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Mateus Wieser Pamplona

Prática da contabilidade gerencial em micro e


pequenas empresas:
Análise da transportadora Expresso Delta

São Paulo
2019
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

Mateus Wieser Pamplona

Prática da contabilidade gerencial em micro e


pequenas empresas:
Análise da transportadora Expresso Delta

Trabalho Exploratório apresentado na Escola


de Administração de Empresas de São Paulo
da Fundação Getulio Vargas, para obtenção
do certificado de conclusão do curso Master
in Business and Management (MBM)
Nome do Aluno: Mateus Wieser Pamplona

Prática da contabilidade gerencial em micro e pequenas empresas:


Análise da transportadora Expresso Delta

Professor (a) da Disciplina e convidados Avaliação

Roseli Morena Porto Satisfatório Não satisfatório

1o. Professor(a) Convidado(a):

__________________________ Satisfatório Não satisfatório

2o. Professor(a) Convidado(a):

__________________________ Satisfatório Não satisfatório


Mateus Wieser Pamplona

Prática da contabilidade gerencial em micro e pequenas empresas:


Análise da transportadora Expresso Delta

Resumo

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Mateus Wieser Pamplona

Prática da contabilidade gerencial em micro e pequenas empresas:


Análise da transportadora Expresso Delta

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS ............................................................................ 3
1.1 CONTABILIDADE GERENCIAL .............................................................................. 3
1.2 REGIME DE CAIXA E COMPETÊNCIA .................................................................. 4
1.3 BALANÇO PATRIMONIAL PERGUNTADO .......................................................... 4
1.4 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO PERGUNTADA ......................................... 5
1.5 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA............................................................ 6
2 OBSERVAÇÃO DA REALIDADE DA EMPRESA............................................... 9
2.1 DESCRIÇÃO DA EMPRESA ..................................................................................... 9
2.1.1 Serviços prestados ...................................................................................................... 10
2.1.2 Público alvo e concorrentes ........................................................................................ 11
2.1.3 Situação atual ............................................................................................................. 11
2.2 IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA........................................................................ 12
3 PESQUISA E RESULTADOS ................................................................................ 14
3.1 METODOLOGIA ...................................................................................................... 14
3.2 ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS ............................................................. 15
4 PROPOSTA .............................................................................................................. 16
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 18
ANEXO A – QUESTIONÁRIO PARA ATIVOS ................................................................ 19
ANEXO B – QUESTIONÁRIO PARA PASSIVOS E PL .................................................. 20
ANEXO C – MODELO DE BALANÇO PATRIMONIAL ................................................ 21
ANEXO D – QUESTIONÁRIO PARA ELABORAÇÃO DA DRE .................................. 22
ANEXO E – ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DA DFC (MÉTODO INDIRETO) .... 23
1

INTRODUÇÃO

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)


(2017), de todas as empresas privadas no Brasil, 98,5% são pequenos negócios, também
conhecidos como micro e pequenas empresas (MPE): empresas com faturamento anual de até
3,6 milhões de reais. Essas empresas são responsáveis por 54% dos empregos com carteira
assinada e 44,1% de todos os salários pagos no país.

Ainda assim, o grupo de empresas composta pelos microempreendedores individuais


(MEI), microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) respondem por apenas 27%
do PIB brasileiro. Tais números ajudam a expor a importância desses empreendimentos para a
economia nacional, assim como indagar sua pequena influência na riqueza do país.

Uma explicação para essa disparidade está no baixo desempenho e sucesso dessas
organizações. Segundo o SEBRAE (2016), apenas 58% das micro e pequenas empresas
sobrevivem após dois anos de existência. Em quatro anos, o índice melhorou apenas quatro
pontos percentuais. A instituição afirma que não há uma causa única para a mortalidade precoce
das empresas, e sim uma série de fatores, demonstrado no Quadro 1:

Quadro 1 – Principais causas de mortalidade de empresas


Área da causa Causa

Falta de planejamento

Planejamento Não negociou prazos com fornecedores

Não obteve empréstimo em bancos

Não fez curso sobre gestão de negócios


Capacitação
Não investia em capacitação de mão de obra

Não aperfeiçoava produtos

Não se atualizava
Gestão Não acompanhava despesas e receitas com
rigor

Produtos sem diferencial

Adaptado de (SEBRAE, 2016)


2

Nota-se que uma das causas é especificamente ligada à contabilidade: “não


acompanhar despesas e receitas com rigor”. De fato, o uso da contabilidade gerencial (que tem
como foco o apoio à gestão) no Brasil, mesmo no meio acadêmico, é bastante recente, tendo os
primeiros estudos iniciados na década de 70 (FREZATTI et al., 2015). Isso pode ajudar a
entender a falta de maturidade dos sistemas de controle de receitas e despesas das empresas.

