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CENTRO UNIVESITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

RONALDO RODRIGUES DE SOUSA JÚNIOR

CREIO, LOGO PARTICIPO? O ENVOLVIMENTO POLÍTICO ENTRE


ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS CRISTÃOS

CAMPINA GRANDE
2020
RONALDO RODRIGUES DE SOUAS JÚNIOR
CREIO, LOGO PARTICIPO? O ENVOLVIMENTO POLÍTICO ENTRE ESTUDANTES
UNIVERSITÁRIOS CRISTÃOS

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial para
conclusão do curso de Psicologia do Centro
Universitário Maurício de Nassau, sob
orientação do professor Dr. Bruno Medeiros

CAMPINA GRANDE
2020
3

CREIO, LOGO PARTICIPO? O ENVOLVIMENTO POLÍTICO ENTRE


ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS CRISTÃOS

Ronaldo Rodrigues de Sousa Júnior1


Bruno Medeiros2

Resumo

Este artigo examina a relação que há entre religião e política e quais são as razões que levam
estudantes universitários cristãos a participarem politicamente. As primeiras seções elencam tal
relação no contexto brasileiro a nível constitucional e prático, apontando eventos contemporâneos
que mostram isso bem como as bases teóricas da pesquisa que foi fundamentada pela Teoria das
Representações Sociais juntamente com as bases teóricas da Psicologia Política, tendo em vista que
a participação política de um indivíduo se faz presente no contexto diário do cidadão manifestando-
se em atitudes simples e rotineiras. Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória com
abordagem qualitativa. Para coleta de dados foi utilizado um questionário semiestruturado (Google
Forms), incluindo um questionário sociodemográfico. A análise dos dados foi realizada através do
programa IRAMUTEQ, um software específico de análise textual. Os resultados obtidos apontam
que a percepção dos indivíduos frente ao cenário político é fortemente associada à corrupção e isso
promove o desejo de mudança na participação política dos entrevistados, sendo evidenciado
também que as crenças religiosas têm relação com a ação política.
Palavras-chave: Representações Sociais; Psicologia Política; Crenças; Religião.

Abstract
This article examines the relationship between religion and politics and what are the reasons that
lead Christian university students to participate politically. The first sections list such relationship in
the Brazilian context at a constitutional and practical level, pointing out contemporary events that
show this as well as the theoretical bases of the research that was founded by the Theory of Social
Representations along with the theoretical bases of Political Psychology, bearing in mind that the
political participation of an individual is present in the daily context of the citizen manifesting itself
in simple and routine attitudes. It is a descriptive and exploratory research with a qualitative
approach. A semi-structured questionnaire (Google Forms), including a sociodemographic
questionnaire, was used for data collection. The data analysis was done through the IRAMUTEQ
program, a specific software for textual analysis. The results obtained point out that the perception
of individuals facing the political scenario is strongly associated with corruption and this promotes
the desire for change in the political participation of those interviewed, and it is also evident that
religious beliefs are related to political action.
Keywords: Social Representations; Political Psychology; Beliefs; Religion.

1
Discente do Curso de Graduação em Psicologia pelo Centro Universitário Uninassau
2
Docente orientador Doutor do curso de Psicologia do Centro Universitário da Uninassau.
Endereço eletrônico para correspondência: brunojpa@gmail.com
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Fenômenos históricos acontecidos recentemente põem no mesmo cenário política e religião

cristã. Tais fatos podem ser observados quando uma oração foi feita feita, sob cobertura das mídias

nacionais, pelo recém eleito presidente Jair Bolsonaro, ao lado de esposa e apoiadores, em função

da conquista da eleição presidencial (G1, 2018), ou também no discurso realizado por Fernando

Haddad, então candidato as eleições presidenciais no ano de 2018, em frente à uma igreja católica

intentando apoio do fiéis (Gazeta do Povo, 2018) que aconteceu pouco tempo antes das eleições.

Tais exemplos evidenciam a necessidade de se estudar a relação entre religião e participação

política no Brasil. Não pode ser desconsiderado que, segundo o censo do IBGE de 2010, mais de

80% da população brasileira se denomina cristã (IBGE, 2010)

Diante deste cenário, convém observar que, conforme abordou Hefner (2007), a religião e a

política têm uma relação que se tornou contundente, tendo em vista que a religião enquanto

conjunto de crenças faz parte da cultura e, em certo nível, funciona como um reflexo dela. Em

consequência disso, os princípios religiosos servem para considerar aspectos morais, éticos e sociais

na política de forma ampla. Além disso, percebe-se a liberdade e iniciativa individual presente no

processo de adesão religiosa, sendo possível vislumbrar aspectos subjetivos e psicossociais no fato

de que ao passo que a religião preconiza determinados comportamentos, os fiéis são ativos ao se

identificar com tais preceitos, mostrando um alinhamento de ideias entre sujeito e religião (Ribeiro,

2004). Também, conforme pontua Henning e Moré (2009), a religiosidade das pessoas constitui-se

“como um aspecto importante a ser estudado pela Psicologia, dada sua influência em questões de

identidade pessoal e grupal, comportamento, sexualidade e saúde”.

