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Twin Peaks ACTUALLY EXPLAINED (No, Really)

Time Subtitle
0s O ALERTA DE SPOILER DE UMA VIDA
4s Esse vídeo vai dar spoiler de TODO Twin Peaks. Isso significa a Temporada 1, Temporada 2,
10s O filme, Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer, e a Temporada 3 (Twin Peaks: The Return).
13s Se você não assistiu tudo (nessa ordem) e tem alguma intenção de assistir, não assista
18s esse vídeo agora. Twin Peaks é melhor aproveitado quando envolto em mistério e
23s você é parte ativa solucionando e interpretando as pistas para tentar determinar o
27s significado definitivo por trás da série. Isso vai ser destruído se você assistir a esse vídeo antes. Se você
33s tiver assistido todo Twin Peaks, e gostou de mergulhar no mistério e tentar descobrir
37s o que as coisas significam e depois discutir teorias com outros fãs, esse alerta de spoiler é para
42s você também. Até você, expert em Twin Peaks, pode não querer assistir a esse vídeo,
48s e esse é porquê:
49s David Lynch, o cocriador de Twin Peaks, faz filmes que são considerados, pela maioria,
52s incompreensíveis, e ele é conhecido por manter a boca fechada sobre o significado por trás da sua obra.
58s Acredite ou não, Eraserhead é o meu filme mais espiritual
1:03 Mmhmm... Por quê? Fale um pouco mais disso.
1:06 Não, não vou. Umm...
1:07 Ao invés de expor suas ideias ao público claramente, Lynch abstrai essas ideias
1:11 em imagens, sons e diálogos que ele usa para levar essas ideias de forma mais efetiva
1:16 com percepções do que ele poderia com palavras.
1:18 "Eu não costumo ser bom com palavras. Alguns são poetas e tem um jeito bonito de dizer
1:23 coisas com palavras. Mas o cinema é uma linguagem própria."
1:28 A intenção de Lynch é que deveríamos “sentir” o seu trabalho nós mesmos, e ele acredita que
1:32 se ele contar o significado ou a ideia central, isso vai diminuir nossa habilidade
1:36 de explorar essa ideia baseado nos nossos próprios sentimentos, no nível mais profundo de entendimento.
1:41 Isso é uma rosquinha. É bem doce e bem gostosa. Mas se você nunca experimentasse uma rosquinha,
1:48 você não saberia o quão doce e gostoso é uma rosquinha... se você nunca teve essa
1:55 experiência.
1:57 Outro motivo por que Lynch não gosta de explicações claras é porque ele acha que isso dá ao público um
2:01 DESFECHO = RUIM senso de desfecho, o que nós faz aceitar as coisas e nos impede de continuar a ir mais fundo.
2:06 Nós paramos de pensar nisso, e seguimos em frente. Como aprendemos na segunda temporada da série,
2:10 assim que você explica a coisa, ela morre, e depois disso, você não vai mais chegar no
2:14 verdadeiro fundo das coisas.
2:16 A experiência de Twin Peaks é sobre o mistério, e o que vou compartilhar com
2:20 você VAI acabar com a maior parte (senão todo) o mistério da série. Eu sei que essa é uma declaração grande
2:25 porque a arte é aberta para interpretação, então quem vai dizer que alguma interpretação é
2:30 a correta? Bem, como David Lynch falou para Chris Rodley em uma entrevista sobre A Estrada Pedida,
2:35 "Mas as pistas estão todas lá para uma interpretação correta, e eu vou continuar dizendo que, de
2:41 várias formas, essa é uma história simples. Tem apenas algumas coisas que são
2:45 confusas."
2:46 Isso é bem interessante, que alguém que está tão preocupado com interpretação pessoal
2:52 iria sugerir que podem ter interpretações incorretas pro seu trabalho. Eu aceito a possibilidade de
2:57 estar errado sobre Twin Peaks, mas eu tenho uma boa suspeita de que assim que você vir as coisas
3:02 de certa forma, não vai mais conseguir não ver elas desse jeito. A resposta esteve escondida
3:07 à vista e vai alterar permanentemente a forma que você vê Twin Peaks, então pise com
3:13 cuidado...
3:15 As coisas que eu vou falar não estão erradas.
3:18 Tendo dito isso, eu tenho a plena convicção que saber o segredo na verdade melhora nosso apreço
3:24 pela série, mesmo que seja contra as intenções de Lynch, então eu recomendo que você continue
3:28 comigo nessa jornada de descoberta, contanto que você tenha feito toda a reflexão,
3:32 exploração e teorização que você queria fazer primeiro.
3:36 Não tire sua própria oportunidade de sonhar.
3:39 A gente nunca tem a oportunidade de, sabe, sonhar ou algo assim. Isso é absolutamente horrível.
3:45 FIM DO ALERTA DE SPOILER, COMEÇO DA RESSALVA
3:49 Twin Peaks foi criado por David Lynch e o roteirista de TV Mark Frost, mas nesse vídeo,
3:53 eu vou focar na visão de David Lynch, não na de Mark Frost.
3:58 * 1ª razão: Uma parte significativa das respostas que procuramos vieram do filme e da
4:02 Temporada 3, mais especificamente das decisões diretoriais, as associações visuais. Esse é o
4:08 departamento de David Lynch. * 2ª razão: Frost coescreveu a terceira temporada
4:12 com Lynch e saiu pra escrever seu segundo livro de Twin Peaks enquanto Lynch dirigia
4:16 e fazia adições ao roteiro da Temporada 3. De acordo com Sabrina Sutherland, produtora
4:21 executiva de Twin Peaks:
4:23 "David continuou escrevendo na série depois que Mark saiu pra escrever seu livro."
4:27 Também de acordo com srta. Sutherland, David Lynch nunca leu os livros de Frost. Então, seja lá
4:31 o que tiver neles claramente não importa para David Lynch. Os livros são interessantes? É claro!
4:37 Eles expandem o universo de Twin Peaks? Sim, expandem! Estou dizendo que eles não são canônicos?
4:43 Não, não estou. Eles ajudam a explicar alguma coisa que está acontecendo? Nem um pouco. Na
4:50 verdade, eles admitem estar cheios de contradições, e esse é o ponto.
4:55 A ideia era que tudo fosse documentos achados, e se você já gastou tempo (vou presumir
5:00 que já) estudando, ou explorando, ou indo atrás de registros e jornais velhos,
5:04 o passado está cheio de imprecisões e erros.
5:08 Agora, isso não minimiza as contribuições de Mark Frost, que são significantes e numerosas.
5:13 Até ele admite que é impossível contar quais ideias vieram dele e quais ideias
5:17 vieram de Lynch, e Lynch afirmou que suas ideias e as ideias dos seus roteiristas se misturaram
5:22 para virar uma ideia de ambos.
5:24 "Quando você escreve com alguém, isso vira nosso. Não importa quem veio
5:29 com o que no começo. Vira uma coisa nossa.”
5:32 Entretanto, está claro pelo trabalho deles que Frost e Lynch têm ideias diferentes sobre o que
5:37 eles estavam fazendo com Twin Peaks, pelo menos no começo, e o fio que o Lynch estava
5:41 puxando com Twin Peaks corre através de todos os filmes de Lynch. Eu vou continuar a creditar
5:46 o Lynch porque é a forma mais fácil, mas eu vou dar os créditos ao Mark Frost sempre que puder. Se
5:50 eu creditar o Lynch por algo que o Frost fez, me desculpe. É só que é bem complicado separar
5:55 as coisas e atribuir cada pequeno detalhe.
5:58 FIM DA RESSALVA, COMECE A EXPLICAR LOGO
6:01 Então, nós vimos a série, nós vimos o filme, nós podemos ter até lido os livros. Nós tivemos
6:06 nossas discussões em fóruns, cutucamos a Wiki de Twin Peaks, assistimos algumas das “Melhores Teorias”
6:11 no YouTube... Agora, é finalmente a hora de entender o que diabos a gente tava assistindo.
6:17 Eu vou te avisar, pode demorar para você finalmente conseguir entender, porque essa
6:21 série é tão complicada que você meio que tem que explicar tudo antes de conseguir explicar
6:25 todas as coisas. Tem muito chão até a gente chegar lá. Eu também vou dizer
6:29 algumas coisas que você pode não querer aceitar de início, mas eu prometo que assim que que a gente
6:34 começar a análise da Temporada 3, tudo vai começar a se encaixar.
6:38 O caminho começa com a história da série, porque a construção, e cancelamento,
6:42 e prequela, e retorno da série são essenciais, necessários, de suma importância para a
6:48 explicação do que está acontecendo na série.
6:50 A CONHECIDA HISTÓRIA DE TWIN PEAKS É uma história de vários, mas começa com uma.
7:00 No final dos anos 80, David Lynch e Mark Frost inicialmente criaram Twin Peaks como uma forma de brincar
7:05 com o agente de Lynch, Tony Krantz, que queria que Lynch fizesse outra história de mistério sobre uma cidadezinha
7:10 americana no estilo do seu sucesso, Blue Velvet. "Esse conceito de que a vizinha ao lado estava
7:15 vivendo uma vida dupla, desesperada, que iria acabar em assassinato se tornou o centro. Enquanto a gente
7:19 descobria quem ela era e se dava conta de que ela estava morta, tudo fluiu dali,"
7:23 relatou Frost, e a série logo se desenvolveu em uma teia de segredos complexa se desenrolando
7:28 em múltiplos arcos de história com uma questão no centro de tudo: “Quem matou Laura
7:33 Palmer?" Esse formato, bem estabelecido nos padrões de hoje, não era regra na TV dos
7:38 anos 80.
7:39 Mesmo antes da série estrear, havia certo ceticismo sobre o sucesso dela, como o estúdio
7:43 e os críticos de TV da época erroneamente insistiram que a audiência não estava pronta para aceitar a
7:48 ideia de um mistério de assassinato que continua depois do final de um episódio de uma hora. A audiência,
7:54 como presumiam, gostava do seu Matlock e do seu Magnum enlatados antes dormir.
7:59 Apesar disso, a estreia de Twin Peaks em abril de 1990, dirigida por David Lynch, acabou sendo um
8:04 sucesso surpresa, com milhões ligando a TV toda semana para a próxima pista do mistério central.
8:09 Embora o show fosse primariamente sobre a investigação do Agente Especial do FBI Dale Cooper
8:13 sobre o assassinato de Laura Palmer, como você sabe, a série parecia mais as novelas padrões do final dos
8:18 anos 80. Triângulos amorosos, tramas de traição, conspirações, encontros amorosos... Colocando a qualidade
8:25 cinematográfica de lado, era a natureza experimental de brincar com os gêneros que separava a
8:29 série do resto. Temos uma novela dentro de uma série policial procedural com um traço
8:34 de uma sitcom excêntrica, e daí o mistério real vindo de uma investigação paranormal...
8:40 Dale Cooper tem sonhos bizarros cheios de pistas que se provam verdadeiras. Uma mulher
8:45 que carrega um cepo onde quer que ela vá parece ter visões de outro mundo. Um homem de um
8:50 braço só que parece estar possuído por um espírito busca um homem de cabelo longo e jeans que é
8:54 objeto de visões divididas por múltiplas personagens...
8:58 Esse é o negócio que realmente prende a pessoa e faz ela voltar para ver mais. Há
9:01 um sentimento diferente que uma força invisível nas sombras está conduzindo a trama. O que
9:06 está acontecendo de verdade, e o que todo esse lance sobrenatural tem a ver com isso? Os observadores mais ávidos
9:11 não esperavam para ver como tudo isso iria se amarrar na resolução dessa investigação no final
9:15 da primeira temporada... Mal sabiam eles que o mistério do assassinato de Laura Palmer era a
9:21 árvore de onde todos esses galhos de intriga cresciam, e resolver o mistério seria
9:26 cortar a árvore pela raiz. Não obstante, foi durante a segunda temporada que o estúdio,
9:32 pressionado pela audiência, fez a famosa decisão estupida de pressionar Lynch
9:36 e Frost para responderem à questão que nunca deveria ser respondida...
9:41 "Quando nós escrevemos Twin Peaks, nós não tínhamos intenção de solucionar o assassinato de Laura Palmer...
9:47 Talvez no último episódio,” revela Lynch.
9:50 Front responde, “Eu sei que o David sempre foi enamorado com essa ideia, mas eu sentia que a gente tinha uma obrigação
9:54 com a audiência de entregar alguma resolução. Havia uma certa tensão entre ele e
9:58 eu... A gente levou cerca de 17 episódios para finalmente revelar, e as pessoas já estavam ficando
10:02 um pouco agitadas.”
10:04 Lynch conclui, “Tudo que eu sei é que, eu sentia que assim que houvesse uma solução pro assassinato
10:09 de Laura Palmer, estava acabado. Estava acabado.”
10:14 Sete episódios depois, o estúdio, em nome da audiência, forçou a revelação do assassino
10:19 no que ainda é uma das cenas mais assustadoras e perturbadoras já transmitidas na
10:23 televisão, novamente dirigida por David Lynch... e então a série imediatamente tirou férias
10:27 pra ir esquiar. Um novo vilão caricato interfere um concurso de beleza local, um novo
10:37 interesse amoroso chega para as personagens principais apesar dos fãs adorarem o ship de Cooper com Audrey,
10:41 e o garoto descolado foge pra ir parar em uma subtrama sobre uma viúva negra incestuosa que
10:46 ninguém se importa, mas ainda toma todo o tempo de tela... É
10:51 compreensível que haveria uma corrida desesperada para arrumar algo para preencher o vácuo
10:54 deixado depois que o coração da série foi arrancado, e o fato de David Lynch ter
10:57 ficado tão desgostoso com essa decisão que saiu completamente da série, não ajudou. David
11:02 Lynch saiu da série poque o estúdio fez ele revelar o assassino. Se você está se perguntando
11:07 porque depois do Episódio 7, a Temporada 2 é tão ruim, esse é o motivo.
11:11 "Eu tive muito pouco a ver com a Temporada 2, e não fiquei feliz com ela. Até o “Quem matou
11:16 Laura Palmer?' eu participava 100%, mas aí as coisas se desviaram do caminho. A gente tinha um
11:21 ganso que estava botando ovos de ouro, e eles falaram pra gente cortar a cabeça dele fora."
11:26 "O piloto é a única coisa que eu fico particularmente orgulhoso. Tiveram ótimos momentos
11:31 durante o caminho. A segunda temporada foi uma droga.”
11:34 “Ficou muito estupido e pateta na segunda temporada; ficou ridículo. Eu parei de assistir
11:40 aquela série porque ficou muito ruim.”
11:43 Por esse motivo, a segunda temporada é lotada de “Vamos fazer isso! Isso parece algo que o
11:47 Lynch faria!"
11:50 Sim, eu sei que dizem que a ideia da “Josie no móvel” teria vindo do Lynch, mas
11:55 se veio (e não era uma piada), foi muito antes dele sair, então
12:00 na hora que eles iam colocar isso na série, ele não estava mais lá pra falar o que
12:04 eles deveriam fazer com isso. Então, eu acho que meu criticismo fica.
12:10 A revelação do assassino levou a um declínio óbvio de qualidade, e o estúdio começou a mexer
12:14 no horário de exibição da série. Esses fatores levaram a audiência direto no chão, fazendo
12:19 a emissora colocar a série em um hiato indefinido e congelar os últimos seis episódios. Isso
12:24 levou os fãs handcore a começarem uma campanha, promovida por Lynch, de mandar cartas
12:29 para manter a série no ar e lançar esses episódios.
12:32 Se tiver que acabar, sabe, tudo bem. Mas se não tiver que acabar, é melhor
12:38 ainda. E eu estou pedindo pras pessoas escreverem para o Bob Eiger, o presidente da ABC, e se eu
12:44 puder, eu posso dar o endereço.
12:46 ah sim, sim, por favor. Eu amo irritar esses chefões de emissora.
12:49 Isso influenciou a emissora a exibir os episódios para que Lynch pudesse dar a Twin
12:54 Peaks uma despedida pessoal no incrível final de temporada, que foi ao ar em junho de 1991, pouco
12:59 depois do primeiro aniversário da série. Com sua direção, Lynch salvou a história depois de roubar
13:04 o roteiro, transformar o vilão de Scooby-Doo em algo realmente assustador, e colocar
13:09 o conceito de mistério de volta ao centro com outro gancho que nos deixou perguntando
13:13 qual foi o destino do pobre Agente Cooper.
13:15 "Vocês mataram minha série, eu voltei pra enterrar ela."
13:19 TWIN PEAKS CANCELADO
13:21 E esse final foi um fenômeno cultural tão grande que foi citado inúmeras vezes como
13:25 a série de TV mais influente de todos os tempos. Sem Twin Peaks, não teria Arquivo X, não teria
13:31 Sopranos, não teria LOST.
13:34 O número de pessoas que cita isso como uma influência sempre me impressionou. Desde pessoas de Os
13:38 Sopranos até LOST até Mr. Robot, que agora está... acho que disseram LOST, "Por causa
13:45 da forma que que podiam não se importar em amarras as pontas.” Obviamente,
13:50 LOST ficou meio famoso por fazer isso (ou não fazer isso).
13:53 Apenas um mês antes do cancelamento, David Lynch anunciou que iria criar
13:56 um filme de Twin Peaks, e os fãs regozijaram porque finalmente teriam as respostas
14:01 que eles nunca tiveram na série. Foi um ponto de contenda entre Lynch e Frost
14:07 sobre se o filme seria uma sequência ou uma prequela. Frost queria continuar de onde
14:11 a história parou e cumprir com seu senso de obrigação com os fãs, enquanto Lynch queria
14:16 fazer um filme sobre os últimos dias de Laura Palmer.
14:18 "No final da série, eu fiquei triste. E não conseguia sair do mundo de Twin Peaks.
14:24 Eu estava apaixonado pela personagem de Laura Palmer e suas contradições: radiante na
14:29 superfície, mas morrendo por dentro. Eu queria ver ela viver, mover e falar. Eu estava apaixonado
14:34 por aquele mundo e não tinha terminado com ele. Mas fazer o filme não era só se agarrar
14:39 a isso: parecia que havia mais coisas que poderiam ser feitas.”
14:42 Então Frost decidiu sair, deixando Lynch trabalhando com Robert Engels, outro roteirista de
14:47 séries de TV. Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer lançaria aproximadamente um ano depois, em 1992...
14:53 sem grande alarde.
14:55 O filme começa com a investigação de um assassinato de alguém que ninguém se importa,
15:00 conduzida por alguém que não é Dale Cooper, para o desânimo da audiência – Kyle McLachlan, que interpretou
15:04 o Agent Cooper, pediu um papel bem menor, parte por causa do fracasso da Temporada
15:09 2 e parte porque ele achou que reprisar Dale Cooper ia deixá-lo marcado pra sempre
15:13 nesse papel. O desânimo aumentou depois que os fãs passaram pelas cenas iniciais e rapidamente
15:17 perceberam que eles não estavam onde achavam que estavam. Estava faltando o drama policial/novela/sitcom
15:22 mais linear e peculiar que passou na TV, junto de muitos dos protagonistas
15:27 que tiveram as cenas cortadas por causa do tempo e tom.
15:30 A narrativa da última semana de vida de Laura Palmer, ao mesmo tempo que angustiante e misteriosa
15:35 como a investigação de sua morte, pareceu para os veteranos da série como um rearranjo de coisas
15:39 que eles já sabiam, apesar do filme nos levar a um mergulho fascinante no mundo
15:43 do Lodge e de seus habitantes. Isso sustenta a lição aprendida na conclusão forçada
15:48 da história dela; seu assassinato foi solucionado, e a audiência já estava satisfeita com ela.
15:53 Nossa ideia era que o assassino de Laura Palmer não fosse encontrado. E uma vez que isso foi resolvido,
16:00 nos sentimos que teríamos, sabe, terminado. E era verdade.
16:03 Na maioria abismal das análises que o filme recebeu, ele foi criticado pela mudança de
16:08 tom, a exclusão de personagens populares, a falta de Mark Frost, a decisão de fazer
16:12 uma prequela, e a repetição do drama de Laura Palmer. O filme foi vaiado em Cannes, foi desprezado pela
16:18 imprensa, foi decepcionante para quem procurava respostas para o final da série, e essa
16:22 reação acabou com o sonho de David Lynch com Twin Peaks. Obrigado, idiotas de 1992.
16:27 "E então tinha sempre algo no ar que impedia as pessoas de realmente ver a
16:32 obra pelo que ele é. Tem algo a mais, que talvez não exista, que eles estão prestando
16:36 mais atenção do que na obra. Se passar um tempo, eles verão a mesma coisa novamente, mas agora
16:41 vale mais a pena. Isso acontece as vezes.
16:43 Eu fico triste que Os Últimos Dias de Laura Palmer não tenha feito barulho e que muita gente odiou o filme. Eu
16:48 realmente gosto do filme. Mas ele levava muita bagagem com ele. Ele é tão livre e tão experimental
16:53 quanto poderia nas regras que precisava seguir.”
16:57 E essa foi a triste conclusão da história de Twin Peaks, apenas dois anos depois de começar.
17:02 Com o tempo, sua popularidade minguou, mesmo que seu legado vivesse nas outras séries que ela inspirou.
17:07 Mas a internet manteve o sonho vivo, voltando à era dos Usenet Newgroups.
17:12 Bom, a parte boa disso é que é uma série inicialmente conduzida pelo interesse dos fãs,
17:17 e foram os fãs que a mantiveram viva todos esses anos. Nós devemos muita gratidão a eles,
17:21 porque eles mantiveram a chama acesa.
17:24 Por quê? O mistério! O mistério de Twin Peaks era tão poderoso que o culto à série continuou
17:29 espalhando Twin Preaks pelo mundo e trabalhando obsessivamente para tentar resolver o mistério
17:34 por vinte e três anos depois do cancelamento,
17:36 CAROS AMIGOS DO TWITTER: ESSE CHICLETE QUE VOCÊS GOSTAM VAI VOLTAR EM GRANDE ESTILO! quando David Lynch tuitou essa d
17:40 De repente, eram vinte e cinco anos depois. Eu estava velho, sentado em uma sala vermelha.
17:46 Foi exatamente vinte e cinco anos depois de Os Últimos Dias de Laura Palmer que a Temporada 3 estreou
17:50 no Showtime e nos serviços de streaming. Finalmente, respostas... certo?
17:56 A história deveria girar em torno de Dale Cooper, mas, ao invés disso, gira em torno do seu sósia
18:01 que está em busca de uma entidade misteriosa chamada Judy, enquanto o Dale Cooper bom está preso
18:05 em um estado irresponsivo e perde metade da temporada olhando para o espaço enquanto maluquices
18:10 acontecem em volta dele (e desconcertante pra quem está assistindo). Comparado à série
18:15 original, houve uma enorme mudança de tom e ritmo. A maioria do elenco retorna para reprisar
18:20 exatamente os mesmos papéis (mas diferentes) no que parecem esquetes suplementares,
18:24 e inúmeras tramas confusas e sem fim são salpicadas pelo caminho.
18:28 Além disso, você assistiu o episódio 8? Episódio 8, certo? É tão artístico. É tipo um projeto artístico
18:35 de uma hora. Como o Showtime deixou ele se safar com isso, correto?
18:40 Vocês viram o Episódio 8, certo? Que loucura.
18:45 A temporada culminou na conveniente destruição do sósia de Dale Cooper. Mas
18:51 a série não tinha acabado. Pra onde a gente vai daí? Dale Cooper viaja de volta no tempo para salvar Laura
18:57 Palmer de ser morta, e o que acontece a seguir é o maior mistério que temos
19:01 em Twin Peaks. Laura desaparece, Cooper acaba de volta à cena inicial, ele sai do
19:06 Lodge, e então ele e Diane abandonam suas próprias identidades. Cooper leva uma Laura Palmer que
19:12 não é Laura Palmer para Twin Peaks onde ele descobre que Laura Palmer nunca existiu.
19:16 O FIM (???) GANCHO. EU SOU DAVID LYNCH, O QUE VOCÊ ESPERAVA?
19:21 Que ano é esse?
19:24 E esse é o estado atual das coisas. Vinte e cinco anos de entrevistas com os criadores, boxes
19:28 de DVD cheios de extras, um longa-metragem só com cenas deletas e estendidas
19:33 do filme, dezoito horas de uma temporada extra que nunca ia existir e o mistério
19:39 ainda persiste... “O que está acontecendo nessa série?” nós queremos saber. Uma quarta
19:47 temporada nos daria as respostas? Eu achava que a Temporada 3 era para dar as respostas. Eu achava
19:52 que o filme era para dar as respostas, e isso tudo fez foi nos enterrar debaixo de mais
19:57 perguntas! Mas, e se eu te dissesse que nós não precisávamos de uma Temporada 3 ou 4, e que as
20:03 respostas para as nossas perguntas estiveram na nossa frente por trinta anos? O que
20:08 eu estou tentando dizer é: Não se preocupe com o final – se preocupe com o começo. Se nós
20:13 entendermos o que estava acontecendo no início dos anos 90, o final da Temporada 3 vai ser fácil.
20:18 Para entender o final, nós precisamos entender o resto primeiro.
20:23 PEGANDO O PEIXE GRANDE Tinha um peixe no coador.
20:33 Tradicionalmente, há três formas de explicar as coisas em Twin Peaks. A primeira
20:36 é a forma de Jim Belushi way, a forma de Matthew Lillard. Não que eu não aprecie o trabalho deles.
20:41 Eu amo ambos até a morte. Mas...
20:44 Eu acho esquisito. Alguém mais? Super – se você não é um “Lynchiano”, quer dizer, se você
20:49 não é um cara de Twin Peaks, você chega, e é um pouco estranho.
20:52 E você apenas, você não sabe - tem a mínima ideia de que ***** tá acontecendo.
20:56 ... Tipo na vida real.
20:58 Na vida real.
20:59 Isso, isso.
21:00 Isso. É tipo uma cena realística.
21:01 NÃO SEJA ESSE CARA... Não, quer dizer, até nessa cena, eu não faço ideia de que ***** a gente tá fazendo aqui.
21:05 Não, não... Ok... É...
21:06 Chris Rodley sugere, “Às vezes parece que você tem prazer em provocar
21:10 ou mistificar o espectador." "Não, nunca faça isso com uma audiência. Se
21:15 vem uma ideia, você faz essa ideia do jeito que ela deve ser, e seja fiel
21:19 a isso. Pistas são belas porque eu acredito que somos todos detetives. Nós meditamos e
21:25 descobrimos coisas."
21:27 Por trás de tudo existem razões. Razões podem explicar até o absurdo.
21:33 Para a próxima fase, o mais comum seriam as explicações dentro do próprio universo. É assim
21:37 que os personagens na série entenderiam o que está acontecendo, as explicações que a
21:41 própria série dá para as coisas. As explicações do livro de Mark Frost. Mas, essas explicações
21:47 obviamente são incompletas, já que o mistério perdurou por três décadas. Pode
21:52 ser difícil dizer quais pontos conectam, ou como conectá-los, ou mesmo o que qualifica
21:56 um ‘ponto’.
21:58 As pistas estão em toda parte, mas o criador do quebra-cabeça é mais esperto.
22:02 Os fãs mais intelectuais vão um passo mais à frente. Eles tem outra forma
22:07 de explicar as coisas, na qual tudo é simbólico. Qualquer coisa que acontece na
22:11 série é, secretamente, um meta comentário sobre... o que fizer mais sentido para eles no momento.
22:17 O problema é concordar o que significa cada coisa individualmente por causa dessa
22:21 crença comum de que qualquer interpretação não é nada mais do que sua interpretação pessoal,
22:26 e qualquer outra seria igualmente válida. Eu concordo em parte, mas como fica esse negócio de
22:32 “interpretação correta”?
22:34 As pistas, apesar de nos cercarem, são de alguma forma confundidas com outras coisas... A interpretação ERRADA
22:42 das pistas...
22:44 Venha comigo e eu vou te mostrar uma quarta forma, a forma “explodidora de cabeças” de explicar
22:49 Twin Peaks. Pensar em Twin Peaks como uma série de pistas que levam a uma resposta é dar
22:53 passos para trás. A solução é olhar as coisas por outro ângulo.
22:58 A “ideia” fala tudo. A “ideia” dita tudo o que se segue. Apenas seja fiel
23:04 à “ideia”.
23:06 Todos os projetos de David Lynch começam de uma ideia central, e tudo na obra
23:09 se estende ou serve a essa ideia central. Então, pensamos na ideia como se fosse um projetor,
23:16 emitindo luz através de uma lente que produz uma imagem de Twin Praks. Esse ponto não
23:22 precisa necessariamente se conectar com outro... mas eles estão conectados pelo mesmo ponto de
23:27 origem.
23:28 Uma forma mais simples de pensar nisso é: Twin Peaks é uma mensagem, mas está codificada em uma
23:32 linguagem de imagens, e sons, e história, e a ideia central era a chave usada para criptografar
23:37 tudo. Tentando voltar e descobrir uma chave para a mensagem codificada é bem
23:43 difícil, mas se tivermos a chave, poderemos decodificar a mensagem muito facilmente...
23:47 Então vamos atrás dessa chave.
23:50 Meu sonho é um código esperando ser quebrado. Quebre o código, resolva o crime.
23:55 A primeira parte da nossa chave é entender o princípio fundamental da filosofia artística
24:00 de David Lynch... e você deve pensar que essa é uma tarefa fácil. Pessoas já tentaram antes...
24:05 "O que faz algo distintamente ‘Lyncheriano'? É a mistura bizarra do macabro e o
24:11 mundano, DUALIDADE, a revelação que o real medo vem da ambiguidade, DUALISMO, virar
24:18 uma cidade americana ao avesso para expor sua barriga decadente, DUALISMO, ninguém realmente
24:25 sabe, é apenas um sentimento que você vê, você sente, você saca,” e nada disso
24:29 responde, e a maioria das pessoas acabam só listando coisas que estão nos filmes sem
24:33 explorar qualquer razão por trás delas.
24:37 Tem essa cidadezinha americana, com cercas brancas, real, inconsciente, e tem
24:43 toda essa lama e sujeira e gosma e horror e perversão embaixo da superfície
24:49 de tudo o que você pode ver. E eu acho que David Lynch sempre se divertiu muito com esse
24:53 tipo de lugar.
24:56 As pessoas realmente acham que todo o objetivo de Lynch é apontar para o que é bom e mostrar
25:01 que secretamente é ruim. Eu discordo. Eu acredito que a mistura que Lynch faz de luz e sombra é um
25:06 meio para um fim, que é...
25:09 nos mostrar a escuridão para que possamos reconhecer a luz.
25:14 Lynch está tentando criar uma apreciação pelo mal, porque sem isso, você não consegue
25:18 ver o que é bom. Você precisa tomar o mal junto com o bom, o amargo junto com o doce,
25:23 o café com a torta de cereja. Ele disse isso tudo em uma entrevista de 1992 com Kristine
25:30 McKenna.
25:31 "Vivemos em um mundo de opostos, de uma extrema maldade e violência oposta por bondade e
25:36 paz. Aqui é assim por uma razão, mas nós temos dificuldade em descobrir que razão
25:41 é essa. No esforço de entender a razão, nós aprendemos sobre equilíbrio...”
25:45 "Achar a sua obra tranquila e bonita enquanto a maioria acha perturbadora, sugere
25:50 que você está incomumente confortável com o lado sombrio da sua psique; por quê?”
25:54 Ele foi questionado inúmeras vezes, e ele nunca providenciou a resposta. Mas aqui?
26:00 "Eu sempre gostei de ambos os lados e acredito que para apreciar um, você tem que
26:05 conhecer o outro – quanto mais escuridão você puder juntar, mais luz você poderá ver.
26:10 E aí está. Por que Lynch mistura o macabro e o mundano em sua arte? Não é para destacar
26:15 o macabro – é para destacar ambos, para nos fazer apreciar a beleza do mundano.
26:22 ESCURIDÃO E LUZ CRIAM A APRECIAÇÃO UMA PELA OUTRA É para achar o ponto de equilíbrio em qualquer situação, e para Lynch, isso faz
26:26 o macabro ser bonito também. “O que é a cerca branca por si só? Nós precisamos ver os
26:32 bichos rastejantes embaixo da superfície, e isso vai nos dar o contraste que precisamos para apreciar
26:38 a cerca branca."
26:39 Eu acho que essa é a chave para o amor de Lynch pelos anos 50 – a 2ª Guerra Mundial tinha acabado,
26:45 as pessoas passaram pelo Inferno, então havia um apreço real pelo seguro e saldável,
26:50 o que a audiência de cultura pop moderna iria achar chata; quanto mais sombria e
26:54 horripilante for a situação que alguém é colocada, mais bonito fica o ‘chato’ em contraste.
27:00 Filadélfia, pra mim, como sempre digo, foi minha maior influência. Era uma cidade suja. Tinha
27:06 um bom humor. Tinha medo, violência, desespero, tristeza, insanidade, corrupção, e
27:16 isso meio que entrou dentro de mim e virou uma influência... que, a propósito, eu amo.
27:27 Ele ama isso porque isso o ajudou a ver a negatividade para que ele pudesse ver melhor a positividade.
27:33 Por que O Mágico de Oz pé um dos filmes favoritos do Lynch? A gente pode acabar focando
27:37 no aspecto dos sonhos, mas eu acho que, na verdade, é por ser a história de uma garota
27:42 inocente com uma vida simples na fazenda, mas é preciso que ela seja sugada para dentro de um pesadelo
27:48 fantástico, e em cores, para reconhecer aquilo.
27:51 Se a gente quer ver claramente a filosofia de Lynch em ação, precisamos olhar em nada mais do que Veludo
27:55 Azul, que é a versão de David Lynch de O Mágico de Oz, e Jeffrey Beaumont é sua
27:59 Dorothy Gale. Essa comparação já foi feita antes, mas ninguém explica o porquê, então esse é
28:05 o porquê:
28:06 Jeffrey é uma criança arrumadinha que só conhece a tranquilidade dos quintais verdes e das cercas
28:09 brancas, mas quanto ele inocentemente acha que pode desvendar o “Caso da Orelha Cortada” à la irmãos
28:13 Hardy, ele embarca em uma jornada sombria através da escuridão, e fazendo isso, ele descobre a própria
28:18 escuridão. Apenas então ele pode apreciar de verdade a beleza da sua vida suburbana parada e
28:24 tediosa.
28:25 Agora, é claro que esse equilíbrio de sombra e luz pode não ser a única coisa que faz algo
28:29 ser Lynchiano, mas é algo significativo o suficiente para nosso propósito, e é a primeira parte
28:34 da nossa chave. Vamos ver como isso se aplica diretamente a Twin Peaks, usando nosso conhecimento
28:38 da história de bastidores. Por que David Lynch ficaria tão aborrecido de ter solucionado o assassinato
28:43 de Laura que fez ele sair da série por um terço da segunda temporada?
28:48 "O aspecto violento da cultura aumentou ou fomos nós que começamos a dar mais atenção?”
28:52 "É muito maior agora. Coisas sombrias sempre existiram, mas elas costumavam estar em equilíbrio
28:58 com as boas e a vida era mais lenta. Tinha algumas coisas que eles tinham medo, claro,
29:02 mas agora isso acelerou de forma que o nível de ansiedade das pessoas tá na estratosfera.
29:08 A TV acelerou as coisas e fez as pessoas ouvirem mais notícias ruins. A mídia de massa encheu as pessoas
29:14 com mais do que elas podiam aguentar... Essas coisas criaram um tipo moderno de medo
29:19 na América.
29:20 Em entrevistas com Chris Rodley, ele disse mais sobre essa atmosfera de medo
29:24 "Mas tinha loucura no ar e as pessoas estavam se apegando a isso. É como se a mente
29:29 fosse um pião: começa a girar mais e mais rápido e aí, se começar a oscilar, pode sair
29:34 muito do controle... E você não consegue nem relaxar em casa: a televisão está mandando
29:40 mais coisas, e vai só se amontoando e amontoando.”
29:43 "É legal quando as pessoas realmente gostam de algo que você fez, mas é tipo o amor, onde
29:47 parece inevitável que as pessoas cheguem num ponto em que elas se cansam de você...
29:52 É tipo uma pequena dor de cabeça, e essa dor vem do fato que nós estamos
29:55 vivendo na era do Esqueceram de Mim. As casas de arte tão morrendo. O que temos no lugar são cinemas de shopping
30:02 exibindo doze filmes e esses são os filmes que as pessoas veem. A televisão diminuiu
30:07 o nível e tornou um tipo de coisa popular. Essa tal de TV se move rápido, não tem muita
30:14 substância, tem uma claque e isso é tudo.”
30:18 Nessa última, pode parecer que ele está só mostrando sua raiva pela série ter sido cancelada.
30:23 O DESEJO DE LYNCH POR EQUILÍBRIO VS. A ATMOSFERA DE MEDO DA TV Mas, sabendo que ele sempre procurou o equilíbrio entre bem e ma
30:27 e que ele acha que a TV acelerou uma atmosfera de medo... isso muda um pouco as coisas.
30:33 Naquele contexto, se olharmos essa citação do início dos anos 90, antes de Twin Peaks estrear,
30:37 a intenção basilar – a mensagem por trás de Twin Peaks – emerge:
30:43 "A pior coisa desse mundo moderno é que as pessoas acham que na TV você morre com
30:48 zero dor e zero sangue. Pode entrar na cabeça das crianças, a ideia de que não é ruim
30:54 matar alguém, e que não dói muito. Esse é o real problema para mim. É
31:00 uma coisa doentia."
31:03 Essa frase entrega tudo. Naquela época, David Lynch acreditava que a TV não equilibrava
31:08 a bondade com o mal, luz com sombra. Lembre o panorama da TV na época; todo mistério de
31:13 assassinato era fechado no final de cada episódio. A violência na TV era "consumível", e eu vou usar bastante
31:21 VIOLÊNCIA CONSUMÍVEL DE TV esse termo “violência consumível de TV” de agora em
31:23 diante, então eu quero deixar claro o que isso significa. TV estava embalando vítimas pra
31:29 audiência consumir e descartar sem nem pensar em quem eram essas pessoas. “Oh,
31:33 Mr. MacGuffin era uma pessoa com pensamentos e sentimentos e uma família? Eu não ligo,
31:38 tudo o que eu quero saber é como a porta foi trancada por dentro...!” Os espectadores queriam a violência,
31:45 eles queriam que ela fosse divertida de ver, sem amarras, sem a dor e sofrimento que
31:50 vinha com isso. Eles queriam um desfecho para, então, prosseguirem para próxima vítima consumível.
31:56 Ao tirar toda a tristeza dessa violência para que ela fosse mais divertida, a TV igualou o
32:01 prazer do mundano com o prazer da violência, o que obscureceu totalmente o que é bom
32:07 e mau, e desiquilibrou a balança.
32:10 Nós vemos gente morrendo aos milhares todo ano nas séries de TV. As pessoas relacionadas
32:15 a estas superam tudo em questão de minutos. Nós vimos séries, um monte delas
32:20 esse ano, em que pessoas falam sobre seus amados que acabaram de morrer
32:24 como se fosse algo que eles viram na TV. Eu gosto do fato de que teve um tema
32:28 recorrente nessa série, que essa morte afetou esse lugar, e afetou
32:32 especialmente a família. E essa é uma coisa rara e inovadora, e algo que eu considero
32:37 um avanço para a televisão.
32:40 Laura Palmer foi uma resposta direta à violência mundana, uma tentativa de restaurar a balança
32:45 ao se aprofundar mais na anatomia de um mistério de assassinato do que qualquer outra série de TV faria. Ela mostrou
32:50 coisas nunca faladas da TV da época: um policial chorando na cena de um
32:55 assassinato, pais abatidos de dor perdendo a cabeça, uma cidade inteira profundamente afetada pela
33:00 perda trágica de uma menina que todos conheciam. Amor, responsabilidade, comunhão.
33:06 Assassinato não é um evento sem rosto. Não é uma estatística registrada no final
33:09 do dia. A morte de Laura Palmer afetou cada homem, mulher, e criança, porque
33:15 a vida tem significado aqui – toda vida. Esse é um jeito de viver que achava ter desaparecido
33:18 da Terra, mas não desapareceu, Albert. Está bem aqui em Twin Peaks.
33:22 Em contraste, estava a verdadeira escuridão e mal, se opondo às histórias convenientes, limpas e rasas
33:27 que a audiência costumava ver. Assassinatos em série, corrupção, tráfico de drogas, abuso
33:33 conjugal, prostituição adolescente, BDSM, trauma psicológico...
33:38 Novos episódios não nós traziam mais perto pra solução do caso, mas, ao contrário, criavam mais dúvidas,
33:43 e as dúvidas eram o ponto. “Quem matou Laura Palmer?” Melhor, “Quem ERA Laura Palmer?”
33:49 Ela era uma pessoa que se equilibrava na linha entre sombra e luz, tanto que todos
33:54 envolvidos em sua vida estavam conectados a ela pela sombra ou luz. Quanto mais aprendíamos
33:59 sobre ela, mais aprendíamos sobre eles, e quanto mais aprendíamos sobre eles, mais
34:03 entravamos na questão.
34:05 LYNCH: A analogia pra isso é: eles dizem que negatividade é igual a escuridão, então você olha para
34:13 a escuridão e diz, “Espere um minuto, escuridão, na verdade, não é algo, é a falta de
34:18 algo.” Então, não importa quão escuro a noite tenha sido quando o sol se levanta.
34:24 Automaticamente, sem precisar tentar, a luz do sol remove a escuridão
34:28 Você não consegue se livrar da escuridão a menos que a exponha à luz, e em Twin Peaks, a luz era a investigação.
