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A RELIGIOSIDADE NOS AFASTA DE DEUS!

Presbítero Marcos Soares da Silva.

Tema: religiosidade

Texto Básico: Mateus1 12:1-8

Introdução:

Mateus era um publicano, cobrador de impostos que se tornou discípulo de


Jesus. Alguns estudiosos datam o evangelho escrito por Mateus da década de 50,
do primeiro século. Ao contrário de Marcos e Lucas, que escrevem principalmente
para gentios, Mateus escreve para um público predominantemente judaico,
apresenta Jesus como o Messias esperado pela nação judaica e utiliza-se de vários
textos do Antigo Testamento para demonstrar isto, bem como esclarecer as
verdades ensinadas por Jesus.
O texto lido trata de uma questão religiosa em relação a um importante rito
judaico, a guarda do Sábado, nome que vem do hebraico e significa descanso. De
forma bem resumida e despretensiosa poderíamos definir o Sábado para os judeus,
como um dia reservado para o descanso e adoração a Deus. Um pouco antes
Mateus registra um chamado de Jesus, muito conhecido:

Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos


aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso
e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o
meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. (Mateus 11:28-30)

Portanto estes versículos que lemos ainda estão tratando da mesma


questão, pessoas cansadas, sobrecarregadas, que precisam de descanso, de
refrigério, oprimidas por uma religiosidade distante de Deus, uma religiosidade de
aparência, que traz sobre as pessoas um fardo pesado do qual Jesus quer nos
aliviar. Basta que nos aproximemos dele. Que ele seja nosso Senhor.

Ilustração:

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Todas as citações do texto Bíblico são da edição Almeida Revista e Atualizada, salvo indicação
contrária.
Nós tínhamos um grupo de teatro em nossa igreja e, em dos cultos que
tratava sobre evangelismo, combinamos que um dos integrantes se passaria por um
mendigo bêbado e entraria na igreja. Somente algumas poucas pessoas envolvidas
sabiam disso. Durante o culto então entra o mendigo. A certa altura ele começa a
resmungar algo e chamar a atenção do público. Um irmão, incomodado porque
nenhum diácono tomou atitude, levantou-se do seu lugar foi até o mendigo
esbravejando e o arrastou para a fora da igreja de forma, digamos, não muito
amável. Ele estava tão transtornado que tivemos que intervir dizendo quem era o
mendigo e ele, mesmo assim, continuava a esbravejar, até que se deu conta que era
um teatro. Ele foi o único que tomou esta atitude, mas muito provavelmente, não era
o único que queria fazê-lo. A liturgia do culto era mais importante que aquele
mendigo bêbado, então era necessário simplesmente retirá-lo, pois não sabia se
portar em local sagrado, não era digno de estar ali.

1. A religiosidade nos afasta de Deus e nos impede de suprir necessidades -


(Mateus 12:1, 3-4):

Andando com Jesus nossas necessidades e as necessidades daqueles que


estão conosco são supridas naturalmente. Deus não nos priva, por seus
mandamentos, que obtenhamos aquilo que realmente precisamos.
No versículo primeiro, Mateus faz questão de enfatizar que os discípulos
estavam com fome, portanto o que estavam fazendo era comendo. Não estavam
colhendo para vender, estocar ou algo parecido, isso era realmente proibido pela lei,
mas eles estavam simplesmente comendo para matar a fome. Segundo a própria lei,
era permitido colher espigas ou uvas no campo de outra pessoa para matar a fome
(Deuteronômio 23:25) e não era proibido comer no Sábado. Mas a religiosidade dos
fariseus os impedia de enxergar este ato como natural.
Nos versículos três e quatro Jesus está se referindo a I Samuel 21:1-6,
quando o Sacerdote Aimeleque alimentou a Davi e os seus com um pão que pelas
leis cerimoniais somente os sacerdotes deveriam comer, no entanto Aimeleque
entendeu que sua obrigação espiritual de preservar a vida e suprir necessidades era
superior. Consigo ver um tom de ironia neste texto, pois Jesus falava aos
considerados peritos no estudo das escrituras. Mateus não traz esta ironia de forma
explícita, mas ela fica mais evidente quando comparamos com o que escreveu
Marcos e Lucas, sobre o mesmo episódio. Segundo Mateus, Jesus pergunta: “não
lestes”, mas segundo Marcos e Lucas a expressão é: “nunca lestes” ou dependendo
da tradução, “nem ao menos lestes”. Jesus sabia que eles tinham lido, mas indaga
ironicamente denunciando a religiosidade deles.
Muitas vezes agimos da mesma forma, privando as pessoas, ou nos
privando da graça de Deus, não nos permitindo usufruir daquilo que o Senhor nosso
Deus tem nos dado. Lemos a Bíblia, se é que lemos, mas não procuramos analisar o
que ela está dizendo, só queremos que ela diga o que consideramos certo.
Instituímos duras regras que nem mesmo nós conseguimos cumprir. Mas Deus no
chama para suprir necessidades e se alegrar quando elas estão sendo supridas
dentro da vontade de Deus. Deus nos chama a abençoar as pessoas, servir a elas
segundo Sua infinita bondade.

