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LEGISLAÇÃO COOPERATIVISTA COM ÊNFASE NA LEGISLAÇÃO DO

COOPERATIVISMO DE CONSUMO

Autor (a):

RESUMO
O sistema cooperativista tem como principais objetivos a participação dos associados nas
decisões das cooperativas, igualdade e interesse pelo desenvolvimento econômico e social.
As cooperativas de crédito são instituições financeiras reguladas pelo Sistema Financeiro
Nacional (SFN), normatizadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e supervisionadas
pelo Banco Central do Brasil (BACEN), com o passar dos anos estão conquistando espaço
entre os grandes conglomerados financeiros, em vista da oferta dos mesmos produtos e
serviços financeiros, aliados ao atendimento diferenciado e benefícios atrativos. O tema
proposto tem como objeto a análise da natureza jurídica da Lei nº 5.764/71, que define a
política nacional de cooperativismo e instituiu o regime jurídico das sociedades cooperativas,
haja vista que a referida legislação tem gerado constante discussão nos meios acadêmicos,
doutrinários e jurisprudenciais, notadamente quanto a sua natureza jurídica; ou seja, se deve
ser considerada apenas lei ordinária ou lei complementar por disposição constitucional. A
metodologia de estudo desse breve ensaio teve como fonte principal de pesquisa as decisões
dos Tribunais pátrios, em virtude da escassa publicação de obras. Inicialmente, cumpre
demonstrar a essência do sistema cooperativista, sendo de conhecimento notório que as
sociedades cooperativas estruturam-se em bases de sustentação nitidamente distintas daquelas
nas quais se fixam as sociedades comerciais, e não por motivo outro estes entes especiais são
escoltados por uma norma legal específica ao cooperativismo, a Lei nº 5.764/71, devidamente
recepcionada pela Constituição Federal de 1988, e com natureza complementar, no que tange
a seus aspectos tributários, por força do art. 146, III, “c” c/c art. 174, §2º, ambos do Texto
Constitucional.

Palavras-chaves: Cooperativismo. Cooperativas de crédito. Legislação de consumo.


Desempenho
1. INTRODUÇÃO
As origens dos princípios cooperativos se confundem com a construção social.
Segundo Klaes (2015), exemplos de formas de organização cooperativas, baseadas no
trabalho e de apoio mútuo podem ser encontradas em civilizações antigas: Grécia, com
organizações chamadas “Orglonas” e “Tiasas”; Roma, com os seus “Colégios”, e os
Essênios, com as suas “colónias cooperativas”, estavam entre os povos caracterizados pela
cooperação. Contudo, foi apenas no século XIX que os primeiros povos se comprometeram a
promover a mudança social, baseada na cooperação e na partilha de riqueza, com destaque
para Robert Owen, Charles Fourier, Saint Simon e Pierre Proudhom (SANTOS, 2014).
O galês Robert Owen (1771-1858) desempenhou um papel importante no
desenvolvimento dos primeiros conceitos de cooperativismo utilizando lições que aprendeu
com a sua experiência prática na Inglaterra.
Segundo Farias e Gil (2013), o cooperativismo pode ser definido como um modo de
produção, consumo e crédito alicerçado na sociedade cooperativa, construído sobre
instituições e autorregulação. Este programa visa eliminar as injustiças sociais decorrentes
dos excessos do capitalismo, através da combinação de trabalho e capital.
Baseado na cooperação, o cooperativismo era econômico e social e procurava criar
uma nova forma de gerir a economia, baseada no trabalho e não no dinheiro; ajudando-se
mutuamente e não pela rivalidade e competição; com os valores e necessidades humanas em
vez da acumulação pessoal de dinheiro e da exploração do trabalho dos outros, pelo que se
pode dizer que o cooperativismo visa melhorar as pessoas em vários domínios: social,
econômico e cultural.
O cooperativismo também pode ser entendido como uma doutrina de cooperação e,
como tal, corporiza determinados valores, nomeadamente, segundo Farias e Gil (2013), a
solidariedade, a humanidade, a liberdade, a racionalidade, a democracia, a igualdade e a
justiça. Esses valores contribuem para o desenvolvimento sustentável e o progresso da
sociedade.
Neste sentido, baseia-se no pensamento de Sen (2014) quando defendeu a necessidade
de uma abordagem múltipla, integrada e multifacetada para a compreensão do próprio
conceito de desenvolvimento, indo além do crescimento económico. O mais recente censo
global de cooperativas realizado pelas Nações Unidas em 2018 revelou a existência de mais
de 2,6 milhões de cooperativas em todo o mundo, resultando em mais de mil milhões de
membros e clientes. O relatório também concluiu que mais de 12,6 milhões de empregos
foram criados por cooperativas, excluindo 982.400 cooperativas agrícolas na China para as
quais os dados de emprego não estavam disponíveis no momento do estudo (DAVE GRACE
AND ASSOCIATES, 2018).
No Brasil, o cooperativismo está organizado em vários ramos e em três níveis
diferentes, nomeadamente as diferentes cooperativas, com pelo menos 20 pessoas;
organizações ou federações centrais, constituídas por pelo menos três cooperativas, e
federações, constituídas por pelo menos três organizações e/ou federações centrais.
Nos estados federados, as cooperativas brasileiras são filiadas a cooperativas
governamentais, formando a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), órgão que une
e representa as cooperativas acima em todo o Brasil (Sistema OCB, 2020).
Dada a importância das cooperativas brasileiras, este trabalho questiona como as
cooperativas estão organizadas atualmente no país em termos de estrutura, legislação,
representação econômica e social. Até o momento, o objetivo geral foi comparar o modelo
cooperativo do Brasil com os da Nova Zelândia, França, Finlândia e Itália, países que
investem e se destacam pelo cooperativismo. Para atingir esse objetivo geral, este estudo tem
como objetivos específicos: descrever o modelo cooperativo brasileiro; Descrever as
principais características dos modelos de cooperação internacional acima mencionados;
comparar o modelo cooperativo brasileiro com os demais modelos aqui apresentados.

