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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

Estudo de caso de Vasos de Pressão


Comparação de uma liga de alumínio e material compósito

Disciplina: Projeto com Novos Materiais - Turma B

Aluno: Marcelo Antonio Zanovelli RA:595977 Nº14

Docente: Prof. Dr. Rodrigo Bresciani Canto

São Carlos – SP
Fevereiro / 2024
Sumário

1. Introdução...................................................................................................... 2
2. Revisão bibliográfica.....................................................................................3
3. Estudos de caso............................................................................................ 7
3.1. Estudo de caso EC1................................................................................8
3.2. Estudo de caso EC2................................................................................8
4. Resultados e discussões.............................................................................. 9
5. Conclusão.....................................................................................................12
Referências.......................................................................................................13

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1. Introdução

Vasos de pressão são reservatórios fechados projetados com formatos e


tamanhos variados, para armazenar fluidos gasosos, líquidos ou mistura
destes, a uma pressão diferente da pressão ambiente. Possuem aplicação
típica em torres de destilação, tanques domésticos de água quente, vasos de
reatores nucleares, reservatórios pneumáticos, vasos de armazenagem de
gases liquefeitos, autoclaves, vasos de polos petroquímicos, interiores de
submarinos e espaçonaves segundo Taniguchi (2008).
Cristiani (2021), aborda que devido a ampla aplicação com pressões
elevadas, gerando de risco à vida, a Norma Regulamentadora n.º 13 (NR-13),
tem como objetivo estabelecer requisitos mínimos para a gestão da integridade
estrutural de vasos de pressão, caldeiras e outras estruturas ligadas a estes,
priorizando a segurança e saúde dos trabalhadores, nos aspectos de inspeção,
operação, instalação dos equipamentos e manutenção. A norma ainda
determina que o empregador é responsável pelo cumprimento das medidas
determinadas, tanto quanto o proprietário dos equipamentos.
Portanto, um projeto de vaso de pressão visa garantir a segurança
contra falhas no material durante toda a vida útil do vaso de pressão.

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2. Revisão bibliográfica

De acordo com Leite (2006), o oxigênio representa 46,6% do peso na


crosta terrestre, sendo encontrado na sua forma biatômica naturalmente na
atmosfera. Tem como características químicas não ser inflamável, não tóxico,
oxidante, não corrosivo e acelerador de combustão.
Devido a essas características o material mais comum para transporte e
armazenamento é o aço inoxidável que apresenta resistência à corrosão e
possui boa durabilidade. Uma alternativa de material, é o uso do Alumínio
6061-T6 com tratamento térmico adequado. A forma construtiva mais comum
de um vaso de pressão sem reforço de fibra é de um cilindro, sem costura ou
emenda, obtidos a partir de um processo de fabricação de blanques circulares
após varias etapas de repuxo profundo, sendo o pescoço do cilindro feito por
conformação mecânica circular (TANIGUCHI, 2008).

Figura 1: Confecção de um cilindro sem custura.

Fonte: Taniguchi, 2008.

Para um projeto de vasos de pressão no formato cilíndrico de parede


fina, ou seja, espessura da parede (𝑡) menor que 10 vezes o raio interno (𝑟) do
cilindro, nessas condições, as tensões podem ser consideradas uniformes ao
longo de toda a espessura do cilindro e tratado como um problema estado
plano. Tem como tensões principais atuantes as tensões normais σ1 e σ2,

representadas respectivamente como tensão circunferencial e longitudinal


(Beer, 2011).

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Figura 2: Tensões principais na parede de um cilindro.

Fonte: BEER, 2011.

Segundo Beer (2011), na figura 3, a tensão circunferencial pode ser


expressa em função da pressão manométrica (𝑝) do fluido, a diferença de
pressão interna e externa exerce uma força nas paredes do cilindro. Essa força
resultante é igual o produto da pressão 𝑝 e da área 2𝑟∆𝑥, enquanto a força
internas na parede podem ser expressas pelo produto tensão circunferencial σ1

e da área de seção transversal da parede 2𝑡∆𝑥.

Figura 3: Tensão circunferencial σ1 na parede de um cilindro.

Fonte: BEER, 2011.

