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O Evolvimento Político Entre Estudantes Universitários Cristãos
O Evolvimento Político Entre Estudantes Universitários Cristãos
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
CAMPINA GRANDE
2020
RONALDO RODRIGUES DE SOUAS JÚNIOR
CREIO, LOGO PARTICIPO? O ENVOLVIMENTO POLÍTICO ENTRE ESTUDANTES
UNIVERSITÁRIOS CRISTÃOS
CAMPINA GRANDE
2020
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Resumo
Este artigo examina a relação que há entre religião e política e quais são as razões que levam
estudantes universitários cristãos a participarem politicamente. As primeiras seções elencam tal
relação no contexto brasileiro a nível constitucional e prático, apontando eventos contemporâneos
que mostram isso bem como as bases teóricas da pesquisa que foi fundamentada pela Teoria das
Representações Sociais juntamente com as bases teóricas da Psicologia Política, tendo em vista que
a participação política de um indivíduo se faz presente no contexto diário do cidadão manifestando-
se em atitudes simples e rotineiras. Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória com
abordagem qualitativa. Para coleta de dados foi utilizado um questionário semiestruturado (Google
Forms), incluindo um questionário sociodemográfico. A análise dos dados foi realizada através do
programa IRAMUTEQ, um software específico de análise textual. Os resultados obtidos apontam
que a percepção dos indivíduos frente ao cenário político é fortemente associada à corrupção e isso
promove o desejo de mudança na participação política dos entrevistados, sendo evidenciado
também que as crenças religiosas têm relação com a ação política.
Palavras-chave: Representações Sociais; Psicologia Política; Crenças; Religião.
Abstract
This article examines the relationship between religion and politics and what are the reasons that
lead Christian university students to participate politically. The first sections list such relationship in
the Brazilian context at a constitutional and practical level, pointing out contemporary events that
show this as well as the theoretical bases of the research that was founded by the Theory of Social
Representations along with the theoretical bases of Political Psychology, bearing in mind that the
political participation of an individual is present in the daily context of the citizen manifesting itself
in simple and routine attitudes. It is a descriptive and exploratory research with a qualitative
approach. A semi-structured questionnaire (Google Forms), including a sociodemographic
questionnaire, was used for data collection. The data analysis was done through the IRAMUTEQ
program, a specific software for textual analysis. The results obtained point out that the perception
of individuals facing the political scenario is strongly associated with corruption and this promotes
the desire for change in the political participation of those interviewed, and it is also evident that
religious beliefs are related to political action.
Keywords: Social Representations; Political Psychology; Beliefs; Religion.
1
Discente do Curso de Graduação em Psicologia pelo Centro Universitário Uninassau
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Docente orientador Doutor do curso de Psicologia do Centro Universitário da Uninassau.
Endereço eletrônico para correspondência: brunojpa@gmail.com
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cristã. Tais fatos podem ser observados quando uma oração foi feita feita, sob cobertura das mídias
nacionais, pelo recém eleito presidente Jair Bolsonaro, ao lado de esposa e apoiadores, em função
da conquista da eleição presidencial (G1, 2018), ou também no discurso realizado por Fernando
Haddad, então candidato as eleições presidenciais no ano de 2018, em frente à uma igreja católica
intentando apoio do fiéis (Gazeta do Povo, 2018) que aconteceu pouco tempo antes das eleições.
política no Brasil. Não pode ser desconsiderado que, segundo o censo do IBGE de 2010, mais de
Diante deste cenário, convém observar que, conforme abordou Hefner (2007), a religião e a
política têm uma relação que se tornou contundente, tendo em vista que a religião enquanto
conjunto de crenças faz parte da cultura e, em certo nível, funciona como um reflexo dela. Em
consequência disso, os princípios religiosos servem para considerar aspectos morais, éticos e sociais
na política de forma ampla. Além disso, percebe-se a liberdade e iniciativa individual presente no
processo de adesão religiosa, sendo possível vislumbrar aspectos subjetivos e psicossociais no fato
de que ao passo que a religião preconiza determinados comportamentos, os fiéis são ativos ao se
identificar com tais preceitos, mostrando um alinhamento de ideias entre sujeito e religião (Ribeiro,
2004). Também, conforme pontua Henning e Moré (2009), a religiosidade das pessoas constitui-se
“como um aspecto importante a ser estudado pela Psicologia, dada sua influência em questões de
Milbrath (1965, citado por Borba, 2012), afirma que os comportamentos de participação
política são amplos, abrangendo atividades como expor-se a solicitações políticas, exercer o voto,
participar de uma discussão política ou assistir a um comício, assembleia ou debate, até candidatar-
se a um cargo eletivo e ocupar cargos públicos. Afirmando ainda que no modelo ou escala de
participação política convencional até aqueles sujeitos que são classificados como inativos em sua
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jornais.
