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Licenciatura em Publicidade e Marketing

Unidade Curricular – Comunicação e Linguagem

Ficha de Leitura
O Paradigma Comunicacional de Adriano Duarte Rodrigues

Docente:
Rúben Caldeira

Discentes:

Ana Raquel Neto, aluno 14498

Cristiana Gonçalves, aluno 5785

Daniela Caetano, aluno 14547

Diogo Pereira, aluno 14499

Fábio Almeida, aluno 14560

Inês Duque, aluno 14565

João Francisco, aluno 13141

Grupo 1
Turma PL

Ano letivo 2022/2023


Modalidades da Experiência

Adriano Duarte Rodrigues, autor do texto O paradigma Comunicacional,


História e Teorias, durante o decorrer da sua investigação que incide sobre as
modalidades da experiência propõe abordagens sistemáticas da natureza dos
domínios e da génese da experiência. Estas permitem ao autor revelar a
complexidade e heterogeneidade resultante da avaliação de todas estas
diferentes componentes e avaliar a relação que estabelecem entre si.
As componentes da experiência podem ser agrupadas em três
modalidades distintas, a modalidade originária, tradicional e moderna da
experiência. A nomenclatura destas modalidades não se refere à sua fase ou
período histórico, desta forma a terminologia “originária” não deve remeter para
a ideia de que esta modalidade foi a primeira a ser reconhecida ou “moderna”
não põe em causa uma modalidade mais atual. Tratam-se de modalidades
pertencentes ao paradigma da experiência e coexistem no espaço e tempo
podendo estar presentes em maior ou menor grau. Estas terminologias são
utilizadas, seguindo o pensamento de Max Weber, como ideais-tipo (Weber
1971, 8), e tratam-se de construções mentais da realidade de forma a estudar
os fenómenos culturais. Estas construções existem de forma a transmitir e
evidenciar o antagonismo proveniente da experiência do mundo manifestando-
se na dimensão simbólica da cultura e dimensão técnica.

Modalidade Tradicional da Experiência

A modalidade tradicional da experiência tem como base primordial o


princípio de que existem saberes profundamente enraizados nas sociedades,
que são tidos como verdades absolutas simplesmente por outrora terem sido
articulados, e assim legitimados. Convertem-se em tradicionais porque por falta
de recordação das suas origens ficam acessíveis e vulneráveis a novos
significados, explicações e interpretações passíveis de apelar somente aos
interesses particulares do sujeito, desconsiderando as razões do seu
surgimento. Este processo é intitulado de mitificação, um aspeto que caracteriza

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esta modalidade da experiência e verificamos exemplos presentes nos tabus
alimentares, da linguagem, ou através dos comportamentos sexuais.
Após o processo de mitificação estar instalado nas culturas e com o
esquecimento natural das razões que suscitam a sua origem, estas crenças são
sacralizadas e autenticadas através da invocação de um ser superior e magnífico
não pertencente à realidade Humana que reforça comportamentos
estereotipados e ritualistas ou através de explicações redundantes onde os
indivíduos são ensinados de que tal crença existe “porque sim”, sem providenciar
o devido contexto das suas funções originárias ou explicitar o raciocínio anexado.
Não podemos confundir a modalidade tradicional da experiência com a
originária uma vez que a primeira surge através da emancipação de diversos
domínios onde as leis da natureza não se confundem com as normas sociais
nem condicionamentos individuais, opondo-se à modalidade originária
caracterizada pela sua homogeneidade. Na modalidade tradicional também os
princípios ontológicos são autónomos dos juízos éticos e estéticos,
contrariamente ao que se observa na experiência originária.
O autor ressalta uma das características basilares da experiência
tradicional que assenta na relação íntima que estabelece com as interações que
os humanos criam com o mundo.
Através do Ensaio sobre a Dádiva, de Marcel Mauss, o autor indica a
ligação intrínseca entre a experiência tradicional com a lógica da sociabilidade.
Marcel Mauss relata as descobertas que fez de rituais praticados na
Polinésia, o kula, e na Costa Noroeste dos Estados Unidos da América e do
Canadá, o potlatch, e estabelece que, embora pertençam a comunidades com
culturas muitos distintas e extensamente afastadas, ambas estão vinculadas a
uma instituição regida por conceções idênticas que obedecem a uma lógica
paradoxal e paroxística.

No que concerne à lógica paradoxal, verificamos que estas tribos


remetem-nos para a vivência de dois princípios divergentes: a obrigação e a
"adoração", isto porque, existem regras, modos de agir dentro daquela tribo, que
são pilares basilares de funcionamento na comunidade.
Existem os que não se comportam da maneira imposta pelas tradições e acabam

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por ser vistos como párias ou desertam, e existem os que não adotam esses
comportamentos por livre e espontânea vontade, mas sim por obrigação.

Já as características paroxísticas desta instituição resultam do facto de


envolverem três etapas diferentes, dádiva, recebimento e retribuição.

Não havendo uma moeda de troca estipulada e física, as pessoas fazem


oferendas, trocas genéricas entre elas vinculadas num código de honra envolto
em tradições antigas que são impostas desde muito cedo e não dão espaço para
serem questionadas porque são fundamentadas com o divino e com a força dos
antepassados.