Milbrath (1965, citado por Borba, 2012), afirma que os comportamentos de participação

política são amplos, abrangendo atividades como expor-se a solicitações políticas, exercer o voto,

participar de uma discussão política ou assistir a um comício, assembleia ou debate, até candidatar-

se a um cargo eletivo e ocupar cargos públicos. Afirmando ainda que no modelo ou escala de

participação política convencional até aqueles sujeitos que são classificados como inativos em sua
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participação estão em “atividade” através do simples fato de eles acompanham noticiários em

jornais.

Historicamente, com a chegada da modernidade, e juntamente com ela a renascença, que,

além da valorização da filosofia grega e da razão humana (Bignotto, 2012), elencouuma ideia de

homem mais ativo na produção social e assim, o homem passou a produzir mais e contemplar

menos. Outra característica marcante foi o fato de que a figura humana e sua singularidade e

liberdade foram estabelecidas como algo inegociável (Simmel, 1998). Em consonância com isso,

outro marco histórico importante foi a reforma protestante com Martinho Lutero, Eurico Zuinglio e

João Calvino, que, guardada as suas devidas especificidades, tornaram-se expoentes no movimento

de reforma. Movimento este, que além de defender a separação de Igreja e Estado também,

conforme comenta Wolkmer (2005), levantou a bandeira da liberdade religiosa e liberdade do

indivíduo, bem como promoveu uma grande contribuição para Estado de Direito na época. Esse

contexto gerou um anseio crescente e inevitável: a separação entre Igreja e Estado deveria ser feita.

Tal separação, com o passar do tempo, gerou o discurso que predomina até os dias de hoje: religião

é algo relacionada unicamente à esfera privada e íntima, já a política é algo estritamente público e

social.

Todavia, esse discurso pode ser questionado quando consideramos o fato de que cada pessoa

tem seu conjunto de crenças, pelo qual se relaciona e interpreta a realidade a sua volta. Em

consequência disso, nenhuma pessoa é capaz de exercer um envolvimento público ou político sem a

interferência de suas crenças pessoais, bem como exercer suas crenças pessoais sem influência da

esfera pública. Neste cenário, faz-se necessário as contribuições da Teoria das Representações

Sociais, a qual, conformeCamino & Leal (2019) discorre,as “Representações Sociais explicariam a

construção das diversas visões do mundo a partir das apropriações que os diversos grupos sociais

fazem das teorias filosóficas ou cientificas dominantes”. Assim, embora o indivíduo receba

influência dos saberes e conhecimentos dominantes no contexto do qual ele está inserido, o sujeito é

fortemente ativo na formulação de suas próprias percepções. Envolvido neste processo estão o
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Núcelo Central e Periférico das representações sociais, sendo o central aquilo que estrutura uma

representação e o periférico o contato dessa estrutura com a vida cotidiana, Abric (1994).

Frente esta realidade, faz-se necessário uma pesquisa científica em um lugar onde há a

produção e difusão do conhecimento científico, as Instituições de Ensino Superior. Assim, um

público que tem contato íntimo com este cenário é a população de estudantes universitários cristãos,

haja vista que, segundo o portal do MEC (2018), no ano de 2017 mais de 8 milhões da população

brasileira é estudando universitário e, como supracitado, grande parte da população brasileira se

denomina cristã.

Diante do exposto, o questionamento que irá nortear a presente pesquisa será: Quais são as

justificativas que estudantes universitários cristãos trazem para o seu envolvimento político?

Portanto, esse estudo tem como objetivo levantar dados colhidos com este público para analisar a

relação de posicionamento política e religiosidade, bem como o quanto a visão de religião do

individuo motiva seu envolvimento político, associando isso às razões que este público traz para a

escolha de voto. Para tanto, a presente pesquisa terá como aporte teórico a teoria das representações

sociais, dada sua vasta e profunda contribuição para uma análise sociopsicológica de indivíduos e

grupos sociais. Ademais, pretende-se com este trabalho oferecer subsídios colaborações

relacionadas a psicologia social, psicologia política e religião associada ao envolvimento político,

bem como a psicologia em geral e suas mais variadas áreas de atuação e de pesquisa, tal qual

auxiliar o debate acadêmico no que tange ao referido tema. Por fim, o anseio do estudo é servir de

algum modo para o avanço do saber científico e humano.

A Relação Entre Religião e Política no Brasil

O envolvimento entre religião e política é presente no Brasil desde a chegada dos

colonizadores portugueses e perdurou nos moldes de dominação durante todo tempo em que a

Coroa portuguesa tinha domínio sobre o território brasileiro. Os governantes públicos de então

instituíram uma religião como a oficial: o Catolicismo. Como afirma Andrade (2018), a Igreja
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Católica era uma instituição subordinada ao Estado e, como religião oficial, operava sendo uma

ferramenta de dominação social, política e cultural.

Sob domínio da Coroa, a Igreja Católica tinha a ambição de obter controle sobre a vida

social dos colonos. Embora esta associação íntima tenha sofrido uma rachadura com a chegada dos

ideais Iluminista e expulsão dos jesuítas do território brasileiro no século XVIII, a relação retornou

no período da Independência do Brasil, inclusive em termos constitucionais como dado na primeira

Constituição Brasileira de 1824, nos artigos 5 e 102:

Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião

do Imperio. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto

domestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma

exterior do Templo.“Art. 102. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo, e

o exercita pelos seus Ministros de Estado. II. Nomear Bispos, e prover os

Beneficios Ecclesiasticos. XIV. Conceder, ou negar o Beneplacito aos

Decretos dos Concilios, e Letras Apostolicas, e quaesquer outras

Constituições Ecclesiasticas que se não oppozerem á Constituição; e

precedendo approvação da Assembléa, se contiverem disposição geral.”

