Você está na página 1de 68

DOENÇAS

N.º 23
RENAIS EM
Março/Abril 2024 CRESCIMENTO
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
PUBLICAÇÃO DIGITAL BIMESTRAL

DOENÇAS
RARAS:
UMA CAUSA
DE TODO
ÍNDICE
SAÚDE PARA SI

02 EDITORIAL

04 REPORTAGEM
Nutribén promove palestra O
Pediatra Aconselha

06 Como aliviar as cólicas e a obstipção na


Rubrica Nutrição

10 Dr. Mauer Gonçalves comenta a


ligação da obesidade às doenças
cardiovasculares

12
Dra. Nádia Noronha PERSPECTIVA
Dra.Albertina Manaça aborda a
Directora Executiva da Tecnosaúde
problemática do cancro do cólo do
útero em Angola
O Dia Mundial do Rim, celebrado anualmente na segunda quinta-feira de
Março, é uma ocasião de suma importância para destacar a relevância
da saúde renal e os desafios enfrentados por milhões de pessoas em
todo o mundo. Esta data não apenas chama atenção para a função vital
18 Dra. Patrícia Andrade sublinha a
importância dos métodos de diagnóstico
da infecção por HPV

22
dos rins na manutenção da saúde, mas também destaca a urgência em
Dra. Sandra Martins aborda o protoloco a
abordar as questões relacionadas à escala global.
seguir no internamento por diabetes

Os rins desempenham um papel fundamental no corpo humano, filtrando


resíduos do sangue, controlando a tensão arterial, mantendo o equilíbrio
26 Dra. Antónia Barbosa comenta a doença
renal diabética
de electrólitos. No entanto, muitas vezes, as doenças renais passam
despercebidas até atingirem estágios avançados, o que pode resultar em 32 Dras. Suzana Costa e Isabel Lima
refletem sobre a doença renal crónica

36
complicações graves e até mesmo fatais. Dra. Vania Lopez Rodriguéz enumera
os cuidados na saúde oral de doentes
A carga global das doenças renais é alarmante, afectando milhões de transplantados

40
pessoas a cada ano. Diabetes, hipertensão e obesidade, factores de estilo
de vida cada vez mais prevalentes, contribuem significativamente para o RUBRICA OCULAR
aumento das doenças renais. Além disso, o acesso a cuidados de saúde
Dr. Djalme Fonseca estabelece a
adequados, medicamentos e educação sobre saúde renal permanece
ligação entre doenças oculares e
limitado em muitas partes do mundo, agravando o problema. doenças renais

O Dia Mundial do Rim serve como uma plataforma para advogar pela
detecção precoce, prevenção e tratamento das doenças renais. Destaca
a importância da adopção de um estilo de vida saudável, incluindo uma
44 Australpharma presente na
Expopharma
dieta equilibrada, actividade física regular, moderação no consumo de
álcool e abstenção do tabagismo, todos factores que contribuem para a 46 Projecto Saúde para Todos: workshop de
partilha de experiências sobre a malária
redução do risco de doenças renais.
52
Lançamento da campanha Zero Malária
começa comigo
Em suma, o Dia Mundial do Rim é uma oportunidade para todos nós
reafirmarmos o nosso compromisso com a saúde renal e trabalharmos
juntos para enfrentar os desafios associados às doenças renais. Ao 56 Dra. Ana Teixeira sublinha os riscos da
automedicação com antimaláricos
promover a consciencialização, adoptar um estilo de vida saudável, apoiar
Propriedade e Editor: Tecnosaúde, Formação e Consultoria
a pesquisa e facilitar o acesso aos cuidados de saúde, podemos fazer Nacionalidade: Angolana
uma diferença tangível na vida das pessoas e garantir que todos tenham Edifício Presidente Business Center
Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º Andar, Sala 224, Luanda, Angola
a possibilidade de viver com saúde e bem-estar. Directora: Nádia Noronha
E-mail: nadia.noronha@tecnosaude.net
Sede de Redacção: Edifício Presidente Business Center
Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º andar, sala 224, Luanda, Angola
Periodicidade: Bimestral Suporte: Digital
http://www.tecnosaude.net/pt-pt/

2
SAÚDE
BEM-ESTAR
DOS OSSOS E DAS
ARTICULAÇÕES

MAIOR
FLEXIBILIDADE
E LIBERDADE DE
MOVIMENTOS
A SUA AJUDA NAS
CAMINHADAS DO DIA A DIA

DISPOSITIVO MÉDICO

advancispharma.com
MF22/ADVJT/3/1 - 03/22

Advancis® Jointrix Ultra, Advancis® Jointrix Plus e Advancis® Jointrix SOS são suplementos alimentares. Não substituem um regime alimentar variado e equilibrado e um modo de vida saudável. A vitamina C contribui para a normal

3
formação de colagénio para funcionamento normal dos ossos e das cartilagens. O manganês contribui para a manutenção de ossos normais e também para a normal formação de tecidos conjuntivos. Uma dose diária de Advancis® Jointrix

Advancis® Jointrix Active Gel é um Dispositivo Médico. Antes de utilizar, leia cuidadosamente a rotulagem e as instruções de utilização. Não deve ser usado em crianças com idade inferior a 6 anos, em grávidas ou a amamentar. Não deve

SAÚDE
REPORTAGEM

NUTRIBÉN PROMOVE
PALESTRA
O PEDIATRA
ACONSELHA
C
NA MANHÃ DO DIA 16 DE MARÇO, A CLÍNICA ompreendendo os desafios enfrentados pelos
GIRASSOL FOI PALCO DE UM EVENTO DE GRANDE pais na jornada da paternidade e maternidade,
IMPORTÂNCIA PARA OS PAIS ANGOLANOS. o projecto visa fornecer orientações valiosas
A NUTRIBÉN ANGOLA LANÇOU O PROJECTO por meio de uma série de palestras ministradas por
O PEDIATRA ACONSELHA, UMA INICIATIVA renomados pediatras
DEDICADA A ORIENTAR E EDUCAR OS PAIS
SOBRE O CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO Para a primeira edição do projecto, o foco principal
SAUDÁVEL DOS SEUS FILHOS. foi na abordagem do tema “Cólicas? Obstipação?

4
SAÚDE
O evento também contou com um momento de
sorteio, onde um cesto repleto de produtos da
Nutribén foi ofertado ao participante sorteado.

O Pediatra Aconselha não apenas cumpriu


o seu objetivo de informar e orientar os
pais, mas também se destacou como um
momento de apoio e solidariedade entre a
comunidade de pais angolanos, todos unidos
pelo bem-estar e desenvolvimento saudável
das suas crianças. Este evento demonstra
o compromisso da Nutribén Angola em
proporcionar recursos e apoio aos pais
angolanos, capacitando-os a cuidar da saúde e
felicidade dos seus filhos desde os primeiros
Como aliviar?”, dirigido pela Dra. Marilene dias de vida.
Soares, pediatra da Clínica Girassol, que revelou
estratégias práticas para lidar com essas
questões.

Sob a liderança da Dra. Marilene Soares, a


palestra foi conduzida de maneira informativa e
esclarecedora, proporcionando aos participantes
insights valiosos e dicas úteis para cuidar da saúde
e bem-estar dos seus filhos.

Além das palestras educativas, os pais tiveram a


oportunidade de participar nas degustações dos
produtos Nutribén, conduzidas pelas delegadas
de informação médica Tânia Coge e Selcia
Chissanguela. Essa interacção permitiu aos
participantes conhecerem de perto os produtos de
uma marca comprometida com a saúde infantil.

5
SAÚDE
RUBRICA NUTRIÇÃO

CÓLICAS?
OBSTIPAÇÃO?
COMO ALIVIAR?
A OCORRÊNCIA DE CÓLICAS NOS PRIMEIROS MESES DE VIDA É UMA SITUAÇÃO MUITO
COMUM E QUE DEIXA, MUITAS VEZES, OS PAIS PREOCUPADOS E SEM SABER COMO
PROCEDER.

6
SAÚDE
No recém-nascido, as cólicas resultam da
acumulação de gases no aparelho digestivo
ainda imaturo, que não os consegue eliminar
adequadamente. O bebé pode ingerir ar
inadvertidamente, quando usa a chupeta
ou quando mama sofregamente e a boca
está mal-adaptada ao mamilo ou à tetina,
especialmente:
• Se tiver o nariz obstruído;
• Se a tetina não estiver completamente
preenchida por leite.
A distensão intestinal causada pelos gases
provoca dor, que faz o bebé chorar. Durante o
Dra. Margarida Carvalho choro, este ingere mais ar, o que agrava a dor,
Farmacêutica. Lcenciada em Ciências Farmacêuticas pela
dando continuidade ao choro.
Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa
Como resolver?
• Assegurar que o bebé tem o nariz
desobstruído, especialmente durante as
mamadas;
• Otimizar a adaptação da boca do bebé ao
mamilo ou à tetina durante as mamadas;
• Nas mamadas por biberão, preencher bem
a tetina com leite e recorrer a um biberão
anti-cólicas;
• Dar ao bebé oportunidade para arrotar a
meio e no final das mamadas, mantendo-o
em posição vertical;
• Acalmar carinhosamente o bebé,
embalando-o, falando ou cantando-lhe
suavemente.
• Realizar manobras que ajudem a expulsar
os gases presentes no intestino: massajar
cuidadosamente a barriga do bebé, dobrar
suavemente as pernas em direcção à

A
barriga, de modo a facilitar a expulsão dos
s cólicas manifestam-se por períodos gases acumulados. Estas manobras não
súbitos de choro agudo e persistente, devem ser realizadas imediatamente a
sem causa identificável. Normalmente seguir à mamada;
estão acompanhadas de: • Introduzir alterações na alimentação da
• Sinais de dor; mãe, evitando alimentos que lhe provoquem
• Dobrar frequente das pernas em direcção à aerocolia;
barriga; • Para os bebés alimentados com leites
• Emissão de gases (por vezes). adaptados, respeitar rigorosamente as doses
indicadas para a preparação do biberão;
As cólicas são recorrentes e, entre os seus • Segurar as pernas do bebé pelos tornozelos
episódios, a criança está confortável. Podem e, com os joelhos juntos, pressionar
surgir pela terceira semana de vida e são suavemente contra a barriga. Manter esta
mais comuns e intensas durante o primeiro pressão aproximadamente durante cinco
trimestre de vida. segundos. Aliviar a pressão exercida e a
posição das pernas, esticando-as.
• Segurar os tornozelos do bebé e dobrar um
joelho sobre o abdómen e endireitar a perna,
repetir o movimento com a outra perna,
como se estivesse a andar de bicicleta lenta
e ritmicamente.

7
SAÚDE
Obstipação
As síndromes gastrointestinais ligeiras são
muito comuns no primeiro ano de vida. As
causas estão relacionadas com a imaturidade
do sistema gastrointestinal, tanto a nível
fisiológico como funcional.

A obstipação é caracterizada pelo aumento da


consistência das fezes e pela diminuição da Em geral, sinais de esforço (por exemplo,
frequência das dejeções. contorção) num lactente jovem não significam
obstipação. O lactente desenvolve gradualmente a
Sintomas: musculatura para ajudar a evacuação.
• Fezes menos frequentes que o habitual;
• Fezes duras e secas que criam mal-estar; Geralmente, a obstipação coincide com:
• O bebé retém as fezes para evitar a dor. • A mudança do leite materno para o leite de
transição;
Não é obrigatório que todas as crianças
• Segurar os tornozelos do bebé e dobrar um joelho sobre o abdómen • A introdução de elementos sólidos na
e
evacuem
endireitar diariamente,
a perna, repetir o sendo que os
movimento a outra perna, alimentação;
intervalos
com como se estivesse a
atédetrês
andar dias são
bicicleta lenta considerados normais.
e ritmicamente. • A introdução do bacio na vida quotidiana da
criança;
ObstipaçãoQuando a criança ultrapassa sistematicamente • Uma alimentação pobre em fibras e com
As síndromes gastrointestinais
períodos superioresligeiras
a três são
diasmuito comuns no
sem evacuar, é primeiro ano de
excesso de vida. As lácteos.
produtos
causas estão relacionadas com a imaturidade do sistema gastrointestinal, tanto a nível
já considerado um caso de obstipação infantil.
fisiológico como funcional.
Em bebés exclusivamente amamentados, é menos
A obstipação é caracterizada pelo aumento da consistência das fezes e pela
Existem
diminuição da dois tipos
frequência de obstipação:
das dejeções. comum ocorrer a obstipação, pois a composição
• Obstipação funcional: ocorre em 90% do leite materno apresenta um equilíbrio entre as
Sintomas: a 95% das crianças, não se consegue proteínas e a gordura. Além disso, contém lactose,
• Fezes identificar
menos frequentes
uma causa queorgânica
o habitual;
e é um bactérias benéficas e determinadas fibras, que
• Fezes duras e secas que criam mal-estar;
problema que exige terapêutica; ajudam a regularizar o trânsito intestinal.
• O bebé retém as fezes para evitar a dor.
• Obstipação crónica ou recorrente: pode
Não é obrigatório que todas as crianças evacuem diariamente, sendo que os
intervalos até ser
trêscausada
dias sãopor doenças neurológicas,
considerados Comoultrapassa
normais. Quando a criança resolver
endócrino-metabólicas
sistematicamente períodos superioreseaanatómicas.
três dias sem evacuar, é• Massajar a barriga
já considerado um do bebé;
No entanto,
caso de obstipação também pode ocorrer
infantil. • Simular o movimento de pedalar, movendo as
Existem dois tipos
comode obstipação:
resultado de factores ambientais, pernas como se estivesse a andar de bicicleta;
• Obstipação
psicossociais ouocorre
funcional: ambos.em 90% a 95% das crianças, nãoum
• Dar se consegue
banho ao bebé para o relaxar;
identificar uma causa orgânica e é um problema que exige terapêutica;
• Obstipação crónica ou recorrente: pode ser causada por doenças neurológicas,
A frequência e consistência das fezes Para bebés em diversificação alimentar:
endócrino-metabólicas e anatómicas. No entanto, também pode ocorrer como
consideradas
resultado normais
de factores variampsicossociais
ambientais, de acordo com • Dar água;
ou ambos.
A frequênciaa eidade e dieta das
consistência dascrianças. Há tambémnormais
fezes consideradas • Reduzir
uma variam os alimentos
de acordo com a conhecidos por serem
variação
idade e dieta considerável
das crianças. entreuma
Há também umavariação obstipantes
criança considerável
e (arroz, bananas e cenouras cozidas,
entre uma criança
e outra. outra. etc.);
• Experimentar misturas
Idade Evacuação/dia (em média) de cereais com um
pouco de sumo natural
1.ª semana de vida 4a8
de maçã ou ameixa.
Nota: Lactentes amamentados
geralmente fazem mais fezes do que os
alimentados com leite em pó É importante estar
alerta para certas
Primeiros meses de vida Lactentes amamentados: 3 situações em que será
Lactentes alimentados c/ leite em pó: 2
necessário encaminhar
2 anos <2 a criança para o médico:
• Se a criança estiver
vários dias sem
Após 4 anos >1 evacuar;
• Se surgir sangue nas
fezes;
Em geral, sinais de esforço (por exemplo, contorção) num lactente jovem não • Se tem dores de
significam obstipação. O lactente desenvolve gradualmente a musculatura
barrigas para
muitoajudar
intensas;
a evacuação.
• Na presença de fissuras anais;
Geralmente a obstipação coincide com:
• A mudança do leite materno para o leite de transição; • Quando as queixas são contínuas e persistentes.
• A introdução de elementos sólidos na alimentação;
• A introdução do bacio na vida quotidiana da criança;
• Uma alimentação pobre em fibras e com excesso de produtos lácteos.
8
SAÚDE
Distribuidora oficial:

nutrição especializada
PARA O SEU BEBÉ

9
SAÚDE
A OBESIDADE E
PERSPECTIVA

O CORAÇÃO: UMA
CONVERSA NECESSÁRIA

QUANDO PENSAMOS EM SAÚDE,


MUITAS VEZES, ESQUECEMOS QUE O
CORAÇÃO, ÓRGÃO INCANSÁVEL QUE
NOS MANTÉM VIVOS, MERECE UMA
ATENÇÃO ESPECIAL. AS DOENÇAS
CARDIOVASCULARES (DCV) NÃO
ESCOLHEM IDADE, GÉNERO OU
ESTATUTO SOCIAL E IMPACTAM AS
PESSOAS EM TODO O MUNDO, SENDO
ACTUALMENTE UMA DAS PRINCIPAIS
CAUSAS DE PREOCUPAÇÃO PARA A
SAÚDE GLOBAL.

10
SAÚDE
O tecido adiposo, antes visto apenas como um
reservatório de energia, revela-se agora como
um órgão complexo, com influência directa no
nosso metabolismo e saúde cardiovascular. A
obesidade não aumenta só o risco de doenças
Dr. Mauer Gonçalves cardíacas, mas também está intimamente
MD, PhD. Cardiologista do Luanda Medical Center. ligada a outras condições, como a hipertensão,
Docente e investigador da Faculdade de Medicina a diabetes e o colesterol alto.
da Universidade Agostinho Neto

A pergunta que se impõe é como podemos


quebrar este círculo vicioso? A resposta está
em pequenas mudanças no nosso estilo de
vida. Não se trata de dietas milagrosas ou

M
exercícios extremos, mas de encontrar um
as como é que chegámos a este equilíbrio saudável que funcione para cada um
ponto? A resposta pode estar mais de nós. A alimentação equilibrada, a prática
perto de nós do que imaginamos. regular de exercício físico e o cuidado com
Nos nossos hábitos diários, na maneira como o nosso bem-estar emocional são passos
nos alimentamos, como nos movemos e fundamentais nesta jornada.
até mesmo como lidamos com o stress, em
todas estas coisas encontramos pistas para A preocupação com a obesidade não é apenas
entender a origem destas doenças que tanto uma questão individual, mas uma preocupação
nos afligem. global. Países em desenvolvimento enfrentam
um desafio duplo: enquanto lidam com
A obesidade, em particular, surge como uma problemas de subnutrição, também enfrentam
peça-chave nesta equação. Não é apenas um aumento alarmante na obesidade e nas
uma questão de estética, mas um problema doenças relacionadas. É uma realidade
de saúde pública que merece toda a nossa complexa, que exige uma abordagem holística
atenção. Quando acumulamos gordura em e colaborativa.
excesso, não estamos apenas preocupados
com a forma do nosso corpo, mas com o Como comunidade global, temos o poder
funcionamento interno de toda a nossa de mudar esta narrativa. Educando-nos
estrutura física e mental. sobre os riscos da obesidade, promovendo
políticas de saúde pública que incentivem
escolhas saudáveis e apoiando iniciativas
que transformem alimentos nutritivos mais
A PREOCUPAÇÃO COM A OBESIDADE NÃO acessíveis, podemos dar passos significativos
É APENAS UMA QUESTÃO INDIVIDUAL, na prevenção das doenças cardiovasculares e
MAS UMA PREOCUPAÇÃO GLOBAL. PAÍSES na promoção de uma vida mais saudável para
EM DESENVOLVIMENTO ENFRENTAM UM todos.
DESAFIO DUPLO: ENQUANTO LIDAM COM
PROBLEMAS DE SUBNUTRIÇÃO, TAMBÉM Cuidar do nosso coração é um compromisso
que devemos assumir todos os dias. Não
ENFRENTAM UM AUMENTO ALARMANTE
apenas por nós mesmos, mas também pelas
NA OBESIDADE E NAS DOENÇAS gerações futuras. É hora de nos unirmos,
RELACIONADAS. É UMA REALIDADE como uma comunidade global, e colocarmos a
COMPLEXA, QUE EXIGE UMA ABORDAGEM saúde do nosso coração no centro das nossas
HOLÍSTICA E COLABORATIVA prioridades.

