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XIII Encontro de Iniciação Científica do Centro Universitário Barão de Mauá

Avaliação da influência do congelamento e de distintos tipos de


descongelamento sobre a qualidade microbiológica de carne bovina.

Autores: Tatiana Costa de Morais1a, Luciano Menezes Ferreira1b,

Colaboradores: Larissa Fabbris Mosna1, Laura Favero Janini1

1
Centro Universitário Barão de Mauá
atatianacmt@gmail.com,bluciano.ferreira@baraodemaua.br

Resumo relação à qualidade dos produtos e ao status


A carne é um alimento que possui sanitário da produção (ABPA, 2018).
características nutricionais importantes. Foram Com vistas à garantia da qualidade da carne,
avaliadas as alterações microbiológicas que o correto armazenamento deve ser feito em
ocorrem no processo de congelamento e temperaturas adequadas, pois diminui e até
descongelamento em 15 amostras de mesmo evita a multiplicação de agentes
contrafilé bovino. Concluiu-se o congelamento microbianos que poderiam alterar a qualidade
melhorou a qualidade microbiológica da carne do produto ou diminuir seu tempo de
e que o processo de descongelamento deve prateleira. Além da temperatura adequada,
ser realizado sob refrigeração a 4ºC. deve-se ter um manejo higiênico correto a fim
de evitar contaminação do produto (SILVA et
Introdução al., 2017).
A carne é um alimento que possui Um alimento seguro deve apresentar suas
características nutricionais importantes para a propriedades nutricionais inerentes, os
dieta de crianças, adultos e idosos. Trata-se aspectos sensoriais desejáveis, do ponto de
de uma fonte de proteínas de alto valor vista sanitário, ausência ou tolerância de
biológico, de origem animal, possui vitaminas microrganismos patogênicos e ausência de
importantes na síntese de células vermelhas riscos físicos e químicos (COSTA et al., 2013).
no sangue como a vitamina B2 e B12, lipídios, Como alternativa para a garantia da qualidade
minerais e aminoácidos necessários para o da carne, é comumente utilizado o
organismo (ANTUNES et al., 2016). congelamento, pois fornece uma vida útil
Os aspectos relativos à segurança da carne prolongada significativa e tem sido empregado
perpassam todo o sistema de produção, ou com sucesso em preservação de muitos
seja, desde o alimento fornecido para os alimentos. Contudo, retarda, mas não para as
animais até a carne embalada presente nas reações físico-químicas e bioquímicas que
gôndolas do supermercado. Por isso, é regem a deterioração dos alimentos. O
primordial o desenvolvimento de tecnologias crescimento microbiano é completamente
associadas à segurança do alimento em toda interrompido abaixo de -18° C, e as alterações
a cadeia produtiva, englobando a prevenção, enzimáticas e não enzimáticas continuam em
detecção, adoção precoce de medidas de taxas muito mais lentas durante o
controle e erradicação de doenças e de outros congelamento. É uma prática comum na
problemas relacionados (EMBRAPA, 2016). preservação da qualidade da carne por um
Com a Operação Carne Fraca, deflagrada em período prolongado, oferece várias vantagens,
17 de março de 2017, houve um marco no causam alterações insignificantes nas
setor, da maneira mais negativa possível. No dimensões do produto e deterioração mínima
entanto, com a união de toda a cadeia da carne como cor, sabor e textura. As
produtiva, foi possível reverter grande parte desvantagens do congelamento incluem
dos impactos gerados desde então, com a queimaduras por congelamento, desidratação,
reabertura de mais de 70 mercados que rancidez, perda por gotejamento, e
haviam fechado suas portas. Com isso, branqueamento do produto (RAHMAN, 2007).
provou-seque o Brasil é referência mundial em Microrganismos indicadores (mesófilos,
qualidade. Contudo, com todas as psicrotróficos, coliformes totais e
investigações realizadas não se detectou, termotolerantes) são comumente utilizados na
comprovadamente, qualquer problema em avaliação da qualidade microbiológica dos
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alimentos, e detectar esses microrganismos a metodologia padrão da Instrução Normativa


indica não somente as condições higiênico- nº 62, de 26 de Agosto de 2003, da Secretaria
sanitárias, às quais o produto foi submetido, de Defesa Agropecuária (SDA).
