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O Século Dos Cirurgiões - Jürgen Thorwald
O Século Dos Cirurgiões - Jürgen Thorwald
Sobre a obra:
Sobre nós:
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JURGEN THORWALD
30 321 817
Antecedentes 11
I PARTE
Warren 40
Cálculos 53
II PARTE
Descoberta 97
III PARTE
FEBRE
Escutári 161
Cesariana 196
IV PARTE
REDENÇÃO
V PARTE
RESULTADOS
A Estrada Extensa 315
Bibliografia 349
BERTRAND GOSSET
ANTECEDENTES
PARTE 1
A LONGA NOITE
OU ANTIGÜIDADE
KENTUCKY
tivo.
- Doutor...
McDowell voltou-se.
O negro tremia.
CÁLCULOS
- Comprendo - atalhei.
O mosquiteiro
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segundo atestam Murchison e outros contemporâneos
em Lucknow. Martin recomeçou os seus passeios de oito
ou dez milhas, a cavalo, antes do almoço; e enviou à
Inglaterra
o seu primeiro artigo, endereçado a Sir Joseph Banks.
Mas a sua façanha parecia tão incrível, tão inverossímil
aos olhos dos médicos que, aparentemente, ninguém
a tomou a sério na Inglaterra, enquanto não chegou o
segundo relatório, esse que o senhor tem nas mãos, mas
que também só foi publicado uma vez. Ninguém tirou
dele
nenhum resultado prático, salvo Civiale.
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longo do reto, media com a ponta do instrumento a
grossura do cálculo e dilatava a incisão até possibilitar a
extração da pedra, sem dificuldade. Terminava toda
operação com estas frases: "Consegui tirar-lhe a pedra.
Deus o salvará!" E, a partir daí, deixava de se preocupar
com os pacientes.
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Aí
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Naquele dia 23 de maio, em que eu me dirigia para o
Hospital Necker afim de me avistar com Civiale, ainda
não se costumava receber e tratar em hospitais a
categoria
de pacientes que hoje denominamos clientela particular.
A caminho do encontro marcado, eu ainda não
conseguira adivinhar porque o cirurgião me convocara
justamente
ali, depois de receber a carta de Thompson. Entrei no seu
gabinete, com a mescla de receio, confiança, curiosidade
e tensão criada em mim pelas experiências anteriores,
desde a minha estada em Lucknow.
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culos.
II PARTE
LUZ
ou O DESPERTAR DO SÉCULO
DESCOBERTA
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divulgá-las. Os seus amigos médicos fizeram-lhe ver,
porém, que o ópio era empregado desde séculos em
cirurgia e só anestesiava, quando administrado em altas
doses
que expunham o doente a morrer intoxicado. Felicitaram
o colega pelas suas experiências coroadas de êxito,
aconselhando-o, no entanto, a não continuar. Smilie
deixou-se
persuadir e desistiu. Ninguém pensara no efeito do éter,
no qual Smilie via apenas um solvente do ópio.
O PRIMEIRO ATO
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- Embuste!
- Intrujice!
Eu também gritava.
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superlotada. Entre os espectadores contava-se um dos
cidadãos mais estimados de Hartford, com sua esposa
Lizza.
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nar a dor nas intervenções cirúrgicas. No dia 10 de
dezembro, quando Colton iniciou, às sete da noite, a
representação, o ideal de Wells continuava em estado de
sonho e, dadas as convicções da época, tinha escassa
probabilidade de se realizar. Não esmorecia, porém, no
dentista, a esperança de convertê-lo em realidade. Talvez
essa esperança explicasse o fato de ser Wells, nessa
noite, o primeiro a descobrir o que a inúmeros
pesquisadores que o precederam passara despercebido.
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Já amanhecia.
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O SEGUNDO ATO
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LONDRES E EDIMBURGO
Naquele dia, postado diante de mim, encostado
indolentemente à cruzeta da janela, Liston voltava o
dorso possante e musculoso a Clifford Street,
examinando-me com
ironia insultante. O peito arqueava-se-lhe, sob o colete
trespassado, repuxava a sobrecasaca verde-garrafa, com
gola de veludo. Nessa postura, com o polegar da mão
esquerda enfiado na cava do colete, o rosto emoldurado
pelas suiças, os olhos azuis, muito vivos e luminosos,
Liston respirava saúde. Ninguém diria que, menos de
doze meses depois, esse homem de quarenta e oito
anos, na plenitude do seu vigor, tombaria sem vida,
como um tronco abatido.