11
SAÚDE
PERSPECTIVA

CANCRO DO COLO
UTERINO E A
PROBLEMÁTICA
EM ANGOLA
MARÇO LILÁS, MÊS DE
CONSCIENCIALIZAÇÃO CONTRA O CANCRO
DO COLO UTERINO. UM DOS POUCOS
CANCROS QUE SE CONHECE O SEU
AGENTE ETIOLÓGICO, SENDO RASTREÁVEL
E POTENCIALMENTE CURÁVEL EM CERCA
DE 95%. O CANCRO DO COLO UTERINO,
TAMBÉM CONHECIDO COMO CANCRO
CERVICAL, É UMA DOENÇA MALIGNA QUE
ACOMETE AS MULHERES, FAZENDO PARTE
DAS PATOLOGIAS MAIS FREQUENTES DO
APARELHO REPRODUTOR FEMININO.

Dra. Albertina Manaça

S
Licenciada pela Faculdade de Medicina da
egundo a Organização Mundial da Saúde
Universidade António Agostinho Neto.
(OMS), o cancro cervical é segunda Especialista em Oncologia Clínica pela Universidade
causa de morte entre as mulheres, Estadual de Campinas - Brasil.
nos países em vias de desenvolvimento. Em Actualmente funcionária do Instituto Angolano de
Controlo de Câncer (IACC), como Médica Oncologista
Angola, segundo o Instituto Angolano de
e Chefe do Serviço da mesma área
Controlo de Câncer (IACC), esta patologia está
no segundo lugar em termos de incidência
de todos os casos de cancro diagnosticados
anualmente, representando cerca de 16% sexual, a multiparidade, a promiscuidade
(dados subnotificados). (vários parceiros sexuais), o hábito de fumar
e o uso prolongado de anticoncepionais.
A principal causa do cancro do colo uterino Por outro lado, as mulheres com infecções
é infecção persistente do Vírus do Papiloma sexualmente transmissíveis, como gonorreia,
Humano (HPV), transmitido principalmente herpes, clamídia e por VIH, apresentam um
nas relações sexuais inseguras, muitas vezes risco acrescido para desenvolverem o cancro
com ou sem penetração. do colo uterino.

Existem várias estirpes de HPV que podem Quanto aos sintomas, o cancro cervical,
causar o cancro do colo uterino, porém, os inicialmente, é assintomático, pois os sintomas
HPV 16 e 18 são responsáveis por 70% a surgem quando a doença provavelmente já
75% de todos os casos. O HPV também está está avançada. Os principais sintomas são
implicado na etiologia de outros cancros, como hemorragia vaginal fora do período menstrual,
os da cavidade oral, laringe, ânus, pénis, entre coitorragia (sangramento durante/pós acto
outros. sexual), dispareunia (dor durante o acto
sexual), leucorreia (inicialmente sem cheiro,
Existem outros factores de risco que estão depois, pode ser fétido) e dor hipogástrica. De
implicados na etiopatogenia do cancro do colo realçar que, quando a doença está avançada, a
uterino, como o início precoce da actividade mulher pode apresentar outros sintomas como

12
SAÚDE
EXISTEM VÁRIAS ESTIRPES DE HPV QUE
PODEM CAUSAR O CANCRO DO COLO
UTERINO, PORÉM, OS HPV 16 E 18 SÃO
RESPONSÁVEIS POR 70% A 75% DE TODOS
OS CASOS. O HPV TAMBÉM ESTÁ IMPLICADO
NA ETIOLOGIA DE OUTROS CANCROS, COMO
OS DA CAVIDADE ORAL, LARINGE, ÂNUS,
PÉNIS, ENTRE OUTROS • Prevenção secundária: triagem e tratamento
das lesões pré-malignas - exame de
Papanicolau (citologia), teste do HPV. Toda a
emagrecimento, anemia, hematúria, dor óssea, mulher fértil com actividade sexualmente activa
edema nos membros inferiores, entre outros. deve ser submetida a rastreio.

Para diagnosticar o cancro do colo uterino, • Prevenção terciária: diagnóstico (colposcopia


é importante que a mulher procure o médico com biopsia), tratamento do cancro invasivo e
para melhor avaliação e, de seguida, faça o cuidados paliativos.
tratamento adequado, de acordo o estádio
da doença. Quanto mais precoce for o De acordo com a nossa realidade, temos as
diagnóstico, maior é a probabilidade de cura. maternidades centrais e provinciais que fazem
Além disso, sendo um cancro rastreável, a atendimento regular de ginecologia e rastreio do
prevenção é o pilar para erradicar o cancro do cancro do colo uterino.
colo do útero:
O Instituto Angolano de Controlo de Câncer
• Prevenção primária: toda a mulher em (IACC), por sinal o único no país, faz o rastreio,
idade fértil deve fazer regularmente o diagnóstico e tratamento convencional do cancro
seguimento com o ginecologista, usar do colo uterino.
perservativo em relações sexuais ocasionais,
praticar abstinência sexual, evitar a Toda sociedade deve mobilizar-se na
exposição da nicotina e vacinar-se contra sensibilização e divulgação em prol desta
os HPV 16 e 18, na idade entre 9 e 14 anos, patologia, uma vez que é rastreável e tem cura,
segundo as recomendações da OMS. quando diagnosticada precocemente.

13
SAÚDE
ENTREVISTA

CANCRO DO COLO
ANÁLISE

DO ÚTERO: O 4.º
MAIS COMUM NAS
MULHERES

14
SAÚDE
O CANCRO DO COLO DO ÚTERO É O QUARTO TIPO DE CANCRO MAIS COMUM NAS MULHERES
EM TODO O MUNDO, COM UMA INCIDÊNCIA DE APROXIMADAMENTE 660 MIL NOVOS CASOS
E 350 MIL MORTES EM 2022. AS TAXAS MAIS ELEVADAS DE INCIDÊNCIA E MORTALIDADE
ENCONTRAM-SE EM PAÍSES DE BAIXO E MÉDIO RENDIMENTO. ESTA SITUAÇÃO REFLECTE
GRANDES DESIGUALDADES, DEVIDO À FALTA DE ACESSO À VACINAÇÃO NACIONAL CONTRA
O VÍRUS DO PAPILOMA HUMANO (HPV) E AOS SERVIÇOS NACIONAIS DE RASTREIO E
TRATAMENTO DO CANCRO DO COLO DO ÚTERO, BEM COMO A DETERMINANTES SOCIAIS E
ECONÓMICAS.

Desigualdade
Globalmente, o cancro do colo do útero é o quarto
tipo de cancro mais comum entre as mulheres,
com uma incidência de aproximadamente 600
mil novos casos em 2022, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesse
mesmo ano, mais de 94% das 350 mil mortes
causadas pelo cancro do colo do útero ocorreu
em países de baixo e médio rendimento. As taxas
mais elevadas de incidência e mortalidade por
cancro do colo do útero encontram-se na África
Subsariana, na América Central e no Sudeste
Asiático.

As diferenças regionais na carga do cancro


do colo do útero estão relacionadas com
desigualdades no acesso à imunização, rastreio

O
e serviços de tratamento, factores de risco, como
cancro do colo do útero é causado a prevalência do VIH, e determinantes sociais
por uma infecção persistente por e económicas, como o sexo, preconceitos de
vírus do papiloma humano (HPV). A género e pobreza. As mulheres com VIH têm
vacinação profilática contra o HPV e o rastreio seis vezes mais probabilidade de desenvolver
e tratamento de lesões pré-cancerosas são cancro do colo do útero em comparação com
estratégias para prevenir o cancro do colo a população em geral e estima-se que 5% de
do útero e são muito eficazes em termos todos os casos de cancro do colo do útero são
de custos. O cancro do colo do útero pode atribuíveis ao VIH. O cancro do colo do útero
ser curado se for diagnosticado numa fase afecta desproporcionalmente as mulheres mais
precoce e tratado prontamente. jovens e, como resultado, 20% das crianças que
perdem as suas mães para o cancro deve-se ao
Países de todo o mundo estão a trabalhar para cancro do colo do útero.
acelerar a eliminação do cancro do colo do
útero nas próximas décadas, com um conjunto Causas
acordado de três metas a cumprir até 2030. O HPV é uma infecção sexualmente transmissível
comum que pode afectar a pele, a área genital e
a garganta. Quase todas as pessoas sexualmente
activas vão tê-lo nalgum momento das suas vidas,
geralmente sem apresentar sintomas. Na maioria
O CANCRO DO COLO
dos casos, o sistema imunológico elimina o HPV
DO ÚTERO AFECTA do corpo. A infecção persistente de alto risco
DESPROPORCIONALMENTE AS por HPV pode levar ao aparecimento de células
MULHERES MAIS JOVENS E, anormais, que eventualmente se desenvolvem em
COMO RESULTADO, 20% DAS cancro.
CRIANÇAS QUE PERDEM AS
SUAS MÃES PARA O CANCRO 95% dos cancros do colo do útero é devido a uma
DEVE-SE AO CANCRO DO infecção persistente por HPV no colo do útero
COLO DO ÚTERO (a parte inferior do útero que se abre na vagina,
também chamada de canal de parto) que não foi
tratada. Geralmente, leva 15 a 20 anos para as
células anormais se desenvolverem em cancro,

15
SAÚDE
profissional de saúde se notarem:
• Sangramento incomum entre menstruações,
após a menopausa ou após relações sexuais;
• Corrimento abundante e com mau cheiro;
• Sintomas como dor persistente nas costas,
pernas ou pélvis;
• Perda de peso, cansaço, perda de apetite;
• Desconforto vaginal;
• Inchaço das pernas.
mas em mulheres com sistema imunológico
enfraquecido, como no caso do VIH não tratado, Resposta da OMS
esse processo pode ser mais rápido e demorar À medida que os países de baixo e médio
cinco a 10 anos. rendimento expandem o rastreio do cancro do
colo do útero, o número de casos invasivos
Os factores de risco para a progressão do cancro detectados aumentará, especialmente em
incluem o grau de oncogenicidade do tipo HPV, o populações que anteriormente não eram
estado imunitário, a presença de outras infecções rastreadas. Por conseguinte, é necessário
sexualmente transmissíveis, o número de partos, implementar e intensificar estratégias de
uma primeira gravidez numa idade jovem, o uso encaminhamento e tratamento do cancro, bem
de contraceptivos hormonais e o tabagismo. como serviços de prevenção.

Prevenção Todos os países comprometeram-se a eliminar


A sensibilização do público e o acesso à o cancro do colo do útero como problema de
informação e aos serviços de saúde são saúde pública. A Estratégia Global da OMS
essenciais para a prevenção e o controlo ao longo define a eliminação como a redução para uma
da vida. A vacinação taxa de incidência
entre os 9 e os 14 anos limiar de quatro
é uma forma altamente por cada 100 mil
eficaz de prevenir DE ACORDO COM OS mulheres por ano e
infecções por HPV, MODELOS, ESTIMA-SE QUE estabelece três metas
cancro do colo do UM ACUMULADO DE 74 a serem alcançadas
útero e outros cancros MILHÕES DE NOVOS CASOS até 2030:
relacionados. DE CANCRO DO COLO DO • Vacinação de 90%
ÚTERO E 62 MILHÕES DE das raparigas com
O rastreio a partir dos MORTES POSSAM SER uma vacina contra
30 anos na população EVITADOS ATÉ 2120 SE ESTA o HPV antes dos 15
em geral (25 anos no anos;
META DE ELIMINAÇÃO FOR
caso das mulheres com • Rastreio de 70%
VIH) pode detectar
ATINGIDA
das mulheres
lesões cervicais que, mediante teste de alta
quando tratadas, também previnem o cancro do precisão antes dos 35 anos e novamente
colo do útero. antes dos 45 anos;
• Tratamento de 90% das mulheres com
Quando os sintomas estão presentes, em lesões pré-cancerosas ou cancro do colo do
qualquer idade, a detecção precoce seguida de útero.
tratamento imediato e de qualidade pode curar o
cancro do colo do útero. De acordo com os modelos, estima-se que
um acumulado de 74 milhões de novos casos
Desde 2023, estão disponíveis em todo o mundo de cancro do colo do útero e 62 milhões de
seis vacinas contra o HPV. Todas protegem contra mortes possam ser evitados até 2120 se esta
os tipos 16 e 18 de HPV de alto risco, que são meta de eliminação for atingida.
responsáveis pela maioria dos cancros do colo do
útero, e demonstraram ser seguras e eficazes na A prevenção de lesões pré-cancerosas e
prevenção da infecção por HPV. cancros associados ao HPV é também um
elemento-chave das Estratégias Sectoriais de
Sintomas Saúde Globais da OMS para o VIH, Hepatites
O cancro do colo do útero pode ser curado se Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis
for diagnosticado e tratado numa fase inicial da 2022-2030 e a resolução WHA74.5 (2021)
doença. Um passo fundamental é reconhecer os da Assembleia Mundial da Saúde sobre saúde
sintomas e ir ao médico para discutir eventuais oral inclui medidas sobre cancros da boca e
dúvidas. As mulheres devem consultar um da garganta.

16
SAÚDE
RIGOR E CONFORTO NA MEDIÇÃO DA GLICEMIA

Sistema de auto-codificação

Amostra de 0,3 µg/L

Leitura em 3 segundos

Memória para 365 testes


MKT01128

DIAGNOSTICAR CONHECER CONTROLAR VIVER COM


DIABETES

www.elementdiabetes.com

17
Para mais informações contacte: geral@australpharma.net ou visite www.australpharma.net
SAÚDE
RUBRICA DIAGNÓSTICO

IMPORTÂNCIA
E MÉTODOS DE
DIAGNÓSTICO
DA INFECÇÃO PELO
VÍRUS DO PAPILOMA
HUMANO - HPV

18
SAÚDE
O HPV, OU VÍRUS DO PAPILOMA
HUMANO, É UM VÍRUS DNA QUE
AFECTA A PELE E MUCOSAS. É
RESPONSÁVEL POR UM ELEVADO
NÚMERO DE INFECÇÕES, QUE
NA MAIORIA DAS VEZES SÃO
ASSINTOMÁTICAS, SENDO CAPAZ DE
GERAR UMA GRANDE VARIEDADE DE
LESÕES, NOMEADAMENTE DIVERSOS
TUMORES BENIGNOS E MALIGNOS.

Dra. Patrícia Isabel Ribeiro Andrade

A
ctualmente, conhecem-se mais de Licenciada em Anatomia Patológica Citológica e
Tanatológica, com diversas Pós-Graduações e Mestrado
300 genótipos de HPV, dos quais
de Biologia Molecular e Oncologia. Direcção Geral da
cerca de 40 subtipos de alto risco Macrolab - Centro de Medicina Laboratorial
que estão preferencialmente associados a
99,7% dos cancros do colo do útero, 75%
da vagina, 69% da vulva, 72% da cabeça
e pescoço, 91% do ânus e 63% do pénis.
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
designou 14 tipos de HPV como sendo de
alto risco oncogénico (16, 18, 31, 33, 35, 39, ou transformadora, na qual há integração
45, 51, 52, 56, 58 e 59) e reconheceu como do DNA do HPV no genoma da célula,
“possivelmente oncogénicos” dois subtipos com interferência na regulação do ciclo
adicionais (68 e 73). Os tipos conhecidos celular (pelos oncogenes virais E6 e E7) e
de risco intermédio são o HPV 26, 55 e progressão para lesões pré-cancerosas e
66, enquanto os de baixo risco oncogénico cancro invasivo.
são o 6, 11, 40, 42, 43, 44, 54, 61, 70, 72, 81
e 88, que originam lesões benignas como Qual a importância da detecção do DNA
verrugas genitais ou anais, condilomas do HPV?
acuminados e displasias de baixo grau do O principal valor da detecção do DNA
colo do útero, ânus, vulva, vagina ou pénis. do HPV é identificar um cancro invasivo
numa mulher em que as lesões ainda não
Sabe-se que uma percentagem da tenham sido detectadas na citologia. O uso
população já teve ou vai ter, em algum da biologia molecular, em conjunto com
momento da sua vida, uma infecção por o Papanicolau, reduz substancialmente o
HPV. No entanto, apenas 10% a 15% número de casos de cancro e minimiza
destas pessoas desenvolve infecção o número de mulheres com cancro
persistente. A infecção pode ser transitória indetectado no despiste citológico.

19
SAÚDE
A detecção do DNA do vírus serve também
como método de monitorização de uma
possível recorrência e para comprovar a total
erradicação do vírus após o tratamento.

Existem vários métodos utilizados para a


detecção precoce do vírus HPV, sendo eles:

• Reacção Polimerase em cadeia (PCR)


É um método de síntese de ácidos nucleicos • Multiplex/NESTED PCR
in vitro, através do qual um determinado São utilizados em simultâneo vários primers
fragmento de DNA pode ser especificamente no mesmo PCR, permitindo amplificar
replicado. Requer a presença de dois várias áreas de interesse na mesma
oligonucleótidos (primers) que cercam o reacção. Esta técnica requer duas ou
fragmento de DNA a amplificar e que são mais amostras distintas uma da outra. É
usados como iniciadores de uma série de possível detectar e realizar a tipagem de
reacções sintéticas cíclicas catalisadas por vários genótipos de HPV. Há uma alta
uma DNA polimerase. Este processo de sensibilidade na detecção e a genotipagem
amplificação enzimática de DNA, imitando em de vários tipos de HPV.
parte o processo de replicação que ocorre in
vivo, permite teoricamente, existindo condições Como desvantagem, necessita ocorrer
de reacção óptimas, duplicar em cada ciclo em duas etapas de PCR e é uma técnica
a quantidade de fragmento de DNA, do qual demorada comparativamente ao PCR
resulta um aumento exponencial de produto. simples.

