Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Centro Universitário Barão de Mauá
atatianacmt@gmail.com,bluciano.ferreira@baraodemaua.br
temperaturas situadas em torno dos 4°C. No ocorre na temperatura entre4 a 7°C (SAEKI et
entanto, Pseudomonas, Acinetobacter, al., 2010).
Psychrobacter e Moraxella são exemplares de O método de descongelamento T1 apresentou
aeróbios psicrotróficos, microrganismos que a menor média de microrganismos
sobrevivem e se multiplicam em temperaturas psicrotróficos, mesmo o descongelamento
de refrigeração (FONTOURA, 2006). sendo realizado em temperatura favorável
No descongelamento em temperatura para a multiplicação desses microrganismos.
ambiente (T2) houve menor multiplicação de O descongelamento T2 apresentou uma
mesófilos quando comparado ao forçado (T3), quantidade média um pouco maior que o
uma vez que a amostra de carne descongelou descongelamento T1, sendo mantido em uma
de forma lenta (10h às 13h) a 24ºC em temperatura desfavorável para o crescimento
ambiente laboratorial. Ou seja, o T3 foi o das bactérias psicrotróficas, enquanto o
método de descongelamento que apresentou descongelamento T3 apresentou a maior
a maior média de aeróbios mesófilos. média 1,6x106 (UFC/g). No entanto, não foi
Acredita-se que a carne tenha descongelado possível verificar nas legislações vigentes se
mais rápido e atingido a temperatura ambiente esses valores se encontram em conformidade,
mais rapidamente. Com isso, pode ter formado pois os microrganismos aeróbios psicrotróficos
um microclima favorável para a multiplicação não são contemplados nas listas de
dos microrganismos entre a embalagem e a parâmetros publicadas pela ANVISA para
carne. carnes cruas refrigeradas ou congeladas.
Pseudomonas sp são de maior importância na Contudo, sabe-se que os microrganismos
microbiota de carnes embaladas e psicrotróficos representam cerca de 93% do
multiplicam-se rapidamente em concentrações total da microbiota ocorrente em carnes,
de até 1% de oxigênio. O número de bactérias produzem odor desagradável característico e
aeróbias que estiverem presentes na limosidade sobre carnes refrigeradas,
embalagem determinará as alterações na resultando em uma decomposição putrefativa
qualidade microbiológica da carne (TESSER, clássica (BANDEIRA, 2004).
2009).
Tabela 2 – Contagem de microrganismos
Tabela 1 – Contagem de microrganismos aeróbios psicrotróficos (UFC/g)
aeróbios mesófilos(UFC/g) obtidos de carne bovina
obtidos de carne bovina (contrafilé - Longissimus dorsi)
(contrafilé - Longissimus dorsi) refrigerada e após diferentes
refrigerada e após diferentes tipos de descongelamento (T1,
tipos de descongelamento (T1, T2 e T3), Ribeirão Preto – SP,
T2 e T3), Ribeirão Preto – SP, 2019.
2019. Aeróbios Psicrotróficos
Aeróbios Mesófilos Tratamentos (UFC/g)
Tratamentos (UFC/g)
térmicos* Médio Mín. Máx.
térmicos* Médio Mínimo Máximo 2,5x104 5,7x106
R 1,8x106
R 8,3x105 2,5x104 2,4x106
T1 1,0x106 2,5x104 3,6x106
T1 2,4x105 1,0x103 1,1x106 2,5x104 5,4x106
T2 1,2x106
T2 6,6x105 2,5x104 5,8x106
T3 1,6x106 9,0x104 3,6x106
T3 8,2x105 2,5x104 7,4x106
*R:refrigeração;
*R:refrigeração;
*T1: descongelamento sob refrigeração; *T1: descongelamento sob refrigeração;
*T2: descongelamento em temperatura ambiente; *T2: descongelamento em temperatura ambiente;
*T3: descongelamento forçado.
*T3: descongelamento forçado.