O enfoque deste trabalho gira especificamente em torno do problema da falta


acompanhamento nos números que indicam o desempenho e sucesso nas MPE. Dessa forma, o
objetivo aqui é criar um sistema que permita capturar e analisar o resultado da empresa de
maneira ampla, e de forma suficientemente simples para ser aplicado em um cenário de poucos
recursos e complexidade, tal qual um pequeno negócio.

Para isso, realizou-se uma pesquisa-ação com a transportadora Expresso Delta, uma
microempresa que passa por dificuldades comuns a empresas desse porte, e que, após
consecutivas diminuições de caixa, deseja saber a fundo quais as causas do mal desempenho
financeiro. Por meio dessa pesquisa, o sistema pode ter sua aplicação prática avaliada.

O trabalho se divide em quatro capítulos. O primeiro tem como objetivo apresentar


conceitos teóricos que permitem o desenvolvimento de uma solução para a coleta, controle e
análise de dados, assim como definições importantes para o entendimento acerca da
contabilidade gerencial.

No capítulo dois apresenta-se uma descrição da Expresso Delta, com as características


que permitam a compreensão da situação enfrentada pela empresa, situação essa que motivou
o desenvolvimento deste trabalho.

Na sequência, detalham-se os métodos e passos usados para estruturar a pesquisa


aplicada na empresa, realizada por meio de observação direta. Os dados coletados então são
expostos e os resultados apresentados.

Por fim, no capítulo quatro, uma proposta para solução do problema da Expresso Delta
é apresentado... [finalizar após término do trabalho]
3

1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS

O objetivo deste capítulo é elencar os conceitos teóricos que fundamentam a análise


realizada na empresa. Neste contexto, torna-se imprescindível o conceito de contabilidade
gerencial e a forma na qual dados podem ser coletados dentro da empresa a fim de criar
demonstrações relevantes.

1.1 CONTABILIDADE GERENCIAL

Segundo de Sousa e de Bortoli Neto (2018) as demonstrações financeiras de uma


empresa mostram numericamente a sua realidade, por isso são tão necessárias para o
gerenciamento da mesma. Os autores afirmam que as análises contábeis permitem a uma
empresa saber qual o custo e o retorno de suas operações, permitindo assim a tomada de decisão,
análises futuras e acompanhamento do desempenho da empresa ao longo do tempo.

Norgard (1985), conforme citado por Borinelli e Pimentel (2017), relata que o
propósito da contabilidade gerencial, em detrimento às outras formas de contabilidade:

é gerar informações úteis, feitas sob medida, para atender necessidades


específicas dos usuários internos. Desse modo, as informações gerenciais
devem desempenhar dois papéis importantes: auxiliar o controle das
operações e ajudar nas tomadas de decisões. (p. 28)

Em relação às demonstrações relevantes para as pequenas e médias empresas, de Sousa


e de Bortoli (2018) explicam que as mais importantes para um primeiro momento de análise,
que permitem ter uma visão geral do negócio são:

a) Balanço Patrimonial (BP);


a) Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE);
b) Demonstrativos de Fluxo de Caixa (DFC).
Os autores ainda afirmam que os demais demonstrativos são exigidos, ou mais
aplicáveis para empresas de grande porte.

O problema é que “as empresas que estão em seus momentos iniciais ou que ainda
estejam se profissionalizando [...] talvez estejam com sua contabilidade em processo de
formação, de onde não se poderá obter informações tão precisas [...]” (DE SOUSA; DE
BORTOLI NETO, 2018, p. 323).