mas também permite estimar a contaminação Após a obtenção das diluições supracitadas, o
por patógenos (HANGUI et al., 2015). restante da carne de cada bandeja foi dividido
Os microrganismos indicadores são grupos ou em três porções homogêneas, acondicionadas
espécies de microrganismos que, quando em recipientes estéreis individuais e
presentes em um alimento, podem fornecer congeladas a -18 ºC durante sete dias, para
informações sobre a ocorrência de submissão posterior aos tratamentos de
contaminação, inclusive de origem fecal, sobre descongelamento, que serão descritos mais
a provável presença de patógenos ou sobre a abaixo neste trabalho.
deterioração potencial do alimento, além de Para a contagem de microrganismos mesófilos
poderem indicar condições sanitárias e psicrotróficos, foi utilizado 1mL de cada
inadequadas durante o processamento, diluição (10-1 a 10-3) depositada no fundo de
produção ou armazenamento (FERREIRA; Placas de Petri esterilizadas, em
SIMM, 2012). quadruplicata, sendo uma duplicata para os
Diante disso, e também devido ao hábito de o mesófilos e a outra para os psicrotróficos. Em
consumidor adquirir carne refrigerada e seguida, foram adicionados 15 a 17mL de
congelar de forma íntegra ou fracionada o ágar padrão para contagem (PCA) fundido e
restante para uso posterior, este projeto foi resfriado a temperatura em torno de 45 ºC.
idealizado conforme objetivos descritos a Após a homogeneização e solidificação do
seguir. ágar em temperatura ambiente, duas placas
foram incubadas e invertidas a 35ºC por
Objetivos período de 48 horas para a contagem das
O presente estudo teve como objetivo avaliar colônias de mesófilos, e as outras duas
a influência do congelamento e de distintos incubadas e invertidas a 10 ºC por período de
tipos de descongelamento sobre a qualidade 10 dias para a contagem das colônias de
microbiológica da carne bovina. psicrotróficos. As contagens foram realizadas
em contador de colônias, segundo a técnica
Métodos/Procedimentos padrão, em placas com 25 a 250 colônias.
Para a realização deste estudo foram colhidas Após a contagem, o número de colônias foi
15 amostras de contrafilé bovino (Longissimus multiplicado pela diluição correspondente e o
dorsi), em bifes acondicionados em bandejas resultado expresso em Unidades Formadoras
de poliestireno embaladas com plástico filme, de Colônias por miligrama de amostra
adquiridas no comércio de Ribeirão Preto – (UFC/g).
SP. As amostras foram encaminhadas Foi realizada, ainda, a determinação do NMP
assepticamente, em caixa isotérmica com gelo de coliformes totais e termotolerantes como
artificial reutilizável, ao Laboratório de testes presuntivo e confirmativo. Para o teste
Microbiologia do Centro Universitário Barão de presuntivo foram utilizados três tubos de
Mauá, em Ribeirão Preto, e submetidas às ensaio contendo caldo lauril sulfato triptose
análises microbiológicas. com tubo de Durham invertido que receberam,
Este trabalho foi dividido em duas fases: cada um, 1mL de cada diluição (10-1a 10-3).