Pela equação de equilíbrio das forças em 𝑧, conclui-se que a tensão


circunferencial σ1 pode ser encontrada por:

4
𝑝𝑟
σ1 = 𝑡
(1)

Na figura 4, assim como na tensão circunferencial, Beer (2011) mostra


que as forças internas na parede ao longo da direção longitudinal é resultante
do produto da tensão longitudinal σ2 pela área 𝑑𝐴 que pode ser expressa como

2π𝑟𝑡. A força resultante da pressão 𝑝 pode ser determinada pelo produto de 𝑝


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pela área 𝑑𝐴 expressa como π𝑟 .

Figura 4: Tensão longitudinal σ2 na parede de um cilindro.

Fonte: BEER, 2011.

Pela equação de equilíbrio das forças em 𝑥, conclui-se que a tensão


longitudinal σ2 pode ser encontrada por:

𝑝𝑟
σ2 = 2𝑡
(2)

Como a liga de alumínio a ser estudada é um metal dúctil e possui


característica isotrópica, Taniguchi (2008) aponta a teoria da energia de
distorção, ou critério de resistência de von Mises como um critério apropriado
para um projeto de vasos de pressão de paredes finas. A equação da tensão
de von Mises (σ𝑣𝑚) com as tensões principais é representada por:

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2 2 2
(σ1−σ2) +(σ2−σ3) +(σ1−σ3)
σ𝑣𝑚 = 2
(3)

Conforme Taniguchi (2008) afirma, a tensão principal σ3, podendo ser

descrita como a tensão radial da parede, pode ser desprezada para efeito de
dimensionamento de projeto por se tratar de um vaso de pressão de parede
fina. Dessa forma, a tensão de von Mises depende apenas das tensões
principais σ1 e σ2, se o valor da tensão de von Mises for igual ou superior à

resistência de escoamento do material (σ𝑒), a teoria prevê que ocorrerá falha

por escoamento.
Para Dias (2019), nas indústrias aeroespaciais, de energia eólica,
marinha, entre outras, em que a redução do peso, alta resistência específica e
a alta rigidez específica são de extrema importância, o estudo e aplicação de
materiais compósitos formados por uma matriz polimérica e reforços de fibra,
são indispensáveis. Na indústria eólica, onde são necessárias a fabricação de
pás, de formato complexo e com comprimentos de dezenas de metros, a
aplicação de outros materiais não seria economicamente viável. Na indústria
automobilística, vasos de pressão usados como tanques de combustíveis
gasosos, fabricados com compósitos, aumentam a autonomia entre
abastecimentos.
A fabricação de vasos de pressão com materiais compósitos de
polímeros reforçados por fibras continuas por enrolamento filamentar pode ser
visualizado na figura 4, onde, em geral, as fibras podem ter 3 padrões de
enrolamento sobre um mandril giratório (Dias, 2019).
Tita (2007), define alguns métodos e critérios para a falha de materiais
laminados, no escopo desse estudo será utilizado o Método FPF (First Ply
Failure), mais conservador, onde se considera que a falha ocorre quando a
primeira lâmina falha. Como critério, será utilizado o Critério de Máxima
Tensão.

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Figura 4: Padrões de enrolamento: a) helicoidal, b) circunferencial e c) polar.

Fonte: SHEN, 1995.

O Critério de Máxima Tensão, possui outros cinco modos de falha


fundamentais, onde se qualquer um desses modos falhar, considera-se que o
material falhou. Na direção longitudinal às fibras, se a tensão de tração for
maior que a resistência da lâmina à tração, ou, se em valores absolutos, a
tensão de compressão for maior que a resistência da lâmina à compressão,
ocorrerá a falha. Na direção transversal às fibras, se a tensão de tração for
maior que a resistência da lâmina à tração, ou, se em valores absolutos, a
tensão de compressão for maior que a resistência da lâmina à compressão,
ocorrerá a falha. No plano de cisalhamento da lâmina, em valores absolutos, se
a tensão de cisalhamento for maior que a resistência ao cisalhamento, a falha
ocorrerá (Tita, 2007).

3. Estudos de caso

Os estudos de caso da dissertação de mestrado de Taniguchi (2008),


abordam três modelos de vaso de pressão para um cilindro de oxigênio virtual
de referência. O cilindro possui as dimensões de diâmetro externo igual 111,2
mm, comprimento total de 371,5 mm, pressão de trabalho de 20,7 MPa,
capacidade de armazenamento de 432 litros de oxigênio, mínimo volume
interno de 2,2 litros, massa igual a 3,0 quilos para o material em Alumínio AL
6061-T6. Taniguchi também estuda esses 3 modelos em 2 condições, na
pressão de trabalho e na pressão de estouro, comparando-os pela análise
numérica por métodos dos elementos finitos MEF.
O presente trabalho de estudo de caso, analisará 2 modelos de
Taniguchi (2008) para compará-los na situação de pressão de estouro (𝑝𝑏),

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sendo o primeiro modelo, o estudo de caso EC1, onde o cilindro é feito de uma
liga de alumínio e o segundo modelo, o estudo de caso EC2, onde o cilindro é
feito de um com compósito de fibra de vidro e resina epóxi.

