem deixando de lado as razões pelas quais fazem as coisas, e se
deixam levar pela “maré” social, e assim, se tornam irresponsáveis.

“A transformação profunda e rápida da realidade reclama, com a maior urgência, que ninguém, por
desatento à evolução das coisas ou entorpecido pela inércia, se contente com uma ética meramente
individualista. O dever de justiça e caridade cada vez mais será cumprido pelo fato de cada um
contribuir ao bem comum segundo as próprias possibilidades e as necessidades dos outros,
promover instituições públicas ou privadas e ajudar as que servem para melhorar as condições de
vida dos homens.” (Gaudium et spes, CVII)

De fato, é moral não matar, porém, mesmo sendo algo obviamente certo, uma pessoa que não
mata, simplesmente por força de lei, de tradição, por medo, em determinado momento, porque não
conhece as razões, poderá matar, simplesmente porque não tem mais respeito pela lei, não
pertence mais à quela tradição ou simplesmente porque perdeu o medo. E então, começamos a
entender o que é a ética, e o quão importante é nos tornarmos uma pessoa ética e moral.

Já o direito, são as leis que regem o nosso país. Temos um direito extremamente extenso e
confuso, com leis sendo propagadas, por interesse de poucos e não por necessidade da população,
as normas e regras estabelecidas, muitas vezes são apenas para criar dificuldade, e o governo,
vender facilidade, mas há um direito ainda que pode ser levado a sério no Brasil, mas é preciso
estarmos atentos pois muitas leis, são injustas e imorais, como a lei que proíbe os pais de educarem
seus filhos em casa, ou a lei que impõe aos pais a obrigatoriedade de inscrever as crianças na
escola, algumas normas e regras para se abrir uma empresa e de manter os funcionários, leis de
direitos autorais absurdas que premiam as grandes empresas e desfavorecem os autores e
consumidores.

Poderíamos colocar aqui, uma infinidade de leis injustas e questionáveis, mas qual é o sentido mais
profundo do direito? O direito nasce da justiça para com Deus. Só pode ser legal, aquilo que tem
como fim, cumprir uma justiça para com Deus, para com o ser humano e para com a sociedade. O
direito deveria agir nas questões em que, o direito pessoal, precisa ser deixado de lado, em
benefício do bem comum.

A desapropriação de terras por exemplo, há casos, inclusive defendidos pela Igreja, em que o
estado, por força da lei, precisa intervir e promover uma reforma agrária, por meio da
desapropriação de terras improdutivas:

"Enchei a terra e dominai-a": logo desde a primeira página, a Bíblia ensina-nos que toda a criação é
para o homem, com a condição de ele aplicar o seu esforço inteligente em valorizá-la e, pelo seu
trabalho, por assim dizer, completá-la em seu serviço. Se a terra é feita para fornecer a cada um os
316

meios de subsistência e os instrumentos do progresso, todo o homem tem direito, portanto, de nela
encontrar o que lhe é necessário. O recente Concílio lembrou-o: "Deus destinou a terra e tudo o que
nela existe ao uso de todos os homens e de todos os povos, de modo que os bens da criação afluam
com equidade às mãos de todos, segundo a regra da justiça, inseparável da caridade". Todos os
outros direitos, quaisquer que sejam, incluindo os de propriedade e de comércio livre, estão-lhe
subordinados: não devem portanto impedir, mas, pelo contrário, facilitar a sua realização; e é um
dever social grave e urgente conduzi-los à sua finalidade primeira. ("Populorum Progressio", Papa
Paulo VI)

No texto o papa argumenta que a concentração de terras nas mãos de poucos é um fator que
contribui para a pobreza e a desigualdade. Ele afirma que é necessário promover a reforma agrária
e a distribuição equitativa das terras como forma de garantir o acesso das pessoas aos recursos
naturais necessários para sua subsistência.

Além disso, a Encíclica também defende a importância da solidariedade entre as nações e a


responsabilidade dos países ricos em ajudar os países mais pobres a superar suas dificuldades.
Esta encíclica teve um grande impacto na Igreja e na sociedade em geral, sendo reconhecida como
um dos principais documentos da Igreja sobre justiça social e desenvolvimento humano.

Este é um exemplo de como o Direito, a Ética e a Moral podem caminhar juntos, precisamos fugir
do utilitarismo pragmático que defende que os atos são justificados pelos fins, e precisamos
também sair do outro extremo de pensar que os atos, são bons ou maus em si mesmos (Utilitarismo
x Deontologia) somos católicos, procuramos o equilíbrio e a sobriedade em tudo.

MORAL X MORALISMO

A moral justifica sua ação por meio da Lei Natural, ou por meio da Revelação Divina, porém, nunca
sem uma razão efetiva, não em si mesma, e nem numa justificativa pelas consequências, mas é
necessário a construção pedagógica de um raciocínio que demonstre que aquele objeto, é moral.

“As leis morais não têm necessidade de sanção divina, e de modo algum é necessário que as leis
humanas se conformem ao direito natural ou recebam de Deus a força obrigatória. A ciência
filosófica e moral e também as leis civis podem e devem afastar-se da autoridade divina e
eclesiástica.” (Sílabo; Pio IX)

A Igreja é mestra de moral, pois ela é detentora da verdade, pois sendo ela o próprio Corpo de
Cristo, o Senhor está nela vivo e ressuscitado, agindo pelas ações da Igreja, ou seja, pelas nossas
ações. O Pai Criador, fez o mundo pensando na Igreja, em função da Igreja, e o Divino Espírito, é
a alma da Igreja, é Ele quem a conduz e a levará pura e sem mancha até a consumação dos
séculos:

Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra,
para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante,
mas santa e irrepreensível.
(Ef 5, 25b-27)

O Moralismo negativo começa, quando se parte de premissas de autoridade, ao invés de abordar


a ética do objeto, um exemplo, seria uma mãe dizer para um filho não ter relações sexuais com a
namorada, baseando-se na premissa do pecado, ou dizer que Deus castiga, isto é apenas
moralismo. Ela deveria explicar ao rapaz as implicações, consequências, não apenas sociais e
pessoais do sexo e suas responsabilidades, mas também a fealdade do pecado e suas
consequências eternas, sempre tomando-se o cuidado de fazer isso em espírito de oração. O
falecido patriarca de Constantinopla, em 1972, disse as seguintes palavras sobre a moral:
317

Sem o Espírito Santo: Deus fica distante da gente; Cristo, perdido na História; O Evangelho é letra
morta; A Igreja, apenas agremiação religiosa; A autoridade, poder que se evita; A pregação,
propaganda da Igreja; A oração, tarefa a cumprir; A liturgia, ritual do passado; E a moral, repressão.

Com o Espírito Santo: Deus entra na vida do mundo, onde inicia o seu Reino; Cristo, o Filho de Deus,
se faz um de nós; O Evangelho é o novo estilo de vida; A Igreja, gente unida como as três Pessoas da
Santíssima Trindade; A autoridade, apoio e serviço; A pregação, anúncio da novidade do Reino; A
oração, experiência de contato com Deus; A liturgia, memorial que antecipa o futuro; E a moral, ação
que liberta.
318

13º. PARTE: O EXAME DE CONSCIÊNCIA


Uma vez que conhecemos a realidade da Lei Natural, que está marcada em nossos corações e
consciências, que infelizmente, estão suplantadas pelo pecado original e pelos pecados pessoais
e até pelo pecado social, precisamos acolher com amor e coragem, a lei de Deus, que é a Lei
Revelada por Deus à Israel e que a Igreja tão bem soube interpretar, e assim, olhemos para os Dez
Mandamentos, não como uma prisão, mas como a linha luminosa da pista de pouso para os aviões,
os pilotos são livres para não obedecer às luzes na noite, porém, estarão assumindo a consequente
tragédia que virá de sua escolha.

Assim também acontece conosco, cada um de nós, recebe na Catequese, o conhecimento dos Dez
Mandamentos, que muito mais do que simples palavras, mostram-se como um padrão de conduta
para todos nós, e se ousarmos desobedecer a uma única letra, saibamos que estaremos nos
encaminhando para a única e real tragédia humana, que é o pecado mortal. Então, qual é o princípio
da moral católica?

AS FONTES DA MORALIDADE

“A moralidade dos atos humanos depende: - do objeto escolhido; - do fim visado ou da intenção; -
das circunstâncias da ação.” (CatIC 1750)

I. Objeto:

É chamado de Objeto, a ação do homem que pode ser classificada como Moral ou Imoral, que em
suma, é boa ou má, assim, todos os atos humanos, em relação à moral, são Objetos de análise,
por assim dizer, são “o objeto” que se pretende compreender se é ou não algo bom ou algo mal.

II. Intenção:

Em moral, a intensão de quem realiza um objeto, é chamado de objetivo, assim, pode-se


questionar: “Qual é o objetivo do objeto?”, ou ainda, “Com qual intenção você realizou determinado
ato?” A partir da intenção, avalia-se se o objeto é ou não moral.

III. Circunstâncias:

Dentro de um julgamento moral, as circunstâncias e as consequências do objeto, sendo esperadas


ou não, entram como agravantes ou atenuantes da gravidade do objeto. Dependendo das
circunstâncias, um objeto pode ser efetivamente um pecado, porém, este será completamente
atenuado, tornando o objeto uma virtude, ou um ato aparentemente simples, poderá ser
considerado um pecado grave e mortal.

OS DEZ MANDAMENTOS:

Para compreender bem, a natureza do objeto, é importante nos debruçarmos sobre os


Mandamentos da Lei de Deus, sua origem, sua dimensão e profundidade. Importa dizer que o termo
“Dez Mandamentos”, não significa que sejam 10 os mandamentos de Deus. A Lei Judaica possui
mais de 600 mandamentos, então, importa mais o símbolo numérico do que a quantidade em si.

Dez, é um número que simboliza a plenitude, a completude, ou seja, ao dizer “10 mandamentos”
está se dizendo que toda a lei está contida nesta redação, e tudo o que é preciso saber para se ter
uma conduta moral, aos olhos de Deus, estão nestas “10 Palavras”. O termo “Dez mandamentos",
não está no texto original, apenas o termo “Dez Palavras”, que são as dez ordens ou mandamentos
319

revelados por Deus a Moisés no Monte Sinai, ou seja, Deus disse tudo o que precisava dizer à
Moises para que o povo participasse da Aliança com Deus:

“Do meio do fogo, o Senhor vos falou. Ouvistes o som de suas palavras, mas não víeis, no entanto, nenhuma
forma, somente uma voz. Ele vos deu a conhecer a sua aliança, e ordenou-vos que a observásseis: as dez
palavras que escreveu nas duas tábuas de pedra.”
(Dt 4, 12-13, confira também: Dt 4,10 e Ex 34,28)

Quando vamos ao texto donde se extrai os Dez Mandamentos, vemos que não são apenas 10
palavras, mas muito mais do que isso, porém, logo no início, vemos que o texto nos dá o sentido
de completude e plenitude:

“Então Deus pronunciou todas estas palavras:”


(Ex 20, 1)

O “todas” dá o sentido de “dez” palavras, pois este é o símbolo do número 10, e a seguir o texto e
seu homólogo de Deuteronômio:

Êxodo 20:

“Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de
minha face. Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a
terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o
Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniquidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles
que me odeiam, mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os
meus mandamentos. Não pronunciarás o nome do Senhor, teu Deus, em prova de falsidade, porque o Senhor
não deixa impune aquele que pronuncia o seu nome em favor do erro. Lembra-te de santificar o dia de sábado.
Trabalharás durante seis dias, e farás toda a tua obra. Mas no sétimo dia, que é um repouso em honra do Se-
nhor, teu Deus, não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva,
nem teu animal, nem o estrangeiro que está dentro de teus muros. Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a
terra, o mar e tudo que neles há, e repousou no sétimo dia; e, por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o
consagrou. Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu
Deus. Não matarás. Não cometerás adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra teu
próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem
sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence”.
(Ex 20, 2-17)

Deuteronômio 5:

‘Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei do Egito, da casa da servidão. Não terás outro deus diante de
mim. Não farás para ti imagem de escultura representando o que quer que seja do que está em cima no céu,
ou embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas para render-lhes culto,
porque eu, o Senhor, teu Deus, sou um Deus zeloso. Castigo a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e a
quarta geração daqueles que me odeiam, mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me
amam e guardam os meus mandamentos. Não pronunciarás em vão o nome do Senhor, teu Deus; porque o
Senhor não terá por inocente aquele que tiver pronunciado em vão o seu nome. Guardarás o dia do sábado e o
santificarás, como te ordenou o Senhor, teu Deus. Trabalharás seis dias e neles farás todas as tuas obras; mas
no sétimo dia, que é o repouso do Senhor, teu Deus, não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua
filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu boi, nem teu jumento, nem teus animais, nem o estrangeiro que
vive dentro de teus muros, para que o teu escravo e a tua serva descansem como tu. Lembra-te de que foste
escravo no Egito, de onde a mão forte e o braço poderoso do teu Senhor te tirou. É por isso que o Senhor, teu
Deus, te ordenou observasses o dia do sábado. Honra teu pai e tua mãe, como te mandou o Senhor, para que
se prolonguem teus dias e prosperes na terra que te deu o Senhor, teu Deus. Não matarás. Não cometerás
adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. Não desejarás a mulher do teu
320

próximo. Não cobiçarás sua casa, nem seu campo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu
jumento, nem nada do que lhe pertence’.
(Dt 5, 6-21)

Como se pode constatar, na primeira versão temos 12 proibições e na segunda temos 10, então,
Santo Agostinho, por volta do ano 430 d.C., elaborou os 10 mandamentos como os conhecemos,
a seguir temos a tabela comparando as versões bíblicas com a fórmula catequética:

Êxodo 20,2-17 Deuteronômio 5,6-21 Fórmula Catequética


Não terás outros deuses diante de Não terás outros deuses além de
Amar a Deus sobre todas as coisas.
mim... mim...
Não pronunciarás em vão o nome
do Senhor, teu Deus, porque o
Não pronunciarás em vão o nome
Senhor não deixará impune aquele Não tomar seu Santo Nome em vão.
do Senhor...
que pronunciar em vão O seu
nome...
Lembra-te do dia do Sábado para Guardarás o dia de sábado para
Guardar domingos e dias Santos.
santificá-lo santificá-lo.
Honra teu pai e tua mãe, para que
se prolonguem os teus dias na terra Honrar teu pai e tua mãe... Honra pai e mãe.
que o Senhor, teu Deus, te dá.
Não matarás. Não matarás. Não matar.
Não cometerás adultério. Não cometerás adultério. Não pecar contra a castidade.
Não roubarás Não roubarás Não furtar.
Não apresentarás um falso Não apresentarás um falso
Não levantar falso testemunho.
testemunho contra o teu próximo. testemunho contra o teu próximo.
... não cobiçarás sua (próximo) Não desejarás a mulher de teu
Não desejar a mulher do próximo.
mulher... próximo.
Não cobiçarás a casa de teu
Não cobiçarás sua casa, nem seu
próximo, não desejarás sua mulher,
campo, nem seu escravo, nem sua
nem seu servo, nem sua serva, nem
escrava, nem seu boi, nem seu Não cobiçar as coisas alheias.
seu boi, nem seu jumento, nem
jumento, nem nada do que lhe
coisa alguma que pertença a teu
pertence’.
próximo.