além da valorização da filosofia grega e da razão humana (Bignotto, 2012), elencouuma ideia de
homem mais ativo na produção social e assim, o homem passou a produzir mais e contemplar
menos. Outra característica marcante foi o fato de que a figura humana e sua singularidade e
liberdade foram estabelecidas como algo inegociável (Simmel, 1998). Em consonância com isso,
outro marco histórico importante foi a reforma protestante com Martinho Lutero, Eurico Zuinglio e
João Calvino, que, guardada as suas devidas especificidades, tornaram-se expoentes no movimento
de reforma. Movimento este, que além de defender a separação de Igreja e Estado também,
indivíduo, bem como promoveu uma grande contribuição para Estado de Direito na época. Esse
contexto gerou um anseio crescente e inevitável: a separação entre Igreja e Estado deveria ser feita.
Tal separação, com o passar do tempo, gerou o discurso que predomina até os dias de hoje: religião
é algo relacionada unicamente à esfera privada e íntima, já a política é algo estritamente público e
social.
Todavia, esse discurso pode ser questionado quando consideramos o fato de que cada pessoa
tem seu conjunto de crenças, pelo qual se relaciona e interpreta a realidade a sua volta. Em
consequência disso, nenhuma pessoa é capaz de exercer um envolvimento público ou político sem a
interferência de suas crenças pessoais, bem como exercer suas crenças pessoais sem influência da
esfera pública. Neste cenário, faz-se necessário as contribuições da Teoria das Representações
Sociais, a qual, conformeCamino & Leal (2019) discorre,as “Representações Sociais explicariam a
construção das diversas visões do mundo a partir das apropriações que os diversos grupos sociais
fazem das teorias filosóficas ou cientificas dominantes”. Assim, embora o indivíduo receba
influência dos saberes e conhecimentos dominantes no contexto do qual ele está inserido, o sujeito é
fortemente ativo na formulação de suas próprias percepções. Envolvido neste processo estão o
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Núcelo Central e Periférico das representações sociais, sendo o central aquilo que estrutura uma
representação e o periférico o contato dessa estrutura com a vida cotidiana, Abric (1994).
Frente esta realidade, faz-se necessário uma pesquisa científica em um lugar onde há a
público que tem contato íntimo com este cenário é a população de estudantes universitários cristãos,
haja vista que, segundo o portal do MEC (2018), no ano de 2017 mais de 8 milhões da população
denomina cristã.
Diante do exposto, o questionamento que irá nortear a presente pesquisa será: Quais são as
justificativas que estudantes universitários cristãos trazem para o seu envolvimento político?
Portanto, esse estudo tem como objetivo levantar dados colhidos com este público para analisar a
individuo motiva seu envolvimento político, associando isso às razões que este público traz para a
escolha de voto. Para tanto, a presente pesquisa terá como aporte teórico a teoria das representações
sociais, dada sua vasta e profunda contribuição para uma análise sociopsicológica de indivíduos e
grupos sociais. Ademais, pretende-se com este trabalho oferecer subsídios colaborações
bem como a psicologia em geral e suas mais variadas áreas de atuação e de pesquisa, tal qual
auxiliar o debate acadêmico no que tange ao referido tema. Por fim, o anseio do estudo é servir de
colonizadores portugueses e perdurou nos moldes de dominação durante todo tempo em que a
Coroa portuguesa tinha domínio sobre o território brasileiro. Os governantes públicos de então
instituíram uma religião como a oficial: o Catolicismo. Como afirma Andrade (2018), a Igreja
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Católica era uma instituição subordinada ao Estado e, como religião oficial, operava sendo uma
Sob domínio da Coroa, a Igreja Católica tinha a ambição de obter controle sobre a vida
social dos colonos. Embora esta associação íntima tenha sofrido uma rachadura com a chegada dos
ideais Iluminista e expulsão dos jesuítas do território brasileiro no século XVIII, a relação retornou
(Brasil, 1824)
no ano de 1891, Segundo Andrade (2018) um novo cenário para as relações entre Estado e Religião
foi apresentado. Neste período, houve um fim à união oficial entre poder civil e poder religioso. Em
Estado garantir a liberdade e a igualdade de todos os cidadãos, sem levar em consideração suas
Atualmente, outro fato que evidencia a presença da religião cristã no campo político, é a
existência da chamada “bancada evangélica”. Tal bancada refere-se ao grande número de políticos
eleitos que se denominam evangélicos e estão exercendo o mandato, em certos contextos e ocasiões
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específicas, à luz de suas crenças. Conforme Oro (2005), esta bancada atuou como um bloco
corporativo na defesa da maioria moral e aliaram-se politicamente à direita. Além disso, Freston
sendo pró vida e contra o abordo, contra drogas, divórcio, união homoafetiva etc.