Primeira fase do experimento: Após a inoculação, os tubos foram incubados
Foi realizada a análise microbiológica da carne a 35°C por 24 a 48h. Após o período, foram
adquirida refrigerada (R). As embalagens considerados positivos aqueles que se
foram higienizadas, antes da abertura, com revelaram com a presença de multiplicação
algodão embebido em álcool 70%. Em bacteriana (caracterizada por turvação do
seguida, retirados 25g de carne de cada meio) e produção de gás. Para a realização do
bandeja com o auxílio de pinças e bisturis teste confirmativo, de cada tubo positivo no
previamente esterilizados, transferidos para teste presuntivo, foi transferida uma amostra,
Erlenmeyers contendo 225mL de solução por meio de alça de níquel-cromo de 3mm de
salina peptonada a 0,1%, correspondendo a diâmetro, uma alçada da cultura para tubos
diluição 10-1. A diluição 10-2 foi conseguida correspondentes, contendo caldo lactosado
pela transferência de 1mL da diluição 10-1 para bile verde brilhante, para pesquisa de
tubo de ensaio contendo 9mL do diluente. As coliformes totais e para tubos correspondentes
diluições subsequentes foram obtidas da contendo caldo EC, para pesquisa de
mesma forma, até se chegar à diluição 10-3. coliformes termotolerantes, todos contendo
Todas as diluições foram avaliadas conforme tubos de Durham invertidos. As incubações
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foram realizadas, respectivamente, em estufa 23 de dezembro de 2019, ambas da Agência


a 35°C e em banho maria a 45,5°C, ambas por Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
24 a 48 horas. Foram considerados positivos estabelecem que, para carnes cruas
os tubos que revelaram a presença de refrigeradas ou congeladas, é permitida a
multiplicação bacteriana e produção de gás. presença de microrganismos aeróbios
Após a determinação do número de tubos mesófilos até 106 UFC/g de alimento, ou seja,
positivos (para coliformes totais e a média obtida neste trabalho (Tab. 1)
termotolerantes), foi consultada a tabela apresentou-se em conformidade com a
padrão (BRASIL, 2003) para a determinação legislação vigente. No entanto, algumas
do número mais provável de coliformes em amostras ultrapassaram o limite estabelecido
cada grama de amostra de carne (NMP/g). em legislação, atingindo até 2,4x106 UFC/g de
Segunda fase do experimento: mesófilos em carne refrigerada (R), 1,1x106
Descongelamento e análises microbiológicas. UFC/g no T1, 5,8x106 no T2 e 7,4x106 UFC/g
Após o período de sete dias de congelamento no T3. Embora não seja possível observar
das amostras fracionadas (três sub-amostras), estas porcentagens neste trabalho, 20% das
realizou-se o descongelamento utilizando-se amostras refrigeradas (R), 13,3% de T3 e
três métodos distintos de tratamentos: 6,7% de T1 e de T2 apresentaram-se acima
. T1: sob refrigeração à 4ºC; dos valores permitidos pelas legislações
. T2: em temperatura ambiente controlada em vigentes, ou seja, estavam inadequadas para
laboratório a 25ºC; e consumo quando considerada a presença
. T3: sob descongelamento forçado utilizando- desses microrganismos.
se recipiente com água sem contato direto O congelamento e o descongelamento
com a carne. causam morte ou danos às células
As formas de descongelamento supracitadas bacterianas, além do aumento da
simularam o dia a dia do consumidor, visto disponibilidade de tecidos fluidos, uma vez
que são as principais maneiras utilizadas para que algum dano ao tecido sempre ocorre,
o descongelamento sem alteração porém, a estrutura próxima se mantém intacta.
pronunciada da carne. Optou-se por não Por esse motivo, microrganismos
utilizar a forma de descongelamento em micro- sobreviventes podem ser supridos com
ondas, pois altera visivelmente a carne e, substrato altamente nutritivo e mais
também, por ser geralmente preparada logo a prontamente disponível após o
seguir. Para isso, três sub-amostras de cada descongelamento (BANDEIRA, 2004).
bandeja, previamente separadas e Inclusive, alguns microrganismos, como
congeladas, foram submetidas, cada uma, aos esporos, vírus e bactérias gram-positivas nas
diferentes tratamentos. carnes, permanecem praticamente intactos
Logo após o descongelamento das carnes, as durante o congelamento (MACHADO, 2009).
sub-amostras foram submetidas às mesmas Dentre os três métodos de descongelamento,
análises microbiológicas e interpretação dos o T1 apresentou a maior diminuição no
resultados, conforme descritas na primeira número de mesófilos não apenas pela
fase deste experimento. destruição de microrganismos a baixa
Por fim, por se tratar de multiplicação de temperatura (-18ºC), mas principalmente
microrganismos, foi realizada a média dos devido à carne descongelar a 4°C,
resultados das amostras refrigeradas (R) e temperatura de refrigeração considerada de
dos distintos tratamentos de descongelamento segurança para os alimentos (OLIVEIRA et al.,
(T1, T2 e T3). 2008).