(Brasil, 1824)

Posteriormente, com a Proclamação da República e a elaboração de uma nova constituição

no ano de 1891, Segundo Andrade (2018) um novo cenário para as relações entre Estado e Religião

foi apresentado. Neste período, houve um fim à união oficial entre poder civil e poder religioso. Em

consequência disso, sucedeu o estabelecimento do Estado Laico. Nesta conjuntura, compete ao

Estado garantir a liberdade e a igualdade de todos os cidadãos, sem levar em consideração suas

preferências religiosas. Esta decisão continua em vigência até os dias de hoje.

Atualmente, outro fato que evidencia a presença da religião cristã no campo político, é a

existência da chamada “bancada evangélica”. Tal bancada refere-se ao grande número de políticos

eleitos que se denominam evangélicos e estão exercendo o mandato, em certos contextos e ocasiões
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específicas, à luz de suas crenças. Conforme Oro (2005), esta bancada atuou como um bloco

corporativo na defesa da maioria moral e aliaram-se politicamente à direita. Além disso, Freston

(1993) discursa que o grupo evangélico sustentou a concordância em assuntos comportamentais,

sendo pró vida e contra o abordo, contra drogas, divórcio, união homoafetiva etc.

De acordo com Silva (2017) a evidência maior da presença religiosa na política apresentou-

se com maior nitidez em 2016, durante a votação do processo de impeachment da presidenta Dilma

Rousseff, na Câmara dos Deputados. Na ocasião grande parte dos/as parlamentares justificou seus

votos com base em Deus, suas igrejas e pela família cristã. Afirma ainda que este acontecimento

expressivo teve grande repercussão, no Brasil e no exterior, para a presença e atuação significativa

de representantes políticos vinculados a denominações cristãs no Congresso brasileiro.

Sendo assim, torna-se oportuno fazer uso da Psicologia Política para analisar a relação que

há entre a Política e a Religião, em razão de que neste contexto estão presentes sistemas de crenças

individuais e sociais, comportamentos e conteúdos psicológicos ocasionais a vida em sociedade sob

um regime político.

Psicologia Política

Situando-nos na história e desdobramento da Psicologia Política no Brasil e seus atos

públicos, Silva (2012) destaca dois personagens como sendo emblemáticos na evolução da

relevância desta área do estudo psicológico no cenário nacional. Primeiramente, destaca-se Victor

de Britto sendo ele o autor pioneiro na utilização do termo Psychologia Polítca em sua obra, que

fora publicada em 1908, Gaspar Martins e Júlio de Castilhos: estudo crítico de Psychologia

política. Trata-se de um estudo de um evento político que ocasionou milhares de mortes bem como

barbaridades cometidas com os prisioneiros de guerra. Conforme ele mesmo colocou, “A guerra

civil de 1893 teve sua causa primeira o choque de dois grandes ideais” (Britto, 1908:61-62). Na

ocasião, houve um grande entusiasmo do público em seguir seus respectivos líderes e compreender

a tamanha influência que os líderes exerceram sobre seus seguidores e como os valores, crenças e

perspectivas foram aderidos pela multidão, despertou o interesse de Victor.).


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Além de Victor de Britto, pode-se destacar também a figura de Oliveira Vianna o qual,

segundo Silva (2012), apresenta que, em algum nível, o seu pensamento e ideias tornou-se uma

espécie de tutorial para aqueles que desejam direcionar as atitudes grupal e individual da população.

Em seu livro Pequenos estudos de Psychologia Social (1921) Vianna argumenta que "o primeiro

dever de um verdadeiro nacionalista é nacionalizar suas ideias - e o melhor caminho para fazê-lo é

identificar-se, pela inteligência, com o seu meio e a sua gente." (Vianna, 1921). Para Vianna, a

psicologia política estudaria "o conteúdo psicológico da atividade política brasileira e a carência de

motivações coletivas nos comportamentos partidários." (Vianna, 1987).

A produção teórica a respeito da psicológica política é bastante variada e plural. É um

equívoco dizer que existe uma homogeneidade ou uma uniformidade referente às nuances da

psicologia política no Brasil e seus desdobramentos teóricos e práticos com o passar dos anos.

Todavia, é possível traçar um panorama sobre os paradigmas que foram estabelecidos dentro do

debate sobre o tema em questão. Originalmente, a Psicologia Política tencionava constituir-se um

campo específico e, guardadas as devidas proporções, autônomo das Ciências Humanas. Conforme

argumenta Camino e Leal (2019), atualmente, há a tendência de pensar a Psicologia Política como

uma subárea da Psicologia Social que buscava refletir sobre as relações de poder. Acrescentando-se

a esta perspectiva, convém observar que, como argumenta Stucky (2019), a psicologia política é um

campo aplicado a analisar e compreender a política, os comportamentos políticos da população bem

como dos governantes políticos, a partir de uma perspectiva psicológica. Apresenta-se como uma

esfera interdisciplinar capaz de aproximar teorias e metodologias da psicologia, ciências políticas,

antropologia, sociologia, economia, história, filosofia, e, assim, produzir uma ciência ampla e

demasiadamente abrangente.