Assim temos:

1. Amar a Deus sobre todas as coisas.


2. Não tomar seu Santo Nome em vão.
3. Guardar domingos e dias Santos.
4. Honra pai e mãe.
5. Não matar.
6. Não pecar contra a castidade.
7. Não furtar.
8. Não levantar falso testemunho.
9. Não desejar a mulher do próximo
10. Não cobiçar as coisas alheias.

MANDAMENTOS DA IGREJA:

Temos ainda os mandamentos da Igreja, que são em número de cinco, e todos se enquadram na
gravidade dos 10 mandamentos, pois estão todos relacionados a “Amar a Deus sobre todas as
coisas”.:

1. Participar da missa inteira nos domingos e outras festas de guarda e abster-se de


ocupações de trabalho:
321

O Domingo, é para o católico o dia mais importante da semana, em especial o Domingo de Páscoa.
Assim, todos os domingos, é uma pequena Páscoa, um dia solene, o qual não se deve faltar a
Santa Missa. Ainda há os dias de festa, que já mencionamos anteriormente. (Código de Direito
Canônico-CDC , cân. 1246-1248; §2042).

Sobre os dias santos:

“Devem ser guardados [além dos domingos] o dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Epifania
(domingo no Brasil), da Ascensão (domingo) e do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus
Christi), de Santa Maria, Mãe de Deus (1º de janeiro), de sua Imaculada Conceição (8 de dezembro) e
Assunção (domingo), de São José (19 de março), dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo (domingo), e por
fim, de Todos os Santos (domingo)” (CDC, cân. 1246,1; n. 2043 após nota 252; §2177).

2. Confessar-se ao menos uma vez por ano:

A obrigação de se confessar ao menos uma vez no ano, além de obrigação, é uma necessidade,
pois o único que poderia confessar-se ao menos uma vez no ano, seria alguém que pecasse
mortalmente, somente uma vez no ano, o que não é possível, a não ser em caso de se tratar de
um santo, mas neste caso, não pecaria nunca mortalmente. Então, é um convite da Igreja à
conversão.

3. Receber o sacramento da Eucaristia ao menos pela Páscoa da ressurreição:

O recebimento da Santíssima Eucaristia, é de extrema necessidade para nossa salvação e


crescimento espiritual, porém, faz-se necessário a confissão, para se comungar dignamente, e
assim como a confissão, deve ser celebrada todas as vezes que se peca, a Eucaristia, deve ser
recebida na próxima oportunidade após a confissão, quanto maior o número de vezes possível.

4. Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja:

O Jejum de carne é solicitado pela Igreja em todas as sextas feiras, porém, no Brasil, este jejum,
pode ser substituído por um outro alimento ou por uma obra de misericórdia, mas, a sexta feira,
que nos remete à Paixão do Senhor, assim como o Domingo, não pode passar em branco, é preciso
que façamos uma abstinência, Jejum, esmola, ou obras de misericórdia, caso contrário, incorre-se
em pecado mortal.

Por outro lado, a Quarta-Feira de Cinzas e a Sexta-Feira Santa, é obrigatório o Jejum e a


Abstinência de Carne, o Jejum da Igreja.

5. Ajudar a Igreja em suas necessidades:

Todos nós, recebemos além dos bem espirituais da Igreja, alguns serviços como a catequese,
retiros, formações, água no bebedouro, luz elétrica, ventilador, banco e estrutura da Igreja, sendo
assim, é nossa obrigação colaborar financeiramente com as necessidades da Igreja, representadas
na paróquia e diocese, por isso, é importante apresentar-se como dizimista ou colaborar de forma
frequente, ao menos mensalmente, com a coleta.

PECADOS CAPITAIS:

“Os vícios podem ser classificados segundo as virtudes que contrariam, ou ainda ligados aos pecados
capitais que a experiência cristã distinguiu seguindo S. João Cassiano e S. Gregório Magno. São
chamados capitais porque geram outros pecados, outros vícios. São o orgulho, a avareza, inveja, a
ira, a impureza, a gula, a preguiça ou acídia.” (CatIC 1866)
322

Já abordamos os pecados capitais, então, precisamos saber se estes são mortais ou veniais, e
para isso, é preciso apelarmos para o “Objeto, Objetivo e as Circunstâncias” e iremos analisar
alguns deles nos exemplos quando falarmos dos dilemas morais.

Os pecados capitais são chamados assim porque são considerados como raízes ou fontes de todos
os outros pecados. A palavra "capitais" vem da palavra latina "caput", que significa "cabeça". Assim,
os pecados capitais são considerados como principais cabeças ou fontes de todos os outros
pecados.

Eles foram escolhidos e definidos pela primeira vez pelo monge e teólogo Evagrio Pôntico no século
IV d.C. e foram adotados pela Igreja como uma maneira de ensinar as pessoas a identificar e
combater as tentações e os vícios que impedem a vida virtuosa, originalmente eram 8, pois Evágrio
separava ainda a tristeza, mas São Gregório Magno, incluiu a tristeza na preguiça e na inveja. Ao
longo dos séculos, os sete pecados capitais têm sido retratados na arte e na literatura como
personagens ou figuras alegóricas, como um meio de alertar as pessoas sobre as tentações
perigosas que podem levar ao pecado.

MANDAMENTOS EVANGÉLICOS:

Nosso Senhor, resumiu os 10 mandamentos em apenas dois:

“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?”. Respondeu Jesus: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu o
coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito (Dt 6,5). Esse é o maior e o primeiro mandamento. E o
segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). Nesses dois mandamentos
se resumem toda a Lei e os Profetas”.
(Mt 22, 36-40)

E ainda nos deu um novo mandamento:

“Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós
deveis amar-vos uns aos outros. Nisso todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos
outros.”
(Jo 13, 34-35)

Unindo estes dois textos bíblicos, podemos concluir a sentença: “Amar a Deus com todo o seu ser
e ao próximo, como Deus vos tem amado.” Mas Nossa Senhora, resumiu toda a lei em uma única
ordem, que compreende a plenitude de toda a revelação:

“Disse, então, sua mãe aos serventes: “Fazei o que ele vos disser”.”
(Jo 2,5)

E nós, como servos de Deus, servos de Nosso Senhor Jesus Cristo, servos da Igreja e servos de
Maria Santíssima, devemos lhe obedecer, como bons serventes e “Fazer o que Ele nos disse”.

EXAME DE CONSCIÊNCIA:

Existem muitos exames de consciência disponíveis, então não nos fixaremos nos detalhes
profundos de cada um dos mandamentos e suas implicações, aquele que necessitar de um bom,
completo e profundo texto para fazer o seu exame de consciência, basta nos solicitar, que
enviaremos um PDF.
323

Então, retornando ao Objeto, Objetivo e as Circunstâncias, pretendemos detalhar e analisar alguns


casos, exemplificando, como se deve fazer este exame de consciência.

O Catecismo ensina que para um pecado ser mortal, precisa de três condições:

1. Matéria Grave: Precisa estar dentro dos 10 mandamentos;


2. Pleno Conhecimento: É preciso saber que o objeto é um ato pecaminoso e grave;
3. Pleno Consentimento: É preciso uma decisão deliberada e intencional da vontade;

Já os pecados veniais, são todos os demais objetos realizados sem amor, ações, palavras,
omissões, gestos, atitudes, cuja motivação, não seja o Amor a Deus, à nós mesmos (sem egoísmo)
e ao próximo. Por outro lado, todas as ações, palavras, omissões, gestos, atitudes, cuja motivação
seja o Amor, são morais e lícitos, pois como ensinou Santo Agostinho:

“Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires,
corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa
senão o amor serão os teus frutos.” (Santo Agostinho)

AS IMPERFEIÇÕES:

Como vimos, quem ama, cumpriu toda a lei, por isso, convém a análise das fontes da moralidade
em conjunto com a verificação do objeto e verificar se é “pecado moral, venial ou simples
imperfeições”. O que são as imperfeições? São todas as ações “menos boas” em comparação com
outras ações que poderiam ser feitas no mesmo momento, por exemplo:

Supomos que esteja na hora da minha oração pessoal, mas eu prefiro jogar vídeo game. Ora, jogar
vídeo game, não é pecado, mas este objeto se torna uma imperfeição, pois eu poderia fazer algo
que me santifica mais, do que jogar vídeo game.

Note que, não podemos confundir as imperfeições com pecados. Se eu sou religioso, e tenho como
obrigação fazer a minha oração naquele momento, mas eu prefiro ir jogar vídeo game, então,
imediatamente estou cometendo um pecado no mínimo venial, pois faz parte do meu estado de
vida a oração naquele momento, e por deixar de lado uma responsabilidade, eu teria cometido
pecado.

A imperfeição não é um pecado, mas é um desequilíbrio, uma desordem, um exagero, uma inversão
interior dos valores, pois os valores precisam estar ordenados, em primeiro lugar, está a nossa
Salvação, depois vem nossos sentimentos, saúde emocional e por fim, nossa saúde física. E todas
elas têm a sua importância, uma vez que eu atendi às necessidades de minha saúde espiritual
(oração, sacramentos, estudos e devoções) eu preciso saciar minha saúde mental e emocional
(relacionamentos saudáveis, um filme, um bom livro, um passeio) e por fim, cuidar da saúde do
corpo (alimentação, exercícios, cuidados básicos e medicamentos se for o caso).

DILEMAS ÉTICOS, LEGAIS E MORAIS:

1. Ignorância:

Uma pessoa não é católica, não conhece e não vive os 10 mandamentos, tudo o que ela sabe sobre
a Igreja e a história da salvação, são caricaturas apresentadas para ela por meio da mídia
anticatólica. Esta pessoa está em pecado mortal?
324

Não, uma pessoa não está em pecado mortal simplesmente por não ser católica, não conhecer os
10 mandamentos ou não ter uma compreensão precisa da história da salvação. O pecado mortal é
uma ofensa grave contra Deus que envolve conhecimento, consentimento e uma ação que viola a
lei divina. Portanto, é necessário que a pessoa tenha conhecimento e consciência plena do que
está fazendo para que se possa considerar um pecado mortal.

No entanto, é importante lembrar que a busca pela verdade e o conhecimento da fé católica são
importantes para o desenvolvimento espiritual e para a salvação. A Igreja ensina que a verdade é
uma necessidade para a salvação e que a busca pela verdade é um dever moral.

Portanto, se a pessoa está vivendo em ignorância invencível, ou seja, não é capaz de conhecer a
verdade, ela não é culpada por essa inabilidade. No entanto, se a pessoa tem a oportunidade de
conhecer a verdade e não a busca, pode estar em um estado de negligência culpável que pode
afetar sua vida espiritual e moral.

2. Negligência:

Um padre, que ao invés de rezar a missa, prefere passar um tempo com a sua família num
domingo de sol na praia, trata-se de uma imperfeição?

Sim, um padre que prefere passar um tempo com sua família na praia em vez de celebrar uma
Missa no domingo é uma imperfeição e uma falha em suas obrigações sacerdotais. A celebração
da Missa é a função principal de um padre, pois é através da Eucaristia que os fiéis recebem a
graça de Deus e são fortalecidos em sua fé. A negligência de um padre em celebrar a Santa Missa
pode afetar a vida espiritual dos fiéis confiados a ele.

Além disso, o sacerdócio é uma vocação que exige santificação pessoal e renúncia em prol do
serviço a Deus e ao próximo. Ao escolher passar um tempo na praia em vez de celebrar a Missa,
o padre está colocando seus próprios desejos acima de suas obrigações sacerdotais e da
necessidade dos fiéis de receber a Eucaristia. Mas se ele não celebrar nenhuma Missa no Domingo,
ele está incorrendo em pecado mortal, pois o sacerdote tem a obrigação de celebrar ao menos uma
Missa todos os dias, mesmo que sozinho.

No entanto, é importante lembrar que os padres são seres humanos e podem cometer erros e
falhas como qualquer outra pessoa. Se o padre reconhecer sua falha e se arrepender, pode buscar
reconciliação e se recuperar, voltando a dedicar-se a seus deveres sacerdotais com mais diligência
e amor.

3. Amor ou Sacrifício?

Uma mãe bate no filho que roubou algo, mesmo ele sendo uma criança, ela incorreu no pecado
da Ira?

A resposta para esta questão depende das circunstâncias da situação. O Catecismo afirma que "a
ira é um desejo de vingança" (nº 2302) e que "a cólera é um desejo de justiça" (nº 2303). Portanto,
a ira pode ser considerada um pecado quando é uma resposta desproporcional a uma situação ou
quando se deseja vingança.

No entanto, a correção disciplinar é uma obrigação dos pais em relação a seus filhos e pode ser
feita de maneira justa e adequada, sem envolver a ira ou a vingança. A disciplina deve ser realizada
com amor e com o objetivo de ensinar a criança o que é certo e errado, sem causar danos físicos
ou emocionais.
325

Se a mãe bateu no filho com a intenção de corrigi-lo e ensiná-lo, e se essa correção disciplinar foi
adequada e justa em relação à gravidade da ação cometida pelo filho, então não se pode dizer que
ela incorreu no pecado da ira. No entanto, se a mãe agiu com raiva excessiva ou desejo de
vingança, então ela pode ter cometido o pecado da ira.

