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EM PRÁTICAS
FUNERÁRIAS NO OESTE
AFRICANO (SÉCULOS
16 -17)*
DOSSIÊ
VANICLÉIA SILVA SANTOS**, ROBERTH DAYLON***
DOI 10.18224/hab.v21i2.13628
ricos em que aconteciam os ritos funerários, bem como os materiais que os mortos levavam
consigo para o outro mundo. Esta análise do rito e das práticas de sepultamento permite
compreender uma série de articulações de cunho político, econômico, social e cultural das
realidades locais. As práticas cerimoniais na região de Cacheu e em Serra Leoa eram
diferentes. Apesar disso, argumentamos que, nas duas regiões, os sepultamentos estavam
no centro das relações de sociabilidades entre vivos e ancestrais, bem como entre pessoas
do mesmo grupo.
Figura 1. Vilas e Povos desde o Rio Cacheu até a Serra Leoa, indicando povos, vilas e rios mencionados
neste texto. Séculos 16-17
Fonte: mapa dos autores.
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FONTES E METODOLOGIA
PRESENTES E PÓS-VIDA
Interrogatório do Morto
rogatório era a primeira etapa após o falecimento, pois as doenças e a morte na região de
Cacheu não eram vistas como algo natural, mas desejadas por alguém que tinha inveja
do sucesso de outrem. Os jambacousses eram sacerdotes que tinham papel central na
comunidade por causa dos excepcionais poderes de se comunicar com os espíritos/di-
vindades, interpretar as mensagens dos espíritos e transmiti-las às pessoas. Além disso,
os jambacousses desempenhavam funções como curandeiros, tomavam parte nas audi-
ências jurídicas da comunidade, realizavam cerimônias de iniciação, o “choro” (funeral),
faziam oferendas para os espíritos, conduziam adivinhação para descobrir a autoria de
furtos e achar coisas perdidas, e, por fim, identificar, expor e punir os causadores de
malefícios e mortes. Como a doença e a morte eram causadas por desordem intencio-
nal, isto é, provocadas por um ser humano, o jambacousse podia descobrir quem eram
os “comedores de alma” e, em alguns casos, podiam providenciar a cura daqueles afe-
tados por tais malfeitores. Pessoas também contratavam os jambacousses para mobilizar
os espíritos para alcançar benefícios pessoais, tais como conquistar um companheiro
ou uma companheira, manter as relações estáveis, obter riquezas, manter-se protegido
de comedores de alma e etc. Eles também evocavam os espíritos também nos funerais,
para descobrir quem causou intencionalmente a morte da outra pessoa.
Em 1594, André Almada, registrou uma cerimônia de inquirição de um ho-
mem da elite do povo Cassanga que faleceu para descobrir quem o matou. Neste caso,
um grupo de homens, andava nas ruas furiosos, carregando o caixão sobre os ombros, de
um lado para o outro. Em seguida, se dirigiam às casas dos suspeitos/as para que o morto
indicasse quem “comeu a alma”. O jambacousse liderava o interrogatório do morto.
(...) quando morre alguém, antes de o enterrarem, depois de posto em uns paus que servem
de tumba, cobertos com panos negros, em ombros de negros, andam estes com o morto esca-
ramuçando de uma parte para a outra, ao som de muitos instrumentos de atambores, trom-
betas de marfim e buzinas. (...). E há outros negros, a que chamam Jabacoses, que falam
com o morto e lhe faz [em] pergunta que diga quem o matou (ALMADA, 1594, p. 294). 458
O mesmo tipo de interrogatório do morto ocorria entre o povo Banhun. As-
sim que a pessoa falecia, dava-se início à interrogação dela para identificar quem “co-
meu a alma”. Quatro pessoas carregavam no esquife o morto enrolado no pano em que
este faleceu e as pessoas o interrogavam sobre a identificação da casa onde morava a
pessoa suspeita de ter provocado o óbito. Finalizava-se a interpelação quando o morto
pendia em seu caixão para o lado da casa da pessoa culpada: “correm nos terreiros de
uma parte para outra, e para onde os oficiais do diabo declinam, ali dizem eles o vendo
falsamente que o comeram.” (ÁLVARES, 1616, p. 29). Neste excerto do padre jesuíta
Manuel Álvares, que chegou à Guiné no início do século 17, ele lançou um olhar de-
preciativo e demonizador sobre os costumes locais.