Convém observar que a Psicologia Política tem a característica de sempre acompanhar os

fenômenos sociais e comportamentais da época e então, dentro do contexto no qual está inserida,

apresentar produção cientifica e intervenções psicossociais. Stucky (2019) elucida que no Brasil a

psicologia foi regulamentada como profissão somente em 1962, sendo assim, haja vista os eventos
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históricos emergentes na época, houve uma construção emblemática de uma Psicologia Política

fortemente marcada pela posição pública de enfrentamento para com os vieses de autoritarismo e

repressões. Afirma também que, é necessária a atuação da ciência psicológica em um vasto campo

de trabalho que emerge juntamente com os acontecimentos recentes relacionados ao

comportamento humano e a política, como por exemplo: corrupção sistêmica, divulgação intensa de

fake news, embate entre conservadorismo e liberalismo etc.

Ortolano (2013) elabora que a Psicologia Política se constitui como complemento à Ciência

Política, pois esta tinha um déficit em considerar as escolhas das pessoas referente às instituições

públicas. Ao passo que os objetos de investigação da Psicologia são os comportamentos e

personalidades, as variáveis da Ciência Política são as instituições e estruturas políticas. A

Psicologia Política seria, portanto, a união destas variáveis. Além disso, ele adiciona a contribuição

de Medina (2010), que aborda que uma psicologia dedicada a materiais exclusivamente humanos,

como a cidade (polis) e os que povoam a cidade, isto é, os cidadãos, é o território de estudo da

Psicologia Política. Acrescenta ainda que, a Psicologia Política se utiliza de uma considerável

vastidão de abordagens teóricas, todavia, todas elas caminham em volta de um conceito basilar: a

percepção social coletiva (Dorna, 2006). Desta forma, Ortolano (2013) sintetiza que a Psicologia

Política aplica-se ao estudo de fenômenos cujos elementos psicológicos, subjetivos e sociais, são

ocasionais ao contexto de política, em diversas categorias de análise.

A participação política em uma sociedade pode ser definida por várias vertentes e

parâmetros. Borba (2012) produz um material no qual ele evoca vários autores que que buscam

descrever a participação política em uma sociedade. Eleexplica que no modelo ou escala de

participação política convencional até aquelas pessoas que são classificados como inativos em sua

participação estão em “atividade”, e isso pode ser exemplificado no simples fato de eles

acompanham noticiários em jornais. Evidentemente, no contexto brasileiro, o sujeito tem relação

com a política, pois está sob o exercício do Estado e o mesmo decide ativamente se irá submeter-se

as leis e diretrizes políticas. Noutras palavras, o simples fato de viver em civilização implicará em
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participar politicamente em algum nível. Borba (2012) descreve também como participação política

a atitude de participar de uma conversar sobre política, ou assistir comícios e assembleias. Assim

sendo, conclui-se que participação política não é algo restrito à alguns como os que exercem algum

cargo público. Participar politicamente é uma atitude inerente aos cidadãos evidenciada em atitudes

cotidianas e rotineiras, tornando-se um dos focos de análise da Psicologia Política. Sendo

evidenciada a atividade de participação política na vida diária e rotineira, fazem-se necessárias as

análises oferecidas pela teoria das representações sociais, visto que ela se propõe, como Moscovici

(1981, p. 181) define, a ser um conjunto de explicações e definições ou conceituações oriundo da

vida diária no transcorrer das comunicações dos indivíduos entre si.

Teoria das Representações Sociais

A teoria das Representações Sociais, formulada pelo psicólogo social Sergi Moscovici,

trouxe várias contribuições para o entendimento do individuo enquanto sujeito inserido numa

sociedade. Esta teoria não foi a primeira corrente de pensamento que elaborou algo semelhante. O

emblemático psicólogo Wundt, de acordo com o que observou Farr (2013), afirmou que não é

viável descrever o elucidar um fenômeno coletivo partindo de uma perspectiva de indivíduo. É

impossível um sujeito gerar uma linguagem, ou uma religião. Em sua fase inicial, esses fenômenos

coletivos foram resultados de uma elaboração em comunidade, ou grupo. Seguindo essa lógica, tais

fenômenos são emergentes das interações dos indivíduos. Sobre isso, Moscovici (2011) pontuou

que todas as interações humanas, sejam elas entre duas pessoas ou entre dois grupos, pressupõe

elaboração de representações.

Conforme afirmou Resês (2011), o conceito de representações sociais de Serge Moscovici

originou-se a partir do conceito de representações coletivas de Durkheim. Não só teve suas origens

como também, segundo elaborou Farr (2013), entre o conceito de representações coletivas e a teoria

das representações sociais há uma evidente continuidade. Contudo, a despeito dessa grande

proximidade, os conceitos se diferenciam. Farr afirma ainda que, para Moscovici (2011), o

entendimento de representações coletivas de Durkheim retrata um aspecto coletivo que deve ser
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explicada a um nível mais aprofundado, a saber: o nível da psicologia social. Sendo neste ponto que

a representação social de Moscovici tem o seu surgimento. Isso pressupõe que, para Moscovici, a

sociedade que era objeto de estudo de Durkheim era menos complexa e mais sólida. Em

contrapartida, a sociedade estudada por Moscovici é mais complexa e mais fluida e tem como

manifestação própria e inerente o pluralismo de pensamento e comportamento, bem como a

agilidade com que há mudanças na economia, política e cultura. (Moscovici, 2011, p. 31)

Nessa perspectiva abrangente, Moscovici (1981, p. 181) conceitua representações sociais

como um conjunto de explicações e definições ou conceituações oriundas da vida diária no decorrer

das comunicações dos indivíduos entre si. Resês (2011) sugere que elas podem ser equiparadas com

os sistemas de crenças de uma sociedade, ou como uma roupagem contemporânea do senso comum.

