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XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”

Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.

ANÁLISE PRELIMINAR DO RISCO NA


ATIVIDADE DE COLETORES DE RESÍDUOS
URBANOS EM JOÃO PESSOA - PB

Bianca Bezerra Siqueira (UFPB)


biaanca1@hotmail.com
rayna fernandes farias (UFPB)
rayna_farias@hotmail.com
GABRIELLA MENDES PEREIRA DE SOUSA (UFPB)
gabriellamps@hotmail.com
Gleriston Verissimo Marinho (UFPB)
gleriston.verissimo@gmail.com
Amanda Carneiro Stuckert (IESP)
amanda_stuckert_pb@hotmail.com

Este artigo analisa a problemática relacionada às condições de trabalho dos


coletores de resíduos urbanos afinal essa é uma profissão de extrema
importância para a sociedade e que sofre com a exposição a diversos agentes
nocivos à saúde dos trabalhadores, o que faz esse trabalho ser considerado
um dos mais insalubres que existem (NEVES, 2003). Assim sendo, foi
realizada uma análise preliminar do risco (APR), considerando as ameaças
encontradas na situação de trabalho estudada e os possíveis prejuízos que
podem ser causados à saúde desses profissionais. Foram identificados riscos
de índice 5, o mais alto para esse tipo de análise, o que comprova a
criticidade dessa atividade e a necessidade de uma maior atenção em
relação a essa profissão, tanto por parte das empresas, na promoção à saúde
dos trabalhadores, quanto da sociedade em geral, na prática de atitudes
simples, e no desenvolvimento de estudos e políticas que permitam uma
melhor qualidade de vida para os mesmos.

Palavras-chave: APR, Risco, Coletores de Resíduos


XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens

avançadas de produção”

Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.

1. Introdução

Diversos autores concordam que o avanço da tecnologia e da globalização provocou um


crescimento da geração de resíduos e apontam em seus estudos dados que comprovam a
elevação da produção de lixo por pessoa nas grandes cidades, principalmente devido ao
aumento do consumo de produtos industrializados e descartáveis (OLIVEIRA; SANTOS,
2011; CEMIM, 2014; DIAS et al., 2015; DEUD, 2015).

Entretanto, tem-se que a higiene é uma necessidade humana, mas, para ser atendida conforme
as expectativas, depende essencialmente do trabalho dos coletores de resíduos, popularmente
conhecidos como “lixeiros” ou “garis”.

Mesmo com a clara importância que estes trabalhadores têm, a profissão é desvalorizada
pelos cidadãos (SOUSA et al., 2015). A sociedade ainda trata com descaso os problemas
relacionados ao lixo, tanto no que diz respeito ao seu destino, quanto em relação as pessoas
que trabalham neste meio (CEMIM, 2014).

Os coletores de resíduos estão em contato direto com agentes nocivos à saúde, desempenham
suas tarefas em ritmo acelerado e, quase sempre, em vias de tráfego intenso, o que faz seu
trabalho ser considerado um dos mais arriscados e insalubres que existem (NEVES, 2003).

Dados do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho da Previdência Social mostram que,


só para o ano de 2015, foram registrados cerca de 6.094 acidentes envolvendo a atividade de
coleta de resíduos e foram registradas cerca de 98 ocorrências de doenças ocupacionais
relacionadas aos profissionais que realizam estas atividades (BRASIL, 2015).

Autores como Lazzari e Reis (2011); Coelho (2012); Dias et al. (2015); Deud (2015); Abreu
et al. (2016) apontam em seus estudos a ocorrência destes acidentes e doenças ocupacionais
envolvendo a atividade de coleta de resíduos, entre eles, a exposição à poeira, substâncias
químicas tóxicas, calor, ruídos, levantamento de peso em excesso, esforço físico da corrida,
atropelamento, quedas e cortes.

Dada a relevância desta atividade para a sociedade e a alta incidência de fatores de riscos aos
quais os trabalhadores estão expostos, tem-se como objetivo desse estudo analisar os riscos

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identificados na atividade de coletores de lixo urbano da cidade de João Pessoa - PB, através
da aplicação de uma Análise Preliminar de Risco (APR).