De acordo com Silva (2017) a evidência maior da presença religiosa na política apresentou-
se com maior nitidez em 2016, durante a votação do processo de impeachment da presidenta Dilma
Rousseff, na Câmara dos Deputados. Na ocasião grande parte dos/as parlamentares justificou seus
votos com base em Deus, suas igrejas e pela família cristã. Afirma ainda que este acontecimento
expressivo teve grande repercussão, no Brasil e no exterior, para a presença e atuação significativa
Sendo assim, torna-se oportuno fazer uso da Psicologia Política para analisar a relação que
há entre a Política e a Religião, em razão de que neste contexto estão presentes sistemas de crenças
um regime político.
Psicologia Política
públicos, Silva (2012) destaca dois personagens como sendo emblemáticos na evolução da
relevância desta área do estudo psicológico no cenário nacional. Primeiramente, destaca-se Victor
de Britto sendo ele o autor pioneiro na utilização do termo Psychologia Polítca em sua obra, que
fora publicada em 1908, Gaspar Martins e Júlio de Castilhos: estudo crítico de Psychologia
política. Trata-se de um estudo de um evento político que ocasionou milhares de mortes bem como
barbaridades cometidas com os prisioneiros de guerra. Conforme ele mesmo colocou, “A guerra
civil de 1893 teve sua causa primeira o choque de dois grandes ideais” (Britto, 1908:61-62). Na
ocasião, houve um grande entusiasmo do público em seguir seus respectivos líderes e compreender
a tamanha influência que os líderes exerceram sobre seus seguidores e como os valores, crenças e
Além de Victor de Britto, pode-se destacar também a figura de Oliveira Vianna o qual,
segundo Silva (2012), apresenta que, em algum nível, o seu pensamento e ideias tornou-se uma
espécie de tutorial para aqueles que desejam direcionar as atitudes grupal e individual da população.
Em seu livro Pequenos estudos de Psychologia Social (1921) Vianna argumenta que "o primeiro
dever de um verdadeiro nacionalista é nacionalizar suas ideias - e o melhor caminho para fazê-lo é
identificar-se, pela inteligência, com o seu meio e a sua gente." (Vianna, 1921). Para Vianna, a
psicologia política estudaria "o conteúdo psicológico da atividade política brasileira e a carência de
equívoco dizer que existe uma homogeneidade ou uma uniformidade referente às nuances da
psicologia política no Brasil e seus desdobramentos teóricos e práticos com o passar dos anos.
Todavia, é possível traçar um panorama sobre os paradigmas que foram estabelecidos dentro do
campo específico e, guardadas as devidas proporções, autônomo das Ciências Humanas. Conforme
argumenta Camino e Leal (2019), atualmente, há a tendência de pensar a Psicologia Política como
uma subárea da Psicologia Social que buscava refletir sobre as relações de poder. Acrescentando-se
a esta perspectiva, convém observar que, como argumenta Stucky (2019), a psicologia política é um
como dos governantes políticos, a partir de uma perspectiva psicológica. Apresenta-se como uma
antropologia, sociologia, economia, história, filosofia, e, assim, produzir uma ciência ampla e
demasiadamente abrangente.
