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Tipologias Textuais - Narração e Descrição
Tipologias Textuais - Narração e Descrição
Objetivos
Módulo 1 Módulo 2
Atores Tempos Espaços
Esses elementos se conjugam de forma a assegurar a unidade
temática do texto, por meio de uma sucessão de acontecimentos e da
transformação de estados, em torno de um conflito e de sua resolução.
Atores
Narrador e personagem
Os atores são assim definidos por se tratarem de diferentes instâncias
enunciativas, ou vozes, que ocupam diferentes posições na narrativa.
Desse modo, o texto narrativo é conduzido por um narrador, que delega
voz a outras instâncias, que podemos denominar de personagens.
Exemplo
:
Era uma vez um homem muito rico, cuja mulher adoeceu. Esta, quando sentiu o fim
aproximar-se, chamou a sua única filha à cabeceira e disse-lhe com muito amor:
A menina ia todos os dias para junto do túmulo da mãe chorar e regar a terra com suas
lágrimas. E continuou boa e piedosa. Quando o inverno chegou, a neve fria e gelada da
Europa cobriu o túmulo com um manto branco de neve. Quando o sol da primavera o
derreteu, o seu pai casou-se com uma mulher ambiciosa e cruel que já tinha duas filhas
parecidas com ela em tudo.
Exemplo
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale
alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Por que lhe digo que está com um ar insuportável?
Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que
lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e
deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose,
senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu
e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos
babados.
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem
atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só
mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo,
ajunto...
(ASSIS, M. de. Para Gostar de Ler. Volume 9. Contos. São Paulo: Ática, 1984. p. 59. Grifos
nossos)
Sequência textual Sequência textual Sequência textual
dialogal argumentativa narrativa
Embora haja um longo trecho de diálogo e até mesmo de
argumentação, o que predomina é a sequência textual narrativa. Isto
porque, em sua totalidade, o texto em questão coloca em cena
personagens, tempos e espaços em torno de um conflito, outra
característica indispensável dos gêneros de ficção literária.
Tempo
O tempo na narrativa
Além de atores, a tipologia narrativa também desenvolve um tipo
particular de temporalidade, em conformidade com as instâncias, ou
vozes, que enunciam.
Exemplo
:
“Era uma vez” (Pretérito Imperfeito do Indicativo), “adoeceu” (Pretérito Perfeito do
Indicativo).
Por outro lado, na voz das personagens, há tempos verbais que criam o
efeito de presentificação, necessário para situar o leitor no “agora” da
narração.
Presentificação
Tornar presente o que se deu no passado.
Exemplo
O emprego do Presente do Indicativo, como em “há de acompanhar-te”, e uso do Futuro do
Indicativo, em “velarei”.
Espaço
:
O espaço na narrativa
Com relação ao espaço, terceiro elemento central da tipologia narrativa,
trata-se de uma dimensão importante para o desenrolar dos fatos.
Exemplo
Fomos ao cemitério. Rita, apesar da alegria do motivo, não pôde reter algumas velhas
lágrimas de saudade pelo marido que lá está no jazigo, com meu pai e minha mãe. Ela
ainda agora o ama, como no dia em que o perdeu, lá se vão tantos anos. No caixão do
defunto mandou guardar um molho dos seus cabelos, então pretos, enquanto os mais
deles ficaram a embranquecer cá fora.
Não é feio o nosso jazigo [...] Rita orou diante dele alguns minutos, enquanto eu circulava
os olhos pelas sepulturas próximas. Em quase todas havia a mesma antiga súplica da
nossa: "Orai por ele! Orai por ela!" Rita me disse depois, em caminho, que é seu costume
atender ao pedido das outras, rezando uma prece por todos os que ali estão [...]
A impressão que me dava o total do cemitério é a que me deram sempre outros; tudo ali
estava parado. Os gestos das figuras, anjos e outras, eram diversos, mas imóveis. Só
alguns pássaros davam sinal de vida, buscando-se entre si e pousando nas ramagens,
pipilando ou gorjeando. Os arbustos viviam calados, na verdura e nas flores.
Já perto do portão, à saída, falei a mana Rita de uma senhora que eu vira ao pé de outra
sepultura, ao lado esquerdo do cruzeiro, enquanto ela rezava. Era moça, vestia de preto, e
parecia rezar também, com as mãos cruzadas e pendentes. A cara não me era estranha,
sem atinar quem fosse.
(ASSIS, M. de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994, p. 2-3. Grifos
nossos)
Exemplo
(VELOSO, C. Sampa. In: VELOSO, C. Muito: Dentro da estrela azulada. Rio de Janeiro:
Polygram 1978. Grifos nossos.)
As esquinas das avenidas Ipiranga e São João, no coração da cidade de São Paulo.
Tais espaços são físicos; podem ser vistos, visitados, ao passo que, no
primeiro verso da canção, o narrador põe em cena um espaço
psicológico: “no meu coração”.
Exemplo
:
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belasDa feia fumaça que sobe, apagando as
estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
(VELOSO, C. Sampa. In: VELOSO, C. Muito: Dentro da estrela azulada. Rio de Janeiro:
Polygram 1978. Grifos nossos)
Características fundamentais do
texto narrativo
Percorremos os elementos centrais do texto narrativo, ilustrando-os por
meio dos gêneros conto de fadas, conto literário e canção. Mas é
preciso se perguntar se estes elementos são suficientes para
caracterizar a tipologia textual narrativa. A seguir, vamos conhecer as
outras características fundamentais do texto narrativo.