2.COOPERATIVISMO E A LEGISLAÇÃO REGULADORA: BREVE HISTÓRICO

O cooperativismo, entendido como a organização de cooperativas, é entendido como


uma organização com benefícios econômicos e sociais. Ambas são guiadas pelos princípios
orientadores tanto das organizações e cooperativas como das organizações econômicas e
sociais. Estes princípios, aceites e respeitados em todo o mundo, e implementados
principalmente através da Aliança para a Cooperação Internacional, são: participação livre e
voluntária, processos democráticos de tomada de decisão, atividade econômica dos membros,
independência e autonomia, educação e formação contínuas, cooperação com outras
cooperativas e atividades sociais.
Portanto, é importante ressaltar que as cooperativas são uma forma de organização
específica e distinta de outras estruturas organizacionais ou empresariais. Numa sociedade
cooperativa, os direitos de propriedade existem entre os proprietários do capital, ou seja,
aqueles que possuem os meios de produção, os gestores, ou seja, aqueles com autoridade para
tomar decisões, e entre os utilizadores dos serviços produzidos e fornecidos pela própria
associação, ou seja, clientes, usuários.
Portanto, as cooperativas formam grupos de interesse que, através da adesão livre e
voluntária, da gestão pragmática e democrática, visam alcançar resultados econômicos e
sociais para os seus membros. Nas cooperativas, os associados participam ativamente tanto
nas contribuições financeiras quanto na tomada de decisões, inclusive arcando conjuntamente
com todos os riscos inerentes a esse tipo de organização. O cooperativismo, promotor dos
interesses coletivos das cooperativas, tem trabalhado para fortalecer e expandir estas formas
relevantes e importantes de empreendimento econômico, social e cultural.
Diferentemente do contexto em que se desenvolveu o cooperativismo europeu, no
Brasil, embora tenha surgido incorporando alguns princípios originais, seus fundamentos
materiais não coincidiram. Nesse sentido, Misi (2013) enfatiza que:

Ao contrário do que acontecia na Europa, no Brasil a cooperação era incentivada


pelas elites agrícolas. É uma organização “de cima para baixo”, utilizada como
política de controle social e intervenção estatal. Ainda em comparação com o
cooperativismo europeu, aliás, nas zonas urbanas, devido à Revolução Industrial,
aqui desenvolveu-se mais do que nas zonas rurais, devido à forte economia agrícola,
mesmo acompanhando a industrialização do país, isto realça ainda mais as suas
características de proteção ambiental. (MISI, 2013, p.76)

Ainda temos uma lacuna muito grande entre as condições e características do sistema
cooperativo, em comparação com a realidade da Europa e do Brasil. Vale ressaltar que em
nosso país ele não está preenchido com o espírito competitivo da realidade e mudanças
positivas. No nosso país, como pensou Misi (2013) ao apresentar o pensamento de Antunes:

Aqui, as mudanças que constituem a constituição do capitalismo são, como vimos,


inseparáveis da estrutura do mundo. A exclusão das classes populares da
participação efetiva na revolução foi mantida. (MISI, 2013, p.77)

Concordamos com autores como Misi (2013), que o renascimento do cooperativismo


no Brasil teve como objetivo fundamental reduzir as tensões sociais resultantes no mundo do
trabalho, motivando os trabalhadores pelo discurso que, através do trabalho colaborativo, eles
serão capazes de alcançar comercialização em termos de concorrência com as formas
tradicionais de organização capitalista, destacando na verdade ideias liberais e uma certa
abordagem política que visa reduzir o nível de descontentamento entre os setores de menores
rendimentos da sociedade.
E isso explica o fato do cooperativismo brasileiro não ter partido de uma iniciativa
comum como na Europa. De outra forma, no Brasil a aplicação deste programa se dá por
iniciativa do empregador ou do Estado, através do Ministério da Agricultura como forma de
incentivar a produção.
No Brasil, embora a história registre que no início da República existiam histórias da
existência das primeiras cooperativas, a partir da década de 1940, sob o governo de Getúlio
Vargas, houve incentivo e constituição de cooperativas agrícolas de produção de trigo e soja.
Há autores como Saratt e Moraes (2014), que apontam para a ascensão do sistema
cooperativo nas décadas de 1960 e 1970, impulsionado pelos altos preços, especialmente da
soja, nos mercados internacionais e pelo fácil acesso ao crédito.
O marco legal começou com colaboração e cooperação no Brasil e resultou em
progresso real na lei que foi traduzido no Decreto nº 796, de 2 de outubro de 1890, e 869, de
17 de outubro de 1890, permitiram a constituição de associações cooperativas. Contudo, o
Decreto-Lei nº 979, de 6 de janeiro de 1903, passou a tratar diretamente das atividades
cooperativas.
A adaptação desta lei ocorreu apenas em 1932 com o Decreto nº 22.239 de 19 de
dezembro de 1932 que, segundo Bugarelli, é considerada a primeira lei que passou a incluir
os princípios originais de Rochdale, e forneceu os fundamentos necessários para a promoção
da independência e do desenvolvimento do movimento cooperativo, com base na definição
de cooperativa contida em seu art. 24. Note-se que este tipo de lei foi alterado muitas vezes
até ser abolido pelo Decreto n.º 59, de 21 de novembro de 1966.
No que concerne à orientação legal das cooperativas, a Lei nº 5.764/71, no art. 4º,
determina em que consistem as empresas cooperativas e estabelece, em termos gerais, a
forma e o estatuto jurídico que podem adotar, bem como as características que as distinguem
das demais sociedades e, no seu artigo 5º, observa-se que existe alguma liberdade na
definição do seu objeto, que pode incluir um serviço, atividade ou obra, aqueles iniciados
para apoiar vários tipos de trabalhos diferentes de cooperativismo no nosso país.
Vale ressaltar que os métodos da cooperativa são determinados considerando a
atividade econômica que é objeto de avaliação da cooperativa. A classificação teórica das
cooperativas de trabalho é diferente, no entanto, para maior clareza, recorremos à seguinte
classificação de Mauad (2015): a) cooperativas de produção e serviços - onde os membros
das cooperativas possuem instalações e outros aspectos da produção ou serviços. ; b)
organizações sociais de produção – onde há vinculação produtiva de acordo com o processo
mencionado anteriormente; c) cooperativas de atividades mistas – ocorrem respectivamente a
produção de bens e a prestação de serviços; d) sindicatos - destinados a preparar os
trabalhadores para a empresa.
Art. 4º As cooperativas são sociedades humanas, com personalidade jurídica e natural,
não falidas, constituídas para atender às necessidades de seus associados, o que as distingue
das demais sociedades com as seguintes características: I - adesão voluntária, e número
ilimitado de associados membros, salvo se for tecnicamente impossível a prestação do
serviço; II - alterações nos preços das ações representadas por ações; III - limitar o número de
ações do capital de cada membro, sendo permitida, porém, a instituição de procedimento
patrimonial, se este for mais adequado à execução de objetivos públicos; IV - inacessibilidade
de grandes ações a terceiros, externos à sociedade; Mencionado acima;
Esta última categoria interessa ao nosso estudo porque cria um tipo de aliança que é
cada vez mais incompatível com a verdadeira cooperação. Cabe lembrar que novas e antigas
formas de trabalho, inclusive as cooperativas, surgiram devido a fatores relacionados às
mudanças no processo produtivo, que provocaram mudanças no mundo do trabalho por meio
da redução do trabalho e da agilização dos processos de terceirização.