Em relação à Serra Leoa, não há descrições da inquirição do morto durante os
sepultamentos, contudo, também havia a prática de culpabilizar “comedores de alma”.
No início do século 17, acusaram uma mulher de dois graves infortúnios: “comer a
alma” de uma jovem e impedir navios de chegarem nos portos locais. Assim, ela foi
assassinada, mas a documentação não esclarece a circunstância do julgamento (ÁL-
VARES, 1990 [1615], v2, c 5, p. 11). Na região, os “comedores de alma” e assassinos
tinham execuções cerimoniais (FERNANDES, 1958 [1506], p. 734). Isso mostra que
os povos da Serra Leoa estavam engajados em descobrir e punir comedores de alma e
Comunicação da Morte
A outra etapa do funeral era a ampla comunicação da morte por meio de tam-
bores para garantir a presença dos parentes do morto e de pessoas com quem ele esteve
ou não relacionado em vida. A comunicação da morte ia além do local onde o falecido
morava, atingindo as localidades vizinhas. Manuel Álvares afirmou que “quando al-
guém morria, moradores imediatamente mandavam as notícias da cidade onde a pessoa
morreu para todas as cidades onde seus parentes podiam ser encontrados” (ÁLVARES,
1990 [1615], v. 2, c. 8, p. 5). Assim, o falecimento de alguém iniciava uma série de mo-
bilizações logísticas para avisar sobre o sepultamento à rede de sociabilidade da família.
Para facilitar o processo de comunicação entre lugares distantes na região entre
os rios Cacheu e a Serra Leoa utilizava-se os bombalos, grandes tambores de madeira que
funcionavam a partir de um esquema de código e repetição. Ao receber a mensagem,
os tocadores de tambor a replicavam em seus próprios instrumentos para ampliar seu
alcance. As mensagens poderiam ser sobre a fuga de uma pessoa escravizada, a chegada
de navios estrangeiros na costa, a convocação para guerra e a morte de pessoas notáveis.
A comunicação por bombalos poderia alcançar até três léguas de onde a mensagem se
originou e alcançar até 20 léguas em uma hora3 (ALMADA, [1594], 326; DONELHA,
[1625], p. 108; ÁLVARES [1616] p. 28). Quando a notícia do falecimento chegava nas
comunidades vizinhas, os moradores demonstravam comoção pelo acontecimento, cho-
ravam copiosamente, como “se o homem que morreu fosse um nativo [daquele lugar]”
(ÁLVARES, 1990 [1615], v2, c8, p. 5). A reação dramática sobre o falecimento atesta a
dimensão social dos sepultamentos enquanto uma instituição que reafirma as solidarie-
dades entre membros de um grupo familiar e os habitantes de lugares vizinhos. Deste
modo, os bombalos eram um dos primeiros artefatos mobilizados nos sepultamentos de
459 pessoas notáveis para ampliar e acelerar a comunicação entre as localidades.
Banhos e Embalsamentos do Corpo
Bens do Morto
Serra Leoa
Então põe o morto assentado em uma cadeira com seus melhores vestidos que ele tem [...] E
Goiânia, v. 21, n.2, p. 453-477, ago./dez. 2023.
põe-lhe uma adarga na mão e em outra uma azagaia e uma espada na cinta. E se é homem
que tem mortos muitos homens em guerra põe-lhe tantas caveiras de homens diante
dele quanto tem mortos (FERNANDES, [1506], p. 731, grifos nossos).
Figura 2. Escultura de guerreiro sentado, segurando escudo na mão esquerda e com cabeças ao seu redor
dos pés. Pedra. Serra Leoa. C. séculos 16-17
Fonte: Artista não documentado. Acervo do Musée du Quai Branly, Paris. Fotografia por Roberth Daylon (2023). 462
A figura nomoli representa um guerreiro, cujos crânios em seus pés referem-
-se ao prestígio que ele adquiriu em vida como uma pessoa combativa e valente. Neste
sentido, os crânios tinham valor social como troféus de vitórias em combate. Ou seja,
um guerreiro guardava os crânios dos inimigos que matou em guerra ou emboscadas
para reafirmar sua honra nos sepultamentos.
