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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR


DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Praça da República, nº 45,


Centro, Rio de Janeiro – RJ. CEP: 20.211-350.
www.cbmerj.rj.gov.br
Tel.: (+55 21) 2333-2362.

Copyright © 2022. Catalogação na fonte:


Estado-Maior Geral do CBMERJ.

Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (Brasil).

Manual de Salvamento Terrestre: 2022 / CBMERJ. Rio de Janeiro: CBMERJ, 2022

Prefixo editorial: 68512

Número ISBN: 978-85-68512-21-0

Tipo de suporte: E-book

Formato: PDF

1. Corpo de Bombeiro Militar.

CDD 341.86388

É permitida a reprodução do conteúdo deste Manual desde que


obrigatoriamente seja citada a fonte.
As reproduções para fins comerciais são rigorosamente proibidas.

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SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA CIVIL


CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ESTADO-MAIOR GERAL

Governador do Estado do Rio de Janeiro


CLÁUDIO BOMFIM DE CASTRO E SILVA

Secretário de Estado de Defesa Civil e Comandante-Geral do CBMERJ


CORONEL BM LEANDRO SAMPAIO MONTEIRO

Chefe do Estado-Maior Geral e Subcomandante-Geral do CBMERJ


CORONEL BM JOSÉ ALBUCACYS MANSO DE CASTRO JUNIOR

Subchefe Operacional do Estado-Maior Geral


CORONEL BM RODRIGO ANDRÉ DE OLIVEIRA BASTOS

Subchefe Administrativo do Estado-Maior Geral


CORONEL BM LUCIANO SILVA ASSUNÇÃO

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AUTORES

MAJOR BM FABIO LUIZ FIGUEIRA DE ABREU CONTREIRAS


MAJOR BM JOSÉ CARLOS ALVES EVANGELISTA
CAPITÃO BM RODRIGO PACHECO DE MELO ALCANTELADO
CAPITÃO BM IURI DIAS SILVA LEITE
CAPITÃO BM JANSEN DOS SANTOS PAIVA
CAPITÃO BM JULIENE AZEVEDO FERREIRA DA SILVA
1º TENENTE BM EDILE PINTO DA MOTTA
1º TENENTE BM CASSIO LEITE MARTELLO

MANUAL DE SALVAMENTO TERRESTRE

MOPBM 4 -025

Este manual foi elaborado por iniciativa


do Estado-Maior Geral e atende as
prescrições contidas na Portaria
CBMERJ nº 962 de 26 de dezembro de
2017, publicada no boletim da
SEDEC/CBMERJ nº 008 de 11 de
janeiro de 2018.

Rio de Janeiro
2022

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REALIZAÇÃO
ESTADO-MAIOR GERAL

COORDENAÇÃO
CORONEL BM PAULO NUNES COSTA FILHO
TENENTE-CORONEL BM JOMAR RICARDO ESTEVES
MAJOR BM DIEGO SAPUCAIA COSTA DE OLIVEIRA
MAJOR BM JEFFERSON ESTEVES FIDELIS

COLABORADORES
TENENTE-CORONEL BM EULER LUCENA TAVARES LIMA
MAJOR BM MARCOS HENRIQUE DO NASCIMENTO SILVA
CAPITÃO BM IAN MANSO DA SILVA

REVISORES
TENENTE-CORONEL BM CLAUDIA NOGUEIRA FARIA
TENENTE-CORONEL BM FILIPE BOECHAT DUQUE
CAPITÃO BM PAULO TIAGO CASTRO DO NASCIMENTO
CAPITÃO BM LUCAS NASCIMENTO DA SILVA
SUBTENENTE BM LEANDRO LESSA DE VASCONCELOS

PROJETO GRÁFICO
CAPITÃO BM DJALMA DE FIGUEIREDO JUNIOR

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SUMÁRIO

OBJETIVO 7

FINALIDADE 8

REFERÊNCIA NORMATIVA E BIBLIOGRÁFICA 9

DEFINIÇÕES E CONCEITOS 10

1 FERRAMENTAS, EQUIPAMENTOS E ACESSÓRIOS 11

2 NOÇÕES DE SEGURANÇA VERTICAL 42

3 CORTE DE ÁRVORE 56

4 CAPTURA DE ANIMAIS 76

5 OPERAÇÕES DE MANEJO E CONTROLE DE ENXAMES INSETOS 92

6 ENTRADAS E ABERTURAS FORÇADAS 97

7 ABORDAGEM TÉCNICA A TENTATIVA DE SUICÍDIO 113

8 ABORDAGEM, CONTENÇÃO E CONDUÇÃO DE PACIENTE COM TRANSTORNO


COMPORTAMENTAL. 128

9 SALVAMENTO EM ESPAÇO CONFINADO 133

10 SALVAMENTO VEICULAR 195

11 SALVAMENTO EM ELEVADORES 271

12 BUSCA E RESGATE EM ENCHENTES E INUNDAÇÕES 313

13 TÉCNICAS BÁSICAS DE SALVAMENTO EM ESTRUTURAS COLAPSADAS 337

14 TÉCNICAS BÁSICAS DE SALVAMENTO EM SOTERRAMENTOS 362

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OBJETIVO

Fornecer aos bombeiros militares do CBMERJ informações técnicas e


atualizadas sobre a atividade de Salvamento Terrestre, sendo a doutrina de referência
no âmbito do Estado do Rio de Janeiro.

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FINALIDADE

Capacitar os bombeiros militares do CBMERJ no que tange ao correto


atendimento às ocorrências, tanto em cursos de formação quanto de especialização,
sendo indicado também para a instrução continuada de todos aqueles que exercem a
atividade operacional.

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REFERÊNCIA NORMATIVA E BIBLIOGRÁFICA

As normas e bibliografias abaixo contêm disposições que estão relacionadas


com este manual.

a. Normas e legislações
- NFPA 1670: technical search and rescue operations. First draft 2014.
Disponível em:
https://www.nfpa.org/Assets/files/AboutTheCodes/1670/1670_F2013_FDR.pdf
.

b. Bibliografia
- PHTLS - Atendimento Pré-Hospitalar ao Traumatizado – NAEMT - 8ª Ed. 2016.

- Extrication of the seriously injured road crash victim. Calland V. Emerg Med J
2005;22:817–821. doi: 10.1136/emj.2004.022616. Disponível em:
http://emj.bmj.com/content/22/11/817.full.

- Hallinan B. The EMT's and Paramedic's Role in Vehicle Extrication. JEMS Jun
8, 2015. Disponível em: http://www.jems.com/articles/print/volume-40/issue-
6/features/the-paramedic-s-role-in-vehicle-extrication.html.

- DUNBAR, I. Técnicas de desencarceramento veicular. Holmatro. 2014. ISBN


978-90-822228-4-5.

- Walters TJ, Powell D, Penny A, Stewart I, Chung K, Keenan S, Shackelford S.


Management of crush syndrome under prolonged field care. J Spec Oper
Med. 2016 fall;16(3):78-85.

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DEFINIÇÕES E CONCEITOS

Para efeito deste manual, aplicam-se as definições específicas deste item:

APH – Atendimento Pré-Hospitalar


BREC – Busca e resgate em estruturas colapsadas
CBMERJ – Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro
EMG – Estado-Maior Geral
EPI – Equipamento de proteção individual
EPRA – Equipamento de proteção respiratória autônomo
NBR – Norma Brasileira
NFPA – National Fire Protection Association
PFF – Peça facial filtrante
POP – Protocolo Operacional Padrão
PQS – Pó químico seco

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1 FERRAMENTAS, EQUIPAMENTOS E ACESSÓRIOS

1.1 Definição

Ferramenta: Objeto de uso manual para realizar uma ou várias tarefas, sua
utilização depende da força motriz de seu usuário.
Equipamento: Aparelho ou maquinário de certa complexidade, o qual se baseia
na transformação da energia para ampliar a capacidade de trabalho sendo mais
eficiente nas tarefas em que for utilizado.
Acessório: Objeto que utilizado de modo individual ou em conjunto com outros,
poderão compor um equipamento ou ferramenta, desta forma irá ampliar ou melhorar
a capacidade operativa ou a realização de uma tarefa.

1.2 Materiais

a) Alavanca

Fabricada geralmente em ferro, é encontrada na forma de barra de seção


circular ou octogonal. Seu formato, comprimento e extremidade podem variar.
Utilizada em diversos tipos de salvamentos, principalmente em atividades de
arrombamento e deslocamento de cargas.

Figura 1
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II - CBMERJ

b) Almofadas Pneumáticas
São equipamentos utilizados para elevação ou sustentação de cargas, comumente
utilizadas em acidentes aeronáuticos, ferroviários, veiculares e em estruturas
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colapsadas. São produzidas para serem resistentes à intempéries, à abrasão e a


diversos produtos químicos.
Na Corporação são encontrados modelos de alta pressão próprios para cargas mais
pesadas. Dependendo da situação do evento, elas podem ser empilhadas para atingir
alturas maiores, obedecendo aos limites descritos por cada fabricante.
Seu abastecimento se dará pelo cilindro de ar comprimido como os utilizados no
EPRA, mas também pode ser abastecido por outra fonte que atenda a pressão
necessária, como compressores.
O conjunto normalmente é constituído pelo reservatório de ar, por um redutor de
pressão, por um módulo de comando, por mangueiras com engates rápidos e as
almofadas.

Figura 2
Fonte: SOSSUL

c) Aparelho oito ou freio oito


Possui esta nomenclatura devido ao seu formato semelhante ao algarismo oito(8).
Usado como freio em descidas de cargas ou pessoas, possui carga de ruptura
superior a 30 kN, tratamento contra abrasão.

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Figura 3
Fonte: CBMERJ

Figura 4
Fonte: https://www.alpimonte.net/esporte/freios-e-descensores/5a5d0a1e31c3d

d) Ascensor de Punho
Fabricado em alumínio, possui versão do modelo para mão direita e esquerda com
empunhadura ergonômica, existem também modelos ventrais, de punho para cordas
dobradas e para uso dos pés. Possui sistema blocante do tipo mordente (dentado)
para progressão em cordas sintéticas de 8 mm a 13 mm, mesmo elas estando
molhadas, “lameadas” ou congeladas.
Segundo o Manual Básico de Bombeiro Militar 2017 - Volume 2: “Possui
orifícios na parte superior e inferior: na parte superior, no CBMERJ, padroniza-se
conectar um mosquetão entre o orifício e a corda, por segurança.”

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 5
Fonte: CBMERJ

e) Bastões fluorescentes
Têm a finalidade de iluminar e sinalizar em eventos de busca e salvamento. Facilita a
localização, principalmente à noite, porém possui um período limitado de iluminação
e uma área reduzida de alcance.

Figura 6
Fonte: https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-727037273-luz-quimica-sinalizador-fluorescente-em-basto-nautika-
_JM

f) Baudrier
Fabricado com fitas de nylon de alta resistência, é utilizado para envolver o bombeiro
ou a vítima dando sustentação ao corpo com segurança e equilíbrio, fornecendo um
ponto de fixação. Sua função principal é para trabalhos em altura e acesso por cordas.
Também conhecido como “cadeirinha”.

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Figura 7
Fonte: LOJA DA MONTANHA

g) Bússola
Instrumento com finalidade de auxiliar na navegação e orientação. Tem o princípio de
funcionamento baseado nas propriedades magnéticas da Terra, no qual uma agulha
suspensa no centro de gravidade aponta sempre para o Norte Magnético da Terra.

Figura 8
Fonte: LOJA DA MONTANHA

h) Cabo ou corda
Segundo o Manual de Salvamento em Alturas do CBMERJ MOPBM 4.004, é um
conjunto de cordões de qualquer fibra, torcidos juntos ou trançados entre si.
Normalmente utilizado em eventos que envolvem altura, sistema de tracionamento
multiplicador de força e similares.

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Figura 9
Fonte: http://www.ecocacaepesca.com.br

i) Cabo solteiro
Corda de tamanho reduzido, normalmente de 2 a 3 metros de comprimento e cerca
de 6mm a 8mm de diâmetro com diversas utilizações auxiliares.

Figura 10
Fonte:usemilitar.com.br

j) Caixa de contenção
Local onde o animal capturado fica retido e é transportado em segurança. Possui
diversos tamanhos para animais de tamanhos diferentes.

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Figura 11
Fonte: ROSAMINAS

k) Caixa para contenção de serpente


Local onde as serpentes ficam retidas e são transportadas em segurança. Há outros
modelos com formatos diferentes mas todos com o mesmo princípio.

Figura 12
Fonte: ROSAMINAS

l) Calço
Utilizado principalmente para estabilização de veículos em eventos de
salvamento veicular.
Fabricados normalmente em blocos maciços em material plástico (polietileno),
podem ser de madeira também, em diversos tamanhos e formatos, como:
retangulares, quadrados, cunhas e formato de escada.

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Figura 13
Fonte: SOSSUL

m) Cambão
Também conhecido como "enforcador", utilizado principalmente em cães muito fortes.
Tem como objetivo limitar a força do animal através de uma pressão desconfortável
em seu pescoço e o militar manterá distância segura do animal.
Se usado de forma correta, ele não enforca e nem machuca fisicamente o
animal, apenas provoca um leve desconforto. Deve ser colocado na parte superior do
pescoço próximo às orelhas, nunca na parte de baixo, pois pode causar problemas
respiratórios associados à traqueia.
Nunca deixe um animal preso com o cambão.

Figura 14
Fonte: SOSSUL

n) Capacete
Tem a finalidade de proteger a cabeça contra riscos mecânicos. Há diversos modelos
com características peculiares a aplicação em que ele se propõe, por exemplo: para
combate a incêndio, fogo em vegetação, busca na mata, etc. As características mais
comuns são: ajuste para encaixe na cabeça e fixação abaixo da mandíbula.

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Figura 15
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II – CBMERJ

o) Cartas topográficas
Muito utilizadas em eventos que envolvam o ambiente de montanhas, matas
e/ou florestas, principalmente em buscas. As cartas dão uma visão ampla do local e
permitem a preparação de planejamentos e estratégias dentro de uma visão global. É
a representação bidimensional de um espaço tridimensional em uma determinada
escala com simbologia característica.

Figura 16
Fonte: EXTREMOS

p) Cinta com Catraca ou Fita Catraca


Consiste em uma cinta para amarração de carga que passa por uma catraca
móvel com rabicho e gancho na ponta.

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Segundo o Manual de Salvamento Veicular do CBMERJ, os parâmetros adotados pela


Corporação, possui largura não inferior a 50 mm e comprimento superior a 9 metros,
suportando cargas acima de 3.000 kg.
Utilizada normalmente em eventos de salvamento veicular na parte de estabilização
dos veículos.

Figura 17
Fonte: Manual de Salvamento Veicular MOPBM 3.002

q) Cinto Paraquedista ou Baudrier Integral


Semelhante ao baudrier anterior, porém possui sustentação para a parte
superior do corpo (suspensório). Por conta desta adição, possui outros pontos de
conexão como o torácico e dorsal, o que confere maior segurança de acordo com o
cenário.

Figura 18
Fonte: LOJA DA MONTANHA

r) Cones de sinalização
Consiste em um tronco cônico de plástico (borracha ou PVC) de cor laranja e provido
de faixas refletivas para sinalização noturna.
Utilizado para isolamento da cena e sinalização de vias.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 19
Fonte: https://loja.bombeiros.com.br/cone-de-sinaliza%C3%A7%C3%A3o

s) Corta cinto e quebra vidro


Mais conhecido por ter as duas funções em uma mesma ferramenta. A parte
responsável por cortar o cinto nada mais é do que uma lâmina disposta de tal forma
que facilita o ato.
A parte destinada a quebrar o vidro é conhecida também como window punch
tool, ela é fabricada com uma ponta metálica que quebrará o vidro através de uma
punção, há modelos que possuem outros princípios de ação com a mesma finalidade.
Deve ser utilizado em vidros temperados.

Figura 20
Fonte: Resqme

t) Desencarcerador
Conforme definido pelo Manual de Salvamento Veicular MOPBM 3.002 CBMERJ:
“pode vir a ser uma motobomba, uma eletrobomba ou uma bomba manual, utilizado
principalmente em acidentes veiculares, onde existe necessidade de abertura e
criação de espaço com o corte e/ou afastamento de estruturas metálicas, visando à
extração de vítimas encarceradas.”

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Figura 21
Fonte: https://www.holmatro.com/pt/resgate/bomba-dupla-gasolina-sr-20-pc-2-e-1

Figura 22
Fonte: Manual de Salvamento Veicular MOPBM 3.002 CBMERJ

u) Detector Multigases
Equipamento portátil com a finalidade de avaliar as condições da atmosfera.
Detecta e alerta através de sinal sonoro o limite inferior de explosividade (%LIE),
quantidade de O2(%), CO (Monóxido de carbono)(ppm), H2S (Gás sulfídrico)(ppm).

Figura 23
Fonte: Manual de instruções do detector de gases Protegé da Scott

v) Escada prolongável
São fabricadas em diversos materiais, os mais comuns no CBMERJ são
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alumínio e fibra de vidro, sendo esta última não condutora de eletricidade e mais
resistente. Utilizado para alcançar patamares superiores de modo a facilitar o acesso
do militar. Um lance será fixo e o outro móvel, desta forma será desenvolvida de
acordo com a necessidade.

Figura 24
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II – CBMERJ

w) Escudo rígido ou maleável


Fabricado normalmente em PVC ou acrílico, transparente. Utilizado em
cenários de salvamento veicular, serve como um anteparo entre a vítima e/ou
socorrista e a ferramenta utilizada. Também utilizado em momento de quebra de
vidros em que os mesmos causem risco à vítima e/ou socorrista.
Na ausência dele, pode ser substituído por uma prancha rígida.

Figura 25
Fonte: SOSSUL

x) Estabilizador de tração
Fabricado em aço ou alumínio, é utilizado normalmente em eventos de
salvamento veicular. Possui sistema de desenvolvimento telescópico, devido ter dois
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tubos quadrados que correm um por dentro do outro, o que possibilita, pelo
travamento, o trabalho em alturas variadas.
Em uma extremidade possui uma base quadrada móvel que se adapta a
angulação do solo e, na outra extremidade, uma “cabeça” serrilhada que facilita a
fixação ao veículo. Também possui um fita com catraca e gancho que será fixado ao
veículo em determinada angulação formando um triângulo de modo que equalize as
forças e o estabilize.
Possuem uma fita de carga com catraca e gancho, que fixado ao veículo
formará um triângulo que equaliza as forças e o estabilizará

Figura 26
Fonte: https://www.holmatro.com/pt/resgate/inovacao/ultimas-inovacoes/escora-em-v

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Figura 27
Fonte: Holmatro

y) Facão
Utilizado em corte de árvore, principalmente para cortes de galhos de menor diâmetro,
para “limpar” o caminho, ao cortar a vegetação que o obstrui e assim ter melhor acesso
e visibilidade para realizar os cortes necessários. Também bastante utilizado nas
buscas em matas fechadas a fim de abrir passagem e evitar ferimentos.

Figura 28
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II – CBMERJ

z) Fitas tubulares
Por conta do formato tubular, é mais macia e maleável, o que facilita a
confecção de nós, além disso, é utilizada também em ancoragens. São fabricadas
normalmente em perlon, polipropileno e nylon, e no CBMERJ é mais encontrada com
as seguintes medidas: 2,5cm à 3,0cm de largura e 3mm de espessura.

Figura 29
Fonte: CBMERJ

aa) Gancho
Utilizado nas capturas de serpentes. Consiste em um cabo de metal com um gancho
em uma extremidade.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 30
Fonte: SOSSUL

bb) Gerador
Equipamento motomecanizado à combustão interna, sendo uns modelos a diesel e
outros à gasolina, cuja finalidade é fornecer corrente elétrica, em uma tensão de 110V
ou 220V, aos materiais operacionais.

Figura 31
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II - CBMERJ

cc) GPS (Global Position System)


É um sistema de posicionamento global por satélite que tem a finalidade de
determinar a posição de um receptor no planeta.
Auxilia no planejamento e execução das atividades que envolvam navegação
e localização precisa. Sua precisão depende da quantidade de satélites que se
conectam ao receptor, assim melhor será o resultado da posição geográfica (latitude,
longitude e altitude).

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Figura 32
Fonte: LOJA DA MONTANHA

dd) Halligan
Ferramenta versátil com múltiplas funções, possui em uma das extremidades uma
garra tipo garfo similar a de um pé de cabra, na outra extremidade uma ponteira
própria para perfurações e uma cunha que auxilia na criação de espaços.
É muito utilizada em entradas e aberturas forçadas.

Figura 33
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II – CBMERJ

ee) Lanternas
As mais utilizadas no CBMERJ são as manuais e de cabeça (headlamp), estas
têm a vantagem de deixar as mãos do militar livre durante a operação.

Figura 34
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II - CBMERJ

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Figura 35
Fonte: https://www.safety-devices.com/brunton-glacier-115-feet-hi-beam-headlamp-p-45.html

ff) Linga
Utilizadas para realizar tracionamento ou transporte, também utilizada para
ancoragem. Tem como característica possuir um olhal em cada extremidade, local
onde são conectados diferentes acessórios de acordo com a necessidade.

Figura 36
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II – CBMERJ

gg) Lona
Possui diversas utilidades sendo a principal delas a preparação de local para
estabelecimento de palco de ferramentas, são mais comuns as de pano ou plástico.
É importante que o material não absorva sujeira, seja fácil de limpar e seja
resistente.

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Figura 37
Fonte: SOSSUL

hh) Luvas
Têm a finalidade de proteger as mãos do militar. Há diversos modelos com
características peculiares à atividade a que se propõe, como por exemplo: De
incêndio, contra riscos elétricos, contra riscos biológicos, de salvamento, etc. Deve
fornecer segurança e facilidade para o militar na percepção dos objetos à sua volta.

Figura 38
Fonte: https://www.superepi.com.br/luvas

ii) Maca Cesto


Maca rígida, porém dobrável. Ao ser dobrada, seu tamanho é reduzido e facilita
o deslocamento até a vítima. A elevada rigidez da estrutura colabora para a
estabilidade e proteção da vítima durante o transporte, seja em situações normais ou
extremas. Sua construção reforçada e características especiais permitem manobras
horizontais ou verticais com maior nível de confiabilidade, seja por terra, água ou ar.

Figura 39
Fonte: CBMERJ

jj) Maca Envelope


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Fabricada em material leve, flexível e resistente, normalmente PVC, é indicada para


eventos em altura, espaços confinados, locais restritos, áreas externas e ambientes
naturais. Possui alças de transporte e deixa a vítima estabilizada e protegida dentro
da maca, tanto quando utilizada com vítima na horizontal, quanto na vertical. Por ser
guardada enrolada e por ser leve, facilita no deslocamento até a vítima.

Figura 40
Fonte: climbclean.com.br

kk) Machadinha
Machado de pequeno porte utilizado para quebra, corte de vidro laminado e
arrombamentos.
Adquiriu a função de multiuso devido ao acréscimo de implementos ao seu
corpo como cortadores de chapa, ponteira e cunhas tipo garfo ou garra.

Figura 41
Fonte: SOSSUL

ll) Machado
Ferramenta de aço com o formato semicircular e de gume afiado com cabo de madeira
inserido na parte metálica.
Utilizado em corte de árvores e entradas e aberturas forçadas.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 42
Fonte: MANUAL DE OPERAÇÕES EM DESASTRES - CBMERJ

mm) Machado picareta


Ferramenta semelhante ao machado, porém com uma picareta no lado oposto à parte
semicircular.

Figura 43
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II - CBMERJ

nn) Malho
Ferramenta de uso manual, utilizada em trabalhos que exijam deslocamento ou
deformação, pode ser utilizada em conjunto com ponteira e talhadeira, muito comum
em eventos de estruturas colapsadas (BREC).
Uma extremidade possui formato retangular e seção quadrada conectada a um
cabo de madeira ou ferro.

Figura 44
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II - CBMERJ

oo) Mini cortador


Muito utilizado em eventos de salvamento veicular.
Também conhecido como corta pedal, utilizado para cortes em que o cortador
não tem acesso e em peças de metal de diâmetro de até 20 mm. Sua capacidade
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

também é menor que a do cortador, logo o militar deve atentar às suas especificações.
O modelo recém-adquirido pelo CBMERJ é o CU 4007 C da Holmatro, que segundo
a norma EN 13204 tem capacidade para cortar barras redondas de até 20 mm de
diâmetro.

Figura 45
Fonte: Manual de Salvamento Veicular CBMERJ

pp) Mosquetão e Mola


Mola - gatilho sem rosca.
Mosquetão - gatilho com rosca (com trava) e com o gatilho automático.
Utilizados como elementos de ligação na montagem de sistemas de forças,
içamento de cargas, transposição de obstáculos e elementos de segurança. Existem
vários modelos e podem ser de duralumínio, aço carbono e aço.

Figura 46
Fonte:https://www.ultrasafe.com.br/arquivos%20internos/UStxtConectores2017.pdf

Figura 47
Fonte:https://www.ultrasafe.com.br/arquivos%20internos/UStxtConectores2017.pdf

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

qq) Moto-cortador
Equipamento motomecanizado à combustão interna, abastecido por mistura de
gasolina mais óleo de acordo com o determinado pelo fabricante, cujo objetivo
principal é para cortes de chapas e concreto.
De acordo com o tipo de disco utilizado, serve para cortar madeira, metais e
concreto.

Figura 48
Fonte: stihl.com.br

rr) Motosserra
Equipamento motomecanizado à combustão interna, abastecido por mistura de
gasolina e óleo de acordo com o determinado pelo fabricante.
Utilizada em eventos de corte de árvores.

Figura 49
Fonte: cassel.com.br

ss) Óculos de proteção


Tem a finalidade de proteger os olhos contra riscos mecânicos e alguns riscos
biológicos e químicos.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 50
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II - CBMERJ

tt) Pá
Consiste em uma chapa metálica, que pode ser redonda ou quadrada com formato
côncavo, conectada a um cabo de madeira e alguns modelos possuem empunhadura.
Existem também os modelos de campanha.
Utilizada na remoção de material ou escavação.

Figura 51
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II – CBMERJ

uu) Pé de cabra
Tipo de alavanca metálica com uma fenda em uma das extremidades e a outra reta.
Utilizada em entradas e aberturas forçadas.

Figura 52
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II - CBMERJ

vv) Pinção
Utilizado em alguns répteis e serpentes, fabricado em alumínio, com punho tipo gatilho
e pinça tipo “jacaré”.
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 53 - Pinção para mamíferos (esquerda) e Pinção para répteis (direita)


Fonte: SOSSUL

ww) Polias
Fabricadas em aço ou alumínio, são utilizadas com cordas para efetuar desvios
(mudanças de direção) ou confecção de sistemas de força. Há diversos modelos que
são selecionados de acordo com a necessidade do evento ou decisão do operador.
Existem modelos específicos para serem utilizados em cabo de aço.

Figura 54
Fonte:CBMERJ

xx) Prancha rígida


Fabricada normalmente em madeira e polietileno. É a mais utilizada nos transportes
de vítimas nos eventos do CBMERJ.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 55
Fonte: https://www.outdoorequipamentos.com.br/equipamentos-altura/resgate/macas/maca-prancha-longa-de-
polietileno-com-3-cintos-ortopratika

yy) Protetor auricular


Tem a finalidade de proteger a audição do militar nas mais variadas operações.

Figura 56
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II - CBMERJ

zz) Protetor de air-bag


Tem a finalidade de proteger a vítima e o socorrista no caso de um acionamento
involuntário do air-bag. Possui dispositivo que prende ao volante e que irá reter a
expansão do balão do air-bag. Na ausência do protetor, é possível improvisar a
proteção com cabos ou fitas.

Figura 57
Fonte: HOLMATRO

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

aaa) Proteções de lona


Utilizadas para mitigar os riscos no cenário de salvamento veicular. Consistem
em lonas de diversos tamanhos que são utilizadas junto com prendedores que irão
fixar a lona no local desejado. Na ausência dela, podem ser utilizadas garrafas pet de
2 litros cortadas ao meio.

Figura 58
Fonte: SOSSUL

bbb) Puçá
Originalmente utilizado em pesca, é empregado em diversos tipos de eventos
de captura de animais no CBMERJ, tais como: aves, répteis, anfíbios e mamíferos.
Deve-se levar em consideração o tamanho do animal e o tamanho e resistência da
ferramenta.

Figura 59
Fonte: ROSAMINAS

ccc) Rádio Transceptor Portátil


Meio de comunicação mais confiável para ser utilizado pelos membros da
guarnição e de outras que venham a se envolver no evento.
Pode ser utilizado de duas formas distintas: DMO (Direct Mode Operation) e
TMO (Trunked Mode Operation).
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

O DMO, também chamado “ponto a ponto”, possui área de ação restrita devido
à necessidade de utilizar uma Estação Rádio Base (ERB), porém é o mais utilizado
em locais de socorro para comunicação entre as guarnições envolvidas.
O TMO utiliza duas estações de rádio para se comunicar através de uma ERB.
Por conta disso, tem maior alcance na comunicação.

Figura 60
Fonte: amazon.com

ddd) Rede
Utilizada em eventos de captura de animais. Não há padronização de seu tamanho e
podem ser feitos diversos incrementos a fim de torná-la funcional ao tipo de animal,
como por exemplo colocar pesos em suas extremidades.
Deve-se levar em consideração o tamanho do animal e o tamanho da rede.

Figura 61
Fonte: ROSAMINAS
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

eee) Serra Sabre


É um cortador elétrico portátil com bateria incorporada. Pode ser utilizado em
diversos tipos de eventos, pois sua lâmina pode ser trocada para a adequada ao
material desejado, seja ele: vidro laminado, policarbonato, fibras, madeira e metal.
Segundo o Manual de Salvamento Veicular do CBMERJ, o equipamento mais
presente na Corporação é da marca Dewalt, que pesa 3,2 kg operando com bateria
de 18v, tem um comprimento de golpe de 25 mm e consegue desferir até 2900 golpes
por minuto.

Figura 62
Fonte: SOSSUL

fff) Tesourão
Fabricado em aço com lâminas, utilizado para corte de cabos, arames, chapas,
fios e barras metálicas de diversos formatos. Sua capacidade de cortar materiais de
maior espessura é proporcional ao tamanho da ferramenta.

Figura 63
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II - CBMERJ

ggg) Tirfor
São guinchos manuais portáteis de cabo passante, ou seja, o cabo de aço é
tracionado continuamente em linha pelos conjuntos de mordentes que se regulam de
modo automático. É utilizado no tracionamento de cargas, seja na vertical, ou na
horizontal. Pode funcionar com grandes extensões de cabo.
Seu conjunto é composto pelo próprio tirfor, cabo de aço e alavanca telescópica.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 64.1 Tirfor Figura 64.2 Alavanca telescópica


Fonte: hoistandwinch.co.uk Fonte: CBMERJ

hhh) Tripé
Possui formato piramidal devido às três peças, normalmente tubulares, que darão o
formato citado. Alguns modelos necessitam de adaptações com roldanas em seu
centro (ponto de união das três peças), outros já vem com roldana acoplada, deste
modo permitem realização de içamento ou descida utilizando cordas ou cabos de aço.
O último modelo adquirido pelo CBMERJ possui capacidade máxima de 250 kg.

Figura 65
Fonte:http://www.protecao.com.br/noticias/produtos_&_servicos/leal_lanca_tripe_para_acesso_e_resgate/AcyJJ9/813

iii) Vara de Manobra com Croque na Ponta


Ferramenta composta por um cabo de fibra seccionado em partes com 1,5m
cada, que serve para prolongar/aumentar o alcance, de acordo com a necessidade.
Possui alta resistência mecânica e elétrica e cabeçote universal, ou seja, a peça da
ponta pode ser trocada de acordo com o objetivo. No CBMERJ a peça na ponta mais
utilizada é o croque, por isso o nome.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 66
Fonte: MANUAL BÁSICO DE BOMBEIRO MILITAR – Vol.II - CBMERJ

Obs: Não devem ser expostas a temperaturas muito elevadas pois estas
poderão diminuir sua resistência mecânica e elétrica.

2 NOÇÕES DE SEGURANÇA VERTICAL

Neste capítulo, caro aluno, trataremos a sua segurança em operações com


risco real de queda com medidas que poderão evitar que isso aconteça.
Não será tratado o Salvamento em Altura por entendermos que na corporação
existe um curso destinado exclusivamente a isso, mas apresentaremos noções que
poderão ajudar e muito nesse tipo de salvamento.
Iniciaremos com uma técnica simples para caça ao ponto de ancoragem, não
iremos trabalhar todos os nós porque partimos do princípio que você já os conhece.
Em caso de dúvidas, consulte o Manual Básico de Bombeiro Militar de nossa
corporação e os relembre.

2.1 Caça ao ponto de ancoragem

Essa técnica serve para confeccionarmos uma ancoragem em um ponto


distante, segundo o exemplo, um ponto mais alto, a fim de que possamos alcançá-lo
com segurança.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Este exemplo será realizado em um trilho de trem suspenso, nossa sala de aula
para esta instrução no Complexo de Ensino e Instrução Coronel Sarmento, mas
poderia muito bem ser feito em um galho de árvore ou numa viga mais alta.
Para iniciarmos, devemos revirar a corda que utilizaremos, em seguida faremos
várias alças próximas ao chicote dela, enrolaremos essas alças formando um desenho
que se assemelha ao algarismo 0 (zero) e transversalmente enrolaremos mais três
voltas nele para que não se desfaça com facilidade.

Figura 67 - Enrolar da corda antes do arremesso


Fonte: CBMERJ

Feito este procedimento, arremessaremos essa parte da corda sobre o local


onde desejamos ancorar.

Figura 68 - Arremesso da corda


Fonte: CBMERJ

Após êxito nessa etapa teremos três opções para a ancoragem:

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

a) Azelha dobrada (ou outro nó alceado) com mosquetão envolvendo o


firme da corda;
b) Azelha dobrada envolvendo o firme da corda;
c) Nó de prender mangueira.

Figura 69
Fonte: CBMERJ

As três formas possuem vantagens e desvantagens. Para fins didáticos,


utilizamos preferencialmente a azelha dobrada envolvendo o firme da corda, assim
economizamos o mosquetão do processo e deixamos mais seguro do que com o nó
de prender mangueira.
Lembre-se de passar a proteção de mangueira na corda antes de realizar o nó,
caso contrário a sua corda poderá ficar em contato com uma quina viva e ser
danificada.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 70 - Proteção de mangueira na corda.


Fonte: CBMERJ

Tomada essa precaução, só precisamos puxar o firme para que a ancoragem


se acoche no ponto desejado e teremos a nossa ancoragem principal pronta.

Figura 71 - Ancoragem acochada


Fonte: CBMERJ

Lembramos que devemos confeccionar uma ancoragem secundária quando


não temos total certeza de que o ponto principal é resistente, essa ancoragem
secundária é feita para o caso do ponto se romper e não da corda arrebentar.
Quando optarmos por uma ancoragem secundária, devemos realizá-la acima
e/ou atrás da principal, do contrário o bombeiro sofrerá um desvio grande de onde
está trabalhando e poderá assim se machucar caso o ponto principal se rompa.
Nesse caso, como ancoramos em uma estrutura suspensa, não
confeccionaremos uma ancoragem secundária, mas para evitarmos o acidente numa
possível confusão de qual cabo subir, pegaremos a parte da corda que sobra (aquela
que não é o firme), e ancoraremos em um ponto seguro, no caso do nosso exemplo
em outra estrutura do trilho e seguindo a ancoragem padrão do CBMERJ (volta do fiel
e três cotes).

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 72 - Ancoragem com o chicote que sobrou


Fonte: CBMERJ

Feito todo esse procedimento, podemos considerar que a nossa ancoragem


está pronta e o sistema seguro.
Lembramos mais uma vez da necessidade de confiarmos no ponto de
ancoragem, caso ele se rompa toda a operação pode ser comprometida.
Antes de subirmos por essa corda, convém que testemos a resistência do sistema,
para isso costumamos colocar três bombeiros suspensos nela.

Figura 73 - Teste do sistema


Fonte: CBMERJ

Após o teste e sem maiores transtornos poderemos operar com segurança,


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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

caso achemos necessária uma melhora na ancoragem, podemos usar o primeiro


bombeiro a subir nela para confeccionar outra ancoragem quando atingir o objetivo.
Você pode estar se perguntando se o bombeiro não ficaria inseguro ao retirar
a ancoragem da corda quando já estivesse num ponto elevado.
Resolvemos esse problema simplesmente com o uso de solteiras.

Figura 74 - Solteiras no Bombeiro


Fonte: CBMERJ

Sempre trabalhando com duas, podem ser confeccionadas usando um cabo


solteiro (pedaço de corda de 10mm) com 2m cada um e um mosquetão em seu chicote
conforme a figura.
Pode ser confeccionada com uma fita tubular de mesmo tamanho também.
Existe um equipamento chamado talabarte, muito comum no meio civil, mas
nem tanto nos quartéis que tem a mesma finalidade.

Figura 75 - Talabarte
Fonte: superepi.com.br

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Usaremos sempre em dupla para que durante o avanço do bombeiro ele possa
trocá-las de posição sem que fique solto com as duas, assim sendo, move uma por
vez e só solta a segunda após ancorar a primeira.
Voltando para a nossa situação da ancoragem com a corda, antes do militar
soltar a ancoragem dela, deverá se ancorar com as suas solteiras.

Figura 76 - Militar ancorado com as solteiras


Fonte: CBMERJ

Neste tópico você aprendeu como caçar um ponto de ancoragem distante na


vertical, vale lembrar que um procedimento semelhante pode ser utilizado para
ancorar um ponto distante na horizontal também.
Aprendeu também como se ancorar sem o uso da corda, mas sim com solteiras
e talabartes.
No próximo tópico avançaremos para a técnica chamada troca de aparelhos.

2.2 Troca de aparelhos

Nessa parte mostraremos uma técnica muito utilizada em operações verticais.


Para o nosso caso será demonstrado como sair de uma ascensão com os cordeletes
para uma descida com o aparelho oito e vice-versa.
Inicialmente, faremos a ascensão com os cordeletes usando o nó prussik. Ao
chegarmos no ponto desejado, afastaremos o cordelete do pé e equiparemos o
aparelho oito entre os dois. Após a equipagem do aparelho oito, convém a realização
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

da dupla trava para que possamos soltar a mão de comando e trabalharmos com mais
liberdade e segurança.
A realização da dupla trava é feita ao passarmos a corda da mão de comando
entre o firme que sai do aparelho oito e o próprio aparelho.

Figura 77 - Primeira parte da dupla trava


Fonte: CBMERJ

Logo depois repetimos o processo, mas teremos que passar um seio da corda
por dentro do mosquetão antes de travarmos pela segunda vez.

Figura 78 - Segunda parte da dupla trava


Fonte: CBMERJ

Feita a dupla trava, confeccionaremos um pescador com o seio da corda acima


do aparelho oito para aumentarmos ainda mais a segurança no procedimento.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 79 - Pescador após a dupla trava


Fonte: CBMERJ

Agora podemos subir o prussik do pé e ficarmos com a perna dele esticada, ao


fazermos isso o cordelete da cintura deverá ficar frouxo, assim poderemos soltar esse
cabo do nosso mosquetão e nos liberarmos dele.

Figura 80 - Alívio do prussik da cintura


Fonte: CBMERJ

Feito tudo isso, soltamos o cordelete do prussik do pé e podemos destravar o


aparelho oito e realizarmos a descida livre.
Para realizar a troca do aparelho oito para o cordelete, o processo é
semelhante, mas dessa vez se inicia com a confecção da dupla trava, depois
confeccionamos o prussik da cintura e o esticamos bem na corda, assim sendo,
podemos desfazer a dupla trava e descermos um pouco para que a tensão passe para
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

o cordelete. Logo em seguida, confeccionamos o Prussik com o cordelete do pé e


podemos ascender no sistema. Essa técnica é bem básica e serve para outros tipos
de ascensores e descensores.
Na próxima parte, veremos uma forma de ascendermos em uma estrutura com
o uso dos talabartes ou das solteiras.

2.3 - Ascensão em estruturas fixas

Nessa parte, veremos como podemos subir em escadas com o uso de


talabartes ou de solteiras, a operação é simples, mas vale a pena ser treinada.
Uma vez retirados os pés do chão, o bombeiro deverá estar ancorado em alguma
estrutura, não sabemos o que pode ocorrer durante o evento, um simples mal súbito
pode acarretar numa fatalidade.
Antes de subirmos, colocaremos o mosquetão do talabarte no degrau mais alto
que nosso braço alcançar e subimos até que aquele mosquetão usado anteriormente
atinja o ponto onde o talabarte está ancorado em nosso baudrier. Nunca devemos
passar desse ponto, assim evitaremos fatores de queda maiores do que um metro,
pouparemos o equipamento e a nossa saúde.

Figura 81 - Distância máxima de segurança


Fonte: CBMERJ

Nesse ponto, lançaremos o outro mosquetão do talabarte no ponto mais alto


que o nosso braço alcançar. Repetiremos esse processo até que atinjamos o nosso
objetivo.
Devemos tomar cuidado para que durante a colocação do mosquetão não o
deixemos aberto ou colocado em locais inseguros.
Quando fazemos a ascensão em locais sem a facilidade dos degraus de uma
escada, como no exemplo anterior, podemos improvisar com ancoragens menores e
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

móveis como costuras.


Caso o seu quartel não possua costuras para escaladas, é fácil improvisar
usando fitas ou pedaços de cordas e mosquetões.
Uma boa sugestão para a ascensão em postes é utilizarmos o poste como se
fosse a corda e colocarmos os cordeletes ao seu redor. Mas, por causa dos materiais
de construção dos postes, convém o uso de cordas mais grossas e resistentes, ainda
pode acontecer de usarmos o nó pata de gato no lugar do prussik por causa do atrito.

Figura 82 - Costura improvisada e ascensão em poste


Fonte: CBMERJ

2.4 Sistemas de força

Nessa parte do manual, veremos formas simples de tracionamento que


poderão ser muito eficazes em casos de salvamentos.
Lembramos que os conceitos para sistemas de forças podem ser vistos
inicialmente na parte de tracionamentos, como no nó paulista e na sua evolução para
o cariocão, assim sendo aconselhamos a você que reveja esses tracionamentos no
Manual Básico de nossa corporação.
Inicialmente, convém dizer que dividimos os sistemas de força em dois tipos, a
saber: estendido e reduzido. Fica mais fácil de associar o nome à sua montagem se
associarmos a quantidade de corda utilizada em cada caso. Nos dois tipos a redução
da carga é semelhante e podemos montar de diversas formas (dois por um, três por
um, quatro por um...).

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 83 - sistema estendido x reduzido


Fonte: CBMERJ

Começaremos pelo reduzido, que nada mais é do que o sistema cariocão.


Nesse exemplo utilizaremos os materiais comuns de termos nas nossas unidades:
cordas, cordeletes, mosquetões e aparelhos oito.
A quantidade de roldanas móveis utilizadas vai nos dizer por quanto o sistema
será dividido.
Nesse caso em especial, utilizaremos o mosquetão no lugar da roldana,
utilizaremos uma roldana móvel somente e como a ancoragem na carga se move
dizemos que é um sistema três para um (3X1), ou seja, dividimos o peso da carga por
três.
Vale lembrar que aqui não desprezamos o atrito e as perdas de força, assim
sendo essa conta de 3x1 não é exata e sim aproximada.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 84 - Sistema 3x1 estendido


Fonte: CBMERJ

Neste caso, elevamos uma carga de 60Kg e sendo um sistema 3x1 estimamos
que, com a perda por causa do atrito, realizamos a força necessária para elevar pouco
mais de 20Kg.
Colocaremos outra roldana móvel no sistema e dessa vez utilizaremos um
blocante (Prussik), ele ficará na parte da corda que vem direto da carga para assim
travar o sistema.
Como dessa vez utilizamos duas roldanas móveis o sistema passa a ser de
5x1.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 85 - Sistema 5x1 estendido com nó blocante


Fonte: CBMERJ

Agora, montaremos um sistema 4x1 e de forma estendido.


Dessa vez a ancoragem do chicote da corda ficará na parte superior e assim
não será móvel, transformando o sistema em divisor par. A corda passará pela roldana
movél duas vezes e por outra roldana ao lado da azelha de ancoragem que servirá de
desvio.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 86 – Sistema 4x1 estendido


Fonte: CBMERJ

Neste caso, não utilizamos roldanas apenas para que você perceba que é
possível confeccionar um sistema de forças mesmo sem elas, só considere que fará
um pouco mais de força por causa do atrito.
Para que facilite o seu entendimento na diferenciação nos sistemas de força,
pense que se tivéssemos que descer o bombeiro em um poço de 40m de
profundidade, usando o sistema 4x1 apresentado anteriormente, precisaríamos de
uma corda um pouco maior que 160m. Isso porque precisaríamos de quatro vezes a
distância da profundidade e mais o gasto com o freio, nós e a sobra de segurança.
Se fizéssemos o sistema reduzido precisaríamos um pouco mais de 40m, já
que a parte do sistema de força ficaria bem menor, mas em compensação teríamos
que manusear o sistema o recolocando no lugar várias vezes.
Em exemplos como esses, verificamos que operações de salvamento não
podem ser definidas como “receitas de bolo” já que cada caso é específico. O que
devemos fazer é possuir uma “caixa de ferramentas” cheia para que possamos nos
adaptar da forma rápida que o socorro exige e de maneira segura tanto para a vítima,
quanto para o bombeiro.
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

3 CORTE DE ÁRVORE

Este Capítulo tem por objetivo fornecer ao leitor um estudo sobre


procedimentos e boas práticas de segurança na realização do corte de árvore.
Ainda que não cubra todos os aspectos envolvendo supressão vegetal por risco
iminente e seus desdobramentos em diversos cenários, como é o exemplo de
incêndios florestais, este estudo objetiva fornecer um protocolo que delimita as ações
corretas e incorretas a serem adotadas durante a operação.

3.1 Definição

O termo "corte de árvore" é definido como o ato de suprimir parte ou todo de


uma vegetação que, como incumbência do CBMERJ, representa risco iminente direto
ou indireto à integridade física da sociedade e seus bens.

3.2 Cuidados prévios

3.2.1 Redução dos danos

Deve-se prover a segurança do cenário antes de iniciar-se o corte, observando


a direção do vento, pontos de secção, altura do vegetal e objetos/anteparos que o
circunscreve. A cena deve estar livre de indivíduos e estruturas que possam causar
efeitos em cadeia, quando atingidos pelo vegetal (como postes, fios condutores e suas
áreas de arco voltaico, antenas, veículos, passarelas, entre outros). Nossa missão é
suprimir riscos, não aumentá-los ou criar novos. Além disso, é extremamente
necessário que o Bombeiro Militar esteja devidamente equipado com o seu EPI,
durante toda a operação de Corte de Árvore.

3.2.2 Divisão do trabalho

Os militares empenhados no procedimento devem estar divididos de forma que


sejam garantidas a segurança interna e externa ao evento:

a. Internamente, deve-se assegurar que os procedimentos de maior risco


estejam sendo executados por, no mínimo, 1 (um) militar e observados por, no

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

mínimo, 1 (um) militar, de forma que possam observar, ao menos em dupla, atentos,
tudo que estiver sendo preparado e executado.

b. Externamente, deverá existir um terceiro militar, empenhado na


sinalização, observação de tráfego (quando necessário), e controle do fluxo de
pessoas, animais e veículos, de forma a garantir a segurança da cena antes, durante
e após o corte.

3.2.3 Elementos da Árvore

Figura 87 – Pontos de uma árvore além da raiz


Fonte: https://hum3d.com/pt/3d-models/banyan-tree/

A) Copa - Conjunto de ramos superiores;

B) Ramos - Subdivisão de caules da árvore;

C) Tronco - Refere-se ao eixo principal que vai do solo até os ramos.

Figura 88 – Partes internas do Tronco da árvore


Fonte: http://www.madeira.ufpr.br/disciplinasklock/quimicadamadeira/madeiraheterogenea2012.pdf

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

D) Raízes – Volume abaixo da terra responsável pela sustentação, tipificadas


em:

Figura 89 – Raízes da árvore


Fonte: https://www.todamateria.com.br/tipos-de-raizes/

3.3 Utilização da Motosserra e Segurança da Cena

É evidente que o corte de árvores com motosserras é uma atividade com um


grande potencial de acidentes, exigindo dos militares o conhecimento das técnicas de
trabalho e a adoção de normas básicas de segurança, visando a prevenção ou
minimização dos acidentes neste tipo de evento. Por isso, três condições importantes
devem ser consideradas:
● Planejamento da operação;
● Utilização de EPI´S;
● Uso de Ferramentas e suas boas condições.
Considerando o planejamento da operação, é importante salientar que o militar
nunca deve realizar o trabalho com motosserras sozinho, sendo recomendado sempre
estar acompanhado por outro militar, que ficará na responsabilidade de verificar a
segurança da cena, observando qualquer situação de risco no local.
Outro fator importante que é necessário levar em consideração é o estado de
conservação da motosserra, onde é extremamente crucial realizar a limpeza e a
manutenção preventiva após o uso desta ferramenta. Além disso, mesmo quando a
motosserra não for utilizada, é obrigação da OBM realizar as manutenções periódicas
da ferramenta, com o objetivo de mantê-la em boas condições de funcionamento e
proporcionando maior desempenho no trabalho, aumento da vida útil da máquina e
segurança ao militar.
Cabe ressaltar que nunca se deve operar a motosserra acima da linha da
cintura e, em dias de chuva ou em terrenos úmidos, a utilização desta ferramenta deve
ser evitada.
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

3.3.1 Equipamentos de proteção Individual – EPI’s

● Capacete de Salvamento;
● Luvas de vaqueta;
● Óculos de proteção;
● Cinto de resgate ou de segurança;
● Protetor auricular;
● Baudrier.

3.4 Avaliação do Corte

3.4.1 Fatores de Estabilidade do Vegetal

● Clima;
● Ausência, presença e direção dos ventos.
● Tipo de copa;
● Posicionamento dos galhos (engalhamento);
● Tipo e desenvolvimento das raízes;

3.4.2 Fatores de Desestabilização do Vegetal

3.4.2.1 Fatores Externos

● Ação do Vento - A ação do vento numa árvore provoca o seu


tombamento, pois as forças que agem sobre a Copa da árvore criam um momento de
força resultante nas Raízes. Vale ressaltar que quanto mais densa for a copa da
árvore, mais a ação do vento ela sofrerá;

● Podas Irregulares – Podas realizadas de forma irregular prejudicam a


estabilidade da árvore, pois geram condições prejudiciais no galho ou ramo cortado,
alterando a estrutura da árvore;

● Condições de Vida da Árvore - As condições de vida de uma árvore


estão relacionadas aos fatores externos, como umidade relativa do ar, precipitação,
clima e a incidência de raios solares. O fato de uma possível estrutura impedir, por

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

exemplo, a incidência dos raios solares ou até mesmo restringir a disponibilidade de


recursos hídricos pode gerar um comprometimento em sua estrutura, o que
potencialmente é capaz de gerar a presença de fungos e pragas, provocando o
desequilíbrio da árvore.

● Vandalismo – Outro fato muito corriqueiro são elementos arbóreos que


são mortos propositalmente com o objetivo de que seja feita a remoção deste vegetal.

3.4.2.2 Fatores Internos


● Pragas;
● Doenças;
● Desnutrição;
● Alterações Genéticas;

3.5 Métodos de Avaliação da Árvore

Existe um impasse no Corpo de Bombeiros quanto a determinar se é para


realizar ou não o abate do vegetal e se o mesmo se encontra ou não em perigo de
queda iminente ou se ela apresenta perigo potencial. Sobre a condição do vegetal
encontrada no local, podemos afirmar que:

“A ideia que se tem de Perigo de Queda Iminente é o de que a árvore está


prestes a cair, seja por um desequilíbrio de forças provocadas por uma
rachadura, seja pela ação maciça de pragas, doenças, ou até mesmo pela
evolução das forças de ventos sobre as raízes provocando inclinações
anormais ou rachaduras no solo com exposição de raízes. Nestas
circunstâncias, não há o que se discutir quanto à necessidade imediata de
corte, especialmente se tais árvores ameaçarem a vida e o patrimônio das
pessoas. O corte deve ser iniciado rapidamente, independente se é dia ou
noite. Entretanto, o que ocorre muitas vezes é o tal Perigo em Potencial. A
árvore está sadia, bem implantada, mas seus ramos e galhos estão
projetados sobre edificações. Pode ser que não estejam na iminência de
caírem sobre elas, no entanto, poderão cair por uma circunstância ou outra.
Daí convém que sejam podadas para evitar um mal futuro. Às vezes cabe
a presença de um Engenheiro Agrônomo para se verificar se a poda pode
ou não prejudicar efetivamente a árvore. Todo corte não deixa de ser um
ferimento. Muitas árvores não estão em Perigo de Queda Iminente e nem
oferecem Perigo em Potencial, mas estão numa situação de Risco

60
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Permanente. Seria o caso de uma árvore que está implantada nas encostas
de um terreno. Está sadia e bem implantada no solo inclinado. Porém, com
o passar do tempo, a acomodação do solo poderá desestabilizar a árvore
pela exposição de suas raízes, desequilibrando as forças ao longo de seu
tronco e inclinando-a perigosamente 78 com projeção de seus galhos sobre
os arredores. Sendo assim, tal árvore está numa situação de Risco
Permanente, pois a somatória dos fatores que poderão levá-la à queda são
previsíveis, embora tal queda não seja iminente. Cabe a cada avaliador
uma grande dose de bom senso. Muitas vezes deixa-se de cortar ou podar
uma árvore, oferecendo perigo em potencial, ou que está em risco
permanente, e com o passar do tempo, recebe-se a triste notícia de que,
os tais galhos ou a árvore caíram sobre uma residência e provocaram
lesões ou até mesmo a morte de pessoas ou então grandes danos ao
patrimônio. (MANUAL DE SALVAMENTO TERRESTRE DE GOIÁS, 2017,
p 77 e 78)”

Para se verificar as condições de uma árvore a respeito de sua estabilidade,


existem diversas formas, entre elas vale ressaltar o Método Visual, Método de
Ausculta e o Método por Aparelhos.

● Método Visual: é feito através da inspeção visual das árvores, onde o


objetivo principal é verificar a incidência de luz solar, a umidade relativa do ar, a
presença ou não de raízes expostas ou em processo de decomposição e se há ou
não a presença de pragas e fungos. É importante sempre ter em mente a imagem de
uma árvore viva e saudável, para que seja possível confrontar com a árvore
inspecionada.

● Método de Ausculta: consiste no procedimento de bater o tronco do


vegetal, observando constantemente o som. Posteriormente, deve-se fazer o mesmo
processo em uma árvore sadia da mesma espécie, e observar se existe uma
similaridade entre os sons emitidos por ambas as árvores.

● Método por Aparelhos: Inclui a utilização de equipamentos para a


inspeção das camadas internas da árvore. Estes Equipamentos são:
o Equipamentos que penetram no tronco e medem o esforço necessário
avançar por dentro;

61
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

o Dispositivo de Perfuração que pode remover o tecido e criar condições


para uma inspeção geral de todas as camadas do tronco;
o Aparelhos de Raio-X, que tem a capacidade de externar a imagem do
interior do tronco sem perfurar o mesmo;

É importante ressaltar que, atualmente no CBMERJ, os dois métodos mais


utilizados são os Métodos Visual e de Ausculta. Todavia, em eventos que estes
métodos não sejam precisos e suficientes para diagnosticar de forma pertinente a
saúde e condição da árvore, é necessário que um Engenheiro Agrônomo realize uma
inspeção na árvore e providencie um laudo sobre o estado da mesma.

3.6 Planejamento do corte

O planejamento de qualquer operação é de suma importância para qualquer


tipo de evento do CBMERJ. Tal análise permite atingir os objetivos de forma mais
eficaz. Para evento específico de corte de árvore, um dos principais propósitos é
realizar o abate do vegetal de forma segura, garantindo a segurança dos militares e
preservando os bens alheios.
Antes mesmo de iniciar o corte, é necessário que seja feita a Avaliação do
Cenário, levando em consideração diversas variáveis, como por exemplo:

● Aclividade do Terreno;
● Proximidade de outras edificações;
● Fatores climáticos;
● Direção e Intensidade dos ventos;
● Risco de Choque Elétrico;
● Angulação da árvore;
● Preservação da Viatura e dos Equipamentos;
● Densidade da Copa;
● Condição da árvore: oca, podre, morta, etc;
● Observar a direção de queda natural da árvore;
● Isolamento da área.