2. A religiosidade nos afasta de Deus e nos impede de ministrar sob sua


vontade - (Mateus 12:5):

No versículo cinco Mateus registra uma questão que não aparece nos
evangelhos de Marcos e Lucas. A inclusão deste versículo relaciona-se diretamente
com o público para o qual Mateus escreve. Ele chama atenção para o fato bem
conhecido dos judeus. Os sacerdotes exerciam seu trabalho aos Sábados, ou seja,
a proibição imposta tinha uma exceção — ministrar às pessoas.
A partir do deste texto e da primeira carta de Pedro, podemos inferir que
ministrar às pessoas é uma necessidade de todo cristão. Pedro clarifica esta
questão quando diz: “[...] vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa
espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.” (1 Pedro 2:5) e complementa:
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade
exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz”. (1Pedro 2:9). Então não se deixe impedir pela
religiosidade, mas exerça seu ministério, sirva as pessoas a sua volta. Olhe para
elas como Cristo olharia, com compaixão. A Bíblia nos diz, em Hebreus 4:15 que
temos um sumo sacerdote que se compadece de nossas fraquezas, Jesus. Assim
devemos também se compadecer das pessoas em suas fraquezas, não com olhar
de acusação, mas ajudá-las a chegar ao trono da graça de Deus para que elas
possam alcançar misericórdia.
3. A religiosidade nos afasta de Deus e nos impede de exercer misericórdia -
(Mateus 12:2,7):

Os fariseus se portavam como homens santos, religiosos, mas sua religião


era mero cumprimento de ritos, longe do Deus da religião que professavam e até
mesmo de Sua Palavra e por isso se tornaram acusadores implacáveis. Embora se
considerassem mestres entendimento das Escrituras, faziam questão de esquecer
as advertências dos profetas Jesus sabia disso, já os havia advertido sobre isso e
quando o acusaram de comer com pecadores no capítulo nove de Mateus (9:12) e
agora repete a mesma repreensão no versículo sete. “Misericórdia quero e não
holocaustos” é uma citação de Oséias 6:6 que diz: “Pois misericórdia quero, e não
sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos.” Um pouco antes
Oséias proclama, “conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Oséias
6:3).
Na mesma linha de Isaías diz: “[...] este povo se aproxima de mim e com a
sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o
seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que
maquinalmente aprendeu” (Isaías 29:13) e de Miquéias seis: Como me apresentarei
diante de Deus, com mil holocaustos? O que ele pede de nós é que sejamos justos,
misericordiosos e humildes.
Muitas vezes agimos como os fariseus, acusadores, sem misericórdia,
esperamos o fracasso do próximo para acusá-lo, isto quando não acusamos até
mesmo antes de fracassar, acusamos inocentes, agimos como se disséssemos: “Se
eles não santos como nós, não têm direito a compaixão. Pecadores!” Mas Jesus
continua dizendo: eu vim para os doentes (Mateus 9:12) no entanto, se não
estivermos perto de Deus, como poderemos ouvi-lo?
Não podemos nos esconder atrás da nossa falsa santidade para acusar os
outros, agir com indiferença. Precisamos abandonar a religiosidade e exercer
misericórdia para com os necessitados e auxiliá-los a trilhar o caminho da vida, não
sendo assim, deixamos de ser servos de Deus e nos tornamos servos da nossa
religiosidade, ela para ser o novo alvo das nossas vidas, nossa satisfação.

