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“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
avançadas de produção”
1. Introdução
Entretanto, tem-se que a higiene é uma necessidade humana, mas, para ser atendida conforme
as expectativas, depende essencialmente do trabalho dos coletores de resíduos, popularmente
conhecidos como “lixeiros” ou “garis”.
Mesmo com a clara importância que estes trabalhadores têm, a profissão é desvalorizada
pelos cidadãos (SOUSA et al., 2015). A sociedade ainda trata com descaso os problemas
relacionados ao lixo, tanto no que diz respeito ao seu destino, quanto em relação as pessoas
que trabalham neste meio (CEMIM, 2014).
Os coletores de resíduos estão em contato direto com agentes nocivos à saúde, desempenham
suas tarefas em ritmo acelerado e, quase sempre, em vias de tráfego intenso, o que faz seu
trabalho ser considerado um dos mais arriscados e insalubres que existem (NEVES, 2003).
Autores como Lazzari e Reis (2011); Coelho (2012); Dias et al. (2015); Deud (2015); Abreu
et al. (2016) apontam em seus estudos a ocorrência destes acidentes e doenças ocupacionais
envolvendo a atividade de coleta de resíduos, entre eles, a exposição à poeira, substâncias
químicas tóxicas, calor, ruídos, levantamento de peso em excesso, esforço físico da corrida,
atropelamento, quedas e cortes.
Dada a relevância desta atividade para a sociedade e a alta incidência de fatores de riscos aos
quais os trabalhadores estão expostos, tem-se como objetivo desse estudo analisar os riscos
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identificados na atividade de coletores de lixo urbano da cidade de João Pessoa - PB, através
da aplicação de uma Análise Preliminar de Risco (APR).
Será utilizada essa ferramenta, a fim de determinar o potencial danoso dos riscos encontrados
na situação de trabalho, visto que é comprovada na literatura sua eficácia para gerenciar
riscos, em vários estudos (SHINZATO et al., 2010; CARNEIRO, 2011; GARCIA et al.,
2013; SOUZA; JERÔNIMO, 2014; MAIA, 2014).
2. Materiais e métodos
De acordo com Garcia et al. (2013) e Mattos e Másculo (2011), citados por Lima et al.
(2016), o risco é entendido como a probabilidade de ocorrência de eventos indesejados que
possam causar danos ao processo ou à saúde do trabalhador e o perigo é entendido como um
conjunto de eventos que possui capacidade de provocar danos às pessoas e processos.
Mattos e Másculo (2011) descrevem os riscos como físicos, químicos, biológicos, mecânicos
e ergonômicos, os quais podem ser avaliados qualitativamente através da Análise Preliminar
do Risco (APR).
Lima et al. (2016) aponta que a Análise Preliminar de Risco (APR) é uma ferramenta que
auxilia no processo de gerenciamento dos riscos em situações de trabalho e que pode ser
aplicada no momento da concepção, mas também durante inspeções de segurança para
identificar e quantificar novos riscos de acidentes.
De acordo com Maia (2014), o método consiste na análise de perigos e riscos através da
identificação de acontecimentos inseguros, causas e consequências (Tabela 1), para, assim,
determinar meios de controle.
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Identificação Avaliação
- Gravidade:
- Probabilidade:
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O presente estudo, foi realizado a partir da observação das condições de trabalho de coletores
de lixo urbano da cidade de João Pessoa, Paraíba, a fim de identificar os fatores de riscos aos
quais estes estão expostos na execução de suas atividades. Além disso, foi realizada uma
entrevista informal com um dos funcionários, onde o tema foi discutido e os autores puderam
ouvir a opinião do trabalhador em relação às condições de saúde e segurança no ambiente de
trabalho.
Para avaliar os riscos, foi utilizado o modelo de Análise Preliminar de Risco (APR) descrito
em Mattos e Másculo (2011) e a análise dos dados foi realizada de acordo com as instruções
da APR.
3. Caracterização da empresa
Na cidade de João Pessoa, Paraíba, uma empresa privada contratada pela prefeitura do
município é responsável por realizar os serviços de limpeza urbana, tratamento de resíduos de
saúde, estação de transferência de resíduos e operação de aterros sanitários.
Os profissionais que atuam nesta função, em geral, são jovens, do sexo masculino e
apresentam baixo nível de escolaridade. Estes possuem carteira assinada e recebem vale-
alimentação, vale-transporte e um adicional de 40% em seu salário, como previsto na Norma
Regulamentadora (NR) nº 15, pois a atividade possui grau máximo de insalubridade.
