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Novos

Paradigmas
para a Inovação
no Agro
Agtech Innovation
Conteúdo
Os Novos Paradigmas para a Inovação no Agro 3
O maior Agtech Meeting já visto 5
O epicentro da inovação no agro 8
Os compromissos do Agro do Futuro 10

Palco Paradigmas 15

1. ESG 17
2. IA 22
3. Agricultura Regenerativa e Carbono 27
4. Inovação sem fim 32
5. M&A 39
6. Mulheres que inovam o agro 45
7. Cultura de startup 50
8. Gestão de pessoas 55

Palco Tecnologia 59

9. Investimentos ag&food tech 61


10. Fintechzação 64
11. Tecnologias sustentáveis 69
12. Produtor no centro 73
13. Cibersegurança 78
14. Venture building 83
15. Moedas digitais 87
16. Saúde mental 91

Palco Ecossistema 95

O Capitalismo Consciente, pelo olhar da nossa comunidade 98

Contatos 102
Os Novos Paradigmas
para a Inovação no Agro
Por Marina Salles,
Editora-Chefe de Conteúdo
do PwC Agtech Innovation

Sob o tema “Novos Paradigmas para a Inovação no Agro”,


o Agtech Meeting 2023 reforçou na pauta do setor a importância
de discutir a tríade do ESG (sigla para social, ambiental e
governança), a questão da diversidade de gênero na cadeia,
acesso à tecnologia no campo, consolidação dos mercados
emergentes, fontes de recurso para crescimento das ag&food
techs, transformação digital, capitalismo consciente e uma série
de outros assuntos — sempre buscando expandir o olhar dos
mais de 1.200 convidados sobre as formas de atravessar,
dia após dia, a ponte para o agronegócio do futuro, mais
competitivo, inclusivo e sustentável.

Report Agtech Meeting 2023 3


Os paradigmas são padrões seguidos pela sociedade, que
moldam a maneira como pensamos. E, felizmente, com a
evolução do conhecimento, estão sujeitos a serem substituídos
ou modificados, alterando os modelos vigentes. No agronegócio,
o compromisso de alimentar uma população de mais de 10
bilhões de pessoas até 2050, conforme estimativa da ONU,
demanda da cadeia produtiva, do campo à mesa do consumidor,
reflexões sobre as escolhas que quer adotar hoje e que
impactarão as próximas gerações.

Como orquestrador do ecossistema de inovação no setor,


o PwC Agtech Innovation promoveu, nos dias 4 e 5 de
outubro de 2023 com apoio estratégico da Aguassanta
Desenvolvimento Imobiliário e da instituição de ensino Pecege,
que trabalha em prol da educação e das ideias inovadoras,
o encontro das principais mentes pensantes do futuro
do agro dentro das grandes empresas e startups, instituições
acadêmicas e órgãos de pesquisa, gestoras de investimentos
e propriedades rurais, no ambiente pulsante e plural do Vale
do Silício das AgTechs, localizado no Vale do Piracicaba (SP).

Nas próximas páginas, você confere os principais insights


levantados no Palco Paradigmas, Palco Tecnologia e Palco
Ecossistema, além de ter uma visão global de todo o impacto
do Agtech Meeting na geração de valor para os stakeholders
que movimentam uma das cadeias mais relevantes para
a economia do Brasil.

Boa leitura!

Report Agtech Meeting 2023 4


O maior Agtech Meeting já visto
Por José Tomé, fundador do PwC Agtech Innovation,
e Maurício Moraes, CEO do Agtech Innovation
e Sócio-Líder de Agribusiness da PwC Brasil

O olhar para o futuro pauta não somente as discussões do


Agtech Meeting 2023, como ajuda a resumir os movimentos
realizados no nosso hub de inovação PwC. Quantos são os
acontecimentos que ocorreram desde a chegada da PwC no
AgTech Garage, para hoje podermos dizer que somos um só.

A evolução é patente e, no último ano, também vivenciamos


a inauguração do Moon Hub em Uberaba (MG), marcando o
conceito de rede e expandindo nossos horizontes graças a uma
parceria público-privada pioneira, entre nosso hub, a prefeitura
de Uberaba e a empresa Ubyfol. O Triângulo Mineiro, onde fica
o Moon Hub, foi escolhido pela sua vocação no agro e pelo
potencial da região, cercada por universidades, instituições
de pesquisa, órgãos públicos, companhias privadas, startups
e toda uma comunidade de inovação.

Além disso, comemoramos no palco do Agtech Meeting a


realização da maior edição do evento desde a fundação do hub,
em 2017, e anunciamos nesta mesma data, de 4 de outubro de
2023, a expansão da nossa sede física em Piracicaba (SP) —
que passa a ter o dobro do tamanho original.

Na foto, da esq. para direita:


Maurício Moraes e José Tomé,
dando as boas-vindas ao público
do Agtech Meeting

Report Agtech Meeting 2023 5


Orquestrando o ecossistema
de negócios no agro

O Agtech Meeting cresceu para se tornar nada menos que


o espaço de encontro dos agentes que estão construindo
o futuro do agro aqui e agora, de Piracicaba para o mundo.
Das mentes dos convidados e painelistas, temos a certeza
de que emergiram insights relevantes e trocas de experiências
em torno dos “Novos Paradigmas para a Inovação no Agro”.

Nosso ponto de partida na concepção deste Agtech Meeting


foi o compromisso de proporcionar experiências para todos
os participantes — fosse nos painéis, nas rodas de conversa,
no Espaço Conexão, nos tours no PwC Agtech Innovation —
orbitando ao redor da missão de orquestrar a inovação no
agronegócio e provocar as discussões do futuro. Afinal,
ocupamos um papel relevante no setor, que por sua vez
é indispensável para o Brasil.

Na PwC, o agronegócio ocupa lugar de destaque, como uma


das indústrias prioritárias para nossa operação. No Centro de
Excelência em Agronegócio da PwC (CEA) elaboramos estudos
e pesquisas, realizamos análises de tendências, riscos
e oportunidades – sempre apoiando as ações e iniciativas
de nossos clientes da indústria e servindo de referência
(“benchmark”) para todo o network global da PwC.

Report Agtech Meeting 2023 6


Por tudo isso, no Agtech Meeting 2023, reafirmamos nosso
compromisso de manter o AgTech Garage como protagonista
no ecossistema de inovação aberta no agro — sendo o
orquestrador de negócios e de inovação, mas, além disso,
o hub de inteligência que gera novas possibilidades, constrói
soluções e contribui efetivamente com a geração de resultados
sustentáveis para o agronegócio.

Somos uma comunidade de solvers: pessoas que resolvem,


movidas e apaixonadas por desafios, que se unem de formas
inesperadas para criar soluções inovadoras para novos tempos.
O PwC Agtech Innovation é formado por pessoas assim, e este
fator cultural foi crucial no movimento de agregar as marcas
e somar nossas entregas e geração de valor.

Dos dois lados, temos gente com interesse genuíno em pensar


o futuro em comunidade. Agora, é a hora de nos perguntarmos:
Qual a maturidade dos paradigmas que já discutimos? O que virá
nos próximos meses? E qual o papel que cada um de nós quer
assumir nesta Nova Equação?

Painel #Boas-vindas
Edição: José Luiz Zuliani e Marina Salles, do PwC Agtech Innovation

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O epicentro
da inovação
no agro

Report Agtech Meeting 2023 8


Desde antes da fundação do PwC
Agtech Innovation, Piracicaba (SP)
já reunia todos os elementos para
abrigar um hub de inovação.

Localizado no Parque Tecnológico da


cidade, na Reserva Jequitibá, o hub
fica a não mais de 10km da Esalq-
USP, é vizinho da sucroalcooleira
Raízen e de instituições de pesquisa
como o Centro de Tecnologia
Canavieira (CTC).

Em 2023, o Parque Tecnológico de


Piracicaba ganhou ainda a presença
do Pecege, que promove a formação
de profissionais em diversas áreas,
além do agronegócio.

Report Agtech Meeting 2023 9


O Agtech Meeting aconteceu
nesse ambiente, conhecido
como Vale do Piracicaba
ou Vale das AgTechs.

Nos dias 4 e 5 de outubro de 2023,


mais de 1.200 pessoas transitaram
pelos auditórios e átrios do prédio do
Parque Tecnológico, do Pecege e do
PwC Agtech Innovation, participando de
palestras, experiências imersivas, pitches
de startups e reuniões de negócios.

Outro ponto alto do evento foi o


lançamento da expansão do hub,
onde tivemos tours experienciais
terminando com apresentações na
nossa nova arena!

Tivemos ainda um happy hour,


para selar com chave de ouro a
nossa programação.

Report Agtech Meeting 2023 10


Os compromissos
do Agro do Futuro
Por Fernanda Cavalcante, Associate de Comunicação e Marketing
no PwC Agtech Innovation,
e Marina Salles, Editora-Chefe de Conteúdo do PwC Agtech Innovation

Os líderes no mundo têm falado de novos tempos, novos


desafios, novas respostas e do compromisso com causas
transformacionais. Na PwC, o compromisso é com a geração
de confiança para garantir a longevidade dos negócios de forma
sustentável, diante das urgências enfrentadas pela sociedade,
o que levou inclusive à aquisição do PwC Agtech Innovation em
novembro de 2022. A aquisição de um hub de inovação, cujo
cerne está na densidade de atores, na diversidade e pluralidade
ímpar de pontos de vista, fundamentais para mitigar os desafios
de um setor tão complexo e indispensável quanto o agronegócio.

No Agtech Meeting — que vem se consolidando como o


palco para promover as discussões necessárias em torno de
como alimentar os mais de 8,5 bilhões de habitante do planeta
em 2030, garantindo ainda produtividade, sustentabilidade
e democratização do acesso à tecnologia — Marco Castro,
Presidente da PwC Brasil, deu o start na agenda em torno dos
“Novos Paradigmas para a Inovação no Agro”, ao lado de uma
colega com quem sua história profissional se cruza.

Na foto, da esq. para direita:


Marco Castro (PwC)
e Tânia Cosentino (Microsoft)

Report Agtech Meeting 2023 11


Tânia Cosentino assumiu o posto de presidente da Microsoft
no Brasil em 2019, pouco antes da pandemia, e Castro, um
pouco depois da crise sanitária começar. Desde então, ambos
enfrentaram uma reviravolta no ambiente de negócios, nos
espaços de trabalho e nas relações com as pessoas, com
reflexos para a saúde mental do ser humano.

Diversidade no centro
Ambos levam 40 anos construindo suas carreiras profissionais
e, não por acaso, levantam bandeiras semelhantes, como
a da inclusão social e diversidade, pontos-chave para a PwC
e Microsoft. Na visão deles, é preciso diversidade em termos
de gênero, raça, cultura e formação técnica, a fim de promover
diferentes perspectivas sobre qualquer negócio.

"A expectativa, no âmbito do agro


e para além dele, é que o uso de
tecnologia traga inúmeros benefícios
para a sociedade, inclusive acelerando
a inclusão social e diminuindo as
diferenças entre as pessoas."

Marco Castro
PwC

Report Agtech Meeting 2023 12


Na abordagem deste tópico no Agtech Meeting, Tânia enfatizou
sua jornada como engenheira e CEO de uma empresa de
tecnologia, ressaltando o compromisso com a promoção da
carreira das mulheres, por ir muito além dos princípios de direitos
humanos. “É uma questão de negócios e crescimento do PIB”, ela
disse. Foi discutida ainda a necessidade urgente de enfrentamento
da disparidade salarial entre homens e mulheres, numa atuação
conjunta entre empresas e os órgãos de fiscalização.

“Há uma urgência em debater a igualdade salarial. Antes da


pandemia, a previsão era de que levaríamos 100 anos para
atingir a equidade de gênero nesse sentido, mas, devido aos
impactos pandêmicos, esse prazo aumentou para 132 anos.
Eu não tenho todo esse tempo, então sinto a necessidade
de agir com rapidez, e gostaria que todos nós sentíssemos
o mesmo”, afirmou Tânia.

O ser humano no comando

A visão é de que o fator humano precisa estar em primeiro plano


e, a partir daí, contar com o apoio da tecnologia para potencializar
as habilidades de cada profissional. Isso corrobora o pensamento
da Microsoft: de que o desenvolvimento tecnológico só faz sentido
se empoderar as pessoas, promovendo o desenvolvimento
econômico, inclusão e uma transformação positiva na sociedade
– desde que mantida ainda a cibersegurança, um dos grandes
desafios para o mundo dos negócios da atualidade.

A Microsoft elaborou o relatório Governando a IA: Um Plano


para o Futuro, com o intuito de estimular o uso consciente
das ferramentas disponíveis hoje, entendendo que a adoção
da inteligência artificial já é uma realidade, e não adotá-la,
não é mais uma questão de escolha. Segundo Tânia, a não
adoção da inteligência artificial pode colocar o Brasil num
cenário irrecuperável de desenvolvimento. Daí a demanda
pelo envolvimento do governo e da Academia, a fim de
aprimorar modelos, gerar aprendizados e, ao mesmo tempo,
estabelecer diretrizes.

Report Agtech Meeting 2023 13


No setor agrícola, o papel da tecnologia também
é irrefutável e promete transformar a maneira
como produzimos quanto mais avançar
a conectividade e a coleta de dados.
Com a IA, já é possível otimizar
a cadeia de produção, com
redução do uso de insumos,
monitoramento do bem-estar
animal e rastreio da origem
dos produtos muito
antes de chegarem "A inteligência artificial vai
às prateleiras. trazer muito mais riqueza para
um setor tão importante da
economia brasileira e tão relevante
para reduzir desigualdades
e eliminar a fome no mundo."

Tânia Cosentino
Microsoft

Assim como Tânia, Castro compartilha da crença de que


o Brasil tem um potencial inexplorado em diversas áreas,
podendo aspirar à liderança na produção de talentos,
propriedade intelectual e inovação.

No encerramento do painel, Tânia declarou: “Eu fico muito feliz


quando vejo um hub de inovação como o esse, e gostaria que
a gente tivesse esse tipo de iniciativa pipocando no país inteiro.
Porque esta é a única coisa que pode fazer a diferença realmente
para que o Brasil se transforme no país do futuro”.

Painel #Abertura
Painelistas: Marco Castro - Presidente da PwC Brasil, Tânia Cosentino - Presidente da Microsoft no Brasil
Roteirização: Gabriela Estevam e Marina Salles, do PwC Agtech Innovation
Edição: Fernanda Cavalcante e Marina Salles, do PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 14


Palco
Paradigmas

Report Agtech Meeting 2023 15


Os padrões estabelecidos no aqui e agora estão mudando.
Neste palco, discutimos as transformações pautadas pelo ESG,
IA, mercado de carbono, inovação sem fim, e mais.

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Teoria e prática do ESG no agro:
onde estamos e para onde vamos?
Por Thais Manoel, Associate Agribusiness da PwC Brasil,
e Marina Salles, Editora-Chefe de Conteúdo
do PwC Agtech Innovation

Na foto, da esq. para direita:


Marina Salles (PwC Agtech
Innovation), Maurício Colombari
(PwC Brasil), Mônica Pedó
(John Deere), Flávio Bonini
(Mosaic Fertilizantes)
e Isaura Morel (Sicredi)

O ESG (sigla para ambiental, social e governança) ganhou o


agronegócio, chamando a atenção das altas lideranças, devido
à sua estreita ligação com a estratégia organizacional e
prestação de contas aos investidores.

Contudo, a implementação prática do ESG e da gestão dos


riscos associados aos seus três pilares ainda têm desafiado
as organizações. Cada uma com seus próprios objetivos e
metas, as companhias vêm entendendo que não há solução
universal, nem mesmo dentro de um mesmo segmento, para os
negócios e, durante o Agtech Meeting, tivemos a oportunidade
de ouvir os gestores e gestoras de sustentabilidade e ESG de
diferentes empresas, e conhecer o papel da área. Participaram
da discussão: Sicredi, Mosaic Fertilizantes, John Deere e a PwC.

Report Agtech Meeting 2023 17


ESG e sustentabilidade são sinônimos?