Na Tab. 2 é possível observar que a amostra A análise de número mais provável (NMP) de
refrigerada antes de congelar (R) apresentou coliformes totais, apresentados na Tab. 3,
média de aeróbios psicrotróficos 1,8x106 apresenta a média de 82,5NMP/g na amostra
(UFC/g) superior em relação aos tratamentos refrigerada (R), valor este menor em
de descongelamento T1 (1,0x106UFC/g), T2 comparação à amostra já submetida ao
(1,2x106 UFC/g) e T3 (1,6x106UFC/g). O congelamento e descongelada pelo método
crescimento de microrganismos psicrotróficos
XIII Encontro de Iniciação Científica do Centro Universitário Barão de Mauá
T1, sendo a média obtida de 73,6NMP/g. Nos manipulação, como também de contaminação
demais descongelamentos a média foi maior, fecal (OLIVEIRA et. al, 2008).
sendo T2 com 98,8NMP/g e T3 com As bactérias termotolerantes fermentam a
115,8NMP/g. lactose e produzem gases quando submetidas
Os coliformes são indicadores das condições a uma temperatura de 45ºC por até 48 horas
higiênico-sanitárias dos alimentos. Embora (SILVA et al, 2017), o que explica o método de
não existam padrões para as contagens de descongelamento T3 ter apresentado uma
microrganismos indicadores como os maior quantidade dessas bactérias, visto que
coliformes, a detecção destes agentes reforça o descongelamento forçado fez com que a
os estudos sobre a avaliação das condições carne atingisse uma temperatura mais elevada
higiênicas, visto que números elevados rapidamente, ocorrendo assim maior
indicam insalubridade do alimento (SILVA et proliferação bacteriana. No entanto, não foi
al., 2016). No entanto, não foi possível possível verificar nas legislações vigentes se
verificar nas legislações vigentes se esses esses valores se encontram em conformidade,
valores se encontram em conformidade, pois pois os coliformes termotolerantes não são
os coliformes totais não são contemplados nas contemplados nas listas de parâmetros
listas de parâmetros publicadas pela ANVISA publicadas pela ANVISA para carne crua
para carne crua refrigerada ou congelada. refrigerada ou congelada. É prevista apenas a
ausência de Salmonella spp., microrganismo
Tabela 3 – Número mais provável (NMP) de que pertence a esse grupo, porém não foi
coliformes totais (CT) obtido de pesquisada neste experimento de forma
carne bovina (contrafilé - isolada.
Longissimus dorsi) refrigerada e
após diferentes tipos de Tabela 4 – Número mais provável (NMP) de
descongelamento (T1, T2 e T3), coliformes termotolerantes (CTT)
Ribeirão Preto – SP, 2019. obtidosde carne bovina (contrafilé
Coliformes Totais - Longissimus dorsi) refrigerada e
após diferentes tipos de
Tratamentos (NMP/g)
descongelamento (T1, T2 e T3),
térmicos* Médio Mínimo Máximo Ribeirão Preto – SP, 2019.
R 82,5 0,7 240 Coliformes Termotolerantes
T1 73,6 0,4 240 Tratamentos (NMP/g)
T2 98,8 0,9 240 térmicos* Médio Mínimo Máximo
T3 115,8 2,8 240 R 0,6 0,3 46
*R: refrigeração; T1 1,3 0,3 9,3
*T1: descongelamento sob refrigeração; T2 3,9 0,3 46
*T2: descongelamento em temperatura ambiente; T3 9,8 0,3 110
*T3: descongelamento forçado. *R: refrigeração;
*T1: descongelamento sob refrigeração;
Em relação aos coliformes termotolerantes,
demonstrado na Tab. 4, a amostra refrigerada *T2: descongelamento em temperatura ambiente;
antes de congelar (R)apresentou a menor *T3: descongelamento forçado.
média de 0,6NMP/g. Após serem submetidas
ao processo de congelamento as amostras Diante dos resultados apresentados pode ser
apresentaram aumento na quantidade desses orientado aos consumidores e aos
microrganismos, sendo a média das amostras manipuladores que, ao adquirirem carne
submetidas ao descongelamento T1 refrigerada, deve ser armazenada sob
1,3NMP/g, descongelamento T2 3,9NMP/g e refrigeração a 4ºC e consumida o mais rápido
as amostras submetidas ao descongelamento possível. Caso contrário, recomenda-se seu
T3 9,8NMP/g, sendo mais que o dobro da congelamento imediato preferencialmente em
média em comparação aos demais porções de tamanho adequado ao uso
descongelamentos. posterior. E, ainda, quando for realizado o
A presença de coliformes fecais em alimentos descongelamento, que seja sob refrigeração a
geralmente é considerada indicadora de más 4ºC.
condições higiênico-sanitárias de Embora neste trabalho o descongelamento
forçado em recipiente com água sem contato
XIII Encontro de Iniciação Científica do Centro Universitário Barão de Mauá
direto com a mesma tenha apresentado carga sua aplicação. Diário Oficial da União.
