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Maria Eduarda Ferreira Leandro
Maria Eduarda Ferreira Leandro
FORTALEZA
2023
MARIA EDUARDA FERREIRA LEANDRO
FORTALEZA
2023
MARIA EDUARDA FERREIRA LEANDRO
Aprovada em 14/12/2023
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Profª Dra. Raquel Santiago Freire (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará
________________________________________________
Profª Dra. Cátia Luzia Oliveira da Silva
Universidade Federal do Ceará
________________________________________________
Profª Dra. Maria de Fátima Costa de Souza
Universidade Federal do Ceará
RESUMO
Historically, women were taught to repress desires and desires, affecting the search for and
interest in their own self-knowledge and sexuality. They also faced difficulties in talking or
learning about issues in the area that went beyond pregnancy or sexual intercourse. However,
the various changes that occurred in the 20th century, especially technological advances and
the achievement of women's rights, led to the expansion of the debate and facilitated the
access and consumption of information about sexuality, especially after the emergence of
online social networks. Therefore, the present study aims to understand how social networks
contribute to the dissemination of information on sexual issues and encourage practices of
self-knowledge. The work relied on the methodological approach proposed by Herring,
entitled computer-mediated discourse analysis, to analyze 6 posts from the @prazerobvious
profile on Instagram considering their structure, the meaning of the message, interactions,
social dynamics on the network and multimodality. Finally, it was possible to validate that
online social networks favor and enhance the dissemination of information about sexuality,
once the potential reach and exchanges carried out by users have been considered and
evaluated. It was also possible to observe the influence of changes in the behavior and
perspectives of the consumer public, that is, women.
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 7
2 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................12
2.1 Relações entre o feminino e a sexualidade: perspectiva teórica............................. 12
2.2 Redes Sociais Online: definição e características..................................................... 15
2.3 O discurso mediado por computador e a sexualidade feminina no Instagram......17
3 METODOLOGIA....................................................................................................... 22
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES...............................................................................27
4.1 Estrutura......................................................................................................................31
4.2 Sentido..........................................................................................................................33
4.3 Interação...................................................................................................................... 36
4.4 Comportamento Social............................................................................................... 40
4.5 Multimodalidade......................................................................................................... 41
4.6 Visão geral....................................................................................................................42
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 45
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 47
7
1 INTRODUÇÃO
1
Pesquisa realizada anualmente, desde 2005, com o intuito de mapear o acesso às tecnologias de comunicação e
informação no Brasil.
8
público feminino, cuja sexualidade foi regida e controlada por outros, em sua maioria
homens, ao longo da história (Abreu, 2022).
Vários estudos apontam para a opressão das mulheres (Beauvoir, 2019; Saffioti,
1984; Bourdieu, 2022), e mesmo estando no século XXI, todas as opressões vividas
historicamente, influenciaram a forma como elas percebem e lidam com a própria sexualidade
(Depieri; Grossi; Finotelli Júnior, 2016). Por esse motivo, é possível observar como elas ainda
são levadas a negar ou reprimir os próprios desejos e vontades, e a experimentar sentimentos
de culpa ou vergonha ao tratar do assunto, este último destacado como resultado na pesquisa
Prazeres2, desenvolvida pela Universo Online (UOL) em 2023. Elas ainda não são ensinadas
adequadamente a conhecer seus corpos e limites, bem como a ter prazer através da
sexualidade (Pesquisa, 2023), mesmo que esta seja considerada um dos indicadores de
qualidade de vida determinados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Não apenas a sociedade, mas a mídia também reforça e perpetua tais ideias e
comportamentos esperados, em geral, pelas produções culturais desenvolvidas sob a ótica
masculina ao longo da história (Lauretis, 1987). Tais produções demonstram um ideal estético
e de comportamento feminino que delimita ou não abrange todas as facetas da mulher,
instigando e construindo desde cedo no imaginário como ela deve ser, conforme destaca
Abreu (2022, p. 12):
2
Pesquisa realizada com o objetivo de mapear a visão das mulheres sobre a sexualidade.
