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História da Educação

Prof. Julina Valentini


juliana.Valentini@ifpr.edu.br

Instituto Federal do Paraná


IFPR

Aula 5

1
Antiguidade grega
Período arcaico (séculos VIII a VI a. C.)
• Educação Antiga: surge para os jovens da classe dominante (guerra e
política/corpo e moral); poetas: Homérico e Hesíodo.
•grandes transformações.
•Grande virada histórica que se tornou possível com o ensino da escrita
alfabética; gestação da democracia (assembleias, eleições).
• novidades: introdução da escrita, utilização da moeda, a lei escrita por
legisladores, a formação das cidades-estados (póleis), aparecimento dos
primeiros filósofos:
• o guerreiro belo e bom é substituído pelo cidadão da pólis - modelo ideal.
• virtude: capacidade de discutir e deliberar nas assembleias.
• surgimento do filósofo.

Período Clássico
1. Trabalho – Trabalho do Educador
• Posição social e pobreza dos pedagogos e gramáticos
• Castigos e vinganças contra os mestres – criança como um adulto
2. Fases da escolarização – Leitura
• Paidéia: formação integral - corpo (preparo militar e esportivo) e
espírito (debate intelectual)
Para os grupos A elite se sustentava pela
dominantes gregos, De outro lado, o máxima de ARISTÓTELES
os homens livres trabalho físico era “pensar requer ócio”,
deveriam viver no ócio, renegado aos escravos desobrigando-se do trabalho e
se utilizando dos escravos por
em atividades que e às mulheres, meio de argumentos sutis que
indicavam a consubstanciando em justificassem a necessidade da
atividades indignas e escravidão, a qual era tida como
contemplação à lei natural, livrando os cidadãos
natureza ou às humilhantes, das tarefas servis, permitindo
prerrogativas políticas, necessárias à “consagrar-se melhor à cidade,
manutenção das aos prazeres do corpo ou à
abstraindo-se em investigação e à contemplação
trabalho intelectual. cidades. das coisas eternas do espírito”.
OS CIDADÃOS ATENIENSES
Aliás, na sociedade escravagista grega, o
chamado ócio digno significava a
disponibilidade de gozar do tempo livre,
privilégio daqueles que não precisavam cuidar
da própria subsistência. A palavra grega para
escola (scholé) significava inicialmente “o
lugar do ócio”.

Nota-se que na antiguidade clássica o trabalho NÃO era visto como algo positivo. Era
entendido como peso, como algo que fadiga e deprime; o trabalho, assim, era o contraponto
da divindade, que permanecia contemplativa e não trabalhava.
Qual a visão grega sobre o trabalho?

E o trabalho de quem educa?


A humilde condição dos pedagogos e dos
Posição social e pobreza dos pedagogos
e gramáticos
gramáticos, obrigados, na sua "escravidão
voluntária“, a se submeterem a todas as
O mestre como pessoa decaída, como mendigo. De humilhações e vexames por parte dos patrões
fato, embora alguns professores de alto nível, como (...)
por exemplo Protágoras, chegassem a ganhar até 10 Ê triste, porém, constatar que, se os sábios
mil dracmas por aluno para um curso, ficando ricos, o ensinam, não o fazem por missão, mas somente
grammatistés, em geral, recebia um salário de miséria. para escapar à pobreza.
Epicuro, quando criança, ajudava no trabalho a mãe e Nesse sentido, devemos nos deter um pouco
o pai, que ensinava o alfabeto sobre a posição social de quem ensinava. Não a arte
"por um salário de nada“ em si, não o conhecimento e a habilidade neste ou
(Vitae pbilosopborum, X 4). naquele campo mas o seu exercício mercenário,
para se ganhar a vida, isto é indigno.
(MANACORDA, 1999, P.63)
Castigos físicos: discípulos e mestres

Assim como na literatura egípcia e hebraica, também na


literatura e na arte grega existem testemunhos de mestres
surrados pelos discípulos; e, conforme a boa tradição que
remete a deus ou aos deuses todos os ensinamentos, também
aqui o primeiro exemplo é dado pelos deuses ou semideuses:
Héracles, a golpes de cadeira, mata o seu mestre de música,
Lino, irmão de Orfeu (Tàça de Duris, Munique, n.° 2646, de
480 a.C.)-
Concluindo:
1. O ócio era cultivado pelos grupos dominantes (escravidão permitia) enquanto
o trabalho era considerado menos digno.