Neste caso, segundo de Sousa e de Bortoli Neto (2018, p. 323) as empresas “podem
4

recorrer a uma técnica que permite estimar o balanço patrimonial e o demonstrativo de


resultados”. Esta técnica, chamada de “demonstrativo perguntado”, consiste em aplicar um
questionário por um período, de preferência um ano, com o gestor da empresa ou responsáveis
por setores chave. Os dados coletados por este questionário são então organizados na forma de
balanço patrimonial e DRE, seguindo as mesmas regras contábeis das demonstrações oficiais
(DE SOUSA; DE BORTOLI NETO, 2018).

1.2 REGIME DE CAIXA E COMPETÊNCIA

Os regimes de caixa e competência são definições contábeis necessárias para a


interpretação da demonstração do resultado. O regime de caixa mede o fluxo financeiro da
empresa. Ele apura a transação no momento da ocorrência da entrada (recebimento) ou saída
(pagamento) de caixa. Desta forma, é possível avaliar o desempenho do fluxo financeiro da
empresa, ou seja, qual a geração líquida de disponibilidades de uma empresa em um período
(BORINELLI; PIMENTEL, 2017).

O regime de competência afere as transações no momento em que o fato gerador


ocorreu. O fato gerador é um aumento ou diminuição do benefício econômico futuro. Isso
permite conhecer o resultado contábil da organização, pelo confronto de ganhos, despesas,
custos e perdas em determinado momento (BORINELLI; PIMENTEL, 2017).

Assim, segundo Borinelli e Pimentel (2017, p. 147) no regime de competência “a


contabilização da receita de vendas ocorre no momento da venda [...] e não no momento do
recebimento”, por exemplo. Os autores ainda afirmam que estudos mostram que o regime de
competência é “mais relevante para analisar a eficiência e a realidade econômica das entidades.
[...] Sendo, portanto, o método escolhido pela Contabilidade para apuração do resultado.”
(BORINELLI; PIMENTEL, 2017, p. 148)

1.3 BALANÇO PATRIMONIAL PERGUNTADO

Conforme os autores Borinelli e Pimentel (2017), o balanço patrimonial é uma peça


contábil estática, que representa elementos e valores de uma empresa em um momento
específico. Esses elementos e valores estão equilibrados, e são representados pelos recursos
dessa sociedade (ativos) e origem do capital usado para formação dos recursos, divididos em
capital de terceiros (passivo) e capital próprio (patrimônio líquido).
5

O Quadro 2 expõe uma estrutura genérica de um balanço patrimonial, com a descrição


de cada grupo (ativo, passivo e patrimônio líquido).

Quadro 2 – Estrutura genérica de um balanço patrimonial


Ativo Passivo
Bens e direitos da empresa Contas a pagar de terceiros
Patrimônio Líquido
Obrigações para com os proprietários
Total Total
Adaptado de (DE SOUSA; DE BORTOLI NETO, 2018, p. 324)

Conforme descrito anteriormente, empresas que estão iniciando ou em processo de


formalização de suas operações podem não dispor de contabilidade precisa e confiável. Neste
caso, segundo de Sousa e de Bortoli Neto (2018), uma alternativa para que a empresa possa
dispor desta demonstração é estimar o balanço através de um questionário, aplicado
preferencialmente com o gestor da empresa e/ou responsáveis pelas áreas relevantes. Este
questionário é aplicado durante um período, podendo ser de um mês, trimestre, mas
preferencialmente de um ano.

Os autores propõem para isso dois questionários, enumerando todas as contas do ativo,
passivo e patrimônio líquido e a orientação de como coletar essas informações de maneira
prática. Os dois questionários, um para as contas do ativo e outro para o passivo e patrimônio
líquido encontram-se nos Anexos A e B.

De Sousa e de Bortoli Neto (2018) explicam que o questionário é bastante abrangente


e, dependendo do tamanho da empresa, pode ser que algumas contas não se apliquem à
determinadas situações.

Os autores concluem que, após aplicar o questionário é possível, enfim, completar o


balanço patrimonial apresentado no anexo C. Conforme se faz necessário, contas inexistentes
podem ser suprimidas.

1.4 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO PERGUNTADA

A demonstração do resultado do exercício (DRE) é uma peça contábil que tem efeito
complementar ao do balanço patrimonial, e objetiva calcular o lucro ou prejuízo obtido por uma
6

empresa em um determinado período. Nela obtêm-se informações detalhadas sobre a forma na


qual o lucro ou prejuízo foi obtido. Todos os ganhos (receitas) e gastos (custos ou despesas)
decorrentes de um período estão nela expostos (DE SOUSA; DE BORTOLI NETO, 2018).