9
3
Pesquisa que acompanha o ciclo de vida de meninas em 19 países acerca de escolhas e decisões sobre as suas
vidas.
10
Diante disso, este estudo ainda divide-se em outras quatro seções. O segundo
capítulo apresenta o referencial teórico utilizado pela autora. No terceiro capítulo são
discutidos e detalhados os procedimentos metodológicos adotados para o desenvolvimento da
11
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Tal situação foi discutida e abordada por Del Priore (2004) ao comentar que, na
visão da sociedade, a maternidade era tida como o ápice feminino. Tanto que inúmeras
mulheres ingressaram precocemente em relacionamentos “com prazer ou sem prazer, com
paixão ou sem paixão”, e tornaram-se “mãe, e mãe honrada, criada na casa dos pais, casada na
igreja” (Oliveira; Rezende; Gonçalves, 2018, p. 305). Isso revela como tais influências (igreja,
sociedade e outros ambientes) desencorajam e minimizavam a experiência e o conhecimento
da sexualidade para elas, ao ponto de impedir discussões aprofundadas sobre a temática.
Foucault, em sua obra A Ordem do Discurso, aborda sobre a produção do discurso
e apresenta diferentes mecanismos de controle. Entre os procedimentos, ele cita o princípio da
interdição, destacando que determinados assuntos são proibidos ou não são discutidos em
qualquer lugar ou contexto, o que torna-o tabu. Ele ainda cita a política e a sexualidade como
os âmbitos que mais sofrem com essa interdição. Isso explica, em conjunto com as normas e
papeis sociais, a criação do estigma em torno da temática estudada.
Mesmo com essas intervenções, as mulheres, de maneira gradual, modificaram as
suas relações e funções sociais resultando na conquista de significativos direitos e feitos e na
ocupação de novos lugares na sociedade, especialmente após a Revolução Industrial e as
Guerras Mundiais, em que elas tiveram que sair de suas casas para se sustentar e sustentar
seus filhos trabalhando, principalmente, nas indústrias (Zikan, 2005 apud Oliveira; Rezende;
Gonçalves, 2018, p. 306). O que confere certa contribuição das tecnologias nesse processo,
afinal, a partir do desenvolvimento das tecnologias de produção e da escassez de mão de obra
por conta dos conflitos, surgiu a “necessidade por trabalho braçal (majoritariamente ocupado
por homens)” e “trabalho intelectual” (Silva, 2019, p. 16), permitindo que elas pudessem
ampliar a sua participação no mercado.
Eventualmente, nas décadas seguintes, outros movimentos ganharam força e
abalaram padrões e normas sociais, incluindo a relação da sociedade com a sexualidade,
conforme destaca Vieira (et al., 2016, p.65):
visão como “seres sexuais”. Ainda nesse período, também houve mudanças quanto aos
aspectos considerados para a construção do indivíduo e da designação do ser mulher ou ser
homem ao considerar não somente os elementos biológicos, mas também os socioculturais,
levando o termo gênero a ganhar destaque.
O gênero, segundo Lauretis (1987), corresponde a uma representação, ou
auto-representação, do indivíduo na sociedade. Essa representação é resultado de uma
construção moldada e perpetuada por "tecnologias sociais" ou "tecnologias de gênero", como
cinema, mídia e outros meios. Dessa maneira, distancia o ser humano de uma condição
natural e o considera como uma construção social, refletindo a relevância da produção e do
consumo de elementos culturais, assim como das dinâmicas de gênero, em prol da
consolidação da própria identidade.
A partir desses eventos, foi possível modificar o olhar da sociedade, mesmo que
lentamente, sobre a temática. Contudo, as mulheres ainda esbarram em comportamentos e
visões resultantes do patriarcado, o que contribui com a perspectiva de serem, por vezes,
vistas como sujeitas a ordem masculina ou desencorajadas a aprenderem adequadamente
sobre o próprio corpo (Viana; Sousa, 2014; Ribeiro; Valle, 2016), a exemplo do seu
funcionamento e a como ter prazer sozinha. Isso reflete e as impede de alcançar a plena e total
liberdade sexual, ou seja, “o entendimento, a formação, a competência profissional e a
suficiente consciência do seu lugar na sociedade“ (Silva, 2019, p. 24), na qual inicia com o
próprio autoconhecimento.