4. Justiça ou Omissão?

Uma casa é invadida por assaltantes, o pai, não reage por ser adepto da não violência, então ele é
amarrado e tem sua esposa estuprada e os filhos sequestrados, o fato de não agir com violência,
não demonstra que ele não cometeu nenhum pecado?

A resposta para esta pergunta depende das circunstâncias específicas da situação. De acordo com
a doutrina da Igreja, a defesa da própria vida e da vida de outros pode justificar o uso moderado da
violência para proteger o bem comum e evitar danos maiores.

No entanto, o princípio da não-violência também é valorizado pela Igreja, inspirado no exemplo de


Nosso Senhor Jesus Cristo, que suportou a violência sem responder com violência. Isso significa
que um cristão pode escolher a não-violência em certas circunstâncias, como um ato de amor e
pacificação, mesmo quando isso pode resultar em dano pessoal.

Assim, a escolha de um pai de não reagir à violência dos agressores pode ser vista como um ato
de amor e não-violência, mesmo que isso resulte em consequências graves, como a violência
contra sua esposa e filhos. No entanto, é importante lembrar que a escolha da não-violência não
significa que uma pessoa não pode buscar outras formas de proteger a vida e o bem-estar de sua
família, como pedir ajuda à polícia ou buscar outras formas de proteção.

Em resumo, a escolha de não reagir à violência em uma situação de violência extrema pode ser
justificada sob a doutrina da Igreja, desde que seja uma escolha consciente e motivada por um
amor e pacificação genuína, caso contrário, no exemplo em questão, seria omissão, portanto,
pecado.

5. Moral X Ética:

Um técnico de enfermagem em um Pronto Atendimento, recebe um paciente em estado grave,


porém, não há um médico presente no serviço por algum motivo justo, então, o técnico sabendo
qual é o procedimento e o medicamento a ser administrado para salvar a vida do paciente, realiza
o procedimento e administra a medicação, conseguindo salvar a vida do paciente, este técnico,
cometeu algum pecado?

De acordo com a doutrina da Igreja, a vida humana é sagrada e deve ser protegida e preservada a
todo custo. Nesse sentido, se um técnico de enfermagem em um Pronto Atendimento realiza um
procedimento e administra medicamentos para salvar a vida de um paciente em estado grave, ele
está agindo em conformidade com o dever moral de proteger a vida humana.

No entanto, é importante lembrar que certas ações podem ser consideradas fora do escopo de
atuação de um técnico de enfermagem e podem exigir a presença de um médico para serem
realizadas. Nesses casos, o técnico deve buscar orientação e supervisão de um médico ou outro
profissional de saúde autorizado antes de realizar qualquer procedimento ou administração de
medicamentos, quando houver tempo. Sendo assim, neste caso, não é um pecado em si mesmo,
mas deve ser avaliado em relação às circunstâncias específicas da situação e aos protocolos de
segurança e ética profissional cumpridos, bem como a legislação vigente, pois mesmo sem ter
pecado, ele pode ter cometido um crime.
326

6. Única Opção ou Consciência Laxa?

Uma jovem, tem uma avó idosa e sua família é de baixa renda, a avó é aposentada e recebe um
salário-mínimo, porém, o medicamento tem um custo mensal que chega a 500 reais, por isso, para
não precisar pagar outra consulta e não onerar o tratamento da avó e conseguir comprar
mantimentos, ela falsifica uma receita médica, e compra o medicamento. Ela cometeu o pecado
de fraude?

Sim, de acordo com a doutrina da Igreja, a falsificação de uma receita médica para adquirir
medicamentos é considerada um ato de fraude, que é um pecado contra a virtude da justiça.

Embora possa haver boas intenções por trás da ação da jovem, é importante lembrar que uma
fraude envolve o engano, a falsificação ou a manipulação de informações para obter um benefício
ilícito ou prejudicar terceiros. Nesse caso, a falsificação de uma receita médica pode ter
consequências graves para a saúde da avó e, além disso, pode prejudicar a integridade do sistema
de saúde e a confiança na profissão médica.

Portanto, é importante buscar soluções éticas e legítimas para os problemas enfrentados, mesmo
que isso envolva recursos financeiros ou outros desafios. Em caso de dificuldades financeiras para
adquirir um medicamento, por exemplo, é possível buscar ajuda de programas sociais, de
organizações filantrópicas ou de serviços públicos de saúde, em vez de seguir a ações ilícitas.

7. Qual é o Maior Bem?

Um rapaz pobre, mas que tem um vídeo game e um computador, porém, os jogos são muito caros,
então, para ter acesso aos jogos, ele usa crakers e hackeagem para baixar jogos e programas, e
compra jogos pirateados, ele incorre em algum pecado?

Sim, de acordo com a doutrina, a pirataria de software e jogos é considerada uma violação da
propriedade intelectual e, portanto, um pecado contra a virtude da justiça. A propriedade intelectual
é um direito legal e moral que protege o trabalho criativo e a inovação de uma pessoa, garantindo
que ela tenha o controle sobre a distribuição e o uso de suas criações. Quando alguém usa
crackers, hacks ou compra jogos pirateados, está infringindo esses direitos e prejudicando os
criadores originais, além de contribuir para um mercado ilegal e injusto.

Embora a tentativa de baixar jogos e programas piratas possa surgir da dificuldade financeira ou
da falta de recursos para comprar os produtos originais, é importante lembrar que a justiça exige o
respeito pelos direitos dos outros e a busca de soluções éticas e legais para os problemas. Portanto,
é importante buscar alternativas legais e acessíveis para vivenciar as necessidades de
entretenimento ou trabalho, em vez de seguir a ações ilícitas que podem prejudicar outras pessoas
e violar a moralidade cristã.

8. A Boa Intensão:

Uma moça comprou um livro, e um amigo pede o livro emprestado, então, ela tira uma cópia de
todo o livro e dá a cópia para o amigo, para poder ambos estudarem o livro, isto então seria pecado
de algum modo?

De acordo com a doutrina da Igreja, a cópia integral de um livro sem autorização do proprietário
dos direitos autorais é considerada uma violação da propriedade intelectual e, portanto, um pecado
contra a virtude da justiça. Se o livro pertence à moça, ela tem o direito de fazer cópias dele para
seu próprio uso pessoal. No entanto, ela não tem o direito de distribuir essas cópias a outras
pessoas sem autorização do proprietário dos direitos autorais.
327

Os direitos autorais protegem o trabalho criativo e intelectual de uma pessoa, garantindo que ela
tenha o controle sobre a distribuição e o uso de suas criações. Quando alguém faz uma cópia
integral de um livro sem autorização, está infringindo esses direitos e prejudicando o proprietário
dos direitos autorais, além de contribuir para um mercado ilegal e injusto.

Embora a intenção da moça possa ter sido boa, ou seja, ajudar o amigo a estudar, é importante
lembrar que a justiça exige o respeito pelos direitos dos outros e a busca de soluções éticas e legais
para os problemas. Portanto, é importante buscar alternativas legais e acessíveis para estudar, em
vez de seguir a ações ilícitas que podem prejudicar outras pessoas e violar a moralidade cristã.

9. O Mal Menor?

Em 1842, um navio atingiu um iceberg e mais de 30 sobreviventes foram apanhados em um bote


salva-vidas que comportava apenas 7 pessoas. Ao se aproximar uma tempestade, ficou óbvio que
algumas pessoas deveriam ser abandonadas para que o bote não afundasse. O capitão
argumentou que a coisa certa a fazer nessa situação era forçar alguns indivíduos a pular no mar e
se afogar. Tal ação, raciocinou ele, não era injusta para aqueles jogados ao mar, pois eles teriam
se afogado de qualquer maneira. Se ele não fizesse nada, no entanto, ele seria responsável pelas
mortes daqueles que ele poderia ter salvado. Algumas pessoas se opuseram à decisão do capitão.
Eles alegaram que, se nada fosse feito e todos morressem como resultado, ninguém seria
responsável por essas mortes. Por outro lado, se o capitão tentasse salvar alguns, só poderia fazê-
lo matando outros e suas mortes seriam de sua responsabilidade; isso seria pior do que não fazer
nada e deixar todos morrerem. O capitão rejeitou esse raciocínio. Como a única possibilidade de
resgate exigia grandes esforços de remo, o capitão decidiu que os mais fracos teriam que ser
sacrificados. Nessa situação, seria absurdo, pensou ele, decidir por sorteio quem deveria ser
jogado ao mar. Como se viu, depois de dias de remo duro, os sobreviventes foram resgatados e o
capitão foi julgado por sua ação. Ele cometeu algum pecado?

Essa é uma situação muito complexa e não há uma resposta simples para ela. Do ponto de vista
moral, é sempre errado matar pessoas inocentes. No entanto, em uma emergência como essa,
onde a vida de todos está em risco, o capitão pode ter acreditado que tomar uma ação extrema era
necessária para salvar o maior número possível de vidas.

Alguns podem argumentar que o capitão deveria ter esperado até que um resgate chegasse e que
tentasse salvar apenas alguns indivíduos era injusto. Outros podem argumentar que, dada a
situação, o capitão tomou a decisão correta ao sacrificar alguns para salvar alguns, já que todos
morreriam.

No fim, é difícil julgar as ações do capitão sem estar presente na situação, e as consequências de
sua decisão só podem ser avaliadas em retrospectiva. Se o capitão desse sua vida, esta seria uma
escolha nobre e altruísta, porém, não podemos afirmar que é a única escolha moralmente correta
nessa situação. Alguns podem argumentar que essa escolha seria ainda mais trágica, pois deixaria
a família dele sem seu provedor e poderia trazer consequências negativas a longo prazo. Além
disso, essa escolha pode não ter sido prática ou possível naquele momento.

Em resumo, não há uma única resposta correta para essa situação e é importante lembrar que
qualquer decisão teria consequências morais e éticas. O mais importante é que qualquer decisão
deve ser baseada na tentativa de salvar o maior número possível de vidas, sem perder a própria
salvação, sem preconceito, e respeitando a autoridade e os direitos humanos de todos os
envolvidos.
328

10. Culpemos os Culpados:

No romance “A escolha de Sofia”, de William Styron, uma polonesa, Sophie Zawistowska, é presa
pelos nazistas e enviada para o campo de extermínio de Auschwitz. Ao chegar no campo de
concentração, por não ser judia, é premiada com uma escolha: Sofia pode escolher um de seus
filhos para ser poupado da câmara de gás. O outro deve morrer. Em uma agonia de indecisão,
quando vê as duas crianças sendo levadas para a morte, Sofia pede para que deixem seu filho
mais velho viver e levem sua filha mais jovem. Sua decisão é motivada pelo fato de pensar que seu
filho terá mais chance de sobreviver, por ser mais velho e forte. No fim, ela acaba se afastando do
filho e nunca mais o vê. Ela fez a coisa certa? Anos depois, assombrada pela culpa de ter escolhido
entre seus filhos, Sofia comete suicídio. Ela deveria ter se sentido culpada?

Essa é uma situação extremamente difícil e trágica, e não há uma resposta fácil para essa pergunta.
Em termos éticos, não podemos julgar as escolhas de Sofia de forma simplesmente binária como
certas ou erradas, pois ela foi forçada a fazer uma escolha impossível e insuportável.

No entanto, podemos questionar a lógica da escolha que foi imposta a ela pelos nazistas. O fato
de ela ter que escolher entre seus filhos é uma violação terrível de seus direitos e um ato de
crueldade sem precedentes. Além disso, é importante lembrar que, independentemente da escolha
de Sofia, isso não justificaria o assassinato de uma criança inocente pelo Estado nazista.

Em relação à culpa e ao suicídio de Sofia, novamente é difícil julgar seus sentimentos e decisões,
considerando a dor e o trauma que ela sofreu. É possível que ela tenha sido atormentada pelo
sentimento de ter que escolher entre seus filhos e que isso tenha contribuído para sua decisão de
tirar a própria vida. No entanto, a culpa não pode ser atribuída a ela, mas sim ao sistema que a
obrigou a tomar essa decisão impossível e ao regime nazista que cometeu atrocidades impensáveis
contra milhões de pessoas.

11. O Mal com Mal:

Um terrorista que ameaçou explodir várias bombas em regiões populosas foi preso. Infelizmente,
ele já plantou as bombas e elas estão programadas para explodir em pouco tempo. É possível que
centenas de pessoas morram. As autoridades não conseguem fazê-lo divulgar a localização das
bombas por métodos convencionais. Ele se recusa a dizer qualquer coisa e pede a um advogado
que proteja seu direito de manter silêncio e não dizer nada que o incrimine. Desesperado, um dos
chefes de polícia sugere a tortura. Isso seria ilegal, é claro, mas o funcionário acha que, no entanto,
é a coisa certa a se fazer nessa situação desesperadora. Neste caso a tortura seria um pecado?

Não é moralmente justificável usar a tortura, mesmo em situações extremas, como essa. O uso da
tortura é uma violação dos direitos humanos fundamentais e é considerado ilegal em muitos países,
incluindo o Brasil. A tortura não é apenas um método ineficaz de obter informações, mas também
pode levar a informações imprecisas e uma série de outros problemas, como traumas físicos e
psicológicos duradouros para uma pessoa torturada e para quem tortura.

Além disso, a tortura vai contra os valores cristãos de compaixão, amor e respeito pela humanidade.
A Igreja é contra o uso da tortura em qualquer circunstância e considera a prática um pecado grave.

Em vez disso, as autoridades devem buscar meios legais e éticos para obter informações e impedir
a explosão das bombas. Isso pode incluir o uso de técnicas de negociação, como oferecer
incentivos ou garantias de segurança ao terrorista na troca de informações. Também pode envolver
a cooperação internacional com outros países e a utilização de equipamentos de detecção
avançada para localizar as bombas.
329

12. Amizade ou Fidelidade?

Um executivo tem a responsabilidade de preencher uma vaga de trabalho em sua empresa. Seu
amigo se candidatou e está qualificado, porém, uma outra pessoa parece ainda mais qualificada.
O executivo quer dar o trabalho ao amigo, mas ele se sente culpado, acreditando que deveria ser
imparcial. Essa é a essência da moralidade, ele inicialmente diz a si mesmo. Essa crença é, no
entanto, rejeitada, pois o executivo resolve que a amizade tem uma importância moral que
permite, e talvez até requeira, parcialidade em algumas circunstâncias. Então ele dá o trabalho
para o seu amigo. Ele fez a coisa certa?

