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Avaliação Psicológica: da teoria às aplicações – Capítulo 2

pg. 44-57

Elaboração de documentos escritos com base em avaliação psicológica: cuidados


técnicos e éticos

1 – Contextualizando a avaliação psicológica


O texto contextualiza a avaliação psicológica como um campo de destaque na
Psicologia, fundamentado em conhecimentos, práticas, técnicas e instrumentos.
Destaca-se historicamente na formação e consolidação da profissão, sendo recorrente
em diversos contextos, da academia à prática profissional. A avaliação psicológica é
requisitada para subsidiar decisões, reduzir dúvidas e compreender comportamentos,
potencialidades e traços de personalidade. Essa prática envolve procedimentos
técnicos e implicações éticas, sendo influenciada pelo aspecto político, embora esse
aspecto tenha sido pouco discutido.
O autor reflete sobre o contexto em que a avaliação psicológica é realizada,
questionando a neutralidade dos instrumentos utilizados e a intenção por trás de sua
aplicação. Destaca-se a importância de uma análise crítica por parte do profissional,
considerando o contexto social e político em que está inserido. O texto sugere três
possíveis abordagens para a realização consciente da avaliação psicológica: seguir as
demandas da sociedade, recusar intervenções aviltantes ou utilizar instrumentos
construídos a partir de pesquisas científicas, complementando com a formação teórica
e a experiência profissional.
A avaliação psicológica também é discutida no contexto da formação do psicólogo,
questionando o espaço dedicado a essa área na formação acadêmica. Apesar disso,
percebe-se que a avaliação psicológica tem ganhado importância no cotidiano
profissional dos psicólogos, sendo compreendida como um processo integrativo que
envolve diferentes fontes de informação, incluindo testes psicológicos, entrevistas,
observações e análise de documentos.
O texto destaca a importância de diversos recursos técnicos na avaliação psicológica,
incluindo entrevistas, dinâmicas de grupo, vivências, jogos, entre outros. Esses
recursos são considerados imprescindíveis, pois contribuem para uma avaliação mais
abrangente e completa dos fenômenos psicológicos. Além disso, são destacados
quatro elementos essenciais para configurar o campo da avaliação psicológica como
processo: o objeto (fenômenos ou processos psicológicos), o campo teórico (sistemas
conceituais), o objetivo visado (fazer diagnósticos, compreender e avaliar a prevalência
de determinadas condutas) e o método (condição para conhecer o que se pretende
avaliar).
O texto ressalta que a integração dessas informações deve ser ampla para alcançar os
objetivos pretendidos pela avaliação. É enfatizado que não se recomenda a utilização
de uma única técnica ou instrumento, e sim uma variedade de métodos para obter um
resultado mais consistente. Segundo as orientações do Manual de Elaboração de
Documentos decorrentes de avaliações psicológicas, instituído pela Resolução n.°
007/2003 do Conselho Federal de Psicologia, a avaliação psicológica é um processo
técnico-científico de coleta, estudo e interpretação de informações sobre fenômenos
psicológicos, utilizando estratégias psicológicas, métodos, técnicas e instrumentos.
A dimensão ética da avaliação psicológica é destacada como fundamental, pois define
o propósito, os objetivos e a forma como é realizada. A ética coloca em questão o
impacto social e as consequências da prática profissional, especialmente quando se
trata de avaliação psicológica, cujos resultados podem ter um grande impacto na vida
das pessoas avaliadas. A reflexão sobre o compromisso social do trabalho psicológico e
a convivência com sua dimensão ética são essenciais para garantir a qualidade e a
responsabilidade da prática profissional.
O capítulo 2 do livro "Avaliação Psicológica: da teoria às aplicações" destaca a
importância da qualidade técnica, ética e política das avaliações psicológicas. Não
basta apenas garantir a eficácia técnica; é essencial também assegurar o caráter ético
do trabalho. A ética é fundamental, pois reflete o reconhecimento social da profissão e
é crucial para uma Psicologia mais crítica, comprometida e qualificada no futuro.
Um aspecto importante da qualidade das avaliações é a confecção dos documentos
escritos decorrentes delas. Muitos questionamentos têm surgido em relação à
produção escrita dos psicólogos. Esses questionamentos muitas vezes se formalizam
como denúncias aos órgãos de classe, evidenciando problemas éticos que podem estar
presentes na construção dos documentos, como tendenciosidade, falta de
fundamentação e conclusões precipitadas.
Os documentos em questão incluem laudos, relatórios e pareceres técnicos, nos quais
são formalizados os resultados das avaliações psicológicas. Problemas éticos
relacionados a esses documentos são comuns e exigem atenção, pois refletem
diretamente na qualidade e na credibilidade da prática profissional. Assim, é
fundamental cuidar da qualidade técnica e ética na elaboração desses documentos,
considerando suas implicações nas decisões e no reconhecimento da profissão.
O texto levanta uma reflexão interessante sobre a relação entre a avaliação psicológica
e o documento resultante dela. Embora o problema ético frequentemente não esteja