Começando da base, Maurício Colombari, Sócio Especialista


em Sustentabilidade da PwC Brasil, desfez a confusão entre
os termos “sustentabilidade corporativa” e “ESG”. De acordo
com ele, embora frequentemente usadas como sinônimos, as
expressões têm significados diferentes. “Em uma definição
mais clássica, a sustentabilidade corporativa tem foco em criar
valor para as diversas partes interessadas em um negócio,
principalmente nos pilares social, ambiental e econômico. Já o
ESG, quando esse termo surgiu lá atrás, trazia a visão de um único
stakeholder, o investidor. Ou seja, eu como investidor de uma
empresa já tenho uma visão dos aspectos financeiros e passo a
incorporar os aspectos de sustentabilidade, incluindo aqui o social
e ambiental, para tomar uma decisão de investimento”.

Hoje em dia, ele afirma que essas definições têm sido usadas
de forma mais ampla, sendo possível encontrar áreas de
ESG & Sustentabilidade, somente Sustentabilidade, Relações
Institucionais & ESG, entre outras, que atuam de maneira
semelhante ou integrada. Na visão dele, um arranjo interessante
é quando a área de Sustentabilidade atua como facilitadora
dentro da empresa para articular as pautas importantes e traduz
seus resultados para o mercado financeiro via área de Relações
com Investidores ou Relações Institucionais. “Dificilmente,
vejo uma área batizada de ESG”, diz Colombari.

Estrutura central e áreas vinculadas

No Sicredi, onde o modelo de negócio é centrado no


cooperativismo, a Sustentabilidade é abordada transversalmente,
mesmo com uma área dedicada. A governança descentralizada
envolve um comitê com a participação das cooperativas,
visando integrar a sustentabilidade em todas as áreas do
negócio e apoiar os conselhos de administração.

Report Agtech Meeting 2023 18


Além disso, a organização cooperativa promove a inclusão e
diversidade, com lideranças eleitas democraticamente e tem
buscando ampliar, de forma ativa, a representatividade de jovens
e mulheres nos seus quadros. Para tanto, criou os programas
Comitê Mulher e Comitê Jovem, que preparam novos líderes
dentro desses grupos. Além disso, o Sicredi está envolvido na
promoção da economia verde, oferecendo linhas de crédito e
produtos visando benefícios sociais, ambientais e econômicos,
que apoiam as práticas sustentáveis no setor agropecuário.

Na Mosaic Fertilizantes, a área chamada Relações


Governamentais e Sustentabilidade, por sua vez, tem o
propósito de promover iniciativas relacionadas ao tema não
apenas internamente, mas também em toda a cadeia de
produção, que se estende da extração de nutrientes do solo
até a entrega do produto final ao consumidor. Um exemplo de
iniciativa adotada pela empresa, no contexto do aumento da
demanda pela agricultura regenerativa e bem-estar do solo,
é o desenvolvimento de uma plataforma de aprendizado para
colaboradores e distribuidores terem acesso a como implementar
essas práticas. Além disso, a companhia informa que tem
realizado investimentos na criação de novos produtos
e na contratação de profissionais especializados para reforçar
seu compromisso com a sustentabilidade.

Já na John Deere, a área de Sustentabilidade desempenha


papel fundamental no apoio a projetos voltados ao cliente, à
cadeia de suprimentos e comunidades. Um exemplo é o trabalho
do Instituto John Deere, que investiu mais de R$ 45 milhões
nos primeiros 4 meses de 2023 na capacitação dos funcionários
para adoção de novas tecnologias e fomento ao uso de dados.
Além disso, a empresa, em parceria com seus concessionários,
lidera, por exemplo, a iniciativa “Agro pela Vida”, que angaria
doações para hospitais.

Report Agtech Meeting 2023 19


A fim de influenciar práticas sustentáveis no setor agrícola,
visando a redução das emissões de gases de efeito estufa
e a otimização das técnicas de manejo, a John Deere
também investe fortemente em inovação. Entre as metas de
sustentabilidade da companhia estão: a fabricação de um
motor de baixa ou nula emissão de carbono até 2026 e o
desenvolvimento de um trator totalmente autônomo, relevante
em regiões com escassez de mão de obra.

Transparência na cadeia

Segundo a Pesquisa Global com Investidores 2022 da PwC,


apesar de todos os esforços empenhados pelas empresas
em aumentar a transparência das suas ações e gerir os riscos
ESG, 87% dos entrevistados, no mundo todo, suspeitam
que as divulgações corporativas contenham algum grau de
greenwashing (contra 91% no Brasil).

Colombari observa que esses dados se concentram na


opinião dos respondentes sob o aspecto quantitativo,
enquanto no aspecto qualitativo os investidores apontam
que as informações nos relatórios muitas vezes carecem de
neutralidade. “As empresas tendem a destacar suas conquistas,
deixando de abordar o que ainda precisam melhorar”, diz.
A pesquisa sugere, então, que, embora os relatórios tenham
valor, é necessário torná-los mais transparentes, imparciais
e abrangentes.

A auditoria de terceira parte foi colocada pelos especialistas


como uma das formas de aumentar essa transparência,
assim como o engajamento da alta liderança no reporte
das informações e a construção de modelos de verificação
consistentes para cada negócio, inclusive com indicadores
que possam ter sido criados internamente para refletir as
práticas da empresa.

Somado a isso, outro desafio é a falta de métricas


padronizadas para tomada de decisão sobre investimentos
baseada nos pilares ESG, em contraste com a análise
financeira, mais objetiva.

Report Agtech Meeting 2023 20


"Na minha visão, a sustentabilidade
nunca vai ter métricas tão padronizadas
quanto uma demonstração financeira,
que eu olho receita, Ebitda etc.
Mas existe sim uma tendência e
demanda por uma maior padronização
e confiabilidade nesses indicadores
de sustentabilidade."

Maurício Colombari
PwC

Segundo Colombari, recortes de diversidade e inclusão são


mais fáceis de comparar, mesmo em empresas de setores
diferentes. Mas as emissões de gases de efeito estufa são muito
particulares. Seria possível comparar a John Deere a outra
empresa de maquinário, sugere, mas não John Deere e Sicredi.

Painel #ESG
Painelistas: Maurício Colombari - Sócio Especialista em Sustentabilidade da PwC Brasil
Mônica Pedó - Líder de Sustentabilidade para a América Latina da John Deere
Flávio Bonini - Gerente de Serviços Técnicos da Mosaic Fertilizantes
Isaura Morel - Gerente de Sustentabilidade do Sicredi
Moderação, roteirização e edição: Marina Salles - Editora-Chefe de Conteúdo do PwC Agtech Innovation

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Colheita do amanhã:
reflexos da curva exponencial
da Inteligência Artificial (IA)
dentro e fora da porteira
Por Gustavo Marin, Diretor na PwC Brasil

Se, no passado, a aplicação mais comum da inteligência artificial


no dia a dia era a possibilidade de o computador “jogar xadrez”
contra os humanos, hoje as possibilidades tendem ao infinito.
O paradigma, complexo, divide opiniões de leigos e
especialistas, que ora vêem esta tecnologia como uma ameaça,
ora como um grande avanço para o mercado e a sociedade.

No Palco Paradigmas, do Agtech Meeting, a IA foi objeto do


assunto de um painel moderado por Luis Ruivo, Sócio Líder
de Consultoria de Tecnologia da PwC Brasil, na companhia de:
Ronan Damasco, Diretor Nacional de Tecnologia da Microsoft,
que desde 2016 atua no agro pela empresa; Marco Righetti,
que lidera IA para o agro na Oracle, como Diretor Sênior de
Arquitetura e Engenharia para América Latina; e Aline Pezente,
Co-fundadora e Diretora de Inteligência Artificial da Traive, com
papel central no desenvolvimento da IA que a startup usa para
fazer análise de crédito.

Na foto, da esq. para


direita: Luís Ruivo (PwC),
Marco Righetti (Oracle),
Aline Pezente (Traive) e
Ronan Damasco (Microsoft)

Report Agtech Meeting 2023 22


IA, em primeiro lugar, na prática

Explorando as diversas aplicações da IA com exemplos


concretos do nosso cotidiano, Aline, da Traive, trouxe o
quanto já nos habituamos com essa tecnologia. Tanto que um
robô aspirador parece ser trivial, quando traz embarcada a
identificação de objetos por imagem, já um tanto sofisticada.
Para Damasco, da Microsoft, o reconhecimento facial para
desbloqueio de acessos (a celulares ou condomínios); as ofertas
personalizadas de produtos com base no nosso histórico de
navegação e, principalmente, a chegada do ChatGPT e da IA
generativa, por meio da linguagem natural, criaram novas formas
de interação do ser humano com as máquinas.

No ambiente corporativo, por exemplo, dos tribunais, a IA


tem sido usada como co-pilota de profissionais experientes,
dando celeridade à análise de cerca de 10 mil manifestações
jurídicas diárias, conforme a Advocacia Geral da União, informou
Damasco. Tudo isso graças à alta capacidade de processamento
de documentos, leitura de dados e informações, que chegam
“mastigadas” para os profissionais, no formato de resumos
ou casos semelhantes já filtrados.

Para Righetti, da Oracle,


estamos no momento de fazer
uso dos dados, que têm sido
gerados em todo tipo de interação
e estão dispersos por todo lugar, na
construção de soluções para resolver
problemas práticos. Se hoje a IA generativa
é muito calcada em conteúdo, gerando dados
a partir de outros dados, no futuro ela se voltará
a movimentos de máquinas e robôs, na visão
dele. “Estamos em um ponto de inflexão do
qual não poderemos mais ficar de fora”, destaca.

No agro, o potencial da IA também não tem precedentes.


A centralização e aplicação de modelos inteligentes sobre
o enorme acervo de dados e imagens da Embrapa, por exemplo,
pode, em breve, orientar importantes tomadas de decisão
dentro e fora das fazendas.

Report Agtech Meeting 2023 23


IA, com olhar ampliado, no agro

Na linha da implementação de soluções com IA do campo à


mesa do consumidor, os painelistas concordam que alguns
desafios estruturais precisam ser endereçados logo à frente.
Entre eles, a capacitação dos profissionais para fazer uso dessa
tecnologia, além da questão da infraestrutura de conectividade.

Em relação ao primeiro aspecto, os especialistas consideram


que é preciso avançar na qualificação técnica para fomentar
uma visão holística e integrada dos colaboradores, que associe
variáveis de clima, manejo, solo e operação, dos times e das
máquinas a campo. Já no campo da conectividade, Righetti vê a
necessidade de maiores investimentos na captura de informações
cada vez mais geolocalizadas e granulares. Caso da identificação
de pragas de superfície por drones, medições de índices
pluviométricos talhão a talhão até usos da IA para logística.

Damasco lembra ainda que os desafios da capacitação e


conectividade deixam patente a disparidade dentro de um mesmo
território. “São muitos Brasis. Na cadeia de leite tem câmera
sendo usada que identifica animal a animal pelo focinho, enquanto
outras localidades não têm conectividade nenhuma para nada”.

De qualquer forma, Aline entende que sobretudo nas atividades


envolvendo irrigação, gestão agrícola, bioengenharia etc,
a IA já está sendo usada e o setor está muito bem-servido.
“Acompanho muito o que sai na Academia e há muita publicação
sobre a IA no agro sendo capilarizada de quatro anos para cá”,
diferente de quando ela começou a programar a solução da
Traive e via esse conhecimento mais restrito a especialistas.

Na roda de conversa que se deu na sequência do painel e teve


Aline como convidada, ela destacou o papel singular que o Brasil
tem no desenvolvimento tecnológico do agro internacionalmente,
com pesquisas científicas locais aplicadas inclusive no treinamento
de soluções dos EUA para adaptação às realidades brasileiras.

Report Agtech Meeting 2023 24


IA com regulamentação e ética

Os desafios da regulação e os dilemas éticos de uso da


IA, dentro e fora do Brasil, também foram abordados pelos
painelistas. Luis Ruivo destacou a preocupação crescente das
empresas com a cibersegurança e a proteção de dados, que
vêm atrelada às dúvidas sobre a melhor forma de conduzir a
aplicação da IA no contexto do trabalho (remoto e presencial).

Righetti conta da experiência da União Europeia, onde a chave


das discussões está no treinamento eticamente responsável dos
modelos de inteligência artificial, sugerindo uma regulação que
comece do ponto da soberania dos dados, de guarda destes
dados e definição dos métodos de uso da IA aceitos para cada
fim, uma reflexão a ser feita por cada indústria e setor.

Aline, defensora do modelo da IA como “co-pilota” – dando


suporte ao ser humano nas tomadas de decisão – concorda
que a responsabilidade sobre o do dado é fundamental ainda
na fase de treinamento de modelos, assim como a escolha
desses modelos. Trazendo um caso hipotético para o mundo
real, ela alerta que alimentar modelos de forma inadequada
num sistema de concessão de crédito pode trazer prejuízos
tanto para quem dá como para quem recebe o financiamento.
“Para alguns scores de crédito, aplicar o modelo deep learning
é empecilho porque você não consegue gerar um resultado
palatável. Em contrapartida, o knowledge aware model pode
trazer preceitos lógicos interessantes para a análise de
um especialista”, diz.

Report Agtech Meeting 2023 25


"O agro é uma indústria
em que as relações humanas
são importantes e sempre haverá
necessidade de um ser humano
estar envolvido para tornar
a informação mais acurada."

Aline Pezente
Traive

Caminhando na linha do “co-piloto” ou “assistente virtual” –


que suporta a pessoa responsável por dar a última palavra
sobre determinada matéria – os especialistas entendem que
a sociedade pode se beneficiar da IA num contexto seguro.
Damasco pontua que isso se contrapõe ao conceito de “piloto
automático”, que é algo que não devemos buscar.

“A planilha eletrônica – como o Excel – desempregou o contador


que não sabia usá-la. Perderá emprego quem não souber usar
IA”, diz o Diretor Nacional de Tecnologia da Microsoft. Para
Aline, a transformação da IA também é inevitável e de nada
adianta lutar contra ela. “Como em qualquer sociedade, temos
que evoluir e nos educar”. No caso do agro, Righetti lembra que
o agrônomo também terá de se capacitar. Neste novo mundo,
o recado deixado pelos painelistas é que novas oportunidades
surgem, enquanto outras deixam de existir. O que cabe a nós é
nos preparar para o que já está posto e para o que está por vir.

Painel #IA
Painelistas: Aline Pezente - Co-Fundadora e Diretora de Inteligência Artificial da Traive
Marco Righetti - Diretor Sênior de Engenharia da Oracle América Latina
Ronan Damasco - Diretor Nacional de Tecnologia da Microsoft
Moderação: Luís Ruivo - Sócio Líder de Consultoria de Tecnologia da PwC Brasil
Roteirização: José Luiz Zuliani - Associate de Comunicação e Marketing do PwC Agtech Innovation
Edição: Marina Salles e José Luiz Zuliani, do PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 26


O casamento entre
a agricultura regenerativa
e o mercado de carbono
Por Marina Salles, Editora-Chefe de Conteúdo do PwC Agtech Innovation,
e Thais Manoel, Associate Agribusiness na PwC Brasil

Na foto, da esq. para direita:


Bruna Dias (PwC), Guilherme
Raucci (Syngenta), Mariana
Caetano (Salva) e Murilo
Bettarello (IZagro)

Especialistas em sustentabilidade e mercado de carbono


com ampla vivência de campo, os debatedores do painel sobre
esses temas no Agtech Meeting iniciaram suas falas refletindo
sobre o avanço da agricultura regenerativa no Brasil – aquela
que visa recuperar o solo, reter carbono, aumentar a
biodiversidade da microbiota e melhorar o ciclo da água por
meio de práticas que vão desde a rotação de culturas até o uso
de plantas de cobertura, produtos biológicos, e assim por diante.
A agricultura regenerativa, que foi conceituada em 1989 pelo
Rodale Institute, nos EUA.

Report Agtech Meeting 2023 27


Murilo Bettarello, Fundador da IZagro e Consultor, afirma que
estimativas de mercado dão conta de que no Brasil há 3,5
milhões de hectares com práticas que possam ser enquadradas
no amplo conceito da agricultura regenerativa, o que ainda é
pouco se compararmos aos mais de 60 milhões de hectares
plantados no país. “Estamos falando de 5% da área agricultável
do Brasil. É pouco, mas, ainda assim, o país está na vanguarda
da produção sustentável a nível mundial”, diz Bettarello.
Conforme o relatório Visão 2030: o futuro da agricultura
brasileira da Embrapa, embora o plantio direto seja realizado em
32 milhões de hectares de terra no país, apenas em 2,7 milhões
são seguidas as práticas de manejo preconizadas pela pesquisa
agropecuária, que evitariam, de fato, problemas de compactação
do solo e erosão hídrica.