Essa é uma situação delicada, pois a decisão do executivo pode ter consequências tanto para a
empresa quanto para as pessoas envolvidas. Em primeiro lugar, é importante considerar se a
escolha do amigo séria prejudicial para a empresa. Se o amigo for tão qualificado quanto o outro
candidato, então a escolha pode ser justificada com base em considerações de amizade. No
entanto, se o amigo não for tão qualificado quanto ao outro candidato, então a escolha pode ser
prejudicial para a empresa e, nesse caso, seria difícil justificar a escolha baseada em amizade.

Por outro lado, a amizade é uma relação importante que pode influenciar nossas decisões. No
entanto, é preciso tomar cuidado para não deixar a amizade prejudicar o julgamento e as escolhas
que devem ser motivadas em critérios objetivos, como qualificação, experiência e desempenho.

Em última análise, a decisão do executivo deve levar em conta o bem-estar da empresa e dos
funcionários, bem como as relações pessoais envolvidas. Se a escolha do amigo for a melhor opção
para a empresa e para a equipe, e se a decisão foi tomada de forma transparente e justa, então
pode ser considerada uma decisão moralmente correta. No entanto, se a escolha do amigo for
prejudicial para a empresa e se a decisão foi tomada de forma arbitrária ou injusta, então seria uma
decisão moralmente questionável. A Igreja não tem uma posição específica sobre essa situação,
mas muitas vezes enfatiza a importância da justiça e da imparcialidade nas decisões éticas.

13. A Escolha Divina:

Você vê um trem desgovernado movendo-se em direção à sua esposa e filho que se encontram
amarrados nos trilhos (ou incapacitadas de qualquer outra maneira). Caso nada seja feito, eles
serão mortos pelo trem. Mas você está de pé ao lado de uma alavanca que controla um
interruptor. Se você puxar a alavanca, o trem será redirecionado para uma pista lateral e sua
esposa e filho serão salvos. No entanto, na pista lateral também há um abismo que fará perecer
todas as pessoas do trem, qual é a melhor decisão?

Esta é uma situação muito difícil e angustiante, e não há uma resposta fácil. É um dilema ético que
coloca em conflito dois valores importantes: salvar a vida de sua família ou salvar a vida de outras
pessoas desconhecidas.

Se você puxar a alavanca para salvar sua família, você escolherá salvar vidas que são importantes
para você, mas ao mesmo tempo, causará a morte de outras pessoas que você não conhece.
Por outro lado, se você não puxar a alavanca e deixar o trem seguir seu curso, você permitirá que
outras pessoas morram para salvar sua família, o que pode ser visto como egoísta e imoral por
alguns.

A decisão de que você tomará dependerá de suas próprias crenças e valores. Algumas pessoas
podem acreditar que é sempre certo salvar a vida de seus entes queridos, enquanto outras podem
acreditar que a vida de todas as pessoas é igualmente valiosa e, portanto, optariam por não puxar
a alavanca.
330

No entanto, deve-se notar que, em muitas jurisdições, há uma obrigação legal de tomar medidas
razoáveis para prevenir a morte de outras pessoas, mesmo que isso envolva algum risco para si
mesmo ou possa para aqueles próximos a você. Portanto, a decisão que você tomar também pode
depender das disposições legais de suas ações.

14. Testemunho ou Fofoca:

Um amigo lhe conta um segredo e pede que você prometa não contar a ninguém. Você dá sua
palavra. Ele conta que atropelou um pedestre e, por isso, vai se refugiar na casa de uma prima.
Quando a polícia o procura querendo saber do amigo, o que você faz? Conta à polícia ou não?

Esse é um dilema moral complexo, que envolve questões de lealdade, confiança e justiça. Em
geral, manter uma promessa de confidencialidade é considerada moralmente correta, já que isso
envolve manter a privacidade e a autonomia do outro. Por outro lado, quando há riscos graves para
a vida ou a segurança de outras pessoas, a questão se torna mais complicada.

Nesse caso específico, considerando que uma pessoa foi atropelada e a polícia está procurando o
responsável, há um risco potencial para outras pessoas, caso o motorista esteja dirigindo
novamente. Portanto, pode ser justificável quebrar a promessa de confidencialidade e informar a
polícia sobre o paradeiro do amigo, visando proteger a segurança da sociedade.

No entanto, antes de tomar qualquer atitude, é importante considerar as possíveis consequências


da decisão. É importante avaliar se existem outras opções, como aconselhar o amigo a se entregar
à polícia e assumir a responsabilidade pelo acidente, por exemplo.

Quanto à posição da Igreja ela prega a importância da honestidade e da justiça, mas também
respeita a privacidade e a confidencialidade, no entanto, a Doutrina da Igreja não é
necessariamente aplicável a todas as situações e pode variar de acordo com a interpretação dos
indivíduos e líderes religiosos, por isso a importância do Diretor Espiritual.

15. A Santa Escolha:

Uma mulher está grávida, porém, foi diagnosticada com uma condição que pode levá-la a morte
caso a gestação continue, se ela optar em continuar a gestação, ou se ela decidir abortar, qual é o
posicionamento da Igreja?

A Igreja Católica é contra o aborto em qualquer circunstância, mesmo em casos de risco de vida
para a mãe. A posição da Igreja é que a vida humana deve ser protegida desde a concepção até a
morte natural, e que o aborto é considerado um pecado grave, pois envolve a destruição deliberada
da vida humana. No entanto, a Igreja também ensina que a vida da mãe é sagrada e deve ser
protegida. Em casos de risco de vida para a mãe, a Igreja permite que sejam tomadas medidas
médicas para salvar a vida dela, mesmo que isso possa resultar, por acidente, na morte do feto.
Isso é conhecido como "princípio do duplo efeito". Em resumo, a Igreja Católica não permite o
aborto, mesmo em casos de risco de vida para a mãe, mas permite ações médicas que possam
salvar a vida da mãe, mesmo que isso resulte na morte indesejada do feto.
331

14º. PARTE: HISTÓRIA DA IGREJA


A Igreja tem uma história extremamente importante para compreender não apenas a situação atual,
como para evitar erros futuros, e faz parte até da evangelização, pois, uma vez que sabemos que
a Igreja é o Corpo de Cristo, e o próprio Cristo ativo e ressuscitado no meio de nós, conhecer esta
história, é conhecer a ação de Nosso Senhor após os eventos narrados pelas Sagradas escrituras.

Porém, são tantas riquezas de detalhes e tantas surpresas, que poderá nos causar espanto que
esta bela história, nunca tenha sido contada como deve, nem pelos filmes e pelas mídias e nem
mesmo pela própria Igreja, que se ocupa sempre com a Salvação. Mas houve ao longo do tempo,
um esforço permanente de alguns grande autores que registraram esta história, história esta que
não temos condição de abarcar nesta obra, mas pretendemos trazer à luz, aquilo que é tido como
mais importante, em termos de identidade católica, e mais controvérsia em termos de
desinformação e mentiras sobre a Igreja.

PRELIMINARES (A PROPAGANDA ANTI-CATÓLICA):

As pessoas não conhecem a Igreja, elas conhecem um espantalho chamado Igreja Católica
Apostólica Romana. O que temos nos filmes, nas novelas, nas mídias, nos podcasts, nas lives, nos
canais alternativos e por toda esta imensidão de meios de comunicação, é apenas uma caricatura,
um boneco de gesso construído pelos que odeiam a Igreja, para explicar o que é a Igreja. Então,
os inimigos da Igreja, como não podem vencê-la, criam imagens da Igreja, para a destruírem, e
assim, se vangloriarem de terem destruído a Igreja. Fato é que, passam os inimigos da Igreja e
suas mentiras caricaturais da Igreja, e permanece a única e verdadeira Igreja de Cristo.

A Igreja não tem poder, se não sobre os corações, ela não faz parte da elite dominante, ela é
tolerada pelo apoio financeiro que recebe dos fiéis, pela providência Divina que age nos Papas e
líderes da Igreja, que de forma política garantiu a soberania do Vaticano, e o apoio demográfico de
milhares de milhões de católicos pelo mundo e pela história.

A Igreja é Cristo, Cristo é Deus, a Igreja é Deus.

Existe um preconceito que foi confeccionado por um grupo de pensadores e ideólogos franceses
autodeclarados iluminados, que sistematicamente começaram a denegrir, manchar e praticar uma
sistemática propaganda mentirosa e uma rede de desinformação desde o século XVIII e XIX, que
perdura até os dias de hoje.

Em 1779, falsos filósofos, foram contratados por banqueiros e pela própria nobreza, a elite
burguesa, para criar um movimento ideológico, para derrubar a monarquia, e estes entenderam,
que a Igreja, era uma coluna que colaborava com a monarquia, para derrubar a monarquia, era
preciso derrubar a Igreja. Assim, ideólogos medíocres, com técnicas de divulgação eficazes, por
meio de feiras do livro, criadas por Christoph Friederich Nicolai (ϯ 1811), montaram o movimento
cultural que culminou na Revolução Francesa. Nicolai, fez um direcionamento dos livros que eram
impressos e divulgados nas feiras dos livros, e bastavam ser livros contrários à Igreja que os
autores e seus livros eram divulgados com notoriedade, e assim, a população e até a academia foi
sendo manipulada para desacreditar a Igreja.

A classificação histórica nesta época, era classificada em “História Antiga”, a “Cristandade” e a


“História Moderna”, porém, os textos começaram a chamar o período da cristandade, de “Idade
Média”, “Era das Trevas”, e assim por diante. Para citar um nome, temos Régine Pernoud,
historiadora medievalista, arquivista e paleontóloga francesa (ϯ 1998), que demonstra que a dita
“Idade Média”, a era “medieval” foi o período de maior desenvolvimento humano da história da
humanidade, e ela conta a história da Mulher, pois a Igreja deu às mulheres o status de igualdade
332

em dignidade, assim, o culto à uma mulher, a Virgem Maria torna-se o modelo de veneração, e
surge a figura da rainha, que era coroada com o rei, a mulher passou a ser protegida pela moda, e
por uma série de dispositivos culturais, criados naturalmente pela cultura católica.

Então, veio o iluminismo, que na verdade, promoveu o retrocesso à visão bárbara da mulher e da
sociedade, promoveu-se o retorno ao escravagismo, ao retorno ao relacionamento do Homem e da
Mulher como inimigos e não como parceiros, a mulher relegada apenas à exploração do seu
trabalho e de suas necessidades. Lembremos que foi já em 1911 que houve o incêndio na fábrica
têxtil que deu origem ao 8 de Março como Dia Internacional da Mulher. Não é um evento medieval.

A CONVERSÃO DE SAULO:

A conversão de São Paulo, é de importante análise, pois Saulo viu que Jesus era aclamado como
Deus, pois é impossível, na mentalidade de Saulo, e nos dias de hoje, que Deus se faça homem,
e que um homem se diga ser Deus, e não seja um paciente psiquiátrico. E com zelo por Deus, ele
perseguia a Igreja, pois aqueles homens eram loucos e fanáticos que seguiam um homem que
disse ser Deus, ora, ou este homem é louco, ou é Deus. Então, Jesus lhe aparece, e esta aparição,
modifica tudo.

A convicção de São Paulo, é tão grande e tão profunda, que ele passa, de um momento para o
outro, de perseguidor a principal pregador e evangelizador. E o interessante, é que Saulo perseguia
homens e mulheres que ele considerava loucos, mas quando Jesus lhe aparece, ele se identifica
como sendo estes homens e mulheres a quem Saulo perseguia, e pergunta:

“Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”
(At 9,4)

Aqueles que nos perseguem, de fato, estão perseguindo a Nosso Senhor, pois a Igreja é uma
continuidade da encarnação de Jesus, ela é a própria presença de Cristo, e se você não
compreender e aceitar a grandiosidade deste mistério, toda a história da Igreja, não terá nenhum
sentido para você, pois você terminará compreendendo a história da Igreja, como a compreendem
os pagãos, que a Igreja é uma invenção humana que se perpetua no poder pela safadeza de seus
membros e pelo poder intelectual que conquistou, poder militar no início, e político-financeiro
depois. Assim como sem a fé, você não consegue perceber que a Eucaristia é o Corpo, Sangue,
Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, também sem fé, você não irá compreender o que
(Quem) é a Igreja e sua história.

Para montarem suas caricaturas de Igreja, procura-se apresentar a história de Judas, a história dos
que passaram pela Igreja, mas não permaneceram nela. O sofisma ou fetiche historiográfico
consiste em trazer a baila, a história daqueles que justamente não permaneceram sendo Igreja,
para contar a história da Igreja.

Para compreender a História da Igreja, não adianta procurar conhecer a história dos que foram
infiéis à Igreja, é preciso conhecer a história dos santos, e a história do que foi a intensão e a ação
da própria Igreja ao longo da história. A vida dos santos, é o núcleo principal da história da Igreja,
por isso, dedique-se em conhecer e divulgar sempre mais a vida dos santos.

O IMPÉRIO ROMANO:

O Império Romano, foi ao mesmo tempo, uma bênção e uma maldição para a Igreja. Foi benção,
porque por causa do Helenismo (a mistura da cultura grega com a cultura oriental), promovido por
Alexandre (o Grande), permitiu a coexistência de várias religiões, e o judaísmo sendo uma delas.
Quando os Romanos conquistaram a Grécia, militarmente, viram que a cultura helênica era muito
333

superior, então, aderiram e foram conquistados pela cultura grega, e floresceu no seio do império,
o helenismo, e com ele, o próprio cristianismo. Que num caldo de centenas de religiões pagãs,
aparece como a religião de um Deus que se fez homem, pelo qual homens e mulheres preferiam
morrer, ao renunciar a esta fé, algo sem precedentes na história.