3.1. Estudo de caso EC1

O EC1, tem como material do cilindro, a liga de alumínio AL 6061-T6,


que apresenta as seguintes características:

● Característica típica de um material homogêneo isotrópico e dúctil;


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● Massa específica de 2,70 g/cm ;
● Módulo de elasticidade de 68,9 GPa;
● Módulo de cisalhamento de 26 GPa;
● Coeficiente de Poisson de 0,330;
● Resistência à tração de 310 MPa;
● Resistência ao escoamento de 276 MPa;
● Resistência ao cisalhamento de 207 MPa.

A espessura mínima 𝑡 para a análise numérica por MEF, foi definida pelo
método analítico apresentado nas equações (1), (2) e (3) adotando a pressão
de estouro, definida pela norma ISO 11439 para cilindros em alumínio, como
um fator de 2,5 da pressão de trabalho, obtendo então 𝑝𝑏=51,75 MPa,
espessura mínima 𝑡=8,35 mm e massa de aproximadamente 2,80 quilogramas.

3.2. Estudo de caso EC2

O EC2, tem como material do cilindro, o compósito unidirecional de fibra


de vidro tipo E com matriz de resina epóxi, fabricado por enrolamento helicoidal
e circunferencial das fibras no cilindro. Como o compósito apresenta
característica tipica de um comportamento de material ortotrópico, existem 17
parâmetros de material a serem considerados na solução analítica e numérica.

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Taniguchi utiliza os parâmetros do material compósito de Daniel e Ishai
(2006). A pressão de estouro para o compósito é definida pela norma ISO
11439, como um fator de 3,65 da pressão de trabalho, assim para 𝑝𝑏=
75,56MPa, a espessura mínima de parede obtida por Taniguchi analiticamente
se dá por 26 camadas de 0,125 mm alternadas a ±54,7 graus e duas camadas
de mesma espessura alinhadas a 90 graus, totalizando 𝑡=3,50 mm.

4. Resultados e discussões

A análise por meio de elementos finitos do EC1 para a pressão de


estouro de 51,75 MPa, espessura de 8,35 mm e Critério de von Mises,
apresentou falha por ruptura devido ao fator de segurança da norma ISO
11439. Desta forma Taniguchi realiza iterações aumentado a espessura até 10
mm de parede e obtendo massa de 3,29 kg.

Figura 5: Tensões de von Mises na espessura de 10,00 mm sobre pressão de


estouro.

Fonte: TANIGUCHI, 2008.

A figura 5, apresenta na parte cilíndrica a tensão máxima de 266 MPa,


correspondente a um fator de segurança 3,6% do valor de tensão de
escoamento do material, no centro do domo inferior, a tensão de von Mises é

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de 443 MPa, excedendo em 167 MPa a tensão de escoamento. Isso ocorre
devido à simplificação na geometria do modelo virtual, onde se foi modelado
com espessura constante ao longo de todo perfil dos domos.
Contudo, segundo Taniguchi (2008), a fabricação dos cilindros faz com
que a espessura dos domos seja maior do que nas partes cilíndricas e
considera o resultado satisfatório devido ao resultado garantir que a parte
cilíndrica resistirá as tensões circunferenciais dada a pressão de estouro.
A análise por meio de elementos finitos do EC2 para a pressão de
estouro de 75,56 MPa, espessura de 3,50 mm e Critério de Tensão Máxima,
apresentou falha por ruptura pela tensão atuante na direção longitudinal da
lâmina no valor de 1835 MPa na parte cilíndrica, sendo a resistência à tração
longitudinal de 1140 MPa. Desta forma Taniguchi realiza iterações aumentado a
espessura até 6,50 mm de parede e obtém a massa de 1,63 kg.

Figura 6: Tensões Máximas na direção principal, espessura de 6,50 mm sobre


pressão de estouro.

Fonte: TANIGUCHI, 2008.