(BRASIL, 2014)
A equipe de trabalho é formada por 250 coletores e estes se dividem em grupos que atuam em
todos os bairros da cidade de forma alternada. O turno de trabalho depende do bairro em que
será realizada a coleta, podendo ser realizado pela manhã (7h às 15h) ou à noite (19h às 3h).
O horário de alimentação dura uma hora e é realizado durante o trecho de descarregamento de
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resíduos no aterro, já os horários de descanso não são controlados, mas duram, geralmente,
em torno de cinco minutos.
De acordo com a NR-4, a atividade analisada possui Grau de Risco 3, pois se enquadra no
código 38 com a denominação de coleta, tratamento e disposição de resíduos. (BRASIL,
2016)
Resíduos químicos podem ser encontrados entre os materiais de descarte que são manuseados
pelo funcionário. Tais resíduos podem ter efeitos danosos à saúde humana e o meio ambiente,
pois possuem em sua composição substâncias tóxicas como o chumbo, sílica, mercúrio e
cádmio, presentes em pilhas, baterias, óleos, pesticidas, solventes, tintas, produtos de limpeza,
aerossóis, dentre outros. Doenças como câncer, distúrbios no sistema nervoso, mutações
genicas e intoxicações são provenientes da exposição regular a estes compostos químicos. A
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poeira também é considerada um agente químico, pois provoca desconforto e pode causar
perda momentânea da visão e problemas respiratórios e pulmonares. (DEUD, 2015)
Lazzari e Reis (2011) focaram seu estudo na influência dos agentes biológicos presentes na
situação de trabalho estudada e apontaram, entre outras coisas, os microrganismos
patogênicos presentes em materiais biológicos (fezes, urina e sangue), absorventes,
camisinhas, curativos, seringas descartáveis e fraldas provenientes de resíduos residenciais.
Outro risco biológico se dá pela atratividade de animais peçonhentos e perigosos nos entulhos
como ratos, cobras e escorpiões, além da, muito comuns, mordidas de animais de rua, a
exemplo dos cachorros. O contato com tais agentes nocivos gera a transmissão de doenças
como HIV, leptospirose, leishmaniose, hepatite, lesões crônicas e alergias.
Medeiros (2014) aponta que os acidentes mais comuns, entre os trabalhadores da limpeza
urbana que manuseiam diretamente resíduos sólidos, são cortes com materiais perfurantes e
cortantes, devido à falta de conscientização da população em separar estes materiais dos
resíduos comuns, apresentados à coleta domiciliar. Além disso, existe ainda o risco de queda
do veículo, esmagamento, atropelamentos e prensagem de membros nas máquinas de
compactação. Tais agentes provocam lesões agudas e imediatas como cortes, fraturas,
perfurações e perdas de membros.
Em seu estudo, Medeiros (2014), constatou que 90% dos coletores entrevistados relataram
dores nas pernas, joelhos e braços e relacionavam essas queixas ao volume de carga diária e a
distância percorrida na cidade.
No seu dia a dia, os coletores percorrem quilômetros a pé, tendo que subir e saltar do
caminhão várias vezes ao dia, por vezes tendo de correr, subir e descer ladeiras em ruas de
asfalto precário, ou seja, a atividade de coleta tem como característica intrínseca a
movimentação corpórea excessiva com levantamento de peso o que pode provocar a adoção
de posturas forçadas e inadequadas na realização da atividade de coleta.
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A reincidência de tais ações gera problemas como hérnia de disco, lombalgia, escoliose,
artrose, lordose, desconforto, estresse e diminuição da capacidade de produção.
São provocados pelas jornadas noturnas e turnos de trabalho com ritmo intensificado para
alcançar as metas diárias da empresa. Foi relatado pela empresa que os coletores que
trabalham no turno da noite normalmente só encerram suas atividades após a coleta de todo o
lixo programado para determinado dia. Tal gestão e organização do trabalho pode gerar
prejuízos ao ciclo circadiano, estresse, fadiga e diminuição da capacidade de produção e
percepção. (COELHO, 2012)
Com relação aos riscos ocupacionais desencadeados pela realização da atividade de coleta de
resíduos, as micoses nas mãos e pés são comuns, pois as luvas e botas possuem condições
favoráveis para a proliferação de micro-organismos.