Com vistas aos métodos de descongelamento
Resultados e Discussão utilizados, a carne descongelada sob
De acordo com os resultados obtidos é refrigeração a 4ºC (T1) apresentou a melhor
possível observar, na Tab. 1, que a amostra qualidade microbiológica (mesófilos,
refrigerada antes de congelar (R) apresentou psicrotróficos, coliformes totais e
média de mesófilos (8,3x105 UFC/g) superior termotolerantes) quando comparada aos
em relação aos tratamentos de demais métodos (Tabelas 1 a 4).
descongelamento T1 (2,4x105UFC/g), T2 Além de controlar os microrganismos
(6,6x105 UFC/g) e T3 (8,2x105UFC/g). responsáveis pela deterioração dos produtos,
De acordo com a Instrução Normativa n° 60, a refrigeração contribui também para o
de 23 de dezembro de 2019, que se aplica de controle das infecções e toxinfecções
maneira complementar a Resolução da alimentares, em virtude da incapacidade da
Diretoria Colegiada (RDC) nº 331, também de maioria de seus agentes se proliferarem em
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temperaturas situadas em torno dos 4°C. No ocorre na temperatura entre4 a 7°C (SAEKI et
entanto, Pseudomonas, Acinetobacter, al., 2010).
Psychrobacter e Moraxella são exemplares de O método de descongelamento T1 apresentou
aeróbios psicrotróficos, microrganismos que a menor média de microrganismos
sobrevivem e se multiplicam em temperaturas psicrotróficos, mesmo o descongelamento
de refrigeração (FONTOURA, 2006). sendo realizado em temperatura favorável
No descongelamento em temperatura para a multiplicação desses microrganismos.
ambiente (T2) houve menor multiplicação de O descongelamento T2 apresentou uma
mesófilos quando comparado ao forçado (T3), quantidade média um pouco maior que o
uma vez que a amostra de carne descongelou descongelamento T1, sendo mantido em uma
de forma lenta (10h às 13h) a 24ºC em temperatura desfavorável para o crescimento
ambiente laboratorial. Ou seja, o T3 foi o das bactérias psicrotróficas, enquanto o
método de descongelamento que apresentou descongelamento T3 apresentou a maior
a maior média de aeróbios mesófilos. média 1,6x106 (UFC/g). No entanto, não foi
Acredita-se que a carne tenha descongelado possível verificar nas legislações vigentes se
mais rápido e atingido a temperatura ambiente esses valores se encontram em conformidade,
mais rapidamente. Com isso, pode ter formado pois os microrganismos aeróbios psicrotróficos
um microclima favorável para a multiplicação não são contemplados nas listas de
dos microrganismos entre a embalagem e a parâmetros publicadas pela ANVISA para
carne. carnes cruas refrigeradas ou congeladas.
Pseudomonas sp são de maior importância na Contudo, sabe-se que os microrganismos
microbiota de carnes embaladas e psicrotróficos representam cerca de 93% do
multiplicam-se rapidamente em concentrações total da microbiota ocorrente em carnes,
de até 1% de oxigênio. O número de bactérias produzem odor desagradável característico e
aeróbias que estiverem presentes na limosidade sobre carnes refrigeradas,
embalagem determinará as alterações na resultando em uma decomposição putrefativa
qualidade microbiológica da carne (TESSER, clássica (BANDEIRA, 2004).
2009).
Tabela 2 – Contagem de microrganismos
Tabela 1 – Contagem de microrganismos aeróbios psicrotróficos (UFC/g)
aeróbios mesófilos(UFC/g) obtidos de carne bovina
obtidos de carne bovina (contrafilé - Longissimus dorsi)
(contrafilé - Longissimus dorsi) refrigerada e após diferentes
refrigerada e após diferentes tipos de descongelamento (T1,
tipos de descongelamento (T1, T2 e T3), Ribeirão Preto – SP,
T2 e T3), Ribeirão Preto – SP, 2019.