As esteiras de ráfia, por sua vez, se constituíam como um bem de prestígio na
região do rio Grande e na Serra Leoa, pois eram as “camas” onde os indivíduos eram
sepultados (DONELHA, 1979 [1625], p. 115). Os bolões chamavam as esteiras de bicas
e os Nalus do rio Nunes as chamavam de cocali [cocoli]. Mais que uma diferença de
grupos, a nomenclatura indicava diferentes estilos e técnicas empregadas na produção
desse artefato. As esteiras eram bem coloridas e de diferentes materiais. Os usos das
esteiras iam além dos ritos funerários, de modo que as pessoas usavam para se sentar
e dormir. Nas casas de governantes de Serra Leoa e nos locais onde se realizavam os
julgamentos dos Sapes utilizavam-se peles de grandes animais e esteiras (ALMADA,
1964 [1594], p. 349). Desse modo, as bicas e cocalis são consideradas bens de prestígio
(ÁLVARES, 1990 [1615], v2, cap 4, p. 4) essenciais para a compreensão da materialida-
de dos sepultamentos de Serra Leoa, devido ao seu valor social.
Por fim, as armas também eram um bem fundamental na composição dos bens
(...) dois caldeirões, um terçado, um dardo, uma partazana, uma azagaia, uma trombeta
e um cabaço de dinheiro com cristal, e alambre, umas contas de cristal com uma verônica
de ouro, panos, e outras coisas que ficaram dentro. E tirando se para fora o corpo envolto
em muitos panos, e por cima um [pano] de damasco, abrimos tudo por lhe tirar os sinais de
gentio, nas duas arrecadas de ouro que nas orelhas tinha, dez ou doze manilhas de prata em
cada braço, e quantidade de corais ao pescoço. Tirando tudo entregue ao coveiro por reco-
mendação do rei, tornamos embrulhar o corpo (...) (PORTUENSE [1696], apud MOTA,
1974, p. 108).
Trazia vestido um casacão estrangeiro de pano fino, cabeleira postiça [peruca], chapéu par-
do, meia de seda e chinelas, com suas luvas, e na mão direita trazia uma zagainha pequena,
costume que tem os reis gentios de trazer na mão, por sinal de grandeza e poder (POR-
TUENSE [1696] apud MOTA, 1974, p. 69).
Goiânia, v. 21, n.2, p. 453-477, ago./dez. 2023.
(...) as mortes gerais dos gentios por toda esta ilha, que ficaram casas inteiras despovoadas
(...) [fez] preciso conforme ao seu costume dar o rei mortalhas a todos e assistir
nos choros, e juntamente por lhe morrer um jagra seu irmão herdeiro do Reino, e mais de
trinta mulheres do dito rei e outros parentes e finalmente por lhe vir a nova do falecimento
do príncipe seu filho (PORTUENSE [1696], apud MOTA, 1974, p. 99, grifos nossos).
Sacrifícios e Homenagens
Locais do Enterramento
Tumbas
Figura 4. Tipo de transporte feito de madeira para transportar mortos na Guiné-Bissau. Ilustração feita
a partir dos relatos
Fonte: Portuense ([1696] apud MOTA, 1975, p. 62).
E morrendo um rei grande dos Papeis, a primeira coisa que fazem é ordenar uma grande
gaiola de canas grossas, a qual tem seu repartimento em baixo, aonde vai um chibarro
[bode] macho de grandeza espantosa, e na outra um grande cachorro. Sobre esta gaiola de-
baixo, que é maior, vai outra entretecida com a mesma, em que vai metido o rei, mui bem
vestido à portuguesa, se o rei é de terras ou portos onde residem brancos, lavando-o primeiro
Em suma, esquifes da região dos rios Cacheu e Grande eram de madeira. Seus
modelos dependiam da condição social do morto, sendo que possuíam uma estrutura seme-
lhante. Em relação à Serra Leoa, não há relatos sobre artefatos de transporte de cadáveres.
