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CARONE, Edgar - Resenha de Desenvolvimento da Civilização Material no Brasil
CARONE, Edgar - Resenha de Desenvolvimento da Civilização Material no Brasil
plebiscito demagógico entre falsos detalhadamente os fatos de nossa do sistema de comunicação terrestre.
lideres populares, que exploravam história política contemporânea. Num A princípio principalmente porque,
as paixões coletivas. No Brasil, o estilo elegante, suas memórias não sendo a civilização localizada na
sistema presidencial encontra-se num escondem uma certa nostalgia por um fímbria litorânea, mais fáceis e mais
verdadeiro impasse: sua coluna passado patriarcal, quebrado por seguras eram as comunicações
mestra é a liderança popular do novos valôres; ao mesmo tempo, deixa marítimas ... Depois, o latifúndio e a
Presidente; liderança popular clara a sua posição de homem liberal monocultura, na era açucareira, a
corresponde à eleição; a eleição à procura de uma democracia sem falta de trocas internas e o
direta de um presidente no Brasil, mistificações, baseada em novos insulamento econômico dos engenhos
por sua vez, provoca cada vez mais valôres morais. em nada contribuíram para melhorar
crises. Por outro lado, os caminhos ... Em seguida à era da
presidencialismo com eleição indireta, EVALDO SINTONE cana, o século do ouro ainda menos
além de ser uma farsa, provocará no contribuiu para a melhoria delas.
povo frustrações que passarão a DESENVOLVIMENTO DA Caminhos, então, só os indispensáveis,
reações só domináveis pela fôrça. Isto CIVILIZAÇÃO MATERIAL NO BRASIL pois quanto mais caminhos houvesse
na medida em que "o ato de votar mais se facilitariam os descaminhos
em um candidato à presidência Por Afonso Arinos de Melo Franco. do metal e das pedras, em prejuízo
significava um desabafo imediato, a 2. ed., Conselho Federal de Cultura, do fisco vigilante".
oportunidade de um revide contra as 1971. 168 p. il.
dificuldades da vida, ou, no No entanto, além da problemática
máximo, um anelo ínformulado de A primeira edição do livro de Afonso comum das cidades e caminhos,
melhoria particular e imediatista, Arinos é de 1944 e foi editada pelo temos a existência de outros fatôres,
desligada de qualquer visão mais Serviço do Patrimônio Histórico e como o gôsto português pela
geral ou distante". Para o autor, o Artístico Nacional; a reedição ostentação exterior e sua medíocre
agrupamento das massas atraídas transcreve o original. Apesar de não preocupação pelo confôrto interno de
somente pelo carisma demagógico ou ter pretendido atualizá-lo, continua a moradia.
pelo benefício urgente é o que a ser indispensável para o estudo de
conscientização social da era de algumas características da civilização O século XVI é aquêle em que o
Getúlio Vargas legara à liberdade brasileira. povoador ocupa grande parte da
eleitoral. faixa litorânea: o reconhecimento das
O autor não pensou em fazer estudo costas, as feitorias, as capitanias
A saída para o parlamentarismo, com exaustivo sôbre os temas que aborda, hereditárias e o Govêrno-geral são
efeito, visava especificamente a porém, a obra permanece como medidas diversas, com objetivos
resolver o problema político introdução a questões pouco abordadas únicos, isto é, povoamento das
brasileiro: nesse aspecto êle é da nossa historiografia. Como esta regiões ameaçadas pelos
negativo, pois a mudança desenvolveu mais os estudos de estrangeiros. E as inúmeras cidades
institucional não foi executada com história política, pouco sabemos de fundadas nesta centúria mostram
plena consciência do seu valor, mas nossa evolução material. I! assim que também a preocupação em fixar o
foi considerado pelo Congresso mais as conferências apresentam homem em pontos estratégicos: é
como um expediente político. O interêsse particular, pois tratam Tomé de Sousa quem abre a "nova
seu fado positivo está na saída legal cronológicamente dos problemas da fase para a civilização brasileira",
para a crise que ameaçava a população, da urbanização, do pois êle tem os "recursos mais
liberdade. povoamento, da administração, da amplos da Coroa". Assim, de maneira
comunicação, etc., fato que nos genérica, temos as fundações das
Com o parlamentarismo, o autor é permite ter uma visão geral e cidades de Salvador (1549), São Paulo
nomeado Embaixador do Brasil na conjunta dêstes fenômenos. Por {1554), São Vicente (1532), Rio de
ONU, onde vai continuar a imprimir o razões particulares, estuda êstes Janeiro (1565), Olinda {1536), Santos
mesmo tom independente à nossa fatôres por etapas: com exceção da (1546), etc.