Ressalta-se que o isolamento da área deve respeitar uma distância de


62
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

segurança entre os militares na área de operação, que deve ser equivalente a no


mínimo 2,5 vezes a altura da árvore.

3.6.1 Palco de Ferramentas

O Palco de ferramentas é de extrema importância para o sucesso da operação,


visto que o mesmo contém todos os equipamentos e ferramentas que serão utilizados
durante o evento.
Vale ressaltar que o mesmo deve ser montado de forma organizada e fora da
zona quente, de forma que não prejudique a dinâmica do socorro.
É essencial que, após a montagem do palco, 01 (um) militar esteja
constantemente observando o mesmo para evitar extravios ou perdas dos materiais.
Cabe salientar que todo o material presente neste palco deverá estar registrado
em um checklist e que qualquer cautela ou devolução de material deverá ser
registrada.

3.6.2 Análise de riscos

Durante a operação de corte de árvore, existem inúmeros riscos. Muitos deles


serão mitigados logo após a avaliação da cena, porém alguns deles não serão
capazes de serem eliminados. Sendo assim, a atenção e a cautela durante todo o
evento são primordiais.
Os riscos desta operação são os seguintes:

● Presença de material metálico na estrutura da árvore: Todo material


metálico, como prego e arame, deve ser retirado da árvore antes de iniciar o corte,
pois os mesmos podem danificar a motosserra.

● Fadiga do Militar: É necessário que seja feito o revezamento dos


operadores de ferramentas, visto que quanto maior o cansaço do mesmo, maior é a
chance de acidente;

● Fatores Climáticos: Em dias com a temperatura elevada, é importante


observar o comportamento fisiológico do militar, e preservar constantemente a

63
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

hidratação do mesmo. Já em dias chuvosos ou em dias com a presença de descarga


atmosférica, o corte da árvore deverá ser evitado ao máximo.

● Proximidade de bens públicos ou particulares;

● Falta de treinamento;

● Riscos oferecidos pelo equipamento: ruído, vibração, parte cortante,


tanque de combustível, parte elétrica, escapamento, falta de trava de segurança;

● Riscos físicos: (ruído, vibração);

● Riscos biológicos: fungos, parasitas e bactérias, marimbondo,


abelhas, cupins e formigas;

● Riscos químicos: poeiras e fumaça;

● Riscos ergonômicos: postura inadequada, esforço físico;

● Riscos de acidente diversos: uso ou falta de EPIs adequado, queda


de galhos, ruptura da corrente, corte com a corrente da motosserra;

● Topografia do terreno.

3.7 Técnicas de corte

Uma vez definido se vai cortar ou podar a árvore, elabora-se um plano de corte.
Se o plano é um corte total da árvore, deve-se observar o seguinte:
∙ Determinar o Círculo de ação: deve-se observar a altura da árvore e
determinar um raio cuja distância seja de 2,5 (duas vezes e meia) a da altura da
árvore:

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Figura 90 – Círculo de ação


Fonte: Manual de Salvamento Terrestre de CBMGO de 2017, p 95

∙ Determinar o Palco de ferramentas: Deve-se estender uma lona fora do


Círculo de Ação e sobre ela colocar todas as ferramentas.

Figura 91 – Palco de ferramentas


Fonte: Manual de Salvamento Terrestre de CBMGO de 2017, p 95

● Após a guarnição estar com o seu respectivo equipamento de proteção


individual, com as ferramentas adequadas para a realização do corte e a área
devidamente isolada, deverá ser definido qual corte será executado, dentre eles:
1- Abate Pleno;
2- Abate Seccionado;
3- Poda (corte dos galhos pendentes que estão trazendo riscos). Na
aplicação da técnica de “sistema de elevador”.

3.7.1 Corte de Abate Pleno

Caso necessário a aplicação do corte de Abate Pleno do vegetal, deverá seguir


os seguintes procedimentos:
● Determinar qual será a direção da queda;
● Realizar a ancoragem do topo com cabos de aço ou cordas resistentes,
tirfor ou sistemas para multiplicação de força para a utilização;
● Em seguida realizar o entalhe direcional e o corte de abate.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 92 – Corte de abate pleno


Fonte: Manual de Salvamento Terrestre de CBMGO de 2017, p 97

3.7.2 Corte de Abate Seccionado

Esta técnica é utilizada quando não for possível efetuar a queda livre da árvore,
consiste em seccionar a árvore em pedaços menores, através de técnicas variadas.
Se antes de realizar o corte de Abate Seccionado for necessário executar uma
poda preliminar, essa deve começar com a remoção dos galhos inferiores, subindo
em direção à copa. Isso impedirá que galhos que forem podados enrosquem nos
imediatamente abaixo.
Às vezes é mais trabalhoso desenroscar galhos que caíram sobre outros do
que o corte propriamente, o que poderá atrasar, e muito, o tempo de corte. Portanto é
fundamental o corte dos galhos inferiores.

Nesse caso de poda preliminar, temos que avaliar aspectos importantes:


∙ Se há possibilidade de queda livre ou se há obstáculos que impeçam tal
queda. Caso haja, poderão ser empregados três tipos de corte:
1. Corte Horizontal;
2. Corte Total Livre;
3. Corte Lascado;

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3.7.2.1 Corte Horizontal

Figura 93 – Corte com queda horizontal


Fonte: Manual de Salvamento Terrestre de CBMGO de 2017

Ao realizar esta técnica, é importante se atentar com a profundidade do corte


A, pois uma inserção muito grande pode vir a prender o sabre da motosserra. Esta
forma de corte deve ser realizada em galhos grandes, onde o objetivo principal é uma
queda horizontal do tronco.

3.7.2.2 Corte Total Livre

Figura 94 – Corte total com queda vertical


Fonte: Manual de Salvamento Terrestre de CBMGO de 2017

Nesta técnica é realizada um corte A de cima para baixo (corte único) pegando
toda a dimensão do tronco. O emprego desta técnica é preferida em galhos mais
leves, onde a sua derrubada não gere preocupações.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

3.7.2.3 Corte Lascado

Figura 95 – Corte lascado


Fonte: Manual de Salvamento Terrestre de CBMGO de 2017

Corte “A” deve ser feito de cima para baixo até a entrecasca do lado oposto. O
próprio peso do galho vai lascar a casca e a entrecasca. Técnica feita em galhos em
que se deseja uma queda vertical. O galho ficará pendurado pela entrecasca e a
casca, quando não cai pelo próprio peso.
Caso não haja a possibilidade de efetuar os cortes em queda livre por conta da
presença de algum obstáculo ou para preservar algum bem, deverá realizar a seguinte
técnica:

3.7.2.4 Sistema de Elevador (“Balancinho”)

Técnica de corte que consiste em remover os galhos parcialmente, aos


pedaços, em vez de abatê-los totalmente de um só golpe, impedindo que os galhos
caiam em queda livre.
Adota-se uma forquilha mais favorável acima do galho em que se quer cortar.
Tais forquilhas são usadas como apoio para sustentar o galho e desviar a força,
facilitando o trabalho do corte do galho e sua queda diagonal.
É extremamente importante ressaltar que o operador da motosserra sempre se
afasta do galho no momento da descida, preservando assim sua integridade física,
diminuindo o risco de acidente.
É possível realizar duas formas do sistema de elevador, um Sistema de
Elevador Simples e um Sistema de Elevador Duplo.

● Sistema de Elevador Simples:

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Tal técnica consiste em uma descida vertical do tronco, com o lado de maior
peso direcionado para o solo. O galho cortado será sustentado por uma corda
ancorada no seu ponto de equilíbrio e deve-se, ainda, usar um cabo guia para
direcionar a queda.

Figura 96 – Balancinho simples


Fonte: Manual de Salvamento Terrestre de CBMGO de 2017

Figura 97 – Balancinho simples após o corte


Fonte: Manual de Salvamento Terrestre de CBMGO de 2017

● Sistema de Elevador Duplo


Técnica utilizada quando é desejável uma queda horizontal dos troncos.
Escolhe-se a forquilha mais favorável ou duas, passam-se as cordas que são
ancoradas em dois pontos extremos do galho, efetua-se o corte e se desce
gradativamente, direcionando-o com o cabo-guia.

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Figura 98 – Sistema de elevador duplo


Fonte: Manual de Salvamento Terrestre de CBMGO de 2017

Figura 99 – Sistema de elevador duplo após o corte


Fonte: Manual de Salvamento Terrestre de CBMGO de 2017

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

3.8 Podas

3.8.1 Simples poda

Em se tratando de simples poda de galho, devem ser avaliados alguns motivos


que nos obrigam a podá-lo. Podem ser encontradas situações nas quais a árvore não
oferece perigo de queda iminente, mas que apresente risco em potencial. Por
exemplo, galhada avançando sobre residência é caso para a poda.
Podem também ser encontrados galhos que a árvore vai eliminar naturalmente,
o que nos indica risco permanente, pois, uma hora ou outra, eles poderão causar
acidentes. Vejamos dois casos:
1º. Caso em que a árvore apresenta, na base do galho, a fossa basal. Isso
quer dizer que a seiva não está indo mais para o galho. Isto acontece quando, por um
motivo ou outro, a árvore vai eliminá-lo.
2º. Outro fenômeno em que a árvore vai eliminar o galho é a formação do colar.
A seiva tenta chegar, mas o galho não aceita, pois este irá ser dispensado.
A poda técnica deve ser realizada nestes dois casos da seguinte forma:

Figura 100 – Simples poda


Fonte: (Fonte: Manual de Salvamento Terrestre de CBMGO de 2017)

São quatro cortes começando pelo corte “A” e terminando com o corte “D”. Tal
procedimento proporcionará menos danos à árvore.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 101 – Simples poda


Fonte: Manual de Salvamento Terrestre de CBMGO de 2017

3.9 Legislação aplicável ao serviço de corte de árvores

3.9.1 Constituição Federal

A ideia de que o meio ambiente é essencial à vida do ser humano consta na


Constituição Federal, Art. 225, que nos leva a pensar na importância deste para a
sociedade.

“Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Além disso, o artigo 23 disserta sobre a responsabilidade dos órgãos


Públicos em relação a preservação do meio ambiente.

“Art. 23 - É competência comum da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios:
...
VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas;
VII – preservar as florestas, a fauna e a flora;”

Portanto, em uma abordagem mais abrangente, as fiscalizações ambientais


não são de responsabilidade apenas dos órgãos Municipais. No Estado do Rio de
Janeiro, além das Secretarias Municipais, temos outros órgãos que compõem o
Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), como o Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Estadual do

72
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Ambiente (INEA).
A carta magna de 1988 estipula implicitamente no Artigo 30, incisos V e VIII,
que é de responsabilidade do órgão Municipal a autorização para corte de árvore.
Todavia, em virtudes de determinadas circunstâncias exigirem uma intervenção com
o objetivo de evitar o perigo à vidas e bens, o Corpo de Bombeiros entra como Agente
emergencial para efetuar certos cortes em certas ocasiões que veremos a seguir:

“Art. 30 - Compete aos Municípios:


...
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte
coletivo, que tem caráter essencial
...
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo
urbano;
...”

3.9.2 - Legislação relativa aos crimes ambientais

A legislação federal sobre crimes contra o meio ambiente tipifica como crimes
contra a flora as seguintes condutas:

“...
Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação
permanente, sem permissão da autoridade competente:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
...
Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio,
plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade
privada alheia:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a seis meses, ou multa.
...”

3.9.3 - Da Legislação Municipal

Cada Município terá a sua legislação atinente ao serviço de corte de árvore,


73
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

portanto é extremamente necessário que a OBM da área verifique sempre a legislação


municipal da cidade em que a mesma está instalada.

3.9.3.1 – Legislação Municipal do Rio de Janeiro

De acordo com o Decreto Municipal do Rio de Janeiro nº 28.981 de 31 de


Janeiro de 2008, foi determinado que:

“Art 1º: Constitua-se na Companhia Municipal de Limpeza Urbana -


COMLURB a Diretoria de Conservação de canteiros, praças, parques,
podas e rios que fica responsável, pela conservação, manutenção e
reformas de todos os canteiros, praças e parques da Prefeitura assim como
o programa "guardiões dos rios" e as podas de árvores.”

Contudo, no município do Rio de Janeiro, o corte de árvores só poderá ser


efetivado depois de prévia autorização do órgão responsável, mediante prévia
autorização do órgão ambiental e sob sua orientação , conforme RESOLUÇÃO SMAC
(SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE)Nº 587 DE 16 DE ABRIL DE 2015:

“Art. 2º - A autorização para remoção de vegetação será submetida à aprovação da


Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC) ou da Fundação Parques e Jardins
(FPJ).
...
Art. 4º Somente poderá ser autorizada a remoção de vegetação de que trata esta
Resolução, depois de comprovada a impossibilidade técnica da manutenção do(s)
espécime(s), conforme disposto no § 1º do art. 127 da Lei Complementar 111 de 1º
de fevereiro de 2011.
§ 1º Poderá ser exigida a apresentação de inventário e análise fitossociológica
assinados por profissional legalmente habilitado perante seu Conselho Profissional
de Classe, nas situações que abranjam ecossistema de Mata Atlântica, conforme
diagnosticado em parecer técnico ou demais casos a critério da SMAC.
§ 2º O inventário, levantamento, caracterização da vegetação ou análise
fitossociológica serão de inteira responsabilidade do profissional contratado pelo
requerente para a realização do mesmo, ficando o mesmo sujeito às sanções
previstas em lei no caso de imprecisão nas informações apresentadas, bem como
de eventuais erros de análise decorrentes da imprecisão das informações.”

3.9.4 - A normatização do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de


Janeiro.

Procedimento Operacional Padrão, PORTARIA CBMERJ Nº 743, DE 24 DE


SETEMBRO DE 2013.
74
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

É importante ressaltar que os Militares do CBMERJ estejam sempre instruídos


e norteando suas ações de acordo com o Procedimento Operacional Padrão (POP)
mais atualizado, visto que constantemente as Leis e Decretos sofrem revisões e
modificações, o que gera uma modernização no POP.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4 CAPTURA DE ANIMAIS

O CBMERJ atua em eventos de captura de animais, segundo as orientações


do Procedimento Operacional Padrão (POP/CBMERJ) Analítico (2012), quando:
● O animal estiver preso ou em local de difícil acesso do qual não consiga
sair sozinho;
● O animal esteja agressivo e tenha atacado alguém.

As ações deverão ser norteadas, orientadas e embasadas, quando possível,


pela fundação RIO ZOO, Centro de Controle de Zoonoses ou órgão semelhante na
região da ocorrência.
Para todas as operações, além das técnicas, equipamentos e ferramentas, o
Bombeiro deve, obrigatoriamente, estar com os Equipamentos de Proteção Individual
(EPI) específicos para cada salvamento. Na maioria dos eventos são: capacete,
óculos de proteção, luvas de couro e gandola estendida, para controle e manejo de
insetos, utiliza-se roupa de proteção (macacão com capuz acoplado), luvas e botas,
que isolem devidamente o Bombeiro.

4.1 Animais domésticos

Quando tratar-se de cães e o animal estiver solto, a guarnição efetuará uma


aproximação, preferencialmente por lados opostos, para tentar prendê-lo utilizando os
laços enforcadores ou cambão.

Figura 102 – Contenção realizada por lados opostos com o uso de enforcadores.
Fonte: httppelospitbulls.blogspot.com200709pq-o-co-tem-que-ser-recohido-e.html

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Em ocorrência que envolve gato, é possível observar maior flexibilidade e


agilidade devido a anatomia do animal, com isso, a captura poderá ser feita com uso
de uma rede ou puçá. Caso o animal esteja em uma local com risco de queda, por
exemplo árvore, poste ou telhado de uma casa; deve ser usada uma lona aberta ou
uma rede, aproximadamente a um metro do chão, para evitar riscos de morte e
ferimentos.

Figura 103 – Captura de gato realizado com puçá


Fonte: http://www.cbm.ba.gov.br/noticias/gato-e-salvo-por-bombeiros-do-17o-gbm-apos-ficar-preso-em-cerca-eletrica-
em-barreiras

4.2 Equinos e Bovinos

Nesse caso os animais normalmente estão presos e imobilizados em algum


buraco no solo, por exemplo: poços, valas e mangues, com isso, para retirá-lo deverá
ser utilizado o sistema de força com cordas, tripé, tirfor e roldanas, exercendo uma
força de forma sincronizada na corda para retirar o animal ou maquinário
pesado/retroescavadeira, tendo cuidado com a instabilidade do solo para não ocorrer
um deslocamento de terra e agravar os riscos. Devido ao esgotamento físico e
emocional do animal, existe a possibilidade de morte, por isso, é importante a
presença do seu dono.

A montagem do sistema para o resgate do animal, segue as instruções:


● Colocação do tripé ou braço de força de maquinário
pesado/retroescavadeira, verificando se o solo é compacto e não apresenta

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

problemas na estabilidade, se o solo for arenoso coloca-se pranchas de madeira


ao redor;
● Montar com abertura suficiente para que os pés não corram o risco de
deslizar para dentro do poço e ancorar os pés do tripé com estacas ou entre si,
com uma corrente ou tensores;
● Estabilizar o tripé com no mínimo duas ancoragens tensionadas,
contrárias ao sentido em que será exercida a carga resultante para retirada do
animal;
● Montar um sistema multiplicador de força com roldanas ou moitão,
cordas ou cabo de aço do tirfor;
● Um militar deverá colocar cabresto no animal para controlar a cabeça
na hora em que começar a retirada do animal;
● Fazer amarração de dois nós, tipo fiel, acima da junta de cada pata
superior do animal ou passar fita de carga de espessura considerável ou
mangueiras de 2 ½” sob o tronco do animal e, se possível, outra pelas ancas,
unindo essas duas fitas de carga ou mangueiras com mosquetão, tendo o
cuidado para a fita não estrangular a genitália do animal, pois isso pode matá-lo
ou deixá-lo agressivo;
● Colocar a cinta ou a amarração feita no animal no sistema de força
através de mosquetão;
● Tracionar o sistema para elevar o animal;
● Colocar nó na pata traseira para direcionar o animal para um local
seguro;
● Elevar o animal através do sistema de força;
● Direcionar as patas traseiras do animal para o local de descida;
● Descida controlada do animal em local seguro.

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Figura 104 – Um militar guiando a cabeça pelo cabresto do animal


Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL1333093-5605,00-
CAVALO+E+RESGATADO+POR+BOMBEIROS+APOS+CAIR+EM+POCO+EM+GUARULHOS.html

Figura 105 – Fita de carga


Fonte: https://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2019/06/18/vaca-cai-em-poco-e-e-resgatada-por-bombeiros-na-zona-
rural-de-palmas.ghtml

4.3 Felinos

A Lei Federal nº 5.517/68, prevê que apenas veterinários possuem autorização


para fazer uso de armas com drogas para captura de animais. No caso dos felinos,
animal de grande porte, após a intervenção química feita por um veterinário, deverá
ser feita a contenção com uso de redes, puçá (dependendo do tamanho do felino) e
laço enforcador.
Localizado o animal, deverá ser feito o isolamento, uma abordagem tranquila,
evitando ruídos fortes e movimentos bruscos, a fim de evitar a fuga. Após a captura
do animal, o translado deve ser feito em uma jaula para a Fundação RioZoo ou órgão
responsável pelo acolhimento de animais silvestres.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 106: Após a intervenção química (dardo na perna dianteira direita), é realizada a captura da onça com rede e
laço enforcador
Fonte: https://www.oeco.org.br/reportagens/onca-parda-passa-24h-acuada-em-area-urbana-e-captura-vira-espetaculo/

4.4 Jacarés

Nas operações de capturas de jacarés deve-se ter cuidado com a aproximação,


atenção com boca, cauda e a movimentação de bote lateral do animal. A utilização de
um pano molhado, cobrindo os olhos do animal, pode mantê-lo menos arisco para a
operação.
Para sua captura, deverá ser posicionado um Bombeiro preferencialmente à
frente do animal, com um laço (enforcador) próximo à sua boca, em seguida colocar
o laço no meio da mandíbula do animal. Com a mandíbula presa com um laço, salta-
se sobre o dorso do animal, colocando seu peso sobre a cintura torácica e sobre a
cabeça com as mãos.
Pressiona-se então a cabeça contra o solo, por trás, para que a boca fique
fechada, se a mandíbula do animal ainda não foi amarrada, deve-se neste momento
ser envolvida com uma fita ou material resistente, pode ser uma corda, neste momento
retira-se o enforcador e em seguida as patas, de preferência as traseiras, deverão ser
imobilizadas com uma fita ou material resistente.
Também deverá ser imobilizada a cauda do animal junto ao tronco, pois esse
tipo de réptil utiliza a cauda como arma. Após feita a imobilização de uma ou ambas
as patas do animal, o mesmo deve ser acondicionado dentro de uma jaula (gaiola)
apropriada para o seu tamanho e conduzido para a Fundação RioZoo ou o Parque
Chico Mendes.
Evita-se que o animal seja solto com alguma parte do corpo imobilizada.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 107: Captura inicial com enforcador e bloqueio da mandíbula com fitas para posterior imobilização da parte
torácica.
Fonte: https://midiamax.uol.com.br/cotidiano/2021/jacare-e-resgatada-amordacado-e-sem-pata-em-centro-de-
educacao-infantil-em-campo-grande

Figura 108: Imobilização da parte torácica e colocação das fitas ou cordas na mandíbula, patas e rabo.
Fonte: http://institutojacare.blogspot.com/2013/08/curso-de-manejo-captura-e-contencao-de.html

4.5 Aves selvagens e domésticas

A captura de aves só deverá ser assumida pelo CBMERJ quando a mesma


estiver ferida, sem condições de voo ou presa em algum lugar. Os equipamentos
utilizados para captura são: luvas de couro, toalhas, redes ou puçás dependendo do
porte físico da ave.
Eventos com aves presas em rede elétrica ou próximas a estas, deve-se estar
atento à solicitação da companhia de energia para efetuar o corte no local e não se
deve retirar qualquer material que esteja preso ou enroscado no animal, como linha
de pipa, isso deverá ser feito por veterinário.
A técnica da contenção física é uma aproximação segura, calma, evitando
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

movimentos bruscos e a captura repentina, sem perder o elemento surpresa.


Utilizando a mão envolta do pescoço e os dedos ao lado da mandíbula da ave o
indicador ou polegar em cima da cabeça, demais dedos em volta do pescoço
levemente pressionado para evitar um ataque com o bico e a outra mão pega as
pontas das duas asas juntando com a caudal da ave, desta forma imobilizando as
pernas junto das asas. Após a captura do animal, o mesmo deve ser acondicionado
em local apropriado para o seu tamanho uma gaiola ou jaula e conduzido para o órgão
adequado.

Figura 109 - Uma mão na parte do pescoço e cabeça e a outra imobilizando as duas asas com as pernas
Fonte:https://fauna.vet.br/site/wp-content/uploads/2017/08/EBOOK-Conten%C3%A7%C3%A3o-e-colheita-de-sangue-
1.pdf

4.6 Animais e aves marinhas

Com relação às operações envolvendo capturas de animais e aves marinhas,


é preciso salientar que nem todo animal na praia precisa de ajuda, pois é possível que
esteja apenas repousando, acasalando ou cuidando de seus filhotes. Nestas
situações, o isolamento basta para evitar que a população chegue perto do animal,
que pode estar dentro ou fora do mar.
Caso o animal esteja no mar, uma aproximação segura, tranquila e lenta,
evitando-se movimentos rápidos, deverá ser feita por meio de embarcação e não a
nado.
Após a captura do animal, o mesmo deve ser alocado dentro de uma caixa
proporcional ao seu tamanho e conduzido para o órgão adequado.
Os pinguins não podem ser colocados em caixas com gelo, nem em freezer; É
preciso acomodá-los em uma caixa de papelão forrada com jornal e mantê-los secos
e protegidos do calor e do frio.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.7 Animais silvestres

É aquele que vive na natureza e não tem, ou não deveria ter, contato com os
seres humanos, alguns dos animais já citados poderiam se enquadrar dentro deste
tópico, porém iremos nos focar nos animais mais comuns capturados nos eventos
realizados por bombeiros militares.

4.7.1 Roedores

Fazem parte deste grupo a capivara, cutia, paca e ouriço. Os três primeiros são
vertebrados, mamíferos, dentuços e possuem garras nas patas, sua principal defesa
é a mordida e arranhadura. O ouriço possui espinhos pelo corpo como proteção contra
as presas. É muito comum encontrá-los em lugares úmidos em meio a raízes, troncos
caídos, próximos de rios e lagoas poluídos, em grandes cidades.
O CBMERJ efetua a captura desses animais quando eles estão dentro de
residências ou quintais, para contenção o ideal é encurralá-los em algum canto da
parede e utilizar rede, puçá, enforcador ou cambão, podendo também esticar a rede
no chão para quando o animal passar, militares de lados opostos puxarem a rede. No
caso dos ouriços, recomenda-se uma abordagem pela cauda, devido ao seu corpo
espinhoso, após a captura são colocados numa gaiola e levados para os órgãos
competentes para a correta devolução ao seu ecossistema.

Figura 110 - Captura realizada com rede


Fonte: https://www.pmsg.rj.gov.br/animais-silvestres-sao-resgatados-em-sao-goncalo/

4.7.2 Gambá

O sistema de defesa destes animais é através da mordida e, quando

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

submetidos ao estresse, suas glândulas de cheiro, próximas ao ânus, exalam um


líquido que em contato com a pele pode causar alergias ou feridas. A sua contenção
é feita realizando o transporte pela cauda, utilizando luvas de couro, com cuidado,
pois a tendência é que o animal tenha o instinto de se direcionar para morder a mão
de quem está manejando ou exalar o líquido. Para uma contenção mais adequada
deve-se segurar atrás da cabeça do animal logo que possível com as luvas de couro
ou utilizar um cambão, pinça, enforcadores e pode-se também utilizar um puçá para
captura e logo após, deve ser colocado em uma jaula ou gaiola.

Figura 111 - Gambá capturado pelo rabo e outro pela pinça.


Fonte: https://olharanimal.org/gambas-sao-capturados-em-telhado-de-casa-em-ituiutaba-mg/

4.7.3 Tamanduá e Preguiça

Os Tamanduás são lentos e tranquilos, se ameaçados eles sentam sobre as


patas traseiras e atacam com suas garras. Por isso, a contenção visa amarrar as
unhas, passando fita adesiva em volta ou corda, para não perfurá-las. É importante
lembrar que os tamanduás possuem membros muito fortes e uma contenção nunca
deve ser feita por uma única pessoa.

O mesmo procedimento deverá ser efetuado para os bichos preguiças, não


esquecendo que esses animais possuem dentes e também atacam com mordidas. A
preguiça-de-três-dedos, quando ameaçada, fica paralisada, sendo facilmente
manipulada, podendo ser contida pelas costas ou pelas extremidades dos braços. Já
a preguiça de dois dedos é ágil e agressiva e suas mordidas podem causar sérias
lesões, sendo as redes e puçás apropriados para sua contenção física.

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Para ambos os grupos, tamanduás e preguiças, laços, cambão e enforcadores


não são indicados, pelo risco de provocarem lesões na coluna cervical, acarretando
graves consequências. No entanto, pode-se fazer contenção de tamanduás utilizando
cambões em suas patas para facilitar a colocação na jaula de contenção. Conduzir o
animal para Universidade, que possua estrutura de Zootecnia ou Veterinária, é
necessário anotar o responsável que recebeu o animal na unidade (nome, matrícula
e função).

Figura 112 - Captura de um tamanduá-bandeira realizada com cambão


Fonte:https://g1.globo.com/mg/centro-oeste/noticia/2020/12/16/tamandua-bandeira-e-capturado-atras-de-um-arbusto-
no-centro-de-lagoa-da-prata.ghtml

Figura 113 - Captura de um tamanduá- bandeira realizando contenção das garras com fita.
Fonte: https://g1.globo.com/mg/triangulo-mineiro/noticia/2021/04/13/tamandua-bandeira-e-capturado-em-residencia-de-
distrito-de-patos-de-minas.ghtml

4.8 Serpentes: Identificação, espécies e métodos de contenção

Para realizar a contenção desses animais deve-se ter o conhecimento básico


das características, identificação, tipos de dentição, gênero, espécie e principais

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

efeitos dos venenos, para proteção da guarnição.

4.8.1 Identificação de Serpentes

As serpentes podem ser classificadas em peçonhentas, que possuem dentes,


presas que são órgãos por onde as substâncias tóxicas são inoculadas, e as não
peçonhentas que carecem desse mecanismo.
Nos eventos que envolvam serpentes, deve-se tentar identificar de que espécie
se trata e saber se alguma pessoa foi picada por uma espécie peçonhenta, pois o soro
antiofídico deve ser aplicado o mais breve possível, estima-se até duas horas após o
acidente. Portanto, se não for possível ter contato com o animal para conhecer a
espécie, algumas informações sobre suas características podem facilitar a sua
caracterização.
As Serpentes são vertebrados, carnívoros, pertencentes ao grupo dos répteis,
podem ser diferenciados por possuírem diferentes tipos de dentição, o que pode
indicar o tipo de animal inoculador.

4.8.2 Tipos de dentição

a) Áglifas: as presas são do mesmo tamanho, ou seja, não há presença de


dentes modificados para inoculação de veneno. ex: jiboia, sucuri.
b) Opistóglifas: as presas são pequenas, fixas e possuem um ou dois pares
de dentes maiores localizadas no fundo da boca, dificultando a inoculação do veneno.
ex: cobra cipó, falsa coral.
c) Proteróglifas: presas são pequenas, fixas e um par de dentes maior
localizado na região frontal da boca. ex: corais.
d) Solenóglifas: grandes presas móveis inoculadoras de veneno,
localizadas na região frontal da boca. ex.: (gênero bothrops: jararaca, gênero crotalus:
cascavel, gênero lachesis: surucucu). Verifica-se também a presença de um orifício
entre o olho e a narina que é denominado de fosseta loreal que é um órgão sensorial
das serpentes.

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Figura 114 - Tipos de dentição das serpentes.


Fonte: Santos et al. 1995.

4.8.3 Os gêneros e as suas espécies

Segundo o Manual de Socorro Florestal do CBMERJ (2019) os acidentes


envolvendo serpentes, ocorrem em todas as regiões de nosso país, por quatro
gêneros, abrigando aproximadamente sessenta espécies:
a) Bothrops: diversas espécies de jararacas (solenóglifas);
b) Crotalus: cascavéis (solenóglifas);
c) Lachesis: surucucu (solenóglifas);
d) Micrurus: corais verdadeiras (proteróglifas)

Figura 115 - Cores

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4.8.4 Principais efeitos dos venenos

Conforme o site do Globo Rural (2015) lista no Brasil os principais efeitos dos
venenos de algumas espécies:

“No Brasil há mais de 71 variedades de cobras peçonhentas. Seu veneno


é composto por mais de 300 substâncias. Conheça os principais efeitos dos
venenos de algumas espécies:

● Ação proteolítica, que causa decomposição das proteínas,


destruindo os tecidos e causando graves necroses nos locais das picadas.
As Bothrops (jararacas) produzem veneno com ação desse tipo.
● Ação coagulante, o veneno dos gêneros Bothrops (jararacas),
Crotalus (Cascavél)se Lachesis (Surucucu), transforma o fibrinogêneo em
fibrina, formando microtrombos (pequenos coágulos).
● Ação neurotóxica, venenos que contêm neurotoxinas, como os das
cascavéis(crotalus) e corais(micrurus), são os mais perigosos, pois agem
no sistema nervoso provocando parada respiratória.
● Ação hemorrágica, as serpentes Brothops(Jararaca) e Lachesis
(Surucucu) produzem venenos que têm ação hemorrágica local ou
sistêmica.
● Ação miotóxica, o veneno das cascavéis (Crotalus), necrosa as fibras
musculares, provocando a liberação de enzimas e mioglobina na
circulação. A mioglobina circulante filtrada nos rins aparece na urina
provocando modificação na sua cor; a cor escura é um dos sinais clínicos
de acidente crotálico.
● Ação nefrotóxica, os venenos das serpentes dos gêneros Crotalus
(Cascavel) e Bothrops(Jararaca) causam lesões nos rins por ação direta
sobre os túbulos renais e o endotélio vascular. Os acidentados apresentam
quadro de insuficiência renal aguda. (Globo, 2015).”

4.8.5 Contenção de serpentes

Para operações que envolvam a captura de serpentes, os instrumentos


utilizados são: pinças, laço enforcadores, cambão, ganchos de captura de serpentes
ou mesmo gravetos com bifurcação em Y, mantendo distância, em média, 1,5 m da
serpente, considerando que seu bote é de aproximadamente metade do seu
comprimento. Podemos realizar dois métodos:
● Através de um gancho ou pinça posicionar a ferramenta no meio do
corpo da serpente para realizar a captura, dessa forma efetua-se o transporte para

88
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uma caixa de madeira ou plástico, deve-se abaixar o gancho em direção ao interior


do recipiente e liberá-la, de forma a fornecer um apoio, evitando a queda do animal.

Figura 116 - Contenção utilizando o gancho no local correto de apoio no corpo do animal.
Fonte: CBMERJ

● Por meio da contenção visa a imobilização da região próxima a cabeça


para diminuir o ataque por mordida ou picada para conseguir colocar uma das mãos
próxima da cabeça e a outra segurar o corpo evitando que se enrole no equipamento
que é a sua defesa natural de enforcamento da presa.
Nesse método para fazer captura de cobras mais agressivas respeitando o
distanciamento, temos como opção de ferramentas: o cambão, enforcador, laço lutz,
gancho ou um ganho com bifurcação em Y para prender a base da cabeça, tomando
cuidado para não pressionar com muita força a cabeça contra o chão para não
estrangular, dessa maneira consegue acessar a cabeça e segurar com segurança.
A apreensão da cabeça pode ser utilizando a técnica de pôr o dedo indicador
embaixo da cabeça e o polegar por cima, muito utilizado em serpente não peçonhenta.
Para animais peçonhentos com presas solenóglifas, utiliza-se três dedos com o
polegar e o médio ao lado da cabeça fazendo forças contrárias e o indicador em cima
da cabeça, a outra mão pega o corpo da serpente no solo.

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Figura 117 - Serpente contida com laço de lutz para apreensão manual da cabeça.
Fonte: CBMERJ

Figura 118 - Posição correta dos dedos em serpentes não peçonhentas e posição correta utilizando três dedos em
serpentes peçonhentas.
Fonte: CBMERJ

Após a captura da serpente, deve-se ser acondicionada dentro de uma gaiola,


caixa plástica ou de madeira, proporcional ao seu tamanho e característica, caixa
plástica ou de madeira, que possibilite a ventilação para respiração, mas sem espaço
para sua fuga e conduzir o animal para o Instituto Vital Brazil, Fundação RioZoo ou
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alguma Universidade, que possua estrutura de Zootecnia ou Veterinária, não


esquecendo de anotar quem foi o responsável que recebeu o animal (nome, matrícula
e função).

Figura 119 - Caixa de plástico de captura de animal com furos na tampa para possibilitar a respiração.
Fonte: CBMERJ

5 OPERAÇÕES DE MANEJO E CONTROLE DE ENXAMES DE INSETOS

Conforme o Procedimento Operacional Padrão do CBMERJ de Operações de


Manejo e Controle de Insetos Nocivos (2018), o item 2 trata das Disposições Gerais e
seus subitens, regula os procedimentos e a legislação vigente referente ao
salvamento de pessoas, quando houver vítimas ou quando as mesmas estiverem
sendo atacadas por insetos nocivos em geral.
Conforme o POP, compete ao CBMERJ atuar no manejo ou controle dos
insetos (abelhas/vespas) quando estes estão oferecendo riscos iminentes à
população e quando não há condições de ser realizado pelos órgãos competentes.
O CBMERJ irá despachar o socorro do evento até o local apenas nas situações
de emergência, o que será assim caracterizado quando ocorrer uma das hipóteses
abaixo relacionadas:
a) Os insetos estão atacando (com vítimas ou não) no momento em que o
solicitante liga para o Operador de Comunicação (Central 193 ou da UBM). Neste
cenário será criado o AVISO e o Comandante de Operações seguirá para a fase de
CONFIRMAÇÃO, ou seja, somente com a hipótese de risco iminente o CBMERJ
91
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

deverá atender o solicitado; e;

b) Os insetos não estão atacando no momento da solicitação, porém, já


atacaram ou fizeram vítimas (fase do AVISO);

c) Os insetos estão próximos de residências ou locais de reunião de público,


gerando um risco, seja pela sua localização, seja pela vulnerabilidade do público
residente, sendo necessária a confirmação do aviso pelo Oficial Comandante de
Operações da Unidade (fase de confirmação).

5.1 Legislação

De acordo com o art. 2.º da Lei Estadual nº 880, de 25 de julho de 1985, o


Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro é instituição destinada, entre
outras funções, a prestar socorros sempre que haja vítima em iminente perigo de vida.
O manejo e controle de insetos, por si só, não se trata de atividade intrínseca às
funções de bombeiro militar, mas sim a proteção de pessoas em risco iminente.
Segundo a Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, “Lei de Crimes
Ambientais”, é crime matar e/ou apanhar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em
rota migratória sem autorização (art. 29). Porém, o art. 37, inciso IV estabelece que
não é crime o abate de animal quando realizado por ser nocivo, desde que assim
caracterizado pelo órgão competente.
O IBAMA, órgão competente para declarar a nocividade de um animal, fez
pública, por meio da Instrução Normativa IBAMA nº 141, de 19 de dezembro de 2006,
em seu art. 2.º, inciso V, a conceituação de fauna sinantrópica nociva como aquela
“que interage de forma negativa com a população humana, causando-lhe transtornos
significativos de ordem econômica ou ambiental, ou que representa riscos à saúde
pública.”
A mesma norma faculta aos Corpos de Bombeiros, no art. 8.º, “o manejo e o
controle da fauna sinantrópica nociva, sempre que estas representarem risco iminente
à população”, o que vai exatamente ao encontro da atribuição dada pela legislação
estadual. Ressalta-se que o conceito de controle de fauna, de acordo com o art. 2.º,
inciso I, inclui a captura seguida de eliminação e também a eliminação direta de
espécimes animais.
Cabe a observação, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, do disposto na Lei

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Estadual nº 2.155, de 10 de setembro de 1993, a qual declara a abelha como inseto


útil e a flora melífera como de interesse público, devendo as mesmas serem objeto de
proteção e de medidas preventivas que evitem sua destruição. Tal lei deve ser
compreendida em conjunto com o restante do ordenamento jurídico vigente, uma vez
não haver, no atual Estado de Direito, princípio absoluto, que prepondere em todos os
casos. O extermínio de abelhas deve ser evitado, porém, a proteção à vida e
integridade humana deverá prevalecer sempre que tais insetos se configurarem em
um risco iminente à população.
Destaca-se que o art. 4.º, §1.º, alínea b, da IN IBAMA nº 141/2006, inclui as
abelhas entre as espécies de artrópodes nocivos, bem como demais espécies
comuns ao ambiente antrópico, que impliquem em transtornos sociais, ambientais e
econômicos significativos.
Diante do exposto, conclui-se como atribuição legal de bombeiro militar a
proteção de vidas humanas sempre que houver risco iminente causado por inseto
sinantrópico nocivo, inclusive abelhas, mesmo que seja necessária a eliminação direta
dos espécimes animais, sendo observada a realização do manejo sempre que houver
agente capacitado e equipado para tal.
Ademais, deve-se elucidar que o Decreto-Lei nº 230, de 13 de julho de 1975,
em seu art. 1.º, atribuiu à Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
(FEEMA) a competência para coordenar, orientar e fiscalizar os serviços necessários
ao controle de insetos e roedores nocivos nas áreas urbanas do Estado do Rio de
Janeiro, cabendo aos Municípios a execução dos serviços necessários ao citado
controle, mediante convênio com o órgão estadual, conforme art. 2.º. Tal atribuição
deve ser compreendida como toda aquela de manejo e controle de insetos
sinantrópicos nocivos em que não se configure o risco iminente à população, visto
que, como já explicitado, situações de risco iminente são de competência do Corpo
de Bombeiros. Salienta-se o disposto nos arts. 3.º, §2.º e 6.º, §2.º, que atribuem aos
proprietários e responsáveis pelos imóveis as despesas e custos para atividades
como aplicação de produtos químicos, eliminação de focos e outras medidas que
impeçam a procriação dos insetos.
Ressalta-se que, com a extinção da FEEMA, foram transferidos para o Instituto
Estadual do Ambiente (INEA) as competências, as atribuições, os direitos e as
obrigações da antiga fundação estadual, nos termos do art. 3.º da Lei Estadual nº

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

5.101, de 04 de outubro de 2007, e do art. 3.º do Decreto Estadual nº 41.628, de 12


de janeiro de 2009.”

5.2 Procedimentos

Portanto, após análise dessas leis e decretos, é necessário, em eventos de


emergência, identificar se a ocorrência envolve abelhas ou vespas, visto que, abelhas
são insetos de utilidade pública e protegidos por legislação e intervenções de controle
sobre elas devem ser evitadas. Por isso, é indicada uma operação de manejo,
realizada por profissional capacitado para o manejo de abelhas. No entanto,
observando o risco à vida de pessoas ou animais e a falta de condições ideais para o
manejo destas, de acordo com a segurança pública, o Bombeiro poderá realizar o
controle, mesmo tratando-se de abelhas, esta previsão legal consta na Instrução
Normativa nº 141 do IBAMA de 19 de dezembro de 2006, em seu art. 2.º, inciso V.
Após a localização do enxame, é necessário isolar a área e orientar a população que
vive nas proximidades a fechar as portas, janelas, vedarem arestas que permitam o
acesso dos insetos para o imóvel, e a protegerem os animais de estimação. Se a
emergência for à noite, é recomendado permanecer com as luzes apagadas.
Para a operação é preciso usar roupas de proteção de manejo de insetos
(macacão com capuz acoplado) por cima do uniforme de prontidão com as mangas
esticadas, luvas e botas, e todas as junções da roupa com a bota, luva e zíper deverão
ser vedados com fita adesiva para evitar a entrada de insetos no EPI.

Figura 120 - EPI utilizado para manejo e controle de enxames de insetos


Fonte: CBMERJ

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Quando é necessário o controle dos insetos, o Comandante de Operações


deverá realizar uma avaliação dos riscos no local e escolha da técnica apropriada,
verificando com o solicitante, o melhor horário para efetuar o controle, sugere-se
efetuar o controle no período da noite, em casos específicos.
A técnica escolhida varia de acordo com a via de acesso, localização das
colmeias, casas ou ninhos e onde estão apoiadas.
Segundo o Procedimento Operacional Padrão do CBMERJ de Operações de
Manejo e Controle de Insetos Nocivos (2018), o controle dos insetos deverá ser feito
com os materiais na seguinte ordem:
1) Inseticida adequado (fornecido pelo solicitante);
2) Derramamento ou aspersão de líquido volátil, de preferência sem o uso de
fogo (gasolina ou óleo diesel);
3) Com extintor de CO2, se disponível, e as demais alternativas não foram
viáveis/eficazes.
Todos os resíduos deverão ser ensacados, descartados e é importante
certificar-se de que não há mais insetos oferecendo risco.
O uso correto do EPI e a utilização de uma tocha com fogo para realizar o
controle de insetos. Para melhor ilustrar, segue a figura abaixo:

Figura 121 - Controle de insetos, utilizando tocha com fogo


Fonte: CBMERJ

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

6 ENTRADAS E ABERTURAS FORÇADAS

O objetivo deste manual é fornecer ao leitor um estudo de entrada forçada.


Embora não possa cobrir todos os aspectos ou técnicas desta habilidade exigente,
este estudo compõe os procedimentos que provaram ser bem-sucedidos para os
militares de nossa corporação e outros Corpos de Bombeiros espalhados pelo mundo.

6.1 Definição

O termo "entrada forçada" é definido como o ato de entrar em um edifício ou


ocupação através de uma porta, janela ou mesmo através de uma parede, pelo uso
da força. Ao longo dos anos, o serviço do CBMERJ foi encarregado desta
responsabilidade de obter acesso a edifícios protegidos e ocupações.

6.2 Fundamento Jurídico

Ao buscarmos embasamento para a salvaguarda do ambiente privado familiar,


propriedade de moradia, depreende-se da Constituição Federal Brasileira de 88, o
seguinte:
Título I, Capítulo II, Art. 5° caput e item XI:

96
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...) e XI - a casa é asilo inviolável do
indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou,
durante o dia, por determinação judicial”

A Inviolabilidade Domiciliar, um dos princípios incluídos como Cláusula Pétrea


na Constituição, demonstra que, excluindo exceções de salvaguarda da vida
declaradas, a moradia alheia é inviolável, não sendo permitida a entrada de indivíduo
algum sem a plena e espontânea autorização do proprietário.
Pode ser observada a exceção de incolumidade da propriedade privada,
relacionadas à atividade de bombeiro militar, no inciso XI, como situação de desastre*
ou socorro** no ambiente em questão, com clara e inequívoca necessidade de
atendimento, onde a variável tempo é decisiva para ação breve e eficiente.
Consequentemente, militares envolvidos nesses cenários estão enquadrados em
excludente de ilicitude.
Paralelamente, a intepretação de “casa” foi melhor explicitada pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), na redação do RHC 90.376:

“Para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5º, XI, da CF, o
conceito normativo de ‘casa’ revela-se abrangente e, por estender-se a
qualquer aposento de habitação coletiva, desde que ocupado (CP, art. 150,
§ 4º, II), compreende, observada essa específica limitação espacial, os
quartos de hotel. Doutrina. Precedentes. Sem que ocorra qualquer das
situações excepcionais taxativamente previstas no texto constitucional (art.
5º, XI), nenhum agente público poderá, contra a vontade de quem de direito
(invito domino), ingressar, durante o dia, sem mandado judicial, em
aposento ocupado de habitação coletiva, sob pena de a prova resultante
dessa diligência de busca e apreensão reputar-se inadmissível, porque
impregnada de ilicitude originária. Doutrina. Precedentes (STF). (RHC
90.376, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 3-4-2007, Segunda
Turma, DJ de 18-5-2007).”

Desta forma, deve-se entender a palavra “casa” em sentido mais amplo,


assimilando, além da ideia de moradia, os ambientes que são restritos de acesso ao
público e locais de trabalho fechados.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

* IN n° 02 de 20 de dezembro de 2016 - Ministério da Integração Nacional,


significa desastre como “resultado de eventos adversos, naturais,
tecnológicos ou de origem antrópica, sobre um cenário vulnerável exposto
a ameaça, causando danos humanos, materiais ou ambientais e
consequentes prejuízos econômicos e sociais.”

6.3 Segurança

Protocolo a ser adotado para execução de entrada e abertura forçada:


1 – Analisar a integridade da edificação e seus acabamentos;
2 – Analisar movimento da maçaneta, se móvel ou não, porta aberta ou não,
antes de procedimentos seguintes;
3 – Analisar fluidos incomuns presentes no ar, como gases explosivos,
comportamento da fumaça em incêndios (risco de backdraft), entre outros;
4 – Manipular e deslocar ferramentas e dispositivos com segurança;
5 – Garantir ambiente seguros ao remover vidros, além de colocá-los em área
apropriada após a remoção;
6 – Garantir marcação da área quente durante o evento;
7 – Procurar fios e cabos energizados, evitando contato e desativando, com
segurança, o sistema de distribuição elétrica da edificação;
8 – Isolar extremidades e estruturas pérfuro-cortantes, impedindo contatos com
a guarnição e outros atores necessários;
9 – Correta utilização do Equipamento de Proteção Individual;

6.4 Cuidados prévios

6.4.1 Quesitos a serem observados

• Verificar a estabilidade da edificação ou estrutura antes de entrar;


• Verificar se portas e janelas se encontram abertas, antes de forçá-las;
• Transportar ferramentas com segurança;
• Identificar atmosferas explosivas que podem causar explosões ambientais,
como o Backdraft.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

6.4.2 Redução dos danos

Antes de abordar os procedimentos em si, cabe ressaltar que a entrada


forçada deve ser a última alternativa, sempre precedida de outros protocolos e
procedimentos que busquem preservar o patrimônio público ou privado que pode ser
deteriorado. O bombeiro militar deve zelar por minimizar perdas.

6.4.3 Desenvolvimento de ferramentas:

Abaixo, podemos observar uma ferramenta que foi desenvolvida com o intuito
de evitar uma entrada forçada, no caso, de uma porta anti-pânico, muito comum em
ambientes de reunião de público.

Figura 122
Fonte: Fire Engineering University. Continuing Education Couse. Junho 2008.

Certifique-se de que possíveis vítimas ou “PTC” não se encontram muito


próximo à porta, situação que pode implicar em um arrombamento onde a porta/janela
colida com o corpo da vítima. Acalme-a, informe o procedimento e instrua (“afaste-
se!”).
Em caso de incêndio: verificar previamente a temperatura da porta de acordo
com procedimentos adotados no manual de combate a incêndio, para evitar a entrada
de oxigênio, causando possível backdraft.
Deve-se perguntar: o que irá fornecer segurança ao imóvel depois que deixarmos a
cena? (acionamento da Polícia Militar, entrega do imóvel ao proprietário e/ou outros
procedimentos.

6.5 Portas

Ao conduzir uma entrada forçada, devemos considerar o seguinte:

99
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Ocupação: Saber que você está respondendo a uma ocupação residencial ou


comercial ajudará a determinar o tipo de portas e fechaduras que você pode
encontrar. Isso ajudará a decidir quais ferramentas devem ser utilizadas.

Porta: O conhecimento do tipo de porta e seus componentes pode orientá-lo


quanto à ferramenta adequada colocação e método de entrada. Isso incluiria:

Sentido de abertura da porta


A maioria das portas residenciais abre para a ocupação (dentro da
residência). Elas são consideradas de abertura para dentro (longe de
você). Atenção que em algumas ocupações comerciais, a porta se abre para uma
ocupação. Eles são considerados de abertura para fora (em direção a você).

Moldura da porta
Uma caixa estrutural ou divisória na qual uma porta é presa, também conhecida
como portal ou batente. Eles podem ser feitos de metal ou madeira.

Dobradiças
Existem muitos tipos de dobradiças usadas hoje. Os tipos que discutimos aqui
serão três: (a) padrão, (b) fechamento automático e (c) tipo de pino.

Porta de adaptação
Uma nova porta pré-pendurada e batente instalado em um batente
de porta existente.

Bloqueios
Para determinar o grau de dificuldade na entrada forçada, você deve ter um
conhecimento dos vários tipos de bloqueios, bem como uma compreensão básica de
como eles operam e como eles são instalados. Deve-se observar também se as travas
estão presentes e onde eles estão na porta.
E, finalmente, você deve sempre TENTAR USAR A MAÇANETA DA PORTA
- "a porta está aberta?"

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

6.6 Ferramentas

O sucesso de qualquer trabalho reside no conhecimento das ferramentas e na


sua aplicação correta. Listados aqui, dentro das categorias, estão muitas das
ferramentas usadas na entrada forçada:

6.6.1 Ferramentas Utilizadas


● Machado;
● Halligan;
● Malho;
● Alicate de pressão;
● Serra Elétrica;
● Furadeira / Serra sem fio;
● Moto Cortador;
● Alargador;
● Cortador;
● Tesourão;

6.7 Fechaduras

Estrutura de composto metálico que se utiliza de sistema de lingueta(s) e


chaves, analógicos, eletrônicos ou combinados, com o objetivo de restringir acessos.

6.7.1 Partes da Fechadura

Máquina: composição Lingueta-trinco*- componentes internos, incluindo


placas de sustentação.

Figura 123
Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017
101
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Cilindro: conjunto de fechadura (miolo, pinos, contra-pinos e mola).

Figura 124
Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

Figura 125 - Pino, contra pino e mola.


Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

Trinco: Pode assumir diversos formatos, sendo o mais comum o de prisma


triangular. É comandado pelo movimento da maçaneta, sendo alguns, deslocados por
esforço de rotação da chave no sentido de abertura, após a lingueta completamente
retirada.

Lingueta: cumpre o objetivo principal da fechadura, servindo como anteparo


que adentra o interior do portal. Move-se ao rotacionar a chave dentro do cilindro.

Maçaneta: É acionada produzindo torque através da força do indivíduo,


movimentando o trinco para efetuar fechamento e abertura de portas.

Figura 126 - Partes Internas da Máquina


Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Espelho: Chapa metálica de acabamento do conjunto.

Cilindro exposto: Cilindros de excessiva projeção para fora da máquina,


facilitando o empenho de ferramentas e equipamentos.

Cilindro não exposto: Cilindros com pouca projeção para fora.

Figura 127 - Fechadura com cilindro não exposto


Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

Cilindro embutido: Cilindros sem projeção para fora da máquina. Comumente


encontrados em fechaduras chaveadas de dupla direção (tetra). Nulo ou dificultoso
acesso externo de ferramentas e equipamentos.

Figura 128 - Trava tetra


Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

6.7.2 Tipos de fechaduras e Técnicas de abertura

Existem uma série de variedades de marcas, modelos e tamanhos de


fechaduras disponíveis. Neste manual mostraremos os tipos de fechaduras mais
usuais e comuns de serem encontradas nos eventos de arrombamento. Vale ressaltar

103
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que as técnicas são eficientes, mas em muitos casos serão utilizados mais de uma
técnica para o mesmo evento de entrada forçada.

6.7.2.1 Fechadura Gorja

Modelo primitivo de fechadura encontrado. Sua chave é dotada de um dente


com um corte guia lateral. Normalmente encontrado dentro da residência (cômodos,
cozinha, etc.). O comando de rotação da chave aciona a lingueta sem intermediários.

Técnica Utilizada
Nas fechaduras de cilindro sem projeção e tipo gorja, utiliza-se duas manobras:
● A cunha da ferramenta Halligan é inserida na fresta portal-porta,
nivelada com a lingueta, aplicando força na extremidade oposta do Halligan, para
realizar a abertura forçada.

Figura 129 - Posicionamento e emprego do Halligan


Fonte: CBMGO

Após o Halligan guiando a abertura, perpendicularmente ao plano da porta,


deve-se colidir com outra ferramenta na altura da lingueta, repetidamente, até que a
porta se desloque.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 130 - Posicionamento


Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

6.7.2.2 Fechadura para banheiro sem cilindro

Neste modelo não há cilindro e sua chave fica no interior do cômodo, sem
possibilidade de retirá-la.

Figura 131 - Fechadura para banheiro sem cilindro


Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

Técnica Utilizada
Após verificar a necessidade de retirada do espelho, deve-se introduzir uma
chave de fenda no dispositivo substituto do cilindro que executa o movimento da
lingueta. Em casos em que a chave interna da fechadura preencher todo o espaço,
deve-se deslocá-la “para dentro”. Após esta manobra, execute a abertura padrão.

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Figura 132 - Posicionamento da chave de fenda e rebatimento da chave interna


Fonte: CBMGO

6.7.2.3 Fechadura com chave simples

Este tipo de fechadura utiliza cilindros com segredos de combinações no


intervalo de 4 a 6 níveis de pinos. Utilizado normalmente em portas de acesso a
residências e lojas.

6.7.2.4 Fechadura com chave tetra

Este tipo de fechadura utiliza duas direções de segredos possíveis, totalizando


quatro lados de combinação. É de uma diversidade de combinações maior que a
fechadura comum e variados tipos de projeção do cilindro.

Técnica Utilizada
A técnica se aplica quebrando o cilindro com alicate de pressão. Vale ressaltar
que esta técnica pode ser utilizada em todos tipos de fechadura que possuam o
cilindro exposto, de grande ou pequena projeção. Pode-se utilizar alicate comum, na
falta do indicado. O movimento é de “torcer” o cilindro até a quebra. Para a
movimentação posterior da lingueta, utilizar-se-á a chave de fenda. A retirada do
espelho em situações de cilindro não exposto, irá tornar possível a torção do mesmo.

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Figura 133 - Cilindro exposto e utilização do alicate de pressão


Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

Figura 134 - Cilindro não exposto e rebatimento do espelho

Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás.CBMGO, 2017.)

