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História da Educação

Prof. Julina Valentini


juliana.Valentini@ifpr.edu.br

Instituto Federal do Paraná


IFPR

Aula 3

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A emergência histórica da separação entre trabalho e
educação

No entanto, o advento da propriedade privada tornou possível à classe dos


proprietários viver sem trabalhar.
Sendo a essência humana definida pelo trabalho, continua sendo verdade
que sem trabalho o homem não pode viver. Mas o controle privado da terra
onde os homens vivem coletivamente tornou possível aos proprietários viver
do trabalho alheio; do trabalho dos não-proprietários que passaram a ter a
obrigação de, com o seu trabalho, manterem-se a si mesmos e ao dono da terra,
convertido em seu senhor.
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A emergência histórica da separação entre trabalho e
educação
O desenvolvimento da produção conduziu à divisão do trabalho e, daí, à apropriação privada da
terra, provocando a ruptura da unidade vigente nas comunidades primitivas.

A apropriação privada da terra, então o principal meio de produção, gerou a divisão dos homens em
classes. Configuram-se, em consequência, duas classes sociais fundamentais: a classe dos
proprietários e a dos não-proprietários. (SAVIANI, P. 155)

A existência de duas classes sociais fundamentais: a classe


dos proprietários e a dos não-proprietários pode ter dado
origem a formas diferentes de ensinar e aprender?

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Vamos ler...

O Egito, unanimemente reconhecido como berço comum da cultura e da instrução,


(Manacorda, 1996:10) é também, o espaço em que essa nova forma de organizar-se
em sociedade, encontra seus primeiros traços mais definidos. A educação no Egito,
teve como papel principal legitimar a nova ordem estabelecida.

"Os 'ensinamentos' mais antigos remontam ao período arcaico, anterior ao antigo


reino de Mênfis, se é exato o que o primeiro destes data da 3" dinastia (século XXVIII
a.c.). Eles contêm preceitos morais e comportamentais rigorosamente harmonizados
com as estruturas e as consciências sociais ou, mais diretamente, com o modo de
viver próprio das castas dominantes". (Manacorda, 1996, p.11)

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A existência de duas classes sociais fundamentais: a classe
dos proprietários e a dos não-proprietários pode ter dado
origem a formas diferentes de ensinar e aprender?

A educação antes era identificada plenamente com o próprio processo de


trabalho(difusa), com o advento da propriedade privada passa a ter modalidades
distintas e separadas de educação (concentração do conhecimento):
1. Uma modalidade para a classe proprietária,
identificada como a educação dos homens livres;
centrada nas atividades intelectuais, na arte da
palavra e nos exercícios físicos de caráter lúdico ou
militar

2. Outra modalidade para a classe não proprietária,


identificada como a educação dos escravos e serviçais
Reconstruçã o hipotética de Çatalhü yü k
assimilada ao próprio processo de trabalho.
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1. MODALIDADE DE EDUCAÇÃO PARA A CLASSE PROPRIETÁRIA

Manacorda ao analisar os ensinamentos dados a Ptahhotep, no antigo Egito, que datam de 2.450 a.C., e de
Quintiliano, que viveu na antiga Roma entre os anos 30 e 100 de nossa era, conclui:
O “falar bem” era o conteúdo e o objetivo do ensinamento “oratória como arte política do comando”, ou seja,
“educação do orador ou do homem político”.

Ao refletir sobre a educação para os nobres no Egito:

Junto com os filhos do rei são educados outros jovens


nobres, os quais acabam sendo considerados e
efetivamente chamados “filhos do rei”. Temos,
portanto uma forma institucionalizada de educação,
tanto intelectual (o falar bem) como física (natação)
que tem sua sede na corte ou palácio.

(Manacorda, p.17)

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No reino autocrático, arte do comando é também, e antes de tudo, arte da
obediência: a subordinação é uma das constantes milenares desta inculturação
da qual, portanto, faz parte integrante o castigo e o rigor.

Ensinamento egípcio: “Pune duramente e educa duramente!”


(ARANHA, p.46)

As escolas mais adiantadas de Mênfis, Heliópolis ou Tebas


formavam escribas de categoria mais elevada (altos
funcionários). Além de funcionários administrativos e legais,
preparavam médicos, engenheiros e arquitetos.
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2. MODALIDADE DE EDUCAÇÃO PARA O RESTO DA MULTIDÃO
Período demótico (1069 a 333 a.C.)
“O resto da multidão egípcia aprende dos pais e dos parentes, desde a idade infantil, os ofícios que exercerá na
sua vida. Ensinam a ler e escrever um pouquinho, não a todos, mas aqueles que se dedicam a um ofício.
(MANACORDA p. 39)

•Antes de tudo é preciso esclarecer que o “resto da multidão”


compreende na realidade NÃO a totalidade do povo, mas
apenas aqueles que exercem uma atividade ou arte. A grande
massa era excluída da escola e submetida à educação familiar
informal.

