Você está na página 1de 8

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA

CAMPUS FREDERICO WESTPHALEN


GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
DISCIPLINA DE CONTABILIDADE GERENCIAL

MATERIAL PARA LEITURA

Recorte do capítulo 1 do livro “Contabilidade Gerencial - Da Teoria à Prática”,


por Iudícibus (2020).

1 NOÇÕES PRELIMINARES

A Contabilidade, desde os primórdios do mundo, serve ao homem como fonte


de informação. Como ciência social, está ligada à evolução da civilização desde a
caça, passando pela organização da agricultura e do pastoreio, do mercantilismo da
Antiguidade, da Revolução Industrial e a Era da Informação Digital e da Tecnologia,
chegando até hoje à Era da Tecnologia e inovações disruptivas, que visam abandonar
antigos padrões e modelos.
As necessidades sociais de proteção da posse, e de proteção e aumento do
seu patrimônio como forma de poder e respeito, sempre exigiram o registro e a
interpretação dos fatos ocorridos, buscando medir e comparar para analisar como se
comportou sua riqueza em relação ao período passado. O passado fornece
informações pretéritas que são fundamentais para se planejar o futuro e definir
modelos e ações preditivas.
Assim podemos definir que a Contabilidade serve como um sistema de
mensuração e informação.

1.1 INFORMAÇÃO CONTÁBIL PARA TOMADA DE DECISÃO

A Contabilidade tradicional como a conhecíamos, que servia para tomada de


decisão dos donos e proprietários dos negócios, com o passar do tempo foi ampliando
seu universo de interessados e usuários, tornou-se mais complexa e por muitas vezes
não prestou seu verdadeiro valor a quem realmente interessa. Citamos como exemplo
o governo, que define regras fiscais sobre as informações contábeis, bem como os
financiadores, bancos e acionistas. Cada um deles estabelece regras de como a
Contabilidade deve fornecer informações para eles. Os interesses pelas informações
contábeis para estes usuários – governo, acionistas, bancos e fornecedores – não são
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA
CAMPUS FREDERICO WESTPHALEN
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
DISCIPLINA DE CONTABILIDADE GERENCIAL

os mesmos, cada um deles deseja um tipo de informação contábil. O governo para os


tributos, os acionistas para avaliar suas remunerações, os bancos para os
empréstimos e financiamentos, os fornecedores para concessão de crédito, sem se
referir ainda aos empregados, sindicatos e comunidade, entre outras entidades.
Diante dessa “externalização”, a Contabilidade foi compelida a padronizar suas
informações, dando origem aos princípios de Contabilidade, e a seguir às regras dos
órgãos reguladores.
Os sistemas tradicionais que geram informações contábeis baseiam-se na
legislação comercial, que exige a aplicação dos princípios de Contabilidade, e os
órgãos reguladores impõem regras e padrões rígidos; nota-se que essas informações
não são as mesmas e quase nunca levam ao mesmo resultado. Para que os gestores
responsáveis por proteger o patrimônio da entidade tomem decisões assertivas,
garantindo sua continuidade e manutenção, é necessária a criação de um sistema de
informação mais avançado, baseado nas necessidades internas e específicas de cada
entidade, ao qual se dá o nome de Contabilidade Gerencial.
Em relação à qualidade da informação contábil, não podemos esquecer que a
Contabilidade nasceu para atender às necessidades de gestão, controle e tomada de
decisão. A informação na sua essência. A Contabilidade é gerencial.
São exemplos de procedimentos gerenciais contemplados pelas normas
internacionais de Contabilidade: a) ajuste a valor presente de ativos e passivos; b)
ativos a preço de mercado; c) ativos a preço de reposição; e d) valor presente dos
fluxos de caixa de ativos.
Lembra-se que as normas internacionais de Contabilidade permitem a adoção
desses conceitos, inclusive para fins comerciais, principalmente quando sua utilização
resultar em redução do ativo ou aumento do passivo. No aumento do ativo ou
diminuição do passivo, normalmente tais conceitos não são aceitos, pois ferem
diretamente o princípio contábil da prudência.
É fato que a Contabilidade Societária, estruturada pela Lei nº 6.404/1976, não
é suficiente para gerar as informações necessárias para as tomadas de decisão.
As empresas pequenas e médias que têm necessidade dessas informações
(considerando que a maioria tem essa necessidade) podem adotar medidas simples,
baratas e eficientes para atender a essa demanda.
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA
CAMPUS FREDERICO WESTPHALEN
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
DISCIPLINA DE CONTABILIDADE GERENCIAL

Basicamente, a Contabilidade deverá estar estruturada para atender tanto às


necessidades internas quanto às externas.