Por esse motivo, as mulheres buscam e desejam serem protagonistas em sua
própria jornada de autoconhecimento e sexualidade, mesmo que essa busca ainda esteja longe
do fim (Silva, 2019).
Para Musso (2006, p.34), a rede social pode ser compreendida como a forma
de “representação dos relacionamentos afetivos” e “interações profissionais dos seres
humanos entre si ou entre seus agrupamentos de interesses mútuos”. Nesse sentido, fica claro
que as relações e organizações estabelecidas nas sociedades ao longo dos tempos expressam a
essência desse fenômeno, demonstrando sua longeva existência. No entanto, após o
surgimento da internet, estruturou-se uma nova forma de rede social: a rede social online, na
qual a sociabilização e modos de expressão ocorrem no ambiente virtual por meio das
ferramentas de comunicação mediadas pelo computador (CMC) (Recuero, 2009).
16
4
O conceito “públicos em rede” (networked publics) compreende a apropriação dos atores sobre os espaços dos
SRS e o espaço em si.
18
5
Agência de marketing digital especializada em mídias sociais.
19
6
Pesquisa realizada com o intuito de mapear o perfil das brasileiras em diferentes cenários.
7
Pesquisa realizada com o intuito de identificar os valores e as principais formas de consumo da geração Z.
20
consumir, apenas pode reagir com emojis ou comentar diretamente com outra pessoa, seja o
responsável pelo conteúdo ou aquele para o qual a publicação foi encaminhada.
Já em outros formatos, como publicações de carrossel ou reels (sequência de
imagem e vídeo de curta duração respectivamente), ainda é possível interagir na seção de
comentários com atores que você segue ou não. Diferente dos stories, o conteúdo pode ser
melhor detalhado e trabalhado, sendo possível difundir tutoriais, momentos engraçados e até
mesmo instigar discussões sobre pautas sérias. Ademais, o algoritmo do Instagram possibilita
a personalização das informações exibidas para cada usuário, visando sugerir materiais e
perfis que sejam interessantes e em acordo com os gostos de cada usuário. Por fim, ainda é
possível explorar recomendações, descobrir criadores e comprar produtos anunciados.
Diante disso, essa plataforma evidencia-se como uma nova e alternativa rede de
conhecimento, ao qual seu uso pode ir além do convencional. Isso interferindo e
influenciando no acesso a diferentes abordagens e percepções sobre temas tabus, a exemplo
da sexualidade feminina, temática central do estudo. Dessa forma, os recursos caracterizados
e pertencentes à rede não só permitem, no contexto explorado, “um acesso mais facilitado de
aprendizagem, de apoio e cuidado” como também o incentivo, dentro e fora das telas, relativo
a “autoexploração, a autodescoberta e identificação” (Rodrigues, 2023, p.11 e 23).
Por esse motivo, surgiram diferentes iniciativas, projetos e estudos com o intuito
de trabalhar a sexualidade em suas várias vertentes no Instagram, visando “o
desenvolvimento de pensamento crítico, autonomia e cuidado” dos usuários. (Oliveira et al.,
2022, p. 40). Situação experienciada pelos seguidores da página @projextsexualidade, do
grupo de extensão Sexualidade, gênero e HIV da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Iniciado em 2021 no formato online, esse projeto busca compartilhar informações e
conhecimentos gerais acerca da sexualidade para o seu principal público-alvo: os jovens. Tal
iniciativa teve resultados significativos e positivos, conforme descrevem as autoras, uma vez
que possibilitaram o compartilhamento de saberes e o engajamento do público com a
temática, explorando conteúdos como identidade de gênero e uso de preservativos.
Elas ainda evidenciam como o espaço digital tornou-se favorável para a
comunicação e acolhimento do público-alvo em relação aos assuntos tratados. Para isso,
destacaram a importância do uso de uma linguagem acessível, do uso de imagens e imagens
de pessoas que o público-alvo pudesse se identificar e a escolha de temas direcionados e
escolhidos conforme a necessidade dos jovens do projeto (Oliveira et al., 2022).