2019. Aeróbios Psicrotróficos
Aeróbios Mesófilos Tratamentos (UFC/g)
Tratamentos (UFC/g)
térmicos* Médio Mín. Máx.
térmicos* Médio Mínimo Máximo 2,5x104 5,7x106
R 1,8x106
R 8,3x105 2,5x104 2,4x106
T1 1,0x106 2,5x104 3,6x106
T1 2,4x105 1,0x103 1,1x106 2,5x104 5,4x106
T2 1,2x106
T2 6,6x105 2,5x104 5,8x106
T3 1,6x106 9,0x104 3,6x106
T3 8,2x105 2,5x104 7,4x106
*R:refrigeração;
*R:refrigeração;
*T1: descongelamento sob refrigeração; *T1: descongelamento sob refrigeração;
*T2: descongelamento em temperatura ambiente; *T2: descongelamento em temperatura ambiente;
*T3: descongelamento forçado.
*T3: descongelamento forçado.

Na Tab. 2 é possível observar que a amostra A análise de número mais provável (NMP) de
refrigerada antes de congelar (R) apresentou coliformes totais, apresentados na Tab. 3,
média de aeróbios psicrotróficos 1,8x106 apresenta a média de 82,5NMP/g na amostra
(UFC/g) superior em relação aos tratamentos refrigerada (R), valor este menor em
de descongelamento T1 (1,0x106UFC/g), T2 comparação à amostra já submetida ao
(1,2x106 UFC/g) e T3 (1,6x106UFC/g). O congelamento e descongelada pelo método
crescimento de microrganismos psicrotróficos
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T1, sendo a média obtida de 73,6NMP/g. Nos manipulação, como também de contaminação
demais descongelamentos a média foi maior, fecal (OLIVEIRA et. al, 2008).
sendo T2 com 98,8NMP/g e T3 com As bactérias termotolerantes fermentam a
115,8NMP/g. lactose e produzem gases quando submetidas
Os coliformes são indicadores das condições a uma temperatura de 45ºC por até 48 horas
higiênico-sanitárias dos alimentos. Embora (SILVA et al, 2017), o que explica o método de
não existam padrões para as contagens de descongelamento T3 ter apresentado uma
microrganismos indicadores como os maior quantidade dessas bactérias, visto que
coliformes, a detecção destes agentes reforça o descongelamento forçado fez com que a
os estudos sobre a avaliação das condições carne atingisse uma temperatura mais elevada
higiênicas, visto que números elevados rapidamente, ocorrendo assim maior
indicam insalubridade do alimento (SILVA et proliferação bacteriana. No entanto, não foi
al., 2016). No entanto, não foi possível possível verificar nas legislações vigentes se
verificar nas legislações vigentes se esses esses valores se encontram em conformidade,
valores se encontram em conformidade, pois pois os coliformes termotolerantes não são
os coliformes totais não são contemplados nas contemplados nas listas de parâmetros
listas de parâmetros publicadas pela ANVISA publicadas pela ANVISA para carne crua
para carne crua refrigerada ou congelada. refrigerada ou congelada. É prevista apenas a
ausência de Salmonella spp., microrganismo
Tabela 3 – Número mais provável (NMP) de que pertence a esse grupo, porém não foi
coliformes totais (CT) obtido de pesquisada neste experimento de forma
carne bovina (contrafilé - isolada.
Longissimus dorsi) refrigerada e
após diferentes tipos de Tabela 4 – Número mais provável (NMP) de
descongelamento (T1, T2 e T3), coliformes termotolerantes (CTT)
Ribeirão Preto – SP, 2019. obtidosde carne bovina (contrafilé
Coliformes Totais - Longissimus dorsi) refrigerada e
após diferentes tipos de
Tratamentos (NMP/g)
descongelamento (T1, T2 e T3),
térmicos* Médio Mínimo Máximo Ribeirão Preto – SP, 2019.