Será utilizada essa ferramenta, a fim de determinar o potencial danoso dos riscos encontrados
na situação de trabalho, visto que é comprovada na literatura sua eficácia para gerenciar
riscos, em vários estudos (SHINZATO et al., 2010; CARNEIRO, 2011; GARCIA et al.,
2013; SOUZA; JERÔNIMO, 2014; MAIA, 2014).

2. Materiais e métodos

2.1. Análise preliminar de risco

De acordo com Garcia et al. (2013) e Mattos e Másculo (2011), citados por Lima et al.
(2016), o risco é entendido como a probabilidade de ocorrência de eventos indesejados que
possam causar danos ao processo ou à saúde do trabalhador e o perigo é entendido como um
conjunto de eventos que possui capacidade de provocar danos às pessoas e processos.

Mattos e Másculo (2011) descrevem os riscos como físicos, químicos, biológicos, mecânicos
e ergonômicos, os quais podem ser avaliados qualitativamente através da Análise Preliminar
do Risco (APR).

Lima et al. (2016) aponta que a Análise Preliminar de Risco (APR) é uma ferramenta que
auxilia no processo de gerenciamento dos riscos em situações de trabalho e que pode ser
aplicada no momento da concepção, mas também durante inspeções de segurança para
identificar e quantificar novos riscos de acidentes.

De acordo com Maia (2014), o método consiste na análise de perigos e riscos através da
identificação de acontecimentos inseguros, causas e consequências (Tabela 1), para, assim,
determinar meios de controle.

Os riscos e perigos identificados são classificados em termos da probabilidade de ocorrência e


da gravidade de suas consequências (Figura 1), esta classificação resulta em uma classe de
risco que varia do 1 ao 5, entende-se que quanto maior o índice, maior a necessidade de
estabelecer medidas de controle para reduzir ou eliminar as situações perigosas às quais o
trabalhador está exposto. (SHINZATO et al., 2010; BARBOSA FILHO, 2011; MATTOS;
MÁSCULO, 2011; CARNEIRO, 2011; GARCIA et al., 2013).

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Tabela 1 – Modelo de formulário para APR

Análise Preliminar do Risco

Identificação Avaliação

Riscos Danos P G Risco

Fonte: Adaptado pelos autores (Mattos e Másculo, 2011)

Ao preencher o formulário (Tabela 1) deve-se identificar, na primeira coluna, quais os riscos


relacionados à atividade e, na segunda coluna, quais as consequências da exposição a estes
agentes.

A avaliação deve-se dar de acordo com a seguinte escala:

- Gravidade:

- Baixa (B) – quando podem ocorrer apenas danos materiais e prejuízo ao


processo;

- Média (M) – quando podem ocorrer doenças ocupacionais e lesões menores;

- Alta (A) – quando podem ocorrer mortes e lesões incapacitantes;

- Probabilidade:

- Baixa (B) – quando é improvável que aconteça;

- Média (M) – quando é provável que aconteça;

- Alta (A) - quando espera-se que aconteça.

Figura 1 - Escala para avaliação de riscos

Fonte: Adaptado pelos autores (Mattos e Másculo, 2011)

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2.2 Metodologia da pesquisa

O presente estudo, foi realizado a partir da observação das condições de trabalho de coletores
de lixo urbano da cidade de João Pessoa, Paraíba, a fim de identificar os fatores de riscos aos
quais estes estão expostos na execução de suas atividades. Além disso, foi realizada uma
entrevista informal com um dos funcionários, onde o tema foi discutido e os autores puderam
ouvir a opinião do trabalhador em relação às condições de saúde e segurança no ambiente de
trabalho.

O trabalhador em questão é o responsável pelas atividades de coleta domiciliar de resíduos,


transporte para a máquina compressora e depósito no aterro sanitário. Foram observados
grupos de trabalho que atuam em diferentes regiões da cidade no período diurno (7h às 15h),
mas a atividade também é desempenhada a noite (19h às 3h) em algumas localidades.