O Quadro 3 mostra uma estrutura padrão abrangente de um DRE, com uma explicação
do que cada parte do documento representa fisicamente.

Quadro 3 – Estrutura genérica de uma DRE


Demonstração do resultado do exercício (DRE)
Vendas brutas
- Deduções
Vendas (Faturamento)
= Vendas líquidas
- Custo das mercadorias vendidas (CMV)
= Lucro bruto operacional Lucro das vendas
- Despesas operacionais
+ Receitas operacionais
Rotina de operações, resultado financeiro
+ ou – Outras receitas e outras despesas
e outros eventos que interferem no lucro.
= Lucro antes do resultado financeiro
+ ou – Resultado financeiro
Lucro antes do imposto de renda Lucro tributável
- Imposto de renda e contribuição social Tributação
Lucro líquido Lucro destinado aos sócios e à retenção
na empresa
Adaptado de (DE SOUSA; DE BORTOLI NETO, 2018, p. 311)

Da mesma forma que o balanço patrimonial, a DRE pode ser feita através de
levantamento com os responsáveis. Para tanto, de Sousa e de Bortolli Neto (2018) propõem,
analogamente ao balanço patrimonial, um questionário a ser aplicado. O questionário abrange
todas as contas relevantes para formação da DRE. Ele encontra-se no anexo D.

1.5 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA

Os autores Borinelli e Pimentel definem a demonstração do fluxo de caixa (DFC)


como:

uma demonstração contábil dinâmica que evidencia, resumidamente, todas as


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variações ocorridas na conta ‘caixa e equivalentes de caixa’ de uma entidade


[...]. Indica a origem de todas as entradas de dinheiro no caixa [...], bem como
a destinação de todo o dinheiro que saiu do caixa em determinado período.
(2017, p. 254).

Em outras palavras, a DFC é uma peça contábil que complementa a análise do balanço
patrimonial, explicando as mudanças ocorridas em uma conta específica, nominalmente a de
“caixa e equivalentes de caixa”. Alguns aspectos abordados por essa demonstração são
(BORINELLI; PIMENTEL, 2017):

a) Capacidade de geração de caixa;


b) Taxa de conversão de lucro em caixa;
c) Impacto no caixa de atividades operacionais, de investimento e financiamento;
d) Potencial de geração de caixa futuro.
Ainda segundo os autores, é possível avaliar pela DFC a performance financeira da
empresa através da capacidade de geração de caixa, quando e com que regularidade as entradas
e saídas acontecem, e as necessidades de financiamento de curto prazo.

A elaboração da DFC tem como origem os dados levantados no balanço patrimonial e


na DRE, e pode ser elaborado por dois métodos distintos (BORINELLI; PIMENTEL, 2017):

a) Método direto: parte das movimentações do caixa para evidenciar as variações;


b) Método indireto: parte do lucro líquido do período, ajustando todas as transações
que não têm efeito sobre o caixa. É o método mais amplamente utilizado (DE
SOUSA; DE BORTOLI NETO, 2018).
As entradas e saídas de caixa geradas por uma empresa são categorizadas segundo a
sua origem, para melhor evidenciar os eventos incorridos. São elas: atividades operacionais, de
investimento e financiamento (BORINELLI; PIMENTEL, 2017).

As atividades operacionais são variações de caixa geradas por eventos relacionados


com a produção e venda de bens e serviços pela empresa. Algumas contas relacionadas a essa
atividade são: contas a receber, estoques, fornecedores, salários, impostos a receber etc. As
atividades de investimento são compostas por movimentações no ativo não circulante da
empresa, e representam aquisições ou vendas de ativos permanentes, como imobilizado e
intangíveis, participações societárias e títulos de dívida comprados de outras empresas.
Finalmente, as atividades de financiamento representam as entradas e saídas dos financiamentos
de terceiros e do capital próprio. São evidenciadas pela variação do capital social, reservas de
capital e empréstimos e financiamentos (DE SOUSA; DE BORTOLI NETO, 2018).
8

