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O ENSINO DA GRAMÁTICA
NO CONTEXTO ATUAL
CONTEXUALIZANDO
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Alunos: – Invencíveis!
Em que sala você prefereria estar? Sua escolha talvez revele menos suas
preferências didáticas e mostre mais a imagem que você tem da aula de gramática.
A primeira aula enfatiza o ensino teórico da gramática; a segunda, adota um
ensino baseado no uso e na reflexão gramatical. O objetivo da primeira é levar os
alunos a memorizarem a terminologia gramatical e algumas de suas regras; a
segunda busca exercitar a gramática interna dos alunos.
A segunda metodologia vai esperar um pouco mais para entrar na
metalinguagem gramatical. Antes, é possível pedir aos alunos que reescrevam o
anúncio e que criem outro anúncio de carro com a mesma “pegada”. Mais tarde,
cria-se uma atividade de pesquisa, levando os alunos a descobrirem que
propriedade é essa com a qual trabalharam no anúncio.
Pense nisso antes de conhecer a proposta do professor Luiz Carlos
Travaglia para o ensino de gramática, tema desta aula.
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TEMA 1 – DO USO À TEORIA, A PROPOSTA DE ENSINO GRAMATICAL DE LUÍS
CARLOS TRAVAGLIA
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recursos das diferentes variedades da língua” (Travaglia, 2009, p. 111). O papel
das demais gramáticas seria o de apoio a esse objetivo, pois facilitam “a conversa
em sala de aula sobre aspectos da língua que são mais facilmente comentados e
discutidos se tivermos alguma metalinguagem” (Travaglia, 2009, p. 108). Vamos
ver, então, como se desenvolve a proposta de Travaglia por meio de atividades
ligadas às gramáticas de uso e a reflexiva.
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aluno a perceber “o paradigma dos adjetivos”, ou da propriedade linguística de
atribuir qualidades a entidades do mundo.
Para isso, ele propõe duas atividades bem simples, para séries iniciais do
Fundamental, baseadas na repetição. O professor profere uma sentença e o aluno
a repete. O importante é que, ao final, ele perceba que em todas as construções
repetidas há o processo de atribuição de características a determinada entidade.
Travaglia apresenta duas atividades em que as sentenças a seguir são faladas ou
escritas pelo professor e depois repetidas pelo aluno (Travaglia, 2009, p. 112,
113):
[1]
– O carro novo é bom
– Este carro antigo é bonito
– O carro de corrida é veloz
– O carro veloz é perigoso
– Este carro de passeio é bonito
– O carro polido é bonito.
– O carro batido é vermelho.
[2].
– O carro que comprei é bonito
– O carro que bateu é amarelo
– O carro que é polido fica brilhando
– O carro que é de corrida corre muito/ é veloz
– Esse carro que é de passeio é muito confortável.
– O carro que é antigo exige muitos cuidados.
– O carro que é novo dá poucos problemas.
[3]
– Sérgio mora em Petrópolis porque o clima da serra é muito bom.
– Sérgio mora em Petrópolis porque o clima serrano é muito bom.
– As chuvas criaram na serra uma situação de perigo.
– As chuvas criaram na serra uma situação perigosa.
– Ele terá que fazer um tratamento nos dentes.
– Ele terá que fazer um tratamento dental.
[4]
– Um ser humano corajoso enfrenta o perigo
– Um ser humano que tem coragem enfrenta o perigo.
– Os seres humanos são animais carnívoros
– Os seres humanos são animais que comem carne
– As pessoas sorridentes alegram os outros.
– As pessoas que sorriem alegram os outros.
[5]
– Ele terá que fazer um tratamento nos dentes.
– Ele terá que fazer nos dentes um tratamento.
– Ele terá que fazer um tratamento dental.
**– Ele terá que fazer um dental tratamento.
Essa atividade pode ser uma porta para introduzir a gramática reflexiva.
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evidentes as regras da língua para o aluno sobre aquilo que ele já sabe
implicitamente. Isso se faz mediante a observação dos fatos gramaticais, os quais
levam o aprendiz a formular hipóteses sobre o funcionamento da língua ou mesmo
deduzir as formas de funcionamento da língua.
Para o professor da UFU, há duas formas de lidar com a gramática
reflexiva. A primeira é por meio de atividades que fazem o aluno explicitar fatos
da estrutura e do funcionamento da língua, como a existência de diferentes
classes de palavras; categorias da língua; constituintes da estrutura frasal; e de
regras de construção de unidades da língua: palavras, orações ou períodos
(Travaglia, 2009, p. 150). Essa proposta, segundo Travaglia, deixa de lado o
desenvolvimento da competência comunicativa do aluno.
A gramática reflexiva que Travaglia propõe visa justamente esse fim, de
desenvolver tal competência: “[...] é uma atividade de ensino de gramática que se
preocupa mais com a forma de atuar usando a língua do que uma
classificação dos elementos linguísticos e o ensino da nomenclatura que
consubstancia essa classificação” (Travaglia, 2009, p. 150 – grifos nossos).
A segunda proposta constitui-se de atividades direcionadas para os efeitos
de sentido “que os elementos linguísticos podem produzir na interlocução, já que
fundamentalmente estamos querendo desenvolver a capacidade de compreensão
e expressão” (Travaglia, 2009, p. 150). A reflexão estaria voltada mais para os
aspectos semânticos e pragmáticos da língua. Travaglia ilustra essa proposta
elaborando outra atividade com os adjetivos.
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fazer essas atividades, reflete-se sobre o funcionamento da língua de forma
situada e de modo mais produtivo.
As sentenças poderiam ser uma resposta à pergunta “Como era a casa ali
da esquina?”. Travaglia entende que a locução “de chumbo” significa a própria cor
do chumbo; já o adjetivo “plúmbea” aponta para uma cor parecida, próxima à do
chumbo. Nesse caso (e em outros apontados pelo professor da UFU, como no par
“amor paterno”/ “amor de pai”), a locução adjetiva parece indicar uma
característica mais própria e o adjetivo mais semelhante. Parece ser o caso do
par de sentenças citado anteriormente, na outra aula:
Neste caso, Travaglia comenta que nas orações (5) e (7) estudioso e
competitivas indicam um modo de ser da aluna e da empresa, uma característica
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No original, o exercício usa “aluno”.
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delas; enquanto em (6) e (8) não são características próprias delas, mas sim “uma
ação que [ela] faz para um determinado fim” (Travaglia, 2009, p. 154). Diferentes,
as frases não podem ser usadas no mesmo contexto; devem ter usos diferentes,
portanto.
Em outros exercícios, mostra-se a equivalência de sentido entre as
locuções e os adjetivos, indicando que há outros aspectos que devem interferir
nesse processo:
Nesse caso, a oração adjetiva parece ser uma explicação do adjetivo, não
produzindo diferença semântica significativa.
FINALIZANDO
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LEITURA COMPLEMENTAR
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REFERÊNCIAS
_____. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 14. ed.
São Paulo: Cortez, 2009.
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