De maneira semelhante, o perfil @orientacaosexualuepb, desenvolvido por
extensionistas da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), orientou e promoveu discussões
21
acerca das variadas dimensões da sexualidade para um público diverso, que possui diferentes
faixas-etárias, renda, escolaridade e outros fatores. Mesmo considerando essa complexidade
do público, uma vez que possuem diferentes percepções e vivências sobre a temática, os
autores destacaram resultados positivos da intervenção realizada uma vez que conseguiram
abordar temas “reprimidos e estigmatizados pelo senso comum” (Oliveira et al., 2021, n.p) à
medida que potencializaram a aprendizagem e a reflexão sobre eles e sobre outras questões
discutidas.
Para tal, os autores destacam a necessidade de produzir as postagens considerando
5 elementos: “estética, conteúdo, formatos, interação e colaboração” (Oliveira et al., 2021,
n.p), a fim de alcançar um processo educativo efetivo. Também elencaram o uso de uma
linguagem simplificada, a atenção aos feedbacks deixados pelos seguidores e a exposição dos
assuntos de maneira clara e didática, fundamentados em dados científicos, para o alcance de
resultados positivos (Oliveira et al., 2021). Em ambos os casos, observa-se como a
disseminação do conhecimento na rede social em questão foi benéfica para mudanças de
perspectiva e viabilidade de aprendizagem na área da sexualidade.
Em vista disso, mostra-se relevante e necessário compreender como o uso do
Instagram impacta na vertente da sexualidade trabalhada neste estudo, isto é, no
autoconhecimento sexual do público feminino, considerando que foram encontrados poucos
estudos dentro dessa temática relacionados às redes sociais. Além disso, salienta-se a
necessidade de reconhecimento do expressivo interesse do público-alvo na área delimitada,
uma vez que apenas as tags #sexualidadefeminina e #autoconhecimentofeminino contam com,
aproximadamente, 95 mil e 117 mil publicações, respectivamente.
22
3 METODOLOGIA
A presente pesquisa visa compreender como o uso das redes sociais influenciam
no processo de autoconhecimento sexual feminino ao considerar a disseminação dos
conteúdos e as vertentes da sexualidade trabalhadas, bem como os recursos da plataforma
escolhida que apoiam esse processo. Por esses motivos, este estudo possui caráter
exploratório, tendo em vista o intuito de oferecer informações em maior número sobre a
temática investigada e em diferentes aspectos (Prodanov; Freitas, 2013).
A partir disso, o trabalho fez uso do método estudo de caso por consistir “em uma
estratégia de pesquisa que busca examinar um fenômeno contemporâneo dentro de seu
contexto” (Roesch, 1999, p. 155) permitindo conhecer “seu amplo e detalhado conhecimento”
(Gil, 2010, p. 37). Para tal, Prodanov e Freitas (2013) apontam a necessidade de delimitar
uma unidade como objeto de estudo. Assim, para conferir rigor metodológico ao selecionar a
amostra, foi realizada uma pesquisa acerca dos principais perfis que tratam da temática
escolhida, utilizando o seguinte procedimento:
1. escolha de palavras-chaves;
2. escolha dos critérios de inclusão e exclusão de perfis;
3. pesquisa no Google através da combinação das palavras chaves;
4. tabulação dos resultados.
