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A Arquitetura das Igrejas
de Porto Alegre
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em sua simplicidade, cujas torres só foram completa-
das em 1846, após a independência do país. Dois anos
depois, é criada a diocese de São Pedro do Rio Grande,
tornando a matriz em catedral e introduzindo a neces-
sidade de uma nova igreja. O processo se alongou, mas
finalmente levou à demolição da antiga igreja, em 1920.
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faixa tem altura pequena, gerando uma ordem coríntia
diminuta. Acima destas duas faixas há uma terceira,
onde já há separação entre o corpo central e as torres,
evidenciando seu caráter de acabamento mural que
oculta o oitão. As torres ainda apresentam um quarto
nível de pilastras, seguido de uma terminação aguda em
pirâmide de base octogonal. Quanto às ordens clássicas,
é curioso notar que o arquiteto usou ordens diferentes
para as torres (jônica) e para o corpo central (coríntia).
Essa é uma liberdade típica do ecletismo, já que a tradi-
ção clássica prevê a superposição de ordens diferentes.
As torres alcançam 35 metros de altura.
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janelas e tendo no coroamento um frontão. Nas laterais
há duas torres, cujas divisões se coordenam com as
duas faixas do corpo central. Na altura do frontão, as
torres têm uma terceira subdivisão, contendo abertu-
ras para os sinos. O topo das torres tem cobertura em
forma de bulbo. O exterior da igreja é bastante simples,
com superfícies planas e marcação pouco expressiva
de pilastras, que são desprovidas de capitéis no trecho
mais baixo. A sobriedade ordenada desta igreja revela
influências do neoclassicismo. A planta segue a tradi-
ção das igrejas coloniais, com salão, capela-mor e altar
como sequência decrescente de volumes retangulares. A
decoração interna contrasta com o exterior, pois Couto e
Silva dotou a nave da igreja de abóbada de berço, quatro
altares, púlpito, coro e arco cruzeiro, todos de elaborada
talha. A capela-mor se destaca pelo altar principal, que
replica em escala menor o arco cruzeiro. O segundo tem
pilastras compósitas com caneluras no fuste, enquanto
o primeiro tem colunas coríntias. A riqueza da talha,
que merece ser apreciada, não tem a mesma unidade
de conjunto encontrada na Igreja das Dores.
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ríntias que sustentam um frontão aplicado a um ático,
que mantém a geometria retangular da fachada. A torre
repete a organização clássica da faixa central pela apli-
cação de quatro pilastras coríntias ladeando a abertura
para os sinos. As pilastras têm fechamento com frontão
curvo e entablamento segmentado. A torre apresenta a
repetição dessa articulação nas outras faces. Embora
algumas partes do esquema clássico da capela sejam
de execução tardia, sua fachada clássica é pioneira em
termos de estilo na cidade.
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A arquitetura neogótica que surge em Porto Alegre nesse
momento representa o advento do ecletismo na cidade.
No período imperial, o neoclassicismo, impulsionado na
corte pelo arquiteto da Missão Francesa Grandjean de
Montigny, predominou no país. Contudo, os anos finais do
império já mostram o uso do revivalismo gótico em obras
oficiais. Desde então, clássico e gótico constituem opções
estilísticas que logo seriam mais numerosas. As primeiras
igrejas neogóticas da cidade não sobreviveram. A capela
do Divino Espírito Santo, construída de 1882 a 1884, foi
demolida em 1920 para a construção da nova catedral.
A própria igreja luterana antes referida foi demolida na
década de 1960 para a construção de um novo templo.
Permanece até hoje a Catedral da Santíssima Trindade,
templo evangélico anglicano erguido de 1900 a 1903. A
igreja é pequena, ficou sem a torre que havia no projeto
original e hoje está entre edifícios altos. Contudo, apre-
senta contrafortes, pináculos, arcos ogivais e vitrais que
identificam sua filiação neogótica. Desse modo, em 1903,
dois templos protestantes passaram a integrar a paisagem
eclesiástica da cidade, antes exclusiva das igrejas católicas.
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conduzindo à fachada com quatro pilastras coríntias,
entablamento e frontão. O projeto original previa a fu-
tura construção de um pórtico colunar com escadaria
em toda a extensão. Nas escadarias, na fachada e no
interior do templo estão registrados por escrito diversos
fundamentos da assim chamada Religião Mundial da
Humanidade propagada por Comte, que mistura o culto
clássico da virtude e o cristianismo católico. Em relação à
propagação do ideal positivista por meio da arquitetura,
o Templo Positivista deve ser examinado em conjunto
com a Biblioteca Pública de Porto Alegre, projetada por
Affonso Hebert, em 1912.