1.2 CARACTERIZAÇÃO DA CONTABILIDADE GERENCIAL

Podemos caracterizar a Contabilidade Gerencial como um enfoque especial


conferido a vários procedimentos e técnicas contábeis já conhecidos e tratados na
Contabilidade Financeira, na Contabilidade de Custos, na análise financeira e de
balanços etc., colocados numa perspectiva diferente, num grau de detalhe mais
analítico ou numa forma de apresentação e classificação diferenciada e específica, de
maneira a atender às necessidades de informações dos gestores das entidades em
seu processo decisório.
A Contabilidade Gerencial tem em seu cerne única e exclusivamente a
finalidade interna de atender à administração da empresa, com informações úteis,
tempestivas e confiáveis para um processo de decisão assertivo do gestor.
O foco principal da Contabilidade Gerencial é sempre sobre o presente e o
futuro da entidade, adotando procedimentos gerenciais contemplados pelas normas
internacionais de Contabilidade: a) ajuste a valor presente de ativos e passivos; b)
ativos a preço de mercado; c) ativos a preço de reposição; e d) valor presente dos
fluxos de caixa de ativos.
A Contabilidade Gerencial também se vale, em suas aplicações, de outros
campos de conhecimento não circunscritos à Contabilidade. Atinge e aproveita
conceitos da administração da produção, da estrutura organizacional, bem como da
administração financeira, campo mais amplo, no qual toda a Contabilidade
empresarial se situa.

1.2.1 Noções preliminares

De maneira geral, portanto, pode-se afirmar que todo procedimento, técnica,


informação ou relatório contábil preparados para que a administração os utilize na
tomada de decisões entre alternativas conflitantes, ou na avaliação de desempenho,
são assertivamente gerados pela Contabilidade Gerencial. Certos relatórios
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA
CAMPUS FREDERICO WESTPHALEN
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
DISCIPLINA DE CONTABILIDADE GERENCIAL

financeiros, todavia, são válidos tanto sob o ponto de vista do interessado externo à
empresa quanto sob o ponto de vista da gerência.

1.3 PONTOS DE CONVERGÊNCIA E DE INFLEXÃO ENTRE A CONTABILIDADE


FINANCEIRA E A GERENCIAL

Como ponto de convergência entre a Contabilidade Financeira e a


Contabilidade Gerencial destaca-se a adoção pelo Brasil das normas internacionais
de Contabilidade trazidas pela Lei nº 11.638/2007, que atribui ao órgão federal de
fiscalização do exercício da profissão contábil ou instituto de pesquisa com
reconhecida atuação na área contábil e de mercado de capitais, sendo
respectivamente o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e o Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (CPC), a responsabilidade pelo estudo e divulgação de
princípios, normas e padrões de Contabilidade. A partir de então a Contabilidade
deixou de ser regulada por leis ao se basear na primazia da essência sobre a forma,
encurtando a distância entre a Contabilidade Financeira e a Gerencial. Destacamos
os pronunciamentos relativos ao ativo imobilizado, redução ao valor recuperável de
ativos, ajuste a valor presente, estoques e ajuste a valor justo, entre outros, como
pontos de convergência e aproximação entre ambas.
O ponto de inflexão, ainda assim, não é tão fácil de ser discernido. Alguns
relatórios, cúpula do processo contábil-financeiro, a exemplo do balanço patrimonial,
da demonstração de resultados e da demonstração de fluxo de caixa, representam de
certa forma a fronteira entre a Contabilidade Financeira e a Gerencial.
Não se pode afirmar, todavia, que tais demonstrações contábeis, apenas por
serem o último degrau ou a súmula do processo de Contabilidade Financeira, e por
servirem preponderantemente aos usuários e interessados externos à empresa
(bancos, agências governamentais e mesmo acionistas desligados da gerência), não
sejam importantes, pelo menos como ponto de partida, para a Contabilidade Gerencial
e para a administração. Serão importantes à medida que sirvam como indicador válido
do desempenho, mesmo que em largos traços, da empresa, e desde que possam ser
utilizados no modelo previsional da gerência, apesar de revelarem informações do
passado que servem como fonte de informações para decisões preditivas.
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA
CAMPUS FREDERICO WESTPHALEN
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
DISCIPLINA DE CONTABILIDADE GERENCIAL

