Você está na página 1de 31

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A

AGROECOLOGIA

1
INTRODUÇÃO
O tema das mudanças climáticas ganhou importância mundial nos últimos anos
através dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima – IPCC
–, que indicaram fatores de ameaça à espécie humana em escala global
(VALENCIO, 2009).

PRI (2018). 2
INTRODUÇÃO

Segundo esses estudos, o setor da agricultura é considerado um dos mais


vulneráveis aos impactos de possíveis mudanças climáticas (FAO, Undated), já que
seu funcionamento é direta e altamente vinculado às condições climáticas.

3
INTRODUÇÃO
Embora as previsões indiquem que os
efeitos das mudanças climáticas sobre
a produção agrícola tenderão a variar
muito de região para região, as
mesmas indicam que estas mudanças
deverão ter grandes efeitos, e de
longo alcance, predominantemente
nos países em desenvolvimento
(CLINE, 2007), devido à
predominância da agricultura em suas
economias, à escassez de capital para
as medidas de adaptação e à
exposição elevada a eventos extremos
(PARRY et al., 2001). 4
IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NOS
ECOSSISTEMAS AGRÁRIOS
Redução da produtividade agrícola:
• Redução de até 30% das produções globais agrícolas até 2050;
• Esse fator é referente ao aumento da temperatura, alteração dos regimes de
precipitação e aumento dos eventos extremos na sua frequência e intensidade;
• Culturas mais afetadas serão trigo, milho e arroz, nas zonas temperadas e
tropicais.
(Challinor et al. 2014).

5
IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NOS
ECOSSISTEMAS AGRÁRIOS
Maior risco de destruição de biodiversidade:

Os processos de maior nível de destruição de biodiversidade terrestre ocorrem


quando há destruição de ecossistemas naturais, através da conversão para áreas de
produção agrícola.

6
IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NOS
ECOSSISTEMAS AGRÁRIOS
Os problemas fitossanitários aumentam:
• As alterações climáticas, em especial através do aumento de temperaturas,
influenciam o desenvolvimento, a reprodução, a sobrevivência e a capacidade de
deslocação e ocupação de novos territórios das diversas pragas e doenças que
afetam as culturas agrícolas;
• Nos Estados Unidos da América, o escaravelho do pinheiro, Dendroctonus
ponderosae, alterou o seu ciclo de vida e, atualmente, uma geração é produzida no
período de um ano em vez de dois e os níveis populacionais da praga aumentaram,
o que possibilitou também o aumento da incidência do fungo Cronartium ribicola
(Logan, Reniere, e Powell 2003).
7
• As infestações de besouros afetam 30
milhões de alqueires na parte
ocidental dos Estados Unidos e do
Canadá;
• A equipe de Hicke analisou dados das
florestas desses países, e estimou que
desde 1997, besouros negros já
mataram seis bilhões de árvores;
• O culpado em 63% dos casos foi o
besouro dos pinheiros das montanhas.
Para as florestas do futuro, o pesquisador Jeffrey Hicke salienta:
“Eu preferiria ser um besouro a uma árvore”.
8
IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NOS
ECOSSISTEMAS AGRÁRIOS
Escassez de água e erosão dos solos:
• Problemas com a redução da eficiência de coberturas vegetais, sendo mais
susceptível a risco de erosão dos solos, por conta da menor capacidade de
infiltração e retenção de água;
• Redução dos níveis médios de matéria orgânica e de biodiversidade no solo,
alterando a sua estrutura e diminuindo a sua resiliência (EAAFAC, 2013);
• Redução da capacidade do solo para fornecer água e nutrientes ás plantas em
momentos de escassez;
• Reduz também a capacidade de drenagem aumentando a suscetibilidade aos
fenómenos de alagamento em situações de elevada precipitação.
9
10
IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NOS
ECOSSISTEMAS AGRÁRIOS
Alteração dos ciclos culturais e vegetativos das espécies cultivadas:
• O aumento da temperatura média têm influência sobre os ciclos culturais e vegetativos
das espécies cultivadas;
• Esse fenómeno é facilmente observado quando uma espécie anual é cultivada em
estações diferentes e no mesmo local, não desconsiderando a influência de outros
fatores, além da temperatura, que também sofrem oscilações entre estações (ex: horas de
luz, disponibilidade de água, etc.);
• Como por exemplo, um campo de cerejeiras, que exige a acumulação de muitas horas de
frio durante o inverno de forma a quebrar a dormência e iniciar o seu ciclo anual, com o
aumento das temperaturas médias pode impossibilitar a produção de cerejas ou obrigar a
alterações na variedade cultivada em algumas regiões.
11
IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NOS
ECOSSISTEMAS AGRÁRIOS
Aumento da frequência e intensidade dos eventos extremos:

• Segundo o 5º relatório do IPCC, o número de eventos extremos, na forma de


ondas de calor, secas, grandes precipitações e inundações aumentaram em vários
locais do planeta em consequência da ação humana e muito provavelmente serão
mais frequentes e mais intensos no final do século XXI (Bindoff et al. 2013);

• Os impactos da maior seca que os EUA enfrentaram nos últimos 50 anos na


cultura mais importante do país, o milho, em 2012. A seca afetou 26 dos 52
Estados e 55% da área cultivada do país. Perdeu-se 30% da produção.

