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EEA 426 - Estruturas de Madeira

3- PROPRIEDADES DA MADEIRA

1. Instruções
Esta apostila é feita com base nas normas NBR 8681:2004, NBR 7190-1:2022, NBR
7190-2:2022 e NBR 7190-3:2022. Portanto, as seções 3.1 a 3.5 do livro PPFEIL & PFEIL
(2015), que tratam das propriedades mecânicas segundo a norma NBR 7190:1997, devem
ser substituídas por este texto.

2. Propriedades Físicas da Madeira

2.1. Densidade
A norma brasileira apresenta duas definições de densidade a serem utilizadas em
estruturas de madeira. A densidade básica é definida como a massa específica
convencional obtida pelo quociente entre massa seca e volume saturado. A densidade
aparente é determinada em uma umidade padrão de referência de 12%, que é utilizada
para classificação da madeira e em cálculos de estruturas.

2.2 Umidade
A umidade w em % é dada por
𝑚1 −𝑚2
𝑤=( × 100),
𝑚2
em que m1 é massa úmida da amostra e m2 é massa seca da amostra. A determinação da
umidade de amostras de madeira deve ser feita obedecendo a NBR 7190-4:2022.

Para fins de aplicação estrutural da madeira, a NBR7190-1:2022 especifica a umidade de


12% como Teor de Referência para Ensaios e Cálculos.

3. Propriedades Mecânicas da Madeira

3.1 Sistema de orientação para propriedades da madeira


Na Figura 1 é ilustrado o sistema de orientação em uma peça de madeira.

Figura 1 - Sistema de orientação para as propriedades da madeira.

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3.2 Resistência
O problema de verificação de tensões em peças estruturais de madeira é formulado com
a teoria clássica de resistência dos materiais, muito embora o material não siga a lei linear
(Lei de Hooke) até a ruptura (PFEIL&PFEIL, 2015).

A resistência é a aptidão de a matéria em suportar tensões.

A resistência é determinada convencionalmente pela máxima tensão que pode ser


aplicada a corpos-de-prova isentos de defeitos do material considerado, até o
aparecimento de fenômenos particulares de comportamento além dos quais há restrição
de emprego do material em elementos estruturais. De modo geral estes fenômenos são os
de ruptura ou de deformação específica excessiva.

Os efeitos da duração do carregamento e da umidade do meio ambiente são considerados


por meio dos coeficientes de modificação 𝑘𝑚𝑜𝑑 adiante especificados.

Os efeitos da duração do carregamento e da umidade do meio ambiente sobre a resistência


são considerados por meio dos coeficientes de modificação 𝑘𝑚𝑜𝑑, 1 e 𝑘𝑚𝑜𝑑, 2 também
especificados adiante.

Correlação entre as propriedades mecânicas


Caracterização simplificada da resistência da madeira serrada (ABNT NBR 7190-3):

𝑓𝑐0,𝑘 𝑓𝑐90,𝑘 𝑓𝑒0,𝑘


𝑓𝑡0,𝑘
= 0,77 𝑓𝑐0,𝑘
= 0,25 𝑓𝑐0,𝑘
= 1,0

𝑓𝑒90,𝑘 𝑓𝑡𝑀,𝑘 𝑓𝑡90,𝑘


= 0,25 = 1,0 = 0,05
𝑓𝑐0,𝑘 𝑓𝑡0,𝑘 𝑓𝑡0,𝑘

Este método é apropriado para espécies desconhecidas. Nos ensaios são determinadas as
seguintes propriedades:
a) resistência à compressão paralela às fibras: fc,0.
b) resistência à tração paralela às fibras: ft,0.
c) resistência à compressão normal às fibras: fc,90.
d) resistência à tração normal às fibras: ft,90 (para projeto estrutural, ft,90 ~ 0).
e) resistência ao cisalhamento paralelo às fibras: fv,0.
f) resistência ao embutimento paralelo e normal às fibras: fe,0 e fe,90.
g) resistência à flexão fM.