1.280 autoconhecim
N° de seguidores: ento
68, 2 mil
1. @brendamaia.fisio
2. @labioslivres
3. @prazerobvious
4. @shareyoursexbr
1. @shareyoursexbr
2. @prazerobvious
3. @brendamaia.fisio
4. @labioslivres
1. @prazerobvious
2. @shareyoursexbr
3. @brendamaia.fisio
4. @labioslivres
1. @prazerobvious
2. @shareyoursexbr
3. @brendamaia.fisio
4. @labioslivres
Diante disso, o perfil que melhor se enquadra nos requisitos e objetivos do estudo
é o @prazerobvious. Criado e gerenciado pela Obvious Agency desde 2020, esse perfil foca
na criação de conteúdo sobre bem-estar sexual com direcionamento para o público feminino
ao abordar situações comuns às narrativas femininas dentro dessa temática, conforme instiga
o diálogo sobre elas de maneira leve, engraçada e educativa. Ainda é possível destacar a
promoção de produtos de bem estar-sexual presentes na loja (de mesmo nome) gerenciada
pela empresa do perfil. Vale mencionar que a Obvious Agency é composta por um grupo de
mulheres que pautam as postagens a partir das próprias experiências, o que gera identificação
com o seu público (Geraldo, 2020). Existem ainda outras duas contas gerenciadas por elas:
@obvious.cc e @chapadinhasdeendorfina, conteúdos gerais do público feminino e
direcionados sobre bem-estar e esporte, respectivamente.
A abordagem metodológica utilizada na pesquisa se baseia na análise do discurso
mediado por computador (CMDA) proposta por Herring (2004), a qual visa a análise do
conteúdo e da comunicação online pela linguagem, sendo considerados as interações e
registros provenientes do perfil escolhido, a exemplo de mensagens e discussões (Herring,
2004). Diante disso, optou-se pela abordagem qualitativa em decorrência do interesse à
“compreensão minuciosa dos significados, bem como das características presentes no objeto
de estudo” (Marsiglia, 20, p.31). Portanto, a análise constitui-se da observação, interpretação
e argumentação do fenômeno discursivo textual.
Para a coleta de dados, foi utilizada a técnica de observação simples que consiste
em “recolher e registrar os fatos da realidade” sem o uso de meios técnicos ou perguntas
diretas (Prodanov; Freitas, 2013, p. 102). Assim, foram selecionadas 6 (seis) postagens do
26
perfil @prazerobvious com maiores interações nos comentários entre os meses de Janeiro a
Junho de 2023, uma referente a cada mês. O mapeamento e a escolha das postagens ocorreu
entre os dias 24 de outubro a 24 de novembro. Mesmo sendo uma amostra limitada, ainda é
possível construir análises profundas sobre os modos como o conteúdo e o discurso são
usados e difundidos nas redes sociais, conforme evidenciado nos estudos de Recuero e Soares
(2013).
Para a análise, foram considerados os 5 níveis ou domínios propostos na
abordagem: Estrutura, Sentido, Interação, Comportamento Social e Multimodalidade
(Herring, 2004; Recuero; Silva, 2013), que compreendem:
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Estrutura
pés usando meias, seja como plano de fundo ou como elemento decorativo, para reforçar o
tema abordado. Há ainda o uso de diferentes tamanhos e tipos de tipografia, e cores suaves e
vibrantes para destacar determinadas informações presentes. No geral, a escolha e aplicação
desses elementos reforçam a identidade do perfil: jovem, dinâmico e moderno. Além disso, o
texto escrito busca ainda aproximar o leitor quanto ao resultado da pesquisa enquanto utiliza
termos e expressões típicos da oralidade. Também instiga a discussão e o teste acerca da
situação relatada ao finalizar com “testem e contem pra gente nos comentários!”.
A postagem 4 é um carrossel com 10 itens similares seguindo a mesma estrutura:
plano de fundo com textura de frutas e plantas nas bordas direita e esquerda, com textos
centralizados. O texto “coisas inexplicáveis que despertam seu tesão” é repetido em todas as
imagens, dando contexto à postagem, e seguido por descrições de situações inusitadas que
originam tesão. Com o uso de tipografias diferentes e elementos visuais, há destaque para os
termos/expressões “que despertam” e “tesão”. Dito isso, tal escolha evidencia não só o foco
da postagem como denota que tais situações podem ser comuns a qualquer pessoa. Fica ainda
mais claro o interesse devido ao uso do pronome possessivo seu - indicativo de algo que lhe
pertence/é relacionado. Já os comentários são escritos em primeira pessoa, em caixa alta,
revelando sensações pessoais do locutor. Vale ainda mencionar que a estrutura possui três
diferentes cores aplicadas com base em regras de contraste e legibilidade, visando a facilidade
de leitura das informações.