O exercício profissional, manual, imediatamente produtivo,


que exige um mínimo de conhecimento e instrução formal,
indispensável, quer para a transmissão do conhecimento
técnico-cientifico parcial e especializado, que para as relações
sociais que o ofício, a aquisição das matérias primas e a 8venda
MULTIDÃO SEM ARTE E NEM EDUCAÇÃO

“O resto da multidão egípcia aprende dos pais e dos parentes, desde a idade infantil, os ofícios que exercerá na
sua vida. Ensinam a ler e escrever um pouquinho, não a todos, mas aqueles que se dedicam a um ofício.
(MANACORDA p. 39)

Existe, portanto, outra “multidão de indivíduos” que não têm arte nem parte –
como diz o ditado - para os quais obviamente não há nenhuma transmissão
educativa nem de técnicas propriamente culturais ou imediatamente
produtivas. E está será uma constante na história dos povos. (Manacorda,
p.39)

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Resumindo:

Com a divisão dos homens em classes a educação também resulta dividida; diferencia-se, em consequência, a educação
destinada à classe dominante daquela a que tem acesso a classe dominada. E é aí que se localiza a origem da escola.

A educação dos membros da classe que dispõe de ócio, de lazer, de tempo livre passa a organizar-se na forma escolar,
contrapondo-se à educação da maioria, que continua a coincidir com o processo de trabalho. (Saviani, 2007, p. 156)
Um resumo da Aula 2
Na nossa 2º aula estudamos uma definição de “educação”, para depois falarmos sobre a produção de
conhecimentos e educação nas sociedades primitivas.

Partimos de sua definição de homem enquanto animal que trabalha, isto é, um animal que necessariamente
produz suas condições de existência, por meio da modificação da natureza. Ao modificar a natureza, o homem
foi historicamente se modificando também, quer dizer, as relações de trabalho exigiram a criação de relações
sociais. Ao organizar-se socialmente visando garantir sua subsistência, os homens primitivos foram
desenvolvendo o que hoje chamamos de divisão social do trabalho.

A partir do momento em que ocorreu a apropriação privada da terra, surgiram duas classes sociais, a quem
corresponderiam esses dois tipos de trabalho: a classe dedicada ao trabalho produtivo, manual; e a classe que,
detentora dos meios e instrumentos de produção, dispunha de tempo livre, pois sua subsistência já estava
assegurada pelo excedente do trabalho dos não-proprietários, nasce aí a prática especificamente educativa. 11
As formas de educação – aculturação/inculturação,
educação intelectual e aprendizagem profissional – se
referiam ao ensino direcionado a uma minoria da
população.

Os estratos sociais mais desfavorecidos – “aqueles que


não têm nem arte nem parte” – permaneciam alijados
mesmo das formas mais elementares de instrução oficial,
e recebiam os ensinamentos sobre os ofícios apenas de
forma privada, de pai para filho. 

REFLETIR:
O direito à educação ainda não foi estendido a toda a
população, nem no Brasil, nem na maior parte dos países.
Se a educação escolar, portanto, não foi universalizada,
faz algum sentido a existência de políticas educacionais
que propõem o fechamento de escolas, alegando
justificativas, por exemplo, de teor demográfico?
O escriba sentado, escultura atualmente exposta no
Louvre. A escultura provavelmente remonta à 4ª Dinastia,
por volta de 2620-2500 a.C. 12
Vimos também que já está presente a educação intelectual cabe aos escribas, enquanto
corpo técnico responsável pelo registro e pela decifração dos códigos escritos; 

A inculturação (moral, religiosa, tradições) é o principal processo associado à classes


privilegiadas, relacionando-se com a manutenção das estruturas sociais.
Por outro lado, o povo era aculturado nessas tradições, de forma a tomar a ideologia da
classe dominante como sua própria ideologia e, assim, resguardar a perpetuação dessa
sociedade;

E, por fim, à multidão (todos os demais, ou seja, a classe produtiva), cabia quase que
apenas a aprendizagem do ofício, transmitida quase como herança biológica, em que o
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futuro de um novo súdito era determinado pelo ofício de seus pais.
No próximo encontro iremos
estudar o caso da Educação na
Grécia.
Grécia e Roma: cultura, escola e educação
Após a radical ruptura do modo de
MANACORDA, Mario A. A educação na Grécia.
produção comunal/tribal, nós In: ______. História da Educação: da
Antiguidade aos nossos dias. 10a edição São
vamos ter o surgimento da escola. Paulo: Cortez, 2002. p. 41-110.

https://time.graphics/line/307118 - Linha do
Na Grécia se desenvolverá como tempo da Educação Egípcia

paidéia, enquanto educação dos


homens livres, em oposição à
duléia, que implicava a educação
dos escravos, fora da escola, no 14

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