A oposição cidade/campo

na obra de Cesário Verde

Para escapar à dupla limitação da cidade,
Cesário tenta encontrar uma solução social e pessoal
através de uma identificação ativa e concreta com o campo.

Helder Macedo, Nós — Uma leitura de Cesário Verde,

Dom Quixote, 1986.
Um tema fundamental da poesia de Cesário é, sem dúvida, este:
o contraste cidade-campo. […]

O contraste cidade-campo é subjacente ao texto; subconsciente,

poderia mesmo dizer-se: de quando em quando, surge, irrompe —
até que, em certa altura, quase claramente se define, na
preferência por um dos elementos. Qual deles? O campo. […]

David Mourão-Ferreira, Hospital das Letras, Guimarães Editores.

Silva Porto, Saloias (c. 1890).
 Edvard Munch,
Karl Johan ao anoitecer (1892).
 Antítese cidade/campo

Oposição essencial na construção do significado global

de várias composições poéticas de Cesário Verde.
 Cidade (polo negativo) Campo (polo positivo)

• Lado desumano • Existência marcada por um

ritmo natural, determinado
e artificial
por ciclos biológicos
• A ausência • O amor
e impossibilidade do amor como possibilidade
• Opressão e doença • Liberdade e vitalidade
• Domínio • Espaço de afirmação
da burguesia do povo e dos seus valores

A cidade é o espaço •Identificação do poeta com o

da decadência; os seus lugares
são o horizonte da «Dor humana»
(«O sentimento dum ocidental»)
povo, cujo trabalho e esforço valoriza
•Rejeição de mitos e associações
românticas — descrição do
campo na sua ruralidade concreta