34:36 A INVESTIGAÇÃO ERA A LUZ BRILHANDO NA ESCURIDÃO Enquanto a investigação continuasse, mais e mais da
34:39 escuridão de Laura, e por consequência a escuridão da cidade, seria exposta. Ao ver
34:45 a tristeza e a dor causada pelo seu assassinato, a audiência, com sorte, se tornaria mais e
34:49 mais envolvida em Laura como uma pessoa, em oposição a um mero instrumento da trama.
34:54 Na maior parte do tempo, estávamos tentando resolver os problemas dela. Ainda estamos. Você está morta,
35:01 Laura, mas seus problemas continuam por aí!
35:04 Ao mesmo tempo, as coisas iam ficando mais e mais estranhas, o que fazia a experiência
35:08 da audiência continuar sua além de só assistir a série. Ao pensar sobre a série e discutir
35:14 sobre ela e tentar entender esse mistério contínuo dias após cada episódio, a audiência
35:20 não estaria apenas imersa na série por mais do que apenas aquela hora, mas iriam
35:24 ter uma chance maior de ‘sentir’ ela mesma qual a mensagem da série.
35:29 A MENSAGEM A mensagem é: “Essa tal de TV não é equilibrada. Tudo com que você se importa é o ‘quem fez isso’. A
35:36 luz não é forte o suficiente para expor a verdadeira escuridão, e a escuridão não é escura o suficiente
35:41 para que você veja a luz. Você precisa encarar a extensão total da escuridão para poder
35:48 apreciar a simples alegria de um café e torta com quem você ama.”
35:53 Se Lynch quer admitir que ele tem uma mensagem ou não, a mensagem é essa, e isso é
35:57 segunda parte da nossa chave... Sim, a intenção base por trás de Twin Peaks é apenas parte
36:03 do que nós precisamos para entender Twin Peaks...
36:05 Equilíbrio é a chave. Equilíbrio é a chave para muitas coisas.
36:11 Lynch deseja o equilíbrio correto, ele viu que a TV estava fora de equilíbrio e criou Twin Peaks para resolver
36:17 o problema. Sua esperança era que Twin Peaks criasse mais desejo por uma TV equilibrada.
36:22 Eu mastigo chiclete. Um chiclete molengo não é bom de mascar. Um chiclete duro e quebradiço não é bom.
36:30 MEIO-TERMO Mas entre esses dois existe um chiclete firme, com uma pequena crosta, que é delicioso. Esse é o chiclete
36:38 que eu mastigo.
36:39 A Dama do Cepo não gosta do chiclete molengo nem do chiclete duro, ela gosta do meio-termo.
36:43 Ela gosta do equilíbrio.
36:44 Esse chiclete que você gosta voltará com estilo.
36:52 “O EQUILÍBRIO QUE VOCÊ GOSTA VAI VOLTAR À TELEVISÃO” A esperança era que, por meio de Twin Peaks, o equilíbrio voltaria com estilo pra
36:59 infalível de impedir as pessoas de entender a mensagem seria fazer como todos as séries de TV
37:03 consumíveis: desvendar o mistério e dar um desfecho para as pessoas.
37:07 "Desfecho. Eu continuo ouvindo essa palavra. É o teatro do absurdo. Todos sabem que
37:13 na televisão eles vão ver o final da história nos últimos 15 minutos da coisa. É
37:18 tipo uma droga... Assim que o programa dá um senso de desfecho, te dá uma desculpa pra esquecer
37:23 que você viu essa porcaria."
37:26 Essa foi a razão por que David Lynch saiu depois da revelação do assassino, porque era totalmente
37:31 catastrófico para a mensagem central. Muito mais do que apenas acabar com a trama, isso reduziu
37:37 Laura a uma “vítima da semana” descartável, facilmente consumida e descartada para dar espaço
37:42 para a próxima, tornando Twin Peaks exatamente no tipo de série que ela
37:47 deveria ser o antídoto. Acabar com a investigação dela era apagar a luz que iluminava sua
37:54 escuridão. Era uma contradição ao nível fundamental, a maior ironia possível.
38:01 Há também uma lenda de um local chamado Black Lodge. Lá, você encontrará seu próprio
38:07 eu sombrio. Mas é dito que se você confrontar o Black Lodge sem a coragem perfeita, você
38:13 terá a sua alma totalmente aniquilada.
38:15 Há indicações de que a ideia dos “dois Coopers” deixada no final da Temporada 2 foi
38:20 planejada desde o começo da série original, e é por isso que a série acabou nesse
38:24 gancho do Cooper mau deixando o bom preso no Lodge – as pessoas
38:28 que trabalhavam na série ainda estavam construindo isso. Mas, quando Lynch retornou
38:33 para a direção, a série já estava morta, então eu proponho que Lynch adaptou a ideia para
38:40 refletir a situação. Lynch sempre falou sobre a ideia de “ação e reação” quando
38:45 questionado sobre como ele cria sua arte.
38:47 E essa “ação e reação”... Você faz uma ação, você observa, você reage, você sente,
38:52 e isso indica a próxima ação. E você reage, você pensa, sente, e isso indica
38:59 a próxima coisa, e vai crescendo. E isso é uma coisa linda.
39:02 Então, esse é o gancho que sempre foi planejado, ou naturalmente se tornou a conclusão
39:09 da história? Esse foi o final que que se revelou a David Lynch. Twin Peaks falhou
39:15 em encarar seu próprio eu sombrio com coragem, falhou em iluminar a escuridão, e se tornou
39:21 o mal que tentava combater. A investigação de Dale Cooper acabou com a escuridão tomando
39:26 conta. Nós pensávamos que a verdade seria uma coisa boa, mas só trouxe o mal.
39:31 Eu só queria ser boa. Eu queria ser boa. E foi tão bom dizer a verdade.
39:40 Deixe minha família em paz!
39:45 Will!
39:46 Bobby e Shelly brincam com Heidi por estar atrasada no último episódio usando o mesmo diálogo
39:51 que eles usam no primeiro episódio.
39:53 Demorou demais na linguiça hoje de manhã?
39:55 Demorou demais na linguiça hoje de manhã?
39:57 Ocupada pegando o velho no tranco, hã?
40:00 Ocupada pegando o velho no tranco... de novo!
40:02 Nós acabamos exatamente onde começamos, a TV ficou desiquilibrada de novo, tudo na mesma.
40:09 David Lynch tentou restabelecer Laura Palmer como centro do mistério em Os Últimos Dias de
40:13 Laura Palmer, e infelizmente, as reações provaram que ele estava certo. As pessoas tiveram seu desfecho
40:19 e não estavam mais interessadas em Laura Palmer. O filme foi a última chance de despejar
40:24 cada simbolismo que não tinha sido explorado antes, e é aí que nós aprendemos
40:29 o método de achar a parte final da nossa chave. Não estamos nem perto de acabar, e
40:34 já sabemos a intenção base por trás da série! Porém, nós ainda não sabemos que
40:39 droga o creme de milho representa. Sabemos o “O que”, e agora precisamos saber o “Como”,
40:45 e para isso, nós vamos parar de olhar pra fora da série e começar a destrinchá-la.
40:49 A CHAVE QUE ABRE A CAIXA Estranho, essa chave aparecer depois de todos esses anos...
41:00 Como a gente identifica e interpreta as pistas de Twin Peaks? Antes de lançar a Temporada 3,
41:06 David Lynch falou pra Variety que Os Últimos Dias de Laura Palmer seria muito importante para entender
41:10 a Temporada 3.
41:11 Mas, na realidade, isso se estende a toda a série. Todas as pistas para uma interpretação correta
41:16 de Twin Peaks estão no filme e nós só precisamos achá-las e interpretá-las.
41:21 Por sorte, o filme começa nos ensinando o método. O Agente Especial Chet Desmond vai mostrar
41:26 o caminho.
41:28 Primeiro, uma coisa que eu acho que ninguém vai contestar: David Lynch, o diretor do filme
41:33 inspirado em Filadélfia, interpreta Gordon Cole, o diretor do FBI da Filadélfia - esse
41:39 O DIRETOR é o diretor (uma piscada nada sutil, David Lynch interpreta ele mesmo, e todo mundo)
41:44 meio que já pegou essa autoinserção dele).
41:47 Vocês podem me achar nos escritórios da Filadélfia! Eu pego o voo hoje!
41:52 Filadélfia, pra mim, como sempre digo, foi minha maior influência.
41:55 Então o diretor da Filadélfia apresenta para seu detetive, visuais surpreendentes
42:01 cheios de pistas. Esses são os mistérios que ele quer que seu detetive resolva, e
42:06 por consequência, ele quer que a audiência resolva. O diretor apresenta à audiência os
42:11 mesmos visuais cheios de pistas.
42:14 Chet, eu tenho uma surpresa pra você, algo interessante que queria te mostrar!
42:20 Se o diretor fora da série é o mesmo que o diretor dentro da série, isso
42:24 quer dizer que os detetives dentro da série são o mesmo que os detetives fora da
42:29 série? Vamos seguir com essa ideia e ver o que acontece.
42:33 "A mente é um detetive," Lynch diz.
42:37 "A intuição é o detetive em nós."
42:39 "[Dale Cooper é] um detetive muito intuitivo."
42:45 Vamos ver usar um pouco de metalinguagem e dizer que Gordon Cole representa o próprio David
42:49 Lynch e seus agentes representam a audiência.
42:54 A gente tem tempo para aprender as razões por trás dos comportamentos variados dos seres humanos? Alguns gastam
43:01 seu tempo. Podemos chamá-los de detetives?
43:03 No passado, os detetives na audiência não foram muito bem em interpretar
43:06 pistas, então perceba que, no filme, o diretor apresenta as pistas ao Agente Desmond,
43:12 mas não ao Agente Stanley.
43:14 Chet, sua surpresa!
43:16 O nome dos personagens é importante aqui.
43:19 A AUDIÊNCIA NOVATA Ao contrário do ordinário Sam Stanley (que somos nós),
43:22 O PROFISSIONAL CHET o ás Chet Desmond é um profissional com se próprio modus operandi. Ele já é de casa, familiar
43:27 com o modo que seu diretor trabalha, e ele vai ensinar o detetive novato como interpretar
43:32 as pistas do diretor.
43:34 A primeira lição que aprendemos com a prima Lil é que deveríamos estar prestando atenção no que
43:37 o diretor está enfatizando e não dar muita bola para o que está acontecendo no fundo.
43:43 O detetive novato é muito bom com pequenos detalhes, como ver os fios de cores
43:47 diferentes usados para tecer o vestido (ou notar erros de continuidade).
43:52 O vestido foi alterado pra caber nela. Eu notei um fio de cor diferente onde o vestido
43:56 foi colocado.
43:57 Gordon disse que você era bom...
44:00 Mas enquanto o novato está ocupado com isso, ele não vê a pista mais evidente e óbvia de
44:04 todas: a rosa azul. O que o espectador mais comum faz quando quer ser detetive
44:10 e tenta descobrir o que está acontecendo em Twin Peaks? Ele pode fazer o mesmo que o Sam.
44:15 Ignorar as coisas interessantes acontecendo na frente dele para literalmente
44:20 CALCULANDO O VALOR DE CADA DETALHE ficar calculando quanto custa cada lâmpada, cadeira e papel de parede.
44:25 Eu descobri que esse escritório todo, incluindo a mobília, custa $27,000
44:30 Isso é ótimo, mas você viu o gorila?
44:32 Ela me disse que fez doze páginas de anotações sobre a série, que ela basicamente
44:37 analisou cada episódio frame a frame, em câmera lenta, acelerado, e de qualquer outro jeito que ela acha
44:41 que vai pegar algo a mais da série.
44:44 Se prenda às coisas óbvias mostradas em um close detalhado. Nem tudo vale a nossa atenção,
44:50 não são todos os detalhes que têm valor.
44:54 Depois que já saber em que prestar atenção, ainda precisamos saber como decifrar as coisas,
44:58 e isso nos leva à nossa segunda lição: Lembre-se do que Mike disse a Cooper no seu sonho – ele
45:03 não quer dizer o que a gente acha, ele quer dizer o que é, como soa.
45:08 Eu quero dizer o que é, como soa.
45:12 Ao interpretar as pistas, não devemos trazer nossos significados. David Lynch está
45:16 mostrando e falando. O que ele quer dizer? Descreva as coisas como elas são, o que elas
45:21 parecem, como elas soam, compare elas com o que Lynch já nos mostrou e disse antes, e
45:26 tire de lá. Deixe-o falar através do seu diálogo e visual.
45:31 Mantenha essas lições na mente:
45:33 "Uma mão no bolso" – ela está escondendo a mão dela.
45:36 O que significa que eles estão escondendo algo.
45:37 "Uma mão fechada" – ela quer uma briga
45:41 O que significa que eles serão agressivos.
45:42 "Andar no mesmo lugar" é andar em um lugar.
45:46 Significa que vão ter que andar muito.
45:50 Essas coisas são exatamente o que elas parecem, como elas soam, mas Lynch as apresenta
45:53 de um jeito peculiar para que a gente note a importância delas. Se uma pista não for óbvia,
45:58 fique firme — tem um mistério esperanto pela gente.
46:02 Uma rosa azul?
46:03 Muito bem... mas eu não posso te explicar isso
46:06 Se algo parecer meio obtuso, eventualmente o Lynch vai nos dar a resposta,
46:10 Um vestido sob medida é o código para drogas.
46:13 Oh...
46:14 Mesmo que for uma resposta que a gente possa descobrir sozinhos.
46:17 Qual é o significado da rosa azul? A rosa azul não existe na natureza. Não
46:22 é uma coisa natural.
46:24 Se a resposta não vier rápido, não desista dizendo: “Acho que vamos ter que esperar outra
46:27 temporada para a explicação!” Você não tentou o suficiente. Pense nisso, Tammy.
46:33 Pense nisso, Tammy.
46:34 Agora, nós temos a intenção original de David Lynch com a série (junto com o motivo de ter
46:39 falhado), e temos um método de interpretar as pistas. Para a parte final da chave, vamos aplicar
46:44 tudo isso na série e ver o que conseguimos.
46:47 A série foi criada como resposta a uma doença: o mal da violência consumível de TV. Há
46:54 algo na série que parece com isso? Tem:
46:57 Talvez Bob seja apenas isso, a maldade do homem.
47:01 Bob possui as pessoas e faz elas cometerem atos malignos.
47:05 BOB É UM SIMBOLO DE “MALDADE” Bob é a maldade do homem.
47:09 É o Bob, quer se divertir. Ele põe um sorriso... e todos vão fugir!
47:16 Bob gosta disso. É divertido para ele.
47:18 BOB É O “MAL PELA DIVERSÃO” Bob é “a maldade que o homem faz” pelo entretenimento
47:23 No Episódio 8, nós vemos essa coisa creditada como A Mãe expelindo ovos em uma gosma
47:28 branca. Bob é um desses ovos que saí d’A Mãe, então podemos concluir que
47:33 esse é o nascimento de Bob. Um alarme no castelo do Fireman alerta o Fireman disso,
47:38 e ele responde dando à luz um de seus ovos dourados: Laura Palmer. Laura Palmer
47:43 foi criada como uma resposta direta ao nascimento da maldade pelo entretenimento...
47:50 Já estamos confirmando que o objetivo de Twin Peaks era restaurar o equilíbrio
47:55 ao combater a violência consumível de Bob usando a história de Laura Palmer. Vamos continuar!
48:00 David Lynch já nos disse que a luz combate a escuridão expondo-a.
48:04 Automaticamente, sem dificuldade, a luz do sol remove a escuridão.
48:09 LUZ = A INVESTIGAÇÃO DE DALE COOPER O método de Twin Peaks para combater a escuridão era a luz da investigação contínua do assassinato
48:15 de Laura Palmer. A escuridão sendo iluminada era culpa de Bob.
48:19 Na estreia da Temporada 3, Laura fala para o Agente Cooper, “Estou morta, porém vivo,” e então
48:28 tira a própria cara para revelar que está cheia de luz. Se a luz é a investigação,
48:34 então Laura vive por meio da investigação. Enquanto a investigação continuar, a
48:39 série vai continuar, e enquanto a série continuar, a investigação vai continuar.
48:45 Laura está revelando que essa luz é que permite que ela continue vivendo depois da morte...
48:50 Tá sentindo? Estamos começando a enxergar o que está acontecendo aqui. Não se
48:56 precipite. Vamos seguir isso até o final. Twin Peaks e a investigação de Laura Palmer
49:00 começaram com o assassinato dela, então vamos olhar a cena do crime.
49:04 O espírito conhecido como Bob, usando o pai de Laura como hospedeiro, sequestra Laura e sua amiga Ronette
49:09 e leva elas para um vagão de trem abandonado. Bob não pretende matar Laura; ele quer
49:14 possuí-la e usar o corpo dela para fazer o mal.
49:18 Eu quero experimentar pela sua boca.
49:24 Se ele tiver sucesso em possuí-la, não terá nenhum assassinado e, portanto, nenhuma investigação.
49:30 Ronette começa a orar porque ela vai ser vista se for morta. Então ela diz que não está pronta
49:36 porque está suja demais.
49:37 Pai, se eu morrer agora, você vai...? Me matar... Me ver... Olhe pra mim, eu estou tão suja... Eu
49:50 não tô pronta...
49:52 Que droga isso quer dizer? Ela está pedindo para ir para o céu? Se sim, note que
49:57 ela está quase implorando para ser morta para que Deus “veja” ela. Não “leve” ela, “veja”
50:01 ela.
50:02 ... você vai...? Me matar... Me ver...
50:08 Se Laura e Ronette trocassem de lugar, a grande questão seria: “Quem matou Ronette Pulaski?"
50:14 RONETTE NÃO QUER SER INVESTIGADA Ronette parece saber que ser assassinada é ter esse tipo de atenção
50:18 durante a investigação. Ele quer ser morta para que seja “vista”, mas ao
50:23 mesmo tempo, ela não quer porque significa que todos os seus segredos sombrios vão
50:27 ser desenterrados ao invés dos de Laura.
50:30 Até esse ponto do filme, Laura esteve se perguntando onde seus anjos da guarda estavam?
50:34 Agora, nesse momento, ela vê um anjo aparecer para Ronette. As amarras de Ronette são cortadas e ela está
50:40 livre para escapar. Laura parece traída, e depois com raiva disso. O que parece estar
50:46 acontecendo aqui? Parece que o anjo teve misericórdia de Ronette. Então vamos chamar isso
50:50 de “anjo piedoso”, libertando Ronette do sofrimento... mas não a Laura. Essa é a hora
50:56 de Laura morrer. Como se fosse ir junto com o anjo, Bob joga Ronette fora do vagão ao invés
51:02 de amarrar ela de volta. Por que ele não matou ela? Por que jogar ela assim?
51:07 Quando ele joga Ronette para fora do trem, Mike, que estava batendo na porta para entrar,
51:12 joga seu Anel de Coruja verde para Laura colocar no dedo. Bob quer possuir Laura,
51:17 mas ao invés disso, algo no fato de Laura usar o anel de Mike faz Bob matá-la.
51:21 Não me obrigue a isso! Nããão!
51:27 Então, Mike VAI EMBORA. Mike deveria estar desesperado para parar Bob, mas ele não apenas
51:33 impede Bob de matar Laura, ele praticamente facilitou seu assassinato com o anel
51:38 e depois ficou rindo enquanto aquilo acontecia! Ele não fica para proteger Ronette de Bob,
51:43 nem fica esperando para pegar Bob quando ele saísse do vagão de trem! E ele fica
51:48 com Bob nas suas garras no final do filme, mas ele deixa Bob sair e depois causar
51:54 mais sofrimento! Essas são ações de alguém que está tentando parar a maldade de Bob?
52:00 Só se olharmos para elas por uma certa “luz”...
52:04 MIKE CAUSA O ASSASSINATO PARA LANÇAR UMA “LUZ” EM BOB Mike deve saber que é preciso combater escuridão com luz, que Bob deve se
52:08 de uma investigação, e que a luz da investigação não existe a menos que haja um assassinato...
52:14 Quando o Bob sai do vagão com o corpo de Laura, ele deixa Ronette lá no chão.
52:19 Ele não verifica para ver se ela está morta, ele só vai embora. Essa é a ação que
52:23 eventualmente vai levar à investigação. Por que permitir essa possibilidade?
52:27 Bom, vou te falar, nós somos gratos por ter o FBI aqui. Foi meio que sorte a Ronette
52:32 ter cruzado a fronteira do estado.
52:34 Sou só eu, ou todos esses personagens estão agindo como se soubessem que essa é a cena do
52:38 assassinato de Laura e da investigação consequente, e eles estão agindo como se
52:42 fosse para acontecer...?
52:43 Você tá dizendo que a Laura queria morrer?
52:47 Talvez ela tenha se permitido ser morta...
52:51 No final do filme, Laura aparece na Sala Vermelha ao lado de um Agente Cooper sereno.
52:57 Laura está totalmente perdida, confusa e perturbada. Como algo tão horrível pode acontecer com
53:03 ela? De repente, uma luz pisca em seu rosto e um anjo aparece para ela. Laura olha para
53:09 a luz e começa a rir.
53:11 Isso significa o que todo mundo está achando? O anjo e a luz indicam que
53:15 Laura vai para o White Lodge, que Laura foi para o Céu?
53:19 Não necessariamente, porque já vimos um anjo como esse antes. O anjo de Ronette era um anjo
53:23 piedoso, que a libertou do sofrimento. Logo, esse deve ser o anjo piedoso de Laura, libertando
53:29 Laura do sofrimento. O anjo não apareceu para ela no vagão como apareceu para Ronette,
53:34 ele apareceu aqui, depois que ela foi morta. Então, como o anjo de Laura está aliviando ela do
53:40 sofrimento? Ela está provocando a luz mágica. O que é a luz mágica, e por que diminuiria
53:46 a dor de Laura?
53:47 Bem, o que a luz parece ser? Onde já vimos uma luz piscando no rosto de
53:52 alguém antes? Dale Cooper, quando ele entrou na Sala Vermelha? E antes disso?
53:58 E quanto ao nosso dia a dia?
54:00 Agora você vai enxergar... que tal a luz no rosto de alguém quando está assistindo TV?
54:07 O anjo piedoso está libertando Laura do sofrimento ao mostrar o porquê dela ter que morrer...
54:13 Pelo bem da televisão. Ela tinha que morrer para que David Lynch fizesse uma série sobre
54:20 isso. Laura está assistindo TV e assentindo com o entendimento dessa piada cósmica onde ela
54:27 é literalmente uma personagem de TV que não iria nem existir se não houvesse uma série sobre seu
54:32 próprio assassinato, e as pessoas assistindo a série é o que levará ao entendimento da mensagem
54:36 de equilíbrio de Lynch. Essa é a parte final da nossa chave: o metacomentário não é só um
54:43 comentário, ele está acontecendo literalmente dentro da série!
54:48 Twin Peaks é uma série de TV que sabe que é uma série de TV sobre o próprio
54:56 conceito de televisão.
54:58 Parece que você andou comendo alguns dos cogumelos daqui.
55:04 Então agora nós temos uma chave:
55:06 A CHAVE: TWIN PEAKS É UMA SÉRIE DE TV AUTO-CONSCIENTE SOBRE O EQUILÍBRIO DE LUZ/SOMBRA NA TV David Lynch deseja equ
55:10 Twin peaks foi criado para concertar o problema. Esse metacomentário está literalmente acontecendo na série.
55:17 Portanto, Twin Peaks sabe que é uma série sobre o balanço de luz e sombra na
55:23 TV.
55:24 Isso é uma chave, mas ela entra em todas as fechaduras? Entra em qualquer fechadura? Como podemos saber
55:29 se essa interpretação é a correta? Não precisamos aceitar logo de cara, vamos
55:33 apenas começar assumindo que essa é a chave para tudo e usar isso para tentar decodificar
55:38 algo bizarro, e aí veremos se a chave se encaixa. Se sim, vamos continuar até não se
55:43 encaixar mais. E se realmente explicar cada coisinha, eu acho que tivemos sucesso.
55:49 Apenas lembre-se, não precisa embarcar 100% nessa ideia agora. Nós estamos apenas
55:54 testando. Mas fique comigo e eu prometo que as peças vão se encaixar quando tivermos
55:59 terminado. Então... prova de fogo. Qual é a cena mais bizarra que eu consigo
56:04 lembrar? Que tal a cena da reunião na Loja de Conveniências?
56:08 O cromo reflete nossa imagem.
56:11 Eletricidade.
56:12 Do puro ar. Nós descemos do puro ar, para cima e para baixo; uma relação
56:22 entre dois mundos...
56:30 Se isso é sobre um conceito literal de uma série de TV, então o que seriam os dois mundos?
56:39 Eles seriam o mundo da série de TV e o mundo real. Nos anos 90, o que
56:44 trouxe a série para nossa TV para que pudéssemos assistir? Duas coisas. Número 1, eletricidade. Alimenta
56:51 a TV. Número 2, ondas de rádio, para cima e para baixo, descendo do ar puro – as ondas de ar.
57:03 Uma relação entre dois mundos; nós no mundo real assistindo o mundo na TV,
57:08 o que dá à luz a experiência de entrar no mundo da TV. Como cada episódio da
57:14 série acaba? Com o letreiro da Lynch/Frost Productions; fios de energia, estalando eletricidade,
57:20 e ondas de rádio se projetando para fora. Quais são as duas partes da imagem transmitidas
57:28 nesse sinal de rádio? Luminosidade, ou “luma”, que é o brilho, a luz, e crominância,
57:35 que é a cor, o “croma”. “O croma reflete nossa imagem.” Esses são personagens de TV
57:43 que sabem que são personagens de TV diretamente de frente para a tela da TV falando através da estática
57:50 como eles estão aparecendo na tela.
57:55 ... Acredita em mim agora? Tudo bem se não, porque estou apenas acendendo esse
58:00 fogo.
58:02 LITERALMENTE META O mistério absurdo das estranhas forças da existência.
58:09 frequentemente, Twin Peaks é chamado de paródia de novela, e acho que podemos culpar
58:16 Invitation to Love (Convite para o Amor), a novela assistida pelas personagens em Twin Peaks. Invitation
58:21 to Love foi escrita e gravada por Mark Frost como uma paródia exagerada do meio
58:26 novelístico, e o rumor é que David Lynch não ficou feliz com a forma que Frost fez isso.
58:31 Invitation to Love ser uma piada óbvia combinada com a mistura de gêneros que estava acontecendo
58:36 em Twin Peaks pôs, na cabeça da audiência, a ideia de que Twin Peaks parecia muito autoconsciente
58:41 e autoconsciência geralmente é igual a paródia. Quando questionado por Jeremy Kay do The Guardian se
58:46 Twin Peaks era uma paródia de novela, Lynch respondeu, “Não, não, não, não, não. Ele é uma novela.”
58:53 Da mesma forma, Twin Peaks não é um pastiche, onde imitação é feita para homenagear ao invés
58:57 de zoar. O que as pessoas confundem com paródia ou pastiche era para ser uma “metaficção”,
59:03 onde a obra é autoconsciente do seu próprio meio. O melhor exemplo recente de metaficção seria
59:08 Deadpool, o personagem de quadrinhos que sabe que é um personagem de quadrinhos e constantemente
59:12 fala sobre isso. Lynch queria que Invitation to Love fosse um espelho mais sério do que
59:18 estava acontecendo na série porque deveria ser uma dica sobre a natureza metafictícia
59:21 da série.
59:23 Você pode ver através da (quarta) parede? Você pode ver através da parede?
59:26 Os personagens da novela estão assistindo uma novela. As coisas na novela que
59:31 eles estão assistindo estão acontecendo na novela que eles estão vivendo. A prima idêntica de Laura
59:36 Palmer, Maddy Ferguson, interpretada pela mesma atriz, surge durante a cena que
59:41 vemos que uma atriz de Invitation to Love está interpretando duas personagens.
59:46 Selina Swift como Emerald e Jade.
59:51 Tio Leland...
59:52 Jade, que surpresa! Eu...
59:56 A forma que Lucy descreve o enredo da novela que ela assiste parece exatamente
1:00:00 como ela descreveria a novela que ela vive.
1:00:02 Graças a Jade, Jared decidiu não se matar...
1:00:06 Leo Johnson levou um tiro, Jacques Renault foi estrangulado...
1:00:09 ... e ele mudou seu testamento, deixando as Torres para Jade ao invés de Emerald. Mas Emerald
1:00:15 descobriu e...
1:00:17 ... a serralheria queimou, Shelly e Pete inalaram fumaça...
1:00:18 ... e agora ela está tentando seduzir Chet para dar o novo testamento para ela poder
1:00:21 destruir...
1:00:22 ... Catherine e Josie estão desaparecidas, Nadine está em coma por ter tomado comprimidos pra dormir.
1:00:27 Isso é uma imensa, imensa pista, assim como todas as outras pistas relacionadas à TV que Lynch e Frost
1:00:33 colocaram, como a referência ao Homem de Um Braço Só da série policial The
1:00:36 Fugitive (O Fugitivo),
1:00:38 Momentos antes de descobrir o corpo da esposa assassinada, ele viu o homem de um braço só fugindo
1:00:42 da sua vizinhança.
1:00:44 ou o eco da famosa campanha de marketing “Que atirou em J.R.” para a novela Dallas.
1:00:49 Nós temos os clichês de novela de gêmeos malignos e personagens entrando em comas, e aquela
1:00:54 piada velha de sitcom em que uma simples batida na cabeça causa uma mudança de personalidade completa que
1:00:58 só pode ser revertida por outra batida na cabeça no final do episódio (e, a propósito,
1:01:02 vamos dar uma olhada na realidade perturbadora dessa situação).
1:01:05 Muito disso se resume a descobrir camada após camada de referências internas de filmes antigos,
1:01:12 séries de TV antigas, esse tipo de coisa. Iniciais... Descobrir esse código.
1:01:15 "Eu chamo a série de uma pilha de composto cultural. Há símbolos, e personagens, e expressões
1:01:20 de todos os programas que assistíamos enquanto crescíamos que ecoam pelos corredores de Twin Peaks.”
1:01:25 Twin Peaks não foi só influenciado por esses programas, não está só homenageando esses
1:01:29 programas, e não está parodiando nenhum desses. São esses programas, ele é feito desses
1:01:35 programas. Twin Peaks é uma série sobre o conceito de televisão, e o que as pessoas assistiam na
1:01:40 televisão naquela época? Novelas, mistérios de assassinato e sitcoms, e é isso que
1:01:45 Twin Peaks é. É uma novela, e um mistério de assassinato, e uma sitcom. É a experiência
1:01:51 inteira de ver TV de uma só vez.
1:01:55 "Eu ainda não vejo qual é a grande diferença. Pra mim, é um programa de TV comum.”
1:02:01 Mais como, “Todos os programas de TV ao mesmo tempo.” Twin Peaks é a própria TV.
1:02:10 EM SONHOS
1:02:13 Se a imagem é gigante, e o som é belo, e as pessoas estiverem quietas e entrarem
1:02:19 nesse mundo... É muito, muito delicado o jeito você entra nesse mundo. Isso pode acabar
1:02:24 com o som errado, pode acabar com uma tela pequena e estúpida, mas se você entrar
1:02:30 naquele mundo, pode ser como um sonho.
1:02:32 David Lynch vê filme e TV como uma chance do espectador sair da realidade e entrar num mundo
1:02:38 dos sonhos. Um filme é um mundo dos sonhos que a gente entra quando assiste.
1:02:42 Sabe, aqui é um cinema, e, de repente, as luzes escurecem e a cortina abre, e
1:02:48 nós podemos entrar em outro mundo e só existir lá por causa do filme.
1:02:57 Acontece que Twin Peaks é um filme que está na TV, e a TV tem aquela “tela estúpida e pequena”
1:03:01 Aquilo pode quebrar a ilusão e nos impedir de compreender a resposta para uma das maiores
1:03:05 questões colocadas na Temporada 3:
1:03:07 Somos como o sonhador que sonha e depois vive dentro do sonho. Mas quem é o sonhador?
1:03:17 Uma questão impossível de ser respondida a menos que saibamos que o sonho é o filme ou série
1:03:22 de TV que David Lynch está tentando nos colocar. A maioria das cenas é filmada por uma perspectiva
1:03:27 de terceira pessoa, mas Monica Bellucci quebra a quarta parede e entrega a pergunta diretamente
1:03:32 para a câmera. Gordon Cole não faz o mesmo, ele ainda está olhando pra Monica. Mas ela está olhando
1:03:37 para nós. Ela está fazendo a nossa pergunta, a dos espectadores. “Mas quem é o sonhador?” E depois ela
1:03:44 responde à pergunta. Ela olha através do diretor da Filadélfia e dentro do seu passado, onde
1:03:50 ele se vê jovem. Mas se ela está quebrando a quarta parede, o que acontece se
1:03:55 nós fizermos o mesmo?
1:03:57 Monica ligou e pediu para me encontrar em uma certa cafeteria .
1:04:02 Na vida real, a “certa cafeteria” onde eles se encontraram é uma creperia em Paris, bem
1:04:07 ao lado de uma galeria de arte onde David Lynch exibiu algumas litografias (possivelmente, na mesma
1:04:12 hora que filmaram a cena). Ele vê uma versão dele mesmo que é o personagem Gordon Cole
1:04:17 de vinte e cinco anos atrás, e ela vê uma versão dele que é um artista da vida real,
1:04:22 David Lynch, que criou Twin Peaks vinte e cinco anos atrás. “O sonhador,” o David Lynch
1:04:27 da vida real, “que sonha,” cria uma série de TV, “e depois vive dentro do sonho,” atua em
1:04:33 uma série de TV. A Monica Bellucci da vida real, conversando com a gente, diz que nós, as pessoas na
1:04:40 vida real, somos como ele. Assim como ele vive em um sonho, nós deixamos nossa realidade para viver
1:04:46 nesse sonho quando assistimos Twin Peaks.
1:04:48 Leve pessoas para outro mundo e dê a elas experiências. Entre você nesse outro
1:04:50 mundo e dê a si mesmo uma experiência.
1:04:56 Tem personagens que sabem de fato que estão vivendo em um sonho de série de TV, como
1:05:00 os residentes da Loja de Conveniências que estão dizendo para a audiência como eles estão
1:05:03 literalmente e mecanicamente aparecendo na TV, tem personagens que entram em contato
1:05:08 com essas entidades e entendem que são parte desse sonho de TV -
1:05:12 Nós vivemos dentro de um sonho.
1:05:15 Nós vivemos dentro de um sonho.
1:05:19 - tem a Dama do Cepo, que parece que definitivamente provavelmente sabe que é
1:05:22 parte de um sonho de TV – (ELA SABE QUE A CÂMERA ESTÁ DANDO ZOOM NELA...)
1:05:24 Eu faço o meu papel no palco da vida.
1:05:27 - e então tem todo o resto, personagens de TV que não sabem que são personagens de TV,
1:05:31 mas no fundo tem a intuição que podem estar vivendo um sonho de televisão.
1:05:36 É como se eu estivesse tendo o sonho mais belo e o pesadelo mais terrível ao
1:05:40 mesmo tempo.
1:05:41 É tudo como um... como um sonho.
1:05:45 Era a Laura vivendo nos meus sonhos
1:05:47 Isso é real, Ben, ou um sonho estranho e distorcido?
1:05:53 Tudo o que fiz foi vir a um funeral, e é como se tivesse parado em um sonho.
1:06:00 Antes de você vir aqui, Twin Peaks era um lugar simples. Daí uma garota bonita morre... De repente,
1:06:08 o simples sonho vira um pesadelo.
1:06:12 E a bola de sorvete em cima da torta de cereja: Twin Peaks foi construída em volta da Serralheria
1:06:16 Packard. Todas as tramas e arcos de história nas primeiras duas temporadas parecem envolver
1:06:21 a Serralheria Packard. Não é o local mais excitante para uma série de mistério de assassinato, não é?
1:06:27 Por que, de todas as coisas, uma serralheria? Porque, bem, o que se faz na serralheria? Eles serram troncos
1:06:35 Serrando troncos... É uma expressão (em inglês) para “roncar”! É um sonho!
1:06:40 Talvez nossos sonhos sejam reais...?
1:06:45 Ocultismo, mitologia, teologia, folclore, encontros alienígenas, misticismo, essas são
1:06:52 formas humanas de tentar explicar nossa existência nessa Terra, então, naturalmente, não conseguir
1:06:57 compreender que eles só existem por causa de uma série de TV, é assim que os personagens
1:07:01 nessa série tentam descrever os estranhos fenômenos que parecem ter algum controle sobre as vidas
1:07:05 deles. Por exemplo, o White Lodge, “onde residem os espíritos que governam o homem e a natureza,”
1:07:11 uma lenda dos Nativos Americanos dentro do universo. Para os personagens na série, o Lodge
1:07:15 parece ser o reino dos deuses. Sempre que querem ir para lá, sempre que entram em
1:07:19 contato com esse poder superior, é na forma de um sonho... o que faz sentido.
1:07:25 Nós sonhamos com eles, e como o sonho de Gordon Cole mostra, eles sonham com a gente... Ou melhor, nós
1:07:30 sonhamos uma abstração de série de TV dos sonhos deles de uma abstração do conceito de televisão
1:07:35 da vida real.
1:07:37 O HOMEM ATRÁS DA CORTINA
1:07:41 "É tão mágico – eu não sei por que – ir a um cinema e ver as luzes se apagarem.
1:07:47 É tão quieto, e então as cortinas começam a abrir. Talvez elas sejam vermelhas. E você entra
1:07:53 num mundo.”
1:07:55 Cinemas costumavam ter cortinas vermelhas na frente da tela que se abriam quando as
1:07:58 luzes escurecessem e o filme começasse, bem como no teatro. Se olharmos para filme e TV como
1:08:03 uma peça acontecendo no palco, então a cortina vermelha serve como um tipo de portal, uma clara
1:08:08 separação entre o mundo dos sonhos acontecendo no palco e o mundo real, onde a
1:08:13 audiência assiste o sonho e as pessoas atrás do palco criam ele. Em Twin Peaks, nós podemos
1:08:17 ver cortinas agindo exatamente como esse tipo de portal, separando o sonho de Twin Peaks
1:08:22 do mundo da Sala Vermelha e da Loja de Conveniências. Ocasionalmente, nós até vemos
1:08:26 os atores desse sonho iluminados no palco.
1:08:29 Eu faço meu papel no palco da vida.
1:08:31 Te vejo quando chamarem ao palco.
1:08:34 Quando um ator numa peça vai dos bastidores para o sonho acontecendo no palco, eles
1:08:38 passam através de “coxias” – o espaço entre as cortinas nos lados do palco. A
1:08:43 Sala Vermelha não tem nada além de cortinas vermelhas e espaços entre cortinas, então a Sala Vermelha representa
1:08:48 esses espaços nas coxias que separam o palco da realidade por trás da cena.
1:08:53 O padrão em zigue-zague no chão representa
1:08:56 ONDAS DE RÁDIO ondas de rádio, que é um tipo de ‘meio-termo’ que a série atravessa para ir da estação até a TV.
1:09:01 "Bom, eu gosto do lugar nenhum da América. Eraserhead é um filme americano, mas fica
1:09:06 meio que em um mundo transitório.”
1:09:09 “Essa ideia de fazer um filme sobre ‘lugar nenhum’ – a Sala Vermelha de Twin Peaks é um desses
1:09:14 lugares?”
1:09:15 “Sim.”
1:09:16 As entidades vivendo nesse "mundo transitório", como em O Mágico de Oz, são os homens nos bastidores
1:09:20 atrás das cortinas, criando a história e a levando para frente. Para nós, eles parecem
1:09:25 magos grandes e poderosos, mas se tirarmos as cortinas de trás, veremos nada além de
1:09:29 pessoas ordinárias usando um maquinário para criar um mundo de fantasia para explorarmos. “ Não preste
1:09:34 atenção nos homens atrás das cortinas."
1:09:37 De onde viemos, os pássaros cantam uma linda canção, e há sempre música no ar.
1:09:45 De onde eles vieram? O mundo da televisão. Na Tvlândia, tem sempre música no ar
1:09:50 porque tem sempre uma trilha sonora. O Homem de Outro Mundo se levanta e dança
1:09:54 com a trilha. Então Cooper acorda e estala os dedos junto... da mesma trilha sonora.
1:10:05 ELE NÃO CONSEGUE OUVIR ISSO
1:10:10 E sobre os pássaros cantando a linda canção, televisão funciona com eletricidade, e qualquer fã
1:10:14 do Naruto pode dizer como parece o som de milhares de pássaros piando juntos:
1:10:17 além disso, a velocidade do jab faz um som "chichichichichi"...
1:10:23 Um som de ataque único, similar ao estrondo de mil pássaros.
1:10:31 FOGO ESTÁ VINDO Eu posso ver a fumaça. Eu sinto o cheiro de fogo...
1:10:40 Parece uma fogueira. O que é isso?
1:10:43 Não é uma fogueira, é um símbolo de fogo. Um tipo de fogo, como a eletricidade de hoje.
1:10:50 ... Bom?
1:10:51 Depende. Depende da intenção, a intenção por trás do fogo.
1:10:58 Destruição, escuridão, isso é mau. Criar luz, banir a escuridão, isso é bom.
1:11:05 O fogo acende a escuridão na mesma hora que destrói seu combustível.
1:11:09 FOGO CRIA LUZ OU DESTÓI COISAS DEPENDENDO DA INTENÇÃO DO USUÁRIO É uma fonte de energia que tem a capacidade de destruir e cri
1:11:16 então o fogo se tornou esse equilíbrio perfeito de luz e escuridão que David Lynch procurava.