2. Desvalorização da formação profissional e do trabalho manual (predomínio do


escravismo na Grécia)

3. A visão negativa sobre o trabalho recai sobre quem vive do seu trabalho –
educador (pedagogo, mestre de gramática).

4. O desprestígio se reflete nas condições de sua atividade e na violência que


sofre e que promovem.

5. A prática da punição corporal para os alunos indisciplinados esteve presente


na Grécia (assim como estava no Egito)
A CARREIRA EDUCATIVA E DIDÁTICA – LEIA O TEXTO COMPLEMENTAR

 Pais, nutriz e pedagogo;

 A figura do gramático (alfabeto) sofre a resistência de grupos conservadores (Platão –


escrita/memória);
• Métodos: silabação, repetição, memorização e declamação. 
 O citarista e o pedótriba (instrutor de ginástica), em escolas privadas abertas ao público;

Enfim: aos cuidados da cidade, a aprendizagem das leis, isto é, dos direitos e deveres do
cidadão.

A escola grega no século V a.C. é o ginásio, centro de cultura física e intelectual, presente nas
cidades do Oriente mediterrâneo, conquistadas por Alexandre, o Grande (MANACORDA,
1999, p.68).
(...)
E no século I a.C., Dionísio de Halicamasso nos informará sobre a
persistência desta didática:

"Quando aprendemos a ler, aprendemos primeiro os nomes das


letras, depois suas formas e seus valores, em seguida as sílabas e
suas propriedades e, enfim, as palavras e suas flexões. Daí,
começamos a ler e a escrever, de início lentamente, sílaba por
sílaba. Quando no devido prosseguimento do tempo, as formas
das palavras estiverem bem fixas em nossa mente, lemos com
agilidade qualquer texto proposto, sem tropeçar, com incrível
rapidez e facilidade" (Opuscula, 11, 4-16: 193).

Podemos dizer que a escola do alfabeto na Grécia Antiga é progenitora direta de nossa escola? Por quê?
O que foi a paideia grega?
Mesmo com a
ampliação da oferta
Quando falamos em paideia, estamos de fato tratando de uma formação escolar a
“democratização” da
integral do homem. cultura, a educação
ainda permanecia
O currículo era praticamente composto por música, ginástica, elitizada, atendendo
alfabetização, ética, literatura, história, gramática, oratória, retórica, principalmente
jovens de famílias
os

geometria, filosofia, desenho, entre outras disciplinas. tradicionais da


antiga nobreza ou
Essa lista de conteúdos nos ajuda a entender o que seria tal formação pertencentes a
famílias de
que, de fato, abarcava o ser como um todo: intelecto e corpo. comerciantes
enriquecidos.

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Resumindo:

1. Nã o existe traduçã o que dê conta da plenitude do conceito de paidéia criado


pelos gregos, seu significado é muito amplo e agrega os conceitos de cultura,
civilizaçã o, tradiçã o, literatura e educaçã o, todos ao mesmo tempo.

2. Ao lado da recitação decorada a escrita passa a constituir a base da paideia grega.

3. A educaçã o dos filhos da aristocracia nã o deveria conter nenhum aspecto de


profissionalizaçã o, somente a sua pró pria formação cultural (exceçã o é
arquitetura e medicina – consideradas nobres).

4. A concepçã o de formaçã o integral do ser humano está presente na paideia (ainda


que nã o fosse para todos).
Sofistas Filósofos
• profissionalização dos mestres • crítica aos sofistas: cobram pelas aulas e
não têm compromisso com a verdade.
• criadores da educação intelectual
• convencer pela palavra (interesses políticos, ideal • visavam uma educação mais ética e moral.
Sócrates, Platão e Arstóteles
democrático)
• ensinavam a arte da persuasão • Sócrates, por sua vez, apresentou outra
concepção de docência, baseada no amor ao
• cobravam pelas aulas discípulo, na procura conjunta da verdade, no
• didática e sistematização do ensino diálogo, na interação com o aluno.

• sete artes liberais: humanísticas (gramática, retórica e


dialética) e científicas (aritmética, música, geometria e
astronomia).

• Os sofistas foram os primeiros professores profissionais


do Ocidente; neles está a origem da docência, entendida
como trabalho específico remunerado.
EDUCAÇÃO EM SÓCRATES

Sócrates (469-399 a.C.) destaca que o princípio da sabedoria é o reconhecimento da própria ignorância. Para Sócrates o
princípio da sabedoria consiste, antes de qualquer coisa, no reconhecimento da própria ignorância. Além disso, desenvolve o
princípio de que a filosofia dever ter por alvo favorecer a vida moral do homem. Desenvolve o conceito de intelectualismo
ético – doutrina que identifica o sábio e o homem virtuoso.