Para avaliar os riscos, foi utilizado o modelo de Análise Preliminar de Risco (APR) descrito
em Mattos e Másculo (2011) e a análise dos dados foi realizada de acordo com as instruções
da APR.

3. Caracterização da empresa

Na cidade de João Pessoa, Paraíba, uma empresa privada contratada pela prefeitura do
município é responsável por realizar os serviços de limpeza urbana, tratamento de resíduos de
saúde, estação de transferência de resíduos e operação de aterros sanitários.

Os profissionais que atuam nesta função, em geral, são jovens, do sexo masculino e
apresentam baixo nível de escolaridade. Estes possuem carteira assinada e recebem vale-
alimentação, vale-transporte e um adicional de 40% em seu salário, como previsto na Norma
Regulamentadora (NR) nº 15, pois a atividade possui grau máximo de insalubridade.
(BRASIL, 2014)

A equipe de trabalho é formada por 250 coletores e estes se dividem em grupos que atuam em
todos os bairros da cidade de forma alternada. O turno de trabalho depende do bairro em que
será realizada a coleta, podendo ser realizado pela manhã (7h às 15h) ou à noite (19h às 3h).
O horário de alimentação dura uma hora e é realizado durante o trecho de descarregamento de

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resíduos no aterro, já os horários de descanso não são controlados, mas duram, geralmente,
em torno de cinco minutos.

De acordo com a NR-4, a atividade analisada possui Grau de Risco 3, pois se enquadra no
código 38 com a denominação de coleta, tratamento e disposição de resíduos. (BRASIL,
2016)

4. Análise dos dados

Durante a visita técnica à empresa e após a observação do desenvolvimento do trabalho,


atentando para o processo de recolhimento de resíduos, foram identificados riscos físicos,
químicos, biológicos, de acidentes, ergonômicos e organizacionais, sendo estes:

4.1. Riscos Físicos

O trabalhador, durante o processo de gerenciamento de resíduos, mantém contato direto com


o odor proveniente do lixo que pode causar mal-estar, enxaquecas e náuseas. Abreu et al.
(2016) apontou este problema como uma das principais queixas realizadas por trabalhadores
da área. A exposição aos ruídos é proveniente da máquina de coleta e pelo tráfego intenso.
Quando em excesso, podem provocar a perda parcial ou permanente da audição, dores de
cabeça, tensão nervosa, estresse e hipertensão arterial. Pinho e Neves (2010) destacaram em
seu trabalho a relevância do fator ruído na relação de riscos aos quais estes trabalhadores
estão vulneráveis. A exposição ao sol sem uso de protetor solar pode gerar doenças
relacionadas a pele, como câncer e queimaduras. A exposição /à chuva pode causar resfriados,
gripes, crises alérgicas, etc. A vibração constante da máquina de coleta pode provocar dores
na coluna, estresse e a doença dos dedos brancos (Síndrome de Raynaud).

4.2. Riscos químicos

Resíduos químicos podem ser encontrados entre os materiais de descarte que são manuseados
pelo funcionário. Tais resíduos podem ter efeitos danosos à saúde humana e o meio ambiente,
pois possuem em sua composição substâncias tóxicas como o chumbo, sílica, mercúrio e
cádmio, presentes em pilhas, baterias, óleos, pesticidas, solventes, tintas, produtos de limpeza,
aerossóis, dentre outros. Doenças como câncer, distúrbios no sistema nervoso, mutações
genicas e intoxicações são provenientes da exposição regular a estes compostos químicos. A

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poeira também é considerada um agente químico, pois provoca desconforto e pode causar
perda momentânea da visão e problemas respiratórios e pulmonares. (DEUD, 2015)

4.3. Riscos biológicos

Lazzari e Reis (2011) focaram seu estudo na influência dos agentes biológicos presentes na
situação de trabalho estudada e apontaram, entre outras coisas, os microrganismos
patogênicos presentes em materiais biológicos (fezes, urina e sangue), absorventes,
camisinhas, curativos, seringas descartáveis e fraldas provenientes de resíduos residenciais.
Outro risco biológico se dá pela atratividade de animais peçonhentos e perigosos nos entulhos
como ratos, cobras e escorpiões, além da, muito comuns, mordidas de animais de rua, a
exemplo dos cachorros. O contato com tais agentes nocivos gera a transmissão de doenças
como HIV, leptospirose, leishmaniose, hepatite, lesões crônicas e alergias.