Túmulos
da região.
Em Serra Leoa, se construía um altar para homenagear os espíritos ancestrais
acima dos túmulos dos indivíduos comuns, em suas casas, ou próximo aos túmulos
dos nobres, e em lugares públicos. Faziam uma cova grande com tamanho suficiente
para enterrar o morto, bens, pessoas e animais (ÁLVARES, 1990 [1615], v2 c 8, p.
6-7). O morto era posto na cova com os bens e as pessoas e animais sacrificados para
seu velório. A exceção aparece na descrição de Donelha onde os bens de valor e prestígio
eram queimados diante do morto e as cinzas eram postas em seu túmulo junto com o
morto deitado em sua cama, os mantimentos e os sacrifícios (DONELHA, [1625], p.
115). Fazia-se cova semelhante a uma porta para a terra não tocar o corpo do sepultado
(DONELHA, [1625], p. 115)). Para o sepulcro, construía-se uma casa ou templo em
forma de guarda-sol. No caso das famílias mais abastadas, cobria-se a casa com ricos
panos, esteiras e adornos de valor retirados da fortuna do falecido. Por outro lado, nos
sepulcros das pessoas comuns utilizava-se, palha e panos mais simples (ALMADA,
[1594], p. 352; ÁLVARES, 1990 [1615], v2 c 8, p. 6-7). Nos sepulcros posicionava-se
a china esculpida em homenagem ao indivíduo (FERNANDES, [1506], p. 731) e em
alguns relatos a própria estrutura do sepulcro era chamada de china (BARREIRA,
[1607], p. 236). Sepulcros no local de sepultamento ou próximos dele, serviam como
altar, onde se ofereciam sacrifícios aos mortos durante todo o período de luto, no ani-
versário de sua morte e em outras ocasiões especiais.
CONCLUSÃO
Parte 1.
Este artigo trata das práticas funerárias no Baixo Casamansa, uma aborda-
gem essencial para auxiliar pesquisas futuras sobre este tema na África Ocidental e nos
contextos das diásporas africanas nas Américas. Devido à imensa presença de pessoas 472
da região do Baixo Casamansa nas Américas, este texto poderá auxiliar pesquisas ar-
queológicas comparadas nos referidos países americanos para averiguar se as origens
das práticas funerárias de pessoas africanas e descendentes eram procedentes daquela
região. Nos séculos 16 e 17, temporalidade deste artigo, comerciantes levaram pessoas,
de forma forçada, da região entre o Baixo Casamansa e a Serra Leoa para diferentes
portos das Américas, principalmente no Peru, Colômbia, México, Portugal, Espanha
e outros lugares (BÜHNEN, 1993; WHEAT, 2011; NEWSON; MINCHIN, 2007).
Nos séculos 18 e 19, um contingente expressivo de pessoas dessa região foi transportado
para o Brasil e outras regiões das Américas (CARNEY, 2004; BARROSO JUNIOR,
2009; HAWTHORNE, 2010).
No Brasil, por exemplo, as pesquisas históricas e arqueológicas de cemitérios
de escravizados ainda são poucas e algumas conseguem inferir sobre o contexto de uso
de objetos específicos, como as contas de vidro encontradas nos corpos das sepulturas
de pessoas escravizadas. Na pesquisa arqueológica, o método mais utilizado consiste,
de um modo geral nos seguintes passos: 1) Identificar a predominância demográfica
de um grupo africano que vivia em determinada localidade na diáspora; 2) analisar
os artefatos presentes nas inumações desta localidade; e, finalmente, 3) comparar os
objetos encontrados nos cemitérios de escravizados da localidade com os objetos da
Parte 2.