fenômenos sociais e comportamentais da época e então, dentro do contexto no qual está inserida,
apresentar produção cientifica e intervenções psicossociais. Stucky (2019) elucida que no Brasil a
psicologia foi regulamentada como profissão somente em 1962, sendo assim, haja vista os eventos
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históricos emergentes na época, houve uma construção emblemática de uma Psicologia Política
fortemente marcada pela posição pública de enfrentamento para com os vieses de autoritarismo e
repressões. Afirma também que, é necessária a atuação da ciência psicológica em um vasto campo
comportamento humano e a política, como por exemplo: corrupção sistêmica, divulgação intensa de
Ortolano (2013) elabora que a Psicologia Política se constitui como complemento à Ciência
Política, pois esta tinha um déficit em considerar as escolhas das pessoas referente às instituições
Psicologia Política seria, portanto, a união destas variáveis. Além disso, ele adiciona a contribuição
de Medina (2010), que aborda que uma psicologia dedicada a materiais exclusivamente humanos,
como a cidade (polis) e os que povoam a cidade, isto é, os cidadãos, é o território de estudo da
Psicologia Política. Acrescenta ainda que, a Psicologia Política se utiliza de uma considerável
vastidão de abordagens teóricas, todavia, todas elas caminham em volta de um conceito basilar: a
percepção social coletiva (Dorna, 2006). Desta forma, Ortolano (2013) sintetiza que a Psicologia
Política aplica-se ao estudo de fenômenos cujos elementos psicológicos, subjetivos e sociais, são
A participação política em uma sociedade pode ser definida por várias vertentes e
parâmetros. Borba (2012) produz um material no qual ele evoca vários autores que que buscam
participação política convencional até aquelas pessoas que são classificados como inativos em sua
participação estão em “atividade”, e isso pode ser exemplificado no simples fato de eles
com a política, pois está sob o exercício do Estado e o mesmo decide ativamente se irá submeter-se
as leis e diretrizes políticas. Noutras palavras, o simples fato de viver em civilização implicará em
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participar politicamente em algum nível. Borba (2012) descreve também como participação política
a atitude de participar de uma conversar sobre política, ou assistir comícios e assembleias. Assim
sendo, conclui-se que participação política não é algo restrito à alguns como os que exercem algum
cargo público. Participar politicamente é uma atitude inerente aos cidadãos evidenciada em atitudes
análises oferecidas pela teoria das representações sociais, visto que ela se propõe, como Moscovici
A teoria das Representações Sociais, formulada pelo psicólogo social Sergi Moscovici,
trouxe várias contribuições para o entendimento do individuo enquanto sujeito inserido numa
sociedade. Esta teoria não foi a primeira corrente de pensamento que elaborou algo semelhante. O
emblemático psicólogo Wundt, de acordo com o que observou Farr (2013), afirmou que não é
impossível um sujeito gerar uma linguagem, ou uma religião. Em sua fase inicial, esses fenômenos
coletivos foram resultados de uma elaboração em comunidade, ou grupo. Seguindo essa lógica, tais
fenômenos são emergentes das interações dos indivíduos. Sobre isso, Moscovici (2011) pontuou
que todas as interações humanas, sejam elas entre duas pessoas ou entre dois grupos, pressupõe
elaboração de representações.
originou-se a partir do conceito de representações coletivas de Durkheim. Não só teve suas origens
como também, segundo elaborou Farr (2013), entre o conceito de representações coletivas e a teoria
das representações sociais há uma evidente continuidade. Contudo, a despeito dessa grande
proximidade, os conceitos se diferenciam. Farr afirma ainda que, para Moscovici (2011), o
entendimento de representações coletivas de Durkheim retrata um aspecto coletivo que deve ser
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explicada a um nível mais aprofundado, a saber: o nível da psicologia social. Sendo neste ponto que
a representação social de Moscovici tem o seu surgimento. Isso pressupõe que, para Moscovici, a
sociedade que era objeto de estudo de Durkheim era menos complexa e mais sólida. Em
contrapartida, a sociedade estudada por Moscovici é mais complexa e mais fluida e tem como
agilidade com que há mudanças na economia, política e cultura. (Moscovici, 2011, p. 31)
das comunicações dos indivíduos entre si. Resês (2011) sugere que elas podem ser equiparadas com
os sistemas de crenças de uma sociedade, ou como uma roupagem contemporânea do senso comum.