É preciso esclarecer que com a promulgação da Constituição Federal em 1988,


iniciou-se uma nova fase do movimento cooperativo em nosso país com a inclusão
de muitas de suas reivindicações na Carta Magna. Outras regulamentações se
destacam, incluindo o art. 5º, XVIII, assegurando a independência das cooperativas
no capítulo que protege os direitos das pessoas físicas; arte. 174, §§ 2, 3 e 4, estão
incluídos no capítulo que trata dos sistemas económicos e financeiros que garantem
o apoio do Estado à cooperação, ao mesmo tempo que limitam a intervenção do
Estado. Esta disposição também enfatiza o reconhecimento da importância da
cooperação no desenvolvimento económico e no bem-estar do país.

Portanto, a reforma da lei cooperativa ocorreu com a nova Constituição Federal de


1988, que aprovou a Lei nº 5.764/71, retira-se apenas de disposições contrárias ou
incompatíveis com as disposições da Constituição. No que diz respeito às cooperativas de
trabalho, é importante destacar a inovação trazida pela Lei n.8.949/94, que complementa os
arts. 442 da CLT em parte, com os seguintes apontamentos: Independentemente da esfera
pública de atividade da associação, não existe qualquer vínculo laboral entre a associação e
os seus associados, nem entre a associação e os destinatários dos serviços da associação.
(CLT, 2004)
O Decreto 5.764 de 19 de dezembro de 1971 fala basicamente sobre a forma de
constituição e manutenção de cooperativas agrícolas, de crédito e de consumo, porém suas
decisões se estendem a outros tipos de cooperativas. As comunas são diferentes porque se
referem ao número de associados, ao tipo de representação e os procedimentos que precisam
ser seguidos nas reuniões. Ressaltamos que o aumento das cooperativas no país,
especialmente nas áreas urbanas, levou ao estabelecimento de cooperativas de produção e de
serviços, que começam a exigir mudanças nas regulamentações legais.

2.1.MODELO COOPERATIVISMO: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE


DIFERENTES MODELOS MUNDIAIS E O BRASILEIRO
2.1.1 O modelo cooperativista neozelandês
Segundo Garnevska, Callagher, Apparao, Shadbolt e Siedlok (2017), na Nova
Zelândia existem cerca de 1,4 milhão de membros afiliados a cooperativas, o que significa
mais de 30% da população do país com cerca de 4,5 milhões de pessoas. Existem 150
cooperativas no país e as 30 maiores cooperativas têm receitas que representam 17,5% do
PIB. A maior parte do rendimento de todo o sector cooperativo provém do sector agrícola
(65,2%), seguido do comércio grossista e retalhista (30,3%) e, em menor medida, do sector
segurador, crédito e bancário (3,4%). para outras áreas (1,1%).
O primeiro registo de cooperativas na Nova Zelândia ocorreu em 1869 com a
Southland Building, Land and Investment Association, mas foi apenas em 1984 que o país
começou a ter a Sociedade Cooperativa Nacional da Nova Zelândia. Também, representa os
interesses dos seus membros e os capacita. Garnevska et al. (2017) também apontam que as
cooperativas na Nova Zelândia possuem uma série de características comuns como valores
baseados na autossuficiência, responsabilidade, democracia, igualdade e justiça.
Além disso, destacam três fatores de sucesso nas cooperativas da Nova Zelândia: i)
pessoas, uma vez que estas organizações estão empenhadas em desenvolver e capacitar as
pessoas; ii) rentabilidade, uma vez que os modelos de negócio devem encontrar novas formas
de sustentar o crescimento num ambiente incerto e em rápida mudança; iii) o planeta, à
medida que as cooperativas colocam o impacto ambiental e social no centro dos seus
negócios para servir as comunidades e conservar os recursos naturais.
Embora o país enfrente uma série de obstáculos, como fronteiras geográficas, terras
limitadas, terreno montanhoso e subsídios à produção limitados, a Nova Zelândia ainda se
destaca pela força e eficiência do seu sistema de produção. Uma grande contribuição para
este desenvolvimento é dada pelas cooperativas. O caso da Cooperativa Fonterra, o maior
processador de leite do mundo, é um exemplo disso. Com cerca de 10.500 produtores, ao se
unirem podem reduzir a concorrência entre cooperativas, reduzir custos, criar novos
relacionamentos e podem investir em novas pesquisas para seus produtos (SIQUEIRA,
BARROS, MELOR & GAMA, 2012).
Legalmente, as cooperativas da Nova Zelândia estão sujeitas à Lei n.º 24 de 1996
(Nova Zelândia, 1996), que descreve algumas das principais disposições abaixo. A
participação nas sociedades cooperativas ocorre por meio de cotas, sendo necessárias duas
cotas para formar uma cooperativa, com pelo menos dois associados. Um grupo de membros
deve ter pelo menos 60% de membros comerciais, o que significa que devem fornecer bens
ou serviços à cooperativa ou mesmo realizar transações comerciais com a cooperativa. Por
fim, a distribuição dos resíduos ocorre frequentemente em relação à participação de cada
membro da organização (GARNEVSKA et al., 2017).