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Resistência à tração ou compressão inclinada às fibras (Fórmula de Hankinson – 1921)

𝑓𝑐0 × 𝑓𝑐90
𝑓𝑐𝛽 = 2
𝑓𝑐0 sen 𝛽 + 𝑓𝑐90 cos2 𝛽

3.3 Rigidez
A rigidez dos materiais é medida pelo valor médio do módulo de elasticidade,
determinado na fase de comportamento elástico-linear. O módulo médio de elasticidade
na direção paralela às fibras é medido no ensaio de flexão (𝐸𝑚 no caso de ensaios em
peças estruturais) ou no ensaio de compressão paralela às fibras (𝐸𝑐,𝑚 no caso de ensaios
em corpos de prova isentos de defeitos) e o módulo médio de elasticidade 𝐸𝑐,90,𝑚𝑒𝑑 na
direção perpendicular às fibras é obtido no ensaio de compressão perpendicular às fibras.

Na falta de determinação experimental específica, permite-se calcular o módulo médio


de elasticidade 𝐸𝑐,90,𝑚𝑒𝑑 na direção perpendicular às fibras é obtido conforme a seguir:
𝐸𝑚 ou 𝐸𝑐0,𝑚𝑒𝑑
𝐸𝑐90,𝑚𝑒𝑑 =
20

Caracterização da rigidez da madeira (ABNT NBR 7190-3:2022)


 Caracterização completa à condição-padrão de umidade (U= 12%)

a) valor médio do Módulo de Elasticidade na compressão paralela às fibras E c0,med,


determinado com pelo menos dois ensaios;
b) valor médio do Módulo de Elasticidade na compressão perpendicular às fibras
Ec90,med, determinado com pelo menos dois ensaios;

Admite-se Ec0,,med = Et0,med.


 Caracterização simplificada:

a) valor médio do Módulo de Elasticidade na compressão paralela às fibras: Ec0,m.


1
Admite-se Ec90 = 20 Ec0.

3.4. Condição-padrão de referência de umidade


Quando houver necessidade de corrigir a resistência de rigidez da madeira com umidade
entre 10%  U%  25%, tem-se

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3(𝑈−12)
Resistência: 𝑓12 = 𝑓𝑈 [1 + ]
100

2(𝑈−12)
Rigidez: 𝐸12 = 𝐸𝑈 [1 + ].
100

Nota: Para U > 25% e temperatura entre 10°C e 60°C, desprezam-se as variações nas
propriedades da madeira.

As classes de resistência das madeiras têm por objetivo o emprego de madeiras com pro-
priedades padronizadas, orientando a escolha do material para elaboração de projetos es-
truturais.

Na Tabela 1 tem-se as classes de resistência de espécies de florestas nativas definidas em


ensaios de corpos de prova isentos de defeitos estruturais, na condição padrão de referên-
cia (teor de umidade igual a 12%).

Nessas tabelas são apresentados valores característicos (denotados pelo índice k), e valo-
res médios (denotados pelo índice m).

Tabela 1 - Classes de resistência de espécies de florestas nativas definidas em ensaios de


corpos de prova isentos de defeitos (Ref.: ABNT 7190-1:2022 - Tabela 2).
Classes fc0k fv0k Ec0,med Densidade a
MPa MPa MPa 12%
Kg/m³
D20 20 4 10 000 500
D30 30 5 12 000 625
D40 40 6 14 500 750
D50 50 7 16 500 850
D60 60 8 19 500 1 000
NOTA 1 Os valores das classes de resistência para espécies nativas estão disponíveis na ABNT 7190-
3:2022. Tabela A.1.

Na Tabela 2 da norma NBR 7190-1:2022 são apresentadas as classes de resistência defi-


nidas em ensaios de peças estruturais, na condição padrão de referência (teor de umidade
igual a 12%).

Nessa tabela são apresentados valores característicos (denotados pelo índice k), e valores
médios (denotados pelo índice m).

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Tabela 2 - Classes de resistência definidas em ensaios de peças estruturais (Ref.: ABNT