Pode-se dizer que, assumindo um ponto de vista sob dinamicidade, as representações sociais se

apresentam como uma “’rede’ de ideias, metáforas ou imagens relativamente interligadas de modo

livre e, devido a isso, mais móveis e fluidas que teorias.” (Moscivici, 2011, p. 210.). Além disso,

representações podem ser uma forma utilizada para construir ou adquirir conhecimento, bem como

uma forma de transmitir ou comunicar o saber formulado entre indivíduos. Validando esta forma de

elaborar, Moscovici (2011) diz que se deve encarar as representações sociais como um modo

específico de entender e comunicar o que nós já sabemos, tendo como objetivo extrair um sentido

do mundo e imputar nele ordem e percepções.

Existem dois processos que geram as representações sociais: ancoragem e objetivação. Por

ancoragem entende-se como um mecanismo que tenta transformar uma ideia estranha em categorias

e imagens comuns ou contextos familiares. Moscovici (2011) explica que se trata de um

procedimento que converte algo estranho e intrigante para nós, em nossa conjuntura pessoal de

categorias e o compara com algo de uma categoria que nós pensamos ser apropriada. Em outras

palavras, ancorar é classificar e conceder nome a alguma coisa. (Moscovici, 2011 p. 60, 61) Já a

objetivação diz respeito ao fenômeno de tornar algo abstrato em algo quase concreto, deslocar algo

de uma estância unicamente mental para uma estância que exista no mundo físico. Moscovici
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(2011) expõe que a objetivação une a ideia de não familiaridade com a de realidade. Transforma o

que, inicialmente fora percebido como puramente intelectual e abstrato, em algo diante de nossos

olhos, físico e acessível. Em outras palavras, é reproduzir um conceito numa imagem. Em suma,

esses mecanismos convertem o não familiar em familiar, inicialmente, transportando-o para a sua

própria esfera particular, na qual dispomos de capacidade para comparar e interpretar aquele

determinado conteúdo. Após isso, os reproduz entres as coisas de aspecto senso-perceptivo, que

podemos ver e tocar, e consequentemente, controlar.

Conforme Sá (1993), com base no pensamento psicossociológico de Moscovici, numa

sociedade pensante, os sujeitos não são apenas portadores de ideologias ou crenças coletivas,

tampouco meros receptores ou transmissores de informações, antes os indivíduos são pensadores

ativos que, por intermédio de episódios cotidianos, elaboram e comunicam representações e

resoluções específicas para as questões que se põem a si mesmos. De acordo com Guareschi (2010),

a teoria das representações sócias pode ser concebida como uma teoria a respeito dos saberes

sociais. Em diferentes contextos sociais, a TRS se refere à construção e a transformação dos saberes

sociais. Isso mostra que nos mais variados contextos os indivíduos constroem e transformam

conhecimentos. Na teoria das representações sociais, tem-se um interesse especial no fenômeno das

representações produzidos na e pela vida cotidiana. Tais representações não são formuladas apenas

em eventos pontuais ou extraordinários, antes se constituem no ordinário da rotina social. Assim,

torna-se evidente que na participação política dos indivíduos, nos mais variados níveis e graus, está

presente o fenômeno das representações sociais acompanhando os indivíduos onde quer que eles

estão e no que eles fazem em sua vida diária.

Assim, conforme atesta Sawaia (1995), ao formular o conceito de representações sociais,

Moscovici coloca ênfase no sujeito que produz a representação, concebido como um ser criativo e

ativo. Alinhando-se com o que elenca (Abric 1994), onde afirma que uma parte essencial, que

fomenta as análises de Teoria das Representações Sociais é a Teoria Núcleo Central das

Representações Sociais, dado que o núcleo central “é o elemento fundamental de toda representação
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constituída.” (Abric, 1994). Assim como as noções de Sistema Periférico das Representações, sendo

mais flexível que o Núcleo Central e tendo a função de absorver as novas informações e entrar em

contato mais direto com as experiências do sujeito. (Abric, 1994).

Método

Delineamento

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória. Como forma de

abordar o fenômeno em questão, aderiu-se à abordagem qualitativa, de acordo com os fundamentos

teóricos da pesquisa – teoria das representações sociais. Reconhece-se que os estudos qualitativos

buscam entender um fenômeno em seu ambiente natural, onde esses ocorrem e do qual fazem parte

(Luvezute, Scheller & Bonotto, 2015).

Corpus do estudo

A população da pesquisa foi formada por estudantes universitários, com idade igual ou

superior a 18 anos, de instituições de ensino superior públicas e privadas, e que se definem como

cristãos. Tendo como critério de inclusão a realização do voto nas eleições de 2018. Foram

envolvidos 118, sendo 97 respostas válidas segundo os critérios de inclusão e exclusão previamente

esclarecidos..