1:11:21 ELETRICIDADE CRIA PROGRAMAS DE TV PARA LUZ OU SOMBRA DEPENDENDO DA INTENÇÃO DO CRIADOR A eletricidade que aliment
1:11:26 dependendo da intenção dos criadores.
1:11:28 Como Hank diz, fogo é como eletricidade e eletricidade é como fogo.
1:11:34 FOGO = ELETRICIDADE Em essência, eles são a mesma coisa, então vamos considerá-los a mesma coisa.
1:11:39 Eletricidade vem da estação de energia na forma de CA, ou “corrente
1:11:43 alternada”, que alterna entre uma onda de voltagem igualmente positiva e negativa. Então,
1:11:48 uma corrente de pura CA também se tornou o equilíbrio de positividade e negatividade de Lynch.
1:11:54 Nós podemos ter certeza de que Lynch sabe desse fato ao ouvir ele descrever um filme
1:11:58 que ele sempre quis fazer chamado Ronnie Rocket:
1:12:01 Ele disse, “Tem algo que você queira fazer?” E eu disse, “Sim, fazer esse filme chamado Ronnie
1:12:05 Rocket.” Ele disse, “Sobre o que ele é?” Eu disse, “É sobre um homem de um metro com, você
1:12:10 sabe, um topete vermelho – topete vermelho falso – que funciona com uma corrente elétrica alternada.”
1:12:17 Não apenas eletricidade, corrente elétrica alternada. Ele sabe – positivo e negativo.
1:12:24 Equilibrada.
1:12:25 Como um aparelho de TV usa corrente alternada para recriar programas de TV transmitidos em
1:12:29 1990? Um dos mecanismos principais de uma TV CRT é o tubo de raios catódicos (de onde veio
1:12:36 o nome “TV de tubo”). O CRT dispara elétrons na camada de fósforo na
1:12:41 parte de trás da tela que brilha quando atingida pelos elétrons. Quando ligada, uma voltagem
1:12:46 positiva é aplicada no CRT para atrair e disparar o feixe de elétrons que faz uma varre a
1:12:51 tela para acender o fósforo. Ele quer fazer isso automaticamente quando ligado, então,
1:12:56 se deixar assim, vai criar uma tela totalmente branca. Para formar uma imagem, voltagem negativa
1:13:02 é aplicada a uma malha que bloqueia o feixe de elétrons, deixando algumas áreas da tela escuras. A voltagem
1:13:08 positiva cria luz, a negativa bloqueia a luz para criar escuridão. A imagem formada
1:13:14 por esse processo se torna nossos sonhos de programas de TV.
1:13:18 Você sabe de onde vem os sonhos? Neurônios de acetilcolina disparam impulsos de alta voltagem no
1:13:25 prosencéfalo. Esses impulsos viram imagens, as imagens viram sonhos. Mas ninguém sabe
1:13:30 porque escolhemos essas imagens em particular.
1:13:33 Nos EUA, as correntes AC operam em sessenta ciclos por segundo, permitindo que as TVs dos E.U.A.
1:13:39 exiba sessenta campos interlaçados em trinta frames completos por segundo.
1:13:44 Eu sempre digo a mesma coisa: É sobre um homem de um metro de altura com
1:13:51 cabelo vermelho, e uma corrente elétrica alternada de sessenta ciclos.
1:13:56 Não apenas uma corrente elétrica, uma corrente elétrica alternada de sessenta ciclos.
1:14:02 Ele sabe o que está fazendo.
1:14:04 Em uma transmissão de TV, o sinal de rádio contendo o programa que a TV recebeu da
1:14:08 estação foi o que ditou a passagem e bloqueio dos elétrons criadores de luz,
1:14:13 então as ondas de rádio – ondas de ar – eram o que moldava o fogo em um programa. Quem controlava o
1:14:18 programa tinha controle literal sobre o equilíbrio de luz e sombra das nossas telas de TV via
1:14:25 ondas de rádio, então se o programa era claro ou escuro, quanta eletricidade positiva ou negativa
1:14:29 era aplicada, literalmente dependia da intenção do criador do programa.
1:14:35 Lynch frequentemente foca em imagens de linhas de energia e postes telefônicos, porque é assim
1:14:39 que o fogo viaja. Ondas de rádio se moldam no mistério de Twin Peaks, e é assim
1:14:44 que o sonho vem até nós.
1:14:46 O mistério da floresta... A floresta cercando Twin Peaks
1:14:51 Tem uma imagem que Lynch usa para simbolizar o mistério dentro da série:
1:14:55 O VENTO TRAZ O MISTÉRIO o vento soprando nas árvores. Laura Dern pode confirmar que, para David Lynch, “vento” é igual a “mistério”.
1:15:02 "Tudo que ele me dizia era, ‘Mais chiclete, mais vento,’ e o vento vinha para ficar mais misterioso,
1:15:07 mais estranho.”
1:15:08 Quando o vento noturno soprava, os ramos se movem pra lá e pra cá;
1:15:14 O VENTO QUE TRAZ O SONHO SOMBRIO o farfalhar mágico que traz o sonho sombrio.
1:15:18 O vento traz o sonho, e as ondas de rádio trazem o sonho. Ondas de rádio moldam a
1:15:23 eletricidade, e o vento molda o fogo. Vento e ondas de rádio são a mesma coisa, e
1:15:29 podemos ver essa comparação direta no episódio piloto. Quando a série começa, vemos o corpo
1:15:35 de Laura Palmer, e, por um breve momento, tudo que sabemos é houve um assassinato. Ainda sem
1:15:40 pistas. Mas quando Bobby é chamado para a sala do diretor para ser interrogado como nosso primeiro suspeito,
1:15:45 tem esse garoto excêntrico dançando a onda no corredor, precedendo a chegada da polícia
1:15:49 – essa onda meio que traz a polícia. Daí tem a famosa cena de Donna e James
1:15:54 reagindo à notícia de que aconteceu algo com Laura, e, durante isso, podemos ouvir o vento
1:16:01 na trilha sonora. Então Bobby é interrogado, e nossas mentes investigativas vão trabalhar no
1:16:10 suspeito n°1. Esses são o vento e as ondas de rádio soprando a investigação, soprando
1:16:16 o mistério e acendendo o fogo. E eu tenho certeza de que Lynch ficou agradavelmente surpreso por
1:16:21 achar uma escola que tinha linhas vermelhas pintadas como ondas de rádio por todas as paredes...
1:16:27 Como cada episódio da Temporada 3 começa? Com o som de vento e eletricidade. Vento
1:16:32 acendendo o fogo. O último lugar que Laura foi vista viva antes de virar uma vítima do
1:16:42 que é o começo da investigação do seu assassinato, foi no
1:16:46 ‘semáforo’ [luz, em inglês] na rua ‘Sparkwood’ [faísca de madeira] com a 21.
1:16:50 “Spark wood” é onde o fogo de Twin Peaks foi aceso. Ouça
1:16:54 a Dama do Cepo comparar a escuridão de Laura Palmer, o coração da série, com um incêndio florestal enquanto
1:17:00 coloca a mão no rosto de Laura como se para checar se tinha febre:
1:17:03 Quando esse tipo de fogo começa, é muito difícil de apagar. Os ramos frágeis da inocência
1:17:11 queimam primeiro, e o vento aumenta. Depois, toda a bondade está em perigo.
1:17:17 Os galhos queimam, e o vento piora até sair do controle, um incêndio florestal
1:17:22 de violência consumível na TV.
1:17:24 “GALHOS” PREENCHIDOS COM “FOGO” Se o vento é as ondas de rádio e o fogo é eletricidade,
1:17:27 então os galhos pegando fogo devem ser os cabos de energia...
1:17:34 UMA “ÁRVORE” ELÉTRICA e, portanto, as árvores devem ser postes telefônicos.
1:17:36 Como Jimmy Scott canta no final da Temporada 2, “Vou te ver nos galhos que
1:17:40 balançam na brisa. Vou te ver nas árvores.” Vou te ver na TV.
1:17:47 E por que sicômoros, especificamente? Provavelmente porque seus galhos parecem
1:17:51 isso: branco com manchas escuras. Um remanescente da estática de TV, não acha?
1:18:00 Então por que as ondas de rádio estão trazendo programas de TV com intenções negativas que criam o fogo destrutivo?
1:18:07 A causa é a “Coisa no Ar” que Lynch sempre fala. É uma atmosfera de medo
1:18:12 que a TV acelera.
1:18:14 Você sente uma “coisa no ar”, e a coisa no ar está sempre mudando. A coisa
1:18:20 no ar.
1:18:22 O que é essa “coisa no ar”?
1:18:23 Eu não sei o que é. É, hmm... Na Alemanha, eles chamam de “Zeitgeist”. Eles me disseram
1:18:27 que esse era o nome. E eu não sei se é isso. Tem essa coisa que está sempre mudando,
1:18:33 e é um produto, eu acho, de cada um de nós, e quer te dizer algo.
1:18:37 O Zeitgeist, o sentimento geral de como as coisas estão na sociedade, é afetada pela
1:18:42 TV, mas também dita o tipo de programas de TV que consumimos. O Zeitgeist é a “coisa
1:18:48 no ar”, e as ondas de rádio que fazem a TV são uma coisa literal no ar. Programas de TV
1:18:55 são transmitidos em “ondas de ar”. Os ventos que moldam o fogo de Twin Peaks estão cheios
1:19:00 desse medo moderno na América que Lynch sentiu, alimentando as chamas da violência consumível.
1:19:06 O resultado foi Bob.
1:19:09 WOW BOB WOW
1:19:15 Na maioria das vezes que vemos um fogo literal ou ouvimos alguém falando sobre fogo em Twin Peaks,
1:19:19 é uma coisa destrutiva que deixa as coisas enegrecidas. Esse é o fogo destrutivo da
1:19:23 intenção negativa de violência consumível de TV, e Bob é seu representante; sua aparição
1:19:29 BOB É O FOGO DESTRUTIVO é frequentemente precedida por uma imagem de fogo. Bob é uma ira indiscriminada, faminto
1:19:35 por vítimas para abastecer seu caos pelo bem do nosso entretenimento, usando personagens de TV
1:19:40 como uma máscara.
1:19:41 O FOGO DESTRUTIVO DE BOB É O ENTRETENIMENTO VIOLENTO É o Bob, quer se divertir. Ele põe um sorriso... e todos vão fugir!
1:19:50 Mike descreve Bob como um parasita que se prende a um hospedeiro humano.
1:19:53 Você sabe o que é um parasita? Bob precisa de um hospedeiro humano. Ele se alimenta de medo... e de
1:20:04 prazeres...
1:20:05 Como podemos ver em Os Últimos Dias de Laura Palmer, Leland não escolhe necessariamente fazer o mal,
1:20:10 mas é compelido por Bob, pelo desejo da audiência por entretenimento que Bob traz. O
1:20:16 parasitismo de Bob é um simboliza a ideia de que criadores de programas de TV estão colocando o mal nos
1:20:21 “caras maus” da TV sem considerar o dano que esse mal está causando a todos
1:20:26 os envolvidos. Violência consumível de TV é rasa, e a forma que as vítimas e os sobreviventes
1:20:31 são tradados é rasa, e a forma que os perpetradores são tratados também é rasa. Vítimas
1:20:38 unidimensionais, assassinos unidimensionais. Da mesma forma que está lançando luz no sofrimento
1:20:42 das vítimas, Twin Peaks tenta lançar luz no sofrimento dos perpetradores ao nos
1:20:46 mostrar o sofrimento que acontece em Leland Palmer.
1:20:49 Bob se esconde em Leland, e Leland se esconde atrás de sua vida familiar calma. Sarah Palmer
1:20:54 não faz nada sobre os crimes de seu marido, e o fogo da culpa consume ela. Ela lida
1:20:59 com o estresse de se esconder da realidade fumando como uma chaminé.
1:21:03 Se eu ganhasse um centavo pra cada cigarro que sua mãe fuma, eu estaria morta.
1:21:07 Pode me dar um maço de Salems, por favor?
1:21:11 Salems. Porque Salem é famoso por quê?
1:21:14 "Onde tem fumaça, tem fogo."
1:21:18 No começo da temporada 2, Donna tenta agir mais como Laura e pega um pouco do
1:21:22 fogo de Laura Palmer. Não por coincidência, ela começa a fumar.
1:21:27 "Onde tem fumaça, tem fogo."
1:21:30 Como alguém cria fogo? Você precisa queimar madeira, e para ter madeira
1:21:35 você vai precisar cortar uma árvore. Podemos pensar no “lenhador” como “homem
1:21:40 da lenha”, um homem da madeira... ou talvez um homem de madeira? Na cena da Loja de Conveniências,
1:21:48 os Lenhadores estão sentados ao lado de um gabinete de rádio amplificado velho de madeira, e um deles
1:21:53 parece estar tirando fogo de lá. Será que os Lenhadores poderiam ser responsáveis pelo fogo
1:21:58 de alguma forma? Similar aos Lenhadores, tem o Eletricista... Por que ele é creditado separadamente dos Lenhadores,
1:22:04 e por que ele bate com uma bengala no chão? Bem, o que um eletricista faz?
1:22:12 Eles criam e mantém conexões elétricas. Como a eletricidade é conectada entre dois locais?
1:22:19 As linhas de energia. E o que segura as linhas de energia? Postes telefônicos – postes de madeira plantados
1:22:25 no chão em intervalos regulares num caminho, conectando a eletricidade de um lugar para
1:22:30 o outro, mantido por eletricistas. E então, por que o Eletricista carrega uma bengala?
1:22:36 Porque, o que é uma bengala? É um poste de madeira que é plantado no chão
1:22:42 em intervalos regulares enquanto alguém anda por um caminho que conecta um lugar a outro. Como
1:22:48 se faz um poste telefônico? Você corta uma árvore. E quem corta árvores? Os Lenhadores.
1:22:54 (DE IMPÉRIO DOS SONHOS, DE LYNCH) E lenhadores serram troncos.
1:22:58 Em Os Últimos Dias de Laura Palmer, O Eletricista e os Lenhadores são retratados como espíritos que
1:23:02 criam e mantém a conexão elétrica necessária para o fogo e o sonho que Twin Peaks precisa
1:23:08 para chegar às nossas TVs. Quando o Sr. C vai até o Holandês para falar com Jeffries,
1:23:13 ele pede ajuda de um Eletricista, que vira um interruptor para atiçar o fogo e planta
1:23:18 um poste telefônico para fazer a conexão elétrica. E daí, por onde o Sr. C viaja para
1:23:27 chegar até Jeffries? Assim como nas outras vezes que as pessoas foram enviadas através de linhas de energia,
1:23:31 o Sr. C precisa atravessar uma floresta inteira de postes telefônicos.
1:23:36 Eu acho que a ideia dos Lenhadores não tinha sido totalmente desenvolvida na época do filme, porque
1:23:40 na Temporada 3, os dois Lenhadores e o Eletricista foram combinados em um só personagem, e
1:23:45 o conceito de “Lenhador” foi adaptado para ser um capanga que serve Bob. Agora, eles
1:23:52 são homens da floresta que enegreceram por conta da fuligem do incêndio da violência
1:23:56 consumível de TV.
1:23:58 Quando esses caras estão por perto, algo ruim está acontecendo, e tem sempre algo
1:24:02 a ver com Bob. Por exemplo, nós vemos um Lenhador no hospital rondando o corpo do
1:24:07 Major Briggs – o depoimento de Bill Hasting sugere que o sósia de Cooper, possuído por Bob,
1:24:12 estava envolvido na morte do Major. Nós vemos outro Lenhador em uma cela perto de Hastings,
1:24:17 que foi acusado do assassinato de sua amante... que morreu no mesmo incidente que o Major.
1:24:22 Um Lenhador aparece mais tarde para matar Hastings quando ele leva o FBI perto demais da cena
1:24:27 do crime de Bob. E, é claro, tem o Episódio 8... Os Lenhadores estão lá para confundir e
1:24:33 ocultar as ações de Bob.
1:24:35 Fogo é o diabo, se escondendo como um covarde na fumaça.
1:24:39 Quando você tenta criar fogo do jeito antigo, esfregando um graveto com as mãos, a
1:24:43 fumaça vem primeiro. No nascimento da Loja de Conveniências, vemos fumaça ondulando e, literalmente,
1:24:49 virando os Lenhadores, os primeiros seres a surgir da Loja. Os Lenhadores representam a fumaça,
1:24:57 FUMAÇA SUBINDO e “Onde tem fumaça, tem fogo.” a Mãe bota o ovo de Bob após o fogo
1:25:02 surgir. Fumaça antes do fogo.
1:25:05 O Bob está perto da gente agora?
1:25:08 Por quase quarenta anos.
1:25:10 Onde?
1:25:11 Uma grande casa feita de madeira, cercada de árvores. A casa é cheia de quartos,
1:25:18 todos iguais, mas ocupados por diferentes almas noite após noite.
1:25:25 Nessa parte da série, Bob já está dentro de Leland, que está no Great Northern Hotel, e é assim
1:25:30 que o Agent Cooper interpreta a descrição de Mike. Mas no mundo real, Bob está dentro das nossas
1:25:35 TVs, e é assim que devemos interpretar. A violência consumível está usando nossos programas
1:25:41 de TV como máscara. Tanto o Great Northern Hotel quanto uma televisão podem ser descritos como uma casa (ou
1:25:47 caixa) que pessoas (ou personagens) habitam, cercados por árvores (ou postes telefônicos),
1:25:53 com vários quartos (ou programas, ou sets) ocupados por diferentes almas (ou personagens) noite após
1:25:59 noite, e Bob esteve lá por quase quarenta anos... Isso em 1991, e 1956 é bem
1:26:06 próximo de quarenta anos antes disso. Parece que David Lynch escolheu 1956 como
1:26:12 o ano que o mal tomou controle de nossos aparelhos de TV.
1:26:15 Mas os Lenhadores e o Bob, a fumaça e o fogo, nasceram 11 anos antes, no
1:26:20 teste nuclear Trinity, em 1945. Por que os representantes de violência televisiva vieram desse
1:26:25 evento? A resposta também é a resposta para outra pergunta: Por que essa “coisa no ar”
1:26:32 resulta em negatividade na TV ao invés de positividade? Sem dúvida, a Segunda Guerra Mundial foi a fonte de
1:26:38 alguns dos maiores males já cometidos pela humanidade. Não é surpresa que Lynch consideraria
1:26:43 o teste da primeira ogiva como a Mãe de todo o mal, o evento que semearia as
1:26:48 sementes do medo no Zeitgeist pelos anos que viriam... Mas são apenas ovos, e
1:26:53 eles precisam de tempo para incubar.
1:26:54 "Quando era pequeno, eu desenhava e pintava o tempo todo. Na maior parte desenhava munição e
1:27:00 pistolas e aviões, porque a guerra tinha acabado de terminar e eu acho que ainda estava
1:27:05 no ar.”
1:27:06 Depois da escuridão da guerra, a explosão de prosperidade nos anos 50 era um contrapeso
1:27:11 de um mundano belo e saudável.
1:27:13 "Então, tinha algo no ar [nos anos 50] que não está mais lá. Era
1:27:19 uma época esperançosa, e as coisas estavam subindo ao invés de descer. Mal
1:27:23 sabíamos que estávamos criando o terreno para um futuro desastroso. Todos os problemas
1:27:28 estavam lá, mas encobertos de alguma forma. E então essa ilusão foi destruída, ou apodreceu, e
1:27:34 veio escorrendo para fora.”
1:27:36 "A ilusão foi destruída e escorreu para fora” – o esperançoso período pós-guerra caiu em declínio.
1:27:43 A Guerra Fria nadou de braçada com a ameaça constante de obliteração nuclear. O início dos
1:27:48 anos 50 foi quando os infames filmes de Duck and Cover eram exibidos para crianças na escola.
1:27:52 – a mídia estava começando a espalhar o medo. Os ovos incubaram por tempo suficiente. Eles chocaram
1:27:59 e o mal começou a se rastejar para dentro das pessoas.
1:28:02 “Um bicho entrou nas pessoas e fez elas quererem saber quem matou Laura Palmer. Gritando por
1:28:07 isso. E uma coisa levou a outra, e a pressão foi tão grande que o mistério do
1:28:13 assassinato não podia mais ser só um plano de fundo.”
1:28:15 "Um bicho entrou nas pessoas” – essa é a ideia que é o Zeitgeist, o inconsciente
1:28:21 coletivo que criou a demanda pelo desfecho do caso de Laura. Os sapos-mariposa que vemos em Twin
1:28:26 Peaks são o bicho do medo moderno na América. Em 1956, o que deixou que os bichos rastejassem para
1:28:34 dentro dos jovens? A mÍdia. Televisão. Do puro ar, os Lenhadores vieram. Fora do Zeitgeist,
1:28:43 a fumaça antes do fogo ondulou em busca de uma luz...
1:28:47 Tem fogo? [luz, em inglês.]
1:28:48 ... a luz da narrativa, a luz da eletricidade, a luz da TV, onde a fumaça
1:28:53 poderia conciliar o fogo da violência mundana de Bob . Os Lenhadores acharam estações de rádio e começaram
1:28:59 a transmitir sua maldade pelas ondas de rádio direto para o consumidor desse mal.
1:29:04 Essa é a água, e esse é o poço. Beba bastante e desça.
1:29:12 "Essa é a nascente do medo. Beba bastante e desça até sonho sombrio da violência
1:29:18 televisiva mundana.” As pessoas assistindo TV dormiram para sonhar seus sonhos televisivos,
1:29:24 e isso as preparou para que o bicho rastejasse para dentro. Feito isso, ele cresceria e se desenvolveria
1:29:29 em um monstro insaciável com fome de cada vez mais violência e morte e tristeza
1:29:35 que a TV estaria feliz em saciar.
1:29:37 Então, por que isso aconteceu em 1956, especificamente? E por que em 5 de agosto de 1956, especificamente?
1:29:45 EVENTOS SIGNIFICANTES DE 1956: Primeiro de tudo, 1956 foi o ano que o “sonho sombrio” de Dorothy Gale em O Mágico de Oz foi transmitido ine
1:29:51 na televisão para uma audiência de quarenta e cinco milhões de espectadores, um indicador de que a audiência
1:29:56 de sonhos televisivos tinha crescido o suficiente para contar. Foi o ano que a Reader’s Digest publicou
1:30:01 um artigo intitulado “Vamos nos Livrar da Tele-Violência”, citando Estes Kefauver, um político que tentou
1:30:07 linkar a violência televisiva à delinquência juvenil. Sim, 5 de agosto foi o dia que My Prayer dos
1:30:13 The Platters bateu o n° 1 das paradas (e o que é a TV, senão um sonho em que você permanece no final
1:30:19 do dia?).
1:30:20 Minha prece...
1:30:22 Mas 5 de agosto também foi o dia seguinte ao lançamento do último cinesseriado, no
1:30:30 ano em que a primeira novela de meia hora começou a passar na televisão, então isso marcou o primeiro
1:30:37 dia que as pessoas pararam de ir ao cinema para ter seus sonhos novelísticos e começaram a assisti-los
1:30:41 na TV de casa.
1:30:44 E o mais importante, David Lynch considera 1956 o ano de nascimento do rock‘n’roll.
1:30:49 Em 56, isso.
1:30:50 Por que 56?
1:30:51 Eu não sei. O nascimento do rock’n’roll foi muito poderoso.
1:30:55 "E William Burns veio correndo em minha direção de umas três casas no final da rua, e
1:31:00 ele disse, “Você perdeu!” e eu disse, “O que?” e ele disse, “Elvis no Ed Sullivan!” Mas eu
1:31:06 senti que era, sabe, o começo do rock’n’roll pra mim – por volta da época que Elvis
1:31:11 realmente apareceu."
1:31:12 "Já estava acontecendo antes disso, é claro,”
1:31:14 "Já estava acontecendo, mas agora era pra valer.”
1:31:18 É o ano que o Elvis apareceu na TV pela primeira vez e, também, o ano de sua estreia em Ama-Me
1:31:23 Com Ternura.
1:31:25 (DE “CORAÇÃO SELVAGEM”, DE DAVID LYNCH) Ama-Me Com Ternura...
1:31:28 Sailor!
1:31:29 1956 foi o ano que o rock’n’roll entrou nas narrativas de TV e cinema em grande estilo. A ‘vulgaridade’ de Elvis
1:31:36 era vista como uma má influência pelos críticos contemporâneos. Rock’n’roll mandava a juventude
1:31:42 para longe do que era saudável e corrompia ela. Para David Lynch, rock’n’roll foi o que começou
1:31:48 a girar o pião.
1:31:50 Let's rock! Everybody-
1:31:54 Let's rock!
1:31:56 TEM FOGO? Esse cara realmente acende meu F-O-G-O.
1:32:05 "Se sentar em frente ao fogo é mesmerizar. É mágico. Eu penso o mesmo sobre a eletricidade.
1:32:13 E fumaça. E luzes piscando.”
1:32:16 Como vimos, as luzes piscando nos rostos dos personagens quando eles entram na Sala Vermelha é uma alusão
1:32:20 à luz que ilumina nossos próprios rostos quando assistimos televisão. Lynch frequentemente faz
1:32:25 uso de luzes piscando nos episódios da série que ele dirigiu e no filme. O cara
1:32:30 ama colocar uma luz diretamente na câmera. Esses flashes frequentemente acompanham momentos em que
1:32:35 algo de extrema importância está acontecendo. Por exemplo, a cena icônica no começo
1:32:40 da história, em que o Agente Cooper cava embaixo das unhas de Laura Palmer enquanto uma lâmpada
1:32:45 fluorescente quebrada pisca. O que tem sido interpretado meramente como um jeito engraçado e peculiar de apresentar
1:32:49 ESSAS LUZES ESTÃO PISCANDO NO SEU ROSTO AGORA MESMO a cena é, na verdade, o símbolo de que uma informação importante está sendo t
1:32:54 através da luz de seus televisores. A luz fluorescente ilumina e escurece nossas telas e
1:32:59 ilumina nossos próprios rostos enquanto recebemos essa importante pista da investigação,
1:33:05 uma pista que levará para ainda mais pistas. Mais tarde, a Dama do Cepo deixa esse símbolo claro
1:33:10 quando ela pisca as luzes do salão na reunião da prefeitura. Luzes piscando é
1:33:14 o indicador universalmente compreendido de que todos devem se acalmar e prestar atenção
1:33:18 enquanto o Agente Cooper nos conta sobre a investigação.
1:33:22 A luz ilumina a escuridão. A investigação é a luz que iluminando a escuridão de Laura Palmer.
1:33:28 A LUZ ILUMINA PISTAS E AS TRANSMITE PARA A AUDIÊNCIA Flashes de luz são usados como um tipo de “mágica da trama”, levando a investig
1:33:33 e iluminando as pistas importantes que estão levando para o caminho do bem, o caminho que
1:33:37 leva o Agente Cooper a solucionar o caso e entender a mensagem da série no processo.
1:33:43 Na busca pelo assassino de Laura Palmer, eu tenho empregado as Diretrizes do FBI, técnicas de dedução, método
1:33:48 Tibetano, instinto e sorte. Mas agora, eu me encontro em necessidade de algo novo, que, por
1:33:52 falta de uma palavra melhor, chamaremos de “mágica”.
1:33:56 A MÁGICA DA TRAMA
1:34:01 Lynch usou esse símbolo liberalmente no episodio piloto, em particular. O reflexo da luz
1:34:05 ELE BALANÇA PARA BRILHAR brilhando na filmadora que leva ao interrogatório dos amigos de Laura, a lanterna
1:34:09 no vagão do trem nos mostra o colar com coração partido de Laura, a quantidade abundante
1:34:14 de luzes piscando nas cenas de sonho da série, que sempre contém informações
1:34:18 pertinentes para o caso... Se fogo representa a escuridão maligna da televisão, então a
1:34:22 luz resultante desse fogo deve levar para a mensagem boa que os espectadores deveriam
1:34:27 receber à medida que mais do mistério ia sendo resolvido, e mais da escuridão ia sendo exposta pela
1:34:32 luz da investigação.
1:34:34 Nós sabemos a origem da escuridão maligna do fogo, mas qual é a origem da luz?
1:34:39 Na vida real, o “fogo” vem da estação de energia. Existe alguma estação de energia para o fogo
1:34:44 de Twin Peaks?
1:34:46 Na Temporada 3, descobrimos que o Gigante é chamado de “Fireman”, que em inglês pode ter mais
1:34:50 de um significado. A palavra “fireman” pode ser quem controla [fogueiro] ou combate o fogo [bombeiro], e esse
1:34:56 O FIREMAN USA LAURA PARA COMBATER O FOGO DE BOB é o caso, quando o Fireman cria Laura Palmer para combater e controlar o fogo destr
1:35:01 Bob. Um “fire man” também pode ser quem faz fogo... Dentro do castelo do Fireman,
1:35:08 podemos ver e ouvir o que parece e soa como uma estação de energia gerando eletricidade,
1:35:13 gerando fogo. É o Gigante quem fornece o fogo elétrico que alimenta
1:35:23 Twin Peaks?
1:35:24 Para explicar por que é esse deve ser o caso, precisamos falar sobre onde o Gigante vive.
1:35:29 Ele vive no White Lodge? Eu digo que não. O Black Lodge é um sósia, um gêmeo
1:35:37 maligno do White Lodge. Tanto o White quanto o Black Lodges são onde Cooper vai parar no
1:35:42 final da Temporada 2, e é difícil diferenciá-los, como deveria ser.
1:35:46 DEUSA DO AMOR – WHITE LODGE/FALTA DE AMOR – BLACK LODGE Aqui está um guia visual facilitador para te ajudar a navegar.
1:35:49 O local onde o Fireman vive não parece nada com
1:35:52 a Sala Vermelha. É um lugar totalmente diferente. Seu castelo fica no topo de uma rocha projetada
1:35:57 de um mar roxo sem fim, e é nas areias desse mesmo mar sem fim que o Agente Cooper vai parar
1:36:02 quando ele é ejetado dentro da não-existência pelo Braço do sósia.
1:36:07 Não-existência!
1:36:08 NÃO-EXISTÊNCIA De acordo com a série, esse mar roxo é a não-existência. Mas o que isso significa exatamente?
1:36:18 Vamos meditar um pouco nisso.
1:36:21 Meditação Transcendental, como ensinado por Maharishi Mahesh Yogi, é uma técnica mental. Ela permite que
1:36:26 qualquer ser humano mergulhe em si mesmo, experimentando níveis mais sutis de mente e intelecto,
1:36:35 para transcender e experimentar um oceano de pura consciência, na fonte do pensamento.
1:36:41 David Lynch é um ávido proponente do movimento de Meditação Transcendental, e já até fundou
1:36:46 uma organização dedicada ao ensino e promoção da MT. Eu te convido para fazer sua
1:36:51 própria pesquisa no assunto, já que não vou julgar nada nesse vídeo e não vou me
1:36:56 envolver em nenhum debate sobre isso. Só estou mencionando a crença de Lynch nessa prática
1:37:00 para podermos entender o que ele colocou na tela, em Twin Peaks.
1:37:04 Esse oceano representa o oceano dentro de cada ser humano. E esse oceano é o oceano da
1:37:13 consciência. É ilimitado e infinito.
1:37:17 Esses clipes são de algumas das muitas apresentações que Lynch deu sobre Meditação
1:37:23 Transcendental, acompanhado pelo doutor em física John Hagelin, que fez um trabalho
1:37:27 inovador no campo da teoria das cordas nos anos 80.
1:37:29 Olá, eu sou John Hagelin, físico quântico e professor do programa de Meditação
1:37:34 Transcendental.
1:37:35 O trabalho de Hagelin ajudou a desenvolver o modelo mais convincente já feito de um conceito conhecido
1:37:40 na física como o “Campo Unificado”. Eu não sou um expert em física, mas meu entendimento é que o
1:37:45 Campo Unificado é uma tentativa de combinar as disciplinas de mecânica quântica e relatividade
1:37:50 geral para ligar todos os aspectos de realidade física em modelo matemático único. Ainda não
1:37:56 é comprovado, e é considerado como o cálice sagrado da física. Dr. Hagelin acha
1:38:03 que o campo unificado pode ser determinado pela teoria das cordas.
1:38:06 Conforme a física moderna foi investigando níveis mais profundos do funcionamento da natureza, foi revelado que
1:38:11 níveis mais fundamentais da natureza estão, progressivamente, mais unificados. As quatro forças da natureza dentro
1:38:17 dos núcleos atômicos se tornaram três, e dois, e, por fim, um campo unificado com todas
1:38:24 as leis da natureza, mostrado na base desse quadro.
1:38:27 Dr. Hagelin também é o atual líder do movimento de MT, e afirma que
1:38:31 o uso da meditação para mergulhar no vasto oceano de pura consciência, como Lynch descreve,
1:38:36 é, na verdade, nossas mentes se unindo com o Campo Unificado no nível base da realidade física,
1:38:42 onde tudo no universo se torna “Um”.
1:38:46 Meditação, entendida e praticada devidamente, é uma técnica sistemática para experienciar
1:38:52 níveis profundos da mente. E esses níveis profundos da inteligência humana, mostrados no lado
1:38:57 direito desse quadro, correspondem à experiência direta de níveis mais profundo de inteligência
1:39:03 na natureza. Esse fluxo interior de consciência rapidamente culmina na experiência direta
1:39:09 do Campo Unificado.
1:39:11 Os físicos colegas do Dr. Hagelin podem não estar convencidos (e podem ter pedido para ele parar
1:39:15 de comparar o Campo Unificado com a “Unidade” transcendental), mas David Lynch certamente acredita
1:39:20 nele.
1:39:21 E os cientistas, bem, eles descobriram moléculas. Eles foram mais fundo e descobriram esses
1:39:28 átomos. Pequenos elétrons, e nêutrons, e prótons. E eles foram mais fundo e fundo e fundo,
1:39:37 partículas menores e menores. E a ciência moderna, a física quântica, descobriu o Campo
1:39:45 Unificado. Os cientistas sabem que isso existe, mas se eles quisessem ir lá, qualquer desses
1:39:53 cientistas poderiam praticar uma técnica: Meditação Transcendental. E os níveis mais profundos da mente
1:40:00 e do intelecto correspondem aos níveis mais profundos da matéria. No limite
1:40:06 do intelecto, você transcende, experimentando a Unidade – pura, ilimitada, uma consciência infinita.
1:40:17 E então isso é exatamente o que estamos vendo no Episódio 8 da Temporada 3. A bomba nuclear
1:40:23 divide um átomo, iniciando uma reação em cadeia catastrófica, e daí nós mergulhamos dentro...
1:40:29 fundo e mais fundo dentro da explosão, e então fundo e mais fundo ainda, partículas menores e
1:40:34 menores... até passarmos das menores partículas, e então nós transcendemos... nós vamos
1:40:41 além das partículas até o Campo Unificado, o vasto oceano da consciência.
1:40:46 Esse oceano representa o oceano da consciência.
1:40:52 Estrelas, luas e planetas nos lembram de prótons, nêutrons e elétrons. Existe algum ser
1:40:59 maior andando com as estrelas lá dentro?
1:41:03 Tudo que é alguma coisa emerge desse campo de “nada”. Algo imanifesto. Algo
1:41:16 imanifesto.
1:41:18 E aqui nós temos nossa explicação para a “não-existência”: Cooper é enviado para fora da série de TV e de volta
1:41:24 a esse campo de “nada”, donde ele veio, donde todas as ideias vem. Lynch
1:41:30 frequentemente compara ter ideias criativas com pegar peixes. e essas ideias estão nadando
1:41:34 nesse oceano de consciência.
1:41:37 E você não vai lá necessariamente para ter ideias, você vai lá para expandir aquele receptáculo
1:41:42 de alegria. E aí, quando você sai todo energizado, refrescado, alegre, então aquelas
1:41:49 ideias são mais fáceis de pegar. É como se a rede fosse mais e mais e mais fundo, e você
1:41:55 consegue pegar aqueles peixes.
1:41:57 Twin Peaks é abastecido por essas ideias, então os geradores de energia do Fireman, que alimentam
1:42:02 o sonho televisivo, devem estar tirando ideias desse oceano como combustível para o fogo
1:42:07 elétrico. David Lynch está apenas canalizando as ideias em ondas de ar que abastecem e moldam o
1:42:12 fogo em nossos televisores.
1:42:14 Dentro de um dos geradores movidos a ideias do Fireman, está Phillip Jeffries, que descreve o interior
1:42:20 como “Escorregadio.”
1:42:21 É escorregadio aqui.
1:42:24 O que isso pode significar? Seria Lynch dizendo que ideias são escorregadias como peixes...? Poderia ser...
1:42:31 ou elas poderiam ser escorregadias com outra coisa...
1:42:33 Tio Leland, que cheiro é esse? Parece que algo está queimando!
1:42:36 Pai, o motor está pegando fogo? Parece que algo está queimando.
1:42:39 Esse cheiro parece... parece óleo... óleo de motor queimado...
1:42:50 Jacoby!
1:42:52 Óleo de motor queimado!
1:42:53 Óleo pode ser combustível para fogo, e como Bob é descrito inúmeras vezes como tendo cheiro de
1:42:59 óleo de motor queimado, seu fogo deve ser alimentado por esse óleo de motor. Mas óleo também é um lubrificante
1:43:05 escorregadio – deve ter óleo dentro das máquinas do Fireman, alimentando o fogo que elas geram.
1:43:12 Podemos chamar de óleo de peixe...? Não vejo porque não.
1:43:16 É escorregadio aqui.
1:43:19 Mas fogo tanto cria luz quanto causa destruição, e como o óleo que alimenta o fogo destrutivo
1:43:25 de Bob toma uma forma tanto física quanto literal na série, isso significa que o óleo que alimenta a
1:43:29 luz da investigação também toma uma forma literal?
1:43:33 O que, exatamente, o seu marido disse sobre esse óleo?
1:43:36 “Esse óleo é uma abertura para um portal.”
1:43:41 Intrigante, não?
1:43:43 O portal para a Sala Vermelha é Glastonbury Grove, um anel de doze sicômoros ao redor
1:43:48 de um poço de borda branca feito do óleo de motor que alimenta o fogo de Bob. No filme, podemos ver a
1:43:54 Sala Vermelha refletida nesse poço antes do portal abrir... Mas espere um minuto,
1:43:58 nós já vimos uma imagem parecida antes! Uma das coisas mais notáveis do episódio final
1:44:02 da Temporada 2 é que ele não acaba com os créditos rolando em frente à foto de
1:44:06 Laura no baile como todos os outros episódios. Ao invés disso, ele acaba com os créditos rolando
1:44:11 em frente a uma imagem de uma xícara de café preto, onde é refletida a imagem de Laura Palmer
1:44:16 sorrindo para nós de dentro da Sala Vermelha... Um poço de borda branca com líquido preto refletindo
1:44:23 uma imagem da Sala Vermelha, igual ao de Glastonbury Grove...
1:44:28 ISSO = ISSO Isso está nos mostrando que óleo de motor e café preto devem representar a mesma coisa...
1:44:34 Sabe, David Lynch já expressou seu desânimo com as pessoas que acham que Phillip Jeffries acabou
1:44:39 dentro de uma chaleira. Eu acho que o que Lynch lamenta aqui é que se achamos que é uma
1:44:43 chaleira, nós nos prendemos a essa ideia sem saída e paramos de pensar em levar mais adiante,
1:44:48 de ver isso como o que realmente é. Não é uma chaleira...
1:44:53 COADOR é uma cafeteira.
1:44:55 Ter um peixe no coador velho é como ter uma ideia no cérebro, e ideias alimentam
1:45:00 a série da mesma forma que o fogo. Certa vez, alguém brincou de que Phillip Jeffries era o
1:45:04 peixe no coador... Eles não tem ideia do quão perto estavam da resposta certa.
1:45:10 Tinha um peixe no coador.
1:45:13 Então a forma tomada pelo combustível para o fogo ao sair das máquinas muda dependendo da
1:45:22 intenção. O fogo maligno da destruição de Bob é alimentado pelo óleo de motor. A investigação é a luz
1:45:28 que ilumina a escuridão de Bob para revelá-la, e o que alimenta o fogo? Café.
1:45:34 CAFÉ É O COMBUSTÍVEL DA INVESTIGAÇÃO O Agente Cooper, investigador principal do mistério literalmente se alimenta de café,
1:45:39 assim como qualquer outro investigador da série. Ele é obcecado por café
1:45:44 porque não consegue fazer seu trabalho sem isso.
1:45:46 Quem matou Laura Palmer?
1:45:48 REABASTECIMENTO EM PROGRESSO...
1:45:50 REABASTECIMENTO EM PROGRESSO... REABASTECIMENTO COMPLETO
1:45:52 INVESTIGAÇÃO COMEÇA Harry, deixa eu te contar sobre o sonho que tive noite passada.
1:45:55 Não apenas café, café e donuts. Amargo e doce, porque amargo e doce é equilibrado.
1:46:01 Equilíbrio é bom, e bom é equilíbrio.
1:46:05 O sonho de um policial...
1:46:07 É.
1:46:08 O que é um agente do FBI? Alguém que brilha uma luz no mal e é autorizado a usar força
1:46:14 letal, destruição no nome do bem. Equilíbrio.
1:46:19 Ah! O sonho de um policial.
1:46:23 Qual foi o resultado da pressão do estúdio para solucionar o assassinato de Laura Palmer? Isso permitiu que
1:46:27 a escuridão vencesse. A empresa de cabo entrou no caminho da investigação e acabou com ela.