7190-1:2022 – Tabela 3).
Descrição Coníferas
C14 C16 C18 C20 C22 C24 C27 C30 C35 C40 C45 C50
Propriedades de resistência
MPa
Flexão fb,k 14 16 18 20 22 24 27 30 35 40 45 50
Tração
ft,0,k 8 10 11 12 13 14 16 18 21 24 27 30
paralela
Tração
ft,90,k 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4
perpendicular
Compressão
fc,0,k 16 17 18 19 20 21 22 23 25 26 27 29
paralela
Compressão
fc,90,k 2,0 2,2 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8 2,9 3,1 3,2
perpendicular
Cisalhamento fv,k 3,0 3,2 3,4 3,6 3,8 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Propriedade de rigidez
GPa
Módulo de
elasticidade E0,m 7 8 9 9,5 10 11 12 12 13 14 15 16
médio a 0°
Densidade
kg/m³
Densidade
m 350 370 380 390 410 420 450 460 480 500 520 550
média
Valores referentes ao teor de umidade de 12%.
Descrição Folhosas
D18 D24 D30 D35 D40 D50 D60 D70
Propriedades de resistência
MPa
Flexão fb,k 18 24 30 35 40 50 60 70
Tração
ft,0,k 11 14 18 21 24 30 36 42
paralela
Tração
ft,90,k 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6
perpendicular
Compressão
fc,0,k 18 21 23 25 26 29 32 34
paralela
Compressão
fc,90,k 7,5 7,8 8,0 8,1 8,3 9,3 11 13,5
perpendicular
Cisalhamento fv,k 3,4 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,5 5,0
Propriedade de rigidez
GPa
Módulo de
elasticidade E0,m 9,5 10 11 12 13 14 17 20
médio a 0°
Densidade
kg/m³
Densidade
média
m 570 580 640 650 660 750 840 1080
Valores referentes ao teor de umidade de 12%.

A caracterização das propriedades de resistência e elasticidade da madeira deve ser feita


de acordo com a norma NBR 7190-3:2022 – Madeiras – Método de ensaio de caracteri-
zação de corpos de prova isentos de defeitos para madeiras de florestas nativas. A tabela
extraída da norma relaciona classes de resistência com espécies brasileiras.

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Método de classificação visual e mecânica da ABNT 7190-2:2022


Apresentam-se neste item os métodos de classificação não destrutiva visual e mecânica
que correspondem à determinação das seguintes propriedades: densidade, dimensões de
nós, empenamentos, torcimento, fissuras, rachas, inclinação de fibras.

A caracterização estrutural que corresponde aos ensaios destrutivos: resistência e rigidez


à flexão, tração paralela às fibras, compressão paralela às fibras, resistência ao cisalha-
mento paralelo às fibras, resistência à tração perpendicular às fibras, resistência a com-
pressão e rigidez normal às fibras.

O objetivo dessas determinações é relacionar as propriedades não destrutivas com as pro-


priedades destrutivas, e montar uma tabela de correlação entre estes parâmetros para ser
usada no dimensionamento de elementos estruturais de madeira segundo a NBR7190-1:
2022.

A classificação visual consiste na inspeção visual das faces, lados (bordas laterais) e das
extremidades de cada peça. Deve-se examinar todo o comprimento das peças e avaliar a
localização e a natureza dos nós e outros defeitos presentes na superfície das mesmas. A
classificação deve ser realizada por pessoa qualificada e treinada. A classificação visual
da madeira serrada de coníferas consiste na inspeção da qualidade visual da madeira com
relação à presença de defeitos e também da densidade de anéis de crescimento da madeira.

São definidos três níveis de acordo com a presença de defeitos (CALIL, 2019)

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• Classe Estrutural N° 1 (S1)

• Classe Estrutural N° 2 (S2)

• Classe Estrutural N° 3 (S3)

Se a classificação visual for realizada antes do aplainamento das peças de madeira, para
propósitos de classificação visual devem ser consideradas as dimensões da peça após o
aplainamento. Quando a classificação visual for realizada antes de submeter as peças ao
aplainamento de suas faces, devem ser respeitadas as reduções máximas das dimensões
da seção transversal, dadas na Tabela 1 da norma NBR 7190-2:2022 a seguir.

Classes de resistência da norma ABNT 7190-2:2022

Para classificar a classe de resistência de peças de madeira, analisa-se o lote e considera


a menor classe obtida em análise visual e mecânica. As classes são associadas a valores
referenciais de resistências características, módulo de elasticidade e densidade aparente.

As tabelas a seguir mostram a classificação recomendada na norma para Pinus e


Eucaliptos.

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Classes para Pinus spp (Ref.: Anexo A.1 da ABNT 7190-2:2022)

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Clone híbrido interespecífico de E. urophylla e E. grandis (urograndis) (Ref.: Anexo


A.2 da ABNT 7190-2:2022)

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