De acordo com Guilherme Raucci, Gerente de Sustentabilidade


América Latina da Syngenta, os vários grupos de trabalho no
tema têm buscado conciliar uma visão sobre o que é agricultura
regenerativa, ou publicar suas próprias interpretações do conceito,
quando a prioridade poderia ser onde se quer chegar com isso.

“Aumentar a produtividade, aumentar a rentabilidade, melhorar


a biologia do solo, reter mais carbono. O que eu quero atingir?
Qual o principal risco do meu sistema?”, diz Raucci. A partir desta
visão “de onde se quer chegar”, ele acredita que poderiam ser
estipuladas as melhores práticas de manejo. Até porque, conforme
exemplificou, numa lavoura de soja em sistema integrado no Mato
Grosso as práticas serão umas, já em uma pequena fazenda de
café no interior mineiro, serão outras. “Estou vendo uma inversão
nos frameworks que tentam organizar essas ideias”, afirma.

Mariana Caetano, CEO da Salva, destacou o case da marca


italiana Illy Caffè, que conquistou o primeiro selo de agricultura
regenerativa concedido para um café no mundo. O café tem
certificação regenagri e teve os processos produtivos, desde as
fazendas no Cerrado brasileiro, auditados pela Control Union.
O novo Arabica Selection Brasile Cerrado Mineiro, da marca
italiana, é um café especial, com valor agregado.

Report Agtech Meeting 2023 28


Pagamento pelo diferencial regenerativo?

Seguindo a praxe do que se convencionou no


mercado, de pagar prêmio pela soja livre
de desmatamento e crédito de carbono
pela adicionalidade da emissão
evitada, era de se imaginar que
a agricultura regenerativa "É natural que os
também pudesse remunerar produtores associem
o produtor – mas, por o incentivo à adoção de
enquanto, isso ainda práticas regenerativas a um
não acontece. prêmio direto, considerando
o que tem de 'adicional' para se
fazer, e esse custo de transição,
na minha visão, precisa ser
considerado, poque o produtor que
acorda todo dia para produzir bem
também quer fechar a conta."

Guilherme Raucci
Syngenta

Extrapolando o cenário da adesão ainda tímida às práticas


sustentáveis – que a indústria já está demandando – Raucci
supõe que possam haver duas razões por trás: ou é uma barreira
técnica ou técnica-financeira. “O incentivo, então, pode não ser
direto no preço final, mas via treinamentos, assistência técnica,
parceria com startups para levar tecnologia ao campo”, diz.

Na visão dele, dificilmente será pago um prêmio pelos


diferenciais da agricultura regenerativa no curto e médio prazos.
Olhando para o cenário internacional, a oferta para pagamento
de prêmio é para produtos livres de desmatamento. “Não vejo
uma demanda por soja de sistema regenerativo. O importador
quer saber se a soja é livre de desmatamento ou não”.

Report Agtech Meeting 2023 29


Projetos de longo prazo?

Bettarello afirma que esse novo modelo produtivo exige uma


mudança de mindset. “O produtor muda de uma agricultura
focada em insumos para uma agricultura de conhecimento e a
assistência técnica tem um papel fundamental nessa jornada”,
diz. Ele dá o exemplo do Educampo, iniciativa do Sebrae
introduzida em Minas Gerais, onde a prestação de serviços de
assistência técnica já leva mais de 20 anos e onde o ROI do
apoio técnico chega a R$ 300 para cada R$ 1 investido.

Falando ainda de transformar o mindset, os especialistas


lembram que a agricultura regenerativa dá retorno a longo prazo
e é uma poupança para os tempos difíceis, de estresse climático.
Ele relatou um caso muito curioso na Embrapa Cerrados, em que
os pesquisadores iam cancelar um experimento em agricultura
regenerativa porque em cinco anos não tinha dado resultado. Foi
quando ocorreu um estresse hídrico crítico em Brasília e essa
área que já tinha planta de cobertura e agricultura regenerativa
produziu 30% mais que o controle – sendo que não havia dado
diferença estatística nenhuma nos anos anteriores.

"Esse caso do experimento


da Embrapa mostra que essas
práticas dão resultado em anos
climaticamente desafiadores, que
é a tendência do que vamos enfrentar
no mundo daqui para frente."

Murilo Bettarello
IZagro

Report Agtech Meeting 2023 30


No encaminhamento final do painel, Mariana Caetano destacou
que, independentemente da agricultura regenerativa ou do
mercado voluntário de créditos de carbono avançarem no agro
no Brasil, é essencial o produtor e a cadeia irem se educando
sobre esses assuntos. “Trazer o tema da sustentabilidade para
a pauta é fundamental. Nas fazendas, começar a fazer um
planejamento, recuperar as áreas de preservação permanente
que estão degradadas, porque a água vai fazer falta para o
produtor. Nas empresas, entender que não é só a área de
sustentabilidade que vai ter que lidar com esse assunto, vai ter
que envolver supply chain, jurídico, contábil. Todo mundo deveria
começar a entender como se adaptar a esse novo mercado”.

Painel #AgriculturaRegenerativa
Painelistas: Guilherme Raucci - Gerente de Sustentabilidade América Latina da Syngenta
Murilo Bettarello - Fundador da IZagro e Consultor em Agricultura Regenerativa
Mariana Caetano - CEO da Salva
Moderação: Bruna Dias - Gerente Especialista em Descarbonização da Strategy&/PwC
Roteirização: Marina Salles e Michel Franco do PwC Agtech Innovation
Edição: José Luiz Zuliani - Associate Comunicação e Marketing do PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 31


Inovação sem fim:
como reinventar o portfólio
mantendo o foco no cliente
Por Gabriela Estevam, Gerente de Marketing do PwC Agtech Innovation

Em um cenário de transformação, empresas focadas no


agronegócio têm consciência de que ser relevante na carteira
do cliente e ocupar espaço positivo na mente dos stakeholders
são ações fundamentais para garantir a perenidade do negócio.
O desafio – compartilhado por todos os envolvidos no setor –
é como fazer isso. A resposta parte da premissa de que o
aquilo que nos trouxe até aqui não será suficiente para nos
levar aos próximos estágios. Dessa forma, a disponibilidade e
compromisso com a inovação sem fim são imperativos.

Na foto, da esq. para direita:


Gabriela Estevam (PwC),
Luiz Serafim (World Creativity
Organization), Mateus
Gerolamo (USP) e Juliana
Oliveira (Danone)

Report Agtech Meeting 2023 32


Inovação, e o comportamento
de búfalos versus vacas

Na abertura do painel pronto para desmitificar a inovação sem


fim, os palestrantes do Agtech Meeting discutiram uma metáfora
sobre a diferença no comportamento de búfalos e vacas frente
à chuva, fazendo um paralelo com a atitude das corporações
diante da inovação. A biologia diz que, quando se deparam com
uma tempestade, as vacas tendem a correr no sentido da chuva,
acompanhando seu percurso. E, na tentativa de fugir, acabam
expostas à tempestade por mais tempo. Já os búfalos caminham
no sentido inverso. Frente a frente com a tempestade, vão de
encontro a ela. É verdade que se molham mais no início, mas
enfrentam uma chuva que passa por eles e vai embora.

Segundo Juliana Oliveira, Líder Latam de Insights de Produtos e


Consumidores da Danone, a empresa centenária no Brasil, que
colocou o Danoninho no mercado há 50 anos e recentemente
lançou o YoPro – ambos líderes de categoria – enfrenta a
tempestade de frente, como búfalo. A inovação tem raíz
na estratégia corporativa como um elemento-chave, o que
assegura constância no processo criativo, além de velocidade
nas adaptações a partir de tendências ou mesmo mudanças
comportamentais identificadas no mercado consumidor.

Estar atento ao ambiente externo também é um fator tido como


primordial no processo inovativo, segundo o pesquisador de
Gestão da Mudança, Mateus Gerolamo, da USP. “Sair para a
chuva de olhos abertos parece ser um hábito dos búfalos mais
adaptados, assim como das corporações”.

Report Agtech Meeting 2023 33


Para Luiz Serafim, Sócio e Diretor da World Creativity
Organization com experiência de mais de 30 anos numa
empresa mundial de bens de consumo com portfólio
praticamente infinito – que vai do post-it à famosa fita adesiva
usada para colar quadros nas paredes – algumas organizações
com proposta de valor desbravadora até se entendem como
búfalos, mas no dia a dia, da operação, agem como vacas,
acuadas com a chuva. Daí a necessidade, tão fundamental,
de manter sim a constância da inovação, mas também a
coerência entre teoria e prática, planejamento e execução –
tudo para garantir a perenidade do negócio, seja da grande
corporação ou startup.

"No universo organizacional,


a tempestade das vacas e búfalos são
as mudanças climáticas, a convergência
do físico e digital, as questões sociais e
demográficas. O contexto adverso é parte
da dinâmica inovadora."

Luiz Serafim
World Creativity
Organization

Report Agtech Meeting 2023 34


Portfólio infinito, coeso e inovador

No marketing, tradicionalmente, a curva de Ciclo de Vida


do Produto tem cinco fases: desenvolvimento, introdução,
crescimento, maturidade e declínio. Mas alguns produtos, nós
sabemos, emenda uma curva na outra e chegam à maturidade.
Fato é que não se chega lá sem se reinventar. O Danoninho, por
exemplo, foi criado em 1973 e, ao longo das últimas décadas,
foi mudando de formato e fórmula para continuar a garantir
seu lugar na geladeira do consumidor. O "petit suisse" já teve
diferentes sabores; foi ao freezer; teve quantidade de ferro
comparada à de um bife e, em tempos de indulgência sem a
perda da saudabilidade, tem, hoje, metade da quantidade de
açúcar que continha no passado. É um case aplicado de como
a necessidade do consumidor impulsiona o avanço da indústria
e da tecnologia, transformando o portfólio das empresas.

Report Agtech Meeting 2023 35


"Pesquisando as mudanças
nos hábitos do consumidor,
identificamos uma oportunidade
no mercado de proteína e agimos rápido
lançando o YoPro. Cinco anos depois,
o produto é nosso segundo maior
em volume de vendas e só perde
para o Danoninho."

Juliana Oliveira
Danone

Tão importante quanto saber a hora de lançar um novo produto


é estabelecer um ritual para identificar a hora de abandonar
uma ideia ou projeto, segundo os especialistas. No cenário na
inovação dentro do agro ou nas indústrias de bens de consumo –
como a fita adesiva ou petit suisse –, estabelecer indicadores
de saúde do portfólio e práticas para a análise do cenário
externo são bons pontos de partida. Além disso, alterar o
mindset de que “o que importa é errar rápido, para aprender
rápido” é o segundo passo.

Report Agtech Meeting 2023 36


O espaço para a inovação acontecer

Ao longo da discussão, saltou aos olhos dos presentes o


tamanho da responsabilidade dos profissionais inovadores.
Eles e elas precisam estar atentos ao ambiente externo,
analisando concorrentes, consumidores e
tendências; colaborar com a visão estratégica
da organização; desenvolver práticas e
indicadores para manter o portfólio
saudável e se atualizarem o
suficiente para que a corporação
seja relevante e o negócio,
sustentável; isso tudo se
permitindo aprender
rápido e errar rápido!
"Criar um ambiente
inovador não significa ter
pessoas fora da zona de
conforto. Tirar as pessoas
da zona de conforto só gera
movimento. Não, motivação!"

Mateus Gerolamo
USP

O compromisso da organização deve ser sim com o


desenvolvimento de um ambiente de segurança psicológica, que
garanta autonomia aos profissionais motivados a inovar, e que
promova colaboração para enfrentar os desafios e endereçá-los.

Report Agtech Meeting 2023 37


Assim, a discussão que teve início mirando a construção de
um processo inovativo constante, terminou com a conclusão
de que esse processo depende não apenas de uma estratégia
coerente de negócio, mas de um hábitat mais propício ao
desenvolvimento dos búfalos.

O profissional de inovação é aquela pessoa disposta a questionar


o que sabe; atenta o suficiente para identificar os sinais fracos do
mercado e corajosa, a fim de enfrentar a tempestade de frente.
A questão é que, para ir adiante, ela demanda um ambiente que
lhe permita ser assim… Do contrário, seria o mesmo que colocar
um búfalo atrás das grades e fazê-lo esperar a chuva passar.

Painel #InovaçãoSemFim
Painelistas: Luiz Serafim - Sócio e Diretor da World Creativity Organization
Mateus Gerolamo - Especialista em Gestão de Mudança e Inovação da USP
Juliana Oliveira - Líder Latam de Insights de Produtos e Consumidores da Danone
Moderação e roteirização: Gabriela Estevam - Líder de Comunicação e Marketing do PwC Agtech Innovation
Edição: Marina Salles - Editora-Chefe de Conteúdo do PwC Agtech InnovationC

Report Agtech Meeting 2023 38


O que esperar dos M&As de startups
no agronegócio, e um recorte
inédito do movimento no setor
Por Vanderlei Rocha, Analista de Mercado do PwC Agtech Innovation,
e Thais Manoel, Associate Agribusiness
na PwC Brasil

O crescimento inorgânico das empresas sempre foi uma opção


para avançar mais rapidamente no mercado e conquistar espaço
frente à concorrência. Recentemente, vimos a fusão da Bunge
e Viterra, e também a Nestlé adquirindo a Kopenhagen.
No mercado de distribuição de insumos, a cena da consolidação
também caminha a passos acelerados, puxando a curva de
transações no agronegócio.

Na foto, da esq. para a direita:


Leonardo Dell’Oso (Pwc), Nelson
Bechara (Noon Capital Partners),
Marcelo Pimenta (Serasa Experian),
Renato Girotto (Serasa Experian/
Co-founder Brain Ag).

Report Agtech Meeting 2023 39


Leonardo Dell’Oso, sócio da PwC Brasil, iniciou o painel de
M&A do Agtech Meeting trazendo visão detalhada do cenário
atual do mercado de fusões e aquisições no agronegócio brasileiro.
A análise realizada pela inteligência de Deals da PwC, demonstrou
que, em comparação com outros setores, o movimento de M&A
no agro ainda é relativamente tímido, mas vem apresentando
crescimento no número de transações, que saíram de 43 para
56 no comparativo de janeiro a agosto de 2022 com o mesmo
período de 2023.

Em relação ao universo total de transações, envolvendo quaisquer


setores da economia, a PwC aferiu que o agro respondeu por 7%
das transações em 2023, ante 4% em 2022, nos meses de janeiro
a agosto. Dell’Oso apontou ainda que a maioria dos investidores
no agro são estratégicos. Isto é, desenvolvem relacionamentos
duradouros onde não há a expectativa de desinvestimento por
parte do comprador. Um exemplo são as grandes corporações, que
adquirem novos negócios para crescer seu core business. Já os
private equities têm viés mais financeiro e são minoria, investindo
em empresas maduras com vistas à realização de lucros.

Sobre o tipo de compradores e origem do capital, o mercado


brasileiro demonstra estar mais restrito às suas próprias fronteiras.
Outro aspecto relevante é que o investimento em empresas
tecnológicas tem aumentado no setor, depois de uma baixa no pós-
pandemia, sendo nítido o potencial de crescimento que se avizinha.

Ter timing para ir às compras

Renato Girotto, Diretor de Produtos da Serasa Experian


e Co-fundador da Brain Ag, afirma que os valuations pós-
pandemia estão mais realistas, tanto para investimento parcial
como para compra de empresas de base tecnológica, incluindo
startups. “O momento é propício para M&As no agro e em tech.
Se olharmos dois ou três anos para trás, empresas que estavam
no ‘ppt’ vinham com múltiplos exorbitantes – mas agora o valor
está mais próximo do real”, diz Girotto.

Report Agtech Meeting 2023 40


Para a Serasa Experian, que adquiriu parte da Brain Ag em 2021
e trouxe para dentro de casa também a Agrosatélite, o timing
de crescer no agro é agora. “Para empresas que queiram atuar
nesse setor é um momento chave, pois o valuation está baixo
na comparação histórica e a necessidade
de consolidação é latente. Acredito que
nos próximos dois anos a gente vai ver
grandes players se consolidando como
provedores de tecnologia para o
agro”, completa o empreendedor
e, atualmente, executivo ao
lado de Marcelo Pimenta,
Líder de Agronegócios
da Serasa Experian. "Do ponto de vista das
corporates, vivemos um
momento de mercado muito
importante para consolidações.
Prover serviços que façam
o end-to-end da cadeia do
agro é necessário e quem sair
primeiro terá vantagem."