A análise financeira e a de balanços, por exemplo, tanto podem servir para o


emprestador de dinheiro na avaliação da segurança do retorno do empréstimo ou
financiamento como para a gerência na avaliação de tendência da empresa.
Provavelmente, ambas se utilizarão de um bom número de índices calculados da
mesma forma, com ênfases diferenciadas.
A Contabilidade de Custos, por sua vez, e todos os procedimentos contábeis e
financeiros ligados a orçamento empresarial, planejamento empresarial e
fornecimento de informes contábeis e financeiros para decisão entre cursos de ação
alternativos recaem, sem sombra de dúvida, no campo da Contabilidade Gerencial.
Decisões do último tipo, como fabricar ou comprar, substituição de equipamentos,
expansão de planta, redução ou aumento de volume, combinação de produtos etc.
requerem informações contábeis (além das de outras disciplinas) que não são
facilmente encontradas nos registros da Contabilidade Financeira. Na melhor das
hipóteses, requerem um esforço extra de classificação, agregação e refinamento para
serem utilizadas em tais decisões.
O Quadro 1 representa comparativamente as principais diferenças entre a
Contabilidade Financeira e a Contabilidade Gerencial.
Quadro 1 - Principais diferenças entre a Contabilidade Financeira e a Contabilidade
Gerencial
Pontos de comparação Contabilidade Financeira Contabilidade Gerencial
Tipo de usuário Externos. Internos.
Acionistas, bancos, Gestores, controllers e
Interessados na
fornecedores, clientes, demais responsáveis pela
informação
outros. administração da entidade.
Abrange parte da
Abrange a entidade como
Tipos de relatório entidade: unidades, filiais,
um todo.
departamentos (produção).
Em especial, facilitar
Facilitar a análise
planejamento, controle,
financeira para as
Objetivos dos relatórios avaliação de desempenho
necessidades dos usuários
e tomada de decisão
externos.
internamente.
Orçamentos,
Balanço Patrimonial,
Contabilidade por
Demonstração dos
responsabilidade,
Forma dos relatórios Resultados, Demonstração
relatórios de desempenho,
de Fluxo de Caixa e
relatórios de custo,
Demonstração das
relatórios especiais não
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA
CAMPUS FREDERICO WESTPHALEN
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
DISCIPLINA DE CONTABILIDADE GERENCIAL

Mutações do Patrimônio rotineiros para facilitar a


Líquido. tomada de decisão.
Não há qualquer restrição,
Obrigações legais podem
Frequência dos de acordo com a
exigir por trimestre,
relatórios necessidade da entidade.
semestre e ano.
Pode ser por dia.
Normas e Princípios Nenhuma restrição, exceto
Regras/Normas contábeis. IFRS, USGAAP as determinadas pela
e NBC (Brasileira). administração da entidade.
Relevante e tempestiva,
subjetiva sob a ótica do
Objetiva (sem viés),
Característica da julgamento da finalidade
verificável, relevante,
informação fornecida do interesse, sem rigores
comparável e tempestiva.
de verificabilidade e
precisão.
Horizonte de tempo Informações e dados são Histórica e preditiva –
considerado retrospectivos e históricos. orientada para o futuro.

1.4 ATITUDES E CARACTERÍSTICAS DO CONTADOR GERENCIAL COMO


CONTROLLER

Se nos perguntassem qual ou quais as características que distinguem o bom


contador gerencial de outros profissionais ligados à área da Contabilidade, diríamos
que a fundamental é saber “tratar”, refinar e apresentar de maneira clara, resumida e
operacional dados esparsos contidos nos registros da Contabilidade Financeira, de
Custos etc., bem como juntar tais informes com outros conhecimentos não
especificamente ligados à área contábil, para suprir a administração em seu processo
decisório. Um contador de custos tradicional, por exemplo, que não tenha sido exposto
à ênfase da Contabilidade Gerencial, ao apurar as variações entre custo orçado e real,
limitar-se-ia a informar tais variações e a incluí-las ou não na demonstração de
resultados. Um contador “com mentalidade gerencial” vai utilizar tais variações, até o
extremo grau possível de detalhe, para tentar enveredar pelo início da Contabilidade
por Responsabilidade ou, pelo menos, para discernir quais áreas merecem uma
investigação maior, por causa das variações apuradas.
Em certas situações que exijam condições de otimização de resultados ou de
minimização de custos, o contador gerencial deverá superar-se e derivar de conceitos
de valor médio (usuais na Contabilidade), conceitos que mais se aproximem de custos
e receitas marginais, necessários nos processos de otimização.
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA
CAMPUS FREDERICO WESTPHALEN
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
DISCIPLINA DE CONTABILIDADE GERENCIAL