A Figura 1 mostra como a DFC se integra com o balanço patrimonial, expondo a


classificação de cada área do balanço patrimonial:

Figura 1 – Integração das atividades do DFC com o balanço patrimonial

Fonte: (BORINELLI; PIMENTEL, 2017, p. 262)

De Sousa e de Bortoli Neto (2018) propõem um roteiro para elaboração da DFC pelo
método indireto após a construção do balanço patrimonial e da DRE. Este roteiro encontra-se
no anexo E.
9

2 OBSERVAÇÃO DA REALIDADE DA EMPRESA

Este capítulo objetiva contextualizar a transportadora Expresso Delta, e detalhar a


situação que a empresa atualmente enfrenta. Para isso, é necessário compreender a área de
atuação da empresa, seu histórico e estrutura atual.

Com base nos dados apresentados, apresenta-se então o problema enfrentado pela
organização, que serviu como motivo para o desenvolvimento das soluções propostas nesse
trabalho.

2.1 DESCRIÇÃO DA EMPRESA

A Expresso Delta é uma transportadora de pequeno porte, aberta em 1998 na cidade


de Gaspar, Santa Catarina. A empresa nasceu da identificação de uma carência de serviços de
transporte na cidade, especialmente para uma das maiores e mais antigas empresas da cidade,
Linhas Círculo S/A.

Após quase uma década de amadurecimento profissional, desfrutando do


desenvolvimento econômico acelerado do início dos anos 2000 no Brasil, a empresa chega a
seu auge, tendo a Círculo como principal cliente, através do transporte e distribuição dos
produtos da empresa para a cidade de São Paulo. Na época, a empresa contava com três
caminhões próprios, novos, e 20 funcionários localizados na sede, em Gaspar, e no centro de
distribuição, em São Paulo. Além da Círculo, a empresa transportava pequenas quantidades
para outras empresas de forma a reduzir a ociosidade dos caminhões, numa modalidade de frete
conhecida como “fracionado”, que ocorre quando o frete é dividido entre vários clientes. À
época, a empresa tinha um faturamento mensal de aproximadamente 400 mil reais.

A partir do ano 2010, com o aumento da concorrência e concentração do market share


em menos e maiores empresas, de atuação nacional, o volume de contratos fechados decaiu,
assim como o faturamento gradualmente, até chegar à casa dos 200 mil reais mensais. Somado
a isso, a maior competitividade e a característica informalidade do setor impactaram na queda
drástica da lucratividade das empresas do setor em geral. Ainda assim, o lucro obtido pela
empresa era suficiente para que os dois sócios da empresa continuassem com a operação na
estrutura original.

Em 2016, com o falecimento de um dos sócios, e demonstração de desejo de


10

aposentadoria do outro, o futuro da empresa foi ameaçado. A empresa foi transferida para o
filho, na época com 22 anos, do sócio falecido, e em 2018 houve o rompimento da sociedade
com a aposentadoria do sócio mais velho. A estrutura societária é exemplificada na Figura 2:

Figura 2 – Estrutura societária original

Fonte própria

Devido à baixa lucratividade em relação com a estrutura necessária para mantê-la,


decidiu-se romper com a modalidade de frete “fracionado” para distribuição em São Paulo.
Visando evitar a concorrência predatória do frete para a capital paulista, o novo sócio decidiu
entrar no mercado de frete “fechado”, com destino para outras regiões do Brasil, que configura
o cenário atual que será detalhado na sequência.

2.1.1 Serviços prestados

A empresa trabalha atualmente com a prestação de fretes na modalidade “fechada”, ou


seja, contratação de um veículo inteiro para um destino único. Para isso, a empresa conta com
dois caminhões próprios, um para cargas maiores e outro para menores, com as seguintes
especificações:

Quadro 4 – Veículos utilizados pela empresa


Capacidade de carga
Veículo Capacidade de carga (kg)
(m³)
Mercedes-Benz 1620
12.500 70
tipo “baú”
Volvo FM12 com
25.000 110
carreta tipo “sider”
Fonte própria
11

A empresa atua no interior de São Paulo e nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul
e Mato Grosso. A região de atuação foi escolhida devido à demanda de fretes para o percurso
de ida e de volta.