1:46:32 Sem mais luz. Sem mais combustível para a luz. O fluxo de café cessou. Mas Lynch não tinha
1:46:39 terminado com Laura, então ele trouxe a investigação de volta. Como Os Últimos Dias de Laura Palmer começa? Com
1:46:45 uma velha xícara de café.
1:46:47 A INVESTIGAÇÃO DE LAURA ESTÁ VELHA Por que não toma um pouco de café? Vai em frente. Estava novo uns dois dias atrás.
1:46:53 A investigação de Laura estava velha e precisava ser revigorada com a investigação de Teresa Banks.
1:46:58 O MISTÉRIO DE TERESA ESTÁ FRESCO. Você pode fazer aquela xícara nova agora mesmo.
1:47:00 O café estava de volta, e como por ser um filme, não havia nada que o Xerife CABLE (CABO) e
1:47:08 BEM SUTIL... sua impotente demonstração de “força” poderiam fazer para interferir.
1:47:12 A associação do Fireman com café é confirmada durante o final da Temporada 2. O
1:47:18 Homenzinho oferece café para Cooper, o cômico e velho garçom do Great Northern traz
1:47:22 e então se revela como o Gigante. O Fireman fornece o café, que acabou de ser coado em
1:47:28 seu castelo.
1:47:29 O castelo do Fireman relembra um cinema e é sempre mostrado em preto e branco. Como
1:47:34 já vimos do resto da série, sequências em preto e branco significam eventos passados. Por que
1:47:39 o Fireman que é responsável por alimentar nossos sonhos de entretenimento visual, vive em um
1:47:43 cinema das antigas no passado? Bom, onde as pessoas achavam seu entretenimento visual
1:47:48 antes da TV se popularizar? Eles tinham seus sonhos no cinema, na tela grande em
1:47:54 preto e branco. Lynch nunca escondeu que considera os filmes superiores à TV,
1:48:00 O FILME É EQUILIBRADO, A TELEVISÃO NÃO e agora sabemos que é porque o filme é capaz de equilibrar luz e escuridão melhor do que
1:48:05 a televisão. É exatamente por isso que o castelo do Fireman, uma estação de energia para a narrativa visual
1:48:11 é localizada no infinito mar da consciência.
1:48:14 Esse campo interior é o campo de equilíbrio. É apenas um enorme campo de equilíbrio.
1:48:22 Podemos ter trocado a tela grande pela tela de TV, mas os sonhos que sonhamos pelas
1:48:26 duas tem a mesma origem. TV descendeu do filme, então seu fogo ainda vai ser
1:48:32 alimentado por essas ideias narrativas de filme, especialmente se for uma série de TV criada por um
1:48:38 cineasta.
1:48:39 A entrada do reino televisivo é marcado por um poço de óleo de motor que alimenta violência
1:48:43 e medo. O que marca a entrada para o reino do filme e equilíbrio? Um poço de ouro líquido.
1:48:49 Por que isso?
1:48:50 A analogia é: se você quer fazer um tecido branco e dourado, você mergulha em uma tintura dourado e
1:48:58 pendura em um varal para secar ao sol. O mergulhar na tintura dourada é
1:49:03 transcender, e o pendurar no varal na luz do sol é atividade. E, bem no
1:49:09 começo, a luz do sol queima quase todo o dourado. Talvez fiquem algumas
1:49:14 manchas. Então você mergulha de novo e pendura. Você transcende e entra em atividade, transcende
1:49:19 e entra e, atividade, e de pouco em pouco, aquele tecido branco fica mais e mais dourado.
1:49:26 E é por isso que vemos uma bolha de puro ouro flutuando no centro de uma explosão nuclear
1:49:31 logo antes de transcender. O ouro é o portal para transcendência assim como o medo é o portal
1:49:37 para a televisão.
1:49:38 À medida que o propósito do Fireman é revelado pela sua entrega de café, ele faz um barulho peculiar
1:49:43 e exclama: “Aleluia!”
1:49:46 Woowoowoo! Aleluia!
1:49:49 Aleluia!
1:49:51 Que droga isso quer dizer? Bom, o que esse barulho parece, além de
1:49:55 um grito de guerra estereotipado de Nativos Americanos? Vamos pensar em todos os locais que já ouvimos antes:
1:50:00 BRAÇO DE MIKE Ouvimos do Homenzinho quando ele se apresentou como Braço de Mike.
1:50:04 Eu sou O Braço, e meu som é assim: Woowoowoo!
1:50:20 A propósito, o Homenzinho é a manifestação do braço que o Mike cortou. Isso é de conhecimento
1:50:25 comum, certo?
1:50:27 O braço de Mike tinha uma tatuagem que o permitia controlar seu parente, Bob.
1:50:30 Ele era meu parente.
1:50:31 Eu também fui tocado pelo ser diabólico. Uma tatuagem no ombro esquerdo. Mas quando
1:50:33 eu vi o rosto de Deus, arranquei o braço inteiro fora
1:50:47 Nós vemos Bob se curvando perante o Braço de Mike
1:50:49 BOB SE CURVA PARA SEU MESTRE no final do filme, então podemos ver que O
1:50:52 Braço ainda é o mestre de Bob. O mestre de Bob faz um som assim:
1:50:57 Woowoowoo!
1:50:58 Nós ouvimos um som parecido quando Mike vai alertar Laura sobre a presença de Laura dentro do pai
1:51:02 dele.
1:51:05 Woowoowoo!
1:51:07 Nós ouvimos esse som vindo da TV que Leland quebra quando está assassinando Tersa Banks enquanto
1:51:11 possuído por Bob.
1:51:14 Woowoowoo!
1:51:17 E nós o ouvimos vindo do poste telefônico nº 6 que introduz a cena da Loja de
1:51:21 Conveniências onde Bob se senta com O Braço.
1:51:28 Woowoowoo!
1:51:34 Podemos concluir que em todas essas situações, o som acompanha Bob. Ele nos avisa sobre
1:51:40 Bob, e Bob é fogo... o som não é um grito de guerra, é um alarme de incêndio. O Homenzinho
1:51:47 controla o fogo de Bob, então ele faz o som de alarme de incêndio. O Gigante é o Fireman, que
1:51:53 tanto fornece quanto combate o fogo, então ele também faz o som de alarme de incêndio.
1:51:59 Woowoowoo!
1:52:00 Agora, esse som: “Aleluia.” O que significa? É uma palavra hebraica que literalmente se traduz
1:52:06 para: “Louvado és tu, Deus.” Isso é dito imediatamente após o Gigante aparecer com o café e fazer
1:52:12 o som de alarme de incêndio, o que nos diz que o Fireman é o Deus do Fogo – MAS, ele
1:52:19 não é o único. Os dois dizem: “Aleluia,” um para o outro.
1:52:25 “LOUVADO ÉS TU, DEUS!” Aleluia!
1:52:27 “LOUVADO ÉS TU, DEUS!” Aleluia!
1:52:28 O Homenzinho também é um Deus do Fogo?
1:52:31 Nós só podemos avançar à medida que tivermos pistas para nos conduzir. A luz da investigação
1:52:36 é movida a café, assim como é movida a pistas. O Fireman traz o café que alimenta
1:52:42 a luz, vindo do mundo do filme. Ele fornece as pistas de narrativa cinematográfica. Mas fica estabelecido
1:52:47 bem cedo, em Twin Peaks, que é o Homenzinho quem as distribui.
1:52:53 Ela é minha prima, mas ela não parece quase exatamente igual a Laura Palmer?
1:53:01 No episódio final, o Homenzinho deixa isso perfeitamente claro ao nos dar uma demonstração de seu poder,
1:53:07 nos mostrando que ele controla o fluxo de café, o fluxo de pistas. Ele começa a esfregar as mãos
1:53:13 (como quando você quer fazer um pouco de calor) e, ao seu comando,
1:53:17 o café flui livremente, flui lentamente, e para completamente. Se ele quer que a investigação
1:53:23 vá para frente, ele pode intensificar o fluxo de pistas e, portanto, o fluxo de café que
1:53:28 alimenta os investigadores. Se ele quer a investigação lenta ou parada, ele pode parar
1:53:33 o fluxo. O Homenzinho está controlando diretamente a quantidade de luz que vai iluminar através
1:53:39 do mistério.
1:53:40 Luz iluminando através – como um sonho aparece no telão em um cinema?
1:53:46 Uma lâmpada de arco voltaico ilumina através do filme, projetando a imagem na tela
1:53:51 antes escura. Mas como o sonho aparece em sua TV de casa? Como sabemos,
1:53:56 o tubo quer fazer a tela acender branca, e você tem que controlar a quantidade de luz
1:54:01 projetada ao bloquear a luz e adicionando escuridão à tela antes branca.
1:54:08 Filme bom, TV má. Filme luz, TV escuridão. O Gigante fornece a luz, ele é o Deus da
1:54:14 Luz. O Homenzinho controla a luz com a escuridão, ele é o Deus da Escuridão. O Gigante
1:54:20 vive em um cinema, o Homenzinho vive atrás das cortinas da TV – O Gigante é o
1:54:25 Deus do telão em equilíbrio, o Homenzinho é o Deus da telinha maligna. Tela
1:54:32 gigante, espírito gigante. Tela pequena, espírito pequeno. Juntos, eles são os deuses do
1:54:38 fogo elétrico que alimenta o filme e a TV.
1:54:41 “LOUVADO ÉS TU, DEUS!” Aleluia!
1:54:43 “LOUVADO ÉS TU, DEUS!” Aleluia!
1:54:44 Os Lenhadores, a fumaça, a coisa no ar flutuou procurando uma casa para Bob,
1:54:49 uma forma de espalhar o fogo. Antes da TV se estabelecer, isso teria que acontecer através do filme. Eles estavam
1:54:55 procurando pelo Deus da Luz!
1:54:57 Tem fogo? [em inglês, isso soa igual a “Deus da luz”]
1:54:59 Tem fogo? [em inglês, isso soa igual a “Deus da luz”]
1:55:00 DEUS DO FOGO?
1:55:03 Mas o espírito do filme, com sua casa localizada no mar do equilíbrio, é equilibrado demais
1:55:08 para espalhar o mal. Então o que os Lenhadores acharam ao invés disso? Um microfone. [em inglês, a abreviação de microfone soa igual “Mike”]
1:55:14 MIKE TV E SEU ANTIGO MAL O Homenzinho é o Braço de Mike, então ele é apenas uma parte de algo maior. O Braço controla
1:55:19 a violência na TV, Mike é o espírito do que a TV poderia ser, e juntos eles deveriam ter equilíbrio,
1:55:26 MIKE TV E SEU MAL AGINDO COMO UM mas o mal esteve agindo sozinho. Apenas imagine quão maior a TV
1:55:31 poderia ser se não estivesse tão focada na maldade e na violência o tempo todo...
1:55:36 O HOMEM DE UM BRAÇO SÓ
1:55:40 A série de TV dos anos 60 O Fugitivo, muito popular durante seus 120 episódios em quatro temporadas, é
1:55:47 sobre a perseguição do tenente policial Philip Gerard pelo Dr. Richard Kimble, que foi falsamente acusado
1:55:52 de matar a esposa. Enquanto foge, Dr. Kimble persegue o verdadeiro assassino, o
1:55:57 infame Homem de Um Braço Só. Originalmente, o personagem de um braço só de Twin Peaks conhecido por Phillip Michael
1:56:02 Gerard não era nada mais que uma homenagem a O Fugitivo, uma pista para que o espectador se achasse
1:56:07 no caminho para descobrir a natureza literal da série. Entretanto, quando Lynch foi forçado
1:56:12 a escrever uma conclusão para o episódio piloto de Twin Peaks para o lançamento internacional,
1:56:16 foi aí que ele teve a ideia da Sala Vermelha, e a homenagem se tornou um residente
1:56:21 dessa sala e, portanto, uma parte integral dos trabalhos internos de Twin Peaks.
1:56:26 “É a mesma coisa com O Fugitivo: onde está o homem de um braço só? No entanto, a cada semana,
1:56:31 sabe, ele quase nunca lidavam com isso. E essa é a beleza. Você continua imaginando,
1:56:36 ‘Quando vamos encontrar esse cara e concertar as coisas?’ Mas daí você sabe que isso seria
1:56:41 o fim.”
1:56:42 O Fugitivo de Um Braço Só é um assassino de TV icônico em um contínuo mistério de assassinato na TV
1:56:47 que, com sucesso, durou um longo tempo, mas eventualmente sucumbiu para a demanda da audiência
1:56:52 por um desfecho. Assim sendo, ele é um símbolo perfeito para a própria TV sucumbindo à disseminação de
1:56:58 violência consumível. Mike era o espírito da TV que disseminava a violência consumível,
1:57:04 mas agora ele pretende parar a maldade do seu antigo parceiro e por isso ele cortou o Braço
1:57:09 que controla Bob.
1:57:10 Eu vi o rosto de Deus e fui purificado.
1:57:18 O ROSTO DE DEUS Mike viu Laura Palmer, o equilíbrio, vir do rosto do Deus da Luz
1:57:23 Eu arranquei o Braço, mas permaneci perto do receptáculo por um único propósito.
1:57:31 Para encontrar Bob.
1:57:32 Para parar ele!
1:57:34 O antigo Braço de Mike é a personificação da antiga intenção maligna de Mike. O Mike de Um Braço Só agora habita
1:57:40 o corpo de Philip “Michael” Gerard. Mike agora está DENTRO de Philip Gerard. O que isso
1:57:48 significa? O perseguido virou o perseguidor. O Homem de Um Braço Só de O Fugitivo amputou sua
1:57:54 maldade para virar um agente de bondade, o homem jurou que iria perseguir e parar seu parente fugitivo
1:58:00 de causar dor e sofrimento pelo entretenimento.
1:58:03 MIKE É A TV TENTANDO ENTRAR EM EQUILÍBRIO VIA TWIN PEAKS No final das contas, Philip Michael Gerard representa
1:58:06 a TV virando as costas para um mistério contínuo, mas, depois, mudando de ideia e tentando
1:58:11 parar sua própria escuridão com uma nova investigação contínua.
1:58:15 Porém O Braço ainda é uma parte necessária de Mike e de Twin Peaks, pois o método da
1:58:20 série para parar o mal não é eliminar ou conter ele – Laura Palmer ainda tem de morrer.
1:58:26 MIKE E SEU BRAÇO USAM BOB PARA EXPOR O MAL Nós ainda precisamos de um Bob para que isso aconteça, e a série precisa direcionar e contro
1:58:31 de Bob para atuar de forma que conseguiremos receber a mensagem central de equilíbrio, então Mike
1:58:36 e seu Braço, bem e mal, estão trabalhando juntos como um espírito de narrativa televisiva completo e equilibrado.
1:58:43 (pelo menos até onde Twin Peaks está preocupado). É por isso que podemos ver ambos, Mike e seu Braço,
1:58:48 rindo quando Laura é morta; o plano deles de causar e então expor a maldade de Bob na história
1:58:53 de Twin Peaks começa aqui.
1:58:58 UM CÍRCULO DE DOR Um dia, essa tristeza vai acabar.
1:59:06 A chave para a bondade é o equilíbrio entre a escuridão e a luz, e Laura Palmer representa
1:59:11 o conceito de equilíbrio que David Lynch deseja. Ela tem maus aspectos e bons aspectos na mesma
1:59:17 medida. Ela é envolvida com drogas... e ajuda Josie com seu inglês. Ela dorme por aí
1:59:22 e se prostitui... e dá aula para os deficientes. Ele encobre que seu namorado assassinou
1:59:27 um cara... e entrega comida para os idosos. As pessoas associadas com seu lado
1:59:31 bom geralmente não acreditam que ela tem um lado mal, e vice versa. O equilíbrio em Twin
1:59:36 Peaks vem de uma quantidade equivalente de histórias sobre pessoas conectadas a ambos os lados de Laura.
1:59:41 Não é surpresa de Laura Palmer tenha nascido de um Campo Unificado – ela é o mal e o mal juntos
1:59:46 como um, ela é “O Um”, ela é “Unidade”.
1:59:52 O ser único que leva a vários é Laura Palmer. Laura é O Um.
1:59:57 Mas eu ouvi algo: “Conhecimento e experiência da combinação de opostos,” e essa é a história
2:00:04 do Campo Unificado, onde os opostos estão juntos. Eles dizem: “Silêncio infinito, dinamismo
2:00:10 infinito juntos nessa unidade abaixo da matéria e da mente.”
2:00:15 Qualquer coisa que for uma coisa emergiu desse campo de unidade. É uma “Unidade”.
2:00:23 Laura é O Um.
2:00:25 Se o equilíbrio de Laura é Twin Peaks, então a tentativa de Bob de entrar nela e levá-la
2:00:30 totalmente para o lado do mal é o vento do Zeitgeist tentando corromper a série de TV como
2:00:36 já fez muitas vezes antes. Leland liga o ventilador de teto fora do quarto de Laura
2:00:41 toda vez que vai abusá-la. Ao passo que Laura para embaixo do ventilador, podemos ver seu vento,
2:00:47 o Zeitgeist, entrando nela e a hipnotizando para ficar mais receptiva ao mal de Bob.
2:00:53 Lá no fundo, Laura sabe que nasceu para eventualmente sucumbir ao mal, ou
2:00:58 possuída por ele, ou sendo vítima dele. No final, a luta de Laura entre a escuridão
2:01:03 e a luz é uma metáfora para a luta de Twin Peaks para existir em um mundo com violência
2:01:07 mundana. Nós gostamos dessa violência, e a esperança de Lynch era que a história trágica de Laura nos permitiria
2:01:13 ver o mal pelo que ele era e ver o que ele estava fazendo conosco, quebrando, assim,
2:01:19 o loop retroalimentativo de medo no Zeitgeist que entra na TV para causar mais medo no
2:01:25 Zeitgeist.
2:01:27 Bob se alimenta do medo... e dos prazeres. Eles são seus filhos.
2:01:34 O objetivo primário de Bob é causar a maior quantidade de dor possível para a sua audiência apreciar.
2:01:40 Ele inflige dor e então se alimenta da dor que infligiu, o que o fortalece e faz com que
2:01:44 ele inflija mais. Essa é a manifestação literal da ideia de que um infligidor de dor está danificando
2:01:50 sua própria alma, o que o leva a infligir mais dor. Semelhantemente, suas vítimas ficam
2:01:55 danificadas, o que as influencia a aceitar o mal dentro delas mesmas e infligir
2:02:00 ele em outras vítimas.
2:02:02 Dor para a vítima, dor para o infligidor de dor. Um círculo de dor. Um círculo de sofrimento.
2:02:10 Esse círculo de dor se estende à audiência que assiste televisão. Bob adora sua obra,
2:02:16 e nós não assistiríamos a obra de Bob se também não apreciássemos. Nós temos um apetite por
2:02:21 dor e sofrimento, Mike usava Bob para nos satisfazer, criando uma oferta e procura por
2:02:26 ou violência televisiva consumível. Quanto mais dor ele causa, mais nós queremos ver, e
2:02:32 Bob entra mais dentro de nós para escurecer nossas almas. David Lynch vê a gente sofrendo com isso.
2:02:38 "Isso é uma doença real para mim. Isso é algo realmente doentio.”
2:02:44 Apenas dois tipos de pessoas podem ver a verdadeira face de Bob.
2:02:46 Essa é sua verdadeira face, mas poucos podem ver. Os dotados...
2:02:51 Os “dotados”, as personagens na série que receberam essa habilidade pelo roteiro e
2:02:57 pelo diretor, personagens que estão em sintonia com sua “intuição”...
2:03:06 ... e os condenados.
2:03:07 ... e os “condenados”. Mike olha diretamente para a audiência quando fala isso. Ele está conversando
2:03:11 diretamente com a gente. Nós somos os condenados. Nós somos aqueles que sofrem do crescimento infinito
2:03:17 de medo e negatividade servido e demandado por nós através da TV. Nós somos os mortos-vivos!
2:03:24 Bob e eu, quando matávamos juntos, tínhamos esse relacionamento perfeito: apetite,
2:03:29 satisfação. Um círculo dourado.
2:03:33 Um círculo dourado... Um anel!
2:03:43 Mike chama a matança de círculo dourado de apetite e satisfação, Cooper relaciona
2:03:47 isso ao seu anel, e então o círculo dourado toma uma forma física: o Anel de Coruja, um círculo
2:03:54 dourado literal que acaba nos dedos anelares das vítimas de Bob. O símbolo estampado nele
2:04:03 é o mesmo símbolo que vemos na Caverna da Coruja na segunda temporada, o que lembra uma coruja
2:04:07 em pose de voo vista de frente.
2:04:09 Na Temporada 3, o Sr. C fala para Ray Monroe colocar o Anel de Coruja no dedo anelar do braço esquerdo.
2:04:14 Esse é o mesmo dedo em que vemos Teresa Banks e Laura Palmer usando o anel. Gordon
2:04:19 Cole conta para Tammy Preston que o dedo anelar da mão esquerda é “o monte espiritual, o
2:04:24 dedo espiritual.”
2:04:25 Esse é o monte espiritual, o dedo espiritual. Pense nisso, Tammy.
2:04:30 Uma pesquisa no Google por “monte espiritual” mostra uma página da Wikipedia sobre a Spirit Mound
2:04:35 Historic Prairie em Dakota do Sul (uma boa parte da Temporada 3 se passa em Dakota do
2:04:40 Sul). “[Spirit Mound Historic Prairie possui] uma colina proeminente nas Grandes Planícies. Os
2:04:45 índios das Planícies da região consideravam o Spirit Mound como o lar de espíritos perigosos ou pessoas
2:04:51 pequenas.” Nós vemos o anel aparecer em uma colina ou monte de terra, um reminiscente desse lar
2:04:56 mítico das pessoas pequenas do mal, nós vemos Mike usando o anel no seu mindinho, e vemos
2:05:01 a pessoa pequena de Mike, o Braço esquerdo, em posse do anel. Isso nos mostra que o anel atualmente
2:05:06 pertence principalmente ao Braço, e faz total sentido que o círculo dourado de maldade
2:05:11 crescente pertencesse à extensão maligna da narrativa televisiva.
2:05:15 Em ambos, o filme e a Temporada 3, vemos que se uma personagem morre enquanto usa o anel
2:05:18 em seu “dedo espiritual”, seu espírito é transportado para a Sala Vermelha, onde Mike e
2:05:23 seu Braço residem. Por quê? Porque o Anel de Coruja é o anel de casamento de Mike.
2:05:29 Com esse anel, eu vos caso.
2:05:36 Quando você se casa, aceita um anel de casamento em seu dedo anelar, simbolizando
2:05:39 que você está entregando seu corpo e alma a seu cônjuge. Quando as pessoas em Twin Peaks
2:05:44 aceitam o Anel de Coruja em seus “dedos espirituais”, elas estão se casando com a maldade de Mike.
2:05:50 Seus braços esquerdos ficam até flácidos para simbolizar seu comprometimento com a personificação de um braço só da
2:05:55 narrativa.
2:05:57 Antes de falecer, o braço de Teresa ficou completamente morto.
2:06:02 Após a morte, suas almas são levadas à Sala Vermelha, pois agora elas pertencem a Mike. Isso
2:06:07 tudo é a interpretação literal da ideia de que se aceitarmos a maldade da televisão, um círculo
2:06:12 dourado de apetite e satisfação, nos tornamos vítimas de Bob e entregamos nossas almas à
2:06:17 TV. Mike TV é dono de sua audiência, e nós estamos casado com a violência.
2:06:25 é assim que o anel trabalhava para esses espíritos da televisão antes de Twin Peaks. Eu
2:06:30 suponho que antes da série, o círculo dourado de Mike era apenas um anel do tipo de
2:06:35 casamento, sem nenhuma ornamentação, e que a pedra verde foi fixada ao anel DEPOIS que Mike
2:06:40 mudou de ideia. Para explicar por que eu penso assim, precisamos falar sobre o significado do símbolo de
2:06:45 Coruja que está gravado no anel.
2:06:48 As corujas não são o que parecem.
2:06:52 O que a coruja simboliza? Se olharmos paras as teorias que prevalecem atualmente, o que as
2:06:56 corujas parecem ser são “familiares” que levam os espíritos do Lodge para o mundo real e
2:07:01 de volta. Um tipo de tiro no escuro, mas tem um pouco de verdade nisso. Se voltarmos
2:07:06 naquilo que Phillip Jeffries mostra na Temporada 3, conseguimos entender o resto.
2:07:11 Cooper quer viajar no tempo de volta a certo ponto. Jeffries mostra que esse ponto no tempo
2:07:15 em um loop infinito. O símbolo para o loop infinito no tempo vem do símbolo de Coruja, então
2:07:22 a Coruja e o loop temporal infinito devem representar a mesma coisa. Mas qual é o
2:07:28 significado de o símbolo de coruja representar um loop temporal infinito? Podemos dizer que a
2:07:32 trama da série original começa com Cooper recebendo pistas de um sonho sobre o seu “eu”
2:07:37 futuro, e acaba com Cooper entrando nesse sonho, onde ele espera vinte e cinco anos na
2:07:42 “sala de espera” até virar o futuro “eu” que ele estava sonhando no início. Então,
2:07:47 podemos dizer que, dessa forma, a trama começa onde acaba e acaba onde começa. Todo
2:07:52 o tempo na trama original está contida nesse loop infinito...
2:07:57 O que podemos concluir? As Corujas representam a totalidade da trama das primeiras duas temporadas,
2:08:04 do começo ao fim e de volta ao começo. As asas no símbolo da Coruja até lembram
2:08:08 dois picos de montanha; Twin Peaks [do inglês, Picos Gêmeos], a história
2:08:12 Veja e ouça o sonho do tempo...
2:08:17 O Anel de Coruja surgiu pela primeira vez no filme, que foi criado como uma adição à história,
2:08:22 e é por isso que o símbolo de Coruja no anel tem uma linha extra vindo do topo da
2:08:27 cabeça da coruja. Esse é um tempo extra que foi adicionado à trama original.
2:08:32 Por que a Coruja foi escolhida como a representante da história? Primeiro, corujas tem olhos
2:08:38 enormes que podem ver no escuro, igual Lynch quer que a gente faça. Segundo, Lynch nos mostra uma comparação
2:08:44 mais literal no episódio final da Temporada 3: torres de transmissão! Apenas os mais
2:08:50 ignorantes vão olhar para isso e dizer que não parece uma coruja estilizada de desenho. O que
2:08:56 uma torre de transmissão faz? Ela sustenta as linhas de energia. As “corujas” literalmente carregam eletricidade!
2:09:03 Nós repetidamente vemos imagens de corujas levando luz durante a série.
2:09:08 Eu combinei a tatuagem do Major Briggs a da Dama do Cepo.
2:09:12 Isso é exatamente igual ao da Caverna da Coruja.
2:09:15 O símbolo maior da Caverna da Coruja, quando visto por completo, é, obviamente, um
2:09:20 totem de coruja, igual aos que vemos em qualquer lugar na série. É mostrado os diamantes que
2:09:24 formam o totem durante a transição entre o símbolo da coruja e do infinito, apenas para termos certeza
2:09:29 que isso é um totem de coruja. No topo desse totem há um símbolo de fogo. A coruja está carregando o fogo;
2:09:38 TOTEM DE CORUJA = POSTE TELEFÔNICO postes telefônicos e torres de transmissão estão carregando o fogo. As corujas carregam
2:09:44 o fogo elétrico, a trama carrega a série, o loop de tempo que é a trama é o
2:09:49 mesmo que a coruja, a coruja representa a trama que carrega o fogo elétrico.
2:09:55 Então por que o símbolo de Coruja está estampado na pedra verde fixada ao Anel de Coruja. Agora
2:10:01 vamos ter que perguntar, “O que é a pedra verde?” Não é jade!
2:10:07 Isso é uma mesa de fórmica. Verde é sua cor.
2:10:17 Por que o Braço de Mike chamaria atenção para esse detalhe estranhamente específico, que ele está sentado à
2:10:21 uma mesa de fórmica verde? Se olharmos a mesa mais perto, podemos ver um buraco circular mais ou menos
2:10:27 do tamanho da pedra do Anel de Coruja... A pedra verde do Anel de Coruja parece ter
2:10:32 sido tirada dessa mesa de fórmica verde. Mas por que fórmica? Porque fórmica foi inventada
2:10:40 originalmente como um isolante elétrico, e isso é um conceito que funciona em várias camadas.
2:10:46 O design de uma mesa de fórmica parece pra caramba com estática de TV, espelhando o fato
2:10:51 de que se, literalmente, bloquearmos o sinal, não teremos nada além de estática na tela. Estamos nos
2:10:56 “isolando” da série. O anel em si representa o “círculo dourado” de apetite e satisfação,
2:11:02 e acontece que ouro é um dos melhores condutores de eletricidade. Assistir TV, casar-se com
2:11:08 o mal e usar o “círculo dourado” iriam permitir que a eletricidade maligna de Mike e Bob
2:11:12 entrassem em nossas almas mais facilmente.
2:11:15 TWIN PEAKS NOS ISOLA DO FOGO DE BOB Mas a história de Twin Peaks foi criada como uma tentativa de
2:11:17 “isolar” a TV do fogo elétrico de violência consumível de Bob, e, aqui, nós vemos o
2:11:23 símbolo dessa história, a coruja, agora gravada em um pedaço de fórmica que, literalmente, quebra
2:11:29 o círculo dourado em que a TV mantém seus expectadores, nos isolando do fogo elétrico de
2:11:34 Bob.
2:11:35 Então com Twin Peaks como um isolante nesse anel, Laura está se casando com um espírito da TV que
2:11:41 mudou de ideia, isolando-a da possessão de Bob, e a esperança é que, ao
2:11:46 assistir Twin Peaks, nós também nos isolamos através de um casamento com esse novo e equilibrado espírito
2:11:51 da TV.
2:11:52 Agora temos a explicação do porquê de Leland estar tão chateado com a terra debaixo da unha anelar
2:11:56 de Laura.
2:11:57 Tem terra debaixo desse dedo.
2:12:01 Nesse momento, Laura não está inteiramente possuída pela maldade de Bob e ainda tem potencial
2:12:06 para colocar o anel e se isolar dele. Montes de terra simbolizam o Homenzinho,
2:12:12 e o Homenzinho é parte de Mike, então a terra debaixo da unha anelar significa
2:12:17 a boa influência de Mike em sua alma.
2:12:19 Mas nenhum de nós vai começar a comer até Laura lavar as mãos. Lave suas mãos!
2:12:29 Bob demanda abusivamente que ela lave suas mãos para causar dor, levando-a em direção
2:12:35 ao lado do mal com esperança de limpar a influência de Mike. Ele não tem sucesso, Laura escolhe
2:12:41 o lado do bem, se casa com Mike, se isolando e protegendo da possessão de Bob,
2:12:46 e Bob a mata como um bom servo de seu mestre. Depois do assassinato, Bob
2:12:51 volta para a Sala Vermelha para devolver a garmonbozia de Mike.
2:13:02 GARMONBOZIA O que o creme de milho representa no funcionamento do universo?
2:13:08 Creme de milho, ou “garmonbozia”, é uma manifestação física de dor e sofrimento. As entidades malignas
2:13:14 do Black Lodge se alimentam de garmonbozia como se fosse um combustível, e gostam tanto de cria-la, quanto de consumi-la.
2:13:20 Sabemos que é um combustível porque, na hora que deveriam retornar para o Lodge, podemos ver
2:13:24 o sósia de Cooper e Dougie Jones vomitando a garmobozia usada enquanto sua energia maligna se
2:13:29 esgota. Antes de Mike cortar seu Braço fora, ele se “casava” com as vítimas de Bob usando seu anel, e Bob
2:13:35 as matava, entregando suas almas ao lodge onde Mike poderia colher a garmonbozia
2:13:39 delas. Ele as enlatava e guardava na Loja de Conveniências para uso futuro.
2:13:44 Eu mandei enlatá-lo na loja!
2:13:49 Mike and Bob, alimentados pela garmonbozia, entravam no mundo e cometiam assassinatos, para então retornar
2:13:53 ao Lodge com garmonbozia fresca, que seria usado para alimentar mais atos malignos, e
2:13:58 assim por diante… até o dia que Mike cortou seu Braço fora e jurou parar a violência.
2:14:03 A primeira das vítimas de Bob depois que Mike mudou de atitude foi Teresa Banks
2:14:06 Onde será que está seu anel?
2:14:09 De algum jeito, Bob pôde roubar de Mike a garmonbozia desse assassinato, apesar de
2:14:14 Mike estar usando o Anel de Coruja.
2:14:16 Você roubou o milho!
2:14:20 Como bob fez isso? Alguns diriam que ele está pegando diretamente do Lodge. ou
2:14:24 pegando do Braço, que tem um suprimento saudável na sua mesa de fórmica. Mas não,
2:14:29 Bob, na verdade, ele mesmo está produzindo, usando suas infames ‘letras nas unhas’. Geralmente,
2:14:36 quando Bob mata alguém, Mike reivindica sua alma ao colocar seu anel no “dedo da alma”.
2:14:41 Bob contorna isso ao colocar letras de seu próprio nome abaixo da unha do dedo
2:14:45 BOB REIVINDICA A DOR E O SOFRIMENTO EM SUAS ALMAS anelar. Mike pode ter reivindicado suas almas, mas a dor e sofrimento enterrados de
2:14:51 suas almas pertence a Bob, e ele colocou seu nome nelas.
2:14:55 As letras debaixo das unhas? R-O-B-T? Bob está soletrando seu nome; uma assinatura
2:15:00 no auto-retrato demoníaco.
2:15:01 Mas Bob não precisa necessariamente da garmonbozia de seus assassinatos; ele é capaz de entrar
2:15:06 no mundo e causar caos parasiticamente ao viver na dor e sofrimento da alma
2:15:11 de seu anfitrião. Então, por que Bob rouba a garmonbozia de Mike? É realmente só pelo simples prazer
2:15:16 de comer dor e sofrimento, ou tem uma razão mais profunda?
2:15:20 O que realmente é creme de milho? É um símbolo de algo mais?
2:15:25 Muito do simbolismo de Twin Peaks é sobre diferentes tipos de combustível. Óleo alimenta o
2:15:30 fogo, e essa eletricidade alimenta a série. Café e donuts alimentam a investigação.
2:15:36 Torta de cereja alimenta amor e companheirismo
2:15:38 Esse mundo de Twin Peaks parece estar cheio de mulheres bonitas! Venha comer torta com a gente!
2:15:44 Mas o que alimenta a audiência? A resposta óbvia seria: “Comida”,
2:15:49 e seria uma piada bem besta se não fosse a verdadeira resposta para a pergunta.
2:15:53 Comida é algo interessante. Por exemplo, por que precisamos comer?
2:15:58 Na maior parte do tempo, podemos garantir que a audiência de TV vai estar comendo enquanto assiste um filme
2:16:03 ou um programa de TV. Cinemas tem barracas repletas de lanches, e, em algum lugar entre
2:16:09 os anos 50 e 90, as refeições afetuosas em família começaram a se dissolver em refeições
2:16:13 em frente à TV. Quando assistimos um filme no cinema, nós comemos aquela comida clássica, quintessencial
2:16:19 de cinema: pipoca. Se estivermos assistindo TV no início dos anos 90, provavelmente comeremos uma refeição
2:16:25 de TV… que pode incluir creme de milho. Milho é o denominador comum; é
2:16:32 a comida que a audiência come quando assiste um filme ou programa de TV, então
2:16:37 GARMONBOZIA É A NOSSA ATENÇÃO creme de milho se tornou o representante para a *atenção* e satisfação da audiência
2:16:42 em relação à dor e sofrimento que assistimos na TV
2:16:45 enquanto comemos nossas refeições de TV. Entregamos nosso tempo de comer refeições de TV à TV; o Black
2:16:52 Lodge começa a criar a dor e sofrimento de um mistério de assassinato, nós dedicamos nosso tempo de consumo
2:16:57 de milho a isso, eles comem nossa atenção recheada de milho como combustível para criar mais dor e sofrimento para
2:17:03 prestarmos atenção. Temos um apetite para isso, é isso nos satisfaz.
2:17:09 Apetite, satisfação.
2:17:12 Os nossos apetites e desejos estão nos minando?
2:17:18 Isso é só maluquice? Vamos procurar a evidência.
2:17:22 Esse é Chas. Ele é um policial corrupto, então está possuído pelo mal. Ele não come uma, mas duas refeições de TV
2:17:29 e uma grande tigela de creme de milho enquanto lê uma revista de armas. Ele está gastando seu tempo de consumo
2:17:35 de milho em entretenimento violento.
2:17:37 Essa é Sarah Palmer. Ela nos mostra que está possuída pelo mal, e gasta todo o seu
2:17:42 tempo em casa assistindo violência na TV. Lynch se refere à violência como: “Animais comendo
2:17:47 uns aos outros.”
2:17:48 Mmm... Animais... Animais comendo uns aos outros...
2:17:49 Mm hmm, é isso que você está assistindo.
2:17:54 É, esse é meu tipo de coisa.
2:17:59 Vida animal.
2:18:00 E o que Sarah come enquanto assiste? A única comida que ela compra na loja para acompanhar
2:18:04 seus bloody marys: refeições de TV.
2:18:08 Essa é Carrie Paige. Ela está envolvida no assassinato de algum cara, então ela também está possuída
2:18:13 pelo mal. O que ela estava comendo enquanto se escondia da polícia? Nada além de refeições de TV.
2:18:20 Tradicionalmente, milho é usado como um símbolo de fertilidade, e isso também é um fato no mundo
2:18:24 de Twin Peaks, mas em uma forma mais literal. Nosso consumo de creme de milho dá luz à
2:18:28 série – uma relação entre dois mundos dá luz a sonho. Fisicamente, a série
2:18:33 pode funcionar à base de eletricidade, mas o que mantém a energia correndo é a nossa atenção.
2:18:39 Isso funciona em alguns níveis. Em um nível pessoal, se não dermos nossa atenção à série,
2:18:44 ela não vai existir para nós; nós não compartilhamos o sonho. Num nível mais amplo, se
2:18:49 pessoas suficientes não derem atenção à série, ela é cancelada e deixa de
2:18:53 existir para todos. Em qualquer dos casos, as entidades do Black Lodge não conseguem consumir nossa atenção
2:18:59 a menos que vejamos a obra delas.
2:19:02 Por que Bob quer garmonbozia? Porque ele quer uma audiência para sua obra! Se a única
2:19:08 pista que tivemos após o assassinato foi a marca deixada pelo Anel de Coruja, então Mike e
2:19:12 seu Braço ganham nossa atenção, já que vemos eles em posse do anel, e isso
2:19:17 os faria os suspeitos principais. Mas ao deixar essa assinatura na matança, ficamos sabendo
2:19:22 BOB ROUBA A ATENÇÃO COM AS LETRAS que Bob foi o responsável, e isso mantém nosso interesse em sua obra, o que vai alimentá-lo
2:19:28 porque queremos ver seu mistério de assassino em série se desenrolar. E assim Bob consegue consumir
2:19:34 nossa atenção. Ele rouba a atenção de Mike e seu Braço.
2:19:38 Você roubou o milho!
2:19:42 Podemos continuar com isso! Refeições de TV e creme de milho, também conhecidos como comidas prontas,
2:19:47 são produzidos para nosso fácil consumo e gosto, assim como a dor e sofrimento que
2:19:51 alimentam uma série de mistério de assassinato – TV e refeições de TV embalados em plástico para a nossa conveniência
2:20:00 Ela está morta. Embalada em plástico.
2:20:04 Não deveria ser surpresa, então, que a garmonbozia fica guardada em uma loja de conveniências de posto,
2:20:09 um lugar que literalmente guarda combustível e comida pronta.
2:20:15 o olhar no rosto dela quando estava aberto, tinha uma quietude...
2:20:21 Quando Mike grita com Bob por roubar o milho, ele diz que tinha “enlatado na loja”
2:20:26 e que tinha uma quietude no rosto de Teresa quando foi “aberto” (muito interessante
2:20:30 que o milho não tivesse sido aberto até depois que ela foi morta). O “enlatamento” de garmonbozia
2:20:36 acontece quando um assassinato é cometido antes da história começar. Isso é energia em potencial
2:20:40 que é armazenada na Loja até que a audiência seja trazida para o começo da história durante
2:20:45 a investigação do assassinato. A garmonbozia de Teresa foi enlatada e armazenada durante seu assassinato, e
2:20:50 durante sua cena de autópsia, onde vemos a quietude em seu rosto, a letra de Bob na unha
2:20:55 é revelada e nossa atenção é consumida por Bob. É sobre isso que Mike está falando.
2:21:00 Então a Loja de Conveniências atua como um tipo de estação de energia para a história, gerando e
2:21:06 armazenando detalhes negativos da trama, e isso porque nós queremos a negatividade. O óleo vem
2:21:11 do castelo do Fireman, e nossa atenção e desejo pela negatividade refina esse óleo
2:21:16 em gasolina para alimentar o fogo de Bob. A estação de energia para a escuridão da TV é um posto
2:21:23 rodoviário sujo cheio de gasolina e creme de milho – a estação de energia para a luz do filme
2:21:28 é um castelo gigante em um mar roxo de sonhos cheios de café e óleo de lanterna... Qual delas você
2:21:33 acha que Lynch tem maior consideração?
2:21:36 O MÁGICO ANSEIA VER
2:21:41 A primeira vez que vemos garmonbozia, é na casa de Tremond, quando Donna está entregando
2:21:45 comida pela rota do Meals on Wheels de Laura
2:21:47 Eu pedi sem creme de milho.