2.1.2 O modelo cooperativista francês


Coop FR é uma organização que representa o movimento cooperativo francês.
Fundada em 1968, conta com cerca de 23 mil cooperativas filiadas, que juntas empregam
mais de um milhão de trabalhadores. As cooperativas em França são de natureza regional e
cerca de 73% das sedes das associações estão localizadas fora de Paris (Coop FR, 2020).
De acordo com o Conseil National des Chambres Régionales de L'économie Sociale
de França (2015), o modelo de cooperação empresarial é aplicado em vários campos em
França, com 70% das atividades bancárias de retalho, 40% do setor alimentar e 30% do setor
varejista, desenvolvido por atividades comerciais realizadas por cooperativas nacionais. Além
disso, mais de um terço da população é membro de cooperativas e, em 2016, as receitas
destas organizações totalizaram 317 milhões de euros, cerca de 14% do PIB francês.
O primeiro modelo de movimento cooperativo na França foi criado em 1838
(Salatino, 2017) por Michel-Marie Derrion, seguidor do intelectual Saint Simon. A
organização se chama Le Commerce Véridique et Social e suas atividades são voltadas ao
consumo, à semelhança de um supermercado. Vale ressaltar que a França também se destaca
por possuir a maior cooperativa do mundo, o Groupe Crédit Agricole, que atua no setor
bancário.
A lei que orienta as questões cooperativas em França chama-se Regulamento das
Cooperativas, publicado em 1947. O primeiro artigo da lei enfatiza que as cooperativas
devem ser fundadas por pessoas que se unem voluntariamente para trabalhar em conjunto,
para satisfazer necessidades econômicas ou sociais.
Quanto aos recursos acumulados da associação, este valor deve primeiro ser
transferido para o fundo de reserva para que este possa garantir o desenvolvimento da
associação e dos seus associados (Benefícios 47-1775, 1947). Quanto ao número mínimo de
associados para constituir uma cooperativa em França, a lei geral estipula um mínimo de dois
associados, no entanto, dependendo do ramo de atividade ou da forma jurídica, este número
pode variar e em alguns casos pode ser obrigatório, um mínimo de sete membros (Coop FR,
2020).

2.1.3 O modelo cooperativista finlandês

De acordo com a Pesquisa Cooperativa Global (Dave Grace and Associates, 2014), a
economia cooperativa representa 14% do PIB do país e emprega cerca de 60.850 pessoas, o
equivalente a 1,12% da população. E de acordo com este relatório, as cooperativas do sector
agrícola e alimentar têm um rendimento anual total de mais de 15 mil milhões de dólares, e as
cooperativas e o sector dos seguros têm mais de 18 mil milhões de dólares. As pessoas
também participam ativamente em cooperativas. Fora do setor de seguros, existem mais de 7
milhões de membros, representando mais de 100% da população. Esta situação ocorre porque
os membros da comunidade podem aderir a cooperativas em diversas áreas.
Cracogna, Fici e Henrÿ (2013) relatam que cerca de 85% dos finlandeses adultos são
membros de pelo menos uma cooperativa. A lei que orienta e regulamenta as atividades das
cooperativas na Finlândia é a Lei nº 1. 247/1954, posteriormente alterada pelas Leis
1488/2001 e 421/2013. Podemos ver uma grande relação entre o modelo cooperativo
finlandês e a comunidade empresarial tradicional.
O primeiro artigo da Lei 247/1954 explica que a finalidade das cooperativas é apoiar
as atividades econômicas e financeiras dos seus associados porque esta atividade utiliza
recursos públicos. Quanto à filiação, a lei permite que indivíduos, comunidades e
organizações (pessoas jurídicas) o façam e define um número mínimo de três membros para
formar um sindicato.
A primeira cooperativa do país foi fundada em 1899 por Hannes Gebhard (1864-
1933) e recebeu o nome de Federação Cooperativa Finlandesa Pellervo (Bijaoui, 2017).
Inicialmente, esta organização prestava serviços para fins comerciais, mas o Coop Pellervo
Center (denominação atual) tornou-se um órgão representativo das organizações cooperativas
essencialmente vocacionadas para o “desenvolvimento de atividades cooperativas”. e
elevação psicológica da população em “saúde e bem-estar. (PELLERVO, 2018).
O Centro também direciona interesses entre organizações parceiras. Em termos de
valores, as cooperativas finlandesas baseiam-se em dois grupos de valores básicos e de ética.
Para eles, a autossuficiência, a autossuficiência, a democracia, a igualdade, a justiça e a
solidariedade são importantes. Também se baseiam em princípios éticos, como honestidade,
abertura, responsabilidade social e cuidado com os outros (PELLERVO, 2020).