Pode-se dizer que, assumindo um ponto de vista sob dinamicidade, as representações sociais se
apresentam como uma “’rede’ de ideias, metáforas ou imagens relativamente interligadas de modo
livre e, devido a isso, mais móveis e fluidas que teorias.” (Moscivici, 2011, p. 210.). Além disso,
representações podem ser uma forma utilizada para construir ou adquirir conhecimento, bem como
uma forma de transmitir ou comunicar o saber formulado entre indivíduos. Validando esta forma de
elaborar, Moscovici (2011) diz que se deve encarar as representações sociais como um modo
específico de entender e comunicar o que nós já sabemos, tendo como objetivo extrair um sentido
Existem dois processos que geram as representações sociais: ancoragem e objetivação. Por
ancoragem entende-se como um mecanismo que tenta transformar uma ideia estranha em categorias
procedimento que converte algo estranho e intrigante para nós, em nossa conjuntura pessoal de
categorias e o compara com algo de uma categoria que nós pensamos ser apropriada. Em outras
palavras, ancorar é classificar e conceder nome a alguma coisa. (Moscovici, 2011 p. 60, 61) Já a
objetivação diz respeito ao fenômeno de tornar algo abstrato em algo quase concreto, deslocar algo
de uma estância unicamente mental para uma estância que exista no mundo físico. Moscovici
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(2011) expõe que a objetivação une a ideia de não familiaridade com a de realidade. Transforma o
que, inicialmente fora percebido como puramente intelectual e abstrato, em algo diante de nossos
olhos, físico e acessível. Em outras palavras, é reproduzir um conceito numa imagem. Em suma,
esses mecanismos convertem o não familiar em familiar, inicialmente, transportando-o para a sua
própria esfera particular, na qual dispomos de capacidade para comparar e interpretar aquele
determinado conteúdo. Após isso, os reproduz entres as coisas de aspecto senso-perceptivo, que
sociedade pensante, os sujeitos não são apenas portadores de ideologias ou crenças coletivas,
resoluções específicas para as questões que se põem a si mesmos. De acordo com Guareschi (2010),
a teoria das representações sócias pode ser concebida como uma teoria a respeito dos saberes
sociais. Em diferentes contextos sociais, a TRS se refere à construção e a transformação dos saberes
sociais. Isso mostra que nos mais variados contextos os indivíduos constroem e transformam
conhecimentos. Na teoria das representações sociais, tem-se um interesse especial no fenômeno das
representações produzidos na e pela vida cotidiana. Tais representações não são formuladas apenas
torna-se evidente que na participação política dos indivíduos, nos mais variados níveis e graus, está
presente o fenômeno das representações sociais acompanhando os indivíduos onde quer que eles
Moscovici coloca ênfase no sujeito que produz a representação, concebido como um ser criativo e
ativo. Alinhando-se com o que elenca (Abric 1994), onde afirma que uma parte essencial, que
fomenta as análises de Teoria das Representações Sociais é a Teoria Núcleo Central das
Representações Sociais, dado que o núcleo central “é o elemento fundamental de toda representação
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constituída.” (Abric, 1994). Assim como as noções de Sistema Periférico das Representações, sendo
mais flexível que o Núcleo Central e tendo a função de absorver as novas informações e entrar em
Método
Delineamento
teóricos da pesquisa – teoria das representações sociais. Reconhece-se que os estudos qualitativos
buscam entender um fenômeno em seu ambiente natural, onde esses ocorrem e do qual fazem parte
Corpus do estudo
A população da pesquisa foi formada por estudantes universitários, com idade igual ou
superior a 18 anos, de instituições de ensino superior públicas e privadas, e que se definem como
cristãos. Tendo como critério de inclusão a realização do voto nas eleições de 2018. Foram
envolvidos 118, sendo 97 respostas válidas segundo os critérios de inclusão e exclusão previamente
esclarecidos..
A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Pesquisa, que dispõe sobre Ética em Pesquisa que envolve Seres Humanos. Posteriormente, a coleta
enviado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde garante o sigilo e suporte psicológico
caso seja necessário. Mediante as redes de mídias sociais, foi enviado ao publico alvo o instrumento
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construído através da plnataforma Google Forms, plataforma esta que foi usada para elaboração do
questionário.
Nesta pesquisa, será utilizado o software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses
descendente; análises de similitude e nuvem de palavras. Desenvolvido por Pierre Ratinaud (2009),.