2:21:51 A sra. Tremond não quer garmonbozia. Seu neto, Pierre, está estudando mágica, e ele
2:21:56 move o milho ao redor da cena como se por mágica. Está no prato, depois nas
2:22:02 mão de Pierre, e depois some – muito interessante assistir e pensar em... captura de atenção,
2:22:08 inclusive… Como funciona o truque de Pierre? E não quero dizer: “Como ele pôde fazer
2:22:13 isso na vida real?” Eu estou dizendo literalmente, como esse truque de mágica está sendo feito quando
2:22:17 assistimos? Através da edição! O milho, nossa atenção, está sendo movido pela cena
2:22:24 através da cinematografia e edição. Cada corte é um movimento mágico instantâneo da nossa atenção
2:22:30 de um lugar para o outro.
2:22:32 Às vezes, coisas acontecem simples assim. MÁGICA DA EDIÇÃO
2:22:39 E quem controla a edição e cinematografia? O diretor! O diretor literalmente direciona
2:22:44 a atenção da audiência ao redor da cena. Então se a edição é a mágica, o
2:22:50 diretor deve ser o mágico.
2:22:53 “Eu sinto que o filme perde muito quando você sabe muitos dos segredos do mágico,”
2:22:57 Sabrina Sutherland reponde perguntas sobre como Lynch dirige uma cena.
2:23:01 Além disso, esse pequeno mágico tem o corte de cabelo registrado de Lynch e foi
2:23:05 originalmente interpretado por ninguém menos que Austin Jack Lynch, o próprio filho de Lynch. Pierre
2:23:11 Tremond parece ser outra autoinserção de David Lynch. Ele nunca é visto sem sua avó, que
2:23:17 despreza creme de milho. Um dos primeiros filmes de Lynch foi The Grandmother (A avó), que conta sobre
2:23:22 um menino que planta sua própria avó para ser uma fonte de amor.
2:23:26 Um menino planta uma semente e nasce uma avó, porque uma avó é uma fonte de amor.
2:23:32 Então é claro que a avó do pequeno Lynch despreza o combustível da negatividade. Pierre Tremond nos
2:23:38 prova que Lynch é o diretor é o mágico. E agora, nós temos uma identidade para o mágico.
2:23:44 do famoso poema de Twin Peaks, e nós podemos decodificar seu significado:
2:23:47 Através da escuridão do passado futuro O mágico anseia ver
2:23:54 “Através da escuridão do futuro passado.”
2:23:57 O que é o “futuro passado”? Bom, quando você faz uma gravação, quando filma um vídeo ou filme,
2:24:02 você pretende assisti-lo no futuro. O que você vai assistir é uma gravação
2:24:07 do passado. “Passado futuro” é um filme ou programa de TV. A “escuridão” de que estamos falando
2:24:13 é o sonho sombrio de Twin Peaks... a série de TV.
2:24:16 Então “Através da escuridão de Twin Peaks, o mágico” – o diretor, David Lynch – “Através de
2:24:21 Twin Peaks, David Lynch anseia ver, alguém canta” – a única CHANCE que temos para sair
2:24:27 desse círculo dourado de destruição. E sim, eu sei que Lynch quis dizer: “Alguém
2:24:32 CANTA [CHANTS, em inglês]. Mas como nós estamos brincando com significados
2:24:36 e homônimos e “sons parecidos” , então o que importa é que SOA como “chance [CHANCE, em inglês]”
2:24:41 “Entre dois mundos” – entre o mundo da TV e o mundo real.
2:24:45 "Fogo anda comigo” – isso poderia significar duas coisas, mas ambas tem mais ou menos o mesmo
2:24:49 significado. Pode ser uma referência à bengala do Eletricista, plantando os postes telefônicos,
2:24:54 andando com o fogo para conectar nossas TVs com o sonho. Também poderia querer dizer o mesmo
2:24:59 O Braço quer dizer quando diz para Bob e depois anda com Bob até o mundo real. “Venha comigo,
2:25:04 Bob, e vamos usar sua escuridão para mandar uma mensagem.” O segundo parece mais
2:25:09 provável porque seria isso que levaria à “uma chance para sair”
2:25:12 Então quando vemos Pierre mandando Bob cometer um assassinato, ele está direcionando a violência em uma certa
2:25:17 direção e, daí, através da edição, direcionando a atenção da audiência nessa direção.
2:25:22 Ele está andando com o fogo elétrico, usando ele para criar sua série... Na verdade, não. Note
2:25:30 como Pierre direciona Bob diretamente, mas O Braço levanta sua mão para impedir Bob, e é ele
2:25:35 quem anda com Bob para dentro do mundo
2:25:38 Fogo, ande comigo.
2:25:42 Para entender o controle indireto do Braço de Mike, vamos usar o conceito de
2:25:46 máscaras.
2:25:48 Bob certamente usa Leland como uma máscara, possuindo seu corpo para seu propósito sombrio. Mas David
2:25:53 Lynch está meio que usando sua mágica para possuir nossas Tvs para seu propósito. Podemos, então, dizer que
2:25:57 Lynch está usando a TV como uma máscara? A resposta é sim, mas, de novo, não diretamente. Primeiro,
2:26:03 David Lynch está usando o personagem de Pierre como uma máscara, certo? E daí, Píerre
2:26:07 usa uma máscara literal nele mesmo, semelhamnte ao personagem da Loja de Conveniências conhecido
2:26:11 como “Homem Pulando” (Jumping Man). Ele pula para cima e para baixo com uma alegria frenética e maligna em uma caixa
2:26:15 de leite enquanto segura um galho. Podemos ver Pierre segurando o mesmo galho enquanto
2:26:20 usa a máscara e sai pulando por um estacionamento durante um flashback do filme,
2:26:24 o que nos mostra que o Homem Pulando não é nada mais que uma máscara para Pierre Tremond. O galho
2:26:30 parece um tipo de talismã, e o ator que interpreta o Homem Pulando, Carlton Lee Russell,
2:26:35 diz que Lynch contou que seu personagem era um “talismã vivo”
2:26:39 David me contou que meu personagem era esse “talismã vivo”, e eu segui isso..
2:26:47 Que droga isso quer dizer?
2:26:48 TALISMÃ = MÁGICA Bom, um talismã é um objeto com poderes mágicos.
2:26:52 LYNCH = MÁGICO Nós já sabemos que David Lynch é um mágico,
2:26:54 MÁGICA = EDIÇÃO e que a mágica que ele prática é o direcionamento de atenção através da edição…
2:26:58 Se o Lynch criança segura o talismã mágico, e o
2:27:02 HOMEM PULANDO = TALISMÃ Homem Pulando é o talismã vivo, isso quer dizer que o
2:27:05 HOMEM PULANDO = EDIÇÃO? Homem Pulando é a personificação da magia da edição?
2:27:10 Isso explicaria seu comportamento frenético. Há muita energia
2:27:13 em um corte de cena a cena. É um movimento instantâneo. Você está saltando de um lugar para outro instantaneamente,
2:27:20 de uma hora para outra instantaneamente. Na Temporada 3, ele só é mostrado em momentos de transição.
2:27:26 no salto da Loja de Conveniências para o Holandês. O nariz do Homem Pulando é
2:27:30 longo e afiado. O que uma pessoa faz com um objeto adiado? CORTA coisas.
2:27:36 Então se o Homem Pulando representa a edição, então o diretor está usando a edição como
2:27:40 uma máscara. O ramo saindo da testa da máscara vira o talismã mágico de
2:27:46 madeira do diretor – isso é a personalidade, sensibilidade, mente, intenção do diretor vindo através da edição.
2:27:54 A CORRENTE PULA PARA CIMA E PARA BAIXO Lembre-se que a intenção do criador da série é o que controla
2:27:57 o equilíbrio de energia positiva e negativa em nossos televisores – o rosto do Homem Pulando é
2:28:02 pintado de branco, igual a energia ativa, e, igual a corrente alternada, ele se alterna entre
2:28:08 A CORRENTE PULA PARA CIMA E PARA BAIXO pular em cima de uma caixa de leite para ficar mais alto e pulando para baixo e agachando para fica
2:28:12 mais baixo. Ele também está vestindo o mesmo terno do Homenzinho de Outro
2:28:16 Mundo, e Carlton Lee Russell está entre David Lynch e o ator do Braço, Mike Anderson,
2:28:21 em altura – ele parece estar em um estado de transição entre nosso diretor e nosso pequeno
2:28:26 espírito da TV. Tudo isso nos mostra que Lynch usa Pierre como máscara, Pierre usa a edição
2:28:32 como máscara, a edição usa a TV como máscara, e a TV usa nossos televisores como máscara. Pierre
2:28:39 manda Bob matar e durante essa série de máscaras, Bob recebe a ordem do
2:28:44 espírito da narrativa televisiva, que, então, leva Bob para o mundo para coletar garmonbozia.
2:28:50 De volta à pergunta original. Agora que sabemos o que é garmonbozia, podemos ver por que Bob
2:28:55 a devolve para Mike no final do filme. Se ele gosta tanto de atenção, por que ele
2:28:59 devolveria por vontade própria? É porque ele não tem opção além de devolver. Ele é compelido
2:29:05 pela mágica do diretor. Essa é simplesmente a parte do filme em que Lynch direciona nossa
2:29:10 atenção para a revelação de que O Braço é o braço de Mike, e que é o mestre de Bob. Lynch
2:29:16 BOB REVERENCIA SEU MESTRE nos mostra que Bob não age sozinho, o que compele Bob a reverenciar seu mestre, e com
2:29:21 BOB DEVOLVE ATENÇÃO A MIKE E SEU BRAÇO essa reverência, Lynch tira nossa atenção de Bob e entrega para O Braço, que a come
2:29:27 imediatamente.
2:29:28 Uma série de TV necessita de atenção para existir, mas as coisas em Twin Peaks precisam ser parte do mistério
2:29:33 de Laura (ou misteriosas por si próprias) para atrair nossa atenção. Se é parte do
2:29:39 mistério, então necessita da investigação da audiência... e, portanto, é parte da investigação do FBI.
2:29:46 A MENTE É UM DETETIVE Agente Especial? Agente Especial, está aí?
2:29:56 Lembre-se do que falamos antes:
2:29:57 MENTE = DETETIVE “A mente é um detetive”
2:30:00 DETETIVE = INTUIÇÃO “A intuição é um detetive em nós”
2:30:03 COOPER = DETETIVE INTUITIVO “[Dale Cooper é] mesmo um detetive muito intuitivo.”
2:30:07 Os agentes do FBI são uma manifestação das nossas mentes de detetive se envolvendo com o mistério
2:30:13 de Twin Peaks. É por isso que o diretor da série interpreta o diretor do FBi, porque
2:30:18 ele entrega mistérios para os investigadores investigarem. Dale Cooper foi aquele designado para Twin Peaks,
2:30:24 então ele é o agente que representa mais diretamente
2:30:27 COOPER É A MENTE DA AUDIÊNCIA a audiência que assiste Twin Peaks. Mas a conexão de Cooper com a audiência, assim como tudo na série,
2:30:32 vai além de ser apenas um símbolo. Ele é a personificação literal de nossa intuição detetivesca.
2:30:39 É por isso que ele está tão conectado com sua intuição e acredita que seus sonhos são uma fonte
2:30:44 confiável de informação. Nós estamos “sonhando” Twin Peaks enquanto assistimos, nós recebemos informações
2:30:49 através desse “sonho” e usamos nossas habilidades detetivescas para interpretá-las. Dale Cooper faz
2:30:54 o mesmo e, como personificação de nossas mentes,
2:30:57 COMO NOSSA INTUIÇÃO, COOPER PODE SENTIR NOSSO CONHECIMENTO ele compartilha nossa intuição conosco e pode “sentir”
2:31:00 a informação que coletamos como expectadores, o mesmo que nossa habilidade de testemunhar sua
2:31:05 intuição ao assistir a série.
2:31:07 Como sabemos que isso é verdade? Primeiro exemplo: A cena do filme em que Cooper conta a Albert
2:31:12 que ele conhece coisas sobre a próxima vítima do seu caso de assassinato.
2:31:16 Ultimamente, eu tenho tido o entendimento de que o assassino vai atacar novamente, mas como
2:31:20 é apenas uma sensação, eu sou incapaz impedi-lo.
2:31:22 Ele sente que o assassino vai atacar novamente porque ele já sabe que o assassino vai
2:31:27 atacar novamente. Ele é incapaz de pará-lo porque nós já vimos o resultado nas primeiras
2:31:31 duas temporadas, e é por isso que ele também sente que Albert vai ajudá-lo a solucionar o caso,
2:31:36 porque nós também já sabemos isso.
2:31:38 Mais uma coisa, Albert. Quando o próximo assassinato ocorrer, você vai me ajudar a solucioná-lo.
2:31:42 Então ele recita um monte de detalhes que ele pode intuir através do nosso conhecimento prévio
2:31:46 de Laura.
2:31:47 Uma mulher. Loira. Ela está no ensino médio. Ela é sexualmente ativa. Ela está usando drogas. Ela está
2:31:54 clamando por ajuda.
2:31:55 O que ela está fazendo exatamente agora?
2:31:57 Ela está preparando uma abundância de comida.
2:32:02 Tudo isso são coisas que visualizamos quando pensamos em Laura, e ele está usando nossas
2:32:06 imaginações dela como parte de sua intuição. Mas, então, por que ele sabe que ela está preparando
2:32:11 uma abundância de comida no momento? Porque Lynch imediatamente corta para ela fazendo isso. Nossa
2:32:16 conexão de intuição é uma via de mão dupla – Cooper sente o que ela está fazendo, então nós sabemos o que
2:32:22 ela está fazendo.
2:32:24 Ela está preparando uma abundância de comida.
2:32:32 A letra que foi extraída de debaixo da unha de Teresa Banks me fez
2:32:36 sentir que o assassino vai atacar novamente. Mas como diz a música: “Quem sabe onde ou como?”
2:32:45 Nós sabemos onde e quando. Vai ser durante os eventos da série de TV Twin Peaks. Somos lembrados
2:32:51 disso pela fala do Agente Cooper. Nós imaginamos a série em nossas cabeças, e é por isso que Lynch
2:32:55 imediatamente corta para a cena do título da série de TV. “Como diz a música...” Boww...
2:33:01 Boww bowwwwwww...
2:33:03 Outro exemplo: quando o Agente Cooper vai investigar o desaparecimento de Chet Desmond,
2:33:08 Carl Rod conta a ele exatamente o que Chet estava fazendo e onde estava fazendo.
2:33:11 Aquele ali é o trailer dela, e eu nunca toquei em merda nenhuma. O Agente Chet Desmond
2:33:16 veio uma segunda vez e pediu para ver o trailer do Delegado Cliff Howard ali, e eu
2:33:22 mostrei para ele.
2:33:23 Cooper sente que precisa investigar outro lote no estacionamento de trailers apesar de não
2:33:27 ter nada naquele lote que deveria atrair sua atenção.
2:33:31 Aquele não é o caminho pro trailer do Delegado Cliff, eu falei.
2:33:35 Eu não estou indo para o trailer do Delegado Cliff.
2:33:36 Bom, onde diabos você tá indo?
2:33:39 Estou vindo aqui.
2:33:41 O que tem aí?
2:33:42 Por que ele iria naquele lote? Não há nada lá, e ele não saberia que não tem
2:33:45 nada lá…
2:33:47 É porque nós vimos Chet Desmond desaparecer naquele lote específico. Quando Cooper chega
2:33:52 no estacionamento, nós achamos que ele deveria investigar o último local que apenas nós
2:33:57 vimos Desmond vivo, e então a intuição de Cooper sente isso direto de nós e diz para ele onde
2:34:03 ele precisa ir.
2:34:05 O Agent Cooper representa a parte detetivesca de nossas mentes, então faz sentido que na hora
2:34:10 que vemos o reino dos sonhos, através das cortinas vermelhas, o Agente Cooper tem que estar lá para nos
2:34:15 representar naquele reino também. Se Cooper não estiver lá, nós também não estamos. A primeira cena da Sala Vermelha
2:34:22 é apresentada como um sonho do Agente Cooper, então nós assistimos. Ele está lá, então nós estamos aqui.
2:34:28 O final da Temporada 3 revela que o Agente Cooper ainda estava fazendo algo na Sala Vermelha
2:34:32 durante toda a Terceira temporada, então nós podemos ver através da Temporada 3 e dentro daquele
2:34:37 sonho da Sala Vermelha a qualquer momento. Ele está lá, então nós estamos aqui. Quando Laura tem seu sonho da
2:34:43 Sala Vermelha no filme, nós compartilhamos seu sonho ao assisti-lo, portanto, nosso representante também deve ter compartilhado
2:34:49 aquele sonho.
2:34:50 Laura e eu tivemos o mesmo sonho.
2:34:53 Naquele sonho, Cooper avisa Laura para não pegar o Anel de Coruja.
2:34:56 Não pegue o anel, Laura.
2:34:58 Por muito tempo foi discutido por que ele avisa ela sobre isso. Ele sabe o que é o anel? Ele
2:35:03 sabe o que o anel faz? A resposta é que sua intuição diz que ela não deve pegar o anel.
2:35:09 Cooper nunca viu o Anel de Coruja antes desse momento... mas nós vimos. Através da investigação
2:35:14 do Agente Desmond no começo do filme, nós vimos que Teresa Banks estava usando
2:35:19 o Anel de Coruja antes de ser morta, e que o Agente Desmond desapareceu quando ele achou o
2:35:23 anel. Agora O Braço está mostrando diretamente a nós, e nós já sabemos que ele provavelmente não é
2:35:28 a melhor pessoa para se associar. Nessa parte do filme, NOS parece que
2:35:33 o Anel de Coruja teve algo a ver com o assassinato de Teresa. Por pensarmos que é algo ruim, agora
2:35:38 Cooper pode intuir através de nós que pode ser algo ruim e avisar Laura para não pegar.
2:35:43 Nem ele, nem nós sabemos nesse momento que é bom que ela pegue o anel
2:35:47 mais tarde (e acabe morta).
2:35:50 Um exemplo final para martelar: Para que possamos ver em um sonho, Cooper precisa
2:35:55 estar no sonho… mas e se o sonho for sobre a realidade real, como o sonho de Gordon
2:36:00 Cole com Monica Bellucci, onde ele sonha sobre encontrar a Monica Bellucci da vida real em uma
2:36:05 cafeteria da vida real ao lado de uma galeria da vida real onde Lynch fez uma exposição de arte na vida
2:36:09 real?
2:36:11 Cooper estava lá, mas eu não consegui ver seu rosto.
2:36:15 Cooper estava lá porque nós estamos assistindo o sonho na TV, então nós estamos lá. Gordon Cole
2:36:20 não conseguiu ver seu rosto porque esse era um sonho sobre a realidade real, onde a personagem “Agente
2:36:24 Cooper” não existe. Mesmo assim, as câmeras estavam filmando – os atores não conseguem ver nossa face,
2:36:31 mesmo assim nós estamos lá, dentro do ponto de vista da câmera, testemunhando o sonho. Nós estamos
2:36:36 lá no sonho através do poder de assistir, então Cooper está lá. Mas personagens de TV não conseguem
2:36:42 ver a audiência assistindo a elas.
2:36:44 A AUDIÊNCIA ESTAVA LÁ, Cooper estava lá,
2:36:46 MAS EU NÃO CONSEGUI VER OS ROSTOS DELA. mas eu não consegui ver seu rosto.
2:36:48 COOPER É A AUDIÊNCIA VIVENDO NO SONHO E agora que já estabelecemos firmemente que Cooper é uma manifestação literal da intuição da
2:36:53 audiência, podemos entender a primeira cena da Temporada 3. O Fireman fala para o
2:36:59 Agente Cooper ouvir “os sons”. Ele fala para Cooper lembrar: “430, Richard e
2:37:07 Linda, dois coelhos com uma cajadada.” Agente Cooper afirma definitivamente que entendeu.
2:37:12 Eu entendi.
2:37:15 O Fireman fala que ele está longe, e Cooper desaparece. A internet lotou
2:37:20 de teorias sobre o significado dos números 4, 3 e 0, ensaios sobre Richards famosos
2:37:25 e etimologias do nome Linda, possíveis interpretações de coelhos e cajados, e duvidosas
2:37:31 análises de áudio do misterioso som. Na realidade, essas coisas não têm nenhuma significância
2:37:37 além do que elas são na série. Não importa o que exatamente fez os sons durante a
2:37:41 produção, mas alguém que tenha visto a série toda pode nos dizer que a única outra vez que
2:37:46 ouvimos isso é quando o Agente Cooper volta no tempo para resgatar Laura Palmer. Alguém que
2:37:53 viu a temporada toda pode nos dizer que “dois coelhos com uma cajadada” é o plano do Agente
2:37:57 Cooper para achar Judy.
2:37:59 Cooper me disse: “eu estou tentando matar dois coelhos com uma cajadada só.”
2:38:04 E alguém que tenha visto o último episódio poderia nos dizer que 430 é o número de milhas
2:38:09 que Cooper e Diane viajam para a atravessar alguma nova realidade...
2:38:13 Exatamente 430 milhas.
2:38:15 ... e que o Richard e a Linda que o Fireman está falando são as novas identidades de
2:38:19 Cooper e Diane quando eles atravessam.
2:38:22 Richard? Linda...
2:38:24 ESSE COOPER NÃO ENTENDE Esse Agente Cooper não sabe os nomes, mas alguém que tenha visto a Temporada 3 reconheceria
2:38:28 os nomes logo na primeira cena.
2:38:31 Richard? Linda?
2:38:32 O Fireman está falando pra Cooper lembrar essas coisas, ou ele está perguntando se ele se lembra?
2:38:39 A única forma de entendermos com toda certeza é de já tivermos visto essas coisas antes.
2:38:44 Se lembre...
2:38:45 ENTENDEU…? Eu entendi.
2:38:47 E como Cooper nos representa, esse deve ser um Cooper de algum tempo no futuro que
2:38:52 ESSE COOPER JÁ VIU A TEMPORADA 3 já viu essas coisas. Esse Cooper representa uma audiência que já assistiu a
2:38:58 temporada toda e está reassistindo do começo. O Fireman fala para esse Cooper do futuro
2:39:04 que ele está longe.
2:39:06 Você está longe.
2:39:09 Esse é o Episódio 1, e nós temos uma temporada inteira para atravessar antes de dizer que nós
2:39:13 entendemos. Portanto, nesse episódio 18, Cooper desaparece do Episódio 1, e se essa é a
2:39:19 primeira vez que assistimos, nosso entendimento do que o Fireman desaparece com
2:39:24 ele para o futuro.
2:39:26 A conexão de intuição que a audiência tem com Cooper explica a meta-razão para
2:39:30 seu crescimento como personagem através da série original. Como muitos apontaram, Cooper começa
2:39:35 a investigação de Laura Palmer com um entusiasmo juvenil, mas através do curso da série,
2:39:40 ele amadurece, se tornando mais solene e sombrio. Isso reflete o que Lynch espera que aconteça
2:39:44 com sua audiência.
2:39:46 No começo, Cooper é quase perverso em sua satisfação do que deveria ser uma situação
2:39:50 tão sombria, assim como a audiência de mistérios de assassinato da TV que Cooper está canalizando. Ele gosta disso
2:39:56 porque nós gostamos. Conforme a história se desenrola e a escuridão é descoberta, nós nos aproximamos
2:40:00 do significado mais profundo da série, a realidade da tragédia de Laura. Nós não devemos ficar menos interessados
2:40:05 no mistério, mas deveríamos perder nosso prazer perverso no sofrimento, e essa esperança
2:40:10 por mudança é o que se reflete em nosso representante. Ele fica sério porque nós deveríamos ficar.
2:40:17 Bob era o desejo por um mistério de assassinato sem a escuridão que existe em um assassinato real.
2:40:22 Quando a audiência rejeitou a investigação do mistério de Laura e forçou sua conclusão,
2:40:26 eles estavam se negando a enfrentar mais da escuridão dela. Eles só queriam a resposta, não importa
2:40:32 o custo, e isso era a audiência sendo possuída por Bob. Isso se refletiu na
2:40:37 parte final da Temporada 2. Cooper foi possuído por Bob porque a audiência já estava possuída.
2:40:44 Mais uma coisa antes de prosseguirmos. David Lynch tem uma personagem que o representa, e nós
2:40:47 temos uma personagem que nos representa. Isso significa que Mark Frost tem uma personagem
2:40:51 que representa ele? Se tiver, eu coloco minha aposta no Major Briggs.
2:40:55 Major Garland Briggs... Bobby, seu pai estava bem ciente do que estava acontecendo aqui hoje.
2:41:00 Muitos anos atrás, as informações que seu pai reuniu trouxe ele ao encontro do diretor Gordon
2:41:06 Cole. E é isso que nos trouxe onde estamos hoje.
2:41:10 Na série, o Major Briggs trabalha para o governo descodificando mensagens secretas de ondas de rádio
2:41:14 do espaço, interpretando-as e mostrando para o Agente Cooper. Mark Frost recebe
2:41:19 ondas de ideia vindas do Campo Unificado via Lynch e as traduz para um papel para mostrá-las
2:41:23 à audiência. Se você leu os livros, você vai saber como essa possível conexão pode
2:41:27 ter se traduzido em uma metaficção literária.
2:41:32 RECURSOS NARRATIVOS
2:41:35 Agora, nós já estabelecemos que a existência da série depende da atenção e da investigação. Portanto,
2:41:42 SEM ATENÇÃO = NÃO-EXISTÊNCIA se algo ou alguém não é parte do mistério, então isso não recebe nossa atenção,
2:41:46 e essa é a causa para isso não existir na série. O exemplo primordial disso é Teresa
2:41:52 Banks.
2:41:53 Um ano atrás, quase nesse dia exato, em uma cidade no canto sudoeste desse estado, o
2:41:57 corpo de uma jovem chamada Teresa Banks foi encontrado.
2:42:00 Teresa era alguém que, antes do filme, não tinha atenção. O mistério da série de TV
2:42:05 se desenrolou na investigação de Cooper das conexões de Laura com todos na cidade. Em contraste,
2:42:11 Teresa Banks era um ninguém solitário; sem família, sem amigos, sem nada importante ou interessante
2:42:16 sobre ela além da conexão com o assassinato em série de Laura Palmer.
2:42:20 Ninguém veio atrás do corpo. Nenhum parente próximo conhecido.
2:42:24 A razão de Teresa não estar na série é porque ela não está conectada com a série além disso
2:42:29 e não necessita de uma maior investigação,
2:42:31 SEM ATENÇÃO = NÃO-EXISTÊNCIA e, mais importante, a razão dela ser um ninguém é porque ela não está na série sendo investigada.
2:42:38 Um assassinato básico. Banks era uma vagabunda e ninguém conhecia ela.
2:42:42 Como resultado, ela é a própria essência da violência consumível de TV, assassinato sem consequências, nada
2:42:49 além do tipo de escada que precisava existir antes que Twin Peaks
2:42:53 viesse e resolvesse o problema.
2:42:54 Ela não tinha família, ninguém veio atrás do corpo dela, não estava nem no jornal... até
2:43:00 hoje.
2:43:01 Nesse mundo onde as coisas não existem a menos que sejam parte do mistério, como Lynch
2:43:05 coloca atenção em Teresa para que ela possa aparecer na tela? Ele a transforma em uma prostituta colega
2:43:11 de Laura que Leland estava vendo, e fez ela descobrir essa conexão e decidir
2:43:15 chantagear Leland sobre isso…
2:43:16 ela estava chantageando alguém.
2:43:18 Ela até me perguntou como seu pai parecia.
2:43:22 o que resultou em Leland matando-a e plantando a letra de Bob. Agora ela se tornou interessante
2:43:27 para nós porque agora ela está conectada com Laura além de ser apenas uma vítima anterior de Bob.
2:43:32 Nós precisamos assistir e investigar essas novas cenas,
2:43:34 MISTÉRIO = ATENÇÃO = INVESTIGAÇÃO então agora há uma razão para o filme existir.
2:43:38 Mas isso significa que é preciso ter agentes do FBI no caso de Teresa Banks nos representando. Fazendo
2:43:43 o papel de nossas mentes detetivescas estão os Agentes Desmond e Stanley.
2:43:46 Você pode fazer aquela xícara nova agora mesmo.
2:43:51 Eu estou mandando você abandonar toda a informação pertinente acerca de Teresa Banks, tanto
2:43:55 enquanto viva quanto morta.
2:43:56 Além de ser uma ferramenta de ensino para a audiência, o Agente Desmond também ilustra
2:44:00 o fato de que nosso diretor necessita de investigadores para seus mistérios, quer esses investigadores
2:44:06 sejam o Agente Cooper ou não.
2:44:08 Sam, cole no Chet! Ele tem o seu próprio M.O. – modus operandi!
2:44:14 Repare como a parte dele só dura o suficiente para nos introduzir na investigação,
2:44:18 momento que ele literalmente desaparece, tanto no filme quanto do filme. Seu desaparecimento
2:44:24 serve para nada menos que quatro propósitos.
2:44:27 SEM ATENÇÃO = NÃO-EXISTÊNCIA Primeiro propósito: ilustrar que as personagens são parte da série apenas enquanto servirem
2:44:31 seus propósitos, e então eles perdem nossa atenção e saem da série. Desconhecido, o objetivo
2:44:35 da nova personagem de Desmond era investigar Teresa, achar o anel, e entregar o caso
2:44:40 para o bom e velho favorito dos fãs, Cooper. O segundo Desmond perdeu nossa atenção para Cooper, seu
2:44:45 tempo no filme se esgotou, então o filme literalmente corre e congela no último
2:44:49 quadro enquanto nós voltamos nossa atenção para o cara com que realmente nos importamos.
2:44:53 Segundo propósito: Lynch tem que colocar mais ênfase nesse anel. Nesse momento, tudo que
2:44:58 sabemos é que Teresa estava usando ele antes de morrer. Se o Agente Desmond desaparece quando
2:45:02 pega eles, isso o torna mais misterioso e mais perigoso, e nos dá mais um motivo
2:45:06 para pensar nisso, fazendo Cooper sentir nossa apreensão e avisar Laura sobre isso mais tarde.
2:45:12 Não pegue o anel, Laura.
2:45:13 Terceiro propósito: é outra dica sobre o funcionamento do anel. O anel deveria
2:45:18 nos isolar do fogo negro da violência consumível de TV, e o caso de Teresa é justamente sobre
2:45:23 violência sem sentido. Ela não conhece ninguém, então ninguém sentirá falta dela, então não
2:45:28 há nenhuma bagagem para desenterrar e nos mostrar quão triste a morte dela deveria ser. Mais do que isso,
2:45:32 ela não é uma pessoa muito boa e só está no filme para chantagear um assassino e adicionar
2:45:36 à soma total de maldade em Twin Peaks
2:45:39 Olá?
2:45:40 Ei, bonitão. É a sua garota festeira.
2:45:43 Ir mais fundo do que precisamos nesse caso seria uma antítese da mensagem
2:45:47 de Twin Peaks, então quando o representante de nossa mente intuitiva entrar em contato com o anel,
2:45:53 o isolamento do mal inicia, e a investigação da violência consumível de Teresa
2:45:58 para instantaneamente. Nossa mente é removida da investigação, dando espaço para o
2:46:04 quarto propósito: é um motivo para trazer o Agente Cooper para a investigação do assassinato em série
2:46:09 Então, o Agente Desmond desaparece e então o Agente Cooper vai ao estacionamento investigar sua
2:46:14 última localização conhecida… Bom, é aí que o filme DEVERIA ir, mas ao invés disso, depois que Desmond
2:46:20 desaparece, David Bowie interrompe o que seria uma progressão lógica de cenas para nos
2:46:23 falar sobre um encontro sobrenatural que ele testemunhou.
2:46:26 Quem você acha que é esse ali?
2:46:29 Do Agente Desmond para David Bowie perdendo a cabeça sobre uma mesa de fórmica, e de volta a Cooper procurando
2:46:33 por Desmond. É um non sequitur total! É perturbador e chocante, parece completamente
2:46:39 fora de contexto, e não faz qualquer sentido, certo?
2:46:41 A cena do encontro na Loja de Conveniências por si só, sem Jeffries, contém informações essenciais
2:46:46 para o funcionamento de Twin Peaks, mas, em termos de edição, ela não se encaixa em
2:46:50 lugar nenhum do filme que sequencialmente faça sentido. É como uma cena deletada que nunca foi deletada.
2:46:55 A despeito disso, Lynch precisa que demos atenção a isso. Então como ele faz isso? Primeiro, nós
2:47:00 temos que seguir as mecânicas estabelecidas da série, então para pôr nossa atenção
2:47:04 na cena, é preciso ter um investigador do FBI para nos representar nessa
2:47:08 observação dentro do mundo do Lodge. De outra forma, seria invisível para nós. Então Phillip
2:47:14 Jeffries está lá em nosso nome investigando a reunião, e é através da sua história que
2:47:18 conseguimos testemunhar a cena.
2:47:19 Ouçam, ouçam atentamente. Eu estive em uma das reuniões deles. Foi acima de uma Loja de
2:47:26 Conveniências.
2:47:27 Agora, a questão de atrair nossa atenção para isso. Uma das formas que Lynch poderia fazer isso seria
2:47:31 parar o filme, arrancar nossa atenção, e entregá-la a Jeffries para que ele pudesse nos
2:47:35 contar sobre a reunião, e então nos trazer de volta ao filme para continuar. Mas ele já conseguiu colocar
2:47:40 nossa atenção no filme, então para que arrancá-la agora sendo que Lynch poderia tirar Jeffries
2:47:44 de quando e onde ele estivesse e trazê-lo para nossa atenção? A própria cena
2:47:49 está sendo forçada no filme em um tempo e local em que não pertence, e Phillip
2:47:53 Jeffries é quem precisa nos falar sobre isso, portanto, Phillip Jeffries está sendo
2:47:57 arrancado de sua própria história e forçado em um tempo e local que ele não pertence,
2:48:02 e ele está levando toda a sequência com ele. Quando eu disse que David Bowie está interrompendo
2:48:06 o filme, eu quis dizer literalmente.
2:48:08 No começo da cena, Cooper está fazendo sua câmera de segurança dançar para frente e para trás.
2:48:13 No último passe, enquanto parava na sala de segurança, ele vê a si próprio no monitor ainda
2:48:17 parado no corredor quando Jeffries surge vindo do elevador do seu
2:48:20 hotel na América do Sul dois anos atrás. O filme foi colocado em pausa. Então Jeffries
2:48:27 é literalmente trazido à existência pelo mistério de estar desaparecido há vários anos.
2:48:32 Cooper, conheça o desaparecido Phillip Jeffrires! Você deve ter ouvido falar dela na academia!
2:48:37 Se não houvesse nada interessante sobre ele, ele não estaria no filme. Mas já que ele
2:48:41 esteve desaparecido por dois anos, nós o achamos misterioso, e então ele é. A escolha de elencar o
2:48:46 superstar David Bowie nos tira para fora da narrativa e nos faz prestar atenção
2:48:51 nele e esquecer que ele parou o filme para trazer com ele uma cena maluca,
2:48:56 sem relação, que ele descreve para a gente.
2:48:58 Era um sonho. Nós vivemos em um sonho.
2:49:05 Ao longo da cena, Jeffries reage da forma que nossas mentes devem estar reagindo na primeira
2:49:09 vez que vemos essa cena confusa e perturbadora que surge do nada. Ele está
2:49:13 aqui para nos contar o que ele testemunhou, mas nós não temos ideia do que é que ele está olhando,
2:49:17 então, como um representante da audiência, nem ele sabe o que ele viu. Depois da cena, seu
2:49:25 propósito é cumprido e é hora de dar play no filme novamente, então Jeffries é forçado
2:49:29 de volta às linhas de energia para a não-existência, e é tão traumático para ele quanto é
2:49:34 para nós, pois não temos ideia do que foi isso que acabamos de testemunhar.
2:49:37 Ele sumiu! Ele sumiu! Albert, ligue para a recepção!
2:49:46 O filme prossegue e nós descobrimos que Jeffries nunca esteve realmente ali...
2:49:49 Eu já estou com a recepção. Ele nunca esteve aqui.
2:49:52 A moça na recepção não teria visto ele porque o filme literalmente pausou
2:49:57 durante a visita de Jeffries. O tempo no filme estava parado! Mas a cena
2:50:01 aconteceu. Nós assistimos, então a gravação disso sendo parte do filme ainda existe.
2:50:07 Ele estava aqui.
2:50:08 E então Lynch enfatiza a similaridade das personagens de Jeffries e Desmond como meros
2:50:13 veículos para as mentes investigativas da audiência.
2:50:16 Mas onde ele foi? E onde está Chester Desmond?
2:50:20 Ambos foram para o mesmo local. Assim como Desmond, o propósito de Jeffries foi cumprido, ele está fora
2:50:26 do filme e fora do sonho e fora das nossas imaginações. E então, “Oh yeah, o que
2:50:31 houve com o Agente Desmond?” Nós voltamos para o estacionamento como se não houvesse
2:50:35 aquela interrupção.
2:50:36 Então Podemos ver Jeffries como um recurso narrativo, para nos remover temporariamente do filme
2:50:41 e conectar nossa atenção com uma informação externa. Não surpreende que depois que ele é ejetado
2:50:47 do filme de volta à não-existência da grande consciência criativa que acaba
2:50:50 dentro de uma das máquinas de eletricidade do Gigante. Ele se tornou literalmente o que ele era simbolicamente.
2:50:57 Assim como seu propósito simbólico no filme, na Temporada 3 ele é uma parte literal do maquinário
2:51:02 narrativo, um recurso narrativo com a função de desconectar nossas mentes, na forma do Agente
2:51:07 Cooper, da série, nos levar de volta no tempo, e interromper o filme de novo, no
2:51:13 inserindo em um tempo e local que não pertencemos
2:51:16 Como sabemos, essa interrupção mudaria Twin Peaks para sempre. “O passado dita o
2:51:23 futuro,” e nesse momento, com nosso entendimento completo do passado de Twin Peaks, nós temos
2:51:27 todas as peças que precisamos para entender como o futuro vai se desenrolar. Vamos recapitular rapidamente
2:51:32 o que sabemos.
2:51:34 VOCÊ NÃO PODE VOLTAR PARA CASA O passado dita o futuro.
2:51:43 Originalmente, Twin Peaks era sobre a investigação de Dale Cooper do assassinato de Laura Palmer.
2:51:48 O mistério deveria ser contínuo, pois a investigação era a luz iluminando
2:51:52 a escuridão da violência consumível de TV alimentada pelo Zeitgeist do medo moderno na América.
2:51:58 Criar a escuridão consumível com um desfecho – esse era o mal que Twin Peaks foi criado
2:52:03 para combater. O estúdio e a audiência geral eram muito limitados para entender a mensagem
2:52:08 e a rejeitou. Eles exigiram a solução do assassinato, e quando tiveram isso, eles
2:52:13 se conformaram. Isso matou a série e provou o ponto de David Lynch – as audiências de TV simplesmente
2:52:19 não se importam com Laura Palmer, eles apenas querem saber quem fez isso e o que tem
2:52:24 a ver com Bob. Ironicamente, Bob era a representação do mal dessa mesma mentalidade. Bob já
2:52:31 tinha possuído a audiência, e então o Agente Cooper, como representante da audiência,
2:52:37 refletiu esse fato.
2:52:38 David Lynch tentou contra-atacar, novamente usando Laura Palmer como uma arma contra a violência
2:52:43 consumível de Bob. Os Últimos Dias de Laura Palmer tentariam fazer a audiência se importar com Laura ao ir direto
2:52:48 à fonte de dor e sofrimento. Essa história de cortar corações finalmente libertou os corações
2:52:53 da audiência das garras de Bob? Bem o contrário. O filme foi um fracasso completo, com a
2:53:00 reclamação n°1 sendo que a história era sobre Laura Palmer e não sobre Bob possuindo
2:53:05 Cooper. Nesse ponto, não havia mais esperança para a mensagem de Twin Peaks. Ainda assim
2:53:11 David Lynch trouxe Twin Peaks de volta à TV vinte e cinco anos depois.
2:53:16 Mas por qual motivo? Do ponto de vista de Lynch, nós não entendemos na primeira
2:53:20 vez, certamente não entendemos na segunda, então por que se incomodar de tentar uma terceira? Bom, na verdade 2:53:26.170,2:53:32.061 foram os fãs qu
2:53:32 e mais do que isso existia esse desejo por uma explicação do que realmente estava acontecendo e o que iria
2:53:36 acontecer a seguir, que rivalizava com o desejo original de saber quem matou Laura. O desejo por
2:53:42 desfecho matou a série, e, como vou demonstrar, o desejo por desfecho trouxe
2:53:46 ela de volta à vida... E então a Temporada 3 é sobre isso, fãs de Twin
2:53:54 Peaks trazendo Twin Peaks de volta da não-existência para haver um desfecho; uma resolução para
2:54:00 a história de Cooper e uma explicação de cada detalhezinho do mistério.
2:54:05 David Lynch nos deu exatamente o que desejamos: um Twin Peaks desprovido de suas intenções originais.
2:54:12 SENTINDO O AR
2:54:17 Olhe no espelho. O que você vê? É um sonho ou um pesadelo?