4.4. Riscos de acidentes

Medeiros (2014) aponta que os acidentes mais comuns, entre os trabalhadores da limpeza
urbana que manuseiam diretamente resíduos sólidos, são cortes com materiais perfurantes e
cortantes, devido à falta de conscientização da população em separar estes materiais dos
resíduos comuns, apresentados à coleta domiciliar. Além disso, existe ainda o risco de queda
do veículo, esmagamento, atropelamentos e prensagem de membros nas máquinas de
compactação. Tais agentes provocam lesões agudas e imediatas como cortes, fraturas,
perfurações e perdas de membros.

4.5. Riscos ergonômicos

Em seu estudo, Medeiros (2014), constatou que 90% dos coletores entrevistados relataram
dores nas pernas, joelhos e braços e relacionavam essas queixas ao volume de carga diária e a
distância percorrida na cidade.

No seu dia a dia, os coletores percorrem quilômetros a pé, tendo que subir e saltar do
caminhão várias vezes ao dia, por vezes tendo de correr, subir e descer ladeiras em ruas de
asfalto precário, ou seja, a atividade de coleta tem como característica intrínseca a
movimentação corpórea excessiva com levantamento de peso o que pode provocar a adoção
de posturas forçadas e inadequadas na realização da atividade de coleta.

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A reincidência de tais ações gera problemas como hérnia de disco, lombalgia, escoliose,
artrose, lordose, desconforto, estresse e diminuição da capacidade de produção.

4.6. Riscos organizacionais

São provocados pelas jornadas noturnas e turnos de trabalho com ritmo intensificado para
alcançar as metas diárias da empresa. Foi relatado pela empresa que os coletores que
trabalham no turno da noite normalmente só encerram suas atividades após a coleta de todo o
lixo programado para determinado dia. Tal gestão e organização do trabalho pode gerar
prejuízos ao ciclo circadiano, estresse, fadiga e diminuição da capacidade de produção e
percepção. (COELHO, 2012)

Com relação aos riscos ocupacionais desencadeados pela realização da atividade de coleta de
resíduos, as micoses nas mãos e pés são comuns, pois as luvas e botas possuem condições
favoráveis para a proliferação de micro-organismos.

Na entrevista realizada com o funcionário foi relatado principalmente o incômodo pela grande
exposição ao sol, ao calor e pelas dores esporádicas nos braços e coluna. Segundo o
trabalhador, a inalação do odor provocou mal-estar apenas nos primeiros contatos com a
atividade, tendo se acostumado com o mau cheiro. Particularmente, não houveram casos de
acidentes com lesão imediata como cortes, perfurações e fraturas. Porém, a empresa possui
um relato de óbito por atropelamento que ocorreu no ano de 2016.

5. Resultados

5.1. Análise preliminar dos riscos

A Análise Preliminar de Risco (APR) realizada com os riscos identificados nas condições de
trabalho do coletor de resíduos urbanos estão descritas na Tabela 2 abaixo:

Tabela 2 - APR da atividade de coletor de resíduos urbanos

Análise Preliminar do Risco

Identificação Avaliação

Riscos Danos P G Risco

Odor forte proveniente do lixo Mal-estar, cefaléia, enxaqueca e náusea A B 3

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Cefaléia, tensão nervosa, estresse e hipertensão


Ruídos proveniente da máquina de
arterial até a possível perda parcial ou permanente A B 3
coleta e pelo tráfego intenso
da audição

Calor elevado provocado pela Doenças relacionadas a pele, como câncer e


A M 5
exposição ao sol queimaduras

Frio elevado pela exposição a


Resfriados, gripes, crises alérgicas M B 2
chuva

Dores na coluna, estresse e a doença dos dedos


Vibração proveniente do veículo A M 5
brancos

Câncer, distúrbios no sistema nervoso, mutações


Contato com resíduos químicos M A 5
gênicas e intoxicação

Alergias, desconforto, perda momentânea da visão,


Poeira A B 3
problemas respiratórios e pulmonares.