2.1.2 Público alvo e concorrentes

O público alvo e principais clientes da empresa atualmente são grandes empresas e


transportadoras de maior porte que atuam nas regiões atendidas pela Expresso Delta. A seleção
do público alvo é devido à restrição da modalidade fechada de frete, que demanda cargas com
volumes próximos à capacidade máxima do caminhão.

Grande parte dos clientes são transportadoras maiores, que subcontratam fretes que
não podem ser atendidos por frota própria, e grandes empresas da região. A subcontratação
representa aproximadamente 85% do faturamento da empresa. Destacam-se dentro do grupo de
clientes empresariais as do ramo têxtil, que necessitam de algodão proveniente do centro-oeste
brasileiro.

O proprietário identificou que os principais concorrentes na subcontratação de fretes


fechados são caminhoneiros autônomos. Grande parte das empresas contratantes estão
organizadas de forma a permitir que caminhoneiros independentes, inclusive aqueles sem
cadastro de pessoa jurídica, possam ser subcontratados para prestar o serviço.

Isso porque toda a documentação necessária, legal e comercialmente, para a prestação


do serviço (por exemplo: emissão de conhecimento de transporte e contratação de seguro de
carga) é feito pela empresa contratante, bastando o caminhoneiro manter seu veículo com a
manutenção e documentação em dia.

Os concorrentes são fonte de preocupação para a Expresso Delta, uma vez que a classe
é marcada pela informalidade e baixo índice de cumprimento com as regulamentações impostas
devido à fiscalização ineficiente. Além disso, para a empresa há os encargos sociais obrigatórios
pagos para os motoristas. Assim, a percepção de lucro é drasticamente reduzida para a empresa,
se comparado com um profissional autônomo.

2.1.3 Situação atual

A empresa tem em sua estrutura organizacional hoje dois motoristas, que se reportam
12

diretamente para o proprietário. Devido à simplicidade da operação de frete fechado, em que a


transportadora é encarregada apenas de levar a carga da origem ao destino, sem necessidade de
distribuição fracionada ou manejo de carga, a antiga estrutura de coleta e distribuição foi
desfeita no intuito de diminuir os custos fixos. O proprietário relata que há demanda de serviço
suficiente para manter ambos os caminhões em transporte por 75% do tempo, em média. Ainda
assim, há queixas frequentes a respeito do preço pago pelos contratos de frete.

Em relação à coleta de dados que permita uma análise mais profunda sobre o
desempenho da empresa, o proprietário informa que não há qualquer armazenamento de
informações de maneira formal, e que o principal indicador de desempenho é a variação das
disponibilidades de caixa, onde um aumento líquido de caixa num período é interpretado como
um bom desempenho. Relata-se também que o controle de contas a pagar e a receber não é
organizado, e depende da memória do proprietário ou documentos enviados por clientes para
que a informação seja disponibilizada. Isso resulta muitas vezes em recebimentos esquecidos
ou contas não pagas no vencimento, incorrendo multas e juros desnecessários.

Por meio de uma análise rápida de contratos de frete firmados em meses anteriores,
estima-se que a empresa esteja faturando atualmente aproximadamente 25 mil reais por mês em
média. Ainda assim, segundo percepção do proprietário acerca dos custos operacionais
(combustível, salários, manutenção etc.) confrontados com o valor recebido por contrato, há
margem de lucro positiva na operação, mesmo não havendo números que comprovem tal
afirmação.

2.2 IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

Diante da situação apresentada, percebe-se que os problemas levantados pelo


SEBRAE (2016) a respeito de planejamento e controle das receitas e despesas são presentes na
Expresso Delta, o que causa preocupação. Aliado a isso, a diminuição do caixa é um sintoma
que não pode ser negligenciado.

Desta forma, o maior problema identificado na empresa, conforme levantado pelo


proprietário, é a ausência de informações que permitam tirar conclusões precisas e tomar
decisões acerca da saúde econômica e financeira da empresa. Sem essas informações o
empreendedor geralmente precisa se basear em experiências passadas, sugestões infundadas e
análises superficiais para gerir seu negócio.
13

Especificamente no caso da Expresso Delta, o proprietário argumenta que não há


estrutura ou recurso suficiente para manter esse tipo de controle, ou que esse tipo de controle
não era aplicável para pequenas empresas, pelo pequeno volume de dados e falta de sistemas
informatizados.