microbiana superior ao descongelamento em Brasília, DF.
temperatura ambiente, caso o manipulador
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância
opte por realizar o forçado, que seja
Sanitária - ANVISA. Instrução Normativa nº 60,
monitorado seu descongelamento, ou seja,
de 23 de dezembro de 2019. Estabelece as
assim que a carne descongelar deve ser
listas de padrões microbiológicos para
prontamente submetida à cocção.
alimentos. Diário Oficial da União. Brasília,
Acredita-se, ainda, que caso a carne
DF.
submetida ao descongelamento em
temperatura ambiente, muitas vezes BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
observada em diversas regiões do Brasil Abastecimento. Instrução Normativa n. 62de
acima de 35ºC, teria pelo menos o número de 18 de setembro de 2004. Oficializa os
microrganismos aeróbios mesófilos presentes Métodos Analíticos Oficiais para Análises
nesse descongelamento superior aos outros Microbiológicas para Controle de Produtos
estudados, visto que neste trabalho a de Origem Animal e Água. Diário Oficial da
temperatura média foi de 25ºC. União, Brasília, 18 set. Seção 1, p. 14, 2003.
COSTA, J.N.P. et al. Condições higiênico-
Conclusões sanitárias e físico-estruturais da área de
manipulação de carne in natura em
Conclui-se que o congelamento melhorou a minimercados de Recife (PE), Brasil.
qualidade microbiológica da carne adquirida Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo,
refrigerada, e que a carne deve ser v. 80, n. 3, p.352-358, abr. 2013.
armazenada sob refrigeração a 4ºC e
consumida o mais rápido possível. Caso EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA.
contrário, recomenda-se seu congelamento Qualidade da carne bovina. 2016. Disponível
imediato preferencialmente em porções de em: < https://www.embrapa.br/qualidade-da-
tamanho adequado ao uso posterior. E, ainda, carne/carne-bovina>. Acesso em:
quando for realizado o descongelamento, que 24 de mar. 2019.
seja sob refrigeração a 4ºC. Por fim,
recomenda-se que novos estudos mais FERREIRA, R.S.; SIMM, E.M. Análise
detalhados sejam realizados a fim de orientar microbiológica da carne moída de um açougue
os manipuladores de alimentos para que da região central do município de Pará de
sejam evitados riscos à saúde do consumidor. Minas - MG. Digital FAPAM, Pará de Minas,
v. 3,n. 3, p.37-61, abr. 2012.
FONTOURA, C. L.. Estudo microbiológico em
Referências carcaças bovinas e influência da refrigeração
sobre a microbiota contaminante. 2006. 78 f.
Associação Brasileira de Proteína Animal – Dissertação (Mestrado) - Curso de Medicina
ABPA. Relatório Anual2018. Disponível em: Veterinária Preventiva, Faculdade de Ciências
<http://abpa-br.com.br/storage/files/relatorio- Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal, 2006.
anual-2018.pdf>. Acesso em: 28 de mar. 2019.
HANGUI, S.A.R. et al. Análise microbiológica
ANTUNES, A. R. et al. Pesquisa de coliformes da carne bovina moída comercializada
em carne bovina comercializada no município nacidade de Anápolis, Goiás, Brasil. Revista
do Vale do Jequitinhonha – MG. Higiene Eletrônica de Farmácia, Anápolis, v. 7, p.30-
Alimentar, Jequitinhonha, v. 30, n.256/257, 38, maio 2015.
p.82-86, maio/jun. 2016.
MACHADO, M. M.. Efeito do congelamento e
BANDEIRA, M. T. P. S.. Qualidade estocagem sobre a qualidade da carne bovina.
microbiológica da carne bovina. 2004. 43 f. 2009. 41 f. Dissertação (Mestrado) - Curso
Monografia (Especialização) - Curso de de Tecnologia e Inspeção de Produtos de
Qualidade de Alimentos, Universidade de Origem Animal, Escola de Veterinária - UFMG,
Brasília, Brasília, 2004. Belo Horizonte, 2009.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância OLIVEIRA, S. et al. Avaliação das condições
Sanitária - ANVISA. Resolução RDC nº 331, higiênico-sanitárias de carne bovina
de 23 de dezembro de 2019. Dispõe sobre os comercializada em supermercados de João
parâmetros microbiológicos de alimentos e Pessoa de carne bovina. Alimentos e
XIII Encontro de Iniciação Científica do Centro Universitário Barão de Mauá