6.7.2.5 Cadeado

Tranca de modalidade portátil com cilindro não projetado, presente em uniões


de dois ou mais arcos metálicos.

Técnica Utilizada
Encaixe de “tesourão” com fio de corte perpendicular ao arco metálico,
realizando o corte aproveitando todo o comprimento das alavancas.
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Figura 135 - Corte do cadeado com Tesourão


Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

6.7.2.6 Fechadura para portas de enrolar

Neste modelo de porta existem diversos tipos de fechaduras no qual veremos


a seguir.

6.7.2.7 Fechadura para base de porta

Quando da instalação, é posicionada na parte inferior da porta, com objetivo de


travar a mesma junto ao solo. A lingueta metálica curva é responsável por prender a
porta. Nesta finalidade são encontrados modelos com chave tetra e segredo duplo
tetra.

Figura 136 - Fechadura para base de porta

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Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

Técnica Utilizada
Neste modelo são três tipos de manobras possíveis para abertura:
1- Utilização de serra sabre para corte do pino de trancamento;
2- posicionar a serra sabre para corte tangenciando a porta;
3- Colidir com a marreta na lateral da fechadura. Este procedimento irá
soltar a máquina da fechadura da parte fixa ao solo.

Figura 137 - Corte do pino com serra sabre


Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017.

Figura 138 - Corte da fechadura rente a porta


Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás.CBMGO, 2017.

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Figura 139 – Uso da marreta


Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

6.7.2.8 Fechadura central

Esta é composta de cilindro que permite engate de chave tipo tetra ou simples.
É acoplada a duas barras metálicas que engastam na parede lateral. Comummente
instalada a 1,5m do solo, podendo chegar a 1 metro apenas.

Figura 140 – Fechadura central


Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

Técnica Utilizada
Duas técnicas são utilizadas para execução deste tipo de entrada forçada:
1- Torcer o cilindro projetado com alicate de pressão (mais indicado) ou
comum. Posteriormente, retrair as barras metálicas para permitir o deslocamento da
porta de correr.

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Figura 141
Fonte: Manual operacional de bombeiros – Salvamento Terrestre Goiás. CBMGO, 2017

2- Manobra utilizando Michas. Desta forma abre a porta sem causar prejuízos
aos componentes instalados. Este método não é ideal para nossa atividade de
bombeiro militar, pois o tempo de abertura da porta pode variar de poucos
segundos a muitos minutos, não sendo assim ideal para um evento de
emergência onde o tempo é um fator vital para o cumprimento da missão. Além
disso, exige treinamento de um Militar a nível de especialista, por conta de ser
uma técnica utilizada apenas por profissionais chaveiros.

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7 ABORDAGEM TÉCNICA A TENTATIVA DE SUICÍDIO

Durante toda a existência de nossas atividades, nunca vislumbramos a figura


de um negociador. Um militar preparado para abordar de forma técnica e psicológica,
em diferentes cenários onde houvesse a necessidade de proteger a integridade de
um tentante, nome este dado às vítimas que por alguma ideação suicida estejam
atentando contra a própria vida.
Vale ressaltar que este capítulo tem como base o manual de Abordagem
Técnica a Tentativa de Suicídio de 2016, do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do
Estado de São Paulo.
Nos apoiamos nesta filosofia em razão de ser doutrina pioneira a nível nacional,
porém com as devidas adequações ao nosso estado.
Sendo assim, trataremos neste capítulo o fenômeno suicida pelo seu aspecto
mais emergencial, a Abordagem ao Tentante no momento mais crítico de sua vida.

“Às vezes o silêncio se torna o mais aterrorizante dos gritos”


(Diógenes Munhoz)

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7.1 Noções do fenômeno do suicídio

Definimos o suicídio como um ato deliberado, com intenção de morte, realizado


pelo próprio indivíduo de forma consciente, utilizando-se de meios com características
letais. Este comportamento é composto pelo pensamento, pelos planos e pela
tentativa propriamente dita. Com determinantes multifatoriais e resultado da interação
de fatores psicológicos, biológicos, genéticos, culturais e sócio demográficos.

7.2 Breve Entendimento do Suicídio

De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo (2016,p.


07):
“O fenômeno suicídio engloba uma série de comportamentos
autodestrutivos como a tentativa de suicídio e o suicídio completo. Quem
tenta o suicídio nem sempre tem a intenção de morrer, os atos autodestrutivos
podem ser um pedido de ajuda à família e à sociedade. O suicídio é mais frequente
nas idades que delineiam as fronteiras da vida, como a puberdade e a adolescência,
e entre a maturidade e a velhice.”

7.3 Situações que podem encadear o suicídio:

Em emergências deste tipo podemos lidar com pessoas que em seu desespero
buscam o suicídio como solução a situações consideradas insuportáveis por elas
mesmas, ou seja, querendo pôr um fim a sua dor, por exemplo:
a) suicídio como fuga de uma situação considerada insuportável
pelo sujeito;
b) suicídio em sinal de luto pela perda de um componente da
personalidade ou de um modelo de vida;
c) suicídio como castigo para expiar um erro real ou imaginário;
d) suicídio como delito, arrastando na morte uma outra pessoa;
e) suicídio como vingança ou punição, a fim de suscitar remorso em
outras pessoas e fazer cair sobre elas o repúdio da comunidade;
f) suicídio como pedido e chantagem, visando pressionar alguém;
g) suicídio como sacrifício e modo de atingir um valor ou estado
considerado superior;
h) suicídio como brincadeira, para pôr a si mesmo à prova;
i) suicídio por desgosto ou crise existencial;
j) suicídio como saída natural para uma conduta delinquente;
113
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

k) suicídio como gesto heroico.

7.4 Como identificar as pessoas que tentam suicídio?

Durante a abordagem ao suicida em sua tentativa, o bombeiro deverá estar


atento ao fato de que o mesmo passou por uma série de frustrações e problemas
pessoais que contribuíram para sua decisão desesperada e que em alguns momentos
apresentou sinais e sintomas que possivelmente foram ignorados.
A seguir apresentaremos algumas características que podem ser observadas
em um suicida.
a) tentativas anteriores de suicídio;
b) conflitos familiares;
c) histórico familiar de suicídio ou tentativa de suicídio;
d) conhecimento de casos recentes de suicídio;
e) ideação de suicídio verbalizada;
f) fim de relacionamento afetivo;
g) história de violência doméstica;
h) história de violência sexual;
i) depressão e doença psiquiátrica;
j) isolamento social;
k) mudança nas condições de saúde ou de estado físico;
l) morte recente de alguém próximo;
m) problemas econômicos e de desemprego.

7.5 Métodos de suicídio mais frequentes

A gravidade da tentativa deve relacionar-se com a "potencialidade


autodestrutiva" do método utilizado.
Como exemplo podemos citar que, por razões não completamente
esclarecidas, as mulheres cometem três vezes mais tentativas de suicídio que os
homens, no entanto, os homens são mais eficazes. Isto porque o sexo feminino
recorre aos métodos mais brandos como o envenenamento, enquanto os homens
recorrem a métodos como uso de armas de fogo, afogamento, enforcamento ou
saltando de grandes altitudes.

114
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A seguir podemos verificar os métodos mais frequentes utilizados para o


suicídio.
a) envenenamento;
b) arma branca;
c) enforcamento;
d) precipitação;
e) asfixia.

7.6 Mitos sobre o suicídio

Devemos observar alguns paradigmas criados em relação ao fenômeno, que


frequentemente nos levam a executar tomadas de decisões equivocadas, que nos
afastam do sucesso de uma operação. Para tanto trataremos aqui algumas delas de
forma que possamos entender e quebrar esses mitos, trazendo segurança à
abordagem.
O Conselho Federal de Medicina relata em um de seus estudos (2014), que
erros e preconceitos vêm sendo historicamente repetidos, criando um estigma que
rotula tentantes, fazendo com que os mesmos se sintam envergonhados, excluídos e
discriminados.

Identificaremos agora as “principais crenças” que envolvem o tema.


a) “As pessoas que tentam suicídio realmente querem se matar.”
Ambivalência é um sintoma marcante nas pessoas que se querem suicidar.
Muitos não querem morrer, querem simplesmente escapar de uma situação
insuportável. Portanto afirmar isso é um grave erro.
b) “As pessoas que tentam se matar uma vez e não conseguem, não
tentarão novamente.”
Cerca de 70% dos suicidas que não são acompanhados ou não persistem nos
tratamentos adequados voltam a tentar ou consumar o suicídio. É importante saber
que as pessoas que querem suicidar-se se sentem assim durante um tempo, neste
momento, ou recuperam ou pedem ajuda ou morrem.
c) “Aqueles que tentam o suicídio só querem chamar atenção, se
quisessem se matar já o teriam feito.”

115
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

A forma como cada indivíduo reage a um problema que considera insuportável


é diferente, portanto, qualquer pessoa que expõe sua vida ao risco ameaçando
suicídio precisa de tratamento adequado e merece toda atenção por parte das
guarnições destacadas para o atendimento da emergência. Todo suicida quer chamar
a atenção. É sua forma de tentar gritar por ajuda para chegar até alguém que possa
solucionar seu problema.
d) “Suicidas depressivos consumam mais o ato, pois encontram-se
menos esperançosos, e as abordagens realizadas pelas equipes são sempre
mais complicadas.”
A letalidade de um suicida será altamente influenciada pelo tipo de abordagem
que realiza o negociador. E determinada sempre por muitas variáveis.
e) “Mulheres cometem mais suicídios do que homens.”
De acordo com os dados da OMS (2012), há mais suicídios entre os homens
(15 para cada 100 mil habitantes) do que entre as mulheres (8 para cada 100 mil
habitantes), mas no grupo dos chamados “sobreviventes de si mesmos”, as mulheres
são maioria (80%), ou seja, os homens, quando intentam se matar, são mais efetivos.

Figura 142
Fonte: CBMERJ

f) “No Brasil os índices de suicídio são bem baixos, pois somos um


povo muito alegre e vivendo em um país tropical.”
O Brasil aparece abaixo da média mundial de suicídios, mas tais números
apresentam-se em diferentes maneiras, pois, se no mundo, a taxa média de suicídios
é de 11,4 mortes por 100 mil habitantes, no Brasil esse índice cai para 5,8 mortes por

116
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

100 mil habitantes, o que deixa o país em uma posição aparentemente cômoda: 133º
lugar, em um ranking de 172 países.
Se, em números relativos, a posição do Brasil parece confortável, em números
absolutos o país ocupa a alarmante 8ª posição no ranking mundial, com 11.821 óbitos
por suicídio em 2012. Essa média totaliza 32 suicídios por dia no país. (TRIGUEIRO,
2015)

7.7 A glorificação de sítio

De acordo com pesquisa realizada com parte do efetivo operacional do Corpo


de Bombeiros, verifica-se, por meio das estatísticas de atendimento a esse tipo de
ocorrência, um fenômeno conhecido empiricamente como “glorificação de sítio”, ou
seja, constata-se que os locais escolhidos por suicidas parecem sempre ser repetidos
dentro de uma mesma região geográfica.
Tal fenômeno está diretamente ligado ao fato de que, se o local escolhido pelo
suicida também tenha sido escolhido recentemente para esse fim por outro suicida, e
essa escolha tenha gerado algum tipo de comoção social durante o atendimento
àquela ocorrência, esses locais tendem a ser repetidos e “glorificados” pelos futuros
tentantes de suicídio naquela determinada região.

7.8 Procedimentos técnicos

Devemos estar atentos neste tópico para que possamos de forma sucinta
identificar pontos positivos em uma abordagem, e pontos negativos que nos levarão
a não concluir o salvamento de forma segura. Em outras palavras, o que devemos e
o que não devemos falar ou perguntar ao tentante.

7.8.1 Procedimentos positivos em uma abordagem técnica

A observação e a comunicação são duas ações das mais importantes para se


ajudar o paciente com comprometimento psíquico ou não. Devemos observar as
ações do paciente para que possamos ter uma leitura de seu estado e podermos
através de ações terapêuticas, principalmente a inter-relação através da
comunicação, trazer alívio e melhora de seu sofrimento.
A comunicação pode ser feita através da mensagem verbal, como a fala e a
117
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

escrita, pode também ser extraverbal, que é aquela que realizamos através da nossa
expressão corporal (postura corporal e mímica facial).
Nesse sentido muitas vezes o que expressamos através da fala se contrapõe
com o que o corpo ou mímica do rosto expressa. Por exemplo, posso dizer que adoro
uma pessoa ao mesmo tempo em que seu rosto expressa ódio, raiva e o tom de voz
se torna elevado, demonstrando ira também.
Faz-se necessário então que passemos a observar a linguagem extraverbal
dos indivíduos que foram atendidos, porque nos passam informações valiosas para
dar-lhes uma assistência, assim como, devemos tentar controlar a nossa
comunicação extra verbal, pois passamos informações ao paciente que poderá utilizá-
las de uma maneira adequada.

7.8.1.1 Vínculo afetivo

O vínculo passa a existir de forma adequada e terapêutica quando o


profissional passa a ter atitudes adequadas para com o paciente e este por sua vez
passa a ter segurança e confiança no profissional. Isto deve estar presente desde os
primeiros momentos do contato.
O profissional deve dar atenção, saber ouvir, saber compreender e aceitar os
atos do paciente, orientar ao paciente sobre seu estado e o que deverá ser feito, deve
se identificar de maneira formal (nome, trabalho, função, por que está ali), o mesmo
deve ser feito com familiares e/ou acompanhantes; se tornar receptivo ao paciente,
abordá-lo de forma respeitosa e gentil; sentir-se mobilizado para o sofrimento do
paciente demonstrar que está ali para tentar ajudá-lo.
Essas questões são de grande ajuda para a formação do vínculo, mas devemos
ter em mente que o paciente é quem escolhe a quem, quando e como se vincular a
cada indivíduo. Uma vez formado esse vínculo deve-se preservá-lo, pois é de intensa
utilidade para se conseguir atitudes e abordagens terapêuticas.
O vínculo facilmente se quebra se o paciente perceber que foi usado, que
mentiram para ele, que o ameaçam ou desafiam, e, atitudes as mais variadas
possíveis podem ser tomadas pelo paciente, se sentir que o profissional não é
confiável.

118
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

7.8.1.2 Manter o canal de comunicação aberto

Quando o paciente estiver desorientado, falando muito, a todo o momento


mudando de assunto, deve-se colocar limites (fixar assunto, toda vez que sair, fazer
o retorno, se fazer ouvir).

Olhar para o paciente


Devemos olhar o paciente durante o atendimento devido a uma questão de
respeito, demonstrar atenção, perceber comunicação extraverbal, até como proteção
para o profissional já que se estivermos dispersos e o paciente tentar nos agredir a
reação de movimentos nossa será diminuída e o fator surpresa será fator decisivo
para o paciente.

Figura 143 - Região Indicada para fixar o olhar em um paciente


Fonte: CBMERJ

7.8.1.3 Ouvir atentamente

Também para demonstrar atenção, educação, respeito ao paciente devemos


ouvir o que o mesmo nos tem a dizer e se possível manter diálogo como o mesmo,
pois momentos de desabafos podem trazer alívio de tensão e fazer com que o vínculo
se estreite caso haja demonstração de interesse por quem ouve. No caso do paciente
estar confuso e mudando várias vezes de assunto, não falar coisas compreensíveis,
não se deve em momento algum demonstrar ao mesmo rejeição, rispidez, ameaça
moral/física, desafiar o paciente, coerção. Tentar explicar o estado ao paciente e fixar
limites.

7.8.1.4 Respeitar pausas silenciosas

Em alguns casos, pacientes ao relatarem seus problemas e conflitos,


119
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

apresentam reais sofrimentos em virtude de estarem neste momento lembrando pelo


que passaram, necessitando assim de pausas, buscando reequilíbrio emocional,
ordenando pensamentos e até mesmo aliviando pressões.
Quando ocorrerem essas pausas, o profissional deve por alguns instantes
respeitá-las e após algum tempo estimular o tentante voltar a falar, caso o mesmo não
queira, não se deve insistir e sim orientá-lo que quando quiser, estará ali pronto para
ouvi-lo. Mas é importante saber que não devemos deixar que o silêncio impere por
muito tempo. Quem precisa falar é o paciente e não o bombeiro.

7.8.1.5 Em hipótese alguma devemos completar frases do tentante

Algumas vítimas têm o pensamento mais lento e por isso têm dificuldades para
se expressar, com isso não conseguem por vezes completar frases, falar
fluentemente, e até mesmo terminar um assunto. O BOMBEIRO deve estimular o
paciente a concluir a frase, o assunto com suas próprias palavras na tentativa de
melhorar o curso desse pensamento (estímulo ao “normal”).
No caso de o paciente estar com fuga de ideias (muda de assunto várias vezes)
deve se tentar fixar um assunto e toda vez que ele sair do mesmo tentar retornar.
No caso de não conseguir falar de maneira compreensível, o profissional deve
ajudá-lo quanto à dificuldade de manter a comunicação e se mostrar disponível
quando necessário. Mas nunca tomar o assunto, de forma que complete seu
pensamento com as próprias palavras.

7.8.1.6 Repetir, resumir e relacionar as ideias do próprio tentante

Quando o paciente mantém um diálogo e fornece várias informações


importantes, se faz necessário que ao final ou ao tempo que achar adequado o
bombeiro repita as ideias após um pequeno resumo das mesmas e verifique no
paciente a repercussão que isto promove. O profissional ao devolver essas ideias
deve observar a comunicação extra verbal do paciente, assim como as colocações
verbais que venham a ser feitas pelo mesmo.

7.8.1.7 Ajudar o paciente a encontrar as suas próprias soluções

Neste caso devemos atentar para que não cometamos o erro de dar opinião
120
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

pessoal, porém é importante que ao resumir e concentrar as informações dadas pelo


paciente, estejamos ajudando o mesmo a resolver seus conflitos, conduzindo o
diálogo de forma que ele decida as coisas por si próprio. Fazemos isso mostrando
pontos ou situações que ele não vê em seu relato resumido.
Não devemos passar ao paciente aquilo que nós queremos que ele faça e sim
que o mesmo chegue a uma definição e venha agir em função da mesma. Não
devemos dar a solução pronta e sim estimular o paciente na busca da mesma.

7.8.1.8 Espaço para que o tentante faça perguntas

Devemos sempre deixar um espaço para que o paciente se sinta à vontade de


se expressar, assim como no caso que o mesmo tenha necessidade de fazer
perguntas, tirar dúvidas, repetir assuntos, pedir orientação.
O respeito ao seu sofrimento e as suas necessidades devem sempre estar em
um primeiro plano para que possamos ser terapêuticos na nossa assistência.

Figura 144
Fonte:CIEB/CBMERJ

121
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

7.8.2 Procedimentos negativos em uma abordagem técnica

7.8.2.1 Mentir, prometer ou seduzir

Um dos nossos maiores objetivos ao abordar uma vítima tentando o suicídio, é


a construção de um vínculo de confiança seguro, dado através do diálogo. Portanto,
NUNCA, de maneira alguma devemos mentir ou prometer coisas que não possamos
cumprir. Considerando sempre que este fato ao ser descoberto pelo tentante colocará
em xeque todo esforço de salvamento realizado até o momento.
Devemos usar bom-senso, frente aos pedidos do mesmo. Não devemos ceder
aos pedidos do paciente enquanto a mesma estiver em situação de risco, no caso de
coisas materiais que tivermos facilidade em conseguir como é o caso de comida, água,
celular devemos fazer o paciente entender que o solicitado estará disponível assim
que a mesma passar para uma situação segura já sob acompanhamento e controle
do bombeiro, ou seja, após o mesmo desistir da ideia de matar-se.
OBS: O paciente psiquiátrico de posse das informações que lhe passamos
frente à situação em que se encontra pode em várias ocasiões fazer tentativas de
testes para perceber nossos pontos fracos.
Um dos testes mais comuns é quando nos pede algo sob ameaça de
consumação do suicídio. Nestes casos nunca devemos ameaçar, desafiar ou
satisfazer a vontade do paciente, devemos de maneira educada lhe orientar sobre o
que podemos fazer assim como lhe mostrar a ajuda que podemos proporcionar.
Devemos deixar claro que não estamos ali para sermos ameaçados ou deixar-
nos ser agredidos.
Devemos perceber a tentativa do paciente em tirar proveito de uma situação e
não cairmos em seus testes, e que não vamos satisfazer sua vontade caso ela seja
inadequada ou não terapêutica.
É comum acontecer de o profissional frente a essa situação e ao se sentir
inseguro e/ou com medo satisfaça a vontade do paciente, mas devemos lembrar
sempre que o paciente pode vir a pedir cada vez mais ao ser atendido tornando a
situação insustentável. Por isso, devemos na primeira tentativa de teste já demonstrar
que percebemos e limitar a ação do paciente.

122
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

7.8.2.2 Chamar por apelidos ou nomes depreciativos

Em nossa cultura é normal que apelidamos ou nos dirijamos às pessoas de


forma íntima mesmo sem as conhecer, porém não devemos cometer esse erro em
nossa abordagem, tratando sempre o tentante de forma respeitosa e educada.
Devemos evitar termos comuns como “MANO”, “TIO”, “PARCEIRO”,
“BROTHER”, etc. Não devemos também fazer comentários negativos a respeito do
paciente entre membros da equipe, familiares ou conhecidos presentes fora da cena
(pois na cena a presença deles não será jamais permitida).

7.8.2.3 Ser agressivo com o tentante

Em nenhum momento devemos ser agressivos verbal ou fisicamente com o


paciente, nos casos de paciente com agressividade, devemos usar da ação física
somente para nos proteger, mas de forma alguma para agredir o mesmo. Devemos
adotar a técnica de contenção física quando necessário, procurando não agredir o
paciente para contê-lo. Também devemos atuar de forma educada e firme com o
paciente, demonstrando atenção, sem precisarmos ser grosseiros, mal-educados,
ríspidos, agressivos verbalmente.

7.8.2.4 Ameaçar o paciente

Mesmo quando precisarmos de uma postura ou comportamento do tentante,


jamais devemos ameaçá-lo com pressões morais, físicas ou de tratamento.

7.8.2.5 Desafiar o paciente

Há pacientes que ameaçam o profissional frente a uma situação, mas devemos


lidar não com a ameaça e sim com a necessidade que o paciente tem. Frente a um
desafio do paciente devemos mostrar a nossa função de ajuda ao mesmo. Um
exemplo claro desta situação se dá quando o profissional ao se aproximar do paciente
é recepcionado com xingamentos e palavrões. Essa é uma situação altamente
positiva para as equipes de emergência, pois o cenário já será encontrado com um
diálogo aberto.

123
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

7.8.2.6 Julgar ou aconselhar

Mesmo que o paciente ou familiar nos peça, não devemos dar opinião pessoal,
julgar seus atos ou dar conselhos ao paciente, pois isso pode piorar em muito o estado
do mesmo.

7.8.3 Outros itens a serem evitados

a) antecipar a ação tática;


b) levar parentes e/ou conhecidos à presença do tentante;
c) efetuar comemorações na frente do paciente;
d) ceder a qualquer exigência do paciente que vá de encontro ao
protocolo;
e) dar cigarros, celulares, refeições, etc...

7.9 Fases da abordagem técnica

7.9.1 Aproximação

Para entendermos a aproximação precisamos conhecer três pontos


importantes:
a) Zona interpessoal;
b) Zona de aproximação;
c) Zona social.

124
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 145
Fonte: Image Capturada - https://goo.gl/images/dWJvdx

A aproximação deverá ser feita de forma calma e silenciosa, respeitando


sempre seu espaço e seu consentimento.

7.9.2 Silêncio inicial

Alguns segundos de silêncio entre a chegada e a apresentação são


recomendados para o paciente acostumar-se com a presença do bombeiro.

7.9.3 Apresentação pessoal

O bombeiro deve se identificar de maneira formal dizendo seu nome, trabalho,


função e por que está ali.

7.9.4 Abertura do diálogo

Com intuito de criar o vínculo o mais rápido possível, o BOMBEIRO deve dizer
ao paciente que percebe sua aflição diante da situação.
a. Eu estou vendo que o senhor está realmente muito nervoso.
b. Eu estou vendo que o senhor está realmente abalado com este fato.

125
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

7.9.5 Excelentes ferramentas para um BOM diálogo

7.9.5.1 Perguntas simples

As perguntas simples têm como resposta o “SIM” e o “NÃO” e tem o objetivo


de colher informações do próprio paciente verificando assuntos que a comovem e a
emocionam, ajudando o abordador a encontrar o motivo principal da sua aflição.

7.9.5.2 Perguntas complexas

A partir do que foi apurado com as perguntas simples e após descoberto o


motivo da aflição do paciente, o abordador deverá fixar limites e não fugir para outros
assuntos.

7.9.5.3 Paráfrase resumid

Este recurso pode ser utilizado em qualquer momento da abordagem quando


o paciente mudar do tema principal, motivo da tentativa de suicídio, detectado pelo
profissional, divagando para outros assuntos.
Trata-se de um resumo, feito pelo profissional, do que foi dito pelo próprio
paciente, excluindo assuntos paralelos e direcionando a conversa para o problema
em questão.
O objetivo é diminuir o tempo de abordagem psicológica, atendo-se ao fato
principal que gerou o comportamento suicida.

7.9.5.4 Ajudar o paciente a encontrar soluções

Há pacientes que se portam como milionários quando sabemos que são


pobres, que falam serem artistas famosos, que referem ver “monstros”, ouvirem a voz
de Deus, etc. Esses pacientes têm um comportamento que os fazem ficar fora do
contexto real.
Em hipótese nenhuma o profissional que atende deve estimular o paciente a
se manter fora da realidade ou fazer brincadeiras com a situação, por exemplo: ao ver

126
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

um paciente bater como chinelo na parede e referir estar matando aranhas não
devemos nunca dizer que vamos ajudá-lo ou que também estamos vendo.
Quando o paciente estiver fora do contexto real devemos ajudá-lo dando-lhe
informações sobre o real, o que é verdadeiro, devemos tranquilizar o paciente
mostrando-nos seguros do que falamos e na maneira de agirmos com ele.
Em nenhum momento devemos dizer o que o paciente deve fazer, mas devemos sim
ajudá-lo a encontrar suas próprias conclusões, como por exemplo:
a) Este fato já aconteceu outras vezes?
b) Então vejo que o senhor soube lidar com esta situação!

É obrigatório que o bombeiro que realizou a abordagem acompanhe o paciente


no interior da viatura de resgate até o ambiente de tratamento especializado onde
deverá passar o caso à equipe médica.

127
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

8 ABORDAGEM, CONTENÇÃO E CONDUÇÃO DE PACIENTE COM TRANSTORNO


COMPORTAMENTAL.

8.1 Introdução

Com o aumento significativo das ocorrências de atendimento a portador de


transtorno mental, as guarnições de Bombeiros têm se deparado com riscos aos quais
não foram treinados para lidar, em uma situação onde o agressor ou a fonte dos
principais riscos é juridicamente inocente.
Abordar, conter e conduzir sem lesões para o paciente e para a guarnição, é a
missão de uma equipe de Bombeiros que atende uma ocorrência desta natureza, por
isso a proposta deste curso será apresentar aspectos jurídicos, demonstrar uma
técnica aplicável para os diferentes ambientes onde se fará necessária a realização
da contenção.

8.2 Aspectos legais

No Brasil existem leis na esfera federal e estadual que tratam sobre as


atribuições do poder público na assistência e ressocialização dos portadores de
transtornos mentais, sendo o assunto tratado no âmbito da saúde pública.

8.2.1 Lei federal 10.216/2001

Esta lei dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de


transtorno mental e implementa a modificação do modelo assistencial baseado na
internação em hospitais psiquiátricos, para um modelo de atenção comunitário que
promova a reinserção social destas pessoas que ficaram por longos anos
institucionalizadas.

8.2.2 Lei Estadual 2.920

Autoriza o poder executivo a criar uma central de atendimento emergencial de


remoções de portadores de transtorno mental sob a coordenação do CBMERJ. Sendo
competência do COGS regular o atendimento médico pré-hospitalar em casos de
trauma, clínico e emergências psiquiátricas na cidade do Rio de Janeiro. Cabe ao

128
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CBMERJ, no âmbito do estado, apoiar as equipes do SAMU ou órgãos similares no


atendimento a pacientes com emergências psiquiátricas quando solicitado apoio.

8.2.3 Resolução/COFEN-427/12

Cabe ao MÉDICO regulador ou assistente prescrever a contenção


física/mecânica do Portador de Transtorno Comportamental (PTC).
Na ausência do profissional médico, em situações de risco iminente para saúde
do PTC ou da equipe, cabe ao ENFERMEIRO prescrever tal procedimento.

8.2.4 POP CBMERJ n°16 (Procedimento operacional padrão)

Dispõe sobre as indicações para a atuação do CBMERJ, trata também sobre


questões de avaliação da cena e contenção física.

8.3 Quando devemos atuar?

Nas seguintes situações:


a) distúrbio de comportamento associado a lesões corporais graves
ou quadros de agitação;
b) risco de suicídio;
c) local de difícil acesso, com necessidade de manobra ou
salvamento;
d) comportamento agressivo com ameaça iminente à própria
integridade física ou de terceiros;
e) suicídio;
f) dificuldade de contenção do paciente pela guarnição de saúde;
g) intoxicação e abstinência por álcool e drogas;
h) surto psicótico de origem orgânica ou funcional;
i) depressão;
j) transtornos de humor.

8.4 Avaliação da cena

As viaturas deverão chegar ao local do evento de forma discreta. Procurar

129
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

colher histórico das patologias e das crises anteriores. Certificar-se que o ambiente
está seguro para a vítima, seus familiares e a guarnição envolvida no atendimento.
Não permita a aproximação de curiosos. Não se apresse em falar com a vítima, defina
antes sua estratégia baseado nas informações colhidas

8.5 Abordagem ao paciente

Tenha em mente que por mais que você seja o mais preparado na guarnição o
paciente é quem escolhe com quem quer falar, e isso deve ser respeitado.
A abordagem ao PTC deve ocorrer de forma tranquila, com um único socorrista
como interlocutor, porém de forma firme, com linguagem clara, mostrando a sua
intenção de ajudá-lo, para estabelecer um vínculo de confiança, mantenha uma
distância segura durante a abordagem e os demais componentes da guarnição
deverão manter uma certa distância. É fundamental que o socorrista escute a vítima
com atenção e demonstre interesse para consolidar o vínculo, mantendo contato
visual enquanto ele fala, não emitindo nenhuma crítica.

8.6 O que falar?

a) Informe a vítima sobre o que será realizado, mantendo sempre a


cordialidade.
b) Jamais discutir com a vítima.
c) Não concordar com suas alucinações e delírios, porém não
censurar.
d) Controle a vítima de maneira que acredite que está fazendo sua
própria vontade, tentando a condução da vítima pelo diálogo.

8.6.1 Sinais de uma possível agressividade?


a) agressividade verbal;
b) punhos e dentes cerrados;
c) movimentação excessiva;
d) tendência a aproximação;
e) inclinação em direção ao interlocutor;
f) volume de voz demasiadamente elevado;

130
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

g) alteração de percepção.

8.7 Contenção física e mecânica

Figura 146
Fonte:CBMERJ

É um procedimento limite utilizado unicamente para a segurança do paciente,


da equipe e dos outros parentes.

8.7.1 Contenção física

Durante todo o procedimento de contenção, o paciente deve ser esclarecido


sobre o que está sendo feito, bem como os motivos, tentando explicar o caráter não-
punitivo do mesmo.

8.7.2 Contenção mecânica

Caracteriza-se pelo uso de faixas de couro ou tecido, em quatro ou cinco pontos


que fixam o paciente ao leito, conforme Mantovani et al 2010.
Caso não obtenha êxito pela intervenção verbal e necessite da contenção
mecânica, poderão ser utilizados espectadores externos que demonstrem preparo
para colaborar. Deve-se manter o contato verbal com a vítima durante a contenção,
tentando acalmá-la, informando que tal medida é para protegê-la. Durante a
contenção, assim que possível, a guarnição deverá revisar a vítima em busca de

131
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

drogas, armas ou objetos que representem algum risco. Deve ser realizado um exame
de motorização da vítima a cada 30 minutos: nível de consciência, sinais vitais, estado
dos membros contidos e impressão do paciente.

Figura 147
Fonte: CBMERJ

8.8 Condução de paciente contido

Mesmo estando contido, em todo o tempo, deverá haver pelo menos dois
militares acompanhando o paciente, que não poderá entrar ou sair sozinho de
qualquer cômodo da casa, na viatura não poderá sentar na janela. Se na condução o
paciente não estiver amarrado os militares deverão ficar um a cada lado assentados
na viatura com braço passando por baixo da axila do PTC e segurando no punho do
mesmo, sem necessidade de aplicar tensão, impedindo assim qualquer ataca sobre o
motorista, não podemos esquecer que um paciente de transtorno mental é totalmente
instável, mesmo estando colaborando com a guarnição, não são poucos os relatos de
Bombeiros que pelo fato do paciente estar cooperativo se distraíram e foram atacados.
Lembre-se: Todo portador de transtorno mental é um ser humano, que
necessita de cuidados e atenção, como todos nós, portanto em todos os
procedimentos realizados, deve-se falar o que será feito, sempre num clima de
cordialidade, mantendo o profissionalismo.

9 SALVAMENTO EM ESPAÇO CONFINADO

132
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

9.1 Normas nacionais e Internacionais

Segundo a NR – 33 – Segurança e saúde nos espaços confinados (2006).


Espaço confinado como qualquer área ou ambiente não projetado para ocupação
humana contínua, que possua meios limitados de entrada e saída, cuja ventilação
existente é insuficiente para remover contaminantes ou onde possa existir a
deficiência ou enriquecimento de oxigênio.

Tabela 1 - Características dos Espaços Confinados


Fonte: Ministry of Labour Ontario Occupational Health and Safety

Segundo a NBR 16.577 - Prevenção de acidentes, procedimentos e medidas


de proteção (2017).
Os espaços confinados são caracterizados como:
Espaço confinado “não perturbado”: característica técnica do espaço
confinado definida no cadastro com os riscos inerentes ao local. As
medidas de controle de riscos são norteadas pela permissão de entrada e
trabalho (PET);

Espaço confinado perturbado: característica da alteração ocasionada


pela(s) atividade(s) que será(ão) executada(s) no interior do espaço
confinado, sua dinâmica de evolução de riscos associada aos riscos
presentes no espaço confinado não perturbado. Neste caso, as medidas
de controle de riscos são baseadas na análise preliminar de risco (APR).

Ainda segundo a (NBR 16.577, 2017) são tipos de espaços confinados (não se
133
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

limitando a estes):
vasos, colunas, tanques, silos, casa de bombas, caixas d’água, cisternas,
torres, galerias subterrâneas, caldeiras, vasos de pressão, reatores,
tanques de combustível, vagões, valas, trincheiras, diques, contêineres,
tubulões, caixas de inspeção, túneis, dutos de ventilação, câmaras, fornos,
asas de avião, compartimento de cargas, trocadores de calor, cárter,
porões e outros.

RISCO é, por definição, segundo (OSHA 180001, 2007), combinação da


probabilidade da ocorrência de um acontecimento perigoso ou exposições e da
severidade das lesões, ferimentos ou danos à saúde, que pode ser causada pelo
acontecimento ou pelas exposições.

9.2 Riscos nos Espaços Confinados

9.2.1 Riscos mecânicos

Os riscos mecânicos, segundo a (OSHA 180001, 2007), são aqueles que


podem comprometer a segurança do trabalhador ou resgatista em seu ambiente de
atuação. Má organização de máquinas, equipamentos e ferramentas mal conservadas
e sem manutenção, instalações elétricas em mau estado, falta de segurança
estrutural, dentre outros fatores que, imperceptivelmente aos olhos do trabalhador ou
resgatista, podem acarretar sérios acidentes, como, por exemplo, a queda de objetos.
Um tipo específico de risco mecânico em espaços confinados é o engolfamento, que
veremos a seguir.

9.2.1.1 Engolfamento

Segundo a (OSHA 180001, 2007), engolfamento é a efetiva captura de uma


pessoa por uma substância sólida finamente dividida que pode ser aspirada pelo ser
humano, causando a morte por enchimento ou entupimento do sistema respiratório
ou que possa exercer força suficiente contra o corpo, causando a morte por
estrangulamento, constrição ou esmagamento.
O engolfamento pode causar asfixia mecânica de três formas diferentes:
a) Efetivo bloqueio das vias aéreas superiores pelos grãos;

134
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

b) Pressão exercida na região do pescoço;


c) Paralisação, devido à pressão exercida, dos movimentos da parede
muscular do diafragma que é a peça central dos movimentos da respiração.
Quanto ao engolfamento e sua ocorrência, segundo Da Silva (2005, p.1)

Devemos enfatizar que no período de armazenagem caso não sejam


observadas as recomendações técnicas, umidade, fungos, bactérias e
insetos podem deteriorar o produto. Em estados avançados de
deterioração surgem pequenos aglomerados que podem formar placas
horizontais ou verticais. Essas placas são estruturas instáveis que podem
entrar em colapso a qualquer momento. Ocorrendo isso, surge uma
avalanche de grãos que pode arrastar ou encobrir pessoas.

Em função disso, podemos classificá-lo em três tipos:

a) “Parede de Grãos”
Nesta situação, o trabalhador na tentativa de desprender os grãos que estão
agrupados nas paredes laterais do silo, aos raspa-los, provoca uma
“avalanche” de grãos que rapidamente o soterra.

Figura 148
Fonte: fazerseguranca.com

b) “Falsa ponte de Grãos”


A “falsa ponte de grãos” é formada por uma fina e instável camada de grãos,
que fica visualmente compacta, na parte superior do silo. Abaixo desta “ponte”, há um
espaço oco formado pela retirada de grãos. O trabalhador ao adentrar o silo para
realizar algum tipo de serviço caminha sobre os grãos e, subitamente, cai e é
soterrado.
135
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 149
Fonte: fazerseguranca.com

c) Areia Movediça
Ocorre através de vibrações mecânicas ou sonoras dentro do silo que fazem
com que os grãos se reorganizem e, nesse momento, o trabalhador começa a afundar
nos grãos até seu completo soterramento. Esta situação também pode ocorrer quando
o silo está sendo descarregado.

Figura 150
Fonte: fazerseguranca.com

9.2.2 Riscos ambientais

Segundo a (NR – 09,1994):


“[...] consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos,
atmosféricos e biológicos existentes nos espaços confinados, em função
de sua natureza, concentração, intensidade e tempo de exposição, são
capazes de causar danos à saúde do trabalhador.”

136
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Podemos classificá-los da seguinte forma:

a) Físicos
Segundo a (NR – 09,1994):
“[...] são os riscos que advém dos agentes físicos. Consideram-se agentes
físicos as diversas formas de energia a que possam estar expostas as
pessoas, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas
extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o
infra-som e o ultra-som.”

b) Químicos
Segundo a (NR – 09, 1994):
“[...] são os riscos que advém dos agentes químicos. Consideram-se
agentes químicos as substâncias, compostos ou produtos que possam
penetrar no organismo pela via respiratória, ou que, pela natureza da
atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo
organismo através da pele ou por ingestão.”

Ainda podemos subdividir os riscos tóxicos em: irritantes, asfixiantes,


vesicantes, corrosivos e anestésicos.

c) Biológicos
Segundo a NR – 09 (1994), são os riscos que advém dos agentes biológicos.
Consideram-se agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos, parasitas,
protozoários, vírus, entre outros.

d) Riscos atmosféricos
Qualquer alteração na atmosfera do ambiente confinado capaz de causar
danos à saúde do trabalhador ou resgatista, como:

d.1- Deficiência de Oxigênio: causada por alguns fatores como consumo de O2


pela combustão ou oxidação, inertização e adsorção.
d.2- Atmosfera Tóxica: quando a atmosfera envolvente é caracterizada pela
presença de uma substância tóxica no ar, podendo ocasionar danos graves ou
mesmo a morte, por inalação ou por via cutânea.
137
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

d.3- Atmosfera Classificada: quando existem gases ou vapores inflamáveis ou


combustíveis misturados com o ar em proporções dentro dos respectivos
limites de inflamabilidade que em contato com uma fonte de ignição causariam
uma explosão. No caso dos combustíveis misturados com o ar podemos
salientar os materiais particulados ou poeiras. É necessário porém que tenham
propriedades combustíveis e é necessário também que as mesmas estejam
dispersas no ar e em concentrações adequadas. Locais em que deve-se
atentar para o risco são: instalações onde haja moagem, descarga,
movimentação, entre outros.
d.4- Enriquecimento de Oxigênio: quando o espaço confinado, por algum
motivo específico, possui uma fonte de oxigênio capaz de aumentar sua
concentração no ambiente, afetando diretamente os limites de inflamabilidade
dos combustíveis presentes, facilitando a ignição dos mesmos, bem como a
possibilidade de hiperóxia.

9.2.3 Riscos psicológicos

São as alterações no campo psicomotor e cognitivo que impeçam ou


atrapalhem o trabalhador ou resgatista a executar alguma atividade em espaços
confinados.
De acordo com Oliveira (2013), não poderíamos deixar de citar a claustrofobia,
um medo irracional e específico de permanecer em lugares fechados e confinados. É
comum a manifestação em elevadores, aviões, metrôs, etc.
“De acordo com a NBR 16577 (2017), a claustrofobia é um medo irracional
e incontrolável de permanecer em ambientes fechados e apertados, que
pode gerar uma crise de pânico em pessoas que sofrem desse problema,
ao estarem dentro de espaços confinados. Pessoas claustrofóbicas têm
uma percepção alterada do espaço, percebendo-os menores do que
realmente são, além do sentimento de prisão e impotência. Elas têm a
impressão psíquica de que o ambiente encolhe e vivenciam sintomas
típicos do pânico como sudorese, taquicardia, tontura, falta de ar, boca
seca, entre outros.”

9.3 Primeiros Socorros à vítima de acidentes em E.C.

Os microrganismos de transmissão mediada por fluidos biológicos (sangue,


saliva, secreções respiratórias) aos quais os bombeiros militares mais comumente
estão expostos em atendimento pré-hospitalar são: vírus hepatotrópicos (hepatites
138
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

virais) B e C, vírus HIV, HTLV. Ao passo que meios líquidos contaminados com fezes
humanas podem transmitir vírus A da hepatite. Águas contaminadas com urina de
roedores podem transmitir a Leptospira, bactéria causadora da leptospirose, doença
que pode causar insuficiência renal, hepática e transtornos da coagulação.
A mordedura de cães e roedores pode transmitir a raiva, doença viral grave,
com alterações neurológicas centrais e periféricas (trato piramidal).
Objetos perfurocortantes também trazem risco de infecção, sobretudo tétano,
doença grave que causa paralisia e espasmo muscular e morte por insuficiência
respiratória.
Além de vetores dos germes específicos mencionados acima, a mordedura de
roedores, cães e serpentes pode na melhor das hipóteses, provocar infecção
bacteriana secundária no local do ferimento, a qual por vezes evolui à sepse
(disfunção de sistemas vitais secundária à infecção). Este é o principal risco no caso
da mordedura por jibóias, as quais não têm peçonha.
As peçonhas de serpentes se dividem em proteolítica (jararacas), neurotóxica
(corais), miotóxica e mistas (cascavel e surucucu). A primeira causa gangrena do
membro, insuficiência renal aguda e distúrbio de coagulação, enquanto a segunda
causa paralisia de face, membros e por fim, da musculatura respiratória. Em caso de
acidente, a vítima, além de receber medidas de suporte à vida no local (ver adiante),
deve receber o soro antiofídico em menos de seis horas, após o que, a mortalidade
chega a 60%.
Artrópodes também oferecem risco, como lacraia e aracnídeos, cuja peçonha
pode causar desde dor local até gangrena e paralisias, no caso de alguns aracnídeos.

9.3.1 Medidas de bioproteção

As medidas de bioproteção se dividem em pré e pós-exposição. Dentre as


medidas pré-exposição, salientamos o uso do equipamento de proteção individual. As
luvas de proteção termomecânica conferem boa proteção biológica, entretanto, utilizá-
las no contato direto com fluido corporal da vítima resulta na necessidade de
desprezá-las, visto que não há técnica de desinfecção adequada que não as destrua.
Assim sendo, recomenda-se o uso de luvas de procedimento para o manuseio da
vítima ferida ou expelindo qualquer fluido corporal. As luvas de procedimento podem
ser de nitrila ou látex. Ambas com tempo de quebra (permeação por água) em torno
139
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

de 23 a 27 minutos. Logo, deve-se carregar luvas reservas no traje e idealmente


trabalhar com no mínimo duas camadas de luvas. Profissionais alérgicos a látex
devem usar nitrila.
Quanto à proteção ocular e respiratória, ambas são adequadamente atendidas
pela peça facial do equipamento de proteção respiratória autônomo (EPRA). No
entanto, após a extração do espaço confinado, o resgatista, ao retirar a peça facial,
deve calçar óculos de proteção e máscara de procedimento.
Fatores que influenciam no desempenho da luva:
❖ Resistência química (razão de permeabilidade e tempo de
quebra);
❖ Concentração da solução (ameaça);
❖ Tempo de uso;
❖ Abrasão;
❖ Calor;
❖ Corte.

Tabela 2
Fonte: Fiocruz.

140
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Tabela 3 - Desempenho de proteção mecânica dose materiais para proteção biológica das mãos. Resistência: E=
excelente; B=boa; R= razoável; P= baixa; NR= não recomendado. Centers for Disease Control (CDC) Chemical Glove
Guidelines. Acesso em: 20.02.04. Disponível em: http//www.orcbs.msu/. Fonte: Fiocruz
Fonte: Fiocruz.

É importante manter atualizada a vacinação contra Hepatite B e Tétano


(contato com a CCPIH do GSE ou em quaisquer postos de saúde que tenham setor
de vacinação). Guardar cartão de vacinação.
As medidas pós-exposição se resumem a lavagem do local exposto com água
e sabão (solução salina fisiológica ou água corrente se nos olhos) e uso dos
medicamentos de profilaxia (para HIV e hepatite B). Não há evidência de que o uso
de antissépticos ou a expressão do local do ferimento reduzam a transmissão. A
utilização de soluções irritantes está contraindicada.
Quanto ao protocolo de medicamentos pós-exposição, em caso de acidente
com perfurocortantes ou contato de olhos e boca com fluido biológico, solicitar apoio
à ASE, ingerir os comprimidos do kit antirretroviral, comunicar o acidente à chefia
imediata e ao coordenador médico da COGS e encaminhar-se ao HCAP (SPA) ao fim
do serviço para início do seguimento ambulatorial. Não esquecer de cobrar a abertura
do atestado de origem. Os comprimidos devem ser ingeridos em até 72 horas, mas
preferencialmente nas primeiras 2 horas da exposição. No HCAP também será
verificada a necessidade de medidas pós-exposição contra a hepatite B, cujo risco de
infecção é muito maior que o HIV.

9.3.2 Planejamento pré-missão

É recomendado praticar-se a avaliação preliminar de risco (APR) ou

141
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

reconhecimento, entre missões e de forma missão-orientada (específica para uma


missão), de modo a manter um banco de informações atualizado sobre as
características e riscos dos espaços confinados de sua área operacional, sem contar
exclusivamente com as informações obtidas na avaliação de cena durante o incidente.
Neste mister, à coleta dos dados de ameaça à saúde especificamente, chamamos de
inteligência médica, a qual envolve dois domínios de informação:
a) recursos médicos mitigatórios: instalações médicas locais, meios
de evacuação disponíveis, organizações de apoio (CET Rio, CEG, CEDAE...),
com suas capacidades e meios de contato;
b) riscos da cena: área classificada, atmosfera deficiente ou tóxica,
ameaças biológicas, risco de engolfamento, risco de afogamento, animais etc.
c) Tenha sempre um plano “B” para toda medida mitigatória,
conforme a metodologia P.A.C.E.: soluções primária, alternativa, contingencial e
de emergência (improviso).

9.3.3 Estresse térmico e lesões pelo calor

9.3.3.1 Definições e fatores de risco para lesão pelo calor

Hipertermia é definida como a temperatura corporal central (retal, vesical,


esofagiana) superior a 38° C. Como em ambiente pré-hospitalar, nem sempre se conta
com meios de aferir a temperatura central, deve-se suspeitar de lesão pelo calor frente
a sinais e sintomas compatíveis em paciente exposto a estresse térmico.
Cabe ressaltar que 70% do estresse térmico provém do próprio metabolismo
endógeno e 30% do ambiente. Ou seja, atenção para atividade física moderada a
intensa, sobretudo em uso de equipamento de proteção individual pesado,
transportando carga ou operando equipamentos.
A fisiopatologia envolve, na maioria das manifestações graves, a hipovolemia
e a desidratação. Por isso, os grupos com maior risco são crianças, idosos, portadores
de doença cardíaca prévia, alcoolistas, obesos, moradores de áreas mais pobres,
praticantes de atividades esportivas intensas, profissionais que atuam com grande
quantidade de equipamentos (bombeiros, policiais, militares).
A desidratação resulta do suor excessivo (atividade física, febre), diarreia,

142
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

vômitos e uso de medicamentos diuréticos. Assim, constitui-se tanto em fator de risco


quanto consequência das lesões relacionadas ao calor. Perde-se 0,8 a 1,4 litros/hora
pelo suor. Atletas bem condicionados chegam a perder até 3,7 litros/hora.
Várias medicações de uso regular podem comprometer a capacidade do corpo
de dispersar calor, como lítio, betabloqueadores, antidepressivos tricíclicos,
furosemida, anti-histamínicos, antipsicóticos de primeira geração (fenotiazinas).

9.3.3.2 Identificação e abordagem das síndromes pelo calor

Forma Mecanismo Sinais/ sintomas Tratamento

Edema pelo Gradual expansão da Leve edema em pés, Remover joias apertadas
calor volemia durante a tornozelos e mãos e elevar as pernas
aclimatação periodicamente
Tetania pelo Exposição curta a calor Parestesia Remover do calor e
calor intenso (formigamento), repousar
Hiperventilação e alcalose espasmo das mãos,
(?); pode se associar à carpopodal e outros
exaustão ou intermação músculos
Síncope pelo Vasodilatação; Tontura ou síncope Remover do calor; deitar
Calor* represamento de sangue durante transição do e reidratação.
venoso nas pernas agachamento para o
ortostatismo
Câimbra Hiponatremia e hipocalemia Câimbra nos membros Repouso à sombra;
muscular durante ou na recuperação inferiores e abdome alongamento; repor
do exercício solução eletrolítica**
Tabela 4 - Formas leves de lesão pelo calor
Fonte: CBMERJ
* Pacientes com suspeita de doença cardíaca prévia síncope devem ter investigação de síncope no hospital e ter o ritmo cardíaco
monitorado durante o transporte.
** Para prevenir (a cada cerca de 2h de atividade física intensa) e tratar cãibras, adicionar ¼ de colher de chá de sal (ou 1
cápsula) para cada 300 a 500 ml de água. Solução esportiva.

Forma Mecanismo Sinais/ sintomas Tratamento

Redução abrupta do
Náusea, tontura,
retorno venoso ao final do
síncope, hipotensão Remover do calor;
Colapso associado ao exercício;
ortostática, decúbito dorsal;
esforço1 T geralmente normal;
taquipneia e pulso considerar reidratação
difícil excluir
rápido, sudorese
desidratação

143
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Cefaleia, tonteira,
Desidratação; “ABC”
náusea, fadiga,
vasodilatação da Remover do calor; se
Exaustão por Calor hipotensão
pele;T<40º C; não puder excluir
(forma mais comum de ortostática,
Diagnóstico de exclusão intermação, resfriar
lesão) taquipneia e pulso
(sem alterações ativamente; reidratação
rápido, sudorese,
neurológicas) oral (se vômitos, IV2)
oligúria

Sintomas e sinais da
“ABC”
exaustão mais
Resfriamento imediato
alteração do estado
Desidratação; T>40º C; (imersão ou molhar o
Intermação (heat mental (confusão,
Disfunção de múltiplos doente e ventilar); parar
stroke) coma) ou
órgãos em 38,9º C4
convulsão3;
Reidratação IV2 (max 1 a
sudorese profusa ou
2 litros na 1ª h)
anidrose;

Ingesta > 1 litro/hora Cefaleia, fadiga, “ABC”; Sintomas leves -


durante atividade física náuseas e vômitos conservador
Hiponatremia dilucional prolongada; Alteração de Muito sintomáticos -
Edema Cerebral; consciência, coma, Salina 3% (100 ml; até 3
T < 38,9º C convulsão; vezes q10min)5
Tabela 5 - Formas graves
Fonte: CBMERJ
T= temperatura corporal central; IV= intravenoso.
1
Pacientes com suspeita de doença cardíaca prévia devem ter investigação de síncope no hospital e ter o ritmo cardíaco
monitorado durante o transporte.
2
Preferencialmente Ringer lactato. Limitar em 1 a 2 litros para evitar Hiponatremia.
3
Tratar convulsões conforme as recomendações do POP EMG Lesão cerebral traumática (oficiais médicos apenas). Na ausência
de oficial médico, transportar em posição lateral de segurança.
4
Mesmo interrompido o resfriamento, a temperatura continuará a diminuir.
5
Salina 3% só deve ser infundida por médico. Se enfermeiro, somente mediante regulação médica.

A síndrome do choque circulatório por suspensão, também referida como


síndrome de harness, tem mecanismo, sinais e sintomas semelhantes ao colapso
relacionado ao esforço.
Não esquecer que o esforço físico extenuante pode causar rabdomiólise –
morte de músculo esquelético, cujo risco de necrose tubular renal aguda (e
insuficiência renal) aumenta com a desidratação.

9.3.4 Prevenção ocupacional

Formas leves de lesões relacionadas ao calor podem evoluir ou se associar a


formas graves. Deste modo, é fundamental identificá-las em exposição ocupacional
144
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do bombeiro militar para evitar manifestações graves. Quando identificadas, indicam


a necessidade de aumento da hidratação oral e de avaliar a redução do intervalo entre
os “auto-horários” durante atividades físicas, assim como de desequipar o EPI durante
o “auto-horário” sempre que possível, para permitir resfriamento passivo.
A sede, como sinal tardio de desidratação, só aparece quando 2% da água
corporal total já se perderam. Entre 2 e 6% de desidratação (leve a moderada) já
ocorre deterioração do raciocínio, fadiga muscular e dor de cabeça.
A prevenção se baseia em quatro variáveis: hidratação sistemática,
condicionamento físico, aclimatação e dimensionamento de traje/equipamentos
adequados. Ver seção 5, adiante.
A tolerância à hidratação oral é limitada pela taxa de esvaziamento gástrico (1
a 1,2 litro/hora). Por isso, é preciso manter um ritmo constante de hidratação. A partir
de 5% de desidratação, o esvaziamento gástrico reduz em 20 a 25%, o que dificulta a
hidratação oral. A partir deste momento, forçar volume via oral pode causar vômito e
piorar mais a desidratação.

1
Cerca de 30ml*peso (kg)/24h*Intervalo (3 a 4h).
2
A cada cerca de 2 horas de atividade física intensa, é ideal ingerir solução esportiva ou mistura 1:1 de água e solução
esportiva ou acrescentar ¼ de colher de chá de sal (1 cápsula) para cada 300 a 500 ml de água. Importante providência durante
operações prolongadas fisicamente intensas, sobretudo quando no clima quente.

Intervalo Volume
A cada 3 a 4 horas em prontidão1 400 a 600 ml
30 minutos antes de exercício
300 ml
previsível
A cada 20 a 25 minutos de atividade
150 a 300 ml
física significativa (“auto-horário”)
Tabela 6
Fonte: modificado de American College of Sports Medicine, 2003.

O bombeiro militar em operação prolongada, deve estar atento para sua


diurese, que deve se manter amarelo claro. Também é interessante a pesagem ao
voltar da missão. Caso pese menos do que no início do serviço, deve compensar,
aumentando a hidratação oral.
O condicionamento físico aumenta os mecanismos de compensação da função

145
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cardíaca e otimizam a sudorese (maior volume/ início mais precoce) para maior
dissipação de calor, o que, no entanto, aumenta o risco de desidratação caso não se
hidrate adequadamente. A aclimatação ao calor – aumentar progressivamente o
treinamento físico em horário mais exposto ao calor – também aumenta a sudorese.