Portanto, o objetivo desse trabalho é mostrar que o controle de receitas e despesas,


assim como um sistema para monitoramento do desempenho econômico é possível e
recomendado para pequenos negócios, sendo possível manter essa estrutura com uma
quantidade mínima de capital.

Gerir um empreendimento sem informações confiáveis é uma tarefa complicada, visto


que o empreendedor dificilmente terá bases suficientes para tomar decisões com precisão.
Aliado à um setor com conhecidas dificuldades e alto índice de concorrência predatória, estes
aspectos ajudam a compreender o alto índice de mortalidade das MPE, e porque empresas têm
pouco sucesso, visto que o caso da Expresso Delta não é isolado.

Assim sendo, acredita-se que a captação e uso dos dados pelo sistema proposto nesse
trabalho pode ajudar de forma expressiva a Expresso Delta e empreendedores de MPE a avaliar
o rumo de seus negócios, buscar lucros melhores, ou evitar que cenários desfavoráveis possam
se desenvolver.
14

3 PESQUISA E RESULTADOS

Neste capítulo aborda-se a metodologia utilizada para coleta dos dados visando criar
um sistema de controle e análise contábil-gerencial para a Expresso Delta. Na sequência, os
dados e informações resultantes da aplicação da pesquisa serão apresentadas e detalhadas.

3.1 METODOLOGIA

A fim de possibilitar à Expresso Delta o acesso às informações contábeis detalhadas


no capítulo um, propõe-se uma pesquisa de natureza qualitativa através de pesquisa-ação,
conforme definida por Roesch (ROESCH, 2013).

A escolha do método qualitativo se dá pois, segundo Roesch (2013 apud STAW, 1977)
não é possível verificar relações de causa e efeito em pequenas organizações, onde há uma
amostra de dados pequena e muita interação entre os indivíduos envolvidos. Assim, a pesquisa
qualitativa “é apropriada para a avaliação formativa, quando se trata de melhorar a efetividade
de um programa [...].” (ROESCH, 2013, p. 154).

Segundo Roesch, uma distinção da pesquisa-ação dos demais enfoques de pesquisa


qualitativa está no papel do pesquisador, que atua como um consultor ou um colaborador do
projeto. O objetivo com isso é que, com um envolvimento maior do pesquisador com os
participantes da pesquisa, obtém-se maior nível de confiança. (ROESCH, 2013)

A pesquisa-ação objetiva

entender a experiência e lidar com uma situação problemática complexa para


as pessoas, enquanto elas passam pela experiência. E então indagar: [...] que
ações elas consideram apropriadas para conduzir a situação para a direção
desejada? (ROESCH, 2013, p. 158 apud JONES, 1987)

Portanto, inicialmente faz-se necessário a delimitação do problema enfrentado pela


Expresso Delta. O objetivo deste trabalho é trazer para a empresa uma forma de controlar os
dados contábeis e financeiros gerados pela operação da empresa. Ausenta-se assim de análises
a respeito de estratégias mercadológicas, gerenciais, de recursos humanos e outros temas,
adotadas pela empresa. Para tal, o conhecimento e experiência nos tópicos relevantes é
imprescindível.

Na sequência, utilizando os questionários dos anexos A, B e D, a observação dentro


da empresa será conduzida, buscando traduzir a maneira com qual cada conta se manifesta
15

dentro da organização especificamente.

O quadro mostra um exemplo do documento que será utilizado para o registro dos
dados coletados através da observação, a ser feito com cada conta integrante do balanço
patrimonial e DRE.

Quadro 5 – Tabela para coleta de dados das contas


Demonstração Conta Forma de controle
Balanço Patrimonial Caixa
Balanço Patrimonial Bancos
Balanço Patrimonial Aplicações financeiras
Balanço Patrimonial Clientes
Balanço Patrimonial Estoques
Fonte própria

A atividade mais importante da coleta de dados será o acompanhamento do dia a dia


do proprietário da empresa. Ele é responsável, entre outros pontos, pela prospecção de novos
fretes, gestão da manutenção dos caminhões, pagamentos e recebimentos de contas e todas as
movimentações bancárias.

Além disso, os motoristas realizam movimentações por conta própria durante a


viagem. Para isso, eles recebem adiantamentos em dinheiro que são reembolsados após o
término da viagem, mediante apresentação de comprovantes.