12
13
IMPORTÂNCIA DA AGROECOLOGIA NO CENTRO
DAS SOLUÇÕES ADAPTATIVAS
Aumentar a produção e preservar a biodiversidade:
Existem duas vias, que podem ser complementares, colaborando para o processo de
preservação da biodiversidade junto ao aumento de produção, sendo:

1) aumento da eficiência do uso de inputs (pesticidas, adubos, energia, etc.),


através de uma maior precisão na aplicação;
2) a substituição de inputs industriais por processos ecológicos (limitação natural,
fixação de azoto atmosférico, etc.).

É essencialmente ao nível da segunda via que a agroecologia pode atuar, como


ferramenta de apoio à adaptação dos sistemas agrícolas às alterações climáticas.
14
Segundo Challinor et al. (2014) as medidas de adaptação agrícola às alterações climáticas têm um
potencial para aumentar as produções, em média, entre 7% e 15% no caso das produções de trigo,
milho e arroz (Fig. 1).

Figura 1 – Esquerda: Variação da produção (Yield change) de trigo, milho e arroz, em função dos
aumentos de temperatura média (Local Mean temperature change). Direita: Variação da produção
em função das variações de precipitação. A azul estão representadas as situações em que foram
implementadas medidas de adaptação e a laranja as situações não adaptadas. Os pontos
representam as simulações individuais, as retas as médias e os sombreados delimitam intervalos
de confiança de 95%. Fonte: Challinor et al. (2014). 15
IMPORTÂNCIA DA AGROECOLOGIA NO CENTRO
DAS SOLUÇÕES ADAPTATIVAS
O processo de adaptação da agricultura às alterações climáticas pode ser realizado
em duas dimensões distintas e complementares (Challinor et al. 2014):

• Adaptação dos sistemas culturais existentes (alteração de variedades, redefinição de datas


de plantação, frequências e dotações de rega, mudanças na gestão de resíduos, etc.);

• Mudanças sistémicas (alteração de espécies cultivadas, implementação de enrelvamentos


regados, deslocalização de culturas, passagem de sequeiro para regadio, etc.);

Altieri et al. (2015) afirmam que são os altos níveis de biodiversidade reativa que
distinguem os ecossistemas agrários mais resilientes e mais capazes de se adaptar às
alterações climáticas.
16
IMPORTÂNCIA DA AGROECOLOGIA NO CENTRO
DAS SOLUÇÕES ADAPTATIVAS
Controle de problemas fitossanitários:

• Os sistemas de produção tenderão a ser mais dependentes dos inimigos naturais e


a ter menos resiliência à elevada aplicação de pesticidas;
• Os ecossistemas agrários mais complexos, com maiores níveis de biodiversidade
serão vantajosos em cenários futuros no que diz respeito ao controlo de pragas e
doenças e à redução dos consumos energéticos;
• A aplicação do conhecimento e das técnicas da agroecologia serão fundamentais,
possibilitando a substituição de muitos consumos externos por serviços de
ecossistemas locais.

17
IMPORTÂNCIA DA AGROECOLOGIA NO CENTRO
DAS SOLUÇÕES ADAPTATIVAS

Resiliência e eventos extremos:


Seguindo o caminho da agroecologia, recorrendo a técnicas como a consorciação de
culturas, as rotações, a implementação de infraestruturas ecológicas, entre outras
que aumentam o nível de biodiversidade e a complexidade do ecossistema agrário,
os sistemas agrícolas ganham maior capacidade para se adaptar e resistir às
alterações climáticas, tornando-se mais resilientes (Figura 1).

18
Figura 2 – Fotos retiradas após uma seca extrema, em 2009, na Colômbia, em Valle del Cauca. À esquerda: sistema
industrializado com monocultura para alimentação de gado; À direita: sistemas silvopastoril, regido pelos princípios da
agroecologia (Fonte: Altieri et al. 2015).

19
IMPORTÂNCIA DA AGROECOLOGIA NO CENTRO
DAS SOLUÇÕES ADAPTATIVAS
Lidar com a escassez de água e prevenir a erosão dos solos:
Em zonas áridas e semiáridas, as previsões de redução de precipitação e sua
imprevisibilidade representam um enorme desafio para a agricultura;
A prática de consorciações e rotações com o incremento da biodiversidade nas áreas
agrícolas tem provado ao longo da história ser uma boa opção estratégica em
situações onde há escassez de água, garantindo também uma melhor proteção do
solo contra a erosão;
A diversificação de plantas e a maior cobertura do solo pela vegetação, do ponto de
vista espacial e temporal, representam uma mais valia no combate à erosão,
garantindo uma maior retenção de sedimentos e melhor estrutura do solo.