A postagem 5 mostra um círculo de amigos deixando a mesa com a seguinte
mensagem no topo: eu e meus amigos deixando a mesa do restaurante após gritar toda a nossa
vida sexual em alto e bom som. O vídeo foca na ação das pessoas e utiliza música de fundo
para adicionar teor humorístico à situação apresentada. As expressões e o comportamento das
pessoas repassam tranquilidade e confiança, demonstrando que não há nenhum problema em
comentar sobre isso com outras pessoas.
A postagem 6 apresenta dados e descrições sobre diferentes fetiches. A cada
imagem, o título e o plano de fundo referenciam e representam o tipo de fetiche descrito,
facilitando a compreensão e o consumo das informações mesmo que os textos de apoio não
sejam lidos. Isso é potencializado pela diferenciação de tamanho e tipo da tipografia, assim
como a não sobreposição dos textos em pontos característicos das imagens. Tanto o título
quanto o texto de apoio usam expressões informais, incluindo gírias provenientes do meio
digital, aproximando e estabelecendo uma conversa com a audiência sobre esse recorte
temático. Vale ainda mencionar que a legenda especifica a fonte dos dados e revela o motivo
da postagem: especial para o Dia Internacional do Fetiche.
33
4.2 Sentido
Fonte: @prazerobvious
Fonte: @prazerobvious
presença das situações citadas e abranda possíveis sentimentos negativos relacionados a elas.
Indo além, como não é possível elucidar motivos que despertam tal sensação, as pessoas
poderiam se sentir constrangidas ou solitárias por essa condição acontecer com elas em
circunstâncias incomuns. Entretanto, ao citar diferentes contextos e ações nessa perspectiva, o
perfil demonstra que tais cenários podem ser comuns a qualquer pessoa, possibilitando a
mudança de percepção do leitor sobre o próprio tesão e do outro. O uso dos comentários em
primeira pessoa ainda aproxima e viabiliza a identificação da audiência com o conteúdo.
Fonte: @prazerobvious
praticá-los, de acordo com uma pesquisa realizada pelo pesquisador Justin Lehmiller. Desse
modo, essa abordagem permite que os leitores possam tentar experimentar e conhecer novas
sensações e gostos relativos à sexualidade. Isso fica ainda mais evidente pela legenda “ Bora
explorar nossos desejos com consentimento e t•são?”.
Fonte: @prazerobvious
Dito isso, fica evidente como o perfil utiliza da comunicação informal para
aproximar o leitor ao mesmo tempo que tenta gerar identificação nas situações abordadas.
Através do uso de ferramentas de comunicação mediadas por computador, o discurso usado
no ambiente digital sofre interferências do meio, do contexto histórico e do uso proveniente
dos atores, gerando expressões facilmente familiares para aqueles que costumam acessar tal
rede social. Como a pesquisa é focada no Instagram, não será possível identificar se as
expressões (e nem é o objetivo) são reconhecidas por usuários de outras redes sociais. Quanto
ao conteúdo e sua mensagem, revela-se a sua apresentação de maneira leve, humorada e, por
vezes, dinâmica, demonstrando que a discussão sobre sexualidade feminina pode facilmente
estar presente no dia a dia da sua audiência.
4.3 Interação
4.5 Multimodalidade
Fonte: @prazerobvious
43
Fonte: @prazerobvious
8
Postagem do dia 15 de fevereiro de 2023, disponível em:
https://www.instagram.com/p/CosoTPntHVn/?utm_source=ig_web_copy_link&igshid=MzRlODBiNWFlZA==
9
Postagem do dia 09 de fevereiro de 2023, disponível em:
https://www.instagram.com/p/CoVxto7sa6i/?utm_source=ig_web_copy_link&igshid=MzRlODBiNWFlZA==
44
Fonte: @prazerobvious
10
Postagem do dia 16 de junho de 2023, disponível em:
https://www.instagram.com/p/CtjORGdrtoG/?utm_source=ig_web_copy_link&igshid=MzRlODBiNWFlZA==
45
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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