2:54:24 A primeira coisa que vemos na Temporada 3 é um vislumbre onírico do passado, um lembrete de
2:54:28 como Twin Peaks começou e sobre o que ele realmente é. Então o Fireman reestabelece nossa
2:54:33 conexão de intuição com o Agente Cooper. Imediatamente depois disso, a primeira coisa real que vemos na série
2:54:38 VENTO NAS ÁRVORES é o vento nas árvores... David Lynch está fazendo uma série de TV moderna, então ele tem
2:54:44 que sentir o ar e descobrir o que está direcionando a TV moderna. Então antes que algo possa acontecer,
2:54:50 o Zeitgeist precisa soprar no mistério, e isso acontece enquanto o Dr. Jacoby recebe sua remessa
2:54:56 de pás. Mais tarde, nós descobrimos exatamente por que o vento tem que soprar com o Dr. Jacoby. No
2:55:01 seu programa de internet Dr. Amp, Jacoby personifica o vento que atiça o fogo do medo moderno
2:55:06 alimentado pela mídia moderna, o ataque constante do susto à saúde, a polarização política,
2:55:13 o catastrofismo ambiental; essas são as “coisas no ar” de que a TV é construída
2:55:17 hoje em dia.
2:55:18 Câncer! Toxinas bacterianas, toxinas ambientais! Nossa água, nossa terra, o próprio solo,
2:55:26 nossa comida! Nossos corpos envenenados! Envenenados!
2:55:31 Por que o Dr. Jacoby é a voz do Zeitgeist? Por que ele? Bom, faz total sentido se nós
2:55:37 entendermos quem ele era na série original. Lembre, David Lynch diz que tudo
2:55:41 deve servir a ideia central, então o que na ideia central dita que o Dr. Jacoby
2:55:47 deveria ser tão pirado? Dr. Jacoby é pirado porque ele usa óculos 3D. Ele não
2:55:53 usa óculos 3D porque é pirado, ele é pirado porque usa óculos 3D,
2:56:00 porque quando estava sendo escrito, esse era o tipo de pessoa que ele tinha que ser para usar
2:56:05 óculos 3D o tempo todo. Qual é a ideia por trás do Dr. Jacoby usar óculos 3D? Personagens de TV
2:56:12 geralmente são bem rasos, então são fáceis de serem digeridos em pouco tempo. Unidimensionais,
2:56:16 bidimensionais se tivermos sorte. Mas há algo mais com as personagens de Twin Peaks do que
2:56:21 os de outras series da época. Para ilustrar isso, o psiquiatra Dr. Jacoby consegue ver
2:56:26 essas personagens como pessoas tridimensionais. Por exemplo, quase exclusivamente ele
2:56:31 tem o conhecimento íntimo da natureza dupla de bem e mal de Laura, enquanto todos as outras
2:56:35 personagens só a conhecem como um ou outro.
2:56:38 Laura tinha segredos…
2:56:41 Suas sessões de terapia com Bobby Briggs é outro exemplo. Como personagem de TV, Bobby é um
2:56:48 adolescente punk, trapaceiro, traficante, egoísta, nada bom, e em qualquer outra série ele não seria nada mais
2:56:52 que isso. Mas Dr. Jacoby, com seus óculos 3D, tem a habilidade de ver Bobby como mais do que só
2:56:58 um vagabundo unidimensional, ele consegue entendê-lo como uma criança chorona que está
2:57:03 apenas brincando com fogo e não consegue enfrentar a escuridão real, como o fogo dentro de Laura
2:57:08 Palmer.
2:57:09 JACOBY VÊ ALÉM DA SUPERFÍCIE Laura queria corromper as pessoas. Foi isso que aconteceu com você, Bobby? Foi isso que Laura
2:57:20 fez com você?
2:57:22 Ela queria tanta coisa. Ela me fez vender drogas para que pudesse ter elas.
2:57:24 Então podemos ver que o Dr. Jacoby as vezes se veste como cafetão porque esse é o tipo de pessoa
2:57:29 que usaria óculos 3D o tempo todo porque ele é um psiquiatra que consegue ver tridimensionalmente
2:57:35 PERSONAGENS DE TP SÃP PROFUNDOS -> DR. J VÊ PROFUNDAMENTE -> DR. J USA ÓCULOS 3D -> DR. J É PIRADO porque essa habilidade
2:57:40 uma sensibilidade de um filme, onde as personagens têm mais do que uma dimensão.
2:57:44 Na Temporada 3, o Dr. Jacoby é a voz do Zeitgeist porque ele é a personagem que pode
2:57:49 ver o que realmente acontece por trás das cenas, cara.
2:57:53 JACOBY ACHA QUE PODE VER ALÉM DA SUPERFÍCIE Como Lynch e Frost obviamente veem,
2:57:55 as pessoas que afirmam ver o que está realmente acontecendo hoje em dia são os teóricos de conspiração,
2:57:59 fazendo podcasts em vídeo sobre corporações e o governo conspirando e mancomunando
2:58:05 para esmagar as almas dos cidadãos!
2:58:09 A mesma conspiração grande e global das corporações, só que em outro dia. Você não consegue ver isso sem uma
2:58:14 lanterna cósmica. Adivinha só! Eu tenho uma.
2:58:18 "Se me ouvir, você pode ser salvo (e, a propósito, compre meus produtos se quiser
2:58:23 ter alguma chance de escapar dessa situação horrenda)!”
2:58:25 Essa é sua pá dourada e brilhante. Se cave para fora da *****. $29.99!
2:58:33 “OURO” É TRANSCENDÊNCIA Lembre-se, David Lynch acredita que a Meditação Transcendental é forma de imergir a consciência
2:58:37 em ouro, e quanto mais ouro nós retemos, mais paz, amor e unidade nós podemos obter
2:58:43 para opor ao medo. Com o Dr. Jacoby na Temporada 3, Lynch e Frost estão dizendo que a nova mídia
2:58:49 e os teóricos da conspiração que afirmam ver além da realidade superficial estão capitalizando
2:58:55 esse “medo no ar”, colocando uma etiqueta numa esperança falsa e soluções falsas. Um spray
2:59:01 vagabundo pintando um ouro falso.
2:59:03 Dois revestimentos, garantidos. Cave seu caminho para fora da ***** e para dentro da verdade.
2:59:11 Uma das pessoas comprando essa falsa esperança é Nadine Hurley. Por quê? De novo, faz total
2:59:16 sentido se entendermos quem ela era originalmente. Nadine é casada com o grande Ed Hurley, que não
2:59:21 demonstra nada além de cuidado, e tudo que ela vê é o quão miserável ela é.
2:59:26 Ed, você me deixa doente!
2:59:30 Ela usa aquele tapa-olho – ela só vê metade da cena. Ela vê o negativo, mas
2:59:35 não o positivo em seu casamento. O que ela acha que vai curar sua miséria e trazer
2:59:40 felicidade? Não o amor do seu marido... Dinheiro. Comércio.
2:59:45 Nós vamos ficar tão ricos.
2:59:49 Ela vai vender trilhos de cortina que bloqueiam a luz usando óleo de motor – uma felicidade falsa
2:59:55 baseada na negatividade alimentada pela TV – então é claro que ela compraria aquele ouro falso. A pá
3:00:01 dourada da felicidade falsa toma seu devido lugar na janela ao lado da felicidade falsa
3:00:05 da sua invenção enriquecedora lubrificada a óleo.
3:00:08 E sobre o grande Ed Hurley, bom… O dono do ‘posto de gasolina’ é ‘casado’ com a ‘Nadine
3:00:15 negativa’… Olhando simbolicamente, a gasolina é a dor e sofrimento, e o fornecedor da gasolina,
3:00:22 ED É OUTRA AUTOINSERÇÃO DE LYNCH a TV ou talvez David Lynch, é casado com a negatividade. Ed não quer estar casado
3:00:28 com a negatividade. O amor que o dono do posto está tentando obter é a própria Miss Twin Peaks,
3:00:33 Norma Jennings.
3:00:34 Então, Norma, eles vão te homenagear hoje no seu vigésimo aniversário de Miss
3:00:39 Twin Peaks?
3:00:40 A “MISS TWIN PEAKS” É O EQUILÍBRIO Ela é dona do RR Diner, servindo aquele bom equilíbrio de café e torta de cereja, amargo e
3:00:45 doce. Tudo que acontece naquela lanchonete é sobre companheirismo e amor. Norma e
3:00:50 sua lanchonete são a própria essência de Twin Peaks.
3:00:54 A TV, ou David Lynch, quer mostrar amor e positividade. Essa é a esperança de David Lynch para a TV…
3:01:00 LYNCH ESTÁ PRESO À DEMANDA DA AUDIÊNCIA mas o circulo dourado do anel de casamento o mantém preso à audiência, que clama
3:01:05 por mais desejos infantis. Note como Nadine acorda do seu coma com força
3:01:10 super-humana achando que é uma criança novamente no começo da Temporada 2, depois que a audiência e
3:01:15 o estúdio começaram a pressionar para a revelação do assassino. A Nadine negativa é a audiência, um
3:01:21 bebê chorão poderoso pedindo a forçadamente para ser alimentado e afastando o dono do posto
3:01:26 do verdadeiro amor. Tudo que aconteceu na ausência de Lynch é totalmente suspeito, então o
3:01:31 término de Ed e Nadine na Temporada 2 deve ser tomado com cautela.
3:01:35 PENTEADO REGISTRADO DE LYNCH Mas na Temporada 3, Nadine dá a Ed (com seu penteado de David Lynch) sua liberdade novamente!
3:01:39 Norma, tudo mudou. Acabei de falar com Nadine. Ela me deu minha liberdade.
3:01:46 Por que essa repetição? Bom, ela não estava sã da primeira vez, mas dessa vez,
3:01:51 nós mudamos como audiência.
3:01:53 Ed, eu vim te falar que eu mudei.
3:01:58 Agora nós amamos Os Últimos Dias de Laura Palmer, nos perdoe por destruir ele com nossas críticas ruins, e lá no
3:02:02 fundo nós sabemos que estamos arrependidos de ter pedido pelo fim da série.
3:02:07 Mas eu tenho sido uma puta egoísta com você esses anos. Eu mantive vocês separados por causa
3:02:13 do meu ciúme, e eu te manipulei, Ed.
3:02:17 David Lynch “sentiu o ar” e percebeu que um retorno a Twin Peaks seria viável agora.
3:02:21 Você esteve assistindo aquele programa do Jacoby?
3:02:25 Quer dizer, nós tivemos vinte e cinco anos para pensar nisso, para nossa avaliação e desenvolvimento,
3:02:31 e o tempo
3:02:33 Ed, eu já falei, eu andei até aqui. Eu tive muito tempo pra pensar, pra voltar,
3:02:41 mas eu não fiz isso porque é assim que eu me sinto. E você pode agradecer o Dr. Amp.
3:02:48 Nós queríamos mais Twin Peaks, e queríamos que Lynch fizesse o que quisesse fazer com isso.
3:02:53 Mas amor verdadeiro é dar aos outro o que faz ele feliz. Eu quero que você seja livre!
3:03:01 O que acontece a seguir entre Ed e Norma é evidentemente óbvio se você souber um detalhe
3:03:05 particular sobre a produção: David Lynch quase abandonou a Temporada 3 antes da produção começar
3:03:11 por conta de restrições de orçamento. Em 5 de abril de 2015, David Lynch twitou que tinha “saído porque
3:03:17 não ofereceram dinheiro suficiente para fazer o roteiro do jeito que ele acha que deveria.” Mas
3:03:22 apenas um mês depois, após mais negociações, o projeto estava de volta. E então a Temporada 3
3:03:28 nos mostra Norma Jennings, a Miss Twin Peaks, em um relacionamento romântico com Walter Lawford,
3:03:34 que franqueia a lanchonete de Norma e ele está falando que ela está gastando dinheiro demais para ser lucrativo.
3:03:39 Norma, você é uma verdadeira artista, mas o amor não é sempre lucrativo.
3:03:44 Ed (com seu penteado de David Lynch) dirige sua caminhonete de puro ouro (é muita meditação
3:03:50 o dono do posto esteve fazendo) para a lanchonete para dizer a Norma que ele está voltando
3:03:54 para ela.
3:03:55 Ela me deu minha liberdade.
3:03:58 Mas aí vem Walter, o Sr. Franquia, ficar entre eles. Sem Miss Twin Peaks para David
3:04:03 Lynch, o estúdio está no comando. Ed se senta no balcão desanimadamente. Porém! Norma fala para o Sr.
3:04:08 Franquia que ele pode comprar ela e dar no pé!
3:04:11 Você está cometendo um grande erro.
3:04:14 E então vem um casamento por amor, David Lynch e Twin Peaks juntos afinal, fora das
3:04:20 garras do estúdio. Isso também está acontecendo no começo do Episódio 15, o episódio
3:04:25 onde Dougie finalmente se lembra que é Cooper e decide voltar do seu longo
3:04:29 desaparecimento. É quase como se esse casamento por amor fosse o que está trazendo o Agente Cooper de volta
3:04:33 de linhas de energia para a TV...
3:04:36 … Ou pelo menos esse é o sonho, não é? Otis Redding fornece a trilha Sonora para essa
3:04:41 cena.
3:04:42 Eu te amei por tempo demais para parar agora Você está cansada e seu amor está esfriando
3:04:47 Meu amor está crescendo conforme nosso caso vai envelhecendo
3:04:52 O que foi que deu liberdade para Lynch dirigir? Isso ainda poderia ser Twin Peaks depois
3:04:57 de todo esse tempo? Será que pelo menos quer ele de volta? Enquanto Ed (com seu penteado de David Lynch) está
3:05:02 sentado no balcão, ele pede um copo de café (um pouco de combustível para o sonho), e fecha seus
3:05:08 olhos, talvez para sonhar que as coisas estão acontecendo do jeito dele, e é só aí que ele
3:05:15 consegue ficar com sua Miss Twin Peaks...
3:05:18 De volta ao começo do sonho. O vento do Dr. Amp introduz uma variedade de mistérios: o
3:05:23 experimento da caixa de vidro, a visita do Sr. C na cabana de Buella, o assassinato de Ruth Davenport, a mensagem
3:05:28 da Dama do Cepo de que está faltando algo na investigação de Laura... se vamos ter um
3:05:32 Twin Peaks, precisamos de mistério, certo? Tudo segue as regras. Uma vez que esses mistérios
3:05:38 foram estabelecidos, nosso representante, Dale Cooper, é visitado na Sala Vermelha por Mike
3:05:42 e Laura (voltaremos a isso em breve), e então ele vê o cavalo branco...
3:05:49 O CAVALO BRANCO
3:05:53 Já foi aceito há muito tempo que o cavalo branco é um precursor da morte, ou da fúria de Bob...
3:05:59 ou que é um representante do uso de drogas. Ou talvez seja uma outra coisa maluca? A
3:06:04 conexão com o “cavalo branco” que a Morte monta no Apocalipse é a conexão mais fácil
3:06:08 de fazer, mas não é tão acurada. Margaret Lanterman se refere ao “Cavalo Branco” pelo nome
3:06:13 em sua introdução no episódio em que o cavalo aparece para Sarah Palmer enquanto seu
3:06:16 marido está matando Maddy…
3:06:17 Ai daqueles que comtemplam o cavalo branco.
3:06:22 ... e o Agente Cooper foca em um cavalo branco dentro da casa de Carrie Paige ao lado do cara
3:06:26 morto em sua sala. Mas essas são apenas três de muitas referências ao cavalo branco em
3:06:31 todo Twin Peaks. A primeira vez que o Sra. Palmer vê o cavalo é durante uma das
3:06:35 noites que seu marido passa com Laura, depois que ela foi drogada, e é aí que os teoristas da droga
3:06:40 tiram a ideia de que o cavalo significa morte, mas também o uso de drogas.
3:06:44 O resto das aparições do cavalo não tem muito a ver com drogas e morte. Tem
3:06:48 um cavalo branco de criança montar em frente à Cafeteria de Judy no episódio final, tem
3:06:52 uma referência ao cavalo no nome do Cassino Silver Mustang [Mustangue Prata], e cavalos podem ser ouvidos
3:06:56 relinchando de longe no final do infame Episódio 8, e é esse episódio que detém
3:07:01 a verdadeira e definitiva resposta para nossa questão.
3:07:05 O que o cavalo branco representa? O lenhador não mede palavras. Ele quer dizer
3:07:09 o que é, como soa.
3:07:12 O cavalo é o branco dos olhos, e a escuridão dentro.
3:07:17 O cavalo é o branco dos olhos. Quando você vê o branco dos olhos de alguém? Quando
3:07:23 eles estão OLHANDO PARA OUTRO LADO. Quando vemos cavalos em Twin Peaks, algo ruim
3:07:30 está acontecendo. O cavalo branco representa o desviar o olhar do rosto do mal, e a
3:07:36 escuridão que deixamos entrar quando fazemos isso. Qual é a característica principal dos sósias malignos
3:07:42 da Sala Vermelha? Olhos brancos – escuros dentro. Os sósias representam a ideia de que
3:07:48 toda pessoa tem esse mal dentro dela, e, portanto, a capacidade de fazer o mal, e,
3:07:54 portanto, a capacidade do equilíbrio.
3:07:56 Antes da Temporada 3, a única função de Sarah Palmer como personagem era dar Laura Palmer
3:08:01 à luz, permitir que ela fosse abusada e morta, e então sentar e não fazer nada sobre
3:08:05 isso. Não tinha jeito dela estar vivendo naquela casa sem saber que o abuso estava acontecendo
3:08:10 por tanto tempo, mesmo sendo drogada, e ainda nunca dizer nada para ninguém.
3:08:16 Afinal, se ela reportasse as atividades de seu marido para a polícia, não haveria nenhum
3:08:19 mistério de assassinato para vermos. Então ela olha para o outro lado, e na Temporada 3 nós vemos o
3:08:25 resultado dessa disposição de se deixar levar. Podemos ver um vislumbre do mal que agora usa
3:08:30 a personagem dela como máscara. Sua filha sorri de trás de um dedo anelar negro,
3:08:36 indicando que a culpa de olhar para o outro lado enquanto seu marido abusava e assassinava
3:08:39 a filha dela escureceu sua alma. Branco dos olhos, escuro dentro.
3:08:46 O Agente Cooper desvia o olhar quando vê o corpo na casa de Carrie Page. Ele está com
3:08:50 o FBI, e o objeto de sua investigação parece ter acabado de cometer um assassinato, ou
3:08:55 pelo menos ter sido um acessório dele. Mas não há tempo para lidar com isso – ele tem afazeres
3:08:59 com essa aparente criminosa. Ele precisa levá-la a Twin Peaks para seus próprios propósitos. A
3:09:03 esse ponto do episódio, ele já mostrou que tem um certo tipo de escuridão dentro
3:09:07 dele que deixa ele fazer isso. Branco dos olhos, escuro dentro.
3:09:12 O cavalo branco em frente à Cafeteria de Judy parece ser uma referência à tolerância
3:09:15 que os funcionários têm para o comportamento de alguns dos seus piores clientes. A intervenção de Cooper
3:09:20 parece ser a primeira vez que eles já enfrentaram consequências negativas pelas ações deles.
3:09:24 O slogan “O que acontece em Vegas, fica em Vegas” é toda a explicação que precisamos
3:09:29 para a referência ao cavalo branco no Cassino Silver Mustang. Olhos brancos, escuro dentro
3:09:35 Os cavalos que ouvimos a distância depois que o Lenhador trás o sonho sombrio da televisão
3:09:39 para as massas são os resultados do bicho que rastejou para dentro dos espectadores de TV. O desejo por violência
3:09:45 na TV criou uma maior e pior violência na TV para preencher o buraco da violência de TV dos nossos corações.
3:09:50 “Ai daqueles que comtemplam o cavalo branco,” porque desviar o olhar pelo bem
3:09:56 do entretenimento pode escurecer nossas almas...
3:10:00 Então, sabendo isso, por que o Agente Cooper veria o cavalo branco sentado na Sala Vermelha
3:10:04 no começo da Temporada 3? Antes de ver, Laura nos dá nosso aviso final:
3:10:11 Você pode ir embora, agora.
3:10:16 Nossas mentes intuitivas podem ir, agora. “A última chance de desligar a TV e ir embora antes de
3:10:23 recebermos o que pedimos.”
3:10:25 Nadine, eu quero que você pense bastante sobre o que você está dizendo, porque você não está fazendo
3:10:29 qualquer sentido. Amor, amanhã você vai desejar nunca ter dito essas coisas.
3:10:34 Se continuarmos assistindo até esse ponto, ou não ouvimos o aviso de Laura ou não queremos
3:10:39 ouvir. Depois de nos falar que podemos ir, Cooper pergunta:
3:10:43 Quando eu posso ir?
3:10:45 Já nos falaram que podemos sair a hora que quisermos, mas enquanto estivermos assistindo,
3:10:50 Dale Cooper vai ter que ficar na TV. E então Laura nos entrega aquela misteriosa mensagem
3:10:56 sussurrada. O que ela está nos dizendo? Não deveria haver dúvida. Nós já sabemos o que ela
3:11:01 disse.
3:11:02 Laura me beijou e sussurrou o nome do assassino no meu ouvido.
3:11:08 Meu pai me matou.
3:11:11 Com essa revelação, nós ganhamos nosso desfecho vinte e cinco anos atrás. Laura Palmer foi consumida
3:11:17 pelo fogo da violência consumível de TV e Twin Peaks morreu com ela... ainda assim, aqui estamos nós
3:11:23 no começo de uma nova temporada! Nós queremos saber o que vem a seguir. Queremos nossas explicações.
3:11:29 OLHANDO PARA O OUTRO LADO Então nós desviamos o olhar.
3:11:31 Desviamos o olhar enquanto a essência de Laura é sugada para fora da série.
3:11:36 O vento sopra e as cortinas se abrem como se um show fosse começar, mas esse não é
3:11:41 o Twin Peaks que conhecíamos. Não há nada além de escuridão atrás das cortinas.
3:11:46 OLHANDO PARA O OUTRO LADO Branco dos olhos, escuro dentro… e aí está o cavalo branco. Nós voltamos diretamente para o começo
3:11:52 da cena, que se repete... mas Laura está faltando dessa vez. Ao nos mostrar
3:11:58 a mesma coisa duas vezes, com e sem ela, Lynch está nos deixando totalmente claro
3:12:03 que a escuridão que vamos deixar entrar nos nossos corações agora é a ausência de Laura Palmer.
3:12:09 E qual é o sonho que temos? Com o importante caso de Laura Palmer morto
3:12:14 e enterrado, o que sobrou para essa série de TV autoconsciente ficar consciente? Apenas isso:
3:12:21 Ela está autoconsciente que não é ela mesma. “Você não pode ir para casa novamente.” A versão de Twin Peaks
3:12:28 para essa frase é: “Mude ou morra.”
3:12:31 Eu só quero morrer ou mudar. Bushnell, por favor, me ajude. Eu só quero deixar as coisas certas
3:12:37 de novo.
3:12:38 Lynch sabe que a gente não quer uma terceira rodada de Laura Palmer, nós já a rejeitamos duas vezes,
3:12:42 então a série terá que mudar o seu enredo ou irá morrer na estreia. O problema é:
3:12:48 isso acaba sendo uma “escolha do mágico”, onde o resultado é o mesmo, independentemente
3:12:52 da opção escolhida. Como já vimos no forte contraste entre a Temporada 1 e a
3:12:57 última metade da Temporada 2, o mistério de Laura Palmer era tão essencial para a série que sem
3:13:02 ele, a coisa toda se perde e Twin Peaks basicamente não é mais Twin Peaks!
3:13:07 Eu falei para todos os seus colegas mudarem seus corações ou morrerem.
3:13:12 Mas o jogo já foi aberto, não há como voltar, as cartas já estão na mesa,
3:13:16 o pássaro já abriu o bico e o gongo já foi tocado. Nós tivemos nosso desfecho, e “o passado dita
3:13:23 o futuro”. Twin Peaks mudou para que não morresse, e agora inevitavelmente deve morrer.
3:13:29 A Temporada 3 não tem o propósito original, então está irreconhecível. Mais do que isso,
3:13:35 é irrelevante para as audiências modernas. Twin Peaks está velho, doente e morrendo, o mistério
3:13:41 que sobrou está sendo explicado fora da existência. Esses são os temas persistentes na Temporada 3 de
3:13:47 Twin Peaks.
3:13:48 CRISE DE IDENTIDADE Quando me vir novamente, não serei eu.
3:13:54 É a história da garotinha que vive no fim da rua?
3:14:09 É a história da garotinha que vive no fim da rua? Não é desde 1992. Parece
3:14:14 com Twin Peaks, as vezes pode ter soado como Twin Peaks... Mas, sem seu propósito,
3:14:19 é uma casca vazia do que já foi uma vez, e não parece certo. Apenas pense em
3:14:24 quão vazio e afetado a Temporada 3 parece se comparada à série original. É provavelmente a
3:14:28 primeira coisa que você notou, é quase cômico em quão sem vida ela é se comparada à série
3:14:33 original.
3:14:34 Não. Não é sobre o coelho.
3:14:38 É sobre o coelho…?
3:14:42 Não. Não é sobre o coelho.
3:14:45 A Temporada 3 é uma série diferente andando ao redor do corpo de Twin Peaks. A maioria da temporada
3:14:51 nem mesmo se passa em Twin Peaks! Na maior parte do tempo, estamos em Buckhorm, Dakota do Sul
3:14:55 ou Las Vegas. Como resultado, a própria série não sabe mais sobre o que ela é,
3:15:01 e as personagens na série podem sentir que o sonho delas foi trocado por algo
3:15:05 que não era para ser.
3:15:07 Seu quarto parece diferente
3:15:09 Bom, eu não tenho certeza de quem sou, mas eu não sou eu.
3:15:12 Eu não sou eu… Eu não sou eu...
3:15:13 Alguma coisa aconteceu comigo! Eu não me sinto bem! Eu não me sinto bem!
3:15:21 Nem a carne é carne de verdade!
3:15:22 Eu não lembro de ter visto essa carne seca aqui antes...
3:15:25 É igual carne seca, só que é feito de peru.
3:15:32 Twin Peaks não voltou, e o que voltou está lutando contra sua própria identidade. O tema
3:15:38 de identidade Perdida foi destilada na história de Jerry Horne. No primeiro episódio, nadando
3:15:44 na sua mente, como ele diz:
3:15:45 Nadando em minha mente...
3:15:47 (como se fossem ideias) nadando em sua mente tem uma droga que ele cultivou nas montanhas de
3:15:51 Twin Peaks, um produto de Twin Peaks que ele diz ser
3:15:54 ... ideal para estadias criativas de natureza solitária
3:15:59 ... uma “estadia” sendo uma visita temporária a um lugar. Assim como a gente assistindo à Temporada 3,
3:16:04 JERRY ACHA QUE ESTÁ VOLTANDO PARA O SONHO Jerry visita a floresta de Twin Peaks pensando que está viajando para um mundo onírico
3:16:10 belo e familiar. Mas antes de dormir, ele assiste um pouco da nova mídia...
3:16:15 O ZEITGEIST ALTERA O SONHO DELE ele assiste ao Dr. Amp e sente o vento cheio de medo soprar nele... Quando acorda, ele não sabe onde está.
3:16:22 Eu não sei onde eu estou!
3:16:26 Ele está perdido na floresta que deveria conhecer, que ele já foi milhares de vezes antes. Ele nem
3:16:30 mesmo se sente em casa no seu próprio corpo!
3:16:35 Eu não sou seu pé.
3:16:38 Eu não sou eu… Eu não sou eu...
3:16:40 JERRY NÃO RECONHECE O SONHO O vento do Dr. Amp transformou sua visita à floresta de Twin Peaks em um pesadelo irreconhecível.
3:16:46 Ele nunca escapa, não importa o quanto ele tente dizer para si mesmo que está num lugar que conhece
3:16:50 e ama.
3:16:51 Você não pode me enganar! Eu estive aqui antes!
3:16:57 Um dos momentos mais importantes da Temporada 3, é quando Dale Cooper acorda depois de ficar preso
3:17:01 sem uma personalidade por quatorze episódios agoniantes. Durante sua falta, nós vimos repetidos
3:17:06 lembretes da série antiga e esperávamos que um deles seria a coisa que acordaria ele
3:17:10 para sua verdadeira identidade. “Lembre-se! Isso é Twin Peaks! Você lembra de Twin Peaks? Você é um agente
3:17:18 do FBI!”
3:17:19 Agente...
3:17:20 “Lembra da Audrey e seus saltos vermelhos? Café e torta de cereja! Lembre-se!”
3:17:25 Que café delicioso!
3:17:28 Mas ele não se lembra, porque o contexto não está lá. Nós estamos nos enganando ao achar
3:17:32 que tudo que é preciso para um renascimento de Twin Peaks são algumas lembranças de Twin Peaks.
3:17:36 O que finalmente tira Cooper da inação é uma cena particular do Sunset Boulevard.
3:17:41 Chame Gordon Cole. Diga para ele esquecer o carro dela. Diga que ele pode conseguir outro carro velho
3:17:49 em algum lugar.
3:17:50 O que há de tão especial nessa cena? A velha e esquecida atriz Norma Desmond recebe uma ligação de
3:17:54 Gordon Cole no estúdio da Paramount pedindo para encontrá-la.
3:17:58 Você sabe que não é bom me interromper.
3:18:00 A Paramount está ligando!
3:18:02 Quem?
3:18:03 Os estúdios Paramount!
3:18:04 Ela vai ao estúdio achando que isso vai ser o retorno triunfante à telona.
3:18:08 Por um breve momento, é como se ela estivesse de volta ao holofote...
3:18:12 Aí está Norma Desmond!
3:18:14 Norma Desmond!
3:18:15 Norma Desmond!
3:18:16 O quê? Eu achei que ela estava morta!
3:18:20 Mas acaba que Gordon só estava ligando para ver se poderia alugar o carro de Norma.
3:18:24 É aquele carro dela, um velho Isotta Fraschini. Seu chauffer dirigiu ele no lote no outro
3:18:28 dia. Parece perfeito para o filme do Crosby.
3:18:32 Ah, entendo...
3:18:34 Parece familiar?
3:18:35 GORDON COLE TRÁS NORMA DE VOLTA AO HOLOFOTE David Lynch, que interpreta Gordon Cole, trouxe a Miss Twin Peaks (Norma) de volta
3:18:40 ao estúdio. Por um breve momento, é como se a série realmente voltasse para o holofote...
3:18:45 Mas David Lynch não estava trazendo Twin Peaks de volta, ele só queria o ‘veículo’ emprestado.
3:18:52 SÉRIES DE TV SÃO VEÍCULOS DE INTENÇÃO Carros substituindo programas de TV como "veículos de intenção "é outro tema recorrente na
3:18:57 Temporada 3, mas para ter certeza de que Lynch está sendo literal desse jeito, primeiro, precisamos falar
3:19:01 sobre sorte.
3:19:03 COINCIDÊNCIA E DESTINO
3:19:07 Não existe algo como sorte em uma série de TV. Ocorrências que podem ser consideradas sorte
3:19:12 ou azar na vida real, para uma personagem de TV, são destinadas de acordo com o roteiro. Se uma
3:19:19 personagem de TV tem boa ou má sorte, depende da intenção do criador da série.
3:19:23 Depende. Depende da intenção, da intenção por trás do fogo.
3:19:30 Parças, coincidência e destino sempre agem nas nossas vidas.
3:19:35 ROBERT BROSKI – IMITADOR DE LINCOLN Por que o primeiro Lenhador é interpretado por um imitador real de Abraham Lincoln? Simultaneamente
3:19:41 com a aparição dele, a garota dos anos 50 acha uma moeda da sorte e esfrega o rosto de Abraham Lincoln.
3:19:48 Como e por que eles estão conectados? Moedas são feitas de cobre, que é um condutor elétrico
3:19:53 que fazia a maioria da fiação das casas por um bom tempo. A energia da TV vem através do
3:19:59 cobre… E sabemos que o lenhador está procurando uma forma de transmitir seu mal
3:20:03 para as audiências da TV. Nós temos Lincoln numa moeda, e Lincoln na antena. Lincoln é um condutor
3:20:10 de intenção, tanto literal quanto metaforicamente.
3:20:14 Depende. Depende da intenção, a intenção por trás do fogo
3:20:19 o menino fala para a menina que ele espera que a moeda traga boa sorte a ela.
3:20:22 Eu espero que te traga boa sorte.
3:20:24 Ele espera que a intenção vinda através do cobre seja boa. Como logo descobrimos,
3:20:29 LINCOLN NEGRO = COBRE MAU = INTENÇÃO NEGATIVA o Lincoln negro não tem nada além de más intenções para sua audiência. Má sorte vindo
3:20:35 do fio de cobre…
3:20:36 Cara, eu ganho. Coroa, você perde.
3:20:40 Considere Dale Cooper e seu sósia, dois lados da mesma moeda. Dale Cooper tem
3:20:45 apenas boas intenções. Seu sósia? Apenas más. Quando Cooper se torna Dougie Jones,
3:20:50 ele não consegue agir. O que o mantém longe de problemas? Sim, tem vários problemas.
3:20:55 Sim, tem algo obviamente estranho com ele e ninguém parece perceber. Mas por sorte
3:21:00 as coisas que ele repete estupidamente são coincidentes o suficiente para dar às pessoas ao seu
3:21:04 redor a impressão geral de que provavelmente nada está errado.
3:21:07 Dougie Jones.
3:21:08 Ele está bem?
3:21:10 Cristo, eu espero que esteja.
3:21:12 E logo voltaremos para a falta de preocupação de todos com Dougie. Mas em todos esses problemas,
3:21:17 como ele consegue ficar vivo? É a boa, pura e boba sorte que mantém Cooper a salvo! Não poderíamos
3:21:24 pedir por um cenário mais apropriado para uma história sobre sorte do que Las Vegas. Trinta mega prêmios
3:21:29 em uma rodada – isso é uma onda de sorte inacreditável? Obviamente não. A alta energia da TV está fazendo
3:21:36 isso acontecer. A sorte de Cooper vai além de Mike ajudando ele no cassino. Cada evento tem
3:21:41 uma forma de acidentalmente trabalhar a seu favor, e essa boa sorte alcança a todos
3:21:47 envolvidos em sua vida! Até a coisa mais bobinha, como Cooper pegando o café de Frank,
3:21:51 mas por sorte tem um chá verde com leite que Frank gosta ainda mais! Que sorte
3:21:56 inacreditável esse homem tem! Mas não existe isso de sorte em uma série de TV.
3:22:02 BOA SORTE = AMOR Todo esse amor que Dougie espalha ao redor e recebe em troca foi pensado pelos criadores, assim como no cassino.
3:22:09 MÁ SORTE = ... Em contraste, é bem óbvio que tipo de sorte você vai ter ao se
3:22:13 envolver com o Sr. C. Todos em sua vida parecem chegar em um final bem “azarado”...
3:22:18 E é aqui que os conceitos de sorte e intenção colidem com veículos:
3:22:21 CAIXA DE AMOR o Cooper bom está no caminho para encontrar os irmãos Mitchum, que pretendem matar ele.
3:22:26 Por alguma sorte, Cooper acaba levando uma
3:22:28 CAIXA DE AMOR torta de cereja, como no sonho que Bradley teve na noite anterior...
3:22:32 Torta de cereja!
3:22:34 ... o que salva a vida de Cooper e muda os Mitchums para o lado do bem.
3:22:38 Eu amo esse cara!
3:22:41 Antes de viajar para a reunião, Bushnell Mullins dá um soco do queixo de Cooper.
3:22:45 Acabe com eles!
3:22:47 Cooper repete a palavra “destrói” enquanto esfrega seu rosto (“cara”) pra dar sorte...
3:22:52 Acabe.
3:22:53 ... antes de entrar atrás do LINCOLN BRANCO esticado, dirigido pela estrela
3:22:58 COMEDIANTE JAY LARSON de comédia stand up Jay Larson.
3:23:00 Porta vermelha.
3:23:02 Lincoln branco; cobre bom. Aqui, o ‘cobre’ é um veículo que entrega alegria e boas
3:23:09 intenções, e então por sorte Cooper não acaba morto. Depois de encontrar o amor de Dougie,
3:23:15 os Mitchums ganham um coração de ouro.
3:23:18 Eles têm. Eles têm mesmo.
3:23:21 Eles dão para os Joneses um carro branco como presente e abandonam as Mercedes pretas para
3:23:26 andarem naquele Lincoln branco esticado. Veículos brancos de boa intenção.
3:23:31 Mais cedo na série, o Cooper mal esfrega o rosto do seu mecânico aparentemente vazio antes de entrar
3:23:37 LINCOLN PRETO na frente do LINCOLN PRETO. Lincoln preto; cobre mau. O esfregar
3:23:44 o rosto do mecânico transmitiu má sorte a ele, porque ele acaba morto.
3:23:49 Eu matei Jack duas horas depois dele colocar uma escuta no carro.
3:23:53 O Sr. C usa o cobre como um veículo para entregar más intenções.
3:23:58 PROGRAMAS DE TV SÃO VEÍCULOS DE INTENÇÃO Programas de TV são veículos de intenção, e a TV de hoje é um mundo de caminhoneiros.
3:24:04 É um mundo de caminhoneiros.
3:24:08 Caras maus em cuspidores de fumaça grande e pretos atropelando crianças, agressores de esposa viciados em drogas
3:24:13 acelerando muscle cars, rednecks em minivans detonadas causando
3:24:18 OLHANDO PARA O OUTRO LADO um tiroteio aleatório.
3:24:19 Todo mundo pra baixo! Se abaixem!
3:24:20 A DOENÇA DA TV MODERNA A doença desse medo opressivo no ar congestiona o tráfico da TV com negatividade,
3:24:28 parando apenas o suficiente para te vender uma felicidade falsa, comercializável.
3:24:32 Sheriff Truman, você interessado em ver meu novo carro? É um-
3:24:38 Jesse.
3:24:39 O que nós precisamos desesperadamente é de ir para casa ver a mensagem de amor que Twin Peaks estava tentando
3:24:43 espalhar.
3:24:44 Precisamos ir para casa! Ela está doente!
3:24:48 Mas “Você não pode voltar para casa.” O veículo foi sequestrado pelo mal quando o caso de Laura foi
3:24:54 fechado, e agora está irreconhecível.
3:24:58 ALGUÉM ROUBOU MINHA SÉRIE! Alguém roubou o meu carro!
3:25:01 O ROADHOUSE
3:25:06 Nossas TVs viraram postos de gasolina de maldade. Ou talvez possamos chamá-las de Roadhouses?
3:25:13 O que é uma Roadhouse? É um bar onde motoqueiros e caminhoneiros param para se entreter, completados
3:25:18 com um palco com cortinas vermelhas. Bem como os hotéis e motéis-TV, que estão num lugar
3:25:22 intermediário para diferentes almas noite após noite, o Roadhouse é um lugar intermediário para os veículos
3:25:27 na estrada, assim como o mundo televisivo da Sala Vermelha é um lugar intermediário para os veículos
3:25:31 nas linhas de energia. Essa associação é afirmada pela imagem do letreiro em neon do Roadhouse
3:25:37 refletido numa poça no asfalto, exatamente como vemos as cortinas vermelhas do Lodge refletidas
3:25:42 no óleo. Igualar o Roadhouse com a Sala Vermelha transforma isso num símbolo de espaço dos sonhos televisivos.
3:25:47 Na série original, o Bang Bang Bar era a sombra da RR Diner de Norma, um
3:25:52 boteco com baixos padrões e um dono que trabalha com drogas e prostituição, mas também
3:25:57 um lugar de encontros secretos entre amigos e amantes que querem manter seus negócios
3:26:01 secretos em segredo, um espelho negro do amor e amizade abertos no RR. A banda do
3:26:06 Roadhouse se veste como motoqueiros durões, mas só tocam músicas românticas. Ambos, a lanchonete e
3:26:11 o Roadhouse, são, juntos e individualmente, microcosmos da experiência de Twin Peaks, luz
3:26:16 e escuridão em equilíbrio, vivas com o mistério. Essa era a visão idealizada de Lynch para a televisão.
3:26:22 E sentado no Roadhouse no episódio piloto está um motoqueiro vestido estranha e especificamente
3:26:27 como a personagem de Marlon Brando no filme de 1953, O Selvagem. Por que esse filme foi
3:26:32 referenciado aqui? O Selvagem foi infame nos anos 50 pelo medo de que iria
3:26:36 influenciar e corromper a juventude. Era sobre gangues rivais de motoqueiros invadindo a menor
3:26:41 das menores cidades para causar um estrago, o que causou uma reação violenta dos cidadãos. A confrontação
3:26:47 expôs o medo e a escuridão das pessoas aparentemente boas da cidade, e a única razão
3:26:51 disso estar acontecendo é porque Johnny Strabler, o líder malvado dos
3:26:55 Black Rebels, se apaixona pela filha do xerife e é pego na balança entre
3:27:00 amor e delinquência.
3:27:01 Como toda a bagunça começou, eu não sei, mas depois que a confusão estava instalada eu
3:27:06 só entrei no meio. Na maior parte, eu lembro da menina... uma garota triste assim... Mas algo
3:27:13 em mim mudou. Ela me alcançou.
3:27:15 A mensagem do filme é exatamente a ideia central de Twin Peaks: “Por meio do amor de uma menina
3:27:20 do interior, a escuridão foi exposta para que pudéssemos reconhecer a luz.”
3:27:24 Os motoqueiros do Roadhouse de Twin Peaks, que ouvem músicas românticas e leem livros, refletem essa mensagem
3:27:28 de equilíbrio. Esse equilíbrio não é mais achado no Roadhouse, e é por isso que a referência
3:27:33 ao Wild One ressurge na Temporada 3. Wally Brando está vestido idêntico ao Johnny
3:27:39 Strabler, e Michael Cera está pelo menos tentando imitar Marlon Brando.