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- Se viesse dias atrás, ou mesmo esta manhã, mais cedo,
seria o primeiro em me dar a notícia dessa história de
éter. E, se me trouxesse a notícia, seria o primeiro
a ter a oportunidade de divulgá-la possivelmente em
toda a Inglaterra.
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Dizia a carta:
BOSTON, 28 DE NOVEMBRO DE 1846.
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f\
Pronto?
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Dum salto silencioso de selvagem - eu não me saberia
exprimir noutros termos - pulou no primeiro banco. Os
estudantes das filas inferiores tentaram fugir, treparam
gritando nos assentos. Eu, pelo contrário, estava como
que atado ao meu lugar; e dizia comigo:
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- Sim, senhor.
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Mostrou-a a Churchill.
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\,
Simpson interrompeu-se.
- E, como vê. ..
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fórmio, muito menor do que a de éter, mostrara-se
suficiente para a narcotização. Já na primeira experiência
tudo parecia dar certo. Assim se deu a descoberta do
clorofórmio. Uma história divertida, não?
originária
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ortodoxas da Bíblia. Simpson tomou a coisa do lado
cômico. Satirizou os adversários do clorofórmio, opondo a
Gênesis In, outro versículo da Bíblia: Gênesis II, 21:
"E o Senhor mergulhou Adão em profundo sono. Ele
dormiu, e o Senhor tiroulhe uma costela...". - Façam o
favor - disse Simpson - aqui têm os senhores a permissão
divina para usar clorofórmio. Gabo-lhe o otimismo.
Acontece, porém, que a luta está só no princípio.
Autoridades eclesiásticas já se referem ao clorofórmio
como
ao "fruto do demônio"; outras ameaçam excomungar os
fiéis que ousem pensar em aplicar a si próprios, ou aos
seus o "cheiro de Satanás". Eis o ponto em que estamos,
na Escócia. Mas, a falar verdade, na Inglaterra e na
Irlanda, o estado de coisas não é muito diferente.
Louvado seja o otimismo de Simpson! O senhor também
não poderia
fazer outra coisa... Agora seja o que Deus quiser, e boa
noite... Que frio!... (1)
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In PARTE
FEBRE
ESCUTÁRI
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mental, nitidamente característica de mais de três
decénios de evolução cirúrgica.
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tivos. Passei em seguida a uma sala mal iluminada e
abafadiça. Chegara finalmente ao meu destino. Bem no
centro, estavam os cirurgiões entregues à sua faina; os
pacientes jaziam em tábuas simplesmente pregadas a
um cavalete de madeira. Em redor do cavalete, os já
operados cobriam o pavimento; e os turcos arrastavam
continuamente
novos infelizes alijados das embarcações. Eu estacara,
aturdido, a uma das portas, no meio daquele formigueiro
sujo e sanguinolento, quando entre duas intervenções,
uni dos médicos voltou para onde eu estava o rosto
suarento e barbado.
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- Tudo em ordem?
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- Tudo em ordem?
Mais uma vez, a frase horrível!
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das tábuas onde McGrigor cortava e sondava. A luz turca
do dia acrescentava horror ao quadro do lazareto (3).
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"Meus senhores,
E concluiu:
"Estas explicações vos convencerão plenamente de que,
antes da operação, estudamos sob todos os aspectos a
admissibilidade desta intervenção... Se o êxito não
corresponder
às nossas esperanças, se a operada sucumbir à
experiência, o desfecho infeliz não poderá alterar o juízo
dos nossos colegas sobre a permissibilidade desta
operação".
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CESARIANA
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Terminados estes, Porro chegou-se mais uma vez ao leito.
Parece-me que o vejo puxar as cobertas sobre a
paciente, alisá-las cuidadosamente, com gestos
compassivos,
sobre o peito mal desenvolvido. Vejo-o, nesta visão
retrospectiva, sorrir - porque talvez pressentisse que o
seu sorriso podia minorar a aflição daquele rosto
emaciado
de mulher.