9.3.5 Estação de reabilitação em incidentes (REHAB)

Recomendações segundo a FEMA/FA 314 e NFPA 1584: “na ausência de


reabilitação sistematizada durante operações prolongadas, a desidratação resulta
precocemente em reduzida capacidade de tomada de decisão e aumento do
tempo de reação”, com consequente comprometimento da segurança.
Parâmetros de indicação para estabelecimento da REHAB: eventos com
duração superior a 2h, trabalho intenso e índice de estresse térmico igual ou maior a
32°C. Para tanto, devem se guiar pelos princípios de segurança resumidos no
acrônimo H.E.A.T. (calor), proposto pela Exército dos EUA, a seguir:
High heat conditions (IBUTG ≥ 24˚C, considerado preocupante) – altas
temperaturas.
Exertional level of work or training – atividade física continuada.
Acclimatization – aclimatação e dimensionamento de EPI.
Time – tempo de exposição e de recuperação (reabilitação).

IBUTG, Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo ou instrumento


equivalente (ver imagem 4 ao final da seção).
** Lembrar que estresse térmico também ocorre no frio, em função da
atividade física extenuante.
*** O trabalho sob sol direto acrescenta cerca de 5˚C ao índice de estresse
térmico e uso de trajes espessos, mais 5˚C.

Nos Estados Unidos da América (EUA), a maior frequência de lesões pelo calor
ocorre durante combate a incêndio (70%) e treinamentos (11%), 2005.
O profissional da saúde deve sugerir ao comandante de incidente que
estabeleça REHAB, tão logo detecte risco aumentado ou diagnostique o primeiro caso
de síndrome pelo calor, ainda que leve, ao que deve estar atento, monitorando.
A estação de reabilitação deve ser montada na zona fria, abrigada das
146
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

intempéries (salão da ASE de prevenção, tenda...), guarnecida por equipe de saúde


em prevenção, onde os operadores deverão estadiar para resfriamento passivo e
hidratação, mediante rodízio ou necessidade clínica já manifesta.
Parâmetros de rodízio de pessoal a ser seguidos pelo comandante de incidente
(modificado de NFPA 1584):
a) a cada duas trocas de cilindro de 30 minutos;
b) a cada uma troca de cilindro de 45 ou 60 minutos;
c) a cada 45 minutos de combate com qualquer outro equipamento
pesado;
d) ao término de cada descontaminação do profissional em
incidentes com produtos perigosos.

Antes que se faça necessária ou estabelecida REHAB, os membros de


operações devem manter auto hidratação sistemática, conforme tabela 5, linha 3
ou a cada recarga do EPRA (com mínimo de 5 minutos de repouso). O comandante
de incidente deve perguntar aos subordinados por sintomas de lesão pelo calor
durante a auto hidratação, antes de devolvê-los ao combate, retendo qualquer
membro sintomático e solicitando apoio de guarnição da saúde. Diante de tal situação,
REHAB deve ser seriamente considerada.
Medidas terapêuticas a ser empregadas na REHAB:
➢ Resfriamento passivo, desequipando-se e abrindo trajes de
proteção.
➢ Hidratação oral: até 1 litro/hora; 1:1 água e solução eletrolítica.
➢ Incidentes > 3 horas, providenciar carboidratos e eletrólitos.
➢ Estádio não inferior a 10 minutos, durante o qual, reidratar ≥ 250
ml.

147
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Figura 151
Fonte: CBMERJ

Com base em dados da NFPA 1584, 2008. Algoritmo de conduta na REHAB.


T= temperatura corporal; FC= frequência de pulso arterial. Os sinais vitais devem ser
medidos na admissão à estação e a cada 5 minutos. Além de pulso e temperatura,
deve-se medir pressão arterial sistêmica e oximetria de pulso.
A elevação da pressão arterial pode preceder o início da exaustão pelo calor.
Durante esta síndrome, contudo, a pressão de pulso costuma estar reduzida, mesmo
que a pressão sistólica esteja normal, o que deve ser um alerta. Vítimas de exaustão
pelo calor não devem retornar ao combate, ainda que recuperadas (FA 314, 2008).
Vítimas de intermação têm taxas de mortalidade de até 50% e podem
permanecer em delirium, febre e disfunção renal por dias, apesar de tratamento inicial
adequado, necessitando assim internação hospitalar imediata. Pode ocorrer dano
neurológico permanente. O resfriamento ativo rápido reduz a mortalidade para até 5%.

148
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Figura 152
Fonte: U.S. FIRE ADMINISTRATION. Emergency Incident Rehabilitation. Feb. 2008.

Índice de estresse térmico (vulgo, sensação térmica). Temperatura em ˚F


[˚C=(F-32)/1,8]. 90˚F (32,2˚C) é considerado limiar da zona de cuidado do estresse
térmico, na qual trabalhos intensos por turnos maiores que 20 minutos encerram alto
risco de lesão pelo calor (FA 314).

9.3.6 Abordagem primária à vítima de trauma em espaços confinados

As medidas de intervenção constantes neste manual são consideradas básicas


na literatura médica, portanto, podem ser realizadas por qualquer resgatista treinado
no âmbito do CBMERJ. Os profissionais de APH, aos quais a lei e regulamentação
profissional conferem competências e responsabilidades mais amplas e complexas,
devem seguir as orientações adicionais constantes nos POPs específicos do
EMG/CBMERJ e os padrões de trabalho e NGA do GSE.

149
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

As ações descritas nos algoritmos I e II (figura 98 e 99), assim como


observações que os seguem, integram os cuidados pós-extricação, exceção feita à
abertura rápida de via aérea, proteção respiratória e aplicação de torniquete, já que
atmosfera de risco na maioria das vezes, torna perigoso e impossível a realização de
outras intervenções médicas in situ. Assim sendo, a prioridade no APH a vítimas de
acidente em espaço confinado é a extricação.
Atenção: nunca utilizar oxigênio suplementar em atmosfera de risco! Isto
enriquece a atmosfera e pode pôr a mistura de gases na faixa de explosividade.

150
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 153
Fonte: CBMERJ

2
Quando há múltiplas vítimas em espaço confinado, cabe a triagem reversa: retirar primeiro a que estiver em melhor condição

médica e mais próxima do resgatista.


3
Regras básicas para promover a limpeza de secreções das vias aéreas: rotação lateral da vítima em bloco para a
aspiração/varredura digital da cavidade oral; profissionais de APH devem consultar também o POP 02/EMG para mais

151
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orientações.
4
Ver algoritmo II (imagem 6) para detalhes sobre assistência respiratória (para todas as categorias profissionais do CBMERJ).
5
Hemorragia maciça definida como fluxo ininterrupto de hemorragia. Profissionais de APH devem consultar também o POP/EMG
07 - Choque hemorrágico.
6
A primeira medida a se tomar para o controle de hemorragia externa maciça de extremidades (distal à raiz do membro) é a
compressão direta, enquanto se prepara para a aplicação de torniquete. Hemorragia externa no pescoço e juncional (isto é, nas
regiões inguinais e axilares) não é passível à aplicação do torniquete, restando a compressão direta com gaze convencional ou
gaze com agente hemostático (tal como chitozan, celox) por não menos que 3 minutos ininterruptos. O benefício adicional do
agente hemostático impregnado à gaze sobre a gaze convencional é questionável.

O curativo compressivo não é a forma ideal de hemostasia. Deve ser usado


quando é necessário liberar as mãos do socorrista em virtude de tarefa mais
emergencial ou quando há múltiplas vítimas.
Conceitos fundamentais para confecção/aplicação do torniquete (PHTLS 8a Ed
e TCCC 2016):
a) o ideal é o uso de torniquetes comercialmente disponíveis, visto
que publicações encontraram alta taxa de ineficácia com os improvisados; os
modelos recomendados pelo comitê de trauma do Colégio Americano dos
Cirurgiões são o C.A.T. e o SOFTT-W®, ambos torniquetes de barra de torção.
Também há a possibilidade de usar torniquete em banda (tipo S.W.A.T.®) ou
manguito pneumático (insuflar até a interrupção do sangramento);
b) a banda do torniquete deve ter ao menos 2 polegadas de largura
(5 cm);
c) deve ser aplicado um palmo fechado (2-3 polegadas) acima do
foco de hemorragia ou o mais proximal possível;
d) a pressão deve ser aplicada progressivamente até cessação do
sangramento e ausência do pulso arterial distal do membro lesado;
e) é seguro deixar o torniquete fechado por pelo menos até 120
minutos; após este período, caso ainda não se haja entregue a vítima ao hospital,
em caso de guarnição não-avançada, obedecer a orientação do médico
regulador; no caso de guarnição avançada, a recomendação do Comitê de
Trauma do Colégio Americano dos Cirurgiões é afrouxar o torniquete e observar;
se a hemorragia recrudescer, apertá-lo e não mais afrouxar, até avaliação
hospitalar pelo cirurgião vascular;
f) caso se obtenha resultado parcial com a aplicação do torniquete, este
deve ser mais apertado ou um segundo pode ser aplicado proximal ao primeiro;

152
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g) deve ser anotado no torniquete (ou na pele do membro do


paciente) com caneta de tinta resistente a água o horário da aplicação do
torniquete (padrão: “T=0715”, isto é, 07:15h);
h) aplicar torniquete proximal a qualquer amputação traumática;

8
O transporte das vítimas do ponto de lesão (local onde houve o trauma) até a instalação de transporte definitivo se
chama evacuação; a retirada da vítima da zona quente (risco descontrolado) para abrigo (zona morna ou fria) se chama extração;
extricação se refere ao uso de técnica especial para retirar vítima de situação da qual ela não poderia sair sozinha sem se expor
a excessivo risco de agravamento das lesões, sobretudo risco à integridade da coluna vertebral.
9
Vítimas de acidentes em espaço confinado que sofreram lesão por inalação isolada não necessitam de proteção da
coluna vertebral. A proteção de coluna neste contexto é destinada às vítimas que sofreram (1) queda >2m, (2) impacto axial
contra a coluna, (3) lesão por explosão ou que por ventura se queixem de (4) dor no eixo da coluna vertebral em vigência de
trauma. Os profissionais de APH devem seguir as orientações do algoritmo IV constante no POP/EMG 04 (Abordagem à coluna
vertebral em vítimas de trauma).
10
Medidas de proteção à coluna vertebral durante a extricação de espaço confinado variam conforme o nível de
gravidade da vítima e a conformação do espaço físico.

Em relação à estabilização:
a) Inconsciência e respiração dificultosa ou ausente: sem
estabilização.
b) Vítima estável (consciente e “ABC” normal): máxima
estabilização possível; o colete de imobilização dorsal (K.E.D.) pode ser
utilizado, no entanto, caso impossível, tenta-se pelo menos, manter a
estabilização manual.

Uma vez extricada, atentar para sinais de parada cardiorrespiratória (PCR),


principal causa de morte neste contexto. Lembrar que PCR de natureza asfíxica deve
ser tratada através da sequência “ABC”, visto que a causa foi a hipóxia. Solicitar
apoio com o desfibrilador externo automático (D.E.A.), embora a maioria dos casos
manifeste ritmo não chocável.

153
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 154 - Algoritmo (II) para a assistência respiratória pós-extricação


.Fonte: CBMERJ, com base em informações do PHTLS 8ª Ed.

1 Sinais de hipoxemia: agitação, spO2<90% e cianose (tardio). A cianose só aparece quando a saturação de pulso (spo2) atinge

67% (nos oxímetros mais comuns de duas bandas de frequência). É preciso haver ao menos 5g/dl de hemoglobina insaturada,
logo, vítimas em choque hemorrágico podem não apresentar cianose, mesmo que haja hipoxemia. Também é difícil enxergar a
cianose com pouca luminosidade ou em pele escura. No trauma, toda vítima agitada se encontra hipoxêmica até prova em

154
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contrário. Atenção: na ausência de lesão do sistema respiratório, a oximetria de pulso pode se mostrar normal em pacientes com
intoxicação por monóxido de carbono ou cianeto (lesão tóxica por inalação), aos quais deve ser oferecido oxigênio suplementar
a 10l/min, com o intuito de acelerar a liberação do CO da hemoglobina. A maioria das vítimas de intoxicação por CN (cianeto)
também inalou CO, visto que o primeiro é fruto da combustão do poliuretano, composto carbonado.
2 Iniciar a oferta de oxigênio a 10 l/min e titular, tão logo possível (pós-extricação), com base na oximetria de pulso, cuja meta

deve ser 90-94%.


3
Ver algoritmo III: POP/EMG 03 - Acesso avançado à via aérea – restrito aos oficiais médicos e enfermeiros.

É preciso pesquisar a causa da insuficiência respiratória aguda, uma vez que


pode ser reversível. As causas traumáticas de insuficiência respiratória reversíveis no
pré-hospitalar são o pneumotórax hipertensivo, o ferimento aspirativo de tórax
(pneumotórax aberto) e a asfixia tóxica (CO). Porém em nível básico, só há permissão
para intervir nos dois últimos.
O tratamento do ferimento aspirativo de tórax consiste na oclusão e reavaliação
periódica, visto que pode se tornar hipertenso. Caso ocorra piora progressiva da
dispnéia, retirar temporariamente a oclusão até que o desconforto ventilatório seja
novamente aliviado, então reaplicar a oclusão. Sugere-se, na ausência de kit adesivo
selante de tórax, gazes/bandagem/compressa impregnadas com petrolatum/parafina
pasta para fechar as fenestras do tecido. O curativo de três pontos não é mais
encorajado pelo Colégio Americano dos Cirurgiões. Inspecionar o lado contralateral
da vítima, para não passar despercebido um ferimento de saída.
Segue algoritmo para a decisão quanto à estratégia de extricação.

155
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Figura 155
Fonte: CBMERJ

A proteção respiratória de que trata o algoritmo acima pode ser o capuz de


resgate, opção mais ágil, porém deve-se considerar o aumento de consumo do cilindro
do resgatista, uma vez compartilhado. Assim, a depender da pressão (volume)
residual do cilindro e do tempo estimado para a extricação, pode ser necessário outra
forma de proteção respiratória independente para a vítima.

9.3.7 Assistência básica à parada cardiorrespiratória (PCR)

Repetindo, vítimas suspeitas de PCR devem ser primeiramente extricadas, para


que o suporte à vida seja prestado fora da atmosfera de risco ou do espaço restrito.
Suspeita-se de PCR quando a vítima apresenta apneia, inconsciência e ausência de
pulso carotídeo, no entanto, na impossibilidade de confirmar este último, bastam os
demais sinais.

156
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Figura 156
Fonte: CBMERJ
Algoritmo de assistência básica à parada cardiorrespiratória. RCP= ressuscitação cardiopulmonar; DEA= desfibrilador
automático externo; RCE= recuperação da circulação espontânea.

Assim que for suspeita a PCR, o apoio da ASE deve ser solicitado, caso ainda
não esteja no local. A RCP deve ser mantida até a chegada da ASE ou exaustão dos
resgatistas. O líder do socorro pode solicitar orientação médica à COGS, enquanto os
demais militares executam a RCP. A cada 2 minutos de RCP (ou 5 ciclos de 2:30), o
militar que presta compressão torácica deve revezar com o que ventila, para postergar
a fadiga e manter o rendimento da compressão Lembrando, a sequência de manobras
em PCR de natureza asfíxica mantém-se “ABC”, ou seja, desobstrução de via aérea
superior >> suporte ventilatório >> compressões torácicas, com relação
ventilação/compressão 2:30 e compressões à frequência de 100 a 120/min e 5cm de
157
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profundidade, permitindo o relaxamento completo do tórax ao fim de cada


compressão.

9.3.8 Abordagem a fraturas de extremidades suspeitas

9.3.8.1 Princípios gerais de imobilização de extremidades

▪ Remover relógio e jóias antes de imobilizar (edema).


▪ Alinhar fraturas por leve tração manual antes de imobilizar. Interromper
se piorar a dor ou houver resistência.
▪ Sempre acolchoar lateralmente a imobilização.
▪ Imobilizar as articulações proximal e distal à fratura. Exceção: fraturas
articulares (joelho, tornozelo e punho).
▪ Avaliar sempre a perfusão antes e após a imobilização (atenção ao pulso
distal, enchimento capilar e coloração).

9.3.8.2 Imobilização de perna/tornozelo

▪ Em geral, no mínimo 2 nós (direitos) proximais e 2 distais ao ponto


de fratura, envolvendo as articulações proximal e distal.
▪ Não aperte diretamente sobre o ponto de fratura.
▪ Afrouxe caso note má circulação.

Figura 157
Fonte: Modificado de HEADQUARTERS, DEPARTMENTS OF THE ARMY, THE NAVY, AND THE AIR FORCE. First aid.
FM 4-25.11 (FM 21-11)/ NTRP 4-02.1/AFMAN 44-163(I). December 2002.

Em geral, no mínimo 2 nós (direitos) proximais e 2 distais ao ponto de fratura,


envolvendo as articulações proximal e distal. Não aperte diretamente sobre o ponto
de fratura. Afrouxe caso note má circulação.

158
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

9.3.8.3 Imobilização de quadril/coxa

Figura 158
Fonte: Modificado de HEADQUARTERS, DEPARTMENTS OF THE ARMY, THE NAVY, AND THE AIR FORCE. First aid.
FM 4-25.11 (FM 21-11)/ NTRP 4-02.1/AFMAN 44-163(I). December 2002.

9.3.8.4 Imobilização da pelve

▪ Na indisponibilidade de talas pélvicas (pelvic binders), deve-se preferir o


enfaixamento com lençol, ao nível dos trocânteres dos fêmures, colocando-se antes
os joelhos da vítima em adução e rotação interna.
▪ O lençol ou tala pélvica deve ser passado sob a vítima pelo espaço
natural abaixo da lordose lombar ou dos ocos poplíteos e deslizado até o nível dos
trocânteres, através de manobra sincronizada de vai e vem (paralelo ao solo),
enquanto um terceiro estabiliza manualmente a pelve.
▪ Evitar movimentar a coluna lombar, a qual também se encontra em risco
em caso de fratura de bacia.

Figura 159
Fonte: Modificado de https://phemcast.co.uk/2015/11/05/podcast-episode-2-the-pelvic-binder/

159
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Figura 160
Fonte: Modificado de http://www.ebmedicine.net/topics.php?paction=showTopicSeg&topic_id=243&seg_id=4748.

9.3.8.5 Imobilização do braço/cotovelo

Figura 161 - Cotovelo fraturado em posição dobrada.


Fonte: Modificado de HEADQUARTERS, DEPARTMENTS OF THE ARMY, THE NAVY, AND THE AIR FORCE. First aid.
FM 4-25.11 (FM 21-11)/ NTRP 4-02.1/AFMAN 44-163(I). December 2002.

Figura 162 - Fratura de braço (figura direita) e cotovelo (figura esquerda), quando o cotovelo não dobra.
Fonte: Modificado de HEADQUARTERS, DEPARTMENTS OF THE ARMY, THE NAVY, AND THE AIR FORCE. First aid.
FM 4-25.11 (FM 21-11)/ NTRP 4-02.1/AFMAN 44-163(I). December 2002.

9.3.9 Queimadura

Dificilmente a queimadura cutânea causa problema sério durante o pré-


hospitalar, assim como, dificilmente decorre tempo suficiente para que o choque

160
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

associado à queimadura se desenvolva. O que se constitui em problema no pré-


hospitalar são as lesões por inalação, como segue:
▪ Queimadura de vias aéreas (oficiais médicos devem seguir o POP/EMG
03 - Abordagem Avançada às Vias Aéreas);
▪ Intoxicação por CO ou CN (todos os militares: seguir o tratamento
orientado no POP 02/EMG - Assistência Respiratória em APH).
Intoxicação por CO ou CN não têm tratamento específico no pré-hospitalar,
resumindo-se a medidas de suporte, principalmente oxigênio suplementar em alto
fluxo (10 a 15l/min).
Se o politraumatizado apresentar choque circulatório no pré-hospitalar, a
ressuscitação volêmica deve ser direcionada para o choque hemorrágico, cujo
tratamento cabe exclusivamente aos oficiais médicos e enfermeiros, segundo o
POP/EMG 07 (Choque Hemorrágico). Caso o único trauma seja a queimadura, a
hidratação seguindo a fórmula de Parkland é de responsabilidade exclusiva de oficiais
médicos e enfermeiros, segundo POP/EMG 10 (Queimaduras).
Como cuidados locais, retire anéis e pulseiras das áreas queimadas e cubra-
as com gaze estéril seca (proteção). Se o transporte durar mais de 20 minutos,
umedecer aspergindo com Ringer Lactato ou salina fisiológica estéril.
Proteja o grande queimado (>20% de área corporal comprometida) da
hipotermia.

9.3.10 Síndrome de esmagamento de extremidades

A síndrome de esmagamento pode ser definida como sinais e sintomas de


disfunções orgânicas decorrentes da reperfusão de áreas de rabdomiólise (morte de
músculo esquelético). As células musculares danificadas liberam mioglobina, potássio
e absorvem rapidamente cálcio, o que pode resultar respectivamente em insuficiência
renal (necrose tubular) aguda, arritmias cardíacas e distúrbio de coagulação.

9.3.10.1 Tratamento pré-hospitalar específico da síndrome de esmagamento

O tratamento de primeira linha da síndrome de esmagamento é a expansão


volêmica, entretanto, quando ocorre associada a hemorragia não controlada, deve-se
respeitar o princípio da hipotensão permissiva, seguindo o algoritmo do POP/EMG 07
161
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- Choque hemorrágico (competência dos oficiais médicos e enfermeiros).


Quando a síndrome ocorre isoladamente ou associada a hemorragia externa já
controlada, a expansão volêmica deve ser conduzida por oficial médico, seguindo as
orientações abaixo.
⮚ Iniciar infusão de cristalóide (preferencialmente ringer lactato) via
intravenosa ou intraóssea, antes da extricação, em caso de atmosfera
desprovida de risco.
⮚ Se atmosfera de risco, iniciar a infusão imediatamente após a
extricação.
⮚ Bolus inicial de 2 litros, seguido de taxa inicial de 1l/h, ajustada
conforme o débito urinário (DU) alvo de 100-200ml/h, aferido de forma não-
invasiva em casos de evacuação demorada (> 1 hora). Caso o DU não melhore,
nem a cor clareie em até 2 horas, restringir o volume de infusão para evitar
congestão pulmonar.
⮚ Deve ser considerada a aplicação de torniquete (por qualquer
bombeiro militar treinado) na raiz do membro encarcerado, antes da extricação,
caso o tempo estimado de esmagamento seja >2 horas. O torniquete não deve
ser aliviado até início da expansão volêmica ou mediante orientação da
regulação médica, caso o médico não esteja presente no local.

A expansão volêmica pode ser executada por oficial enfermeiro, via


telemedicina, através de contato com a regulação médica.
As características do pulso arterial da vítima (amplitude, frequência e ritmo)
devem ser monitoradas durante e após a extricação, para detectar sinais precoces de
arritmia cardíaca (bradicardia, ritmo irregular), cuja presença deve indicar tratamento,
se houver condições, como segue (competência dos oficiais médicos):
1) nebulização com fenoterol 2 ml (5mg), o que pode ser iniciado
ainda durante a extricação, caso não haja risco atmosférico e a extricação
demore;
2) Infusão de gluconato de cálcio 10%, 10ml IV.

As medidas acima podem ser executadas por oficial enfermeiro, via


telemedicina, através de contato com a regulação médica.

162
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Tão logo possível, após a extricação, o ritmo cardíaco deve ser monitorado.
Sinais eletrocardiográficos sugestivos de hipercalemia: bradicardia sinusal (o mais
precoce), aumento dinâmico da amplitude das ondas T e prolongamento do PRi (sinais
precoces), prolongamento do QRS, extrassistolia ventricular ou taquicardia ventricular
e bloqueios de condução.

9.4 Técnicas de Salvamento em Espaços Confinados

Para o sucesso de uma operação de salvamento devem ser observados um


conjunto de fatores que nem sempre se iniciam no momento da ocorrência. Pesquisa,
planejamento e treinamento, são peças chave para alcançar este sucesso. Apesar de
cada cenário apresentar características únicas, podemos analisar os pontos
congruentes, que podem ser estudados e servir de referência para atender a diversas
situações por suas características similares.
Abordando de maneira concisa, as técnicas inerentes aos espaços confinados,
são também regulares em atividades diversas de um bombeiro. Estas ações de
salvamento, envolvem tomadas de decisão que, não permitem amadorismo, assim o
resgatista precisa de frequente preparação técnica, física e psicológica. Este capítulo
tem como objetivo apresentar um conjunto de informações que sirvam de base, para
que o aluno possa participar do módulo prático de Técnicas de Salvamento com uma
visão diferenciada, acerca dos equipamentos e técnicas apresentadas. Mantemos a
referência que, o processo de ensino e aprendizado é uma engrenagem, precisa
sempre estar sendo manutenida e lubrificada, os conteúdos aqui abordados
necessitam de constante análise crítica, evolução, e treinamento prático
supervisionado.

9.4.1 Nós, Voltas, Métodos de enrolar corda e Ancoragens

9.4.1.1 Nós de Ancoragem e Fixação

a) Volta do Fiel: Nó empregado na fixação ou ancoragem, de fácil confecção


e alta confiabilidade. Poderá ser executado pelo seio ou pelo chicote de acordo com
especificidade do salvamento. De acordo com o Manual Básico de Bombeiro, a perda
de resistência gira em torno de 40% do total da carga de ruptura.
163
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 163
Fonte: CBMERJ

b) Azelha Dupla: Nó empregado na confecção de alças e para ancoragem. No


Salvamento em Espaços Confinados é muito útil para fixação em estruturas tubulares
ou para içamento de vítimas durante o resgate. De acordo com o Manual Básico de
Bombeiro Militar Vol. 02, 1ª Edição Revista e Atualizada em 2017, a perda de
resistência gira em torno de 20% e 30% do total da carga de ruptura.

Figura 164
Fonte: CBMERJ

c) Azelha Equalizada: Nó empregado com a mesma função do anterior,


possibilitando uma ancoragem equalizada com tamanhos diferentes de alças. No
Espaço Confinado é muito empregado para segurança do especialista ou para
içamento de vítimas.

Figura 165
Fonte: CBMERJ

164
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

c) Nó de Trapa: Nó empregado para ancoragens rápidas. Sua aplicação


permite conservar a resistência da corda bem próxima da carga de ruptura. Deve ser
realizado em estruturas cilíndricas e livres de partes abrasivas. Dentro das operações
de resgate, facilita o trabalho do especialista em ocorrências que necessitem de uma
rápida intervenção.

Figura 166
Fonte: CBMERJ

d) Nó UIAA: Nó empregado em operações de Espaços Confinados onde haja


necessidade de um sistema de ancoragem dinâmica. Ele trabalha sobre um
mosquetão ou estrutura cilíndrica, e corre livremente para os dois lados. O atrito
gerado pela carga no cabo reduz a velocidade de descida.

Figura 167
Fonte: CBMERJ

9.4.1.2 Nós para união de cordas

a) Nó duplo ou Nó de fita: Nó empregado para unir cordas e fitas. É


considerado o mais eficaz para unir as duas pontas formando um anel, como para

165
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

conectar duas fitas distintas.

Figura 168
Fonte: CBMERJ

b) Nó Direito: Nó empregado para união de cabos de mesmo diâmetro com o


objetivo de formar uma alça ou tornar uma corda maior. Dentro das atividades de
Espaços Confinados este nó tem a finalidade de unir extremidades de um cabo para
formar anéis empregados para confecção de alças ou cadeiras para resgate de
vítimas.

Figura 169
Fonte: CBMERJ

9.4.1.3 Nós para ascensão e Autoblocantes

Nó Prussik: Nó empregado para técnicas de progressão e autoblocantes na


segurança estática. Dentro do resgate em Espaços Confinados este nó auxilia nas
atividades de auto resgate e dispositivos de captura de progresso.
Criado pelo professor austríaco de música, Dr. Carl Prusik, era usado para
reparar os fios dos instrumentos musicais. Em 1931 ele mostrou-o ao público
montanhista, explicando como poderia ser usado para progressão por cordas.

166
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 170
Fonte: CBMERJ

9.4.1.4 Métodos de enrolar cordas

a) Corrente simples ou dupla: Método empregado para diminuir o


comprimento das cordas e facilitar a mobilidade do equipamento.

Figura 171
Fonte: CBMERJ

b) Vai e Vem: Método empregado que permite uma menor tensão das fibras
do cabo, quando em depósito deve ser mantida nesta condição.

Figura 172
Fonte: CBMERJ

Para as operações em Espaços Confinados, a utilização de bolsas de cordas


irá facilitar a organização e praticidade da operação, devendo ser esta a forma
preferencial de transporte e guarda da corda.

167
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

9.4.1.5 Aparelhos Descensores

A aplicação dos descensores durante as operações de Espaços Confinados


tem sido muito explorada dentro dos resgates que envolvem movimentações verticais.
Seu principal objetivo é permitir movimentação segura nos locais que necessitem de
uma exposição ao risco de queda dentro de uma área confinada.
O descensor é parte integrante dos sistemas de vantagens mecânicas
utilizados para descer e içar o especialista durante as operações.

a) Descensão com o uso de EPI e EPR


Uma das formas mais frequentes de contaminação nas atividades de
Espaços Confinados é a intoxicação respiratória, que consiste na inalação de um
contaminante pelo trato respiratório.
Quando estamos diante de um resgate em Espaços Confinados e não se
consegue avaliar ou dimensionar o risco, se faz necessário o emprego do nível
máximo de proteção respiratória.
Considerando que o uso do EPRA ou preferencialmente, se for viável, o
equipamento de linha de ar mandado, é obrigatório em qualquer atividade onde
haja o risco atmosférico, sempre que não for possível realizar uma leitura da
condição da atmosfera, ou haja algum indício de que esta possa sofrer alguma
variação durante a operação, e somando-se a essa leitura a possibilidade de
existência do risco de gases ou vapores inflamáveis se faz necessário também
o uso de EPI completo (roupa de aproximação, luvas, botas, balaclava e
capacete). Ao avaliar os riscos, ou a sua possibilidade de ocorrência, o
Comandante de operação deverá determinar a utilização completa dos
Equipamentos de Proteção e somando a isso, os equipamentos de resgate, o
estresse (físico e psicológico), acarretará em uma drástica redução da
capacidade e tempo de resposta do socorrista. Isto serve para ressaltar a grande
necessidade de uma preparação prévia adequada para operar em tais condições
e atenção redobrada ao tempo resposta da operação.

b) Descensão com vítima


Pode se fazer necessária a descensão com vítima em salvamentos onde
a saída dos Espaços Confinados ocorra em situações de altura elevada, onde o

168
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

acesso possa ser feito por escadas ou plataformas. A equipe deve estar
capacitada para tais situações, onde a vítima seja movimentada de acordo com
a situação avaliada pelo comandante da operação, podendo ser removida com
ou sem equipamentos de estabilização, como macas rígidas ou flexíveis, com a
presença ou não do socorrista. A definição da estratégia escolhida se dará
mediante a avaliação do cenário e equipamentos disponíveis.

c) Freio fixo para descensão


Este sistema permite o resgatista ser movimentado até a vítima sem ter
que manusear o aparelho, deixando mãos livres e facilitando a manobra de
resgate, por possuírem acessos com diâmetros reduzidos, o resgatista poderá
entrar no espaço confinado com mais segurança.

d) Técnicas de ascensão
Os acessos verticais aos espaços confinados, devem ser feitos dentro de
parâmetros que possam ser simples, de modo a facilitar a hora da operação,
mas que ao mesmo tempo, ofereçam o máximo de segurança ao resgatista. Para
tal movimentação, regularmente as operações envolvem tripés, servindo de
ponto de ancoragem, com uso sistemas de vantagem mecânica, para a
movimentação vertical, podem ser encontrados tripés com sistemas
mecanizados e incorporados ao aparelho, que facilitam tanto a descensão
quanto a ascensão do resgatista, porém, vamos considerar dois pontos.

Primeiro em caso de algum problema com o sistema mecânico, o socorrista


deve ser capaz de montar um sistema manual, montado com cabos, polias e
aparelhos descensores autoblocantes, desta forma uma das características que
devem ser desenvolvidas em um resgatista, é a capacidade de montar os sistemas
de vantagem mecânica com estes materiais.
Segundo, devemos atentar para, no caso de movimentação de uma vítima
inconsciente em um sistema de força mecânico, caso esta vítima fique retida em
algum ponto da estrutura durante a sua movimentação de ascensão (retirada), será
mais difícil do socorrista perceber esta resistência causada pela retenção e a força,
pode ser transferida do sistema para a vítima, o que pode causar uma lesão.

169
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Portanto, mesmo que em uma avaliação inicial, o treinamento de ascensão em


corda, para o resgatista em espaços confinados, possa parecer desnecessário, em
virtude de sistemas mecânicos pré-montados, consideramos que esta etapa do
treinamento permite ao especialista, se submetido a uma condição de impossibilidade
de saída de um espaço confinado com entrada vertical (por algum problema que possa
surgir com o sistema de movimentação, por falha mecânica ou humana, e este esteja
exposto ao risco do local ou pelo seu tempo de autonomia de consumo de ar, pode
ser levado a necessidade de, ainda equipado, ter que progredir sua saída através da
ascensão pela corda, seja ela pela que se deu o acesso ou mesmo por um cabo de
linha da vida.
Considerando ainda que, tal técnica demanda um alto grau de adestramento
físico e técnico e deverá ser feita com todos os equipamentos, de proteção individual,
respiratória, entre outros, procedimento que exige um grande condicionamento, deve
ser desenvolvida em níveis, que diversificam a técnica e aumentando gradativamente
a dificuldade.
Algumas técnicas e equipamentos podem ser usados para ascensão pelo cabo,
o objetivo, basicamente, é que o resgatista domine a técnica que deve ser executada,
variando a subida com o uso de nós blocantes, com o uso de aparelhos bloqueadores
e com o socorrista totalmente equipado.

9.4.1.6 Operações com Macas

A avaliação da cena irá definir a utilização do equipamento, um cenário com


atmosfera potencialmente perigosa, a avaliação da vítima, tamanho e altura do local.
Se as condições permitirem a estabilização da vítima, para os espaços confinados
podemos contar com macas flexíveis, tendo em vista que as macas rígidas podem
não ser compatíveis com as dimensões do local, porém mesmo que seja após a sua
retirada do interior do espaço, vítimas de trauma devem ser estabilizadas em macas
ou pranchas de estabilização.

9.4.1.7 Sistemas De Força ou Sistemas de Vantagem Mecânica

Apesar das semelhanças entre as técnicas de salvamento em alturas e as de


resgate em espaços confinados, estas últimas apresentam a peculiaridade de serem

170
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

executadas, na maioria das vezes, em progressão ascendente. Isto dificulta


demasiadamente a retirada de vítimas do local de sinistro, uma vez que devemos
trabalhar contra a gravidade, isto sem considerar os demais complicadores, como
baixa visibilidade, limitação de espaço, atmosfera inóspita, etc. Para tentar minimizar
as dificuldades do referido resgate, uma vez que não é recomendável a utilização de
dispositivos motorizados, as equipes de salvamento se utilizam de Sistemas de
Vantagem Mecânica.
Sistemas de Vantagem Mecânica, Multiplicação de força ou simplesmente
Sistemas de Força é a nomenclatura dada ao princípio físico em que utilizamos
máquinas simples para reduzir o esforço no momento em que realizamos um trabalho.
Trocando em miúdos, são os meios que lançamos mão quando necessitamos
movimentar uma carga extremamente pesada e não dispomos de aparelhos para
fazê-lo.
Na Física nos deparamos com diversos dispositivos que apresentam Vantagem
Mecânica, como por exemplo: alavancas, planos inclinados, etc. E seus princípios são
utilizados no desenvolvimento das ferramentas que usamos no dia a dia. Mas para o
nosso caso particular o mais adequado é a utilização de polias. Mas o que são essas
polias e de que modo elas conferem a Vantagem Mecânica?
Polias ou Roldanas são dispositivos dotados de rolamentos com um eixo
central podendo ou não possuir placas rígidas laterais. Apresentam sulcos periféricos
para viabilizar utilização de cabos e sua principal aplicação é eliminar o atrito quando
existe a necessidade de desvio de direção dos mesmos.

171
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 173
Fonte: CBMERJ

A utilização da polia, como desvio de direção simplesmente, pode proporcionar


um favorecimento ergonômico e até um pequeno benefício gravitacional. Entretanto,
a suposta Vantagem Mecânica não é considerável, pois ainda é necessária uma força
de tração maior que o peso da carga para movimentá-la.
O segredo não está no simples fato de incluir polias móveis. Existe a
necessidade de que elas funcionem em consonância com a movimentação da carga.
Polias Fixas não produzem Vantagem Mecânica. Este benefício só é conseguido com
polias móveis.
Devemos avaliar que sistema será viável e aplicável no caso de um resgate
real e para medirmos a Vantagem Mecânica do sistema a seguir é necessário verificar
o número de segmentos de corda que estão envolvidas na elevação da carga. Tanto
um sistema 2 por 1, quanto 3 por 1 apresentam apenas uma polia móvel.
Essas medidas são teóricas e existem uma série de variáveis que influenciam
negativamente nesse cálculo, como por exemplo: atrito, gravidade, elasticidade e
angulação da corda, etc. Entretanto, para efeitos práticos, iremos desconsiderar essas
desvantagens.
Feitas as considerações iniciais com relação à vantagem mecânica veremos a
seguir, de forma simplificada, como montar alguns sistemas de força com o auxílio de
polias.
A primeira providência deve ser de providenciar o ponto de ancoragem

172
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

principal. O ideal é que este seja “a prova de bomba”, fazendo uso do jargão muito
utilizado no Salvamento em Alturas. É provável que o local do sinistro não disponha
de um ponto apropriado e devemos fazer uso de um tripé de salvamento ou outro
dispositivo similar para efetuar o resgate.
Após a conferência do equipamento necessário faremos a montagem do
sistema, começando pelo mais simples.

a) Sistemas Estendidos

Neste sistema temos a inclusão de uma polia móvel conferindo ao sistema a


vantagem mecânica. Isto significa que a carga a ser elevada terá seu peso reduzido.

Figura 174
Fonte: https://pt-pt.facebook.com/taskbr/posts

O sistema acima possui uma polia móvel, podemos notar que, o nó da


extremidade da corda está posicionado na carga, adicionando mais um “braço” ao
içamento fazendo com que o peso da carga fique dividido por três.
Pode-se notar que, quanto mais vantajoso é o sistema maior será o
comprimento da corda necessária. Em um sistema 2:1, por exemplo, necessitamos
de uma corda que meça um pouco mais que o dobro do vão a ser vencido. Da mesma

173
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

forma, o sistema 3:1 necessita de mais que o triplo da profundidade e assim por diante.
Esta é uma característica dos chamados Sistemas Estendidos. Mais adiante
estudaremos associações de polias em que não é necessário toda essa extensão de
corda para se conseguir vantagem mecânica. São chamados de Sistemas Reduzidos.
Outro fator a se considerar é a velocidade do içamento, já que o levantamento
da carga é inversamente proporcional à vantagem mecânica. Ou seja, no sistema 2:1,
para cada metro de corda puxado, a cara se movimenta 1/2 metro. O equivalente
ocorre também nos outros sistemas.

b) Captura de progresso
Não podemos nos esquecer do detalhe mais importante, pois diz respeito à
segurança. Sabemos que não devemos confiar exclusivamente na força física dos
responsáveis pelo içamento que podem, em caso de algum problema, perder o
controle da corda e deixar a vítima cair. Para prevenir isto é necessário adaptar ao
sistema um dispositivo anti-retorno, ou como preferimos chamar, Captura de
progresso.
Trata-se de uma técnica em que se utilizam bloqueadores na corda que
permitem o deslizamento livre no sentido do içamento, mas que a travam caso seja
liberada no sentido inverso. Esses bloqueadores (Rope Grabs) podem ser
substituídos por segmentos de cordeletes com nós blocantes (Prussic) e também por
freios autoblocantes. Não é recomendável o uso de Ascensores com mordentes para
este fim, por causa da sua baixa carga de trabalho e o fato do seu funcionamento que
pode danificar a capa corda, quando trabalhando próximo a sua carga de trabalho.

174
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 175
Fonte: CBMERJ

c) Sistemas reduzidos
Abordamos sistemas que necessitam de um grande comprimento de corda
para ser confeccionado, o que muitas vezes limita o nosso alcance de utilização.
Ademais estes sistemas, depois de montados, são difíceis de serem modificados,
além de praticamente inviabilizarem o desvio de direção.
Para esses casos em que, por exemplo, o comprimento da corda é insuficiente
para se montar um sistema que possibilite o içamento, ou se necessite criar um ou
mais desvios na direção da movimentação da carga, ou até mesmo quando é
necessário montar rapidamente um sistema numa corda já estabelecida, adotamos os
Sistemas Reduzidos.
Para montarmos um sistema reduzido partimos do sistema 1:1. Na corda que
sai da carga posicionamos o bloqueador, em sentido inverso à movimentação,
conectado a uma polia. Havendo disponibilidade, adicionamos mais uma polia ao
ponto de ancoragem como desvio de direção.
Com relação à captura de progresso devem ser adotadas as mesmas medidas
dos Sistemas Estendidos.
Uma característica dos Sistemas Reduzidos é que só é possível confeccionar
Sistemas ímpares: 3:1, 5:1, 7:1, etc.
É possível também conjugar sistemas diferentes para melhorar a multiplicação

175
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

de forças.

d) Sistema STEF
Os sistemas acima descritos nos permitem resgatar diversos tipos de cargas,
considerando a disponibilidade e os limites dos equipamentos. No caso do resgate de
pessoas em espaços confinados podemos nos deparar com inúmeras situações que
dificultam o que já é considerado complexo. Nesse tipo de operação quase sempre é
necessária uma ação extremamente rápida face aos riscos associados. Nesses casos
não devemos perder tempo com avaliações ou técnicas de resgate mais elaboradas,
pois o risco à vida das vítimas e também dos resgatistas nos impele a realizar as
manobras mais rápidas possíveis, sem deixar de lado, logicamente, a segurança.
Entretanto há algumas situações nas quais o risco de permanência no local do
sinistro é mínimo e por isso é possível planejar melhor a retirada da vítima. Considere
como exemplo uma ocorrência hipotética onde uma pessoa sofrerá uma queda em
um grande compartimento que possui apenas um estreito acesso superior. Neste caso
devemos considerar que a queda produziu um trauma na vítima e que o mais indicado
seria a sua retirada com uma maca.
A primeira possibilidade seria a elevação da maca na vertical visto que esse
seria o único modo em que a mesma passaria pelo vão de saída. Entretanto existe
uma técnica que permite a elevação da maca na horizontal, o que torna essa
movimentação mais ergonômica para a vítima, e a sua verticalização de maneira bem
simples. Esta técnica é chamada de Sistema Técnico de Equilíbrio Fácil – STEF.

176
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 176 - Sistema STEF com vantagem mecânica 3:1 Reduzido com alunos do CASEC 2017.
Fonte: CBMERJ

e) Estabilização de Tripé

O Tripé é um equipamento composto por três hastes tubulares, com um


encaixe na parte superior que as mantém unidas, formando uma estrutura piramidal
estável. Ele é utilizado conjugado com um guincho, com um sistema de multiplicação
de forças com polias fixas e móveis ou com trava-quedas, possibilitando a descida ou
içamento de forma altamente segura.
O tripé dá suporte adequado em locais onde a ancoragem se torna difícil, ou
mesmo, durante o salvamento de vítimas em poços. Esse equipamento é essencial
no salvamento de pessoas e animais em cotas negativas, principalmente nas
operações de entrada, saída e resgate, além de trabalhos suspensos em diversos
setores de risco para acessos verticais. Também é utilizado em operações em
espaços confinados.
Para certas operações, é possível fixar o Tripé ao chão. Para esta aplicação,
utilizar fixadores posicionados nos furos da sapata dos pés do Tripé.
A maioria dos Tripés não possui dispositivos específicos para estabilização
superior, entretanto é extremamente necessário que o tripé se mantenha estável
durante sua utilização para o resgate, por isso, devemos buscar meios alternativos

177
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

para estaiá-lo.
O ideal é fixar três cabos na cabeça do Tripé, preferencialmente na direção dos
seus pés e estaiá-los em pontos a uma razoável distância mantendo uma angulação
de 120° entre as linhas de sustentação. Entretanto, a escassez de material e a
dificuldade em encontrar pontos de ancoragem seguros nas proximidades do local de
resgate podem obrigar as equipes a buscarem alternativas mais viáveis.
Uma outra forma, quando o local permite, é fazer a estabilização com apenas
dois pontos. Nesse caso o ideal seria estaiar os cabos mantendo o ângulo entre 90
de 120 graus e fazer o içamento e a retirada da vítima do sistema no lado oposto.

Figura 177
Fonte CBMERJ: Estabilização do tripé com alunos do CASEC 2017.

f) Meios de Fortuna

Quando não dispomos de dispositivos ideais para a operação, na condição de


suprir de maneira técnica a necessidade, faremos uso de alternativas que
denominadas como meios de fortuna. Como a maioria dos resgates, é exigida máxima
celeridade, o que inviabiliza a espera de apoio especializado e teremos que resolver
com o que equipamentos ou recursos disponíveis.
É possível suprir a falta do tripé utilizando os meios disponíveis nas áreas
próximas ao evento ou adaptando o próprio equipamento da viatura. Lembrando que
se deve ter o maior cuidado ao usar materiais de origem desconhecida, pois podem
178
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

apresentar problemas de resistência mecânica.

Figura 178 - Estabilização da escada - CASEC 2017


Fonte: CBMERJ

O uso de escadas como recurso para ancoragens, muitas vezes será o recurso
mais acessível para a guarnição. Seja através do apoio entre duas escadas ou usando
a viatura operacional como ponto de apoio é importante conhecer as especificações
técnicas da escada a ser usada para respeitar a carga a ser movimentada. Cabe
ressaltar ainda que, deve ser feita uma ancoragem eficaz em relação a força de tração
a ser trabalhada, que evite o risco do sistema ceder da posição estabilizada.

g) Cinturão de Resgate

Mesmo sendo obrigatório o uso do cinto integral e existam dispositivos


certificados para substituí-lo em caso de resgate, o resgatista deverá dominar alguma
técnica que permita, com uso de corda ou fita tubular, a montagem de um dispositivo
de ancoragem para a vítima, são diversas formas conhecidas de fazê-lo, porém para
o resgate deve-se considerar a possibilidade da retirada vertical da vítima necessitar

179
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

de uma maior estabilização do tronco para o içamento.


A escolha e montagem de meios de fortuna, não são improvisações, devem ser
exercitadas e de domínio técnico por parte do resgatista. Faz parte integrante da sua
capacidade de resposta, com igual peso ou valor, não deve ser colocada como maior
ou menor importância ou necessidade. As operações de salvamento, possuem
características genéricas mas serão nas somas de detalhes que o valor técnico e
operacional do profissional destaca seu valor.
Outras técnicas podem e devem ser discutidas, testadas e compartilhadas,
sempre com o objetivo de oferecer mais recursos para realizar a operação de maneira
mais simples e eficiente o possível, mas sempre evitando o improviso, o cenário de
salvamento não deve ser usado como campo de testes.

9.4.1.8 Resgate com movimentação horizontal

Para todas as atividades de trabalho ou resgate, as empresas devem elaborar,


obrigatoriamente, um documento chamado, Análise Preliminar de Risco, neste
documento devem constar informações sobre o trabalho, os riscos entre outras,
estando de posse deste documento é possível traçar um panorama geral da situação
daquele local. Caso, não seja possível estimar a situação de risco do local, devemos
considerar o risco como máximo, ou seja, o resgatista deverá entrar fazendo uso de
todo equipamento de proteção.
Essa ressalva se faz necessária para evidenciar que, após avaliação da cena,
pode ser necessário que um acesso a vítima possa parecer fácil, mas devem ser
consideradas todas as variáveis que limitam e podem reduzir a eficiência do resgatista
(considerando roupa de aproximação, capacete, bota, luva, balaclava, EPRA, Cinto
integral, além de outros equipamentos e ferramentas).
O uso do Cinto integral, para acesso horizontal, fornece pontos de ancoragem
estável no corpo do resgatista, pode ser usado para prender, além dos equipamentos,
a vítima ou servir para o socorro do resgatista caso algo aconteça. Se existe se
orientar no local de busca, o uso de um cabo guia pode ser utilizado, para tal podemos
considerar, desde que avaliada a sua extensão, o mesmo usado como linha da vida.
Caso a restrição de movimento seja grande, e o resgatista precise retornar pelo
espaço no sentido dos pés, deve se ter em mente que este esforço aumenta o esforço
necessário e o tempo de saída da cena.
180
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

9.4.1.9 Acesso Invertido

Em algumas situações as dimensões do espaço não permitem o


posicionamento para acesso a vítima em uma condição ergonômica, chegando a
situações em que o resgatista deverá se posicionar invertido e descendo para acessar
a vítima de cabeça para baixo, esta situação reforça ainda mais a necessidade de
uma preparação de cena e resgatista com elevada técnica.

9.4.1.10 Montagem do Cenário de Salvamento

Diversas técnicas deverão ser treinadas e aprimoradas na consolidação do


resgatista, porém para concatenar estas técnicas o cenário deve ser organizado e a
equipe deve buscar manter o local o mais organizado possível. Podemos destacar
alguns pontos necessários para melhorar a condição de trabalho e aumentar a
eficiência da equipe.
● Isolamento da área;
● Definição clara das funções de cada membro da equipe;
● Dimensionamento e distribuição de equipamentos de acordo com a
necessidade, sempre que possível presos ao corpo do resgatista através dos
racks do cinto;
● Organização das cordas e fitas tubulares;
● Atenção a conferência da condição após a equipagem dos conjuntos de
proteção.
Desta forma todos membros da equipe estarão em condições de contribuir para
que a gestão da cena pelo comandante possa fluir da melhor maneira possível e
permitir que a tática escolhida alcance o objetivo esperado.

9.5 Tática De Salvamento Em Espaços Confinados

9.5.1 Princípios de tática operacional

O serviço de salvamento em espaços confinados exige uma sinergia de ações,


muitas vezes simultâneas, de uma equipe com preparo técnico, físico e psicológico.

181
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

De nada adiantará um bombeiro militar que possua vasto conhecimento de detecção


de gases ou manejo com cordas se o mesmo não atua de forma coordenada e
integrada com o resto de sua equipe de salvamento.
O uso da tática em eventos operacionais exige a aplicação de uma estratégia
para alcançar o objetivo final, que pode ser definido em duas situações: retirada de
cadáver ou salvamento de vítima. A tática é a aplicação inteligente e racional de
recursos humanos e materiais para permanência no menor tempo possível dentro do
espaço confinado e a consequente retirada da vítima ou cadáver. Como princípios,
podemos definir três importantes aspectos:

a) Unidade de comando
É o conceito que recomenda que cada pessoa se reporte a apenas uma
outra pessoa. Sem esse importante princípio, bombeiros poderão estar
recebendo múltiplas ordens e informações conflituosas de superiores no local. O
comandante de operações é normalmente a pessoa designada para exercer a
coordenação das operações.

b) Divisão de funções
As tarefas devem ser designadas aos bombeiros de forma organizada e
que seja alcançado o objetivo final. Quanto mais as tarefas forem feitas de forma
simultânea, mais rápido o plano se concretizará. As tarefas devem ser passadas
aos bombeiros de forma que seja compatível com a habilidade a qual o militar
possui, respeitando suas limitações e afinidades. Alguns exemplos de tarefas
típicas: Busca e localização de vítimas, gerenciamento dos riscos no local,
acesso propriamente dito, imobilização e retirada da vítima e extração.

c) Extensão do controle
É o número de pessoas ou unidades as quais o comandante de operações
pode gerenciar de forma efetiva. Esse valor pode variar devido à complexidade
do salvamento, geralmente entre três a sete pessoas, sendo o ideal cinco. Se o
comandante exceder esse valor, poderá ocorrer falhas e acidentes na operação
devido ao fraco gerenciamento de recursos e pessoas.

182
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

9.5.2 Funções da equipe de intervenção

a) Comandante de Socorro
É o responsável pelo controle da cena e elaboração do plano de ação,
deve estar atento com o posicionamento, segurança da equipe e da cena e o
isolamento da área sinistrada.

b) Equipe de entrada
Equipe que realiza a primeira entrada, pode ser formada por 1 ou 2
resgatistas, devidamente equipados e possuir meio de comunicação com o resto
da equipe.

É extremamente não indicado trabalhar com apenas 1 resgatista, apenas nos


casos: Locais com espaço físico reduzido e quando a extração da vítima pode se dar
simplesmente conectando a linha de resgate ao cinto de segurança de uma vítima.
Sempre que viável, deverá ser mantida uma segunda equipe para outra intervenção
de emergência ou revezamento com a primeira.
Se um resgatista perde o contato visual com o vigia, um segundo resgatista
deve entrar até uma distância que fique em contato visual com todos os envolvidos.
O segundo resgatista, caso possível, deve apoiar o vigia na montagem do
sistema de forças, caso aplicável.

c) Vigia
Será responsável por velar a segurança e manter contato com a equipe
de entrada, além da movimentação do sistema de forças, caso aplicável. Deve
dominar o manuseio dos equipamentos, montagem do sistema e ancoragem da
vítima e socorrista.
Quando a equipe de entrada está em atividade, não pode em hipótese alguma
acumular qualquer outra função.
Deve também estar usando EPRA, devido a migração de gases.

183
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

9.5.3 Tipos de comunicação

a) Via rádio
O rádio utilizado para atividades em espaços confinados deverá ser
específico para tal fim, sendo desejado que o mesmo seja intrinsecamente
seguro (Ex) e que o operador utilize o equipamento no modo DMO (rádio a rádio)
pois o modo troncalizado poderá estar prejudicado pela arquitetura e natureza
do espaço confinado.
Deve-se atentar para a utilização eficiente do mesmo, utilizando-o de
forma que fique preso no uniforme operacional para obtenção de mãos livres
para ações dentro do espaço confinado. Além disso, quando em sua utilização,
o mesmo deverá ser colocado próximo do orifício de voz previsto nas máscaras
pertencentes aos equipamentos de proteção respiratória autônomo, sob pena de
não conseguir manter um contato claro e objetivo.

b)Via sinais gestuais


Em situações onde a comunicação verbal ou via rádio não é possível,
utiliza-se, no caso de possibilidade de contato visual vigia-entrante a
comunicação via sinais gestuais. Os sinais retratam solicitações por parte do
entrante, como: fornecer corda, recolher corda, parar a movimentação do tripé,
solicitação de troca de socorrista, baixa autonomia de ar respirável e pedido de
ajuda. Abaixo seguem imagens que retratam a comunicação via sinais gestuais:

184
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Figura 179
Fonte: Confined Space Entry and Rescue Manual, CMC Rescue.

c) Via sinais luminosos


Em locais com baixa ou ausência total de luminosidade, onde a comunicação
verbal também possa estar prejudicada, pode-se aplicar o uso de sinais luminosos
para comunicação entre a equipe de salvamento. Com o uso de lanternas, padroniza-
se a quantidade de flashes curtos emitidos, traduzindo então a comunicação entre o
vigia e o entrante.
O Curso Avançado de Salvamento em Espaços Confinados (CASEC), desde
2014, utiliza um mnemônico chamado OFRA, onde:

O = OK 1 flash significa está OK.

F = FORNECER 2 flashes solicita que o vigia forneça corda.

R = RECOLHER 3 flashes solicita que o vigia recolha corda.

A = AJUDA 4 flashes solicita ajuda ou ordena o abandono.

d) Via puxões de corda


Diante das possibilidades acima mencionadas, com a inexistência ainda de
comunicação verbal, visual e luminosa, pode-se utilizar a comunicação pela própria
corda na qual o entrante está conectado.

185
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O = OK 1 puxão significa está OK.

F = FORNECER 2 puxões solicita que o vigia forneça corda.

R = RECOLHER 3 puxões solicita que o vigia recolha corda.

A = AJUDA 4 puxões solicita ajuda ou ordena o abandono.

e) Via sinais sonoros


É possível ainda realizar a comunicação vigia-entrante via emissão de sinais
sonoros emitidos pela batida de um material de aço (exemplo: mosquetão) em
estruturas metálicas, típicas em alguns espaços confinados, nas situações em que a
comunicação verbal é prejudicada pela acústica do local.