Transmissão de doenças infectocontagiosas como


Contato com materiais biológicos M A 5
HIV e hepatite, pode ocasionar alergias.

Alergias, lesões crônicas e transmissão de doenças


Contato com animais M A 5
como leishmaniose e leptospirose

Cortes com materiais


A A 5
perfurocortantes
Lesões agudas e imediatas como cortes, fraturas,
Queda do veiculo, atropelamento B A 3
perfurações e perdas de membros
Esmagamento e prensagem de
B A 3
membros

Movimentação corpórea excessiva A M 5


Hérnia de disco, lombalgia, escoliose, artrose,
Levantamento de peso A M 5
lordose, desconforto, estresse e diminuição da
Adoção de posturas forçadas e capacidade de produção
A M 5
inadequadas

Estresse, fadiga e diminuição da capacidade de


Ritmo intensificado de trabalho A M 5
produção e percepção

Trabalho noturno Prejuízos ao ciclo circadiano B M 2

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Inadequação dos EPI's Micoses nas mãos e pés A B 3

Fonte: Elaborado pelos autores (2017)

5.2. Medidas de controle e/ou redução dos riscos

Através da realização da APR, foi possível identificar dez riscos que se enquadram na classe
crítica e exigem medidas de controles emergenciais, o que confirma a ideia supracitada de que
este é um dos trabalhos mais arriscados e insalubres que existem.

Foram observadas algumas práticas adotadas pela empresa que visam assegurar a saúde do
trabalhador e diminuir a exposição aos riscos que foram identificados. Como previsto pelas
Normas Regulamentadoras N°9 e N°7, é realizado o reconhecimento, avaliação e consequente
controle da ocorrência de riscos ambientais e doenças ocupacionais, que são coordenados por
uma médica do trabalho contratada pela empresa. O controle da saúde dos trabalhadores se dá
por meio de exames admissionais, demissionais, de mudança de posto, de retorno e
periódicos. (BRASIL, 2016; BRASIL, 2014)

Conforme determina a NR-5, a empresa estudada possui uma CIPA (Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes), composta por 14 funcionários que tem a função de detecção e
controle de riscos, tendo como evidências de atuação a sugestão de reformas na empresa para
melhoria nas condições de trabalho e a frequente convocação de reuniões para discutir
mudanças no processo e ambiente de trabalho. (BRASIL, 2011)

São fornecidos Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) como botas, luvas, uniforme,
boné, protetor solar e colete refletivo e existe a fiscalização do uso destes EPI’s pelos
trabalhadores no ambiente de trabalho, sendo punido aquele que infringir as normas. Essa
medida reduz o contato dos trabalhadores com resíduos químicos, materiais biológicos e os
cortes com materiais perfurocortantes.

No entanto, a NR-6, recomenda equipamentos além dos que são oferecidos pela empresa
como capacetes, óculos, botas antiderrapantes, protetores auditivos, respirador purificador de
ar, cremes protetores. (BRASIL, 2015)

Já a NR-26, visa a prevenção de acidentes a partir da sinalização do ambiente de trabalho para


delimitação de áreas, uso de frases de precaução, atenção, além da exigência de treinamentos

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dos trabalhadores para compreensão de rótulos de produtos com composição química e riscos
provenientes do contato direto. (BRASIL, 2015)

A empresa relatou que existe o treinamento formal, após a admissão de um novo funcionário,
porém os trabalhadores ainda estão sujeitos a coletar resíduos não domiciliares, como
hospitalares, industriais e tóxicos. Ainda que tais resíduos devam ser recolhidos por empresas
especializadas.