Marcelo Pimenta
Serasa Experian

Ainda segundo o levantamento da PwC, em 2023 ante 2022,


todas as indústrias tiveram retração no número de transações de
M&A realizadas. Mas, enquanto a queda no mercado em geral foi
de 23%, no agro caiu menos, 17%. “O que significa que o setor
está performando melhor”, afirma Dell’Oso.

Report Agtech Meeting 2023 41


Case de sucesso:
Serasa Experian e Brain Ag

Com 50 anos de mercado, a Serasa Experian ainda não atuava


no agro quando decidiu comprar a Brain Ag. A startup chamou
a atenção por inúmeros motivos, segundo Pimenta, entre eles:
o perfil do empreendedor e CEO, Renato Girotto; a aderência da
solução à realidade do produtor rural e a facilidade de consulta
do CPF do cliente associado a uma série de bases de dados.
Do lado da startup, que se identificava no mercado como
“Serasa do agro”, a sinergia também era evidente.

E, já nas primeiras conversas, o alinhamento de expectativas


foi crucial para o negócio seguir adiante. “O que eu senti, nesse
deal, é que tinha um interesse muito grande da Serasa Experian
em fazer o negócio acontecer e houve uma flexibilidade que não
se vê usualmente no mercado”, conta o empreendedor.

Nelson Bechara, moderador do painel e sócio fundador da


Noon Capital Partners, lembra, contudo, que pode acontecer de
o comprador e o vendedor não falarem a mesma língua. Neste
caso, a tendência é de o empreendedor acabar “trombando”
em obstáculos em meio à ânsia de cruzar a linha de chegada,
enquanto o executivo vive com receio de tomar risco e perder
o seu emprego.

Report Agtech Meeting 2023 42


"Muitas vezes, as partes não falam a mesma
língua, nitidamente você percebe que quem está
comprando fala um idioma muito sofisticado e a
startup às vezes não está preparada para conversar.
Da parte da grande empresa, é comum já terem
realizado diversos M&As. Para a startup, aquele
é o negócio da vida do empreendedor."

Nelson Bechara
Noon Capital Partners

De acordo com Dell’Oso, além de enxergar uma solução


inovadora e avenidas de crescimento a partir de determinado
produto ou serviço, é preciso colocar às claras os valores
culturais de ambos os lados e os objetivos, a fim de evitar
surpresas no caminho. Nas palavras de Bechara, “transações
movidas apenas por dinheiro têm tudo para dar errado”,
sendo mandatório o fit estratégico.

"Da startup, o seu melhor


é sua cultura ágil, decisão
rápida e capacidade de tomar
riscos. Já a corporação tem
clientes e recursos, mas costuma ser
mais lenta e avessa a riscos. O que
não pode acontecer é unir o pior dos dois
mundos: não ter clientes, não ter dinheiro
e ser avesso a risco. Qualquer coisa
melhor que isso já seria um sucesso."
Marcelo Pimenta
Serasa Experian

Report Agtech Meeting 2023 43


Falando em cifras, Girotto compartilha a experiência com a
transação de M&A da Brain Ag e Serasa Experian. “Nosso modelo
seguiu a aquisição parcelada, com earn-out baseado em resultado.
O que é bacana, pois o empreendedor consegue crescer com a
companhia e fazer a saída lá na frente, de forma mais interessante
do que se tivesse vendido 100% no presente”. Qualquer que seja
o acordo, os especialistas sugerem que o contrato seja muito bem
elaborado e que possa prever problemas no caminho.

Quando o assunto é o valuation, um cuidado adicional é com


expectativas irreais. Alguns empreendedores tendem a crer
que sua startup será o próximo unicórnio, enquanto do lado
comprador estamos falando de profissionais muito experientes.

"O que percebemos


é uma diferença grande de
expectativas: o investidor é mais
‘pé no chão’, e o empreendedor,
‘mais agressivo’."
Leonardo Dell'Oso
PwC
Para os empreendedores,
Girotto deixa um recado:
“M&A e investimentos é
como um casamento. É preciso
escolher muito bem com quem
você está se casando, como na vida
pessoal. Não faça negócios com quem
você acredita que não terá uma relação saudável.
Busque uma assessoria especializada e tome uma
decisão com apoio de profissionais”.

Painel #M&As
Painelistas: Leonardo Dell’Oso - Sócio Líder da Prática de Deals da PwC Brasil
Marcelo Pimenta - Líder de Agronegócios da Serasa Experian
Renato Girotto - Diretor de Produtos da Serasa Experian e Co-fundador da Brain Ag
Moderação: Nelson Bechara - Sócio Fundador da Noon Capital Partners
Roteirização e edição: Vanderlei Rocha - Analista de Inteligência de Mercado do PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 44


Fomento à inovação com
diversidade: resultados da pesquisa
#MulheresQueInovamOAgro
Por Marina Salles, Editora-Chefe de Conteúdo do PwC Agtech
Innovation, e Thays Almeida, Sênior Associate de Comunicação
e Marketing do PwC Agtech Innovation

Na foto, da esq. para direita:


Thays Almeida (PwC Agtech
Innovation), Dalana de Matos
(PwC Agtech Innovation), Ana
Claudia Plihal (LinkedIn Brasil),
Franciele Trentini (OCP Brasil)
e Juliana Chini (Arable)

Dos mais de 203 milhões de habitantes do Brasil, 104,5 milhões


são do sexo feminino, ou 51,5% do total, de acordo com os dados
recém-divulgados pelo Censo Demográfico 2022 realizado pelo
IBGE. No agronegócio, por outro lado, as mulheres representam
38,16% da população ocupada, que soma 28,3 milhões de pessoas
no setor, conforme o Cepea. Ainda que em minoria numérica,
porém, as mulheres têm papel fundamental na inovação do setor.

Engajado quando o assunto é diversidade, o PwC Agtech


Innovation apresentou durante o Agtech Meeting os resultados
da segunda edição da pesquisa #MulheresQueInovamOAgro,
que visa identificar e construir, de forma propositiva, um
agronegócio mais inclusivo para todos e todas. Do painel,
recheado de dados e tendências, participaram porta-vozes do
hub, do LinkedIn Brasil, da OCP Brasil e da startup Arable.

Report Agtech Meeting 2023 45


Tendência de capacitação feminina

A pesquisa #MulheresQueInovamOAgro contou com a


participação de 838 respondentes de todo o Brasil. Dalana
de Matos, Estrategista de Inovação do PwC Agtech Innovation,
afirma que a abrangência foi interessante considerando a cadeia
do agronegócio como um todo – do campo, passando pelas
áreas administrativas das empresas, indústria, pesquisa
e distribuição até chegar à mesa do consumidor.

Ao todo, 64,5% das respondentes informou que têm pós-


graduação, MBA, mestrado ou doutorado e houve uma
predominância de mulheres em cargos de liderança e gestão,
com quase um quarto delas se identificando como proprietária
ou co-fundadora de empresas (21,1%), gerente (18,9%) e
especialista (16,8%). As coordenadoras (10,7%) e diretoras
(6,6%) também tiveram representatividade na amostra.
As estagiárias foram 1,8% e as estudantes, 3,2%. As mulheres
na operação somaram 12,1% e 8,8% se identificaram
na categoria outros (supervisora etc).

"Quando eu olho o histórico,


sou bastante otimista. No censo
de 2018 realizado pelo hub no
ecossistema de inovação agro,
cerca de 60% das startups não
tinham nenhuma mulher ou tinha
apenas uma mulher no time.
Hoje, olha só onde chegamos."

Juliana Chini
Arable

Report Agtech Meeting 2023 46


Busca da superação do machismo

Independentemente do seu grau de instrução, tamanho da


corporação, do elo da cadeia ou da posição hierárquica,
contudo, as respondentes apontaram estar sujeitas a desafios.
Na pesquisa, 9 em cada 10 #MulheresQueInovamOAgro
relataram já terem passado por situações de machismo ou
constrangimento no ambiente de trabalho.

Manterrupting (interrupção masculina em uma conversa,


com 53,7%), mansplaining (explicação de algo óbvio por
uma pessoa do sexo masculino, com 47,3%) e bropriating
(apropriação de ideias, com 37,7%) são só alguns dos
“fenômenos” mais comuns. Para Ana Claudia Plihal, Diretora de
Soluções de Talentos do LinkedIn Brasil, o ambiente corporativo
naturaliza esse tipo de comportamento, o que ela considera uma
agressão. “Eu tenho o direito de dizer ‘espera um pouquinho,
essa ideia foi minha’. E esse tipo de posicionamento começa
a transformar o cenário”, diz.

"A gente não pode excluir


os homens dessa conversa, a gente
precisa coexistir, a gente precisa
conviver e esse assunto precisa ser
importante para os dois lados."

Ana Claudia Plihal


LinkedIn Brasil

Report Agtech Meeting 2023 47


União entre as mulheres

Apesar dos desafios, 8 em cada 10 mulheres


afirmam se sentir acolhidas trabalhando
no setor, o que Dalana atribui ao
acolhimento feminino. “A união
feminina apareceu na pesquisa
como uma grande força para
seguirmos avançando rumo
à equidade de gênero
e acredito que ajude "É preciso buscar esse
a explicar essa ambiente de compartilhar,
ambiguidade”, de entender, de conversar.
diz. Muitas coisas clareiam a partir
daí, tendo referência e trocando
com mulheres que passam pela
mesma situação que nós."

Franciele Trentini
OCP Brasil

Quando o assunto é a origem da transformação no cenário em


que vivemos hoje, a esmagadora maioria credita os avanços
recentes à mudança no comportamento feminino, com maior
independência (84,4%) e à maior união entre as mulheres (54,1%).
Outros 40,7% são atribuídos a ações de inclusão em empresas
privadas; 24,2% à transformação social desde as escolas; 24%
a políticas públicas de equidade de gênero e 22,7% ao apoio
financeiro ao empreendedorismo feminino. Somente 13,7% das
entrevistadas acreditam que a transformação em curso também
tenha relação com a mudança no comportamento masculino.
Na lista de habilidades esperadas das profissionais do agro,
a inteligência emocional aparece em primeiro lugar (67,5%).

Report Agtech Meeting 2023 48


Convicção nas capacidades adquiridas

Conforme Ana Cláudia, muitas das constatações da pesquisa


#MulheresQueInovamOAgro sinalizam na mesma direção
de levantamentos feitos pelo LinkedIn Brasil. Em análise da
plataforma, com cerca de 67 milhões de usuários no país,
identificou-se que as mulheres são tão ou mais ambiciosas que
os homens quando o assunto é seu crescimento profissional.
Elas buscam aprender, compartilhar e se envolver com novas
oportunidades até mais do que os homens. Elas investigam,
analisam e estão atentas a qualquer movimento de mercado
tanto quanto eles. Mas na hora de aplicar a candidatura para
uma vaga, elas são mais cautelosas, conta.

“Esse dado me intrigou muito, porque se, academicamente


falando, as mulheres são mais preparadas, se temos as mesmas
ambições, nível de colaboração, porque na hora de buscar
trabalho as mulheres não se aplicam?”, questiona Ana Cláudia.
Em comparativo realizado junto à Harvard Business Review, o
LinkedIn constatou que as mulheres buscam atender a 100%
dos requisitos para se candidatar a uma posição de emprego,
enquanto os homens consideram 60% suficiente.

A conclusão do PwC Agtech Innovation é de que a pesquisa


#MulheresQueInovamOAgro 2023 é fundamental para o
ecossistema de inovação se aprofundar no contexto das
profissionais do setor, e propor ações afirmativas de mudança,
em prol de uma maior equidade de gênero e valorização da
mulher no mercado de trabalho.

Painel #Mulheres
Painelistas: Ana Claudia Plihal - Diretora de Soluções de Talentos do LinkedIn Brasil
Dalana de Matos - Estrategista de Inovação do PwC Agtech Innovation
Franciele Trentini - Líder de Inovação da OCP Brasil
Juliana Chini - Head de Marketing LATAM da Arable
Moderação: Thays Almeida - Sênior Associate de Comunicação e Marketing do PwC Agtech Innovation
Roteirização e edição: Marina Salles e Thays Almeida, do PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 49


Crescendo com identidade:
Cultura e propósito nas
startups do agro
Por Isadora Faria, Gerente Sênior de Novos Negócios e Inovação da PwC
Brasil, e Fernanda Cavalcante, Associate de Marketing e Conteúdo
no PwC Agtech Innovation

A cultura de uma startup é seu coração. Dela, flui a motivação


dos colaboradores, a construção do engajamento e do espírito
do dia a dia, que influenciam no ambiente e nas entregas. Com
um bom casamento entre os valores da empresa – expressos
pela sua cultura – e os valores das pessoas, é possível extrair
o melhor delas, reter e atrair novos talentos.

Mas, enquanto cresce, quais cuidados uma startup precisa ter


para manter sua cultura e todos os benefícios que vêm junto
dela? Para falar deste cenário, o Agtech Meeting recebeu
empreendedores da IMBR Agro, TerraMagna e Agroadvance,
além do especialista Stéfano Frontini, Co-Fundador da Allídem,
que trabalha com a construção de marca de empresas
da nova economia.

Na foto, da esq. para direita:


Stéfano Frontini (Allídem),
Hernan Angulo (IMBR
Agro), Rodrigo Marques
(TerraMagna) e Pedro
Bernardes (Agroadvance)

Report Agtech Meeting 2023 50


Ágeis e adaptáveis

Sem sombra de dúvida, um ponto notável na cultura


das startups é a agilidade com que desenvolvem novos
produtos e serviços, bem como sua capacidade de
adaptação à mudança e às intempéries do mercado.
Nesse sentido, os times descentralizados cumprem
papel fundamental, porque as responsabilidades
podem ser compartilhadas e cada membro da equipe
tem espaço para contribuir com entregas cruciais,
capazes de moldar o futuro da empresa.

Experimentativas
Falando ainda dos aspectos marcantes na cultura das
startups, a ênfase na experimentação também tem
destaque. Com autonomia para propor novas ideias
e um ambiente de segurança psicológica para
testá-las, as startups contam com as engrenagens
necessárias para investir em inovação – partindo
do princípio de que uma solução pode dar certo ou
errado. O importante é errar rápido e barato, e estar
pronto para corrigir a rota e, às vezes, o destino.

Antifrágeis
De acordo com Rodrigo Marques, Diretor de
Gente&Gestão da TerraMagna, outro pilar que vem
se destacando no universo das startups é a cultura
da antifragilidade. “Quando lidamos com mudanças
drásticas, não se trata apenas de resiliência, pois a
resiliência implica em suportar um impacto e retornar
ao estado anterior. Por outro lado, o antifrágil não
apenas se recupera, mas sai mais forte, com mais
determinação e energia, pois abraça as mudanças e
busca evoluir em conjunto com a startup”, diz Marques.

Report Agtech Meeting 2023 51


Cultura: uma representação das lideranças

Ainda que as startups compartilhem traços comuns de cultura,


é natural que os valores por trás de cada cultura sejam fruto da
imagem e semelhança dos valores dos líderes do negócio. Afinal,
são eles e elas que, com base em suas experiências pessoais e
profissionais, definem os valores da organização. “Não existe uma
resposta certa ou errada, mas sim uma profunda compreensão de
que a cultura reflete os valores que cada indivíduo carrega e que
fazem sentido para a maneira como a startup opera”, diz Hernan
Angulo, Líder Administrativo da IMBR Agro.

Não deveria soar estranho, então, que a cultura – mesmo de uma


startup – é, em grande parte, determinada de cima para baixo
(top-down). E, como em qualquer outra empresa, as lideranças
da startup vão precisar estar alinhadas e dedicadas a disseminar
a cultura no dia a dia dos colaboradores. São os líderes que, nas
diferentes fases do negócio, devem ser os primeiros a respeitar os
princípios e valores da startup e fomentar a cultura organizacional.