Figura 180
Fonte:https://www.henriquecruz.pt/cms_imgs/cc962a2ae3d74e53290e3811ab748d98a71b3625.png

O = OK 1 batida significa está OK.

F = FORNECER 2 batidas solicita que o vigia forneça corda.

R = RECOLHER 3 batidas solicita que o vigia recolha corda.

A = AJUDA 4 batidas solicita ajuda ou ordena o abandono.

9.5.4 Fases do Procedimento Operacional Padrão

9.5.4.1 Preparação

É o momento no qual a solicitação de salvamento é efetuada e a equipe


encontra-se dentro da unidade operacional, onde o comandante de operações deve
checar se a guarnição é preparada e especializada para esse tipo de atendimento em
uma análise inicial.
186
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Além disso é necessário checar se a guarnição dispõe de todos os materiais


necessários para o salvamento: Equipamento de proteção respiratória autônomo,
macas e dispositivos para extração, cordas, equipamentos para comunicação, tripé
de salvamento, cintos de segurança, materiais metálicos, detector de gases,
ventiladores, equipamentos Ex, equipamento de proteção individual adequado (roupa
de aproximação, luvas e capacete) e se estão disponíveis na viatura.

9.5.4.2 Avaliação da cena

● Confirmar se realmente trata-se de uma emergência em espaços


confinados;
● Manter a equipe sempre junta durante a avaliação;
● Localizar testemunhas;
● Número e localização das vítimas (se for fácil, tentar contato imediato) –
Procurar explicar o que vai ser feito e buscar manter comunicação;
● Avaliar previsão do tempo e clima atual (poderá influenciar o
salvamento);
● Tipo de espaço confinado - horizontal ou vertical – total de acessos;
● Identificar riscos principais do Espaço Confinado abordado;
● Identificar a natureza da emergência: Vítima aprisionada, vítima
desaparecida, vítima que requer cuidados pré-hospitalares ou resgate de
cadáver.

Conforme a complexidade da ocorrência, deve-se no momento da aproximação


do local, realizar tais perguntas:
● O espaço é usado para o quê?
● O espaço está em uso, no momento?
● É uma área de depósito de algum material?
● Existe algum material que possa estar aquecido ou energizado?
● É possível existir resíduos em seu interior?
● Possui algum potencial para engolfamento?

Uma vez pensado nessas etapas, deve-se realizar um brainstorming com a


equipe. Após toda a discussão feita, é hora de confeccionar o plano de ação, onde
187
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estarão a designação das funções da equipe de intervenção e o dimensionamento do


material a ser empregado.
No momento da decisão do plano a ser feito, a liderança passa a ser autocrática
invés de democrática, como anteriormente. Apesar da liderança não ser uma
característica puramente democrática, um bom comandante de equipe é receptivo a
idéias de sua equipe.
As instruções devem ser claras, curtas e objetivas. Deve-se pedir o feedback
para o bombeiro, perguntar se ele entendeu o que foi planejado e falado. Caso você
seja o entrante, não hesite em informar que não entendeu. Durante as ordens do
plano, o grupo deve evitar a dispersão, todos devem ouvir as funções de todos.

9.5.4.3 Pré-entrada

Na pré-entrada, deve-se realizar algumas importantes tarefas, no intuito de


tornar o acesso ao espaço confinado seguro:
a) Estabelecer um isolamento de área com cordas, cones e fitas, sendo a
área quente delimitada por um raio de 05 (cinco) à 10 (dez) metros, onde deverá
ficar a equipe de intervenção e a área morna de 10 (dez) a 20 (vinte) metros,
onde deverá estar posicionada a equipe de atendimento pré-hospitalar e o
suporte logístico necessário;
b) Detecção de gases, preferencialmente feita com EPRA, para segurança
do vigia;
c) Ventilação, caso exista equipamento no local apropriado e que seja
necessária e viável no momento;
d) Montagem do sistema de forças e do tripé de salvamento, nos casos em
que a profundidade do espaço confinado seja maior que 1,5m;
e) Estabelecimento de uma forma de comunicação: verbal, via rádio, via
sinais gestuais, via sinais luminosos, via puxões de corda ou via sinais sonoros;
f) Equipe de entrada deve usar nesse momento EPI designado para o risco
que se apresenta (Área classificada, Produtos perigosos). A equipagem deve
ser feita sempre com o apoio de mais um bombeiro, para realização da
checagem do mesmo.

188
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g) Deve-se avaliar a possibilidade em utilizar o Kit de APH para possível


intervenção em vítimas, além do capuz de resgate e outros equipamentos de
retirada ou imobilização de vítimas;
h) Realizar um briefing com a equipe de entrada e passar claramente e de
forma concisa a missão, como por exemplo: “Seu trabalho é entrar e localizar
a vítima, me avise se houver qualquer dispositivo que possa causar
aprisionamento e providencie os primeiros socorros, caso seja necessário. Não
retire imediatamente a vítima a menos que seja fácil e rápido.”

9.5.4.4 Entrada e resgate

Essa fase envolve a colocação dos bombeiros militares no interior do espaço


confinado propriamente dito, com o devido reconhecimento interno, localização e
retirada de vítimas. A fase da entrada não pode ocorrer até que todos os requisitos da
pré-entrada sejam preenchidos, garantindo a segurança dos bombeiros envolvidos no
salvamento. Segue abaixo ações previstas para a fase de entrada e resgate:
● O vigia, preferencialmente, deve manter a ventilação e detecção
operantes;
● O vigia, preferencialmente, deve registrar o tempo de permanência de
cada BM no interior do espaço confinado;
● A equipe de entrada deve manter o vigia sempre atualizado sobre o
processo de resgate;
● A equipe de entrada deve buscar atenção na movimentação e
preservação do EPRA no interior do espaço confinado;
● Caso necessário, use um cabo da vida (tagline) junto ao entrante. Esse
cabo é uma segurança a mais para o bombeiro militar, em situações que o
mesmo necessita de se desconectar do sistema de forças para movimentação
no interior do espaço confinado. Atentar para o risco de emaranhamento de
cabos;
● O entrante não deve efetuar o rapel para sua descida, pois se sofrer um
acidente, a equipe do exterior não poderá retirá-lo com rapidez. Além disso, o
rapel pode provocar eletricidade estática no interior do espaço confinado,
causando grandes riscos de explosão em locais com presença de atmosferas
explosivas.
189
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● Caso os entrantes façam uso de estruturas próprias do espaço


confinado (escadas), ficar atento ao estado de conservação das mesmas;
● Pode-se utilizar giz para marcar o caminho feito pelo entrante e uso de
light sticks para marcar a localização da vítima dentro do espaço confinado e em
outros pontos importantes.
● Caso utilize tripé de salvamento, evite o uso de guinchos elétricos. Os
mesmos podem causar sérios danos à vítima e aos entrantes
● É altamente recomendável que o entrante esteja, além da corda de
salvamento que efetua sua descida, com uma “safety belay line” (SBL). Para
cada entrante o ideal é uma SBL independente uma da outra. Tal SBL deve estar
fora do sistema de forças, pelo menos ancorada e pronta pra ser colocada no
sistema de forças.
● Ainda admite-se, com ressalvas, a utilização da mesma corda para
descer/subir 2 (dois) entrantes, com a confecção de 2 (dois) nós de confecção
de alças em alturas diferentes.
● Durante as atividades de salvamento é recomendável que se tenha pelo
menos um bombeiro militar fora do espaço confinado para cada entrante dentro
do mesmo, nas situações em que as linhas da vida não foram colocadas por
riscos de emaranhamento ou alguma configuração interna que torne o resgate
externo ineficiente;

Ao localizar a vítima:
● Aplicar o protocolo de APH em espaços confinados;
● Decidir, conforme caso clínico, qual dispositivo de retirada realizar na
vítima;
● Caso seja necessário usar wristlets, atentar quanto a pacientes com
queimaduras em membros superiores e membros inferiores;
● Durante o processo de extração da vítima, atentar para a metade inferior
do corpo da vítima, para não ficar presa nem ser esmagada em objetos
protuberantes dentro do espaço confinado;
● Se o cenário tornar possível, a equipe pode utilizar um capacete na
vítima para a proteger durante a retirada.

190
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9.5.4.5 Finalização

Uma vez a vítima retirada de dentro do espaço confinado e entregue à equipe


de atendimento pré-hospitalar, deve-se buscar fornecer informações como:
● Localização original e como a vítima foi encontrada;
● Se a vítima estava usando EPRA?
● Havia alguma evidência de queda?
● O local possui atmosfera nociva?
● Algum equipamento da vítima estava danificado?

Todos da equipe de entrada devem ir para o local de reabilitação e hidratação


para monitoramento médico. Outrossim, o Comandante deve verificar se algum
equipamento foi deixado dentro do espaço confinado ou se houve dano em algum
material operacional.

9.5.5 Condições para treinamento simulado

Um salvamento com alto índice de segurança apenas pode ser realizado com
uma carga alta de treinamento. A maneira como os bombeiros militares atuam no
treinamento vai ditar o comportamento dos mesmos na situação real. Os seres
humanos vivem de hábitos e estes nos ajudam a tornar mais meticuloso o serviço
prestado. Seguimos o jargão conhecido pelo CASEC como “99% de preparação e 1%
de atuação”. O especialista, pós formação, necessita manter o ritmo e o cronograma
de treinamentos.
Seguem abaixo algumas sugestões para a realização de um treinamento
seguro:
● Revise os padrões de segurança estabelecidos antes de cada aula;
● Controle o número máximo de alunos, busque um número máximo de
06 (seis) instruendos por instrutor;
● Sempre utilize sistemas de backup nos treinamentos;
● Realize a manutenção do equipamento e sua vida útil;

191
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● Estabeleça, previamente, procedimentos de emergência para incidentes


que possam ocorrer durante os treinamentos: Padronize expressões como: “real,
real, real” para que o aluno possa comunicar se uma situação é crítica e real;
● Estabeleça códigos junto com os alunos para que se possa assegurar
que tudo está indo bem. Por exemplo: se um instrutor verbaliza "bombeiros", o
aluno deverá verbalizar “Brasil”. Isso ajudará a confirmar o nível de consciência
dos instruendos.

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10 SALVAMENTO VEICULAR

10.1 Segurança veicular operacional

10.1.1 Riscos no cenário

A operação de salvamento veicular é uma situação complexa e dinâmica, em


que a equipe de salvamento deve estar atenta aos riscos envolvidos, mitigando ou
neutralizando todos eles, tão logo identificados, antes de prosseguir com a tarefa em
curso.
Neste capítulo abordaremos os principais riscos de cena, divididos
didaticamente como segue e os conceitos e princípios fundamentais às medidas
mitigatórias:
a) Riscos primários, produzidos pela mecânica do acidente (ex.:
posição veicular instável, vazamento de produto perigoso, contato com a rede
urbana de distribuição elétrica e etc.) ou pelas características originais do
ambiente (ex.: trânsito de veículos, pouca iluminação e etc.)
b) Riscos secundários, aqueles resultantes da atuação dos
resgatistas, como a produção de quinas metálicas vivas, fragmentos de vidro e
etc.
c) Medidas mitigatórias dividem-se em: Mitigação prévia ao acesso
direto do veículo e Mitigação dinâmica, durante todo o processo de salvamento
até sua conclusão. Isto enfatiza o conceito de atenção situacional, ou seja,
embora cada membro executor sofra o enrijecimento da atenção (“visão
tunelar”), deve-se treinar para manter algum grau de consciência situacional em
segundo plano. Isto torna óbvia, aliás, a responsabilidade do comandante na
manutenção da segurança. Por esta razão, este último deve movimentar-se
mantendo posição de visão panorâmica sobre as zonas de trabalho.

10.1.2 Equipamentos e posturas de proteção individual

O bombeiro militar tem em sua essência a vontade de auxiliar, contudo, em


teatro de operações complexo e dinâmico, torna-se imprescindível a constante

193
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organização, isto é, atuação com tarefas bem definidas, porém integradas e


sincrônicas, cujo objetivo é o salvamento efetivo, ou seja, tempo eficaz e seguro,
centrado na vítima. Dentro deste contexto, é necessário o emprego adequado de
todos os equipamentos de proteção individual (EPI) cabíveis:

a) Capacete de salvamento veicular


O capacete deve atender requisitos normativos que o chancelam para o
resgate veicular.
Deve oferecer boa proteção mecânica, ser de fácil emprego e ajuste, não
pode oferecer dificuldade para o uso simultâneo com equipamento de proteção
respiratória.
Os técnicos e logístico devem utilizar preferencialmente capacetes
dotados de viseira facial completa (full face), visto que para estes profissionais,
o risco de projeção de partes do veículo contra a face durante a operação de
ferramentas (FEA) é maior.

b) Roupa de proteção
A roupa de proteção deve ser o mais leve possível, possuir boa proteção
contra abrasão, corte e resistir a chamas. O CBMERJ padronizou até o
momento, o uso do conjunto de aproximação (calça e japona) também para o
salvamento veicular. Conta com camada externa confeccionada em 58 % de
para-aramida 40% de polibenzimidazol, e 2% de fibra antiestática, com variação
de +/- 2%, composta por matriz de polímero e uma camada condutora, em
carbono densamente incorporado, com aplicação de camada de fluorcarbono,
repelente a água e óleo, de acordo com os itens 6.8, 6.10 e 6.11 da norma EN
469:2005 e A1 2006.

c) Luvas de salvamento veicular


Deve proporcionar proteção contra abrasão, cortes, perfurações, e
resistência térmica.
No que tange a luvas e roupa, salientamos que lesão funcional da pele
(alteração da hidratação da alfa-queratina) se inicia já aos 40˚C, tornando-se
irreversível a partir dos 75 a 100˚C, em poucos segundos, o que se manifesta

194
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

por queimadura de 2˚ a 3˚ grau.

d) Calçados apropriados
Deve promover a proteção dos pés contra esmagamento por queda de
materiais. Deve resistir a corte, perfuração e abrasão.

e) Máscara de proteção respiratória PFF 2


Deve proteger contra poeira de sílica, contida em vidros, fibra de vidro e
fibras sintéticas oriundas da quebra controlada das janelas, assim como de corte
dos estofados, visando a prevenção da silicose – pneumopatia intersticial crônica
ocupacional.

10.1.3 Estabelecimento das viaturas de socorro

Logo que o comboio de socorro chega ao sítio do acidente veicular, é


fundamental iniciar pela sinalização e controle do trânsito de veículos. A primeira
providência é “defender” a zona de trabalho, estacionando uma viatura (com
giroscópio e lanternas acesos) em posição diagonal, à retaguarda (pelo menos 20 m)
dos veículos colididos (imagem1). Depois se distribui a linha de cones iniciada à
distância de pelo menos 1,5 vezes o limite de velocidade da via. Se for noite, houver
chuva ou neblina, considerar 2 vezes o limite de velocidade da via.
A linha de cones deve seguir trajeto diagonal, iniciando junto ao acostamento,
se afastando lateralmente até cerca de 2 metros para além da fila de veículos de
resgate, e se estender em paralelo ao longo de toda a área de trabalho e viaturas, de
modo a criar um corredor seguro para a movimentação dos resgatistas.
A ASE deve permanecer posicionada após a cena, distanciada em pelo menos
10 metros. Caso seja a primeira viatura no local, ela defenderá a zona de trabalho até
que chegue o apoio, quando deverá ser substituída por outra viatura.

195
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Figura 181 - Sinalização


Fonte: modificado de Manual de Sinalização de Obras e Emergências em Rodovias, DNIT 2010.

10.1.4 Avaliação e segurança da cena

A avaliação de cena pertence às táticas de ação imediata em resposta a


qualquer emergência

10.1.5 Avaliação 360˚

No salvamento veicular, emprega-se o jargão “avaliação 360°” (World Rescue


Organization), que cumpre o objetivo de busca visual das ameaças e riscos em todas
as direções.
Do ponto de vista prático, recomenda-se a técnica dos “dois círculos”, pela qual
o líder, o homem-logística e o socorrista líder circundam a cena num sentido, enquanto
os demais a circundam em sentido oposto, seguindo um círculo externo ao primeiro,
no intuito de identificar todos os riscos que necessitem mitigação imediata ou urgente,
antes do acesso direto ao veículo.
O socorrista líder, em particular, deve terminar a avaliação 360˚ diante da vítima
mais acessível e ao travar com ela contato visual, orienta-lhe a fixar seu olhar neste
profissional (o socorrista), bem como lhe transmite informações de ordem geral sobre
tudo que há de se passar em seguida – ruídos, movimentação da equipe e etc.
Sem tocar ou atuar diretamente sobre a estrutura veicular, o militar buscará as
principais ameaças (riscos):
a) trânsito de veículos;
b) vazamento de combustíveis e/ou fluidos (lembre-se que também
são produtos perigosos, em geral classe 2 ou 3);
c) risco elétrico (rede elétrica/baterias);

196
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

d) instabilidade dos veículos e/ou outros elementos presentes


(árvores, postes, etc.);
e) produtos perigosos (ver adiante);
f) incêndio;
g) sistemas de segurança/elementos do veículo (airbags, vidros,
elementos cortantes);
h) presença de outros riscos (deslizamentos, enchentes, animais,
violência urbana).

O socorrista líder deve, através da R.A.M. (avaliação remota rápida), identificar


o mecanismo de trauma, número/posição/orientação dos ocupantes, avaliar a
responsividade (AVDI) e o “ABC” sumário, logo, se responde, se respira e se há
evidência de hemorragia - mnemônico “TORA”.
Tais informações devem ser transmitidas em alta voz, assim como a estimativa
do tipo de encarceramento e posteriormente, confirmadas pelo acesso do primeiro
socorrista. É fundamental acalmar a vítima e evitar que mova a coluna.
Em caso de múltiplas vítimas, pode ser necessária a triagem reversa, (retirar
primeiro as vítimas em melhor condição clínica), já que usualmente, há uma só equipe
de salvamento veicular, sobretudo no que tange aos membros combatentes (ABS).
Importante: nesta fase os resgatistas não devem tocar ou exercer peso sobre
a estrutura do veículo antes que seja finalizada a estabilização primária, a qual será
sinalizada pelo líder.
Caso detectado qualquer elemento estranho à cena, quer seja líquido, vapor
ou particulado, suspeitar do vazamento de produto perigoso, quando deve manter-se
entre a origem do vento e a fonte do vazamento, em local mais alto do que a fonte.
Procede-se ao isolamento e evacuação do perímetro interno empírico de 100m
(≥800m em caso de incêndio) e solicita-se apoio ao GOPP*. Se o número de
identificação do produto estiver visível a essa distância, transmita-o ao GOPP.
Também é útil, sobretudo se o apoio for difícil, consultar recomendações para
mitigação e proteção em guia de emergências confiável. Para maiores detalhes, guia
111 do Manual Pró-química. - Há aplicativos para smartphones como Pró-química
Online, ERG 2016 e WISER.
O transporte de produtos perigosos é regulamentado pela Resolução ANTT

197
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

420/2004 e suas atualizações.


Resumo das tarefas (“A5”)
a) avaliar todas as ameaças e riscos;
b) alta voz para denunciá-los à equipe;
c) assegurar a cena: isolar, evacuar e mitigar;
d) analisar a R.A.M. e estimativa de encarceramento;
e) apoio externo solicitado*.

10.1.6 Segurança na cena

Qualquer ação mitigatória de desencarceramento, precisa ser comunicada ao


comandante em voz alta, para que todos ouçam e se preparem. O comandante deve
emitir de forma clara e alta sua aprovação ou desaprovação. Este método de
comunicação é denominado “alça fechada” e constitui-se a fundação da segurança da
operação. A comunicação alta também permite que medidas de proteção à vítima
sejam tomadas previamente a qualquer intervenção na estrutura veicular, como o uso
da proteção rígida. Caso qualquer membro da equipe identifique risco na atuação dos
técnicos, deve verbalizar “real, real, real!”, e todas as ações precisam ser
interrompidas. O comandante então, executa o controle da condição de segurança
para a equipe e para a vítima, e orienta a forma mais adequada de continuidade.
Antes de iniciar qualquer manobra de desencarceramento, a vítima deve ser
orientada pelo socorrista quanto ao que será executado. Este profissional tem a
responsabilidade de protegê-la da operação de ferramentas, de quinas produzidas e
da quebra controlada de vidros. Muito importante que estas intervenções de resgate
técnico obedeçam à comunicação em alça fechada, de modo a evitar que o socorrista
seja pego desprevenido e isto ponha a vítima em risco de lesão iatrogênica.
Lembrando, caso o socorrista no interior do veículo identifique operação insegura de
equipamentos, deve gritar “real, real, real!”, para que tal operação seja interrompida e
corrigida.

10.1.7 Zonas de trabalho

A organização da cena em zonas de trabalho deve ocorrer em todo salvamento


veicular, das operações mais simples às mais complexas.

198
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

As prioridades são:
a) isolamento do perímetro interno (2 a 5m);
b) estabelecimento das zonas quente (2 a 5m) e morna;
c) palco de ferramentas;
d) área para destroços.
Os equipamentos ociosos devem ser retornados ao palco de ferramentas, para
não pôr obstáculo à circulação dos resgatistas ou causar tropeço e lesões.
O comandante deve procurar movimentar-se ao longo da linha imaginária do
perímetro interno, para ter visão panorâmica dos veículos e das ações dos demais
membros, monitorando a eficácia e a segurança das mesmas.

Destroços
P.E

P.I.

Palco de

P.E

Figura 182 - Zonas de trabalho. O perímetro interno (P.I.) delimita a zona quente. O perímetro externo (P.E.) exclui a
zona fria. A área de tratamento das vítimas deve ficar no perímetro externo e as viaturas de socorro na zona fria.
Ferramentas (FEAs) que não estejam empregadas devem ser retornadas ao palco, não permanecer na área de
circulação da zona morna. Tanto a delimitação das zonas de trabalho, quanto à gestão de segurança da cena são
responsabilidade do comandante
Fonte: CBMSC

10.1.8 Ameaças específicas e sua mitigação

a) Baterias e sistemas elétricos veiculares


É prioridade localizar e desligar a bateria de 12v, para evitar o acionamento tardio
de airbags, o arranque acidental do motor e evitar incêndio. No entanto, antes de
desligá-la, lembrar de utilizar dispositivos elétricos internos a favor da tática, como
reposicionar bancos, abrir janelas ou teto solar, alterar a posição do volante e etc.
Para desligar a bateria é necessário cortar primeiro o terminal negativo,
evitando assim arco voltaico e lesão ao socorrista. Depois o terminal positivo.
Quando o veículo se apresenta sobre o teto, pode ser impossível desligar a
199
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

bateria. Isto precisa ser verbalizado em alta voz, para que todos tomem atitude
defensiva contra o acionamento tardio de airbags. No entanto, 40% dos veículos têm
a bateria de 12v em outra posição que não sob o caput.
O desligamento da bateria veicular de 12v, que em alguns modelos ocorre
automaticamente em resposta à colisão, isola o sistema de alta voltagem de híbridos
e elétricos.
Lembre-se também de remover a chave eletrônica para além de 5m, de modo
a prevenir arranque acidental.

b) Airbags
A maioria dos veículos atuais conta com o sistema de airbags inteligente,
cujos sensores enviam informações de posição dos ocupantes, aceleração e ângulo
do movimento, à unidade de controle eletrônico (ECU), a qual aciona seletivamente
os airbags necessários. Assim, normalmente há airbags não acionados (ANA) que se
constituem em risco, embora haja raríssimos casos de acionamento retardado com
lesão ao resgatista.
No Brasil, desde 01/01/2014 é obrigatório o airbag duplo frontal dianteiro, assim
como os freios ABS (anti-blocking system). O não acionamento do volante, pode ser
controlado aplicando o restritor de airbag. Porém não existem ferramentas deste tipo
para as demais posições.
Os veículos mais sofisticados podem contar com 6 a 10 airbags adicionais,
cujas posições mais comuns são a lateral (dentro da porta ou banco), cortina lateral
(friso superior do teto), de impacto lateral (no encosto do banco dianteiro, entre os
ocupantes deste compartimento), pélvica (assento dianteiro), e para joelhos (sob o
painel do condutor).
Medidas mitigatórias (“IDEAL”):
● Identificar todos os ANA e alertar em voz alta;
● Desligar a bateria de 12v;
● Exposição mais curta possível à zona de insuflação do ANA;
● Aplicar proteção do volante;
● Locais dos airbags devem ter o conteúdo dos frisos plásticos
expostos antes de qualquer manobra de corte/alargamento (pilares, friso do
teto), para evitar a ruptura acidental do mecanismo acionador de alta pressão.

200
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

c) Mecanismo Pré-tensionador
Dispositivos de acionamento pirotécnico por sensores de colisão, com o
objetivo de retirar eventual folga no cinto de segurança e manter o ocupante junto ao
banco. Localizados mais frequentemente junto ao enrolador de inércia, na base ou
topo do pilar B.
As medidas mitigatórias são as mesmas do item anterior.
Ao acessar o interior do veículo, o socorrista deve sempre cortar o cinto de
segurança para aliviar a respiração da vítima.

d) Vazamento de combustível líquido


Embora os combustíveis fósseis (gasolina, GNV) e o álcool também sejam
produtos perigosos, em virtude da simplicidade, podem e devem ser mitigados pela
própria equipe de salvamento veicular.
Deve-se espalhar barreiras em torno da zona quente para evitar a
contaminação de águas vizinhas, assim como aplicar material particulado absorvente
inerte (areia, terra, serragem e outros), o que permite recolher boa parte com pás.
Mais uma vez, é prioridade desligar a bateria de 12v, já que pode se constituir
em fonte ígnea.

10.1.9 Incêndio em veículos

Durante a avaliação 360˚, considerar que todos os veículos envolvidos no


acidente possuem GNV, até provar o contrário.
Caso haja vítimas encarceradas, as prioridades são (1) a extinção das chamas,
(2) estabilização de emergência e (3) extricação de emergência.
Caso a proporção do incêndio exceda a capacidade de resposta, manter-se
atrás do perímetro interno, até a chegada do apoio.
Frente a fogo localizado, o combate pode empregar extintores PQS ou CO2.
Quando possível, manter o capot semiaberto, de modo a compartimentalizar a
combustão, exaurindo o oxigênio.
O combate ao fogo generalizado deve ser feito com 2 ou mais linhas de jato
neblinado em alta pressão, não direcionado ao líquido por ventura derramado, mas à
chama. Deve-se manter resfriamento do compartimento do(s) cilindro(s) de GNV a fim
201
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

de evitar o fenômeno B.L.E.V.E. (boiling liquid expanding vapor explosion). A


guarnição das linhas deve manter postura de “alarme gases”, pelo risco de explosão
ou utilizar canhões monitores. Ao ouvir ruído de escape de gás, alertar e retrair de
imediato para fora do perímetro interno.
A extinção de fogo em rodas de pigmento metálico (ex.: liga de alumínio) deve
ser feita sem água ou espuma ou CO2, mas com areia seca, pó de grafite ou extintores
de cloreto de sódio seco. Isto porque, ao contato com a água ou CO2, liberam
hidrogênio gasoso, altamente tóxico quando inalado e explosivo.
Recomenda-se a leitura do POP CBMERJ/EMG/Incêndios/Incêndios em
veículos com GNV e o Guia Pró-química Online.

10.1.10 Colisões envolvendo rede elétrica

Ao se deparar com uma colisão veicular onde existam cabos suspeitos de


eletrocondução de alta tensão deve-se seguir as medidas gerais descritas
anteriormente (A5) além de:
a) Não tocar no veículo ou permitir que seus saiam, sem antes certificar-se
da interrupção setorial da rede elétrica ou aterramento do veículo;
b) Possuir extintor adequado para classe C, para extinguir princípios de
incêndio;
c) Sempre que necessário, solicitar apoio à concessionária de energia
elétrica local;
d) Não manipular o eletrocondutor sem capacitação reconhecida, sem EPI
anti-arco voltaico nível 5 a 6 e sem ferramentas isolantes homologadas.

10.2 A estabilização do veículo

A estabilização do veículo visa mantê-lo imóvel. Ela se inicia após os riscos


iniciais da cena terem sido avaliados e mitigados.
Antes de iniciar qualquer manobra no veículo colidido é fundamental que ele
seja estabilizado, reduzindo riscos para a vítima e para a guarnição de salvamento
veicular.
As seguintes regras devem ser obedecidas:
a) a imobilidade do veículo deve ser mantida o máximo possível; e

202
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

b) deve ser simples, objetiva e de fácil aplicação.

Após a devida análise, o Comandante de Socorro destacará pelo menos dois


integrantes da guarnição para executarem a estabilização, chamada de inicial, e
determinando a forma na qual ela deverá ser realizada. Caso algum membro da
guarnição perceba que ainda há risco, este deverá imediatamente conversar com o
Comandante de Socorro, sugerindo outras possibilidades para realizar a imobilização
do veículo.
Durante a realização de outras manobras no veículo, a estabilização poderá
perder sua eficácia como na hipótese da folga de calços ou instabilidade decorrente
de cortes realizados no veículo. Por esse motivo, para que todos os membros da
guarnição possam atuar com segurança, deverá ficar um componente da equipe,
preferencialmente o responsável pela logística, monitorando e corrigindo a
estabilização de forma contínua, pois, qualquer que seja a alteração na estrutura do
veículo ou número de pessoas em seu interior, isso poderá gerar uma perturbação na
estabilização já executada.
Para realizar a estabilização veicular são utilizados, entre outros: calços de
madeira tipo escada (escalonados), calços simples, cunhas, correntes, guinchos,
macacos, escora metálicas, multiplicadores de força, fitas catraca, almofadas
pneumáticas, cordas e outros.

10.2.1 Calços e cunhas para estabilização veicular

Após a análise de estatísticas de vítimas com agravamento de lesões e


sequelas posteriores aos atendimentos realizados por equipes de emergência,
percebeu-se a necessidade de serem criados simuladores humanos, os quais foram
utilizados no interior de veículos submetidos a testes de colisões.
Dessa forma, pode se verificar então a real necessidade na estabilização do
veículo, sendo uma das principais ferramentas efetivas o uso de calços,
principalmente antes das operações de salvamento para acesso da vítima,
preservando assim a integridade da sua coluna cervical.
Medida padrão para a produção de calços de madeira: 5cm de altura x 10cm
de largura. Variações possíveis:

203
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a) Calço nº 1: quatro calços com 30 cm de comprimento;

Figura 183 - Calço nº 1


Fonte: CBMERJ

b) Calço nº 2: quatro calços com 50 cm de comprimento com dois encaixes


em U em ambos os lados;

Figura 184 - Calço nº 2


Fonte: CBMERJ

c) Calço nº 3: quatro calços com 70 cm de comprimento com dois encaixes


em U em ambos os lados da lateral com 03 cm de profundidade por 05 cm de largura;

Figura 185 - Calço nº 3


Fonte: CBMERJ

d) Calço nº 4: quatro calços em degraus de cinco lances com 15cm, 26cm,


37cm, 48 cm e 59 cm de comprimento, sendo os cinco pedaços sobrepostos formando
uma escada, que se chama de “calço escada” ou “escalonado”;

204
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 186 - Calço nº 4


Fonte: CBMERJ

e) Cunhas: quatro unidades com 4cm de altura por 24cm de comprimento


e 10 cm de largura.

Figura 187 - Cunha


Fonte: CBMERJ

10.2.2 Finalidade básica dos calços

O calço nº 1 tem por finalidade de uso:


a) base de extensor entre colunas;
b) base de extensor entre o painel e o assoalho do veículo;
c) aumentar a altura do calço Nº 4, servindo como base;
d) combinação com calço Nº 3 para aumentar a distância;
e) combinação com calço Nº 2 servindo de base para este, quando usados
entre a barra de direção e o assoalho do veículo.

O calço nº 2 tem por finalidade de uso:


a) apoiar a barra de direção: visa preencher a distância entre a barra de
direção e o assoalho do veículo, tendo como base o calço nº 1;
b) pode ser usado substituindo o calço nº 1 em seus itens b, c e e.

205
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

O calço nº 3 tem por finalidade de uso:


a) possui comprimento para preencher o espaço entre as colunas A e B;
b) pode ser combinado com o calço nº 1 para aumentar a distância;
c) pode ser usado em substituição ao calço nº 1, quando em sua ausência.

O calço nº 4 tem o objetivo de uso:


a) a estabilizar o veículo, podendo ser combinado com os outros calços
para aumentar a altura;
b) formar um quadrado combinando-se dois calços nº 4, servindo de base
para almofadas pneumáticas;
c) unidos dois a dois e colocados na vertical combinados com o calço nº 2
formam uma plataforma.

É recomendável que os calços possuam alça para facilitar o transporte e o


manuseio no ato da estabilização do veículo e também para que, durante sua
utilização, o integrante da guarnição de socorro não coloque membros debaixo do
veículo.
Caso persistam a existência de espaços vazios, mesmo depois da inserção de
um calço ou da confecção de uma caixa de calços, pode ser adicionada uma cunha
ampliando a área de contato entre o veículo e o sistema de estabilização.
As cunhas, podem ser utilizadas no preenchimento de espaços vazios entre os
veículos e os pontos de apoio, também podem ser usadas com a finalidade de firmar
os calços e tornar a estabilização do automóvel mais segura.

10.2.3 Caixa de calços de madeira

Técnica clássica utilizada pelos bombeiros norte americanos para a


estabilização veicular. A NFPA nº 1006 nos dias atuais contém basicamente cinco
tipos de caixa de madeira com utilização de calços, sendo: com duas peças, com três
peças, plataforma, calços diagonais e triângulo conforme demonstrado nas figuras
abaixo.

206
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 188 - Camadas de Calços (Duas peças, Três peças, Plataforma, Calços diagonais, Triângulo)
Fonte: NFPA

As camadas de calços de duas e três peças e as plataformas são as mais


utilizadas no resgate veicular. O triângulo e os calços em diagonais são tipos
específicos e, geralmente, são utilizados para espaços apertados ou de formato
incomum.
Visando a escolha das caixas de calços mais adequados a serem aplicadas o
Comandante de Socorro deverá avaliar a estrutura veicular em busca da identificação
do tipo de estrutura do automóvel e os seus respectivos pontos rígidos (os quais serão
apoiados pelas caixas de madeiras).

/
Figura 189 - Exemplo de uso de uma caixa de calços
Fonte: Rescue Days 2014 Brasil

A sugestão para a produção de calços de madeira é pela utilização de espécies


que produzam fibras longas. Árvores resinosas são as ideias, pois a madeira deste
tipo de árvore tem diversas vantagens, entre outras: é leve; a resina, quando seca,
aumenta sua resistência; maior resistência térmica e ao apodrecimento; e fornece
avisos de falhas, por exemplo, fissuras visíveis e sons de quebra.
Ademais, quanto aos calços, têm-se as seguintes características:
a) A madeira tem que suportar valor elevado de compressão perpendicular
ao alinhamento da fibra;
b) É importante não pintar o fulcro pois isto mantém o seu atrito natural e
não esconde danos ou defeitos;
207
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

c) Devem ser analisados de forma frequente, para detectar danos, como


rachaduras ou alterações no formato;
d) Devem ser armazenados em área limpa, seca e ventilada, com
espaçamento que permita a circulação de ar entre as peças;
e) Cada peça de madeira deve possuir de 10cmx10cm (4”x4”) a
20cmx20cm (8”x8”) de espessura;
f) As medidas mais utilizadas em resgate veicular são: 4”x4”x12 ”
(10x10x30cm), 4”x4”x18” (10x10x45cm), 4”x4”x24” (10x10x60cm), 4”x4”x30”
(10x10x76cm) ou 4”x4”x36” (10x10x91cm).

Já no que tange às caixas de calços com duas ou três peças por camada
esclarece-se que:

Figura 190 - Sistemas 2x2 e 3x3


Fonte: FEMA

a) A caixa é construída com uma linha de dois ou, conforme o caso, de três
calços paralelos seguida de outra linha com a mesma quantidade de calços paralelos
entre si, porém perpendiculares em relação à primeira linha (NFPA 1006, 2013);
b) A capacidade total a ser suportada depende da quantidade de pontos
de apoio e do tipo de madeira com a qual é feita cada peça;
c) Há que se deixar um espaço livre nos cantos no mínimo 10cm (4”), para
proteção contra eventuais deslocamentos, o que poderia impactar negativamente na
estabilidade do sistema. Exemplo, um fulcro com 18” (45cm) precisa de 8” (20cm) de
sobreposição deixando uma largura de base utilizável de 10” (25cm);
d) Não se pode colocar o ponto de suporte do peso da caixa nas
extremidades, pois há que se deixar uma margem de segurança no caso da carga se
deslocar. Por conseguinte, há que se trabalhar sempre com uma margem de
segurança, deixando uma lacuna de 10 cm a partir das extremidades;

208
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

e) Uma caixa de calços com carga pode perder de 10% a 20% da sua
altura;
f) Uma plataforma sólida pode ser construída sobre a caixa, para suportar,
por exemplo, um macaco hidráulico ou uma almofada pneumática;Com exceção do
triângulo e dos calços diagonais, os outros tipos devem ser iniciados com uma base
sólida, isto é, totalmente preenchida por calços ao nível do chão. Visa-se, com isto,
dar maior segurança ao sistema na medida em que se aumenta a área de contato;
g) Se na confecção de uma caixa de calços de madeira for utilizada
madeira de pinheiro amarelo e esta for constituída com peças com espessura de 4”x4”
e feita com 4 unidades (2x2) terá 4 pontos de apoio e suportará ao todo 24.000 libras
(12 toneladas). Cada ponto de apoio sustenta até 6.000 libras (3 toneladas);
h) Se na confecção de uma caixa de calços de madeira for utilizada
madeira de pinheiro amarelo do sul dos EUA e esta for constituída com peças com
espessura de 4”x4” e feita com 6 unidades (3x3) terá 9 pontos de apoio suportará ao
todo 55.000 libras (27,5 toneladas). Cada ponto de apoio sustenta até 6.000 libras (3
toneladas);
i) Se na confecção de uma caixa de calços de madeira for utilizada
madeira de pinheiro amarelo do sul dos EUA e esta for constituída com peças com
espessura de 6”x6” e feita com 4 unidades (2x2) terá 4 pontos de apoio e suportará
ao todo 60.000 libras (30 toneladas). Cada ponto de apoio sustenta até 15.000 libras
(7,5 toneladas);
j) Se na confecção de uma caixa de calços de madeira for utilizada
madeira de pinheiro amarelo do sul dos EUA e esta for constituída com peças com
espessura de 6”x6” e feita com 6 unidades (3x3) terá 9 pontos de apoio suportará ao
todo 136.000 libras (68 toneladas). Cada ponto de apoio sustenta até 15.000 libras
(7,5 toneladas).

Espessura Método de Pontos Capacidade por Peso total


da peça construção de apoio ponto
4”x4” 2x2 4 6.000 lb (2.700 kg) 24.000 lb (12 toneladas)
4”x4” 3x3 9 6.000 lb (2.700 kg) 55.000 lb (27,5 toneladas)
6”x6” 2x2 4 15.000 lb (6. 750 kg) 60.000 lb (30 toneladas)
6”x6” 3x3 9 15.000 lb (6. 750 kg) 136.000 lb (68 toneladas)
* Considerar que a espécie de madeira é o pinheiro amarelo do sul dos EUA.

209
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 191
Fonte: CBMERJ

A estabilidade depende da altura e da largura da caixa, sendo que aquela não


deve exceder a 3 vezes a largura da base útil (3 para 1). Isto se deve ao fato de que
cada peça possui características únicas, logo ao sobrepor várias peças pode ocorrer
uma leve inclinação e isto comprometer a segurança;

Pontos de apoio Altura máxima


4 de 4 3 vezes a largura da base
3 de 4 2 vezes a largura da base
2 de 4 1,5 vezes a largura da base
1 de 4 1 vez a largura da base
Figura 192 - Altura limite da caixa de calços
Fonte: FEMA

Segundo a FEMA, assenta que, independentemente da largura da base útil, a


altura limite da caixa de madeira com calços de grossura de 10cmx10xcm (4”x4”) deve
ser de, no máximo, 90 cm (3 pés) e o limite da que possui peças com espessura de
15cmx15cm (6”x6”) é de 150 cm (5 pés) ;(NFPA 1006, 2013).
A caixa de calços de madeira também pode ser utilizada para apoiar a
superfície inclinada. Todavia a inclinação da caixa não pode exceder 15º;
A colocação de cunhas serve para preencher espaços vazios, bem como para
ajustar a direção da caixa. O empilhamento de cunhas (uma sobre a outra) é limitado
a duas peças. Empilhar mais de duas cunhas provavelmente irá produzir instabilidade
ao sistema;
Há que se observar constantemente a estabilidade da caixa para mantê-la sem
folgas. É provável que haja a necessidade de ajustar a caixa de calços de madeira
durante o incidente, isto se deve, entre outros, ao deslocamento da carga, à sua
retirada parcial ou total, à vibração dos equipamentos utilizados na operação e ao
peso adicional dos membros da guarnição de resgate e dos equipamentos
empregados. Logo, há que se estabelecer um profissional da equipe de resgate para
a tarefa de inspeção periódica e ajustes dos calços;
Por fim, ressalta-se que partes do corpo nunca devem ser postas entre a carga
e a caixa de calços de madeira. Se houver a necessidade de inserir ou ajustar alguma
peça, deve-se usar uma ferramenta ou outro fulcro na manobra.

210
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

10.2.4 Técnicas básicas de estabilização veicular

10.2.4.1 Veículo sobre as quatro rodas

Por que um veículo que está na posição horizontal e em repouso em todos os


quatro pneus deve ser estabilizado?
O primeiro pensamento que provavelmente vem à mente é o de evitar que o
veículo seja movimentado para frente ou para trás. Este raciocínio é correto, mas a
principal razão para se estabilizar um veículo envolvido em um acidente
automobilístico é o de ganhar o controle sobre todos os seus movimentos,
minimizando os efeitos do sistema de suspensão e criando uma base sólida e segura
para a operação de resgate.
O sistema de suspensão do veículo pode fazer com que o veículo se
movimente para cima e para baixo, causando mais lesões na vítima. Uma vítima com
suspeita de lesão da coluna vertebral necessita de adequada imobilização, qualquer
movimento pode agravar a lesão, podendo, inclusive, causar-lhe paralisia.
Há cinco movimentos direcionais que profissional de resgate deve considerar
durante o processo de estabilização do veículo:

a) Movimento horizontal: o veículo se move para frente ou para trás sobre


o seu eixo longitudinal ou se move horizontalmente ao longo do seu eixo lateral;

Figura 193
Fonte: Vehicle Extrication Levels I & II: Principles and practice

b) Movimento vertical: o veículo se move para cima e para baixo em relação


ao solo, sobre seu eixo vertical;

211
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 194
Fonte: Vehicle Extrication Levels I & II: Principles and practice

c) Movimento de rolamento: movimento onde um dos lados do veículo é


suspenso fazendo com que o peso do veículo se concentre do outro lado;

Figura 195
Fonte: Vehicle Extrication Levels I & II: Principles and practice

d) Movimento campo: o veículo se move para cima e para baixo sobre o


seu eixo lateral, fazendo com que a dianteira ou traseira se movimente para a
esquerda ou para a direita em relação à sua posição original;

Figura 196
Fonte: Vehicle Extrication Levels I & II: Principles and practice

e) Movimento de torção: são torções ou voltas em torno do eixo vertical,


fazendo com que as partes dianteiras e traseiras do veículo possam mover para a
esquerda ou para a direita em relação à sua posição original;

Figura 197
Fonte: Vehicle Extrication Levels I & II: Principles and practice

212
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Diante disto tem-se que a estabilização é responsável por criar uma plataforma
de trabalho equilibrada, neutralizando o sistema de suspensão do veículo. É
fundamental garantir a estabilização do veículo antes do início das operações de
resgate.
A equipe de salvamento veicular deve antever as etapas, visualizando os riscos
e procedimentos operacionais. Neste ponto, é fundamental, entre outros, que as
estratégias de estabilização utilizadas não prejudiquem de forma alguma, os planos
de retirada da vítima: plano emergencial (B) e plano padrão (A).
Como é sabido pela guarnição, o processo de estabilização é dinâmico,
devendo ser realizada e pensada como um algo contínuo, tendo que ser revisado pela
logística da equipe de forma progressiva, sempre que houver alguma possibilidade de
alteração na estrutura do veículo ou alteração de carga.

10.2.4.1.1 Fases principais para a estabilização

a) Estabilização Manual
Os membros da guarnição utilizam as mãos para reduzir a movimentação do
veículo. Apenas deverá ser considerada quando existe a necessidade de um acesso
rápido ao veículo para realizar uma intervenção de salvamento, por exemplo, para
desobstruir a via aérea da vítima. Para um veículo sobre as rodas, esta ação pode ser
realizada “suportando” o veículo sob as caixas das rodas, para impedir a
movimentação da suspensão do veículo.

b) Utilização de blocos e cunhas


É geralmente suficiente para um veículo sobre as rodas. Devem ser colocados
blocos nos pontos de colocação do ‘macaco’ para aumentar a estabilidade, bem como
sob os pilares B. Também é recomendado estabilizar sob a traseira do veículo. Assim,
a estabilidade será mantida durante todas as fases de um desencarceramento.
Verificar novamente a estabilidade:
− Quando é removido peso do veículo (remoção de vidros ou portas);
− Quando é adicionado peso (pessoal ou equipamento no interior do veículo;
− Quando estão envolvidos veículos de grandes dimensões que possam
transportar uma carga, a estabilidade será mais crucial e deverá ser considerada a
213
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

nomeação de uma pessoa para monitorar a estabilidade durante todo o salvamento


(se os recursos permitirem) – geralmente o encarregado de logística.
Lembre-se que a estabilidade proporciona a plataforma sólida necessária para
o acesso inicial ao veículo. O nível de estabilidade implementado na fase inicial
depende totalmente do estado da vítima e tem de ser tido em conta.
A prioridade em termos da vítima consiste na redução do movimento de modo
a reduzir ainda mais o trauma cervical e pélvico.
É sempre importante verificar a estabilização de modo contínuo, como já foi
falado, porém utilizando equipamento adequado, como um martelo de borracha por
exemplo. Evitar utilizar os pés, pois não dão garantia para o procedimento.

Figura 198 - Colocação de cunhas e Colocação de calços


Fonte: MTSE - SP

Figura 199 - Sistema de três e quatro apoios


Fonte: MTSE - SP

214
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AÇÃO CONSIDERAÇÕES EQUIPAMENTOS IMAGEM


VÍTIMA CONSCIENTE

Colocar duas - Assegurar que as


cunhas em 1 ou 2 cunhas são suficientes
- 2 cunhas
rodas para impedir para impedir
movimentações. movimentação

Estabelecer um
- É mais adequada
lado de trabalho e
colocar as cunhas e os
colocar blocos e
blocos no lado de
cunhas sob os
trabalho uma vez que - Blocos e cunhas /
pilares A e B, bem
não constituem risco de Calços
como
tropeçar (também
imediatamente à
podem ser usados
frente da roda
calços)
traseira.

No lado oposto ao
lado de trabalho
colocar blocos e
- Se não estiverem
cunhas sob os
disponíveis blocos e - Blocos e cunhas /
pilares A e B, bem
cunhas suficientes, Calços (escalonados)
como
estabilizar sob o pilar B
imediatamente à
frente da roda
traseira

- Assegurar que o calço


está em contato com a
Colocar um calço
parte estrutural do
(invertido)sob a - Calço (escalonado)
veículo (e não como
traseira do veículo
para-choques de
plástico)

VÍTIMA INCONSCIENTE

No mínimo, 2
socorristas
- O objeto do suporte é,
“suportam o
se possível, limitar a - Nenhum, apenas
veículo segurando
movimentação manual
as cavas das
- Não levantar o veículo
rodas (guarda –
lamas)

215
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

O socorrista entra - Quando a vítima


no veículo para estiver estabilizada,
avaliar a vítima e pode ser iniciada a - Nenhum, apenas
realizar a estabilização total, manual
intervenção conforme explicado
necessária pormenorizadamente
Tabela 7 - Métodos de estabilização sobre quatro rodas
Fonte: Manual de Salvamento Veicular do CBMERJ

10.2.4.2 Veículo sobre a lateral

É sabido que a estabilidade e o acesso iniciais não só permitem que o médico


realize um reconhecimento inicial e quaisquer intervenções de salvamento, mas
também permite a determinação do nível de encarceramento. Isto é extremamente
importante, uma vez que, sem estas informações, o comandante de socorro não pode
estabelecer um plano de desencarceramento.

10.2.4.2.1 Três fases da estabilização de um veículo lateralizado

a) Estabilização manual:
Os membros da guarnição utilizam as mãos para reduzir a movimentação do
veículo. Apenas deverá ser considerada quando existe necessidade de um acesso
rápido ao veículo para realizar uma intervenção de salvamento. Para um veículo sobre
a lateral, este procedimento pode ser realizado “suportando” o veículo em cada canto,
de modo a impedir qualquer movimentação desnecessária.
b) Utilização de blocos e cunhas:
Para um veículo sobre a lateral, as cunhas e os blocos devem ser colocados
sob os pilares A, B e C (no lado inferior do veículo). Poderá também ser necessário
utilizar cunhas noutras áreas, tais como ao longo da soleira inferior por baixo do
veículo.
c) Utilização de equipamento suplementar:
Na eventualidade de um veículo ficar lateralizado, recomenda-se a utilização
de um equipamento adicional, tal como escoras de estabilização de veículos. Este tipo
de equipamento aumenta a superfície de apoio do veículo, aumentando assim a
segurança da operação e, consequentemente, a estabilidade.

216
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

10.2.4.2.2 Quando verificar novamente a estabilidade

a) Quando é removido peso do veículo (remoção de vidros ou portas);


b) Quando é adicionado peso (pessoal ou equipamento no interior do
veículo);
c) Quando estão envolvidos veículos de grandes dimensões que possam
transportar uma carga, a estabilidade será mais crucial e deverá ser considerada a
numeração de uma pessoa para monitorar a estabilidade durante todo o resgate (se
os recursos permitirem).
Lembre-se que a estabilidade proporciona a plataforma sólida necessária para
o acesso inicial ao veículo. O nível de estabilidade está total e diretamente relacionado
ao quadro da vítima, podendo ser feita de forma completa, ou apenas
emergencialmente para a extração rápida, sempre após análise do profissional de
saúde que irá sinalizar ao comandante de socorro.

AÇÃO CONSIDERAÇÕES EQUIPAMENTOS IMAGEM


VÍTIMA CONSCIENTE

- Assegurar que as
Colocar blocos e
cunhas e os blocos são
cunhas sob os
colocados nos pilares e - Blocos e cunhas/
pilares A,B e C na
NÃO no vidro (também calços
parte inferior do
podem ser utilizados
veículo
calços) /

Posicionar 2
- Posicionar e apertar
escoras de - 2 escoras de
simultaneamente para
estabilização de estabilização de
impedir a movimentação
veículos por baixo veículos
do veículo
do veículo
/

VÍTIMA INCONSCIENTE

No mínimo, 2
socorristas - O objeto do suporte é,
“suportam o se possível, limitar a - Nenhum, apenas
veículo segurando movimentação manual
a traseira e a
dianteira

217
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

O socorrista entra
- Quando a vítima estiver
no veículo para
estabilizada, pode ser
avaliar a vítima e - Nenhum, apenas
iniciada a estabilização
realizar a manual
total, conforme explicado
intervenção
pormenorizadamente
necessária

Tabela 8 - Métodos de estabilização lateralizado


Fonte: Manual de Salvamento Veicular do CBMERJ

10.2.4.3 Veículo capotado

10.2.4.3.1 Três fases da estabilização de um veículo capotado

- Estabilização manual: Os membros da guarnição utilizam as mãos para


reduzir a movimentação do veículo. Apenas deverá ser considerada quando existe
necessidade de um acesso rápido ao veículo para realizar uma intervenção de
salvamento. Para um veículo capotado, este procedimento pode ser realizado
“suportando” o veículo em cada canto, de modo a impedir qualquer movimentação
desnecessária.

- Utilização de blocos e cunhas: Para um veículo capotado, as cunhas e


os blocos devem ser colocados ao longo da linha do teto (preferencialmente os calços
escalonados). Poderá também ser necessário utilizar cunhas noutras áreas, tais como
na zona onde o pilar A entra em contato com o piso.

- Utilização de equipamento suplementar: Na eventualidade de um


veículo ficar capotado, recomenda-se a utilização de um equipamento adicional, tal
como escoras de estabilização de veículos. Este tipo de equipamento aumenta a
superfície de apoio do veículo, aumentando assim a segurança da operação e,
consequentemente, a estabilidade.

10.2.4.3.2 Quando verificar novamente a estabilidade?

a) Quando é removido peso do veículo (remoção de vidros ou portas);

218
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

b) Quando é adicionado peso (pessoal ou equipamento no interior do


veículo);
c) Quando estão envolvidos veículos de grandes dimensões que possam
transportar uma carga, a estabilidade será mais crucial e deverá ser considerada a
numeração de uma pessoa para monitorar a estabilidade durante todo o resgate (se
os recursos permitirem).

Lembre-se que a estabilidade proporciona a plataforma sólida necessária para


o acesso inicial ao veículo. O nível de estabilidade está total e diretamente relacionado
ao quadro da vítima, podendo ser feita de forma completa, ou apenas
emergencialmente para a extração rápida, sempre após análise do profissional de
saúde que irá sinalizar ao comandante de socorro.

219
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AÇÃO CONSIDERAÇÕES EQUIPAMENTOS IMAGEM


VÍTIMA CONSCIENTE

Colocar blocos e
- A melhor solução é a
cunhas ao longo das
colocação invertida - Blocos e cunhas/
barras traseiras do
dos blocos calços
teto em ambos os
escalonados
lados do veículo

- Posicionar e apertar
Colocar cunhas no simultaneamente para
- Blocos e cunhas/
espaço entre o pilar impedir a
calços
A e o piso movimentação do
veículo
- Assegurar que o
Colocar 2 escoras posicionamento das
de estabilização de escoras de - 2 escoras de
veículos, uma em estabilização de estabilização de
cada lado da parte veículos não impede o veículos
traseira do veículo acesso pelas portas
traseiras

VÍTIMA INCONSCIENTE

- O objeto do suporte
No mínimo, 2
é, se possível, limitar
socorristas
a movimentação - Nenhum, apenas
“suportam o veículo
- Não levantar o manual
segurando a
veículo
traseira e a dianteira

O socorrista entra - Quando a vítima


no veículo para estiver estabilizada,
avaliar a vítima e pode ser iniciada a - Nenhum, apenas
realizar a estabilização total, manual
intervenção conforme explicado
necessária pormenorizadamente /
Tabela 9 - Métodos de estabilização de veículo capotado
Fonte: Manual de Salvamento Veicular do CBMERJ

220
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

10.2.4.4 Estabilidade complexa dos veículos

Acidentes que requeiram um plano de estabilidade complexo são um pouco


menos comuns de ocorrerem.

Figura 200
Fonte: CBMERJ

10.2.4.4.1 Princípios fundamentais de estabilidade em cenários complexos

Entretanto, são uma realidade e temos que estar preparados para este tipo de
cenários tendo as competências e os equipamentos adequados, bem como uma
compreensão fundamental dos princípios de estabilidade e do motivo pelo qual é
efetuada:
a) reduzir riscos de lesões adicionais nas vítimas envolvidas, impedindo a
movimentação e, consequentemente, protegendo contra trauma cervical ou pélvico
adicional;
b) fornecer uma plataforma sólida para as intervenções da equipe do ASE;
c) fornecer uma plataforma sólida para a utilização de ferramentas
hidráulicas e para impedir a deformação adicional do veículo.

10.2.4.4.2 Equipamentos adicionais

Poderão ser utilizados quando é necessário efetuar uma estabilidade


complexa. Podemos incluir:
a) blocos e cunhas adicionais / armação em madeira;
b) escolas de estabilização de veículos adicionais;
c) fitas ou cintas catracas, lingas de tecido reforçadas;

221
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

d) sistemas de escoramento de emergência;


e) guinchos;
f) almofadas de elevação de alta / baixa pressão;
g) gruas;
h) outros.