A falta de partilha destas convenções pode dar origem a faltas de


confiança, crença e consequentemente originar guerras.

Estamos a falar de tribos que, por falta de acesso à informação, não têm
consciência que existe mais para além do que é imposto e esse facto tem os
seus aspetos positivos e negativos. É possível criar mais ordem porque existe
menos dúvida mas também limita a evolução porque se cingem sempre aos
mesmos ritos e fazeres.

A linguagem mostra-nos a sua extensão na arte de comunicar e fazer


comunicar, esta interação através da palavra é o que faz a modalidade da
experiência tradicional funcionar e ativar o fator social que desencadeia estas
formas de ser em "sociedade", criando regras próprias numa partilha de
convenções.

Adriano Duarte Rodrigues, autor do texto, destaca o fenómeno social total


ou de sistema de prestações totais para indicar a complexidade dos fenómenos
sociais, que envolvem aspectos distintos da vida social como a política, a cultura,
a religião, a economia entre outros.

Começa por abordar que as práticas de troca são essenciais para a


organização social e económica das comunidades, refere também que é
facilmente percetível que a oralidade ocupa um papel exclusivo. É na interação
discursiva que a lógica da sociabilidade se funda e se alimenta através dos
modos de falar e de fazer comuns, ou seja, só é facilmente percetível através da

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oralidade da qual a sabedoria constitui um senso comum indiscutível e partilhado
pelos homens e por todos os que são reconhecidos como parceiros de troca.

Adriano refere ainda que neste sistema o indivíduo não possui uma
identidade autónoma no lugar que ocupa no conjunto do grupo em que nasce ou
a que pertence, mas que este indivíduo assume um lugar preestabelecido no
conjunto das relações criadas pelo sistema de trocas generalizadas, ao qual ele
equipara com a lógica paradoxal. Aborda de forma sucinta que a tradição é o
termo que se dá para as crenças e convicções, e que esses valores, crenças e
comportamentos tradicionais se impõem a todos, indiscutivelmente, e que
mesmo que a sua origem seja perdida por falta de memória, isso não significa
que a tradição não seja passada de geração em geração.

Na experiência tradicional, a linguagem é vista como um dispositivo eficaz


para intervir nos diferentes mundos que fazem parte da vida social, os objetos
do mundo material estão conectados aos aspectos simbólicos e imaginários da
cultura. Nessa perspectiva, a linguagem é vista como um meio de acesso a
esses diferentes mundos, permitindo que as pessoas possam interagir com eles
e transformá-los.

O autor afirma que a experiência da língua materna é o melhor exemplo


da modalidade tradicional da experiência e que a mesma é fundamental para a
mediação entre o indivíduo e o mundo, recebendo dela as distinções que
delimitam e definem os objetos experienciados. Afirmando que a língua materna
é natural e intuitiva, sem a necessidade de uma aprendizagem formal das suas
regras, e que a recusa às regras da língua materna equivale à recusa da
experiência do mundo natural e de nós próprios.

A experiência afetiva é um domínio irredutível da experiência tradicional.


Adriano Duarte Rodrigues cita Pascal destacando a “importância da modalidade
tradicional da experiência que podemos dizer que o coração tem razões, que a
razão desconhece.” (pag. 85).

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A modalidade moderna da experiência

No que diz respeito à modalidade moderna da experiência, a ideia


adjacente é a de corte com a tradição a par da autonomização, isto é, do ato de
se tornar autónomo, dos domínios e dimensões da experiência sendo que,
independentemente do domínio que se trate, a experiência pressupõe a posse
de saberes que não são fundamentados racionalmente. Contudo, para além da
separação entre a esfera da natureza e a esfera cultural, tal processo levanta
como problema, relativo à questão comunicacional, a emergência da
comunicação.

A autonomização dos domínios e das dimensões da experiência

Aquilo que é denominado de experiência moderna, diz respeito à


autonomização do mundo natural, ou seja, do mundo independente do sujeito.
Assim, o mundo natural, é um domínio autónomo quando relacionado com o
domínio subjetivo (o domínio do “eu”) e o domínio intersubjetivo (o domínio do
“eu + tu”, ou seja, do “nós”).

O acesso à modalidade moderna da experiência, e ao que dela advém,


como é o caso da constituição dos mundos autónomos, através da autonomia
dos seus diferentes domínios, pode ser obtido através da aprendizagem daquilo
que é representado pelo dispositivo gramatical.

A institucionalização e a autonomização da modalidade disciplinar do


saber

O processo de racionalização, parte integrante dos mundos da


experiência, é associado à modalidade do saber disciplinar assumindo dois
sentidos: a disciplina no seu sentido científico (sendo este um sentido passivo)
e a disciplina enquanto processo de incorporar, conformar ou domesticar o corpo
de acordo com os modos de fazer e de dizer adequados.