De fato, homens e mulheres darem suas vidas pelas terras, pelos países, pelos reis, isso sempre
existiu, mas darem a vida pelos seus deuses, isso é uma novidade, pois o fenômeno do helenismo,
foi justamente o que permitiu que o cristianismo entrasse no império, mas o cristianismo rejeitava
ser visto como uma das muitas religiões, ele arrogava para si o conceito de Verdade. O judaísmo
tinha esta tendência, vez ou outra surgiam os mártires judeus, como os Macabeus, mas infelizmente
a história de Israel é marcada pela infidelidade do seu povo. Já com os cristãos não, a fidelidade
destes homens e mulheres que eram perseguidos por seus compatriotas, era algo que marcou o
império Romano.

Se não fosse o contexto do helenismo e do Império Romano, a divulgação do Evangelho, não teria
sido tão rápido e tão forte quando foi. Jesus nasceu no tempo de Otaviano Augusto (ϯ 14), o primeiro
Imperador Romano, que herdou o nome do seu antecessor (seu tio) “César”, e incluiu um sufixo
“Augusto”, que reinou por mais de 40 anos, e conquistou a “Pax Romana”, um período muito grande
que o Império se manteve sem guerras, e assim, ressurge o “culto ao imperador” como sendo
divino.

A providência Divina, quis que no tempo em que os anjos de Deus, proclamam o Hosana nas
alturas, pelo nascimento de Nosso Senhor, o Império Romano, alcança uma paz, uma civilização,
um período que, por meio da empreitada militar, conseguiu-se a unificação de toda a Europa e se
havia guerra nas periferias do império, no centro do Império, a paz reinava, o direito romano
imperava, que foi o primeiro direito positivo, que garantiu um crescimento demográfico, econômico
e cultural. O império se comparado com as repúblicas que lhe sucederam, era uma barbárie, porém,
comparado ao que havia antes, era um verdadeiro “Up Grade” que perdurou por séculos, tendo um
período áureo, de mais de 800 anos.

PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS:

Por causa da pregação de São Paulo, o cristianismo que já não era bem-visto pelos judeus, torna-
se um verdadeiro incômodo para os judeus, pois São Paulo é um fenômeno logístico, o homem era
incansável e imparável. O Livro de Atos dos Apóstolos, descreve inúmeras tentativa de assassinato,
prisões, tragédias, calamidades e acidentes que São Paulo foi submetido, e que não morreu. São
Paulo foi um verdadeiro estorvo para os Judeus depois de sua conversão, e por isso, saiu da
Judeia, e terminou sendo o maior Evangelizador da História.

Assim, os judeus deram início à perseguição dos cristãos, e é interessante, pois o último dos
profetas, São João Batista, que é assassinado pelo Rei Herodes, anuncia a vinda do Senhor, e
todos os que seguem o Senhor, são os que deram ouvidos a São João Batista, notamos então, a
herança profética da Igreja, pois os profetas, foram assassinados pelos reis de Israel ao longo da
história, do mesmo modo como João e depois dele, o próprio Senhor.

Ainda na Era Apostólica, a perseguição dos Judeus aos cristãos, que do ponto de vista histórico,
não teve grande importância, foi a precursão para a maior perseguição, realizada pelo estado
romano aos cristãos. Inicialmente foi Nero (ϯ68), que atribuiu ao incêndio de Roma, aos cristãos,
que foram tomados como “bodes expiatórios” para dissimular e disfarçar a má fama do imperador.
Assim Nero, conseguiu o que muitos não conseguiram, que foi a morte de São Pedro e de São
Paulo, no próprio circo de Nero, que ficava próximo a uma colina chamada de Vaticano, onde havia
uma necrópole, um cemitério, onde foram enterrados São Pedro e São Paulo.
334

A desculpa de perseguição, que durou até o ano 313, era de que os cristãos eram ateus, não
prestavam culto divino ao imperador, que era muito venerado por ter alcançado a “Pax Romana”,
sendo assim, eram mau vistos pelos povos, como ingratos e desordeiros, e muitas mentiras foram
inventadas contra os cristãos, sendo uma delas, a mais famosa, a de que eram antropófagos, e
que se alimentavam dos mortos, pois ensinavam a comer a carne de Jesus, que havia morrido e
por medo da perseguição e por devoção aos mortos, rezavam nas catacumbas.

É importante ressaltar que os cristãos, foram perseguidos por pressão das religiões pagãs
existentes no Império Romano, temos dados históricos que demonstram que, antes de uma
batalha, o Imperador do Ocidente, Galério Maximiano (ϯ311), foi consultar os sacerdotes pagãos a
respeito de uma batalha, se ele seria próspero ou não, os arúspices, que sacrificavam animais e
viam o futuro nas vísceras dos animais, disseram não conseguir fazer suas previsões, por que os
soldados cristãos presentes no momento do ritual, fizeram o sinal da cruz, e isso teria impedido o
imperador de conhecer o futuro de sua empreitada militar.

Outro episódio é onde Diocleciano (ϯ311), que vai procurar o oráculo de Apolo, e o oráculo informa
não ser mais capaz de prever o futuro ou de dar alguma orientação, pois existem homens dentro
do império que impediam espiritualmente a realização de previsões, estes homens eram os bispos
católicos. Assim, eventos como estes, se multiplicavam pelo Império, em maior ou menor patente
da esfera social. Uma das primeiras coisas, é que os imperadores exigiram que os oficiais cristãos,
fizessem sacrifícios e prestassem culto aos deuses, então começaram a surgir os primeiros
Mártires como São Sebastião (ϯ288), Santo Expedito (ϯ303), e São Jorge (ϯ303), que rasgou o edito
que ordenava o sacrifício ao Imperador.

Deste modo, a perseguição tinha uma base estatal, em que o estado perseguia os líderes cristãos
e os executavam nos circos e no coliseu para deleite do povo. Os cristãos eram difamados, e o
próprio povo, promovia linchamentos populares aos cristãos por qualquer coisa.

Por volta do ano 300, a perseguição aos cristãos dentro do Império Romano ganhou uma proporção
e um rigor tão terrível, que os castigos eram verdadeiras torturas, com estupros coletivos,
amputações de partes do corpo, cozimento vivo em óleo fervente, chumbo derretido em partes
sensíveis do corpo, alfinetes sob as unhas, a crueldade chegou a tanto, que as conversões
diminuíram drasticamente e se não fosse a intervenção Divina e a conversão do próprio Imperador,
Constantino, por meio de sua mãe católica, Santa Helena, a Igreja poderia ter sido dizimada, o
número de Mártires, é bastante variável, pois temos conhecimento de pouco mais de 1000 mártires,
mas estima-se que tenham sido 25 mil, nestes primeiros 300 anos de cristianismo.

O apocalipse narra esta primeira história de perseguição e de martírio, aponta as duas bestas que
eram o poder estatal e a religião pagã de culto ao imperador, que ao longo da história assumiram
várias faces e ainda existem hoje, com a tentativa de unificar as religiões em uma só, elegendo um
poder político, econômico e militar centralizado em um único governo global, que vemos lentamente
preparar uma nova era de perseguição e de tentativa de varrer da face da terra a Igreja e os cristãos.

CONSTANTINO:

O Imperador Diocleciano (ϯ311), divide o Império em dois, por causa do tamanho do território,
reinando sobre a parte Oriental do Império (mais rica e mais próspera) residindo na Turquia,
delegando Galério Maximiano (ϯ311) como imperador do Ocidente, este residindo em Milão. Cada
um dos dois, nomearam dois subprocuradores, que receberam títulos comparáveis ao do
imperador, mas eram na verdade generais estrategistas que procuravam cobrir o território do
Império por jurisdições, um destes generais do oriente, é Constâncio Cloro (ϯ306), pai de
Constantino (ϯ337).
335

Constantino, marcha contra a parte ocidental do império, pretendendo unificá-lo novamente sob um
único imperador, que é ele mesmo. Assim com um exército de mais de 400 mil soldados, invade
Roma e se proclama Imperador. Porém, um evento importante acontece antes, que é a visão de
Constantino. Ele era um seguidor do “deus sol” e ao meio-dia, ele olha para o Sol, e ao invés de
ver o Sol, vê a Cruz e ouve: “Neste sinal vencerás”. Mas não se passam alguns dias, ele tem um
sonho em que Nosso Senhor, lhe aparece, e assim Constantino assume o monograma de Cristo,
como suas insígnias de imperador, que é um “PX”, que são as duas iniciais do nome “Cristo” em
grego “CR”.

Em 28 de Outubro de 312, após a Batalha da Ponte Mílvia, Constantino sai vencedor, e isso
significa uma virada na história da Igreja, pois além de novo Imperador, ele se torna catecúmeno,
e passa a viver a religião católica. Por questões políticas, Constantino mesmo convertido, aceita os
ritos pagãos de proclamação como imperador, num movimento político que pretendeu agradar os
pagãos sem renunciar ao cristianismo.

Havia uma prática comum no início da Igreja que perdura por muitos séculos, que era o adiamento
do batismo. Muitos adiavam o batismo, por que, na prática, os que se batizavam, e que caiam em
pecado, lembremos que a Igreja não tinha ainda catecismos, códigos de moral, ela tinha, com muito
custo os textos bíblicos, então, quem pecava, devia, como hoje se confessar, mas as penitências,
eram verdadeiras punições, em que o sujeito deveria passar 20 anos servindo como escravo, ou
vestindo-se de saco até o final da vida para reparar seus pecados. Assim, o próprio imperador, uma
vez convertido, adia seu batizado, e só será batizado nas vésperas de sua morte, como era um
costume da época.

Mas uma sequência de cartas escritas por Constantino, de Milão, concedendo aos cristãos,
igualdade de direitos. Não foi Constantino que tornou o Cristianismo a Religião oficial do Império,
mas ele concedeu o cessar da perseguição que quase extinguiu o cristianismo. Há muitas críticas
por parte do protestantismo à conversão de Constantino, porém, não sabemos o que poderia ter
sido da Igreja e do cristianismo se Constantino não tivesse se convertido.

HERESIAS:

Com diminuição da perseguição, muitas conversões aconteceram, muitas conversões, não eram
verdadeiras, mas por conveniência, e assim, começa a surgir no seio da Igreja as heresias. O que
é uma heresia? Do termo “haíresis”, que é a palavra “escolha/opção” em grego, deriva, heresia,
que é a escolha de uma parte da revelação, em detrimento de outra parte. Um herege, abre mão,
de uma verdade, para assumir outra verdade, sem tentar conciliar as duas partes de uma mesma
verdade, ou de um mesmo mistério, em uma verdade maior e mais complexa. Optando pelo
caminho mais óbvio, mais rápido e mais fácil de se compreender do mistério. A pessoa não se
aprofunda, e por isso, pode perder sua salvação, pois uma meia verdade, não é a verdade plena,
nada mais é do que uma mentira.

Uma vez que a perseguição à Igreja cessou oficialmente no Império, surgiram então, as questões
importantes à fé católica, que não foi sendo “revelada” mas confirmada ao longo dos séculos pela
própria Igreja, por meio de condenações em sínodos, concílios e pronunciamento “Ex Cathedra”
pelos papas. Agora, que a perseguição física diminuiu (pois ela nunca cessou) a perseguição é
intelectual e espiritual, assim temos as principais heresias que a Igreja combateu e combate:

I. Gnosticismo (século I - II) Até os dias de hoje:

Um conjunto de crenças que misturam elementos do cristianismo com doutrinas pagãs e filosofias
orientais. Consideravam-se detentores de um conhecimento superior e secreto (gnose) que
permitia a salvação. Destacaram-se entre os primeiros gnósticos Valentim e Basílides.
336

O gnosticismo atual, tem muitos ramos, são as chamadas sociedades secretas, seitas e
ideologias cristãs, que dizem possuir um conhecimento superior e oculto aos menos
espirituais; as religiões espiritualistas como o espiritismo que não é secreto, mas diz possuir
um conhecimento superior que promove a evolução espiritual dos indivíduos; ou ainda o
ocultismo propriamente dito, onde os membros consideram-se bruxos e magos, herdeiros
de um poder oculto à maioria, revelado apenas aos indivíduos mais exemplares e notáveis
da sociedade.

Não é preciso ir muito fundo para ver a armadilha as gnoses, que começam com uma
massagem no ego da pessoa, pois ela é um médium, um grão-mestre, um mago iluminado,
uma pessoa detentora de uma particularidade especial, e por isso é chamada a ser parte de
um “seleto” grupo de pessoas que se acham melhores do que as outras, é a velha soberba,
orgulho e vanglória travestida de ideologia religiosa.

II. Docetismo (século I):

Doutrina que afirmava que Jesus Cristo não tinha um corpo físico real, mas apenas uma aparência
ou ilusão. Foi considerada uma heresia pelos primeiros cristãos, tendo sido combatida pelos
próprios apóstolos, podemos ver nos trechos dos Evangelhos e das Cartas, os hagiógrafos
afirmando que Jesus Ressuscitou em Corpo e Alma e não se tratava de um fantasma.

III. Montanismo (século II):

Movimento profético que pregava a volta iminente de Jesus Cristo e uma nova era de revelação
divina. Foi criticado pela ortodoxia por seu entusiasmo excessivo e suas profecias não falharam.
Ainda dentro desta heresia, há o milenarismo que definia e ainda define uma data para o retorno
de Nosso Senhor, o que é completamente descartado pela Igreja.

IV. Apatheia (século IV):

Doutrina que defende a indiferença emocional como um caminho para a união com Deus. A palavra
"apatheia" vem do grego e significa "ausência de paixão", assim, seria o caminho para a união com
Deus passando pela indiferença emocional e pela renúncia aos prazeres mundanos, negando os
próprios sentimentos e condenando-os.

Os defensores dessa doutrina acreditavam que as emoções humanas, como o amor, o ódio, o
medo e a tristeza, eram uma fonte de sofrimento e afastamento de Deus. Por isso, propunham a
prática da ascese, ou seja, a disciplina da vontade para controlar as emoções e alcançar um estado
de tranquilidade interior. Tais exercícios por vezes eram extremamente severos, como amputações
de membros e até o suicídio indireto.