10.3 Técnicas de salvamento veicular

10.3.1 Manejo com vidros

O acesso inicial à vítima, em muitas situações, é realizado pelos vidros,


tornando-se a maneira mais rápida para efetuar o primeiro atendimento. Esse manejo
deve ser realizado de forma lógica e segura e deve ser totalmente concluído antes de
realizar outras ações, como a criação de espaços. Em geral, quando se fala em
gestão/manejo de vidros, sugere-se tentar o mais simples para depois o complexo:
abaixar os vidros, retirar os vidros e por último quebrar/cortar os vidros.
Nos veículos em geral, podemos ter diversos tipos de vidro, como:

10.3.1.1 Temperados

São encontrados geralmente nas janelas laterais e no vidro traseiro. Esse vidro
é construído através de um processo específico térmico que aumenta sua dureza e
resistência mecânica. Quando quebrado, se estilhaça em pedaços pequenos o que
diminui a chance de causar ferimentos nas vítimas, não podendo ser cortado ou
partido e é menos flexível que o laminado. Até o final dos anos 80, o vidro temperado
era utilizado também nos pára-brisas
Com o aumento da rigidez das legislações de trânsito na Europa e nos Estados
Unidos, os vidros temperados estão sendo substituídos por vidros de segurança
(security glass), a fim de evitar ejeções e consequentemente, mortes no trânsito.
Esses vidros possuem uma película e agem de forma similar ao vidro laminado.

222
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Figura 201
Fonte: CBMERJ

10.3.1.2 Laminados

O vidro laminado é composto por duas ou mais placas de vidro, que são unidas
por uma ou mais camadas intermediárias de polivinil butiral (PVB), impedindo a
projeção de estilhaços quando quebrado (ABRAVIDRO, 2018). Normalmente é
encontrado no pára-brisa, sendo necessário em geral cortá-lo ou retirá-lo por inteiro,
nas ações de salvamento veicular.

Figura 202 - Vidro laminado


Fonte: CBMERJ

10.3.1.3 Blindados

Com o crescimento da violência urbana no país, o uso de vidros blindados


223
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aumentou consideravelmente. Esses vidros são formados por camadas intercaladas


de vidros e películas plásticas. O número de camadas, sua espessura e a composição
dos materiais variam conforme o calibre do projétil que ele deverá suportar. As lâminas
de vidros normalmente possuem entre 4 a 8 mm de espessura, possuindo películas
de polivinilbutiral (PVB), poliuretano (PU) e policarbonato (PC).

Figura 203 - Vidro blindado


Fonte: https://abravidro.org.br/vidros/vidro-blindado/

10.3.1.4 Policarbonato

Não é um vidro, mas sim um plástico. Em relação aos vidros, é em geral 50%
mais leve e mais resistente, porém absorve menos energia e dificulta o acesso ao
veículo pelo fato de não quebrar e sim deformar. É comum encontrá-lo nas laterais e
na traseira de veículos esportivos, que necessitam de desempenho.

Figura 204 - Policarbonato no pára-brisa


Fonte: https://info.glass.com/polycarbonate-race-car-windshield/

224
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10.3.2 Remoção de vidros

No Brasil, os vidros eram encaixados nas guarnições dos veículos, até meados
da década de 90. Por isso, é possível que o bombeiro militar se depare ainda com
veículos com pára-brisas encaixados, por exemplo. Dessa forma será mais rápido e
lógico, retirá-lo por inteiro do que cortá-lo, retirando a borracha que envolve o mesmo
utilizando-se de chaves de fenda anguladas, por exemplo.

10.3.3 Quebra de vidros

Como consequência do processo de fabricação do vidro temperado, em geral


quando ele é quebrado, é libertada uma grande energia. Seguem recomendações
para a quebra dos mesmos:
a) Providencie uma lona, para que fique logo abaixo do vidro desejado;
b) após a quebra retire a lona junto os estilhaços do local;
c) A vítima e os socorristas que estiverem dentro do veículo,
preferencialmente, devem estar cobertos por cobertores plásticos (proteção maleável)
transparentes, antes da quebra do vidro;
d) Quebre o vidro realizando uma punção no vidro, podendo ser utilizado,
de preferência punção quebra vidros, machadinha ou halligan. Recomenda-se que
seja o lado inferior do vidro que esteja mais distante da vítima;
e) Após quebrar, retirar a moldura (borracha) e os estilhaços com uma
ferramenta ou com as luvas técnicas, desde que com uma proteção sobre elas (luva
sobre luva ou proteções tipo lona), projetando para fora do veículo, em cima da lona.

10.3.4 Corte de vidros

Os pára-brisas de veículos fabricados a partir de meados da década de 90 já


são montados de forma que são colados junto à moldura da janela frontal do veículo.
Sua retirada se faz através do corte, o qual gera sílica (poeira de vidro) exigindo que
os bombeiros estejam protegidos com máscara PFF2, seguindo a sequência abaixo:
a) uso da serra-sabre:
− Estar com todo o EPI necessário (máscara PFF2, luvas técnicas, óculos
de segurança, capacete com viseira abaixada e roupa de proteção a
incêndios/salvamento);
225
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− Vítimas e socorristas devem estar protegidos por proteção maleável;


− Realizar um orifício de acesso, na parte superior do pára brisa, com a
ponta de uma machadinha/halligan;
− Posicionar a lâmina da serra-sabre no orifício e realizar o corte até a
metade mais próxima do técnico que opera o equipamento;
− Realiza-se uma pausa na utilização da serra-sabre e outro técnico do
outro lado do veículo assume o equipamento e continua o corte já iniciado;
− Ao final do processo, retire o vidro com segurança e coloque na área de
descarte;
− Proteger as quinas vivas e extremidades que possam causar danos aos
socorristas;
− O corte pode ser efetuado por um único bombeiro, na ausência de outro
técnico, realizando o corte sobre o caput do veículo.

b) uso da machadinha/halligan
− Estar com todo o EPI necessário (máscara PFF2, luvas técnicas, óculos
de segurança, capacete com viseira abaixada e roupa de proteção a
incêndios/salvamento);
− Vítimas e socorristas devem estar protegidos por proteção maleável;
− Realizar um orifício de acesso, na parte superior do pára brisa, com a ponta
de uma machadinha/halligan;
− Posicionar a machadinha/halligan no orifício e realizar o corte (utilizando a
lâmina) até a metade mais próxima do técnico que opera o equipamento;
− Realiza-se uma pausa na utilização da machadinha/halligan e outro técnico
do outro lado do veículo assume o equipamento e continua o corte já iniciado;
− Ao final do processo, retire o vidro com segurança e coloque na área de
descarte;
− Proteger as quinas vivas e extremidades que possam causar danos aos
socorristas;
− O corte pode ser efetuado por um único bombeiro, na ausência de outro
técnico, realizando o corte sobre o caput do veículo.

226
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10.3.5 Abertura de portas laterais

Essa técnica é utilizada para, dependendo do cenário encontrado, criar um


acesso inicial para o socorrista, acessar colunas para corte e até mesmo realizar a
retirada de uma vítima. Deve-se partir do mecanismo mais simples para a abertura
das mesmas, como destravar a porta e abri-la de forma habitual.
Uma dificuldade imposta aos técnicos é o apoio necessário para que as
ferramentas possam fazer a abertura desejada. Pode-se criar esse apoio de várias
maneiras, como:
Uso do halligan/pé-de-cabra: Posicionar a cunha da ferramenta no friso da
moldura da porta, podendo ser pela parte frontal da porta (dobradiça) ou pela parte
traseira da porta (fechadura). Após, realizar um giro para cima e para baixo de forma
que provoque um amassado junto à porta;
Apoio do alargador junto ao teto e à porta: O acionamento do alargador propiciará
uma fenda próxima da fechadura, nos casos de veículos sobre rodas ou lateralizados.
Comprimir a fechadura e realizar “pinçamento” na lateral da porta: Inicialmente
deve-se colocar o alargador de modo perpendicular a linha horizontal da porta,
inserindo-o de modo que a ponta do alargador fique no centro da fechadura,
realizando a ação de comprimir a porta, até que um espaço entre a moldura da porta
e a estrutura do próprio veículo. Logo depois, realiza-se um pinçamento da lateral da
porta, girando para fora, de modo que o espaço aumente.
Acesso à dobradiças após amassar o pára-lama: Posiciona-se o alargador
aberto sobre o pára-lama e inicia-se a compressão do mesmo para realizar abertura
de acesso junto às dobradiças.

a) Fechadura
A abertura pela fechadura exige uma atenção em especial quanto ao
desfolhamento da porta, nas situações em que o apoio para o alargador não foi
suficiente, sobrecarregando a extremidade da porta e não a estrutura veicular como
um todo. Para a abertura é necessário que:
a.1) os vidros devem ter sido gerenciados;
a.2) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
a.3) obter um ponto de apoio para a ferramenta;

227
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

a.4) acionar no movimento de abertura, buscando visualização da fechadura,


reposicionando sempre que necessário, buscando o desencaixe do pino nader;
a.5) caso seja suficiente rebater a porta, deverá então apenas cortar o limitador
de porta e imprimir uma força tratora (com 2 técnicos) no sentido da dianteira
do veículo, ancorando a mesma ao final do movimento;
a.6) caso deseje retirar a porta, pode-se retornar ou não a mesma na posição
original e atacar as duas dobradiças, primeiro a superior, depois a inferior,
sendo obrigatório que algum técnico possa estar suportando o peso da mesma
para que não caia deliberadamente;
a.7) retirar a porta e levar para a área de descarte;
a.8) proteger riscos aparentes.

b) Dobradiças
A probabilidade do desfolhamento é menor, porém a exposição da dobradiça
também é reduzida. Seguem os procedimentos:
b.1) os vidros devem ter sido gerenciados;
b.2) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
b.3) obter um ponto de apoio para a ferramenta;
b.4) busque utilizar o alargador entre o pára-lama e a porta, atacando
inicialmente acima da dobradiça superior e logo após, acima da dobradiça
inferior;
b.5) se a porta não abrir manualmente, será necessária a utilização da
ferramenta para separação da fechadura do pino nader.
b.6) retirar a porta e levar para a área de descarte;
b.7) proteger riscos aparentes.

10.3.6 Abertura e retirada de porta malas

A abertura do porta malas vem ganhando importância após a doutrina da


extração de vítimas em ângulo zero. Sugere-se as seguintes ações:
Os vidros devem ter sido gerenciados;
a) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
b) verificar se a porta está aberta, experimentando primeiro as soluções
mais simples. existem maneiras, internamente, de realizar a abertura da fechadura
228
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

com uso de ferramentas simples como uma chave de fenda, por exemplo, caso o
socorrista já tenha entrado no veículo e o porta malas seja uma rota de extração
desejada;
c) essa abertura interna pode ser realizada após retirada da cobertura de
plástico que geralmente funciona como acabamento do veículo;
d) apoiar a parte inferior do alargador em uma base sólida (um calço por
exemplo) e a parte superior embaixo do porta-malas. deve-se evitar usar o pára-
choque traseiro, pois o mesmo não suportará a pressão, se deformando ou até mesmo
se desconectando do veículo;
e) após a abertura do porta-malas, busca-se retirar os amortecedores,
evitando cortar o cilindro, posicionando sobre o pistão do mesmo, ainda sendo mais
recomendável retirá-los, removendo clipes que ficam em sua base;
f) realizar o corte da parte superior da porta do porta-malas em ambos os
lados. caso o acesso não seja possível, pode-se também cortar as dobradiças
superiores que conectam o porta-malas ao teto do veículo;
g) retirar a porta e levar para a área de descarte;
h) proteger riscos aparentes.

10.3.7 Criação da grande porta

Também conhecida como “side removal”, essa técnica é utilizada para criação
de considerável espaço lateral no veículo de quatro portas, para extração final de
vítimas. Seguem as ações recomendadas:
a) os vidros devem ter sido gerenciados;
b) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
c) realizar a abertura da porta traseira, do lado desejado, pela fechadura;
d) cortar o cinto de segurança do lado que se deseja realizar a técnica;
e) cortar o topo da coluna b e depois cortar a base da coluna b, junto à
caixa de ar.
f) para aperfeiçoar o corte na base da coluna b, pode-se usar o alargador
para aumentar o corte realizado, separando a base da coluna b da porta, rasgando-a.
g) abrir toda a lateral como se fosse uma única porta;
h) se desejar retirar a grande porta, deverá romper as duas dobradiças da
porta dianteira;
229
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

i) retirar a porta e levar para a área de descarte;


j) proteger riscos aparentes.

Figura 205 - Grande Porta


Fonte: CBMAP

10.3.8 Confecção da terceira porta

Técnica utilizada exclusivamente em veículos de duas portas, nas situações


onde possam existir vítimas no banco traseiro. Os procedimentos são:
a) os vidros devem ter sido gerenciados;
b) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
c) retire ou faça a abertura da porta dianteira do referido veículo e do lado
desejado para efetuar a operação;
d) com o uso do cortador, realizar um corte profundo horizontal na base da
coluna b em direção à traseira do veículo (rente à caixa de ar);
e) realizar um corte completo no topo da coluna b;
f) realizar um corte vertical próximo a coluna c, alinhado com o banco
traseiro, o mais profundo possível, utilizando o cortador e, sendo necessário, serra-
sabre;
g) rebater a terceira porta para fora do veículo. essa manobra admite
algumas opções;
h) pode-se utilizar o alargador apoiado na base do banco e na base da
coluna b;
i) pode-se utilizar o extensor apoiado na base do banco ou no túnel central
do veículo junto ao assoalho e a outra extremidade junto na metade da coluna b, junto
à porta;
j) pode-se ainda prender a ponta do alargador junto a moldura da janela e
projetar ela para fora do veículo;
k) proteger riscos aparentes.
230
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 206 - Terceira Porta


Fonte: CBMAP

10.3.9 Manobras com o teto do veículo

a) Rebatimento
Existem diversas maneiras de realizar um rebatimento de teto. Deve-se levar
em conta a posição na qual o veículo se encontra e a localização das vítimas no
interior do mesmo. O rebatimento propicia maior iluminação dentro do veículo e
grande espaço para trabalho por parte dos socorristas.

b) Rebatimento parcial para trás


Realizado nas situações em que a vítima está localizada nos bancos dianteiros,
propiciando espaço interno regular. A seguir, as ações previstas:
a) os vidros devem ter sido gerenciados (inclusive o pára-brisa);
b) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
c) realizar o corte nas colunas, na seguinte ordem:
− Coluna “A” (preferencialmente do lado oposto da vítima);
− Corte de alívio no teto junto à coluna “B” (preferencialmente do lado
oposto da vítima);
− Coluna “A” do lado da vítima;
− Corte de alívio no teto junto à coluna “B” do lado da vítima;
− Os cortes nas colunas devem ser realizados, preferencialmente, na
parte inferior da mesma;
− Pode-se realizar um vinco no teto para facilitar o rebatimento, utilizando
uma prancha rígida, por exemplo;

231
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

− Após o rebatimento, fixe o teto com cabos, para evitar o retorno


desnecessário do mesmo;
− Proteger riscos aparentes.

Figura 207 - Rebatimento parcial para trás


Fonte: CBMAP

c) Rebatimento total para trás


Realizado nas situações em que a vítima está localizada nos bancos dianteiros,
propiciando espaço interno maior que o rebatimento parcial. A seguir, as ações
previstas:
a. os vidros devem ter sido gerenciados (inclusive o pára-brisa);
b. proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
c. realizar o corte nas colunas, na seguinte ordem:
− Coluna “A” (preferencialmente do lado oposto da vítima);
− Coluna “B” (preferencialmente do lado oposto da vítima);
− Corte de alívio no teto junto à coluna “C” (preferencialmente do lado
oposto da vítima);
− Corte de alívio no teto junto à coluna “C” do lado da vítima;
− Coluna “B” do lado da vítima;
− Coluna “A” do lado da vítima;
− Os cortes nas colunas devem ser realizados, preferencialmente, na
parte inferior da mesma;
− Pode-se realizar um vinco no teto para facilitar o rebatimento, utilizando
uma prancha rígida, por exemplo;

232
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

− Após o rebatimento, fixe o teto com cabos, para evitar o retorno


desnecessário do mesmo;
− Proteger riscos aparentes.

Figura 208 - Rebatimento total para trás


Fonte: CBMAP

d) Rebatimento total para frente


Técnica utilizada comumente em situações onde as vítimas encontram-se no
banco traseiro. As ações recomendadas são:
a) os vidros devem ter sido gerenciados (menos o pára-brisa);
b) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
c) realizar os cortes na seguinte sequência:
d) corte total coluna “c” (preferencialmente do lado oposto da vítima);
e) corte total coluna “b” (preferencialmente do lado oposto da vítima);
f) corte de alívio no teto junto à coluna “a” (preferencialmente do lado
oposto da vítima);
g) corte de alívio no teto junto à coluna “a” do lado da vítima;
h) coluna “b” do lado da vítima;
i) coluna “c” do lado da vítima;
j) realize o rebatimento do teto para frente e fixe-o com cabos;
k) proteger riscos aparentes.

233
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 209 - Rebatimento total para frente


Fonte: CBMAP

e) Rebatimento lateral de teto


Técnica indicada quando o veículo encontra-se lateralizado e a equipe só tem
acesso às colunas de um lado do veículo. Seguem as ações:
a) os vidros devem ter sido gerenciados (menos o pára-brisa);
b) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
c) cortar as colunas na seguinte sequência:
d) corte da coluna “a”;
e) corte da coluna “b”;
f) corte da coluna “c”;
g) corte de alívio na parte dianteira e traseira do teto que se encontra mais
próximo do solo;
h) realizar o rebatimento do teto;
i) proteger riscos aparentes.

234
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 210 - Rebatimento lateral de teto


Fonte: CBMAP

f) Retirada de teto
Indicada nas situações que existem diversas vítimas nos bancos dianteiros e
traseiros do veículo, sendo o espaço criado crucial para o atendimento lógico e rápido.
Seguem as ações:
a) os vidros devem ter sido gerenciados (pode-se cortar apenas a parte
superior do pára-brisa, para ações mais rápidas);
b) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
c) realizar os cortes na seguinte sequência:
d) coluna “a” do lado oposto da vítima;
e) coluna “b” do lado oposto da vítima;
f) coluna “c” do lado oposto da vítima e assim até a última coluna existente;
g) coluna “c” do lado da vítima, ou iniciando pela última coluna existente;
h) coluna “b” do lado da vítima, nesse momento é necessário algum
bombeiro militar esteja apoiando o teto para que o mesmo não caia sobre as vítimas;
i) coluna “a” do lado da vítima;
j) verificar se o corte nas colunas foram feitos na parte inferior, para
conseguir maior espaço externo;
k) retirar o teto, levantando-o e levar para a área de descarte.
l) proteger riscos aparentes;

/
Figura 211 - Retirada de teto
Fonte: CBMAP

235
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

10.3.10 Técnica da Ostra

a) Ostra traseira
Técnica utilizada nas situações onde exista um veículo capotado, possibilitando
a saída da vítima pela traseira do veículo. Seguem as ações:
a) com o veículo corretamente estabilizado, evitar calços, blocos e cunhas
entre o teto do veículo e o solo;
b) os vidros devem ter sido gerenciados;
c) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
d) realizar a abertura ou a retirada da tampa do porta-malas;
e) posicionar dois extensores nas laterais traseiras do veículo (lado direito
e lado esquerdo) próximo da última coluna traseira. pode ser realizado apenas com
um extensor, desde que colocado no centro da traseira do veículo, porém pode
atrapalhar a rota de extração da vítima;
f) aplicar uma leve tensão nos extensores;
g) realizar o corte das duas colunas “c” (última coluna), observando a
integridade do veículo;
h) realizar o corte das duas colunas “b”, observando a integridade do
veículo;
i) desenvolver os extensores, preferencialmente, colocando calços
conforme vantagem obtida (estabilização progressiva);
j) proteger riscos aparentes.

/
Figura 212 - Ostra traseira
Fonte: CBMAP

b) Ostra lateral
236
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Técnica utilizada nas situações onde exista um veículo capotado, possibilitando


a saída da vítima pela lateral do veículo. Seguem as ações:
a) os vidros devem ter sido gerenciados;
b) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
c) retirar as duas portas (dianteira e traseira) do lado que se deseja realizar
a ostra;
d) posicionar o extensor junto à coluna “b”, apoiando entre o teto e a caixa
de ar;
e) acionar o extensor, provocando leve tensão;
f) cortar a coluna “b” tanto na parte superior como na parte inferior,
retirando-a por completo;
g) cortar as colunas “a” e “c” do lado que se deseja aplicar a técnica;
h) acionar o extensor, buscando desenvolvê-lo, levantando o veículo
lateralmente, alcançando o espaço desejado para retirada da vítima;
i) proteger riscos aparentes.

/
Figura 213 - Ostra lateral
Fonte: CBMAP

10.3.11 Rebatimento de painel

Técnica utilizada para livrar vítimas presas nas ferragens pela intrusão do
painel sobre seu corpo. Os passos para a correta execução da técnica são:
a) os vidros devem ter sido gerenciados;
b) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
c) retirar a porta dianteira do lado onde está a vítima;
d) certificar se a porta do lado oposto à vítima está aberta;
e) colocar calços sob as colunas “a” e “b” para utilização dos equipamentos;
f) o teto do veículo deve ter sido retirado ou rebatido;
237
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

g) utilize o cortador e realize um corte de alívio entre as dobradiças e outro


corte na base da coluna “a”, junto a caixa de ar do veículo;
h) aplique a base do extensor junto à parte inferior da coluna “b” e a outra
extremidade na coluna “a” (altura do painel do veículo). acione lentamente o mesmo,
inserindo os calços como estabilização progressiva; caso o extensor não consiga
alcançar o desenvolvimento desejado, pode-se utilizar bases, calços ou até mesmo o
alargador junto à caixa de ar para aumentar o alcance;
i) proteger riscos aparentes.

Figura 214 - Rebatimento de painel


Fonte: CBMAP

10.3.12 Criação de espaços internos

10.3.12.1 Manuseio de bancos

Os bancos podem ser gerenciados de forma manual ou até mesmo com o uso
de ferramentas hidráulicas ou serra-sabre. Importante atentar para as seguintes
ações:
a) Buscar verificar se os bancos se movimentam e se reclinam de forma
manual, com o simples acionamento dos dispositivos ao lado. Atentar para os casos
de bancos elétricos aos quais não funcionarão se a bateria tiver sido desligada;
b) Caso procure reclinar o banco da própria vítima, antes de realizar a
manobra, o socorrista deverá inserir entre o banco e ela, uma prancha curta para
238
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

manter a vítima na posição original e após o rebatimento do banco, descê-la


progressivamente junto à prancha;
c) Pode-se reclinar banco dianteiro que esteja vazio, para conquistar mais
espaços internos;
d) Quando o banco dianteiro ou traseiro não puder ser reclinado de forma
manual, pode-se utilizar o cortador nas 2 laterais traseiras do banco dianteiro, onde
encontram-se os suportes do mesmo, e após os cortes, recliná-lo. Será necessário
expor o suporte, retirando o tecido e acabamento próximo do mesmo;
e) Quando o banco for traseiro, pode-se utilizar também o alargador,
posicionando o mesmo junto às dobradiças do mesmo, via porta-malas;
f) Em diversos casos, pode-se utilizar cortadores ou serra-sabre pra retirar
o encosto de cabeça dos bancos, sendo uma ação rápida e que ajudará no
rebatimento do banco e na abordagem à vítima.

Figura 215 - Encosto de cabeça (esquerda) e ajuste de banco elétrico (direita)

Fonte: http://www.kiopman.com/headrest-31.html

10.3.12.2 Afastamento de pedal

Em cenários de salvamento veicular pode ocorrer a situação do motorista estar


com os pés presos pelos pedais do veículo. Nessa situação, utiliza-se,
preferencialmente, pelo espaço disponível, o mini cortador. Na falta deste
equipamento pode-se utilizar fitas tubulares ou cabos para efetuar o afastamento
conjugado com um alargador. Seguem as ações deste procedimento:
a) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
b) posicione o cortador fechado, de forma paralela à caixa de ar, junto à
coluna “a”;

239
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

c) contorne a ferramenta e o pedal desejado com a fita tubular ou cabo,


formando uma alça que fique justa nos dois pontos;
d) realize a manobra de abertura do alargador até que o pedal se mova
suficientemente para liberar o membro da vítima.

Figura 216 - Afastamento de pedal


Fonte: CBMAP

10.3.12.3 Elevação de volante

Em algumas situações, será necessário realizar a elevação do volante para


livrar a vítima do encarceramento. Seguem as ações:
a) verificar se o espaço entre o assoalho e a barra de direção permite a
inserção do cilindro;
b) proteger as pessoas no interior do veículo com o uso da proteção rígida;
c) posicionar o extensor entre a barra de direção e o assoalho,
preferencialmente, colocando um calço como apoio em sua base;
d) desenvolver o extensor para criar o espaço desejado.

240
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 217 - Elevação de volante


Fonte: CBMAP

10.4 Atendimento pré-hospitalar à vítima de acidente veicular

10.4.1 Riscos biológicos mais comuns

Os microrganismos de transmissão mediada por fluidos biológicos (sangue,


saliva, secreções respiratórias) aos quais os bombeiros militares mais comumente
estão expostos em atendimento pré-hospitalar são: vírus hepatotrópicos (hepatites
virais) B e C, vírus HIV, HTLV. Ao passo que meios líquidos contaminados com fezes
humanas podem transmitir vírus A da hepatite. Águas contaminadas com urina de
roedores podem transmitir a Leptospira, bactéria causadora da leptospirose, doença
que pode causar insuficiência renal, hepática e transtornos da coagulação.
Objetos perfurocortantes também trazem risco de infecção, sobretudo tétano,
doença grave que causa paralisia e espasmo muscular e morte por insuficiência
respiratória.

10.4.2 Medidas de bioproteção

As medidas de bioproteção se dividem em pré e pós-exposição. Dentre as


medidas pré-exposição, salientamos o uso do equipamento de proteção individual. As
luvas de proteção termomecânica conferem boa proteção biológica, entretanto, utilizá-
las no contato direto com fluido corporal da vítima resulta na necessidade de
desprezá-las, visto que não há técnica de desinfecção adequada que não as destrua.
Assim sendo, recomenda-se o uso de luvas de procedimento para o manuseio da
241
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vítima ferida ou expelindo qualquer fluido corporal. As luvas de procedimento podem


ser de nitrila ou látex. Ambas com tempo de quebra (permeação por água) em torno
de 23 a 27 minutos. Logo, devem-se carregar luvas reservas no traje e idealmente
trabalhar com no mínimo duas camadas de luvas. Profissionais alérgicos a látex
devem usar nitrila.
A proteção ocular é atendida pela viseira do capacete, a qual deve estar
abaixada durante todo o tempo do socorro. Atente-se que os técnicos e logístico (ver
adiante) devem utilizar preferencialmente capacetes dotados de viseira facial
completa (full face), visto que para estes militares o risco de projeção de partes do
veículo contra a face durante a operação de ferramentas, equipamentos e acessórios
(FEA) é maior.
A proteção respiratória inclui neste cenário, a necessidade de máscara PFF2
(N95) durante o gerenciamento de vidros, visto que a inalação crônica de poeira de
vidro pode causar silicose (fibrose pulmonar e insuficiência respiratória crônica).
É importante manter atualizada a vacinação contra Hepatite B e Tétano
(contato com a CCPIH do GSE ou em quaisquer postos de saúde que tenham setor
de vacinação). Guardar cartão de vacinação.
As medidas pós-exposição se resumem a lavagem do local exposto com água
e sabão (solução salina fisiológica ou água corrente se nos olhos) e uso dos
medicamentos de profilaxia (para HIV e hepatite B). Não há evidência de que o uso
de antissépticos ou a expressão do local do ferimento reduzam a transmissão. A
utilização de soluções irritantes está contraindicada.
Quanto ao protocolo de medicamentos pós-exposição, em caso de acidente
com perfurocortantes ou contato de olhos e boca com fluido biológico, solicitar apoio
à ASE, ingerir os comprimidos do kit antirretroviral, comunicar o acidente à chefia
imediata e ao coordenador médico da COGS e encaminhar-se ao HCAP (SPA) ao fim
do serviço para início do seguimento ambulatorial. Não se esquecer de cobrar a
abertura do atestado de origem. Os comprimidos devem ser ingeridos em até 72
horas, mas preferencialmente nas primeiras 2 horas da exposição. No HCAP também
será verificada a necessidade de medidas pós-exposição contra a hepatite B, cujo
risco de infecção é muito maior que o HIV.

242
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10.4.3 Definições de importância médica em salvamento veicular

10.4.3.1 Definição de extricação

Extricação conforme o procedimento operacional padrão do CBMERJ se refere:


A técnica especial para retirar vítima de situação da qual ela não poderia
sair sozinha sem risco inaceitável à integridade física, sobretudo da coluna
vertebral. Tal técnica pode incluir a orientação oferecida pelo socorrista
para que a vítima em condições possa se auto-extricar. (POP/ EMG 05 -
Abordagem à Coluna Vertebral no Trauma)

10.4.3.2 Os tipos de encarceramento segundo a World Rescue Organisation


(WRO) são:

a) tipo mecânico: vítima impedida de sair por si só do veículo devido a dano


na estrutura (uma porta bloqueada, por exemplo);
b) tipo físico I: lesões presentes na vítima que impedem sua saída por seus
próprios meios;
c) tipo físico II: vítima presa por parte do seu corpo que, no entanto, não
necessariamente está significativamente lesada.

10.4.3.3 Extricação centrada (focada) no paciente

Constitui a base fundamental da doutrina de salvamento veicular. O


entendimento do prognóstico tempo-dependente e da complexidade da anatomia
veicular leva à necessidade crescente de atuação sinérgica e harmoniosa entre
bombeiros combatentes e profissionais da saúde, executando simultânea e
organizadamente as tarefas necessárias para que a extricação e o tempo de cena
sejam o mais breve possível.

10.4.3.4 Segundo a gravidade da vítima, as modalidades de extricação são


divididas em:

a) rápida ou plano B, para vítimas graves (vias aéreas obstruídas,


respiração dificultosa/sinais de hipoxemia, hemorragia maciça não controlada/sinais
de choque circulatório ou alteração de consciência);

243
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

b) padrão ou plano A, para vítimas estáveis;


c) auto-extricação assistida (ver POP/ EMG 04 - Abordagem à Coluna
Vertebral no Trauma);
d) "de emergência”, para o caso de cenários onde abruptamente se faça
ativa alguma grave ameaça à segurança, a qual justifique retirada da vítima até área
abrigada (segura – zona morna/fria), e quando identificada parada cardiorrespiratória
(PCR), ainda que isto sem medidas de proteção à coluna vertebral.

10.4.4 Procedimentos iniciais (táticas de ação imediata) do socorrista

a) EPI para o socorrista


O EPI inclui luvas de procedimento, roupa de aproximação, luvas de proteção
termomecânica e capacete de salvamento veicular com viseira basculante.

b) Das luvas de proteção


Ao manusear a estrutura do veículo e quaisquer outros riscos mecânicos do
cenário, o bombeiro deve calçar as luvas de proteção termomecânica (pode ser raspa
de couro). Ao manusear a vítima, devem-se usar luvas de procedimentos para
proteção biológica, evitando que fluidos corporais contaminem e inutilizem as luvas
de proteção termomecânica. Esta alternância pode ser feita através da simples
substituição das luvas ou calçando as de procedimento sob as de proteção
termomecânica.

c) Dos capacetes utilizados pelo socorrista


A viseira deve permanecer abaixada até que se termine o atendimento à vítima.

d) EPI suplementares
Recomenda-se ainda que o socorrista porte lanterna montada ao capacete,
lanterna de mão, luvas de procedimento extras nos bolsos da aproximação, canivete
multifunção, corta-cintos, mini-Halligan ou chave de fenda.

10.4.4.1 Procedimento inicial

Proceder à avaliação multiprofissional em 360˚, identificando ameaças à

244
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segurança e reportando-as ao comandante de incidente, para promover a


estabilização da cena, mediante intervenções de mitigação de riscos (função dos
técnicos); avaliar o mecanismo de lesão, o número e posição das vítimas. Em colisões
com múltiplas vítimas encarceradas, pode ser necessário o uso da triagem reversa
(retirar primeiro a vítima em melhor estado clínico), quando mais de uma vítima
mostrar problema nos “ABCs”, já que, usualmente, só há uma equipe de salvamento
veicular, sobretudo no que tange à guarnição do ABS. Importante: nesta fase o
socorrista não deve tocar ou exercer peso sobre a estrutura do veículo, antes que seja
finalizada a estabilização primária (ver adiante), a qual será sinalizada pelo
comandante de incidente.

10.4.4.2 Sistematização das fases do salvamento veicular para o socorrista

a) Avaliação 360º das ameaças


Conclusão em 1 minuto, caso nenhuma medida de mitigação complexa seja
necessária; comandante, socorrista líder (S2) e logístico iniciam em sentido horário,
enquanto os demais, em sentido anti-horário, preferencialmente terminando o
socorrista líder próximo à(s) vítima(s), com a(s) qual(s) estabelece então contato
visual e verbal, iniciando a avaliação remota rápida (RAM) do AVDI-“ABC”, ao fim da
qual estima o tipo de encarceramento e o informa ao comandante; pode também
adiantar a coleta dos dados da “SAMPLA” (sintomas, alergias, medicações, passado
médico, último horário de ingesta de líquidos e alimentos). É fundamental acalmar a
vítima e evitar que mova a coluna em outra direção que não a do socorrista.

b) Estabelecimento da segurança:
Perímetro interno (2m) e externo (5m); controle dos riscos primários e
secundários.

c) Estabilização veicular primária (com gerenciamento de vidros) e


abertura rápida do acesso para o socorrista 1 (s1; meta= 2 minutos)

O objetivo é concluir a abordagem primária (ver detalhes adiante) e estabilizar


clinicamente a vítima, através de pelo menos (nível básico): (M) controle de
hemorragias maciças, (A) controle da via aérea, (R) oferta de oxigênio suplementar,
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

(C) pesquisar sinais de choque, proteção flexível contra vidros e hipotermia,


estabilização manual da coluna cervical e decisão quanto à restrição da coluna
(somente para militares a serviço do GSE). Meta= oxigênio, conclusão da abordagem
primária e confirmação do tipo de encarceramento até o 3˚minuto.
Não há necessidade absoluta de colocar o colar cervical no interior do veículo,
já que não dispensa a estabilização manual.
Enquanto o s1 estiver sozinho no interior do veículo, as medidas clínicas
enumeradas acima têm precedência sobre a estabilização manual da cabeça. No
entanto, é necessário orientar a vítima cooperativa a manter a cabeça na posição
(neutra) que o socorrista colocou.

d) Estabilização veicular secundária (com gerenciamento de vidros) e


entrada do socorrista 2 (s2), quando possível, mediante a extensão da deformidade
veicular e escassez de espaço. Objetivos: concluir a abordagem da vítima, proteção
e preparo para extricação.

e) Reunião tripartite - briefing pelo s2 do estado da vítima, seguindo o


método CRASH (ver adiante) e participação no planejamento da extricação. Meta=
conclusão em até 7 minutos.

f) Criação de espaço (trajeto) para a extricação e extricação da vítima.


Metas= execução do plano B em máximo de 10 minutos e plano A em máximo de 20
minutos; o plano A com 2 ou mais vítimas deve ser concluído idealmente em 30
minutos.

Todo plano de extricação deve incluir um plano B, mesmo que a vítima esteja
estável, visto que podem deteriorar suas funções vitais a qualquer momento, quando
o plano A deve ser abortado e convertido ao B. Por esta razão é importante sempre
aprontar o plano B antes de dar sequência à finalização do plano A. O mais ágil e
seguro é incorporar o plano B ao plano A, isto é, “B está contido em A”.

10.4.5 Tarefas e competências dos socorristas

O s1, primeiro socorrista a acessar a vítima, somente quando para isso liberado
246
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

pelo comandante, deve, tanto quanto possível, permanecer junto a ela, acalmando-a
e orientando a limitar movimentos ativos da cabeça, mantendo o alinhamento e
estabilização manual da coluna cervical, após medidas salvadoras. Quanto à
desobstrução da via aérea, deve-se introduzir precocemente a cânula naso ou
orofaríngea, para liberar as mãos do socorrista. A reavaliação dinâmica e periódica é
regra, monitorando continuamente a permeabilidade da via aérea, a expansão
torácica, a coloração dos lábios, a oximetria de pulso, o nível de consciência e o
controle aplicado sobre as hemorragias externas (caso haja).
O oxigênio suplementar só se faz necessário para manter o spO2 entre 94 e
98%. Deve ser ofertado via máscara facial com reservatório e válvula contra
reinalação. Apoiar o cilindro na horizontal para evitar queda durante a movimentação
da vítima e dos resgatistas.
É desejável que o s2 entre no veículo, para auxiliar o s1 a concluir a avaliação
e as intervenções que se fizerem necessárias, assim como para facilitar a extricação.
Todavia, deve-se ponderar se o benefício potencial da sua entrada sobrepuja o tempo
consumido para lhe criar espaço. Já que muitas vezes, principalmente em cenários
de carro sobre o lado, isto exige operação de expansão do teto.
A avaliação secundária (sinais vitais completos e avaliação crânio-podal) pode
e deve ser iniciada ainda dentro do veículo, caso haja tempo, enquanto se espera o
início da extricação. Porém não deve retardar a extricação.
Concluída a abordagem primária, o socorrista deve confirmar ao comandante
o grau de encarceramento estimado previamente no giro 360˚ e segue-se a reunião
tripartite, quando é passado o relatório C.R.A.S.H. (vide abaixo, 9.5.1). De acordo com
a gravidade da vítima, define-se o tipo de extricação adequado (auto-extricação
assistida, extricação rápida ou extricação padrão). De acordo com a
posição/orientação da vítima, escolhe-se o trajeto de extricação mais adequado.
O comandante deve manter contato verbal frequente com o socorrista líder, o
qual deve mantê-lo atualizado sobre a evolução da vítima. A partir de então, de acordo
com a estimativa do tempo para a conclusão do trajeto de extricação, deve-se
considerar a imobilização da pelve e fraturas de extremidades, obtenção de acesso
venoso, ressuscitação volêmica e infusão de analgésico.
Estes procedimentos não devem, contudo, retardar a retirada quando o trajeto
de extricação estiver pronto. Lembrando que acesso venoso, expansão volêmica e

247
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

analgésicos limitam-se aos oficiais médicos e enfermeiros, segundo os POP/EMG


pertinentes.

10.4.6 Abordagem sistematizada C.R.A.S.H.

RAM – riscos e “TORA”


a) M – controle de hemorragias externas Maciças;
b) A – controle da via Aérea/ O2 suplementar empírico inicial;
c) R – inspeção do padrão ventilatório (amplitude e ritmo), palpação da
base do pescoço e tórax, oximetria de pulso;
d) C – pesquisa de sinais de Choque, estabilização da pelve e ossos longos
e proteção flexível;
e) H – reavaliar nível de consciência, pupilas, motricidade e sensibilidade
das extremidades.

10.4.6.1 “TORA”

a) mecanismo de Trauma;
b) ocupantes (quantidade e posição);
c) responsividade e
d) “abc” remoto.

10.4.6.2 Via aérea

Em pacientes com via aérea obstruída por redução de consciência, deve-se


introduzir precocemente cânula naso ou orofaríngea, para liberar as mãos do
socorrista.

10.4.6.3 Respiração

Considerar a ausculta respiratória, visto que pode retardar itens mais


importantes da avaliação primária no contexto do ambiente ruidoso. Ver algoritmos de
assistência respiratória pré-hospitalar adiante.

248
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

10.4.6.4 Choque

Ver o algoritmo de abordagem primária adiante. Se houver sinais de choque,


deve-se considerar a estabilização da pelve e extremidades ainda dentro do veículo,
contanto que não retarde a extricação. E para isso, a presença dos dois socorristas
no interior da célula veicular pode ser necessária. Avaliar tempo x benefício. A
proteção flexível é sistematizada no “C” porque também serve de
prevenção/tratamento da hipotermia.

10.4.6.5 Head (cabeça).

É desejável que se afira o nível de consciência pela escala de Glasgow, visto


que é um dos parâmetros para decidir quanto à imobilização seletiva de coluna
(prerrogativa exclusiva de militares a serviço da ASE).

O relatório C.R.A.S.H. é um mnemônico que sintetiza quais informações o


socorrista necessita buscar e que intervenções realizar com relação à vítima.
a) avaliar e tratar disfunções críticas (“abcs”);
b) observar e informar sobre o uso de dispositivos de restrição (cinto de
segurança, airbags…);
c) avaliar as condições da cabine e posição/orientação da vítima;
d) examinar e estabilizar lesões suspeitas na coluna vertebral e
extremidades (fratura de bacia e membros); identificar e liberar o encarceramento de
membros;
e) h (help): sugerir o plano de extricação, com base nas informações
anteriores.

O plano de ação dos socorristas resume-se assim em: RAM-CRASH-MARCH.


Suspeita-se de fratura da bacia frente a mecanismo de lesão sugestivo, na
presença de sinais de choque circulatório ou dor nos quadris. Durante as manobras
de criação de espaço que preparam o trajeto de extricação, o socorrista tenta
imobilizar a bacia.

249
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 218 - Algoritmo (I) para a abordagem primária à vítima de trauma em geral.
Fonte: o autor. CBMERJ

Quando há múltiplas vítimas, faz-se necessária a triagem.


Regras básicas para promover a limpeza de secreções das vias aéreas:
rotação lateral da vítima em bloco para a aspiração/varredura digital da cavidade oral;
profissionais de APH devem consultar também o POP 02/EMG para mais orientações.
Ver algoritmo II para detalhes sobre assistência respiratória (para todas as
categorias profissionais do CBMERJ).

250
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Hemorragia maciça definida como fluxo ininterrupto de hemorragia.


Profissionais de APH devem consultar também o POP/EMG 07 - Choque
hemorrágico.
A primeira medida a se tomar para o controle de hemorragia externa maciça de
extremidades (distal à raiz do membro) é a compressão direta, enquanto se prepara
para a aplicação de torniquete. Hemorragia externa no pescoço e juncional (isto é,
nas regiões inguinais e axilares) não é passível à aplicação do torniquete, restando a
compressão direta com gaze convencional ou gaze com agente hemostático (tal como
chitozan, celox) por não menos que 3 minutos ininterruptos. O benefício adicional do
agente hemostático impregnado à gaze sobre a gaze convencional é questionável.
O curativo compressivo não é a forma ideal de hemostasia. Deve ser usado
quando é necessário liberar as mãos do socorrista em virtude de tarefa mais
emergencial ou quando há múltiplas vítimas.
Conceitos fundamentais para confecção/aplicação do torniquete (PHTLS 8a Ed
e TCCC 2016):
a) o ideal é o uso de torniquetes comercialmente disponíveis, visto
que publicações encontraram alta taxa de ineficácia com os improvisados; os
modelos recomendados pelo comitê de trauma do Colégio Americano dos
Cirurgiões são o C.A.T. e o SOFTT-W®, ambos torniquetes de barra de torção.
Também há a possibilidade de usar torniquete em banda (tipo S.W.A.T.®) ou
manguito pneumático (insuflar até a interrupção do sangramento);
b) a banda do torniquete deve ter ao menos 2 polegadas de largura
(5 cm);
c) deve ser aplicado um palmo fechado (2-3 polegadas) acima do
foco de hemorragia ou o mais proximal possível;
d) a pressão deve ser aplicada progressivamente até cessação do
sangramento e ausência do pulso arterial distal do membro lesado;
e) é seguro deixar o torniquete fechado por pelo menos até 120
minutos; após este período, caso ainda não se haja entregado a vítima ao
hospital, em caso de guarnição não avançada, obedecer à orientação do médico
regulador; no caso de guarnição avançada, a recomendação do Comitê de
Trauma do Colégio Americano dos Cirurgiões é afrouxar o torniquete e observar;

251
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

se a hemorragia recrudescer, apertá-lo e não mais afrouxar, até avaliação


hospitalar pelo cirurgião vascular;
f) caso se obtenha resultado parcial com a aplicação do torniquete, este
deve ser mais apertado ou um segundo pode ser aplicado proximal ao primeiro;
g) deve ser anotado no torniquete (ou na pele do membro do
paciente) com caneta de tinta resistente a água o horário da aplicação do
torniquete (padrão: “T=0715”, isto é, 07:15h);
h) aplicar torniquete proximal a qualquer amputação traumática.

O transporte das vítimas do ponto de lesão (local onde houve o trauma) até a
instalação de transporte definitivo se chama evacuação; a retirada da vítima da zona
quente (risco descontrolado) para abrigo (zona morna ou fria) se chama extração;
extricação se refere ao uso de técnica especial para retirar vítima de situação da qual
ela não poderia sair sozinha sem se expor a excessivo risco de agravamento das
lesões, sobretudo risco à integridade da coluna vertebral.
Vítimas de trauma contuso, incluindo acidente veicular, devem ser avaliados
para restrição seletiva da coluna vertebral. Isto é, nem todas têm indicação de
imobilização, no entanto, tal decisão é exclusiva de bombeiros militares do GSE.
Socorristas e demais combatentes atuando isoladamente necessitam manter a
restrição da coluna vertebral até segunda ordem. Os profissionais do GSE devem
seguir as orientações do algoritmo IV constante no POP/EMG 04 (Abordagem à
coluna vertebral em vítimas de trauma).

252
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 219 - Algoritmo (II) para a assistência respiratória pré-hospitalar.


Fonte: CBMERJ, com base em informações do PHTLS 8ª Ed.

Sinais de hipoxemia: agitação, spO2<90% e cianose (tardio). A cianose só


aparece quando a saturação de pulso (spo2) atinge 67% (nos oxímetros mais comuns
de duas bandas de frequência). É preciso haver ao menos 5g/dl de hemoglobina

253
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

insaturada, logo, vítimas em choque hemorrágico podem não apresentar cianose,


mesmo que haja hipoxemia. Também é difícil enxergar a cianose com pouca
luminosidade ou em pele escura.
No trauma, toda vítima agitada se encontra hipoxêmica até prova em contrário.
Atenção: na ausência de lesão do sistema respiratório, a oximetria de pulso pode se
mostrar normal em pacientes com intoxicação por monóxido de carbono ou cianeto
(lesão tóxica por inalação), aos quais deve ser oferecido oxigênio suplementar a
10l/min, com o intuito de acelerar a liberação do CO da hemoglobina. A maioria das
vítimas de intoxicação por CN (cianeto) também inalou CO, visto que o primeiro é fruto
da combustão do poliuretano, composto carbonado.
Iniciar a oferta de oxigênio a 10 l/min e titular, tão logo possível (pós-extricação),
com base na oximetria de pulso, cuja meta deve ser 90-94%.
Ver algoritmo III: POP/EMG 03 - Acesso avançado à via aérea – restrito aos
oficiais médicos e enfermeiros.
É preciso pesquisar a causa da insuficiência respiratória aguda, uma vez que
pode ser reversível. As causas traumáticas de insuficiência respiratória reversíveis no
pré-hospitalar são o pneumotórax hipertensivo, o ferimento aspirativo de tórax
(pneumotórax aberto) e a asfixia tóxica (CO). Porém em nível básico, só há permissão
para intervir nos dois últimos.
O tratamento do ferimento aspirativo de tórax consiste na oclusão e reavaliação
periódica, visto que pode se tornar hipertensivo. Caso ocorra piora progressiva da
dispnéia, retirar temporariamente a oclusão até que o desconforto ventilatório seja
novamente aliviado, então reaplicar a oclusão. Sugere-se, na ausência de kit adesivo
selante de tórax, gazes/bandagem/compressa impregnadas com petrolatum/parafina
pasta para fechar as fenestras do tecido. O curativo de três pontos não é mais
encorajado pelo Colégio Americano dos Cirurgiões. Inspecionar o lado contralateral
da vítima, para não passar despercebido um ferimento de saída.

254
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

10.4.7 Casos especiais de configuração da equipe de salvamento veicular

10.4.7.1 Enquanto bombeiros militares da ASE não cheguem à cena

a) Vítima grave
Deve ser executada a retirada rápida, mantendo a coluna vertebral protegida.
Justifica-se pela necessidade de intervenções médicas salvadoras.

b) Vítima estável, porém em pânico


Caso a vítima não se acalme conversando com o combatente e haja demora
prevista para a chegada da ASE, deve ser retirada por extricação padrão, mantendo
a proteção da coluna vertebral.

c) Vítima estável e calma


Acalmar a vítima no veículo, mantendo-a no interior do veículo onde há mais
conforto e proteção das intempéries, manter a coluna vertebral protegida e aguardar
a chegada da ASE ao local.

10.4.7.2 Bombeiros militares da ASE presentes.

Seguir protocolo de imobilização seletiva da coluna vertebral (POP/EMG 04).

10.4.7.3 Ameaça à segurança incontrolável ou vítimas irresponsivas, qualquer


configuração da equipe.

Estabilização e extricação de emergência.

10.4.7.4 Assistência básica à parada cardiorrespiratória (PCR)

Repetindo, vítimas suspeitas de PCR devem ser primeiramente extricadas,


para que o suporte à vida seja prestado fora da atmosfera de risco ou do espaço
restrito. Suspeita-se de PCR quando a vítima apresenta apneia, inconsciência e
ausência de pulso carotídeo, no entanto, na impossibilidade de confirmar este último,
bastam os dois primeiros sinais.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 220 - Algoritmo de assistência básica à parada cardiorrespiratória.


Fonte: CBMERJ

Legenda:
RCP= ressuscitação cardiopulmonar;
DEA= desfibrilador automático externo;
RCE= recuperação da circulação espontânea.

Assim que for suspeita a PCR, o apoio da ASE deve ser solicitado, caso ainda
não esteja no local. A RCP deve ser mantida até a chegada da ASE ou exaustão dos
resgatistas. O líder do socorro pode solicitar orientação médica à COGS, enquanto os
demais militares executam a RCP. A cada 2 minutos de RCP (ou 5 ciclos de 2:30), o

256
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

militar que presta compressão torácica deve revezar com o que ventila, para postergar
a fadiga e manter o rendimento da compressão Lembrando, a sequência de manobras
em PCR de natureza asfixia mantém-se “ABC”, ou seja, desobstrução de via aérea
superior >> suporte ventilatório >> compressões torácicas, com relação
ventilação/compressão 2:30 e compressões à frequência de 100 a 120/min e 5cm de
profundidade, permitindo o relaxamento completo do tórax ao fim de cada
compressão.

10.5 Táticas de salvamento veicular

10.5.1 Composição da equipe de Salvamento Veicular

No âmbito do CBMERJ, a equipe de Salvamento Veicular é multifacetada,


possuindo militares da área de saúde e de combatentes. A equipe baseia-se em uma
sistematização pautada em funções e não em pessoas. Dessa forma pode-se modular
a quantidade de militares disponíveis, de forma que se acumule uma ou duas funções.
A equipe ideal possui 06 profissionais:
a) Comandante de operações;
b) Técnico 01;
c) Técnico 02;
d) Encarregado logístico;
e) Socorrista;
f) Auxiliar do socorrista.

10.5.1.1 Comandante de Operações

O Comandante de Operações é o oficial ou praça escalado, em determinada


unidade de bombeiro militar que atua no momento da ocorrência. À ele cabem
diversas ações, como se seguem:
a) realizar a vistoria externa e interna 360º de forma completa, identificando
os riscos;
b) indicar quais são as prioridades iniciais que devem ser objetos de ações;
c) identificar em até 02 (dois) minutos o tipo de aprisionamento (nível de
encarceramento) da vítima;
257
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

d) convocar a reunião tripartite e definir ao final o plano de execução (a e


b), levando em consideração as lesões da vítima;
e) propiciar a progressão do plano adotado, coordenando as ações de
forma lógica e rápida;
f) posicionar-se de forma correta e buscar um eficiente controle das ações
em andamento;
g) determinar à equipe técnica a montagem da área de ferramentas, da
área de descarte e da área de vítimas;
h) exercer a liderança no local, para que a equipe busque seguir suas
ordens;
i) evitar o comando autoritário, manter uma comunicação clara e eficiente
com a equipe com a presença de feedbacks;
j) gerenciar os militares pertencentes à equipe, promovendo a rotação dos
mesmos conforme a carga de trabalho;
k) evitar o excesso de instrução aos militares da equipe de forma
desnecessária, o que ocasiona a perda da visão geral da operação;
l) buscar motivar a equipe de militares de forma constante de forma que o
ritmo de trabalho seja eficiente;
m) procurar a interação com a equipe de socorristas (médico, enfermeiro ou
técnico de enfermagem) na busca pelo estado de saúde atualizado da vítima;
n) promover o uso adequado do epi destinado à equipe, corrigindo
eventuais faltas ou erros na utilização dos mesmos;
o) deve manter a área de trabalho de forma organizada e segura durante
toda a operação;
p) atua como um agente de segurança durante as operações, prevenindo
eventuais acidentes que possam ocorrer.

258
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 221 - Comandante de Operações


Fonte: CBMERJ

10.5.1.2 Técnicos (incluindo o encarregado logístico)

a) devem sinalizar, junto com o comandante de operações, os riscos


visualizados, de forma que possam identificar, controlar e neutralizar o riscos, em um
tempo máximo de 02 (dois) minutos;
b) montar a área de ferramentas, a área de descarte e a área de vítimas,
conforme determinação do comandante de operações;
c) realizar a estabilização inicial (primária) de forma completa e adequada;
d) propiciar um acesso inicial para o socorrista, seguro, efetivo e sem
falhas;
e) realizar a estabilização final (secundária);
f) manter a área de trabalho organizada e segura durante toda a operação;
g) realizar uma boa preparação do veículo (proteção de quinas, manejo de
vidros);
h) executar as ações técnicas utilizando o correto manuseio das
ferramentas;
i) buscar comunicação e o trabalho em equipe, com técnicas sendo
executadas de forma simultânea;
j) utilização adequada do epi destinado ao salvamento veicular;
k) promover a proteção de vítimas e dos socorristas no interior do veículo,
durante a execução de técnicas de salvamento veicular;
l) antes de cada ação técnica, alertar a equipe através de avisos e fornecer
feedback à todos ao fim de cada manobra realizada;
m) apoiar os socorristas no manejo da vítima, na etapa de extração da
mesma;
n) buscar a criação de espaços internos e externos.

259
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 222 - Técnicos


Fonte: CBMERJ

10.5.1.3 Socorrista / auxiliar do socorrista

a) Realizar, dentro das limitações conforme competência profissional


(médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, socorrista, combatente) o atendimento
pré-hospitalar referente à eventos de salvamento veicular;
b) Deve abordar a vítima antes do primeiro minuto, em casos de vítimas
inconscientes, utilizando-se do apoio dos técnicos em estabilização manual de
emergência;
c) Nos primeiros 2 minutos, o socorrista deve acessar o veículo, remover
as chaves do veículo, colocar um freio de emergência, fazer contato físico com a
vítima, verificar se há aprisionamento e visualização de lesões graves;
d) Responsável pela oferta de oxigênio, de preferencialmente nos
primeiros 2 (dois) minutos;
e) Deve confirmar o nível de encarceramento da vítima junto ao
Comandante de operações;
f) Controlar os sinais vitais, informando o status e evolução do paciente
junto ao Comandante de Operações;
g) Considerar, de acordo com a condição da vítima, a melhor via de
extração e informar ao Comandante de Operações entre os primeiros 3 (três) minutos;
h) Revisar a estrutura dos bancos, airbags, possibilidade de apoio
reclinável;
i) Gerar o espaço mínimo necessário para acessar a vítima e fornecer
cuidados de saúde e apoio psicológico o mais rápido possível;

260
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

j) Ao receber a função de comando temporária, deverá coordenar as


ações de retirada da vítima do veículo, com a colaboração de todos os membros da
equipe, buscando movimentações em bloco e o mínimo de rotação da coluna cervical
possível.