na própria avaliação psicológica, mas sim no documento que a formaliza, é importante
considerar que esse documento é uma expressão direta do resultado da avaliação.
O documento, seja um laudo, um relatório ou um parecer técnico, é onde a avaliação
psicológica se concretiza e é disponibilizada para uso. É nele que as conclusões,
interpretações e recomendações decorrentes da avaliação são registradas e
comunicadas. Portanto, é através desse documento que a avaliação se torna acessível
e utilizável para o usuário do serviço, a pessoa avaliada.
O texto sugere que, se o usuário deseja questionar ou se queixar do processo de
avaliação psicológica, é muito provável que ele o faça com base no que está
oficialmente registrado no documento. Afinal, é esse documento que representa a
avaliação e suas conclusões de forma tangível e oficial. Assim, a qualidade ética e
técnica da elaboração desses documentos é crucial não apenas para a credibilidade da
profissão, mas também para garantir que a avaliação seja compreendida de forma
precisa e justa pelos envolvidos.
Comunicações dos resultados na avaliação psicológica: documentos escritos
A comunicação dos resultados de uma avaliação psicológica é uma tarefa que nem
sempre é fácil para o psicólogo, especialmente quando não há orientação suficiente
sobre como fazê-la e qual terminologia utilizar em cada tipo de documento específico.
Em resposta a essa demanda dos profissionais, o Conselho Federal de Psicologia
instituiu a Resolução CFP nº 007/2003, que aborda princípios norteadores,
modalidades de documentos, conceito, finalidade, estrutura, validade e guarda dos
documentos.
A redação de um documento deve ser clara e objetiva, utilizando-se de linguagem
profissional e correlação adequada das frases. A Resolução CFP 007/2003 apresenta
três modalidades de documentos: Declaração, Atestado e Relatório ou Laudo
Psicológico.
A Declaração tem como finalidade informar sobre situações objetivas relacionadas ao
atendimento psicológico, como comparecimento do atendido, acompanhamento
psicológico ou informações sobre condições do atendimento. Nesse tipo de
documento, não devem ser registrados diagnósticos, sintomas ou estados psicológicos
do avaliando, apenas a finalidade específica para a qual o documento foi solicitado.
O Atestado certifica uma determinada situação ou estado psicológico, justificando
faltas ou impedimentos, avaliando a aptidão para atividades específicas ou solicitando
afastamento ou dispensa do solicitante. De acordo com a Resolução CFP nº 015/1996,
é atribuição do psicólogo emitir atestado psicológico para licença saúde, desde que
haja diagnóstico psicológico comprovado indicando a necessidade de afastamento. Os
registros devem ser contínuos, sem parágrafos, e emitir um atestado falso é
considerado crime.
O Relatório ou Laudo Psicológico é o documento mais complexo e completo,
possuindo caráter de investigação científica. Ele apresenta uma descrição detalhada
sobre situações ou condições psicológicas, suas determinações sociais, históricas,
políticas e culturais, pesquisadas durante o processo de avaliação psicológica. Deve
conter a identificação do sujeito, a descrição da demanda, os procedimentos adotados,
a análise dos resultados e a conclusão, fundamentados em dados colhidos e analisados
à luz de instrumental técnico e referencial teórico e científico.
A estrutura para elaboração de documentos como relatórios, laudos e pareceres
psicológicos é fundamental para garantir clareza, precisão e objetividade na
comunicação dos resultados da avaliação. Aqui está um resumo dos elementos
essenciais de cada tipo de documento:
Relatório ou Laudo Psicológico:
Identificação: Deve conter os nomes e CRPs dos profissionais envolvidos, o nome do
solicitante (Justiça, empresa, cliente, escola, etc.) e o motivo do pedido.
Descrição da demanda: Narração das informações referentes à problemática,
incluindo motivos, razões, expectativas e justificativa do procedimento adotado.
Descrição dos procedimentos: Estrutura dos encontros, recursos e instrumentos
utilizados, coerentes com a complexidade da demanda.
Análise: Exposição descritiva metódica, objetiva e fiel dos dados colhidos, baseada em
fatos e teorias, com clareza, exatidão e precisão.
Conclusão: Exposição dos resultados da avaliação, respostas ao solicitante sobre sua
demanda, sugestões de projetos e encaminhamentos. A linguagem técnica deve ser
evitada, tornando o documento acessível a técnicos e leigos. O documento deve ser
datado e assinado, circunscrito no tempo.
Parecer:
Identificação: Nome do parecerista e do solicitante.
Exposição dos motivos: Objetivos da consulta, quesitos ou dúvidas levantadas.
Análise: Análise detalhada da questão, com argumentos fundamentados na ciência
psicológica.
Conclusão: Posicionamento do psicólogo em relação às dúvidas ou quesitos contidos
no caso.
O parecer se diferencia do relatório ou laudo por sua estrutura mais reduzida e focada,
sendo mais indicativo ou conclusivo e apresentando uma resposta esclarecedora a
uma pergunta específica.
O documento destaca a importância de garantir a confidencialidade dos resultados
quantitativos das provas e das produções gráficas realizadas pelas pessoas avaliadas,
pois são considerados materiais clínicos e confidenciais. Esses dados não acompanham