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Uma ordenação relativa às obstetrizes, datada do ano de
1480, estatuía - com a ignorância anatómica daquela
época - que a operação cesariana em parturientes
mortas, ou moribundas, se praticasse invariavelmente do
lado
esquerdo, porque, na mulher, o coração "está do lado
direito". Em época posterior, averiguou-se que, na
melhor das hipóteses, o feto pode sobreviver vinte
minutos.
Em muitos escritos antigos, pretende-se que, ainda
depois de vinte e quatro minutos, se retiraram crianças
vivas, do ventre de parturientes mortas. Com uma
condição
fundamental: cumpria manter bem aberta a boca da
defunta, com um grampo adaptado a uma espécie de
parafuso, a fim de que o feto continuasse a respirar. Que
idéia
errônea: respirar a criança, no ventre materno, pela boca
da mãe, cuja respiração cessou há muito! Que
inconsciência terrível!
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turi, no abdômen crescido da paciente. Praticou a
primeira incisão, do umbigo para baixo, seguindo a "linea
alba". Um dos assistentes, com os dedos dobrados,
separou
bem o talho abdominal. Sob o oval pulsante do corte,
apareceu contraído por uma dor o útero com a criança. A
incisão abdominal mal sangrava.
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XVII).
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IV PARTE
REDENÇÃO
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MÃOS SUJAS
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Caráter Contagioso da Febre Puerperal". Provi-me dum
exemplar e, no verão de 1848, enviei-o a Michaelis, sem
me preocupar demais com tomar conhecimento dos
pontos
de vista do autor. Eu andava então na pista da sorte de
Horace Wells. Não estranhei não receber nenhuma
resposta, por fim de contas, o caso não passava dum
pequeno
episódio sem importância. Mas, inesperadamente, a 2 de
outubro de 1848, chegou-me uma carta de Kiel.
Surpreendeu-me que fosse escrita com letra feminina.
Abri o
envelope e, mal comecei a ler, tive um verdadeiro
choque.
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consciência o responsabilizava pela mortandade das suas
pacientes. Exacerbou-lhe mais esse estado de ânimo a
morte duma parenta que ele muito prezava e que estava
sob o seu tratamento, levada como as outras pela febre
puerperal. O professor caiu numa depressão cada vez
mais grave, em conseqüência do que, no dia 9 de agosto
dêsfe ano, se suicidou em Lehrte, atirando-se debaixo
dum trem..."
Guardei a carta.
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Apesar de tudo, o resultado do seu zelo não consistia em
melhores conhecimentos da natureza do mal; resumia-
se, pelo contrário, numa súbita majoração do número de
enfermas e moribundas - e isso, em verdade, só na
primeira secção, aliás, já preferida pela morte. O
obituário dessa enfermaria era o terror das mulheres que
não
tinham um lar próprio, onde pudessem dar à luz e passar
a semana seguinte ao parto. E elas resistiam
desesperadamente a que as alojassem na secção da
morte.
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articulou
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DESCOBRE-SE O ASSASSINO
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da policia, aonde os guardas os arremessavam, os
removiam dali.
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Respondi, portanto:
- Eu amputaria imediatamente.
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uma gase recheiada de algodão empastado de sangue e
soro, a ponto de parecer uma crosta.
- Naturalmente! - afirmei.
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ma singular, novo, medicamentoso, que impregnava a
atmosfera da sala.
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e putrefação. Cumpria-lhe provar que um líquido só
começa a fermentar, se de fora certos micróbios vierem
ter com ele. Se conseguisse prová-lo, estaria refutada
a teoria contrária de que os micróbios nascem
espontaneamente da fermentação. Em conseqüência,
Pasteur encheu o bojo do garrafão com molho de carne,
ou com leite,
e ferveu-o. Nada ocorreu. Não houve fermentação. Se
quisessem chegar ao leite, ou ao molho de carne, de
fora, isto é, por meio do ar e das suas partículas de
poeira,
os micróbios teriam de passar pelo comprido gargalo do
garrafão. Pasteur calculou que, no labirinto do gargalo de
vidro, os micróbios pereceriam e não chegariam
ao bojo do garrafão. Assim sendo, a fermentação só se
operaria, inclinando o recipiente, de modo que o seu
conteúdo líquido corresse no gargalo, até à curva
profunda
onde, segundo a hipótese de Pasteur, os micróbios
ficavam retidos. Ele colocou o garrafão na posição
conveniente, e esperou. Não teve de esperar muito: ao
termo
de pouco tempo, descobriu microrganismos, no conteúdo
do garrafão esterilizado pela fervura. Os micróbios
multiplicaram-se com rapidez prodigiosa e produziu-se a
fermentação.