3:27:42 Eu vim prestar meu respeito ao meu padrinho e estender meus votos para a sua recuperação,
3:27:48 que eu espero que seja rápida e indolor.
3:27:51 Ele é um bad boy com um coração de ouro. Equilibrado.
3:27:55 Minha sombra está sempre comigo. As vezes à frente, as vezes atrás.
3:28:00 Mas o produto do amor de Lucy e Andy está aqui apenas para prestar respeito ao xerife
3:28:05 enfermo da cidade enferma e depois vai embora. Amor e amizade não tem mais espaço aqui.
3:28:11 Minha dharma é a estrada. Sua dharma...
3:28:18 O Xerife Truman está preso aqui nessa casca de cidade sem amor. A dharma equilibrada do motoqueiro
3:28:25 é outro Roadhouse.
3:28:26 Na Temporada 3, o amor troca de lugar com a violência e depravação. Balas estão
3:28:31 atravessando as janelas – o medo está invadindo o local de encontro do amor. O Roadhouse
3:28:36 agora é um nexo para a televisão moderna, onde pessoas desprezíveis chegam com seus veículos desprezíveis
3:28:41 para terem conversas desprezíveis e brigar.
3:28:43 É bom te ver, Renee.
3:28:44 Você tem um último desejo?
3:28:47 Eu ten- Eu só estava tentando-
3:28:49 O que?
3:28:50 AMOR E AMIZADE NÃO TEM MAIS ESPAÇO AQUI Só estava tentando ser educado. Eu- Eu gosto dela.
3:28:54 Substituindo as músicas românticas de Julee Cruise, estão músicas que falam basicamente sobre
3:29:00 o estado triste que Twin Peaks está. O melhor exemplo é exemplo é o primeiro, dado pelos Chromatics:
3:29:07 De noite, estou dirigindo seu carro fingindo que vamos sair dessa cidade
3:29:10 Estamos pegando o veículo de Twin Peaks para dar uma volta, fingindo que pode ser outra coisa.
3:29:16 Estamos assistindo as luzes da rua se apagarem e agora você é só o sonho de um estranho.
3:29:21 A luz da antiga série de David Lynch apagou, e o que sobrou para nós era o que a audiência
3:29:26 queria.
3:29:27 Eu tirei sua foto da moldura e agora você não é como parece
3:29:31 Twin Peaks foi tirado da TV, e agora não é o que deveria ser.
3:29:37 Meu sonho é ir àquele lugar onde tudo começou numa noite estrelada distante
3:29:42 Mas agora é um sonho Sem estrelas
3:29:46 Nós nunca mais teremos a mágica que o episódio piloto nos entregou.
3:29:51 Eu estava assistindo no dia que ela morreu Continuamos lambendo enquanto a pele fica preta
3:29:56 Corte pelo caminho, mas você não consegue sentir novamente.
3:29:59 Ela se foi Ela se foi
3:30:02 [Laura] foi embora
3:30:03 ... etc. Não está nem escondido! As personagens de Twin Peaks retornaram para o local
3:30:10 intermediário, agora, completamente tomado pelo mal, e a música que os clientes do Roadhouse gostam
3:30:15 reflete o “sentimento” que eles tem dentro deles, a intuição de que algo
3:30:20 não está certo.
3:30:21 O pináculo desse conceito é a Srta. Audrey Horne.
3:30:27 FICANDO SEM TEMPO Isso é existencialismo básico.
3:30:37 Twin Peaks, como uma novela dos anos 90 que é era um produto da televisão dos anos 80, não se encaixa
3:30:43 nas convenções ou audiências modernas.
3:30:45 Eu sou da moda antiga, Denise! Você sabe disso!
3:30:49 Há lembretes constantes disso na Temporada 3. A chave do quarto de hotel do Agente Cooper.
3:30:53 Uau. Meu deus, esse é antigo. Nós trocamos os cartões mais de vinte anos atrás.
3:31:00 A inabilidade de Lucy para entender celulares.
3:31:03 Celulares… isso significa que eles são móveis, querida.
3:31:06 O telefone velho dos anos 80 que Margaret usa para ligar para o Delegado Hawk.
3:31:11 Hawk, consegue me ouvir?
3:31:14 A mesa motorizada que o Xerife Truman usa para esconder seu monitor para
3:31:19 conversas de Skype.
3:31:20 Ãn, você sabe o que é Skype, Doc?
3:31:24 Agora, um mais obscuro: o Palácio do coelho (Jack Rabbit’s Palace)... Coelhos tem orelhas de coelho. É assim
3:31:31 que eles costumavam chamar a de antena de TV.
3:31:33 o Palácio do Coelho.
3:31:35 Era nosso mundo de faz-de-conta. Sabe, onde criávamos histórias.
3:31:40 “Orelhas de coelho onde histórias criadas são contadas.” Ninguém mais usa orelhas de coelho, é tudo
3:31:46 digital agora, então não dá mais para pegar um veículo para o Palácio do Coelho. A estrada se
3:31:51 foi.
3:31:52 Mas não tem estrada. A estrada se foi.
3:31:55 Twin Peaks é de um outro tempo. Essa é uma série que foi arrancada do
3:32:00 passado para dentro de um futuro que nunca deveria ver e a qual não pertence. Ou, no
3:32:05 caso de Audrey, onde não quer estar. Audrey simboliza a parte da série
3:32:10 que teme sua própria idade.
3:32:13 Quem era Audrey como personagem na série original? Ela era teimosa e egoísta.
3:32:18 Ela não ligava para Laura, mas estava determinada a resolver o caso sozinha. Por que ela se
3:32:22 importava? Porque ela queria ser a estrela da série.
3:32:25 Eu queria te ajudar por Laura.
3:32:29 Você disse que você e Laura não eram exatamente amigas.
3:32:31 Não eramos amigas, mas eu entendia ela melhor que o resto.
3:32:34 AUDREY É APAIXONADA PELA ATENÇÃO Ela era obstinada, e o que ela fez foi para ganhar atenção. Ela era o interesse romântico
3:32:39 do Agente Cooper porque estava apaixonada pela atenção, e a audiência não tinha nenhum problema
3:32:43 em dar bastante.
3:32:44 Eu sou Audrey Horne, e eu consigo o que eu quero.
3:32:48 Entretanto, na Temporada 3, Audrey é bem o oposto. Longe de ser o centro das atenções,
3:32:52 sua história nem mesmo começa antes do terço final da temporada. Ela ainda é muito
3:32:57 teimosa, mas está confusa sobre sua realidade, insegura de si mesma, com medo de deixar sua própria
3:33:02 casa. A Audrey aparentemente se contentou com muito menos do que Billy Zane ou Dale Ccooper. Nós a
3:33:07 vemos em um casamento sem amor com um cara mesquinho chamado Charlie, que pode ou não ter
3:33:11 controle sobre a vida dela...
3:33:13 Você vai parar de brincar ou eu também vou precisar terminar sua história?
3:33:18 O objetivo de Audrey é achar Billy, um homem misterioso com quem ela está traindo seu marido.
3:33:23 Você não tem colhões. É por isso que eu amo o Billy.
3:33:27 Por que Billy? Talvez porque Billy Zane foi o homem com quem ela estava traindo a
3:33:32 a “audiência” depois da revelação do assassino... ou talvez não. Nós não sabemos e nem precisamos saber.
3:33:38 A IDENTIDADE DE BILLY NÃO IMPORTA Se nós vemos ou não ele na série, não importa. Tudo que
3:33:44 importa é que tem um “Billy”. Quando Audrey vai procurá-lo no Roadhouse,
3:33:49 fica claro para nós que a realidade dela não é real. O MC introduz a Dança de
3:33:55 Audrey.
3:33:56 Senhoras e senhores, a Dança de Audrey.
3:34:01 Essa é a música que tocou durante sua famosa cena de dança na lanchonete da série original, e,
3:34:06 AUDREY É APAIXONADA PELA ATENÇÃO por esse breve momento, o sonho de Audrey está se tornando realidade. Ela recria sua cena de dança para
3:34:11 audiência, e Twin Peaks é todo sobre ela novamente... até que a escuridão da TV moderna interrompe.
3:34:18 Barney! Essa é minha esposa, *****!
3:34:24 O SONHO DE AUDREY VIROU UM PESADELO Com medo do pesadelo que o sonho dela virou, Audrey corre de volta a Charlie para tirar ela
3:34:28 de lá, momento em que ela “acorda”.
3:34:32 Onde é que ela acorda, e quem é Charlie, que tem esse poder de acordá-la? Ela está
3:34:37 mesmo em um manicômio, como as pessoas acham? Talvez nos livros de Frost, ela esteja.
3:34:42 Charlie é, na verdade, seu terapeuta? Vamos olhar de forma mais simbólica.
3:34:48 O ROSTO DE CHARLIE VIRA... Ela está olhando diretamente para Charlie quando pede para ele tirá-la do Roadhouse.
3:34:53 O ROSTO DE AUDREY Após o corte, ela está olhando diretamente para ela mesma. E se nós interpretarmos que ele
3:34:58 é uma parte dela, que olhar para ele é olhar para ela mesma no espelho. Se for isso,
3:35:05 qual parte? Bom, ela está em um quarto branco, e não tem nada no quarto além de
3:35:10 um espelho, então todo o foco está no rosto dela. Ela não está usando maquiagem, seu cabelo está
3:35:15 simples, ela não usa nenhuma roupa diferenciada; isso é a realidade de quem ela é, rugas
3:35:21 e tal. Ela imagina que ainda pode ser a jovem sexy com quem a audiência estava apaixonada,
3:35:26 vestida e maquiada no set, com todos prestando atenção, como na
3:35:30 AUDREY VÊ A REALIDADE DA PRÓPRIA IDADE antiga série, na realidade, ela não é mais assim. Ela está velha e esquecida. Se seguirmos esse
3:35:37 caminho, veremos que a Audrey olhando para o rosto de Charlie é, na verdade, a Audrey olhando
3:35:41 para o rosto da própria idade. Essa percepção, combinada com a nossa chave, entrega nossa
3:35:47 resposta.
3:35:49 Quando Charlie diz para Audrey: “Você deveria ir ao Roadhouse procurar por Billy...”
3:35:53 SEU DESTINO COMO PERSONAGEM É PROCURAR BILLY “Você deveria ir ao Roadhouse ver se o Billy está lá.
3:35:59 ... é porque sua personagem foi escrita para fazer isso e o que ela inevitavelmente
3:36:04 deve fazer até o final do seu arco. Quando ele diz: “Você vai cooperar, ou eu
3:36:10 também vou ter que terminar sua história...”
3:36:12 Você vai parar de brincar, ou eu também vou precisar terminar sua história?
3:36:16 ... ele claramente está fazendo uma alusão a Laura Palmer.
3:36:19 Essa é a história da garotinha que morava no final da rua?
3:36:23 Sim, Laura Palmer era a garotinha que morava no final da rua, e a história dela acabou.
3:36:29 O que terminou a história de Laura? O que fez o estúdio forçar Lynch a terminar o mistério?
3:36:35 A construção foi boa demais, e as pessoas precisavam saber.
3:36:40 A PASSAGEM DO TEMPO TERMINOU A HISTÓRIA DE LAURA Foi a passagem do tempo que fez as pessoas desejarem o desfecho.
3:36:45 Então Charlie deve ser a personificação do passado, ou a passagem do tempo, ou o tempo
3:36:52 que passou. E sua personagem certamente se encaixa nisso; ele é irritantemente calmo, deliberado,
3:36:59 AMPULHETA COM TEMPO GASTO não cooperativo, prático.
3:37:01 Eu tenho um prazo. Billy está por aí, mas você não vai achar ele hoje.
3:37:07 Não há discussão com a passagem do tempo. Ela não tem sentimentos.
3:37:11 Ok, Audrey, eu vou com você. Eu estou sonolento, mas eu vou.
3:37:20 Você não consegue acelerar ou frear, e não importa a sua raiva, ele vai passar
3:37:24 com ou sem você.
3:37:26 Coloque seu casaco, Audrey. Já está tarde e eu estou com sono.
3:37:31 Sua casa parece como se estivesse presa no passado – o mobiliário é antiquado, a decoração
3:37:35 é antiquada, as roupas deles são antiquadas, não tem um único traço de tecnologia moderna
3:37:40 à vista.
3:37:41 Em um segundo de *****, eu vou tirar meu casaco e ficar aqui. Você é
3:37:46 quem quer ir ao Roadhouse, não eu.
3:37:49 Charlie não quer ir ao Roadhouse, o nexo da televisão moderna. Ele quer apenas
3:37:54 descansar, deixar o passado passar.
3:37:58 Antes de entrar na Temporada 3, Audrey vivia no passado, nas nossas memórias da personagem dela
3:38:03 na série e sua importância para nós nela.
3:38:05 AUDREY ESTÁ CASADA COM O PASSADO No começo de sua história na Temporada 3, ela ainda está aqui,
3:38:09 casada com o passado e vivendo nesse “mundo-passado”. Sua história é completamente
3:38:15 desconectada do resto da série – ela ainda não tinha voltado com a Temporada 3. Mas
3:38:20 nós estamos assistindo ela mesmo assim... Histórias de TV necessitam de mistérios para atrair nossa atenção. O
3:38:25 mistério de Billy, que está desaparecido e roubou o caminhão de alguém e está sangrando na pia de
3:38:29 alguém e tida essa loucura, nós queremos saber o que é tudo isso e o que tem
3:38:33 a ver com o que, e isso permite que a história da Audrey apareça para nós.
3:38:38 A Audrey está traindo seu passado, Charlie, que vive um mundo-passado, com essa nova pessoa,
3:38:43 que ela suspeita estar no Roadhouse, que é o mundo televisivo do presente.
3:38:48 AUDREY QUER SAIR DO PASSADO PARA A TV DO PRESENTE Ela quer ir procurar ele, mas está com medo do que isso pode significar para sua pe
3:38:52 Ela sente que não vai ser o que ela quer que seja. Ela explica assim:
3:38:57 Eu quero ficar, e eu quero ir. Eu quero os dois. Charlie, me ajude. Aqui é igual
3:39:04 Ghostwood.
3:39:06 Por que é igual Ghostwood? O que era Ghostwood? Era a conspiração de Benjamin Horne para comprar
3:39:11 a terra em que ficava a Serralheria Packard, demolir a serraria, o centro do sonho, e substítuir
3:39:16 por algo novo. O projeto Ghostwood era contínuo como o mistério de Laura, completamente
3:39:23 preso, sem nunca poder ir para frente, e, se fosse, significaria a morte de
3:39:27 um importante imóvel da história de Twin Peaks. A situação de Audrey é igual Ghostwood porque
3:39:33 ela está presa entre o passado e o presente. Ela quer ficar no passado, onde Twin Peaks
3:39:39 era bom e equilibrado e ela tinha nossa atenção e a Serralheria Packard ainda roncava por
3:39:44 aí, e ela quer ficar no mundo-passado em que vive atualmente porque, pelo
3:39:48 menos aqui, as coisas são sobre ela. Mas ela também quer voltar para Twin Peaks, para
3:39:53 o presente, porque a natureza da sua personagem é almejar pelos holofotes, mesmo que ela sinta
3:39:59 o horror pela série original ter sido demolida e substituída por algo novo.
3:40:04 Eu sinto como se estivesse em outro lugar. Como se estivesse em outro lugar e fosse outra pessoa. Você já
3:40:10 sentiu isso?
3:40:12 BILLY = NOVA VIOLÊNCIA Quem é Billy? A nova, violenta e assustadora aventura para substituir o passado com que ela se casou.
3:40:18 BILLY ROUBOU O VEÍCULO DE CHARLIE O que ele fez? Roubou um veículo. De quem ele roubou?
3:40:23 VEÍCULO = SÉRIE DE TV | CHARLIE = O PASSADO Chuck. Charlie. O passado. O novo roubou o veículo do velho.
3:40:30 E Chuck não prestou queixas. O passado está
3:40:33 se deixando levar pelo roubo do veículo porque Twin Peaks está voltando, e “o
3:40:38 passado dita o futuro”.
3:40:41 Audrey finalmente pode ir ao Roadhouse depois que uma conversa sobre seu amigo Billy finalmente chega
3:40:45 ao Roadhouse – é isso que conecta o mistério de Audrey com a TV moderna e a empurra
3:40:49 para fora do mundo-passado para a Temporada 3. Assim que ela toma os holofotes, apenas para perceber
3:40:54 o pesadelo violento que Twin Peaks virou no presente, ela foge para a segurança
3:40:58 do passado, mas ele não pode salvá-la porque não há mais passado para retornar. Twin Peaks morreu
3:41:04 com o mistério de Laura Palmer e, assim como a série, o tempo de Laura já passou. Assim como
3:41:10 a série, ela está velha e murcha e não pode ser quem já foi. Eddie Vedder toca no
3:41:16 Roadhouse quando ela chega:
3:41:18 Agora se foi e eu sou quem sou Quem eu era, nunca serei novamente
3:41:25 Ficando sem areia
3:41:26 Que meu poderia ter sido Eu nunca poderei ser novamente
3:41:30 Potencial desperdiçado. Twin Peaks poderia ter sido muito mais se fosse permitido ser, mas,
3:41:35 assim como Gersten Hayward, que tinha tanto talento e potencial, a droga do desfecho a casou
3:41:41 com a violência mundana.
3:41:44 ESTÁ NA NOSSA CASA AGORA Está Na Nossa Casa Agora
3:41:52 Com o fracasso da série original em mudar nossos corações, o crescimento do medo esteve
3:41:58 correndo livre desde os anos 50, piorando a cada geração.
3:42:03 Até mais, filho.
3:42:08 A corrupção e o envenenamento da juventude é outro grande tema na Temporada 3. Refletido
3:42:15 na série está o legado que as antigas audiências de TV deixaram pelo novo. “O passado dita
3:42:22 o futuro” – a nova audiência está recebendo o fracasso de Twin Peaks e o fracasso
3:42:27 da TV das gerações passadas, e está obscurecendo nossos corações mais do que nunca.
3:42:33 Shelly, assim como nós, se casou com o perigo e a violência, mesmo que isso se vire contra ela
3:42:38 e a machuque. Desde que a escuridão não vença, nós estamos fadados a repetir o ciclo e passar aos
3:42:43 nossos filhos, assim como Shelly passou seus problemas à sua filha, que foi afetada o
3:42:48 dobro.
3:42:49 Richard, o resultado do Cooper mau se forçando em Audrey Horne, é provavelmente o pedaço
3:42:53 de lixo mais podre que você possa imaginar, e sua maldade, no final, acaba matando um
3:42:57 pobre membro da próxima geração. Olhe o que você fez, Dick.
3:43:02 A Temporada 3 é mais obscura, sombria, assustadora, violenta e indiferente com as vítimas
3:43:07 do que Twin Peaks jamais deveria ser.
3:43:10 Ele está morto.
3:43:12 As audiências de hoje estão acostumadas a uma televisão muito mais gráfica do que as audiências dos anos 90,
3:43:17 e nós gostamos assim.
3:43:18 GARMONBOZIA MODERNA Nossa garmonbozia moderna se rebaixou de creme de milho para fast
3:43:22 food e salgadinhos artificialmente aromatizados.
3:43:25 É o último saco, Hutch. É a ***** do último saco.
3:43:29 Essas são as novas comidas para ver TV, que nós consumimos felizes sem qualquer ou
3:43:33 nenhum traço de empatia, compaixão ou preocupação.
3:43:37 Papai!
3:43:39 Próxima parada: Wendy's!
3:43:42 Nós somos como Sarah Palmer, assistindo a escuridão acabar com a luz em um loop eterno nos nossos
3:43:47 televisores. O mal está dentro de nós, assim como o novo mal de Twin Pekas está literalmente dentro de Sarah
3:43:52 – aquela língua afiada, como o nariz de tesoura do espírito sombrio da edição de
3:43:57 Lynch. Esse mal agora usa Twin Peaks como uma máscara, assim como nos usa como uma máscara, e assim
3:44:02 como usa Sarah como uma máscara. É ela quem deixou tudo isso acontecer, em primeiro lugar,
3:44:07 então é claro que seria ela que representaria a parte de ambos, a série e a gente, que foi
3:44:11 ineficaz em parar o mal e agora chafurda nele dia após dia. “Está na nossa casa
3:44:18 agora” e nós temos que conviver com isso.
3:44:21 Tem alguém em casa?
3:44:26 Não, só algo na cozinha.
3:44:29 Não vai a lugar nenhum, e não vai ser resolvido. E essa é a explicação
3:44:35 para todas as histórias secundarias e vinhetas que foram criticadas por não levar a lugar nenhum.
3:44:40 A TEMPORADA 3 NÃO CONSEGUE ILUMINAR A ESCURIDÃO O mal está apenas apodrecendo nessa cidade, e não há mais resposta a ele, então nós
3:44:45 nos satisfazemos.
3:44:46 Beverly está casada com a doença – seu marido tem câncer, ele usa isso para culpar sua esposa,
3:44:52 ela está cansada disso, é terrível, e é isso. Deixe isso ficar no seu cérebro por um tempo.
3:44:57 Becky está casada com a violência – seu marido é um drogado, ele bate nela, ele está traindo
3:45:02 ela, ele se mata, é terrível, e é isso. Fim.
3:45:07 As personagens no Roadhouse com suas histórias decadentes...
3:45:10 "Era para ouvir dois ou três personagens falando sobre o que está acontecendo em suas vidas em
3:45:14 Twin Peaks. Todos têm seus problemas, e estão lidando com
3:45:19 eles.”
3:45:20 Por quê?
3:45:21 Não tem um ‘porquê’.
3:45:24 A TEMPORADA 3 NÃO CONSEGUE ILUMINAR A ESCURIDÃO A falta de equilíbrio significa que a luz da investigação não consegue iluminar essas
3:45:31 Minha lanterna quebrou.
3:45:35 O assassinato de Laura Palmer, esse é o belo ganso, e o pequeno ganso está pondo
3:45:42 ovos de ouro.
3:45:44 Se o mistério de Laura Palmer era o ganso pondo os ovos de ouro,
3:45:47 IDEIAS DE TWIN PEAKS = OVOS DE OURO e os ovos de ouro eram todas as maravilhosas histórias secundárias em Twin Peaks
3:45:51 que se ramificaram do mistério e levaram para lugares novos e interessantes,
3:45:55 então essas histórias secundárias terríveis e desconexas que
3:45:58 IDEIAS SEM SAÍDA = OVOS PODRES levam para becos sem fim devem ser ovos podres.
3:46:01 OVOS DE IDEIAS DE OURO Os ovos de ouro vem das ideias nadando no equilíbrio do Campo Unificado, e eles iam parar
3:46:07 no posto de gasolina da série original;
3:46:09 IDEIA DE OURO É COMBUSTÍVEL PARA A TV | GANSO a logo do posto de Ed é literalmente um ovo de ganso, brilhando como o sol dourado.
3:46:17 OVOS DE IDEIAS PODRES Os ovos podres que foram parar no resto dos programas de TV vem das ideias vomitadas pelo Zeitgeist infectado pelo
3:46:23 medo… Com exceção do Zeitgeist infectado pelo medo, tem algo que todos alimentamos com ideias das
3:46:28 nossas próprias cabeças.
3:46:31 [SOM DE OVO RACHANDO] Ó, meu Deus!
3:46:36 Lynch repetidamente usa imagens e sons de cabeças rachando como ovos, e cabeças
3:46:45 que parecem com versões podres de ovos que foram vomitados pela Mãe de todo o mal.
3:46:49 CABEÇAS DE OVO PODRE Essas são as cabeças de ovo podre. Nossas mentes criam o Zeitgeist, que pôe ovos de ideias podres
3:46:55 nas nossas TVs, que entra em nossas cabeças de ovo para apodrecer nossos cérebros, que vomitam seus interiores podres
3:47:00 de volta ao Zeitgeist. Sim, realmente, a moral da história de Lynch é que a TV está apodrecendo
3:47:08 nossos cérebros.
3:47:09 Agora eu entendo completamente por que David Lynch não gosta de ver o significado de seu trabalho minimizado
3:47:15 pela pequenez de meras palavras, pois a mensagem inteira por trás de Twin Peaks pode ser reduzida
3:47:21 a uma simples frase, e essa frase é: “a TV apodrece seu cérebro”
3:47:29 Mas é aí que eu discordo de Lynch, porque se eu tivesse dito que a mensagem
3:47:32 por trás de Twin Peaks era: “A TV apodrece seu cérebro,” no começo desse vídeo, então sim,
3:47:37 você provavelmente não teria acreditado em mim e acharia que era algo estúpido. Mas agora,
3:47:42 depois de fazer todo esse caminho e empilhar e expandir os conceitos,
3:47:48 essa frase banal é maior do que essas meras palavras. Está imbuída de todo esse significado
3:47:54 e entendimento que estamos explorando.
3:47:57 “Desfecho. É como uma droga.”
3:48:00 ALGUMA DÚVIDA? Esse é o seu cérebro no desfecho.
3:48:10 O medo entra na estação de TV, apodrece os cérebros das pessoas que trabalham lá, e a podridão escorre
3:48:15 nas ondas de ar, aumentando o medo no ar e fazendo as almas de cada geração
3:48:21 mais e mais escuras. O Braço, o espírito da televisão, evoluiu com o Zeitgeist
3:48:27 para refletir o estado atual de decadência: quanto mais maligno o espírito da TV se torna, mais se
3:48:32 parece com sua mãe em forma de cogumelo de fumaça nuclear; um ovo grande e podre no topo de uma árvore elétrica
3:48:38 pondo ovos estragados no ar. Ele é O Braço, e ele soa como o vento maligno do
3:48:44 Zeitgeist.
3:48:51 Eu garanto que o ator que interpreta Dick Horne foi escolhido porque sua cabeça tem o formato
3:48:56 igual ao de uma dessas cabeças de ovo podre. Ele é a definição de ovo ruim criado pelas audiências de
3:49:02 televisão. Ele é o filho da recebedora de atenção egoísta e do entregador de atenção egoísta...
3:49:08 o que nos leva ao nosso representante na Temporada 3
3:49:13 ESSE NEGÓCIO DOS DOIS COOPERS Esse não é o Dale Cooper que eu conhecia
3:49:21 COOPER É A MENTE DA AUDIÊNCIA Se Dale Cooper é a mente detetivesca da audiência, então o Dale Cooper bom deve ser nosso
3:49:26 desejo pelo mistério contínuo de Laura Palmer, nosso desejo de achar equilíbrio por meio dele, nosso
3:49:32 desejo pelo bem. Mas na Temporada 3, nosso desejo por mistério é feito refém pelo nosso sósia maligno.
3:49:39 Na premiere em duas partes, o Sr. C está dirigindo uma Mercedes prata, um veículo bem- intencionado,
3:49:45 O SR. C PRENDE AS BOAS INTENÇÕES e tranca ele para começar a dirigir seu Lincoln preto mal-intencionado.
3:49:49 Ele vem dirigindo Twin Peaks, a série bem- intencionada, e prende as boas intenções para
3:49:54 poder transformar em uma série mal-intencionada.
3:49:58 Alguém roubou meu carro!
3:50:00 O SR. C PRENDE AS BOAS INTENÇÕES O Cooper bom é preso, primeiro na Sala Vermelha, e depois, na identidade de Dougie Jones
3:50:06 O objetivo do sósia é o oposto do de Cooper; nosso desejo pelo mal, nosso desejo pela violência
3:50:11 consumível de Bob, nosso desejo por explicação e desfecho. O que ‘queremos’ é um desfecho. O que
3:50:18 ‘precisamos’ é de equilíbrio.
3:50:19 O que eu quero e o que eu preciso são duas coisas diferentes, Audrey.
3:50:25 O que é que o Cooper bom precisa fazer na Temporada 3? Precisamos achar Laura, para
3:50:30 voltar ao ponto original.
3:50:32 Encontre Laura.
3:50:34 E o que é que o Cooper mau precisa fazer na Temporada 3?
3:50:38 “Quero”, não “preciso”. Eu não preciso de nada. Eu quero.
3:50:43 É isso que eu quero.
3:50:47 Quem é Judy?
3:50:49 Ele quer achar Judy. Ele não sabe quem ou o que é Judy, ele apenas quer.
3:50:54 Por que você não queria falar sobre Judy? A Judy quer algo de mim?
3:51:01 QUEM É JUDY?
3:51:05 A identidade de Judy der ser o maior mistério de todos desde o assassino de Laura, mesmo
3:51:10 antes da Temporada 3, tudo graças àquela cena de Phillip Jeffries. Antes do final da Temporada 3,
3:51:16 devia ser o mistério mais falado de todos.
3:51:20 Eu não vou falar sobre Judy. Na verdade, nós não vamos falar nada sobre Judy. Nós vamos
3:51:25 mantê-la for a disso.
3:51:26 Quem é Judy? Ela é relacionada com Josie, como alguns gostam de pensar? Ela mora em Seattle, ou
3:51:32 na América do Sul? É a mesma Judy que Phillip estava se encontrando antes de ser transportado
3:51:37 para a Filadélfia? Ela era positiva sobre o que?
3:51:40 Judy é positiva sobre isso.
3:51:43 E por que a persona-macaco de David Lynch fala sobre ela novamente no final do filme?
3:51:47 Judy.
3:51:48 Isso significa que Judy, na verdade, é a chave para tudo? Nós não sabemos quem é Judy,
3:51:54 nós não sabemos se ela tem qualquer importância, e nós nem precisamos saber. Nós apenas queremos.
3:52:01 Quem é Judy!?
3:52:03 ‘’JUDY” = TODAS AS RESPOSTAS QUE DESEJAMOS Nós elevamos a Questão de Phillip Jeffries sobre Judy ao status de representante do desfecho
3:52:10 que tanto desejamos na Temporada 3. Judy é a resposta a todas as nossas perguntas (ou é o que esperamos).
3:52:17 Quem é Judy!!??
3:52:20 Podemos confirmar que isso é verdade? O que o nosso diretor tem a dizer sobre isso?
3:52:24 Uma força extremamente negativa chamada, em tempos antigos, “Jowday.” Com o tempo, se tornou “Judy.”
3:52:34 “Uma força extremamente negativa” – no contexto de Twin Peaks, o que David Lynch estabeleceu
3:52:41 como a maior fonte de negatividade? Agora você já sabe a resposta: a revelação do assassino de
3:52:47 Laura Palmer. Desfecho. Explicação e desfecho acabam com o mistério, fazendo a gente se
3:52:54 conformar e nos mantendo longe do equilíbrio. Até agora faz sentido.
3:52:58 Qual é o significado do nome “Judy”? Houveram algumas tentativas na internet de
3:53:02 descobrir a etimologia de “Jowday”, e o melhor que as pessoas conseguiram chegar foi
3:53:07 a palavra em Mandarim “jiāodài”. “Jiāo” certamente soa como “Jow”, e “dài” pode
3:53:14 ser lida como “dia” por alguém que não fale a língua, e alguém que regularmente pronuncia “ai”
3:53:19 como “ay” erroneamente, como quando David Lynch pronuncia o nome da personagem “Naido”. O Sr.
3:53:25 C escondeu Diane dentro dessa pessoa Naido, interpretada por uma atriz Japonesa, e “Naido”
3:53:31 é um jeito japonês de falar o nome “Diane” ao contrário.
3:53:36 E Andy vai parar e soltar a mão de Naido, e ele vai desaparecer.
3:53:42 “Mão de Nay-do”
3:53:44 Aqui está a árvore… certo?
3:53:49 Aqui está Naido.
3:53:51 “Aqui está Nay-do.”
3:53:54 Naido, NAYdo. Jiāodài, JowDAY. Muitos dizem que a semelhança entre “jiāodài”
3:54:02 e “Jowday” são apenas mera coincidência, mas que coincidência deve ser, porque
3:54:10 o que “jiāodài” significa?
3:54:11 Entregar, justificar alguém, prestar contas, informar, falar sobre, confessar,
3:54:20 deixar claro, EXPLICAR, e ironicamente, TERMINAR ou COMPLETAR.
3:54:28 EXPLICAÇÃO. DESFECHO.
3:54:32 JUDY É DESFECHO Judy é a explicação e o desfecho, e nós queremos um desfecho por meio
3:54:39 de uma explicação. Quem é Judy? Você está assistindo Judy agora mesmo... Eu ainda não sei bem como
3:54:47 me sinto sobre isso...
3:54:49 FROST, A AUDIÊNCIA E EU FIZEMOS UM FINAL PARA O MISTÉRIO Major Briggs, Cooper, e eu fizemos um plano que pode nos levar a Judy.
3:54:55 Lynch e Frost, pela demanda da audiência, trouxeram um desfecho ao mistério.
3:54:59 E ENTÃO, FROST SAIU E A AUDIÊNCIA PAROU DE ASSISTIR E então algo aconteceu ao Major Briggs, e algo aconteceu ao Cooper.
3:55:05 A audiência se contentou, e Frost não quis ajudar a escrever o filme.
3:55:09 AGORA, A ÚLTIMA COISA QUE A AUDIÊNCIA DISSE FOI: Agora, a última coisa que Cooper me disse foi:
3:55:13 “SE EU PARAR DE ASSISTIR, FAÇA TUDO O QUE PUDER PARA NOS TRAZER DE VOLTA. “Se eu desaparecer, faça tudo que puder para me acha
3:55:18 “NÓS QUEREMOS O MALDITO DESFECHO.” Estou tentando matar dois coelhos com uma cajadada só.”
3:55:21 Essa era a audiência falando. Se a audiência se foi e eles nos querem de volta, ele teriam
3:55:25 que nos dar o que queremos, que é Judy. “Vocês, Lynch e Frost, façam o que puderem para
3:55:32 nos trazer de volta. Nós queremos dois coelhos mortos com uma temporada só.” Um coelho é o ganso que estava
3:55:38 botando os ovos de ouro, o mistério de Laura Palmer. Uma vez que esse coelho é explicado à exaustão, você
3:55:44 automaticamente mata o outro coelho – a coruja que representa e leva a trama da
3:55:49 série original.
3:55:51 Qual é o símbolo que representa Judy?
3:55:52 Você sabe qual é? Ãn? Você já viu algo parecido com isso?
3:55:58 Nós já vimos algo parecido com isso? Já: O Símbolo de Coruja. O Símbolo de Coruja representa
3:56:04 a trama de Twin Peaks, e Judy representa a explicação e o desfecho que leva à
3:56:09 escuridão tomando controle, então o símbolo de Judy é grande vazio negro, a escuridão crescendo até eclipsar
3:56:16 Twin Peaks completamente.
3:56:18 Quem é Judy?
3:56:20 Você já conheceu Judy.
3:56:22 O que você quer dizer com “eu já conheci Judy?”
3:56:26 Nós já conhecemos Judy, várias vezes! Primeiro quando tivemos a explicação e o desfecho da
3:56:30 revelação do assassino na Temporada 2, e de novo no final da Temporada 2 que literalmente acabou com
3:56:36 a série. O mal vivendo em Sarah Palmer, aquele mesmo mal que vemos na Temporada 3, falou para o Major Briggs
3:56:41 que estava no Lodge com Cooper, porque estava – Judy estava lá com ele; a série
3:56:47 estava acabando lá, com ele.
3:56:50 O DESFECHO ESTÁ NO BLACK LODGE COM DALE COOPER. Eu estou no Black Lodge com Dale Cooper.
3:56:57 Estava esperando por Briggs porque Mark Frost é o cocriador e ele precisava estar lá
3:57:01 para ajudar David Lynch a terminar a série.
3:57:03 Estou esperando por você.
3:57:09 Novamente encontramos Judy no filme, quando vemos toda a cronologia do assassinato de Laura e
3:57:13 a explicação da metalinguagem da TV literal. Com o filme, nós já tínhamos tudo o que precisávamos
3:57:19 para solucionar todo o mistério, e isso era o desfecho que nem mesmo sabíamos que estávamos vendo.
3:57:24 Agora faz todo o sentido que tenha um macaco sussurrando o nome de Judy no final do filme.
3:57:29 Já ouviu falar de George, o Curioso? Macacos são um símbolo de curiosidade, e todos sabemos o que
3:57:35 a curiosidade fez com o gato... Lembre-se da ideia de “ação e reação” de Lynch – ele nunca sabe
3:57:40 onde um projeto pode levá-lo até que deixe a obra falar com ele, e com o filme,
3:57:44 ele estava voltando ao mundo de Twin Peaks para que pudesse descobrir onde a
3:57:48 série estava indo antes do mistério ter sido tirado dele... E é por isso que o macaco aparece
3:57:53 por trás da máscara do bebê Lynch, porque a curiosidade Lynch está alimentando a história do filme tanto
3:57:58 A CURIOSIDADE DE LYNCH quanto a nossa está, e no final, o macaco está falando tanto para Lynch quando para nós que nossa curiosidade
3:58:05 foi paga.
3:58:06 GATO MORTO. Judy.
3:58:09 Quando forçamos Lynch a solucionar o mistério, tanto a gente quanto a série fomos possuídos por Bob.
3:58:14 Nesse ponto, Twin Peaks deixou de ser o sonho que David Lynch queria que fosse e se tornou
3:58:20 o sonho que a audiência queria que fosse.
3:58:23 TWIN PEAKS VIROU NOSSO SONHO Lynch saiu, e Twin Peaks virou o sonho da audiência.
3:58:27 A DAMA DO CEPO ROUBOU MINHA SÉRIE” A Dama do Cepo roubou o meu carro!
3:58:32 PETE, A AUDIÊNCIA ROUBOU SUA SÉRIE. Pete, Windom Earle roubou o seu carro.
3:58:36 A TEMPORADA 3 É O QUE SOBROU DO NOSSO SONHO Esse novo sonho, NOSSO sonho, é o que trouxemos de volta vinte e cinco anos depois para
3:58:40 e um desfecho. E já que nós nunca soubemos que já tínhamos visto a explicação inúmeras vezes,
3:58:47 o Sr. C também não sabe. Nós trouxemos a série de volta à vida para mais, e, portanto, o Sr. C.
3:58:54 também.
3:58:56 Nós nunca descobrimos o que o Sr. C esteve fazendo nessa pausa de vinte e cinco anos... É
3:59:00 porque a série não existiu por todo esse tempo. Nós não estávamos prestando atenção por todo
3:59:04 esse tempo. Estávamos ausentes por todo esse tempo. Como a Temporada 3 começa? Com um homem sentado
3:59:12 em um quarto com um monde de câmeras, todas assistindo uma caixa de vidro vazia 24/7. Um mistério
3:59:19 intrigante, com certeza! O que tem nessa caixa que requer tanta atenção...? Nós
3:59:25 descobrimos mais tarde que foi o Sr. C que criou e financiou esse experimento. O Sr. C
3:59:31 é um Dale Cooper que foi possuído por Bob e que veio do mundo intermediário da
3:59:35 Sala Vermelha, então “dentro do universo”, ele sabe como as mecânicas do sonho televisivo funcionam. Ele demonstra
3:59:41 isso através do curso da temporada com suas várias manipulações de aparelhos eletrônicos.
3:59:46 O Sr. C está ativa e conscientemente usando sua conexão de intuição com a audiência para
3:59:51 manipular a trama da série. O Sr. C é a audiência querendo respostas, mas ele também é
3:59:58 uma personagem da série que sabe que Twin Peaks precisava de um mistério para existir novamente, então
4:00:03 A AUDIÊNCIA TRAZ TWIN PEAKS DE VOLTA <> O SR. C TRAZ A AUDIÊNCIA DE VOLTA o experimento da caixa de vidro é o Sr. C montando u
4:00:10 em uma caixa para atrair a atenção da audiência para a “caixa” com o tubo atrás
4:00:16 que está ao ar livre.
4:00:19 O cara que está olhando para a caixa recebe uma entrega de café de uma garota que está super afim.
4:00:23 O café é de um lugar chamado SZYMON’S, como uma torta de cereja no ‘O’ e um grande e grosso
4:00:29 ‘Z’. Torta e café são o combustível para o amor e a investigação do sonho televisivo que nós
4:00:34 sonhamos enquanto pegamos nossos Zs, e esse espectador de TV está tendo todo o amor e combustível
4:00:39 que precisa para ficar acordado e prestar atenção no nosso sonho.
4:00:43 ZZZ RONCANDO ZZZ Então nós pensamos no motivo para tudo isso, e então NÓS prestamos atenção no nosso sonho.
4:00:48 Nós criamos uma demanda pelo mistério, o Sr. C cria uma demanda pelo mistério. A atenção de
4:00:53 A AUDIÊNCIA TRAZ TWIN PEAKS DE VOLTA <> O SR. C TRAZ A AUDIÊNCIA DE VOLTA seu empregado ao mistério que ele criou nos dá um m
4:00:59 a Temporada 3 é literalmente trazida de volta à vida por essa geração de atenção recursiva. A investigação
4:01:05 SR. C/A AUDIÊNCIA TROUXE TWIN PEAKS DE VOLTA À VIDA PARA TER UM DESFECHO de Judy do do Sr. C começa depois do renascimento
4:01:11 isso que trouxemos a série de volta. Ele acha ela? Pode apostar! Ele só não sabe que está
4:01:17 conseguindo o que quer. Apenas pense em todas as coisas explicadas na Temporada 3:
4:01:21 O que é Judy. A origem do medo que criou Twin Peaks.
4:01:24 A origem de Bob. Os Lenhadores.
4:01:26 O Campo Unificado. O Fireman.
4:01:29 A origem de Laura Palmer. A importância de Laura Palmer.
4:01:32 A Rosa Azul. TV como um sonho.
4:01:34 O monte de terra. As mecânicas do Anel de Coruja.