R 82,5 0,7 240 Coliformes Termotolerantes
T1 73,6 0,4 240 Tratamentos (NMP/g)
T2 98,8 0,9 240 térmicos* Médio Mínimo Máximo
T3 115,8 2,8 240 R 0,6 0,3 46
*R: refrigeração; T1 1,3 0,3 9,3
*T1: descongelamento sob refrigeração; T2 3,9 0,3 46
*T2: descongelamento em temperatura ambiente; T3 9,8 0,3 110
*T3: descongelamento forçado. *R: refrigeração;
*T1: descongelamento sob refrigeração;
Em relação aos coliformes termotolerantes,
demonstrado na Tab. 4, a amostra refrigerada *T2: descongelamento em temperatura ambiente;
antes de congelar (R)apresentou a menor *T3: descongelamento forçado.
média de 0,6NMP/g. Após serem submetidas
ao processo de congelamento as amostras Diante dos resultados apresentados pode ser
apresentaram aumento na quantidade desses orientado aos consumidores e aos
microrganismos, sendo a média das amostras manipuladores que, ao adquirirem carne
submetidas ao descongelamento T1 refrigerada, deve ser armazenada sob
1,3NMP/g, descongelamento T2 3,9NMP/g e refrigeração a 4ºC e consumida o mais rápido
as amostras submetidas ao descongelamento possível. Caso contrário, recomenda-se seu
T3 9,8NMP/g, sendo mais que o dobro da congelamento imediato preferencialmente em
média em comparação aos demais porções de tamanho adequado ao uso
descongelamentos. posterior. E, ainda, quando for realizado o
A presença de coliformes fecais em alimentos descongelamento, que seja sob refrigeração a
geralmente é considerada indicadora de más 4ºC.
condições higiênico-sanitárias de Embora neste trabalho o descongelamento
forçado em recipiente com água sem contato
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direto com a mesma tenha apresentado carga sua aplicação. Diário Oficial da União.
microbiana superior ao descongelamento em Brasília, DF.
temperatura ambiente, caso o manipulador
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância
opte por realizar o forçado, que seja
Sanitária - ANVISA. Instrução Normativa nº 60,
monitorado seu descongelamento, ou seja,
de 23 de dezembro de 2019. Estabelece as
assim que a carne descongelar deve ser
listas de padrões microbiológicos para
prontamente submetida à cocção.
alimentos. Diário Oficial da União. Brasília,
Acredita-se, ainda, que caso a carne
DF.
submetida ao descongelamento em
temperatura ambiente, muitas vezes BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
observada em diversas regiões do Brasil Abastecimento. Instrução Normativa n. 62de
acima de 35ºC, teria pelo menos o número de 18 de setembro de 2004. Oficializa os
microrganismos aeróbios mesófilos presentes Métodos Analíticos Oficiais para Análises
nesse descongelamento superior aos outros Microbiológicas para Controle de Produtos
estudados, visto que neste trabalho a de Origem Animal e Água. Diário Oficial da
temperatura média foi de 25ºC. União, Brasília, 18 set. Seção 1, p. 14, 2003.
COSTA, J.N.P. et al. Condições higiênico-
Conclusões sanitárias e físico-estruturais da área de
manipulação de carne in natura em
Conclui-se que o congelamento melhorou a minimercados de Recife (PE), Brasil.
qualidade microbiológica da carne adquirida Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo,
refrigerada, e que a carne deve ser v. 80, n. 3, p.352-358, abr. 2013.
armazenada sob refrigeração a 4ºC e
consumida o mais rápido possível. Caso EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA.
contrário, recomenda-se seu congelamento Qualidade da carne bovina. 2016. Disponível
imediato preferencialmente em porções de em: < https://www.embrapa.br/qualidade-da-
tamanho adequado ao uso posterior. E, ainda, carne/carne-bovina>. Acesso em:
quando for realizado o descongelamento, que 24 de mar. 2019.
seja sob refrigeração a 4ºC. Por fim,
recomenda-se que novos estudos mais FERREIRA, R.S.; SIMM, E.M. Análise
detalhados sejam realizados a fim de orientar microbiológica da carne moída de um açougue
os manipuladores de alimentos para que da região central do município de Pará de
sejam evitados riscos à saúde do consumidor. Minas - MG. Digital FAPAM, Pará de Minas,
v. 3,n. 3, p.37-61, abr. 2012.
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de 23 de dezembro de 2019. Dispõe sobre os comercializada em supermercados de João
parâmetros microbiológicos de alimentos e Pessoa de carne bovina. Alimentos e
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