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Universidade Federal do ABC

CECS – Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais


Aplicadas

Fenômenos de Transporte

Prof. João Lameu da Silva Jr.


joao.lameu@ufabc.edu.br
Universidade Federal do ABC
CECS – Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais
Aplicadas

Termodinâmica – Aula 05:


Balanços de Energia e Integração de Sistemas
Conteúdo da Aula
• Objetivos
• Integração de sistemas
• Ciclos termodinâmicos
• Ciclo de geração de potência
• Ciclo de refrigeração
• Processos abertos

3
Objetivos
✓ Ao final desta aula, o aluno deverá ser capaz de:
▪ Entender os fundamentos de ciclos termodinâmicos para
geração de potência e refrigeração.
▪ Aplicar os principais conceitos de termodinâmica vistos
até o momento no curso em processos de interesse da
Engenharia.
▪ Realizar análises e balanços de massa e energia em
sistemas integrados (processos).
▪ Determinar parâmetros de desempenho de sistemas
integrados. 4
Integração de Sistemas
▪ Até o momento exploramos os equipamentos de maneira
individual.
▪ Frequentemente Engenheiros e Engenheiras devem
combinar componentes de forma a atingir um objetivo
global. Para tal, deve-se também considerar restrições, tais
como o custo total mínimo (custo combinado entre projeto e
operação)
▪ Esta atividade é denominada Integração de Sistemas (Moran
e Shapiro, 2002).
▪ Plantas de Geração de Energia e Ciclos de Refrigeração são
5
exemplos de sistemas integrados.
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Aplicadas

Integração de Sistemas:
Ciclos Termodinâmicos
Integração de Sistemas – Ciclos Termodinâmicos:
Ciclos de Potência
▪ Um exemplo interessante
e muito utilizado de
integração de sistema é
são os processos em ciclo (4)
termodinâmico. (1)

▪ Ciclo termodinâmico: o
estado inicial do fluido de
trabalho é restaurado ao
(2)
final do ciclo. (3)

▪ Considere o ciclo ideal de


Rankine para geração de
potência, mostrado ao 7
lado:
Integração de Sistemas – Ciclos Termodinâmicos:
Ciclos de Potência
▪ Água é usada como fluido de
(4)
trabalho.
(1)
▪ (1) Vapor superaquecido é
expandido na turbina,
produzindo potência.
▪ Mistura líquido-vapor (2) (3) (2)
proveniente da turbina é
condensada pela retirada de
calor do sistema.
▪ Água líquida (3) é bombeada
(4) e volta ao evaporador.
▪ Calor é fornecido ao
evaporador/gerador de vapor,
8
onde vapor d’água (1) é
novamente obtido.
Integração de Sistemas – Ciclos Termodinâmicos:
Ciclos de Potência
▪ A potência líquida obtida é:
(4)
Wliq = Ws − We (1)

▪ Neste exemplo:

Wliq = Wturbina − Wbomba (3) (2)

▪ Outro parâmetro importante é


a eficiência do ciclo, η, dada
pela razão potência
líquida/entrada de calor:

Wliq Ws − We
= =
Qe Qe 9
Integração de Sistemas – Ciclos Termodinâmicos:
Ciclos de Refrigeração
▪ Processos de refrigeração também
operam em ciclos.
▪ Considere o ciclo ideal de
refrigeração por compressão de
vapor.
▪ Fluidos refrigerantes (ex. R134a,
R22) são usados como fluido de
trabalho.
▪ Fluidos refrigerantes apresentam
temperaturas de saturação baixas,
10
permitindo a refrigeração de
ambientes.
Integração de Sistemas – Ciclos
Termodinâmicos: Ciclos de Refrigeração
▪ O fluido refrigerante na condição de vapor
saturado à baixa temperatura (1) é
comprimido até (2).
▪ O fluido (2) é então totalmente condensado
atingindo o estado de líquido saturado(3),
pela transferência de calor para a vizinhança.
▪ O líquido saturado é então expandido na
válvula de estrangulamento, alcançando a
condição de mistura líquido-vapor (4), à
temperatura baixa.
▪ A mistura líquido-vapor “retira” calor do
espaço refrigerado, voltando ao estado de 11
vapor saturado (1)
Integração de Sistemas – Ciclos
Termodinâmicos: Ciclos de Refrigeração
▪ Como o principal objetivo de um ciclo de
refrigeração é a retirada de calor de um espaço
definido, o parâmetro de desempenho* (β) é
dado pela razão da taxa de calor removida deste
espaço, isto é QF, pela entrada de potência
necessária ao compressor:

QF Qe
β= =
We Wcompressor
.
Qe: taxa de calor que entra no ciclo (proveniente do
espaço refrigerado)
.
We: potência fornecida ao compressor
12
* Em algumas referências é indicado como COP
(Coefficient Of Performance)
Exercícios
1.4. Considere a planta de geração de
vapor abaixo. Esta opera em estado
estacionário com água como fluido de
trabalho. Dados relevantes são
fornecidos na figura. A vazão mássica de
água é 109 kg/s. Efeitos de energia
cinética e potencial são desprezíveis. Os
equipamentos podem ser considerados
bem isolados, desta forma, não há
perdas de calor para a vizinhança.
Determine:

a) Potência produzida pela turbina.


b) Potência líquida produzida e eficiência térmica da planta. 13
c) Vazão mássica de água de resfriamento necessária ao condensador, em kg/s.
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: Wt = ? Wliq = ?  = ? mágua = ?
▪ HIPÓTESES:
▪ Regime permanente.
▪ Efeitos de energia cinética e potencial desprezíveis.
▪ Equipamentos isolados.