2.1.4. O modelo cooperativista italiano


Na Itália, de acordo com o Censo Global de Cooperativas (Dave Grace et al., 2014),
existem 80.533 cooperativas com 26.388.505 membros. De acordo com o Instituto Europeu
de Investigação sobre Cooperativas e Empresas Sociais (EURICSE), em 2008, o rendimento
das cooperativas representava 10% do PIB nacional. Em 2011, as cooperativas empregavam
mais de um milhão de pessoas, colocando o país em terceiro lugar entre 145 países, entre as
regiões que empregam mais pessoas em relação à população total (Dave Grace and
Associates, 2014).
As principais definições legais relacionadas ao funcionamento das cooperativas
encontram-se no Código Civil do país, em especial no Título VI (Decreto Regional nº 262, de
1942). O artigo 2.522 da referida lei estipula que são necessários pelo menos 9 associados
para formar uma cooperativa. No que diz respeito aos valores cooperativos, segundo a
Legalcoop, membro da Aliança Cooperativa Italiana e que representa mais de 90% de todas
as cooperativas italianas, os principais valores são: democracia, igualdade, compatibilidade,
geração intergeracional (oportunidades para as gerações futuras), abertura, solidariedade,
responsabilidade social e educação/formação/conhecimento (Legacoop, 2010).
As principais definições legais relacionadas ao funcionamento das cooperativas
encontram-se no Código Civil do país, em especial no Título VI (Decreto Regional nº 262, de
1942). O artigo 2.522 da referida lei estipula que são necessários pelo menos 9 associados
para formar uma cooperativa. No que diz respeito aos valores cooperativos, segundo a
Legalcoop, membro da Aliança Cooperativa Italiana e que representa mais de 90% de todas
as cooperativas italianas, os principais valores são: democracia, igualdade, compatibilidade,
geração intergeracional (oportunidades para as gerações futuras), abertura, solidariedade,
responsabilidade social e educação/formação/conhecimento (LEGACOOP, 2010)
Esta organização é o resultado de uma iniciativa coletiva de organizações de
inspiração republicana, liberal e democrática. Assim, a AGCI, historicamente mas
consistentemente, é uma das três principais Associações Nacionais que representam, apoiam,
defendem e avaliam o Movimento Cooperativo, sendo uma organização sem fins lucrativos,
liberal e independente para promover a divulgação, consolidação, integração e
desenvolvimento. do Movimento, respeitando os princípios da democracia, da harmonia e dos
interesses comuns da economia do país.

2.1.5.O modelo cooperativista brasileiro

O Brasil, de acordo com o Anuário Brasileiro do Cooperativismo 2019, publicado


pela Organização Brasileira de Cooperativas (Sistema OCB, 2019), tinha aproximadamente
14,6 milhões de associados em 2018. As cooperativas dos setores agrícola e de saúde têm a
maior participação de mercado em termos de receita operacional. causando danos ao PIB do
país, representando 64% e 26% respectivamente. Vale ressaltar que o faturamento das
cooperativas em 2018 foi de 259,9 bilhões de reais, representando cerca de 3,8% do PIB total
do país no mesmo ano (6,8 trilhões de reais).
Em 2018, segundo esta organização, o Brasil contava com 425.318 trabalhadores
sindicalizados. Em 1889, foi fundada a primeira cooperativa brasileira, associada ao setor
agropecuário, a Cooperativa Econômica dos Servidores Públicos de Ouro Preto. E segundo a
OCB, as cooperativas brasileiras são baseadas em valores humanos, que incluem com
destaque: solidariedade, responsabilidade, democracia e igualdade (Sistema OCB, 2020).
As cooperativas brasileiras são regidas por leis nacionais, que regulamentam as
parcerias, como a Lei Geral das Sociedades Operacionais 5.764/1971 e a correspondente Lei
130/2009, que regulamenta o sistema de crédito, entre muitas outras leis. A Lei Geral das
Cooperativas exige que as cooperativas tenham pelo menos vinte pessoas e permite a
admissão de pessoas coletivas desde que cumpram determinados requisitos. No Brasil, existe
uma organização que reúne cooperativas de todos os setores, que é a Organização
Cooperativa Brasileira – OCB. É uma entidade independente que representa jurídica e
politicamente o sistema nacional, mantendo apoio geral, orientação e outros serviços de
interesse do Sistema Cooperativo.
O cooperativismo no Brasil, como organização, busca autonomia e independência,
apesar de sua presença onipresente, mantendo laços e relações estreitas com o Governo. Os
limites e fronteiras entre os dois lados são por vezes confusos. De uma forma geral, a
cooperação que surgiu no país destacou-se através da discussão, ou seja, as cooperativas não
surgiram como outros métodos económicos mas como uma estratégia para promover o
desenvolvimento, especialmente nas zonas rurais. A formação de cooperativas aumentou
durante o período de desenvolvimento (após 1950) e de ditadura (após 1960). Portanto, nesse
período, o estabelecimento e a organização de cooperativas passaram a ser incentivados pelo
governo central como forma de fortalecimento, principalmente do desenvolvimento agrícola.
No entanto, as pessoas organizaram-se em cooperativas como forma de
autossuficiência. As primeiras cooperativas organizadas foram cooperativas de consumo em
1887 e 1889, bem como cooperativas de trabalhadores dos setores público e privado. A
primeira cooperativa agrícola foi fundada por vinicultores do Rio Grande do Sul em 1902, a
partir das ideias de Raiffeisen, trazidas por um padre jesuíta da Suíça.
Também na década de 1960 houve um forte desenvolvimento das cooperativas. Têm
um papel importante como planeadores da segurança social, pois respondem às necessidades
sociais, de saúde e de segurança social; O sistema coordenado de segurança social do
Governo já não existe. O estabelecimento e o desenvolvimento de cooperativas ocorreram de
forma independente até o início da década de 1960.
Com o golpe de 1964, ocorreu uma intervenção deliberada em todo o sistema
cooperativo brasileiro, com medidas de controle das finanças, das relações cooperativas,
permitindo a abertura de novas cooperativas, estabelecimento de cooperativas mistas, entre
muitas outras medidas. A partir de 1971, a cooperação tornou-se uma ferramenta para o
desenvolvimento rural, a expansão do capitalismo no campo, através da promoção da
cooperação no agronegócio. Na década de 1970, as cooperativas agrícolas duplicaram de
tamanho e sua participação no comércio exterior aumentou 45% em apenas três anos, e sua
participação no valor total das exportações do Brasil foi de cerca de 5% (SEIBEL, 2013).
A situação da participação do Estado brasileiro nas cooperativas mudou
significativamente a partir de 1988, quando com a nova constituição os princípios da
autogestão cooperativa foram reiniciados e consolidados. Atualmente, no Brasil existe uma
diversidade de cooperativas em todos os campos e setores da economia, que são organizações
que não apenas participam da vida econômica, mas também participam da vida social e
política, porque operam com a ideia de incorporar a participação e democracia.
No Brasil, a estrutura das cooperativas é piramidal, ou seja, todos os ramos das
cooperativas são reunidos a partir do centro das cooperativas nacionais e provinciais, o que
pode considerar os objetivos da cooperativa como locais, além do seu tipo econômico. Vale
ressaltar que o registro e a participação em cooperativas governamentais são obrigatórios por
lei, conforme consta na lei das cooperativas de 1971.
Quanto à distribuição das cooperativas nas regiões do Brasil, percebe-se que cerca de
60% estão localizadas nas regiões Sudeste e Sul. Com base nos dados da OCB (2005), de um
total de 7.518 cooperativas, existem 1.429 cooperativas nos estados do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e Paraná e 2.949 nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e
São Paulo. . Isto realça a configuração económica específica destas regiões, não no sentido de
uma cultura de cooperação, mas porque o agronegócio nestas regiões se baseia na
cooperação. Esse fato pode ser constatado quando se compara o número de cooperativas com
o número de cooperados e empregados das cooperativas desses estados.
No Brasil, no que diz respeito aos campos de cooperação, percebe-se uma
considerável diversidade interna, ou seja, as cooperativas estão organizadas em setores muito
diversos, desde agricultura, bancos e serviços. No entanto, na área das reformas, isto não está
claro. No sector agrícola, tanto o número de cooperativas como o número de associados e
trabalhadores são elevados. Duas outras áreas elegíveis para o crédito são o emprego. Ambos
têm um grande número de membros, o que mostra que são motivados por ajudar uns aos
outros e trabalhar para os próprios membros. Deve-se enfatizar que um setor menos
importante, o da habitação, pode valer a pena ser encorajado, uma vez que a escassez de
moradia no Brasil quase leva ao colapso social e demonstra um alto nível de exclusão social,
altos rendimentos e também baixa qualidade de vida.
Uma característica relacionada do cooperativismo brasileiro refere-se ao fato de que
as cooperativas se tornaram importantes empregadores. Com base nos dados publicados pela
OCB (2005), pode-se dizer que em 1995 as cooperativas recrutaram 116 mil pessoas e em
2005 recrutaram cerca de 200 mil pessoas, o que representa um aumento de 42% em 10 anos.
Além disso, o número de membros aumentou quase ao mesmo ritmo, para 3.554.000 em
1995 e 6.791.000, o que significa que em dez anos ambos quase duplicaram.
A auditoria de cooperativas por uma empresa fora do sistema cooperativo ou
cooperativo não é exigida por lei, e as organizações estatais não têm esse recurso legal nem a
oportunidade de uma gestão adequada. Contudo, o DENACOOP (Departamento Nacional de
Cooperativas), vinculado ao MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento),
como órgão do governo federal que tem como objetivo principal apoiar, promover e
incentivar as cooperativas e organizações rurais do Brasil a realizarem auditorias nas
cooperativas quando eles recebem serviços financeiros.
O Cooperativismo é muito popular no Brasil. Esta observação pode ser feita quando
se considera tanto o aumento do número de cooperativas como o número de cooperados e
trabalhadores na cooperativa. À medida que a sua importância económica e social aumentou,
tornou-se uma forma relevante de negócio.
Os tipos de cooperativas que mais cresceram foram as trabalhistas e as rurais,
representando não uma estagnação económica visível devido aos processos modernos e à
fragmentação contínua, mas um padrão marcado de desenvolvimento por conflito,
semelhante a formas de trabalho. marcada pela antiguidade, como no caso das cooperativas
de trabalho, acompanhada de desenvolvimentos tecnológicos modernos, como no caso das
empresas do agronegócio. Colocada no contexto da sociedade brasileira, a colaboração está
agora em foco.
Para tanto, apresenta-se a seguir um quadro comparativo com os principais tipos e
características entre os modelos internacionais considerados neste estudo e o modelo
brasileiro.