Porém, a doutrina da apatheia foi alvo de críticas por parte de outros teólogos e filósofos, que
argumentavam que ela poderia levar à insensibilidade e à indiferença diante do sofrimento alheio.
Além disso, questionavam se era possível alcançar um estado de indiferença emocional sem negar
a própria natureza humana. Ao longo dos séculos, a doutrina da apatheia foi sendo reinterpretada
e adaptada por diversos pensadores cristãos, influenciando correntes como o estoicismo, o
neoplatonismo e o monaquismo.

V. Arianismo (século IV):

Doutrina que negava a Divindade específica de Jesus Cristo, considerando-o um ser criado e
subordinado a Deus Pai. Foi liderada pelo bispo Ário e gerou uma grande controvérsia no Império
337

Romano. Foi condenado pelo Concílio de Niceia em 325, mas perdurou por longo tempo mesmo
após a condenação.

VI. Nestorianismo (século V):

Nestório, Patriarca de Constantinopla (428-431), desenvolveu a doutrina que afirmava a existência


de duas pessoas distintas em Jesus Cristo (uma divina e outra humana), em vez de uma única
pessoa divino-humana. Foi condenada como heresia no Concílio de Éfeso em 431.

VII. Monofisismo (século V):

Êutiques foi um monge de Constantinopla que para combater o Nestorianismo, criou a doutrina que
negava a existência de duas naturezas em Jesus Cristo (divina e humana), afirmando que ele tinha
apenas uma natureza divina. Foi condenada como heresia no Concílio de Calcedônia em 451.

VIII. Pelagianismo (século V):

Doutrina que negava a necessidade da Graça Divina para a salvação e afirmava que a vontade
humana era capaz de alcançar a perfeição moral. É pelagiana a Teologia da Libertação de cunho
marxista, pois alega que haverá um dia uma sociedade perfeita e que o ser humano é capaz de ser
bom, e que não existe o pecado, por isso não há necessidade da Graça e dos Sacramentos. Foi
condenada como heresia pelos Concílios de Cartago em 418 e de Éfeso em 431.

IX. Iconoclastia (século VIII - IX):

Foi um movimento que se opõe ao uso de imagens sagradas na Igreja, considerando-as uma forma
de idolatria. Foi liderado pelo imperador bizantino Leão III, gerou muita tensão com o papado. Foi
condenado pelos Concílios de Niceia II em 787 e de Constantinopla IV em 843. A iconografia cristã,
não é objeto de adoração, mas de evangelização pedagógica, educação e veneração.

X. Predestinação (século V - XVI):

Doutrina que afirmava que Deus predestinava alguns indivíduos à salvação e outros à perdição,
independentemente de suas escolhas e ações. Já no século V, o episcopado da Gália condenava
sentenças que afirmavam ser Deus o autor da condenação eterna por predestinação. Na verdade,
a predestinação é uma justificativa para os que não querem se converter e uma arrogância para os
que se acham santos.

XI. Filioque (século IX - XI):

Disputa sobre a inclusão da palavra "filioque" (e do Filho) no Credo Niceno-Constantinopolitano,


referindo-se ao Espírito Santo como procedente tanto do Pai quanto do Filho. Foi uma das principais
divergências teológicas entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas, foi causa embrionária para
o Grande Cisma do Oriente em 1054.

XII. O Grande Cisma do Oriente de 1054:

Foi uma ruptura que ocorreu entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas no século XI, marcando
o início da divisão entre o cristianismo ocidental e oriental.

As diferenças teológicas e culturais entre as duas metades da Igreja foram se acentuando ao longo
dos séculos, e a principal causa do Cisma foi a divergência em relação ao poder do papa e à sua
autoridade universal sobre toda a Igreja. Enquanto os católicos acreditavam que o papa tinha a
338

primazia sobre todos os bispos e era o representante de Cristo na Terra, os ortodoxos defendiam
que a autoridade máxima era o concílio ecumênico, o qual era presidido pelos imperadores, e pelos
representantes de todas as igrejas.

Além disso, havia outras questões em disputa, como o uso de pão sem fermento na Eucaristia
pelos ortodoxos, a inclusão do Filioque na oração do Credo pelos católicos e a veneração de ícones
pelos ortodoxos. Essas diferenças foram se acumulando ao longo do tempo, e em 1054, o papa
Leão IX e o patriarca Miguel I de Constantinopla se excomungaram mutuamente, oficializando a
separação.

O Patriarca Miguel I, não teve sua nomeação e ordenação episcopal dentro dos ritos pré-
estabelecidos da época, tendo o patriarca católico sido deposto pelo imperador, e apressadamente
nomeado o sobrinho de um de seus principais conselheiros como Bispo de Constantinopla.

Esta decisão motivou a excomunhão de Miguel I pelo então Papa Leão IX e gerou uma divisão na
Igreja oriental, que permaneceu fiel à Roma, sendo esta vertente da Igreja, duramente perseguida
pelos estados ortodoxos. Com o tempo, a “igreja ortodoxa” fragmentou-se em pequenos
patriarcados nacionalistas com alguma comunhão formal, são ainda detentores da sucessão
apostólica e da legitimidade dos sacramentos, porém, a influência dos estados dentro destas igrejas
é tão grande que há relatos de membros da inteligência militar de governos como a Rússia, que
são membros do auto clero da Igreja Ortodoxa Russa.

O cisma teve importantes consequências para a história do cristianismo, levando à formação de


duas tradições distintas, com diferentes ritos, doutrinas e práticas religiosas. A Igreja Católica
continuou a se expandir no ocidente, enquanto a Igreja Ortodoxa se tornou a principal religião do
leste europeu, dos Bálcãs e da Rússia. A separação entre as duas igrejas foi oficialmente superada
em 1965, com a Declaração Conjunta de Roma, mas ainda há muitas diferenças teológicas e
culturais que separam católicos e ortodoxos.

XIII. Catarismo (século XII - XIII):

Os Cátaros, também conhecidos como albigenses, nascidos no sul da França no século XII
pregavam uma forma de cristianismo dualista, que defendiam a existência de dois princípios
opostos e eternos - um bem e um mal - que governavam o universo. Para os cátaros, o mundo
material era obra do princípio maléfico, e apenas a alma era divina e eterna. Por isso, pregavam o
ascetismo e a renúncia aos prazeres mundanos, além de rejeitarem o batismo, a Eucaristia e a
autoridade da Igreja. Seus principais líderes foram Pierre de Castelnau e Arnaldo Amalrico.

Já os Valdenses, por sua vez, conheceram a região dos Alpes, na atual França e Itália, no século
XII, emocionados por Pedro Valdo. Eles pregavam um retorno à simplicidade do cristianismo
primitivo, com intensidade na pobreza, na vida comunitária e na pregação itinerante. Como os
cátaros, também rejeitaram o batismo, a Eucaristia e a autoridade da Igreja.

Ambos os grupos foram condenados pela Igreja como heréticos em vários concílios realizados nos
séculos XII e XIII, incluindo o Concílio de Verona em 1184 e o Concílio de Latrão em 1215. A Igreja
lançou uma cruzada contra os cátaros no sul da França, conhecida como Cruzada Albigense, que
durou de 1209 a 1229.

A controvérsia dos Cátaros era muito grande, pois eram basicamente padres extremamente
ascéticos, piedosos e radicais. Muitos já haviam se mutilado e exigiam dos novos convertidos, o
mesmo. Como o problema era o “mundo físico e mal” o corpo era o principal alvo da devoção tanto
dos cátaros quanto dos valdenses.
339

O sexo era tomado como um crime punível com a morte, e a gestação uma maldição, como havia
muitos adeptos, a cruzada Albigense foi uma medida necessária, pois a continuidade de uma
doutrina que pregava a castração e assassinava mulheres grávidas, teria dado fim à civilização, a
semelhança com a cultura do politicamente correto hoje em dia, que compara o ser humano aos
vírus e vê a humanidade com um mal a ser extirpado, como vemos, não é uma novidade.

Após a cruzada, a Igreja para evitar os excessos, como o extermínio sumário dos Cátaros e
Valdenses pela própria população, instituiu o processo inquisidor que levou equilíbrio e ordem aos
tribunais populares em que os acusados não tinham direito a defesa ou a um contraditório.
Haveremos de falar sobre a Inquisição e as cruzadas mais tarde.

XIV. Protestantismo (século XVI):

Movimento liderado pelo padre, agostiniano Martinho Lutero, que criticava a corrupção e os
excessos das devoções populares da Igreja, pregando a salvação pela fé em Jesus Cristo e a
autoridade da Bíblia sobre a tradição e o magistério. Divide a Cristandade Ocidental em católicos
e protestantes.

Lutero não era um grande teólogo, mas era muito devoto, e ao perceber que após as confissões,
as pessoas voltavam aos seus pecados, mesmo depois das penitências, e ainda depositavam suas
esperanças no recebimento das indulgências e nas devoções pessoais aos santos, publicou 95
teses, das quais a Igreja rejeitou apenas cinco, que são consideradas as bases do protestantismo,
ou as cinco “solas”:

1. Sola fide (somente a fé):

A salvação vem pela fé e o ser humano não tem participação. Isso se Nosso Senhor Jesus Cristo
não fosse humano;

2. Sola scriptura (somente a Escritura):

Toda revelação se concentra nas Escrituras. Isso se Jesus tivesse escrito alguma coisa;

3. Solus Christus (somente Cristo):

Apenas Cristo é nosso intercessor. Isso se Ele não tivesse instituído a Igreja e dito ser Ele e a Igreja
uma coisa só;

4. Sola gratia (somente a graça):

A Graça é a única capaz de gerar salvação, sem as obras ou participação humana. Isso se Deus
predestinasse as pessoas ao Céu e Inferno independente da vontade das pessoas (Livre Arbítrio);

5. Soli Deo gloria (glória somente a Deus):

Apenas Deus pode ser venerado, amado ou adorado. Isso se amar, venerar e adorar fossem a
mesma coisa.

O protestantismo resgata uma série de heresias antigas, desde o gnosticismo e arianismo até o
monofisismo e nestorianismo ao mesmo tempo que se apresenta como um movimento político que
resultou historicamente no que de pior a sociedade produziu até hoje. Basta olharmos os países
protestantes e vermos hoje, que com raríssimas exceções, o protestantismo tem sido um
verdadeiro flagelo à humanidade: Lutero era alemão, berço do marxismo, do ateísmo militante e do
340

nazismo; Ainda é a origem de todo fundamentalismo bíblico protestante que pode ser verificado
nos curais e rincões do mundo onde reina o obscurantismo e a superstição protestante.

XV. Jansenismo (século XVII - XVIII):

Movimento que defende uma interpretação rigorosa da doutrina da graça divina, enfatizando a
predestinação e a necessidade de uma vida austera e penitente. Foi criticado por seu pessimismo
e sua visão negativa da natureza humana, tem sistematicamente colocando a humanidade como
autora de todos os males, e assumindo uma postura não tão cátara, mas bem próxima disso, se
encaminhando para a redução da população mundial e restrições à vida pelo aborto e a eutanásia.

XVI. Modernismo (século XX):

Movimento intelectual que procurava reconciliar a fé católica com a modernidade e a ciência,


adaptando-a aos novos tempos abrindo mão não apenas das tradições milenares da Igreja, mas
também de partes importantes da Doutrina da Igreja, como a sua fundação por Nosso Senhor Jesus
Cristo. Foi considerado uma ameaça à ortodoxia e foi condenado pelo Papa Pio X em 1907.

INQUISIÇÃO:

Uma vez que Constantino reconhece a Igreja como sendo a Religião Oficial, quase a totalidade do
Império Romano, se tornou católica, do dia para a noite. Isto seria muito bom, se fossem todas
conversões verdadeiras, porém, havia muitos que apenas de diziam ser católicos, mas
continuavam com seus ritos pagãos, com suas devoções às superstições orientais etc...

Ainda não havia a inquisição, mas já havia uma desconfiança dentro da própria Igreja, que tentou
resolver todas as questões com os sínodos e concílios, para combater as heresias, e o Império
Romano, tinha um sistema jurídico muito eficiente, porém, após a queda do Império Romano do
Ocidente em 476 d.C, que marca o início da chamada “Idade Média” que para nós católicos, bem
poderia ser chamada de apogeu de desenvolvimento da Humanidade, caiu o império, mas
permaneceu a Igreja.

Os povos Bárbaros, que viviam além das fronteiras do Império, tiveram acesso ao Evangelho, e
foram efetivamente evangelizados, principalmente pelos mosteiros e os monges. Mas perduraram
as falsas conversões, heresias, ensino de erros e mentiras... E quando uma pessoa começava a
ensinar uma heresia, o tempo de resposta da Igreja era muito demorado, pois não havia mais um
império unido sob a égide de uma legislação, o que havia era uma verdadeira confusão.

Para dar um exemplo, uma vez que os Cátaros começaram a pregar suas heresias, por causa de
sua devoção e piedade, o povo logo aderiu às ideias, e foi-se verificando, que eram ideias
impraticáveis, e tanto os cátaros quanto os valdenses, obrigavam com violência as pessoas viverem
sob suas regras. O próprio povo começou a perseguir e matar os Cátaros e sem processo algum,
em uma carnificina de vinganças. Muitas injustiças eram cometidas. Pessoas acusadas
injustamente de serem Cátaros porque tinha uma devoção semelhante e assim por diante. Então,
temos a Inquisição

A inquisição, é um tribunal, criado pela Igreja, em que três juízes, iriam julgar aquelas pessoas que
se diziam católicas, mas por causa de algo, estavam sendo acusadas de não serem católicas, ou
ainda, de serem infiltrados nas fileiras da Igreja, e ao invés de viver a fé e ensinar a fé, estavam
ensinando e vivendo de modo incoerente e antagônico à fé da Igreja.

Tratou-se de um tribunal feito por católicos, para julgar católicos. A Igreja, em momento algum,
julgou pessoas não católicas, 100% dos julgamentos que ocorreram em todas as eras e fases e
341

épocas em que se aplicou a inquisição, os julgados, sejam condenados ou absolvidos, eram


católicos, que, bastava uma simples menção e dizer que não eram católicos que estariam livres do
processo eclesiástico.