O teste de alta sensibilidade consiste na • Captura Híbrida


amplificação do alvo, ou seja, do DNA viral, É uma reacção de amplificação de sinal e
e posterior hibridização. Tem sido utilizado associa métodos de hibridização molecular
principalmente em pesquisas, especialmente e antígenos monoclonais. É o exame
como um padrão ouro para comprovar, ou mais moderno para fazer diagnóstico do
não, a existência do DNA do HPV. Tem como HPV. Detecta com alta sensibilidade e
desvantagens as falhas de amplificação por especificidade o DNA do HPV em amostra
ineficiência de primers ou erro de extracção de escovado ou biopsia do tracto genital
do DNA. Além disso, a PCR conta com inferior, grupo (de baixo ou alto riscos) e a
a desvantagem de necessitar de espaço carga viral.
adequado e profissionais com experiência para
minimizar os riscos inerentes à amplificação. Contudo, não pode ser utilizada como
Esses factores limitam a sua implementação ferramenta de diagnóstico isoladamente. O
em diversos laboratórios. resultado do teste não especifica o tipo de
HPV presente na amostra, só indica se a
• Reacção Polimerase em cadeia (PCR) em amostra é positiva ou negativa e se o vírus
tempo real é de alto ou baixo risco.
Consiste em monitorizar o processo de
amplificação do DNA, à medida que este • Teste de Genotipagem
ocorre. Tanto o processo enzimático de PCR Permite identificar os genótipos de alto
como a detecção do produto de PCR ocorrem risco, perante a existência de infecções
no mesmo capilar de reacção. Os instrumentos persistentes. Tem uma elevada sensibilidade
medem o produto de PCR formado, através analítica, permite identificar genótipos de
de marcadores fluorescentes directamente alto risco e permite diferentes abordagens
com marcadores que se ligam à dupla cadeia terapêuticas.
de DNA (por exemplo, SYBR Green I), ou
indirectamente com oligonucleótidos marcados Porém, é menos sensível relativamente ao
com fluorescência (sondas fluorescentes), que método de detecção por captura hídrica.
reconhecem e se ligam por emparelhamento
de bases a uma região específica da cadeia
de DNA. A quantidade de fluorescência é
proporcional à quantidade de produto no capilar
de reacção. O número de ciclos necessários
para gerar um sinal detectável depende da
concentração inicial de DNA na amostra.

20
SAÚDE
OS PROGRAMAS DE RASTREIO
COM BASE NA CITOLOGIA EM Os programas de rastreio com base na citologia
MEIO LÍQUIDO REQUEREM em meio líquido requerem infraestruturas
INFRAESTRUTURAS (laboratórios) e técnicos qualificados, bem
como um sistema de controlo de qualidade
(LABORATÓRIOS) E TÉCNICOS
bem definido. Estes recursos revelaram-se
QUALIFICADOS, BEM COMO caros e difíceis de implementar para muitos
UM SISTEMA DE CONTROLO DE países com baixos recursos, o que se constata
QUALIDADE BEM DEFINIDO. ESTES pela disparidade global observada nas taxas de
RECURSOS REVELARAM-SE CAROS cancro do colo do útero.
E DIFÍCEIS DE IMPLEMENTAR
PARA MUITOS PAÍSES COM BAIXOS A citologia em meio líquido permite ultrapassar
RECURSOS, O QUE SE CONSTATA algumas das limitações de colheita da
PELA DISPARIDADE GLOBAL citologia convencional, possibilitando um
OBSERVADA NAS TAXAS DE CANCRO processamento das lâminas mais homogéneo
e menos citologias insatisfatórias. Permite
DO COLO DO ÚTERO
automatização, com processamento de grandes
volumes de amostras, e redução dos custos
para os laboratórios, possibilitando ainda
a realização de testes complementares na
mesma amostra, como a pesquisa de HPV.

O rastreio citológico apresenta fraca


• Hibridização in situ reprodutibilidade inter-observador e elevada
Método de hibridização que demonstra o DNA taxa de falsos negativos, decorrentes do facto
viral na célula, tendo-se a oportunidade de do resultado citológico ser dependente da
avaliação do tecido ou esfregaço celular, ao interpretação do patologista e, por isso, ser de
mesmo tempo em que se avalia a presença, ou natureza subjectiva. A maior variabilidade entre
não, do vírus. os patologistas observa-se na interpretação
de lesões ASC-US (analisadas como amostras
Apresenta como desvantagens o facto de ser negativas por outros patologistas) e de lesões
menos sensível que o PCR e a captura híbrida. HSIL (interpretadas também como LSIL ou
Quando se aumenta muito esta sensibilidade, ASC-US). Esta variabilidade pode resultar
principalmente na análise de lesões de baixo em abordagens diagnósticas e terapêuticas
grau, pode haver reacção cruzada, diminuindo a consideravelmente diferentes.
eficácia do método.
As mais recentes orientações decorrentes
• Método de Southern Blot do Consenso da SGO e ASCCP 2015 vão
É muito específico na detecção do DNA viral. no sentido de utilizar o teste molecular de
Pode ser feito através de fragmentos de biopsia identificação do vírus HPV de alto risco como
ou esfoliação celular. “primary test”, de acordo com o algoritmo
seguinte:
Apresenta como desvantagens o facto de ser
uma técnica de alto custo e levar muito tempo.

Vários testes estão aprovados pela FDA para


utilização enquanto testes primários de rastreio
do CCU.

21
SAÚDE
INTERNAMENTO POR
PERSPECTIVA

DIABETES
A DIABETES REPRESENTA UM GRUPO
DE DOENÇAS METABÓLICAS COM
ETIOLOGIAS DIVERSAS, CARACTERIZADO
POR HIPERGLICEMIA, QUE RESULTA
DE UMA SECREÇÃO DEFICIENTE
DE INSULINA PELAS CÉLULAS ß,
RESISTÊNCIA PERIFÉRICA À ACÇÃO DA
INSULINA OU AMBAS. OU, MAIS SIMPLES,
É O AUMENTO DO AÇÚCAR NO SANGUE.
O PÂNCREAS É O ÓRGÃO QUE PRODUZ A
HORMONA INSULINA PELAS CÉLULAS ß,
SENDO ESSA HORMONA RESPONSÁVEL
PELA DESTRUIÇÃO DA GLICOSE NO
Dra. Sandra Martins
NOSSO SANGUE. A INSULINA PODE SER
Médica Endocrinologista pela Universidade de
PRODUZIDA COM DEFICIÊNCIA OU PODE
São Paulo (USP). Especialista em Endocrinologia
ESTAR AUSENTE NESSAS CÉLULAS Metabólica da Clínica Luanda Medical Center
ß. ACONTECENDO ISSO, TEMOS A
PATOLOGIA DIABETES MELLITUS.

22
SAÚDE
UMA VEZ QUE A MAIORIA DAS ADMISSÕES
DE DIABÉTICOS TEM CARÁCTER DE
EMERGÊNCIA, É ACONSELHÁVEL
O RASTREAMENTO DA GLICEMIA
NOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA E DE

P
EMERGÊNCIA. A GLICEMIA CAPILAR À
oliúria, polifagia, polidipsia, perda de
peso, prurido, cansaço excessivo, visão
BEIRA DO LEITO É UM MÉTODO FÁCIL
turva, dor de cabeça, formigueiro, E RÁPIDO, MAS DEVE-SE UTILIZAR UM
aumento de temperatura na planta dos pés, APARELHO CALIBRADO E VALIDADO, COM
entre outros, são sinais e sintomas desta ACURÁCIA EM DIFERENTES AMOSTRAS,
doença, que pode ser classificada de distintas CONDIÇÕES DE HEMATÓCRITO,
formas. SATURAÇÃO DE OXIGÉNIO OU DE
MEDICAMENTOS. OS PROFISSIONAIS
A Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) é uma DEVEM SER TREINADOS PARA O
doença autoimune, poligénica, decorrente PROCEDIMENTO E O SISTEMA DEVE
da destruição das células ß pancreáticas,
PERMITIR O RASTREAMENTO DE TODOS
ocasionando a deficiência completa na
produção de insulina. Embora a prevalência de
OS EXAMES REALIZADOS SEGUNDO A
DM1 esteja a aumentar, corresponde a apenas NORMA TÉCNICA VIGENTE
5% a 10% de todos os casos de Diabetes
Mellitus.

Já a Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2)


corresponde a 90% a 95% de todos os casos
de Diabetes Mellitus. Possui etiologia complexa Outros tipos de diabetes estão relacionados
e multifactorial, envolvendo componentes com doenças endócrinas. Por outro
genéticos e ambientais. lado, a gestação consiste numa condição
diabetogénica, uma vez que a placenta produz
hormonas hiperglicemiantes e enzimas
placentárias que degradam a insulina, com
consequente aumento compensatório na
produção e na resistência à insulina, podendo
evoluir com disfunção das células ß. Surge,
assim, a diabetes gestacional.

Diagnóstico
O diagnóstico da diabetes passa por:
• Glicose plasmática e glicemia capilar
acima ou igual a 126mg/dl;
• Hemoglobina glicada igual ou
acima de 6,5%;
• Sinais e sintomas com medição
de glicemia ao acaso igual ou maior
que 200mg/dl;
• Teste de tolerância à glicose oral
75g:
› Tempo 0´: acima ou igual a
126mg/dl
› Depois de 2 horas: acima ou igual
a 200mg/dl

No caso dos doentes que tiverem


glicemia capilar ou glicose plasmática
acima de 100mg/dl, é necessário
investigar para pré-diabetes.

23
SAÚDE
Metas no tratamento da Diabetes Mellitus
O internamento por Diabetes Mellitus no nosso
serviço pode acontecer num número de dois a
quatro casos de descompensação da patologia
no mês. Os doentes chegam à consulta com os
valores glicémicos elevados e, inicialmente, são
colocados na sala de observação e realizados de emergência, é aconselhável o rastreamento
exames. Se tiverem critérios de internamento da glicemia nos serviços de urgência e de
para patologia, são encaminhados para a emergência. A glicemia capilar à beira do
enfermaria ou transferidos para outras unidades leito é um método fácil e rápido, mas deve-se
com cuidados mais especializados, como a utilizar um aparelho calibrado e validado, com
unidade de cuidados intensivos. acurácia em diferentes amostras, condições
de hematócrito, saturação de oxigénio ou de
No momento da admissão hospitalar, deve-se medicamentos. Os profissionais devem ser
suspender todos os anti-diabéticos orais (ADO). treinados para o procedimento e o sistema
A insulina é a substância deve permitir o rastreamento de todos os
de escolha no controlo da exames realizados segundo a norma
hiperglicemia, pois tem técnica vigente.
acção mais rápida, permite
a titulação de dose e pode
ser usada em diferentes
contextos.

Temos, em média, um atendimento de


150 doentes com Diabetes Mellitus (tipo 1, tipo
2 e gestacional) no nosso serviço de consultas Emergências hiperglicemicas: complicações
externas mensalmente. agudas
1. Cetoacidose metabólica (CAD)
Em doentes com diabetes, o controle glicémico É uma complicação grave que pode ocorrer
deve ser individualizado, de acordo com a durante a evolução da Diabetes Mellitus tipos
situação clínica. Os parâmetros de avaliação 1 e 2. Está presente em cerca de 25% dos
indicados são a hemoglobina glicada A1c casos no momento do diagnóstico da DM1 e é
(HbA1c), as glicemias capilares e plasmáticas a causa mais comum de morte entre crianças
determinadas em jejum, nos períodos pré- e adolescentes com DM1, além de ser
prandiais, duas horas após as refeições e ao responsável por metade das mortes nesses
deitar. doentes com menos de 24 anos.

A glicemia deve ser dosada em todos os doentes


hospitalizados, com ou sem Diabetes Mellitus, no
momento da admissão e durante a ocorrência
dos factores de risco descritos. Uma vez que a
maioria das admissões de diabéticos tem carácter

24
SAÚDE
A última recomendação da American Diabetes
Association (ADA), datada de 2023, adopta,
como critério diagnóstico de CAD, glicemia
sanguínea igual ou superior 250 mg/dl,
acompanhada por outras alterações dos
exames encontradas na gasimetria venosa/
arterial.

2. Síndrome hiperglicemico hiperosmolar


A CAD moderada e grave deve ser tratada (SHH)
em Unidade de Terapia Intensiva e, É uma grave complicação metabólica da
fundamentalmente, por profissionais habilitados Diabetes Mellitus. A SHH e a CAD representam
para este tipo de complicação. É importante diferentes pontos no espectro das emergências
salientar que, durante muitos anos, considerou- hiperglicemicas associadas ao mau controlo
se a CAD uma complicação específica da DM1. metabólico da diabetes. A SHH caracteriza-se
Entretanto, a literatura tem publicado vários por hiperglicemia severa, hiperosmolaridade
relatos de CAD em indivíduos com DM2, inclusive e desidratação na ausência de cetoacidose,
em idosos acima de 70 anos. enquanto a CAD apresenta-se com acidose
metabólica e aumento de corpos cetónicos.
Antes do advento da insulina, a taxa de
mortalidade de CAD oscilava em torno de 90%. A SHH é menos frequente que a CAD, mas
Da década de 1950 em diante, com a evolução de está associada a maior morbimortalidade. A
todo o arsenal terapêutico, como antibioterapia, SHH, tipicamente, ocorre em adultos e idosos
a ênfase no processo de hidratação, o controlo com DM2, mas também pode ocorrer na
electrolítico e o uso de insulina regular, essa população pediátrica e em doentes com DM1.
taxa foi reduzida para aproximadamente 10%. A taxa de mortalidade reportada para eventos
Actualmente, em centros de excelência no de SHH é de 5% a 16% e está relacionada
tratamento de CAD, a mortalidade geral é inferior com factores precipitantes, como infecções,
a 1%, podendo ser maior que 5% em indivíduos cirurgias ou eventos isquémicos, comorbidades,
mais velhos e com doenças graves. Quando evolui idade avançada e severidade de desidratação.
para edema cerebral, pode atingir 30% ou mais. Doentes que apresentam episódios de crises
hiperglicemicas têm risco acrescido de
As principais causas de morte por CAD são eventos cardiovasculares maiores, doença
edema cerebral, hipopotassemia, hipofosfatemia, renal terminal e mortalidade a longo prazo,
hipoglicemia, complicações intracerebrais, principalmente na população jovem.
trombose venosa periférica, mucormicose,
rabdomiólise e pancreatite aguda. As complicações mais frequentes do
tratamento são hipoglicemia e hipocalemia. As
Na CAD, fundamentalmente, ocorre a redução complicações mais graves são edema cerebral
na concentração efectiva de insulina circulante e rabdomiólise. A prevenção das complicações
associada à libertação excessiva de hormonas envolve redução gradual da glicemia e da
contra-reguladoras, entre os quais o glucagon, osmolaridade séricas e reposição apropriada de
as catecolaminas, o cortisol e a hormona de electrólitos.
crescimento. A deficiência de insulina pode ser
absoluta, em doentes com DM1, ou relativa, como Para evitar o internamento (complicações
observado em doentes com DM2 na presença de agudas) dos doentes com Diabetes Mellitus,
stress ou doenças intercorrentes. os mesmos devem ter o acompanhamento
em consultas externas da especialidade
A avaliação laboratorial inicial de doentes com conforme orientação do médico, fazer a
CAD deve incluir a determinação de glicose medicação orientada ou prescrita da patologia
plasmática, fósforo, ureia, creatinina, cetonemia, juntamente com as mudanças de estilo de vida
electrólitos, inclusive com o cálculo de ânion- (alimentação adequada e actividade física).
gap, análise urinária, cetonúria, gasometria,
hemograma e electrocardiograma. Quando
necessário, solicitam-se raios X de tórax e
culturas de sangue e urina.

Fonte:
1. The American Diabetes Association Releases the Standards of Care in Diabetes—2024
2. Directrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2023.

25
SAÚDE
DIABETES

DOENÇA RENAL
ENTREVISTA

DIABÉTICA
RUBRICA

A DIABETES MELLITUS (DM) É UMA DOENÇA


CRÓNICA QUE SE CARACTERIZA PELA
DESREGULAÇÃO DO METABOLISMO GLUCÍDICO.
EM 2017, A INTERNATIONAL DIABETES
FEDERATION (IDF) ESTIMOU EM 48% O AUMENTO
DA PREVALÊNCIA DA DM ATÉ 2045 (DE 425
MILHÕES PARA 629 MILHÕES DE DOENTES),
AFECTANDO SOBRETUDO OS PAÍSES DE BAIXO
E MÉDIO DESENVOLVIMENTO. A NEFROPATIA
DIABÉTICA ACOMETE 20% A 40 % DOS
PACIENTES COM DIABETES MELLITUS TIPO 1 E,
PELO MENOS, UM TERÇO DAQUELES COM TIPO 2.

Dra. Antónia Mitange Barbosa


Licenciada em Medicina pela Universidade
Agostinho Neto. Pós-graduação em

A
Endocrinologia pela Universidade Federal, São
Paulo, Brasil nefropatia
diabética (ND)
define-se por
alterações renais estruturais e
funcionais dos rins. As primeiras são
a expansão mesangial, o espessamento da
membra basal, a lesão podocitária e, finalmente,
a esclerose glomerular. As alterações funcionais
da nefropatia diabética são a albuminúria, a
hematúria (menos frequente) e a doença renal
crónica progressiva.

A progressão da doença renal crónica por


nefropatia diabética pode ser atrasada com
medidas terapêuticas e alterações no estilo de vida
e dietéticas.

História natural
A manifestação laboratorial mais precoce é a
microalbuminúria, ou seja, uma excreção urinária

26
SAÚDE
de albumina de 30 a 300 miligramas
por dia, caracterizando a nefropatia
incipiente sem intervenção específica.
80% dos pacientes com diabetes tipo
1 e 20% a 40% dos diabéticos tipo
2 com microalbuminúria persistente
evoluirão para macroalbuminúria, a
excreção urinária de albumina (AUE)
superior a 300 miligramas por dia,
num período de 10 a 15 anos.

Uma vez que a nefropatia diabética


clínica (ou seja, a presença de
macroalbuminúria) surge na ausência
de intervenção específica, acontece
uma redução progressiva do ritmo de
filtração glomerular.

Na DM tipo 1, a nefropatia
diabética surge
habitualmente cinco
a 10 anos após o
diagnóstico. No caso Diagnóstico
da DM tipo 2, como o diagnóstico é Como mencionado, a manifestação laboratorial
frequentemente realizado com o atraso mais precoce da ND é a microalbuminúria na
de alguns anos, não é raro o achado DM tipo 1. Geralmente, surge após cinco anos de
de micro ou macroalbuminúria doença e raramente o faz antes da puberdade.
na ocasião em que a doença é
detectada. Na DM tipo 2, como o diagnóstico é, em geral,
tardio, cerca de 10% a 40 % dos casos já
Vale ressaltar que 9% a 30% das apresenta microlbuminúria e até 10% tem
nefropatias em diabéticos pode ter proteinúria ou macroalbuminúria na época do
outra etiologia. Em estudo recente, diagnóstico.
18% dos pacientes com proteinúria
submetidos à biopsia renal tinha uma Nos portadores de DM tipo 2, deve-se pesquisar
glomerulopatia primária (23). albuminúria por meio da urinálise na primeira
consulta e, depois, anualmente.