14
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: Wt = ? Wliq = ?  = ? mágua = ?
▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO:
▪ Pelo regime permanente, tem-se pelo balanço de massa no
circuito do fluido de trabalho:


entradas
m=  m 
saídas

m1 = m2 = m3 = m4 = m = 109 kg s
(circuito fechado, 1-2-3-4)

15
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: Wt = ?
m1 = m2 = m = 109 kg s
▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO:
▪ A potência produzida turbina é obtida pelo balanço de energia
neste dispositivo:

 V2   V2 
Q − WVC =  mh + + gz  −  m  h + + gz 
saídas  2  entradas  2 
Isolada Efeitos de energia cinética e potencial desprezíveis
16
−Wt = m ( h2 − h1 )  Wt = m ( h1 − h2 ) (I)
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: Wt = ?
m1 = m2 = m = 109 kg s
▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO:
Obtendo as propriedades termodinâmicas:
Estado 1: Vapor d’água, 100 bar, 520 ºC
Pela tabela de vapor, entrada por pressão
(Table A-3):

Portanto, T1 > Tsat → vapor superaquecido


Da tabela de vapor superaquecido (Table A-4)

h1 = 3425,1 kJ kg
17
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: Wt = ?
m1 = m2 = m = 109 kg s
▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO:
Obtendo as propriedades termodinâmicas:
Estado 2: Mistura Líquido-Vapor saturada
0,08 bar.
Pela tabela de vapor, entrada por pressão
(Table A-3):

h2 = 173,88 + 0,9  2403,1 = 2336, 67 kJ kg 18


Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: Wt = ?
m1 = m2 = m = 109 kg s
▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO:
▪ Voltando a Eq. I: h1 = 3425,1 kJ kg
Wt = m ( h1 − h2 )

kg kJ
Wt = 109 ( 3425,1 − 2336, 67 )
s kg
kJ kJ
Wt = 118638,87 = kW
s s h2 = 2336, 67 kJ kg

19
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: Wliq = ?  = ?
▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO:
▪ Para determinar o trabalho líquido e a eficiência térmica, tem-se
que:
Wliq = Ws − We = Wturbina − Wbomba

Wliq
=
Qe

▪ Deve-se então, aplicar os balanços


de energia na bomba e no evaporador. 20
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: Wliq = ?  = ?
▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO: Balanços de energia:
Bomba:

 V2   V2 
Q − WVC =  mh + + gz  −  m  h + + gz 
saídas  2  entradas  2 
Isolada Efeitos de energia cinética e potencial desprezíveis

−Wb = m ( h4 − h3 )  Wb = m ( h3 − h4 ) (II)

21
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: Wliq = ?  = ?
▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO: Balanços de energia:
Evaporador:

 V2   V2 
Q − WVC =  mh + + gz  −  m  h + + gz 
saídas  2  entradas  2 
Sem eixo Efeitos de energia cinética e potencial desprezíveis 22
Qe = m ( h1 − h4 ) (III)
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: Wliq = ?  = ? Wb = m ( h3 − h4 ) (II)

▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO: Qe = m ( h1 − h4 ) (III)

Portanto, para resolver as eqs. II e III, precisamos das entalipias específicas nos
estados 1, 3 e 4:

h1 = 3425,1 kJ kg
Estado 3: Líquido saturado, 0,08 bar.
Table A-3: h3 = 173,88 kJ kg

Estado 4: Líquido subresfriado, 43 ºC


Table A-2: h4 = h f ,43º C = 180,1 kJ kg
(por interpolação)
23
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: Wliq = ?  = ? Wb = m ( h3 − h4 ) (II)

▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO: Qe = m ( h1 − h4 ) (III)

▪ Voltando as eqs. II e III: m = 109 kg s

h1 = 3425,1 kJ kg h3 = 173,88 kJ kg h4 = 180,1 kJ kg

▪ Potência de bombeamento:
kg kJ
Wb = m ( h3 − h4 ) = 109 (173,88 − 180,1)
s kg
Wb = −677,98 kW Potência fornecida
ao sistema
▪ Calor adicionado no evaporador:
kg kJ
Qe = m ( h1 − h4 ) = 109 ( 3425,1 − 180,1)
s kg
Qe = 353705 kW 24
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: Wliq = ?  = ? Wt = 118638,87 kW

▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO: Wb = 677,98 kW

▪ Portanto: Qe = 353705 kW

Wliq = Ws − We = Wturbina − Wbomba

Wliq = 118638,87 − 677,98


Wliq = 117950,89 kW  117,9 MW

Wliq 117950,89kW
= = = 0,3335
Qe 353705 kW

 = 33,35% 25
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: mágua = ?
▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO:
▪ Aplicando o balanço de massa no condensador:
Definido:
Fluido Quente: vapor (corrente 2-3)
Fluido Frio: Água de resfriamento
Ambas correntes possuem uma entrada e
uma saída, portanto:

mQ = 109 kg s
mágua = mF = ? 26
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: mágua = ? mQ = 109 kg s
▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO: mágua = mF = ?
▪ Aplicando o balanço energia no condensador, considerando o VC
abaixo isolado: Efeitos de energia
 V2   V2 
Q − WVC =  m  h + + gz  −  m  h + + gz  cinética e potencial
saídas  2  entradas  2  desprezíveis
Sem eixo
Isolado VC


entradas
mh =  mh
saídas
e

mQ h2 + mF hF ,e = mQ h3 + mF hF , s s

Dos itens anteriores: hF,e, hF,s ?


h2 = 2336, 67 kJ kg Considerando água 27
subresfriada: h ≈ hf@T
h3 = 173,88 kJ kg
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: mágua = ? mQ = 109 kg s
▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO: mágua = mF = ?
▪ Aplicando o balanço energia no condensador, considerando o VC
abaixo isolado:
mQ h2 + mF hF ,e = mQ h3 + mF hF , s
h2 = 2336, 67 kJ kg
▪ Da Tabela de água saturada, entrada
por temperatura (Table A-2): VC

hF ,e = 83,96 kJ kg hF,s = 146, 68 kJ kg e

h3 = 173,88 kJ kg 28
Exercício 1.4 - Solução
▪ DETERMINAR: mágua = ? mQ = 109 kg s
▪ ANÁLISE E SOLUÇÃO: mágua = mF = ?
▪ Aplicando o balanço energia no condensador, considerando o VC
abaixo isolado:
mQ h2 + mF hF ,e = mQ h3 + mF hF , s
h2 = 2336, 67 kJ kg
▪ Agrupando as correntes:
mF ( hF ,e − hF , s ) = mQ ( h3 − h2 ) hF ,e = 83,96 kJ kg

e
▪ Isolando a vazão de água de resfriamento:

mF = mQ
( h3 − h2 ) = 109
kg (173,88 − 2336, 67 ) kJ kg
s
(hF ,e − hF , s ) s ( 83,96 − 146, 68 ) kJ kg
hF,s = 146, 68 kJ kg
kg h3 = 173,88 kJ kg
mF = 3758, 67 Vazão mássica de água 29
s de resfriamento
Exercício 1.4 - Solução
▪ COMENTÁRIOS:
▪ A potência produzida no ciclo é relativamente grande (118 MW), no
entanto, a eficiência não é alta (em torno de 33%), devido a grande
taxa de calor necessária para geração de vapor d’água.
▪ O consumo de água de resfriamento também é relativamente alto,
sendo mais de 3759 kg/s de água subresfriada utilizada para
condensar 109 kg/s da corrente de vapor com título de 90%. Isto se
deve ao ΔT relativamente pequeno (ΔT = 15 ºC) considerado na
corrente de resfriamento.
▪ Sugestão: Recalcule a vazão de água de resfriamento necessária para o
condensador, considerando agora que a água que entra a 20 ºC, saindo
a 60 ºC.
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Universidade Federal do ABC
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Integração de Sistemas:
Processos Abertos
Integração de Sistemas – Processos Abertos
A integração de sistemas
também pode ser feita com
processos abertos, isto é, o
fluido de trabalho não
completa um ciclo.
Ao lado é mostrado um
exemplo de sistema de
recuperação energética
usando resíduos.

Resíduos sólidos são incinerados, produzindo gases


quentes (1).
Estes trocam calor com a corrente de água (3),
gerando vapor d’água (4), que é expandido na 32
turbina produzindo potência.
Referências
• ÇENGEL, Y.A., BOLES, M.A. Termodinâmica. 5. ed. São Paulo, SP: McGraw-Hill
Book, 2006.

• ÇENGEL, Y.A., GHAJAR, A.J. Transferência de calor e massa : uma abordagem


prática. 4. ed. São Paulo, SP: McGraw-Hill Book, 2012.

• MORAN, M.J., SHAPIRO, H. N. Princípios de Termodinâmica para engenharia.


4ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002.

• MORAN, M.J., SHAPIRO, H.N., MUNSON,B.R., DEWITT,D.P. Introdução à


Engenharia de Sistemas Térmicos: Termodinâmica, Mecânica dos Fluidos e
Transferência de Calor. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 2005

• WHITE, F.M. Mecânica dos Fluidos. 6. ed. Porto Alegre, RS: AMGH, 2011.

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