Quadro 1- Comparativo entre diferentes modelos cooperativos mundiais e o brasileiro

ITENS NOVA FRANÇA FINLÂNDI ITÁLIA BRASIL


COMPARA ZELÂNDIA A
TI VOS
Legislação Cooperative Estatuto Leis Código Civil Lei Geral
principal Companies cooperativo - 1488/2001 e de 1942 (a das
Act 1996 Lei nº 47- 421/2013 partir do Cooperativas
(Ato nr. 1775 de 10- Título VI, 5764/1971 e
24/1996) 09-1947 artigo 2511) Lei
Complement
ar 130/2009
Órgãos Cooperative Coop FR Pellervo Confederaçã Organização
representativ Business Coop Center o das das
os New cooperativas; Cooperativas
Zealand Liga do Brasil
nacional das
cooperativas
e Associação
geral de
cooperativas
italianas
Ano de 1869 1838 1899 1850 1889
criação da
primeira
cooperativa
Setores Agropecuári Agropecuári Agricultura/ Trabalho e Agricultura e
cooperativos oe o e bancário alim entos e Seguros Saúde
de maior Atacado/Var Seguros (saúde)
faturamento ejo (saúde)
Números de 1,4 milhão 27,5 milhões 7,5 milhões 26,3 milhões 14,6 milhões
membros (30% da (41% da (85% da (43% da (6,9% da
cooperados população) população) população) população) população)
Números de 50.000 1.258.659 60.850 1.042.490 425.318
empregos pessoas pessoas pessoas pessoas pessoas
gerados
Faturamento 20% do PIB 14% do PIB 14% do PIB 10% do PIB 3,8% do PIB
Anual (aproximada (aproximada (aproximada (aproximada (aproximada
(relação me nte) men te) men te) mente) mente)
PIB)
Principais Autoajuda, Democracia, Autoajuda, Democracia, Solidariedad
valores responsabilid solidariedade autoconfianç igualdade, e,
ad e, , a, mutualidade, responsabilid
democracia, responsabilid democracia, intergeracion ade,
equidade e ade , igualdade, alidade, democracia e
igualdade serviços justiça, abertura, igualdade.
justos, solidariedade solidariedade
proximidade, , ,
transparência honestidade, responsabilid
, abertura, ade social e
sustentabilid responsabilid educação/for
ade ade social e mação/i
cuidado com nformação
os outros
Número 2 2 3 9 20
mínimo de
membros
Ano de 2017 2018 2016 2016,2017, 2018
referência 2018
dos dados