No caso da DM tipo 1, a ND deve ser pesquisada


cinco anos após o diagnóstico ou mais cedo, na
puberdade ou no mau controlo glicémico, e
posteriormente a cada ano.

Caso o exame sumário da urina


apresente positividade para
proteína, deve-se quantificá-la
na urina das 24 horas. Caso
a urinálise seja isenta
de proteína, faz-se o
rastreamento para
microalbuminúria,
pelo menos, a
cada três
a seis
meses.

27
SAÚDE
ENTREVISTA

DOENÇA RENAL
ANÁLISE

CRÓNICA: COMUM,
NOCIVA E MUITAS
VEZES TRATÁVEL
A PREVALÊNCIA DA DOENÇA RENAL ESTÁ A AUMENTAR DRAMATICAMENTE E O CUSTO DO SEU
TRATAMENTO REPRESENTA UM ENORME FARDO PARA OS SISTEMAS DE SAÚDE EM TODO O
MUNDO. MESMO EM PAÍSES DE RENDIMENTO ELEVADO, O CUSTO MUITO ELEVADO DA DIÁLISE,
A LONGO PRAZO, PARA UM NÚMERO CRESCENTE DE PESSOAS, É UM PROBLEMA. EM PAÍSES DE
BAIXO E MÉDIO RENDIMENTO, É INCOMPORTÁVEL. A MELHOR ESPERANÇA PARA REDUZIR OS
CUSTOS HUMANOS E ECONÓMICOS DA DOENÇA RENAL CRÓNICA E DA INSUFICIÊNCIA RENAL
RESIDE, PORTANTO, NA PREVENÇÃO.

28
SAÚDE
Uma doença comum
De acordo com a iniciativa Dia Mundial
do Rim (World Kidney Day), uma iniciativa
conjunta da Sociedade Internacional
de Nefrologia (ISN) e da Federação
Internacional de Fundações Renais –
Aliança Mundial dos Rins, entre 8% a
10% da população adulta tem algum tipo
de dano renal e, todos os anos, milhões
morrem prematuramente de complicações
relacionadas com as doenças renais
crónicas.

A
doença renal crónica diz respeito à A primeira consequência da doença
perda progressiva da função renal, renal crónica não detectada é o risco de
ao longo de um período de meses desenvolver perda progressiva da função
ou anos. Cada um dos nossos rins tem renal, que pode levar à insuficiência
cerca de um milhão de filtros minúsculos, renal (também chamada de doença renal
chamados de néfrons. Se estes se terminal), o que significa que é necessário
danificarem, deixam de funcionar. um tratamento de diálise regular ou um
transplante renal para se sobreviver.
Durante algum tempo, os néfrons A segunda consequência é que a doença
saudáveis podem assumir o trabalho extra. renal crónica aumenta o risco de morte
Mas se os danos persistirem, mais e mais prematura por doença cardiovascular
néfrons deixam de funcionar. associada.

Após um certo ponto, os néfrons que


restam não podem mais filtrar o sangue
suficientemente bem para que a pessoa se
mantenha saudável. Quando a função renal HIPERTENSÃO E DIABETES SÃO
cai abaixo de um determinado ponto, é AS CAUSAS MAIS COMUNS DE
considerada insuficiência renal. Esta afecta DOENÇA RENAL. A TENSÃO
todo o corpo e pode fazer com que uma ARTERIAL ELEVADA CAUSA POUCO
pessoa se sinta muito doente. Se não for MAIS DE UM QUARTO DE TODOS OS
tratada, a insuficiência renal pode colocar a CASOS DE INSUFICIÊNCIA RENAL.
vida em risco.
A DIABETES FOI ESTABELECIDA
COMO A CAUSA DE CERCA DE UM
Convém não esquecer que, numa fase
precoce, a doença renal crónica não TERÇO DE TODOS OS CASOS E É
apresenta sinais ou sintomas. A doença A MAIS COMUM NA MAIORIA DOS
renal pode ser tratada e, quanto mais PAÍSES DESENVOLVIDOS
cedo se souber que se a tem, maiores
serão as hipóteses de um tratamento
eficaz. A doença renal pode progredir para
insuficiência renal.

29
SAÚDE
O principal indicador da função renal é o nível
de creatinina no sangue, um resíduo produzido
pelos músculos e excretado pelos rins. Se a
função renal estiver diminuída, a creatinina
acumula-se.
A função renal é melhor medida por um
indicador chamado Taxa de Filtração
Glomerular (TFG), que mede a taxa de
filtração do sangue pelos rins. Este indicador
permite aos médicos determinar se a função
renal está normal e, em caso negativo, até que
nível se deteriorou.

Causas Alguns medicamentos também podem


Hipertensão e diabetes são as causas mais causar doença renal crónica, especialmente
comuns de doença renal. A tensão arterial analgésicos, se tomados durante um longo
elevada causa pouco mais de um quarto período de tempo. Muitas vezes, os médicos
de todos os casos de insuficiência renal. não conseguem determinar o que causou o
A diabetes foi estabelecida como a causa problema.
de cerca de um terço de todos os casos
e é a mais comum na maioria dos países Uma pessoa pode perder até 90% das
desenvolvidos. suas funções renais antes de experimentar
quaisquer sintomas. A maioria das pessoas
Outras condições menos comuns incluem não apresenta sintomas até que a doença
inflamação (glomerulonefrite) ou infecções renal crónica esteja avançada. Os sinais de
(pielonefrite). Às vezes, a doença renal crónica progressão incluem tornozelos inchados,
é hereditária (como a doença policística) ou fadiga, dificuldade de concentração,
o resultado de um bloqueio de longa data do diminuição do apetite, sangue na urina e urina
sistema urinário (como próstata aumentada ou espumosa.
pedras nos rins).
Tratamento
Não existe cura para a doença renal crónica,
embora o tratamento possa retardar ou
travar a progressão da doença e prevenir o
desenvolvimento de outras doenças graves.
Nos estágios iniciais da doença renal, uma
UMA PESSOA PODE PERDER ATÉ 90% dieta adequada e medicamentos podem ajudar
a manter os equilíbrios críticos no corpo que
DAS SUAS FUNÇÕES RENAIS ANTES
os rins normalmente controlariam. No entanto,
DE EXPERIMENTAR QUAISQUER em caso de insuficiência renal, os resíduos
SINTOMAS. A MAIORIA DAS PESSOAS e os líquidos acumulam-se e é necessária
NÃO APRESENTA SINTOMAS ATÉ diálise para remover esses resíduos e excesso
QUE A DOENÇA RENAL CRÓNICA de fluido do sangue. A diálise pode ser feita
ESTEJA AVANÇADA. OS SINAIS DE por máquina (hemodiálise) ou através de
PROGRESSÃO INCLUEM TORNOZELOS fluido no abdómen (diálise peritoneal). Em
INCHADOS, FADIGA, DIFICULDADE pacientes adequados, o transplante renal
DE CONCENTRAÇÃO, DIMINUIÇÃO DO combinado com medicamentos e uma dieta
APETITE, SANGUE NA URINA E URINA saudável pode restaurar a função renal
normal.
ESPUMOSA
A diálise e o transplante renal são conhecidos
como terapias de substituição renal, porque
tentam substituir o funcionamento normal
dos rins. O transplante renal é considerado
o melhor tratamento para muitas pessoas
com doença renal crónica grave, porque a
qualidade de vida e a sobrevida são muitas
vezes melhores do que na diálise. No
entanto, há escassez de órgãos disponíveis
para dádiva. Muitas pessoas candidatas a
transplante renal são colocadas numa lista de

30
SAÚDE
espera para transplante e necessitam de
diálise até que um órgão esteja disponível.
Um rim pode provir de um parente vivo, de
uma pessoa viva sem parentesco ou de uma
pessoa que morreu (dador de cadáver).
Apenas um rim é necessário para sobreviver.
Em geral, os órgãos de dadores vivos
funcionam melhor e por períodos de tempo
mais longos do que os de dadores cadáver.
Nos Estados Unidos, o
Globalmente, as taxas de sucesso dos tratamento da doença renal
transplantes são muito boas. Os transplantes crónica deverá exceder os 48 mil milhões
de dadores falecidos têm uma taxa de sucesso de dólares por ano e o programa dedicado
de 85% a 90% no primeiro ano. Isso significa consome 6,7% do orçamento total do
que, após um ano, 85 a 90 em cada 100 rins Medicare para cuidar de menos de 1% da
transplantados ainda estão a funcionar. Os população coberta. Na China, a economia
transplantes de dadores vivos têm uma taxa perderá 558 mil milhões de dólares
de sucesso de 90% a 95%. na próxima década devido aos efeitos
atribuíveis a doenças cardiovasculares e
Cerca de uma em cada 10 pessoas tem algum renais crónicas. No Uruguai, o custo anual
grau de doença renal crónica. Pode ocorrer da diálise é de cerca de 23 milhões de
em qualquer idade, mas torna-se mais comum dólares, representando 30% do orçamento
com o envelhecimento e é mais frequente do Fundo Nacional de Recursos para
em mulheres. Embora cerca de metade das terapias especializadas.
pessoas com 75 anos ou mais tenha algum
grau de doença renal crónica, muitas dessas Em países de renda média, o acesso a
pessoas não têm doenças renais - têm um terapias que salvam vidas tem aumentado,
envelhecimento normal dos rins. mas a terapia renal substitutiva permanece
inacessível para a maioria dos pacientes.
Custos pesados Os países em desenvolvimento, com uma
De acordo com um relatório publicado pelo população combinada de mais de 600
NHS Kidney Care, em Inglaterra, a doença milhões de pessoas, não podem pagar a
renal custa mais do que o cancro da mama, substituição renal, resultando na morte de
pulmão, cólon e pele combinados. Na mais de um milhão de pessoas anualmente
Austrália, o custo do tratamento de todos por insuficiência renal não tratada, nota a
os casos actuais e novos de insuficiência World Kidney Day. De facto, mais de 80%
renal até 2020 foi estimado em 12 mil dos indivíduos que recebem terapia renal
milhões de dólares. O custo anual da diálise substitutiva vive no mundo desenvolvido,
por doente variou entre 50 mil e 80 mil porque nos países em desenvolvimento é
dólares australianos, dependendo do tipo de amplamente inacessível. Em países como
tratamento. a Índia e o Paquistão, menos de 10% de
todos os pacientes que dela precisam
recebe qualquer tipo de terapia renal
substitutiva. Em muitos países africanos,
há pouco ou nenhum acesso à terapia
renal substitutiva, o que significa que
muitas pessoas simplesmente morrem.

31
SAÚDE
REFLEXÕES SOBRE
PERSPECTIVA

A DOENÇA RENAL
CRÓNICA
A DOENÇA RENAL CRÓNICA (DRC)
REPRESENTA UMA ELEVADA SOBRECARGA
CLÍNICO-ASSISTENCIAL, QUE CULMINA EM
TRATAMENTOS COMPLEXOS, DISPENDIOSOS,
PROLONGADOS E COM GRANDE IMPACTO
SOCIAL E ECONÓMICO. HÁ QUATRO
DECÁDAS ERA TIDA COMO UMA SENTENÇA
DE MORTE. PORÉM, OS TRATAMENTOS DE
SUSBTITUIÇÃO DA FUNÇÃO RENAL MUDARAM
ESTA PERSPECTIVA, EMBORA CONTINUE A
SER UMA EXCEPÇÃO EM MUITOS PAÍSES EM
DESENVOLVIMENTO.

E
m África, a DRC já constitui um duplo
fardo para a saúde pública, pela sua
sobreposição às doenças transmissíveis,
como a tuberculose e o VIH, a leishmaniose, a
shistosomíase, entre outras, contribuindo para
o aumento de casos.

Estudos da África Subsaariana estimavam


a prevalência da DRC em 6,8%, em 2020.
Os factores de risco associados incluíam
idade igual ou superior 60 anos e, destes,
dois terços não tinham hipertensão arterial
(HTA), Diabetes Mellitus (DM) ou VIH, mas
apresentavam leucocitúria e hematúria,
realçando a necessidade de maior investigação
para compreender a natureza da DRC nesta
Dra. Suzana Costa Dra. Isabel de Lima região.
Docente da Faculdade de Medicina da Médica Nefrologista na Clínica
UAN. Nefrologista na Clínica Girassol. Girassol, Luanda A Sociedade Angolana de Nefrologia (SAN),
Vice-presidente da Sociedade em 2024, registou cerca de 2.800 doentes
Angolana de Nefrologia em terapêutica de substituição da função
renal (TSFR), comparativamente aos 523 em
2010. Estima-se que 8% a 10% da população
mundial é acometida por esta endemia
e, segundo a Sociedade Internacional de
Nefrologia (ISN), em 2040, será a quinta causa
de morte em todo mundo.

32
SAÚDE
Face a esta aumento dramático da doença a nível Glomerular (FG)≤ 60 mL/min.1.73m2, resultando numa
mundial, foram apontadas linhas estratégicas de síndrome complexa, progressiva e irreversível das
abordagem da problemática, que incluem: principais funções endócrino-metabólicas do rim.
A HTA é responsável por 75% dos casos de DRC,
Investimento na promoção da saúde renal e seguida da DM, constituindo as principais causas a
prevenção em todos os níveis da doença (primário, nível mundial, embora existam outras causas, como
secundário e terciário), na abordagem destes doenças glomerulares, obesidade, infecções virais
doentes (VIH, VHB e VHC) e doença renal poliquística.

A DRC é definida pela presença de lesão renal por um Dentro dos factores de risco para DRC:
período igual ou superior a três meses, englobando • Factores não modificáveis
anormalidades estruturais e funcionais do rim (nos Realçamos raça negra, genéticos (portadores
exames de imagem e alterações no sedimento da apolipoproteína a1 e doença poliquística),
urinário), com ou sem diminuição da Filtração doenças cardiovasculares, neoplasias, baixo nível
socioeconómico e baixo peso à nascença.

A SOCIEDADE ANGOLANA DE NEFROLOGIA • Factores modificáveis


(SAN), EM 2024, REGISTOU CERCA DE Incluem o tabagismo, obesidade, consumo
2.800 DOENTES EM TERAPÊUTICA DE de bebidas alcoólicas e sedentarismo, uso de
SUBSTITUIÇÃO DA FUNÇÃO RENAL (TSFR), medicações nefrotóxicas, principalmente os
COMPARATIVAMENTE AOS 523 EM 2010. idosos portadores de doenças crónicas e com
ESTIMA-SE QUE 8% A 10% DA POPULAÇÃO antecedentes de lesão renal aguda (LRA).
MUNDIAL É ACOMETIDA POR ESTA ENDEMIA E,
A doença tem predilecção para o sexo masculino,
SEGUNDO A SOCIEDADE INTERNACIONAL DE
pode acometer qualquer idade, desde crianças,
NEFROLOGIA (ISN), EM 2040, SERÁ A QUINTA
adolescentes, jovens, adultos e idosos. Nos idosos,
CAUSA DE MORTE EM TODO MUNDO há uma diminuição fisiológica da Taxa de Filtração
Glomerular (TFG), facto que, associado a doenças
crónicas (HTA, DM, dislipidemia, obesidade), os torna
vulneráveis a DRC.

33
SAÚDE
A DRC é dividida em cinco estádios, sendo o terceiro
a altura em que o doente deve ser referenciado ao
nefrologista. A doença evolui de forma assintomática
até ao estádio 4, com TFG entre 15-29mL/min, altura
em que inicia a sintomatologia de cansaço fácil,
astenia, perda de peso, náuseas, vómitos, inapetência
alimentar, anemia, oliguria, acidose metabólica, As medidas para retardar a progressão são:
edemas periféricos, entre outros sintomas. • Tratar a causa da DRC
1. Controlo da proteinuria com uso de fármacos
No estádio 5, quando a TFG é ≤ 15mL/min, nefroprotectores (IECA, ARA, inibidores da
convencionalmente denominamos Insuficiência Renal SGLT2);
Crónica (IRC), que é o estádio mais avançado da 2. Controlo da diabetes;
doença, com indicação para iniciar TSFR. O doente 3. Controlo da tensão arterial
apresenta-se intensamente sintomático, há alterações 4. Controlo dos factores de risco cardiovascular:
laboratoriais graves, como anemia severa, uremia, com dislipidemia, hiperuricemia, restrição proteica e
alto de risco de morte, sendo as principais causas de sal, cessação tabágica e alcoólica.
os eventos cardiovasculares. A IRC não é facilmente
identificável como doença que afecta os rins. No estádio 3, é a altura ideal para referenciação ao
O diagnóstico, em geral, é difícil, porque a doença, nefrologista, pois deverá ser iniciado o controlo da
nas fases iniciais, é assintomática, salvo quando ingestão de fósforo, a prescrição de captadores de
existem sinais como proteinuria (perda de proteínas fósforo e análogos da vitamina D, para prevenção
pela urina), hematúria (urina com sangue) ou edemas do hiperparatiroidismo secundário, o tratamento
periféricos sem causa aparente, sintoma muito da anemia, visando não só a melhoria da qualidade
presente em crianças e adolescentes, características de vida, mas também a redução da morbilidade
das doenças glomerulares, geralmente descobertas na cardiovascular e da mortalidade, bem como
investigação de outras doenças. tratamento de complicações como a sobrecarga
de volume, acidose metabólica, disfunção sexual,
O gold-standard do diagnóstico em nefrologia é a desnutrição e uremia.
biópsia renal, que serve para avaliar o diagnóstico,
prognóstico e tratamento Quando previamente seguidos em consulta
de nefrologia, ao atingir a TFG <20mL/min,
O diagnóstico baseia-se na história clínica, nos inicia-se a preparação para TSFR (hemodiálise,
exames laboratoriais, tais como proteinuria de 24 diálise peritoneal ou transplante renal) de forma
horas, sedimento urinário, estudos imunológicos e programada, a escolha de técnica de tratamento,
diagnóstico por imagem, desde uma ecografia renal bem como o acesso vascular que melhor se adeque
simples até aos mais diferenciados (renograma e às condições do paciente
cintilografia renal).
As indicações clássicas de terapia de substituição da
A realização de exames complementares função renal (TSFR), nesta fase, são a HTA refractária,
de diagnóstico anualmente é imprescindível, sobrecarga de volume refractária, hipercaliémia,
principalmente nos grupos de risco. hiperpotassémia, acidose metabólica refractrária ao
tratamento médico.
O tratamento tem como objectivos:
• Atrasar a progressão da DRC para fases avançadas; Para a realidade angolana, dispomos de hemodiálise e
• Tratar as complicações associadas ao risco diálise peritoneal (DP), para as quais é necessário que
cardiovascular em todas as fases da doença. o doente tenha um acesso vascular construído, quer
seja fístula ou prótese vascular para a hemodiálise e
cateter peritoneal Tenckhoff para a diálise peritoneal.