Desta forma, foi-se assumido a funcionalidade da utilização do software para a análise de textos.
Como salienta Camargo e Justo (2013), no Brasil estes mecanismos são usados para análise textual
Resultados e Discussão
Entre os participantes houve certa similaridade quanto à instituição de ensino, sendo 53,5%
alunos de instituições privadas e 46,5% públicas. Dos entrevistados, 54,5% eram mulheres e 45,5%
eram homens. A região predominante foi o Nordeste. As tradições religiosas ficaram divididas em
61.6% evangélico reformado, 11.1% evangélico pentecostal, 17.2 católico, 2% católico carismático
evidenciados através da pergunta: “Quais as 5 primeiras palavras vêm a sua mente quando você
pensa em política?”. A análise das evocações identificou a ocorrência de várias palavras, sendo as
palavras “corrupção” e “democracia” as mais frequentes. Para essa análise, se estabeleceu um ponto
de corte para a ordem média de evocação de 2.81 (enumeradas de 1 a 5, sendo 1 a mais importante).
Delimitou-se a frequência mínima de 5 evocações para essa análise tendo em vista as maiores
roubo (Figura 1). Nesta perspectiva, a demasiada dominância da palavra corrupção, indica o núcleo
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central destas experiências, sendo levado em consideração sua frequência e importância. Isto
corrobora com a Teoria das Representações Sociais quando elabora a respeito do Núcleo Central
das Representações. Segundo Abric (1994), o Núcleo Central de uma Representação Social é o
determinando, inclusive, o seu significado. Neste sentido, conforme anteriormente esclarecido, este
núcleo é uma espécie de subconjunto da representação que, se ausente, mudaria todo o significado e
estrutura da representação.
Sendo assim, nota-se a grande importância desta estância das representações para a
Embora o elemento Democracia esteja presente neste quadrante, ele aparece certo pela Corrupção e
Roubo. Este fato pode ser explicado pela Teoria do Núcleo Central (TNC), ao argumentar que o
disso, é formulado uma base coletivamente compartilhada das representações sociais (Abric, 1994).
Sendo este núcleo intimamente ligado as condições históricas e sociológicas do grupo, este
resultado não surpreende diante do cenário político do Brasil vigente nos últimos anos, onde vários
escândalos de corrupção foram noticiados no meio dos grupos políticos dominantes. Segundo o G1,
o Brasil ocupa a 106ª posição no índice de Percepção de Corrupção. Quanto melhor a posição no
ranking, menos o país é considerado corrupto. A matéria afirma ainda, que o País vem caindo no
práticos da atuação dos indivíduos na esfera Política, sendo demonstrado em elementos como
Poder, Voto, Eleição, Gestão e Cidadania. Tal resultado corrobora com o conteúdo exposto no
Núcleo Periférico das Representações Sociais. Conforme aponta Abric (1994), o Núcleo Periférico
especificas da situação concreta diante da qual o grupo se encontra, isto é, esta estância refere-se as
experiências e construtos vivenciados no cotidiano das pessoas. Afirma ainda que é nesta estância
que, diferente do Núcleo Central que corresponde ao elemento mais consensual e homogêneo do
grupo, contempla a heterogeneidade das pessoas abrindo espaço para a atuação das experiências e
formulações individuais.
questão do instrumento: “Em sua opinião, qual é o papel da religião na política?”, com a finalidade
de compreender qual o papel da Religião na Política para o grupo entrevistado. (Figura 2). A análise
das evocações identificou a ocorrência de 1986 palavras, sendo 681 palavras distintas. Foram
A análise demonstrou que houve uma predominância na classe 1 da tabela abaixo (40%), a
qual refere-se à existência de um papel da Religião na Política. Todavia, tendo origem na mesma
raiz, está o grupo representado pela classe 2, a qual evidencia o grupo afirmando que não se dever
misturar a religião com a política e ato de governar. Tal constatação faz alusão à discussão
levantada anteriormente no presente trabalho em que, parte dos indivíduos enxergam a crença
religiosa e a atuação política como processos que devem caminhar separados, sendo a primeira de
foro íntimo e particular e a segunda de aspecto público e social. Em contrapartida, há aqueles que
consideram que esta relação é inegável uma vez que, como anteriormente discutido, todo indivíduo
possui um conjunto de crenças e que tais crenças, sejam elas religiosas ou não, influenciam
fortemente a forma como o sujeito se relaciona e interpreta a realidade a sua volta e, portanto, a
atuação política.