Fonte: Elaborado pelo (a) autor (a) (2024)

2.2 A NATUREZA JURÍDICA DA LEI Nº 5.764/71: BREVE REFLEXÃO

No Brasil, as cooperativas são regidas pela Constituição nacional, pelo novo Código
Civil e pela Lei nº 12. 5.764/1971 (Lei das Cooperativas). Descrevem as principais regras que
regem o modelo cooperativo brasileiro. Uma cooperativa é uma comunidade de pessoas, com
estatuto e características jurídicas próprias, independentemente da finalidade de utilização:

A Lei nº 5.764/71 visa diferenciar a Política Nacional de Cooperação, estabelecendo


assim o regime jurídico dessas comunidades, para que, de acordo com a lei do
Supremo Tribunal Federal, o disposto no art. 146, III, “c”, da Constituição Federal
não menciona a lei correspondente, ressaltando que a mesma não foi publicada até o
momento, fato que nos leva a concluir que a Lei nº 146, III, “c”. A Lei 5.764/71 foi
adotada pela Carta Magna de 1988 com força de lei geral (conforme promulgada
originalmente), o que permitiu sua alteração por outra lei de caráter geral.

Como se pode verificar, o disposto no art. A Lei nº 79 5.764/71, ao definir legalmente


o comportamento cooperativo, a disciplina é realizada “entre as cooperativas e seus
cooperados, entre cooperativas e cooperativas quando atuam em conjunto”. De acordo com as
disposições legais acima mencionadas, as leis cooperativas podem ser elaboradas pelas
cooperativas e pelos associados ou vice-versa. Aplicando conceitos da Constituição,
chegamos à conclusão de que o direito do art. 146, III, “c”, da CF/88 tem aplicabilidade
limitada, mas tem efeito imediato e é vinculante para o legislador.
Barros (2009, p. 64), ao analisar as normas do art. 146, III, “c”, da CF/88, nos termos
do art. 174, §2º, da Constituição, enfatiza:

Alguns gostariam de rejeitar esta proposta não como uma disciplina, mas apenas
como um plano. A linguagem do bom direito não cria planos, é utilizada para atos
escritos, é uma linguagem que transmite instruções que devem ser cumpridas.
Contudo, apesar de existir uma disposição expressa na Constituição Regional sobre
a obrigação de cumprimento da lei correspondente para controlar a boa gestão da
actividade cooperativa, até à data não existe tal lei, daí este problema. controlada
pelo legislativo geral (Lei nº 5.764/71).

Dado que esta lei correspondente ainda não foi publicada, a Lei 1 nº 1.5.764/71
permanece em vigor, tendo sido aceita pela Constituição Federal de 1988 como lei de caráter
geral, no entendimento do Tribunal. pelo Exmo. O Ministro José Delgado enfatizou a
seguinte citação: A validade das restrições merece ser apreciada, antes de tudo, como um
entendimento ao que foi dito na Constituição Federal de 1988, que reconhece claramente as
contribuições da cooperação dentro do país.
A análise da mensagem constitucional com foco nesse aspecto é construída
primeiramente pelo disposto no art. 146, III, da referida Carta Magna, ao estipular
de forma clara e contundente que a Lei Correspondente é responsável por:
“deficiências”; III – estabelecer regulamentação geral de direito tributário,
especialmente nesta matéria: c – administração tributária plena das atividades
cooperativas desenvolvidas pelas organizações cooperativas.

Apesar da existência do requisito constitucional acima referido, a Lei correspondente


ainda não foi redigida, o que significa que o tratamento fiscal especial e adequado das
atividades cooperativas desenvolvidas por organizações cooperativas continua a ser regido
pelas leis gerais promulgadas durante o período anterior. Carta Magna que recebeu. Este
veículo comum visa definir a Política Nacional de Cooperação, estabelecendo o regime
jurídico destas comunidades.
O estatuto jurídico das cooperativas vem da própria Constituição Federal, no Capítulo
IV – art. 192, VIII - dispõe que “o sistema financeiro nacional, organizado de forma a
promover o desenvolvimento equitativo do país e a responder ao interesse público, será
regido pelas leis correspondentes, que também o regulamentarão: VIII - as atividades de
crédito cooperativo e exige condições e estruturas operacionais específicas para instituições
financeiras.” Esta posição foi revista pelo Supremo Tribunal Judicial e pelo Tribunal Distrital
do Primeiro Distrito, que de outra forma:

As cooperativas são instituições financeiras e sua atividade cooperativa é


comparável ao BACEN, que possui claras limitações em suas atividades, o que o
distingue não apenas de outras cooperativas, mas também de outras cooperativas e
outras instituições financeiras, incluindo a arrecadação de contribuições
previdenciárias. (REsp nº 645.459/MG, Ministro competente Luiz Fux, DJ de 29 de
novembro de 2004)

Porém, dado que nenhuma disposição da Constituição é inválida, parece-nos que a


Constituição pretendeu deixar mais claro ao legislador que a “ação cooperativa” tem um
tratamento favorável benéfico de alguma forma, esse é o único entendimento que julgamos
adequado . . Agradecemos os seus comentários, especialmente sobre o tratamento benéfico,
que achamos que deveria ser incluído no texto da nossa Carta Magna. Para outros, a
legislação fiscal deveria ser alterada, pois estas organizações, de formas inusitadas,
distinguindo-as das empresas com fins lucrativos, comerciais e de câmbio, exigem um
imposto separado, baseado no princípio da igualdade.
Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal ao considerar a Injunção nº. 701, não vê a
relevância da Lei nº 7. As ações cooperativas, regidas por certas regras gerais, regem a
tributação das cooperativas. Vale ressaltar que o referido ordenamento jurídico não é
considerado equivocado, pois, embora a lei correspondente tenha sido estipulada no art. 146,
III, “c”, da Constituição Federal de 1988, ainda não foi publicado, a matéria é regida por uma
série de leis gerais, os conflitos com a Constituição devem ser contestados por ação
inconstitucional direta.
Diante do exposto, consideramos que o Direito Cooperativo possui leis naturais
distintas (empresarial e tributária), e estas não se complementam (embora tenha sido adotado
pela Constituição Federal em 1988). regulamentado não inclui a administração tributária
eficaz associada às atividades cooperativas desenvolvidas por empresas deste tipo.