politica externa. Mostra que com essa primeira parte, que é um apanhado
linha de ação, o Brasil ganhava genérico - fatôres primitivos, o O século XVII foi o "mais importante
prestígio e confiança português, o negro, o lndio - os da nossa história Colonial, pois nêle
internacionalmente. No entanto, do outros capítulos referem-se aos se deu a consolidação do dominio
ponto de vista interno, o Pais estava séculos XVI, XVII, XVIII e XIX. luso no litoral, com a expulsão dos
dividido pelas elites dirigentes, que invasores, e, no interior, a parte
fazem agitação e forçam a volta ao Para caracterizar o problema da decisiva da conquista do sertão".
presidencialismo. ocupação portuguêsa na época Assim é que, dentro dêste contexto,
Colonial, Afonso Arinos acentua dá-se a transformação do Recife, sob
Relata com minúcias todos os traços que representam a Mauricio de Nassau; por outro lado,
acontecimentos que deram origem ao continuidade ou descontinuidade da a Bahia, centro da ação de Portugal,
plebiscito e que possibilitaram a permanência lusa no Brasil: "a toma-se a "cabeça da Colônia".
volta ao antigo regime e mostra seu preocupação primordial dessa
pessimismo diante dos rumos política de reprodução dos modelos A defesa costeira explica, em parte, o
tomados pela política interna. reinóis foi, naturalmente, a fundação desenvolvimento urbano litorâneo. No
de povoações fixas, que viessem interior, o fenômeno é diferente: "o
Com a sua volta ao Senado, vai substituir com vantagem os pousos ciclo da caça ao fndio é
dar-nos um relato das missões móveis e precários das feitorias. essencialmente móvel. O bandeirante
estrangeiras de que participou e da Portugal queria, pois, transplantar não se fixa, não funda
sua atuação no Congresso, até a para cá as suas próprias povoações. E estabelecimentos duráveis. Penetra,
Revolução de 1964. A partir daf, o fêz com tal vigor que ainda hoje luta, encurrala o seu rebanho humano
mostra tôda a sua atuação para a êstes elementos fundamentais da e regressa com êle para o litoral".
volta do Brasil a uma política nossa civilização material, as cidades Porém, só certos núcleos ou pousadas
externa independente e de do interior, guardam, em linhas dos bandeirantes, ligados a caminhos
não-alinhamento e uma volta ao gerais, a marca poderosa dos mais permanentes, é que irão
regime democrático por meio de uma primitivos povoadores." transformar-se em cidadeS! Mogi das
Constituição que não estivesse Cruzes (1611), Taubaté (1650), Jacareí
desvinculada da nossa realidade Por sua vez, as estradas - ou (1653) e Guaratinguetá (1657)
politica, social e econômica. caminhos, como são denominadas "comandavam o avanço para as
comumente - deixam de ser Gerais; Parnalba (1625) e ltu (1657)
O livro do Sr. Afonso Arinos de Melo cuidadas, simplesmente por razões foram os trampolins do salto a Mato
Franco é importante leitura para táticas: "por vários motivos, o Grosso; Jundial e Sorocaba (1661)