Inquisição é uma palavra, que vem do termo “Inquerir” que é um método investigativo, para chegar
a uma conclusão, assim, os acusados de heresia, práticas não católicas (Bruxaria, Paganismo,
Adultério, Assassinos e etc...) passavam por um processo jurídico, com apresentação de provas,
testemunhas, direito de defesa, direito ao contraditório e então, a corte de juízes decidia, com base
nas evidências, quem era ou não culpado.

O detalhe, é que este sempre foi o papel da inquisição, definir o que é verdade e quem é ou não
culpado. Como o contexto é medieval, e não havia mais um império, mas sim pequenos reinados,
cada reinado, aplicava a sua própria legislação, assim, por exemplo se no reinado “A” a lei dizia
que um culpado por heresia deveria ficar preso por 20 anos, então após o julgamento, aquele
estado/reinado “A”, aplicava a legislação, mas se um reinado “B”, a lei dizia que a pessoa deveria
morrer queimada, então, o estado aplicava a sua lei.

Uma questão importante a ser dita, é que há no imaginário coletivo, de que 100% das pessoas
eram católicas no início da Idade Média, porém, isso não é verdade. Havia um número considerável
de pessoas que não aderiam e não se convertiam em católicos, muitos reis e nobres inclusive.
Então, cada estado tinha uma legislação e um modo de julgar, cada um mais injusto do que o outro,
assim, quando alguém era acusado de alguma coisa, tratava logo de se dizer católico, para ter um
julgamento mais justo, pois o estado não julgava os católicos, apenas a Igreja fazia isso, e mesmo
condenado, as penas para os católicos eram mais brandas, assim, muitos não católicos, se dizendo
católicos foram julgados pela inquisição, por vontade própria, na esperança de receberem penas
mais brandas.

O interessante, é que o Papa São João Paulo II, em 1998, realizou um congresso internacional
tendo como tema a Inquisição, onde todos os cientistas, historiadores, antropólogos, sociólogos,
arquivistas, e toda a sociedade foi convidada a investigar todo acervo do Vaticano e seus
respectivos arquivos. Muito se descobriu, os números de condenações a morte, são irrisórios diante
da quantidade de processos, tomando só a Inquisição Espanhola, que é tida como a mais cruel:

• Entre 1540 a 1700 foram 44.674 juízos realizados, destes 804 (1,8%) foram condenados à
morte, estamos falando de 160 anos, para se ter uma ideia, a pena de morte está vigente
em 58 países, só em 2014, em apenas 22 destes países (que possuem dados confiáveis)
foram proferidas 2466 condenações a morte, e 607 execuções, isto em um único ano.

• Sobre a “caça às bruxas”, foram encontrados 125.000 processos por bruxaria, que
resultaram em 59 (0,47%) execuções.

• Em 930 sentenças que o Inquisidor Bernardo Guy pronunciou em 15 anos, houve 139
absolvições, 132 penitências canônicas, 152 obrigações de peregrinações, 307 prisões e 42
"entregas ao braço secular", que podem ter resultado em execução ou não.

Não estamos negando os excessos, exageros, injustiças, preconceito, pessoas que foram julgadas
e condenadas por suas crenças, pessoas que foram condenadas a morte por apenas serem
pecadores. Porém, em relação aos números, chegou-se a 2 condenações a morte por ano, em
quase 1500 anos de história. Só na guerra da Ucrânia, que iniciou em 2020, já se matou mais que
isso. No Brasil, que não tem pena de morte, morre-se mais pessoas do que em 1500 anos de
Inquisição, isso nos leva a pensar como aqueles não católicos... quem dera se todas as vítimas da
violência no Brasil, tivessem tido acesso a um tribunal da Inquisição.
342

CRUZADAS:

Depois do 11 de Setembro, o tema das cruzadas veio à tona, quando o terrorista Osama Bim Laden
proferiu um discurso dizendo que seu ataque, era uma resposta aos cruzados que tem invadido as
terras e a cultura dos países islâmicos. Nada mais anacrônico do que isso, pois a última cruzada
foi realizada em 1272, portando quase 730 anos depois do ataque terrorista, infligido contra um
país de maioria protestante, como os EUA. Muitos políticos, como o próprio Barack Hussein Obama,
aceitaram esta pecha, exatamente por ser anacrônica, e usando, mais uma vez o “porrete”
anacrônico para bater na Igreja.

Assim, temos de um lado, a demonização histórica das cruzadas, de quem mesmo sem conhecer
julga as cruzadas como pura barbárie dos cristãos malvados que invadiram as terras dos
muçulmanos por ganância e poder, e de outro lado, temos os católicos radicais que consideram a
cristandade e as cruzadas uma época sacrossanta que não se pode críticar em nada. O que há de
comum nestas duas visões, é apenas o anacronismo, a ignorância e a parcialidade de quem quer
que sua visão de mundo seja melhor que as outras.

Antes de dizer o que as cruzadas foram, importa dizer o que elas não foram:

• Não foram uma guerra santa: A guerra é sempre um mal, ela é no máximo uma guerra justa,
a “guerra santa” é um conceito islâmico. Não existe guerra santa católica.

• Não teve motivações econômicas de conquista de novos territórios pela Igreja, nunca foi
intento das cruzadas converter à força os muçulmanos ao cristianismo, porém, o contrário
pode ser dito dos muçulmanos, que no início, conquistavam militarmente os territórios e
implantavam a lei e meio de governo muçulmano.

• Nunca foi uma ação motivada pela sede de sangue dos cristãos, mas sempre foi uma reação,
proporcional ou até desproporcional (nalguns casos), às investidas militares contra os
territórios cristãos.

Uma vez que o Imperador Constantino se converte, e torna o cristianismo livre, e mais tarde o
império torna a Igreja a religião oficial, os cristãos então, passaram a sair da Europa, e visitar a
Terra Santa, para conhecer os locais sagrados, como o Santo Sepulcro, a Cidade de Nazaré, o
Calvário, Jerusalém etc... E todo este território, era parte do Império Romano do Oriente, chamado
Império Bizantino, que durou mais de 11 séculos, desde Constantino em 330 até em 29 de maio de
1453, quando, após um cerco de 53 dias, o sultão Mohammed II, o Conquistador, invadiu
Constantinopla e eliminou Constantino XI, o último imperador bizantino.

Com a insistente tentativa turco-otomana de conquistar Jerusalém e unificar todo o oriente médio
debaixo da bandeira muçulmana, eliminando o cristianismo do oriente, o império Bizantino solicitou
apoio dos cristãos ocidentais, e as cruzadas nada mais são do que isso, uma reação dos países e
reis cristãos, às invasões muçulmanas em territórios historicamente cristãos.

O papado, temendo pelos lugares santos, pelos peregrinos, pela derrocada do cristianismo no
oriente, sempre estimularam as cruzadas oferecendo indulgências aos cruzados e fomentando o
sentimento de pertença à toda família católica espalhada pelo mundo, a se protegerem e se
defenderem mutuamente.

Mas guerra é guerra, não há nada de bom em uma guerra, bom mesmo é que ela não fosse
necessária, assim, é preciso termos muito cuidado com a romantização das cruzadas e dos
cruzados, mas também com a demonização dos mesmos, uma vez que foi um movimento guiado
pela legítima defesa dos cristãos, que infelizmente terminou em uma perda para a civilização, e
343

temos hoje, naquele território, que por 11 séculos foi cristão, hoje termina sendo uma terra
devastada pelo fundamentalismo islâmico e por guerras sem sentido.

TEMPLARIOS:

As cruzadas, foram então iniciadas pelo papado, na tentativa de defender o Império Bizantino e a
Igreja Oriental das investidas militares dos muçulmanos, por isso, após a segunda cruzada obter
um sucesso muito grande e inesperado, em 1099, conquistando Jerusalém, implantou-se um reino
latino no oriente. Originalmente, os cruzados tinham a missão de reconquistar as terras, e devolver
para o Império Bizantino. Muitos ex-cruzados, principalmente os franceses, decidiram permanecer
em Jerusalém, onde foi implementado um governo latino no oriente.

Mesmo com o reinado católico em Jerusalém de Balduino II, a peregrinação até os lugares santos,
ainda ficou comprometida pelos constantes assaltos dos muçulmanos pelo caminho. Muito se
perdeu com isso, comitivas gigantes de peregrinos eram brutalmente dizimadas no caminho até os
lugares santos, houve um caso que ganhou repercussão de peregrinos alemães que após celebrar
a Páscoa, foram em procissão até o Rio Jordão, e no caminho, foram brutalmente assassinados,
mulheres estupradas, crianças feito de escravas, e em resposta, o rei Balduino II, pede ajuda ao
ocidente.

Havia em Jerusalém, alguns cavaleiros remanescentes das cruzadas, que decidiram fazer alguma
coisa, eram uns oito cavaleiros, todos viúvos ou solteiros, que solicitaram então ao rei e à Igreja,
que recebessem suas vidas como cavaleiros de vida monástica. O rei e a Igreja aceitaram, que
aqueles homens, apesar de soldados, tinham uma devoção muito grande, pois é importante lembrar
que a maioria dos cruzados, que iam à guerra, iam por devoção, com o intuito de diminuir suas
penas temporais e receber as indulgências.

Estes, liderados por Hugo de Payens, assumiram uma vida de pobreza e oração, conhecidos como
os “pobres cavaleiros de Cristo”, que receberam uma antiga mesquita para viver, ao lado de um
mosteiro Agostiniano próximo ao antigo Templo de Salomão, inicialmente eles adotaram as regras
agostinianas, e por 10 anos entre oração e rondas de segurança territorial, viveram até que viram
que seus esforços eram poucos para cobrir todo o território.

Por volta de 1129, Hugo de Payens vai até a Europa e procura São Bernardo de Claraval e
apresenta a ele, a importância da causa dos esforços daqueles cavaleiros piedosos, assim, São
Bernardo, apresenta ao Papa Honório II a regra da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do
Tempo de Salomão, e no Concílio de Troyes, é aprovada a regra escrita por São Bernardo, em
parceria com Hugo de Payens, chamados de “Templários”. Eles não moravam no templo de
Salomão, mas defendiam o mosteiro agostiniano que existia dentro do que era o então, templo de
Salomão.

Assim, movidos pela santidade de São Bernardo de Claraval, inúmeros cavaleiros, nobres e
soldados, abandonaram tudo, e se dedicaram a uma vida de oração e treinamento, vivendo a
pobreza, castidade e obediência no esforço de manter a segurança de Jerusalém e dos peregrinos
até os lugares santos.

O Ideal templário, era viver a sabedoria e a bravura em um único homem, e assim, a estrutura
templária era feita de homens sábios e estudiosos que tinham uma vida de estudo e oração, ao
mesmo tempo que eram hábeis cavaleiros. Porém, este é o ideal, na prática, os sábios cuidavam
do trabalho burocrático e os corajosos cuidavam das batalhas. Surgiu então dois tipos de
Templários, os burocráticos que viviam na Europa dando suporte aos soldados que iam às
batalhas.
344

Para a segurança das peregrinações, os templários, que se tornaram prósperos, por causa das
doações e dos resgates que realizavam, também da gratidão dos peregrinos, criaram um sistema
de crédito, onde os peregrinos depositavam seu dinheiro antes de viajarem, e quando chegavam
em Jerusalém, por serem portadores de promissórias, recebiam o valor depositado, assim, criou-
se o primeiro sistema bancário da história.

Esta divisão territorial e geográfica entre os sábios templários da Europa e os corajosos templários
de Jerusalém, culminou em uma decadência, que ocasionou a derrocada dos templários, que
acusados de práticas homossexuais, corrupção, blasfêmias e heresias, entre outras acusações,
terminaram sendo extintos em 1314, quando o último Mestre do Templo, Jacques De Moley, traído
pelo Rei da França e pelos templários europeus, é condenado à fogueira.

O fato é que houve uma campanha difamatória movida pelo rei da França contra os templários,
pois ele lhes devia dinheiro e não conseguia pagar, mas infelizmente, é fato conhecido que havia
superstições, e atos libidinosos entre os templários, uma vez que eram uma ordem monástica, isso
constitui blasfêmia, e a ordem teve seu fim.

PEDOFILIA:

A Igreja é radicalmente contra a pederastia e a pedofilia, e todos os papas, desde os maiores


escândalos nas décadas de 90 até hoje, tem insistido com os bispos do mundo todo, na tomada de
decisões mais rápidas, enérgicas e contundentes para impedir que novos casos aconteçam.
Porém, estamos falando de pecado, e nisso o ser humano é extremamente inventivo, assim, não
importa o que for feito, sempre haverá a possibilidade de acontecer novamente.

Porém, em 2011, a Conferência Episcopal Americana, contratou a mais notável agência de


criminalística dos EUA para conhecer a fundo todos os dados a cerca do assunto, assim a “John
Jay College of Criminal Justice” relatou algumas informações importantes.

Tomando casos desde a década de 1950 até 2010, verificou-se que a maior concentração de casos
de padres envolvidos em pedofilia, ocorreram na década de 70, justamente quando houve a
revolução sexual, o uso e abuso de substâncias ilícitas e a cultura ocidental, declarou guerra à
modéstia, e assumiu a propaganda libidinosa como meio de divulgar produtos e suas marcas.

Analisou-se ainda, os padres acusados de serem homossexuais, ou seja, aqueles que realmente
eram padres e tinha relações homoafetivas, estes padres, não eram acusados de pedofilia, por
outro lado verificou-se que o número de casos de pedofilia, acontece, estatisticamente falando, em
maior número, entre religiosos não celibatários, como os pastores protestantes do que entre os
celibatários católicos.

Concluiu-se que nem a homossexualidade e muito menos o celibato, são os grandes vilões da
pedofilia, não há nada na homossexualidade e nem no celibato que se possa deduzir que haja um
envolvimento com a pedofilia, e sim, o impacto cultural, pois os padres ordenados na década de
50, não estavam preparados para lidar com o aumento da promiscuidade sexual da década de 70,
o que ocasionou os grandes escândalos de pedofilia dentro da Igreja.