Com essa nova espessura, como mostra a figura 6, todas as camadas


na parte cilíndrica apresentam tensão inferior ao limite de resistência a tração
de uma lâmina. Algumas partes no domo do cilindro, apresentam tensões
superiores as de limite de resistência a tração. Mas assim como visto no EC1,
o processo de fabricação pelo enrolamento filamentar, também deixa a região
do domo mais espessa do que na região cilíndrica devido ao enrolamento
helicoidal, o que não foi considerado no modelo simplificado de espessura
uniforme.

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Podemos compilar os resultados modelos das análises de solução
numérica por método dos elementos finitos na tabela 1.

Tabela 1: Comparação entre as iterações para os tipos de cilindros

Modelo t [mm] Massa 𝑝𝑏 Critério Tensão Tensão Resultado


[kg] [MPa] de Máxima Máxima
Falha (Cilindro) (Domo)
[MPa] [MPa]

EC1 8,35 2,8 51,57 Von 345 575 falha


Mises

10,00 3,29 51,57 Von 266 443 satisfatório


Mises

EC2 3,50 0,85 75,56 Tensão 1835 3058 falha


Máxima

6,50 1,63 75,56 Tensão 1087 1359 satisfatório


Máxima
Fonte: adaptado de TANIGUCHI, 2008.

Como visto nas análises dos domos, as tensões nessa região


apresentaram tensão superior ao do critério utilizado em cada modelo, mas a
simplificação utilizada de parede com espessura uniforme, não reflete a
realidade dos processos de fabricação dos cilindros de oxigênio. Desta forma
essa região do cilindro apresentaria uma tensão menor do que a obtida nos
estudos de caso.
As espessuras de parede obtidas pelos métodos analíticos na pressão
de estouro, não foram espessas o suficiente para garantir que os cilindros de
oxigênio modelados não falhem durante a vida útil devido ao fator de
segurança exigido pela ISO 11439.
Dos cilindros com resultado satisfatório, o estudo de caso com material
compósito de fibra de vidro e resina epóxi apresentou uma redução de 2 vezes
da massa do estudo de caso com material de liga de alumínio.

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5. Conclusão

Do estudo de caso para o modelo de cilindro de oxigênio em liga de


alumínio apresenta sua massa de 3,29 kg muito próxima ao do modelo virtual
usado como base para os estudos, sendo que as informações básicas do
modelo base advém do catálogo de um fabricante de cilindros, que possui
massa de 3,0 kg para o mesmo material. Essa diferença de massa ocorre
devido às simplificações na geometria do modelo base. Portanto, o cilindro com
espessura de 10,00 mm obtido pelo resultado das simulações na pressão de
estouro e dado o fator de segurança, torna o modelo valido, sendo assim ,
pode-se utilizá-lo para estudos preliminares com outros materiais.
Com a validade do modelo atestada, o estudo preliminar com fibra de
vidro, avaliado pelo critério de tensão máxima e considerando o fator de
segurança alto de 3,65 conforme requisito da norma ISO 11439, mostra-se
aceitável para testes em protótipos gerem as propriedades reais do material
compósito, reintroduzindo os novos parâmetros no modelo simulado e então
obter a validação experimental.

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Referências

BEER, F. P.; DEWOLF, John T. Resistência dos Materiais. 5ª ed. São Paulo:
McGrawHill, 2011.

CRISTIANI, Marcelo Castanha. Estudo dos parâmetros de segurança em


um vaso de pressão conforme Norma Regulamentadora 13. 2021. Trabalho
de Conclusão de Curso – Curso de Engenharia Mecânica, Universidade
Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco, 2021.

DIAS, Daniel Luiz dos Santos. Projeto e análise comparativa de vasos de


pressão fabricados em polímeros reforçados por fibra. 2019.

TANIGUCHI, Hitoshi. Contribuição ao projeto estrutural de cilindros em


compósitos para armazenamento de oxigênio sob alta pressão. —
Dissertação de Mestrado - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
de São Paulo, São Carlos - SP, 2008.

LEITE, Viviane Otero. Produção local de oxigênio hospitalar. Trabalho de


Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento
de Engenharia Mecânica. - São Paulo, 2006. 59 p.

TITA, P. D. V. Projeto e fabricação de estruturas em material compósito


polimérico. ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS, USP São Carlos, p.
71, 2007.

DANIEL, I.M; ISHAI, O. Engineering mechanics of composite materials.


2ed. New York: Oxford University Press, 2006.

SHEN, F. C. A filament-wound structure technology overview. Materials


Chemistry and Physics 42 (1995) 96100

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