É possível inferir que o pensamento socrático trouxe como consequências para a educação:
•a sabedoria começa pela ignorância “só sei que nada sei”
• não deixou nada escrito (discípulos)
• temas: virtude, coragem, piedade, amizade, amor.
• conhecimento das virtudes humanas “Conhece-te a ti mesmo”
• legado para a educação: diálogo, aprendizagem ativa, autoconhecimento, ensino contextualizado.
• método: ironia, maiêutica
•acusado de corromper os jovens e condenado à morte.
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SÓCRATES:
SÓCRATES: PLATÃO:
PLATÃO:
A
A virtude
virtude pode
pode ser
ser A educação contra
A educação contra
Ensinada
Ensinada se
se as
as ideias aaalienação
ideias alienaçãona
na
são
são inatas?
inatas? alegoria da caverna.
alegoria da caverna.

EDUCAÇÃO EM PLATÃO
Platão incorporou elementos da educação Homérica (Heroica), pensa na educação dos cidadãos como
guerreiros, a partir de uma seleção dos mais aptos.
Educação baseada na música e na ginástica (Corpo): música significa as tradições práticas, contidas nos
cantos das nutrizes e nos carmes dos maiores poetas, portanto, literatura em música; ginástica significa modo
de vida (diaíta, dieta) próprio do guerreiro, que dispensa médicos e advogados.
Depois ele se volta a estes temas (re)projetando tudo novamente, a partir do catálogo das disciplinas que
ajudam na elevação do espírito. Estas são aritméticas, geometria e estereometria (medição dos volumes
sólidos), astronomia e harmonia, mas todas pensadas não para fins práticos, mas para fins de promoção,
elevação e conversão do espírito, para atingir a disciplina suprema, a dialética ou filosofia, da qual todas são
simples premissas (propaideía) e que prescinde de qualquer elemento sensitivo. Esta é a paideía dos filósofos
(Rep. Vii). Os conteúdos ministrados devem ter o objetivo de desenvolver o equilíbrio do corpo e do espírito.
 É sintomático que Platão não teve simpatia pela escrita, como qualquer espírito aristocrata.
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EDUCAÇÃO EM ARISTÓTELES
Aristó teles, por sua vez, apó s ter falado longamente das funçõ es do Estado, da educaçã o para as
artes e do treinamento do escravo, distingue o que se faz para a utilizaçã o e o que se faz para o
conhecimento, distingue razã o prá tica e razã o teó rica, atividade e ó cio.
Nestas bases ele analisa a educaçã o existente, discutindo as quatro disciplinas já consolidadas na
escola: gramá tica, giná stica, mú sica e desenho. Como se vê, as letras, esquecidas por Platã o, aqui sã o
registradas em primeiro lugar: Aristó teles, em seu realismo, nã o pode ignorar o fato.
A sua organizaçã o da ló gica formal que exige a compreensã o das dimensõ es da aná lise e síntese,
induçã o e analogia contribuem para que se desenvolva o método ló gico de ensinar.

Aristó teles exclui, na educaçã o dos livres, toda disciplina que objetive o exercício profissional: o
homem livre deve visar a pró pria cultura. "Nã o para o ofício, mas para a educaçã o [paideía]", já dissera
Platã o.

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Conhecimentos
práticos ou
uteis para a
vida?
Oferecida pela
pólis?

GRÉCIA NOS DEIXOU UMA CONCEPÇÃO DE ESCOLA DE ESTADO – Aristóteles


A partir, portanto, do século V, se discute se o Estado, a pólis, deve assumir diretamente a
tarefa da instrução. Roma incorpora essa ideia de escola de estado.
Essa questão do papel do estado na instrução coletiva
ainda é um problema do nosso presente.
* Você acredita que o estado brasileiro está
criando as condições para manter uma educação
Resumindo:

Avanço sobre a reflexão sobre uma educação de estado para o cidadão da pólis (Caso
de Esparta, Roma Império);

Estruturação de um sistema de ensino, etapas de formação e primeiras reflexões


(teorias) educacionais.

A concepção de formação integral do ser humano está presente na paideia (ainda que
não fosse para todos).

A visão negativa sobre o trabalho recai sobre quem vive do seu trabalho – educador
(pedagogo, mestre de gramática). Ao mesmo tempo vemos uma tentativa de
valorização do educador por meio da ação dos sofistas.

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