"Por trás de cada startup,


há uma história protagonizada por
seus fundadores, que compartilham
valores e experiências com seus
colaboradores. Ao recrutar novos talentos,
eles também buscam indivíduos com os
quais se identificam, para embarcarem
juntos em direção aos objetivos que
o empreendedor pretende alcançar."

Stéfano Frontini
Allídem

Report Agtech Meeting 2023 52


Contrate bem

Uma vez que a cultura da startup vai se moldando e tomando


forma, cabe aos líderes e profissionais responsáveis por atrair
novos talentos garantir o fit cultural das pessoas que chegam
para somar à equipe. Toda organização procura profissionais
alinhados com sua missão, valores e objetivos, e, como dito
anteriormente, cada pessoa também carrega seu próprio
conjunto de valores. Havendo alinhamento entre o que o
profissional espera e o que a startup oferece em termos de
cultura, essa pessoa tende a trabalhar com maior motivação,
pois acredita no propósito do negócio.

Segundo Frontini, da Allídem, contratações bem-feitas são


indispensáveis, porque um erro pode custar muito caro,
principalmente a uma startup. A perda de tempo, segundo ele,
chega a oito meses, entre absorver a pessoa, treiná-la para a
posição, se dar conta de que não tem o fit cultural ou técnico
e fazer uma demissão.

Pedro Bernardes, Fundador e Diretor de Operações da


Agroadvance, alerta para o cuidado de não cair na “síndrome da
cadeira vazia”. “Não podemos nos antecipar e contratar alguém
que muitas vezes não está alinhado com a nossa cultura. É melhor
esperar um pouco mais e fazer uma contratação certeira”, diz.

Na fase de entrevista, a recomendação dos empreendedores


é sair com o máximo de clareza de que os valores da startup
conversam com os valores do candidato a uma vaga. A dica,
para isso, é preparar perguntas sobre experiências anteriores
do profissional, que ajudem a entender se aquela pessoa já
pratica os valores da startup.

Na TerraMagna, uma pré-seleção tem sido feita de forma digital


para avaliar se os candidatos estão alinhados à sua cultura.
A avaliação traz 10 questões e, nas respostas, contempla
alternativas com a visão dos principais líderes da startup que
atuam como embaixadores culturais. Os candidatos cujas
respostas se aproximam mais da visão dos líderes, recebem uma
pontuação mais alta e são selecionados para a entrevista.

Report Agtech Meeting 2023 53


Comunique-se bem

A cultura é um organismo vivo e, por isso mesmo, o


crescimento de uma startup pode impactar muito não somente
a sua operação, mas a sua cultura. Porque, na medida em que
o número de pessoas aumenta, podem surgir fricções na hora
de passar a cultura adiante.

Para evitar que isso aconteça, um processo de onboarding bem


estruturado se faz necessário, assim como a atuação consciente
da liderança transmitindo os valores da empresa e uma excelente
comunicação interna. Se isso não for feito, o alinhamento corre o
risco de se perder, gerando consequências negativas não apenas
para o clima organizacional como também para os negócios.

Painel #CulturaStartup
Painelistas: Hernan Angulo – Líder Administrativo da IMBR Agro
Rodrigo Marques – Diretor de Gente&Gestão da TerraMagna
Pedro Bernardes – Fundador e Diretor de Operações da Agroadvance
Moderação: Stéfano Frontini – Co-Fundador da Allídem
Roteirização: Marina Salles e Karen Baldin, do PwC Agtech Innovation
Edição: Fernanda Cavalcante e Marina Salles, do PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 54


Gerenciando equipes de
alta performance num cenário
em transformação
Por Fernanda Cavalcante, Associate de Marketing e Conteúdo no
PwC Agtech Innovation, e João Paiva, Agribusiness Associate na PwC Brasil

Diante das mudanças aceleradas no mercado de trabalho,


condicionadas sobretudo pelo uso da tecnologia, os gestores
das empresas buscam profissionais cada vez mais versáteis
e adaptáveis a diferentes contextos. A capacidade de aprender
novas habilidades e a necessidade de aderir ao life long learning
desafiam as equipes e também seus gestores, que precisam
conduzir o time em tempos de incerteza.

Nesse cenário, as chamadas “soft skills” ganham destaque como


habilidades essenciais que os profissionais devem desenvolver
e aprimorar. Em painel do Agtech Meeting sobre gestão de
pessoas num contexto dinâmico, líderes – da PwC, do Pecege,
Dexco, OCP Brasil e Tarken Ag –, engajados no desenvolvimento
de equipes, tiveram lugar de fala.

Na foto, da esq. para direita:


Daniel Sonoda (Pecege),
Humberto Abrahão (PwC
Brasil), José Ferraz (Dexco),
Luciana Arenola (OCP Brasil)
e Luiz Tangari (Tarken Ag)

Report Agtech Meeting 2023 55


Soft skills, uma demanda do mercado

Antes de definir as soft skills mais esperadas nas organizações,


Humberto Abrahão, Gerente Sênior em People Analytics
da PwC Brasil, comenta que é fundamental compreender
o que esperamos dessas habilidades e como elas podem
agregar valor à empresa, antes de buscarmos profissionais com
essas qualidades no mercado ou capacitarmos internamente
os colaboradores.

No contexto das empresas, em constante transformação,


as principais características mencionadas pelos especialistas,
considerando equipes de alto desempenho, incluem: resiliência,
foco nos resultados, colaboração e inteligência emocional.
E todas essas habilidades se entrelaçam, uma vez que as
pessoas precisam ser resilientes para enfrentar desafios e
alcançar objetivos da melhor maneira possível. Isso requer foco
nos resultados, com entregas objetivas, em um ambiente de
colaboração, onde a equipe compreende os limites individuais
e se sente confortável para aceitar novos desafios. Por último,
a inteligência emocional desempenha um papel crucial, pois os
desafios cotidianos e a pressão estarão presentes.

Desenvolvimento de competências

O desenvolvimento dos funcionários é uma via de mão


dupla – uma responsabilidade compartilhada. Enquanto
é esperado dos colaboradores que assumam o protagonismo,
para desenvolverem novas habilidades, a organização deve criar
um ambiente de confiança propício ao crescimento contínuo.
Daí a necessidade de estabelecer um clima de confiança,
em que os colaboradores se sintam à vontade para explorar
suas habilidades.

Report Agtech Meeting 2023 56


José Ricardo Ferraz, Consultor da Dexco, menciona que esse
status pode ser alcançado por meio de programas de cultura
organizacional que permitam às pessoas se alinharem aos
valores e propósitos da empresa. Além disso, feedbacks,
feedforwards (análise das habilidades que o colaborador precisa
desenvolver), comunicação aberta e outras ferramentas de
cultura desempenham um papel importante nesse processo.

No mesmo âmbito, Abrahão acrescenta a questão da


aprendizagem adaptativa, uma vez que a diversidade de perfis
nas organizações cria o desafio de trazer as metodologias que
mais se adequam a cada perfil. Ele destaca que atualmente,
as empresas podem utilizar tecnologias, como plataformas de
aprendizado que personalizam o conteúdo de acordo com o
perfil de cada indivíduo, ou podem buscar apoio na Academias
e startups que desenvolvem metodologias para adaptar a
experiência de aprendizado.

Para metrificar os resultados dos treinamentos, Abrahão propõe


a divisão em três tópicos: o primeiro voltado à mensuração do
consumo dos conteúdos e engajamento da equipe; seguido de
uma métrica de evolução da competência trabalhada ao longo
do treinamento; e, por fim, a medição do impacto da capacitação
para os resultados da organização.

Soft skills nas grandes empresas e startups

A adaptabilidade e a resiliência são fundamentais em empresas


de qualquer porte. Para Luiz Tangari, Co-Fundador e CEO da
Tarken, nas startups, onde a dinâmica é intensa e as mudanças
são frequentes, essas capacidades são indispensáveis.
Principalmente porque, se o colaborador não aprender rápido,
errar rápido e buscar soluções criativas, isso pode comprometer
a sobrevivência do negócio.

Report Agtech Meeting 2023 57


Nas grandes empresas, de proporções robustas e processos
estruturados, Luciana Arenola, Diretora de Recursos Humanos da
OCP Brasil, afirma que a adaptabilidade tem sido desenvolvida
enquanto a equipe reconhece a necessidade de mudança,
“muitas vezes em resposta às demandas levantadas pelo
mercado”, diz. Nesse processo, a liderança precisa ser treinada
para lidar com o cenário de transformação e apoiar seus times
numa aterrissagem segura e planejada.

De acordo com os especialistas, simplificar a liderança é um


desafio significativo. Conforme destacado por Ferraz, à medida
que as organizações crescem, é vital disseminar uma cultura eficaz,
concentrando-se nos valores e objetivos das empresas. Além disso,
a “inteligência funcional” é mandatória, para acompanhar indicadores
e resultados, gerando informação sobre as entregas das equipes.

Do mesmo modo, o gestor deve medir e identificar as


características predominantes nas equipes com os melhores
resultados e nível de engajamento. Desta forma,
é possível tornar as competências
mais tangíveis, listar aquelas que
agregam mais valor e que podem
vir a ser identificadas como
as mais importantes para
a organização.
"A resiliência atua
como um motor que
impulsiona as equipes a superar
obstáculos e perseverar."

Luciana Arenola
OCP Brasil

Painel #GestãodePessoas
Painelistas: Humberto Abrahão - Gerente Sênior em People Analytics da PwC Brasil
José Ricardo Ferraz - Consultor da Dexco
Luciana Arenola - Diretora de Recursos Humanos da OCP Brasil
Luiz Tangari - Co-Fundador e CEO da Tarken
Moderação: Daniel Y. Sonoda - CEO do Pecege
Roteirização e edição: Lucca Bello - Gestor de comunidade no PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 58


Palco
Tecnologia

Report Agtech Meeting 2023 59


Tecnologias são meio, nunca fim. Mas passam por elas
a construção do mundo que queremos. Neste palco, as
demandas do produtor, as tecnologias para produção
sustentável, a fintechzação e tokenização do agro tiveram
lugar garantido.

Report Agtech Meeting 2023 60


Captação de investimentos
pode ser realidade para toda
Ag&Food Tech?
Por Leonardo Langoni, Especialista em Startups,
e Vanderlei Rocha, Analista de Inteligência de Mercado
do PwC Agtech Innovation

De 2021 para 2022, as ag&food techs latino-americanas viram


minguar a fonte de investimentos de venture capitals nos seus
negócios, com um declínio da ordem de 40% na comparação
anual – saindo de US$ 2,8 bilhões para US$ 1,7 bilhão, de acordo
com levantamento realizado pelo AgFunder em parceria com a
gestora brasileira SP Ventures. A correção de valuations inflados
foi a justificativa apresentada para retração nos aportes, que
caíram de um patamar recorde.

Com mais de 100 investimentos em ag&food techs Latam


no conjunto do portfólio, cinco das principais gestoras de VC
especializadas no agro estiveram no Agtech Meeting para ajudar os
empreendedores a vislumbrar uma luz no fim do túnel, e olharem
para o cenário que se desenha para novas captações. Afinal, está
faltando dinheiro para investir nas startups do agro? Os investidores
ficaram mais exigentes? Ou o dinheiro continua em caixa porque
faltam opções interessantes para injetar capital nas fases iniciais
e de tração e escala? Representantes da Barn Investimentos, The
Yield Lab Latam, GR8 Ventures, SP Ventures, AgroVen contribuíram
com reflexões para responder a estas e outras perguntas durante o
painel, e destacamos abaixo o cerne da discussão.

Na foto, da esq. para a direita:


Leonardo Langoni, Fernanda Gottardi
(GR8 Ventures), Alexandre Stephan
(SP Ventures), Bernardo Araújo Costa
(AgroVen), Nelson Bezerra
(The Yield Lab Latam),
Thiago Mendes
(Barn Investimentos)

Report Agtech Meeting 2023 61


Conforme a Comunidade online do PwC Agtech Innovation,
atualmente com 884 startups cadastradas, 51% dos negócios
nunca contaram com recursos que não fossem próprios
(bootstrap), da família ou de amigos para se manter. Enquanto
apenas 18,6% dos empreendedores levantou capital com
investidores anjo ou aceleradoras; 9,8% teve acesso a capital
semente e 6% a capital de risco série A. Outros 29,4%
levantaram dinheiro a fundo perdido, com instituições de fomento
à pesquisa e ao empreendedorismo. A moral da história, então,
seria: quem captou, captou. E quem não captou não capta mais?

Cenário para aportes


na visão dos investidores
Para Bernardo Araújo Costa, Co-Fundador da AgroVen,
o investidor está sim mais cauteloso e, provavelmente, deixou
para trás rodadas exorbitantes como se via no passado.
Apesar disso, Araújo discorda de que falte dinheiro no mercado.
“Sobre o VC em geral, eu avalio que se investia mais em
negócios menos preparados alguns anos atrás, porque tinha
dinheiro sobrando no mercado. Hoje, ainda existe dinheiro, em
especial para o mercado agro, mas passamos a olhar com mais
cautela para as investidas”, diz.

Além disso, no agro, o perfil das startups compatíveis com VCs


é relevante para a discussão, segundo Thiago Mendes, Sócio da
Barn. “Empresas para VCs são poucas”, afirma, se referindo ao
fato de que esse tipo de investidor espera retorno alto, de
negócios escaláveis em prazos relativamente curtos – fatores
que nem sempre são fáceis de casar no setor. “Os VCs esperam
que suas investidas cresçam muito e tracionem rápido,
pensando que em 5 a 6 anos aquela empresa possa faturar
de R$ 100 milhões a R$ 200 milhões, para compensar o risco
de um investimento em estágio inicial”.

Report Agtech Meeting 2023 62


E, da mesma forma que o VC escolhe suas investidas, a recíproca
para as startups tem sido verdadeira. “Captar com VC é uma
estratégia cara, você está vendendo equity da empresa e não é
toda startup que quer ir por esse caminho”, afirma Nelson Bezerra,
Analista de Negócios da The Yield Lab Latam. Enquanto Alexandre
Stephan, Sócio da SP Ventures, defende que o empreendedor
nunca passe por cima do seu propósito e objetivos para agradar
qualquer investidor que seja. “O bom negócio, esse vai prosperar.
Pegando dinheiro de VC, private equity, family office, corporate
venture capital ou da família e amigos, vai dar certo”, diz.

Para Fernanda Gottardi, Sócia na GR8 Ventures, uma


característica cada vez mais importante para as startups – e que
ajuda a garantir que a empresa passe pelo vale da morte com
ou sem investimentos – é a clareza sobre a dor que resolve.
Principalmente nas soluções voltadas para dentro da porteira,
um erro comum, segundo ela, é o fato de o empreendedor
querer aprimorar muito o seu produto, ao invés de focar no
product market fit e num produto mínimo viável (MVP). “O agro
é um negócio de margem baixa – então, os produtos e serviços
precisam atender uma dor real. Tem que ser algo que faça sentido
dentro das condições de infraestrutura no Brasil, que são
sempre desafiadoras”, diz.

De qualquer forma, os investidores ponderam que tudo é muito


recente no mundo das agtechs na América Latina – um mercado
muito resiliente e promissor, onde os investidores nacionais
maduros não contam mais de dez anos e começam agora a
co-investir fortemente com fundos de capital estrangeiro, seja
de tecnologia ou de corporate venture capitals oriundos de
grandes multinacionais.

Painel #Investimentos
Painelistas: Thiago Mendes - Sócio na Barn Investimentos
Nelson Bezerra - Analista de Negócios da The Yield Lab Latam
Fernanda Gottardi - Sócia da GR8 Ventures
Alexandre Stephan - Sócio da SP Ventures
Bernardo Araújo Costa - Co-Fundador da AgroVen
Moderação e roteirização: Leonardo Langoni - Ex-coordenador de Comunidade de Startups do PwC Agtech Innovation
Edição: Marina Salles - Editora-Chefe de Conteúdo do PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 63


Fintechzação do agronegócio,
com gigantes do setor
Por Isadora Faria, Gerente Sênior de Novos
Negócios e Inovação da PwC Brasil

De todos os mercados do agronegócio relacionados à


tecnologia, o de fintechs cresce de forma acelerada. Segundo o
levantamento Radar Agtech Brasil 2022, tivemos um salto de
24 startups para 85 agfintechs oferecendo soluções financeiras
entre 2019 e 2023, número próximo à quantidade de fintechs
cadastradas na Comunidade online do PwC Agtech Innovation.