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cróbios, ou micróbios semelhantes, geradores de
putrefação, se insinuam nas lesões abertas,
infeccionando primeiro a ferida, depois todo o organismo.
A partir desse
instante, eu pensei em demonstrar que a supuração
traumática, a gangrena, a piemia também poderiam ser
provocadas por micróbios que penetrassem nas lesões.
Demonstração
muito difícil, porque eu não poderia ferver feridas; tão
pouco as poderia refundir na forma do gargalo arqueado
do garrafão. Cumpriame escogitar outro filtro que
vedasse aos supostos micróbios o caminho para o
ferimento.
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OS DEUSES CEGOS
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quão ilusória era a minha convicção de que a descoberta
de Joseph Lister tomaria de assalto o mundo.
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- Seja...
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- Não.
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Simpson ofegava.
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E:
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LUVAS DO AMOR
Se o encontrasse na rua, eu nunca o tomaria por um
homem capaz de transformar o aspecto da medicina.
Mesmo quando o vi pela primeira vez no consultório, que
cheirava
a ratos e a fenil, custou-me identificar nele o cientista
que tornou visivel a olhos humanos a existência dos
germes de contágio e infecção.
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- O senhor vem da América?
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trar uma resposta ao "porquê" talvez permanecesse tão
infrutífera quanto a tentativa de explicar por que foi
Horace Wells quem descobriu o efeito anestésico do gás
hilariante.
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no. ..
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bra os toldou, como se ele pressentisse que, para ela, já
não havia tão longo prazo de vida.
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do material empregado nos curativos - foi a conclusão de
Schimmelbusch, o assistente de von Bergmann - bastaria
expor os instrumentos e o material de suturas e
ataduras,
ao jacto de vapor d'água, para conseguir uma
esterilização absoluta. Schimmelbusch transpôs a teoria
para a prática e foi, quase simultaneamente com o
francês Terrier,
o criador da esterilização pelo vapor d'água, que em
breve conquistou as salas de operações da terra inteira.
Na mesma época, o cirurgião alemão Gustavo Adolfo
Neuber
- que transformara a sua clínica em campo experimental
da assepsia em grande estilo - ideou novos instrumentos,
sem os cabos de madeira tradicionais, facilmente
danificáveis pelo vapor d'água. Os novos instrumentos
eram inteiramente metálicos e podiam ser submetidos à
fervura. Eles também passaram a ser atributo de todo
o mundo cirúrgico.
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RESULTADOS
A ESTRADA EXTENSA
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inaudita, no dia 26 do mesmo mês. O acontecimento
iminente atraíra-me à capital britânica.
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- Não seja tão modesto, doutor! Diga duma vez que, nos
Estados Unidos, a moléstia já foi dominada, extraindo o
apêndice, antes que ele contamine o intestino. Aqui,
na Europa, sabe-se mais a respeito de tudo. Aposto em
que os senhores médicos do rei, em vez de operarem
imediatamente, pro-
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M2
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meras pessoas, com os olhos cravados nas janelas,
aguardavam notícias do estado de Eduardo VII. Nos
vespertinos, comentários obscuros confundiam
apendicite com nefrite
e oclusão intestinal, evidenciando uma ignorância crassa
do problema da apendicite. A Câmara dos Comuns
interrompera as sessões, para ouvir informes dos
membros
médicos. E, através de ruas indizivelmente desertas e
tristes, eu voltava ao Ritz com o coração mais uma vez
opresso e desolado pela inércia criminosa da medicina.
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BIBLIOGRAFIA
1876
Bardeleben, A • Lehrbuch der Chirurgie und
Operationslehre 4 Bd 1863-1866 Bsll, K.: System der
operativen Chirurgie Deutsch von Kosmely Berlm 1815
Benedict. T.:
Lehrbuch der allgememen Chirurgie und Operationslehre
Breslau 1842 Bcrghoff: Die Entwicklung der Chirurgie in
Wien vor Billroth Wiener Med.
Stuttgart 1926
18 Jh Breslau 1859
Leipzig 1863-1866
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