A NR-15, que trata de atividades e operações de insalubridade, determina os limites máximos


de intensidade de vibrações, ruído, além da adoção de sistemas amortecedores e máquinas
com silenciadores; exposição ao calor, vibrações e limites de concentrações. No caso dos
agentes químicos e biológicos, é exigido além do uso de EPI’s a frequente limpeza do local de
trabalho. A fim de evitar o aparecimento de animais como ratos, cobras e baratas. A empresa
estudada realiza a limpeza das máquinas de coleta aos domingos. (BRASIL, 2014)

Já a NR-17, que se refere à ergonomia, não admite o transporte manual de cargas, cujo peso
seja suscetível de comprometer a saúde e segurança do trabalhador e determina ainda, que os
funcionários devem receber treinamento ou instruções satisfatórias, quanto aos métodos de
trabalho e posturas que deverão utilizar. Sendo assim, os coletores de resíduos necessitam de
pausas regulares, motivadas pelo constante levantamento de peso e movimentação excessiva.
(BRASIL, 2007)

Os trabalhos realizados a céu aberto, abordados na NR-21, exigem a existência de abrigos


para proteger os trabalhadores, no momento de descanso, contra a insolação e calor
excessivos. No caso da função estudada, o trabalho é realizado ao longo dos trechos de coleta
e os abrigos se restringem aos locais com sombras geradas por árvores e construções.
(BRASIL, 1999)

6. Considerações finais

O estudo realizado permitiu um aprofundamento nos conhecimentos sobre os riscos que os


trabalhadores de coleta urbana estão expostos, durante a realização de suas atividades e os
autores entendem que toda iniciativa de estudo ou de proposição de melhorias para essas

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condições de trabalho é de grande valia, visto que, no geral, esta é uma profissão pouco
valorizada pela sociedade.

Embora tenham sido observadas na empresa a adoção de práticas que visam a prevenção da
saúde e integridade dos coletores de resíduos, é indispensável o envolvimento da prefeitura e
da população para a preservação da saúde e segurança destes trabalhadores.

É de responsabilidade da prefeitura a elaboração de leis que exijam a padronização de lixeiras,


para que os resíduos não permaneçam nas ruas e sejam foco para a proliferação de animais e
doenças, assim como deve ser atribuída aos moradores a responsabilidade de separar o lixo
para a coleta. A adoção de medidas simples, como campanhas educativas direcionadas à
população, podem ter grande impacto na diminuição dos riscos analisados neste trabalho.

Quanto à mão de obra, sugere-se o reforço das orientações em relação ao uso dos EPI’s e a
intensificação de treinamentos internos referentes à operação, a fim de evitar problemas
ergonômicos causados por esforços repetitivos, levantamento de peso e posturas incorretas.

Conclui-se que, para promover e manter a saúde desses trabalhadores deve-se buscar sempre
identificar e controlar os fatores de risco envolvidos na profissão, a fim de permitir a
execução de uma atividade que exija esforços físicos e mentais toleráveis.

REFERÊNCIAS

ABREU, L. D. P.; MAGALHÃES, A. H. R.; GUIMARÃES, R. X.; MENDONÇA, G. M. M.; ABREU, F. E. P.


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Sobral/CE. Destaques Acadêmicos, Lajeado, v. 8, n. 3, p. 204-223, 2016.

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2011.

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2015. Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/wp-content/uploads/2015/08/AEPS-2015-FINAL.pdf>
Acesso em 05 mai. 2017.

BRASIL. Normas Regulamentadoras – NR. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2015. Disponível em: <
http://trabalho.gov.br/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras >
Acesso em 30 out. de 2015.

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XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens

avançadas de produção”

Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.

PINHO, L. M.; NEVES, E. B. Acidentes de Trabalho em uma Empresa de Coleta de Lixo Urbano. Cad. Saúde
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SHINZATO, Marjolly Priscilla et al. Análise preliminar de riscos sobre o gerenciamento de resíduos de serviços
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SOUSA, et al. ESTRESSE OCUPACIONAL E QUALIDADE DE VIDA DE PROFISSIONAIS DA LIMPEZA


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SOUZA, G. G. P.; JERÔNIMO, C. E. M. Análise Preliminar de Riscos Ambientais para Atividades


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