Na foto, da esq. para direita:


Vanderlei Rocha (PwC Agtech
Innovation), Braian Souto
(Fincrop / Bunge), Fabio
Neufeld (Syde, Syngenta),
Julio César (AL5 Bank/ Grupo
Amaggi) e Willer Marcondes
(Strategy&/ PwC)

Report Agtech Meeting 2023 64


Trends para fintechzação no agro

Este movimento mostra espaço que ainda existe para o setor


avançar em opções financeiras, desde crédito para compra de
insumos e maquinários até contas digitais que ofereçam facilidades
de gestão. Mas, faz sentido que toda empresa do agro tenha a
sua própria fintech? Confira as tendências para “fintechzação no
agronegócio” debatidas no Agtech Meeting com a participação da
Bunge, criadora da agfintech Fincrop; Syngenta, idealizadora do
Syde e Grupo Amaggi, com seu meio de pagamento, o AL5 Bank.

Nunca perca o foco no problema


A realidade é que opções de financiamento para o produtor ainda
são escassas, algumas estimativas sugerem que o plano safra não
cobre 15% de tudo que é demandado no campo, não sendo mais
tão barato quanto no passado ou tão acessível, dada a burocracia
para liberação dos recursos. Na indústria do agro, também vale
destacar que o revendedor não tem estrutura de capital para
bancar o crédito demandado pelos produtores na ponta.

"Uma cadeia que gira


bilhões em crédito tem
um baita de um oceano azul
pensando no mercado endereçável
para startups. Porque isso não está
sendo financiado só por bancos,
hoje é a indústria, a trading,
o stakeholder de fertilizantes,
de biológicos que também financia."

Fabio Neufeld
Syngenta

Report Agtech Meeting 2023 65


A criação de fintechs precisa vir acompanhada do desejo de
resolver esses tipos de entraves, mas sem perder a conexão
com a estratégia do negócio. Em uma multinacional de insumos,
por exemplo, o incremento na estruturação da oferta de crédito
pode significar a resolução de um problema duplo para o core
business: o fim do comprometimento do balanço e da limitação
do distribuidor na concessão de recursos, para que o produtor
compre mais, e melhor.

Recorra à fintechzação para


potencializar verticais do negócio

Este não é um tema novo, o varejo já oferta produtos com valor


adicionado ao cliente há mais de 30 anos com os cartões de loja.
Sempre esteve claro que o cliente precisa do parcelamento para
fechar a compra, mas nem todos os agentes do ecossistema
financeiro querem assumir o risco da operação.

Felizmente, se tornar uma fintech não é mais tão complexo como


costumava ser, tanto pelo avanço da regulamentação como
da tecnologia. Mas as instituições precisam lembrar que este
é e sempre será um setor regulado e com desafios. Afinal de
contas, esse negócio é para toda empresa? A resposta nunca
é simples, mas deve vir calçada em dois pilares básicos: (1)
com uma fintech, eu resolvo uma dor/necessidade/problema do
meu cliente? e (2) do ponto de vista financeiro, a empresa tem
condições de criar um produto sólido?

Report Agtech Meeting 2023 66


Orquestre um novo ecossistema

“Tudo que a organização puder beber de


fora é excelente para acelerar e colocar
a estrutura de pé”, contou Braian
ao mencionar detalhes sobre o
modelo da Bunge. São mais
de 10 parceiros interligados
para criação da Fincrop.
A conclusão é que a
"Se a gente consegue
inovação aberta
firmar parcerias, estruturar
é fundamental.
projetos e colaborar de forma
assertiva, resolvendo o problema
de crédito para o agro, excelente
para nós e para o cliente!"

Braian Souto
Bunge

Vale ressaltar, contudo, que empreender dentro da própria


organização exige resiliência. As companhias que se posicionam
como orquestradoras do ecossistema estão dois passos à frente
nesta caminhada. Ao combinar players que já se especializaram
em parte do processo e integrá-los ao seu ambiente, elas
aceleram os negócios (desde que também estejam preparadas
para gerir as parcerias).

Report Agtech Meeting 2023 67


“Banking is necessary, banks are not” (Bill Gates)

A indústria financeira está passando por desafios e


transformações que vão impactar todas as indústrias. O pix já
mudou bastante o ambiente financeiro no país, e devem vir mais
benefícios por aí. A revolução do open finance ainda está em
curso, com o potencial de personalização da oferta de crédito
ao usuário ainda por ser melhor explorada. Sem falar no Drex,
cuja virada de página promete estar na aplicação de contratos
inteligentes, permitindo a liberação automática de recursos ao
alcance de um clique.

No futuro, quem sabe, a partir de um “smart contract” do


DREX, não será possível o AL5 Bank financiar o produtor
rural para comprar defensivos e sementes da Syngenta com
garantia num contrato da Bunge? — provocaram os próprios
painelistas. Além disso, é inevitável pensar que o crédito no
agronegócio será pautado pela sustentabilidade, como reflexo
de uma demanda do mercado nacional e internacional, dos
órgãos reguladores e da sociedade. Outra tendência promete
ser o enriquecimento das bases das fintechs ou financeiras
com dados públicos, o que reduziria fricções para a oferta de
novos produtos e serviços ampliando a possibilidade de
o produtor tomar decisões na palma da mão.

Painel #Fintechzação no Agro


Painelistas: Braian Souto - Gerente Sênior Global Business Technology da Bunge
Fábio Neufeld - Líder do Syde e de Soluções Financeiras da Syngenta
Julio Cesar- Diretor de Clientes e Produtos do AL5 Bank (Grupo Amaggi)
Willer Marcondes - Sócio da Strategy&/PwC
Moderação/Roteirização/Edição: Vanderlei Rocha - Analista de Inteligência de Mercado do PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 68


Sustentabilidade em foco:
Cases de impacto positivo do início
ao fim da cadeia produtiva
Por Isadora Faria, Gerente Sênior de Novos Negócios e Inovação da PwC
Brasil, e Fernanda Cavalcante, Associate de Marketing e Conteúdo
no PwC Agtech Innovation

Na foto, da esq. para direita:


David Escaquete (BRCarbon),
Nicolaos Theodorakis (NOAH),
Fabiana Munhoz (reNature)
e Leonardo Pinheiro
(Produzindo Certo).

A sustentabilidade tomou conta da pauta de grandes


corporações e vem avançando para se consolidar como tema
prioritário nas empresas. Por se tratar de um desafio complexo
de ser resolvido, a questão logo despertou interesse de várias
partes, incluindo as startups – que estão apresentando soluções
atrativas e importantes para garantir uma produção cada vez
mais sustentável em toda a cadeia agropecuária. Aqui, estão
algumas tendências em tecnologias sustentáveis apresentadas
pelas startups reNature, NOAH, BrCarbon e ProduzindoCerto
durante o Agtech Meeting:

Report Agtech Meeting 2023 69


Co-criação e parcerias: um bom ponto de partida

Na reNature, a co-criação de parcerias é o que vem contribuindo


de forma mais efetiva para o negócio ganhar escala. A green
tech atua lado a lado de grandes empresas e produtores rurais
estimulando a transição para práticas da agricultura regenerativa
e co-criando projetos de fazendas modelo. Isso se dá por meio do
estabelecimento de diretrizes e indicadores de monitoramento e,
como serviço adicional, a startup também apresenta os impactos
da produção no campo para as metas ESG da grande empresa.

Um exemplo compartilhado no painel foi o projeto da reNature


em parceria com a Nespresso, que envolveu a seleção de
uma propriedade fornecedora de café para a companhia.
Eles utilizaram 3 hectares para construir a fazenda modelo
e demonstrar os benefícios da produção sustentável. A área
do estudo foi dividida em três partes: uma sem alteração nas
atividades para permitir comparação, outra com o novo manejo
e sem árvores e a última com o novo manejo e com árvores.

A Produzindo Certo, que atua na integração entre produtores


rurais adeptos de práticas sustentáveis e indústrias, também
tem colhido bons frutos do uso da tecnologia no campo. No caso
das indústrias, assegura a origem sustentável do que é gerado
nas propriedades e, para o produtor, garante que será
devidamente remunerado pelas práticas adotadas. Até o
momento, já foram investidos mais de R$ 3 milhões em prêmios
para os produtores rurais.

Um grande projeto da Produzindo Certo envolveu 22


produtores de Rio Verde (GO), que foram premiados por
produzirem soja sustentável. A grande empresa por trás desse
investimento é a Unilever, que adquiriu a soja para fabricação
da maionese Hellmann's.

A NOAH, do ramo da construção com madeira engenheirada,


destacou que a construção civil é responsável por
aproximadamente 38% das emissões de carbono a nível global,
um recorde entre os setores emissores. Nesse contexto, a startup
utiliza madeira engenheirada em seus projetos, visto que o produto
oferece uma abordagem sustentável para o setor e provém de
árvores replantadas que atuam como depósito de carbono.

Report Agtech Meeting 2023 70


O caso compartilhado pela startup foi a iniciativa realizada em
parceria com o McDonald 's em São Paulo (SP), de construção
de uma loja com mais de 60 atributos de sustentabilidade,
incluindo a própria estrutura do edifício. O projeto armazenou
um total de 136 toneladas de carbono.

Para a virada de chave, a dúvida:


quem paga a conta?
Quando o assunto é sustentabilidade, cada vez mais empresas
e produtores se mostram interessados na cooperação, porém,
do ponto de vista das startups, ainda falta engajamento em
iniciativas que não demonstram ter impacto imediato na
produtividade e nos lucros dos negócios. Nesse contexto,
é imprescindível discutir quem assumirá os custos da
implementação dessas novas técnicas, bem como se existirão
incentivos financeiros para apoiar os projetos no longo prazo.

"Um dos principais desafios


na avaliação de tecnologias
sustentáveis é a definição de
metodologias e indicadores
adequados para a mensuração
da sustentabilidade."

Leonardo Pinheiro
Produzindo Certo

Report Agtech Meeting 2023 71


Para Fabiana Munhoz, Gerente de Projetos Sênior da reNature,
o ponto-chave para adoção de práticas sustentáveis, como a
agricultura regenerativa, é o desenvolvimento de novos modelos
de negócios, em que os riscos possam ser compartilhados entre
produtores e empresas. Além disso, ela lembra que a pressão do
consumidor, em busca de produtos mais sustentáveis, avança
rapidamente e é fundamental para promover a mudança da cadeia.

Na frente do mercado de créditos de carbono, que também


promete gerar renda associada à produção sustentável, startups
como a BrCarbon têm encontrado uma oportunidade de ajudar
a desenvolver modelos ganha-ganha. Visando fomentar ações
de conservação florestal, restauração ecológica e a agropecuária
sustentável, a startup conta com um Programa de Gestão de
Projetos de Carbono (PGPC) em que apoia produtores rurais na
implementação de projetos nas fazendas. Por um período de
monitoramento específico, a BrCarbon entra como sócio investidora
e gestora das iniciativas e revisa o desenho do projeto de forma
a adequá-lo aos padrões internacionais do mercado de carbono
e aumentar seu impacto líquido positivo. Nesta mesma agenda, a
NOAH tem encontrado mais e mais empresas que buscam reduzir
sua pegada de carbono construindo escritórios sustentáveis. São,
de novo, algumas das soluções para um desafio deveras complexo.

Painel #Tecnologias sustentáveis


Painelistas: Nicolaos Theodorakis - CEO da NOAH
Fabiana Munhoz - Gerente de Projetos Sênior da reNature
Leonardo Pinheiro - CTO da Produzindo Certo
Moderação: David Escaquete - Fundador e Diretor Comercial da BRCarbon
Roteirização e edição: Fernanda Cavalcante - Associate de Marketing e Conteúdo no PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 72


Da esq. para a direita:
Giankleber S. Diniz (Ceva),
Henrique Del Papa
(Agropecuária Sucuri),
Luciana Dalmagro (Jardim
e Vida de Granja), Osvaldo
Bachião (Cooxupé)
e Simone Lyn van Oene
(Joost Kalanchoe)

Produtor no centro
e a inovação aberta produzindo
resultados na lavoura
Por João Paiva, Agribusiness Associate na PwC Brasil

No cenário de avanço tecnológico no agronegócio, em que


diferentes atores desenvolvem soluções para atender as dores
do campo, o PwC Agtech Innovation entende que o produtor
rural precisa estar no centro do ecossistema de inovação.
Em um painel inteiramente pensado para trazer a ótica deste
agente tão importante para o agro no AgTech Meeting, o
destaque são as oportunidades e desafios, que ditam tendências
nas lavouras. Participaram do debate produtores atuantes em
diferentes segmentos, incluindo granjas, produção de flores,
de café e grãos.

Report Agtech Meeting 2023 73


Respeito à curva de adoção
de tecnologia

Durante a conversa, ficou claro que no Brasil é patente a


heterogeneidade de perfis de produtores, que têm diferentes
abordagens em relação à inovação, influenciadas pelo grau de
tecnificação da fazenda, cultura e tipo de manejo – demandantes
de abordagens diferentes também para adoção de novas
tecnologias. Divididos em pelo menos cinco grupos (inovadores,
adotantes iniciais, maioria inicial, maioria tardia e retardatários),
os produtores têm vivências particulares.

Começando pelos “early adopters”, o perfil é de produtores


entusiastas e visionários, que ficam confortáveis de serem
os primeiros a utilizar produtos inovadores, desempenhando
papel fundamental no desenvolvimento tecnológico do campo.
Em seguida, vem o grupo que representa a maioria do mercado,
incluindo um perfil mais flexível e outro mais pragmático, de
quem adota determinado produto após a validação dos usuários
iniciais. Na sequência, a curva atinge os conservadores, que só
abraçam a inovação quando têm certeza de um retorno tangível.
Por fim, vêm os céticos, que resistem fortemente a mudanças
e só adotam inovações quando não há outra alternativa.

No que tange esses perfis, todos os painelistas se disseram


abertos a novas soluções tecnológicas, mas cada um com
suas particularidades. Luciana Dalmagro, fundadora da
República do Jardim e Vida de Granja, produtora de flores
em Holambra (SP), vem de uma família pioneira no uso de
tecnologia para o segmento, adotando desde sempre novidades
importadas do exterior. Assim como Luciana, Simone Lyn van
Oene, da granja Joost Kalanchoe, herdou o histórico familiar
de co-desenvolvimento de tecnologias junto a instituições de
ensino, pesquisa e empresas, tendo realizado na propriedade
uma série de experimentos e projetos de inovação.

Report Agtech Meeting 2023 74


"Depois de me envolver com o ambiente de
inovação aberta, percebi oportunidades de
co-desenvolvimento e teste de novas tecnologias
na fazenda. Passei a enxergar meus dados de
forma diferente e implantei soluções que
podem beneficiar minha produção."

Henrique Del Papa


Agropecuária Sucuri

Henrique Del Papa, produtor e CEO na Agropecuária Sucuri,


conta que migrou do perfil conservador para o “early adopter”
há pouco mais de um ano, experiência semelhante à que teve
Osvaldo Bachião, Vice-Presidente da Cooxupé. “A busca por
tecnologias na minha propriedade se deu pela escassez
de mão de obra na região”, diz.

Necessidade de capacitação,
conectividade e tropicalização
Conforme os painelistas, em grandes propriedades, hoje a
falta de capacitação dos trabalhadores que operam as novas
soluções no campo muitas vezes resulta na subutilização
do potencial dos softwares e hardwares ou até mesmo no
travamento da implementação da tecnologia, podendo gerar
um impacto significativo no negócio. Enquanto a falta de
conectividade é um gargalo que limita o uso de máquinas que
vêm com tecnologias embarcadas. Nos dois casos, a visão é de
que são necessários maiores investimentos, públicos e privados,
para avançar nestes pontos.

Report Agtech Meeting 2023 75


Em pequenas propriedades rurais tecnificadas, como é o caso da
floricultura em Holambra (SP), a conectividade não é um problema,
segundo Luciana, porque a propriedade está próxima do centro
urbano. Em contrapartida, ela enfrenta outro desafio. “A grande
dificuldade do setor está na escassez de tecnologias nacionais
validadas para o cultivo de flores, principalmente maquinários
utilizados para colheita mecanizada”, afirma a produtora.