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Consistindo a modalidade tradicional na aquisição do saber a partir do
testemunho e da convivência, esta é distinta da modalidade em análise uma vez
que, segundo a mesma, a formulação do saber é feita através da aquisição dos
conhecimentos que são discursivamente formulados ou obtidos através de um
método de pesquisa, procura e investigação dos fenómenos e da aquisição de
uma disciplina.

O processo tradicional de aquisição do saber implica a inserção numa


comunidade total de vida denominando-se tal facto de Gemeinschaft (Tönnies
1991). Já a modalidade moderna não envolve a totalidade dos domínios da
experiência assim como a inserção numa dada comunidade total de vida, mas
sim a referência de diversas formas organizadoras da vida coletiva, facto
designado por Tönnies de Gesellschaft.

Assim, a sabedoria tradicional difere-se da sabedoria moderna pelo facto


de a primeira ter como base a experiência particular e a segunda não depender
de tal acontecimento, tendo por este meio, como refere o autor, “uma pretensão
de validade universal”. Surgem como novas figuras do saber disciplinar o
especialista e o perito que têm a sua competência limitada não por fronteiras
físicas de uma dada comunidade, mas antes pelas fronteiras abstratas do
domínio da experiência em que se encontram.

Na modalidade moderna, também existe a ideia do saber dizer e fazer, no


entanto, considera-se que estão em esferas diferentes, havendo separação da
“função expressiva ou simbólica em relação à função pragmática” (pag. 88).

Na modalidade tradicional, como vimos anteriormente, a interação em si


já é uma forma de legitimar aquilo que é dito. Isso não acontece na modalidade
moderna, em que as regras se tornam autónomas, criando a necessidade de
emergência de duas identidades distintas, que o autor intitula de cientista
(associado ao saber- campo científico) e técnico (associado ao fazer- campo
técnico).
Enquanto que na modalidade moderna, o "saber médico deixa de se confundir
com a intervenção na cura dos doentes, o discurso de direito já não se confunde
com a aplicação da justiça(...)" (pag.88), na modalidade tradicional,

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o saber e o fazer estão associados à mesma figura, como é o exemplo do
shaman, que tinha aptidões para "dizer e agir" (pag.88).

Podemos dar o exemplo do treinador, a pessoa que estuda o jogo (campo


do saber dizer), e o jogador, a pessoa que joga (campo do saber fazer). Apesar
disso existe a possibilidade dos dois campos se entrelaçarem, o autor dá o
exemplo da psicanalítica como prática usada para curar um paciente utilizando
o discurso.

Como referimos anteriormente, modernidade não é uma forma de


representar um espaço temporal específico, modernidade pode ser encontrada
por toda a história, como pode ser observado no texto, no exemplo da história
bíblica de Job. Somando a esse facto, nesta modalidade o conceito mais
relevante apresentado é o conceito de rutura, existe uma quebra para com a
modalidade tradicional, o homem quer libertar-se da tradição, pois sabe que a
tradição impede o progresso individual em prol da “cultura” e da ordem
estabelecida.

Na modalidade moderna o homem vira as costas à experiência tradicional,


para Max Weber isso pode ser chamado de “desencantamento”(pág.91), um
mundo desencantado onde o homem se afasta de Deuses e profetas, e percebe
que a sua vida a si pertence. Já Kant chamaria a isto de iluminismo “saída do
homem para fora do estado de menoridade"(pág. 91).

A emergência da questão do fundamento e da questão


comunicacional

O alicerce fundamental da modalidade da experiência moderna assenta na


legitimação da ação e do discurso através da investigação meticulosa dos
fenómenos pertencentes ao mundo da experiência, ao mundo natural e ao
mundo intersubjetivo apelando à “razão como fundamento do agir e do falar”
(pag. 92). É com base neste pilar fundamental que o autor evidencia a
autonomização e institucionalização dos vários campos sociais que se regem e
instauram um conjunto de normas e simbolismos.

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A questão comunicacional, consequência da autonomização dos domínios e
dimensões da experiência surge, apresentada pelo autor, como uma dificuldade
de “compatibilizar entre si exigências legítimas diferentes e, por vezes,
contraditórias" (pag.92) dos campos sociais.

A problemática comunicacional da modernidade pode cingir-se em torno da


descoberta dos métodos e procedimentos a serem utilizados para legitimar e
fundamentar comportamentos e discursos, denominada de natureza crítica da
questão comunicacional. O autor cita Michel de Certeau para corroborar a tese
que defendia sobre a questão comunicacional e a respetiva relação com a
experiência moderna. De Certeau estabelece ainda, a relação causal deste
problema com a rutura dos ideais tradicionais provocada pelo aparecimento da
modalidade da experiência moderna, no entanto refere que a sua reflexão não
deixa de ser uma “visão redutora da experiência provocada por uma conceção
historicista que se tornou dominante nas nossas sociedades ocidentais”
(pag.94). Refere ainda que ao longo de toda a história as sociedades de várias
culturas todas têm a necessidade de se denominar a si próprias e se instituírem
como “ sujeitos autónomos de enunciação.” (pag.94). Tendo em consideração a
presença destas manifestações em todas as épocas e culturas, Adriano Duarte
Rodrigues opta por falar de modalidade moderna da experiência em vez de
viragem da modernidade.

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