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histórico pessoal dos candidatos e políticos, dado que esta classe enfatiza a necessidade de escolher
políticos e partidos com histórico e exemplos de honestidade. Como também no aspecto público,
evidenciado na classe 4, tendo em foco o pressuposto elementar que deve estar presente nas ações
políticas: influenciar para o bem comum e promoção de justiça. Assim, estas qualidades são vistas
como fruto que deve aparecer com a influência da Religião na Política. Neste cenário, torna-se
evidente que a atuação pública ou política recebe interferência de suas crenças pessoais, assim
como o exercício das crenças pessoais do indivíduo recebem influencia da esfera pública.
Foi realizada uma análise de Qui-Quadrado por classe no dendograma (Figura 3),
Nesse caso, as palavras referentes à Classe 1 estiveram mais associadas (X² 2,08) a tradição
religiosa Evangélica.Desta forma, embora as ideias da tradição Reformada defenda a total separação
entre Igreja e Estado, isso não implica na anulação da presença da religião na política, visto que,
conforme afirma Dulci (2018), é um equívoco pensar que a esfera religiosa se resume ao “espaço
das igrejas”, enquanto a esfera pública se limita ao “espaço da assembleia legislativa ou da câmara”.
Neste sentido, ele afirma que tanto o pensamento religioso quanto a ação política tem mais a ver
com a uma forma de vida cotidiana do que com um espaço específico de burocracia governamental.
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O que dialoga bem com a Teoria das Representações Sociais, dada a importância que a mesma
política. Para isto, foi realizada uma segunda análise CHD (Figura 4) da pergunta: Quais são as 5
principais razões para você participar politicamente? A análise das evocações identificou a
ocorrência de 1914 palavras, sendo 595 palavras distintas. Foram classificados 77 textos de uma
3 nte
4 o
Figura 4. Análise CHD sobre as principais razões para você participar politicamente.
A análise evidenciou um grande equilíbrio como um todo, sendo iguais três das quatro
classes. A classes 1, 2 e 3 têm raízes semelhantes e portanto mostram similaridade nos resultados,
embora bastante semelhante, demonstra que este público buscar cumprir o seu dever pessoal frente
a participação política, almejando melhoria no quadro de representantes, o que manifesta mais uma
vez insatisfação com o cenário político presente. Enquanto a classe 1 manifesta esse desejo de
mudança através da cidadania, do exercer seu direito e uma sociedade democrática. Há uma sutil,
mais significativa diferença nesta classe, pois percebe-se aqui um aspecto mais social e comunitário
Este resultado que aponta para uma grade insatisfação como uma razão importante para o
envolvimento político corrobora com o que argumenta Moisés & Carneiro (2008), quando afirmam
percebidos como prioritários, quando tal postura não é vista produz insatisfação na população e, em
Considerações Finais
As análises relatadas neste trabalho mostram que as dimensões relativas à religião e política
tem uma forte ligação para o público entrevistado. O que se alinha com o que afirma Smith (2017)
quando argumenta que existe algo de político em jogo no culto e prática religiosa, bem como há
têm de política pode demonstrar um importante contrassenso frente ao cenário político atual, pois
há uma grande presença de políticos que se dizem cristãos nas câmaras e, como argumenta
se aliar na esfera política sob a prerrogativa de preservar o caráter cristão das noções de moral da
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população brasileira. Todavia, esta presença não representa os ideais de bem comum, justiça e
honestidade que a pesquisa aponta como desejo de alguns participantes. Isto explica o resultado das
motivações para o envolvimento político dos participantes fortemente marcado pelo desejo de
Nesta perspectiva, a Teoria das Representações Sociais (TRS) pode ser uma ferramenta de
auxílio na investigação das crenças formuladas e comunicadas socialmente pelo grupo participante,
pois como afirma Bueno & Freitas (2018), a TRS concede uma grande possibilidade de analisar e
que alinha-se com as noções apresentadas na pesquisa de que a participação política é algo inerente
universitários cristão. O que também reflete a relevância do presente estudo no meio científico, pois
política à luz da teoria das representações sociais. Convém observar que a pesquisa e dispões de
importância de estudos posteriores sobre a relação das crenças pessoais e o envolvimento político,
Referências
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