Em Angola, apenas conhecemos o número crescente


O DIAGNÓSTICO, EM GERAL, É DIFÍCIL, de doentes em estádio 4. As opções terapêuticas
PORQUE A DOENÇA, NAS FASES INICIAIS, restringem-se a hemodiálise, maioritariamente, e
É ASSINTOMÁTICA, SALVO QUANDO diálise peritoneal, em números ainda marginais. O
EXISTEM SINAIS COMO PROTEINURIA transplante mantém-se em perspectiva, pelo que se
torna premente a criação de um órgão técnico de
(PERDA DE PROTEÍNAS PELA URINA),
fiscalização da qualidade da diálise e a definição de
HEMATÚRIA (URINA COM SANGUE) OU um perfil de cuidados mínimos para os doentes com
EDEMAS PERIFÉRICOS SEM CAUSA DRC no estádio 5, reconhecendo que a prestação
APARENTE de cuidados deve ter especiais preocupações de
eficiência técnica, tendo como foco a qualidade de vida
e sobrevida do doente.

34
SAÚDE
35
SAÚDE
PERSPECTIVA

CUIDADOS NA SAÚDE
ORAL DE DOENTES
TRANSPLANTADOS
NO CENÁRIO DE DOENÇAS SISTÉMICAS CRÓNICAS, A DOENÇA RENAL CRÓNICA (DRC) TEM NA SUA
EVOLUÇÃO O DECLÍNIO PROGRESSIVO E IRREVERSÍVEL DA FILTRAÇÃO RENAL, COM NECESSIDADE DE
DIÁLISE OU TRANSPLANTE RENAL. ENTRE AS DIVERSAS CAUSAS DE DRC, A PRINCIPAL É A DIABETES
MELLITUS (DM), QUE AFECTA TAMBÉM OUTROS ÓRGÃOS E TEM IMPACTO NEGATIVO NA QUALIDADE
DE VIDA E NA SOBREVIDA. ESSAS DOENÇAS SISTÉMICAS TAMBÉM TÊM REPERCUSSÃO SIGNIFICATIVA
NA PERIODONTITE. DO MESMO MODO, OS PRINCIPAIS PROBLEMAS BUCAIS NESTES PACIENTES SÃO
MÁ HIGIENE BUCAL, ALTA PREVALÊNCIA DE DOENÇA PERIODONTAL, CÁRIES E PERDA ÓSSEA. DESTA
FORMA, O DIAGNÓSTICO PRECOCE DE AFECÇÕES PRESENTES NA CAVIDADE BUCAL DE CANDIDATOS
A TRANSPLANTE É IMPORTANTE, UMA VEZ QUE UM FOCO INFECCIOSO DENTÁRIO NO PERÍODO PRÉ-
TRANSPLANTE PODE LEVAR A COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS.

36
SAÚDE
SENDO AS INFECÇÕES
FREQUENTEMENTE CAUSA DE
MORBIDADE E MORTALIDADE EM
PACIENTES NO PRÉ E NO PÓS-
OPERATÓRIO DE TRANSPLANTE
RENAL, PREVENIR FACTORES DE
RISCO PARA ESTAS INFECÇÕES É DE
GRANDE IMPORTÂNCIA E A AVALIAÇÃO
Dra. Vania Lopez Rodríguez ODONTOLÓGICA PRÉ-OPERATÓRIA
Doutorada em Ciências Estomatológicas. Especialista em É FUNDAMENTAL PARA REDUZIR
Periodontologia, com cerca de 27 anos de experiência ALGUMAS DESTAS COMPLICAÇÕES

S
endo as infecções frequentemente Os riscos de infecções e a ocorrência de
causa de morbidade e mortalidade em sangramentos são também importantes
pacientes no pré e no pós-operatório de condições a ser observadas pelos
transplante renal, prevenir factores de risco cirurgiões-dentistas em pacientes em
para estas infecções é de grande importância tratamento. Ressaltamos que o tratamento
e a avaliação odontológica pré-operatória é odontológico adequado é fundamental para
fundamental para reduzir algumas destas minimizar riscos de infecções que possam
complicações. retardar ou contraindicar o transplante,
ou até mesmo trazer problemas nas fases
Os cuidados com a saúde bucal constituem posteriores ao procedimento.
parte essencial da preparação para o
transplante de órgãos e tecidos. Algumas A rotina de procedimentos dentários, como
medicações utilizadas no tratamento limpezas, remoção de dentes, cirurgias
destes doentes podem apresentar efeitos gengivais e mesmo o uso de anestésicos
adversos que requeiram acompanhamento locais para restaurações podem resultar em
de um cirurgião-dentista para diagnóstico e complicações se o cirurgião-dentista não for
tratamento dos mesmos, evitando maiores preparado para esse tipo de atendimento,
agravos. portanto, a escolha do profissional de
odontologia é muito importante para a
Algumas medicações de indicação segurança do paciente.
odontológica também podem agravar a
condição sistémica dos pacientes em lista É digno de nota que a doença renal
de transplante, especificamente nos casos crónica afecta directa ou indirectamente
de pouca capacidade do organismo para as o processo de excreção, concentração e
metabolizar. composição da saliva. A saliva desempenha
papel importante no combate à cárie
dentária. Tanto os indivíduos em lista para o
transplante quanto os transplantados podem
apresentar alterações na composição e no
fluxo salivar. Com isso, a predisposição ao
desenvolvimento de cáries torna-se maior.
Assim sendo, cuidados mais intensos com a
higiene dentária são necessários.
As infecções oportunistas (bacterianas,
fúngicas e virais) representam grande
perigo para receptores de transplantes de
órgãos e tecidos. Essas infecções podem
apresentar-se por meio de manifestações
bucais.

37
SAÚDE
Manifestações na cavidade bucal também são
comuns e incluem afecções como:
• Alargamento gengival;
• Xerostomia;
• Lesões de mucosa;
• Estomatite urémica.

Estomatite urémica
A estomatite urémica é uma doença que
acomete principalmente as regiões dorsais e
ventrais da língua. O motivo para o surgimento
da lesão está relacionado com os elevados
níveis de ureia na corrente sanguínea,
portanto, torna-se totalmente ineficaz o
tratamento local da lesão se não regularizados
os níveis de nitrogénio urémico, apoiado num
aumento da higienização bucal com anti-
sépticos e agentes antimicrobiano-antifúngico.
Cerca de 90% dos pacientes com DRC
apresenta manifestações orais relacionadas
Alargamento gengival à doença sistémica. Além disso, os indivíduos
O alargamento gengival, ou hiperplasia submetidos a diálise ou transplante renal
gengival, durante um quadro de DRC, é são mais susceptíveis a infecções, devido
relativamente comum, principalmente à depressão do sistema imune, tornando
naqueles pacientes que foram submetidos o atendimento odontológico um factor
ao transplante renal. Este factor é explicado importante na prevenção e controlo de
pelo facto de se tornar necessário o uso de bacteremias e na redução do risco de
imunossupressores, que têm como função infecções orais. Um dos primeiros sintomas
reduzir as possibilidades de rejeição do órgão é o odor urémico, caracterizado pelo paladar
recebido. alterado ou metálico na boca do paciente. Isso
acontece devido à alta concentração de ureia
Estes imunossupressores pode ser na saliva, a qual é convertida em amónia.
prednisolona, mofetil micofenolato, tacrolimo,
azatioprina, sirolimus e também a ciclosporina. Doença periodontal
Alguns estudos observaram o crescimento É possível observar uma relação directa entre
exacerbado da gengiva após seis meses de a doença periodontal e a DRC. Indivíduos
uso desses medicamentos. Nessa situação, em estágios mais graves vão apresentar
as regiões mais acometidas foram as papilas um agravamento na condição periodontal.
interdentais, podendo ocorrer também o A doença periodontal caracteriza-se pela
comprometimento das margens gengivais e reabsorção do osso alveolar e consequente
superfícies lingual e palatina, porém em menor perda dos tecidos moles associados. A função
escala. renal baixa diminui os níveis de vitamina D
e de cálcio, contribuindo ainda mais para a
Outra alteração gengival encontrada em reabsorção óssea.
pessoas com DRC é a gengiva pálida,
referente à anemia, com possível perda
da junção mucogengival, podendo sangrar
facilmente se a disfunção for plaquetária,
tornando-se fundamental a avaliação do
hemograma para constatar se realmente
existe um quadro de anemia instalado devido
a deficiência de eritropoietina, ingestão
inadequada de ferro, carência de ácido fólico
e vitamina B12, perda de sangue durante a
diálise e redução do tempo de vida da hemácia
devido ao estado urémico, levando o paciente
a apresentar uma palidez generalizada,
podendo ser observado tanto no exame clínico
extra quanto no exame intra oral.

38
SAÚDE
As manifestações bucais associadas à DRC
são secundárias à condição sistémica e não é
possível diagnosticar a doença renal através
delas. A conduta odontológica dependerá do
estágio da condição renal, podendo acontecer
no próprio consultório, em casos de indivíduos
bem controlados, ou em ambiente hospitalar,
para os pacientes em que a DRC esteja mais segura em casos de complementação
avançada. anestésica, pois a maior parte da sua
dose inicial é rapidamente metabolizada.
Considerações sobre o atendimento A mepivacaína deve ser evitada nesses
odontológico pacientes, pois a sua metabolização hepática e
Para a realização do atendimento odontológico excreção renal acontecem de forma bastante
do paciente com DRC, é necessário conhecer lenta.
o histórico médico de forma detalhada. Com
as informações obtidas por meio do contacto Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs),
com o nefrologista, é possível saber sobre o como o ibuprofeno e naproxeno, devem ser
estágio actual da doença, o estado sistémico evitados por serem nefrotóxicos e diminuírem
do paciente e os medicamentos utilizados. a função renal. Podem também causar
Além disso, é necessária a solicitação de aumento na pressão arterial, piorando a
exames complementares e laboratoriais, tendência ao sangramento. A aspirina também
como a radiografia panorâmica, hemograma deve ser contraindicada, pois numa dose de
e coagulograma. Com essas informações, 200 miligramas ao dia já exerce uma função
o cirurgião-dentista estará apto a escolher de anti-agregante plaquetário.
as considerações clínicas e odontológicas
da conduta ideal para que o atendimento do Em relação aos analgésicos, a maioria tem
paciente aconteça de forma mais segura. metabolização hepática, não sendo necessária
Outro factor importante é a monitorização a modificação das doses nem suspensão dos
dos sinais vitais desses pacientes. A pressão medicamentos. As opções que apresentam
arterial sanguínea e a frequência cardíaca melhores resultados são o paracetamol e a
devem ser avaliadas antes, durante e após codeína.
o procedimento, principalmente em caso
de procedimentos invasivos, devido à alta No que diz respeito aos antibióticos, a
prevalência de hipertensão arterial em amoxicilina, eritromicina e clindamicina são
pessoas com DRC. as substâncias de escolha. A primeira opção
deve ter a sua dose ajustada de acordo com
Com relação à terapia farmacológica, o valor da TGF, as demais não precisam de
algumas questões precisam ser levadas em alteração na dose usual. Já a tetraciclina
consideração, como, por exemplo, a função não deve ser prescrita para pacientes renais,
renal, a dose do fármaco, a farmacocinética e pois contribui para a acumulação de ureia no
a capacidade de eliminação por hemodiálise, sangue.
visto que existem alterações na absorção,
metabolismo e excreção de diversas Em suma, o profissional de odontologia deverá
substâncias em pacientes com DRC. Os ter um conhecimento na área das doenças
anestésicos locais de escolha devem ser os renais, porque é muito importante para a
de metabolização hepática, como exemplo, segurança do paciente durante o tratamento
a lidocaína 2% ou a articaína 4%, porque a das doenças bucais.
sua metabolização acontece em maior parte
no plasma, onde se transforma em ácido
articaínico, que é biologicamente inactivo.
Além disso, a utilização da articaína é mais

39
SAÚDE
OCULAR

INSUFICIÊNCIA
ENTREVISTA

RENAL E DOENÇAS
RUBRICA

OCULARES
EXISTEM VÁRIAS MANIFESTAÇÕES OCULARES QUE PODEM OCORRER NAS DOENÇAS RENAIS.
OS OLHOS E OS RINS SÃO ALVO DE DANOS NOS ÓRGÃOS-ALVO EM MÚLTIPLAS PATOLOGIAS.
AMBOS OS ÓRGÃOS DESENVOLVEM-SE DURANTE O MESMO ESTÁGIO EMBRIONÁRIO, POR VOLTA
DA QUARTA À SEXTA SEMANA DE GESTAÇÃO, PARTILHANDO, ASSIM, UMA FORTE CORRELAÇÃO
ENTRE DOENÇAS OCULARES E RENAIS. TANTO OS OLHOS QUANTO OS RINS PODEM SER ALVO DO
PROCESSO DE DOENÇA SISTÉMICA. NO ENTANTO, OS OLHOS TAMBÉM PODEM SER AFECTADOS
COMO CONSEQUÊNCIA DE UMA DOENÇA RENAL OU DO SEU TRATAMENTO. FACTORES DE RISCO,
COMO DIABETES, HIPERTENSÃO E TABAGISMO, SÃO COMUMENTE PARTILHADOS ENTRE DOENÇAS
RENAIS E OCULARES. AS MANIFESTAÇÕES OCULARES PODEM SER PREDITIVAS DE DOENÇA
RENAL E OS PACIENTES COM DOENÇA RENAL APRESENTAM MAIOR RISCO DE DESENVOLVER
MANIFESTAÇÕES OCULARES. VÁRIAS ANOMALIAS CONGÉNITAS DOS OLHOS E RINS TAMBÉM
PODEM APRESENTAR-SE COMO SÍNDROME OCULORRENAL. ESTE ARTIGO RESUME A PATOLOGIA
OCULAR, QUE PODE SER OBSERVADA NAS DOENÇAS RENAIS.

40
SAÚDE
Doença renal crónica (DRC) e doenças oculares
importantes, como a retinopatia diabética (RD),
o glaucoma, a degeneração macular relacionada
à idade (DMRI) e a catarata, estão associadas à
idade, factores de risco metabólicos e vasculares,
como diabetes, hipertensão e tabagismo.
Vários estudos também apoiam a estreita ligação
entre doenças renais e oculares. Manifestações
oculares, como alterações microvasculares da
retina, podem ser preditivas do desenvolvimento
de DRC e os pacientes com DRC apresentam
maior risco de DMRI, RD, glaucoma e catarata. A
DRC também se pode manifestar no olho como
anomalias de desenvolvimento de síndromes
oculorrenais.

Relação entre os olhos e os rins


Os rins e os olhos partilham vias de
desenvolvimento, estruturais, fisiológicas e
patológicas, porque o desenvolvimento dos rins e
da retina ocorre no mesmo estágio embrionário
(cerca da quarta à sexta semana de gestação).
Dr. Djalme Fonseca Portanto, uma forte correlação é vista entre
Licenciado em Optometria e Ciências da Visão doenças renais e oculares.
pela Universidade do Minho, Portugal. Pós-
graduado em Avaliação Optométrica Pré e Pós
Cirúrgica pela Universidade de Valência, Espanha.
Founder & CEO da Óptica Optioptika

OS RINS E OS OLHOS PARTILHAM VIAS


DE DESENVOLVIMENTO, ESTRUTURAIS,
FISIOLÓGICAS E PATOLÓGICAS, PORQUE

O
s sistemas ocular e renal são alvos O DESENVOLVIMENTO DOS RINS E DA
de danos a órgãos-alvo em diversas RETINA OCORRE NO MESMO ESTÁGIO
patologias. Isso pode ocorrer EMBRIONÁRIO (CERCA DA QUARTA
simultaneamente devido a processos de À SEXTA SEMANA DE GESTAÇÃO).
doenças comuns ou a condições renais PORTANTO, UMA FORTE CORRELAÇÃO
específicas, que levam ao envolvimento É VISTA ENTRE DOENÇAS RENAIS E
ocular secundário. O rim e a retina
OCULARES
desenvolvem-se durante o mesmo estágio
embrionário, por volta da quarta à sexta
semana de gestação, partilhando, assim, uma
forte correlação entre doenças oculares e Tanto o glomérulo quanto a coróide possuem
renais. extensas redes vasculares de estrutura
semelhante. A retina interna e a barreira de
filtração glomerular partilham caminhos de
desenvolvimento semelhantes.

O sistema renina-angiotensina-aldosterona
(SRAA) é encontrado nos rins e em vários
tecidos oculares, que regula o volume sanguíneo
e a resistência vascular sistémica.

Factores de risco
A DRC é um problema de saúde emergente
em todo o mundo, afectando cerca de 10% da
população mundial, e está associada a graves
problemas cardiovasculares e renais e à
diminuição da qualidade de vida. A DRC é um
problema progressivo e irreversível, que resulta
em doença renal em estágio terminal (DRT),

41
SAÚDE
Richard Bright, um pioneiro em anatomia
mórbida e sinais e sintomas clínicos de doenças
renais, relatou, pela primeira vez, a associação
entre cegueira e doença renal, em 1836.
Qualquer distúrbio na embriogénese entre a
quarta e a sexta semanas de gestação pode
causar anormalidades anatómicas e funcionais
que aumenta com a progressão da idade nestes dois órgãos. Muitos achados oculares
e com doenças crónicas, como diabetes, podem ser observados nos segmentos anterior
hipertensão e obesidade. e posterior.