Procedimento de coleta de dados

A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres

Humanos, com o número de aprovação: 36223220.0.0000.5180 seguindo as diretrizes da Resolução

Nº. 510/16 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde/Comissão Nacional de Ética em

Pesquisa, que dispõe sobre Ética em Pesquisa que envolve Seres Humanos. Posteriormente, a coleta

de dado foi realizada por meio de um questionário e sociodemográfico e um roteiro de questionário

semiestruturado, destinados à estudantes universitários cristãos, abordando questões sobre

posicionamento político, auto percepção religiosa e participação política, constando no material

enviado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde garante o sigilo e suporte psicológico

caso seja necessário. Mediante as redes de mídias sociais, foi enviado ao publico alvo o instrumento
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construído através da plnataforma Google Forms, plataforma esta que foi usada para elaboração do

questionário.

Procedimento de análise de dados

Nesta pesquisa, será utilizado o software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses

Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), que possibilita vários tipos de análises, a

saber: estatísticas textuais clássicas; pesquisa de especificidades de grupos; classificação hierárquica

descendente; análises de similitude e nuvem de palavras. Desenvolvido por Pierre Ratinaud (2009),.

Desta forma, foi-se assumido a funcionalidade da utilização do software para a análise de textos.

Como salienta Camargo e Justo (2013), no Brasil estes mecanismos são usados para análise textual

desde a década de 1990, contribuindo para a praticidade ao analisar determinado conteúdo.

Resultados e Discussão

Entre os participantes houve certa similaridade quanto à instituição de ensino, sendo 53,5%

alunos de instituições privadas e 46,5% públicas. Dos entrevistados, 54,5% eram mulheres e 45,5%

eram homens. A região predominante foi o Nordeste. As tradições religiosas ficaram divididas em

61.6% evangélico reformado, 11.1% evangélico pentecostal, 17.2 católico, 2% católico carismático

e 8.1% de outra tradição.

Inicialmente, foi realizada a análise prototípica com o objetivo de compreender os principais

pensamentos evocados pelos participantes em relação política. Tais pensamentos foram

evidenciados através da pergunta: “Quais as 5 primeiras palavras vêm a sua mente quando você

pensa em política?”. A análise das evocações identificou a ocorrência de várias palavras, sendo as

palavras “corrupção” e “democracia” as mais frequentes. Para essa análise, se estabeleceu um ponto

de corte para a ordem média de evocação de 2.81 (enumeradas de 1 a 5, sendo 1 a mais importante).

Delimitou-se a frequência mínima de 5 evocações para essa análise tendo em vista as maiores

frequências dos conteúdos dos evocados.

Ao analisar a tabela identifica-se como elementos mais estáveis: corrupção, democracia e

roubo (Figura 1). Nesta perspectiva, a demasiada dominância da palavra corrupção, indica o núcleo
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central destas experiências, sendo levado em consideração sua frequência e importância. Isto

corrobora com a Teoria das Representações Sociais quando elabora a respeito do Núcleo Central

das Representações. Segundo Abric (1994), o Núcleo Central de uma Representação Social é o

elemento organizador de toda a estrutura da representação a respeito de algum fenômeno,

determinando, inclusive, o seu significado. Neste sentido, conforme anteriormente esclarecido, este

núcleo é uma espécie de subconjunto da representação que, se ausente, mudaria todo o significado e

estrutura da representação.

Sendo assim, nota-se a grande importância desta estância das representações para a

formulação de pensamentos a respeito do fenômeno em questão. Conforme percebe-se no 1º

quadrante da figura 1, o elemento da Corrupção se sobressai diante dos demais elementos,

manifestando-se como um fator estruturante da representação do grupo a respeito de Política.

Embora o elemento Democracia esteja presente neste quadrante, ele aparece certo pela Corrupção e

Roubo. Este fato pode ser explicado pela Teoria do Núcleo Central (TNC), ao argumentar que o

Núcleo é diretamente ligado pelo contexto histórico e sociológico do grupo. Em consequência

disso, é formulado uma base coletivamente compartilhada das representações sociais (Abric, 1994).

Sendo este núcleo intimamente ligado as condições históricas e sociológicas do grupo, este

resultado não surpreende diante do cenário político do Brasil vigente nos últimos anos, onde vários

escândalos de corrupção foram noticiados no meio dos grupos políticos dominantes. Segundo o G1,

o Brasil ocupa a 106ª posição no índice de Percepção de Corrupção. Quanto melhor a posição no

ranking, menos o país é considerado corrupto. A matéria afirma ainda, que o País vem caindo no

ranking desde 2014. (G1.globo.com, 2020)

Pode-se identificar na 2ª periferia (2º e 3ºquadrante na Figura 1) os aspectos mais ativos e

práticos da atuação dos indivíduos na esfera Política, sendo demonstrado em elementos como

Poder, Voto, Eleição, Gestão e Cidadania. Tal resultado corrobora com o conteúdo exposto no

Núcleo Periférico das Representações Sociais. Conforme aponta Abric (1994), o Núcleo Periférico

é responsável pela adaptação e comunicação do Núcleo Central com as nuances e características


17

especificas da situação concreta diante da qual o grupo se encontra, isto é, esta estância refere-se as

experiências e construtos vivenciados no cotidiano das pessoas. Afirma ainda que é nesta estância

que, diferente do Núcleo Central que corresponde ao elemento mais consensual e homogêneo do

grupo, contempla a heterogeneidade das pessoas abrindo espaço para a atuação das experiências e

formulações individuais.