Na entrevista realizada com o funcionário foi relatado principalmente o incômodo pela grande
exposição ao sol, ao calor e pelas dores esporádicas nos braços e coluna. Segundo o
trabalhador, a inalação do odor provocou mal-estar apenas nos primeiros contatos com a
atividade, tendo se acostumado com o mau cheiro. Particularmente, não houveram casos de
acidentes com lesão imediata como cortes, perfurações e fraturas. Porém, a empresa possui
um relato de óbito por atropelamento que ocorreu no ano de 2016.
5. Resultados
A Análise Preliminar de Risco (APR) realizada com os riscos identificados nas condições de
trabalho do coletor de resíduos urbanos estão descritas na Tabela 2 abaixo:
Identificação Avaliação
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Através da realização da APR, foi possível identificar dez riscos que se enquadram na classe
crítica e exigem medidas de controles emergenciais, o que confirma a ideia supracitada de que
este é um dos trabalhos mais arriscados e insalubres que existem.
Foram observadas algumas práticas adotadas pela empresa que visam assegurar a saúde do
trabalhador e diminuir a exposição aos riscos que foram identificados. Como previsto pelas
Normas Regulamentadoras N°9 e N°7, é realizado o reconhecimento, avaliação e consequente
controle da ocorrência de riscos ambientais e doenças ocupacionais, que são coordenados por
uma médica do trabalho contratada pela empresa. O controle da saúde dos trabalhadores se dá
por meio de exames admissionais, demissionais, de mudança de posto, de retorno e
periódicos. (BRASIL, 2016; BRASIL, 2014)
Conforme determina a NR-5, a empresa estudada possui uma CIPA (Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes), composta por 14 funcionários que tem a função de detecção e
controle de riscos, tendo como evidências de atuação a sugestão de reformas na empresa para
melhoria nas condições de trabalho e a frequente convocação de reuniões para discutir
mudanças no processo e ambiente de trabalho. (BRASIL, 2011)
São fornecidos Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) como botas, luvas, uniforme,
boné, protetor solar e colete refletivo e existe a fiscalização do uso destes EPI’s pelos
trabalhadores no ambiente de trabalho, sendo punido aquele que infringir as normas. Essa
medida reduz o contato dos trabalhadores com resíduos químicos, materiais biológicos e os
cortes com materiais perfurocortantes.
No entanto, a NR-6, recomenda equipamentos além dos que são oferecidos pela empresa
como capacetes, óculos, botas antiderrapantes, protetores auditivos, respirador purificador de
ar, cremes protetores. (BRASIL, 2015)
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dos trabalhadores para compreensão de rótulos de produtos com composição química e riscos
provenientes do contato direto. (BRASIL, 2015)
A empresa relatou que existe o treinamento formal, após a admissão de um novo funcionário,
porém os trabalhadores ainda estão sujeitos a coletar resíduos não domiciliares, como
hospitalares, industriais e tóxicos. Ainda que tais resíduos devam ser recolhidos por empresas
especializadas.
Já a NR-17, que se refere à ergonomia, não admite o transporte manual de cargas, cujo peso
seja suscetível de comprometer a saúde e segurança do trabalhador e determina ainda, que os
funcionários devem receber treinamento ou instruções satisfatórias, quanto aos métodos de
trabalho e posturas que deverão utilizar. Sendo assim, os coletores de resíduos necessitam de
pausas regulares, motivadas pelo constante levantamento de peso e movimentação excessiva.
(BRASIL, 2007)
6. Considerações finais
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condições de trabalho é de grande valia, visto que, no geral, esta é uma profissão pouco
valorizada pela sociedade.
Embora tenham sido observadas na empresa a adoção de práticas que visam a prevenção da
saúde e integridade dos coletores de resíduos, é indispensável o envolvimento da prefeitura e
da população para a preservação da saúde e segurança destes trabalhadores.
Quanto à mão de obra, sugere-se o reforço das orientações em relação ao uso dos EPI’s e a
intensificação de treinamentos internos referentes à operação, a fim de evitar problemas
ergonômicos causados por esforços repetitivos, levantamento de peso e posturas incorretas.
Conclui-se que, para promover e manter a saúde desses trabalhadores deve-se buscar sempre
identificar e controlar os fatores de risco envolvidos na profissão, a fim de permitir a
execução de uma atividade que exija esforços físicos e mentais toleráveis.
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