Os factores de risco comuns entre a DRC Manifestações do segmento anterior


e os olhos incluem a idade avançada, o Manifestações oculares podem ser observadas
tabagismo, a hipertensão, a Diabetes Mellitus, em pacientes com DRC. O hiperparatireoidismo
a obesidade e a hiperlipidemia. secundário, devido à doença renal, leva à
hipercalcemia, que causa a deposição de cálcio
Mecanismos fisiopatológicos comuns entre em várias estruturas oculares. A calcificação
doenças renais e oculares metastática pode ocorrer nas margens da
Os principais mecanismos que contribuem pálpebra, na conjuntiva e na córnea em pacientes
para a DRC e as doenças oculares são com DRC avançada e doença renal em estágio
aterosclerose, disfunção endotelial, terminal.
remodelação vascular, inflamação e stress
oxidativo. A cascata hormonal renina- Conjuntiva e córnea
angiotensina-aldosterona é encontrada nos A deposição de cálcio na conjuntiva causa
rins e nos olhos. inflamação crónica, que pode levar a alterações
reactivas adicionais, como pinguécula e ceratite
Manifestações clínicas límbica superior. À medida que a DRC progride,
concentrações crescentes de cálcio e
Mecanismos da DRC Doenças oculares associadas fósforo séricos precipitam-se na conjuntiva
Disfunção do SRAA RD, glaucoma, dano vascular da retina
interpalpebral e na camada córnea de
Bowman, formando ceratopatia em forma
Inflamação DMRI, RD, dano vascular retiniano
de faixa, causando comprometimento da
Polimorfismos genéticos AMD
acuidade visual e desconforto ocular.
Klotho DMRI, catarata, retinopatia
Disfunção endotelial DMRI, catarata A DRC também causa alterações
Aterosclerose Catarata, DMRI, RD, glaucoma, dano vascular da retinamorfológicas no endotélio da córnea, como
Stress oxidativo DMRI, RD, catarata, glaucoma, dano vascular da retina pleomorfismo e polimegatismo, tornando-
os mais vulneráveis à descompensação
endotelial. Pacientes em hemodiálise
desenvolvem irritação crónica devido à
diminuição da produção lacrimal e alterações
HÁ EVIDÊNCIAS SUBSTANCIAIS no reflexo de piscar. O tratamento consiste na
DE UMA ESTREITA ASSOCIAÇÃO suplementação do filme lacrimal com lágrimas
ENTRE DOENÇAS OCULARES E artificiais.
RENAIS. O ENVOLVIMENTO DO
OLHO NA DOENÇA RENAL PODE Desenvolvimento de catarata
OCORRER PORQUE AMBOS OS Alguns estudos relataram o aumento da catarata
ÓRGÃOS SÃO ALVO DO MESMO com níveis crescentes de marcadores de
PROCESSO PATOLÓGICO OU PORQUE doença renal. A cistatina C sérica foi associada
A DOENÇA OCULAR É RESULTADO a uma incidência de 15 anos de CEP e cortical,
enquanto o nitrogénio ureico e a creatinina
DO ENVOLVIMENTO RENAL. ALÉM
no sangue foram associados a cataratas
DISSO, ALGUMAS SÍNDROMES subcapsulares posteriores.
OCULORRENAIS ENVOLVEM AMBOS
OS ÓRGÃOS E, PORTANTO, OS A formação de catarata resulta de distúrbios
OLHOS DEVEM SER EXAMINADOS metabólicos na história natural da DRC. Angra e
MINUCIOSAMENTE NESSES Goyal (1987) relataram o rápido desenvolvimento
INDIVÍDUOS de catarata osmótica bilateral após hemodiálise
num caso de insuficiência renal crónica.

42
SAÚDE
Pressão intraocular
Supõe-se que a pressão osmótica exercida pelo
aumento da concentração de ureia no humor
aquoso resulta em sobrecarga de fluidos na
câmara anterior. Além disso, metabólitos tóxicos
acumulam-se na rede trabecular e bloqueiam o
fluxo aquoso, resultando no aumento da pressão
intraocular (PIO) em pacientes em hemodiálise.
Descolamento da retina
Na síndrome de desequilíbrio da diálise, a O descolamento de retina exsudativo raramente
hemodiálise remove rapidamente as toxinas pode manifestar-se em pacientes com doença
urémicas e outros solutos do compartimento renal em estágio terminal em hemodiálise,
vascular, diminuindo, assim, a osmolalidade devido a alterações na permeabilidade
sérica mais rapidamente do que a osmolalidade coriocapilar, levando ao acúmulo de líquido sub-
ocular. Assim, um gradiente de ureia é gerado retiniano.
entre o humor aquoso e o sangue, devido à
barreira sangue-aquosa, fazendo com que Neuropatia óptica
a água se mova para a câmara anterior e Episódios hipotensos e anémicos em pacientes
aumentando a PIO. em hemodiálise tornam-
os mais propensos ao
Retinopatia desenvolvimento de
A hipertensão neuropatia óptica
arterial é isquémica anterior.
uma causa Esses pacientes
significativa de apresentam um
morbidade defeito no campo
visual em visual altitudinal,
pacientes afectando o
com hemicampo de
insuficiência visão superior
renal ou inferior.
crónica.
Os olhos A neuropatia
podem estar óptica urémica
envolvidos é uma causa
em pacientes reversível de
com DRC devido disfunção do nervo
a alterações óptico, que pode
microvasculares na diminuir se o tratamento
retina. O alto volume e oportuno for realizado antes
velocidade do fluxo sanguíneo dentro que o nervo óptico seja comprometido.
das artérias resultam em danos aos
vasos de pequeno calibre do olho. Alguns Conclusão
estudos demonstraram que o estreitamento Há evidências substanciais de uma estreita
arteriolar da retina estava associado à DRC com associação entre doenças oculares e renais.
uma taxa de filtração glomerular estimada <45 O envolvimento do olho na doença renal pode
mL/min por 1,73 m2. O estreitamento arterial ocorrer porque ambos os órgãos são alvo do
leva a alterações isquémicas da retina, que mesmo processo patológico ou porque a doença
resultam na formação de manchas algodonosas, ocular é resultado do envolvimento renal.
hemorragias em forma de chama, exsudados Além disso, algumas síndromes oculorrenais
duros e edema retiniano. envolvem ambos os órgãos e, portanto, os olhos
devem ser examinados minuciosamente nesses
O edema do disco óptico pode desenvolver- indivíduos. O reconhecimento da fisiopatologia
se em casos graves e, portanto, pode ser sobreposta entre doenças renais e oculares
confundido com neuroretinite. Danos nos vasos ajuda no diagnóstico e tratamento imediato de
coroidais podem produzir manchas de Elschnig, pacientes com potencial morbidade ocular e
que são áreas de infartos coriorretinianos focais. sistémica.
Esses pacientes também apresentam alto risco
de desenvolver doença obstrutiva arterial e
venosa da retina.

43
SAÚDE
REPORTAGEM

AUSTRALPHARMA
MARCA PRESENÇA
NA EXPOPHARMA
2024
N
DURANTE OS DIAS 21 E 22 DE MARÇO, o primeiro dia da feira, o director comercial,
A AUSTRALPHARMA PARTICIPOU NA Emanuel Rebelo, fez o anúncio oficial deste
EXPOPHARMA. COM UM STAND REPLETO DE plano, prometendo uma abordagem única para
INOVAÇÃO E SOLUÇÕES INÉDITAS, A EMPRESA recompensar a lealdade dos clientes. Esta iniciativa
NÃO APENAS APRESENTOU OS SEUS PRODUTOS representa um marco significativo não apenas
E SERVIÇOS, MAS TAMBÉM REVELOU UM para a Australpharma, mas também para o sector
PLANO PIONEIRO DE FIDELIZAÇÃO DE CLIENTES farmacêutico angolano, e demonstra “um compromisso
ESPECIALIZADO EM FARMÁCIA EM ANGOLA. claro com a excelência e a inovação”.

44
SAÚDE
A Australpharma reiterou o seu compromisso
em priorizar a qualidade em todas as etapas
dos seus serviços, desde a selecção dos
produtos até à entrega final. Com uma visão
voltada para o futuro, a empresa continua
empenhada em oferecer ferramentas
confiáveis e eficazes para profissionais e
instituições de saúde em todo o país.

A presença da Australpharma na Expopharma


não só fortaleceu a sua posição no mercado
angolano, mas também estabeleceu um
precedente para a inovação e o progresso
contínuo no sector. “Com o seu compromisso
inabalável com a excelência, a empresa está
pronta para enfrentar os desafios e oportunidades
Além disso, a Australpharma teve a honra de que o futuro reserva”.
receber o Dr. Santos Nicolau, bastonário da
Ordem dos Farmacêuticos de Angola, no seu
stand. Esta visita representou uma oportunidade
valiosa para conhecer de perto a vasta gama de
produtos e serviços oferecidos pela empresa, bem
como para trocar ideias e perspectivas sobre o
futuro da saúde em Angola.

“Estamos satisfeitos com a resposta positiva que


recebemos na Expopharma”, comenta Meury
João, gestora de Comunicação e Marketing da
Australpharma. “O nosso compromisso com a
qualidade e a inovação foi reconhecido e estamos
ansiosos para continuar a desenvolver soluções que
contribuam para avanços significativos na área da
saúde em Angola”.

45
SAÚDE
REPORTAGEM

MALÁRIA: WORKSHOP
DE PARTILHA
DE EXPERIÊNCIAS

OS ESFORÇOS CONCERTADOS DE ANGOLA CONTRA A MALÁRIA FORAM EXEMPLIFICADOS NUM RECENTE


WORKSHOP REALIZADO NA PROVÍNCIA DA LUNDA SUL, ENTRE OS DIAS 18 E 20 DE MARÇO. ESTE
EVENTO REUNIU DIRECÇÕES PROVINCIAIS DE SAÚDE DAS SEIS PROVÍNCIAS FOCO DA INICIATIVA DO
PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS CONTRA A MALÁRIA (PMI), SUBLINHANDO A ABORDAGEM FACILITADA
PELO PROJECTO SAÚDE PARA TODOS, FINANCIADO PELA AGÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS PARA O
DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL (USAID) E PMI. ESTES ESFORÇOS COLABORATIVOS ENQUADRAM-SE NO
COMPROMISSO NACIONAL DE COMBATE A ESTE PERSISTENTE DESAFIO À SAÚDE.

REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DA SAÚDE

46
SAÚDE
Dr. Izildo Gonçalves

6 PROVÍNCIAS FOCO DO PMI

A
cerimónia de abertura oficial, marcada
pela presença do Dr. Izildo Gonçalves,
Delegado Provincial da Justiça e Direitos 1
Humanos da Lunda Sul, em representação de Sua 2
Excelência o Governador Provincial, Engenheiro
Daniel Félix Neto, marcou o início das discussões
estratégicas. Este acto inaugural sublinhou a im- Luanda 3 4 5
portância do evento na mobilização dos esforços
conjuntos contra a malária. 6

1 2 3 4 5 6
Zaire Uíge Cuanza Norte Malanje Lunda Norte Lunda Sul

47
SAÚDE
Dr. João Castro
Projecto Saúde para Todos
O projecto Saúde para Todos constitui um contri-
O PROJECTO SAÚDE PARA TODOS CONSTITUI buto importante nas intervenções contra a malária
UM CONTRIBUTO IMPORTANTE NAS em seis províncias do país, mostrando passos sig-
INTERVENÇÕES CONTRA A MALÁRIA EM SEIS nificativos na redução da prevalência da malária.
PROVÍNCIAS DO PAÍS, MOSTRANDO PASSOS Cuanza Norte, Malanje, Lunda Norte, Lunda Sul,
SIGNIFICATIVOS NA REDUÇÃO DA PREVALÊNCIA Uíge e Zaire são as províncias foco do PMI.
DA MALÁRIA. CUANZA NORTE, MALANJE, O Dr. João Castro, representando o Programa Na-
LUNDA NORTE, LUNDA SUL, UÍGE E ZAIRE SÃO cional de Controlo da Malária, enfatizou a impor-
tância de uma visão unificada. “É necessário que
AS PROVÍNCIAS FOCO DO PMI
todos os colaboradores e parceiros do MINSA estejam
alinhados com a mesma visão para juntos alcançar-
mos os objectivos propostos”.
O Dr. João Castro sublinhou ainda o compromis-
so contínuo do projecto Saúde para Todos em
unificar esforços para a redução da prevalência
da malária em Angola, ecoando a visão de uma
Angola livre desta doença.

Hospitalidade e visão da Lunda Sul


Sob a liderança do Dr. António Viegas de Almei-
da, Director Provincial de Saúde da Lunda Sul, a
província anfitriã acolheu calorosamente os re-
presentantes das demais províncias participantes.
O Dr. Viegas de Almeida enfatizou a necessidade
de uma colaboração contínua entre as províncias
para alcançar a meta comum de Zero Malária.
Apesar dos mais de 50 mil casos de malária
registados de Janeiro a Fevereiro, o Director Pro-
vincial de Saúde destacou a redução significativa
da taxa de mortalidade, fruto da capacidade de
testagem da província. Desde a implementação
do projecto Saúde para Todos, a transformação é
notável, contando a província com mais de 2.400
profissionais de saúde capacitados que fortalecem
Dr. António Viegas de Almeida os cuidados médicos na Lunda Sul.

48
SAÚDE
Discussões temáticas e recomendações
Durante o workshop, foram apresentados e
discutidos quatro temas críticos: desafios na im-
plementação do projecto, estratégias bem-suce-
didas, impactos nas comunidades locais e o perfil
epidemiológico actual.
Estas discussões, enriquecidas pelas experiên-
cias das províncias do Cuanza Norte, Uíge, Lunda
Norte, Malanje, Zaire e Lunda Sul, culminaram em
recomendações estratégicas, incluindo a monito-
rização do uso de mosquiteiros, a expansão dos
Agentes de Desenvolvimento Comunitário e Sani-
tário (ADECOS) e a advocacia pela continuidade
e expansão das intervenções do projecto Saúde
para Todos.

Plataforma Kassai: revolucionar a educação


médica
Um farol de inovação na educação médica, a
plataforma Kassai, lançada em 2021 e endossada
pelo Ministério da Saúde de Angola, serve como
ferramenta oficial de educação médica contínua
em Angola. Actualmente, oferece 22 cursos, abor-
dando questões de saúde cruciais, como malária,
UM FAROL DE INOVAÇÃO NA planeamento familiar, saúde materno-infantil,
EDUCAÇÃO MÉDICA, A PLATAFORMA semiologia médica e COVID-19, visando melhorar
KASSAI, LANÇADA EM 2021 E a qualidade dos cuidados de saúde.
ENDOSSADA PELO MINISTÉRIO DA Para superar os desafios de acessibilidade à
SAÚDE DE ANGOLA, SERVE COMO Internet, a parceria com a UNITEL, proporciona o
FERRAMENTA OFICIAL DE EDUCAÇÃO acesso gratuito ao Kassai. Esta iniciativa garante
MÉDICA CONTÍNUA EM ANGOLA. que os trabalhadores de saúde possam aceder à
educação médica online sem barreiras de custo.
OFERECE 22 CURSOS, ABORDANDO
Adicionalmente, a funcionalidade offline do Kassai
QUESTÕES DE SAÚDE CRUCIAIS, COMO
estende o seu alcance a áreas sem acesso à
MALÁRIA, PLANEAMENTO FAMILIAR, Internet.
SAÚDE MATERNO-INFANTIL E COVID-19, O sucesso da plataforma é evidente, com 9.700
VISANDO MELHORAR A QUALIDADE utilizadores e cerca de 20 mil certificados de con-
DOS CUIDADOS DE SAÚDE clusão emitidos. Os utilizadores devem alcançar
uma pontuação de 80% num teste de conheci-
mento para obterem o seu certificado. Este feito
sublinha um avanço significativo no equipamento
dos profissionais de saúde com o conhecimento
e habilidades necessárias. Esta inovadora plata-
forma de e-learning para prestadores de cuidados
de saúde em Angola, o Kassai permite estudar
em qualquer lugar, a qualquer hora, melhorando
significativamente a educação médica contínua
em Angola.
O contributo do Kassai para a formação dos
profissionais de saúde, bem como para o direc-
cionamento e priorização de intervenções de alto
impacto mereceram destaque e nota positiva
consensual de todos os presentes.

49
SAÚDE
Expandir o alcance e impacto
O Dr. Miguel Ferreira, Director Provincial de Saú-
de de Namibe, também participou neste workshop
e destacou a eficácia do mesmo e o potencial
para um impacto mais amplo. “O workshop foi mui-
to produtivo e proveitoso. Gostaria que este projecto se
estendesse ao Namibe; estou certo de que, num ano,
e com estas intervenções, marcaríamos um passo
significativo para acabar com a malária no Namibe”.
Este sentimento enfatiza o desejo de estender
estratégias de sucesso a mais províncias.

Abordar desafios nos cuidados pré-natais


Um ponto crítico de discussão foi a baixa adesão
das mulheres grávidas às consultas pré-natais,
destacado pelo Dr. Ribeiro André de Carvalho,
Director Provincial de Saúde de Malanje, que
salientou a importância destas consultas para
prevenir o impacto da malária na mortalidade
materna e infantil. “É essencial que as mulheres
grávidas compreendam a importância do acompa-
nhamento pré-natal para a sua própria saúde e a do
bebé”, referiu, apontando para a necessidade de
aumentar a consciencialização e acessibilidade
aos serviços de saúde.
Dr. Miguel Ferreira

Dr. Ribeiro André de Carvalho

50
SAÚDE
Aproveitar a liderança comunitária na prevenção
da malária
O workshop reconheceu ainda o papel estratégico
dos líderes religiosos na prevenção da malária.
O Pastor Noé Kussivila enfatizou a influência que
as figuras religiosas têm dentro das comunidades.
“Os pastores são muito respeitados e têm uma grande
capacidade de mobilização dentro das comunidades.
Aproveitamos isso para passar a mensagem do Minis-
tério da Saúde sobre a necessidade de várias medidas
preventivas”.
Esta abordagem sublinha a importância de utilizar
líderes comunitários para difundir mensagens de
saúde críticas.

Pastor Noé Kussivila

O encerramento do evento, pelas palavras do Dr. António Viegas de Almeida, não só agrade-
ceu a escolha da Lunda Sul para acolher este encontro crucial, mas também reiterou o apelo
à dedicação contínua na luta contra a malária, enfatizando a importância do conhecimento
e do envolvimento proactivo de todos os profissionais de saúde nesta causa comum.
Este workshop na Lunda Sul reafirma o compromisso do Ministério da Saúde, da USAID
e da PMI, bem como dos parceiros implementadores e outros actores, na erradicação da ma-
lária, demonstrando a força da colaboração, da inovação e da liderança comunitária em
enfrentar desafios de saúde pública.