Evocação Freq Ordem Evocação Freq Ordem


Corrupção 41 2.3 Poder 17 2.9
Democracia 19 2.4 Voto 10 4
Roubo 12 2.2 Eleição 9 3.9
Evocação Freq Ordem Evocação Freq Ordem
Gestão 4 2.5 Representacao 4 3
Sociedade 4 2.5 Debate 4 4
Estado 4 2.8 Trabalho 4 3
Cidadania 4 2.5 Candidato 3 3.7
Dever 3 3.3
Decisão 3 3.7
Cosmovisao 3 3.7
Etica 3 4
Expressao 3 3
Honestidade 3 4

Figura 1. Análise prototípica sobre os pensamentos mais frequentes em relação à Política.

Foi realizada uma análise de Classificação Hierárquica Descendente (CHD) da seguinte

questão do instrumento: “Em sua opinião, qual é o papel da religião na política?”, com a finalidade

de compreender qual o papel da Religião na Política para o grupo entrevistado. (Figura 2). A análise

das evocações identificou a ocorrência de 1986 palavras, sendo 681 palavras distintas. Foram

classificados 75 textos de uma total de 98 textos, aproveitando-se 76,53% do corpus textual.


18

CLASSE 3 - CLASSE 1 – CLASSE 4 –


ESCOLHA CLASSE 2 – INFLUENCIA OBJETIVO DA
PARTIDÁRIA RELAÇÃO RELIGIÃO- INFLUÊNCIA
POLÍTICA- POLÍTICA
RELIGIÃO
18,7% 21,3% 40% 20%
Palavra F X² Palavra F X² Palavra F X² Palavra F X²

Escolher 5 23,34 Não 14 16.71 Religião 21 22.81 Influencia 6 20.8

Partido 4 18.41 Dever 10 12.01 Papel 16 18.18 Bem 6 16.9

Honestidade 4 18.41 Governar 3 11.52 Política 17 18.02 Justiça 4 16.9

Exemplo 4 18.41 Misturar 3 11.52 Valor 10 8.93 Comum 3 12.5

Figura 2. Análise CHD sobre o papel da Religião na Política.

A análise demonstrou que houve uma predominância na classe 1 da tabela abaixo (40%), a

qual refere-se à existência de um papel da Religião na Política. Todavia, tendo origem na mesma

raiz, está o grupo representado pela classe 2, a qual evidencia o grupo afirmando que não se dever

misturar a religião com a política e ato de governar. Tal constatação faz alusão à discussão

levantada anteriormente no presente trabalho em que, parte dos indivíduos enxergam a crença

religiosa e a atuação política como processos que devem caminhar separados, sendo a primeira de

foro íntimo e particular e a segunda de aspecto público e social. Em contrapartida, há aqueles que

consideram que esta relação é inegável uma vez que, como anteriormente discutido, todo indivíduo

possui um conjunto de crenças e que tais crenças, sejam elas religiosas ou não, influenciam

fortemente a forma como o sujeito se relaciona e interpreta a realidade a sua volta e, portanto, a

atuação política.
19

Sendo assim, a classe 3 e a 4 demonstram características relacionadas a relação das crenças

religiosas com o envolvimento Política. A classe 3, pode sugerir a importância de se observar o

histórico pessoal dos candidatos e políticos, dado que esta classe enfatiza a necessidade de escolher

políticos e partidos com histórico e exemplos de honestidade. Como também no aspecto público,

evidenciado na classe 4, tendo em foco o pressuposto elementar que deve estar presente nas ações

políticas: influenciar para o bem comum e promoção de justiça. Assim, estas qualidades são vistas

como fruto que deve aparecer com a influência da Religião na Política. Neste cenário, torna-se

evidente que a atuação pública ou política recebe interferência de suas crenças pessoais, assim

como o exercício das crenças pessoais do indivíduo recebem influencia da esfera pública.

Figura 3. Análise CHD sobre o papel da Religião na Política.

Foi realizada uma análise de Qui-Quadrado por classe no dendograma (Figura 3),

especificando quais classes estariam mais associadas à determinada variável sociodemográfica.

Nesse caso, as palavras referentes à Classe 1 estiveram mais associadas (X² 2,08) a tradição

religiosa Evangélica.Desta forma, embora as ideias da tradição Reformada defenda a total separação

entre Igreja e Estado, isso não implica na anulação da presença da religião na política, visto que,

conforme afirma Dulci (2018), é um equívoco pensar que a esfera religiosa se resume ao “espaço

das igrejas”, enquanto a esfera pública se limita ao “espaço da assembleia legislativa ou da câmara”.

Neste sentido, ele afirma que tanto o pensamento religioso quanto a ação política tem mais a ver

com a uma forma de vida cotidiana do que com um espaço específico de burocracia governamental.
20

O que dialoga bem com a Teoria das Representações Sociais, dada a importância que a mesma

atribui às construções realizada no senso comum e na vida rotineira dos indivíduos.