2.3 LEGISLAÇÃO DO COOPERATIVISMO DE CONSUMO: BREVES


CONSIDERAÇÕES

O Cooperativismo de Consumo é uma forma de organização cooperativa que visa


atender às necessidades de consumo dos seus associados. No Brasil, as Sociedades
Cooperativas estão reguladas de maneira geral pela Lei n.º 5.764, promulgada em 16 de
dezembro de 1971. Essa lei estabelece o Regime Jurídico das Sociedades Cooperativas e
define as condições para o ingresso de pessoas que desejam utilizar os serviços prestados por
essas organizações. Para se tornar um cooperado, é necessário concordar com os propósitos
sociais da cooperativa e atender aos requisitos estabelecidos em seu estatuto.
O cooperativismo surge como outra forma de dominar os interesses individuais sobre
os interesses coletivos e públicos. Ele propõe um modelo de produção em que o excedente,
em vez dos salários, fosse dividido entre um grupo de cooperados, evitando o confisco do
excedente pelos empresários capitalistas. Desde a Revolução Industrial, um segmento de
movimentos sociais tem procurado desenvolver estratégias para derrubar o sistema
capitalista, e a cooperação é um desses métodos.
Além disso, o Estado brasileiro desempenha um papel importante na constituição e
gestão de cooperativas. A política de cooperação nacional é definida pela Lei nº 5.764 e a
cooperação é considerada uma das formas únicas de alcançar o desenvolvimento nacional. A
relação entre cooperação e economia solidária também é importante para o desenvolvimento
econômico do país
Em suma, uma cooperativa de consumo é um tipo de organização que visa atender às
necessidades de seus associados e sua regulamentação no Brasil foi estabelecida pela Lei nº
1. 5.764 de 1971.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cooperativismo apresenta-se como uma forma alternativa de organização que


pretende ser democrática, participativa e equitativa, ao contrário dos exemplos de capitalismo
associado à acumulação e crescimento de capital. A investigação mostra que, em regiões com
mais sistemas cooperativos, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é
significativamente mais elevado do que noutras regiões.
Acredita-se que esta situação pode ser explicada pelos valores éticos e pelos valores
humanísticos sustentados pelo modelo cooperativo, o que tem impacto no desenvolvimento
económico, social, cultural e psicológico dos intervenientes participantes. Portanto,
compreender os padrões mundiais e o seu desenvolvimento é uma parte importante do
desenvolvimento sustentável dos países.
Nesse contexto, o Brasil ainda tem um vasto campo para o desenvolvimento em
muitos aspectos do cooperativismo. Embora as cooperativas dos países utilizados como
referência para este estudo contribuam entre 10% e 20% para o PIB de seus países, no Brasil
isso corresponde a cerca de 3,8%. Por outro lado, os principais valores éticos humanitários e
cooperativos estão presentes no discurso de todos os países estudados, que apontam para um
direcionamento comum de objetivos quanto ao desenvolvimento das atividades desta
organização.
Foram encontradas diferenças estruturais entre os países. Na maioria dos países,
incluindo o Brasil, existe apenas uma associação nacional que reúne todas as cooperativas
existentes, enquanto na Itália as cooperativas podem trabalhar com uma das três associações.
Este aspecto pode ser bom, porque uma federação de cooperativas pode facilitar o acesso ao
mercado, a organização e gestão da indústria em geral, mas também pode ser mau, porque
esta unidade cria uma “concorrência” em busca de desenvolvimento.
Sabe-se que uma das contradições que existiam na relação com os sindicatos era que
estes se distanciaram das propostas originais da intelectualidade do início do século XIX,
principalmente pela sua proximidade com o movimento do sistema capitalista moderno.
Porém, percebe-se que, de acordo com as legislações de outros países e os princípios básicos
apoiados pelas organizações, há comprometimento e esforço para preservar as características
originais das organizações cooperativas.
As limitações deste trabalho se devem à acessibilidade dos dados do cooperativismo
global e à disparidade entre anos de dados obtidos, o que pode dificultar a comparação das
informações. Sua contribuição se caracteriza por uma análise exploratória e sistemática do
tema. Por exemplo, pesquisas futuras poderiam aprofundar a gestão dos cooperados nos cinco
modelos organizacionais, e modelos de produção do Brasil e dos países estudados.

REFERÊNCIAS

BARROS, Mário da Fonseca Fernandes. Das sociedades cooperativas: perante o direito


comercial brasileiro. Baía: Imprensa Vitória, 2009.

BIJAOUI, I. SMEs in an era of globalization: international business and market


strategies. Springer Nature.2017.

BRASIL. Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de


Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras
providências.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


CFB.Brasil.1988.

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CRACOGNA, D., Fici, A., & Henrÿ, H. (Eds.) International handbook of cooperative law.
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OCB – ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS. Critérios para a


identificação da cooperativa de trabalho. 2020.

FARIAS, C. M., & Gil, M. F. Cooperativismo. Rede e-Tec Brasil. Saraiva.2013.

GARNEVSKA, E., Callagher, L., Apparao, M. D., Shadbolt, N., & Siedlok, F. The New
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Klaes, L. S. Cooperativismo e ensino a distância. (Tese de doutorado, Universidade Federal
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SANTOS, C. A. dos. Cooperativa de crédito – Série empreendimento coletivos


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