20
IMPORTÂNCIA DA AGROECOLOGIA NO CENTRO
DAS SOLUÇÕES ADAPTATIVAS
Redução de inputs (insumos):

• Por meio de consorciação de plantas, onde espécies promovam a liberação de ácidos


orgânicos que permite a mobilização do fósforo;
• Uso de plantas leguminosas que em associação simbiótica com bactérias promovem a
fixação de Nitrogênio;
• Combinação de plantas de raízes profundas e superficiais, no espaço (consorciação) e no
tempo (rotação);
• Associação de fungos do solo (micorrizas) com as raízes das plantas;

A maior complexidade dos sistemas agrícolas regidos pelos princípios da agroecologia


permitem uma maior resiliência dos mesmos às alterações climáticas, necessitando de
menos consumos energéticos para a sua manutenção (Altieri et al. 2015).
21
IMPORTÂNCIA DA AGROECOLOGIA NO CENTRO
DAS SOLUÇÕES ADAPTATIVAS
Maior capacidade de resposta e adaptação por parte dos agricultores:

• Principal fator para gerar resultados positivos é começar pela mudança na


mentalidade;
• Os agricultores optarem por estratégias de manutenção da diversidade genética,
recorrendo à policultura e ao uso de espécies e variedades locais, assim como de
preservação da água e dos solos, associada à capacidade de aprendizagem e
transmissão de conhecimentos entre agricultores, no espaço e no tempo, lhes
confere uma grande capacidade de adaptação, reduzindo riscos.

22
É necessário considerar a capacidade de resiliência do sistema de uma perspectiva
sócio ecológica, isto é, considerando a sua capacidade de manter uma estrutura
organizativa e simultaneamente a sua produtividade após uma perturbação.

23
AGROECOLOGIA EM AÇÃO !

24
25
26
27
28
Considerações finais:
As imagens divulgadas nos slides anteriores representa só algumas das atividades
que são implantadas ou voltadas para a agroecologia nas pequenas propriedades
rurais;
Sendo os meios mais acessíveis ao pequeno produtor como uma forma de mantê-los
no meio rural, de gerar renda e também retirar o seu alimento;
Os temas abordados representa o quanto temos que rever nossos conceitos sobre a
vida em que levamos, se estamos agindo da forma correta, se nossas ações está
sendo consciente, e o que buscamos fazer todos os dias para colaborar com as
futuras gerações, será que suas atitudes tem sido sustentável?

29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
• Altieri, Miguel A., Clara I. Nicholls, Alejandro Henao, and Marcos A. Lana
2015 Agroecology and the Design of Climate Change-Resilient Farming Systems. Agronomy for Sustainable
Development 35(3): 869–890.
• Bindoff, Nathaniel L., Peter A. Stott, Krishna Mirle AchutaRao, et al.
2013 Detection and Attribution of Climate Change: From Global to Regional. http://pure.iiasa.ac.at/10552/(link is
external), accessed June 23, 2017.
• Challinor, A. J., J. Watson, D. B. Lobell, et al.
2014 A Meta-Analysis of Crop Yield under Climate Change and Adaptation. Nature Climate Change 4(4): 287–291.
• CLINE, W.R. Global Warming and Agriculture: Impact Estimates by Country. Center for Global Development,
Washington, DC. 2007.
• Estratégia de Adaptação da Agricultura e das Florestas às Alterações Climáticas (EAAFAC), MAMAOT 2013, 88p.
• FAO. Climate Smart Agriculture: Managing Ecosystems for Sustainable Livelihoods. Undated. Disponível em:
http://bit.ly/1cZYzIm.
• Logan, Jesse A., J. Reniere, and James A. Powell
2003 Assessing the Impacts of Global Climate Changeon Forest Pests. Frontiers in Ecology
1(3).https://works.bepress.com/james_powell/27/download/(link is external), accessed July 30, 2016.
• PARRY, M. L. et al. Millions at risk: defining critical climate change threats and targets. Global Envero. Chang 11,
181–183. 2001.
• VALENCIO, N. O Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC) diante das mudanças climáticas: desafios e limitações
da estrutura e dinâmica institucional. In: VALENCIO, N.; SIENA, M.; MARCHEZINI, V.; GONÇALVES, J. C.
Sociologia dos Desastres: construção, interfaces e perspectivas no Brasil. São Carlos: Rima Editora. p. 19-33. 2009.

30
Muito obrigada !!!
31

Você também pode gostar