4:01:37 As corujas. O peixe no coador.
4:01:40 O símbolo de coruja. O que Laura Palmer viu atrás de James.
4:01:43 Nós conseguimos as explicações, nós só não sabemos disso. Logo, a infame
4:01:48 cena da varrição, onde vemos um cara varrer o chão por dois minutos e meio.
4:01:53 Nós demos a David Lynch sua série de volta, e então assistimos quinze episódios sem ver Twin Peaks
4:01:57 voltar. Mas estamos confiando no nosso diretor e estamos nos deixando levar. Estamos pacientemente
4:02:03 esperando por algo acontecer, mas nada está acontecendo. Nós achamos que estão nos
4:02:07 mostrando algum conceito abstrato, mas não sabemos o que pode ser, então continuamos a
4:02:12 esperar que nos seja entregue. Nós achamos que queremos uma explicação, mas explicações não
4:02:18 seguram nossa atenção, o mistério sim. Vagarosamente, tudo é exposto, cada
4:02:25 pequeno detalhe, cada pista sendo explicada a nós, bem organizado, e isso deveria nos deixar
4:02:30 satisfeitos, com um senso de desfecho... mas isso não é satisfatório. É vazio. É
4:02:37 nada. Todas as pontas soltas são amarradas, mas o mal continua.
4:02:42 Eu mandei dois, ele me deve dois. O Roadhouse é propriedade da família Renault por cinquenta
4:02:48 e sete anos. Nós não vamos perder ele agora por causa de uns “alunos nota 10” de
4:02:53 quinze anos, não, não.
4:02:56 Aquela fachada limpa de desfecho está apenas escondendo o mal debaixo da superfície...
4:03:02 Quando o Sr. C consegue atrair nossa atenção de volta, a garmonbozia gerada no final da
4:03:07 Temporada 2 ficou velha e podre na ausência de vinte e cinco anos da série. Muitas
4:03:11 pessoas não ligam mais. O tempo dele está quase acabando conforme a série volta ao ar
4:03:16 O SR. C ESTÁ PERDENDO NOSSA ATENÇÃO PARA COOPER e a audiência está bem mais interessada em ver o Agente Cooper escapar do Lodge par
4:03:21 o Sr. C do que em ver o que o Sr. C está tramando. Então, para contrabalancear, o Sr. C inventa
4:03:27 um plano para manter a atenção nele mesmo...
4:03:30 Era para eu ser puxado de volta ao que eles chamam de Black Lodge, mas eu não vou
4:03:34 voltar lá. Eu tenho um plano para ele.
4:03:37 ... ele cria Dougie Jones. O que parece com uma troca de ídolo existencial à la Indiana Jones
4:03:43 onde Dougie é substituído pelo Sr. C durante a saída Cooper, é, na verdade, a criação de
4:03:48 um novo mistério para atrair nossa atenção para o sósia. As desventuras de Cooper
4:03:53 DOUGUE É DESINTERESSANTE como Dougie Jones podem ser ligeiramente divertidas, mas são bem menos interessantes do que a questão
4:03:58 SR. C É INTERESSANTE de como o sósia criou Dougie e qual deve ser o plano sombrio do sósia.
4:04:02 O Sr. C mantém nossa atenção nele mesmo, e não no chato e vazio Dougie Jones, ao repetidamente
4:04:06 criar mistérios para decifrarmos.
4:04:09 ISCA DE ATENÇÃO Qual é a informação que o Sr. C quer? O que é a mancha preta que ele está tentando encontrar?
4:04:13 Por que ele está procurando Judy? Qual a conexão do Sr. C com a família Hastings?
4:04:18 Quem é o Sr. Morango, e o que pernas de cachorro decepadas tem a ver com ele?
4:04:22 O que é aquela caixinha que encolhe até virar uma pedra. Junto
4:04:26 da garmonbozia que ele consegue apenas por ter Bob vivendo dentro de si, essas questões que
4:04:30 nunca terão respostas são atenção fresca que alimentam o Sr. C durante a Temporada 3.
4:04:36 E por que ele responderia? Elas são seu combustível. Nós queremos respostas, ele deixa migalhas
4:04:41 para seguirmos, e isso mantém ele ativo. Nós queremos Judy, então ele quer Judy, mas nós também
4:04:48 queremos respostas sobre ele, então o FBI também está investigando ele para nos representar nesse
4:04:55 fronte.
4:04:56 Em um sonho, todos as personagens são você, na verdade?
4:05:00 Todos esses são versões de nós. E se Dougie é uma versão de Cooper, ele também deve
4:05:04 ser um representante da audiência, certo?
4:05:07 Na primeira vez que vemos Dougie Jones, ele está em um complexo feito para famílias felizes,
4:05:11 mas ninguém mora lá. Ele não parece ter amor nenhum por sua própria família já que está
4:05:15 traindo eles. Ele não é particularmente expressivo ou emocional. Se o Sr. C é a versão maligna
4:05:20 da gente, então Dougie é o que sobrou da benigna... Não sobrou muito dela.
4:05:25 O AMOR VOLTA À TV Quando o Cooper real, o amor real, volta para nossas telas através do tubo ao ar livre, a TV está vazia porque,
4:05:32 sem Laura Palmer, o recipiente de Twin Peaks está vazio. Assim que chega, o amor volta
4:05:38 ao Campo Unificado de onde veio,
4:05:40 O DESFECHO RETORNA À TV porque o que voltou, na verdade, é o mal e a morte
4:05:43 desequilibrados e sem amor que nós mesmos criamos através da relação entre
4:05:47 os dois mundos que está dando luz à Temporada 3, o pesadelo que aniquila nossas
4:05:52 almas… Tudo isso está sendo prefigurado por Sam e Tracy aqui.
4:05:56 Hawk, algo está faltando, e você tem que descobrir. Tem a ver com o Agente Especial Dale
4:06:04 Cooper.
4:06:05 O que é?
4:06:06 O jeito que você vai descobrir tem algo a ver com sua linhagem.
4:06:11 O que está faltando que tem a ver com Cooper? Estamos falando sobre o Cooper bom aqui,
4:06:15 então deve ser o amor que está faltando.
4:06:17 Aquele não é o Dale Cooper que eu conhecia. É algo aqui... é algo que definitivamente
4:06:28 NÃO ESTÁ aqui.
4:06:30 O jeito de descobrir é através da moeda com cabeça de Índio de Hawk que leva ele até a porta do box do
4:06:34 banheiro que contém um novo interesse no mistério de Laura Palmer... O equilíbrio de Laura. Amor.
4:06:41 Sorte. Las Vegas. Nós temos que achar o amor escondido na história de Las Vegas de Dougie e dentro
4:06:48 de nós mesmos – aquele amor não pode ser achado em lugar nenhum de Twin Peaks.
4:06:52 O AMOR VOLTOU À TV, MAS NINGUÉM NOTOU... Mas espere… o amor voltou à TV, ele não foi direto para a não-existência.
4:06:58 Cooper veio quando Sam estava fora da sala. O amor estava lá... nós só não estávamos
4:07:02 prestando atenção! Ainda está lá... e nós ainda não estamos prestando atenção! O Cooper
4:07:08 bom, o representante do lado bom das nossas mentes detetivescas, retorna completamente a uma
4:07:13 vida de amor e alegria e uma sorte incompreensível, mas não é isso que nós queremos!
4:07:21 Nós não estamos retribuindo o amor que nos está sendo dado! NOSSO amor nunca voltou – ele ainda
4:07:26 é não-existente. Agora, nós queremos ver Coop ir atrás dos vilões e vencer, nós não queremos
4:07:32 toda essa besteira de “amor”, essa “mundanidade”. Nós não estamos interessados,
4:07:38 COOPER É VAZIO PORQUE NÃO ESTAMOS PRESTANDO ATENÇÃO e é por isso que Cooper como Dougie é vazio, porque nossa atenção não está l
4:07:47 NOSSA ATENÇÃO ESTÁ COM O SR. C Nossa atenção está em Buckhorn,
4:07:49 onde o emocionante mistério de assassinato do Sr. C está acontecendo. Estamos frustrados por essas cenas
4:07:54 de Dougie. Elas são toscas e bobas, e nós preferiríamos que elas não estivessem na série, certo?
4:07:59 Enquanto isso, David Lynch ama o mundano. Dougie é a história mais engraçada e sincera
4:08:05 para ele. Ele sabe que nós seremos como Albert, esperando pacientemente por ele para continuar,
4:08:10 mas Lynch é todo: “Vai na frente ser impaciente e sem humor ali, eu vou estar
4:08:14 bem aqui desfrutando dessa beleza mundana.”
4:08:19 Tres bon.
4:08:22 Esse é bom!
4:08:24 Por que ninguém ajuda Dougie? Obviamente algo está errado com ele. Por que ninguém
4:08:30 faz nada? É poque não iria condizer com a realidade. Cooper tem que espelhar nossa atenção.
4:08:36 Nós não estamos interessados, mas a série ainda está rolando, e nós ainda estamos assistindo. A
4:08:41 história tem um começo e fim, há mudanças de tom no meio, e essas personagem de TV
4:08:45 nessa história devem inevitavelmente fazer seus papéis do começo ao fim, estando nós
4:08:51 interessados ou não. Pense nisso como uma peça, onde o ator principal recebe diálogos
4:08:57 que ele não consegue lembrar o tempo todo e todos os outros atores dão empurrõezinhos,
4:09:02 tentando segurar essa produção, porque o show deve continuar.
4:09:07 Qualquer um que diga que genuinamente gosta de toda a história de Dougie toda vez que a
4:09:13 veem… isso é bom, e eu concordo com eles, mas nós somos a minoria e não deveríamos
4:09:18 ser, porque Lynch está tentando mostrar o que a audiência como um todo quer.
4:09:24 Nós queremos o mal. Ele nos entretêm. Para provar isso, a única parte que Cooper consegue reagir é
4:09:30 quando algo ruim está acontecendo. Então nós prendemos nossa atenção! Prazeres de nível básico,
4:09:36 como comida e sexo.
4:09:38 Café!
4:09:39 Traindo e apostando. Descobrindo mentirosos.
4:09:42 Ele está mentindo.
4:09:43 ESTAMOS INTERESSADOS! Aqui vem o mini assassino! Agora nós estamos ligados para essa violência deliciosa! É disso que
4:09:47 eu tô falando!
4:09:50 Tira da mão dele! Tira da mão dele!
4:09:55 De repente, nós estamos prestando atenção, e agora, de repente, Cooper está prestando atenção. Mas no
4:10:01 NÃO ESTAMOS INTERESSADOS momento que a ação acaba, Cooper volta a ser vazio porque nós paramos de nos importar
4:10:06 com a vida chata e mundana de Dougie.
4:10:09 “Vamos voltar ao Sr. C. Estou ficando entediado aqui.” O mistério de assassinato do Sr. C em
4:10:14 Buckhorn é a parte mais interessante e cheia de suspense da Temporada 3, com o maior
4:10:20 valor de produção. É claro que teria que ser para manter nossa atenção vazia, afeita à
4:10:25 escuridão. Mal podemos esperar para a comédia ridícula de Dougie acabar. Então o que finalmente acorda Cooper,
4:10:32 salva ele da Dougielândia e ganha a mesma atenção que a história do Sr. C? A
4:10:38 maldade final: o desfecho. Ao final dessa história, o emprego de Dougie é salvo, a firma
4:10:44 de seguros é salva, as dívidas de Dougie são pagas, os irmãos Mitchum são caras legais agora,
4:10:49 Sonny Jim tem seu pai de volta, Janey-E tem seu marido de volta, o problema do assassino
4:10:54 meio que se resolve sozinha, e todo mundo ama Dougie.
4:10:57 Oh, Dougie... é como se todos os nossos sonhos se tornassem realidade.
4:11:02 Bom, esse é um bom final para a história. Nós temos nosso desfecho. Parece que já acabamos
4:11:07 aqui. Hora de seguir em frente! Garfo na tomada. Me tira daqui, eu
4:11:11 não aguento mais.
4:11:14 Se o amor ganhasse a bolada na floresta, mas não tem ninguém para prestar atenção, a
4:11:20 floresta ainda estaria equilibrada?
4:11:23 OLÁ!
4:11:24 O Cooper mal não voltou para dentro do Cooper bom para criar um Cooper completo, equilibrado.
4:11:30 Twin Peaks não é mais equilibrado. Se não há equilíbrio, quer dizer que um deles tem que
4:11:35 vencer e o outro tem que morrer.
4:11:39 Você foi enganado. Um de vocês precisa morrer.
4:11:45 Vou te dar três chances para saber qual é qual. Não sobrou amor em Twin Peaks ou na
4:11:52 audiência, então obviamente não é o Sr. C que vai morrer... Mas durante o clímax, onde o
4:11:59 amor finalmente e literalmente toma o volante do veículo, o Sr. C morre... ou pelo menos
4:12:06 esse é o sonho, não é?
4:12:08 Luz e sombra estão dentro de todos nós. O mal não pode ser destruído, apenas ser vencido
4:12:15 ao expô-lo à luz. Mesmo se o Sr. C for vitalmente ferido, a fumaça dança ao redor enquanto o fogo de
4:12:21 VIOLÊNCIA AVIVA NOSSO INTERESSE Bob é reacendido pelo sangue fresco da violência que literalmente aviva nosso interesse.
4:12:28 Daí você vê esse cara ali, e você levanta a cabeça dele e mostra a cabeça dele,
4:12:32 desse jeito! Você mostra a cabeça dele! E você levanta o – mais sangue! E você passa mais sangue
4:12:37 em todo o rosto dele, e você mostra o rosto dele!
4:12:40 VIOLÊNCIA AVIVA NOSSO INTERESSE “Mostra o rosto dele,” porque quando vemos Bob, nossa atenção é trazida à vida. Você não pode
4:12:45 matar Cooper com violência, porque nós somos Cooper e amamos violência! Ela sempre nos
4:12:50 traz de volta para mais. Então como Bob é destruído no final da Temporada 3?
4:12:56 ... Ele não é. Não de verdade. Note o quão limpas e completas e facilmente amarradas ficam
4:13:03 as coisas nessa cena. Isso não é comum para David Lynch, é? O rosto consternado
4:13:08 de Cooper se sobrepõe, como um reflexo do rosto do expectador na tela da TV, é uma forma tão incrivelmente
4:13:13 visceral de nos transmitir que o que nós estamos assistindo não está certo. Não é REAL. Algo
4:13:20 está muito errado aqui.
4:13:22 Nós vivemos dentro de um sonho.
4:13:26 Twin Peaks era o sonho de David Lynch, mas a Temporada 3 é nosso sonho. Nós trouxemos a série de volta à tela
4:13:33 para ter um desfecho, e essa cena é o desfecho que imaginamos, o desfecho que achávamos que queríamos.
4:13:41 NÓS VOLTAMOS A TWIN PEAKS E RECEBEMOS O QUE QUERÍAMOS O Sr. C finalmente consegue as coordenadas, e elas o levam para... Twin Pe
4:13:45 o local onde ele vai achar Judy. Esse era o sonho, que nós voltaríamos para a
4:13:49 velha Twin Peaks e o Cooper mal seria capturado e o bem destruiria o mal e
4:13:54 tudo ficaria bem, certo?
4:13:57 O que é isso?
4:13:58 Mal sabíamos que tudo que tudo ficar bem é o verdadeiro mal. A única coisa mantendo
4:14:04 a série viva por vinte e cinco anos foi aquele gancho da Temporada 2, então a derrota do Sr. C leva
4:14:10 aquele mistério a um fim e se torna o triunfo de Judy. A fácil destruição
4:14:16 do mal via o “deus ex machina” de Freddie é o verdadeiro mal. A morte do Sr. C é paradoxal.
4:14:24 O que o Agente Cooper faz uma vez que a história do Sr. C chegou ao fim? É hora da conclusão.
4:14:29 O tempo acabou. Não sobrou mais tempo na série. Hora de seguir em frente, porque é isso
4:14:34 que fazemos quando temos nosso desfecho. De novo e de novo, temos nosso desfecho e nos conformamos.
4:14:43 253. De novo e de novo.
4:14:49 E quando nos conformamos, o mistério morre.
4:14:54 Acompanhe comigo: Laura Palmer nasceu para morrer na TV para criar o mistério contínuo
4:15:03 que era Twin Peaks. “Assim que a série tem um senso de desfecho, ela te dá uma desculpa
4:15:08 para esquecer que assistiu essa droga.” Se você esquecer que assistiu ela, pode ser que
4:15:13 isso nem tenha acontecido! Nós trouxemos o mistério de Laura a um fim, e, portanto, o assassinato de Laura não
4:15:19 importa, e, portanto, ele pode nem ter acontecido. Portanto, nós estamos exatamente na
4:15:25 mesma posição que estaríamos se Twin Peaks nunca tivesse existido.
4:15:30 É do nosso feitio, mesmo se achamos que estamos fazendo algo bom, e isso é ilustrado
4:15:34 perfeitamente pelo nosso representante erroneamente bem-intencionado voltando no tempo para salvar
4:15:40 Laura do seu destino, apagando, assim, a razão de Twin Peaks.
4:15:45 Eu só queria ser bom. Eu queria ser bom
4:15:51 Will!
4:15:53 A série está sofrendo tanto sem ela que essa parte até mesmo deseja que ela nunca tivesse
4:15:58 nascido. Mas você não pode voltar. Laura existiu. Sua memória não pode ser destruída, e
4:16:04 Twin Peaks está cambaleando sem ela. Esse é outro paradoxo: A série não pode existir
4:16:10 e ser apagada da existência se o mistério de Laura nunca tiver existido em primeiro lugar.
4:16:15 “O passado dita o futuro.”
4:16:18 O que acontece a seguir é melhor entendido se primeiro entendermos quem Diane realmente é.
4:16:28 Depois que a cópia de Diane é morta, Tammy Preston entende que ela era uma tulpa
4:16:33 Aquilo era uma tulpa de verdade.
4:16:35 E, a propósito, assim que entendemos isso, essa história de Diane chega a um fim e
4:16:39 não sobrou nenhum mistério nela, então nós ouvimos o vento literalmente escapando dela enquanto
4:16:44 O MISTÉRIO SAÍ DE DIANE ela desaparece. O que é uma tulpa? Diabo que eu sei. A melhor descrição que pude achar é
4:16:53 que a tulpa é um amigo imaginário, de alguma forma, senciente. Ele sabe que é imaginário
4:16:59 e tem sua própria personalidade. Ele vive na sua cabeça, e você pode se comunicar com
4:17:03 ele como se fosse uma pessoa separada. Alguém me deu o exemplo do Wilson, de O Náufrago,
4:17:08 se Wilson não fosse uma bola de vôlei e só estivesse na mente de Tom Hanks. Se essa for uma péssima
4:17:14 descrição, eu não ligo.
4:17:15 Agora, pelo que eu entendo, tulpas não são clones manifestados externamente que outras pessoas
4:17:20 conseguem ver e interagir, então o clone de Diane que o Sr. C criou em Twin Peaks:
4:17:25 A Temporada 3 tecnicamente não é uma tulpa... ou ela é? Twin Peaks já está dentro de nossas próprias
4:17:33 cabeças, um sonho que é o produto de assistir TV. Quem era Diane na série original? Nosso
4:17:40 representante transmitia seus pensamentos sobre o caso para Diane através de gravações de fita. Ele
4:17:44 levantava suas ideias e tinha conversas inteiras através do gravador com essa
4:17:49 pessoa que nós nunca vimos. Nós podíamos apenas imaginá-la como um ser separado, senciente.
4:17:56 Parece com uma tulpa para mim. Diane é e sempre foi a tulpa da audiência. Agora,
4:18:02 NÃO PODEMOS IMAGINAR A TULPA DE OUTRA PESSOA Twin Peaks era o sonho de David Lynch, então só ele sabia como ela poderia se parecer,
4:18:08 sabiam como ela poderia estar respondendo Cooper.
4:18:11 PODEMOS IMAGINAR NOSSA PRÓPRIA TULPA EM NOSSO SONHO Mas a Temporada 3 é o nosso sonho, então a Diane
4:18:15 da Temporada 3 é a tulpa que nós manifestamos e podemos ver no nosso próprio sonho.
4:18:21 A VERDADEIRA DIANE O Sr. C esconde a verdadeira Diane dentro de uma pessoa diferente, uma que ele cegou, e que, portanto,
4:18:26 não pode assistir TV e compartilhar o sonho conosco. Ela está presa na prisão dessa identidade.
4:18:33 Ele faz uma cópia da Diane que acha que é a verdadeira Diane para o propósito do mal. As
4:18:38 mensagens de texto que ele manda para ela são a nova forma de gravação de fita. Mas já que agora
4:18:42 estamos na nossa versão imaginária de Twin Peaks,
4:18:44 NOSSA TULPA PODE SE COMUNICAR CONOSCO EM NOSSO SONHO ela pode responder sobre como está o progresso da investigação.
4:18:49 Ele está esperando pelo momento climático no final, em que o FBI acha o Cooper bom em Las Vegas,
4:18:55 a hora da conclusão, no ponto que a cópia maligna de Diane deve matar os investigadores.
4:19:02 A TULPA É A NOSSA PRÓPRIA CÓPIA IMAGINADA DE DIANE Diane é essa projeção mental do que achamos que é a Diane, e o mundo em que ela
4:19:07 A TEMPORADA 3 É NOSSA PRÓPRIA CÓPIA IMAGINADA DE TWIN PEAKS é uma projeção mental do que achamos que o novo Twin Peaks dever
4:19:11 compararmos a tulpa que a Diane é com Twin Peaks, poderemos ver que assim como com
4:19:18 Diane, o Sr. C esconde a bondade de Twin Peaks dentro de uma pessoa diferente, uma que está afastada
4:19:23 e incapaz de se comunicar. Está trancada na prisão dessa identidade. A nova e maligna série
4:19:29 acha que é o Twin Peaks real (que é autoconsciente e sabe que é imaginário), mas
4:19:34 é o equivalente à tulpa de Diane, uma cópia que criamos dos nossos cérebros podres para
4:19:39 o propósito do mal. Enquanto assistimos, esperamos pelo momento climático no final, quando o
4:19:45 FBI acha o Cooper bom em Las Vegas, a hora da conclusão, ponto em que a
4:19:50 cópia maligna de Twin Peaks mata nossas almas com o desfecho.
4:19:55 Dessa forma, Diane represente o próprio Twin Peaks. Como podemos confirmar isso? Vamos seguir com isso
4:20:03 e aplicar a uma cena diferente. Uma relação entre dois mundos criou a série
4:20:09 original, um belo sonho com uma mensagem de amor de Twin Peaks para nós. Nós irrevogavelmente
4:20:15 mudamos a série quando nos enfiamos nossas caras estúpidas exigindo explicações.
UMA NOITE... SEM BATIDA, SEM CAMPAINHA... Uma noite… Sem batida, sem campainha... 4:20:24.533, 4:20:28.533 A AUDIÊNCIA SÓ ENTRO
4:20:20
a tão feliz em ver ele...
4:20:28 ELES SÓ QUERIAM EXPLICAÇÕES. Ele só queria saber sobre o que estava acontecendo no escritório.
4:20:33 EU SENTI COMO SE ELES ESTIVESSEM ME INTERROGANDO... Eu senti come se ele estivesse me interrogando...
4:20:35 E explicações nós conseguimos. Conseguimos do nosso jeito... Nós fizemos o que queríamos com a série e pegamos o que
4:20:44 queríamos… A relação entre os dois mundos se tornou forçada. Nós nos forçamos para dentro da
4:20:52 série para conseguir a resposta para o mistério de Laura Palmer.
4:20:56 DIANE: Ele me ********... Ele me ********...!
4:21:00 Na Temporada 3, conseguimos nosso desfecho, estamos conseguindo o Twin Peaks que achávamos que
4:21:06 queríamos. O que achamos ser a verdadeira série que amávamos, a que se foi há tanto
4:21:10 tempo, finalmente pôde retornar às telas ou é o que achamos. O que imaginávamos ser
4:21:17 a verdadeira Diane que Cooper amava, aquela que se foi há tanto tempo, finalmente pôde retornar
4:21:22 às telas… ou é o que achamos. Olhe como estamos felizes de ter nossa série de volta!
4:21:29 Exceto que isso não é real. Costumava ser o verdadeiro Twin Peaks, mas agora que tivemos nosso
4:21:35 OVOS DE IDEIAS PODRES final, ele se tornou uma tulpa que criamos dos ovos de ideias podres nas nossas cabeças podres.
4:21:41 Esse tempo todo, nós só copiamos superficialmente o que a série original estava dizendo
4:21:46 para nós e cuspindo de volta de forma estúpida e tingida de sangue.
4:21:51 O bom joe, heim, Dougie?
4:21:54 IMITAÇÃO DE TWIN PEAKS! O bom joe.
4:21:57 Cabelo Vermelho e unhas pretas e brancas igual o Lodge! Uma imitação de Twin Peaks é igual à série de Twin
4:22:02 Peaks, certo? Errado.
4:22:04 Que ***** tem de errado com você?
4:22:06 Que ***** tem de errado com você?
4:22:09 Quando o Cooper bom volta para a caixa de TV vazia, ele emerge do tubo que está colado em
4:22:13 uma seção de metal da parede que parece um forno crematório, completado com fios arrumados
4:22:18 de forma que parecem rodinhas de caixão. Twin Peaks está surgindo das próprias cinzas cremadas depois
4:22:24 de ter sido consumida pelo fogo da violência consumível. Depois de ser mandado de volta ao forno
4:22:30 e banido para o Campo Unificado,
4:22:31 O VERDADEIRO TWIN PEAKS ele encontra a Diane que não reconhece em uma grande
4:22:35 O MAUSOLÉU DAS NOSSAS MEMÓRIAS sala de pedra… Esse é o mausoléu da mente em que Twin Peaks foi enterrado.
4:22:41 AS IDEIAS DE TWIN PEAKS ENTERRADAS COM A SEÉRIE O gerador movido a ideias que Phillip Jeffries vai parar é localizado nesse mausoléu – a
4:22:47 que alimentam Twin Peaks estão tão velhas e mortas quanto a série.
4:22:51 Quando começamos a Temporada 3, queríamos ir direto para aquele encontro climático. “Twin
4:22:55 Peaks voltou! Precisamos do nosso desfecho!” Então nós queremos voltar para a TV através das
4:22:59 EPISÓDIO 15 linhas de energia via tomada n° 15 – o Episódio 15 é onde Cooper ganha um desfecho,
4:23:07 lembra de quem ele é vai na tomada, que é o começo do fim. É cedo
4:23:12 demais para isso, esse é apenas o Episódio 3. Nosso amado amigo, Twin Peaks, nos avisou que
4:23:18 TWIN PEAKS NOS AVISA SOBRE O DESFECHO ir direto ao retorno e ao desfecho significa morte certa. Naido aperta um interruptor
4:23:27 e nos manda um pouco de volta no tempo para a tomada n° 3 para emergirmos no episódio
4:23:33 correto. Se você não conseguiu me acompanhar, eu não tenho ideia de como te ajudar.
4:23:40 O DESFECHO ESTÁ TENTANDO CHEGAR NA MEMÓRIA DE TWIN PEAKS Enquanto tudo isso está acontecendo, a Mãe de todo o mal/Judy/desfec
4:23:44 porta tentando entrar no lugar de descanso na mente de Twin Pekas para destruir a série de uma vez
4:23:49 por todas. Mas ela não consegue entrar em nossas memórias. A memória de Twin Peaks vai permanecer intacta
4:23:59 para sempre.
4:24:01 Nossa projeção do que Twin Peaks deveria ser reside no mausoléu do Episódio 15,
4:24:05 mas o mausoléu do Episódio 3 abriga Ronette Pulaski, creditada como a “Garota Americana”. Laura Palmer
4:24:12 era a Garota Americana original, mas esse é o Twin Peaks que criamos depois de termos
4:24:17 abandonado Laura Palmer, e a única outra garota Americana envolvida no assassinato
4:24:21 no Twin Peaks real era Ronette Pulaski. Sem Laura Palmer, Ronette toma seu lugar.
4:24:28 Agora, antes de voltar à tomada do Episódio 3, a cabeça flutuante do Major Briggs nos
4:24:33 lembra da rosa azul…
4:24:36 Rosa azul.
4:24:38 ... e então nós vemos a rosa azul ao lado da tomada, em cima de uma mesa. Nesse ponto,
4:24:44 SOBRAM ALGUNS MISTÉRIOS NO EPISÓDIO 3 ainda há alguns mistérios sobrando na série. Quando chegamos no Episódio 15, a série já
4:24:49 ISSO É REALMENTE TWIN PEAKS...? se transformou completamente em ideias podres, e é por isso que a Diane aprisionada toma
4:24:55 o lugar de Ronette e a rosa azul está desaparecida.
4:24:58 NÃO SOBROU NENHUM MISTÉRIO NO EPISÓDIO 15 No Episódio 15, todos os traços da série antiga se foram, substituídos por nossa série falsa.
4:25:05 QUE ANO É ESSE? Agora, algumas coisas vão mudar.
4:25:15 Depois do assassinato de Laura Palmer ter sido apagado da história, a série parece resetar.
4:25:20 Essa é segunda vez que isso aconteceu. A primeira vez foi lá no começo,
4:25:24 quando o mistério ainda estava vivo. “Você pode ir embora agora.” Última chance de deixar
4:25:30 o mistério intacto. “Quando posso ir?” Não estamos entendendo, então continuamos assistindo.
4:25:35 Laura desaparece, nós desviamos o olhar, e nos acomodamos para sonhar o nosso próprio Twin Peaks,
4:25:41 um que vai nos dar o que sempre quisemos no clímax. Não quer dizer que nada disso foi
4:25:45 real – isso aconteceu. Twin Peaks sempre foi um sonho, nós apenas substituímos pelo nosso.
4:25:51 Quando o nosso acabar, a série reseta novamente e nós vemos a realidade de Twin Peaks voltar
4:25:56 para nos mostrar o que fizemos com a série na realidade. Tudo que acontece depois
4:26:01 desse ponto é uma recapitulação do que acabou de acontecer no nosso sonho falso.
4:26:06 NOSSO SONHO ACABOU Agora, nós voltamos ao Dale Cooper real, original, mas ele já viu e aceitou a escuridão através do nosso
4:26:12 ATRAVÉS DA TEMPORADA 3 NÓS ILUMINAMOS A ESCURIDÃO sonho de desfecho. O Sr. C voltou para dentro. Cooper agora tem o bem e o mal d
4:26:18 em equilíbrio e pode sair da Sala Vermelha com sua própria vontade... Mas o dano já foi
4:26:23 feito. Judy já venceu, e o desfecho deve acontecer.
4:26:28 Nós deixamos o limbo em que estivemos por vinte e cinco anos para voltar à floresta da TV, onde
4:26:33 acharemos o verdadeiro Twin Peaks que conhecíamos e amávamos.
4:26:36 É você mesmo?
4:26:39 Sim.
4:26:40 Nós dirigimos o veículo antigo de volta às “corujas”, de volta às linhas de energia, tentando botar a
4:26:45 série de volta à TV. Porque nós acabamos de assistir toda a temporada, a conexão de intuição de Cooper
4:26:51 conosco diz a ele que Twin Peaks pode ser diferente quando retornar para a televisão...
4:26:56 Quando cruzarmos, tudo pode ser diferente...
4:26:58 ... e Twin Peaks corcorda que pode não ser uma ideia tão boa.
4:27:02 Apenas reflita nisso, Cooper.
4:27:04 Mas nós vamos cruzar mesmo assim.
4:27:07 Cooper dirige o veículo através de algum tipo de portal entre dois mundos, onde a infame e perturbadora
4:27:11 cena de amor entre Cooper e Diane acontece. O que está acontecendo aqui? Eles estão
4:27:16 se movendo de mundo para mundo – eles estão entre mundos. Essa é uma “relação entre dois mundos”.
4:27:24 MUNDO REAL Cooper nos representa na vida real,
4:27:27 MUNDO TELEVISIVO e Diane representa Twin Peaks no mundo televisivo –
4:27:30 esse é a “relação entre os dois mundos” entre os dois mundos, simbolizando
4:27:35 o retorno de Twin Peaks às ondas de ar. Nós pensamos que voltar ao nosso caso de amor
4:27:40 restauraria o sonho, mas essa relação está apagando a série da existência...
4:27:46 Exceto, Twin Peaks ainda existe no passado. Podemos assistir o passado a qualquer hora na TV.
4:27:53 Estará para sempre lá no mundo televisivo, se repetindo do sonho de Cooper para a realidade de Cooper e de volta,
4:27:59 TWIN PEAKS AINDA ESTÁ EM ALGUM LUGAR POR AÍ e é por isso que podemos ver Diane na floresta do passado televisivo.
4:28:04 Nós ainda deixamos uma cópia manufaturada de qualquer memória boa que pudemos ter tido, se tivemos, na
4:28:09 memória manufaturada da cópia manufaturada do sonho que foi a Temporada 3.
4:28:14 A TEMPORADA 3 AINDA ESTÁ EM ALGUM LUGAR POR AÍ Isso também ainda é uma versão de Twin Peaks que está no passado, mas na TV para a
4:28:19 se repetindo do Cooper saindo da Sala Vermelha para a série resetando de volta à Sala Vermelha para
4:28:23 poder sair novamente. Mas agora, depois que nossa relação entre mundos destruiu a série, nós nos mudamos
4:28:29 para um mundo onde Twin Peaks não existe mais, e o único lugar em que ele não existe
4:28:36 é for a do mundo televisivo no presente...
4:28:40 ESSA É A REALIDADE DA VIDA REAL e é aí que nós acordamos depois do nosso sonho destrutivo,
4:28:44 na realidade real do presente, onde não há pessoas como Cooper,
4:28:49 Laura, ou Diane.
4:28:50 COOPER NÃO EXISTE DE VERDADE Cooper se torna alguém chamado Richard.
4:28:53 Richard?
4:28:54 Veja se consegue adivinhar o porquê (dica: é porque nós acabamos de destruir o futuro de
4:28:58 Twin Peaks para nossos filhos).
4:28:59 LAURA NÃO EXISTE DE VERDADE Laura se torna uma estranha chamada Carrie Paige...
4:29:03 Carrie Paige.
4:29:04 ... para nossa consternação.
4:29:06 Carrie Paige?
4:29:07 Isso mesmo.
4:29:08 MARY REBER, A VERDADEIRA DONA DA CASA DOS PALMER E a casa de infância de Laura agora está ocupada pelo dono da vida real da casa da
4:29:14 ESSA É A REALIDADE DA VIDA REAL Casa dos Palmer. Cristo, eu imagino o porquê.
4:29:17 DIANE NÃO EXISTE DE VERDADE Diane vira essa tal de Linda...
4:29:19 Linda?
4:29:21 TULPAS NÃO EXISTEM DE VERDADE ... e ironicamente volta a ser uma tulpa, uma consciência imaginada de outro.
4:29:26 No motel intermediário, ela está ocupando o espaço entre os mundos onde ela se torna
4:29:31 essa outra tal de Linda da vida real, então nesse momento, ela é as duas pessoas ao mesmo tempo.
4:29:37 DIANE É TANTO PERSONAGEM QUANTO AUDIÊNCIA Quando se assiste assistindo ela mesma, ela é simultaneamente a pessoa da vida
4:29:42 real que assiste TV e a personagem que está sendo assistida na TV.
4:29:47 COOPER É NOSSA PERSONAGEM, NÓS SOMOS A AUDIÊNCIA Dale Cooper, por outro lado, não vê uma cópia dele mesmo no motel. Ele é a gente,
4:29:53 “nós” que está na TV enquanto nós continuamos sendo o “nós” que está assistindo a nós mesmos na TV.
4:29:59 Durante “a cena”, Diane faz todo o trabalho, enquanto Cooper meio que só assiste ela fazer.
4:30:05 NÓS ASSISTIMOS TWIN PEAKS É claro. Ele é a gente, e nós estamos assistindo TV. Só assistindo. Diane cobre o rosto de Cooper
4:30:11 e começa a chorar. Agora, tem a interpretação válida de que ela não aguenta olhar
4:30:16 para ele porque ele é o homem que se forçou nela, e ele fez isso. Nós fizemos... e nós meio que estamos
4:30:22 fazendo isso de novo… Mas há outra razão, e é a que Cooper está se tornando
4:30:28 quem ele é na realidade real – o espectador no mundo real. O Agente Cooper é apenas a gente assistindo
4:30:36 a série através do poder da câmera, e Diane, sendo uma personagem de TV, é incapaz
4:30:42 de ver o rosto da vida real do Agente Cooper, assim como Gordon Cole não conseguia no seu sonho
4:30:48 da realidade.
4:30:50 Cooper estava lá, mas eu não consegui ver seu rosto.
4:30:54 Nós estamos lá no sonho através do poder de assistir, mas eles não conseguem ver isso.
4:30:58 Personagens de TV não conseguem ver a audiência assistindo a elas.
4:31:02 DIANE NÃO CONSEGUE VER NOSSOS ROSTOS Sim, Diane não aguenta ver o rosto do seu agressor,
4:31:05 e ela também é compelida a não ver porque personagens de TV literalmente não conseguem.
4:31:12 Uma vez que cruzamos para o mudo real, ainda estamos cientes da ironia de estarmos assistindo
4:31:17 o mundo real na TV e ainda precisamos de um representante na série, então Cooper se lembra e
4:31:22 mantém sua identidade de Cooper, mesmo que Cooper não exista na vida real e agora
4:31:28 nós estamos assistindo a um Twin Peaks que não existe. Essa é a série que colocamos no ar – uma Twin Peaks
4:31:34 não-existente. O veículo antigo que dirigimos se foi. Esse Cooper é menos do que nós lembramos
4:31:40 dele porque ele não é mais uma caricatura de TV. Café não é combustível
4:31:46 investigativo, é só café. Nada para ficarmos animados. Ele causa dano no nome do bem – de alguma forma
4:31:51 ele está em equilíbrio, porque, na vida real, nós não podemos nos dividir em bom e mau. Todos
4:31:56 temos a capacidade para ambos dentro de nós.
4:31:59 Ao longo do episódio final, nós fazemos o mesmo que fizemos durante toda a Temporada 3,
4:32:04 tanto como nossos representantes na série quanto como espectadores fora da série assistindo – nós
4:32:10 tentamos fazer Twin Peaks existir em um mundo onde ele não existe. Imitações de Twin Pekas! “A cafeteria
4:32:18 de Judy, igual a Judy da série! Um cavalo braço, igual ao que a Sarah Palmer
4:32:23 viu! Ooh, aquele cara meio que parece com Bob, né? Carrie Paige diz que não é Laura Palmer,
4:32:28 mas ela tem que ser! O nome da mãe dela é Sarah!”
4:32:30 Sa- Sarah...?
4:32:31 “Tinha uma página perdida do diário – Carrie Paige deve ser a “página [Paige soa como página] perdida”, certo? Sacou?
4:32:39 Chalfont e Tremond!"
4:32:40 Chalfont. Uma Sra. Chalfont.
4:32:43 Alice. Alice Tremond.
4:32:45 “Eu lembro desses nomes de quando assisti à série!”
4:32:48 Mas lembranças de Twin Peaks não fazem Twin Peaks. O contexto não está lá para nada disso. Nós
4:32:55 não conseguimos ver e abertamente nos recusamos a aceitar que Twin Peaks se foi. Nós o trouxemos de volta
4:33:01 à casa e tentamos forçá-lo a ser o que já foi só para podermos arrancar o desfecho
4:33:06 desse corpo morto, e isso matou a série de novo.
4:33:14 Que ano é esse?
4:33:15 “Que ano é esse?” É 1990 novamente, quando o mistério de Twin Peaks ainda estava vivo? “É
4:33:19 o futuro ou o passado?” Nenhum dos dois. Twin Peaks morreu no passado, e esse não é o futuro
4:33:25 de Twin Peaks. Laura Palmer é Twin Peaks, mas esse não é Twin Peaks e essa não é Laura
4:33:31 Palmer... só que nós ainda estamos assistindo TV, esse é Twin Peaks, e essa é Laura Palmer...
4:33:37 ou, pelo menos, o que sobrou deles em nossas memórias. Quando ela grita, o que nós
4:33:42 vemos é um eco do que aconteceu no primeiro episódio: não apenas a personagem, o próprio
4:33:47 conceito e memória de Laura Palmer grita em agonia, removida à força da televisão
4:33:53 mesmo que desviemos o olhar tentando prolongar o mistério. E então a série morre.
4:34:05 OLHANDO PARA O OUTRO LADO Branco dos olhos,
4:34:07 ESCURO DENTRO escuridão dentro dos nossos televisores. A energia é cortada. Nós acabamos com a nossa
4:34:13 imagem continuamente recusando que a série se foi por causa do que fizemos vinte e cinco
4:34:18 anos atrás. Dessa vez, o letreiro de Lynch/Frost é silencioso. A eletricidade não flui mais.
4:34:26 Nós matamos dois coelhos com uma temporada, e, agora, não tem nada para explicar porque não
4:34:31 sobrou nada para explicar.
4:34:34 Sombra, me leve com você pela última vez.
4:34:44 Existe uma depressão depois que a resposta é dada. É quase divertido não saber. Mas ainda
4:34:51 há uma dúvida: “Por quê?” E essa dúvida vai continuar até que a resposta final venha.
4:34:58 Então o conhecimento fica tão cheio que não sobra espaço para dúvidas.
4:35:10 Para mais Twin Perfect, se inscreva. Para nos apoiar, use o link do Patreon.
4:35:35 Até mais.

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