4. A religiosidade nos afasta de Deus e nos impede de reconhecer o Senhorio


de Cristo - (Mateus 12:6,8):
Nestes versículos Jesus faz menção de duas coisas importantes para os
Judeus, o Templo e o Sábado que, embora fossem realmente sagrados, não eram
superiores a tudo, muito menos a Deus e sua Palavra. Analisando Jeremias sete
podemos perceber a mentalidade deles em relação ao templo, por exemplo,
acreditavam que Deus não deixaria que o templo fosse destruído, mas desde lá
Deus já advertia que a confiança deles não deveria estar no templo e que deveriam
agir com justiça. A mentalidade ainda era a mesma na época de Jesus.
Os fariseus deste texto não reconheciam Jesus como filho de Deus, porque
eles estavam longe de Deus, confiavam em coisas feitas por mãos humanas e em
suas capacidades de cumprir, segundo eles, corretamente a lei. As escrituras
testificavam de Jesus, mas eles não queriam ver. As pessoas testificavam de Jesus,
mas eles não queriam ouvir. Eles tinham criado outro deus e manipulavam as
Escrituras para que seu deus não fosse destronado. Por isso começaram a
maquinar para matar Jesus. Ele ameaçava o deus deles.
Quantas vezes nós mesmos agimos desta forma, mais preocupados com o
rito, preocupados com o templo do que em cumprir a ordem de Jesus. Vão!
Ensinem! Amparem! Curem! Façam discípulos! Anunciem o Reino de Deus! Mas
queremos o implantar o nosso reino e ainda utilizamos versículos bíblicos para
justificar nossa posição. Não queremos mais ser servos de Deus. Ser servo não é
digno, fazer discípulos exige muito, o discípulo vai descobrir que não sou santo, não
sou perfeito. Então nos postamos acima de todos, e inventamos um deus que nos
sirva, um deus que nos satisfaça, que massageie nosso ego, que exalte nossa falsa
santidade, nossa religiosidade.
No entanto precisamos entender que se nem Deus pode mexer no nosso
“sábado”, se ele não pode limpar nosso “templo”, ele não é nosso Deus. Servimos a
outro. Pois quando colocamos qualquer outra coisa no lugar de Deus em nossas
vidas, não passamos de idólatras. Mas Deus, em sua infinita bondade e
misericórdia, continua os chamando a Ele. Ele quer que nos aproximemos dele. Ele
ainda quer ser nosso Deus e que sejamos seu povo.

Conclusão:

Deus nos chama ao arrependimento, nos chama para aceitar o Cristo, a


Palavra do Cristo e a adoração ao Cristo. Não devemos nos prender a religiosidade,
deixar que ela nos escravize. O Novo Testamento institui uma nova maneira de
adoração, não é o lugar, não é o dia, é em Espírito e em verdade, conforme João
4:23. Isso é libertador, você é o templo e o sacerdote, todos os dias são
consagrados. Não há mais impedimentos não há mais véu. Que nos aproximemos
de Deus e de sua Palavra com humildade, buscando aprender com ela e não
adaptá-la a nós. Assim poderemos nos alimentar e alimentar as pessoas,
poderemos ministrar a elas, poderemos exercer misericórdia sem acusações e
poderemos levá-las a Deus, o verdadeiro, aquele que continua dizendo, vinde a mim
os cansados e sobrecarregados. A religiosidade nos afasta de Deus e nos escraviza,
mas como escrito em João 8:36, Se o Filho nos libertar verdadeiramente seremos
livres!

Bibliografia:

Bíblia de Estudo MacArthur. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição


Revista e Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), 2010.

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