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O cotidiano operário e sua mobilização política em Sorocaba

Após a Proclamação da República em 1889, o Brasil estaria sob a luz de


discursos em favor do progresso, da modernidade e do capitalismo industrial,
pautando assim, mudanças profundas na economia, na política e,
principalmente, na sociedade.

Com o fim da escravidão e da monarquia no Brasil, as influencias liberais


capitalistas europeias e estadunidenses pautaram o discurso dos políticos a
frente da recente República. A crença de que o país só se tornaria moderno,
longe do atraso monarquista, está diretamente ligada com a ideia da
industrialização, da produção de bens e de um mercado de consumo forte.

Sorocaba, a partir destes ideais, não fica isenta do restante do país e será
palco de diversos investimentos de capitalistas buscando diversificar seus
capitais, além de capitais vindo de capitalistas estrangeiros.

Diante do fim da economia baseada nos muares e com a presença da Estrada


de Ferro Sorocabana, a cidade terá como principal atividade economia a área
têxtil. Começa-se inaugurar fazendas de algodão, e posteriormente, a
construção das industriais têxteis.

Junto com a consolidação da indústria têxtil, se origina em também em


Sorocaba a mão-de-obra necessária para o funcionamento pleno desta
economia: o operariado.

Formado por homens livres nativos e também por imigrantes espanhóis e


alemães, essa camada social não irá ter uma vida fácil, como se prometia as
campanhas imigratórias ou propagandas atrativas das empresas.

Uma vez que a parcela operária era constituída por indivíduos pobres, sem
bens e somente possuidores da sua força de trabalho, seus patrões se
aproveitavam disto para os acometer em uma condição de semisservidão.

A historiografia sorocabana nos elucida que os operários sofreriam diversas


violações no cotidiano industrial. Enfrentavam, entre muitas coisas, situações
como: más condições no trabalho, longas jornadas, abusos, salários
baixíssimos, coerção, entre outras violações à sua dignidade.
Mulheres e crianças eram frequentemente usadas como mão de obra, porém,
sofriam maiores discriminações, tendo salários ainda menores e maiores
abusos.

Outro ponto de destaque da vida cotidiana destas pessoas era a sua habitação.
Na época, era comum que os capitalistas donos das fábricas construíssem ao
redor dela uma vila com casas a serem alugadas para os operários. Porém, a
vida dentro de tais vilas eram extremamente limitadas.

As vilas eram cercadas por cerca, muro ou ainda valas, permitindo o acesso
apenas por um portão, que estava sob supervisão de um porteiro ligado ao
dono das fábricas. Além disto, não havia supervisão do governo municipal
nestes lugares, uma vez que eles não eram vistos como vias/locais públicos.

Portanto, a jornada de trabalho marcada por abusos, violações e violência, não


acabava na fábrica, e se perpetuava também nas vilas. Os operários recebiam
seus pagamentos em vales a serem usados na mercearia da vila, também
pertencia a seus patrões. Os salários, que já eram baixos e não davam para
comprar a alimentação básica, ainda era descontado se o operário fosse visto
tendo algum tipo de lazer, ou cometesse alguma falha em seu serviço. Era uma
vida controlada totalmente pelo patronato.

Apesar das tentativas de se criar animosidades e diferenças entre os operários


– como por exemplo: operários brasileiros ante aos estrangeiros, melhores
condições de operários com cargos mais altos perante aos demais – a
consciência sobre sua situação foi se tornando mais sólida.

Diante da necessidade de se buscar melhores condições de vida, influenciados


por ideais anarquistas e socialistas vindas com os imigrantes, os operários irão
buscar sua unidade através de meios de comunicação, construindo o jornal
anarco-sindicalista O Operário (1909-1913), além de se estabelecerem em
ligas, organizações e sindicatos.

Porém, assim como no Brasil, as organizações e atividades promovidas pelos


operários eram fortemente reprimidas pelo aparato policial do Estado. Não
foram poucas vezes que ações aconteciam, uma vez que os jornais operários
denunciavam cada vez mais os abusos sofridos nas fábricas.
As insatisfações e as reinvindicações operárias foram se tornando cada vez
maiores. A busca por melhores condições, 8h de trabalho, maiores salários
foram as principais pautas da Greve Geral de 1917, motivada pelas constantes
violações sofridas cotidianamente pelos operários.

Neste cenário, também se destacou uma luta: a luta pela educação. A


educação não era um recurso destinado aos operários e as suas famílias. Uma
vez que grande parte das famílias trabalhavam nas fábricas em longas
jornadas, era extremamente inviável a educação nas escolas disponíveis na
cidade, que atendiam durante o horário do expediente.

Sendo assim, em 18 de setembro de 1911, mais de 700 operários se reuniram


e fundaram a Liga dos Operários de Sorocaba, que deliberou muitas pautas de
reinvindicações. Entre elas, a criação de uma escola noturna para o
operariado, com direção de Joseph Juber Revier.

Surgia assim, a esperança de uma educação adequada entre os operários.

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