Figura 223 - Socorrista controlando a retirada da vítima


Fonte: CBMERJ

10.5.2 Fases da operação

10.5.2.1 Avaliação do cenário e seus riscos

Etapa onde é realizado um giro de 360º externamente e internamente ao


veículo objetivando a identificação de riscos como: vazamento de fluidos, objetos
deslizantes ao solo, riscos elétricos (poste elétrico), objetos debaixo do veículo,
objetos aderidos estranhos ao veículo (defensa, árvore), identificação do combustível
(Flex, GNV, híbrido, elétrico), inspeção do interior do porta-malas, desligamento da
bateria do veículo, chaves na ignição e airbags deflagrados em um tempo máximo de
01 (um) minuto.
Os riscos devem ser identificados pelos membros da equipe técnica e pelo
comandante, devendo serem sinalizados verbalmente para todo o conhecimento da
equipe.
A equipe de socorristas deverá estabelecer então contato visual e verbal,
iniciando a avaliação remota rápida (RAM) do AVDI-“ABC”, ao fim da qual estima o
tipo de encarceramento e o informa ao comandante. Pode também adiantar a coleta
261
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

dos dados da “SAMPLA” (sintomas, alergias, medicações, passado médico, último


horário de ingestão de líquidos e alimentos). É fundamental acalmar a vítima e evitar
que mova a coluna em outra direção que não a do socorrista.

10.5.2.2 Estabilização inicial dos veículos

A equipe deverá, conforme o estado de saúde da vítima, efetuar a estabilização


inicial (primária ou de emergência). Essa estabilização deve fornecer o mínimo de
segurança para que o socorrista entre no veículo e que propicie segurança à equipe
de salvamento;

10.5.2.3 Criação de acesso inicial e entrada do socorrista

A premissa principal da equipe de salvamento é propiciar o quanto antes a


entrada do socorrista no interior do veículo, a fim de realizar uma avaliação eficiente
do estado de saúde da vítima. Esse acesso pode ser feito de diversas maneiras como:
manejo de vidros, abertura de portas em geral. Ele deve ser realizado de forma rápida
e que forneça o espaço necessário para que o socorrista entre no veículo.
Em algumas situações pode ser necessário a criação de espaço externo ou
interno para entrada do socorrista, sendo que ele mesmo pode executar pequenas
tarefas no interior do veículo, se necessário. O socorrista deve, durante a sua
avaliação, confirmar o nível de encarceramento da vítima (tipo físico 1, tipo físico 2,
tipo mecânico) e transmitir a informação ao Comandante.

10.5.2.4 Estabilização final

A estabilização secundária deve ser, preferencialmente, realizada após a


entrada do socorrista no veículo, onde os esforços dos técnicos agora serão
concentrados no aperfeiçoamento da segurança, melhorando a estabilização inicial.

10.5.2.5 Reunião tripartite (planos)

Com o feedback do socorrista sobre o estado de saúde da vítima, com o nível


de encarceramento já confirmado e com o pronto da estabilização secundária, o
Comandante de Operações já tem condições de realizar uma reunião com todos os

262
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

membros da equipe, a fim de definir qual será a estratégia de criação de espaços


internos e externos. Essa reunião deve, preferencialmente, ser realizada próximo do
socorrista que se encontra no interior do veículo e com a presença de todos os
membros possíveis, para que a informação seja passada uma única vez e que todos
estejam cientes da estratégia aplicada.
O Comandante deve sugerir uma estratégia e os membros devem opinar
quanto à concordância ou não, sugerindo alterações e melhorias na mesma. Esse
encontro deve ser rápido e o Comandante deve se certificar que todos entenderam os
planos de ação. O plano “A” é o plano onde se busca o máximo de espaço interno e
externo, onde a vítima possa sair o mais próximo do “ângulo zero”, indicado nas
situações em que a vítima se encontra estável e não-crítica. O Plano “B” é indicado
nas situações em que a vítima se encontra em situação instável, necessitando de uma
retirada em um tempo menor, dessa forma não necessariamente sendo retirada
próximo do “ângulo zero”, obtendo um espaço mínimo e necessário para que a vítima
saia num tempo curto.
De certo que, em algumas situações, pode ser necessário que os planos sejam
alterados, conforme dificuldades observadas na execução dos planos originalmente
planejados. Dessa forma, o Comandante realizará uma nova reunião tripartite, para
informar os novos planos.
Quando na existência de duas ou mais vítimas, o Comandante,
preferencialmente, realizará reuniões tripartites para cada vítima existente, aplicando
os planos de forma individualizada para cada vítima. Dessa forma, ele deverá
identificar o estado de saúde de todas as vítimas inicialmente, através das
informações dos socorristas, e definir a prioridade conforme gravidade das mesmas.

10.5.2.6 Criação de espaços (plano B depois A)

Nesse momento os técnicos realizarão o plano propriamente dito, utilizando as


ferramentas para criação de espaços (serra-sabre, cortadores, alargadores,
puncionadores de vidro, extensores, halligan, dentre outros) e para proteção da vítima
e dos bombeiros no interior do veículo (proteção rígida e proteção maleável),
informando todas as ações a serem tomadas previamente para toda a equipe de modo
que não ocorra ações descoordenadas e surpresas indesejadas para todos no interior
do veículo.
263
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Mesmo que a vítima esteja estável, o plano “B” deve ser realizado antes do
plano “A”. Essa forma é adotada de modo a garantir, em caso de piora no estado de
saúde da vítima, a retirada rápida da mesma.
Nas situações em que a vítima esteja instável, deve-se executar,
preferencialmente, o plano “B” somente, conforme gravidade existente.

10.5.2.7 Passagem do comando para Socorrista

Ao final de toda a criação dos espaços necessários para a retirada da vítima,


conforme o plano adotado, o Comandante de Operações deverá passar formalmente
o comando, de forma temporária, para o socorrista líder. Essa transmissão temporária
tem o intuito de fornecer a vítima uma melhor retirada do interior do veículo, pois o
socorrista é o membro da equipe que possui a melhor visão para tal. O socorrista
devolve o comando ao Comandante de Operações ao final da retirada das vítimas.

10.5.2.8 Retirada da vítima

Com a assunção do comando, o socorrista deverá guiar os movimentos em


bloco necessários para a retirada da vítima. Não apenas o auxiliar do socorrista, mas
todos os membros, inclusive o Comandante de Operações (se necessário) deverão
ajudar na retirada da mesma, até a área de vítimas, previamente designada no
estabelecimento do socorro.

10.5.3 Fichas de avaliação – WRO

A World Rescue Organisation (http://www.wrescue.org/) é uma instituição com


caráter mundial que busca melhorar os padrões técnicos de salvamento, reunindo
serviços médicos e de salvamento em todo o mundo para desenvolver e compartilhar
habilidades e conhecimentos essenciais pós-incidentes, contribuindo para a redução
de lesões não intencionais e para a promoção de padrões de excelência de
salvamento combinado com a assistência médica.
O CBMERJ participa desde 2016 da WRO, através da participação de militares
pertencentes à Comissão Estadual de Salvamento Veicular, criada através da CT-08,
junto à ABRES (Associação Brasileira de Resgate e Salvamento -
264
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

http://www.abres.org/). Atualmente, a corporação possui 03 (três) militares na


condição de avaliadores da área de Comando/Técnico e 01 (um) militar na condição
de avaliador da área médica.
Com essa participação, novas técnicas e táticas foram introduzidas na rotina
do procedimento operacional padrão da corporação. Durante os treinamentos
realizados na fase final de cursos e estágios, sugere-se a utilização, como referência,
das fichas de avaliação que abaixo se seguem (as fichas atualizadas podem ser
acessadas no site da ABRES).

265
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 224 - Ficha WRO 01


Fonte: ABRES(WRO)

266
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Figura 225 - Fichas WRO 02


Fonte: ABRES(WRO)

267
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 226 - Fichas WRO 03


Fonte: ABRES(WRO)

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

11 SALVAMENTO EM ELEVADORES
11.1 Definição

É um aparelho estacionário provido de cabina destinado a realizar transporte


de passageiros, cargas ou ambos. Ele se move aproximadamente na vertical entre
guias, atendendo a pavimentos de uma edificação ou até determinada altura.

11.2 Classificação

11.2.1 Quanto ao acionamento

a. Elétrico: Através do acionamento elétrico a movimentação ocorre por


cabos ou fitas de tração. O deslocamento da cabina/contrapeso se dá por conta da
transmissão do movimento do giro da polia da máquina para os cabos de tração.

b. Hidráulico: A movimentação se dá por conta de um pistão hidráulico


(Princípio de Pascal) que deslocará a cabina. Algo importante, a saber, é que ao cortar
a fonte de energia deste tipo de elevador, ele só poderá ser movimentado para baixo.
Excetuando o princípio de funcionamento, o procedimento operacional será similar
aos outros tipos de elevador.
Em relação aos elevadores elétricos, existem outras diferenças: este modelo
precisará da instalação de um tanque de óleo conectado ao pistão, não possuem
contrapeso, são mais lentos, são mais comuns com finalidade de movimentar
veículos.

Figura 227

Fonte: TK Elevator

269
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

11.2.2 Quanto aos tipos de instalação de Elevador

a. Com casa de máquina (CM): Local acima da caixa do elevador onde


estão situados o quadro de comando e máquina de tração do elevador.

b. Sem casa de máquina: A máquina de tração e o regulador de


velocidade se situam no interior da caixa de corrida do elevador. No último pavimento,
ao lado da porta de pavimento, normalmente estarão localizados o quadro de força e
de comando.

270
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Ilustração comparativa dos tipos de instalações de Elevadores

Figura 228
Fonte: Otis

271
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Com Casa De Máquinas

Figura 229
Fonte: Otis

272
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SEM CASA DE MÁQUINAS

Figura 230
Fonte: Atlas Schindler

11.2.3 Quanto à destinação

a. Passageiros;
b. Maca/Leito hospitalar;
c. Carga;
d. Carga automóveis;
e. Monta cargas;
f. Unifamiliar;
g. Plataformas.

273
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

a. Passageiros: São os mais encontrados e mais utilizados. A maior parte


dos eventos está relacionado aos elevadores projetados para passageiros devido sua
larga utilização.
Sua capacidade máxima leva em consideração um quantitativo em cada
pessoa pesa em média 75 kg. Os modelos mais atuais possuem: portas automáticas
tipo corrediça horizontal, segurança eletrônica de portas, sistema de alarme e
intercomunicador e iluminação de emergência, portas resistentes ao fogo (por tempo
limitado) e atendimento de chamadas automático.

Figura 231
Fonte: TK Elevator

Observação: Existem modelos que seguem a Norma ABNT: NBR NM 313, este
elevador visa possibilitar o uso seguro e independente por pessoas portadoras de
deficiência. Algumas de suas características são: Capacidade da cabina mínimo 8
(oito) passageiros, corrimões nos 3 (três) lados da cabina, espelho ao fundo, botoeira
de cabina: entre 900 e 1300 mm, Botoeiras de pavimento: entre 900 e 1100 mm,
Braille, sistema de voz digital na cabina e sinal sonoro e visual de pavimento.

274
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 232
Fonte: TK Elevator

b. Maca/Leito hospitalar: São elevadores de passageiros utilizados em


hospitais. Possuem dimensões adequadas para transporte de pacientes em macas e
leitos.
Além das características supracitadas do elevador de passageiros, algumas
características específicas baseadas na Norma de elevadores maca/leito (NBR
14712) são:
Dimensões mínimas:
− Maca: Mínimo 1,20m x 2,20m e LU de portas de 1,10m;
− Leito: Mínimo 1,50m x 2,20m e LU de portas de 1,20m;
− Tempo de porta aberta em automático, mínimo de 18 s;
− Dispositivo de transferência para o ascensorista (ou pessoa qualificada)
do comando do elevador, eliminando as chamadas externas, possibilitando levar a
cabina diretamente ao andar desejado.

c. Carga: São exclusivamente para transportar cargas, é permitido


somente um ascensorista e a pessoa necessária/responsável para a carga e a
descarga. Possuem sensores/dispositivos para pesar a carga.

275
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 233
Fonte: https://www.hardee.com.br/nossos-servicos/venda-fabricacao-e-instalacao-de-elevadores/elevadores-de-carga

Observação: Nos elevadores usados exclusivamente para o transporte de


cargas, as normas técnicas são menos abrangentes e específicas quanto à proteção
do usuário, pois o meio de transporte é exclusivo para cargas.

d. Carga automóveis: Destinado ao deslocamento de automóveis e


seguem as características previstas na NBR 14712, algumas delas são:
− Somente o manobrista ou a pessoa necessária para o
embarque/desembarque do veículo são permitidos viajar;
− Dimensões de cabina próprias para o transporte de veículos;
− Sempre deve ter dispositivo pesador de carga;
− Possui sempre o dispositivo atracador.

276
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 234
Fonte: https://www.boxtop.com.br/blog/elevador-de-carga-caracteristicas-preco/

e. Monta cargas: Comumente utilizado em lojas, laboratórios, hotéis,


restaurantes, entre outros. Tem o objetivo de transportar cargas menores, tendo
capacidade máxima de, em média, 300 kg.

Figura 235
Fonte: https://engetax.com.br/elevador-de-carga-ou-monta-carga/

277
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

f. Unifamiliar: De uso privativo em residências seguem as características


previstas na NBR 12892, algumas delas são:
− Velocidade máxima: 0,35m/s;
− Percurso: 12m;
− Capacidade máxima: 3(três) pessoas ou 225kg.

Figura 236
Fonte: fotos.habitissimo.com.br/foto/elevador-residencial-a-vacuo_779545

g. Plataformas: O objetivo principal é a acessibilidade. São dispositivos


que facilitam o deslocamento de pessoas com mobilidade reduzida e seguem as
características previstas na NBR 12892, algumas delas são:
− Percurso: até 4.000 mm (Acima de 2m deve ser enclausurada);
− Velocidade: 6,0 m/min;
− Capacidade: 250 kg;
− Acionamento: Hidráulico Oleodinâmico ou tipo fuso;
− Operação: dentro e fora do equipamento;
− Alimentação: 220 V (monofásico ou bifásico);
− Controles: botões de baixa tensão e pressão constante.

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Figura 237
Fonte: https://iesab.com.br/plataforma-inclinada-acessibilidade/

11.3 Principais Partes do Elevador

a. Cabina;
b. Casa de máquina;
c. Caixa de corrida;
d. Contrapeso;
e. Limitador de velocidade;
f. Máquina de tração;
g. Quadro de comando;
h. Poço;
i. Porta de pavimento;
j. Tapa-vista ou Cornija.

a. Cabina – Parte destinada a abrigar pessoas e/ou objetos que serão


transportados.

279
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 238
Fonte: https://www.elevadoresuniservice.com.br/embelezamento-cabine-elevador#group1-2

b. Casa de máquinas – Local onde está instalada a máquina de tração,


limitador de velocidade, quadro de comando e outros dispositivos. O mais comum é
ser instalada na parte superior do edifício, no entanto também podemos encontrar na
parte inferior, sendo este no caso dos elevadores hidráulicos.

Figura 239
Fonte: TK Elevator

280
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

/
Figura 240
Fonte: habitissimo.com.br

c. Caixa de corrida – Espaço onde o carro e o contrapeso, se houver, se


movimentam. É delimitada pelo teto, paredes e fundo do poço.

Figura 241
Fonte: Atlas Schindler

d. Contrapeso – Objeto que tem por finalidade contrabalancear a massa


da cabina. Sua massa assegura a tração.

A massa do objeto é obtida através da soma da massa da cabina acrescido de


45% a 50% da capacidade máxima de transporte. As empresas prevendo que na
maioria das vezes, o elevador não é utilizado com sua capacidade máxima, tem
dimensionado o peso do contrapeso para 40%, desta forma o objetivo de

281
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

contrabalancear a massa da cabina mais a massa dos passageiros é mais adequado.


Exemplo do cálculo:
− Contrapeso = CP
− Massa da cabina(Cb) = 1000kg
− Capacidade máxima(Cmáx) = 760kg

CP = Cb + Cmáx/2
CP = 1000 + 760/2
CP = 1000 + 380
CP = 1380kg

Figura 242
Fonte: https://meuelevador.com/contrapeso-do-elevador/

e. Limitador de velocidade - Dispositivo que controla a velocidade do


elevador e que acionará o freio de segurança ao ser ultrapassada a velocidade
máxima pré-estabelecida.
O freio de segurança atua no sentido de descida da cabina e do contrapeso,
quando acionado para o movimento de queda por meio de força de compressão nas
282
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

guias, o que retarda o movimento até a parada de forma segura. Após acionado é
necessário ação técnica para soltar a cabina das guias. Ele independe de energia
elétrica, pois atua de forma mecânica.

Figura 243
Fonte: Atlas Schindler, SPL Elevadores

f. Máquina de tração - Responsável pela movimentação do elevador. A


máquina é ligada ao contrapeso e à cabina através dos cabos de tração. Deve
suportar a massa da cabina mais a massa dos passageiros, contrapeso, cabos de aço
e correntes de compensação durante os movimentos de subida e descida.
Pode ser com engrenagem ou sem engrenagem, entre as diferenças está que nas
máquinas com engrenagens, possui uma caixa redutora e usa óleo para lubrificar as
engrenagens, enquanto as máquinas sem, a tração é direta no eixo do motor, assim
não necessita de uso de óleo pela ausência de engrenagem. Outra informação acerca
do sem engrenagem é que são capazes de atingir velocidades maiores, normalmente
utilizados em grandes edifícios.

283
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 244
Fonte: Atlas Schindler

Figura 245
Fonte: TK Elevator

g. Quadro de comando – Nele são gerenciadas as informações elétricas


do elevador e emitidos os comandos de funcionamento: partida, parada, sentido de
movimento, fechamento e abertura de portas, velocidade e outras funções correlatas.

284
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 246
Fonte: OTIS

h. Poço – Setor da caixa de corrida localizado abaixo da última parada


inferior do elevador.
No poço ficam localizados a polia Esticadora e os amortecedores.
- A polia esticadora mantém o cabo de aço com a tensão adequada pois
este liga o Limitador de Velocidade ao Freio de Segurança, permitindo o adequado
funcionamento.
*Caso ocorra aumento excessivo de velocidade, o dispositivo “Freio de
Segurança” será acionado em conjunto como o Limitador de Velocidade e a Polia
Esticadora, parando a cabina.
- Os amortecedores têm por finalidade, amortecer a cabina ou o
contrapeso caso ultrapassem o limite de parada final da caixa de corrida.

Figura 247
Fonte: Atlas Schindler, POP CBMERJ

285
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 248
Fonte: Amortecedores TK Elevator

i. Portas de pavimento – Aberturas entre caixa de corrida e cada


pavimento, que darão acesso à cabina. Atuam em conjunto com a porta da cabina, só
abre ou fecha após ocorrer o nivelamento entre a cabina e o pavimento programado.
É composto por: porta de pavimento, sinalização de pavimento, botoeira de
pavimento.

Figura 249
Fonte: Empresa Perfeita

j. Tapa-vista ou Cornija - Sua função é fechar o vão entre a cabina e a


porta do pavimento quando não está nivelada. É um dispositivo de segurança no

286
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

formato de chapa cuja finalidade é evitar que pessoas caiam no poço pelo vão. Possui
no mínimo 75 cm de altura e fica abaixo da soleira da cabina.

Figura 250
Fonte: TK Elevator

11.4 Possíveis acidentes

a. Causados por pessoas não habilitadas. Segundo a NBR 16803/2012 -


ABNT, o resgate de passageiros retidos em elevadores só poderá ser realizado por
técnicos da empresa que presta serviços de manutenção para o condomínio ou pelo
Corpo de Bombeiros.

b. Algumas brincadeiras dentro da cabina podem acarretar o travamento


da mesma: pular, tentar balançar a cabina ou forçar abertura da porta, tudo isto pode
travar o equipamento colocando todos dentro da cabina em risco.

c. Desconhecimento técnico dos procedimentos: A tentativa de resgate por


pessoal sem preparo ou não legalmente autorizado pode colocar em risco as vítimas
assim como a eles mesmos.

11.5 Defeitos mais comuns

a. Interrupção do fornecimento de energia;


b. Excesso de carga;

287
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

c. Defeito do freio;
d. Defeito do limitador de velocidade;
e. Defeito no comando elétrico;
f. Desgastes das sapatas e dos cursores.

11.6 Acionamentos do CBMERJ

a. Retiradas de pessoas retidas do interior das cabinas;*


b. Acidentes com as vítimas presas entre a cabina e o piso dos pavimentos;
c. Vítima presa às ferragens ou ao contrapeso;
d. Vítima prensada ao contrapeso;
e. Vítima no interior do poço.

*Observação: Atualmente existem elevadores com sistema automático de


passageiro, ou seja, em caso de evento adverso no equipamento, o elevador se
desloca para o andar mais próximo e abre as portas para os passageiros saírem. Isto
tem minimizado a incidência de casos de pessoas retidas.

11.7 Composição da guarnição

Este tipo de evento é direcionado para viaturas de salvamento, sendo


necessário no mínimo 03 (três) Bombeiros Militares, um deles é o Comandante de
Operações ou Chefe da Guarnição.
O Procedimento Operacional Padrão do CBMERJ que versa sobre Salvamento
em Elevadores define como responsabilidade do Comandante de Operações ou
Chefe da Guarnição, abrir e operar junto porta de pavimento mais próxima da cabina,
enquanto os outros dois integrantes da guarnição deslocam-se para a CM para
executar os procedimentos necessários. Neste caso o tipo instalação é de elevador
com CM.
Em eventos com elevadores sem CM, é possível atuar com apenas 01(um)
bombeiro militar no último pavimento enquanto os outros atuam nos pavimentos
próximos à cabina.

11.8 Principais FEA’s

a. Chaves de elevador;
288
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

b. Conjunto do desencarcerador;
c. Material de salvamento em altura;
d. Lanterna de mão ou Headlamp;
e. Rádios comunicadores.

11.9 Procedimentos Operacionais

a. Coleta de informações;
b. Retirada de vítima retida no interior da cabina em elevadores com CM;
c. Retirada de vítima retida no interior da cabina em elevadores sem CM;
d. Retirada de vítima pela porta de emergência lateral;
e. Retirada de vítima pelo alçapão;
f. Retirada de vítima presa às ferragens;
g. Retirada de vítima presa pelo contrapeso;
h. Retirada de vítima no interior do poço;
i. Procedimentos em caso de incêndio;
j. Entrega do local.

a. Coleta de informações

Informações pertinentes para que o Comandante de Operações defina o plano


tático operacional.
Dados:
− Identificação do solicitante;
− Telefone de contato;
− Responsável pela edificação (porteiro, síndico, proprietário) no local;
− Endereço da ocorrência;
− Tipo de evento e a possível causa;
− Pavimento em que o elevador parou;
− Número de vítimas e quadro clínico da vítima (classificação da vítima);
Caso haja vítimas, o POP de Salvamento de Elevadores do CBMERJ determina:
“Diante das informações colhidas no centro de operações, havendo vítima presa nas
ferragens ou ferida, o comunicante de imediato deverá acionar para o local a
guarnição de atendimento pré-hospitalar, no caso de vítima fatal, deverá acionar
289
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

também o policiamento, para adotar as medidas de preservação do local e


procedimentos legais, cabendo ao comandante do socorro, ao longo do
deslocamento, confirmar esses acionamentos.”
− Se a vítima está presa ou retida conforme definido pelo POP de
Salvamento de Elevadores do CBMERJ: Pessoas retidas são aquelas que
encontram-se no interior da cabina do elevador paralisado por conta de algum motivo,
conhecido ou não; Pessoas presas são aquelas que encontram-se presas entre as
ferragens do elevador ou entre a cabina e o pavimento ou ainda, presas entre as
paredes da caixa de corrida e a cabina);
− Riscos potenciais que podem interferir no atendimento (incêndio,
rompimento de cabos, curtos-circuitos etc.);
− Qual empresa presta o serviço de manutenção e se já foi acionada.

b. Retirada de vítima retida no interior da cabina em elevadores com


CM

Após avaliação da cena e coleta dos dados, o Comandante de Operações e/ou


Chefe de guarnição deverá adotar os seguintes procedimentos:

1. Localizar elevador e cabina em que as vítimas se encontram (se


necessário, abrir porta de algum pavimento de acesso para identificar, visualmente,
com o auxílio de uma lanterna, a localização da cabina);
2. Estabelecer contato com as vítimas e tranquilizá-las, caso a cabina
possua interfone (ponto de contato é localizado na portaria), o mesmo pode ser
utilizado para realizar contato com a vítima. O contato próximo à cabina deve ser a
priorizado devido à vítima ter a sensação da proximidade da equipe e para o caso de
alguma ação emergencial; deve-se identificar o quadro clínico das vítimas para definir
o plano de ação mais adequado; solicitar que, enquanto as medidas necessárias estão
sendo tomadas, permaneçam no fundo da cabina; e deixar claro que a cabina é um
local seguro e que não devem tentar abrir a porta por conta própria;
3. Dividir a guarnição, devidamente equipada com rádios comunicadores e
lanternas, entre o local mais próximo da cabina e a CM;
4. Desligar a chave geral correspondente ao elevador, ela fica localizada
na CM ou na subestação do edifício (quadro de energia localizada no pavimento
290
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

térreo). No caso de haver um grupo de elevadores, deve-se atentar para o número na


máquina de tração e desligar a chave de máquina correspondente. Se houver dúvidas,
evacue todas as cabinas e desligue a chave geral de todos os elevadores, assim como
todas as chaves da subestação;
5. Com a porta do pavimento de acesso mais próximo à cabina aberta, o
militar orientará o(s) militar(es) da CM sobre as ações a serem executadas de acordo
com o que está visualizando.

Observação: A porta do pavimento deve ser aberta com a chave de


emergência, estas chaves especiais variam de acordo com o modelo, porém a mais
comum é a chave triângulo, outras também conhecidas como chave Z, mola ou palito
também podem ser utilizadas. A título de improviso, há possibilidade de utilizar caneta
esferográfica ou a haste de um aro de bicicleta.

Figura 251
Fonte: TK Elevator

6. Para o nivelamento deve-se adotar o seguinte procedimento:


- O nivelamento da cabina será realizado manualmente através da
291
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

liberação do freio (existem diferentes modelos de liberação de freio), caso o peso entre
a cabina somado aos dos passageiros e o contrapeso esteja em desequilíbrio, ao
liberar o freio, a cabina irá se mover para sentido de desequilíbrio. É importante
registrar que a liberação do freio através das alavancas deve ser intermitente, ou seja,
aberto por períodos curtos e consecutivos, e não deve ser aberto por longos períodos
para evitar que a cabina ganhe velocidade. No caso de a cabina e o contrapeso
estarem em equilíbrio, deve-se girar de forma lenta e contínua o volante de inércia da
máquina de tração. Normalmente há no corpo da máquina, instruções do fabricante
orientando o procedimento de abertura do freio e a ferramenta necessária;

Figura 252
Fonte: Resgate de passageiros CETEC 924 – Versão 6 - TK Elevator

7. O nivelamento deverá ser comandado, via rádio, pelo Comandante de


Operações e/ou Chefe de Guarnição, militar que estará no andar mais próximo da
cabina;
8. Assim que a cabina estiver nivelada com o pavimento, os militares
localizados na casa de máquinas deverão ser comunicados para que cessem a
liberação do freio.
Observação: Algumas empresas realizam marcações nos cabos de aço para
que qualquer um de seus funcionários, mesmo da CM, consigam saber se o elevador
está nivelado.

292
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 253
Fonte: Resgate de passageiros CETEC 924 – Versão 6 - TK Elevator

9. Ao ser nivelada, a porta da cabina será destravada e poderá ser aberta


juntamente com a porta do pavimento ou terá que ser aberta de forma mecânica,
rotacionando a polia ou movimentando a lança do controlador de porta, dependendo
do modelo.

Figura 254
Fonte: POP CBMERJ

Quanto à retirada da vítima em relação ao pavimento podem ocorrer duas


situações:
- Cabina nivelada com a porta: Desta forma as duas abrirão juntas. A
retirada com a cabina nivelada sempre deverá ser a prioridade devido às questões de
segurança para a vítima, porém se por algum motivo não for possível o nivelamento
segue abaixo as orientações.
- Cabina desnivelada: A opção de retirada pelo andar superior é mais
segura do que pelo andar inferior, esta para ser segura deve ter o “tapa-vista ou
cornija" cobrindo toda parte entre a soleira da cabina e a soleira da porta do pavimento.

293
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

10. Com a cabina nivelada ou, se for necessário, desnivelada e o freio


travado, proceder com a retirada das vítimas. Antes de abrir as portas, solicitar que as
vítimas se desloquem para o fundo do elevador, mantendo-se afastados da porta, e
só saírem quando autorizado.

Resumo do procedimento em elevadores com casa de máquinas


1. Localizar qual a posição da cabina;
2. Realizar contato com as vítimas e avaliar o quadro clínico das mesmas
e tranquilizá-las;
3. Dividir a guarnição;
4. Desligue o disjuntor/chave geral localizada na CM;
5. Com a porta do pavimento mais próximo a cabina aberta, orientar ao
militar do último pavimento acerca das ações necessárias;
6. Efetuar a liberação do freio;
7. Informar ao militar do último pavimento quando o nivelamento fora
alcançado;
8. Militares da CM interromperão a liberação do freio;
9. Após o nivelamento, informar as vítimas do procedimento a ser realizado
e efetuar a abertura das portas;
10. Retirar as vítimas em segurança.

c. Retirada de vítima retida no interior da cabina em elevadores sem


CM
Nos edifícios mais recentes é comum nos depararmos com elevadores de
passageiros sem casa de máquinas. Nesse tipo de tecnologia a máquina de tração é
instalada diretamente no topo da caixa de corrida, fixada por barras de sustentação.
O procedimento de nivelamento e liberação do freio nesse tipo de elevador será
realizado através do painel eletrônico que se situa ao lado ou na própria lateral do
caixonete da porta do último pavimento.
1. Igual ao do procedimento b;
2. Igual ao do procedimento b;
3. Dividir a guarnição, devidamente equipada com rádios comunicadores e
lanternas, entre o local mais próximo da cabina e o último pavimento;

294
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4. Desligar a chave geral correspondente ao elevador, ela fica localizada


no painel eletrônico (ao lado ou na própria lateral do caixonete da porta do último
pavimento), ou subestação do edifício (quadro de energia localizada no pavimento
térreo). Para abrir o painel eletrônico alguns modelos basta chave triangular, outros
modelos utilizam chave comum que fica de posse do técnico da empresa;

*Após o desligar a chave geral, o sistema elétrico passa a ser alimentado por
bateria auxiliar, isto permitirá o deslocamento comandado em segurança da cabina
por alguns andares, porém não é recomendado grandes movimentações, devido o
risco da carga da bateria não suportar e acabar antes de fim do procedimento.
5. Com a porta do pavimento de acesso mais próximo à cabina aberta, o
militar orientará o outro militar do último pavimento sobre as ações a serem
executadas de acordo com o que está visualizando;

Observação: A porta do pavimento deve ser aberta com a chave de


emergência, estas chaves especiais variam de acordo com o modelo, porém a mais
comum é a chave triângulo, outras também conhecidas como chave Z, mola ou palito
também podem ser utilizadas. A título de improviso, há possibilidade de utilizar caneta
esferográfica ou a haste de um aro de bicicleta.

6. Para o nivelamento deve-se adotar o seguinte procedimento:


- O nivelamento da cabina será realizado eletronicamente através da
liberação do freio, caso o peso entre a cabina somado ao dos passageiros e o
contrapeso esteja em desequilíbrio, ao liberar o freio, a cabina irá se mover para
sentido de desequilíbrio. A liberação do freio se dará a partir, cada modelo possui uma
nomenclatura, porém o procedimento é similar, do acionamento do botão que passará
para o para o controle manual e em seguida o acionamento do botão de liberação do
freio. *Geralmente há orientações acerca do procedimento manual para nivelar a
cabina;

Nos modelos dos elevadores sem CM, a movimentação da cabina ocorrerá de


acordo com a leitura do sistema do elevador. Desta forma o Comandante de
Operações terá menos autonomia na decisão do sentido de movimentação da cabina.

295
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 255
Fonte: TK Elevator

Neste modelo após desligar a chave geral, deve-se girar o botão GRE no
sentido horário e acionar o botão BRE. Desta forma a cabine se moverá.

Figura 256
Fonte: OTIS

Neste modelo após desligar a chave geral, deve-se girar o botão


de ERO para NORM, isto liberará as ações do operador, inserir a
chave(fica junto ao painel)no BRB 2, girar a chave a acionar o botão
BRB 1(botão vermelho) e acionar o botão BRE. Desta forma a
296
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

cabine se moverá.

7. Igual ao do procedimento b;
8. Assim que a cabina estiver nivelada com o andar, os militares
localizados no último pavimento deverão ser comunicados para que cessem a
liberação do freio. *Alguns modelos possuem meios de identificação no painel
eletrônico para saber quando a cabine se encontra nivelada;
9. Igual ao do procedimento b;
10. Igual ao do procedimento b.

Resumo do procedimento em elevadores sem casa de máquinas


1. Localizar qual a posição da cabina;
2. Realizar contato com as vítimas e avaliar o quadro clínico das mesmas
e tranquilizá-las;
3. Dividir a guarnição equipada entre local mais próximo da cabina e último
pavimento;
4. Desligue o disjuntor/chave geral no painel eletrônico;
5. Com a porta do pavimento mais próximo a cabina aberta, orientar o
militar do último pavimento acerca das ações necessárias;
6. Efetuar a liberação do freio;
7. Informar ao militar do último pavimento quando o nivelamento fora
alcançado;
8. Militares localizados no último pavimento interromperão a liberação do
freio.
9. Após o nivelamento, informar as vítimas do procedimento a ser realizado
e efetuar a abertura das portas;
10. Retirar as vítimas em segurança.
11.
Abaixo segue o exato procedimento, retirado do Procedimento Operacional
Padrão de Salvamento em Elevadores do CBMERJ, para elevadores sem CM:

Existem basicamente dois modelos:

297
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

1. O S00-1r3, com freio e volante de inércia de comandamento eletrônico


(não possui comandos mecânicos). Nesse modelo o nivelamento se dá colocando a
chave do painel de emergência na posição ON e acionando o botão de liberação do
freio, o que movimentará a cabina automaticamente, e apenas no sentido ascendente.
A chave geral, na cor vermelha, também fica instalada no próprio painel; sem casa de
máquina da Empresa Atlas Schindler.

Figura 257
Fonte: POP CBMERJ

2. O smart difere do S00-1r3 por ter freio e volante de inércia de comando


mecânico. Nesse caso, o volante de inércia possui uma cremalheira e um pinhão.
Primeiramente aciona-se a alavanca de acoplamento do pinhão e depois gira-se a
manivela do volante de inércia ao mesmo tempo que se aciona a liberação do freio
mecânico (similar aos utilizados em bicicletas), situado na própria manivela.

298
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 258
Fonte: Atlas Schindler

Figura 259
Fonte: Atlas Schindler

– Nestes tipos de elevador o destravamento da porta da cabina deverá ser feito


de forma manual, liberando o trinco acima da porta ou movimentando a correia. Caso
haja algum motivo que impeça o nivelamento do elevador, seja por travamento, falha
eletrônica do sistema, não será possível acionar o destravamento da porta da cabina,
sendo necessário, talvez, realizar um buraco na alvenaria para alcançar o trinco ou
para retirada das vítimas.

299
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 260
Fonte: POP CBMERJ

d. Retirada de vítima pela porta de emergência lateral


Em alguns edifícios em que dois ou mais elevadores são construídos, pode ser
que as caixas de corrida estejam no mesmo espaço. Neles, é possível existir na lateral
da cabina uma porta de emergência.
É considerado um procedimento de risco elevado devido à vítima ter que passar
de uma cabina para outra, por isso só deve ser realizado quando não for possível
retirar a vítima pela porta da cabina.

O procedimento consiste em:


1. Igual ao do procedimento b;
2. Igual ao do procedimento b;
3. Igual ao do procedimento b. se for com CM, se for sem CM
procedimento c;
4. Igual ao do procedimento b. se for com CM, se for sem CM
procedimento c;
5. Igual ao do procedimento b;
6. Igual ao do procedimento b. se for com CM, se for sem CM
procedimento c;
7. Igual ao do procedimento b;

300
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

8. O elevador próximo deverá ser alinhado a lateral do elevador em pane,


mantendo sua porta aberta; *Algumas empresas realizam marcações nos cabos de
aço para que qualquer um de seus funcionários, mesmo da CM, consigam saber se o
elevador está nivelado;
9. Abrir primeiro a porta de emergência do elevador próximo do que está
em pane e depois abrir a porta de emergência do elevador com as vítimas;
10. Após as duas portas abertas será possível acessar a cabina, um
membro da guarnição passará obrigatoriamente para o elevador com as vítimas e irá
orientá-las para a evacuação de forma segura.

Mesmo os elevadores próximos lado a lado, a distância entre eles pode não
permitir uma passagem segura das vítimas de uma cabina para a outra. Para risco de
queda ser mitigado, as ações são: improvisar uma passarela de forma segura,
utilizando para isso, uma escada ou prancha da viatura; e equipar vítima com EPI de
salvamento em altura e conectar a ela corda com ancoragem segura de ponta a ponta.
No Manual de Salvamento em Altura do CBMERJ há uma técnica semelhante a esse
procedimento, o nome é “a guisa de ponte”.

Resumo do procedimento de retirada de vítima pela porta de emergência


lateral
1. Localizar qual a posição da cabina;
2. Realizar contato com as vítimas e avaliar o quadro clínico das mesmas
e tranquilizá-las;
3. Dividir a guarnição;
4. Desligue o disjuntor/chave geral no painel eletrônico ou CM,
dependendo do tipo de instalação;
5. Com a porta do pavimento mais próximo a cabina aberta, orientar ao
militar do último pavimento acerca das ações necessárias;
6. Efetuar a liberação do freio;
7. Informar ao militar do último pavimento ou na CM quando o nivelamento
fora alcançado;
8. Militares do último pavimento ou na CM interromperão a liberação do
freio quando os elevadores estiverem nivelados um ao lado do outro;

301
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

9. Abrir a porta do elevador em pane após abrir ao do elevador que foi


nivelado a ele;
10. Um membro da guarnição passará obrigatoriamente para a cabina em
pane para orientar e auxiliar as vítimas para a evacuação de forma segura.

e. Retirada de vítima pelo alçapão


Assim como a retirada de vítima pela porta de emergência lateral, esta técnica
só deve ser utilizada quando não for possível retirar as vítimas pela porta da cabina.
Nem todos os elevadores possuem alçapão, portanto o Comandante de
Operações terá que avaliar o modelo que será feito o salvamento. Quando possuem,
o alçapão é localizado acima da cabina e trancado por fora com cadeado, isto para
que impeça a abertura pelo lado de dentro da cabina.
O procedimento consiste em:
1. Igual ao do procedimento b;
2. Igual ao do procedimento b;
3. Igual ao do procedimento b. se for com CM, se for sem CM
procedimento c;
4. Igual ao do procedimento b. se for com CM, se for sem CM
procedimento c;
5. Igual ao do procedimento b;
6. Igual ao do procedimento b. se for com CM, se for sem CM
procedimento c;
7. Igual ao do procedimento b;
8. Nivelar o elevador, de forma que no momento em que as vítimas forem
retiradas da cabina, as mesmas também sejam direcionadas para saírem pela porta
de pavimento; Assim que o teto da cabina estiver nivelado com o andar, os militares
localizados na CM ou último pavimento deverão ser comunicados para que cessem a
liberação do freio;

Observação: É importante informar que sobre o teto da cabina existe um


painel de controle emergencial que permite parar a máquina e nivelá-la, porém
só funciona se houver energia elétrica e o se elevador não estiver com falhas.

302
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 261
Fonte: POP CBMERJ

9. Acessar o teto da cabina pela porta do pavimento imediatamente


superior a ela utilizando uma escada, se necessário. Dois membros da guarnição
passarão para a parte de cima da cabina;
10. Abrir o alçapão; um dos militares acessar o interior da cabina para
orientar e direcionar as vítimas a sair de forma segura. Poderá ser utilizada escada ou
até uma cadeira para que as vítimas saiam através do alçapão.
Observação: Em caso de vítima ferida ou inconsciente, deverá ser prestado os
primeiros socorros antes da retirada e o procedimento deverá ser executado da forma
adequada ao quadro da vítima.

303
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Resumo do procedimento de retirada de vítima pelo alçapão


1. Localizar qual a posição da cabina;
2. Realizar contato com as vítimas e avaliar o quadro clínico das mesmas
e tranquilizá-las;
3. Dividir a guarnição;
4. Desligue o disjuntor/chave geral no painel eletrônico ou na CM,
dependendo do tipo de instalação;
5. Com a porta do pavimento mais próximo a cabina aberta, orientar ao
militar do último pavimento acerca das ações necessárias;
6. Efetuar a liberação do freio;
7. Informar ao militar do último pavimento quando o nivelamento fora
alcançado;
8. Militares do último pavimento ou na CM interromperão a liberação do
freio quando o teto da cabina for nivelado com o pavimento;
9. Acessar o teto da Cabina;
10. Abrir o alçapão, um militar entrará na cabina para orientar e auxiliar as
vítimas para a evacuação de forma segura.

f. Retirada de vítima presa às ferragens


Neste procedimento será considerado como presa às ferragens tanto a vítima
presa entre o piso do pavimento e a cabina, quanto entre as ferragens da cabina e a
parede. *Este cenário poderá envolver o técnico da empresa de elevador na condição
de vítima. O procedimento consiste em:

1. Igual ao do procedimento b;
2. Estabelecer contato com a vítima, informar da presença da equipe de
socorro e tranquilizá-la visando facilitar o atendimento médico; deve-se identificar a
gravidade do quadro clínico da vítima para definir o plano de ação mais adequado;
3. Igual ao do procedimento b. se for com CM, se for sem CM
procedimento c;
4. Igual ao do procedimento b. se for com CM, e se for sem CM
procedimento c;

304
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

5. Caso seja necessário abrir a porta do pavimento, a forma de abertura a


ser seguida será a mesma do procedimento b;
6. O POP CBMERJ de Salvamento em elevadores define o procedimento
neste caso específico da seguinte forma:
- Procurando evitar o agravamento ou provocar novas lesões, no caso de
vítimas com os membros presos, o procedimento de liberação do freio(conforme
itens 6 e 7 do procedimento b.) deve ser antecedido de todas as medidas
necessárias à liberação do membro, como por exemplo: Escorar no sentido
contrário da tração, verificar se uma simples tração não é suficiente para afastar
as ferragens do membro prensado, utilizar ferramenta, mecânica ou hidráulica,
para soltura dos membros, retirar os parafusos que fixam a cabina aos trilhos,
sempre iniciando dos parafusos que se encontram mais próximos da vítima e
forçando a cabina para o lado contrário;
Permanecendo a vítima presa, solte os demais parafusos, assim, a cabina
ficará solta, e com auxílio de uma ferramenta, mecânica ou hidráulica do tipo
expansora, afaste-a da parede do andar para retirar os membros ou a vítima
prensada.

- No caso de ocorrência com vítima fatal, após a localização do corpo,


acionar o policiamento, preservando o local até a sua chegada.

Resumo do procedimento de retirada de vítima presa às ferragens


1. Localizar qual a posição da cabina;
2. Realizar contato com a vítima e avaliar o quadro clínico da mesma e
tranquilizá-la; Baseado na avaliação, definir plano de ação mais adequado;
3. Dividir a guarnição;
4. Desligue o disjuntor/chave geral localizada na CM ou último pavimento;
5. Abrir a porta do pavimento, se necessário;
6. Seguir orientações do POP CBMERJ de Salvamento em elevadores.

g. Retirada de vítima presa pelo contrapeso


Similar ao procedimento de vítima presa às ferragens. *Este cenário poderá
envolver o técnico da empresa de elevador na condição de vítima. O procedimento

305
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

consiste em:
1. Localizar pavimento em que a vítima se encontra (se necessário,
abrir porta de algum pavimento de acesso para identificar, visualmente, com o
auxílio de uma lanterna, a localização da cabina);
2. Estabelecer contato com a vítima, informar da presença da
equipe de socorro e tranquilizá-la visando facilitar o atendimento médico; deve-
se identificar a gravidade do quadro clínico da vítima para definir o plano de ação
mais adequado;
3. Dividir a guarnição, devidamente equipada com rádios
comunicadores e lanternas, entre o pavimento mais próximo da vítima e a casa
de máquinas (CM) ou último pavimento (sem CM);
4. Igual ao do procedimento b. se for com CM, e se for sem CM a
chave geral fica localizada no último pavimento;
5. A forma de abertura a ser seguida será igual a do procedimento
b;
6. O POP CBMERJ de Salvamento em elevadores define o
procedimento neste caso específico da seguinte forma:
- Observar se com o simples movimento do contrapeso (subida ou
descida, conforme itens 6 e 7 do procedimento b. ) é possível liberar a
vítima, tendo sempre em mente que o movimento do contrapeso é contrário
ao da cabina;
- Caso não seja possível movimentar o contrapeso, este deve ser
liberado de suas guias, afrouxando os parafusos que o fixam, afastando-o
da vítima;
- No caso de ocorrência com vítima fatal, após a localização do
corpo, acionar o policiamento, preservando o local até a sua chegada.

Resumo do procedimento de retirada de vítima presa pelo contrapeso


1. Localizar em qual pavimento a vítima se encontra;
2. Realizar contato com a vítima e avaliar o quadro clínico da mesma e
tranquilizá-la; Baseado na avaliação, definir plano de ação mais adequado;
3. Dividir a guarnição;
4. Desligue o disjuntor/chave geral localizada na CM ou último pavimento;

306
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

5. Abrir porta do pavimento;


6. Seguir orientações do POP CBMERJ de Salvamento em elevadores.

h. Retirada de vítima no interior do poço


1. Localizar vítima;
2. Estabelecer contato com a vítima, informar da presença da equipe de
socorro e tranquilizá-la visando facilitar o atendimento médico; deve-se identificar a
gravidade do quadro clínico da vítima para definir o plano de ação mais adequado;
3. Dividir a guarnição, devidamente equipada com rádios comunicadores e
lanternas, entre o pavimento mais próximo da vítima e a casa de máquinas (CM) ou
último pavimento (sem CM);
4. Igual ao do procedimento b. se for com CM, e se for sem CM
procedimento c;
5. Abrir a porta (conforme forma de abertura do mesmo item do
procedimento b.) do andar mais próximo do térreo ou subsolo;
6. Acessar o fundo do poço para ter contato com a vítima fazendo uso de
uma escada;
7. Prestar os primeiros socorros de acordo com a condição da vítima.

Observação: Há no poço do elevador um botão de parada de emergência, que


impede a movimentação da cabina e um interruptor de iluminação que pode auxiliar
na segurança dos trabalhos. Esse dispositivo serve para utilização do funcionário da
empresa e normalmente só funciona caso haja energia no sistema. Ele não deve ser
utilizado em substituição ao desligamento da chave geral.

Resumo do procedimento de retirada de vítima no interior do poço


1. Localizar vítima;
2. Realizar contato com a vítima e avaliar o quadro clínico da mesma e
tranquilizá-la; Baseado na avaliação, definir plano de ação mais adequado;
3. Dividir a guarnição;
4. Desligue o disjuntor/chave geral localizada na CM ou no último
pavimento;
5. Abrir porta mais próxima do térreo ou subsolo;

307
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

6. Acessar o fundo do poço;


7. Prestar primeiros socorros.

i. Procedimentos em caso de incêndio


*É proibido o uso de elevador em caso de incêndio.

1. Deve-se acionar a chave de emergência ou botoeira de emergência


(também conhecido como elevador de emergência). Cada elevador possui a sua
botoeira e fica posicionada no alto e à direita da porta do pavimento, normalmente do
térreo;
Para acionar basta quebrar o vidro e apertar o botão, isto fará com que a cabina
se desloque de onde estiver para o pavimento de acionamento e interrompa o
atendimento aos chamados.
*Caso o elevador disponha desse sistema, é imperativo que os elevadores não
sejam utilizados, para tanto o Comandante de Operações pode adotar o seguinte
procedimento: chamar o elevador até o térreo e com a cabina neste pavimento, efetuar
o corte da energia elétrica, assim estará assegurado a não utilização. Caso queira
evitar o corte de energia elétrica, pode-se colocar um anteparo impedindo o
fechamento da porta, isto impedirá que ele se desloque (válido para aparelhos com
tecnologia que só se deslocam com a porta fechada).
- Há também elevadores que possuem o dispositivo de emergência citado
acima, porém alguns modelos agem da seguinte forma: desloca-se por todos os
andares, um a um, e após o último desce diretamente até o térreo, e ali permanece.

2. Como utilizar o elevador após acionada a botoeira de emergência:

*Esse procedimento só deve ser utilizado quando houver segurança para os


militares e de acordo com cenário do evento.

Caso o Comandante de Operações decida acionar a botoeira de emergência,


o elevador entrará em modo “serviço de Bombeiro”. Este modo funcionará da seguinte
forma:

308
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

- O elevador se desloca para o piso onde a botoeira está localizada e


estaciona com as portas abertas;
- Todas as chamadas de cabina e de pavimentos serão ignoradas;
- O elevador somente responderá aos chamados da seguinte forma:
▪ Pressionar o botão da cabina até que a porta se feche, caso
contrário ela abrirá automaticamente;
▪ Manter o botão pressionado até o pavimento selecionado e
somente soltá-lo quando as portas estiverem completamente abertas;
▪ Uma vez que as portas estejam completamente abertas, a cabina
fica parada nesse pavimento até que seja efetuada outra chamada na
cabina da mesma maneira.

Figura 262
Fonte: TK Elevator

j. Entrega do Local

Nesta fase do socorro, o local onde ocorreu o evento deve ser deixado em
perfeita segurança.
O local será entregue ao síndico ou à administração do prédio. Deverá ser
informado que o elevador só poderá voltar a funcionar após uma vistoria técnica
efetuada pela empresa responsável pela conservação e manutenção do elevador.
Em caso de necessidade de preservação do local para perícia técnica, deverá
ser efetuada sinalização e o local entregue a Polícia Militar que deverá ser acionada
para o local.
309
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Orientações para os responsáveis:


a) Alertar sobre a importância de manutenção periódica;
b) Alertar sobre a importância do correto funcionamento da comunicação
de segurança na cabina;
c) Alertar sobre a importância da iluminação de emergência nas cabinas
dos elevadores;
d) Alertar para não exceder o limite de peso do elevador definido pelo
fabricante;
e) Crianças menores de 10 anos não podem utilizar o elevador
desacompanhadas. A criança não tem altura ou discernimento suficiente para acionar
o botão de alarme em caso de emergência (Lei do Município da cidade de Rio de
Janeiro Nº 2546 de 12 de maio de 1997);
f) Não se deve jogar água nos corredores do prédio. Ao entrar no vão do
elevador, a água provoca curto-circuito nos seus fechos eletromecânicos, fazendo
com que ele se movimente com as portas dos pavimentos abertas; (Lei do Município
da cidade de Rio de Janeiro Nº 2546 de 12 de maio de 1997);
g) Informar que as chaves que necessitarem ser cedidas aos Bombeiros,
deverão estar em local ou com pessoas que possam ser encontradas facilmente.

Ao final da operação, registrar as informações necessárias para elaboração de


registro de evento. Ao chegar à unidade, realizar debriefing com todos os envolvidos
no evento.

310
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

12 BUSCA E RESGATE EM ENCHENTES E INUNDAÇÕES

Neste capítulo, caro aluno, trataremos a sua segurança em operações em


áreas alagadas, inundadas ou mesmo em rios, medidas que poderão ajudar e agilizar
a resposta ao evento.
Não serão tratadas técnicas mais elaboradas por entendermos que este não é
o foco principal do Curso de Salvamento Terrestre, no entanto como são eventos que
qualquer guarnição de salvamento pode encontrar discorreremos noções básicas de
atendimento a eles.

12.1 Diferenciando os eventos

De início, temos alguns conceitos importantes para que se possa distinguir o


tipo de evento ao qual a guarnição avançará:
- Alagamento – é a água acumulada nas ruas do perímetro urbano,
normalmente oriunda de forte chuva, em concomitância ao pouco escoamento obtido
pelos sistemas de drenagem das cidades;
- Enxurrada ou Cabeça d´água – é o escoamento de meio líquido com alta
energia de transporte, podendo ocorrer em áreas de domínio fluvial ou não. Alguns
indicativos de ocorrência de enxurradas podem ser verificados rio abaixo, como por
exemplo:
I - Aumento súbito do nível da água;
II - Mudança de coloração da água para barrenta;
III - Presença de detritos e materiais orgânicos no meio aquático;
IV - Não sendo possível retornar a margem de saída, procurar um local
mais alto possível.

Aguardar a chegada dos especialistas para a extração correta das vítimas. No


estado do Rio de Janeiro podemos identificar incidências destes fenômenos nas
regiões montanhosas da Serra dos Órgãos e Serra da Mantiqueira.
- Enchente – As enchentes são caracterizadas pela elevação do nível do rio
atingindo sua cota máxima do canal, sem gerar extravasamento.

- Inundação - Pode ser definido como a submersão de áreas fora dos limites
normais de um curso de água, em áreas onde normalmente não estão submersas.
311
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

São ocasionadas geralmente pelo elevado nível de precipitações por períodos


prolongados na bacia hidrográfica. As inundações geram problemas normalmente
porque a população cria suas habitações de forma irregular próximo aos rios. Então,
quando existe o transbordamento do rio o mesmo atinge a população que habitava
próximo ao mesmo. Além disso, as inundações e alagamentos são influenciados e
agravados pelo nível de impermeabilização nas cidades.

Figura 263 – Representação dos níveis de um curso de água


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

12.2 Segurança nas operações

Ao chegar ao evento, deve-se ponderar a quem compete determinada situação,


pois o salvamento em um ambiente aquático possui inúmeras variáveis e riscos e,
com isso, pode ser necessário o emprego de equipes especializadas para a
concretização do socorro. Na tabela abaixo, oriunda do Manual de Operações de
Salvamento em Desastres – CBMERJ, constam orientações para identificar as
competências operacionais das equipes do CBMERJ.

312
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 264 – Tabela de identificação de riscos


Fonte: CBMERJ

12.2.1. Zoneamento

Considerando como referência o meio líquido, podemos realizar o zoneamento


do evento da seguinte forma:

313
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 265 – Representação dos níveis de um curso de água


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

Zona quente: meio líquido;


Zona morna: entorno do meio líquido (Ex.: margens do rio, pontes, etc);
Zona fria: local afastado e seguro.

12.2.2 Referenciais do rio

O primeiro passo para que seja realizada uma boa leitura do comportamento
dos cursos d’água é estabelecer um referencial do mesmo, para tanto utiliza-se rio
acima, rio abaixo, margem esquerda e margem direita.

I – Nascente de um rio: Consiste no local de gênese de um curso d’água. II –


Foz de um rio: Destino final de um determinado curso d’água;
III – Rio acima: Também denominado como montante de um rio, consiste
na parte superior de um curso de água mais próximo a sua nascente;
IV – Rio abaixo: Também denominado como jusante de um rio, consiste na
parte inferior de um curso de água mais próximo a sua foz;
V – Margem esquerda e margem direita: tomando como referência a direção e
sentido da correnteza, a margem assumirá a posição relacionada ao vetor da mesma.

314
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 266 – Nomenclaturas em rios


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

12.2.3. Identificação dos riscos

Antes de iniciar o salvamento, deve-se observar alguns fatores, bem como


alinhar todas as informações com a guarnição, a fim de salvaguardar a vida dos
socorristas e de oferecer eficiência no resgate das vítimas. São eles:
I – Características físicas do local de intervenção;
II – Riscos pontuais;
Pode-se observar nos variados cursos de água, seja em um rio ou em uma
inundação de um perímetro urbano, elementos que contribuem para a elevação dos
riscos e ameaças os quais devem ser considerados durante o desenvolvimento de
uma operação.
– Sumidouros – Depressões presentes ao longo de um curso d’água,
caracterizado pela ausência de correnteza no local;
– Canais de inundação – Convergência acentuada do fluxo d’água de um
espaçamento maior entre as margens para um menor;
– Obstáculos diversos – Ao longo do fluxo d’água diversos obstáculos como
árvores, estruturas de alvenarias, pedras dentre outros se fazem presente;
– Represas e barragens – Estruturas construídas pelo o homem para atender
objetivos como produção de energia elétrica e captação de água que normalmente
possuem elevadas profundidades;
– Água poluída – Fluxos d’água com presença de substâncias nocivas ao ser
humano;
– Água fria – Devido ao fato do corpo humano perder calor de forma acentuada
para a água, temperaturas baixas da água torna-se um fator de risco, podendo levar
315
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

o indivíduo a um quadro de hipotermia;


- Bueiros;
- Objetos perfurocortantes.