Sucessão de acontecimentos
Exemplo
No gênero tirinha, a sucessão é estabelecida por cada quadro ou vinheta, segundo uma
ordem de leitura pré-estabelecida, da esquerda para a direita.
Transformação de estados
Antes
Após
Conflito e desenlace
Exemplo
:
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a
agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o
vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando,
abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do
vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto
você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos,
diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor
experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida,
enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para
ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
(ASSIS, M. de. Para Gostar de Ler. Volume 9. Contos. São Paulo: Ática, 1984. p. 59)
Cuidados e recomendações na
narração
Temos aprendido que no texto narrativo há uma sequência de fatos ou
eventos, e o texto é caracterizado pela mudança de situação, por uma
transformação.
Mas quais cuidados Que procedimentos
devemos ter ao ou estratégias são
elaborar um texto recomendados?
narrativo?
A resposta a essas perguntas depende da narrativa que você vai
escrever. Se é uma narrativa ficcional ou mesmo se trata-se de uma
narrativa técnica ou empresarial, como pode ocorrer num relatório.
O texto narrativo
Assista a explicações e exemplos sobre as características e os
elementos centrais do texto narrativo.
Questão 1
Questão 2
:
Questão 2
Conceito de descrição
Neste ponto, aparece o tipo textual descritivo, que tem por finalidade
:
Neste ponto, aparece o tipo textual descritivo, que tem por finalidade
descrever, isto é, enumerar e até mesmo qualificar as propriedades do
produto.
E 100 milímetros de
carga dão para você
desenhar dois
quilômetros.
Veja:
:
E lindas formas coloridas vão A caneta de fibra mais mordida
aparecer diante de seus olhos. na América Latina.
Enumeração e qualificação de
propriedades
Nos textos em que aparecem sequências textuais de descrição,
observa-se a presença, mais ou menos frequente, dos seguintes
recursos estilísticos: substantivos, adjetivos, advérbios de espaço,
locuções adjetivas e adverbiais, orações adjetivas, numerais, verbos de
estado no Presente e no Pretérito Imperfeito do modo Indicativo.
Exemplo
:
A mulher, uma dessas chamadas galantes, era célebre por sua gordura precoce, que lhe
valera o apelido de Bola de Sebo. Miúda, redondinha, gordinha com dedos rechonchudos
estrangulados nas falanges como fieira de curtas salsichas, com uma tez luzidia e tensa, o
seio enorme a rebentar a blusa, era no entanto apetitosa e desejada, de tal modo agradava
à vista o seu frescor. Seu rosto era uma maçã vermelha, um botão de peônia prestes a
florir; e ali se abriam, no alto, dois magníficos olhos negros, sombreados de grandes cílios
espessos, que mais escuros os tornavam; embaixo, uma boca encantadora, pequena,
úmida para o beijo, mobiliada de dentinhos brilhantes e microscópicos. De resto ela
possuía, pelo que diziam, inapreciáveis qualidades.
(MAUPASSANT, G. de. Bola de sebo e outros contos de Guy de Maupassant. Rio de Janeiro:
Globo, 2004. p. 15)
Além disso, como explica Adam (2019), esta enumeração das partes do
objeto descrito assume uma orientação argumentativa no texto como
um todo, uma vez que o narrador realiza escolhas sobre o modo como
irá descrever os seres, objetos, situações etc.
Simultaneidade temporal
Vamos tratar das características temporais do texto descritivo, a partir
de Platão e Fiorin (2011).
Presente
Pretérito imperfeito
:
Em termos de aspectos Em termos estilísticos, ao optar
temporais, o texto é inteiramente pelo Presente do Indicativo, o
construído no Presente, mais compositor realiza um recorte
especificamente o verbo “ser” na temporal, ilustrando sua relação
terceira pessoa do singular (é) e ao tema por meio de imagens
do plural (são). Por se tratar de estáticas e simultâneas, como em
um texto musical, o paralelismo e “é um caco de vidro, é a vida, é o
a repetição do verbo “é” marca o Sol”. Tal simultaneidade mostra,
ritmo da canção. ademais, que não há
anterioridade, nem posterioridade
entre as ações, que são descritas,
e não narradas.
Exemplo
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto, o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
Narração Descrição
Exemplo
:
Mundo pequeno I
BARROS, M. de. O livro das ignorãças. In: Poesia completa: Manoel de Barros. São Paulo:
Leya, 2010, p. 12-13.
Exemplo
:
A casa
Uma casa que supostamente deveria ter teto > chão > rede > parede
> pinico.
Curiosidade
Há uma explicação para a letra da canção A casa que associa a inspiração poética da letra
a uma casa real construída pelo artista uruguaio Carlos Páez Vilaró, em Punta Ballena, no
litoral do Uruguai. A construção é conhecida como Casapueblo.
:
Casapueblo.
Cuidados e recomendações na
descrição
O estilo deve ser rápido, vivo, claro (ordem direta, voz ativa).
:
As descrições não serão lentas nem morosas, mas rápidas e
carregadas de informação.
O texto descritivo
Assista às explicações e aos exemplos sobre os principais traços do
texto descritivo.
Questão 1
A I.
B II.
C III.
D I e II.
E II e III.
Questão 2
Explore +
Referências
ADAM, J. M. Textos: tipos e protótipos. São Paulo: Contexto, 2019.
:
GARCIA, R. As memoráveis canetinhas Sylvapen. In: Veja São Paulo.
Publicado em: 20 set. 2017.
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