Através disso, será possível compreender a forma pela qual a empresa movimenta seus
recursos, e as características dessas situações, possibilitando assim construir um sistema
eficiente de coleta e análise desses dados adequado à realidade da organização.

3.2 ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS

[...]
16

4 PROPOSTA

Com estes dados disponíveis, é possível criar um sistema que facilite e agilize o
cadastro dos dados operacionais no dia-a-dia da empresa. Para isso, propõe-se o
desenvolvimento de uma planilha eletrônica para Microsoft Excel ou Libreoffice Calc. O
motivo para isso é o relativo baixo custo dessas aplicações (sendo uma delas gratuita), assim
como a possibilidade de aproveitamento da mesma aplicação para diversas necessidades da
empresa.

Pleiteia-se a favor da planilha eletrônica em detrimento a formas manuais (através de


livros e meios físicos, por exemplo) visto que, apesar do possível custo de aquisição do
software, a praticidade e velocidade de inserção de dados, formas automáticas de realizar
operações matemáticas e possibilidade de acesso das informações remotamente são vantagens
que inviabilizam as formas manuais, mesmo em um contexto de pequenas empresas.

O sistema deverá conter um formulário para coletar os dados gerados na operação da


organização, que serão processados devidamente, para então serem visualizados na forma das
três demonstrações contábeis básicas. Além dos valores de cada transação gerada pela empresa,
ela deve registrar também o momento de ocorrência do fato, o momento em que ocorreu a
entrada ou saída do dinheiro, registrando assim os regimes de caixa e competência e uma
classificação para
17

CONCLUSÃO
18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C. Contabilidade para gestores, analistas e outros


profissionais: de acordo com os pronunciamentos do CPC (Comitê de Pronunciamentos
Contábeis) e IFRS (Normas Internacionais de Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2017.
DE SOUSA, A. F.; DE BORTOLI NETO, A. Manual prático de gestão para pequenas e
médias empresas. 1a ed. Barueri: Manole, 2018.
FREZATTI, F. et al. A pesquisa em contablidade gerencial no Brasil: desenvolvimento,
dificuldades e oportunidades. Revista Universo Contábil, v. 11, n. 1, p. 47–68, 2015.
ROESCH, S. M. A. Projetos de Estágio e de Pesquisa em Administração. 3a ed. São Paulo:
Atlas, 2013.
SEBRAE. Sobrevivência das empresas no Brasil. UGE/NA, p. 96, 2016.
SEBRAE. Pequenos Negócios no Brasil. Boletim Estudos & Pesquisas, n. 61, p. 4, 2017.
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ANEXO A – QUESTIONÁRIO PARA ATIVOS

Fonte: (DE SOUSA; DE BORTOLI NETO, 2018, p. 325–326)


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ANEXO B – QUESTIONÁRIO PARA PASSIVOS E PL

Fonte: (DE SOUSA; DE BORTOLI NETO, 2018, p. 326–327)


Ativo Passivo
Conta Saldo Inicial Saldo Final Conta Saldo Inicial Saldo Final
Circulante (curto prazo) Circulante (curto prazo)
Caixa Fornecedores
Bancos Salários
Aplicações financeiras Obrigações trabalhistas
Clientes Contas de consumo
Estoques Empréstimos
Antecipação a
fornecedores Financiamentos
Outros gastos antecipados Juros
Impostos
Antecipações recebidas
Não circulante Não circulante
Contas a receber (longo
prazo) Empréstimos (longo prazo)
Investimentos temporários Financiamentos de longo
a longo prazo prazo
Outros Investimentos Patrimônio líquido

Adaptado de (DE SOUSA; DE BORTOLI NETO, 2018)


Imobilizados Capital social
ANEXO C – MODELO DE BALANÇO PATRIMONIAL

Intangível Lucros/Prejuízos acum.


Total Total
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22

ANEXO D – QUESTIONÁRIO PARA ELABORAÇÃO DA DRE

Fonte: (DE SOUSA; DE BORTOLI NETO, 2018, p. 327–328)


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ANEXO E – ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DA DFC (MÉTODO INDIRETO)

Fonte: (DE SOUSA; DE BORTOLI NETO, 2018, p. 322–323)

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