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sobre um tambor guarnecido por colunas aos pares. No
interior, a cúpula apoiada em pendentes ligados a quatro
pilares chanfrados também relembra a igreja romana,
em menor escala. A nave da igreja porto-alegrense, com
abóbada de berço apoiada em arcadas subdivididas por
pilastras, e o átrio transversal ao eixo de acesso também
demonstram a importância do precedente romano no
projeto de Giovenale. Contudo, em outros aspectos as
semelhanças não se repetem, como na fachada principal
e no esquema decorativo.
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são duplas e acentuam o movimento da fachada. Seu
coroamento apresenta um frontão triangular, replicado
por frontões curvos no topo das torres. A catedral des-
taca-se pelo cuidado de sua articulação clássica, visível
na fachada principal, na cúpula e na nave. Nas partes ao
redor da cúpula (absides e altar principal) essa articu-
lação se perde e surgem soluções mistas. A presença de
vitrais e mosaicos causa surpresa numa igreja em estilo
clássico. A inauguração só ocorreu em 1986, revelando
as dificuldades na execução do templo. É peculiar a
solução empregada no exterior da cripta, que funciona
como base do templo na declividade do terreno. Blocos
de pedra rústica são animados por capitéis de cabeças
indígenas e portais de inspiração egípcia.
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Assim como a volumetria, a decoração da igreja não é
convencional. Há traços do ecletismo pela presença de
elementos clássicos como colunas, pilastras, cornijas e
entablamentos. No entanto, estes elementos não se arti-
culam entre si como linguagem no todo da obra. Há tam-
bém uma evidente influência de tendências germânicas
modernizantes, como a arquitetura de Wagner, Olbrich e
Hoffmann e do Jugendstil, tanto nos ornamentos (cores,
texturas, vitrais, esculturas) como no arranjo das partes
(muros, arcadas, colunas, forros). A nave da igreja possui
um plano mais baixo, que compreende a área das arcadas,
seguida por um setor de semicolunas brancas ladeadas
por muros com pinturas e janelas. Cabe destacar que,
exceto pelas esculturas, todos os revestimentos, pinturas
e vitrais são de autoria de Lutzenberger.
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no panorama da cidade como o exemplo mais expressivo
na adoção do estilo neogótico, revelado na decoração e na
articulação dos elementos construtivos (arcos, abóbadas,
nervuras, colunas, capitéis).
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gem da avenida. De base quadrada, ela tem uma grelha
na parte superior onde estão os sinos. No topo há uma
estátua do santo celebrado na igreja.
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é obra muito significativa por suas amplas dimensões,
pela composição ordenada e pela expressão construtiva.
A igreja tem forma de prisma retangular, com 30 metros
de comprimento, 20 metros de largura e 11 de altura.
Sua fachada cega de concreto (onde haveria um vitral
e um baixo relevo dos quatro evangelistas) contrasta
com a face totalmente vazada por combogós do edifício
alto ao fundo. No interior, pórticos duplos de concreto a
cada 5,50 metros deixam o espaço de culto livre. Entre
os pórticos existem vitrais verticais e muros de tijolo à
vista. O edifício constitui uma elegante interpretação da
temática moderna brutalista, que usa os materiais e as
estruturas portantes como meios de expressão plástica.
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O conjunto de obras aqui apresentadas representa uma
pequena parcela das igrejas edificadas em Porto Alegre.
Embora a cidade seja nova em comparação com outros
centros brasileiros (Salvador, Recife, Rio de Janeiro etc.),
seu acervo de igrejas é diversificado e representativo,
incluindo exemplares dos períodos colonial e imperial,
assim como da era republicana antes e depois de 1930.
Visitar estas igrejas é uma experiência significativa e
abrangente, permitindo comparar estilos arquitetônicos
distintos e interpretações variadas do tema da igreja na
história da arquitetura. A divulgação desse patrimônio
é um fator importante na valorização do patrimônio
cultural abrigado na capital gaúcha.
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Viva o Centro a Pé
Igreja das Dores, na Rua das Andradas. Foto: Ivo Gonçalves / PMPA
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