III - Identificação do ponto de perigo(PP) e ponto salvamento


(PS);
IV – Estabelecimento de rotas de fuga;
V – Montagem do palco de ferramentas;
VI – Verificação de pontos de ancoragem

Figura 267 – Regras de Ouro BREI


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

12.2.4. Efeitos hidráulicos da correnteza

I – Remanso: Consiste em um fluxo de água horizontal em sentido oposto ao


vetor da correnteza, este efeito surge em consequência de um obstáculo e/ou
curvatura que se faz presente ao longo de um curso d’água.

316
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 268 – Efeitos hidráulicos no rio


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

II – Corrente em “V”: A correnteza em “V” consiste em um fenômeno o qual


se observa uma mudança de comportamento da direção da corrente quando esta se
depara com algum obstáculo.

Figura 269 – Corrente em V


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

III – Refluxo: Fenômeno hidráulico decorrente de um movimento verticalizado


do fluxo de água após a passagem por um obstáculo o qual pode acarretar um
deslocamento circular de determinado corpo, aprisionando o mesmo nesta região.
Observa-se no refluxo uma espuma branca, isso se deve pela presença de 40 a 60%
de ar, dificultando a sustentação do corpo nesta localidade.

317
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 270 – Imagens posições do Rio e fenômenos


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

12.3. Equipamentos de BREI

Descreveremos a seguir alguns dos principais equipamentos para salvamento


aquático e destacamos que os nossos uniformes normais de trabalho, seja o 3º G ou
4º A (uniforme de prontidão e de treinamento físico militar, RUCBMERJ 2006) não
oferecem a melhor proteção para estes tipos de eventos.

12.3.1 Capacete de Salvamento Aquático

Tem o proteger a cabeça do Bombeiro Militar em operações de Salvamento


Aquático. Feito em polipropileno, possui regulagens para melhor ajuste na cabeça,
possui proteção para as orelhas e é importante ressaltar que este capacete flutua e
não absorve água.

318
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 271 – Capacete


Fonte: Manual Básico de Bombeiro Militar, 2014 – CBMERJ

12.3.2 Colete Salva Vidas

Projetado para auxiliar na flutuação do usuário este colete possui ainda um


olhal de ancoragem com dispositivo de soltura rápida.

Figura 272 – Colete


Fonte: Manual Básico de Bombeiro Militar, 2014 – CBMERJ

12.3.3 Roupa de Proteção Aquática

Feita com material comercialmente conhecido como Neoprene oferece ao


militar maior conforto térmico e maior proteção contra cortes.

319
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 273 – RPA


Fonte: Manual Básico de Bombeiro Militar, 2014 – CBMERJ

12.3.4 Apito Aquático

Instrumento sonoro que permite a comunicação entre os envolvidos por códigos


de silvos anteriormente combinados, cabe salientar que não deve ser utilizado
qualquer apito já que alguns quando molhados não funcionam corretamente.

Figura 274 – Apito


Fonte: Manual Básico de Bombeiro Militar, 2014 – CBMERJ

12.3.5 Saco de Arremesso

Nada mais é do que um saco confeccionado em nylon que em seu interior


guarda um cabo de aproximadamente 20m de comprimento, este material flutua e é
utilizado tanto para ser arremessado para a vítima como para ancorar o militar que
salte na água para um salvamento.

Figura 275 – Saco de Arremesso


Fonte: Manual Básico de Bombeiro Militar, 2014 – CBMERJ

12.3.6 Embarcações

A escolha para a embarcação a ser utilizada vai depender do local da operação,


normalmente em águas abrigadas o Bote de fundo rígido, comprimento de no máximo
5m e motor de popa com boa potência (até 35 HP para vencer a correnteza é mais
adequado já que estes botes possuem boa estabilidade, em águas abertas

320
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

costumamos optar por embarcações de fibra e maiores de 6m de comprimento com


motor de centro, no entanto os botes citados anteriormente também podem ser
utilizados.
Estas embarcações necessitam de alguns cuidados para que a eficiência deles
seja preservada:
● devem ser guardados sempre em locais com boa cobertura, a ação do
sol ressaca a material e estraga a colagem de algumas partes;
● Não devem ser arrastados, mesmo que seja até o deslocamento para a
água;
● Não devem receber tratamentos com produtos químicos que não sejam
especificados para isso;
● Não devem ser guardados molhados e nem cheios até o limite;
● Devem receber aplicação periódica de produtos específicos para a
reidratação do tecido;
● Quando exposto ao calor intenso deve-se controlar a pressão dos
gomos;
● A pressão da quilha central, quando em navegação, deverá ser sempre
alta (cheia);
● Não utilizar motores mais potentes do que a especificação do fabricante
recomendar;
● Deve-se aplicar verniz periodicamente nas partes de madeira;
● Quando em uso deve-se molhar as partes dos gomos que
permaneceram secas para preservar as emendas.

Figura 276 – Embarcação do CBMERJ


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

321
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

12.3.6.1 Embarcação Emborcada

Caso a embarcação fique emborcada devemos colocá-la em sua posição


correta através dos seguintes passos:
1. Verificar que a embarcação está em local seguro;
2. Amarrar as extremidades da embarcação (popa e proa), devendo o seio
da corda ficar sobre o bote;
3. Posicionar-se sobre a embarcação e com a corda nas mãos;
4. Jogar-se para trás ainda segurando a corda;
5. Assim que perceber que o bote irá virar para a posição correta o militar
deverá saltar para se afastar da embarcação.

Figura 277 – Embarcação do CBMERJ


Fonte: Equipe de produção

12.3.6.2 Motor de Popa

Antes vamos tirar uma possível dúvida: a Proa da embarcação é a parte da


frente enquanto a Popa é a parte traseira dela.
Por definição o Motor de Popa possui uma ou mais hélices que ao girarem
permitem o deslocamento da embarcação em meio aquático.
Dica para o bom funcionamento do Motor, para motores “dois tempos”
devemos usar óleo TCW3, motores usados no litoral devem ser na proporção de
quarenta para um, já em água doce a proporção deve ser cinquenta para um (autolub).
Deixando vários dias sem utilização, devemos realizar a “pane seca” (deixar
funcionando até o combustível acabar).

322
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

12.3.7 Outros tipos de EPI para Operações de BREI

Dependendo do evento e da guarnição utilizada o tipo de indumentária e EPI


poderão variar, abaixo você poderá observar algumas destas variações.

Figura 278 – Bombeiro Militar usando EPI para BREI


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

12.4 Comunicação nas Operações de BREI

Devemos nos preocupar com a proteção da equipe e do cenário em que iremos


operar, portanto adotamos terminologias, códigos sonoros e visuais que facilitarão a
comunicação e também a segurança.
Trabalharemos sempre com o método de menor risco, tendo sempre em mente
que a vida mais importante na ocorrência é a do próprio resgatista e que teremos o
maior zelo possível com a segurança pessoal de toda a guarnição.
Não devemos utilizar EPI inadequados para esta atividade como capacetes ou
conjuntos de combate a incêndio, nunca iremos amarrar uma corda ao redor de um
resgatista.
Como dito anteriormente a comunicação na operação poderá ser sonora ou
visual, a utilização do apito nos facilita com a primeira delas já que em ocorrências de
BREI nem sempre o evento está silencioso ao ponto de escutarmos a voz um do outro,
portanto padronizamos as seguintes ordens mediantes os silvos do apito:

323
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 279 – Comunicação visual BREI


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

Figura 280 – Comunicação sonora BREI


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

Figura 281 – Comunicação visual BREI


Fonte : Manual COSD/CBMERJ
1. Resgatista com um braço para o alto – Preciso de ajuda!
2. Resgatista com a mão no topo da cabeça – Estou bem!

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

12.5 Doutrina do salvamento BREI

Figura 282 – Comunicação visual BREI/


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

Do mais fácil ao mais difícil e arriscado a primeira opção será sempre alcançar,
pode ser feita com um remo, escada, vara de manobra, galho, ou outra coisa
semelhante sem que tenhamos que entrar na água.

Figura 283 – Alcançar BREI


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

Figura 284 – Alcançar BREI


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

Arremessar será adotada logo que a opção anterior não for possível e nada
mais é do que arremessar algo que a vítima possa agarrar como uma bóia ou o saco
325
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

de arremesso, caso consigamos alcançar a vítima por meio do objeto arremessado


iremos puxá-la de volta ou até um ponto seguro como a margem.

Figura 285 – Bombeiro Militar utilizando o saco de arremesso


Fonte: Equipe de produção

Nota importante: o jeito de segurar o objeto arremessado influencia na forma


como a vítima será arrastada e fornecer essa informação a ela é importante.

Figura 286 – Vítima segurando o saco de arremesso


Fonte: CBMMG e Manual Básico de Bombeiro Militar, 2014 – CBMERJ

Afastada a possibilidade de anterior passamos para a opção de remar que nada


mais é do que remar até próximo da vítima para que as etapas anteriores possam ser

326
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

feitas (alcançar ou arremessar).

Figura 287 – Embarcação do CBMERJ


Fonte: Equipe de produção

Por último utilizaremos a opção de entrarmos no meio aquoso, esta técnica


envolve bastante habilidade e risco de acidentes, duas formas de vencermos a força
da correnteza sem sermos arrastados é o adentramento em linha e o em “V”.
O militar da frente receberá uma força maior da água e diminuirá a ação dela
nos demais militares que virão logo depois dele, para facilitar o avanço dessa
guarnição este militar deverá levar uma haste consigo e ir fincando-a no solo conforme
for avançando, verificando ainda se no caminho existem obstáculos.

Figura 288 – Guarnição avançando em linha


Fonte: Equipe de produção

327
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 289 – Guarnição avançando em “V”


Fonte: Equipe de produção

Para casos em que a profundidade não permita o adentramento em pé, em


linha ou em “V” deveremos utilizar os tipos de nada do capítulo seguinte, cabe
ressaltarmos que as técnicas estão avançando em dificuldade e também ficando mais
arriscadas.

12.6 Entrada em meio aquoso para natação

Para a entrada no meio aquoso, sabendo da profundidade o resgatista deverá


saltar pranchado, para facilitar sua flutuação e deslocamento e ainda para não perder
de vista o seu objetivo.

Figura 290 – Salto pranchado


Fonte: Equipe de produção

328
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 291 – Salto pranchado


Fonte: Equipe de produção

Caso a distância do ponto de salto seja muito grande, verticalmente falando, o


resgatista poderá fazer uso da técnica “passo do gigante”, nela ele saltará em pé
segurando seu colete e também seu capacete.

Figura 292 – Passo do gigante


Fonte: Equipe de produção

Figura 293 – Passo do gigante


Fonte: Equipe de produção

329
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

12.7 Natação defensiva e ofensiva

Basicamente usaremos dois tipos de natação nesses locais: a defensiva e a


ofensiva.
Na primeira o militar ficará deitado em decúbito dorsal (barriga para cima) usará
os braços para mudar sua direção (direita e esquerda) e suas pernas servirão de
proteção para que não bata com força em nenhum obstáculo.
Na segunda (ofensivo) o militar ficará deitado em decúbito ventral (barriga para
baixo) e realizará o nado de aproximação, semelhante ao nado “crawl”, mas com a
cabeça sempre fora da água, esse nado será usado quando o resgatista precisar de
força e velocidade, cabe lembrar que ele oferece menos segurança contra impactos
em obstáculos.

Figura 294 – Bombeiro Militar em nado defensivo


Fonte: Equipe de produção

Figura 295 – Bombeiro Militar em nado ofensivo


Fonte: Equipe de produção

330
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

As técnicas mostradas anteriormente necessitam do bom preparo psicológico,


técnico e principalmente do bom preparo físico, apesar do Curso ser de Salvamento
Terrestre temos a obrigação de alertar que o bom condicionamento físico é
fundamental, inclusive o bom condicionamento físico em natação.

12.8 Ângulo de travessia

Essa questão é muito importante, precisa ser levada em consideração durante


nossas operações de BREI e ela serve para nos ajudar a atravessar um ambiente com
correnteza.
O ângulo pode variar de acordo com a correnteza, sendo que o mínimo é 45º,
isto é, se vamos atravessar um rio com correnteza não devemos nadar em linha reta
mirando o objetivo, mas sim considerando que a corrente nos afastará do objetivo e
deveremos, para compensar, nadar mirando um alvo a 45º do alvo original. Ocorrerá
uma soma vetorial da força que empregamos ao nadar com a força da corrente.

Figura 296 – Esquema vetorial do nado a 45º


Fonte: Equipe de produção

Considerando o mesmo conceito, caso tenhamos que montar uma corda para
passar resgatistas ou vítimas pelo meio aquático onde existe a presença de
correnteza, deveremos montar esse plano horizontal com a corda também
considerando os 45º, o toque da carga na água facilitará o deslocamento já que
usaremos a força da água a nossa favor.

Nota importante: Nunca monte um plano horizontal sem considerar o ângulo


de travessia, pois se assim fizermos poderemos ter cargas e pessoas presas no meio
331
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

do sistema. A ação da água fará com que o sistema faça um “V” no centro.

Figura 297 – Esquema vetorial do plano horizontal a 45º


Fonte: CBMMG e Manual Básico de Bombeiro Militar, 2014 – CBMERJ

12.9 Nadador de alta velocidade ou “Isca viva”

Finalizando essa parte mostraremos a técnica de nadador de alta velocidade


ou “isca viva”, essa técnica deve ser utilizada somente por militares experientes, que
nadem bem e somente se as técnicas anteriores não puderem ser realizadas.
Para esta técnica o resgatista saltará na água com o nado pranchado para não
perder de vista a vítima, nadará em direção ao objetivo lembrando da ação da
correnteza (ângulo de travessia) e terá em seu colete uma corda ancorada.
Lembrando que essa corda ancorada poderá em caso de maior necessidade ser
liberada por meio do dispositivo de fácil soltura.

Figura 298 – Bombeiro Militar saltando como “isca viva”


Fonte: Manual Básico de Bombeiro Militar, 2014 – CBMERJ

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 299 – Guarnição utilizando a técnica de “isca viva”


Fonte: CBMMG e Manual Básico de Bombeiro Militar, 2014 – CBMERJ

333
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

13 TÉCNICAS BÁSICAS DE SALVAMENTO EM ESTRUTURAS COLAPSADAS

13.1 Divisão de BREC

Em todas as operações, faz-se necessário a distribuição de funções para que


dentro de um cenário sinistrado, principalmente em um desastre, tenha-se uma
organização e efetividade cada vez maior na operação. Sendo assim, foram
estabelecidas seis funções distintas dentro de uma Divisão BREC, podendo elas ser
cumulativas ou não. Essas funções são: Supervisor BREC, Oficial de Segurança,
Grupo de Busca, Grupo de Resgate, Grupo Médico, Grupo de Logística.

Figura 300 – Organograma de uma Divisão BREC


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

I. Supervisor BREC: Obrigatoriamente exercido por um oficial especializado em


operações de salvamento em desastres. Tem a responsabilidade de gerenciar a
Divisão BREC como um todo, organizando o revezamento dos membros dos grupos,
comandando e controlando a missão a qual a Divisão foi designada, planejando a
melhor forma de solucionar as intempéries que possam surgir.

II. Oficial de segurança: Militar responsável pela análise dos riscos na


operação, seja atuando na área quente, ou até mesmo observando a área fria. O
responsável por essa função deve também se atentar pela utilização correta dos
equipamentos de proteção individual e dos procedimentos adequados no cenário do

334
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

socorro; além disso tem total autonomia para parar ou iniciar qualquer atividade na
operação a qualquer momento. Por isso, existem situações nas quais essa função é
acumulada pelo Supervisor BREC.

III. Grupo de Busca: Militares responsáveis pela localização das vítimas no


desastre, seja através de buscas superficiais, implementos tecnológicos ou com a
utilização de cães. Neste último caso, o CBMERJ através do 2º GSFMA (2º
Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente), possui equipes especializadas
para a execução desta missão.

IV. Grupo de resgate: São os militares responsáveis pela aplicação das


técnicas de resgate como um todo. Podem integrar o Grupo de Busca, juntamente
com as equipes de operações com cães. Tem capacidade de aplicar qualquer tipo de
técnica e equipamento que possibilite acessar a vítima, fazer içamento de carga,
rompimentos, corte em materiais, e até mesmo escoramentos.

V. Grupo Médico: São os militares responsáveis pela saúde dos membros da


equipe, dos cães, como também das vítimas. Apesar de existir militares especialistas
em desastres que sejam da área da saúde, nas operações, normalmente quem
assume a responsabilidade, são os militares que estão de serviço na ambulância da
área do ocorrido. No caso dos cães, a própria veterinária do 2°GSFMA fica
responsável pelo cuidado dos cães na operação. O CBMERJ também instituiu o Curso
de Extensão em APH (CEAPH), com a finalidade de aproximar o militar da saúde das
ações de busca e salvamento da corporação, apoiando as guarnições nas mais
diversas áreas, incluindo desastres. Além de ambientar e instruir os militares da
saúde, proporcionando maior padronização dos procedimentos.

VI. Grupo de Logística: São os militares responsáveis por dar suporte e manter,
em todos os aspectos, a Divisão BREC como um todo. Ficam responsáveis pelos
materiais da operação, pelo estabelecimento da comunicação, pelo transporte dos
materiais e até mesmo da tropa, e pela alimentação da Divisão. Esse grupo não
necessita especificamente da especialização de operações de salvamento em
desastres, podendo ser formado por militares de diversas qualificações e áreas do

335
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CBMERJ.

13.2 Classificação da Divisão BREC por característica do evento.

Essa classificação tem como objetivo principal definir quantas Equipes USAR
devem ser acionadas para atuar dentro de uma operação em desastres que seja
enquadrada dentro de duas principais características: Tempo de operação e
equipamentos utilizados. Sendo assim, serão definidas das seguintes maneiras:
primeira resposta, Leve, Intermediária, Pesada.

I. Primeira resposta: Os militares que compreendem essas equipes são


aqueles que fornecem o primeiro atendimento ao desastre em si, normalmente são os
militares que estão de serviço nas viaturas da unidade. Não existe a necessidade de
os mesmos possuírem o COSD, mas seria interessante que os componentes dessa
equipe possuíssem algum tipo de instrução básica sobre operações em desastres,
seja através do Programa de Qualificação Operacional (PQO), ou através do Curso
de Salvamento Terrestre (CST). Atuam essencialmente em um atendimento básico na
operação, fornecendo o levantamento de dados da área afetada, identificação dos
riscos, isolamento do local, busca e salvamento superficial, e dando suporte para as
outras equipes que chegarem para apoiar.

II. Divisão BREC Leve: Os militares que compreendem essa Divisão


preferencialmente devem ser especialistas em desastres da corporação. Deverá
possuir os cinco componentes de uma divisão: Gerenciamento, Logística, Busca,
Resgate e Médico. Possuem a polivalência de atuar nos mais diversos tipos de
estruturas como: estruturas de madeira, alvenaria e concreto armado leve, além de
trabalharem com manobras de cargas pesadas. A composição da Divisão abrange de
17 a 20 pessoas, ressalta-se ainda que deverão ser cumpridos os seguintes critérios:
ter capacidade para trabalhar em um único local de trabalho; ter capacidade para
busca com cães e/ou busca técnica com equipamentos; ter pessoal e recursos
adequados para permitir operações máximas de 12 horas em um local( podendo ser
modificado o local) por até cinco dias; ser capaz de fornecer tratamento médico para
todos os seus componentes da equipe (incluindo cães) e para as vítimas também.

336
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

III. Divisão BREC Intermediária: Neste nível a Divisão deverá possuir as cinco
grandes características presentes no nível anterior: Gerenciamento, Logística, Busca,
Resgate e Médico. Esta Divisão tem capacidade para os mais diversos tipos de
buscas e salvamentos mais trabalhosos e complexos. A sua composição sugerida é
de 42 pessoas, devendo possuir os seguintes atributos: ter capacidade para trabalhar
em um único local de trabalho; ter capacidade para busca com cães e/ou busca
técnica com equipamentos; ter pessoal e recursos adequados para conseguir
trabalhar em operações que sejam de no máximo 24 horas em um local(podendo ser
o mesmo alterado) por até sete dias; ser capaz de tratar sua própria equipe(incluindo
os cães) e também as vítimas.

IV. Divisão BREC Pesada: Similarmente às divisões anteriores, esta deverá


possuir as cinco áreas necessárias: Gerenciamento, Logística, Busca, Resgate e
Médico. Além de conseguir trabalhar com todas as peculiaridades outrora
classificadas, conseguem também, realizar operações de escoramento estrutural,
visando retardar o colapso da estrutura. A sua composição sugerida é de 63 pessoas,
e as mesmas devem possuir como um todo as seguintes peculiaridades: ter a
capacidade de equipamento e mão de obra para trabalhar em dois locais separados,
simultaneamente, operando em nível de Divisão pesada; ter a capacidade para
realizar busca com cães e busca tecnológicas com equipamentos; ter pessoal e
recursos necessários para operações máximas de 24 horas em dois locais (podendo
os mesmos serem modificados) por até dez dias; ser capaz de tratar medicamente
sua própria equipe(incluindo os cães) como também as vítimas.

13.3 Segurança, riscos e ameaças em uma operação BREC

Em uma operação de Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas, os riscos


são inúmeros, portanto é necessário que todos os Bombeiros Militares, bem como
outros elementos envolvidos na operação, estejam cientes das orientações quanto à
segurança em um aspecto macro e micro, contribuindo para o desenvolvimento
regular da missão. Diante das operações BREC, nota-se um grande risco à
integridade dos Bombeiros Militar, assim como as pessoas a serem resgatadas, diante
das ameaças de uma área sinistrada. A fim de esclarecer e exemplificar as ameaças
que os Bombeiros Militares podem enfrentar em uma operação de BREC, segue
337
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

alguns exemplos:
I. Réplicas (recorrências, repetições) do incidente;
II. Trabalho em área confinada;
III. Estruturas instáveis;
IV. Ar e água contaminados;
V. Cenário de trabalho muitas vezes desconhecido;
VI. Condições meteorológicas adversas;
VII. Excessivo ruído, pó e fumaça;
VIII. Descargas Elétricas;
IX. Distúrbios Civis (Vandalismo, Roubo e Saque);
X. Combustão;
XI. Roedores (Transmissão de doenças);
XII. Acidentes por quedas de altura;
XIII. Materiais perfurocortantes.

13.4 Oficial de Segurança

Como já visto anteriormente, as equipes BREC são divididas em grupo de 6 ou


5 membros, os quais são submetidos à grandes riscos em campo, em razão das
ameaças envolvidas, em virtude desse fato, um membro de cada equipe deve ser
designado para ser o oficial de segurança, tendo a incumbência de prover a segurança
da equipe, recebendo a máxima autoridade neste quesito dentre os componentes.
Vale ressaltar, que o oficial de segurança não é uma função fixa, podendo ser alterada
no decorrer da operação. O Oficial de segurança terá as seguintes atribuições:

I. Verificar se todos os resgatistas que iniciam o trabalho estão utilizando os


EPI’s obrigatórios;
II. Definir uma rota de fuga para a evacuação e uma zona de segurança antes
de iniciar o trabalho;
III. Retirar da área da área de trabalho qualquer pessoa que provoque ação
insegura;
IV. Assegurar que todos os resgatistas estão trabalhando em grupo;
V. Assegurar que esteja sempre empregada de forma correta o emprego das
ferramentas e equipamentos;
338
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

VI. Observar os descansos apropriado e a hidratação da equipe;


VII. Assegurar que todos os resgatistas tenham conhecimento das zonas
seguras.

13.5 Comunicação de segurança em uma operação de BREC

A comunicação de segurança em uma operação de BREC deve ser


considerada como uma função primordial para uma atuação segura na área sinistrada.
Além de ser utilizada para obter recursos como: água, ferramentas, equipamentos e
outros, ela também é utilizada principalmente na área quente para controlar o
desenvolvimento da operação e alertar todos os Bombeiros Militares em caso de risco.
Com o propósito de padronizar a forma de comunicação em uma área
sinistrada, foi estabelecido que o meio de comunicação utilizado são os sinais sonoros
que usualmente se utiliza o apito, mas que poderá utilizar outro mecanismo sonoro de
aviso, e transcorrerá da seguinte forma:

Tabela 10 – Sinais sonoros


Fonte : Manual COSD/CBMERJ

13.6 Padrões de Busca e Técnicas aplicadas em uma operação BREC

Para encontrar vítimas em áreas de desabamento, diferentes técnicas e


padrões podem ser utilizados. Disposição e deformação dos escombros, expansão da
área a ser buscada e equipamentos disponíveis para a operação vão interferir na
escolha da tática e da técnica a serem aplicadas.

339
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

13.6.1 Buscas superficiais

Para iniciar uma atividade de busca em escombros, os Bombeiros Militares


tomarão posição no terreno de formas diferentes, a forma ideal para cada área a ser
buscada dependerá da conformação dos escombros no terreno. De modo geral temos
duas formas diferentes de realizar uma busca. Os militares poderão ficar distribuídos
no terreno em linha (busca em paralelo) ou ao redor dos escombros (busca circular).

I. Busca em paralelo: Se os escombros estiverem dispostos no terreno de forma


regular com poucas variações de altura e de forma linear, os BM serão dispostos lado
a lado na posição de três apoios a uma distância aproximada de no máximo 1,5 metros
um do outro. O comandante da equipe BREC se posicionará logo atrás dos militares.
Após realizar a busca na região, se não houver sinais ou respostas de vítimas a equipe
deverá iniciar um deslocamento para frente ainda na posição de três apoios
avançando no máximo três metros de distância da região anterior até que seja varrida
toda área sinistrada.

Figura 301 – Representação da busca em paralelo


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

II. Busca circular: Se os escombros estiverem dispostos de modo que seja


impossível o deslocamento da equipe sobre eles, os BMs deverão se posicionar ao
redor dos escombros tendo como base as marcações do relógio, imaginando os
escombros como o centro do relógio e se posicionando às 12,3,6 e 9 horas. O
comandante da equipe BREC ficará posicionado logo atrás do militar que estiver na
posição de 6 horas. Se não houver sinais ou respostas da(s) vítima(s) os bombeiros
340
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

deverão trocar de posição entre eles no sentido horário até que cada socorrista tenha
dado uma volta completa.

Figura 302 – Representação da busca circular


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

13.6.2 Chamada e escuta

Essa técnica consiste basicamente em chamar pelas vítimas e aguardar


alguma resposta para iniciar os procedimentos do resgate. É importante salientar que
toda vez que a equipe BREC realizar um dos métodos de busca citados a cima, ela
deverá executar a chamada e escutada e repetir quantas vezes o comandante da
equipe julgar necessário, repetindo sempre que a equipe avançar dentro do terreno.

Figura 303 – Exemplificação de um procedimento de chamada e escuta


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

I. O comandante da equipe BREC, após dispor seus militares no terreno,


sempre na posição de três apoios, emite um silvo longo com o apito;
II. Logo após, pronunciar, em alto e bom tom, direcionado para todas as
pessoas que estão próximas, as seguintes palavras: “ATENÇÃO, SILÊNCIO TOTAL!
BM 01, EXECUTAR CHAMADA E ESCUTA!”;
III. Neste momento, o BM 01 retira a máscara de proteção da boca e, em alto e
bom tom, virado para os escombros, pronuncia as seguintes palavras: “SOMOS DA
341
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

EQUIPE DE BUSCA E RESGATE DO CORPO DE BOMBEIROS. SE ALGUÉM ME


ESCUTA, GRITE OU BATA TRÊS VEZES!”
IV. Neste momento, os militares que estão realizando o padrão de Busca em
Paralelo, abaixam suas cabeças até que seus ouvidos, já sem os protetores, fiquem
próximos dos escombros, a fim de ouvir alguma resposta;
V. Caso haja alguma resposta e o militar escute, o mesmo deve permanecer
em três apoios e, com a mão esquerda espalmada, apontar para o local onde ouviu a
resposta, mantendo a mão direita levantada com o punho cerrado;
VI. Os militares que realizam o padrão de Busca Circular, ao ouvirem o
comando do outro, aproximam-se dos escombros, permanecendo em pé (por estarem
fora dos escombros), novamente mantendo os ouvidos, sem os protetores, próximos
aos escombros, a fim de ouvir alguma resposta;
VII. Caso haja resposta, o militar que ouvir deve retornar a sua posição inicial e
executar a sinalização apontando com a mão esquerda espalmada na direção da
resposta e a mão direita levantada com o punho cerrado;
VIII. Em ambos os padrões, caso não haja resposta, o comandante da equipe
BREC ordena que o próximo Bombeiro realize novamente a técnica de chamada e
escuta, até que os quatro integrantes da equipe o façam.

Em todos os casos, se houver a sinalização de pelo menos dois militares sobre


algum indício de resposta em algum ponto da estrutura colapsada, o comandante da
equipe BREC de Busca e Localização deverá deslocar-se até as costas dos militares
que apontaram uma localização e transcrever em seu croqui a direção apontada por
cada um deles. Ao observar, no croqui, o cruzamento de duas ou mais retas, o
comandante terá um ponto com a possível localização da vítima, devendo concentrar
os esforços naquele local, para fazer contato com a vítima e sua posterior extração.

13.6.3 Busca com cães

A utilização dos cães de busca nas atividades de BREC é essencial para o


sucesso de uma grande operação relacionada a estruturas colapsadas. As equipes
de cães de busca, treinados para farejar seres humanos (vivos ou mortos) podem
obter uma economia considerável de tempo no trabalho de localização de pessoas
soterradas. Um cão de busca bem treinado pode realizar uma indicação rápida e
342
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

precisa da localização de vítimas no terreno, mesmo que elas estejam cobertas por
grandes camadas de escombros.
Os cães de busca podem procurar grandes áreas em pouco tempo, isso acelera
a tomada de decisões das equipes BREC e aumenta a possibilidade da localização
de vítimas ainda com vida sob os escombros.

Figura 304 – Exemplificação de buscas realizadas com o uso do Cão


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

13.7 Deslocamento em áreas colapsadas

A área de atuação da Divisão BREC é considerada instável e insegura em


relação a determinados procedimentos. Sendo assim, verificou-se que quanto menor
a perturbação gerada na área sinistrada proporcionará menores vibrações e
movimentação dos escombros, diminuindo a acomodação de terra no local, e
aumentando cada vez mais os Espaços Vitais Isolados que o colapso da estrutura
gerou. Dessa forma é possível estabelecer que se faz necessário diminuir, através de
técnicas, o impacto que o socorrista e sua movimentação geram para o terreno. Assim,
estabeleceu-se duas técnicas para movimentação em estruturas colapsadas:
deslocamento em decúbito ventral para espaços reduzidos e da utilização de três
apoios.

13.7.1 Deslocamento em decúbito ventral para espaços reduzidos

Essa técnica foi desenvolvida com o principal objetivo de promover o


deslocamento dos militares em um local onde não haja a possibilidade da realização
de movimentos que necessitem de mais espaço para serem realizados.

343
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 305 – Exemplificação da técnica de deslocamento em decúbito ventral


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

13.7.2 Três apoios

Essa técnica foi desenvolvida para deslocamento sob a área de desastre,


facilitando a estabilidade do militar e promovendo uma maior segurança no seu
deslocamento sobre os escombros das estruturas.

Figura 306 – Exemplificação da técnica de 3 apoios


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

13.8 Remoção de escombros

A remoção e transporte de escombros utiliza formas de organização e técnicas


que facilitam o acesso mais rápido às vítimas, e que proporcionam, além de menor
desgaste físico ao militar, maior organização e segurança na operação. Algumas
344
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

observações são importantes para organização correta quando for necessário


remover algum escombro:
I. Se o material que será removido influenciará estruturalmente em algum
Espaço Vital Isolado (EVI); se influenciar não deverá ser retirado nesse primeiro
momento;
II. Entender que a retirada dos escombros parte do princípio de diminuir a
pressão exercida sobre a estrutura colapsada, então deverão ser colocados
longe da estrutura colapsada;
III. Caso o escombro que foi retirado esteja solto, porém não consiga ser
removido apenas com a utilização das mãos, utilizar a FEA que trará o menor
impacto possível a estrutura. A técnica inicial para retirada dos escombros
superficiais e soltos é denominada Técnica do Passa-Mão..

Figura 307 – Exemplificação da técnica "passa mão"


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

Para realização da retirada dos escombros é necessário que seja realizada a


passagem do material em zigzag, com espaçamento suficiente para que o próximo
militar tenha condições de pegar os escombros contidos no balde. Quando os
escombros são descartados o retorno do balde vazio é feito por trás dos militares até
que se chegue ao militar que está depositando os escombros no balde.

Figura 308 – Exemplificação da técnica "passa mão"


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

Em situações de desastre com a utilização de FEA´s, faz-se necessário para


345
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

efeitos de segurança, que dois militares estejam atuando e que o militar que não está
operando a FEA dê suporte e sustentação para o militar que está participando
ativamente.

Figura 309 – Exemplificação da forma correta do trabalho com FEAs


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

13.9 Movimentação das vítimas no Teatro de Operações

As vítimas que precisam ser resgatadas dentro de um cenário sinistrado


precisam ser extraídas da maneira correta para uma área segura. Devido a situação
de instabilidade no local, a movimentação da mesma deverá ser de forma ágil,
utilizando a forma correta de transporte de vítimas em desastres. Essa forma de
deslocamento, além de promover maior segurança para os militares e a vítima, diminui
os riscos de novas acomodações estruturais.
Com a maca posicionada no chão, o socorrista que estiver mais próximo a
cabeça da vítima deverá ordenar que a maca seja levantada e apoiada nos joelhos
dos militares.

346
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 310 – Movimentação de vítima em área colapsada


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

Após a maca ser colocada apoiada sobre o joelho, será dado início a
movimentação da mesma. Sendo assim o Bombeiro que está mais próxima aos pés
da vítima, após perder o contato com a maca, deverá se deslocar para assumir a
posição do outro militar que se encontrava mais próximo a cabeça. Ele poderá se
deslocar de duas formas, ou utilizando a técnica de três apoios, ou em locais que não
seja possível ter espaço suficiente, deverá se deslocar em decúbito ventral por baixo
da maca.

Figura 311 – Movimentação de vítima em área colapsada


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

347
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

13.10 Resgate com uso de Tripé e Bipé

Em situações em que se faz necessário o içamento de vítimas ou qualquer tipo


de material, pode ser utilizado o tripé ou um bipé para servir de base para o içamento
como todo. O tripé é caracterizado como três bases pré-montadas ou adaptadas,
sejam elas de alumínio, ferro ou madeira, que são seguramente conectadas entre si
através de estruturas pré-fabricadas ou até mesmo união com cordas. O Bipé possui
as mesmas características, a diferença é que possui apenas duas bases de apoio.
Normalmente a utilização desses sistemas requer que o Bombeiro Militar tenha
conhecimento básico ou até mesmo especializado em sistemas de força utilizando
cordas ou cabos de aço. Para utilização tanto do Tripé quanto do Bipé, alguns
procedimentos de segurança devem ser considerados, sempre visando maior
utilização correta dos recursos.
I. Verificar qual o máximo de carga o tripé e seus componentes suporta;
II. Estabelecer quais materiais serão içados;
III. Fazer estabilização tanto da parte superior, quanto da parte inferior
mitigando os riscos do equipamento tombar ou suas bases se abrirem quando se
iniciar sua utilização;
IV. Em terrenos instáveis fazer a devida distribuição correta da pressão
exercida pelas bases do mesmo;
V. Os militares que estiverem realizando algum procedimento sempre devem
atuar devidamente ancorados.

348
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 312 – Uso de Bipé e Tripé no Resgate de vítimas


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

13.11 Movimentação de carga

Em uma operação de salvamento em desastres a quantidade de escombros é


muito grande, possuindo diversos formados e características diferentes. Dessa forma,
diversas técnicas devem ser aplicadas para promover o acesso às vítimas existentes
em cada evento. É importante observar que a movimentação se dá, na maioria das
vezes, nas cargas que exercem pouca influência na acomodação de cargas da
estrutura. Assim, algumas observações são importantes no que tange a elevação e
movimentação de cargas, sendo elas:
I. Realizar uma avaliação geral na parte dos escombros que será movimentado;
II. Estimar o peso da carga obedecendo a tabela de peso das estruturas para
que se escolha os equipamentos adequados e que atendam o peso que será
levantado. É importante informar que, para critérios de aproximação se deve
considerar concretos normais (SIMPLES) com valor médio de 2400 kg/m3, e
concretos armados com valor médio de 2500 kg/m3. Sendo assim, alguns materiais
349
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

serão necessários para fazer essa movimentação de carga, sendo eles:


I. Madeiras retangulares, denominadas fulcros, que possuem suas arestas
menores de base quadrada de medidas entre 8 cm a 10cm e comprimento de sua
aresta maior de 40 cm a 50 cm; É importante ressaltar que a madeira utilizada para
essa movimentação deverá ser resistente o suficiente para suportar o ponto de apoio
e a carga como um todo, sendo utilizada a madeira tipo Massaranduba;
II. Utilização de alavancas resistentes o suficiente para movimentar a carga;
III. Além da utilização desses recursos, dependendo das características da
carga poderão ser utilizadas o conjunto de Almofadas pneumáticas ou até mesmo
utilização do conjunto desencarcerador.

13.11.1 Preparação para Movimentação de carga

I. Utilização da alavanca juntamente com o triângulo que será utilizado para


ponto de apoio para realização da movimentação.

Figura 313 – Elevação de carga com o uso de alavancas


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

II. Primeiro conjunto de fulcros, denominados Base ou Assoalho, que entrará


em contato com a carga a ser movimentada.

350
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

/
Figura 314 – Escoramento de carga elevada
Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

III. Utilização da Técnica Assoalho Tipo Plataforma.

Figura 315 – Escoramento de carga elevada


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

IV. Utilização da Técnica Assoalho Tipo Caixa.

Figura 316 – Escoramento de carga elevada


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

351
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

V. Utilização da técnica Assoalho Tipo Caixa com a utilização do triângulo de


apoio.

Figura 317 – Base para elevação de carga com o uso de alavanca


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

13.11.2 Execução da Movimentação de carga

Para realização correta e de forma segura das técnicas para movimentação de


cargas, faz-se necessário seguir os seguintes procedimentos.
I. Após os cálculos adequados para estimar o peso da carga, definir por onde
será iniciado a movimentação e quais materiais deverão ser utilizados;
II. Posicionamento dos Bombeiros e dos materiais no local onde será iniciado
a movimentação;
III. O chefe do grupo irá perguntar se cada bombeiro militar está pronto para
fazer a movimentação;
IV. Enquanto os Militares estiverem levantando a carga outro militar, já
posicionado, colocará a Base de fulcros em ato posterior o Chefe determinará que a
carga seja abaixada sobre o apoio;
V. Qualquer movimento de colocar algum material debaixo da carga o militar
não deverá colocar as mãos embaixo da estrutura, e sim utilizar outras FEA´s para o
auxiliar.

352
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 318 – Elevação de carga com o uso de alavancas


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

13.12 Rompimento de estrutura

No decorrer de uma operação de Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas,


pode ser necessário o rompimento de diferentes tipos de estruturas para obter o
acesso às vítimas, para tanto, antes de realizar qualquer rompimento, faz se
necessário um planejamento, levando em consideração determinadas situações que
podem ocorrer ao executar a tarefas, tais como:
I. Certificar que durante a execução da técnica, a vítima não seja exposta aos
movimentos e consequentemente tenha seu quadro prejudicado;
II. Se o material estiver produzindo faísca, certificar que não haja gases que
possam inflamar ou causar uma explosão;
III. Verificar que o material que deseja romper não é um elemento estrutural que
possa colocar em risco a operação;
IV. Certificar que os Bombeiros Militares estejam em um local seguro para
efetuar o rompimento;
Os principais equipamentos e ferramentas de rompimentos de estruturas são:
rompedor, martelete, malho, marreta, dentre outros, no qual fica sob escolha do militar
a melhor ferramenta de acordo com a situação.

13.12.1 Acesso Vertical

O acesso Vertical pode ser realizado em dois sentidos distintos, do pavimento


superior para o inferior ou inferior para o superior, devendo ser obedecido os
procedimentos conforme descrito neste manual.

353
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

13.2.1.1 Acesso do pavimento superior para o inferior

I. Delimitar e isolar a área onde será feito acesso, colocando o menor número
de pessoas sobre a laje/ estrutura;
II. Realizar uma pequena perfuração no local de interesse para que possa
observar o pavimento inferior e tentar localizar a vítima, se possível utilizar uma
câmera ou espelho para auxiliar nesse trabalho. Se necessário mudar de local e
perfurar novamente;
III. Assim que estabelecer o local de perfuração, insira uma ferramenta que
pode ser uma alavanca, pé de cabra ou outra semelhante, amarrada por uma corda e
posicionar no furo, a fim de prender a laje após ser cortada;
III. Realizar com jato de tinta um quadrado de 1 metro de lado, garantindo que
o furo realizado anteriormente fique no meio deste quadrado.

Figura 319 – Demarcação para o rompimento


Fonte – O autor

IV. Montar um tripé realizando seu estaiamento, realizando um sistema de força


para sustentar tanto a laje quanto o peso do militar que irá descer para resgatar a
vítima ou acessar o pavimento inferior. Além disso, o tripé tem como finalidade a
segurança do Bombeiro que irá realizar a perfuração;
V. Com todos os procedimentos anteriores adotados, deve-se começar a
realizar a perfuração. Todo o material retirado (concreto, cascalho e pedras) deve ser
colocado em baldes/recipientes e içado com o tripé, mantendo a área de trabalho
limpa;

354
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 320 – Tripé sendo usado para içamento de carga


Fonte – O autor

VI. Localizada a vítima, ela deve ser estabilizada e içada com segurança pelo
tripé.

13.12.2 Acesso Horizontal

Quando for necessário efetuar o acesso horizontal, deve ser adotados os


seguintes procedimentos:
I. Realizar uma pequena perfuração no local de interesse a uma altura de 1,20m
do solo para que possa observar o outro lado da parede, se possível utilizar uma
câmera ou espelho para auxiliar nesse trabalho, mudando o local conforme a
necessidade;
II. Estabelecido o local de acesso, utilizar um jato de tinta para realizar um
desenho de um triângulo equilátero na parede com 1m de lado, com um
distanciamento do solo de no mínimo 10cm, com o vértice do triângulo apontando para
cima, deixando a perfuração já feita no centro. Dessa forma, a estrutura permanecerá
segura, pois ela manterá sua resistência;
III. Com as demarcações feitas, realizar o rompimento utilizando as FEAs
necessárias para tal ação;
355
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

IV. Todo o material (concreto, cascalho e pedras) deve ser colocado em


baldes/recipientes e ser retirado, mantendo a área de trabalho limpa;
V. No caso de uma parede de concreto, antes de quebrar, deve ser observado
se não há um risco de um colapso estrutural;
VI. Caso a FEA utilizada for o martelete rompedor deve ter o auxílio de mais
dois Bombeiros para poder aliviar o peso e facilitar o manuseio da ferramenta. O alívio
do peso pode ser com um dos membros da equipe em cima do muro utilizando um
cabo ou fita tubular ou com um pedaço de corda, tendo dois militares, um em cada
lado da extremidade, os quais irão sustentar o peso da ferramenta e o operador irá
direcionar apenas o local que irá romper.

Figura 321 – Demarcação para o rompimento


Fonte – O autor

VII. Localizada a vítima, ela deve ser estabilizada e retirada do local com total
segurança;

13.13 Escoramento Emergencial

Define-se como Escoramento Emergencial a implementação de um apoio


provisório em determinada parte de uma edificação acometida por um colapso, o qual
far-se-á a mitigação dos riscos para que as equipes do Corpo de Bombeiros atuem
nas buscas e resgates das vítimas.
Como já fora verificado neste manual, em uma edificação de concreto armado,
encontram-se presentes os seguintes elementos estruturais: lajes, vigas, pilares e
fundações. Sendo estas partes as responsáveis pela sustentação das construções,
ao ser estabelecido o Escoramento Emergencial, deve-se considerar que o

356
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

procedimento confeccionado tem como objetivo o reforço e proteção temporária de


um ou mais destes componentes, a fim de evitar a movimentação desta estrutura.

Figura 322 – Escoramento emergencial


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

Figura 323 – Escoramento vertical


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

357
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

14 TÉCNICAS BÁSICAS DE SALVAMENTO EM SOTERRAMENTOS


Nesse último capítulo veremos noções básicas para operações de salvamento
em soterramentos, terrenos onde ocorreram deslizamentos ou escorregamentos de
massa, você perceberá que alguns conceitos e atitudes serão semelhantes as vistas
no capítulo anterior.
Quando paramos para analisar historicamente percebemos que este evento é
bastante comum em nosso estado, motivo este que faz com que nós Bombeiros
militares precisamos estar atentos para o pronto emprego em eventos de
soterramentos.

14.1 Solo

Antes de falarmos de técnicas deveremos entender o terreno em que iremos


trabalhar e ao se falar de BRESOT (Busca e Resgate em Eventos de Soterramentos)
estaremos falando literalmente de terreno, ou melhor, estaremos falando de solo.
Solo é o material da crosta terrestre que não oferece resistência mecânica,
podendo ser escavado através de pá, picareta ou escavadeira, sem a necessidade de
explosivos, e que em contato prolongado com a água acaba perdendo a sua
resistência.
Algo muito importante para avaliarmos no solo em que iremos trabalhar é a sua
coloração pois ela é diretamente influenciada pelos componentes presentes naquele
local.
Quanto mais escuro maior a presença de materiais orgânicos e maior a
instabilidade do solo, em locais com coloração avermelhada percebemos maiores
condições de drenagem, solos amarelados também possuem boa drenagem e os
solos acinzentados possuem boa saturação e estão relacionadas à redução de ferro.

358
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 324 – Coloração do solo


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

14.1.1 Consistência do solo

Pode ser analisada através da observação da plasticidade e elasticidade do


solo, a primeira refere-se à capacidade do solo em receber pressão sem sofrer
rupturas e a segunda a capacidade dele receber pressão e retornar ao seu estado de
equilíbrio inicial.

Figura 325 – Textura do solo


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

Importante entender que de acordo com as características anteriores


mostradas cada material, e consequentemente, cada tipo de solo possuirá um ângulo
diferente para o seu repouso.

359
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 326 – Ângulo de repouso


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

14.2 Movimentos gravitacionais de massa

No nosso estado eles estão normalmente associados a dois fatores: agentes


naturais como as chuvas e agentes antrópicos como as obras feitas pelo homem.
Como visto anteriormente cada solo possuirá uma característica distinta, alguns
possuirão uma quantidade maior de espaços vazios em seu interior para a percolação
da água, assim conforme a água vai infiltrando essa quantidade de espaços vazios
diminui.
Inicialmente essa penetração de água aumenta a coesão do solo, entretanto se
ela continuar de forma ininterrupta pode ocorrer um processo de liquefação do solo
favorecendo o seu escorregamento.

14.3 Identificação e delimitação de área afetada

Como normalmente o evento é gerado pela ação das chuvas essa delimitação
se torna bastante difícil uma vez que deve ser feita em toda a área de risco, ou seja,
em toda área que está sofrendo com a precipitação pluvial e existe o risco de um
escorregamento de massa e não somente onde o CBMERJ está atuando.
Não é incomum que a equipe de primeira resposta necessite de apoio de outros
quartéis e de outros órgãos como por exemplo a Defesa Civil.
Ainda assim cabe à equipe de primeira resposta essa delimitação ficando a
cargo de seu militar mais antigo e comandante de socorro.

360
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 327 – Zoneamento de área no evento na Muzema em 2019


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

14.4 Segurança em Operações de Salvamento em Soterramentos

Em eventos de deslizamento de terra trabalhamos em locais instáveis e com


perigos que inicialmente não são vistos, listamos alguns desses riscos para facilitar a
sua compreensão:
1. Réplicas (novos deslizamentos no local do evento);
2. Estruturas e solo instáveis;
3. Presença de produtos perigosos;
4. Risco de choque elétrico;
5. Baixa visibilidade em eventos noturnos;
6. Distúrbios civis (vandalismo e saque);
7. Presença de materiais perfurocortantes.

Em virtude desses riscos, tomamos algumas medidas no terreno visando a


segurança de toda a equipe, neutralizar e mitigar os riscos é fundamental.

Regras de ouro no teatro de operações BRESOT:


1. Não é permitido entrar na área de trabalho sem a autorização do Oficial
de Segurança;
361
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

2. O Oficial de Segurança deve garantir que todos os militares tenham


pleno conhecimento do Zoneamento de área, das vias de escape e do ponto de
encontro;
3. O Oficial de Segurança deve garantir que todos os militares tenham
pleno conhecimento dos avisos sonoros;
4. Para adentrar na área de trabalho o militar deverá estar com seu EPI
completo;
5. Não deve ser realizada a entrada na área quente de forma individual
sem uma grande necessidade;
6. Não se deve trabalhar sozinho;
7. As equipes devem obedecer ao revezamento;
8. Deve-se ter bastante cuidado com a hidratação dos operadores, o cantil
é fundamental;
9. Os riscos presentes no cenário devem ser identificados e sinalizados.

Os equipamentos de proteção individuais são semelhantes aos utilizados em


eventos BREC, porém para aumentarmos a eficiência e proteção em alguns casos
poderemos utilizar as roupas, botas e luvas de Neoprene, esses equipamentos
aumentarão a resistência mecânica e térmica para o operador.

362
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 328 – Militar com EPI alternativo para BRESOT


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

14.5 Técnicas Básicas de Salvamento em Soterramentos

Nesta parte demonstraremos algumas técnicas básicas para estes eventos,


existem outras, mas as que você verá a seguir são eficientes e seguras para uma
equipe de primeira resposta.

363
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

14.5.1 Técnica de deslocamento em área sinistrada

Deverá ser feita sempre com muito cuidado já que uma pressão realizada em
ponto indevido do terreno poderá causar um novo escorregamento e
consequentemente um acidente, principalmente se for nas proximidades das bordas
de valas.
Lembrar do deslocamento feito em três apoios visto no capítulo anterior e em
situações mais arriscadas deverá ser feito com o rastejo, a posição de rastejo dividirá
mais o seu peso corporal pelo solo evitando afundamentos e atolamentos.

14.5.2 Técnica de estabilização de solo

Uma forma simples para estabilizar o terreno é a colocação de painéis de solo,


estes painéis distribuirão o peso que age sobre eles em uma área maior, dificultando
o escorregamento, principalmente em bordas de valas.
Os painéis podem, em casos de maior necessidade, serem substituídos por
pranchas rígidas, tábuas ou até mesmo escadas.

Figura 329 – Painéis de solo


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

Para as paredes das trincheiras utilizaremos painéis semelhantes, mas desta


vez em posição vertical, indica-se o uso de compensado naval ou madeira (p.e. pinus)
em virtude de sua maior resistência às intempéries, físico mecânicas e também a
água. Utilizamos madeiras nestas condições por conta de sua versatilidade que
permite cortes, perfurações ou outras modificações que sejam necessárias durante a
operação.

364
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 330 – Operadores progredindo


Fonte – O autor

Na imagem a seguir podemos observar a construção de um painel vertical e


suas medidas:

Figura 331 – Painés verticais


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

Em operações BRESOT seguimos a máxima de que “METRO CAVADO É


METRO ESCORADO”, isto significa que conforme a guarnição vai avançando no
terreno e fica com um metro profundidade é necessário escorar com painéis e
pontaletes antes de continuar progredindo.
Os pontaletes são as madeiras colocadas em posição transversal aos painéis
e calçadas com “caixonetes”, sua função é impedir o colapso entre dois dos painéis e
podem ser vistos nas figuras a seguir:
365
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 332 – Painéis e pontaletes


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

Em nossa doutrina preferimos o escoramento contínuo com painéis, não


permitindo espaços entre um painel e outro, apesar de sabermos que dependendo do
tipo de solo o escoramento com intervalos também é possível.

Figura 333 – Escoramento contínuo


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

É possível a união dos painéis com o uso de longarinas, esta medida traz maior
segurança para os militares que trabalham no interior da trincheira.

366
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 334 – Longarina


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

14.5.3 Técnicas de desmanche

Nesta parte veremos algumas técnicas utilizadas para desmanchar o solo, a


primeira delas é o desmanche manual e como o nome já diz, desmanchamos o terreno
manualmente, cavando o mesmo com ferramentas como pá, pá de campanha,
picareta, enxadas e baldes de aço.
É importante que o material retirado seja levado, preferencialmente com a
técnica do passa-mão, vista anteriormente, até uma área de descarte.

Figura 335 – Desmanche manual


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

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Outras técnicas para o desmanche também podem ser utilizadas como por
exemplo o desmanche utilizando maquinário pesado e o desmanche hidráulico, a
primeira depende logicamente da presença de escavadeiras e também da certeza de
que este maquinário não será colocado sobre locais com a possibilidade de vítimas
vivas, já a segunda pode ser utilizada por qualquer equipe de bombeiros militares e
consiste no desmanche do solo com o auxílio de uma linha de mangueira
pressurizada.
No desmanche hidráulico a pressão da água vai retirar partes da massa de
terra que deverão ser conduzidas por canaletas com o auxílio de enxadas ou outras
ferramentas, é importante ter cuidado para que esta água combinada com terra não
retorne para a área trabalhada na busca.

Figura 336 – Desmanche hidráulico


Fonte - Manual do COSD/CBMERJ

14.5.4 Técnica de extração e movimentação de vítimas

Finalmente a retirada da vítima anteriormente buscada, nesta parte devemos


ter em mente que a extração dela é tão importante e complexa quanto às etapas
anteriores, para tanto listamos a seguir algumas considerações sobre este manejo,
para que ele ocorra de forma gradativa e segura:
1. A guarnição deverá ter cuidado com os materiais ao redor da vítima para
que não ocorram ferimentos na mesma;

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2. As luvas de trabalho deverão ser retiradas, ficando o militar com as luvas


de procedimentos (látex) que já deveriam estar por debaixo das anteriores;
3. As vítimas não devem, em hipótese alguma, ser puxadas pelos seus
membros ou partes livres sem que antes tenhamos certeza de estarem totalmente
libertas;
4. Após a extricação da vítima esta deverá ser conduzida pelo terreno com
segurança e cuidado;
5. Quando for constatado o óbito da vítima o seu manejo deverá ser
realizado com as luvas para manejo de cadáveres e transportada dentro do invólucro
apropriado;
6. A guarnição deverá ter todo o cuidado com manejo, recolhimento,
movimentação e transporte dos restos mortais que podem ser encontrados no terreno.

14.6 Lista de FEA’s

Finalizando este capítulo deixaremos pra você uma lista de FEA’s que
normalmente são utilizadas nestes tipos de operações:
● FEA’s de iluminação – Gerador, extensão, tripés de iluminação, balão
de iluminação, URI (Unidade Rebocável de Iluminação), lanternas de mão e de
cabeça;
● FEA’s de busca e localização – Detectores de vida (acústico, sísmico e
visual) e sonares;
● FEA’s para corte – Traçadores, serrotes, serra circular, serra sabre, arco
de serra, desencarceradores hidráulicos, motosserras e motocortadores;
● FEA’s de tração e içamento – Tirfor, cabo de aço, alavancas, lingas,
patescas, cordas, mosquetões, almofadas pneumáticas e tripés;
● FEA’s de sapa – Pá de bico, pá quadrada, pá de campanha, enxada,
cavadeira, picaretas e baldes;
● FEA’s de rompimento – Martelete rompedor, furadeira com broca,
ponteiras, talhadeiras e marretas;
● FEA’s para espaços confinados – Detectores multi-gases, ventiladores,
exaustores e equipamentos de proteção respiratória autônomos;

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● FEA’s de escoramento – Compensado naval de 15 para escoramento,


madeirite de 10 para painel de solo, perna de três, escoras de eucalipto, pregos 17x27
e 18x30, tábuas de 10 e longarinas 10x20 com 3m.

FEA’s de uso diverso – Trena, lápis de carpinteiro, esquadro, fixador tipo


sargento, mesa de corte, spray de tinta, pé de cabra, torquês, corda de uso geral, fita
de carga, saco de cadáver, luvas de procedimentos, luva para manejo de cadáver,
lonas de tamanhos diversos e cones de sinalização.

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