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Como o aperto de mão é usado contra imigrantes na

Europa
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FOTO: MARKO DJURICA/REUTERS – 07.04.2016

Imigrante na região da fronteira da Grécia com a Macedônia

Um projeto de lei do governo da Dinamarca está gerando discussão sobre como o país e
a Europa em geral estão acolhendo imigrantes e refugiados. A nova proposta envolve
um gesto que pode parecer banal: cumprimentar outra pessoa com um aperto de mão.

Por motivos religiosos, parte dos muçulmanos não faz contato físico com pessoas do
gênero oposto, o que inclui apertos de mão. Existem exceções para cônjuges e parentes
próximos — como pais, filhos, irmãos e avós. O cumprimento formal é feito sem contato.
É polido, por exemplo, pôr uma das mãos no próprio peitoral .

O projeto, de iniciativa da coalizão governista conservadora, prevê que imigrantes que


vão receber a cidadania dinamarquesa precisam participar de uma cerimônia formal,
com o prefeito da sua cidade. Nesses eventos, os imigrantes deveriam assinar um termo
no qual se comprometem a respeitar valores dinamarqueses.

Além disso, o projeto determina que devem “agir com respeito perante representantes
das autoridades”. Segundo os defensores da proposta, essa atitude respeitosa inclui
apertar a mão dos prefeitos na cerimônia. Negar o cumprimento violaria as condições
para obter a nacionalidade.

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A ideia por trás dessa medida é que se recusar a apertar a mão de pessoas do gênero
oposto indicaria uma cultura incompatível com valores dinamarqueses e europeus.
Portanto, esses imigrantes não teriam direito a ganhar uma nova nacionalidade.

“Um aperto de mão é como nos cumprimentamos na Dinamarca, é como demonstramos


respeito uns aos outros”, disse Inger Stojberg, ministra da Imigração e Integração. O
projeto ainda precisa ser aprovado pelo Parlamento dinamarquês.

Alguns prefeitos do país criticaram a ideia publicamente e deram a entender que, se virar
lei, eles vão ignorar a norma. Entre os argumentos estão o fato de que a Dinamarca
prevê liberdade religiosa e que apertar ou não a mão não é determinante para indicar se
um imigrante está integrado ao país.

Outras partes da Europa


Em abril de 2018, a Justiça da França manteve a recusa de cidadania a uma imigrante
argelina que, em 2016, se negou a cumprimentar dois homens com um aperto de mão
durante a cerimônia de obtenção da nacionalidade. A religião da imigrante não foi
divulgada publicamente.

Em agosto de 2018, um casal de imigrantes muçulmanos foi excluído do processo de


obtenção da cidadania suíça. Eles haviam se negado a apertar as mãos de pessoas do
gênero oposto e portanto, na avaliação do prefeito de Lausanne, não seguido valores e
leis da Suíça.

Casos do tipo não se referem apenas a imigrantes ou refugiados. Na Suécia, em agosto


de 2018, Farah Alhajeh, muçulmana sueca, ganhou na Justiça uma indenização após ter
se recusado a apertar a mão de um homem em uma entrevista de emprego e ter sido
prontamente desclassificada do processo. Alhajeh diz que trata igualmente pessoas dos
dois gêneros ao negar apertos de mão em geral.

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