Nesta perspectiva, buscou-se compreender como estas formas de prensar se manifestaram

quando se é mais claramente exigido a colocar em prática todas os pensamentos relacionados à

política. Para isto, foi realizada uma segunda análise CHD (Figura 4) da pergunta: Quais são as 5

principais razões para você participar politicamente? A análise das evocações identificou a

ocorrência de 1914 palavras, sendo 595 palavras distintas. Foram classificados 77 textos de uma

total de 98 textos, aproveitando-se 78,57% do corpus textual.

CLASSE 1 - CLASSE 3 – CLASSE 4 –


EXERCER CLASSE 2 – MUDANÇA PARA MOTIVOS
CIDADANIA PARTICIPAÇÃO O FUTURO RELIGIOSO
PRESENTE
22% 26% 26% 26%
Palavra F X² Palavra F X² Palavra F X² Palavra F X²

Mudar 6 14,5 Representa 5 15,24 Consciencia 7 17,58 Não 8 20,98

3 nte

Cidadania 8 14,1 Cumprir 5 15,24 Mudança 11 17,02 Cidade 6 18,55

Direito 13 14,0 Buscar 5 11,13 Futuro 6 11,16 Cristão 5 15,24

Exercer 12 11,0 Participaçã 4 8,12 Esperança 8 10,29 Glorificar 5 15,24

4 o

Democracia 4 7,52 Melhoria 5 6,19 Necessidade 4 8,12 Deus 5 15,24

Figura 4. Análise CHD sobre as principais razões para você participar politicamente.

A análise evidenciou um grande equilíbrio como um todo, sendo iguais três das quatro

classes. A classes 1, 2 e 3 têm raízes semelhantes e portanto mostram similaridade nos resultados,

enquanto a classe 4 manifesta motivações mais estritamente religiosas no envolvimento político.


21

A classe 3 demonstra que uma motivação bastante esperançosa na postura de se envolver

politicamente. Nota-se aqui a percepção de que há a necessidade de mudança no cenário atual e,

através da participação, ocorrerá uma mudança no futuro, promovendo esperança. A classe 2,

embora bastante semelhante, demonstra que este público buscar cumprir o seu dever pessoal frente

a participação política, almejando melhoria no quadro de representantes, o que manifesta mais uma

vez insatisfação com o cenário político presente. Enquanto a classe 1 manifesta esse desejo de

mudança através da cidadania, do exercer seu direito e uma sociedade democrática. Há uma sutil,

mais significativa diferença nesta classe, pois percebe-se aqui um aspecto mais social e comunitário

associado a esse desejo de mudança.

Este resultado que aponta para uma grade insatisfação como uma razão importante para o

envolvimento político corrobora com o que argumenta Moisés & Carneiro (2008), quando afirmam

que se espera um desempenho governamental que busque solucionar problemas socialmente

percebidos como prioritários, quando tal postura não é vista produz insatisfação na população e, em

consequência disso, desejo de mudança.

Considerações Finais

As análises relatadas neste trabalho mostram que as dimensões relativas à religião e política

tem uma forte ligação para o público entrevistado. O que se alinha com o que afirma Smith (2017)

quando argumenta que existe algo de político em jogo no culto e prática religiosa, bem como há

algo de religioso em jogo na política.

Neste sentido, a prevalência do elemento Corrupção presente na visão que os entrevistados

têm de política pode demonstrar um importante contrassenso frente ao cenário político atual, pois

há uma grande presença de políticos que se dizem cristãos nas câmaras e, como argumenta

Machado (2015), mesmo em meio a divergências doutrinarias e teológicas, os católicos e

evangélicos, mais precisamente os carismáticos e pentecostais, estão apresentando um esforço para

se aliar na esfera política sob a prerrogativa de preservar o caráter cristão das noções de moral da
22

população brasileira. Todavia, esta presença não representa os ideais de bem comum, justiça e

honestidade que a pesquisa aponta como desejo de alguns participantes. Isto explica o resultado das

motivações para o envolvimento político dos participantes fortemente marcado pelo desejo de

mudança e melhoria manifestados na pesquisa.

Nesta perspectiva, a Teoria das Representações Sociais (TRS) pode ser uma ferramenta de

auxílio na investigação das crenças formuladas e comunicadas socialmente pelo grupo participante,

pois como afirma Bueno & Freitas (2018), a TRS concede uma grande possibilidade de analisar e

entender de que forma as representações são coletivamente construídas e presentes no cotidiano, o

que alinha-se com as noções apresentadas na pesquisa de que a participação política é algo inerente

a todo cidadão cristão.

Ademais, as limitações da pesquisa são reconhecidas pelos pesquisadores sendo considerado

os complexos fenômenos envolvidos no processo de envolvimento político entre estudantes

universitários cristão. O que também reflete a relevância do presente estudo no meio científico, pois

proporciona a validade de se analisar as experiências rotineiras ligadas tanto a religião como a

política à luz da teoria das representações sociais. Convém observar que a pesquisa e dispões de

análises metodológicas baseadas no rigor científico da produção acadêmica. Demonstra-se a

importância de estudos posteriores sobre a relação das crenças pessoais e o envolvimento político,

com a finalidade de contribuir para o saber psicológico científico e desenvolvimento da sociedade.


23

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