51
SAÚDE
REPORTAGEM

ANGOLA LANÇA
CAMPANHA ZERO
MALÁRIA COMEÇA
COMIGO

ANGOLA É ALTAMENTE VULNERÁVEL À MALÁRIA, QUE SE ESTIMA SER RESPONSÁVEL POR 40%
DAS DOENÇAS E 42% DAS MORTES NO PAÍS. ALÉM DISSO, À SEMELHANÇA DE OUTROS ESTADOS-
MEMBROS DA REGIÃO AFRICANA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), O PAÍS ENFRENTA
O DESAFIO DA ELEVADA TRANSMISSÃO, ACESSO LIMITADO E DISPONIBILIDADE DE SERVIÇOS
DE SAÚDE AO ALCANCE DAS COMUNIDADES, RECURSOS INADEQUADOS, RESISTÊNCIA AOS
INSECTICIDAS E A AMEAÇA DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS, QUE PERTURBAM SIGNIFICATIVAMENTE
OS ESFORÇOS DE ELIMINAÇÃO DESTA DOENÇA. PARA REFORÇAR A LUTA CONTRA A MALÁRIA, O
GOVERNO ANGOLANO LANÇOU, NO FINAL DE 2023, A CAMPANHA ZERO MALÁRIA COMEÇA COMIGO.
A INICIATIVA FOI TESTEMUNHADA PELOS MINISTROS DA SAÚDE DA SADC, MEMBROS DO GOVERNO E
DAS COMUNIDADES LOCAIS, PARCEIROS DE COOPERAÇÃO E ORGANIZAÇÕES BILATERAIS, BEM COMO
PELAS PRINCIPAIS AGÊNCIAS FINANCIADORAS DA LUTA CONTRA A MALÁRIA NA REGIÃO.

52
SAÚDE
A campanha Zero Malária Começa Comigo
é uma iniciativa de âmbito continental em
prol de uma África livre de malária, ba-
seada no envolvimento de líderes políticos
e personalidades influentes da sociedade
civil, para estabelecer intercâmbios com
o sector privado, fomentar a consciência
e a responsabilidade em torno da preven-
ção, detecção e tratamento da malária nas
comunidades, aumentar a visibilidade dos
programas de combate à malária e melho-
rar a disponibilidade de recursos nacionais
para tal.

O objectivo da campanha é alavancar a


acção comunitária para a eliminação da
malária, através do trabalho multissectorial


e da participação de vários estratos da
Em nome do povo e do Governo da
sociedade, bem como integrar abordagens
República de Angola, é com orgulho que
que contribuam para a partilha de recur-
lanço a campanha Zero Malária Começa
sos, através de um espectro de várias
Comigo, uma iniciativa ousada e catalisadora
entidades, incluindo o sector privado, para
para um futuro em que a malária deixe de ser
impulsionar a sensibilização, a acção, a
uma ameaça persistente à saúde”, afirmou
mobilização de recursos, a responsabili-
a Ministra da Saúde de Angola, Dra. Sílvia
zação para acabar com a malária e, como
Lutucuta. “Esta campanha não é apenas
fim, um sistema de saúde e comunidades
um slogan; é um apelo claro à acção colec-
resilientes, garantindo que a malária se
tiva, exortando cada um de nós a assumir a
torne um vestígio do passado.
responsabilidade individual pela eliminação
desta doença. Exorto os Estados-membros da
De acordo com o representante da OMS
SADC, os parceiros e as partes interessadas a
em Angola, Dr. Humphrey Karamagi,
juntarem-se a Angola e a abraçarem de todo
África ainda não está no caminho certo
o coração a visão de Zero Malária Começa
para atingir as metas relacionadas com a
Comigo”, sublinhou.
malária, que prevê uma redução de 75%
na sua taxa de incidência e mortalidade em
relação aos valores de referência de 2015.
Como tal, “temos de trabalhar de forma
diferente e agir com urgência para conter a

53
SAÚDE
ameaça da malária e avançar para a consecução Por isso, a campanha Zero Malária Come-
dos objectivos da malária para 2030”, sublinhou. ça Comigo é uma oportunidade única para
“A campanha Zero Malária Começa Comigo, que estabelecer mecanismos internos sólidos, que
envolve todos, com cada um a desempenhar o possam apoiar a mobilização de recursos e
seu papel, bem como com o apoio activo dos par- criar parcerias locais fortes na luta contra o
ceiros e a participação das comunidades, é uma paludismo. Com a sua implementação, os es-
iniciativa crucial que, se desenvolvida com rigor, forços de luta contra o paludismo na região da
permitirá ao país acelerar a redução da incidência SADC têm conhecido um impulso significativo
da malária e acabar com este flagelo no futuro”. no controlo e na eliminação da malária e, por
conseguinte, na protecção das populações.
Desafio socioeconómico
Para além de representar um problema de Vacina contra a malária introduzida a partir
saúde, a malária é um desafio socioeconómi- de 2024
co que trava, de forma desproporcionada, o O Ministério da Saúde está a negociar com
desenvolvimento dos Estados-membros da a GAV, empresa produtora de vacinas da
Região Africana da OMS, com custos anuais malária, e fornecedores, bem como a mobilizar
de cerca de 2% do seu Produto Interno Bruto. recursos financeiros para que a aquisição de
Investir adequadamente na prevenção e no uma vacina contra a malária seja feita ainda
controlo da malária é uma medida crucial para em 2024, afirmou, no Dubai, Sílvia Lutucuta.
evitar que o paludismo asfixie o desenvolvi-
mento do continente africano. A Ministra, que falava após apresentar o
painel “O impacto das alterações climáticas
no aumento de doenças tropicais” na COP28,
esclareceu que, numa primeira fase, serão
beneficiárias apenas as crianças menores
“A CAMPANHA ZERO MALÁRIA
de 5 anos. Sílvia Lutucuta garantiu que tudo
COMEÇA COMIGO, QUE ENVOLVE está a ser feito para que a vacina conste do
TODOS, COM CADA UM A Programa Nacional de Vacinação Infantil e seja
DESEMPENHAR O SEU PAPEL, BEM administrada por doses.
COMO COM O APOIO ACTIVO DOS
PARCEIROS E A PARTICIPAÇÃO DAS Nesta fase inicial, há escassez na produção
COMUNIDADES, É UMA INICIATIVA de vacinas e, por esta razão, a prioridade será
CRUCIAL QUE, SE DESENVOLVIDA dada aos países que participaram nos estudos
COM RIGOR, PERMITIRÁ AO multicêntricos que antecedem à produção de
PAÍS ACELERAR A REDUÇÃO DA qualquer vacina.
INCIDÊNCIA DA MALÁRIA E ACABAR
COM ESTE FLAGELO NO FUTURO”

54
SAÚDE
A governante informou que Angola diagnos-
ticou, desde Janeiro, 12 milhões de casos de
malária e, deste número, cerca de seis mil
pessoas acabaram por morrer. Alertou que os
casos de malária tendem a subir, devido ao
défice no diagnóstico
precoce nos anos
anteriores.

Na visão da Ministra,
ainda assim, pode
dizer-se que a taxa de
mortalidade redu-
ziu. Segundo Sílvia
Lutucuta, trata-se um
sinal de que, além do
diagnóstico precoce
da doença, os pacien-
tes estão a receber
tratamento e, mesmo
em casos mais graves,
há fármacos adequa-
dos.

Segundo a governante, enquanto a vacina não “QUEREMOS EVITAR QUE MAIS


chega, precisa-se de trabalhar para a melhoria PESSOAS MORRAM POR MALÁRIA.
do saneamento básico, promover a luta anti- POR ISSO, O GOVERNO ESTÁ A
-vectorial e anti-larval, usando os mosquiteiros FAZER TUDO PARA PROTEGER A
para evitar que mais pessoas desenvolvam
POPULAÇÃO, POR MEIO DE VACINAS
a malária. “Queremos evitar que mais pessoas
morram por malária. Por isso, o Governo está a
E PROGRAMAS QUE VISAM EDUCAR
fazer tudo para proteger a população, por meio de E MOBILIZAR AS PESSOAS A FIM DE
vacinas e programas que visam educar e mobili- SE PROTEGEREM E PROCURAREM OS
zar as pessoas a fim de se protegerem e procu- HOSPITAIS, SEMPRE QUE TIVEREM
rarem os hospitais, sempre que tiverem febres ou FEBRES OU OUTRO MAL-ESTAR”
outro mal-estar”, aconselhou.

55
SAÚDE
RUBRICA FARMACÊUTICA

OS RISCOS DA
AUTOMEDICAÇÃO COM
ANTIMALÁRICOS

NO NOSSO PAÍS, A MALÁRIA É UMA DOENÇA ENDÉMICA,


SENDO A PRIMEIRA CAUSA DE MORTE E DE DOENÇA,
ABSENTISMO ESCOLAR E LABORAL. É UM PROBLEMA
MUITO SÉRIO DE SAÚDE PÚBLICA. ESTA SITUAÇÃO
REMETE-NOS IMEDIATAMENTE PARA OUTRO PROBLEMA,
QUE É O DA AUTOMEDICAÇÃO COM ANTIMALÁRICOS, POIS,
EMBORA SEJAM MEDICAMENTOS DE PRESCRIÇÃO MÉDICA
OBRIGATÓRIA, ESTÃO ACESSÍVEIS À POPULAÇÃO PELO FACTO
DE, EM ANGOLA, O CIRCUITO DO MEDICAMENTO AINDA SER
“POROSO”.

56
SAÚDE
Dra. Ana Leónida Araújo Teixeira
Licenciada em Ciências Farmacêuticas pela
Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
Directora Técnica da Farmácia Kiluba
Consequências económicas:
• A nível do SNS, passam pelo aumento
do consumo de medicamentos, material
gastável e recursos humanos para os
cuidados de doentes automedicados que

A
recorram às unidades hospitalares;
automedicação com antimaláricos • A nível das famílias, por ser uma doença
acarreta riscos para a saúde e mais frequente em populações mais
consequências económicas. desfavorecidas, vivendo em condições
precárias de saneamento e de pobreza,
Riscos para a saúde: é nessas comunidades que os efeitos
• Morte por intoxicação; económicos são mais impactantes,
• Surgimento de resistências aos contribuindo para a mortalidade,
medicamentos (como aconteceu com a nossa particularmente em crianças e grávidas.
conhecida cloroquina 250mg);
• Agravamento de doenças cujos sintomas Pelo que foi exposto, a automedicação
são parecidos com os da malária, podendo é um problema social que se agrava em
resultar em morte; países como o nosso, em que há uma
• Surgimento de reacções alérgicas graves; percentagem importante da população
• Em mulheres grávidas, podem surgir a viver no limiar da pobreza, merecendo
malformações fetais; a necessária atenção dos decisores das
• Agravamento de doença renal, doença políticas públicas, de modo a gizarem
hepática, arritmias cardíacas; medidas que contribuam para a redução do
• Interações medicamentosas, entre outros. mesmo.

Não posso deixar de aproveitar a


oportunidade, como profissional, de chamar
a atenção para o papel que os profissionais
de farmácia devem desempenhar na
redução deste fenómeno e na diminuição
dos riscos da automedicação com
antimaláricos.

57
SAÚDE
NOTÍCIA
NOTÍCIA

EM ESTREIA
MUNDIAL, NIGÉRIA
INTRODUZ NOVA
VACINA 5 EM
1 CONTRA A
MENINGITE
NUM MOVIMENTO HISTÓRICO, A NIGÉRIA TORNOU-SE O PRIMEIRO PAÍS DO
MUNDO A LANÇAR UMA NOVA VACINA (CHAMADA MEN5CV) RECOMENDADA PELA
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), QUE PROTEGE AS PESSOAS CONTRA
CINCO ESTIRPES DA BACTÉRIA MENINGOCOCCUS. AS ACTIVIDADES DE VACINAÇÃO
SÃO FINANCIADAS PELA GAVI, A ALIANÇA DE VACINAS, QUE FINANCIA O STOCK
GLOBAL DE VACINAS CONTRA A MENINGITE E APOIA OS PAÍSES DE BAIXA RENDA
COM A VACINAÇÃO DE ROTINA CONTRA A MENINGITE.

A
Nigéria é um dos 26 países hiper
endémicos de meningite de África,
situado na área conhecida como
“cinturão de meningite”. No ano passado,
houve um salto de 50% nos casos anuais de
meningite relatados em toda a África.

Na Nigéria, um surto de Neisseria meningitidis


(meningococo) do serogrupo C levou a 1.742
casos suspeitos de meningite, incluindo 101
casos confirmados e 153 mortes em sete dos
36 estados nigerianos (Adamawa, Bauchi,
Gombe, Jigawa, Katsina, Yobe e Zamfara),
entre 1 de Outubro de 2023 e 11 de Março de
2024. Para conter o surto, uma campanha de
vacinação foi realizada em 25 e 28 de Março,
para atingir inicialmente mais de um milhão de
pessoas com idades entre 1 e 29 anos.

“A meningite é um inimigo antigo e mortal,


mas esta nova vacina tem o potencial de mudar

58
SAÚDE
OMS/Ayodamola Olufunto Owoseye
O lançamento da nova vacina contra meningite recomendada pela OMS, chamada Men5CV, ocorreu na Nigéria em Março.
A vacina protege as pessoas contra cinco estirpes da bactéria meningococo.

a trajectória da doença, prevenindo surtos Esta nova vacina conjugada


futuros e salvando muitas vidas”, disse o Dr. multivalente esteve 13 anos a
Tedros Adhanom Ghebreyesus, director ser produzida e baseou-se numa
geral da OMS. “O lançamento da Nigéria parceria entre a PATH e o Serum
deixa-nos um passo mais perto da nossa meta Institute of India. O financiamento
de eliminar a meningite até 2030”. do Ministério dos Negócios
Estrangeiros, da Commonwealth e
A nova vacina oferece um poderoso do Desenvolvimento do Governo do
escudo contra as cinco principais Reino Unido foi fundamental para o seu
estirpes da bactéria meningocócica (A, desenvolvimento.
C, W, Y e X) numa única injecção. Todas
as cinco estirpes causam meningite e Em Julho de 2023, a OMS pré-
envenenamento do sangue. Esta nova qualificou a nova vacina Men5CV (que
vacina proporciona uma protecção mais tem a marca MenFive) e, em Outubro,
ampla do que a vacina actualmente usada emitiu uma recomendação oficial aos
em grande parte de África, que só é eficaz países para a introduzirem. A Gavi
contra a cepa A. alocou recursos para o lançamento
da Men5CV em Dezembro de 2023,
A nova vacina tem o potencial de reduzir que está actualmente disponível para
significativamente os casos de meningite. resposta a surtos por meio do stock
Isto é especialmente importante para de emergência gerido pelo Grupo de
países como a Nigéria, onde múltiplos Coordenação Internacional (ICG) sobre
serogrupos são prevalentes. A nova Fornecimento de Vacinas, enquanto o
vacina usa a mesma tecnologia da lançamento por meio de campanhas
vacina conjugada contra a meningite A preventivas em massa deverá começar
(MenAfriVac), que eliminou a epidemia em 2025, em todos os países do
meningocócica A na Nigéria. “cinturão da meningite”.

59
SAÚDE
ENTREVISTA

MENINGITE, UM
ANÁLISE

GRANDE PROBLEMA
DE SAÚDE PÚBLICA A
NÍVEL MUNDIAL
A MENINGITE É UMA DOENÇA DEVASTADORA, QUE CAUSA SEQUELAS GRAVES A LONGO PRAZO E TEM
UMA ELEVADA TAXA DE LETALIDADE. CONTINUA A SER UM GRANDE PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA, A
NÍVEL MUNDIAL. AS EPIDEMIAS DESTA DOENÇA OCORREM EM TODO O MUNDO, MAS ESPECIALMENTE
NA ÁFRICA SUBSAARIANA. MUITOS MICRORGANISMOS PODEM CAUSAR MENINGITE, COMO BACTÉRIAS,
VÍRUS, FUNGOS E PARASITAS. A MENINGITE BACTERIANA É PARTICULARMENTE PREOCUPANTE E CERCA
DE UMA EM CADA 10 PESSOAS QUE CONTRAEM ESTE TIPO DE MENINGITE MORRE. UMA EM CADA CINCO
TEM COMPLICAÇÕES GRAVES. A VACINAÇÃO É A MANEIRA MAIS EFICAZ DE FORNECER PROTECÇÃO
DURADOURA.

60
SAÚDE
N
os últimos 10 anos, ocorreram epidemias de
meningite em todas as regiões do mundo,
embora com mais frequência no “cinturão
da meningite”, que se estende do Senegal, no
Oeste, até a Etiópia, no Leste, e engloba 26 países
da África Subsaariana.

Estas epidemias são imprevisíveis, podem


perturbar gravemente os sistemas de saúde e
gerar pobreza, dados os custos catastróficos para
as famílias e as comunidades. De acordo com
a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais
de 500 milhões de africanos estão em risco de
surtos sazonais de meningite, mas a doença está
fora do radar há demasiado tempo.

O que é?
A meningite é uma inflamação grave das
meninges, as membranas que cobrem o cérebro
e a medula espinal. Geralmente, é devida a uma Existem outras bactérias que também são
infecção, pode ser fatal e requer atenção médica causas importantes de meningite: Mycobacterium
imediata. Trata-se de uma doença devastadora e tuberculosis, Salmonella, Listeria, Streptococcus
continua a ser um grande desafio para a saúde e Staphylococcus. Mas também vírus, como
pública. o enterovírus e o vírus da papeira, fungos,
especialmente o Cryptococcus, e parasitas, como o
A doença pode ser causada por muitos patógenos Amoeba, podem causar meningite.
diferentes, incluindo bactérias, fungos ou vírus,
mas a maior carga global é observada com a Quais são os grupos de risco?
meningite bacteriana, que pode levar à morte em A meningite pode afectar qualquer pessoa de
menos de 24 horas. A maioria destas infecções é qualquer idade, mas afecta principalmente bebés,
transmitida de pessoa para pessoa. crianças em idade pré-escolar e jovens. Os
recém-nascidos estão em maior risco de infecção
Várias bactérias diferentes podem causar por estreptococos do grupo B e as crianças
meningite. Streptococcus pneumoniae (neumococo), pequenas estão em maior risco de meningococo,
Haemophilus influenzae, Streptococcus agalactiae pneumococo e Haemophilus influenzae.
(estreptococo do grupo B) e Neisseria meningitidis Adolescentes e adultos jovens estão em maior
(meningococo) são as principais. Causam mais risco de infecções meningocócicas, enquanto
da metade das mortes por meningite em todo o os idosos estão em maior risco de infecções
mundo e podem levar a outros problemas, como pneumocócicas.
sepse e pneumonia.
A doença pode ocorrer em diversas situações,
A N. meningitidis, que causa meningite desde casos esporádicos, pequenos aglomerados
meningocócica, é a que tem potencial para até grandes epidemias em todo o mundo, com
produzir grandes epidemias. Foram identificados variações sazonais. Existe risco de meningite
12 serogrupos de N. meningitidis, seis dos quais (A, em todo o mundo. A distribuição geográfica e
B, C, W, X e Y) podem causar epidemias. o potencial epidémico diferem de acordo com o
serogrupo.

