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DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2020.99.0003
Projeto e controle de
execução de radier
estaqueado em edifício alto
FRANCISCO CARLOS MENDES LIMA – Diretor de Impermeabilização RENATO SALLES CORTOPASSI – Diretor
Associação Brasiliense de Construtores de Brasília – ASBRACO Kali Engenharia
Mendes Lima Engenharia / IBRACON Diretoria de Materiais do SINDUSCON DF
RESUMO
Este artigo demonstra a importância de se considerar a interação Apresenta-se também melhorias nos procedimentos executivos da con-
solo-estrutura no projeto estrutural de da fundação, em um caso cretagem do radier estaqueado, como controle rigoroso dos parâ-
real de radier estaqueado no empreendimento Skygarden Flamboyant metros de umidade relativa do ambiente e da temperatura do concreto
– Marista, em Goiânia — GO. Houve alterações significativas das dentro da betoneira, bem como no lançamento do concreto do radier.
solicitações iniciais, sendo que os pilares de fachada tiveram seus O controle desses parâmetros durante todo o processo de concreta-
esforços acrescidos da ordem de 38%, quando comparadas com cál- gem visou reduzir a fissuração e conter os picos de temperatura no limi-
culo estrutural com apoios indeslocáveis. te de 65 °C, para atender as premissas do projeto estrutural do radier.
O
e difício Skygarden Flam- Este radier estaqueado, considerado no dimensionamento de edifícios altos,
boyant (Figura 1) está um dos maiores do Brasil, foi projeta- de acordo com NBR 6122 Projeto e
sendo construído na ci- do utilizando o conceito da Interação execução de fundações.
dade de Goiânia, sendo concebido Devido ao elevado volume de con-
como um edifício alto para os padrões creto do radier, foi necessário um es-
brasileiros, com cerca de 170 m, ape- tudo térmico, para controle rigoroso da
sar do Council for Tall Buildings and the temperatura e da umidade, e cura du-
Urban Habitat (CBTUH) considerar o rante todo o processo de concretagem,
edifício alto a partir de 200 m. Sua estru- visando reduzir a fissuração e conter os
tura foi concebida com concreto arma- picos de temperatura no limite máximo
do convencional, composta por pilares, de 65°C, atendendo as premissas do
vigas e lajes. Possui 2 subsolos mais 53 projeto estrutural do radier.
pavimentos, no total de 172,41 metros
de altura acima do nível do térreo. 2. DESENVOLVIMENTO
A fundação, que já foi concluída, é
do tipo radier estaqueado, composto 2.1 Cálculo do radier estaqueado
de radier com altura de 2,10 m, além u Figura 1
de 241 estacas do tipo hélice contínua No cálculo estrutural convencio-
Imagens digitais e em 3D do
monitorada, com 70 cm de diâmetro e Edifício Skygarden Flamboyant – nal, uma das hipóteses usuais con-
média de 13,50 m de profundidade. O Marista em Goiânia – GO sideradas é que as fundações são
concreto do radier estaqueado possui indeslocáveis. Na verdade, isso não
u Figura 2
A interação solo-estrutura
considera a rigidez da
superestrutura e pode
reduzir os recalques distorcionais u Figura 3 u Figura 4
em projetos de fundação Projeto de fundação elaborado Projeto de fundação elaborado
Fonte: Gusmão (1994) na primeira interação na segunda interação
menos, absorvendo mais carregamen- Outro aspecto muito importante as possíveis interações em um radier
to. O contrário acontece com os pilares no cálculo de fundações de edifícios estaqueado, conforme mostrado nas
do centro. altos é a consideração do efeito de figuras de 5 a 8.
interação entre os elementos de
fundação. Chow (2007) apresenta
u Figura 6 u Figura 7
u Figura 5 Interação entre estaca e superfície Interação entre superfície do solo
Interação entre estacas do solo carregada e estaca
u Figura 9
Uma estaca carregada interage Deformada do radier estaqueado para verificação do ELS-DEF,
com outra estaca próxima provocan- com software GARP
do um recalque na vizinha, mesmo
quando ela não tem carregamento. Da
mesma forma, uma superfície carrega- cas foram obtidos com provas de carga Para orientar o dimensionamen-
da provoca recalque em uma estaca, estática nas estacas. A deformada críti- to estrutural do radier estaqueado, o
e vice-versa. No caso em questão, as ca do radier calculada para o ELS-DEF software GARP emite as isocurvas
interações acrescentaram cerca de 4 segue na figura 9, para um exemplo de de momento fletor Mx e My, para as
vezes o recalque, quando comparado uma das hipóteses de carregamento, e várias hipóteses de carregamento.
com o cálculo sem interações entre es- seu valor máximo foi 24 mm. Todos os As isocurvas de momento Mx apre-
tacas e superfície do solo. É importante recalques distorcionais entre pilares re- sentada na Figura 10 são para uma
ressaltar que, mesmo para fundações sultaram menores que L/500. hipótese específica de carregamento.
em blocos sobre estacas, existem as
interações entre os elementos de fun-
dação, que devem ser avaliadas, prin-
cipalmente em prédios altos.
Para o cálculo das deformadas
e esforços do radier estaqueado do
Skygarden Flamboyant, foi utilizado o
software GARP – Geotechnical Analyses
of Rafts with Piles, desenvolvido por
Small e Poulos (2007).
O software GARP analisa o radier
como placa com 8 nós pelo Méto-
do dos Elementos Finitos. O conjunto
estacas-solo utiliza a teoria da elastici-
dade. A estimativa das interações entre
estacas é analisada pelo método dos u Figura 10
elementos de contorno. Isocurvas de momento fletor Mx para verificação do ELU
Os coeficientes de mola das esta-
u Figura 14
Controle da temperatura do u Figura 15
concreto e da umidade relativa do Lançamento do concreto u Figura 17
ambiente, na concretagem em duas autoadensável do radier Cura do concreto com lâmina
camadas do radier estaqueado estaqueado d’água de 15 cm, por 7 dias
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto e execução de fundações. NBR 6122: 2019.
[2] Chow, H. Analysis of pile-raft foundations with piles of different lengths and diameters. PhD thesis. University of Sydney, 2007.
[3] Gusmão, A. D.; Gusmão Filho, J. A. . Avaliação da influência da interação solo – estrutura. In. X COBRANSEF, Foz de Iguaçu, PR, ABMS. Anais, 1994, Vol.1, p. 68-74.
[4] IBRACON. Comentários e exemplos de aplicação. NBR 6118: 2014.
[5] Small, J.C. and Poulos, H. G. A method of analysis of piled rafts. Proceedings of the 10th ANZ Conference on Geomechanics, Brisbane. Australian Geomechanics
Society, 2007, Vol. 2, pp. 602-607.