os documentos como relatórios, laudos ou pareceres, mas podem ser anexados em
textos científicos sobre o diagnóstico apurado ou discutidos na seção de discussão do
laudo.
A Resolução CFP Nº 007/2003 estabelece parâmetros técnicos e éticos para a
elaboração de documentos escritos resultantes de avaliações psicológicas. É
importante diferenciar esses documentos dos outros escritos solicitados para o
psicólogo, mas que não são resultado de uma avaliação psicológica, como declarações
e pareceres.
Uma pesquisa realizada pela Comissão de Ética do CRPSP em 2009, publicada no Jornal
Psi, revelou que muitas denúncias éticas recebidas questionavam os documentos
escritos decorrentes de avaliações psicológicas. Os principais pontos questionados
foram a falta de fundamentação, ausência de dados, parcialidade, uso de jargões,
conclusões divergentes, entre outros.
Diante desses questionamentos, é crucial buscar parâmetros técnicos e éticos para
elaborar documentos escritos de forma adequada e pautada na ética profissional. É
essencial considerar o objetivo do atendimento, estabelecer um contrato de trabalho
consensual, definir claramente a metodologia do trabalho, explicitar o objetivo do
documento, garantir sua redação clara e concisa, e resguardar o caráter confidencial
das comunicações.
Além disso, é importante consultar legislações específicas da profissão, como as
Resoluções do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que orientam o profissional em
relação à elaboração de documentos decorrentes de avaliações psicológicas, entre
outras questões relacionadas à prática profissional.
A devolutiva dos resultados é uma parte essencial dos serviços prestados pelo
psicólogo. O Código de Ética do Psicólogo destaca que é responsabilidade do
profissional informar os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos,
transmitindo apenas o necessário para a tomada de decisão que afeta o usuário ou
beneficiário, além de orientar sobre os encaminhamentos apropriados e fornecer os
documentos pertinentes quando solicitado.
Essa prática já estava regulamentada em diferentes contextos, como na avaliação
psicológica para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação e em concursos
públicos, onde a devolutiva pode ser facultativa, dependendo da solicitação do
candidato.
Porém, a devolutiva pode ser uma tarefa complexa, pois vai além de simplesmente
transmitir os resultados do processo de avaliação psicológica. É necessário considerar a
demanda inicial do atendimento, que pode estar relacionada a diversas áreas de
atuação profissional, como clínica, organizacional, educacional, entre outras.
É fundamental utilizar uma linguagem adequada na devolutiva, adaptando-a ao
público-alvo. Por exemplo, ao fornecer feedback entre colegas psicólogos, pode-se
usar termos técnicos, enquanto ao compartilhar informações com outros profissionais,
deve-se resguardar o caráter confidencial e fornecer apenas as informações
relevantes.
Em diferentes contextos, como em avaliações judiciais, escolares ou de recrutamento
e seleção, é necessário adaptar a devolutiva às necessidades específicas, respeitando
sempre o sigilo profissional e evitando causar danos aos envolvidos.
O exemplo apresentado destaca a importância de fundamentar teoricamente o
trabalho do psicólogo e garantir sua qualidade técnico-científica. Emitir documentos
sem fundamentação e qualidade técnica, interferir na validade de instrumentos
psicológicos ou fazer declarações falsas são práticas vedadas pelo Código de Ética.
Em suma, a devolutiva dos resultados em avaliações psicológicas deve ser realizada
com cuidado, respeitando os princípios éticos e técnicos da profissão, garantindo a
clareza, objetividade e qualidade das informações transmitidas.
O capítulo ressalta que a qualidade das avaliações psicológicas não se limita apenas à
utilização de técnicas apropriadas. Garantir a eficácia técnica também implica
assegurar o caráter ético do trabalho, uma vez que a ética é uma dimensão
fundamental dessa prática profissional.
O reconhecimento social da psicologia nos desafia a manter uma prática ética e
comprometida. Portanto, pensar no futuro da psicologia de forma crítica e qualificada
requer também um cuidado constante com as questões éticas.
Em relação à validade dos documentos escritos decorrentes das avaliações
psicológicas, é fundamental considerar a legislação vigente nos casos já definidos por
lei. Quando não houver definição legal, o psicólogo deverá indicar o prazo de validade
do conteúdo emitido no documento com base nas características avaliadas, nas
informações obtidas e nos objetivos da avaliação.
A guarda dos documentos escritos e de todo o material que os fundamentou deve ser
feita pelo prazo mínimo de cinco anos, com responsabilidade tanto do psicólogo
quanto da instituição onde ocorreu a avaliação. Esse prazo pode ser ampliado em
casos previstos em lei, por determinação judicial ou quando for necessário manter a
guarda por mais tempo. Em caso de extinção do serviço psicológico, o destino dos
documentos deve seguir as orientações definidas no Código de Ética do Psicólogo.
Portanto, é imprescindível que os profissionais da psicologia estejam sempre atentos
às questões éticas, garantindo a qualidade e a validade de suas práticas profissionais.

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