Demanda pelo uso inteligente de dados


Um desafio unânime discutido pelos painelistas está relacionado
à forma de utilizar os dados produzidos em campo, que têm sido
captados ao longo das safras, mas ainda estão subutilizados.
“Atualmente, nos tornamos coletores de dados, acumulando
uma quantidade significativa de informações. No entanto,
enfrentamos dificuldades em saber como aproveitá-las. Estamos
entrando numa fase de desenvolver capacidade analítica para
compreender o que faremos com todas essas informações e
como as correlacionaremos”, diz Simone.

Critério na escolha de fornecedores


e avaliação do custo-benefício
Quando o assunto são os critérios para adoção de novas
tecnologias, os produtores relataram não seguir uma receita de
bolo, avaliando as soluções caso a caso. Contudo, destacaram
a importância da confiabilidade dos fornecedores e a clareza do
custo-benefício.

Antes de adotar qualquer solução, eles afirmam consultar a


opinião de especialistas que têm como referência, de outros
produtores e da sua rede de apoio. Além disso, ressaltaram a
importância de conseguir antever o impacto que a tecnologia
pode ter na produtividade e nos custos da fazenda, porque essa
conta precisa fechar e deixar resultado positivo.

Report Agtech Meeting 2023 76


Busca de referências inovadoras na cadeia

Com o intuito de fortalecer o movimento de inovação e a


incorporação de novas soluções nas propriedades, os painelistas
compartilharam algumas iniciativas das quais participam, como
o Comitê Jovem da cooperativa Veiling Holambra. Segundo
Simone, o comitê promove discussões sobre assuntos
relacionados a novas tendências e aproxima produtores de base
daqueles mais experientes. Para Bachião, além de participar
de cooperativas, que visam democratizar a inovação, também
têm valido a pena integrar programas de pontos de empresas,
premiações e interagir com hubs do agro dispostos a promover,
junto com o produtor, o desenvolvimento das fazendas.

Painel #Produtor
Painelistas: Henrique Del Papa - Produtor e CEO na Agropecuária Sucuri
Osvaldo Bachião - Vice-Presidente da Cooxupé
Luciana Dalmagro - Fundadora da República do Jardim e Vida de Granja
Simone Lyn van Oene - Produtora da Joost Kalanchoe
Moderação: Giankleber S. Diniz - Diretor Geral da Ceva no Brasil
Roteirização: Ana Luiza Mattoso - Sênior Associate no PwC Agtech Innovation
Edição: Marina Salles e Fernanda Cavalcante, do PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 77


Cibersegurança no
agronegócio: Desafios e estratégias
para o desenvolvimento
tecnológico seguro
Por Gustavo Marin, Diretor na PwC Brasil

Na medida em que avança no universo digital, o agronegócio


colhe uma série de benefícios, mas, inevitavelmente, também
fica mais suscetível a ataques cibernéticos – o que vale para
as grandes empresas e também para startups. Rafael Cortes
e Joana Mendes, Sócios de Cibersegurança e Privacidade da
PwC Brasil, colocaram o tema em evidência durante o AgTech
Meeting, compartilhando as principais vulnerabilidades a que o
agro está exposto e também as estratégias de proteção contra
roubos de dados e outras ameaças digitais.

Segundo eles, o número de ataques cibernéticos vêm aumentando


no setor – tanto diante da sua acelerada digitalização nos últimos
anos, que acarreta no crescimento da superfície para ataque dos
criminosos, como do alto grau de intercâmbio de informações,
com o ecossistema de inovação conectado.

Dado esse cenário, na visão deles, não é mais sobre “se” as


empresas do setor serão atacadas, mas sim “quando” – o
que exige um posicionamento consciente e estratégico das
organizações, das suas lideranças e colaboradores.

Joana Mendes
e Rafael Cortes,
Sócios de Cibersegurança
e Privacidade da
PwC Brasil

Report Agtech Meeting 2023 78


Cibersegurança independentemente
do porte da companhia

No início do painel, Cortes apresentou os resultados da pesquisa


Digital Trust da PwC, de junho de 2023, que mostra um aumento
de 65% no número de vítimas de vazamentos de dados a nível
global, na comparação do primeiro semestre de 2023 com o
mesmo período de 2022.

Responsável pelos Serviços Gerenciados de Segurança (SOC)


da PwC, Cortes afirma que as empresas têm despertado, cada
vez mais, para a importância de implementar
iniciativas de proteção aos ataques
cibernéticos com o compromisso de
oferecer credibilidade e transparência
a seus stakeholders.

Segundo Joana, a preocupação


com o tema é crescente "Segurança deixou
entre startups e grandes de ser tratada como
empresas, mas em pauta de TI, mas se tornou
muitos casos chega um habilitador de novos
após a organização negócios, inclusive perante
ser vítima de os investidores."
um ataque
concreto. Joana Mendes
PwC

A origem dos ataques no Brasil


Alertando que o perigo pode estar mais perto do que se imagina,
Joana destacou que, entre os clientes da PwC no Brasil, 95% dos
ataques sofridos têm se dado a partir de identidades de usuários
internos – tendo como causa principal a falta de maturidade
e segregação de perfis de acesso a informações.

Report Agtech Meeting 2023 79


Joana ilustrou um comportamento comum entre esses usuários:
“Muitas vezes, quando adotamos uma única senha para a
empresa e as redes sociais, facilitamos a obtenção da porta de
entrada ao ataque”, diz.

Ao que Cortes acrescentou: “Após o atacante


conseguir uma credencial válida e se conectar ao
ambiente, ele faz a escalação de privilégios,
que pode levar horas ou dias, até que tenha
acesso aos dados críticos da empresa,
a chamada ‘jóia da coroa’, onde
está a inteligência do negócio, a
vantagem competitiva. Daí em "A maioria dos
diante, o atacante oculta as ataques tem como alvo
provas digitais e parte comportamentos de
para o sequestro de segurança deficientes por
dados”, descreveu. parte dos indivíduos para
obter acesso."

Rafael Cortes
PwC

Outro grupo de usuário interno que pode oferecer problemas


para a organização é aquele formado por pessoas insatisfeitas
(colaboradores ou terceiros), que vendem seus acessos na dark
web (marketplaces, ou sites, que comercializam dados obtidos de
maneira criminosa) para prejudicar o empregador e obter ganhos
financeiros – o que pode se tornar altamente crítico para o negócio.

Além desses perfis, no Brasil, os atacantes do crime organizado


também são atuantes, envolvendo profissionais com alto
conhecimento em tecnologia de software especializados
em ataques cibernéticos. Mais raros no país, há também os
hacktivistas, que promovem ataques para expôr suas causas nas
mídias, e os governos em si, que atuam no contexto de guerras
e quebras de sigilos.

Report Agtech Meeting 2023 80


Em ataques cibernéticos no Brasil, outra tática que tem sido
aplicada para infiltração em empresas é o uso de ransomware,
um tipo de malware de sequestro de dados, feito por meio de
criptografia, a que os atacantes recorrem para deixar a empresa
refém da situação e com sua operação parada. “Nesses casos,
a empresa fica parada até que uma chave seja entregue pelo
atacante para recuperação dos dados. Mas, quando a empresa
paga e o ambiente é restaurado, em alguns casos, ainda
ocorre uma segunda extorsão para o criminoso não divulgar
os dados na dark web”, destaca Cortes – que reforça não ser
recomendada a negociação pelo resgate das informações.

Ameaças e riscos para o agro


No agronegócio, um dos altos riscos, sobretudo à
cibersegurança de grandes empresas, está associado à cadeia
de suprimentos. Isto em função da conexão de parceiros,
fornecedores ou até mesmo de dispositivos à rede privada –
impondo riscos à paralisação das operações, vulnerabilidades
em IoT, quebra na colheita e problemas de logística.

Entre as startups do agro, a proteção da propriedade intelectual


tem sido um dos pontos mais sensíveis. Joana citou, mantendo
o sigilo dos casos, situações em que startups viram todo o seu
código fonte disponibilizado na internet publicamente. Em casos
assim, a perda de credibilidade pode ser irreversível, frente a
clientes, parceiros e investidores.

"Se eu tenho uma elevada


postura de segurança, mas
meu parceiro está conectando
ao meu ambiente e sua maturidade
é muito baixa, eu continuo exposto."

Joana Mendes
PwC

Report Agtech Meeting 2023 81


Outros desafios das empresas do agro, em geral, tangem a
evolução sobre cultura de riscos cibernéticos no setor; a efetiva
melhoria das capacidades analíticas de proteção de dados da
cadeia e a resiliência cibernética – que exigem a orquestração
automatizada de soluções por meio do uso e treinamento de
tecnologias de inteligência artificial.

Como se proteger?
Uma boa prática recomendada por Cortes, para empresas
de qualquer tamanho, é a elaboração de um Plano Diretor de
Segurança da Informação, que segue as cinco etapas básicas
do NIST Cybersecurity Framework: 1) identificar os ativos que
deverão ser protegidos; 2) criar uma estratégia de proteção;
3) ter mecanismos de detecção ativa 24x7 para monitoramento;
4) ter definido como responder a incidentes; 5) ter definido
como se recuperar, caso uma ameaça, de fato, se concretize.

No dia a dia, medidas de segurança que também ajudam são:


a adoção do princípio de privilégio mínimo (zero trust);
campanhas de phishing visando a conscientização dos
colaboradores sobre as ameaças ligadas aos e-mails maliciosos
e realização de testes de invasão (pentest). A longo prazo, para
aumentar o nível de proteção, a gestão de segurança cibernética
também é fundamental, com a implementação de análise
de comportamentos de segurança, controles de detecção e
capacidade de resposta automatizada.

“Um diagnóstico adequado do negócio sempre traz a clareza


de prioridades para definir por onde começar e qual caminho
percorrer, focando nos riscos”, destaca Joana, uma vez que as
empresas naturalmente têm restrições de orçamento para aplicar
todas as proteções requeridas.

Joana Mendes
Painel #Ciber
Painelistas: Joana Mendes - Sócia de Cibersegurança da PwC Brasil
PwC
Rafael Cortes - Sócio de Cibersegurança e Privacidade da PwC Brasil
Roteirização: Fernanda Cavalcante - Associate de Comunicação e Marketing do PwC Agtech Innovation
Edição: Marina Salles e José Zuliani, do PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 82


Venture Building: Edificando
negócios de sucesso do zero
Por Isadora Faria, Gerente Sênior de Novos Negócios e Inovação da PwC
Brasil, e Fernanda Cavalcante, Associate de Marketing
e Conteúdo no PwC Agtech Innovation

Na foto, da esq. para direita:


Allan Daher (PwC Agtech
Innovation), Deise DallaNora
(Varda) e Fabricio Lira
Figueiredo (CPQD)

Ainda não muito popular e difundido no Brasil, o Venture Building


(VB) é um excelente caminho para ideias inovadoras ganharem
força e superarem desafios de validação e crescimento. Diferente
de um fundo de Venture Capital (VC), o VB trabalha com um
portfólio mais restrito de startups, podendo colocar a ‘mão na
massa’ e apoiar os empreendedores na construção de suas
operações, a fim de maximizar a taxa de sucesso dos projetos.
Esse mesmo conceito também é aplicado em corporações, o
que identificamos como Corporate Venture Building (CVB), e tem
como objetivo construir novos negócios dentro das empresas.

“Enquanto o VC trabalha hoje com um benchmark de 10% a 15%


de taxa de sucesso, o VB almeja alcançar uma taxa de sucesso
mais elevada, entre 50% a 60%”, diz Fabricio Lira Figueiredo,
Líder do Ventures CPQD, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
em Telecomunicações com sede em Campinas (SP).

Report Agtech Meeting 2023 83


O Venture Building pode ser considerado um
processo de amadurecimento natural da
estratégia de inovação aberta de uma
corporação, tendo total alinhamento com
o direcionamento e planos de futuro
do negócio. De modo geral, os VBs
são ligados ao core business da
empresa, ou adjacentes a ele, o "A principal vantagem
que ajuda a garantir que as da Venture Builder é
iniciativas que venham a aumentar a taxa de sucesso
ser criadas atendam às dos empreendimentos
dores da corporação. com as startups."

Fabricio Figueiredo
Ventures CPQD

Durante o AgTech Meeting, os cases da Varda (startup criada


dentro da Yara International) e do Venture CPQD (que já trabalha
com 18 startups em seu portfólio e pretende expandir para 40
até 2025) geraram insights sobre o modelo, elencados abaixo:

Case CPQD
Há 47 anos, o CPQD investe em inovação e, antes mesmo de o
termo “spin-offs” se popularizar no Brasil, a companhia formou
duas “startups” nos anos 1990, independentes de sua empresa
mãe. A Padtec (de desenvolvimento, fabricação e comercialização
de sistemas de comunicações ópticas) hoje atende clientes na
América do Sul, América Central, Europa e Ásia. Enquanto a
Joana Mendes
Trópico (dedicada ao desenvolvimento, fabricação e distribuição
PwC
de equipamentos de telecomunicações) detém cerca de 20% da
planta digital instalada no Brasil e atua também nos EUA.

Report Agtech Meeting 2023 84


Com um portfólio de startups crescente, dada a maturidade
alcançada nos últimos cinco anos, o CPQD decidiu ampliar seu
modelo de criação de novos negócios. Assim, nasceu o Venture
CPQD – um laboratório para validar propostas de valor de
novas startups. “No CPQD, a VB envolve a construção conjunta
do negócio, desde a ideação até o crescimento. Uma jornada
completa, começando muitas vezes na etapa pré-operacional,
junto a pesquisadores universitários e colaboradores internos”,
diz Figueiredo.

Case Yara
Ao analisar as demandas do mercado agrícola, a Yara, por
sua vez, decidiu focar numa primeira solução, oferecida pela
startup Varda – o Global Feed ID, que funciona como se fosse
um CEP de cada talhão ao redor do globo e facilita o
compartilhamento de dados entre os diferentes atores da
cadeia de produção agrícola.

Diante da complexidade percebida no desenvolvimento


interno, a opção foi por criar uma Venture Builder, tornando
a startup uma unidade independente da Yara. A estratégia
deu autonomia para provas de conceito, ao mesmo tempo
que trouxe a garantia de governança, processos bem
estabelecidos, recursos financeiros e expertise da empresa-mãe.
“Com a VB, conseguimos otimizar nossos contratos, tornando
os processos mais rápidos, e ainda usufruir de toda a
infraestrutura tecnológica e do capital intelectual que a Yara
tem”, afirma Deise DallaNora, Líder Latam da Varda. Hoje, a
startup atende, além da Yara, uma série de outras empresas
do ecossistema de inovação do agro.

Report Agtech Meeting 2023 85


Benefícios das Venture Builders
Na visão dos painelistas, o contexto de problemas complexos
do agronegócio demanda uma cooperação cada vez maior de
todos os agentes da cadeia produtiva, e as Venture Builders são
uma ótima ferramenta para permitir que a inovação flua e gere
o impacto desejado. O Venture Building atende essa demanda,
uma vez que novas soluções podem ser construídas usando
a infraestrutura de grandes organizações e, ainda assim, fazer
parte de um projeto independente.

Além disso, as startups que nascem dentro da VBs têm a


prerrogativa de preservar a cultura do trabalho ágil, ficando
menos sujeitas a engessamentos e burocratização de processos,
tanto para criar como para oferecer suas novas soluções ao
longo da cadeia.

Painel #VentureBuilding
Painelistas: Deise DallaNora - Líder Latam da Varda
Fabricio Lira Figueiredo - Líder do Ventures CPQD
Moderação, roteirização e edição: Allan Daher - Gestor de comunidade no PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 86


Economia Tokenizada
e as oportunidades para o agro
Por Fabio Pereira, Diretor de Agribusiness na PwC Brasil,
e Marina Salles, Editora-Chefe de Conteúdo
do PwC Agtech Innovation

Quando se fala do futuro das transações digitais no agronegócio,


um assunto que não pode ficar de fora é a tokenização de ativos.
Tokenizar um ativo nada mais é do que representá-lo de modo
digital, no todo ou em partes. Neste painel do Agtech Meeting,
o assunto foi debatido por representantes do setor financeiro e
especialistas em transformação digital do Sicredi, Agrotoken e
PwC Agtech Innovation, em torno das oportunidades e desafios
que se apresentam no Brasil, com tokens (ativos digitais) dos mais
variados e a promessa do DREX (versão virtual do real brasileiro).