A N. meningitidis pode causar uma variedade de


doenças. A doença meningocócica invasiva (DMI)
refere-se à gama de doenças invasivas causadas
DE ACORDO COM A ORGANIZAÇÃO por N. meningitidis, incluindo septicemia, artrite
MUNDIAL DA SAÚDE, MAIS DE 500 e meningite. Da mesma forma, a S. pneumoniae
MILHÕES DE AFRICANOS ESTÃO EM causa outras doenças invasivas, incluindo otite e
RISCO DE SURTOS SAZONAIS DE pneumonia.
MENINGITE, MAS A DOENÇA ESTÁ FORA
DO RADAR HÁ DEMASIADO TEMPO O risco é maior quando as pessoas estão
próximas, por exemplo, em reuniões em massa,
campos de refugiados, casas superlotadas ou
centros de estudantes, militares ou de trabalho.
As imunodeficiências, como as causadas pela

61
SAÚDE
infecção pelo VIH ou deficiências do complemento, As manifestações clínicas dos pacientes com
imunossupressão, tabagismo e exposição ao fumo meningite variam dependendo da causa, do
do tabaco também podem aumentar o risco de curso da doença (aguda, subaguda ou crónica),
diferentes tipos de meningite. do envolvimento cerebral (meningoencefalite)
e das complicações sistémicas (por exemplo,
Como se transmite? sepse). Os sintomas mais comuns incluem
As bactérias que causam a meningite são rigidez do pescoço, febre alta, sensibilidade à luz,
transmitidas de pessoa para pessoa. A maioria confusão ou estado mental alterado, dores de
destas, como o meningococo, o pneumococo cabeça, náuseas e vómitos. Os sintomas menos
e a Haemophilus influenzae, é transportada comuns incluem convulsões, coma e deficiências
pelos seres humanos no nariz e na garganta e neurológicas (por exemplo, perda de audição ou
espalham-se de pessoa para pessoa através de de visão, comprometimento cognitivo ou fraqueza
gotículas respiratórias ou secreções da garganta. dos membros).

O contacto próximo e prolongado, como beijar, Mesmo com diagnóstico precoce e tratamento
espirrar ou tossir para cima de alguém ou adequado, 5% a 10% dos pacientes morre,
viver próximo de uma pessoa infectada facilita geralmente dentro de 24 a 48 horas após o
a propagação da doença. O período médio de início dos sintomas. A meningite bacteriana pode
incubação é de quatro dias, mas pode variar entre resultar em danos cerebrais, perda auditiva ou
dois e 10 dias. dificuldade de aprendizagem em 10% a 20% dos
sobreviventes. Uma forma menos comum, mas
O estreptococo do grupo B aloja-se geralmente no ainda mais grave (e muitas vezes fatal), de doença
intestino ou vagina e é transmitido de mãe para meningocócica é a septicemia meningocócica, que
filho no momento do parto. se caracteriza por erupção cutânea hemorrágica e
rápido colapso circulatório.

Tipos de meningite causada por vírus ou


MESMO COM DIAGNÓSTICO PRECOCE E bactérias podem ter sintomas semelhantes. Os
TRATAMENTO ADEQUADO, 5% A 10% sintomas podem ser mais graves nalguns tipos de
DOS PACIENTES MORRE, GERALMENTE meningite do que noutros e requerem tratamento
DENTRO DE 24 A 48 HORAS APÓS O diferente.
INÍCIO DOS SINTOMAS. A MENINGITE
BACTERIANA PODE RESULTAR EM As bactérias que causam meningite podem
causar outros sintomas se infectarem a corrente
DANOS CEREBRAIS, PERDA AUDITIVA
sanguínea, o que pode levar rapidamente à sepse:
OU DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM EM
• Mãos e pés frios;
10% A 20% DOS SOBREVIVENTES • Dores musculares e articulares;
• Respiração mais rápida do que o habitual;
• Diarreia;
• Erupções cutâneas vermelhas ou roxas-escuras.

62
SAÚDE
Às vezes, os bebés têm sintomas diferentes dos tipo utilizado.
adultos:
• Diminuição da actividade e dificuldade em acordar; Desde 2010, uma vacina para o meningococo
• Irritabilidade e dificuldade em acalmar-se; A conjugada tem sido lançada através de
• Má alimentação; campanhas de imunização preventiva em massa
• Rigidez ou frouxidão corporal; no “cinturão da meningite” da África Subsaariana,
• Abaulamento no topo da cabeça (fontanela). reduzindo drasticamente os casos do serogrupo
A, que representava 80% a 85% das epidemias.
Como é feito o diagnóstico? É essencial continuar a incluir esta vacinação nos
O diagnóstico inicial de meningite pode ser feito por programas de imunização de rotina e manter uma
exame clínico, seguido de punção que revele um cobertura elevada para evitar novas epidemias.
líquido espinal purulento. A bactéria, às vezes, pode
ser vista em exames microscópicos do fluido espinal. Qual a resposta da OMS?
O diagnóstico é confirmado pelo crescimento da A OMS, com o apoio de muitos parceiros, lançou
bactéria a partir de amostras de líquido ou de sangue, o roteiro global “Acabar com a meningite até
ou pela reacção em cadeia da polimerase (PCR). 2030”, que foi adoptado em 2020. Foi a primeira
resolução sobre meningite da Assembleia Mundial
O diagnóstico também pode ser apoiado por testes de da Saúde, com o apoio unânime dos Estados-
diagnóstico rápido, como testes de aglutinação, embora membros da OMS.
os actualmente disponíveis tenham várias limitações. A
identificação dos serogrupos meningocócicos e o teste A nova estratégia contra a meningite visa salvar
de susceptibilidade aos antibióticos são importantes mais de 200 mil vidas por ano. Embora o roteiro
para definir medidas de controlo. aborde todas as meningites, independentemente
da causa, centra-se principalmente nas
A doença meningocócica é potencialmente fatal e principais causas da meningite bacteriana
configura uma emergência médica. É necessário aguda (meningococo, pneumococo, Haemophilus
internamento e deve ser iniciado um tratamento influenzae e estreptococo do grupo B), que foram
antibiótico adequado o mais rapidamente possível, responsáveis por mais de 50% das 250 mil
idealmente após a punção lombar ter sido realizada. mortes por meningite por todas as causas em
Se o tratamento for iniciado antes da punção lombar, 2019, causando outras doenças invasivas, como
pode ser difícil cultivar as bactérias a partir do sepses e pneumonia.
líquido espinal e confirmar o diagnóstico. No entanto,
a confirmação do diagnóstico não deve atrasar o O roteiro define uma visão global rumo a um
tratamento. mundo sem meningite e tem três objectivos:
• eliminar epidemias de meningite bacteriana;
Uma série de antibióticos pode tratar a infecção, • reduzir em 50% o número de casos de
incluindo penicilina, ampicilina e ceftriaxona. Em meningite bacteriana evitável por vacinação e
condições epidémicas em África, em áreas com de mortes em 70%;
infraestruturas e recursos de saúde limitados, a • reduzir a incapacidade e melhorar a qualidade
ceftriaxona é, segundo a OMS, o medicamento de de vida após a meningite por qualquer causa.
eleição. A administração de antibióticos a contactos
próximos de pessoas com doença meningocócica, O novo roteiro detalha as prioridades para
quando feita prontamente, reduz o risco de a resposta e prevenção da meningite,
transmissão. nomeadamente:
• alcançar uma elevada cobertura vacinal,
Em muitos países, recomenda-se localizar mães cujos desenvolver novas vacinas a preços acessíveis
bebés estão em risco de infecção estreptocócica do e melhorar as estratégias de prevenção e
grupo B. Às mães em risco é oferecida penicilina resposta a surtos;
intravenosa durante o trabalho de parto, para evitar • diagnóstico rápido e tratamento ideal dos
que os seus bebés desenvolvam esta infecção. pacientes;
• bons dados para orientar os esforços de
Que importância tem a imunização? prevenção e controlo;
As vacinas licenciadas contra a doença meningocócica • cuidados e apoio às pessoas afectadas,
estão disponíveis há mais de 40 anos. Ao longo do centrando-se no reconhecimento precoce e na
tempo, houve grandes melhorias na cobertura de melhoria do acesso aos cuidados e ao apoio em
estirpes e na disponibilidade de vacinas, mas, até à caso de sequelas;
data, não existe uma vacina universal contra a doença. • defesa e compromisso para garantir uma
As vacinas podem prevenir a meningite causada por elevada consciencialização sobre a meningite,
meningococos, pneumococos e Haemophilus influenzae responsabilização perante os planos nacionais e
de tipo B. São específicas do serogrupo e a protecção afirmação do direito à prevenção, aos cuidados
que conferem é de duração variável, dependendo do e aos serviços de pós-tratamento.

63
SAÚDE
COLABORAÇÃO
NOTÍCIA
NOTÍCIA

PARA REDUZIR
A MORTALIDADE
POR MENINGITE NA
PROVÍNCIA DO HUAMBO

A
intervenção do Soba Moma é fruto de
uma colaboração crucial entre a OMS, o
Ministério da Saúde de Angola e a União
Europeia para travar um aumento alarmante de
casos de meningite na província do Huambo, no
ano passado, reduzir as taxas de mortalidade
e aumentar a capacidade de cuidados de
saúde. Este líder tradicional do bairro Benfica
tem vindo a interagir com os residentes e
a distribuir panfletos. A sua missão é clara:
garantir que toda a gente está bem informada
sobre o surto de meningite que está a afectar a
província e que nenhuma criança doente esteja
em casa sem supervisão, quando deveria estar
no hospital.
ENTRE JANEIRO E DEZEMBRO DE 2023, ANGOLA
REGISTOU UM AUMENTO SIGNIFICATIVO DE De um modo geral, a província do Huambo
CASOS SUSPEITOS DE MENINGITE, COM tem sido o foco de intervenção para controlar
68.169 CASOS E 169 MORTES. A ALTA TAXA DE um possível surto no país, uma vez que entre
LETALIDADE DE 40% ENTRE OS 336 CASOS Janeiro e Dezembro de 2023, Angola registou
NOTIFICADOS NA PROVÍNCIA DO HUAMBO um aumento significativo de casos suspeitos de
SIGNIFICA QUE FOI RESPONSÁVEL POR QUASE meningite, com 68.169 casos e 169 óbitos, dos
80% DAS MORTES EM TODO O PAÍS. PARA quais 336 casos foram notificados na província
REDUZIR ESTE FARDO, A ORGANIZAÇÃO do Huambo, com uma taxa de mortalidade
MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) TEM APOSTADO superior a 40%. Esta taxa de mortalidade
NA COLABORAÇÃO COM A COMUNIDADE, é relativamente elevada quando comparada
ENVOLVENDO LÍDERES TRACIONAIS, COMO com o número médio de óbitos registados
SOBA ARÃO MOMA, NO HUAMBO, PARA A nos países considerados parte do “cinturão da
SENSIBILIZAÇÃO DA POPULAÇÃO. meningite”, na região africana da OMS, do qual
Angola não faz parte.

Entre Janeiro e Maio de 2023, a província


registou 103 casos de meningite, resultando
em 42 mortes, com uma taxa de mortalidade
preocupante de 41%. De acordo com a OMS,
a escassez de medicamentos, de pessoal
de saúde e unidades de saúde exacerbou o
surto de meningite na província do Huambo.

64
SAÚDE
Para garantir uma resposta eficaz e proteger as este respeito, com a excelente parceria da OMS”,
populações de alto risco, uma missão de resposta afirmou o director provincial da Saúde, Dr.
conjunta de 20 dias no Huambo teve como Lucas Yamba.
objectivo melhorar a funcionalidade do sistema
de saúde local, melhorar as infra-estruturas e a Através de esforços de colaboração envolvendo
disponibilidade de medicamentos e reforçar os a comunidade, as igrejas e as autoridades
recursos humanos. tradicionais, a informação sobre a prevenção
e o tratamento da meningite foi amplamente
Resultados divulgada nas unidades de saúde e nas
Os resultados significativos dos esforços conjuntos comunidades. “Demos palestras nas igrejas aos
incluíram a formação de 37 técnicos de saúde sábados e domingos, enquanto aqui [no centro
em comunicação de risco e envolvimento da de saúde], em cada uma das áreas de serviço, os
comunidade, a formação de 30 jornalistas sobre nossos utentes também receberam informações
como comunicar para a prevenção e resposta sobre a meningite”, disse Martins Canuela, um
à meningite, o envolvimento de 595 líderes técnico da unidade de saúde de Benfica Baixo.
comunitários e a formação de 1.548 mobilizadores
sociais e líderes comunitários, à semelhança De acordo com o Dr. Lucas Yamba, devido
de Soba Moma, para disseminar amplamente ao esforço para controlar o surto, as taxas de
mensagens críticas. “Nunca nos cansámos de andar mortalidade por meningite, nos últimos meses
pelas ruas, apaixonados por transmitir mensagens de 2023, diminuíram de 53% para 35%.
chave a todos de que, se tivessem sintomas de
meningite, deveriam procurar assistência imediata Embora tenham sido dados passos
na unidade de saúde mais próxima”, recordou Soba significativos para enfrentar a crise da
Moma. meningite no Huambo, incluindo o aumento
da sensibilização e a redução das taxas de
Os especialistas apoiaram iniciativas locais de mortalidade, o apoio contínuo foi crucial para
educação sobre a meningite, identificaram grupos manter estes resultados, notou o Dr. Yoti
de alto risco e defenderam junto dos líderes locais Zabulon, representante interino da OMS em
a divulgação de mensagens cruciais, ao mesmo Angola. “Continuando a trabalhar em conjunto e
tempo que realizaram avaliações para investigar a alavancar parcerias, podemos garantir que todas
rapidamente os factores sociais com impacto as comunidades têm acesso a serviços de saúde
na prevenção da meningite. “Pudemos realmente de qualidade e podem gerir eficazmente doenças
contar com o apoio da Direcção de Saúde Pública a evitáveis como a meningite”, concluiu.

É de manhã cedo, mas Soba Arão


Moma, um líder tradicional do bairro
Benfica, na província do Huambo, já
está a interagir com os residentes e
a distribuir panfletos. A sua missão
é garantir que toda a gente está bem
informada sobre o surto de meningite
que está a afectar a província

Foto OMS

65
SAÚDE
AMBIENTAL

MUNDO DESPERDIÇA
ENTREVISTA

MAIS DE MIL MILHÕES


RUBRICA

DE REFEIÇÕES
POR DIA

AS FAMÍLIAS EM TODOS OS CONTINENTES DESPERDIÇARAM MAIS


DE MIL MILHÕES DE REFEIÇÕES POR DIA, EM 2022, ENQUANTO 783
MILHÕES DE PESSOAS FORAM AFECTADAS PELA FOME E UM TERÇO
DA HUMANIDADE ENFRENTOU A INSEGURANÇA ALIMENTAR. O
DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS CONTINUA A PREJUDICAR A ECONOMIA
GLOBAL E A IMPULSIONAR AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS, A PERDA
DE BIODIVERSIDADE E A POLUIÇÃO. ESTAS SÃO AS PRINCIPAIS
CONCLUSÕES DE UM RELATÓRIO DO PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS
PARA O AMBIENTE (PNUA), PUBLICADO ANTES DO DIA INTERNACIONAL
DO DESPERDÍCIO ZERO.

66
SAÚDE
alimentos, reduzir os impactos climáticos e as
perdas económicas e acelerar o progresso nas
metas globais”.

Muitos países de baixo e médio rendimento


continuam a carecer de sistemas adequados
para acompanhar os progressos realizados
com vista ao cumprimento do Objectivo de
Desenvolvimento Sustentável 12.3 de reduzir
para metade o desperdício alimentar até
2030.

Apenas quatro países do G20 (Austrália,


Japão, Reino Unido e Estados Unidos da
América) e a União Europeia têm estimativas
de desperdício alimentar adequadas para
acompanhar os progressos.

Um problema de todos
Os dados confirmam que o desperdício
alimentar não é apenas um problema dos
“países ricos”, com os níveis de desperdício

O
Relatório do Índice de Desperdício alimentar doméstico a diferirem em apenas
Alimentar 2024 do PNUA, em sete quilogramas per capita nos níveis médios
co-autoria com a WRAP, fornece a observados nos países de rendimento elevado,
estimativa global mais precisa sobre o médio-alto e médio-baixo.
desperdício de alimentos, assim como
orientações aos países sobre como Ao mesmo tempo, os países mais quentes
melhorar a recolha de dados, e parecem gerar mais desperdício alimentar
sugere boas práticas na transição per capita nos agregados familiares,
da medição para a redução do potencialmente devido a um maior consumo
desperdício alimentar. de alimentos frescos com partes substanciais
não comestíveis e à falta de cadeias de frio
Em 2022, foram gerados 1,05 robustas.
mil milhões de toneladas de
resíduos alimentares (incluindo De acordo com dados recentes, a perda e o
partes não comestíveis), o que desperdício de alimentos geram 8% a 10%
equivale a 132 quilogramas per das emissões globais anuais de gases com
capita e quase um quinto de todos efeito de estufa (GEE) – quase cinco vezes
os alimentos disponíveis para os superiores às do sector da aviação – e uma
consumidores. Do total de alimentos perda significativa de biodiversidade, ao
desperdiçados, 60% aconteceu no ocuparem o equivalente a quase um terço
nível doméstico, sendo os serviços de das terras agrícolas do mundo. O impacto
alimentação responsáveis por 28% e o da perda e do desperdício de alimentos na
retalho por 12%. economia mundial é estimado em cerca de um
bilião de dólares.
“O desperdício alimentar é uma tragédia mundial.
Milhões de pessoas passarão fome, à medida
que os alimentos forem desperdiçados em todo
o mundo”, nota Inger Andersen, directora
executiva do PNUA. “Não só esta é uma grande
questão de desenvolvimento, mas os impactos
desses resíduos desnecessários estão a causar
custos substanciais para o clima e a natureza.
A boa notícia é que sabemos que, se os países
priorizarem essa questão, poderão reverter
significativamente a perda e o desperdício de

67
SAÚDE
A SAÚDE PRÓXIMA DE TODOS

Distribuidor Oferta de Soluções Serviços


de referência Integradas de qualidade

COMPETÊNCIAS NÚMEROS

Logística e Distribuição Farmacêutica + 3550 Produtos em portefólio


Soluções de Diagnóstico 86,9% Nível de satisfação dos clientes
Assistência Técnica 17 Províncias com clientes activos
Gastáveis clínicos e hospitalares 2.500 m2 Armazém
Soluções de Point of Care
Procurement e Sourcing Internacional
Formação*
Representação Comercial* PARCERIAS FORTES
*em parceria com Tecnosaúde
Consultoria
Assuntos Regulamentares

FALE CONNOSCO
O SEU DISTRIBUIDOR
FARMACÊUTICO DE REFERÊNCIA
www.australpharma.net Telefone : +244 923 190 840 Urbanização Park Gest, km 22
WhatsApp : + 244 938 539 887 Estrada de Lunda-Catete, Pavilhão 3

68Australpharma E-mail : geral@australpharma.net Município de Viana | Luanda-Angola

SAÚDE

Você também pode gostar