A maior parte dos estudos acadêmicos sobre costumes das sociedades atlân-
473 ticas africanas, onde havia moradores europeus, examinam como as pessoas nascidas
localmente aprenderam os costumes europeus e abandonaram suas tradições. Contudo,
mostramos neste artigo que as pessoas do Baixo Casamansa, em geral, foram alterando
a cultura material empregada nos sepultamentos, sem perder elementos centrais das
práticas funerárias. Isso incluía o anúncio extensivo da morte, o interrogatório do mor-
to, as cerimônias funerárias abertas para toda a comunidade com banquete, a presença
de materiais para acompanhar o morto, e, finalmente, a preparação do enterro, incluin-
do o que colocavam dentro e fora da sepultura. Portanto, as pessoas não abandonaram
as tradições locais por causa do contato com a cultura europeia.
Apesar das semelhanças nas práticas funerárias da região, havia variações,
pois, nenhuma cultura é estática ou engessada. As principais variantes que identifica-
mos eram os materiais levados pelo morto e a ausência de alguns procedimentos em al-
gumas localidades. Por exemplo, na região do rio Grande, desde o século 17, governan-
tes adicionaram novos materiais aos enterros, como objetos importados da Europa em
seus sepultamentos; e a partir do século 18, alguns governantes passaram a substituir
sacrifícios humanos por animais. Enquanto em Serra Leoa, onde não havia registro de
sacrifícios humanos até o século 17, os moradores passaram a adotar este costume, sob
influência dos manes e do mercado de escravizado. Essas transformações resultam do
fato de a região ser um espaço dinâmico e plural, onde as pessoas intercambiavam e
ressignificavam práticas, saberes e objetos empregados nas sepulturas.
Goiânia, v. 21, n.2, p. 453-477, ago./dez. 2023.
Summary: this article analyzes the materiality of funeral practices in Lower Casamance in
the 16th and 17th centuries. In this region, the importance of life after death was the guiding
principle of funeral practices. The article presents different historical contexts in which funeral
rites occurred and the materials the dead carried to the other world. This analysis of the burial
rite and practices allows us to understand a series of political, economic, social, and cultural
articulations of local realities. Ceremonial practices in the Cacheu and Sierra Leone regions
were different. Despite this, we argue that, in both areas, burials were at the center of socia-
bility relationships between the living and ancestors and between people from the same group.
Keywords: Graves. Material Culture. Insignia of Power. Serra Leoa. Bissau. Cacheu.
Resumen: este artículo analiza la materialidad de las prácticas funerarias en la Baja Ca-
samance en los siglos 16 y 17. En esta región, la importancia de la vida después de la muerte
era el principio rector de las prácticas funerarias. El artículo presenta diferentes contextos 474
históricos en los que ocurrieron los ritos funerarios y los materiales que los muertos llevaban
al otro mundo. Este análisis del rito y las prácticas funerarias nos permite comprender una
serie de articulaciones políticas, económicas, sociales y culturales de las realidades locales.
Las prácticas ceremoniales en las regiones de Cacheu y Sierra Leona eran diferentes. A pesar
de esto, sostenemos que, en ambas regiones, los entierros estaban en el centro de las relaciones
de sociabilidad entre los vivos y los antepasados y entre personas del mismo grupo.
Palabras clave: Tumbas. Cultura Material. Insignias de Poder. Serra Leoa. Bissau. Cacheu.
Notas
1 Para facilitar a compreensão de leitores não especializados na ortografia seiscentista e setecentista,
atualizamos a grafia dos excertos para a língua portuguesa.
2 O termo “sape” era uma categoria externa de identificação dos grupos que habitavam a região entre
a Ilha dos ídolos e o Cabo do Monte. A terminologia não corresponde a uma identidade local ou à
termos de autoidentificação e não pode ser utilizada para atestar de antemão uma coesão do grupo ou
de suas práticas culturais. Apesar disso, o termo continua tendo valor historiográfico na medida em que
agrupa uma série de descrições documentais sobre a região. A nomenclatura generalizante foi descrita
para descrever povos Temnes, Bolões, Limbas, Bagas, Itales, Tagunchos, Casses, Coyas, entre outros.
3 Uma légua portuguesa equivale a 5km.
4 Referimo-nos ao saleiro de marfim do Seattle Art Museum, Estados Unidos. Em 1968, esta peça foi
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