Em 2012, a Igreja no Chile foi denunciada por muitos fiéis, afirmando haver uma “confraria” de
sacerdotes que praticavam pedofilia em série, e é importante perceber que a característica destes
padres, era justamente uma teologia mais voltada à atividade pastoral, com envolvimento em
movimentos políticos sociais, são os chamados padres modernistas que infelizmente perderam a
fé e que passam a viver de seus sentimentos.
345

Nós, enquanto católicos precisamos, assim como os últimos papas têm nos ensinado, distinguir o
pecado, do crime e da doença. Muitos pedófilos são pessoas doentes, que precisam de tratamento,
mas a pedofilia além de um pecado é um crime, assim, que sejam punidos pela lei, cuidados pela
medicina, e perdoados pelos corações, aqueles que se deixaram levar por esta terrível tentação.

Quanto às vítimas, não cabe nenhum ressentimento contra nenhuma delas, elas são apenas
vítimas inocentes cujo “erro” foi confiar nos padres e religiosos que deveriam ser dignos desta
confiança, de nossa parte, cuidemos e rezemos pelos sacerdotes e pelas vítimas da pedofilia pelo
mundo.

IGREJA E A HISTÓRIA DO MUNDO:

Para finalizar este capítulo de história da Igreja, vamos demonstrar o impacto da Igreja na história
da civilização, apresentaremos os destaques, desde antes da Igreja até os dias de hoje:

1. Pré-história da civilização:

Antes da Igreja, o que havia era uma organização político-militar que dominava as populações. Foi
assim com o Império Romano, com os Orientais, no Continente Africano e no Império Asteca e por
toda a américa. Estas culturas, tiveram contato com o Evangelho pregado pela Igreja, e de forma
orgânica, foram progredindo em sua humanidade, organizando-se em nações, reunindo recursos
e se desenvolvendo até chegar aonde estamos hoje;

2. Igreja a mãe da Ciência Moderna:

Por que a Ciência, como a conhecemos, não se desenvolveu nestas culturas? Basta olharmos para
as milenares culturas chinesas, hindus, africanas, astecas, egípcias, babilônicas, nórdicas e
orientais e percebermos que mesmo em milênios de cultura, tais culturas, não foram capazes de
transpor seus países, e muito menos de criar a ciência e tecnologia que temos hoje. Isto acontece,
por que tais culturas eram e ainda são, supersticiosas, e não olham a realidade como ela é.

Quando Nosso Senhor nos deu a possibilidade de ter nossos pecados absolvidos, isso criou uma
“classe” de pessoas acordadas, capazes de ver o mundo como ele é, sem as superstições e
crendices, buscando sempre a Verdade que é Cristo. Esta classe de pessoas, são os católicos,
que movimentaram o mundo e fizeram a “roda da fortuna” girar em benefício da humanidade.

Para se ter uma ideia, quando o primeiro homem chegou nas Américas em 1498, o sistema
educacional do Trívium (Gramática, Retórica e Lógica) e o Quadrivium (Aritmética, Geometria,
Música e Astronomia) já tinha mais de 1000 anos de existência, as primeiras escolas monásticas
já tinham mais de 1200 anos de história e a filha favorita da Igreja, as Universidades, como a de
Bolonha tinha quase 500 anos.

Alguns exemplos de invenções medievais, às quais o mundo moderno deve toda sua
engenhosidade e tecnologia: Moinhos, Autômatos, Relógio Mecânico, Catapultas, Cavalaria e
adestramento de cavalos, Lança chamas, Uso da pólvora como energia e armas, Órgãos e a Teoria
Musical, Catedrais medievais e o Duomo de Florença (45 metros internos e 114 metros de altura),
Roca, Chaminé, Janela de Vidro, Espelho, Óculos, Instrumentos de navegação, Caravelas
transatlânticas e intercontinentais.

3. Direitos humanos:

Sem a Igreja, não haveriam os direitos humanos; a visão de que a raça humana é uma só; foi a
Igreja que deu lugar de fala para às mulheres, pela pregação da igualdade de dignidade entre os
346

seres humanos; o cuidado com os idosos; a separação das crianças e dos adultos nas cadeias; e
uma menor responsabilização criminal aos jovens; a luta contra a escravidão; o melhor e mais
duradouro regime de governo que já existiu, que é a monarquia absolutista da Igreja, com a
responsabilização distrital na pessoa dos bispos e uma disciplina de vida voltada para a política
sem benefícios pessoais, pela vivência da pobreza, castidade e obediência;

4. Maior obra caritativa e educacional do mundo:

A Igreja mantém centenas de milhares de instituições que beneficiam a humanidade, entre


universidades, escolas, hospitais e orfanatos pelo mundo, eis os números:

No campo da educação e formação, a Igreja administra 72.785 creches em todo o mundo com
7.510.632 alunos; 99.668 escolas primárias para 34.614.488 alunos; 49.437 escolas secundárias
para 19.252.704 alunos. Também acompanha 2.403.787 alunos do ensino médio e 3.771.946
universitários.

As instituições de saúde, caridade e assistência administradas pela Igreja em todo o mundo incluem:
5.322 hospitais, 14.415 dispensários, 534 hospitais para leprosos, 15.204 lares para idosos, doentes
crônicos e deficientes, 9.230 orfanatos, 10.441 jardins de infância, 10.362 centros de aconselhamento
matrimonial, 3.137 centros de educação ou re-educaçãosocial e 34.291 outras instituições.

As Circunscrições eclesiásticas dependentes do Dicastério para a Evangelização totalizam 1.118,


segundo a última variação registrada. A maioria das circunscrições eclesiásticas confiadas ao
Dicastério encontram-se na África (518), Ásia (483), América (71) e Oceania (46). (Fonte:
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-10/estatisticas-igreja-catolica.html)

5. A decadência da humanidade:

A humanidade, entrou em uma espiral de decadência desde o final da Cristandade (vulgo “idade
média”). Dom Estevão Bitencourt, monge beneditino, teólogo e sacerdote falecido em 2008 com 88
anos, descreveu o que ele chamou de os “quatro nãos” da humanidade:

I. O primeiro “Não” foi dado à Igreja Católica:

E foi dito pela Reforma protestante (1517). Até este momento, a Igreja havia construído uma
estrutura relativamente saudável na sociedade. Havia os pequenos deslises e excessos, porém,
naturalmente a própria Igreja tratava de convergir tudo para a harmonia dos povos, as guerras eram
sempre locais, motivadas pela ganância, porém, havia sempre o poder moderador da Igreja, que
de forma mais ou menos equilibrada, tangia a humanidade rumo a civilidade e fraternidade.

Nem mesmo o “Cisma do oriente” causou tanto impacto quanto a reforma protestante, que marca
o início de uma era sombria, pois muitos continuaram crendo no Evangelho e em Nosso Senhor,
porém, negou-se a ação de Cristo na História, o “livre exame das escrituras” e a “sola Scriptura”,
promoveram a negação do papado, da autoridade da Igreja, da tradição apostólica e assim, os
cristãos, a partir de Lutero, perderam sua principal característica, a Unidade.

Até este momento, o mundo girava em torno dos ensinamentos da Igreja e da Moral cristã, foi
justamente a negação destes ensinamentos que possibilitaram as maiores mazelas da
humanidade, como as Guerras Mundiais e as atrocidades que o mundo moderno conheceu.

II. O segundo “Não” foi dado à Cristo:

No século XVIII o Racionalismo neopagão herdeiro da reforma e do iluminismo teve sua expressão
máxima na Revolução Francesa (1789) a Igreja já rejeitada, viu-se perseguida dentro de sua própria
347

casa, o clero perseguido, religiosos e religiosas executadas, igrejas destruídas e a “deusa razão”
sendo colocada na Catedral de Notre Dame em Paris.

Muitos pensadores passaram a professar o deísmo (crença em Deus como ser reconhecido pela
razão natural apenas) em lugar do Teísmo (Fé católica e judaica), os próprios teólogos renunciam
à fé na ressurreição, e passam a ensinar a existência de um “cristo histórico” em lugar do único
Cristo até então, foi um período muito conturbado, que não se viu desde antes de Constantino.

III. O terceiro “Não” foi dado a Deus:

O deísmo em poucos anos perdeu seu status e assumiu-se o ateísmo do século XIX, representados
pelas ideologias e pseudofilosofias do Comunismo, do Evolucionismo e do Relativismo, a verdade
já não é mais uma evidência, ela agora é apenas questão de opinião e ponto de vista.

Na última década do Século (1850) a humanidade conheceu uma revolução tecnológica e ficou
deslumbrada consigo mesma, a mudança da mentalidade foi muito rápida e desde então, a ética,
o direito e a moral, não conseguem mais acompanhar a velocidade das inovações tecnológicas,
então, com pouco tempo para julgar, mas com uma extrema ansiedade em se desenvolver, o ser
humano abriu mão da ética e da moral para viver a aventura tecnológica que tem o afastado de
Deus cada vez mais, pois o que importa é o progresso e as implicações morais ficaram de lado.

IV. O quarto “Não” é dito ao homem:

O Século XX, chega com promessa de crescimento, prosperidade, e desenvolvimento, porém, logo
no início, mesmo com o alerta do Papa São Pio X, que prenunciou a Primeira Guerra Mundial,
dizendo: "Verrà il Guerrone" o mundo assistiu atônito o que é capaz o ser humano com ciência e
tecnologia sem ética e moral, foi a maior carnificina da História, algo impensável por Nero, Calígula,
Átila, Saladino, Cátaros e Valdenses.

Mas como sabemos, não parou por aí, mesmo após o registro de aparições de Nossa Senhora em
Portugal, com milagres presenciados por mais de 70 mil pessoas (Dança do Sol), tivemos a
Segunda Guerra e o momento mais trágico, em que centenas de milhões de pessoas morreram de
uma só vez com as bombas nucleares. O Papa São João Paulo II denunciou a “cultura de morte”
em que vivemos, onde o ser humano se acostuma com a dor, o sofrimento e com a morte do outro,
e paga um alto preço por isso, o desejo da perdição pela tristeza, solidão, depressão e desespero.

A IGREJA E OS DIAS DE HOJE:

Hoje vemos a vida das pessoas ser manipulada e dirigida pela tecnologia, o mercado financeiro ser
o grande diretor espiritual do mundo, as drogas, a promiscuidade, as doenças mentais assim como
todas as mazelas serem reinterpretadas como algo positivo, numa inversão de valores sem
precedentes na história.

A Igreja, perseguida padece pelo mundo, e tem cada vez menos espaço. Voltamos ao ano 312,
quando os cristãos eram assassinados por não se dobrarem à idolatria, mas os novos coliseus são
as redes sociais, onde ser cristão, é ter um pensamento retrógrado, atrasado e que atrapalha o
desenvolvimento humano.

Cada vez mais, há menos católicos comprometidos, há apenas católicos batizados que não
educam seus filhos, vivendo melhores que os reis e burgueses da Idade média, delegando a
educação dos filhos às instituições de ensino cada vez mais ideologizadas. Isso quando têm filhos,
pois há os que alteraram sua espécie, dizendo ser pais e mãe de “pets”, mulheres que abominam
a ideia de dar à luz e homens que abominam a ideia de serem homens.
348

A humanidade está dando mais um “NÃO”, o não ao próprio ser. Há uma ética das aparências, o
politicamente correto movido por lacração, mitagem e cancelamentos, onde os sofrimentos reais
são ignorados, e todos os seres humanos do planeta, parecem ser capazes de se comunicar com
qualquer pessoa no mundo, mas decidem se distraírem com vídeos curtos, tendo sua liberdade
solapada pelas suas próprias escolhas.

A fumaça de satanás entrou no templo santo de Deus, e os “fiéis” já não escutam a voz dos
pastores, há os que relativizam a fé na Teologia da Libertação, os que se acham melhores e mais
sábios e santos do que o Papa como os RADTRAD e SEDEVACANTISTAS, poucos são os padres
e católicos com fé católica. Os papas e bispos por sua vez, estão sendo enganados por sua própria
ingenuidade e ativismo político, o que aumenta ainda mais a desconfiança na Igreja.

Temos o fantasma de um governo global que se levanta, impondo uma nova religião, a religião das
conveniências, das maratonas de séries e filmes, dos psicotrópicos e ansiolíticos, das drogas cada
vez mais aceitas e mais potentes, mães que matam os filhos por esporte no ventre, pais que
abandonam seus filhos ao celular e que não sabem nem mesmo que horas os filhos dormem. As
duas bestas do Apocalipse nunca estiveram tão ativas e tão poderosas, e a Igreja nunca esteve
tão frágil, e Nosso Senhor nos faz a pergunta:

“quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?”


(Lc 18,8b)

AS TRÊS DEVOÇÕES BRANCAS:

Em 30 de Maio de 1866, São João Bosco (Dom Bosco) teve um sonho profético, o santo viu uma
barca conduzida pelo Papa, que sofria com ataques de outras embarcações, e estas intentavam
ataques violentos ao ponto de quase afundar a barca, como se não bastasse, havia uma
tempestade violentíssima com ondas e ventos, segue o relato:

“O vento lhes era desfavorável e o mar agitado parecia favorecer os inimigos. No meio da imensa
extensão do mar elevavam-se acima das ondas duas robustas colunas, altíssimas, pouco distantes
uma da outra. Sobre uma delas havia a estátua da Virgem Imaculada, em cujos pés pendia um longo
cartaz com esta inscrição: Auxilium Christianorum (Auxílio dos Cristãos). Sobre a outra, que era
muito mais alta e mais grossa, havia uma Hóstia de grandeza proporcional à coluna, e debaixo um
outro cartaz com as palavras: Salus Credentium (Salvação dos que creem)” (São João Bosco, 1866)
349

Aqui temos a esperança, o que ficou conhecido como as três devoções brancas (alvas devoções),
a primeira delas, é a Adoração Eucarística, a segunda é a Devoção Mariana, e a terceira é a
Obediência ao Papa. Assim, no Final dos Tempos, os que permanecerão de pé, são aqueles que
cultivarão em suas vidas, a constante adoração à Eucaristia, a profunda devoção à Nossa Senhora
e um comprometimento efetivo e afetivo com as intenções do santo padre, independente de suas
qualidades humanas, ele é Pedro, que vacila, que afunda, e que nega o Senhor, mas que se
arrepende e ouve, da boca de Nosso Salvador: “Apascenta as minhas ovelhas”. Sejamos ovelhas
adoradoras, devotas e obedientes até o fim. Amém.

Você também pode gostar