Nos dias atuais o mercado procura muito pelo controller, e define esse
profissional como generalista com capacidade para interagir com as várias áreas tanto
interna como externa, que tem a responsabilidade de extrair e consolidar informações
relevantes, confiáveis e oportunas em relatórios que auxiliam a tomada de decisão,
garantindo a execução dos recursos da empresa da forma mais rentável possível. É
visto como um aliado dos interesses dos acionistas da companhia.
Mosimann (1999, p. 98) assegura que a Controladoria pode ser conceituada
como o conjunto de princípios, procedimentos e métodos oriundos das ciências de
Administração, Economia, Psicologia, Estatística e principalmente da Contabilidade,
que se ocupam da gestão econômica das empresas, com o fim de orientá-las para a
eficácia.
Com base nessa afirmação, pode-se inferir que a Controladoria pertence ao
ramo especializado da Contabilidade Gerencial.
O conhecimento do contador certamente o qualifica como um profissional em
condição de ocupar o cargo de controller, pois, como descrevemos aqui, seu perfil tem
vasto conhecimento em:
■ Planejar, organizar e desenvolver planos econômico-financeiros.
■ Analisar informações contábeis e de performance para reduzir perdas,
aumentar o lucro e acompanhar projeções de faturamento.
■ Definir diretrizes que estejam alinhadas ao planejamento econômico e
estratégico da empresa.
■ Acompanhar e estudar o mercado em que a empresa está inserida.
■ Avaliar os ciclos operacionais.
■ Verificar onde é possível melhorar e definir ações corretivas.
Assim, este contador gerencial deve ter formação bastante ampla, com
conhecimento em informática, tributos, inclusive conhecimento, senão das técnicas,
pelo menos dos objetivos ou resultados que podem ser alcançados com métodos
quantitativos. Deve estar cônscio de certos conceitos de microeconomia, e, acima de
tudo, deve saber observar como os administradores reagem à forma e ao conteúdo
dos relatórios contábeis. Cada administrador tem características próprias, mas uma
grande maioria não apreciaria, por exemplo, um exemplar de balancete do Razão com
30 páginas para tomada de decisões. Também não visualiza bem um demonstrativo
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA
CAMPUS FREDERICO WESTPHALEN
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
DISCIPLINA DE CONTABILIDADE GERENCIAL

operacional apresentado na forma de débito-crédito; talvez entenda melhor um


demonstrativo na forma dedutiva, e assim por diante.
Por outro lado, um gerente de formação não predominantemente contábil não
se entusiasmará, propriamente, com certas expressões tão a gosto dos contadores,
tais como: “reversão de provisão de crédito de liquidação duvidosa” ou “fato contábil
misto”. Se não puderem ser substituídas adequadamente, deverão pelo menos ser
explicadas de forma simples.

1.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A primeira atitude do contador gerencial é, normalmente, a de “limpar” os


relatórios financeiros, colocá-los numa forma mais conveniente para a administração.
Um dos problemas que prejudicam sensivelmente o uso dos relatórios contábeis
tradicionais para a gerência e para a própria análise financeira e de desempenho é o
constituído pela inflação. Numa economia como a nossa, apesar dos inegáveis
avanços de nossa legislação no tocante à correção monetária, é inconcebível utilizar
os relatórios publicados como ferramenta da Contabilidade Gerencial. Decisões sobre
política de dividendos, reinvestimento, bem como comparação entre relatórios
financeiros de vários anos, são altamente comprometidas se não atentarmos,
primeiramente, para a depuração de tais relatórios da variável inflacionária,
colocando-os todos em bases comparáveis.

REFERÊNCIAS
IUDÍCIBUS, Sérgio de. Contabilidade Gerencial - Da Teoria à Prática. 7. ed. Grupo
GEN, 2020.

Você também pode gostar