Na foto, da esq.
para direita: Allan Patrick
(PwC Agtech Innovation),
Solange Parisoto (Sicredi),
Anderson Nacaxe
(Agrotoken) e Luis Veit
(Sicredi)

Report Agtech Meeting 2023 87


Pix e DREX

Diferente do Pix (que pode ser entendido como um tipo de


transação, só que instantânea e 100% digital – o que não
acontecia com o TED ou DOC), o DREX é uma moeda ou
“dinheiro digital”, que deve vir para otimizar ainda mais o sistema
financeiro no Brasil. Apesar de ainda não estar em operação,
essa nova moeda, que será regulada pelo Banco Central, já
inspira uma série de possibilidades no agronegócio.

Segundo Solange Parisoto, Consultora Digital no Sicredi,


o DREX pode ser uma solução interessante, por exemplo,
para dividir ativos dados em garantia de empréstimos,
o que se aplica às propriedades rurais – representando uma
abordagem inovadora para transações e contratos na
indústria agropecuária.

Na visão de Anderson Nacaxe, Diretor da startup Agrotoken


Brasil, o DREX também pode ser uma ferramenta interessante
para firmar contratos dos mais simples aos mais complexos
no agro. Alguns exemplos são: a compra de artigos pessoais
na cidade ou até mesmo o estabelecimento de travas no
mercado futuro de grãos, para troca de insumos pela produção
(em operações de barter).

Na visão de Nacaxe, a chegada do DREX permitirá a integração


entre as representações digitais (tokens) e o dinheiro usual de
forma simplificada, com diversos benefícios para o mercado
agro. “Os tokens digitais representam ativos financeiros e
requerem criptografia avançada para garantir que sejam únicos,
transferíveis, divisíveis e seguros. Assim, a economia tokenizada
pode operar nos mundos on e offline, digitalizando transações
para muitas aplicações”, diz.

Report Agtech Meeting 2023 88


Economia tokenizada:
um celeiro de oportunidades

Segundo os painelistas, o ambiente digital e os tokens já têm


trazido maior conexão entre os participantes do ecossistema
agro do campo à mesa do consumidor, levado a negociações
mais estruturadas e gerado oportunidades – como a facilitação
de empréstimos consignáveis e uma maior rastreabilidade em
toda a cadeia de valor.
Com um sistema cada vez mais integrado, a visão é de que
será possível monitorar devidamente toda a produção agrícola,
além de verificar se as operações atendem aos critérios de
sustentabilidade dos compradores, com o acompanhamento dos
registros fundiários, das condições de trabalho e outros aspectos
relacionados à agenda ESG.

"Quando eu junto as pontas


da cadeia em um ambiente
regulado, é que a gente evolui."

Anderson Nacaxe
Agrotoken

Report Agtech Meeting 2023 89


Do ponto de vista da economia no setor agrícola, é factível
pensar ainda na ampliação do acesso a crédito. Já que, de um
lado, há produtores que têm dificuldades para obter linhas de
custeio e financiamento com taxas de juros mais acessíveis.
Enquanto, de outro, as instituições financeiras têm seus
obstáculos para captar esses recursos. Com a democratização
dos tokens, existe um potencial ainda pouco explorado de atrair
investimentos de novos bolsos para o setor.

De acordo com Luis Veit, Líder de Agronegócios no Sicredi, para


democratizar a tokenização, contudo, é essencial aumentar a
regulação governamental e promover a colaboração de diversos
elos da cadeia, visando a redução de custos e burocracias para
o setor do agronegócio.

Painel #MoedasDigitais
Painelistas: Solange Parisoto - Consultora Digital no Sicredi
Luis Veit - Líder de Agronegócios no Sicredi
Anderson Nacaxe - Diretor da Agrotoken Brasil
Moderação e roteirização: Allan Patrick - Gestor de comunidade no PwC Agtech Innovation
Edição: Marina Salles - Editora-Chefe de Conteúdo do PwC Agtech Innovation

Report Agtech Meeting 2023 90


Como a pressão por resultados
tem afetado a saúde mental
da comunidade empreendedora?
Por Thais Manoel, Associate Agribusiness da PwC,
e José Luiz Zuliani, Associate Comunicação
e Marketing PwC Agtech Innovation

O descuido com a
saúde mental dos
empreendedores
pode afetar sua
empresa, seu
time, família e sua
própria jornada.

Um tema crucial (e muitas vezes negligenciado) também


foi assunto do AgTech Meeting 2023: a saúde mental dos
empreendedores. Fechando o segundo dia de atividades do
palco Tecnologia, o painel debateu os impactos do estresse,
da solidão e do isolamento social na vida de quem empreende.

Report Agtech Meeting 2023 91


O impacto do estresse
nos empreendedores

Vários estudos apontam que os empreendedores estão mais


suscetíveis do que a média da população ao enfrentamento
de problemas relacionados à saúde mental. Durante a pandemia
de covid-19, em junho de 2020, o Departamento de Psicologia
da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas
Gerais, em parceria com a aceleradora Troposlab, registraram
uma prevalência de 20% de sintomas médios e severos de
sofrimento psicológico numa amostra de 653 empreendedores
de todo o Brasil.

Entre as mulheres, os sintomas foram mais intensos no que tange


ao estresse, ansiedade e depressão. Os resultados também
indicaram que, quanto mais os empreendedores percebem um
ambiente como incerto, mais intenso é seu sofrimento psicológico.
Já quanto mais estratégias pessoais eles têm para lidar com os
desafios, menos intensos são os efeitos na saúde mental.

Os dados, apresentados durante o painel, provocaram


uma discussão sobre como o estresse relacionado ao
empreendedorismo afeta a saúde mental e o bem-estar dos
empreendedores e de que forma é possível prevenir e controlar
esses transtornos. Marina Mendonça, Diretora de Operações
da Troposlab, destacou que a pandemia desempenhou papel
significativo nesse cenário, mas que não é a única responsável
pelo quadro preocupante no universo da inovação.

A incerteza inerente ao empreendedorismo, mesmo em


tempos “normais”, já contribui, e muito, para o estresse dos
profissionais. José Damico, CEO e Co-fundador da SciCrop,
trouxe a visão de que o isolamento social e a solidão acabaram,
na verdade, apenas agravando um problema que sempre existiu.
"Os empreendedores muitas vezes se sentem isolados em seu
mundo de responsabilidades múltiplas. E é compartilhando
experiências e preocupações, que criamos conexões e relações
que nos fortalecem".

Report Agtech Meeting 2023 92


Os sinais (e a prevenção) do burnout

A discussão sobre saúde mental levou


à exploração dos sinais de esgotamento mental
(burnout) e como preveni-los. Franciele
Reis, Gerente de Relações Humanas da
Bem Brasil, enfatizou a importância de
reconhecer o estresse positivo, que
pode aumentar a produtividade.
No entanto, quando o estresse
começa a afetar a qualidade
do sono, a produtividade "O fator n° 1, a chave
e a saúde emocional, é de uma vida saudável
hora de pedir ajuda. e feliz, é a qualidade
dos relacionamentos
que cultivamos."

Franciele Reis
Bem Brasil

Marina explicou que o burnout se manifesta com o desgaste


físico e emocional, despersonalização em relação ao trabalho
e, por fim, em comportamentos contraproducentes. Damico
destacou que a prevenção do esgotamento envolve o
amadurecimento emocional e a conexão com o propósito do
trabalho. É crucial que os empreendedores conversem entre
si e busquem ajuda profissional, se necessário.

Report Agtech Meeting 2023 93


"As estatísticas provam que o estresse mental
é comum nos empreendedores. Cabe a nós
falar mais sobre esse assunto, para encontrar
pares que passaram por isso, lidarmos
melhor e aprendermos a pedir ajuda."

José Damico
SciCrop

Conscientização e educação sobre saúde mental


A conscientização e a educação em saúde mental desempenham
um papel vital na prevenção de transtornos psicológicos entre os
empreendedores. O debate ressaltou que a cultura das startups
e empresas em crescimento também pode impactar a saúde
mental dos fundadores — e também de seus colaboradores
—, e que promover a construção de um ambiente em que
os profissionais se sintam à vontade, para expressar suas
preocupações e procurar ajuda, é fundamental.
Daí a importância de o assunto ser tratado
de forma proativa para proteger as
pessoas que empreendem e seus
times. Criar ambientes de apoio e
promover a empatia é a chave
para que ninguém se sinta
"Está na hora de
sozinho em sua jornada.
ressignificar a forma de
nos perceber no mundo:
Painel #SaúdeMental somos únicos e temos
Painelistas: Marina Mendonça -
Diretora de Operações da Troposlab
vivências próprias. Não há
Franciele Reis - Gerente de Relações
Humanas da Bem Brasil
nada mais corajoso do que
José Damico - CEO e Co-fundador da SciCrop o autocuidado."
Moderadora: Mainan Zuchinali - Líder de
Pessoas e Cultura do PwC Agtech Innovation
Roteirização: Mainan Zuchinali
e Raquel Martins do PwC Agtech Innovation
Marina Mendonça
Edição: José Luiz Zuliani - Associate
Comunicação e Marketing PwC Agtech Innovation
TroposLab

Report Agtech Meeting 2023 94


Palco
Ecossistema

Report Agtech Meeting 2023 95


No auditório do PwC Agtech Innovation, colocamos nossos
convidados frente a frente com quem ajuda a promover a
transformação e o pensamento crítico no agro. De IA à produção
orientada a dados, de cibersegurança ao capitalismo consciente.
Esse palco foi o lugar dos nossos bate-papos intimistas!

Pitch de startup com a casa cheia.


Auditório do PwC Agtech Innovation,
Palco Ecossistema.

Roda de conversa
“#MulheresQueInovamOAgro -
Experiências compartilhadas”. Interagindo
com o público, Ana Claudia Plihal (LinkedIn).

Na posição de mestre de cerimônias


do Palco Ecossistema, Aline Amorim
(PwC Agtech Innovation).

Roda de conversa “Cibersegurança


no agronegócio: Desafios e estratégias
para o desenvolvimento tecnológico seguro.
Na moderação, Fernanda Cavalcante
(PwC Agtech Innovation).

Report Agtech Meeting 2023 96


Roda de conversa “Produtor no centro -
Agropecuária Sucuri em foco”. Na foto,
participantes da roda.

Na “Roda de conversa: IA - Case


Traive”, Aline Pezente conta a história
de sucesso da sua startup.

Fazendo networking, Flávio Bonini


(Mosaic Fertilizantes), na Roda de
conversa “ESG - Um case sobre
meio-ambiente”.

Roda de conversa “Capitalismo


Consciente - Adotando ações na prática”.
No centro do debate, Leonardo Lima
(Consultoria Dreams and Purpose).

Report Agtech Meeting 2023 97


O Capitalismo Consciente,
pelo olhar da nossa comunidade
Por Bruno Galvão, Especialista em Transformação Digital
da CerradinhoBio

Ao longo das últimas páginas, você, leitor, já deve ter


percebido que o AgTech Meeting não foi um evento apenas
sobre tecnologia, mas sobre inovação. Como membro do
ecossistema, que trabalha em uma corporação do setor, eu
costumo dizer que tecnologia é o meio, mas não o fim. A inovação
está pautada nas pessoas, nas necessidades dos stakeholders, e
vai muito além de automatizar processos, utilizar IA nos negócios,
mecanizar a produção. O que o evento trouxe, na minha visão,
foi uma reflexão 360° sobre os pilares fundamentais para que a
inovação no agro continue a se fortalecer.

Bruno Galvão
(CerradinhoBio) durante
a Roda de conversa
“Capitalismo Consciente -
Adotando ações
na prática”.

Report Agtech Meeting 2023 98


Leonardo Lima
(Dreams and
Purpose)

A necessidade do mundo de hoje não passa só pelos


produtos que são fruto da cadeia do setor, mas pela origem
de cada um deles. Existe uma demanda cada vez mais latente
por sustentabilidade, diversidade, inclusão e uma gestão
de pessoas mais humanizada. Mas de nada adianta ter esse
norte se não despertarmos para o consumo consciente
e para o capitalismo consciente. Esses temas têm tudo a ver
com inovação e tenho certeza que, não por acaso, estiveram
no centro das discussões do último painel e da última roda
de conversa do AgTech Meeting.

Não se faz inovação se não pensarmos na necessidade de


reduzir o consumo, o uso de insumos, se não respeitarmos
o meio à nossa volta. O evento conseguiu abordar todos
esses pontos e mostrar a importância que o setor tem para
o desenvolvimento mundial. Se não tivermos a capacidade de
gerar produtos de maneira sustentável (e para todos), nosso
negócio estará com os dias contados.

Não existe uma receita mágica para inovar, cada empresa e cada
setor caminha de uma forma, mas, na minha opinião, existe sim
uma espinha dorsal que todos devem seguir para que a inovação
se torne realidade. Foram essas reflexões que o evento nos
trouxe: não basta apenas investir em tecnologia, mas é também
preciso investir em cultura, em pessoas.

Report Agtech Meeting 2023 99


Ponto de inflexão

Dentre os diferentes assuntos abordados, um deles, em especial,


me trouxe reflexões para a esfera profissional, mas também
para a vida. Foi a discussão sobre capitalismo consciente,
que é uma abordagem que se concentra não apenas na busca
do lucro, mas também em promover um impacto positivo na
sociedade e no meio ambiente. Isso envolve considerações
éticas, responsabilidade social e sustentabilidade, além de uma
abordagem mais holística para os negócios. O objetivo é criar
valor não apenas financeiro, mas também social e ambiental.

Na roda de conversa com o palestrante Leonardo Lima, CEO


da Dreams and Purpose Consulting, discutimos essa questão
a fundo, começando pelo nosso sistema de ensino. Nós temos
um modelo de educação industrial, no qual as pessoas são
ensinadas a serem as melhores, a tirar as melhores notas, a
ter o melhor desempenho para conseguirem a aprovação no
vestibular. Ensinamos nossas crianças a consumirem mais e mais
e viver sempre pela necessidade de ter, e não de ser quem são.
Como vamos querer que essas crianças pensem de maneira
colaborativa, sustentável, consciente – se desde pequenas elas
são ensinadas de outra forma?

Roda de conversa
Capitalismo
Consciente -
“Adotando ações
na prática”

Report Agtech Meeting 2023 100


A industrialização criou um modelo em que apenas os melhores
têm oportunidades, colocamos as pessoas em um funil e só quem
chega do outro lado são aqueles com mais estudo, os que falam
duas, três línguas diferentes, os que fizeram intercâmbio etc. E
os que não tiveram oportunidade para tudo isso? Desprezamos?
Só vamos entender a necessidade das pessoas quando, ao
menos, entendermos a realidade delas, e eu acredito que é
responsabilidade das empresas gerar oportunidades para os que
não tiveram todos esses benefícios. Seja por meio de programas
de contratação afirmativos, seja incentivando a educação, é
possível contribuir para a formação de profissionais qualificados.

Ao terminar a palestra, uma funcionária do evento me abordou


com os olhos marejados e me questionou: “Você tem algum
conselho para que eu possa criar o meu filho? Porque eu
concordo com o que você falou”. Ainda não tenho filhos, e
imagino a dificuldade que deve ser educar uma criança nos dias
de hoje, ensinar que ele/ ela não precisa viver em uma eterna
competição para ser o melhor, para ser o primeiro. Imagina então
ensinar a dividir, a ser sustentável, ensinar a importância dele/
dela para o mundo, e que o seu consumo desenfreado pode ter
impactos irreversíveis no futuro. Mas falei para ela que, talvez,
valha tratar desses assuntos em conversas dentro de casa e,
acima de tudo, respeitar os limites do filho dela. Acredito que esse
seja o melhor caminho para o ganho de consciência de cada um
de nós sobre o papel que temos no mundo e para com os outros.

Essa roda de discussão com o Leonardo me trouxe a visão de


que para mudar o mundo você precisa estar indignado/a, reflexão
que fica para a minha vida. E digo mais: os dias 4 e 5 de outubro
vão ficar marcados na minha memória, não só pela participação
em mais um evento de inovação, mas pela participação em um
evento de inovação que trouxe reflexões para o desenvolvimento
mundial, e do agronegócio nesse contexto. Faço minhas as
palavras do Léo no encerramento da roda: foi um presente poder
participar deste evento e ter discussões tão relevantes que, sem
dúvida, vão me tornar uma pessoa melhor. Obrigado!

Report Agtech Meeting 2023 101


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